Você está na página 1de 6

Mensagem

O Mar Português
Poemas: VI “Os Colombos” e VII “Ocidente”

mar português:
- epígrafe que glorifica a empresa dos Descobrimentos e o poder marítimo dos
portugueses
- heróis ligados à epopeia marítima dos séculos xv e xvi e evocação de episódios
relevantes da aventura dos Descobrimentos.

1ºpoema:

VI
OS COLOMBOS
Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.

Mas o que a eles não toca


É a Magia que evoca
O Longe e faz dele história.
E por isso a sua glória
É justa auréola dada
Por uma luz emprestada.

O TÍTULO

- O título “Os Colombos” advém ao pai Cristóvão Colombo e ao filho Fernando


Colombo - o seu fiel companheiro de viagem em várias expedições marítimas,
a mais importante sendo a quarta de Cristóvão à América e na qual quase
faleceu. Nesta, Fernando e Colombo formaram uma relação muito intensa,
visto que viveram um com o outro, por um ano, numa pequena coberta de um
navio. Praticamente, tudo que se sabe de Cristóvão é graças ao seu filho
ilegítimo.
Tal ilegitimidade por um lado implicava que ele não podia herdar a sua
fortuna ou títulos. E, por outro, fazia-o sentir uma profunda necessidade de se
provar digno de ser filho dele.
Presumivelmente, a única maneira de o conseguir era fazer algo que seguia as
realizações do seu pai e o tornava o seu filho espiritual, já que, perante a lei,
não o era.

- Cristóvão Colombo: primeiro europeu a chegar à América em 12 de outubro


de 1492 sob a égide dos Reis Católicos de Espanha, no chamado
descobrimento da América, depois de ter sido recusado por Portugal, visto que
após a assinatura do Tratado das Alcáçovas em 1479, os portugueses tinham
em vista alcançar a Índia pela rota contrária à de sua viagem. No entanto, tal
ambição, acarretava um grande risco.

estrutura interna e análise:

Este poema pode ser dividido a nível temático em duas partes: a primeira e a
segunda estrofe, respetivamente.

primeira estrofe

- o “eu” refere-se aos navegadores estrangeiros como “outros” (v1. e v3.)

- que apenas descobrirão o que os portugueses não quiserem descobrir, ou


então, as terras que são perdidas pela pátria. Evidenciando assim, uma
superioridade dos navegadores portugueses e de Portugal como nação, uma
vez que a glória dessas nações seria apenas um reflexo das descobertas
portuguesas: evidente nos dois primeiros versos (“Outros haverão de
ter / O que houvermos de perder”).

- Esta perda é uma referência da descoberta da América, que poderia ter sido
dos portugueses, porém foi espanhola, devido à recusa da proposta de
Colombo por D. João II. Para realçar esta ideia, foi utilizada a recurso
expressivo: v1. - v4. ANÁFORA: “Outros”; “O que”; “Outros”; “O que”.

- “Outros poderão achar / O que, no nosso encontrar, / Foi achado,


ou não achado, / Segundo o destino dado.” - nestes versos, os
portugueses são enaltecidos a uma condição máxima. Tendo em conta que os
exploradores portugueses apesar de conquistarem muito, não conquistaram
tudo, demonstrado pela antítese “Foi achado, ou não achado” segundo o
seu fado, “dado” por Deus.
- Nesta primeira estrofe são claramente visíveis os ideais de supremacia da
nação Portuguesa e do nacionalismo.
segunda estrofe

Há referência a Cristóvão Colombo, sob a alcunha “O LONGE”, pois este era


diferente dos outros exploradores. Este demonstra um dom para a exploração
excepcional, quando em comparação com os restantes da sua época, de tal modo que
“a sua glória” não seja apenas fruto do seu ser mas também do seu desígnio
abençoado.

v7. - v9. - “Mas o que a eles não toca / É a Magia que evoca /
O Longe e faz dele história”: consta que os outros exploradores
e/ou países não possuem a “Magia” que envolve os portugueses, isto
é, o propósito divino que Cristóvão Colombo e os portugueses têm.
Não são abençoados como Portugal, mesmo que possam conquistar
terras, daí ficarem com o que Portugal não explora.

v10. - v12. - “E por isso a sua glória / É justa auréola dada /


Por uma luz emprestada.” Como disse, Deus dá um propósito a
Portugal (“auréola”- símbolo divino no poema v.11) - unificar a terra
e o mar, tornar estes num só. Outros países beneficiam de Portugal;
seguindo o seu exemplo e descobrindo também novas terras. O
sujeito poético afirma que o que “a eles não toca” é esse desígnio
abençoado cujo Colombo e Portugal possuem e que, por exemplo,
Espanha não. Apenas lhes coube o “empréstimo” (“luz emprestada”)
por Portugal: ou seja, a recusa inicial do rei e que levou Cristóvão
Colombo a recorrer aos espanhóis.

Na metáfora “É a Magia que evoca (...) Por uma luz emprestada”, destaca
as características extraordinárias dos portugueses que Deus lhes deu para cumprirem
o seu dever - a “luz” como símbolo de sagração e guia de Portugal.

—-------------------------------------------------------------------
2º poema:

VII
OCIDENTE

Com duas mãos — o Acto e o Destino —


Desvendámos. No mesmo gesto, ao céu
Uma ergue o facho trémulo e divino
E a outra afasta o véu.

Fosse a hora que haver ou a que havia


A mão que ao Ocidente o véu rasgou,
Foi alma a Ciência e corpo a Ousadia
Da mão que desvendou.

Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal


A mão que ergueu o facho que luziu,
Foi Deus a alma e o corpo Portugal
Da mão que o conduziu.

TÍTULO
- Refere-se às explorações ao ocidente, em particular, ao brasil, lideradas por
pedro álvares cabral que levaram à descoberta do brasil em 1500 logo após o
sucesso da descoberta da rota marítima até à índia.
- É incluída na obra “Mensagem”, e na segunda parte, visto que se trata de um
dos pontos mais altos do Descobrimentos portugueses.

“Ocidente” tem 8 letras, tal como Mensagem e


Portugal. 8 é o número de harmonia, mas também é um
número ligado à cruz Templária, que tem 8 pontas, a
mesma cruz que depois vai nas caravelas, enquanto Cruz
da Ordem de Cristo.

1ª estrofe:

Com duas mãos — o Acto e o Destino —


Desvendámos. No mesmo gesto, ao céu
Uma ergue o facho trémulo e divino
E a outra afasta o véu.

—------------------------------------------------------
“Com duas mãos — o Acto e o Destino”- uma mão que desvendou é a do
Homem (ato), a outra, a que o conduziu, é de Deus (destino);

Desvendámos.- é a uniao de deus que abencoa o homem de modo


a que o ato leve à descoberta e, consequentemente, à realização do
destino.

“Uma ergue o facho trémulo e divino e a outra afasta o véu” - entendemos que a mão
de homem ergueu “o facho trémulo e divino”. O facho erguido pelo homem como
símbolo da crença em Deus que o ilumina, afastando o “véu”. A outra mão, a de deus,
afasta o véu que escondia aquelas ilhas, simbolizando a descoberta do desconhecido
e a destruição da dúvida relativamente à existência de terras no ocidente.

dupla adjectivação trémulo e divino


hipálage trémulo é um atributo da mão que o poeta transfere para
o facho.

Podemos ver a estrofe 1 como uma metáfora, visto que Pessoa desenha-nos uma
imagem de um corpo, que, com duas mãos desvenda a escuridão, sendo que uma
afasta o véu do escuro e a outra ergue alto um facho de luz.

2ª estrofe:

Fosse a hora que haver ou a que havia


A mão que ao Ocidente o véu rasgou,
Foi alma a Ciência e corpo a Ousadia
Da mão que desvendou.

—------------------------------------------------------

No verso 2 “A mão que ao Ocidente o véu rasgou”, surge aqui o ato da descoberta,
mostrando que de facto o ocidente foi “destapado” e o véu foi retirado, passando o
desconhecido a conhecido.

No 3 verso “Foi alma a Ciência e corpo a Ousadia”

São identificados o corpo e a alma deste feito, sendo a Ciência a alma e a Ousadia o
corpo.

Ou seja, a ciência, que contempla todo o saber e o conhecimento dos navegadores


portugueses simboliza a alma da descoberta. Por outro lado, a Ousadia, a bravura e
determinação do povo português simbolizam o corpo desta conquista épica.
3ª estrofe

Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal


A mão que ergueu o facho que luziu,
Foi Deus a alma e o corpo Portugal
Da mão que o conduziu.

—------------------------------------------------------
Por fim, na última estrofe:
- versos 1 e 3, (“Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal...Foi Deus a alma e o corpo
Portugal”). Ou seja, quer esta descoberta se tenho dado por
puro acaso, por vontade e intuição dos portugueses, ou por um temporal que tenha
desviado os navios em direção àquelas terras em vez das terras do oriente que
segundo alguns historiadores eram o objetivo inicial de Pedro Álvares Cabral, Deus
foi sempre a alma e a vontade da realização desta descoberta. E os portugueses foram
os heróis, os destemidos que tiveram a ousadia de a realizar, descobrindo assim o
Brasil.
Vemos ainda a presença de maiúsculas (“Acaso”, “Vontade”, “Temporal”) que são
conscientemente utilizadas por Pessoa de modo a conferir legitimidade e valor a cada
uma das hipóteses levantadas.

O poema “Ocidente”, relaciona-se com o canto VI d’Os Lusíadas, Tempestade e


Chegada à Índia. Porque não só se dá em ambos a descoberta de novas terras (neste
poema, o Brasil, em “Os Lusíadas”, a Índia) mas também se observa a proteção
divina que os Portugueses recebem.

Você também pode gostar