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ATINGIDOS PELO PROJETO MINAS-RIO

ATINGIDOS
Comunidades a jusante da barragem de rejeitos
Comunidades a
PELO PROJETO jusante da
barragem de
MINAS-RIO rejeitos

boletim
informativo
CARTOGRAFIA DA
CARTOGRAFIA SOCIAL
1
Nova Cartografia Social da Amazônia boletim
Cartografia Da Cartografia Social:
Uma Síntese Das Experiências
informativo
Outubro 2018 • Número 11

Participantes da Oficina de Cartografia Social. Janeiro de 2017. Acervo PNCSA.

Emmanuel de Almeida Farias Júnior- PNCSA


boletim Mônica Cortêz Pinto - PNCSA
informativo Fotografia (Oficina)
Outubro 2018 • Número11 Rafael Martins Lopo - GESTA
Emmanuel de Almeida Farias Júnior - PNCSA
CARTOGRAFIA DA CARTOGRAFIA SOCIAL: uma síntese das
experiências Transcrição
Coordenação Geral Carlos Henrique Mesquita do Prado
Higor de Jesus Lacerda
Alfredo Wagner Berno de Almeida Marcos Felipe Machado Thomazatti de Oliveira
Cynthia de Carvalho Martins Matheus Neres Moreira
Rosa Acevedo Marin
Organização do Texto
ATINGIDOS PELO PROJETO MINAS-RIO: Ana Flávia Moreira Santos
Higor de Jesus Lacerda
Comunidades à jusante da barragem de rejeitos Marcos Felipe Machado Thomazatti de Oliveira
Realização: Matheus Neres Moreira
REAJA - Rede de Articulação e Justiça Ambiental dos Atingindos pelo Projeto
Minas-Rio - reajacmd@gmail.com Equipe de coleta de Pontos com receptor GPS
GESTA/UFMG - Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (Universidade Federal Ana Flávia Maura
de Minas Gerais) Elizete Sara
Fernando Terezinha
Participantes da Oficina Mateus Vanilde
Maura • Lucinéia • Solange • Adilson • D. Elenita • Seu João • Maria Aparecida • Matheus Neres Pedrelina
Elias • Zé Geraldo • Nilza Maria • Anielly • Creuza • Celeste • Valderes • Darcília
• Helvécio • Terezinha • Sr. Geraldo • Pedrelina • Lúcio • Patrícia • Vitor • Zé Elaboração dos Mapas
Lúcio • Mateus • Alessandra • Artur • Maria Inês • Gracilene • Zé Maria • Iuri Mônica Cortêz Pinto
Tacimara • D. Lurdes • D. Terezinha • Giovana Francieli • Gleicimara
Graciely • Vitor • Silmara • Caique • Elizete • Fernando • Raí • Guilherme • Projeto Gráfico e Editoração
Pedro • Paloma • Claudiane • Sara • Idiane • Indianara Philipe Teixeira

Equipe de Pesquisa - GESTA Ficha Catalográfica


Ana Flávia Moreira Santos - Coordenação
Higor de Jesus Lacerda B688
Boletim Cartografia da Cartografia Social: uma síntese das experiências /
Lívia Ferraz da Costa Duarte Atingidos pelos projetos Minas – Rio: comunidades a jusante da barragem de
Luciana Costa Leite rejeitos. – N. 11 (out. 2018) / Coordenação da pesquisa: Ana Flávia Moreira
Marcos Felipe Machado Thomazatti de Oliveira Santos. – Manaus: UEA Edições, 2018.
Matheus Neres Moreira
Irregular.
Yasmin Rodrigues Antonietti
Equipe de realização da Oficina
Ana Flávia Moreira Santos Coordenação do PNCSA: Alfredo Wagner Berno de Almeida
Clarissa Godinho Prates - GESTA (NCSA/CESTU/UEA, CNPq) e Rosa Elizabeth Acevedo Marin (UFPA-
Lívia Ferraz da Costa Duarte NAEA/PNCSA)
Marcos Cristiano Zucarelli - GESTA ISSN: 2525-9598
Max Vasconcelos Magalhães - GESTA
Rafael Martins Lopo - GESTA 1. Conflitos sociais. 2. Atingidos. 3. Territorialidade I. Título.
Yasmin Rodrigues Antonietti CDU: 528.9.912
Elaborada por: Rosiane Pereira Lima - CRB 963

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ATINGIDOS PELO PROJETO MINAS-RIO
Comunidades a jusante da barragem de rejeitos

ATINGIDOS PELO PROJETO MINAS-RIO: Comunidades a jusante da


barragem de rejeitos

A resistência dos atingidos Eu quero deixar bem claro: eu luto é desde 2008!
Enquanto Deus me der essas pernas, essa boca
pelo projeto Minas-Rio pra falar, o braço pra movimentar, a ajuda dos
amigos e de todos, eu tô na luta! [...] Mesmo
Meu nome é Elias, entrei na luta aí há pouco que eu ganhar os meus direitos, eu luto pros
tempo, tenho 38 anos. Eu acho que esse mapa outros ainda, nem só pra mim, desde 2008, eu
é muito importante. [...] É o Step 3, que são 12 não desisto, mesmo que eu tô doente, eu tô aí!
É um dia alegre, o outro dia triste, mas a gente
quilômetros de cava que vai tirar a água de mais
tem que estar, né? Porque se ocê não expor o
de 100 famílias, hoje a comunidade não tem a
transparência do que tá acontecendo, a empresa
tenta enganar o tempo todo. [...] Mas é isso aí,
a luta é muito grande e acho muito importante
esse mapa e a gente realmente ser conhecido,
porque hoje a minha maior tristeza na luta, é ver
que a gente é muito pouco reconhecido e muito
pouco ouvido pelas nossas autoridades.
Elias, 38 anos, Comunidade Cabeceira do Turco

Manifestação de comunidades atingidas pelo Projeto Minas-Rio


na MG-010. Setembro de 2014. Acervo REAJA
seu sofrimento, [é] o que a Anglo quer, que a
gente põe ele também debaixo da coberta! [...] A
gente tem que por ele por cima, tem que navegar
pra ele ver o sofrimento de cada um, porque a
gente não pode parar, gente! Né? Deus dá força,
dá coragem! [...] É a gente tem que acreditar e
lutar, nem só pelo meu direito, mas eu tenho que
lutar pelo direito de todos que sofre, né? [...] Eu
Atingidos protestam na Assembleia Legislativa de Minas Gerais.
Maio de 2017. Acervo GESTA fico pensando na comunidade de Água Quente,
Dom Joaquim, gente! Jassém, Dom Joaquim. Tanta
A gente tem esse mesmo sentimento, de chegar família que existe no sofrimento...! Por que que
todo mundo, todo mundo com uma informação eu vou parar? Não! Enquanto, se meu direito
diferente, a cabeça da gente fica cheia, a gente melhorar, eu tenho que correr pra ajudar o outro
fica confuso, sem saber o que fazer. Então foi com amigo. [...] A gente tem que saudar direitos como
esses encontros que a gente foi amadurecendo, direitos!
aprendendo. Porque a gente não sabe muita
coisa, mas um pouquinho que a gente conseguiu Darcília, 55 anos, Comunidade Passa Sete
digerir, deu pra saber que caminho seguir, que era
certo, o que não era. Então, portanto, ficou mais
fácil pra gente separar: “opa! isso aqui [...] é da
empresa!” [...] Então foi a partir desses encontros
é que a gente foi aprendendo, aprendendo coisa
nova, que chega informação diferente pra gente,
que a gente vai tomando conta…
Terezinha, 27 anos, Comunidade do Jassém

Oficina da REAJA. Maio de 2016. Acervo GESTA

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Nova Cartografia Social da Amazônia boletim
Cartografia Da Cartografia Social:
Uma Síntese Das Experiências
informativo
Outubro 2018 • Número 11

Barragem de rejeitos na Água Santa/Mumbuca


Então gente, boa tarde. A gente vai tentar representar aqui um pouco de onde tudo começou, que
é Água Santa. O início de Água Santa é originado particularmente dos Pimentas. Os Pimentas é uma
junção de Pimentas e Simões. Simões era descendente de rico, senhor de escravo, e Pimenta, [...] de
escravo. Aí, eles gostaram aí um do outro, aí teve um conflito e o pai tocou o filho de casa. O filho falou
assim: “tudo bem, você não me quer mais” e pegou um pedaço de terra chamado tal de Água Santa e
Mumbuca. Aí formou tipo uma espécie de quilombo e lá eles ia brigando. [...] E então, depois que foi
intercalando mais pessoas, foi formando a comunidade. Que é no caso o Buritis, onde morava a família
do meu esposo. Lá era uma comunidade muito valorizada pelas montanhas, água que tinha muita. Tinha
uma escola lá que era no meio de um cerrado, mas que era um lugar muito gostoso, chamava Escola
Municipal de Água Santa. Tinha uma igreja, comunidade religiosa, tinha uma gruta chamada Gruta do
Fogão, que essa aí eu acho que eles reconheceram, e tinha várias pinturas rupestres. Tinha uma poça
de água lá, ela era uma água verde, tinha pessoas que tinha problema, ia lá, se banhava e melhorava,
mas hoje já não existe mais. Parece que eles nem valorizaram. Então tinha também uma nascente muito
grande aqui, me parece que ela era dentro dessa área da Mumbuca, e começava que formava a cachoeira
do Passa Sete, ia muita gente pra nadar, passar final de semana lá na casa dos parentes, então ia nessa
cachoeira. [...] Tinha aqui uma criação de abelha que era da minha cunhada, moinho de água que fazia
o moinho de fubá, e dentre tudo aí a gente destaca mais a natureza, a água e a comunidade unida. E
descendo, então começando aqui, desde o Buritis já começou a barragem, o empreendimento aqui, já é
a entrada. Tem a barragem, um monte de coisa de poluição, eles não consideraram a comunidade que
tava pra baixo. E foi agravando muito a situação de quem morava pra baixo...
Gracilene, 32 anos, Comunidade Passa Sete

Croqui Comunidade Água Santa. Janeiro de 2017.

Eles fala que a água tá acabando é por causa de chuva. Não, é por causa de chuva não, porque eles
prenderam a cabeceira da água, eu conheço toda a cabeceira daquela água que tá presa... Eu comecei a
trabalhar ali eu tava com sete anos, com meus pais. Aí então, depois da água tá presa, é claro ela seca,
se ela tivesse derramando, pelo menos descia, né? Saía nascente de água pra todo lado, mas ela tá
presa [...] Lá nessa barragem, é água ungida, água de curar. [...] É água benta [...]. Pra curar ferida, toma
pra curar doença [...]. E hoje ela tá presa lá, [...] lá nessa represa lá, que eles fizeram. Toda a nascente
da água ia pra casa da minha filha, começava no Passa Sete e ia até lá na porta, lá perto lá. [...] A gente
sentava lá pra lavar os pés, pra descansar…
Celeste, 64 anos, Comunidade Passa Sete

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ATINGIDOS PELO PROJETO MINAS-RIO
Comunidades a jusante da barragem de rejeitos
Cartografia Da Cartografia Social:
Uma Síntese Das Experiências
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Outubro 2018 • Número 11

Essa Água Santa, várias pessoas vinham, quem não vai estourar assim, por causa que ela tem ser um instrumento importante pra tá vindo nesse e abastecer o fogão, e hoje nem isso a gente pode
é da origem daqui, que sabia da Água Santa, às filtro, tem tudo”. Mas eu falo pra eles: “Ocês não momento, e vai ser importante pra comunidade mais, é uma coisa que acabou.
vezes tinha mudado pra Sete Lagoas, [...] muitas é maior do que Deus, não! Quem é maior é Deus, do Jassém.
pessoas voltavam pra pegar um garrafão ou dois, o homem aqui na terra pode fazer com um ano, Maura, 16 anos, Comunidade do Jassém
pra ir lá e tomar um banho, enfim [...] porque às três, e Deus desfaz com um segundo.” Eles fica, Lúcio, 51 anos, Fazenda Passa Sete/Quatis,
vez tava com problema na perna, de ferida, ou tem vez que eles fica até escancarado... Comunidade Água Quente
alguma coisa na pele, alguma coisa assim, então E hoje mudou tudo, as coisa que tinha antigamente,
era um local que todo mundo ia também, todo Darcília, 55 anos, Comunidade Passa Sete alguns anos atrás... Saía uma mulher e ia daqui
mundo que conhecia e sabia, ia lá buscar uma É, mas teve um bobo lá que falou que nem Deus Liberdade, território, acesso a pra Água Quente sozinha, ia embora e não tinha
água. Hoje é a barragem de rejeito. nada…! Hoje, manda uma mulher ir pelo rio
desfaz o que eles fez... Teve, teve coragem de recursos e à água acima?! Ela tem medo de ir, qualquer um tem
Patrícia, 44 anos, Fazenda Passa Sete/Quatis, falar isso!
medo de andar, hoje, certas horas.
Comunidade Água Quente Helvécio, 58 anos, Comunidade Passa Sete
É frisar também a liberdade de ir e vir, que todo Zé Lúcio, 48 anos, Comunidade Água Quente
mundo tinha...
É, a gente reclama da água, mas reclamar também Acabou tudo!
da barragem... Essa água vai levar mais gente
embora! Vai levar o pessoal do Passa Sete, Água É que tinha os colchetes, tinha porteira, tinha a
Quente, levar todo mundo embora. A gente tem liberdade de você sair de uma propriedade pra
que reclamar sobre a falta da água e o perigo da outra.
barragem, por que pode acontecer igual aconteceu
Lúcio, 51 anos, Fazenda Passa Sete/Quatis,
em Mariana.
Comunidade Água Quente, em diálogo com Maria
Celeste, 64 anos, Comunidade Passa Sete Aparecida, 48 anos, comunidade Água Quente

Manifestação dos atingidos antes de audiência pública. Julho de Restrição do acesso às propriedades. Outubro de 2014. Acervo
2017. Acervo GESTA Comunidade

A gente podia ir pro ponto de ônibus sozinha,


eu lembro que eu tinha assim treze ou quatorze
Então, a gente tem vez que a gente nem dorme, anos, eu ia da roça até o ponto de ônibus sozinha,
igual esses tempo que choveu, a chuva é boa de noite, de dia, de manhã, qualquer hora a
demais pra gente, porque sem ela não tem gente ia pro ponto, eu andava dois quilômetros
como viver, mas a preocupação maior da gente... e setecentos a pé e ia pegar o ônibus, sem medo
porque a gente só ouve que ela tá trincada, só nenhum. E se você escutasse um barulho, mas cê
ouve que ela tá trincada. Essa semana mesmo, sabia que era alguém conhecido, que ia, cê dava
ouvimos falar que ela tá com trinco com mais de graças a Deus que ia chegar e ficar junto com
Segurança da Anglo sobre ruínas de moradia de antepassados de
meio metro, já vai estourar. Imagina! comunitários. Maio de 2009. Acervo GESTA. você também… Hoje em dia, se você escuta um
barulho, você já fica com medo. Então é assim,
Darcília, 55 anos, Comunidade Passa Sete E a gente, que morava na roça, né, que mora é uma inversão. [...] Hoje em dia, nem quando
Meu nome é Lúcio Guerra, sou proprietário aqui na roça, tem o costume de..., que a gente cê tá na porta da casa [...] quando tô na porta
na comunidade. Pessoal aqui já me conhece e se gosta de comida no fogão a lenha, antes tinha da casa de mamãe, a gente já não se sente mais
a gente pudesse prever o futuro, a gente teria liberdade pra ir no mato e tirar o tanto de lenha segura, que a gente sabe que as pessoas que a
Croqui Comunidade do Jassém. Janeiro de 2017
já contatado o pessoal lá do norte inclusive em que quisesse. Hoje em dia não pode entrar mais, gente conhece tão recolhidas dentro de casa e
2005, e teria feito esse mapa naquela época. porque se cê entra, tá entrando em território dos as pessoas que a gente não conhece tão aí. [...]
E a preocupação que a gente tem né, mora abaixo Talvez então essas comunidades que tão abaixo outros, é ilegal, não pode... Às vez é uma coisa Em todo momento a gente se sente presa, presa,
do empreendimento, sabendo a hora que ela aqui da barragem, não teriam ficado invisíveis que eles nem precisa, uma coisa que a gente presa da empresa, presa das pessoas que vieram
vai estourar. Pode acontecer igual o caso que igual até hoje estão, e inclusive, constou, no acostumou a fazer, entra ali e pega lenha, que com a empresa, presa...
aconteceu em Bento Rodrigues! Eles não olha EIA-RIMA, que não havia moradores a jusante da a comida na lenha é uma comida muito gostosa,
não, acha que a gente tá tranquilo, né? Chega que todo mundo sabe que é, e o gás, tudo tem Patrícia, 44 anos, Fazenda Passa Sete/Quatis,
barragem de rejeitos, né? Então a gente sabe da Comunidade Água Quente
na casa da gente, fala: “Não, cês não precisa importância, a luta é grande, igual tem sido, e vai que ser à base do dinheiro, e não, a lenha a gente
preocupar, porque foi muito bem feita, isto, ela pode ir no mato ali, com a família, pegar a lenha

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COMUNIDADES PASSA SETE, ÁGUA QUENTE E SÃO JOSÉ DO JASSÉM À JUSANTE DA ÁREA DA MINERADORA ANGLO AMERICAN (MG)
43°25'30"O 43°24'0"O 43°22'30"O 43°21'0"O 43°19'30"O

725 725 5
72 700 Legenda

600

700
0
75
0
5

70
67 700

5
750

72
Comunidade Passa Sete

750
725

0
72
70
72 875

70
675
77

750

700

5
5

775
0
5

01

82
900
725 725 Comunidade Água Quente

5
750

675
G

85
M
75

0
5 Comunidade Passa Sete

700

5
725
72

650
0

67
800

700
5 Comunidade Jassém
18°51'0"S

18°51'0"S
5 72

675
5

600
72 62

60
70
72
750

0
725

675
5

0
725
725 Reserva Anglo American

70
72

725
650
5
67

5
0

625
80

675
72 675

650
Área da barragem*

700 75
5
77
725

600
72

6
600 5

600
5

0
625

700
60
725
Área da mineradora

675
5

72
67

62
0
70

5
5

70 0
0

625
65
700

750
Hidrografia
825

675

675
650 650
700 5

675
57

67
65

Rodovia MG 010
700
600

625
675

5
675
0

650
0 57
70 72

650
70
0 625 5 Comunidade Jassém 5
Limites municipais

700
5
62 0
700

Barragem de rejeitos 60

5
62
Anglo-American 625

5
0

67
60
725

600
65
700

675 Elevação (m)

725
Comunidade Água Quente

0
18°52'30"S

18°52'30"S
725

700

700
850

675
0
0 0
65

70
1025 - 1120
75

65

600
0
725

825 65

5
675
675

72
650 0 650

70
72
5 930 - 1025

0
625

700
625 725
725

0
835 - 930

70
700
72

0
5

70 675 675

725

700

5
725
740 - 835

72
0
725

70
750

750
5
725

67
725

72 700
650

0
645 - 740
700

75
0 700

5
70
95

700
700
72

0
700
70 650
5

700
900

0 550 - 645
925

67 625

600
5

700
Mineradora Anglo-American 725
675 675

5
Curvas de nível (m)

62
725

675
0

700

0
650
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e cotas altimétricas

700

60
70

625
0

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600
18°54'0"S

18°54'0"S
725
85

0
700

675

¯
5
725

72 67

700
0
5
10

70

67
725

5
0

825

5
700
70
700
MG

675

67
0
0
75 72
5
95 700 Escala: 1:45.000

650
0

70
72 0 400 800 1.600 2.400
0 700

700
5

0
0 70

700
75 675 m

675
725 0
62 70
0

725
725
800
875

75

SCG - Datum SIRGAS 2000


950

5
75

750

0
700 700
0

70
725

650
625
925

70

72

650
Fonte: Dados SRTM (2000);
67
675

95 5
0

70
625
0 775 675 0 IBGE, 2015; Croquis da Oficna

725
de Cartografia, 2017; Pontos do

0
70
650

70
25

70

0
10

725

625

700
650 0 receptor GPS de navegação
10

700
00

97 70 67
90

5 0 675 700 5
0

Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia


(PNCSA)
43°25'30"O 43°24'0"O 43°22'30"O 43°21'0"O 43°19'30"O Grupo de Estudos e Temáticas Ambientais
MINERADORA ANGLO AMERICAN
Localização no Brasil Elaboração: MSc. Mônica Cortêz Pinto (PNCSA) (Gesta - UFMG)
Alvorada de Minas Agosto de 2018
Comunidade
* Para ler o mapa: Os dados cartográficos concernentes à área da barragem de rejeito e à área da mineradora foram
Passa Sete
Barragem de rejeitos elaboradas com base na imagem de satélite disponibilizada pela CNES/Airbus, 2016. O cálculo da área da barragem
Comunidade
contabilizou um total de 264,03 ha correspondente à porção alagada visível na referida imagem. A elaboração do
Jassém
Comunidade MDE permitiu uma leitura que revelou não só a topografia da área, mas as relações entre as cotas da barragem de
Água Quente rejeito e a localização das Comunidades. Constatou-se que a sede da mineradora encontra-se à montante da
barragem de rejeitos, em cotas altimétricas que variam entre 950 m e 725 m. As Comunidades, no entanto, estão
MG Área de mineradora situadas à jusante da área da barragem com cotas que variam de 725 m a 600 m, expostas a um maior risco
Anglo American mediante o rompimento da barragem. É necessário um mapeamento com maior detalhamento e precisão, e estudos
Sede de campo que possam aferir os dados levantados através das imagens. As áreas das comunidades não são oficiais,
e foram construídas com base nos dados levantados pelos próprios menbros das Comunidades, num trabalho
Conceição do Mato Dentro Dom Joaquim intensivo executado in loco (Passa Sete; Água Quente e São José do Jassém). As curvas de nível e o MDE
elaborados para este estudo foram extraídos dos Dados SRTM (2000);
ATINGIDOS PELO PROJETO MINAS-RIO
Comunidades a jusante da barragem de rejeitos

Os fazendeiros mesmo não proibiam a gente Teve um dia lá em casa que aconteceu assim:
de entrar no rio deles pra tomar um banho ou “Me dá um pouquim d’água”. Agora eu não sei
pescar não, uai! A gente podia ficar à vontade. se a pessoa tem ali, olha a geladeira, tem hora
Hoje não, uai! Entra pra ver! Lá pra cima do Passa que eu fico com vergonha e falo assim, “mas não
Sete, pra ver! Sai de lá a côro de polícia e bala de tem água aqui na geladeira, como que eu vou
borracha em cima, ainda! Acabou isso, né? Nem dar água pra ele”, talvez fulano tá ali e talvez
os fazendeiros proibia a gente ter o lazer no rio, eles quer água lá, uai, e a gente não tem água
pescar, sei lá, ir pro mato do outro, tirar uma pra tomar, e eu falo: “Gente, que vergonha,
lenha..., não! Igual a menina falou ali, hoje tem que absurdo gente, nó, a pessoa vem na gente
poder do gás porque os fazendeiros não proíbe caçando água e não acha água pra tomar”. Uai,
a lenha, mas a Anglo American proíbe a lenha, cadê a água? Não tem!
porque é deles.
Darcília, 55 anos, Comunidade Passa Sete Elenita, 55 anos, Família Faustino , Comunidade
Água Quente

Nascente sem força. Comunidade do Jassém. Julho de 2017.


Acervo GESTA

Antes, a gente andava com os pé da gente e todo


mundo chegava nas casas dos vizinhos com os
pés tudo limpo, hoje a gente chega até com os Assoreamento do Córrego Pereira. Março de 2014. Acervo REAJA
lábio seco, porque tem que carregar água de
casa pro’cê tomar, porque as água que tão no
meio dos caminho tão imunda, quando acha As áreas de lazer, né? Vinha gente... tomar banho,
pelos caminho... Porque antes, qualquer moinho, vinha pescar, né, tinha tanta... traíra, agora tá
qualquer barranco, pintava uma aguinha, a gente pobre, não tem nada, lavava roupa no rio, punha
só botava a mão e tomava, chegava na casa de as roupa nas pedras lá pra poder quarar, bebia da
pessoa limpinho... Aliás, podia sair de casa até água... Acabou tudo, agora não tem nada!
sem tomar o banho, até pros caminho a fora, Lucinéia, 39 anos, Comunidade Passa Sete
porque existia água demais! Hoje não, uai, hoje
ocê num tem como nem... Se ocê chupar uma
manga ali e sujar a mão ali, cê chega com ela na Aqui vinha gente de fora que ficava na casa de
casa dos outro suja. Por quê? Não tem água como parente, aquele rio enchia de gente, era muito
era antes! Antes não, ocê podia sentar ali numa cheio, em férias mesmo, era um rio que dava
beirinha da água, né, comia tudo quanto era medo de entrar, de fundo! Hoje, ocê entra… Ali
fruta, tomava água, cê chegava na casa da pessoa tá mais ou menos porque os meninos represou
satisfeito! Hoje não, hoje cê chega morrendo de o rio, pra o rio ficar um pouquinho mais fundo,
sede e chega na casa de um amigo que talvez ele porque hoje em dia não dá pra entrar ali mais
não tem nem água mais. Por quê? Acabou. não.

Darcília, 55 anos, Comunidade Passa Sete Maura, 16 anos, Comunidade do Jassém

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Nova Cartografia Social da Amazônia boletim
Cartografia Da Cartografia Social:
Uma Síntese Das Experiências
informativo
Outubro 2018 • Número 11

Mesmo assim estão entrando! E saindo de lá Ó, os crentes outro dia me perguntou se tinha jeito
contaminados. Um monte de menino entra e sai de fazer um batismo no córrego aí, eu falei: “Até
coçando porque a água está imunda, e essa era a tem, mas tem que ir lá no córrego do Teodoro,
única fonte que a gente tinha de água. porque o córrego Passa Sete não tem como mais
não”. Eles queriam vim fazer um batismo ali.
Terezinha, 27 anos, Comunidade do Jassém
Helvécio, 58 anos, Comunidade Passa Sete
Nessas épocas de férias, ficava lotado! Era carro,
era o dia inteirinho né, Zé Lúcio? Lá cabia moto, Deixava a gordura esquentando lá e chega no
carro, gente a pé, a cavalo, de tudo. Acabou! rio, “já que não tem a carne hoje, vou ali pegar
o lambari ali, pra mim comer agora, com um
Maria Aparecida, 48 anos, Comunidade Água arroz, uma couvinha com angu…”. Podia deixar
Quente a panela esquentando lá e ia lá e pegava, hoje
não tem nada, morreram tudo, eles mataram
Era até bonito, né gente, era uma festa! nossos peixes, acabou com o lazer da gente. [...]
Helvécio, 58 anos, Comunidade Passa Sete Hoje a gente come o quê? Do mercado, se você
tiver o dinheiro, se não tiver, você come sem
Nós tínhamos a cachoeira do Passa Sete, que era os peixes. Chegava criança lá em casa, falava
uma diversão pra nós, né Darcília? assim: “A senhora pega lambari pra nós comer
com macarrão?”, e eu pegava e ia lá, refogava o
Patrícia, 44 anos, Fazenda Passa Sete/Quatis, macarrão, deixava o macarrão cozinhando e ia lá
Comunidade Água Quente e pegava os lambari, chegava... Os menino ficava
tudo alegre, e eu fritava aquele lambari, jogava
E esse rio que elas tão falando, do Passa Sete, no meio do macarrão e isso era uma festa pras
era o rio que a gente fazia piquenique, que todo crianças! Hoje eu tenho um sobrinho, que ele
mundo ia passar as vez o domingo lá. Eu me falou assim: “Ô minha tia, eu não quero morrer
lembro que, lá em casa, tinha excursão do grupo, sem comer o macarrão que a senhora fazia pra
os professores fazia excursão lá na cachoeira nós antes, com o lambari”. E eu falei assim, “Ô
Passa Sete, porque era uma lapa, que a gente meu fio, infelizmente nós não temos peixe mais,
podia escorregar também, então tinha também só se for comprado”. “Eu não quero comprado,
uns caldeirões né, que a gente, os meninos tia, eu quero que a senhora faz, como a senhora
pequenos, ficavam nos caldeirões, e a água… panhava nos corguinho, no rio lá, aquele lambari
Patrícia, 44 anos, Fazenda Passa Sete/Quatis, fresquinho, fritinho, no meio do macarrão…!” Ai,
Comunidade Água Quente nossa, isso dói na gente demais! Que hoje a gente
não tem, eu falo pra ele, “ô fio, não tem, só se
eu levar a bandejinha daqui da cidade, porque
nossos peixe acabou, morreram tudo, nem o

Cachoeira Passa Sete. Agosto de 2007. Acervo REAJA Cachoeira Passa Sete destruída. Novembro de 2012. Acervo REAJA

8
Nova Cartografia Social da Amazônia boletim
ATINGIDOS PELO PROJETO MINAS-RIO
Comunidades a jusante da barragem de rejeitos
Cartografia Da Cartografia Social:
Uma Síntese Das Experiências
informativo
Outubro 2018 • Número 11

córrego tem, porque não tem água, como é que Terra, trabalho, produção Outra coisa também, que nós via em todas
os peixe do corguim pode viver sem água?! comunidade, no mínimo dois, três moinho,
daqueles de pedra entocado na água, e eles
Darcília, 55 anos, Comunidade Passa Sete
não existe mais, cadê eles?” [...] Ali perto de
E não é só água também não, até as colheitas de
mim eu conheço o do Dr. Sebastião, tinha ali
milho, feijão, arroz, horta, acabou tudo. Num tem
no Dr. Sebastião, outro no Dinarte, e outro lá
água, vai aguar com o quê?
no…, que é da Maria José, são três. Não tem
Celeste, 64 anos, Comunidade Passa Sete mais esse moinho, pessoal não tem onde...
Hoje, se eles quer moer milho, quando tem,
Primeiro a gente tinha a roça, plantava, colhia eles têm que gastar hoje o quê? Energia!
Horta, comunidade de Água Quente. Julho de 2013. Acervo GESTA
o feijão, não gastava pra compra, a horta nós Então...
tínhamos, tinha o porco gordo no chiqueiro,
Elias, 38 anos, Comunidade Cabeceira do
tinha o canavial, fazia rapadura. Hoje não tem
Quando eu cheguei na região, a condição de Turco
nada disso... Você montava a cavalo aqui, e ia
lá no Sapo buscar as coisa, hoje cê num pode ir farinha era muito forte né, então a gente
mais, porque as carreta passa em cima da gente, vendia as farinha lá nos mercado, trocava em
Mortandade de peixes no Córrego Passa Sete. Junho de 2017. mantimento. E tinha os grandes fazendeiros,
Acervo REAJA acabou tudo, banho de cachoeira nós tinha muito
aí e num tem mais, acabou nosso lazer, acabou de volta ali do Sapo, que dava emprego pra Ô Elias, hoje é assim, ocê sai da roça e
com tudo… gente, nós tinha lugar pra fazer cachaça, pra compra fubá, porque não tem o moinho
O rio Passa Sete não tem peixe mais não, uai, essa levar a cana pra fazer cachaça, hoje lá não pr’ocê fazer o fubá.
semana que eu tava com aquela vontade de comer Helvécio, 58 anos, Comunidade Passa Sete tem isso mais, entendeu? Lá vai acabando
Elenita, 55 anos, Família Faustino,
peixe, e falei assim “ó, todo peixe que pegar eu tudo, o pessoal não tem cultura mais, nós
Ou o que a gente tinha né, um trem assim, trocava, Comunidade Água Quente
vou comer, vou comer tudo duma vez”. Do jeito não vê um carro de boi sequer! Antigamente
que eu levei a isca, num pouquinho de água, eu “cê num tem isso, lá em casa eu tenho!” Hoje não tinha carro de boi, o Antônio tinha seu carro
tirei de novo e joguei fora: não tem um lambari! tem isso mais não, gente, acabou! Hoje cê vai só de boi, ele é referência, [...] aquele pessoal
E ninguém come o peixe de lá, mas a fome que pro mercado, nem o mercado tem, tem vez que a era referência em questão de carro de boi,
deu de eu comer peixe, falei, “se eu pegar, eu vou gente vai fazer compra e não acha uma verdura tudo o que a gente tinha que transportar
comer, vou limpar tudo e vou comer” (risos)... Não pra trazer pra casa, por quê? Não sei se é... por tinha aquela tradição. [...] E na agricultura,
peguei um lambari, tive que mandar comprar em falta de, de quê? De realidade, né, porque antes hoje, aquelas pessoas que tem pequeno
Conceição um quilo de peixe pra mim comer e era bom demais, todo mundo saía com sacola da terreno também, elas planta e às vez tem
matar aquela vontade que eu tava de comer peixe. casa do outro! Se Patrícia me visse: “Ô, cê tem horta, o próprio pó do minério mata, tá
Lá, hoje, ninguém pesca, ninguém toma um banho, abóbora?”, “não tem não, Patrícia”, “vai lá em matando as planta. [...] Então nem a verdura
ninguém lava a roupa, tem pouca água e a água tá casa que eu te dou”. Mas, eu: “Ô Patrícia, cê tem mais ela já não tem, aquela qualidade de
azul, cê vê que ela tá azulinha, a água no rio Passa couve, ou tem um pé de alface, ou tem um jiló?” antigamente, entendeu?
Sete. Um dia eu passei lá a cavalo, e o cavalo com “Não, não tem não”, “então pega aqui”. Hoje não
sede, né? Levou a boca pra tomar a água e sentiu tem isso mais não, cabô uai, todo mundo só vai Elias, 38 anos, Comunidade Cabeceira do
o mau gosto da água e soltou tudo dentro d’água, pro mercado, porque não existe a água mais. Turco
soltou tudo dentro do rio de novo, não conseguiu
tomar aquela água.” Darcília, 55 anos, Comunidade Passa Sete
Hoje minha filha [...] trabalha um dia aqui,
Celeste, 64 anos, Comunidade Passa Sete um dia ali, a mãe dessa menina aí ó. [...] Ela
tinha verdura, tinha pra vender, pra dar pros
Cê num acha uma espécie de peixe, não tem, não outros, ela tinha de tudo e hoje ela compra,
tem peixe na nossa região, não é só aqui não, é ela compra, hoje ela trabalha um dia aqui,
na região toda em torno do empreendimento, não um dia ali, pra sustentar a menina.
existe mais peixe, entendeu?
Celeste, 64 anos, Comunidade Passa Sete
Elias, 38 anos, Comunidade Cabeceira do Turco

Feijão colhido na roça. Comunidade Passa Sete/Gramichá. Julho Moinho em Mumbuca/Água Santa. Março de 2010. Acervo REAJA
de 2013. Acervo GESTA

9 10
43°24'0"O 43°23'30"O 43°23'0"O 43°22'30"O

Alvorada de Minas
"NÓS EXISTIMOS E RESISTIMOS" Legenda
Sra. Lucinéia
COMUNIDADE PASSA SETE (MG)
Barragem de rejeitos
Chiqueiro da Tanque Despensa
Anglo American Sra. Ilda desativado
Comunidade Ponto de ônibus Sr. Renato e Sra. Jacira
MG 0
10
Passa Sete

Comunidade
Água Quente
Murici
D Sra. Darcília
Sra. Cleonilda
Conceição do Mato Dentro Estrada Real Tanque da
Sra. Ilda Sr. José Flávio
Es
tra Sr. Talison

0
01
da
p Sr. Plabiano

G
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M
aJ Sra. Ilda
as
sé Sra. Celeste
m
Sra Jacira e Sr. José Flávio
Pasto de Suzana Sr. Elias
Sr. Renato
Bambu Sr. Gilson
18°51'0"S

18°51'0"S
Sr. José Helvécio
Sr. Gilson
ra
Sr. Talison Sr. João Rodrigues
o
rad
ine a
d
Sra. Maria Consolação

da tra
ão a es
m
AntigoTerreno Sr. Adão
d Sr. José Helvécio
am fora Tanque desativado Igreja evangélica
Bica
D Ca
n h

Pinguela (ponte)
m min
i

in hã Ponto de ônibus
er o
C

Sr. Elias ad d
or a Engenho de cachaça
a
Bica de água (seca
ou com pouca vazão)
Lagoa suja Caixa d´água
Gameleira
0

Área florestada
Sra. Lucinéia
1
MG 0

Antigo terreno do Sr. Adão Nascente


Sra. Maria
(família reassentada Tanque de Peixes
Consolação
pela Anglo American) Sra. Celeste
Bica Plantios e roças
18°51'30"S

18°51'30"S
Roça do Fabrício
Mineradora Anglo-American Criações
Agricultores e
d rigues
Sr. João Ro Criadores
Sr. Plabiano
do

Carro de boi
l uí
po

Cachoeira Passa Sete Curral Galinheiro


te

Destruída
Se

Caixa d´água
seca Forno Porteira
sa
as

Sr. Sebastião Sra. Tanque


oP

Bica Darcilia
D desativado
Barulho Poeira
Ri

Fedor/catinga

Rio poluído
Sr. Valderes
Bica Nascente/poço seco
Campo de
Futebol (lazer)
Cercas
Barragem de rejeitos Área da Barragem
Anglo-American
Área da mineradora
Início da Comunidade
18°52'0"S

18°52'0"S
Água Quente

¯
SCG - Datum SIRGAS 2000
Fonte de dados: IBGE, 2015; Convenções cartográficas
Croquis da Oficna de Cartografia, 2017; Limite municipal
0

Imagens de satélite disponíveis


01

da DigitalGlobe, 2013 e CNES, 2016 Rodovia MG 010


MG

Escala: 1:10.000 Hidrografia


Elaboração: MSC. Mônica Cortêz Pinto
0 75 150 300 450
m (PNCSA) - Agosto de 2018 Caminhos
43°24'0"O 43°23'30"O 43°23'0"O 43°22'30"O
ATINGIDOS PELO PROJETO MINAS-RIO
Comunidades a jusante da barragem de rejeitos

O nosso lá era do seu Pedrinho né, seu Situação atual das


Pedrinho Surdo, que era lá no Mumbuca,
que hoje tá alagado por causa da barragem comunidades a jusante da
de rejeitos né, todo mundo levava lá no barragem
Pedrinho [...] Passa Sete, é [...] Lá no Arrudas,
também tinha o moinho.
Passa Sete

Patrícia, 44 anos, Fazenda Passa Sete/ É doído, né, a gente, os bens que a gente
Quatis, Comunidade Água Quente tinha, ir embora, né? Sair das mãos da gente,
do olhar da gente, do sentido da gente e da
E um outro conflito muito sério também, que saúde da gente... Porque hoje a gente fica,
não tinha na região, é a questão de terra, todo mundo tá doente, até os filho da gente
né gente, as família vivia unido naquele que é novo, tá todo mundo doente, então
seis alqueires ou um alqueire e vivia unido, tirou todos os prazer que a gente poderia ter,
por causa da mineração, hoje elas vivem como os antigo teve, hoje a gente não tem. E
em pé de guerra, é uma confusão imensa, a gente fica assim com aquilo na cabeça, que
nem dentro da própria família cê num se os filho da gente será muito pior, a gente fica
vê paz mais, por causa de terra... Porque buscando os bens pros filho da gente, mas
antigamente não, antigamente o fulano: a gente acha assim que vai ser difícil pra
“Não, pode plantar naquele pedaço lá, que eles viver o melhor. Comprometeu muito…
esse ano eu não vou plantar lá mesmo, pode Os filho da gente não tem nem um lazer,
plantar lá”. [...] Então tá esse conflito, depois não tem uma água pra tomar um banho, não
que a mineração chegou, tá esse conflito de tem nada. Cresceram tudo sem ter o futuro
terra, as pessoas não precisa, às vezes nem pra vida deles, tá bem difícil. Isto me dói
vende, antes de vender, já chega os que muito, tanta gente fica doente, porque não
tava lá na cidade, que nunca interessou de tem prazer de ver outros dias.
plantar nada, já vem, já quer tomar a terra
Darcília, 55 anos, Comunidade Passa Sete
do outro e já começa a confusão, não tem
paz, não tem o prazer de sentar na mesa
Imagina a gente, abaixo do empreendimento!!!
mais, pra almoçar tranquilo.
E eles não conta, não conta que existe
Elias, 38 anos, Comunidade Cabeceira do morador abaixo do empreendimento! Pra
Turco eles, fora daqui não existe ninguém não,
existe mata virgem que cria bicho! Igual a
gente faz reunião, quer dizer que a gente
que é morador embaixo do empreendimento,
não somos pessoas humanas, nós somos
bicho do mato.
Darcília, 55 anos, Comunidade Passa Sete

A minha luta lá é a seguinte. A minha mãe 1


tem 95 anos, acamada. Eu busco água com
sete quilômetros. Pedi a Anglo American
uns galão d’água, ela falou que não pode
abastecer com galão d’água. Eles ofereceram
pra mim água canalizada, mas a água da
represa de rejeitos. Eu peguei e enjeitei:
“Isso aí eu não quero, essa água até os peixe
morreram”.
Reintegração de posse. Outubro de 2014. Acervo Comunidade
Helvécio, 58 anos, Comunidade Passa Sete

1.D. Maria Clara, mãe de Helvécio, faleceu em fevereiro de 2018, antes do lançamento deste boletim.

11
Nova Cartografia Social da Amazônia boletim
Cartografia Da Cartografia Social:
Uma Síntese Das Experiências
informativo
Outubro 2018 • Número 11

Croqui Comunidade Passa Sete. Janeiro de 2017.

Que eles ia sempre medir minha água lá em pra eles poder dormir.
casa, né, e eu tinha meus porcos, aí minha Lucinéia, 39 anos, Comunidade Passa Sete
água só secando, secando, aí ele falou comigo:
“Ó, cê dá um jeito de prender seus porcos, Fedor é tanto que a gente acorda vomitando.
porque seus porcos tá acabando com a água,
esparramando ela pelo brejo, cê prende eles.” Celeste, 64 anos, Comunidade Passa Sete
Aí acabei com os porco, aí que a água foi
embora mais depressa, não era meus porco
nada não, era história deles! Hoje eu não crio
porco nenhum, que eu tinha era muito, criava
muito porco, hoje eu não crio nenhum mais.
Helvécio, 58 anos, Comunidade Passa Sete

E lá em casa, gente, a água que nós tão


bebendo lá, a água tá tão prejudicada! Tem
vez, que a gente vai na caixa, tem que tirar
por cima da caixa, cada bicho que é desse
tamanho! Aí meus menino fala assim: “Ô mãe,
tem que beber dessa água?” “Tem que beber,
não tem outro jeito”. Tá lá, qualquer um pode
tirar foto. Não sei de onde tá vindo esses
bicho, vem da nascente que desce do cano,
né.
Bica d´água com pouca força. Comunidade Passa Sete. Julho de
Lucinéia, 39 anos, Comunidade Passa Sete 2016. Acervo GESTA

E eu também queria falar, gente, é sobre a


catinga. Nós não tão suportando mais. Ontem Água Quente
começou cinco horas da tarde, até oito horas
da manhã tava fedendo. [...] A gente não tá A gente fala mais é sobre a água mesmo,
aguentando mais não! Os menino tem que usar porque lá é um lugar que uma hora num tem
soro no nariz, fala “mãe, não tô conseguindo água. Num tem nascente. Pra gente tomar
respirar, minha respiração tá acabando”, aí eu água é difícil, pra gente caçar um pouquinho
vou lá no quarto, pingo o soro no nariz deles, de água pra tomar, porque lá em Conceição,

12
43°22'30"O 43°22'0"O 43°21'30"O
2 º Entrada
Água Quente Alto do Teodoro
Alvorada de Minas
Rio São José - Teodoro
18°51'0"S

18°51'0"S
Entrada de Água Quente
Ponte Passe Sete Alto da fazenda
de João Generoso Entrada Água Quente
Mata Burro
"NOSSA ÁGUA AQUI CABÔ, LUTA QUE COMEÇÔ" Barragem de rejeitos
Entrada Faustinos

0
Água Quente Nascente

MG 01
Comunidade
COMUNIDADE ÁGUA QUENTE (MG) Anglo American Passa Sete de Milton Casa e Nascente
de Josiane

Nascente dos Faustinos


Sr. Betônio
Comunidade
Água Quente
Nascente Sr. Jorge
ar a
Ca de Júnior Conceição do Mato Dentro
Mineradora
M in
m op Anglo American
nh
Córrego Pereira Fazenda de Júnior/Patrícia
i ne h ã ro
ra o d a m i odo Entrada Água Quente
do a C e
ra oT SCG - Datum SIRGAS 2000 Legenda
Fonte de dados: IBGE, 2015;
Croquis da Oficna de Cartografia, 2017; Ínicio Comunidade Água Quente
Imagens de satélite disponíveis
da DigitalGlobe, 2013 e CNES, 2016
Nascentes secas Ponte/Pinguela
Elaboração: MSC. Mônica Cortêz Pinto
2º Entrada de Alto do (PNCSA) - Agosto de 2018
Altos/morro Poço artesiano
Água Quente Teodoro
Caixa d´água em cima da Igreja
E s tr Engenho Caixa d´água (final
a da de cachaça
de J de Água Quente)
as s é
m Agricultores e Carro de boi
Casa de Júnior Criadores
Qu d e
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de Carmita
en

Plantios e roças Criações


a
Á g n tr a d

Sr. João Sr. Jorge


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Generoso
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18°51'30"S

18°51'30"S
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Sra. Daniela
de
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Ja Sr. Bartolomeu Sra. Elenita


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Nascente de s sé ém Sr. Ronaldo Sr. Joel
João Generoso Ja
de Sra. Pedrelina Sra. Josiane
a
Alto da fazenda ad
Nascente de E s tr Igreja evangélica Rio poluído
de João generoso Entrada Água Quente Pedrelina 01 Sra. Geralda 02 Sr. Geraldino
Mata Burro Rio P a
Sra. Pedrelina ss a S ete
ém poluído 03 Sra. Saninha 04 Sr. José
s Matozinho
J as 05 Sr. Leandro 06 Sra. Fabiola
r a
pa
07 Sra. Luíza
08 Sr. Milton
o Marilagui
i nh 09 Sr. Edgar 10 Sr. Vinícius
am
Nascente C 11 Sra. Valdete 12 Sr. Rodrigo
de Milton 13 Sra. Elaine 14 Sorveteria
Na eral

15 Sra. Laudyene 16 Boteco


Entrada Água Quente
G
sc da

Mata Burro 17 Sra. Viviane 18 Sr. Robson


en

18 19
te

08 21 24 20 Sr. Zé Lúcio
Entrada dos 09 19 Sr. Renato
10 11 13 17 20
Faustinos 07 21 Sr. Marcílio 22 Sr. Helbert
15
Nascente e casa 04 23 25 23 Sr. Anízio
de Josiane 12 14 22 24 Sr. Zé Toco

03 06 16 25 Boteco 26 Sr. Arnaldo


05 (Zico)
18°52'0"S

18°52'0"S
Igreja 26 27 Sr. Zé Vigia

Nascente 02 Roça José 28 Sra. Vânia


Área florestada
Matozinho 27
dos
Sr. João Sângelo 28 Árvores frutíferas
Faustinos

¯
Sr. Bartolomeu
Caixa d´água, sirene e câmeras
01 Roça
(Mineradora Anglo-American)
Leonora
Córrego Pereira poluído Convenções cartográficas
Escala: 1:8.000
Limite municipal Rodovia MG 010
0 50 100 200 300
m Hidrografia Caminhos

43°22'30"O 43°22'0"O 43°21'30"O


Nova Cartografia Social da Amazônia boletim
ATINGIDOS PELO PROJETO MINAS-RIO
Comunidades a jusante da barragem de rejeitos
Cartografia Da Cartografia Social:
Uma Síntese Das Experiências
informativo
Outubro 2018 • Número 11

tem que eles mandar água. Mas a água, falam Jassém Então, pronto. Então aqui a gente colocou de
que num pode tomar da água. Como é que terra, como era antes, cês viram aqui: o rio tá
nós vamos ficar sem a água? Hoje mesmo tá limpo, muito peixe, pessoal aqui pescando. [...]
vazia lá a caixa d’água, hoje mesmo tá sem O posto de saúde antes ele era menorzinho, e a
água. Agora, como é que nós vamos arrumar gente colocou a cor original dele, que era branco
sem água, aí? É difícil demais, ué! e azul, tínhamos lá a Igreja também, o cemitério,
a escola, [...] o chafariz que tinha também, e
Elenita, 55 anos, Família Faustino, a Cruz do Pedro Sem. [...] Ali, rezam os mais
Comunidade Água Quente antigos, que ali morou o primeiro habitante aqui
da comunidade, que ele era chamado Pedro Sem.
Ele morou ali, morreu ali, foi enterrado ali. E ali
É só sofrimento, num tem alegria num tem naquela parte de cimento, tava escrito “Aqui jaz
nada. Porque alegria que a gente tinha era a Pedro Sem”, eles falaram que a partir daí que
água do rio e a água do rio cabô tudo. Hoje surgiu o nome da comunidade, juntou o “jaz”
a água do rio é cinzenta, e hoje mesmo ela do falecimento do Pedro, e o “Sem” que era o
tá bem cinzenta. É direto, porque a cor não sobrenome dele. Juntou o nome, Jassém. Então,
acaba! Eu num tenho alegria como tinha Croqui Comunidade Água Quente. Janeiro de 2017. pra gente, um marco muito importante tá ali. [...]
antigamente. Antigamente, a gente tinha as Aqui já é o rio numa cor diferente, porque hoje o
Dia de domingo eu fico observando, tem hora. Que
nascentes todas como a Elenita tá falando ali. nosso rio tá poluído, a gente colocou no marrom
eu vejo aquele tanto de gente subindo a pé aquele São José do Jassém. Julho de 2017. Acervo GESTA
Ela tá falando uma coisa certa [...]. Só que morrão pra ir lá pro Teodoro, descendo... Falo assim, porque a água tá suja. Resolvemos colocar
nossas água é nossos trabalho tudo, nossas gente: [o] caso [é o] seguinte, eu nem ia, fosse o caso, Depois daquela tragédia lá, todo mundo se a nossa comunidade do jeito que ela é, nós
águas, depois que eles fez os fundamento lá eu nem ia subir aquele morro do Teodoro, né? Todo mobilizou, né, Mariana, Bento Rodrigues, né?! Eu desenhamos tudo que tem hoje na comunidade,
na barragem em cima da mina, acabaram com mundo tomava banho, todo mundo juntava aquela penso que foi de lá que partiu, quantas pessoas nós desenhamos todas as casas. [...] Subindo nós
nossas águas! Eles falaram que num é eles, turma da Água Quente mesmo, quem conhece sabe que perderam a vida? Falam em 19, e a criancinha temos a igreja, né. [...] Esse monumento aqui,
mas a empresa que acabou com as nascente que é aquele tanto de gente, tanto de criança, que morreu lá? Uma criança que não veio à vida,
ficava tomando banho, né Zé Lúcio? Então o povo se também pra gente ele é muito importante, que
das água! Nós temos nove nascentes de água. mas estava para vir à vida, então acho que dali é um monumento de São José, é nele que fala
De nove nascentes, num tem uma com água! divertia, o povo lavando roupa, era muito divertido.
abriu a porta do mundo, o que nós temos é que quantos anos, quando ele foi construído, quem
Elas todas secaram. Choveu, teve essa chuva Hoje acabou, hoje é uma tristeza. Hoje nós lava
na moradia mesmo, mesmo assim, economizando continua, porque também nós temos o mesmo for lá, dá pra observar, ele é cheio de pedrinhas,
- que eles falaram que era falta da chuva - ela, porque não pode gastar muito, uê. [...] Existe disso, aqui para cima tem a barragem, nós cada pedrinha daquela lá, que são 150 pedrinhas,
teve a chuva e as água não voltaram. Nós essa água quente que eles colocam lá na caixa lá, estamos no mesmo risco de Bento Rodrigues. é cada ano da comunidade, até quando ele foi
tem um... um furo que eles fez pra gente, pra que a gente tem que usar economizando. Igual era Se romper lá, como que nós vamos continuar construído, são 150 anos. [...] Esse monumento,
manter água pra nós, pra empresa eles falam antes…? Era uma maravilha, hoje ninguém tem morando aqui? Eles dizem que a barragem é muito fica um santo dentro dele que é o São José, e
que o furo tá dando água, mas eu acredito mais felicidade não! Vive por viver né, porque tem segura, mas o que o homem faz dá problema! que a gente considera, antes eu tinha falado
que não tá dando não, porque se tivesse que viver, mas que felicidade ninguém tem naquele
lugar ali não. Ó, tinha aquela gente ali, naquelas José Maria, 49 anos, Comunidade do Jassém, que ele é o padroeiro, mas o padroeiro daqui é
dando, eles num tavam abastecendo com a Nossa Senhora da Conceição, que leva o nome
caminhão pipa. A gente, de primeiro, tinha lapas ali... brincar, né, Darcília! Aquela maravilha 15/07/20172
lá, ali pra baixo de casa, aquilo tudo ali pra cima, da Igreja, mas geralmente quando a gente faz,
muita visita da empresa. A empresa, quando no mês de maio, a homenagem a Nossa Senhora
tinha cachoeira, e os meninos ficavam brincando
ela precisa duma assinatura, duma coisa, ela da Conceição, a gente também homenageia São
naqueles caldeirão de água…
procura muito a comunidade pra resolver os José. [...] Voltando, a gente também quis destacar
problemas pra ela, quando eles num precisa Maria Aparecida, 48 anos, Comunidade Água o que o pessoal planta, tem também os animais.
de nós, eles num procura ninguém pra fazer Quente [...] Destacamos aqui com o xizinho, que antes
nada. [...] Hoje acabou, hoje num procura tinha muita água aqui na comunidade e hoje não
pra fazer nada pra ninguém. Hoje ela fica tem. Tem o chafariz ali na frente, que hoje ele não
querendo ver o lado delas, é pôr sirene, é tem água porque a nascente que abastecia ele já
alerta pros pessoal. Ninguém quer aceitar, por secou, então nós não temos mais essa água, tá
quê? Elas quer ver o lado delas, elas num olha aqui no xis preto. [...] E essa subida aqui, daria
o lado da pobreza. acesso a uma outra comunidade, pequeninha,
José Lúcio, 48 anos, Comunidade Água Quente chamada Saraiva, que tá logo ali em cima.
Cruz do Pedro Sem. Comunidade Jassém. Julho de 2017. Acervo
GESTA Terezinha, 27 anos, Comunidade do Jassém
2. Depoimento proferido em oficina de defesa aos defensores dos Direitos Humanos, realizada pelo Comitê Nacional de
Vista da Comunidade de Água Quente. Setembro de 2017. Acervo
Direitos Humanos na comunidade do Jassém.
GESTA

13 14
43°19'44"O 43°18'58"O 43°19'30"O 43°19'25"O

Comunidade Casa paroquial


Jassém Igreja Imaculada Conceição
Salão paroquial
18
Mineradora Sr. Vendelino
Área da Reserva
Anglo American Conceição do Mato Dentro 16 17
Mineradora
infantil
Antigo moinho
Escola
utilizado em Jassém Monumento Lote Sr. 13
São José Josiney 15
12 14
11
da
01
08
09 10 Horta la
07 es c o
Entrada do ola
Esc
Rio São José

Saraiva 03 06
18°51'58"S

18°51'58"S
04 05
cas
Por de Iren
Cemitério
19
a
teira

18°52'10"S

18°52'10"S
Entrocamento estrada 20
Eli, Reinaldo e Leci 02
da 21
s
Lote do
e

Casa e curral Sr. Eli 22 Simões Sr. Zé Maria

Po r a .
Sr. Batica 23

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24

do S
ído Sra. Alice

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Bar da Aléxia

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oJ Sr. Fabrício

H

Rio Carneiro de água
Sra. Maria do Porto Lote Janira Casa e horta
Família Antonio da Sra. Neuza
Ferreira da Lomba
Roça do Sr. Zinho Fedor
Sra. Lourdes
Sr. Mirréis "SE CALARMOS, NUNCA SEREMOS OUVIDOS"
Rio COMUNIDADE SÃO JOSÉ DO JASSÉM (MG)
Sr. Fernando Sra. Solange Sã
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Nascente seca pol
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e Z strad
Ponto da onça Fedor
Sr. Tunico

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Olho d´água am Sr. Antônio da Ponte
18°52'44"S

18°52'44"S
Poço seco
troc
e nascente
da pedreira
En

secos Tanque de peixes e


Fedor
casa do Sr. Antônio

18°52'15"S

18°52'15"S
Sra. Geralda e Sr. José Campos Área da Reserva
Nascente seca
Mineradora Anglo-American
Sra. Maria das Dores
D Estrada fechada Sra. Letícia
Antiga Casa Sr. Zé Nosso
Sra. Amélia Sra. Tunica
Sr. Dilnei
Lagoa seca Sra. Maria
Terreno Sr. Josiney de Cumba

¯
Sra. Maria do Porto

Sr. Marcinho Sr. Mirréis


Limite do Sr. Josiney Sra. Conceição Sra. Elaine
0 100 200 400 600
Saída para Dom Joaquim m
Sr. Zé Adão Sra. Denise e
Sr. Pelé
43°19'44"O 43°18'58"O Sr. Ronivon Tãozinho
Sra. Neuza Casa e oficina
Legenda
18. Sr. Marco Praça Campo de Armazenagem
01 Sr. Toninho 09 Sr. Zinho Sr. Nivaldo
Aurélio futebol de água Sra. Vanilde
e Sra.Irene
10 Buteco Zinho
19 Zé Paulo
S Quadra
Nascentes
02 Sr. Aureliano Posto poços/secos Sr. Luciano
11 Sra. Aléxia telefônico Fronteira da Anglo Sra. Keila

E
18°52'20"S

18°52'20"S
20 Sra. Lourdes Cruzeiro Limites e Sra. Maria Domingues
03 Sra. Valdirene Ponte
12 Família Fina Entroncamentos Sr. Vicente
04 Mercearia 21 Sr. Pelé Carro de boi Sr. Vicente Sr. Valmir Sra. Kátia
13 Sr. Xande Bica seca
do Marcinho Área florestada casa e bar
e Sra. Irlene 22 Sra. Maria Sra. Carla
05 Sr. Ico e Helena Cruz do Sr. Criações Brejo
14 Venda SCG - Datum SIRGAS 2000
Sra. Samantha Pedro Sem Vagem do Sr. Clóvis
Vendelino 23 Sr. Tião Plantios
Fonte de dados: IBGE, 2015; Lote dos
Sr. Batica Croquis da Oficna de Cartografia, 2017;

¯
e hortas Peixotos Sra. Claúdia
06 Sr. Bento 15 Sra.Tacimara 24 Buteco Tião Cemitério Imagens de satélite disponíveis
Convenções cartográficas da DigitalGlobe, 2013 e CNES, 2016
Posto de Agricultores Sirene
07 Sr. Jardel Hidrografia
16 Rancho Nobre saúde Rio poluído e criadores Elaboração: MSC. Mônica Cortêz Pinto Início do caminho para Biquinha Anglo American
0 10 20 40 60
08 Estoque Caminhos m (PNCSA) Agosto de 2018
Vendelino 17. Sr. Ladinho Escola Nascentes Engenho Limite municipal
43°19'30"O 43°19'25"O
Nova Cartografia Social da Amazônia boletim
ATINGIDOS PELO PROJETO MINAS-RIO
Comunidades a jusante da barragem de rejeitos
Cartografia Da Cartografia Social:
Uma Síntese Das Experiências
informativo
Outubro 2018 • Número 11

isso, o ser humano parece é bicho do mato. Eles então queriam colocar uma sirene, né, aqui nesse terreno aqui da Igreja que a gente colocou aqui,
estão trocando as coisas, colocando o animal na então aqui que seria instalada a sirene. Então, por ser instalada lá, seria uma espécie de rota de fuga
frente do ser humano. Tem que ter cuidado, tem, pro pessoal da comunidade. [...] Porque eles sumiram um tempo, depois vieram escondido, tentaram
lógico, mas o ser humano em primeiro lugar, ora! instalar a sirene lá no alto do cemitério. A gente correu pra lá, os meninos que tavam passando na
Ou você vai virar o que? Bicho do mato? estrada, que viu o caminhão chegando, é que ligou pra gente e a gente foi juntando, todo mundo subiu.
Ligamos pro padre, o padre não queria ir. “Não, Padre, vem porque cê tem que escutar a gente!” [...]
José Maria, 49 anos, Comunidade do Jassém, Que a gente fez o padre revogar a autorização.
15/07/20172
Porque aqui é assim, se a luz acabar estamos sem água, por que nós somos abastecidos por poço
Sim, essa é a nossa situação. Vocês tão vendo artesiano que depende de uma bomba pra jogar água na caixa, e por isso depende da luz elétrica. Então,
essa mata aí, ó?! Tanto na nossa frente, quanto se porventura ela acabar, se queimar, que nem queimou semana passada. [...] Sendo que tem um rio
na nossa lateral, tudo é a Anglo, tudo a Anglo aqui - pouca água, né, mas tá passando aí. E a gente não pode usar. Mesmo assim, eu vejo muita gente
Enchente na comunidade do Jassém. Dezembro de 2015. Acervo comprou recentemente. Então nós aqui no tomando banho, lavando roupa e correndo o risco de pegar uma doença. Mas, infelizmente, depois de
Comunidade
Jassém estamos cercados, ilhados. [...] Quando não ter outro recurso? [...]
Antigamente não era assim, né?! Era tudo a gente não usava pra buscar lenha pro nosso
fogão, a lenha era aonde nossos pais, nossos Fora esses problemas, [...] nós temos também a poeira como a senhora tá relatando também, nós temos
liberado, as pessoas tinham o direito de ir e vir,
avós plantavam. Hoje não existe isso mais. [...] o barulho, nós temos a movimentação de muita gente estranha e estamos aí praticamente à mercê de
fazer o que quiser, hoje em dia não. Uma vez eu
coisas piores. Tem como a gente ficar?! Ir embora, ninguém quer. Essa é a verdade, a gente não quer
passei em frente a uma fazenda de proteção de
Colocamos pessoa subindo rumo à Igreja, rumo sair do nosso lugar. Mas depois de não ter condição de ficar, o quê que a gente vai fazer?
animais, achei engraçado, o ser humano não tem
ao cemitério, por que? O pessoal da Anglo até
Terezinha, 27 anos, Comunidade do Jassém

Sirene. Comunidade Jassém. Julho de 2017. Acervo GESTA Chafariz sem água ao lado da escola da Comunidade do Jassem.
Julho 2017. Acervo GESTA

Reivindicações dos atingidos

Pois é, eu acho que esse momento é complicado esse momento também é de renovação né, da
para todos nós, porque a gente também vive um possibilidade da cartografia social, porque não
pouco de cansaço, né? [...] Então acho que esse, é só um mapa, é um mapa que vai trazer as
de alguma forma, esse tempo todo, a perda das nossas ameaças, as nossas dificuldades, que vai
pessoas, o sofrimento das pessoas, fica difícil pra também nos oportunizar, tá nos oportunizando
gente mesmo, e é também um momento que aqui, por exemplo, esse encontro, né? [...] E acho
a gente fica um pouco preocupado com... né, que quando a gente tá junto, a gente tem esses
assim, com as pessoas que tão cansadas, com momentos mesmo, que a gente fica mais... que é
as pessoas que tão sofrendo, e com as pessoas mais difícil da gente falar, que a gente sente junto,
[...] que a gente percebe que precisa! Que ainda né! Mas é também o momento que a gente se
existe uma luta... E por isso que renova também, encoraja e a gente precisa se encorajar e também
Croqui Comunidade do Jassém. Janeiro de 2017

15 16
ATINGIDOS PELO PROJETO MINAS-RIO
Comunidades a jusante da barragem de rejeitos

acreditar nas possibilidades, acreditar nessa união! Porque não vai adiantar só adoecer sozinho, a gente
precisa, então, ter uma estratégia de luta, ter uma estratégia de ter uma coisa, um documento novo, uma
possibilidade nova, a gente precisa se renovar a cada dia pra gente conseguir levantar.
Patrícia, 44 anos, Fazenda Passa Sete/Quatis, comunidade Água Quente

O que nós esperamos desse mapa é que ele realmente seja reconhecido… Porque no caso dela ali, por
exemplo, tantos órgãos já visitou ela. […] Todos os órgãos sabem disso, eles não tão inocentes. Então nós
deveríamos pensar se realmente esse mapa, eu espero que realmente nos mostre, realmente, o problema
da comunidade, tá sofrendo e que seja reconhecido.
Elias, 38 anos, morador da Comunidade Cabeceira do Turco, no Sapo

Eu acho que ninguém deve concordar com limpar o rio, se for limpar o rio, tira a barragem! Por que o que
vem da barragem que desce no nosso rio? Não adianta limpar o rio! Eles limpam hoje, amanhã tá tudo
“imundado” com a água que corre lá da barragem, escura, espumando. [...] Então vai adiantar eles meter
a “patrola” lá e correr água da barragem de novo?!
Lucinéia, 39 anos, moradora da Comunidade Passa Sete

Sim, o que a gente quer hoje é o reassentamento. Não tem outra saída não.
Helvécio, 58 anos, Comunidade Passa Sete

Oficina de Cartografia. Janeiro de 2017.

Estou esperando um grande reassentamento, porque é muito triste morrer como Bento
Rodrigues. E isso é a minha certeza que eu quero ter, na minha vida, é ter paz para os
meus filhos viverem, é ter paz para os moradores, e nem só meus filhos, a todos na minha
vizinhança, nem só até aqui onde esse rio transbordar essa sujeira que a Anglo American faz.
[...] Eles têm que enxergar. A minha família foi a primeira que saiu desde a Borba Gato e eles
não reconhecem a gente como atingido debaixo de um empreendimento. E eu espero que para
todos nós atingidos, um grande reassentamento para a gente viver a vida feliz, para os filhos
da gente ter uma vida feliz.
Darcília, 55 anos, Comunidade Passa Sete, 29/08/20172

17
Bom, gente, quem que é que está aqui nessa reunião que é daqui da comunidade de Água Quente,
de Jassém? Gostaria que levantasse a mão. Passa Sete, todo mundo aqui ribeirinho. Vocês antes vocês
nadavam no rio, gente?
Plateia: Sim!
Lúcio: Vocês pescavam no rio?
Plateia: Sim!
Lúcio: E hoje vocês podem pescar?
Plateia: Não!
Lúcio: Vocês podem nadar?
Plateia: Não!
Lúcio: Vocês antes dormiam em paz aqui, gente?
Plateia: Sim!
Lúcio: Vocês tinham sossego?
Plateia:: Tinha!
Lúcio: E hoje?
Plateia: Não!
Lúcio: E o que é que vocês querem?
Plateia: Reassentamento.
Lúcio: : Reassentamento é a única solução.

Lúcio, 51 anos, Fazenda Passa Sete/Quatis, Comunidade Água Quente, 29/08/20172

Oficina de Cartografia. Janeiro de 2017.

2. Depoimentos proferidos em Audiência Pública, realizada pelos Ministérios Públicos Estadual e Federal. Condições de vida das comunidades residentes
abaixo da barragem de rejeitos do Projeto Minas-Rio, comunidade do Jassém, município de Alvorada de Minas - MG.

18
ATINGIDOS PELO PROJETO MINAS-RIO
Comunidades a jusante da barragem de rejeitos

Manifestação dos atingidos antes de audiência pública. Julho de 2017.


Acervo GESTA.

No dia 26 de janeiro de 2018, na 20ª Reunião


Extraordinária da Câmara de Atividades Minerárias,
por 11 votos a 1, foram aprovadas as licenças prévia
e de instalação da Etapa 3 do empreendimento
Minas-Rio.

Oficina da REJA. Maio de 2016.


Acervo GESTA.

Contatos:
Rede de Articulação e Justiça Ambiental dos Atingidos pelo Projeto Minas-Rio
– REAJA. E-mail: reajacmd@gmail.com
Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais – GESTA/UFMG
Telefone: (31) 3409-6301 – E-mail: gesta@fafich.ufmg.br

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Nova Cartografia Social da Amazônia boletim
Cartografia Da Cartografia Social:
BOLETINS
boletim
informativo
Outubroinformativo
Uma Síntese Das Experiências
2018 • Número 11

1. Ribeirinhos em Defesa do Rio Tapajós - Comunidade Pimental - Trairão e Itaituba • PA Número 11 - Outubro 2018
2. La Marina - Barrio, Identidad, Religión y Tradición • Cuba
3. Iroko, El Espíritu de lo Sagrado - Identidad de la Comunidad de La Ceiba, Balcón
Arimao, La Habana • Cuba
4. Cartografia Social deTrindade - A pesca artesanal da comunidade tradicional caiçara
de Trindade - Paraty • RJ
5. Comunidades Quilombolas do Jalapão - Os Territórios Quilombolas e os conflitos com
as Unidades de Conservação • TO
CARTOGRAFIA DA
6. Cartografia dos Povos e Comunidades Tradicionais do Rio São Francisco - CARTOGRAFIA SOCIAL
Comunidade Quilombola Pesqueira Vazanteira de Caraíbas • MG
7. Entre a Aldeia e a Cidade: O Povo Mura na Construção do Movimento Indígena
em Manicoré-AM.
8. Ribeirinhos da Ilha do Capim frente aos grandes empreendimentos no Baixo
Tocantins
9. O Povo Mura do Rio Itaparanã: Situações de Conflito, Resistencias e Luta pela
Demarcação de suas Terras
10. “o Jogo do Índio” Jogos Interculturais Indígenas – Manaus a Grande Aldeia
11. Atingidos pelo Projeto Minas-Rio: Comunidade a jusante da Barragem de Rejeitos

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