Foro consultivo econômico-social do MERCOSUL - O acordo de livre comércio entre o
MERCOSUL e a União Europeia.
Passados mais de vinte anos de negociações entre os blocos MERCOSUL e União
Europeia em prol de um acordo de livre comércio, o início desta nova década demonstra um panorama pouco favorável à sua efetivação. Nessa empreitada, foram elaboradas sete resoluções do Foro Econômico e Consultivo do MERCOSUL, e por muitas vezes sua atuação foi posta em cheque: Foi, de fato, adequada às funções previstas em seu regimento interno? Haveria alguma maneira de potencializar suas ações para sedimentar esta integração, não apenas em âmbito regional, mas sim, internacional? O presente trabalho objetiva pontuar alguns tópicos que permeiam estas dúvidas através de um panorama da relação entre os supracitados blocos econômicos, destacando os aspectos normativos e políticos que se desencadearam nestas duas décadas, para, por fim, tratar dos possíveis impactos que a concretização deste acordo trariam para os países latinoamericanos (RIBEIRO;ROCHA, 2017). O início das negociações se deu em 1995, ano no qual foi assinada uma declaração solene conjunta com a União Europeia sob a pretensão de formar uma “Associação Inter- regional” com o bloco econômico latinoamericano. No mesmo ano, um Acordo Marco Inter- regional de Cooperação Econômica e de Comércio também foi assinado, assim, demarcando instâncias de negociação como investimentos, cooperação econômica, liberalização recíproca e progressiva dos comércios entre ambos, abrangendo até questões afetas à propriedade intelectual. (RIBEIRO;ROCHA, 2017, p.97) Entretanto, apenas a partir do ano 2000 novas medidas foram tomadas com a reunião do Comitê de Negociações birregionais e a consequente criação de grupos técnicos para as diferentes questões a serem abarcadas se o acordo de livre comércio viesse a sair apenas do papel (MERCOSULa, 2020). Dentre diversos pontos-chave ao longo dos anos, é relevante negritar que tal processo de extrema relevância para as relações extrabloco do MERCOSUL foi precedido por diversas recomendações formuladas pelo Foro Consultivo Econômico-Social (MERCOSULb, 2020). Nesta sequência, foram sete modelos recomendatórios submetidos ao Grupo de Mercado Comum, cada um representando um estágio diferente do negócio inter-regional: A primeira, recomendação nº 01/99, é relevante, dado que pugnou pela retomada das negociações, em hold desde 1995 (MERCOSULc, 1999). Na fase de negociações que seguiu entre os anos de 2000 e 2004 houve a apresentação da recomendação nº 02/02 e da 01/04, a primeira, reiterou a necessidade da disposição de políticas tarifárias e econômicas que fossem benéficas aos bens de interesse de ambas as partes, mas, esbarrou em uma oferta europeia que excluía os produtos agropecuários, exatamente os considerados essenciais para bloco latinoamericano (MERCOSULd, 2002; RIBEIRO;ROCHA, 2017, p.97). A segunda, por sua vez,representou uma nova tentativa de ajustar alguns erros cometidos em ambas as propostas anteriores, mas o desequilíbrio nos ganhos superiores em quase 40% da União Europeia sobre os do MERCOSUL, ainda no setor da agroindústria, foi o principal entrave (MERCOSULe, 2002; RIBEIRO;ROCHA, 2017). Conseguinte, a recomendação nº02/08 também trouxe como principal caráter pugnar pela volta das discussões sobre o acordo que há tanto tempo estavam estagnadas. A crise de 2008 teve um grande papel na interrupção, que só cessou por meados de 2010 na cúpula MERCOSUL-UE em Madri, com ambos blocos acordando em abranger pelo menos 90% do comércio birregional a partir da recomendação nº02/10 (MERCOSULf, 2008; MERCOSULg, 2010). Os anos seguintes foram de crescente expectativa, pois o prognóstico era de cada vez mais alinhamento entre 2013 e 2015, findando com a proposição da recomendação nº01/2015 (MERCOSULh, 2015). Contudo, muito dos cenários político, econômico e sanitário, este, graças à pandemia do COVID-19, mudaram deste ponto de referência até a mais recente recomendação em meados de 2019, a saber nº 03/2019 (MERCOSULi, 2019). O prospecto latinoamericano com a concretização do acordo seria de se beneficiar a partir do fomento à competitividade e produtividade, atraindo novos investimentos, à exemplo do Brasil, que em estimativas de 2017 aumentaria em 28U$bilhões as exportações do país, apresentando o crescimento espontâneo de 1% do PIB apenas com este feito. O grande impasse residia no mercado de carnes e etanol, peças chave para obtenção desse percentual lucrativo. O acordo foi assinado em 4 de Julho de 2019, entretanto, ainda há um longo processo a ser desencadeado para que possa entrar em vigor e, nesse sentido, os impactos econômicos, políticos e sanitários que os países latinoamericanos vem sofrendo com a onda do COVID-19, além de impasses diplomáticos, como no caso do Brasil e do retrocesso na pauta ambiental, podem minar tantos anos de trabalho árduo em busca dos denominadores comuns birregionais (GOVERNO DO BRASIL, 2019; ÉPOCA, 2020). Ademais, as críticas pertinentes às funcionalidades do próprio Foro Consultivo Econômico-Social do MERCOSUL vêm à tona para questionar sua proatividade na produção e empenho para concretização das recomendações. Por ser o único órgão de representação dos setores econômico e social integrado de forma igualitária pelos representantes de cada país, deveria exercer suas complexas funções que vão além do papel consultivo, transpondo o acompanhamento e análise análise de impacto social e econômico de políticas referentes ao processo de integração, permitindo, inclusive, a proposição de normas e políticas econômicas e sociais em matéria de integração. Entretanto, o que pode ser observado é a atuação do Foro apenas quando provocado pelo Grupo de Mercado Comum, confeccionando apenas material consultivo sem exercer as demais funções que possui (RIBEIRO;ROCHA, 2017, p.101-102). O Foro deve, então, assumir uma postura ativa para sanar suas problemáticas estruturais de decisão, além de contornar possíveis desafios posteriores ao acordo como a burocracia por trás da ratificação do acordo caso assinado, a necessidade pelo estabelecimento de um mercado comum, pelo fortalecimento das instituições estatais do bloco, a possibilidade dos benefícios do acordo não serem suficientes para dirimir a competitividade dos concorrentes latinoamericanos no mercado europeu, dentre outras considerações. O Foro possui um papel crucial no deslinde do acordo entre a UE e o MERCOSUL, ultrapassando a barreira da mera consultividade para fornecer, de acordo com sua função, os dados necessários para lavrar o acordo, à exemplo da Recomendação 01/2016 que recomendou uma profunda reforma institucional, visando uma maior transparência, eficácia e participação da sociedade civil no processo de integração (RIBEIRO;ROCHA, 2017, p.106)
REFERÊNCIAS
VALOR, G. Acordo UE-Mercosul será dinamizador econômico pós-covid, diz embaixador
no Brasil. 2021. Disponível em: https://valor.globo.com/live/noticia/2020/12/01/acordo-ue- mercosul-sera-dinamizador-economico-pos-covid-diz-embaixador-no-brasil.ghtml. Acesso em 07 de Mar 2021. GOVERNO DO BRASIL. ACORDO DE ASSOCIAÇÃO MERCOSUL-UNIÃO EUROPEIA. 2019. Disponível em: https://www.gov.br/mre/pt-br/arquivos/documentos/politica-externa-comercial-e- economica/2019_10_24__Resumo_Acordo_Mercosul_UE_CGNCE.pdf. Acesso em 07 de Mar 2021. MERCOSULi. Foro consultivo econômico-social - Recomendação nº01/1.2019..Disponível em:https://fcesmercosur.com.ar/pdf/anexo4_recomendacion_MERCOSUR- UE(VIII).pdf.Acesso em: 07 de Mar 2021. MERCOSULh. Foro consultivo econômico-social - Recomendação nº02/15.2015..Disponível em:.Acesso em: 07 de Mar 2021. MERCOSULf .Foro consultivo econômico-social - Recomendação nº 02/08.2008.Disponível em:https://fcesmercosur.com.ar/pdf/RECOMENDACION2-08.pdf. Acesso em: 07 de Mar 2021. MERCOSULg .Foro consultivo econômico-social - Recomendação nº02/10. 2010.Disponível em:https://fcesmercosur.com.ar/pdf/RECOMENDACION2-10.pdf. Acesso em: 07 de Mar 2021. MERCOSULe. Foro consultivo econômico-social - Recomendação nº 01/04. 2004.Disponível em:https://fcesmercosur.com.ar/pdf/RECOMENDACION1-04.pdf. Acesso em: 07 de Mar 2021. MERCOSULd. Foro consultivo econômico-social - Recomendação nº 02/02.2002. Disponível em:https://fcesmercosur.com.ar/pdf/RECOMENDACION2-02.pdf. Acesso em: 07 de Mar 2021. MERCOSULc. Foro consultivo econômico-social - Recomendação nº 01/99.1999. Disponível em: https://fcesmercosur.com.ar/pdf/RECOMENDACION1-99.pdf. Acesso em 07 de Mar 2021. MERCOSULa. Negociações entre MERCOSUL e União Europeia. 2020. Disponível em:http://www.mercosul.gov.br/normativa/2-uncategorised/168-negociacoes-extrarregionais Acesso em 07 de Mar 2021. MERCOSULb. Foro consultivo econômico-social - Recomendações. 2020. Disponível em: https://fcesmercosur.com.ar/?seccion=2&idioma=2&pag=1. Acesso em 07 de Mar 2021. RIBEIRO, M.C.P; ROCHA, L.B.A. A importância do Foro Consultivo Econômico e Social para o Acordo de livre comércio entre o MERCOSUL e a União Europeia. Ius Gentium. Curitiba, vol. 8, n. 2, p. 93-109, jul./dez. 2017. Disponível em:file:///C:/Users/Acer/Downloads/importancia-do-foro-consultivo-economico-e-social- para-o-acordo-de-livre-comercio.pdf . Acesso em: 07 Mar 2021.