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Josenildo Brussio
Universidade Federal do Maranhão, Brasil, São Bernardo
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All content following this page was uploaded by Josenildo Brussio on 23 September 2022.
RESUMO
1 Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), em seu Programa de
Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências da Religião. Research Associate ("Pesquisador Associado")
do Departamento de Teologia e Religião da University of Pretoria (Universidade de Pretoria), África
do Sul. Líder do Grupo de Pesquisa GPPRA - Grupo de Pesquisa sobre Protestantismo, Religião e Arte
- certificado junto ao CNPq.
2 Professor Associado II do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas/Sociologia do Centro de
Ciências de São Bernardo, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Professor colaborador do
Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGLetras-UEMA), da Universidade Estadual do Maranhão.
Líder do LEI (Laboratórios de Estudos do Imaginário) da UFMA/São Bernardo. E-mail:
josenildo.brussio@ufma.br.
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ABSTRACT
The present text presents reports of research carried out in the field of literature of the
unusual in its multiple faces with the fantastic, the strange, the wonderful, the horror, the
suspense and the fictional. This is a theoretical-expository article, with a descriptive-
bibliographic character, divided into two parts: in the first, we portray the theoretical-
conceptual plan on the literature of the fantastic and the fictional unusual in the discussions
of de Tzvetan Todorov (2010), Irène Bessière (2009) and Filipe Furtado (2009), without
refuting the contributions of Ítalo Calvino (2009), Flávio Garcia (2007), Remo Ceserani
(2006), Marisa Gama-Khalil (2013), David Roas (2014), among others ; in the second, we
carry out a synthesis of the main theoretical and critical proposals and innovations about the
field of the fictional unusual presented at the thematic symposium Literature, Fictional and
Imaginary Unusual of the I International Colloquium of Literary Theory and Criticism and II
National Meeting of Literature, Memory and Subjectivity: displacements and identities,
promoted by the Postgraduate Program in Letters, of the State University of Maranhão, on
June 08, 09 and 10, 2022. As a result, we have that the reports presented and discussed at
the symposium bring challenges and new possibilities for the studies of the fantastic and the
fictional unusual, which emerge in new perspectives, innovative perspectives,
interdisciplinary dialogues and critical-theoretical-epistemological ruptures.
PROLEGÔMENOS (IN)SÓLITOS
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Todorov (2010), Irène Bessière (2009) e Filipe Furtado (2009), sem refutar as contribuições
de Ítalo Calvino (2009), Flávio Garcia (2007), Remo Ceserani (2006), Marisa Gama-Khalil
(2013), David Roas (2014), entre outros.
Na segunda parte da pesquisa, realizamos uma síntese das principais propostas e
inovações teóricas e críticas sobre o campo do insólito ficcional apresentadas no simpósio
temático Literatura, Insólito Ficcional e Imaginário do I Colóquio Internacional de Teoria
e Crítica Literária e II Encontro Nacional de Literatura, Memória e Subjetividade:
deslocamentos e identidades, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Letras, da
Universidade Estadual do Maranhão, nos dias 08, 09 e 10 de junho de 2022.
Vale ressaltar que o presente texto não se propõe a apresentar uma proposta teórico-
metodológica inovadora para a literatura fantástica, tampouco uma nova sistematização
sobre os estudos do fantástico; outrora, demonstra as escolhas e caminhos teórico-
metodológicos dos autores para adentrar no labirinto (CALVINO, 2009) da literatura do
fantástico.
Dito isto, pretendemos fazer um convite ao mundo do maravilhoso, do estranho, do
insólito ficcional, do fantástico a partir da experiência do evento e dos relatos que trazemos
dos debates que têm sido travados em torno do tema na atualidade, com as suas diversas
vertentes teóricas a partir das abordagens tecidas nos últimos anos por pesquisadores
brasileiros e internacionais.
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Todorov (2010) aponta que, desde o século XIX, o tema já havia sido tratado por
diversos autores e correntes (francesa, alemã, inglesa), e destaca as iniciativas do filósofo e
místico russo Vladimir Soloviov que define o fantástico como fenômeno estranho que
pode ser explicado de duas maneiras, por tipos de causas naturais e sobrenaturais. A
possibilidade de vacilar entre ambas cria o efeito (p. 16) e pelo autor inglês
especializado em histórias de fantasmas, Montague Rhodes James, como porta de saída
para uma explicação natural, , mas teria que adicionar que esta porta deve ser o bastante
estreita como para que não possa ser (p. 16), além da concepção alemã de Olga
Reimann que afirma: herói sente em forma contínua e perceptível a contradição entre os
dois mundos, o do real e o do fantástico, e ele mesmo se assombra ante as coisas
extraordinárias que o (idem).
Para o teórico búlgaro, o fantástico caracteriza-se pela hesitação, vacilação comum ao
leitor e ao personagem, que devem decidir se o que percebem provém ou não da
Dessa maneira, o gênero fantástico que ser um gênero autônomo, parece situar-se no
limite de dois gêneros: o maravilhoso e o (TODOROV, 2010, p. 24), resultando em
novos subgêneros literários como o fantástico-maravilhoso e o fantástico-estranho.
Apesar da densidade dos argumentos de Todorov para uma teoria do gênero
fantástico, há autores que versam outra linha de pensamento, como Filipe Furtado (2009),
David Roas (2014) e Irène Bessière (2009).
Filipe Furtado (2009) postula o meta-empírico como um modo que abarca uma
heterogeneidade de textos e gêneros por intermédio de um fator que lhes é comum: o
sobrenatural, integrando o conto de fadas, o gótico, o maravilhoso, o estranho, a ficção
científica e outras modalidades e o insólito ficcional. Neste ponto, opõe-se a Todorov
ampliando o entendimento do que vem a ser o campo da ficção insólita que pode abranger
tanto o sobrenatural outras que, não o sendo, também podem parecer insólitas e,
eventualmente, (FURTADO, 2009, p. 2). Para o teórico português, elas,
com efeito, partilham um traço comum: o de se manterem inexplicáveis na época de
produção do texto devido a insuficiência de meios de percepção, a desconhecimento dos seus
princípios ordenadores ou a não terem, afinal, existência (idem).
Gama-Khalil (2013) observa que, para os dois teóricos, Todorov e Furtado,
fantástico, ocorre a permanência da hesitação/ambiguidade. Portanto, mesmo contrariando
a visão todoroviana de hesitação, Furtado chega a conclusões muitíssimo similares a
(GAMA-KHALIL, 2013, p. 23). E continua: diferença que ele estabelece é a de que a
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permanência da ambiguidade é uma questão interna à narrativa, ao passo que, para Todorov,
a hesitação estaria também condicionada à recepção do acontecimento insólito (GAMA-
KHALIL, 2013, p. 24).
O escritor e crítico literário David Roas também discorda de Todorov sobre o critério
basilar da hesitação como caracterização do fantástico. Para o teórico espanhol, se trata
simplesmente de introduzir um elemento impossível (sobrenatural) em mundo parecido ao
(ROAS, 2014, p. 97), mas provocar no receptor o escândalo racional da
possibilidade de que suas convicções sobre a realidade deixem de (idem).
Para Roas (2014), o fantástico causa uma transgressão da realidade, ele atua entre
irrompendo os limites das fronteiras do intransponível, provocando o estranhamento do
real, consequentemente, desencadeando o ameaçador, o incompreensível, o medo, a
inquietude, por fim, essa ameaça, essa transgressão se traduz no efeito fundamental do
fantástico.
Outra perspectiva crítica a obra todoroviana é apresentada pela pesquisadora Irène
Bessière, que propõe o fantástico como um modo literário, e não um gênero. Para a teórica
francesa, o fantástico não é senão um dos métodos da imaginação, cuja fenomenologia
semântica se relaciona tanto com a mitografia quanto com o religioso e a psicologia normal
e patológica, e que, a partir disso, não se distingue daquelas manifestações aberrantes do
imaginário ou de suas expressões codificadas na tradição popular. O fantástico pode ser
assim tratado como a descrição de certas atitudes (BESSIÈRE, 2009, p. 186).
Como se vê, para Bessière, o fantástico não define uma qualidade atual de objetos ou
de seres existentes, nem constitui uma categoria ou um gênero literário, mas supõe uma
lógica narrativa que é tanto formal quanto temática e que, surpreendente ou arbitrária para
o leitor, reflete, sob o jogo aparente da invenção pura, as metamorfoses culturais da razão e
do imaginário coletivo (2009, p. 186).
Apesar do engessamento genológico de Todorov em relação ao fantástico, de maneira
que a simples alteração na construção narrativa pode mudar o gênero que se realiza; para
Bessière, a simples manifestação do insólito e da incerteza na narrativa garantem a
realização do fantástico. Mesmo discordando neste ponto, ambas as teorias (Todorov e
Bessière) têm em comum o insólito, pois é necessária a manifestação, no plano narrativo, de
algo que fuja às regras convencionais da racionalidade própria do senso comum (GARCIA,
2011).
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Roas. Por fim, na quarta parte, dedica-se à e crítica no com os textos de Paes
e Rodrigues, que datam dos anos 80 do século passado.
Como se vê, a literatura fantástica é um vasto campo de estudos, com diversas
abordagens teóricas no Brasil e pelo mundo. Mas não se pode negar que desponta como um
gênero (TODOROV, 2010) ou modo (BESSIÈRE, 2009) literário profícuo e prolixo que ainda
proverá muitos debates e discussões no campo da teoria e crítica literárias.
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Azevedo Neto; 6 - FOI UM RIO QUE PASSOU EM MINHA VIDA: O MERGULHO DA PALAVRA
LIBERTA, apresentado por Roman Lopes; 7 - AS AVENTURAS DE BAMBOLINA -
LITERATURA INFANTIL E LEITURA DE IMAGENS, apresentado por Júlio César Lima
Fernandes, André Luís de Araújo.
No segundo dia, prosseguimos com as apresentações: 8 - CONSCIÊNCIA E CORPO
DESALINHADO: O FANTÁSTICO E O INSÓLITO NO CONTO DE HARUKI MURAKAMI,
apresentado por Vitor Yukio Ivasse Alves, Elizete Albina Ferreira; 9 - COUP D'OEIL
CIENTÍFICO: UMA ANÁLISE DAS NARRATIVAS DE BERILO NEVES À LUZ DO MARAVILHOSO-
CIENTÍFICO, apresentado por Irismar Lustosa Rocha, Daniel Castelo Branco Ciarlini; 10 -
AMÉRICA LATINA É O QUINTAL: UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE A SOLIDÃO A PARTIR DA
REPRESENTAÇÃO DA PERSONAGEM ÚRSULA EM CEM ANOS DE SOLIDÃO, DE GABRIEL
GARCÍA MÁRQUEZ, apresentado por Fábio Júnior Vieira da Silva; 11 - O SI-MESMO COMO
OUTRO EM EXCERTOS SELECIONADOS DE EDWARD LEAR E QORPO-SANTO, apresentado
por Fernanda Marques Granato; 12 - INSÓLITAS METAMORFOSES NA LITERATURA: O
FANTÁSTICO EM DE ROBERTO BELTRÃO, apresentado por Ivson Bruno da Silva;
13 - ESCONDER O QUÃO DURO É O ABRAÇO DE FERRO DA OS ESTÁGIOS
DO LUTO VIVENCIADOS POR WANDA MAXIMOFF NA SÉRIE WANDAVISION (2021),
apresentado por Vitor Hugo Sousa Oliveira, Renata Cristina da Cunha).
Os debates realizados no Simpósio Temático 6 Literatura, Insólito Ficcional e
Imaginário nos apontaram que os temas do fantástico, do insólito ficcional caminham por
novas perspectivas interdisciplinares. Muitos trabalhos utilizaram como base teórica-
referencial os textos de Tzvetan Todorov (2010), Irène Bessière, David Roas (2014), Flávio
Garcia (2007), Filipe Furtado (2009), entre outros; e teceram diálogos com a psicanálise de
Freud, as fenomenologias das imagens poéticas de Gaston Bachelard, as estruturas
antropológicas do imaginário de Gilbert Durand, a geografia humanista fenomenológica de
Yi Fu Tuan, o duplo de Otto Rank e Edgar Morin, só para citar algumas das abordagens que
sustentaram as teses apresentadas.
Por isso, a proposta do simpósio temático trilhou uma abertura entre a literatura e
fantástico, sem abrir mão da intersecção entre o fantástico e o imaginário. Para Calvino
(1990), Balzac teria sido um dos primeiros escritores a tratar as questões do fantástico, ao
citar que todas essas singularidades, o idioma de hoje só encontra uma palavra: é
indefinível (p. 82), aproximando-as do campo do imaginário: expressão, que
resume toda a literatura fantástica; ela diz tudo o que escapa às percepções precárias de
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nosso espírito; e quando a colocais sob os olhos de um leitor, ele se vê lançado no espaço
imaginário (p. 82).
Vemos em Balzac a dificuldade em situar, pelas palavras, o universo que
caracterizamos como literatura fantástica. A palavra conduz a esfera do
aquilo que não podemos nomear, por desconhecimento ou incapacidade
linguística, mas que possui existência própria no espaço-tempo.
Para Maciel (2013), elementos insólitos não possuem ligação fixa ou
verdadeira com a realidade e são responsáveis por despertar o imaginário do leitor, fazendo
com que ele sinta a estranheza dos fatos e ao mesmo tempo não busque reminiscências na
realidade para explicá- (p. 43).
Como dissemos na seção anterior, a relação entre o imaginário e o fantástico é
estreita, uma linha tênue, conforme aparece nas palavras de Todorov: se trata de uma
ilusão dos sentidos, de um produto de (2010, p. 15), ou de Bessière: fantástico
não é senão um dos métodos da imaginação (2009, p. 186), enfim, temos a concretização
desse efeito.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Rio de Janeiro: Dialogarts, 2013. / ISBN 978-85-8199-015-6.
ROAS, David. A Ameaça do Fantástico: aproximações teóricas. São Paulo: Unesp, 2014.
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