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1 INTRODUÇÃO
Os problemas ambientais estão presentes por todos os lugares do planeta,
manifestam-se de diversas maneiras, dependendo da localização geográfica e da
população que em seu entorno habita. Ademais, cada grupo de pessoas têm uma
maneira diferente de interagir com a natureza, conforme sua cultura, seu modo de
vida e seus interesses econômicos. A extração ambiental está presente desde o
início da evolução humana, pois é da natureza que são retirados os recursos
necessários para a sobrevivência das mais diversas espécies.
Porém, a extração excessiva, decorrida da evolução do homem e
tecnológica, levou à degradação ambiental. A prepotência e a arrogância com que o
ser humano tratava e ainda trata o meio ambiente tornou-o cego ao óbvio, pois os
recursos ambientais são finitos (PEDRINI, 2011). Diante da possibilidade da
extinção da nossa espécie, líderes de diversos países se reúnem, desde a década
de 1970, nas Conferências Ambientais, que tratam de desenvolver projetos que
possam mitigar os desastres causados no ambiente e traçar objetivos rumo ao
desenvolvimento sustentável e uma sociedade mais justa e igualitária (LAGO, 2013).
Assim sendo, a educação ambiental surge como fruto da necessidade de
atuar na transformação da sociedade. No Brasil, a educação ambiental está
instituída desde 1981, na Lei nº. 6938 e em 1999 foi criada a Política Nacional de
Educação Ambiental (PNEA), que tem por objetivo mobilizar a comunidade para
mudanças de hábitos, devendo estar presente em todos os níveis da educação
formal e não-formal (BRASIL,1999). Na percepção de Oliveira e Neiman (2020), a
educação ambiental tem o objetivo conscientizar as pessoas de que as questões
ambientais estão vinculadas nos afazeres diários e que elas podem aderir ações
sustentáveis nas tarefas do dia a dia. Segundo Segura (2001, p. 21), “a escola foi
um dos primeiros espaços a absorver esse processo de “ambientalização” da
sociedade, recebendo a sua cota de responsabilidade para melhorar a qualidade de
vida da população, por meio de informação e conscientização’’.
No ano de 2001, o Ministério do Meio Ambiente desenvolveu a Agenda
Ambiental da Administração Pública, conhecida como A3P, e em 2003 a agenda foi
reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (UNESCO) pela relevância do trabalho e seus resultados positivos,
2
concedendo o prêmio de “O melhor dos Exemplos”, na categoria Meio Ambiente. Na
compreensão de Freitas Filho (2018), a A3P propõe ações para mitigar a grande
quantidade de resíduos gerados pela administração pública, que é uma grande
consumidora de recursos ambientais.
Em 2017, baseada em seis eixos temáticos da A3P, foi desenvolvida pelo
Ministério da Educação (MEC) uma cartilha voltada para o ambiente escolar, cujos
eixos compreendem a importância da economia de recursos naturais, do uso
racional de bens públicos, da gestão de resíduos, das licitações e construções
sustentáveis, da capacitação e sensibilização dos servidores e da qualidade de vida
no ambiente de trabalho (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2017). Na perspectiva
de atingir uma população de cerca de 9 bilhões de pessoas em 2037, segundo
informações da Organização das Nações Unidas (ONU, 2022), resultará em um
desafio muito grande às instituições para garantir segurança alimentar e bem-estar
da população tão elevada.
Diante do exposto, o presente projeto tem como problemática responder a
seguinte questão: Como está a gestão socioambiental nas escolas públicas para a
implantação do Programa A3P? Sendo assim, estabeleceu-se como objetivo geral
realizar um diagnóstico da situação atual das Escolas Públicas de Ensino
Fundamental de Santana do Livramento/RS para a implantação do Programa A3P.
Para isso, delinearam-se os seguintes objetivos específicos: (a) mapear o uso
racional dos recursos naturais e bens públicos; (b) verificar a gestão dos resíduos
sólidos gerados nas instituições; (c) averiguar a sensibilização e capacitação dos
servidores e a qualidade de vida no ambiente de trabalho; e (d) listar as construções,
reformas, ampliações e contratações públicas sustentáveis nas escolas.
O presente trabalho justifica-se pela constante degradação do meio ambiente
e a importância do papel do Estado em prover ações práticas e objetivas para que a
sociedade possa desenvolver uma existência harmoniosa com os recursos naturais.
A educação ambiental nas escolas contribui para formar cidadãos conscientes e
responsáveis com o meio ambiente e implementar o Programa A3P poderá gerar
muitos benefícios, como a redução de recursos financeiros e possibilitar as escolas
a serem modelo de práticas de responsabilidade socioambiental. Ao investigar a
gestão socioambiental das Escolas Públicas de Santana do Livramento/RS e a
implementação do Programa A3P será possível perceber os desafios e
oportunidades envolvidos neste processo.
Tais informações poderão ser úteis para gestores públicos, tomadores de
decisão e pesquisadores interessados em promover a gestão socioambiental em
escolas públicas. Para a sociedade em geral, o presente trabalho poderá contribuir
para aumentar a conscientização sobre a importância da educação ambiental nas
escolas e como programas como o A3P podem ajudar a formar cidadãos mais
conscientes e responsáveis em relação ao meio ambiente. Isso pode ter um impacto
positivo na sociedade, promovendo mudanças sociais e ajudando a preservar o
meio ambiente para as gerações futuras.
A educação ambiental é um processo educativo interdisciplinar que gera
mudanças na qualidade de vida e contribui de forma dinâmica, criativa e lúdica para
a participação dos educandos, levando-os a participarem ativamente na melhoria do
meio ambiente, além de despertar entre os educandos, uma consciência ecológica e
uma união entre os mesmos (MACHADO et al., 2010). Sendo assim, a presença de
um espaço na escola contribui no desenvolvimento de processos educativos
permanentes e continuados, capazes de sensibilizar o indivíduo e a coletividade
para a construção de conhecimentos, valores, habilidades, atitudes e competências
3
voltados para a formação de uma sociedade de direitos, ambientalmente justa e
sustentável (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2012).
O presente trabalho está estruturado em cinco capítulos: o primeiro remete a
esta introdução; o segundo contempla o referencial teórico; o terceiro aborda os
procedimentos metodológicos; o quarto expõe a análise e discussão dos resultados,
e o quinto descreve as considerações finais.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Este capítulo está organizado do seguinte modo: no primeiro item consta a
questão da Gestão Socioambiental e Educação Ambiental e o segundo apresenta a
Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P).
4
ambiental, atendendo às necessidades atuais sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de atender às suas próprias necessidades.
Nesse sentido, cabe ao estado a implementação de políticas públicas,
incluindo estratégias, ações, investimentos e medidas institucionais e jurídicas
fundamentais para a gestão socioambiental pública, pois busca garantir a qualidade
do meio ambiente, a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento
sustentável por meio de instrumentos de gestão ambiental pública, como legislação
e regulamentos socioambientais específicos (BRAGA JUNIOR et al., 2005;
SEIFFERT, 2014). Para Macedo (2017) é muito importante que a sociedade
participe junto aos gestores públicos na elaboração de gestão ambiental,
colaborando para o alcance dos objetivos. Conforme Milaré (1999), o meio ambiente
é quem fornece os recursos necessário a toda humanidade, por isso, vários setores
da sociedade devem fazer parte de seu planejamento e gerenciamento
A gestão ambiental são as ações dos diferentes agentes sociais que
compartilham o mesmo espaço na busca de garantir de forma harmônica a utilização
dos recursos naturais, ambientais, econômicos e socioculturais em regras já pré-
estabelecidas (TRANI, 2006). Segundo Tinoco (2004, p. 109), a “gestão ambiental é
o sistema que inclui atividades de planejamento, responsabilidades, processos e
recursos para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter a
política ambiental”.
De acordo com Floriano (2007), a gestão ambiental envolve a administração
dos recursos ambientais com o objetivo de preservá-los para que as gerações
futuras possam desfrutar de um ambiente que atenda às suas necessidades. Isso é
possível seguindo os critérios e princípios do desenvolvimento sustentável que,
segundo Henkes (2014), deve ser guiada por uma ética ecológica e pelo desejo de
garantir o bem-estar das gerações futuras, tais princípios levam a uma mudança nos
valores e na forma de administrar, exigindo que os gestores estejam preparados
para enfrentar as novas demandas ambientais, sendo necessário envolver a
introdução de novos conceitos nos negócios e a necessidade de uma estrutura de
recursos humanos capaz de lidar com as ações exigidas por esse novo cenário.
Dessa forma, surge a educação ambiental que, na visão de Guimarães
(2004), há duas perspectivas, a conservadora e acrítica, a conservadora não está
preparada para alcançar um nível de transformação, enquanto a perspectiva crítica
tem o objetivo de transformação por meio da informação, não apenas um acumulado
de conhecimento, mas de ação. A educação ambiental surge com o objetivo de
formar uma população mundial consciente e preocupada com o ambiente e com os
problemas que lhe dizem respeito, uma população que tenha os conhecimentos, as
competências, o estado de espírito, as motivações e o sentido de participação e
engajamento que lhe permita trabalhar individualmente e coletivamente para
resolver os problemas atuais e impedir que se repitam (MATTHES; CASTELEINS,
2009).
Na concepção de Brasil (1999), a educação ambiental compreende-se o ato
onde o indivíduo, bem como a sociedade aprende valores sociais, conhecimentos,
habilidades e competências que ajudam na preservação do meio ambiente os quais
consideram-se de suma importância na obtenção de uma melhor qualidade de vida
e sustentabilidade. A escola, de acordo com Gomes e Nakayama (2017), é o espaço
social e o local onde o aluno será sensibilizado para as ações ambientais e fora do
âmbito escolar ele será capaz de dar sequência ao seu processo de socialização.
Á vista disso, a educação ambiental eficaz pode mudar comportamentos e
criar cidadãos mais conscientes de suas ações, transformando-os em
5
multiplicadores de importantes iniciativas para a preservação do meio ambiente em
que vivem (COLOMBO, 2014). Freire (2007) defende a ideia de que, nos dias de
hoje, é importante preparar sociedades mais sustentáveis, sobrepondo os interesses
da comunidade acima dos interesses individuais. Casado (2020) alerta que há uma
necessidade muito grande nas tomadas de decisões diante das constantes notícias
referentes aos problemas ambientais. O próximo tópico aborda a Agenda Ambiental
na Administração Pública (A3P).
6
princípio dos 5 R’s, que inclui o Repensar, Recusar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar
(BILMAYER; BORGES; OLIVEIRA, 2019).
Na visão de Oliveira, Machi e Rego (2018), a administração apropriada dos
resíduos sólidos do ponto de vista ambiental é um fator determinante nas decisões
para o desenvolvimento sustentável na gestão pública. Por isso, é fundamental para
que as políticas ambientais sejam eficazes, é fundamental sensibilizar e
conscientizar as pessoas e organizações para que as políticas ambientais sejam
eficazes (MIRANDA, 2017). Conforme o Ministério do Meio Ambiente (2017), a
gestão dos resíduos sólidos também deve ser uma preocupação da escola, pois ela
só será eficiente se houver uma destinação correta desses resíduos.
Casali (2013) alerta que o desperdício de alimentos em toda a cadeia
alimentar tem impactos ambientais, econômicos, sanitários e sociais e, por isso é
importante entender essas consequências para conscientizar os cidadãos desse
problema, no qual estão diretamente envolvidos. Acerca da sensibilização e
capacitação dos servidores e a qualidade de vida no ambiente de trabalho, a A3P
busca implicar na mudança dos hábitos do quadro de pessoal, da conduta e dos
modos de consumo (SILVA, 2018). A conscientização dos funcionários envolve não
apenas o entendimento de sua responsabilidade em relação ao meio ambiente e à
sociedade, mas também a compreensão da importância e urgência de adotar
práticas que promovam a preservação ambiental e o respeito à vida, começando
pelo local de trabalho (BRASIL, 2017).
Conforme Pegorin, Santos e Martins (2014), um dos principais desafios para
a efetividade da A3P é a sensibilização dos gestores para que eles possam tornar o
trabalho mais eficiente em termos de uso de recursos naturais e implementação de
práticas sustentáveis em suas organizações. Porém, Silva (2018) defende a ideia de
que para que um programa de treinamento ser eficaz e eficiente é necessário que a
gestão esteja atenta às necessidades reais do setor. O planejamento deve ser
integrado e participativo, de forma dinâmica, com mecanismos que permitam uma
avaliação constante e aberta a todos os interessados (OLIVEIRA, 2009).
Portanto, a Lei nº 9.795/99 estabelece que para alcançar os
resultados desejados algumas ações são necessárias, como desenvolver a
consciência cidadã de responsabilidade socioambiental nos funcionários por meio de
campanhas, palestras, minicursos, apresentações e fóruns, além de capacitar os
gestores (TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO, 2018). Em resumo,
este aspecto da A3P visa melhorar a qualidade de vida, saúde e segurança no
trabalho, além de promover a educação contínua dos funcionários públicos em
questões ambientais e sua interação com colegas, clientes e a sociedade em geral
(AMORIM, 2022).
No que tange às construções, reformas, ampliações e contratações públicas
sustentáveis nas escolas, o ordenamento jurídico brasileiro define licitação como um
processo administrativo com o objetivo de realizar compras e contratações da
proposta mais vantajosa para a administração (Lei Federal nº 8.666/1993). No
entanto, a Nova Lei Geral de Licitações e Contratos da Constituição Federal (Lei nº
14.133, de 2021) estabelece que as compras públicas devem priorizar o incentivo à
inovação e desenvolvimento nacional sustentável em todas as fases. Ao licitar e
contratar bens, serviços e obras as organizações devem avaliar os custos efetivos
com base em condições de longo prazo. Isso tem como objetivo trazer benefícios
para a sociedade e economia, além de reduzir os danos ao meio ambiente (U.K.
SUSTAINABLE PROCUREMENT TASK FORCE, 2006).
7
A aplicação de critérios socioambientais nas contratações públicas aumenta a
disponibilidade de produtos sustentáveis para a sociedade e ajuda a preservar o
meio ambiente, reduzindo o uso de matérias-primas e diminuindo o descarte de
resíduos na natureza (TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO, 2018). A
construção sustentável é vista como um sistema que promove alterações
conscientes e sustentáveis em seu entorno, de forma a preservar o meio ambiente e
a qualidade de vida para usuários e gerações futuras (IDHEA, 2015). De acordo com
Trajber e Sato (2010) tornar o ambiente integrador, educador e sustentável requer
sua adequação em termos arquitetônicos o que implica em redesenhar os espaços
para atender a novas finalidades.
Partindo do pressuposto que todas as construções geram impactos desde a
obra até a sua utilização, a arquitetura sustentável visa por projetos que priorizem a
otimização dos recursos naturais, que reduzam os impactos no ambiente causados
pelas construções (GRABASCK, 2019). De acordo com Mählmann et al. (2018), o
impacto ambiental de demolir um edifício para construir um novo está associado à
produção de resíduos da demolição, que muitas vezes não são adequadamente
descartados. Impacto ambiental refere-se a qualquer alteração nas propriedades
físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de
matéria ou energia resultante de atividades humanas (GRABASCK, 2019).
A esse respeito, Miranda (2017) constata que essas atividades podem ter
um impacto direto ou indireto na saúde, segurança e bem-estar da população, nas
atividades sociais e econômicas, no conjunto de seres vivos, nas condições
estéticas e sanitárias do meio ambiente e na qualidade dos recursos ambientais.
Uma arquitetura sustentável não deve buscar apenas a preservação ambiental, mas
também valorizar a sociedade e a viabilidade econômica (GRABASCK, 2019). O
capítulo a seguir trata da metodologia adotada nesta pesquisa.
3 METODOLOGIA
8
quantitativa por reunir informações que foram quantificadas tanto na coleta como na
análise dos dados sobre a gestão socioambiental nas escolas.
Sobre a pesquisa descritiva, Moreira e Callefe (2008) comentam que se trata
de um estudo de status usado em Educação e Ciências Comportamentais que
ajudam a resolver problemas e melhorar práticas através da observação objetiva e
análise. As pesquisas desse tipo têm como objetivo descrever as características de
determinada população, fenômeno ou o estabelecimento das relações entre as
variáveis (GIL, 2010). Trivinõs (1987) destaca que os estudos descritivos exigem
muitas informações sobre o assunto pesquisado e que para ter validade científica, é
preciso delimitar técnicas, métodos, modelos e teorias para coletar e interpretar
dados.
É importante lembrar que nesse tipo de pesquisa, o pesquisador não pode
interferir, seu papel é de apenas descobrir a frequência dos fenômenos, ou como se
estrutura e funciona um sistema, método, processo ou realidade (NUNEZ et al.,
2016). Tal pesquisa é descritiva, pois tanto a coleta dos dados, a análise e a
interpretação ocorreram sem qualquer interferência, ou influência do pesquisado, ou
na manipulação dos dados por parte do pesquisador.
A respeito da pesquisa de campo, Gonsalves (2001) diz que tal pesquisa
busca informações diretamente com a população estudada e que o pesquisador
precisa ir ao local onde o fenômeno ocorre para coletar informações. A pesquisa de
campo coleta dados para responder a problemas relacionados a grupos,
comunidades ou instituições, também é usada para entender aspectos de uma
realidade, principalmente nas Ciências Humanas e Sociais, o questionário e
observação fazem parte dessa técnica (FONTELLES et al., 2009). Dessa forma, a
pesquisa foi caracterizada como uma pesquisa de campo, pois foi necessário o
deslocamento até as instituições de ensino, onde realizou-se a coleta de dados.
No que tange ao questionário como instrumento de coleta, Marconi e Lakatos
(1999) definem questionário como um instrumento de coleta de dados composto por
uma série de perguntas que podem ser respondidas de forma escrita. É a técnica de
investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões
apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de
opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.
(GIL, 2010). O questionário é um dos procedimentos mais utilizados para obter
informações, pois apresenta as mesmas questões para o público investigado,
garante o sigilo e é elaborado com finalidades específicas da pesquisa (BARBOSA,
2008). Oliveira (1997) defende que o questionário deve apresentar as seguintes
características: ser a espinha dorsal de qualquer levantamento, reunir todas as
informações necessárias e possuir uma linguagem adequada.
O instrumento utilizado nesta pesquisa foi o questionário baseado na A3P
disponibilizado na Cartilha Gestão Ambiental nas Escolas Públicas (ANEXO A). O
referido instrumento é composto por 38 (trinta e oito) questões divididas em 6 (seis)
eixos temáticos: o primeiro, “uso racional dos recursos naturais e bens públicos”
conta com 8 (oito) questões; o segundo “gestão adequada dos resíduos sólidos
gerados” possui 5 (cinco) questões; o terceiro, “sensibilização e capacitação dos
servidores” tem apenas 1 (uma) questão; o quarto, “qualidade de vida no ambiente
de trabalho e estudo” possui 13 (treze) questões; o quinto “construções, reformas e
ampliações sustentáveis” é composto por 10 (dez) questões; e o sexto e último eixo
“contratações públicas sustentáveis” possui somente 1 (uma) questão.
Sobre a coleta de dados, o estudo foi realizado nas 26 (vinte e seis) Escolas
Públicas da Rede Municipal da cidade de Santana do Livramento/RS, sendo 17
9
(dezessete) Escolas de Educação Infantil e 9 (nove) de Ensino Fundamental. O
questionário foi aplicado na equipe diretiva das instituições de ensino durante os
meses de julho a setembro de 2023. Ademais, os dados obtidos foram analisados
via estatística descritiva. A estatística descritiva é constituída pelo conjunto de
métodos destinados à organização e descrição dos dados através de indicadores
sintéticos ou sumários (SILVESTRE, 2007). Huot e Figueiredo (2002) definem
estatística descritiva como técnicas e regras que resumem informações sobre uma
amostra ou população sem distorção ou perda de informação.
Os gráficos, quadros, indicadores numéricos são os instrumentos adequados
para análise (REIS, 1996). Nesse sentido, estatística descritiva é utilizada para
descrever, resumir e organizar os aspectos importantes de um conjunto de
características observadas, ou para comparar as características entre dois ou mais
grupos (REIS, 2002). O capítulo seguinte trata da análise e discussão dos
resultados.
Quadro 1 – Eixo temático uso racional dos recursos naturais e bens públicos
Questões relacionadas ao tema Opções de resposta Frequênci Percentua
a l
A escola verifica mensalmente o consumo Sim 1 4,5%
de água? Não 21 95,5%
Total 22 100%
A escola verifica mensalmente o consumo Sim 2 9,1%
de energia? Não 20 90,9%
Total 22 100%
A escola verifica mensalmente o consumo Sim 10 45,5%
de papel? Não 12 54,5%
Total 22 100%
A escola verifica mensalmente o consumo Sim 13 59,1%
de copos descartáveis? Não 9 40,9%
Total 22 100%
A escola adota alguma prática para reduzir Sim 14 63,6%
o consumo de água? Não 8 36,4%
Total 22 100%
A escola adota alguma prática para reduzir Sim 17 77,3%
o consumo de energia? Não 5 22,7%
Total 22 100%
A escola adota alguma prática para reduzir Sim 15 68,2%
o consumo de papel? Não 7 31,8%
Total 22 100%
A escola adota alguma prática para reduzir Sim 14 63,6%
o consumo de copos descartáveis? Não 8 36,4%
Total 22 100%
10
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa (2023).
11
recicláveis? Plástico Não 16 72,7%
Tota 22 100%
l
Sim 6 27,3%
Metal Não 16 72,7%
Tota 22 100%
l
Sim 5 22,7%
Vidro Não 17 77,3%
Tota 22 100%
l
Lâmpadas Sim 17 77,3%
A escola separa resíduos perigosos? fluorescentes, Não 5 22,7%
cartuchos, Tota 22 100%
toners l
A escola descarta bens inservíveis como: Sim 13 59,1%
eletroeletrônicos, fogão, geladeira, Não 9 40,9%
freezer, carteiras escolares, cadeiras, Total 22 100%
mesas, escrivaninhas, panelas, lousas e
outros?
A escola realiza a compostagem de Sim 9 40,9%
resíduos orgânicos? Não 13 59,1%
Total 22 100%
A escola adota práticas para redução do Sim 12 54,5%
material de expediente (lápis, caneta, Não 10 45,5%
papel, pincel atômico, cartucho de Total 22 100%
impressora, outros)?
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa (2023).
12
recolhimento destes bens. Ademais, segundo dados divulgados pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 2021), de todos os resíduos
sólidos gerados no Brasil, 50% são orgânicos, como cascas, ossinhos, alimentos
estragados e gramas cortadas. Em vista disso, Casali (2013) alerta sobre a
necessidade de conhecer as consequências ambientais, econômicas e socias
referentes ao desperdício de alimentos ao longo de toda a sua cadeia alimentar. Na
procura de destinar corretamente esses resíduos orgânicos, 40,9% das escolas
realizam a compostagem, utilizando o material que sai da cozinha da própria horta
da escola, ou doando aos vizinhos que possuem horta. Acerca das práticas para a
redução de materiais de expediente, 54,5% das instituições buscam utilizar de forma
consciente, mantendo um controle sobre o uso coletivo dos materiais, distribuindo-os
apenas aos alunos que não têm.
Outrossim, acerca da sensibilização e capacitação dos servidores com
relação a escola promover a capacitação de alunos, professores, funcionários e pais
dos alunos sobre questões ambientais, apurou-se que 18,2% (4) das instituições não
realizam ações com esta proposta e, em contrapartida, 81,8% (18) das escolas
participam de alguma atividade contemplando questões relacionadas ao meio
ambiente. Nesse sentido, dentre as atividades destaca-se a participação de cursos
oferecidos pela SME ou instituições parceiras, bem como em Feira de Ciências e
palestras, distribuição de panfletos relativos ao tema na comunidade, seminários,
reuniões formais, e ainda, projetos trimestrais com os alunos e projetos integradores,
ressaltando temas como gastos excessivos, uso consciente de água, separação de
resíduos e reciclagem.
É pertinente frisar que, infelizmente, as escolas percebem a falta de
participação dos pais em relação às atividades voltadas aos temas ambientais, o
que pode limitar a eficácia destas ações, pois, conforme defende Furtado (2015), o
ideal seria a família e a escola atuarem de forma colaborativa facilitando a formação
de cidadãos. Na sequência, constata-se no Quadro 3 a questão da qualidade de
vida no ambiente de trabalho e estudo.
13
Total 22 100%
A escola possui uma horta? Sim 8 36,4%
Não 14 63,6%
Total 22 100%
A horta é utilizada nas refeições? Sim 7 31,8%
Não 15 68,2%
Total 22 100%
A escola compra alimentos orgânicos? Sim 22 100%
Não 0 0,0%
Total 22 100%
A escola compra alimentos da agricultura Sim 22 100%
familiar? Não 0 0,0%
Total 22 100%
A escola tem pomar? Sim 5 22,7%
Não 17 77,3%
Total 22 100%
A escola tem criação de animais (bovinos, Sim 0 0,0%
caprinos, suínos, aves e outros)? Não 22 100%
Total 22 100%
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa (2023).
14
No que corresponde a alimentação, 36,4% das instituições possuem uma
horta que é administrada em sua maioria pelos professores e alunos, referente a
isso, 31,8% utilizam os produtos nas refeições, entre eles, alface, couve, couve-flor,
tomate, morango, boldo, alho, tempero verde, salsa, beterraba e rúcula. Na visão de
Cribb (2010), uma horta escolar pode contribuir significativamente com os hábitos
alimentares dos alunos, criar um senso de responsabilidade com o meio ambiente,
desenvolver relações de o trabalho em equipe por se tratar de uma atividade
desenvolvida em grupo. Os alimentos da horta são apenas um complemento na
alimentação dos alunos, visto que a SME é quem realiza a compra dos alimentos
orgânicos e da agricultura familiar e repassa para 100% das escolas.
Nesse sentido, os alimentos advindos da agricultura familiar e orgânicos,
destaca-se: queijos, pães, cucas, legumes, verduras, biscoitos, frutas etc. De acordo
com os dados, 22,7% contam com no mínimo 3 (três) tipos de pomares, como,
amoreira, pitangueira, laranjeira, limoeiro, bergamoteira, figueira, pessegueiro,
pereira, parreira, mamoeiro, ameixeira e coqueiro. A seguir, verifica-se no Quadro 4
as informações sobre as construções, reformas e ampliações sustentáveis.
15
Total 22 100%
Existe praça ou parque próximo da escola? Sim 17 77,3%
Não 5 22,7%
Total 22 100%
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da pesquisa (2023).
16
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
17
(EMEF) quanto as práticas de sustentabilidade dentro do ensino e suas implicações
na formação de uma consciência ambiental, bem como essas práticas são
realizadas e controladas pelos gestores escolares, e ainda, o impacto dessas ações
no ambiente escolar e comunidade. Deste modo, sugere-se como pesquisas futuras
um estudo nos demais municípios do Rio Grande do Sul, contemplando também as
escolas da rede estadual e do ensino médio.
18
REFERÊNCIAS
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24
ANEXO A – DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL DA ESCOLA
Escola: _________________________________________________________________________________
Data: ____/____/2023
1. .....................................................................
( ) Sim .
5. A escola adota alguma prática ( ) Não
para reduzir o consumo de água?
2. .....................................................................
.
Relatar práticas:
3. .....................................................................
.
1. .....................................................................
( ) Sim .
6. A escola adota alguma prática ( ) Não
para reduzir o consumo de
2. .....................................................................
energia?
.
Relatar práticas:
3. .....................................................................
.
1. .....................................................................
( ) Sim .
7. A escola adota alguma prática ( ) Não
para reduzir o consumo de papel?
2. .....................................................................
.
Relatar práticas:
3. .....................................................................
.
1. .....................................................................
8. A escola adota alguma prática ( ) Sim .
para reduzir o consumo de copos
( ) Não
descartáveis?
2. .....................................................................
.
Relatar práticas:
3. .....................................................................
.
27
.
28
( ) Não O que é feito com o composto?
....................................................................
.
22. A escola possui uma horta? ( ) Sim Quem é o responsável pela horta? Alunos,
professores, servidores...............................?
( ) Não
30
.......................................................................
.
29. A escola possui aquecedor ( ) Sim Indicar os usos dados a essa água aquecida.
solar? ( ) Não ...............................................................................................
31. Essa estrutura está em uso? ( ) Sim Indicar necessidades estruturais para o seu uso.
( ) Não ...............................................................................................
33. As salas de aula têm janelas ( ) Sim Quantas por ambiente ou sala?
para ventilar? ( ) Não ...............................................................................................
31
Indicar quantos aparelhos de ar-condicionado são utilizados
35. As salas de aula têm janelas
( ) Sim por sala de aula?
mas não usam, por serem
climatizadas? ( ) Não ...............................................................................................
Qual a situação ideal?
...............................................................................................
38. A escola faz uso de material ( ) Sim Descrever esses materiais e equipamentos, incluindo os
ou equipamento reciclado ou ( ) Não artísticos:
reutilizado? ...............................................................................................
Quantos?
40. Existe praça ou parque
próximo da escola? ( ) Sim ...............................................................................................
( ) Não .
Como a escola utiliza?
...............................................................................................
.
32
..................................................................................
.
Quais produtos?
..................................................................................
Quais serviços?
..................................................................................
41. A escola realiza licitações para ( ) Sim
compra de produtos ou contratação
( ) Não
de obras e serviços sustentáveis?
Quais as obras?
..................................................................................
.
33