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01/12/2023, 10:13 Estado “assediador”, gestores e a violência psicológica de classe - Parte 1 | Passa Palavra

Estado “assediador”, gestores e a violência


psicológica de classe – Parte 1
Não faz sentido o enfrentamento da violência no trabalho pela via da
“conscientização” dos gestores; o gestor não é “vítima” da
organização do trabalho, mesmo que suas práticas estejam
objetivamente por ela determinadas.

30/11/2023

Por Iraldo Matias

A publicação deste artigo foi dividida em 2 partes, com publicação semanal:


Parte 1
Parte 2

1. Introdução
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A investigação aqui apresentada é fruto de uma pesquisa que teve por objeto
um fenômeno que assola de forma crescente o mundo do trabalho, uma forma
de violência psicológica tratada na literatura especializada como “assédio
moral” – termo que será aqui revisado criticamente. Ao longo de todo o artigo,
será feita uma análise da principal produção teórica sobre o tema, à luz da
crítica à Economia Política de Marx, na leitura dada pelo marxismo
heterodoxo. Este artigo representa apenas alguns aspectos de uma pesquisa
mais ampla acerca do fenômeno, realizada no projeto “Assédio moral”: uma
tradução para a Sociologia do Trabalho [1].

Trata-se especificamente de uma análise teórica do problema do “assédio” no


interior das instituições estatais. Nesta perspectiva, será levado em conta o
conflito de classes no processo de trabalho a partir de uma crítica da
dominação capitalista da classe dos gestores (Bernardo, 1977; 1987; 2009;
Pannekoek, 2018; Mattick, 2010). Parte-se do pressuposto de que tomar como
objeto o aviltamento subjetivo dos trabalhadores, não significa abrir mão da
crítica ao processo de exploração do trabalho pelo capital, fundamento de uma
posição anticapitalista, pelo contrário. Entende-se aqui que, além de um
subproduto subjetivo da extração de mais-valia, o “assédio”, quando bem
sucedido, garante um apassivamento do ímpeto de luta do trabalhador
adoecido, bem como um recuo da solidariedade de classe (Gennari, 2010),
sintomático desse momento de extrema individualização tanto dos processos
de trabalho, como da própria violência laboral.

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Do ponto de vista social, a literatura especializada demonstra o nível


epidemiológico [2] da manifestação e crescimento do número de
adoecimentos físicos (psicossomáticos) e psicológicos decorrentes da
“organização flexível” da produção capitalista, em sua fase toyotizada.
Evidenciam-se constantemente as “novas” modalidades de sofrimento físico
e psíquico imposto ao trabalho vivo, demonstrando também os custos sociais
desse fenômeno, inclusive em termos de gastos com saúde pública e
seguridade social, entre outros.

Além do fenômeno do “assédio” em si, analisou-se as interpretações


hegemônicas oriundas de áreas como a da Psicologia, da Administração, do
Direito e da Sociologia. Em geral, as análises sobre o “assédio moral” têm
como base autores e trabalhos concentrados na área da Psicologia (Piñuel Y
Zabala, 2003; Hirigoyen, 2012, 2014; Tolfo, Oliveira, 2015); dos estudos críticos
em Gestão (Freitas, 2001; Heloani, 2002, 2003; Gaulejac, 2007; Freitas,

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Heloani, Barreto, 2008; Soboll, 2008; Martiningo, 2008; Metzger, Maugeri,


Benedetto-Meyer, 2012; Padilha, 2015); da saúde do trabalhador (Dejours,
1992; Barreto, 2005, 2006; Seligmann-Silva, 2011); e do Direito (Dolores,
Ferreira, 2004; Nascimento, 2009; Soares, Duarte, 2014; Silva et. al., 2015;
Pancheri, Campos, 2018; Carvalho, Carvalho, 2018).

No campo de pesquisa sobre o “assédio moral”, tem se mostrado cada vez


mais comum a realização de revisões sistemáticas da produção científica,
muitas vezes com recurso de técnicas de bibliometria, de levantamentos em
bases de dados especializadas, entre outras, no sentido de sistematizar os
resultados encontrados por períodos determinados, por áreas do
conhecimento ou por temáticas específicas. O presente estudo não objetivava
realizar este tipo de investigação voltada a uma quantificação das publicações,
mas valeu-se de alguns desses trabalhos, de onde se puderam levantar as
principais posições teóricas e publicações acerca do tema.

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Alguns trabalhos que ajudaram neste sentido foram os de Bradaschia (2007);


Cahú et. al. (2011); Soares (2012); Soares e Oliveira (2012); Glina e Soboll
(2012); Andrade e Assis (2018); Gonçalves, Schweitzer e Tolfo (2020). A partir
daí, rapidamente detectaram-se as principais tendências teóricas, os autores
mais referenciados e as principais publicações nacionais, chegando-se a uma
miríade de relatórios, dossiês, anais de congressos, artigos e estudos de casos
os mais variados. Ou seja, foi sendo realizado um levantamento bibliográfico
em sequência, de forma remissiva, a partir das referências apontadas e de um
processo de seleção com base nos objetivos desta pesquisa.

Considerando-se o foco do presente artigo, muitos autores dedicaram-se ao


problema do “assédio“ institucional no setor público/estatal, seja discutindo
suas particularidades ou seus aspectos jurídicos, nas mais diversas abordagens
e em inúmeros estudos de caso (Piñuel Y Zabala, 2003; Freitas, Heloani,
Barreto, 2008; Nascimento, 2009; Hirigoyen, 2012; Barreto, 2015; Silva et. al.,
2015; Emmendoerfer, Tolfo, Nunes, 2015; Tolfo, Nunes, 2017; Gediel, 2017;
Pancheri, Campos, 2017; 2018).

Aquilo que muitos autores denominam como “gerencialismo” expressa o


conjunto de ideias e de práticas de dominação, portanto a ideologia da classe
dos gestores. Existe toda uma produção na área da sociologia organizacional,
que vem buscando apresentar uma análise crítica do universo contemporâneo
da gestão dos negócios e das instituições, incluindo problemas específicos da
violência e adoecimento mental no trabalho, foco desta pesquisa (Dejours,
1992; Heloani, 2003; Gaulejac, 2007; Boltanski, Chiapello, 2009; Jacques,
Codo, 2011; Padilha, 2015, entre outros).

Inúmeros estudos apresentam influência direta da sociologia da dominação


weberiana, especificamente sobre a questão da dominação burocrática
(Gaulejac, 2007; Freitas, Heloani, Barreto, 2008; Soboll, 2008; Nascimento,
2009; Metzger, Maugeri, Benedetto-Meyer, 2012; Tenório, 2021; entre outros).
Muitos desses trabalhos insistem em contabilizar os “custos para as

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empresas”, como um “ingênuo” argumento voltado à “erradicação do


assédio” na gestão. No geral, apesar da seriedade acadêmica da maior parte
desses trabalhos, percebeu-se um tipo de crítica circunscrita
predominantemente ao campo moral/ético/jurídico, da qual deriva uma
tática de tentativa de “conscientização” dos gestores públicos e privados
acerca do problema, inscrita em uma estratégia mais ampla de conciliação de
classes, logo, reformista em sua essência.

Foram poucas as obras encontradas sobre o tema, que reivindicam o marxismo


(Gennari, 2010; Vieira, Lima, Lima, 2012; Antunes, Praun, 2015; Uchimura,
2015; Padilha, 2015; Alves, Casulo, 2017). Apesar de alguns de seus avanços, em
geral elas não analisam os gestores enquanto classe capitalista, tal como aqui
nos propomos a fazer.

2. O marxismo heterodoxo e a gestão como dominação social de classe

Como se sabe, o marxismo está longe de apresentar uma homogeneidade


teórica e política, tornando inevitável que se posicione diante desta miríade de

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abordagens acerca dos clássicos do materialismo histórico e dialético. Utiliza-


se aqui a classificação feita por Tragtenberg (1981) e Bernardo (2009), que
dividem o marxismo em duas grandes vertentes: a ortodoxa e a heterodoxa. A
vertente heterodoxa, também chamada de marxismo das relações de
produção, tem a luta de classes concreta, não o desenvolvimento das forças
produtivas, como horizonte de ação política e eixo de análise. Para Bernardo
(2009), o elemento dinamizador da economia são os conflitos sociais e o
sujeito social da passagem para um novo modo de produção são “os
explorados em luta”: o proletariado. A teoria marxista dos gestores é um dos
resultados do desenvolvimento da heterodoxia marxista, uma concepção que
entende existir uma classe capitalista que assenta seu poder social sobre
o controle [4] coletivo que exerce sobre o processo de exploração do
proletariado, especialmente da mais-valia relativa.

Desenvolvida pelo marxista português João Bernardo (Oliveira, 2008; Pinto,


2009; 2013), a teoria que toma os gestores enquanto classe já encontra desde a
década de 1920 entre a esquerda germano-holandesa, os
chamados comunistas de conselhos [5], formulações bastante sólidas e
desenvolvidas [6]. Mesmo criticando o fenômeno da burocratização das
organizações proletárias cujos “chefes” cristalizam-se em novas elites, antes
de transformarem-se definitivamente em novos capitalistas, o cerne da teoria
dos gestores para estes autores não se encontra na “dominação” em sentido
weberiano, mas na organização do processo de exploração. E apenas categorias
marxistas conseguem apreender criticamente essa relação social precisa em
que consiste a mais-valia. Pois, “se a gestão capitalista é supostamente ‘pura
racionalidade técnica’, estamos falando exclusivamente de técnicas
de controle do capital sobre o trabalho e de organização das formas de
produção/extração de mais-valia” (Matias, 2016, p.36-37).

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Ainda que Marx (2011, p.505) se referisse com certa ambiguidade a “uma
espécie particular de assalariados”, o autor deixa claro que os gestores
exercem “o comando durante o processo de trabalho em nome do capital. O
trabalho de supervisão torna-se sua função fixa e exclusiva”. Aqui
o controle do capital sobre o trabalho se apresenta diretamente como função
da exploração, como demonstra Marx em seu importante conceito de
despotismo de fábrica:

Se a direção capitalista é dúplice em seu conteúdo, em razão da duplicidade do próprio


processo de produção a ser dirigido – que é, por um lado, processo social de trabalho
para a produção de um produto e, por outro, processo de valorização do capital –, ela é
despótica em sua forma. Com o desenvolvimento da cooperação em maior escala, esse
despotismo desenvolve suas formas próprias (ibidem).

Acerca dessa função primordial dos gestores in statu nascendi, Marx (2011)
deixa claro seu caráter intrínseco à exploração capitalista:

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Assim como o capitalista é inicialmente libertado do trabalho manual tão logo seu
capital tenha atingido aquela grandeza mínima com a qual tem início a produção
verdadeiramente capitalista, agora ele transfere a função de supervisão direta e contínua
dos trabalhadores individuais e dos grupos de trabalhadores a uma espécie particular de
assalariados. Do mesmo modo que um exército necessita de oficiais militares, uma
massa de trabalhadores que coopera sob o comando do mesmo capital necessita de
oficiais (dirigentes, gerentes) e suboficiais (capatazes, foremen, overlookers, contre-
maîtres) industriais que exerçam o comando durante o processo de trabalho em nome do
capital. O trabalho de supervisão torna-se sua função fixa e exclusiva (2011, p.505.
Grifei).

A absorção de passagens como estas em uma teoria que dê aos gestores um


estatuto de classe social capitalista é ainda uma posição minoritária, mas é a
que doravante se adotará. Trata-se sim de “dominação”, mas de dominação de
classe, em sentido marxista. Ainda, esta corrente do marxismo não separa
o econômico e o político, cisão inerente às relações de produção capitalistas e
sua divisão social do trabalho. Dessa mesma cisão partem as

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análises economicistas e politicistas – do objetivismo econômico sem luta de


classes e desprovido de subjetividade, e do subjetivismo presente na noção
weberiana de “dominação”, descolado do processo de exploração.
Convergindo com Marx, Pannekoek (2018, p.49) considera que:

Esses funcionários técnicos têm não apenas que cuidar dos processos técnicos de
produção. Sob o capitalismo eles também agem como capatazes dos trabalhadores. Já
que no capitalismo a produção de bens é inseparavelmente ligada à produção de lucro,
ambos sendo uma e a mesma ação (as duas características dos oficiais das fábricas, de
um líder científico da produção e de um comandante que ajuda a exploração, são
intimamente combinadas).

Outro importante “conselhista”, Mattick (2010, p.369) ressaltava uma


“revolução dos gestores” e a centralidade da “divisão entre a propriedade e a
gestão do capital”. Neste caso, “a acumulação de capital e as transformações
estruturais e tecnológicas com ela associadas libertaram (ou privaram) cada
vez mais os capitalistas das suas funções de direcção” (idem, p.385). Um
complexo conjunto de transformações “(…) fizeram com que os gestores
tomassem o lugar do capitalista empresário” (ibidem). Dito de outra forma,
“nas grandes empresas, propriedade não é sinônimo de controlo”. Conclui o
autor que, apesar de o gestor não ser proprietário dos meios de produção, “(…)
ele compra força de trabalho e apropria-se de mais-valia. Ao contrário dos
trabalhadores, ele personifica o capital e, sob seus auspícios, a expansão-valor
continua a ser a produção de capitalistas e assalariados” (idem, p.386-387).

Após demonstrar a pulverização da propriedade pelas “sociedades de ações”,


Mattick (2010) explica que, “(…) o seu poder de decisão provém não tanto das
ações que possuem quanto da sua posição na hierarquia da empresa” (idem,
p.389). Logo, “a burocracia de Estado constitui agora uma nova classe
dirigente, e os seus membros ‘personificam’ o capital” (Mattick, 2010, p.390).

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Representante desta tradição teórica e política, assim como Mattick (2010),


Bernardo (1977, p.117) considera que “a cisão entre gestão e propriedade
privada é um elemento fundamental para a divisão de classes no capitalismo”,
e seria essa a origem social dos gestores, que se transformam em proprietários
coletivos do capital. De acordo com este marxista português, essa classe viria a
se diferenciar da burguesia, “a) pelas funções que desempenham no modo de
produção e, por conseguinte; b) pelas superestruturas jurídicas e ideológicas
que lhes correspondem; c) pelas suas diferentes origens históricas; d) pelos
seus diferentes desenvolvimentos históricos” (2009, p. 269). Assim como seu

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solo de reprodução social se dá no “lugar vazio que existe entre a produção de


mais-valia e a apropriação dos meios de produção é a gestão do processo de
produção, decorrente da integração tecnológica de unidades de produção
última (…)” (1977, p.123).

Dentro deste desenvolvimento teórico, os conceitos de Estado


Restrito e Estado Amplo são centrais na explicação de Bernardo (2009). Para os
fins deste artigo é crucial destacar que o Estado apresenta um papel econômico
fundamental no capitalismo, o de “instituição central da distribuição da mais-
valia. […] e são os gestores o corpo social que o preenche” (Bernardo, 1977,
p.10). Logo, o Estado Restrito corresponde ao conceito clássico de aparelho de
Estado. Nessa dialética, o Estado “globalmente considerado” na perspectiva
do proletariado, “inclui as empresas”. Isto é,

No interior de cada empresa, os capitalistas são legisladores, superintendem as decisões


tomadas, são juízes das infrações cometidas, em suma, constituem um quarto poder
inteiramente concentrado e absoluto, que os teóricos dos três poderes clássicos no
sistema constitucional têm sis¬tematicamente esquecido, ou talvez preferido omitir. […]
Trata-se da capacidade de organizar o processo produtivo e, portanto, de organizar a
força de trabalho e de lhe impor uma disciplina (Bernardo, 2009, p. 217).

Para os autores citados, as formas jurídicas de propriedade são secundárias,


assim como o grau de exploração e os diferentes locais de trabalho (seja no
setor privado ou no estatal) não modificam a natureza das relações sociais
capitalistas. Sobre este aspecto, Pannekoek (2018, p.74) é inequívoco ao
afirmar que, em um regime capitalista, a norma é o poder do “mestre, do
diretor [gestor]”, seja no Estado, seja nas empresas, ou mesmo nos
sindicatos [7]. E Mattick (2010, p.339) completa: “Os seus interesses
económicos encontram-se de tal modo interligados com os da classe
capitalista que a política pública e a política das empresas são uma e a
mesma”.

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Para Pannekoek (2018), a luta de classes no local de trabalho é permanente, em


qualquer setor econômico, qualquer que seja a forma jurídica de propriedade. O
proletariado é obrigado a resistir cotidianamente às pressões do capital sob
pena de um esgotamento total, mesmo fora de períodos de greves e de outros
conflitos abertos, onde “(…) toda fábrica, toda empresa, mesmo fora da época
de conflito acirrado, de greves e diminuições salariais, é a cena de uma
constante guerra silenciosa, de uma luta perpétua, de pressão e contra-
pressão” (2018, p.50). Portanto, ambas as classes, proletários e capitalistas,
ainda que não tenham outro remédio a não ser trabalhar juntos durante a
jornada diária, “(…) em sua essência mais profunda, por seus interesses
opostos, são inimigos implacáveis, vivendo, quando não estão lutando, numa
terra de paz armada” (idem, p.51).

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Esse é o referencial com que se analisará a violência psicológica, o “assédio


institucional” levado a cabo contra os trabalhadores no interior do setor
público/estatal. Portanto, o ponto de partida para analisar a violência
praticada por gestores contra seus subordinados é sua posição de classe, não
sua “personalidade” ou seus estados psíquicos, ainda que estes aspectos
venham a influenciar na expressão empírica, concreta de suas práticas. O
gestor não é “vítima” da organização do trabalho, mesmo que suas práticas
estejam objetivamente por ela determinadas. Começa-se a delinear assim os

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limites do enfrentamento da violência no trabalho pela via da


“conscientização” dos gestores, tão ao gosto da literatura especializada.
As obras que ilustram o artigo são de Eliran Kantor (1984-).

Notas

[1] Trata-se de pesquisa realizada entre 2018 e 2020, ao longo do Acordo de


Colaboração Técnica nº 03/2016, firmado entre o Instituto Federal de Santa
Catarina e a Universidade Federal de Santa Catarina, que permitiu a atuação
deste professor e pesquisador original do IFSC, junto ao Laboratório de
Sociologia do Trabalho (LASTRO), no Depto. de Sociologia e Ciência Política da
UFSC, entre fevereiro de 2017 e Março de 2021.

[2] Em outra publicação foi realizada uma compilação de dados estatísticos


sobre a proliferação do “assédio moral” em nível nacional e global, oriunda
dessa revisão, a qual não se pretende repetir aqui. Cf. Matias (2020).

[3] Para Tragtenberg (1981, p.07-08), a heterodoxia marxista, “através de


Makhaïski coloca a questão da socialização dos meios de produção ser
condição necessária, porém insuficiente, para a implantação do socialismo,
mantida a antiga divisão social do trabalho, fundada na separação e
supremacia do trabalho intelectual sobre o manual, prevendo que, mantida a
separação acima, haverá não uma ditadura do proletariado, mas uma ditadura
de intelectuais-burocratas sobre o proletariado” (itálico no original).

[4] “O verbo to manage (administrar, gerenciar), vem de manus, do latim, que


significa mão. Antigamente significava adestrar um cavalo nas suas
andaduras, para fazê-lo pra¬ticar o manège. Como um cavaleiro que utiliza
rédeas, bridão, esporas, cenoura, chicote e adestramento desde o nascimento
para impor sua vontade ao animal, o capitalista em¬penha-se, através da
gerência (management), em controlar” (Braverman, 1987, p. 68). E “o
controle é, de fato, o conceito fundamental de todos os sistemas gerenciais,

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como foi reconhecido implícita ou explicitamente por todos os teóricos da


gerência” (ibidem).

[5] Soviet em russo, Rat em alemão, os conselhos são a forma de auto-


organização especificamente proletária, desenvolvida ao longo dos processos
revolucionários do início do século XX, que marcou a Revolução Russa de 1905
e 1917 (antes da sua burocratização) e a Revolução Alemã 1918-1921. Sobre suas
práticas, características e forma de organização, entendidas como a base de
uma futura sociedade comunista, cf. Bernardo (1975), Pannekoek (2018), entre
outros.

[6] Makhaiski e antecedentes da teoria dos gestores…

[7] Na pesquisa realizada também se abordou o problema dos sindicatos,


realizando uma crítica teórica e política a esses órgãos, evidenciando tanto a
sua negligência e omissão sobre o “assédio”, como a presença dessa forma de
violência perpetrada pelos próprios gestores sindicais, conforme demonstra a
literatura específica, inclusive com inúmeros estudos empíricos (Barreto,
2006; Dejours, 2007; Gaulejac, 2007; Freitas, Heloani, Barreto, 2008;
Figueredo, 2012, entre outros). Trata-se de uma discussão a ser realizada em
uma futura publicação.
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