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3 A figura do pai
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Num artigo de revisão sobre o estado da arte, Lamb (1992) começa por dar
uma perspectiva histórica sobre a evolução do papel do pai (americano). Nota
depois um maior envolvimento actual do pai, embora muitas vezes as mudanças
sejam modestas (as mães são identificadas essencialmente com os cuidados e
os pais com o brincar), além de um maior envolvimento não significar
automaticamente efeitos positivos. Depende muito, para além de factores sócio-
culturais, dos determinantes de tal envolvimento: motivação (muitos pais
desejam prestar mais cuidado aos filhos, mas não querem dispor de mais tempo
ou julgam que se trata dum papel efeminado); competência e autoconfiança
(muitos pais julgam não saber como comportar-se); apoio por parte das mães
(muitas não desejam maior envolvimento do pai); razões de ordem institucional
(ao pai compete essencialmente o sustento da família e por isso passa muito
tempo fora de casa, sendo muitas vezes agravado pela distância do lugar de
trabalho). Os Estados estão a dar mais importância à licença de paternidade,
incentivando os pais a repartir com a mãe o tempo pós-parto, obrigando-os
mesmo a ficarem em casa nos primeiros dias, como é o caso duma recente lei
portuguesa que parece descabida, pois a imposição quase nunca resulta mas
sim a mentalização e a educação.
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ponto de vista psicanalítico. A autora baseia-se em Freud, Lacan e outros
autores que distinguem entre o pai real, imaginário e simbólico.
Resumo
Não são claras as razões por que um casal decide ter um filho e podem misturar-
se razões válidas, mais ou menos (in)conscientes, com razões menos válidas
ou mesmo patológicas. Também nem sempre se comprreende porque é que o
casal decide ter só um filho ou no máximo dois, apesar de normalmente
argumentar com motivos económicos. Menos se compreende porque é que
muitos casais decidem não ter filhos, enquanto outros procuram ter um filho a
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todo o custo, recorrendo às novas tecnologias de procriação assistida. Não
seria melhor optarem pela adopção?
Tem-se estudado muito a figura materna na sua relação com o filho (por exemplo
as teorias da vinculação) e menos a figura paterna. Mas nas últimas décadas a
figura paterna adquiriu novos contornos e importância para a educação, quer
directamente na relação com os filhos, quer indirectamente, coloborando para
que a mãe se sinta mais ou menos feliz na sua maternidade.
Interrogações e sugestões
Quais as implicações principais para o casal e para cada um dos cônjuges com
a gravidez e nascimento do primeiro filho?
Porque é que o casal decide ter filhos? Prevalecem razões conscientes ou mais
inconscientes, razões válidas ou menos válidas?
Porque é que muitos casais não querem ter filhos? E porque é que outros
procuram ter um filho a todo o custo?
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Leitura complementar
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7. Educação, Contínua Geração
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Objectivos de aprendizagem
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Mais do que nunca é necessário educar os pais para que melhor possam cumprir
a sua delicada missão de educadores. Na verdade, hoje a escola prepara para
tudo, técnicos de toda a ordem, mas não se preocupa em preparar (futuros)
pais para a arte e ciência de bem educar. Todavia não faltam livros que abordam
esta questão e insistem na necessidade não apenas de educar os pais, mas
também de preparar os professores para uma melhor relação com os
encarregados da educação, como é o caso do livro de Pourtois e col. (1984)
que se intitula precisamente “educar os pais”, com um subtítulo sugestivo:
“como estimular a competência em educação”.
Os pais não têm todas as rédeas da educação nas mãos, pois muitos outros
factores extrafamiliares influenciam o desenvolvimento da criança. A eterna
discusão se é a hereditariedade ou o meio a ter mais peso na evolução da
inteligência ou da personalidade, pode também transladar-se para o campo
educativo. Collins et al. (2000) notam que talvez se tenha acentuado demasiado
a força da educação parental no desenvolvimento personológico dos filhos,
sem considerar outros factores micro ou macrocontextuais, como seja a
importância dos companheiros e outros factores ambientais não familiares, e
também a força dos factores genético-hereditários. Para estes autores é
necessário encontrar novos modelos de compreensão da influência dos diversos
factores em interacção constante, evitando interpretações determinísticas ou
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simplistas, dado que a realidade se apresenta muito mais complexa e tem de
ser abrangida no seu conjunto ou sistema mais vasto.
Dada toda esta complexidade, não é fácil definir a “função parental”, conforme
o título duma obra de Poussin (1999). O autor afirma que muitas vezes os
psicólogos falam da função do pai, como é o caso da psicanálise, ou da mãe,
mas não propriamente dos dois em conjunto. Se há um instinto maternal e
paternal (este menos radicado biologicamente), há também um “instinto
parental”, no dizer de Poussin (1999, pp. 15-22). Esta função parental
propriamente só existe na espécie humana, pois nos animais limita-se em grande
parte à alimentação e desaparece quando os filhos chegam à idade adulta,
enquanto na espécie humana vai muito mais além do que a protecção e o
alimento e perdura toda a vida, mesmo quando os pais ou os filhos já morreram.
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criança, concluindo que uma vinculação feita de segurança promove um óptimo
desenvolvimento a todos os níveis.
Edwards (in Bornstein, 1995, I, pp. 41-63) estuda o segundo e terceiro ano de
vida em que a criança começa a dar os primeiros passos, ainda vacilantes
(parenting toddlers), não apenas fisicamente que também psicológica e
socialmente. A autora, a partir das diversas perspectivas (psicanalítica,
cognitivista, teoria da vinculação, dimensão intercultural), aborda o
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desenvolvimento do autoconceito e do autocontrolo da criança, a sua identidade
sexual, as suas competências cognitivas, sempre em constante interacção com
os pais, para além do seu próprio processo de desenvolvimento biológico e
neurológico.
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Nousiainen (1993) estudam a forma diferente do pai e da mãe de se relacionar
com o adolescente. Outros autores colocam-se mais numa perspectiva
terapêutica a partir dos problemas comportamentais dos adolescentes (cf. e. g.
Liddle, 1996) ou analisam casos mais concretos, como é o abuso de drogas
(cf. Schmidt, Liddle e Dakof, 1996) ou então a adaptação dos adolescentes,
sobretudo em caso de separação dos pais (Honess e Charman, 1998).
Zarif e Eggebeen (in Bornstein, 1995, I, pp. 119-140) abordam o modo de ser
pai ou mãe durante a vida adulta dos filhos e ao mesmo tempo a atenção que
os filhos devem prestar aos pais já avançados na idade. Muitas vezes os pais
continuam a apoiar os filhos em todos os sentidos (monetariamente, ficando
com os netos, etc.) quando os filhos casam e constroem a sua própria família.
Mas nem sempre os filhos retribuem do mesmo modo. Actualmente, com
poucos filhos e muitos divórcios, para além de outras condições sócio-culturais,
leva a que frequentemente os pais, chegados a velhos, se sintam mais ou menos
abandonados pelo(s) filho(s), remetidos a instituições particulares onde a
solidão mais se faz sentir. Verdadeiramente o problema dos idosos é um
problema grave na nossa sociedade e os filhos devem ser os primeiros a fazer
tudo para o solucionar da melhor forma, lembrados que também eles caminham
para a velhice (cf. Barros, 1999).
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desenvolvimento moral e social dos filhos, mais pelo exemplo do que pelas
palavras, muito dependente dos estilos educativos usados: se educam com
amor e autoridade dialogante é mais fácil a promoção de comportamentos
pró-sociais e morais; se usam uma educação repressiva e fria, facilmente os
filhos podem cair em comportamentos disruptivos e marginais (cf. Barros,
1994, 1997).
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familiar e no modo como são transmitidos. Frequentemente os valores familiares
entram em colisão com os transmitidos na escola e na sociedade envolvente. É
necessário considerar o direito das famílias na iniciação aos valores axiológicos
que julgam melhor para os filhos, no direito da escola a transmitir os valores
da sociedade e sobretudo no direito da criança de progressivamente se tornar
autónoma no desenvolvimento dos valores que considera melhores.
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Stanley-Hagen, in Bornstein, 1995, III, pp. 233-254) e mesmo dos ‘filhos’ de
casais homossexuais (Patterson, in Bornstein, 1995, III, pp 255-274).
Remetemos para estes ou outros estudos onde se pode encontrar ampla
bibliografia, não sendo possível neste breve Manual de Psicologia da Família
abordar toda esta problemática psicopedagógica.
De qualquer modo, quer nos casos normais quer ‘anormais’, quer por parte
dos pais quer dos filhos, deve atender-se sempre às diversas variáveis
sociodemográficas, como o sexo e a idade, às variáveis contextuais e ainda e
sobretudo ao temperamento de cada criança, pois cada filho é um mundo à
parte e não podem os pais educar “todos igual”, mas antes tendo em conta a
idiossincrasia de cada filho, bem como a própria maneira de ser do pai ou da
mãe que interage diferentemente com o temperamento de cada filho. Sanson e
Rothbart (in Bornstein, 1995, IV, pp. 299-321) abordam esta problemática
específica pedindo aos pais atenção e respeito pela individualidade de cada
filho, mesmo das “crianças difíceis”, pois tal adaptação e flexibilidade é o
único caminho para uma educação com sucesso.
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forma particular por Feiring e Lewis (in Lewis e Feiring,1998). Se a família
sofre múltiplas influências do meio ambiente circundante, também constitui
fonte de socialização muito para além dos seus limites, podendo influenciar
contextos como as relações dos filhos com os seus colegas, segundo estudo
de Parke et al. (in Lewis e Feiring, 1998).
Okagaki e Divecha (in Luster e Okagaki, 1993, pp. 35-67) tentam compreender
o desenvolvimento das crenças parentais e a sua influência nas práticas
educativas (o sistema de crenças influencia o comportamento, mas também
este pode interferir com as crenças), inspirando-se fundamentalmente nos
estudos interculturais de Stevenson e colaboradores realizados particularmente
no Japão, na China e nos Estados Unidos sobre o sucesso em matemática e
noutros aspectos da aprendizagem, concluindo que nos Estados Unidos o
desempenho é menor porque a sociedade e os pais pensam que essencialmente
o sucesso se deve a factores biológicos. Os pais julgam que em geral os seus
filhos estão acima da média, porque uma alta auto-estima é buscada como um
fim em si mesmo e ainda porque os pais não partilham suficientemente a
responsabilidade no desenvolvimento do carácter e da competência dos filhos.
Outro estudo intercultural de Cochran (in Luster e Okagaki,1993, pp. 149–
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-178), fixando-se nos Estados Unidos, Alemanha, País de Gales e Suécia,
analisa as diversas redes sociais pessoais e a sua influência determinante nos
estilos educativos, tendo em conta a globalidade ecológica em que o sistema
familiar se situa.
Emery e Tuer (in Luster e Okagaki,1993, pp. 121-148) pensam que a díade
mãe/pai-filho é muito influenciada pela tríade mãe/pai-filho-esposa/marido.
Há estudos que demonstram que o pai ou a mãe se comportam diferencialmente
conforme estão sozinhos com os filhos ou em presença do outro cônjuge ou
progenitor. Daí ser necessário enquadrar o estilo educativo parental dentro do
contexto da relação conjugal. O problema da separação ou divórcio dos
cônjuges põe mais a nu a importância da relação conjugal para o sucesso
educativo, uma vez que os progenitores deixam de ser cônjuges, perturbando
por isso a educação.
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podemos intervir e ajudar os pais em missão tão sublime mas também tão
complexa e difícil como é a educação. No livro editado por Fine (1989) diversos
autores apresentam as perspectivas mais recentes sobre a educação parental e
as diversas consequências a nível do desenvolvimento dos filhos, estudando
ainda casos particulares como a gravidez de adolescentes ou as crianças com
diversos handicapes.
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familiar bem como o exógeno influenciam as relações dos filhos com o meio
ambiente, sobretudo com os colegas. Diversos paradigmas podem ser usados
para tentar compreender as inteacções que se passam entre o sistema familiar
e o sistema dos colegas dos filhos.
Weinraub e Gringlas (in Bornstein, 1995, III, pp. 65-87) abordam também
esta problemática nas mais diversas implicações e dificuldades não apenas
educativas que também económicas e sociais, podendo levar a mãe/pai mais
facilmente ao stress e à depressão, dadas as muitas dificuldades que tem de
enfrentar a sós. Todavia, também pode ter sucesso e sentir-se realizada(o) na
sua missão. Depende muito não só da sua capacidade educativa e social, da
sua personalidade, mas também em grande parte da personalidade do filho(a),
e do apoio ou não que pode encontrar de outros familiares, sobretudo dos pais
(avós) e da sociedade em geral. De qualquer modo, trata-se sempre duma
situação anómala, embora muito frequente.
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Também Geuzaine, Debry e Liesens (2000) analisaram as consequências da
separação dos pais na tardia adolescência dos filhos, concluindo que as raparigas
sentem mais do que os rapazes esta separação, sobretudo em relação com a
mãe. O mesmo se diga a respeito dos diversos conflitos matrimoniais, mesmo
que não cheguem à separação ou ao divórcio, mas que afectam particularmente
os filhos. Cummings e Davies (1994) analisam o impacto diferencial destes
conflitos.
Tema que merece também consideração é o caso, cada vez mais frequente, de
mães adolescentes. Só no último quartel do século passado se começou a dar
particular atenção a tantas mães teenagers que devem ser apoiadas durante a
gravidez e após o nascimento do filho, ajudando-as na educação dos filhos,
tanto mais que normalmente procedem das classes mais desfavorecidas e onde
pode faltar o apoio da família donde procede a jovem mãe (Brooks-Gunn e
Chase-Landsdale, in Bornstein, 1995, III, pp. 113-149). Luster e Mittelstaedt
(in Luster e Okagaki,1993, pp. 69-99) estudam também o caso particular destas
mães adolescentes (teen-agers), cada vez mais frequente (calcula-se que no
mundo ocidental cerca de 10% das raparigas entre os 15 e os 19 anos
engravidam) e as suas consequências na educação. Efectivamente, há estudos
que demonstram que os filhos destas mães apresentam mais problemas
comportamentais, têm maiores dificuldades escolares e correm mais riscos
sociais. As autoridades educativas e sociais devem tentar evitar, através de
diversos métodos, mais ou menos discutíveis e sucedidos, evitar a gravidez
precoce. Mas, nascida a criança, é necessário prestar todo o apoio social e
psicológico às jovens mães. Os autores sugerem que o problema não reside
propriamente na idade das mães mas no ambiente ecológico em que vivem.
Os factores que contribuem para o risco de engravidar precocemente estão
igualmente presentes nas práticas educativas subsequentes.
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deprimidos (cf. Field, in Bornstein, 1995, IV, pp. 85-99) ou toxicodependentes
(cf. Mayes, in Bornstein, 1995, IV, pp. 101-125) ou que maltratam os filhos
(cf. Rogosch, Cicchetti, Shields e Toth, in Bornstein, 1995, IV, pp. 127-159).
Trata-se de temas momentosos, e bem assim outros, como o stress de todos os
dias na família (cf. Crnic e Acevedo, in Bornstein, 1995, IV, pp. 277-297) ou
como servir-se da televisão para a educação, potenciando os seus efeitos
positivos e mitigando os perversos (cf. Dorr e Rabin, in Bornstein, 1995, IV,
pp. 323-351), ou a importância do jogo na interacção pais-filhos (cf. Uzgirir e
Raeff, in Bornstein, 1995, IV, pp. 353-376), ou ainda a importância dos colegas
ou amigos dos filhos na educação e como os pais podem lidar com eles (cf.
Ladd e Sieur, in Bornstein, 1995, IV, pp. 377-409). Porém, tais temas específicos
ultrapassam o âmbito deste Manual, podendo consultar-se, entre outros
subsídios, os capítulos indicados no Manual de Bornstein (1995), onde é
fornecida ampla bibliografia.
Não há soluções mágicas para este problema que se põe não apenas a nível
familiar, que também escolar (cf. Barros e Barros, 1999, II; pp. 70-82) e social.
Em todo o caso é evidente que, quer a criança quer o adolescente precisam de
autoridade mas que ela deve ser dialogante e não repressiva, dependendo muito
o seu exercício não apenas das características psicológicas, quer dos pais quer
dos filhos, mas também das condições sociais e históricas onde a família está
inserida. De qualquer modo, é necessário que a disciplina, em vez de ser importa
de for a, seja assumida pela criança e centrada nela, tendo em conta a sua
evolução psicológica, para se tornar progressivamente auto-disciplina.
Resumo
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a idade, pois não é o mesmo educar uma criança pequena, que um adolescente
ou um jovem adulto. Faz-se referência particular à vinculação da mãe com a
criança desde os primeiros meses de vida. Poderia apresentar-se uma
perspectiva desenvolvimental sobre a educação cognitiva, afectiva, social, etc.,
mas privilegiou-se o desenvolvimento moral, discordando em parte da teoria
de Kohlberg.
Na educação é necessário não apenas ter em conta a idade, mas também outras
variáveis, como o género da criança, a sua situação na fratria e outras variáveis
endógenas à criança e à família. Mas importante também é considerar as
variáveis exógenas ou o ambiente ecológico onde se situa a família e se
desenvolve a educação. A perspectiva ecológica da educação assume cada
vez mais importância relevante.
Interrogações e sugestões
O que entende por “inventar novos pais” conforme título sugestivo dum livro?
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Leitura complementar
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8. Estilos Educativos Parentais
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Objectivos de aprendizagem
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No capítulo anterior abordamos sumariamente o problema da educação numa
perspectiva desenvolvimental, diferencial e ecológica. Trata-se dum problema
momentoso em todas as gerações, mas talvez hoje ainda mais candente.
Remetemos os leitores para tantos Manuais de psicologia da educação em
geral e de psicologia da educação familiar, em particular. Neste capítulo vamos
abordar um tema também muito estudado e que se integra perfeitamente num
Manual de Psicologia da Família, dado a dimensão educativa, e em particular
os estilos educativos parentais, constituírem a parte fundamental da relação
pais-filhos.
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da teoria de Piaget como “grelha de leitura” do ambiente familiar e como
meio de avaliar o desenvolvimento intelectual.
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calorosos estão profundamente empenhados no bem-estar dos filhos,
respondem às suas necessidades, dispensam-lhes tempo, mostram-se
entusiasmados com as realizações da criança, são sensíveis aos seus estados
emotivos. Por seu turno, as crianças cujos pais mostram aceitação e afeição,
são afeiçoadas ou ligadas aos pais e mostram tendência para aprender melhor,
são relativamente complacentes, apresentam uma boa auto-estima, internalizam
melhor as normas morais, são mais altruistas.
Apesar da ênfase posta num ou noutro aspecto do amor, esta dimensão está
presente em toda a relação educativa, embora não seja fácil apreendê-la e
menos avaliá-la e medi-la, dadas as diversas circunstâncias, intensidades e
pecularidades que a exprimem. Por isso, é ilusório pensar que se trata de uma
dimensão ou estrutura simples, tanto mais que se combina com a outra dimensão
de autoridade; assim, por si só, não explica grande parte da relação educativa.
Os sentimentos amorosos ou mais ou menos hostis dos pais para com os filhos
podem variar de intensidade ou de qualidade, com consequências para o
comportamento da criança. Por exemplo, o amor pode ser mais ou menos
intenso, mais ou menos ansioso e/ou possessivo (proteccionismo), o que de
qualquer forma já cai na outra dimensão de autonomia-controlo.
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Lewin (autoritarismo, democracia e permissividade), numa escala que vai da
firmeza rígida ao laxismo total. Esta dimensão, por outro lado, não pode ser
bem compreendida senão em combinação e interacção com a anterior (amor
vs hostilidade).
Schaefer (1959, p. 234) conclui que muitas das variáveis existentes sobre o
comportamento materno podem ser ordenadas segundo estas duas dimensões:
amor vs. hostilidade e autonomia vs. controlo que explicariam grande parte da
variância do comportamento social e emocional da mãe (e do pai) em relação
ao filho.
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AUTONOMIA
Distanciamento Democracia
Indiferença Cooperação
Negligência
HOSTILIDADE AMOR
Antagonismo exigente Super-indulgência
Autoritarismo dictatorial Indulgência protectora
Superprotecção
CONTROLO
Baumrind (1973, 1977, 1983) constata que a dimensão amor vs. hostilidade
explica pouco da variabilidade do comportamento parental para com os filhos
e introduz outras variáveis como o conformismo e o tradicionalismo. Situa
também em duas dimensões ortogonais os estilos educativos dos pais:
capacidade de resposta às solicitações dos filhos (responsiveness) vs. atitudes
de exigência (demandingness). Conforme a combinação e intensidade de um
ou outro comportamento, temos o modelo seguinte:
EXIGÊNCIA
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Não considerando os termos médios, podemos reduzir a quatro os estilos
educativos segundo Baumrind (os pais ‘respondentes’ estão mais centrados
na criança, enquanto os ‘não respondentes’ se centram predominantemente
sobre si mesmos):
Tendo em conta os dois modelos, mas considerando, nos dois primeiros estilos,
particularmente o de Baumrind, podemos identificar quatro estilos educativos
fundamentais:
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suficientemente compreensivos, levando os filhos à autoconfiança, à
segurança e à maturidade;
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para um harmonioso desenvolvimento da criança (Maccoby e Martin, 1983).
O tipo democrático usa os elementos mais positivos do tipo autoritário e ainda
dos outros dois. Os filhos aprendem a comportar-se pela positiva (obtenção
de sucesso) enquanto os filhos de pais autoritários se comportam
prevalentemente pela negativa (evitamento do fracasso). Os pais democráticos
e calorosos estão centrados nos filhos e não em si mesmos. O estilo democrático
é o mais frequentemente encontrado nas diversas investigações. Mas a
desejabilidade social pode viciar em parte as respostas aos questionários sobre
as práticas educativas parentais, mais por parte dos pais (que estão em causa)
do que dos filhos. Todavia, em grande parte convergem as respostas de pais e
filhos, o que pode abonar em favor da sua sinceridade (cf. Barros, 1994).
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autoritário e algo negligente; o estilo maternalista como indulgente. Mas, como
qualquer tipologia, esta é mais redutora do que a anterior e menos abrangente
de todas as ‘nuances’ dos estilos educativos parentais.
Um estudo de Kerig (1995) com mães, pais e crianças entre os 6-10 anos
classifica o sistema familiar em coesivo, separado (distante), triangular
(coligações entre as gerações) e exclusivo (a criança é excluída do subsistema
parental), mas sem resultados conclusivos sobre qual dos sistemas se manifesta
mais eficiente, dependendo de diversas variáveis.
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Autoconceito e inserção social dos filhos
Por outro lado, o modo como o casal se relaciona entre si ou a interacção entre
o marido e a esposa medeia a influência que os pais exercem sobre os filhos
(Vaz Serra et al., 1987a). Estes autores estudaram em particular a influência
das relações dos filhos com os pais para o autoconceito, concluindo que uma
boa atmosfera familiar e uma relação positiva dos pais com os filhos (tolerância,
compreensão, ajuda e incentivo para vencer as dificuldades) são essenciais
para a formação de um bom autoconceito (Vaz Serra et al., 1987b). Os autores
estudaram ainda a relação entre práticas educativas dos pais e o locus de
controlo dos filhos, concluindo que há uma maior influência na externalidade
do que na internalidade, isto é, que uma má atmosfera familiar e uma educação
demasiado rigorosa pode produzir uma crença de controlo externo dos reforços,
enquanto uma boa atmosfera educativa tem menos influência no controlo
interno da situação (Firmino et al., 1987) (cf. Barros, Barros e Neto, 1993).
Litovsky e Dusek (1985) concluíram que os adolescentes com uma alta auto-
estima percepcionam os pais como mais aceitadores e menos controladores e
exigentes. Os resultados permitem supor que o desenvolvimento de um bom
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autoconceito se processa numa atmosfera de aceitação por parte dos pais que
permite ao adolescente autonomia e oportunidade para aprender novas
competências. Um estudo de Fleming (1992) relaciona a autonomia
adolescencial com a percepção que o adolescente tem das práticas educativas
parentais, concluindo que o estilo educativo autonómico-amoroso é o que
melhor facilita o acesso do adolescente à autonomia.
Alguns autores estudam ainda a influência das práticas educativas nos distúrbios
de comportamento dos filhos. Gardner (1992) analisa várias investigações
recentes sobre a importância da interacção entre pais e filhos na etiologia de
desordens de comportamento dos filhos, interacção que muitas vezes é mediada
por factores contextuais. Alguns estudos não são de todo concludentes
particularmente quanto à direcção da relação, pois se o comportamento dos
pais influencia o dos filhos, positiva ou negativamente, também se dá a direcção
inversa.
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O comportamento pró-social foi definido por Radke-Yarrow e Zahn-Waxler
(1986, p. 208) como “comportamentos que respondem positivamente às
necessidades e ao bem-estar dos outros”. Algumas investigações mostraram
que certas práticas parentais (educação afectiva e democrática) podem estimular
uma orientação positiva da criança para com os outros (Radke-Yarrow et al.,
1983). As reacções parentais ao mal-estar e à necessidade de ajuda da criança
(ser ajudado constitui uma experiência importante) relacionam-se com o
comportamento pró-social e com a competência social da criança.
Desempenho escolar
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pais influencia as atitudes e os comportamentos académicos do adolescente,
promovendo um maior empenho no trabalho, aspirações mais elevadas,
sentimentos mais positivos para com a escola, mais tempo dispendido no
trabalho em casa, um autoconceito académico mais elevado, etc. (Lamborn
et al., 1991; Steinberg et al., 1989).
Steinberg et al. (1989), por seu lado, analisaram a relação entre três aspectos
do estilo autoritativo parental (aceitação, autonomia psicológica e controlo
comportamental) e a realização escolar de adolescentes primogénitos.
Concluíram que o estilo democrático, através das suas diversas características,
facilita o sucesso escolar desenvolvendo um saudável sentido de autonomia e
de orientação para o trabalho. Os adolescentes que descreveram os pais como
calorosos, democráticos e firmes mostravam-se mais propensos a desenvolver
atitudes positivas para com o desempenho escolar.
Steinberg e col. (Steinberg, 1990; Steinberg et al. 1989, 1991) sugeriram que
são três as componentes de autoridade que contribuem para o desenvolvimento
psicológico sadio do adolescente e para o sucesso escolar: aceitação e calor
parental; supervisão do comportamento e rigor (strictness); concessão de
autonomia psicológica ou democracia. Esta trilogia (calor, controlo e
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democracia) é paralela à tríplice dimensão de educação parental identificada
por Schaefer (1965) no seu tabalho pioneiro sobre as práticas pedagógicas,
através das respostas dos filhos. Também é similar às dimensões do controlo
parental recentemente identificadas por Baumrind (1991a, 1991b): controlo
apoiante (supportive control) (semelhante ao calor afectivo), controlo assertivo
(assertive control) (semelhante à supervisão e rigor) e controlo directivo-
convencional (directive-conventional control) (semelhante à concessão de
autonomia).
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ao sucesso escolar e a participação nas actividades escolares são vistos como
práticas particulares com fins educacionais específicos. Estas variáveis são
menos estudadas, mas são importantes. Em geral os estudos indicam que os
alunos cujos pais se envolvem mais na educação obtêm mais sucesso (cf. v.g.
Stevenson e Baker, 1987). Os estudos indicam também que os alunos com
mais sucesso têm pais que os encorajam mais e que este encorajamento é o
primeiro mediador na conexão entre a classe social da família e a realização
escolar (Sewell e Hauser, 1980). Steinberg et al. (1992) concluem que saber
“como os pais expressam o seu envolvimento e encorajamento pode ser tão
importante como saber se e em que medida o fazem” (p. 1279).
Mas não se trata propriamente de uma explicação causal mas interactiva. Não
é só um bom estilo educativo a promover o sucesso. Não se exclui a hipótese
de que o sucesso do adolescente também provoca um estilo autoritativo nos
pais (a relação entre as duas variáveis é recíproca). Pode também supor-se que
a relação entre uma educação autoritativa e o sucesso seja simplesmente devida
a uma terceira variável não mensurável. Apesar desta possibilidade, é mais
plausível que seja o estilo autoritativo a favorecer o sucesso. E a magnitude
desta relação não é trivial.
Resumo
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referência. No essencial eles são concordantes, embora não de todo coincidentes.
Assim, podemos distinguir quatro estilos educativos parentais, cientes todavia
de que não há estilos puros. Outros autores podem preferir esquemas diferentes.
Interrogações e sugestões
Não é indiferente que a criança seja educada de uma forma ou de outra, mais
ou menos democraticamente ou com mais ou menos amor; isso tem as suas
implicações a todos os níveis: aponte particularmente as implicações dos estilos
parentais no autoconceito e na inserção social dos filhos.
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Leitura complementar
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PARTE III
A FAMÍLIA E A SOCIEDADE
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9. A Família e a Escola
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Objectivos de aprendizagem
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Vimos nos capítulos anteriores essencialmente a família desde dentro - relação
dos cônjuges entre si e com os filhos - embora nunca se trate duma célula ou
ilha isolada, mas em interacção constante com o meio envolvente. Porém,
nesta última parte queremos abordar mais expressamente algumas instituições
que mais interagem com a família, particularmente a escola e os meios de
comunicação social (televisão), e ainda algumas situações específicas que são
também graves problemas sociais, como a terceira idade (famílias na velhice)
e outros problemas socias (famílias anormais ou disfuncionais).
A primeira grande abertura e contacto da família com o exterior faz-se
essencialmente quando o(s) filho(s) entra(m) na escola. Actualmente a maior
parte das crianças passa antes pelo jardim infantil ou pela pré-escola. Todavia,
não estudaremos esta instituição que, por diversas razões, é menos significativa
para a criança e para os pais, embora mitigue o choque da posterior entrada
para a escola.
A saída da criança para a escola marca, duma forma determinante, não apenas
a criança, mas também a família que se expõe pela primeira vez, duma forma
mais visível (através do filho, do seu comportamento e realização escolar), à
apreciação da comunidade envolvente. Quando a criança regressa a casa, traz
consigo outro mundo de colegas, professores, novas relações, a que os pais
também se têm de adaptar, para além da alteração eventual dos seus horários e
mesmo das suas economias. Mas é a criança que mais ‘ginástica’ mental e
afectiva tem de fazer na adaptação a uma nova vida, a novos colegas e
superiores, a novas aprendizagens e valores, tendo de lançar mão de todas as
competências até agora adquiridas no seio da família, na relação com os pais
e com os irmãos, e no contacto com os colegas. A triangulação que antes
existia – criança, pais, irmãos – pode desdobrar-se em duas: criança/aluno
versus pais e professores; criança/aluno versus irmãos e colegas. O sucesso
desta transição para um novo mundo dependerá em grande parte da qualidade
do ambiente familiar mas também da escola, da capacidade dos professores
captarem a simpatia da criança e fazer com que o grupo escolar funcione bem.
Hoje, mais do que nunca, acentua-se a importância da interacção família-escola
ou pais-professores, e vice-versa (Castellan, 1993; Diez, 1989; Honoré, 1980;
Mariet (Dir.),1989; Marques, 1988; Martinez, 1989), existindo mesmo
programas para envolver os pais na dinâmica escolar (cf. Kroth, 1989; Nye,
1989). Já os grandes pioneiros da Escola Nova ou da nova pedagogia, como
Decroly, Freinet, Montessori, tinham insistido na importância da relação
escola-família. Porém, só recentemente se levaram a cabo numerosas pesquisas
sobre o impacto da família para a realização escolar dos alunos.
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Nos anos 60 pedia-se aos pais para reforçarem as aprendizagens escolares
dos filhos. Na década de 70 falava-se de complementaridade recíproca entre a
família e a escola. Nos anos 80 pediu-se aos professores uma colaboração
estreita com a família para melhor compreensão do ambiente natural da criança
e no intuito de comprometer os pais na vida escolar (Macbeth, 1984). Na
década de 90 insistiu-se mais com os pais para se fazerem presentes na vida
escolar. Mas infelizmente nem os pais nem os professores foram preparados
para isso. Ninguém melhor que os professores poderia educar e mentalizar os
pais para a necessidade de uma maior colaboração família-escola, tornando-
os educadores dos educadores. Na formação de professores insiste-se hoje
muito na vertente psicopedagógica, que não apenas científica (cf. e.g. Abreu,
1996; Raposo, 1995), mas faltam alusões à importância da família e ao modo
como lidar com os encarregados de educação.
Porcher (in Mariet, 1981, pp. 60-72) pensa que recentemente se tem assistido
a uma complementaridade entre a escola e a família, chegando as duas
instituições a tornar-se quase redundantes ou sobrepostas, isto é, a escola
quase deixou de instruir para pretender educar, fazendo o mesmo papel da
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família. No passado, a família era praticamente o único lugar educativo e fazia
tudo. Depois a escola assumiu o papel de instruir. Posteriormente, quase
abdicou de ensinar para se tornar um lugar “eudemónico”, onde a criança se
sentisse tão bem ou melhor do que na família: escola como “família exemplar”.
Isto quase em reacção aos exageros anteriores. Na verdade, a escola tinha
sido (e continua a ser em muitas partes) um lugar apenas de transmissão de
conhecimentos, um enche-cabeças, uma máquina de preparar para os exames,
praticando uma “educação bancária” (Paulo Freire). Assim, surgiu a reacção,
em grande parte por mãos da pedagogia não directiva e das “escolas novas”.
O aluno é visto mais como criança do que como aluno, assistindo-se a uma
espécie de “descolarização” da escola, embora não no sentido que lhe dão os
defensores da mudança radical da escola (por ex. Bourdieu e Passeron) ou os
teóricos da desescolarização, como Illich.
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Connors e Epstein (in Bornstein, 1995, IV, pp. 437-458) abordam o problema
ao terminar o último volume de Handbook of Parenting. Depois duma
perspectiva histórica onde se pode notar a conflituosidade entre estas duas
instituições, e de apresentarem as diversas teorias sobre a relação família-escola
(separação, compenetração, sobreposição), os autores estudam a natureza dessa
participação e colaboração, quer na escola quer na família. Após um período
em que ambas as instituições andaram de costas voltadas, talvez dadas as
mudanças que iam sofrendo, a ritmo acelerado, é necessário que ambas se
dêem as mãos, abrindo-se também à comunidade mais ampla, em ordem a
uma educação integral e convergente dos alunos-filhos.
Porém, o diálogo entre as duas instituições nem sempre é fácil, e por vezes é
“desigual e frágil” dado os pais encontrarem um corpo docente organizado e
muitas vezes hermético, concebido para funcionar negociando pouco com os
utentes. Quando os pais procuram forçar as portas, os professores podem reagir
mais ou menos defensiva ou receptivamente (Montandon e Perrenoud, 1987,
pp. 7-22).
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embora por vezes também o favoreçam falando mal uns dos outros (Perrenoud,
1987, pp. 159-163).
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o conflito dos pais com a escola (Margolis e Brannigan, 1990), mais
concretamente sobre um maior envolvimento dos pais na aprendizagem da
leitura (Drummond et al., 1990; Hannon, 1987; Hewison, 1988) ou na
superação da dislexia (Acklaw e Gupta, 1991; Wilson e Simmons, 1989).
Outros estudos insistem ainda na análise sistémica e ecológica da interacção
escola-família (Evequoz, 1988; Power e Bartholomew, 1987).
Dutercq (2001) constata que a presença e influência dos pais na escola, por
diversas razões, ainda é insuficiente e fragmentada, que os estudos se fixam
sobretudo no diálogo difícil entre professores e pais sem apontar soluções,
que os pais se preocupam (os que se preocupam) predominantemente com a
segurança na escola, com os horários, com os seus direitos sociais, e menos
com os conteúdos e métodos de ensino/aprendizagem e com a educação integral
dos seus filhos na escola. Analisando o comportamento dos pais nalguns
colégios particulares franceses, o autor nota uma grande gama diversificada
de participação (individual e colectiva) dos pais, desde o absentismo total ao
“consumismo individualista”, isto é, aqueles pais que não deixam a escola,
intrometendo-se em tudo. Dutercq conclui apontando uma tipologia de pais
de alunos: pais participantes (participativos), pais oposicionistas (político-
críticos), pais ausentes (retirados, fantasmas). É de toda a conveniência ajudar
os pais a serem cada vez mais participativos, o que não exclui uma crítica
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