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Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano X, n.

29,
Setembro/Dezembro de 2017 - ISSN 1983-2850
/ “Deos não nos creou para vivermos eternamente neste valle de miserias”: rituais
funerários e a unção dos enfermos nos aldeamentos Kiriri (1698-1702), 23-41/

“Deos não nos creou para vivermos eternamente neste valle


de miserias”: rituais funerários e a unção dos enfermos nos
aldeamentos Kiriri (1698-1702)
Ane Mecenas1

DOI: http://dx.doi.org/10.4025/rbhranpuh.v10i29.37576

Resumo: Este artigo tem como objetivo principal compreender o discurso de


capuchinhos e jesuítas no sertão da América portuguesa, entre 1698 e 1702, sobre os
rituais funerários dos Kiriri. Por meio das descrições, a morte e as práticas dos fúnebres
dos Kiriri são evidenciadas nos escritos produzidos para a conversão. O corpus
documental analisado se constitui por meio de dois catecismos, elaborados com o
objetivo de auxiliar os missionários na conversão dos índios: um de autoria do padre
jesuíta Luigui Mamiani e o outro do capuchinho Bernardo de Nantes.
Palavras-chave: Morte, Kiriri, jesuítas, capuchinhos

"God did not create us to live forever in this valley of miseries": funerary rituals
and the anointing of the sick in the villages Kiriri (1698-1702)
Abstract: This article has as main objective to understand the speech of Capuchinhos
and Jesuits in the sertão of Portuguese America, between 1698 and 1702, on the funerary
rituals of the Kiriri. Through the descriptions, the death and practices of the Kiriri
funerals are evidenced in the writings produced for conversion. The documentary corpus
analyzed consists of two catechisms, designed to assist the missionaries in the conversion
of the Indians: one by the Jesuit priest Luigi Mamiani and the other by the Capuchin
Bernardo de Nantes.
Key-words: Death, Kiriri, Jesuits, Capuchins

"Dios no nos creó para vivir eternamente en este valle de miserias": rituales
funerarios y la unción de los enfermos en los pueblos de Kiriri (1698-1702)
Resumen: Este artículo tiene los principales objetivos para comprender el discurso de
Capuchinos y Jesuits en el sertão de América del Norte, entre 1698 y 1702, sobre los

1Doutora em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Vale do


Rio dos Sinos. Mestre em História pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade
Federal da Paraíba (2011). Especialista em Ciências da Religião e possui graduação em História
Bacharelado (2010) e em História Licenciatura (2005) pela Universidade Federal de Sergipe (2005).
Tem experiência na área de História, com ênfase em Ensino de História, Patrimônio Cultural e
História Indígena.. E-mail: anemecenas@gmail.com

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Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano X, n. 29,
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funerários e a unção dos enfermos nos aldeamentos Kiriri (1698-1702), 23-41/

funerales rituales del Kiriri. A través de las descripciones, la muerte y las prácticas de los
funerales de Kiriri se evidencian en las escrituras producidas para la conversión. El
documental corpus analizado de dos catequismos, diseñado para asistir a los misioneros
en la conversión de los indios: uno por el Jesuit sacerdote Luigi Mamiani y el otro por el
Capuchin Bernardo de Nantes.
Palabras clave: Death, Kiriri, Jesuits, Capuchinos

Recebido em 11/06/2017 - Aprovado em 19/06/2017

Ao longo do processo de colonização, muitos desempenharam a função de


homens-memória, ao registrar os feitos, ao narrar as conquistas e ao descrever as
paisagens (RAMINELI, 2008, p. 32). Distantes do mundo europeu, as penas utilizadas
para descrever traziam impregnadas o olhar do estrangeiro sobre a América, e, por isso,
registraram o estranhamento e a admiração. Nesses registros, cada linha escrita traz
consigo as marcas os mundos do narrador (CHARTIER, 1994, p. 13). E devem ser
analisados de acordo com a finalidade ao qual foram produzidos.
Muitos homens podem ser considerados “homens-memória”, como definiu
Hartog, em virtude dos registros elaborados com base no que os autores viram, contaram
sobre o desconhecido e em diversos suportes documentais (HARTOG, 2004). Para o
historiador francês, Ulisses seria, para além do viajante na constante busca pelo retorno,
um homem-memória. E dessa forma é possível traçar um perfil do narrador viajante,
aquele indivíduo que, ao viajar, desenvolveu a habilidade do olhar.
E não apenas para dar conta do mundo burocrático da corte dos grandes
impérios, mas também nos bastidores da expansão da fé cristã e da Igreja interessada em
elaborar instrumentos de conversão dos gentios que viviam na América. 2 Foi desse
esforço que resultou o significativo número de catecismos e de gramáticas, produzidos
por membros das mais diversas ordens religiosas, empenhados em melhor conhecer o
espaço em que atuavam e a língua dos grupos nativos que se propunham a converter.
Esses instrumentos linguísticos e voltados para conversão, além de refletirem os
interesses das ordens religiosas envolvidas na produção, também produzem relatos acerca
dos grupos indígenas aos quais eram voltadas tais obras. Dessa forma, nesse artigo
analisaremos as práticas indígenas voltadas para as questões da morte, por meio do cotejo
de dois catecismos Kiriri.

2Dos quais podemos destacar: Arte da Grammatica da lingoa mais usada na costa do Brasi,ldo padre Jose
de Anchieta, 1595; Arte da Grammatica da lingoa brasílica, do padre Luiz Figueira, 1687; Diccionario da
língua geral do Brazil, sem data definida; Caderno de vocábulos da língua geral, muito necessário para com
brevidade se aprender, feyto no anno de MDCCL; Diccionario dos vocábulos mais uzuaes para a inteligência da dita
linguage; Diccionario da Lingua geral do Brasil que se falla em todas as Villa, lugares e aldeias deste Vastissimo
Estado. Escrito na Cidade do Pará. Anno de 1771; Diccionarioportuguez, e brasiliano, obra necessária aos
ministros do altar (...), 1795.

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Os catecismos são fruto de um longo trabalho de sistematização de duas línguas


Kiriri: o Kipeiá e Dzubukuá. Ao longo da segunda metade do século XVII, após a
expulsão holandesa a ocupação dos “caminhos de dentro” do Rio São Francisco foi
intensificada. Essa região consistia uma rota utilizada por criadores de gado que ligava a
sede administrativa, em Salvador até o Piauí. Por esse caminho criaram pontos de parada,
para descanso, muitos desses estavam localizados nas sedes de fazendas, estabelecidas no
local, por conta da doação de sesmarias, como também utilizavam aldeias indígenas como
ponto de parada.
Ao passo que forma se intensificando conflitos na região, ordens religiosas foram
enviadas com a finalidade de converter os índios e promover a comunicação com os
sesmeiros locais. Contudo, ao longo de um século, com base na documentação
consultada é possível observar a continuidade dos embates e as constantes negociações.
Em meio a esse cenário, os instrumentos linguísticos foram produzidos, Primeiro, alguns
manuscritos das artes de língua elaborados pelo jesuíta João de Barros e pelo capuchinho
Martinho de Nantes. Não foi possível encontrar esses escritos, apenas as referencias as
quais apontam a existência.
Após alguns anos junto aos aldeamentos Kiriri, duas obras ganharam a impressão,
a Arte de Língua Kiriri (1699) e o Catecismo em língua Kiriri (1698), ambos de autoria do
padre Mamiani. Outro catecismo também foi impresso poucos anos depois, pelo
capuchino Bernardo de Nantes. Esses dois catecismos bilíngues, apresentam as
normativas religiosas, os caminhos adotados pelo índios convertidos para cumprir com os
preceitos cristãos. Contudo, além da estrutura estabelecida e normas instituídas para
publicação, os dois impressos apresentam também um registro dos hábitos e costumes
dos Kiriri. Dessa forma, para esse texto escolhemos analisar as representações da morte
para esse nação indígena pelo filtro dos religiosos responsáveis pela elaboração dos
catecismos.

1-Particularidades das fontes


O significativo número de publicações, envolvendo a normalização das línguas
indígenas para o modelo latino, aponta para a diversidade de povos e, consequentemente,
de costumes, conforme aponta Daher:

as operações de dicionarização e de gramaticalização das


línguas indígenas não são apenas fundamentos de estratégias
catequéticas, são elas mesmas determinadas teologicamente,
ratificação evidente do princípio unitário da verdade divina
profunda frente à multiplicidade superficial das línguas
humanas, desde a dispersão da língua adâmica no mundo
(DAHER, 2012, p. 46).

Para a catequese, era imprescindível a comunicação e o primeiro passo era


conhecer a língua, para, posteriormente, normatizá-la, e, assim, assegurar o êxito do
projeto missionário. Esse processo de conhecimento e de sistematização da língua se deu
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através da mediação cultural, que tornou possível o acesso ao seu cotidiano e ao seu
universo simbólico. Para Cristina Pompa:

A atividade missionária, vista não apenas como prática


constitui um ponto de partida privilegiado para a elaboração
de um método histórico-crítico que pode enriquecer a
leitura antropológica do religioso a partir da situação oposta
e especular: a leitura religiosa da cultura (POMPA, 2006, p.
112).

Durante um século, várias foram as tentativas de compreender as tradições do


mundo indígena e muitas foram as formas através das quais foram registradas e
eternizadas no papel. As diferentes adjetivações que elas mereceram, é preciso lembrar,
não devem ser tomadas como erros interpretativos ou construções equivocadas, mas,
como apontado por Certeau, como registros que levaram em conta um determinado
“espelho” (CERTEAU, 2006, p. 220). Torna-se, portanto, fundamental considerar os
sujeitos que elaboraram estes registros, o seu lugar social e institucional e, ainda, as
intenções da escrita da obra, para, dessa forma, podermos recompor os fragmentos do
“espelho” adotado no registro. Afinal, conhecer o detentor da produção possibilita
pensar as possibilidades de interpretação. Faz-se, por isso, necessário reconstruir o
“mundo do texto” para podermos compreender as intencionalidades presentes na escrita
e, ainda, a quem se destinavam tais obras. No caso dos textos voltados para a
comunicação e da conversão do gentio, pode-se dizer que são, como já observamos, fruto
da necessidade do conhecimento da língua local, elemento imprescindível para o êxito da
catequese (BARROS, 2003, p. 125).
A morte para Mamiani é apresentada como resultante das ações desses índios na
terra. A conduta cristã seria o único caminho possível para “fugir” do inferno. Do qual,
em virtude do pecado original já havia uma predisposição natural para que esse fosse o
lugar da morada das almas desses índios:

Filhos tudo que está creado na terra he para vós: somente


desta fruita não haveis de comer (mostrando-lhes hua
arvore de fruta) assim vos mando, para que não morais. Se
vós fizéreis assim como vos mando, vivereis ambos muitos
anos neste mundo, para depois hirdes ambos ao Ceo, assim
vós como vossos filhos, e netos, e todos os vossos
descendentes. Se não fizéreis assim todos morrereis com os
vossos filhos, e todos hireis ao inferno. (MAMIANI, 1698,
p. 50)

Como a alma não morre, apenas o corpo essa matéria efêmera se decompõe e
morre, segundo o jesuíta. E diante das ações praticadas em vida é determinado o lugar em
qual a alma irá habitar (MAMINAI, 1698, p. 68-69). Os lugares para a morada da alma
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consistiam em cinco, o céu, o inferno, o purgatório, o limbo dos meninos, e o limbo dos
santos padres. (MAMIANI, 1698, p. 52). Para onde vão os que morrem

O corpo fica enterrado na sepultura: a alma dos bons vai, ou


para o Ceo, ou para o Purgatório, se não satisfez inteiramente
pelos seus peccados: e a almados pecadores vai para o
inferno, esperando pela vinda de Jesus Cristo à terra.
(MAMIANI, 1698, p. 70)

As descrições do inferno se apresentam associadas ao fogo. E ser enviado para lá


é um castigo eterno, no qual o individuo arderia por toda a eternidade. Não havia uma
forma de remissão dos pecados quando o sujeito, ao morrer não houvesse se batizado e
nem se arrependido de suas ações, as quais estavam associadas às práticas de feitiçaria e
todas as práticas dos “velhos anciãos” das comunidades. Somente abandonando os
costumes e as crenças seria possível a absorção dos pecados.

Meu filho não he bem que sigais os costumes dos vossos


avós, porque se os seguirdes não podereis hir para o Ceo a
gozar de Deos; somente o fogo do inferno será a vossa
morada para sempre. Por tanto entendei bem o que vos
digo, & crede o que vos ensino, para que sejais filho de
Deos. Se assim fizerdes, hireis para o Ceo a gozar a
bemaventurança. (MAMIANI, 1698, p. 156-157)

Para Bluteau, o inferno consiste num lugar no qual a “divina justiça” castiga aos
“demônios” e aos que morreram em pecado mortal. A localização é apresentada como
sendo no meio do globo terrestre, “o centro deste Universo”, no lugar mais ínfimo do
mundo. E para corroborar com a descrição do espaço em que se encontra o inferno o
autor justifica com uma analogia ao corpo humano:

assim como no corpo humano lança a natureza as


corrupçõens, & partes excrementiciais para os intestinos, &
lugares mais baixos, & escuros; assim no dia do juízo os
condenados, como immundicias & fezes do mundo, serão
lançados para o lugar mais ínfimo; & (segundo a doutrina
dos Padres) justo he, que os que com pecado, se apartarão
de Deos, quanto pode ser, tenhao por cárcere o lugar mais
apartado do Ceo, & por tormentos, globos de fogo, que
tenhao por centro, o último desterro da natureza & por
circunferência a Eternidade. (BLUTEAU, 1728c, p. 124)

Em seu dicionário Bluteau determina com base na obra Cosmografia de Sebastino


Munster, a distância ente a superfície e o inferno. Estabelecida como oitocentas e
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cinquenta e nove milhas germânicas, na quais cada milha germânica consiste quatro mil
passos geométricos.
Nantes apresenta em seu catecismo as justificativas para que o fiel fosse
condenado a habitar o inferno por toda a eternidade. De acordo com o capuchinho os
pecados mortais são responsáveis pela morte da alma e por isso, estabelece-se o caminho
rumo ao inferno, como ocorreu com os anjos que se tornaram diabos (NANTES, 1709,
p. 67). A cura por assopro pratica pelos “feiticeiros” é também apontada como pecado
mortal, e nesse caso tanto curar como recorrer a tal prática, como também “dar em seu
pay ou sua may”, “desejar interiormente com advertência uma mulher”, “embebedarse
com vinho” (NANTES, 1709, p. 68), como também não confessar. Esse silenciamento
diante do pároco, faz com que o fiel cometa sacrilégio, e como consequência se torna
impossibilitado de comungar, porque “ o diabo lhes fecha assim a boca, para que não
sayão por ella os pecados (NANTES, 1709, P. 80).
A outra morada, o purgatório apesar da proximidade com o inferno, consistia um
lugar no qual a salvação ainda seria possível. Contudo, era necessário uma vida regrada na
terra e ter uma alma virtuosa. O purgatório “he hum fogo grande por cima do inferno
aonde estão as almas virtuosas dos que morrerão em graça de Deos, para satisfazer por
seus pecados, pois não satisfizerão inteiramente neste mundo” (MAMIANI, 1698, p.53-
54)
O limbo é a morada habitada pela almas que morreram na inocência cristã é o
caso dos meninos sem batismo e dos padres que morreram antes da Paixão de Cristo. A
ausência dos preceitos de Cristo se apresentam dessa forma como um lugar habitado pela
escuridão, não há o fogo do inferno nem as chamas do purgatório, apesar a escuridão
como o estado no qual a “luz divina” não se apresentou. Observe que os adultos que
morrem sem o batismo, não se enquadram nas regras para ocuparem o limbo, já que para
esses foi por opção morrer sem o batismo. O limbo dos meninos consistia numa caverna
acima do purgatório (MAMIANI, 1698, p. 54).
A alegoria da caverna serve para repensar essa iluminação fruto dos que
conseguiram por meio do conhecimento transcender o pecado. As boas práticas e o
conhecimento dos preceitos cristãos permite encontrar a luz e dessa forma sair da
caverna.
Para os padres que existiram antes da vinda de Cristo e dessa forma morreram
sem os conhecimentos do Novo Testamento é possível alcançar a salvação, visto que
foram enviando para o Limbo dos padres, o qual pode é descritos como sendo “(...) hua
caverna por riba do Limbo dos meninos, em que estavão antigamente as almas dos
Santos padres, antes que Jesus Christo morresse, esperando ahi pela sua santa vinda, para
q os livrasse della” (MAMIANI, 1698, p. 54-55). De acordo com Nantes, quando Cristo
morreu desceu ao limbo dos padres para os salvar (NANTES, 1709, P. 32).
Cristo é apresentado como marco, em decorrência do que aconteceu aos cristãos
após sua morte. Por meio da Paixão de Cristo e do sofrimento do Calvário que nos livrou
do demônio, do qual Mamiani destaca o sofrimento e a dor. E também a cruz como esse
símbolo do martírio e da salvação. Isso O torna o juiz dos vivos e dos Mortos.

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“Os bons hirão ao Ceo em corpo, & alma para gozarem


ambos em cõpanhia de Deos em bemaventurãnça por toda
a eternidade. Os mãos hirão ao inferno em corpo, & alma,
para padecerem hum, & outro tormentos em companhia do
diabo” (MAMIANI, 1698, p. 160).

E apresenta que Cristo retornará para a terra quando a mesma for queimada. E
nada sobrar, retornará para julgar os vivos e mortos. Os vivos são os justos na graça de
Deus, os detentores da vida eterna. Os mortos “os ímpios que falecerão em pecado
mortal, que he a morte da alma para com Deus” (MAMIANI, 1698, p. 65-66). Em seu
retorno, no momento do julgamento Cristo dirá aos que se acham em pecado:

Dirá: Apartai-vos de mim todos para o fogo eterno, que está


aparelhado por Deos ha muito tempo para castigo das
maldades, assim do diabo, como dos seus sequazes. Então
se abrirá a terra para será lançados no inferno. (MAMIANI,
1698, p. 68)

Fugir do diabo e buscar a salvação ou um segundo julgamento no purgatório,


fazia-se necessário seguir o caminho indicado pelos padres nas aldeias, o qual consistia no
batismo, na remissão dos pecados e numa vida afastada das velhas práticas. Isso poderia
ser possível até o último sopro de vida, da qual a extrema unção tornava possível apagar
uma vida pecaminosa em um caminho afastado do diabo e do fogo do eterno do inferno.

2.A extrema unção


A assistência na hora da morte era algo de suma importância da prática do
religioso. Com base nos catecismos havia a necessidade de administrar o Sacramento da
extrema unção com muita atenção e cuidado afim de evitar que o fiel venha a falecer sem
a remissão total do pecado. Esse sacramento visava fortalecer a alma nas anciãs da morte
contra o demônio. Deveria ungir com o santos óleo os olhos, os ouvidos, o nariz, a
boca, as mãos e os pés e os ““lombos” para que Deus perdoe os pecados” (MAMIANI,
1698, p. 135). Nantes além de citar os locais nos quais o sacerdote deveria ungir o “corpo
do moribundo”, enfatiza que tal prática dever ser seguida para que possam ser
“riscados os pecados” que foram cometidos pelos olhos, pelos ouvidos, pelos narizes,
“beiços”, mãos pés e lombos” (NANTES, 1709, p. 86- 87). E assim deveriam evitar
práticas como:
Não tomeis amizade com os mãos: fugi dos que são torpes,
& deshonestos: fechai os ouvidos às palavras, & cantias
deshonestas, & aos ditos superficiosos dos Pagãos: os que
sãos modestos, prudentes, & tementes a deus, sejão vossos
amigos. (NANTES, 1709, p. 113).

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Na terceira parte o jesuíta se dedica a explicar ao pároco como desse administrar


os Sacramento e quando está a assistir alguém na hora da morte. Filho de Deus deve
crer, espera e amar. Devem guardar os mandamentos, receber o batismo. Para isso o
jesuíta apresenta um conjunto de questões pelas quais o índio deverá responder. As
perguntas estão relacionadas a crença na Santíssima Trindade, na remissão dos pecados
por Cristo durante crucificação, na imortalidade da alma, na salvação pela misericórdia de
Deus e no amor incondicional ao Criador. (MAMIANI, 1698, p. 159-161).

Se quereis he necessário receber o santo Bautismo. Só deste


modo, podeis ser filho de Deos, & salvavos. A alma dos que
não são bautizados, fica çuja por causa dos próprios
peccados; por isso não pode ser filha de Deos, nem entrar
no Ceo. Sómente com a agua do Bautismo, para que sejais
filho de deos, & entreis no Ceo. (MAMIANI, 1698, p, 163)

O elemento purificador da água é destacado como por meio dele e da consciência


dos pecados, do reconhecimento dos ensinamentos cristãos como indispensável para
tornar o fiel um filho de Deus. E só por meio desse caminho se torna possível adentrar
ao céu.
Entretanto, a instrução correta do batismo deve ser levada em conta. Por isso, o
conhecimento linguístico do padre era indispensável, primeiramente, porque poria fim a
necessidade de um interprete, que poderia não transmitir corretamente o que o padre
vinha a orientar. Outra coisa, falar a língua local aproxima ainda mais o fiel do padre,
como também permite ao religioso administrar melhor os sacramentos. Por isso,
Mamiani reitera a preocupação quanto as instruções para o batismo:

Este modo de instruir hum Indio pagão para elle receber o


santo Bautismo, pode servir assim para o Indio são, como
para o Indio doente, que está em perigo de morte; &
qualquer secular, que tiver em casa hum Índio pagão doente,
poderá usar da mesma instrução, falta de Sacerdote. Mas
porque a experiência tem mostrado que os seculares fazem
muitos erros notáveis, quando administrão o Bautismo em
caso de necessidade neste desertos; bem he que se entendão
o que he necessário fazer para administrar direitamente este
Sacramento. (MAMIANI, 1698, p. 165)

Em seu texto Mamiani apresenta uma crítica aos seculares que atuavam nos
“desertos”, nos locais distantes das sedes administrativas. Ao longo de seu catecismo o
jesuíta elenca as normativas que regem e definem o pontos por ele apresentados, são
bulas e também a obra do também jesuíta Peña Montenegro, o qual em seu livro o
Itinerário dos Padres expõem as questões e os cuidados que os religiosos deveriam ter ao
tratar da salvação dos índios. E com base nos preceitos apontados por Peña Montenegro,
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Mamiani destaca a forma correta como deveria ser administrado o Sacramento do


Batismo:
Primeiramente hade lançar a água sobre a cabeça do adulto,
ou criança, que se bautiza, de maneira que a agua escorra
algum tanto pelo corpo, & no mesmo tempo que lançar a
agua, & não antes, ou depois, dirá as palavras da formula do
Baustismo muito bem pronunciadas, tendo tenção actual de
fazer o que faz a Santa Madre Igreja. Nem he necessário que
lhe de o sal, como muitos fazerm, sem lançar agua, ou sem
dizer as palavras, com danno irreparável dos pobres
inocentes, que morrem com a sal na boca, & sem água na
cabeça, & por isso falecem sem bautismo; de que bom será
advertir não somente aos índios, mas também os outros
moradores desses Certões (MAMIANI, 1698, p. 165).

Nessa passagem o jesuíta apresenta a preocupação em seguir os pontos


fundamentais do Sacramento, os quais consistem nas palavras e na água. Seguir essa
diretriz era de suma importância para que o índio pudesse alcançar a salvação e não viesse
a morrer em pecado.

Adverti, filho q vos trago o Sacramento da Santa Unção,


para vos ungir, elle serve para vos dar força na alma contra
as violências da doença; para riscar o resto de vossos
pecados; para vos comunicar tal vez com a saúde da alma e
do corpo, , se assim a Deos for servido (NANTES, 1702, p.
124).

Por meio da extrema unção seria possível reiterar a saúde do corpo e da alma.
Assim expurgar os pecados e salvar o fiel da morte ou promover uma passagem para o
Purgatório.

Com tudo, se Deos tiver gosto de vos levar desta vida para a
outra, conformai-vos com a sua divina vontade. Deos não
nos creou para vivermos eternamente neste vale de misérias:
creou-nos para si, & assim deseja muito levar-nos ao Ceo,
pra ahi o gozarmos eternamente; por tanto, filho, deveis
estar aparelhado, & contente para lhe fazer a võtade
(NANTES, 1702, p. 123).

De acordo com Nantes ao receber o Sacramento da extrema-unção o sujeito


haveria curado a alma.

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3.Ritos funerários
As cinzas, como se pode observar, eram utilizadas pelos Kiriri como amuleto,
constituindo o limite entre o mundo e o eu coletivo, sendo empregadas para afugentar a
morte ou as doenças. Nessa carta, encontramos também uma das possíveis justificativas
para as fugas dos Kiriri das aldeias, uma vez que tinham o costume de vivenciar o luto
longe dos seus e o mais próximo possível da natureza. Também Bernardo de Nantes
descreve as formas de enterramento adotadas por este grupo indígena:3

Antigamente, eles enterravam seus mortos sem outras


cerimônias, como fariam com uma carniça qualquer; apenas
os colocavam em grandes potes de barro, que eu mesmo
encontrei em quantidade, ha pouco tempo, na beira deste
rio, quando uma enchente derrubara os barrancos e
desenterrara os cadáveres que estavam nos potes.
Frequentemente os enterravam antes mesmo da morte,
sobretudo quando muito velhos e com pouca esperança de
vida, o que me faz pensar que eles sentiam pouco a morte
das pessoas idosas, apesar de chorar muito a morte de seus
parentes. (NANTES, 2003, p )

Cabe ressaltar que estas passagens, mais do que seu conteúdo etnográfico, nos revelam
também as percepções dos missionários sobre as denominadas práticas de “gentilidade”,
e que, de acordo com o que estava estabelecido no Concílio de Lima e ratificado no
“Itinerario para Parochos de Indios”, eles tinham a obrigação de reportar os casos aos
Superiores e castigar os índios por tais práticas.

Los Indios que hazen superticones, y ceremonias, y ritos


diabólicos, mayormente para tomar aguero de los negócios
que comiençan, y hazen ceremonias en los entierros de sus
defuntos, si se hallaren permanecen en los ritos de su
Gentilidad. (PEÑA MONTENEGRO 1678, p. 284).

“Enterrar os mortos” e “rogar a Deus pelos vivos, & defuntos”, são obras da
Misericórdia, como exposto por Mamiani, sendo que a primeira está relacionada com as
obras do corpo, e a segunda, com as obras do espírito (MAMIANI, 1698, p. 17-18). Para
o gentio, o jesuíta ensina que, após a morte, o corpo fica enterrado na sepultura, mas a
alma, eterna, poderia ir a três lugares, dependendo das ações praticadas em vida. Os bons
teriam lugar no céu e viveriam felizes com Deus; Os que não tivessem vivido

3 Nos idos dos anos 2000, no atual município de Tomar do Geru, no estado de Sergipe, durante
reforma realizada em uma escola pública no local em que se encontrava a aldeia do Geru no século
XVII foram encontradas urnas funerárias, localizadas a uma distância de aproximadamente 500
metros da igreja.

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Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano X, n. 29,
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/ “Deos não nos creou para vivermos eternamente neste valle de miserias”: rituais
funerários e a unção dos enfermos nos aldeamentos Kiriri (1698-1702), 23-41/

inteiramente segundo a vontade de Deus iriam para o purgatório, localizado logo acima
do inferno. Por fim, os pecadores iriam para o inferno, “(...) os máos hirão ao inferno em
corpo, & alma, para padecerem hum, & outra tormentos eternos em companhia do
diabo” (MAMIANI, 1698, p. 160). Mamiani ainda reitera que seguir os “costumes dos
vossos avós” só iria levá-los ao inferno (MAMIANI, 1698, p. 157).
O jesuíta, no entanto, descreveu quatro moradas para alma no centro da terra: “o
inferno, o purgatório, o limbo dos meninos e o limbo dos santos padres” (MAMIANI,
1698, p. 53). O limbo dos meninos era uma caverna escura localizada acima do
purgatório, onde ficavam os meninos que haviam morrido sem o batismo, e o limbo dos
padres, para onde antigamente iam as almas dos padres, antes da morte de Cristo. Já o
inferno era descrito como uma grande fogueira, “hum incêndio de fogo inextinguível
aonde ardem deveras” (MAMIANI, 1698, p. 53), para a qual todos os não cristãos eram
levados, bem como aqueles que não seguiam as normas determinadas pelos padres. Esses
pecadores teriam seu corpo queimado por toda a eternidade:

M. Que dirá JESU Christo aos que achar em peccado?


D. Dirá: Apartivos de mim todos para o fogo eterno, que
esta aparelhado por Deos há muito tempo para castigo das
maldades, assim do diabo, como dos seus sequazes. Então
se abrirá a terra para serem lançados todos no inferno
(MAMIANI, 1698, p. 68).

Como podemos observar, o controle e o combate aos “costumes dos avós” se fazia
presente na trama do cotidiano das aldeias, se impondo sobre o tempo ordinário e
também sobre o tempo sagrado, o tempo das celebrações e dos rituais de sepultamento
(MECENAS-SANTOS, 2017, p. 220). Essas antigas práticas eram um obstáculo à
conversão, pois se encontravam atreladas aos pecados do mundo. Havia a necessidade de
abandonar as práticas tradicionais. Elas, contudo, não eram o único empecilho, no
próximo tópico, nos detemos em mais um dos “inimigos da alma”.
Segundo o frei Martinho de Nantes, os Kariri acreditavam que as enfermidades
eram causadas por feitiços que eram lançados por inimigos ou desafetos e que para
combater as doenças era preciso recorrer a contra-feitiçaria. Todavia, nos casos em que o
doente não se recuperava:

Atribuíam a culpa a alguém que o houvesse enfeitiçado e que


estava impedindo o efeito do remédio, e designavam o
culpado, como se tivessem certeza, e logo os parentes do
doente, sem qualquer outra prova que a acusação, iam matar o
acusado, sem que ninguém comumente se opusesse, com o
receio de serem também acusados; de sorte que, se acontecia
que morresse alguém muito estimado e que houvesse
chamado esses impostores para curá-lo, era raro que não
ocorressem outras mortes, antes ou depois de seu
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funerários e a unção dos enfermos nos aldeamentos Kiriri (1698-1702), 23-41/

falecimento, o mais das vezes antes, com o desejo de


contribuírem para a sua cura, pois não acreditavam que estava
morrendo naturalmente, mas por força do enfeitiçamento,
mesmo quando morria de doença, exceto quando vítima de
extrema velhice. (...) Assim ninguém estava seguro de sua
vida, podendo ser acusado de enfeitiçador por algum de seus
inimigos. E cuidavam de agir depressa, ao matar ou queimar
os que eram acusados de enfeitiçadores, para que não fossem
suspeitos de serem eles próprios os responsáveis; deixando
morrer e matando algumas vezes seus próprios parentes.
(NANTES, 1979, p. 5)

A dúvida era uma semente do demônio, um contraponto à fé. Ao atribuir a saúde


ou a doença à interferência da ação de terceiros, os índios se distanciavam dos preceitos
cristãos, já que o caminho que deveria ser seguido “pelos filhos de Deos” era apenas um,
e passava por “crer, esperar e amar a Deus” (MAMIANI, 1698, p. 157). Os índios, no
entanto, temiam o poder de destruição das palavras proferidas pelos feiticeiros e
recorriam a mecanismos de proteção.
Também Mamiani nos apresenta alguns os procedimentos que os Kiriri adotavam
para afastar as doenças e a morte:

Curar doentes com assopro: Curar de palavra, ou com


cantigas, Pintar o doente de genipapo, para q não seja
conhecido do diabo, & o não mate: Espalhar cinza á roda
da casa aonde esta hum defunto, para que o diabo dahi
não passe a matar outros: Botar cinza no caminho,
quando se leva hum doente, para que o diabo não vá
atráz dele: Esfregar hua creança com porco do mato &
lavala com Alóa, para que, quando for grande, seja bom
caçador, & bom bebedor: Não sahir de casa de madrugada,
nem à noite, para não se topar com a bexiga no caminho:
Fazer vinho, derramalo no chão, & varrer o adro da
casa para correr com as bexigas (MAMIANI, 1698, p.
84).

Tanto nesta carta do Padre Manuel Correia, quanto no Catecismo de Mamiani e na


Relação de Bernardo de Nantes, encontramos inúmeras referências às doenças que
assolavam as aldeias dos índios do sertão ao final do século XVII e também às doenças
da alma:

Enfim a doença do corpo enche os adros, & a doença da


alma os infernos. As bexigas, os catarros, a tisica, a febre,
são as doenças q matao os corpos, & os furtos, as mentiras,
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funerários e a unção dos enfermos nos aldeamentos Kiriri (1698-1702), 23-41/

as bebedices, & as lascívias, são as doenças que matao as


almas (NANTES, 1709, p. 312).

No Catecismo de Nantes, assim como no de Mamiani, encontramos o registro de


que os indígenas pintavam-se de jenipapo ou urucu, cantavam o Sopunhiu (“he cantar
dissoluto, & bárbaro quando banqueteão) ou Waiwca (“que he canto supersticioso”),
convocavam os feiticeiros para “assoprar e bufar sobre os parentes doentes”, faziam
adivinhações e jogavam cinza em volta da cama dos doentes para afugentar o diabo
(NANTES, 1709, p. 129). Para o capuchinho, os índios eram ludibriados pelos
“feiticeiros” que serviam ao demônio, faziam cobranças por suas curas e por isso não
eram confiáveis, razão pela qual deveriam ser combatidos:

E que vos parece destes feiticeiros enganadores, que andão às


escondidas do Padre pela casas, curando enfermos com os
seus assopros sobre o doente, & outras diabólicas mezinhas?
Elles também hão de apaparecer às claras com roupa, &
vestidos que tirão dos pobres doentes por paga da cura,
enganando-os, & às vezes violentando os, dizendo lhes, que
se não lhes derem o seu machado, cavador ou facão,
infalivelmente morterão. Esses feiticeiros com toda essa
fazenda nas mãos hão de aparecer no Juizo; & esses crucis
matadores dos seus próprios parentes escaparão por ventura?
Bem mal, sahirão elles com os corpos dos que matárão às
costas, sem poderem desencarregarse delles (NANTES, 1896,
294).

Os índios, segundo ele, deveriam privar da companhia somente de honestos


homens de Deus (NANTES, 1896, p. 113), e todos os que praticassem os ensinamentos
não adoeceriam ou seriam curados pelo misterioso poder de Deus e Divina Misericórdia.
Assim, cabia aos missionários ensinar os índios que os prazeres da carne não
proporcionavam a felicidade e que a saúde plena, perpétua e inalterável só seria
experimentada após a morte:

Cá morremos, lá não ha morte, nem temor della; cá há


velhice, & caducidade, lá não ha de haver velho, nem velha,
todos estaremos em dia de florente: cá os divertimentos do
dia acabão com a noite, que lhe succeede, lá durará o fermoso
dia por toda a eternidade bemaventurada sem noite; cá o frio
do Inverno nos enregela, & o calor no Estio nos queima, lá a
temperada constituição de huma florida Primavera nos
recreará para sempre, cá a obrigação do trabalho, & aspereza
dos caminhos nos molesta com o temor das cobras & dos
Tapuyas bravos; lá passearemos sem medo, & cansaço pelos
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funerários e a unção dos enfermos nos aldeamentos Kiriri (1698-1702), 23-41/

apraziveis jardins do Paraíso de Deos (NANTES, 1896, p.


113).

Aos que descumpriam os princípios cristãos, como os feiticeiros e as mulheres


desonestas, estavam reservadas as punições no dia do Juízo Final, momento em que
seriam expostos e, segundo frei Bernardo de Nantes, queimariam no fogo, com o
arrependimento de seus pecados:

não soube elle respeitar, nem temer a Deos, nem guardar os


seus mandamentos; esta feya marca, que tem na testa,
mostra q debaixo de galas cheirosas, trazia sua alma podre
de peccados, & torpezas: olhai para estoutro, antigamente
parecia bom Catholico, & no cabo era hum hypocrita, assim
o mostra o final que leva, porque na Igreja se fazia entre os
outros devotos, & depois hia fazer suas superstições com os
pagãos no mato. Olhai para estoutra, antigamente era
respeitada por sua fermosura, & agora está feita abominável
adultera de Satanàs por suas deshonestidades, leva na testa a
marca delas (NANTES, 1709, p. 290).

Nantes atrela uma característica física associada à prática pecaminosa, como se


fosse possível as ações do índio se materializar no corpo. Nesse relato o pecado vem pelo
que ele defini como prática hipócrita, de se apresentar como devoto na frente dos padres
e continuar a participar das celebrações dos índios. Dessa forma, havia uma somatização
de ações indevidas, aos olhos do capuchinho, a mentira, o fato de conhecer as proibições
e continuar praticando.

Quanto he das màs molheres, das moças, deshonestas, oh


que vergonha terão ellas então, quando aparecerem com
seus ayòs nas costas, cheyos dos pagamentos de suas
lascívias! Lá verão todos as postas de carne que receberão
do negro, & velórios que lhes deu o branco, cõ estes sinaes,
& preços de suas desenvolturas hão de sair adornadas diante
de seus pays, parentes, & de todos (NANTES, 1709, p.
296).

Também Bernardo de Nantes descreve as formas de enterramento adotadas por


este grupo indígena:4

4 Nos idos dos anos 2000, no atual município de Tomar do Geru, no estado de Sergipe, durante
reforma realizada em uma escola pública no local em que se encontrava a aldeia do Geru no século
XVII foram encontradas urnas funerárias, localizadas a uma distância de aproximadamente 500
metros da igreja.

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Setembro/Dezembro de 2017 - ISSN 1983-2850
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funerários e a unção dos enfermos nos aldeamentos Kiriri (1698-1702), 23-41/

Antigamente, eles enterravam seus mortos sem outras


cerimônias, como fariam com uma carniça qualquer; apenas
os colocavam em grandes potes de barro, que eu mesmo
encontrei em quantidade, ha pouco tempo, na beira deste
rio, quando uma enchente derrubara os barrancos e
desenterrara os cadáveres que estavam nos potes.
Frequentemente os enterravam antes mesmo da morte,
sobretudo quando muito velhos e com pouca esperança de
vida, o que me faz pensar que eles sentiam pouco a morte
das pessoas idosas, apesar de chorar muito a morte de seus
parentes (NANTES, 2003, p. )

Mamiani não descreve os rituais funerários dos Kiriri. Para termos acesso a eles,
recorremos à carta do padre Jacques Cockle, de 20 de novembro de 1673. Nela, Cockle
descreve o seguinte costume desses índios: quando a mulher falecia, o marido deveria ir
para o mato, cortar o cabelo e depois retornar; e, quando este voltava para a aldeia, os
outros indígenas fugiam para evitar que algum ente próximo viesse a também falecer.

antigamente ficavam longe da igreja e costumavam enterrar os


cadaveres de seus parentes perto da aldeia. Contudo neste
mês, como eu dizia que não se devia enterrar uma falecida em
terra consagrada, porque no tempo da doença estava candida
no mato e não tinha purificado a alma com a sagrada
confissão, eles me convenceram com grandes preces a dar
para ela alguma cova na igreja. Nesta ocasião, acrescento que
mais ou menos no mesmo período, houve o retorno do
marido da morta, que também tinha ficado escondido no
mato. Enfim, logo que cresceu o boato da chegada do viúvo,
uma velha, tia paterna dele na viúva também, arranjou um
canto da casa onde fazer a lamentação a respeito dele; na
verdade todos os outros habitant naquele mesmo momento
imediatamente se refugiaram nos espinhais próximos.
Perguntando o que fosse aquilo, não achei nem um menino
que respondesse. Encontrei no caminho o viúvo que chegava
de longe com a cabeça coberta com uma manta de pano.
Entrei em seguida na casa daquela velha, onde tinham
chegado também outras viúvas, e fiquei sabendo que os
outros tinham fugido pelo horror da morte, porque junto com
o marido da morta, além do mais, mais novo do que ela,
chegara também o espírito matador dela, e se todos não
saissem do lugar e se escondessem, da mesma maneira eles
seriam privados do cônjugue antes da velhice. Acomodando-
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me ao erro, durante dois dias reguei aquela casa com a água


benta, como para afugentar o espírito, e indo continuamente
visitor os escondidos, em voz alta os chamei e os reconduzi
em suas casas, de onde já o mau espírito tinha saído. Na noite
seguinte, ainda amedrontados, fortificaram suas casas
espanhando cinzas do lado de for a, como se fosse um muro;
e disso se julga o quanto esta gente é crédula e dada às suas
cerimônias (COCKLE, 1673, p. 33).

As cinzas, como se pode observar, eram utilizadas pelos Kiriri como amuleto,
constituindo o limite entre o mundo e o eu coletivo, sendo empregadas para afugentar a
morte ou as doenças. Nessa carta, encontramos também uma das possíveis justificativas
para as fugas dos Kiriri das aldeias, uma vez que tinham o costume de vivenciar o luto
longe dos seus e o mais próximo possível da natureza. Situação semelhante nos é relatada
pelo padre Manoel Correia, ao se referir às práticas dos índios Moritize, que também
habitavam os sertões da Bahia e também viviam tutelados pelos jesuítas. Na carta, as
práticas rituais funerárias são descritas em função de epidemia de varíola que se abateu
sobre a aldeia5

Metiam os cadáveres dos seus mortos dentro de um pote e


o enterravam, para que depois, não tendo quem lho desse,
não sentissem a falta da vasilha para cozinhar a comida. Era
seu costume quando morria algum na Aldeia, espalharem
cinza à roda das casas para que o gênio mau não levasse da
casa do que morreu para as outras, a febre ou outra doença,
e que eles cuidavam o impedia a cinza. Também quando
morria a mulher de algum, o viúvo corria logo para o mato,
e cortava o cabelo no cimo da cabeça e ai ficava algum
tempo escondido. Quando voltava à Aldeia era a vez de
fugirem todos dele e de se esconderem no mato. Estavam
persuadidos que o primeiro que se achasse com o triste
homem, contrairia a doença mortal, e não duraria muito.
(…) Fugiram das doenças e da morte como animais
selvagens (…). No tempo da varíola, que é a peste dos
índios, retiravam-se no mato mais longinquo, e cuidavam
com grande cura do caminho em volta, mantendo um
percurso em espiral e apagando os rastos da passage, para
que a morte não reconhecesse suas pegadas ou a febre não
os agredisse nas tocas (Annuae Litterae ex Brasilias 1693.
ARSI, Bras. 9, f. 383v.).

5Também deste mesmo período, temos o relato do frei Martinho de Nantes sobre uma epidemia
de varíola que atingiu uma aldeia de índios que viviam nas proximidades do Rio São Francisco.

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funerários e a unção dos enfermos nos aldeamentos Kiriri (1698-1702), 23-41/

Também Bernardo de Nantes descreve as formas de enterramento adotadas por


este grupo indígena:6

Antigamente, eles enterravam seus mortos sem outras


cerimônias, como fariam com uma carniça qualquer; apenas
os colocavam em grandes potes de barro, que eu mesmo
encontrei em quantidade, ha pouco tempo, na beira deste
rio, quando uma enchente derrubara os barrancos e
desenterrara os cadáveres que estavam nos potes.
Frequentemente os enterravam antes mesmo da morte,
sobretudo quando muito velhos e com pouca esperança de
vida, o que me faz pensar que eles sentiam pouco a morte
das pessoas idosas, apesar de chorar muito a morte de seus
parentes (NANTES, 2003, p. )

Cabe ressaltar que estas passagens, mais do que seu conteúdo etnográfico, nos revelam
também as percepções dos missionários sobre as denominadas práticas de “gentilidade”,
e que, de acordo com o que estava estabelecido no Concílio de Lima e ratificado no
“Itinerario para Parochos de Indios”, eles tinham a obrigação de reportar os casos aos
Superiores e castigar os índios por tais práticas.

Los Indios que hazen superticones, y ceremonias, y ritos


diabólicos, mayormente para tomar aguero de los negócios
que comiençan, y hazen ceremonias en los entierros de sus
defuntos, si se hallaren permanecen en los ritos de su
Gentilidad (PENA MONTENEGRO, 1678, p. 284).

“Enterrar os mortos” e “rogar a Deus pelos vivos, & defuntos”, são obras da
Misericórdia, como exposto por Mamiani, sendo que a primeira está relacionada com as
obras do corpo, e a segunda, com as obras do espírito (MAMIANI, 1698, p. 17-18). Para
o gentio, o jesuíta ensina que, após a morte, o corpo fica enterrado na sepultura, mas a
alma, eterna, poderia ir a três lugares, dependendo das ações praticadas em vida. Os bons
teriam lugar no céu e viveriam felizes com Deus; (MAMIANI, 1698, p. 81). Os que não
tivessem vivido inteiramente segundo a vontade de Deus iriam para o purgatório,
localizado logo acima do inferno (MAMIANI, 1698, p. 111). Por fim, os pecadores iriam
para o inferno (MAMIANI, 1698, p. 70), “(...) os máos hirão ao inferno em corpo, &
alma, para padecerem hum, & outra tormentos eternos em companhia do diabo”

6 Nos idos dos anos 2000, no atual município de Tomar do Geru, no estado de Sergipe, durante
reforma realizada em uma escola pública no local em que se encontrava a aldeia do Geru no século
XVII foram encontradas urnas funerárias, localizadas a uma distância de aproximadamente 500
metros da igreja.

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(MAMIANI, 1698, p. 160). Mamiani ainda reitera que seguir os “costumes dos vossos
avós” só iria levá-los ao inferno (MAMIANI, 1698, p. 157).

4. Últimas considerações
A constante preocupação com a firme conversão dos indígenas fez com que o diabo
fosse tema recorrente nos escritos de Mamiani e Nantes, sendo sempre a figura que se
opunha e comprometia o bem, estando associado às antigas práticas dos Kiriri. O inferno
era descrito como uma grande fogueira, para a qual todos os não-cristãos ou aqueles que
não seguiam as normas determinadas pelos padres seriam enviados, e como castigo
teriam seu corpo queimado por toda a eternidade. Para assegurar a salvação o índio
deveria se afastar das práticas comuns a comunidade, as quais são elencadas nos escritos,
ser batizado, e por meio da constante vigilância poderiam se livrar do diabo e como
consequência do inferno.
Uma última chance era concedida no intuito da salvação da alma, a extrema-unção.
Os religiosos seguem as normativas e explicam como o sacramento deveria ser
administrado por um pároco nas aldeias. Mamiani apresenta em seus escrito uma outra
consideração, ao identificar os problemas na administração desse sacramento por parte
dos seculares nos sertões da América portuguesa. Quando o jesuíta reitera a importância
da água e das palavras para que o moribundo possa efetivamente alcançar o perdão
divino e a possível salvação.
Por fim, foi possível apresentar como as práticas funerárias dos Kiriri foram
registradas por esses homens-memória. O estranhamento e o combate aos costumes do
outro, permitem conhecer um pouco, da leitura feita por esses religiosos das práticas
indígenas. A constante preocupação em combater as práticas tradicionais, os assim
denominados “ abomináveis costumes” (a idolatria e a feitiçaria), tornou-se a tônica dos
escritos voltados para a conversão, refletindo uma inquietação sobre a vida e com a
morte.

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