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GCC-868 Cartografia Analógica e Digital

Professor Roberto Cassol

Aluno Diego Dal Pozzolo dos Santos

Unidade I

1.1 A origem dos mapas

- A Cartografia abrange o conjunto de estudos e operações cientificas técnicas e artísticas com


vistas a confecção e utilização dos mapas.

- Um mapa é uma representação geométrica plana, simplificada e convencional, do todo ou de


uma porção da superfície terrestre numa relação de similitude conveniente denominada
escala .Um mapa é a representação sobre uma superfície plana seja em meio analógico(papel)
ou digital (monitor de vídeo) dai a necessidade de uma projeção

- Um mapa fornece uma imagem incompleta do terreno. Ele nunca é uma reprodução tão fiel
quanto uma foto aérea ou uma imagem de satélite.mesmo o mais detalhado dos mapas ainda
é uma simplificação da realidade e envolve algum grau de abstração. Ele é uma construção
seletiva, mediada pelo uso de sinais gráficos. O conjunto de regras que balizam o seu uso é
conhecido como semiologia gráfica, o “alfabeto” da linguagem cartográfica.

- As primeiras manifestações cartográficas não podem ser datadas, entretanto é certo e


inquestionável sua existência em tempos pré-históricos, como podem ser observadas em
desenhos gravados em cavernas e petroglifos. Entre os petroglifos mais importantes figuram
os descobertos em Bedolina (Capo di Ponte. Itália), por Raffaelo Battaglia. Conforme alguns
estudos defendem que estas gravuras, se tratam de imagens dos terrenos cultivados, em um
vale, na Idade do Bronze. As dimensões do original são 2,30 x 4,16m.

Figura 1 Petroglifos de Bedolina (Itália)

Fonte: <http://invisiblestories.tumblr.com/post/36653048450/tracing-of-the-bedolina-petroglyph-perhaps-the>
- Um representante muito qualificado da escola alexandrina foi o grande Eratóstenes de
Cirene, reconhecido universalmente como fundador da Geodésia. É sabido que escolhidas
Alexandria e Siena, as quais considerava no mesmo meridiano, se limitou a comparar o valor
angular do dito arco com a distância correspondente, a qual era já conhecida pelos
agrimensores egípcios. O valor angular, diferença de latitudes geográficas, o achou usando um
gnomon semi-esférico em Alexandria, já que ao realizar a observação solar, ao meio-dia do dia
do solstício de verão, não havia sombra em Siena, por esta encontrar-se sobre o trópico de
Câncer.

Figura 2 A experiência de Erastostenes.

Fonte <http://www.geology.ohio-state.edu/~vonfrese/gs100/lect03/xfig03_05.jpg>

-O retrocesso geográfico, experimentado na Idade Média, foi de tal envergadura que a


esfericidade da Terra chegou a ser considerada irrisória e herética por não ajustar-se ao
conteúdo da Bíblia, que no cúmulo da insensatez era o livro do saber. Ante tal perspectiva se
compreende que, em seus inícios, as doutrinas científicas fossem consideradas irrelevantes e
desnecessárias, quando não perigosas. A vida intelectual do mundo cristão esteve pois
centrada na igreja, regida por padres, para os quais a Bíblia era a única referência. suas
Etimologias e chegou a ser o primeiro a ser impresso (Augsburgo, A São Isidoro se deve um dos
primeiros mapas medievais, que incluiu em1472). Como é sabe, trata-se do mapa denominado
de T ou O, no qual aparece os três continentes até então conhecidos, rodeados pelo oceano
primitivo. A influência bíblica se manifesta claramente ao correlacionar cada um deles aos
filhos de Noé (África a Cam, Ásia a Sem e Europa a Jafet).
Figura 3 Mapa de Isidorus

Fonte http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/95/TO_map.gif/487px-TO_map.gif

- A curiosidade intelectual surgida no final da Idade Média, o desejo de estender a fé cristã


assim como o esforço da gloria pessoal e do espírito aventureiro, unidos aos interesses
econômicos ou políticos de espanhóis e portugueses, podem ser consideradas como as causas
principais que deram lugar as grandes expedições, iniciadas na segunda metade do século XV,
as quais não só permitiram conhecer continentes e descobrir novas civilizações se não que
também serviram para poder confirmar definitivamente a esfericidade da Terra e proceder
assim, a uma melhor representação cartográfica da mesma, muito mais confiável no aspecto
planimétrico que no altimétrico. Do mesmo modo deve-se afirmar que o processo de
consolidação nacional de muitos países não foi alheio ao renascer da cartografia e a seu
posterior desenvolvimento científico, ao certo foi quando começaram a se considerar, os
mapas e os planos, como um poderoso instrumento político a serviço do governo

-Mercator é sem duvida a figura mais relevante deste período, não em vão seus
contemporâneos o consideravam o Ptolomeu de seu tempo. Seu mapa emblemático, e que
passou à posteridade, foi o mapa-múndi de 1569, editado em Duisburg com o título, Nova et
aucta orbis Terrae descriptio ad usam navigantium emendate accomodata, um
desenvolvimento cilíndrico direto e conforme que resolveu definitivamente o problema
secular da navegação, devido que a imagem das loxodrômicas eram, na representação plana,
linhas retas que cortavam sob o mesmo ângulo as imagens retilíneas e paralelas dos
meridianos terrestres.
Figura 4 Mapa-mundi de Mercator (1569).

Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b2/Mercator_1569.png

Em París (1666), Foi fundada a Real Academia de Ciências. Seu duplo objetivo, geodésico e
cartográfico, foi medir a magnitude da Terra e confeccionar mapas mais exatos de seu
território; o qual, uma vez cumprido, situou a França no topo das ciências geográficas.
determinação geodésica foi encomendada ao abade J. Picard, membro fundador da Academia,
que, seguindo a metodologia triangular proposta por W. SNEM, medio o arco de meridiano
compreendido entre Amiens e Malvoisine, ao sul de París, entre os anos de 1668 e 1670. O
comprimento do arco foi obtido por meio da correspondente triangulação e a amplitude
angular, como diferença das latitudes astronômicas de seus extremos. Finalmente obteve,
para o raio, um valor próximo aos 6.365 km, resultado novo e de singular importância para a
história da ciência, pois só para mostrar a importância deste, nele se apoiou Newton para
confirmar a sua hipótese da gravitação universal e assim enunciar seus princípios. Pelo que
parece, Picard teve um papel determinante na confecção da “Carte particulière des Environs
de Paris” (1674) e na mais célebre Carte de France Corrigee par Ordre du Roy sur les
Observations de “Mss de la Academie des Sciencies” (360x266 mm) publicada em 1693
Figura 5 A triangulação de Picard ao longo do meridiano de París

Fonte: http://www.apmep.fr/IMG/png/Image_19a.png
Para Sintetizar o atual estado da arte e os avanços do Fim do século XX e Inicio do XXI Imagens
captadas por sensores acoplados aos satélites artificiais que orbitam em torno do planeta,
codificada e transmitida para uma estação rastreadora na terra. A sonda da NASA MRO,
atualmente em órbita de Marte trabalham com uma precisão de 25 cm/pixel

Figura 6 Sonda MRO

Fonte : www.nasa.gov
2. Cartografia de Base e Temática

2.1 Cartografia de Base

- Os mapas topográficos tem como objetivo a representação exata e detalhada da superfície


terrestre no que se refere à posição, a forma , às dimensões e a identificação dos acidentes de
terreno, assim como dos objetos concretos que ai se encontram.

- Deve-se poder identificar todos os elementos visíveis da paisagem e ai efetuar medidas de


ângulos ,direções, distâncias ,desníveis e superfícies. Como a precisão diminui com a escala
são considerados topográficos os mapas cuja escala se situa entre 1:10.000 e 1:100.000

- Para corresponder a essas condições o mapeamento topográfico é sempre efetuado na maior


escala possível. Os mapas de Base são os que resultam destes levantamentos, efetuados em
campo ou em fotos aéreas transferidas para uma quadricula geodésica e para a projeção
escolhida.

- O primeiro mapeamento sistemático foi realizado entre os séculos XVII e XVIII na França. O
primeiro Ministro Colbert encomendou para o astrônomo e matemático Jean Dominique
Cassini elaborar o primeiro “Grande Mapa Geométrico da França” na escala 1:86.400 e
quadricula Lambert. Apesar das inúmeras falhas, este mapa era bastante preciso para época e
marcou o inicio dos mapeamentos sistemáticos ao nível de Estado-Nação.

- A padronização de escalas em 1:50.000 ocorreu nas chamadas “Cartas de Estado-Maior”,


resultadas por uma comissão liderada por Pierre Simon de Laplace em 1817.

- A adoção da escala 1:25.000 ocorreu muito mais recentemente com a padronização


cartográfica europeia feita pela OTAN em 1964.

- A complexidade dos trabalhos de campo (Geodésia e Topografia) laboratório (Fotogrametria


e Fotointerpretação) e de gabinete (Desenho e Impressão) que entram na composição dos
mapas topográficos explica o motivo que a cartografia tornou-se uma especialidade. Além
disso as incessantes alterações na paisagem e a utilização para o uso administrativo, técnico
,econômico e de defesa exige uma atualização regular.

2.2 Cartografia temática

- No decorrer do século XX o objetivo maior da cartografia passou para uma nova fase mais
focada na analise , a explicação e a cientifica e técnica dos fenômenos naturais e sociais que
ocorrem no espaço geográfico

- O espaço Geografico é o espaço composto pela superfície terrestre inteira compreendendo


os oceanos e as regiões desabitadas. Apresenta ao mesmo tempo materiais no estado solido
(litosfera), liquido (hidrosfera) e gasoso (atmosfera) . Também fazem parte dele os seres
vivo(biosfera).Este espaço concretamente percebido através de objetos visíveis mensuráveis
que o compõem: rochas, montanhas, vales, rios, florestas, campos, edificações etc...Mas
integra também uma larga gama de interrelações de ordem física,bioquímica e humana entre
estes elementos ,constituindo de um sistema complexo e em equilíbrio dinâmico que atuam
em diversas escalas espaço-temporais,, regulados por causas múltiplas interdependentes entre
si.

-A introdução de novas tecnologias (Sensoriamento Remoto,GIS,GPS) nos últimos 30 anos, o


estado da arte gerando novas fontes de dados quantitativos e qualitativos, o surgimento de
mapas especializadoes em um único tipo de fenômeno( politico-administrativos, geológico,
demográfico,etc...) mapas temáticos para análise e síntese de situação (EIA-Rima, Plano
diretor) originaram uma cartografia especializada e aplicada a área especifas de
conhecimento, porem visando também uma multidisciplinariedade.

O quadro abaixo trás as diferenças e semelhanças entre cartografia de base e cartografia


temática

Quadro 1 Cartografia de Base e Temática

Cartografia de base Cartografia Temática


Público Amplo e diversificado Especializado e reduzido
Propositos Grande diversidade Assuntos mais restritos
Qualquer elemento, ate
mesmo relacionados. Os de
Elementos natureza abstrata (ex.
Elementos físicos ou a eles relacionados
representados densidade demográfica).

Durabilidade da
Longa Curta
informacao
Nivel da Dados qualitativos e
Maior enfase para dados qualitativos
informacao quantitativos
Nao exige necessariamente Exige, em geral,
Preparo do leitor
conhecimentos especIficos conhecimentos
para compreensao dos documentos especializados

Documentos podem ser


executados por pessoas nao
preparo Documentos executados por
especialistas em Cartografia
do executor especialistas em Cartografia

Significado das
Qualitativo Qualitativo/Quantitativo
cores
Fonte: Duarte,1991
3. A História da Cartografia Ibero-Americana

- Entre os países ibero-americanos a História da Cartografia tem alguma tradição junto dos
eruditos, dos militares e dos diplomatas: os velhos mapas espanhóis ou portugueses fazem
parte do imaginário historiográfico ligado aos episódios da expansão geográfica europeia da
Época Moderna; as cartas mexicanas ou brasileiras relaciona-as o público com a disputa e
fixação das fronteiras no Novo Mundo, após as independências.

- O mapa é hoje reconhecido como um produto cultural e o mapa antigo estudado no contexto
da História da Ciência e da Técnica, com contributos tão diversos como os que chegam da
História das Ideias, da História Cultural e das Mentalidades, da História do Pensamento
Geográfico, da História de Arte, das Ciências Documentais...

- Como produto de um processo, o mapa deve ser pormenorizadamente estudado em função


das etapas de elaboração ocorridas ao longo da produção: do momento da decisão que se liga
ao objetivo de construção do documento, ao da sua divulgação junto de um público ou
públicos, mais ou menos restritos, passando pelos trabalhos de campo e de gabinete, pelo
desenho, pela gravação…

- No início do século XIX, os governos latino-americanos lançaram-se na produção, impressão e


edição de mapas nacionais, que figuravam os seus vastos territórios, então bastante
desconhecidos para as elites políticas, concentradas nas capitais. Esse processo, que tem as
suas variantes e aspectos particulares em cada um dos países, deu origem, com o decorrer do
tempo, ao interesse pela conservação e organização das coleções cartográficas.

- Atualmente com a intensa disseminação de dados em meios digitais permitiu um acesso


nunca antes imaginado a esta particular informação histórica. Esta nova realidade alterou nos
anos mais recentes a investigação científica na História da Cartografia. Aumentou o número
dos interessados, com diferentes formações, onde os geógrafos detêm finalmente um
importante papel, que analisam períodos históricos menos conhecidos, tipos de mapas mais
específicos, ou aspectos particularmente técnicos.

- Só nos últimos anos tem vindo a acontecer uma modificação no estudo dos mapas antigos,
com a incorporação de análises sociais e culturais, uma abertura dos diálogos
transdisciplinares somou-se a renovação dos estudos geográficos nas universidades e a criação
de novos cursos, o que permitiu a recuperação da centralidade dos mapas e a restauração das
relações acadêmicas entre disciplinas como Geografia, História, Artes visuais, Astronomia,
Matemática, Cartografia e Topografia.
3.1 Teórica e Prática: A Cartografia do Brasil Colônia e a Contribuição Dos
Engenheiros Militares

- Século XV e XVI: Politica Expansionista –Cosmográfos- Experiência de globalização, superando


o mundo conhecido pelas Civilizações Clássicas (Grécia e Roma).Impérios espalhados por
vários continentes com territórios na Europa , Américas, África e Ásia.

- Século XVII e XVIII: Politica imperialista – Implicava no efetivo conhecimento, controle e


consolidação do domínio das terras, mas a interiorização levantamento de potencialidades e
econômicas e reconhecimento dos aspectos geográficos das terras para seu efetivo controle e
posse, indo além da faixa costeira.

- Triunfo dos Engenheiros Militares: Profissional menos afeito a ciência náutica e mais
vinculado as questões de terra e capaz de realizar levantamentos topográficos e geográficos
além de projetar complexos para defesa do território ( Fortes) e a participação em expedições
cientifico-dermarcatórias.

- Destaque para os Trabalhos dos Italianos Leonardo Turriano, Tiburcio Spanoqui e Alessandro
Massay no período da União Ibérica (1580 -1640)

- “Desenho e Desígnio” Reforma e ampliações de Fortes e plantas das Vilas e Cidadelas como
Salvador e João Pessoa .

Figura 7: Planta Topográfica da Cidade de Salvador, com projeto de uma cidadela,


elaborado pelo engenheiro militar italiano Leonardo Turriano, em 1605

Em: Albernaz I, João Teixeira (c. 1616). Rezão do Estado, do Brasil...


Seção de Reservados da Biblioteca Pública Municipal do Porto, Códice 126

- O empenho de profissionais estrangeiros não resultou na formação de um quadro de técnicos


nacionais. A carência de profissionais portugueses foi perceptível após a Restauração em
1640, levando ao rei D. João IV (1640-1656) a contratar Engenheiros franceses e holandeses
para manter a qualidade dos trabalhos dos italianos e apresentando uma representação
cartográfica cada vez mais técnica. Os mapas assumiram a forma que conhecemos hoje com
títulos e legendas explicando os significados das letras ou números nele escritos bem como a
introdução de um Layout básico com a introdução da rosa-dos-ventos ou da flor-de-liz para a
orientação do desenho Bem como do petipé para conferir-lhe uma escala gráfica. Inclusive
com as melhores posições para o titulo na parte superior e as legendas com lugar próprio na
legendas com lugar próprio na legenda na porção inferior a direita ou a esquerda de conforme
o desenho.

- Esta padronização dos códigos de representação, encabeçada por Manuel de Azevedo Fortes
, no livro de 1728 “O Engenheiro Portuguez” é vizivel na serie de mapas legada para a geração
seguinte, envolvida nas expedições cientifico-demarcatórias enviadas ao Brasil, a partir de
1750.

Figura 8: Convenções cartográficas usadas por Manoel de Azevedo Fortes (1728)

Códigos empregados na estampa n. 10: A = terras lavradas; H = pomares; K = bosques e arvoredos; L = hortas; M =
jardins; P = prados; os montes e serras se configuravam com uma pena bem delgada e o penejado ia imitando o seu
contorno, mais ou menos comprido, segundo o escarpado dos montes. As cores também estavam convencionadas:
rios, mar = aguada de rios ou verdete líquido; madeira = bistre; ferragens = anil; telhados e obras de alvenaria
(pedra e cal) = aguada de vermelho; obra de terra = preto; obra nova projetada = amarelo; caminhos, ruas e praças
= cor do papel, sem aguada.
Em: Fortes, Manoel de Azevedo, O Engenheiro Portuguez, Lisboa, 1728, tomo I. Disponível na Biblioteca Nacional
Digital da Biblioteca Nacional de Portugal.
3.2 Tradição Cartográfica e a demarcação das fronteiras do Brasil

O estudo da cartografia no Brasil teve 3 fases distintas que contribuíram para a construção da
nação.

- (1500-1930)
Delimitação dos contornos de um espaço que se estrutura, afirmando novas soberanias

- (1930-1980)
Processo de consolidação do domínio territorial interno, através de projetos de levantamento
sistemático do país

- (1980-2000)
Período de grandes transformações sociais e tecnológicas, o uso da cartografia se diversifica e
atinge novos grupos em um momento de abertura política

- No momento da independência em 1822, os documentos cartográficos reunidos no Brasil


são
mobilizados para reforçar o argumento tradicional "uti possedetis" de posse, para lidar com os
vários litígios de fronteiras típicos das novas nações sul americanas.

- Busca do reconhecimento da independência pelos países vizinhos. Barão de Ponte Ribeiro .


Embaixador no Peru entre 1829 e 1832, México (1833-1835), no, onde participa do primeiro
congresso de nações americanas; entre 1836 e 1841 é enviado ao Chile, à Bolívia e ao Peru;
durante o Governo Rosas (1842-43), se torna ministro-residente na Argentina. Enquanto
percorria os países limítrofes, o barão aproveitava para colecionar também toda a informação,
fosse ela portuguesa ou espanhola e eventualmente útil para esclarecer as fronteiras
brasileiras.

- “Diplomacia Cartográfica” A indefinição de limites do país permanece ao longo de todo o


século XIX, mas a diplomacia brasileira consegue progressivamente justificar a ocupação real
das terras, fazendo um uso hábil dos mapas disponíveis.

-Intenso uso do discurso cartográfico para justificar e legitimar a defesa dos interesses
nacionalistas sem recorrer ao conflito armado.

- Os estudos do Barão Ponte Ribeiro e a sua coleção de mais de 500 mapas, bem como os
catálogos que organizou, formaram a base da mapoteca da Secretaria das Relações Exteriores,
que daria toda a legitimidade ao novo Estado em formação. Além do reconhecimento do novo
país, os mapas se apóiam no passado europeu de descoberta, de ocupação e de explorações
que se mantiveram até o momento atual, ao mesmo tempo em que buscavam meios de se
institucionalizar oficialmente.
Figura 9: A indecisão das fronteiras no século XIX, e a contribuição do Barão de Ponte
Ribeiro

As datas indicam os diferentes tratados negociados pelo Barão de Ponte Ribeiro ao longo do século XIX
Fonte: Droulers, 2001

- Identidade Nacional

“A elite brasileira se considerava como uma parte da civilização européia condenada


aos trópicos. A "civilização" e as "lumières" eram seus atributos, o que implicava em um
programa de ação - civilizar o Brasil” (Magnoli, 1997:95)

Criação de instituições

- 1808-Academia Real da Marinha

- 1810 Escola Militar do RJ


- 1838 Instituto Geografico e Histórico Brasileiro IGHB, Civil ao estilo das Sociedades Cientificas
de cavalheiros da corte, selecionados mais por suas relações sociais do que pela qualidade da
produção intelectual

- Entre um dos principais cartógrafos do pais destaca-se o nome do Coronel Conrado Jacob
Niemeyer, trisavô do famoso arquiteto Oscar Niemeyer

- 1842 Mapeamento das Provincias do Rio de Janeiro, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio
Grande do Norte e Ceará.

- 1846 Carta do Império do Brasil Mesmo indicando que a carta não passaria de um esboço,
devendo ser corrigida por trabalhos futuros, Niemeyer consegue avaliar pela primeira vez a
superfície do país (estimada em 8 337 218 km2) e de suas províncias, inserindo um quadro
estatístico que descreve os principais fatos econômicos do comércio do Império.

- 1868 Atlas do Império do Brasil 1º Atlas Escolar, organizado por Cândido Mendes de Almeida,
destinado aos alunos do Liceu Imperial D. Pedro II.

- 1874 Escola Politécnica

- Da mesma maneira, na resolução da questão fundiária interna, os mapas terão um papel


fundamental. Em setembro de 1850, a nova lei 601 vincula a propriedade da terra ao seu
registro, e nesse sentido, a presença do juiz de terras e sua equipe de escrivãos e topógrafos,
se tornam figuras chaves na divisão dos bens no país. A imensa quantidade de levantamentos
necessários em locais de difícil acesso contribui para dificultar o acesso à propriedade no país.

- 1875 Comissão Geológica Imperial, tentativa de coordenar a ocupação e a consolidação


territorial do país. Composta de civis e militares, capacitados em diferentes disciplinas, a
comissão foi encarregada de realizar um inventário dos recursos naturais do país, desta vez
nos moldes da US Geological Survey.

- 1876 Repartição Hidrográfica da Marinha, encarregada de coordenar a direção de estudos


hidrográficos no país. Mais tarde chamada Direção Hidrográfica de Navegação (DHN), este
serviço será o responsável da criação do primeiro plano nacional de cartografia náutica em
1935.

- A guerra do Paraguai, iniciada com euforia, provoca um grande desgaste tanto financeiro
quanto político no regime imperial. Depois de oito anos de conflito, um novo mapa geral do
Império será preparado em 1873, como uma nova oportunidade para apresentar o país na
exposição universal de Viena. Outros limites do Mato Grosso com a República da Bolívia e
mesmo com as províncias do norte do país, mostram demarcações ainda incertas. Com o
meridiano do Rio de Janeiro ao centro, o mapa retoma o esquema de representações
esquemáticas de montanhas nas divisas de várias províncias, diferenciadas com cores distintas.
Figura 10: O mapa geral do Império do Brasil de 1873

Fonte: Mota e Lopes, 1989


3.3 Cartografia Mexicana: Em Busca da identidade
- Quanto a História da cartografia Mexicana é interessante ressaltar que sendo o berço de altas
culturas que já possuíam uma forma de representar o espaço. No Archivo General de La
Nación De la Ciudad do México estão preservados cerca de 600 mapas elaborados por
cartógrafos indígenas e administradores espanhóis datados entre os séculos XVI e XVIII.

- A cartografia é ao mesmo tempo um processo de invenção e conhecimento. Ao reproduzir os


cenários o cartógrafo tem que respeitar normas se quer que o mapa seja legível mas como no
conto de Borges o desenho de um território também inventa um território.

- Após o choque inicial entre as civilizações mesoamericana e ocidental houve uma profunda
alteração no conhecimento tanto no Velho Mundo quanto no Novo Mundo.

- Os conhecimentos tradicionais tiveram que ser revistos, por exemplo nas normas
cartográficas para descrever o território e esta revisão necessita-se conectar com uma
relação inovadora com o mesmo território com a introdução de novos tipos construções,
novos tipos de animais, novos tipos de cultivos trazidos da Europa

- Muitos mapas apresentavam a tradição artística Mixteca-Puebla no estilo iconográfico


.Porém a nova realidade não pode ser confrontada apenas pelos “conhecimentos tradicionais”.
Estas imagens apesar de sua origem étnica (completamente secundário para a administração
do Vice Reino) tinham que conter indicações geográficas precisas para permitir a localização
do mapa como parte do Vice Reino da Nova Espanha .Os cruzamentos dos caminhos principais
as distancias entre os povoados e algumas indicações que permitir reconhecer aquilo que os
pintores renascentistas chamavam de “retrato da natureza”:A paisagem.

- Esses mapas, a sua maioria pintados por artistas indígenas, não foram resultados de uma
iniciativa espontânea, eram solicitados pela administração do Vice Reino, para a organização
das Mercedez: Concessões de terra dadas a colonos espanhóis ou caciques indígenas. Ou seja
deveriam ser capaz de serem lidos por indivíduos de ambas as culturas.

- A esta cartografia única da Nova Espanha caracterizada pela combinação de traços indígenas
pré-colombianos com as técnicas europeias renascentistas deu-se o nome de Realismo
Circular- pois circulava entre estas duas tradições de representação espacial.
Figura 11: Mapa da propriedade do espanhol D.Diego D’Olivera, Jalisco (1589)

AGN, Mapoteca, n° 2073. Disponible en el Portal de Mapas, Planos e Ilustraciones [http://www.agn.gob.mx/mapilu/


index1.htm].

- Pouco após conquistar sua independência, o México passou por um período turbulento, com
o pais dividido internamente com constantes guerras civis e conflitos externos com outras
nações , notadamente a França e os Estados unidos, quanto aos últimos perdeu porções
significativas de território.

- Mesmo que os governos mexicanos, independente de suas filiações tivessem reconhecido a


importância da instrução como uma das linhas fundamentais de sua politica, o ensino da
geografia não cumpriu o objetivo de promover valores que levam a população a identificar-se
com o seu território : região, restado e pais .

- Os “catecismos” de Geografia apresentavam vários problemas como trazer conteúdos


avançados de cosmografia para alunos com deficiências básicas em Física e Matemática,
apresentavam apenas um único Mapa-Mundi pequeno e em geral apresentavam uma
impressão muito ruim.

Figura 12Mapa-Mundi de Livro Escolar Mexicano, 1837

Fonte: Almonte, Juan Nepomuceno, Catecismo de geografía universal para el uso de los establecimientos de
instrucción pública de México, México, Ignacio Cumplido, 1837.
Referencias Bibliográficas

Duarte, P.A Concetuação de cartografia temática. GEOSUL, n9 11 - Ano


VI.Florianópolis:UFSC,1991

Joly, F. A Cartografia.1ªed.Campinas:Papirus,1990.

Morales, M.R (2008) - A Evolução dos Mapas Através da História, Subdelegación del Gobierno
de Granada, Universidad de Granada. Disponível em
http://www.ufrgs.br/museudetopografia/Artigos/A_evolucao_dos_mapas_atraves_da_histori
a.pdf

Vargas, H.M. e Garcia J.C., “A história da cartografia nos países ibero-americanos”, Terra
Brasilis [Online], 7 - 8 - 9 | 2007, posto online no dia 05 Novembro 2012, consultado o 20
Fevereiro 2015. URL : http://terrabrasilis.revues.org/235

De Biaggi,E “Tradições cartográficas e fixação de fronteiras na independência brasileira” ,


Terra Brasilis (Nova Série) [Online], 4 | 2015, posto online no dia 12 Fevereiro 2015,
consultado o 01 Março2015. URL : http://terrabrasilis.revues.org/1094

Maya, J.O.M. e Herrera,I.E. “ La representación de México en atlas y libros de texto del siglo
XIX”, Terra Brasilis (Nova Série) [Online], 4 | 2015, posto online no dia12 Fevereiro 2015,
consultado o 01 Março 2015. URL : http://terrabrasilis.revues.org/1194

Bueno B.P.S. “Entre teoria e prática” , Terra Brasilis [Online], 7 - 8 -9 | 2007, posto online no
dia 05 Novembro 2012, consultado o 12 Março 2015. URL : http:// terrabrasilis.revues.org/271

Russo,A “Caminando sobre la tierra, de nuevo desconocida, toda cambiada” , Terra Brasilis
[Online], 7 - 8 - 9 | 2007, posto online no dia 05 Novembro 2012, consultado o 17 Março 2015.
URL : http://terrabrasilis.revues.org/388

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