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QUILOMBO CACIMBINHA
cacim
binha
A realização do Quipea é uma
medida mitigadora exigida
pelo Licenciamento Ambiental
Federal, conduzido pelo Ibama.
O QUILOMBO
A Comunidade Quilombola de Cacimbinha
localiza-se na porção leste do município de
Presidente Kennedy, litoral sul do Espírito Santo,
CACIMBINHA
próxima à praia de Marobá.
E AS TERRAS DE
mais amplo, que inclui a comunidade vizinha
de Boa Esperança e outras comunidades como
Graúna, com as quais compartilham histórias
HERANÇA
de descendência comum, expressas na luta pelo
reconhecimento como quilombo. Essa origem
comum também se expressa no exercício de
ação política conjunta na gestão da Associação
dos Moradores Quilombolas de Boa Esperança
e Cacimbinha, fundada em 2014. Desde a
emissão da Certidão de Autodefinição Qui-
lombola, expedida pela Fundação Palmares
(FCP), Cacimbinha e Boa Esperança congregam
ações na esfera pública em prol da valorização
de sua identidade étnico-racial, bem como da
visibilidade social e salvaguarda de sua história,
práticas culturais e modo de vida.
E SOCIOPRODUTIVOS
Antigamente a terra de Cacimbinha lado daquela propriedade fica Boa eu casei com Rosinaldo Batalha, e
era de Mané Batalha e já “Marra-É- Fé, onde também tem descendentes depois de mim, outras pessoas tam-
gua” [Boa Esperança] era mais de de Mané João.” ROSINALDO BATALHA bém vieram, conheceram, gostaram,
Mané João. De Manoel Batalha não ficaram, e foi dessa mistura toda que
lembro dele casado, mas a gente hoje está do jeito que está, graças
sabe que ele tinha uma mulher só. TUDO PARENTE a Deus. Depois de 24 anos, por
Agora, o finado Mané João tinha exemplo, é difícil não dizer que eu
várias, e era difícil que em qualquer sou quilombola. Eu mesma participei
lugar que ele tivesse uma mulher, ele “Manoel João era o meu avô. Ele muito do processo de Certificação,
não comprasse um pedaço de terra era pai da minha mãe, Edenilza das participei de muitas reuniões.”
para ela. Ele tinha uma mulher em Neves. Oudecir, meu marido, já é SILVIA, ESPOSA DE ROSINALDO BATALHA
Boa Fé, no “Marra-Égua”, na Jiboia, parente dos Batalha. Nós temos um
e comprava terra para as mulheres casal: Raquel e Leovânio das Neves
tomar conta. Aqui em Cacimbinha Batalha, que são descendentes de
Mané João comprou um terreno na Mané João, por parte de mãe, e
Boa Fé, apanhou uma mulher que de Mané Batalha, por parte de pai.
morava aqui em Cacimbinha e botou Tânia [moradora de Boa Esperança]
pra lá.” ROBEL RIBEIRO, 83 ANOS é minha prima. Neisiane [moradora
de Boa Esperança] também é parente
minha porque a avó dela é minha tia,
“(…) era muito justo. Esse pedaço porque a avó dela mora com meu tio.
aqui foi herança do meu pai, a O Oudecir, meu marido, já é parente Até os anos 70 e 80, predominavam na pai- em suas respectivas cacimbinhas e a existência
herança da minha mãe fica mais dos Batalha.” VALDILINA DAS NEVES sagem de Cacimbinha as matas e os piscosos de roças familiares em áreas de “herança”
embaixo, na Boa Fé. Minha mãe brejos ou “valas” que serpenteavam a planície ajudam a contar a vida incorporada aos usos
morava com a mãe dela na Boa Fé, periodicamente inundada, sendo as beiras dos desses espaços dos quilombos.
mas casou com meu pai e veio morar “Na verdade, esse Manoel João brejos os locais onde as famílias cavaram as
aqui, mas ainda tem a herança dela ficou com um pedacinho de terra “cacimbinhas”, tradicional fonte de água para a A pesca, a caça e a coleta são práticas comuns
lá. O meu pai acho que era campista, lá embaixo, outro aqui onde é Boa comunidade e origem de seu topônimo. nos brejos e matas locais. Tais atividades,
porque ele contava para a gente que Fé, ficou com um pedaço de terra também eram exercidas em terras pouco mais
tinha um irmão lá em Campos, e de em Graúna. Em cada lugar ele “Eu me sinto, eu sou quilombola. (…) Além das cacimbinhas e dos brejos, ao mesmo distantes, como o “Campo de Muribeca”,
vez em quando ia visitar os irmãos.” botava uma mulher. Já o Manoel E hoje, nós, quilombolas, somos tempo fonte de recursos e marca da presença e considerado também como terra “solta” para o
MILTON, 63 ANOS, NETO DE MANOEL JOÃO Batalha escolheu só Cacimbinha. (…) todos iguais, até pela diferença das relações sociais, ambientais e territoriais da pastoreio do gado. Hoje, acentuadas mudanças
Depois as duas famílias acabaram de cor, porque agora misturou.” comunidade no lugar e no tempo, foram mapea- na paisagem são relatadas, especialmente
juntando e aí casa um com outro, aí NELBA, “NELBINHA” dos diversos topônimos em torno da delimitação quanto a diminuição da flora, fauna e do vo-
é onde acaba que basicamente todo dos espaços residenciais, socioprodutivos, dos lume de água nos brejos. As atividades de caça
mundo que reside aí são parentes.” grupos domésticos e de uso comunal, que mar- e extração, como a coleta de frutos, ervas e raí-
ITAMAR BATALHA cam a presença da comunidade na paisagem zes, abundantes no passado, vêm se tornando
local. Dentre alguns topônimos de referência cada vez menos frequentes. A coleta de aroeira
estão: “Boa Fé”, local originalmente ligado ainda é praticada por alguns, tanto para o uso
à parentela de Manoel João, “Corredor das medicinal como para o comércio desse fruto.
Guarandas”, trecho arborizado e relacionado à
ocorrência de fenômenos sobrenaturais, “Curral A agricultura familiar é atividade central no
do Turco”, onde vários moradores trabalharam cotidiano das famílias de Cacimbinha. Há ge-
nos serviços da pecuária, e a “Curva do Romá- rações, a cultura da mandioca ocupa lugar de
rio”, local que marca o espaço doméstico do destaque entre os gêneros agrícolas cultivados,
falecido Romário Batalha, onde até hoje vivem embora hoje as plantações de abacaxi também
seis de seus oito filhos. A disposição espacial representem importante fonte de renda para
dos grupos domésticos, as “marcas” familiares as famílias. Ainda assim, os desafios não são
Tanque no terreno
da Dona Loloca.
Criação de tilapia,
traíra e cará
E PROCISSÕES:
Em Cacimbinha, a fim de “chamar a chuva”,
práticas simbólicas relacionadas ao catolicismo
popular eram ritualizadas por meio de procis-
FESTAS, FOLIAS
sões e trocas de santos com comunidades vizi-
nhas. Embora hoje tais práticas não sejam mais
realizadas, principalmente devido à expansão
E DEVOÇÕES
de igrejas evangélicas, a memória social
sobre esses antigos rituais de fé é fartamente
registrada. Os caminhos de fé traçados pelos
devotos nas terras que pertenciam à Igreja são
parte dos territórios de ocupação tradicional da
comunidade de Cacimbinha, marcando simboli-
camente sua relação com o lugar.
BOLANDEIRAS DE FARINHA que você tinha que fazer para o con- das pessoas, era o modo de não
sumo [próprio]. Lá as famílias eram comprar pão de manhã, de ter
grandes, eram dez filhos, doze… farinha na hora de almoço para
“A gente fazia farinha na farinheira Você tinha que fazer para o consumo. poder ajudar junto com o feijão, o
da Dona Edinha e ali na Loloca. Lá Aí quem não tinha também vinha arroz e a farinha. Então, como se diz,
Por longos anos, a produção artesanal de na casa de Edinha tinha prensa e na para cá e fazia também para levar. praticamente era como matar dois
farinha de mandioca, tapioca e biju reunia as Loloca era tipiti. Tipiti é um negócio Quem não tinha a casa de farinha coelhos com uma paulada só, porque
famílias e vizinhos nas casas de farinha de Ca- feito de palha que a gente enchia fazia a meia: eu faço um bocado, de manhã a gente tinha o beiju e
cimbinha, também chamadas de bolandeiras e de massa e pendurava em um pau; levo um bocado e deixo um bocado a tapioca para o café, que muitas
farinheiras. Era um trabalho duro, afinal, grande embaixo botava uma porção de pra você em pagamento.” ITAMAR vezes era feito com a cana de açúcar
parte da produção de farinha “era a motor peso, aí a massa secava para a moída, caldo de cana, porque nem
não, era manual”. Fosse na prensa ou no tipiti, gente torrar. Saía o líquido todo e aí sempre tinha açúcar. Aí moíam o
torrada ou crua, a farinha era “sagrada” pois depois a gente peneirava e torrava, “A gente fazia farinha para comer, caldo de cana, ferviam, passavam
alimentava toda a comunidade. e já na prensa a gente ia fazendo as tinha um monte de criança pra no coador, e aquilo era o café para
camadas. Hoje não se faz mais isso… alimentar. A mandioca era nossa, e os grandes.” NEILMA “Acho que caiu a produção de man-
De lá para cá, algumas mudanças ocorreram: Hoje isso só tem lá no estado do Rio tínhamos um “puxado de boi”, o boi dioca porque lá para fora, na Bahia
o número de filhos – antes “dez, doze” por de Janeiro. Agora aqui a gente com- se mexia para torrar a farinha. Mas e outros cantos, as terras estão mais
família – foi diminuindo, muitos jovens migra- pra a farinha, porque acabaram as as crianças foram crescendo, foram “A casa de farinha era enorme, era fortes e a mandioca produz com seis
ram para as cidades em busca de trabalho, os farinheiras. Mas a farinha produzida cada uma tomando seu destino e por uma maravilha, e praticamente a ou oito meses, e aqui tem que se espe-
principais produtores de farinha envelheceram, aqui era melhor porque era a gente isso deixamos de fazer, passamos a renda familiar toda vinha da farinha rar mais de um ano. E acontece que
a “farinha da Bahia” foi tomando espaço no mesmo que torrava, era quentinha. comprar farinha.” LOLOCA de mandioca. A gente vendia para vem muita farinha de lá para cá, os
mercado local e, assim, as bolandeiras foram Tinha aquele forno, botava fogo um rapaz que morava em Campo mercados enchem de farinha de fora e
sendo desativadas. As memórias sobre elas, embaixo e a gente apanhava as pás Novo, ele vinha, comprava da nossa por isso está tudo barato aí. A farinha
porém, continuam nítidas e ajudam a contar a e ia mexendo; tinha o rodo também “A farinheira acabou, só restou mão, e saía vendendo; ele comprava sempre varia de preço, há dois anos a
história de Cacimbinha. que a gente imprensava pra lá e o parafuso e a roda, mas tinha só da gente até porque na época o farinha está ruim de preço.” MILTON
para cá para descansar os braços. bolandeira aqui, onde a gente fazia maior tarefeiro de farinha aqui éra-
Aí a pessoa que torrava a farinha já a farinha brava. Nós fazíamos e mos nós, e a gente fazia em grandes
vinha pelo cheiro da farinha. O pro- o pessoal que tinha roça também quantidades. A gente fechava com
cesso envolvia três pessoas: dois vinha fazer farinha aqui. Primeiro a ele, quem nos comprava sacas de
para puxar na roda, um de um lado bolandeira ficava na Boa Fé, meu farinha para depois sair revendendo.
e o outro do outro, e uma pessoa no pai tinha uma lá embaixo; depois Já com o tempo foram sendo criadas
rodete. E o processo não demorava que meu pai morreu nós viemos outras farinheiras, como a da dona
muito, da mandioca crua a gente para aqui. Ao todo a bolandeira Edinha, que também foi um grande
raspava conforme tivesse o rodete deve ter funcionado por mais de 70 sucesso. Mas meus pais produziam
amolado. Aí você ia torrando a fari- anos, agora eu estou com 86 anos, muita farinha, trabalharam muito,
nha, mexendo e você ia percebendo e quando a gente foi ficando com naquela época era muito difícil,
o cheiro da farinha. Aí era uma mais idade, fomos parando com o passamos necessidade, foi uma luta
farinha cheirosa. Se você quisesse negócio da farinha.” EDINHA muito grande, mas graças a Deus
bem torrada, você torrava, se você conseguimos vencer.” ROSINALDO
não quisesse, deixava ela meio crua.
Quanto mais torrada, mais cheirosi-
nha ela ficava.” NELBA
NOVOS DESAFIOS:
impactos trazidos pela da construção do Porto do porto, como para trabalhar no que nosso município é um dos mais
Central, um complexo portuário privado de corte de cana, eles cortam bastante ricos do Brasil.” ROSINALDO BATALHA
multiuso projetado para funcionar sobre o re- “Hoje, com esse negócio dos royalties cana. O corte de cana vai do mês de
OS ROYALTIES E
gime de condomínio entre as localidades Praia do petróleo em Presidente Kennedy, maio até outubro, antigamente ia até
do Morobá e Praia das Neves, são algumas todo mundo quer descer pra cá. É novembro, mas não tem mais cana “Mas, parece ser um dos municípios
das maiores preocupações dos moradores de igual em Boa Esperança, onde rendeu como antes. Ai aqueles que vão vindo, mais ricos? Nós, os pequenos, não
A EXPLORAÇÃO DE
Cacimbinha. muita gente, quase que a gente não vão ficando, vão trazendo a família, sabemos para onde vai todo esse di-
conhece mais ninguém. Porque anti- porque se aqui está ruim, ali de onde nheiro que tinha que ser investido. É
Muitos moradores observam melhorias locais gamente, como eram poucos, você eles vêm deve estar pior.” MILTON por isso que tem essa confusão pela
PETRÓLEO NAS
oriundas dos royalties do petróleo em relação conhecia todo mundo. Agora tem prefeitura de Kennedy.” SILVIA
aos incentivos oferecidos aos jovens para a muito morador que você não conhece.
formação universitária, especialmente em rela- Então junto com o progresso vêm os “Agora, com esse boom do petróleo
PRAIAS DE MOROBÁ
ção aos investimentos nas escolas municipais bons, vêm os ruins.” ITAMAR BATALHA muitos voltaram para trabalhar com o “Bastante gente tem vindo para cá.
e no Programa de Desenvolvimento do Ensino asfaltado das estradas e outras coisas, Isso aí envolve muitas questões, po-
Técnico e Superior (Prodes). Entretanto, a che- e assim terminaram ficando por aqui líticas e sociais. As pessoas vêm em
E DAS NEVES
gada de “gente de fora”, o crescente mercado “Veio muita gente de fora atrás de um de novo.” NEILMA, FILHA LOLOCA busca de melhores condições: “Ah,
de aluguéis de imóveis, o alargamento da tal de Porto que ia sair na praia das lá a prefeitura está cedendo casas”.
oferta de mão de obra braçal – dificultando e Neves. Dizem que esse porto não Então eles dão um jeito e vêm para
barateando o valor dos serviços prestados pelos vai sair mais, teve muito informação AQUI TEM MAIS HISTÓRIA cá, vem atraídos pelos royalties. Mas
moradores de Cacimbinha e Boa Esperança,
notadamente no corte de cana-de-açúcar –, a
que foi longe, saiu até nos jornais,
por isso veio tanta gente. Fora dos
DE PROGRESSO DO QUE esses royalties não chegam à nossa
comunidade (…) Então as pessoas
pouca transparência sobre os usos dos royalties alagoanos que todo ano descem para PROGRESSO MESMO daqui iam vendendo ou alugando
do petróleo pela municipalidade, a falta de cortar cana, esse povo todo que está seus pedacinhos de terra e aí che-
empregos e as informações desencontradas morando em Marra Égua de casa gavam mais e mais pessoas de fora.
prestadas pelas autoridades e empresas sobre alugada veio atrás desse porto que “Aqui tem mais história de progresso E hoje ainda tem gente vivendo de
a construção do Porto Central têm trazido diziam que ia sair, porque diziam do que progresso mesmo. Esses aluguel, mas eles vieram contando
enormes preocupações para as comunidades que ia sair emprego, veio muita gente royalties quase não giram, porque com casa popular, essas coisas todas.
quilombolas. Todos esses fatores também mesmo. E até agora estão esperando você não vê quase benfeitorias disso.” Acabou que hoje a comunidade não
contribuem para o agravamento da qualidade o porto sair, mas eu ouvi falar que ITAMAR BATALHA é mais a mesma. Antes você poderia
ambiental dos ecossistemas locais, afetando as esse porto não vai sair mais.” APARECIDA largar uma bicicleta em um tal lugar
atividades produtivas, de extração e cultivo. e ao voltar ela estar no mesmo lugar,
hoje você não pode; antes a gente
“Veio muita gente de fora, isso foi por saía e deixava a casa aberta, hoje
causa da prefeitura, por conta dos ro- já não podemos fazer isso. Então
yalties, saiu até no jornal isso e agora mudou bastante, isso tem de quatro
todo mundo quer vir para Presidente a cinco anos mais ou menos.” EFIGÊNIA,
Kennedy, mas hoje está difícil, tem PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES
muita gente sem emprego. Eles diziam QUILOMBOLAS DE BOA ESPERANÇA E CACIMBINHA
que vinha o porto, que vinha a Pe-
trobras fazer não sei o que, mas não
saiu nada do papel. Esses royalties aí,
para quem trabalha na prefeitura está
bom, mas para quem precisa correr
atrás disso é mais difícil.” MILTON
ROSINALDO (“ALBUÍNO”)
segurando uma pedra
da antiga bolandeira
de Seu Romário
CACIMBINHA
fique “apagado” porque sente que mais apropriada para o desenvolvimento da
indo lá na faculdade você conheceu Cartografia Social em seu território tradicional.
“Agora, pelo menos na educação a uma outra realidade que não vai Em julho de 2019, a atividade “Oficina de
prefeitura de Presidente Kennedy in- ter mais na hora de voltar, porque Cartografia Social” – conjunto de ações partici-
veste. Se você quiser faculdade você pra cá muitas vezes se volta para o pativas para a identificação e o debate sobre o
não paga um centavo, o ônibus te trabalho com o gado. Quer dizer, o As informações aqui apresentadas foram projeto e os elementos territoriais, socioculturais
pega na porta e te leva. Tem alguns pessoal se forma em alguma coisa, levantadas, discutidas e organizadas durante e socioambientais a serem cartografados – re-
critérios para isso, o assistente social mas depois continua trabalhando a atividade Cartografia Social, uma das uniu em um galpão localizado na Comunidade
tem que comprovar a condição dos naquilo que trabalhava antigamente.” ações participativas promovidas pelo Quipea, Quilombola de Cacimbinha 63 moradores das
alunos, tem que ter morado oito anos ITAMAR BATALHA Projeto de Educação Ambiental conduzido pelo comunidades de Cacimbinha e Boa Esperança.
em Kennedy, etc. Isso aí eu acho que Ibama no contexto das medidas mitigadoras
está certo porque se não, tudo mundo do processo de licenciamento ambiental dos Em agosto do mesmo ano, a comunidade de
brinca lá fora e depois volta aqui só FICA SÓ ENTRE OS GRANDES empreendimentos de exploração de petróleo e Cacimbinha recebeu em suas casas durante
pra fazer faculdade.” SILVIA gás da Shell Brasil na Bacia de Campos. Na uma semana a equipe de pesquisadores do
Comunidade Quilombola de Cacimbinha, a Quipea. Nessa ocasião, além de entrevistas,
“Nós participamos de reuniões com Cartografia Social, atividade demandada pelas conversas informais e rodas de conversa, repre-
“Estou terminando a minha faculdade a Shell, também com o Ibama, com próprias comunidades quilombolas do Quipea, sentantes da comunidade, junto aos pesquisado-
de educação física no município de o pessoal do Porto, várias reuniões. se deu por meio da realização de diferentes res, percorreram o seu território de uso e ocupa-
Cachoeiro de Itapemirim, estou no Mas até agora uma resposta concreta ações participativas ocorridas durante os anos ção e georreferenciaram os pontos de destaque
último período. A minha irmã formou sobre o porto nós não tivemos, eles de 2019 e 2020. para a elaboração da autocartografia de sua
o ano passado em pedagogia e já nunca abrem o português para nós.
está atuando na área, trabalha em Sobre o Porto não conseguem nos pas-
Cachoeiro. Para estudar é a prefeitura sar algo certo. Parece que a empresa
daqui de Kennedy que paga, de um que ia construir o porto abriu mão Croqui da
tempo para cá foi assim, mas antiga- e agora vai vir uma outra empresa, comunidade
mente não era assim não, se quisesse inclusive dizem que a Shell tinha desenhado
fazer uma faculdade tinha que pagar comprado vários terrenos por lá, mas durante a
[o transporte] do bolso. Final do ano a gente não está sabendo detalhes. oficina de
eu me formo, eu já até comecei a dar A gente só sabe que esse porto vai cartografia
aula de treinamento funcional em Boa sair, sempre dizem que vai ter serviços social
Esperança, para ganhar experiência. e emprego, mas até hoje nada.” SILVIA
Eu tenho o sonho também de fazer
uma academia no primeiro andar da
minha casa, mesmo que seja pequena, “Eu creio que essa informação, e essa
porque eu vejo que a nossa comu- clareza ali, fica só entre os grandes,
nidade precisa de uma academia, entre os grandes diretores para assim
de uma padaria, e de várias outras poder lucrar, sendo que nós da comu-
coisas. LEOVANI nidade ficamos nessa situação (de de-
sinformação). E eu não vejo que esse
porto chegue a decolar.” ROSINALDO