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O DIREITO À EDUCAÇÃO INTEGRAL NOS PLANOS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO

DA REGIÃO METROPOLITANA DE SANTARÉM/PA (2015-2021)

Doutoranda Ângela Rocha dos Santos


Orientadora Profa. Dra. Maria Lília Imbiriba Sousa Colares

A temática da pesquisa aborda o direito à educação integral como direito humano, social e
constitucional nos territórios brasileiros, com análise na esfera municipal, a partir do planejamento
educacional a ser construído e assumido pelo poder local em seus sistemas de ensino, perante a
classe trabalhadora. Para fins de delimitação do estudo, considera-se o contexto amazônico da
Região Metropolitana de Santarém1, estado do Pará, que possui três Municípios circunvizinhos,
sendo as cidades de Belterra, Mojuí dos Campos e Santarém (Sede), com atenção à configuração do
direito à educação integral. Pesquisa vinculada ao projeto guarda-chuva “Políticas e gestão da
educação em tempo integral em unidades escolares da Região Metropolitana da Santarém
(RMS/PA)”, aprovado na chamada nº 04/21-CNPq.
Ao considerar o marco histórico, no âmbito do Estado Democrático de Direito no Brasil,
destaca-se que a educação é um direito de todos e dever do Estado e da Família, a ser “promovida e
incentivada com participação da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”, conforme o artigo 6º da
Constituição Federal/CF (BRASIL, 1998). Tal finalidade, também, coaduna-se às premissas da
educação integral como dever do Estado, conforme análise de Ganzeli (2017), Abbiati (2019) e
Nakamoto; Roveroni; Bryan (2019).
Ressalta-se, que a educação integral tem sido reafirmada no arcabouço jurídico-normativo,
dentre eles: o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA, Lei n. 9.089/1990), a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação, Lei nº 9.394/96 e o Plano Nacional de Educação vigente (Meta 62, Lei nº
13.005/2014). Especifica-se, que o Estado Brasileiro determinou no artigo 34 da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (LDB), a Lei nº 9.394/1996, que a jornada de tempo integral seja
"progressivamente ampliado o período de permanência na escola" (Brasil, 1996). Por sua vez, a
existência do PNE (Brasil, 2014), como um relevante documento norteador do planejamento
educacional brasileiro de política de Estado (Dourado, 2020), reitera a incumbência constitucional
da gestão municipal, incluindo-se o atendimento do alcance da Meta 6 - educação integral, com
ênfase na oferta e ampliação do tempo integral.
Contudo, expressa um processo histórico e movimento contraditório de interesses, de
atores sociais e concepções de educação divergentes, bem como de descontinuidades nas políticas
educacionais, o que inclui e afeta o cumprimento da meta 6-Educação integral nos territórios
brasileiros. Entende-se que a lei, o arcabouço normativo-jurídico em si não materializa o direito à
educação integral. Nesta perspectiva, o estudo tem como objetivo geral:
 Como se configura o direito à educação integral nos Planos de Educação dos municípios da
RMS/PA, se articulados entre os sistemas de ensino para sua implementação?

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A Região foi instituída pela Lei Complementar Estadual nº 079, de 17 de janeiro de 2012. Foi criada com objetivo de
intersetorialidade por políticas públicas e de direitos sociais. Localizada na região de integração do Baixo Amazonas, no
estado do Pará, composto ao total por 13 Municípios (Alenquer, Almeirim, Belterra, Curuá, Faro, Juruti, Mojuí dos
Campos, Monte Alegre, Óbidos, Oriximiná, Prainha, Santarém e Terra Santa).
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Meta 6: Oferecer Educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas públicas, de forma a atender, pelo
menos, 25% dos(as) alunos(as) da Educação Básica. (Brasil 2014).
Justifica-se a escolha de periodização do estudo com delimitação de análise documental do ano
de 2015, considerando a aprovação dos PME’s da RMS/PA. E, o ano de 2021, como possibilidade
de recorte temporal para análise de diferentes gestões presidenciais e municipais. Por conseguinte,
tem como objetivos específicos:
a) caracterizar o processo histórico e legal referente à educação integral no Estado Democrático de
Direito no Brasil, considerando sua prerrogativa como direito humano fundamental de natureza
social e de cidadania;
b) analisar o tema do direito à educação integral nos planos nacionais/municipais de educação a
partir da perspectiva da pedagogia histórica crítica, visando compreender suas contribuições para o
aprofundamento teórico do objeto pesquisado;
c) analisar a relação entre o planejamento educacional e a configuração do direito à educação
integral nos municípios da RMS/PA, considerando os sistemas de ensino, os planos de educação, as
leis orgânicas e orçamentárias municipais e, os documentos norteadores dessa área quanto ao
atendimento do PNE vigente, durante o período de 2015 a 2021;
d) analisar como os sistemas de ensino da RMS/PA configuram a educação integral como direito,
com observância ao cumprimento das determinações legais, dos princípios norteadores e de
indicadores para o monitoramento da Meta 6 do Plano Nacional e Municipal de Educação, visando
a organização da rede pública de ensino.
A temática recai dentre outros contextos, na problemática quanto à complexidade histórica
da questão federativa brasileira, da realidade multifacetada do contexto amazônico paraense (social,
político, econômico, educacional, cultural). Além da conjuntura de crise estrutural do capitalismo
burguês, do desmonte da educação pública e dos novos arranjos aos municípios, considerando suas
incumbências para educação pública, (Saviani, 2021). O que inclui a conjuntura política (pós)
golpe-2016 e seus desdobramentos no Estado Brasileiro e à população, diante o forjamento de
rupturas democráticas, o que repercutiu na aprovação da Emenda Constitucional (EC) nº 95/20163.
E, ocasionou intencionalidade de “secundarização do Plano Nacional de Educação” (DOURADO,
2020), refletindo também, nos planos municipais, e ao direito à educação integral.
Neste contexto, considera-se a realidade dos Municípios da RMS/PA, que possuem seus
sistemas públicos de ensino instituídos com seus respectivos Planos de Educação (PME) aprovados
para o decênio 2015-2025. Portanto, defende-se a tese de que a educação integral, para que se
configure e efetive no âmbito da RMS/PA como um direito, requer articulação dos sistemas
próprios de ensino na implementação dos Planos Municipais de Educação, a ser permeado
por uma concepção pedagógica contra hegemônica.
Em virtude disso, faz-se necessário refletir como os Municípios brasileiros, em especial no
contexto amazônico tem configurado este direito?. Neste sentido, ao considerar que os Municípios
da Região Metropolitana de Santarém/PA aprovaram os seus planos de educação em seus sistemas
de ensino, para o decênio 2015-2025, o presente estudo visa responder à seguinte questão de
investigação: Como se configura o direito à educação integral nos Planos de Educação dos
municípios da RMS/PA, se articulados entre os sistemas de ensino para sua implementação?
No percurso metodológico, trata-se de estudo bibliográfico e documental, de natureza
descritivo-analítica, com referencial teórico-metodológico, a partir do princípio dialético da
totalidade e da historicidade, considerando o movimento histórico, contraditório da relação Estado e
sociedade (Colares, 2011). No que diz respeito à pesquisa e análise documental, apreende-se que os
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EC do “teto dos gastos públicos”, com a limitação por vinte anos de gastos públicos e investimentos federais para
educação, instituindo um novo regime fiscal.
documentos elaborados por humanos e suas intencionalidades, tornam-se fontes históricas
documentais e, constituem-se grau de relevância para produção dos conhecimentos, (Sanfelice,
2013). Em vista disso, tem por referência a contribuição teórica nos estudos de Dermeval Saviani, a
partir de perspectiva da pedagogia histórico-crítica, dentre outros autores necessários para o
embasamento de uma concepção dialética de educação.
Serão analisados os documentos que consubstanciam a normatização a educação integral no
Brasil, no Pará e dos Municípios da RMS/PA, tais como: a LDB (9.394/96), PNE (2014), Planos
Municipais, Documentos Municipais, Estaduais e Federais relacionados à temática. Fontes como
leis municipais, estaduais e federais, dados estatísticos sobre a Educação Básica na região e dados
educacionais dos municípios de acesso de portais públicos como o Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), Portal do Observatório do PNE e outros. Quanto à
sistematização e análise dos dados, elaboração final da tese, adota-se a apresentação didática
considerando a vigência os Planos de Educação da RMS/PA, a gestão municipal, a organização dos
dados ao objeto de estudo e objetivos. Em relação ao tratamento dos dados educacionais coletados e
sistematizados dos microdados do censo escolar e das sinopses estatísticas do banco do INEP, além
de outras fontes documentais, considerando as questões de investigação e objetivos da pesquisa.

Referências

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil. Brasília, DF: Imprensa Nacional, n. 191-A, 5 out. 1988.

BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1996.
Disponível em: https://bityli.com/xBjBm. Acesso em: 02 mar. 2023.

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em: https://bityli.com/bBnHdl. Acesso em: 02 mar. 2023.

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Disponível em: https://www.seminariosregionaisanpae.net.br/BibliotecaVirtual/10-Livros/PNE-politicas-e-gestao-
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GANZELI, P.. Educação integral: direito público subjetivo. Educação: Teoria e Prática, v. 27, n. 56, p. 575-591,
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http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/educacao/article/view/11954.Acesso em: 16 mar. 2023.

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Associados, 2021.

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