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FACULDADE ASSIS GURGACZ

PAULO HIPÓLITO JUNIOR

UMA PROPOSTA DE ANÁLISE SEMIOLÓGICA DAS MARCAS DOS GOVERNOS


FEDERATIVOS DE 2014 A 2023.

TOLEDO, PR.
2023
2

PAULO HIPÓLITO JUNIOR

UMA PROPOSTA DE ANÁLISE SEMIOLÓGICA DAS MARCAS DOS GOVERNOS


FEDERATIVOS DE 2014 A 2023

Projeto de Pesquisa do Curso de


Comunicação Social – Publicidade e
Propaganda, da Faculdade Assis Gurgacz
- FAG, exigido como requisito parcial para
aprovação na disciplina de Trabalho de
Conclusão de Curso I – TCC I.

Orientador: Prof. Me. Clóvis Cézar Pedrini


Junior

TOLEDO, PR.
2023
3

FACULDADE ASSIS GURGACZ

PAULO HIPÓLITO JUNIOR

UMA PROPOSTA DE ANÁLISE SEMIOLÓGICA DAS MARCAS DOS GOVERNOS


FEDERATIVOS DE 2014 A 2023

Trabalho de Conclusão de Curso de Publicidade e Propaganda, da Faculdade Assis


Gurgacz, exigido como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel, sob
orientação do(a) Prof. Me. Clóvis Cézar Pedrini Junior, tendo sido
______________________ com a nota ________________, na data de
_____/_____/_____.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________

Faculdade Assis Gurgacz


____________________________________

Faculdade Assis Gurgacz


______________________________________

Faculdade Assis Gurgacz

Toledo/PR, _____ de __________________ de 2023


4

RESUMO

Este estudo tem por finalidade propor e aplicar uma análise semiótica sobre as
marcas dos governos federativos do Brasil do período compreendido de 2014 a
2023 que correspondem, respectivamente, aos governos Dilma Vana Rousseff,
Michel Miguel Elias Temer Lulia, Jair Messias Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva.
A partir dessa análise, espera-se poder identificar, elucidar e esclarecer as escolhas
simbólicas utilizadas para a construção das marcas e como elas exercem o papel
simbólico de traduzir os aspectos ideológicos e de conduta de cada uma das
gestões presidenciais. A análise das marcas dos governos federativos brasileiros ao
longo desse período também pode contribuir para uma apreciação mais ampla das
tendências e estratégias de comunicação adotadas em um contexto político. Isso
pode fornecer dados para a sociedade no geral em como as marcas são uma
ferramenta poderosa no papel de representar a face do governo.

ABSTRACT

This study aims to propose and apply a semiotic analysis of the federal government
brands of Brazil from the period encompassing 2014 to 2023, which correspond,
respectively, to the administrations of Dilma Vana Rousseff, Michel Miguel Elias
Temer Lulia, Jair Messias Bolsonaro, and Luiz Inácio Lula da Silva. Through this
analysis, the goal is to identify, elucidate, and clarify the symbolic choices used in the
construction of these brands and how they play a symbolic role in translating the
ideological and behavioral aspects of each presidential administration. Additionally,
the analysis of the brands of the Brazilian federal governments over this period can
also contribute to a broader understanding of the communication trends and
strategies employed in a political context. This can provide valuable insights for
society as a whole on how brands serve as a powerful tool in representing the face of
the government.

Palavras-chave: Marcas. Política. Presidentes.


5

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………… 6
2. MARCA DE SUCESSO .…….…….………………………….…….……………..…… 8
2.1 CONSTRUÇÃO DE GRANDES MARCAS ………….……………………… 8
3. ANÁLISE SEMIÓTICA ………………..……………………………………..………… 9
3.1 O QUE É SEMIÓTICA ……………………..…………………………………. 9
3.2 SEMIÓTICA APLICADA …………………………………………………….. 11
4. METODOLOGIA ………………………………...………………………………..…… 12
5. MARCA GOVERNO DILMA (2011 A 2016) .…………………………...………….. 15
5.1 QUALITATIVO-ICÔNICO ……………………………………………………. 15
5.2 SINGULAR-INDICATIVO ……………………………………………………. 16
5.3 CONVENCIONAL-SIMBÓLICO ……………………………………………. 16
5.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A MARCA …………………………………… 17
6. MARCA GOVERNO TEMER (2016 A 2018) ...………………………...………….. 18
6.1 QUALITATIVO-ICÔNICO ……………………………………………………. 18
6.2 SINGULAR-INDICATIVO ……………………………………………………. 19
6.3 CONVENCIONAL-SIMBÓLICO ……………………………………………. 20
6.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A MARCA …………………………………… 21
7. MARCA GOVERNO BOLSONARO (2018 A 2022) …………………...………….. 21
7.1 QUALITATIVO-ICÔNICO ……………………………………………………. 22
7.2 SINGULAR-INDICATIVO ……………………………………………………. 22
7.3 CONVENCIONAL-SIMBÓLICO ……………………………………………. 23
7.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A MARCA …………………………………… 23
8. MARCA GOVERNO LULA (2023 A 2026) ……...……………………...………….. 24
8.1 QUALITATIVO-ICÔNICO ……………………………………………………. 25
8.2 SINGULAR-INDICATIVO ……………………………………………………. 25
8.3 CONVENCIONAL-SIMBÓLICO ……………………………………………. 25
8.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A MARCA …………………………………… 26
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS …………………………………………………………. 27
REFERÊNCIAS ……………………………………………………………...…………… 29
6

1. INTRODUÇÃO

A política brasileira apoia-se nas ferramentas ofertadas pela publicidade e


pelo marketing para os mais diversos objetivos, sejam eles para angariar votos dos
eleitores, reforçar os princípios e crenças de determinado grupo ou até mesmo na
criação de símbolos que transmitam seus valores.
Ao ser eleito, o presidente adquire o direito de adotar uma marca que
simboliza o seu mandato pelos próximos 4 anos. Essa marca desempenha o papel
de representar as ideias e ideais do político em questão, além de também ser
disseminada para simbolizar todos os projetos e iniciativas do governo durante esse
período.
Este trabalho de conclusão de curso tem como objetivo aprofundar-se na
análise semiótica das marcas adotadas pelos governos federais dos presidentes da
república: Dilma Vana Rousseff (2011-2016), Michel Miguel Elias Temer Lulia
(2016-2018), Jair Messias Bolsonaro (2019-2022) e Luiz Inácio Lula da Silva
(2023-2026). Por meio desse estudo, pretende-se identificar e explorar símbolos,
ícones, índices, cores, tipografia e outros elementos essenciais presentes nessas
marcas. A principal meta é, portanto, desvendar os significados subjacentes a esses
elementos e tentar justificar as razões para a escolha e utilização nas respectivas
marcas.
A análise semiótica das marcas dos governos é de suma importância, já que
as marcas são representações simbólicas que comunicam ideias, valores e
identidades políticas. No caso específico do intervalo temporal de 2014 à 2023, a
investigação semiótica dessas marcas oferece amostras diferentes sobre a forma
como esses líderes políticos escolheram se posicionar e se apresentar ao público já
que tratam-se de espectros políticos distintos, tendo em vista a clara polarização na
nossa política nacional recente.
Nesse período o cargo da presidência foi ocupado pela primeira mulher na
nossa história com sua linha política sendo considerada de esquerda, um
vice-presidente de centro que tomou posse no maior cargo político do país após um
impeachment, um novo presidente eleito com linha política à direita e por fim a volta
ao poder de um ex-presidente alinhado à esquerda.
7

Através da identificação de símbolos, ícones e índices presentes nas marcas,


se propõe desvendar as mensagens intrínsecas que essas representações
carregam. Isso ajuda a compreender como esses presidentes buscaram influenciar a
percepção pública, destacar suas prioridades políticas e criar um senso de
pertencimento em seus eleitores que são os seus maiores apoiadores e
compactuam das mesmas ideias e ideais.
A seleção das marcas dos presidentes escolhidos para análise apresenta
uma amostra considerável - 10 anos de alternâncias de poder - o que pode revelar
padrões abrangentes nos três espectros políticos (esquerda, centro e direita). Esse
aspecto tem o potencial de oferecer benefícios significativos ao estudo, não apenas
no contexto acadêmico, mas também para a sociedade em geral.
Uma compreensão mais profunda dessas marcas pode aprimorar nossa
capacidade de avaliar com propriedade novas marcas de governos ou outros
elementos durante períodos de candidaturas políticas. Isso, por sua vez, fortalece
nossa capacidade de resistir às tentativas de manipulação que frequentemente
acompanham o uso estratégico desses elementos.
Com isso, podemos entender como as marcas dos governos federativos de
2014 a 2023 foram usadas para representar o governo e causar a ideia de
pertencimento aos seus apoiadores tendo em vista que, em sua essência, as logos
são construídas para simbolizar conceitos específicos, e todos os seus elementos
são cuidadosamente selecionados de forma estratégica. No contexto político, tais
elementos desempenham um papel crucial ao fomentar um sentimento de
identificação entre os apoiadores e ao mesmo tempo ampliar a divulgação das
causas defendidas por cada presidente.
No âmbito dos governos, as marcas desempenham múltiplas funções: elas
têm a capacidade de expressar identidades políticas, transmitir valores e ideologias
particulares, bem como cultivar essa sensação de grupo. Essas marcas,
adicionalmente a discursos e outros, são uma das principais fontes que moldam a
percepção pública, sendo interpretadas por jornalistas, analistas políticos, e a
sociedade em geral, como um indicativo das direções que o governo poderá seguir.
A aplicação de símbolos e outros elementos visuais é uma das principais
estratégias para estabelecer uma conexão sólida entre o presidente e seus eleitores.
Isto desempenha um papel essencial em demonstrar a concretização das
8

promessas e posições defendidas durante a campanha eleitoral, reforçando a ideia


de unidade e fortalecendo a base de apoio desse líder político.
De maneira geral este trabalho tem por objetivo então, analisar de maneira
semiótica as marcas dos governos federativos dos presidentes Dilma Vana Rousseff,
Michel Miguel Elias Temer Lulia, Jair Messias Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva e
identificar os símbolos, ícones e índices intrínsecos nas marcas dos governos
federativos de 2014 a 2023; analisar o significado desses elementos e também os
padrões utilizados pelos espectros políticos e avaliar a relação do emprego desses
elementos com o que é defendido tanto pelo presidente e seus apoiadores quanto à
pertencimento em ideias e ideais.

2. MARCA DE SUCESSO

2.1 CONSTRUÇÃO DE GRANDES MARCAS

Antes de abordarmos a teoria semiológica em si, ou sobre como é realizada a


análise de peças ou composições através da semiótica, vamos primeiro atentarmos
às marcas ou logos de maneira mais aprofundada. O que faz de uma logo uma
marca de sucesso? Que elementos devem constar nele, por que? Como ele pode
ser eficaz em transmitir de maneira rápida a sua comunicação com o seu respectivo
público alvo?.
David Aaker traz em seu livro On Branding: 20 Princípios que Decidem o
Sucesso das Marcas (2015), que marcas são ativos que determinam a estratégia, ou
seja, uma marca vai muito além da simples representação de um logo, intrínseca à
ela está a personalidade, e valores que uma marca pode oferecer fazendo com que
no final uma marca possua valor real, como é o caso da empresa norte americana
APPLE onde o seu valor como marca supera muito o valor que corresponde a
necessariamente sua organização, estoque, lojas e outros bens físicos.
Por isso para Aaker (2015, p.25) “Sua marca precisa de uma visão de marca:
uma descrição estruturada da imagem pretendida pela marca; o que você deseja
que a marca represente para os clientes e outros grupos relevantes” É essa visão
bem estruturada que vai, não só causar a primeira impressão ou identificação com o
público alvo, mas também é ela quem vai reger todo o restante da comunicação
9

empregada por essa organização. Aaker aponta ainda que (2015, p.25) “Quando a
visão de marca se encaixa perfeitamente, quando acerta o alvo, ela reflete e apoia a
estratégia de negócios, criando diferenciais em relação à concorrência”.
Essa estratégia serve tanto para empresas na hora da criação da logo quanto
para as marcas de governo, já que ambas dividem o mesmo objetivo, criar conexão
e gerar identificação com o seu público alvo. Uma marca de governo pode ir além de
somente assinar ou ilustrar um presidente e seus feitos socioeconômicos, mas
podem de primeiro momento fortalecer através da identificação dos mesmos ideais a
sua base de apoio político e criar uma bandeira forte e duradoura.
David Aaker diz ainda que o apoio de uma organização a programas
associados podem oferecer um “motivo para acreditar” em seu público“Uma
reputação organizacional centrada em prioridades como a preocupação com o
cliente ou a qualidade será duradoura” (AAKER, 2015, p.44).
É por isso que muitas empresas abraçam em seus valores causas
ambientais, sociais e outros, já que isso causa a identificação de pessoas que
compartilham da mesma preocupação. Uma pessoa que se preocupa com as
mudanças climáticas vai buscar por empresas que estejam alinhadas com essas
práticas, e isso serve para o âmbito político, já que as pessoas possuem suas ideias
e ideais como indivíduos e vão buscar ser representadas na hora de escolher a
pessoa ou apoiar àquele que ocupa o cargo de maior representatividade no nosso
país.

3. ANÁLISE SEMIÓTICA

3.1 O QUE É SEMIÓTICA

Por meio da semiótica Charles S. Peirce, mostra como a linguagem e suas


variantes podem expressar muito mais que junções de letras a fim de se formar um
som. A linguagem passou por muitas transformações, nos primórdios da
humanidade os grunhidos eram nosso meio de comunicação, mas não os únicos. A
história da humanidade sempre foi muito mais do que as palavras representam, os
signos e seus significados tem papel fundamental na evolução de nossa espécie e
podemos ver isso com pinturas rupestres, gestos, toques e até expressões faciais.
10

Para Charles Peirce (2000, p.74) “qualquer coisa que conduz alguma outra
coisa (seu interpretante) a referir-se a um objeto ao qual ela mesma se refere (seu
objeto), de modo idêntico, transformando-se o interpretante, por sua vez, em signo”
ou seja, signo é uma ramificação da linguagem que representa algo ao interpretante,
fazendo com que o mesmo através de associação receba essa mensagem e aquilo
que ela comunica.
Para Peirce (2000, p.74) “um signo é um ícone, um índice ou um símbolo”.
São esses elementos que podem por convenção social adquirir uma
representatividade quase que universal para as pessoas a fim de transmitir uma
mensagem única para todos os receptores.
Para esse artigo, o método de análise semiótica escolhido é o da autora Lúcia
Santaella que diz que:

A Semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as


linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de
constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de produção de
significação e de sentido ( SANTAELLA, 1983, p. 13).

Assim, podemos entender que o mundo linguístico que conhecemos se


transforma a cada segundo e nem nos damos conta da grandiosidade da semiótica.
A autora da obra O que é semiótica (1983), retoma a importância da diferença entre
a língua e linguagem ao explicar, que a língua seria aquilo que falamos, um exemplo
prático é o idioma nossa língua pátria enquanto a linguagem seria tudo aquilo que vá
além dos limites da língua, as cores, sons, imagens, setas, traços ou seja tudo que
seja não-verbal.

Em síntese: existe uma linguagem verbal, linguagem de sons que veiculam


conceitos e que se articulam no aparelho fonador, sons estes que, no
Ocidente, receberam uma tradução visual alfabética (linguagem escrita),
mas existe simultaneamente uma enorme variedade de outras linguagens
que também se constituem em sistemas sociais e históricos de
representação do mundo ( SANTAELLA 1983, p. 11).

Portanto, o repertório que adquirimos ao longo do tempo por meio das


convenções sociais é o que molda nossa compreensão de uma determinada
representação, símbolo ou signo. Por exemplo, o desenho de uma maçã mordida
inicialmente representava apenas isso, uma maçã mordida. No entanto, ao longo do
tempo e de sua ampla disseminação, hoje associamos esse símbolo à marca
11

americana APPLE, que o utiliza como ícone em seus dispositivos celulares,


computadores e outros produtos.

3.2 SEMIÓTICA APLICADA

Para a análise das marcas dos governos federativos do Brasil, o método


escolhido para o estudo semiótico é, portanto, o proposto por Santaella (2002, p.
69), que afirma que deve-se levar em consideração “quais são os efeitos que um
dado produto está apto a produzir em um receptor”, deixando claro que o símbolo
criado deve fazer parte da realidade do público alvo para o qual ele foi criado ou pelo
menos fazer parte do universo dessa pessoa, pois se não, é claro, a mensagem não
será bem recebida.

Para explorar esse potencial comunicativo, a semiótica propõe três pontos


de vista fundamentais e complementares através dos quais se procede à
análise, a saber: o ponto de vista qualitativo-icônico; o singular-indicativo; e
o convencional-simbólico ( SANTAELLA 2002, p. 69).

São esses os três pontos que serão analisados nas marcas de governos a fim
de extrair então todos os objetivos comunicacionais que possam estar intrínsecos
nas mesmas.
Para conseguir realizar então a análise das marcas do período pontuado
(2014 a 2023) é necessário sintetizar esses três pontos de vista, partindo de primeiro
momento do ponto qualitativo-icônico onde:

São analisados os aspectos qualitativos de um produto, peça, ou imagem,


ou melhor, a qualidade da matéria de que é feito, suas cores, linhas,
volume, dimensão, textura, luminosidade, composição, forma, design etc.
Esses aspectos são responsáveis pela primeira impressão que um produto
provoca no receptor. A impressão que brota da primeira olhada
(SANTAELLA 2002, p. 70).

É nessa etapa então que são pontuados os elementos numa ótica mais superficial
da peça ou composição, que nesse caso são as marcas de governo, mas ainda sem
tentar empregar significado à elas, levando somente em consideração as cores, formas,
linhas, texturas e tudo aquilo que possa ser identificado num primeiro momento assim
como a própria Santaella caracteriza como a “primeira olhada”.
12

Em seguida, deve-se fazer novos apontamentos sobre a peça ou composição que


está sendo analisada, neste momento, no âmbito singular-indicativo onde para Santaella
(2002, p.71), “Sob o ponto de vista singular-indicativo, o produto, peça ou imagem é
analisado como algo que existe em um espaço e tempo determinados”. Nesse momento
então é necessário atentar-se em como foi feita a manipulação dos elementos
anteriormente identificados e qual o seu uso, levando em consideração dois fatores: o
contexto a que pertence e a finalidade para qual se presta.
Finalmente, deve-se fazer os apontamentos do último ponto de vista semiótico
pontuado pela autora, que é o ponto de vista convencional-simbólico. Santaella assegura
que “sob o ponto de vista convencional-simbólico, o produto é analisado no seu caráter de
tipo, quer dizer, não como algo que se apresenta na sua singularidade, mas como um tipo
de produto” (2002, p.71). Nessa etapa, a peça ou campanha deve ser analisada quanto a
carga cultural que ela carrega em sua composição, que repertórios ela consegue
apoiar-se ou o que representa à um determinado grupo com a finalidade de entender
melhor a sua recepção. Ainda segundo Santaella (2002) deve ser feito em três etapas:
analisando padrões de design, poder representativo e por fim tipo de usuário ou
consumidor.
O método de Semiótica Aplicada proposto por Lúcia Santaella promove e garante
uma análise imparcial das logos dos governos, algo de imensa importância, já que política
é um tema delicado e que pode sofrer influência de vieses ideológicos e emocionados, já
que todo cidadão possui suas ideologias políticas.

4. METODOLOGIA

O método utilizado para a pesquisa será do tipo descritiva que para Assis (2008,
p.18) “é um tipo de investigação científica que tem como objetivo observar, registrar,
analisar, classificar e interpretar os dados sem interferência ou manipulação do
pesquisador”, sendo então o melhor método para uma análise semiótica de dados
políticos, já que o objetivo desse trabalho é também realizar essa análise de maneira
apartidária e com o máximo de imparcialidade possível, eximindo-se da escolha de um
dos lados.
O objetivo será explorar e descrever os elementos empregados nas marcas de
governo dos presidentes da república no período. Nessa pesquisa, serão coletados dados
13

através da pesquisa documental onde para Assis (2008, p.19) baseia-se em buscar em
dados em “documentos primários, originais, chamados 'de primeira mão', isto é, ainda não
utilizados em estudos ou pesquisa: dados estatísticos, documentos históricos,
correspondência epistolar de personalidades etc.”. Permitindo assim identificar as
estratégias de comunicação empregadas nas marcas dos governos federativos.
Para alcançar os objetivos, será realizada uma análise semiótica sobre as logos
usadas pelos presidentes de 2014 a 2023. Com base nessa análise, será possível
identificar padrões, e entender a correlação entre o emprego de elementos com a
sensação de pertencimento.
Será empregada a metodologia de pesquisa documental, a qual compreenderá a
análise de documentos políticos, com ênfase no manual de marca das logos referentes ao
período sob investigação, abrangendo os anos de 2014 a 2023.
Os conceitos centrais da pesquisa serão operacionalizados com base em
fundamentos teóricos consolidados e em estudos relevantes. Serão utilizados conceitos e
teorias desenvolvidos por teóricos como David Aaker com a definição de elementos para
a construção de marcas de sucesso e principalmente Lucia Santaella com o seu método
de semiótica aplicada para extrair todos os elementos que possam estar intrínsecos na
marca.
Os dados utilizados para essa pesquisa vêm da análise dos manuais de marca das
respectivas logos.
O período de 2014 a 2023 foi escolhido por abranger um intervalo significativo de
eleições no Brasil e permitir uma análise comparativa das estratégias de marketing
político ao longo do tempo. Além disso, esse período inclui transformações sociais
significativas e uma pluralidade muito grande na nossa sociedade, no período também
ocorreu um Impeachment e alternância de poder e possuem presidentes de diversos
espectros políticos, como esquerda, centro, direita e novamente esquerda.
Os resultados do estudo serão aplicáveis a outros tempos e/ou lugares, pois a
análise semiótica das marcas de governo desse período permitirá identificar tendências e
padrões que podem ser relevantes em contextos futuros. Esse estudo também servirá
para além dos profissionais da área também para a população no geral se atentar aos
padrões e tornar assim menos suscetíveis a persuasão influenciada por certos discursos.
A abordagem escolhida para este artigo é qualitativa já que:
14

Pesquisa qualitativa - é uma pesquisa descritiva, cujas informações não são


quantificáveis; os dados obtidos são analisados indutivamente; a
interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no
processo de pesquisa qualitativa (ASSIS, 1996, p.20) .

Nesse contexto, a pesquisa busca quantificar e mensurar as variáveis relacionadas


ao emprego desses elementos e símbolos nas marcas de governo e essa escolha permite
obter resultados precisos e objetivos, uma vez que utiliza medidas e técnicas estatísticas
para analisar os dados de forma mais confiável.
Como pontuado anteriormente, o método de análise semiológico escolhido para o
artigo é o da Semiótica Aplicada de Lucia Santaella, sintetizado através da tabela abaixo:

Tabela 1 - Pontos de vista do método de análise e características que devem ser


analisadas em cada âmbito.

Ponto de Vista Análise de:

Qualitativo-Icônico Formas, Cores, Linhas, Volume,


Dimensão, Textura, Composição,
Design e outros.

Singular-Indicativo Qual é o propósito da interação destes


elementos e qual a finalidade para a
qual foram empregados.

Convencional-Simbólico O impacto que a combinação dos


fatores mencionados pode ter sobre os
destinatários, influenciando a sua
capacidade de reconhecer e interpretar
símbolos com base em repertórios ou
convenções sociais.

Fonte: Desenvolvido pelo autor baseado em Santaella (2023)

Sendo possível assim, extrair o máximo das representações e significados


intrínsecos marcas do governo, destacando todos os elementos de forma
abrangente e permitindo entender melhor a identidade governamental, e sua
influência e alcance de forma completa.
15

5. MARCA GOVERNO DILMA (2011 A 2016)

Imagem 1 - Marca Governo Dilma 1 (2011 a 2016)

A imagem 11 acima, refere-se à marca do governo federal do Brasil durante a


presidência de Dilma Vana Rousseff (2011-2016). Dilma Rousseff foi a 36º
presidente do Brasil, ocupando o cargo de 2011 a 2016 e sendo a primeira mulher
eleita ao cargo na história do país. Ela tinha sua posição e imagem associadas à
esquerda política assim como o partido em que era membro quando foi eleita, o
Partido dos Trabalhadores (PT).

Quanto a logo criada para representar o governo durante o período é possível


destacar através do método de semiótica aplicada de Santaella os três pontos de
vista, tendo então:

5.1 QUALITATIVO-ICÔNICO
No aspecto qualitativo-icônico, a logo se destaca por sua forma retangular
com cantos levemente arredondados, que atua como uma moldura para o ícone da
marca. Esse retângulo é preenchido com uma coloração amarela. No interior, a
palavra "Brasil" se sobressai, escrita em letras maiúsculas, com uma fonte que
apresenta um degradê suave, variando entre tons de verde. O espaçamento entre
os caracteres foi reduzido, e em alguns casos, há uma sobreposição entre as letras.
Mesmo com um número par de caracteres, o espaçamento foi cuidadosamente
planejado, de modo que a letra "A" em "Brasil" fosse o mais centrada possível.

1
Fonte: Acervo EBC Empresa Brasil de Comunicação, disponível em:
https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//sites/_agenciabrasil/files/gallery_assist/29/gallery_assist66
3400/10022011-AF_Logo_completo_RGB.jpg (acessado em agosto de 2023)
16

Na letra "A", observa-se a presença de um losango com um gradiente que


transita entre tons de laranja, contendo um círculo azul no seu centro. Além disso,
uma faixa branca atravessa o círculo ao meio.
Logo acima do ícone, encontra-se a inscrição "Governo Federal" em uma
fonte mais leve, enquanto abaixo do ícone está a frase "País rico é país sem
pobreza" com uma fonte mais pesada, ambas em caixa alta e caracterizadas por
cantos quadrados.

5.2 SINGULAR-INDICATIVO

Ao analisarmos o aspecto singular-indicativo, torna-se evidente que as cores


amarelo, verde, azul e branco empregadas na logo, além dos elementos presentes,
como o losango, o círculo e a faixa branca, são idênticos aos elementos e formas
presentes na bandeira do Brasil. Vale destacar que a logo também faz uma
referência à logo utilizada pelo presidente anterior, Lula, que pertence ao mesmo
partido político que Dilma. Nessa referência, a disposição das palavras e caracteres
permanece a mesma, mas, desta vez, as cores da bandeira nacional são adotadas,
conferindo à logo uma postura mais neutra.
A inscrição "Governo Federal" sugere que a marca representa a identidade do
governo presidencial, enquanto a frase "país rico é país sem pobreza" indica que
para se ter um país rico é necessário antes acabar com a pobreza e que então esse
é um dos objetivos do governo e principal prioridade.

5.3 CONVENCIONAL-SIMBÓLICO

A marca utiliza de elementos da logo usada pelo antecessor de Dilma, um


propulsor em sua campanha eleitoral e com o qual a sua base de eleitores e
apoiadores se identificava profundamente. No entanto, desta vez, as cores da logo
remetem à bandeira do Brasil, o mais importante símbolo de nação no nosso país.
A inscrição "País rico é país sem pobreza" aborda a questão da desigualdade
social que persiste no país e estabelece uma direção para o governo, na qual a
prioridade será a redução ou erradicação da pobreza, um tema de extrema
importância tanto para o partido da presidente quanto para seus eleitores e
17

apoiadores. Além disso, essa frase pode ser interpretada como uma reflexão sobre
os elogios e definições frequentes atribuídos ao Brasil, muitas vezes considerado um
país rico devido aos seus recursos naturais, como florestas, minérios, rios e
biodiversidade. No entanto, para o governo, um país só pode ser verdadeiramente
rico a partir do momento em que não há pobreza.

5.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A MARCA

A marca efetivamente atinge seu propósito de estabelecer conexão e


identificação com seus eleitores e base de apoiadores, especialmente quando faz
referência à logo previamente utilizada pelo presidente do mesmo partido. Isso
demonstra o comprometimento da governante em dar continuidade ao legado e à
mesma linha de pensamento de seu antecessor. A logo de Dilma, por sua vez, adota
uma abordagem mais sóbria em comparação com a diversidade de cores
anteriormente usada por Lula, que foram substituídas pelas cores da bandeira
nacional. Isso talvez sugira a intenção do governo de se apresentar de forma mais
séria e de ampliar sua base eleitoral e de apoiadores ao adotar simbolismos mais
neutros.
A marca emprega suas inscrições de maneira direta e eficaz para comunicar
seu principal objetivo, utilizando uma frase que convida o receptor a refletir sobre a
realidade do país e a identificar uma ideologia centrada na necessidade de erradicar
a pobreza como um passo fundamental para construir uma nação rica.
18

6. MARCA GOVERNO MICHEL TEMER (2016 A 2018)

Imagem 2 - Marca Governo Temer (2016 a 2018)

A imagem 22 acima, refere-se à marca do governo federal do Brasil durante a


presidência de Michel Miguel Elias Temer Lulia (2019-2022). Michel Temer foi o 37º
presidente do Brasil, ocupando o cargo de 2016 a 2019 após o impeachment de
Dilma Rousseff que o fez sair da vice-presidência e assumir o cargo de presidente
do Brasil. Michel tinha sua posição e imagem associadas ao centro político assim
como o partido em que era membro, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB).

Quanto a logo criada para representar o governo durante o período é possível


destacar através do método de análise semiótica aplicada de Santaella os três
pontos de vista, tendo então:

6.1 QUALITATIVO-ICÔNICO

Sob a perspectiva qualitativa e icônica, a primeira observação recai sobre a


palavra "Brasil" escrita em letras maiúsculas, com uma tipografia sem serifa de
cantos retos. A cor predominante é uma paleta de tons de azul, que permeia toda a
identidade visual da marca. Acima da palavra "Brasil", destaca-se uma esfera azul

2
Fonte: Matéria do Jornal Estadão sobre a nova logo e Slogan do Governo Temer:
https://www.estadao.com.br/politica/governo-federal-ordem-e-progresso-sera-o-slogan-do-governo-te
mer/ (acessado em agosto de 2023).
19

que se encaixa perfeitamente no centro do logotipo, alinhada com a letra "A". Essa
esfera exibe uma faixa amarela que contorna a sua circunferência, e em seu interior,
encontra-se a inscrição "Ordem e Progresso" também em letras maiúsculas e na cor
verde. Além da faixa, a esfera apresenta 27 estrelas brancas, sendo 26 dispostas
abaixo da faixa e apenas uma acima dela. Por último, abaixo da palavra "Brasil",
encontra-se a frase "Governo Federal", escrita em letras maiúsculas e com uma
fonte de peso fino.

6.2 SINGULAR-INDICATIVO

A paleta de cores empregada na criação do logotipo do governo Temer é uma


clara alusão às cores presentes na bandeira nacional. Ela consiste nas cores azul,
branco, verde e amarelo, que coincidem exatamente com as tonalidades da
bandeira do Brasil. Outro elemento que reforça a ligação com a bandeira é a esfera,
simbolizando o círculo da bandeira, e dentro dela, as 27 estrelas que representam
os estados brasileiros e o Distrito Federal, juntamente com a faixa contendo a
célebre frase "Ordem e Progresso".

A disposição central da esfera pode sugerir o compromisso do governo em


manter uma postura de neutralidade, evitando favorecer qualquer espectro político.
Além disso, a escolha da cor predominante, o azul, é a mais impessoal das cores da
bandeira, transmitindo uma sensação de frieza e neutralidade.

A seleção da tipografia é estratégica, visando conferir maior seriedade à


marca. A fonte utilizada é sem serifa, com cantos retos, o que facilita a legibilidade.
Essa escolha fica em um ponto intermediário entre a sofisticação de uma fonte
serifada e a amigabilidade de uma fonte com cantos arredondados.

Por fim, a inclusão da frase "Governo Federal" deixa claro que a marca
representa a face do governo, consolidando sua identidade institucional.
20

6.3 CONVENCIONAL-SIMBÓLICO

Sob uma perspectiva convencional-simbólica, observamos que o uso dos


elementos, cores e formas na logo do governo remete facilmente o espectador à
bandeira nacional do Brasil, o símbolo de maior importância para a nação. Isso
demonstra a intenção de criar uma associação direta com a identidade nacional.
Além disso, considerando o contexto político da época, a escolha desses elementos
sugere a intenção do governo de manter uma posição neutra diante das crescentes
controvérsias políticas que surgiram após o impeachment.

Nesse mesmo contexto, a ênfase dada à frase da bandeira, "Ordem e


Progresso", é notável. A frase, amplamente reconhecida pelos brasileiros, foi
utilizada neste logotipo de forma única em comparação a todos os presidentes
anteriores. Essa escolha pode ser justificada pelo cenário político conturbado da
época, que demandava ordem devido à polarização crescente, manifestações e
tensões generalizadas. A busca por progresso estava ligada à necessidade de
restaurar a estabilidade.

A logo adota predominantemente a cor sóbria do azul e utiliza uma tipografia


com cantos retos, transmitindo uma sensação de seriedade e responsabilidade.
Além disso, a presença de uma esfera em 3D, que já não é tão comum no design
contemporâneo devido à tendência minimalista, estabelece uma conexão com a
geração mais madura do público brasileiro. Essa geração cresceu em um ambiente
visual onde elementos como o 3D eram comuns, como exemplificado pela principal
emissora de televisão do país, a Rede Globo, que por anos utilizou uma logomarca
com uma esfera prateada em seu centro.
21

6.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A MARCA

A marca desempenhou eficazmente o seu papel de comunicar de forma


imparcial com diversos públicos, especialmente em um momento de crescente
polarização política no país. A escolha da cor azul e da frase predominante na logo,
juntamente com a tipografia, transmite com sucesso a postura adotada pelo
governo, que se torna evidentemente neutra, como ilustrado pela posição
meticulosamente planejada no centro da palavra "Brasil".

A utilização de elementos em 3D e um gradiente sutil, embora atualmente


menos comuns, desempenhou com eficácia o seu papel na comunicação,
principalmente atingindo o público mais maduro, que está familiarizado com esse
tipo de design devido às suas experiências passadas.

7. MARCA GOVERNO BOLSONARO (2019 A 2022)

Imagem 3 - Marca Governo Bolsonaro (2019 a 2022)

A imagem 33 acima, refere-se à marca do governo federal do Brasil durante a


presidência de Jair Messias Bolsonaro (2019-2022). Jair Bolsonaro foi o 38º
presidente do Brasil, ocupando o cargo de 2019 a 2022. Ele tinha sua posição e
imagem associadas à direita política assim como o partido em que era membro
quando foi eleito, o Partido Social Liberal (PSL).

Quanto a logo criada para representar o governo durante o período é possível


destacar através do método de análise semiótica de Santaella os três pontos de
vista, tendo então:

3
Fonte: Manual de marca da logo do governo Jair Bolsonaro, disponível em:
https://www.mds.gov.br/webarquivos/cidadania/marca_gov/Manual.pdf (acessado em agosto de
2023).
22

7.1 QUALITATIVO-ICÔNICO

À esquerda, podemos observar um retângulo verde que serve como um


contorno, apresentando gradientes mais escuros em suas bordas, que transicionam
suavemente para o centro, onde a cor se torna amarela. Dentro desse retângulo,
notamos um losango amarelo que também possui um degradê, com uma tonalidade
mais escura nas bordas, gradualmente clareando em direção ao centro, criando um
efeito de chanfro tridimensional. No interior desse losango, encontramos um círculo
azul, também com um gradiente, onde a cor mais intensa está no centro, enquanto
as bordas apresentam uma tonalidade mais clara. Por último, uma faixa branca corta
todos esses elementos, definindo o limite entre do círculo e do losango, deixando
apenas a parte superior do retângulo verde visível.

À direita, há um conjunto de palavras, com destaque para a palavra "Brasil". Esta


palavra é exibida em uma fonte sem serifa de peso médio com alguns de seus
cantos arredondados, outros quadrados e alguns pontudos, sem um padrão, e na
cor verde, centralizada e alinhada com a imagem à esquerda. Acima de "Brasil",
encontram-se as palavras "Pátria Amada", escritas com a mesma fonte e cor,
formando a frase "Pátria Amada Brasil". Na parte inferior direita, a tipografia continua
com a mesma fonte, porém em cinza, e apresenta a frase "governo federal",
posicionada abaixo da palavra "Brasil".

7.2 SINGULAR-INDICATIVO
As cores utilizadas na marca são as mesmas encontradas na bandeira
nacional do Brasil: verde, amarelo, azul e branco. Além disso, as formas presentes
na marca, como o retângulo, losango, círculo e faixa, também são elementos da
bandeira nacional. Nesse contexto, é evidente que a imagem da bandeira está
incorporada na figura. A faixa branca, que atravessa a figura quase ao meio, cria
uma linha do horizonte distintiva. Por trás da faixa branca, vemos essa
representação da bandeira nacional, enquanto abaixo, surge uma forma que se
assemelha a um semicírculo. No entanto, essa forma é, na verdade, o mesmo
retângulo que delimita a figura completa. O gradiente que se estende do retângulo
em direção ao centro e que adquire uma tonalidade mais amarelada, coincidindo
23

com a área que representa a bandeira. Isso dá a impressão de raios amarelos


irradiando da bandeira.
A composição geral da figura evoca a imagem de um nascer do sol sobre o
horizonte, sobrepondo-se a algo que se assemelha aos campos de plantações do
nosso país. Nesse contexto, o sol simbolicamente representa a bandeira do Brasil.
Quanto à parte tipográfica, é perceptível que as palavras formam a frase
"Pátria Amada Brasil", que é uma parte do hino nacional brasileiro. Além disso, a
inscrição "Governo Federal", em outra cor, indica que a marca representa o governo
federal do Brasil.

7.3 CONVENCIONAL-SIMBÓLICO

Sob a perspectiva convencional-simbólica, a bandeira nacional e suas cores,


juntamente com a inclusão da frase "Pátria Amada Brasil", estabelecem uma
conexão direta com o hino nacional. A combinação desses dois símbolos, que são
os emblemas mais significativos e representativos da nação e de seu povo, busca
fortalecer ainda mais o ideal patriótico. A representação simbólica do nascer do sol
evoca a ideia de um novo dia repleto de novas oportunidades e horizontes
inexplorados. Esse conceito também se reflete na marca, onde uma nova bandeira
emerge no horizonte. Além disso, o simbolismo do campo incorpora um dos
elementos mais essenciais de nossa nação, as extensas plantações, que
desempenham um papel fundamental na geração de riqueza do país.

7.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A MARCA

A marca estabelece uma comunicação direta com o eleitorado e os


apoiadores, com o propósito de reforçar os valores e princípios compartilhados entre
eles. Durante a campanha presidencial, o presidente adotou uma estratégia
simplista, enfatizando a necessidade de se aproximar do povo e promovendo um
forte senso de patriotismo e nacionalismo, essa estratégia provou ser altamente
eficaz, especialmente considerando as inúmeras manifestações políticas em apoio
ao candidato durante o período eleitoral. Seus apoiadores adotaram as cores e
bandeiras como símbolos nas ruas para demonstrar seu forte apoio. Essa
identificação visual continuou sendo empregada como a marca do governo,
consolidando assim sua presença e continuidade na consciência pública.
24

O uso de elementos como chanfro, gradientes e outras técnicas que não são
mais comuns nos dias atuais foi deliberadamente empregado para estabelecer uma
conexão com pessoas com idade acima de 40 anos, que cresceram cercadas por
design que fazia uso dessas abordagens. A imagem do sol nascente ao lado da
bandeira do Brasil reforça a ideia de um novo amanhecer e a chegada de novas
oportunidades para o país. Essa mensagem está alinhada com o discurso do então
presidente, que se apresentava como uma alternativa à velha política.

8. MARCA GOVERNO LULA (2023 A 2026)


Imagem 4 - Marca Governo Lula (2023 a 2026)

A imagem 44 acima, refere-se à marca do governo federal do Brasil durante a


presidência de Luiz Inácio Lula da Silva (2023-2026). Lula é o 39º presidente do
Brasil, ocupando o cargo de 2023 a 2026. Hoje ele ocupa a cadeira de maior
representatividade do país e tem sua posição e imagem associadas à esquerda
política assim como o partido que fundou e no qual foi eleito por três vezes como
presidente, o Partido dos Trabalhadores (PT).

Quanto a logo criada para representar o governo durante o período é possível


destacar através do método de análise semiótica de Santaella os três pontos de
vista, tendo então:

4
Fonte: Manual de marca da logo do governo Lula, disponível em:
https://www.gov.br/secom/pt-br/central-de-conteudo/manuais/uso-da-marca-do-governo-federal/2023-j
an_br_govfederal_manual-de-uso_v1.1/view (acessado em agosto de 2023)
25

8.1 QUALITATIVO-ICÔNICO

No ponto de vista qualitativo-icônico podemos ver à primeira imagem e com


destaque a palavra Brasil com caracteres em caixa alta e espaçamento reduzido
proporcionando letras próximas, essas letras por suas vez, são compostas por
formas como: círculos, semicírculos, quadrados, retângulos, triângulos e outros.
Quanto a cores podemos destacar o verde, azul, amarelo, vermelho e cinza. A logo
é composta por dois dizeres, um acima e outro abaixo da palavra Brasil, acima com
tipografia sem serifa, com maior peso e cantos quadrados o dizer “Governo Federal”,
abaixo da palavra Brasil é encontrado a frase “União e Reconstrução” usando da
mesma fonte porém tendo o seu peso normal.

8.2 SINGULAR-INDICATIVO

No contexto singular e indicativo, podemos notar que as cores verde, amarelo


e azul evocam as tonalidades da bandeira do Brasil, enquanto o cinza e o vermelho
simbolizam a diversidade étnica do país, sendo o vermelho também associado à cor
predominante do partido político e à inclinação política do presidente. A letra "A" é
composta por um losango e um círculo divididos ao meio e usando as mesmas cores
do que faz alusão ao centro da bandeira nacional que utiliza essas mesmas formas.
A disposição sobreposta desses elementos para formar a palavra "Brasil" sugere a
ideia de blocos unidos, como se as empilhassem para construir a palavra e a
proximidade sugerem a união proposta pelo governo.

Os dizeres "Governo Federal" indicam que a marca representa a face do


governo, enquanto a frase "União e Reconstrução" reflete a fase e a proposta do
presidente para o seu governo e o objetivo que ele almeja alcançar ao término de
seu mandato. A necessidade de união e de reconstrução indica de modo mais direto
que para o governo federal o país encontra-se desunido e destruído.

8.3 CONVENCIONAL-SIMBÓLICO

Sob a perspectiva convencional e simbólica, a marca faz uma alusão a uma


identidade anteriormente utilizada pelo mesmo presidente, fortalecendo a conexão
de ideias e valores compartilhados com seus eleitores e base de apoiadores. As
cores utilizadas não apenas refletem as tonalidades da bandeira do Brasil, mas
26

também simbolizam a diversidade étnica do país, uma pauta defendida com


veemência pelo presidente, seu partido e seus apoiadores. No centro da marca, a
letra "A" faz uma clara referência à bandeira nacional.

A representação de blocos empilhados e a proximidade das letras ilustram a


proposta do governo de unir e reconstruir o país. A frase "União e Reconstrução"
atua como o lema desta nova fase e proposta do governo, estabelecendo uma
conexão ainda mais estreita com seu público.

8.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A MARCA

A marca desempenha um papel eficaz ao se comunicar com seus eleitores e


apoiadores desde o primeiro momento, quando faz referência a uma identidade
anteriormente usada por esse presidente. As cores escolhidas reforçam a
importância da pluralidade existente no país, um valor de grande significado para os
eleitores e apoiadores.

A proximidade das letras e a representação da bandeira no centro,


juntamente com a frase "União e Reconstrução", enfatizam a ideia de unidade em
torno do país e demonstram o compromisso do governo em trabalhar para o
benefício de todos, não apenas de um grupo específico. Como apontado no ponto
de vista singular-indicativo, a necessidade de união e reconstrução indica um país
desunido e destruído, e essa é uma das bandeiras levantadas pelo governo atual
justificando que o governo anterior causou essa mazela no país e por isso a
necessidade do objetivo geral do governo. A imagem de blocos unidos na ideia de
reconstrução evoca memórias positivas para os apoiadores e eleitores, relacionando
aos períodos anteriores em que esse político exerceu o poder.
27

9.CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise semiótica das marcas dos governos federais no período de 2014 a


2023 revela como um logo, quando construído e utilizado de forma eficaz, pode
servir como uma ponte para fortalecer os vínculos entre o presidente, seus eleitores
e apoiadores, consolidando ainda mais a sensação de pertencimento e
compartilhamento de ideias e valores.

Através da marca de governo, é possível expressar de maneira distinta a


visão e direção que o governo pretende seguir, incluindo seus objetivos, princípios e
a expectativa que a população em geral pode ter do líder eleito. Nessa perspectiva é
possível notar que os governos Dilma e Lula usaram da marca para, através de um
slogan central, indicar a prioridade do governo para aquele mandato, já no governo
Temer por exemplo, esse slogan não tem a mesma importância e a marca é utilizada
para a partir de seus elementos transmitir a neutralidade e seriedade com a qual o
governo queria ser visto, por último no governo Bolsonaro, o ícone é utilizado para
passar a mensagem de novos dias e novas oportunidades, mas no geral toda a
comunicação foi voltada a por mais uma vez criar a identificação patriota que
funcionou muito bem durante o período eleitoral. Com esse levantamento é possível
identificar que os governistas de esquerda em sua comunicação reforçam suas
pautas ideológicas ou associação com o espectro político através de cores,
enquanto os de centro adotam um comportamento mais neutro e sério e no espectro
de direita busca através do sentimento patriota e nacionalista pautar sua
comunicação inflando esse sentimento comum em seus eleitores.

Além disso, é evidente que os presidentes adotam padrões de elementos que


refletem seu espectro político, origem e abordagem, seja mais conservadora ou
progressista. Esses elementos, como formas, cores e linhas, acabam se tornando
símbolos reconhecíveis por seus apoiadores. Podemos nessa ótica enfatizar o uso
da cor vermelha por Lula em sua logo, o apontamento sobre a desigualdade social
na logo de Dilma em ambos mostrando um viés de pautas de esquerda, enquanto
na marca de Temer todo o posicionamento, a esfera centralizada e as cores sóbrias
condizem com o espectro político central do presidente, enquanto Bolsonaro, com
seu espectro a direita política, apoiou-se no sentimento patriota e nacionalista para
criar a identificação com seus eleitores e sensação de unidade pelo país.
28

Em resumo, a elaboração da marca de governo requer um planejamento que


leve em consideração esses elementos como formas, cores e outros componentes,
com o objetivo de transmitir de maneira clara a mensagem desejada e alcançar
eficazmente o público-alvo. Esse processo deve ser respeitado pois é somente
assim que é possível extrair o máximo potencial que uma marca tem em criar a
identificação necessária entre presidente, eleitores e seus apoiadores, além de
representar o governo em seus projetos socioeconômicos e ilustrar tudo o que possa
vir a ser desenvolvido em seus 4 anos de mandato.
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REFERÊNCIAS

AAKER, David. On Branding: 20 Princípios que decidem o sucesso das Marcas.


Porto Alegre: Bookman, 2015.

ASSIS, Maria Cristina de. Metodologia do trabalho científico. In: Evangelina Maria
B. de Faria; Ana Cristina S. Aldrigue. (Org.). Linguagens: usos e reflexões. João
Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2008.

KELLER, Kevin Lane. Gestão estratégica de marcas. In: Marcos Machado. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.

PEIRCE, Charles. Semiótica. São Paulo: Perspectiva S.A., 2000.

SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 1983.

SANTAELLA, Lúcia. Semiótica aplicada. São Paulo: Pioneira Thomson Learning,


2002.

https://www.gov.br/secom/pt-br/central-de-conteudo/manuais/uso-da-marca-do-gover
no-federal/2023-jan_br_govfederal_manual-de-uso_v1.1/view (Acessado em agosto
de 2023)

https://www.mds.gov.br/webarquivos/cidadania/marca_gov/Manual.pdf (Acessado
em agosto de 2023)

https://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil//sites/_agenciabrasil/files/gallery_assist/29/
gallery_assist663400/10022011-AF_Logo_completo_RGB.jpg (Acessado em agosto
de 2023)

https://www.estadao.com.br/politica/governo-federal-ordem-e-progresso-sera-o-sloga
n-do-governo-temer/ (Acessado em agosto de 2023)

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