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Rodas de Conversa Bakhtiniana 2021
ISBN 978-65-5869-596-7
CDD – 410
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Organização e apoio:
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HISTÓRICO
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Coordenação geral
Comitê científico
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Comissão de monitoria
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Comissão de acessibilidade
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PROPOSTA
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PROGRAMAÇÃO
Dia 15 - segunda-feira
Tarde
Convidadas e convidados:
Luiz Marcos de França Dias - Comunidades quilombolas: vida em
territórios coletivos ancestrais
Wilson Queiroz - Educação e africanidades
Karina Ferro Otsuka - Militante das comunidades tradicionais caiçaras
Vanderley Ribeiro - Pescadores da Ribeira
Mônica Brito - Coletivo de mulheres negras Maria Maria Comunema de
Altamira XINGU
Timóteo Verá Tupã Popygua - Existe Guarani em São Paulo
Gleyson Silva de Oliveira - ONG Olivia LGBTQIA+
Cândido Grzybowski - Diretor do Ibase e organizador intelectual
orgânico do Fórum Social Mundial
Mediador:
José Kuiava (UNIOESTE)
Dia 16 - terça-feira
Manhã
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Tarde
Noite
Dia 17 - quarta-feira
Manhã
Tarde
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1ª CIRCULAR
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2ª CIRCULAR
Saudações bakhtinianas,
12 de julho de 2021.
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3ª CIRCULAR
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Saudações bakhtinianas,
17 de agosto de 2021.
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4ª CIRCULAR
O que é requerido:
1. o desejo de pôr a sua “palavra” para circular;
2. como?
i. selecione um tema (do Rodas) e solte o seu dizer;
ii. o seu dizer pode ser em linguagens verbal ou visual (no limite
de 3 a 5 páginas);
iii. a autoria (individual) limita-se a uma submissão e a coletiva
(coautoria) a duas no máximo, desde que os coautores
estejam também inscritos no evento;
iv. cada texto pode ter até três autores.
3. os autores devem responsabilizar-se pela revisão do texto a ser
publicado no livro em formato e-book do VIII Círculo - Rodas de
Conversas Bakhtinianas, publicado pela Pedro & João Editores;
4. sugere-se que o texto contemple um pensamento livre dos
participantes sobre o tema do encontro “O grotesco dos nossos
tempos: vozes, ambientes e horizontes” que enfoca, basicamente,
três eixos temáticos que denominamos de arenas de debates, a
saber: (i) “vozes”; (ii) “ambientes”; e (iii) “horizontes”.
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SUMÁRIO
O grotesco é o mundo 69
Antonio Sergio Vasconcelos Darwich
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“No meu rosto e nas minhas mãos”: vozes que tecem o 155
poema de Ryane Leão
Oldison de Moura Klock, Lindalva Siqueira dos Santos e
Tamiris Machado Gonçalves
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IWASA’I 848
Jeovani de jesus Couto
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Se não tiver voto impresso, é sinal de que não vai ter 1498
eleição: o grotesco na palavra pública de Bolsonaro e na
resposta de Regis Soares
Letícia da Silva Gonzaga Rolim e Marilene Gomes de
Sousa Lima
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Temporalidades 1524
Rosiane Gonçalves dos Santos Sandim
Transenunciação 1532
Francisco Leilson da Silva
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Sandman 1660
Mônica Menezes Santos
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Textos da Arena
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OS TEXTOS DO
RODAS DE CONVERSA BAKHTINIANA
NOVEMBRO DE 2021
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Introdução
Nesse ano de 2021, retomei a participação no Grupo de Estudos
Bakhtinianos/GRUBAKH, vinculado ao Grupo de Estudos e
Pesquisas em Educação Continuada/GEPEC, composto por
professores e pesquisadores da Faculdade de Educação da
UNICAMP e professores/as de redes públicas municipais, muitos
ex-alunos/as da UNICAMP.
A produção de narrativas e metanarrativas faz parte da
metodologia de estudo dos escritos do Círculo de Bakhtin,
fundamentação teórica principal das reflexões desenvolvidas no
GRUBAKH. Assim, na retomada das discussões do grupo, após o
FALA outra ESCOLA 2021, ocorrido em julho p.p., fomos
desafiados/as a produzir narrativas e metanarrativas, que
pudessem ser socializadas no Círculo Rodas de Conversas
Bakhtinianas.
Como estava bastante impactada pelo meu deslocamento de
posição-sujeito, em função da aposentadoria, seguida da pandemia
provocada pela covid-19, narrei não um acontecimento específico,
mas as sensações provocadas por esse meu novo modo de ser/estar
no mundo. Tendo em vista o objetivo de trazer a problematização
para o Rodas, foram sugeridas leituras que nos aproximassem do
tema geral do evento: O GROTESCO DOS NOSSOS TEMPOS:
VOZES, AMBIENTES E HORIZONTES.
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1. Ausência de mim
Nos últimos dois anos, tenho vivido uma ausência de mim. Uma
desesperadora ausência do eu que levei anos para me constituir nas
relações com os muitos outros que encontrei nos espaços sociais e
profissionais/acadêmicos, nos quais interagi.
Ao me aposentar, passei a me dedicar aos cuidados de minha mãe
e a administrar a rotina doméstica, dividida entre as demandas da
mãe e dos dois filhos (já universitários). Demandas que, mesmo
não consumindo 8h por dia, passaram a consumir minha energia e
me distanciaram das posições que ocupei como professora,
pesquisadora, orientadora... Ver-me na posição de cuidadora e
dona de casa e tendo meu dia preenchido cada vez mais por
consultas médicas, exames, compras no supermercado, feira,
farmácia, peixaria etc foi me provocando um estranhamento e
desencantamento a tal ponto que não me reconhecia mais naquela
pessoa. Era como se eu fosse um não-eu!
Certamente esse estranhamento foi agravado pelo fato de estarmos,
há quase um ano e meio, vivendo uma pandemia, que nos
aprisionou em casa, restringindo nossa circulação nos espaços
públicos. Além disso, impingiu, como medida de segurança, o
distanciamento social e o uso de máscaras. Sem encontros, sem
abraços, sem sorrisos frente a frente, sequer apertos de mão
sobreviveram, pois quanto menos contato e mais álcool gel nas
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Considerações finais
No primeiro momento, quando escrevi a narrativa acreditava que
conceitos como de posição-sujeito, cronotopo e interação me
ajudariam a criar inteligibilidades para o que estava
experienciando nesse momento. Sim, ajudaram a entender que sou
uma ex-professora. Isso é fato. Por mais que pareça um abismo, é
chegada a hora de me lançar no fluxo da vida e aceitar que a fruição
que sempre esteve em um horizonte distante, como algo desejável,
mas controverso, talvez não nobre, carregado de preconceitos, de
culpa, agora faz parte do meu horizonte de possibilidades.
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Referências
BAKHTIN, M. A Cultura popular na idade média e no
renascimento: o contexto de François Rabelais. 6.ed. São Paulo:
Hucitec, 2008.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo:
Companhia das Letras, 2019.
_____. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
RODRIGUES, Nara Caetano. O discurso do professor de Língua
Portuguesa no processo de reestruturação curricular: uma
construção dialógica. Tese (doutorado). UFSC, Florianópolis, 2009.
314 p.
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O GROTESCO É O MUNDO
O GROTESCO É O MUNDO
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REFERÊNCIAS:
BAKHTIN, 1987. “A Cultura Popular na Idade Média e no
renascimento: o contexto de François Rabelais.
GRILLO, S. V. C.. Gêneros Primários e Gêneros Secundários no
Círculo de Bakhtin: implicações para a divulgação científica. Alfa,
São Paulo, 52 (1): 57-79, 2008
SOERENSEN, C.. “A Carnavalização e o Riso Segundo Mikhail
Bakhtin. S/D. In: Revista Travessia, Ed. XI.
(revistatravessia@gmail.com).
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BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na idade média e no
renascimento: o contexto de François Rabelais. 5ª ed. Tradução de
Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec. Brasília: editora
universidade de Brasília. 2002. p. 1-50.
JOHNSON, Alan, G. Dicionário de Sociologia: Guia prático da
linguagem sociológica. Verbete genocídio. Tradução Ruy Jugmann;
consultoria Renato Lessa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1997.
WIKCIONÁRIO dicionário livre. Verbete genocídio. Flórida:
Wikimedia Foundation. Última revisão: 2 maio 2017. Disponível
em: . Acesso em 17 ago. 2021.
WIKCIONÁRIO dicionário livre. Verbete grotesco. Flórida:
Wikimedia Foundation. Última revisão: 1 de fevereiro de 2021.
Disponível em: . Acesso em 17 ago. 2021.
SANTOS, Sérgio dos. Saiba o porquê Bolsonaro é
genocida! In: CCN Notícias. Publicado em 25 março 2021.
Disponível em: . Acesso em 18 ago. 2021.
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significações. Brasília. INCTI, UnB, 2015.
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Referências
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para inserção num mundo global. In: Ancoragens – estudos
Bakhtinianos. São Carlos: Pedro & João Editores, 147-166.
WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução
teórica e conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu (Org). Identidade e
diferença. A perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópolis: Vozes,
2005.p. 07-72.
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José Kuiava
Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste
jose.kuiava@gmail.com
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François Rabelais
Referências
BAKHTIN, M. A Cultura Popular na Idade Média e no
Renascimento. São Paulo: Hucitec Editora, 8ª ed. 2013, p.25.
CALVINO, I. Os Nossos Antepassados. São Paulo: Cia. das Letras,
2ª reimpressão, 2001, p.1
RABELAIS, F. Gargantua e Pantagruel. Belo Horizonte: Editora
Vila Rica, 1991, p.31.
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Referências
BAKHTIN, M. Notas sobre literatura, cultura e ciências humanas.
Organização, tradução, posfácio e notas de Paulo Bezerra. Notas de
edição russa de Serguei Botcharov. São Paulo; Editora 34, 2017.
BAKHTIN, M. Teoria do romance I: A estilística. Tradução, prefácio,
notas e glossário de Paulo Bezerra. Organização da edição russa de
Serguei Botcharov e Vadim Kójinov. 1ª ed. São Paulo: Editora 34,
2015.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal: introdução e tradução do
russo Paulo Bezerra. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011.
BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o
contexto François Rabelais. Tradução de Yara Frateschi Vieira. São
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Como bem nos mostra o autor: “Na cultura de múltiplos tons até
os tons sérios soam de outro modo: sobre eles recaem os reflexos
dos tons cômicos; eles não perdem a sua exclusividade e sua
singularidade, são completados pelos aspectos do riso”
(BAKHTIN, 2017: p.25).
Grotesco enquanto momento de ressignificar as coisas que nos
cercam, grotesco para entender que essa mixagem de práticas e
enunciados, jeitos e portares no mundo representam o que é o
mundo aos nossos olhos neste momento, mas sem perder o
entendimento de movimento, da transitoriedade e da dialética
histórica.
O próprio Bakhtin (2010), em sua análise, assinala o caráter
ambivalente do grotesco e sua negação no curso de formação e
“deformação” da história. Desde seu apogeu durante o século XVI,
na Renascença, quando o riso “tornou-se a expressão da
consciência nova, livre, crítica e histórica da época (p. 63)” , e no
século seguinte quando da sua decadência com a ascensão do
paradigma racionalista, dos governos absolutistas e da nova ordem
burguesa. Naquele momento até mesmo uma nova concepção da
teoria literária “se levanta contra a invenção artística, contra o
fantástico, defende o ponto de vista de um bom senso estreito e de
paradigma burguês (p. 89).
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ilhas por conhecer pois que novos horizonte, mares e sonhos são
possíveis com vontade e obstinação;
[...] E que ilha desconhecida é essa de que queres ir à procura, Se eu
to pudesse dizer, então não seria desconhecida, A quem ouviste tu
falar dela perguntou o rei, agora mais sério, A ninguém, Nesse
caso, por que teimas em dizer que ela existe, Simplesmente porque
é impossível que não exista uma ilha desconhecida, [...] (1998, p.
17).
Nada é estanque e o germe da resistência, a compreensão da
fantasia, da arte, do riso nos possibilita a busca por outros barcos,
outras ilhas por conhecer. Nesta empreitada, a partir de grotesco
resistência, é possível jogar velas ao mar e mover-se no horizonte
na tentativa de atravessar a crise que nos orbita através do coletivo,
da dialogicidade entre eu e o outro, da alteridade para com a
palavra do outro, do riso como resistência, como bem expressou
Bakhtin (2010), referendando o teórico russo L Pinski,
quando assinalou que a principal fonte do riso é “o próprio
movimento da vida”, isto é, o devir, a alternância, a alegre
relatividade da existência” (p. 121).
Imersa nesse processo de debate e discussão, princípio a
constatação de que as concepções de autores como Bakhtin e
Rabelais, além de nos revelarem a relação entre cultura e literatura,
também, falam muito conosco na contemporaneidade e nos dão
suporte teórico, histórico e estético para suportarmos,
enfrentarmos, transpassarmos os descaminhos que o fenômeno do
autoritarismo fez emergir. Já que a noção do grande tempo nos
mostra a coexistência de sentidos ao longo da história
A noção de grande tempo integra a dimensão do tempo dialógico,
conforme concebido pelo pensador russo. Sua perspectiva teórica,
filosófica, histórica, caracteriza e define tempo a partir do diálogo,
relações indissolúveis entre diferentes dimensões. Configura-se
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Pecados solitários
Quando eu estudava no colégio, interno,
Eu fazia pecado solitário.
Um padre me pegou fazendo.
- Corumbá, no parrrede!
Meu castigo era ficar em pé defronte a uma parede e
decorar 50 linhas de um livro.
O padre me deu para decorar o Sermão da Sexagésima
de Vieira.
-Decorrrar 50 linhas, o padre repetiu.
O que eu lera por antes naquele colégio eram romances
de aventura, mal traduzidos e que me davam tédio.
Ao ler e decorar 50 linhas de Sexagésima fiquei
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embevecido.
E li o Sermão inteiro.
Meu Deus, agora eu precisava fazer mais pecado solitário!
E fiz de montão
- Corumbá, no parrrede!
Era a glória.
Eu a fascinado pra parede.
desta vez o padre me deu o Sermão do Mandato
Decorei e li o livro alcandorado.
Aprendi a gostar do equilíbrio sonoro das frases.
Gostar quase até do do cheiro das letras.
fiquei fraco de tanto cometer pecado solitário.
ficar no parrrede era uma glória.
Tomei um vidro de fortificante e fiquei bom.
A esse tempo também eu aprendi a escutar o silêncio
das paredes.
Esses momentos iniciais são muito produtivos e nos provocam
“imperativamente” pensar tanto na relação entre arte e cultura, a
linguagem como processo multifacetado, aberto, histórico,
dialógico, arte e responsabilidade bem como nos assinala o
pensador:
Eu vivo em um mundo de palavras do outro. E toda a minha vida
é a orientação nesse mundo; é a reação às palavras do outro (uma
reação infinitamente diversificada), a começar pela assimilação
delas (no processo do domínio inicial do discurso) e terminando na
assimilação das riquezas da cultura humana (expressas em
palavras ou em outros materiais semióticos) [...] (BAKHTIN, 2019:
p. 38).
Hoje, ainda mais certa das minhas escolhas teóricas, como
alfabetizadora de crianças de um segundo ano do Colégio de
Aplicação da UFSC, em meio a este contexto do grotesco, do
fantástico, da resistência através da docência em espaço de
alfabetização, alfabetização no formato remoto, algo que também
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história muito diferente e que não esperavam por aquele final tão
bacana.
A vida segue, objetivo atingido: as crianças dormirão felizes
pensando que ao fim e ao cabo há que se chegar um dinossauro
laranja e feliz e devorará aquela que tudo insaciavelmente devora,
antes, porém, a alimentaremos com o grotesco de nossos dias.
Passados alguns dias, as crianças apresentam através de desenhos
e textos escritos os excertos de que mais gostaram. Nestas
representações saiu de tudo; da planta faminta de boca escancarada
a devorar uma borboleta, até dragão e disco voador. Entretanto, o
texto “ a planta cresceu e a fome também” foi algo a repetir-se em
várias reproduções.
A insaciabilidade da planta atraiu a atenção de muitos.
Insaciabilidade apresentada por uma boca arreganhada uma “boca
que afinal de contas que abriga um universo e constitui uma espécie de
inferno bucal” (BAKHTIN, 2010: p. 296) provoca o temor do sem fim
pois que apresenta nossa vulnerabilidade. Entretanto, sua derrota
é provocada por aquilo que é inesperado e como boa comédia
desencadeia o riso, pois que o humor pode libertar-nos do
“despotismo do princípio de realidade” (EAGLETON, 2020, p. 26).
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Referências
ANDRUETO, Maria Teresa. Por uma literatura sem adjetivos. São
Paulo: Editora Pulo do Gato, 2012.
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na idade média. São Paulo:
Editora Hucitec, 2010.
_______. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes,
2013.
_______. Notas sobre a literatura, cultura e ciências humanas. São
Paulo: editora 34, 2019.
BRAIT, Beth (org). Linguagem e conhecimento (Bakhtin,
Volóchinov, Medviédev). Campinas (SP): Pontes Editores, 2019.
EAGLETON, Terry. Humor: o papel fundamental do riso na
cultura. Rio de Janeiro: Editora Record, 2020.
MORICONE, Renato. Uma planta muito faminta. São Paulo:
Companhia das Letrinhas, 2021.
SISTO, Celso. Textos e pretextos sobre a arte de contar histórias.
Chapecó: Argos, 2001.
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_______. Canção infantil: “Rap que faz chorar” revela Cesar MC,
que estudou matemática e foi campeão brasileiro de rima.
Disponível em: https://g1.globo.com/pop-
arte/musica/noticia/2019/07/04/cancao-infantil-rap-que-faz-chorar-
revela-cesar-mc-que-estudou-matematica-e-foi-campeao-
brasileiro-de-rima.ghtml. Acesso em 14 abr. 2021.
ECO. H. História da Feiura. Rio de Janeiro: Record, 2007.
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FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática
educativa. 1996. 4 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1987. 17ª. Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
LANCELLOTTI. J. Não se humaniza a vida numa sociedade como
a nossa, sem conflito. Disponível em: https://brasil.elpais.com/
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numa-sociedade-como-a-nossa-sem-conflito.html. Acesso em 20
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Notas
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Referências bibliográficas
BAKHTIN, M. M. A cultura popular na idade média e no
renascimento: o contexto de François Rabelais. Tradução de Yara
Frateschi. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1993.
DETHLEFSEN, T.; DAHLKE, R. A doença como caminho. Uma nova
visão da cura como ponto de mutação em que um mal se deixa
transformar em bem. Tradução de Zilda Schild. São Paulo: Editora
Cultrix, 2006.
EMPOLI, G. Da. Les ingénieurs du chaos. Paris: JCLattès, 2019.
ROSA, J. R. Ave palavra. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira,
2005.
Compilações das falas do Presidente da República consultadas em:
Jornal Estado de Minas (acesso em 07/09/2021):
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2021/06/19/interna_p
olitica,1278492/gripezinha-pais-de-maricas-as-frases-de-
bolsonaro-sobre-a-pandemia.shtml
Jornal Deutsche Welle (Acesso em 07/09/2021)
https://www.dw.com/pt-br/v%C3%ADrus-verbal-frases-de-
bolsonaro-sobre-a-pandemia/g-54080275
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bolsonaro-ironiza-aumento-de-armas-no-brasil-eu-quero-que-
quintuplique.html
Como podemos observar nestes exemplos, o uso de “cidadão de
bem” contrapõe-se a “vagabundo” e “bandido” e esses exemplos
denotam que, para o seu autor, aqueles que não estão
“perfeitamente alinhados” com a sua ideologia não participam
dessa categoria.
Nessa medida, com Costa (2021, s/p), consideramos que a
expressão “cidadão de bem” se compõe como “parte de um
sistema de convencimento que tem consequências práticas, ou seja,
como resultado efetivo de uma práxis psicossocial historicamente
determinada”. Os desdobramentos que a popularização dessa
expressão trouxe ao contexto brasileiros são inúmeros e suas
consequências têm interferido em diferentes esferas da vida do
país.
Discursos inúmeros intencionam o fim de direitos trabalhistas, de
direitos à saúde pública, à educação pública, dentre outros. Um
deles, presente no enunciado A vida do cidadão de bem não tem
preço, desvela os sentidos que se atribuem às vidas daqueles não
são os considerados “cidadãos de bem” pelo locutor: são
precificáveis, passíveis de ser eliminadas por quaisquer valores.
Vidas sem valor.
Neste contexto, podemos observar alguns elos encadeados na
corrente discursiva criada neste momento histórico
brasileiro. Ligados a outros discursos que os antecederam e que os
seguirão, esses enunciados não somente respondem a outros no
interior dessa corrente, como também são elaborados em relação
aos interlocutores que a eles respondem. – os interlocutores que
ascenderam o político sem voz a “mito” e à cadeira presidencial
serão foco de outros estudos, dadas as limitações deste texto –
. Refletindo sobre as vidas sem valor, inúmeras vezes citadas de
modo velado na expressão “cidadão de bem”, observamos os
números relacionados à morte de brasileiros. Incontáveis mortes
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Referências
BAKHTIN, M. A cultura popular na idade média e no renascimento: o
contexto de François Rabelais. Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 1987.
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Sites:
Youtube. Todo vagabundo tá armado! Só tá faltando o cidadão de
bem. Pânico Jovem Pan(5 de fevereiro de 2018), disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=aR8x5QVRgd8. Acesso
em 04 de setembro de 2021.
Youtube. A vida do cidadão de bem não tem preço (10 de maio de 2019).
Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=9NKTRMPclgE. Acesso
em 04 de setembro de 2021.
Estadão Conteúdo. Para Bolsonaro, Moro atuou para dificultar
posse de armas para “cidadão de bem”. In: Isto é
Dinheiro. Disponível em https://www.istoedinheiro.com.br/para-
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bolsonaro-moro-atuou-para-dificultar-posse-de-armas-para-
cidadao-de-bem/
SOARES. I. Bolsonaro ironiza aumento de armas no Brasil: “Eu quero
que quintuplique”“. Disponível
em https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/08/494602
3-bolsonaro-ironiza-aumento-de-armas-no-brasil-eu-quero-que-
quintuplique.html
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Nando Motta
Disponível em: https://www.brasil247.com/charges/o-ministro-
que-so-atrapalha. Acesso em: 01 set. 2021
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Agradecimentos:
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) -
Código de Financiamento 001.
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em: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/sao-paulo-mais-de-350-
pessoas-ja-recusaram-vacina-devido-a-marca-do-imunizante/.
Acesso em: 07 set. 2021.
[2] Essas noções teóricas são desenvolvidas por Bakhtin e o Círculo.
Algumas obras para consulta: Bakhtin (2011; 2015a; 2015b),
Volóchinov (2017; 2019) e Medviédev (2019).
[3]Link para acesso ao perfil no Instagram de Nando Motta,
disponível
em: https://www.instagram.com/desenhosdonando/?hl=pt-br.
Acesso em: 07 set. 2021.
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“No meu rosto e nas minhas mãos”: vozes que tecem o poema de
Ryane Leão
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mulheres índias que tiveram seus cantos e contos tomados por outros
rostos e outras mãos” (LEÃO, 2017, p. 80); o eu lírico é todas essas
pessoas, carrega, portanto, também essa história.
No poema em análise, vimos versos repletos de vozes e suas
múltiplas significações, algumas vezes até mesmo ressignificadas
com o passar dos anos, mas que adquirem com o casamento da voz
do autor um novo caminho para percorrer e que possivelmente
nesta jornada agregará novas vozes: as das interpretações que
dialoguem com os versos apresentados. Isso porque
“Quase toda palavra da nossa língua pode ter várias significações
a depender do sentido geral do todo do enunciado. O sentido
depende por inteiro tanto do ambiente mais próximo, gerador
imediato do enunciado, quanto de todas as causas e condições
sociais mais longínquas da comunicação discursiva”
(VOLÓCHINOV, 2019, p. 283).
Tendo tudo isso em vista, dizemos que é difícil concluir um assunto
quando sentimos que não estamos prontos para encerrar, pois veja
bem, há tanto para falar e escrever, que chega a ser injusto parar
agora. Neste breve texto sobre vozes, podemos concluir que a
realidade em que vivemos é que todo discurso, toda obra, toda
imagem partilham vozes em sua constituição. Nada se forma
sozinho, por trás de tudo há sempre relações dialógicas que nem
sempre se fazem visíveis a olho nu, mas que quando recebem a
devida atenção, mostram-se infinitos em sua construção.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 6. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2011.
BAKHTIN, Mikhail. Fragmentos dos anos 1970-1971. In: Notas
sobre literatura, cultura e ciências humanas. 1. ed. São Paulo: 34,
2015.
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Nivea Rohling
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
nivea.rohling@gmail.com
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Referências
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romance. Tradução do russo por Aurora Fornoni Bernardini et al.
São Paulo: UNESP; Hucitec, 1998[1975].
BAKHTIN, Mikhail M. Estética da criação verbal. Tradução do russo
por Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003[1979].
BRUGGEMANN, Diogo. Vamos fazer esse casal ficar famoso. A babaca
e o engenheiro que não é cidadão. Brasil, 5 jul. 2020. Twitter: @deltanz.
Disponível
em: https://twitter.com/deltanz/status/1279943222794620928 .
Acesso em: 04 ago. 2021
FISCAIS sofrem ataques ao reprimir aglomerações em bares do Rio;
veja flagrantes. G1, 2020. Disponível
em: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2020/07/05/fiscais-
sofrem-ataques-ao-reprimir-aglomeracoes-em-bares-do-rio-veja-
flagrantes.ghtml. Acesso em: 04 ago. 2021
ROHLING, Nívea. Cronotopo pandêmico e a produção de imagens
corpóreas: reflexões inacabadas. Revista Fórum Linguístico. n. 4, v. 17,
2020, p. 5221-5237. DOI: https://doi.org/10.5007/1984-
8412.2020.e78444
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Demos Início...
Demos início ao nosso encontro, na disciplina Metodologia do
Ensino Fundamental do Curso de Pedagogia da Faculdade de
Educação, com a partilha de poesias, poemas declamados (até em
inglês) e de apresentação de poetas consagrados, em nosso
“Momentos Artes e Literaturas”. Foi muito gratificante e gostoso
apreciar a diversidade de manifestações em suas mais diferentes
linguagens e entonações! Em seguida, em pequenos grupos,
apresentamos as expectativas em relação ao trabalho na disciplina
e, coletivamente, construímos o nome da turma. Foi bem
interessante ver que, no ano de celebração do Paulo Freire, a
palavra esperançar circulou nos pequenos grupos e, por fim,
compôs o nome da turma: Turma da Cuca Esperançosa/Ninguém
a menos, cada um sendo o que se é/sou a partir do que você é —
Ubuntu. Em verdade, perdi o que estava no chat... Vocês pegaram
o que ali estava escrito? O que as estudantes escreveram?”
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TransFormação
Transforma-se em jacaré, “virar uma Cuca”, é uma imagem
marcante para pensarmos uma interrupção do tempo social no
contexto pandêmico (talvez de outros também), de dores e
sofrimentos vividos, da quebra das vivências mortificadoras, da
compreensão da nossa finitude. Tal como Bakhtin enunciou, no
diálogo com a obra de Rabelais, os corpos grotescos favorecem a
emergência de outras possibilidades de vida, menos conformadas,
menos individualizadas, um corpo que tem grande apetite, uma
imensa vitalidade, que na ânsia de reproduzir-se, converte todas as
ações em conotação sexual. Um corpo da forma apresentado por
Rabelais – como o da própria Cuca nas palavras de Lobato – que
extrapola os limites do corpo oficial, enroupado, alinhado e perfeito
e, quebrando os cânones estabelecidos, afigura um corpo viril,
desalinhado, desconjuntado, transgressor e muito, muito livre das
amarras oficiais. E Bakhtin, compreendendo as profundezas da
obra rabelaisiana, afirma o valor do corpo em um contexto social
mais amplo, em uma perspectiva social que não idolatra uma
imagem perfeita do homem grego/romano, mas um símbolo que
apresenta, em toda a radicalidade da dualidade, a vida e a morte,
em toda a sua potência. Por fim, como nas imagens televisivas da
Cuca no Sítio do Picapau Amarelo, outro componente marcante da
imagem corporal deste ser mitológico brasileiro, é sua risada, alta,
ressoante, potente e penetrante. O riso da Cuca, não só causa medo
e terror, como também convida a aventura misteriosa, ao convívio
com as diferenças inusitadas, ao encontro de corpos outros, sempre
convidando a vida a e a morte a bailar conosco no limiar tênue entre
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estar e ser, entre viver e estar, cada vez mais, próximo da morte...
Hahaha!!! Esse é o convite da Cuca! Transformar-se e poder, na
tensão e na contradição, romper com o estabelecido e viver o
inusitado dos encontros grotescos, em corpos vitais e
decomposição, em corpos prenhes de desejo e prontos para a
chegada de um humanismo estranho, descentrado, celebrando a
alteridade, as múltiplas verdades e a vida, em toda a sua potência
vital e destrutiva.
InsPiraAções
BAKHTIN, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais. Trad. Yara Frateschi
Vieira. 7ª ed. São Paulo, Editora Hucitec, 2010.
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Editora Companhia
das Letrinhas, 2018.
MIOTELLO, Valdemir. Falando do Riso...rindo da fala. In: Seródio,
Liana et all. Narrativas, corpos e risos anunciando uma ciência outra.
São Carlos: Pedro & João Editores, 2018, p.31-36.
TIHANOV, Galin. A importância do grotesco In Bakhtiniana, São
Paulo, 7 (2): 166-180, jul/de, 2012.
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Apresentação
Na atual conjuntura brasileira, vê-se a grotesca imagem messiânica
do atual presidente criada pela população em prol de suas
necessidades, sejam elas econômicas, religiosas e, até mesmo,
patrióticas. Vindo de uma origem política caótica, Jair Messias
Bolsonaro se destacou na mídia com suas declarações polêmicas e
estranhamente cômicas acerca dos mais diversos âmbitos sociais,
principalmente no que diz respeito às minorias, deixando claro seu
desprezo por essa parte da sociedade. Considerando os
acontecimentos que levaram a sua candidatura, apresentar-se-á no
VIII Círculo – Rodas de Conversas Bakhtinianas uma estória que
irá satirizar esse momento da história do Brasil.
Do ponto de vista bakhtiniano, o grotesco se caracteriza pela
comicidade e deturpação exagerada dos valores e da moral de uma
sociedade. Porém, vale ressaltar que ele detém também uma função
crítica que faz o indivíduo refletir sobre sua realidade. Partindo-se
dessa ótica, surge assim parte do conceito de ambivalência, o
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tornava uma pessoa melhor e mais vivida, mas hoje vejo que isso
nada mais era do que uma manifestação peculiar do meu ego.
Ouvi falar sobre a Vila de Vera Cruz através de um amigo nascido
lá, ele me contou com fervor sobre os deslumbrantes pastos, sobre
as mulheres belíssimas, sobre as comidas variadas e
principalmente sobre a população calorosa. Até então, o único
motivo pelo qual valia a pena visitar o lugar eram as tais mulheres
belíssimas, mas chegando lá, percebi que a animação com que meu
amigo descreveu seu lar não foi exagero. A soma do lugar e de seu
povo poderia facilmente se igualar à descrição do paraíso. A
atividade pastoril e a produção artesanal à base de lã eram as
principais fontes de renda dos que viviam lá. Isso, além de tornar
seus moradores bastante característicos, facilitava reconhecer
quem vinha de fora.
É importante esclarecer que já conheci muitas outras comunidades
que recebiam bem quem não era natural de lá, mas, considerando
o entusiasmo religioso gritante do local, que costuma ser um tipo
de seletor para a abrigada de estranhos em outros lugares, a Vila
possuía um grau de acolhimento por demais elevado. A maior
prova disso era o Burrinho.
Até hoje tenho dificuldade para explicar o que era aquele ser, sou
grato às minhas fotos por poupar-me deste trabalho. Como uma
exceção, tentarei descrevê-lo aqui. O Burrinho, assim conhecido
pela comunidade, vinha de lugar nenhum e era amigo de ninguém,
se eu não tivesse o conhecido pessoalmente e não tivesse
registrado, diria que sua existência havia sido um delírio coletivo.
Além da sua origem ser um mistério, sua vida era uma incógnita, a
Vila era bastante próspera, mas tinha Burrinho como seu indigente
e protegido. Fisicamente era um homenzinho pequeno e
desengonçado, só usava roupas que lhes eram dadas e nunca
tomava banho. Essas nem eram as características mais repugnantes
do sujeito, destaco que ele cobria seu rosto com um saco de pano
com nós nas duas pontas e com dois buracos para seus olhos
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— Ora, mulher. Deixe o pobre diabo, não vai adiantar nada sentar
o braço nele!
— Bah não vai adiantar, mas com certeza vai deixar marca. Deus
que me perdoe, mas esse bagal acabou com minha venda. Vou
levar o dia pra lavar, quando podia ir fazer os de amanhã.
E novamente o Burrinho a enfrentou:
— Não tenho nada a ver com isso, tá okay? É uma vagabunda
mesmo, fica o dia inteiro dando essa pomba velha e não quer nem
fazer o próprio trabalho.
Depois de muito bate boca, palavrões e ameaças, o comerciante
entrou em um acordo com a artesã.
— Vamos fazer o seguinte, eu compro o seu crochê pela metade do
preço que me venderia se estivesse em bom estado, só pra lhe
ajudar, assim você não fica tanto no prejuízo. O que me diz?
A mulher, sem muitas escolhas e já bastante abalada pela confusão,
aceitou a oferta e foi embora enfurecida. O povo, que havia parado
seus afazeres para olhar a briga, voltou para suas bancas e suas
vendas como se nada tivesse acontecido. Diferente dos demais, por
ser curioso e não estar acostumado com tamanha disparidade,
permaneci olhando discretamente o Burrinho. Ele ainda reclamava
sozinho, como se alguém ainda estivesse o ouvindo, até que o
mesmo comerciante que impediu que ele apanhasse se aproximou
com um leve sorriso e discretamente entregou para ele o que
certamente era dinheiro. Lutei muito para conter o riso e me afastar
do local, apesar de trágico, era cômico como a artesã deixou ser
enganada por um golpe tão descarado.
Queria eu que naquele momento a severa luz da consciência tivesse
banhado meu corpo, mas estava cego pela minha própria soberba
e pelo desejo irresponsável de me entreter com aquela figura
medonha que, protegida por sua máscara de idiotice, parecia saber
muito bem como ser rei na sua própria miséria.
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Referências
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Notas:
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em: <https://www.youtube.com/watch?v=zIxxoXyrwMo>Acesso
em: 26 ago. 2021.
Disponível
[7]
em: <https://www.youtube.com/watch?v=zIxxoXyrwMo>Acesso
em: 26 ago. 2021.
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Disponível
[8]
em: <https://www.youtube.com/watch?v=zIxxoXyrwMo>Acesso
em: 26 ago. 2021.
Disponível
[9]
em: <https://www.youtube.com/watch?v=zIxxoXyrwMo>Acesso
em: 26 ago. 2021.
O grupo inclui Omar Aziz (PSD-AM), Randolfe Rodrigues
[10]
em: <https://www.youtube.com/watch?v=zIxxoXyrwMo>Acesso
em: 26 ago. 2021.
Sessão
[12] da CPI de 0907/21. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=RjkJJ2nzoS4 >Acesso
em: 26 ago. 2021.
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A (in)visibilidade do graffiti
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Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
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Filosofia da Linguagem. Trad. Michel Lahud e Yara Frateschi. 7.
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A ANTIGROTESCO DO PRINCÍPIO DO
BAIXO MATERIAL CORPORAL
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Marisol Barenco
UFF
sol.barenco@gmail.com
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Fonte: https://www.buzzfeed.com/krystieyandoli/this-photo-
series-shows-the-damage-media-does-on-how-women-s
O enunciado exposto na Figura 1, permite estabelecer relações que
antecedem a imagem, o ver a imagem e os discursos sobre. Após
fazer uma leitura a partir do recorte do corpo, salientando que é
fundamental discutir sobre esse corpo e tantos outros que não se
encaixam em padrões pré-estabelecidos. O corpo, conforme
Volochinov (2013/2017), não deve servir como uma simbolização
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Referências
BAKHTIN, M. M. Estética da Criação Verbal. 6. ed. São Paulo:
Editora WMF Martins Fontes, 2011.
BAKHTIN, M. M. Para uma filosofia do ato responsável. Trad. de
Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. 2.ed. São Carlos: Pedro
& João Editores, 2010.
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posto porque é engraçado, mas essa graça traz uma reflexão muito
grande, muito forte, não tenho dúvida!” (Rubem).
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Referências
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Adriano Guerra. Revista Criança do Professor de Educação
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SARMENTO, Manuel. Gerações e alteridade: interrogações a partir
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A DESORDEM E O REGRESSO:
A LINHA DOS TEMPOS SOMBRIOS
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Referências:
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Pedro & João Editores, 2010.
BAKHTIN, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec
Editora, 2013.
BAKHTIN, Mikhail. Teoria do romance II: as formas do tempo e do
cronotopo. São Paulo: Editora 34, 2018.
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Igual
Estava no parque com as duas crianças daquele dia, o pai de uma e a mãe
da outra. As crianças só se conheciam virtualmente até então e estavam
começando a se enturmar e brincar juntas. De repente, uma vira pra outra,
olha para os pais um pouco afastados e diz:
– Vamos fugir deles? São monstros! – e saíram correndo.
Eu, que estava um pouco afastada dos dois pequenos grupos, esperei um
pouco para entender se eu também fazia parte dos monstros e me preparava
para entrar na brincadeira com elas quando ouço:
– Vem, Lili, vem com a gente!!!
A mãe dá uma risadinha e me diz:
– Elas te têm como uma igual!
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Opinião suspeita
Cada criança fez uma pintura num papel craft grande. Por sugestão da
minha orientadora pedagógica, após a secagem, coloquei os trabalhos na
parede ao lado da sala. A mãe de uma criança, ao buscá-la, recebeu a filha
empolgada com sua pintura e a dos colegas.
– Ficou muito bonita sua pintura, filha! – a mãe falou.
– Qual você gostou mais? – respondeu imediatamente a filha.
A mãe olhou e, após alguns segundo de hesitação, respondeu:
– De cada um eu gostei de uma coisa…
– Ah! Já sei! É porque eu sou sua filha, né? – respondeu a criança dando
uma risadinha e, correndo para outro lado, deu a conversa por encerrada.
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Algumas considerações
O retorno presencial trouxe à tona para mim, como professora, uma
série de sentimentos opostos entre o querer e o não querer, entre o
desejo e o medo… Mas dentre as inúmeras vivências relacionando
o medo, a dor e a incerteza, as que escolhi narrar traziam o riso, o
que extrapola o sério, o que desconcerta…
... a professora se torna escritora das narrativas pedagógicas como
ato responsável, participante e não indiferente na relação com seus
estudantes: consciências equipolentes na vida levadas para a
narrativa. Porém, as narrativas não são os acontecimentos que os
gerou. Há uma distância entre o vivido e o narrado. E essa distância
em tempo e espaço entre o acontecer e o escrever permite que a
professora se torne uma escritora, que programe o modo como e os
detalhes significantes dos fatos que vai escrever, já que não tem
sequer intenção de contar tudo (SERODIO, 2018, p. 145).
Percebo um olhar que busca o grotesco como uma espécie de boia
de salvação dentro desse mar turbulento e sombrio por onde
estamos navegando. Talvez a busca pelo riso cotidiano represente
a esperança de que navegaremos por mares mais tranquilos em
breve.
Referências
MIOTELLO, Valdemir. Falando do riso… rindo da fala. In
SERODIO, Liana Arrais et all. Narrativas corpos e risos
anunciando uma ciência outra. São Carlos: Pedro e João Editores,
2018.
SERODIO, Liana Arrais. Narrativas como atos ético-estético-
cognitivos de resistência dialógica hetero-formativa. In SERODIO,
Liana Arrais et all. Narrativas corpos e risos anunciando uma
ciência outra. São Carlos: Pedro e João Editores, 2018.
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Figura 03: Poeta PoeArt Milene Bazarim entoando poema autoral
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Acervo da pesquisa
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. São
Carlos: Pedro e João Editores, 2017.
VOLÓCHINOV, Valentin (Círculo de Bakhtin). A palavra na vida
e a palavra na poesia. São Paulo: Editora 34, 2019.
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Referências
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atores transformistas. Revista Belas Artes, São Paulo, n. 16, set-
dez/2014.
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Estética da criação verbal. São
Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.
BAKHTIN, M. Para uma filosofia do ato responsável. São Carlos: Pedro
e João Editores, 2010a.
BAKHTIN, M. A cultura popular da Idade Média e do Renascimento: o
contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec, 2010b.
BAKHTIN, M. Teoria do romance I: A Estilística. Tradução de Paulo
Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2015.
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. São Paulo: Editora 34, 2016.
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dois amigos. Chegara ao local o ser que entregara para ele as pedras
ao invés de coxinhas. Foi um “oi” seco, que já nasceu morto,
cadavérico. Juntou-se às pessoas a favor da democracia deles e
contra os comunistas também deles. Tudo deles.
O cão e o homem.
O cão que o preocupava fora abandonado no inverno passado
assim como outros que adentravam o quintal da casa até então sem
um portão. Dava pão, água e uns panos velhos e quentes para
passarem a noite. Todos tinham um dono, menos o pequeno cão
cinza que sorria para ele como na música de Roberto Carlos.
Ganhara o coração dele mesmo não se adaptando ao que o pretenso
dono queria como ele fosse. Era um cão de rua. Já havia mordido
outras duas pessoas. Era reincidente. A pressão era enorme em
torno do cão, visto que a rua era de acesso fundamental para dois
morros da cidade. Ele na segunda violência do cão ligou para a
polícia e relatou o fato. O que faria a polícia? Pelo telefone disse que
iriam ligar para um vereador da cidade. A decisão: castrá-lo para
facilitar a adoção e acalmá-lo. Vieram. Levaram-no. Dariam um
novo rumo para a vida do cão. À noite bateram na porta de sua
casa, era o Duque, o cãozinho, de volta. Sem analgésico, sem
antibiótico. Sem nada, inclusive suas bolas, chamadas tecnicamente
de testículos. Descobri que um chamado vira-latas pouco valor tem
para a maioria da população. Castrado, pior ainda numa pequena
cidade. Na área urbana não o queriam, mesmo publicado na rede
social onde uns cinco clicaram na foto com o texto de adoção com
o “dedo polegar para cima”. Os contatos com as pessoas das roças
a respeito da adoção do cão não iam adiante quando descobriam
que ele era castrado.
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O homem.
O comerciante da loja da pequena cidade voltou. Trouxe algumas
bandeiras. Disse para o colega de categoria que era para
fortalecerem a luta no dia seguinte, lutarem pela liberdade, pelo
homem que na conversa deles parecia ter vindo do céu, oriundo de
um rolé com Nosso Senhor Jesus Cristo da igreja a qual
frequentavam. ”- Fica com essa bandeira! Ela é da última Copa do
Mundo. “ Quase engasgou vendo e ouvindo aquilo tudo. Pagou a
conta e foram para o mercado. Lá um Professor de História
conversava de maneira educada com os açougueiros. O local estava
praticamente vazio. Da seção onde estavam a ver os preços das
margarinas ouvia a conversa. Viram a promoção de frango. Em
tempos de crise não se perdem certas oportunidades. Foram pesar
o frango na balança do açougue. O diálogo com o Professor
revelava a amizade, a preocupação com os rumos do ódio nas
linguagens que levantavam e roubavam bandeiras como se fossem
só de alguns. A palavra no encontro de trabalhadores de um
pequeno mercado. Apresentou sua filha. Falaram de futuro,
presente e passado. Pagou a conta no caixa e como de hábito nos
últimos tempos dialogou com os trabalhadores sobre os preços e a
falta de apreço de pessoas que deveriam cuidar do povo. O
mormaço que vinha pela janela do táxi ecoava os sons daquelas
falas. Olhava para a paisagem, olhava para o rosto da linda
menininha.
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para futuro pouso dos alienígenas que riam dos blocos de pedras
oriundos das bases das primeiras casas da cidade que aos poucos
estavam sendo demolidas. Antes da construção da pequena casa
conseguiu uma caçamba de uma obra com alguns blocos de pedras.
Assim que pôde, juntamente com um vizinho, colocou as pedras
em círculo. Para ele, as pessoas ali poderiam sentar e dialogar
conforme quisessem no amor ágape.
Lembrou-se de Adão e Eva. A culpa seria da maçã como muitos
insistiram durante anos em convencê-lo, símbolo do pecado
original? Ou seria culpada a serpente que lá já estava? A árvore do
paraíso é uma goiabeira e nela estava uma gangorra de crianças a
brincar. Gargalhou em sua alma a expulsão do paraíso no Éden
comendo o último pedaço da maçã.
Percebeu na noite enluarada que no meio do círculo brotavam
girassóis.
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Referências
BAKHTINE, M. M. Pour une philosophie de l acte. Trad. Ghislaine
Caponga Bardet. Editions L Age d Homme, Lausanne, Suisse, 2003
[1920-4].
BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o
contexto de François Rabelais. Trad. De Yara Frateschi Vieira. 8. ed.
São Paulo: Hucitec, 2013.
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Notas
[1] As fake sciences referem-se a trabalhos considerados ruins e que
são publicados em revistas científicas tidas como de prestígio. Nas
palavras do professor Paulo Roberto Santiago da USP:
“Publicações desse tipo são graves, pois fazem com que o público
acredite em coisas que não estão corretas do ponto de vista
científico. Entretanto, por terem sidos publicados em periódicos de
renome, passam a ser considerados
verdadeiros”. (https://jornal.usp.br/atualidades/fake-science-nem-
tudo-que-reluz-e-ouro/)
[2] GROTESCO. In: DICIO, Dicionário Caudas Aulete. Disponível
em: https://www.aulete.com.br/grotesco. Acesso em: 06 set. 2021.
[3] Refiro-me àquelas situações em que indivíduos não acreditam
nas mudanças climáticas ou não levam em consideração que a ação
do homem interfere no aumento da temperatura da superfície da
terra, ocasionando consequências no quesito climático, a exemplo
do aquecimento global.
[4] Estou considerando o fato de “Nas redes sociais, com o uso de
avatares, os sujeitos acreditam poder participar agora de um cena
da qual foram excluídos por anos, para a qual não possuíam a
senha de entrada. Nesse ambiente virtual tudo podem dizer e
criticar; podem cobrar as dívidas.” (LIMA, 2020, p. 392)
[5] Refiro-me aos discursos que, durante a pandemia provocada
pelo Sars-Cov-2 (o novo Coronavírus), circularam sobre os mais
variados aspectos, seja negando os efeitos da pandemia (como o
caso da “gripezinha”, seja minimizando seus graves efeitos, ou até
mesmo discursos que sustentam o uso de remédio sem
comprovação científica para o tratamento de tal enfermidade.
[6] Como exemplo, posso citar os discursos que alguns indivíduos
fazem na negação ao Holocausto, chegando ao ponto de negarem
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Adentrando a Roda...
Como a ideia do Círculo – Rodas Bakhtinianas é colocar a palavra
para circular porque o que eu tenho a dizer somente eu posso dizer
do que lugar onde me encontro, tenho o desejo de trazer para a
Roda um pequeníssimo recorte da minha pesquisa de Mestrado,
defendida em fevereiro de 2021, cujo objetivo foi compreender a
arquitetônica do ato de ilustrar de Rui de Oliveira e as
contribuições de seus livros de imagem para a formação do
pequeno leitor literário. A princípio, explicito que tomei a liberdade
de escrever em primeira pessoa, não por egotismo, mas para
assumir meu ato responsivo e responsável neste escrito no qual
estou consciente de que a minha voz é constituída por muitas
outras vozes desde que me tornei um ser social (VOLOCHINOV,
2013). Portanto, trago nesse meu eu todos os outros com os quais
convivi e compartilhei ideias, afetos e desafetos, que contribuíram
para a minha formação como sujeito social porque:
Tudo o que me diz respeito, a começar pelo meu nome, chega do
mundo exterior à minha consciência pela boca dos outros (da minha
mãe, etc.), com a sua entonação, em sua tonalidade valorativo-
emocional. A princípio eu tomo consciência de mim através dos
outros: deles eu recebo as palavras, as formas e a tonalidade para a
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Fonte: https://ruideoliveira.com.br/en/books/chapeuzinho-
vermelho/
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O que é grotesco?
Bakhtin (2010, p.275) elenca ‘’três fenômenos à noção comum de
grotesco’’. A primeira diz respeito à uma ‘’concepção especial do
conjunto corporal e dos seus limites’’. Destacando as características
Rabelesianas, ele traz para sua análise o vislumbre do ‘’motivo do
nariz’’, da boca e dos olhos na imagem do corpo grotesco, esse
último não desempenhando papel tão importante nessa construção
imagética No entanto, olhos arregalados interessam, pois, a
mudança está na transfiguração dos olhos, mas ‘’A boca domina’’;
‘’Os olhos arregalados [...] atestam uma tensão puramente
corporal’’ (BAKHTIN, 2010. p.277).
O corpo do movimento, da atividade, da dialogia, do consumo, da
publicidade, o corpo abismal, o corpo do exagero. Esse é o corpo
em questão nesse texto. As características que queremos enfatizar
aqui são: ‘’olhos arregalados’’ e ‘’A boca domina’’ (BAKHTIN,
2010. p.277)..
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Conclusões inacabadas
O corpo publicitário e o corpo consumista, unificados, se mostram
como padrão de ‘’um corpo perfeitamente pronto, acabado,
rigorosamente delimitado, fechado, mostrado do exterior, sem
mistura, individual e expressivo’’, mas são cheios de falhas, são
corpos abertos, com compulsões, inacabados, pois são pairados por
uma ideologia padronizada pela identidade consumista e
narcisista. A característica mais enfática da nossa sociedade, ainda
que disfarçada, é a transformação dos consumidores em
mercadorias.
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REFERÊNCIAS
GOMES, Gianka Salustiano Bezerril de Bastos. Anúncio publicitário
direcionado ao público masculino: uma abordagem dialógica. Tese
(Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Centro de Ciências Humanas Letras e Arte – Departamento de
Letras. Programa de Pós-graduação em Estudos da
Linguagem. Natal, p. 179. 2016.
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Todas essas lendas de gigantes têm uma relação estreita com o relevo dos
lugares onde elas se contam. A lenda encontra sempre um ponto de apoio
concreto no relevo regional, encontra na natureza o corpo desmembrado
do gigante, espalhado ou amassado. Existe ainda na França um enorme
número de rochas, pedras, monumentos, megalíticos, dólmens, menires
etc, que trazem o nome de Gargântua: São as diferentes partes do seu
corpo, e os diferentes objetos que ele emprega; citemos entre outros o “dedo
de Gargântua”, o “dente de Gargântua”, a “colher de Gargântua”, o
“caldeirão de Gargântua”, a “marmita de Gargântua”, etc[3].
Bakhtin diz um pouco adiante, que essas partes do corpo e
utensílios espalhados por toda a França tinham uma aparência
grotesca excepcional e exerceram grande influência sobre Rabelais,
cuja obra é o coroamento da concepção grotesca do corpo que lhe legaram
a cultura cômica popular, o realismo grotesco e a linguagem familiar. (...)
O livro todo é atravessado pela corrente poderosa do elemento grotesco:
corpo despedaçado, órgãos destacados do corpo (por exemplo nas muralhas
de Panurge)[4]. Sobre as muralhas projetadas por Panurge, Bakhtin
elucida que tiveram sua corporificação grotesca inspirada em uma
metáfora antiga da grande cidade de Lacedemônia: as muralhas
mais sólidas são as construídas pelos ossos dos guerreiros. O corpo
humano é o material da construção[5]. Sob essa influência, Panurge
projeta uma muralha construída com os conos das mulheres e com
todos os espadins endurecidos que habitam as braguilhas claustrais.[6]
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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A LÍNGUA ESTUPRADA
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Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo:
HUCITEC, 1987.
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Trago para essa roda as vozes dos meus alunos do terceiro ano do
ensino fundamental, de uma escola pública do município do Rio
de Janeiro, crianças de 8 e 9 anos que têm me enriquecido , temos
aprendido juntos sobre alfabetização dialógica e
a pedagogia antirracista . Suas vozes se agigantam diante do
cenário grotesco que estamos vivenciando. Olhar nossas
humanidades nos aproxima e também nos desloca.
Fomos surpreendidos em 2020 com o Coronavírus e devido a isso
as escolas foram fechadas e de uma hora para outra fomos
obrigados a conhecer os diversos recursos tecnológicos na
tentativa desesperada de ensinar conteúdos pedagógicos as
crianças que ficaram isoladas em casa, mais de um ano, poucas
tiveram acessos ao ensino remoto e muitos docentes precisaram
alfabetizar dentro do “ quadrado”, no entanto a alfabetização não
acontece dentro de nenhuma forma geométrica, a alfabetização
circula e movimenta cada sujeito em suas relações dialógicas.
A alfabetização é atravessada pelas escutas, interações e
interlocuções e no atual momento pandêmico em que muitas
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Então uma criança pede para ela falar no ouvido dela, e logo em seguida ela
diz:
“ Tia, eu quero
virar uma árvore
igual a Baobá.”
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REFERÊNCIAS
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de Valdemir Miotello e de Carlos Alberto Faraco São Carlos: Pedro
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Freitas, Maria Teresa. Educação, arte e vida em Bakhtin. Editora:
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Valentin, Volóchinov. A palavra na vida e a palavra na poesia.
Editora: 34, 2016.
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Introdução
É possível pensar o ensino da literatura infantil sob a perspectiva
da filosofia da linguagem, especialmente contemplando o aspecto
do dialogismo. O presente artigo irá focalizar-se sobre o caso de
Moçambique, compreendendo alguns enunciados escritos no
programa de ensino de português do ensino básico de 2ª classe, a
fim de nele entender a concepção da literatura infantil. Para o
efeito, será necessário, em primeiro lugar, situar geograficamente
Moçambique, depois argumentar a pertinência da filosofia da
linguagem para o estudo da literatura infantil, e, finalmente,
analisar o programa de ensino de português da 2ª classe do ponto
de vista da concepção da literatura infantil.
Situação geográfica de Moçambique
Moçambique como a maioria dos países africanos, é um país
multilingue e multicultural onde coexistem muitas línguas
africanas do grupo bantu com outras não africanas entre europeias
e asiáticas. Embora exista uma polémica relativamente ao número
de línguas bantu faladas em Moçambique, sabe-se que existe um
número de acima de vinte línguas, distribuídas por todo o território
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última
Beijou sua mulher como se fosse a
última
E cada filho seu como se fosse o único
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Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) -
Código de financiamento 001.
Referências
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O contexto de François Rabelais. Tradução Yara Frateschi Vieira.
São Paulo: Hucitec, 2013.
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nas estantes, clama para ser ouvida, para encontrar outra voz com quem
possa conversar.
Gostaria de dar conclusibilidade a este enunciado e passar a
palavra para você que me lê evocando esta citação de Bakhtin (2011, p.
356): “A palavra, a palavra viva, indissociável do convívio dialógico, por
sua própria natureza que ser ouvida e respondida”. Nesses termos,
assumir a leitura sob a perspectiva dialógica pressupõe, acima de tudo,
confirmar que temos tanto o direito quanto o dever ético de existir para
além de nós mesmos. Porque a existência exige de nós uma participação
ativa (não neutra) no mundo social, sem, contudo, jamais deixar de
considerar as percepções e os pontos de vista alheios. Isso significa, como
vimos, que toda criação estética, enquanto representação da própria vida,
não apenas manifesta os mais diversos atos ético-axiológicos humanos,
mas o faz em relação a nós, direcionando-os a nós por meio de um diálogo
carregado de ativismo mútuo, enriquecedor – um ativismo que enriquece
não apenas os sentidos da obra como também os sentidos da nossa
humanidade.
REFERÊNCIAS
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VOLÓCHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do
método sociológico na ciência da linguagem. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2018.
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A SUBVERÇÃO/CARNAVALIZAÇÃO DA
RESPONSABILIDADE MORAL DO PRESIDENTE DA
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Fonte da
imagem: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/breves/bol
sonaro-pandemia-brasil-entrevista/, acesso em 10/09/2021 às 20:47
hs.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da breve análise proposta foi possível identificar a imagem
e o comportamento grotesco na própria figura do atual presidente
da República, isto é, a inversão dos valores como compromisso com
o bem-estar dos seus concidadãos e a responsabilidade com falas e
discursos tendo em vista os seus efeitos. Com isto, passamos a
entender Bakhtin. O atual presidente representa “o mundo ao
avesso”, “de cabeça para baixo”, ou seja, é nele (Bolsonaro) que
entendemos o conceito de carnavalização.
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A frase latina ridendo castigat mores que significa algo como “rindo
se corrige os costumes” dá o tom do gênero cômico, originado da
sátira menipeia, que tratava a condição
humana de forma espetacularmente risível. O início do mundo às
avessas, da ruptura com o oficial, da horizontalidade das relações
e da carnavalização foi na antiguidade, mas na Idade Média e no
Renascimento tomou grandes dimensões, conforme afirma Bakhtin
(1999). Justamente em um tempo carrancudo cujo centro era a
religião e no mundo clássico onde o popular não era reconhecido
como arte oficial, mas conseguiu sobreviver como não oficial. “O
florescimento do realismo grotesco é o sistema de imagens da
cultura cômica popular da Idade Média e o seu apogeu é a
literatura do Renascimento”. (BAKHTIN, 1999, p.28)
No século XVII, o gênero cômico passou a ser periférico por
ser visto com moralismo a partir da época barroca, tornando-se
restrito a situações pontuais[1]. Na sociedade estratificada, “a
ambivalências do grotesco torna-se
inadmissível” (BAKHTIN, 1999,p. 87), por faltar abertura para o
novo. As mudanças
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Considerações finais
Embora o gênero cômico tenha se tornado restrito no século XVII,
o teatro lopesco revela a
rebeldia aos padrões estéticos legitimados como canônicos. E, por
meio do gracioso Mengo, da obra Fuenteovejuna, Lope de
Vega revela, também, o triunfo do riso e da força da
coletividade contra a tirania. Essa é, certamente, uma das razões
pelas quais o teatrólogo espanhol encantou o público
do Siglo de Oro. Além disso, essa obra, após vários séculos, pode
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Proposição I
[…] Nela, o poema está próximo da origem, pois tudo o que é
original é à prova dessa pura impotência do recomeço, dessa
prolixidade estéril, a superabundância do que nada pode, do que
jamais é a obra, arruína a obra e nela restaura a ociosidade sem fim
[…].
MAURICE BLANCHOT, O espaço Literário. 2011
Proposição II
[…] O poeta deve compreender que a sua poesia tem culpa pela
prosa trivial da vida, e é bom que o homem da vida saiba que a sua
falta de exigência e a falta de seriedade das suas questões vitais
respondem pela esterilidade da arte. O indivíduo deve tornar-se
inteiramente responsável: todos os seus momentos devem não só
estar lado a lado na série temporal de sua vida, mas também
penetrar uns os outros na unidade da culpa e da responsabilidade
[…]
MIKHAIL BAKHTIN, Estética da Criação Verbal. 2018
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A-giganta professora
A-giganta professora
Liliane Neves
Grupo Atos- UFF
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sacodem as nuvens
Pegam frutas no topo das árvores
Visitam tubarões e estrelas do mar
Abrem o maior livro do mundo
Sentem dor na barriga de tanto rir
(Ele é de lorotas)
Vão ao centro da terra
Pululam de calor
Rolam na terra, se deitam esparramados
E logo se vão
Seus passos levantam poeira no caminho
Ela os vê se afastar e se agigantar
Não há mais como achatá-los, apequená-los
Os gigantes do presente
*****
“No realismo grotesco, o elemento material e corporal é um
princípio profundamente positivo, que nem aparece sob uma
forma egoísta, nem separado dos demais aspectos da vida”[1]. No
contexto da compreensão da obra de Rabelais, Bakhtin nos aponta
a possibilidade e defesa do entendimento de que a corporeidade
não está separada dos aspectos da vida, inclusive dos aspectos
ligados ao intelecto. No poema a corporeidade da professora, quem
pretensamente ensina, não é separada da corporeidade de quem
aprende. É com o corpo, em alteridade com o outro, que se ensina
e aprende. O formativo, dimensão da vida humana, compreende
todo o corpo e é sempre relação de pelo menos dois.
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Referências
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<https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54948162>.
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Imagem 3: Setembro Amarelo
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Fonte: Disponível em
<https://www.tjdft.jus.br/informacoes/programas-projetos-e-
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Referências:
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A Compreensão Responsiva
Para Ponzio (2010, p. 11), a compreensão responsiva refere-se a
uma “[...] conexão entre compreensão e escuta, escuta que fala, que
responde, mesmo que não imediata e diretamente; por meio da
compreensão e pensamento participante”. É um ato singular que
compõe a vida do sujeito, seja ele autor ou leitor. Um agir que
carrega toda a vida, no qual “[...] cada ato singular e cada
experiência que vivo são um momento do meu viver-agir”
(BAKHTIN, 2010, p. 44). Assim, objeto estético e mundo estão em
relação com a singularidade dos sujeitos, tanto na vida quanto na
arte. Nesse sentido, responder a um texto está relacionado com a
nossa unicidade, fundada no não-álibi do existir, pois conhecer o
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Revista. São Gonçalo-RJ, n. 5, p. 171-182, jul./dez., 2014.
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Joaquim Rauber
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Em afastamento
para qualificação com fomento do IFRS.
joaquim.rauber@bento.ifrs.edu.br
Alana Morari
IFRS Campus Bento Gonçalves
alana.morari@bento.ifrs.edu.br
Vozes de crianças.
Vozes de infâncias.
Vozes de crianças e de infâncias.
Vozes de crianças e de infâncias migrantes estrangeiras.
Como dialogamos com essas vozes?
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Uma língua, como diz Bakhtin, pode ser vista somente através dos olhos
de outra língua; portanto, a identidade lingüística, seja como forma de ser
específica de uma língua, seja como consciência lingüística, é secundária
no que diz respeito à relação de alteridade que se dá em um espaço mais ou
menos plurilingüístico. Além disso, Bakhtin insiste no fato de que a língua
nacional nunca é unitária; junto com as forças centrípetas que buscam a
unificação existem também forças centrífugas que tentam a dispersão. A
língua nacional se compõe de diferentes formas de falar (segundo o grupo
social, a profissão, o tipo de trabalho), de diferentes linguagens cotidianas,
técnicas, jargões. De fato, podemos falar de plurilingüismo interno dentro
de uma mesma língua nacional, além de um plurilingüismo externo,
determinado pela relação com outras línguas. (PONZIO, 2008, p. 24).
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exercem por sua vez sobre esta, em retorno, uma forte influência e
dão assim normalmente o tom a essa ideologia. Mas, ao mesmo
tempo, esses produtos ideológicos constituídos conservam
constantemente um elo orgânico vivo com a ideologia do cotidiano;
alimentam-se de sua seiva, pois, fora dela, morrem [...] (BAKHTIN,
2009, p. 123).
Nesse texto, Bakhtin (2009) não se referiu, especificamente, à
política como um produto ideológico, porém, a partir dos
elementos que ele estabelece para compor os sistemas ideológicos,
podemos fazer inferência sobre como a ideologia vai se
constituindo a partir das relações cotidianas por meio dos jogos de
poder das vozes que circulam socialmente, conforme nos aponta
Fiorin (2009). Logo, com base nesse entendimento,
[...] a política diz respeito ao poder, ou melhor, aos poderes. Isso
permite incorporar à política não só o que está dentro do campo da
aceitabilidade tradicional desse termo, mas também todas as
relações de poder que se exercem na vida cotidiana (FIORIN, 2009,
p. 148).
Nessa direção, não há neutralidade nas vozes que circulam
socialmente. Ainda conforme Fiorin (2009, p. 153), “[...] as vozes
não circulam fora do exercício do poder; não se diz o que se quer,
quando se quer, como se quer”. Assim, podemos afirmar que há
uma dimensão política nos discursos, sejam eles oficiais, pela esfera
do Estado, sejam eles da ordem da vida cotidiana. Embora pareça,
superficialmente, que essa relação dialógica de poder das vozes
possa engessar os sujeitos, explicando as desigualdades de
determinadas vozes, Faraco (2003, p. 83), citado por Fiorin (2009),
ressalta que a singularidade do sujeito ocorre “[...] na interação viva
das vozes sociais”.
Sendo assim, o dialogismo ininterrupto, “[...] é a única forma de
preservar a liberdade do ser humano e do seu inacabamento [...]”,
prossegue Faraco (2003, p. 72). Fora dessa perspectiva, há o
discurso ideológico do poder, da política, das instituições sociais,
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LE GOFF, J. História e memória. Campinas, SP: Editora da Unicamp,
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[1] Termo especificamente no masculino pois, em Atenas, eram
considerados cidadãos apenas os homens gregos e livres.
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“nós somos
nós somos eu
somos nós um eu
somos eu, um tu.
somos:
eu, outro, EUTRO”.
Brandão (1998)
INTRODUÇÃO
O artigo em questão tem como objetivo apresentar aspectos
históricos e pressupostos da Pesquisa Participante a partir de
análise de entrevista com Carlos Rodrigues Brandão, realizada em
18 de maio de 2017, em Vila Velha, Espírito Santo. A conversa teve
a duração de 90 minutos de duração e foi mediada por Priscila
Chisté. Na ocasião, Brandão ministrou curso na Universidade
Federal do Espírito Santo (Ufes) sobre Pesquisa Participante. O
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ao lado Ponte Nova, ela fez uma pesquisa com mulheres bóia fria
que até lá são chamadas camponesas, aliás, madames, só que ela
já tinha o envolvimento, ela já participava como professora da
Federal de Viçosa, de movimento de bóia fria, uma assessora,
digamos. Ela combinou a pesquisa com elas, já vê que tem uma
outra dimensão. O projeto sou eu que vou fazer, vou junto ao
CNPq, ao CAPES, mas ele vai vir de lá para cá, nós vamos debater,
elas vão dar ideia e ela inclusive se comprometeu com as
mulheres de produzir um documento para elas, isso
individualmente, ela orienta fazer, fez a tese e cumpriu, ela
produziu o trabalho, virou doutora, inclusive eu até escrevi o
prefácio do livro, mas ela publicou uma cartilha chamada de
“treta mutreta” que é mais ou menos semelhante ao “meio grito”.
É uma cartilha sobre direitos da mulher bóia fria, direitos
trabalhistas e tal, mas aí depois passou para a Unicamp, veio para
São Paulo, eu nem sei como é ela continua, assim eu nem sei se ela
continua viva, eu já colocaria aqui, eu já colocaria uma pesquisa
consorciada próxima da participante. Agora, participante quando
eu te digo, ela passou o outro passo, ela atravessou o outro lado
do rio, ainda que possam ter momentos de interpretação minhas
como marxistas, dessas ou daquelas correntes, Frigotto, quem
seja. Ainda que seja encarregado de um relatório final, não apenas
o produto, mas todo o processo é vivenciado pela comunidade da
forma mais dialógica possível e inclusive o primeiro destinatário
é ela, inclusive se a comunidade dizer como aconteceu. Lá no caso
da pesquisa dos 10 anos de Goiás, não que a comunidade dissesse,
mas a gente chegou em um acordo que não era preciso fazer
nenhum livro, ninguém tinha interesse em publicar com o
trabalho acadêmico, algumas pessoas da PUC de Goiás tiveram,
porque inclusive foi feito lá o trabalho de tabulação e tudo. Como
eu te disse eu escrevi para lá (para a comunidade) (BRANDÃO,
2017a).
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CONCLUSÃO
Neste artigo, buscamos apresentar recorte de entrevista realizada
com Carlos Rodrigues Brandão. Contudo, sabemos que assim como
ele, outros autores desenvolveram pressupostos da pesquisa
participante, como Orlando Fals Borda (1984), autor que aborda
alguns princípios metodológicos da pesquisa participante, como a
autenticidade, compromisso e compromisso com a causa popular.
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REFERÊNCIAS
ADELINO, Francisca Janete da Silva; Nascimento, Erivaldo Pereira
do. Gêneros discursivos: um olhar sobre a entrevista de seleção de
emprego sob a perspectiva de bakhtin. Revista de Gestão e
Secretariado, v. 8, n. 2, 107-227. 2017 Disponível em:
<https://www.revistagesec.org.br/secretariado/article/view/601.>.
Acesso em: 27 abr. 2020.
BAKHTIN. Mikhail Mikhailovich. Estética da criação verbal.
[tradução feita a partir do francês por Maria Em santina Galvão G.
Pereira revisão da tradução Marina Appenzellerl. — 2’ cd. — São
Paulo Martins Fontes, 1997.— (Coleção Ensino Superior)
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovich. Estética da criação verbal. São
Paulo: Martins, 2011.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A Pesquisa Participante e a
Participação da Pesquisa: um olhar entre tempos e espaços a partir
da América Latina. Disponível em:
<http://www.apartilhadavida.com.br/wp-
content/uploads/escritos/PESQUISA/PESQUISA%20PARTICIPA
NTE/A%20PARTICIPA%C3%87%C3%83O%20DA%20PESQUISA
%20E%20A%20PESQUISA%20PARTICIPANTE%20-
%20rosa%20dos%20ventos.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2020.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Entrevista sobre pesquisa
participante. 2017a. Entrevista Concedida a Priscila de Souza
Chisté Leite. Vila Velha. 1 arquivos em vídeo (90 min). Entrevista
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BUUUUM!!!
Eles te acharão.
BUUUUM!!!
Eles te pe-ga-rão.
BUUUUM!!!
Eles podem te craquelar.
BUUUUM!!!
Craquelou.
°
Estou diante de uma folha de caderno branca e com linhas azuis e
ela está marcada com ideias que foram traçadas em julho de 2020.
São anotações minhas e que surgiram de um encontro que o grupo
Flora - Filosofias, Lógicas e Reescritas Acadêmico-Afetivas teve
com Marisol Barenco. Na folha que eu arranquei do meu caderno-
autoral (é nele que jogo ideias. Ideias que pulsam, que arrancam
suspiros, que me deixam sem sono) vejo escrito GROTESCO. É
assim que está escrito aqui, em letras em caixa alta que foram
marcadas por uma caneta esferográfica Bic Cristal 1.0 preta. Sobre
a marcação estão os traços deixados por um marca texto rosa que
nem tinta tem mais (de tanto ter sido usado por mim. Coitado!).
Duas ideias estão entorno da palavra GROTESCO.
A primeira: “Se há um incômodo é porque ele foi colocado lá no
lugar de incômodo. Eu posso encará-lo com outras lentes? Mas,
para encará-lo com outras lentes é necessária a reorganização do
próprio enunciador.”
A outra: “O incômodo tem suas tecituras. Por exemplo o sapo chato
que estava na porta da casa da Maria me traz asco, mas ele estava
lá e eu não vi. Lembrar dele me remete ao vivido-ido que não foi
tecido pelo meu espaço-tempo.”
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O incomodante incômodo
A ilustração com o sapo que estava na porta da casa onde eu fora
tomar banho me serve para compor alguns arranjos com categorias.
Faz-me pensar que o incomodante incômodo seja um esbarrar, um
tropeçar, um cair sobre, um ser impelido por aquilo a que se está
rodeado. Ele acontece dentro do que é chamado de viver. Acredito
que o incomodante incômodo não seja o responsável-único por
nenhum tipo de mudança utópica que se espera na esfera do
espaço-tempo, não podendo ser ele responsabilizado por
nomeações que se dão às vivências, por exemplo, quando as
julgamos como boas ou ruins. Incomodantes incômodos são
ocorridos, acontecimentos, flashes no tempo e no espaço que
surgem como convites despretensiosos ao ver, ouvir, compor, falar,
tracejar, tropeçar, caminhar, perambular pela e na vida. Do aceite a
esse convite ou não é que coisas passarão a existir, sendo elas
composições do ser que foi incomodado com aquilo que se foi tido
como um incômodo.
Incomodantes incômodos são como o farfalhar que balança as
folhagens do pequeno canavial de meu quintal. “É finzinho de
tarde e o gigante se move sinuosa e fluidamente.” Esse farfalhar
das folhagens deixa desenhos no ar e me faz pensar em qual a
sensação ou sentimentos vivenciados após essa configuração outra.
O gigante que causa o farfalhar pode ser rejeitado. Pode ser
acolhido. Pode por ali passar, fazer dançarem com ele, fazer
imagens serem formadas a partir dele. Os meus olhos, lançados
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tu pões, ele põe, nós pomos, vós pondes, eles põem, expressam
respostas. Jamais inércia. Sempre ato mais ação. Atuação.
Parando de falar, passo agora a escutar
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de políticos que não filtra seus vocábulos, não age em prol do povo,
pronunciam palavras e tomadas de decisões que não visam o
favorecimento do povo brasileiro, mas sim promovem a desordem
por meio de atitudes incoerentes e grotescas.
Falar do grotesco podemos associar ao
disforme (conexões imperfeitas) e ao onírico (conexões irreais), a
palavra “grotesco” presta-se a transformações metafóricas, que vão
ampliando o seu sentido ao longo dos séculos. De um substantivo
com uso restrito à avaliação estética de obras-de-arte, torna-se
adjetivo a serviço do gosto generalizado, capaz de qualificar — a
partir da tensão entre o centro e a margem ou a partir de um
equilíbrio precário das formas — figuras da vida social como
discursos, roupas e comportamentos (SODRÉ; PAIVA, 2002, p.30).
Nesta perspectiva, podemos analisar o grotesco como uma forma
de viver a vida. Situações grotescas temos nos deparado
diariamente como o aumento do feminicídio, o desemprego, a falta
de alimento para a população brasileira, famílias que estão
dormindo na rua, que dependem do auxílio do governo federal,
racismo estrutural, homofobia, o preconceito com as pessoas com
deficiência.
Diante da realidade grotesca, que se torna em muitos casos
desumana buscar alternativas, ir ao encontro de momentos que
diminuem a tristeza se faz essencial. Nesta busca incessante de
ânimo, de fôlego. A música foi uma estratégia significativa que
trouxe alento, paz, direcionamento e alegria para os momentos
caóticos. Vimos vários momentos em que as lives virtuais de vários
cantores entraram em nossas casas trazendo alegria, diversos
projetos de comunidades tocando música clássica, música popular
brasileira como forma de homenagear quem estava na linha de
frente.
Para muitos, o esporte também foi uma forma de esquecimento de
tantas vidas perdidas por conta da pandemia. E na junção entre o
esporte e a música podemos sentir o êxtase, a alegria, a exaltação,
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A palavra grotesco tem sido recorrente em nosso vocabulário, o que
informa o quanto ela está presente no nosso cotidiano, na nossa
realidade, isto é, uma forma de viver a vida.
Desse modo, a partir da análise da música baile de favela
refletimos a respeito das questões sociais que estão interligadas
intrínsecas e extrinsecamente no grotesco dos tempos
atuais. Percebemos a ambivalência entre a exaltação, em que a
atleta Rebeca Andrade, ao dançar a música faz com que o mundo
deseje conhecer o funk, dance ao som deste gênero e cria nos
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REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. O homem ao espelho. Apontamentos dos
anos 1940. São Carlos: Pedro & João Editores, 2020. 110 p.
______________. A Cultura Popular na Idade Média e no
Renascimento — o contexto de François Rabelais. Hucitec
Editora/UNB, 1987.
DANTAS, Tiago. Funk; Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/artes/funk.htm. Acesso em:
06/09/2021.
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Referências
AMORIM, Marília. Cronotopo e exotopia. In: B. Brait (Org.). Bakhtin:
outros conceitoschave. São Paulo: Contexto, 2006.
BAKHTIN, Mikhail M. Questões de estilística no ensino da
língua. Tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São
Paulo: Editora 34, 2013.
______. Arte e Responsabilidade In: Estética da Criação Verbal. Cidade:
Editora, 2011.
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[...] Bakhtin insiste que a libertação tem que ser feita um a um.
cada um, no jogo com o outro, com o mundo exterior, tem que
se defrontar consigo próprio, enunciando sua contrapalavra,
afirmando sua palavra responsável, e se constituindo nesse jogo.
(MIOTELLO, 2018, p.32)
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Referências
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Introdução
Escrito por Machado de Assis no início da década de 1890, o conto Missa
do Galo inspirou em 1964 o pernambucano Osman Lins na idealização de
um projeto, colocado em prática 13 anos depois, em 1977. Assim, mais de
80 anos depois, o conto machadiano ganhava nova vida na obra Missa do
Galo – Variações sobre o mesmo tema (ASSIS et al., 1977, 2008),
reunindo versões de seis ficcionistas brasileiros, cada qual estabelecendo
diálogo intertextual com o texto-base, segundo suas perspectivas e
estratégias.
A partir do pensamento de Bakhtin e seu Círculo, buscaremos
compreender a intertextualidade presente na obra, tendo como recorte a
análise comparativa entre o original machadiano e a produção do escritor
Autran Dourado, intitulada “Missa do Galo (mote alheio e voltas)”.
Dialogismo e intertextualidade
Partimos de José Luiz Fiorin (2020) para abordar o dialogismo, princípio
unificador da obra de Mikhail Bakhtin, para quem a língua possui, em seu
uso real e em sua totalidade viva e concreta, a propriedade de ser
dialógica.
[em todos os enunciados] existe uma dialogização interna da palavra, que
é perpassada sempre pela palavra do outro, é sempre inevitavelmente
também a palavra do outro. Isso quer dizer que o enunciador, para
constituir um discurso, leva em conta o discurso de outrem, que está
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Análise comparativa
No texto machadiano, o personagem-narrador é a versão mais velha do
jovem Nogueira, então estudante de 17 anos, hóspede do escrivão
Meneses por conta de algum parentesco: era primo da primeira esposa de
seu anfitrião. Esse, por sua vez, havia casado em segundas núpcias com
Conceição, mulher de 30 anos a quem traía frequentemente, dando como
desculpas falsas idas ao teatro. Outra personagem da trama é dona Inácia,
mãe de Conceição. O conto está centrado em um episódio que ocorre no
espaço de tempo de uma hora. Esperando o relógio dar meia noite para
poder ir à Missa do Galo, Nogueira aguarda na sala, lendo. Então aparece
Conceição, estabelecendo-se uma interação entre os dois. Nas entrelinhas,
Machado vai revelando sutilezas e até mesmo um certo erotismo velado.
Ao final, dá conta de que, após as férias, no retorno ao Rio de Janeiro, o
jovem fica sabendo que o escrivão havia morrido e que Conceição mudara
para o Engenho Novo, tendo se casado com o escrevente juramentado do
marido.
Dourado praticamente se vale dessa última informação do texto para, com
o recurso de um narrador onisciente, transportar o leitor a um tempo
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Considerações finais
Missa do Galo – Variações sobre o mesmo tema é um exercício de
intertextualidade que nos permite compreender o dialogismo pensado por
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Referências
BRAIT, B.; MELO, R. Enunciado/enunciado concreto/enunciação. In:
BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: Conceitos-chave. São Paulo: Contexto,
2020.
FARACO, Carlos Alberto. Autor e autoria. In: BRAIT, Beth (org.).
Bakhtin: Conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2020.
FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento e Bakhtin. São Paulo:
Contexto, 2020.
ASSIS, Machado de [et al.]. Missa do Galo: variações sobre o mesmo
tema. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977, 2008.
DOURADO, Altran. Missa do Galo (mote alheio e voltas). In: ASSIS,
Machado de [et al.]. Missa do Galo: variações sobre o mesmo tema. Rio
de Janeiro: José Olympio, 1977, 2008.
MOZDZENSKI, Leonardo. Intertextualidade verbo-visual: como os
textos multissemióticos dialogam? Bakhtiniana: Revista de Estudos do
Discurso [online]. 2013, v. 8, n. 2 [Acessado 17 Agosto 2021], pp. 177-
201. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S2176-
45732013000200011>. Epub 17 Dez 2013. ISSN 2176-4573.
https://doi.org/10.1590/S2176-45732013000200011.
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Fabiana Giovani
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
fabiana.giovani@ufsc.br
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circular amplamente pelos campos da França. Sobre isso, a sua obra sobre
o grotesco nos faz reconhecer que essa visão de mundo, elaborada no
correr dos séculos pela cultura popular, se contrapõe, sobretudo, na Idade
Média, ao dogmatismo e à seriedade da cultura das classes dominantes.
Como você mesmo afirmou, apenas levando-se em consideração essa
diferença é que a obra de Rabelais se torna compreensível. Em outras
palavras, amigo, nos confirme se estamos no caminho da compreensão, o
seu corpo grotesco traz não só uma dicotomia cultural, mas uma relação
de reciprocidade, circularidade entre cultura subalterna e cultura
hegemônica. Quanta beleza nesta reflexão! Sabe, precisamos lhe contar
algo que talvez não saiba: é justamente a riqueza das perspectivas de
pesquisa indicadas por você que fez Ginzburg desejar uma sondagem
direta, sem intermédios, do mundo popular. Ele acha que o seu belíssimo
livro tem um limite, uma vez que os protagonistas da cultura popular que
você tentou descrever - camponeses, artesãos - nos falam quase só através
das palavras de Rabelais. Desse modo, Ginzburg dá a voz para o popular
Menocchio. Mas isso, é outra história que lhe contaremos em outro
momento.
Retomando nossa reflexão, outro parceiro de nossos tempos, o
pesquisador Duarte[3], ao resenhar a sua obra a que referenciamos,
comenta que os limites do vocabulário familiar e grosseiro na cultura
popular da Idade Média só podem ser apreendidos nos festejos
carnavalescos, onde a ordem católica e feudal séria podia ser rompida em
detrimento de uma forma cômica, renovadora. Grosserias, palavras
injuriosas, blasfêmias, juramentos, etc., impregnadas pela visão
carnavalesca do mundo, dirigidos não somente uns aos outros, mas
também às divindades, transcendiam o caráter puramente degradativo e
adquiriam sentido regenerador e renovador da vida. Ainda nas palavras
dele, todas as características da cultura popular da Idade Média e do
Renascimento, que vão convergir com a mediação do nosso reconhecido
gênio François Rabelais, estão permeadas pelo princípio da vida material
e corporal, ou seja, ocorre um rebaixamento para o plano material e
corporal de todas as coisas.
Duarte diz que é esse fenômeno estético que você, caríssimo Bakhtin,
denomina de realismo grotesco. Como você mesmo instaura “O traço
marcante do realismo grotesco é o rebaixamento, isto é, a transferência ao
plano material e corporal, o da terra e do corpo na sua indissolúvel
unidade, de tudo que é elevado, espiritual, ideal e abstrato”. Graças aos
seus estudos e visão diferenciada da vida, temos então um princípio que é
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Referências
BAKHTIN, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais. Tradução de Yara
Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec; Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 2008, p. 129.
BAKHTIN, Mikhail. Notas sobre literatura, cultura e ciências humanas.
São Paulo: Editora 34, 2017.
Notas:
[1]
Trata-se do livro “O queijo e os vermes”, de Carlos Ginzburg (1989).
[2]
O autor cita a obra Almanach des bergers.
[3]
Trata-se do texto de André Luis Bertelli Duarte intitulado Cultura
Popular na idade Média e no Renascimento: revisitando um clássico.
[4]
Trata-se da novela “A Metamorfose”, escrita por Franz Kafka.
[5]
Disponível em: Acesso em: 25 ago. 2021.
Gargântua é um personagem da obra “Gargântua e Pantagruel”, escrita
[6]
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o número de vezes que o lobo gritou seu nome (vinte e cinco), pode sugerir
a previsão de anos que Chico Buarque acreditava durar o período militar,
iniciado com o golpe de 1964.
Entretanto, na sequência, a menina foi perdendo o medo do lobo, que,
numa brincadeira, acabou virando um bolo. Nesse sentido, podemos
visualizar o processo de redemocratização no Brasil (final da década de
1970 e início da década de 1980), em que os cidadãos (Chapeuzinho)
começaram a protestar contra a opressão da ditadura (todos os medos da
menina).
Mesmo se interpretado na condição crítica à ditadura, não se pode negar o
caráter essencialmente infantil presente no livro, que, inclusive, foi
dedicado às filhas pequenas do autor. Isso porque Chapeuzinho Amarelo
prima, ao contrário de outras obras mais ligadas à pedagogia do que à arte,
pelo imaginário da criança, num contexto verossímil que se preocupa com
a realidade, mas não com a verdade.
Essa linguagem artística, humana, presente em Chapeuzinho Amarelo,
busca sugerir ideias e experiências, num jogo em que as palavras, os sons
e as imagens se cruzam e constroem uma leitura poética, plena de
descobertas, suscitando renovação constante nas ambivalências da vida.
E o livro de Chico Buarque desemboca justamente nessa questão:
Chapeuzinho Amarelo provoca a imaginação do pequeno leitor, estimula
o questionamento dos porquês da existência dos seus medos, instiga o
lúdico num jogo de palavras, sons e imagens, ensina a transformar o velho
em novo num processo constante de renovação. E são essas possibilidades
inerentes a uma literatura infantil de caráter humanizador, de que tanto
prescinde a formação da criança leitora.
A obra de Chico Buarque e Ziraldo é mesmo, como já dito, a representação
do riso, do banquete pela arte estético-literária por eles projetada. Celebra-
se as crianças e as infâncias; e as possibilidades do porvir em renovação e
superação. Desloca-se do medo para a alegria, a morte pela vida, o
monstro pela festa, o amargor pela doçura, o terror pelo deboche. Não
podemos esquecer que nossas crianças vivem ainda a presença de muitos
adultos e sistemas por eles criados que se caracterizam como verdadeiros
lobos.
Assim como na obra de Rabelais em que a leitura se revela atual, mesmo
que aborde o período da Idade Média europeia, em que pese obviamente
as diferenças na contemporaneidade, também “Chapeuzinho Amarelo”
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faz-nos ver que prevalece ainda hoje diferentes formas de controle sobre
os corpos- mentes de adultos e crianças, análogas às que aconteciam na
esfera social daquela época, quando o único escape à rigidez excessiva
eram justamente as festas promovidas pelo e para o povo.
Em vias da conclusão, creio poder afirmar que Chico Buarque
apoiado pelas ricas imagens de Ziraldo leva a sua protagonista a
inaugurar-se em seu próprio mundo infantil, dá a ela uma nova forma de
olhar para sua realidade, uma nova forma de ver o outro, o mundo e a si
mesma por outra ótica. Ao fazer isso tanto autor, como ilustrador deglutem
a realidade de um lobo mau tenebroso, sério, que trazia uma realidade
revestida pelo medo, para fazer nascer uma nova realidade ficcional,
alegre, inesperada e absurda até, simbolizada pelo mundo redescoberto,
recriado, daí a imagem de um lobo que vira bolo. Um novo mundo na
boca, na face e no olhar de Chapeuzinho, tanto quanto na imagem do lobo-
bolo cuja figura, por si só, também simboliza o alegre e absurdo, e,
portanto, o cômico.
Por fim, podemos pensar que ao imprimir tais qualidades à produção da
obra, em conjunto, Chico e Ziraldo trazem alimentação abundante, um
banquete genuíno, para os leitores mirins que igualmente como a
protagonista tem fome de transformação. Assim, a contar desse mundo
adultocêntrico, em que adultos tudo decidem pelas crianças, por exemplo:
o quê, por quê, para quê, quando, como e onde podem ler; quais são,
então, as melhores obras a serem lidas, os mais adequados momentos, as
melhoras formas, com quais finalidades, por quanto tempo, sob quais
condições etc, etc... autor e ilustrador simbolizam também a fome
insaciável de nossas crianças pelo conhecimento e a sede de muitas delas
em captar e beber o mundo de forma alegre e festiva, desfrutando da
abundância da apreciação estética de um mundo inteiro a ser devorado!
Referências
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais. Trad. de Yara Frateschi
Vieira. São Paulo: Hucitec, 2010.
BUARQUE, Chico. Chapeuzinho Amarelo. 13. ed. São Paulo: Editora
José Olympio, 1994.
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A ideia
De onde ela vem?! De que materia bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
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Desta feita, o ouvido pensante virou o lugar da voz, da fala, do falo eu!
E, sobretudo, em momentos de tantas desnotícias, medos e ameaças
de tanta gentalha reaça, o adereço servira para isolar-se do mundo,
pois nada melhor que estar em sua casa (o caralho em sua própria home
sweet home ou seu novo antro sacro para o mais sublime e puro gozo
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E assim nasceram as
ideias claras de Madame
Legrand para parir textos
éticos e estéticos, pois tudo
que ouvimos são vozes de
outros, lera ela de pensadores
e estudiosos da filosofia da
linguagem. E, ao final,
leitores/as deixo um recado:
“Duvido que não acrediteis
com segurança nesse estranho
nascimento. Se não acreditais,
muito me aflijo, mas um
homem de bem, um homem de
bom-senso deve sempre
acreditar no que se lhe diz e no
que lê. Não o diz Salomão (115),
Proverbiorum XIV: Innocens credit
omni verbo (116), etc.? E São
Paulo (117), prime Corinthio, XIII:
charitas omni credit (118)? Por
que não haveis de acreditar?
Porque, direis, não há nisso
nenhuma aparência. E eu vos
digo que, só por essa razão,
deveis acreditar com toda a
vossa fé, pois dizem os
Sorbonnistas (119) que a fé, é
argumento das coisas de
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Referências
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INTRODUÇÃO
Como professores do ensino fundamental, vivemos situações no
cotidiano onde interpretamos o conceito de infância, buscando
compreender suas vozes e potencialidades nas práticas educativas.
A questão que escolhemos discutir neste artigo está em identificar
a linguagem infantil e seus processos de desenvolvimento
(VIGOTSKI, 2006, p.3).
Desta maneira, ao pesquisar a infância reconhecemos que existem
dois desafios iniciais: o primeiro deles é que historicamente
carregamos concepções adultocêntricas sobre as crianças, desde
sua formação até suas formas de ser e de estar no mundo. Nosso
imaginário (QUIJANO, 1992, p.13) é marcado pela forma como
fomos forjados, e aquilo que conhecemos sobre a infância, inclusive
em sua relação com a educação, são reflexos dessas trajetórias
vividas. É comum, nesta perspectiva, definirmos identidades,
lugares e narrativas para pronunciar as crianças. O que nos inspira
a pensar desta forma sobre a infância? E enquanto adultos, como
nos libertar destas ideias enviesadas?
O segundo desafio reside em conceituar a própria categoria
infância. Acreditamos que a infância é construída no plano social e
marcado pela colonialidade, ou seja, a operação epistêmica que, a
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Procuramos a partir dos estudos sobre a teoria histórico-cultural,
identificar as bases do desenvolvimento humano, um campo de
conhecimento onde repercutem os constructos de Lev
SemionovitchVigotski, quando passa a considerar as crianças como
seres de linguagem constituídas no espaço, em sua dimensão
social. A análise dos textos refletiu a necessidade de olhar
eticamente os seres no mundo, desde seu primeiro ano de vida, ao
entendermos que as crianças em sua potência e como produtoras
de cultura, ao longo de seu processo de desenvolvimento.
Resta-nos como educadores mergulhar na compreensão da gênese
da linguagem – onde a fala e a palavra são atos de comunicação do
ser humano, que é social. Neste sentido contraria-se a visão colonial
de mundo onde tudo é pré-dito. Em qualquer momento para
compreender a criança em seu desenvolvimento precisamos situa-
la a partir do contato com o outro.
Para responder o que seria a infância, consideramos a historicidade
proposta por Ariès, refletindo sobre a existência de um modelo
hegemônico que perpassa a família e a escola, bases inventadas
pela modernidade europeia e que serviram de régua para o restante
do mundo colonizado.
Esse determinismo clássico positivista, sobretudo nos projetos de
educação prescreve uma identidade infantil para nós, os adultos –
que consideramos a criança por seus acúmulos individuais,
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REFERÊNCIAS:
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Dialogantes?
Neste breve texto, exponho a proposição do conceito de
“comunidades interpretativas” na perspectiva do teórico de
literatura norte-americano Stanley Fish e alguns de seus pontos em
comum com a perspectiva dialógica da linguagem do Círculo de
Bakhtin. Inicio com um spoiler que, espero, pode ajudar a elucidar
uma das implicações centrais da noção fishiana de comunidades
interpretativas.
No filme Dirigindo no escuro [Hollywood Ending], de 2002, dirigido e
estrelado por Woody Allen, temos como protagonista Van
Waxman, um diretor neurótico que ao rodar uma nova película
passa a sofrer de uma cegueira psicossomática e acaba por dirigir
todas as sessões de gravação e edição sem enxergar nada do que se
passa. Após seu lançamento, o filme é um fracasso de crítica e
bilheteria no circuito americano, mas também se torna um sucesso
celebrado no circuito francês, o que resulta em um contrato para a
realização de um filme na França. O desfecho do longa-metragem
pode ser interpretado como um ácido comentário ao mercado
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Referências
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Apresentação
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi homologada
contendo as seções destinadas à discussão desde a Educação
Infantil até a etapa do Ensino Médio com a intenção de tornar o
ensino nas escolas brasileiras mais “homogêneo” e “comum”. Na
verdade, a BNCC é uma construção de longa data, sendo prevista
pela LDB 9394, de 1996, bem como em documentos subsequentes.
No entanto, o documento aprovado em dezembro de 2018, no final
do governo Michel Temer, foi atravessado ideologicamente pelo
processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o que,
para muitos analistas, configurou-se em um golpe de estado
jurídico-midiático-parlamentar
Tendo em vista a repercussão da Base Nacional Comum Curricular
e das distintas abordagens acerca da leitura na escola, percebemos
a necessidade de discutir a concepção de leitura da BNCC e do
documento como um todo em sua arquitetônica, a partir de uma
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Campos de
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Personagens escolhidas,
Em cada momento um corpo.
Não como uma balalaica em camadas já dadas!
As mil faces no espelho,
Se ampliam,
Se expandem,
Deformam,
Não cabem.
Não esgotam o ser
irrepetível
Entre tantas palavras,
Nenhuma possível.
Corpo mistério,
Abrigo da imanência,
Recrianças,
Invenção,
Agora.
Um arranjo provisório,
Não aprisionado em uma identidade ou finalidade.
Sem fim ou começo,
Se faz no devir.
Flui em sentidos.
Afeta e se deixa afetar.
Sua primazia é sentir
Ouve seus instintos
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Precisava respirar
Ela estava lá majestosa
Uma sintonia silenciosa se fez
Dos meus ossos
Uma a uma
Renascendo minhas ancestrais
Fizemos a grande roda
Cultuamos a grande Deusa
Cantamos e dançamos
Melodias infinitas
As palavras se arranjavam em lindas poesias
Descobri minha linguagem
A poesia brotava em mim
Respirava
Estava viva
Tinha encontrado a minha voz.
Referências Bibliográficas.
LEÃO, Ryane. Jamais peço desculpas por me derramar. São Paulo.
Planeta do Brasil, 2019.
____________ Tudo nela brilha e queima. São Paulo. Planeta do
Brasil, 2017.
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Um começo de conversa
Ser professora de escola pública do interior de SP em época de
ensino híbrido em pandemia de COVID-19 não tem sido muito fácil
para mim. As demandas da escola que desconsideram os/as
estudantes ainda insistem em chegar e fazer com que os/as
professores/as e estudantes ajam como robôs na mecanização das
formas de ensinar e das maneiras de aprender.
Na tentativa de não ser (sempre) uma robô, tenho aprendido com
Prado (2013) e com os grupos de estudos do Grupo de Estudos e
Pesquisas em Educação Continuada (GEPEC) da Faculdade de
Educação da Unicamp, em especial com os/as participantes do
Grupo de Estudos Bakhtinianos (Grubakh) que ao narrar os
acontecimentos vividos por mim na escola posso, com a ajuda de
muitos outros, elaborar compreensões do que se passou.
Procuro, então, nesta conversa compartilhar uma narrativa e as
elaborações possíveis ao pensar nela com o grotesco, o riso e as
lutas contra as ideias dominantes.
Robôs...
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Um meio de conversa
A experiência de ler essa narrativa no encontro do Grubakh
modificou a maneira como interpretei a minha escrita. Ao ler pude
ouvir risos e ver corpos em risos. Risos em uma narrativa que foi
escrita para que eu, professora de escola pública, expressasse
minha indignação diante de uma das tantas desgraças que tem
acompanhado o ensino público em meio a pandemia de COVID-
19, da escola rígida, fria e uniforme que insiste em trazer para
dentro da sala de aula demandas que não são dos/as estudantes
para que os/as próprios/as estudantes respondam como sendo
deles/as. Demandas essas que vieram, dessa vez, disfarçadas com
o convite “amoroso” que fiz.
Bezerra (2018), ao falar do riso enunciado por Bakhtin, me ajuda a
pensar no cômico como uma espécie de fermento para os textos. Os
risos dos/as colegas fermentaram em mim e me fizeram perguntar:
quem a professora queria enganar dizendo que aquele novo projeto
instituído não era uma competição? Quem era aquela professora
que queria, em uma relação hierárquica, em uma relação que
também desconsiderava os corpos e as consciências dos/as
estudantes, a tentar, de alguma maneira, sobrepor a demanda da
escola repassada para ela e, por fim, enfiada goela abaixo nos/as
estudantes? Qual convite amoroso camuflaria as relações que os/as
estudantes já tinham estabelecido com as palavras “olimpíada”,
“projeto”, “poema” e “competição”?
Minha posição de professora, de suposta autoridade no grupo e de
suposta autoridade do grupo que faz convites amorosos não foi o
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Um final de conversa
Vendo a personagem da professora na relação com as personagens
dos/as estudantes e a relação entre narrativa e leitura percebo o
grotesco não como um ato, mas como uma forma de interpretar o
mundo partindo do outro em uma relação de alteridade. Ali, na
narrativa, vejo o próprio ato de narrar como grotesco, como forma
de expressar o vivido para o outro quando o vivido na escola não é
importante, interessante ou colabora para que a olimpíada de
língua portuguesa seja um projeto bem sucedido. Narrar e dar a ver
a vida vivida e materializada na narrativa é subverter, é resistir, é
lutar e transgredir. É ver-me aos olhos do outro em tom de riso, é,
na criação estética da narrativa, pensar também nas relações da
vida, é tentar não ser robô, mas, se assim for, ser robô com
fermento.
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Palavras prévias
A obra de arte é realidade valorada, trazida pelo autor-pessoa que
por sua vez, ao assumir a condição de autor-criador, orquestra
vozes pinçadas dessa realidade, e as volora em outro contexto, o da
sua narrativa, do seu objecto esteticamente acabado.
Bakhtin ([1979] 2011, p.3) ensina-nos que “cada elemento de uma
obra de arte nos é dado na resposta que o autor lhe dá, a qual
engloba tanto o objeto quanto a resposta que a personagem lhe dá
(uma resposta à resposta); neste sentido, o autor acentua cada
particularidade da sua personagem, cada traço seu, cada
acontecimento e cada ato da sua vida, os seus pensamentos e
sentimentos”. Evidentemente, a realidade de uma obra de arte é
concebida pelo autor-criador. A pessoa-personagem, incluindo as
suas experiências, pensamentos, desejos, atitudes; os factos e os
acontecimentos axiologicamente valorados vivenciados pela
personagem referem-se ao trabalho criativo do autor.
O sujeito criador é uma entidade que encontra situado em um
mundo da vida e da arte, ao que o universo representado na obra
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Conclusão
É deveras difícil recorrer ao termo conclusão para designar a esta
parte do nosso escrito, assumindo a perspectiva bakhtiniana, uma
vez que nesta a inconclusibilidade é nota dominante, ou seja, é
constitutiva das coisas, tudo existe na relação com o outro, as
coisas, os discursos, as ideias, existem na relação com as outras.
Ademais, o texto como artefacto linguístico é um objecto acabado,
mas este é um enunciado da corrente discursiva e, como tal, é um
discurso inacabado.
A invenção do cemitério, foco da nossa contrapalavra, é uma
realidade valorada, que resulta de um recorte também valorado, o
da realidade cotidiana, ou seja, que faz alusão aos aspectos da vida
corrente. Os elementos trazidos neste são valorados, eles não
aparecem aleatoriamente, sendo impostas pelas vivências e
experiências, que impelem o autor-criador a fazer umas escolhas
em detrimento de outras, a trazer alguns assuntos e não outros.
O livro de contos, a invenção do cemitério, traz uma multiplicidade
de aspectos inerentes à realidade cultural e social em que está
inserido. Das narrativas temáticas que aludem a uma realidade
específica, destacam-se ambivalência em que se vive as questões da
religiosidade, a superação das adversidades, a profanação da
cosmovisão única das coisas, a sacralização das coisas comuns, os
tensionamentos existentes no espaço entre vida e a morte.
A par do anteriormente exposto, há que destacar, em termos
formais, a ousadia do autor-criador patente a ruptura do uso das
regras gramaticais referentes ao uso de maiúsculas em nomes
próprios e em início de parágrafos, associado ao não uso de aspas
para demarcar a fala das personagens.
Em suma, os contos apresentados na obra de Pedro Pereira Lopes
são narrativas da realidade popular moçambicana trazidos pelo
autor-criador em vozes de suas personagens, expressando seus
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Referência bibliográficas
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Notas
[1] Quando o contemplador busca entender um objecto estético o
faz com as palavras e conhecimentos do mundo a ele circunscrito e
valorados de acordo com as suas vivências. Por conseguinte, a par
do autor-criador este também valora os elementos trazidos na sua
acção contemplativa.
[2] Músico da velha guarda de Moçambique
[3] Localidade situada na província de Maputo, Sul de
Moçambique
[4] Capital da província de Niassa, Norte de Moçambique
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Introdução
O dialogismo, para Bakhtin (2017, p. 39), é o “complexo
acontecimento do encontro com a palavra do outro”, possível por
meio do diálogo entre os enunciados durante as interações
discursivas. Tais enunciados reúnem
diversas vozes independentes, fenômeno ao qual Bakhtin (2010, p.
23) dá o nome de polifonia. O dialogismo é, então, um ambiente de
tensões verbo-ideológicas entre as diferentes vontades das vozes
que habitam os enunciados. Esses embates resultam,
historicamente, em “confrontos sêmicos, deslizamentos de sentido,
apagamentos de significados, interincompreensões, etc.” (FIORIN,
2018, p. 191).
Bakhtin (2002) observou nos conflitos dialógicos um contínuo jogo
de poder. Os grupos sociopolíticos hegemônicos exercem forças
centrípetas para a unificação da língua, com vistas a uma
centralização ideológica que lhes favoreçam. No entanto,
plurilinguismo (linguagens diversas provenientes de outros
grupos sociais) exerce forças centrífugas de descentralização.
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Considerações finais
As possibilidades da charge enquanto gênero discursivo nem de
longe foram esgotadas com esta breve pesquisa. Bakhtin, como
pensador da função social da língua, tem muito o que oferecer para
futuras investigações do texto chárgico, especialmente no que diz
respeito aos embates ideológicos e às forças que atuam nas
enunciações.
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1 Iniciando a conversa
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Figura 1
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3 O burlesco e a liberdade
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FOTO: reprodução
Figura 5
Foto: reprodução
Considerações finais
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Notas:
[2] BAKHTIN, Mikhail A cultura popular na Idade Média e no
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Hucitec,1987
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LIPOVETSKY, Gilles. A sociedade da sedução: democracia e
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Lopes. São Paulo: Manoele, 2020a.
LIPOVETSKY, Gille; CHARLES Sébastien. Os tempos
hipermodernos. Tradução de Luís Filipe Sarmento. Lisboa: Edições
70, 2020b.
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1 Introdução
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3 Considerações finais
Sabe-se que o momento é de crise e incertezas, que as
des(informações) são muitas e findam por serem acolhidas por
uma grande parcela da sociedade. Assim, no campo da pós-
verdade, constata-se que a verdade não é mais o desejo do criador
discursivo, muito menos o desejo de quem a consome, uma vez que
esse valor está degradado na esfera social, como explica Foucalt
(1996).
Compreende-se, no entanto, que os enunciados da des(informação)
não são atemporais, pelo contrário, exigem uma correlação com o
tempo/espaço em que circulam; e, isso faz com que adquiram mais
chances de se difundirem, fundamentalmente quando relacionam
a eventos recentes. Portanto, são enunciados historicamente
construídos que refletem a realidade de um contexto. Eles surgem
com o intuito de justificar determinada ação e, pelo
descompromisso que têm com a verdade, colaboram para um
cenário de incertezas, favorecendo a instabilidade e o descrédito,
principalmente com a saúde, enfraquecendo a adesão da população
às medidas preventivas de combate à covid-19.
REFERÊNCIAS
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Alexandre Vanzuita
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense
alexandre.vanzuita@ifc.edu.br
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É do chão que tudo nasce e é nele que tudo parece morrer. É nele
que se travam batalhas e disputas territoriais e é por um simples e
complexo pedaço de chão, de terra, que se mata em defesa da
propriedade privada. É o chão que se faz cama para milhares de
pessoas que não tem onde reclinar a cabeça, num país chamado
Brasil, que ocupa a 13ª posição no ranking da economia mundial. É
por esse mesmo chão, por um pedaço de terra, que vemos ser
protagonizada nos últimos tempos, a luta dos povos indígenas
contra o marco temporal, ruralistas e latifundiários que não querem
abrir mão daquilo que não lhes pertence. Chão para que? Chão para
quem? Quantas desigualdades e tensões giram em torno de uma
única palavra: Chão! O grotesco chão.
O chão que vira cama, casa, abrigo, terra firme, vira insegurança
(quando nos tiram o chão), vira cova, sepultura, vira cheiro de
saudade, vira disputa, gera in/exclusão e envolve uma semiótica
salutar, pois implica na luta de classes, resultando num movimento
de reflexão e refração em torno do signo ideológico “chão”. “Um
signo não existe apenas como parte de uma realidade; ele também
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reflete e refrata uma outra. Ele pode distorcer essa realidade, ser-
lhe fiel, ou apreendê-la de um ponto de vista específico, etc”
(BAKHTIN, 2006, p. 22).
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CONSIDERAÇÕES (INCONCLUSAS)
REFERÊNCIAS
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Fabiana Giovani
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
fabiana.giovani@ufsc.br
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Referências
BAKHTIN, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais.
Tradução de Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec; Br
asília: Editora Universidade de Brasília, 2008, p. 129.
DUARTE, A. L. B. Cultura Popular na Idade Média e no
Renascimento: revisitando um Clássico. Fênix – Revista de
História e Estudos Culturais Abril/ Maio/ Junho de 2008 Vol.
5 Ano V nº 2. ISSN: 1807-6971
Disponível em: www.revistafenix.pro.br
GEGe. Lendo o Cultura popular na Idade Média. In: Palavras e
Contrapalavras: conversando sobre os trabalhos de Bakhtin. São
Carlos: Pedro & João editores, 2010.
Notas
O Portal Escrevendo o Futuro reúne as ações do Programa
[1]
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no
endereço http://www.aulaparana.pr.gov.br/lingua_portuanoguesa
_1. Pertence, portanto, a um material disponibilizado para o estado
do Paraná para ser utilizado nas aulas online no período de
pandemia.
A charge causou a Honoré seis meses de prisão, mas em
[3]
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versão das imagens das garotas do Rio, do povo do Rio. Esse Rio,
muitas vezes excluído é a cidade do requebrado, do batidão, do
“descer até o chão”, do “sentar”, do “bumbum”, do sexo, da
revolução. Um Rio de Janeiro revolucionário e cheio de vida, de
corpos empoderados e seminus na praia, sem vergonha de suas
curvas acentuadas, de seu corpo, de sua cultura, de suas favelas, de
seu povo. É a cidade em sua face grotesca mais revolucionária e
renovadora que se contrapõe a uma visão engessada, irreal e
excludente. São os horizontes se abrindo para essa cidade
maravilhosa que também pertence à Rocinha, à Maré, ao subúrbio,
a todos os corpos que são a face do Rio de Janeiro.
Referências Bibliográficas:
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento: O contexto de François Rabelais. Trad.: Yara Frateschi
Vieira. São Paulo: HUCITEC, 1987.
ESSINGER, Silvio. Batidão: uma história do funk. Rio de Janeiro:
Record, 2005.
SONTAG, Susan. Sobre fotografia. Trad.: Rubens Figueiredo. São
Paulo: Companhia das Letras, 2004.
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Bruno: Gabriel, fale pra mim sobre o que você desenhou (coleção
de lugares).
Gabriel: É um desenho que eu fui lá em Benfica (bairro distante da
escola).
Bruno: Ah é? E onde fica Benfica?
Gabriel: Benfica lá pro... só pegar o ônibus azul. Só que eu fiz aqui
Nova Benfica.
Bruno: E você foi a Benfica com quem?
Gabriel: Com meu pai e minha mãe. Foi lá no... no dia dos Finados.
Bruno: E aí é isso que você tá desenhando aí?
Gabriel: (responde afirmativamente com a cabeça).
Bruno: Tá certo. Você gosta de ir a Nova Benfica?
Gabriel: Gosto.
Bruno: É um lugar que tá na sua coleção...
A janela era o lugar onde Gabriel rompia com o instituído pela
escola. Ali, ele experimentava os conteúdos escolares no mundo,
circulando pelos letreiros dos ônibus. E criava a partir dali um novo
movimento instituinte. Reinaugurava o meu mundo todos os dias...
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SEU BOSTA
Hélio Pajeú
E agora, seu Bosta?
O vídeo vazou
A luz acendeu
O patriota sumiu
O peido esfriou
E agora, seu Bosta?
E agora, você?
Você que é sem cérebro
Que quer matar os outros?
Que nunca lê verso
Que odeia, protesta?
E agora, seu Bosta?
Está sem resposta
Está sem recurso
Pode estar com o vírus, sozinho
Não adianta beber
Não adianta fumar
Mas se arrepender, você ainda pode
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Seu 17 afundou
Sua arminha não veio
O dólar a um real não veio
O kit gay não veio
Não veio a soberania
E tudo desmoronou
E tudo ruiu
E tudo, morgou
E agora, seu Bosta?
E agora, seu Bosta?
Não acabou a mamata
Trocou gato por lebre
Sua raiva e seu jejum
Sua amarga hemorroida
Vai sobrar pro seu coro
Sua camisa amarela
Sua incoerência
Seu ódio, e agora?
Com a bíblia na mão
Quer abrir o céu
Não existe céu
Quer fugir pra Disney
Mas a Disney fechou
Quer ir pra rua
A rua não há mais
Seu Bosta, e agora?
Se você gritasse na sua janela
Se você batesse na sua panela
Se você não dançasse
A dancinha do mito
Se você se arrependesse
Mas você não se arrepende
Você é burro, seu Bosta.
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Esse texto tem como intento fazer circular a fala e a escrita do que
mulheres negras vêm produzindo/discutindo, em relação à
Literatura e a Escrevivência, conceito gestado por Conceição
Evaristo. É preciso alertar que parte desse texto integra a
dissertação da autora, intitulada “(Re)Contando Histórias
Capixabas: A Escrevivência como ponte para a escrita feminina e
negra”, a ser defendida no Programa de Pós-graduação em Ensino
e Relações Étnico-Raciais(PPGER), da Universidade Federal do Sul
da Bahia (UFSB/ Campus Jorge Amado /Itabuna/ Bahia).
Diante da atual conjuntura do país, que o fascismo, racismo e o
extremismo político se mostram mais acentuado, em que os corpos
negros, indígenas e dissidentes são violados e violentados no
cotidiano, faz se necessário evidenciar e (re)conhecer o que esses
corpos grotescos vêm produzindo. E, antes que digam que o
contexto pandêmico acentuou essas desigualdades e
perversidades, alerto que o Atlas da Violência, desde sua criação
em 2016, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e
colaboração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP),
aponta que jovens, homens e mulheres negras tem sido as
principais vítimas de feminicídio, homicídio e de outras violências,
ao longo de décadas, e pode-se dizer: séculos.
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(infans, é aquele que não tem fala própria, é a criança que se fala na
terceira pessoa, porque falada pelos adultos), que neste trabalho
assumimos nossa própria fala. Ou seja, o lixo vai falar, e numa boa
(GONZALEZ, 1984, p. 225).
A partir dessa prática dialógica, desse escrever + viver e escrever +
vivência, do ato político de narrar a vida, em que escrever/falar
transforma-se em ação, inicialmente, individual, mas logo torna-se
coletiva, é que tal conceito partilha um continuum comum de
falares, vivências e cumplicidades da/na vida. Pois, enxergamos
nesses dinamismos que “resistir por meio da literatura
[escrita/leitura/voz] é também reexistir, e para um povo cuja voz
foi e é constantemente sufocada, a escrevivência se torna um
recurso de emancipação.” (MELO e GODOY, 2017, p. 1289).
Considerações Finais
Em uma entrevista recente para o Portal de Notícias Brasil de Fato,
a escritora Conceição Evaristo disparou “a elite intelectual
brasileira - e eu já falei isso e repito - é uma elite burra” (EVARISTO,
2020,s/n). Concordo com a autora, e ainda acrescento que essa tal
elite é seletiva, racista e hipócrita, visto que tem questionado nosso
direito de pensar, falar e escrever, cerceando nossa humanidade,
dignidade, vida, sonhos e possibilidades. Ainda assim, a
escrevivência tem nos apontado maneiras e modos de fazer para
transcender esses entraves, através da escrita, do corpo, das
narrativas e artes em geral. E até do silêncio, como muitas vezes a
escritora Carolina Maria de Jesus fez ao perambular pelas ruas de
São Paulo, na década de 1960.
O perambular, o ir e vir da labuta diária fez com que Carolina
registrasse na mente, nos olhos que enxergam a beleza e a maldade
da sociedade e das pessoas, nas pernas cansadas e marcadas pela
doença, na escuta atenta das notícias e falatórios que chegavam, nas
mãos que carregavam o lixo e nos cadernos o melhor de sua poética
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Notas:
1 Joice Berth traz os do Atlas da Violência, interseccionando com a
questão de gênero, raça e sexo na matéria “O Outro do Outro: A
violência contra a mulher negra não começou na pandemia”.
Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-outro-
do-outro/>. Acesso em: 07 set.2021
2 Entendemos branquitude a partir do trabalho de Maria
Aparecida Bento que versa sobre a identidade racial do branco
brasileiro, pormenorizado no ideário do branqueamento que
decorre de um processo inventado e mantido pela elite branca
brasileira, fortalecendo a auto-estima e o auto-conceito do grupo
branco em detrimento dos demais. (BENTO, 2002)
Referências bibliográficas
ANZALDÚA,G. Falando em línguas: uma carta para as mulheres
escritoras do Terceiro Mundo (trad. Édna de Marco). Revista
Estudos Feministas, v. 8, n. 1, p. 229-236, 2000.
BENTO, Maria Aparecida da Silva. Branqueamento e branquitude
no Brasil. In: CARONE, Iray; BENTO, Maria Aparecida Silva (orgs).
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REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais. Tradução de Yara
Frateschi Vieira. São Paulo: HUCITEC, 1987.
BAKHTIN, M. O homem ao espelho: Apontamentos dos anos 1940.
Tradução de Cecília Maculan Adum, Marisol Barenco de Mello e
Maria Letícia Miranda. 2 ed. São Carlos: Pedro & João, 2020.
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O cefísio o contava, então, dezesseis anos, podendo ser tomado por menino
ou jovem. Muitos moços e muitas moças desejavam-no;mas, tão dura
soberba havia em ternas formas, nenhum rapaz, nenhuma moça lhe tocou.
Viu-o alçando as redes com os cervos trêmulos, ninfa loquaz , que ao ouvir
não fica calada, nem fala antes de alguém, a ressoante Eco. Eco tinha,
então, corpo, não só voz; porém,igual agora, a boca repetia, gárrula, entre
tantas, somente as últimas palavras.
Isto Juno, pois podendo surpreenderas ninfas se deitando em montes com
seu Júpiter, Eco sempre a retinha com longas conversas, para as ninfas
fugirem.Satúrnia entendeu e disse: “a tua língua, que me iludiu
tanto, pouco poder terá, no uso parvo da voz”. E a ameaça confirma:
quando alguém diz algo,Eco repete apenas o final das frases.
Quando, então, viu Narciso errando pelos campos, arde de amor por ele e
a furto os passos segue-lhe; e quanto mais o segue, mais a chama arde,tal,
quando se unta a extremidade de uma tocha, o vivo enxofre inflama-se
perto da chama.Oh! Quantas vezes quis abordá-lo com brandas preces e
afagos. Sua natureza impede que ela fale primeiro; mas a deixa
apenas acolher e ecoar as palavras que ouve.
Por acaso, o rapaz, desviado dos colegas, gritou: “ alguém me escuta?”,
“escuta!” rediz Eco. Queda-se atônito, dirige o olhar a toda parte,alça a
voz e diz: “vem!”; ela chama quem chama.Volve o olhar e não vendo
ninguém diz:“Por que foges de mim” e ouve de volta a mesma frase.
Detém-se e, iludido por voz replicante, fala: “aqui nos juntemos!”, e
Eco, com volúpianunca experimentada, devolveu: “juntemos!”
Seguindo suas próprias palavras, da selvasai e vai abraçar-se ao pescoço
do amado.Ele fugindo, diz: “tira as mãos, não me abraces, morrerei antes
que tu possas me reter!” E ela, apenas: “Que tu possas me
reter!”Desdenhada, se esconde em selva e de vergonhae ramos cobre o rosto
e vive em grutas ermas.
No entanto, arde o amor e cresce com a dor, a insônia lhe consome o corpo
miserável,a magreza lhe enruga a pele e no ar se esvaio suco corporal.
Restam só voz e ossos.A voz vive; viraram pedra os ossos, dizem. Assim,
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Referências
BAKHTIN, Mikhail. Palavra própria e palavra outra na síntese da
enunciação. São Carlos: Pedro e João Editores, 2011
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Notas
[1]Nota de campo da tese de Doutorado Um novato lá na sala,
tem que pegar ele também, tia. Escreve tudo agarrado! A escuta
das enunciações sobre o aprender nas conversas com crianças. Pós-
graduação em Educação – Universidade Federal Fluminense- UFF-
Niterói 2018.
[2] Disponível em: https://arquivo/6486572/metamorfose-
ovidio arquivo Metamorfose Ovídio, p. 101/103 - Disciplina de
Estudos Clássicos-UFSCar
[3] Bakhtin, 2013, p.6)
[4] Bakhtin (2011, p. 160).
[5] Bakhtin, 2013, p.54)
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Erro de Português
Quando o português chegou
debaixo duma bruta chuva
vestiu o índio
que pena!
fosse uma manhã de sol
o índio tinha despido o português
(ANDRADE, 1927)
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Introdução
Este texto pretende sistematizar observações a respeito da
orientação social mais próxima da sala de aula no ensino-
aprendizagem da escrita de História, dentro do Ensino
Fundamental, tomando a educação escolar como experiência social
de mediação, espaço de contraposição e confronto das vozes do
professor e do aluno, quando o discurso indireto livre é tomado
como linguagem que possibilita a manifestação dialógica do
grotesco, enquanto experiência semiótica de relatividade ou
ambivalência próprias da ação da paródia ainda que a sala de aula
possa ser, também, o espaço social de circulação da absolutização
de sentido própria da paráfrase.
Educação e mediação
A organização da sociedade se realiza pela ação mais remota da
educação sistemática e assistemática através da construção social da
mediação. Pela força socializadora de tal categoria, as forças da
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Considerações finais.
Este texto procurou demonstrar que o ensino-aprendizagem de
História, na mediação da sala de aula, articulando, na interação
discursiva, as vozes do professor e dos alunos, pode ser uma
experiência de paráfrase, quando as vozes de tais agentes se
reúnem na absolutização do conhecido: aqui a voz do aluno diz,
parafrasticamente, aquilo que, até certo ponto, o professor diz. Por
outro lado, se, até certo ponto, o aluno diz aquilo que o professor
diz, diz ele, nesse intervalo de “até certo ponto”, aquilo que outras
vozes dizem parodisticamente: a voz de outros narradores na
figura de outros professores ou livros didáticos. Nisso o que se
constata é a relatividade ou ambivalência que tais vozes instituem,
configurando a realização do grotesco. Aqui, a interação discursiva
torna-se a oportunidade para a experiência de linguagem que
funda o grotesco: a experiência do discurso indireto livre que ,
dialogicamente, é um acontecimento de linguagem em que a voz
do narrador entra em réplica, no corpo do enunciado, com a voz da
personagem: em que professor e alunos participam de uma
interação discursiva aberta à relatividade e à ambivalência que
sinaliza a presença do dialogismo da linguagem: a voz do aluno,
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Referências
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de Andrade. São Paulo: Edição do autor, 1927.
CAMPOS, Edson Nascimento; TIMÓTEO, Herbert de Oliveira;
DINIZ FILHO, Mariano Alves. O dialogismo da linguagem: a
palavra que se repete e a palavra que não se repete – paráfrase e
paródia na enunciação da leitura e escrita do texto de história.
In: Ensaios de Dialogismo. São Carlos: Pedro e João Editores, 2020.
p.105-124.
CARNAVALIZAÇÃO, 2021. 1 vídeo (10 min). Publicado pelo canal
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GRILLO, Sheila; AMÉRICO, Ekaterina Vólkova. Glossário.
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VOLÓCHINOV, Valentin. A interação discursiva. In: Marxismo e
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VOLÓCHINOV, Valentin. Discurso indireto livre nas línguas
francesa, alemã e russa. In: Marxismo e filosofia da
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ciência da linguagem. São Paulo, Editora 34, 2008. p.291-322.
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IMAGEM
Referências:
AMÉRICO, Pedro. (Pedro Américo de Figueiredo e Mello). A noite
e os Gênios do Estudo e do Amor – The Night with the Genii of
Study and Love. Óleo sobre tela (1883). Museu Nacional de Belas
Artes, Rio de Janeiro – Brasil. Dimensões da obra: 260 x 195 cm.
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Notas
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Wilson Queiroz
Unicamp
wilsonq10639@gmail.com
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Referências
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renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Editora
Hucitec, 1987, p.1-40.
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Carlos: Pedro & João Editores, 2017.
GERALDI, João Wanderley; Milton José de Almeida (et al). O texto
na sala de aula. São Paulo: Ática, 2006.
PRADO, Guilherme do Val Toledo; SERODIO, Liana Arrais;
PROENÇA, Heloísa Helena Dias Martins; RODRIGUES, Nara
Caetano. Metodologia Narrativa de Pesquisa em Educação: uma
perspectiva bakhtiniana. São Carlos: Pedro & João, 2015.
SILVESTRI, K.V.T. Corpos grotescos: linhas gerais da filosofia
política bakhtiniana. In: SERODIO, L.A. (et al) (orgs.) Narrativas,
corpos e risos enunciando uma ciência outra. São Carlos: Pedro &
João Editores, 2018.
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À guisa de conclusão
Retomo o ponto de partida do não álibi “...sem desculpas”, “sem
escapatórias”, mas também “impossibilidade de estar em outro
lugar” em relação ao lugar único e singular que ocupo no existir,
existindo, vivendo” (2010, p.20), do meu fazer ético, enquanto
pesquisadora, de não silenciar frente as perdas do conjunto de
direitos sociais que tem sido negligenciado e por muitas vezes
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Referências
AMORIM, M. O Pesquisador e Seu Outro: Bakhtin nas Ciências
Humanas. São Paulo: Editora Musa, 2001.
______. A contribuição de Mikhail Bakhtin: a tripla articulação
ética, estética e epistemológica. IN.: FREITAS, M. T.; JOBIM E
SOUZA, S; KRAMER, S. (Orgs). Ciências Humanas e Pesquisa
Leituras de Mikhail Bakhtin. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2007.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins
Fontes, 2003
______. Marxismo e Filosofia da Linguagem: problemas
fundamentais do método sociológico da linguagem. São Paulo:
Hucitec, 2009.
______. Para uma filosofia do ato responsável. São Paulo: Pedro e
João, 2010.
BRASIL. Programa Nacional de Direitos Humanos. Brasília:
Ministério da Justiça, 1996.
______. Programa Nacional de Direitos Humanos II. Brasília:
Ministério da Justiça, 2002.
______. Programa Nacional de Ações . Brasília: Ministério da
Justiça, 2002: 1-3
GADOTTI, Moacir. Escola cidadã: uma aula sobre a autonomia da
escola. São Paulo, Cortez, 1992, v. 50.
GEGe. Palavras e contrapalavras: procurando outras leituras com
Bakhtin. São Paulo: Pedro & João Editores, 2011.
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Notas:
[1]ARAUJO, Iolanda Silva Menezes de. O lugar da Educação
Infantil na Universidade: memórias da gestão da escola de
educação infantil da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, 2015. Dissertação, (Mestrado em Educação) Instituto de
Educação / Instituto Multidisciplinar / PPGEduc / Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro, Nova Iguaçu, RJ. 2015.
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Referências
BAKHTIN, M. Para uma filosofia do ato responsável Trad. aos
cuidados de Valdemir Miotello & Carlos Alberto Faraco. São
Carlos: Pedro & João Editores, 2010.
SERODIO, L. A., CHAUTZ, G. C. C. B., PRADO, G. do V. T.,
PROENÇA, H. H. M., PREZOTTO, M., & RODRIGUES, N. C.
(2016). A metanarrativa e a relação inextricável entre os mundos da
vida e da cultura: uma aproximação entre Bakhtin e a
Educação. RevistAleph,
(25). https://doi.org/10.22409/revistaleph.v0i25.39138
SILVESTRI, Kátia V. T.. Corpos grotescos: linhas gerais da filosofia
política bakhitniana. In: SERODIO, Liana et al (Orgs.) Narrativas,
corpos e risos anunciando uma ciência outra. São Carlos: Pedro & joão
Editores, 2018, p. 165-195.
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começa a gritar que era cocô sim, que a poça não seria de água, mas
de cocô.
Em ambas situações, remeto-me a Bakhtin e a forma como ele
entende o corpo.
Em sua obra, Bakhtin observa o corpo para além das características
psicofísicas, muito além de um mero aparato biológico, de um
objeto científico, a “coisa muda” das ciências exatas. Ele institui ao
corpo um valor, isto é, apresenta-o em relação a um sujeito situado
em posição única e singular no mundo.
[...]
Para pensar sobre o corpo, recorre à relação entre o corpo interior –
meu corpo, pensado de dentro de mim, sobre si mesmo – e o corpo
exterior – o corpo do outro, apresentado a mim, situado fora de
mim. Associa a essa relação noções basilares que permanecem em
seus textos seguintes, como a de exotopia (ou excedente de visão),
alteridade, acabamento e ato. (TEIXEIRA, Marilia Dalva, 2019, p.46)
As falas sobre furar um olho com um parafuso e sobre a poça onde
as crianças brincavam, molhando pés e mãos ser feita de fezes, tudo
isso se relaciona com o corpo das crianças – o corpo interno e o
exterior. Um olho furado, uma poça de fezes, tudo isso muda se
pensarmos em quem fala, para quem fala e como fala. A criança
que diz que furaria o olho parece querer, com seu corpo, com uma
fala sobre uma ação em seu corpo, provocar uma reação em sua
interlocutora. Da mesma forma, as crianças que falam sobre a poça
de cocô. A primeira criança que menciona a possibilidade faz uso
deste recurso para mostrar como a poça pode ser convidativa à
brincadeira. Enquanto a criança que não quer brincar ali, ao
perceber o que a fala sobre fezes provoca na outra, parece sentir
prazer em repetir as falas, como se quisesse provocar alguma
reação.
O corpo interno e o corpo exterior do menino que fala sobre o que
faria com o parafuso são dois corpos. Ao olhar um objeto, ele
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enxerga um objeto apenas e não dois, apesar de ter dois olhos. Ele
sabe que tem dois olhos, mas não é possível ter tal percepção,
apenas ao se olhar no espelho ou pela percepção de outrem. O
corpo exterior, o corpo do outro, como o outro o vê, como o outro
lhe mostra esse corpo. Esse corpo exterior está fora dele, não é mais
ele. Ao mesmo tempo, é com o corpo interno e o exterior juntos que
ele se entende na totalidade. Não é possível isso acontecer se ele
considerar apenas o que sente, o que entende por ele mesmo.
“ninguém pode produzir e consumar esse sentido de totalidade
sozinho”. (TIHANOV, Galin, 2012, p.168)
Para Bakhtin, para a formação enquanto sujeito, a participação do
outro é indispensável. O corpo “sozinho” apenas é inacabado.
A corporificação em Bakhtin é utilizada como meio relativamente
simples e eficiente de demonstrar sua concepção de mundo acerca
da inacabamento, uma das bases de sua teoria.
[...]
A incompletude em que se fundamenta não é apenas teorizada,
mas percebida, registrada pelo olhar, sentida em sua
complexidade. Assim é, tanto na arte quanto na vida. De modo
similar, o filósofo apresenta mais um exemplo de corporificação do
ideal de inacabamento: a imagem grotesca rabelaisiana.
(TEIXEIRA, Marilia Dalva, 2019, p.49)
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Referências
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Notas
Alan Silus
UNIGRAN | UFMS - CPTL
alan.silus@ufms.br
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Fonte: https://bit.ly/38MZqzk
O imaginário do cadáver em decomposição é uma voz que se ouve
na obra Micróbio da Fuzarca. Nela há referência ao animal, que
corrói e devora a pele, deixando-se ver a carne viva. Entretanto, o
micróbio, aqui, é um animal da Fuzarca, da folia, da festa, do agito,
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REFERÊNCIAS
ARIÈS, Philippe. O Homem Diante da Morte. Volume I. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1989.
BAKHTIN, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais. Trad. Yara F. Vieira.
7. Ed. São Paulo: HUCITEC, 2013.
BAKHTIN, Mikhail. O Problema do Texto na Linguística, na
Filologia e em outras Ciências Humanas. In: ______. Estética da
Criação Verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003
COUTO, Alda Maria Quadros. Lídia Baís: uma pintora nos
territórios do assombro. São Paulo: Annablume, 2013.
ROSA, Maria da Glória Sá. Desbravadores. In ______; DUNCAN, I;
PENTEADO, Y. Artes Plásticas em Mato Grosso do Sul. Campo
Grande: Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, 2005.
NOTAS
[1] Uma das características da artista é não marcar o ano da
produção de suas obras. Isso decorre do fato de ela temer o
envelhecimento e não querer denunciar a própria idade.
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Estômago ao vômito
Atropelo ao pedestre
Cansaço ao vulto na cama
Conteúdo ao oco calado[1]
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Os corpos resistem.
A arte resiste.
A Arte sempre resiste às ditaduras.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo : Hucitec,
2010.
Notas
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Fonte:https://vermelho.org.br/2021/08/05/voto-impresso-e-um-
golpismo-escancarado-por-orlando-silva/
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Fonte: https://pcdob.org.br/noticias/para-deputados-reacao-do-
tse-marca-acao-concreta-pela-democracia/
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Fonte: https://novobloglimpinhoecheiroso.files.wordpress.com/20
18/09/urna_eletronica12_latuff.jpg
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Referências:
BRAIT, Beth. Cañizal Peñuela. Realismo grotesco. In
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ECO, Umberto. O fascismo eterno. 1°. ed. Rio de Janeiro: Record,
2018.
JUSBRASIL. Disponível em:
<https://www.google.com/amp/s/ednacristinadasilvasouza.jusbra
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SIGNIFICADOS. O que são fake news? Disponível em:
< https://www.significados.com.br/fake-news/>. Acesso em: 01 de Set.
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TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Disponível:
<https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2021/Junho/voto-
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impresso-significa-voto-fraudavel-afirma-ministro-barroso-em-
coletiva>. Acesso em: 01 de Set. 2021.
VOLOCHINÓV, Valentin. A palavra na vida e a palavra na poesia.
1°. ed. Rio de Janeiro: 2019.p. 34.
JUSBRASIL. Disponível em:
<https://www.google.com/amp/s/ednacristinadasilvasouza.jusbra
sil.com.br/artigos/112145595/avaliacao-e-a-pedagogia-de-paulo-
freire/amp>.Acesso: 31 de Ago. 2021.
Notas:
Fake News: significa ”notícias falsas”. São as informações
[1]
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Valdemir Miotello
UFSCar
miotello@terra.com.br
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Referências
BAALBAKI, Angela; DEUSDARÁ, Bruno. A citação em notícia de
jornal: tensões entre o sintático e o discursivo. Revista Diadorim /
Revista de Estudos Linguísticos e Literários do Programa de Pós-
Graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio
de Janeiro. Volume 10, Dezembro 2011.Disponível em:
http://www.revistadiadorim.letras.ufrj.br. Acesso em:02/09/2021.
CARMAGO, Edir Pires de. R evista Ciênc. Educ., Bauru, v. 23,
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Disponível em: instagram@rofrigo_farmadic. Acesso em:
04/09/2021.
LUNARDI, Márcia Lis. Inclusão/exclusão: duas faces da mesma
moeda. Revista Cadernos. edição, nº 18, 2001.
PINTO, Céli. R.J. Foucault e as Constituições brasileiras: quando a lepra
e a peste encontram os nossos excluídos. In: Educação e Realidade,
Porto alegre, v.24, n.2, jul./dez., 1999. p. 33 – 55.
SODRÉ, P.; PAIVA, R. O império do Grotesco. Rio de Janeiro: Mauad,
2002.
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O Remédio e o Veneno
Um dia, Exu-Elegbara, no Mercado, do centro universal da vida
comunitária de todos os povos, viu-se na contingência de escolher,
entre duas cabaças, qual delas levaria. Uma continha o Bem, um
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Assim, como disse Simas na epígrafe que abre este texto, Exu vive
na brecha, no entremeio. E é por ele estar nesse lugar que o modo
grotesco se evidencia.
Talvez a maior semelhança entre o grotesco é a relação com a boca.
Em outro epíteto, Exu é conhecido como “a boca que tudo come”.
Em um itan[1] que retrata seu nascimento mostra que ele, ao chegar
ao mundo, devorou tudo o que viu a sua frente, inclusive a sua
própria mãe. Nesse sentido, Bakhtin (2012, p. 277) ressalta que “[...]
para o grotesco, a boca é a parte mais marcante do rosto. A boca
domina. O rosto grotesco se resume afinal em uma boca escancarada,
e todo o resto só serve para emoldurar essa boca, esse abismo corporal
escancarado e devorador”. Assim, o grotesco está no entrelugar das
palavras não ditas ou quase ditas.
Exu, então, é o contrário daquilo que é dito como novo cânon. Para
Bakhtin (2012, p. 281, grifo do autor), o novo cânon:
[...] é um único corpo; não conserva nenhuma marca de dualidade;
basta-se a si mesmo, fala apenas em seu nome; o que lhe acontece
só diz respeito a ele mesmo, corpo individual e fechado Por
consequência, todos os acontecimentos que o afetam, têm
uma única direção: a morte não é mais do que a morte, ela não
coincide jamais com o nascimento; a velhice é destacada da
adolescência; os golpes não fazem mais que atingir o corpo, sem
jamais ajudá-lo a parir.
Exu é dual, joga dos dois lados sem constrangimento. Ele não se
basta, assim como nenhum orixá. Por mais poderoso que seja seu
axé[2], ele sempre trabalhará com os outros orixás. Desafia as leis
do tempo, com seu porrete, resolvendo problemas do passado e do
futuro de quem o cultua:
[...] Refere-se ao fato de Exu possuir duas faces, podendo enxergar
na frente e atrás: qualquer que seja a sua posição ele tem domínio
de tudo. Os porretes mencionados são recursos de defesa, atuando
como se fossem braços. Defender-se de inimigos que atacam pelas
costas tem duplo sentido: a defesa contra o que não se vê porque
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Referências
BAKHTIN, Mikhail. A imagem grotesca do corpo em Rabelais e
suas fontes. In: BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade
Média: o contexto de François Rabelais. 7. ed. Tradução de Yara
Frateschi Vieira. São Paulo: HUCITEC, 2012. (Linguagem e
Cultura, n. 12).
LOPES, Nei. Ifá Lucumi: o resgate da tradição. Rio de Janeiro:
Pallas, 2020.
SALÁMI, Síkírù (King); RIBEIRO, Ronilda Iyakemi. Exu e a ordem
do universo. São Paulo: Oduduwa, 2015.
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Notas:
[1] “O Itan é o conjunto de mitos e lendas do panteão africano”
(SOUZA; SOUZA, 2018, p. 99).
[2] Força que dá movimento.
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começo, meio e fim. E que por isso não pode confluir, mas se
desenvolver, o que implica na constituição de um pensamento
sintético, não orgânico (noguera_oficial, 23/06/2020).
Este pensamento sintético funda um binarismo entre corpo e alma.
O corpo tornou-se o lugar do profano, do que não é virtuoso, do
prazer, enquanto as promessas de uma vida para além desta vida
são destinadas a uma alma, de forma metafísica. Geni Nuñez
(@genipapos) nos mostra a relação entre “hipersexualização do
corpo e a hiper mentalização do pensamento, como invenções
coloniais”. Ela nos diz:
Como nos ensina Fanon, o mundo colonial é compartimentado. Na
divisão mente e corpo, pessoas brancas são associadas à mente, a
pensamento e intelectualidade e pessoas não brancas a corpo, sexo,
falta de pensamento. Se o que distinguiria o bicho humano dos
demais seria a capacidade de pensar (sic), então pessoas
supostamente menos capazes de pensar estariam mais próximas do
“animal”, do selvagem e mais distantes do
civilizado/pensador/possuidor de uma mente. Tanto por isso que a
maioria das ofensas racistas são animalizadoras, quanto mais
bichos fôssemos tanto menos inteligentes e menos humanos
seríamos. Nesse sentido, a hipersexualização só existe pelo seu
complemento de hipermentalização branca e cishetero. Como a
colonialidade não admite concomitâncias, é muito difícil que se
compreenda que numa mesma pessoa haja a convivência da
sexualidade e do pensamento. Em vez de combater, criticar e/ou
constranger pessoas que usam pouca roupa e/ou fazem fotos
sensuais, que tal combater a hipermentalização branca cis hetero?
É só pela existência dessa positivação da mente que a negação do
corpo se efetiva. Pensamos com o corpo todo. Com os rios de
sangue que conduzem nossos sentimentos, com a bunda, com os
ombros e cabelos. Com o vento que nos possibilita a respiração,
com a água que fertiliza nossas colheitas. Quem me chama de bicho
me elogia. (@genipapos, 10/07/2021).
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Nascemos em manjedouras
E depois de crucificadas
Ressuscitamos
Deize são as yabás falando ao pé do meu ouvido
Juntas em unção
Fizemos da cruz a encruzilhada
Nos levantamos do vale de ossos secos
Transformamos pranto em festa
Nossos cus em catedrais
Conhecemos os mistérios por com eles andar (eu não vou
morrer)[1]
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fecha suas palavras, fecha sua fé até virar pena, que se mate o
senhor e se abra as portas do mundo. Muitas vezes para que se viva
é preciso que se mate e se deixe morrer. Cruz como encruzilhada e
luta.
Referências
DELEUZE, Gilles. Ideia e Afeto em Spinoza. Cursos em Vincennes:
aula de 24 de janeiro de 1978. Tradução de Francisco Traverso
Fuchs.
DUSSEL, Enrique. Ética Comunitária. Petrópolis: Vozes, 1979.
NUÑEZ, Geni. Disponível
em: https://www.instagram.com/genipapos/, 10/07/2021.
SANTOS, Antonio Bispo dos. Disponível
em: https://www.instagram.com/noguera_oficial/, 23/06/2020.
PROFANA, Ventura. Disponível
em: https://www.premiopipa.com/ventura-profana/.
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Notas:
[1] Parte da música “Eu não vou morrer” de Ventura Profana.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=QkgCj5Yts-0
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tem gênero, não tem cor, não tem raça, somos a voz repleta de
outras vozes.
É no texto Para uma filosofia do ato responsável, escrito no
início do século XX, que Bakhtin pensa a respeito do ato ético. O
autor russo postula que as ações humanas, entre elas a linguagem,
não podem ser deletadas, excluídas, elas vêm carregadas de
consequências, o que implica o ato responsável com o outro.
E para corroborar sobre esse sujeito que age e se
responsabiliza pelo que faz ou fala, temos o que nos explica Sobral:
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Referências
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Com isso, é possível compreender que ocorre uma busca por novas
estratégias de aprendizagem, relacionando o interpessoal com a
aplicação na prática. Desta forma, a aprendizagem ocorre por meio
das relações e pelo aprimoramento do trabalho, em que se testam
novas práticas contribuindo para uma aprendizagem que faça
sentido para o sujeito.
Apresento abaixo um quadro com os enunciados dos sujeitos, em
que eles relatam a partir de sua vivência na empresa, como
sentiram-se ao passar pelo processo de treinamento da empresa,
antes de iniciarem suas atividades práticas.
Sujeito 04 (...) foi um bom processo de adaptação, além de estar num grupo
de pessoas que estavam iniciando junto comigo, onde podíamos
aprender juntos e nos sentir à vontade (...)
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Sujeito 06 Muito bacana e importante este formato, pois nos deixou muito
mais tranquilos e capacitados para iniciarmos em nossas funções
(...)
Sujeito 07 (...) achei muito bacana, o treinamento foi muito bom, no começo
eu estava meio perdido, mas com o passar dos dias entendia cada
vez mais (...)
Sujeito 01: É um processo que é muito bom mas tem muita coisa
para melhorar, são duas semanas com muitas informações, então
estamos vendo algumas ideias para trazer algo mais prático
talvez. Então nos próximos meses para as próximas turmas
teremos mudanças aí. Mas justamente porque a gente se preocupa
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3 Paulo Freire. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p.23.
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REFERÊNCIAS
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linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na
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6 ed. São Paulo: Hucitec, 2010b.
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1979.
HEEMANN, Christiane. A Teoria da Atividade e a Aprendizagem
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REFERÊNCIAS
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2. ed. São Paulo: FTD, 2015.
BAKHTIN, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média e no
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REFERÊNCIAS
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br/wiki/Campanha_para_desacreditar_Alvo_Dumbledore_e_Harry_Potte
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Karina Giacomelli
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS (UFPEL)
karina.giacomelli@gmail.com
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Segundo Bakhtin,
No realismo grotesco (isto é, no sistema de imagens da cultura
cômica popular), o princípio material e corporal aparece sob a forma
universal, festiva e utópica. O cósmico, o social e o corporal estão
ligados indissoluvelmente numa totalidade viva e indivisível. É um
conjunto alegre e benfazejo. No realismo grotesco, o elemento
material e corporal é um princípio profundamente positivo, que nem
aparece sob uma forma egoísta, nem separando dos demais aspectos
da vida. O princípio material e corporal é percebido como universal
e popular, e como tal opõe-se a toda separação das raízes materiais
e corporais do mundo, a todo isolamento e confinamento em si
mesmo, a todo caráter ideal abstrato, a toda pretensão de
significação destacada e independente da terra e do corpo. [...] No
realismo grotesco, a degradação do sublime não tem um caráter
formal ou relativo (BAKHTIN, 1987, p. 17-18).
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por dar delas uma análise científica. Não fala a linguagem das
concepções, mas a das imagens cómicas populares. Contudo, ao
destruir a falsa seriedade, o falso impulso histórico, Rabelais
prepara o terreno para uma nova seriedade e um novo impulso
histórico. (BAKHTIN, 1987, p. 386-87).
As vozes centrípetas a que nos referimos, ao mostrar o ridículo de atos
oficiais desmedidos, desnecessários e mal planejados, revelam que a
dessacralização pode ocorrer tanto exaltando o grotesco como resposta ao
sagrado, oficial (a proposta de Rabelais e do povo), quanto respondendo
ao sagrado, oficial, com a revelação de que há um grotesco negativo que
reside no ridículo de atos oficiais exagerados, desnecessários, sem sentido.
Propomos aqui uma reflexão acerca do que denominamos grotesco
negativo. Por que “grotesco negativo”? Porque, a nosso ver, o ato de
ridicularizar algo oficial, mostrando ser esse ato algo grotesco, não aponta
para o grotesco libertador de que fala Bakhtin, mas propõe, em vez disso,
a libertação mediante a denúncia do ridículo, do grotesco, do
despropositado, em atos oficiais. Aqui não há exaltação ao grotesco como
resposta à seriedade, mas a exposição do que há de negativamente
grotesco na própria seriedade. Por isso, pensamos que o realismo grotesco
de outras épocas se manifesta hoje como o grotesco negativo, aquele que
mostra que um ato oficial é grotesco no sentido de “Ridículo, que se presta
a escárnio.”, “Qualidade daquilo que é risível.” (DICIONÁRIO
PRIBERAM, 2021, s/p).
Vejamos as reações nos comentários do site de rede social Twitter,
recolhidos no dia do desfile, que podem ser divididas, principalmente, em
três grandes grupos: (1) lata velha; (2) Fumacê/Esquadrilha da Fumaça; e
(3) Corrida maluca. Além disso, outros comentários apontam para o
ridículo que foi o desfile: “Joãozinho trinta faria melhor”; “Além de um
cabo e de um soldado, vão precisar também de um mecânico.”; “Pamonha!
Pamonha quentinha”; “B. está em um relacionamento abusivo com as
forças armadas”; “entrega de correspondência mais cara da história”.
Em relação aos grupos que correspondem à maioria dos comentários, no
primeiro a referência foi a um quadro de um programa de televisão em que
um carro velho é reformado. Enunciados como “Ajuda, Luciano”;
“Loucura! Loucura! Loucura!” dão o tom do escárnio em relação à
imagem de blindados soltando fumaça no desfile. Isso também
desencadeou a outra série de comentários jocosos, cuja relação foi feita
com uma estratégia de controle das populações de mosquitos da dengue
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Introdução
As relações humanas que compõem o passado são repletas de
subjetividades, de expectativas e incertezas. Determinar os
acontecimentos históricos, partindo da lógica de que tudo leva a
um progresso, é não perceber a historicidade do homem e sua
capacidade de transformação.
O passado, segundo, Benjamin (1987, p. 224), não é algo dado,
conhecido em sua inteireza, mas “como imagem que relampeja”, a
partir do momento que é “reconhecido”. É um composto de
“agoras”, porque é feito de história humana, de experiências, de
grandes e pequenos acontecimentos. Mostra-se através de
fragmentos, sendo recuperado de forma vaga e incompleta através
do trabalho do historiador que, sem pretender retratá-lo “como ele
de fato foi”, constrói uma narrativa redentora. Ou seja, sob a luz
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realidades que são adaptadas em cada época, por quem as lê. Nesse
sentido, História e Literatura se entrecruzam na relação com o
tempo e com as memórias das sociedades. Mas, se ambas recriam
o passado, onde estaria o limite entre um texto histórico e uma
produção literária?
Em primeiro lugar, pode se dizer que a História é uma produção
textual que leva em conta a cronologia das ações humanas. É uma
interpretação do ocorrido que pretende legitimar-se no seu
contexto social, tendo em vista a produção de sentido após a
leitura. Pode ser entendida também como uma forma de ver e dizer
uma realidade ausente limitada pelo objeto de estudo (CARDOSO,
1981). Possui métodos e técnicas específicas que questionam os
vestígios deixados por outras gerações e que, a partir da intenção
do autor, produzem significados numa relação entre o começo,
meio e fim da narrativa. Veyne (1971) defende que a História não é
uma ciência, mas sim uma narrativa de acontecimentos
verdadeiros que tem o homem como autor. É uma forma de ver o
passado e não reconstituí-lo na sua integridade.
Com relação à Literatura, percebemos que ela se encarrega do
estudo do movimento das sociedades, seus comportamentos, seus
hábitos, suas atitudes, suas práticas cotidianas, suas expectativas e
assim, dispondo de outro olhar para representar aquilo que
observa. Ao tirar da História o pano de fundo para produzir sua
perspectiva, a Literatura também produz uma realidade, mas que
não exige o compromisso com a passeidade (COUTINHO, 1978).
A narrativa literária, mesmo sendo um texto ficcional, também
possui valores e ideologias assim como um texto histórico, pois
carrega em si a subjetividade do autor. Para Culler (1999), o lugar
de produção de um discurso ficcional é sempre um contexto
histórico, mas isso não querer dizer que a literatura seja o reflexo
da sociedade que a produziu. No entanto, as práticas sociais
próximas do autor tangenciam sua escrita.
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Considerações finais
Uma das transdisciplinaridades oriundas desse diálogo entre
História e Literatura, se pensarmos que esses campos do
conhecimento apresentam formas distintas de narrar as ações
humanas em um dado contexto social, as quais podem ser
consideradas representações de um ocorrido ou de um por-vir-a-
ser. Cada uma, embasada em seus procedimentos metodológicos,
traz à cena hábitos e valores de homens e mulheres que
invisibilizados ou não, deixaram sua marca na história da
humanidade. A História, por sua vez, como afirma Pesavento
(2003), produz uma narrativa com pretensão à verdade, pois tem o
compromisso com o acontecido, sendo balizada pelas fontes
disponíveis ao historiador. Tal narrativa é entendida como uma
construção pautada em ausências, lacunas, silêncios, que
preenchidas por uma organização, dão forma a uma escrita. O
passado, quando narrado, não é mimético, mas representado com
base nos vestígios e fragmentos das fontes, na linguagem do
historiador e na sua realidade social, ancorado na plausibilidade
dos nexos para que se faça inteligível aos olhos do leitor.
Diante do exposto, a Literatura pode contribuir para o trabalho do
historiador interessado em explorar as sensibilidades, valores,
hábitos e medos, ou seja, um ethos de outra temporalidade. O
professor de História, atento às pesquisas historiográficas e
buscando trazer para a sala de aula outro olhar diante dos
conteúdos históricos sob o viés da Literatura, poderá contribuir
para que os estudantes despertem em si o sentimento de
sensibilidade diante de outros costumes, o imaginário sobre uma
dada realidade assim como o compartilhamento de uma
identidade com o passado através da escrita literária.
Referências
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Introdução
A presente pesquisa busca trazer a homossexualidade e os valores
sociais atrelados a ela, para isso, é necessário descortinar algumas
questões que dificultam o respeito entre eu e outro. Os discursos
hegemônicos perpassam gerações e gerações, há discursos e vozes
das quais nos constituem e que são de outras pessoas, até mesmo
de instituições, lugares, culturas e não se sabe da onde elas vem,
mas esses discursos e vozes estão presentes na sua/nossa fala, no
seu/nosso pensamento e na construção da sua/nossa subjetividade.
Essas vozes ecoam no inconsciente e no consciente humano, elas
carregam signos e ideologias, ou seja, só existe palavra se houver
vozes. Há discursos hegemônicos que se proliferam através da
linguagem e de vozes outras que muitas vezes apenas reproduzem
discursos vazios do qual não os permite tempo de reflexão e essas
pessoas acabam tecendo a lógica patriarcal da sociedade. Essas
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fonte: blog.gabrielmorgante.com
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Conclusão
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Referências
BAKTHIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. 1 edição. São Paulo: Editora
34, 2016.
MIOTELLO, Valdemir. Ideologia. In: BRAIT, Beth
(Org). Bakhtin: conceitos-chave. Ed. 1. São Paulo: Contexto, 2005.
Disponível em: < >. Acesso em: 03 Set. 2021.
PUZZO, Miriam Bauab; LACERDA, Edmilson Arlindo. Análise da
linguagem verbo-visual de capa de revista: uma proposta de leitura
bakhtiniana. Caminhos em Linguística Aplicada. Disponível em: .
Acesso em 04 Set. 2021.
SANTIS, Erik Luís Sott de; STASIAKI, Fagner Fernandes; ANGELIN,
Rosangela. Novas masculinidades: uma luta dos movimentos feministas e
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Gênero: avanços e desafios. Ed. 1. São Borja: CEEINTER, 2021.
Disponível em: < >. Acesso em: 30 Ago. 2021.
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Luciano Ponzio
Università del Salento - Lecce
luciano.ponzio@unisalento.it
L’esperienza del riso sembra destinata a scomparire quasi del tutto nel
mondo a noi contemporaneo?
Bachtin, soprattutto attraverso la sua lettura rivoluzionaria del Rabelais,
ci ha insegnato l’importanza del corpo sociale e, come “filosofo del
dialogo e dell’alterità”, che la dialogicità si realizza solo in una relazione
intercorporea, come pure l’enunciazione “potenziale patrimonio sociale
della vita umana” (VOLOŠINOV) è realizzabile solo in uno spazio
dialogico.
Quale è la distanza necessaria? Insieme a Bachtin, Barthes ci ha indicato
la distanza necessaria (exotopia in termini bachtiniani)
per ascoltare anche la scrittura del visibile, non solo del leggibile,
avvertendoci che scrivere non è trascrivere. Barthes ci dice che il corpo è
nella scrittura stessa. Se nel parlare – tattica ludica e teatrale –,
l’“esposizione” del pensiero è pericoloso perché immediato, perché non si
lascia riprendere (“lottiamo a cielo aperto con la lingua”, in una serie di
richiami in cui “un corpo cerca un altro corpo”, per agganciare l’altro e in
un discorso che lo “prenda” – funzione fàtica), nella scrizione,
“riscrivendo quello che abbiamo detto, ci proteggiamo, ci sorvegliamo, ci
censuriamo” (BARTHES, 1981 [1974]; tr. it. 1986, pp. 3-7). Se nella
scrizione si perde il corpo in favore del pensiero, in una sorta di
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farsa che pertanto non erano tragici ma comici: “non si ha il pianto durante
i funerali ed il riso dopo la resurrezione, ma una loro mescolanza: alcuni
imitano il pianto, altri, contemporaneamente, saltano e ridono. Il riso
doveva garantire all’essere ucciso una nuova vita tanto necessaria, come
si riteneva, per un nuovo raccolto […]”, la presenza del riso “indica che
questa morte è una morte che ricrea una nuova vita” (PROPP [1963], tr.
it. 1993 [1ª ed. 1978], p. 189). Propp stabilisce dunque la tesi di una stretta
relazione tra certe feste anticlericali e popolari con il rito riproduttivo di
carattere agrario-magico, in cui morte e vita sono indissolubilmente
legate.
Il lavoro di Propp si sposta anche alla festa della betulla (conosciuta anche
come festa di Semik o festa della Trinità) in cui, in analogia al carnevale,
di questa betulla intrecciata se ne faceva qualcosa di simile a un pupazzo
decorato con un abito maschile o femminile, anch’esso alla fine distrutto,
rappresentando anche qui dei funerali comici. Ma la settimana che
precedeva tale festa si chiamava anche la settimana delle rusalki, anime di
persone morte “di morte innaturale o violenta” (PROPP [1963], tr. it.
1993 [1ª ed. 1978], p. 151), considerate innanzitutto esseri acquatici, che
abitano non nel mare ma nei fiumi, nei laghi, negli stagni, ossia bacini
idrici necessari all’agricoltura. Uscite dalle acque abitano la terra, anche
qui personificate in riti che le raffigurano.
Il riso s’innesta tela regolare della vita che conosce due centri di
valori, io e l’altro, secondo Bachtin, differenti per principio ma correlati
tra loro, e intorno ad essi si distribuiscono e si dispongono tutti i momenti
concreti dell’esistere umano (BACHTIN 1920-24; tr. it. in BACHTIN E
IL SUO CIRCOLO, 2014, p. 163; Cfr. L. PONZIO, a cura, 2020). Il riso
è intessuto nel mondo umano, e s’inserisce in una serie di rinvii, il suo
significato si rende proprio nell’intreccio di queste relazioni col vivente.
L’essere umano è il riso. Il riso, più di ogni segno, è il risultato di un
incontro che eccede la dimensione economica di scambio eguale
tra significato e significante. Riprendendo Bataille (BATAILLE 1989, p.
135), “il riso è il salto dal possibile all’impossibile”, e per saltare ci vuole
leggerezza, incontro intersoggettivo tra oggetto del riso e soggetto che
ride, un incontro che da semplice sguardo diviene visione del mondo
(BATAILLE “Il riso di Nietsche” in Id. [1973] tr. it. 1999, pp. 43-60) .
Referências
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Imagens do Grotesco
1. O Corpo Cósmico
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2. A Praça Pública
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3. Apesar de Você
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1. O Corpo Cósmico
Foto 1. Leandro Faber Lopes, Coronel Pacheco (MG), Brasil – 2017
Foto 2. Leandro Faber Lopes, Bursa, Turquia – 2016
Foto 3. Mark ANDRIES / US MARINE CORPS / AFP, Cabul,
Afeganistão – 2021
Foto 4. Leandro Faber Lopes, Juiz de Fora (MG), Brasil – 2016
Foto 5. Leandro Faber Lopes, Juiz de Fora (MG), Brasil – 2016
Foto 6. Leandro Faber Lopes, Juiz de Fora (MG), Brasil – 2016
Foto 7. Leandro Faber Lopes, Istambul, Turquia – 2016
*
2. A Praça Pública
Foto 1. Leandro Faber Lopes, Juiz de Fora (MG), Brasil – 2016
Foto 2. Leandro Faber Lopes, Juiz de Fora (MG), Brasil – 2016
Foto 3. Leandro Faber Lopes, Juiz de Fora (MG), Brasil – 2016
Foto 4. Leandro Faber Lopes, Juiz de Fora (MG), Brasil – 2016
Foto 5. Leandro Faber Lopes, Juiz de Fora (MG), Brasil – 2017
Foto 6. Leandro Faber Lopes, Tiradentes (MG, Brasil – 2016
Foto 7. Leandro Faber Lopes, Juiz de Fora (MG), Brasil – 2016
*
3. Apesar de Você
Foto e concepção artística: Leandro Faber Lopes
*
Referências
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Referências
BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais. Tradução de Yara
Frateschi Vieira. 5. ed. São Paulo: Hucitec, 2002.
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IWASA’I
Sabor, vamos começar por ele, gostosura que ia bem com fritura,
não foi pelo olhar e nem pelo tato, foi pelo paladar, pelo leve
encantar de ser um vício do bem. No tempo de meninice medido
na vasilha, na sacola veio bem depois, mas a bandeira vermelha
sempre esteve lá anunciando o cheiro cheiroso de quem vem dos
interiores, das águas, dos lados de lá e de cá.
Do quintal ele tem gosto salgado, por que na batedeira levemente
adocicado? No caroço, misturado com farinha sempre ia bem,
açúcar não jogue aqui não, isso não é de Deus e nem de ninguém.
É misterioso, é enigmático...Conta a lenda que havia uma tribo
indígena em que o número de habitantes era bem elevado e os
alimentos estavam cada vez mais escassos.
Então o cacique da tribo foi pragmático, tomou a decisão de
controlar o número de habitantes e todos que nascessem a partir
daquele momento seriam sacrificados.
Um dia, a filha do cacique, chamada Iaçã teve uma criança com o
destino traçado. A mãe sofreu muito, passou vários dias e noites
chorando por sua filha com o fim desgraçado. Assim, elevou os
seus pensamentos à divindade indígena, e pediu que o cacique
encontrasse outra maneira de resolver a questão dos alimentos,
sem o fim trágico.
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Foi então que Iaçã ouviu fora de sua oca um choro de criança. Ao
sair, para sua surpresa, avistou sua filha ao lado de uma palmeira,
seu coração se encheu de esperança.
Iaçã correu em sua direção e abraçou a menina que,
misteriosamente, nos braços da mãe desapareceu. Mais uma vez
inconsolável, Iaçã chorou tanto durante a noite até perder as forças
e desfalecer.
O corpo da filha do cacique foi encontrado na manhã seguinte, na
palmeira abraçada. Ela estava serena e parecia sorrir levemente.
Seus olhos estavam abertos e direcionados ao topo da árvore
abençoada.
Iwasa’í, palavra tupi que significa “fruta que chora”, a fruta que
repele água.
Para as populações tradicionais do Marajó é comida, é vida, tem
gente que passa o dia sem nada comer se o pretinho não aparecer.
É produção. Tem gente que espera a safra para conseguir
excedentes para comprar além da comida, o som sonhado, a
geladeira e outros utensílios necessários.
É fundo comunitário em que todos podem se beneficiar, se a
comunidade cooperada se organizar.
Essa compreensão para além dos sentindo do olfato e paladar só é
possível observar a partir das leituras, das conversas, das
sensibilidades no compartilhar, no sorrir, no chorar......
Som de rabeta rompe o silencio dos pensamentos, nas margens do
rio de águas escuras o homem estava, não tinha farinha, foi farinhar
com seu filho, uma lata apenas para acompanhar a bebida amada.
Antes da farinhada voltemos a rabeta com o homem oferecendo um
preço baixo pela rasa, o idoso responde como em um berro “por
esse preço deixa o passarinho comer...” Zoada de rabeta sai
correndo sem nada dizer no tapete das águas.
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Ele pode ser tudo isso, atravessando as fases da vida, com cheiro e
gosto de temporalidades vividas, saciando a forme, sinônimo de
bem-viver e de libertação.
Como garantir liberdade se o estado força a seguir regras e
controles em torno das comunidades da floresta, com normativas
sem inclusão digital, note as sutilezas das arestas.
Produto comunista!!! Que alimenta as pessoas por séculos, ora,
ora... deixe isso para a lenda. Ele agora é internacional, diz a política
neoliberal. Lucros para o mercado capitalista aproveitando-se da
desigualdade educacional e exclusão digital.
Barganhando as florestas em que vivemos em nome das condições
climáticas que obtivemos. Colonialidade atual, relação alienante de
submissão, sem soberania e sem comunicação.
A Amazônia é uma mãe que chora pela sua filha que foi sacrificada,
e que não precisa morrer para mirarmos para a palmeira e para a
diversidade da floresta supracitada. Regularização fundiária como
direito à terra, à reprodução socioeconômica, justiça social e
ambiental é o grito que precisa ecoar, quando o amazônida
despertar.
Bandeira vermelha, na sacola entregou, batedeira, feira, barco ou
rabeta chegou, é ribeirinho ou atravessador. Abelha e palmeira,
peconha no pé, desceu, amassou ou bateu, alimentou, vendeu,
defendeu.
Cooperativa? Merenda escolar? Importar? Sei lá? Quem informa?
Quem organiza? A terra de quem é? Salve o clima!!! Salve a
Amazônia!!! Os salvadores a serviço de quem???
Precisamos do velho aviamento? E toda luta de Chico Mendes e
todos os outros que vieram antes de nós, quem precisa de algoz?
IWasa’í nos alimenta, nos liberta. Linguagem tupi, ancestralidade,
cosmovisão, de mim e de ti AÇAÍ.
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Considerações iniciais
Como desdobramento de uma pesquisa realizada por professores
e alunos de Língua Portuguesa do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, acerca das Letras de
São Paulo do Potengi, município do referido estado, este trabalho
versa sobre a palavra na vida e na literatura, compreendendo-a, de
acordo com o Círculo de Bakhtin, na sua constituição ética/estética.
A partir de uma breve análise do discurso da obra “As aventuras
de um Peão do Trecho: uma saga que precisava ser contada”, de
Moacir Farias, que integra um inventário literário local construído
pela pesquisa junto à comunidade, este ensaio se propõe a refletir
sobre horizontes do grotesco nas Letras Potengienses.
A investigação sobre essas Letras em particular foi uma iniciativa
presidida pelo princípio da (cons)ciência responsiva,
comprometida com a ousadia investigativa, como postula Bakhtin
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Considerações finais
Diante do que foi exposto, “As aventuras de um Peão do Trecho:
uma saga que precisava ser contada”, obra potengiense em foco,
alude ao grotesco em perspectiva bakhtiniana, conferindo
protagonismo a uma voz silenciada em determinados domínios
discursivos. Assim, ela se inscreve em outros horizontes dialógicos,
com ecos não só da praça pública e das ruas, mas também da
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Referências
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romance). 6. ed. São Paulo: Hucitec, 2010.
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os estudos da linguagem. Revista Entrelinhas, São Leopoldo, v. 9, n.
1, p. 91-107, jan./jun. 2015.
BORBA, R.; LOPES, A. C. Escrituras de gênero e políticas de
différance: imundície verbal e letramentos de intervenção no
cotidiano escolar. Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 21, n. esp., p. 41-
285, 2018.
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Considerações
Se compreendermos a língua como um fenômeno cultural,
histórico e social, conceber o texto do aluno apenas como um objeto
estruturado fonológico, sintático e lexicalmente é negar a função
social da língua; é negar a discursividade do dizer de um sujeito; é,
simplesmente, apagar as marcas de autoria representadas pelos
posicionamentos, pela reestruturação das vozes alheias presentes
nos enunciados dos produtores de textos.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. Introdução e
tradução do russo Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2003. (Coleção Biblioteca Universal).
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In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Tradução Paulo
Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 3-192. (Original
russo, 1920-1930).
CUNHA, Liédja Lira da Silva. Autoria e escrita: uma reflexão
acerca do autorar em memórias de leituras de alunos de 9º ano do
ensino fundamental. 2011. Dissertação (Mestrado em Estudos da
Linguagem) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Centro de Ciência Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-
Graduação em Estudos da Linguagem, Natal, 2011.
VOLOSHINOV. V./BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da
Linguagem. 11. ed. São Paulo: Hucitec, 2004.
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REFERÊNCIAS
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Mikhail. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 5. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2010.
BENCHIMOL, Ana P. F; CHAGAS, Nédilã, E. C. Um novo desafio
para os professores de Ensino Fundamental: como trabalhar
gêneros textuais diante da realidade do Ensino Remoto? In: PIRES,
Vera Lúcia; KNOLL, Graziela F. (Org.) Linguagens e(m) práticas
discursivas: leituras plurais em tempos de pandemia. São Carlos:
Pedro & João Editores, 2020. P. 33-48.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017.
Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNC
C_20dez_site.pdf. Acesso em: 10 de agosto de 2020.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 20ª ed. São Paulo:
Cortez, 1989.
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Olho para o meu olhar que olha o mundo. Meu olhar capta os
detalhes esquecidos do mundo. (PAZ, 1982, p. 15)
Consciências em diálogo
Nossos tempos estão carregados de belezas únicas, de uma estética
vista por poucas pessoas, um horizonte admirado, talvez, pelos
mais sensíveis e poéticos. Neste texto, usamos a poesia, a prosa
poética como nosso eixo para um desenvolvimento. Por isso,
peçamos a gentileza da concessão de usarmos o “nós” na primeira
pessoa do plural. Tiremos o “eu” do centro. Isso é sensato. Como
bem diz Guimarães Rosa, em Grande Sertão Veredas (1980, p. 54),
“Coisas que vi, vi, vi - oi... “. São duas faces, ver versus viver. O
personagem viu e, também viveu, o grotesco de seu tempo, seus
cárceres, suas privações, emoções e sentimentos no sertão. E quem
não viu e viveu? Este mundo é o Grande Sertão. São muitos eus
juntos.
Ora, “no real da vida, as coisas acabam com menos formato, nem
acabam” (ROSA, 1980, p.67). No viver de nossas periferias
reflexivas, somos muitos outros que dialogamos, questionamos,
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Referências
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Janeiro: Record, 2001.
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Figura 1 – Disponível
em https://www.instagram.com/p/CS7qFv0F_JP
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FIGURA 2 – Disponível
em https://www.instagram.com/p/CS1AaNpisOC/
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FIGURA 3 – Disponível em
https://www.instagram.com/p/CL3gxExFY_d/
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Para finalizar, não para concluir, pois há muitas ideias aqui e não
conseguimos aprofundar, apenas cutucar a ferida. Convidamos a
olhar por meio dessa brecha e pensar nesse corpo oculto, escondido
dos olhos da sociedade, que tem orifícios, por onde saem os
excrementos. Um corpo vivo que come, transa e se decompõe. Que
sua e tem odores. Que tem desejos diversos não padronizados.
Como temos educado nossas crianças sobre o domínio de seus
corpos? Essas são algumas reflexões outras que não respondem à
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Referências
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir – Nascimento da prisão.
Introdução de Antonio Fernando Caiscais. Portugal: Editora 70,
2013.
FOUCAULT, Michael. Nascimento da bio-política. São Paulo:
Martins Fontes, 2007.
-LOURO, Guaciara Lopes, org. O corpo educado: pedagogias da
sexualidade. Belo Horizonte, MG. Autêntica editora,2019.
-Menhem, Natália, livro: Descontinuidades, 2017, Edição por
Cristiane Lisbôa, capa e projeto gráfico por Letícia Nunes, site:
nataliamenhem.com.br/descontinuidades
SOUSA, Tatiane Bernardo de. ANDRADE, Guilherme Beraldo de.
O peso e o feminino – um corpo discursivizado. In: Michele
aparecida Pereira Lopes; Elizete de Bernardes (Orgs.). Corpos,
sujeitos e discursos: identidades ressignificadas. São Carlos: Pedro
& João Editores, 2020. 237p.
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Dilza Côco
Ifes
dilzacoco@gmail.com
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Referências
FURTADO, J. Live do Museu da Imagem e do Som de São Paulo
Bate Papo de Cinema. Exibido em 26 dez. 2020. Disponível em:
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Referências
PONZIO, A. A questão babel. In: PONZIO, A. Livre Mente:
processos cognitivos e educação para linguagem. Tradução:
Marcus Oliveira e Marisol Mello. São Carlos: Pedro & João
Editores, p. 173 – 196, 2020.
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coxas de Lula. Merval Pereira por sua vez, vai além do mero
“visualizar, curtir ou comentar” e transforma esse cenário em
discurso político.
Merval, a exemplo de Erasmo de Rotterdam (2004, p. 22), se detém
naquela que, “é justamente a fonte sagrada de onde provêm os
deuses e os homens”, as partes baixas. De acordo com o colunista,
“não foi só sua coxa musculosa que chamou a atenção dos fãs.
Estava de sunga, e houve até quem comemorasse, sob ela, o
pressentido bilau do Lula. Essa demonstração de virilidade senil
claramente não foi planejada, mas a certas fãs é um detalhe
fundamental do mito”. A pergunta que ecoou na semana seguinte
em diferentes fontes, foi, de diferentes formas, a mesma: qual o
interesse de Merval Pereira “no pressentido bilau” do ex-
presidente?
Análises psicanalíticas baseadas na teoria freudiana, opiniões
políticas, “memes”, charges, e claro, comparações com o atual
ocupante da cadeira presidencial, esta última inclusive destacada
pelo próprio Merval Pereira em seu texto ao destacar que a foto de
Lula traz uma “demonstração de virilidade senil” que, em sua
opinião, “claramente não foi planejada, mas a certas fãs é um
detalhe fundamental do mito”. Ao se referir a tal aspecto físico das
partes baixas de Lula, Merval segue em sua análise e apresenta a
comparação entre os aspectos anatômicos do ex e do atual
presidente, destacando que o último, por ter pernas finas, era
conhecido em seus tempos de quartel, como “Palmito”.
Delineado o cenário, à luz do grotesco trabalhado por Mikhail
Bakhtin (1993 e 2002), teria Merval Pereira se apropriado do
conceito de grotesco para subverter o jornalismo político
conservador? Pouco provável.
Ainda que Bakhtin (1993, p. 43) tenha afirmado que “a função do
grotesco é liberar o homem das formas de necessidade inumanas
em que se baseiam as ideias dominantes sobre o mundo”, visto que
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Referências:
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François Rabelais. Trad. Yara Frateschi. Brasília: Editora da UnB;
São Paulo: Hucitec, 1993.
_____. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance.
Trad. Aurora Fornoni Bernardini, José Pereira Júnior, Augusto
Góes Júnior, Helena Spryndis Nazário, Homero Freitas de
Andrade. São Paulo: Hucitec; Annablume, 2002.
COSTA FILHO, Francisco Carlos. A estética do grotesco como
meio para potencializar a expressividade no corpo cênico. 2019.
125 f., il. Dissertação (Mestrado em Arte) – Universidade de
Brasília, Brasília, 2019.
GALEANO, Eduardo. As Palavras Andantes. Porto Alegre:
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ROTTERDAM, Erasmo de. Elogio da Loucura. São Paulo: Martins
Fontes, 2004.
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Carlos: Pedro & João Editores, 2010.
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BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação. 48ª. reimpr. da
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ELIADE, Mirceia. O poder do mito. A função dos mitos. In:
AVALON, Manville. (Org). O poder do Mito. São Paulo: Martin
Claret Ltda, 1988. p. 9-31.
MICELI, Paulo. O mito do herói nacional. 3ª. ed. São Paulo:
Contexto, 1991.
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Molas no teto
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https://www.youtube.com/watch?v=_ZZDdGhn8XY
-
A busca por felicidade em nossa sociedade é constante. Uns a
procuram no dinheiro, outros no amor, outros nas amizades, outros
nos estudos. Porém o que buscam além de tudo é uma felicidade
constante. Não se admite oscilações, a tristeza se quer expurgada.
Mas a natureza é mudança. É a mudança de um estado para outro
que existe sem cessar. E a gente é natureza, é da mudança e
oscilação das condições naturais que fomos criados. Somos
mistura. A felicidade é parte de nós, mas as tristezas também.
Fixos nas partes prazerosas, tentamos ir contra a ordem natural das
coisas, nos congelar no tempo, sentir o prazer para além do
momento dele mesmo. Nos agarramos tão forte que ficamos no
passado, esquecendo que podemos reescrever em cima
dele. Jogamos fora tudo que não nos serve no agora. Os processos
se tornam dolorosos. É o fast-food, a rápida comunicação, as
notificações gritantes, os outdoors que tampam a vista.
As cartas estão na mesa, se tornarão castelos, serão incendiadas ou
remetidas para os poderosos só o tempo dirá. Fato é, que este
modelo de vida baseado em filtros de instragram, vídeos de Tik
Tok e grupos de Whatsapp está estabelecido com rigidez e bases
sólidas. Como bagunçar esse mundo? Como se fazer mistura onde
se exige fixidez? Deveríamos olhar para Sarah Sze como quem
busca o segredo de remontar os próprios mundos.
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Referências:
Rodrigues, J. C. (1975). Tabu do Corpo. Rio de Janeiro: Edições
Achiamé.
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução de Enio Paulo
Giachini. Petrópolis: Vozes, 2015.
SZE, Sarah Fondation Cartier pour l ’ art contemporain. Twice
Twilight. Youtube, 15/12/2020. Disponível em: . Acesso em:
10/09/2021.
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Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec,
2010.
BAKHTIN, Mikhail. Questões de Literatura e de Estética. São Paulo:
Hucitec, 2010a.
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Bakhtin. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
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STAFUZZA, G. (Orgs.). Círculo de Bakhtin: Diálogos In Possíveis.
Campinas: Mercado de Letras, 2011, v.2, p. 53-88.
GERALDI, J. W. Ancoragem. Estudos Bakhtinianos. São Carlos: Pedro
& João Editores, 2010.
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BAKHTIN, M. M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento:
o contexto de François Rabelais. Tradução de Yara Frateschi Vieira. São
Paulo: Hucitec, 2010.
MELLO NETO, J. C. Morte e vida severina e outros poemas. Rio de
Janeiro: MEDIAfashion, 2008.
PONZIO, A. A concepção bakhtiniana do ato como dar um passo. In:
BAKHTIN, M. M. Para uma filosofia do Ato responsável. [Tradução aos
cuidados de Valdemir Miotello & Carlos Alberto Faraco]. São Carlos:
Pedro & João Editores, 2010.
“Arte e responsabilidade”.
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BAKHTIN, M. M. O texto na linguística na filologia e em outras ciências
humanas. In: Os gêneros do discurso. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo:
Editora 34, 2016.
KRAMER, S. Alfabetização leitura e escrita: formação de professores em
curso: São Paulo, Editora Ática, 2002.
PAES, J. P. Um por todos (poesia completa). São Paulo. Brasiliense, 1996.
RODRIGUES, R. H. Os gêneros do discurso na perspectiva dialógica da
linguagem: a abordagem de Bakhtin. In: MEURER, J. L.;BONIONI
Adair, MOTTA-Roth Désirée, (Orgs). Gêneros: teorias, métodos, debates.
São Paulo: Parábola Editorial, 2005.p.152-183
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Quem foi que disse que falar de corpo grotesco é falar de porcarias,
bizarrices, pornografia?
Quem foi que disse que falar de riso é falar de humor satírico, destinado
unicamente à diversão?
Nessa breve escritura, pretendo trazer uma contrapalavra a essas vozes
pensando no corpo grotesco como forças de abertura, penetração e
transformação. Quando falo de “forças do corpo grotesco”, refiro-me às
forças libertárias que estão presentes no tempo contemporâneo, mais
precisamente nas manifestações da cultura popular.
Em seu livro A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento – O
Contexto de François Rabelais (2010), Bakhtin fala das forças ideológicas
que Rabelais apresenta, em sua obra literária Gargântua e
Pantagruel (2009), destacando sua ligação estreita com as fontes
populares. Na Idade Antiga, originou-se uma linguagem própria e de
grande riqueza do povo, cuja visão era oposta à ideia de acabamento, de
perfeição, de imutabilidade, de fechamento. Havia dualidade dos corpos,
os quais eram misturados às coisas e ao mundo. Uma linguagem bi
corporal e libertadora. Bakhtin faz uma profunda investigação na literatura
do riso popular rabelaisiano. Um riso ambivalente que “(...) exprime a
verdade sobre o mundo na sua totalidade sobre a história, sobre o homem;
é um ponto de vista particular e universal sobre o mundo, que percebe de
forma diferente, embora não menos importante (talvez mais) do que o
sério”. (BAKHTIN, 2010, p. 57). Um riso que degrada para renovar.
Morte e nascimento no mesmo lugar. Troca biológica com o mundo.
Corpo cósmico sempre se renovando. A morte que não põe fim e sim traz
renovação; rebaixa, destrona, aniquila a valência simbólica das coisas, que
não são vistas como idênticas a si mesmas (estas são julgadas com novos
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Às vezes me chamam de negro
Que eu venho daquela raça / Que lutou pra se libertar / Que eu venho
daquela raça / Que lutou pra se libertar / Que criou o maculelê / Que
acredita no candomblé / Que tem o sorriso no rosto / A ginga no corpo e
o samba no pé / Que tem o sorriso no rosto / A ginga no corpo e o samba
no pé / Que fez surgir de uma dança / Uma luta que pode matar /
Capoeira, arma poderosa / Luta de libertação / Brancos e negros na roda
se abraçam como irmãos. (Mestre Luiz Renato).
As coisas são relevantes e têm sua força (que, muitas vezes, estão
apagadas). É nosso dever ascender essas forças. Nesse estudo, posicionei-
me olhando para a força da ambivalência das palavras como força do
corpo grotesco. Arena de luta com a força das vozes centrípetas que
fecham os sentidos; e vozes centrífugas de abertura e libertação dos
sentidos. “Uma espécie de recreação das palavras e das coisas deixadas
em liberdade, liberadas do aperto do sentido, da lógica, da hierarquia
verbal. Ao gozar de uma total liberdade, as palavras colocam-se em
relações e numa vizinhança completamente inusitadas” (BAKHTIN,
2010, p. 371).
Retomo aqui as forças do corpo grotesco e encerro esta escritura com uma
tentativa de ladainha:
O corpo grotesco
Neste estudo, minha gente / Bakhtin traz Rabelais e a cultura popular / Pra
pensarmos em juntar / O que o novo cânone conseguiu separar / É o corpo
grotesco e o riso popular / É o corpo grotesco e a festa popular / Corpo
aberto, topográfico, misturado às coisas e ao mundo / Natureza e corpo
junto / Alimento e excremento / Injúria e louvor / Alto e o baixo em
igualdade de valor/ É o corpo grotesco e o banquete popular / É o corpo
grotesco e o vocabulário popular / Riso alegre ensinando que morrer é
renascer / Morte que não põe fim e traz renovação sim / Palavra
ambivalente, contrapalavra ao cânone vigente / É rebaixar pra
desmoralizar / É degradar pra renovar / A ladainha vai chegando ao fim
com a renovação de sentidos / poder ver o que não foi visto / aniquilando
o superficial e aquilo que, no oficial, é “bem quisto” / É penetrar pra
assolapar / É perfurar pra afetar / É penetrar pra assolapar/ É perfurar pra
afetar / É o corpo grotesco e a cultura popular / É o corpo grotesco e a
cultura popular.
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Referências
BAKHTIN, Mikhail. A Cultura Popular Na Idade Média E No
Renascimento: o contexto de François Rabelais. 7ª ed. – São Paulo:
Editora Hucitec, 2010.
Portal Educação Uol. Disponível em: . Acesso em: 6 set. 2021.
Canal YouTube Mestre Toni Vargas Oficial. Disponível em:
. Acesso em: 6 set. 2021.
Canal YouTube Mestre Luiz Renato. Disponível em:
. Acesso em: 6 set. 2021.
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BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na idade média e no
renascimento: o contexto de François Rabelais. Tradução de Yara
Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 2020.
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FREIRE. Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17a. ed. Rio de Janeiro, Paz e
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SERODIO, Liana Arrais; PRADO, Guilherme do Val Toledo. Narrativas
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outra na produção de saberes transgredientes em educação. In:
SERODIO, Liana Arrais; SOUZA, Nathan Bastos de. Saberes
transgredientes. São Carlos/SP: Pedro João editores, 2018. (p.152 e 153)
VOLOCHINOV, Valentim. A palavra na vida e a palavra na poesia.
tradução de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo. São Paulo:
editora 34, 2019. (p.117).
VOLÓCHINOV, Valentin. Marxismo e filosofia da linguagem. São
Paulo: Editora 34, 2018.
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Woman so weary
Spread your unbroken wings
Fly free as the swallow sings
Come to the fireworks
See the dark lady smile
She burns…
(BURN IT BLUE, 2002)
O trecho que escolhemos para abrir nossas reflexões aqui neste diminuto
cronotopo acadêmico é de uma canção. Ela aglutina-se a outras músicas
para, unidas, comporem a trilha sonora do Filme “Frida”(2002), dirigido
por Julie Taymor, produzido e lançado pela Miramax films. O trecho
selecionado fala de uma mulher cansada, uma mulher alada. Ele pede que
esta abra suas asas e venha na direção dos fogos de artifício e da senhora
da noite, pois ela a fará incendiar-se. Para nós, esse trecho é bastante
representativo das ideias que pretendemos trazer para este
ensaio/enunciado - se assim podemos chamá-lo. É, justamente, sobre a
obra dessa mulher, que viveu boa parte de seus dias sob o signo de Tânatos
e deu asas às suas opiniões e posições axiológicas, fazendo-as se
perpetuar, que almejamos falar aqui.
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criação, e ele mesmo constrói outro corpo; além disso, esse corpo
absorve o mundo e é absorvido por ele (lembremos a imagem
grotesca do corpo no episódio do nascimento de Gargantua e da
festa da matança). (BAKHTIN, 2010, p. 277)
Nesse sentido, o gatilho que nos faz pensar o corpo de Frida como um
corpo grotesco se confirma e se mostra muito coerente, pois ela o usa o
seu próprio corpo para criar um outro que dará conta das demandas
culturais e políticas de sua época. O seu corpo se transforma e é acabado
constantemente em suas telas pelos vários co-enunciadores com os quais
ela estabelecerá relações dialógicas, através de seu corpo pictórico. Frida
dá acabamento ao seu corpo e, ao mesmo tempo, se abre para os
acabamentos do outro, quando coloca seu corpo em tela. Ela o transforma
em um corpo grotesco, pois ele está o tempo todo em constante estado de
acabamento. Em outras palavras, inacabado sempre e sempre aberto ao
olhar exotópico do outro que a constitui.
Passemos, agora, ao corpo em tela.
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Haveria muito mais a ser dito sobre essa ação visual, vocal e verbal dentro
do quadro de Frida. Deixaremos aqui o convite aos leitores deste
periódico: leiam a nossa tese de doutorado e promovam esse acabamento
bakhtiniano conosco.
REFERÊNCIAS
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No prelo.
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Deus disse
Deus disse: Vou ajeitar a você um dom:
Vou pertencer você para uma árvore.
E pertenceu-me.
Escuto o perfume dos rios.
Sei que a voz das águas tem sotaque azul.
Sei botar cílio nos silêncios.
Para encontrar o azul eu uso pássaros.
Só não desejo cair em sensatez.
Não quero a boa razão das coisas.
Quero o feitiço das palavras.
Manoel de Barros (1999).
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Referências
BARROS, Manoel. Para encontrar o azul eu uso pássaros. Campo
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BAKHTIN, Mikhail. A Cultura Popular Na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais. 7ª ed. – São Paulo:
Editora Hucitec, 2013.
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Abrimos várias redes sociais no decorrer do dia. Tentamos não nos deixar
levar pela sedução de continuar a apertar o próximo link. Pelas imagens
fazemos o primeiro recorte/seleção do que desperta nossa atenção.
Surpreendemo-nos com algumas situações que, para nossa visão de
mundo (em geral bastante estreita), parecem não demostrar uma razão de
ser. Mas se nós nos construímos a partir do outro, também o que julgamos
grotesco é o reverso do que é o grotesco de nós para o outro-eu.
(BAKHTIN, 2010).
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Fonte: https://www.facebook.com/MMPiroca/posts/933734490539626
Na Figura 2, observamos uma publicação da Página Humor Político, no
dia 30 de agosto de 2021 no Facebook. Diante da notícia divulgada nas
redes sociais, que o quarto filho do Bolsonaro, Renan, realizou uma
tatuagem do rosto do pai em seu braço, surge a seguinte postagem:
Figura 2: Postagem da Página Humor Político
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Fonte: https://www.facebook.com/humorpolitico/photos/a.77154648967
3999/1907471579414812/
A postagem se caracteriza pela presença da imagem do Renan
apresentando a tatuagem. No lugar do rosto do pai, vemos as fezes e logo
acima o enunciado: “Papai, tatuei a tua cara”. O grotesco se apresenta
neste rebaixamento da associação do Bolsonaro com as fezes, que ocorre
devido a sua insistente verbalização escatológica. As repetidas vezes em
que falou sobre fezes ou se referiu ao ato de defecar possibilitaram que o
associassem ao próprio excremento humano.
Podemos identificar o conceito bakhtiniano de realismo grotesco na
realidade brasileira. Na presidência, temos um político que se elegeu com
os votos de eleitores conservadores e avessos aos partidos de esquerda e
diariamente apresenta nas diferentes mídias sua fixação pelas fezes e pelo
ato de defecar. Essa é a imagem grotesca que nos governa e exala sua
completa ausência de empatia pela população, que vem sofrendo por conta
da destruição do país em todas as áreas. No entanto, o conceito de grotesco
que Bakhtin nos traz é ambivalente. Na imagem das fezes, identificamos
a sujeira, a podridão, a destruição, mas também podemos alimentar a
esperançam, que desse fim surgirá um novo horizonte, um novo país, que
estará livre de um governo escatológico e genocida.
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Referências
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais. Tradução de Yara
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Roneide V. Majer. São Paulo: Paz e Terra, 2017[1999]. (A era da
informática: economia, sociedade e cultura; v.1)
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O Cardeal e a camisinha
Fabiana Giovani
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
fabiana.giovani@ufsc.br
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Renascimento: o contexto de François Rebelais. São Paulo: Hucitec;
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2008.
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tradução de Natália Nunes e Oscar Mendes. Porto Alegre, RS: L&PM,
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REFERÊNCIAS
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NOTAS
[1] Para Lobato e Bentes (2018, p. 73) o “Mapa Conceitual é um
elemento que possui diversos conceitos que indicam relações entre
cada conceito ou palavra os quais usamos para representar algo no
mapa”.
[2] Chove nos Campos de Cachoeira apresenta três personagens
com deficiências: a irmã de Eutanázio chamada Marialva (cega); o
sineiro da cidade conhecido por: seu Leão (surdo); e um garoto
apelidado de Bode (surdo). Aqui, analiso apenas a personagem
Marialva.
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I
Éramos aproximadamente dez professoras em encontro de planejamento
em uma sala virtual do Meet. E isso nem faz tanto tempo assim: não foi
no tempo em que os bichos falavam, mas no ano 2 da nova era pandêmica
dominada pelo Sars-CoV-2, mais conhecido como Coronavírus. Tempo
estranho! Tamanho avanço tecnológico, que nos permite encontros
virtuais outrora concebidos apenas em filmes de ficção científica,
convivendo com uma pandemia que nos traz de volta métodos de
prevenção de contágio viral dos tempos em que os bichos falavam...
Pensando bem, acho que os bichos continuam falando sim. Aliás,
gritando: principalmente por socorro! Muitos de nós, infelizmente, é que
perdemos a capacidade de conversar e ecoar suas vozes. Diante de tantos
estímulos técnico-audiovisuais, parece que ficamos surdos. Incapazes de
compreender o que rios, rochas, matas, mares, bichos e seres das mais
diversas naturezas, que estão aqui há muito mais tempo, têm a
ensinar. Surdos que nos tornamos a esses irmãos, quebramos o elo com
nossa própria ancestralidade. E quem fala isso é uma voz muito querida
que sabe conversar com essas energias ancestrais: Ailton Krenak! Sua voz
potente, fecundada numa escuta atenta, vem tentando acordar nossos
ouvidos. Não por acaso, na atual era pandêmica, vem se tornando uma
pronúncia de mundo das mais ouvidas em diferentes canais digitais e salas
virtuais.
Espero que consigamos ouvir de verdade. Recuperar o princípio da escuta
de nossa própria ancestralidade numa interlocução amorosa com KrenaK:
conectar o pequeno e mesquinho tempo de nossa existência pandêmica
com o grande tempo do Simpósio Universal de que nos fala Bakhtin. E
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II
Gostaria de continuar essa prosa entre mim, você, Pedro Malasartes e
Bakhtin tendo por horizonte a questão ideológica, bem complexa, por
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III
Um pouco depois do encontro virtual com minhas colegas de trabalho, que
me levou a elaborar uma conversa entre “nossas e nossos” estudantes,
Pedro Malasartes e Bakhtin, sob a perspectiva do riso e da palavra
carnavalizada, sou estética e eticamente impactada pela postagem da
amiga Rita Ribes, em outro ambiente de interação nas redes: Facebook.
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Referências
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto da obra de François Rabelais. Trad.: Yara
Frateschi Vieira. Brasília: Editora da UnB, 1987.
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Fonte: http://portalf11.com.br/bloco/103373/0/noticias
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Fonte: https://conexaoplaneta.com.br/blog/ivy-faria-filha-de-
romario-que-tem-sindrome-de-down-escreve-carta-ao-ministro-da-
educacao-e-rebate-sua-infeliz-declaracao/
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Fonte: https://oglobo.globo.com/brasil/direitos-humanos/ativista-
de-15-anos-lamenta-fala-de-ministro-da-educacao-contra-inclusao-
de-pessoas-com-deficiencia-precisamos-de-acolhimento-empatia-
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limites não podem ser percebidos por si mesmo, para Bakhtin (2003), há
um corpo interno que é percebido pelo sujeito, um elemento de
autoconsciência em que se tem sensações, necessidades, controlado pelo
sujeito e um modo de existência do corpo que permite sua totalidade, a
completude possível apenas na vida destes corpos com o mundo exterior.
O corpo precisa do outro, ele não se basta por si mesmo, o outro que o
reconhece. O corpo exterior também traz consigo o corpo interior,
formando um todo, assumindo o corpo um valor cultural. Na arte, o sujeito
cria para o outro o sentido de totalidade, onde ética e estética podem
permitir-se o encontro na vida.
O corpo coletivo seria uma possibilidade de união transgressiva, pelo riso,
cultura e natureza se harmonizam, e se tornam uma experiência
libertadora, encontro do físico e do espírito se dá pelo riso, como
possibilidade de totalidade. Volochinóv (2017), destaca que o corpo como
consciência, com sua natureza, por si só, não pode ser um signo. Na
interação do espírito e do corpo pelo riso que a totalidade pode se
constituir. O corpo vai além do biológico, do individual, para Bakhtin ele
possui um valor axiológico, por ter uma posição no mundo, única e
singular, interior e exterior como exotopia.
Bakhtin apresenta três categorias para explicar como compreendemos o
outro e a nós mesmos, eu-para-mim, eu-para-o-outro e do outro-para-mim.
Eu-para-mim é percebida por nós de forma fragmentada, internamente e
de forma descontínua, pois, não temos a visão de nós mesmos em nossa
totalidade, só percebemos e vivenciamos de forma interna. Não
percebemos porque nossas reações não são produzidas para nós e sim para
um mundo fora de nós. Na autobiografia e no autorretrato o autor se torna
um observador externo, está fora de si mesmo, de forma transgrediente a
si mesmo busca uma nova consciência e nas redes sociais, as
influenciadoras sociais citadas acima, mesmo ao falar de si mesmas, elas
trazem este mundo que está nelas, mas também externos.
Essa completude que se dá com o outro, o excedente de visão ou exotopia,
na categoria do outro consigo me ver como elemento do mundo exterior
(BAKHTIN, 2003). Singularidade e insubstituibilidade, lugar único e
singular de cada sujeito em sua existência, no outro para mim é possível a
unidade da finitude, as fronteiras do corpo com o mundo se delineiam. “O
corpo não é algo que se baste a si mesmo, necessita do outro, do seu
reconhecimento e de sua atividade formadora” (Bakhtin, 2003, p.48). O
valor axiológico de meu corpo não é possível por mim mesmo, é o outo
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1 Sextremism is the woman’s mockery of vulgar male extremism and its
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HAN, B.C. A salvação do belo. Petrópolis, RJ: Vozes, ed. 2, 2019.
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Referências
BAKHTIN, M. M. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais. 5. ed. São Paulo:
Editora Hucitec, 2002.
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Palavras Iniciais
Ao vislumbrar axiológica e teoricamente a temática “O grotesco
dos nossos tempos: vozes, ambiente e horizontes” do VIII Círculo
– Rodas Bakhtinianas, este pesquisador assumiu o compromisso de
analisar dialogicamente o discurso da KKK, mais especificamente
da WCKKKK. Por curiosidade, alguém poderia perguntar: “Por
que a escolha deste objeto-discurso de investigação científica? Seria
ele importante para o contexto sociocultural brasileiro?” A resposta
é sim. É que, neste país, percebe-se a ascensão de um processo
discursivo de apreensão/reelaboração/reacentuação que pretende
“Fazer o Brasil Grande Outra Vez” seguindo o “estilo de vida
americano”. Não por acaso, este autor encontrou estes comentários
a seguir em um fórum de supremacismo branco criado pelo ex-
líder da KKK:
Eu amo muito a Klan. Infelizmente somos um país sem liberdade de
expressão onde a criação de tais grupos seriam inviáveis (TABBYK,
2019, n.p.).
Está na hora de uma Ku Klux Klan surgir neste país! Temos que
erguer as massas e as pessoas brancas. Temos que unir e esmagar o
inimigo em comum... Os não-brancos! (VARGREICHENBACH,
2019, n.p.).
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Tradução: Paulo Bezerra. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense
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Paulo Bezerra. 1 ed. São Paulo: Editora 34, 2015.
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Disponível em: . Acesso em: 4 set. 2021.
GRANT, Susan-Mary. História concisa dos Estados Unidos da
América. São Paulo: EDIPRO, 2014.
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Introdução
A partir do que conceitua Bakhtin (1987) o exagero, o hiperbolismo,
a profusão, o excesso são segundo opinião geral, os sinais
característicos mais marcantes do estilo grotesco. Diante disso foi
percebido um estilo grotesco na linguagem no momento da
adaptação do ensino remoto nas universidades públicas,
sobretudo, na universidade do estado do Pará - UEPA. Uma vez
que, não houve um acordo solidário por parte de muitos alunos
para com os demais que não obtinham acesso ao mecanismo de
ensino proposto.
Mediante a situação de pandemia sendo vivida por todo o mundo,
no Brasil o que dificultou ainda mais foram as péssimas condições
administrativas tomadas pelos governantes vigentes em questão,
sobretudo o atual presidente do país, Jair Bolsonaro. Que diversas
vezes diminuiu e desdenhou do quão complexo era o momento que
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Desenvolvimento
Com o primeiro caso de covid-19 foi confirmado em 26 de fevereiro
de 2020 no Brasil no estado de São Paulo, no mesmo mês
começaram as primeiras ações governamentais ligadas ao combate
da pandemia. Desde então, medidas como lockdown e também
medidas preventivas de restrições foram tomadas. Entretanto,
naquela época achavam-se que seriam apenas alguns dias ou até
mesmo semanas, que logo tudo iria voltar ao normal. Contudo,
semanas e meses foram passando-se, e muitos mais casos se
confirmando, teve-se o aumento de mortes de muitos cidadãos e o
vírus sofrendo variantes preocupantes para a sociedade.
Ao redor do mundo, de acordo com a pesquisa apontada pela
revista Science (2021) são mais de 2,7 milhões de mortes e mais de
124 milhões de casos até março de 2021, os países com mais casos
são Estados Unidos, Brasil, Índia, Rússia e França. Quando se fala
de mortes o ranking muda: EUA, Brasil, México, Índia e Reino
Unido. Ou seja, o Brasil é um dos países mais atingidos pela
COVID-19. Até 11 de março de 2021, 11.277.717 casos e 272.889
mortes foram relatados. Esses números representam 9,5% e 10,4%
dos casos e mortes em todo o mundo, respectivamente, mas o Brasil
representa apenas 2,7% da população mundial. No final de maio
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Conclusão
É possível percebe-se que o silenciamento pode ter diversas formas,
na qual o Ensino Remoto Emergencial também se tornou uma
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Referências
BRASIL. Coronavírus faz educação a distância esbarrar no desafio
do acesso à internet e da inexperiência dos alunos. FIOCRUZ:
FUNDAÇÃO OSWALDO Cruz, Ministério da Saúde. 2020.
Disponível em: <>
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renascimento: o contexto de François Rabelais. Trad. Yara Frateschi
Vieira. Editora Universidade de Brasília: São Paulo, 1987.
CASTRO. Et al. Padrão espaço-temporal de disseminação da
COVID-19 no Brasil. 2021. Rev. Science, v. 372, n. 6544, p. 821-826.
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Luiz Vilela. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Santa
Catarina, 2015.
ORLANDI, Eni P. As formas do silêncio: no movimento dos
sentidos. 6ª ed. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2007.
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BAKHTIN, M. Cultura popular na idade média e no renascimento:
o contexto de François Rabelais – 7a edição. Tradução de YAra
Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 2010.
BAKHTIN, M. Teoria do romance II: as formas do tempo e do
cronotopo. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34,
2018.
BAUMAN, Z. Modernidade Líquida. Tradução de Plínio Dentzien.
São Paulo: Zahar, 2001.
LIPOVETSKY, G. Os tempos hipermodernos. Tradução de M.
Vilela. São Paulo: Barcarolla, 2004.
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INTRODUÇÃO
Com a popularização dos memes de internet, por volta de 2010, a
investigação sobre o fenômeno da replicabilidade ganha o campo
da Comunicação, destacando-se um notável esforço na proposição
de taxonomias que facilitem as investigações sobre esses
replicadores. Entre as propostas de classificação conhecidas dos
memes de internet, nos interessa neste trabalho a da jornalista e
pesquisadora israelense Limor Shifman (2014) de uma função dos
memes como forma de participação política. Segundo ela, memes
de discussão pública são aqueles que nascem exclusivamente dos
usuários da rede, reforçando o modelo participativo da web 2.0.
Neste modelo, as peças costumam ser amadoras e podem ser
compostas no formato de texto verbal, imagem, gif, vídeo e/ou a
combinação de duas ou mais destas formas. A crítica política e
provocação do riso são elementos indispensáveis nos memes de
discussão pública e o compartilhamento das peças conta com a
interferência de cada usuário em seu conteúdo.
O gênero meme
A discussão sobre os memes como gêneros discursivos também
ganha volume desde o início deste trabalho. Autores como Calixto
(2017) e Porto (2018), por exemplo, apresentam fundamentação e
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Fonte: Twitter
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins
Fontes, 2010. p. 277-327.
CALIXTO, Douglas. Memes na internet: Entrelaçamentos entre
Educomunicação, cibercultura e a ‘zoeira’ de estudantes nas redes
sociais. São Paulo, 2018, 221 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da
Comunicação) – Universidade de São Paulo.
CHAGAS, Viktor. Não tenho nada a ver com isso: cultura política,
humor e intertextualidade nos memes das Eleições 2014. 2016.
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Caroline Janjacomo
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
caroljanjacomo@gmail.com
INTRODUÇÃO
Há cerca de dois anos, o Brasil, bem como todo o globo, vem
enfrentando um dos maiores desafios da atualidade: a pandemia
de Covid-19.
Em situações como essa, onde um tema passa a ser de interesse
amplo e urgente para a sociedade como um todo, um tipo
específico de comunicação é, em geral, empregada pelas
instituições governamentais: a Publicidade de Utilidade Pública -
uma via comunicacional que busca informar, orientar, prevenir e
contribuir, desta forma, para o bem-estar social. A publicidade de
utilidade pública (PUP) é utilizada pelo primeiro setor (Estado)
enquanto uma ferramenta de Comunicação de Interesse Público
(CIP), destacada por Costa (2006) como o âmbito das ações
comunicacionais lançadas para dotar a população de informações
que lhe permitam viver e compreender o mundo, sempre
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com esta análise, notamos que houve uma atribuição do grotesco
sobre o personagem Zé Gotinha, em prol da expressão
materializada de um discurso político. Nas campanhas de
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REFERÊNCIAS
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ideias que movem pessoas e fazem um mundo melhor. São Paulo:
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VIDON, F. Eduardo Bolsonaro publica foto do Zé Gotinha com uma
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VOLÓCHINOV, V.N. Marxismo e filosofia da linguagem:
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F. Vieira. São Paulo: Hucitec, 2014.
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In: Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 6. ed. São Paulo:
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corpo educado: pedagogias da sexualidade. 2a ed. Belo Horizonte,
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VOLÓCHINOV, V. A palavra na vida e a palavra na poesia: ensaios,
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Américo. São Paulo: Editora 34, 2019.
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https://www.diariodocentrodomundo.com.br/as-evangelicas-a-
mamadeira-de-piroca-e-a-eleicao-de-bolsonaro/
A construção do Salvador das famílias cristãs, a adesão à pauta
purificadora fortaleceu-se com construções inverídicas
relacionadas às questões sexuais. A quebra da tradição religiosa
por meio da carnavalização:
Todos os ritos e espetáculos organizados à maneira cômica
apresentavam uma diferença notável, uma diferença de princípio,
poderíamos dizer, em relação às formas do culto e as cerimônias
oficiais sérias da Igreja ou do Estado feudal. Ofereciam uma visão
do mundo, do homem e das relações humana totalmente diferente,
deliberadamente não-oficial, exterior à Igreja e ao Estado, pareciam
ter construído, ao lado do mundo oficial, um segundo mundo e
uma segunda vida aos quais os homens da Idade Média pertenciam
em maior ou menor proporção, e nos quais eles viviam em ocasiões
determinadas (BAKHTIN, 1996, p. 4-5).
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https://www.diariodocentrodomundo.com.br/entretenimento/criti
ca-as-fake-news-mamadeira-de-piroca-vira-febre-entre-folioes/
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https://desciclopedia.org/wiki/Arquivo:Mamadeiraamericana.jpg
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https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/mamadeir
a-de-piroca-de-leite-moca-a-power-point-da-feira-os-memes-do-
cartao-corporativo-do-governo/
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https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/mamadeir
a-de-piroca-de-leite-moca-a-power-point-da-feira-os-memes-do-
cartao-corporativo-do-governo/
É a representação do grotesco no que tange a quebra das
concepções cristãs e conservadoras, como afirma Bakhtin (1996),
com o uso do falo masculino para desestabilizar o cenário político,
ideológico, social e cultural. Carnavalizar o grotesco possibilitou a
disputa ideológica de múltiplas vozes em arenas dialógicas
diversas.
Referências
A mamadeira de piroca ganhou as eleições no Brasil, diz Wagner
Moura. https://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2019/03
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/15/a-mamadeira-de-piroca-ganhou-as-eleicoes-no-brasil-diz-
wagner-moura.htm, acesso em 07/09/2021.
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de Fraçois Rabelais. 3. ed. São Paulo:
Hucitec, 1996.
BAKHTIN, Mikhail, VOLOCHÍNOV, Valentin N. Palavra própria e
palavra outra na sintaxe da enunciação. São Carlos: Pedro & João
Editores, 2011.
Crítica às fake news: mamadeira de piroca vira febre entre foliões.
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/entretenimento/criti
ca-as-fake-news-mamadeira-de-piroca-vira-febre-entre-folioes/,
acesso em 07/09/2021.
“Eles têm um pênis na porta da Fiocruz”, “fazem cocô em crucifixo”, diz
Capitã Cloroquina. https://www.lucianoseixas.com/2021/05/eles-
tem-um-penis-na-porta-da-fiocruz.html, acesso em 07/09/2021.
Mamadeira de
Piroca. https://desciclopediahttps://desciclopedia.org/wiki/Mamad
eira_de_pirocahttps://desciclopedia.org/wiki/Mamadeira_de_piro
ca.org/wiki/Mamadeira_de_piroca, acesso em 07/09/2021.
Mamadeira de piroca.
https://www.reddit.com/r/Arrependinaro/comments/g4tnb7/mam
adeira_de_piroca/, acesso em 07/09/2021.
Mamadeiras eróticas não foram distribuídas em creches pelo PT.
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-
verifica/mamadeiras-eroticas-nao-foram-distribuidas-em-creches-
pelo-pt/, acesso em 07/09/2021.
Mamadeira de piroca de Leite Moça a Power Point da feira: os
memes do cartão corporativo do governo.
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/mamadeir
a-de-piroca-de-leite-moca-a-power-point-da-feira-os-memes-do-
cartao-corporativo-do-governo/, acesso em 07/09/2021.
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O grotesco da vida
Eu não vou dar conta de escrever. Escrevi apenas uma página e não
vou dar conta. Agradeço, mas não vou participar desta vez.
Arlete, 31/08/2021 – Encontro do Grubakh [1]
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A narrativa da Arlete:
Uma imagem maravilhosa! Carregada de Signos!
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Referências:
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São Carlos: Pedro & João, 2010.
BAKHTIN, Mikhail [1940]. A Cultura Popular na Idade Média e no
Renascimento. São Paulo: Hucitec, 2013.
Notas:
[1] O Gubakh é o Grupo de Estudos Bakhtinianos, subgrupo de
estudos do GEPEC – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação
Continuada, da Faculdade de Educação da Unicamp com
atividades coordenadas atualmente pela professora Liana Arrais
Serodio e que iniciou suas atividades em 2010.
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mais elevado ao mesmo tempo que coloca nos decisores políticos, nos
sistemas sociais e de saúde, a responsabilidade de promover respostas que
tornem as opções por um estilo de vida saudável, ou ativo, a melhor e ‘de
mais fácil escolha’ para os indivíduos (RIBEIRO, 2012, p. 38).
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Referências
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https://www.revistaamazonas.com/2019/03/13/a-gente-vai-pra-luta-porque-a-
terra-chamaentrevista-com-sonia-guajajara-lideranca-feminina-indigena-
brasileira/
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https://br.pinterest.com/biomarilia5/ailton-krenak/
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novo-acampamento-em-brasilia-dF1
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‘marco temporal’ é suspenso e será retomado na quarta (1/9),
26/09/21. Disponível em: https://www.socioambiental.org/pt-
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temporal-e-suspenso-caso-sera-retomado-na-quarta-19. Acesso
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Depois de ouvir Patrícia Borde ler Eduardo Galeano, n’O Livro dos
Abraços (1997), Marisol Barenco de Mello diz:
- Um abraço é uma imagem linda para um dos princípios
fundamentais da teoria bakhtiniana, Pati. O que morre pequeno no
encontro desses mundos que são os corpos humanos? Toda
pretensão de ser, em si mesmo, ensimesmado, por si, aprendi com
Bakhtin. E o que nasce é o humano no homem, que é pelo menos
dois...
Patrícia: - Encontro é morte e renascimento. Eu e outro que em
diálogo se alargam (...).[1]
As vozes nesse texto são vozes-outras que se tornaram outras-
minhas e que agora são do mundo. Mas quem fala nesse texto,
principalmente, são as crianças das classes populares com todos os
afetamentos que a escola lhes tem causado. A escola pública na
condição de espaço que estão tentando calar através de um plano
que tem por objetivo colocar as classes populares num lugar de
reprodução, de apertar parafuso, enroscar porca, apertar parafuso,
enroscar porca... para nunca terem tempo de parar e olhar sua
potência. Mas, nem todo plano sai da forma que seus idealizadores
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Notas:
[1] Retirado do texto Cotejo em Bakhtin: o nascimento do sentido no
abraço humano, de Marisol Barenco de Mello e Patrícia do Amaral
Borde.
[2] O grupo ATOS/UFF é um grupo de estudos Bakhtinianos, da
Universidade Federal Fluminense – Niterói.
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Introdução
O corpo, vértice de vida que completa outro corpo. Nem máquina,
nem culpa: festa. O eu e o outro, felizes e infelizes separadamente,
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BAKHTIN, Mikhail. O corpo como valor: o corpo interior. Estética da
criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. São Carlos:
Pedro & João Editores, 2010.
CASADO ALVES, Maria da Penha. O cronotopo da sala de aula e os
gêneros discursivos. In: Revista Signótica, [s. l.], v. 24, n. 2, 2012.
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Referências
BACKTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais. Trad. de Yara
Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec; Brasília: Universidade de
Brasília, 2008
Disponível em:
<https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/18/actualidad/1539847547
_146583.html> Acesso em: 20 de agosto de 2021.
Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/webstories/cultura/2020/08/o-
que-e-a-cultura-do-cancelamento/ >Acesso em: 20 de agosto de
2021.
Disponível em: <https://jovempan.com.br/noticias> Acesso em: 20
de agosto de 2021.
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RISÍVEL!
O tempo de um GROTESCO
DESCOMUNAL!
COLOSSAL!
CORPORAL?
Não!
BAIXO CORPORAL!
Um GROTESCO
EXCREMENTAL!
VISCERAL!
QUE TRANSITAVA O
BUCAL
ANAL
ESCROTAL
VULVOVAGINAL
Houve o tempo de um GROTESCO
CORPORAL?
BAIXO CORPORAL
Um GROTESCO:
VIDA TRIPADA
EM TRIPAS
Morte e vida?
MORTEVIDA
Morte em vida?
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Vida em morte?
VINDA EM MORTE?
NASCIMENTO EM FINDO
SEMFINDO...
VELHAS GRÁVIDAS, RINDO...
Riso?
GARAGALHADAS!
Houve o tempo de um GROTESCO
ALTO-BAIXO
EXCREMENTO
ORIFÍCIOS
BOSTA
EXPURGO
ARROTOS
BARRIGAS-PANÇA
BEBÊS GIGANTES
HOMENSMUNDO
CORPOS VELHOS,
FECUNDOS
HÁ NOS NOSSOS TEMPOS UM GROTESCO
FÚNEBRE
ESCÁRNIO!
SEPUCRAL!
ABISSAL!
Um grotesco
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Rodas de Conversa Bakhtiniana 2021
ESCROTO!
ESGOTO!
NEFASTO!
Mamífero?
MORTÍFERO!
FASCISTA!
CARNIFICISTA!
NÃO SOU COVEIRO!
TÁ OK?
Um grotesco
Bárbaro?
NÃO!
BARBÁRIE!
QUE MATA
A MATA
QUE PENSA
QUE ESPANTA
O ÍNDIO
QUE ALIMENTA
A PANÇA
DA GRILAGEM
A engrenagem
DA DESTRUIÇÃO
(E DA MORTE)
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QUE É FORTE
NOS CORTES
À TALHADAS
NO DESMONTE
DO ACESSO
Á VIDA
DE PRESENTES,
À MEMÓRIA
DE ANCESTRAIS
Um grotesco
PRETO?
PREGUIÇOSO
MULHER?
FRAQUEJADA
CALA A BOCA!
CALA A BOCA JÁ MORREU!
.............................
VOLTA PRA GRUTA
DE ONDE VIESTE!
..............................
FESTEJAREMOS
COMO BEBÊS GIGANTES
À GARGALHADAS BUFANTES
NAS RUAS
NAS PRAÇAS
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E TOMAREMOS
O TRONO
QUE NUNCA FOI TEU...
E BRINDAREMOS
AO RENASCIMENTO
INEVITÁVEL
DE TEMPOS
BEM VINDOS...
De uns de tantos EUS, para tantos OUTROS!
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Rodas de Conversa Bakhtiniana 2021
Valdete Côco
PPGE/UFES
valdetecoco@hotmail.com
Introdução
Em tempos de incertezas e em um cenário de permanentes
contradições, somos instadas a discutir e avaliar nosso lugar no
mundo com o chamado do VIII Círculo – Rodas de Conversa
Bakhtiniana, que tematiza “o grotesco dos nossos tempos: vozes,
ambientes e horizontes”. Tal chamado nos move a (re)pensar
nossas lutas emergentes frente às (des)igualdades demarcadas em
cada contexto e classe social, pois com Bakhtin aprendemos que
nosso estar no mundo se ancora no outro, sujeito, pessoa e também
no contexto, sempre situado.
Nessa compreensão, no âmbito da educação brasileira, os últimos
tempos (sobretudo pós-golpe de 2016), vêm nos exigindo constante
vigilância, em especial no que se refere aos direitos sociais e, entre
eles, o direito à educação. Nesse intento, a partir do chão em que
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Referências
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EM EDUCAÇÃO (Anped). Entrevista com Luiz Dourado (UFG) sobre
propostas de alterações nas Diretrizes 02/2015 para Formação de
Professores. 2019a. Disponível
em: http://www.anped.org.br/news/entrevista-com-luiz-dourado-
ufg-sobre-propostas-de-alteracoes-nas-diretrizes-022015-para.
Acesso em: 07 abr. 2020.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
EM EDUCAÇÃO (Anped). Posição da ANPEd sobre texto referência –
DCN e BNC para formação inicial e continuada de Professores da
Educação Básica. UMA FORMAÇÃO FORMATADA. 2019b.
Disponível em: https://anped.org.br/news/posicao-da-anped-
sobre-texto-referencia-dcn-e-bncc-para-formacao-inicial-e-
continuada-de. Acesso em: 14 nov. 2019.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL PELA FORMAÇÃO DOS
PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO (Anfope). Manifesto ANFOPE
em defesa da Formação de Professores. 2018. Disponível
em: http://www.anfope.org.br/wp-
content/uploads/2020/03/MANIFESTO-DEFESA-
FORMA%C3%87%C3%83O_PROFESSORES-Anfope-Forumdir-
14Dez2018.pdf. Acesso em: 9 jun. 2021.
BAKHTIN, M. M. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais. Tradução de Yara
Frateschi Vieira. 8. Ed. São Paulo: Hucitec, 2013.
BRASIL. Resolução n. 02, de 1º de julho de 2015. Define as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior
(cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para
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Referências
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RICARDO VÉLEZ – 1
ABRAHAM WEINTRAUB – 2
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CARLOS DECOTELLI – 3
MILTON RIBEIRO – 5
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Considerações
Nesse sentido, foi um grande desafio de trabalhar com o conceito
de grotesco, da ambivalência, do rebaixamento, do renascimento,
compreendendo onde e como nascem as forças, o fortalecimento
das ideias e como elas podem ser encontradas nestes dias de tanta
incredulidade e trevas, reforçando o caráter e a busca por novos
tempos, enquanto ser social e responsável.
As lições que as teorias bakhtinianas possibilitam não se restringe
apenas na releitura do grotesco na sociedade brasileira, também na
possibilidade de acessar aos mecanismos produzidos por essa
reflexão, os quais direcionam para ressurgimento e permanência da
resistência e esperança, por meio do discurso livre e dos resultados
de pesquisas, os quais contestam o uso arbitrário dos objetivos reais
da cidadania, democracia e direitos humanos. Dessa forma, o
presente estudo reforça a necessidade de enxergar o que era a
educação, e o que é hoje a partir do contexto aqui apontado.
Ao reportarmos às falas de pessoas que estiveram ou estão a
comandar o Ministério da Educação por meio das charges,
compreendemos o sentido e significado das imagens dentro de um
contexto que exige manifestação e mobilização concreta de ações
contra atos irresponsáveis e sem alicerce epistemológico de
reconhecimento às diferenças socioculturais existentes no Brasil.
Conforme Bakhtin (2002), na discussão do renascimento as fezes
servem de adubo, para renascer da terra a esperança, do ponto de
vista biológico as fezes vão se misturar à terra, e se transformar na
resistência. Na ambivalência se discute o novo, o renascimento de
novas ideias, de um novo tempo, reconectando os valores,
transformando e reinventando a mudança da sociedade que não
suporta mais o descaso, essas vozes e discursos, de ministros
preconceituosos, desse governo pautado no fascismo e na
intolerância dos sujeitos. Para tanto, a obra rabelaisiana, discutida
por Bakhtin, nos traz um efeito estético de uma análise dialógica
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REFERÊNCIAS:
BAKHTIN, Mikhail. Introdução: apresentação do problema. In:
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na idade média e no
renascimento: o contexto de François Rabelais. 5ª ed. Tradução de
Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec. Brasília: editora
universidade de Brasília. 2002.
BRASIL. Lei no 9.394/1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Disponível em: >. Acesso em: 03 set. de 2021.
1180
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Kassar (2004, p. 24) afirma que “as classes especiais públicas vão
surgir pautadas na necessidade cientifica da separação dos alunos
‘normais’ e ‘anormais’ na pretensão da organização de salas de
aulas homogêneas [...]”. Desta forma, esse modelo de educação
segregacionista traz em seu bojo um enorme retrocesso, pois sua
finalidade é colocar as pessoas com deficiência mais uma vez em
guetos, rotuladas e excluídas, retrocedendo décadas de direitos
conquistados.
As pessoas com deficiência foram consideradas como irrelevantes,
aprisionadas, excluídas, desvalorizadas historicamente, apenas
pelo fato de serem como são, “foram vidas detidas por uma
instituição, aprisionadas pelas condições que lhes foram impostas,
maldição das relações de poder” (LOBO, 2015 p. 13).
A não aceitação da diferença do outro faz parte do processo
histórico que a muito buscamos abolir. A educação Especial no
passado tinha por base o modelo clínico no qual era voltado para
uma reabilitação, compreendendo a deficiência como uma condição
que desabilitava de algo. Eram retirados do convívio social e sobre
elas pesava-se o imaginário a partir da “oposição binária:
normalidade & deficiência” (CARVALHO, 2010. p. 54).
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Referências
BRASIL, Decreto n° 10502 de 30 de setembro de 2020, Institui a
Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com
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O Nariz é uma obra de ficção satírica escrita por Nicolai Gogol, na qual
conta-se a história de um oficial residente da cidade de São Petersburgo
que nota o desaparecimento de seu nariz - o qual adquire vida
independente e abandona seu rosto. Ao abordar um enredo cuja fantasia
está no trivial, tem-se a origem do absurdo presente na omissão da
realidade, caracterizando toda a obra num espectro enigmático. Atraído
pela temática, Dmitri Shostakovich compôs uma ópera homônima em
1928, entretanto, só recebeu o devido reconhecimento e engajamento a
partir dos anos 60; nela, pode-se perceber o florescer de sua imaginação,
a qual é impelida a trazer em sua obra elementos que aludem ao grotesco.
Neste texto, será retratada a ópera de Dmitri sob a produção da Royal
Opera House 6- conduzida pelo diretor artístico Komische Oper Barrie
Kosky e traduzida por David Pountney para o inglês.
Com isso, ao estilo da ópera, ao descortinar uma investigação sobre os
pormenores que circundam o tema, pode-se exteriorizar aspectos repletos
de significação no que diz respeito à adjunção da teoria bakhtiniana
cotejada com a substância ligada ao viver, impulsionando e engendrando
relações com o cenário atual de pandemia, em que o nariz também tem
uma grande notoriedade.
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Figura 6 - #SarawakGags
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Referências
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento. São Paulo. Ed. Hucitec [Brasília], 1987.
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1 Iniciando a reflexão
A nossa reflexão neste ensaio ao VIII Círculo – Rodas de Conversa
Bakhtiniana tem como objetivo refletir o discurso grotesco nas charges de
João Bosco “Desmatamento na Pandemia” (02/08/20) e ”Desmatamento
aumenta” (09/08/20). João Bosco é cartunista, chargista e critica
contundentemente o discurso oficial do governo brasileiro em 2020
quanto às questões de Meio Ambiente.
O discurso do João Bosco traz sua voz como posicionamento em defesa
da Amazônia, evocando políticas públicas de preservação ao meio
ambiente tanto local quanto nacional, contestando a situação atual de caos
em que se encontra o nosso “pulmão do mundo”.
Essas charges refratam um tempo no qual a crise pandêmica provocada
pela Covid-19 no período da primeira onda, com muitas mortes, e
simultaneamente, agravando a crise socioeconômica instaurada aqui no
Brasil. O contexto exigia políticas públicas de combate à Pandemia
simultaneamente à crise.
As charges de João Bosco foram publicadas em agosto de 2020 como
resposta ao discurso grotesco do ex-ministro Ricardo Sales quando se
referiu à agilidade em modificar, aprovar e simplificar “o regramento” do
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Fonte: http://jboscocartuns.blogspot.com/2020/08/desmatamento-na-
pandemia.html
Charge 2 “Desmatamento aumenta”
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Fonte: http://jboscocartuns.blogspot.com/2020/08/desmatamento-
aumenta.html
As charges, por um lado, trazem consigo várias vozes para o embate
dialógico: em seus desenhos está a voz do governo evidenciada pelas cores
amarela e verde, a voz dos latifundiários que comanda os desmatamentos
pelo objeto motosserra, com as quais confronta. Por outro lado, estão as
vozes com as quais compactua a dos cientistas que correm contra o tempo
em busca de entender a Covid-19, de encontrar uma vacina para impedir
o avanço da pandemia, a voz dos ambientalistas que ainda acreditam em
um meio ambiente sustentável.
O chargista confronta essas vozes, rebaixando o que há de oficial pelo
discurso do ex-ministro Ricardo Salles:
Então pra isso precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos
nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de
imprensa, porque só fala de COVID e ir passando a boiada e
mudando todo o regramento e simplificando normas. De IPHAN, de
ministério da Agricultura, de ministério de Meio Ambiente, de
ministério disso, de ministério daquilo. Agora é hora de unir
esforços pra dar de baciada a simplificação, é de regulatório que nós
precisamos, em todos os aspectos (SALLES, 2020, p. 1).
As charges em estudo tratam do desmatamento estabelecendo uma relação
direta com a pandemia, ou seja, temos um embate entre o discurso do
chargista e ativista ambientalista JBosco que se contrapõe totalmente
através de sua arte ao discurso governo que nega a pandemia da mesma
forma como também nega o desmatamento das florestas. Nesse discurso
de negação do Ministro Ricardo Sales representando o governo
bolsonarista realça a ambivalência quando o vírus transfigurado em árvore
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3 Conclusões provisórias
A relação entre o verbal e o visual é percebida fortemente no jogo de
contraste das palavras e desenhos com as cores, isto é, na charge 1 o título
“Desmatamento na Pandemia” dialoga intensamente com o título
“Desmatamento aumenta” da Charge 2. Na primeira charge o autor
denuncia o desmatamento no contexto da Pandemia e na segunda, ele grita
sua indignação expresso no subtítulo em caixa alta e com o realce
amarelo“100 MIL MORTOS...”, demonstrando que a morte se refere às
pessoas e às florestas.
O tom destas charges de JBosco é eminentemente político-artístico, não
destaca o humorístico devido às condições conjunturais em que a
sociedade belenense e brasileira que ainda está vivenciando. O destaque
mesmo é para os temas em foco como discurso de denúncia e indignação
à inercia do governo com relação às ações de política pública sanitárias e
ambientais.
4 Referências
BAKHTIN, M. A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o
contexto de François Rabelais. Trad. Yara Frateschi Vieira. São Paulo:
Hucitec, 2002.
BAKHTIN, Mikhail. Por uma metodologia das ciências humanas. In:
BAKHTIN, M. Notas sobre literatura, cultura e Ciências humanas.
Organização, tradução, posfácio e notas de Paulo Bezerra. Notas da edição
russa Seguei Botcharov. São Paulo: Editora 34, 2017. p. 57- 79.
G1.GLOBO. Ministro do Meio Ambiente defende passar a boiada e mudar
regras enquanto atenção da mídia está voltada para a Covid-19. G1 página
da política. 22/05/2020. Disponível em: . Acesso em 07 set. 2021.
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exterior, isto é, onde o mundo penetra nele ou dele sai ou ele mesmo
sai para o mundo, através de orifícios, protuberâncias, ramificações
e excrescências, tais como a boca aberta, os órgãos genitais, seios,
falo, barriga e nariz. É em atos tais como o coito, a gravidez, o parto,
a agonia, o comer, o beber, e a satisfação de necessidades naturais,
que o corpo revela a sua essência como princípio em crescimento
que ultrapassa seus próprios limites. É um corpo eternamente
incompleto, eternamente criado e criador, um elo na cadeia da
evolução da espécie ou, mais exatamente, dois elos observados no
ponto onde se unem, onde entram um no outro (Bakhtin, 2013 p. 23,
destaque meu).
Na estética clássica, o corpo é algo rigorosamente acabado e
perfeito, isolado, fechado e solitário. Por essa razão, afirma Bakhtin
(2013, p. 26), descarta tudo aquilo que leve a pensar que ele não está
acabado, tudo o que se relaciona com seu crescimento e sua
multiplicação. A sua idade preferida é a plena maturidade, pois é a
que está o mais longe possível, simultaneamente, tanto do
nascimento quanto da morte.
O cânone clássico mostra apenas os atos efetuados pelo corpo no
mundo exterior, os atos e processos intracorporais são
desprezados; o corpo individual é apresentado sem nenhuma
relação com o corpo popular que o produziu. Por isso o corpo do
realismo grotesco – aberto, incompleto, misturado ao mundo,
confundido com os animais (em nosso exemplo, destacamos os
“cabelos” da Mulher Mangueira composto por fios e borboletas) e as
coisas, um corpo cósmico e que representa o conjunto do mundo
material e corporal em todos os seus elementos – lhe parece
“monstruoso, horrível e disforme. É um corpo que não tem lugar
dentro da ‘estética do belo’” (BAKHTIN, 2013, p. 26).
As imagens grotescas eram verdadeiras alegorias que encarnavam
o princípio material e corporal da festa, do banquete, da alegria
presentes na literatura e na arte da Idade Média e do Renascimento.
O riso popular que degrada e materializa, que organiza e
acompanha todas as formas do realismo grotesco estava ligado ao
baixo corporal. Assim, por meio da literatura de Rabelais, Bakhtin
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Referências
BAKHTIN, M. A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o
contexto de François Rabelais. 8. ed. São Paulo: Hucitec Editora,
2013.
TREVISAN, J. Devassos no paraíso. Editora Max Limonad LTDA,
1986.
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Notas
[1] “O aspecto essencial do grotesco é a deformidade. A estética do
grotesco é em grande parte a estética do disforme” (BAKHTIN,
2013, p. 38)
[2] De acordo com Trevisan (1986), além de pecado, o sexo anal foi
considerado, em muitas sociedades (que inclui a brasileira) como
“crime de sodomia”, punido com prisões, degredos e até, em
alguns casos, com a morte.
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Feminismos, presente!
Como forma de resistência à hegemonia masculina, o feminismo,
em sua pluralidade, surgia como uma ação política na luta pelo
reconhecimento da humanidade das mulheres, isso porque, no
sistema patriarcal “[...] a mulher determina-se e diferencia-se em
relação ao homem e não este em relação a ela; a fêmea é o
inessencial perante o essencial. O homem é o Sujeito, o Absoluto;
ela é o Outro” (BEAUVOIR, 2019, p. 12- 13). Tal essencialização das
mulheres é parte de uma narrativa histórica, visão utópica de
unidade que parte de um projeto egocêntrico de sujeito universal.
Assim, como forma de redefinir as engrenagens do sistema e
instituir o direto ao lugar de fala, a escuta de outras vozes sociais,
os feminismos nas redes sociais digitais atuam como uma forma de
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REFERÊNCIAS
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contexto de François rabelais. Tradução de Yara Frateschi Vieira.
São Paulo: HUCITEC: [Brasília] Editora da Universidade de
Brasília, 1987.
BAKHTIN, M. Para uma filosofia do Ato Responsável [Tradução aos
cuidados de Valdemir Miotello & Carlos Alberto Faraco]. São
Carlos: Pedro & João Editores, 2010.
BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o
contexto de François Rabelais. 8ª ed. Trad. Yara Frateschi Vieira.
São Paulo: Editora Hucitec, 2013.
BAKHTIN, M. O homem ao espelho: Apontamentos dos anos 1940.
São Carlos: Pedro & João Editores, 2019.
BERNARDI, R. M. Rabelais e a sensação carnavalesca do
mundo. In.: BRAIT, B. (org.). Bakhtin: dialogismo e polifonia. São
Paulo: contexto, 2009, p. 73- 93.
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Referências:
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Renascimento: o contexto de François Rabelais. Tradução de Yara
Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 2010.
DANTAS, Daiany Ferreira. Estética e humor nos quadrinhos
feministas: a reconquista política do corpo pelo riso na HQ A
origem do mundo (2018). Tempo e argumento, Florianópolis, v. 12,
n. 31, e0102, set./dez. 2020.
#DEIXAFLUIR com SEMPRE LIVRE® e CAREFREE®. [S. l.: s. n.],
2021. 1 vídeo (1min 10s). Publicado pelo canal semprelivrebrasil.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=UV_iTWp-
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Notas:
[1] O slogan contém a observação: “quando são incolores ou
levemente esbranquiçados, sem odor, ardência ou coceira.
Consulte o seu ginecologista” (#DEIXAFLUIR, 2021).
[2] A propaganda é direcionada a mulheres cisgênero, mas as
reflexões aqui apresentadas referem-se a todos os corpos que
menstruam.
[3] A música utilizada chama-se Banho e é originalmente cantada
por Elza Soares. Na propaganda, a canção está na voz de Tulipa
Ruiz. A música original pode ser acessada
em: https://www.youtube.com/watch?v=-1fcaBBti4A.
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Palavras iniciais
Pensar que a gente cessa é íngreme. Minha alegria ficou sem voz.
(Manoel de Barros, 2002)
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Considerações inacabadas
A poesia salva, a arte salva! A experiência de vida-morte-
renascimento expressada neste texto por meio de minha
experiência singular, junta-se ao movimento de muitas outras
vozes nesse tempo pandêmico. O relato de minha experiência se
entrecruzou no pulsar da vida pessoal e acadêmica e, assim, este
texto se constituiu.
Tudo isso que é genérico adquire sentido e valor a partir do lugar
único do singular, do seu reconhecimento, na base do seu “não-
álibi no existir”.
“Não-álibi” significa “sem desculpas”, “sem escapatórias”, mas
também “impossibilidade de estar em outro lugar” em relação ao
lugar único e singular que ocupo no existir, existindo, vivendo.
(BAKHTIN, 2017)
Retomar minha pesquisa imersa na dor, no caos do luto, foi um
respirar que me trouxe de volta ao sentido da vida. Mergulhar na
poeticidade do Espetáculo Cênico do Crianceiras e nos poemas de
Manoel de Barros foi e continua sendo viver a palavra na vida e na
poesia, e a arte como ato de resistência, ato transformador.
Encontrei verdadeiramente na voz do poeta, nas canções de Márcio
De Camillo, nas iluminuras de Martha Barros, no Espetáculo Cênico
Musical (que envolve muitos artistas), nas imagens das crianças nos
espetáculos, na di/fusão do Projeto Poesia na prática e Projeto
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Referências
BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o
contexto de François Rabelais. Tradução de Yara Frateschi Vieira.
5. ed. São Paulo: Hucitec, 2002.
BAKHTIN, M. Para uma filosofia do ato responsável. Tradução:
Valdemir Miotello, Carlos Alberto Faraco. 3. ed. São Carlos: Pedro
& João Editores, 2017.
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BARROS, M. Poemas rupestres. Rio de Janeiro: Record, 2004.
BARROS, M. Cantigas para um passarinho à toa. Ilustrações de
Martha Barros. 8. ed. Rio de Janeiro: Galerinha Record, 2009.
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Notas
[1] Os dados apresentados aqui compõem a tese em andamento por
mim realizada pelo Programa de Pós-graduação em Estudos da
Criança, orientado pelo Professor Dr. Fernando Azevedo, da
Universidade do Minho, em articulação no Brasil com o Programa
de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa
Catarina (PPGE/UFSC), em coorientação com a Professora Dra.
Eliane Debus.
[2] Minha pesquisa em andamento se intitula “O lugar da poesia na
infância: Crianceiras, uma ponte entre Manoel de Barros e o uso estético
da lingua(gem). Curso de Doutorado que realizo na Universidade
do Minho, Braga – Portugal.
[3] Este item constitui parte da análise da pesquisa em andamento
citada.
[4] Músico, compositor e instrumentista. É também produtor
artístico e cultural da Criatto Produções. Produziu o Projeto
Crianceiras, com o objetivo de promover a educação através da arte
(sujeito participante de minha pesquisa).
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REFERÊNCIAS
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Tradução de Vinícius Nicastro Honesko. Chapecó, SC: Argos, 2009.
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais. Tradução de Yara
Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 2013.
BARROS, Marcos Alberto Xavier. A cena política brasileira ao revés:
Análise Dialógica do Discurso carnavalizado em charges políticas
de Vitor Teixeira do contexto do impeachment de Dilma Rousseff
ao governo de Michel Temer. 2019. 236f. Tese (Doutorado
Acadêmico em Linguística Aplicada) – Centro de Humanidades,
Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada,
Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2019. Disponível em:
http://www.uece.br/posla/wp-
content/uploads/sites/53/2020/02/TESE_MARCOS-ALBERTO-
XAVIER-BARROS.pdf. Acesso em: 04 set. 2021.
DALLARI, Dalmo de Abreu. O que é participação política. São Paulo:
Abril Cultural: Brasiliense, 1984.
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1.
O senso comum diz que estamos vivendo um tempo grotesco, que
o presidente é grotesco e que tudo que está acontecendo nesse
contexto político, social, econômico no Brasil é grotesco. Não, o
presidente não é grotesco; não vamos cair no entendimento
superficial disso que Bakhtin compreende como uma concepção de
mundo. O grotesco dito pelo senso comum está sendo visto
somente por um de seus pólos. E se assim vemos o momento atual
brasileiro podemos dizer que estamos vivendo o terror. O terror
que estamos vivendo se manifesta devido à ausência de mudança,
uma vez que estamos passando por um momento em que só
vivenciamos o polo negativo das coisas, como se não fôssemos
capazes de enxergar também os germes revolucionários de
transformação. O momento atual é grave sim, gravíssimo, mas o
que o Círculo de Conversas Bakhtinianas nos propõe é: alargarmos
a nossa visão para assim conseguirmos um olhar de águia que
abarque ao mesmo tempo a tragédia e o riso de um momento atual
em que haja centelha de mudança. Trata-se de uma coexistência do
sério e do riso, daquilo que se mantém e o que inaugura.
Atualmente há muita gente querendo manter a pior face
conservadora da nossa sociedade e apontá-la como modelo único,
mas há também forças apontando caminhos múltiplos, apontando
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2.
Já se perguntaram por que excluem o riso como uma forma de
pensar o mundo? É possível restituirmos o aspecto cômico como
oficial? Derreter essa cristalização de uma visão de mundo
unicamente séria?
3.
Ao vivenciar as manifestações populares, comecei a observar uma
situação que me chamava muito a atenção: uma folia de reis estava
a devotar santos, faziam seu cortejo com ladainhas e, na mesma
hora e lugar, a garrafa de cachaça rolava solta. Isto sempre me
intrigou e eu perguntava como isso era possível. Juntinho no
mesmo lugar: o santo e a cachaça. Não tinha quem me respondesse
os motivos dessa ambivalência.
Só muito tempo depois Bakhtin e seu livro A cultura popular na Idade
Média e no Renascimento: O contexto de François Rabelais me
responderam tal inquietação. Sim, estas festas guardam resquícios
concretos dessa visão de mundo sem separatividade e nos convida
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4.
A leitura do livro A cultura popular na Idade Média e no Renascimento:
O contexto de François Rabelais me fez começar a compreender que a
ambivalência não está só na praça pública, nas festas populares,
apesar de estes serem os lugares mais certos onde encontraremos o
grotesco. Mas o exercício é conseguir encontrar o grotesco em
outros tempos e espaços da cultura: em um desenho de criança, em
uma atividade prática de leitura e escritura com crianças, em uma
cena de um filme, em uma poesia, peça teatral, ou em uma simples
conversa cotidiana. Compreender o grotesco como uma concepção
de mundo onde no mesmo lugar da crítica encontra-se a faísca
revolucionária é, para nós do Grupo Atos, um compromisso não só
teórico e epistemológico, mas também político, feito na linguagem,
nas diversas dimensões da cultura.
5.
Quando observo o povo indígena ou as populações quilombolas
consigo ver o quanto eles lutam para tentar impedir a destruição
de suas matas, de seus lugares sagrados. A destruição da mata é a
destruição do seu próprio corpo. Ouço os Ticunas contarem sobre
suas árvores, vejo os desenhos que fazem de suas matas e floresta
e, de repente, encontro uma faísca revolucionária: eles têm os donos
das árvores, seres que guardam em si essa dimensão de corpo
grotesco.
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Referências
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento: O contexto de François Rabelais. Trad de Yara
Frateschi Vieira – São Paulo: Hucitec, 2013.
TICUNA. O livro das árvores. Organização Jussara Glauber.
Benjamim Constant: Organização Geral: Professores Ticuna
Bilíngues, 1997. 96p.
Notas:
[1] Grupo de Estudos e Pesquisa Bakhtinianas da UFF
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Ainda sobre o que conflita com o normal, tenho mais uma para
contar. Trabalhei por três anos numa empresa com mais de trinta
funcionários, sendo 60% mulheres e de todas, eu era a única com
cabelos cacheados. Diariamente, me solicitavam que eu “ajeitasse”
minha juba. Adivinha quem mais uma vez aparou suas arestas para
caber nos moldes alheios?
Formol neles. Agora eu completava o time de lisinhas no meu
uniforme azul marinho e scarpins nude que sufocavam
diariamente meus pezinhos nº 37 no Icoaraci – Ver-o-peso. O chefe
gostava assim. Vejam bem, não há problema algum em alisar o
cabelo. Ou cachear, colorir, descolorir. Desde que você faça para se
sentir bem; não para se sentir parte.
Entrei para o clube do corte de cabelo em casa nas primeiras
semanas de pandemia, decidi embarcar na transição capilar e
eliminar de vez tudo que ainda era alisado. Nunca tinha
experimentado um cabelo acima do ombro. Quiçá das orelhas.
“Joãozinho”. “Teu marido deixou?”. Disforme total. “Mas porque
ela faria isso?”. Aí eu pergunto, estariam o feio e o belo no objeto
(no caso eu de cabelo curto) ou no sujeito observador?
Já que algumas amigas se inspiraram na minha decisão, assim
como eu me inspirei anteriormente em outras mulheres, digo que
está nos olhos de quem vê. Entendo assim, que mesmo o grotesco,
e talvez especialmente ele, é capaz de inspirar, através do mostrar
que fugir do convencional pode ser um caminho libertador.
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INTRODUÇÃO
O objetivo deste texto é apresentar a reflexão a partir da narrativa
de uma professora de educação infantil no contexto do mundo da
vida com as crianças pequenas. Apresenta a voz das crianças
pequenas desconstruindo uma formatação do espaço/tempo da
escola. O movimento dialógico, proposto no GRUBAKH- grupo de
estudos Bakhtinianos, vinculado ao grupo de estudos e pesquisas
em Educação Continuada (GEPEC) da Faculdade de Educação da
Unicamp, instigou a escrita de uma metanarrativa ampliando
perspectivas de compreensão do acontecimento narrado.
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não é pra falar isso aqui’. Não abri minha boca, mudei de assunto e
continuamos o que estávamos fazendo. Sinceramente, achei toda
situação engraçada e curiosa, mas não demonstrei, não demonstrei
nada na verdade. Mudei o foco, já falei sobre outra coisa e
continuamos resgatando a ‘normalidade’.
Fiquei pensando nisso por um bom tempo e no final do dia, já
sozinha, registrei para refletir sobre as coisas que estavam
passando pela minha cabeça.
Foi interessante observar como as crianças censuraram a situação e
como elas reagem em diferentes espaços que habitam, regulando
as ações a partir das ‘regras’ que conhecem; os olhares esperando
minha reação com algo que interrompeu uma certa normalidade
nas relações ali; a auto censura imediata da Ana, afirmando que
aquele espaço não permite essa fala, mas parece que estava me
dizendo que há espaço em que é permitida.
Nos meus pensamentos, ainda sem condições de me aprofundar,
veio a ideia do grotesco que, talvez, desconstrói uma linearidade
formatada, que causa espanto e muda a ordem das coisas. A vida
na sua inteireza.
O GROTESCO EM MOVIMENTO:
A posição renovada e mobilizada a partir dos excedentes de visão
compartilhados por sujeitos não indiferentes, nos encontros do
GRUBAKH – Grupo de estudos bakhtiniano, GEPEC, Grupo de
Estudos e Pesquisas em Educação Continuada, Faculdade de
Educação, Unicamp –ampliou as possibilidades para reflexão da
narrativa produzida. Imersa em um tempo e um espaço diferente
do vivido torna-se nítido agora que o confronto entre professora
dos procedimentos burocráticos e do planejamento previsto está
pulsando, a todo instante, neste encontro com a vida do existir
evento ‘[...] dois mundos se confrontam, dois mundos
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REFERÊNCIAS
MIOTELLO, Valdemir. Falando do riso...rindo da fala. In
SERODIO, Liana et al. Narrativas, corpos e risos anunciando uma
ciência outra. São Carlos: Pedro & João Editores, 2018, p 31-36 ISBN
978- 85-7993-585-5
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 3. ed. São Paulo:
Martins FonteS, 2000. 413 p. Traduções de Maria Ermantina Galvão
G. Pereira.
BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. São
Carlos. SP: Pedro & João editores, 2010.
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Considerações iniciais
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Fonte: https://www.instagram.com/p/CTUz9HkHCM9/
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Fonte: https://www.instagram.com/p/CTUz9HkHCM9/
Ao visitarmos as páginas do projeto no Instagram e Facebook,
podemos ver de maneira pontual a prática do rito de adeus sendo
transposta para a esfera digital. No tocante ao costume de enviar
flores, a adesão a esse movimento parece ser mais evidente no
Instagram (figura 2), enquanto no Facebook (figura 1), há maior
interatividade com relação a palavras de apreço e tecnoreações com
os emojis de lágrimas, de raiva e de força. Em ambas as redes, os
corações como sinônimo de curtida e empatia são visíveis.
Entre as várias publicações que ressaltam a validade do Memorial
Inumeráveis e de sua abertura nas páginas das redes sociais, nossa
hipótese se confirma: a prática do rito fúnebre no ambiente digital
tornou-se um meio de ressignificar a morte e o momento do luto
para muitos que não puderam fazê-lo presencialmente. A
possibilidade de eternizar a história dos entes queridos em um
memorial e de expressar os afetos nos comentários das redes
sociais, de certo modo, já tem o embrião do processo de luto.
Embora a prática da verbalização escrita ou oral possa ser realizada
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Paulo, que falou ‘lembro sim, vou ver aqui e te mando’. Dias
depois, chegou na minha casa um DVD com o registro de um
programa de TV de 1990 com o Moacyr cantando a música. Porra,
quem é que tem isso? E quem passaria o VHS para DVD só para eu
poder assistir?” (Rafael Gregorio, Ilustrada, Folha de São Paulo,
em 26/02/2019)
“Que porra é essa? O cara vai pro camburão com a filha. Se fosse
eu, ia pegar minhas quinze armas e .. . ia dar uma ... eu ia se ... eu
ia morrer. Porque se a minha filha fosse pro camburão, eu ia matar
ou morrer. Que isso? Tava nadando na ... na ... é uma atleta
olímpica. Você tira a pessoa, a pessoa tá nadando com catorze anos.
Eu tenho uma filha Maria de catorze anos. Se a minha filha fosse
pro camburão ou eu matava ou morria. Que isso? (Pedro
Guimarães, Arquivo 00004.MTS,10:00.132 (17982), P.37)
“Se você não sabe, você não sabe. Você usa o seu não saber como
prova de que o Adélio agiu sozinho, isto é uma vigarice. Ô mulher,
para com isso, porra. Adélio agiu sozinho, a prova é que não temos
prova.” (Mariana Sanches, Poder, Folha de São Paulo, 22/05/2020)
REFERÊNCIAS
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linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na
ciência da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2009
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Federal (Registros de Áudio e Imagens). Disponível
em https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/05/22/leia-integra-
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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Inquérito 4.831 Distrito
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MIOTELLO, V. Discurso da ética e a ética do discurso. São Carlos:
Pedro & João. Editores, 2011.
SANTOS, Mayara Aparecida Machado Balestro dos e
MIRANDA, João Elter Borges (Orgs.). Nova direita, bolsonarismo
e fascismo: reflexões sobre o Brasil contemporâneo [livro
eletrônico.Ponta Grossa: Texto e Contexto, 2020. (Coleção
Singularis, v.9). Disponível
em https://www.textoecontextoeditora.com.br/assets/uploads/arq
uivo/600fc-ebook-nova-direita-bolsonarismo-e-fascismo.pdf
SILVEIRA, Lauro Frederico Barbosa daA produção social da
linguagem: uma leitura do texto de Mikhail Bakhtin (V. N.
Volochinov), Marxismo e filosofia da
linguagem. Trans/Form/Ação [online]. 1981, v. 4 [Acessado 20
Setembro 2021] , pp. 15-39. Disponível
em https://www.scielo.br/j/trans/a/3Sshdj4ZWHCxCP7g7xFQYvK
/?format=pdf&lang=pt
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O medo do riso
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primeiro dia do ano. “Foi mal, vó, suspeitar do que não conheço?!
Eu podia passar sem essa!".
Letícia Kondo
UNESP - Marília
leticiakondo_k@hotmail.com
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Julia Romeu (trad.). São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
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reflexões sobre a introdução da língua inglesa no Ensino
Fundamental I à luz do multiletramentos. Dissertação (Mestrado
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Faculdade de Letras, Programa de Pós-graduação em Letras e
Linguística. Maceió, 2016.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum
Curricular. Brasília, 2018.
MIOTELLO, Valdemir. Por uma escuta responsiva: a alteridade
como ponto de partida. São Carlos: Pedro & João Editores, 2018.
RIBEIRO, Djamila. Lugar de fala. São Paulo: Editora Jandaíra, 2020.
BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoievski. Paulo
Bezerra (Trad.). Rio de Janeiro: Forense-Universitaria, 2010.
Notas:
[1] Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental.
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São Paulo: Martins Fontes, 2020.
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Nelita Bortolotto
Universidade Federal de Santa Catarina
nelbortolotto@gmail.com
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Editora 34, 2017.
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contexto de François Rabelais. Trad. Yara Vieira - São Paulo: Hucitec,
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BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. 6 ed. Trad. Paulo Bezerra -
São Paulo: Editora Martins Fontes, 2011.
BAKHTIN, M. O homem ao espelho: apontamentos dos anos 1940.
Trad. Cecília Maculan, Marisol Barenco, Maria Leticia Miranda -
São Carlos: Pedro & João Editores, 2019.
PONZIO, A. Livre Mente: processos cognitivos e educação para a
linguagem. Trad. Marcus Vinicius e Marisol Barenco de Mello. São
Carlos: Pedro & João Editores, 2020.
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Considerações Finais
Esse ponto da obra, o Panem et Circenses, demonstra, assim como
Bakhtin viu em Rabelais, a figurado corpo grotesco à mesa, mesmo
a mesa na obra sendo uma arena. O banquete trata-se aqui como
prémio, mas um prémio com muita luta por traz, como nos
banquetes medievais, o povo planta, o rei come. O povo de Panem
morre, para a Capital rir. Um verdadeiro espetáculo de horrores.
Mas é isso que o corpo grotesco da Capital reduz os distritos, a um
entretenimento. “Para ser, para pertencer ao mundo, é preciso ser
algo que entretém. Apenas aquilo que entretém é real ou efetivo.
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Referências
BAKHTIN, Mikhail Mikahailovitch. O banquete em Rabelais. In:
BAKHTIN, Mikhail Mikahailovitch. A cultura popular na Idade
Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. Tradução
de Yara Frateschi Vieira. São Paulo: HUCITEC; Brasília: Editora da
Universidade de Brasília, 1993, p. 243-264.
COLLINS, Suzanne. Jogos Vorazes. Tradução de Alexandre D’Elia.
1ª ed. Rio de Janeiro: Rocco Jovens Leitores, 2010.
COLLINS, Suzanne. Em Chamas. Tradução de Alexandre D’Elia. 1ª
ed. Rio de Janeiro: Rocco Jovens Leitores, 2011a.
COLLINS, Suzanne. A Esperança. Tradução de Alexandre D’Elia. 1ª
ed. Rio de Janeiro: Rocco Jovens Leitores, 2011a.
HAN, Byung-Chul. Bom entretenimento: uma desconstrução da
história da paixão ocidental. Tradução de Lucas Machado. 2ª
reimpressão. Petrópolis, RJ: Vozes, 2020.
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Referências
BAKHTIN, Mikhail. A Cultura Popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais. Tradução de Yara
Frateschi Vieira. São Paulo/Brasília: Hucitec/Editora Universidade
de Brasília, 2008.
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TEATRO: Tem nada pra explicar não. Tá tudo muito claro. Não
pode tirar suas cadeiras do lugar. Não pode fazer barulho. Não
pode ensaiar em outro horário. Não pode fazer festa que não seja
cívica. Não pode tirar os armários do lugar. Não pode montar peça
com temas polêmicos. O que seriam temas polêmicos? Não, não e
não. O que mais é não? Até Olodum você diz que é macumba. Já
nem sei mais com quem estou lidando. Se isso não é traição o que
que é então? Que tipo de escola é você? Tô sufocado, porra!
Em meio àquela revolta, a terrível metamorfose. Se Teatro ficasse
muito nervoso... Ai, ai, ai. Agora já não dá mais tempo. É
irreversível! Teatro começa a se contorcer em espasmos
musculares. Hiperventilação à vista. Um mugido de revolta
estreme as paredes de Escola. Com o pouco de sanidade que ainda
lhe restava, Teatro sai correndo em quatro patas, arromba os
portões com seus chifres já enormes e ganha o mundo correndo
como um louco. Sim! Teatro havia se transformado no indomável
Touro de Creta. Um touro de qualidades extraordinárias, poupado
por Minos do sacrifício ao deus Poseidon. Indignado, o deus
Poseidon amaldiçoou o touro fazendo com que fosse tomado por
uma fúria incontrolável (Graves, 2004, p.166).
Já deu para perceber que este touro não era de brincadeira. Muito
perigoso! Em seu novo estado de consciência, Teatro corre pelas
ruas da cidade cuspindo fogo pelas ventas, causando terror.
Naquele momento, sua cólera era incontestavelmente irrefreável.
Esse guerreiro de tantas vicissitudes, corria e corria completamente
transtornado; seguia disparado, assustado pelo barulho das
buzinas dos carros. De súbito, a trombeta ensurdecedora de uma
carreta monológica estronda nos ouvidos. Pancada brusca. Gritos
de pavor! E flutuou no ar como se fosse sábado. E tropeçou no céu como
se ouvisse música... E se acabou no chão feito um pacote tímido[2].
Teatro. Transfigurado.
Touro abatido estava.
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Assassina! Ignominia-Monológica!
Nós vamos protestar. No torpor sem esvaziar. Mas... sua força lá se
vai
O ar entra... O ar sai... O ar entra... O ar sai... Entra...
Sai...................................
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Fragmento Amplificador
A tensão aflorada entre Teatro e Escola advêm de pensamentos
antagônicos construídos pelo embate ideológico entranhado na
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Referências
BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. Tradução
aos cuidados de Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. São
Carlos: Pedro & João Editores, 2010.
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na idade média e no
renascimento: o contexto de François Rabelais. 8ª edição. Tradução Yara
Frateschi Vierira. São Paulo: HUCITEC Editora, 2013.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. 3ª ed. Petrópolis:
Editora Vozes, 1998.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2011.
GRAVES, Robert. Mitos gregos. São Paulo: Madras, 2004.
PAVIS, Patrice. Dicionário de Teatro. 3ª ed. São Paulo: Perspectiva,
2015.
Notas:
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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Na construção das identidades contemporâneas, a sensação de
pertencimento a um grupo social torna-se uma insígnia coletiva
deveras cara à edificação dos valores individuais. Embora vivamos
uma época de individualismo em rede, conforme nos orienta
Castells (2011), os interesses em comunidade aparecem como forte
evidência daquilo que nos constituímos enquanto indivíduos. Por
essa razão, as redes sociais digitais surgem como vitrines da cultura
contemporânea, possibilitando a formação de multidentidades, ou,
no dizer de Hall (2006), das múltiplas identidades culturais.
O ciberespaço, assim, torna-se um valioso meio para a constituição
do real e das formas cotidianas de vida do homem contemporâneo,
que, imerso em uma liberdade de expressão como nunca vista antes,
destrói barreiras, efetiva laços sociais e traduz a sua experiência em
relação ao mundo e ao outro em seus discursos repletos de indícios
que fazem emergir as diversas identidades sociais.
No Twitter, rede social digital em que o usuário disponibiliza de
140 caracteres para comunicar, percebe-se claramente a
manifestação das visões de mundo dadas na contemporaneidade,
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maior número de usuários. Para esta, temos uma rede mais simples
que aquela, em que os atores sociais estabelecem comunicação em
140 caracteres, tornando a interação mais rápida e, por que não
dizer, fluida.
O Twitter, bem como as outras redes sociais digitais emergentes,
tem promovido novas expressões do riso, uma vez que este tem
sido um grande atrativo para o uso de tais tecnologias. É comum,
inclusive, encontrarmos perfis unicamente cômicos, como o
analisado nesta pesquisa, de onde emergem identidades
evangélicas que beiram o grotesco. Ao contrário do que se espera
do modelo de vida moral, o perfil @Irma_Zuleide constrói outra
identidade, baseada na chacota dos evangélicos a partir de suas
próprias tradições e costumes. Tal percepção traz à tona o
pensamento de Bakhtin (2010), ao nos mostrar que o riso ritual,
distante do culto sério, evidencia o escarnecimento do herói e a
conspurcação do que seria sagrado.
No folclore dos povos primitivos encontra-se, paralelamente aos
cultos sérios (por sua organização e seu tom) a existência de cultos
cômicos, que convertiam as divindades em objetos de burla e
blasfêmia (“riso ritual”); paralelamente aos mitos sérios, mitos
cômicos e injuriosos; paralelamente aos heróis, seus sósias
paródicos. (BAKHTIN, 2010, p.5).
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Figura 5 - Postagem 04
Supera-se o mero riso alegre, que passa a ter sua força regeneradora
enfraquecida, e vem à tona uma reflexão de tom satírico e cruel,
propiciando o realismo grotesco indicado por Bakhtin (2010) e o
complexo simbolismo das máscaras por ele elaborado.
O motivo da máscara é mais importante ainda. É o motivo mais
complexo, mas carregado de sentido da cultura popular. A máscara
traduz a alegria das alternâncias e das reencarnações, a alegre
relatividade, a alegre negação da identidade e do sentido único, a
negação da coincidência estúpida consigo mesmo; a máscara é a
expressão das transferências, das metamorfoses, das violações das
fronteiras naturais, da ridicularização, dos apelidos; a máscara
encarna o princípio de jogo da vida, está baseada numa peculiar
inter-relação da realidade e da imagem, característica das formas
mais antigas dos ritos e espetáculos. (BAKHTIN, 2010, p.35)
A máscara traz, assim, uma outra noção de pertencimento, uma vez
que, no perfil analisado, há a criação de um novo mundo,
contraposto à forma dominante que temos para a cultura
evangélica contemporânea, marcada pelo ideal de vida beata e de
serenidade frente ao mundo. Com o grotesco (Bakhtin, 2010), temos
a liberação do homem, destruindo quaisquer princípios de
tradicionalismo, mistificação ou seriedade. Este homem abre as
possibilidades para um novo mundo, a partir de “uma certa
carnavalização da consciência” (Bakhtin, 2010, p.43). As
identidades são, como ocorre na construção dos discursos de Irmã
Zuleide, desmistificadas, dando vazão à construção do elemento
cômico da cultura popular.
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Referências bibliográficas
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais. Trad. Yara Frateschi
Vieira. 7.ed. São Paulo: Hucitec, 2010.
CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet,
os negócios e a sociedade. Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de
Janeiro: Zahar, 2003.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 6.ed. São Paulo: Paz e
terra, 2011.
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Data: 20.09.006
A quem interessar possa.
Meu nome: Solitário Anônimo
Não tenho familiares nem parentes nessa região do país.
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Conclusão
São as relações e as interações que estabelecemos com o outro ao
longo da nossa existência que nos torna únicos no mundo. O
mundo é constituído por sujeitos cujas características mais
marcantes são a diversidade de personalidades, pontos de vista,
posições valorativas etc. O ser humano torna-se ao longo de sua
vida essa amálgama de relações e mudanças que o torna irredutível
a definições exatas. Fica claro que a linguagem é a condição
fundante para o desenvolvimento do humano. Fora da linguagem
não há consciência, não há homem, não há o mundo tal qual o
conhecemos. Esse mundo que se constitui dialogicamente e nos
conecta a todos por intermédio da palavra, mesmo em tempos
históricos e contextos diferentes e mediante qualquer relação com
o outro sempre seremos alguém para esse outro, até mesmo
um Solitário Anônimo.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. 2 ed. São
Carlos: Pedro e João, 2010.
SOLITÁRIO ANÔNIMO. Curta Metragem. Debora Diniz. Brasil:
2006, 18 min.
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Referências:
BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o
contexto de François Rabelais. Trad. Yara Frateschi Vieira. São Paulo:
HUCITEC; Brasília: Editora da universidade de Brasília, 1993.
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outro que está diante de si, que a escuta e lhe oferece ajuda, por nada, sem
interesse ou intenção ou motivo secundário.
Na “Segunda noite”, os protagonistas se encontram conforme o
combinado e Nástienka afirma que eles precisam “começar de novo” a
relação, pois o protagonista-sonhador, para ela, ainda era um
desconhecido. Então, ela decide inteirar-se de quem era seu interlocutor,
desejando saber de sua história, conforme vemos no excerto a seguir:
– [...] Bem, que tipo de homem é o senhor? Vamos, comece, conte
a sua história.
– História? – exclamei assustado. – História? Mas quem lhe disse
que tenho uma história? Eu não tenho história...
– Então como é que viveu, se não tem história? – interrompeu ela,
rindo.
– Absolutamente sem qualquer história! Vivi assim, como se diz,
para mim mesmo; isto é, absolutamente só, completamente só,
sozinho. Compreende o que significa “sozinho”?
– Mas como assim, sozinho? Quer dizer que nunca viu ninguém?
– Oh não, ver eu vi, sim; mas, apesar disso, sou sozinho.
– Ora, será possível que o senhor não fale com ninguém?
– No sentido estrito, com ninguém. (DOSTOIÉVSKI, 2009 [1848],
p. 27-28)
Praticamente constatamos que a resposta do protagonista-sonhador é
estranha (“Eu não tenho história...”) e, possivelmente, reagiríamos, na
condição de leitores, como Nástienka que o indagou: “Então como é que
viveu, se não tem história?”, interrompendo a fala do protagonista e rindo
da situação singular dele. Como imaginarmos uma pessoa que não tenha
uma história para contar? Notoriamente, podemos pensar que se trata, de
fato, de uma pessoa completamente solitária, sem relação com o outro,
apenas consigo mesmo, realizando aí apenas um dos momentos principais
da “arquitetônica do eu”, na teoria bakhtiniana, o “eu-para-si”, seja no
plano espaço-temporal seja no axiológico. Nessa perspectiva, como afirma
Augusto Ponzio (2010, p. 128), “o diálogo é a mesma alteridade
constitutiva da arquitetônica do eu”. Viver a vida, novamente frisamos,
significa viver, portanto, por meio da relação com o outro (os outros), uma
vez que não existe vida sem relação com o outro.
Depois de o protagonista ser categórico, afirmar que não tem história e
que não se relaciona com ninguém (nenhum outro, além de si mesmo), ele
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se apresenta como “um sonhador”, com uma imagem própria sua, uma
alteridade, porém concluindo a questão dizendo que não tem história. Ao
contrário de Nástienka, que tem sua história contada em várias páginas do
romance (do ponto de vista físico-material), ainda no desenvolvimento da
“Segunda noite” da obra. Aliás, além de ganhar um “espaço literário”
amplo, sua narrativa recebe um título: “A história de Nástienka”.
Praticamente, podemos dizer que se trata de um romance dentro do próprio
romance, como um quadro no quadro na pintura de Magritte, ou um conto
no conto na escritura literária de Clarice Lispector.
Assim, de posse do conhecimento da história de Nástienka, podemos
refletir sobre a imagem que temos de nós mesmos (“eu-para-si”) e a
imagem de nós construída pelo outro (“eu-para-o-outro”), essa alteridade
constitutiva do ser. Nesse sentido, cada protagonista tem, inicialmente,
uma própria imagem: Nástienka, com uma história vivida nas relações
com a avó e, sobretudo, com o seu primeiro amor e namorado que ela
espera ansiosamente pelo retorno; ele, o sonhador, solitário, que não tinha
uma verdadeira história para contar, a sua única relação era consigo
mesmo, a ponto de dialogar interiormente com as casas de Petersburgo,
como reportamos anteriormente. Evidente que tal situação grotesca, na
qual a intercorporeidade se mostra como enunciação não iterável, somente
é realizável em um espaço dialógico, em um “espaço literário”
(BLANCHOT, 1987).
No encontro, a construção de uma terceira imagem se inicia, justamente
pela relação entre o sonhador e a Nástienka. A vida singular de cada um
dos protagonistas se constrói através do encontro; e, depois, não se trata
mais da relação de um “eu” e outro “eu”, mas da relação de um nós,
construído nessa relação entre singular e singular. Pela intercorporeidade
(ou dialogicidade), a relação deles vai se modificando, não são mais as
duas pessoas desconhecidas, estrangeiras do primeiro encontro, nem
mesmo permanece o ato de desconfiança de Nástienka em relação ao
sonhador (ato narrado nas duas primeiras noites). Desse encontro, começa
o delineamento de uma relação verdadeira de confiança, de risadas juntos,
de sentimentos compartilhados; enfim, de alegria desinteressada. É uma
conquista recíproca, pois nessa nova relação os protagonistas se
conquistam reciprocamente, sem saber o porquê apesar deles. Cada um
ciente da história singular e anterior do outro.
O protagonista-sonhador e a Nástienka se enamoram, mesmo ele sabendo
que ela tem namorado, e mesmo ela sabendo que o namorado poderia
voltar. Nos diálogos, os quais preenchem as quatro noites do romance,
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Referências:
BAKHTIN, M. M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento:
o contexto de François Rabelais. Tradução de Yara Frateschi Vieira. São
Paulo: Hucitec, 2013 [1965].
BAKHTIN, Mikhail M. Estética da criação verbal. Prefácio à edição
francesa Tzvetan Todorov. Introdução e tradução do russo Paulo Bezerra.
6. Ed. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2011 [1979].
BAKHTIN, M. M.; VOLOCHINOV, V. N. Marxismo e filosofia da
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Linguagem. Tradução Michel Lahud & Yara Frateschi. 11. ed. São Paulo:
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BLANCHOT, M. O espaço literário. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de
Janeiro: Rocco, 1987.
DOSTOIÉVSKI, F. Noites brancas: romance sentimental (das
recordações de um sonhador). Tradução de Nivaldo dos Santos. Gravuras
de Livio Abramo. 3. ed. São Paulo: Editora 34, 2009 [1848].
LEVINAS, E. Autrement que’être ou au-delà de l’essence. La Haye,
Netherlands: Martinus Nijhott, 1974. (Phaenomenologica 54).
PONZIO, A. Procurando uma palavra outra. São Carlos: Pedro & João
Editores, 2010.
PROUST, M. Em busca do tempo perdido. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2017 [1913-1927]. 7 v.
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por serem bizarros, ridículos, inverídicos e que por vez, mas nem sempre,
provocam um falso riso diante do escárnio.
Vivenciamos tempos sombrios e do recrudescimento de vozes
individualistas, negacionistas, obscurantistas, racistas, sexistas e de tantas
outras vozes sociais que incitam à violência contra diferentes grupos
sociais. Vozes que dominam nosso espaçotempo no âmbito da
confluência de inúmeras crises, crise sanitária, crise econômica, crise
política, crise hídrica e crise humanitária. Crises que se agigantam num
contexto de movimentos negacionistas de várias ordens que se espraiam
nas tensões das culturas.
Entre vozes, imagens e ambientes avassaladores dos nossos tempos não
pude compreender o grotesco do modo como esta categoria foi tratado por
Bakhtin ao analisar as obras rabelaisianas. Só pude compreendê-lo, então,
a partir do termo cunhado pelo senso comum, ou seja, o grotesco de cunho
eminentemente negativo que, no âmbito de graves crises retratadas em
imagens, gestos e vozes infames, expõe a própria crise do ato responsável
da humanidade na contemporaneidade.
O grotesco que pude entrever foi entendido, portanto, como escárnio em
sentido exclusivamente vil, sem ambivalência, sem qualquer possibilidade
da simultaneidade de um polo positivo. Este sentido definiu minha
compreensão responsiva diante da profusão de vozes, imagens, gestos e
ambientes hostis que configuram o tempo histórico que vivenciamos no
mundo e, particularmente, no nosso país.
Diante da (im)possibilidade de vislumbrar o grotesco que se estabelece na
unidade de tensões de um conjunto de contraposições, de polos negativos
e positivos (já que só podia compreender o grotesco que cava o túmulo,
mas não regenera!), reforcei minhas indagações na busca daquilo que
poderia ser compreendido como centelhas de imagens e vozes sociais que
apontassem para o que ressuscita e dá vida diante da gravidade dos nossos
tempos pandemônicos de uma política de morte e luto.
Nesta busca incessante, pensei em mirar o grotesco de discursos
negacionistas e fundamentalistas dos nossos tempos, mas não a partir de
elementos da comicidade ambivalente da cultura popular inscrita nas
palavras literárias de grandes clássicos ou mesmo em obras de artistas
plásticos consagrados. Assim, voltei meu olhar para a ambivalência
inscrita em gêneros discursivos verbais e não-verbais carnavalizados que,
em tempos do que se convencionou chamar de distanciamento social,
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Referências
BAKHTIN, M. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o
contexto de François Rabelais. Tradução Yara Frateschi Vieira. São
Paulo: Hucitec/Brasília: Ed. UnB, 2013.
_____. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra.
Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.
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Este texto tem como objetivo discutir o papel dos memes na sociedade
atual, numa perspectiva que revela “o grotesco dos nossos tempos”,
quando professores, instituições educativas e a ciência aparecem atacadas
de forma grotesca nas redes sociais, numa tentativa de desprestigiar a
escola pública, atitude identificada com a política de privatização do
governo Bolsonaro. Para iniciar essa discussão selecionamos dois
memes:
Figura 1:
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Figura 2:
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passo que é alegre e festivo também é burlador e sarcástico. Esse riso nega
e ao mesmo tempo afirma, despreza e concomitantemente faz renascer
(BAKHTIN, 2010). Rabelais escrevia textos cujas narrativas possuíam um
caráter cômico e carnavalesco de grande repercussão. Através da sátira,
sua escrita realizava críticas importantes e incomodava vieses religiosos e
figuras públicas de seu tempo (Século XVI). No prefácio de Clássicos
Rabelais: Gargântua, Victor Hugo escreve “Rabelais é a máscara
formidável da comédia antiga, um rosto humano e vivo”. Enquanto alguns
são luto, Rabelais é paródia. Pensamos os memes deste tempo inspiradas
nesta perspectiva, sem com isso ignorarmos a existência de outras forças
sociais se apropriando da memética para satirizar negativamente a
educação pública.
A imagem presente nos memes que apresentamos nesta escrita fez uso da
obra-prima de Edvard Munch, pintada pela primeira vez em 1893.
Classificadas como iniciadoras do expressionismo (um importante
movimento modernista da primeira parte do século XX), as obras do
artista abordam temas como a melancolia, a ansiedade e o medo. O Grito
inspirou outras formas de arte, inclusive como a série de
filmes Scream (Pânico, no Brasil), no qual serial killers usam máscaras
inspiradas na expressão principal do quadro.
O meme de número 01 foi produzido pela Galeria de Estudos e Avaliação
de Iniciativas Públicas (GESTA) que compõe o movimento “Todos pela
Educação”, liderado por grupos de empresários[1]. O movimento tem
apresentado interferências efetivas na educação brasileira, através do
apoio às reformas educacionais de cunho gerencialista. São os ideários
neoliberais presentes na educação pública. Vimos que é na imagem
memética, aparentemente lúdica e divertida que os discursos oficiais
também se propagam. O meme de número 02 é uma resposta de Anna
Júlia, estudante do 3º Ano do Curso Normal de uma escola da rede
estadual do Rio de Janeiro.
Não esgotamos as possibilidades discursivas presentes nos memes quando
estes dispõem sobre a ambivalência sinalizada em Rabelais. Contudo, não
ignoramos a faceta, ardilosa e calculada das organizações empresariais ao
se apropriarem da memética para enunciar de modo satírico e negativo
seus ideais. O grito demonstrado no meme é de uma denúncia maliciosa à
escola pública, como se ela não realizasse seu papel formativo e não
desempenhasse sua função social. O site (Gesta) possui inúmeros memes
com a mesma proposta do Meme apresentado na figura 1, na intenção de
culpabilizar as instituições públicas e seus professores por um suposto
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de ataque à escola pública porque para ela esse é o interesse dos grandes
empresários. Segundo a estudante (que já estudou em escola particular)
esse tipo de afirmativa é utilizado como propaganda para atrair alunos para
as escolas privadas sob a alegação de que:
a escola pública não tem estrutura, não tem conteúdo, não tem
professores dedicados (...), que só tem alunos ruins e criando essa
imagem vai favorecer o outro lado. Dificilmente essas pessoas que
estão ocupando os cargos importantes no governo ou pensando a
educação pública tiveram experiência com essa escola e não dão
uma imagem boa do lugar (...) A gente vê muito da elite, essas
minorias falando de um jeito bem nojento das instituições públicas
e a tentativa deles é continuar no topo, [nós somos melhores, nós
somos superiores] na tentativa de nos fazer acreditar que isso é
“verdade”. Mas quando você tem a experiência de estar em contato
com a escola pública é uma coisa muito diferente do que eles tentam
ditar pra você. A escola pública expandiu o meu olhar e me permitiu
ver além dos muros da escola. Não ter a experiência do que se vive
na escola pública significaria desconhecer seu real significado.
Percebo que a escola pública é desfavorecida pelas elites porque não
querem que o pobre tenha voz. Não dar credibilidade à escola
pública é perpetuar práticas de controle e de preservação dos valores
hegemônicos (Anna Júlia, 17 anos).
As narrativas de jovens estudantes em interlocução com os estudos
bakhtinianos nos permitem compreender a arquitetônica do lugar da
liberdade do ato. “A contemporaneidade tenta nos engolir e ditar suas
vozes. Ditar os temas, as ideologias, os gêneros, as éticas e estéticas [...].
Porém, podemos responder e construir a contemporaneidade de uma outra
maneira (GEGE, 2010 p. 21). E assim, entre atos e resistências, vamos nos
constituindo como sujeitos e ocupando nosso lugar no mundo.
Portanto, as redes sociais, Whatsapp, Facebook e outros espaços onde as
relações emergem e em que esses Memes são divulgados acabam atuando
como possibilidades de invenção para outras relações que nos ajudam a
ler e a compreender que não existem lugares demarcados de forma fixa e
que os Memes podem ser produzidos como mecanismo disciplinar de
manipulação, mas também como espaço da contrapalavra, ecoando
os discursos das classes populares que resistem na luta pelos seus
direitos. O que nos permite perceber que a distinção está nos usos e na
experiência produzida por cada sujeito. Do mesmo modo que existem
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Notas:
[1]
Fundação Itaú para Educação e Cultura, Fundação Lemann, Fundação
Maria Cecilia Souto Vidigal, Fundação Roberto Marinho, Fundação
Telefônica Vivo, Instituto Natura, Instituto Península, Instituto Sonho
Grande, Instituto Unibanco, Movimento Colabora Educação, Movimento
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combatidas pelos fãs do grupo que estão sempre atentos para ações
negativas contra os meninos à prova de balas e a sua etnia asiática.
De forma abreviada tentei mostrar como isso ocorre por meio de
ações em redes sociais e da organização do fandom.
Referências
ALMEIDA, Naiane; NICOLAU, Marcos. A reapropriaçãoda
indústria de cultura pop sul-coreana como estratégia de expansão
global e conquista de fãs. Temática, ano XV, n. 8, ago. 2019.
NAMID/UFPB -http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/temática.
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Notas introdutórias
A projeção em forma de resumo expandido se faz a expressão de
um acontecimento da pesquisa de tese conclusa pela Universidade
Federal Fluminense e denominada como “Os piquenos da Baixada
Maranhense: subsídios para geografias outras do lugar”
(FRANCO, 2019), com financiamentos da FAPEMA e orientada
pelo Prof. Dr. Jader Janer Moreira Lopes. Expande-se também
como continuidade de discussões, tendo em vista a extensão de
novas abordagens ampliadas com o atual projeto de pesquisa
intitulado: “Territórios sociais do piqueno do Maranhão: histórias,
cultura popular e estudo de caso” da Universidade Federal do
Maranhão, onde se utiliza de bases teóricas respaldadas nas
Histórias das Infâncias, na Geografia das Infâncias e no Cronotopo
Bakhtiniano.
Extralocalizações do brincar nos puções das beiras-do-campo
A temporada em que as águas se tornam predominantes nos
campos naturais da Baixada Maranhense, as precipitações das
chuvas engendram recomposições climáticas que assumem o
poder dos movimentos e trazem as mudanças para as
funcionalidades de um novo ciclo sazonal. Conforme a intensidade
pluviométrica e o compasso dos dias, ou mesmo de meses, a
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http://www.cedes.unicamp.br. Acesso em 15 ago. 2016.
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Introdução
Este trabalho tem como proposta compreender o fenômeno
ideológico da palavra, através dos enunciados do texto “O amanhã
não está à venda” do escritor Aílton Krenak. Buscaremos
compreender as relações estabelecidas entre palavra, signo e
ideologia, conforme a temática o grotesco dos nossos tempos:
vozes. Qual a importância da palavra nas relações e, por que a
palavra do eu é tão importante para o outro? A palavra se posiciona
como uma ponte entre o eu e o outro, na perspectiva da alteridade,
das relações dialógicas em meio a um contexto social. Assim,
almejamos que a pesquisa contribua para novas discussões, acerca
das relações de alteridade e valoração do meio ambiente, da
cultura, da etnia e da formação humana. Ao ler esse
autor, retomamos com pesar a existência de um país colônia, onde
a biodiversidade está sendo extinta e a diversidade entre os povos
não é tolerada, trata-se de um país de desigualdade, injustiças e
fome, estado pandêmico da alma. A natureza nos alerta
constantemente como o autor Krenak escreve “O vírus da Covid-
19 não mata pássaros, ursos, nenhum outro ser, apenas
humanos”. A humanidade através das suas escolhas
governamentais vem agravando a situação da Terra e o que retrata
o Brasil com as queimadas, a destruição da floresta, a retirada de
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Considerações Finais
Quando lemos krenak, devemos atentar-se a nossa contrapalavra,
ao nosso ato responsivo responsável, aos povos da floresta:
quilombolas, caiçaras, ribeirinhas e indígenas que lá se encontram
a preservar o que temos de mais precioso a biodiversidade, a
Natureza. Porém, também devemos responder a um país
extremamente desigual, que apresenta grandes desafios sociais,
econômicos e políticos. Segundo Miotello “a classe dominante
confere ao signo ideológico um caráter intangível, imutável e
supraclasses sociais, abafando ou ocultando a luta dos índices
sociais de valor, e divulgando o discurso da monovalência”
(MIOTELLO, 2018, p.173).
Não se pode aceitar os acontecimentos de destruição de um povo,
de uma floresta, de uma etnia como algo natural, como se não
estivéssemos falando de nós mesmos (excedente de visão). Ainda
conforme os estudos do filósofo Peter Singer “devíamos estar
preparados não apenas para respeitar todo o ser vivo, mas também
para atribuir à vida de todo o ser vivo o mesmo valor que
atribuímos à nossa” (SINGER, 2018, p.189). Toda palavra é
carregada de intenções e na relação responsiva que princípio da
ressignificação do ser humano inacabado, como sujeito
participante dos processos de interação, de troca e de relação com
o outro. Diante disso Bakhtin considera que “Somente o ato
responsável supera toda hipótese, porque ele é de um jeito
inevitável, irremediável e irrevogável a realização de uma decisão;
o ato é o resultado, uma consumada conclusão definitiva”
(BAKHTIN, 2010, p.76).
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2003.
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Foi assim que iniciamos o projeto Diário da Quarentena. Era para dar
cor, forma, ritmo, imagem aos nossos sentimentos e descobertas,
durante este período tão difícil de se enfrentar, principalmente
sozinho. A ideia era organizar a comunidade escolar para o
acolhimento, para o compartilhamento das experiências, para que
cada um tivesse a escuta do outro, que o coletivo se escutasse nas
falas e olhares de cada um/a. Para que tivéssemos a oportunidade
de compreender que este outro nos constitui e que não poderíamos
ser indiferentes a ele. “Nenhum conteúdo seria realizado, nenhum
pensamento seria realmente pensado, se não se estabelecesse um
vínculo essencial entre o conteúdo e o seu tom emotivo-volitivo,
isto é, o seu valor realmente afirmado por aquele que pensa.”
(BAKHTIN, 2020, p. 87).
Os estudantes enviavam seus desenhos e textos por fotos via
whatsApp e eu organizava os slides e mostrava no grupo do
projeto, com a autorização deles, o que foi compartilhado comigo
para o nosso Diário da Quarentena.
Apresento duas situações cotidianas vivenciadas pelos
adolescentes e socializadas no projeto:
1.
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2.
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Referências
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SERODIO, Liana et al. Narrativas, corpos e risos anunciando uma
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ISBN 978-85-7993-585-5
BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. São
Carlos. SP: Pedro & João editores, 2010.
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. Marxismo e filosofia da
linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na
ciência da linguagem. São Paulo: Editora 34, 2017.
Notas:
[1] ”Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Fernando Pessoa”.
Lisboa: Ática, 1966. p. 93.
[2] Miguel
Nicolelishttps://www.instagram.com/tv/CTDaZXygzDi/?utm_me
dium=share_sheet
[3] https://www.migalhas.com.br/quentes/338766/referencia-
mundial--conheca-a-historia-do-pni--o-programa-de-imunizacao-
brasileiro
[4] https://www.brasildefato.com.br/2021/05/06/os-ricos-ficam-
mais-ricos-e-os-pobres-cada-vez-mais-pobres-na-pandemia
[5] Conversas no grupo de whatsApp do Grubakh/GEPEC no mês
de setembro de 2021
[6] https://pt.wikipedia.org/wiki/Pok%C3%A9mon
[7] Metáfora que eu pego emprestada do Guilherme Prado,
coordenador do grupo NOZSOUTRES/GEPEC no dia 2/9/2021
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2017.
BÍBLIA. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2017.
PONZIO, Augusto. Procurando uma palavra outra. Tradução aos
cuidados de Valdemir Miotello et al. São Carlos: Pedro & João
Editores, 2010.
SOBRAL, Adail. Ontologia dialógica e escuta alteritária: para uma
proposta pedagógica bakhtiniana. Resumo apresentado ao XXIX
ENANPOLL (9 a 11 de junho de 2014). Disponível em:
http://www.linguagemememoria.com.br/lermais_materias.php?c
d_materias=377 Acesso em: 03 setembro 2021.
SOBRAL, Adail/; GIACOMELLI, Karina. Educação dialógica
alteritária: uma reflexão. Línguas & Letras, Vol. 11, n. 49. Dossiê:
Estudos dialógicos e incursões na prática docente, p. 07-27. Unioeste
Cascavel. Disponível em:
http://e-
revista.unioeste.br/index.php/linguaseletras/article/view/24675/pd
f Acesso em: 04 setembros 2021.
Notas:
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Pega de surpresa
Pega de surpresa
Maryelle Florêncio Mariano
A volta não foi aos poucos, foi quase 100%, não foi priorizando o
acolhimento, mas “fingir”, fingir que estava tudo normal, quando
não estava/está. A ordem para voltar o máximo como antes.
O oitavo ano fez a prova bimestral de geografia. Durante a correção
percebi duas provas com respostas exatamente iguais e não
comentei nada. Por coincidência essa era a última aula do dia. Ao
fim, liberei os alunos mais cedo e pedi para falar em particular com
os alunos que colaram.
Poderia deixar para lá, mas não, insisti.
Respirei fundo e falei:
—“Vocês sabem o que tenho a dizer né”
Um rapidamente se antecipa e fala que pode se explicar:
— “Me desculpe professora, mas eu colei todas as respostas dele,
não estava com cabeça para responder.”
Com a voz trêmula ele me disse que a mãe estava na UTI e como
ela quem o ajudava, ele ficou perdido sem saber o que fazer.
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Na partilha
Comecei a participar esse ano do Grupo de Estudos Bakhtinianos
(Grubakh), que faz parte do Grupo de Estudos e Pesquisas em
educação Continuada (GEPEC) da Faculdade de Educação da
Unicamp, tenho escutado muitas narrativas semelhantes e
diferentes da que escrevi, tenho me visto em muitas situações e me
questionando sobre as mudanças que são necessárias em minhas
práticas pedagógicas, principalmente para esse momento
pandêmico.
Fiz a partilha dessa narrativa com o grupo, ao fim pude ver rostos
lamentosos do ocorrido, pude retornar aquele momento com os
alunos e esse momento da partilha foi transgrediente ao momento
ocorrido, pude olhar para mim com as contribuições dos
participantes. Em Bakhtin (2011):
avaliamos a nós mesmos e do ponto de vista dos outros, através
dos outros procuramos compreender e levar e levar em conta
momentos transgredientes à nossa própria consciência. (Bakhtin,
2011, p. 13)
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Referências
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tradução de Paulo Bezerra. 6. ed. São Paulo/SP: Editora WMF
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BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. 6 ed. São Paulo:
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Editora do Senado,1988. BRASIL, Emenda nº 1, de 3 de março de
2002, do Projeto de Lei nº131/1996. Dispõe sobre a Língua Brasileira
de Sinais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www4.planalto.gov.br/legislacao/portal-legis/legislacao-
1/projetos-de-lei-m>. Acesso em: 13 abr 2021.
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Notas:
[1] Tomadas por uma perspectiva jurídica, toda língua oficial é
também língua nacional, mas o contrário não é necessariamente
verdadeiro (ABREU, 2019, p. 61).
[2] Título VIII, Capítulo III, Seção II – Da cultura: “I - as formas de
expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; § 3º A lei
estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens
e valores culturais” (BRASIL, 1988).
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Notas:
[1]Tradução própria para “[...] whatever teachers and students do
(or not do) whter in their classrooms or beyond it, they are locked
in dialogic relations” (MATUSOV, 2009, p. 1)
[2] É importante ressaltar que as reflexões do autor sobre uma
educação dialógica foram concebidas em seu período enquanto
professor em uma escola secundária na Russia, em um período de
extrema repressão e totalitarismo por parte do governo. No
entanto, é inegável as semelhanças das práticas vividas pelo autor
em sala de aula com o contexto brasileiro que persiste até a
atualidade.
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Cecilia M. A. Goulart
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goulartcecilia@uol.com.br
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não uso mais para me aquecer, eu uso para reter o calor. Isso não é
legal.
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uma ‘chaga’, nem uma ‘erva daninha’ a ser erradicada, nem tão
pouco uma enfermidade, mas uma das expressões concretas de
uma realidade social injusta.”
A visão tecnicista das pessoas opõe-se à visão humanista, com suas
formas de expressão, sua diversidade cultural, universalidade e
singularidade, compondo uma cena de vida palpitante, em que o
pragmático surge das/nas necessidades vitais, determinadas por
desejos, experiências, utopias, relacionadas a modos de pensar e
viver o mundo – não um modo somente, mas muitos - nascidos de
nossas capacidades de criar e inventar novas formas de viver,
aprender, ensinar.
A reflexão sobre o grotesco de nossas diferenças e das diferentes
interpretações talvez seja um instrumento de luta contra a
resignação e os preconceitos. Um início de conversa por um
caminho cheio de atalhos, aberturas para o encontro com outras
vozes na direção da ampla conquista da cidadania e da liberdade.
Referências:
GOULART, Cecilia. Processos escolares de ensino e aprendizagem,
argumentação e linguagens sociais. BAKHTINIANA, São Paulo, v.
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São Paulo: Paz e Terra, 2001.
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1985.
RODRIGUES, Nelson. Flor de obsessão: as 1000 melhores frases
de Nelson Rodrigues. Rio de Janeiro, 1997.
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Referências
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais. Tradução de Yara
Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 2010.
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INTRODUÇÃO
O jovem Mikhail Mikhailovich Bakhtin (1895-1975), filósofo russo,
escreveu em 1919 o ensaio filosófico Arte e
Responsabilidade, corpus dessa pesquisa, cujo objetivo geral é
analisar as categorias que dão o título ao referido texto. Os objetivos
específicos consistem em apresentar o corpus, delimitar os conceitos
de arte e responsabilidade e investigar as heterogeneidades dos
argumentos bakhtinianos. A temática do pequeno texto em realce
alia-se a problemática da vida do ser humano. Muitas vezes não
está explícita a elaboração acerca desses temas da Filosofia,
principalmente por não ser esta a preocupação do autor. Contudo,
as possibilidades de análises acerca desses temas são possíveis.
Funda-se no modelo epistemológico que observa dados singulares
em ciências humanas, dando atenção para o fato de que está no
resíduo, no episódico, no singular, no detalhe, de modo silencioso,
o ponto de investigação que pode garantir rigor à pesquisa
científica. Classifica-se como explicativa, com procedimentos
técnicos como estudo bibliográfico e documental. Quanto à
natureza dos dados é qualitativa.
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Notas:
[1] Filosofia Prática: parte da filosofia dedicada ao estudo de
conceitos específicos do comportamento do ser humano, a saber,
valores morais, honestidade, equidade na argumentação e
princípios ideias que o ser humano pratica perante a sociedade
(ABBAGNANO, 2000).
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Bruna Panzarini
UMESP
brunapanzarini@hotmail.com
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Referências
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em< https://www.instagram.com/campanhasinalvermelho/>
acessado em 15 de junho de 2021
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e
procedimentos. 13. ed. Campinas: Pontes, 2020.
RAWAT Iti. Responding to the Domestic Violence Crisis of
COVID-19 Disponível
em <https://www.femina.in/trending/actagainstabuse/women-
report-domestic-violence-cases-using-red-dot-171868.html>
Acessado em 15 junho 2021.
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Notas:
Vídeo
[1]
completo https://www.youtube.com/watch?v=sfo3z1eEYrI
[2] https://www.youtube.com/user/AMBMagistrados
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Introdução
Este Rodas Bakhtinianas de 2021 nos convoca a refletir sobre o
grotesco no nosso tempo. De início, acho que minha atuação como
Fonoaudiólogo que trabalha nas questões da linguagem na clínica
poderia se beneficiar muito das reflexões provocadas por esta
temática, seja nas fronteiras do normal ou patológico ou nas
questões que permeiam o campo da saúde mental e da luta
antimanicomial. No entanto, para fins deste texto, abordarei duas
questões que estão no meu horizonte atual de pesquisa; i) a
linguagem carnavalizada do autismo e ii) as questões ligadas ao
envelhecimento e ao preconceito relacionado ao idoso.
I
Começaremos pelo autismo, ou como tem sido chamado
atualmente, Transtorno do Espectro Autista (American Psychiatric
Association, 2014). O autismo tem sido tradicionalmente
apresentado na clínica como uma patologia que reduz o sujeito a
um conjunto de características pré-determinadas que, do ponto de
vista da linguagem, se expressam principalmente no discurso
marcado como repetitivo e fragmentado. Predominam abordagem
que equivalem a linguagem à sua forma e que se centralizam no
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Considerações iniciais
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Encaminhamentos teóricos
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Encaminhamentos finais
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Referências
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https://www.facebook.com/FuriaeTradicao/posts/3428538
36454658/
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Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução de Paulo
Bezerra. 6.ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2011.
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Notas:
[1] Link para acesso: https://brasil.elpais.com/eps/2021-07-
01/pierre-levy-muitos-nao-acreditam-mas-ja-eramos-muito-maus-
antes-da-internet.html Acessado em 07 de setembro de 2021
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Fonte: <https://www.cnnbrasil.com.br/politica/se-nao-tiver-voto-
impresso-nao-tera-eleicao-diz-bolsonaro-a-barroso/>
Suas afirmações são risíveis. Como assim vai ter voto impresso em 2022
e ponto final? Tanto nesta fala, como em outras, ele apresenta afirmações
sem nenhum fundamento. As provas que dizem ter sobre a suposta fraude
no sistema de votação são baseadas em indícios e fake news que têm
circulado pela internet. Se vemos o grotesco na figura presidencial
dizendo que se não tiver voto impresso é sinal de que também não terá
eleições, é desse grotesco que vemos também, por meio da cultura
popular, na base da força do riso, o embate de divisões de mundo. Do lugar
que parece querer encerrar um único sentido, fechado e sério, emergem
sentidos outros, contrários.
Em resposta a essa fala, o chargista Regis Soares, criou charges como
forma de protestar contra esses dizeres de Bolsonaro. Em meio as
produções de imagens carregadas de sentidos e humor, selecionamos 01
(uma) charge. A imagem foi retirada da conta pessoal do artista
no Instagram para dialogarmos com a categoria do realismo grotesco
proposta por Bakhtin proposta em seu livro Cultura Popular na Idade
Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. Se por um
lado notamos na palavra séria de Bolsonaro em tom autoritário, por outro,
vemos por meio da ambivalência do grotesco a visão de mundo através do
riso em Regis Soares.
O grotesco, segundo Bakhtin (2010), é a valorização do baixo corporal
(partes íntimas, ventre e excrementos), e o rebaixamento (transferência de
tudo o que é elevado ou espiritual para o material). Outra peculiaridade do
grotesco é a abundância pela face divertida e festiva de suas imagens. O
riso por meio do grotesco é ambivalente, ou seja, possui um caráter
positivo e negativo, mata o velho e acolhe o novo. Além disso, é
importante destacar a visão carnavalesca do mundo como outro elemento
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Fonte: <https://instagram.com/regischarges?utm_medium=copy_link>
O diálogo estabelecido aqui pretende refletir como o estilo grotesco
apresenta-se nas Charges de Rua, de autoria do chargista, cartunista e
caricaturista paraibano Regis Soares, considerado uma artista de rua por
produzir seus textos e expor em painéis na calçada de seu ateliê, que fica
na cidade de João Pessoa-PB. Por meio deste trabalho, o chargista
apresenta sua contrapalavra, sua indignação, revolta e preocupação com
questões sociais de diversas naturezas.
Em suas produções chárgicas ele faz acusações de forma explícita e sem
nenhuma restrição à política de modo geral e seus representantes, bem
como expõe as polêmicas que são recorrentes no contexto social. É um
trabalho que conscientiza através do riso oriundo de imagens e palavras
grosseiras, mas também provoca reações contrárias à sua forma de ver o
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mundo. Nesse ritmo, Regis Soares vai relatando a vida com humor. Ele é
divertido, sarcástico, debochado e provocador, ou seja, é um crítico
armado de bom humor que usa o riso por meio do ridículo.
Nesta charge notamos uma ambivalência por meio do exagero das
imagens e da seriedade manifestada contra o voto impresso. Observamos
como o autor apresenta uma crítica severa e sua indignação à proposta
retrógrada do presidente do Brasil com relação ao sistema eleitoral que ele
impõe. Regis Soares faz isso através da representação cômica do
comprovante de voto impresso sendo evacuado pelo baixo corporal, um
fisiologismo grosseiro, referindo-se ao fato de que tudo que é excretado
pela bunda é merda. O artista se utiliza do corpo como material usado para
representar o grotesco dos nossos tempos.
Ao criar essa imagem, o chargista, por meio do riso, manifesta a voz de
um povo que luta contra um governo debochado, caluniador e
negacionista, uma parte de uma nação que levanta a voz frente ao
desgoverno instaurado por Bolsonaro. É nas imagens e palavras grotescas
que Regis Soares encontra uma forma de, por meio do riso, dizer sua
concepção do mundo. Como diz Bakhtin (2010, p.57), olhar o mundo por
meio do riso não significa olhá-lo sem seriedade, “somente o riso, com
efeito, pode ter acesso a certos aspectos extremamente importantes do
mundo”.
Por mais que se busque uma palavra com um tom sisudo para rebater estas
palavras de Bolsonaro, acreditamos que somente pela via do riso que se
utiliza do material do baixo corporal é possível exprimir o que significa
essa palavra autoritária e uma forma escapar dela É preciso fugir dessa
linguagem que se faz séria, que impõem medo Olha, se não tiver voto
impresso é sinal de que não vai ter eleições. Essa linguagem oficial quer
intimidar, mas é por meio de imagens como a apresentada acima que
subvertemos, é dela que surge a renovação e a “vitória sobre o medo” e é
sobre esse chão que uma parte significante do povo brasileiro quer pisar
para termos o Brasil de outros tempos.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. M. A cultura popular na idade média e no
renascimento: o contexto de François Rabelais. Tradução de Yara
Frateshchi Vieira. São Paulo: Haucitec, 2010.
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cabeça... É como se fosse um pesadelo que nos rodeia, uma sombra que
não vai embora.
Neste retorno os sentimentos se misturam, angústia, alegria, tristeza e
olhos que dizem além do que querem dizer com palavras... até que deu a
hora do lanche, conversamos mais uma vez sobre as regras de
distanciamento, o uso de máscara e os protocolos para que todos fiquem
seguros e descemos lanchar.
Quando entro na sala dos professores revejo minhas amigas, conversamos
sobre nossas expectativas de retorno, dividimos nossos anseios,
partilhamos algumas dificuldades entre outros assuntos também
pandêmicos.
De repente uma das professoras me chama de lado, porque ela dá aula para
o irmãozinho menor da minha aluna e me diz que encontrou com a mãe
das crianças nas férias e conversando sobre a pandemia, a mãe relata que
seus filhos, também pegaram o vírus, porém não apresentaram sintomas.
O mais interessante nessa conversa é que as crianças foram o mês de junho
inteiro para escola... (pausa e suspiro entre nós... cara de espanto a minha).
Eu indignada exclamei pra minha amiga:
— Como assim? Quer dizer que ela enviou as crianças para escola mesmo
sabendo que estavam com covid?
— Sim, mas ela me disse que não apresentaram sintomas.
— (sem legenda)
Esse posicionamento da mãe, e sua atitude para com os outros reverbera
nos estudos realizados das categorias do eu-para-mim, do eu-para-o-outro
e do outro-para-mim em Bakhtin (1992-2011). O meu excedente de visão
me diz que essa mãe não mensura a gravidade do seu ato quando envia as
crianças para escola diagnosticada com o vírus, porque esse vírus tem um
alto poder de contágio e o que me afeta também afeta o outro.
Penso também na minha amiga que não consegue reagir a essa fala e
atitude da mãe talvez, por ser tomada pelo sentimento de indignação.
Fazendo uma aproximação com o grotesco no qual estamos estudando a
Cultura popular na Idade Média e no Renascimento, Bakhtin (2013)
procura fazer um grande estudo do diálogo entre a linguagem popular e a
cultura em que estava inserida.
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tranquilo era o Tutu, mais velho, filho único, sem contato com crianças,
pois é a única criança da família e da rua onde mora, ele demonstrava ter
deixado a ansiedade em casa, pra aproveitar cada momento presente.
Depois de uma curta conversa, explicando como seria o brincar lá no
parque, pois os espaços estavam divididos e nós poderíamos ficar com a
turma da Borboleta, que tinha uma criança. Apresentei o livro Cozinhando
no Quintal, as lindas fotos de pratos, escolhemos alguns utensílios de
cozinha para levar ao parque, onde cada criança montaria a sua cozinha
pra fazer seus pratos favoritos com os ingredientes da natureza, presentes
no nosso quintal.
Fomos caminhando para o parque, quando avisto uma criança correndo
em direção à minha Maria, ela estava de braços abertos, pronta para um
abraço, dizia “Amiga, amiga”; enquanto penso que linda, a Maria abre os
braços e se prepara para receber a amiga. Olho para a professora que está
preparando o fogão e parece não ouvir. Eis que eu, logo atrás da Maria,
falo com a voz trêmula, “Não, não meninas. Não pode abraçar, por favor.”.
As duas narrativas nos possibilitam vivenciar o grotesco dos nossos
tempos de Pandemia de covid-19. Embora nossa atuação seja em redes e
municípios distintos, nossos relatos trazem experiências marcadas pelas
ações de nossas crianças no cotidiano, nos revelando o grotesco no uso
das máscaras, porém com alegria, mesmo diante de protocolos sanitários
que cerceariam suas expressões de liberdade, porém tomadas pelo não-
álibi elas têm o posicionamento de manter o uso das máscaras respeitando
o coletivo.
O outro é essencial para a nossa constituição como sujeito, pois nos
confere o acabamento, nos completando em nossa totalidade. Portanto, na
filosofia Bakhtiniana, na nossa relação com o corpo devemos considerar a
liberdade inseparável da responsabilidade ética, pois o conceito de não-
álibi nos confere o posicionamento axiológico, irrepetível do nosso lugar
único de sujeitos. Por mais duro que seja, mesmo com a voz trêmula, a
professora para garantir os protocolos de segurança à Covid-19 impede o
abraço das crianças. O mesmo respeito à liberdade do outro não são
assumidos pela mãe da primeira narrativa, colocando em risco a vida das
crianças da turma, da professora e da comunidade escolar.
As máscaras que nos impedem de deslumbrar o sorriso das crianças, são
elas que nos marcam e nos protegem contra esse vírus tão letal e nos
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Denari (2006) aponta que tal discussão vem, em nossa sociedade, sempre
acompanhada de preconceitos, tabus e práticas repressivas, que partem
muitas vezes de alguns pais e responsáveis das pessoas com DI, que
acabam não percebendo as necessidades sexuais dos filhos e filhas, vendo-
as como imaturos ou como eternas crianças. Em geral, focam nas
expressões sexuais inadequadas e no medo da exploração sexual, no receio
de que pessoas mal-intencionadas se aproveitem da “ingenuidade” dos
seus filhos e filhas. Tal concepção sobre essa infantilização é reforçada
pelos estigmas decorrentes dos testes de Quociente de Inteligência (QI),
que alegam a idade mental de jovens com DI como a de crianças, por
exemplo, o que faz com que constantemente nos deparemos com jovens e
adultos trajando roupas infantis, sendo então estimulados a se comportar
como tal.
Nesse sentido, Glat (2007) diz que o medo de que a inocência dos filhos
e das filhas acabe pode levar muitos pais a não querer que eles recebam
educação sexual, mas a autora considera que o isolamento e a falta de
esclarecimento sobre a sexualidade levam o DI a comportamentos
considerados socialmente impróprios. Assim, ao mesmo tempo em que os
pais desejam que o filho e a filha possam agir de uma forma autônoma,
também, os impedem de realizar ações possíveis para sua idade e que
contribuem para as dificuldades de tal autonomia. São questões como
estas que impedem a sexualidade das pessoas com deficiência intelectual.
Assim, a problemática parece estar em impedir a sexualidade dos jovens
e adultos, reduzindo-a a algo proibitivo no âmbito privado – da casa –, no
âmbito público – da escola –, isto é, reconhecermos que há necessidade
também de rompimentos paradigmáticos no âmbito das relações humanas
como uma ação dialógica de resistência e discutir a proibição da
sexualidade da pessoa com deficiência para reconhecer esses sujeitos nos
diversos espaços que participam e atuam.
Referências
ASSUMPÇÃO, F. SPROVIERI, M. H. Sexualidade e deficiência mental.
São Paulo: Editora Moraes, 1987.
DENARI, Fatima Elizabeth. Sexualidade e deficiência mental: reflexões
sobre conceitos. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, v. 8, n.
1, p. 9-14, 2002.
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“Um sinal puro não existe nem nas fases iniciais da aprendizagem de uma
língua” (Volochinov, 2017, p.179)
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palavras com a sílaba “nhi” porque ninguém soube, então, iriam pesquisar
posteriormente. (Aula de Língua Portuguesa, 19/05/19, 23 alunos, 1
professora).
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Referências
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contrapalavras: Enfrentando questões da metodologia bakhtiniana. São
Carlos: Pedro & João Editores, 2012.
Grupo de Estudos dos Gêneros do Discurso – GEGe/UFSCar. Palavras e
contrapalavras: Glossariando conceitos, categorias e noções de Bakhtin.
São Carlos: Pedro & João Editores, 2019.
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Livraria
José Olympio, 1980
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essa proposta também pode ser adaptada para o ensino remoto, afinal, “o
uso de mais de uma semiose na apresentação de um conteúdo pode
favorecer a aprendizagem” (RIBEIRO, 2018, p. 105).
Percebe-se, então, que o desenvolvimento de projetos como esse
fortalecem a parceria entre professores de diferentes disciplinas,
ressaltando a importância do ensino de forma interdisciplinar. Inclusive,
uma das características das pesquisas em ciências humanas na
contemporaneidade é propor discussões que abarquem os sujeitos, as
sociedades, as culturas, os espaços, sob um olhar interdisciplinar e plural.
Por fim, durante as aulas, os alunos conseguiram perceber que a
linguagem, a cultura e a arte estão presentes em suas vidas, por meio do
trabalho com os mais diversos gêneros discursivos. Assim, a escola
apresenta-se como um espaço que proporciona o diálogo e a interação,
mesmo diante de tempos difíceis e que inspiram mudanças.
REFERÊNCIAS
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sociológica. In: Freudism – a marxist critique. Tradução de FARACO, C.
e TEZZA, C. (UFPR) para fins didáticos. New York: Academic Press,
1976.
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Bezerra. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz
Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 12. ed. Rio de Janeiro: Lamparina,
2015.
RIBEIRO, A. E. Escrever, hoje: palavra, imagem e tecnologias digitais
na educação. 1. Ed. São Paulo: Parábola, 2018.
ROJO, R. H. R. Hipermodernidade, multiletramentos e gêneros
discursivos. 1. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2015.
VOLÓCHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas
fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. 1. ed. São
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como forma de produção textual, logo se faz o uso da língua na sua forma
corpórea e sonora.
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Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
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CELANI, M. A. A. A relevância da linguística aplicada na formulação de
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2000.
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retextualização. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2010.
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cultura do hip-hop, que tem como base esses quatro pilares. Seria
impossível pensar o hip-hop sem levar em consideração as vozes dos
diferentes sujeitos que vivenciam essa cultura e o cotidiano desigual e
violento vivido nas periferias, que estão envoltos de um contexto de
produção e reprodução da vida mais alargado. A construção coletiva
presente na arte, na musicalidade e nas palavras expressas por esta cultura
popular, valoriza a identidade periférica no intuito de dar voz para pessoas
que foram subalternizadas nos processos econômicos e sociais, que estão
buscando, diante das desigualdades e atrocidades envolvidas nos
processos produtivos e reprodutivos do capital, resgatarem a sua
autonomia, a sua cultura e a sua liberdade na condução de suas vidas, o
que nos leva a compreender que enquanto manifestação de uma cultura
popular, o hip-hop carrega em seu bojo um horizonte de libertação e
emancipação, fundamentado não apenas na não aceitação das violências e
desigualdades sociais e estruturais, mas, sobretudo, na capacidade de
seguir (re)existindo em comunhão e reivindicando o espaço público,
político e social.
Portanto, o hip-hop envolve o diálogo e a interação dinâmica entre
indivíduos e sociedade, permite a sujeitos historicamente afastados dos
processos do conhecimento se afirmarem e se reconhecerem como sujeitos
políticos contemporâneos, que atuam em suas realidades e reivindicam o
sentido de suas experiências, para isso, são desenvolvidas práticas
específicas as quais podem ser atribuídas inúmeros significados para
aqueles que estão inseridos nesse acontecimento. Estes sujeitos, advindos
das camadas populares e historicamente marginalizadas, estão dispostos a
assumirem o seu próprio descentramento, conduzindo esse processo com
sabedoria, diálogo e autonomia. A interferência material e imaterial nos
locais onde o hip-hop se faz presente, delineiam o caráter imediato e a
longo prazo das ações humanas, conscientes e planejadas; que são
traduzida por meio da palavra, do corpo e da mente, no intuito de expressar
a identidade cultural que carrega diferentes visões de mundo, englobando
as diferenças e similitudes presente na tradição dos diversos povos que
estão inseridos nos atuais contextos de resistência e luta.
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dias, sem perder a ternura e a amorosidade que tanto nos conforta e ajuda
a enfrentar o grotesco que se instaura a cada dia.
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quartinho, esse ano sai a reforma” que o autor descreve com boniteza
como “farelos de um sonho bobinho que a luz contorna”. E é nesse
ambiente, da noite que ainda não se foi que a mãe também enuncia ao filho
“leve o documento, Sam” ao ganhar as ruas paulistas, nas quais o citado
abismo social entre brancos e negros, desde o berço, descortinam espaços
para preconceito, violência e discriminação, seja por parte da segurança
pública ou por instituições como temos visto em supermercados,
estacionamentos e shopping centers, que enquadram “o preto, o pobre, o
estudante. uma mulher sozinha e os humilhados do parque” como diria
também o compositor Belchior que granha um participação que vence o
tempo em seu álbum AmarElo e na canção homônima que dialoga com a
composição Sujeito de Sorte.
Porém, nessas “manhãs que tem lá seu Vietnã”, Emicida busca superar
todo esse grotesco dos nossos dias, da situação opressora que se coloca
em nossa realidade, contra o discurso monológico de um discurso oficial,
de um grotesco que é superado por meio de uma reivindicação da periferia,
que também é estética, contra os abusos e violências institucionais e
sistemáticos. Nas palavras de seus raps, Emicida nos coloca na escuta do
povo brasileiro e recupera - ética e esteticamente - a cada verso o seu modo
de ser, de viver, de sentir, de olhar, de se comportar que constitui pela
cultura popular, como avesso aos discursos oficiais institucionalizados e
ao grotesco pensamento bolsonarista.
Seja por meio da “reforma do quartinho”, do “som das crianças indo pra
escola” entre outras imagens que remetem à esperança, ao sol que vem
depois; junto à muita labuta e resistência de sujeitos oprimidos, que
Emicida constrói esteticamente esse “novo homem” e essa “nova mulher”
enunciados por ele “pra ver o amor” desses dois mundos. Diante da
“neblina” de nossos tempos, suas palavras nos transportam para a ética da
vida, sem o álibi, sem ingenuidade, mas com criticidade e com o ato
responsável, na qual os oprimidos, em comunhão, podem buscar a sua
liberdade, como diz Paulo Freire.
Na canção que abre o álbum AmarElo, temos os seguintes versos festivos,
esperançosos, bem como contestador e assertivo:
(...)
Cale o cansaço, refaça o laço
Ofereça um abraço quente
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Referências
BAKHTIN, M. A cultura popular na idade média e no renascimento: o
contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec, 2010.
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A
1971. Estavam aqueles dois homens sentados em um banco em
um boulevard próximo à prefeitura daquela cidade. Não se conheciam. Se
encontraram ali por acaso. Esses encontros promovidos pelo espaço. Se
encontraram porque era o único lugar livre naquela manhã iluminada que
prometia um dia quente. Ambos estavam com uma boa quantidade de
papel em mãos, manuscritos talvez, pois também portavam com eles um
lápis. O olhar perdido para as árvores e construções do entorno era
acompanhado pelo silêncio. A quietude foi quebrada por uma pergunta:
- Fala russo?
- Não... Português e outras línguas.
- Também não falo português. Mas quanto a isso não há problema, pois na
condição de alguém que escreve sobre nós e conosco, o texto do outro
permite que narradores de diferentes línguas possam conversar. Essa é
uma das belezas das escrituras e das autorias, não? Essas vozes são nossas
e de tantos outros e de alguém que as possibilita serem discorridas em
palavras. Forças das enunciações e da relação que cada autor estabelece
com seus heróis. Sou Mikhail Bakhtin, nascido em Oriol, uma cidade russa
às margens do Rio Oka. Оченьприятно (Otchenpriatno) [muito prazer].
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- É isso, gosto desses termos, dos seus encontros... Existe algo que sempre
carrego comigo, uma certeza: de que nosso valor depende do lugar em que
estamos... o valor de ninguém é absoluto, estável... isso para mim é uma
verdade, para o bem e também para o mal... porque, eu acredito, tudo
atravessa os espaços, os lugares, todas as determinações... e é por isso,
pela totalidade do espaço, que precisamos tentar entendê-lo como um
todo... não olhar os fragmentos, as parcialidades... nada é isolado... nada
nem ninguém...
- Sim! Há encanto e dureza em suas palavras, entendo seu corpo exilado.
Em meu país também temos e tivemos muitos. Veja as estátuas aqui dessa
cidade... Seus corpos petrificados têm uma beleza a ser contemplada.
Parecem até congeladas pelos olhares da Medusa e nós? O que fazemos?
Damos continuidade ao iniciado por ela, cada olhar dirigido, as enrijece
mais. Inalterável em seu tempo e há tempos. Nosso corpo não é assim, é
um grotesco, um mutável, tem cheiro, tem cor, tem carne e sangue que
pulsa em vida e que pode ser ameaça, outro tipo de contemplação. Há
muitas formas de contemplar o corpo do outro.
- Esse corpo que é espaço me interessa... é no espaço que a vida acontece,
que a vida de todos acontece... Acredito nesse espaço de todos, em que
estão todos os seres humanos, ainda que diferentes, diversos, múltiplos e
infinitos, de onde vem, quanto dinheiro têm, quanto poder, formação, nada
disso importa... ou, pelo menos, não deveria importar, todos estão
presentes, juntos, por inteiro, com todas as suas dimensões, seus corpos,
suas personalidades... do corpo não fugimos, não é mesmo? Não importa
aonde se vá, nosso corpo é quem nos leva e, claro, vai conosco... é nossa
forma, como nos vêem... como também nos vemos.
- Sim! Esse corpo que é visto pelo outro, que o complementa nesse espaço
e nesse tempo... O corpo como axiologia, que atrai ou expulsa. Esse é o
corpo em vida, que incomoda, mas que acolhe e abraça, não tem a rigidez
do mármore, nem sua frieza. Por ser um corpo vivo, tem nele a condição
de morte e de exílio. O corpo que não é mudo, mas de linguagem e falante,
que por sua voz tem que ser forçado a sair de uma fronteira ou ser
encarcerado dentro dela.
Quem passava por ali não entendia como duas pessoas falando línguas
completamente diferentes poderiam estar conversando. Estariam se
entendendo? Talvez por isso, davam até opinião na conversa. A verdade é
que, nesse momento, já não se sabia quem falava o que, mas sobre o que
se falava.
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Referências
Este diálogo imaginário foi livremente inspirado nas vozes de Mikhail
Bakhtin e de Milton Santos, nossos autores-personagens. No entanto –
ainda que os leitores e as leitoras possam encontrar, ao longo do texto,
ideias oriundas de várias de suas obras –, decidimos citar, no espaço
formal destinado às referências bibliográficas, uma obra de cada autor,
pois acreditamos que representam a essência do pensamento materializado
nesta conversa.
BAKHTIN, M. M. A Cultura Popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec,
1987.
SANTOS, M. A. Por uma Geografia cidadã: Por uma Epistemologia da
Existência. Boletim Gaúcho de Geografia: Associação dos Geógrafos
Brasileiros, Porto Alegre, n. 21, p. 7-14, ago. 1996. Disponível
em: https://seer.ufrgs.br/bgg/article/view/38613. Acesso em: 3 ago. 2021.
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Um tanto comovido, ele corrobora tal fala, e enfatiza que fica contente em
saber que o seu lar é essencialmente feminista, e que isso poderá se refletir
dentro da tradição no decorrer do tempo, porém confessa que
pesquisadores o procuram para alcançar outras figuras proeminentes no
fandango, e ao informar que também existem mestras, não ocorre o
interesse científico de relatá-las como personagens importantes para a
identidade caiçara.
Veríamos aqui um flagrante caso dos velhos e confessos cacoetes de uma
ciência dura e ortodoxa, sendo machista, patriarcal e misógina, ainda que
discurse ao contrário, mesmo que no terreno das humanas e das artes?
Nesse ponto, se faz inevitável cogitar que a heterociência não é só uma
opção que poderá ajudar a melhor compreender essa situação,
especialmente se levarmos em conta o viés do necessário estudo de gênero
em prol da mesma, por ajudar a rever e até demolir antigos (e antiquados
conceitos), conforme defende o professor Augusto Ponzio:
“A questão vital de hoje em dia não é uma questão de “alternativas”:
se de construir um outro mundo, ou melhor, um altrimenti do
Mundo é uma questão de alteridade: alteridade em respeito aos
gêneros, às identidades, aos papéis sociais, ao ser este ou ao ser
aquele” (in: SERODIO, 2018, p.67).
Ligando tal raciocínio à realidade do panorama caiçara, não há como
deixar de lembrar a satisfação do meu amigo Aorélio ao descrever o bom
domínio da viola por parte das gêmeas, inclusive porque substituíram
precocemente participantes adultos e experientes, visto que eles tiveram
se isolar devido à quarentena, sem contar que começam a ensinar as primas
e amigas da mesma idade, e suas vozes se evidenciam por acompanhar as
notas altas, algo que os meninos deixam de ter antes da pré-adolescência,
ainda poucos tocam os instrumentos.
Ao fim desse trecho, ambos concordam e ressaltam que a essa dinâmica
quanto à questão de gênero é um ponto de elemento de evolução
imprescindível para a cultura da região e de todo universo caiçara.
Outra vez, ao matutar/narrar (ou seria metanarrar?) esses fatos, sobrevém
a seguinte contribuição de Bakhtin:
Para que o objeto, pertencente a qualquer esfera da realidade, entre
no horizonte social do grupo e desencadeie uma reação semiótico-
ideológica, é indispensável que ele esteja ligado às condições sócio-
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Referências
BAKTHIN, M. Para uma filosofia do ato responsável. São Carlos: Pedro
& João Editores, 2010.
BAKTHIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec,
2006.
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Referências
ANDRADE, Oswald de. Manifesto antropófago. In: Revista de
Antropofagia, São Paulo, Ano I, n° 1, maio de 1928.
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento: o contexto de Francois Rabelais. 7ª Ed. Trad. Yara
Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 2010.
MIANI, R. A. Charge: uma prática discursiva e ideológica. In: 9ªArte.
1(1), 37-48. São Paulo, (2012, jan./jun.).
Notas
[1] Essa charge foi publicada pela autora em sua página pessoal do
Twitter, @LaerteCoutinho1, às 9h43am, em 19/05/2021.
[2] Agradeço imensamente às amigas e aos amigos, companheiras(os) de
leituras, pelo diálogo: Pedro Guilherme, Inez Helena, Gegelianos: Colussi,
Miotello, Fabrício, Nathan, Bárbara, Marisol.
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UM PONTO DE VISTA
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IMAGEM [5]
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Referências
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na idade média e no
renascimento: o contexto de François Rabelais. Tradução: Yara Frateschi
Vieir. 8. ed. São Paulo: Hucitec, 2013.
BAKHTIN, Mikhail; VOLOCHÍNOV, Valentin. A palavra própria e a
palavra outra na sintaxe da enunciação. São Carlos: Pedro & João
Editores, 2019.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 6.
ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. Trad. Michel
Latud & Yara Viara. São Paulo: Ed. Hucitec, 2009.
BAKHTIN, Mikhail. O homem ao espelho. Apontamentos dos anos 1940.
Tradutoras: Marisol Barenco de Mello, Maria Letícia Miranda. São
Carlos: Pedro & João Editores, 2019.
BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. Trad.
Valdemir Miotello & Carlos Faraco. São Carlos: Pedro & João Editores,
2010.
BAKHTIN, Mikhail. Problemas da Poética de Dostoiévski. Trad. Paulo
Bezerra. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2013.
BARTHES, Roland. A Câmara Clara. Tradução: Júlia Castañon
Guimarães. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2017.
CALVINO, Italo. Seis Propostas Para o Próximo Milénio. Tradução: Ivo
Barroso. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
GRUPO ATOS- UFF. Constelar: aprendendo o exercício de uma
heterociência. Revista Aleph, 25, 223-245, 2016.
KUBRUALY, Cláudio A. O Que é Fotografia. São Paulo: Nova Cultural,
1986.
Notas:
[1] CALVINO, Ítalo. Seis propostas para mudar o mundo, P. 30.
[2] Ala, sinônimo de linha.
[3] A expressão “Sol a Pino” significa que o Sol está no zênite, ou seja, no
ponto mais alto do céu.
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Marissol Prezotto
FE-UNICAMP; IBFE; ECC
marissol.prezotto@gmail.com
Para iniciar uma breve reflexão, retomei um registro feito para compor o
portfólio de registro dos alunos do 5º ano do qual sou uma das professoras
titulares. Assim, volto para as palavras e faço pequenas adaptações aqui
para que você, leitor, possa compreender e refletir junto e para além do
que lerá.
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IMAGEM
Neste espaçotempo da escrita na lousa, eu e a outra professora ficamos tão
encantadas com o posicionamento das crianças e suas reflexões. Os links
estabelecidos, a revisitação do posicionamento anterior das crianças a este
momento de encontro de pessoas que estavam buscando juntas
compreender o que cada um e o grupo estava sentindo. Não havia o certo
e o errado. Havia diálogo para compreender os diferentes pontos de vista
e uma necessidade, minha talvez, de recuperar o que fizemos para que não
houvesse somente um olhar sobre o vivido nesta volta às aulas no
presencial com a maior parte da turma.
Neste emaranhado de palavras e sentimentos, solicitei que as crianças
conversassem com seus pais retomando todo o caminho vivido - desde
a não aula e os encaminhamentos e atividades feitas e pensassem em
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todo. Não tem como sentir os gestos de amor e respeito quando os sujeitos
são questionados em suas próprias palavras para que todos possam ter uma
melhor compreensão do caos instaurado na ausência da professora
especialista, pois a professora da sala também tinha se organizado para
realizar uma atividade enquanto seus alunos estivessem em outra aula.
Cada vez mais vejo como se faz necessário revelar a atualidade cotidiana
para que esta se torne histórica, autêntica e repleta de sentidos e
significados para os que viveram a situação e para os que leem o registro
como possibilidade de reflexões outras.
É nesta esperança de narrar e compartilhar que podemos lançar novos
olhares sobre o acontecido, iluminando as tragédias ou risos possíveis para
que uma nova escola/novas práticas possam ser experienciadas, reveladas,
partilhadas...e seus sujeitos consigam se ver como realmente são no
cotidiano deste espaço de trabalho/estudo e da vida.
É neste recorte do pouquinho do vivido que pretendo me debruçar para
escutar o que está além do que está posto e partilhado e, assim, reafirmo
que só quem estava lá/aqui sabe a intensidade que foi...
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na idade média e no
renascimento: o contexto de François Rabelais. tradução de Yara
Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 1999.
BRAIT, Beth. (org.). Bakhtin, dialogismo e polifonia. São Paulo:
Contexto, 2009.
TIHANOV, Galin. A importância do grotesco. Revista Bakhtinianas.
Jul/Dez, 2012. 166-180.
SOBRAL, Adail & GIACOMELLI, Karina. (2020). Por Uma Proposta
de Educação Dialógica Alteritária. Línguas&Letras. 21. 10.5935/1981-
4755.20200001.
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Referências
BAKHTIN, Mikhail. Questões de Literatura e estética: a teoria do
romance. São Paulo: Hucitec, 2014.
BENJAMIN, Walter. Experiência e pobreza In: BENJAMIN,
Walter Técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da
Cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994 (Obras escolhidas vol. 1).
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II -
Assim, chamado a conversa, provocado pelo VIII Círculo - Rodas de
Conversa Bakhtiniana 2021, coloco-me, aqui, em reposta. O tema do
Rodas deste ano versa sobre a questão da escatologia e tem como título: O
grotesco dos nossos tempos: vozes, ambientes e horizontes. Então,
disponho-me com um conjunto de palavras, trechos e citações que recolhi
ao longo dos anos de estudo de Bakhtin, para participar das arenas
dialógicas. Não que eu tenha algo importante para dizer, penso que, depois
que encontrei com Bakhtin, só falo em resposta. Tenho praticado o
exercício da escuta. Desse modo, posso responder com a minha vida de
maneira responsiva, sem álibis. Tal como na vida, minhas escrituras são
textos que respondem o que minha voz não alcança nos espaços-tempos
que vivemos. Por isso, escrevo, para fazer circular uma palavra outra; em
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outros espaços-tempos que meu corpo não puder estar, em presença estará
a minha voz em palavra.
III -
“Sabemos que os excrementos desempenharam sempre um grande papel
no ritual da “festa dos tolos”. No ofício solene celebrado pelo bispo para
rir, usava-se na própria igreja excremento em lugar de incenso. Depois de
ofício religioso, o clero tomava lugar em charretes carregadas de
excrementos; os padres percorriam as ruas e lançavam-nos sobre o povo
que os acompanhava” em A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento por Bakhtin página 126.
IV -
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V-
“O objeto das ciências humanas é um ser expressivo e falante. Esse ser
nunca coincide consigo mesmo e por isso é inesgotável sem seu sentido e
significado” em Estética da Criação Verbal página 394 por Bakhtin.
VI -
No texto “Metodologia das ciências humanas”, que está no livro Estética
da Criação Verbal, Bakhtin discute sobre este ser expressivo, falante e
inesgotável de sentidos e significado. Ao escolher este tipo de projeto
discursivo, lembrei-me dessa provocação que Bakhtin nos faz. Então
pensei: - por que não trazer em trechos as partes que me tocaram a
conversar nesse Rodas de 2021?” Assim, as divisões das palavras, trechos
e reflexões estão isoladas, a fim de criar partes discursivas que podem ser
conversadas e refletidas, em parte ou no seu todo textual. Creio, não tenho
certeza, que esse método me possibilita criar outros diálogos e integrar
outras partes no texto em construção; – sim, isto é um texto em construção.
Ora, nos números pares teremos palavras, trechos e reflexões de Bakhtin;
nos números ímpares, minhas respostas, que estão, já neste momento,
impregnadas das palavras outras do círculo bakhtiniano. Imagem, para nós
que estudamos Bakhtin, também é texto.
VII -
“Por isso os principais acontecimentos que afetam o corpo grotesco, os
atos do drama corporal - o comer, o beber, as necessidades naturais (e
outras excreções: transpirações, humor nasal, etc.), a cópula, a gravidez, o
parto, o crescimento, a velhice, das doenças, a morte, a mutilação, o
desmembramento, a absorção por um outro corpo - efetuam-se nos limites
do corpo e do mundo ou nas do corpo antigo e do novo; em todos esses
acontecimentos do drama corporal, o começo e o fim da vida são
indissoluvelmente imbricados” em A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento por Bakhtin página 277 por Bakhtin.
VIII -
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IX -
“O modo grotesco de representação do corpo e da vida corporal dominou
durante milhares de anos na literatura escrita e oral. Considerado no ponto
de vista da sua difusão afetiva, predomina ainda no momento presente: as
formas grotescas do corpo predominam na arte não apenas dos povos não
europeu, mas mesmo no folclore, europeu (sobretudo cômico); além disso,
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X-
No mais, espero encontrar todas e todos nesse espaço-tempo dialógico,
que sempre foi lugar de conversas abertas, amorosas e com sentidos e
significados que são de aberturas e não cabe qualquer tentativa de
explicação. O Rodas de Conversa Bakhtiniana é o evento necessário para
terminar o ano fatídico e trazer horizontes, mesmo que sejam de forma
virtual. Não tarda, logo nos reuniremos novamente, com conversa boa,
rodas de leituras, cheiração de livros e café, num ato comensal que não
termina. Ali, ao término de cada encontro, são colocadas novas intenções
e muitas relações são estabelecidas, a partir dos encontros que a vida
proporciona. Em tempo, penso que devemos colocar nossos corpos
políticos na rua; em qualquer rua.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução: Paulo Bezerra.
6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no
Renascimento: O contexto de François Rabelais. Tradução: Yara
Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 2013.
https://domtotal.com/charges/
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Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. 6. ed. São Paulo:
Editora WMF Martins Fontes, 2011.
BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: Ética do humano – compaixão pela terra.
6. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
FREIRE. Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
MIOTELLO, Valdemir. Um ser expressivo e falante. Refletindo com
Bakhtin e construindo uma leitura de vozes. São Carlos: Pedro & João
Editores, 2013.
VOLÓCHINOV, Valentin. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São
Paulo: Editora 34, 2018.
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crianças, de 5 e 6 anos, sobre como sua colega de turma Lia tinha sido
literalmente arrancada da cadeira “como um animal”, nas palavras deles,
e levada para fora da sala de aula por estar dormindo. É fácil culpabilizar
o indivíduo em situações desse tipo. É sempre mais simples pedir que a
psicologia diagnostique o aluno-problema, encaminhe para o psiquiatra,
para que volte medicado. E qual o diagnóstico deveríamos dar para uma
sociedade que aceita milhares de famílias em situação de vulnerabilidade,
sem saber se terão o que comer ou onde dormir? Qual remédio tem sido
receitado no sentido de proteger essas famílias da violência de um Estado
que só se faz presente para cobrar, encarcerar e punir?
Sabemos que os processos de aprendizagem e transmissão de
conhecimento estão presentes nas mais diversas sociedades e tempos,
orientando as relações entre humano/natureza. Contudo, no âmbito da
sociedade capitalista, a escola se configura como um dos agentes
fundamentais para sua reprodução e manutenção, seja na transmissão de
conhecimentos necessários à reprodução do capital e sua ideologia
dominante, seja na produção de consensos e na domesticação dos corpos
que servirão de mão de obra para o sistema (Mészáros, 2008). Em seu livro
“Ensinando a Transgredir”, bell hooks (2017) nos conta sobre sua
experiência enquanto criança em uma escola do fundamental frequentada
apenas por negros. Em suas palavras: “Para os negros, o lecionar - educar
- era fundamentalmente político, pois tinha raizes na luta antirracista” (p.
10); sendo assim, suas professoras se preocupavam em ensinar que estudar
era um dos modos fundamentais de resistir às estratégias de colonização
branca, aproximando-se da realidade das crianças, buscando mecanismos
para emancipá-las em seu processo educativo. Mais tarde, com o fim da
política de segregação e sua inserção numa escola de brancos, relata: “de
repente, o conhecimento passou a se resumir à pura informação”(hooks,
2017, p. 12), contando que já não se sentia estimulada a ir à escola. Os
dizeres presentes no cartaz estampado na entrada, ainda no começo do
estágio, diziam respeito à perspectiva de que a escola deveria atuar apenas
nesta transmissão de informações, estando desconectada do compromisso
de formação das alunas/alunos, alheia à função social e emancipadora que
abriga o ambiente escolar.
Um dos momentos mais desafiadores do estágio aconteceu enquanto
realizávamos uma de nossas primeiras atividades junto com as crianças do
primeiro ano, cuja faixa etária girava em torno dos 6 e 7 anos, em média -
grupo com o qual trabalhamos mais de perto no percurso do estágio.
Estávamos trabalhando as emoções e pedimos para que cada uma das
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atravessam na busca por um saber de si e do mundo que seja cada vez mais
emancipatório, como nos diz Paulo Freire (1979, p. 17): “A educação é
mais autêntica quanto mais desenvolve esse ímpeto ontológico de criar. A
educação deve ser desinibidora e não restritiva.”
Desse modo, fica explícita a necessidade de que a escola se configure
como um local de questionamento, de disputa de narrativas em busca da
transformação social, para que estas crianças possam se haver com outros
modos de ser e existir. Se a busca por mudança no sistema educacional
não estiver atrelada a uma busca por mudança da sociedade como um todo,
incorremos no risco de nos satisfazer apenas com ajustes ou com pequenas
correções de uma ordem já pré-estabelecida (Mészáros, 2008). Sendo a
escola em questão de Tempo Integral, as crianças passavam a maior parte
da semana tendo um contato maior com a equipe de educadores do que
com suas próprias famílias e lares, colocando em relevo o papel da escola
como agente formativo, que deve ser capaz de oferecer espaços de escuta
e acolhimento, numa busca incansável e esperançosa pela superação das
vulnerabilidades, já que não pode haver educação sem esperança, como
nos ensina Paulo Freire (1979).
Pensando na invisibilidade que vivenciavam tanto socialmente, quanto no
contexto escolar, em busca da afirmação de suas identidades e a partir de
uma provocação vinda das próprias crianças, decidimos gravar um curta
metragem, envolvendo todas/os as/os alunas/os que quisessem participar.
Elaboramos perguntas simples, relacionadas ao trabalho que
desenvolvemos junto com elas/eles, a escola, o bairro. Nossa intenção era
que, conversando sobre o que pensavam, pudessem ir construindo e
expondo seus sentidos diante das câmeras. No dia do encerramento,
encontramos um jeito de expor o documentário no telão, no pátio da
escola, que trazia agora diversos papéis impressos com falas de Paulo
Freire e não mais aquele cartaz do início. Tanto o processo quanto o
resultado foram bastante surpreendentes. A exibição permitiu que as
crianças se enxergassem, se ouvissem, se percebessem, e estas pareciam
muito felizes e orgulhosas de si. O momento também permitiu que a
equipe da escola, em especial a coordenação, pudesse olhar para aquelas
crianças a partir de um outro enquadramento dialógico: como indivíduos
cooperativos, criativos e amorosos.
É necessário destacar que toda a mudança de perspectiva construída em
conjunto no decorrer do estágio só foi possível graças à amorosidade sem
tamanho das crianças, sua inventividade e energia, toda a potência de
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REFERÊNCIAS
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linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da
linguagem. São Paulo: Editora 34, 2017.
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Pandemia e volatilidade
Considerando que em aproximadamente em dezembro de 2019
houve rumores de que uma possível pandemia poderia se estender
pelo mundo em pouco tempo, e que essa futura pandemia
começava a se desenvolver na China, conforme Freitas, Napimoga
e Donalísio (2020, p. 1), “Desde o início do atual surto de
coronavírus (SARS-CoV-2), causador da Covid-19, houve uma
grande preocupação diante de uma doença que se espalhou
rapidamente em várias regiões do mundo, com diferentes
impactos”. De acordo com a Organização Mundial da Saúde
(OMS), em 18 de março de 2020, os casos confirmados da Covid-19
já haviam ultrapassado 214 mil em todo o mundo e não existiam
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descer e não for carnaval. O Som Sagrado de Wilson das Neves, 1996.
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A criança começa a ver-se pela primeira vez como que pelos olhos da mãe
e começa a falar de si mesma nos tons volutivo-emocionais
dela...(BAKHTIN 2017, p. 46). Dessa forma, o autor nos convida a
refletir sobre a chegada da criança ao mundo, um mundo em
erupção, em pleno acontecimento. Pelo olhar, pelas palavras, pelo
o tom da voz, o calor do abraço e do pulsar do coração, a mãe e os
adultos mais próximos começam a delinear esse novo sujeito,
sujeito único irreptível que chega ao mundo.
O presente texto busca dialogar com o tempo presente, fala de
abraços, de encontros, em especial, com vozes e horizontes dentro
da escola. Apresenta um cenário escolar bastante diferenciado, pois
novas frases de ordem invadem nosso vocabulário: distanciamento
social; uso de máscara obrigatório; álcool 70% passou a fazer parte
do material escolar de primeira necessidade. Compartilhar
material, nem pensar! Brinquedos e brincadeiras? Como, se não
pode chegar perto do amigo ou da amiga. Então vamos para aulas
online, é mais seguro, cada um na sua casa. O que não podemos é
perder tempo, perder conteúdos fundamentais para a vida escolar
da criança. Professores, alunos, instituições... todos reaprendendo
o seu ofício.
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SANTOS, Boaventura de Sousa. A cruel pedagogia do vírus.
Coimbra: Almedina, 2020.
Notas:
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Sai daqui.
Não tenho os músculos do riso.
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LOPES, Ana Lúcia Adriana Costa e. Um novato lá na sala, tem que
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Tese (Doutorado), Programa de Pós-graduação em Educação da
Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2018.
SZYMBORSKA, Wislawa. Poemas. São Paulo: Companhia das
Letras, 2011.
Notas:
[1] Wislawa Szymborska, nasceu em 1923 em Bnin, na Polônia, e
morreu em 2012. Em 1931, mudou-se com a família para a Cracóvia,
onde estudou literatura e sociologia. Ao longo da vida, publicou
doze pequenas coletâneas de poemas. Venceu o prêmio Nobel de
literatura em 1996.
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análise: a perspectiva metodológica bakhtiniana. In: Estudos
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Alan Silus
UNIGRAN | UFMS - CPTL
alan.silus@ufms.br
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social estética, lúdica e por vezes terapêutica, que por meio dos
signos ideológicos reafirma e mantém as culturas e promove novas
formas e instrumentos culturais.
Por fim, compreendemos que “a canção, entendida de maneira
genérica como composição musical acompanhada de um texto
poético destinado ao canto, certamente estará mutilada se
isolarmos um dos componentes definidores de seu todo”. (BRAIT,
2020, p. 167). As relações músico-literárias consolidam hoje um
campo de estudo muito promissor no âmbito das artes em geral.
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Introdução
As atividades foram desenvolvidas junto a turmas de alunos do
quinto ano do Ensino Fundamental, no componente curricular de
Estudos Geográficos e Históricos, em uma escola comunitária
localizada no Bairro Centro, em Lajeado, no Rio Grande do Sul.
Além disso, junto aos alunos que participaram da disciplina
Identidades e Diversidades Étnico-Raciais, do Curso de Pedagogia
do Centro Universitário Ritter dos Reis, em Porto Alegre. O
propósito que alicerçou o projeto foi o reconhecimento e a
valorização das culturas indígenas inseridas na perspectiva da
interculturalidade e o desenvolvimento de propostas de ensino que
buscassem descontruir estereótipos e preconceitos sobre os povos
indígenas.
Com este objetivo, vivenciar momentos de aprendizagem em
espaços externos ao ambiente escolar/universitário apresentou-se
como uma experiência com diferentes sentidos e repleta de
momentos que podem ser considerados únicos. As denominações
são variadas: saídas de campo, aulas passeio, viagens de estudos,
estudos do meio, entre outros; contudo, todos possibilitam
construir conhecimentos de maneira singular e dinâmica.
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Notas:
[1]A expressão genérica povos indígenas refere-se a grupos
humanos espalhados por todo o mundo, e que são bastante
diferentes entre si. É apenas o uso corrente da linguagem que faz
com que, em nosso país e em outros, fale-se em povos indígenas.
(ISA, 2015b).
[2]Atualmente encontramos no Brasil povos indígenas falantes de
mais de 150 línguas diferentes. Esses povos somam, segundo o
Censo IBGE 2010, aproximadamente 897 mil indígenas. Sendo que,
aproximadamente 324 mil vivem em cidades e 572 mil vivem em
áreas rurais, o que corresponde aproximadamente a 0,47% da
população total do país. (ISA, 2015a).
[3]A população Guarani no Brasil esteve estimada, em 2008, em
aproximadamente 51 mil pessoas entre os Kaiowá (31.000),
Ñandeva (13.000) e Mbya (7.000), distribuídas em vários estados do
Brasil, inclusive no Rio Grande do Sul.(ISA, 2015c)
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Sandman
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Mr. Sandman!
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Make himthecutestthatI'veeverseen
The Chordette
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A Pata e a Coruja
Um jeito de enfrentar dias futuros ou uma reinvenção do
grotesco
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Acho que foi nesse calo que a tal pedrinha cutucou a Pata aquele
dia. Então, como era tarde foi dormir: ela sabia que os neurônios,
depois do sono, funcionam melhor.
Tudo isso e mais pensou a Pata, mas no momento que recebeu a
mensagem da Coruja realmente não podia responder-explicar!
Estava saindo para uma viagem, para ouvir outros bichos em um
cercado distante, e estava se segurando para não desistir até da
viagem pois havia perdido um grande amigo. Mas para que a
Coruja não pensasse que foi retaliação, avisou onde estaria,
sabendo que seria compreendida.
Mas talvez não soubesse.
A resposta da Coruja foi ambivalente.
— Me chama quando tiver tempo – disse ela.
A Pata embrulhou as emoções nas malas e foi.
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Ser patética foi uma solução estética, social. Porém por origem e por
gênero do discurso (BAKHTIN, 2016) não poderia ser fábula,
forjada no passado em que a autoria individual nem era cogitada
como valor. O valor estava em contá-las: “Para mim, a memória é
a memória do futuro, para o outro, a do passado.” (BAKHTIN,
2003, p. 114). Assim, no meio do percurso o eu-outro percebe que
não poderia continuar patético. As personagens se
despersonalizaram de seu papel representativo, passaram pela
relação direta na vivência e foram para o grande tempo. Não
podiam ser só o que se mostraram ser na vida nem o papel de uma
identidade sem alteridade. A atribuição da qualidade patética à
autora-criadora, narradora da narrativa, da ideia do patético que
Bakhtin (2014; 2015) traz, só me serve como réplica ou já com a
consciência de que não é pura.
Em que dimensão a consciência linguística pode in(ter)ferir na
expressão verbointencional que, por grotesca se espalha da e na
cultura? Lembrando que é admitida pelo oficial atuando nele,
inclusive?
Não sei se terei a resposta um dia, mas vou tentar responder outra
questão: como saber dizer o que não se pode dizer?
“Quem não sabe fazer nada pode virar artista, músico...” dizem Os
saltimbancos na adaptação de Chico Buarque dos Músicos de Bremen.
Não é o caso de não saber fazer nada, não chega a isso, mas fazer
com o que se sabe algo relevante para não se sentir “engasgada”
como o outro pato, o da canção de Vinícius, aquele “com dor no
papo”. Antes o outro, o pato do João Gilberto, que “cantava
alegremente” “quando o marreco sorridente pediu para entrar
também no samba” que animou o cisne, que chamou o ganso para
o Tico-tico no fubá. Sim sim, seria o ideal. Ideal no sentido popular
de ideal, do desejado, esperançado, pois já até levou ao ato. O
quarteto ficará bem na beira da lagoa, mas e a pesquisadora-
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Veredas do (querer) dizer
Bakhtin e o grotesco
(...) o homem (...) não é apenas a existência mas também o futuro. (...) Enquanto
no seu nascimento, o homem recebe as sementes de todas as vidas possíveis.16
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ri/Por sob a risca da canoa/O rio viu, vi/O que niguém jamais olvida/Ouvi ouvi
ouvi/A voz das águas/Asa da palavra/Asa parada agora/Casa da palavra/Onde o
silêncio mora/Brasa da palavra/A hora clara, nosso pai/Hora da palavra/Quando
não se diz nada/Fora da palavra/Quando mais dentro aflora/Tora da palavra/Rio,
pau enorme, nosso pai/Asa da palavra/Asa parada agora/Casa da palavra/Onde o
silêncio mora/Brasa da palavra/A hora clara, nosso pai/Hora da palavra/Quando
não se diz nada/Fora da palavra/Quando mais dentro aflora/Tora da palavra/Rio,
pau enorme, nosso pai/Meio a meio o rio ri/Por entre as árvores da vida/O rio riu,
ri/Por sob a risca da canoa/O rio viu, vi/O que ninguém jamais olvida/Ouvi ouvi
ouvi/A voz das águas/Asa da palavra/Asa parada agora/Casa da palavra/Onde o
silêncio mora/Brasa da palavra/A hora clara, nosso pai/Hora da palavra/Quando
não se diz nada/Fora da palavra/Quando mais dentro aflora/Tora da palavra/Rio,
pau enorme, nosso pai”.
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ficou olhando a cara dele, que era uma cara de boi que não tinha nada
a ver com o que estava falando.23
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a guerra cultural tem uma face própria por aqui, em que pesa a
influência das ideias de Olavo de Carvalho, a partir de 1990, sobre
uma juventude com afinidade aos pensamentos de direita e
extrema-direita que ganhou espaço de ativismo nas ruas e redes
sociais, especialmente a partir das Manifestações de Junho de 2013.
Assim, nesta última década, cresceu no Brasil um conjunto de
ideias que preza o revisionismo da memória da ditadura militar e
a narrativa conspiratória que tem como ameaça permanente o
oponente abstrato “comunismo”, em que os agentes inimigos são
estereotipadamente identificados como “esquerdistas”, “petistas”,
“petralhas”, “socialistas”, “vermelhos”. Enfim, àqueles que não
concordam com seus posicionamentos políticos e ideológicos resta
a “pecha” de “inimigos do povo”, bem ao modo populista, fascista
e autoritário de fazer política. Assim, podemos dizer que essa
guerra cultural tem as redes sociais como palco de lutas e de
construção e propagação de “narrativas” em torno desse inimigo a
se combater. A política ganha assim uma conformação específica e
carnavalesca nesse novo modo de habitar a “praça pública”.
Bakhtin (1997), colocando a obra de Dostoiévski no contexto
da cultura, trata do diálogo que o autor estabelece com a sátira
menipeia e com o carnaval, discutindo como, por um lado, esse
gênero literário ganha novos contornos na narrativa do autor e, por
outro, como esse conjunto de práticas “invade” a literatura e
assume o protagonismo na construção artística das personagens e
relações dialógicas presentes na obra. Entre os elementos que
Bakhtin aponta na carnavalização, em “Peculiaridades do gênero,
do enredo e da composição das obras de Dostoiévski”, destacamos
aqui aspectos que me parecem centrais para entender o discurso
político brasileiro contemporâneo:
1. “O carnaval é um espetáculo sem ribalta e sem divisão entre
atores e espectadores. No carnaval, todos são participantes
ativos, todos participam da ação carnavalesca. Não se
contempla e [...] nem se representa o carnaval mas vive-se
nele”. (BAKHTIN, 1997, p. 122). Destaco aqui, da prática
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Letras: https://www.companhiadasletras.com.br/autor.php?codigo=00762.
Acesso em: 5 set. 2021.
35 Ganhou o prêmio Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, bem como o
Prêmio Jabuti.
36 Vale ressaltar que a obra Os Invisíveis teve uma edição anterior da Casa da
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Considerações finais
[...] jamais alguém será livre enquanto houver flagelos.
(A Peste, Albert Camus, 2019)
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Referências
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38 A obra foi publicada em 2021 pela Pedro & João Editores, e organizada por Alan
Silus, Aline Saddi Chaves e Maria Leda Pinto. Trata-se de uma publicação
vinculada ao Núcleo de Estudos Bakhtinianos (NEBA/CNPq/UEMS).
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Fonte: https://oglobo.globo.com/politica/jovem-que-disse-ter-sido-
marcada-com-suastica-vai-ser-indiciada-por-falsa-comunicacao-de-
crime-diz-delegado-1-23181117
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[Enunciador]: Uma jovem de 19 anos diz ter sido atacada por três
homens e teve a barriga marcada com traços semelhantes aos de uma
suástica - símbolo do nazismo. (M1/OESP)
[Enunciador]: Os homens, então, agrediram-na com socos e um deles
usou um canivete para marcar a lateral de sua barriga com um símbolo
parecido a uma suástica. (M1/EP)
[Jornalista entrevistada]: “Ela foi agredida, humilhada no meio da rua
(...) Dois homens seguraram seus braços, enquanto o terceiro cravava
uma suástica na sua costela”, relatou a jornalista Ady Ferrer [...].
(M1/EP)
[Enunciador]: Jovem marcada com suástica no RS será indiciada por falsa
comunicação de crime. (M2/OESP)
[Delegado]: Responsável pelo caso, o delegado Paulo César Jardim,
considerado especialista em investigações de células neonazistas no
Rio Grande do Sul, disse não reconhecer uma suástica no ferimento no
corpo da vítima. “Eu não vi uma suástica. Ali, o que tem é um símbolo
antigo, milenar, budista, que foi historicamente corrompido”, disse.
(M1/OESP)
[Delegado]: Jardim não acredita que o crime tenha sido cometido por
indivíduos vinculados a grupos neonazistas, já que a suástica foi feita
ao contrário. (M1/EP)
[Laudo da Polícia]: O laudo técnico da Polícia Civil concluiu que “pode
se afirmar com convicção que as lesões produzidas na vítima não são
compatíveis com as que seriam esperadas, na hipótese de ter havido
efetiva resistência da parte dela à ação de um agente agressor”.
(M2/OESP)
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Considerações finais
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41 Dawn Smith foi criada na Califórnia e hoje trabalha com roteiros e comédia standup,
além de produzir a série de comédia "Paid For By". O trecho foi transcrito de uma
palestra em um evento TEDx, cujo título era: Why I Left an Evangelical Cult (Por que
deixei um culto evangélico), em 2018. Disponível em:
https://somosamadas.wordpress.com/type/video/.
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Clique:
https://www.ted.com/talks/dawn_smith_why_i_left_an_evangelical_cult?language=pt-br
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[...] Minha cabeça estava erguida e meus olhos estavam abertos, mas eu
não vi nada. Na metade do corredor, a igreja explodiu com: “Vocês
estavam lá quando crucificaram meu Senhor?”, e eu tropecei em um pé
esticado vindo do banco das crianças. Cambaleei e tentei dizer alguma
coisa, ou talvez gritar, mas um caqui verde, ou talvez tenha sido um
limão, que estava entre as pernas começou a se espremer. Eu senti o
azedo na língua e senti no fundo da boca. E antes de chegar à porta, o
ardor estava queimando pelas minhas pernas, até as minhas meias de
domingo. Tentei segurar tudo de volta para impedir que escorresse tão
rápido, mas quando cheguei à varanda da igreja, eu soube que teria que
parar de segurar. Senão acabaria subindo de volta para a minha cabeça,
e minha pobre cabeça explodiria como uma melancia largada no chão, e
todo o cérebro e cuspe e língua e olhos se espalhariam por todo o lado.
Assim, corri pelo pátio e soltei. Corri, mijando e chorando, não na direção
do banheiro nos fundos, mas para a nossa casa. Eu levaria uma surra por
isso, sem dúvida, e as crianças malvadas teriam uma coisa nova como
desculpa para pegar no meu pé. De toda forma, eu ri, em parte por causa
da doce libertação; ainda assim, a maior alegria veio não só de estar livre
da igreja boba, mas de saber que eu não morreria de cabeça
estourada.44
44 ANGELOU, Maya. Eu sei por que os pássaros cantam na gaiola. Bauru- SP:
Astral, 1997/2018, p.13 (grifos meus).
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[...] Depois de se situar em uma imensa pedra chata, Baby Suggs baixava
a cabeça e rezava em silêncio. A congregação observava das árvores.
Sabiam que ela estava pronta quando baixava seu bastão. Então, ela
gritava: “Que venham as crianças!”, e elas corriam das árvores para Baby
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Suggs. “Que suas mães escutem o seu riso”, ela dizia, e o bosque vibrava.
Os adultos olhavam e não podiam deixar de sorrir.
Então “Que venham os homens adultos”, ela gritava. Eles avançavam um
a um do meio das árvores ressonantes. “Que suas esposas e seus filhos
vejam vocês dançarem”, ela dizia a eles, e o chão tremia vivo debaixo de
seus pés. Por fim, ela chamava a si as mulheres. “Chorem”, dizia a elas.
“Pelos vivos e pelos mortos. Só chorem.” E, sem cobrir os olhos, as
mulheres se soltavam. Começava assim: crianças rindo, homens
dançando, mulheres chorando e depois se misturavam. As mulheres
paravam de chorar e dançavam, as mulheres riam, as crianças choravam
até, exaustas e acabadas, todos e cada um caírem na Clareira, molhados
e sem fôlego. No silêncio que se seguia Baby Suggs, sagrada, oferecia a
eles o seu grande imenso coração.
Não lhes dizia para limpar suas vidas ou ir e não pecar mais. Não lhes
dizia que eram abençoadas na terra, seus mansos herdeiros ou seus
puros à glória destinados.
Dizia-lhes que a única graça que podiam ter era a graça que conseguissem
imaginar. Que, se não vissem isso, não a teriam. [...] 47
(In)desfecho
47 MORRISON, Toni. Amada. São Paulo: Cia das Letras, 2011. p. 133-134 (grifos
meus)
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REFERÊNCIAS
ANGELOU, Maya. Eu sei por que o pássaro canta na gaiola. Tradução de Regiane
Winarski. Bauru, SP: Astral Cultural, 2018.
ATWOOD, Margaret Eleonor. O Conto da Aia. Tradução de Ana Deiró. Rio de
Janeiro: Rocco, 1985/2017.
BAKHTIN, Mikhail M. A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento: o
contexto de François Rabelais. Tradução de Yara Frateschi Vieira. São Paulo:
Hucitec: Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1999.
BARTHES, Roland. Fragmentos de um Discurso Amoroso. Trad. Márcia Valéria
Martinez de Aguiar. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa.
São Paulo: Paz e Terra, 19997.
HINES, Molly. Religious Fundamentalisms and the Systematic Oppression of
Women: Margaret Atwood´s “The Handmaid´s Tale”. Tennessee, USA: VDM -
Verlag Dr. Müller, 2008.
Hooks, bell. Ensinando a transgredir: a Educação como prática da liberdade. São
Paulo: Martins Fontes, 2013.
LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. 4ª ed.,
tradução de Alfredo Veiga-Neto. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
MORRISON, Toni. Amada. Tradução de José Rubens Siqueira. São Paulo Cia das
Letras, 2011.
OZ, Amós. Contra o Fanatismo. Tradução de Denise Cabral. Rio de Janeiro:
Ediouro, 2004.
SPINOZA, Benedictus de. Ética. Tradução e notas de Tomaz Tadeu. 3. ed. Belo
Horizonte: Autêntica, 2010.
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Madrugada camponesa,
faz escuro ainda no chão,
mas é preciso plantar.
A noite já foi mais noite,
a manhã já vai chegar.
48O poema “Madrugada Camponesa” foi publicado mais tarde, em 1968, no livro
intitulado “Faz Escuro Mas Eu Canto”, de autoria de Thiago de Mello. Disponível
em: https://vermelho.org.br/prosa-poesia-arte/de-thiago-de-mello-para-os-
comunistas-faz-escuro-mas-eu-canto/ . Acesso em: 07 set. 2021.
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Que reverberações esse enunciado poético pode ter neste país e além
dele, em um mundo fraturado? Em setembro, quando a mostra principal
da Bienal abrir, quão sombrio estará o horizonte? É impossível prever –
um dia desses, as cinzas da floresta em chamas deixaram escuro o céu da
tarde paulistana [...].51
Por meio desse verso, reconhecemos a urgência dos problemas que desafiam a
vida no mundo atual, enquanto reivindicamos a necessidade da arte como um
campo de resistência, ruptura e transformação. Desde que encontramos esse
verso, o breu que nos cerca foi se adensando: dos incêndios na Amazônia que
escureceram o dia aos lutos e reclusões gerados pela pandemia, além das crises
políticas, sociais, ambientais e econômicas que estavam em curso e ora se
aprofundam. Ao longo desses meses de trabalho, rodeados por colapsos de toda
ordem, nos perguntamos uma e outra vez quais formas de arte e de presença no
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mundo são agora possíveis e necessárias. Em tempos escuros, quais são os cantos
que não podemos seguir sem ouvir, e sem cantar?52
Referências
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Referências:
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Ruy Braz
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O Grotesco invertido
No estudo sobre a obra de Rabelais (BAKHTIN, 2013; 2018),
Bakhtin apresenta a cultura popular como uma força de resistência
à cultura oficial e, consequentemente, ao poder instituído. Em sua
época, Rabelais deu visibilidade ao grotesco e ao burlesco como
imagens de sua obra literária justamente para ridicularizar o poder
instituído, como faziam os bufões e os bobos nas praças públicas e
nas cortes.
Assim, o grotesco era uma das armas de desmascaramento
ou de exteriorização do que a massa oprimida gostaria de
manifestar ou mesmo desfazer. O poder do grotesco, manifesto em
desregramento, surge como metáfora do poder instituído. As
formas e as ações que os personagens grotescos imprimem nos
enredos fictícios acabam, assim, por ridicularizar as ordens, os
desmandos e as peculiaridades que o poder instituído autoriza-se
a imprimir no mundo da vida.
O riso que surge do grotesco é, então, uma maneira de
humilhar os poderosos e corrigir (BERGSON, 1983), ao menos
externamente, as suas atitudes de indiferença, de exploração e até
de crueldade.
Entretanto, falando especificamente do Brasil, ainda que se
possam colher exemplos espalhados pelo mundo, o governo que
ora nos “governa” inverte a lógica tradicional desta exposição
grotesca. Nosso atual presidente da república associa a sua própria
figura a ações e imagens tão bizarras que transforma a si mesmo
em um ícone grotesco.
Quando os bufões e os bobos eram os únicos autorizados a
rirem - consequentemente tornando-as ridículas - das
extravagâncias dos poderosos, a seriedade era uma característica
associada ao poder (BAKHTIN, 2013). A austeridade e a
imponência eram componentes emblemáticos das figuras diretas e
das representações iconográficas dos homens que detinham poder.
Ao longo dos anos, após uma série de transformações
sociais, as figuras de poder no Ocidente foram tornando-se, na
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O Grotesco pervertido
A imagem cultivada por nosso atual presidente durante as
décadas de vida pública, e sobretudo a partir de sua candidatura à
presidência, é, na polissemia da palavra, forjada. Em um sentido,
essa imagem foi trabalhada - impressa e reimpressa, trocada de
lado, martelada - ao longo dos anos de acordo com os interesses
momentâneos e a partir das respostas da população às
manifestações em gestos e em palavras. Em outro sentido, essa
imagem pretende ser o que não é.
Como a maioria dos que concorrem a cargos públicos em
nosso país, o atual presidente finge interesse na vida da população,
interesse em melhorá-la. Para isso, forja uma aproximação com os
mais pobres e uma empatia com suas necessidades.
Neste caminho, porém, suas propostas de ações de
respostas contra as injustiças que pretensamente quer combater são
sempre violentas. A aniquilação do contraditório é o único caminho
que o atual presidente parece conhecer, o único que manifesta.
Nesta apologia à violência, ele anula o outro.
Sem perceber, o atual presidente entra em contradição em
seu discurso, pois anular o outro é necessariamente anular o
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O Esperançar
Andar de bicicleta, contudo, é um ato de amor. Brincar,
correr, pular, sorrir após ouvir atentamente uma história cômica,
tudo isso são atos de amor. E somente a contemplação do amor é
capaz de criar (BAKHTIN, 2010). É assim na agricultura, na
educação, na obra artística, etc.
Cuidar, igualmente, é um ato de amor. Na pandemia, então,
estar em isolamento social quando possível, manter
distanciamento, usar máscara e tomar todas as medidas higiênicas
cabíveis, tudo isso são atos de amor.
Quais são, entretanto, as intersecções desses dois exemplos?
Quando, no contexto pandêmico, o brincar e o cuidar podem ser
ambos, ao mesmo tempo, no mesmo lugar e com os mesmos
sujeitos envolvidos, atos de amor?
Talvez no limiar. É isso que quero crer. Quando o cuidar
está se tornando menos necessário e o brincar está podendo
acontecer, ambos coadunam.
Sim, sei que muitas vezes é difícil perceber o limiar,
sobretudo quando estamos nele. Mas há indícios.
Se ainda não é tempo de nos abraçarmos, talvez já saibamos
como proceder para nos vermos e conversarmos pessoalmente. Se
ainda não é tempo de “aglomerar”, talvez já saibamos onde
podemos nos encontrar com poucos riscos. Se ainda não é tempo
de brincarmos juntos, talvez já possamos sair de bicicleta em ruas
pouco movimentadas, empinar pipas, nadar em rios vazios,
caminhar em trilhas isoladas...
Sei que, neste contexto, há muito de vago e inseguro no que
acho e no que quero. E é importante ressaltar que sou também
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Referências bibliográficas
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2. DISCUSSÃO
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REFERÊNCIAS
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56 Joaquim Maria Machado de Assis foi um escritor brasileiro que viveu entre
1839-1908
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setembro.
Pandemia emocional – O que você
sente tem nome: definhar.
O Estado de Médico olavista ganha espaço na
S. Paulo Saúde e busca nova cloroquina.
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Referências
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Ato 1
Escatologia
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Referências
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Lidia Ferreira
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59 59 A grande maioria das pessoas tem um corpo que se enquadra no que aqui
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Viva o SUS
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TEXTOS DA ARENA
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Referências bibliográficas
Bachtin, Mikhail
2008 Em Diálogo. Conversas de 1973 com Viktor Duvakin, intr. di A.
Ponzio, “O símbolo e o encontro com o outro na obra de
Bakhtin”, São Carlos, Pedro & João, 2a ed. 2012
2014 Opere 1919-1930, a cura di Augusto Ponzio in collab. con
Luciano Ponzio, testo russo a fronte. collana “Il pensiero
Occidentale” diretta da Giovanni Reale, Milano, Bompiani.
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Imagens
7, 8, 9 e
10. Cenas
do
funeral de
Diego Armando
Maradona, velado
na Casa do
Governo da
Argentina,
acontecimento
onde se
manifestou a dor
popular e
também alguns
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abordar tal profunda questão que não foi objetivo dessa conversa
que tive o gosto de compartilhar com vocês.
Referências
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