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BIOSSEGURANÇA EM

PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS

Vanessa Cavanus Foppa


Farmacêutica Especialista em Controle de Infecção em Serviços de Saúde

Por que falar de biossegurança em


procedimentos estéticos?
Situações encontradas durante as inspeções da Vigilância
Sanitária:
- desconhecimento da legislação existente;
- dúvidas com relação às instalações e a
infraestrutura;
- classificação e processamento correto de artigos
utilizados nos procedimentos;
- utilização de produtos, utensílios e equipamentos sem
notificação/ registro na ANVISA;

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Por que falar de biossegurança em
procedimentos estéticos?
- falta de higiene e organização;
-ausência de licenciamento pelos órgãos competentes;
- atuação e ética no exercício profissional;
- problemas com a formulação e adesão de
Procedimentos/Protocolos/POP’s, tais como:
procedimentos de limpeza, desinfecção e esterilização de
materiais, uso de EPIS, manutenção e limpeza de
equipamentos, higiene do ambiente, superfícies e
mobiliários, descarte de resíduos de saúde, protocolos de
risco ocupacional

Proposta das aulas de biossegurança:


 Trabalhar de forma prática o processo de elaboração
dos Procedimentos Operacionais Padrão;
 Visualizar o passo a passo desses protocolos;
 Abordagem inicial e teórica sobre o assunto;
 Estudar através de pesquisas científicas e relatórios
técnicos, situações que tornam o conhecimento da
biossegurança essencial no dia a dia do profissional que
trabalha na área estética.

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Conceito de biossegurança
“Conjunto de ações voltadas para a prevenção,
minimização e eliminação de riscos inerentes às
atividades de pesquisa, produção, ensino,
desenvolvimento tecnológico e prestação de
serviços que possam comprometer a saúde do
homem, dos animais, do meio ambiente, ou a
qualidade dos trabalhados”
(TEIXEIRA e VALLE, 1996).

Considerações
• Os procedimentos estéticos são oferecidos por diversos estabelecimentos,
desde clínicas a salões de beleza;
• Há um envolvimento de profissionais de diferentes áreas;
• São cada vez mais acessíveis ao público em geral e abrangem as mais
variadas classes sociais;
• A preocupação com a transmissão de doenças e os riscos relacionados aos
procedimentos estéticos:
• Falta de conhecimento do consumidor com relação aos riscos de sua
exposição;
• Falta de conhecimento técnico-científico e despreparo do profissional;
• Prioridade de investimentos para atrair o consumidor maior que os
investimentos que deveriam garantir sua saúde e segurança;

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Considerações
• É crescente a preocupação com processos de assepsia e
esterilização inerentes aos procedimentos estéticos;
• Na maioria dos atendimentos o cliente desconhece estes processos
e os riscos causados pelas infecções que poderão incorrer nas
diversas terapêuticas (âmbito capilar, facial e corporal);
• É de suma importância à conduta ética por parte dos profissionais
com relação ao conhecimento e aplicabilidade das medidas de
biossegurança, voltadas para a prevenção, minimização e
eliminação de possíveis riscos por contaminação de agentes
microbianos e uma série de riscos químicos, físicos, biológicos e
psicossociais referentes às atividades desta profissão.


Riscos Psicossociais
04/08/2015 13h13 - Atualizado em 04/08/2015 15h50

• Mulher tem queimadura de 3º grau em procedimento para perda de


gordura. Procedimento foi feito por esteticista em um salão de beleza
em Cuiabá. Paciente está há 6 meses fazendo tratamento para
amenizar cicatriz.

Após se submeter ao procedimento, ela ficou com ferimento


na barriga (Foto: Reprodução/ TVCA)

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Riscos Psicossociais
• Erro com peeling de fenol provoca queimaduras de terceiro
grau em paciente de Cascavel
• Erros Estéticos 8 de julho de 2016 By Assessoria de Imprensa

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Questões éticas
• 25/07/2016 07h00 - Atualizado em 25/07/2016 07h00

• Polícia e Procon apuram denúncias contra clínica de


estética em Franca. Clientes reclamam de serviços não
cumpridos e profissionais sem qualificação. Proprietária
nega acusações e se diz vítima de falsa esteticista demitida.

Relatório de denúncias em Serviços de


Interesse para a Saúde (SIPS)
-Denúncias realizadas pela população de todo país no período de
março de 2015 a junho de 2016. O relatório apresentou os seguintes
resultados:
- das 409 denúncias recebidas na ANVISA sobre serviços de
interesse para a saúde naquele período, que envolvem desde salões de beleza e
clínicas de estética, até estúdios de tatuagem, 232 são sobre serviços de
estética e embelezamento;
- as denúncias analisadas são originárias de 19 Estados de todas as
regiões do país, com o maior número de denúncias sendo provenientes da
região Sudeste (66%).

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As 409 demandas recebidas foram
classificadas em 15 categorias:

Categoria Serviços de Estética


A categoria de serviços de estética e
embelezamento corresponde à de maior incidência de
denúncias, alcançando 57% (232) das demandas. Esta
categoria, por ser muito ampla, foi dividida em
subcategorias. Entre os problemas relacionados nas
subcategorias, predominam ocorrências referentes ao
Processamento de materiais e equipamentos,
Procedimentos Internos, Produtos, Descumprimento da
Legislação Federal, Higiene, Ambiência, Alvará e uso de
materiais e equipamentos.

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As demandas foram segmentadas em
subatividades para detalhar ainda mais o panorama
das ocorrências. Assim, foi possível identificar que
63% das denúncias da categoria são referentes a
serviços em salão de beleza, sendo que neste
conjunto se destacam três irregularidades: o uso do
formol, a falta de esterilização de equipamentos e a
reutilização de cera de depilação.

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Já na atividade de estética – que inclui atividades
distintas das realizadas tradicionalmente nos salões de
beleza – há uma enorme variedade de procedimentos,
muitos deles relacionados a novas tecnologias inseridas
dinamicamente no mercado. Entre as 79 denúncias
recebidas na área de estética, destacam-se as
irregularidades nas atividades de micropigmentação, nos
procedimentos de criolipólise e carboxiterapia, entre
outras identificadas no gráfico a seguir:

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Conclusões do relatório
• Os dados captados no relatório sinalizam a necessidade de ações voltadas
para o mercado de Estética e Embelezamento;

• O estudo mais detalhado neste relatório destaca que as irregularidades vão


desde o uso de substâncias já proibidas há tempos, como o formol, até a
questão da falta de procedimentos para a realização de serviços como a
micropigmentação e lidar com novas tecnologias, como a criolipólise;

• É importante notar que há vieses na análise dos dados, visto que ainda não
há uma relação entre as denúncias e o número absoluto de estabelecimento
de cada serviço, que há um reduzido número de denúncias recebidas pela
Anvisa e que não foi realizada uma análise qualitativa das demandas.

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Riscos de contaminação microbiológica
Referente aos riscos de contaminação
microbiológica, um Artigo da Revista American
Journal of Infection Control, do ano de 2007,
apresentou os seguintes dados sobre possíveis
exposições de clientes e profissionais de serviços
de barbearia e salão de beleza:

Risco de exposição a doenças


Estudo realizado na cidade de São Paulo, que
contou com 100 participantes manicures e/ou pedicures,
em salões de beleza aleatórios, onde foram coletadas
amostras de sangue de cada uma, para a pesquisa dos
marcadores sorológicos das hepatites B e C. Foi
verificado que uma manicure e/ou pedicure de cada dez
participantes apresentou marcadores sorológicos das
hepatites B ou C, sendo 8% da hepatite B (anti-HBc total)
e 2% de hepatite C (anti-VHC), conforme tabela abaixo:

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Já a próxima tabela, revela que de 26% das
manicures e/ou pedicures com anti- HBs, 7%
desenvolveram-no em função do contato prévio
com o vírus da hepatite B e 19% através da
vacinação contra a hepatite B.

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Em relação a adesão de normas de biossegurança nas manicures
e/ou pedicures, neste mesmo Estudo, foi observado que:
- apenas 5% usavam luvas descartáveis durante sua atividade
profissional;
- nenhuma lavava as mãos;
- 100% não controlavam o tempo e a temperatura no processo de
esterilização;
- 92% não realizavam a limpeza prévia dos instrumentos;
- apenas 7% utilizavam materiais descartáveis;
- 15% relataram ter tomado as três doses de vacina contra a hepatite
B.

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Concluindo o estudo, demonstrou-se que as
manicures e pedicures representam um grupo com
fatores de risco acrescidos, prováveis determinantes
de maior exposição à infecção por hepatites virais,
do que a população em geral; e consequentemente
todos os meios de prevenção devem ser utilizados
para proteger a saúde dessas profissionais.

Aspectos legais
No aspecto legal do exercício profissional, não há
uma regulamentação nacional para os profissionais da
beleza e estética, mas apenas timidamente em alguns
municípios. Comprova-se, portanto, pouca exigência
quanto à formação e qualificação em instituições de
ensino legalmente reconhecidas. Em um Estudo realizado
em 2013 (Garbaccio, JL) foram encontradas vinte e duas
(22) legislações sanitárias para o segmento da beleza e
estética, dentre elas, cinco no Rio Grande do Sul, que são:

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Aspectos legais
- Lei Nº 3894, de 12 de Abril de 2002 de Passo Fundo. Pré requisitos
para exercer as atividades profissionais: formados por escolas
profissionalizantes oficiais ou privadas, reconhecidas na forma da Lei;
atuando no exercício da profissão à data da publicação desta Lei,
comprovadas através de Carteira de Trabalho e Previdência Social,
declaração firmada pelo empregador ou pelo Sindicato de Classe ou
registrado no setor competente da municipalidade, no caso de
profissional autônomo.
- Portaria Nº 354 de 12 de Agosto de 2005 da SES Rio Grande do Sul.
Licenciamento e funcionamento de estabelecimento de podologia.
Alvará, Estrutura/área física, EPI, Autoclave e estufa (não detalha, mas
indica outra portaria), Penalidades.

Aspectos legais
- Portaria Nº 482 de 04 de Novembro de 2005 da SES Rio Grande do
Sul. Aprova o regulamento técnico de estabelecimento que executam
procedimentos de tatuagem e colocação de adornos.
- Lei Nº 10844, de 05 de Março de 2010 de Porto Alegre. Manicure e
pedicure. Obriga os salões de beleza que oferecem serviços de
manicuro e pedicuro a informar seus clientes sobre as medidas
necessárias para a prevenção ao contágio de hepatite. Determina cartaz
informativo contendo: método e detalhes de esterilização, lista de
materiais não descartáveis, alerta de riscos para profissionais e clientes.

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Aspectos legais
Além da legislação citada no Estudo, existe a PORTARIA
ESTADUAL Nº 500, DE 31 DE AGOSTO DE 2010, que
Regulamenta o Processamento de artigos por método físico
em estabelecimentos sujeitos à Vigilância Sanitária no RS,
vetando o uso de estufas como método de esterilização, que
não foi citada no Estudo pois não é específica para
serviços/estabelecimentos de estética.

Aspectos legais
• Entre algumas das legislações sanitárias estaduais e municipais, observa-se
um ponto comum: a normatização do funcionamento destes
estabelecimentos, sem, no entanto, deixar evidentes e detalhadas as
recomendações específicas voltadas para a adoção de medidas de
biossegurança;
• De outro lado, verifica-se que o teor das regulamentações sanitárias se
encontra desatualizado, o que evidencia a importância de sua reavaliação
periódica e da análise mais detalhada de seu conteúdo, a fim de
acompanhar o desenvolvimento teórico e tecnológico que envolve a
biossegurança, pois elas se fundamentam em recomendações de agências e
órgãos internacionais.

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Aspectos legais
• Constatam-se alguns problemas, como por exemplo, a
indicação do uso de água em ebulição na desinfecção
de artigos. Sabe-se que água fervente tem algumas
restrições enquanto agente que não garante a redução
da população microbiana e, sobretudo não sendo
capaz de destruir esporos bacterianos e alguns vírus. É
uma técnica de efetividade questionável, de
operacionalização bastante dependente de ações
humanas e diretamente influenciada pelo tempo e
temperatura da exposição dos artigos.

Aspectos legais
• A atuação dos órgãos de vigilância à saúde, por meio das legislações
sanitárias para normatizar a proteção dos trabalhadores da estética,
beleza e de seus clientes, além do desenvolvimento de mecanismos
de informação acerca do conteúdo de regulamentações para a
classe trabalhadora, constitui um dispositivo fundamental para a
orientação, o aconselhamento e a supervisão das atividades
profissionais destas categorias.
• Concluindo a aula de hoje, foi possível demonstrar a necessidade da
implantação de Procedimentos nos serviços de estética, e a partir
disso iremos trabalhar na construção dos protocolos propostos
nesse curso.

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“Qualidade significa fazer certo
quando ninguém está olhando”

Henry Ford (1863-1947)

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