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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E


URBANISMO

ANDRÉ DE LIMA COELHO

MÉTODO DE PREVISÃO DE MARÉ OCEÂNICA,


UTILIZANDO ANÁLISE HARMÔNICA EM SÉRIES
DE 18,69 ANOS

CAMPINAS
2016
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO

MÉTODO DE PREVISÃO DE MARÉ OCEÂNICA,


UTILIZANDO ANÁLISE HARMÔNICA EM SÉRIES DE
18,69 ANOS

André de Lima Coelho

Dissertação de Mestrado aprovada pela Banca Examinadora, constituída por:

Prof. Dr. Tiago Zenker Gireli


Presidente e Orientador/FEC/UNICAMP

Prof. Dr. Jorge Luiz Trabanco


FEC/UNICAMP

Profa. Dra.Susana Beatriz Vinzon


UFRJ

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida
acadêmica do aluno.

Campinas, 17 de Fevereiro de 2016


DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a todos que


participaram e participam de minha vida,
ajudando-me durante todo o caminho.
AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador Tiago Zenker Gireli, que me acompanha na vida


acadêmica desde a graduação, pelo apoio e encaminhamento necessários
para a elaboração desse trabalho.

Aos membros das comissões examinadoras de qualificação e defesa de


mestrado, Prof. Dr. Jorge Luiz Alves Trabanco, Prof. Dr. José Gilberto Dalfré
Filho e Profa. Dra. Susana Beatriz Vinzón, pelo tempo e atenção
disponibilizados e por todos os comentários e observações que foram de
grande valia na elaboração e revisão deste trabalho.

Aos meus pais, Paulo e Flávia, por toda minha criação e por todo
incentivo que me deram na decisão de trilhar a carreira acadêmica.

Ao meu irmão, Lucas, pelas conversas e momentos descontraídos que


me deram a leveza que precisava quando tinha um peso nas costas.

À minha namorada, Amanda, pelo apoio, amor e paciência em todos os


momentos – fáceis e difíceis – da reta final de meu Mestrado.

Aos meus amigos, que estiveram comigo em diferentes momentos da


minha vida e que contribuíram para minha persistência na vida acadêmica.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior


(CAPES), pela concessão da bolsa que viabilizou minha dedicação exclusiva à
pesquisa.
RESUMO
A maré astronômica é associada a movimentos astronômicos periódicos
e, portanto, previsíveis. Se a análise harmônica de maré for realizada em
séries anuais, os resultados serão afetados pelo ciclo nodal da Lua (de período
18,61 anos). Assim, se utilizadas séries de maior extensão, as correções
devido à influência desse ciclo podem ser evitadas, fazendo com que as
análises harmônicas de maré gerem resultados mais precisos. A tendência de
modificação das componentes também deve ser levada em consideração para
a previsão de maré, visando resultados mais confiáveis para a aplicação em
cenários futuros. O objetivo desse trabalho é estabelecer um método de
previsão de maré utilizando séries de 18,69 anos para verificar a evolução
temporal das componentes harmônicas de maré. A eficácia do método foi
avaliada pela sua aplicação em estudo de caso, utilizando os dados de altura
de maré do marégrafo de Cananeia (SP). A utilização de séries de 18,69 anos
de extensão para a extração de componentes harmônicas permitiu que fosse
visualizada com mais facilidade a tendência das componentes e a modificação
da mesma, nas componentes mais energéticas de maré, causada pela
construção da barragem no Canal do Valo Grande. Utilizando as componentes
de maré extrapoladas para o ano de 2014, associadas com componentes de
águas rasas e de longo período, foi realizada previsão de alturas de maré para
o ano de 2014, uma década após o final da série de dados. Foi possível obter
ótima precisão de previsão de maré astronômica, comparável à precisão obtida
pela retrovisão dos dados medidos pelo novo marégrafo instalado no local. É
recomendada a aplicação do método, associado a projeções de subida do nível
médio do mar, para simular com maior confiabilidade os ciclos de maré em
projetos de infraestrutura e proteção costeira.

Palavras-chave: Previsão de Maré, Componentes Harmônicas de Maré,


Engenharia Costeira, Cananeia (SP)
ABSTRACT

The tide is associated to periodic astronomical movements, therefore


predictable. If the tidal harmonic analysis is made with annual series, the results
will be affected by the lunar nodal cycle (which has a period of 18.61 years).
Thus, if greater length series are used, the corrections due to the influence of
this cycle can be avoided, what makes the tidal harmonic analysis generate
more accurate results. The tidal constituents tendencies should also be taken
into consideration for predicting the tide, seeking more reliable results for usage
in future scenarios. The aim of this study is to establish a tidal prediction
method using sets of 18.69 years to verify the evolution of tidal harmonic
constituents. The effectiveness of the method was evaluated by its application
in a case study using the tidal height data from the tide gauge of Cananeia
(SP). The use of 18.69 years extended series for extraction of harmonic
constituents allowed to view more easily the constituents' tendency and the
modification of itself in the most energetic tidal constituents, caused by the
construction of the dam in Valo Grande Channel. Using the tidal constituents
extrapolated to the year 2014, associated with shallow water and long period
constituents, a tidal height prediction was conducted for the year 2014, a
decade after the end of the data series. It was possible to obtain great precision
of astronomical tide forecast, comparable to the accuracy obtained by the rear
view of the data measured by the new tide gauge installed on the local. It is
recommended the application of the method, associated with projections of the
sea level rise (SLR), to simulate more reliably the tidal cycles in projects of
coastal infrastructure and protection.

Keywords: Tidal Prediction, Tidal Harmonic Constituents, Coastal Engineering,


Cananeia (SP)
LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 Variação da amplitude da componente de maré M2 no


marégrafo de Trieste........................................................ 22

Figura 3.1 Derivação das forças geradoras da maré.......................... 24

Figura 3.2 Combinação das forças que originam as


marés................................................................................ 26

Figura 3.3 Declinação da Lua causada pela diferença entre os planos


da órbita Lunar e do Equador............................... 27

Figura 3.4 Marés de Sizígia e Quadratura......................................... 28

Figura 3.5 Ciclo do nodo ascendente lunar....................................... 29

Figura 3.6 Maregramas de localidades com diversas predominâncias de


maré.................................................. 30

Figura 3.7 Cálculo computacional dos sistemas de pontos anfidrômicos


no mundo para a componente de maré dominante
M2................................................................... 31

Figura 3.8 Previsão da maré em Cananeia (SP) para o dia 1 de janeiro


de 2006, e as componentes harmônicas de maior
amplitude.......................................................................... 32

Figura 3.9 Espectro do registro do potencial gerador de marés, para


série de um ano................................................................. 39

Figura 3.10 Espectro do registro do potencial gerador de marés, para


série de 19 anos................................................................ 39

Figura 3.11 Principais regiões de um estuário..................................... 44

Figura 3.12 Amplitude da componente M2 para 4 diferentes localidades


da Baía de Fundy.......................................... 47

Figura 4.1 Sistema estuarino-lagunar de Cananeia-Iguape.............. 49

Figura 4.2 Defasagem da curva de maré devido à interação das


componentes M2 e M4..................................................... 50

Figura 4.3 Dinâmica das marés no complexo estuarino-lagunar de


Cananeia-Iguape.............................................................. 51
Figura 4.4 Localização do Marégrafo de Cananeia........................... 52

Figura 4.5 Valo Grande: ligação direta entre o rio Ribeira de Iguape e a
cidade de Iguape........................................................ 54

Figura 5.1 Tela de entrada do programa LONGSERIE..................... 58

Figura 5.2 Fluxograma do método para previsão de maré,


utilizando séries de 18,69
anos......................................................... 59

Figura 5.3 Exemplo de encaixe dos valores previstos no registro do


marégrafo......................................................................... 61

Figura 5.4 Anos iniciais das séries utilizadas no método de previsão


para Cananeia (SP).......................................................... 62

Figura 5.5 Arquivo de Componentes harmônicas previstas


originalmente, com seus valores de amplitude e fase para
2014, para ser utilizado em previsão................................. 67

Figura 6.1 Amplitude da componente M2 em centímetros, ao longo


dos anos, para a análise de séries anuais (com
correção
perinodal).......................................................................... 69

Figura 6.2 Amplitude da componente M2 em centímetros, ao longo


dos anos, para a análise de séries de 18,69
anos............ 70

Figura 6.3 Fase da componente M2 em graus, ao longo dos anos, para


a análise de séries anuais........................................ 70

Figura 6.4 Fase da componente M2 em graus, ao longo dos anos, para


a análise de séries de 18,69 anos............................ 71

Figura 6.5 Amplitude da componente M2 em centímetros, ao longo dos


anos, para a análise de séries anuais (com correção
perinodal).......................................................................... 73

Figura 6.6 Amplitude da componente M2 em centímetros, ao longo


dos anos, para a análise de séries de 18,69
anos............ 73
Figura 6.7 Fase da componente M2 em graus, ao longo dos anos, para
a análise de séries anuais, com divisão no ano de
1983.................................................................................. 74

Figura 6.8 Fase da componente M2 em graus, ao longo dos anos,


para a análise de séries de 18,69 anos, com divisão no
ano de 1983...................................................................... 74

Figura 6.9 Amplitude da componente S2 em centímetros, ao longo dos


anos, para a análise de séries anuais. (com correção
perinodal) ......................................................................... 76

Figura 6.10 Amplitude da componente S2 em centímetros, ao longo dos


anos, para a análise de séries de 18,69 anos........... 76

Figura 6.11 Fase da componente S2 em graus, ao longo dos anos, para


a análise de séries anuais....................................... 77

Figura 6.12 Fase da componente S2 em graus, ao longo dos anos, para


a análise de séries de 18,69 anos............................ 77

Figura 6.13 Trecho da previsão de 11 meses realizada, comparando as


1- maré observada, 2- maré prevista utilizando o registro do
KALESTO e 6 – maré prevista utilizando as componentes
extrapoladas, em conjunto com as componentes de longo
período e de águas rasas............. 80

Figura A.1 Amplitude da componente O1 em centímetros, para as


análises de séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.
................................................................................ 94

Figura A.2 Fase da componente O1 em graus, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.............. 94

Figura A.3 Amplitude da componente K2 em centímetros, para as


análises de séries anuais e análises de séries de 18,69
anos.................................................................................. 95

Figura A.4 Fase da componente K2 em graus, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos............ 95

Figura A.5 Amplitude da componente M3 em centímetros, para as


96
análises de séries anuais e análises de séries de 18,69
anos..................................................................................

Figura A.6 Fase da componente M3 em graus, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos............ 96

Figura A.7 Amplitude da componente M4 em centímetros, para as


análises de séries anuais e análises de séries de 18,69
anos.................................................................................. 97

Figura A.8 Fase da componente M4 em graus, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos............ 97

Figura A.9 Amplitude da componente K1 em centímetros, para as


análises de séries anuais e análises de séries de 18,69
anos.................................................................................. 98

Figura A.10 Fase da componente K1 em graus, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos............ 98

Figura A.11 Amplitude da componente N2 em centímetros, para as


análises de séries anuais e análises de séries de 18,69
anos.................................................................................. 99

Figura A.12 Fase da componente N2 em graus, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos............ 99

Figura A.13 Amplitude da componente Msf em centímetros, para as


análises de séries anuais e análises de séries de 18,69
anos.................................................................................. 100

Figura A.14 Fase da componente Msf em graus, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos............ 100

Figura A.15 Amplitude da componente MN4 em centímetros, para as


análises de séries anuais e análises de séries de 18,69
anos.................................................................................. 101

Figura A.16 Fase da componente MN4 em graus, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos............. 101

Figura A.17 Amplitude da componente MK3 em centímetros, para as


análises de séries anuais e análises de séries de 18,69
anos.................................................................................. 102

Figura A.18 Fase da componente MK3 em graus, para as análises de 102


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.............

Figura A.19 Amplitude da componente MS4 em centímetros, para as


análises de séries anuais e análises de séries de 18,69
anos.............................................................................................................. 103

Figura A.20 Fase da componente MS4 em graus, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.............. 103

Figura A.21 Amplitude da componente SO3 em centímetros, para as


análises de séries anuais e análises de séries de 18,69
anos.................................................................................. 104

Figura A.22 Fase da componente SO3 em graus, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos............. 104

Figura A.23 Amplitude da componente S3 em centímetros, para as


análises de séries anuais e análises de séries de 18,69
anos.............................................................................................................. 105

Figura A.24 Fase da componente S3 em graus, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69
anos.............. 105

Figura A.25 Amplitude da componente SK3 em centímetros, para as


análises de séries anuais e análises de séries de 18,69
anos.................................................................................. 106

Figura A.26 Fase da componente SK3 em graus, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos............. 106

Figura A.27 Amplitude da componente L2 em centímetros, para as


análises de séries anuais e análises de séries de 18,69
anos.................................................................................. 107

Figura A.28 Fase da componente L2 em graus, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos............. 107

Figura A.29 Amplitude da componente 2N2 em centímetros, para as


análises de séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.
................................................................................ 108

Figura A.30 Fase da componente 2N2 em graus, para as análises de 108


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.............

Figura A.31 Amplitude da componente Q1 em centímetros, para as


análises de séries anuais e análises de séries de 18,69
anos.................................................................................. 109

Figura A.32 Fase da componente Q1 em graus, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos............ 109

Figura A.33 Amplitude da componente MU2 em centímetros, para as


análises de séries anuais e análises de séries de 18,69
anos.................................................................................. 110

Figura A.34 Fase da componente MU2 em graus, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos............. 110

Figura A.35 Amplitude da componente MO3 em centímetros, para as


análises de séries anuais e análises de séries de 18,69
anos.................................................................................. 111

Figura A.36 Fase da componente MO3 em graus, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos............. 111
LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 Componentes de maré e seus argumentos


astronômicos.................................................................... 34
Tabela 6.1 Coeficientes lineares, angulares e de determinação das
regressões lineares realizadas para cada curva da
componente M2................................................................ 71
Tabela 6.2 Coeficientes lineares, angulares e de determinação das
regressões lineares realizadas para cada curva da
componente M2, até o ano de 1983 e depois de 1983....... 75
Tabela 6.3 Valores do índice k para os diversos métodos de previsão de
maré, em cada mês disponível do registro do
KALESTO......................................................................... 80
Tabela B.1 Componentes utilizadas na previsão de maré no ano de
2014.................................................................................. 112
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.............................................................................. 18
2. OBJETIVO.................................................................................... 23
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................... 24
3.1. Maré Astronômica........................................................................ 24
3.2. Componentes de Maré e Previsão............................................... 31
3.2.1. Potencial Gerador de Maré.......................................................... 33
3.2.2. Equação Integral de Fourier......................................................... 35
3.2.3. Componentes Não-Lineares........................................................ 41
3.3. Maré em Estuários....................................................................... 41
4. REGIÃO DE ESTUDO................................................................. 48
4.1. Complexo Lagunar de Cananeia-Iguape..................................... 48
4.2. Características da Maré em Cananeia......................................... 49
4.3. Estação Maregráfica de Cananeia............................................... 51
4.4. Canal do Valo Grande.................................................................. 54
5. MATERIAIS E MÉTODOS........................................................... 57
5.1. PACMARÉ.................................................................................... 57
5.2. Método de Previsão de Maré, Utilizando Séries de 18,69 59
anos............................................................................................
5.2.1 Correção das Falhas (Passos 2 a 5) .................................... 60
5.2.2 Separação das Séries e Cálculo da Tendência das 62
Componentes Harmônicas (Passos 6 a 9) ...........................
5.2.3 Seleção das Componentes e Aplicação em Previsão (Passos 10 63
e 11) ...................................................................
5.3. Aplicação aos Dados do Marégrafo de Cananeia (SP)......... 63
6. RESULTADOS....................................................................... 69
7. DISCUSSÃO.......................................................................... 81
8. CONCLUSÕES...................................................................... 85
REFERÊNCIAS..................................................................... 87
APÊNDICE A........................................................................ 94
APÊNDICE B........................................................................ 112
18

1. INTRODUÇÃO

A maré astronômica, causada por influência gravitacional dos astros,


desloca as massas do globo em variações periódicas. Pela natureza periódica
dessas forças, o deslocamento de massas (das águas dos oceanos, facilmente
observável a olho nu, e da crosta terrestre, de difícil identificação) é previsível,
com variações de amplitude e fase das componentes das ondas de maré
dependendo da localidade observada.

No caso da maré oceânica, gerada por forças astronômicas, sua


magnitude será dependente de diversos fatores, como a topografia da
plataforma continental, a data em relação aos ciclos astronômicos, a
profundidade e as características costeiras, o que pode gerar marés com
comportamentos diferentes em diferentes locais (PARKER, 2007).

Em regiões estuarinas, a profundidade em embocaduras marítimas é


relacionada com o prisma da maré, o qual corresponde ao volume de água que
adentra o estuário no período de enchente do ciclo da maré. Esse valor é
diretamente proporcional à amplitude da maré, ou seja, do desnível entre o
momento de maré mais baixa (baixamar) e o momento de maré mais alta
(preamar). Com uma diminuição no prisma de marés, haveria diminuição das
velocidades das correntes nas embocaduras, o que resultaria em um maior
acúmulo de sedimentos e, assim, em uma diminuição nas profundidades. Essa
redução na profundidade pode ser causadora de transtornos em regiões
portuárias, uma vez que haveria a necessidade de aumentar o volume de
dragagem para possibilitar a passagem dos navios.

Segundo Pickering (2012), o conhecimento das variações nas alturas do


nível do mar e a sua utilização em modelos é importante do ponto de vista da
engenharia, sabendo-se que as marés afetam processos hidrodinâmicos e
transporte de sedimentos, além de influenciar na escolha das cotas de
implantação de estruturas portuárias e de proteção costeira.

Com uma elevação do nível médio do mar, obras como quebra-mares


podem ser galgadas pela ação de ondas, levando ao seu rompimento em
condições extremas. Entretanto, se mantida a cota de fundo, a subida do nível
do mar pode implicar em um aumento de profundidade nos portos, o que
19

possibilitaria o trânsito de embarcações de maior calado e, consequentemente,


maior capacidade para carga, aumentando a movimentação de mercadorias.

A previsão de possíveis cenários futuros na fase de idealização,


construção e operação de um porto é essencial para evitar danos se as
medidas necessárias forem tomadas previamente (IPCC, 2014). Apesar de
muitos estudos abordarem cenários para o nível médio do mar no futuro, é no
cenário de preamar de sizígia, associada a maré meteorológica, com grandes
ondas, que ocorrerão os eventos extremos mais danosos (PICKERING, 2012).

O conhecimento das alturas de maré também é importante do ponto de


vista da navegação para a determinação das cotas que são adotadas como
nível de redução pela Marinha nas cartas náuticas brasileiras, o qual
corresponde à média dos valores mínimos de baixa-mar de sizígia da
localidade. Esse nível é utilizado também na elaboração das tábuas de maré,
que informam a previsão dos níveis de preamar e baixa-mar do dia (MIGUENS,
1996). O território marítimo brasileiro, definido tendo como referência a maré,
compreende uma faixa de doze milhas marítima de largura, medidas a partir da
linha de baixa-mar do litoral continental e insular (BRASIL, 1993). Já os
terrenos de Marinha são definidos por uma distância de 33 metros medidos
horizontalmente, para a parte da terra, da posição da linha de preamar média
de 1831 (BRASIL, 1946).

Devido a fatores históricos relacionados à ocupação do território


brasileiro e seguindo a tendência mundial da população em ocupar
predominantemente áreas próximas ao litoral, o Brasil apresenta, de acordo
com o Censo Demográfico 2010, cerca de 26,58% da população em municípios
da zona costeira (IBGE, 2010). O crescimento populacional verificado nas
últimas décadas ao longo de quase todo o litoral brasileiro tem induzido um
progressivo interesse científico e técnico sobre este ambiente, seja pela
premência da ordenação de uso e ocupação do solo, seja pela necessidade do
conhecimento básico imprescindível à implantação de um diversificado
conjunto de obras de engenharia costeira (TESSLER & SOUZA, 1998).

As recentes mudanças climáticas do último século têm incentivado


estudos sobre a mudança no nível médio do mar e fenômenos das marés.
Segundo IPCC (2014), desde 1970 o derretimento das geleiras glaciais e a
20

expansão termal oceânica representam cerca de 75% do aumento médio do


nível do mar observado nos últimos 40 anos.

É provável que o aumento no nível médio do mar global no período de


2081-2100, em relação àquele observado no período de 1981-2005, varie de
0,26m a 0,55m, no melhor cenário avaliado, e de 0,52m a 0,98m no pior
cenário. A elevação do nível do mar só aumentaria a necessidade de estudo
dos fenômenos da maré em regiões costeiras, a sua propagação em estuários
e a modificação de suas características, devido ao risco de problemas de
saúde pública e moradia que essa elevação, aliada a efeitos de maré
meteorológica, poderia causar (IPCC, 2014).

A maré é um processo de grande complexidade, já que engloba o


estudo de forças astronômicas, influências meteorológicas e hidrodinâmicas,
atrito com o fundo, entre outros. Em águas rasas, principalmente em regiões de
estuário, uma grande parte dos fenômenos naturais sofre influência direta ou
indireta dos ciclos de maré. A maré se apresenta geralmente na plataforma
continental como uma combinação de co-oscilação e propagação de onda, e a
influência desses efeitos sobre os processos estuarinos é de grande
complexidade (MIRANDA, CASTRO e KJERFVE, 2012).

Pela grande importância da maré na hidrodinâmica estuarina, os ciclos


de maré devem ser levados em consideração em quaisquer modelos físicos ou
computacionais de regiões costeiras e estuarinas. Para que os ciclos de maré
representem fielmente a realidade, a maré real deve ser registrada por uma
estação maregráfica para que assim possa ser realizada uma previsão de
casos típicos e extremos a serem utilizados na modelagem (MIRANDA,
CASTRO e KJERFVE, 2012).

Miyao e Harari (1989) destacam a necessidade e a importância do


estudo da maré e das correntes de maré em regiões estuarinas, com especial
atenção nas componentes de águas rasas, visto que tais estudos podem trazer
resultados de grande utilidade na calibração e verificação de modelos
matemáticos de estuários. Como a maré é causada por forças astronômicas
cíclicas, cada uma dessas forças pode ser mensurada no que chamamos de
componente de maré. Ao combinar essas forças, obtemos a onda de maré
astronômica. É possível calcular as componentes de maré pelo método
21

harmônico (FRANCO, 1988). Para isso, é necessário um registro de razoável


extensão de alturas de maré do local a ser analisado, realizado por um
marégrafo.

Pickering (2012) aponta que as pesquisas de cenários de elevação do


nível médio do mar devem levar em consideração as alterações dinâmicas de
maré, principalmente pelas implicações ambientais, econômicas e sociais
dessas mudanças, como enchentes costeiras, possibilidades de geração de
energia maremotriz, mudanças na dinâmica sedimentar e no transporte
hidroviário e alterações nas zonas estuarinas. Lembra ainda que o projeto de
estruturas de defesa costeira é realizado com base em vários fatores, e um
deles é a amplitude da onda de maré. É necessário aplicar as variações nas
componentes de maré astronômica, muitas vezes consideradas constantes,
nos cenários de subida do nível médio do mar, considerados cada vez mais
prováveis.

Povreau et al. (2006), Ray (2006), Shaw e Tsimplis (2010) e Woodworth


(2010) realizaram estudos das mudanças nas componentes de maré a partir de
longas séries de observação de maré (Figura 1.1). Para isso, utilizaram-se de
diversas séries de 1 ano de dados de altura de maré, obtendo assim um
conjunto de componentes de maré para cada ano. Entretanto, como os
resultados foram obtidos sem a compensação das correções nodais, a análise
da tendência das componentes foi dificultada pelos padrões senoidais
causados pelos ciclos nodais. No caso do estudo realizado por Ray (2006), a
tendência da amplitude da componente de maré M2 obtida não pode ser
delimitado por uma curva, mas sim uma faixa de valores. O motivo dessa
limitação é a extensão da série utilizada (anual), que não possibilita o cálculo
da componente sem as variações nodais.
22

Figura 1.1: Variação da amplitude da componente de maré M2 no marégrafo de


Trieste, na Itália. Fonte: Adaptado de SHAW e TSIMPLIS (2010)

Franco (1988) especificou que, quanto maior o registro, mais precisas e


em maior número serão as componentes obtidas, devido a um maior período
de análise para componentes de frequência próxima. Além disso, as análises
harmônicas realizadas em séries mais longas conseguem extrair um maior
número de componentes, o que permite realizar previsões de alturas de maré
mais precisas. Com séries de mais de 18,61 anos de dados horários (período
correspondente ao ciclo do nodo ascendente lunar), é possível excluir a
variação nodal do valor obtido das componentes pela análise harmônica e,
assim, obter componentes de maré com menor variação temporal a longo
período (FRANCO, 1988).

A utilização das componentes harmônicas atualizadas deve ser


realizada para reproduzir mais fielmente os cenários de previsão de maré.
Assim, quanto maior for a precisão na análise harmônica e na verificação da
tendência dessas componentes ao longo do tempo, mais precisa será a
previsão de alturas de maré para a utilização em modelos ou projetos.
23

2. OBJETIVO

O objetivo desta pesquisa é estabelecer um método de previsão de


maré, utilizando séries de 18,69 anos, para verificar a evolução temporal das
componentes harmônicas de maré. A eficácia do método foi avaliada pela sua
aplicação em estudo de caso, utilizando os dados de altura de maré do
marégrafo de Cananeia (SP).
24

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. Maré Astronômica

As forças geradoras de maré são criadas a partir das forças


gravitacionais e movimentações dos astros. Cada uma com o seu período e
amplitude diferentes, essas forças combinadas irão gerar a subida e descida do
nível do mar e da crosta terrestre.

A maré astronômica é um efeito periódico, portanto previsível, e como o


nome sugere é causada pela combinação dos efeitos das forças gravitacionais
da Lua e do Sol, sobre a Terra, e das forças centrífugas, entre a Terra e a Lua
e entre a Terra e o Sol, como mostra a Figura 3.1:

Figura 3.1: Derivação das forças geradoras da maré (Fonte: Adaptado de


OPEN UNIVERSITY, 1999)
25

A força centrífuga da Terra tem sempre mesmo sentido e magnitude,


porém a força gravitacional entre a Terra e a Lua depende da posição da Lua
em relação à Terra, e a resultante entre ambas as forças geram as marés
(QUINN, ATKINSON e WELLS, 2012). A resultante entre as forças
gravitacionais entre o sistema Terra-Lua e as forças centrífugas dos dois
corpos equilibram o sistema como um todo (ALFREDINI e ARASAKI, 2009).

O deslocamento das massas, sob a ação das forças astronômicas, gera


os chamados “bulbos de maré”, como mostrado na Figura 3.2. Exemplificando,
em um mundo hipoteticamente coberto inteiramente por oceanos profundos
(eliminando assim as dissipações por águas rasas), sofrendo a ação
gravitacional somente da Lua, seriam gerados 2 bulbos de maré de mesma
magnitude: um na direção da Lua, (por sua ação gravitacional ser maior que a
força centrífuga), e um apontado para o lado oposto ao da Lua (onde a força
centrífuga é maior que a gravitacional) (PARKER, 2007).

Segundo Baruteau (2013), no ano de 1687 Newton já havia apontado


esse fenômeno de deslocamento de massas como sendo consequência das
ações gravitacionais de Sol e Lua. Newton também apontou que os
movimentos de rotação da Terra em torno de seu próprio eixo, associados com
a translação da Lua em torno da Terra, coincidiam com as observações das
variações diurnas e semidiurnas da maré. A observação da maré também
possibilitou, aplicando as leis de gravitação desenvolvidas e conhecendo as
amplitudes de maré, uma estimativa da massa lunar que, apesar de obter
resultado de aproximadamente o dobro do valor real, foi a primeira tentativa
desse tipo de cálculo.
26

Figura 3.2 – Combinação das forças que originam as marés. Fonte: Adaptado
de OPEN UNIVERSITY, 1999

A órbita lunar não coincide com a extensão do plano do equador como


mostrado na angulação da Figura 3.2. Quando a declinação da Lua atinge sua
máxima angulação (28º), o seu efeito diferencial terá desigualdades máximas,
gerando marés com desigualdades diurnas que serão máximas nos trópicos
(marés tropicais, pontos 1 e 3 da Figura 3.3). Já quando a Lua se encontra
sobre o equador, com declinação nula, não há desigualdades diurnas (marés
equatoriais, pontos 2 e 4 da Figura 3.3) (THE OPEN UNIVERSITY, 1999).

A órbita da Lua em torno da Terra não é circular, mas elíptica, o que


também irá gerar diferenças dependendo da proximidade dos astros. Em seu
perigeu, há um aumento de cerca de 20% nas forças geradoras de maré. Já no
apogeu, existe diminuição de cerca de 20% de tais forças (THE OPEN
UNIVERSITY, 1999).

De maneira similar às interações Terra-Lua, a declinação solar também


interfere no potencial gerador de maré. Entretanto, pela distância 360 vezes
maior do que a da Lua, o potencial gerador de maré solar corresponde a
apenas 32% do potencial total, contra 68% do lunar. Com ciclo anual, a
27

declinação solar atinge 23º de cada lado do plano equatorial. Como a órbita de
Terra em torno do Sol também é elíptica, os momentos de periélio e afélio
também irão afetar o potencial gerador de marés (ALFREDINI e ARASAKI,
2009).

Figura 3.3. Declinação da Lua causada pela diferença entre os planos da órbita
lunar e do Equador. Fonte: Adaptado de OPEN UNIVERSITY, 1999

A variação das declinações e da proximidade do Sol e da Lua com a


Terra gera diversos constituintes harmônicos de maré, cada um com período
específico, que juntos irão compor a onda de maré astronômica (OPEN
UNIVERSITY, 1999).

As marés podem ser classificadas em de sizígia e de quadratura. Marés


de sizígia ocorrem quando a Terra, a Lua e o Sol estão em um mesmo
alinhamento, produzindo as maiores amplitudes de maré, as maiores
preamares e menores baixa-mares; estando o Sol e a Lua em conjunção,
situação de Lua Nova; ou em oposição, situação de Lua Cheia. As marés de
quadratura, por sua vez, ocorrem quando as forças geradoras das marés da
Lua e do Sol estão defasadas em um ângulo de aproximadamente 90º, nas
situações de Lua crescente e minguante, gerando as menores amplitudes de
maré. As situações de sizígia e quadratura de marés podem ser observadas na
Figura 3.4 (ALFREDINI e ARASAKI, 2009).
28

Figura 3.4 – Marés de Sizígia e Quadratura. Fonte: CARDOSO, 2007

Um dos ciclos mais importantes que afetam a maré a longo período é o


ciclo do nodo ascendente lunar (Figura 3.5), com período de 18,61 anos. Esse
ciclo pode ser explicado como a rotação, em torno da aparente órbita solar
(eclíptica), do ponto onde o plano da órbita lunar cruza o plano da eclíptica, do
hemisfério sul para o hemisfério norte (FRANCO, 1983).
29

Figura 3.5: Ciclo do nodo ascendente lunar. Fonte: Adaptado de MCCLURE,


2014.

Na prática, a influência dos ciclos astronômicos nas marés irá depender


da localidade, sendo que em alguns lugares certos tipos de variação irão
prevalecer. Lugares com grande latitude, por exemplo, possuem menor
influência lunar do que locais próximos à linha do equador, devido ao ângulo de
declinação lunar. É possível observar na Figura 3.6 marés predominantemente
diurnas ou semidiurnas, e ver o aumento e diminuição de amplitude decorrente
das situações de sizígia e quadratura.
30

Figura 3.6: Maregramas de localidades com diversas predominâncias de maré.


Fonte: Adaptado de OPEN UNIVERSITY, 1999

Levando em consideração a existência dos continentes, das correntes


marinhas, da força de Coriolis e das forças de dissipação, os bulbos de maré,
ao invés de respeitarem um bulbo de maré ideal, geram os sistemas
anfidrômicos, como mostrado no exemplo da Figura 3.7 (COUGHENOUR,
ARCHER, LACOVARA, 2009). Nos pontos anfidrômicos, a amplitude da
componente de maré sob análise é nula, aumentando ao se distanciar dele. Em
cada sistema anfidrômico podem ser definidas linhas cotidais, que ligam os
pontos com mesma fase no ciclo da componente de maré (PARKER,2007).
31

Figura 3.7: Cálculo computacional dos sistemas de pontos anfidrômicos no


mundo para a componente de maré dominante M2 (semidiurna lunar). As
linhas cotidais estão em vermelho e as linhas de mesma amplitude em azul.
Fonte: OPEN UNIVERSITY, 1999

3.2. Componentes de maré e previsão

O método harmônico é usualmente utilizado para prever as alturas da


maré (ALFREDINI e ARASAKI, 2009). Esse método parte do pressuposto de
que a onda de maré é a resultante de diversas componentes ou ondas de maré
parciais, cada uma correspondente a um movimento astronômico diferente e
com período coincidente com o período do ciclo do fenômeno astronômico.
Cada componente harmônica de maré tem um período específico; entretanto,
para cada localidade diferente, sua amplitude e ângulo de fase irão divergir, já
que sofrem influência das características da região (configuração da bacia
oceânica, região estuarina, etc).

A somatória das componentes gera a onda de maré astronômica como


observamos, se excluída a parcela meteorológica, que é imprevisível. Essa
somatória das componentes pode ser visualizada na Figura 3.8, que mostra as
principais componentes de maré e a maré resultante final para o marégrafo de
Cananeia (SP).
32

Figura 3.8: Previsão da maré em Cananeia (SP) para o dia 1 de janeiro de


2006, e as componentes harmônicas de maior amplitude. Fonte: Autor

A maré astronômica foi um dos primeiros fenômenos oceanográficos a


serem estudados teoricamente. Em Bernoulli (1740), desenvolveu-se a teoria
da maré de equilíbrio; as componentes principais da oscilação da maré foram
calculadas em Laplace (1775). A partir desse ponto, o problema da maré foi
dividido em marés de oceano aberto e marés de águas rasas. Apesar do
trabalho de diversos pesquisadores da área, o problema da previsão de maré
em tempo real utilizando as equações de Laplace ainda permanece insolúvel,
sendo necessário para a previsão um registro de dados experimentais de altura
do nível do mar em estações maregráficas (MIRANDA, CASTRO e KJERFVE,
2012).

Darwin (1899), em seu desenvolvimento harmônico, identificou quase


todas as componentes harmônicas principais. Todavia, tais componentes
tinham frequências muito próximas de outras, bem menores e que não podiam
ser isoladas em análises de dados observados durante um ano ou menos. Para
separá-las seria necessário efetuar análises de séries de 18,61 anos, que é o
período de revolução nodal da Lua, o que na época era impraticável. A solução
encontrada para este problema foi combinar essas pequenas componentes
para produzir as correções f e u, sendo f uma correção multiplicativa, aplicada
33

à amplitude de cada uma das componentes harmônicas principais, e u uma


correção a ser somada algebricamente às respectivas fases (FRANCO, 1988).

Doodson (1921, 1928) efetuou em seu trabalho desenvolvimento


harmônico, onde identificou e quantificou todas as pequenas componentes em
torno das principais e que usualmente são denominadas de componentes
satélites.

3.2.1. Potencial Gerador de Maré

É possível descrever o potencial gerador de marés, em sua forma geral,


como a soma dos potenciais, um devido à Lua e outro ao Sol, conforme a
expressão de Godin (1972):

3
V(t) =  [G i0 (θ , ) A cosΩ(t) + G ,(θ , ) BsenΩ(t)] (1)
i0 =0  

São chamados números de Doodson os números:


i0 , j0 ,k0 ,l0 ,m0 ,n0 , com

i0, j0, k0, m0 e n0 números inteiros, cada um variando entre -6 e +6, com
exceção de i0, que varia entre 0 e 3.

i0 , j0 , k0 ,l0 , m0 , n 0 } (2)

O índice h dos somatórios da equação (1) é um elemento do conjunto de


números de Doodson relativos a uma componente de maré. Isto é, para cada
componente de maré corresponde um único elemento do conjunto h dos
números de Doodson.

Ah e Bh são amplitudes do desenvolvimento em série, que


multiplicadas pelos correspondentes Coeficientes Geodésicos produzem as
Amplitudes de Equilíbrio de cada h, elemento do conjunto dos números de
Doodson h.

Tem-se também que Ω(t) são as fases das componentes de maré


escolhidas, e e G’ são seus correspondentes Coeficientes Geodésicos:
34

Ω(t) = i0 τ(t) + j 0 h(t) + l 0 p(t) + m0 N , (t) + n0 p , (t)

(3)

Após serem calculados, os componentes da maré derivados do potencial


gerador de maré (equação (1)) são tabelados. Os valores de fase das
componentes tem como origem de tempo a data de to=1 de Janeiro de 1900,
às zero horas, no meridiano da cidade de Greenwich, Inglaterra.

Uma vez conhecidos os valores de Ω(t) e os valores periódicos dos


movimentos orbitais da Lua e do Sol, as frequências de cada componente são
obtidas de:

(4)

Na equação (4), os símbolos com (•) correspondem às derivadas em


relação ao tempo ou à razão de variação desses ângulos astronômicos em
relação ao tempo.

Dessa forma as frequências das componentes do Potencial Gerador de


Marés (Tabela 3.1), uma vez calculadas, são invariantes com o tempo e,
portanto, podem ser tabeladas.

Tabela 3.1: Componentes de maré e seus argumentos astronômicos. Fonte:


Adaptado de FRANCO, 1988

Longo Período τ s h p p' 90º Frequência Coef.


ωº / h cos
Sa Solar Anual 0 0 1 0 0 0 0.0410686 0.01156
Ssa Solar Semestral 0 0 2 1 0 0 0.0821373 0.07281
Mm Lunar mensal 0 1 0 -1 0 0 0.5443747 0.08254
Mf Lunar quinzenal 0 2 0 0 0 0 1.0980331 0.15647
Mtm Lunar termensal 0 3 0 -1 0 0 1.6424077 0.02996
DIURNAS
2Q1 Lunar elíptica de 2ª ordem 1 -3 0 2 0 -1 12.8542862 0.00955
σ1 variacional 1 -3 2 0 0 -1 12.9271398 0.01152
Q1 Lunar Elíptica maior 1 -2 0 1 0 -1 13.3986609 0.07217
ρ1 Eveccional maior 1 -2 2 -1 0 -1 13.4715145 0.01371
O1 Lunar Principal 1 -1 0 0 0 -1 13.9430356 0.37694
M1 Lunar elíptica menor 1 0 0 1 0 1 14.496694 0.02964
35

χ1 Eveccional menor 1 0 2 -1 0 1 14.5695475 0.00567


Π1 Solar elíptica maior 1 1 -3 0 1 -1 14.9178647 0.01028
P1 Solar Principal 1 1 -2 0 0 -1 14.958931 0.17546
4
Tabela 3.1: Componentes de maré e seus argumentos astronômicos. Fonte: Adaptado
de FRANCO, 1988 (Conclusão)

S1 Meteorológica 1 1 -1 0 0 2 15 0.00416
K1 Lunissolar declinacional 1 1 0 0 0 1 15.0410686 0.53011
Ψ1 Solar elíptica menor 1 1 1 0 -1 1 15.0821353 0.00422
Φ1 Solar de 2ª ordem 1 1 2 0 0 1 15.1232059 0.00755
θ1 Eveccional 1 2 -2 1 0 1 15.5125897 0.00567
J1 Lunar elíptica 1 2 0 -1 0 1 15.5854433 0.02964
OO1 Lunar de 2ª ordem 1 3 0 0 0 1 16.1391017 0.01624
SEMIDIURNAS
2N2 Lunar elíptica de 2ª ordem 2 -2 0 2 0 0 27.8953549 0.02301
μ2 Variacional 2 -2 2 0 0 0 27.9682084 0.02776
N2 Lunar elíptica maior 2 -1 0 1 0 0 28.4397295 0.17386
v2 Eveccional maior 2 -1 2 -1 0 0 28.5125831 0.03302
M2 Lunar Principal 2 0 0 0 0 0 28.9841042 0.90809
λ2 Eveccional menor 2 1 -2 1 0 2 29.4556253 0.0067
L2 Lunar elíptica menor 2 1 0 -1 0 2 29.5284789 0.02567
T2 Solar elíptica maior 2 2 -3 0 1 0 29.9589333 0.02479
S2 Solar principal 2 2 -2 0 0 0 30 0.42248
R2 Solar elíptica menor 2 2 -1 0 -1 2 30.0410667 0.00355
K2 Lunissolar declinacional 2 2 0 0 0 0 30.0821373 0.11498
TERDIURNA
M3 Terdiurna lunar 3 0 0 0 0 2 43.4761563 0.01188

3.2.2. Equação Integral de Fourier

Cartwright & Tayler (1971) e Cartwright & Edden (1973) melhoraram a


qualidade dos valores relativos das amplitudes obtidas por Doodson
empregando análises de Fourier.

Schuremann (1971) introduziu expressões para o cálculo das constantes


harmônicas para componentes satélites calculadas em função das constantes
harmônicas inerentes às componentes principais quando o período de análise
para determinada espécie for demasiado reduzido (FRANCO, 1988).

A equação utilizada usualmente na análise e previsão de marés não é a


equação (1) do Potencial Gerador de Marés, mas sim a Equação Integral de
36

Fourier, que contém todos os elementos necessários para a realização da


análise dos registros e também para fazermos a previsão e retrovisão das
marés, levando em consideração as configurações das bacias oceânicas e os
efeitos dissipativos (AMIRI-SIMKOOEI, 2014). Uma vez conhecidas as
frequências dos movimentos e as amplitudes fornecidas pelo potencial gerador
de marés, é possível, através da Equação Integral de Fourier, realizar a análise
e previsão de marés de qualquer local onde haja registro de maré
(SCHUREMANN, 1971).

Como os bulbos definidos pelo potencial gerador de marés são


influenciados pelos continentes e pelas bacias oceânicas, os valores da
variação do nível do mar, contidos nos registros de maré, são particulares e
característicos dos locais onde as medições são realizadas (MARONE, 2013).
Isso significa que esses registros têm componentes de maré com amplitudes e
fases diferentes dos valores teóricos, calculados pelo potencial gerador de
marés, porém a frequência das componentes permanece inalterada devido ao
período do ciclo astronômico correspondente ser constante (PICKERING et al.,
2012).

Segundo Franco (1988), o objetivo da análise dos registros das marés é


extrair deles (de cada local de medição) as amplitudes e fases reais das
componentes de marés definidas utilizando as equações do Potencial Gerador
de Marés. Os métodos de análise de marés se baseiam na Integral de Fourier
(InF), cuja expressão é exposta na equação (5) (Fourier, 1822 apud Franco,
1988), onde f(t) é uma função contínua no domínio do tempo, absolutamente
integrável, que aparece duas vezes na expressão abaixo, com argumentos (t) e
(ξ), representando o tempo em cada fase da utilização da integral composta,
que é de duas fases. Na equação (5) ainda, (ω) é uma frequência definida em
função do campo de definição da função f(t), que no caso da integral da
equação corresponde a ±∞.

(5)
37

Na análise, a Integral de Fourier (5) transforma a função f(ξ) na função


f(t) através de duas operações (equações (6) e (7)) que resultam da separação
das integrais indicadas na Integral de Fourier (5).

Em uma primeira fase, conhecida como Transformada de Fourier, os


valores de f(t) (dos registros de maré), definidos no domínio do tempo, são
transformados na função F(ω) (de cujo gráfico de amplitudes é o espectro),
como visto na equação (6) abaixo:

+
1
 f(t)e
iwt
F(w) = dt (6)
2π 

Na segunfa fase, conhecida como Anti-Transformada de Fourier, os


valores do espectro F(ω) são transformados no registro de marés f(t) conforme
a equação (7):

+
1
F(w) =

 F(  ). exp(i )d

(7)

A equação (6) é utilizada para produzir o espectro, que é um gráfico


contendo um resumo das amplitudes das componentes existentes no registro
da função f(t) (registro de maré). A equação (7), por sua vez, é utilizada para
fazer a previsão de maré. Para que isso seja possível é necessário adaptá-las,
pois os registros de maré f(t) não tem comprimento infinito no tempo e os
valores das alturas de maré geralmente são obtidos a intervalos ∆t = 1 hora e,
portanto, de forma discreta, não de forma contínua como indicada na equação
(6). Para isso, a forma truncada da equação (6), definida para 2N+1 valores de
f(t), para a estimativa do espectro dito “truncado” é escrita como:

(8)

Na equação acima, ∆t é o intervalo de amostragem (em geral uma hora)


e a frequência é definida no intervalo a seguir:

- (9)
38

A forma truncada e discreta da transformada inversa de Fourier


correspondente, que é também conhecida como a série de Fourier, pode ser
escrita na forma vista na equação a seguir:

(10)

A equação (10) é a forma truncada e discreta da equação (7) e, uma vez


obtidos os valores de F permite que através dela façamos a previsão de
marés.

O passo de frequência identificável em um registro de maré de


extensão L será a menor diferença de frequências capaz de ser identificada na
análise:

(11)

. Já a maior frequência possível de ser identificada no registro de maré


será igual a:

(12)

O espectro de marés, na forma como é dada pela equação (1) do


potencial gerador de maré, é mostrado nas Figuras 3.9 e 3.10, evidenciando as
principais componentes astronômicas obtidas na equação do potencial gerador
de maré – para diferenciá-las das componentes obtidas pelas equações de
Fourier, de frequência múltiplas do valor de –, conforme produzida por
Doodson (1921). É possível ver que as componentes se agrupam de forma
diferente, dependendo do comprimento do registro de marés que se tem em
mãos para a análise, e que deve ser feita a correção das frequências
encontradas nas análises de Fourier para aquelas tabeladas no potencial
gerador de marés.
39

Figura 3.9: Espectro do registro do potencial gerador de marés, para série de


um ano. Fonte: Adaptado de Doodson, 1921

Figura 3.10: Espectro do registro do potencial gerador de marés, para série de


19 anos. Fonte: Adaptado de Doodson, 1921

Para o registro de marés com comprimento de um ano, o espectro do


registro do potencial gerador de marés teórico tem a configuração mostrada na
Figura 3.9, onde se vê que as linhas de amplitude de cada componente estão
40

separadas em espécies: componentes de longo período, marés diurnas e


marés semidiurnas. Em abcissa está representada a velocidade angular das
componentes e em ordenada o logaritmo das amplitudes dos seus coeficientes.

A Figura 3.10 contém o espectro parcial do Potencial Gerador de Maré,


obtido a partir de registro de 19 anos de comprimento. Notamos que nele as
componentes estão mais espalhadas do que no caso da análise de um registro
com comprimento de apenas 1 ano, sendo mais facilmente separáveis para
que seja possível fazer uma análise, já que o valor de ∆ω nesse caso permite a
identificação de frequências mais próximas, pelo maior valor de L (comprimento
do registro).

Ainda, como é possível observar nas Figuras 3.9 e 3.10, as


componentes principais são acompanhadas de componentes satélites que
podem ou não ser identificados, dependendo do tamanho do registro existente
para realização da análise, e que podem influenciar na amplitude calculada das
componentes principais.

Para eliminar essas influências das componentes satélites na


componente principal, são definidos os “Fatores Perinodais”, obtidos através do
quociente das amplitudes e fases das componentes satélites, definidas nas
tabelas do potencial gerador de marés pela respectiva amplitude e fase da
constituinte principal do grupo. Definidas em valores de f e u, as correções são
aplicadas nas componentes principais para evitar que o valor de amplitude e
fase calculados sofram desvios dependendo da fase ou antifase da
componente satélite não identificada na análise.

Deste modo, a altura de maré prevista em um instante t, com um


conjunto n de componentes harmônicas de maré será calculada pela equação
11, segundo Godin (1972, apud Foreman et al.,2009):

(13)

Na equação (13), h(t) corresponde à altura horária da maré observada;


Zo ao nível médio das águas do mar; Hi à amplitude da componente i; gi à fase
da componente i. O índice i identifica a onda/constituinte, fi é o coeficiente de
correção de amplitude, ui é a correção de longo período da fase da onda, Voi é
41

o argumento astronômico da componente às 0h médias de Greenwich, no dia 1


de Janeiro de cada ano e n é o número de constituintes utilizadas para modelar
a maré.

3.2.3. Componentes Não Lineares

As componentes não lineares de marés surgem no espectro dos


registros de marés, pois as águas costeiras e oceânicas, sob influência das
forças geradoras de marés, põem-se em movimento desordenado nas regiões
rasas costeiras bem como nas regiões oceânicas, onde há a presença de
correntes marinhas. As componentes não lineares de maré, ou componentes
de águas rasas, não tem frequências definidas no Potencial Gerador de Marés
(equação (1)). No entanto, elas podem ser determinadas nas análises de
registros de nível do mar, através da utilização da transformada de Fourier
(equação (6)).

Para cada local, as componentes de águas rasas possuem diferentes


amplitudes e fases, mas as suas frequências são sempre as mesmas, obtidas
a partir das combinações de frequências das componentes astronômicas
(FRANCO, 1988).

A representação espectral dessas componentes é mais facilmente


visualizável quando as componentes não lineares se destacam das
componentes astronômicas em grupos correspondentes às marés quarto
diurnas, quinto diurnas e sexto diurnas, sem movimentos astronômicos
correspondentes. A utilização das componentes de águas rasas nas previsões
é de grande utilidade em regiões de marégrafos estuarinos, sendo
imprescindível a sua utilização em simulações em modelos matemáticos
nessas regiões para previsões além do ano de análise (PARKER, 2007).

3.3. Maré Em Estuários

Segundo Dyer (2000), estuário é um corpo d’água costeiro semifechado


com ligação livre com o oceano aberto, estendendo-se rio acima até o limite da
42

influência da maré, sendo que em seu interior a água do mar é


mensuravelmente diluída pela água doce oriunda da drenagem continental. Os
estuários podem se compor de uma rede fluvial com descarga em diferentes
pontos da região semifechada, múltiplas cabeceiras e diversas ligações com o
oceano aberto. Tais ambientes podem ser referidos como “sistema estuarino”.
No Brasil, o termo “complexo estuarino-lagunar” é utilizado para indicar
ambientes costeiros compostos de uma rede de canais interligados entre si e
com o oceano, recebendo descarga fluvial de diversas fontes. Como exemplo
do sudeste brasileiro, é possível citar o Sistema Estuarino-Lagunar de
Cananeia-Iguape e o Sistema Estuarino de Santos (MIRANDA, CASTRO e
KJERFVE, 2012).

Os estuários e seu entorno geralmente apresentam várias das seguintes


características: grande densidade populacional; presença de áreas portuárias e
de navegação; áreas de segurança naval; abundância de recursos pesqueiros;
áreas de diluição de efluentes; e áreas de recreação e lazer. Assim,
evidenciam-se os múltiplos usos dos recursos hídricos e os conflitos que
podem ocorrer nessas áreas (ALFREDINI e ARASAKI, 2009).

Segundo Kjerfve (1989), o estuário pode ser dividido em três zonas


distintas:

 Zona de maré do rio, ou zona flúvio-marítima: região caracterizada pelo


escoamento reversível nos trechos mais próximos ao mar, com
salinidades inferiores a 0,1%. Essa zona possui extensão dependente
da forma do estuário e da magnitude de maré, podendo atingir até
centenas de quilômetros.
 Zona de mistura estuarina: trata-se do estuário propriamente dito,
apresentando influência da maré e escoamento reversível. É onde
ocorre a mistura da água doce da drenagem continental com a água do
mar e possui as seguintes características, que podem ser observadas na
Figura 3.11:
o Extensão: trata-se de uma fronteira dinâmica rumo para terra,
estendendo-se até a embocadura ou foz fluvial.
o Delta de maré vazante: trata-se de um alto fundo de barras
arenosas, formadas pelo mecanismo de captura do transporte
43

litorâneo pelo efeito de “molhe hidráulico” e difusão de correntes


exercido pela descarga da embocadura.
o Delta de maré enchente: trata-se de um alto fundo arenoso
produzido pela captura do transporte litorâneo pelas correntes de
enchente.
 Zona de turbidez máxima: trata-se da região com máxima concentração
de sedimentos em suspensão devido à floculação dos sedimentos finos
(argila e silte), situando-se aproximadamente no entorno de salinidades
de 4 a 8 g/l, isto é, dependendo da maré e da vazão de água doce.

Na figura 3.11 é possível ainda observar a camada limite costeira, a qual


é constituída por águas estuarinas sujeitas a correntes de arrebentação e
correntes de maré alternativas com pouca mistura de águas oceânicas,
apresentando turbidez de ordem igual ou superior a 100 ppm, sendo a sua
porção mais avançada no mar denominada de pluma e separada da zona ao
largo, onde a turbidez é mínima, por uma frente costeira, cujo afastamento da
costa (de 1 a 20 Km) é função da maré, da vazão de água doce e do regime de
ventos (ALFREDINI e ARASAKI, 2009).

O movimento de água doce saindo do estuário para o mar é


acompanhado pela entrada de água salgada para o interior do estuário. Esta
água salgada deve ser reposta para se obter a conservação de massa. Neste
caso, a mesma quantidade de sais misturados com a água doce e removidos
pela embocadura na unidade de tempo deve ser reposta por um idêntico influxo
de água com sais dissolvidos. Devido à massa específica ligeiramente menor
da água doce, esta se move por empuxo, por sobre a água salgada, para fora
do estuário, enquanto a água salgada se move rumo à terra próximo ao fundo.
45

maré aumentam em direção à cabeceira. Na zona de maré fluvial a


convergência diminui, fazendo com que o atrito aumente e a altura da
onda de maré diminua.
 Estuário Síncrono: os efeitos do atrito e da convergência estão
equilibrados, com a altura da onda de maré permanecendo constante
até a zona de maré fluvial.
 Estuário Hipossíncrono: quando o atrito excede o efeito da
convergência, fazendo com que a altura da onda de maré diminua ao
longo do estuário.

No caso de um sistema estuarino com diversas embocaduras, a onda de


maré irá apresentar zonas de encontro, onde haverá redução das correntes e
aumento das amplitudes (MIYAO e HARARI,1989).

Os movimentos horizontais associados aos ciclos de maré num estuário


são denominados correntes de maré. Essas correntes são condicionadas pela
morfologia do sistema estuarino, pela profundidade local e pela vorticidade
relativa devido ao atrito com o fundo. As correntes também são afetadas pela
força de Coriolis, causada pela rotação da Terra em torno de seu próprio eixo.
Esse efeito é melhor percebido em estuários de grande dimensão e em marés
diurnas.

Se o período de oscilação natural do corpo d’água do sistema estuarino


for igual ou muito próximo do período dos componentes de maré, poderá
ocorrer o fenômeno de ressonância e onda estacionária gerada irá ter sua
amplitude aumentada. É o caso da Baía de Fundy (golfo do Maine, nos EUA e
Canadá) ou do Igarapé do Inferno (na plataforma continental do Amazonas,
Brasil) (MIRANDA, CASTRO e KJERFVE, 2012).

O tipo de maré existente em cada local pode ser caracterizado em


função das amplitudes dos principais componentes diurnos (K1 e O1) e
semidiurnos (M2 e S2) da maré, relacionando-se pelo chamado número de
forma (F) (DEFANT, 1961 apud MIYAO e HARARI, 1989). Sendo O1, K1, M2 e
S2 as respectivas amplitudes dessas componentes, define-se F por:

(14)
46

Se 0 < F < 0,25, a maré é definida como semidiurna; se 0,25 < F < 1,5,
ela é do tipo semidiurna com desigualdade diurna; se 1,5 < F < 3,0, ela é do
tipo mista; e se F > 3,0 é definida como diurna.

As interações entre diferentes componentes também irão gerar


componentes de águas rasas, que terão suas frequências determinadas pela
combinação das frequências das componentes principais. Por exemplo, a
componente MS4, combinação de M2 e S2, terá frequência igual a soma das
duas componentes principais (BOON, 2004).

As componentes harmônicas de maré para um determinado local num


ano específico são obtidas utilizando a série histórica do respectivo ano.
Realizando esse procedimento para todos os anos do registro, obtêm-se vários
conjuntos de componentes, um para cada ano. Analisando cada componente
separadamente, a modificação nos valores de amplitude e fase ao longo dos
anos possibilita a análise das tendências desses valores.

Usualmente, as análises de tendência das componentes são realizadas


utilizando intervalos anuais de dados de maré, obtendo-se um valor para cada
componente harmônica para cada ano. Povreau et al. (2006),
Woodworth(2010) e Shaw e Tsimplis (2010), em seus estudos, utilizam
análises harmônicas com séries anuais de dados para obter as tendências das
componentes harmônicas.

Shaw e Tsimplis (2010) analisaram a componente de maré M2 ano a


ano para o mar do norte europeu, onde foi observada que a análise sem as
correções perinodais gerava variações periódicas na amplitude a cada 18,6
anos aproximadamente. Estudo similar foi realizado por Ray (2006), mostrando
que a amplitude da componente M2 para diversos marégrafos do Golfo do
Maine variavam periodicamente, e da série de dados da amplitude foi possível
estabelecer a tendência linear de avanço da componente, como pode ser visto
na Figura 3.12:
47

Figura 3.12: Amplitude da componente M2 para 4 diferentes localidades da


Baía de Fundy, nos Estados Unidos/Canadá e as retas de tendência máxima e
mínima da componente M2 obtidas para cada uma dessas localidades. Fonte:
adaptado de RAY, 2006.
48

4. REGIÃO DO ESTUDO

4.1. Complexo Lagunar de Cananeia-Iguape

O complexo lagunar de Cananeia-Iguape está localizado no litoral sul do


Estado de São Paulo (Figura 4.1). Possui duas saídas para o mar a SO e NE
das regiões denominadas, respectivamente, barra de Cananeia e barra de
Icapará, sendo que a segunda se localiza próxima da barra do rio Ribeira de
Iguape.

A região lagunar é separada do oceano adjacente por uma ilha barreira


(Ilha Comprida) com, aproximadamente, 70 km de extensão. A partir da porção
intermediária da ilha-barreira, estendendo-se para SO, situa-se a Ilha de
Cananeia, separada do continente e de Ilha Comprida por dois canais
lagunares, mar de Cubatão e mar de Cananeia respectivamente. Esses canais
interligam-se através da Baía de Trapandé, na porção sul da região, e
confluem, a partir da porção média, em um único canal (Mar Pequeno) até a
barra de Icapará. Se tratando de uma região semi-confinada, esses canais
apresentam tendência de assoreamento, evidenciado por presença de feições
sedimentares de deposição. Ainda, foi observado acréscimo sedimentar com
um sentido predominante de desenvolvimento, o que permite observar a
tendência futura de assoreamento dos canais e obter informações sobre o
sentido do canal (TESSLER e FURTADO, 1983).
49

Figura 4.1. Sistema estuarino lagunar de Cananeia-Iguape. Fonte: Adaptado de


MAHIQUES et al., 2009

4.2. Características da maré em Cananeia (SP)

A maré oceânica observada na llha de Bom Abrigo, a cerca de 4 km da


costa, apresenta características espectrais semelhantes à da maré registrada
na Base de Cananeia, localizada no interior do sistema estuarino, havendo um
adiantamento de fase de cerca de 60 minutos para as principais componentes
em Bom Abrigo (LORENZETTI, 1976).
50

O número de forma F (equação (12)) calculado para a maré de


Cananeia tem o valor de 0,27, o que indica que a maré é predominantemente
semidiurna (MIYAO e HARARI, 1989).

A razão entre as amplitudes de M4 e M2, usada como uma medida da


distorção da componente principal semidiurna, reflete os efeitos dissipativos,
bem como a transferência de energia espectral da M2 para a M4. Como as
componentes M2 e M4 têm a frequência exatamente uma o dobro da outra, a
defasagem que se observa entre as mesmas é repetida ao longo dos ciclos,
resultando em assimetrias fixas na amplitude de maré. A diferença de fase da
componente M4 para a componente M2, determinadas na análise harmônica é
de 22° em Cananeia. Essa defasagem entre M4 e M2 provoca uma distorção
da curva de maré, o que produz uma enchente com duração maior que a
vazante, como pode ser visto na Figura 4.2 (MIYAO e HARARI, 1989).

Figura 4.2. Defasagem da curva de maré devido à interação das componentes


M2 e M4. Fonte: MIYAO e HARARI, 1989

As ondas de maré (Figura 4.3) que entram no sistema através da Barra


de Icapará e da Barra de Cananeia se encontram no Mar Pequeno, nas
cercanias da região denominada "Pedra do Tombo" (MINIUSSI, 1959).
51

Figura 4.3. Dinâmica das marés no complexo estuarino-lagunar de Cananeia


Iguape. Fonte:(TESSLER e SOUZA, 1998)

A maré observada no sistema, resultante de duas ondas progredindo em


direções opostas, provenientes das duas Barras, tem características
intermediárias entre progressiva e estacionária. Componentes de pequeno
fundo são também importantes na distorção das componentes fundamentais.

O Canal do Valo Grande, na região nordeste do estuário, traz grande


aporte fluvial para o estuário. Esse grande volume pode afetar a circulação de
maré no estuário e modificar os valores de componentes de maré obtidos no
marégrafo de Cananeia, ainda que este se localize na região oposta do
estuário.

4.3. Estação Maregráfica de Cananeia (SP)

Os dados de elevação do nível do mar foram obtidos pela estação


maregráfica localizada na Base de Pesquisa “Dr. João de Paiva Carvalho”, no
52

município de Cananeia (SP), sob supervisão do Instituto Oceanográfico da


USP. (Figura 4.4).

O marégrafo de boia de Cananeia foi instalado em 1954 e do programa


permanente de medições surgiram os primeiros trabalhos sobre o nível médio
na região estuarina de Cananeia e sobre as relações do nível do mar com os
parâmetros meteorológicos (MESQUITA, 1997).

Cananeia também é uma estação do Global Sea Level Observing


System (GLOSS). Segundo Caldwell (2004, apud Dalazoana (2005)), Cananeia
é uma estação maregráfica de boa qualidade, embora algumas considerações
devam ser feitas devido à sua localização estuarina, podendo ser influenciada
pelo regime dos rios. Entretanto, apesar de sua localização, a estação recebe
os sinais oceânicos com frequências que vão desde ondas de maré até
variações de longo período (DALAZOANA, 2005).

Figura 4.4: Regiões do Complexo Estuarino Lagunar de Cananeia- Iguape.


Fonte: Adaptado de Souza, 2012
53

Em 1997, iniciou-se um programa visando o monitoramento de


movimentos verticais da crosta em Cananeia por meio de rastreio GPS,
nivelamento geométrico e gravimetria, sendo que em 2002 foi implantada a
sistemática de rastreamento contínuo da estação (TRABANCO, 2003, apud
DALAZOANA, 2005).

Em 2011, foi instalado um novo equipamento de leitura do nível do mar,


um marégrafo com leitura do nível por radar (KALESTO). A instalação desse
novo marégrafo ocorreu devido à necessidade de modernização nas medições
e também pelo deslocamento da estrutura onde o marégrafo antigo estava
instalado. O aparelho calcula a altura do nível do mar medindo o tempo entre a
emissão de ondas e a detecção das mesmas ondas refletidas na superfície do
mar.

Em estudo realizado por Mesquita et al. (2005), analisando as variações


do nível médio do mar na estação, verificou-se uma subida do nível médio,
sendo que a reta de tendência linear do nível médio obtida possui a inclinação,
ou taxa de subida do nível médio do mar, de a = 0,5666 ± 0,0070 cm/ano.
Entretanto, o valor encontrado para a taxa de rebaixamento da crosta terrestre
é de b = -0,38 ± 0,11 cm/ano. Como o valor da velocidade de rebaixamento da
crosta foi encontrado com uma série altimétrica de pequena extensão, aponta-
se que a aparente subida do nível médio do mar, observada pelos registros do
marégrafo, podem ser em parte relativos ao rebaixamento da crosta, ou seja,
de menor magnitude do que o valor observado.

Já no estudo realizado por Abreu (2006), a estação maregráfica de


Cananeia está sofrendo efeitos da movimentação da placa sul-americana, com
deslocamento planimétrico de 1,3 cm/ano na direção noroeste. Contudo, o
estudo não foi conclusivo quanto à elevação ou ao rebaixamento do terreno
onde o marégrafo está instalado, sendo possível apenas detectar
movimentação contrária entre os dois anos analisados nesse estudo, podendo
ter sido ocasionada por carga oceânica e/ou maré terrestre.
54

4.4. Canal do Valo Grande

No século XIX, grande parte da produção agrícola da região do Vale do


Ribeira de Iguape, que era composta principalmente de arroz, era transportada
pelo rio Ribeira de Iguape. Para o transporte até a cidade de Iguape, era
necessário que as embarcações seguissem até mar aberto pela barra do
Ribeira e em seguida entrassem no Mar Pequeno pela barra de Icapará. Em
1827, começou a ser aberto um canal artificial no braço do rio Ribeira para o
escoamento da produção agrícola diretamente à cidade de Iguape (Figura 4.5).
Em 1833, o canal já permitia a navegação de embarcações, embora seu
término tenha ocorrido somente em 1852.

Figura 4.5: Valo Grande: ligação direta entre o rio Ribeira de Iguape e a cidade
de Iguape. Fonte: Adaptado de Souza, 2012
55

Em 1889 foram iniciadas obras para seu fechamento, com o


revestimento de pedras na margem esquerda do Valo. As obras continuaram
até 1894, até a altura de 1m abaixo da maré mínima, quando foram
paralisadas. As águas do rio, entrando por uma seção menor do segmento,
ganharam velocidade e destruíram a barragem (GEOBRAS, 1966; SÃO
PAULO, 1961; SOCIEDADE DE ESTUDOS E PROJETOS, 1989 apud SOUZA,
2012).

Originalmente com 4,4 metros de largura e 2 metros de profundidade, o


canal sofreu alta erosão graças à sua grande declividade, chegando a alcançar
nas suas laterais uma taxa de erosão de 4 metros por ano (MAHIQUES et al.,
2014), e no final da década de 1890 já apresentava locais com mais de 100
metros de largura (FURTADO, YAMANAKA e OLIVEIRA, 1981).

A abertura do canal causou grandes impactos na região. Mudanças de


salinidade, transporte de sedimentos e, consequentemente, mudanças na flora
e fauna locais ocorreram com grande intensidade como consequência do canal
cada vez maior. A atividade mineradora na região a partir de 1950 acabou por
tornar o estuário um local de deposição de poluentes e metais pesados
(MAHIQUES et al, 2009).

O canal, então conhecido como “Valo Grande”, mais de uma vez sofreu
pressão para ser fechado. A tentativa mais expressiva ocorreu em 1978,
quando foi construído um barramento de enrocamento preenchido com argila e
areia, formando um dique que interrompeu o aporte de água doce no Mar
Pequeno. A construção do dique provocou a alteração do regime hidrológico da
porção final do rio, causando o erguimento do lençol freático e potencializando
o efeito das inundações. Em 1980 e 1981, o ciclo de inundações causaram
danos à agricultura e às comunidades ribeirinhas estabelecidas nas margens
(SOUZA, 2012). Esse dique interrompeu o aporte continuado de água doce
pelo canal. No entanto, as inundações que se seguiram nos anos seguintes,
associadas com as condições extremamente modificadas do curso final do Rio
Ribeira, foram comprometendo sua estrutura. Inundações nos anos seguintes
ao fechamento provocaram o galgamento da estrutura pelas águas do rio em
1981 e 1983, e nesse último evento, seu rompimento (MAHIQUES et al., 2009).
56

Nova tentativa de fechamento foi realizada em 1990, com o projeto de


uma barragem com comportas eletromecânicas para controlar o fluxo do canal.
Após a construção das ensecadeiras e da ligação rodoviária, diversas
enchentes foram aos poucos deteriorando o barramento até o completo
rompimento, em 1995 (SOUZA, 2012).

Atualmente, o canal apresenta cerca de 250 metros de largura e 7


metros de profundidade e permanece aberto, com cerca de 60% da vazão total
do rio Ribeira de Iguape (MAHIQUES.et al., 2014). Na região da cidade de
Cananeia, valores de salinidade iguais aos de água doce são encontrados, a
uma distância de 60km do Valo Grande (MAHIQUES et al.,2009).

Freitas et al. (2006) apontam as consequências do grande aporte


sedimentar via Canal do Valo Grande, como diminuição geral das
profundidades e crescimento das feições sedimentares (ilhas e esporões).
Esse processo parece ocorrer em especial no Mar Pequeno e,
secundariamente, no Mar de Cananeia (SOUZA, 2012).
57

5. MATERIAIS E MÉTODOS

5.1. PACMARÉ

O Software PACMARÉ (Previsão e Análise Harmônica de Marés e


Correntes de Maré) foi desenvolvido por FRANCO (1988) e foi utilizado para a
obtenção das alturas de marés com base nas constantes harmônicas obtidas
em análises feitas pelo método harmônico. O pacote de programas utiliza a
técnica de decomposição de uma grandeza periódica não-sinusoidal baseado
no teorema de Fourier. O PACMARÉ permite empregar um porcentual para a
rejeição de pequenos componentes definido pelo usuário e analisa até 13 tipos
de componentes diários, podendo ser especificado o número de ciclos da
espécie analisada (RIBEIRO, 2008).

A análise harmônica dos dados de marés é efetuada no domínio da


frequência, como exposto em Franco (1988) (equações (6) e (8)). O programa
ANALISES conta com os módulos ANHACOR, para análise de correntes, e
ANHAMA E ANHAREF, para análise de alturas de maré.

Segundo Franco (1988), o módulo ANHAMA, muito flexível, permite


analisar qualquer número de dados (até 13200 horas), podendo inclusive
analisar os períodos clássicos, ligados às lunações (Schureman, 1971). Os
estudos realizados mostram, contudo, que podem ser obtidos bons resultados
com análises de séries com extensão não relacionada às lunações, obtendo as
componentes de água rasa, influenciadas pela configuração da bacia oceânica
e com frequência determinadas pelas análises de Fourier (PARKER, 2007).

Após a entrada dos valores horários de altura do nível do mar e


definição dos parâmetros de análise desejados, o programa calcula as
componentes de cada espécie cujas frequências foram identificadas no
registro, gerando um arquivo de texto com as mesmas.

O módulo LONGSERIE é utilizado para análise harmônica de longas


séries, e as componentes harmônicas calculadas por este não têm embutidas
em seus valores as correções perinodais, como acontece com as componentes
calculadas pelo módulo ANHAMA. Isso ocorre devido ao cálculo das
58

componentes satélites e de longo período, o que acaba fazendo com que os


valores das outras componentes calculadas pelo ANHAMA difiram das
calculadas pelo LONGSERIE (Figura 5.1). Esse tipo de análise foi desenvolvido
inicialmente para ser aplicado a séries múltiplas de 214 = 16348 horas, sendo
que 10 vezes esse valor corresponde a um período de 18,69 anos, muito
próximo ao período de revolução dos nodos da órbita lunar, igual 18,61 anos
(FRANCO, 1988), possibilitando o cálculo de componentes harmônicas de
menor amplitude que, em um registro menor, estariam com seu valor
“embutido” a uma componente principal.

Figura 5.1: Tela de entrada do módulo LONGSERIE. Fonte: Autor

O módulo PREVISÃO permite o cálculo de uma previsão de alturas ou


correntes de maré com período e intervalo entre os valores previstos
personalizados, de acordo com as equações (7) e (10), utilizando as
componentes harmônicas calculadas pelos módulos de análise ANHAMA e
59

LONGSERIE, ou ainda utilizando componentes harmônicas personalizadas


pelo usuário.

5.2. Método de previsão de maré, utilizando series de 18,69 anos

Ao realizar um número considerável de análises harmônicas da maré em


intervalos regulares, é possível observar os diferentes valores de amplitude e
fase para as componentes obtidas, tornando possível o cálculo de tendências
ao longo do tempo da componente em questão. Após definir a tendência da
componente, é possível prever os seus valores de amplitude e fase para um
cenário futuro, e utilizá-los para prever as alturas de maré nesse período. O
fluxograma mostrado na Figura 5.2 mostra os passos necessários para a
aplicação do método proposto para a previsão de maré oceânica. Os passos
do método foram aplicados aos dados de maré oceânica de Cananeia.

Figura 5.2: Fluxograma do método para previsão de maré, utilizando séries de


18,69 anos. Fonte: Autor
60

Inicialmente, é necessária uma longa série de dados maregráficos


(Passo 1). As séries históricas deverão possibilitar a extração de diversas
séries parciais de grande extensão e, consequentemente, diversos conjuntos
de componentes harmônicas de maré sem as correções perinodais e com as
componentes de longo período, além de possibilitar a identificação das
componentes de água rasa. É recomendado um mínimo de 21 anos de dados.

5.2.1. Correção das falhas (Passos 2 a 5)

Os conjuntos de dados de alturas de maré devem ser inicialmente


analisados para eliminar erros grosseiros, falhas de digitação e valores em
branco (Passo 2).

Franco (1988) apresenta uma técnica para preenchimento de lacunas


em maregramas. Contudo, o método apresentado é dito apropriado somente
para lacunas de até 3 dias. Um método mais eficiente é o emprego do método
auto-regressivo para prever a maré no intervalo desejado. Se disponível uma
longa série de observações, é possível preencher as lacunas com a maré
prevista harmonicamente para o intervalo sem dados. Segundo Franco (1988),
essas retrovisões devem ser realizadas utilizando as componentes harmônicas
extraídas pela análise harmônica de maré do período de tempo imediatamente
anterior àquele a ser preenchido, desde que este apresente mais de 3 meses
de dados ininterruptos. Assim, é possível obter componentes harmônicas de
maré para o trecho a ser preenchido (Passo 3).

Com as componentes harmônicas obtidas, deve ser feita a previsão de


altura de maré para o ano das falhas utilizando o nível médio do trecho próximo
à falha, minimizando assim desvios pela mudança no nível médio. (Passo 4).

Obtida a previsão de maré para a falha, deve ser efetuado o encaixe dos
valores previstos no maregrama real. A previsão feita no passo anterior deve
ser realizada para todo o ano da falha. Caso seja necessário, pode-se utilizar a
previsão para o preenchimento de outra falha no mesmo ano, sem mudanças
significativas no nível médio. Além disso, o encaixe só deve ser realizado
diretamente na falha se a previsão respeitar a declividade do valor real e
também se as divergências em alturas de maré forem pequenas. Esses fatores
61

devem ser respeitados para que não existam desvios após o preenchimento
das falhas, como mudanças súbitas de declividade ou descontinuidade na
curva do maregrama. Assim, a previsão para o ano todo pode ser utilizada para
expandir o trecho de encaixe até que as condições sejam satisfeitas (Passo 5).

Como exemplo, a Figura 5.3 mostra em azul os valores reais registrados


pelo marégrafo de Cananeia (SP), onde foi encontrada uma falha do período
de 12 de novembro de 1989 a 14 de novembro de 1989. Assim, foram
aplicados os passos 2 a 5 da metodologia proposta. Com os dados de altura de
maré do dia 1-1-1989 até a data da falha, foram calculadas componentes
harmônicas de maré utilizando o módulo ANHAMA. Do trecho anterior à falha
foram extraídas as componentes harmônicas e realizada a previsão de maré
para o ano.

Figura 5.3. Exemplo para o método de preenchimento de falhas, com os


valores previstos no registro do marégrafo. Fonte: Autor.

Com os valores previstos para as lacunas a serem preenchidas, foi


executada rotina de programação para identificação dos pontos de encaixe da
previsão na série real obtida pelo marégrafo. No exemplo da Figura 5.3, o
encaixe dos valores previstos foi realizado, sendo que os pontos de encaixe do
trecho só foram considerados válidos se diferissem em menos de 5% do valor
real medido de maré e se não houvesse mudança no padrão de enchente e
vazante anterior ao trecho com falhas (ou seja, grandes diferenças de fase na
onda de maré). Caso contrário, o trecho a ser sobreposto ao registro real seria
expandido até o programa encontrar os pontos de encaixe válidos.
62

No início da falha existe a situação de maré vazante, tanto na previsão


realizada quanto no maregrama real, e o valor previsto teve diferença em
relação ao registro real menor do que a especificada. Por isso, faz-se o encaixe
direto da previsão no início da falha. Já no ponto final da lacuna, apesar de
tanto a previsão quanto o maregrama real apresentarem a situação de maré
enchente, o desvio é maior do que o especificado, por isso se avança até o
próximo ponto com desvio mínimo necessário para evitar mudanças de
declividade ou grandes diferenças entre alturas horárias; sobrepõem-se os
valores reais pelas alturas previstas até o ponto calculado.

5.2.2. Separação das séries e cálculo da tendência das componentes


harmônicas (Passos 6 a 9)

Após o preenchimento das falhas, a série de maré deve ser separada


em séries longas, que irão possibilitar o cálculo das componentes harmônicas
com maior precisão. Por série longa, entende-se um valor mínimo de extensão
de 18,61 anos, obtendo assim componentes sem a influência nodal e sem a
necessidade de serem corrigidas por essa influência.

Como é incomum a disponibilidade de marégrafos com mais de 50 anos


de dados no Brasil, foi utilizado um artifício para a criação de um número maior
de séries longas. Deve ser realizado o deslocamento da janela da série longa,
ano a ano, como mostra o exemplo da Figura 5.4 (Passo 6).

ANOS PRESENTES NA SÉRIE


NOME
DA ANO
SERIE BASE 1957 1958 1959 1960 1961 1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978

1966 1957

1967 1958

1968 1959

1969 1960

Figura 5.4. Anos iniciais das séries utilizadas no método de previsão para
Cananeia (SP). Fonte: Autor.

Separadas as séries longas, realiza-se análise harmônica para extração


das componentes de maré em cada uma das séries longas (Passo 7).
63

Será obtido um conjunto de componentes para cada série. É possível


avaliar, ao longo do tempo, a tendência de cada uma das componentes obtidas
nas análises. Caso seja verificada uma mudança significativa nos valores de
amplitude e fase para uma previsão futura, os valores das componentes devem
ser adaptados para refletir de maneira mais fiel a sua tendência. Cabe a quem
aplica a metodologia avaliar se e como as componentes estão se modificando
ao longo do tempo para extrapolar essas tendências para o período futuro que
se pretende modelar a maré (Passos 8 e 9).

5.2.3. Seleção das componentes e aplicação em previsão (Passos 10 e 11)

Em ensaios preliminares, foi observada que a precisão do método era


menor devido à ausência das componentes de longo período e de águas rasas
para a previsão final, pois foram utilizadas inicialmente para previsão somente
as componentes mais energéticas encontradas nas análises. Componentes de
águas rasas e de longo período devem ser utilizadas na previsão para
aumentar a sua precisão, especialmente devido à dificuldade de se obter as
tendências dessas componentes – as de águas rasas, devido à sua natureza
dependente da bacia oceânica, passível de modificação ao longo dos anos, e
as de longo período, devido à necessidade de séries de dados com grandes
extensões. Assim, a adição das mesmas no conjunto de componentes
utilizadas para análise pode ser feita considerando valores médios da série
(Passo 10).

Após a seleção do conjunto de componentes a serem utilizadas, é


possível fazer a previsão da maré para o ano pretendido (Passo 11).

5.3. Aplicação aos dados do Marégrafo De Cananeia (SP)

O método proposto foi aplicado utilizando-se os dados obtidos pelo


marégrafo de Cananeia (SP). O novo marégrafo a radar instalado em 2011
(KALESTO) possui registro detalhado de alturas de maré para o ano de 2014, o
qual não apresenta registro no marégrafo antigo. Ao comparar os valores
previstos com os dados do marégrafo antigo aos registros observados no
64

KALESTO, seria possível a validação do método de aplicação de tendência das


componentes harmônicas de maré em previsões futuras.

Foi obtida a série de dados de maré no marégrafo de Cananeia (SP)


para os anos de 1957 a 2004. Como o registro possuía falhas, inicialmente
foram aplicados os passos 2 a 5 da Metodologia.

Com os erros grosseiros preenchidos, foram separados em planilhas


diferentes as séries anuais de maré de 1957 a 2004, cada uma contendo 8760
valores horários de altura de maré (8784 nos anos bissextos). Essas planilhas
foram utilizadas para gerar as componentes harmônicas de maré para séries
de um ano.

As séries anuais foram então concatenadas ano a ano até a formação


de 31 séries de 18,69 anos de dados. Além desse artifício criar um maior
número de séries de longa duração, ele também criou a sobreposição de
valores entre séries subsequentes, já que um valor de altura de maré pode
estar presente em diversas séries, amortizando os valores com maior desvio
em relação à média (Passo 6).

Para cada série de 18,69 anos, o ano médio da série foi apontado como
ano de referência. Deste modo, os valores das componentes obtidas por essas
séries seriam utilizados para o ano central, apesar dessas componentes
representarem a série inteira.

Realizando a análise harmônica deslocando a janela de dados de ano


em ano, nas séries de 18.69 anos foi possível criar uma sequência de valores
das componentes calculadas (Passo 7) e verificar qual foi a mudança em
amplitude e fase das componentes calculadas ano a ano, considerando o ano
central da série de 18,69 anos.

Como cada série de 18,69 anos de alturas horárias tem suas


imprecisões e desvios causados por motivos meteorológicos e outros, a cada
análise harmônica realizada o PACMARÉ consegue identificar diferentes
conjuntos de frequências de componentes específicas. As componentes mais
energéticas, como a principal lunar e a principal solar, sempre estarão
presentes. Entretanto, as componentes de menor amplitude, principalmente
aquelas com frequências muito próximas de componentes de maior relevância,
65

algumas vezes não conseguirão ser identificadas dentro da precisão


determinada para a rejeição de pequenas componentes (95%).

Para que nessas análises harmônicas os valores dessas componentes


não fossem nulos, calculou-se o valor de amplitude e fase da componente
mesmo rejeitada, já que se observou que os valores foram muito próximos aos
obtidos nas análises onde as componentes eram aceitas. Por terem pequena
amplitude, assumiu-se que esse valor que foi rejeitado pela análise não afetaria
significativamente nas outras componentes que não foram rejeitadas. Buscou-
se utilizar essas componentes em análise posterior, sem levar em
consideração a tendência das mesmas devido às suas imprecisões.

Foram obtidas, para cada componente de maré, a amplitude e a fase,


ano a ano, para as análises realizadas nas séries de 18,69 anos. Deste modo,
foram obtidos 31 conjuntos de componentes harmônicas de maré oceânica.

Montando diversas séries de altura de maré com extensão anual, foi


possível proceder a análise harmônica das mesmas, de modo a obter um
conjunto de componentes harmônicas de maré a cada ano, totalizando 48
conjuntos de componentes de séries anuais. A tendência de modificação das
componentes principais também foi verificada nesses conjuntos de
componentes anuais, do mesmo modo que realizado por Ray (2006), Shaw e
Tsimplis (2010) e Woodworth (2010) em seus estudos. As tendências das
componentes obtidas por esse método foram comparadas com os conjuntos de
componentes obtidas pelo método proposto, utilizando séries de 18,69 anos.

Para o conjunto de componentes das séries de 18,69 anos e para o


conjunto de componentes das séries anuais, foi utilizada regressão linear para
obter uma reta de tendência da amplitude e da fase de cada componente,
tornando possível a extrapolação de valores para uma data futura (Passo 8).

Não seria viável comparar diretamente as componentes obtidas pela


análise harmônica de séries curtas com as obtidas pela análise harmônica de
séries longas, visto que as componentes calculadas pelo módulo ANHAMA
contam com desvios significativos como consequência das correções
perinodais, o que não ocorre nas componentes calculadas pelo módulo
LONGSERIES, já que este consegue calcular mais precisamente componentes
66

satélites e de longo período (FRANCO, 1988). Também foram adicionadas ao


arquivo de componentes a ser utilizado na previsão de 2014 componentes que
não necessariamente foram identificadas em todas as análises, mas foram
incluídas para a previsão final ser mais precisa.

A comparação das curvas dos valores das componentes ao longo do


tempo para séries de 18,69 anos e para séries anuais pode ser feita para fins
de previsão de mudança da componente e também tentando observar
possíveis desvios nas curvas de componentes obtidas, mas não para os
valores de amplitude e fase de cada componente obtida em cada ano devido
às correções perinodais.

As alturas de maré para um cenário futuro puderam ser previstas


utilizando as componentes extrapoladas para o ano (Passo 9), com as
tendências observadas no passo anterior para cada componente. A
extrapolação foi realizada nas séries de 18,69 anos de extensão para utilização
das componentes equivalentes ao ano de 2014.

A Figura 5.5 mostra o arquivo de componentes utilizado para a previsão,


com um total de 105 componentes de maré utilizadas, segundo o Passo 10.
67

Figura 5.5. Arquivo de componentes harmônicas previstas originalmente, com


seus valores de amplitude e fase para 2014, para ser utilizado em previsão.
Fonte: Autor

Com as componentes para 2014 calculadas, foi possível realizar as


previsões da maré astronômica para aquele ano (Passo 11). A comparação
entre várias séries de alturas de maré pode ser realizada:

1- (OBS): Os valores registrados no marégrafo KALESTO;


2- (KAL): Uma retrovisão de maré, com as componentes do KALESTO, na
data do próprio registro do KALESTO, ou seja, filtragem da maré
meteorológica;
3- (2004): Previsão utilizando componentes calculadas no ano de 2004;
4- (18_87): Previsão utilizando componentes calculadas na última série de
18,69 anos, com início em 1987;
5- (T): Previsão em que se utilizaram as diversas séries de 18,69 anos para
extrair as componentes mais energéticas e prever a sua tendência para
o ano de 2014;
68

6- (TM): Previsão em que se utilizaram as diversas séries de 18,69 anos


para extrair as componentes mais energéticas e prever a sua tendência
para o ano de 2014, adicionando em seguida as componentes de longo
período e de águas rasas menos energéticas.

Para definir a precisão dos métodos comparados, é proposto um índice


de comparação k, que possui como valor de base os erros da previsão para
2014, utilizando os dados do marégrafo KALESTO, sobre os próprios dados.
Supõe-se que a previsão do próprio período analisado irá realizar a filtragem da
maré meteorológica e desvios não-astronômicos, restando apenas a maré
astronômica para ser comparada com as outras previsões (Oliveira, 2011,
Franco, 1988). O valor do índice k proposto para mensurar a precisão das
previsões é definido por:

(15)

Na equação (15), tem-se:

 Pi: valor da altura de maré prevista em um instante i;


 Oi: valor da altura de maré observada pelo marégrafo Kalesto em um
instante i;
 Ki o valor da altura de maré prevista utilizando as componentes
calculadas no marégrafo KALESTO, ou seja, a maré astronômica de
referência prevista.

O valor do índice k proposto para verificar a precisão da previsão de


altura de maré será mais próximo de 1 quanto maior for a proximidade entre os
valores previstos e a maré astronômica real obtida no marégrafo KALESTO.
69

6. RESULTADOS

Foi realizado preenchimento das falhas encontradas no registro do


marégrafo, com valores de previsões de altura de maré baseadas nas
componentes encontradas no marégrafo. Com os registros do marégrafo sem
falhas, as componentes de maré para cada ano foram encontradas, utilizando
os registros de alturas de maré com extensão anual e também utilizando os
registros com séries de extensão igual a 18,69 anos. Os conjuntos de
componentes calculados ano a ano foram utilizados para obter a tendência de
amplitude e fase das componentes calculadas.

As Figuras 6.1 e 6.2 mostram a evolução da amplitude da componente


M2 ao passar dos anos, segundo a análise anual e a análise de longo período,
com a reta de tendência linear da amplitude da M2 para os dois tipos de
análise.

38
R² = 0,7948
37,5

37
Amplitude (cm)

36,5

36

35,5

35
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Ano

Figura 6.1 – Amplitude da componente M2 em centímetros, ao longo dos anos,


para a análise de séries anuais (com correção perinodal)
70

38
R² = 0,9166
37,5
Amplitude (cm)

37

36,5

36

35,5

35
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano

Figura 6.2 – Amplitude da componente M2 em centímetros, ao longo dos anos,


para a análise de séries de 18,69 anos.

As Figuras 6.3 e 6.4 mostram a evolução da fase da componente M2 ao


passar dos anos segundo a análise anual e a análise de longo período.

190

188
R² = 0,3115
186
Fase (graus)

184

182

180

178

176
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Ano

Figura 6.3 – Fase da componente M2 em graus, ao longo dos anos, para


a análise de séries anuais.
71

190

188
R² = 0,285
186
Fase (graus)

184

182

180

178

176
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano

Figura 6.4 – Fase da componente M2 em graus, ao longo dos anos, para


a análise de séries de 18,69 anos

O início do dia 01/01/1957 foi definido como hora zero, para fins de
comparação entre as duas análises.

Inicialmente, os valores obtidos para amplitude e fase da componente


M2, pela análise das séries anuais e para as séries de 18,69 anos, foram
submetidos à regressão linear como simplificação de sua tendência. Os
coeficientes linear e angular das regressões realizadas na amplitude da
componente M2, para os dois métodos, encontram-se na Tabela 6.1.

Tabela 6.1 - Coeficientes lineares, angulares e de determinação das


regressões lineares realizadas para cada curva da componente M2.

Tamanho da série Tipo de Curva Inclinação Intercepção R²


Anual Amplitude 0.041 -45.659 0,7951
Fase 0.088 7.145 0,3112
18.69 Anos Amplitude 0.042 -45.650 0,9166
Fase 0.056 70.038 0,285

Se comparada com a análise utilizando séries de 18,69 anos, a análise


utilizando as séries anuais irá ter um número maior de amostras (48 contra 31).
Entretanto, ao realizar a análise de amplitude, observamos como o coeficiente
de determinação (R²) aponta um resultado mais provável nas séries de
componentes extraídas de registros de 18,69 anos. Tanto para amplitude
72

quanto para fase, a plotagem dos valores de amplitude e fase para as análises
das séries de 18,69 anos facilitou a observação das mudanças das
componentes no tempo, em relação às componentes das séries anuais.

Percebe-se, para a fase da M2, a partir do valor de seus coeficientes de


determinação obtidos para os 2 métodos, que simplificar a tendência da
componente pela reta proposta não foi uma boa aproximação. Ao analisar o
gráfico da fase da M2 para a análise com série de 18,69 anos, observou-se
mais claramente uma mudança na tendência no começo dos anos 80, mais
especificamente em 1983, com ascensão no ângulo de fase. Já no gráfico da
fase da M2 pela análise anual, essa mudança não é tão evidente. Foi realizada
pesquisa sobre fatores que poderiam causar tal mudança nas tendências de
amplitude e fase das componentes no local. A construção da barragem no
canal do Valo Grande e seu rompimento em poucos anos causou grandes
mudanças na dinâmica estuarina, já que o estuário passou a receber grande
aporte fluvial diretamente no estuário (cerca de 60% do volume fluvial)
(MAHIQUES et al, 2009, 2014).

Propondo uma separação dos anos em dois trechos diferentes, um até


1983 e outro após 1983, ano de rompimento de um dos barramentos
construídos, foram realizadas regressões lineares em cada um dos trechos
(representados nas Figuras 6.5, 6.6, 6.7 e 6.8 pelos pontos azuis para até o
ano de 1983 e vermelhos para o período após 1983) e avaliados os
coeficientes das retas obtidas.
73

38
R² = 0,1697
37,5
R² = 0,7566
Amplitude (cm)

37

36,5

36

35,5

35
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Ano

Figura 6.5 – Amplitude da componente M2 em centímetros, ao longo dos anos,


para a análise de séries anuais (com correção perinodal)

38

37,5
R² = 0,6057
R² = 0,9515
Amplitude (cm)

37

36,5

36

35,5

35
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano

Figura 6.6 – Amplitude da componente M2 em centímetros, ao longo dos anos,


para a análise de séries de 18,69 anos.
74

190

188 R² = 0,8539
R² = 0,1662
186
Fase (graus)

184

182

180

178

176
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Ano

Figura 6.7 – Fase da componente M2 em graus, ao longo dos anos, para a


análise de séries anuais.

190

188

186
R² = 0,984
Fase (graus)

184
R² = 0,5266
182

180

178

176
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano

Figura 6.8 – Fase da componente M2 em graus, ao longo dos anos, para a


análise de séries de 18,69 anos.

Separando as séries em antes e depois de 1983 para amplitude e fase


da M2, em cada método, obtiveram-se os valores de coeficiente angular, linear
e de determinação apontados na Tabela 6.2.
75

Tabela 6.2 - Coeficientes lineares, angulares e de determinação das


regressões lineares realizadas para cada curva da componente M2, até o ano
de 1983 e depois de 1983.

Até 1983 Depois de 1983


Tamanho Tipo de Inclinação Intercepção R² Inclinação Intercepção R²
da série Curva
Anuais Amplitude 0,0581 -78,4557 0,7566 0,0198 -2,5142 0,1706
Fase -0,0633 306,0775 0,1661 0,3877 -589,6446 0,8537
18,69 Anos Amplitude 0,0596 -81,3350 0,9515 0,0210 -4,8339 0,6057
Fase -0,0662 312,0292 0,5265 0,2928 -400,4779 0,9839

A tendência da amplitude da componente M2 para o trecho após 1983


aponta que a separação da série de valores de amplitude em 2 trechos é mais
coerente com a realidade, se comparada com a utilização de apenas uma reta
de tendência. A regressão linear única estaria superestimando a amplitude da
M2, visto que o coeficiente angular da sua reta de tendência tem valor maior do
que aquele apresentado pela regressão após 1983.

A tendência da fase da componente M2 para o trecho após 1983 aponta


que a utilização de regressão linear para todos os anos estaria subestimando o
deslocamento da fase da M2. Na análise de 18,69 anos, fica evidente a
tendência de avanço da fase da M2 após 1983, com uma inclinação maior do
que a apresentada na regressão realizada utilizando todos os anos, que aponta
uma tendência mais estável.

As curvas de amplitude e fase obtidas pelas séries de 18,69 anos de


dados horários apresentaram melhores resultados se avaliados os desvios dos
pontos destas curvas em relação às retas de tendência propostas, o que pode
se observar comparando a maioria dos coeficientes de determinação (R²),
apontando a maior representatividade das regressões lineares, mesmo com o
número de amostras sendo dividido em 2 séries diferentes.

O método utilizado na componente M2 foi aplicado a componentes


encontradas no marégrafo de Cananeia (SP). A segunda componente mais
energética, a principal lunar S2, também apresentou o mesmo desvio e
mudança de tendência em torno de 1983, tanto para amplitude quanto para
77

198
196
R² = 0,8084
194

Fase (graus) 192


190
188 R² = 1E-04
186
184
182
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
Ano

Figura 6.11: Fase da componente S2 em graus, ao longo dos anos, para a


análise de séries anuais.

198
196
194
Fase (graus)

192 R² = 0,9776
190
R² = 1E-04
188
186
184
182
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000
Ano

Figura 6.12: Fase da componente S2 em graus, ao longo dos anos, para a


análise de séries de 18,69 anos.

O método também revelou que as mudanças de tendência, que neste


caso coincidem com uma mudança na configuração estuarina, podem ser
identificadas pela análise de amplitudes e fases das componentes obtidas
através das séries de 18,69 anos de dados, o que era impossível conseguir
observando as componentes obtidas através das séries de 1 ano de dados por
terem um desvio padrão relativamente maior.
78

A amplitude, apesar de não apresentar tanto desvio após a separação


em 2 séries, foi mais bem representada pela análise de longo período, que
apresentou pontos com menor desvio em relação à reta de tendência. A fase
da componente M2 parece estar se deslocando com maior intensidade após o
ano de 1983, sendo provável uma mudança na propagação da maré para
dentro do estuário no começo dos anos 80.

Os gráficos de evolução das componentes mais energéticas analisadas,


assim como os valores de amplitude e fase de cada componente previstos para
o ano de 2014, encontram-se no Apêndice A.

Para validação do método, foram realizadas diversas previsões de maré


em um período com registro de alturas de maré para comparação. O novo
marégrafo KALESTO, instalado na base do Instituto Oceanográfico da USP em
Cananeia (SP), dispõe de dados, embora de pequena extensão em
comparação com o antigo marégrafo, com precisão adequada para a
comparação dos registros com previsões realizadas utilizando dados do
marégrafo antigo.

Para comparar as amplitudes e fases das curvas de previsão de maré


propostas aos valores reais de maré, foi realizada a correção do nível médio
adotado nas previsões como sendo igual àquele encontrado nos registros do
KALESTO. Deste modo, o desvio referente à previsão do nível médio do mar
para o ano foi minimizado, o que possibilitou a observação das diferenças entre
maré simulada no KALESTO e aquelas previstas com os dados do marégrafo
antigo.

Foram realizadas comparações entre os seguintes dados e previsões de


maré, para o mesmo período do ano de 2014:

1- Dados de maré observados e registrados pelo marégrafo KALESTO.


2- Maré prevista por análise harmônica “tradicional”, utilizando os dados do
marégrafo KALESTO, ou seja, a previsão de maré para o mesmo trecho
em que existem os dados, ou uma filtragem da maré meteorológica do
registro.
79

3- Maré prevista utilizando o último ano que se tem registro do marégrafo


antigo (2004) para a obtenção das componentes de maré por análise
harmônica tradicional.
4- Maré prevista utilizando a última série de 18,69 anos que se tem registro
do marégrafo antigo para a obtenção das componentes de maré,
inclusive as de longo período, não sendo necessária a correção nodal
nas componentes.
5- Maré prevista utilizando o conjunto de componentes extrapolados para o
ano, utilizando as tendências observadas nas séries de 18,69 anos, sem
utilizar outras componentes além daquelas extrapoladas.
6- Maré prevista utilizando o conjunto de componentes extrapolados para o
ano, utilizando as tendências observadas nas séries de 18,69 anos.
Além disso, foram adicionadas a essas componentes extrapoladas, as
componentes de longo período e de águas rasas obtidas mais
recentemente, ou seja, fez-se uma mescla de dados de componentes,
buscando maior precisão da previsão. As componentes utilizadas na
previsão estão no Apêndice B.
As previsões foram de 11 meses de extensão, simulando a maré com
início às 0 horas do dia 1 de fevereiro de 2014 até as 23 horas do dia 31 de
dezembro de 2014.
Um trecho das previsões de maré, dos dias 3 de Junho de 2014 a 6 de
Junho de 2014, geradas pelas previsões do KALESTO (2-(KAL)) e da
metodologia utilizando a tendência das componentes, juntamente com a
inserção das componentes menos energéticas de águas rasas e longo período
(6-(TM)), pode ser observado na Figura 6.13, em comparação com 1-Maré real
observada no KALESTO:
80

350
AMPLITUDE DE MARÉ 300
1- OBS
250
2- KAL
(CM)
200
150 6- TM
6/3/2014 0:00 6/4/2014 0:00 6/5/2014 0:00 6/6/2014 0:00

DATA
Figura 6.13: Trecho da previsão de 11 meses realizada, comparando as 1-maré
observada; 2-prevista utilizando o registro do KALESTO; e 6-prevista utilizando
as componentes extrapoladas, em conjunto com as componentes de longo
período e de águas rasas.

Para determinar a precisão de cada uma das previsões, utilizou-se o


índice k proposto na metodologia (equação 13). Os erros entre os valores de k
das previsões e do registro estão mostrados na Tabela 6.3.

Tabela 6.3: Valores do índice k para os diversos métodos de previsão de maré,


em cada mês disponível do registro do KALESTO.
Índice k (Diferença maré real) KAL (2) 2004 (3) 18_87 (4) T (5) TM (6)

Fevereiro 1 0.880351 (11.96%) 1.015625 (1.56%) 0.981807 (1.82%) 1.004923 (0.49%)

Março 1 1.117524 (11.75%) 0.998251 (0.17%) 1.091174 (9.12%) 1.043605 (4.36%)

Abril 1 1.039632 (3.96%) 0.997211 (0.28%) 1.087122 (8.71%) 1.009549 (0.95%)

Maio 1 0.997326 (0.27%) 1.037918 (3.79%) 1.131805 (13.18%) 1.021299 (2.13%)

Junho 1 1.005987 (0.60%) 0.997766 (0.22%) 1.15916 (15.92%) 1.01403 (1.40%)

Julho 1 0.986383 (1.36%) 1.059265 (5.93%) 1.208279 (20.83%) 0.998375 (0.16%)

Agosto 1 1.020941 (2.09%) 1.045007 (4.50%) 1.025759 (2.58%) 0.971648 (2.84%)

Setembro 1 1.031553 (3.16%) 1.056642 (5.66%) 0.975712 (2.43%) 0.983584 (1.64%)

Outubro 1 1.089283 (8.93%) 1.053813 (5.38%) 0.959742 (4.03%) 0.981778 (1.82%)

Novembro 1 1.073216 (7.32%) 1.05124 (5.12%) 0.949677 (5.03%) 0.97992 (2.01%)

Dezembro 1 1.031676 (3.17%) 1.054586 (5.46%) 0.984169 (1.58%) 0.986337 (1.37%)

SÉRIE TOTAL (11 meses) 1 1.027539 (2.75%) 1.037081 (3.71%) 1.043262 (4.33%) 0.995916 (0.41%)
81

7. DISCUSSÃO

Observa-se que a utilização das séries de longo período trouxe uma


maior consistência nos valores das componentes M2 se observada a tendência
de mudança dessa componente tanto para amplitude quanto para fase, apesar
de não ser possível a comparação de valores diretamente com as
componentes obtidas na análise de séries anuais.

A mudança no padrão de tendência da M2, tanto para fase quanto para


amplitude, foi melhor identificada visualmente graças à análise de longo
período. Em comparação com a análise utilizando séries anuais, esse método
apresentou, na maioria dos casos, valor do coeficiente de determinação (R²)
mais próximo da unidade, o que aponta que a regressão linear nesses casos
tem maior representatividade dos valores das séries. Ainda, onde o valor de R²
não apresentou grandes mudanças, comparando a análise anual e a de longo
período, essa representatividade semelhante das regressões foi obtida com
muito menos amostras para as séries que utilizam a análise de longo período.
Assim, apesar de na maioria dos casos a inclinação da regressão linear obtida
para ambos os tipos de análise não apresentar grandes mudanças, na análise
de longo período essas regressões sugerem um resultado mais confiável, fator
importante no planejamento de possíveis obras costeiras futuras na região.

A comparação entre as curvas de tendência de amplitude e fase das


componentes utilizando séries anuais e séries de 18,69 anos possibilitou a
visualização de desvios na tendência da componente, que puderam ser
explicados por influências antrópicas e também pela movimentação do
marégrafo em seus últimos anos de operação.

É possível observar que o método utilizando a tendência de modificação


das componentes, adicionando as componentes de longo período e de águas
rasas (6) foi mais o mais preciso de todos, com uma diferença de menos de
0,5% em relação à maré astronômica real (2). Isso mostra que mesmo com um
intervalo de 18 anos entre o ano médio da última série de 18,69 anos (1996) e
o ano previsto (2014), o método proposto consegue prever, com excelente
precisão, o comportamento da maré astronômica no estuário.
82

Nos meses de Maio a Julho, o método utilizando apenas as 20


componentes principais (5) teve precisão muito abaixo daquela obtida pelos
outros métodos de previsão. Isso pode ser explicado pela ausência das
pequenas componentes satélites nessa previsão. De modo contrário, a
previsão com dados da série de 18,69 anos, com início em 1987 (4) e a
previsão com dados de 2004 (3) conseguiram reproduzir melhor o
comportamento da maré nesses meses, já que possuíam tais componentes
satélites. Entretanto, os valores de k na série total com 11 meses, utilizando
esses 2 métodos, ainda ficou acima daquele obtido pelo método de previsão
utilizando as tendências das componentes e adicionando as componentes
menores (6), o que mostra que, de maneira geral, os métodos de previsão (3) e
(4) foram menos precisos do que (6) para a série de dados medidos pelo
KALESTO.

As previsões deste estudo foram realizadas se utilizando do nível médio


corrigido pelo marégrafo com dados atualizados (KALESTO). Deste modo, o
desvio obtido, mensurado pelo coeficiente k proposto na metodologia, é
inicialmente relacionado apenas com as amplitudes de maré. Diversos estudos
atualmente são realizados para avaliar mudanças de nível médio do mar e
suas influências – IPCC (2014), Pelling (2013), Dasgupta (2011), Pickering
(2012), Ding (2013), entre outros. Os modelos elaborados para previsão de
cenários extremos devem levar em consideração a integração: da subida do
nível médio do mar; das alterações nas amplitudes de maré; e das mudanças
dos impactos da maré meteorológica.

Para estabelecer o parâmetro k de comparação, foi utilizada a hipótese


de que a retrovisão de maré em um trecho faria a filtragem da maré
meteorológica do registro, sobrando somente a maré astronômica do período,
tomada como real. É possível observar que o método proposto, obtendo as
tendências das componentes por séries de 18,69 anos e adicionando
componentes menores, aproxima-se muito dessa maré astronômica “real”. A
distância temporal entre a análise e a previsão mostra que a mudança nas
componentes harmônicas deve ser considerada se existir a pretensão de
utilização das mesmas em previsões para modelagem de situações futuras.
83

Levando em consideração que a análise harmônica do período utilizado


para verificação do método é feita em um registro de curta extensão, a análise
pode gerar componentes que, se utilizadas em previsão, acabam por absorver
uma parcela da maré meteorológica. O valor de k da previsão 6-(TM) abaixo de
1 em diversos meses sugere que a presença de um maior número de
componentes pode simular certa parcela da amplitude de maré identificada
como meteorológica em análise de séries curtas, pela incapacidade dessa
análise em distinguir os harmônicos do ruído meteorológico.

Observou-se que o método proposto possivelmente realiza a filtragem


da maré meteorológica com mais precisão do que a análise e retrovisão
tradicionais. Deste modo, sugere-se, em futuros estudos a adição da maré
meteorológica e das diferenças de nível médio, que não foram abordadas
nesse trabalho.

Os estudos de Shaw & Tsimplis (2010), Ray(2006) e Woodworth(2010)


apontam as mudanças nas componentes de maré. Entretanto, deve ser
estudada a influência dessas modificações nas zonas costeiras para permitir
resultados de simulações cada vez mais confiáveis. Como exemplo, pode ser
citada a componente Solar Anual (Sa), obtida nas análises harmônicas
realizadas.

Para utilização das componentes Solar Anual e Semestral, recomenda-


se a análise de séries longas devido a efeitos meteorológicos embutidos nos
valores dessas componentes. Esses efeitos podem ser explicados por razões
meteorológicas cíclicas, com mesmo período anual que a componente, como
as estações do ano e as alterações na maré meteorológica que elas trazem
(PARKER, 2007). Nas previsões, foi adotado um valor médio de amplitude e
fase daqueles obtidos para a componente durante os anos (analisando séries
de 18,69 anos). Em teoria, o valor obtido da componente Sa seria muito maior
do que o valor real (da influência do ciclo solar). Na prática, no entanto, esse
maior valor permite simular a parcela meteorológica cíclica, o que pode gerar
uma previsão de maré mais próxima do valor real.

A influência dos efeitos meteorológicos nas componentes de longo


período de Cananeia (SP) foi apontada por Franco e Harari (1993). Como
conclusão do estudo, mostrou-se que o ruído de fundo é tão ponderável que só
84

as componentes anual e semianual resistiram à seleção estatística e que


mesmo estas apresentaram grandes variações tanto em fase como em
amplitude (FRANCO, 1988). Por isso, recomenda-se que, na aplicação do
método proposto nesse estudo, seja estudada e mensurada a maré
meteorológica da região, o que pode trazer maior precisão na extração das
componentes astronômicas e, consequentemente, maior precisão em
previsões futuras.

Parker (2007) cita que as mudanças na bacia oceânica devem ser


levadas em consideração para avaliar a mudança das componentes de maré.
Mudanças em dinâmica sedimentar, dragagem e obras que modifiquem as
profundidades podem afetar os ciclos de maré e as componentes de maré de
maneira diferente para cada uma. Além disso, a descarga dos rios é bastante
variável durante os anos e isso pode afetar a maré observada. De fato, é o que
se observa no complexo estuarino-lagunar de Cananeia-Iguape: o Valo Grande
traz grande aporte fluvial e sedimentar, o que alterou as características da
maré.
85

8. CONCLUSÕES

A mudança nos valores de amplitude e fase das componentes ao longo


dos anos, principalmente das mais energéticas, é suficiente para alterar
significativamente a precisão das previsões realizadas. É necessário
compreender os processos astronômicos e seus efeitos na maré, bem como o
processo de análise harmônica e previsão de marés, antes de tomar os valores
das previsões como reais e aplicá-los em modelos.

Devido à interface do software PACMARÉ, muitos passos tiveram que


ser feitos manualmente. Tratando-se de um número elevado de séries a serem
analisadas, a automatização do processo seria benéfica, desde a etapa de
preenchimento de falhas até a previsão final da maré.

Recomenda-se a aplicação do método para as outras principais


componentes de maré, de modo a poder realizar previsões com as
componentes harmônicas previstas pelas tendências obtidas das mesmas. A
comparação das retrovisões de altura do nível do mar para um ano já ocorrido
com os valores reais medidos pelo marégrafo pode ser utilizado como forma de
validação do método para a previsão de alturas do nível do mar para o futuro.

É recomendada também a realização do método apresentado em


regiões diferentes, visto que a região do estudo pode apresentar desvios
devido a se tratar de águas rasas e ao marégrafo se localizar dentro de um
estuário que sofreu grandes alterações pela construção e posterior colapso da
barragem no canal Valo Grande, características que podem gerar alterações na
componente M2 ou em outras componentes analisadas.

A fácil visualização das tendências das componentes de maré,


juntamente com a maior confiabilidade das componentes extraídas nas séries
de 18,69 anos, gerou previsões com boa precisão. A aplicação do método para
previsões de um futuro mais distante (50 ou 100 anos) deve trazer bons
resultados, desde que se considere que as tendências observadas nas
componentes de maré continuem constantes.

Na etapa de avaliação das tendências das componentes, ficou evidente


que a utilização de séries de longo período em janela móvel auxilia a
visualização da tendência da componente e da mudança da mesma por
86

alterações na bacia oceânica. Nesse caso, a mudança da tendência das


componentes mais energéticas na região do marégrafo de Cananeia (SP) só
pode ser observada após a amortização que a utilização das séries de maneira
consecutiva proporcionou. A visualização dessa mudança foi essencial para
adequar as curvas de tendência para o período após a década de 1980, época
em que foi construído o barramento no canal do Valo Grande.

Na etapa de previsão de maré, os valores de k encontrados no estudo


mostram que a utilização das componentes de longo período, extrapoladas por
suas tendências, trouxe ótima precisão na previsão realizada, comparável à
precisão da retrovisão de maré do KALESTO sobre os próprios valores. Isso
mostra que, para fins de previsão de maré, devem ser utilizadas componentes
extraídas de análises harmônicas em séries longas e que deve ser levada em
consideração a tendência dessas componentes.

A aplicação do método proposto permite a previsão das componentes de


maré para o futuro com maior confiabilidade, aumentando consequentemente a
confiabilidade da maré astronômica resultante das combinações dessas
componentes. O método para previsão da maré astronômica deve ser realizado
em conjunto com estimativas da elevação do nível médio do mar. Projeções e
resultados desses estudos devem ser utilizados e aprimorados para a
utilização em cenários futuros, lembrando-se de que tais cenários devem ser
idealizados não somente para o entendimento dos fenômenos envolvidos, mas
também para serem utilizados como parâmetro de segurança para projetos e
obras de proteção e infraestrutura costeiras.
87

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95

COMPONENTE K2 – Valores de amplitude e fase da componente, ao longo


dos anos, para análises harmônicas em séries anuais e para análises
harmônicas em séries de 18,69 anos.

Figura A-3: Amplitude da componente K2 em centímetros, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.

Figura A-4: Fase da componente K2 em graus, para as análises de séries


anuais e análises de séries de 18,69 anos.
96

COMPONENTE M3 – Valores de amplitude e fase da componente, ao longo


dos anos, para análises harmônicas em séries anuais e para análises
harmônicas em séries de 18,69 anos.

Figura A-5: Amplitude da componente M3 em centímetros, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.

Figura A-6: Fase da componente M3 em graus, para as análises de séries


anuais e análises de séries de 18,69 anos.
97

COMPONENTE M4 – Valores de amplitude e fase da componente, ao longo


dos anos, para análises harmônicas em séries anuais e para análises
harmônicas em séries de 18,69 anos.

Figura A-7: Amplitude da componente M4 em centímetros, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.

Figura A-8: Fase da componente M4 em graus, para as análises de séries


anuais e análises de séries de 18,69 anos.
98

COMPONENTE K1 – Valores de amplitude e fase da componente, ao longo


dos anos, para análises harmônicas em séries anuais e para análises
harmônicas em séries de 18,69 anos.

Figura A-9: Amplitude da componente K1 em centímetros, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.

Figura A-10: Fase da componente K1 em graus, para as análises de séries


anuais e análises de séries de 18,69 anos.
99

COMPONENTE N2 – Valores de amplitude e fase da componente, ao longo


dos anos, para análises harmônicas em séries anuais e para análises
harmônicas em séries de 18,69 anos.

Figura A-11: Amplitude da componente N2 em centímetros, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.

Figura A-12: Fase da componente N2 em graus, para as análises de séries


anuais e análises de séries de 18,69 anos.
100

COMPONENTE Msf – Valores de amplitude e fase da componente, ao longo


dos anos, para análises harmônicas em séries anuais e para análises
harmônicas em séries de 18,69 anos.

Figura A-13: Amplitude da componente Msf em centímetros, para as análises


de séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.

Figura A-14: Fase da componente Msf em graus, para as análises de séries


anuais e análises de séries de 18,69 anos.
101

COMPONENTE MN4 - Valores de amplitude e fase da componente, ao longo


dos anos, para análises harmônicas em séries anuais e para análises
harmônicas em séries de 18,69 anos.

Figura A-15: Amplitude da componente MN4 em centímetros, para as análises


de séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.

Figura A-16: Fase da componente MN4 em graus, para as análises de séries


anuais e análises de séries de 18,69 anos.
102

COMPONENTE MK3 – Valores de amplitude e fase da componente, ao longo


dos anos, para análises harmônicas em séries anuais e para análises
harmônicas em séries de 18,69 anos.

Figura A-17: Amplitude da componente MK3 em centímetros, para as análises


de séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.

Figura A-18: Fase da componente MK3 em graus, para as análises de séries


anuais e análises de séries de 18,69 anos.
103

COMPONENTE MS4 – Valores de amplitude e fase da componente, ao longo


dos anos, para análises harmônicas em séries anuais e para análises
harmônicas em séries de 18,69 anos.

Figura A-19: Amplitude da componente MS4 em centímetros, para as análises


de séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.

Figura A-20: Fase da componente MS4 em graus, para as análises de séries


anuais e análises de séries de 18,69 anos.
104

COMPONENTE SO3 – Valores de amplitude e fase da componente, ao longo


dos anos, para análises harmônicas em séries anuais e para análises
harmônicas em séries de 18,69 anos.

Figura A-21: Amplitude da componente SO3 em centímetros, para as análises


de séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.

Figura A-22: Fase da componente SO3 em graus, para as análises de séries


anuais e análises de séries de 18,69 anos.
105

COMPONENTE S3 – Valores de amplitude e fase da componente, ao longo


dos anos, para análises harmônicas em séries anuais e para análises
harmônicas em séries de 18,69 anos.

Figura A-23: Amplitude da componente S3 em centímetros, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.

Figura A-24: Fase da componente S3 em graus, para as análises de séries


anuais e análises de séries de 18,69 anos.
106

COMPONENTE SK3 – Valores de amplitude e fase da componente, ao longo


dos anos, para análises harmônicas em séries anuais e para análises
harmônicas em séries de 18,69 anos.

Figura A-25: Amplitude da componente SK3 em centímetros, para as análises


de séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.

Figura A-26: Fase da componente SK3 em graus, para as análises de séries


anuais e análises de séries de 18,69 anos.
107

COMPONENTE L2 - Valores de amplitude e fase da componente, ao longo dos


anos, para análises harmônicas em séries anuais e para análises harmônicas
em séries de 18,69 anos.

Figura A-27: Amplitude da componente L2 em centímetros, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.

Figura A-28: Fase da componente L2 em graus, para as análises de séries


anuais e análises de séries de 18,69 anos.
108

COMPONENTE 2N2 – Valores de amplitude e fase da componente, ao longo


dos anos, para análises harmônicas em séries anuais e para análises
harmônicas em séries de 18,69 anos.

Figura A-29: Amplitude da componente 2N2 em centímetros, para as análises


de séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.

Figura A-30: Fase da componente 2N2 em graus, para as análises de séries


anuais e análises de séries de 18,69 anos.
109

COMPONENTE Q1 – Valores de amplitude e fase da componente, ao longo


dos anos, para análises harmônicas em séries anuais e para análises
harmônicas em séries de 18,69 anos.

Figura A-31: Amplitude da componente Q1 em centímetros, para as análises de


séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.

Figura A-32: Fase da componente Q1 em graus, para as análises de séries


anuais e análises de séries de 18,69 anos.
111

COMPONENTE MO3 – Valores de amplitude e fase da componente, ao longo


dos anos, para análises harmônicas em séries anuais e para análises
harmônicas em séries de 18,69 anos.

Figura A-35: Amplitude da componente MO3 em centímetros, para as análises


de séries anuais e análises de séries de 18,69 anos.

Figura A-36: Fase da componente MO3 em graus, para as análises de séries


anuais e análises de séries de 18,69 anos.
112

APÊNDICE B- COMPONENTES UTILIZADAS NA PREVISÃO DE MARÉ DO


ANO DE 2014

Tabela B.1: Componentes utilizadas na previsão de maré no ano de 2014. As


componentes marcadas com * foram calculadas a partir da extrapolação de
tendência encontrada nas séries de 18,69 anos (continua).

Nº de Componentes = 105 Nível médio (cm) =245


Nome da Componente Amplitude (cm) Ângulo de fase (graus)
M2* 37.44527473 189.3357143
S2* 24.15065934 198.3317582
O1* 11.22263736 130.4089011
K2* 7.431208791 188.2050549
M3* 6.158131868 18.2146092
M4* 4.670879121 29.5543956
K1* 6.388571429 195.9006593
N2* 5.975054945 253.0953846
Msf* 2.455824176 119.4067033
MN4* 2.731538462 336.7182418
MK3* 2.730659341 271.5510989
MS4* 2.329010989 152.8532967
SO3* 2.380989011 292.9947253
S3* 1.572857143 83.33923077
SK3* 1.595934066 89.52802198
L2* 1.815714286 166.3146154
2N2* 2.01978022 242.1387912
Q1* 3.05032967 107.8659341
MU2* 2.75956044 252.081978
MO3* 2.805934066 185.4297802
P1 2.57 195.59
S1 1.76 170.99
SP3 1.25 86.38
N4 0.72 287.42
MK4 1 146.7
Sa 6.8 26.75
T2 1 222.66
NU2 0.8 252
MTS2 0.7 199.83
M(NU)4 0.69 341.48
KJ2 0.68 1.66
113

Tabela B-1: Componentes utilizadas na previsão de maré no ano de 2014. As


componentes com * foram calculadas a partir da extrapolação de tendência
encontrada nas séries de 18,69 anos (continuação).

Nome da Componente Amplitude (cm) Ângulo de fase (graus)


2MS6 0.62 162.12
3MN4 0.58 245.19
RO1 0.57 109.36
MKS2 0.57 260.23
SQ3 0.49 221.29
3MS4 0.48 262.96
OP2 0.46 138.24
OO1 0.45 8.52
2MP3 0.44 188.29
2Q1 0.39 71.42
SL4 0.36 188.53
MST2 0.34 323.76
MSN2 0.34 336.93
R2 0.3 207.28
2SM6 0.3 210.52
2MO5 0.28 288.58
M1 0.27 162.51
SO1 0.27 328.52
2MK5 0.27 31.78
M6 0.27 139.83
2MTS4 0.26 128.06
J1 0.24 304.67
MSK6 0.24 196.06
QUI1 0.23 151.18
MNO5 0.23 267.71
S4 0.21 276.88
MNK5 0.21 316.94
PI1 0.2 206.31
PSI1 0.2 244.46
SN4 0.19 106.16
2MK6 0.18 161.66
3MN8 0.18 156.29
SK4 0.17 182.03
MSM5 0.16 272.26
3MS8 0.15 359.28
2MSN8 0.14 312.33
114

Tabela B.1: Componentes utilizadas na previsão de maré no ano de 2014. As


componentes com * foram calculadas a partir da extrapolação de tendência
encontrada nas séries de 18,69 anos (Conclusão).

Nome da Componente Amplitude (cm) Ângulo de fase (graus)


2MST4 0.13 336.31
2MSO7 0.13 184.21
4SK9 0.13 87.34
4MS10 0.13 28.58
MSNK7 0.11 235.57
2MSK8 0.11 100.31
S8 0.11 63.74
MSK5 0.1 195.22
S5 0.1 42.02
3MK7 0.1 286.19
2M2N8 0.1 100.57
M8 0.1 224.17
M10 0.1 325.03
3MSN10 0.1 354.7
2MNK7 0.09 190.01
3MK8 0.08 307.13
2M2S8 0.08 130.9
4MN10 0.08 301.67
MSN6 0.07 274.73
2MSK7 0.07 25.13
3SM8 0.07 284.89
2M2SO9 0.07 243.67
2MN6 0.06 214.91
3MSK6 0.06 301.93
4MN6 0.06 294.55
3MSN6 0.06 351.25
2MNK8 0.06 295.9
4MO9 0.06 43.54
3MNK9 0.06 136.83
3MNS6 0.05 294.49
2NM6 0.05 152.16
4MK9 0.05 191.04
2M2SK9 0.05 7.45
2M2NS6 0.04 290.99
3MSO9 0.04 185.56
3M2S10 0.04 119.07
4MNO11 0.03 248.98
4M2S12 0.02 185.18

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