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Psicanálise e odontopediatria:
ofício da comunicação
Psychoanalysis and pediatric dentistry:
communication practice
Ricardo Azevedo Barreto
Mara Augusta Cardoso Barreto
Maria Salete Nahás Pires Corrêa
Resumo
Este artigo tem o objetivo de discutir sobre algumas contribuições da psicanálise para a odon-
topediatria no campo da comunicação. A odontopediatria é uma especialidade da odontolo-
gia que se depara com muitos desafios psicológicos. O atendimento odontopediátrico inclui
o dentista, sua equipe, o paciente e o acompanhante em diferentes contextos, o que desenha
múltiplas dinâmicas. O lúdico se faz presente no consultório do odontopediatra. As fantasias
paranoides são muito comuns. É uma abordagem diferenciada quando o odontopediatra bus-
ca ampliar a comunicação com o paciente e desenvolver sua escuta nas práticas odontológicas.
Em algumas situações, é importante indicar que o psicanalista veja o paciente. Seja qual for o
caso, a psicanálise tem muitas interfaces a construir com a odontopediatria.
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exemplos. Pode ser acompanhada uma cons- personagens do cenário odontológico, movi-
telação de ansiedades, defesas e modos de mentos transferenciais, atuações na relação
relação se movimentando nos atendimentos paciente-acompanhante-equipe odontológi-
odontopediátricos. Quando a criança brinca, ca, etc. Uma postura diferenciada é quando
também pode haver nessa atividade uma co- o odontopediatra busca ampliar a comuni-
municação consciente e inconsciente. cação com o paciente, desenvolvendo, entre
Souza (2008) comenta que, numa pers- outras condições facilitadoras, sua escuta nas
pectiva kleiniana, o brincar pode ser com- práticas odontológicas.
preendido como via régia para o inconscien- Aliás, o desenvolvimento da comunica-
te da criança. Jogar é uma linguagem para as ção entre profissionais tem sido objetivo de
fantasias inconscientes. Simbolizando por alguns currículos de graduação no campo da
intermédio de palavras ou brincadeiras, a saúde, mais especificamente daqueles assen-
criança expressa suas fantasias. tados em uma metodologia ativa de ensino.
Habilidades de comunicação são compreen-
Foi a partir da possibilidade de dar ao jogo didas como necessárias a tais profissionais.
infantil um caráter de comunicação e de ela- São ensinadas em alguns currículos posturas
boração que Klein desenvolveu sua teoria. Ao e atitudes de uma comunicação favorável ao
dar à brincadeira um caráter sério, tomando- relacionamento profissional-paciente, estra-
-o como um trabalho da criança com suas tégias de comunicação verbal e não verbal,
angústias, foi que concretizou suas expansões formas de transmissão de uma má notícia, en-
(Souza, 2008, p. 128). tre outros assuntos, por meio de simulações
e atividades predominantemente práticas.
Barreto (2013) menciona que brincar, jo- Se, por um lado, tais currículos inovado-
gar e desenhar, entre outras atividades lúdi- res abrem espaço para a ruptura do modelo
cas, não se restringem a vivências prazerosas, organicista na área de saúde, enfatizando o
mas expressam, na odontologia, dificulda- paradigma biopsicossocial, por outro lado, o
des, sobretudo de modo inconsciente. ofício da comunicação sobre o qual falamos
vai além de um treinamento comumente fei-
Os brinquedos, os jogos e as outras atividades to de competências e habilidades. Referimo-
criativas [...] podem facilitar o estabelecimen- nos a um modo de estar com o outro em que
to dos vínculos e contatos [...] É importante é preciosa a atenção à comunicação incons-
que o profissional e sua equipe os utilizem, ciente, o que pode ser trabalhado durante
desde os primeiros encontros com o paciente a formação dos profissionais de saúde com
e sua família [...] (Barreto, 2013, p. 167). base em concepções e postura psicanalíticas.
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