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Jornada de Conhecimento e Experiência:

Uma Trajetória de Transformação

Crateús - Ceará.
Abril/2024
1. Formação

Graduei-me em Tecnologia em Recursos Hídricos/Saneamento Ambiental pelo Instituto


Centro de Ensino Tecnológico - CENTEC, Campus Sobral, no período de 2001 a 2004.
Durante esse intervalo, desenvolvi uma monografia intitulada "Diagnóstico dos Resíduos
Sólidos do Município de Santa Quitéria, Ceará", como requisito para a conclusão do curso.
Dado o caráter presencial e matutino do programa acadêmico. Concomitantemente,
mantive minha atividade profissional, optando por realizar deslocamentos diários.
Posteriormente, busquei minha especialização em História e Geografia em nível de Pós-
graduação Lato Sensu, motivada por minha atuação como educadora na disciplina de
Geografia a qual ministro aulas desde 2008. Em virtude de não possuir a graduação em
Licenciatura, optei por cursar esta especialização nos finais de semana na cidade de Santa
Quitéria, pela Faculdade KURIUS, concluindo-a em 2011. Durante este período, elaborei
uma monografia que abordou a disparidade de conteúdos no ensino de Geografia entre
redes pública e privada de ensino.
Prosseguindo com minha formação acadêmica, busquei complementar meus
conhecimentos através da Formação Pedagógica em Geografia pela UNIASSELVI,
finalizada em 2021. Este passo foi precedido por tentativas de conclusão da Licenciatura
em Geografia na Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA e no Instituto Vale do
Acaraú, sediado, no período em Hidrolândia. Atualmente, encontro-me matriculada no
programa de mestrado em Geografia na Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.

2. Introdução

Em julho de 2008, participei de um processo seletivo para contratação temporária de


professores na rede estadual, mais especificamente para a escola que implementaria a
Educação Profissional. Desde o início do curso de Geografia na UVA em 2005, desenvolvi
uma profunda paixão pela ciência geográfica. Essa paixão foi intensificada ao perceber
minha realização em sala de aula. Apesar de manter um vínculo como servidora pública na
Secretaria Municipal de Educação, busquei conciliar minhas responsabilidades municipais
com o ensino, reconhecendo que os resultados do trabalho em sala de aula geralmente se
manifestam em médio e longo prazo. Enquanto isso, minhas ações no âmbito municipal
promoviam mudanças mais imediatas, dada minha atuação em diversas áreas, incluindo
Educação, Obras e Infraestrutura, e Saúde. Nunca me dediquei exclusivamente ao
magistério, tendo lecionado Geografia no ensino médio e em cursinhos pré-vestibulares,
além de ter atuado como professora temporária do Estado entre 2008 e 2009.
Posteriormente, deixei a sala de aula para assumir a Coordenação da Vigilância Sanitária.
Em 2010, fui convidada a lecionar Geografia no Ensino Fundamental anos finais e Ensino
Médio no Colégio Paulo Freire, uma instituição privada, onde permaneço até hoje.
Paralelamente às minhas atividades docentes, em 2013, candidatei-me à presidência do
SINDSEP/SQ (Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Santa Quitéria), embora
não tenha obtido êxito. Contudo, essa experiência me levou a engajar-me na militância
sindical em prol dos servidores públicos municipais. No mesmo ano, o sindicato encerrou
suas atividades, permanecendo desativado até março de 2016.
Entre 2013 e 2016, continuei atuando como servidora pública municipal, ocupando o cargo
de digitadora, e durante esse período desempenhei minhas funções em diversas escolas
municipais, incluindo a EMEF Almerinda Jucá, EMTI Chico Figueiredo e a EMEF
Conceição Catunda. Além de minhas responsabilidades como digitadora, também ministrei
aulas de informática, priorizando não apenas a educação técnica, mas também a formação
humana e cidadã dos estudantes.
Esse compromisso foi especialmente significativo na Escola Chico Figueiredo situada no
bairro Edson Lobo de Mesquita, conhecido como Pereiros, caracterizado por dinâmicas
complexas, como o retorno da migração em sua avenida principal, o êxodo rural em suas
ruas secundárias e, lamentavelmente, a influência do tráfico de drogas. Simultaneamente,
mantive meu vínculo com o Colégio Paulo Freire, ministrando aulas no Ensino
Fundamental anos finais e médio.
No final de 2015, em meio aos meus momentos disponíveis, junto a outros trabalhadores,
iniciamos a reestruturação do SINDSEP/SQ. Essa iniciativa foi motivada pelas constantes
retiradas de direitos dos servidores públicos de Santa Quitéria, durante o contexto político
da época. Após esforços coletivos, conseguimos realizar as eleições sindicais em março de
2016, mesmo com a entidade ainda em processo de reorganização houve disputa. Nesse
pleito, saímos vitoriosos, consolidando nossa chapa.
Em abril de 2016, afastei-me da função de digitadora, na EMEF Conceição Catunda, após
ser liberada conforme previsto na Constituição Federal de 1988, para assumir o mandato
como presidente do sindicato. Permaneci na entidade por dois mandatos encerrando-se em
março de 2024, após o qual permaneci na diretoria executiva da entidade, assumindo o
cargo de secretária de formação e política sindical.
Durante o período de 2016 a 2024, mantive minha atuação na luta sindical e continuei
lecionando Geografia no Colégio Paulo Freire, conforme mencionado anteriormente.
Priorizei sempre contribuir para a formação crítica dos estudantes, mesmo reconhecendo
que, por ser uma instituição privada, alguns deles pertenciam à classe média. Apesar de
críticas que insinuavam doutrinação, busquei incutir neles a consciência de sua condição
como filhos de trabalhadores. Essa abordagem conquistou o respeito dos pais e dos
proprietários da escola, o que me permitiu permanecer na mesma instituição até os dias
atuais.
Em 2020, encorajada por um amigo a explorar o movimento sindical, elaborei um projeto e
submeti-o ao processo de seleção do Programa de Pós-Graduação em Geografia da
Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, visando uma das vagas disponíveis para o
mestrado acadêmico em Geografia. Embora não tenha sido aprovada por uma margem
estreita, esse resultado me motivou a me envolver mais com o programa. Quando o edital
para aluno especial foi divulgado, submeti-me ao processo e obtive a oportunidade de
cursar a disciplina "Reestruturação Territorial do Semiárido", ministrada pelos professores
Luís Antônio Araújo Gonçalves e Virginia Célia Holanda Cavalcante. Além disso,
participei ativamente de eventos e grupos de estudos relacionados à área.
Trago este relato da minha trajetória acadêmica para contextualizar minha decisão, que
pode parecer contraditória, de submeter-me a um processo seletivo para contratação como
professora temporária pelo Estado, em uma escola de ensino médio de tempo integral
recém-inaugurada no Distrito de Trapiá, em Santa Quitéria, Ceará. Meu ingresso na
EEMTI João de Mesquita Braga teve como objetivo complementar minha renda,
especialmente considerando minha aprovação no mestrado no final de 2021, o qual
iniciaria em 2022. Assim, decidi retornar ao Estado como professora temporária para
lecionar Geografia nesta nova escola.
Na EEMTI João de Mesquita Braga, em 2022, redescobri a dinâmica de lecionar na escola
pública após um longo período afastada desse contexto. Nessa experiência, deparei-me
com uma gama de realidades distintas no que se refere ao processo formativo dos
estudantes, refletindo nas bases que eles traziam consigo. A complexidade desse cenário
tornou-se evidente, especialmente após quase dois anos de pandemia de COVID-19,
período no qual a defasagem educacional se acentuou devido à falta de acesso ou
acompanhamento irregular das aulas remotas. Este cenário revelou-se desolador e, ao
mesmo tempo, desafiador.
A EEMTI João de Mesquita Braga acolhe estudantes não só do distrito onde está
localizada, mas também de um outro distrito e de uma vila de pescadores, além de várias
comunidades rurais, incluindo assentamentos da reforma agrária. Para complicar ainda
mais o processo de ensino-aprendizagem, alguns estudantes vinham de salas
multisseriadas, o que demandava uma abordagem cuidadosa e adaptativa. Foi angustiante
observar a disposição para aprender de alguns alunos, enquanto simultaneamente
enfrentavam a necessidade de revisitar conteúdo do ensino fundamental no contexto do
ensino médio para preencher lacunas de aprendizagem.
Sem dúvida, as salas multisseriadas representam uma das maiores negligências por parte
dos gestores que encaram a educação como despesa, não como investimento. Isso resulta
na limitação do futuro de muitas crianças e jovens, especialmente nas áreas rurais dos
municípios cearenses.
Sou grata pela rica experiência que vivenciei na EEMTI João de Mesquita Braga durante
os anos de 2022 e 2023. Além de lecionar Geografia, tive a oportunidade enriquecedora de
atuar como Professora Coordenadora de Área das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
Meu desligamento da escola ocorreu devido à solicitação de remanejamento de um
professor efetivo para essa instituição.
Em 2024 já na reta final do mestrado decidi me voltar a escrita da dissertação, no entanto
me deparo com processos seletivos para professores temporários do Estado para Escolas do
Campo em Canindé e uma dessas escolas se localiza bem na divisa de Santa Quitéria com
Canindé, me submeti ao processo seletivo e fui aprovada.
Atualmente, estou lecionando na EEMPC Javan Rodrigues de Sousa, e sinto que estou
desconstruindo conceitos prévios sobre educação. Esta instituição adota uma proposta
curricular que verdadeiramente constrói a educação com a participação de todos os
envolvidos. Estou imensamente realizada, pois jamais imaginei que poderia estar em uma
escola onde, além de professora, posso assumir minha postura de militante por um mundo
melhor.
No entanto, jamais imaginei que o Estado pudesse ser tão omisso. Apesar de nossa escola
adotar uma proposta de educação genuinamente libertadora, enfrentamos consideráveis
dificuldades devido à negligência estatal. Desde a escassez de funcionários até a ausência
de transporte escolar, esses são apenas alguns dos desafios que nos motivam a lutar por
uma educação no campo, do campo e para o campo, verdadeiramente libertadora. Em
pouco mais de dois meses, tenho absorvido muito conhecimento, mas sei que ainda há
muito a aprender.

3. Desenvolvimento

Meus avós maternos e paternos são agricultores. Ingressar na EEMPC Javan Rodrigues de
Sousa significou reavivar as lembranças da trajetória de minha mãe (in memoriam), a única
de sua casa a ter acesso à educação, por ser a caçula. Ela era a quarta filha do casal de
agricultores Luiza e Gregório, a única que saiu de casa para estudar, foi morar com uma
prima assim como outras primas e se tornou professora, pois cursou o magistério
realizando seu sonho de cursar Pedagogia apenas quando o Instituto Vale do Acaraú
implantou o curso no período de férias aqui em Santa Quitéria.
Minha mãe não foi oriunda de áreas de assentamento, pois quando o primeiro
assentamento em Santa Quitéria foi instituído, na década de 1980, lembro-me que ela
deixou de exercer o magistério que tanto amava para cuidar da família, quando conseguiu
novamente se inserir no mercado de trabalho reiniciou sua vida profissional como
formadora de outros professores e professoras.
Em nossa casa, recebíamos as professoras do São José dos Mocós, onde meus avós
moravam e onde ela passou sua infância, pois minha mãe reforçava o conteúdo ministrado
nas formações nos grupos de estudos formados aqui em casa. Assim como esses grupos de
estudos se formavam nos finais de semana que íamos para casa de meus avós.
Minha mãe sabia o valor da educação, pois meus avós mesmo atravessando muitas
dificuldades priorizaram custear seus estudos, e ela retribuía transmitindo o conhecimento
adquirido. A responsabilidade que assumo como professora herda o legado da mulher que
mais admiro neste mundo, que foi uma exceção em seu tempo.
A casa de meus avós era simples, de taipa, mas muito acolhedora e repleta de amor. Foi
aprimorada quando minha mãe, ainda solteira, pôde contribuir financeiramente ao tornar-se
professora. Seu trabalho não só ajudou os pais, mas também foi uma forma de retribuir
tudo o que eles fizeram por ela.
Minha trajetória acadêmica começou no ensino médio, concluído em 1999 na Escola de 2º
grau Aracy Magalhães Martins, hoje EEMTI Aracy Magalhães Martins, em Santa Quitéria,
Ceará. Inicialmente, frequentei a 1ª série no Centro Educacional Fonseca Lobo, vinculado
à CNEC (Campanha Nacional de Escolas da Comunidade), que, infelizmente, já foi extinto
no município. Naquela época, o Fonseca Lobo oferecia cursos profissionalizantes em
Magistério e Contabilidade. Entretanto, meu desejo de cursar o nível superior me levou a
migrar para a Escola Aracy, que oferecia o curso Científico.
Minha vida acadêmica sempre esteve entrelaçada com minha inserção no mercado de
trabalho. Em 2003, após aprovação em concurso público, tornei-me digitadora efetiva na
prefeitura de Santa Quitéria. Anteriormente, tive um vínculo temporário no ITT (Instituto
de Informática e Telecomunicações), custeado pela prefeitura, onde ministrei aulas de
informática para professores da rede pública entre 2001 e 2003. Abandonei o IIT em 2003
para dedicar-me à pesquisa que resultou em meu TCC do curso de Saneamento Ambiental.
Em seguida, ingressei no Departamento de Vigilância Sanitária da Secretaria de Saúde,
onde atuei por 10 anos, sempre buscando fazer o melhor, apesar das condições de trabalho
precárias e da falta de valorização profissional.
Posteriormente, dediquei-me à militância sindical, como mencionado anteriormente, e ao
magistério. Minha principal motivação para cursar a especialização em educação no campo
foi moldar-me como agente de transformação, sendo uma ponte na construção de uma
sociedade mais justa e equitativa. Reconheço que, embora a educação pública ainda careça
de qualidade, especialmente na educação básica, ela se torna ainda mais precária e
inacessível para aqueles que vivem no campo. Acredito firmemente que a educação deve
ser libertadora, como preconizava Paulo Freire, tanto no campo quanto na cidade.

4. Conclusões

A jornada descrita neste memorial é mais do que uma simples narrativa de eventos e
conquistas. É a história de uma busca contínua pelo conhecimento, pelo crescimento
pessoal e pela transformação social. Ao longo dos anos, enfrentei desafios, busquei
oportunidades e me dediquei ao aprendizado, sempre com o objetivo de contribuir de
forma significativa para a construção de um mundo melhor.
Cada experiência, seja na sala de aula, no mercado de trabalho ou na militância sindical,
moldou minha visão de mundo e fortaleceu minha convicção de que a educação é a chave
para o progresso individual e coletivo. Ao ingressar neste programa de pós-graduação,
estou comprometida em aprofundar meu conhecimento, ampliar minha perspectiva e
adquirir as habilidades necessárias para fazer uma diferença ainda maior em minha
comunidade e além dela.
Agradeço sinceramente pela oportunidade de compartilhar minha história e espero que este
memorial possa transmitir não apenas minhas realizações, mas também minha
determinação em continuar crescendo, aprendendo e contribuindo para um futuro mais
promissor e inclusivo para todos.

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