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25/01/2024, 15:23 Problemas do conceito de "patriarcado" no feminismo marxista
Em Women’s oppression today: problems in marxist feminist analysis, Michèle Barrett afirma que o
termo patriarcado foi tomado pelo sociólogo Max Weber para descrever uma forma particular de
organização familiar na qual o pai dominava os outros membros de uma extensa rede de
parentesco e controlava a produção econômica da família. Sua ressonância no movimento
feminista repousa, no entanto, na teoria desenvolvida pelas primeiras feministas radicais e
principalmente por Kate Millet, de que o patriarcado seria uma categoria muito mais abrangente
de dominação masculina em geral.
A posição de Millet, segundo Barrett, implica que as divisões de classe – como aquelas
desenvolvidas pelo marxismo entre burguesia e proletariado – são relevantes apenas para os
homens. Ela nega que existam diferenças significativas entre mulheres. Seu projeto é o de
estabelecer um sistema fundamental de dominação – o patriarcado – que seja analiticamente
independente do modo de produção capitalista ou de qualquer outro.
SIGA-
A teoria de Millet se aproxima da posição de Shulamith Firestone no sentido de que concede não
apenas independência analítica à dominação masculina, mas também primazia analítica. O
objetivo de Firestone, afirma Barrett, é substituir as classes sociais pelo sexo como motor da
história. Firestone inclusive parafraseia Engels da seguinte maneira: “toda a história... é a história
da luta de classes. Estas classes da sociedade em conflito são sempre o produto dos modos de
organização da unidade da família biológica para a reprodução da espécie [...] A organização
sexual-reprodutiva da sociedade sempre fornece a base real, a partir da qual podemos explicar
Siga
toda a superestrutura das instituições econômicas, jurídicas e políticas, assim como das religiosas,
filosóficas e outras ideias de um determinado período histórico.” Obte
diret
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25/01/2024, 15:23 Problemas do conceito de "patriarcado" no feminismo marxista
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Barrett afirma que isso levanta um problema encontrado com frequência no uso do termo
“patriarcado” por estas primeiras feministas radicais: elas não apenas invocam uma categoria
FACEB
aparentemente universal e trans-histórica de dominação masculina, nos deixando com pouca
esperança de mudança, como também, frequentemente, baseiam esta dominação em uma suposta
lógica de reprodução biológica. Para Michèle Barrett, a posição destas primeiras feministas
radicais é reacionária. Em termos filosóficos elas são reducionistas, no sentido de que subsumem
complexos fenômenos construídos social e historicamente sob a simples categoria de diferença
biológica. Se certas formas de relações sociais são “naturalmente” dadas, há pouco que podemos
Sei
fazer para alterá-as.
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FILOSOFIA PSICANÁLISE MARXISMO CURSO DE FILOSOFIA
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Um problema geral com o conceito de patriarcado, segundo Barrett, é que ele não é apenas
resistente à investigação dentro de um particular modo de produção, mas é também sugestivo de
uma opressão universal e trans-histórica. Assim, usar o conceito significa frequentemente invocar
uma dominação masculina geral sem ser capaz de especificar seus limites históricos, alterações ou
diferenças. Para uma abordagem feminista marxista, cuja análise deve se basear em análises
históricas, seu uso frequentemente apresentará problemas específicos.
Algumas tentativas contemporâneas tentam retratar, de forma geral, o próprio capitalismo como
“patriarcado”, mas estas posições apresentam dois problemas principais. O primeiro é que o
patriarcado é colocado como um sistema de dominação completamente independente da
organização das relações capitalistas, e, portanto, as análises caem em um modo universalista e
trans-histórico que pode evocar um biologismo. Quando são feitas tentativas de constituir o
patriarcado como um sistema de dominação masculina em relação ao modo de produção
capitalista, estas frequentemente naufragam na inflexibilidade e nas exigências de autonomia de
que o conceito é suscetível. Em segundo lugar, o conceito de patriarcado, como frequentemente
apresentado, revela uma confusão fundamental entre o patriarcado como o domínio do pai, e o
patriarcado como a dominação das mulheres pelos homens. Ambos os problemas podem ser
vistos em tentativas de usar o conceito de patriarcado em conjunto com uma análise marxista.
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Barrett analisa também a posição de Zillah Einsenstein, que define o patriarcado como
precedendo o capitalismo, e existindo hoje no “poder do masculino através de papéis sexuais” e
como institucionalizado na família. Para a socióloga inglesa, o que não fica claro, no entanto, é em
que medida o patriarcado, definido desta maneira, se constitui como um sistema autônomo, já que
Einsenstein se refere a ele apenas em relação às funções que ele desempenha para o capital. “O
capitalismo usa o patriarcado e o patriarcado é definido pelas necessidades do capital”. Tal
afirmação dificilmente pode coexistir com a reivindicação de que o capitalismo seja um
patriarcado. O uso que Zillah faz do termo, afirma Barrett, não resolve o problema da
independência analítica do “patriarcado” em relação ao capitalismo: a análise vacila entre a
afirmação do patriarcado como um sistema de poder masculino externo ao capitalismo e o
argumento de que a organização de relações patriarcais são funcionais para o capitalismo.
Roisin McDonough e Rachel Harrison, por sua vez, tentam utilizar o termo patriarcado em um
contexto materialista. Ambas consideram o patriarcado como requerendo uma dupla definição:
primeiro, do controle da fertilidade e da sexualidade da mulher no casamento monogâmico, e
segundo, na subordinação econômica da mulher através da divisão sexual do trabalho (e da
propriedade). Elas argumentam que a família patriarcal enquanto tal não existe mais, mas que o
patriarcado pode ser dito como existente na operação destes dois processos. Sua tese central é a
de que o patriarcado, enquanto conceito, pode ser historicizado através do argumento de que, no
capitalismo, as relações patriarcais assumem a forma ditada pelas relações capitalistas de
produção. Barrett resume esta formulação como o argumento de que a opressão das mulheres no
capitalismo apresenta diferentes contradições para as mulheres dependendo de sua classe social.
Mas a definição de classe social destas autoras é deficiente, afirma Barrett, não tendo bases nem
marxistas e nem sociológicas, pois elas afirmam que “uma mulher herda a posição de classe do seu
marido, mas não a relação equivalente aos meios de produção”. O que não fica claro para Barrett é
o que estas autoras estão querendo dizer com patriarcado, pois se as relações patriarcais
assumem a forma de relações de classes no capitalismo, mesmo assim elas não resolvem a questão
da efetividade do patriarcado como determinante da opressão da mulher neste modo de
produção.
O conceito de patriarcado, um dos mais importantes para o feminismo, é exemplo de que não
existe uma aliança natural entre este e o marxismo. Embora o termo "patriarcado" possa
descrever bem algumas formas de sociedade nas quais o poder econômico e social é investido no
pai enquanto tal, ele não é necessariamente um conceito útil para explorar a opressão das
mulheres em sociedades capitalistas, e as dificuldades dos trabalhos feministas marxistas sobre
patriarcado e feminismo ilustram este ponto.
Para Barrett, parece admissível referir-se a ideologia patriarcal, descrevendo aspectos específicos
das relações masculino-feminino no capitalismo, mas enquanto substantivo, o termo “patriarcado”
apresenta inúmeras dificuldades para uma análise que tente relacionar a opressão da mulher às
relações de produção no capitalismo.
Referência
BARRETT, Michèle. Women's oppression today: problems in marxist feminist analysis. 5 ed. London:
Verso Books, 1986.
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2 COMENTÁRIOS
Felipe 10:32 PM
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