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PARASITOLOGIA
UNIDADE 5
RELAÇÃO DE COMPETÊNCIAS
Conhecer os protozoários e helmintos no contexto da saúde humana.
Relacionar os métodos para o diagnóstico de doenças parasitárias.
Aplicar o conhecimento de forma preventiva no controle de parasitoses.
1. INTRODUÇÃO
Os cestoides são parasitas que pertencem a subclasse Cercomeromorphae. São ver-
mes segmentados e de corpo achatado dorsoventralmente, isto é, corpo em forma de
“fita”; não apresentam sistema circulatório e digestório; em geral são hermafroditas. Estes
parasitas apresentam ciclo de vida heteroxênico, envolvendo dois tipos de hospedeiros:
hospedeiro definitivo (HD) e o hospedeiro intermediário (HI). O habitat do verme
adulto é o intestino delgado do HD e o estágio larval é encontrado em tecidos e ór-
gãos do HI. Há quatro gêneros de cestoides que podem causar infecção no ser humano:
Taenia, Hymenolepis, Echinococcus e Diphyllobothrium (Tabela 01). Neste capítulo
iremos abordar o gênero Taenia, com as espécies Taenia solium e Taenia saginata.
Teníase e cisticercose são doenças diferentes, porém causadas pelo mesmo parasita
em fases diferentes do seu ciclo de vida. A teníase é causada pela presença do verme
adulto (que pode ser das espécies Taenia solium ou Taenia saginata) no intestino del-
gado do ser humano (HD). A cisticercose é provocada pelo estágio larval (cisticerco)
da T. solium e da T. saginata em tecidos do suíno (HI) e bovino (HI), respectivamente.
IMPORTANTE
O ser humano também pode, acidentalmente, apresentar a cisticercose, neste caso pro-
vocada pelo estágio larval da T. solium. Quando o humano apresenta o estágio larval da
T. solium em tecidos e órgãos ele está fazendo o papel do hospedeiro intermediário (HI).
As teníases são doenças que ocorrem em várias partes do mundo (Américas, Europa,
África e Ásia), estando a sua ocorrência vinculada ao consumo de carne crua ou mal-
cozida de porco e boi. A infecção pela espécie T. saginata é a mais comum, porém o
parasitismo pela T. solium tem maior importância para a saúde pública, devido a pos-
sibilidade da cisticercose humana. A cisticercose (animal e humana) está relacionada
com à falta de saneamento básico das regiões, possibilitando a infecção, tanto do ser
humano, como do bovino e suíno. Por isso, a doença ocorre com maior frequência em
países subdesenvolvidos.
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2. MORFOLOGIA
As tênias são vermes compridos, de corpo achatado dorsoventralmente e segmenta-
dos. A T. solium apresenta, em média, 1,5 a 4 m de comprimento e a T. saginata é um
pouco maior, medindo 4 a 12 m. O desenvolvimento das tênias incluem os seguintes
estágios evolutivos: verme adulto,ovo e cisticerco.
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A B
Acúleos
Rostelo Ventosas
Ventosas
T. SOLIUM T SAGINATA
Tamanho 1,5 a 4 m 4 a 12 m
4 ventosas
Escólex 4 ventosas
Dupla coroa de acúleos
7 a 16 ramificações 15 a 30 ramificações
Proglote grávida Dendríticas Dicotômicas
30.000 a 50.000 ovos 80.000
Fonte: o próprio autor
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2.2. OVO
Os ovos das duas espécies de tênias são morfologicamente idênticos, dessa forma,
o seu encontro nas fezes não permite diferenciar a infecção pela espécie T. solium
da infecção pela T. saginata. São esféricos e medem aproximadamente 30 µm de di-
âmetro, possuem uma casca, também denominada de embrióforo, e no seu interior
um embrião hexacanto (nome dado devido à presença de 3 pares de acúleos) ou
oncosfera (Figura 03). Os ovos são a forma infectante para o HI e a sua ingestão leva
a doença cisticercose.
Figura 03. Ovo de Taenia spp.
2.3. CISTICERCO
O cisticerco é o estágio larval encontrado em tecidos e órgãos do HI. Apresenta uma
estrutura arredondada, formada por uma vesícula membranosa (translúcida) cheia de
líquido, a qual contém no seu interior o escólex invaginado e possuem, em média, 12
mm de diâmetro. O escólex da T. solium e da T. saginata apresentam quatro ventosas.
No caso da T. solium existe também a presença de acúleos (Figura 04).
VOCÊ SABIA
Os cisticercos, tanto da T. solium como da T. saginata, podem ser denominados de Cysti-
cercus cellulosae e Cysticercus bovis, respectivamente, porém esta nomenclatura não
apresenta valor taxonômico.
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Figura 04. Cisticerco de Taenia spp (A). Cisticerco mostrando o escólex com ventosas e acúleos de T. solium (B).
Fonte: adaptada de Ferreira, Marcelo (2020 p. 245). Fotografia de Bianca Barassa Ortiz de Menezes.
3. BIOLOGIA
O ser humano (HD) desenvolve a doença teníase ao ingerir o cisticerco, presente na
carne crua ou malcozida do suíno (C. cellulosae) e do bovino (C. bovis). Após a inges-
tão, os cisticercos passam pelo estômago até chegar no intestino delgado (duodeno).
Devido a ação do pH básico e dos sucos biliares (duodeno), os cisticercos sofrem um
processo de desenvaginação. O escólex, que estava no interior da vesícula, evagina-
-se e fixa-se, por meio das ventosas e dos acúleos, no caso da T. solium, na parede do
intestino. A vesícula atrofia e o colo começam a produzir as proglotes jovens, que se
tornarão maduras e posteriormente grávidas. As proglotes grávidas sofrem apólise e
são eliminadas passivamente com as fezes ou de forma ativa pelo ânus (no caso da T.
saginata). As proglotes grávidas começam a ser eliminadas do hospedeiro, entre 60 a
90 dias após a infecção (Figura 05). No ambiente as proglotes rompem (devido à des-
secação) e os ovos ficam livres.
GLOSSÁRIO
Apólise é o processo de desprendimento ou ruptura de uma proglote grávida do restante
do corpo. Dependendo da espécie, as proglotes podem se desprender uma a uma (T.
saginata) ou em segmentos (T. solium).
O ser humano (HI acidental) e o suíno (HI normal) desenvolvem a doença cisticerco-
se quando ingerem os ovos da T. solium. No caso do suíno é devido ao seu hábito de
comer fezes (coprofagia), enquanto o ser humano é em decorrência da falta de sane-
amento básico e higiene das mãos. O bovino (HI normal) se infecta ao ingerir ovos da
T. saginata presente no pasto, devido à falta de saneamento básico. Os ovos ingeridos,
passam pelo estômago, onde sofrem a ação do suco gástrico, e no intestino delgado,
após ação da bile, eclodem liberando a oncosfera (embrião hexacanto).
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4. TRANSMISSÃO
O ser humano adquire a doença teníase ao ingerir carne crua ou mal cozida de porco
ou de boi contaminada pelo cisticerco. A ingestão de carne suína contaminada pelo C.
cellulosae leva a teníase pela espécie T. solium. Já a ingestão de carne bovina conta-
minada pelo C. bovis acarreta na teníase pela espécie T. saginata.
IMPORTANTE
A ingestão de cisticerco, presente na carne bovina ou súina, leva à doença teníase, isto
é, presença do verme adulto no intestino delgado Já a ingestão de ovos de T. solium
causa a cisticercose.
5. PATOGENIA
A presença do verme adulto (T. solium e T. saginata) no intestino delgado do ser hu-
mano e, em geral, não causa manifestações clínicas. A fixação da tênia à parede do
intestino, por meio das ventosas e ganchos (no caso T. solium), acarreta em aumento
da motricidade e das secreções digestivas. Ao mesmo tempo, não ocorre lesão direta
na parede intestinal. Os pacientes assintomáticos identificam a infecção pela tênia,
apesar da ausência de sintomas, devido a constatação das proglotes nas fezes. As ma-
nifestações clínicas, quando presentes, são inespecíficas e incluem: dor abdominal,
perda de peso (apesar do aumento do apetite), náusea, vômito, diarreia ou constipação
e dor de cabeça. Algumas complicações, como a apendicite e a oclusão intestinal,
podem surgir do parasitismo pela espécie T. saginata, devido a sua maior dimensão e
movimentação ativa das proglotes. O quadro clínico pela espécie T. solium é menos evi-
dente, porém a infecção por esta espécie tem maior importância, devido a possibilidade
da cisticercose.
O fator mecânico está relacionado ao tamanho do cisticerco, que acaba deslocando te-
cidos e muitas vezes, obstruindo o fluxo sanguíneo e do líquido cerebrospinal. A respos-
ta imunológica do hospedeiro é caracterizada por uma reação inflamatória granulo-
matosa, que se forma ao redor do cisticerco; a resposta imunológica lenta e persistente
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leva a degeneração e morte do cisticerco (após alguns anos). Quando a larva morre,
o cisticerco pode ser totalmente reabsorvido (nódulo cicatricial no local) ou sofrer um
processo de calcificação.
VOCÊ SABIA
A teníase, normalmente, é caracterizada pela presença de um único verme adulto no intes-
tino, levando ao nome popular “solitária”. A resposta imunológica produzida pelo hospe-
deiro em decorrência da presença da tênia no intestino, evita o desenvolvimento de novos
vermes adultos.
6. DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da teníase pode ser realizado pelo encontro de ovos ou proglotes grávi-
das nas fezes. A análise de 3 amostras por métodos de concentração (como por exem-
plo Hoffmann, Pons e Janer) aumentam as chances de detecção dos ovos de tênia nas
amostras de fezes. Como os ovos de T. solium e de T. saginata são morfologicamente
idênticos (Figura 03), o seu encontro nas fezes não permite identificar a espécie de
tênia; a pesquisa de ovos na região perianal (método anal swab) pode ser empregada
para a detecção de ovos de T. saginata. A pesquisa de proglotes grávidas nas fezes,
por meio da tamisação (lavagem do material fecal em peneira fina) seguida da sua cla-
rificação (ácido acético) permite a identificação das ramificações uterinas (Tabela 02 e
Figura 02) e o diagnóstico específico. O emprego de métodos imunológicos (pesquisa
de antígenos nas fezes) e moleculares (pesquisa de DNA) permite diferenciar as espé-
cies de tênias, porém não são empregados na rotina clínica.
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SAIBA MAIS
A visualização do escólex do C. cellulosae na RM ou TC do crânio é definida como um
achado patognomônico, isto é, um diagnóstico de cisticercose definitivo, que dispensa
outros métodos de investigação.
7. TRATAMENTO
A eliminação do verme adulto, seja da espécie T. solium ou T. saginata pode ser rea-
lizada utilizando a niclosamida, praziquantel ou albendazol. Nos casos de teníase
pela espécie T. solium, devido a possibilidade de uma cisticercose concomitante,
não é indicado a administração de praziquantel, pois esta droga tem ação sobre o
estágio larval.
8. PROFILAXIA
A ocorrência da teníase na população está relacionada ao consumo de carne crua ou
malcozida de suíno e bovino dessa forma as principais medidas para o controle dessa
parasitose incluem:
` Diagnóstico e tratamento dos pacientes com teníase;
` Inspeção das carcaças dos animais nos matadouros (de acordo com o número de cisti-
cercos encontrados, a carcaça poderá ser aproveitada após tratamento pelo frio ou calor);
` Educação sanitária.
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9. ATIVIDADE PROPOSTA
Caso Clínico - Cisticercose
Exercício 1.
A teníase que o paciente apresentou é pela espécie T. solium. Como ocorreu a infecção?
a. Ingestão de carne crua ou malcozida de porco.
b. Ingestão de carne crua ou malcozida de boi.
c. Ingestão de ovos de T. solium na água contaminada.
d. Ingestão de ovos de T. saginata em verduras mal lavadas.
e. Penetração ativas de larvas pela pele
Exercício 2.
Exercício 3.
A teníase é causada pela presença do verme adulto, que pode ser da espécie T. solium e T.
saginata no intestino delgado do homem. Como pode ser feita a diferenciação entre essas
duas espécies?
a. Pela morfologia do ovo e do escólex.
b. Pelo número de ventosas no escólex.
c. Pelas ramificações uterina e pela presença de acúleos no escólex.
d. Pela morfologia do ovo e pelas ramificações uterinas.
e. Pelo tamanho do verme adulto e pela morfologia do ovo.
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Exercício 4.
Exercício 5.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COURA, José R. Dinâmica das Doenças Infecciosas e Parasitárias. 2. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN,
2013.
FEREIRA, Marcelo U. Parasitologia Contemporânea. 2. ed. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2020.
NEVES, David P. Parasitologia Médica. 13. ed. São Paulo: editora Ateneu, 2016.
ZEIBIG, Elisabeth. Parasitologia Clínica. Uma Abordagem Clínico-Laboratorial. 2 ed. Rio de Janeiro:
Grupo GEN, 2014.
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