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UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

LICENCIATURA EM ENSINO DE GEOGRAFIA COM HABILITAÇÕES EM


TURISMO

SÁBADO A. PIADE JÚNIOR

IMPACTO DA SALINIDADE DO SOLO NO CULTIVO DE


ARROZ EM CERÂMICA-QUELIMANE: DESAFIOS E
ESTRATÉGIAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA

Quelimane

2024
SÁBADO A. PIADE JÚNIOR

IMPACTO DA SALINIDADE DO SOLO NO CULTIVO DE


ARROZ EM CERÂMICA-QUELIMANE: DESAFIOS E
ESTRATÉGIAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA

Projecto de Pesquisa a ser apresentado ao Curso de Ensino


de Geografia da Faculdade de Educação, como requisito
para a obtenção do título de licenciado em Ensino de
Geografia com Habilitações em Turismo.

Orientador: Dr. Manuel Cassamo

Quelimane

2024
Resumo

O projecto aborda os desafios enfrentados no cultivo de arroz devido ao aumento da


salinidade do solo, com foco na região específica de Cerâmica-Quelimane. A análise abrange
os impactos dessa salinidade no ecossistema agrícola local, destacando as consequências para
os agricultores e a segurança alimentar. Em paralelo, explora estratégias para mitigar esses
desafios, considerando práticas agrícolas inovadoras e tecnologias adaptativas. No contexto
educacional, o projecto propõe estratégias de ensino de geografia que integram a realidade
local, utilizando Cerâmica-Quelimane como estudo de caso. Busca-se desenvolver uma
compreensão aprofundada dos factores geográficos que contribuem para a salinidade do solo
e suas ramificações no cultivo de arroz. A abordagem pedagógica visa promover a
conscientização dos alunos sobre as questões ambientais e agrícolas locais, incentivando um
pensamento crítico e soluções sustentáveis. Cerâmica-Quelimane é seleccionada como o
lugar de estudo devido à sua representatividade das problemáticas enfrentadas em regiões
similares. A pesquisa inclui levantamentos de campo, colecta de dados geográficos e a
participação activa da comunidade local. A integração desses elementos visa fornecer uma
base empírica sólida para as conclusões do projecto, permitindo insights práticos que podem
ser aplicados não apenas na região específica, mas também em contextos geográficos
semelhantes.
Abstract

The project addresses the challenges faced in rice cultivation due to increasing soil
salinity, with a focus on the specific region of Cerâmica-Quelimane. The analysis covers the
impacts of this salinity on the local agricultural ecosystem, emphasizing the consequences for
farmers and food security. Simultaneously, it explores strategies to mitigate these challenges,
considering innovative agricultural practices and adaptive technologies. In an educational
context, the project proposes geography teaching strategies that integrate local reality, using
Cerâmica-Quelimane as a case study. The aim is to develop a deep understanding of the
geographical factors contributing to soil salinity and its ramifications in rice cultivation. The
pedagogical approach seeks to raise awareness among students about local environmental and
agricultural issues, encouraging critical thinking and sustainable solutions. Cerâmica-
Quelimane is selected as the study area due to its representativeness of the challenges faced
in similar regions. The research includes field surveys, geographic data collection, and active
participation from the local community. The integration of these elements aims to provide a
solid empirical foundation for the project's conclusions, offering practical insights that can be
applied not only in the specific region but also in similar geographical contexts.
Introdução
A salinidade do solo é uma preocupação crescente na agricultura global, afectando
significativamente a produção de culturas essenciais, como o arroz. Este fenómeno desafia
agricultores e pesquisadores a desenvolverem estratégias inovadoras para mitigar seus
impactos adversos. No contexto do ensino de geografia, explorar os desafios e as estratégias
associadas à salinidade do solo no cultivo de arroz oferece uma oportunidade valiosa de
análise crítica e compreensão dos processos geográficos. Neste sentido, a região de
Cerâmica-Quelimane emerge como um campo de estudo relevante, uma vez que enfrenta
desafios específicos relacionados à salinidade do solo e, ao mesmo tempo, busca soluções
adaptativas para sustentar a produção agrícola. No ensino de geografia, abordar o impacto da
salinidade do solo no cultivo de arroz requer uma abordagem interdisciplinar, integrando
conhecimentos de geociências, agronomia e educação ambiental. Os educadores
desempenham um papel crucial ao estimular a consciência dos estudantes sobre os factores
geográficos que contribuem para a salinização do solo, promovendo uma compreensão
holística das interacções entre o meio ambiente, as práticas agrícolas e as comunidades locais.

Ao analisar a situação em Cerâmica-Quelimane, os estudantes podem explorar as


estratégias adoptadas pela comunidade para enfrentar os desafios da salinidade do solo. Isso
inclui a implementação de técnicas agrícolas sustentáveis, como a adopção de variedades de
arroz tolerantes ao sal. Essas estratégias locais fornecem estudos de caso ricos para
discussões em sala de aula, permitindo que os alunos compreendam não apenas os desafios,
mas também as soluções inovadoras desenvolvidas em resposta a esses problemas.

A abordagem da salinidade do solo no cultivo de arroz em Cerâmica-Quelimane


proporciona uma oportunidade única no ensino de geografia. Ao conectar os desafios
específicos dessa região com as estratégias adoptadas pela comunidade, os educadores podem
inspirar uma apreciação mais profunda das interacções entre factores geográficos, ambientais
e sociais. Este projecto oferece uma janela para a compreensão de como as comunidades
enfrentam e superam os desafios ambientais, contribuindo para a formação de cidadãos
conscientes e engajados em questões globais e locais.
Objectivos
Geral:
 Avaliar o impacto da salinidade do solo no cultivo de arroz em Cerâmica-Quelimane,
visando compreender os desafios associados e desenvolver estratégias eficazes no
ensino de Geografia.

Específicos:
 Compreender como a salinidade do solo afecta o rendimento e a qualidade do arroz na
região;
 Identificar práticas agrícolas sustentáveis que possam mitigar os efeitos negativos da
salinidade do solo;
 Descrever o impacto socioeconómico da salinidade do solo, destacando as mudanças
nos meios de subsistência e na segurança alimentar;
 Propor um ensino de Geografia voltado ao contexto actual;
 Desenvolver matérias educacionais inovadores para integrar o tema da salinidade do
solo no currículo do ensino de Geografia.
CAPÍTULO I - PROBLEMATIZAÇÃO

A salinidade do solo no cultivo de arroz em Cerâmica-Quelimane representa um


desafio significativo, exigindo uma abordagem cuidadosa no ensino de geografia. Conforme
apontado por White et al. (2012), a salinização do solo é uma ameaça crescente devido à
irrigação excessiva e práticas agrícolas inadequadas. Essa problemática impacta directamente
as regiões produtoras de arroz, como destacado por Kumar et al. (2018), afectando a
qualidade e a quantidade da colheita. Ao explorar essa questão em sala de aula, é crucial
destacar a relação intrínseca entre o meio ambiente, práticas agrícolas e segurança alimentar.
Como ressalta Thompson (2019), a compreensão da salinidade do solo no contexto do cultivo
de arroz permite aos alunos analisar os impactos ambientais e sociais, promovendo uma
abordagem holística no ensino de geografia.

Assim, ao abordar o impacto da salinidade do solo no cultivo de arroz em Cerâmica, o


ensino de geografia se torna uma ferramenta vital para sensibilizar os alunos sobre questões
ambientais e promover uma visão crítica e proactiva em relação às práticas agrícolas
sustentáveis. Sendo assim surge a seguinte questão:

Como a salinidade do solo afecta o cultivo de arroz em Cerâmica e quais estratégias


sustentáveis podem ser implementadas para enfrentar esse desafio?

Delimitação do tema

Considerando a localidade de Cerâmica como a região de estudo, a delimitação deste tema


visa examinar de forma especifica e aprofundada como a salinidade do solo afecta o cultivo
de Arroz nesta área geográfica.

Hipóteses
i. Levando em conta as complexas interacções entre factores ambientais e práticas
agrícolas, é razoável inferir que a implementação de estratégias de manejo
sustentável, como a introdução de sistemas de irrigação eficientes e o cultivo de
variedades geneticamente modificadas resistentes à salinidade, pode actuar de
maneira sinérgica para atenuar os impactos adversos da salinidade do solo no cultivo
de arroz em Cerâmica.
ii. Diante da importância de uma educação geográfica abrangente, pode-se conjecturar
que, ao incorporar o tema da salinidade do solo no currículo de geografia, os alunos
desenvolverão uma compreensão mais profunda das inter-relações entre práticas
agrícolas, meio ambiente e segurança alimentar, fomentando uma abordagem crítica e
sustentável em relação às questões agrícolas.
iii. Tendo em mente a necessidade de abordagens integradas para enfrentar desafios
agrícolas contemporâneos como é o caso da salinidade do solo na região da localidade
de Cerâmica-Quelimane, é possível sugerir que a conscientização dos estudantes
sobre a salinidade do solo, combinada com o desenvolvimento de habilidades
analíticas e de resolução de problemas, pode capacitá-los a desempenhar um papel
activo na promoção de práticas agrícolas sustentáveis e na construção de comunidades
resilientes.

Justificativa
A escolha da localidade de Cerâmica para o estudo do impacto da salinidade do solo
no cultivo de arroz se fundamenta em diversos factores que conferem relevância e urgência a
essa pesquisa. Esta justificativa abordará os aspectos geográficos, socioeconómicos e
ambientais que tornam Cerâmica uma área crucial para investigar os desafios enfrentados
pela agricultura, particularmente no cultivo de arroz. Cerâmica destaca-se por suas
características geográficas distintas, incluindo clima e composição do solo. Esses factores
desempenham um papel crucial na dinâmica da salinidade do solo e, por conseguinte, na
produção de arroz. Ao compreender essas peculiaridades, podemos desenvolver estratégias
adaptativas específicas para enfrentar os desafios locais.

A agricultura, em particular o cultivo de arroz, desempenha um papel central na


economia daquela região. A subsistência da comunidade e sua estabilidade económica estão
intrinsecamente ligadas ao sucesso dessa actividade agrícola. A compreensão dos impactos da
salinidade do solo sobre o cultivo de arroz é vital para desenvolver medidas que protejam a
segurança alimentar e o bem-estar económico local.

A salinidade do solo não é apenas uma questão agrícola; ela tem implicações directas
na vida quotidiana dos habitantes de Cerâmica. Os desafios socioeconómicos derivados da
diminuição na produção de arroz podem resultar em insegurança alimentar, migração e
pressões sobre os recursos locais. Além disso, há implicações ambientais, pois práticas
inadequadas podem contribuir para a degradação do solo e impactos nos ecossistemas
circundantes. Ao focar em Cerâmica, há uma oportunidade única de identificar e promover
soluções adaptativas específicas para a região. A pesquisa não apenas diagnosticará os
problemas, mas também buscará valorizar o conhecimento local e as práticas sustentáveis já
existentes. Essa abordagem pode resultar em intervenções mais eficazes e culturalmente
apropriadas. Em resumo, a escolha da localidade de Cerâmica como área de estudo é
justificada pela necessidade crítica de compreender os desafios específicos enfrentados por
essa comunidade em relação à salinidade do solo no cultivo de arroz. A pesquisa visa não
apenas contribuir para o conhecimento científico, mas também fornecer insights práticos e
aplicáveis que beneficiem directamente a população local, promovendo a sustentabilidade e a
resiliência da agricultura em Cerâmica.

Missão

A missão do projecto é abordar os desafios emergentes no cultivo de arroz devido ao


aumento da salinidade do solo na região de Cerâmica-Quelimane. Focando não apenas na
análise dos impactos no ecossistema agrícola local e nas consequências para os agricultores,
mas também na proposição e implementação de estratégias inovadoras para mitigar esses
desafios. Além disso, o projecto busca cumprir uma missão educacional ao integrar o ensino
de geografia de maneira prática e contextualizada, usando Cerâmica-Quelimane como estudo
de caso. Essa abordagem visa conscientizar os alunos sobre as questões ambientais e
agrícolas locais, incentivando soluções sustentáveis e promovendo uma compreensão
aprofundada dos factores geográficos relacionados à salinidade do solo.

Visão

A visão do projecto é criar um impacto positivo e duradouro na comunidade agrícola


de Cerâmica-Quelimane, transformando os desafios impostos pela salinidade do solo em
oportunidades para o desenvolvimento sustentável. Ao implementar estratégias inovadoras e
adaptativas, busca-se não apenas superar as adversidades no cultivo de arroz, mas também
promover a resiliência e a prosperidade a longo prazo. Além disso, a visão inclui inspirar uma
mudança significativa no ensino de geografia, tornando-o mais prático, envolvente e alinhado
com as realidades locais. Espera-se que esse enfoque educacional não só eleve a
conscientização dos alunos sobre questões geográficas e ambientais, mas também os capacite
a serem agentes de mudança em suas comunidades. Em última análise, a visão do projecto é
contribuir para um modelo sustentável de agricultura e educação geográfica, com impacto
não apenas em Cerâmica-Quelimane, mas também em outras regiões geograficamente
similares ao redor do mundo.

Metodologia

Segundo LAKATOS – MARCONI (2003 p, 83), diz que, " método é o conjunto das
actividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar
os objectivos". Uma abordagem mista é melhor para investigar com eficácia e eficiência o
tema em questão. Os métodos quantitativos na análise de solos e dados de produção de arroz
em Cerâmica-Quelimane, abordagens qualitativas como entrevistas com agricultores locais e
por fim pesquisas bibliográficas que darão insights sobre os desafios e estratégias especificas
da região.

CAPÍTULO II – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Salinização dos solos

Salinização é o processo que leva a acumulação de sais solúveis nas camadas


superficiais. A salinização do solo é um problema que vem crescendo em todo o mundo.
Estima-se existir cerca de 1 a 5 bilhões de hectares de solos afectados por sais, com grande
parte de todas as áreas irrigadas do mundo sofrendo com a redução da produção devido ao
excesso de sais no solo (RIBEIRO et al., 2003; SOUSA, 2007). Solos afectados por sais são
principalmente encontrados em climas áridos e semiáridos, em mais de 100 países em todos
os continentes, com excepção da Antártida.

A origem dos problemas de salinidade se confunde com a própria formação dos solos,
que é um produto da intemperização das rochas, envolvendo processos físicos, químicos e
biológicos, mediante a acção de factores como clima, relevo, organismos vivos e o tempo
(RIBEIRO et al., 2003; DIAS, 2004). A salinidade é um problema que atinge cerca de 45
milhões (19,5%) dos 230 milhões de hectares da área irrigada do globo terrestre. O excesso
de sais limita severamente a produção agrícola principalmente nas regiões áridas e semiáridas,
onde cerca de 25% da área irrigada encontra-se salinizada (FAO, 2000). A salinização
induzida pelo homem é mais perceptível em ambientes de elevada evapotranspiração e baixa
precipitação pluviométrica no curso do ano, manifestando-se de forma mais acentuada nessas
áreas em decorrência do manejo inadequado da irrigação, onde o controle da drenagem não é
feito ou feito de forma ineficiente (OLIVEIRA, 1997).
Os solos afectados por sais, também conhecidos por solos halomórficos ou solos
salinos e sódicos, são solos desenvolvidos em condições imperfeitas de drenagem, que se
caracterizam pela presença de sais solúveis, sódio trocável ou ambos, em horizontes ou
camadas próximas à superfície. Quando a concentração de sais se eleva ao ponto de
prejudicar o rendimento económico das culturas, diz-se que tal solo está salinizado
(RIBEIRO, 2010; MAJOR & SALES, 2012).

Daker (1988) destaca que os sais resultantes dos minerais primários, encontrados nos
solos e nas rochas, são transportados pelas águas e armazenados nos solos acumulando-se à
medida que a água é evaporada ou consumida pelas culturas, originando o processo de
salinização. Durante a intemperização dos minerais primários, que compõem a rocha ou o
material de origem do solo, através de processos físicos, químicos e biológicos mediados pela
acção de factores como clima, relevo, organismos vivos e o tempo, os sais solúveis que
constituem as rochas são liberados dando início à formação do solo (RICHARDS, 1954).
Entretanto, a decomposição de minerais primários, raramente provoca acúmulo de sais no
solo em níveis prejudiciais ao desenvolvimento vegetal. Para formação de solos afectados por
sais, estes são geralmente transportados pela água, que é o principal agente transportador
(WANDERLEY, 2009). O excesso de sais solúveis na solução do solo é resultado de uma
combinação de factores:

 Climáticos (baixo índice pluviométrico e elevada taxa de evapotranspiração);


 Edáficos (baixa capacidade de lixiviação dos sais e presença de camadas
impermeáveis);
 Manejo do solo (irrigação com águas salinizadas, excesso de água de irrigação, uso
excessivo de agro-químicos etc.).

Os solos salino-sódicos são formados quando a Percentagem de Sódio Trocável (PST)


atinge valores maiores ou iguais a 15%, e os níveis de salinidade permanecem altos, com uma
condutividade eléctrica (CE)  4,0 dS.m-1 . O processo de solonização promove a formação
de solos sódicos, e é constituído por dois subprocessos: sodificação e dessalinização. A
sodificação, primeira etapa, é o processo de passagem do íon Na+ da solução do solo para o
complexo de troca, formando os solos denominados de salinosódicos, enquanto a
dessalinização, etapa final, promove a lavagem dos sais solúveis, resultando na formação de
solos unicamente sódicos (RIBEIRO et al., 2003; RIBEIRO, 2010).
Os sais, resultantes do processo de intemperização, podem ser carreados para
horizontes inferiores, mediante percolação, e então depositados nas águas subsuperficiais, ou
levados a lugares distantes por escoamento superficial. Entretanto, em regiões de clima árido
e semiárido, por apresentarem deficit hídrico não há condições favoráveis para que ocorra
lixiviação. Com a evaporação superando e muito a precipitação, a drenagem dos sais solúveis
é deficiente, o que contribui para a acumulação desses sais no perfil e na superfície do solo,
resultando em solos afectados por sais (AYERS & WESTCOT, 1991; WANDERLEY, 2009).
A concentração elevada de sais no solo é um factor limitante ao desenvolvimento das plantas,
incluindo o cultivo do arroz e que pode ocorrer em função de características naturais do
próprio ambiente, ou pode ser decorrente das actividades humanas.

A salinização natural dos solos pode ocorrer pela intemperização das rochas e pela
deposição de sais provenientes dos oceanos pela acção das chuvas e dos ventos, sendo
denominada de salinização primária (RICHARDS, 1954; NEUMANN, 1997; RIBEIRO et al.,
2009; MUNNS, 2012). A salinização é denominada secundária quando a elevação na
concentração de sais no solo é resultante de alguma actividade antrópica, geralmente
associada ao desmatamento, ao excesso de água de irrigação, ao padrão de qualidade da água
de irrigação abaixo do recomendado, uso de adubos químicos e sistemas de drenagem
ineficientes (WILLIAMS, 1987; NEUMANN, 1997; RIBEIRO et al., 2003; MUNNS, 2012).

Factores Responsáveis pela Salinização dos Solos em Áreas Irrigadas

Os factores directamente responsáveis pela salinização dos solos em áreas irrigadas


são o uso de água de irrigação com alta concentração salina, elevação do lençol freático por
causa do manejo inadequado de irrigação, ausência ou deficiência de drenagem, elevação do
lençol freático em decorrência da perda de água por infiltração nos canais e reservatórios e,
ou, acumulação de água de irrigação nas partes mais baixas do terreno (GHEYI et al., 1997).

Embora o sal não é nem mutagénico ou carcinogénico, e não é geralmente


considerado tóxico para os animais, existem numerosos efeitos ambientais associados com o
excesso de sal no solo. Estes incluem a degradação das propriedades químicas e físicas do
solo, a qualidade das águas subterrâneas e diminuição do crescimento de plantas prejudicada
(GHEYI et al., 1997; QADIR et al., 2003). Outro factor também responsável pela indução da
salinidade é a aplicação excessiva de fertilizantes com índice salino elevado, tais como
cloreto de potássio, nitrato de amónia e formulações comerciais, de forma indiscriminada e
excessiva, que pode induzir a um incremento da pressão osmótica na solução do solo,
prejudicando a germinação das sementes e o desenvolvimento de plantas muito jovens
(FIGUEIRÊDO, 2005; WANDERLEY, 2009).

Efeitos do Excesso de Sais no Solo e na Planta

O impacto económico da salinização não é fácil de avaliar, por causa da relação não
linear entre salinização e produtividade. Logo, a salinização pode permanecer sem ser
detectada durante anos com níveis moderados de salinidade, enquanto um aumento adicional
pode causar abandono da terra agrícola em poucos anos. Diante disso, uma das ferramentas
mais importantes é o monitoramento da condutividade eléctrica do solo em sistemas de
produção, que permite de forma simples e eficiente adequações que evitem a ocorrência de
processos de salinização do solo e perdas na quantidade e qualidade da produção (QUEIROZ
et al., 2009; MAJOR & SALES, 2012).

As propriedades físicas dos solos, tais como, estrutura do solo, estabilidade dos
agregados, dispersão das partículas, permeabilidade e infiltração, são muito influenciadas
pelos tipos de catiões trocáveis presentes no solo (SHAINBERG & OSTER, 1978). Enquanto
a acumulação de sais solúveis torna o solo floculado, friável e bem permeável, o aumento do
sódio trocável poderá torná-lo adensado, compacto em condições secas, disperso e pegajoso
em condições molhadas (GHEYI et al., 1991; DIAS & BLANCO, 2010).

O valor da PST, no entanto, pode variar em função da qualidade da irrigação, do tipo


de mineral de argila predominante, e do grau de salinidade do solo (RIBEIRO, 2010).
Holanda et al. (2001) enfatizam a importância de se detectar precocemente problemas de
salinidade em solos nos quais existem cultivos irrigados, verificando-se alterações químicas
através de análises que indiquem uma eventual elevação da PST, bem como a relação deste
cátion com outros do complexo sortivo, dada pela Razão de Adsorção de Sódio (RAS). Uma
das causas dessas modificações nas propriedades físico-hídricas dos solos é o fenómeno
conhecido como dispersão química que apresenta relação de dependência com a PST e com a
concentração electrolítica da solução do solo (AGASSI et al., 1981). Quanto maior a
concentração de sódio no solo e mais baixa for a concentração de electrólitos, maior será a
dispersão das argilas e mais elevada será a viscosidade da água, factores que juntos
contribuem infinitamente para redução da condutividade hidráulica e permeabilidade do solo
(KEREN et al., 1988), e consequentemente da taxa de infiltração de água no solo. Da mesma
forma que a salinidade afecta o solo, há também reflexos dos seus efeitos nas plantas.

Salinidade Na Planta do Arroz

A salinidade afecta as culturas do arroz de duas maneiras: pelo aumento do potencial


osmótico do solo, quanto mais salino for um solo, maior será a energia gasta pela planta para
absorver água e com ela os demais elementos vitais; pela toxidez de determinados elementos,
principalmente sódio, boro, bicarbonatos e cloretos, que em concentração elevada causam
distúrbios fisiológicos nas plantas (BATISTA et al., 2002). Além disso, há um grave
desequilíbrio nutricional em virtude da significativa alteração nos processos de absorção,
transporte, assimilação e distribuição de nutrientes na planta, por exemplo, o excesso de Na
inibe a absorção de nutrientes, como o K e Ca (MUNNS & TERMAAT, 1986; RIBEIRO et
al., 2003; VIANA et al., 2004; FARIAS et al., 2009; SILVA et al., 2009). Nesse contexto, os
valores de pH elevados nos solos também reduzem a disponibilidade de muitos
micronutrientes.

Nesses solos salinizados encontra-se deficiência de cobre (Cu), ferro (Fe), manganês
(Mn) e zinco (ZN) (TAN, 1993). Quando a concentração de sais no solo é superior ao
tolerado pela planta, seu crescimento é directamente comprometido em virtude basicamente
de dois processos: redução da absorção de água resultante do efeito osmótico ou deficit
hídrico; e elevada concentração de íons no fluxo transpiratório que causa injúrias nas folhas
(MUNNS, 2005). Santos (2006) destaca que a redução da taxa de crescimento das plantas sob
estresse salino ocorre de forma mais acentuada nos tecidos jovens, afectando os mecanismos
de divisão e expansão celular nos pontos de crescimento da planta.

As plantas sensíveis ou hipersensíveis à salinidade, ou que estão mais adaptadas a


ambientes não salinos, são denominadas de glicófitas, e representam a maioria das culturas
existentes (LARCHER, 2000; YOKOI et al., 2002; WILLADINO & CAMARA, 2010).
Quase a totalidade das plantas assim classificadas apresenta algum tipo de comprometimento
de alguma fase do seu ciclo quando a concentração de NaCl supera 40 mM, equivalente a
condutividade eléctrica no extracto de saturação do solo de aproximadamente 4,0 d.Sm-1
(RIBEIRO et al., 2007; MUNNS & TESTER, 2008).

As plantas glicófitas também apresentam o mecanismo de regulação osmótica celular,


contudo são incapazes ou pouco eficientes na compartimentalização dos íons inorgânicos,
apresentando assim elevada concentração de sais no tecido fotossintetizante quando
submetidas à condição de estresse salino (MUNNS, 2002). A alta salinidade e o elevado teor
de sódio trocável do solo afectam a germinação e a densidade das culturas, limitando a sua
produtividade bem como seu desenvolvimento vegetativo. Nos casos mais graves, causa
sérios problemas de ordem económica, com a morte generalizada das plantas, pois tais solos
se tornam inaptos para agricultura, sendo então descartados do sistema de produção,
tornando-se desertos salinos (BARROS et al., 2005; FERNANDES et al., 2008; MAJOR &
SALES, 2012).

Recuperação de Solos Salinizados

O termo “recuperação de solos salinizados” refere-se a métodos ou técnicas que são


utilizadas com o propósito de remover os sais solúveis da zona radicular das plantas,
incluindo assim as seguintes práticas: remoção mecânica, lavagem e lixiviação (ABROL et
al., 1988). Barros et al. (2004) acrescentam ainda que o termo também refere-se à diminuição
do teor de sódio trocável através do seu deslocamento do complexo de troca pelo cálcio antes
do processo de lixiviação. Muitos países em desenvolvimento enfrentam sérios problemas
com a poluição do solo e, principalmente, com toda problemática relacionada com a
recuperação desses solos que, entre outros factores, é extremamente dependente da situação
socioeconómica de cada país (AGUIAR, 2006).

A salinização dos solos apresenta impactos ambientais e económicos, visto que reduz
a produção agrícola, causa geralmente o abandono da área afectada, trazendo
consequentemente prejuízos à economia regional (MELO et al., 2008). A recuperação desses
solos é imprescindível para que eles sejam reincorporados ao sistema produtivo (MELO et al.,
2008; TAVARES FILHO et al., 2012). Solos afectados por sais são caracterizados pela
presença de sais solúveis ou sódio trocável, ou ambos, suficientes para restringir o
crescimento de plantas, necessitando medidas especiais de remediação e práticas de manejo
que dependem de um entendimento dos processos físico-químicos que ocorrem à medida que
a água se move dentro do solo e desloca os sais (LEAL, 2005).

A recuperação de solos degradados por sais exige estudos e se baseia principalmente


nas técnicas de: irrigação, lixiviação, correcção, gessagem, pousio, uso de plantas resistentes
a sais, todas associadas às práticas de drenagem adequadas (OLIVEIRA, 1999; RIBEIRO et
al., 2003). As técnicas para recuperação de solos salinizados podem ser fundamentais ou
auxiliares. As primeiras são a lavagem dos sais e a aplicação de melhoradores químicos. Já as
últimas, são aquelas aplicadas para tornar as fundamentais mais eficientes porque agem
directamente sobre as propriedades do solo, sendo citadas: aração profunda, subsolagem e
aplicação de resíduos orgânicos (CAVALCANTE et al., 2010).

Torna-se importante destacar que algumas práticas culturais podem auxiliar na


recuperação de solos salinizados, tais como: utilização de espécies herbáceas com raízes
profundas; uso de gramíneas com grande densidade de radículas que permitem aumentar a
porosidade do solo; formação de cobertura morta na superfície do solo e, ou, a incorporação
desta matéria orgânica ao solo; e adubação verde (HOLANDA et al.,2001). A recuperação
dos solos degradados por sais não tem se mostrado eficiente quando aplicada uma só técnica
de recuperação isoladamente. O sucesso de tais acções é muito mais expressivo quando são
combinadas duas ou mais técnicas, simultaneamente (CAVALCANTE et al., 2010).

Holanda et al. (2001) destacam que o monitoramento do solo com análises químicas e
físicas é fundamental para detecção precoce da salinização do solo e imprescindível para
elevar a eficiência das práticas de recuperação adoptadas. As técnicas de recuperação de solos
afectados por sais são de fundamental importância, uma vez que possibilitam o retorno deles
ao processo de produção. Entretanto, o processo convencional de recuperação exige alto
investimento, o que nem sempre é possível, principalmente quando se trata de agricultura de
baixos insumos. Dessa forma, a fitorremediação surge como uma alternativa não agressiva ao
ambiente, de baixo custo, para recuperação de solos salinos, podendo propiciar a reabilitação
de tais solos.

Dentre as técnicas de recuperação de solos salino-sódicos, a aplicação de correctivos


químicos e a lavagem do solo são bastante utilizadas, por actuarem directamente na correcção
dos problemas desses solos em relação às plantas. As demais técnicas ou práticas utilizadas
são consideradas auxiliares tais como: drenagem, aração, aplicação de resíduos orgânicos,
sistematização e nivelamento, etc., por agirem indirectamente sobre algumas propriedades do
solo que facilitam a recuperação. No processo de recuperação, comummente são utilizadas
várias dessas técnicas, de forma simultânea ou sucessiva.

Evitar E Controlar A Salinização

Os problemas de salinização em solos são conhecidos há muito tempo, mas sua


magnitude e intensidade têm aumentado, resultando na expansão alarmante da área de solos
degradados por salinidade e sodicidade. Estes problemas são consequências do uso de terras
marginais e do manejo inadequado da irrigação, e apesar da expansão de áreas com esses
problemas, procedimentos de recuperação ainda são pouco utilizados (SOUSA, 2007).

Os efeitos da salinidade e sodicidade nos solos podem afectar adversamente o balanço


ecológico de uma área. Entre os impactos causados nesses solos pode-se citar: baixa
produtividade agrícola e altos custos de produção; aumento do escoamento superficial e das
enchentes; pequena recarga dos aquíferos; desbalanço ecológico; piora nos índices de saúde
pública; dentre outros (RIBEIRO et al., 2009). Assim, práticas de manejo que sejam mais
apropriadas para controlar a salinidade dos solos em longo prazo são de fundamental
importância em um programa de cultivo em solos afectados por sais, principalmente visando
sua sustentabilidade e alternativas de uso e recuperação (LEAL et al., 2008).

Todo solo situado em regiões climáticas caracterizadas por baixas precipitações e


altos deficits hídricos climáticos, e que ao mesmo tempo possua drenabilidade deficiente a
nula, apresenta forte tendência a se tornar salino num curto período de tempo, principalmente
pelo de as plantas ali cultivadas somente remover a água do solo, ficando a maior parte dos
sais retidos no solo, sendo necessária para reverter a situação a aplicação de técnicas de
drenagem artificial (BATISTA et al., 2002). Em solos afectados por sais, são alcançados
resultados promissores de recuperação com a instalação de um sistema adequado de
drenagem subterrânea e utilização de lâminas de lavagens de recuperação, ou mesmo
deixando-se que se recupere naturalmente pela lavagem causada pelas águas das chuvas
(BATISTA et al., 2002; DUARTE et al., 2007).

Em se tratando de solos argilosos, estudos mostram que a lavagem através de


inundação por período longo é menos eficiente que quando são feitos inundações periódicas,
onde o solo é inundado por certo período de tempo e a seguir deixado secar. Este processo
tende a promover uma melhoria na estrutura do solo com melhoria da condutividade
hidráulica (BATISTA et al., 2002).

Os solos salino-sódicos têm estrutura e aparência que os deixam semelhantes aos


solos salinos. Para recuperação dos primeiros, é necessário forçar a substituição do excesso
de sódio trocável pelo cálcio, e posterior eliminação por lixiviação (BARROS et al., 2005).
Nesses solos o excesso de sais deve ser removido utilizando-se as técnicas de remoção em
conjunto, aplicando-se correctivos e lâminas de lavagens, visto que se o excesso de sais
solúveis for apenas lavado, a percentagem de sódio trocável aumentará e, como consequência,
o solo poderá se tornar sódico e ter sua estrutura destruída (BATISTA et al., 2002).

Em solos sódicos há necessidade de instalação de drenos subterrâneos, aplicação de


correctivos que provoquem uma recuperação na estrutura do solo, e também aplicação de
lâminas de lavagens, principalmente de parte do sódio existente no solo. Diversos compostos
químicos são adoptados na recuperação de solos classificados como sódicos, dependendo da
disponibilidade no mercado, do preço, da eficiência do produto e do tipo de solo e seus
componentes químicos. São agrupados em três grupos: a) Sais de cálcio solúveis (cloreto de
cálcio, CaCl2) e gesso (CaSO4.2H2O), b) Ácidos ou 1316 formadores de ácido: enxofre,
ácido sulfúrico, sulfato de ferro ou alumínio e óxido de cálcio, c) Sais de cálcio de baixa
permeabilidade: carbonato de cálcio e, derivados de fábrica de açúcar. Os produtos mais
comummente empregados para substituir o sódio do complexo do solo por cálcio são o gesso
(CaSO4.2H2O) e o enxofre (ABROL et al., 1988; BATISTA et al., 2002).

Drenagem

A drenagem com fins agrícolas ou de recuperação ambiental tem como finalidade


propiciar às raízes das plantas condições favoráveis de humidade, aeração e balanço de sais, e
seu objectivo é o de criar um ambiente favorável para o crescimento de plantas e preservar as
propriedades físicas e químicas do solo (FERREIRA, 2001; BATISTA et al., 2002). Almeida
et al. (2001) destaca que, quando o solo não apresenta boas condições de drenagem natural é
necessária a aplicação de técnicas de drenagem artificial não somente para melhorar as
características físico-hídricas do solo, mas principalmente para facilitar a remoção dos sais
solúveis e impedir a sua acumulação em níveis tóxicos às plantas.

A drenagem possibilita aumentar o número anual de dias favoráveis à mecanização


das operações agrícolas, além de proporcionar ambiente adequado para desenvolvimento
radicular das plantas. A drenagem excessiva é indesejável, porque ela reduz a quantidade de
água disponível no solo para o cultivo e aumenta a lixiviação de nutrientes fertilizantes que
contaminam as águas subterrâneas e os cursos, aumentando o investimento por unidade de
área (SKAGGS, 1981). De acordo com Macêdo et al. (2007) o sistema de drenagem deve ser
dimensionado para lidar com o fluxo de água da lixiviação, o que é necessário para manter a
salinidade da água do solo dentro dos limites pré-determinadas e para controlar a
profundidade da água subterrânea. O uso inadequado das técnicas de irrigação e drenagem
em áreas sensíveis ao processo de salinização natural pode proporcionar, ao longo do tempo,
a expansão de áreas com problemas de sais e sódio trocável, resultando quase sempre no
abandono de lotes em perímetros irrigados, o que resulta em sérios problemas de ordem
social e económica (TAVARES FILHO et al., 2012).

Existem dois tipos de drenagem, a superficial e a subterrânea. Enquanto a drenagem


superficial visa à remoção do excesso de água da superfície do solo ou piso construído, a
drenagem subterrânea visa à remoção do excesso de água do solo até uma profundidade
predeterminada, proporcionando condições favoráveis de humidade, aeração e manejo
agrícola (BATISTA et al., 2002; SILVA & PARFITT, 2004). Cruciani (1989) destaca que,
quando a drenagem superficial é aplicada em áreas de relevo não acidentado, deve-se ter
especial atenção com a rapidez com que a operação se processa, já em áreas com relevo mais
acidentado o problema está na interceptação do escoamento superficial e eliminação do
excesso sem potencializar os efeitos negativos da erosão.

A drenagem superficial opera através de uma rede de canais abertos no terreno,


enquanto que a subterrânea é efetuada por um sistema de canais e drenos tubulares enterrados
para os quais a água percola por gravidade (CRUCIANI, 1989). Por tanto, no primeiro
método utilizam-se valetas ou drenos a céu aberto que apresenta a dupla finalidade de
colectar e transportar águas de drenagem superficial. Por apresentarem maior velocidade de
escoamento, são mais favoráveis à drenagem superficial; apesar de ter um custo de instalação
mais baixo, segundo Luthin (1973) tem algumas desvantagens, necessita de manutenção
constante, além de dificultar o trabalho com maquinário agrícola.

A drenagem subterrânea tem como objectivo rebaixar o lençol freático através da


remoção da água gravitacional, localizada nos macroporos do solo. Propicia, em áreas
agrícolas, melhores condições para o desenvolvimento das raízes das plantas cultivadas. Em
regiões semiáridas e semiúmidas evita o encharcamento e também a salinização de solos
irrigados (LUTHIN, 1973). É importante salientar que tanto para a drenagem superficial
quanto para a drenagem subterrânea, é necessária a existência de ponto de descarga próximo,
sendo que as condições de acesso e distância a esse ponto podem inviabilizar a implantação
de sistema de drenagem de determinada área (LUTHIN, 1973).

Holanda et al. (2001) afirma que é necessário que seja aplicada lâmina de irrigação
adequada, associada a um processo de drenagem, visando eliminar o excesso de sais. É
fundamental o monitoramento das áreas com análises físicas e químicas que permitam
detectar a salinização ainda na sua fase inicial, visto que nesta, a aparência do solo e o
comportamento das culturas é semelhante aos de um solo sem problemas. Para potencializar a
eficiência de um sistema de drenagem, previamente à construção dos drenos, sejam
superficiais ou subterrâneos, deve ser elaborado minucioso diagnóstico sobre a área afectada,
levando-se em consideração principalmente dados sobre tipos de solo, regime pluviométrico,
águas superficiais e subterrâneas, sendo para tanto necessário o levantamento de dados da
área por meio de fotografias aéreas, mapas topográficos e de solos, e dados de clima, cultivos
etc (LIMA et al., 2010).

Uso de Correctivos

O uso de condicionadores químicos, especialmente o gesso, de baixo custo, parece ser


a forma mais prática de recuperação de solos salino-sódicos (OLIVEIRA et al., 2002; RUIZ
et al., 2004). A quantidade de gesso necessária para à recuperação dos solos salino-sódicos e
sódicos pode ser determinada por um teste de laboratório envolvendo o equilíbrio entre o solo
e uma solução saturada de gesso ou pode ser calculada em função da PST que se deseja
substituir, da capacidade de troca de catiões do solo e da profundidade do solo a ser
recuperada (BARROS et al., 2006). Apesar da grande divulgação do uso do gesso junto com
lâmina de irrigação como técnica de recuperação de solos sódicos e salino-sódicos, esta
poderá ser ineficiente se a lixiviação dos sais solúveis e do Na+ trocável forem restringidos
por uma baixa permeabilidade no perfil do solo graças aos altos teores de argila/silte e à
matriz do solo dispersa (QADIR et al., 1998).

O teor excessivo de Na+ no solo causa dispersão das argilas, interferindo nas
propriedades físicas do solo, tais como: porosidade, estrutura e condutividade hidráulica. A
adição de sulfato de cálcio contribui para a melhoria dessas propriedades, graças à
substituição do Na+ trocável por Ca2+ (IIYAS et al., 1997; SANTOS & HERNANDEZ,
1997; QADIR et al., 1998; FREIRE, 2001). Na busca de alternativas para despoluir áreas
contaminadas, tem-se optado por soluções que englobam: eficiência na descontaminação,
simplicidade na execução, tempo demandado pelo processo e menor custo. Nesse contexto,
cresce o interesse pela utilização da biorremediação, caracterizada como uma técnica que tem
como função descontaminar solo e água por meio da utilização de organismos vivos, como
microrganismos e plantas, e dentro da biorremediação insere-se a fitorremediação (PIRES et
al., 2003).
O uso de plantas como agentes despoluidores tem despertado interesse crescente.
Solos que anteriormente eram considerados inaptos ao cultivo de espécies agrícolas, em razão
dos elevados níveis de determinadas substâncias tóxicas, podem tornar-se novamente
agricultáveis, com o uso de fitorremediadores (ASSIS et al., 2010). Uso de plantas halófitas
ou tolerantes à salinidade do solo.

A fitorremediação é uma estratégia eficaz para solos salino-sódicos, com desempenho


comparável ao uso de produtos químicos correctivos. Para o sucesso da fitoextração de sais
no solo, as plantas devem ser tolerante a excesso de sais e de elevada produção de biomassa
nesta condição. Além disso, deve acumular altos níveis de sais na parte aérea, com o
objectivo de tornar possível a remoção de sais com a colheita das plantas (ZHU, 2002;
QADIR et al., 2007). Esta técnica é influenciada pela estrutura do solo, textura e teor de
matéria orgânica, disponibilidade de água e de oxigénio, temperatura, concentração de
nutrientes, radiação solar e pelos processos de degradação (volatilização, evapotranspiração,
fotomodificação, hidrólise, lixiviação e biotransformação do contaminante) (AGUIAR, 2006).

Para o sucesso da fitorremediação de sais em solos salino-sódicos, as plantas devem


apresentar tolerância ao excesso de sais e alta produção de biomassa nessa condição. Além
disso, devem acumular elevados teores de sais na parte aérea, visando possibilitar a remoção
dos sais com a colheita das plantas (LEAL et al., 2008). A sensibilidade à existência de
maiores ou menores teores de sais no solo é uma característica de cada tipo de planta. Umas
toleram concentrações altas como a cevada e o algodão, enquanto que outras, como o feijão e
a cenoura, são bastante sensíveis, mesmo a teores baixos (BATISTA et al., 2002).

O uso de espécies ou cultivares adaptadas às condições de solos salinizados pode ser


uma estratégia promissora para melhorar a produção de alimentos. Nesse sentido, grande
ênfase tem sido dada às pesquisas que tratam de aspectos fitotécnicos, tais como modificação
das condições de cultivo e melhor manejo do ambiente em que as plantas são cultivadas e
aumento da tolerância das culturas à salinidade, através da selecção e melhoramento genético
e de domesticação de espécies selvagens (LACERDA et al., 2003).

QUESTÃO AGRÁRIA E ENSINO DE GEOGRAFIA

Diante de um contexto de intensas transformações que ocorrem no mundo na


contemporaneidade, envolvendo não só a questão agrária, mas também outras questões de
cunho social, económico, ambiental, cultural e político, insere-se a importância do ensino na
educação básica para que os alunos compreendam tais questões, que se tornam bastante
complexas. “Em razão dessa complexidade que é crescente, o cidadão não consegue sozinho
e espontaneamente compreender seu espaço de modo mais articulado e mais crítico; sua
prática diária permite-lhe apenas um conhecimento parcial e frequentemente impreciso do
espaço” (CAVALCANTI, 2011, p. 11). Nesse sentido, evidencia-se a Geografia enquanto
uma área do conhecimento que estuda essas questões, e consequentemente possibilita “[...]
reflexões e análises para compreender os processos de mudanças e seus desdobramentos” da
realidade em que os alunos estão inseridos.

Por essa visão, observa-se o potencial da Geografia enquanto ciência humana, social e
disciplina escolar “[...] que estuda o espaço construído pelo homem, a partir das relações que
estes mantêm entre si e com a natureza, quer dizer, as questões da sociedade, com uma „visão
espacial‟ [...]” (CALLAI, 2001, p. 134). Com isso, ao tratar-se de alunos que vivenciam a
realidade agrária exposta anteriormente, a Geografia, e especificamente o ensino de
Geografia Agrária – que é um dos ramos específicos desta ciência que estuda directamente
todas essas questões – torna-se fundamental durante o processo de ensino em sala de aula
para o entendimento dos alunos sobre a salinidade do solo no cultivo do arroz e o seu espaço
vivido.

Conjugado a isso, surge a importância de trabalhar o lugar como categoria de análise


da Geografia, que permite esse diálogo entre o conhecimento científico e a realidade vivida
dos alunos e proporciona o desenvolvimento de conhecimentos próprios a partir do contacto
com o seu espaço, uma vez que este ensino tratado de maneira tradicional em nada contribui,
pelo contrário, torna-se cada vez mais enfadonho, desinteressante e complexo ao buscar
desenvolver a capacidade dos alunos de entender o mundo, e consequentemente o seu próprio
espaço. Desse modo, o ensino de Geografia torna-se mais difícil quando não se considera a
realidade dos alunos, como afirmam Callai (2005) e Sobrinho (2018).

Assim, o lugar permite a compreensão da realidade vivida na totalidade “como via de


mediação pedagógica para a internalização dos conhecimentos geográficos” (SOBRINHO,
2018, p. 2), e isso tem provocado reflexões e análises por parte de vários pesquisadores, na
utilização dessa categoria no processo de ensinar e aprender. Essas análises afirmam a
eficiência do lugar relacionado com os conteúdos de Geografia no desenvolvimento da
capacidade de abstracção e compreensão dos alunos, atribuindo, a partir desses, significados
e conhecimentos sobre o seu próprio espaço, permitindo posteriormente relacionar e
comparar com outros contextos, em outras escalas de análises, conforme apresenta Sobrinho
(2018, p. 14):

O lugar é uma mescla dos aspectos da espacialidade do aluno e pode ser uma
referência constante na mediação orientada para o ensinar/aprender, que implica na
consideração do aluno como sujeito activo no processo de construção do conhecimento.
Desse modo, a utilização do lugar evidencia-se como um elemento articulador de
experiências e conhecimentos, relacionado à totalidade do espaço, por meio, também, das
redes que viabilizam as inter-relações das escalas local, regional, nacional e global.

Dessa forma, para que ocorra a efetivação do processo de ensino de Geografia na


relação e discussão da questão agrária concretamente da salinidade do solo no cultivo do
arroz com a realidade dos alunos, é necessário que os professores da educação básica
compreendam a essência dos factores e das transformações que ocorrem no espaço
geográfico, partindo do específico para o geral, ou seja, do local para compreender o mundo.
Assim, o que foi exposto anteriormente reforça mais ainda que “[...] o estudo do local onde
vivem se torna fundamental, ao mesmo tempo em que é um importante exercício para
entender o mundo da vida” (CALLAI, 2001, p. 147). Com isso, a região e especificamente a
comunidade, além do lugar, tornam-se escalas primordiais no processo de ensino e
aprendizagem de Geografia, mormente a Geografia Agrária.

Nesta perspectiva, os professores devem proporcionar, a partir do ensino de Geografia,


a contextualização dos principais elementos da realidade concreta dos alunos, no nosso caso
específico da Salinidade do Solo no Cultivo do Arroz, destacando-se entre eles os impactos
económicos, ambientais e sociais, as resistências, a problemática dos agro-tóxicos entre
outros. Ou seja, construir dentro e fora da sala de aula, a partir do lugar, uma Geografia
Escolar compromissada em desvendar junto com os alunos os factores que estão
intrinsecamente ligados ao seu espaço vivido, pois

O fato da geografia nos colocar em contacto directo com o mundo, a partir da nossa
própria experiência quotidiana, nos leva a reflectir sobre essa experiência particular que
transforma a geografia em um saber de significado político [...]. No entanto, este significado
político na essência é a possibilidade do ensino da geografia ser instrumento de
conscientização ou de alienação dependendo da tendência pedagógica empregada pelo
professor. Visto que é na escola que ocorre, parcialmente, a construção da percepção das
pessoas acerca da realidade e, logo, o processo de conscientização, ou não, do aluno. Dessa
forma, na escola podemos auxiliar na formação de cidadãos críticos, comprometidos com o
processo emancipatório ou, pelo contrário, formar pessoas passivas ao discurso ideológico
neoliberal (CAMACHO, 2008, p. 253).

Além disso, torna-se necessário que os professores, enquanto parte desse processo,
desenvolvam aportes teóricos-metodológicos levando em conta sua condição de mediador,
inserindo, a partir destes, competências e habilidades básicas necessárias para a compreensão
do espaço geográfico. Destaca-se entre eles, de acordo com Callai (2005), o exercício da
observação, da descrição, da comparação, da análise e do estabelecimento de relações e
correlações entre os factores estudados em sala de aula com a realidade vivida dos alunos,
percebendo a partir de suas acções que não existem verdades absolutas, e sim momentos de
construção e reconstrução de conhecimentos. Nesse sentido,

É preciso que haja concepções teórico-metodológicas capazes de permitir o


reconhecimento do saber do outro, a capacidade de ler o mundo da vida e reconhecer a sua
dinamicidade, superando o que está posto como verdade absoluta. É preciso trabalhar com a
possibilidade de encontrar formas de compreender o mundo, produzindo um conhecimento
que é legítimo (CALLAI, 2005, p. 231).

Todavia, com base em Callai (2001), Camacho (2008) e Cavalcanti (2011),


acrescenta-se que, além da incorporação de habilidades nas novas formas de ensinar e
aprender Geografia, a construção de alguns conceitos nesse processo, que por sua vez
tornam-se cruciais para a efetivação dessa compreensão em sala de aula sobre a questão
agrária, destacando-se entres eles o próprio conceito de questão agrária, o território, o espaço,
o lugar, o capitalismo, entre outros que possuam ligação com a realidade dos alunos. Além do
mais, associar esses conceitos com a actuação e a influência do sistema capitalista sobre eles
e nas diversas formas de organização e produção das sociedades, especificamente as
comunidades camponesas.

Na aula de geografia pode-se analisar o quanto se restringem as possibilidades de


acesso à terra para morar e para trabalhar. No estudo das relações do homem com a
natureza pode-se perceber que as possibilidades postas pela natureza para seu uso são
condicionadas por questões sociais, políticas e económicas. (CALLAI, 2001, p. 149).
No entanto, a Geografia Escolar encontra-se na maioria das vezes preocupada
somente em repassar o conteúdo abordando a aparência dos factores abrindo mão de sua
essência. Torna-se, então, um ensino descontextualizado e estagnado, totalmente alheio a
realidade dos alunos, como abordam Oliveira e Silva (2009). “Isso ocorre porque sempre
tivemos uma prática educativa com a intenção de mascarar a realidade, sempre então se
escondeu os sujeitos do processo socioespacial, explicando apenas as relações entre os
lugares e os objectos” (CAMACHO, 2008, p. 255), escondendo inclusive a essência do
capitalismo no desenvolvimento da questão agrária.

Ademais, é também importante ressaltar, segundo Sobrinho (2018), o papel da escola


no processo de ensino e aprendizagem dos alunos, pois assim como o ensino de Geografia
deve passar por algumas modificações em relação aos processos teórico-metodológicos, é
possível que esta instituição também precise de algumas mudanças que sejam adequadas para
o desenvolvimento da compreensão do espaço vivido pelos alunos, permitindo como ponto
de partida a utilização do lugar como mediação pedagógica entre o conhecimento científico.
De fato, a escola precisa contribuir para que todas as disciplinas, inclusive a Geografia,
possam construir junto com os alunos conhecimentos acerca de entender a realidade dinâmica
que vivemos.

Dessa maneira, tanto a escola quanto as disciplinas escolares, sobretudo o ensino de


Geografia, devem proporcionar aos alunos o “[...] desenvolvimento da capacidade de
apreensão da realidade do ponto de vista da sua espacialidade” (CAVALCANTI, 2011, p. 24),
possibilitando através de iniciativas dentro do espaço escolar e fora dele por meio de
trabalhos de campo, a produção de conhecimentos e habilidades a partir do contacto directo
com o espaço dos sujeitos envolvidos neste processo. Além do mais, por meio de diversas
abordagens envolvendo não só a questão agrária da região, mas também outras questões
igualmente relevantes, é possível propiciar aos alunos tanto a compreensão da realidade
quanto desenvolver neles uma visão de futuro sobre os factores que o cercam.

Assim, percebendo que são questões da realidade agrária existentes “[...] sobretudo,
na vivência do aluno oriundo das áreas rurais, bem como daqueles que mesmo distante da
área rural está em contacto com seus colegas de sala que vivenciam essa realidade”
(CAMACHO, 2008, p. 259), a Geografia, especificamente o ensino de Geografia Agrária,
não deve jamais centralizar o estudo dos conhecimentos agrários em informações
descontextualizadas da realidade dos alunos e em verdades absolutas que são disseminadas
em sala de aula. É preciso romper com essas práticas na educação básica para que seja
possível construir, através de novos processos teórico-metodológicos, conhecimentos
próprios ao longo de sua formação, numa perspectiva emancipatória, conforme defendido
por Camacho (2008).

Acrescenta-se ainda que a abordagem de conteúdos agrários em sala de aula ainda


ocorre de forma muito limitada, principalmente ao tratar-se de elementos da questão agrária
imprescindíveis para a compreensão, o desenvolvimento e a formação dos alunos sobre a sua
própria realidade. Junte-se a isso os conteúdos programáticos da Geografia Agrária que
discutem superficialmente o campo e os demais elementos como estrutura fundiária, reforma
agrária, agronegócio, conflitos socioterritoriais e ambientais, agricultura camponesa,
movimentos sociais do campo, agro-tóxicos entre outros, demonstrando-se como um ensino
ineficiente para o desenvolvimento de uma visão crítica dos alunos em relação à questão
agrária.

De acordo com Camacho (2008) e Tavares (2016), a questão agrária trabalhada nas
aulas de Geografia provoca, por meio de uma prática pedagógica limitada, o
comprometimento da formação crítica do aluno, conduzindo-o “[...] a uma simples percepção
da existência de diferentes temporalidades no espaço, sem, no entanto, se preocupar em levá-
lo à causa dessas diferenças” (TAVARES, 2016, p. 44). Diante disso, é importante reforçar
que a abordagem dos elementos da questão agrária só pela aparência, não se apresenta como
a melhor maneira de pôr em prática um processo de ensino contextualizado com a realidade
do aluno e não possibilita uma formação capaz de pensar e compreender o mundo em sua
complexidade. É preciso ir mais além, buscar desvendar principalmente a essência da questão
agrária, para que os alunos possam através do ensino de Geografia compreender o que ocorre
ali no seu próprio espaço, e a partir disso construir uma consciência crítica e transformadora.
Nesse sentido, de acordo com Tavares (2016, p. 65):

O campo, actualmente, traz uma série de questões que devem ser tratadas na escola,
a qual não pode, e não consegue, fugir desses acontecimentos. Ao ensino de Geografia cabe
um papel muito significativo na discussão dessas questões em sala de aula. [...] os alunos
têm vontade de aprender sobre ‘novos’ temas que fogem dos tradicionais, da mesmice. Eles
querem e possuem o direito de aprender sobre os movimentos sociais do campo, sobre as
populações tradicionais, entre outros.
Portanto, são muitos os factores que envolvem o desenvolvimento do ensino de
Geografia e sua importância numa perspectiva de reconhecer o lugar como uma categoria de
análise essencial durante a mediação pedagógica, especialmente quando o objectivo é
compreender os processos envoltos no debate acerca da questão agrária. E que isto não
depende unicamente dos professores, e sim da escola como um todo, no incentivo de novas
formas no processo de ensinar e aprender os factores que estão interligados no
desenvolvimento do espaço geográfico dos alunos, ou seja, a compreensão da realidade
contemporânea mediante as escalas de análises, destacando-se como ponto de partida o local.

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