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Salinidade Do Solo No Cultivo de Arroz
Salinidade Do Solo No Cultivo de Arroz
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Quelimane
2024
SÁBADO A. PIADE JÚNIOR
Quelimane
2024
Resumo
The project addresses the challenges faced in rice cultivation due to increasing soil
salinity, with a focus on the specific region of Cerâmica-Quelimane. The analysis covers the
impacts of this salinity on the local agricultural ecosystem, emphasizing the consequences for
farmers and food security. Simultaneously, it explores strategies to mitigate these challenges,
considering innovative agricultural practices and adaptive technologies. In an educational
context, the project proposes geography teaching strategies that integrate local reality, using
Cerâmica-Quelimane as a case study. The aim is to develop a deep understanding of the
geographical factors contributing to soil salinity and its ramifications in rice cultivation. The
pedagogical approach seeks to raise awareness among students about local environmental and
agricultural issues, encouraging critical thinking and sustainable solutions. Cerâmica-
Quelimane is selected as the study area due to its representativeness of the challenges faced
in similar regions. The research includes field surveys, geographic data collection, and active
participation from the local community. The integration of these elements aims to provide a
solid empirical foundation for the project's conclusions, offering practical insights that can be
applied not only in the specific region but also in similar geographical contexts.
Introdução
A salinidade do solo é uma preocupação crescente na agricultura global, afectando
significativamente a produção de culturas essenciais, como o arroz. Este fenómeno desafia
agricultores e pesquisadores a desenvolverem estratégias inovadoras para mitigar seus
impactos adversos. No contexto do ensino de geografia, explorar os desafios e as estratégias
associadas à salinidade do solo no cultivo de arroz oferece uma oportunidade valiosa de
análise crítica e compreensão dos processos geográficos. Neste sentido, a região de
Cerâmica-Quelimane emerge como um campo de estudo relevante, uma vez que enfrenta
desafios específicos relacionados à salinidade do solo e, ao mesmo tempo, busca soluções
adaptativas para sustentar a produção agrícola. No ensino de geografia, abordar o impacto da
salinidade do solo no cultivo de arroz requer uma abordagem interdisciplinar, integrando
conhecimentos de geociências, agronomia e educação ambiental. Os educadores
desempenham um papel crucial ao estimular a consciência dos estudantes sobre os factores
geográficos que contribuem para a salinização do solo, promovendo uma compreensão
holística das interacções entre o meio ambiente, as práticas agrícolas e as comunidades locais.
Específicos:
Compreender como a salinidade do solo afecta o rendimento e a qualidade do arroz na
região;
Identificar práticas agrícolas sustentáveis que possam mitigar os efeitos negativos da
salinidade do solo;
Descrever o impacto socioeconómico da salinidade do solo, destacando as mudanças
nos meios de subsistência e na segurança alimentar;
Propor um ensino de Geografia voltado ao contexto actual;
Desenvolver matérias educacionais inovadores para integrar o tema da salinidade do
solo no currículo do ensino de Geografia.
CAPÍTULO I - PROBLEMATIZAÇÃO
Delimitação do tema
Hipóteses
i. Levando em conta as complexas interacções entre factores ambientais e práticas
agrícolas, é razoável inferir que a implementação de estratégias de manejo
sustentável, como a introdução de sistemas de irrigação eficientes e o cultivo de
variedades geneticamente modificadas resistentes à salinidade, pode actuar de
maneira sinérgica para atenuar os impactos adversos da salinidade do solo no cultivo
de arroz em Cerâmica.
ii. Diante da importância de uma educação geográfica abrangente, pode-se conjecturar
que, ao incorporar o tema da salinidade do solo no currículo de geografia, os alunos
desenvolverão uma compreensão mais profunda das inter-relações entre práticas
agrícolas, meio ambiente e segurança alimentar, fomentando uma abordagem crítica e
sustentável em relação às questões agrícolas.
iii. Tendo em mente a necessidade de abordagens integradas para enfrentar desafios
agrícolas contemporâneos como é o caso da salinidade do solo na região da localidade
de Cerâmica-Quelimane, é possível sugerir que a conscientização dos estudantes
sobre a salinidade do solo, combinada com o desenvolvimento de habilidades
analíticas e de resolução de problemas, pode capacitá-los a desempenhar um papel
activo na promoção de práticas agrícolas sustentáveis e na construção de comunidades
resilientes.
Justificativa
A escolha da localidade de Cerâmica para o estudo do impacto da salinidade do solo
no cultivo de arroz se fundamenta em diversos factores que conferem relevância e urgência a
essa pesquisa. Esta justificativa abordará os aspectos geográficos, socioeconómicos e
ambientais que tornam Cerâmica uma área crucial para investigar os desafios enfrentados
pela agricultura, particularmente no cultivo de arroz. Cerâmica destaca-se por suas
características geográficas distintas, incluindo clima e composição do solo. Esses factores
desempenham um papel crucial na dinâmica da salinidade do solo e, por conseguinte, na
produção de arroz. Ao compreender essas peculiaridades, podemos desenvolver estratégias
adaptativas específicas para enfrentar os desafios locais.
A salinidade do solo não é apenas uma questão agrícola; ela tem implicações directas
na vida quotidiana dos habitantes de Cerâmica. Os desafios socioeconómicos derivados da
diminuição na produção de arroz podem resultar em insegurança alimentar, migração e
pressões sobre os recursos locais. Além disso, há implicações ambientais, pois práticas
inadequadas podem contribuir para a degradação do solo e impactos nos ecossistemas
circundantes. Ao focar em Cerâmica, há uma oportunidade única de identificar e promover
soluções adaptativas específicas para a região. A pesquisa não apenas diagnosticará os
problemas, mas também buscará valorizar o conhecimento local e as práticas sustentáveis já
existentes. Essa abordagem pode resultar em intervenções mais eficazes e culturalmente
apropriadas. Em resumo, a escolha da localidade de Cerâmica como área de estudo é
justificada pela necessidade crítica de compreender os desafios específicos enfrentados por
essa comunidade em relação à salinidade do solo no cultivo de arroz. A pesquisa visa não
apenas contribuir para o conhecimento científico, mas também fornecer insights práticos e
aplicáveis que beneficiem directamente a população local, promovendo a sustentabilidade e a
resiliência da agricultura em Cerâmica.
Missão
Visão
Metodologia
Segundo LAKATOS – MARCONI (2003 p, 83), diz que, " método é o conjunto das
actividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar
os objectivos". Uma abordagem mista é melhor para investigar com eficácia e eficiência o
tema em questão. Os métodos quantitativos na análise de solos e dados de produção de arroz
em Cerâmica-Quelimane, abordagens qualitativas como entrevistas com agricultores locais e
por fim pesquisas bibliográficas que darão insights sobre os desafios e estratégias especificas
da região.
A origem dos problemas de salinidade se confunde com a própria formação dos solos,
que é um produto da intemperização das rochas, envolvendo processos físicos, químicos e
biológicos, mediante a acção de factores como clima, relevo, organismos vivos e o tempo
(RIBEIRO et al., 2003; DIAS, 2004). A salinidade é um problema que atinge cerca de 45
milhões (19,5%) dos 230 milhões de hectares da área irrigada do globo terrestre. O excesso
de sais limita severamente a produção agrícola principalmente nas regiões áridas e semiáridas,
onde cerca de 25% da área irrigada encontra-se salinizada (FAO, 2000). A salinização
induzida pelo homem é mais perceptível em ambientes de elevada evapotranspiração e baixa
precipitação pluviométrica no curso do ano, manifestando-se de forma mais acentuada nessas
áreas em decorrência do manejo inadequado da irrigação, onde o controle da drenagem não é
feito ou feito de forma ineficiente (OLIVEIRA, 1997).
Os solos afectados por sais, também conhecidos por solos halomórficos ou solos
salinos e sódicos, são solos desenvolvidos em condições imperfeitas de drenagem, que se
caracterizam pela presença de sais solúveis, sódio trocável ou ambos, em horizontes ou
camadas próximas à superfície. Quando a concentração de sais se eleva ao ponto de
prejudicar o rendimento económico das culturas, diz-se que tal solo está salinizado
(RIBEIRO, 2010; MAJOR & SALES, 2012).
Daker (1988) destaca que os sais resultantes dos minerais primários, encontrados nos
solos e nas rochas, são transportados pelas águas e armazenados nos solos acumulando-se à
medida que a água é evaporada ou consumida pelas culturas, originando o processo de
salinização. Durante a intemperização dos minerais primários, que compõem a rocha ou o
material de origem do solo, através de processos físicos, químicos e biológicos mediados pela
acção de factores como clima, relevo, organismos vivos e o tempo, os sais solúveis que
constituem as rochas são liberados dando início à formação do solo (RICHARDS, 1954).
Entretanto, a decomposição de minerais primários, raramente provoca acúmulo de sais no
solo em níveis prejudiciais ao desenvolvimento vegetal. Para formação de solos afectados por
sais, estes são geralmente transportados pela água, que é o principal agente transportador
(WANDERLEY, 2009). O excesso de sais solúveis na solução do solo é resultado de uma
combinação de factores:
A salinização natural dos solos pode ocorrer pela intemperização das rochas e pela
deposição de sais provenientes dos oceanos pela acção das chuvas e dos ventos, sendo
denominada de salinização primária (RICHARDS, 1954; NEUMANN, 1997; RIBEIRO et al.,
2009; MUNNS, 2012). A salinização é denominada secundária quando a elevação na
concentração de sais no solo é resultante de alguma actividade antrópica, geralmente
associada ao desmatamento, ao excesso de água de irrigação, ao padrão de qualidade da água
de irrigação abaixo do recomendado, uso de adubos químicos e sistemas de drenagem
ineficientes (WILLIAMS, 1987; NEUMANN, 1997; RIBEIRO et al., 2003; MUNNS, 2012).
O impacto económico da salinização não é fácil de avaliar, por causa da relação não
linear entre salinização e produtividade. Logo, a salinização pode permanecer sem ser
detectada durante anos com níveis moderados de salinidade, enquanto um aumento adicional
pode causar abandono da terra agrícola em poucos anos. Diante disso, uma das ferramentas
mais importantes é o monitoramento da condutividade eléctrica do solo em sistemas de
produção, que permite de forma simples e eficiente adequações que evitem a ocorrência de
processos de salinização do solo e perdas na quantidade e qualidade da produção (QUEIROZ
et al., 2009; MAJOR & SALES, 2012).
As propriedades físicas dos solos, tais como, estrutura do solo, estabilidade dos
agregados, dispersão das partículas, permeabilidade e infiltração, são muito influenciadas
pelos tipos de catiões trocáveis presentes no solo (SHAINBERG & OSTER, 1978). Enquanto
a acumulação de sais solúveis torna o solo floculado, friável e bem permeável, o aumento do
sódio trocável poderá torná-lo adensado, compacto em condições secas, disperso e pegajoso
em condições molhadas (GHEYI et al., 1991; DIAS & BLANCO, 2010).
Nesses solos salinizados encontra-se deficiência de cobre (Cu), ferro (Fe), manganês
(Mn) e zinco (ZN) (TAN, 1993). Quando a concentração de sais no solo é superior ao
tolerado pela planta, seu crescimento é directamente comprometido em virtude basicamente
de dois processos: redução da absorção de água resultante do efeito osmótico ou deficit
hídrico; e elevada concentração de íons no fluxo transpiratório que causa injúrias nas folhas
(MUNNS, 2005). Santos (2006) destaca que a redução da taxa de crescimento das plantas sob
estresse salino ocorre de forma mais acentuada nos tecidos jovens, afectando os mecanismos
de divisão e expansão celular nos pontos de crescimento da planta.
A salinização dos solos apresenta impactos ambientais e económicos, visto que reduz
a produção agrícola, causa geralmente o abandono da área afectada, trazendo
consequentemente prejuízos à economia regional (MELO et al., 2008). A recuperação desses
solos é imprescindível para que eles sejam reincorporados ao sistema produtivo (MELO et al.,
2008; TAVARES FILHO et al., 2012). Solos afectados por sais são caracterizados pela
presença de sais solúveis ou sódio trocável, ou ambos, suficientes para restringir o
crescimento de plantas, necessitando medidas especiais de remediação e práticas de manejo
que dependem de um entendimento dos processos físico-químicos que ocorrem à medida que
a água se move dentro do solo e desloca os sais (LEAL, 2005).
Holanda et al. (2001) destacam que o monitoramento do solo com análises químicas e
físicas é fundamental para detecção precoce da salinização do solo e imprescindível para
elevar a eficiência das práticas de recuperação adoptadas. As técnicas de recuperação de solos
afectados por sais são de fundamental importância, uma vez que possibilitam o retorno deles
ao processo de produção. Entretanto, o processo convencional de recuperação exige alto
investimento, o que nem sempre é possível, principalmente quando se trata de agricultura de
baixos insumos. Dessa forma, a fitorremediação surge como uma alternativa não agressiva ao
ambiente, de baixo custo, para recuperação de solos salinos, podendo propiciar a reabilitação
de tais solos.
Drenagem
Holanda et al. (2001) afirma que é necessário que seja aplicada lâmina de irrigação
adequada, associada a um processo de drenagem, visando eliminar o excesso de sais. É
fundamental o monitoramento das áreas com análises físicas e químicas que permitam
detectar a salinização ainda na sua fase inicial, visto que nesta, a aparência do solo e o
comportamento das culturas é semelhante aos de um solo sem problemas. Para potencializar a
eficiência de um sistema de drenagem, previamente à construção dos drenos, sejam
superficiais ou subterrâneos, deve ser elaborado minucioso diagnóstico sobre a área afectada,
levando-se em consideração principalmente dados sobre tipos de solo, regime pluviométrico,
águas superficiais e subterrâneas, sendo para tanto necessário o levantamento de dados da
área por meio de fotografias aéreas, mapas topográficos e de solos, e dados de clima, cultivos
etc (LIMA et al., 2010).
Uso de Correctivos
O teor excessivo de Na+ no solo causa dispersão das argilas, interferindo nas
propriedades físicas do solo, tais como: porosidade, estrutura e condutividade hidráulica. A
adição de sulfato de cálcio contribui para a melhoria dessas propriedades, graças à
substituição do Na+ trocável por Ca2+ (IIYAS et al., 1997; SANTOS & HERNANDEZ,
1997; QADIR et al., 1998; FREIRE, 2001). Na busca de alternativas para despoluir áreas
contaminadas, tem-se optado por soluções que englobam: eficiência na descontaminação,
simplicidade na execução, tempo demandado pelo processo e menor custo. Nesse contexto,
cresce o interesse pela utilização da biorremediação, caracterizada como uma técnica que tem
como função descontaminar solo e água por meio da utilização de organismos vivos, como
microrganismos e plantas, e dentro da biorremediação insere-se a fitorremediação (PIRES et
al., 2003).
O uso de plantas como agentes despoluidores tem despertado interesse crescente.
Solos que anteriormente eram considerados inaptos ao cultivo de espécies agrícolas, em razão
dos elevados níveis de determinadas substâncias tóxicas, podem tornar-se novamente
agricultáveis, com o uso de fitorremediadores (ASSIS et al., 2010). Uso de plantas halófitas
ou tolerantes à salinidade do solo.
Por essa visão, observa-se o potencial da Geografia enquanto ciência humana, social e
disciplina escolar “[...] que estuda o espaço construído pelo homem, a partir das relações que
estes mantêm entre si e com a natureza, quer dizer, as questões da sociedade, com uma „visão
espacial‟ [...]” (CALLAI, 2001, p. 134). Com isso, ao tratar-se de alunos que vivenciam a
realidade agrária exposta anteriormente, a Geografia, e especificamente o ensino de
Geografia Agrária – que é um dos ramos específicos desta ciência que estuda directamente
todas essas questões – torna-se fundamental durante o processo de ensino em sala de aula
para o entendimento dos alunos sobre a salinidade do solo no cultivo do arroz e o seu espaço
vivido.
O lugar é uma mescla dos aspectos da espacialidade do aluno e pode ser uma
referência constante na mediação orientada para o ensinar/aprender, que implica na
consideração do aluno como sujeito activo no processo de construção do conhecimento.
Desse modo, a utilização do lugar evidencia-se como um elemento articulador de
experiências e conhecimentos, relacionado à totalidade do espaço, por meio, também, das
redes que viabilizam as inter-relações das escalas local, regional, nacional e global.
O fato da geografia nos colocar em contacto directo com o mundo, a partir da nossa
própria experiência quotidiana, nos leva a reflectir sobre essa experiência particular que
transforma a geografia em um saber de significado político [...]. No entanto, este significado
político na essência é a possibilidade do ensino da geografia ser instrumento de
conscientização ou de alienação dependendo da tendência pedagógica empregada pelo
professor. Visto que é na escola que ocorre, parcialmente, a construção da percepção das
pessoas acerca da realidade e, logo, o processo de conscientização, ou não, do aluno. Dessa
forma, na escola podemos auxiliar na formação de cidadãos críticos, comprometidos com o
processo emancipatório ou, pelo contrário, formar pessoas passivas ao discurso ideológico
neoliberal (CAMACHO, 2008, p. 253).
Além disso, torna-se necessário que os professores, enquanto parte desse processo,
desenvolvam aportes teóricos-metodológicos levando em conta sua condição de mediador,
inserindo, a partir destes, competências e habilidades básicas necessárias para a compreensão
do espaço geográfico. Destaca-se entre eles, de acordo com Callai (2005), o exercício da
observação, da descrição, da comparação, da análise e do estabelecimento de relações e
correlações entre os factores estudados em sala de aula com a realidade vivida dos alunos,
percebendo a partir de suas acções que não existem verdades absolutas, e sim momentos de
construção e reconstrução de conhecimentos. Nesse sentido,
Assim, percebendo que são questões da realidade agrária existentes “[...] sobretudo,
na vivência do aluno oriundo das áreas rurais, bem como daqueles que mesmo distante da
área rural está em contacto com seus colegas de sala que vivenciam essa realidade”
(CAMACHO, 2008, p. 259), a Geografia, especificamente o ensino de Geografia Agrária,
não deve jamais centralizar o estudo dos conhecimentos agrários em informações
descontextualizadas da realidade dos alunos e em verdades absolutas que são disseminadas
em sala de aula. É preciso romper com essas práticas na educação básica para que seja
possível construir, através de novos processos teórico-metodológicos, conhecimentos
próprios ao longo de sua formação, numa perspectiva emancipatória, conforme defendido
por Camacho (2008).
De acordo com Camacho (2008) e Tavares (2016), a questão agrária trabalhada nas
aulas de Geografia provoca, por meio de uma prática pedagógica limitada, o
comprometimento da formação crítica do aluno, conduzindo-o “[...] a uma simples percepção
da existência de diferentes temporalidades no espaço, sem, no entanto, se preocupar em levá-
lo à causa dessas diferenças” (TAVARES, 2016, p. 44). Diante disso, é importante reforçar
que a abordagem dos elementos da questão agrária só pela aparência, não se apresenta como
a melhor maneira de pôr em prática um processo de ensino contextualizado com a realidade
do aluno e não possibilita uma formação capaz de pensar e compreender o mundo em sua
complexidade. É preciso ir mais além, buscar desvendar principalmente a essência da questão
agrária, para que os alunos possam através do ensino de Geografia compreender o que ocorre
ali no seu próprio espaço, e a partir disso construir uma consciência crítica e transformadora.
Nesse sentido, de acordo com Tavares (2016, p. 65):
O campo, actualmente, traz uma série de questões que devem ser tratadas na escola,
a qual não pode, e não consegue, fugir desses acontecimentos. Ao ensino de Geografia cabe
um papel muito significativo na discussão dessas questões em sala de aula. [...] os alunos
têm vontade de aprender sobre ‘novos’ temas que fogem dos tradicionais, da mesmice. Eles
querem e possuem o direito de aprender sobre os movimentos sociais do campo, sobre as
populações tradicionais, entre outros.
Portanto, são muitos os factores que envolvem o desenvolvimento do ensino de
Geografia e sua importância numa perspectiva de reconhecer o lugar como uma categoria de
análise essencial durante a mediação pedagógica, especialmente quando o objectivo é
compreender os processos envoltos no debate acerca da questão agrária. E que isto não
depende unicamente dos professores, e sim da escola como um todo, no incentivo de novas
formas no processo de ensinar e aprender os factores que estão interligados no
desenvolvimento do espaço geográfico dos alunos, ou seja, a compreensão da realidade
contemporânea mediante as escalas de análises, destacando-se como ponto de partida o local.