Você está na página 1de 6

AV1- Psicologia, Políticas Públicas e Direitos Humanos.

Prof. Magno Cézar Carvalho Teófilo.

Alayson Ferreira de Melo Neto - 2121697


Carlos Gabriel Sousa Costa - 2121712
Geovani Batista Cordeiro - 2145753
Marina Lustosa Porto - 2121693
TEXTO 2: POLÍTICAS PÚBLICAS E DIREITOS HUMANOS: DESAFIOS À
ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO
Em seu artigo, Gesser (2013) parte de um pressuposto fundamental: “as políticas
públicas são importantes espaços para a promoção da garantia dos direitos humanos e que o
psicólogo pode contribuir com esse processo” (p.68). Estabelecendo importantíssimo
fundamento, ela vê como necessário uma contextualização histórica da psicologia, para que o
real objetivo do artigo possa se tornar mais claro.
Indo para a história da psicologia, é posto sua origem elitista, objetivando “controlar,
higienizar, diferenciar e categorizar indivíduos” (GESSER, 2013, p.68). É interessante notar
que uma área que teoricamente procura entender a individualidade de cada pessoa, que surge
em um ambiente com uma visão predominantemente biomédica (vendo o indivíduo como uma
“máquina a ser consertada”), apareça não indo contra essa visão, mas a favor dela ao procurar
categorizar a população. Sendo assim, a artigo evidencia que a psicologia brasileira surge tendo
como base uma visão liberal de homem (buscando a normalidade), buscando ajustá-lo à sua
comunidade. Tal visão vai se disseminar em vários campos, por exemplo a educação -
ajustamento dos alunos que não se adequavam no padrão - e os direitos sexuais - visando os
valores da dita “família tradicional brasileira”, excluindo aqueles que não se adequam a ela. No
entanto, a psicologia nos dias de hoje estabelece uma visão cada vez mais biopsicossocial,
contrariando o biomédico, e é aqui que vai entrar o enfoque, segundo Gesser (2013), “na
construção de referências com vistas a uma atuação profissional comprometida com a garantia
dos direitos humanos”, o que claramente era pouco visto no cenário anteriormente já discutido.
Dito isso, antes de partirmos para os campos que estão sofrendo de mudanças, primeiramente
se deve deixar claro que mesmo o artigo tendo já quase 10 anos e a profissionalização da
psicologia no Brasil tendo décadas, os temas que serão trazidos “nem de longe” deixam de ser
atuais, pelo contrário, eles são ainda mais marcantes nos dias de hoje, por conta de um aparente
discurso contra os direitos humanos que se tornou muito mais explícito na última década.
O primeiro tópico é a “atuação voltada para o rompimento dos padrões normativos e
opressores da diversidade humana” (p.69). Aqui se fala de um processo de criar um sujeito
“normal” (entende-se “criar” como transformar aquele que não é “normal” em tal). Tal
pressuposto, historicamente, foi sustentado pelas diferentes ciências. O melhor exemplo que
podemos pensar nesse momento é o período da história em que a medicina justificava
“cientificamente” a inferioridade intelectual de pessoas com pele negra. Sendo assim, há uma
pedagogização da cultura - “construção de significados acerca do que é ser homem ou mulher
que favorecem desigualdades” (GELLER, 2013, p.70) - e do conhecimento - “serialização dos
alunos, o estabelecimento de tempos homogêneos de aprendizagem, a reinficação dos lugares
sociais de professor e aluno” (VARELA, 2004; ROCHA, 2000 apud GESSER, 2013, p. 70).
Indo contra a pedagogização do conhecimento, é interessante citar sobre a educação
significativa trazida por Paulo Freire, estabelecendo uma nova visão da relação professor aluno
e indo contra qualquer tipo de preconceito (FREIRE, 2019), assim sendo um bom complemento
à discussão trazida por Geller.
Ainda nesse primeiro tópico, a autora vai trazer a questão da medicalização, prática
realizada dentro da própria psicologia - “voltada para a reabilitação com base em um padrão de
normalidade (...) transformar questões coletivas, de ordem social e política, em problemas
individuais, biológicos.” (GELLER, 2013, p. 70). Nos é apresentado uma forte contrariedade a
tal processo, ao passo que ele é visto como uma biopolítica de controle, visando tornar a
população dócil e reiterar desigualdades. Nesse contexto, a psicologia, inserida em nas políticas
públicas, tem o papel de, essencialmente, questionar “os critérios de verdade bem como a rede
complexa de relações de poder que estruturam esses discursos e práticas” (GELLER, 2013,
p.70).
O segundo tópico vai ser a “atuação voltada para a consideração da dimensão subjetiva
no trabalho junto às políticas públicas”. A autora então traz Vygotsky (1996) estabelecendo
que a psicologia, historicamente, tem dois conceitos baseados na subjetividade como foco, um
objetivista, discutindo os fatos psicológicos e exteriores, e outro subjetivista, com o sujeito
tendo uma dominância maior do que o objeto, sendo considerado o criador de sua realidade. O
autor vai contestar esses conceitos, cogitando que o contexto social que o indivíduo está
inserido, tendo em mente suas relações sociais construídas em tal grupo, são de maior
importância e o homem se forma a partir da apropriação dos múltiplos significados presentes
nestas relações, ele cresce e se desenvolve culturalmente e socialmente, mas tendo em mente
que ele não é apenas um efeito do contexto em que está inserido. Assim, após ter as suas
próprias experiências, os sentidos singulares agem e abrem o seu campo perceptivo e
imaginativo, com uma reconstrução dos processos psicológicos complexos. A psicologia, no
processo de se inserir nas políticas públicas já citado, deve buscar considerar a subjetividade
uma premissa à garantia dos direitos humanos, isto é, deve considerar as relações que o
indivíduo, inserido na situação (contexto sócio-histórico) possui (GONÇALVES, 2010;
SAWAIA, 2004a; BOCK, 2009 apud GELLER, 2013).
O terceiro tópico diz de uma “atuação profissional voltada para a potencialização do
sujeito” e para isso se vê necessário um rompimento com as práticas assistencialistas e
medicalizantes, pois elas promovem o processo de exclusão/inclusão social perversa. Para
Geller (2013), esse processo faz parte do sofrimento ético político, ou seja, o sofrimento da
pessoa em detrimento da sociedade em que ela está inserida (quando alguém está inserido numa
comunidade marginalizada e se ver como uma pessoa “inútil” na sociedade, esse sujeito está
em sofrimento ético político e a inclusão/exclusão social está baseada nesse sofrimento). Geller
traz Sawaia (2005), que critica as ações que promovem o processo de exclusão/inclusão social
perversa, propondo a quebra do sofrimento político com o conceito de potência de ação, que é
atuar na configuração da ação no significado da emoção com aquilo que está acontecendo.
Levando em questão também o ambiente em que o homem está inserido, uma vez que essa ideia
de potência de ação pode ser tanto aumentada, como tanto diminuída de acordo com o contado
do indivíduo com outras pessoas, trazendo assim mais autonomia ou heteronomia. Assim sendo,
a psicologia deve abranger o sujeito por inteiro, nas dimensões do pensar, do senti e do agir,
considerando os múltiplos atravessamentos presentes no seu processo de constituição.
O último tópico fala da “atuação voltada pra a promoção da participação social”. Aqui
vai falar da relevância que a psicologia teve para nortear a participação dos sujeitos na
construção implementação e fiscalização das políticas públicas para construção que ter a
garantia dos direitos humanos. O Brasil após viver mais de 20 anos de regime ditatorial por
volta de 1985 iniciou um processo de transição para um regime democrático que favoreceu o
fortalecimento civil e produziu importantes conquistas sociais e políticas. Esse processo
culminou com a promulgação da Constituição brasileira de 5 de outubro de 1988 que legitimava
a democracia participativa mediante a instituição de mecanismo de participação direta do povo
no controle social das políticas públicas. Geller concorda com Gonçalves (2010), “quando
afirma que um dos grandes desafios da psicologia é o de fomentar a promoção da participação
dos indivíduos e o controle social dessas políticas rumo à transformação social que tem como
norte a garantia dos direitos humanos” (p.74). Traz ainda Sawaia em seu entendimento sobre
participação social: “entende como imanente à condição humana e também como
potencializadora do desenvolvimento dos sujeitos”. Enfim, Geller ressalta mais uma vez a
importância do trabalho do psicólogo, integrado às necessidades do indivíduo, que participa de
todo o processo, trabalho esse que contribui para sua autonomia.
Em suma, o artigo vai apresentar a importância de o trabalho da psicologia ser integrado
às políticas públicas e aos direitos humanos, indo contra padrões normativos e opressores,
considerando a dimensão subjetiva do sujeito, entendendo as diversas potencialidades do
indivíduo e propondo uma atuação com foco na promoção da participação social.
REFERÊNCIAS
GESSER, Marivete. Políticas públicas e direitos humanos: desafios à atuação do Psicólogo.
Psicologia: ciência e profissão, v. 33, p. 66-77, 2013.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 74. Ed.
Paz & Terra, 2019.

Você também pode gostar