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A “MATRIX” DO FINANCIAMENTO PUBLICO DA EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL:

O Ensino Médio Profissionalizante no Rio Grande do Norte entre 2017-2021

Maxuel Batista de Araujo1

RESUMO

O presente esboço acadêmico procura fazer um recorte temporal sobre a política pública de
Financiamento da Educação em Tempo Integral Brasileira entre os anos de 2017 a 2021,
tempo limiar da efetivação do chamado Novo Ensino Médio - Lei 13.415/2017. Tendo por
objetivo analisar as possibilidades e desafios associados ao financiamento da educação em
tempo integral. Partindo da concepção de Estado análise dos movimentos legais
relacionados à Educação Integral (em tempo) integral presentes na Constituição Federal de
1988 e nas normatizações que se seguiram à sua promulgação, chegando ao Fundeb.
Paralelamente são destacadas as políticas, os programas e os dados estatísticos associados
ao financiamento da educação em tempo integral

PALAVRAS-CHAVE: Matrix. Educação. Tempo Integral. Ensino Médio. Rio Grande do Norte

1 INTRODUÇÃO

Desde os primórdios da humanidade existe a necessidade de organização e


colaboração entre os indivíduos, a priori para sobrevivência, mas com o passar dos tempos,
com as relações dos grupos se tornando mais complexas, surge a ideia de uma organização
social mais complexa, denominada de Estado. E assim nasce as teorias e concepções de
pensamento, destacando a ideia atual do que vem a ser essa “Matrix”2 e a repercussão nas
políticas educacionais no Brasil, em especial ao Financiamento Publico Da Educação em
Tempo Integral do Ensino Médio Profissionalizante da rede estadual do Rio Grande do
Norte, entre 2017 a 2021.

1
Historiador. Turismólogo. Pedagogo. Mestre em Ciências Sociais/UFRN. Discente (especial) da Disciplina
Estado e Políticas Educacionais – PPGE 6103/2021.2 - Doutorado em Educação UFRN. maxhist@hotmail.com
2
A Matrix é uma simulação que cria um mundo imaginário onde as pessoas são prisioneiras da realidade,
muito mais como a Caverna de Platão. As sombras ou imagens que os presos vêem no muro são tudo que os
presos sabem do mundo fora da caverna. Projeções de objetos que não são reais, mas parecem reais porque
eles nunca viram o mundo real.
Discutir concepções como Estado, Financiamento, Educação em Tempo Integral e
Ensino Médio se faz necessário uma revisão histórica e epistemológica dos termos para que
se possa ter uma ideia melhor hoje como a sociedade trata da temática entre angustias,
ações e esperanças.

Preliminarmente, a conceituação de Estado como um ente despersonalizado (uma


espécie de “Matrix”) se concretiza como sendo uma sociedade constituída por um grupo de
indivíduos organizados, como: os grupos familiares, profissionais, educativos, políticos,
religiosos, que buscam objetivos em comum, tendo ainda um amparato econômico, jurídico
e ideológico, mas desde o mundo antigo a definição do termo Estado, da Polis Grega e das
Civitas Romana até a instituição científica nos estudos de Nicolau Maquiavel, na sua obra “O
Príncipe”, escrito em 1513. Entretanto, teóricos, diante de analises e estudos apontam
posições sobre a formação do Estado como:

➢ 1º Posição: conceitua que o Estado sempre existiu, desde que o homem habita o
planeta Terra. Encontra-se em um contexto de organização social.
➢ 2º Posição: a sociedade humana existia antes mesmo do Estado, assim ele foi criado
para atender às necessidades do grupo social.
➢ 3º Posição: o Estado como uma sociedade política é dotado de certas características
bem definidas. Assim, ele é concreto e histórico, não de caráter geral e universal. O
Estado surgiu então quando nasceu a ideia de “soberania”.

Com a ideia consolidada sobre o que é o Estado na modernidade, depara-se agora a


palavra Educação (proveniente do latim, educare, educere, cujo significado literal é conduzir
para fora ou direcionar para fora). Num sentido mais amplo e moderno, educação tem
como significado os hábitos, valores e costumes em uma determinada cultura, que são
transferidos de geração para geração. Assim, a educação é formada através das situações
presenciadas e das experiências vividas por um indivíduo ao longo de sua vida. Todavia,
numa sociedade capitalista é preciso perguntar sempre: Quem paga a conta?
Ao tentar responder a pergunta acima, é preciso compreender um pouco sobre o
financiamento publico da Educação, o “pacto social” que os trabalhadores fizeram em
delegar ao Estado a responsabilidade de “tirar um pouco do salário (através de impostos e
taxas) do trabalhador para custear a educação”, dessa maneira, deve-se observar os valores
investidos e a gerência desses recursos. No Brasil, os gastos com a educação publica, tem
seu primeiro registro em 1772 quando a Coroa Portuguesa instituiu, em o “Subsídio
literário” (imposto, que incidia sobre a carne verde, o vinho, o vinagre e a aguardente) para
manutenção dos cursos primário e médio.

No Brasil republicano e pós Constituição Federal de 1988 se constata normas e


dispositivos mais efetivos como a criação do FUNDEF (depois transformado em FUNDEB),
estabelecendo as fontes e os níveis mínimos de recursos para a manutenção e
desenvolvimento do ensino. Assim, era de esperar-se que a análise do financiamento pela
ótica das fontes de recursos, da receita ou da captação não encontrasse, nas pesquisas feitas
no Brasil, a mesma ênfase registrada nas tendências internacionais. Mas a pequena fração
de estudos brasileiros que se valem desta ótica de análise justifica um debate maior sobre
politicas publicas educacionais e o seu financiamento como o que preconiza o ideal da
Educação Integral, tendo o pseudo “Novo Ensino Médio” e a ênfase ao itinerário da
Educação Profissional.
No “estado da arte”, se observou que pelo menos entre 2017 a 2021 as pesquisas
registradas no Brasil, reside mais no debate sobre problemas relativos a reduções na base de
arrecadação, referindo-se a isenções fiscais mediante artifícios legais ou contábeis e
sonegação de impostos, pois embora esses temas são relevantes para o financiamento do
ensino publico brasileiro, se faz necessário ampliar os estudos como a inclusão na discussão
temas transversais do financiamento como: o da equidade e o da eficiência. E, no Brasil,
indagações: a) como se distribuem as fontes de recursos públicos e a captação de verbas
para a educação e como tal distribuição se afigura diante de perspectivas da equidade? b)
quais são os principais óbices a uma captação de recursos mais eficiente para a educação e
qual é a sua origem?

No conjunto das pesquisas registradas, dois grandes temas transversais da literatura


internacional, o da equidade e o da eficiência, têm diminuta presença nas pesquisas
registradas conforme sugerem explicitamente os resumos registrados. Um, ou outro, ou
ambos os temas estão presentes só em cerca de 15% do total dos estudos. Considere-se
que a eficiência na captação das verbas públicas e na sua aplicação é um imperativo de
ordem política e ética, pois são recursos que pertencem a toda a população. Considere-se
ainda que questões de equidade dizem respeito diretamente a outras no âmbito da justiça
social – qualquer que seja a concepção de maior justiça social adotada – e que estas últimas
são de indispensável discussão na construção de um projeto democrático para o país. Nesta
ordem de idéias, parece que o tratamento de questões de equidade e de eficiência merecem
maior atenção da pesquisa no país sobre o financiamento da educação.

A recente criação do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de


Valorização do Magistério - FUNDEF, no entanto, certamente ensejará alguma mudança
neste cenário, pois a ele são inerentes questões de equidade e de eficiência na alocação
distribuição dos recursos. É também promissor registrar que entre os estudos publicados
em 1997 a maior parte deles já discutia a implantação do novo fundo, a qual se iniciaria no
ano seguinte, e que algumas destas pesquisas tratavam de questões contidas naqueles
grandes temas transversais.

Já a ampliação da cobertura da educação em tempo integral pelas escolas públicas


brasileiras em 2021 consiste em uma das 20 decisões centrais instituídas no Plano Nacional
de Educação 2014-2024, tendo por eixo três ações do Plano de Ações Articuladas: Programa
Mais Educação, PDDE/Educação Integral e ProInfância. Constata-se que sua existência local,
se, por um lado, apresenta forte dependência em relação às iniciativas do governo federal,
por outro, demanda maior protagonismo dos sistemas de ensino de cada ente da federação.

E no caso do Estado do Rio Grande do Norte, na sua promoção, também em termos


de construção de suas próprias propostas, sob a perspectiva de uma educação integral em
tempo integral, através do Plano Estadual de Educação do Rio Grande do Norte ─ PEE/RN
(2015-2025) como um instrumento de politica educacional que objetiva estabelecer metas e
estrategias, no ambito da educacao basica estadual e municipal, educacao profissional
tecnica e educacao superior. Objetiva, tambem, com suas diretrizes politico-educacionais
a formulacao de propostas e metas, por diferentes orgaos que integram o sistema
educacional do Estado, expresso na META 6:

Meta 6
Elevar a oferta da educacao basica em tempo integral no Rio Grande do Norte,
atualmente de 41,4%, segundo censo escolar de 2013, em, no minimo, 50% das
escolas publicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos (as) alunos da educação
basica ate 2024. Tendo como Estrategias:
1. Expandir, com o apoio da uniao, a oferta de vagas em escolas que atuam na
perspectiva da educacao em tempo integral, de forma gradativa, com tempo
efetivo igual ou superior a 7 horas diarias para o aluno, durante todo o ano letivo,
por meio de atividades curriculares, incluindo as culturais e esportivas e o
acompanhamento pedagogico e multidisciplinar.
2. Instituir, em regime de colaboracao com a Uniao, projetos de construcao e
reforma de escolas com padrao arquitetonico e de mobiliario adequado para
atendimento em tempo integral, com laboratorios, bibliotecas e espacos de
convivencia e com acessibilidade para as pessoas com deficiencias.
3. Implantar e implementar educacao integral em tempo integral nas escolas
estaduais e
municipais que dispoem de um turno livre, ate o final de 2017, e nas demais ate o
final da execucao deste Plano, criando mecanismos de acompanhamento e de
avaliacao desse processo de implantacao nas escolas de educacao de tempo
integral.
4. Assegurar, nos planos de cargo, de carreira e de remuneracao do magisterio,
estadual e municipais, o reordenamento da carga horaria de trabalho dos
profissionais e/ou ampliacao da jornada do professor em uma unica escola, com
regime de dedicação exclusiva para o exercicio da docencia, com tempo efetivo
para desenvolver atividades de educacao integral em tempo integral e processo de
formacao continuada com foco na proposta pedagogica escola.
[PNE/RN – 2015-2025, p. 8)

Ainda a cerca dos recursos públicos e suas politicas de financiamento, destaca-se o


Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação (Fundeb) que foi alterado em 2020 pela Emenda Constitucional
108, passando a vigorar em 2021. A Emenda tornou permanente o principal mecanismo de
financiamento da Educação Básica no Brasil, ampliou a participação da União no custeio de
matrículas públicas e alterou o modelo de redistribuição de recursos. Todavia, de 2007 a
2020, a estrutura do Fundeb se baseava em 27 fundos financeiros – um para cada Unidade
Federativa (UF) -, com o objetivo de financiar a Educação Básica. Cada fundo era formado
por 20% dos recursos de determinados impostos estaduais e municipais (ICMS, IPVA, FPE,
FPM, ITCMD, IPI-Exportação, Lei Kandir e ITR) e redistribuído entre as redes municipais e
estadual de ensino do estado, conforme o número de matrículas (da Educação Infantil ao
Ensino Médio), para garantir a divisão igualitária dos recursos, a fim de reduzir a
desigualdade educacional entre as unidades da federação.

Apesar de o mecanismo de fundos ter importante papel na redução da desigualdade


das redes de cada estado, e a complementação da União ampliar recursos dos fundos mais
pobres, as desigualdades ainda existiam. Isto porque o Fundeb levava em conta apenas os
recursos disponíveis para a educação a partir da subvinculação de 20% de impostos
estaduais e municipais específicos, ou seja, cada governo ainda tinha mais 5% desses
impostos para serem gastos exclusivamente com educação. Além disso, outra parte dos
impostos arrecadados pelos governos municipais e estaduais não entravam na composição
do Fundeb (ISS, IPTU, ITBI, IOF-Ouro, IR-M e IR-E), mas 25% deles deveriam ser direcionados
à educação, de acordo com a regra constitucional de vinculação (art. 212). Por fim, ainda
havia os recursos do Salário Educação, vinculados aos gastos no setor, assim como 75% dos
ganhos com royalties do petróleo e gás natural nos territórios onde a exploração do mineral
acontece (Lei. 12.858/2013).

O texto do Novo Fundeb incluiu ainda o chamado Custo Aluno-Qualidade como


referência para o padrão mínimo de condição de oferta. O objetivo é que sejam definidos os
insumos indispensáveis a todas as escolas como condição essencial para garantia adequada
de educação. Caberá ao Congresso, em discussão com estados, municípios e representantes
da sociedade civil, aprovar uma lei complementar que regulamente o Custo Aluno-
Qualidade.

CONSIDERAÇÕES DERRADEIRAS

A discussão sobre educação em tempo integral vem se tornando cada vez mais
complexo, uma vez que a ampliação da jornada escolar para o tempo integral tem sido
discutida junto a outros dois conceitos que, igualmente, apresentam projetos de sociedade e
de educação diferenciados: a educação integral e a qualidade na educação.
Por fim o desafio da politica publica de financiamento do Ensino Médio Integrado à
Educação Profissional é garantir que a formação não seja pautada apenas na formação
técnica, mas leve em consideração todas as dimensões para uma formação integral
num primeiro momento e a real garantia dos recursos financeiros necessários a sua
efetivação pautada na qualidade, eficiência e eficácia

A educação em tempo integral busca afirmar-se como política pública na área da


educação, se apresentando como parte integrante de um conjunto mais amplo de políticas
sociais, quer ao nível nacional, quer em termos subnacionais. Ressaltando o contexto do
novo PNE, a educação em tempo integral ressurge como política de Estado, agora assumindo
a configuração de uma importante decisão deste plano para o decênio 2014-2024, em
termos práticos devendo se fazer observar por meio de sua promoção articulada e
cooperada entre os sistemas de ensino federados, em tese, expressão do exercício do
regime de colaboração e, a um só tempo, da competência profícua deste instrumento de
planejamento da educação.
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FONTE: Fundação Itau-Unibanco

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