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DIREITO PROCESSUAL PENAL
Sentença
Sumário
Dos Atos Processuais: a Sentença Penal.................................................................................... 3
Conceito e Classificações. . ............................................................................................................. 3
Estrutura da Sentença Penal. . ....................................................................................................... 5
Embargos de Declaração.. .............................................................................................................. 7
“Emendatio libelli”........................................................................................................................... 8
Mutatio libelli..................................................................................................................................12
Independência Judicial na Sentença........................................................................................... 17
Intimação da Sentença................................................................................................................. 18
Questões de Concurso.................................................................................................................. 32
Gabarito............................................................................................................................................ 47
Referências Bibliográficas. . .........................................................................................................48
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Caro(a) aluno(a), é com muita satisfação que lhes apresento este trabalho, fruto de grande
dedicação e privação. Estudaremos neste material a sentença penal, que seguramente é o ato
judicial mais importante. Os despachos e decisões serão objeto de outro PDF.
Em provas de concursos, podemos ver o assunto da sentença ser cobrado com muita in-
cidência em provas objetivas, especialmente no que se refere ao conteúdo, elementos, vícios,
classificação e estrutura da sentença.
Em provas discursivas, também é comum o assunto ser cobrado, seja diretamente, seja
indiretamente, por meio do exame dos vícios da sentença, do recurso cabível e das diversas
formas de impugnação.
Além disso, nas provas de magistratura, há uma fase especialmente dedicada ao tema, a
terceira etapa do concurso, em que o candidato(a) tem que elaborar uma sentença completa,
com foco especial na dosimetria da pena e na técnica de elaboração de sentença penal. Esse
estudo específico para a prova de sentença não é o objetivo principal do presente trabalho,
mas você já terá uma boa visão, ao fim da leitura, dos diversos elementos da sentença.
Durante meus estudos para a magistratura, o assunto sentença sempre foi um dos assun-
tos aos que eu mais me dediquei, pois sabia que só passaria no concurso sabendo fazer sen-
tença e sabia que o juiz tem que fazer sentenças todos os dias de trabalho.
Cheguei a treinar sentenças criminais a partir da parte das notícias criminais dos jornais
impressos (e aqui já estou denunciando a minha idade). Eu lia sobre um estupro e já ia senten-
ciar o caso, até mesmo inventando dados sobre as circunstâncias legais e judiciais do caso.
Mas a sentença não é importante apenas para o magistrado, pois tanto promotor quanto
defensor devem saber muito bem sobre a sentença criminal, especialmente para elaborar os
pedidos na tramitação do feito e para recorrer.
Portanto, é um assunto muito especial.
Espero que aproveite e goste do estudo que começa agora.
Conceito e Classificações
Ao passo que o CPC subdivide os pronunciamentos do juiz em sentenças, decisões inter-
locutórias e despachos, no art. 203, e conceitua sentença como o pronunciamento por meio
do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento
comum, bem como extingue a execução; o CPP, embora reserve todo o título XII para o tema
sentença, não a subdivide nem a conceitua.
Segundo Renato Brasileiro, sentença, para o CPP, “é tão somente a decisão que julga o mé-
rito principal, ou seja, a decisão judicial que condena ou absolve o acusado. A contrario sensu,
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as decisões que extinguem o processo sem julgamento de mérito, segundo o CPP, são tratadas
como decisões interlocutórias mistas”1.
Importante distinção a ser feita é entre sentença definitiva e sentença transitada em julga-
do. A primeira é a que põe fim ao processo com julgamento do mérito, sendo mencionada no
art. 82 do CPP. Já a sentença transitada em julgado é aquela em relação à qual não cabe mais
nenhum recurso.
Outra classificação decorre do art. 593 do CPP, qual seja: sentença definitiva, que é a que
põe fim ao processo com julgamento do mérito, condenando ou absolvendo o acusado, como
visto acima, decisão definitiva ou terminativa de mérito, que é a que também decidem o mé-
rito, mas sem condenar ou absolver o acusado, como por exemplo a decisão que extingue a
punibilidade do réu e decisão com força de definitiva ou interlocutória mista, que é a que põe
fim a uma fase do procedimento ou coloca fim ao processo, sem o julgamento do mérito, como
a decisão de rejeição da denúncia.
Mais uma interessante classificação, que foi cobrada, por exemplo, no concurso de juiz de
direito substituto do TJ-MG, de 2006, é a distinção entre sentença suicida, vazia e autofágica.
Sentença suicida é aquela em que o dispositivo contraria a fundamentação: por exemplo, na
fundamentação o juiz menciona que as provas são frágeis, que os depoimentos são contradi-
tórios, mas no dispositivo condena o réu. Sentença vazia é a que padece de fundamentação,
classificação que ganhou maior relevo com a nova redação do art. 315, do CPP, dada pela lei
anticrime. No § 2º desse artigo, preceitua o legislador que não se considera fundamentada
qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão que:
I – limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação
com a causa ou a questão decidida;
II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência
no caso;
III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
1
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal – Volume único. Rio de Janeiro: Jus Podvum, 2020, pg. 1607.
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IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a
conclusão adotada pelo julgador;
V – limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos de-
terminantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem
demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
Sentença autofágica, por fim, é a que se reconhece a imputação, mas o juiz extingue a pu-
nibilidade, como ocorre no exemplo do perdão judicial.
Os dois primeiros incisos tratam do relatório da sentença penal, o qual devemos lembrar
que é dispensado nas sentenças do juizado especial criminal, por expressa disposição do art.
81, § 3º da Lei n. 9099/05. Fora dessa situação, a ausência de relatório poderá conduzir à nuli-
dade da sentença penal. Confira:
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O relatório, como o nome diz, é um resumo do que aconteceu no processo, devendo o juiz,
observando os dois primeiros incisos do art. 381 do CPP, indicar os nomes das partes ou, quan-
do isso não for possível, as indicações necessárias para identifica-las e fazer uma exposição
sucinta da acusação e da defesa. Quando preparamos os alunos para a prova de sentença do
concurso da magistratura, costumamos indicar que é importante que se observe e indique, no
relatório, as fases obrigatórias de cada rito, pois o relatório tem o condão de demonstrar que
foi observado o devido processo legal.
Fundamentação, por outro lado, é a parte da sentença em que o juiz explicita as suas ra-
zões de decidir, motivando a aplicação do direito ao caso concreto, analisando as teses de acu-
sação e de defesa. A carência de fundamentação ganhou especial relevo com a lei anticrime,
que passou a prever essa situação como causa de nulidade absoluta.
O art. 564, V, do CPP, determina que haverá nulidade absoluta em decorrência de decisão
carente de fundamentação, o que decorre também da previsão do art. 93, IX, da Constituição.
O CPP prevê, no art. 381, III e IV, que a sentença conterá a indicação dos motivos de fato e de
direito em que se fundar a decisão e a indicação dos artigos de lei aplicados.
A fundamentação deve ser feita em observância também ao art. 155 do CPP, que determina
que a sentença não poderá ser fundamentada exclusivamente nos elementos de informação
colhidos no inquérito, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. Ao dizer
isso, dá o legislador às provas, ou seja, aquelas colhidas em contraditório judicial, maior relevo
que aos elementos de informação, que podem ser livremente usados para absolver o réu, mas
não para condená-lo, salvo se corroborados por provas produzidas em contraditório judicial ou
nas três exceções previstas na parte final do dispositivo.
Com relação à fundamentação “per relationen” ou “aliunde”, é nula a decisão que se limita
a colacionar, por exemplo, trecho de alegações finais do Ministério Público, o que podemos
concluir do que foi decidido pelo STJ:
É nulo o acórdão que se limita a ratificar a sentença e a adotar o parecer ministerial, sem
sequer transcrevê-los, deixando de afastar as teses defensivas ou de apresentar funda-
mento próprio. Isso porque, nessa hipótese, está caracterizada a nulidade absoluta do
acórdão por falta de fundamentação. De fato, a jurisprudência tem admitido a chamada
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fundamentação per relationem, mas desde que o julgado faça referência concreta às
peças que pretende encampar, transcrevendo delas partes que julgar interessantes para
legitimar o raciocínio lógico que embasa a conclusão a que se quer chegar. Precedentes
citados: HC 220.562-SP, Sexta Turma, DJe 25/2/2013; e HC 189.229-SP, Quinta Turma,
DJe 17/12/2012. HC 214.049-SP, Rel. originário Min. Nefi Cordeiro, Rel. para acórdão Min.
Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/2/2015, DJe 10/3/2015.
O CPC prevê, no art. 489, § 1º, V e VI, que não se considera fundamentada qualquer deci-
são judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que se limitar a invocar precedente
ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar
que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos ou que deixar de seguir enunciado
de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de
distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
De forma semelhante, a lei anticrime passou a prever que não se considera fundamen-
tada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que (art. 315, §
2º, do CPP):
I – limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação
com a causa ou a questão decidida; (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência
no caso; (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; (Incluído pela Lei n.
13.964, de 2019)
IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a
conclusão adotada pelo julgador; (Incluído pela Lei n. 13.964, de 2019)
V – limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos de-
terminantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; (Incluído
pela Lei n. 13.964, de 2019)
VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem
demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
Embargos de Declaração
Dentro ainda do título da sentença, o CPP prevê o cabimento de embargos de declaração,
estipulando que qualquer das partes poderá, no prazo de 2 (dois) dias, pedir ao juiz que declare
a sentença, sempre que nela houver obscuridade, ambiguidade, contradição ou omissão.
Chamo a sua especial atenção para o prazo, pois enquanto no processo civil os embargos
de declaração cabem no prazo de cinco dias, no processo penal o cabimento é no prazo de
dois dias, e esse assunto é muito cobrado em provas de concurso.
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Art. 83. Cabem embargos de declaração quando, em sentença ou acórdão, houver obscuridade,
contradição ou omissão.
§ 1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo de cinco dias,
contados da ciência da decisão.
Cabe ainda salientar que erros materiais simples podem ser corrigidos pelo juiz, de ofício,
sem necessidade de embargos de declaração.
“Emendatio libelli”
A partir do art. 383 do CPP, temos dois institutos extremamente cobrados em provas de
concurso e que são objeto de muita confusão por parte dos (as) concurseiros (as), ou seja,
emendatio libelli e mutatio libelli.
Inicialmente, preciso que você preste atenção que esses dois institutos estão em ordem
alfabética, ou seja, o primeiro dos dois artigos, que é o art. 383, vai tratar da emendatio libelli,
enquanto o segundo, art. 384, trata da mutatio libelli. Parece uma explicação simplória, mas
que já caiu em concurso e, se cair novamente, pode te garantir uma questão. Sistematizando:
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A segunda importante distinção, sobre o conteúdo de cada uma, passará a ser vista agora.
A emendatio libelli ou modificação da definição jurídica do fato, do art. 383 do CPP, se re-
fere a um erro que houve na denúncia, por isso o nome emendatio, emenda, que se refere ao
que precisa ser corrigido. De fato, no dicionário encontramos que emenda é o ato ou efeito de
retificar falta ou defeito, de corrigir algo.
Dessa maneira, ao promover a emendatio libelli, o juiz verifica que houve uma inadequação,
um erro, na denúncia, ou seja, verifica que, embora os fatos narrados na denúncia estejam cor-
retos, houve uma incorreção entre os fatos narrados e a capitulação jurídica pretendida pelo ór-
gão de acusação. Por exemplo: o promotor narra um crime de roubo, dizendo que determinada
pessoa subtraiu um aparelho celular da vítima, usando de grave ameaça para poder perpetrar
o crime. Todavia, requer a condenação do réu nas penas do art. 155 do CP, que se refere ao
furto. Tem-se, portanto, uma inadequação entre os fatos narrados e a capitulação, que poderá
ser objeto de emendatio libelli, por ocasião da sentença.
Como os fatos foram devidamente narrados na peça inicial acusatória e o réu se defende
dos fatos (princípio da correlação), o CPP prescreve que o juiz, de ofício, sem necessidade de
aditamento da denúncia e nem da oitiva da defesa, poderá promover a emendatio, efetuando
a correção:
Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe
definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave.
Dessa maneira, a emendatio libelli nada mais é do que a correção feita pelo juiz, aplican-
do o princípio da simetria por ocasião da sentença, adequando os fatos narrados na inicial à
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sentença, pois o juiz conhece o direito (jura novit cúria) e pode aplicar o direito a partir dos fatos
(narra mihi factum dabo tibi jus – narra-me os fatos que eu te darei o direito).
Caso seja possível, a partir da emendatio libelli, a proposta de suspensão condicional do
processo, pois com a correção, a pena mínima do novo crime não for superior a um ano, o juiz
deverá aplicar o art. 89 da lei dos juizados. Assim prevê o art. 383, § 1º, do CPP:
Exemplo disso seria quando a denúncia descreve um crime de roubo, mas capitula como
se furto fosse. Nesse caso, por ocasião da sentença, verificando que o crime é de furto, o juiz
deverá dar vistas ao MP para analisar o cabimento da proposta de suspensão condicional
do processo.
Caso o juiz, com a emendatio libelli, verifique a existência de infração da competência de
outro juízo, deverá encaminhar os autos ao juízo competente, como prevê o art. 383, § 2º
Nessa situação, chamo a sua atenção para uma possibilidade excepcional desse tipo de
correção ocorrer já no recebimento da denúncia, quando o juiz observa de plano que a incorre-
ta capitulação comporta em supressão de algum benefício (como a suspensão condicional do
processo) ou em deslocamento da competência. Nesse caso, o STF admitiu o juízo desclassi-
ficatório prévio, ou seja, antes do momento do art. 383 do STF2.
Em outras palavras, caso haja necessidade de emenda, de adequação entre os fatos narra-
dos na denúncia ou queixa e a capitulação jurídica, o momento correto para que o juiz promova
a correção é por ocasião da sentença, nos termos do art. 383 do CPP. Excepcionalmente, toda-
via, poderá fazer em momento anterior, até mesmo por ocasião do recebimento da denúncia
quando: 1. A incorreta capitulação importar em supressão de algum benefício ao réu ou quan-
do 2. A incorreta capitulação importar em deslocamento da competência criminal.
A emendatio libelli é cabível tanto em primeira instância quanto na fase recursal, diversa-
mente do que acontece com a mutatio libelli. No entanto, para que seja aplicada a emendatio
2
EMENTA HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. Emendatio libelli. LAVAGEM DE ATIVOS. DESCLASSIFICAÇÃO NO RECE-
BIMENTO DA DENÚNCIA, PARA ESTELIONATO. ART. 383 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. MOMENTO PROCESSUAL
ADEQUADO. RELATIVIZAÇÃO. ESPECIALIZAÇÃO DO JUÍZO. 1. Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é a
sentença o momento processual oportuno para a emendatio libelli, a teor do art. 383 do Código de Processo Penal. 2. Tal
posicionamento comporta relativização – hipótese em que admissível juízo desclassificatório prévio –, em caso de erro de
direito, quando a qualificação jurídica do crime imputado repercute na definição da competência. Precedente. 3. Na espé-
cie, a existência de peculiaridade – ação penal relacionada a suposto esquema criminoso objeto da ação em trâmite na
vara especializada em lavagem de ativos –, recomenda a manutenção do acórdão recorrido que chancelou a remessa do
feito, comandada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região para a 1ª Vara Federal da Seção Judiciária do Maranhão, que
detém tal especialização. 4. Ordem denegada.
(HC 115831, Relator(a): ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 22/10/2013, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-227 DIVULG
18-11-2013 PUBLIC 19-11-2013)
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libelli em segunda instância, é necessário que não haja reformatio in pejus. Confira importante
precedente do STF:
EMENTA Habeas corpus. Penal e Processual Penal. Condenação. Crimes Contra o Sis-
tema Financeiro Nacional (Lei n. 7.492/86) e Lavagem de Capitais (Lei n. 9.613/98).
Alegação de que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região teria incidido em ofensa à
coisa julgada ao reclassificar, em recurso exclusivo da defesa, as condutas pelas quais
os pacientes foram sentenciados em primeiro grau. Não ocorrência. Típica situação de
emendatio libelli (CPP, art. 383) levada à cabo em segundo grau de jurisdição, a qual não
transbordou a acusação capitaneada na denúncia. Possibilidade em recurso exclusivo
da defesa quando não acarretar reformatio in pejus (CPP, art. 617). Precedentes. Tenta-
tiva de obstar a execução provisória da pena. Condenação transitada em julgado noti-
ciada pelo juízo de origem. Prejudicialidade da matéria. Ordem denegada. 1. O Superior
Tribunal de Justiça, ao endossar o acórdão daquele Tribunal Regional Federal, concluiu
que não houve, em recurso exclusivo da defesa, reformatio in pejus decorrente da conde-
nação dos pacientes pelos crimes dos arts. 16 e 22, parágrafo único, da Lei n. 7.492/86,
uma vez que aquela Corte Regional teria tão somente adequado a imputação ao quadro
fático dos autos, não transbordando a acusação delineada na denúncia, em típica situa-
ção de emendatio libelli (CPP, art. 383), levada à cabo em segundo grau de jurisdição. 2.
O Supremo Tribunal Federal possui entendimento quanto à possibilidade de realização
de emendatio libelli em segunda instância mediante recurso exclusivo da defesa, con-
tanto que não gere reformatio in pejus, nos termos do art. 617 do Código de Processo
Penal (v.g. HC n. 103.310/SP, Relator para acórdão o Ministro Gilmar Mendes, DJe de
8/5/15). 3. O acórdão do Tribunal Regional Federal não agravou a situação dos pacientes,
já que o quantum de pena aplicado em primeiro grau teria sido respeitado. Aliás, a reclas-
sificação jurídica dos fatos a eles imputados para os crimes dos arts. 16 e 22, parágrafo
único, da Lei n. 7.492/86 - que foram objeto da denúncia - e a redução que foi operada nas
suas reprimendas, deram causa à extinção de punibilidade no tocante ao delito do art. 16
da Lei n. 7.492/86, tendo em vista a consumação da prescrição, reconhecida em sede de
embargos. 4. Não havendo ilegalidade a ser sanada a respeito da condenação remanes-
cente dos pacientes pelo art. 22, parágrafo único, da Lei n. 7.492/86, correta a posição
do Superior Tribunal de Justiça ao afirmar a prejudicialidade da alegação de atipicidade
em relação ao crime de lavagem de capitais por inexistência de crime antecedente. 5. A
pretensão de obstar a execução provisória da pena está prejudicada, pois os pacientes
encontram-se em cumprimento definitivo de pena (Petição/STF n. 15.295/18). 6. Ordem
denegada.
(HC 134872, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em 27/03/2018,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-215 DIVULG 08-10-2018 PUBLIC 09-10-2018)
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Situação diferente ocorre quando, encerrada a instrução probatória, o juiz entender cabível
nova definição jurídica do fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou
circunstância da infração penal não contida na acuação. Nesse caso, o juiz deverá dar vistas
ao órgão de acusação, para que, no prazo de cinco dias, adite a denúncia, adequando-a ao novo
tipo penal.
Caso o Ministério Público não adite a denúncia, o juiz deverá aplicar analogicamente o art.
28 do CPP. Você pode estar perguntando, professora, mas o art. 28 não prevê discordância do
juiz. Pois é, um grave erro não calculado pelo legislador reformador da chamada lei anticrime.
Antes da lei, era facilmente aplicável o art. 28, de forma que o juiz deveria enviar o caso ao Pro-
curador-Geral de Justiça, que poderia aditar a denúncia, designar outro promotor para fazer o
aditamento ou então insistir no não aditamento. Por outro lado, com a reforma (lembrando que
o art. 28 do CPP segue suspenso por decisão monocrática do STF), não há mais possibilidade
de discordância do juiz.
Não obstante, o art. 384, § 1º, do CPP, segue prevendo discordância do juiz. Assim, a nosso
sentir, quando não houver mais a suspensão do dispositivo e em se mantendo o procedimento
previsto no art. 28 do CPP, com a redação da lei anticrime, o juiz poderá enviar o caso à instân-
cia de revisão ministerial prevista no art. 28 do CPP3.
Renato Brasileiro assevera que
Há quem entenda que, diante da nova redação do caput do art. 384, não há como se dar aplicação
ao § 1º do mesmo dispositivo, por ser claramente incompatível com o sistema acusatório, não
mais sendo cabível qualquer forma de provocação, pelo juiz, do aditamento. Cuida-se, porém, de
posição minoritária. Na verdade, apesar de a aplicação do art. 28 do CPP acarretar certo prejuízo à
imparcialidade do magistrado, é sabido que essa função anômala exercida pelo juiz de fiscalização
do princípio da obrigatoriedade é extremamente comum no âmbito do processo penal, não apenas
nos casos de não aditamento espontâneo pelo Promotor de Justiça, mas também nas hipóteses de
controle judicial do arquivamento do inquérito policial e nos casos de recusa injustificada do ofere-
cimento da proposta de transação penal ou de suspensão condicional do processo. (BRASILEIRO,
2020, p. 1671).
3
Não é esse o posicionamento de parte da doutrina, e aqui citamos Leonardo Barreto (ALVES, 2020, p. 231), que assevera
que “resta prejudicado o disposto no art. 384, §1º do CPP, que fazia menção ao teor do artigo 28 do CPP, hipótese em que,
no exercício da função anômala de fiscal do principio da obrigatoriedade da ação penal pública, se permitia ao magistrado
remeter os autos ao Procurador-Geral de Justiça, para que decidisse em definitivo a questão”.
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A mutatio libelli tem total relação com o princípio da congruência ou simetria, pois como
os fatos narrados na denúncia devem guardar perfeita correlação com a sentença, se houve
alteração nos fatos é necessário o aditamento da denúncia.
Alguns autores, como Aury Lopes Junior (Lopes Jr., 2010, p. 405) e Leonardo Barreto Mo-
reira Alves (ALVES, 2020, p. 230)4 entendem que não cabe ao juiz provocar o MP para esse
aditamento, de forma que, caso houvesse a alteração dos fatos durante a instrução, o juiz nada
poderia fazer, a menos que o MP requeresse vistas para aditamento.
Não coadunamos com esse entendimento e nos posicionamos com Guilherme de Souza
Nucci (NUCII, 2020, p. 666), pois entendemos que o art. 384, § 1º, do CPP, não faria sentido
algum caso o juiz não pudesse, de ofício, ao prolatar a sentença, percebendo que ocorreu a mu-
tatio, abrir vistas ao MP para, querendo, oferecer o aditamento. Seria o caso de o juiz prolatar
um despacho simples, como: “Observa-se que, encerrada a instrução probatória, há possibili-
dade de nova definição jurídica do fato, em tese. Assim, nos termos do art. 384, do CPP, dê-se
vistas ao MP para, querendo, aditar a denúncia”.
Não é outro o entendimento do STJ:
4
Segundo o autor, “em verdade, não procedendo o órgão ministerial ao aditamento, em prol do sistema acusatório, nenhuma
providência deve adotar o magistrado, vinculando-se ao conteúdo da peça inicial acusatória, o que muito provavelmente
resultará na absolvição do réu.
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A mutatio libelli não pode ocorrer em segundo grau de jurisdição, como prevê a Súmula
453 do STF, que tem grande incidência em concursos públicos: “Não se aplicam à segunda
instância o art. 384 e parágrafo único do CPP, que possibilitam dar nova definição jurídica ao
fato delituoso, em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente,
na denúncia ou queixa”. Nesse sentido:
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n. 321.154/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, Quinta Turma, julgado em 13/6/2017, DJe
22/6/2017).
4. Neste caso, não houve simples modificação da capitulação jurídica atribuída aos fatos,
o que ensejaria mera emendatio libelli, possível de ser feita tanto pelo juiz quanto pelo
Tribunal.
Ao contrário, constatou-se que a condenação indicou fatos não descritos na denúncia,
traduzindo verdadeira mutatio libelli.
5. Portanto, a inexistência de descrição, na denúncia, de fatos que pudessem dar suporte
à conclusão do magistrado de primeiro grau a respeito da tipificação, caberia ao Tribu-
nal reconhecer a violação ao princípio da correlação e, diante da inviabilidade de mutatio
libelli em segundo grau, por força do enunciado n. 453 da Súmula do Supremo Tribunal
Federal, restaria ao Tribunal a quo absolver o réu.
6. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para determinar o tranca-
mento da Ação Penal n. 0001616-06.2007.8.26.0312.
(HC 534.249/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, jul-
gado em 04/02/2020, DJe 10/02/2020)
Caso o MP não promova o aditamento, nem mesmo com a aplicação analógica do art. 28
do CPP, o juiz deverá decidir nos termos da denúncia, o que importaria, provavelmente, em ab-
solvição do acusado. Nesse sentido, o art. 384, § 5º, estipula que não recebido o aditamento,
o processo prosseguirá.
Nada impede que a mutatio libelli seja efetiva em caso de ação penal privada mas, consi-
derando a existência do instituto da perempção, vislumbro apenas a possibilidade da mutatio
libelli espontânea, e não da provocada.
Caso ocorra o aditamento, o defensor do acusado será ouvido no prazo de 5 dias, antes
de o juiz receber o aditamento. Admitido o aditamento, o juiz deverá designar dia e hora para a
continuação da audiência, com oitiva de até 3 testemunhas de cada parte e novo interrogatório
do réu, debates e julgamento.
Procedimento do aditamento:
Mutatio libelli – aditamento em 5 dias – vista à defesa em 5 dias – recebimento do adita-
mento – audiência de instrução com 3 testemunhas de cada parte e interrogatório do réu –
debates – julgamento.
O aditamento é vinculador ao magistrado, no sentido de que não pode condenar com base
na denúncia originária, a princípio. Exceção seria se o aditamento apenas acrescentasse uma
circunstância qualificadora e o juiz desclassificasse, na sentença. Isso, por óbvio, em caso de
aditamento espontâneo, não provocado.
Há precedente do STJ no sentido de que o recebimento do aditamento à denúncia que
acrescenta fato novo é causa interruptiva da prescrição:
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RECURSO ESPECIAL. PENAL. ART. 1º, INCISOS I E II, C.C. O ART. 12, INCISO I, AMBOS DA
LEI N.º 8.137/90. ADITAMENTO À DENÚNCIA.
INEXISTÊNCIA DE NOVOS FATOS. INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL.
INCABÍVEL. RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA.
INARREDÁVEL. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO.
1. O aditamento à denúncia é apto a interromper o prazo da prescrição apenas quando, por
esse meio, são apresentados argumentos que denotam significativa modificação fática.
2. Cotejando os termos da denúncia e do respectivo “aditamento/rerratificação”, verifico
que, por intermédio desse último, conquanto tenha sido pleiteada a exclusão do pólo pas-
sivo ou absolvição sumária do corréu, não foi trazida à baila inovação substancial quanto
aos fatos imputados aos Recorrentes, pois tão somente foi explicitada, de maneira minu-
dente, o que já havia sido delineado na peça de ingresso e, assim o fazendo, procedeu-se
correta capitulação dos delitos.
3. Não tendo sido apresentada inovação factual de expressiva monta por força do adi-
tamento à denúncia - na qual, inclusive, o Parquet estadual, textualmente, afirmou que
“[...] os fatos em nada tenham sido alterados [...]” -, nos termos da jurisprudência desta
Corte Superior de Justiça, o recebimento daquela peça processual pelo Juízo primevo
não representou marco interruptivo da prescrição.
4. As reprimendas impostas aos Recorrentes, com trânsito em julgado para a Acusação,
foram fixadas em 4 (quatro) anos de reclusão, mais 160 (cento e sessenta) dias-multa.
Portanto, o prazo prescricional é de 8 (oito) anos, conforme previsão do art. 109, inciso
IV, do Código Penal. No mesmo prazo, prescreve a pena de multa, nos termos do art.
114, inciso II, do mesmo Codex. No caso, tal lapso transcorreu entre o recebimento da
denúncia, em 24/03/2008, e a data da publicação da sentença condenatória, ocorrida em
03/02/2017.
5. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 1794147/PA, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 05/12/2019,
DJe 17/12/2019)
Por fim, lembramos que tanto na mutatio quanto na emendatio, caso seja possível a tran-
sação penal, suspensão condicional do processo ou acordo de não persecução penal, devem
esses institutos ser aplicados em benefício do réu, não havendo se falar em preclusão, o que
ocorreria apenas com a sentença penal condenatória.
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Intimação da Sentença
É a partir da intimação da sentença que os prazos para embargos de declaração e de ape-
lação começam a correr. O juiz, tradicionalmente, profere a sentença e o escrivão, em seguida,
certifica nos autos a publicação e providencia as intimações.
O Ministério Público é intimado pessoalmente, conforme previsão do art. 390 do CPP, con-
tando-se o prazo da data da entrada do processo nas dependências da instituição e não de
quando o promotor apõe a ciência nos autos. Isso foi tema, inclusive, de tese em recurso repe-
titivo, no STJ:
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Jurisprudência Atinente
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20. É atípica a conduta de receber valores a título próprio, mesmo que o pagamento seja
indevido, pois, nessa circunstância, não ocorre a inversão do título da posse nem a vio-
lação aos deveres de fidelidade e probidade do funcionário público, necessárias para a
tipificação do crime de peculato-apropriação (art. 312, caput, primeira figura, do CP).
21. O crime de quadrilha ou bando (art. 288 do CP, na redação original) demanda a
demonstração da estabilidade e da permanência da associação para cometer crimes
indeterminados. Precedentes.
22. Na presente hipótese, não foi comprovada a estabilidade e a permanência da parti-
cipação dos réus AMIRALDO DA SILVA FAVACHO e REGILDO WANDERLEY SALOMÃO, o
que não é suficiente para a adequação dos fatos ao crime do art. 288 do CP.
23. Os efeitos secundários da condenação não se confundem com as penas restritivas
de direito, sobretudo com a de interdição temporária de direitos, pois são reflexos extra-
penais mediatos da condenação e de duração permanente, podendo ser impostos de
forma fundamentada na sentença aos condenados por crimes cometidos com abuso de
poder ou violação de dever com a Administração à pena igual ou superior a um ano (art.
92, I, a, do CP).
24. Na presente hipótese, o crime de peculato-desvio (art. 312, caput, segunda figura, do
CP), cometido pelos réus, é crime cuja prática ofende o dever de fidelidade do funcionário
público com a Administração, sobretudo em razão das responsabilidades que o cargo
público de Conselheiro de Tribunal de Contas deveria observar no controle das despesas
públicas, e a pena que lhes foi imposta tem duração superior a um ano, o que autoriza a
decretação da perda do cargo público até então ocupado.
25. Ação penal julgada parcialmente procedente.
(APn 702/AP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em 03/08/2020,
DJe 14/08/2020)
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prejuízo, “a teor do art. 563 do CPP, é essencial à alegação de nulidade, seja ela relativa
ou absoluta, eis que […] o âmbito normativo do dogma fundamental da disciplina das nuli-
dades pas de nullité sans grief compreende as nulidades absolutas” (HC 85.155/SP, Rel.
Min. Ellen Gracie). Precedentes. V – “[A] fase processual do recebimento da denúncia é
juízo de delibação, jamais de cognição exauriente. Não se pode confundir os requisitos
para o recebimento da denúncia, delineados no art. 41 do Código de Processo Penal, com
o juízo de procedência da imputação criminal” (Inq 4.022/AP, Rel. Min. Teori Zavascki).
VI – O órgão constitucionalmente competente para julgar os crimes contra a vida e, por-
tanto, apreciar as questões atinentes ao elemento subjetivo da conduta do agente aqui
suscitadas, inclusive relativamente à compatibilidade das qualificadoras imputadas com
o dolo eventual, é o Tribunal do Júri, de modo que não cabe ao Supremo Tribunal Federal,
na via estreita do habeas corpus, antecipar-se ao juízo natural da causa. Precedentes. VII
– Agravo regimental a que se nega provimento.
(HC 170207 AgR, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em
31/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-123 DIVULG 07-06-2019 PUBLIC 10-06-2019)
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QUESTÕES DE CONCURSO
001. (CESPE/2020/MPE-CE/TÉCNICO MINISTERIAL) Nero responde a ação penal por crime
contra patrimônio particular na comarca de Caucaia. Como ele não foi encontrado para ser ci-
tado pessoalmente, o juiz nomeou um defensor dativo e deu seguimento ao processo. Por fim,
Nero foi condenado, apesar de a defesa ter alegado nulidade da citação.
Com relação a essa situação hipotética, julgue o item seguinte.
Na sentença condenatória de Nero, o juiz deve fixar valor mínimo para reparação dos danos,
considerando os prejuízos causados à vítima.
O item está certo, pois o art. 387, inciso IV, do CPP prevê exatamente a fixação de valor mínimo
para a indenização, no caso de sentença condenatória:
O item está certo. A própria banca examinadora se encarregou de justificar o acerto do item
nos seguintes termos:
Segundo art. 385 do CPP, ‘Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória,
ainda que o Ministério Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes,
embora nenhuma tenha sido alegada.
Com efeito, o juiz não fica adstrito ao pedido do MP formulado por ocasião das alegações fi-
nais, ainda que esse pedido de absolvição.
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O item está errado, pois a sentença suicida é aquela cuja fundamentação está em discordância
com o dispositivo ou conclusão, não se confundindo com a sentença de perdão judicial.
O item está certo, pois a emendatio libelli pode ser efetivada mesmo em grau recursal e é ela
que efetiva a correção da definição jurídica dos fatos. Com relação à segunda parte do item,
também correta, encontra previsão no art. 617 do CPP:
O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no
que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado
da sentença.
O item está correto, pois coisa julgada endoprocessual é a característica de tornar a decisão
imutável, dentro do mesmo processo, o que acontece com o arquivamento do inquérito.
Chamo a atenção do aluno (a), todavia, para a nova redação do art. 28 do CPP, ainda suspenso
pela decisão do STF. Na previsão da nova redação, o arquivamento do inquérito será determi-
nado por ato do Ministério Público, de forma que não mais se poderá, a nosso ver, falar-se em
coisa julgada (no máximo, pode-se discutir a existência de coisa julgada administrativa).
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A alternativa A está errada, pois o prazo previsto, no art. 382 do CPP, para a interposição de
embargos de declaração, é de dois dias.
A alternativa B está errada. Embora a parte inicial esteja certa, de acordo com o art. 383 do
CPP, a parte final está incorreta, porque em caso de continuidade delitiva não se aplica a sus-
pensão condicional do processo, como previsto na súmula 723 do STF:
A alternativa C está errada, pois embora o juiz possa proferir sentença condenatória em caso
de pedido de absolvição, isso ocorre apenas nos crimes de ação pública, como previsto no art.
385 do CPP. Nos casos de ação penal privada, não se aplica o dispositivo.
A alternativa D está errada, pois o juiz fica adstrito aos termos do aditamento, conforme ex-
pressa previsão do art. 384, § 4º do CPP: “havendo aditamento, cada parte poderá arrolar até 3
(três) testemunhas, no prazo de 5 (cinco) dias, ficando o juiz, na sentença, adstrito aos termos
do aditamento.”
A alternativa E está correta, conforme parte final do art. 385 do CPP, que menciona que o juiz po-
derá, nos crimes de ação pública, reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido alegada.
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Diante do duplo julgamento do mesmo fato, deve prevalecer a sentença que transitou em julgado
em primeiro lugar.
Na mencionada decisão, foi ainda destacado que:
Ademais, sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal entende que “demonstrado o ‘bis in
idem’, e assim a litispendência, prevalece a condenação imposta na primeira ação” (HC n.
69.615/SP, Rel. Ministro Carlos Velloso, 2ª Turma, DJ 19/2/1993) e que “os institutos da
litispendência e da coisa julgada direcionam à insubsistência do segundo processo e da
segunda sentença proferida, sendo imprópria a prevalência do que seja mais favorável ao
acusado” (HC n. 101.131/DF, Rel. Ministro Luiz Fux, Rel. p/ acórdão Ministro Marco Auré-
lio, 1ª Turma, DJe 10/2/2012). Com base nessas premissas, reconhece-se a prevalência
da primeira sentença transitada em julgado.
A alternativa A está errada, pois a emendatio libelli pode ser aplicada em grau de recurso, desde
que não ocorra reformatio in pejus.
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A alternativa B está correta, nos termos do artigo 383 do CPP, pois o juiz, sem modificar a
descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa,
ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave.
A alternativa C está errada, pois o procedimento completo da mutatio libelli está no art. 384 do
CPP, que exige, dentre outros, o aditamento da denúncia ou queixa.
A alternativa D está errada, pois também é necessário interrogar o acusado, o que não foi men-
cionado na alternativa.
A alternativa E está errada, porque na emendatio libelli não é necessário colher manifestação
das partes.
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b) encerrada a instrução probatória, se o juiz entender cabível nova definição jurídica do fato,
em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal
não contida na acusação, prescindirá de abertura de vista ao Ministério Público para eventual
aditamento da denúncia, se não resultar em aplicação de pena mais grave.
c) preservada sua competência e sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou
queixa, poderá o juiz atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha
de aplicar pena mais grave.
d) o amplo efeito devolutivo dos recursos possibilita à segunda instância dar nova definição
jurídica ao fato delituoso em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou impli-
citamente, na denúncia ou queixa.
A alternativa A está errada, havendo fundada dúvida sobre a existência de circunstâncias que
excluam o crime ou isentem o réu de pena, a absolvição será lastreada no art. 386, VI, do CPP.
A alternativa B está errada, pois trata da mutatio libelli, na qual é necessário que se abra vista
ao MP para aditamento da denúncia e demais providencias do art. 384 do CPC.
A alternativa C está correta. Trata-se da emendatio libelli e a alternativa diz respeito ao proce-
dimento do art. 383 do CPP.
A alternativa D está errada, pois não se aplica a mutatio libelli na segunda instância.
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A alternativa A está correta, tratando dos principais motivos que levam à necessidade de fun-
damentação da sentença.
A alternativa B está errada, pois a motivação não pode ser implícita.
A alternativa C está errada, porque é necessária a fundamentação a respeito de todas as teses,
tanto da acusação como da defesa.
A alternativa D está errada, devendo-se relacionar com a previsão do art. 315, § 2º, V, do CPP.
A alternativa E está errada, pois não é necessária fundamentação complexa quando do rece-
bimento da denúncia, mas isso não dispensa a necessidade de uma fundamentação, o que é
exigido pelo art. 93, IX, da CF, em relação a todos os atos judiciais.
O item I está errado, pois de acordo com o art. 383 do CPP, não é necessário que seja asse-
gurado vista ao acusado no caso de emendatio libelli, ainda que importe em pena mais grave.
O item II está correto, é o que decorre do art. 384, § 1º do CPP.
O item III está errado, pois se o membro do MP não promover o aditamento, o juiz deverá en-
caminhar os autos ao Procurador Geral de Justiça, em aplicação analógica ao art. 28 do CPP.
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O item IV está errado, pois não se admite a mutatio libelli no segundo grau de jurisdição.
Assim, o gabarito é letra B.
O item I está errado, pois de acordo com o art. 383 do CPP, o juiz poderá dar nova definição
jurídica ao fato, ainda que em consequência tenha que aplicar pena mais grave.
O item II está errado, já que o furto qualificado pela fraude diferencia-se do estelionato. No pri-
meiro, a fraude possibilita a subtração do bem pelo agente sem a anuência da vítima, enquanto
que, no segundo, a fraude faz com que a própria vítima lhe entregue espontaneamente a coisa
ou a vantagem ilícita. Dessa forma, não basta a desclassificação, como reiteradamente deci-
dido pelos tribunais (cf. STF - ARE: 1225382 MG - MINAS GERAIS 0211503-80.2005.8.13.0629,
Relator: Min. EDSON FACHIN, Data de Julgamento: 27/04/2020, Data de Publicação: DJe-104
29/04/2020).
O item III está correto, nos termos do art. 383 do CPP.
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O item IV está errado, porque no caso seria necessário seguir o procedimento da mutatio libelli,
do art. 384 do CPP.
Assim, o gabarito é a letra E.
A alternativa A está errada, pois o juiz deve indicar os motivos de fato e de direito em que se
funda a decisão, como expressamente previsto no art. 381, III, do CPP.
A alternativa B está correta, nos termos do art. 384, § 4º do CPP.
A alternativa C está errada, pois o juiz deverá estabelecer valor mínimo e não máximo para a
reparação dos danos causados pela infração, nos termos do art. 387, IV, do CPP.
A alternativa D está errada, pois o juiz mencionará as agravantes independente de pedido das
partes, conforme descrito no art. 385 do CPP.
A alternativa E está errada, pois o juiz deve decidir fundamentadamente sobre a manutenção
ou não da prisão preventiva, conforme art. 387, § 1º do CPP.
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devendo ter sua fundamentação restrita à tipificação do crime, podendo haver impugnação por
meio de apelação.
IV – A decisão do juiz em dar vista ao Ministério Público para fins de aditamento quando cons-
tatar a possibilidade de nova definição jurídica do fato desafia recurso em sentido estrito.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente os itens I e III estão corretos.
b) Somente os itens II e IV estão corretos.
c) Somente os itens III e IV estão corretos.
d) Somente os itens I e II estão corretos.
e) Nenhum item está correto.
O item I está correto. A Constituição, no art. 15, III, estabelece que é vedada a cassação de
direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de condenação criminal tran-
sitada em julgado, enquanto jurarem os seus efeitos.
O item II está correto, pois a lei 13445 estipula em seu art. 65 que será concedida a naturaliza-
ção ordinária àquele que preencher determinadas condições, dentre elas não possuir conde-
nação penal (inciso IV).
O item III está errado, pois nesse caso o recurso cabível é o recurso em sentido estrito, nos
termos do art. 581, II, do CPP.
O item IV está errado, pois o recurso cabível é a apelação, já que não se encontra a situação no
rol taxativo do art. 581 do CPP.
Assim, o gabarito é a letra D.
A alternativa correta é a letra C, porque no caso o juiz faz uma interpretação diferente daquela
feita pelo MP por ocasião do oferecimento da denúncia5.
5
Sobre o tema das modalidades de emendatio libelli, Renato Brasileiro assim explica:
“Emendatio libelli por defeito de capitulação - situação na qual o juiz profere sentença condenatória ou decisão de pronún-
cia em conformidade exata com o dato descrito na peça acusatória, porém reconhecendo a subsunção do fato delituoso
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A alternativa A está errada, porque o instituto mencionado é da mutatio libelli. Além disso, cada
parte pode arrolar até três testemunhas, nos termos do art. 384, § 4º, do CPP.
A alternativa B está errada, pois o art. 383 do CPP admite o procedimento ainda que o juiz te-
nha de aplicar pena mais grave.
A alternativa C foi considerada como correta, embora quem ofereça a proposta de suspensão
condicional do processo seja o MP e não o juiz.
A alternativa D está errada, pois não haverá perpetuação da jurisdição, como previsto no art.
383, § 2º, do CPP.
A alternativa E está errada, pois nesse caso o juiz deve aplicar, analogicamente, o disposto no
art. 384, § 1º, do CPP.
à classificação distinta daquela que constou da inicial. Possamos supor que, por evidente equívoco na redação da peça
acusatória, o Promotor de Justiça classifique uma conduta delituosa de furto do art. 312 do Código Penal, que versa sobre
o delito de peculato;
Emendatio libelli por interpretação diferente - mais uma vez, a imputação fática constante da peça acusatória não é alterada
por ocasião da sentença ou da pronúncia, porém o juiz faz interpretação diversa daquela feita pelo Ministério Público ou
pelo querelante quanto à tipificação do fato delituoso. Por exemplo, em caso concreto envolvendo a subtração de valores
por meio de fraude eletrônica na internet, apesar de a denúncia tipificar a conduta como estelionato, o juiz conclui que se
trata de furto qualificado pela fraude.
Emendatio libelli por supressão de elementar e/ou circunstância - nessa hipótese, o magistrado atribui nova capitulação ao
fato imputado em razão de a instrução probatória revelar a ausência de elementa ou circunstância descrita na peça acu-
satória. (...) Haverá certa alteração fática, mas não para acrescentar, como ocorre nas hipóteses de mutatio libelli, mas sim
para subtrair elementare e/ou circunstâncias de fato descrito, supressão esta que acaba por provocar uma mudança de
capituação do fato delituoso.”
(LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de processo penal. Niterói/RJ: Impetus, 2013, pp. 1549-1550)
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A alternativa correta é a letra C e a Súmula Mencionada é a n. 18, do STJ, que prescreve que “a
sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsis-
tindo qualquer efeito condenatório”.
A doutrina indica que essa sentença que concede o perdão judicial é autofágica, porque admite
ter havido um crime, ao mesmo tempo que extingue a punibilidade.
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O item I está correto, pois o art. 386, parágrafo único, do CPP, determina que na sentença
absolutória o juiz deverá mandar por o réu em liberdade e ordenará a cessação das medidas
cautelares provisoriamente aplicadas.
O item II está errado, pois o art. 387, IV, do CPP, estipula que o juiz poderá fixar o valor mínimo
para a reparação dos danos causados pela infração.
O item III está errado, já que o art. 387, § 1º, do CPP determina que o juiz deve decidir funda-
mentadamente sobre a manutenção ou, se for o caso, a imposição de prisão preventiva ou
outra medida cautelar ao réu.
Assim, o gabarito é a letra A.
A alternativa A está errada, pois o art. 594 do CPP, que continha tal redação, foi revogado.
Assim, não é necessário o recolhimento à prisão para que o réu possa apelar da sentença
condenatória.
A alternativa B está correta, sendo de se destacar o entendimento do STJ nesse sentido, no
recurso repetitivo a partir do REsp 1675874/MS6.
6
RECURSO ESPECIAL. RECURSO SUBMETIDO AO RITO DOS REPETITIVOS (ART.
1.036 DO CPC, C/C O ART. 256, I, DO RISTJ). VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. DANOS MORAIS.
INDENIZAÇÃO MÍNIMA. ART.
397, IV, DO CPP. PEDIDO NECESSÁRIO. PRODUÇÃO DE PROVA ESPECÍFICA DISPENSÁVEL. DANO IN RE IPSA. FIXAÇÃO
CONSOANTE PRUDENTE ARBÍTRIO DO JUÍZO. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. O Superior Tribunal de Justiça - sob a influência dos princípios da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III), da igual-
dade (CF, art. 5º, I) e da vedação a qualquer discriminação atentatória dos direitos e das liberdades fundamentais (CF, art.
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A alternativa C está errada, pois esse instituto mencionado é o da emendatio libelli, art.
383 do CPP.
A alternativa D está errada, pois o art. 385 dispõe em sentido diverso.
5º, XLI), e em razão da determinação de que “O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que
a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações” (art. 226, § 8º) - tem avançado na
maximização dos princípios e das regras do novo subsistema jurídico introduzido em nosso ordenamento com a Lei n.
11.340/2006, vencendo a timidez hermenêutica no reproche à violência doméstica e familiar contra a mulher, como deixam
claro os verbetes sumulares n. 542, 588, 589 e 600. 2. Refutar, com veemência, a violência contra as mulheres implica
defender sua liberdade (para amar, pensar, trabalhar, se expressar), criar mecanismos para seu fortalecimento, ampliar o
raio de sua proteção jurídica e otimizar todos os instrumentos normativos que de algum modo compensem ou atenuem o
sofrimento e os malefícios causados pela violência sofrida na condição de mulher.
3. A evolução legislativa ocorrida na última década em nosso sistema jurídico evidencia uma tendência, também verificada
em âmbito internacional, a uma maior valorização e legitimação da vítima, particularmente a mulher, no processo penal. 4.
Entre diversas outras inovações introduzidas no Código de Processo Penal com a reforma de 2008, nomeadamente com a
Lei n. 11.719/2008, destaca-se a inclusão do inciso IV ao art. 387, que, consoante pacífica jurisprudência desta Corte Supe-
rior, contempla a viabilidade de indenização para as duas espécies de dano - o material e o moral -, desde que tenha havido
a dedução de seu pedido na denúncia ou na queixa.
5. Mais robusta ainda há de ser tal compreensão quando se cuida de danos morais experimentados pela mulher vítima de
violência doméstica. Em tal situação, emerge a inarredável compreensão de que a fixação, na sentença condenatória, de
indenização, a título de danos morais, para a vítima de violência doméstica, independe de indicação de um valor líquido
e certo pelo postulante da reparação de danos, podendo o quantum ser fixado minimamente pelo Juiz sentenciante, de
acordo com seu prudente arbítrio.
6. No âmbito da reparação dos danos morais - visto que, por óbvio, os danos materiais dependem de comprovação do pre-
juízo, como sói ocorrer em ações de similar natureza -, a Lei Maria da Penha, complementada pela reforma do Código de
Processo Penal já mencionada, passou a permitir que o juízo único - o criminal - possa decidir sobre um montante que,
relacionado à dor, ao sofrimento, à humilhação da vítima, de difícil mensuração, deriva da própria prática criminosa expe-
rimentada.
7. Não se mostra razoável, a esse fim, a exigência de instrução probatória acerca do dano psíquico, do grau de humilhação,
da diminuição da autoestima etc., se a própria conduta criminosa empregada pelo agressor já está imbuída de desonra,
descrédito e menosprezo à dignidade e ao valor da mulher como pessoa.
8. Também justifica a não exigência de produção de prova dos danos morais sofridos com a violência doméstica a necessi-
dade de melhor concretizar, com o suporte processual já existente, o atendimento integral à mulher em situação de vio-
lência doméstica, de sorte a reduzir sua revitimização e as possibilidades de violência institucional, consubstanciadas em
sucessivas oitivas e pleitos perante juízos diversos.
9. O que se há de exigir como prova, mediante o respeito ao devido processo penal, de que são expressão o contraditório e a
ampla defesa, é a própria imputação criminosa - sob a regra, derivada da presunção de inocência, de que o onus probandi
é integralmente do órgão de acusação -, porque, uma vez demonstrada a agressão à mulher, os danos psíquicos dela deri-
vados são evidentes e nem têm mesmo como ser demonstrados.
10. Recurso especial provido para restabelecer a indenização mínima fixada em favor pelo Juízo de primeiro grau, a título de
danos morais à vítima da violência doméstica.
TESE: Nos casos de violência contra a mulher praticados no âmbito doméstico e familiar, é possível a fixação de valor mínimo
indenizatório a título de dano moral, desde que haja pedido expresso da acusação ou da parte ofendida, ainda que não
especificada a quantia, e independentemente de instrução probatória.
(REsp 1675874/MS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
28/02/2018, DJe 08/03/2018)
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A alternativa E está errada, pois nesse caso o juiz deverá absolver o réu, nos termos do art.
386 do CPP.
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GABARITO
1. C
2. C
3. E
4. C
5. C
6. e
7. a
8. b
9. e
10. c
11. a
12. b
13. e
14. b
15. d
16. c
17. c
18. c
19. a
20. b
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Geilza Diniz
Formada pela UFRR, mestra em Direito pela UFPE e doutora em Direito pelo UniCeub. É juíza do TJDFT
desde 2003, tendo sido aprovada em 1º lugar, com a maior nota final no concurso, em toda a história
do Tribunal. Foi juíza do TJRR e foi ainda aprovada nos concursos para Consultor Legislativo do Senado,
Procurador do Banco Central, Advogado da União, dentre outros.
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