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O ensino da Física no Ensino Médio e sua

aplicabilidade tecnológica
Alan Oliveira Rodrigues Ramos
Engenheiro Mecânico
alanoliv@poli.ufrj.br

Dos diversos alunos do Nível Médio que tive, tanto em turmas quanto em aulas particulares
na disciplina de Física, notei claramente a necessidade que eles tinham de saber o porquê que
aquele assunto, ora visto, foi um dia estudado e ainda mais: Qual era o motivo de eles
terem/estarem estudando Física. É interessante notar que mesmo aqueles alunos que não tinham
afinidade com a matéria, faziam sempre a mesma pergunta daqueles que gostavam de Física: -Para
quê serve isto?

Essa questão também é unânime nos Segundo e Terceiro anos do Ensino Médio. Apesar de os
alunos dessas classes terem uma certa “bagagem” dos anos anteriores, percebe-se claramente a
lacuna que existe na parte de aplicabilidade do assunto que estão estudando. Logicamente, o foco
do ensino no Segundo Grau não é o de formar Cientistas, Engenheiros, etc. Mas é muito
interessante formar cidadãos com o mínimo de consciência dos fenômenos que o cercam no
cotidiano, pois fornece uma maior capacidade de interpretação do mundo, pode levá-los a uma
maior percepção filosófica, artística, cultural, etc.

Cito três casos interessantes. Certa vez, uma aluna enfezada por estar estudando Espelhos
Esféricos, dizia que “aquilo” não a ajudava em nada e muito menos teria alguma serventia para ela.
Expliquei a ela que com a necessidade de novas fontes de energia, foram elaborados estudos que
levaram à construção de Coletores Parabólicos de Energia Solar, que concentravam todos os raios
solares paralelos que incidiam no espelho e iam direto ao foco, aquecendo um dispositivo que
gerava energia. Ela indagou: -Mentira?!?!. Outro aluno, que adorava jogos com armas, também
possuía o mesmo questionamento. Como sabia do seu gosto, disse a ele que, na tecnologia de mira
de armamentos, eram utilizadas lentes esféricas junto com um feixe de luz vermelha, produzida por
um “led” e uma pilha. Esse feixe de luz incidia paralelamente na lente convergente biconvexa, que
converge os feixes de luz em um ponto, que somente o atirador vê. Alinhando esse ponto com a
mira, o alvo, ou quem estiver perto, não verá mais aquele pontinho vermelho de luz!
Outra vez, em uma classe, indagaram a real necessidade de saberem sobre Dilatação Térmica
de Sólidos. Expliquei os dispositivos dos chamados “Pisca-pisca”, muito utilizados em épocas
natalinas, que variam de tamanho conforme a temperatura de uma pequena barra de metal formada
por dois metais diferentes, grudadas uma na outra e de mesmas dimensões. Quando fria, fecha um
circuito elétrico, que faz com que uma pequena lâmpada acenda. Com a dissipação de energia
elétrica por Efeito Joule, essa pequena barra aquece e torce, devido a diferença entre os coeficientes
de dilatação dos diferentes metais, abrindo o circuito elétrico que faz com que a lâmpada apague.
Com o início desse ciclo, cria-se o efeito de “piscar a luz”. Expliquei também que o coeficiente de
dilatação de um dente deve ser igual ao coeficiente de dilatação do Amálgama utilizado para obturar
dentes, pois tanto o dente obturado quanto o Amálgama, deveriam dilatar analogamente, senão
haveria grande possibilidade de desprendimento entre ambos. Todo esse desenvolvimento de
tecnologias graças ao estudo adequado da essência: A Física.
Simples exemplos de aplicação que o Docente de Física pode inserir nas suas aulas, fazem
com que os alunos despertem um grande interesse em todos os assuntos futuros. Desperta também a
curiosidade de saber onde é e como poderia ser aplicado o próximo assunto a ser ensinado. Além
disso, planta a semente de futuros Engenheiros, Físicos, Cientistas, ou de um profissional ligado à
área tecnológica. Desperta neste aluno desejos que nem ele sabia que tinha: O de querer aprender,
intuitividade para perceber e capacidade para compreender melhor todos os fenômenos que o
cercam. Assim é que se cultiva a semente que irá germinar profissionais que pesquisarão e
desenvolverão soluções criativas para as necessidades atuais e futuras.

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