Você está na página 1de 316

GRH ROMANCES HISTÓRICOS

Sabrina Jeffries
Um Demônio em sua Cama
Demônios de Halstead Hall 2

Tradução/Pesquisa: GRH
Revisão Inicial: LWL
Revisão Final: Célia/Ana Paula G
Formatação: Ana Paula G

Resumo
Furioso com o ultimato de sua avó para se casar ou perder a sua
herança, Jarret Sharpe aposta sua sorte e seu coração na mesa de
jogo contra um adversário dos mais improváveis. Imerso em
escândalo após a misteriosa morte de seus pais, o notório jogador
Lord Jarret Sharpe se compromete a executar a cervejaria da família
por um ano, se sua avó maquiavélica não rescindir seu ultimato.
Mas o jogador que há nele não consegue resistir quando sedutora
Annabel Lake propõe uma aposta. Se ela ganhar num jogo de cartas,
deve ajudar a salvar cervejaria de sua família. Mas se ele ganhar, ela
deve passar uma noite em sua cama. O resultado desencadeia uma
série de eventos que ameaça destruir todos os seus planos. . . E
revela o segredo que Annabel tem mantido por muito tempo. Quando
Jarret descobre o motivo sombrio por trás da aposta, ele a convida a
outro jogo, e desta vez tem a intenção de ganhar não apenas seu
corpo, mas seu coração.
Comentário de LWL: História bonitinha, o mocinho não é tão
mau quanto gostaria e a mocinha é bem impetuosa, enfim, só digo
que nunca vou ver um baralho de cartas da mesma forma, em
particular o valete e o ás de espadas.

Prólogo

Eton College 1806


Lorde Jarret Sharpe de treze anos não queria passar a noite
no inferno. Ele ergueu os olhos para a lua pela janela do coche e
tremeu. Eram cerca de oito horas - eles chegariam a Eton justo
quando os meninos estariam sendo encerrados em Long Chamber1.
E o inferno teria início.
Puxando a gravata preta, ele olhou para sua avó. O que podia
dizer para fazê-la mudar de ideia? Seis meses atrás, levou-os para
viver com ela em Londres, longe de Halstead Hall, o melhor lugar do
mundo. Ela não mais o levaria para a cervejaria com ela. E ela o
fazia ir para aquela escola horrível. Tudo por causa do modo como
mamãe e papai tinham morrido.
Um frio congelou sua alma e ele sentiu como se algo dentro
dele tivesse morrido também. Ele não conseguia comer, dormir...
Nem sequer chorar.
Que tipo de monstro era ele? Até mesmo seu irmão mais
velho Oliver chorou no funeral. Jarret queria chorar, mas as lágrimas
não vinham. Nem mesmo tarde da noite, durante seus pesadelos,
quando sonhava com o pai no caixão.
Ele leu nos jornais de como a bala tinha destruído o rosto de
sua senhoria, e não podia esquecer aquela imagem. Além disso,
ainda estava assombrado pela visão de sua mãe, rígida e pálida,
deitada no caixão com seu branco vestido a cobrir a ferida da bala.
Toda vez que pensava no motivo do caixão de seu pai estar fechado,
ele mal podia respirar.
—Diga a Oliver que eu espero que ele me escreva toda
semana, você ouviu? — Gran2 disse.
—Sim, senhora—Uma dor aguda tomou seu peito. Ele sempre
acreditou secretamente que era o favorito da vovó. Mas não mais.
—E você também, é claro— acrescentou ela com voz suave.
—Eu não quero ir para a escola!— Ele explodiu.
Quando as sobrancelhas dela ergueram-se, ele acrescentou
rapidamente: —Eu quero ficar em casa. Eu quero ir todos os dias
para a cervejaria com você.
—Jarret, meu menino.
—Não, ouça!— Ele mutilou as luvas do luto em seu colo
enquanto suas palavras saíam com pressa. —Vovô disse que vou
herdar a cervejaria, e eu já sei tudo sobre ela. Sei como o mosto é
feito e quanto tempo leva para assar a cevada. E eu sou bom em
matemática, você mesma disse. Poderia aprender a gerenciar os
livros.
—Sinto muito, rapaz, mas isso não foi sábio. Foi um erro meu
e de seu avô incentivar o seu interesse na cervejaria. Sua mãe não
queria isso para você, e ela estava certa. Ela se casou com um
marquês exatamente porque ela queria coisas melhores para seus
filhos que perder tempo com uma cervejaria qualquer.
—Você o faz— ele protestou.
—Porque sou obrigada. Porque é o principal sustento para
vocês, crianças até que os bens dos seus pais sejam acertados.
—Mas, eu poderia ajudar!— Ele desejava ser útil para sua
família. A Cervejaria Plumtree seria muito melhor do que aprender
sobre quem cruzou o Nilo ou como conjugar em Latim; que utilidade
isso teria para ele?
—Você pode ajudar mais, tomando para si uma profissão
respeitável, do tipo que você só pode obter em Eton. Você nasceu
para ser alguém muito melhor, um advogado ou um bispo. Eu
poderia até mesmo aceitar você entrando no exército ou na marinha,
se quisesse.
—Eu não quero ser soldado— disse ele, horrorizado. Até
mesmo a ideia de segurar uma pistola fazia seu estômago revirar. A
mãe acidentalmente atirou em seu pai com uma pistola. Em seguida,
em si mesma.
Essa parte era desconcertante. Vovó havia dito ao jornal que
quando a mãe viu o pai morto pelas suas mãos, ela ficou tão triste
que atirou em si mesma. Não fazia sentido para ele, mas a avó
ordenou-lhes não falar a respeito, e ele não o fez. Nem mesmo para
fazer perguntas.
Doía terrivelmente pensar em mamãe atirando em si mesma.
Como ela podia deixar eles cinco sozinhos? Se tivesse vivido, ela
haveria de permitir-lhe ser tutorado em casa, e ele poderia ter
continuado na cervejaria com vovó.
Sua garganta apertou. Não era justo!
—Não é um soldado, então — Vovó disse gentilmente. —
Talvez um advogado. Com sua mente afiada, você poderia ser um
bom advogado.
—Eu não quero ser advogado! Eu quero tocar a cervejaria
com você!
Ninguém na cervejaria nunca disse coisas desagradáveis para
ele. Os cervejeiros o tratavam como a um homem. Eles nunca iriam
chamar sua mãe —a Assassina de Halstead Hall.— Eles não
contariam mentiras infames sobre Oliver.
Quando percebeu a avó o observando, ele suavizou a
carranca do rosto.
—Será que isso tem a ver com as brigas que você tem na
escola?— A avó perguntou com preocupação em sua voz. —O
diretor disse que teve que puni-lo quase todas as semanas por
brigar. Por que isso?
—Eu não sei— ele murmurou.
Um olhar de extremo incômodo atravessou sua face. —Se os
outros meninos estão dizendo coisas desagradáveis sobre seus pais,
posso falar com o diretor.
—Não, maldição!— Ele gritou, em pânico que ela pudesse lê-
lo tão bem. Ela não deveria falar com o diretor, só faria tudo pior!
—Não pragueje para mim. Vamos, pode dizer para Gran. É
por isso que não quer voltar para a escola?
Ele esticou o lábio inferior. —É só que não gosto de estudar, é
tudo.
Um olhar agudo escrutinou-lhe o rosto. —Então você é
preguiçoso?
Ele não disse nada. Melhor ser marcado um lerdo do que um
tagarela.
Ela deu um forte suspiro.
—Bem, não gostar de estudar não é razão para voltar para
casa. Meninos nunca gostam de estudar. Mas é bom para eles. Se
você for aplicado e trabalhar duro, você se dará bem na vida. Você
não quer se dar bem?
—Sim, senhora— ele murmurou.
—Então tenho certeza que você irá.— Ela olhou para fora da
janela do coche. —Ah, chegamos.
A garganta de Jarret fechou-se. Queria implorar-lhe para que
não o obrigasse a ir, mas uma vez que a avó decidia algo, ninguém
podia fazê-la mudar de ideia. E ela não o queria na cervejaria.
Ninguém o queria, em qualquer lugar, nunca mais.
Eles deixaram o coche e foram ao escritório do diretor. Ela
assinou sua entrada enquanto um servo subia seu baú para a ‘Long
Chamber’.
—Prometa-me que você não vai mais entrar em brigas,—
Disse a avó.
—Eu prometo— disse ele surdamente. Que importância tinha
se estivesse mentindo? Que importância tinha qualquer coisa?
—Isso é bom, rapaz. Oliver chega amanhã. Você vai se sentir
melhor, quando ele estiver aqui.
Ele engoliu uma réplica acalorada. Oliver tentou olhar por ele,
mas ele não poderia estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
Além disso, aos 16, Oliver passava todo seu tempo remoendo e
bebendo com seus amigos mais velhos. Esta noite ele não estaria
presente.
Outro tremor sacudiu Jarred.
—Agora dê um beijo em sua avó e diga adeus— disse ela
suavemente.
Obediente, ele fez o que ela pediu antes de marchar até as
escadas. Ele mal entrou na ‘Long Chamber’ e ouviu as portas sendo
trancadas atrás dele enquanto aquela besta do John Platt passeava
até suas malas para apalpá-las.
—O que você trouxe para nós desta vez, Babyface?
Jarret odiava o apelido que Platt e seus amigos tinham dado a
ele por causa de seu queixo sem pêlos e baixa estatura. Mas aos
dezessete anos, Platt era uns trinta centímetros mais alto e muito
mais malvado.
Platt encontrou o bolo de maçã embrulhado em papel que
vovó tinha-lhe dado e deu uma grande mordida no meio enquanto
Jarret observava, rangendo os dentes.
—O que, você não vai dar uma tacada em mim?— Platt
perguntou enquanto acenava o bolo na frente do rosto de Jarret.
De que adiantaria? Platt e seus amigos iam bater nele, e ele
acabaria entrando em apuros novamente.
Toda vez que ele se importava com algo, isso era tirado dele.
Mostrar que se importava só faria piorar.
—Odeio bolo de maçã— Jarret mentiu. —Nosso cozinheiro
coloca xixi de cachorro nele.
Ele teve a satisfação de assistir o olhar cético de Platt no bolo
antes de jogá-lo para um de seus estúpidos amigos. Ele esperava
que engasgasse.
Platt virou-se para investigar sua bolsa novamente.
—O que temos aqui?— Ele disse quando encontrou a caixa
dourada com cartas de baralho que Jarret tinha recebido de seu pai
como presente de aniversário.
O sangue de Jarrett gelou. Ele pensava que o tinha escondido
bem. Ele trouxe as cartas para a escola por impulso, querendo algo
para lembrá-lo de seus pais.
Desta vez foi mais difícil manter a calma.
—Eu não sei o que você pretende fazer com elas— disse ele,
tentando soar aborrecido. —Você não pode jogar a valor nenhum.
—Por que, sua pequena doninha!— Agarrando Jarret pela
gravata, Platt empurrou-o com tanta força que cortou-lhe o ar.
Jarret estava arranhando os dedos de Platt, lutando para
respirar, quando Giles Masters, o filho de um visconde e irmão do
melhor amigo de Oliver, arrancou a mão de Platt da sua gravata.
—Deixe o rapaz— Masters advertiu enquanto Jarret ofegava.
Masters tinha 18 anos, muito alto, e tinha um soco de esquerda
perverso.
—Ou o quê?— Platt perguntou lentamente. —Ele vai atirar em
mim? Assim como o irmão atirou no pai para ganhar a sua herança?
—Isso é uma maldita mentira!— Jarret exclamou, fechando os
punhos.
Masters colocou a mão em seu ombro segurando-o.
—Pare de provocá-lo, Platt. E devolva as suas cartas ou vou
fazer um estrago no seu rosto.
—Você não vai se arriscar a ter problemas tão perto da
matrícula— disse Platt, inquieto. Então ele olhou para Jarret. —Mas
tenho uma proposta. Se Babyface quer suas cartas de volta, ele terá
de jogar Piquet por elas. Tem dinheiro para apostar, Babyface?
—Seu irmão não o quer jogando— respondeu Masters.
—Ah, não é uma graça— Platt disse com um sorriso. —
Babyface faz tudo que seu irmão mais velho diz.
—Pelo amor de Deus, Platt—começou Masters.
—Eu tenho dinheiro— cortou Jarret. Tinha aprendido a jogar
cartas nos joelhos do pai e era muito bom nisso. Ele estufou o peito.
—Eu vou jogar com você.
Com um erguer de sobrancelhas, Platt sentou-se no chão e
selecionou as trinta e duas cartas que compõe a base para o Piquet.
—Você tem certeza disso?— Masters perguntou Jarret que se
sentava em frente de seu arqui-inimigo. —Confie em mim—
respondeu Jarret.
Uma hora mais tarde, ele ganhou o deck. Duas horas depois,
ele ganhou quinze xelins de Platt. Pela manhã, ele tinha ganhado
mais cinco libras, para o desespero dos amigos do cabeçudo Platt.
Depois disso, ninguém mais tornou a chamá-lo de Babyface.

Capítulo Um

Londres, Março de 1825

Nos 19 anos desde aquela noite fatídica, Jarret acrescentou


uns bons trinta centímetros de altura e aprendeu a lutar, além de
continuar jogando. Agora, como meio de vida.
Neste dia, no entanto, as cartas eram apenas um meio de
distração. Sentado em uma mesa na sala de estudos da casa de sua
avó na cidade, ele expunha mais sete fileiras.
—Como você pode jogar cartas em um momento como este?
— Sua irmã Celia perguntou do sofá.
—Eu não estou jogando cartas— ele disse calmamente. —
Estou jogando paciência.
— Você conhece Jarret— seu irmão Gabe interviu —Nunca
está confortável sem um baralho nas mãos.
—Você quer dizer, nunca está confortável a menos que esteja
ganhando— comentou sua outra irmã, Minerva. —Então ele deve
estar muito desconfortável agora— disse Gabe. —Ultimamente, tudo
que ele faz é perder.— Jarret enrijeceu. Isso era verdade. E
considerando que ele mantinha seu luxuoso estilo de vida com os
ganhos, isso era um problema.
É claro que Gabe o atormentaria sobre isso. Aos vinte e seis
anos, Gabe era seis anos mais novo que Jarret e irritante como o
inferno. Como Minerva, ele tinha cabelos castanhos com mechas
douradas e olhos verdes no tom exato dos de sua mãe. Mas essa
era a única característica compartilhada por Gabe com sua puritana
mãe.
—Você não pode ganhar consistentemente jogando paciência
a menos que trapaceie— disse Minerva.
—Eu nunca trapaceio nas cartas.— Era verdade, se alguém
ignorasse sua incrível capacidade de manter o controle de todas as
cartas do baralho. Algumas pessoas não ignoravam.
—Você não acabou de dizer que paciência não é ‘jogar cartas’
?— Gabe brincou.
Que maldito. E para adicionar insulto à injúria, Gabe estava
estalando os dedos e dando nos nervos de Jarret.
—Pelo amor de Deus, pare com esse barulho— Jarret
estourou.
—Isso, você quer dizer?— Disse Gabe e deliberadamente
estalou os dedos novamente.
—Se você não se cuidar, irmão mais novo, eu vou quebrar
meus dedos contra o seu queixo— advertiu Jarret.
—Parem de brigar!— Os olhos castanhos de Celia encheram-
se de lágrimas quando ela olhou para a porta que ligava ao quarto da
avó. —Como vocês podem brigar quando Gran pode estar
morrendo?
—Vovó não está morrendo— disse Minerva eminentemente
prática. Quatro anos mais moça que Jarret, ela não tinha o talento de
Celia para o dramático... Exceto na ficção gótica que escrevia.
Além disso, como Jarret, Minerva conhecia sua avó melhor do
que a irmã mais nova. Hester Plumtree era indestrutível. Esta doença
era, sem dúvida, outro truque para colocá-los na linha.
A avó já havia dado a eles um ultimato, eles tinham que se
casar dentro de um ano ou todos seriam deserdados. Jarret teria
jogado a ameaça de volta ao seu rosto, mas ele não podia sentenciar
os irmãos a uma vida sem dinheiro.
Oliver tentou lutar contra tal decreto, porém surpreendeu-os
ao acorrentar-se ao pé de uma americana. Mas isso não satisfez a
avó. Ela ainda queria o sacrifício do resto deles. E agora, restavam
menos de dez meses.
Era isso que colocou Jarret fora de jogo ultimamente – a
tentativa da avó de forçá-lo a casar com a primeira mulher que o
aceitasse apesar da reputação da família Sharpe para o escândalo e
a devassidão. Isso o fez desesperado para ganhar uma bolada, para
que ele pudesse sustentar seus irmãos com seus ganhos e todos
diriam a ela que fosse para o inferno.
Mas desespero significava desastre nas mesas de jogo. Seu
sucesso dependia de manter a cabeça fria e não se preocupar com o
resultado. Somente assim ele podia jogar com as cartas que tivesse.
O desespero faz um homem correr riscos com base na emoção, em
vez de habilidade. E recentemente isso lhe acontecia muito.
O que, sob os céus, a avó achava que realizaria forçando-os a
se casar? Ela meramente geraria casamentos mais miseráveis para
igualar ao de seus pais.
Mas Oliver não estava miserável.
Oliver teve sorte. Ele tinha encontrado a mulher que iria aturar
seu absurdo e notoriedade. A chance de isso acontecer duas vezes
em sua família era pequena. E quatro vezes mais? Abissalmente
pequena. A Senhora Fortuna era tão inconstante na vida quanto nas
cartas.
Com uma praga, Jarret aumentou o ritmo. Ao contrário do
escritório de Halstead Hall, o da avó era arejado e bem iluminado,
com mobiliário de última moda e um modelo em grande escala da
Cervejaria Plumtree bem visível em cima de uma mesa de jacarandá.
Ele rangeu os dentes. Essa maldita cervejaria – ela o tocava
com sucesso por tanto tempo que pensou poder tocar as suas vidas
também. Sempre tinha que estar no controle. Um olhar para os
jornais empilhados sobre a mesa deixava claro que a cervejaria foi
se tornando demais para ela lidar com seus setenta e um anos. No
entanto, a obstinada mulher se recusava a contratar um gerente, não
importando o quanto Oliver a pressionasse.
—Jarret, escreveu aquela carta para Oliver?— Minerva
perguntou.
—Sim, enquanto você estava no boticário.— O criado levou-o
para postar. Embora Oliver e sua nova esposa já tivessem partido
para a América para encontrar seus parentes, Jarret e Minerva
queriam que ele soubesse da doença da avó caso fosse sério.
—Espero que ele e Maria estejam divertindo-se em
Massachusetts—, disse Minerva. —Ele parecia muito chateado
aquele dia na biblioteca.
—Você ficaria chateada também, se pensasse que causou as
mortes de nossos pais— Gabe apontou. Outra surpresa de Oliver
fora sua revelação de que ele e a mãe tinham discutido no dia da
tragédia, o que a teria levado a sair em fúria atrás de seu pai.
—Você acha que Oliver tinha razão?— Celia perguntou. —Foi
culpa dele que mamãe atirou em papai?— Celia tinha apenas quatro
anos quando aconteceu, então ela tinha poucas lembranças do fato.
Isso não era o caso de Jarret.
—Não.
—Por que não?— Minerva perguntou.
O quanto ele devia contar? Ele tinha uma memória forte
de...Não, ele não devia fazer acusações sem fundamento, não
importa contra quem. Mas ele devia contar-lhes sua outra
preocupação.
—Lembro-me bem de papai no piquenique, murmurando —
Onde diabos ela está indo? —Eu olhava para o campo e vi mamãe
em cima de um cavalo, indo na direção do pavilhão de caça. Esta
lembrança tem sido torturante para mim.
Gabe pegou a linha de raciocínio de Jarret.
—Então, se ela partiu em busca de papai, como Oliver parece
certo que ela fez, ela o teria encontrado no piquenique. Ela não teria
ido a outro lugar à procura dele.
—Precisamente— disse Jarret.
Minerva franziu os lábios.
—O que significa que a versão de nossa avó dos eventos
pode ser correta. Mamãe foi à cabana de caça porque ela estava
chateada e queria estar longe de todos. Em seguida, ela adormeceu,
foi surpreendido por papai e atirou nele .
— E atirou em si ao vê-lo morto?— Celia terminou. —Eu não
acredito nisso. Não faz nenhum sentido.
Gabe lançou-lhe um olhar indulgente.
—Só porque você não quer acreditar que uma mulher seria
tão irresponsável para atirar em um homem sem pensar.
—Eu certamente nunca faria uma coisa tola dessas— Celia
retrucou.
—Mas você tem paixão por atirar e um respeito saudável por
armas de fogo,— Minerva apontou. —Mamãe não possuía nem um
ou outro.
—Exatamente— disse Célia. —Então ela pega uma arma e
sem premeditar dispara pela primeira vez naquele dia? Isso é
ridículo. E outra coisa, como ela a carregou?
Todos olharam para ela.
—Nenhum de vocês já pensou sobre isso, não é?
—Ela poderia ter aprendido — Gabe respondeu. —Vovó sabe
atirar. Só porque nunca disparou uma arma perto de nós, não
significa que Gran não a tenha ensinado.
Célia franziu a testa.
—Por outro lado, se mamãe decidiu-se a atirar
deliberadamente em papai como afirma Oliver, alguém poderia tê-la
ajudado a carregar a pistola, um lacaio, talvez. Então, ela poderia ter
ficado à espera de papai perto do piquenique e seguiu-o para o
pavilhão de caça. Isso faz mais sentido.
—É interessante que você mencione os lacaios— disse Jarret.
—Eles teriam que selar seu cavalo, podendo saber onde ela estava
indo e quando ela saiu. Ela poderia até mesmo ter dito aonde ia. Se
pudéssemos falar com eles
—A maioria deles deixou de servir Halstead Hall quando
Oliver fechou o lugar— Minerva apontou.
—É por isso que eu estou pensando em contratar Jackson
Pinter para encontrá-los.
Celia bufou.
—Você pode não gostar dele— Jarret disse a ela, —mas ele é
um dos Bow Street Runners3 mais respeitados em Londres.—
Embora Pinter devesse estar ajudando-os a explorar os
antecedentes dos potenciais companheiros, não havia nenhuma
razão para o homem não assumir outra missão.
A porta para o quarto de dormir da avó abriu, e Dr. Wright
entrou na sala.
—Bem?— Jarret perguntou abruptamente. —Qual é o
veredicto?
—Podemos vê-la?— Minerva acrescentou.
—Na verdade, ela está pedindo para ver Lorde Jarret — Dr.
Wright disse.
Jarret ficou tenso. Com Oliver fora, ele era o mais velho. Não
imaginava o que a vovó teria inventado para ele, agora que ela
estava doente.
—Ela está bem?— Celia perguntou, o rosto claramente
alarmado.
—No momento, ela está apenas sofrendo um pouco de dor no
peito. Pode não ser nada. —Dr. Wright encontrou o olhar de Jarret.
—Mas ela precisa manter-se calma e descansar até que se sinta
melhor. E ela se recusa a fazer isso até falar com você, meu senhor.
—Quando os outros se levantaram, ele acrescentou — A sós .
Com um leve aceno, Jarret seguiu para o quarto da avó.
—Não diga nada para chateá-la— murmurou Dr. Wright,
depois saiu e fechou a porta.
Ao olhar a avó, Jarret prendeu a respiração. Ele teve que
admitir que vovó não tivesse sua aparência usual. Ela estava
apoiada contra travesseiros na cama, embora não estivesse
morrendo, sua cor certamente não era boa.
Ele ignorou o aperto do medo no peito. A avó estava apenas
um pouco aclimada. Esta era apenas mais uma tentativa de controlar
suas vidas. Mas ela teria uma surpresa se achava que as táticas que
funcionaram em Oliver iriam servir nele.
Ela apontou para uma cadeira ao lado da cama, e Jarret
cautelosamente tomou assento.
—Aquele idiota do Wright me diz que não posso sair da cama
por um mês, no mínimo— ela resmungou. —Um mês! Eu não posso
ficar longe da cervejaria por tanto tempo.
—Você deve tomar o tempo necessário para ficar boa— disse
Jarret, mantendo a voz evasiva até ter certeza do que ela queria.
—A única maneira de eu ficar à toa na cama por um mês é se
eu tiver alguém de confiança cuidando de coisas na cervejaria.
Alguém em quem confie. Alguém com interesse em querer que ela
funcione sem problemas.
Quando seu olhar aguçou-se nele, ele congelou. Então, era
isso que ela estava planejando.
—Sem chance— disse ele, pulando de pé. —Nem pensar.—
Ele não estava ansioso a colocar-se sob o controle da avó. Já era
suficientemente ruim ela querer ditar quando ele devia casar-se, mas
não iria controlar toda sua vida.
Ela tomou uma respiração ofegante.
—Uma vez você me implorou por essa oportunidade.
—Isso foi há muito tempo atrás.— Quando ele estava
desesperado para encontrar um lugar para si. Logo ele aprendeu que
não importava o lugar que encontrasse, o Destino poderia arrebatá-lo
a qualquer momento. Suas esperanças para o futuro despedaçadas
com uma palavra, seus pais tomadas num piscar de olhos, e o bom
nome da sua família arruinado por despeito.
Nada na vida era certo. Assim, um homem estava melhor sem
bagagens, sem apegos e sem sonhos. Era a única maneira de evitar
a decepção.
—Você vai herdar a cervejaria um dia— ressaltou.
—Só se todos conseguirem se casar dentro de um ano—, ele
respondeu. —Mesmo supondo que eu a herde, vou contratar um
gerente. O que você deveria ter feito anos atrás.
Ela fez uma careta.
—Eu não quero um estranho administrando minha cervejaria.
— O constante argumento estava cansando. —Se você não quiser
fazer isso, eu vou ter que colocar Desmond no comando—
acrescentou.
Seu gênio esquentou. Desmond Plumtree era primo da mãe,
um homem que todos eles desprezavam, especialmente ele. A avó já
havia ameaçado anteriormente deixar a fábrica de cerveja para
aquele bastardo e ela sabia como Jarret sentia-se sobre isso, de
modo que ela estava usando seus sentimentos contra ele.
—Vá em frente, coloque Desmond no comando— disse ele,
aplicando toda a sua força de vontade para não cair sob sua
manipulação.
—Ele sabe muito menos sobre o negócio do que você— disse
ela irritada. —Além disso, ele está ocupado com o seu mais novo
empreendimento.
Ele escondeu seu alívio.
—Tem de haver alguém que conheça suficientemente bem do
negócio para assumir.
Ela tossiu em seu lenço.
—Ninguém em quem eu confie.
—E você confia em mim para administrá-lo?— Ele deu uma
risada cínica. —Eu me lembro de você me dizendo a alguns anos
que os jogadores são parasitas da sociedade. Você não está
preocupada que eu possa sugar a vida de sua preciosa cervejaria?
Ela teve a boa graça de corar.
—Eu só disse isso porque não suportava vê-lo desperdiçar
sua mente perspicaz em mesas de jogos. Esta não é uma vida
adequada para um homem inteligente como você, especialmente
quando eu sei que você é capaz de fazer melhor. Você tem tido
algum sucesso com seus investimentos. Não levaria muito tempo
para se acertar na cervejaria. E eu estarei aqui para você consultar
caso você precise de conselhos.
A nota melancólica em sua voz fê-lo pausar. Ela parecia
quase... Desesperada. Seus olhos estreitaram-se. Ele poderia trazer
isto a seu favor, no fim das contas.
Ele sentou-se mais uma vez.
—Se você realmente quiser que eu administre a cervejaria por
um mês, vou querer algo em troca.
—Você vai ter um salário, e tenho certeza de que poderíamos
chegar a um acordo de quanto.
—Não é dinheiro. Eu quero que você rescinda do seu ultimato.
—Ele se inclinou para olhá-la. —Sem mais ameaças para deserdar-
nos se não nos casarmos de acordo com os seus ditames. As coisas
vão voltar a ser como eram antes.
Ela o fitou.
—Isso não vai acontecer.
—Então acho que você vai ter de contratar um gerente.— Ele
se levantou e se dirigiu para a porta.
—Espere! — ela exclamou.
Ele parou para olhá-la para ela com as sobrancelhas erguidas.
—E se eu rescindi-la só para você?
Ele reprimiu um sorriso. Ela devia estar realmente
desesperada, se estava disposta a negociar.
—Estou ouvindo.
—Vou fazer o Sr. Bogg mudar o testamento para que você
herde a cervejaria não importa o que aconteça.— Sua voz se tornou
amarga. —Você pode ficar solteiro até morrer.
Valia a pena considerar. Se fosse o dono da cervejaria, ele
podia ajudar seu irmão e irmãs, se eles não coseguissem cumprir os
termos da avó até o fim do ano. Eles estariam por conta própria até a
avó morrer, é claro, mas depois Jarret poderia sustentá-los. Seria
uma situação melhor do que a atual.
—Eu posso viver com isso.
Ela arrastou asperamente a respiração.
—Mas você terá de concordar em ficar na cervejaria até o fim
do ano.
Ele ficou tenso.
—Por quê?
—Muitas pessoas dependem dele para sua subsistência. Se
estou para deixar-lhe o lugar, devo ter a certeza de que você pode
mantê-lo à tona, mesmo se você contratar um gerente para
administrá-lo uma vez que eu me for. Vai precisar saber o suficiente
para ser capaz de contratar a pessoa certa, e eu preciso da garantia
de que você não vai deixá-lo decair.
— Deus me livre você ter de confiar em seu próprio neto para
mantê-lo seguro. — Mas ela tinha razão. Ele não punha os pés no
local em 19 anos. O que ele ainda sabia sobre o negócio de cerveja?
Podia aprender. E ele iria, se isso fosse o necessário para que
a avó deixasse de se intrometer em suas vidas. Mas o faria em seus
próprios termos.
—Tudo bem— disse ele. —Eu vou ficar no cargo até o fim do
ano.— Quando ela sorriu, acrescentou, —Mas quero o controle
absoluto. Eu vou mantê-la informada sobre o negócio, e você poderá
expressar suas opiniões, mas as decisões finais serão minhas.
Isso tirou-lhe o sorriso do rosto.
—Vou tocar a Cervejaria Plumtree como achar melhor, sem
qualquer interferência sua— ele continuou. —E você vai colocar isso
por escrito.
O brilho de aço em seus olhos azuis lhe disse que ela não
estava tão mal quanto parecia.
—Você pode fazer um grande estrago em um ano.
—Exatamente. Se recorde que isso não é ideia minha.
—Então você deve prometer não implantar grandes
mudanças.
Ele cruzou os braços sobre o peito.
—Não.
Suas feições se alarmaram.
—Pelo menos prometa não fazer investimentos de risco.
—Não. Ou você deixa-me o controle total ou encontre um
gerente.
Era bom ter uma mão boa. Ele se recusava a tê-la atrás dele,
escrutinando suas decisões. Se ele iria tocar o lugar, iria fazê-lo de
seu jeito. E uma vez o ano ido, ele estaria livre para viver sua vida
como quisesse... E garantir que seus irmãos pudessem fazê-lo
também.
Não que a avó fosse aceitar seus termos. Ela nunca havia
cedido controle sobre qualquer coisa, até mesmo por um dia. Ela
certamente não iria ceder ao parasita de seu neto por um ano.
Por isso, foi com alguma surpresa que ele a ouviu dizer:
—Muito bem, vou satisfazer as suas exigências. Vou ter que
colocar por escrito para você amanhã.
O brilho em seus olhos lhe fez pausar, mas se foi tão rápido,
que ele teve certeza de tê-lo imaginado.
— Eu tenho uma ressalva — ela continuou. —Você deve
manter o Sr. Croft como seu secretário.— Jarret gemeu. O secretário
de Gran na cervejaria era um dos homens mais estranhos que ele já
conhecera.
—Devo?
—Eu sei que parece estranho, mas prometo que em
aproximadamente uma semana você estará feliz de mantê-lo lá. Ele
é indispensável na cervejaria.
Bem, era um preço pequeno a pagar para ter sua vida de
volta. Ele definitivamente conseguira maiores vantagens na
barganha.

Capítulo Dois

A Cervejaria Plumtree não era nada como Annabel Lake


esperava. As cervejarias em sua cidade, Burton, eram pequenos e
acolhedores lugares que cheiravam a lúpulo e cevada torrada. A
Plumtree cheirava principalmente ao carvão que movia o enorme
motor que ela observava boquiaberta. Era alimentada por longos
ancinhos que se moviam num silêncio assustador agitando o malte
nas caldeiras de 12 metros de altura. A cervejaria de seu irmão, Lake
Ale, não tinha nada nesta escala. Talvez se tivesse...
Não, o equipamento não era a causa da atual crise de Lake
Ale. Os hábitos etílicos de Hugh o eram.
—Você aí, o que está fazendo?— Perguntou um trabalhador
com braços da largura de troncos de árvore, que carregava um barril
para um dos vagões.
Ela pegou a caixa, com cuidado para não sacudir o conteúdo.
—Eu estou procurando pela Sra. Hester Plumtree.
—Por ali— Ele inclinou a cabeça em direção à escadaria que
levava a galeria no segundo andar.
Enquanto subia as escadas, ela absorvia seus arredores. O
lugar era o sonho de qualquer cervejeiro. O piso de ferro e as
paredes de tijolo quase o tornavam à prova de fogo, e os tanques de
cobre reluzentes com dois andares de altura. Imagine medir lúpulo
para tudo isso. Era de embaralhar a mente!
Depois que ela, sua cunhada Sissy, e Geordie chegaram à
cidade no início da tarde, ela havia provado a cerveja escura da
Plumtree em uma pousada. Ela teve de admitir que fosse
impressionante, quase rivalizando com sua própria receita.
Um sorriso de satisfação tocou seus lábios. Quase.
Com algumas manobras, ela abriu a porta no topo da escada
e entrou em outro mundo. Estava claro que uma mulher administrava
a cervejaria. O escritório externo tinha sofás listrados com estilo,
cadeiras de nogueira e tapetes bonitos, mas resistentes. Annabel
não podia imaginar um homem se preocupando com essas coisas.
Sentado em uma mesa de nogueira pura no centro da sala
estava um funcionário louro e esbelto, tão absorvido em seu
trabalho, que não percebeu sua entrada. Ela se aproximou da mesa,
mas ele continuou a cortar meticulosamente recortes de um jornal
com uma navalha, fazendo cortes precisos ao longo de linhas que
pareciam ser medidas a régua.
Ela limpou a garganta.
Ele saltou tão dramaticamente que sua cadeira caiu.
—Quem ... O que ...
Quando ele a viu,fixou um sorriso ao rosto, de forma a
aparentar um crânio em repouso.
—Posso ajudar?
—Sinto muito, não queria assustá-lo. Meu nome é Annabel
Lake. Eu gostaria de ver a Sra. Hester Plumtree, por favor.
Suas feições alarmaram-se.
—Por Deus, você não deve. Ou seja, não pode. É impossível.
Ela não está disponível.
—Como pode não estar disponível?— Annabel reconhecia um
esquivo quando topava com um. Atrás dele havia uma porta. Tinha
que ser da Sra. Plumtree, e uma vez que o secretário não havia dito
que ela estava fora, a mulher devia estar enrustida lá, evitando
visitantes.
—Ouvi dizer que ela está aqui do amanhecer ao anoitecer
todos os dias, e ainda não são três horas.
Ele piscou, claramente pego fora de guarda.
— Bem, sim... Isso é verdade, mas não hoje. Você deve ir.
Ninguém está autorizado a entrar. Ninguém. Deixe o seu nome e
onde você pode ser contatada para quando ela estiver disponível.
—Quanto tempo vai levar?
Puro pânico atravessou-lhe o rosto.
—Como vou saber?— Ele torceu as mãos, lançando um olhar
nervoso para a porta. Que homenzinho estranho.
Ela suavizou o tom, na tentativa de colocá-lo à vontade.
—Por favor, é muito importante que eu fale com ela.
—Não, não, não, não, não ... Está fora de questão. Totalmente
fora de questão. Não é permitido. Ela está... Quer dizer... Você
simplesmente tem de ir! —Ele deu a volta na mesa, como que para
acompanhá-la para fora.
Annabel não chegara até ali só para ser lançada para fora por
algum funcionário estranho. Antes que o homem pudesse reagir, ela
disparou, rodeando a mesa e atravessando a porta do outro
escritório.
A pessoa por trás da mesa de mogno maciça decididamente
não era uma mulher de idade. Um homem sentava-se ali, um rapaz
de sua idade ou um pouco mais velho, com cabelos negros e belas
feições.
—Quem diabos é você?— Ela explodiu.
Inclinando-se para trás na cadeira, ele riu.
—Eu pensava ser esta a minha fala.
O funcionário correu para agarrar o braço dela.
—Meu senhor, perdoe-me.— Ele tentou puxá-la para a porta.
—Perdão, mas eu não sei por que a jovem senhora...
—Deixe-a, Croft.— O homem se levantou, seus olhos ainda
brilhavam, divertido. —Vou lidar com ela agora.
—Mas meu senhor, você disse que ninguém é saber que a
sua avó.
—Está tudo bem. Eu vou lidar com isso.
—Oh— Duas manchas rosadas pronunciaram-se no rosto do
funcionário. —É claro. Pois bem. Se você acha seguro.
O homem riu.
—Se ela morder ou puser fogo à minha mesa Croft, você será
a primeira pessoa que chamarei.
Croft soltou seu braço.
—Vá lá, menina. Fale com sua senhoria. Ele vai tratar de
você. —Então deslizou para fora da sala, deixando-a sozinha com o
que só poderia ser um dos netos da Plumtree Hester.
Oh, céus. Annabel tinha ouvido Sissy, que nunca desgostava
de qualquer fofoca, falar sobre os ultrajantes homens da família
Sharpe. Quando o homem caminhou para a porta, fechando-a
firmemente atrás dela, ela sentiu um leve pânico, especialmente
quando ele voltou-se para analisá-la de cima a baixo.
Ela desejou que seu vestido para o dia não gritasse a moda
do ano passado, mas tal não se podia evitar. Os tempos eram
magros para a família Lake. Ela prefere não desperdiçar seus
recursos em roupas quando ela podia poupar para pagar uma boa
escola para Geordie, já que Sissy e Hugh claramente não tinham
condições.
Qual dos infames Sharpe era ele? O louco neto mais novo,
Lorde Gabriel, que as pessoas chamavam o Anjo da Morte por suas
corridas imprudentes a cavalo e seu traje todo negro? Não, pois este
homem usava um colete de veludo lustroso sob seu casaco azul-
escuro.
Poderia ele ser o mais velho, aquele notório libertino?
Também não, naquela mesma manhã Sissy lera para ela a notícia de
que o Marquês de Stoneville estava em lua de mel nos Estados
Unidos com sua esposa.
Deixando apenas o neto do meio, cujo nome ela não se
lembrava. Era um jogador e, provavelmente, um patife diabólico
como seus irmãos. Nenhum homem poderia ter as características de
David de Michelangelo sem atrair muitas mulheres. E esses olhos,
eles pareciam sobrenaturais por mudar de um azul lindo para um
verde igualmente lindo com cada truque da luz. Homens tão bonitos
quanto este aprendem rapidamente que podem tirar proveito de sua
boa aparência sempre que quisessem. Dessa forma, um patife.
—Você vai ter que perdoar o Sr. Croft— ressoou ele em um
tom baixo, inclinando-se sobre a superfície desordenada da mesa. —
A vovó treinou-o para impedir invasões a qualquer custo, senhora...
—Senhorita— ela o corrigiu automaticamente. Quando um
sorriso de lobo puxou seus lábios cheios, ela lutou contra o arrepio
repentino percorrendo-lhe a espinha. —Miss Annabel Lake. Sou
cervejeira, Lord...
—Jarret. Jarret Sharpe. —Seu rosto endurecera.
Isso não era incomum, pensou cinicamente. Os homens que
administram as grandes cervejarias pareciam não tem nada além de
desprezo para os cervejeiros do sexo feminino. Eis o motivo pelo
qual ela queria ver a Sra. Plumtree em primeiro lugar, assim não teria
sido varrida.
—Eu suponho que você está aqui à procura de uma posição—
disse ele friamente. —Gran deve ter enviado você.
—O quê? Não! Por que ela me enviaria? Eu nem a conheço.
Ele olhou-a com cautela.
—Perdoe-me. Cervejeiras são bastante raras nos dias de
hoje, mas as jovens, solteiras, e muito... Bem, eu só assumi que era
minha avó com seus truques de novo.
—Truques?
—Não importa. Não é importante.
—Eu imploro seu perdão, senhor, mas se eu pudesse falar
com a Sra. Plumtree.
—Isso não é possível. Atualmente, ela está... Indisponível.
Annabel estava começando rapidamente a odiar essa palavra.
—Mas, certamente, ela vai voltar logo?
Ouvindo a nota de esperança em sua voz, ele suavizou sua
expressão.
—Não por algum tempo. Ela vai passar o próximo ano lidando
com questões familiares.
Um ano! Ao fim de um ano, os credores estariam
transportando Lake Ale peça por peça.
Ele teria sentido sua angústia, pois acrescentou:
—Mas ela me deixou no comando, então talvez eu possa
ajudá-la.
Ele? O que sua avó estaria pensando? Como poderia uma
mulher com tino comercial legendário ceder sua empresa a um
patife?
Annabel analisava-o, tentando determinar sua confiabilidade.
Para um cavalheiro dado a atividades sedentárias, ele preenchia seu
casaco e calças muito bem. Mas que homem usaria trajes finos em
uma cervejaria?
Um homem que não sabia nada sobre o negócio, tipo esse.
Um homem que, provavelmente, se envolveu para se divertir, o que
significava que ele era de pouca utilidade para ela. Ainda assim, que
escolha tinha? Ele estava no comando. E Sissy e ela tinham vindo de
tão longe.
Firmando os nervos, ela ergueu a caixa.
—Estou aqui em nome de meu irmão doente para propor um
negócio.
Ele arqueou uma sobrancelha negra finamente arrumada.
—Que tipo de empreendimento? E quem é o seu irmão?
—Hugh Lake. Ele é dono da Lake Ale em...
— Burton, acima de Trent. Sim, já ouvi falar.
Ela piscou.
—Já?
Inclinando-se para trás, ele folheou uma pilha de papéis até
encontrar um com notas rabiscadas.
—Seu pai, Aloysius Lake, fundou em 1794, e seu irmão
herdou alguns anos atrás, quando seu pai morreu. Suas
especialidades são brown ale, cerveja escura tipo porter, e cerveja
comum. —Quando ele olhou para cima para encontrá-la boquiaberta,
disse — Eu tento saber algo sobre a concorrência.
Então ele não era apenas um rostinho bonito, afinal.
—Na verdade, eu estou aqui porque Lake Ale prefere ser um
parceiro de negócios que um concorrente.
Com uma expressão dúbia, ele cruzou os braços sobre o
impressionante peito.
—De acordo com minhas informações, Lake só produz 50 mil
barris por ano contra 250.000 de Plumtree. Eu não consigo ver o que
você poderia fazer por nós.

Ela não tinha certeza do que a chocou mais, que ele soubesse
o nível de produção da Lake, ou que ele falasse com ela como a um
igual. Foi gratificante que não tenha sugerido a ela que fosse para
casa ou que a mandasse buscar seu irmão. Então novamente,
devido a sua avó, ele provavelmente estava acostumado que uma
mulher conheça tais assuntos.
—Antes de me explicar, eu gostaria que você provasse algo.
— Deitando a caixa sobre a mesa, ela retirou sua preciosa carga,
uma garrafa de cerveja e um copo. Ela abriu a cerveja e encheu o
copo até a metade, com cuidado para não deixar muito colarinho.
Quando ela ofereceu a ele, ele olhou de soslaio.
—Pensando em envenenar a competição?— Ela riu. —
Dificilmente. Mas se isso te faz sentir melhor, eu vou beber um pouco
primeiro. —Ela tomou um gole, e o olhar dele desceu para sua boca.
Não havia dúvidas quanto ao brilho em seus olhos quando ele seguiu
sua língua, a varrer a espuma de seus lábios.
—Sua vez— disse ela friamente. Ela empurrou o copo para
ele, esperando que ele fizesse algum comentário impertinente sobre
sua boca antes de avançar em direção a sugestões que não teriam
nada a ver com cerveja.
Em vez disso, ele levantou o vidro para examinar o líquido
âmbar.
—É uma pale ale?
—Sim.
—Ah. Cor clara, agradável. —Ele rodou-o no vidro, em
seguida, meteu o nariz para sentir o aroma, respirando
profundamente.—Aroma agressivo de lúpulo. Algumas notas
frutadas.
Enquanto ele bebia, ela torcia o anel de sua mãe que levava
no dedo. Ele sempre lhe trouxera sorte, por isso nunca o tirava,
mesmo na cervejaria.
Seus olhos se aprofundaram para um azul cobalto enquanto
ele deixava a cerveja descansar em sua boca por um breve segundo
antes de engolir. Ele tomou um novo gole, como que para confirmar
suas impressões.
Então, esvaziou o copo.
—É muito bom. Encorpado, com um bom amargor no final.
Não muito maltado, porém. É do estoque da Lake Ale?
Ela soltou um suspiro de alívio.
—Sim. Fabricada por mim mesma.
Ele se endireitou em toda sua altura, que era considerável em
comparação com o metro e meio dela própria.
—Eu ainda não vejo como isso diz respeito à Plumtree.
—Eu quero que você me ajude a vendê-la.
Retomando seus modos de negociante, ele entregou-lhe o
copo.
—Eu vou ser sincero com você, Miss Lake. Esta não é boa
hora para novos empreendimentos no negócio da cerveja. Com o
mercado russo indo devagar
—É exatamente por isso que estou aqui. Com o meu irmão
doente, nós também temos tido dificuldades. Mas eu posso ajudar
ambas as empresas a compensar a perda dos russos. —Ela arrumou
o vidro em sua caixa, deixando a garrafa de cerveja sobre a mesa. —
Você já ouviu falar na Cervejaria Hodgson?
—É claro. Ele domina o comércio da Índia.
—Não desde que ele se juntou com Thomas Drane. Eles
decidiram cortar a Companhia das Índias Orientais e embarcar
diretamente para lá por conta própria.
Os olhos dele se arregalaram.
—Idiotas.
—Exatamente. Ninguém corta a Companhia e sai ganhando.
—Embora a empresa lucre com os produtos trazidos da Índia para a
Inglaterra, isso permitia que os seus capitães lucrassem encima dos
bens levados à Índia e vendidos aos ingleses lá. A cerveja tornara-se
a carga privada primária dos capitães, principalmente a cerveja de
outubro fabricada por Hodgson. A cervejaria cortou os capitães e
agora está sofrendo por isso.
—Hodgson também parou de dar crédito e elevou seus preços
—, continuou ela. —Assim, os capitães da Companhia das Índias
Orientais decidiram cortar Hodgson encontrando um fabricante de
cerveja para preparar o mesmo tipo de cerveja para eles. Eles
escolheram a cervejaria Allsopp em Burton. Sua primeira remessa
saiu há dois anos, e eles recebem nada menos que brilhantes
relatórios. É um mercado enorme que a Cervejaria Lake quer
explorar. Mas precisamos de ajuda.
—Minha avó tentou competir no mercado da Índia anos atrás,
sem sucesso.
—Ela estava tentando vender a cerveja Plumtree de outubro,
certo?— Ele hesitou, depois assentiu.
—Descobrimos que a água de Burton produz uma cerveja de
outubro melhor que a água de Londres. Allsopp está colocando
metade da produção de sua Índia Pale Ale para exportação. Eu
poderia fazer o mesmo se os capitães da Companhia das Índias
Orientais aceitassem lidar com a Lake, mas eles não aceitam, por
causa da – doença - do meu irmão—- ela parou um pouco, quase
dizendo— instabilidade —E porque eu sou mulher. Eles não confiam
em nós para exportar, e eu não me atrevo a iniciar a produção, se
não houver compradores. É por isso que eu preciso de você.
Seus olhos se estreitaram.
—Você quer que eu venda sua cerveja para os capitães da
Companhia.
Ela sorriu para ele.
—Exatamente. Poderia ser vantajoso para nós dois,
compensando-nos das perdas que sofremos desde que os russos
aumentaram as tarifas sobre a cerveja inglesa.
—O que faz você pensar que nós sofremos perdas?— Ele
inquiriu.
—Toda cervejaria sofreu perdas, e você sabe disso.
Desviando o olhar, ele passou a mão pelo queixo.
—É uma proposta interessante.
—Então você vai considerar?
Seu olhar encontrou o dela, cheio de remorso.
—Não.
Seu coração se afundou. A Cervejaria Plumtree tinha sido sua
única esperança!
—Por que não?
—Para começar eu só estou aqui há uma semana, e ainda
estou avaliando a situação. Então, eu não vou lançar-me em nenhum
experimento imprudente e, certamente, não apenas porque uma
jovem cervejeira apareceu com um esquema qualquer.
—Não é um esquema qualquer!— E com quase trinta anos,
ela não era tão jovem. Esse era o problema de ser baixinha,
confundia as pessoas quanto a sua idade. —Pergunte a qualquer um
sobre o sucesso do Allsopp. Tenho certeza de que outros cervejeiros
em Londres terão notado. E eu distribuo uma cerveja de outubro
excelente, você mesmo admite isso!
—Há outros fatores— disse ele em tom condescendente que
ela estava tão acostumada em lidar com os donos de cervejaria
masculinos em Burton.
Ela ergueu o queixo.
—Você está querendo dizer, porque eu sou uma mulher.
—Porque é cervejeira. Cervejeiros não enxergam além de
seus narizes. Eles criam uma bebida superior, e acham que é tudo o
que importa. Mas há fatores além da qualidade da cerveja. Tenho
certeza que seu irmão sabe disso, pois que ele não veio sozinho.
—Ele não veio porque ele está doente—, ela exclamou.
—Então, certamente ele enviou uma carta de apresentação,
colocando-a a frente como seu representante.— Ela engoliu. É claro
que não. Hugh pensava que ela e Sissy estavam em Londres para
procurar escolas para Geordie. —Ele estava muito doente para isso.
— Lord Jarret meramente arqueou uma sobrancelha.
Exasperada, ela tentou outra tática.
—Para um homem que joga tanto, você está certamente
cauteloso em relação a investir.
Os cantos de seus lábios se contraíram.
—Vejo que minha reputação me precede.
—Quando gasta o seu tempo escandalizando a sociedade,
deve esperar que as pessoas falem sobre você. Embora eu não
possa imaginar por quê. Se hesita diante de um investimento certo
como este, você não pode ser um jogador muito imprudente ou
corajoso.
Para seu grande aborrecimento, um sorriso apareceu no rosto
dele, expondo não apenas uma, mas duas covinhas.
—Minha querida Miss Lake, tais táticas podem funcionar no
seu infeliz irmão, mas eu tenho duas irmãs. Eu não posso ser
incitado tão facilmente. Paus e pedras e tudo isso.
Amaldiçoando-o por ser um... um homem.
—Sua avó enxergaria o lucro potencial neste plano. Ela
entenderia.
O sorriso desapareceu. Ele se aproximou pairando sobre ela,
do alto de seu metro e oitenta.
—Minha avó não está administrando esta empresa no
momento. Mesmo que estivesse duvido que aprove.
Ela lutou para não ser intimidada por seu tamanho.
—Como sabe, se não perguntou a ela?
—Eu não preciso perguntar-lhe.
—Você disse que só está aqui há uma semana, e ainda está
avaliando as coisas.— Ela tentou olhá-lo de cima, mas sua altura
possibilitava apenas olhá-lo de baixo. —Poderia estar errado sobre
isso, você sabe. Pelo menos gostaria de ouvir dela mesma que a
Cervejaria Plumtree não está interessada.
—Isso é impossível. No momento, ela está.
—Indisponível. Eu sei. Que conveniente. —Ela olhou para ele.
—Você ignorar uma oportunidade perfeitamente boa para ganhar
dinheiro, porque não quer se incomodar. Eu me pergunto o que sua
avó pensaria se ouvisse isso.
—Ameaças não funcionam para mim, Miss Lake. Agora, se
me dá licença...
Quando ele foi até a porta, o pânico tomou conta dela.
— Lake Ale está em uma posição precária— ela exclamou, —
e tudo que peço é que você apresente minha proposta para a sua
avó. Por que é tão difícil? Se Lake falir, quarenta homens perderão
seus empregos. Minha família vai sofrer, e...
—Oh, pelo amor de Deus.— Ele virou-se para encará-la. —
Você vai ficar satisfeita se eu falar com a minha avó sobre sua
proposta?
Esperança surgiu dentro dela.
—Sim. Embora possa ser melhor se eu .
—Sem chance. Eu vou apresentar a ideia hoje à noite. Mas
quando ela se recusar a segui-lo, como eu tenho certeza que ela vai
– você vai aceitar essa resposta como definitiva. Está entendido?
Ela hesitou, depois assentiu. Realmente, ele dera-lhe pouca
escolha.
Ele abriu a porta.
—Volte amanhã, e eu a informarei de sua resposta. Tenha um
bom dia, Miss Lake .
Ela mordeu o lábio para não protestar contra a despedida
sumária. Isto era o máximo que conseguiria dele, agora ela
simplesmente teria de manter a esperança de que ele faria o
prometido.
Enquanto descia as escadas, no entanto, ela não tinha
certeza do que ele faria. Ele parecia determinado a abrir mão de seu
plano. Como ele ainda não tinha ouvido falar sobre a situação
desastrosa de Hodgson! Ele provavelmente pensou que ela
exagerava a coisa toda.
Mas se ele falasse com sua avó, ele saberia... Ela suspirou.
Era um grande se.
Fora da cervejaria, ela encontrou Sissy e Geordie esperando-
a nos degraus. Sissy pulou no momento que Annabel se aproximou,
o capuz da capa caindo para expor seus lindos cachos loiros.
—Bem—, ela perguntou esperançosa. —O que disse a Sra.
Plumtree?— Annabel suspirou. —Ela não estava lá. Falei com seu
neto.
—Você conheceu um dos famosos Demônios de Halstead
Hall?— Os olhos azuis de Sissy iluminaram de emoção.
—Qual deles?
—Lorde Jarret.
—O jogador? Ele é tão bonito como dizem? Tem ele tem ares
de devassidão?
—Agora, pensando bem, não.— Isso era estranho, dadas as
histórias escandalosas sobre ele, como ele uma vez teria jogado por
dois dias seguidos sem dormir, como teria perdido mil libras em uma
única hora... como trocava de mulheres tanto quanto trocava de
gravatas.
O que não era surpreendente, tendo ele olhos da cor do
oceano e um sorriso preguiçoso feito para provocar arrepios em uma
mulher. Não que tivesse esse efeito sobre ela. Não mesmo.
—Lorde Jarret tem um jeito de patife irresponsável— disse
Annabel resolutamente.
—Então por que diabos sua avó permite que administre sua
cervejaria?
—Porque é homem, é claro. Ele me deu poucas esperanças
dela estar interessada em minha proposta, mas prometeu falar com
ela sobre isso.
—Acha que ele vai?
—Eu não sei. Ele é um indivíduo irritante e arrogante. Duvido
que ele possa ser confiável para fazer qualquer coisa. Ele agiu como
se eu estivesse impondo-lhe quando simplesmente sugeri uma
maneira perfeita para sua empresa ganhar dinheiro.
—Isso porque você não deve dizer-lhe o que fazer, tia
Annabel — Geordie interviu. —É como papai sempre diz, as
mulheres...
—Eu sei o que o seu pai sempre diz.— Que a cervejaria não é
assunto para mulheres. E se ela parasse de ir à cervejaria, um
homem poderia realmente chegar a se casar com ela.
Ela desejou sinceramente que Hugh não falasse essas coisas
na frente de Geordie. Agora o rapaz estava tomando aquelas
opiniões para si, sendo que Hugh sabia por que ela não queria se
casar. Porque ela teria de deixar Geordie. Como poderia fazer isso?
Ele era seu filho.
Claro, Geordie não sabia disso. Ele não sabia que o noivo de
Annabel, Rupert, o gerou e que Annabel deu-lhe à luz pouco depois
de Rupert morrer no campo de batalha. Geordie foi levado a crer que
ela era sua tia. E não havia nada que Annabel pudesse fazer a
respeito – nada que fosse livrá-lo do estigma da bastardia.
Mas certamente ia assegurar-se que ele era amado e cuidado,
mesmo que a mulher que chamava de mãe não era ela.
Um soluço entupiu sua garganta, que ela sufocou, como
sempre. Seu filho estava crescendo tão rapidamente. Um dia, ela,
Sissy e Hugh teriam de lhe contar a verdade. Quando ele era
pequeno, os três acharam melhor manter segredo, por medo de que
ele deixasse escapar a alguém. Mas ultimamente Sissy dizia que
eles deveriam contar. Era chegado o momento.
E o era, mas ela simplesmente não suportava ter de fazê-lo.
Ele ficaria tão magoado quando percebesse que toda a sua vida era
uma mentira, que seu verdadeiro pai estava morto e sua verdadeira
mãe era uma devassa. Então ele ia culpá-la, e ela podia perdê-lo
para sempre. Simplesmente não podia arriscar. Ainda não. Não até
que as coisas ficaram resolvidas com Hugh.
Uma carranca formou-se em sua testa. O que eles fariam
quanto a Hugh? Ele ficava mais desesperado a cada dia. Quanto
mais melancólico ficava, mais bebia e menos se importava com a
cervejaria. Eles mantiveram segredo até agora, mas eventualmente,
as pessoas iam descobrir que ele perdia dias de trabalho e
compromissos com fornecedores importantes, porque ele estava
embebedando-se a um estado de estupor em seu escritório de casa.
—Você devia ouvir papai, — disse Geordie no tom pomposo
que adotou após completar seus doze anos. —Ele só está tentando
ajudar você a conseguir um marido antes que fique velha demais,
você sabe.
—Geordie!— Sissy repreendeu. —Não seja rude.
—De qualquer modo, eu não quero um marido, Geordie—
Annabel disse cansada.
Isso era uma mentira deslavada. Ela queria marido e filhos e
uma casa própria, como qualquer outra mulher. Mas que homem a
aceitaria quando soubesse que ela já não era casta? E mesmo que
algum homem fosse compreensivo quanto seu amor juvenil por
Rupert, não aceitaria seu bastardo. Ela teria que deixar Geordie,
para poupá-lo das crueldades de ser marcado ilegítimo.
Ela não poderia deixá-lo.
E ela não tinha desejo de trazer escândalo para Sissy e Hugh;
que tinham sido bons para ela. Outras famílias a teriam abandonado
inteiramente, pelo seu... erro.
—Então, o que faremos agora?— Sissy perguntou.
—Não temos escolha além de esperar até amanhã e ver se
Lorde Jarret cumpre o prometido. Embora eu me sentiria melhor se
pudesse falar com a Sra. Plumtree em pessoa.
—Por que não pode? Certamente podemos descobrir onde
ela mora.
—Se pudéssemos descobrir.— Ela pensou sobre o que havia
dito Lorde Jarret. —Não tenho certeza se ela está em casa, de
qualquer maneira. Ele disse algo sobre lidar com as preocupações
da família. Ela pode estar em qualquer lugar.
—Bem, se ele vai consultá-la, terá de ir para onde ela está,
não? Nós podemos simplesmente segui-lo.
Annabel olhou boquiaberta para Sissy, em seguida, pegou-a
em um abraço.
—Você é brilhante! Sim, faremos. Ou melhor, eu farei. Ele com
certeza notará três de nós seguindo-o. Não vai notar uma mulher.
—Você devia deixar-me fazê-lo— disse Geordie, estufando o
peito.
—Absolutamente não!— Sissy e Annabel disseram em
uníssono. Em seguida, elas riram.
Elas sempre estavam em perfeito acordo quando se tratava
de Geordie. Annabel não podia desejar melhor mãe para seu filho.
Sissy e Hugh tinham seus próprios filhos - atualmente estavam com
a mãe de Sissy em Burton - mas Sissy nunca tratava Geordie de
forma diferente aos outros.
Outra mulher poderia ter-se ressentido com uma cunhada a
impingir-lhe semelhante golpe um ano após seu casamento, mas não
Sissy. Ela idealizou o ardil dizendo a todos que ela e Annabel
estavam indo para o norte em auxílio a uma prima que sofria de uma
longa enfermidade. Sissy se levou ao ponto de escrever cartas para
a família na cidade a respeito da criança que carregava. Então, ela
acalentou o bebê com alegria absoluta, acolhendo em sua família
também a uma sofrida Annabel.
Em troca, Annabel adotou o papel de tia coruja, ajudando a
cuidar das crianças quando ela não estava na cervejaria tentando
ocupar o lugar de Hugh.
—Geordie— Sissy disse, bagunçando o penteado cabelo
castanho do menino, —Vamos deixar esta tarefa para Annabel, sim?
—Aww, mãe, pare com isso!— Ele retirou os ombros das
mãos de Sissy com uma carranca. —Eu não sou mais criança, você
sabe.
—Oh, és um grande homem agora, não é?— Annabel brincou.
—Eu sou um homem.— Ele fez uma careta para as duas. Ele
tinha a carranca de Rupert. —Pai diz isso.
—Bem, então, — Annabel disse, —você poderá cuidar de sua
mãe no caminho de volta para a pousada.— Eles estavam
hospedados perto, graças a Deus. —Eu ficarei aqui.
—Sozinha? Até o anoitecer? — Disse Sissy, uma pontada de
alarme em sua voz.
—Eu vou ficar bem. Lorde Jarret certamente sairá em um par
de horas, ele não é exatamente do tipo diligente. Há muitas lojas em
toda a rua que me darão uma boa visão da cervejaria. Vou demorar-
me neles até vê-lo sair. Como Sissy ainda parecia preocupada, ela
acrescentou:— Serei cuidadosa, prometo.
—Pelo menos vista meu casaco.— Sissy despojou-se dele e
entregou a ela. —Talvez, mantendo-o abotoado, com o capuz sobre
a cabeça, ninguém perceba que você é mulher. Sendo tão pequena,
cobrirá até mesmo a parte inferior de suas saias.
No mínimo, daria alguma proteção contra o frio mordente após
o pôr do sol.
—Isso pode levar algo tempo, sabes. — ela disse enquanto
tirava o gorro e dava-o a Sissy, em seguida, vestiu o manto. —
Quando eu descobrir onde a Sra. Plumtree está, entrarei para falar
com ela.
—Depois que você terminar, tome um coche— Sissy
empurrou algum dinheiro em sua mão, junto com a chave extra do
quarto da pousada. —Nem pense em voltar para a pousada a pé.
Annabel olhou as moedas, um caroço formando-se em sua
garganta.
—Me desculpe por arrastá-la nisso, Sissy. Lamento que o meu
irmão...
—Shh— Sissy disse suavemente. —Não é culpa sua. De
qualquer forma, Hugh é um bom homem, quando ele não está... no
marasmo. —Ela lançou um furtivo olhar em Geordie, que ouvia
avidamente como de costume. —Eu tenho certeza que você vai ser
capaz de convencer a Sra. Plumtree a nos ajudar. E se você puder
dar um novo propósito para a Cervejaria Lake, isso poderá
impulsionar Hugh para fora de seu estado de melancolia.
—Nós só podemos rezar. — disse Annabel enquanto
deslizava o dinheiro e a chave para o bolso da capa. Esse era seu
plano, deficiente que era. Hugh parecia interessado em entrar no
mercado indiano quando ela o mencionava, mas ele estava muito
afundado na bebida para ir atrás. Então, ela e Sissy esperavam
apresentar o plano como fato consumado quando a Cervejaria
Plumtree concordasse em fazer a intermediação. Talvez então ele
despertasse para levar o esquema a frutificar. Isso deveria bastar
para mudar a situação da Lake Ale, ou ao menos levantar o ânimo
de Hugh.
Eles obtiveram a bênção do gerente da cervejaria, e ela
esperava ganhar a ajuda da Sra. Plumtree, não importando o que o
arrogante neto da mulher dissesse.
Ela ajeitou os ombros. Ia obter a ajuda da mulher, com ou sem
a aprovação de Lorde Jarret. Porque esta poderia ser a única forma
de garantir a sobrevivência de sua família.

Capítulo Três

Jarret encarava a garrafa de cerveja meio vazia deixada por


Miss Lake. Cervejeiros geralmente produziam cerveja para suas
próprias tavernas ou famílias. Pelo que sabia, nenhuma outra mulher
além da avó havia realmente trabalhado numa atmosfera tão áspera
e agitada de uma grande cervejaria.
Será por isso que ele deixou aquela conversinha de irmão
doente dar em seus nervos? Ele devia tê-la atirado para fora no
minuto em que mencionou envolver a Cervejaria Plumtree em seus
planos. Pois que com os diabos que não se sentiu tentado. Era
exatamente o tipo de empreendimento de alto risco que despertava
seu interesse... e era exatamente o tipo de empreendimento
arriscado que devia evitar se quisesse salvar a empresa da ruína
certa.
Com um profundo suspiro, Jarret voltou-se para os números
que estavam atormentando-o antes de Miss Lake entrar. A Cervejaria
Plumtree estava em apuros. A questão Russa tinha feita cair
drasticamente os lucros, o que explicava o desespero da avó por um
administrador.
Não era hora de correr riscos grandes com a empresa.
Embora o plano de Miss Lake pudesse estancar a perda de lucros
pelo talho criado pelos russos, também poderia ser o golpe final. Ele
não podia arriscar.
Ainda assim, supondo que ela não estivesse mentindo a
respeito de fabricar a cerveja ela mesma, ele tinha de admitir que era
boa. Ele não se professava um especialista e, foi-se um longo tempo
desde que ele olhou para cerveja como qualquer outra coisa a não
ser uma mera bebida para acompanhar a refeição.
O avô tinha sido o especialista. Relampejou-lhe a imagem do
ancião ajustando montes de malte diante dele para ensinar-lhe que
torra produzia que tipo de cerveja. O avô costumava deixá-lo
adicionar o fermento nas cubas de fermentação, dizendo que um dia
todo o lugar seria dele. Como menino, isso lhe tinha feito inchar com
orgulho e anseio... até que vovó tirou-lhe tudo isso.
Fez uma careta. Agora estava ali novamente, sentindo o
cheiro do mosto e degustando cerveja verde. Graças a ela, era como
se 19 anos desaparecessem do nada. Só que ele não queria mais
sacrificar sua vida pela cervejaria.
—Croft— latiu ele.
O funcionário apareceu instantaneamente na porta. A avó
tinha razão: Croft podia ser desagradável com estranhos e possuía
estranhas maneiras, mas ele conhecia a Cervejaria Plumtree de
dentro para fora.
—Será que você pode mandar o Sr. Harper subir?
—Claro, meu senhor. E devo dizer novamente o quanto
lamento ter permitido que aquela mulher passasse por mim. Eu não
sabia o que dizer a ela. Você havia afirmado que não deixasse
ninguém saber que a Sra. Plumtree está doente, e a mulher insistia
em fazer perguntas.
—Tudo bem, Croft. Está tudo bem. —A vovó insistiu que sua
doença ser mantida em segredo para todos, exceto aos mais
íntimos. Ela não queria seus concorrentes rodeando a empresa
como abutres caso pensassem que está enfraquecida.
—E como sua avó está, se me permite perguntar?
—Ela estava aguentando bem quando a deixei na noite
passada— Jarret evadiu. Mas sua cor não era boa, e ela tossia
muito.
Enquanto Croft apressava-se a buscar Harper, Jarret estava
preocupado. Ele esperava que a avó recuperasse seu bem-estar
após o acordo deles. Em vez disso, seu estado agravou-se durante a
semana que passou. Wright disse que ela sofria de algo chamado
edema nos pulmões e poderia nunca recuperar-se.
A ideia da morte da avó fazia-o sentir uma torção na barriga.
Ela estava sempre ali, sua energia e paixão pela cervejaria fazendo-
a maior que a vida. Mesmo quando brigava com eles, ela era a cola
que os mantinha juntos. Se morresse...
Ela não devia morrer. Era impensável.
—Meu senhor? Sr. Croft disse que queria me ver?
Ele ergueu os olhos para encontrar o Sr. Harper, o melhor
cervejeiro da empresa, ali de pé com o chapéu na mão. Jarret
apontou para a garrafa de cerveja.
—Eu quero sua opinião sobre essa cerveja de outubro,
Harper. Há um copo no aparador.
A avó mantinha sua reserva de conhaque ali. Um leve sorriso
tocou seus lábios. A mãe sempre sentiu-se humilhada pelo fato da
mãe dela beber conhaque, tão impróprio para uma mulher. Mas Gran
era diferente da maioria das mulheres.
Exceto talvez, de Miss Lake.
Ele fez uma careta. Mas Miss Lake não era como a avó,
senão ele não teria passado metade da reunião imaginando o que
estava sob seu vestido fora de moda de lã verde. Pequena como era,
como um duende a se aventurar na floresta, sua figura possuía todas
as formas de uma mulher, com curvas suaves e tentações ardilosas.
E a única vez que sorrira para ele...
Por Deus, ocasionara tal mudança em seu rosto, fazendo-lhe
brilhar os olhos castanhos e resplandecer levemente as bochechas
sardentas. Os cachos escuros que emolduravam o rosto insinuavam
as ondas exuberantes de mogno brilhante que, sem dúvida, estavam
sob seu garboso chapéu.
Ela tinha a aparência de uma moça bem-alimentada do
interior intocada pela sordidez da cidade. Ele gostava de mulheres,
sempre gostara, até as preferia frente às elegantes fofoqueiras que
permeavam a sociedade. Miss Lake era o tipo de mulher que ele
poderia imaginar dançando ‘Maypole’4 e passeando com seu
namorado sobre verdejantes campos. Do tipo que consideraria
qualquer flerte um prelúdio para o casamento.
Eis o motivo que o fez pensar que a avó a tinha enviado. Era
exatamente algo que ela faria, tentar fazê-lo contratar alguma
cervejeira muito feminina na esperança de que a mulher fosse tentá-
lo ao casamento, assim a avó atingiria seu objetivo.
Miss Lake teria sido certamente uma boa escolha para tal
conspiração. No minuto que ela inclinou o nariz de duende para ele,
ele quisera explorar debaixo daquela touca e vestido. Embaralhar
tudo.
—Então— ele estalou enquanto Harper tomava um gole da
cerveja, em seguida, outro. —É bom. Melhor que a maioria das
cervejas de outubro que provei.
— Maldição — ele murmurou.
—Perdão, meu senhor?— Harper perguntou.
Ele não queria ver a sua opinião sobre a cerveja confirmada.
Ele não queria ouvir que Miss Lake tinha uma bebida de venda
viável, que seu esquema pudesse ser bem sucedido caso ele
cooperasse.
—Você está considerando o mercado da Índia?— Harper
disse, assustando-o.
—Por que pergunta?
Harper encolheu os ombros.
—Com Hodgson sobre as cordas e os russos não comprando,
estive pensando se não devemos tentar a mão em uma pale ale para
a Companhia das Índias Orientais.— Quando Jarret só olhou para
ele, irritado pela forma como todos pareciam saber sobre Hodgson
menos ele, Harper acrescentou rapidamente, —Sei que a Sra.
Plumtree foi contra, mas os tempos estão difíceis. Vale a pena
repensar.
—Diga-me exatamente o que Hodgson fez para decepcionar a
Companhia das Índias Orientais.— Harper explicou o que soou como
uma série de práticas empresariais imprudentes, embora ele não
estivesse envolvido por tempo suficiente para ter certeza. Mesmo
odiando admiti-lo, a proposta de Miss Lake passou a soar meritosa...
se ao menos ele pudesse confiar em sua empresa para produzir o
que ela prometia, o que não estava de todo seguro.
—Você poderia produzir uma cerveja de outubro tão boa
quanto essa?— Jarret perguntou, sacudindo a mão para a garrafa
quase vazia que Harper tinha colocado sobre a mesa.
Harper corou.
—Não sei se posso. Isso é uma bebida danada de boa. Eu
teria que saber a receita. Mas a de Hodgson não era melhor do que
a nossa. Nós ainda temos uma chance de competir, se eles
estiverem saindo.
A água de Burton produz uma cerveja de outubro melhor que
a água de Londres.
Jarret encarou a pequena quantidade de líquido restante do
fundo da garrafa.
—Obrigado por sua opinião, Harper. Isso é tudo.
O que importa se Miss Lake tinha produzido uma cerveja
excelente para o mercado da Índia? Só porque ela estava buscando
tirar proveito dos erros tolos de Hodgson, isso não significa que ele
devesse arriscar tudo entrando em seu esquema.
Se Lake Ale falir, quarenta homens perderão seus empregos.
Ele fez uma careta. Não era sua preocupação. Não era seu
trabalho salvar cada cervejaria agonizante do país. Ele já tinha
bastante dificuldade para salvar a sua.
Isso exatamente o que ele queria evitar - ser envolvido a se
preocupar com qualquer coisa. Ele não queria acabar como a avó.
Ela se esforçou para dar a filha um bom casamento e, terminou com
um genro que fez sua filha miserável. Ela trabalhou anos para
colocar a Cervejaria Plumtree no topo, e num instante, uma decisão
tomada pelos russos do outro lado do mundo levou a ela e a
empresa da família a dificuldades.
Isso é o que dava colocar seu coração em alguma coisa. Um
homem pode fazer tudo certo, e o Destino ainda podia puxar o tapete
debaixo dele.
Agora ele não tinha escolha. Mesmo tendo uma mão ruim, ele
teria de fazer o melhor que pudesse com o que tinha. Plumtree tinha
de sobreviver para que sua família pudesse sobreviver, e parecia que
ele era o único que podia se assegurar disso.
Não, ele tinha que fazer mais que garantir a sobrevivência da
empresa, ele tinha que torná-lo maior que antes, para que poder
retirar-se ao final do ano sem qualquer culpa. Assim, ele podia voltar
à sua vida de jogador, onde seu único risco seria monetário, sem ser
tentado a se importar. Onde ele sabia que a vida era imprevisível e
nada podia ser tido como certo.
Miss Lake teria que encontrar outro tolo para apoiá-la no
esquema arriscado de seu irmão.
Tudo que eu peço é que você apresente a proposta para a
sua avó.
Ele bufou. Sua avó era alguém menos provável para abraçar o
plano do que ele. Mas ele prometeu a moça apresentá-lo, então o
faria.
Uma batida veio de sua porta, e ele olhou para cima para
encontrar seu amigo Giles Masters ali de pé. Com um sorriso, ele
ficou de pé.
—Que diabos você está fazendo aqui?
Como advogado de algum renome, Masters passava seus
dias argumentando casos no outro lado da cidade.
—Eu vim te arrastar para longe disso tudo— disse Masters
com um movimento de mão. —Seu irmão me disse que não se junta
a nós para o nosso jogo de whist hoje, e isso é inaceitável .
— Você diz isso só porque eu tenho perdido ultimamente, e
você quer ganhar algum dinheiro para variar.
Masters levou a mão ao peito fazendo-se horrorizado.
—Não é possível que seu mais prezado velho amigo apenas
queira que você se junte a ele para uma noite de conversas
brilhantes e atividades viris?
—É assim que você chama?— Jarret o olhou de soslaio. —A
última vez que jogamos em uma das tabernas Plumtree, você e
Gabe ficaram bêbados e competiram para ver quem poderia peidar
mais alto. Você ganhou, pelo que me lembro. Em detrimento de
todos na sala.
—Ah, mas eu fiz isso enquanto era brilhantemente espirituoso.
Então, assim tens conversas brilhantes e atividades viris. —Ele
acenou em direção à porta. —Agora venha. Aqueles de nós que
realmente precisamos laborar durante as horas do dia desejam
entretenimento, e não toleramos recusas de pessoas como você que
só fingem ter uma profissão.
Por alguma razão, Jarret não gostou de ser considerado como
um diletante.
—Como jogar whist quando nos falta um quarto jogador?—
Disse ele amargamente. —E eu odeio estragar sua festa, mas
mesmo com o retorno de Oliver da América, ele não mais se junta a
nós nas mesas com frequência. Se transformou em um sóbrio
homem casado, o que é uma pena.
Masters suspirou.
—Seu irmão e também o meu. Um bom solteirão é difícil de
encontrar. É por isso que o resto de nós temos de ficar juntos. —Ele
sorriu. —Além disso, temos o quarto jogador. Gabe convenceu Pinter
a se juntar a nós.
—Pinter! Refere-se ao maldito sujeito que faz carranca e
protesta que as cartas são um passatempo frívolo?
—Ele não é tão ruim. É um bom camarada, e de vez em
quando, ainda possui senso de humor. Venha, e verá por si mesmo.
Jarret olhou para as pilhas de papéis sobre a mesa. Ele tinha
se debruçado sobre os livros por dias, e nenhuma grande solução
para os problemas da cervejaria tinha se apresentado. Talvez ele
pudesse pensar melhor se clareasse a mente. E como fazê-lo melhor
do que com um bom jogo de cartas, umas canecas da melhor porter
da Plumtree, e um encontro com a garçonete?
Miss Lake flutuou em sua mente, seus lindos olhos rogando-
lhe ajuda, e ele praguejou em silêncio. Podia falar com a avó pela
manhã.
Além disso, ele planejava falar com o Bow Street Runner
Pinter para rastrear os ex-lacaios de Halstead Hall. Poderia muito
bem fazê-lo esta noite.
—Tudo bem. Adiante.
Annabel seguia Lorde Jarret e seu companheiro de cabelos
escuros saindo da cervejaria. Seria o outro companheiro irmão de
Lorde Jarret, juntando-se a ele para visitar sua avó? Ela estava tendo
dificuldades para manter o passo de suas longas pernas sem correr.
Às vezes, ser pequena podia ser terrivelmente inconveniente. Não
ajudava os homens e meninos com placas de publicidade em todos
os lugares, bloqueando sua visão. E ela tinha de resistir à tentação
de olhar as maravilhas enquanto se apressava, as tentadoras
millineries5 cheias com os chapeuzinhos de última moda, as lojas de
impressão com suas exposições ultrajantes e coloridas, e os
vendedores comercializando deliciosas salsichas, acessórios para
lareiras e até mesmo curas para a sífilis.
Ela corou quando passou pelo último. Isso não era algo que
via nas ruas de Burton.
Levou aos cavalheiros 15 minutos para chegar ao seu destino.
Quando este acabou sendo uma taberna, ela parou em frente,
furiosa. Então assim era uma promessa de Lord Jarret! Ela devia
saber que um homem como ele não a cumpriria.
A menos que eles estivessem apenas de passagem para
um drinque antes visitar a avó? Isso era possível. A taberna
tinha uma placa que dizia:
—Nós vendemos a melhor Plumtree — e uma taverna da
empresa não seria uma escolha lógica para os netos da
proprietária tomar uma bebida?
Agora ela tinha que decidir: Esperar ali até que eles saiam?
Ou entrar?
Esperar não era um bom plano. A noite estava caindo, e
Londres era notória por seus assaltantes. Mas ela não podia perder a
chance de conhecer o paradeiro da Sra. Plumtree.
Felizmente, era cedo o bastante para que as pessoas que
entravam na taverna tendessem a ser operários e casais a procura
de um rápido jantar. Ela seria menos notada agora do que em
qualquer outro momento. Então, ela entrou e ocupou uma mesa
perto de Lorde Jarret. Ela manteve a cabeça baixa ao pedir uma
refeição, imaginando que iria permitir-lhe demorar-se mais.
Mas antes que a comida viesse, outros dois cavalheiros se
juntaram à dupla. Evidente que este não era um encontro casual
entre irmãos para uma bebida. Quando pediram um jarro e abriu-se o
baralho, ela soube exatamente o que era. Uma noitada na cidade.
Aos diabos com Lorde Jarret! Ele claramente não tinha a
menor intenção de falar com a avó sobre sua proposta. E agora, o
que ela faria?
Uma hora, uma torta de rim, e uma jarra depois, ela ainda não
tinha decidido o que fazer. Mas tinha recolhido algumas informações.
O homem de cabelos escuros não era irmão de Lorde Jarret,
mas um velho amigo chamado Masters, que aparentemente era
também um homem de posição. O irmão de Lorde Jarret era o
homem com cabelos castanho-dourados, Lorde Gabriel, que gostava
de atormentar os outros dois com alusões a respeito de suas idades
avançadas.
O quarto homem, a quem chamavam Pinter, tinha cabelos
negros, um camarada de voz rouca e maneiras tranquilas, quase
sombrio. Embora ele não possuísse a jovialidade dos outros,
ocasionalmente fazia alguma observação seca que parecia
surpreendê-los. Ela não podia dizer se ele era um amigo ou apenas
um companheiro ocasional. Ele não parecia ter qualquer título.
Também era o único que não flertava escandalosamente com as
garçonetes.
O máximo que podia ver,era que Lorde Jarret e seu irmão
ganhavam constantemente. Os outros dois homens resmungavam
sobre isso.
Curiosa para ver que jogo era, ela se levantou e aproximou-se
da mesa o máximo que ousou. Estavam jogando whist. Ela ficou
perto de Lorde Jarret tempo suficiente para ver que ele era muito
bom, e que provavelmente por isso que ele e seu irmão ganhavam.
O homem chamado Masters pediu outro jarro de cerveja. —O
que aconteceu com a sua série de derrotas, Jarret?— Reclamou
enquanto ele atirava suas cartas.
Um sorriso de satisfação tocou os lábios do Lorde.
—Você e Pinter não se mostram um desafio.
—Me desculpe— Pinter disse, —mas eu tive o diabo das
piores mãos. Nem mesmo habilidade é trunfo para a má sorte.
—Isso é só uma desculpa qualquer— Lorde Jarret zombou
dele. —Qual é a sua, Masters? Vamos à bolada, dar-lhe uma chance
de ganhar o seu dinheiro de volta? Eu preciso de um bom desafio.
—Oh, sim, vamos à bolada, irmão mais velho,— Lorde Gabriel
disse alegremente. —Estou vendo que você recuperou o seu toque e
tudo.
Pena que não podia se juntar a eles. Ela sabia exatamente
que tipo bolada tinha em mente. Jogou cartas com a família toda a
sua vida, começando com seus pais e Hugh, em seguida,
adicionando Geordie e Sissy depois que ela saiu de casa e Geordie
tinha crescido o suficiente para entender as regras. Embora
recentemente não tenham jogado muito por causa de Hugh...
Lágrimas brotaram de seus olhos. Amaldiçoou Hugh por sua
fraqueza. Ela perdeu seu doce irmão mais velho. Ele não tinha sido
ele mesmo há algum tempo. Embora ela suspeitasse saber por que
tinha começado a beber tanto, isso não ajudava nada.
Pinter baixou suas cartas.
—Quanto à bolada, eu estou fora. O gabinete do magistrado
não me paga o suficiente para apostar como vocês, senhores .
—Você acha que nós, advogados temos dinheiro para
queimar?— Masters resmungou. —Eu garanto, não o temos.
—Mas você tem um irmão rico para cobrir suas perdas—
Pinter apontou.
—Pare de ser um pedaço de lodo,— Masters disse. —Eu
disse a Jarret você é um bom camarada. Você vai me fazer passar
por mentiroso? Se sair, vou ter que sair também, e não terei a
chance de ganhar o meu dinheiro de volta.
—Não é problema meu.— Pinter esvaziou a caneca e
colocou-a com jeito de encerrar o assunto.
Annabel rapidamente se adiantou e baixou o capuz do
casaco.
—Ficarei feliz de ocupar o seu lugar.
Seria sua imaginação, ou a sala inteira ficou completamente
silenciosa?
Lorde Jarret estreitou os olhos nela.
—Miss Lake, aprecio vê-la aqui.
Ela escondeu suas mãos trêmulas nos bolsos de seu casaco.
—Eu até estaria disposta a aumentar as apostas, se Lorde
Jarret for jogar por algo que realmente importe.
Lorde Gabriel olhou para ela e para o seu irmão, em seguida,
abriu um sorriso.
—Nos esclareça, senhora. O que gostaria de apostar?
Arrastando sua cadeira, Lorde Jarret levantou-se.
—Se vocês nos dão licença por um momento, senhores...—
Agarrando-a pelo braço, ele empurrou-a para o corredor.
Ela afastou-se dele e ele disse:
—Que diabos você pensa que está fazendo agora, Miss
Lake?
Ela encarou seu olhar furioso firmemente.
—A mesma coisa de antes. Eu quero a sua ajuda. Estou
disposta a apostar para obtê-lo.
—Mulheres como você não frequentam tabernas.
—Você não conhece mulheres como eu. Tudo o que conhece
é esta vida frívola de jogos e bebidas e meretrizes—. Ele era como
Hugh, havia se tornado egoísta e irresponsável. —Você não pode
mesmo ficar longe disso o tempo suficiente para falar com sua avó
em nome de Lake Ale!
—Estava me seguindo?— Ele disse, sua voz incrédula. —
Ficou louca? Essa parte de Londres é um lugar perigoso para...
—Ah, me poupe de sua preocupação. É tão hipócrita como
suas promessas.
Sua expressão tornou-se pétrea enquanto cruzava os braços
sobre o peito.
—Para sua informação, eu pretendo falar com minha avó pela
manhã.
—Você me disse para retornar de manhã, lembra-se? E eu
diria que depois de beber com seus amigos a noite toda, você teria
esquecido-se de sua promessa. Se é que já não o fez.
Um músculo tremeu em seu maxilar.
—Então você decidiu ganhar a meu favor apostando comigo?
—Por que não? Eu jogo cartas muito bem. Seu amigo Pinter
parece determinado a sair, e você disse que queria um desafio.
—Eu suponho que você queira apostar algo relacionado ao
seu esquema com a Lake.
—Sim. Eu quero o seu aceite de que a Cervejaria Plumtree vai
nos ajudar. Só isso.
Ele olhou para ela.
—Só isso? Você não tem ideia do que está pedindo.
—Eu estou pedindo para você me ajudar a salvar a cervejaria
de meu irmão. É claro, você provavelmente prefere ver um
concorrente falir.
—Não seja absurda. Não me importo com uma cervejaria
meia-boca qualquer de Burton. Plumtree é cinco vezes o tamanho da
Lake.
—O que significa que você não tem nenhuma razão para
recusar-nos a sua ajuda.
Um sorriso duro cruzou seus lábios.
—E se eu ganhar? O que vou ganhar deste pequeno jogo de
alto risco?
Ela lentamente deslizou o anel de sua mãe fora de seu dedo,
lutando para não mostrar o quanto significava para ela.
—Isso. É ouro sólido, com rubis e diamantes. Vale pelo menos
duas centenas de libras. Isso deve fazer valer a pena.
Ele deu uma risada seca.
— Um anel. Você acha que...
—É um anel da sorte—, disse ela, desesperada para fazê-lo
entrar no jogo. —Qualquer cerveja que eu faça enquanto o uso sai
esplêndida.
—Tenho certeza de que isso acresce dez vezes ao valor do
anel —, disse ele sarcasticamente. Ele era tão irritante.
—Tudo bem, se você teme jogar whist comigo...
Seus olhos se mostraram do mesmo azul cobalto que ela
tinha notado antes, quando ele estava saboreando sua cerveja.
—Então acha que joga melhor, não é?
—Absolutamente—, disse ela, incerta. Mas tinha que tentar.
Ele chegou mais perto, até que pairar sobre ela como um
gigante de circo.
—A única maneira de eu concordar com sua aposta é torná-la
mais pessoal.
Ela engoliu em seco.
—Pessoal?
—O jogo será entre nós, whist de duas mãos. O primeiro a
vencer dois dos três jogos ganha o jogo e a aposta.
—Muito bem.
—Não terminei. Se você ganhar, Plumtree se junta a Lake
para entrar no mercado indiano—. Um sorriso pecaminoso curvou
seus lábios. —Mas se eu ganhar, você aquecerá minha cama esta
noite.

Capítulo Quatro

Jarret poderia ver que ela estava chocada. Bom. A mulher


precisava que lhe imbuíssem alguma sensatez. Se suas irmãs
tentassem algo assim, ele teria trancado-as e jogado fora a chave.
Seguira-o pelas ruas de Londres, sozinha, à noite? Sentava-
se em uma taverna sem proteção? Desafiava-lo nas cartas? A
mulher era muito imprudente para seu próprio bem. Encantadora e
desejável, mas imprudente como o diabo.
No entanto ela não seria louca o suficiente para aceitar a
aposta. E após ele a acompanhar de volta para onde ela se
hospedava, ele diria a seus acompanhantes para manter os olhos
nela.
Ela inclinou o queixo.
—Eu aceito a aposta.
—O inferno que o faz!
Seus lábios afinaram em uma linha teimosa.
—Então, você está mentindo de novo? Você não foi sério
sobre a aposta?
—Eu não estava mentindo a primeira vez!— Ele praticamente
gritou.
—Mas agora está?
A afetada inclinação de sua cabeça fez seus os cachos
saltarem. Por alguma razão, isso o enlouquecia ainda mais. Ele tinha
de parar de deixá-la afetar-lhe os nervos, caramba.
—Você, senhora, precisa de um guardião.
—E eu suponho que você está se oferecendo para o cargo—,
disse ela maliciosamente. —Mas você não possui uma gaiola grande
o suficiente para manter-me, meu senhor.
Ele empurrou seu rosto no dela.
—Você está disposta a arriscar arruinar-se, a perder sua
reputação, virtude, esperança de um dia se casar, na mínima chance
de bater-me nas cartas e ganhar minha ajuda para Lake Ale?
Uma expressão estranha veio-lhe ao rosto.
—Situações desesperadas exigem medidas desesperadas.
Aspirando pesadamente, ele olhou através dela. Ele entendia
de desespero. Sentira-o em menino. E passou muitas longas noites
jogando cartas com homens que, com seus últimos centavos,
oravam para que a próxima mão lhes recuperasse suas fortunas.
Mas ele nunca tinha visto desespero em outra mulher além de
sua mãe e sentiu-se perturbado.
—Além disso—, acrescentou ela, —Não acho que seja
‘mínima’ a chance. —Sou uma grande jogadora de whist, mesmo
que seja só eu a dizê-lo.
Ele bufou. Então. Uma cervejeira provinciana qualquer ia batê-
lo nas cartas. Estava para ver este dia.
Ainda assim, ele não deveria arriscar, não com Plumtree em
seu estado atual. Ele nunca teria sequer sugerido tal aposta se ele
pensasse que ela aceitaria. Ele não tinha o direito de apostar o futuro
da cervejaria.
—É claro—, continuou ela, —se você está com medo de
perder...
—Não há nenhuma maldita possibilidade de você me vencer
—, ele respondeu.
Por que ele se preocuparia? Era capaz de ganhar uma partida
de whist de duas mãos com os olhos vendados. Então a senhorita
Lake trotaria de volta para Burton uma mulher mais sábia.
Uma mulher arruinada.
Ele ignorou a pontada de sua consciência. Se ela queria jogar
tudo fora por isso, que lhe importava? Serviria-lhe de lição. Então,
ela não mais faria coisas tolas como abordar homens em seus
escritórios ou segui-los às tabernas.
E Deus sabe que ele tiraria proveito.
—Muito bem—, disse ele. —Vamos jogar nas condições
acordadas.
Para sua surpresa, alívio cruzou suas feições bonitas. —
Obrigada.— Brilhou um olhar travesso.
—Eu prometo que não vais apanhar muito. Não gostaria de
envergonhá-lo diante de seus amigos.
Uma risada irrompeu dele, apesar de tudo. Por Deus, ela era
uma figura.
Quando retornaram à sala da taberna principal, encontraram
Masters tomando dinheiro dos outros companheiros, enquanto Pinter
encostado contra um poste e observava carrancudo. A notícia já
devia ter corrido pela rua, que uma mulher havia desafiado o neto de
Hetty Plumtree para um jogo de cartas, pois o lugar estava mais
cheio agora.
—O que é tudo isso?— Jarret perguntou enquanto puxava a
cadeira vazia de Pinter para Miss Lake, em seguida, tomou o
assento de Masters em frente a ela.
—Masters apostou que você concordaria em deixar a Miss
Lake jogar,— Gabe comentou. —Pinter e eu dissemos que não. As
probabilidades são de 5-1 contra.
—Bem—, disse Jarret secamente, —por esta vez Masters
acertou.
Vários homens em torno da taverna gemeram. Masters puxou
outra cadeira e começou a contar seus ganhos.
—Recebo uma parte de seus lucros, Masters, já que
dependiam de mim?
—Na verdade dependiam de meu conhecimento em relação a
você e claramente, eu o conheço muito bem.— Masters lançou um
olhar astuto para Miss Lake. —Você não se recusar a oportunidade
de passar um tempo com uma mulher bonita, não importa o motivo.
Não vai nos apresentar?
Com um suspiro, Jarret realizou apresentações.
—Encantado em conhecê-la, Miss Lake.— Masters lançou-lhe
um sorriso sedutor. —Estamos muito satisfeitos em ter uma adição
tão atraente para a nossa mesa de jogos.
Miss Lake revirou os olhos.
—Eu vejo que você possui as mesmas maneiras de Lorde
Jarret. Isto deve fazer sua mãe orgulhosa.
—Ele não as pratica em sua mãe,— Jarret replicou,
reprimindo o riso. As mulheres eram geralmente presas fáceis para
Masters. Foi interessante encontrar alguma que não o era. —Ela lhe
mostraria o lado afiado de sua língua.
—A língua de mamãe não possui nenhum outro lado—,
resmungou Masters. —E agora que meu irmão está feliz casado, ela
afia-a em mim muito frequentemente.
—Chega de conversa—, disse Gabe. —O que estamos
jogando?
—Eu suspeito que Jarret quer jogar whist irlandês,— Masters
esticou, usando um eufemismo vulgar para acasalar.
—O que vem a ser isso?— Miss Lake perguntou.
Jarret encarou Masters.
—Nada. Meu amigo é simplesmente um idiota. —Ele desviou
o olhar para Gabe. —E não estamos jogando nada.— Jarret
embaralhou as cartas. —Miss Lake e eu estamos jogando whist a
duas mãos .
—Qual a aposta?— Gabe perguntou. —Isso é privado—,
respondeu Jarret.
—Ah, uma aposta privada.— Masters sorriu quando ele se
inclinou para trás em sua cadeira. —O melhor tipo.
—Tire sua cabeça da sarjeta—, Jarret estalou. —Miss Lake é
uma dama.
—E está sentada nesta sala,— disse Miss Lake. —Se você
tem alguma insinuação de fazer, Sr. Masters, talvez você devesse
fazê-la na minha cara.
Jarret olhou para ela, surpreso com seu tom sereno. Então ele
percebeu que suas mãos, entrelaçadas sobre a mesa, estavam
tremendo levemente.
Bom. Ela não estava tão composta quanto aparentava. Talvez
da próxima vez que ela pense duas vezes antes de aceitar algo tão
louco como isso.
—Nenhuma insinuação.— O olhar de Masters ia e vinha entre
ela e Jarret. —Só uma observação.
—Talvez você deve levar suas observações consigo—, disse
Jarret. —Já que é privada, não há realmente nenhuma razão para
que vocês fiquem rondando.
Gabe riu.
—Eu não vou embora, meu velho. A noite é uma criança.
— E eu não perderia isso por nada no mundo — disse
Masters.
—Como quiserem.— Pelo menos ele tentou se livrar do
público.
Jarret alcançou-lhe o baralho para ela cortar. Então ambos
retiraram. Quando ele perdeu, ele entregou-lhe o baralho para
embaralhar.
Masters recostou-se para enfrentar aos homens se
aglomeram em volta da mesa.
—Vou oferecer cinco a uma probabilidade de que a senhora
bate Lorde Jarret.
Ele foi cercado pelos apostadores, estava claro que ninguém
esperava que a senhorita Lake fosse ganhar.
—Você está apostando contra mim, Masters?— Jarret
perguntou, surpreso.
—Você tem ganhado a noite toda. Certamente é hora de sua
raia chegar ao fim.
—Perderá, pois.— Jarret notou que Pinter também
permaneceu, inclinando-se contra o poste, com os braços cruzados
sobre o peito. —Não há razão para você ficar, Pinter— disse ele,
irritado. —Já que o incomodamos tanto.
—Pelo que me lembro, meu senhor, quando veio a mim, disse
haver algo que discutir comigo mais tarde.
Maldição, ele tinha esquecido isso.
—Então, ficarei feliz em esperar.— Pinter lançou um olhar a
Miss Lake —E assistir.
— Ah, sim. — Gabe disse—Pinter é sempre galante quando
se trata das senhoras. Ele não correria o risco de deixar-nos a sós
com a pobre Miss Lake, por medo de um de nós poderia aliciá-la ao
nosso covil.
—Por quê?— Miss Lake perguntou, franzindo a testa. —Vocês
tem por hábito aliciar mulheres?
—Somente às terças e sextas-feiras — Masters disse. —
Como hoje é quarta-feira, você está segura.
—A menos que você esteja vestindo ligas azul, senhora—
Gabe brincou. —Às quartas-feiras, Masters e eu temos um grande
carinho por ligas azuis. São suas ligas azuis, Miss Lake?
—Somente nas segundas-feiras e quintas-feiras.— Ela
distribuiu as treze cartas para ambos, em seguida, colocou o resto de
lado, como estoque, virando para cima a primeira carta. —Desculpe,
senhores. Acho que vocês terão de aliciar alguma outra mulher.
—As ligas de Miss Lake não são da conta de nenhum de
vocês— Jarret disse em tom de aviso. —Eu sugiro que se lembrem
disso, ou terei de mostrar-lhes a porta.
Ele notou o olhar de Masters sobre si e enrijeceu. Masters
estava lendo muito nisso, maldito seja, provavelmente porque Jarret
raramente era visto protegendo a uma mulher, que não suas irmãs.
Por essa razão, ele raramente era visto com uma mulher dita
respeitável.
Ignorando seu amigo, Jarret concentrou-se em sua mão, que
era abismal. Se ele não a conhecesse, pensaria que ela tirara as
cartas por baixo da pilha. Mas ele sabia identificar um trapaceiro a
uma milha de distância, e Miss Lake não o era.
—Eu me pergunto se essa ‘aposta privada’ teria algo que ver
com o ultimato da Sra. Plumtree— Masters pensou em voz alta.
—Ultimato?— perguntou Miss Lake.
Jarret amaldiçoou Masters em silêncio enquanto ele e Miss
Lake começaram a partida, tirando cartas do estoque e descartando
as jogadas.
—A Sra. Plumtree informou seus netos que todos devem se
casar antes do final de janeiro próximo, ou ela irá deserdá-los, —
Masters explicou. —Será que você concorda em se casar com Lorde
Jarret se ele ganhar, Miss Lake?
— Certamente que não. — Miss Lake comentou.
Ela não tinha de soar tão firme sobre isso, pelo amor de Deus.
Os olhos de Masters brilharam divertidos.
—Que reviravolta. As mulheres geralmente caem sobre o
nosso amigo aqui. Por favor, diga-nos, o que a desagrada em Lorde
Jarret?
—Eu não o conheço bem o suficiente para gostar ou não dele
— ela disse afetadamente. —Por isso, casamento seria
extremamente prematuro.
—Como a maioria das mulheres— disse Jarret, — Miss Lake,
sem dúvida, prefere um casamento por amor. Ela nunca se casaria
com um homem por uma aposta.
—Estranho você presumir saber minha opinião sobre o
assunto, senhor, considerando que apenas nos conhecemos esta
manhã.— Ela o olhou de soslaio. —Talvez você leia mentes, e não o
seu amigo.
Moça atrevida.
—É melhor esperar que eu não seja.— Ele pousou suas
cartas. —Ou você vai perder esta partida e aposta em curto prazo.
—Já sei que não é.— Ela lançou-lhe um sorriso de satisfação
quando sua jogada superou a dele. —Porque acabo de ganhar esta
mão.
Claro que ganhou, ninguém poderia ter vencido com a sua
mão. Mas sua sorte não podia durar.
Como ele recolheu as cartas e começou a embaralhar,
Masters disse:
—Isso significa que ela ganhou tudo?
—Terá de vencer duas mãos de três, de modo que não, ela
não ganhou—,disse Jarret.
—E sua aposta realmente não tem nada a ver com o ultimato
da Sra. Plumtree?
—Se você tivesse me dado a chance,— Gabe disse—eu teria
dito que não. Jarret já conseguiu sair fora disso. Vovó concordou em
isentá-lo, em troca de administrar a cervejaria por um ano. Depois,
retornará rei das mesas, sem precisar casar.
Jarret franziu a testa. Deste modo, soava muito irresponsável.
Não que ele se importasse. Definitivamente não. Responsabilidade
significava dor e perda. Melhor não tê-la em absoluto que sofrer com
isso.
—Então, administrar a cervejaria é apenas uma brincadeira
para você. — Miss Lake disse, a desaprovação pesando em sua voz.
—Não é uma brincadeira.— Ele podia sentir seus olhos sobre
si, enquanto ele examinava suas cartas. —A posição é temporária.
Deixando o lugar em ordem para quando Gran retornar, por assim
dizer.
—Mas você não tem nenhum interesse em ver a empresa
crescer.
Seu tom depreciativo lhe mostrou o que pensava. Prendeu o
olhar ao dela.
—Precisamente porque quero que cresça que sua arriscada
proposta não me atrai.
Eles começaram a partida, e ele descartou três jogadas de
imediato.
—Que proposta arriscada?— Gabe perguntou.
Miss Lake organizou suas cartas.
—Meu irmão é dono de uma cervejaria em Burton.
Esperávamos juntar esforços com sua família em um
empreendimento que beneficiará ambas as partes.
— Isso é o que ela diz. — Jarret respondeu.
—Portanto, esta é uma aposta de negócios?— Masters disse.
—Deus, isso é chato. Então se Miss Lake está jogando pela
cooperação de Jarret num empreendimento, então pelo quê Jarret
joga?
—Pela cervejaria do irmão!—, Gabe disse. —Tem de ser isso!
—Não seja ridículo— ela respondeu. —Se eu fosse o dono da
cervejaria, não precisaria da ajuda de Lorde Jarret. E eu certamente
nunca a apostaria em um jogo de cartas qualquer. Que tipo de idiota
o faria?
—Você ficaria surpresa, — disse Jarret. —Alguns homens
apostam qualquer coisa.
—Algumas mulheres, também.—Masters olhou
especulativamente.
—Se não é cervejaria do irmão que ela está oferecendo, o que
mais pode ser?— Gabe perguntou. Quando Jarret lançou-lhe um
olhar de sufocar, ele enrijeceu, em seguida, lançou um olhar para
Miss Lake.
Suas bochechas eram da cor de papoulas. A mulher era
transparente como uma placa de vidro. E Jarret detestou a ideia dela
ter seu caráter especulado entre os homens na sala.
— Miss Lake apostou seu anel— Jarret mentiu.
Ela lançou-lhe um olhar agradecido. —É muito valioso. Vale
muito dinheiro.
— Ah!— Masters trocou um olhar significativo com Gabe. —
Um anel. É claro.
Ambos sabiam que Jarret preferia dinheiro em suas apostas.
Ele nunca aceitava joias como pagamento. E estava claro no novo
interesse como eles olharam Miss Lake que tinham adivinhado o que
ele estava realmente disposto a aceitar.
Jarret rangeu os dentes. Ele nunca devia ter aceitado a
aposta. Depois de algumas palavras duras, ele devia tê-la escoltado
de volta para onde ela estava hospedada.
Então, por que não o fez?
Porque ele realmente esperava que ela o recusasse. Porque a
mulher tinha um incrível poder de irritá-lo. E porque seus encantos
haviam-no desperto como nenhuma mulher jamais o fizera.
Era uma loucura e não levaria a nada de bom. Mas mesmo
assim, ele a teria em sua cama. Como que não.
Gabe atirou-lhe um olhar avaliador.
—Então, Miss Lake, veio a Londres sozinha?
—Claro que não.— Ela tomou uma carta. —Eu vim com a
minha cunhada e meu... sobrinho .
Teria imaginado, ou ela fez uma pausa antes da palavra
sobrinho? Razão pelo que, de repente, perguntou.
—Quantos anos tem esse sobrinho?
Ela se concentrou em suas cartas.
—O que isso tem a ver ?
—Se supõe que ele seja seu acompanhante masculino—
disse Jarret, —tem muito a ver com isso. Ele tem o quê, cinco?
Ela engoliu.
—Se você quer saber, ele tem doze.
—Doze!— Masters exclamou. —Meu Deus, mulher, você não
pode vagar pela cidade com apenas um menino como guardião.
Como pode o seu irmão permitir isso?
—Hugh está doente— disse ela. —Ele não tem escolha.
Jarret levantou uma sobrancelha.
—Deu-lhe alguma escolha?
Ela bateu uma carta sobre a mesa.
— Na verdade não.
Gabe deu um assobio.
—Se você não se casar com ela, Jarret, então alguém
deveria. Ela precisa de um marido para mantê-la longe de
problemas.
—Acredite em mim, eu já sugeri isso— Jarret murmurou.
—Você não o fez!— Miss Lake disse com veemência. —Você
disse que eu preciso de um guardião. Não é a mesma coisa. Você é,
sem dúvida, um desses homens que acreditam que as mulheres são
como animais de estimação, para serem mantidos presos e apenas
sair para festas.
—Honestamente, Jarret,— Masters repreendeu, os olhos
brilhando, —você tem uma opinião tão pobre do sexo feminino.— Ele
inclinou-se para Miss Lake. —Eu garanto a você, minha senhora,
que eu jamais pensaria algo assim de uma mulher.
Mesmo com Jarret bufando, Miss Lake arqueou uma
sobrancelha delicada para Masters.
—Eu suspeito que assim seria apenas para adoçar as
senhoras.
—Ela pegou você, Masters—Gabe brincou. —Talvez a
senhorita Lake seja leitora de mentes. — Jarret apanhou sua carta.
—Ela não o é, ou não teria a presunção de saber a minha opinião
sobre mulheres. — Ele olhou para ela. —Aparentemente eu não sou
o único por aqui que presume coisas com base em apenas um dia de
convivência.
—Minha suposição não é baseada em nossa convivência,
senhor, — ela disparou de volta — mas sobre o que disse. Se você
acha que uma mulher precisa de um guardião, então a acha incapaz
de manter-se. É absolutamente insultante.
—Não quis insultar. Eu estava apenas apontando que uma
mulher deve se comportar de forma diferente na cidade do que no
campo. E se ela não o faz, ela precisa de alguém que a cuide.
—No campo! Eu vivo em Burton. Temos cerca de sete mil
habitantes. —Todo mundo riu.
Quando ela fez uma careta, Gabe disse:
—Perdoe-me, senhora, mas Londres tem mais de um milhão
de habitantes.
—Eu sei disso. Mas isso não faz Burton ser interior, não é?
— Talvez por comparação —Jarret começou.
—Eu lhe garanto, senhor, — ela disse firmemente—nós temos
a nossa quota de vício e maldade. A diferença é apenas uma
questão de escala.
A nota de amargura na observação lhe fez pausar. Acaso ela
havia experimentado esse vício e maldade em primeira mão? Algum
malandro aproveitou-se dela? E por que essa possibilidade
acenderia sua ira?
—Em todo caso,— ela continuou —Eu estou perfeitamente
ciente de que uma mulher deve ter cuidado em Londres.— Ela
arqueou-lhe um olhar. —E certamente não tinha o propósito de para
passar a noite com três patifes inconscientes que têm a audácia de
sugerir que eu preciso de um marido, aparentemente para proteger-
me de seus semelhantes.
Masters riu.
—Ela tem razão, Jarret.
—Não a incentive— Jarret estalou.
Masters podia ser um patife sem consciência, mas ele não o
era. Ele era um patife despreocupado, a quem não agradava ser
responsável pela reputação da fada de língua torpe sentada em
frente a ele. Aquela que alegremente aceitou a escandalosa aposta
que ele não devia ter feito.
Eles terminaram a segunda rodada que, para seu vasto
aborrecimento, terminou em empate, tendo ambos ganho as 13
vazas. A próxima terminou do mesmo modo.
A contragosto, ele reconheceu que ela era uma jogadora
melhor do que ele esperava. Não que o whist de duas mãos
necessite muita estratégia, mas requeria alguma perícia. Ela jogou
algumas vazas habilmente. Ele ficou impressionado.
Estava também irritado, porque não queria perder esta noite.
Pegando a mão que ela tinha acabado de distribuir, ele olhou
para a carta do topo do estoque para ver que os ouros eram seu
trunfo. Haha! Queria ver o que ela faria agora que a sorte estava do
seu lado.
—Então, Lorde Jarret, — ela perguntou enquanto recolhia sua
carta — qual é a sua opinião sobre as mulheres?
— Uh-oh — Masters disse, com os olhos brilhando, —Foi
pego agora, meu filho.
—Por quê ?— Miss Lake perguntou.
Gabe riu.
—Porque nenhum homem consegue responder a essa
pergunta satisfatoriamente para uma mulher. Qualquer tentativa de
fazê-lo é muito perigosa.
—Sr. Pinter,— ela apelou para o runner— certamente você
tem uma resposta para a questão.— Pinter mostrou um olhar de
pânico no rosto. —Eu imploro para ser dispensado da discussão,
Miss Lake. Eu não tenho nenhuma opinião quanto as mulheres, juro.
Jarret descartou uma carta baixa para sua vantagem. Mas que
bando de covardes.
—Estou disposto a responder.— Ele pensou em sua avó e sua
intromissão, para não mencionar sua mãe e seu ato fatídico, e algo
escuro brotou dentro dele. —As mulheres ficam felizes apenas
quando elas estão semeando estragos na vida de outros ao seu
redor.
A mesa ficou muito silenciosa. Na verdade, parecia que toda a
taberna se transformou em pedra, e todos os olhos do sexo
masculino na sala fixos nela.
Para sua surpresa, ela começou a rir.
—Parece que você e eu temos mais em comum do que eu
pensava. Porque essa é exatamente a minha opinião dos homens.
—É mesmo?— Ele a deixou ganhar algumas vazas, livrando-
se de cartas inúteis enquanto abriam caminho através do estoque. —
E quem foi o infeliz homem responsável por fazê-la formar essa
opinião?
—O que faz você pensar que foi apenas um homem?— Ela
levantou uma sobrancelha para ele. —E você? Será que alguma
mulher partiu seu coração, definindo a sua opinião sobre as
mulheres em geral?
O estoque estava vazio agora. Ela jogou um ás, e ele
superou-o com um sorriso. Ele tinha ouros suficientes na sua mão
para superá-la, e cartas altas o suficiente para manter a liderança
para o resto das vazas. Esta era uma mão que não teria chegado a
um empate.
—Nenhuma mulher jamais partiu meu coração. E nenhuma
mulher jamais o fará.
—Isso é porque Jarret nunca permite que uma mulher chegue
perto o suficiente nem mesmo para lascar um pedaço dele— Gabe
brincou.
E por que deveria? Elas iriam tentar mudá-lo, algo que ele
nunca permitiria. Sua vida havia funcionado muito bem até vovó
começar suas maquinações. Voltaria a funcionar ao fim do ano.
Verdade, ocasionalmente, sentia-se solitário e se via cansado
das noites e da mesmice dos jogos. Mas ele se sentia confortável na
mesa de cartas. Era tudo o que conhecia, tudo em que poderia
realmente confiar.
Jarret descartava uma carta após a outra, tirando seus trunfos
e então suas outras cartas, apreciando o modo como ela empalidecia
enquanto percebia que não ganharia essa mão.
—Eu deveria fazer-lhe a mesma pergunta, Miss Lake. Será
que algum homem partiu o seu coração? É por isso que você não se
casou?
—Eu não casei, senhor, porque não vi benefício em fazê-lo. E
você e seus amigos definitivamente não me convencem do contrário.
—Bem, em breve você não mais terá que se preocupar
conosco.— Ele tomou a última vaza e sorriu para ela. —Porque eu
acabo de ganhar esta mão. Não estamos mais empatados e eu
estou muito mais perto de ganhar nossa aposta.
—Não mais do que eu— Ela recolheu as cartas. —Minha vez
de embaralhar, meu senhor. Vou tentar não ser tão generosa como
você foste consigo mesma.
Seus olhos se estreitaram.
—Está insinuando que trapaceio, senhora...
—Claro que não.— Um rubor tocou seu rosto enquanto ela
embaralhava as cartas. —Eu devia ter dito que espero ter a mesma
sorte que você.
Seu tom impertinente o fez sorrir.
—Detecto certo ressentimento, Miss Lake?
—Certamente, você mesmo deve admitir que tinha uma mão
de extraordinária sorte—ela respondeu. Ele deu de ombros. —Um
jogador ruim pode estragar uma boa mão. Assim como um bom
jogador pode tornar uma mão medíocre em uma brilhante.
—E um jogador medíocre pode tornar uma mão brilhante em
uma ruim—, Masters interrompeu. —Será que vocês dois não podem
ir logo com isso? Queremos ver quem ganha, não ouvi-los
filosofando sobre o jogo de cartas.
O olhar arqueado de Miss Lake cintilou para Jarret.
—Ele é sempre assim impaciente?
—Só quando ele tem uma aposta em jogo. E ele tolamente
colocou todas suas esperanças em você.
—Vai acabar completamente com ele, não, Miss Lake?—
Masters disse. —Eu poderia tirar vantagem disso. E seria bom para
ele.
—Por quê?— Miss Lake tratou das cartas. —Acaso ele
costuma ganhar?
—Ele sempre vence— Gabe reclamou. —Apesar de
ultimamente estar fora de forma.
—Mas não esta noite— disse Jarret quando viu sua mão. Não
era tão espetacular quanto a última, mas ele poderia fazê-la
funcionar.
A próxima partida avançava rapidamente, ambos atentos,
silenciosos sobre as cartas. Quando terminou novamente em
empate, os homens que pairavam sobre a mesa soltaram um gemido
coletivo.
Miss Lake empurrou as cartas sobre a mesa para ele.
—Nós poderíamos ficar a noite inteira nisso, sabes.
—Cansada, Miss Lake?— Ele zombou enquanto embaralhava
as cartas.
—Certamente que não. Mas você tem de admitir que estamos
empatados .
—Talvez.— Ele distribuiu as mãos
—Agora sou eu que detecto certo ressentimento— ela
brincou.
—Ou talvez esteja a detectar a ruína iminente— ele disparou
de volta.
Ele pegou a sua mão. Era uma que poderia tanto ir para um
lado quanto outro. Porém agora ele conhecia seu estilo de jogar,
então devia ser capaz de avaliar sua estratégia.
Mas também ela podia aferir a sua.
Ele aproveitou o desafio de jogar cartas com um adversário à
altura. Masters e Gabe eram jogadores indiferentes, não tão
dispostos a gastar o esforço necessário para descobrir onde todas as
cartas estavam. Eles eram mais interessados em beber e flertar com
as empregadas da taberna.
Miss Lake, por outro lado, era uma jogadora séria. Isso o fez
pensar sobre sua família. Ela tinha que viver com seu irmão e
cunhada, desde que seus pais estavam mortos. O que fazia dela a
tia solteirona.
Uma pena, realmente. Ela parecia muito jovem para ser uma
tia donzela, não poderia ter mais que 25. Que tipo de vida era essa
para uma mulher?
Claro, Minerva tinha 28 e parecia contente com sua situação.
Mas isso era porque ela tinha seus livros. O que a senhorita Lake
tinha? Uma cervejaria que não lhe pertencia, do qual seu irmão
provavelmente a mantinha afastada, tanto quanto possível.
Ou talvez não, dada a sua presença ali em Londres.
Ela jogou sua primeira cartada, e ele forçou-se a se
concentrar. Precisava de toda sua habilidade para vencer, ou pelo
menos, empatar.
Eles jogaram várias vazas em silêncio e tinham trabalhado
através do estoque para o segundo conjunto de 13 cartas quando
Masters disse:
—Então, Gabe, desde que Jarret encontrou uma maneira de
não casar, ainda sobra para o resto de vocês. Você já escolheu a sua
esposa?
Gabe fez uma careta.
—Estou esperando até o último momento.
—Sábia decisão— disse Masters. —E ... er ... o que dizer de
suas irmãs? Fizeram suas escolhas?
Algo no tom Masters alertou Jarret. Ele olhou para seu amigo
para encontrando-o examinando suas unhas com aparente
indiferença. Mas viu um aperto revelador em sua mandíbula, e ele
estava um tanto rígido.
Gabe não pareceu notar.
—Oh, Célia ainda está irritada com vovó a respeito disso, e
Minerva está com uma raiva dos infernos que Jarret conseguiu de
livrar. Minerva diz que ela também quer se livrar, mas não sei o que
ela pensa em fazer. Jarret era o único que tinha alguma coisa a
negociar. Mesmo o plano de Oliver falhou com vovó.
—Bem, se alguém pode encontrar uma maneira de contornar
ela, é Lady Minerva,—Masters disse com voz um tanto cuidadosa.
Jarret ficou tenso. Ele se perguntava se havia algo entre
Masters e Minerva, após vê-los juntos no Baile de São Valentim, mas
esqueceu isso depois de Oliver anunciou seu noivado com Maria.
Era bom que não houvesse. Masters podia ser seu melhor
amigo, mas ele não era confiável com relação a mulheres. E ele
tinha o peculiar hábito de desaparecer indo sabe Deus onde, por dias
a fio. Minerva merecia mais do que um marido de momento. Se não
fosse por vovó e suas maquinações, ela não teria sequer que
buscar-
—Trunfos são de copas, Lorde Jarret — Miss Lake disse.
Olhou para baixo e viu que ele tentou bater seu valete de
ouros com um cinco de espadas, o naipe de trunfo de seu último
jogo. Confundiu tudo até o inferno. A ideia de Masters indo atrás de
sua irmã o havia distraído.
—É claro— ele disse suavemente e empurrou a vaza a ela.
Mas agora ele estava em apuros. Pelo menos três vazas se
passaram, durante os quais ele tinha jogado sem pensar. Ele tentou
se lembrar do que havia sido jogado, mas nem pela sua vida
conseguia.
Droga, droga, droga! Ele não conseguia se lembrar de onde a
rainha de paus ou dez de copas estavam. Ele não tinha a nenhuma
mas acaso ela as tinha jogado?
Estavam nas duas últimas vazas agora, e eles estavam
empatados novamente. Ele tinha o nove de copas e um cinco de
paus - e eram suas melhores. Ele estava bastante certo de que ela
tinha a oito de ouros e a rainha de paus ou o dez de copas.
Ele fez alguns cálculos rápidos. Se ele conduzisse com cinco,
todas as combinações possíveis terminariam em empate. Se ele
conduzisse com o nove de copas, ela poderia vencer, ele poderia
vencer, ou poderia terminar em empate, dependendo de como ela
jogasse.
Ele devia conduzir com o cinco. Essa era a escolha mais
segura, já que ele não poderia perder. Mas ele também não
ganharia. E se a sua mão seguinte fosse abismal? Pelo menos,
levando com o nove de copas, ele teria a chance de vencer.
Tudo dependia dela ter guardado o trunfo ou a carta alta. Do
jeito que ela estava jogando, era difícil ter certeza.
Ele deu um longo suspiro. Não era parte de sua natureza
jogar pelo certo.
Com o coração trovejando no peito, ele deitou a nove. Ela
lançou-lhe um olhar interrogativo, em seguida, jogou o dez de copas.
Ele olhou cegamente para as cartas. Ele calculou mal, e agora
afundava.
A última vaza foi mera formalidade. Ela venceu a maldita mão,
o que significava que ela tinha ganhado o jogo. E a aposta.
Dane-se tudo ao inferno.

Capítulo Cinco

Annabel encarou boquiaberta as cartas, mal podendo


acreditar em seus olhos. Sr. Masters exclamou um elogio, o que deu
início aos gemidos daqueles que tinham apostado contra ele. Lorde
Gabriel, que apostava em seu irmão, soltou uma maldição imprópria
para os ouvidos de uma dama.
Lorde Jarret apenas olhou para as cartas, inexpressivo.
Isso não era de surpreender, ele não reagiu as cartas em todo
o jogo, tornando impossível ler sua estratégia. Quando ele ganhou a
liderança, ela estava certa que o jogo iria terminar em empate. Ela
sabia exatamente que cartas ele havia jogado e tinha certeza de que
ele sabia o mesmo dela. Seus amigos haviam enfatizado que ele era
famoso por lembrar de todas as cartas jogadas.
Então, por que jogou a nove de copas? Poderia ele ter
pensado que ela não lembrava o que havia sido jogado?
Não, isso não fazia sentido. Uma vez que ele tinha jogado a
nove, ela não teve escolha a não ser seguir o mesmo caminho, o que
significava que ela não tinha escolha, senão ganhar.
Teria ela a deixado ganhar? Parecia ser a única explicação
lógica. Mas por que, quando ele tinha sido tão contrário a ajudar
cervejaria de seu irmão?
Havia apenas uma explicação: ele queria evitar deitar com ela.
Ela relembrou a discussão. Quando ele fez sua proposta
ultrajante e ela aceitou, ele parecia estar alarmado de seu blefe ter
funcionado. E um homem como esse seria muito orgulho para
desistir de uma aposta.
Teria ele decidido que a única maneira de evitar deitar com ela
contra sua vontade seria perdendo? Se o fez, mostrava ser menos
patife que ela tinha pensado. Ou isso, ou ele a achou pouco atraente,
o que não parecia ser o caso. Certo que ela não era uma coisinha
fresca e jovem, mas ela também não estava tremulando a beira da
sepultura, e um ladino de verdade não seria tão seletivo, seria?
Ainda assim, se ele queria ser tão cavalheiro, ele podia
simplesmente se recusar a exigir o pagamento da dívida. Ou tomado
anel de sua mãe. Por que não o fez?
Talvez ela realmente tivesse vencido.
Um pesado silêncio caiu sobre a sala. Todos esperavam que
ela ou Lorde Jarret falassem.
—Parece que Plumtree vai juntar-se com a Lake, Lorde Jarret
— ela se aventurou, sem saber o que dizer.
Seus olhos se encontraram com os dela, brilhando verdes à
luz das velas.
—Certamente que sim.
Mesmo seu tom nada revelou. Isso era extremamente irritante.
—Obrigada por concordar com as apostas. Por concordar em
jogar cartas comigo.
—O prazer foi meu.
Ah, lá estava, apenas uma sugestão de irritação em sua voz.
Ele se levantou abruptamente.
—Onde na cidade moras, Miss Lake?— Ela piscou, pega de
surpresa pela pergunta.
—No Inn Spur.
—Isso é em Borough High Street, certo?— Quando ela
assentiu, ele vestiu o chapéu e o casaco pendurado em um gancho
em um poste próximo. —Vou acompanhá-la.
—Não há necessidade. Eu posso contratar um carro de
aluguel.
— Fora de questão.
—Eu posso levá-la— disse Pinter, intervindo.
—Não— disse firmemente Lorde Jarret. Quando o Sr. Pinter
olhou como se ele fosse protestar, Lorde Jarret acrescentou—Miss
Lake e eu temos alguns assuntos a discutir. Em particular.
Cautelosamente, ela se levantou. Ela pensava que a
discussão teria lugar na parte da manhã.
—Você vai voltar aqui depois, não vai?— Sr. Masters
perguntou a Lorde Jarret, ainda sorrindo pela vitória. —Agora que
você está em uma maré de azar de novo, eu quero tirar uma outra
lasquinha de você e Gabe.
—E você quer se vangloriar por mais algum tempo— Lorde
Jarret disse secamente.
—É claro. Você não vai se livrar tão cedo.
—É disso que tenho medo — Lorde Jarret comentou sem
nenhum traço de rancor. Se tinha raiva, ele escondia bem. —
Infelizmente, você vai o seu divertimento de volta, meu velho.
Voltarei para falar com Pinter. Então irei para casa. Eu tenho que
levantar cedo, se estou para viajar para Burton.
Enquanto ela ainda olhava boquiaberta para ele ouvindo isso,
ele contornou a mesa.
—Vem, Miss Lake, é melhor irmos.
Pegou o braço que ele oferecia. Assim que eles saíram para a
rua, ela perguntou:
—O que quer dizer, viajar para Burton? Não há necessidade
disso. Basta falar com a Companhia das Índias Orientais e
convencê-los a levar a nossa bebida de Outubro. Oferecer-lhes
garantias de sua aprovação, ou algo assim.
Ele lançou-lhe um olhar frio.
—A aposta era que eu iria ajudar Lake Ale, não que eu iria
fechar os olhos a tudo que a empresa de seu irmão fabrica. Eu não
vou arriscar as relações da minha família com a Companhia das
Índias Orientais sem saber mais sobre cervejaria de seu irmão: sua
situação, a quantidade de cerveja que podem razoavelmente
produzir, o plano que ele tem para...
—Mas você não pode ir a Burton— ela exclamou. Seus olhos
se estreitaram sobre ela. —Por que não?
—Eu-eu... bem...— veio-lhe a inspiração. —Como sua
cervejaria se gerenciará sem você?
No minuto em que visse Hugh e percebesse que ela inventara
a doença de seu irmão ou que Hugh não tinha inteiramente aprovado
este plano, ele voltaria em seu acordo, aposta ou não aposta.
Ele fê-la contornar habilmente em torno de uma poça de lama.
—Plumtree vai ficar bem. Vou deixar instruções para o meu
mestre cervejeiro e Croft, e eles vão lidar com as coisas até que eu
volte. Eu não terei ido por mais do que alguns dias.
Ele procurou seu rosto.
—Há algo que você não está me dizendo?
Obrigou-se a encontrar o seu olhar de forma firme.
—Claro que não. Eu simplesmente não quero incomodar
você.
Ele deu uma risada seca.
—Meio tarde para isso. Queria a minha ajuda, e agora você a
tem. Estou feliz em acompanhá-la e sua família para Burton assim
que estiverem prontos.
Ela considerou. Se viajasse com eles, ela poderia ser capaz
de controlar a situação melhor do que se ele aparecesse na
cervejaria sem aviso prévio. Ainda, seria melhor se ficasse em
Londres.
—Perdoe-me, senhor, mas eu não posso imaginá-lo a colidir e
empurrar-se em um coche de aluguel comigo, minha cunhada, e meu
sobrinho— disse ela.
—Nem eu. É por isso que nós vamos levar o coche de viagem
da família Sharpe.
—Oh, não, eu não poderia...
—Meu irmão mais velho é o único que o utiliza, e ele vai estar
fora do país com sua nova esposa por mais dois meses, pelo menos.
— Ele olhou-a de lado enquanto viravam na Borough High Street. —
Assim vai poupar as passagens para Burton.
Um rubor tocou seu rosto. Ela odiava admiti-lo, mas isso seria
útil. Nem ela nem Sissy tinham sonhado que os alojamentos em
Londres seriam tão caros. Eles tinham muito pouco para a viagem de
volta, e nenhum para ficar em uma estalagem como o tinham feito
vindo para Londres.
Ela não estava nada ansiosa para o dia e meio de viagem na
diligência com Sissy e um excêntrico menino de doze anos de idade.
Isto lhes permitiria ficar uma noite numa pousada, mesmo que fosse
com sua senhoria.
Ela engoliu o orgulho.
—Obrigada, você é muito amável. E claro, nós vamos fornecer
seu alojamento ao longo do caminho.
—Bobagem. Desde que estou a impingir minha presença a
vocês, vou cuidar desses custos. Aprecio a oportunidade de
conhecer o resto de sua família, já que eu vou trabalhar com seu
irmão.
Pânico abateu nela novamente.
—O que quer dizer?
—Temos que estabelecer os termos deste acordo. Se Lake
está fornecendo a bebida, desejará ele que a transportemos? Como
ele está planejando o transporte? Terá recursos suficientes e boas
ligações com os locais para conseguir barris, ou vai ser outra coisa
para nós fornecermos? Um empreendimento como este envolve
diversas variáveis que devem ser negociadas.
Ela olhou para ele, mais uma vez surpreendida por raciocínio
rápido. Para um homem administrando um negócio temporariamente,
ele certamente tinha uma boa mente para a coisa. Isso podia ser
perigoso.
—Lembre-se que meu irmão está doente— disse ela. —Ele
pode não ser capaz de lhe dar as informações que necessita.
Ele olhou-a longamente, contemplativo, fazendo-a desviar os
olhos de culpa. Não estava exatamente mentindo para ele. Hugh
estava indisposto. De certo modo.
—O quão mal está seu irmão?— Ele pressionou enquanto se
esquivavam de uma pesada carroça.
O que ela deveria dizer? Se ela disser que Hugh estava muito
doente, então ele poderia não ajudá-los, por medo de a empresa
afundar. Mas Hugh tinha que estar doente o suficiente para tornar
crível que ele não estava disponível, enquanto Lorde Jarret estivesse
em Burton.
Ela decidiu-se por algo vago.
—O médico diz que ele vai se recuperar logo, contanto que
ele não seja perturbado por questões da cervejaria Lake. Mas o
gerente da cervejaria e eu podemos lhe informar o necessário.
—Soa como se passasse grande parte do tempo lá. Presumi
que só fabrica a cerveja, não que ajudasse a administrar o negócio.
—Com Hugh indisposto, não tive escolha.
—Foi assim que Gran entrou no negócio também. Meu avô
ficou doente, e ela entrou em cena para ajudar. Ele guiou-a de seu
leito. —A voz de Lorde Jarret suavizou. —Quando ele morreu de sua
doença, um amigo da família se ofereceu para vender o lugar e
providenciar que os recursos fossem a vovó e minha mãe, mas ela
insistiu em assumir. Já então, entendia o suficiente para administrar
por conta própria.
—Sua avó é uma mulher muito corajosa.
—Ou louca. Muitos homens alegaram que o era.
— Deixe-me adivinhar: eram seus concorrentes, certo?
Ele riu.
—Eram, de fato.
Não havia dúvida de seu relutante respeito quando falava de
sua avó. Ele podia não aprovar suas táticas para tentar fazer seus
irmãos casarem e Annabel podia entender isso, mas claramente a
admirava.
—Eu entendo que você e seus irmãos foram criados pela Sra.
Plumtree depois... que...
Seu rosto endureceu.
—Vejo que já ouviu falar do escândalo da família.
Oh, céus. Ela não devia ter mencionado isso. Fê-la parecer
tão... fofoqueira. Ela tinha ouvido várias versões de como seus pais
morreram. Uma delas era que sua mãe matou seu pai por confundi-
lo com um intruso, atirando-lhe, e em seguida, se matou ao perceber
que tinha baleado ao marido. Outra era a de que seu irmão mais
velho tinha atirado em sua mãe, quando ela tentou se colocar entre
ele e seu pai, e depois ainda atirou em seu pai. Ambas as versões
pareciam falsas.
Qual seria a história real? Ela não se atreveu a perguntar. E
claro, não era algo que ele queira discutir, pelo pesado silêncio que
caiu entre eles. Mas quando ela estava prestes a pedir desculpas
pela curiosidade, ele falou de novo.
—Vovó tornou-se nossa guardiã quando tinha treze anos. Mas
não creio que possa propriamente dizer que ela nos criou.— Sua voz
era remota, fria —Ela estava muito ocupada com a cervejaria para
fazê-lo. Nós criamos a nós mesmos, pela maior parte.
—Isso explicaria por que são todos assim...
—Selvagens?
Ela fez uma careta. Lá ia ela de novo, dizendo coisas que não
devia.
—Independentes.
Sua risada sou fria.
—Essa é uma boa maneira de colocá-lo.— Ele olhou-a de
perto. —Então, qual é a sua desculpa para ser independente ? O seu
pai a criou sozinha? É por isso que você insiste em ter uma mão em
sua fábrica de cerveja?
—Não. Minha mãe era uma herdeira de cervejeiras. Cada
receita que fazemos foi transmitida por gerações de mãe para filha
em sua família. Podemos dizer que me pus em seus sapatos.— Sua
voz se suavizou. —São grandes sapatos para preencher.
—Então você está fazendo isso há quanto tempo agora?
—Desde antes de Papai morrer— disse ela. —Quase sete
anos.
—Isso é impossível. Você seria muito jovem.
—Eu tinha vinte e dois anos quando a minha mãe morreu e eu
comecei a ir para a fábrica.
Ele arregalou os olhos para ela.
—Mas assim você tem...
—Quase trinta anos, sim. Temo ter os dentes meio longos6.
Ele bufou.
—Você é chata como o diabo, e uma das mulheres mais
malditamente desbocadas que já conheci, mas nem remotamente
tem dentes longos.
Ela escondeu um sorriso. Talvez fosse bobagem, mas estava
lisonjeada que ele não a considerasse uma velha solteirona, como
muitos em Burton.
Eles caminharam por algum tempo em silêncio. Era fácil com
as ruas tão movimentadas. High Borough Street era conhecida por
suas muitas pousadas e bares, então havia pessoas indo e vindo até
tarde da noite. Graças a Deus, ele a acompanhava de volta para a
pousada; seu corpo maciço a fazia sentir-se segura.
Ele estava certo sobre a diferença entre Londres e Burton,
embora ela seja relutante em admitir isso para ele. Ela deslocava-se
livremente em Burton, principalmente por causa do status de sua
família. Nem necessitava de um lacaio, sempre estava a salvo,
desde que ficasse longe da parte menos favorecida da cidade.
Mas ali... bem, havia um bom número de lugares
desagradáveis em Londres. E, apesar de que ela pudesse estar
perfeitamente segura em um carro de aluguel, mesmo estes podiam
ser quebrados por um salteador determinado.
Eles passaram pela Cervejaria Plumtree que parecia mais
calma, com apenas o pessoal da noite no trabalho, e se
aproximavam da Spur Inn. Ela tinha escolhido por sua proximidade
com a cervejaria e pelo baixo custo, mas desejava sim que tivesse
escolhido outro. A multidão no andar inferior da chouperia parecia
muito agitada, e duvidava que dormisse muito esta noite.
Ele abriu a porta para deixá-la entrar.
—Vou te acompanhar ao quarto. Este não é um lugar seguro
para uma mulher passear sozinha.
—Obrigada, meu senhor— disse ela enquanto subiam as
escadas estreitas.
—Dado que você ofereceu-se anteriormente para passar uma
noite na minha cama como parte de uma aposta de jogo— disse ele
com uma voz rouca—Acho que pode me chamar de algo mais
pessoal que 'meu senhor'.
Calor subiu em suas bochechas. Ele trazia aquilo à tona
novamente. Isso a fez consciente de que ela estava praticamente
sozinha com ele, já que todos na hospedaria pareciam estar em seus
quartos ou na chouperia abaixo.
Por que ele tinha proposto essa aposta, afinal? Para livrar-se
dela? Ou porque a desejava? E se fosse o último, então por que
deixou-a ganhar?
Se estavam para passar os próximos dois dias fechados em
uma carruagem juntos, ela precisava saber se ele era um cavalheiro
ou um patife.
—Falando nisso, Lorde Jarret...
—Jarret— ele corrigiu.
—Jarret.— Um arrepio percorreu-lhe a espinha. Usando seu
nome de batismo parecia tão íntimo. — Eu estava pensando...— Oh
céus, como iria perguntar isso?
—Sim?
Haviam alcançado ao próximo andar. Que estava deserto.
Mais uma vez, ela estava contente de ter sua companhia, pois o
quarto que dividia com Sissy e Geordie estava localizado no final do
corredor escuro. Ela não teria apreciado estar presa sozinha ali com
algum camarada bêbado vindo do andar de baixo.
Eles pararam do lado de fora da porta de seu quarto. Obrigou-
se a olhá-lo nos olhos.
—Você me deixou ganhar o jogo?
—Por que faria isso?
—Porque você é menos diabinho do que gostaria de admitir.
Porque você é um cavalheiro.
— Eu não sou tão cavalheiro.
Ela baixou a voz.
—Mas um cavalheiro não forçaria uma mulher para ir a sua
cama por meio de uma aposta .
—Então, por que eu faria a aposta, em primeiro lugar?
—Para me assustar. E quando isso não funcionou, você tinha
de encontrar uma forma de sair dela.
Sua testa larga vincou com uma carranca.
—Eu poderia simplesmente não exigir que honre nosso
acordo.— Sua voz tinha um traço de irritação agora.
—Considerei isso. Mas assim me deixaria em obrigação com
você, e pensou que eu acharia isso intolerável. Deixar-me ganhar
teria sido a coisa cavalheiresca a fazer.
—Eu não deixei você ganhar — ele rosnou.
— É só que... bem, não havia absolutamente nenhuma razão
para você perder. Vi como jogou. Você haveria de saber que eu tinha
o dez de...
—Você vai me fazer admitir, não é?— Ele avançou, forçando-
a para trás até que ela colidiu com a parede. Plantando as mãos em
cada lado de seus ombros, ele inclinou-se a rosnar—Ganhou de
forma justa. Você me bateu devido à habilidade superior. Feliz
agora?
—Não! Eu simplesmente não posso acreditar que um homem
com sua habilidade no baralho...
Sua boca cobriu a dela, tomando-a de surpresa. Estava
quente, aromatizado pelo lúpulo da cerveja que ele havia bebido, tão
macio. Somente seus lábios a tocaram, mas foi o suficiente para
trazer à tona sensações a longo suprimidas.
Era como ingerir cerveja com o estômago vazio, a súbita onda
de calor agitando-o, do formigamento que se espalhava da cabeça
às pontas dos dedos das mãos e pés. O cheiro de lã, sabão e
homem a intoxicavam, ela não tinha estado tão perto de um homem
em anos. Tinha esquecido o quão bem eles poderiam cheirar.
E quão bem a faziam sentir, pois seus lábios moldavam-se
aos dela, provocantes. Pouco consciente do que fazia, ela abriu a
boca. Ele ficou tenso, como se pego de surpresa, mas em seguida,
sua língua se afundou nela e apertou contra a dela, seu corpo
endurecendo. Ela sentia cada centímetro dele, do peito musculoso
contra os seios à protuberância crescente entre suas pernas.
Sem se importar com a evidência de sua excitação, ela
deslizou os braços pelo pescoço dele e levantou-se na ponta dos pés
para melhor aceitar o beijo. Suas mãos deslizaram para baixo para
apertar sua cintura, puxando-a entre suas coxas enquanto ele bebia
de sua boca mais e mais.
O tempo parou. Havia apenas este homem que ela mal
conhecia, tomando conta de sua boca como se tivesse todo direito.
Seus dedos cravaram em sua cintura, os polegares acariciando suas
costelas enquanto sua língua se enroscava com a dela, explorando,
causando estragos em seus sentidos. Sentimentos selvagens
surgiam de seu peito e ventre, fazendo-a quente e dolorida, fazendo
com que ela o necessitasse. Senhor, havia tempos que ela não
sentia o pulso inebriante de desejo.
De repente um som, como algo caindo em uma sala próxima,
fez afastar sua boca da dela e se pôs alerta de imediato. Por um
momento, eles simplesmente ficaram parados ali, ofegantes, seus
olhares um sobre o outro.
O que ela estava pensando? Deixou que ele a beijasse, e pior,
o beijou de volta! Embora ela e Rupert tivessem feito amor apenas
uma vez, eles haviam chegado perto de fazê-lo várias vezes antes,
sendo estúpidos, jovens e apaixonados. Ela nunca esqueceu os
prazeres que ele a apresentou. Agora Jarret tinha erodia treze anos
de sua vida respeitável, e ela simplesmente ficou ali e o permitiu que
o fizesse.
Será que ela não aprendeu nada? Estimular tal
comportamento, nunca levou a nada senão problemas para uma
mulher como ela, especialmente com um homem conhecido por sua
vida selvagem. Filhos de marqueses não se casavam com
solteironas pobres de Burton. Eles apenas dormiam com elas. Ele
tinha deixado isso bem claro.
Ele inclinou-se.
—Como dizia, Annabel, eu não sou tão cavalheiro.— Sua voz
rouca pronunciando seu nome de batismo fez seu pulso acelerar. —
Eu não deixei você ganhar. Eu joguei o nove de copas, porque me
distraí e não percebi que o dez não tinha sido jogado. Certamente
não estava tentando liberá-la de nossa aposta.
Seus olhos, brilhavam perigosamente na luz tênue, miraram
abaixo para sua boca.
—Se essa conversa estranha deriva de alguma crença que
sou um sujeito de coração mole para você torcer a vontade com um
sorriso bonito, espero ter colocado essa ideia a descansar. Mas no
caso de eu não ter conseguido, pense duas vezes antes de apostar
novamente o seu corpo em um jogo de cartas comigo, com o intuito
de salvar a preciosa cervejaria de seu irmão. Porque da próxima vez
vou me certificar de ganhar. E vou reclamar o meu prêmio.
O calor subiu em seu rosto, embora ela não tivesse certeza se
por vergonha ou excitação.
—Não se preocupe, meu senhor.— Mostre nenhuma
fraqueza, ou ele vai passar por cima de você. —Não haverá
necessidade de eu apostar com você agora que eu tenho-o onde
quero.
Seu olhar aguçou sobre ela, um sorriso duro a tocar seus
lábios.
—Cuidado, minha senhora. Muitas pessoas pensaram que me
tinham onde queriam, só para serem convencidos do contrário
quando eu tive-os onde os queria. Você está brincando com os
meninos grandes agora. Não rolamos e fingimos de morto tão
facilmente como o seu irmão.
Ele fez uma pausa, como que para ter certeza de que ela
entendeu a mensagem. Em seguida, se endireitou, o calor em seu
rosto desapareceu.
—Vou falar com Gran pela manhã, deve estar feito antes do
meio-dia. Vamos largar para Burton então. —Ele tirou o chapéu. —
Até amanhã... Annabel.
Totalmente incapaz de dar uma resposta coerente, ela viu-o
se virar e ir embora.
Uma vez que ele desaparecia pela escada, ela caiu contra a
parede, com os joelhos tremendo e com as mãos úmidas.
Besta arrogante. Meninos grandes, de fato. Ele era tão seguro
de si, tão presunçoso! Agitou seu temperamento como nenhum
homem antes, em todos aqueles anos lutando para ser aceita entre
os fabricantes de cerveja.
E ameaçando reivindicar seu prêmio... Ela não era tão boba
quanto ele pensava. Tinha sido ele quem fizera aquela ultrajante
aposta em primeiro lugar, não ela. Só aceitou porque era a última
chance de salvar Ale Lake. Será que ele realmente pensava de outra
forma? Será que achava que ela cairia naquela armadilha de novo?
É claro que sim. Ele provavelmente pensava poder
transformar qualquer mulher em uma de suas queridas com suas
seduções.
Será que ele tinha mulheres? Ou havia uma amante
escondida em algum lugar que ele visitava sempre que precisava de
alívio para suas necessidades? A ideia era irritante, mas só porque
ela odiava a ideia de ser uma das muitas mulheres que ele usava
para... para isso.
Claramente Lorde Jarret estava interessado em mulheres
apenas como criaturas físicas com as quais ele saciava sua luxúria.
E ela podia ver por que elas estariam ansiosas para lançar-se em
sua pira. O homem definitivamente sabia beijar. Ela só podia
imaginar o quão habilidoso devia ser no resto.
Imagens há muito esquecidas nadaram em sua mente, de
corpos entrelaçados, as mãos explorando, de elevar um ao outro
para as alturas-
Aqui para ele! Ela passou anos guardando longe aqueles
impulsos, esperanças e necessidades, e com um beijo tolo, ele
trouxe-os novamente à tona, para seu tormento. Ela não iria permiti-
lo!
Sacudindo o calor indesejado de seu ventre, ela se atrapalhou
com o bolso da capa para achar a chave do quarto e abrir a porta.
Ao entrar, encontrou o resultado de sua paixão juvenil deitado
sobre uma cama, perto do fogo, com o rosto virado para a lareira.
Geordie tinha chutado o cobertor, que agora estava no chão, e sua
camisola estava torcida sobre as pernas finas.
O coração de Annabel se apertou em seu peito. Movendo
cuidadosamente para evitar acordar Sissy, que estava cochilando em
uma cadeira, Annabel se adiantou para cobrir Geordie. Ele
murmurou alguma coisa em seu sono e puxou o cobertor até o
queixo.
Lágrimas brotaram de seus olhos. Será que ele já se
perguntou por que sua tia insistiu em vir com sua mãe para seu
quarto todas as noites para desejar boa-noite? Ou por que sua tia
era tão interessada em seu futuro? Será que ele se importava com o
que ela achava dele? Ou apenas a sua mãe conquistou seu mais
profundo afeto?
Isso lhe doía muito pensar. Às vezes, olhando para ele era
como olhar para um castelo de conto de fadas longe em uma
montanha. Ele era dela e também não era. Será que ele nunca seria
dela? Ou será que lhe dizer a verdade o levaria ainda mais longe?
Uma de suas escuras mechas marrons estava em seu rosto, e
ela teve que lutar contra o impulso para alisá-lo de volta. Ela não
queria acordá-lo. Ele parecia tão doce dormindo.
—Você voltou— disse uma voz suave.
Ela ergueu os olhos para encontrar uma agitada Sissy. —Sim.
—Você chegou a falar com a Sra. Plumtree?
—Não exatamente. Mas eu convenci Lorde Jarret a ajudar
com a cervejaria.
Sissy sorriu. —Você conseguiu! Isso é maravilhoso! —Quando
a respiração pesada Geordie se quebrou e ele virou-se, ela baixou a
voz para um sussurro. —Eu sabia que você podia fazê-lo.
—Mas há um problema.— Rapidamente, ela explicou que
Lorde Jarret viajaria com eles para Burton e por quê.
—Ah, meu Deus— disse Sissy. — E se vir Hugh em uma de
suas... bem...
—Temos que nos assegurar que não acontecerá. Estou
contando com você para ajudar nisso.
—Claro!
—E nós temos que evitar que Geordie diga qualquer coisa.
Embora não saiba o que ele pode dizer, não tenho certeza de que
ele mesmo entende o problema de Hugh. Precisamos ter a certeza
de que ele apoia nossa tese de que Hugh está doente.
—Eu falo com ele pela manhã. Não se preocupe, não vou
deixar Hugh ou Geordie arruinar isso. É a nossa única chance. —
Sissy se acomodou em sua cadeira. —Agora, conte tudo o que
aconteceu. Como você fez Lorde Jarret mudar de ideia?
Ela suspirou. Sissy sempre tinha de ouvir todas fofocas e
geralmente, Annabel ficava feliz de recitar cada detalhe. Mas uma
versão mais oblíqua da verdade estava em ordem aquela noite.
Ela já tinha envergonhado a família uma vez com seu
comportamento. Não ia deixar Sissy pensar que ela o faria
novamente.

Capítulo Seis

Jarret descia a Borough High Street, em uma vã tentativa de


silenciar a raiva que Annabel Lake trouxe à tona e que rugia. Após
sua observação sarcástica sobre ter-lhe onde ela queria, ele sentiu-
se tentado a mostrar-lhe exatamente onde ele a queria.
Mas mostrar a ela que a desejava tinha sido o que provocou o
comentário, para começar. Tinha ele perdido a cabeça? Primeiro,
apostou nada menos que sua honra, depois a manchou no encardido
corredor de uma pousada qualquer. E se alguém tivesse aparecido?
E se, Deus os livre, sua cunhada tivesse visto?
Ele estava pensando com seu pênis, como um caipira
fanfarrão novo na cidade. A mulher tinha um talento especial para
fraturar seu controle.
Sim, era bonita. Mas muitas mulheres o eram. Mas nenhuma
delas teria enfrentado uma taberna cheia de homens para salvar a
cervejaria de sua família. Nenhuma delas teria batido ele em um jogo
de cartas ou aceitaria sua proposta escandalosa.
Quando ela fez suposições sobre a aposta, o enfureceu.
Depois de tudo que tinha acontecido, ele esperava ao menos que ela
estivesse mais sensata. Mas em vez de reconhecer o quão perto
tinha estado da ruína, ela o acusava de deixá-la ganhar.
A pivete era de enlouquecer. Enlouquecedora! Ela não tinha
ideia de como podia ser sedutora para um homem sem escrúpulos,
não tinha ideia do perigo. Como podia ser tão ingênua na sua idade?
Quase 30? Ele nunca teria imaginado, parecia fresca e doce como
um bouquet de primavera. Longos dentes, de fato.
E o que havia de errado com os homens de Burton, que um
deles ainda não a tivesse feito noiva? Não fazia sentido. A não ser
que ela os recuse.
Eu não casei, senhor, porque não vi benefício em fazê-lo.
Bem, ele concordava. Também não conseguia ver benefícios
para o casamento, então eles certamente tinham isso em comum.
Mas ele podia ver muita vantagem em levá-la para a cama,
cobrir o corpo com o seu, retirar seu vestido para explorar os seios
surpreendentemente exuberantes e a cintura deliciosamente curva e
as-
Maldita do inferno! Sua obsessão com a cervejaria de seu
irmão claramente a fez assumir riscos que nenhuma inocente devia
tomar. Ela ainda não tinha aprendido que arriscar tudo por um sonho
de sucesso era tolo e cheio de dor. Era só olhar para ele, uma única
vez em quebrou as suas próprias regras, misturou negócios com
prazer, apostando algo que não tinha o direito de apostar, só para se
levar direto ao desastre.
Claro, foi em parte porque ele se deixou distrair pelos
pensamentos e por Gran e suas maquinações. Se não tivesse sido
por ela, não estaria preocupado com a cervejaria ou as perspectivas
de seus irmãos. Ele estaria voejando de jogo para jogo, sem precisar
de ninguém, sem ter ninguém precisando dele.
Ficando mais entediado a cada dia que passava.
Ele fez uma careta. De onde tinha vindo isso? Ele não estava
entediado. Sua vida estava bem.
Esta não é uma vida adequada para um homem inteligente
como você.
Com uma maldição, ele entrou na taverna. Gran não sabia
nada sobre isso. Ela tinha sido a única a dizer que ele devia ser
advogado, e cada instinto nele se rebelava contra a ideia.
—Bem, bem, olha quem está de volta— Gabe disse com um
sorriso.
A multidão havia se diluído, quando o espetáculo acabou.
Pinter bebia sentado, Gabe tinha uma empregada da taberna nos
joelhos, e Masters embaralhava as cartas.
No momento que Masters viu Jarret, ele puxou uma cadeira.
—Agora que a senhora se foi, pode nos dizer a verdade sobre o que
teria ganhado se as cartas tivessem sido favoráveis a você.
Jarret se esforçou para manter a calma. —Já te disse. O anel
de sua mãe.
— Certo. Um anel, — Masters zombou.
—Você está me chamando de mentiroso, Masters?
Masters piscou. —Certamente que não. Eu apenas acho
estranho que você.
—Pense o que quiser, mas é melhor eu não ouvi-lo pensando
em voz alta a ninguém. Você me entende?
—Deus, Jarret, quem colocou o pau na sua bunda?— Gabe
perguntou, arrancando uma gargalhada da garçonete da taverna.
—O mesmo vale para você, Gabe— alertou. —Nem uma
palavra, ouviu?
Quando ele voltou seu olhar para Pinter, o investigador
levantou as mãos. —Não há necessidade de advertir-me, senhor. Eu
não espalho boatos sobre senhoras.
— Não ligue para ele, Pinter — Masters disse secamente. —
Ele está irritado por ter perdido. E para uma mulher, ainda por cima.
Lembrando porque ele perdeu, Jarred focou em Masters. —
Tem outra coisa. Por que você estava perguntando sobre as
perspectivas de Minerva para o casamento?
Masters pareceu instantaneamente cauteloso. —Eu não me
lembro de ter feito isso.
— Você o fez, na verdade — Gabe intrometeu —Você
perguntou se nossas irmãs tinham escolhido os maridos.
—Só uma conversa educada, isso é tudo— disse Masters
com um encolher de ombros, mas o músculo pulsando em sua
mandíbula mostrou que era mentira.
Jarret caminhou até pairar sobre seu amigo. —Fique longe da
minha irmã.
Algo escuro cintilou nos olhos de Masters, quando ele ergueu-
se para encontrar o olhar de Jarret. —Você está se comportando
como um idiota.— Ele acenou com a cabeça na direção de Gabe. —
Vamos, Gabe. Vamos para o meu clube. É tempo de encontrarmos
companhia mais agradável para a noite.
Gabe murmurou algumas palavras para a empregada da
taberna, que se saiu bamboleando com um beicinho. Então ele se
levantou, seu olhar passeando de Jarret para Masters. —Vá à frente,
meu velho.
Assim que eles se foram, Jarret pediu canecos do melhor
Porter da avó para ele e Pinter, em seguida, caiu em uma cadeira.
Ele fez papel de bobo, e sem nenhuma razão. Mesmo que Masters
estivesse de olho em Minerva, ela teria algo a dizer sobre isso. Ela
não suportava nem ligeiramente tolos ou patifes. Se alguma mulher
podia afastar Masters, era sua irmã.
Ainda assim, ele notou que Masterss não tinha respondido a
sua admoestação. Ele não tinha rido ou concordado em ficar longe
nem disse nada para tranquilizar Jarret que não havia nada entre ele
e Minerva. E isso preocupava Jarret.
—Então você está viajando para Burton amanhã, não é?—
Pinter disse em tom de conversa.
Jarret forçou sua atenção para a tarefa em mãos. —Sim. Para
dar uma olhada em Lake Ale Brewery.
— A jovem pareceu surpresa ao ouvir de seus planos.
—Sim, ela pareceu.— E não apenas surpresa, mas entrou em
pânico. Ela até tentou convencê-lo do contrário. Alguma coisa
acontecia lá, algo que ela não lhe disse.
Ele tomou um longo gole de sua caneca. Fosse o que fosse,
ele ia descobrir. Aposta ou não, ele queria ir para esta empresa com
os olhos totalmente abertos. Muito estava em jogo.
Mas esse não era assunto para o investigador. —Pinter, quero
contratá-lo.
—Para fazer o quê?
Ele esboçou suas preocupações sobre a versão de Oliver
para as mortes de seus pais, que era que a sua briga com a mãe a
tinha enviado em um assomo de raiva para matar seu pai. Oliver
disse que Pinter sabia tudo sobre essa noite, exceto que Oliver e a
Mãe brigaram, então Jarret manteve essa parte para si.
—Então, você vê— Jarret terminou, —Eu preciso de você
para rastrear os lacaios que estavam lá naquela noite.
—Nenhum deles está mais em serviço em Halstead Hall?
—Não. Gran nos levou para morar com ela em Londres após
o acidente... — Ele se recusou a chamá-lo de assassinato. Mãe
nunca teria atirado propositalmente em Pai, não importa o que Oliver
afirmasse. —Gran deixou a maioria do pessoal ir quando ela fechou
a propriedade.
—Mas eu entendo que o Lorde Stoneville contratou-os de
volta depois de ter atingido a maioridade e se mudou para a casa de
sua família em Acton.
—Não aos lacaios. Eles já haviam encontrado posições.
Imagino que eles estejam espalhados por toda a Inglaterra agora.
Pinter olhou pensativo. —Talvez não. Servos tendem a ficar
nas áreas que estão acostumados. Duvido que eu vá ter que
procurar muito longe.
—Se você sair amanhã para a propriedade, pode obter uma
lista dos nomes com o mordomo de Oliver. Ele tem os registros.
Pinter deu de ombros. —Está a família na residência no
momento?
Jarret reprimiu um sorriso, sabendo muito bem porque Pinter
perguntava. —Não. As meninas voltaram para a casa da cidade para
ajudar a cuidar de Gran depois que ela ficou doente, e Gabe e eu
fomos nos hospedar em nossos quartos de solteiro. —Jarret sorriu.
—Então, você não tem que se preocupar com Celia e sua língua
afiada.
Os olhos cinzentos do investigador não demonstraram nada.
—Lady Celia tem direito a suas opiniões.
—Mesmo quando dizem respeito a você e sua ‘adesão rígida
a regras estúpidas’? — Jarret perguntou, determinado a conseguir
alguma reação do incrivelmente estoico Pinter.
Se Jarret não estivesse observando atentamente, ele não teria
visto o fraco latejar na mandíbula do homem. —Lady Celia tem
direito a suas opiniões, sejam elas quais forem— Pinter disse com
uma indiferença enganosa. —Então, eu devo enviar meu relatório
para Burton? Você vai estar lá por muito tempo?
Jarret teve pena do homem, permitindo-lhe mudar de assunto.
—Não tenho certeza. Espero que não. Mas apenas por precaução
caso, envie uma cópia para mim em Lake Ale Brewery. Se eu perder,
posso conseguir de você aqui.
—Muito bem—. Pinter começou a se levantar.
—Só mais uma coisa.— Uma suspeita incomodava-o desde
que Oliver fez sua confissão. Talvez fosse hora dele esclarecer isso
também, mesmo que só para aliviar a sua própria mente. —Tenho
outro serviço para você, se puder empregar o tempo.
Pinter se sentou. —Se você pode dar ao luxo de me pagar, eu
posso empregar o tempo.
Como um dos mais célebres Bow Street Runners de Londres,
Pinter fazia suas próprias horas, suas próprias regras. Ele era um
dos poucos a ter um escritório que pagava por si, já que era
amplamente procurado para investigações privadas, quando não
estava trabalhando para o bem público.
—Excelente. Aqui está o que eu gostaria que você fizesse...
Hetty Plumtree estava começando a lamentar ter feito aquela
maldita barganha com seu neto. Jarret ia raspar dez anos de sua
vida antes do fim do ano. Entreter uma proposta de alguma
cervejaria pequena em Burton? Até mesmo falar com o Sr. Harper
sobre isso? Que mau agouro.
Ela encarou Sr. Croft, sentado rigidamente ereto ao seu lado,
já tendo dado a ela o seu relatório ao alvorecer. —Você tem certeza
de que ele estava falando do mercado da Índia? Não o mercado das
Índias Ocidentais por acaso?
—Por que ele falaria das Índias Ocidentais? É uma parte
completamente diferente do mundo. Eu não posso imaginá-lo a
confundir os dois. Às aulas de Geografia em Eton poderia faltar, mas
sua senhoria não é tão desprovido de conhecimentos do mundo a
estar
—Sr. Croft! — Às vezes, obter informações dele era como
desvendar um tapete um fio por vez.
—Ah. Perdão. Eu estava divagando novamente, não estava?
Em qualquer caso, foi definitivamente o mercado da Índia, porque eu
lembro claramente dele dizendo que você não tem a intenção de
entrar nessa área em particular, e ele disse à mulher algo nesse
sentido. Na verdade, ele parecia concordar com a sua avaliação.
Ah, bem, pelo menos Jarret era sensato. A Companhia das
Índias era imprevisível. Veja como seus capitães haviam lidado com
Hodgson depois que o homem aumentou os preços.
—Conte-me sobre esta cervejeira que você mencionou.— Ela
já sabia que Miss Lake devia ser bonita, pois sempre que o Sr. Croft
a mencionava, ele corava. Sr. Croft virava um idiota aerado em torno
de mulheres bonitas, motivo pelo qual a mulher teria conseguido
driblá-lo.
—O que quer saber?
Ela tossiu violentamente um momento, alarmando Sr. Croft.
Maldita tosse a dela. Quando ia acabar? —Quantos anos tem a
mulher?
Hetty não desistiu de casar Jarret, apesar de seu negócio.
Mas ela queria bisnetos, e quanto mais velha a mulher fosse,
menores seriam as perspectivas.
—Jovem, achei.
Ela suspirou. Sr. Croft era um excelente espião em alguns
aspectos, mas não era apto a julgar idade. —Você disse que ela
forçou caminho para o escritório. Era uma dama?
—Com toda a certeza. Eu pensei que ela era muito gentil até
que ela correu em volta da minha mesa.
— E meu neto não a expulsou imediatamente?
—Não. Ele provou sua cerveja e conversou com ela por algum
tempo. Então, prometeu falar com você ontem à noite sobre sua
proposta.
Graças a Deus o Sr. Croft se destacava por ouvir em
fechaduras. —Em vez disso, ele saiu para jogar cartas e beber com
que o patife do Masters.— Outro ataque de tosse se seguiu, o que a
fez ainda mais brusca. —Um dia ainda pino os ouvidos desse rapaz
de volta.
—De Sua senhoria?
—Masters.
Uma nova voz soou da porta. —Vou segurá-lo para você,
enquanto o faz.
Ela olhou para cima, assustada. Bom Senhor, Jarret estava
aqui. Ele nunca vem de manhã, e certamente não tão cedo. Quanto
ele tinha ouvido?
Ele lançou o Sr. Croft um olhar longo, considerativo. —Sr.
Croft, se quiser continuar no emprego da cervejaria, este será o seu
último encontro matinal com minha avó. Não vou tolerar espiões .
Sr. Croft saltou de pé. — Meu senhor... Eu não.
— Está tudo bem, Sr. Croft — Hetty interviu —Você pode ir.
O pobre homem recuou em direção à porta, mantendo um
olhar atento sobre Jarret como se achasse que o rapaz poderia dar
um soco nele. Então fez uma rápida saída.
Jarret tomou o assento de Sr. Croft, esticando suas longas
pernas e cruzando as mãos sobre a barriga. —Você não consegue
confiar em mim para dirigir o lugar por conta, não é?
Ela olhou para ele, sem remorsos. —Conseguiria você, se
fosse eu?
—Não creio.— Sua expressão endureceu. —Mas juro que vou
descartar a doninha se ele novamente.
—Você não vai. Ele sustenta uma mãe e cinco irmãs. E
conhece cada centímetro de Plumtree Brewery a partir do zero.
Jarret se inclinou para frente. —Bem, então, eu vou demitir-
me. O nosso acordo era que você se manteria fora, e se não pode
sequer se segurar a isso, não vejo sentido em continuar.
—Ah, está bem— ela resmungou. —Eu vou dizer ao Sr. Croft
para não vir mais aqui.— Ela tossiu em seu lenço. —Se você me
mantivesse informada conforme prometeu, eu não teria que recorrer
a tais medidas.
—Eu mantenho-a informada o suficiente.
—Então, por que tenho que ouvir sobre essa mulher da Lake
Ale do Sr. Croft?— Ela entrou em erupção em outro ataque de tosse.
—Cuidado, Gran. Dr. Wright diz que você não deve excitar-se.
— Seu tom desprovido de emoção teria ferido seus sentimentos, se
não fosse a preocupação que viu cruzar rapidamente seu rosto.
—Dr. Wright pode ir para o inferno — ela respondeu.
—Se não ouvi-lo, você vai chegar lá antes.— Agora a
preocupação tinha se infiltrado em sua voz também.
Ela lançou-lhe um olhar penetrante. —Você está dizendo que
estou destinada ao inferno?
Ele deu um sorriso triste. —Talvez.— Quando ela o fitou, o
sorriso desapareceu. —Eu estou dizendo que você precisa assistir a
sua saúde. E você não vai fazê-lo se preocupando com cada
pequeno conto que Sr. Croft dispõe a seus pés.
O filhote insolente não tinha ideia de como era difícil
retroceder e entregar as rédeas na sua idade. —O que está fazendo
aqui a esta hora, afinal? Achei que tinha estado a jogar cartas ontem
à noite com os patifes de seus amigos.
Um leve incômodo cintilou em seus olhos. —Vejo que os
relatórios de Sr. Croft são muito completos.
—É melhor que sejam. Eu lhe pago muito bem por eles. — Ela
aguçou o olhar sobre ele. —Então? O que o fez se levantar com as
galinhas?
— Estou viajando para Burton hoje.
Ela olhou para ele, de imediato, cautelosa. —Por quê?
Ele deu de ombros. —Para falar com o dono da Lake Ale
sobre vendermos sua cerveja de outubro para eles.
—Para a Companhia das Índias Orientais?
— Entre outros.
Então, a bela senhorita Lake havia o convencido a considerar
sua proposta? Interessante. Agora Hetty teria que decidir como
jogaria com isso.
Por um lado, ela não queria perder a empresa, por Jarret estar
seguindo seu pênis. Por outro lado, Plumtree Brewery estava mal e
ela não tinha certeza de ter a força necessária para a batalha de
salvá-lo.
Jarret poderia fazê-lo, no entanto. Ela não tinha intenção de
vê-lo entregar o lugar de volta para ela no final do ano. Ela queria
que ele bem e verdadeiramente fisgado. E você só enganchava um
peixe dando-lhe um pouco de linha.
Mas poderia a cervejaria suportar tal experiência nestes
tempos difíceis?
Não importa. Se ela batesse o pé agora, ela nunca ia
conseguir Jarret perto dela de novo, e a cervejaria Plumtree
precisava de alguém com a sua inteligência para ser gerenciada. Ela
tinha que arriscar dando-lhe a cabeça, para o bem futuro da
empresa.
Além disso, esta cervejeira podia ser a chave para mudar o
seu interesse de jogar para a cervejaria. Jarret tinha apenas relações
superficiais com mulheres. Ele era muito parecido com seu irmão
mais velho nesse aspecto. Miss Lake poderia mudar isso,
especialmente se ela tinha conseguido interessá-lo em um projeto o
suficiente para levá-lo a Burton.
Fazer cerveja estava em seu sangue. Ela ignorou isso por sua
própria conta e risco ao enviá-lo para Eton contra sua vontade. Ele
havia estado a castigá-la por isso desde então. Assim, ele devia
continuar pensando que a castigava.
O que ele não podia saber era que estava sendo jogado por
suas mãos. E de todos os seus netos, Jarret sempre foi o mais
desconfiado.
—Eu não quero que Plumtree Brewery entre no comércio com
a Índia— disse ela, tateando o caminho.
Com uma obscura carranca, ele sentou-se em sua cadeira. —
Você não terá uma palavra nisso.
Ah, esse é o espírito. — Mas Jarret.
—Isso poderia reforçar nossos lucros consideravelmente.
—Isso poderia afundar-nos, também. Quase que
malditamente afunda Hodgson .
Ele admitiu com um aceno de cabeça. —Mas Allsopp em
Burton está lucrando com isso. Por que não deveríamos?
—E se o proíbo de envolver-nos?
Aquele olhar teimoso que ele às vezes ele tinha passou por
seu rosto. —E se eu devolver-lhe a cervejaria?— Ele se levantou e
se dirigiu para a porta.
—Espere!— Bem jogado, Jarret, bem jogado. Ele faria um
belo capitão de indústria um dia. Ela devia estar louca ao pensar que
ele podia ser um advogado.
Agora era a parte mais difícil, ceder sem que lhe pareça muito
fácil. —O que eu devo fazer com a Plumtree Brewery enquanto você
está fora?
Ele parou na porta para atirar-lhe um olhar desconfiado. —
Harper e Croft podem tratar dos assuntos por alguns dias. Vou me
certificar de que eles sabem o que precisa ser feito. Eu não devo
estar fora por muito tempo.
Ela fez uma careta. —Eu não estou dando a você minha
bênção nesse assunto.
—Então é uma coisa boa que eu não preciso de sua bênção.
— Ele cruzou os braços sobre o peito. —Eu não vim aqui para obter
permissão ou aprovação. Eu vim para mantê-la informada. Desde
que fiz o que eu vim fazer, vou embora. Está claro?
Patife insolente. Ela conseguiu um acenar rigidamente.
—Bom. — Ele a surpreendeu ao vir para beijá-la na testa. —
Ouça o Dr. Wright, está bem? E, pelo amor de Deus, cuide de si
mesma.
Então ele se foi.
Ela esperou até ouvir a porta do andar de baixo bater antes de
pedir ao seu mais astuto lacaio. —Siga o meu neto— ordenou ela—
mas seja discreto. Eventualmente, ele irá para uma pousada. Deve
haver uma hóspede ali, chamada Miss Lake, a quem Lorde Jarret
deve acompanhar para fora da cidade. Uma vez que ele e a mulher
tenham saído, descubra tudo o que puder sobre ela do estalajadeiro
e relate ao retornar.
Com um aceno de cabeça, o lacaio correu para fazer seu
lance.
Hetty desmoronou contra o travesseiro com um sorriso. Já
estava parecendo que seria um muito bom dia.

Capítulo Sete

Annabel observou como Sissy nervosamente passeava pela


sala comum da pousada no dia seguinte, depois parou em frente a
ela.
—Como estou?— Sissy estava usando seu melhor vestido de
dia de veludo roxo, adornado com as ametistas que usava apenas
em ocasiões especiais. Suas bochechas estavam ruborizadas, e
seus olhos azuis brilhantes.
— Você está linda, como sempre — Annabel respondeu.
—E você parece uma lavadeira.— Sissy fez uma careta. —
Não posso acreditar que você escolheu usar essa coisa marrom.
Estamos andando com o filho de um marquês, pelo amor de Deus!
—Nós vamos passear dentro e fora de pousadas, e parece
que vai chover. Eu não vou usar minha melhor roupa de domingo só
porque Lorde Jarret é um Lorde.— E, certamente, não porque ele a
beijou até perder os sentidos no corredor. Ou fez sentir coisas,
querer coisas...
Ela devia parar de pensar nisso! Hoje ele provavelmente
sondaria mais do porque Lake Ale estava com problemas, e ela tinha
que estar pronta. Tornar-se uma romântica sonhadora a cada vez
que ele mostrasse seu sorriso de covinhas não ajudaria.
Com um suspiro, Sissy olhou para o relógio. —Eu espero que
não tenha acontecia nada terrível. Ele não devia estar aqui agora? —
Jarret tinha enviado uma nota dizendo que ele chegaria as 10:30, e
era quase 11.
—Tenho certeza que ele está apenas tomando seu doce
tempo— Annabel disse secamente, —como lordes são adeptos de o
fazer.
—Ele está chegando!— Geordie gritou da janela onde ele
estava guardando na última meia hora.
O salto repentino de seu pulso deixou Annabel com uma
carranca. —Como você sabe que é ele?
—Há um brasão na porta e tudo.— Geordie estufou o peito. —
Espera só até que aquele palhaço do Toby Mawer me ver subir no
coche de um marquês. Ele vai ficar verde de inveja!
Annabel mal teve tempo de acalmar seus nervos antes de
Jarret entrar na sala comum, cheio de confiança e arrogância e todas
as coisas senhoriais, do seu fraque bem costurado de um azul
Sardenha superfino para o brilho de suas botas Hussar7 pretas
polidas. Deixaria qualquer mulher com os joelhos trêmulos.
Não ela, é claro. Seus joelhos estavam bastante firmes, muito
obrigada.
Quando ela se levantou, seu olhar encontrou o dela. —Miss
Lake— disse ele com a voz rouca, que ela lembrava da noite
anterior. —Perdoa meu atraso. Houve um problema com os cavalos.
—Não podemos reclamar, meu senhor— disse ela, enquanto
erguia a mão—dada a sua generosidade em nos levar a Burton.
Ele apertou sua mão rapidamente, seu olhar correndo sobre
ela com uma familiaridade que a fez tremer. Algo escuro e
reconhecedor cintilou em seus olhos antes que ele alisasse suas
feições em um sorriso cordial.
Agora seus joelhos estavam cambaleantes.
Sissy limpou a garganta, e Annabel começou. —Lorde Jarret,
posso apresentar-lhe minha cunhada, Cecilia Lake. Sissy, este é
Lorde Jarret Sharpe. —
Enquanto executavam os arcos e reverências necessários e
acompanhados de saudações murmuradas, Geordie correu para o
lado de Sissy.
Sissy colocou a mão no braço do Geordie. —E este é o meu
filho, Geordie.
—George— Geordie corrigiu. Ele estendeu a mão
corajosamente. —George Lake, ao seu serviço. Muito gentil de sua
parte nos permitir usar seu carro, senhor. Espero que não seja muita
inconveniência para você.
Um nó prendeu a garganta de Annabel para ouvir Geordie
soar tão crescido. Ele provavelmente estivesse a praticar esta
apresentação durante toda a última hora.
—Nem um pouco— disse Jarret com mínimo traço de
condescendência. —Fico feliz em ajudar você e sua família.
Como Geordie claramente queria ser tratado como um
homem, ela podia ter beijado Jarret. Mesmo com toda sua
arrogância, Geordie era sensível, e eles não precisavam de um de
seus acessos de hoje.
—Vamos, então?— Jarret ofereceu a Annabel seu braço,
deixando Geordie a seguir o exemplo com Sissy.
Annabel tomou-a, lutando para conter a súbita triplicação do
seu pulso. Eles tinham andado exatamente do mesmo modo na
última noite, e não tinha afetado a ela. Mas isso foi antes que ele a
beijasse. Agora ela estava intensamente consciente da tensão em
seu corpo, a flexão dos músculos sob sua mão... o perfume de
alecrim do Hungary Water8.
—Você está bem hoje, Miss Lake— disse ele. Sissy bufou
atrás dela.
Quando Jarret lançou a Annabel um olhar interrogativo, ela
disse —Minha cunhada queria que eu vestisse algo mais
extravagante para um passeio no coche de um marquês.
Diversão iluminou seus olhos. —E, claro, estando
completamente impressionada pelo título, você recusou.
—Parece que vai chover— disse ela na defensiva.
Sua única resposta foi um insolente arquear de sobrancelha.
Quando chegaram ao coche e ele auxiliou-a a entrar, ela viu o
rosto de Sissy e gemeu. Sua cunhada tinha um olhar especulativo
mostrando que ela tinha notado o quão confortável Annabel e Jarret
estavam juntos.
Oh, céus. Ela teria que ter mais cuidado em torno dele.
Geordie parou ao lado de Jarret antes de subir —Está bem se
eu for em cima com o cocheiro?
—Certamente que não!— Sissy e Annabel disseram em
uníssono de dentro do carro. Jarret olhou-as de soslaio. —Esta bem
por mim, minhas senhoras.
—É muito perigoso— disse Sissy.
—E se houver um acidente?— Annabel acrescentou. —Isso
não é lugar para um menino. Fique dentro, Geordie. Você não vai ir
montado lá em cima.
Resmungando sobre ser tratado como uma criança, Geordie
subiu e se sentou no banco em frente a elas. Mesmo depois que eles
estarem instalados e Jarret ordenou o cocheiro a dirigir, ele ficou
amuado, braços cruzados sobre o peito.
Mas o menino não podia ficar imune aos pontos turísticos de
Londres por muito tempo. Logo ele estava espiando pela janela, para
o espetáculo de uma barca que está sendo levada pelo rio,
suspirando quando eles viraram em ângulo rapidamente, com quase
nenhuma empurrão.
—Este é um coche berline, não é, meu senhor?— Perguntou.
—É sim
—Com dois eixos e sistema de travas completo?
—Não tenho ideia— Jarret replicou.
—Geordie tem ávido interesse em carruagens — Annabel
explicou.
—Tem que ter sistema de travas completo— Geordie
continuou. —Faz curvas muito firme para não o ter.— Ele saltou
sobre o banco. —E é bem estável, também. Deve ter custado uma
fortuna!
—Geordie!— Sissy repreendeu. Não seja rude.
—Na verdade, não sei quanto custou— disse Jarret. —Ele
pertence a meu irmão.
—Ah. Certo, —Geordie resmungou. —É o seu irmão que é o
marquês.— Ele olhou Jarret. —Talvez seja por isso que você não
parece um lorde.
Jarret piscou. —Como é que um lorde deve parecer?
—Eles levam monóculos e elegantes bengalas.
—Ah, sim.— Sua senhoria parecia estar tentando não sorrir.
—Devo ter deixado os meus no outro coche.
O rosto de Geordie se iluminou. —Você tem outro coche? Que
tipo? Um cabriolet? Ou um faetonte? Ah, tem que ser um faetonte -
que é o que todos lordes utilizam!
—É um cabriolet, na verdade.
— Um cabriolet — Geordie sussurrou em reverência. —Eu
ouvi falar deles, mas eu nunca vi um. Você corre com ele?
—Não. Deixo isso para o meu irmão mais novo. Talvez você já
tenha ouvido falar de Lorde Gabriel Sharpe.
Agora Geordie estava em êxtase. —Seu irmão é o Anjo da
Morte?
—Onde você ouviu isso?— Annabel perguntou abruptamente.
—Da minha mãe. Estava em um dos seus folhetos de fofocas.
Sissy ficou vermelha. —Meu senhor, por favor, perdoe meu
filho. Ele tem a tendência de falar sem pensar.
Jarret riu, então deu a Annabel um olhar velado. —Uma
característica de família, creio.— Quando ela olhou para ele, ele
acrescentou: —Não importa. Eu sei do que chamam a meu irmão.
Todos eles ficaram em silêncio.
Depois de vários momentos, Sissy disse: —Estamos muito
gratos a você para vir em auxílio do Lake Ale assim, senhor.
Uma expressão cínica atravessou seu rosto. —Eu espero que
ambos não venham a se arrepender. Eu mal mergulhei um dedo
nesse negócio de cerveja, e esta é uma área nova para mim. Na
verdade, se não fosse por nossa aposta, eu não o...
Ele deteve-se com um lamento.
—Não se preocupe, meu senhor— Sissy disse. —Sei tudo
sobre Annabel vencê-lo no whist duas mãos. Ela conta-me tudo.
—Tudo?— Seu olhar se estreitou em Annabel. —Ela contou
os termos de nossa aposta?
—Certamente.— Sissy acariciou a mão rígida de Annabel. —
Embora ela se arriscasse bastante. O anel de sua mãe significa
muito para ela. Ela nunca devia tê-lo arriscado em um jogo de cartas.
Quando um brilho perverso apareceu em seus olhos, Annabel
congelou, seu coração quase lhe falhando naquele exato momento.
Certamente que ele não iria revelar... Oh, Senhor, ele não poderia
querer...
—Ah, mas se ela não tivesse arriscado, eu não teria aceitado
a aposta. Eu precisava de algo muito tentador para me convencer a
dar uma chance a cervejaria de seu marido. —Ele teve a ousadia de
piscar para ela. —Felizmente, Miss Lake estava mais do que ansiosa
para fornecer a tentação... certa.
Annabel fez uma careta para ele. Desgraçado provocante. Ele
estava gostando girar sua reputação em seu dedo na frente dela.
Embora ela suponha que merecesse isso por ter concordado com
aquela tola aposta em primeiro lugar.
—Ela também sempre diz que é um anel da sorte— Sissy
continuou.
—É mesmo?— O sorriso brincando em seus lábios pôs
tensão aos nervos de Annabel.
—Mas eu não acredito nisso— Sissy continuou. —Se fosse
sorte, então Rupert não teria.— Ela parou de repente, dando um
rápido olhar para Annabel. —Sinto muito, querida. Depois de todos
esses anos, eu esqueço que ainda é muito cedo para você.
Finalmente as palavras de Sissy limparam o sorriso de
satisfação do rosto de Jarret. Ainda assim, o olhar nivelado que ele
lançou sobre elas era quase o tanto desconcertante.
—Quem é Rupert?— Perguntou.
— Noivo de tia Annabel — Geordie interviu —Ele morreu na
guerra logo depois de papai e mamãe se casarem. Ele foi um grande
herói, não foi, mãe?
—Sim, Geordie, um homem bom e corajoso— Sissy disse
suavemente. —Mas é doloroso para sua tia falar dele. Eu não devia
ter tocado nisso.
—Absurdo. — Annabel se forçou a parecer calma. —Foi há
muito tempo atrás, quando eu era apenas 16. E nós estávamos
noivos por pouco tempo. Papai disse que éramos muito jovens para
casar e pediu para esperarmos até que eu completasse dezoito
anos. Então, quando eu tinha 17 anos, o irmão de Rupert morreu na
França, e em uma tempestade de fervor vingativo, Rupert insistiu em
se alistar no exército. Ele morreu na batalha de Vittoria, não muito
tempo depois de deixar a Inglaterra.
Embora largado o luto por seu amor juvenil, lhe enervava falar
dele para Jarret após os beijos da noite anterior. Era perturbador
expor sua vida de narrando-a tão impiedosamente.
Não que Jarret se importasse. Ela era apenas uma mulher
que o enganou a fazer algo que ele não queria fazer, um
impedimento para a sua vida fácil. O que importava o que ela sofreu?
No entanto, ela podia sentir seu olhar sobre ela, sondando,
curioso.
—E você nunca se casou— disse ele, em tom neutro. —Você
deve tê-lo amado muito.
—Sim.— Ela o amou como qualquer garota ama seu primeiro
namorado, com uma paixão pura, alheia ao que pudesse lhe custar.
Ela às vezes se perguntava se talvez Papai tivesse razão
sobre eles terem sido muito jovens. Fora a intimidade e a intoxicação
dos desejos da juventude, o que ela e Rupert tiveram em comum?
Ela gostava de ler e jogar cartas, ele gostava de caçar perdizes e
apostar nas corridas de Burton. E se eles não tivessem consumado
seu amor? Ela poderia ter encontrado outro homem para amar
depois de sua morte, alguém que compartilhasse mais de seus
interesses?
Não importa. O que foi feito, foi feito.
Ela forçou um sorriso brilhante em seus lábios. —Em todo
caso, é tudo passado.— Ela encontrou o olhar de Jarret. —Então,
você disse que tinha dúvidas sobre as operações da cervejaria. Este
é um momento tão bom quanto qualquer outro para discuti-los, não
acha?
Seus olhos investigaram-lhe o rosto, e ele deu um pequeno
aceno com a cabeça. —Por que não?
Apesar disso lançá-los para a difícil questão de Lake Ale e
seus problemas, ela estava grata por deixar o assunto doloroso
referente a Rupert para trás. Ela só esperava que eles tivessem
esgotado mesmo o assunto. Não seria bom se Jarret soubesse muito
de seus segredos.
Jarret encontrou sua conversa com Annabel sobre a cervejaria
intrigante. Ela sabia muito mais do que ele tinha imaginado. Ele não
tinha ideia de como a cevada para o malte se tornara tão preciosa ou
que os fabricantes de barril estavam exigindo salários mais elevados.
Mais importante ainda, o plano que ela estabeleceu para
salvar a empresa de seu irmão não era apenas viável, mas que
podia realmente funcionar. Depois de deixar Gran esta manhã, ele
conversou com um capitão da Companhia das Índias Orientais ele
conheceu nos antros de jogos, e o homem tinha confirmado tudo que
Annabel havia lhe dito. O capitão até se vangloriou sobre quanto
dinheiro ele tinha feito no primeiro carregamento de pale ale da
Allsopp.
Este projeto parecia menos arriscado a cada momento.
Embora ainda exista a questão do irmão doente, o que era
preocupante.
Era uma pena ela não pudesse executar o projeto sozinha.
Mas, enquanto seu irmão era o dono, nenhum homem jamais lidaria
com elas nos negócios. As mulheres não tinham direitos em tais
casos. Gran tinha sido capaz de sobreviver apenas porque seu
marido tinha morrido e deixado o negócio para ela, e mesmo assim
ela teve que lutar com unhas e dentes por cada ganho.
Annabel era certamente uma lutadora, mas Hugh Lake era o
único que podia tomar decisões, e pelo que Annabel estava lhe
dizendo, ele continuava a fazê-lo. Ela apenas de realizava o trabalho
cotidiano, juntamente com o gerente da cervejaria.
A situação parecia muito estranha. Pior, ele não conseguia se
livrar da sensação de que Annabel não estava contando tudo. Ela
evitou algumas perguntas, contornou algumas questões. Isso seria
porque ela não sabia as respostas? Ou porque ela não queria dizer a
ele as respostas?
Depois, tem o comportamento estranho do jovem George.
Uma vez que eles começaram a falar de Lake Ale, o menino ficou em
silêncio, quase como se tivesse ordem de não falar. E a Sra. Lake
parecia decididamente mais nervosa quando seu marido foi
mencionado. Isso lhe fez pausar, especialmente desde que Annabel
parecia perfeitamente à vontade.
Totalmente diferente de quando ela falou de seu noivo.
Ele lançou-lhe um olhar rápido. Mesmo seu vestido diário de
sarja, fora de moda de cor barrenta não diminuíam a coloração viva
de suas lindas bochechas e a animação em seus olhos salpicados
de ouro, enquanto falava sobre o negócio. Não era difícil de acreditar
que ela tinha sido prometida uma vez. Talvez os homens de Burton
não fossem tão loucos, afinal.
Ela não negou ter amado aquele sujeito, Rupert,
profundamente. E óbvio o tinha, ou ela não teria permanecido fiel a
ele, mesmo depois de sua morte. Rupert devia ter sido um jovem
galante, forte, bonito e cheio de coragem. Morreu como um herói,
não é? Exatamente o tipo de homem que as mulheres adoravam.
Ele fez uma careta. Fazia sua própria vida parecer
desperdiçada, mesmo que ele não tivesse a menor vontade de ser
soldado.
E o que dizer da vida desperdiçada dela, fechando-se em uma
caixa de solteirona, mantendo todos os homens a baia, porque ela
tinha perdido seu verdadeiro amor aos 17? Esse era um caminho
tolo romântico, e ela não era uma tola romântica.
Ela era uma mulher atraente e vibrante. Uma mulher sensual,
o tipo de mulher que se participava do beijo de um homem com o
entusiasmo devidamente merecido. Sem frescuras para Annabel. Ela
aproveitava o momento, a hora, o dia, com um verdadeiro desejo de
viver. Então, por que ela estava derramando suas energias para
cuidar dos filhos de seu irmão e da cervejaria de seu pai? Ela devia
se estabelecer com algum latifundiário ou comerciante rico,
enfeitando a mesa com a sua presença e sua cama com paixão.
Esse pensamento, porém, não o agradou. E não tinha certeza
do motivo. Ele mal sabia que a mulher. Não tinha motivo para se
importar se ela se casasse ou não com um outro sujeito.
No entanto, se importava.
— Eu odeio interromper, Annabel — Mrs. Lake disse—mas
nós estamos chegando em Dunstable, e sua senhoria podia gostar
de fazer uma pausa para algum refresco.
Annabel riu. —Você só quer parar para ver sua amiga Sra.
Cranley na Pousada Bear.— Ela lançou um olhar cúmplice a Jarret.
—Eles se conhecem de meninas. A mulher é um pano de fofocas
andante, e Sissy bebe cada palavra.
Sra. Lake inclinou o queixo. —O que há de errado em manter-
se a par com o que está acontecendo no mundo? Especialmente se
sua senhoria não se importe. Eu estou realmente com fome.
—Então, vamos parar por ali. — Jarret estava inquieto, e
também assim estava o menino. —Eu mesmo poderia comer algo.
Embora Annabel revirasse os olhos quando ele deu o
comando para seu cocheiro, Sra. Lake parecia muito satisfeita, e o
jovem George finalmente relaxou.
Depois que eles chegaram ao Bear Inn e Jarret ajudou as
senhoras a descer, Sra. Lake e George correram para dentro,
deixando Jarret para acompanhar Annabel. Annabel recuou para
colocar um pouco de distância entre ela e sua família e murmurou, —
Obrigado por não revelar os termos reais da nossa aposta.
—Imagino que a sua cunhada não aprovaria?
—Seguramente a deixaríamos chocada.
—Não tanto quanto chocou a mim, garanto— disse ele em voz
baixa. E o intrigou. E o fez querer levá-la para um canto para outro
beijo quente.
Ele franziu a testa - lá ia ele de novo, deixando seu pênis
pensar por ele.
À frente deles, uma mulher correu para cumprimentar a Sra.
Lake. —Que bom ver você de novo, minha querida! Eu entendo que
a sua missão em Londres foi bem sucedida?
Essa tinha que ser a Sra. Cranley. Ela parecia uma típica
esposa de estalajadeiro – corada, de bochechas redondas, e pronta
para fofocas.
—Foi até mesmo melhor do que esperávamos— Sra. Lake
afirmou. —Sua senhoria foi gentil a ponto de oferecer o transporte de
seu irmão para que possamos viajar com conforto para Burton.
—Sua senhoria?— Sra. Cranley lançou-lhe um olhar de
avaliação. —Eu pensei que você fosse pedir ajuda a Sra. Plumtree.
—Infelizmente ela não pôde vir, mas seu neto concordou em
ajudar-nos em seu lugar. Lorde Jarret Sharpe, posso apresentar a
Sra. Cranley? Ela e seu marido são proprietários desta pousada.
Quando a Sra. Cranley escutou o seu nome, uma mudança
palpável veio-lhe ao rosto. Embora fazendo uma reverência rígida e
murmurando uma saudação, seu comportamento mostrou que ela
considerava Jarret um dos asseclas do diabo. Ou, mesmo o próprio
diabo. Aparentemente, sua reputação o precedia.
Assim que ela se endireitou, agarrou o braço da Sra. Lake em
uma mão e Annabel na outra. —Vamos, minhas queridas, temos que
falar.
— Fique com sua senhoria, Geordie — Sra. Lake advertiu o
rapaz.
Maravilhoso. Agora, ele estava reduzido a cuidar de um filhote
como um tutor no Grand Tour. —E não deixe de visitar o toalete,
Geordie — Annabel acrescentou.
—Tia Annabel!— O garoto protestou, seu rosto corando um
vermelho brilhante.
Enquanto ela e sua mãe saíam com a mulher do estalajadeiro,
Geordie voltou-se para Jarret. —Elas sempre falam como se eu
ainda usasse fraldas. É maldito de embaraçoso.
Jarret resistiu ao impulso de ressaltar que o uso de palavras
como maldito não iria ajudar a situação com sua tia e mãe. —
Desculpa George, mas para elas, você sempre estará de fraldas, não
importa quantos anos tenha.
A ideia parecia assustar George. —Será que sua mãe te trata
assim?
—Não.— Um súbito aperto na garganta fez difícil a Jarret
falar. —Ela morreu quando eu era um pouco mais velho do que você.
—Oh, bom, eu esqueci.— George enfiou as mãos nos bolsos.
—Isso é terrível. Eu não gostaria que Mãe e tia Annabel morressem,
mas às vezes eu gostaria que elas me deixem em paz. Como
quando Toby Mawer está por perto.
—Quem é Toby Mawer?
—Meu arqui-inimigo. Ele tem 17 anos e é maior que eu. E
está sempre rondando no campo atrás da nossa casa com seus
amigos, esperando para me atormentar.
—Ah. Eu tinha um arqui-inimigo na escola chamado John
Pratt. Sempre pegando minhas coisas.
—Isso. Ele tentou me tirar o relógio que Pai me deu de Natal,
mas consegui correr mais que ele.— Suas palavras saíam em uma
enxurrada. —Ele sempre me chama Georgie-Porgie. E uma vez,
quando ele viu a Mãe me beijar na bochecha, ele me chamou de
filhinho da mamãe. Por que ela que me beijar quando os rapazes
estão olhando?
—Porque as mulheres têm um timing deplorável para coisas
assim. Eu costumava me encolher quando minha mãe avançava em
mim com meus amigos ao redor. Embora agora que ela se foi...
Ele se conteve antes que fosse revelar que daria seu braço
direito para ter a mãe agarrando nele novamente. Que assistir a Sra.
Lake e Annabel mimar o rapaz despertou um ressentimento ridículo
nele. George não tinha ideia de quão frágil podia ser tal carinho,
como facilmente podia lhe ser arrebatado.
Deus, ele estava se tornando piegas. Era o que ganhava por
deixar entrar pessoas em sua vida. Qualquer começaria a ansiar por
coisas que não devia.
Ele bateu George no ombro. —Chega de falar disso. Por que
não arranjamos uma mesa enquanto as senhoras estão a fofocar?
A pousada não estava cheia a essa hora do dia, por isso levou
pouco tempo para encontrar um lugar. Jarret fez o pedido de acordo
com as sugestões de George do que as senhoras gostariam, então
decidiu fazer bom uso de seu tempo a sós com o rapaz. —Então, há
quanto tempo seu pai está doente?
O rosto de George fechou. — Eu... eu... bem... por algum
tempo. Um longo tempo.
Um longo tempo? Isso não soava como o tipo de doença que
Annabel tinha descrito.
—Então é sério— disse ele, sentindo pena do menino.
— Não... eu quero dizer... sim.— Ele sorriu fracamente. —Eu
não tenho certeza.
Odd. —E ele não vai mais para a cervejaria?
— Ele vai, às vezes — o rapaz contornou —quando ele não
está se sentindo tão mal...
—E quando ele não vai, sua tia vai. Você vai com ela?
—Não.— Sua expressão estava incomodada.
Jarret lembrava bem a dor que sentiu ao ser empurrado para
a escola, em vez de lhe permitirem ser útil para sua família. —Por
que não?
—Porque todo mundo diz que é muito perigoso para mim.
Parecia que várias coisas eram muito perigosas para o pobre
Geordie, de acordo com sua mãe e sua tia. —E você gostaria de
saber como isso pode ser muito perigoso para você, mas não muito
perigoso para uma mulher.
—Eu-eu não disse isso.
Mas seu lábio inferior tremeu, e Jarret sabia que ele o pensou.
Jarret teria se perguntado a mesma coisa no lugar de George.
Meninos de 12 se irritam ao serem informados de que uma mulher
podia fazer as coisas melhor do que eles podem, mesmo quando era
verdade.
—O pai diz que as mulheres não tem lugar em uma cervejaria
— George arriscou.
—Ah.— Não era de admirar que Annabel fosse tão esquiva
sobre o assunto. No entanto, claro ela ia lá de qualquer maneira.
Será que seu irmão permitia isso por ele não ter escolha, dada a sua
doença? Ou Annabel ia por outros motivos?
Mais uma vez, ele teve a sensação de que havia mais ali do
que parecia à primeira vista. —O que você pensa sobre as mulheres
na cervejaria?
George piscou. Claramente ninguém nunca lhe pediu a
opinião. —Não sei bem, desde que não estou autorizado a ir lá eu
mesmo. Tia Annabel parece gostar, e minha mãe diz que ela faz um
bom trabalho.
—E seu pai? O que ele diz sobre sua capacidade?
Sua voz respondeu atrás dele. —Ele diz que eu devia ter um
marido e deixar o assunto cervejaria ao seu gerente.— Annabel
olhou furiosa para ele. —Mas você não precisa interrogar meu
sobrinho para saber disso, não é?
Jarret encontrou seu olhar furioso com uma sobrancelha
levantada. Bem, bem. Havia ali definitivamente mais do que parecia
à primeira vista. Annabel estava a guardar segredos. A questão era,
de que tipo? E como eles poderiam afetá-lo e a este esquema dela?
De uma forma ou de outra, ele iria descobrir.

Capítulo Oito

Annabel já estava irritada por causa de bobagens da Sra.


Cranley, e encontrar Jarret interrogando ao pobre Geordie só fez
piorar. Se Jarret descobrisse a verdadeira razão pelo que Plumtree
Brewery estava falhando, não receberia mais a ajuda dele.
Mas ela não achou que ele tinha descoberto ainda, ou ele
estaria bravo com ela. Nenhuma raiva mostrou-se em seu rosto,
apenas uma certa de desconfiança que ele demonstrava desde o
início.
Bom. Eles agora tinham preocupações mais prementes.
—Tenho más notícias— ela prosseguiu, em tom baixo. —
Aparentemente, um homem presente no nosso jogo de cartas em
Londres passou por aqui esta manhã. Ele disse a Sra. Cranley que
uma certa Miss River de Wharton apostou com o sua senhoria em
uma taverna na noite passada.
Um sorriso fino curvou seus lábios. —Uma 'Miss River'? E sua
amiga, a Sra. Cranley, não fez a conexão?
—Felizmente, não. E ela não é amiga minha. Desde seu
informante fez... certas insinuações desagradáveis sobre a sua
conduta escandalosa em relação a Miss River, a Sra. Cranley está
cheia de preocupação conosco viajando com você. —Sua voz se
tornou amarga. —Ela disse que você é um notório sedutor de
inocentes, e nós devemos dizer para você ir enquanto nós ficamos
aqui a espera da diligência.
Seu rosto ficou rígido, com apenas o brilho de seus olhos
azul-esverdeados a trair sua raiva. Ela sentiu pena dele por um
momento. Devia estar cansado da fofoca.
Mas então, o único que realmente sofria da fofoca era ela, se
alguém ligasse Miss River de Wharton a Miss Lake de Burton. Ela
desejou poder dar a Sra. Cranley uma lição a respeito de ficar de
rumores, mas isso só faria concentrar a atenção da mulher na
direção errada.
Este era o castigo de Annabel por ter aceitado a aposta de
Jarret. Ela devia ter percebido que os homens na taberna iam fazer
suposições sensacionalistas sobre o que um ladino como Jarret teria
lhe pedido em pagamento pela aposta. Os homens sempre esperam
o pior das mulheres, e ela devia já estar acostumada. Especialmente
quando suas suposições não estavam tão longe da verdade.
A porta se abriu atrás de Jarret, e Annabel gemeu. —Sissy
está chegando. Honestamente, eu acho que nós devíamos ir
embora. Eu não sei quanto barulho aquela mulher tola vai fazer se
ficarmos, e você não devia ter de aguentar seus disparates.
Com olhos que não admitiam discussão, Jarret se inclinou
para trás ao cruzar os braços sobre o peito. —Estou acostumado a
fofocas. Além disso, já fiz os pedidos.— Seu sorriso era forçado. —
Deixe-a dizer quiser. Eu não vou me mexer até conseguir meu lombo
assado.
Sissy aproximou-se, parecendo ansiosa. —Não acho que
minha amiga vá dizer nada, meu senhor. Eu disse a ela como você
foi gentil conosco e que falsa a fofoca é.— Ela se sentou em frente a
Jarret ao lado de Geordie. —Sra. Cranley não é boba e sei que
agora tendo explicado a ela tão bem seu caráter, ela entenderá.
De alguma forma, Annabel duvidou.
Nervosa, Sissy desdobrou o guardanapo. —Embora
provavelmente seja bom que ela não descubra a verdadeira
identidade de 'Miss River'. Juro que não posso acreditar nas coisas
terríveis que as pessoas inventam. Seja quem for esse viajante
miserável, ele deveria ser baleado por crer que você e Annabel
estavam apostando algo tão devasso como...
—Sissy!— Annabel cortou, dando um olhar para Geordie.
Sissy corou. —Oh, certo.
—O que significa 'devasso' significa?— Geordie pediu
previsível.
—Não dê importância, Geordie— Sissy disse. —Sente-se,
Annabel. Tenho certeza que a senhora Cranley não será rude.
Com um suspiro, Annabel tomou o assento ao lado de Jarret.
Sissy tinha uma tendência a pensar o melhor das pessoas que não o
merecem.
— Se 'devasso' vem do latim — Geordie refletiu em voz alta,
então tem a ver com pular. O que há para apostar nisso?
—Não lhe diz respeito— disse Annabel. —Você pode buscar a
palavra quando chegar em casa.
—Mas eu quero saber agora!— Protestou. —Isso pode ter
algo a ver com o saltar.
—Significa 'luxúria'— Jarret interviu. Quando Annabel lhe
lançou um olhar de reprovação, acrescentou —O rapaz é velho o
suficiente para saber quando um membro de sua família foi
insultado.
Geordie sentou-se reto. —Sim, tenho. Idade suficiente até
para chamar o homem ao desafio, também.
—Não seja tolo, Geordie— Sissy disse. —Esse viajante está
muito longe agora.
—E seria improvável que concorde em duelar com um menino
de 12 anos de idade, de qualquer maneira— Annabel disse
secamente. Ela levantou as sobrancelhas para Jarret. —Você vê o
que começou?
—Se George está fornecendo às senhoras proteção—
respondeu Jarret, —ele deve começar a pensar como um homem.
Ele não pode fazer isso enquanto tratá-lo como uma criança.
Embora Annabel se eriçasse, Sissy obsequiou Jarret com um
sorriso tenso. —Que gentil de sua parte para tomar tal interesse em
nosso Geordie, meu senhor. Não é, Annabel?
Os olhos de Annabel se estreitaram sobre ele. —Sim. É
mesmo muito gentil da parte dele.
—Dificilmente— comentou. —Apenas lembro muito bem como
era ter 12 anos.
Isso a fez pausar. Como tinha sido Jarret aos 12?
Irresponsável como é agora? Ou mais sóbrio? Ele disse que sua avó
o havia criado a partir da idade dos 13 anos. Teria seu caráter
mudado desde então? Ninguém poderia sobreviver a morte violenta
de seus pais sem ser tocada por ela.
Ou, talvez, sua atração por ele a estava fazendo buscar por
uma profundidade de caráter onde nada existia. Cuidado agora,
senhorita. Há sempre alguma verdade na mais vil fofoca.
Então, um servo se aproximou com a comida. Não havia
nenhum sinal da Sra. Cranley, graças a Deus. Aparentemente, a
mulher tinha se contentado apenas em advertir Annabelle e Sissy
sobre o caráter de Jarret.
O servo pousou primeiro a cerveja. Annabelle a cheirou. Só a
Sra. Cranley mesmo para comprar uma cerveja de qualidade inferior.
Ela tomou um gole e franziu o nariz, muito envolvida em avaliar a
qualidade para perceber quando Sissy disse ao servo para que
retornasse um dos pratos de volta para a cozinha.
—A patroa insistiu para que eu desse a sua senhoria — o
servo respondeu e tentou fugir por ela para colocá-lo ante Jarret.
Sissy retirou-o do serviçal antes que o menino pudesse reagir.
—Ele pode ter o outro.— Quando o servo protestou novamente,
Sissy começou a comer. Com um encolher de ombros, o servo serviu
Geordie.
—É tudo a mesma comida, Mãe. — Geordie disse. —Eu disse
ao Lorde Jarret que gostas de um bom lombo de porco.
—De fato gosto. — disse ela enquanto dava outra grande
mordida. Então fez uma careta.
Com isso, os olhos Jarret se estreitaram. Adiantando-se,
pegou o prato dela e olhou-o fixamente. —Você não pode comer
isso.
Foi quando Annabelle olhou mais de perto. A cor da carne e o
cheiro rançoso revirou seu estômago. Ela olhou para os outros
pratos, mas o resto parecia bom.
—Essa bruxa fofoqueira da Sra. Cranley deu-lhe carne
estragada, Sissy!— Annabel exclamou. —Como se atreve? Vou dar-
lhe um belo sermão!
Annabel começou a se levantar, mas Jarret puxou-a. —Ela
não tinha a intenção de servir para a Sra. Lake. Ela quis servir a
mim.
—Eu... eu estou certa de que foi apenas um engano. — Sissy
disse fracamente.
—O único engano foi meu deixando-nos ficar aqui.— Jarret
levantou-se para despejar o conteúdo do prato em um balde de
despejos nas proximidades. Em seguida, ele caminhou até Sissy e
estendeu seu braço. —Vem, vamos embora. Vamos parar para
comer em uma pousada na próxima cidade.
Felizmente, ela deixou-se levar da mesa sem protesto.
—Quanto você comeu?— Annabel perguntou a Sissy
enquanto se dirigiam para a porta.
—Não muito— Sissy disse.
—O bastante— respondeu Jarret. —Sinto muito, Sra. Lake.
Eu não tinha percebido o que estavam fazendo.— Ele olhou
sombriamente para frente. —Ou o quanto sua amiga estava
desesperada para arrastá-la de minhas garras.
—Estou certa de que ela não tinha a intenção de...
—Não se atreva a pedir desculpas por ela de novo— disse
Annabel com veemência. —Nós não te culpamos, Sissy. É a sua dita
amiga que merece um tiro.
Quando chegaram à entrada para encontrar a Sra. Cranley
que ali dirigia um olhar malévolo a Jarret, ele endureceu. Soltando o
braço de Sissy, disse a Annabel, em voz baixa: —Você três sigam
para o coche. Eu estarei lá em breve.
—Como foi a sua refeição, meu senhor?— A mulher teve a
audácia de perguntar enquanto Annabel puxava Sissy e Geordie
para a porta.
—Da próxima vez que você tentar envenenar alguém, minha
senhora — Annabel ouviu-o dizer atrás dela—verifique se o seu
servo tem claro suas instruções. Antes que eu pudesse impedi-la, a
Sra. Lake consumiu vários bocados da carne de porco que você
queria servir a mim.
Annabel olhou para trás a tempo de ver a lividez da mulher.
A expressão irada de Jarret aqueceu seu coração. —Então,
eu espero que você aprecie os resultados de seu plano tolo para
‘salvar’ sua amiga de minha influência perversa. Porque se ela
morrer, eu vou ter você processada por tentativa de homicídio. Fui
claro?
— Meu senhor, eu não... isso é...
Annabel apressou Sissy a entrar no transporte. Embora Sissy
parecesse bem agora, Annabel ainda estava preocupada. Era típico
de Sissy tentar encobrir o comportamento de uma amiga, tomando
as consequências para si. Isto simplesmente não estava certo.
Annabel não tinha gostado da Sra. Cranley antes, e agora ela
positivamente a odiava. Quem faria uma coisa tão tola? E tudo por
causa de uma fofoca! A mulher era idiota, se ao menos Sissy
pudesse enxergar isso.
Jarret tinha visto, e ele levou na esportiva, como se realmente
estivesse acostumado a ser fofoca. Provavelmente o era. Se
Annabel tinha ouvido as histórias mesmo em Burton, então todos os
tinham ouvido.
Mas este conto em particular existido por culpa dela. O
pensamento a atormentava, mesmo depois dele se juntar a eles e
seguirem para a próxima cidade. Embora Sissy recebesse uma
refeição saudável quando pararam, Annabel não conseguia parar de
se sentir culpada. Nada disso teria acontecido se não tivesse
aceitado aquela amaldiçoada aposta.
Mas também, sem a aposta ela não teria convencido Jarret a
vir para Burton. Ela só queria ter considerado o que poderia ocorrer
se as pessoas percebem que tipo de aposta fora.
Quando eles pararam perto do anoitecer em uma pousada
próxima a Daventry que Jarret disse ter sido-lhe recomendada, ela
viu que ele arranjou dois quartos, um para si e outro para Sissy,
Geordie, e ela. Era estranho ter um homem cuidando dela e sua
família. Hugh tinha praticamente abdicado de sua responsabilidade,
e Rupert nunca tinha tido a chance de tê-la.
Ultimamente sempre tinha sido ela a única a assumir a
responsabilidade de organizar as coisas. Como era maravilhoso
deixar cair a responsabilidade sobre os ombros de outra pessoa
novamente. E considerando que ela o obrigou a fazer isso, que ele
não queria nem estar ali...
Um nó prendeu em sua garganta enquanto os quatro
chegavam a seu andar e Jarret dirigiu-se para o seu quarto.
—Sissy, por que você e Geordie não vão na frente? Eu
preciso falar com a sua senhoria um momento.
Embora Sissy lançasse-lhe um olhar interrogativo, ela tomou
Geordie ao corredor.
Annabel partiu na direção oposta. —Jarret!— Ela gritou
quando ele abriu a porta de seu próprio quarto.
Ele parou na porta. —O que foi?
—Eu quero pedir desculpas.
Ele parecia confuso. —Por quê?
—Primeiro de tudo, por fazer-lhe objeto de fofocas mais uma
vez. Honestamente, eu não achava que ninguém fora de Londres
jamais soubesse do nosso jogo de cartas. Eu certamente nunca
pensei no que as pessoas diriam que você e eu... que você...
Ela disfarçou quando duas pessoas passaram pelo corredor,
disparando-lhes olhares curiosos. Assim que o casal desapareceu,
ela puxou Jarret para dentro do quarto e puxou a porta, fechando-a
parcialmente para que eles pudessem ter alguma privacidade.
—Eu nunca deveria ter concordado com seus termos para a
aposta— ela disse sem rodeios.
O sorriso dele expôs suas covinhas. —Eu nunca deveria tê-los
exposto. O que está feito está feito. Não faz sentido lamentar agora.
—Mas a culpa é minha que a Sra. Cranley...
—Não seja absurda. Você não é mais responsável do que a
sua cunhada. Sra. Cranley tinha um machado para moer, e ela usou
a fofoca como uma desculpa para moer em mim. Eu só gostaria que
ela não tivesse envolvido sua família nisso. E eu peço a Deus, que a
Sra. Lake não sofra nenhum efeito adverso das irrefletidas ações
dessa mulher.
—Eu também. Eu tremo só de pensar no que poderia ter
acontecido se você não tivesse notado a carne estragada e intervido.
Por isso, eu devo-lhe fervorosos agradecimentos.
Quando ela foi para a porta, ele adiantou-se, —Você não está
esquecendo-se de algo?— Ela se virou. —Eu imploro seu perdão?
Um sorriso malicioso curvou seus lábios quando ele se
aproximou dela. —Há outras coisas que você deve me agradecer.
—Como o quê?
—Eu ter entretido seu sobrinho, enquanto as duas estavam a
fofocar sobre mim.—
Bom ponto. —Obrigado por isso, também, meu senhor—
disse ela com exatidão.
Com os olhos brilhando, ele aproximou-se ainda mais. —
Depois, há o fato de que eu estou levando-os a Burton no conforto
do coche de meu irmão.
Seu pulso acelerou. —O único que merece este
agradecimento é seu irmão.
—Ah, mas eu tornou possível para você usá-lo.— Ele agarrou-
a pela cintura. —E eu consigo pensar de uma forma excelente de
você mostrar sua gratidão.
—Escrever um soneto em honra a sua generosidade— ela
disse docemente, seu coração acelerado e os joelhos vacilando
definitivamente.
Com uma risada, ele inclinou a cabeça para roçar sua orelha
com os lábios. —Tente outra vez— disse ele com uma voz rouca que
a fez estremecer deliciosamente.
Sua respiração parecia presa em algum lugar em sua
garganta. —Fazendo para você uma cerveja muito especial?
—Eu tinha algo mais... pessoal... em mente.
Então, ele cobriu-lhe a boca com a sua.

Capítulo Nove
Jarret estava cansado de ser tratado com a fria polidez que
alguém mostrava a um parceiro de negócios qualquer. Naquele dia
toda a animação dela tinha sido para seus planos da cervejaria.
Todas as suas palavras suaves e sorrisos tinham sido para o
sobrinho e a cunhada.
Ela agia como se a noite passada no salão nunca tivesse
acontecido, e isso o irritou. Ele queimava por lembrá-la que ela tinha
sido nada profissional com ele na noite passada. Que, quando ele a
beijou, ela se derreteu. Como ela estava derretendo agora. Ele
exultou quando ela se arqueou contra ele, agarrou seu casaco, e
deixou-o mergulhar em sua boca sedosa com a língua. Gemendo
baixo em sua garganta, ele arrastou todo seu esplendor contra ele. O
aroma quente e doce dela o intoxicava. Era diferente de qualquer
outra mulher, não era um perfume enjoativo, mas flores ou apenas
algo suculento e delicioso. Laranjas e mel ... algo em que um homem
podia cravar os dentes.
Ele queria afundar seus dentes dentro dela. Movendo a boca
ao longo de sua mandíbula, ele mergulhou no perfume inebriante
que era Annabel. Ele procurou a pele macia de seu pescoço, então o
tentador lóbulo de sua orelha. Quando ele mordeu de leve, ela deu
um suspiro a plenos pulmões, e suas mãos apertaram a lapela do
seu casaco.
—Certamente eu já dei graças o suficiente por toda sua...
ajuda, meu senhor ...— ela sussurrou.
—Então é a minha vez de lhe agradecer por sua ajuda.—
Seus beijos abriram uma trilha pelo seu pescoço. —Eu não fiz nada
para merecer tal agradecimento extravagante.
—Você está me beijando.— E fazendo seu sangue ferver e
seu corpo enrijecer.
—Dar beijos... em agradecimento por beijos...— Ela respirava
pesadamente contra sua bochecha. —Isso pode ser perigoso. Onde
é que isso acaba, afinal?
Ele sabia onde ele gostaria que acabasse. Com ela em sua
cama, suas coxas pálidas se separando para deixá-lo entrar, seu
corpo pressionando-se contra o seu para encontrar o prazer. Seu
prazer mútuo.
Ele se decidiu por encher uma mão com seu seio.
Ela congelou. —Aí não é onde isso deve acabar— disse ela,
agarrando a mão para movê-lo de lado.
Com um grunhido, ele tomou sua boca novamente, desta vez
mais rudemente, sentindo que apesar de suas palavras, era ousadia
que ela queria, não hesitação ou ternura. Ele devia ter adivinhado
corretamente, pois a mão dela suavizou, em seguida, moldou-se ao
seu junto ao seio.
Por Deus, ela estava tão ansiosa quanto ele, o que aumentou
sua febre. Ela podia ser fria com ele em torno de sua família, mas ali
sozinha, ela estava quente e disposta, levando-o à loucura.
Ele massageou o seio até a sua doce pedrinha do mamilo se
ergueu contra a palma da sua mão, palpável em sua excitação,
mesmo através de suas camadas de roupas. Seus baixos gemidos
provocaram-lhe uma sensação dolorosa, até que ele se viu
pressionando-a contra a parede do lado da porta semi-fechada,
cobrindo seu corpo com o seu, empurrando entre suas pernas.
—Tia Annabel? Lorde Jarret? Vocês estão aí?— Veio uma voz
do outro lado da porta, a centímetros de distância deles.
Ele mal teve tempo para libertá-la e afastar-se antes que
George entrasse pela porta e os visse.
Annabel ficou vermelha, seu olhar acusador pulando para
Jarret.
Droga, droga, droga. O mais discretamente possível, ele tirou
o chapéu para esconder sua evidente ereção.
—O que está acontecendo aqui?— George perguntou
abruptamente.
Com um sorriso forçado, Annabel disse: —Sua senhoria e eu
estávamos discutindo... sua mãe.— Os lábios de George estavam
pressionados em uma linha. —A mãe está doente. Você tem que vir.
—É claro.— Annabel tocou uma mão em seu cabelo
irremediavelmente despenteado, então empurrando Jarret passou ao
redor da porta. Ela parou no corredor para olhar para trás, a seu
sobrinho. —Você vem, Geordie?
Os olhos escuros do rapaz de nunca deixaram Jarret. —Eu
estarei lá em um momento.
Jarret sufocou uma maldição. Ele estava agora a ser
censurado por uma criança? Não era malditamente possível. Não era
da conta do rapaz o que ele e Annabel faziam em privado.
George fechou a porta e olhou para ele. —Eu gostaria de
saber, meu senhor, quais são suas intenções para com a minha tia.
Suas intenções? Bem, isso certamente colocou um freio sobre
sua excitação.
Ele jogou seu chapéu sobre uma cadeira. —Eu não sei o que
você acha que viu, rapaz, mas...
—Eu consigo ver quando um homem acaba de beijar uma
mulher— disse George veemência.
Se o menino não parecesse tão sério, Jarret teria rido
abertamente. —Oh, você consegue, mesmo?— Ele nivelou George
com um olhar cético. —Você tem uma grande experiência no
assunto, suponho.
Embora George corasse, ele se manteve firme. —Não é
preciso experiência não sou cego. E você tem uma certa reputação
com mulheres.
—Também já ouvi.— Ele olhou o rapaz do alto. —Mas a
reputação de sua tia é irrepreensível. Certamente você não acha que
ela permitiria.
—Permitir? Não. Isso não significa que você não poderia ter...
bem...
— Você está me acusando de forçar atenções a sua tia?
George enrijeceu. —Eu sei o que vi.
—Você não sabe droga de coisa nenhuma, menino — Jarret
devolveu. —O que ocorreu entre eu e sua tia é negócio nosso, e
você não tem direito a nenhuma palavra a respeito.
—Você é quem disse que eu devia começar a pensar como
homem.— O rapaz endireitou os ombros. —Então é isso que eu
estou fazendo. Se o pai estivesse aqui, ele faria a mesma coisa. E se
suas intenções não são honestas
—E se elas forem?— Jarret estalou. Por que diabos que ele
disse isso?
George olhou para ele, uma luz de esperança em seus olhos.
—Bem, então, seria diferente.— Quando não respondeu Jarret,
George olhou-o com cautela. —Então você está dizendo que suas
intenções são honrosas?
Jarret fez uma careta, sentindo-se encurralado. Por que ele
tinha de se defender diante a um deslambido filhote, pelo amor de
Deus? Ele fazia o que queria, maldição, como sempre fazia, e usaria
a sugestão do filhote chato para sua própria vantagem.
—Sua tia e eu temos algumas coisas para acertar, então eu
agradeceria se você puder manter minhas intenções em segredo,
George.
Ele não poderia aceitar que o menino fosse correndo a
Annabel e dizer-lhe que Jarret estava a cortejá-la, por amor de Deus.
O menino assentiu.
—Bom. — Jarret apontou para a porta. —Agora é melhor
irmos ver sua mãe.
—Sim, senhor.— Como eles começaram a chegar à porta,
George olhou para Jarret. —Você sabe, se você casar com a minha
tia, você vai ser meu tio.
Ele abafou um gemido. —Sim, creio que vou.
Deus o ajude, que provavelmente exista um inferno especial
reservado para um homem que deliberadamente mente para um
menino de doze anos de idade. E que cobiça a tia virginal do menino.
E não tinha intenção de parar de mentir ou de cobiçar.
Enquanto caminhavam para o quarto dos Lake — ouviu sons
de vômito violento. George apressou seus passos, o rosto lívido.
Quando o rapaz abriu a porta, Annabel correu ao encontro deles. Ela
fechou a porta atrás dela, mas não antes de Jarret vislumbrar a Sra.
Lake debruçada sobre um penico.
Uma onda de raiva o fez cerrar os dentes. Se ele tornasse a
ver aquela maldita cadela fofoqueira da Sra. Cranley novamente, ela
teria um inferno a pagar.
—Como ela está?— Ele perguntou a Annabel.
—Temo que não muito bem.
—Há algo que possamos fazer?— Jarret perguntou.
—Se você pudesse fazer ao estalajadeiro que busque um
médico.
—Feito. — disse Jarret.
O medo se espalhou sobre as bochechas pálidas de George.
—Eu quero vê-la.
—Não agora, Geordie.— Annabel bagunçou o cabelo do
rapaz com uma ternura que fez apertar a garganta de Jarret. —Ela
quer ficar sozinha comigo agora. Vai ficar bem, uma vez que a carne
ruim sair dela.
Mas Jarret podia dizer pelo seu tom de voz que ela não estava
totalmente convencida.
—Digo a você, rapaz— disse ele —por que não vamos achar
um médico para sua mãe e em seguida jantar?— Ele olhou para
Annabel. —Você quer alguma coisa?
Ela balançou a cabeça. —Eu não conseguiria comer agora.
Você dois vão.
O estalajadeiro imediatamente mandou chamar um médico,
então insistiu em oferecer-lhes o jantar de graça. Eles comeram em
silêncio.
Quando o servo trouxe uma torta de groselha, George ferrou a
cara, parecendo que poderia chorar. —Mãe adora torta de groselha.
—Então vamos nos certificar de conseguir-lhe um pedaço
assim como ela se sentir melhor.
George ergueu o olhar para Jarret. —Não há nada que
possamos fazer?— Sua expressão tornou-se feroz. —Nós
poderíamos voltar e fazer o policial punir a Sra. Cranley.
Jarret certamente compreendia o impulso. —E o que
aconteceria se sua mãe precisar de nós enquanto estamos fora? E
se a sua tia tiver que enviar-nos a buscar o seu pai? Temos de ficar
aqui no caso de sermos necessários.
—Eu suponho.— Ele olhou abatido em seu prato. —Tia
Annabel não vai chamar papai, no entanto. E ele não viria, mesmo
que ela o fizesse.
—Por que não? Ele está muito doente para viajar? —Jarret
perguntou.
George lançou-lhe um olhar feroz. —Eu não quero falar sobre
ele, que exploda! Já é ruim o suficiente que mamãe esteja doente, e
ela poderia m-morrer, mas o Pai ...
O menino começou a chorar, alarmando Jarret. —Olhe aqui,
ela não vai morrer.— Não sabendo mais o que fazer, ele colocou o
braço sobre os ombros ossudos de George e apertou. —Ela vai ficar
bem. Ela só precisa de descanso, e então ela vai estar nova em
folha.
Tudo que George parecia ser capaz de fazer era acenar com
a cabeça. Jarret conseguia entender o pânico de George em relação
à sua mãe, mas sua reação à menção da doença de seu pai parecia
descabida, dada a declaração de Annabel de que não existia risco de
vida.
Jarret ficou tenso. E se esse fosse o segredo que Annabel
estava escondendo? Se seu irmão estivesse morrendo, isso
explicaria a incapacidade do homem de enviar uma carta de
apresentação com ela e por que todos eles ficavam tão inquietos
sempre que seu nome era citado.
Mas por que manter esse silêncio? Talvez porque ela temesse
que Jarret fosse se recusar a uma aliança com uma cervejaria que
estava prestes a ser vendida? Ou preocupada que ele pudesse
tentar comprar o lugar a um preço baixo se ele descobrisse o quão
ruim Lake Ale estava?
Ele bufou. Ela não tinha nada a temer quanto a isso. Plumtree
Brewery não tinha liquidez agora para comprar outra cervejaria.
Mas ele também não poderia envolver-se no esquema de
Annabel se o proprietário legal não tiver condições de conduzir o
projeto. Isso seria um pesadelo contratual.
Ele olhou para George, agora furtivamente esfregando o
restante de suas lágrimas, e se perguntou se ele devia pressionar
ainda mais o menino.
—Por que não jogamos cartas, rapaz? Vai passar o tempo até
sua tia ou o médico poder dar-nos um relatório.
—Uh, está bem. E talvez você possa me contar sobre o seu
irmão? Você sabe, aquele que corre com cavalos?
—Absolutamente— disse Jarret.
George lançou-lhe um sorriso largo, e Jarret foi levado de
volta para as horríveis semanas que seguiram a morte dos pais,
quando ele tinha encontrado sustento na bondade, mesmo que
mínima, de estranhos.
Dane-se tudo para o inferno. Ele não podia atormentar o rapaz
ainda mais, seria cruel no momento. George estava para estar em
pânico, com medo de ver ambos os pais perecerem, deixando-o
sozinho no mundo. Jarret teria de enfrentar Annabel sobre isso
quando o resto desta bagunça se resolver.
Cinco horas mais tarde, quando ela desceu procurando por
eles, ela teve o prazer de encontrá-lo divertindo George. Ela deu um
leve sorriso, enquanto observava-os jogar Pope Joan, mas sua
aparência alarmou-o. Mechas de cabelo estavam espalhadas por
suas bochechas pálidas, e seus olhos estavam entorpecidos de
preocupação.
—Tia Annabel!— Geordie gritou, saltando da mesa. —Como
está a Mãe?
—Ela está dormindo agora. — disse ela, lançando um olhar
velado a Jarret.
Isso não era resposta, e ambos sabiam disso. Ele se levantou
e estendeu uma cadeira para ela. —Venha, sente-se. Você está
horrível.
Ele estremeceu no minuto que as palavras saíram de seus
lábios. Era uma demonstração do quão frustrante era a situação para
fazê-lo dizer algo tão rude.
Ela arqueou uma sobrancelha. —Que adulador. Você vai me
fazer desmaiar.
—Desculpe, — disse ele. —Eu não quis dizer do modo como
soou. Mas você precisa comer. Sente-se, e vou pedir alguma coisa.
—Ainda não. Sissy ainda está febril. Talvez mais tarde,
quando tiver certeza que ela vai ficar bem.
—Não, agora— ele disse com firmeza e pressionou-a para a
cadeira. —Você não vai ajudar sua cunhada se você também cair
doente.
Ela relutantemente concordou, mas, quando o servo trouxe-
lhe pombo e ervilhas, ela só brincou com eles. —Na verdade, eu
desci para pedir um favor a você, meu senhor.
Ele queria que ela parasse com o meu senhor, um disparate.
Sua mão estava sustentando seus seios apenas algumas horas
atrás. —Tudo o que você precisar.
—Estaria bem se Geordie dormir em seu quarto esta noite?
Ele hesitou meio segundo, mas seria um bastardo se
recusasse. —É claro.— Jarret forçou um sorriso.
—Mas tia Annabel, eu quero dormir com você e Mãe!— O
rapaz protestou.
—Você vai descansar melhor se dormir no quarto de sua
senhoria. — disse ela, cansada. —E também ela.— Isso
provavelmente era verdade. Jarret não iria descansar muito bem,
sem dúvida, mas ele não devia reclamar, sob as circunstâncias.
—Vamos, rapaz, seja homem. Homens não dormem com suas
mães, não é?
George engoliu, depois estreitou os ombros. —Não, creio que
não.
—Não se preocupe conosco. — disse Jarret a Annabel. —Nós
podemos nos entreter. Vamos drenar um par de jarras de cerveja,
apostar no vinte-e-um com os rapazes daqui, e cair em cima de uma
ou duas empregadas da chouperia.
Uma risada explodiu de Annabel. —Eu suponho que você
acha que é engraçado. — disse ela, tentando recuperar sua cara
séria.
—Tirei uma risada de você, não é?— Ele demorou.
—Só porque eu estou tão cansada que qualquer coisa me
faria rir. — ela admitiu. Mas olhava com carinho para ele, o que fez
algo inquietante em seu interior.
—Tente dormir um pouco. — disse ele em voz baixa, tentando
não pensar como ela ficaria deliciosa em uma camisola transparente
e pés descalços. —Nós vamos ficar bem, eu juro.
—Obrigada por cuidar dele.— Annabel levantou-se. —É
melhor eu ir para cima. O médico me deu um elixir para administrar a
cada duas horas.
Ela dirigiu-se para as escadas, então virou-se para lançar-lhe
um olhar de desculpas. —Oh, e eu devia avisá-lo. Geordie chuta.
—Então eu vou chutá-lo de volta. — respondeu Jarret. Com o
grito horrorizado de Geordie, ele riu. —Estou brincando, rapaz. Eu
me viro.
Ainda assim, parecia que seria uma maldita de uma longa
noite.
Capítulo Dez

Annabel passou as próximas vinte e quatro horas em um


borrão, esvaziando penicos e passando a esponja na cabeça febril
de Sissy. No final do seu segundo dia na pousada, Annabel cochilava
na cadeira ao lado da cama. Algumas horas mais tarde, ela foi
subitamente acordada pelo som de uma janela sendo aberta. Sissy
tinha deixado a cama.
—O que você está fazendo?— Ela gritou enquanto se
levantava para ir para ao lado da cunhada. —Está um forno aqui. —
Sissy disse. —Nós precisamos de ar.
Annabel tocou a cabeça de Sissy, e o alívio a inundou. —Sua
febre cedeu. Você não tem mais calafrios!
—Estou coberta de suor, porém.— Sissy voltou para a cama e
puxou as cobertas até o queixo, em seguida, tapeou o local ao lado
dela. —Vamos lá, você precisa dormir, também.— De repente,
disparou. —Está Geordie ainda no quarto de sua senhoria?
—Sim. Pobre homem. A última vez que o vi, ele parecia
decididamente tenso.
No entanto, ele mais uma vez a fez sentar e comer. Sempre
que ela tinha ido para baixo para denunciar a condição de Sissy, ele
tinha sido totalmente solícito. Ele ainda garantiu que os servos
trouxessem chá e comida para ela na hora das refeições.
—Você não está preocupada que Geordie vá deixar escapar
alguma coisa sobre Hugh que possa alertar a sua senhoria para o
que realmente está acontecendo?— Sissy perguntou.
Com um suspiro, Annabel subiu na cama. —É claro, mas não
tive escolha. Eles passaram horas juntos agora. Se Geordie ia dizer
alguma coisa, com certeza ele teria feito isso. — Ela deitou-se a
olhar para o teto. —E talvez Jarret esteja certo. Talvez Geordie
realmente esteja ficando velho o suficiente para ser confiável com
algumas questões.
—Jarret?— Sissy disse significativamente.
Um rubor aqueceu as bochechas de Annabel. — Nós... antes,
ele sugeriu que nós... não precisamos ser tão formais um com o
outro. De acordo com as circunstâncias.
—É mesmo?— fez Sissy, divertida.
—Isso não significa nada.— Sissy soprou, e Annabel
acrescentou: —Sério, você não devia ter ideias sobre ele e eu.
—Por que não? Faz tempo que se casou.
—Você soa como Hugh. — ela repreendeu. —Você sabe por
que eu não quero me casar.
—Sei, mas o homem certo não se importaria que você tenha
um filho. Se para tê-la significa levar em conta Geordie, ele vai fazer
isso.
—Será que você não sentiria falta dele?— Annabel perguntou.
—É claro que eu sentiria falta dele. Mas você é muito mais
uma mãe para ele do que eu sou. E ele poderia vir nos visitar sempre
que ele quiser. Em minha mente, ele sempre foi seu.
—Mas, na mente dele, ele sempre foi seu. — Annabel
suspirou. —A questão é discutível, de qualquer maneira. Eu ainda
não encontrei este homem certo.— Sua senhoria certamente não é
ele. O filho de um marquês do nada toma uma cervejeira? Além
disso, ele não é o tipo que casa.
Ele é o tipo que seduz. E uma parte de si, devassa, queria
saber se ele era tão bom nisso, como era em beijar.
Desde que ele acariciou-lhe os seios, a agitação causou
estragos em seu autocontrole. Tudo o que podia pensar era que
glorioso seria ter todos os seis pés de macho, excitado, urgente
dentro dela, acariciando-a, desejando-a. Da mesma maneira que ela
queria. Ela sofrera de desejo de tê-lo tomando-a ali mesmo contra a
parede
Ela gemeu. Aquilo era loucura! Como ele podia fazê-la sentir
essas coisas, quando ninguém além de Rupert tinha feito isso? E ela
sentiu muita falta. Ela não tinha percebido até este momento o
quanto ela tinha ansiado ser tocada intimamente por um homem.
Deus, ela se encolheu ao pensar o quão perto eles estiveram
de ser pegos. Geordie tinha suspeitas do que eles estavam fazendo?
Ela adoraria saber a respeito do que eles conversaram depois. Ainda
não tivera um momento para perguntar a Jarret, mas queria fazê-lo
logo que pudesse.
Nenhuma dúvida disso, o homem era perigoso. Sua natureza
clamava pela sua própria selvageria que desejava escape.
Mas ela simplesmente não podia ceder a tais impulsos.
Estava bem para um homem, que podia tomar o que queira, abotoar
as calças, e estava feito. A mulher tinha mais a temer de tal
encontro, como Annabel sabia muito bem.
—Por que você está tão certa que sua senhoria não é o tipo
que casa?— Sissy perguntou.
Porque ele apostou comigo por uma noite em sua cama.
Porque cada vez que ele olha para mim, eu sinto o calor na minha
pele. Porque ele me faz sentir coisas que nenhum homem
respeitável deveria me fazer sentir.
—Sua avó deu a ele e seus irmãos um ultimato: casar ou ser
cortado de sua herança. Mas de acordo com o seu irmão, ela
concordou em isentar-lhe se ele administrar Plumtree Brewery por
um ano. Como aceitou o negócio, suspeito que ele tenha forte
aversão ao matrimônio.
Sissy revirou os olhos. —Todos os homens têm uma forte
aversão ao matrimônio.
—Não Rupert.— Embora, honestamente, ela não tinha
certeza disso. —Rupert era um menino, não um homem. — Sissy
disse gentilmente. —Os meninos são impetuoso.
Verdade. Por que mais tinha Rupert corrido a lutar na guerra,
deixando-a para cuidar de si mesma?
Jarret certamente não era impetuoso. Exceto quando ele
estava segurando-a contra uma parede para beijar e acariciá-la ...
Que se exploda, por que não podia parar de pensar nisso? —
Qualquer que seja a razão, Jarret definitivamente não está
interessado em casamento.
—Você pode não ter notado, mas os solteiros geralmente não
concordam em cuidar de crianças. No entanto, aqui está ele,
cuidando de Geordie para ajudá-la.
—E você.
Sissy riu. —Não sou eu que ele segue com os olhos. Não sou
eu quem fica carrancudo quando o seu grande amor por Rupert é
mencionado. Não sou eu com quem ele flerta.
—Você está louca. — disse Annabel, seu coração acelerado.
Se apenas Sissy soubesse. —Ele é um trapaceiro, e flerta com
qualquer coisa em saias. Além disso, ele provavelmente pensa que
cuidar Geordie vai nos por de volta na estrada mais rápido. Ele quer
terminar com o cumprimento dos termos da nossa aposta.— Ela
deve dizer-se isso até ela mesma acreditar.
—Como você disser. — As pálpebras de Sissy caíram. —Mas
eu digo que você tem uma chance e deve aproveita-la enquanto
pode. Você não está ficando mais jovem, sabe.
—Obrigada por me lembrar.
—Alguém deve. — Sissy disse sonolenta, e sucumbiu ao
sono.
Annabel devia também, já que não havia como saber o que o
amanhã traria. Mas as lembranças dos beijos de Jarret faziam isso
difícil. Realmente, era ridículo. Ela estava agindo como uma menina
tola, cheia de sonhos românticos inúteis. Nada de bom podia vir
disso. Somente tolas colocam suas esperanças em malandros como
ele.
Esse foi seu último pensamento antes dela também sucumbir
ao sono.
Na manhã seguinte, o médico informou-a e a Jarret que Sissy
estava de fato se recuperando, mas precisava de pelo menos mais
um dia para se recuperar antes de começar a sacudir-se em um
coche de novo.
Embora Jarret devesse sentir aborrecimento pela demora, foi
Geordie quem recebeu a notícia como uma desgraça. Após deixarem
Sissy para dirigirem-se para o café da manhã, Geordie marchou a
frente para as escadas. —Eu não acredito que nós temos que passar
mais um dia aqui! Vou morrer de tédio!
—Ninguém morre de tédio, Geordie— Annabel disse cansada.
—Nós vamos jogar cartas, rapaz. — disse Jarret.
Enfiando as mãos nos bolsos, Geordie seguiu ao térreo. —
Estou cansado disso.
—Geordie— Annabel disse rispidamente, —não seja rude. Foi
muito legal da sua senhoria se oferecer. Nenhum de nós gosta desta
situação, mas temos que nos ajustar.
—Desculpe,— Geordie murmurou sem convencer. —Não
podemos ir para um passeio? Ir ao ar livre um pouco?
Naquele momento, o estalajadeiro encontrou com eles no
fundo das escadas. —Espero que vossa senhoria tenha estado
confortável nestes últimos dois dias.
—Perfeitamente, senhor. — disse Jarret. —Diga-me, há algum
tipo de espetáculo a ser assistido por aqui que vá agradar a um
jovem cavalheiro? Corridas, tiroteio? Qualquer chance de uma visão
de sangue e caos?
O estalajadeiro riu. —Bem, hoje é dia de mercado. No
mercado de animais, estão abatendo vacas e porcos.
Quando Annabel fez uma cara, Jarret riu. —Acho que eles
têm outras atrações em partes do mercado?
—Sim, meu senhor, as barracas vendem todos os tipos de
mercadorias. E há um homem que traz um jacaré de vez em quando
para mostrar.
Geordie teve sua curiosidade claramente despertada. —O que
é um jacaré?
—É uma criatura exótica que vive em partes da América,
parece com um lagarto grande e escamoso.— Jarret baixou a voz
misteriosamente. —Eles são muito perigosos. Eu não sei se
devemos arriscar.
—Ah, mas nós temos que! Tia Annabel, podemos ir ver o
jacaré? Por favor?
—Por que não?— Agora que Jarret tinha despertado as
esperanças do menino, era melhor que veja uma dessas criaturas
jacaré no mercado, ou eles nunca deixariam de ouvir a respeito.
Assim que eles terminaram o café da manhã, se dirigiram para
High Street. O mercado semanal tinha barracas de todo tipo,
fabricantes de renda com seus produtos intrincados, fabricantes de
chicotes e fornecedores de couro fino, um avicultor, um agricultor
com leitões de gordos para vender.
Geordie teve que parar em cada estande. Ele nunca deixou a
ela e Jarret sozinhos, o que a fez pensar. Ele certamente estava
sendo um acompanhante bastante diligente.
Enquanto isso, Jarret estava subjugado. Ela notou seu olhar
afiado, avaliativo, sobre ela várias vezes. Preocupava muito. O que
exatamente tinham os dois estado a discutir naquela noite?
Levaram algum tempo para encontrar o homem com o jacaré
e Annabel descobriu que a descrição de Jarret estava acurada.
Parecia um dragão, a criatura tinha mais de oito metros de
comprimento e mostrava um conjunto desagradável de dentes
afiados, embora seu focinho estivesse amarrado com uma corda.
O soldado com uma perna de madeira, que estava levando a
criatura por uma corrente, disse-lhes que tinha adquirido o animal de
estimação incomum quando ele estava lutando na batalha de Nova
Orleans. —Estava apenas uma coisinha pequena, então. — ele
disse. —Perdeu sua mãe a tiros de canhão, então eu o levei para
casa comigo. E comigo está há dez anos.
Ele se inclinou para dar um sorriso cheio de dentes a Geordie.
—Você gostaria de acariciá-lo, rapaz? Custa-lhe apenas um xelim.
—Te pago um xelim para mantê-lo longe dele— disse
Annabel.
—Ele não pode feri-lo, senhorita— disse o soldado. —Eu o
alimentei antes de virmos para o mercado, para que ele não busque
o que comer, e de qualquer maneira, sua boca está bem amarrada.
—Oh, por favor, posso acariciá-lo, tia Annabel?— Geordie
implorou. —Por favor?
—Que tal se eu acariciá-lo primeiro?— Jarret disse, ele
entregou ao homem um xelim. —Então sua tia pode decidir se ela
quer que corra o risco.
Jarret inclinou-se para passar a mão sobre a cabeça da
criatura. Quando a única resposta que obteve do jacaré foi um piscar
de olhos, Geordie voltou para ela. —Posso acariciá-lo? Posso,
posso?
—Eu acho que sim.— A coisa parecia inofensiva, amarrada
como estava.
Imediatamente, eles atraíram uma multidão de pessoas
ansiosas para assistir. Geordie aproveitou o mais que pôde,
mostrando que corajoso era, ao acariciar a cabeça do animal com
cuidado, em seguida, repetindo com mais ousadia depois de Jarret
deixar outro xelim na mão do dono.
Annabel ficou tensa. Apenas três dias juntos, e Geordie e
Jarret tinham se tornado grandes amigos íntimos. Ruim o bastante
que o pai de Geordie tivesse se transformado em um bêbado não
confiável e melancólico. Agora, um malandro charmoso estava
abrindo caminho para o coração do garoto sem cuidado para o que
podia acontecer quando ele retornasse a Londres.
Jarret lançou-lhe um olhar cheio de malícia e deu o
proprietário outro xelim. —Então, a senhora pode acariciá-lo,
também.
Ela franziu o cenho. —Você é idiota, se acha que eu vou tocar
aquela criatura.
—Vamos, onde está seu senso de aventura?— Jarret zombou
dela.
As palavras trouxeram lembranças. Ela disse a mesma coisa
a Rupert há muito tempo, quando ele zombou de sua sugestão de ir
com ele para a guerra.
Geordie bufou. —Você nunca vai conseguir a tia Annabel a
acariciá-lo. As meninas tem muito medo de fazer coisas assim.
—Bobagem. — disse Annabel, então se inclinou para colocar
a mão na parte de trás da criatura. Para sua surpresa, sentiu o couro
tão suave como pelica. Quando ela acariciou, Geordie olhou para ela
surpreso. Sentindo-se bastante satisfeito consigo, ela sorriu para ele.
Então a criatura virou a cabeça, e com um guincho, tanto ela
como Geordie saltaram para trás. —Ele deve gostar de você,
menina. — o velho soldado disse, rindo. —Ele não costuma prestar
atenção a ninguém que o toca.
Várias pessoas da multidão clamavam a acariciá-lo também,
por isso eles continuaram pelo do mercado.
Como Geordie disparou à frente em busca de mais emoção,
Jarret baixou a voz. —Você sempre faz isso?
—O que?
Sua mão cobriu a dela, quente e firme. —Aceita qualquer
desafio que um homem lhe propõe.
—Eu não poderia ter Geordie me chamando de covarde,
poderia?
—Não, na verdade,— ele zombou dela. —Para se mostrar a
um garoto de 12 anos, para que você mantenha a cabeça erguida?
Ela fungou. —Mostra o pouco que sabe. Se você não superar
seus desafios de tempos em tempos, ele fica muito cheio de si e se
torna mandão e insuportável. Um pouco como você, na verdade.
—Quando eu fui mandão e insuportável?
—No escritório da cervejaria. E na taverna, antes de eu
aceitar a aposta. Admita: se eu não o tivesse feito, você teria me
despachado de volta à estalagem e dito para ser uma boa menina e
trotar de volta para Burton.
Ele franziu a testa. —Isso é o que eu deveria ter feito.
—Então eu não teria conseguido nada do que queria.
—Mas você não teria arriscado sua reputação.
—Às vezes, uma mulher tem de assumir riscos para conseguir
o que quer.— Ela olhou para onde Geordie estava, parecendo
preocupado com as mercadorias de um vendedor de sela, em
seguida, baixou a voz. —Falando de riscos, o que Geordie disse
depois que ele descobriu-nos?
—Não foi nada de importante.— Seu tom muito casual dizia o
contrário.
—Eu não posso acreditar que ele não disse nada.
—Ah, olha, há uma mulher que vende cerveja a barril. George,
vem com a gente.— gritou ele, trazendo Geordie correndo de volta
para o seu lado. —Vamos ver se aquela cervejeira faz sua própria
cerveja.
Que canalha. Agora ela sabia que tinham falado alguma coisa.
—Por que eu deveria me importar sobre a cerveja de uma fabricante
qualquer?— Annabel resmungou.
—Porque é pesquisa. Se cerveja é o negócio desta senhora,
ela vai saber o que se vende por aqui. Poderia ser uma boa
informação para o futuro.
Reconhecendo a lógica, ela deixou Jarret levá-la para a
cabine de cerveja.
Descobriu-se que a cervejeira não só vendia os produtos no
mercado de Daventry, mas também viajava para outros mercados em
Staffordshire. Enquanto Jarret a interrogava longamente sobre os
hábitos dos consumidores de cerveja no interior, Annabel só fez
ouvir, surpresa. Para um homem que só tinha mergulhado o dedo do
pé— no negócio, ele sabia muito sobre o marketing do negócio, o
que não era o seu forte. Isso a fez sentir desconfortável. E se ele
fizesse um balanço da Lake Ale e decidisse que o plano dela e Hugh
não era viável?
E se ele estivesse certo?
Geordie lhe pediu algumas moedas e ela as entregou,
distraída pela discussão com a vendedora de cerveja. Depois de
alguns momentos, no entanto, ela percebeu que Geordie havia se
afastado. Ela virou-se a tempo de vê-lo entregar as moedas para um
homem em uma mesa que tinha três dedais em cima dele. O homem
colocou uma ervilha debaixo de um dos dedais e começou a movê-
los.
—Que diabos esse menino está fazendo?— Ela meditou.
Jarret seguiu seu olhar, em seguida, fez uma careta. Antes
que ela pudesse reagir, ele foi caminhando até a mesa onde uma
pequena multidão se reunia. Para sua surpresa, ele pareceu tropeçar
e derrubou a mesa.
Então ela se apressou-se, ouvindo-o dizer: —Perdão, senhor.
Não devia ser tão desajeitado.
O homem resmungou algo sobre olhar por onde se anda,
enquanto Geordie inclinava-se para endireitar a mesa. —Eu estava
prestes a ganhar, Lorde Jarret!— Geordie reclamou.
A menção do título de Jarret fez o homem olhá-lo, de repente
inquieto.
—Ah, bem, que vergonha! — disse Jarret. —Eu suponho que
arruinei isso para você.— Seu olhar se transformou em gelo como
ele olhou para o golpista. —Dê-lhe de volta o dinheiro, certo, meu
velho? Você dificilmente poderá honrar a aposta agora.
O dono da mesa empalideceu, depois entregou a Geordie
suas moedas sem uma palavra. Geordie disse ao golpista, —Se
você rearranjar o conjunto, poderei entrar com outra aposta.
— Acho que não, rapaz — Jarret agarrou seu braço. —Sua tia
está pronta para ir. Não é, Miss Lake?
Perplexa com o estranho incidente, Annabel gaguejou, —S-
Sim, é claro. Devemos ir.— Arrastando um Geordie protestando do
grupo, Jarret andou tão rápido que Annabel teve de correr para
acompanhá-lo.
—Deixe-me ir!— Geordie gritou. —Eu posso ganhar!
—Nem mordendo, rapaz. É uma fraude destinada a separá-lo
de seu dinheiro.
Quando Geordie parou de se contorcer, Annabel interrompeu.
—Isso é terrível! Devemos ir avisar os outros!
—Eu não recomendaria isso— disse Jarret.
—Por que não?
—Qualquer um encabeçando tal fraude em especial mantém
cúmplices nas proximidades para impedir que alguém se meta com
seu esquema. Eles vão enfiar uma faca em qualquer um para atingir
seu objetivo. Ficaremos melhor se denunciamos aos que dirigem o
mercado.
—Você tem certeza que era uma fraude?— Geordie
perguntou melancolicamente.
—Absolutamente. Eles o fazem nas ruas de Londres o tempo
todo. Não importa o quanto você se fixa no dedal, a ervilha que
supostamente devia estar aí, acabará sempre sob aquela em que o
homem quer que esteja. Ele o tem sob a palma dele para poder
colocá-lo onde quiser.
George olhou para ele com os olhos arregalados. —Como
você estava fazendo com as cartas na noite passada?
Jarret murmurou uma maldição em voz baixa. —Exatamente.
Vamos encontrar chapelaria, está bem? Quero comprar alguma coisa
para a Sra. Lake.
—Espere um minuto. — Annabel disse, —o que é isso das
cartas?
—Sua senhoria me mostrou como segurar cartas na palma da
mão e distribuir cartas do fundo...
—Você ensinou-lhe como roubar nas cartas?— Annabel
exclamou.
—Só assim ele poderá reconhecer um trapaceiro quando
jogar com um.
—E onde é que ele iria jogar com um, diga? Em um antro de
jogatina?
Jarret encolheu os ombros. —Fraudes com cartas estão em
toda parte. Nunca se sabe quando o rapaz vai se deparar com um.
Tal como o golpe das ervilhas. Não fará mal a George estar
preparado.
Pensar que Jarret era quem tentava preparar Geordie
inflamou-a. Ela sabia que a raiva era irracional, mas não podia evitar.
Ela tinha passado 12 anos tentando fazer que Geordie tivesse todas
as vantagens de uma educação refinada, mas a quem era que
Geordie estava a buscar conselhos?
—Suponho que você lhe ensinou alguns truques de jogo
também. — ela respondeu quando se aproximavam da margem do
mercado. —Assim, ele poderá passar as noites nas mesmas
atividades vazias como você
—E se ele o fez?— Geordie gritou, saltando em defesa de seu
herói. —Ninguém mais me ensina essas coisas. Você e Mãe me
tratam como um bebê que não pode fazer nada. Talvez eu queira
saber sobre jogo. Talvez eu gostasse, se pudesse tentar.
—Oh, Deus—murmurou Jarret.
—Viu o que você começou?— Ela acusou Jarret. —Você fez
isso parecer tão atraente
—Parece que cheguei em cima da hora. — gritou uma voz
atrás deles. Eles se voltaram para ver Sissy, com aparência
claramente melhor, correndo atrás deles.
—O que você está fazendo aqui, Sissy?— Annabel perguntou.
Sissy encolheu os ombros. —Eu cansei de estar enfiada no
quarto da pousada, então pensei em me juntar a vocês. Estou me
sentindo muito melhor agora.— Ela olhou de Annabel para Jarret. —
Embora pareça que sou a única. Eu podia ouvi-los discutindo a três
cabines de distância.
—Tia Annabel está sendo má com Lorde Jarret. — Geordie
reclamou.
Sissy sufocou um sorriso. —Bem, então, teremos de fazê-la
sentar-se no cantinho.
Annabel revirou os olhos. —Sua senhoria parece pensar que
as técnicas de fraude de cartas são temas adequados para um
menino de doze anos de idade.
—Eu tenho certeza que ele só quer ajudar. — Sissy disse,
com os olhos brilhantes de desconfiança.
—Sim, tentando ajudar Geordie a seguir seus passos
duvidosos—, Annabel retrucou.
—Pare com isso!— Geordie gritou. —Se você continuar sendo
cruel, ele vai mudar de ideia sobre casar com você!

Capítulo Onze

Jarret mal abafou uma maldição. Mas a verdade era que fosse
um milagre o rapaz manter sua boca fechada por tanto tempo.
Meninos de doze anos de idade não eram conhecidos por serem
discretos.
Sra. Lake agora considerou Jarret com essa expressão que
tem todas as matronas quando elas pensam ter um peixão no
gancho.
Annabel apenas olhou estupefato.
Então é claro que George tinha que piorar. —Sinto muito,
senhor. E-eu não queria deixar o gato sair do saco.
Os olhos de Annabel se estreitaram em Jarret. Que o diabo
carregasse o garoto.
—Eu estava prestes a procurar uma tenda de chá, Geordie. —
Sra. Lake disse suavemente, apertando a mão no ombro do rapaz.
—Por que você não me ajuda?
—M-Mas eu preciso explicar.
—Eu acho que você já fez o bastante. Agora venha.— Dando
um olhar significativo para Annabel, Sra. Lake acrescentou: —Não se
afaste muito, minha querida. Parece que uma tempestade está se
formando.
Mais que um tipo, infelizmente. Depois que a Sra. Lake levou
o menino, Annabel colocou as mãos nos quadris. —Do que Geordie
estava falando?
Confrontado sem nenhuma escolha melhor, Jarret decidiu
fazer o que seu falecido pai sempre fazia quando confrontado pela
sua mãe. Fugir.
—Não sei do que você está falando.— Ele foi para a rota de
fuga mais próxima, caminhando cegamente trilha abaixo.
Apanhando as saias, ela se apressou para acompanhar seus
passos largos. —Responda-me! De onde Geordie tirou a ideia que
você deseja se casar comigo?
—Por que você não pergunta para ele?— Ele estalou,
estranhamente relutante em mentir para ela.
—Eu estou perguntando a você! Você disse algo para ele, não
foi? Depois dele nos encontrar juntos?— Droga, droga, e droga. Pior
ainda, o céu escurecia acima das cabeças.
Hora para outra das táticas do Pai, o contra-ataque. Ele parou
para encará-la com um olhar frio. —Eu vou responder a sua
pergunta, se você responder a minha. Seu irmão está morrendo?
Funcionou. Ela empalideceu, em seguida, adiantou-se a ele
pela trilha. Então ela que pensava escapar agora, não era? O diabo
que ia.
Ele alcançou-a em um par de passos. —Bem. — ele
pressionou.
—O que lhe deu a ideia de que Hugh está morrendo?— ela
perguntou em tom tenso.
—George parecia excessivamente preocupado com a doença
de sua mãe. E quando eu mencionei que seu pai poderia ser
buscado, ele disse que você não iria querer fazê-lo. E disse que seu
irmão não viria mesmo que você o buscasse.
Ela olhou horrorizada. —Eu não posso acreditar que ele disse
isso! Claro que Hugh viria.
—Eu tenho a impressão, — insistiu ele—que o pai dele pode
estar muito doente para vir. E ocorreu-me que se o Sr. Lake está
morrendo.
—Ele não está morrendo, está bem? Seu problema é
meramente temporário, como eu disse a você. Ele vai estar pronto e
ativo a qualquer momento.
Apesar de suas palavras soarem à verdade, ele precisava de
mais. —Então por que George parece pensar diferente?
—Eu não tenho ideia. Ele sabe das coisas. — Ela franziu o
cenho. —Mas, como a maioria dos meninos de sua idade, ele tende
a exagerar para o efeito dramático.
Bem, isso era certamente verdade. Jarret lembrava bem
daqueles dias. —Ele não exageraria tanto se você e a mãe dele
parassem de mimá-lo tanto. Não é bom um rapaz dessa idade ser
mimado. Eles começam a pensar que estão no centro do universo, e
tudo relacionado a eles torna-se uma questão de grande importância.
—Isso é ridículo. Nós não o mimamos nem um pouco.
—Sério?— Eles tinham deixado o mercado e estavam
caminhando ao longo de uma estrada rural deserta, cercada com
casas muito pequenas e celeiros de madeira envelhecida cinza. —
Ele já é velho o suficiente para entrar em Eton, mas ele ainda não
sabe quando está sendo enganado.
—Nem eu sabia que ele estava sendo enganado. Eu nunca
tinha ouvi falar do golpe da ervilha.— Seu tom ficou ácido. —Nós não
temos trapaceiros e fraudes em cada esquina, em Burton, como você
aparentemente vê por Londres.
—Ele deveria estar na escola agora, aprendendo como
funciona o mundo.
— Eu concordo. Infelizmente, eu... não podemos nos dar ao
luxo de mandá-lo para a escola. Não com a cervejaria sofrendo.
—Então diga a seu irmão para contratar um tutor, pelo amor
de Deus. E dar-lhe algum espaço para respirar e ser um menino.
Pare de prendê-lo.
Ela fungou. —Esse é um grande conselho, vindo de um
homem que cresceu selvagem, porque não tinha ninguém cuidando
dele. Um homem que ainda se comporta como um garoto, porque
tem medo de crescer.
Ele parou no meio da rua. Ela o via como um estudante? —Eu
sinto muito. — ela continuou apressadamente. —Eu não devia ter
dito isso.
Ele olhou para ela. —Eu não pedi para servir de babá para
seu condenado sobrinho. Isso foi ideia sua. Então, se você não gosta
de como eu faço isso, Deus sabe que eu tenho coisas melhores para
fazer.
A consternação mostrou-se em seu rosto. —Tudo bem. Não
vou mais impô-lo a você.— Tentando não se reter no incômodo que
sentia com a reação dela, ele começou a andar novamente. Ela
seguiu. —Você tem alguma ideia de onde está indo?
—Não. — ele rosnou. —Nem me importo.
Como se a natureza conspirasse para fazê-lo se importar, as
primeiras gotas de chuva caíram grossas em seu casaco. Maravilha.
—Talvez devêssemos voltar para a cidade. — ela se
aventurou.
Mesmo enquanto falava, a chuva começou a bater sobre eles.
—É muito tarde para isso. — ele murmurou. Enxergando um celeiro
próximo, ele puxou-a para lá. O cheiro de cavalos e feno fresco
assaltou-os enquanto adentravam a estrutura mal iluminada. —
Parece estar vazio. Todo mundo já deve ter ido para o mercado.
— Bom,— disse ela com sarcasmo. —Agora você pode
responder à pergunta que está evitando. O que disse à Geordie para
fazê-lo pensar que você e eu vamos nos casar?
Ele amaldiçoou sob sua respiração. Ele devia ter percebido
que suas distrações não funcionariam por muito tempo. —George
não é uma criança pelo qual o trata. Ele compreende muitas coisas.
—Ah, eu estou bem ciente disso. Então, o que exatamente ele
entende?
— O suficiente para adivinhar que você e eu andamos nos
beijando. —
Ela empalideceu. —Oh, Deus!
—Ele me perguntou se minhas intenções para com você são
honradas. —,Jarret disse entre dentes. —Tinha que lhe dizer algo.
—Você poderia ter tentado lhe dizer a verdade. — disse ela no
tom elevado que usava quando achava que tinha a moral em alta.
Ele sentiu seu temperamento subindo. —A verdade?— Ele se
virou para ela. —Que a minha única intenção em relação a sua tia
era carnal: é isso que você queria que eu dissesse?
Ela piscou. — Eu... bem... não, eu não acho que teria sido
uma boa ideia.
Ele andou em sua direção. —Eu poderia ter dito que se as
coisas fossem do meu jeito, você já teria passado uma noite em
minha cama.
Um rubor se espalhou sobre o rosto bonito. —Não, eu
certamente não gostaria que você...
—Eu poderia ter dito a ele que não posso manter minhas
mãos longe de você.— Ele a pegou pela cintura, seu rumor intenso
inflamou seus sentidos, excitando-o. —Eu poderia ter dito que só
penso em fornicar com você até deixá-la sem sentidos. Que eu fico
acordado à noite imaginando como seria tê-la debaixo de mim. Isso
teria satisfeito seu senso de verdade e honra?
—Isso definitivamente não teria...
O som de vozes do lado de fora do celeiro deteve a gagueira.
—Danação. — ele murmurou. —É só o que precisamos,
alguém encontrar-nos aqui e pensar que estamos tentando roubar
seus cavalos.— Ele viu a escada que conduz ao mezanino. —Vamos
lá. — ele rosnou e arrastou-a em direção a ele, em seguida,
empurrou-a para cima.
Felizmente, ela era uma escaladora ágil. Eles tinham só
chegado ao topo quando ele ouviu a porta do celeiro abrir. Arrastou-a
para debaixo da palha, ele segurou um dedo sobre os lábios.
Os homens estavam discutindo a venda de um cavalo, mas
Jarret não prestou nenhuma atenção à conversa. Ele estava muito
consciente do fato de que Annabel estava por baixo dele, o rosto
corado na luz fraca e seu cabelo um redemoinho escuro contra a
palha dourada. A chuva fria tinha tornado seu vestido fino quase
translúcido e ele podia ver as pontas duras de seus mamilos tensos
contra o pano.
De repente, ele não se importou com George ou a cervejaria,
ou o que ela estava escondendo sobre seu irmão, ou qualquer outra
coisa. Ele se importou apenas com aquele olhar morno, ciente sobre
ele, tentando-o à loucura.
Incapaz de se conter, ele traçou sua boca suave com o dedo,
o sangue rugindo em suas veias. Ela era a menina do interior em seu
elemento, madura para uma queda no feno, perfeitamente em casa
em um celeiro. A tentação era muito potente para resistir. Com o
cheiro de terra e de cavalos misturado com seu perfume doce como
mel, ele substituiu seu dedo com os lábios, exultante quando ela
abriu-se a ele, e em seguida, ergueu os braços para rodear seu
pescoço.
Então ele estava perdido para tudo, menos a ela. Abaixo deles
o murmúrio de vozes continuou, mas ele estava muito ocupado
devorando a boca para se incomodar.
Deus, ela era maravilhosa para beijar. Não houve nenhuma
hesitação, nem timidez virginal. Ela oferecia ao homem tudo -
jogava-se de corpo e alma, aberta e entregue. Nada como ele
esperaria de uma virgem. Sua necessidade flagrante espelhava a
sua própria, alimentando seu desejo ainda mais. Ele se esforçou
para pensar, para respirar, para encontrar o caminho através da
névoa de encantamento que ela colocou sobre ele a cada movimento
de seu corpo delicioso.
Aproveitando-se da necessidade de silêncio, ele beijou
trilhando a coluna do seu pescoço até onde apenas uma espuma de
rendas escondia pela metade os montes superiores de seus seios.
Ele levantou a cabeça para trocar olhares com ela e soltou o laço,
em seguida, empurrou para baixo seu vestido úmido e o bojo do
espartilho, deixando-a de camisa.
Sua respiração ficou irregular, mas ela não resistiu, nem
mesmo quando ele abaixou a boca para capturar um mamilo através
da camisa. Enquanto ele lambia seu mamilo, ela soltou um suspiro
suave.
Mas suas mãos o puxavam perto, e esse era todo convite de
que precisava. Enquanto agradava um mamilo com a boca, ele
acariciava o outro com a mão. O corpo dela estava tenso contra ele,
suas mãos o ancoravam para ela. Ela queria mais. Ele precisava de
mais, queria dar-lhe muito mais.
Quando ele puxou e soltou os laços de sua camisa, ela olhou
fixamente para ele, seus olhos tão escuros quanto a luxúria profana
e furiosa que sentia. Baixando a camisa, ele olhou seus seios nus, e
seu coração estremeceu.
Maldição, ela era linda. Seus seios eram tão generosos
quanto ele pensava, com grandes mamilos rosados implorando para
serem chupados e provocados. Ele inclinou a cabeça para lamber
um, depois o outro, antes de acariciar a carne úmida com os dedos.
Os sons suaves eram meio suspiro, meio gemido.
Era a coisa mais erótica que ele já tinha ouvido. Seu pênis
endureceu como pedra contra sua coxa. —Meu Deus, Annabel ...—
ele gemeu contra seu peito.
As vozes de baixo pararam, e por um momento de pânico, ele
pensou que tinha sido ouvido. Então a porta se abriu e fechou abaixo
deles. Os homens haviam deixado o estábulo.
Ela empurrou-o com um olhar incerto.
—Talvez você devesse... deixe-me agora ...— ela sussurrou,
embora ela não tentasse arrumar suas roupas.
—Sem chance. — ele murmurou. Seus olhos se arregalaram.
—Por quê?
Ele deu uma risada estrangulada. —Por que você acha?—
Ignorando as mãos contra o peito dele, ele abaixou a cabeça para
esfregar duramente seu mamilo, fazendo-a arquear-se contra ele.
—Nós não deveríamos estar fazendo isso... — ela murmurou,
mas suas mãos escorregaram para agarrar seus ombros.
—Eu quero tocar em você.— Erguendo seu corpo sobre dela,
ele puxou para cima suas saias. —Deixe-me tocar em você.
Um tremor percorreu-a, então seus olhos se fecharam. —Sim
... por favor ...
Annabel sabia que era perigoso encorajá-lo. Isso poderia
facilmente sair de mão, e ela podia encontrar-se na mesma situação
de 13 anos atrás. Só que desta vez o homem que a engravidava ia
quebrar seu coração, pois Jarret era o tipo que a levaria para cama e
a esqueceria.
Até o momento, ela conseguiu resistiu a seu charme. Mas se
partilhasse intimidade com ele, isso seria impossível. Ela não podia
compartilhar a cama com um homem e esquecê-lo.
Ainda assim, havia muito que um homem a tinha tocado desta
forma, e ele incitava-a a revoltar-se. Era difícil não responder.
Especialmente depois das coisas doces que ele dissera, sobre como
ele pensava nela, como a desejava. Nem mesmo Rupert nunca havia
a cortejado com tais palavras, e ela não tinha percebido o quanto
ansiava por isso.
Ninguém sabia que eles estavam ali, depois de tudo. Ninguém
sabia que ele estava fazendo essas coisas. Dera-lhe licença para ser
seduzida.
Seus lábios sussurravam em seu rosto. —Eu prometo não
arruiná-la.— As palavras a assustaram. Como ele poderia arruiná-la?
Oh, sim. Ele pensava que ela era virgem. E a verdade era que
se sentia como uma virgem com ele. Ou pelo menos uma mulher que
tinha meio que esquecido de como era a sensação de estar com um
homem tão intimamente.
—Tudo bem. — ela murmurou.
—Eu só quero ver você chegar ao seu arrebatamento.
—,disse ele com voz rouca, e enfiou a mão dentro de suas calções
para tocá-la entre as pernas.
Seus olhos se abriram. —O que?
Seu ofuscante rosto bonito mostrava uma fome crua que
clamava pela dela. —Durante três noites, eu tenho ficado acordado
na cama imaginando-a enquanto a possuo. Quero ver se
corresponde a minha imaginação. — Quando ela enrijeceu, ele
acrescentou, — Eu sei que eu não posso te tomar ... mas posso dar-
lhe prazer.
Ele esfregou seu lugar mais privado, e ela soltou um gemido
de puro prazer. Com um sorriso, ele acariciou seu ouvido. —Deixe-
me vê-la desmoronar em minhas mãos, querida.
O tratamento carinhoso fez crescer uma emoção perigosa em
sua garganta. — Eu suponho que seria... tudo bem. — disse ela,
terminando a palavra em um guincho quando ele tocou-lhe a carne
com um golpe particularmente hábil.
—Tudo bem?—disse, mostrando o riso no rosto. —Eu
prometo a você, minha linda duende, será muito melhor do que bem.
— Com cintilantes olhos, ele deslizou para baixo de seu corpo.
—O que você está fazendo?— Ela sussurrou, perplexa.
—Eu quero provar você.
—Onde?
Em resposta, ele inclinou a cabeça para lamber a parte onde
sua mão havia acariciado.
—Ohhhh...— ela respirava. Que espantoso! Quem diria que
um homem podia fazer uma coisa tão escandalosa?
Quem diria que seria tão bom?
Segurando suas coxas abertas, ele metralhou suas partes
íntimas com a língua. Um grito de prazer e surpresa escapou. Era
tão... intenso. Ela não tinha sentido nada tão intenso com Rupert.
Mas, então, Jarret não era um menino desastrado do interior.
Ele sabia exatamente como inflamar os sentidos de uma mulher. E
que mal faria permiti-lo? Quando ela iria ter outra oportunidade como
essa, de ser livre, selvagem, e desejar?
Sua língua mergulhou e rodou, fazendo-a ansiar, desejar. Ela
lembrava-se do desejo, mas não que podia ser tão intenso. Apenas
metade ciente do que fazia, ela girou seus quadris para cima para
ganhar mais, sentir mais.
Ele riu. —Você gosta disso, não é?— Ela corou, mas de
alguma forma conseguiu um aceno de cabeça.
—E isso?— Ele chupou em uma parte particularmente
sensível de sua carne, e ela quase enlouqueceu. —Você gosta
disso?
— Você... sabe... que sim. — ela engasgou enquanto a
sensação a inundou, feroz e quente, fazendo-a se contorcer debaixo
de sua boca.
—Queria ter certeza. — ele murmurou, em seguida, saqueou-
a com seus lábios e língua e dentes mais a sério.
Oh, bom Deus, o que ele estava fazendo com ela? Suas
memórias com Rupert eram de sensações vagamente prazerosas,
uma sensação de proximidade, uma espécie de prazer silencioso.
Isto era descaradamente, abertamente, corajosamente carnal.
Ele a fez querer saltar, subir, explodir de suas roupas, de sua pele.
— Jarret, por favor...— ela gemeu, enterrando os dedos em
seu cabelo úmido, segurando a cabeça entre as pernas.
—Pegue o que quiser, Annabel. É seu. Você apenas tem que
entender isso.
De alguma forma, ela entendeu exatamente o que ele quis
dizer. Ela podia sentir o crescimento de um prazer que estava
brilhante pouco além de seu alcance. Cada golpe da língua trazia
mais perto... se ela pudesse esticar... mais ... mais...
Oh, sim!
Uma sinfonia de sensações trespassou seu corpo, arrastando
um grito de lamento de seus lábios. Bom Deus no Céu! Era
glorioso... incrível... Foi além de qualquer coisa que ela já sentiu. Seu
corpo tremia com a força de sua libertação, ela apertou os dedos no
emaranhado lindo de cabelos negros e sedosos.
Levou um tempo para recuperar o fôlego e sua sanidade.
Quando ela confiou-se a olhá-lo, encontrou-o seus olhos nela. Calor
subiu em suas bochechas.
Ele deu aquele sorriso malandro, que mostrou suas covinhas.
—Você é tão adorável quando atinge o pico de seu prazer. Toda
rosada e vermelha. — Ele deu um beijo em sua coxa. —Aqui.— Ele
deslizou para cima ao lado dela para beijar o peito exposto. —E aqui.
— Ele beijou sua garganta. —Mesmo aqui.
—E você?— Ela sussurrou, envergonhada pela atenção que
ele estava dando à resposta de seu corpo. —Como você parece
quando você atinge o pico de seu prazer?
Quando ele empurrou de volta para olhá-la, ela amaldiçoou
sua língua rápida. Uma virgem não diria isso. Virgens eram muito
ansiosas para se preocupar se o homem tinha prazer. Elas não eram
cientes de que um homem podia ter prazer sem arruiná-las.
Ele não devia perceber que ela era casta, ou ele aproveitaria
ao máximo. A única coisa entre ela e outro filho ilegítimo era a
crença de Jarret que ela era virgem.
— Eu-eu...
—Minha proposta é... — disse ele, com os olhos virando em
um verde brilhante enquanto ele pegava sua mão e colocou-a em
suas calças. —Por que você não descobre por si mesma?

Capítulo Doze

Jarret prendeu a respiração, certo de que ela iria recuar. Uma


coisa era ser curiosa sobre o prazer de um homem, mas outra bem
diferente, era oferecer-se para satisfazê-lo.
Mas também, ele não tinha esperado que ela o deixasse dar-
lhe prazer, em primeiro lugar. E ele certamente não esperava que
sua resposta agitaria algo escuro e doce dentro dele, uma espécie
de saudade que ele nunca havia sentido: de possuir uma mulher
totalmente não só seu corpo, mas mente e coração e alma.
Sentindo-se assustado, combateu o sentimento e se
concentrou em persuadi-la no ato ilícito. —Eu adoraria ter suas mãos
em mim, trazendo-me para o pico do meu prazer.
Seu olhar fechou-se. —Eu não acho que seja sábio.
Lembrando o incidente com o jacaré, ele deu de ombros. —
Bem, se você não está certa de poder conduzir-me...
—É claro que posso! — disse ela resolutamente. —Quão
difícil pode ser?
Ele riu. —Confie em mim, querida, difícil o bastante.
Quando ele apertou a mão para a protuberância em suas
calças, ela ficou vermelho beterraba. — Oh!
As palavras foram direto ao seu pênis, endurecendo ainda
mais. —Quer dizer que vai me deixar nesta condição?— Perguntou
ele, empurrando contra sua mão.
— Eu suponho que seria... rude.— Ela esfregou o
comprimento dele, e ele pensou que ia explodir.
—Rude? — ele engasgou. —Certo.— Quando seus dedos
tocaram a cabeça de seu pênis, ele lançou um suspiro estrangulado.
—Você pode tirá-lo, você sabe.
Um sorriso malicioso tocou seus lábios. Ela passou a mão
delicadamente sobre o tecido. —Posso?
—Oh, Deus, me toca. — ele murmurou, incapaz de suportar
muito mais de sua provocação. Ele começou a se perguntar
exatamente o quanto ela seria inexperiente. Ele estava certo de que
ela e Rupert tinham feito pouco mais que beijar.
Pobre coitado, foi à guerra com a memória de algo assim em
sua cabeça, e nenhuma esperança de alívio.
— Por favor, Annabel...— respondeu asperamente.
—Está bem.
Seu sangue trovejava em seus ouvidos. Toda vez que ela
disse —está bem. — naquela maneira discreta, o deixou louco.
Ela desabotoou as calças, em seguida, liberou os botões de
seus calções. Quando seu pau saltou livre, ele soltou um tremor de
alívio. Com outro sorriso maroto, ela fechou os dedos em torno dele.
E então ele começou uma lenta descida à loucura enquanto
ela acariciava. De alguma forma, ela fez tudo parecer perfeitamente
aceitável. Ter esta jovem do interior fazendo o que nenhuma virgem
respeitável jamais faria excitante como o inferno. Se ele não cuidar,
gozaria muito depressa. O que ele não fazia desde menino, mas ela
estava tornando-lhe malditamente difícil resistir.
Ele tentou não pensar em como ela teria aprendido a agradar
um homem, mas tinha que ser o condenado do noivo dela. E mesmo
sendo ridículo, a ideia dela ter feito isso com outro homem o pôs de
cara feia.
Ela soltou seu pênis instantaneamente. — Eu estou te
machucando?
—Deus, não.— Ela não podia ser muito experiente, ou ela não
teria ficado tão preocupada.
O que estava errado com ele, para querer saber o que ela
tinha feito com aquele soldado estúpido? Teria sido apenas um flerte.
Guiando sua mão de volta em torno de sua carne, ele
murmurou, —Os homens são mais resistentes do que você pensa.—
Seus corpos o eram, de qualquer maneira. Ele começou a se
perguntar sobre a robustez de suas mentes.
—Mesmo aí?— Ela perguntou cética.
—Mesmo aí.— Ele agarrou seus dedos, forçando-a a acariciá-
lo mais ardorosamente. —Sim, querida. Gosto disso.
Parecia o céu. Ele não iria durar muito mais tempo.
Ela inclinou a cabeça, como se concentrando em suas
carícias, e ele afastou as ondas de mogno de seu cabelo com os
lábios. Seu aroma a mel e laranja encheu seus sentidos, apagando
os outros aromas do celeiro. Foi delicioso, luxurioso como seu seio,
que ele não podia deixar de acariciar, e seu templo, que ele não
podia parar de beijar.
Teria outra mulher o consumido desta forma antes?
Seu corpo galopou em direção à libertação, passando por
cima de tudo que não a necessidade urgente de realização. Quando
o sangue subiu nele e sentiu a pequena morte avassalando-o, ele
empurrou a mão dela para poder espalhar-se sobre a palha.
Seu corpo tremeu com o poder absoluto do gozo. Bom Deus,
ele nunca gozou tão ferozmente em sua vida. Ele já queria fazer isso
de novo... dentro dela. Isso não era aceitável.
Deitado de costas sobre a palha, ele puxou-a contra seu peito.
Quando voltou a si, a realidade se impôs. Ele não devia ter ido tão
longe com ela, não importa o quanto eles tinham gostado. Uma
mulher como ela só permitia privilégios para pretendentes sérios, e
ele certamente não o era. Ele não poderia deixá-la pensar que sim.
Não importava que ele gostasse dela. Admirava sua lealdade
com a família, sempre recusando a retroceder... a maneira
totalmente entregue como gozou. Além de ser uma jogadora de
cartas malditamente boa.
Mas ele não ia se casar com ela, pelo amor de Deus. Ele já
tinha escapado dos planos de vovó para ele. Casar com uma
cervejeira com uma cervejaria falida seria como enfiar a cabeça de
volta para o laço de Gran que seria dona dele de corpo e alma.
Annabel seria dona de seu corpo e alma... até o dia em que
algo a levasse dele. E isso seria muito pior se ele viesse a se
importar com dela. Então ele tinha que descobrir como explicar por
que ele não podia se casar com ela, sem ferir seus sentimentos.
Depois de um momento, ela disse: —Bem, pelo menos eu
tenho a minha resposta.
—Sobre o quê?
—Como você fica quando atinge o pico de seu prazer.
Com uma nota de provocação em sua voz, ele virou a cabeça
para olhá-la. —Oh? E como eu fico?— Ela sorriu. —Como todo
homem fica quando consegue o que quer. Tão presunçoso e
satisfeito consigo mesmo quanto um sultão.
Ele levantou uma sobrancelha para ela. —Um sultão?
—Todos os homens parecem sultões na cama— disse ela.
Algo na maneira como ela falou, o prendeu. —Então, você viu
muitos homens na cama, não é?
Ela desviou o olhar, claramente constrangida. —Certamente
que não. Eu... li em algum lugar.
Poderia ser. —Você tem gostos literários um tanto ousados.
Um rubor tocou seu rosto. —Mesmo uma solteirona pode ser
curiosa, você sabe.
Ele deslocou-se para um lado para circular seu mamilo com o
dedo. A discussão poderia esperar mais alguns momentos. —Sinta-
se livre para satisfazer sua curiosidade tanto quanto queira, por
favor.
Mas quando ele inclinou a cabeça para o seio, ela o
empurrou. —Eu acho já satisfiz o bastante, certo?
—Por mim nunca seria demais.— Ele olhou enquanto ela
sentava e arrumava suas roupas. Acima deles a chuva no telhado
soava em contraponto constante com as batidas de seu coração.
—Você tem que parar de dizer coisas assim. — alertou. —E
você tem que parar de beijar-me.
Ele arrancou um pedaço de palha de seu cabelo, em seguida,
fez cócegas em seu pescoço com ele. —E se eu não quiser parar?—
Bom Deus, o que ele tinha de parar era este hábito deplorável de
deixar seu pênis falar por ele.
— Você deve.— ela disse com firmeza. —Não vou arriscar
que Geordie nos apanhe de novo. Ele já acha que você quer se
casar comigo, e eu não posso com isso. E quando eu disser que não
há nada entre nós ele tem que acreditar em mim. Supondo-se que
ele ainda não tenha dito nada a Sissy sobre ter nos visto se beijando,
eu posso convencê-lo a ficar quieto. Mas se ele nos encontrar juntos
novamente, ele vai tagarelar com certeza. E se Sissy diz a meu
irmão, ele poderia
—Tentar forçar-me ao casamento.
—A nós. E eu não vou ser forçada. Nem vou ter nenhum deles
tendo esperanças de nós nos casarmos, quando não há nenhuma
chance de que isso aconteça sob qualquer circunstância. — A
convicção na voz dela o irritava. —Você parece muito certa disso.
Ela o olhou de soslaio. —Vamos lá, você sabe perfeitamente
bem que não quer se casar comigo.— Pouco importa que ele tivesse
tido este exato pensamento apenas dois minutos antes, tê-la
afirmando isso tão casualmente era bastante desanimador. —Eu
suponho que isso é verdade, mas...
—E eu certamente não tenho nenhuma intenção de me casar
com você.— Ele sentou-se para encará-la. —Por que diabos não?
—Sem ofensa, mas você não é o que uma mulher sensata
procura em um marido.
—Isso é colocar um pouco forte.— Agora irritado, levantou-se
de joelhos para ajeitar suas gavetas e calças. —E o que exatamente
uma mulher sensata procura? — ele perguntou com sarcasmo.
Ela parecia desnorteada. —Bem, por um lado, um homem
com algum senso de dever. Não um estouvado irresponsável que se
sustenta jogando por Londres para evitar fazer algo construtivo com
o seu tempo. E os seus amigos que dizem que você está apenas
ajudando sua avó na Cervejaria Plumtree para evitar ter de obedecer
sua exigência de casar.
— Eu sei o que eles dizem. — ele estalou. Ele não sabia por
que achava suas observações tão irritantes; tudo o que ela estava
dizendo era verdade.
Mas ela não devia estar dizendo isso. Ele sim. Ela devia estar
tentando convencê-lo a casar com ela, agora que ele tinha tomado
liberdades com ela. Ele era filho de um marquês, além do mais.
Certo, ele era apenas um segundo filho e havia uma grande
quantidade de escândalos ligados ao nome de sua família, mas que
importa? Ela era filha de um cervejeiro, pelo amor de Deus, da
província pouco conhecida de Burton-upon-Trent. E uma solteirona,
ainda por cima! Será que elas todas não queriam pegar um homem?
—Você está dizendo que seus amigos estavam mentindo?—
Ela perguntou, claramente perplexa.
—Não. Apenas omitindo alguns detalhes muito importantes.
—Ele enfiou a camisa nas calças.— Como o fato de que eu vou
herdar Plumtree Brewery um dia. Gran está deixando isso para mim.
— Deus, agora ele soava como um idiota pomposo. — Isso deve ser
o suficiente para agradar a qualquer mulher sensível.
Ela piscou. —Mas você disse que a administração é
temporária.
—É, por agora. Eu concordei em fazê-lo por um ano. Em
seguida, ela vai voltar a administrar até que ela morra, enquanto eu
...
—Volte para o jogo e bebidas, e vadiagem. — disse ela
secamente. —Essa vida soa bastante atraente para qualquer futura
esposa.
Ele se irritou. Quando diabos tinha essa conversa se
transformado em uma acusação de seu modo perfeitamente
aceitável de viver? —Eu quero que você saiba que centenas de
mulheres matariam para ter essa vida.
Diversão brilhou em seus olhos. —Tenho certeza de que é
verdade. Você deve ir encontrar uma delas para se casar. Quer dizer,
quando você decidir que está pronto para uma esposa.
Dando um tapinha em seu braço, de modo quase fraternal, ela
começou a se levantar, mas ele a puxou novamente. Raiva
subjugando-o, beijou-a intensamente, profundamente. Só quando ele
a teve derretendo-se em seus braços que soltou-a, a murmurar, —
Eu ouso dizer que qualquer mulher sensata veria vantagens em ser
casada com tal salafrário irresponsável.
Ela passou o dedo sobre os lábios. —Eu ouso dizer que sim.
Mas essas vantagens dificilmente compensarão a preocupação
quando os cobradores de dívidas virem a carregar sua mobília,
porque o marido perdeu em um jogo de cartas.
—Você sabe que eu sou um jogador excelente. — ele mordeu.
—Eu ganho uma vida excelente com isso.
—Quando você está ganhando.
Ele não tinha resposta para isso. Era verdade.
Com um brilho repentino de remorso, ela escorregou de seus
braços e levantou para escovar a palha de suas saias. —Eu sinto
muito, Jarret, não estava tentando insultá-lo. Eu só disse essas
coisas porque você deixou bem claro que não tem vontade de se
casar. Tenho certeza que qualquer número de mulheres ficaria feliz
em se casar com você.
Ele levantou-se, também. —Apenas não você.
Ela inclinou a cabeça. —Por que você se importa? Está se
oferecendo ao casamento?— Quando ele desviou o olhar, ela disse
— Achei que não mesmo.
Enquanto se dirigia para a escada, ele a pegou pelo braço. —
Isso não significa que não possamos...
—Nos divertir no feno? — ela disse, com um olhar triste no
rosto. —Temo que não. Eu não devo arriscar minha família ao
embaraço só por um pouco de diversão.
Ele ficou ali, imóvel enquanto ela descia do sótão. Ela estava
certa. Isso era essencialmente o que ele estava pedindo a ela, correr
um risco enorme, por alguns momentos selvagens de paixão. Risco
que ele não estava disposto a assumir a si mesmo.
Ele não tinha pensado além de seu próprio prazer. Nunca
tinha precisado antes. Ele cortou-se de qualquer relação que poderia
esperar isso dele.
Ela sentia que ele não queria ser responsável por seu bem-
estar? Se ela o fazia, isso era irritante. A única coisa que ele odiava
mais do que ser forçado em situações delicadas era ser previsível.
Ele sempre viu como algo inteligente não investir seu coração
e alma em nada, evitando assim a dor de ter coisas com que se
preocupava arrancadas dele. Mas o que ele via como inteligente, ela
via como um egoísmo voluntarioso que zombava dos sentimentos de
outros.
Era uma sóbria descoberta que ele não tinha certeza de
apreciar.
Maldita seja.
***
Aquela noite no hotel foi tensa para todos eles, mas
especialmente para Annabel. Tinha tomado cada milímetro de seu
autocontrole para afastar-se de Jarret naquela tarde. Parte dela dizia
que ela deveria aproveitar a oportunidade de ter um caso de amor
tórrido sem qualquer culpa.
Mas a parte sensata dela sabia que era loucura. Além da
possibilidade de que eles poderiam ser descobertos, havia a
possibilidade ainda mais preocupante de acabar com uma criança
em seu ventre. Ela parecia ter má sorte em tais assuntos.
Ela olhou para a mesa do outro lado da sala, onde Jarret
jogava cartas com alguns outros homens da estalagem. Sua
garganta apertou. O maior perigo era ela acabar importando-se tanto
com ele, que ele estaria voltando a Londres com um pedaço de seu
coração apertado no punho. Ela não se atrevia a arriscar.
—Se você não está interessada em casar com ele. — uma
pequena voz resmungou ao seu lado—não deve olhar para ele
dessa maneira.
Seu olhar disparou para Geordie. Ela pensou que ele
estivesse dormindo na cadeira. Mais cedo, ela o havia levado para
um lado e explicado que ela e Jarret tinham decidido que não
combinavam, e que ele não devia dizer a sua mãe sobre o beijo que
testemunhou. Embora Geordie tivesse prometido, ele não tinha
tomado bem sua explicação.
—De que maneira que eu estou olhando para ele?— ela
perguntou.
—Como se ele fosse um marzipan, e você quisesse uma
mordida.
Geordie estava caído na cadeira com aquela expressão
sombria que ele usava mais e mais recentemente. Mas por trás da
beligerância estava um menino com sentimentos feridos.
—Você está com raiva de mim porque eu disse que não quero
me casar com ele. — disse ela.
—Não é problema meu. — ele murmurou. —Eu só não acho
que seja direito você... você sabe... olhar para ele assim e deixar que
ele te beije, se não quer nada com isso.
—Eu já expliquei sobre isso.
—Certo. Foi um momento de impulso. Você estava
agradecendo-lhe por nos ajudar.— Ele revirou os olhos—Ele me
disse a mesma coisa, só que ele disse que queria se casar com
você.
Sim, e ela poderia matar Jarret por isso. —Você gosta de sua
senhoria, não é?
Geordie encolheu os ombros. —Ele é legal.
—Você gosta de ter um homem por perto que te entende, que
presta atenção em você quando o seu pai está...
—Caindo de bêbado—, rosnou Geordie.
Ela olhou boquiaberta para Geordie. —Você sabe?
—Claro que sei. Eu vi ele tarde da noite, bebendo em seu
estúdio. Então, ele não vai para a cervejaria no dia seguinte, e você
vai em seu lugar. É claro o motivo: porque tudo que ele faz nos dias
de hoje é beber aquele uísque estúpido .
—Shh! — ela disse, lançando um olhar furtivo na direção de
Jarret. —Sua senhoria não deve ouvir sobre isso.
—Não sei por que não. É a verdade. —Quando ela olhou
assustado, ele disse:— Não se preocupe, tia Annabel, não vou
contar para ele. Ele tentou saber por mim no nosso primeiro dia aqui,
mas eu o despistei.— Ele olhou para ela. —Eu tive que chorar para
fazê-lo. Como uma menina. Mas pelo menos não menti.— Seu olhar
acusador picou sua consciência.
—Foi só uma pequena mentira. — protestou ela. —Não
tivemos escolha.— Ela não podia acreditar que estava justificando-se
a Geordie. — Se ele descobre a verdade, ele não vai nos ajudar.
Geordie olhou para suas mãos. —Eu sei.
—E é muito importante que ele...
—Eu sei, tudo bem? Eu não sou um bebê.
Um caroço cresceu em sua garganta. Para ela, ele seria
sempre um bebê.
Os homens na mesa riam, e ela olhou para ver Jarret acabar
com seu terceiro copo de uísque em uma hora. Ela franziu o cenho.
Por tudo o que sabia, ele gastava metade do seu tempo em seus
copos, como Hugh. Não era confiável. Não estava interessado em
casamento. Não era para ela.
Ele nunca seria para ela. Se alguma coisa tinha deixado isso
claro, foi o encontro no celeiro. Tudo o que ele poderia querer fazer
era dar-lhe prazer físico. Nunca poderia lhe dar alguma coisa de si
mesmo. Também não tinha certeza se havia algo para dar.
Cansada de pensar nisso, ela se levantou. —Vem, Geordie,
que seria melhor ir para a cama. Sua senhoria quer que saiamos
mais cedo. Ele quer estar em Burton ao meio-dia.
Geordie seguiu até as escadas. —Como você vai manter em
segredo o problema de papai, uma vez que chegarmos em casa?
Felizmente, enquanto a maioria das pessoas em Burton
sabiam que Hugh tinha estado a se esquivar das suas funções por
um ano, eles não sabiam o motivo. Isso ajudaria. Mas isso podia não
ser suficiente. —Eu vou pensar em alguma coisa.
—Bem, é melhor você pensar rápido. Amanhã à noite é o
jantar de Brewer Association, e você sabe que papai nunca perde um
deles.
Ela gemeu. Tinha esquecido completamente do jantar anual.
Ela e Hugh sempre compareciam, mas este ano ele estava
suscetível a embebedar-se publicamente a um estado de estupor. E
se acaso se encontrasse com Jarret enquanto estivessem fora...
Isso não podia acontecer. Porque se assim fosse, todas as
apostas estariam perdidas.

Capítulo Treze

Jarret acordou antes do amanhecer com dor de cabeça, a boca


seca, e uma inquietante sensação de auto aversão.
Perdera vinte libras à noite anterior, mesmo após a tentadora
distração sentada no outro lado da sala ter ido para cama. Nada
costumava distraí-lo quando jogava cartas, e certamente não uma
mulher, não importando seu grau de luxúria. Quando isso teria
mudado? Por que teria mudado?
E porque teria ele gasto uma noite inteira bebendo tão
pesadamente para afogar as palavras dela sobre apostadores e
coletores de dívidas?
Isso era exatamente o que o impedia de casar até o momento.
Ele não precisava de uma mulher o molestando a respeito do modo
como vivia. Não precisa se incomodar com o que ela pensava dele.
Não queria precisar.
Ainda assim ele o fazia, que Deus o ajudasse!Que diabos
acontecia com ele?
Bem, não tinha como dormir agora. Até mesmo isso ela lhe
negava. Além disso, quanto mais cedo se levantava, mais cedo eles
poderiam partir, e mais cedo ele resolveria com as questões da
cervejaria dela e do irmão, e com toda aquela família confusa. Uma
vez em Burton, ele falaria com o irmão, conheceria a Cervejaria
Lake, depois retornaria à Londres, talvez mesmo na manhã do dia
seguinte. Ele precisava retornar para Plumtree, iniciar o trabalho e
acertar as coisas.
O café da manhã foi apressado, com o jovem George
reclamando em altas vozes quanto ao horário.
— George — ele finalmente rosnou
enquanto beliscava uma torrada e forçava o café a
descer em seu estômago rebelde—acha que
poderia se aquietar um pouco?
Annabel lançou-lhe um olhar por sobre seu
bolinho repleto de manteiga e geleia. —Teve uma
noitada, foi?
—O bastante. — ele resmungou. Ela não tinha nenhum
direito a julgá-lo.
Nós entendemos, meu senhor— afirmou delicadamente Mrs
Lake. —Cavalheiros apreciam suas distrações.
— Certamente que sim.— Annabel retrucou.
A muito insolente.
Mrs. Lake manteve um fluxo alegre de conversação.— Estou
ansiosa para ver as crianças, meu senhor. Eles ficaram com minha
mãe, de modo que sei que estão bem, mas ninguém nunca se sente
muito confortável tendo deixado seus filhos com outros.
Não havia muito que ele pudesse comentar quanto a isso, dado
que sua própria mãe havia se matado, deixando seus filhos a serem
criados por outros.
—Quantos você tem?
—Um menino e duas meninas. Além de Geordie.— Ela deixou
cair o olhar para seu scone.
Quatro filhos. Por Deus. Então Annabel falava a verdade sobre o
irmão não estar doente de morte. Se estivesse, ela não seria tão
firme quanto a não querer casar-se. Quanto casamento seria
preferível a ser a parente pobre de uma pobre viúva com quatro
filhos. Mesmo casar-se com um traste irresponsável como ele, que
ganhava a vida jogando por toda a Londres para evitar ter de dedicar
seu tempo a qualquer coisa mais útil.
Fez uma careta. —Suponho que esteja ansiosa para ver seu
marido também. — ele continuou para evitar lembrar de Annabel
esfolando-o com aquela língua. —Não há melhor enfermeira que
uma esposa, creio.
Ela o olhou surpresa, mas depois sorriu, fazendo-o crer que
havia imaginado a expressão. —É verdade, senhor. Não me sentirei
tranquila até me certificar que ele está bem.
Era a primeira vez que demonstrava qualquer preocupação em
relação ao marido, o que reforçava a afirmação de Annabel de que a
doença de Mr. Lake não era séria.
Quando se reuniam fora do coche após o cocheiro ter
embarcado sua bagagem, George virou-se para ele, —Se estiver
bem para o senhor, gostaria de ir acima, com o cocheiro.
— Geordie, — disse Mrs. Lake, já conversamos sobre isso. É
muito perigoso.
Annabel respondeu tranquilamente, —Talvez devêssemos
permitir, Sissy.— Ela lançou um rápido olhar à Jarret, e ele percebeu
que ela estava relembrando a conversa que tiveram no dia anterior.
—Geordie tem se comportado bastante bem nos últimos dias e
merece ser recompensado.
—Acha mesmo que estará bem?
—Sim.
—Bem então vá em frente.— Enquanto George dava um grito
de alegria e escalava, empoleirando-se no coche, Mrs. Lake
acrescentou—Mas dê ouvidos ao cocheiro e segure-se com firmeza,
escutou-me?
—Sim, mãe!— gritou, seu rosto iluminado pela antecipação.
Jarret não pôde evitar questionar porque Mrs. Lake parecia
aceitar tudo que Annabel dizia em relação à George. Claro que Mrs.
Lake não era do tipo enérgico, o que explicaria.
Mesmo assim, ele achava que Annabel estava demasiadamente
envolvida na criação do sobrinho. Ela precisava ter seus próprios
filhos para cuidar, de modo que não se sentisse compelida a cuidar
dos de seu irmão.
À exceção de sua tendência a mimar o menino, ela seria uma
excelente mãe. Ele podia imaginá-la balançando um bebê em seus
joelhos, cantarolando sobre pãezinhos quentes e arbustos de
amoreira, como a sua o fazia.
Surgiu em sua mente uma vaga lembrança de sua mãe puxando
Celia, Gabe e Minerva, dançando alegremente pelo quarto das
crianças ao ritmo de —Ride a Cock Horse to Banbury Cross.—
Naqueles dias, ele se considerava muito crescido para tais bobagens
e zombara da alegria deles.
Que insensato pequeno imbecil ele havia sido. Um mês depois,
ela havia morrido. E ele desejou desesperadamente poder retirar
cada zombaria que havia feito no quarto das crianças. Aquela agonia
ainda o assombrava.
Franziu o cenho. Este era precisamente o motivo pelo qual um
homem que confiasse em alguém seria um tolo. Seu pai havia
confiado em sua mãe – todos haviam confiado na mãe – e suas
vidas foram devastadas por isso. Jarret havia confiado na avó, e o
que conseguira com isso? Nada além de sofrimento.
Um homem estava melhor confiando apenas em si.
Eles partiram para Burton pouco depois das oito da manhã. Mrs.
Lake continuava levando a conversação, bombardeando-o com
perguntas a respeito da sociedade londrina. Ele nunca havia
conhecido uma mulher tão desejosa por qualquer tipo de fofoca, e
lamentou saber tão pouco.
Annabel permaneceu silenciosa, aparentemente fascinada pela
interminável paisagem primaveril pontilhada por carvalhos e bétulas.
Mas ao chegarem próximo à Tamworth, última parada para troca de
cavalos antes de Burton, ela voltou-se a ele.
—Porque não pede ao cocheiro levar-nos a Peacock Inn assim
que chegarmos em Burton? Acredito que você o considerará um
lugar agradável para ficar, e a esposa do estalajadeiro é uma
excelente cozinheira. Óbvio que Lake Ale vai custear sua estadia.
A tensão por trás de seu sorriso fê-lo considerar. —Não há
necessidade.— Ele não ia aumentar suas despesas apenas porque o
consideravam muito pomposo para ficar com sua família. —Estarei
perfeitamente confortável com sua família. Tenho certeza que há
algum pequeno quarto que eu possa ocupar durante o curto período
que estarei por aqui.
—Oh, isso não vai funcionar. — disse Annabel. —Sabe que
tendo alguém doente na casa, todos sofrem. Você estará muito mais
confortável na estalagem, te garante.
Seus olhos estreitaram. —Achei dinheiro é uma questão
delicada para cervejaria agora.
Quando Annabel empalideceu, Mrs. Lake disse
apressadamente, — Sim,
mas temos um acordo com a Peacock Inn, Lake Ale os abastece de
cerveja e eles nos fornecem alojamentos quando o necessitamos.
—Isso soa vantajoso apenas para uma das partes.— Retrucou
Jarret. —Com que frequência vocês necessitam de alojamentos para
visitantes? Espero que não estejam fornecendo toda a cerveja que
demandam.
—Claro que não! — respondeu Annabel. —O que Sissy quer
dizer é quando necessitamos de alojamentos, local para reuniões ou
comida, pagamos a estalagem com cerveja.
—Ainda é um furo em suas finanças. — ele persistiu—Se estiver
dando sua cerveja, não terá o que vender.
Normalmente seria rude insistir em se alojar com pessoas que
não queriam tê-lo como hóspede, mas até o momento haviam se
mostrado para ele como hospitaleiras pessoas do interior, que não se
incomodavam em ter uma boca mais para alimentar. Parecia-lhe
estranho que agora que quisessem alojar em uma estalagem.
—De qualquer forma, — Annabel estava firme—Creio ser
melhor. —.Havia um brilho teimoso no olhar.
Neste momento alvoreceu nele o motivo porque ela não o
queria na mesma casa que ela. Estava com medo que ele fosse
seduzí-la. Sem dúvida que a cunhada também se preocupava com
isso.
— Muito bem. — disse ele. —Ao Peacock Inn. Mas pagarei
pelas minhas próprias acomodações. Afinal, será apenas por uma
noite.
—Uma noite?— perguntou Mrs. Lake, claramente
desapontada.
Annabel parecia vastamente aliviada, o que despertou ainda
mais suas suspeitas. Ela estava certamente ansiosa em vê-lo pelas
costas. Seria pelo que eles haviam feito no celeiro no dia anterior?
Ou teria sido alguma outra coisa?
—Sua senhoria é um homem ocupado, Sissy— Annabel
disse. —Ele tem uma cervejaria para administrar em Londres, e não
devemos afastá-lo de seu trabalho durante tanto tempo.
—Suponho que não.— Mrs. Lake deu-lhe um leve sorriso. —
Mas sua senhoria deve ao menos juntar-se a nós esta noite, no
jantar da Associação dos Cervejeiros. É o único momento em que se
permitem a entrada de mulheres, além de haver boa comida e dança
...
— Nós não vamos Sissy. — cortou Annabel —como pôde
esquecer?
—Por que não? Hugh sempre...— Sissy empalideceu. —É
claro. Ela está certa, senhor. Não iremos.
—O que significa que o senhor também não poderá
comparecer. — Annabel terminou. — pois permitem apenas
membros ou a família de membros.
Jarret a encarou, questionando o motivo de estar tratando-o
de modo formal novamente. Só o fazia quando ficava nervosa. Algo
não estava no lugar e ele tinha de descobrir o que era. Como ela
claramente não o queria no jantar da Associação, ele começaria
certificando-se de comparecer.
—Na verdade não será problema. Minha avó conhece a
ambos Bass e Allsopp muito bem.— Os dois eram os mais
proeminentes cervejeiros da região de Burton. —Não creio que eles
não estariam inclinados a arranjar um convite para seu neto, de
quem quer que seja que dirija a associação. Cortesia profissional e
tal.
Isso acertou em cheio: Annabel mostrava uma expressão de
puro pânico.
Ele sorriu para Mrs Lake. —Deste modo, madame, eu ficarei
feliz em tê-las me acompanhando, já que seu marido não pode ir.
—Isto estaria bem. — disse Mrs. Lake, com feições agitadas
— Não é mesmo Annabel?
— Veremos como Hugh estará. — disse Annabel. —Nós o
avisaremos, meu senhor.
—Poderá me comunicar sua decisão esta tarde, quando eu
visitar seu irmão, após alojar-me na estalagem.
Ela disse imediatamente, —Oh, não acho que você deva...
—Devo negociar os termos de nosso acordo com ele, —
destacou—Afinal será ele quem assinará qualquer papelada que for
necessária.
— O gerente da cervejaria, Mr. Walters, poderá negociar os
termos, e entregar os papéis a Hugh para serem assinados.— A voz
de Annabel carecia firmeza. — Não há necessidade de incomodar
Hugh assim.
—Não negocio com gerentes.—disse firmemente—A menos
que seu irmão esteja às portas da morte, desejo falar com ele,
mesmo que brevemente.
Ela soltou um suspiro.—Muito bem.
—Após, eu gostaria de conhecer a cervejaria.
—Tenho certeza que isso poderá ser arranjado.— Ela disse
inexpressiva.
—Bom. — ele encostou-se no assento. —Fico feliz que nos
entendemos.
Estava na hora de descobrir o que exatamente o que a família
Lake estava escondendo.
Annabel e Sissy deixaram Jarret no Peacock Inn, onde ele
ordenou que o cocheiro os deixasse em casa antes de entrar no
estabelecimento. Enquanto se afastavam, Annabel sentiu crescente
desespero. Ele iria estar na casa em pouco tempo. O que diabos
iriam fazer agora?
—Lamento ter mencionado o jantar na associação. — Sissy
disse suavemente. —Não desejava piorar mais as coisas.
—Mas o que você estava pensando?
Sissy suspirou. —Eu pensei que vocês dois
pudessem dançar e talvez então,
sua senhoria...
—Milagrosamente decidisse casar comigo, levado
pela doçura e som de
uma quadrilha?
Annabel deu um riso amargo. —Já te disse, ele não é o tipo que
casa. Se ele for esta noite e Hugh também for, estaremos acabados!
—Que bobagem. Apenas terei de reforçar a Hugh que ele não
deve beber.
—Ele não pode aparecer! Nós fizemos muito barulho em torno
de sua suposta doença, não apenas diante de Jarret, mas também
para toda cidade. Todos acharão suspeito se Hugh aparecer depois
de tudo que falamos.
—Mas não conseguiremos convencê-lo a não ir. É o único
evento ao qual nunca deixa de comparecer. Uma parte dele ainda
sente-se compelido a manter as aparências.
— Eu sei. — disse Annabel, cansada. —Não creio que
importe, realmente. Tudo irá ao inferno no minuto que Lord Jarret
chegar para ver Hugh esta tarde. Mal temos tempo o bastante para
explicar a Hugh porque fomos a Londres e o que Lord Jarret faz aqui.
Não temos como saber como irá reagir e se Lord Jarret chegar nesse
meio tempo...
Era um pesadelo. Porque Jarret tinha de ser tão teimoso e
desconfiado? Porque ele estava se mostrando mais competente no
negócio do que ela pensava? Além de mais astuto ao ser capaz de
lê-la.
—Mesmo que sejamos capazes de superar esta tarde de
algum modo,— ela continuou—esta noite será um desastre.
—Não, não será.— Sissy deu tapinhas em sua mão. —Deixe-
me lidar com Hugh esta noite. Poderei mantê-lo longe da bebida por
uma noite. Você lida com Lord Jarret. Talvez com você dançando e
flertando com ele, não preste muita atenção em Hugh.
—Está apostando demais em minha habilidade em encantar
um homem. — disse Annabel. —E de qualquer forma, isso não
resolverá nosso problema desta tarde.
Chegaram em casa. Ainda bem que Hugh não estava à vista
quando o cocheiro de Jarret os auxiliava a descer do veículo e
orientava seu valete a retirar sua bagagem. Enquanto entravam na
casa, um torvelinho de desejo por um lugar próprio a atingiu, como
sempre acontecia. Ela nunca deixaria de sentir-se uma intrusa ali.
Não que ela não adorasse Sissy, Hugh e as crianças, mas
isso tudo pertencia somente a eles. Os tons pálidos de rosa e
lavanda eram muito insípidos para seu gosto. Ela aspirava por
vermelho brilhante e dourado, cores explosivas que combinavam
com as ferventes paixões que sempre pareciam revolver-se nela. Se
algum tivesse seu próprio lar, teria mesas de mogno polido e
tapeçarias do mais rico brocado. Com franjas. Muitas franjas.
Adorava franjas.
E nunca cheiraria a cera de abelha rançosa e vinho estragado.
Não se ela pudesse evitar.
Enquanto ela e Sissy entregavam seus casacos ao valete, o
mordomo informou-lhes que o senhor estava dormindo. Por um
momento tenso, Annabel quis gritar. Dormindo era a senha dos
criados para inconsciente. E passava pouco do meio-dia! Ele teria
passado a noite inteira bebendo. Novamente.
Então ela se deu conta de como poderia fazer aquilo trabalhar
a seu favor. — Sissy — chamou, assim que Geordie subia correndo
ao seu quarto e o mordomo se afastou— Tenho uma ideia. Tudo que
temos de fazer é evitar o encontro de Lord Jarret com Hugh até
amanhã cedo.
—Como isso resolveria qualquer coisa?
—Não vê? Lord Jarret quer conhecer a cervejaria esta tarde –
o permitiremos. Ele verá que a cervejaria está bem, que os homens
trabalham duro e nossas cervejas tem qualidade. E Mr. Walters vai
impressioná-lo com seu tino para negócios e profundo conhecimento
do que necessita ser feito. Além disso, Mr. Walters não dirá uma
palavra contra Hugh.
—Ainda não vejo...
—Enquanto Lord Jarret passeia pela cervejaria, você e eu
tentaremos convencer Hugh a aceitar nosso plano. Teremos de
convencê-lo de qualquer modo, e enquanto pudermos evitar que
Lord Jarret se reúna com ele esta tarde, teremos tempo de explicar
direitinho a Hugh. Então esta noite poderemos manter a conversação
longe dos negócios e Hugh longe da bebida.
Ela passeou pelo saguão, a mente trabalhando o plano. —
Hugh está sempre melhor pela manhã, quando não está de ressaca.
Se conseguirmos mantê-lo sóbrio até a manhã, estará pronto para
cumprir seu papel. Depois Lord Jarret estará em seu coche a
caminho de volta à Londres, e poderemos dar início a nosso projeto!
O que acha?
—Está deixando de fora um detalhe importante. Como
evitaremos Lord Jarret de encontrar com Hugh esta tarde? Ele
parece muito determinado.
—O Dr. Paxton ainda tem uma queda pela nossa governanta?
—Até onde sei, sim.
Um sorriso curvou os lábios de Annabel. —
Assim deixa a tarde de hoje por minha conta.

Capítulo Quatorze
Uma hora depois, quando Jarret chegou, Hugh ainda estava
desacordado em sua cama, graças aos céus. Annabel havia se
assegurado de que Dr. Paxton, que relutantemente concordou em
ajudar, estivesse na porta do quarto de Hugh quando Jarret
apareceu.
Ela fez um leve sinal ao médico, que clareou a garganta. —
Dei láudano para seu irmão, para ajudá-lo a dormir, Miss Lake. Se
sentirá melhor esta noite.
—O que ocorre?— perguntou Jarret.
—Oh, você chegou!— ela fez as apresentações, depois pôs
uma expressão preocupada, que não era inteiramente fingida. —
Temo que Hugh esteja sendo difícil. Quando contamos que você
estaria no jantar, ele insistiu em ir também. Mas Dr. Paxton esta
preocupado que seja demais para ele. Em realidade, opôs
completamente a menos que Hugh descanse esta tarde.
—E quanto à nossa reunião?— A voz de Jarret estava imersa
em desconfiança.
Ela abriu a porta, mostrando um Hugh que roncava. Ela e
Sissy haviam pegado umas misturas do Dr. Paxton e pulverizado
pelo quarto, fazendo-o cheirar a quarto de doente. Agora ela só tinha
de rezar para que Hugh não acorde antes de Jarret ir embora.
—Como pode ver, ele não está em condições de discutir
negócios. Mas de manhã estará perfeitamente bem. Além disso,
você terá uma ideia melhor que poderá planejar e propor após
conhecer a cervejaria esta tarde, não concorda?
Ele considerou. —Imagino que sim.
—Ele não deve ser sobrecarregado, meu senhor.—
Intrometeu-se Dr. Paxton. —Uma reunião de negócios seguido de
um jantar de negócios será demais para sua constituição.
— Obrigada Dr. Paxton.— disse Annabel, dando a este senhor
um olhar grato. — Agradeço sua ajuda.
—É claro, Miss Lake.
Ela pegou o braço de Jarret e conduziu-o escada abaixo. —
Lamento atrapalhar seus planos, mas Hugh estava inflexível para
comparecer ao jantar.Sentiu que seria rude deixa-lo ir só, uma vez
que se considera seu anfitrião.
Chegaram ao saguão. —Vou levá-lo a cervejaria,— ela
continuou—e poderá passar a tarde na companhia de Mr. Walters.
Depois, de noite o encontraremos no jantar, se tiver arranjado um
convite.
Jarret pegou seu casaco do valete e ajudou-a a vestí-lo. —
Bass foi gentil o bastante para me incluir, sim.
Claro que foi, pensou ela, ácida. Mr. Bass estava
provavelmente pulando de alegria por ter a companhia do filho de um
marquês.
Enquanto deixavam a casa, Jarret deu-lhe um olhar sombrio.
—Estou-lhe avisando Annabel, não deixarei a cidade antes de falar
com seu irmão.
—Claro que não. Ele também quer falar com você.— Disse
calmamente. De qualquer modo ele iria querer depois que ela e
Sissy tivessem falado com ele.
Andaram por um curto trecho em silêncio. —Me diga,— falou
ele enfim. —Pediu-me para ficar na estalagem por temer estar
comigo na casa? Teme que eu... tentasse beijá-la novamente?
Ela aspirou, esta certamente não era a pergunta que
esperava. Estranhou que ele interpretasse a situação daquela forma.
Mas funcionava a seus propósitos, de modo que deixaria que
continuasse pensando assim.
Ao invés, ela ouviu-se dizendo, —Honestamente, não tinha
me ocorrido. Mais agora que mencionou...
—Não se preocupe. Deixou-me clara sua posição. Não
costumo forçar mulheres a fazer nada.
—Nunca pensei que o fizesse.
—Nem mesmo quando propus a aposta?
—Não estava forçando. Eu poderia ter recusado.
—Esperava que o fizesse.
Ela não pôde evitar um sorriso. —Eu sei.
O ar realmente estalava entre os dois. Ela estava
dolorosamente consciente de como em seu último encontro, ele a
elevara sua paixão a um patamar que lhe fora desconhecido. Do
ardor em seu rosto ao declarar que não pensava em nada além de
possuí-la...
Oh, Deus, sempre que estava por perto, ele a fazia desejar
que as coisas fossem diferentes. Mas não eram. E ainda havia
Geordie.
Sua garganta estreitou. Sempre devia pensar em Geordie.
—Annabel, eu...
— Aqui estamos. — disse alegremente, não querendo escutar
as mentiras que ele falava para fazer-se sentir melhor quanto a
apenas querê-la em sua cama.
Ele lançou-lhe um olhar enigmático, depois olhou para a
cervejaria. —Estamos mesmo.
Ela apressou-se a entrar, e os aromas do lúpulo e malte a
atingiram,tão docemente familiar que acalmou seus nervos. Sempre
fora assim. O crepitar do fogo sob as caldeiras, o borbulhar do mosto
nos tonéis de cobre, e o aroma de ervas a acalmavam. Ali, sentia-se
em casa.
Ali, ela podia ser ela mesma.
Mr. Walters estava no pequeno escritório atrás do prédio.
Quando ele viu-a da janela, saiu para cumprimentá-la com um
sorriso. Ela apresentou Jarret, explicando o porquê de sua presença
e o que ele gostaria de ver. Afortunadamente, Mr. Walters estava a
par do plano e o aprovara desde o início, de modo que adaptou-se
com pouco incômodo à mudança de planos.
—Bem, então, — ela disse—Vou deixá-los a se conhecerem
melhor.
— Espere. — respondeu Jarret. —Aonde vai?
—Alguém tem de ficar com Hugh enquanto Sissy buscar as crianças
na casa de sua mãe.—Ela sorriu —Mas nos veremos à noite no
jantar.
Sem dar-lhe chance para protestar, ela dirigiu-se para fora da
cervejaria. Lá fora, apressou o passo. Tinham apenas umas poucas
horas para convencer Hugh.
Ao entrar na casa, gemeu ao escutar vozes altas. Hugh
estava acordado.
Encontrou ele e Sissy discutindo no escritório. Graças aos
céus que ela e Sissy haviam concordado em deixar as crianças na
casa da mãe de Sissy até depois da discussão estar encerrada, pois
Hugh estava em um estado digno de ser amordaçado. Estava de
roupão, andando para cima e para baixo pelo quarto, gesticulando
ferozmente. Com seu desbastado cabelo castanho todo arrepiado na
cabeça como um bólide de dente-de-leão e a barba de um dia por
fazer, mais parecia um trabalhador desalinhado que o quieto e
tranquilo estudioso que ela conhecia e amava.
No instante em que entrou, ele voltou-se para ela. —Isto é
tudo sua ideia, não é? Não acredito que foste a Londres pelas
minhas costas para procurar os Plumtree! Você disse que a viagem
era para arrumar uma boa escola para Geordie...
Não temos condições de conseguir uma boa escola para
Geordie, não vê?— ela devolveu aos gritos —Não do modo como
estamos indo.
Um olhar ferido atravessou seu rosto. Desabou na cadeira
atrás da mesa e enterrou o rosto nas mãos. —Eu sei, eu sei, Annie.
— Hugh e papai eram os únicos que a chamavam assim. —A
cervejaria não rende o bastante e falhei com nossa família.
—Não é isso que estou dizendo!— Era assim que todas as
discussões terminavam, com ele recriminando sua inabilidade de
cuidar da família e prometendo mudar. O que nunca acontecia. —
Estou dizendo que devemos fazer algo em relação às nossas
dificuldades.
Ele ergueu a cabeça para encará-la, parecendo um menino
perdido. —Então você se dispôs a fazê-lo, como sempre.
—Não me deixou escolha.— Disse suavemente. —Vi um
modo de salvar-nos e segui.— Quando ele olhou-a com expressão
de desespero, ela aproximou-se, pondo sua mão na dele. —Veja,
estivemos falando sobre isso por meses. ‘Se ao menos pudéssemos
entrar no mercado indiano’, você disse. ‘O negócio com a Índia nos
daria alento’ você disse. O plano era seu.
—Um plano estúpido.
—Não, é um bom plano. Tudo que fiz foi pô-lo nos trilhos.
—Fazendo um pacto com um demônio.
—Ele não é um demônio,— disse resoluta, —e não fizemos
um pacto.
Será que Hugh sabia da aposta? Ela dirigiu um olhar furtivo à Sissy,
que negou com a cabeça. Graças aos céus. —Lord Jarret Plumtree
está disposto a ajudar-nos com os capitães das Índias Orientais. Ele
é um cervejeiro competente e muito familiar com os negócios.
Hugh bufou. —Não foi o que eu ouvi.
—Pois ouviu errado. Sua avó tem confiança nele o bastante
para pô-lo no comando da operação.— Ela segurou sua mão na
dela. —E tenho confiança em você para crer que poderá fazer isso
funcionar. Se você ao menos...— Segurou-se muito tarde.
Os olhos dele escureceram. —Vá em frente, diga. Se eu fosse
mais como nosso pai.
—O quê? Não! Não era isso que quis dizer.— Amaldiçoou o
pai por tudo que havia feito para tornar Hugh assim.
—Claro que foi.— Arrancou suas mãos das dela, levantou-se,
voltando a caminhar.—Pensa que não sei o desapontamento que fui
para ele? Sei o que você e Mr. Walters estão pensando. Que não
consigo salvar a cervejaria por não conseguir lidar com tipos como
Bass e Allsopp, e tampouco com os capitães da Índias Orientais.
Ela olhou-o espantada, chocada por ele acreditar que ela se
sentia assim. Tinha razão em relação ao pai, mas ela? —Juro que
não fazia ideia que pensava...
—Poupe-me Annie.— Sombrio, Hugh aproximou-se da garrafa
de whisky na mesa. —Vejo em seus olhos toda vez que me olha.
Incomoda você que não seja mais como o grande Aloysius Lake...
— O que a incomoda. — disse uma voz baixa da porta, — É a
mesma coisa que incomoda a todos nós, pai.
Ela girou para encontrar Geordie parado à porta com
aparência desesperada.
—É a bebida.— O olhar de Geordie atingiu a mão de Hugh
que erguia a garrafa. —Sempre foi a bebida.
Oh não, porque céus havia Geordie decidido confrontar Hugh
agora?
Cruzando os braços sobre o magro peito, Geordie encarou
Hugh. —Tive de mentir por você, pai. Elas tiveram que dizer à Lord
Jarret que você está doente para fazê-lo ajudar-nos, então tive que
mentir, pois elas tiveram que mentir.
Hugh congelou, o rosto pétreo. Annabel e Sissy tentaram falar
com ele sobre a bebida antes, mas isso sempre fizera piorar sua
atitude de afastar-se do mundo, então desistiram.
Ignorando Geordie, Hugh mirou em Sissy um olhar traído. —
Disseram àquele maldito lorde que eu estou doente?
Geordie não deixou-se ser ignorado. —Não se irrite com elas.
O que mais poderiam ter dito? Que estava bêbado?— O rosto
avermelhou-se de ira. —Que nada lhe importa que não essa.essa
maldita garrafa de whisky em sua mão?
Desta vez Hugh olhou para Geordie, realmente enxergando-o,
e o sangue fugiu-lhe do rosto. —Isso é o que lhe disseram, garoto?
Que sou um bêbado?
—Não me disseram nada. Mas não sou cego. Vejo como
passa suas noites. Todos vemos.— Aspirou lamentosamente. —
Costumava fazer coisas com nós, as crianças. J-jogava cartas, nos
levava a passear e... agora só b-bebe.
Hugh largou a garrafa. —Venha aqui garoto.
Engolindo com dificuldade, Geordie aproximou-se, —Sim,
senhor.
—Então seguiu as mentiras de sua tia e sua mãe, não?
Geordie tinha um olhar teimoso no rosto. —Não parecia que
tinha escolha. Até eu sei que a cervejaria está falindo e tia Annabel
disse que tínhamos que fazer alguma coisa.
—E você acha que esse Lord Jarret pode ajudar. — Hugh
disse, com um pouco de desprezo.
—Ele parece um cara legal.—Geordie disse. —Nos tratou
muito bem na estrada. Chamou um médico quando mamãe ficou
doente, e pagou-o também.
—Esteve doente?— Hugh perguntou para Sissy, alarmado.
—Apenas uma indisposição estomacal.— Ela respondeu
gentilmente. —Passou em um ou dois dias.
—Um dia!— A preocupação transtornou-lhe as feições.
—Mas Annabel cuidou bem de mim, e sua senhoria foi muito
gentil.
—Foi?— Seus lábios estreitaram. —Foi muito prestativo,
suponho.
—Você não estava lá, Hugh.— Annabel cortou antes que seu
temperamento disparasse. —De modo que prestou-nos um serviço
como o faria qualquer cavalheiro.
— Aposto que o fez. — resmungou Hugh. —Eu deveria ter
estado lá para cuidar dela.
—Sim, deveria— Sissy murmurou.
As palavras resolutas afetaram-no. Passou os dedos pelo
cabelo bagunçado, olhando novamente para Geordie. —Esse filho
de marquês. Acha que ele pode fazer algum bem?
—A mim parece que não temos nada a perder solicitando-lhe
ajuda.
—Já vejo.— Hugh voltou-se para encarar Annabel. — O que
exatamente quer que eu faça agora que conseguiu que sua senhoria
viesse a Burton?
Aliviada por Hugh estar disposto a ouvir, Annabel disse, —
Esta noite, apenas o conheça. Se não o aprovar, esqueceremos essa
história toda.— Embora ela fosse fazer o possível para que tal não
ocorra. —Se estiver disposto a arriscar-se com ele, então poderá
discutir negócios com ele pela manhã e entender como ele pode nos
ajudar a vender nossa cerveja para os capitães da Companhia das
Índias Orientais.
Ante sua careta, ela completou rapidamente, —Mas esta
noite, apenas o conheça.
Passou-se um longo momento, em que Sissy e Annabel
prendiam suas respirações, até que ele respondeu, —Está certo.
Elas soltaram a respiração. Talvez as coisas terminem bem,
afinal.
—Mas não irei me fazer de doente, entenderam?— Quando
ela e Sissy pareciam estar em pânico, e acrescentou—Não irei
contradizer o que disseram a ele, mas eu não mentirei. Deixe-o
pensar o que queira.
Sissy aproximou-se da mesa.—E não irá se embebedar hoje?
Havia uma nota dura como aço em sua voz, que Annabel
raramente ouvia. Mas ele ouviu e pareceu acatá-la. Ele escrutinou
seu rosto, os olhos suaves.
—Farei o possível, meu amor.
Capítulo Quinze

Jarret parou na imponente sala de reuniões da prefeitura da


cidade, cercado por um grupo de cervejeiros. Quietamente
bebericava seu vinho, tentando acompanhar a conversação, mas
isso era difícil quando estava tão distraído. Ele e Bass haviam
chegado há uns vinte minutos, junto com a esposa deste último, e
até o momento não havia visto nem sinal de Annabel. Desde sua
fuga naquela tarde, ele se perguntava se confiava em que ela fosse
aparecer.
Concedia que ela realmente tinha razão em fazê-lo visitar a
cervejaria antes. Estava impressionado. Dado que não possuíam os
modernos equipamentos que ele tinha por certo na Cervejaria
Plumtree, estava surpreso pelo quão tranquilamente as operações
transcorriam. E Walters era uma preciosidade entre os gerentes de
cervejaria, citando taxas de produção e cotas de cabeça.
Mas claramente o lugar estava em dificuldades. O lúpulo que
usavam não era de primeira qualidade, e os vazamentos nos antigos
tonéis de aço estavam remendados por folhas de latão. O pior era
que Walters estava tão relutante em falar de Lake que Jarret estava
considerando se não havia mais na doença do homem do que
Annabel contara. Se Lake requeria cuidados médicos constantes e
láudano para dormir, não agourava nada bom.
À medida que o tempo passava, ele começou a sentir uma
sensação ruim na boca do estômago. Não gostava de ser dado por
tolo. Se Annabel e o irmão não aparecessem aquela noite…
—E o que o traz à nossa cidade, Lord Jarret?— Um dos
cavalheiros lhe perguntou. —Tentando checar a competição?
Ele forçou-se a prestar atenção. Mais cedo naquele dia, havia
se questionado se devia mencionar o possível investimento junto aos
Lake, mas nos negócios, como nas cartas, era melhor era melhor
guardar algumas coisas para si. Infelizmente, isso o dificultava em
fazer perguntas sem alimentar especulações.
—Na verdade, estou visitando amigos. — usando a primeira
opção que lhe ocorreu. —Estou certo de que os conhece. A família
Lake?
Os homens trocaram olhares. Ele estava prestes a perguntar
o que achavam dos Lake, quando um som na entrada os fez
voltarem-se.
Falando no diabo.
Ele mal tivera tempo de registrar seu alívio ao se dar conta
que Annabel não lhe mentira quando algo chamou sua atenção. Não
a magra e pálida figura com idade próxima da dele que devia ser
Hugh Lake. Não, a única pessoa para quem tinha olhos era uma
beleza estonteante segura por um dos braços de Lake.
Annabel. Mas uma versão de Annabel que nunca havia visto.
Seu esplêndido cabelo acastanhado estava arranjado acima
de sua cabeça em uma profusão de cachos desarrumados que
realçava suas delicadas feições. Aquela noite não parecia uma
duende, mas antes uma rainha das fadas, adornada por faiscantes
gemas e um vestido de seda que delineava suas luxuriantes curvas
como a carícia de um amante.
Ao vê-la, seu sangue esquentou, esfriando em seguida. O
vestido possuía um corte mais baixo que das outras damas,
remetendo à modo de alguns anos passados, quando quase todas
as mulheres de Londres sobravam para fora de seus vestidos de
noite. Todos os vestidos de Annabel estavam datados, e o modo
como este estava datado fazia seus batimentos acelerar. Ele podia
ver por demais as voluptuosas curvas de seus seios. E também
todos os outros homens. E ele não gostava nada da ideia.
— Perdoem-me senhores. — ele disse e deixou-os para
aproximar-se dos Lake.
Não conseguia tirar os olhos de Annabel, algo que outros
também pareceram notar – pois quando conseguiu afastar os olhos
dela, encontrou seu irmão encarando-o ameaçadoramente.
Maldição.
Ao alcançá-los, Mrs. Lake fez as apresentações, claramente
nervosa. E talvez com boas razões, diante do olhar afiado com que
Lake o mirou. Antes que o homem dissesse qualquer coisa, Jarret
murmurou: —Devo avisá-lo, senhor, que disse aos cervejeiros que
estou em Burton para visitar amigos, você e sua adorável esposa,
claro. Não acho que queira nossos negócios divulgados entre eles.
O olhar severo de Lake suavizou um pouco. —Obrigado.
Aprecio sua discrição.—Um valete aproximou-se com taças de vinho.
Lançando um olhar à esposa, Lake recusou a taça. Ele parecia mais
saudável que Jarret esperava, levando em conta o que o médico
dissera à tarde. Talvez a doença fosse mesmo temporária.
Quando Lake retornou sua atenção à Jarret, a ferocidade
estava de volta em suas feições. —Entendo que devo agradecê-lo
pelo retorno seguro de minha família à Burton.
Jarret imaginou o quanto as mulheres teriam contado a ele
sobre a viagem. Melhor errar sendo cauteloso. —Apenas peguei
emprestado o coche de meu irmão para transporte, senhor. Como
teria de vir para conhecer sua cervejaria, achei melhor viajarmos
juntos de forma confortável.
—Foi generoso de sua parte, meu senhor.—Lake afirmou
rigidamente. —Mas creio que a viagem teve suas dificuldades, uma
vez que Sissy esteve doente.
—Sua esposa teve alguma indisposição em Daventry, sim.
Mas sua irmã é excelente enfermeira. Fiz muito pouco. Cuidei de seu
filho, apenas.— Sorriu —Na verdade, foi recíproco, mantivemos um
ao outro longe de problemas, com George por perto, mal pude
engajar-me nos passatempos que um solteiro geralmente apreciaria.
Achei que ele seria muito novo para jogar madrugadas adentro e
balançar garçonetes nos joelhos.
O comentário ultrajante mereceu um olhar de censura de
Annabel, mas também um relutante sorriso do irmão. —Me atrevo a
dizer que Geordie discordaria.
—Sim. Está mais ansioso por se tornar um homem que seu
corpo o permite.
Lake relaxou. —Realmente o é. O rapaz tem fogo no corpo,
devo admitir.
Outros cervejeiros se juntaram a eles, obviamente ansiosos
por farejar a relação entre os dois homens. Por sorte, o anúncio de
que o jantar estava sendo servido foi efetuado em poucos
momentos, de modo que ele e Lake não tiveram de suportar muitas
perguntas.
Lamentavelmente, ele acabou sentado do lado oposto a eles
na mesa. Annabel estava instalada ao lado do irmão e um maldito
rapaz que mantinha os olhos em seus seios. Jarret passou a próxima
meia hora dividido entre escutar boatos sobre os negócios e
considerando a possibilidade de arrancar os olhos do acompanhante
de Annabel com seu garfo para ostras. Seu único consolo foi que ela
sentiu-se desconcertada o bastante com o comportamento lascivo
para cobrir os seios com seu xale.
Só então ele relaxou, embora se perguntasse por que as
atenções do outro homem haviam-no irritado tanto. Ela deixara muito
claro que podia cuidar de si.
Ela havia feito-o entender o que ele era para ela. Ele não tinha
o direito de ser possessivo. Ele nem mesmo queria tal direito.
Ou não quisera, até vê-la aparecer com aquele vestido de
rainhas das fadas que o fazia ansiar por despi-la um centímetro por
vez.
Estava confundindo tudo aos infernos. Tinha que parar de
pensar nela naqueles termos.
Forçou-se a concentrar-se no que os homens estavam
falando. A primeira coisa que ele aprendeu foi que os jantares entre
os comerciantes diferiam vastamente dos que ocorriam entre seus
pares. Os comerciantes realmente discutiam… comércio. Seu pai
consideraria isso vulgar.
Ele achou revigorante. Havia uma energia entre esses
homens que não existia nos poucos eventos sociais aos quais
comparecia. E eram sujeitos astutos, cada qual tratando de arrancar
alguma informação do outro a respeito da concorrência sem ser
pego. Lembrava-o de estar jogando cartas com algum jogador
verdadeiramente habilidoso. Tal como nas cartas, apenas o mais
esperto em deduzir podia ganhar e Jarret tinha o desejo de ganhar
nisso também.
Quando começou o baile, ele estava relutante em deixar a
mesa, mas não precisou preocupar-se com isso. Embora os
cavalheiros houvessem se deslocado para o salão do baile, muitos
permaneceram junto à mesa do ponche, discutindo as últimas
patentes de caldeiras de vapor.
Lake logo juntou-se ao grupo, e Jarret observou enquanto o
homem dava suas opiniões, embora versado, sem tanto entusiasmo
quanto os outros cavalheiros.
Quando Mrs. Lake veio em busca do marido para dançar,
Allsopp, que estava próximo à Jarret, observou: —Miss Lake está
muito bonita esta noite.
Jarret lançou a ele um olhar afiado, vendo como ele olhava
Annabel com mais que vago interesse. O estranho sentimento de
posse que cresceu dentro dele o chocou tanto quanto a raiva
assassina que sentiu ao ver Allsopp descer o olhar pelo corpo de
Annabel.
Afinal, o maldito homem tinha esposa! Ele não devia estar
olhando Annabel daquela forma. Ninguém devia olhá-la daquela
forma. Com muito esforçou suprimiu o aviso que queria sair de seus
lábios. No lugar disso, observou, —É de surpreender que nunca
tenha casado.
Allsopp bebeu seu ponche. —Não foi por falta de propostas.
Sei que recusou dois ou três homens que lhe propuseram
casamento.
Sentiu-se desconcertado. Aparentemente não era o primeiro a
dar-se com os altos padrões de Annabel. Ao invés de afagar seu
orgulho, despertava mais perguntas. Porque uma mulher tão
descaradamente sensual e capaz de amar crianças evitava o
casamento?
—Talvez queira permanecer em casa e cuidar do irmão. —
aventurou-se Jarret.
—Bem, com certeza que o homem precisa de cuidados.
Algo de zombador no modo como Allsopp falou despertou
suspeitas em Jarret. —Quer dizer por sua doença?
Allsopp riu. —É assim que chamam esses dias?
Jarret aquietou-se. Fazendo esforço para soar indiferente,
disse, —Não, creio que não.— Segurou a respiração, esperançoso.
Se perguntasse à queima-roupa, Allsopp provavelmente recuaria.
—Claro, não toleramos embriaguez como vocês lordes, o
fazem. Não há nada mal em tomar um trago ou outro de vez em
quando, mas quando um homem negligencia seus negócios porque
está afogado na garrafa, não podemos omitir isso.
Uma bola de chumbo pesou na boca de seu estômago. Então
era isso que Annabel estava escondendo todo o tempo?
Mas talvez não devesse confiar na palavra de um concorrente
que poderia ter adivinhado o real motivo de sua visita à cidade. —
Não sabia que o problema de meu amigo se tornava tão
pronunciado. — disse suavemente. —As senhoras disseram que
estava doente, e concluí que era esse o motivo da negligência.
Bem , é claro que elas não contariam a verdade a você. Seria
embaraçoso. Estão tentando esconder de todos.— Allsopp bufou. —
Como se fosse possível, em uma cidade pequena como esta.
Pessoas falam. Serventes falam. O homem lhe parece estar doente?
Ele apontou para o salão do baile, onde Lake dançava um
bailado escocês de forma bem competente para alguém que
supostamente estava sob a influência de láudano algumas horas
atrás.
Mas também, o homem estivera adormecido no meio do dia.
Quem além de um doente faria isso?
Um homem que estivera bebendo a noite toda.
Que vá tudo ao inferno. Agora outras peças faziam sentido – o
desconforto de George quando o assunto era a doença de seu pai.
Reação de Annabel ao saber que ele iria a Burton para conhecer a
empresa. O nervosismo de Mrs. Lake. Ele soubera todo o tempo de
que estavam escondendo algo. E com certeza não era que Mr. Lake
estivesse mortalmente doente.
Ele deveria ter adivinhado. Não estavam em Londres, e os
homens provincianos não abandonariam um dos seus apenas por
estar doente. Eles provisionariam, tentando ajudar a família,
mostrando solidariedade pela situação.
Mas um bêbado não angariava tal simpatia – especialmente
nos círculos de comerciantes mais conservadores. Era visto como
um homem fraco e instável, e claro que o era. Teriam pena da
família, e pior, os condenariam ao ostracismo.
Raiva enchia-lhe o peito. Uma doença mortal poderia ser
manejada. Problemático, mas manejável. Mas isso era bem mais
arriscado. Se Lake tinha perdido a confiança de seus pares devido a
uma falha de caráter, como diabos Jarret haveria de convencer os
capitães das Índias Orientais a comprar sua pale ale?
Se Lake estivesse à beira da morte, Jarret poderia convencer
os homens a colocar Annabel no comando. Geordie seria o herdeiro,
e Annabel gerenciaria Geordie. Mas um bêbado era imprevisível e
não merecia confiança. E qualquer um que fosse para sua cama
seria tido também como alguém desmerecedor de confiança, pior,
seria considerado um tolo.
De qualquer forma, era uma associação desastrosa. Plumtree
já estava em dificuldades – fazer parceria com uma companhia à
beira da falência podia estar empurrando-a à borda do penhasco.
Como ele podia ser tão estúpido? Deixara que a conversinha de
Annabel para uma solução rápida ao mercado estagnado o
seduzisse a assumir riscos tolos.
Não, ele deixara o pensamento de tê-la na cama seduzi-lo. E
agora, a companhia sofreria, porque ele não podia deixar passar
uma boa aposta. Porque ele a desejava.
Ainda a desejava, diabos o levem. —A quanto tempo Lake
vem negligenciando a empresa?— Ele rosnou.
—Ao menos um ano. Pelo que ouvi, ele começou a beber
pesado depois que os russos aumentaram suas tarifas e isso afetou
os negócios. Ele começou a ter perdas e não suportou a pressão. Ou
assim me parece. Desde então, apenas os esforços de Ms. Lake e
seu gerente tem mantido o lugar de pé. Assim sendo, Ms. Lake fará
qualquer coisa para salvar a cervejaria mas ele é mulher e...
‘…Não consegue dirigir efetivamente uma cervejaria que não
lhe pertence, não é mesmo?’— disse uma voz ferida atrás deles.
Voltaram-se, encontrando Annabel parada ali, pálida, suas
feições expressando aguda vergonha. Quando olhou para ele,
vislumbrou um traço de culpa em seus olhos.
Assim ele viu com certeza que Allsopp havia dito a verdade.
Foi tomado por uma fúria fria, congelando seu coração. Ela
tinha mentido para ele, sabendo bem como isso afetaria sua decisão
quanto ao projeto. Usara sua simpatia pela condição do homem
doente contra ele. Pelo que soubesse, até mesmo sue beijos foram
fingidos para fazê-lo entrar no esquema do irmão. No esquema dela.
Miss Lake faria tudo para salvar a cervejaria do pai.
E ele havia ido à sua esteira cegamente, como um obsecado
idiota. Quando que iria aprender? Se importar com outros era a
forma certeira de encontrar dor e perda. E perder a Annabel em
quem pensara em confiar era um dos golpes mais cruéis.
—Miss Lake,— disse Allsopp após um momento de horrível
silêncio. —Lamento tanto. Não a vi aí.
— Claro que não. — respondeu, embargada.
A despeito de tudo, sua expressão devastada atraiu sua
simpatia. Ele suprimiu aquele impulso implacavelmente. Ela era uma
maquinadora mentirosa, e ele não queria saber dela.
Mas quando virou-se para se afastar, ela avançou, pondo a
mão em seu braço. —Vim buscar sua senhoria para uma valsa. —
ela disse a Allsopp, sua mão enterrando-se no braço de Jarret em
um apelo silencioso. —Pediu que lhe guardasse uma dança hoje,
mais cedo.
Era um ato audacioso, e um que mostrava sua desenvoltura,
já que ele definitivamente não havia pedido uma dança, sabendo que
isso só aumentaria a necessidade de leva-la e fornicar até perder os
sentidos.
Por meio segundo, cogitou chama-la de mentirosa na cara.
Mas não podia deixar de lado anos de boa educação tão facilmente,
mesmo frente a uma dama que se revelava uma maquinadora.
Especialmente quando aqueles malditamente suaves olhos
suplicavam-lhe silenciosamente.
Olhos mentirosos, tratou de lembrar. Ela sempre soubera que
ele estava assumindo um grande risco, e havia propositalmente
escondido a verdade dele. E ainda chamava a ele de irresponsável?
Criticou-o por ser um jogador? Que atrevida.
Muito bem. Dançariam. E ele deixaria claro que estava farto
dela e de Lake Ale, com ou sem aposta. Ele não concordaria com
aquilo.
Andaram até o salão de dança, ambos conscientes da
proximidade dos demais. Apenas quando a música começou e ele a
tinha nos braços que ela atreveu-se a falar.
—Suponho que queira a verdade, agora.—
— Mas que ideia curiosa. — disse friamente. —Sim, vamos à
verdade. Se você ao menos entende o que é isso.
—Jarret, por favor, não fique bravo.
—Esse tempo todo, esteve fazendo-me de tolo.
— Não, Eu achava – ainda acho – que investir na Pale Ale vai
salvar a cervejaria. Mas sabia que você não consideraria ajudar-nos
se pensasse...
—Que seu irmão é incompetente? Que ele destruirá a própria
empresa bebendo até o estupor todos os dias?— Deu-lhe um olhar
gelado, sem se importar que metade dos pares naquela sala estava
de olho no que estava ocorrendo entre eles. —Você está danada de
certo que eu não consideraria.
Fê-la girar tão rapidamente que ela quase tropeçou, e ele teve
de esforçar-se para prestar atenção na música e manter sua fúria
sob controle. Parecia custar-lhe um esforço hercúleo, o que era
surpreendente. Sempre tinha se orgulhado de sua capacidade em
controlar as emoções.
Quando conseguiu falar, silvou:—A Cervejaria Plumtree
depende de que eu não corra riscos desnecessários, e que não
arraste a empresa ao mesmo fosso que seu irmão arrastou a dele.
Se você pensa que vou prosseguir com sua idiotice agora que me
atraiu para cá com seu triste conto do irmão doente, está louca.
—Atrair você!— Seus olhos cravaram nele. —Você que
sugeriu a aposta. A aposta que você perdeu. A aposta ao qual
aparentemente decidiu não cumprir.
Sua paciência estava no limite. —Aquela aposta estava
baseada em falsas promessas, como bem sabes. Até onde sei, isso
a anula completamente.
Dançaram em silêncio por alguns momentos, ele conduzindo
os movimentos e ela fixando o olhar atrás de sua cabeça, enquanto
giravam e rodopiavam, como dois autômatos movidos a
engrenagens de metal.
Então ela deslocou o olhar para prender o dele. —E se
apostamos de novo, desta vez sem falsas promessas?
O brilho metálico em seus olhos fê-lo ver que ela falava sério.
E a resposta imediata de sua pulsação mostrou que deixava-se levar
pela ideia do mesmo modo que da última vez.
Irritado por ser traído pelas reações de seu corpo, abriu a
boca para manda-la ao inferno. Em vez disso saiu, —O que quer
dizer?
Mas sabia o que ela queria dizer. Por que deixava pensar que
ele estava mesmo considerando essa ideia?
Porque acima de tudo, ele ainda a queria em sua cama. E
merecia tê-la! Ela tinha mentido e manipulado ele. Ele tinha de tirar
algum proveito daquela bagunça toda.
— A mesma aposta. — ela replicou. —Se eu vencer, você
ajuda Lake Ale junto aos Capitães das Índias Orientais. Se você
ganhar, eu...— Ela olhou furtivamente para os lados.
Ele inclinou-se, aproximando dela para sussurrar, —
Compartilhará minha cama por uma noite. Vamos, diga
Ela virou a cabeça meio centímetro, sussurrou, —
Compartilharei sua cama por uma noite. Mesmas condições da outra
vez.
Ele recuou para encará-la. Suas bochechas estavam rosadas,
mas a teimosia em seu queixo era desafiante. Ele irritou-se
novamente ao ver o quanto ela estava disposta a sacrificar pela
cervejaria.
Mas não era mais do que sua avó sacrificaria. Annabel
também tinha uma família a salvar.
Quando este pensamento despertou indesejada simpatia, ele
fez uma careta. Ela não abriria mão de sua inocência por um tratante
como ele sem ter certeza de conseguir algo em retorno. Isso tinha de
ser outro artifício...
—Um plano excelente, minha querida. De qualquer forma,
conseguirá o que quer. Se ganhar, terá minha ajuda para a
cervejaria. Se eu ganhar, irá correndo ao seu irmão por eu tê-la
arruinado, e então, vou ver-me acorrentado, tendo você e a
cervejaria de seu irmão definitivamente.
Ela olhou-o espantada. —Que coisa horrível de se dizer! Eu
nunca...
—Não? Diga-me, suplico, como quer que acredite?
Seu olhar escorregou para sua gravata, a cor suas bochechas
se intensificaram. —É que não será possível arruinar algo que já está
arruinado.
Ela disse tão suavemente que ele não teve certeza de haver
ouvido corretamente. —O quê?
— Não me faça repetir. — ela disse a meia voz. —Tive um
noivo, lembra? Éramos jovens, impetuosos e apaixonados. Pode
adivinhar o resto.—Ela ergueu o olhar para ele. —Porque acha que
nunca me casei, foi porque nenhum homem quer uma noiva impura.
— Ele escrutinou seu rosto, mas o mero fato de contar-lhe tudo isso
dava o tom da verdade. E ela estivera demasiadamente confortável
com as intimidades que tiveram, demais conhecedora de coisas que
nenhuma virgem saberia.
—Então,— ele disse, tratando de absorver tudo—mais
mentiras são desmascaradas.
Seus olhos exprimiram ardor. —Nunca menti sobre isso.
Nunca perguntou. Você apenas achou que… eu era isso que
pensou.
As palavras o fizeram ranger os dentes, mas ela estava certa.
Ela nunca havia afirmado ser inocente. Mesmo se tivesse, ele não
poderia culpá-la. Não era algo que uma mulher revelava a qualquer
um.
—Seu irmão sabe?— perguntou.
—Sim.
—Como ele pôde...
—Já disse tudo que tinha que dizer a respeito.— Seu rubor
havia se espalhado até o topo de seus seios – bastante expostos,
por sinal, que ele poderia desfrutar à vontade se aceitasse sua
proposta. E ganhasse o jogo de cartas.
Maldição, como ele podia estar considerando isso? Fazendo
apostas tolas com ela é o que havia trazido-lhe problemas.
Ainda assim... aí estava sua chance de fazê-la pagar por tê-lo
enganado, por utilizar-se de artifícios para trazê-lo até ali, para início
de conversa. Não estaria realmente se arriscando, pois iria se
certificar de ter tudo a seu favor desta vez.
—Então, está disposto?— ela murmurou.
—Tenho algumas condições.
Seus olhos alargaram.
—Jogaremos piquet.
—Por quê?
—É óbvio. Depende mais de habilidade que sorte.— E era seu
jogo. Seus olhos estreitaram-se nela. —Sabe jogar?
— Sei. —disse, mas a voz tremeu.
Bom! Já estava mais que na hora de ele ter alguma vantagem.
Ele segurou-a mais forte pela cintura. Não havia nenhum
inferno de possibilidade de ele perder esta partida. Não haveria
distrações, nem Masters ou Gabe fazendo comentários que dividiam
sua atenção com das cartas.
— E jogaremos apenas uma partida. — continuou—O
vencedor leva tudo. Já perdi muito tempo com suas tramoias.
Ela ergueu o queixo. —Tudo bem.
Aí estava de novo, aquele velado ‘tudo bem’, que nunca
falhava de ferver-lhe o sangue. —Aceita ambas as condições?
Ela assentiu.
Deram outra volta pelo salão enquanto ele pesava suas
opções. Poderia jogar a proposta em seu rosto, ir embora e nunca
olhar para trás. Mas quando ganhar, finalmente teria alguma
compensação pela decepção que sofrera. E ele queria aquela
compensação. E como queria.
E mais, merecia-o por todas as vezes que ela o havia
permitido beijá-la e tocá-la sem que tivesse significado nada para
ela. Havia deixado claro que não o aceitaria para marido, embora
também recusasse a tornarem-se amantes. E sem razão, uma vez
que já não era casta. Então provavelmente estava querendo apenas
enrolá-lo, deixando-o tão obcecado que não se importaria com
quaisquer mentiras que ela contasse. Tal possibilidade o enfurecia.
—Tenho um pedido antes que você me dê sua resposta.
—Não tem direito a pedidos.— Cortou ele.
—Na única vez em que eu e Rupert... bem, ele tomou
algumas precauções contra certas... eventualidades. Se ganhar a
aposta, pediria que fizesse o mesmo.
—Posso fazê-lo.— respondeu.
Ela engoliu em seco.
—Isso quer dizer que aceita a aposta?
Ele estacou, mas era uma certeza. E ele nunca deixava
passava as coisas certeiras.
—Sim.— A valsa estava chegando ao fim, e eles
provavelmente não teriam outra chance de falarem à sós. —Quando
e onde este jogo está para ocorrer?
—Uma hora no escritório da cervejaria. Tivemos que despedir
a turma da noite, de modo que fechamos nesse turno, mas tenho a
chave.— A música terminou e ambos recuaram, ela para a
reverência, ele, para inclinar a cabeça. —Esperarei você por você
dentro do escritório.
Enquanto ele tomava seu braço para conduzi-la fora do salão,
ela murmurou:—Apreciaria se evitasse visto a caminho da cervejaria.
—Não se preocupe. Ninguém saberá por mim.
—Obrigada. A vizinhança ainda me considera respeitável.
Seu tom cutucou sua consciência, mas ele afastou isso. Até
onde entendia, ela tinha feito a própria cama. E do modo como tinha
feito, danado de certo que ele deitaria nela.
Annabel olhava pela janela do coche da família Lake enquanto
entravam no pátio da casa. Ela havia evitado o desastre, mas até
quando? Sempre jogara bem o Piquet,mas seria suficiente para
vencer Jarret? E se perdesse...
O salto de seu pulso fê-la dar uma careta. Ele não deveria
afetá-la dessa forma, não depois das palavras ácidas e dos olhares
irritados. Mas debaixo da raiva, o desejo fervia, um desejo sempre
presente e ao qual ela respondia diretamente pela superfície de sua
pele.
Ela gemeu. Admita. Você o quer em sua cama.
Era certo, ela queria. Isso não fazia o menor sentido.Um dia
desses ela devia aprender que não deveria desejar coisas que não
eram boas para ela. Como certos diabretes que sabiam exatamente
como fazer uma mulher tremer nas bases com apenas um olhar.
E não ajudava nada que ele estivesse vestindo trajes de noite
pela primeira vez desde que o conhecera.Vê-lo tão finamente vestido
fizera algo se revirar em seu interior. Perto de outros comerciantes,
com suas figuras envoltas em coletes pomposos e cabelos
empoados, sua sobrecasaca negra sob medida, simples colete
branco de cetim, camisa branca como neve, chamava a atenção
como um polido homem de certo status, moldado para melhores
coisas que socializar com um bando de impetuosos cervejeiros em
Burton.
Ainda assim, não demonstrava por palavras ou ações, estar
consciente da diferença.Se não fosse por sua postura sofisticada e
roupas elegantes, ninguém teria imaginado que ele não era apenas
mais um cervejeiro. Ela tinha ouvido trechos de suas conversas, e
ele havia se enturmado com os cervejeiros de uma forma que Hugh
nunca tinha sido capaz de fazer. Ou mesmo ela.
—Lorde Jarret parece ser um bom tipo. — disse Hugh, em
frente a ela—Sabia um pouco mais sobre o negócio de cerveja do
que eu esperava. Ele olhou para mim de forma estranha quando eu
disse que estava ansioso para o nosso encontro na parte da manhã,
no entanto. Que seria quando vamos nos encontrar, não?
—Sim.—Mas só se eu vencê-lo no piquet.
Ela forçou um sorriso em apoio ao seu irmão. Fiel à sua
palavra, Hugh tinha só bebido ponche, o que tecnicamente não era
beber, embora suspeitasse que contivesse um trago ou dois de
brandy.
—Ele parecia muito interessado em você, Annie, — disse
Hugh—Perguntou-me sobre Rupert. Queria saber que tipo de
homem que ele era.
Isso a surpreendeu, até que ela percebeu que Jarret
provavelmente estava apenas tentando determinar se ela tinha dito a
verdade sobre sua castidade.
Sentiu-se novamente humilhada. Como ele poderia pensar
que ela iria atraí-lo para sua cama apenas para prendê-lo num
casamento? Sujeito bestial. Talvez estivesse acostumado a que as
mulheres da cidade fizessem essas coisas horríveis.
O que ele tinha dito? Eu quero que você saiba que existem
centenas de mulheres que matariam para ter essa vida. Ela não
podia culpá-las. A ideia de ser sua mulher...
Que ridículo! Ela não iria querer formar uma família com ele,
mesmo que ele quisesse casar com ela. E ele não queria.
Certamente não agora, depois de ela ter mentido para ele.
Lembrando-se da fúria em seus olhos enquanto dançavam,
ela estremeceu. Ele tinha sido tão desdenhoso, tão cortante. Ele
tinha arranjado o encontro de hoje à noite com tal implacável
determinação que ela temia o modo como ele iria tratá-la se ele
ganhasse. Ela não sabia se poderia suportar tê-lo na cama dela com
raiva.
—Francamente,— Hugh continuou, —Eu não sabia o que
dizer a ele sobre Rupert, dado o que aconteceu. Finalmente acabei
dizendo que ele foi um herói de guerra. É verdade, de qualquer
modo.
Um herói de guerra. Ela costumava odiar essa frase, sabendo
o que custara o heroísmo de Rupert. Agora isso simplesmente a
fazia triste, pensar o quão pouco ser um herói significava quando se
perdia a vida.
—Eu acho que Sua Senhoria está interessado em Annabel. —
Sissy disse, com um olhar malicioso para ela.
Um riso amargo prendeu em sua garganta. Ah, sim, ele estava
interessado. Ele pode ter perdido todos os sentimentos suaves por
ela, mas ele ainda a cobiçava ela, graças a Deus.
—Bem, ela poderia conseguir coisa pior, eu acho. — Hugh
disse com uma voz rouca. Ele puxou nervosamente os punhos da
camisa, em seguida, ergueu os ombros como se chegasse a uma
decisão. —Annie, eu quero que você esteja na reunião de amanhã.
Ela olhou para ele com surpresa. Hugh nunca lhe permitiu
participar de qualquer tipo de reunião da cervejaria. Para ele estava
bem que ela mantivesse o lugar funcionando, mas Deus o livre, ela
estar no planejamento de qualquer. —Por quê?
Ele deu de ombros. —Você que trouxe ele aqui. Ele pode se
sentir... mais confortável se você estiver lá.
Mal sabia ele. Se ela ganhasse essa noite, Jarret iria odiá-la
na parte da manhã, e se perdia, ele não estaria lá na parte da
manhã.
—Está bem.— Ela lidaria com aquilo amanhã.
Por enquanto, ela tinha que se concentrar em sair da casa
sem ser vista. Era meia-noite quando eles deixaram a prefeitura, ela
tinha pouco tempo.
Felizmente, Hugh e Sissy não pareciam inclinados a ficar por
aí, especialmente quando ela anunciou que estava exausta e
pretendia se retirar depois de buscar um livro na biblioteca. A
saudade sentida perfurou-a quando Hugh murmurou alguma coisa, e
Sissy riu antes de subirem de braços dados pela escada.
Ela suspirou e dispensou os criados, dizendo a eles que ela
fecharia tudo. Esperou até que ter a certeza de que ninguém estava
por perto, em seguida, deixou-se sair pela porta do jardim com a sua
chave.
A cervejaria era a uma curta caminhada da casa. Felizmente,
nenhuma casa estava perto dele, apenas estábulos e uma tanoaria
que era fechada a noite. Era improvável que alguém notasse ele ou
ela entrando, mas ela queria que o pai não tivesse sido tão inflexível
quanto a iluminação da rua com lâmpadas a gás. Ela se sentia muito
exposta.
Quando uma forma grande saiu das sombras perto da entrada
da fábrica de cerveja, seu coração saltou em sua garganta. Até que
ela percebeu que era Jarret.
Então ela viu seus olhos, e seu pulso martelou furiosamente.
Porque este não era o Jarret que tinha brincava com ela no mercado,
ou o Jarret que tinha lhe dado prazer com beijos narcotizantes, ou
mesmo o Jarret que tinha ficado furioso com ela esta noite.
Este Jarret tinha uma expressão fria esculpida em pedra.
Entre o momento em que ela o tinha visto pela última vez e, agora,
tinha endurecido o coração em relação à ela. Ele estava claramente
determinado a vingar-se dela.
Deus a ajude se ela não vencesse o jogo. Porque este Jarret
não era o homem a quem queria em sua cama. Não aquela noite.
Nem nunca.

Capítulo Dezesseis

Jarret tinha passado a última hora se preparando para o


encontro com Annabel. Enquanto se trocava para trajes mais
adequados para um encontro clandestino com uma harpia mentirosa,
ele trabalhou duro para cercar a parte de si que ela tinha suavizado
nos últimos dias. Ele lutou para apagar de sua memória todas as
coisas que o tinham feito ele admirá-la, sua paciência para com a
Mrs. Lake e Geordie, sua óbvia lealdade para com a família ... sua
aparente vulnerabilidade naquele dia no celeiro.
Eis o ponto, ela parecia vulnerável, mas não o era. Desde o
jantar, ele estivera relembrando os acontecimentos de sua viagem, e
ele percebeu o quão longe ela tinha levado seu subterfúgio. Não só
havia mentido para ele, mas convencera o resto da família a mentir
também. Ela persuadiu-o a acreditar que seu plano iria funcionar,
sabendo o tempo todo que isso dependia no estado incerto de seu
irmão bêbado. Ela tinha mesmo fabricado a pequena cena com o
médico em sua casa.
Ela o fez acreditar nela. Pior ainda, ela o tratou por um
malandro desonesto, quando o tempo todo ela que não era confiável.
Quanto mais ele pensava nisso, mais seu coração congelava, até
que ele teve a certeza de ser agora imune a seus sorrisos e meias-
verdades.
No entanto, ali estava ela, parecendo frágil e cansada, sua
pequena estrutura praticamente ofuscada por uma capa de lã e seus
olhos assombrados – e que ameaçavam destruir todos os muros que
ele tinha cuidadosamente construído.
Ao inferno. Por que ela o afetava assim? Por que não
aprendia que tudo o que ela dissesse e fizesse seriam para o
benefício da maldita cervejaria de sua família?
—Você está adiantado. — disse ela, em voz baixa, enquanto
passava por ele na porta.
—Estou ansioso para o início da noite de festividades. — ele
cortou—Quero ter tempo de sobra para aproveitar meus... ganhos.—
Ele a varreu com um olhar deliberado para lembrá-la de como ele ia
se vingar.
Ao invés de fazer suas bochechas pálidas corarem, fez
incendiar a raiva em seus olhos. —Supondo que você ganhe, o que
não é de modo algum certo.
Ela sempre fora lutadora, e maldição, como isso o excitava.
Ele veio por trás dela, sentindo mesquinha satisfação na
forma como seus dedos se atrapalharam com as chaves. —É
bastante certo.
Removendo a chave de sua mão enluvada, inclinou-se diante
dela para destrancar a porta. Podia senti-la tremer, o que incomodou
sua consciência. Murmurando uma maldição, ele entregou-lhe a
chave e recuou.
—Eu o venci antes, — disse ela—Posso fazê-lo de novo.
Ele bufou. —Você sabe como me chamam nos antros de
jogos em Londres?
—Arrogante?
Ele reprimiu uma risada. —O Príncipe do Piquet. Eu quase
nunca perco.
Ela empurrou a porta. —Então, parece-me que você tem uma
vantagem injusta. Isso não parece cavalheiresco sua parte.
—Não, não é. — ele concordou sem um pingo de culpa
quando ele entrou atrás dela.
Fechando a porta, pegou uma pederneira e acendeu uma
vela, em seguida, prendeu-a em um candeeiro. Quando ela tirou o
casaco de lã, ele inspirou pesadamente. Ela ainda usava seu vestido
de noite, aquele que ele queria arrancar com os dentes.
Ela olhou para ele com uma expressão frágil, e isso foi tudo
que pôde fazer para não empurrá-la contra a parede e beijar até tirar
aquela frieza dela. Mas isso lhe daria muito poder sobre ele.
—Talvez pudéssemos nivelar o nível do jogo.— O desafio
iluminava suas feições. —Se não gosta do whist de duas mãos,
podemos jogar o Irlandês, como seu amigo Mr. Masters sugeriu. Não
pode ser muito diferente do whist normal e se você explicar as
regras,tenho certeza de que poderei acompanhar.
Um riso cáustico saiu dele. —Oh, tenho certeza de que
poderá acompanhar muito bem.— Sem dar-lhe nenhum aviso,
agarrou-a pelos quadris e puxou-a, pressionando nela seu
rapidamente endurecido pênis. —Isto é whist Irlandês, minha
querida.— Ele esfregou-se nela sugestivamente. —Quando o valete
toma o ás.
Se ele esperava embaraça-la, tinha falhado. Ela parecia
meramente perplexa. —Não entendi.Vejo a que se refere o ‘valete’,
mas...
—’Ás de espadas’ é gíria para ‘puta’.— ele disse sem rodeios
— Porque espadas se assemelha ao triângulo de cabelos escuros
entre as pernas de uma mulher. Logo, valete toma ás.
Consternada, ela o empurrou. —Por que chamam isso de
whist Irlandês?
Ele encolheu os ombros. —Diabos que sei. Provavelmente
porque nós, ingleses acusamos tudo de ruim aos irlandeses. ‘Raízes
irlandesas’ se refere às partes de um homem, por exemplo, e ‘dor de
dente irlandesa’ a uma ereção.
Um cavalheiro nunca diria essas coisas a uma senhorita, mas
esta noite ele não se sentia um cavalheiro. Ele meio que esperava
que ela lhe tapeasse por sua crueza, e queria que ela o fizesse. Ele
estava procurando por uma briga.
—Senhor, os homens são umas crianças. — disse ela
secamente—É assim que você gasta seu tempo quando as mulheres
não estão por perto? Pensar em termos impertinentes para as partes
das mulheres?
Apenas Annabel olharia aquilo dessa forma. Esforçando-se
para não sentir-se encantado com isso, ele deslizou seu olhar para
as partes baixas dela.
—Quando não estamos pensando em maneiras de entrar nas partes
das mulheres.
Uma onda quente de sangue subiu em seu rosto, e ela virou-
se e dirigiu-se para a grelha de carvão. —Nós precisamos de um
pouco de calor aqui. Eu não tive tempo de trocar meu vestido.
—Bom. — ele murmurou enquanto se inclinava para iniciar o
fogo—Depois de passar a noite inteira imaginando-me rasgando
esse vestido de você, estou ansioso para fazê-lo em realidade.
Suas costas ficaram rígidas. —Você é muito seguro de si
mesmo, não é?
—Sempre sou.
Quando ela virou a cabeça, provavelmente para repreendê-lo
por sua arrogância, ela o pegou olhando para seu rabo bem exibido,
e ela endireitou-se para encará-lo. —Você acha que eu sou uma
prostituta, agora, não é?
Que o intrigou. —Por que eu acharia isso?
—Por causa do que eu fiz com Rupert.
—Uma noite de paixão com o seu amor verdadeiro
dificilmente a qualifica como uma prostituta.
—Então por que você está me tratando de forma diferente? —
ela perguntou—Por que você está sendo tão bruto e dizendo coisas
tão chocantes para mim?
Porque ele queria que ela sentisse o mesmo choque que ele
ao perceber como ela tinha mentido para ele. Porque ele ainda
sentia-se ferido pela moça do interior que o tinha seduzido e
brincado com ele apenas para conseguir o que queria. —Você quem
trouxe à tona o whist irlandês.
—Não é isso. Você está tão frio, tão bravo.
Suas feridas palavras sangravam, metendo uma estaca em
sua ira. No entanto, ele não podia deixar assim. —Você pode me
culpar? Mentiu para mim.
—Se eu não o tivesse feito, você não teria vindo aqui. Fiz o
que tinha que fazer.
— Assim como você está fazendo agora.— disse ele
friamente.
Ela cruzou os braços sobre o estômago. —Sim.
—É por isso que estou com raiva. Eu pensei que você...
—Uma menina do interior casta e inocente?— Disse ela
amargamente.
—Honrada.
Ela olhou para ele. —Sou honrada, maldito seja.
—É isso que você acha, apostando seu corpo para salvar a
cervejaria do seu irmão?
Seus olhos cuspiam fogo. —Você sugeriu que a aposta, não
eu,
—Mas você aceitou. E você foi quem sugeriu esta aposta esta
noite. —Ele chegou mais perto—O que me faz pensar se todos
aqueles beijos e carícias que trocamos foram sempre apenas uma
maneira de me trair.
Ela recuou com uma expressão de horror. — Você acha que
eu... Você realmente acredita que eu faria... Você é idiota!
Certamente você pôde ver que eu sinceramente o desejava. Não é
algo que uma mulher pode fingir.
Apesar de esforços para sufocá-la, sentiu uma onda de
satisfação. —Na verdade, é algo que uma mulher pode fingir.
A confusão se espalhou por seu rosto. —Como?
Ela era ou a atriz mais talentosa que ele já conheceu, ou ela
era inexperiente em assuntos do quarto, apesar de seu encontro com
o heroico Rupert. Ele começou a se perguntar se poderia ser o
último. E se fosse... —Você realmente não sabe?
—O que eu sei é que você iniciou cada um dos nossos beijos.
Para alguém que estava tentando ‘envolvê-lo’, eu era um pouco
desajeitada para isso .
Sua lógica imperturbável abriu uma brecha em suas defesas
que nenhum de seus protestos tinha sido capaz de fazer. Porque na
verdade, ela não o tinha perseguido, ele a perseguiu. E se ela
estivera usando seu corpo para manipulá-lo, ela teria se deitado com
ele para prendê-lo em casamento. Um pouco de sangue de porco,
algum fingido desconforto, e ele não teria sabido que ela já não era
casta.
Em vez disso, ela tentou evitá-lo depois do episódio no
celeiro.
—Quanto a honra, — continuou ela, seus pelos agora
totalmente eriçados —é um luxo, que algumas pessoas não podem
pagar, meu senhor. Mas você não sabe disso, lá de Londres, onde
pode passar o seu dia jogando e bebendo sem pensar naqueles a
quem você faz mal.
—Fazer mal?— Sua raiva cresceu novamente. —Ao contrário
de seu irmão, eu controlo meus apetites.
—É mesmo? Então, por que estamos aqui?
As palavras foram como um soco em seu estômago. Por que
ele estava ali? Se ele realmente pensava nela como uma
conspiradora insensível, então por que é que ele queria ir para a
cama com ela?
Porque ele não queria acreditar que tudo tinha sido parte de
suas conspirações. Porque tinha importância para ele mais do que
queria admitir. Mas não tinha importância para ela. Não o suficiente
para ser honesta com ele, de qualquer maneira.
E isso o esfolava.
—Touché, Annabel. — disse ele em voz baixa. —Eu estou
aqui porque quero você. E te querer turvou meu julgamento. A
pergunta é, por que você está aqui?
Os olhos dela se arregalaram. —Porque eu quero que você
nos ajude.
—E isso é tão importante para você que venderia seu corpo?
Ela empalideceu. —Eu não estou vendendo meu corpo. É
uma aposta. Espero ganhar.
— Ah! E quanto ao fato de que você talvez perca?
—É um risco calculado.
Falou como um digno adversário. Ela encontrou mais velas e
acendeu-as primeiro. Andando até uma grande mesa, ela colocou as
velas em suportes, em seguida, sentou-se atrás dela, em frente à
única outra cadeira, de costas para a janela.
Ele fez uma careta. —Muito inteligente de sua parte, Annabel.
— Ele arrastou a cadeira em frente à mesa para o lado. —Mas, uma
vez que a janela é tão boa quanto um espelho, sem luz por trás dele,
eu espero que você não se importe com algumas alterações.
Ela olhou com espanto para a janela. —Senhor, eu não tinha
notado isso.
—Certo.— Ele tirou um baralho de cartas do bolso e tomou o
seu lugar.
—É verdade! Eu nunca trapacearia.— Quando ele levantou
uma sobrancelha e começou a embaralhar, ela resmungou: —E não
é como se eu pudesse ver qualquer coisa no vidro atrás de você,
com essa sua grande cabeça bloqueando suas cartas .
Ele abafou uma risada. Droga, era difícil ficar bravo com ela
quando ela estava se mostrava tão tipicamente ... Annabel. E ele
poderia culpá-la se ela realmente tivesse pensado em trapacear? Ela
podia ver isso como a única maneira de conseguir o que queria. A
única maneira de escapar de sua cama.
Isso despertou sua raiva de novo, mas desta vez não por ela.
—Diga-me, minha querida, há quanto tempo você vem fazendo todo
o necessário para salvar o Lake Ale?
Ela lançou-lhe um olhar desconfiado. —O que quer dizer?
—Seu irmão herdou a empresa há três anos. Desde quando
você está escondendo a incompetência dele? Ou isso começou até
mesmo antes disso?
— Na verdade...— Ela hesitou, depois ergueu os ombros. —
Na verdade, Hugh não herdou a cervejaria há três anos. Pai deixou
Lake Ale para seu irmão solteiro. Seu testamento deixava metade
dos bens para nós e a outra metade para nosso tio, mas ele era
quem realmente a possuía.
Jarret parou de embaralhar. Tal coisa simplesmente não se
fazia na Inglaterra. A regra de primogenitura era quase absoluta. Um
homem deixava sua propriedade para seu filho mais velho. Se ele
não o fizera, havia algo muito, muito errado. —Por que, em nome de
Deus, o seu pai fez isso
—Uma série de razões. Hugh não era como Papai, ele é um
homem quieto que prefere atividades mais leves. Eles entravam em
confronto sobre tudo. Hugh tem uma boa cabeça para negócios, mas
ele não confia em seus instintos, e o Papai era um... tinha forte
personalidade. Ele estava sempre brigando com Hugh por sua falta
de ousadia. Suponho que Papai pensou que todos nós estaríamos
melhores se o tio administrasse o local e colhêssemos os benefícios.
Definindo a pilha em frente a ela, Jarret perguntou: —Será
que Hugh vê isso dessa maneira?— Ela olhou para as cartas. —Não.
Ele se sentiu traído.
Claro que sentiu. O que isso não faria a um homem, saber
que seu pai não podia mesmo confiar nele com o negócio da família?
Da mesma que forma que se sentiu quando criança, ao saber
que Grand não queria que você administrasse a cervejaria.
Aquela velha dor voltou para assombrá-lo. Mesmo agora,
Gran não tinha considerado fazer dele o administrador até que ela
tinha adoecido.
Ele fez uma careta, irritado consigo mesmo por ter empatia
com Hugh Lake. O homem era um bêbado. Jarret não era.
Não, ele era um jogador inveterado. Muito melhor para
administrar a empresa familiar.
A irritação fê-lo dizer levianamente: —Bem, seu irmão é
claramente o dono agora.— Ela cortou as cartas, lhe mostrou a sua
e, em seguida entregou-as.
—Sim porque o meu tio morreu solteiro, e ele fez Hugh seu
herdeiro. Portanto, Hugh a tem de qualquer maneira.
Jarret cortou as cartas e ganhou a rodada. Ele deixou-a
distribuir, já que havia alguma vantagem em deixá-la fazê-lo primeiro.
—Foi quando ele começou a beber?
—Não. Ele foi muito bem até que o mercado russo secou.—
Com a economia de movimentos que raramente via em mulheres
jogadoras, ela deu as cartas. —E quanto mais ele tentava arrancar
Lake Ale, sem sucesso, do desastre financeiro, mais ele se sentia
como um fracasso. Foi quando ele começou a beber.
Jarret tinha que saber como ele mesmo reagiria em tal
situação. E o fato de que de perguntar-se o irritou. —Você está
dizendo tudo isso para conquistar a minha simpatia para o seu
irmão?—E para você?
—Estou apenas respondendo a sua pergunta.— Ela pegou
suas cartas—Além disso, eu pensei que você deveria saber que
Hugh não tem culpa pelas minhas mentiras. Ele acreditava que tinha
ido a Londres para ver escolas para Geordie.
Essa pequena informação o assustou. —Ele não sabia nada
sobre o seu plano?
—Ele sugeriu conseguirmos o mercado da Índia, mas a única
vez que ele se reuniu com os capitães da East Índia Company,
terminou mal. Ele nunca tentou de novo, com a certeza que ele ia
falhar. Sissy e eu esperávamos que, se pudéssemos obter Plumtree
Brewery envolvido, lhe daria a confiança necessária para tentar mais.
—Isso é muito para esperar de um acordo de negócios. —
ressaltou.
Um suspiro escapou dela. —Eu sei. Mas tínhamos que tentar
alguma coisa.—Ela encontrou seu olhar por sobre as cartas.—Meu
ponto é, ele não tinha ideia de que eu estava dizendo que ele estava
doente. Ainda não sabe sobre a primeira aposta, e certamente não
sabe sobre a segunda. Se ele soubesse, ele iria jogá-lo para fora da
cidade.—Sua voz era afiada. —Ele certamente não iria obrigá-lo ao
altar, como você sugeriu. Portanto, não precisa se preocupar quanto
a isso.
—Não faço.— Ele olhou-a. —Ninguém me obriga a fazer
alguma coisa que eu não queira fazer.
—Oh, eu estou bem ciente disso, — disse ela acidamente. —
Você faz exatamente o que quer, não importa o que outro alguém
queira ou precise. Eu supunha isso desde o início.
O fato de que ela estava certa não fazia suas palavras mais
fáceis ao estômago. —Não imagine que saiba alguma coisa sobre
mim após nossa curta convivência.— Ele pegou suas cartas. —Você
não sabe nada da minha vida, exceto o que as fofocas espalham.
—E de quem é a culpa?— Ela perguntou em voz baixa. —O
que você me disse sobre si mesmo? Dificilmente o suficiente para
que eu faça um esboço de você, muito menos uma imagem
completa. Você não pode me culpar por julgá-lo com base no pouco
que contou.
Aquilo o desconcertou. Ela estava certa. Ela disse a ele mais
sobre si mesma e seu noivo que ele disse a ela sobre a sua vida
inteira.
Mas, quanto mais alguém sabe sobre você, mais podem fazer
com que você se importe. E ele não queria. Então, por que seu conto
insidioso da aflição de seu irmão tinha exatamente o efeito que ela
provavelmente pretendia?
Porque ele era um idiota. E porque ele entendia a forma como
seu irmão devia ter se sentido. Como não poderia?
Isso não importava. Ele não podia deixar que isso importasse.
Sua proposta tinha sido tola no início, e o era ainda mais agora que
ele sabia a verdade.
Sissy e eu esperávamos que, se pudéssemos obter Plumtree
Brewery envolvido, seria dar-lhe a confiança necessária para
persegui-lo mais.
Ele amaldiçoou sob sua respiração. A falta de confiança de
Hugh Lake não era seu problema, porra!
—Cartas ruins?— ela perguntou.
—Não. — ele disse, mas na verdade ele quase não via as
cartas. Outra coisa que estava incomodando ele, algo que ele tinha
que saber. Ele colocou suas cartas. —Por que você se importa tanto
o que acontece com seu irmão? Disse que ele não iria querer que
você fizesse sacrifícios por ele. Então, por que o faz?
Engolindo em seco, ela olhou para sua mão. —Porque todos
nós dependemos dele.
—Você poderia casar. — ressaltou. —Os homens no jantar
disseram que você recusou várias ofertas. Você poderia ter
encontrado um marido e lavado suas mãos de seu irmão, forçando-o
a cuidar de si mesmo, tomando conta de sua família, inclusive.
—Eu não posso casar. Não sou casta.
A vergonha em sua voz virou algo dentro dele. —Um homem
decente não se preocupa com isso, sabendo das circunstâncias. Não
é incomum para os casais de noivos... se empolgarem antes do
casamento. —Ele observou a sua cor intensa, as mãos trêmulas.
Havia algo mais que ela não estava dizendo. —Não, há mais que
isso. Por que está fazendo isso para ele?
—Porque o que aconteceu entre ele e Papai é em parte culpa
minha, está bem?— A dor lhe cortava o rosto. —Eu devo a ele.
Ele olhou para ela. —E como poderia ser sua culpa?
Ela arrumou as cartas com movimentos rápidos que traíram
sua agitação. —Fui visitá-lo e a Sissy quando Rupert e eu ... bem,
você sabe. No momento em que Hugh me pegou esgueirando para
dentro da casa, já era tarde demais. Ele partiu para cima de Rupert
para fazer-nos casar imediatamente, mas o transporte já tinha saído
para o continente. —Sua voz caiu para um sussurro dolorido. —
Papai nunca perdoou Hugh por não me observar com mais cuidado.
Isso mudou tudo entre eles. Pai dirigiu Hugh muito mais duramente
depois disso.
—Isso não foi justo para nenhum de vocês. — disse ele
bruscamente. —Seu pai realmente achou que ele poderia ter feito
melhor? Tenho duas irmãs, e posso assegurar-lhe, se elas
quisessem se encontrar com um homem secretamente, eu nada
poderia fazer para impedi-las, salvo aprisioná-las em seus quartos.—
Ele pensou em Masters e fez uma careta. —Às vezes desejo poder.
Seu pai não tinha o direito de culpar seu irmão por isso.
—Eu sei. Ele deveria ter culpado a mim.
—Não, porra! Ele deveria ter culpado ao homem que a
arruinou sem pensar no que iria custar-lhe.
A consciência do quanto tinha lhe custado abateu-a como um
golpe mortal. Ela vivia como uma freira, cuidando de sua família,
incapaz de ter uma casa ou uma família própria. E tudo por causa de
uma noite roubada com um homem.
Ele abaixou sua voz. —Você não deve tomar todo o peso dos
pecados de Rupert. Ou de seu pai. Ou mesmo de seu irmão.
—Não o faço. — disse ela com um sorriso amarelo. —Tomo
apenas os meus.
—Você não tem pecados. — ele replicou.
—Não foi o que você disse antes. — ela lembrou.
Ele fez uma careta. Confundia-o como o inferno. Com cada
nova peça que ela revelava sobre a sua família, sua imagem dela
mudava. Assim como sua raiva. Ele estava rapidamente se irritando
mais por ela do que com ela.
Ele estava sendo bobo de novo? Ou ela estava realmente
justificada em suas ações?
Ele olhou para ela, tentando entendê-la. Mas isso era
impossível com uma mulher como Annabel, que era uma massa de
contradições, inocente e mundana, aberta e secreta. Tudo isso o
fascinava.
Maldita seja!
Aparentando crescente desconforto com seu olhar duro, ela
fez um gesto para a mão que ele deixara sobre a mesa. —Vamos
jogar piquet? Ou você pretende continuar a me fazer perguntas a
noite toda?
Ele bateu suas cartas, desejando de repente não ter sido tão
apressado em aceitar sua aposta. Salvo dizer a ela que ficaria para
ajudá-la, o que não estava disposto a fazer, ele não tinha escolha,
tinha de terminá-la. E isso significava que tinha que vencê-la.
Mas ele já não estava certo de que poderia levá-la para a
cama, quando ela estava essencialmente oferecendo-se como
sacrifício pelo seu irmão tolo.
Ele iria atravessar essa ponte, já tinha ido para isso. —Vamos
jogar. — ele cortou. E o jogo continuou.
Ele teve que forçar-se a se concentrar. Piquet era complicado,
exigindo uma grande dose de raciocínio. Não era propício para bater
papo, algo que ela percebeu claramente, pois só falavam quando o
jogo exigia.
Mas ele não podia silenciar o murmúrio de sua consciência.
Ela só está fazendo o que ela tinha que fazer para sobreviver.
E ela merecia mais do que outro homem que iria usá-la e deixá-la.
Ele empurrou o pensamento perturbador de sua mente para
concentrar-se nas cartas. Ele estupidamente concordou com essa
aposta, e agora estava preso como um gentleman para terminá-lo,
mas ele não ia arriscar Plumtree Brewery, simplesmente porque ela
lhe disse algum triste conto sobre seu irmão infeliz e sua cervejaria
maldita.
Felizmente ele tinha recebido uma mão estelar, e o empate só
melhorou. Ele olhou com sombria satisfação para suas cartas. Ele
não ia perder dessa vez, graças a Deus.
A sorte estava lançada no momento em que fizeram suas
respectivas declarações nas mãos e ele marcou um repique,
ganhando noventa pontos. Ele sabia que seria muito difícil de bater,
mas ela certamente tentaria. Seu jogo era bom, até mesmo
inspirador. Mas ninguém superava ele no piquet.
Então, não foi nenhuma surpresa quando ele ganhou todos os
truques, marcando um capot e quarenta pontos extras também. Não
foi de surpreender que seu rosto empalidecia com cada vitória
consecutiva. E não foi de surpreender que ao final da mão, garantiu
a vitória de forma brutal, e desespero cintilou em seus olhos, que ela
tentou esconder com um sorriso.
—Você ganhou. — disse ela com fingida indiferença.
—Eu disse que ganharia. — ele respondeu.
—Sim, disse.— Ela não iria encontrar seu olhar. Ela recolheu
as cartas, com as mãos tremendo, e ela parecia perdida.
Por isso, também não foi nenhuma surpresa quando ele se
ouviu dizer: —Eu não vou prendê-la a aposta. No que me concerne,
o assunto agora está resolvido.
A calma estranha baixou sobre ele. Esta era a coisa certa a
fazer, e ambos sabiam disso. —Eu só queria ficar livre deste negócio
amaldiçoado com o seu irmão, e agora estou. Assim você não
precisa compartilhar a minha cama. Vá para casa.

Capítulo Dezessete
Annabel olhou para ele, mal conseguindo acreditar no que
ouvia. Uma hora atrás, ela teria saltado para a oferta e se
considerado a sortuda por ser poupada de passar uma noite com um
homem que estava tão claramente furioso com ela.
Mas ao longo da noite, alguma coisa tinha mudado. Ele tinha
mudado. E depois de tudo que ele disse, e o modo como se
suavizou...
—Você não tem que fazer isso. — disse ela. —Eu pago as
minhas dívidas.— Quando ele se encolheu com a palavra dívidas,
ela acrescentou rapidamente: —Você pode não me considerar
honrada, mas...
—Não tem nada a ver com honra, Annabel.— Cada linha de
seu corpo estava tenso, sua aparência parecia esculpida em pedra.
—Estou absolvendo-a de qualquer responsabilidade por suas
dívidas. Como o vencedor, posso fazer isso, você sabe.
—Eu não quero que você faça isso!— Ela protestou. —Escolhi
fazer a aposta, e não vou deixar você me 'absolver' da
responsabilidade, simplesmente por ter pena de mim.
—E eu não vou tê-la na minha cama como parte de um
negócio tolo.— Levantou-se, e inclinou sobre a mesa, com os olhos
tempestuosos. —Se eu levá-la para a cama, vai ser porque você
escolheu ir, não por um truque inútil para salvar a sua família ou seu
irmão ou sua maldita cervejaria.— Em um flash, ela compreendeu.
Ela tinha ferido seu orgulho. Devia tê-lo percebido quando ele disse
aquelas palavras cortantes sobre ela usar beijos e carícias para
‘envolvê-lo’. Ele podia não querer se casar com ela, mas era
evidente que ele não gostava de pensar que ela o via apenas como
um meio para atingir um objetivo. Inexplicavelmente, isso a suavizou.
Se ele se importava, mesmo que pouco... —E se eu não estiver
fazendo isso como parte do negócio?
Ele congelou, e por um momento ela não teve certeza se ele
tinha entendido. Então ela viu o músculo pulsando em seu maxilar.
Ah sim, ele entendeu.
—Que outra razão que você teria?— Ele perguntou em voz
enganosamente suave. Calor subiu em suas bochechas. —Tem
que... me fazer dizer?
Sua expressão era firme, mas seus olhos queimavam com a
fome. —Sim. Temo que sim.— Por um momento ela considerou fugir.
Ele a deixaria ir se ela quisesse, sabia disso. E o desejo que a sua
necessidade acendia nela a aterrorizava. Ela nunca tinha sentido
nada parecido com Rupert. A última coisa que ela precisava era
deste bonito lorde arrogante arrastando-a para dentro das chamas
luxuriantes com ele, para ser consumida em um incêndio que tinha
evitado por metade de sua vida.
Mas o fogo já estava fora de controle dentro dela, e duvidava
que fugindo o extinguiria. E ela havia prometido, depois de tudo.
Ela se levantou para dar a volta ao redor da mesa sobre as
pernas trementes. —Tem quase 13 anos desde que estive com um
homem, e em todo esse tempo, eu disse a mim mesma que não
sentia falta. Eu disse a mim mesma que estava contente, que não
tinha necessidade de beijos ou carícias de um homem. E então você
veio e ... e ... tudo mudou ...
Sua voz vacilou quando ele empurrou longe a mesa para
alcançá-la. —Continue. — disse ele em uma rouca que transformou
seus joelhos em gelatina.
Ele estava a centímetros de distância agora, estendendo a
mão até escovar seu rosto, em seguida, o pescoço, em um processo
lento, uma carícia sensual que tornou quase impossível para ela
pensar.
—E-Eu quero você. — ela admitiu quando seu olhar travado
encontrou o dele, fumegante. —Eu quero que você me toque. Eu
quero você na minha ca...
Seus lábios estavam sobre os dela antes que pudesse
terminar. Ele colocou os dedos em toda a volta da cabeça dela para
segurá-la para um beijo que era tão ardente e demorado quanto
suave. Seu beijo era devastador, como um conquistador de outrora,
queimando a terra que deixava para trás enquanto reivindicava todas
as partes da boca dela.
Enrolando os dedos nas lapelas de seu casaco, ela o puxou
para mais perto, que só o fez mais voraz, até que ele começou a
fazer coisas em sua boca que eram uma imitação franca do que eles
estavam indo em breve fazer na cama.
Enquanto sua boca saqueava a dela, ele ergueu a mão livre
para puxar a manga para baixo. Custou-lhe pouco esforço, uma vez
que seu vestido fora feito quando a moda eram corpetes que mal
agarravam a um dos ombros, e dentro de instantes, ela teve seu
peito descoberto por uns dedos brincalhões.
O choque de prazer que sua carícia enviou através dela fez
com que se lembrasse de onde estavam. Embora soubesse que a
cervejaria estava vazia, ela não gostava da ideia de ser tocada em
frente a uma janela por onde alguém pudesse ver. —Espere! —,ela
recuou para sussurrar.
—Não nesta vida, minha pequena duende. — ele rosnou. —
Você teve sua chance de escapar, e não a aproveitou.
—Quem falou em fugir?
Seu olhar ficou muito quente, queimando-a em sua
intensidade. Com o coração trovejando de antecipação, ela tomou
um castiçal e tomou-o pela mão para levá-lo a uma porta em uma
extremidade da sala. Quando ela a abriu para puxá-lo para dentro,
ele deu uma risada baixa, sem dúvida surpreso em encontrar uma
pequena sala equipada com uma cama de solteiro e uma
escrivaninha.
—Quando a cervejaria estava funcionando durante a noite—
ela explicou enquanto acendia um fogo na lareira. —o Sr. Walters
costumava cochilar aqui. Nós não temos o usado recentemente, mas
é limpo. E deve ser mais confortável do que a mesa.
Ela caminhou de volta para colocar a vela sobre a
escrivaninha, e ele veio por trás dela deslizando seu braço sobre sua
cintura. —Não é à toa que você queria esse jogo de cartas na
cervejaria.— Ele deu um beijo em seu cabelo. —Você tinha tudo
planejado, já vejo.
Sua respiração ficou irregular quando a boca encontrou a pele macia
logo abaixo de sua mandíbula, onde o pulso batia num ritmo
frenético. —Se você lembrar ...— ela engasgou—Eu não esperava
que ganhasse.
—Acho que esperava, sim.— Ele deslizou suas mãos até seus
seios, fazendo seu sangue correr ainda mais depressa. —Diga-me,
senhorita Lake, me deixou ganhar esse jogo?
—O quê?— Ela girou em seus braços para encará-lo, uma
réplica quente brotando em seus lábios até que ela viu o brilho
escuro nos olhos. Em um instante, lembrou-se do que ela tinha dito a
ele naquele dia na pousada em Londres.
Encolhendo os ombros para fora de suas mangas, ela
arqueou uma sobrancelha. —Agora, por que eu faria isso, meu
senhor?
Seu olhar queimava em seu espartilho exposto. —Porque
você quer o diabrete em sua cama mais do que gostaria de admitir.
—Você é realmente tal diabrete?— ela perguntou a sério. —
Eu acho que você é mais cavalheiro do que gostaria de admitir.
Ele virou-a para que ele pudesse soltar o fecho de seu
vestido. —Você é a primeira mulher a pensar assim.— Ele arrastou
seu vestido fora dela, deixando-a cair ao chão.
Quando ele roçou beijos ao longo de seus ombros
descobertos, ela estremeceu deliciosamente. — Mas não sou a
primeira mulher a... compartilhar sua cama.
Seus dedos pausaram no curso de desatar o espartilho. —
Não.
—Quantas já houve?— Ela perguntou, querendo lembrar-se
que não era nada especial para ele. Porque se ela se deixasse
acreditar que o era, tinha certeza de que se sentiria ferida quando
descobrisse que não.
—Centenas. — disse sarcasticamente enquanto ele libertava
seu espartilho e jogava-o de lado. —Milhares.
—Quantas?— Disse ela, combinando o tom da voz com o
dele.
—Metade das mulheres de Londres, se acreditar nas fofocas.
— Ele deslizou as mãos pelas laterais de seu corpo, para baixo, para
seus quadris, e sua voz caiu para um sussurro irregular. —Mas
nenhuma tão linda como você.
—Agora esta é uma mentira, se alguma vez eu ouvi alguma.
— disse ela enquanto girava para encará-lo.
Mas a intensidade negra de seus olhos enquanto ele os
passeava para baixo de seu corpo mal e mal vestido fazia ela
desejar não fosse mentira. —Eu nunca minto para uma mulher. —
disse ele em voz baixa.
Seu coração batia na garganta. —Nunca?
—Nunca tive necessidade.— Sua expressão era muito séria.
—As mulheres que levo para cama são muito frequentemente
empregadas de salões e mulheres de vida fácil que não esperam ou
exigem promessas e palavras doces.— Ele acariciou sua bochecha
com as costas da mão. —É tudo prazer para elas. Ou dinheiro.
Ela achou difícil respirar. —E qual sou eu? Uma empregada
de chouperia ou uma senhora de pouca virtude?
—Nenhuma das duas.— Ele lhe deu um sorriso triste. —Você
está em uma categoria própria.—Ele estendeu a mão para enfiar os
dedos pelos cabelos, soltando-os de seus pinos. —Deusa do campo.
Deusa da Colheita, talvez, Ceres ou Demeter.
—Elas também são as deusas da fertilidade, então não acho
que seja uma boa escolha, tendo em vista o que estamos prestes a
fazer. — disse ela secamente.
Ele riu.
—Se tiver que ser uma divindade, eu prefiro Minerva. Ela é
inteligente e bonita, e ela é a Deusa do Comércio.
—Desculpe, mas essa não é uma opção. — ele disse
enquanto espalhava seus cabelos pelos ombros. —Porque ela é
virgem?— Disse ela, desapontada.
—Porque é o nome de minha irmã.— Ele desamarrou sua
camisa. —E o que eu sinto por você não é nem um pouco fraternal,
querida.
Querida. O uso carinhoso, mesmo depois de tudo o que tinha
acontecido, fez um nó em sua garganta.
Ele começou a empurrar sua camisa de seus ombros, mas ela
pegou suas mãos. —Ainda não. Sua vez.
Olhos brilhantes, ele arrancou seu casaco moleskin e o colete
listrado, em seguida, jogou sobre a escrivaninha. Sua gravata e
suspensórios rapidamente seguiram. Quando ele tirou a camisa, ela
prendeu a respiração ao ver o peito nu com esparsos cabelos
escuro, os músculos bem definidos. Não era o corpo do aristocrata
indolente que ela esperava. Ele era enxuto e em forma, um deus
grego de carne. O próprio Apolo não poderia rivalizar com o corpo
bem talhado.
—Gosta do que vê?— Ele perguntou asperamente. Ele jogou
sua camisa para o lado e sentou-se na cadeira para puxar as botas.
—Talvez. — ela brincou.
Seus olhos escureceram. Inclinando-se para trás na cadeira,
ele abriu as pernas. —Vem cá, sua tímida sirigaita.
Sua garganta ficou seca com a visão de sua excitação
desenfreada lutando contra as calças. —Eu pensei que fosse uma
deusa— disse ela levemente enquanto o obedecia.
—Ah, mas ainda não decidimos qual.— Quando ela chegou
perto o suficiente, ele se inclinou para puxá-la entre as pernas. —Eu
começo a pensar que Vênus lhe convém.— Ele brincava com seus
seios nus. —A Deusa da Beleza.
E a deusa do amor, ela pensou, mas não se atreveu a dizê-lo.
Como a boca dele fechada sobre seu seio, ela nem sequer me
atrevia a pensar isso. Porque ele estava sendo tão carinhoso, tão
apaixonado, a fazia querer chorar. Tornando-o ainda mais perigoso
para ela do que quando estava com raiva.
Apertando a cabeça dele contra seus seios, ela rezava poder
passar esta noite com ele e não perder seu coração. Ele não iria
querer isso, e ela não podia suportar a tê-lo pisoteado.
Ele lambeu seu mamilo, em seguida, puxou-o com os dentes,
enviando um choque de prazer de seu peito até a barriga. Como se
soubesse o efeito que tinha sobre ela, ele enfiou a mão debaixo de
suas calcinhas, para descobrir o local onde já estava úmida e
ansiosa por ele.
—Meu Deus! — ele murmurou contra seu peito—você parece
seda quente, quente e pronta para o meu toque.
Ela não era a única pronta. Ela trouxe seu joelho para
acariciá-lo através de suas calças. Com um gemido baixo, ele puxou-
a para senta-la montada nele até que suas partes macias estavam
alinhadas com sua excitação presa. Ele balançou contra ela, e a
sensação era requintada, o tecido de seda de suas calças como uma
carícia.
Ele voltou a sugar seu seio, provocando-a com os dentes e a
língua, depois sugando o outro com a mesma intensidade. Enquanto
isso, ele empurrou contra ela mais e mais, aumentando seu prazer,
deixando-a fluida e quente.
Quando viu, ele curvara suas costas o suficiente para que ele
pudesse alcançar o botão de carne entre suas pernas que ansiava
por seu toque. Sua boca e mãos a acariciaram em conjunto,
despertando um prazer tão intenso em seu ventre, que ela pensou
que poderia gritar. Logo ele a tinha ofegante e inclinando-se contra
sua mão, querendo mais, precisando de mais.
—Definitivamente Venus! — ele rosnou quando ele tocava-a
como Apollo tocaria sua lira dourada. —Jarret ...— ela respirava. —
Oh, céus!
—Eu vou te dar o céu, minha bela Vênus. É ali que uma
deusa pertence.— Ele deslizou um dedo, e depois outro em seu
interior liso. —Deus, você é apertada. E tão tentadora, eu não sei
quanto tempo mais eu posso esperar para estar dentro de você.
—Você não tem que esperar.— Ela chegou até a se atrapalhar
com o fecho das calças. —Não há necessidade.
Sua respiração vinha em grandes e suspiros duros, ele a
colocou de volta e levantou-se para lançar suas calças, calções e
meias. Seus olhos se arregalaram com a visão dele – quadris
estreitos, musculoso, com uma fina camada de cabelos pretos. E
entre suas coxas bem forjadas...
Que o Senhor a salvasse. Ela não tinha visto o seu membro
tão bem na penumbra do celeiro, mas agora estava vendo bastante
bem. Totalmente ereto, sua carne rígida erguia-se pesada e escura
de um denso emaranhado de cachos.
Rupert tinha sido magro, seu membro longo, com pouco mais
de uma polegada de espessura. Jarret tinha facilmente o dobro, e
sob o seu olhar, parecia crescer ainda mais.
—Tire tudo. — ordenou com voz gutural. —Eu quero olhar
para você, também.
Embora ela deslizasse para fora de suas calcinhas e as
jogasse de lado, ela hesitou em retirar o seu último pedaço de
modéstia. Será que ele era capaz de ver as linhas tênues que sua
gravidez havia deixado em sua barriga? E se o fizesse, ele iria
perceber o que queriam dizer?
Não que ela tivesse escolha. Se ela se recusava, teria de
responder o porquê. Talvez a luz fraca escondesse seus pecados.
Antes que ela pudesse agir, ele se adiantou para liberá-la do
resto de suas roupas. —Nunca pensei que a veria tímida, querida.—
Ele a escrutinou com uma apreciação franca que fez sua respiração
parar na garganta. —E não há dúvida nenhuma que não precisa se
sentir tímida. Você é ainda mais bonita do que eu imaginava.
Ele deslizou o braço ao redor da cintura para puxá-la para
perto, e sua carne excitada pressionou-a embaixo, lembrando-lhe
que havia uma coisa da qual ela devia ter certeza antes de irem mais
longe.
—Você disse que iria tomar as devidas precauções. — ela
sussurrou.
—Ah, sim.— Liberando-a, ele foi até a mesa e remexeu no
bolso do seu casaco.
—O que está fazendo?— Ela perguntou, confusa.
Ele tirou algo e ergueu-a contra a luz. —Tomando precauções.
Ela olhou em confusão ao tubo longo de seda pendurado em
seus dedos. —Mas não é isso que Rupert ... Quero dizer, ele...
— Deixe-me adivinhar. — Jarret observou enquanto ele
deslizava o tubo sobre seu membro ereto. —Ele retirou de você
antes de derramar a semente.
—Sim! Ele disse que iria me proteger... de ter um filho.
—Não é o melhor método. — ele disse a ela enquanto
amarrava o tubo, em seguida, veio em sua direção. —Você teve
sorte que funcionou. Nem sempre funciona.
Ela certamente sabia que isso era verdade. Engolindo em
seco, ela abaixou a cabeça para indicar o membro masculino
estranhamente vestido. —E isso funciona?
Um sorriso esvoaçou sobre os lábios. —Camisinhas sempre
funcionaram para mim.— Quando ele chegou a ela, a puxou para
seus braços. —Não se preocupe. Eu sei o que estou fazendo.
Ela certamente esperava que sim. Toda a sua conversa sobre
as deusas da fertilidade a deixava nervosa. Ela não precisava de
nenhum excesso de fertilidade esta noite.
No entanto, como ele apoiou-a contra a cama, a boca
procurando a dela novamente, ela se perguntou como seria dar-lhe
um filho e ser sua esposa. Será que ele ficaria ao seu lado, como
Hugh tinha feito com todos os filhos de Sissy, ou se ele andaria pelos
corredores em frenesi? Será que ele se deliciaria com um bebê, ou
irritaria que seus prazeres seriam cerceados pelas exigências de um
bebê? Tinha certeza de que ele seria um bom pai e ela só tinha que
lembrar como tinha sido com Geordie para perceber isso.
Pare de pensar nessas coisas, ela disse a si mesma enquanto
lembrava de certo conto de carochinha sobre se sonhasse com um
bebê, poderia conceber um. Só Deus sabia o que aconteceria se
sonhasse em conceber enquanto deitava com um homem. Isso
certamente era pedir por problemas.
Depois que ele a tombou sobre a cama, ela não teve nenhum
problema de tirar o pensamento de sua mente, pois ele estava
ajustando o corpo entre as pernas dela e acariciando-a para baixo, a
boca espalhando beijos sobre os seios e os ombros e garganta. —Eu
poderia te provar toda a noite, minha doce Vênus, — ele sussurrou—
Você tem gosto de mel.
A reverência na voz dele fez lágrimas queimarem no fundo da
garganta. Será que algum outro homem teria esse cuidado com uma
mulher que ele sabia não ser pura? Sua ternura estava prestes a
destruí-la.
Nem tudo nele era terno, no entanto. Seu membro estava
quente e rígido contra sua coxa, o que provocou um pouquinho de
medo em sua barriga. Ela não tinha certeza de poder aceitá-lo todo
dentro de si. O eixo delgado de Rupert tinha sido bastante difícil de
gerir. Embora soubesse que a dor que ela sofreu tinha sido um
produto de sua inocência, uma... uma coisa tão grande quanto a de
Jarret iria machucá-la?
Se o fizesse, ela iria suportá-lo da melhor maneira possível.
Essa parte só duraria alguns momentos, de qualquer maneira,
graças a Deus. Isso era o que ela gostava, os beijos, o toque, a
carícia.
Ela estava feliz enquanto ele continuasse a acariciar, e
acariciar, e beijar, e acaricia-la. Ele encorajou-a a fazer o mesmo
com ele, explorando os cachos finos em seu peito, flexionando os
músculos das coxas, até a carne firme de suas nádegas.
Quando ele ficou tenso, ela sussurrou, —Você se importa que
eu o toque?
—Deus, não. Toque o que quiser. Mas vai encurtar isso
consideravelmente.
—Bom.— Ela queria acabar rapidamente com o ato
propriamente dito, para não começar a se preocupar com a
possibilidade de dor. Assim, eles poderiam fazer mais a parte
agradável. —Eu quero você, Jarret. Estou pronta para você.
Algo em seu tom de voz deve tê-lo alertado de seus medos,
pois ele se afastou para olhá-la. —Você está bem?
Ela forçou um sorriso. —É apenas que... faz muito tempo.
Seu olhar se estreitou sobre ela. —E você era jovem, ele era
jovem, e nenhum dos dois sabia o que estava fazendo. Certo?
Ela assentiu com a cabeça.
—E machucou.
—Sei que não vai doer neste momento, — disse ela
apressadamente. —Não tenho medo.
Um sorriso amargo tocou seus lábios. —Você parece com
medo. Mas não há nada a temer, querida. Confie em mim.—Ele
abaixou a cabeça para acariciar o queixo enquanto se erguia e
pressionava a ponta de sua carne desperta dentro dela. — Confie
em mim...— ele murmurou, deslizando muito lentamente dentro dela
— Confie em mim...— ele sussurrou e entrou nela com um impulso
sedoso.
—Ohhh! — ela murmurou, sentindo uma onda de alívio. A
plenitude estranha foi inesperada, mas certamente não dolorosa. E a
intimidade daquilo despertou um calor nela que era quase tão bom
quanto os beijos. — Isso não é... é mau de todo.
Ele riu contra seu pescoço. —Estamos apenas começando,
minha Vênus.— Ele retirou-se, em seguida, empurrou para dentro.
Calor redemoinhou de seu baixo ventre e se espalhou pelos seus
membros.
Pressionando a boca contra sua orelha, ele sussurrou: —
Antes desta noite acabar, prometo ter você implorando por mais.
—Arrogante como sempre. — respondeu ela, suas palavras
provocando uma emoção em suas veias. —Mas eu nunca imploro.
—Você vai. — prometeu, e mergulhou nela novamente. E
mais uma vez. E mais uma vez, cada feroz golpe, mais forte, mais
rápido. Apoiando-se em um cotovelo, ele estendeu a mão entre eles
e colocou o dedo nela, alimentando o calor de seu ventre, tornando-o
chamas.
—Coloque suas pernas em volta de mim, querida. — ele
ordenou.
Quando ela o fez, ele entrou mais profundamente, e o fogo
queimou por ela, acendendo-a em uma massa de calor. — Oh, céus,
que doce...— ela engasgou, o corpo dela cantando na cadência de
seus impulsos.
—Melhor?— ele murmurou.
—Sim ... oh sim ... Jarret, palavra ...
Seu hálito quente veio forte contra seu ouvido. —Você é tão
apertada, tão doce e apertada e quente. Está me deixando louco...
Ela estava perdendo seu coração. Sentiu-o esvair a cada
palavra dele. Ele estava tomando tanto cuidado com ela quando não
tinha nenhum motivo para fazê-lo, e isso fez seu coração doer e
ansiar tanto quanto seu corpo ansiava.
— Annabel, minha deusa...— ele respirou. —Deixe-me levá-la
para o céu.
—Eu já estou lá ...
Ele deu uma risada abafada. —Ainda não, mas você vai.
Depois disso, ele falou com o corpo, batendo dentro dela,
provocando incansavelmente aquele lugar sensível entre suas
pernas. Logo a dolorosa sensação em seu ventre se tornou um
prazer profundo, e, em seguida, uma fome que se aprofundou e que
a fez contorcer-se contra ele, passando os dedos pelas costas. Ela
mal conseguia pensar com as sensações ascendendo dentro dela
até que um prazer glorioso saltou de repente dela, alto e doce,
levando-a aos céus.
Ela gritou até sua garganta ficar em carne viva devido ao
êxtase, enquanto ele afundava-se nela e também soltava um grito.
Erguendo-se sobre ela, ele jogou a cabeça para trás com um olhar
de satisfação extasiada enquanto seu corpo atingia o sua liberação.
Foi magnífico. Foi aterrorizante. Enquanto ela apertava-se
contra ele e deixava os choques de percorrerem-na, sabia que
estava em perigo de cometer um grande erro.
Perder o seu coração para um ladino.
Capítulo Dezoito

Jarret estava envolto em seu prazer, completamente


encantado. Ele não nunca sonhou que fazer amor podia ser tão
penetrantemente doce. Ele ainda não conseguia acreditar no quão
livremente Annabel tinha se entregue a ele mesmo depois de todas
as suas palavras duras. Devia estar louco para pensar que ela
estava usando seu corpo para seduzi-lo em seu esquema. Ele nunca
tinha visto uma mulher gozar uma alegria tão inocente.
Guia-la para sua liberação tinha sido uma delícia além de
qualquer outra que ele já tivesse experimentado num quarto. E
agora, o que faria com ela? Será que ele realmente conseguiria
afastar-se dela quando chegar a manhã?
O pensamento fez um torção no peito. Meu Deus, quando ele
teria se tornado tão obcecado pela cervejeira de língua torta? Ele
devia ser louco. Ou ela realmente era uma deusa que viera à Terra
para encantá-lo.
—Jarret ...— ela murmurou baixinho, apertando as mãos
contra o peito dele.
Ele devia estar esmagando-a com o seu peso. Não era próprio
dele se abandonar tão completamente com uma mulher. Ele se
afastou tanto quanto pôde e lançou-lhe um olhar de desculpas. —
Essa cama não foi feita para dois, eu estou com medo.
—Não. — ela disse com um arrepio.
Ocorreu-lhe que eles estavam nus. —Você está com frio.—
Ele pegou o cobertor dobrado deitado ao pé da cama e puxou-o para
cima sobre eles. —Melhor?
—Obrigada, sim. — ela disse, com voz tímida.
Ele nunca tinha visto ela tímida. Ele encantou-se ainda mais.
—Estou muito pesado em você?— ele perguntou, uma vez que
metade de seu corpo ainda cobria o dela. Suas pernas estavam
entrelaçadas, e seu braço estava preso embaixo dele.
—Não no momento.— Ela virou-se debaixo dele para poder
deitar de lado e frente para ele. Seus olhos pareciam estranhamente
enevoados quando ela encontrou seu olhar.
Ele esfregou uma lágrima de seu rosto. —Eu machuquei
você?
Ela balançou a cabeça. —Foi tão maravilhoso. Eu nunca
pensei... Nunca sonhei... N-Não foi assim antes...
Quando ela parou, envergonhada, ele disse calmamente: —É
geralmente não é. A primeira vez entre dois virgens nunca é
confortável, pelo que eu entendo.
— Não foi só isso. Você e eu... bem, eu sei que não foi,
provavelmente, nada de especial para você, mas...
—Shh! — disse ele, dando um beijo em seus lábios. —Foi
incrível. Você foi incrível.
Um sorriso grato tocou seus lábios. —Prefiro pensar que o
prêmio por ser incrível deve ser seu. Eu realmente não sabia o que
estava fazendo.
— Você sabia o suficiente. — disse ele.
Sua expressão no momento do clímax ficaria com ele por um
longo tempo. Que emoção que tinha sido dar isso a ela. Ele queria
cantar.
Também queria respostas para algumas perguntas que o
importunavam desde que ela lhe contara sobre seu irmão ter corrido
atrás de Rupert para fazê-lo se casar com ela.
Ele apoiou a cabeça na mão. —Conte-me sobre Rupert.
Seu olhar caiu para o queixo dele, mas não antes que ele
vislumbrasse sua dor. —O que você quer saber?
Imaginando que seria melhor começar pelas beiradas, ele
disse: —Como vocês se conheceram?
Um suspiro de alívio saiu dela. —Ele e seu irmão mais velho
eram os filhos de uma viúva, gerente da cervejaria de Papai. Quando
Rupert tinha quatorze anos e eu tinha onze, o coração de seu pai
parou e ele e seu irmão ficaram órfãos, então Papai deu-lhes
trabalho na cervejaria. Eles muitas vezes vinham jantar na casa .
—Então vocês se viam bastante. — perguntou Jarret.
Ela assentiu com a cabeça. —Eu acho que foi em torno dos
meus quatorze anos, quando comecei a me interessar por ele de um
jeito diferente. Ele levou mais tempo. Quando eu tinha quinze anos,
ele começou a cortejar a assistente de um chapeleiro, e isso me
deixou furiosa de ciúmes, então um dia eu larguei uma cesta de
peixe na cabeça dele, quando eu sabia que ele estava indo ao seu
encontro. Ele me perseguiu, ameaçando me bater.—Ela sorriu. —Ele
acabou me beijando. E esse foi o fim de seu namoro com a
assistente do chapeleiro.
A doce história de um romance de aldeia o tocou mais
profundamente do que ele gostaria. Podia vê-la aos quinze anos,
ainda jovem e refrescante aos olhos, caindo por um rapaz bonito,
alguns anos mais velho que ela. E por um momento chocante, ele
virulentamente odiou o homem que teve o seu coração, não importa
quão brevemente.
—Quando eu tinha dezesseis anos,— ela continuou —Rupert
pediu a minha mão. Papai permitiu-nos noivar, mas disse que devia
esperar para me casar, pois ele achava que eu era muito jovem. Em
seguida, o irmão de Rupert morreu, e você sabe o resto.
—Não tudo. Soube que você saiu furtivamente para encontrá-
lo na noite anterior a ele partir para a guerra.—Ele segurou seu rosto.
—Mas eu não entendo por que vocês dois não se casaram depois
que ele deflorou você. Você já estava prometida. Por que não casou?
—Não houve tempo. — disse ela em um sussurro travado. —
Era para ele sair no dia seguinte.
—Claramente, seu irmão achou que havia tempo, já que ele
correu atrás do homem. Rupert poderia ter obtido uma licença
especial naquela mesma noite, e vocês poderiam ter tido um
casamento apressado pela manhã antes de sair.
Ela afastou-se para se deitar com suas costas para ele. —
Seria necessário a aprovação dos pais.
—Certamente seu pai teria ficado contente de dar que, se
soubesse que Rupert tinha tomado a sua inocência. Eu não vejo...
—Ele não me queria, está bem?
Jarret a encarou. —O que você quer dizer?
Um suspiro pesado sacudiu a pequena forma. —Não era para
acontecer, nós dois fazermos amor. Ele veio para a casa para um
jantar de despedida naquela noite, e nós dissemos nossas
despedidas. Hugh tinha sequer permitiu um momento de privacidade
para um beijo.
Sua voz baixou a um sussurro doloroso. —Mas eu estava de
coração partido. Não podia suportar a ideia de sua partida. Então
arrumei uma pequena mala e saí furtivamente. Eu planejei
acompanhá-lo, sabe. Pedi-lhe para me levar com ele. Eu disse a ele
que poderíamos casar, e eu podia ir para a guerra com ele, como
uma seguidora de acampamento. Ele não deixou.
—É claro que ele não deixaria.— Terror explodiu no peito de
Jarret ao pensar nela perto de um campo de batalha. —Nenhum
homem quer ver a mulher que ama, naquele tipo de perigo.
Ela virou a cabeça para olhar para ele. —Eu sou mais forte do
que você pensa, você sabe. Eu poderia tê-lo feito, lavar e cozinhar
para ele, como as outras mulheres.
—Essas outras mulheres raramente tem dezesseis anos de
idade, filhas de cervejeiros ricos, criadas de forma gentil. Elas foram
criadas em regimentos, de oficiais, de soldados ou suas filhas e
irmãs, ou são mulheres pobres, que não têm escolha. É uma vida
difícil, ser uma seguidora de acampamentos. Eu não o culpo por não
querer isso para você. Além disso, homens alistados raramente são
autorizados a levar suas esposas. Muito provavelmente, ele teria
sido negado a permissão para fazê-lo.
—Mas e se não tivesse me impedido? Se eu estivesse lá, ele
poderia não ter morrido. Quem sabe quanto tempo ele estava no
campo de batalha antes que eles o encontrassem? Eu teria cuidado
dele, atado suas feridas, vigiado.
—E ele provavelmente teria morrido de qualquer maneira,
amor.— Ele acariciou seus cabelos, seu coração martelando ao
pensar nela se culpando pela morte de seu noivo. —Cinco mil
homens perderam suas vidas em Vittoria. Foi uma batalha brutal. Ele
estava certo em não levá-la.
Seus belos olhos estavam escuros de dor. —Mas ele deveria
ter se casado comigo antes de ele ir. Isso é o que você pensa, não
é?
Jarret lamentou ter levantado o assunto. Ele descobriu que
havia uma história por trás daquilo, mas ele pensou que tinha algo a
ver com seu pai ou suas próprias inseguranças. Como um idiota sem
cérebro, ele não tinha considerado que Rupert poderia só ter sido um
bastardo.
—Tenho certeza de que ele queria. — disse ele suavemente.
—Eu não. Depois disso, ele não disse uma palavra sobre se
casar imediatamente. Ele prometeu que voltaria em breve. Que uma
vez que acabada a guerra, eu teria idade suficiente para casar e
queríamos uma cerimônia em uma igreja grande.— Ela encontrou
seu olhar com o dela, cheio de lágrimas. —Ele disse que me amava.
Ele prometeu que ficaríamos juntos. Em seguida, ele fugiu para lutar
sem nenhum cuidado. Porque não me queria.
—Eu duvido muito disso.— Jarret, de repente viu-se na
posição peculiar de ter que inventar desculpas para seu desgraçado
noivo. —Mas os homens reagem de forma diferente à ameaça de
guerra. Ele poderia ter se preocupado por não poder sustentá-la com
o salário de soldado. Ele poderia estar tão certo de que ele voltaria
logo, que ele não considerou se casar imediatamente. Ou talvez ele
pensou que estaria melhor livre para se casar com outro se ele
ficasse feridos ou...
—Morrido? Então eu seria uma respeitável viúva. Poderia ter
me casado com quem quisesse, em vez de ter que esconder ...— Ela
inclinou a cabeça para ocultar as lágrimas de seus olhos.
Ele afastou seu cabelo do rosto úmido. —Eu ia dizer, se ele
ficasse permanentemente ferido. Os homens às vezes retornam da
guerra com cicatrizes que não podem ser curadas, seus cérebros
danificados ou seus membros desaparecidos. Talvez ele não queira
correr o risco de você sofrer por isso.
Ela engoliu em seco. —Você está sendo gentil ao dizer isso.
Mas nós dois sabemos que é muito mais provável que ele
simplesmente não... queria ser sobrecarregado com uma mulher
quando partia em sua aventura emocionante.
—Se era esse o caso, então ele era tolo. Um completo e
absoluto tolo. Qualquer homem ficaria feliz em tê-la esperando em
casa.
—Não qualquer homem. — disse ela em voz baixa.
Congelou. Ela estava certa. Ele não tinha nada que dizer tal
coisa, quando ele não a queria a sua espera. Será que queria?
Antes que ele pudesse pensar em uma resposta, ela disse
com leveza forçada, —Enfim, foi há muito tempo. Quaisquer razões
que pudesse ter tido, é tudo passado. Agi loucamente, e agora esta é
a minha vida.—Ela conseguiu dar um sorriso. —Não é uma vida
ruim. Eu tenho sobrinhos e sobrinhas para amar, e posso ir para a
cervejaria, sempre que eu quiser.
— Annabel... — ele começou, sentindo a necessidade de
dizer algo, qualquer coisa para fazê-la perceber o seu valor.
Ela colocou um dedo em seus lábios. —Vamos aproveitar isso
enquanto podemos.— Ela aninhou-se contra ele. —Além disso, há
uma coisa que eu sempre quis saber sobre você. Por que se tornou
jogador? Você tem um dom para o negócio de fabricação de cerveja,
e parece gostar do trabalho. Com certeza sua avó teria prazer em
levá-lo debaixo de suas asas.
Ele parou. A última coisa que queria era falar com ela sobre
este período de sua vida. Deixá-la entrar em sua alma
profundamente era o caminho mais seguro para o desgosto. Ela lhe
daria sua simpatia, e ele iria começar a se importar com ela, e
depois, estaria diante de um homem de batina, entregando seu
coração para ela em uma bandeja.
Não que ele achasse que ela iria machucá-lo
deliberadamente. Tinha certeza que ela não faria isso. Mas ele
passara tantos anos mantendo-se à distância de qualquer um, que
ele não estava prestes a mudar isso agora para uma mulher a quem
deixaria pela manhã.
—Eu sou bom em jogos de azar, também, você sabe.— Ele
lançou-lhe um sorriso preguiçoso dado para distraí-la. —É assim que
eu consegui você na cama.
Ela não sorria, seus olhos enormes em seu rosto.—Se não
quer falar sobre isso, é só dizer
Com um sobressalto, lembrou-se de suas palavras antes: O
que você me disse sobre si mesmo? Dificilmente o suficiente para
me fazer ainda um esboço de você, muito menos uma imagem
completa.
—Não há nada para falar. — disse laconicamente. —Gran
queria me tornar um advogado, como convinha a minha posição. Ela
me despachou para Eton, e eu descobri que preferia o jogo aos
livros. Você vê? Todo esse tempo você esteve dizendo que eu sou
um patife, e você está certa. Não me importo com ninguém além de
mim, e prefiro ter um baralho de cartas na mão do que fazer algo útil
com o meu tempo.
—Isso não é verdade. — disse ela, com os olhos suaves. —
Eu sei que no seu coração...
—Você não sabe nada! — ele retrucou, então amaldiçoou
quando ela se encolheu. —Sinto muito. É que nós temos apenas
algumas horas antes de eu partir para Londres, e não quero gastá-lo
falando sobre minhas falhas.—Ele passou a mão por suas curvas
exuberantes. —Eu prefiro gastá-lo cumprindo bem minha promessa.
Uma pequena carranca franziu a testa. —Que promessa?
—Que eu a teria implorando antes que a noite terminasse.
Ela abriu a boca, mas ele a interrompeu com um beijo longo e
quente dado para fazê-la esquecer de qualquer coisa que não o que
estavam fazendo. Quando finalmente ela enrolou os braços em volta
de seu pescoço e ele soube que a tinha ganhado, seu sangue correu
feroz e quente em suas veias.
Quando ele separou os lábios dos dela para beijar uma trilha
até seus belos seios, ela murmurou, —Eu te disse, eu nunca imploro.
—Ah, mas você vai, minha Vênus. Você vai.
Então, ele se certificou de que ela o fazia. Desta vez, ele deu-
lhe prazer com a boca tão completamente que ele a levou a beira do
êxtase em instantes. E ela implorou, para ele tomá-la, para tê-lo em
seu interior. Ele estava mais que feliz em satisfazê-la.
Depois que eles se satisfizeram pela segunda vez, os
membros entrelaçados, ele caiu num cochilo, algo que nunca tinha
feito com uma mulher. Mas havia algo tão tranquilo em estar com ela,
em estar em seus braços...
—Jarret!— Disse uma voz aguda.
—Hmm?— Ele acordou devagar, encontrando Annabel de pé
sobre ele, já vestindo sua camisa, calcinhas e meias.
—Você tem que me ajudar a vestir. São quase quatro horas, e
devo voltar para a casa antes que alguém descubra que eu não
estou...
—É claro.— Lutou contra a névoa do sono, sentou-se. —Dê-
me um momento.
Quanto tempo tinha dormido? Um par de horas, pelo menos,
apenas o suficiente para fazê-lo sentir como um homem morto.
Ela tinha que estar sentindo a mesma lentidão, no entanto, ela
lançou-lhe um olhar de tal simpatia que algo apertou em seu peito. —
Certamente você poderá dormir algumas horas na pousada antes de
sair, não?—Reunindo suas roupas, ela disse—Apesar de que você
provavelmente está ansioso para voltar a Londres. Suponho que
você sempre pode dormir em seu coche.
Enquanto ela lhe entregava suas roupas, e então arrumou o
quarto, tudo o que ele podia fazer era olhar para ela, assim de
aparência frágil e pequena usando aquela camisa que não deixava
nada para a imaginação.
Ele deveria ir hoje. Ele nunca iria vê-la novamente, nunca
seria incomodado por problemas de Lake Ale. Ele poderia voltar e
informar a Gran que ela tinha razão, a pale ale da empresa não valia
a pena do risco para Plumtree Brewery.
O pensamento fez sua garganta fechar-se. —O que você vai
dizer a teu irmão?— Ele cortou. — Sobre a nossa reunião de
amanhã... Hoje, eu quero dizer.
—A verdade, eu acho.
—Meu Deus!
Ela se virou, seu rosto avermelhado. —Não sobre você e eu.
Vou apenas dizer-lhe que mudou de ideia depois de ver a cervejaria,
e que voltou para Londres.— Ela lhe deu um sorriso triste. —Não era
muito provável que você fosse nos ajudar de qualquer maneira, não
é?
De repente, Jarret não gostou da ideia de ser um homem com
o qual ninguém podia contar, e com certeza não gostou da ideia de
ser mais um homem em uma longa fila que tinha decepcionado a ela,
junto com seu pai, seu irmão, seu noivo.
E se ele não ajudar os Lake, onde eles iriam acabar? Será
que ela convenceria o irmão a vender a empresa? Não receberiam
muito com essa economia. Mesmo se eles recebessem algum
dinheiro com isso, eles logo afundariam sem a renda da cervejaria.
Especialmente se seu irmão não poderia ficar com a cabeça fora de
uma garrafa.
Ela poderia pedir a outra cervejaria para ajudar, ele supôs.
Como ao maldito Allsopp. A senhorita Lake faria qualquer coisa para
salvar a cervejaria de seu pai. Seu sangue gelou. Não porque ela
poderia querer dar-se a um libertino como Allsopp, mas porque ela
poderia sentir que não tinha escolha. Feriu-o brutalmente pensar
isso.
Levantando-se da cama, ele andou até a lareira parando para
jogar os dois preservativos e viu-os queimar. Muitas mulheres tinham
sido forçadas a fazer coisas impensadas para salvar as pessoas que
amavam. E o pensamento de Annabel ser uma delas...
—Eu não estou voltando para Londres hoje.— Ele não podia.
Bêbado ou não, seu irmão era a chave para salvar o Lake Ale, e se
Jarret a deixasse ali sozinha, para lidar com o homem, ele não seria
melhor do que aquele maldito Rupert, com suas palavras vazias e
promessas mais vazias.
Ele foi para a cama e puxou suas cuecas. Ele podia sentir
seus olhos sobre si. —Por que não?— Ela perguntou, claramente
perplexa.
Ele se aproximou para pegar o espartilho, então ajudou-a
nisso. —Eu vou ficar aqui e ver o que posso fazer em relação a este
esquema de vocês, é claro.
Ela congelou, então girou para encará-lo. — Você... você vai
falar com os capitães das Índias Orientais? Você vai contratar nossa
pale ale?
A esperança brilhando em seus olhos bastava para mata-lo.
—É isso que você quer, não é?
—Sim!— Um sorriso brilhante abriu-lhe o rosto enquanto ela
se jogava em seus braços. —Sim, sim, sim!— Ela riu, os doces tons
como música, e cobriu seu rosto com beijos. —Mas por quê? Você
não precisa. A aposta...
—Não me importo sobre a maldita aposta. — ele rosnou. —
Você precisa de ajuda, e eu quero ajudar. Posso gastar mais alguns
dias para ver se podemos fazer isto funcionar.
— Oh, Jarret! — ela sussurrou —é a melhor coisa que você
poderia fazer por mim.— Inexplicavelmente, ela começou a chorar.
Pânico puramente masculino subiu pelo seu peito. —Aqui,
agora, querida. — ele murmurou enquanto a aproximava de si. —Eu
pensei que você ficaria feliz.
—Estou feliz. — ela suspirou. —Isso é o que eu faço quando
estou feliz.
—Então eu odiaria saber o que você faz quando está triste.
— Eu choro, então, também. — ela soluçava. —Eu choro
muito.
Isto o estava matando. Quantas vezes ela havia chorado pelo
homem que a deixou e morreu? Quantas vezes tinha seu irmão a
levado às lágrimas? Ele sentiu um soco no estômago só de imaginar.
—A única vez que eu não choro, — disse ela enquanto
tentava obter o controle de si mesma, —é quando eu estou com
raiva. Então eu grito.
—Eu lembro.— Em uma tentativa de diminuir as lágrimas, ele
acrescentou: —Eu nunca choro. Muita bagunça.
Ela levantou os olhos marejados para ele. —Nunca?
—Nunca.
—Isso é terrível.— Ela limpou as lágrimas com as costas da
mão. —Eu não posso imaginar não ser capaz de chorar. Eu me sinto
muito melhor depois.— Ela lhe deu um sorriso aguado. —Apesar de
eu parecer muito pior.
—Você sempre vai parecer uma deusa para mim.—
Percebendo como piegas soou, ele virou-a para que ele pudesse
continuar a amarrar seu espartilho... e deixar de ver a esperança nos
olhos dela. —Então onde é que este encontro com seu irmão terá
lugar?
—Onde você quiser.
—Ele precisa estar aqui. — disse Jarret—e eu quero você e
Mr. Walters presentes.
—Claro.
—E eu quero ver os livros de Lake Ale.
Ela congelou. —Todos eles?
—Todos eles. Eu não vou assinar qualquer contrato com a
empresa até ter a certeza que um de vocês pode manter o lugar o
tempo suficiente para colocar essa cerveja nos navios para a Índia.
Um suspiro escapou dela. —Eu não sei se Hugh vai concordar
com isso.
—É melhor que concorde, se ele quiser minha ajuda.
Assim que ele terminou de atar os laços, ela endireitou os
ombros. —Então vou me certificar que ele aceite.
Ele não pôde evitar um sorriso. Apesar de todas as suas
lágrimas, ela era forte, pronta para lançar-se em qualquer briga. —
Vou precisar de uma lista de seus fornecedores. E se você souber de
alguma coisa sobre as operações de Allsopp e Bass, vou precisar
dessa informação, também.
—Tudo bem.
Enquanto eles se vestiam, ditou outras demandas,
principalmente para fazê-la entender que isso não seria fácil. Eles
teriam que trabalhar duro para que isso aconteça.
Quando ambos estavam prontos, ele disse, —Eu vou levá-la
para casa.
—Absolutamente não.— Sua voz era firme. —Eu não vou dar
chance de alguém nos ver juntos.
—Mas Annabel, não é seguro.
Ela riu. —É tão seguro andar pelas ruas de Burton, mesmo a
esta hora, quanto eu estaria em minha própria casa.— Ela assentiu
com a cabeça na porta. —Você sai primeiro, e tente entrar na
pousada sem ser visto. Vou logo em seguida.
Ele não gostou, mas podia ver que ela ia ser teimosa sobre
isso. —Muito bem.—Ele começou a ir para a porta, em seguida, fez
uma pausa para olhar para ela. —Quando posso te ver de novo?
—Em poucas horas, durante a reunião. — ela respondeu.
Ele franziu a testa. —Isso não é o que quero dizer, e você
sabe disso.
As suas bochechas coraram, mas ela encontrou seu olhar
insistente. —É... me ver novamente uma exigência da sua estadia
aqui para nos ajudar?
—Não, porra! Não é por isso que eu perguntei.
Ela olhou para ele, como para avaliar sua sinceridade. Em
seguida, um leve sorriso curvou-se os lábios. —Nesse caso, você
pode me ver sempre que quiser.
Seu coração começou a bater. —Hoje à noite? Mesma hora?
Aqui?
— Provocava-a a malícia em seus olhos. —Se é isso que você
deseja, meu senhor.
—O que eu desejo... — ele rosnou, enquanto caminhava de
volta para ela e puxava-a em seus braços, —é fazer com que você
pare de me chamar de senhor.
Ele tomou sua boca com a dele, gloriando-se em como
livremente ela se entregava a ele. Ele não se cansava de beijá-la.
Seus beijos eram como uma droga para seus sentidos, com o qual
ele estava se tornando rapidamente viciado.
Ela deixou-o beijá-la apenas um momento antes de empurrá-
lo para longe. —Isso é o suficiente. Nós teremos um longo dia pela
frente.
Ele olhou-a de soslaio. —Posso ver que você vai ser uma
capataz severa, senhorita Lake.
—Você não tem ideia.— Ela estendeu a mão para alisar uma
mecha de seu cabelo. —Obrigado.
—De nada.
Ele a deixou, então, com coração e passos leves, sentindo-se
como um cavaleiro de armadura brilhante. Que se dane se não se
sentia bem por estar ajudando alguém. Estar ajudando ela.
Ele poderia facilmente se acostumar com a ideia de ter
Annabel sempre em seus braços. Se ele não tivesse cuidado, ela o
teria envolvido em torno de seu dedo mindinho tão completamente
quanto Maria tinha envolvido seu irmão em torno dela.
Ele bufou. Isso era absurdo. Ele estava apenas fazendo uma
gentileza para ela. Nem mesmo era uma gentileza – era um
empreendimento que fazia todo o sentido, contanto que ele pudesse
controlar as variáveis. Era uma forma de impulsionar as vendas ruins
da Plumtree, nada mais.
Até o momento em que ele chegou à pousada, quase se
convenceu de que era verdade.
Capítulo Dezenove
Annabel praticamente dançava pelas ruas de Burton. Era
ridículo, mas ela não conseguia parar de sorrir. Certamente o fato de
que Jarret tinha concordado em ficar e ajudar Lake Ale significava
algo.
Sua mente racional lhe disse que era idiota por pensar que ele
realmente poderia cuidar dela, seu coração queria
desesperadamente acreditar. Talvez com o tempo...
Ela não devia atormentar-se com tais esperanças. Jarret não
havia dito uma palavra sobre casamento ou amor. A única coisa que
ele queria era garantir que eles pudessem fazer isso de novo.
Enquanto o redemoinho inebriante da tentação subia em seu
corpo, ela se repreendeu por ser tão devassa. Mas, na verdade, ela
não podia evitá-lo. Quem poderia imaginar que o ato sexual era
realmente tão maravilhoso? Ela tinha imaginado que poderia ser, e
certamente tinha gostado de tudo que aconteceu, antes e depois.
Mas até Jarret, ela não tinha percebido que o ato em si poderia ser
tão absolutamente glorioso.
Ela chegou na casa e abriu a porta, olhando em volta para se
certificar de que ninguém a tinha visto. Então deslizou para dentro e
tirou as botas para poder chegar ao seu quarto sem fazer nenhum
som.
—Onde você estava?— Disse uma sonora voz masculina.
Ela congelou, seu coração triplicou. Não outra vez. Oh
Senhor, de novo não!
Em seguida, ela endireitou seus ombros. Ela não era mais
uma garota de dezessete anos, para se encolher ao ouvir a voz de
seu irmão. Fazendo uma expressão de indiferença, ela se virou para
ele.
Hugh sentava esparramado em uma cadeira na sala de estar.
Ele não tinha um copo na mão, mas parecia cansado, como se
tivesse estado sentado lá por um bom tempo. Levantando-se da
cadeira, ele veio em sua direção com uma expressão sombria. —
Onde você estava?— Repetiu ele.
—Na cervejaria. — disse ela.
Pareceu tê-lo pego desprevenido. —E o que você estava
fazendo lá?
—Achei que seria melhor me preparar para a reunião de
amanhã. Não tivemos tempo para reunir informações antes, então eu
tinha que fazer isso hoje à noite.— Graças a Deus que ela tinha
passado um par de horas antes do jantar com o Sr. Walters, retirando
os arquivos e colocando para fora os registros que poderiam precisar
para a reunião. Ela podia alegar ter estado revisando-os.
Deus, como odiava as mentiras. Ela odiava mentir para Hugh.
Ela odiava mentir para Geordie. Ela detestava mentir sobre Geordie.
Ela estava doente à morte dos subterfúgios e de se esgueirar. Teria
que parar logo. Ela não podia continuar assim.
—Por quê?—Ela perguntou. —Onde achou que eu iria?
Hugh arrastou uma mão pesada em seu cabelo. —Eu sinto
muito, Annie. Pensei que talvez você e sua senhoria...— Seus
ombros caíram. —Foi uma tolice. Eu deveria saber melhor agora.—
Ele deu-lhe um sorriso amarelo. —Não importa. Tem sido um longo
dia, e eu não conseguia dormir. Quando eu bati na sua porta, e você
não estava lá, fiquei preocupado.
Ela permaneceu em silêncio. Ele já estava tão perto de
adivinhar a verdade, ela não se atrevia a deixá-lo adivinhar mais. Ou
ele certamente estrangularia Jarret com as mãos nuas.
—Mas você não deve ir para a cervejaria à noite sozinha, —
continuou ele. —Não é seguro.— Ela olhou-o de soslaio. —Eu vou
para lá há anos, e ninguém está lá à noite de qualquer maneira.
Hugh fez uma careta. —Se um homem a seguir para lá, você
pode se machucar.— Ele deu um passo para perto dela. —Annie, eu
sei que você teve que assumir o encargo do lugar em demasiado
ultimamente, mas isso vai mudar. Eu quero fazer direito por você e
Sissy e as crianças. Se até mesmo Geordie notou...—Ele endireitou
os ombros. —Eu vou cuidar melhor de tudo, eu prometo. E isso
significa não ir mais para a cervejaria sozinha à noite, você
entendeu? Eu nunca me perdoaria se algo acontecesse a você.
—Vamos, Hugh ...
—Eu quero dizer isso. Jura-me que você não vai passear
sozinha pela cidade. Não é seguro, mesmo em Burton. Prometa-me.
Frustração amarrou suas entranhas. Por que Hugh tinha que
escolher agora para lembrar que tinha uma família?
Ela não poderia ficar com Jarret se Hugh rondava a casa tarde
da noite, cuidando-a. Mas ele a tinha abrigado e dado o nome ao seu
filho. Ela não podia devolver tudo isso envergonhando ele ou Sissy.
Ela suspirou. —Eu prometo.
—Bom. — disse ele, dando-lhe um sorriso hesitante. —Bom.
— Estendeu-lhe a mão. —Agora venha, nós devemos dormir um
pouco antes de nos encontrar com Lorde Jarret. Não quero deixá-lo
tirar o melhor de nós nesse negócio, hein?
Uma risada histérica borbulhou em sua garganta, um que ela
rapidamente reprimiu. Se Hugh soubesse o quão perto eles
estiveram de não ter negócio nenhum. No entanto, era outro segredo
que ela devia guardar.
Enquanto ela deslizava para a cama mais tarde, ocorreu-lhe
que teria que dizer a Jarret sobre a mudança de planos. Sentiu uma
pressão em seu peito. E se ele mudasse de ideia sobre ficar?
Não, ela não devia pensar isso. Ele disse que estar com ela
não era um requisito para ajudá-la, e ela acreditava nele.
Um suspiro escapou dela quando olhou para o teto
ornamentado por gesso trabalhado. Ela queria vê-lo novamente.
Queria sentir seu corpo se fundir com o dela, sentir seu coração
bater contra o seu peito. Ela adormeceu lembrando o toque de sua
mão em sua bochecha.
A manhã seguinte foi frenética. Ela pensou em uma maneira
de ver Jarret sozinha por alguns minutos, mas além disso, tinha
pouco tempo para se preparar para a reunião. Por volta das dez
horas, quando eles estavam reunidos no escritório no Lake Ale, ela
estava exausta.
Jarret parecia tão cansado quanto ela. Ele mencionou ter
jogado cartas até tarde da noite para se desculpar pelo cansaço, ela
mal podia olhar para ele, com medo de entregar alguma coisa.
Como o que sentia por estar na mesma sala onde tinham
passado a noite abraçados. Como a dor ao ver a pequena porta que
dava para o quarto privado de seu ponto de encontro e saber que
tinha sido a última vez deles juntos.
—Como dizia a senhorita Lake no jantar, — Jarret disse—Eu
gostaria de ver os livros de Lake Ale antes de irmos adiante. Eu
preciso estar seguro que você tem a capacidade seguir sua
proposta.
O olhar assustado de Hugh virou-se para ela. —Annie, você
não disse nada sobre ver os livros.
Ela fingiu espanto. —Não disse? Eu poderia jurar que eu sim.
Sinto muito, ontem à noite foi como um borrão. Eu tive poucas horas
de sono.
—Atrevo-me a dizer que sim.— Hugh olhou para Jarret, que
os olhava com cautela. —A tolinha de minha irmã disse ter
trabalhado aqui para coletar de informações para você, meu senhor.
À noite, sozinha. Eu disse a ela que não é seguro, mas ela não
escuta.
Ela forçou um sorriso. —Meu irmão estava esperando para
me castigar quando cheguei em casa. Ele é tão solícito com meu
bem-estar.
Os olhos de Jarret nada entregaram do que estava pensando.
—Isso posso ver. — disse ele sem se comprometer.
—Eu não tenho certeza se eu gosto da ideia de você ver
nossos livros, meu senhor. — disse Hugh —Você é nosso
concorrente.
—Quem em breve será um parceiro da sorte. Preciso de mais
informações para que eu possa tomar uma decisão consciente sobre
a forma como nós devemos estruturar este arranjo.
—Não vejo nenhuma razão para Sua senhoria não olhá-los.
— disse Walters para Hugh. —Ele está nos oferecendo uma
oportunidade que não podemos deixar passar. E nós não temos
nada a esconder.
Hugh tinha seus lábios franzidos, então suspirou. —Eu não
acho. Muito bem, vamos ter de buscá-los.— Ele franziu a testa para
Annabel. —Eu queria que você tivesse me dito antes. Eu teria trazido
eles comigo. Agora vamos ter que voltar para a casa, uma vez que
está no cofre.
Exatamente. —Você quer levar o Sr. Walters? Ele pode ajudá-
lo a carregá-las.
— Um dos lacaios vai me ajudar.
—Eles estão ambos no mercado com Sissy. Precisávamos de
muitas coisas uma vez que estivemos fora muito tempo.—E ela tinha
sugerido a Sissy que seria este o momento ideal para isso.
Os olhos de Hugh estreitaram quando ele olhou para ela e
para Jarret. — É melhor você vir também, Annie.—
—Não seja absurdo. Eu posso começar a discutir alguns dos
materiais com Sua Senhoria. E não é como se ele e eu
precisássemos de um acompanhante.—Ela apontou para a janela
atrás deles. —Temos pelo menos vinte homens trabalhando na
fábrica de cerveja que podem nos ver a qualquer momento.
Seu irmão hesitou, então concedeu com um leve aceno de
cabeça. —Tudo bem, então.— Ele se levantou. —Venha comigo,
Walters. Será melhor irmos buscar esses livros.
Assim que eles se foram, ela deslizou para a cadeira atrás da
mesa onde estava sentado Jarret. —Nós só temos alguns minutos—,
disse ela em voz baixa.
—Gostaria de saber se você planejou isso.— Seus olhos se
encheram de preocupação. —Seu irmão te pegou esgueirando-se na
noite passada?
—Sim. E ele me fez prometer que não iria vir aqui à noite
sozinha.— Carrancudo, Jarret recostou-se nas costas da cadeira. —
Já vejo.
—Não é o que eu queria também. Meu irmão tem seus
defeitos, mas ele e Sissy me trataram bem, e eu não posso
envergonhá-los e tê-los pensando que eu sou ... bem ...
—Deitando-se comigo.
Ela assentiu com a cabeça. —Se Hugh ainda adivinha a
verdade, ele o desafiaria. E isso não nos faria qualquer bem.
—Então, não posso.
—Não. Eu não vejo nenhuma maneira.— Só se Jarret a
cortejasse, coisa que ele não iria fazer.
E mesmo que ele o fizesse, ela não poderia se casar com ele.
O que ela faria sobre Geordie? —Provavelmente é melhor assim.
Quando você for, isso vai acabar de qualquer maneira.
—Não temos que. — disse ele.
Ela olhou para ele, seu pulso de saltar em um ritmo staccato.
—O que você quer dizer?
Os olhos da cor do mar seguraram os dela. —Você poderia vir
para Londres comigo. Eu poderia encontrar-lhe uma posição em
Plumtree.
Seu coração se afundou. —Uma posição em Plumtree? Ou
uma posição na sua cama? — Seu olhar fechou. —Ambos, se o
desejar.
—Você está oferecendo fazer-me sua amante?
— Não, eu...— Ele desviou o olhar, sua mandíbula cerrou. —
Eu estou oferecendo a você a chance de ficar longe de sua família.
Para ter a sua própria vida. Você é uma boa cervejeira, você pode
preparar cervejas para Plumtree. E de vez em quando, se você
quiser...— Ele encontrou seu olhar novamente, seu rosto mostrava
beligerância. —Você não tem que ser minha amante, mas por que
não ter um amante, se você desejar?
Ela lutou para esconder sua decepção. É claro que ofereceria
isso. Quando ele teria oferecido mais? —Eu não preciso de um
amante, Jarret. E não tenho desejo de ficar longe da minha família
ou Lake Ale.
Ele se inclinou, em seguida conteve-se, olhando atrás dele,
para a cervejaria. —Quanto se pode ver lá de fora?
—Por quê?
—Porque eu quero tocar em você, maldição.
E ela queria que ele a tocasse. Que irremediavelmente tola
ela era. —Eles não podem ver abaixo de seus ombros. — ela
admitiu.
—Bom. — Ele se aproximou da mesa para apertar-lhe as
mãos. —Você merece algo melhor que uma vida de parente pobre.
Você é uma mulher bonita e vibrante. Se você não está interessada
em casamento, por que não viver sua vida como quiser?
—Eu já estou vivendo a minha vida como quero.
Seu olhar escuro queimado dentro dela. —Sério? Deitada em
sua cama sozinha à noite, com apenas suas memórias como
companhia? Cuidando das crianças de outros?
Ela encontrou seu olhar firme. —E filhos de quem eu cuidaria
então, dos seus?— Isso pareceu atordoar ele. Liberando as mãos,
inclinou-se para trás na cadeira, no rosto uma mistura de raiva e
incerteza.
—Você vê, Jarret, — ela disse suavemente—Isso não vai
funcionar. Queremos coisas diferentes. Você quer seguir o vento,
para onde ele o levar, e eu quero criar raízes profundas. Você é um
rio, e eu sou uma árvore. A árvore nunca pode seguir o rio, e o rio
nunca pode ficar com a árvore.
Ele soltou um juramento grosseiro. —Então este é o fim para
nós. É isso mesmo que você quer?— Sua bota tocou sua sapatilha
por debaixo da mesa, e ele acariciou ao longo da perna dela em uma
carícia sensual que fez seu sangue esquentar. —Não haverá mais
noites nos braços um do outro. Sem mais viagens aos céus.
—É claro que não é isso que eu quero!— Ela gritou, frustrada
por sua incapacidade de ver além de seus próprios desejos. —Mas
não vou jogar minha vida para um homem que não compartilha nada
de si mesmo comigo, que não tem nenhum objetivo além de frustrar
os planos de sua avó, e que pensa que passar seus dias em
atividades frívolas irá mantê-lo feliz.
—A felicidade é inconstante. — ele rosnou. —Olhe para você,
pensou que seria feliz quando deu-se a Rupert. Em vez disso, ele
arruinou sua vida. Nossa única opção é aproveitar os prazeres da
vida em que podemos. Esperar por mais é um esforço inútil.
—Assim diz o rio.— Ela lhe deu um sorriso triste. —Não só a
árvore não pode seguir o rio, mas ao se banhar nele, apodrece e
morre. Eu não vou para Londres para apodrecer, Jarret.
Esforçando-se para não demonstrar o quanto ele a tinha
ferido, ela levantou-se e recolheu os papéis que eles precisavam
para a reunião. —Meu irmão vai estar de volta em breve, e quando
ele voltar, vai precisar ver que temos sido produtivos enquanto ele
estava fora, ou vai ficar desconfiado. Então, vamos rever a análise
dos custos que fiz Mr. Walters juntar.
O silêncio do seu descontentamento era palpável no quarto,
mas ela ignorou. Quando ele for embora, ela ainda teria uma vida
para viver. Ela não ia abandonar o seu filho ou a sua família
simplesmente porque ele queria brincar com ela por um tempo. Ele
que fosse buscar suas prostitutas de Londres para isso.
O pensamento disparou uma dor aguda através de seu peito.
Mas isso foi apenas temporário. Ele era apenas temporário. E ela se
recusava a deixá-lo enreda-la tão completamente a ponto de perder-
se.

Capítulo Vinte

Jarret tinha pensado que era certeza que Annabel cederia nos
dias que se seguiram. Todos os dias, ele esperava pegá-la sozinha
de novo para ouvi-la dizer que tinha mudado de ideia, que iria
encontrá-lo para uma noite de prazer mútuo. Todas as noites na
pousada, metade dele esperava ela aparecer em seu quarto.
Ela nunca o fez.
A parte racional dele entendia o porquê. Ela vivia a vida de
uma mulher respeitável. A comunidade parecia tê-la em alta conta,
mesmo que seus vizinhos, por vezes, não entendiam seus esforços
para a cervejaria de seu irmão. E apesar de Hugh Lake não ter
cuidado de sua família como deveria, eles pareciam unidos e
claramente gostavam um do outro.
Ele era o intruso. Pela primeira vez em sua vida, ele se
ressentiu disso. Ele odiava ter Annabel tratando-o como um
conhecido de negócios quando eles haviam sido muito mais um para
o outro.
Eles ainda poderiam ser muito mais, se ela não fosse tão
teimosa. Tudo bem, então ele não deveria ter se oferecido para levá-
la com ele para Londres. Tinha passado dos limites, pedindo-lhe para
rebaixar-se, quando ela não tinha nenhum motivo para fazer isso.
Mas, caramba, ele queria tê-la novamente! E, mais uma vez,
sempre que pudesse. Pior ainda, ele sabia que ela queria ficar com
ele. Em momentos de descuido, ele via a maneira como ela olhava
para ele.
Mas ela sempre se certificava de que eles nunca ficavam
sozinhos, não havendo nenhuma chance de seduzi-la
descaradamente, e ela cortou seus esforços mais sutis quando ele
tentou-os. Se ele passava-lhe os dedos enquanto ela entregava-lhe
alguns papéis, ela parava de entregar-lhe documentos. Se ele a
acariciava a perna por baixo da mesa, ela pisava em seu pé.
À medida que os dias passavam, ele via cada vez menos
dela, já que ela estava ocupada supervisionando a preparação da
pale ale. Enquanto isso, ele, Lake, e Walters continuaram a forjar um
contrato adequado a ambas as empresas, de modo que ele estava
cada vez mais ocupado com isso.
Graças a Deus ele podia vê-la à noite, que passava com os
Lake. Os jantares tinham começado tensos, porque Lake tinha se
ressentido de sua presença. Mas, como eles tinham vindo a
conhecer um ao outro com as negociações, Lake tinha relaxado, e
agora o tratava como um convidado de honra.
Depois do jantar, todas as noites ele e Lake retiravam-se para
seus Portos, mas o homem bebia pouco, sem dúvida consciente dos
olhos de Jarret sobre ele. Passavam pouco tempo longe das
senhoras antes delas juntarem a eles na sala de estar, onde a noite
geralmente consistia em ler ou jogar charadas. Toda noite ele sofria a
tortura de ver Annabel, sabendo que não podia tocá-la.
Esta noite estava ainda pior. Ele e Lake tinham feito
progressos sérios sobre o acordo. Amanhã eles teriam mais alguns
detalhes para cuidar, e depois já não haveria qualquer razão para ele
ficar. Na verdade, ele já tinha recebido uma carta de Gran
repreendendo-o por descuidar do negócio em Londres. Até depois do
dia seguinte, ele teria de estar na estrada.
E ele não queria ir.
Ele fez uma careta. Isso era o que dava deixar uma mulher
entrar sob sua pele. Ela tentaria induzi-lo a querer coisas que eram
efêmeras. Ela o faria ansiar.
Esta noite ela o estava deixando lentamente insano. O vestido
deixava apenas o suficiente de seus ombros cremosos nus para
lembrá-lo de como era a sensação de acariciá-los. Toda vez que ela
inclinava a cabeça em direção a uma das crianças, expondo a coluna
esbelta de seu pescoço, ele tinha um desejo feroz para agarrá-la e
plantar um beijo em seu pescoço, a lamber o pulso lá até que
saltasse ao ritmo selvagem que mostraria que sentia mais por ele do
que ela ousava demonstrar.
Porém não era apenas isso. Esta noite as crianças estavam
com eles, já que a babá tinha a noite de folga. Enquanto ele e Lake
sentavam a um lado jogando, e a Sra. Lake bordava uma almofada,
Annabel e as crianças brincavam pela sala.
Adoravam a voz de sua tia Annabel, e com razão, já que era
uma voz clara, como doce soprano, bem adequada para canções
infantis. Pediam cantiga que envolvia pular como macacos ou
contorcer os corpos de formas ridículas. Mesmo Geordie, que
afirmava ser muito velho para tal absurdo, estava balançando os
mais jovens e levantando seu irmão mais novo sobre seus ombros.
A cena familiar e acolhedora lembrou a Jarret de forma
dolorosa de sua própria família antes de seu mundo se desmoronar.
Ele não conseguia desviar o olhar, Suas palhaçadas e sua alegre
perseverança com eles o cativou a tal ponto que ele prestou pouca
atenção às cartas. Era estranho ver uma mulher que ele desejava
tão ferozmente fazendo de babá a um punhado de moleques rindo.
Ele não devia achar isso encantador, mas o fazia.
Suas palavras de poucos dias atrás surgiu em sua mente: e
filhos de quem eu estaria cuidando então, seus?
Até aquele momento, ele ainda não tinha pensado em ter seus
próprios filhos. Ele não tinha necessidade de ter um herdeiro, não
tinha necessidade de uma esposa quando havia empregadas de
taberna em grande quantidade, e não desejava alterar seu modo de
vida por alguma harpia brusca que não aprovava suas noites tardas
e jogos de azar imprudentes.
Mas o pensar em ter crianças com Annabel roubou sua
respiração. Todas as crianças que ele e Annabel poderiam ter
provavelmente seriam semelhantes ao grupo heterogêneo que
causavam agora estragos na sala - de olhos brilhantes e coradas
bochechas, com as pernas nos quadris e risadas derramando de
suas bocas. Só que eles teriam seus olhos ou seu cabelo ou seu
nariz. E eles iriam chamá-lo de Pai.
Um pensamento terrível. Ter filhos dependentes dele, olhando
para ele para obter orientação, esperando grandes coisas dele ... sua
mente confundiu-se. Como ele poderia viver de acordo com essas
expectativas?
—Basta!— Annabel caiu em uma cadeira e achatou a mão
contra o peito. —Estou cansada de cantar.
—Por favor, tia Annabel. — implorou a mais nova, uma
menina de cinco anos chamada Katie. —Só mais uma.
—É sempre só mais uma com vocês, crianças. — disse a Sra.
Lake. —Deixe sua tia em paz. Você vão deixá-la rouca.
—Talvez você possa convencer Lorde Jarret a cantar.—
Annabel olhou-o, travessa. —Partindo da suposição que ele conheça
músicas que possam ser cantadas de forma educada.
—Eu conheço um par dessas. — ele respondeu—mas você
estaria melhor se pedisse a um peixe para tocar piano. Confie em
mim, ninguém iria querer me ouvir cantar.
— Eu mal posso acreditar nisso. — Annabel protestou. —Você
tem uma voz tão linda.— Ele mal teve tempo de registrar que ela
achava sua voz encantadora antes de as crianças correram até ele,
clamando por uma performance. Ele protelou o tempo que pôde, mas
cedeu quando a pequena Katie enfiou o polegar na boca e olhou
como se fosse chorar. —Tudo bem. — disse ele. —Mas você vai se
arrepender.
Levantando-se, ele fez uma cena para limpar a garganta,
proferindo ruídos como os que ele tinha visto cantores profissionais
fazerem. Então ele lançou-se a cantar a única música infantil que ele
pôde lembrar: —Hot Cross Buns...
Nas primeiras notas, as crianças se abriram para ele como se
alguém na sala houvesse peidado. Mesmo Annabel piscou, e a Sra.
Lake parecia completamente atordoada.
Ele seguiu adiante com grande entusiasmo de qualquer
maneira. Não era como se ele não tivesse avisado-os, e a ele não
fora permitido cantar para ninguém desde que sua família tinha
descoberto pela primeira vez a sua deficiência. Felizmente —Hot
Cross Buns— era curta, então ele só teve de torturá-los por um
minuto ou dois.
Quando terminou, um tenso silêncio caiu sobre a sala. Em
seguida, Annabel disse, com os olhos brilhando: —Essa tem que ser
a pior interpretação de Hot Cross Buns que eu já ouvi.
—Annabel— Sra. Lake disse.
—Acredite-me, não estou ofendido. — disse ele com um
sorriso presunçoso. —Conheço minhas limitações.
— Seu canto é como gatos brigando. — Geordie arriscou.
—Mais como gatos gritando, me tem sido dito. — disse Jarret.
—Gabe diz que eu soo como um violino que foi pisoteado.
—Ou uma flauta com uma noz dentro. — uma das crianças
forneceu.
—Faça isso de novo!— Katie gritou. —Eu gosto!
Atônito, Jarret ajoelhou-se para olhar para o rosto dela. —
Você gostou, pirralha?— Ele olhou para a Sra. Lake. —Você
esqueceu de avisar, minha senhora, que a insanidade é de família.
Os outros riram, mas Katie não seria ignorada. —Eu não sei o
que 'sanidade' significa, senhor, mas seu canto me lembra a coruja
que grita fora do berçário todas as noites. Eu gosto de corujas. Você
pode cantar outra?
Jarret riu e acariciou-a sob o queixo. —Desculpe, querida,
mas seus pais me jogariam piche e penas.
Ela bateu palmas. —Isso parece divertido, também!
Lançou a Annabel um olhar divertido sobre a cabeça de Katie.
—Sua tia certamente o apreciaria.— Ele se inclinou para sussurrar
em voz alta: —Ela gosta de me fazer sofrer.
O rubor de Annabel enviou um rugido de sangue para suas
veias. Então ela lhe lançou um olhar repreendendo-o, enquanto
estendia as mãos para seus sobrinhos e sobrinhas. —Venham,
crianças, é quase hora de dormir. Vamos deixar sua senhoria e seu
pai em paz para terminar o seu jogo de cartas, vamos?
—Mas eu quero ver sua senhoria com piche e penas!— Katie
chorou. —Mamãe, o que ‘piche’ quer dizer?
Enquanto os adultos riam, Annabel recolheu as crianças.
Ignorando seu choramingar, ela e a Sra. Lake enxotou-os para as
escadas enquanto Jarret subia para tomar o seu lugar na mesa de
cartas novamente. Mas quando ele pegou suas cartas, ele notou
Lake olhando para ele com um olhar avaliativo.
—Alguma coisa em sua mente, senhor?— Ele perguntou.
Lake deixou sua mão. —Perdoe-me por ser franco, meu
senhor, mas por que você decidiu vir aqui e nos ajudar? Mesmo que
este esquema funcione, haverá pouco benefício para Plumtree
Brewery.
Jarret arranjou suas cartas. —Eu discordo. Já vi o suficiente
do sucesso de Allsopp para saber que pode ser benéfico para nós
dois.
—Se eu puder mantê-lo. — disse Lake, uma expressão
preocupada cruzando a testa. —O que não é de forma nenhuma
certeza.
Jarret pesou cuidadosamente suas palavras. —Tendo
passado grande parte do tempo com você esta semana, eu vim a
perceber que o que sua irmã diz sobre você é verdade. Você tem
bons instintos para negócios. Simplesmente não confia neles.
—Você vê o quão perto Lake Ale está do limite. — respondeu
Lake. —Isso parece indicativo de um homem com bons instintos de
negócios?
—Não são seus instintos que o problema. É a sua tendência
em afogá-los em uma garrafa.— Para crédito de Lake, embora a
raiva explodisse de seu rosto, ele não tentou negar nada. —Meu
hábito de beber não criou problemas com o mercado russo. Meu
hábito de beber não aumentou o preço dos barris lúpulo.
—Verdade. Mas a força de um homem é medida pela forma
como ele reage aos desafios da vida. E até agora, você não reagiu
muito bem.
— Você deve saber o que é isso.—Lake disparou de volta. —
Pelo que entendo, você reage aos ‘desafios da vida’, evitando-os
totalmente na mesa de jogos.
Jarret rangeu os dentes, mas não podia negar a acusação.
Com certeza, ele não tinha família para sustentar, não havia razão
para intervir na cervejaria quando Gran segurava as rédeas, mas ele
poderia ter tentado.
Como sua vida teria sido diferente se ele tivesse abordado
Gran há dez anos e pedido que lhe fosse dado outra chance? Na
época, ele pensou ser tolice investir sua vida em tal esforço, quando
tudo o que ele tivera por seus esforços tinha sido tristeza.
Agora ele começava a se perguntar se essa decisão tinha sido
tola. Não tentar não o tinha feito ganhar nada, pois aí estava ele, dez
anos mais tarde, administrando a cervejaria de qualquer maneira. Se
ele tivesse começado naquela época, poderia ter evitado alguns dos
problemas com o mercado russo. Ele poderia até ter mantido Gran
de ficar com tanta raiva de seus netos que ela se sentisse compelida
a estabelecer seu ultimato fatal.
Esse pensamento o decepcionou.
—Você está certo. — disse ele. —Eu não estou qualificado
para dar conselhos sobre como lidar com a mão que o destino nos
traz. Mas estou aprendendo com meus erros, e uma coisa que estou
aprendendo é que se esconder não resolve nada. Só atrasa o
inevitável. É melhor fazer uma tentativa e falhar, do que não fazer
uma tentativa de todo.
Era verdade. Ele tinha encontrado mais esperança, mais
prazer durante esta semana, a criar um futuro para as duas
empresas que ele tivera em anos de jogos de azar. A mão que um
homem recebia podia ser imprevisível, mas como nas cartas, o que o
homem fazia com essa mão podia mudar tudo.
A raiva havia desaparecido das feições de Lake, mas ele
ainda estava observando Jarret tão cautelosamente como uma
raposa vigia o caçador. —Você não respondeu minha pergunta. Por
que veio até aqui? Como Annie convenceu-o a considerar?
—Sua irmã pode ser muito persuasiva. — ele fugiu.
Lake assentiu. —Ela também é muito bonita, algo que eu
acredito que você tenha notado.
—Um homem teria que ser cego para não perceber isso.—
Ele não se atreveu a dizer mais até saber onde Lake estava
conduzindo.
—Tenho notado que você ficou mais tempo em Burton do que
o estritamente necessário para negociar os termos do nosso acordo.
Existe uma razão para isso?
Jarret ficou irritado com este jogo de gato-e-rato. —Diga tudo
o que você gostaria de dizer para mim, senhor.
—Muito bem.— Deixando qualquer pretensão de continuar o
seu jogo, Lake recostou-se na cadeira e cruzou os braços sobre o
peito. —Se você tem boas intenções para com a minha irmã, você
deve falar. Se não, eu sugiro que você a deixe em paz.
O aviso não era totalmente inesperado, mas o irritou de
qualquer forma. —O que o faz você pensar que eu tenha quaisquer
intenções honrosas, ou não, em relação a ela?
—Por um lado, você tem uma incrível capacidade de fazê-la
corar. Eu nunca vi Annie corar tanto quanto durante o tempo que
esteve aqui.
Jarret forçou um sorriso. —Eu faço muitas mulheres corar,
Lake. Isso não quer dizer nada.
—Esse é exatamente o meu ponto. Não quero ver o coração
da minha irmã quebrado por um canalha.—Os olhos de Jarret se
estreitaram. —Sua irmã é perfeitamente capaz de proteger seu
coração de qualquer um.
—Ela teve o coração partido por um patife antes.
Pegou Jarret desprevenido. —Certamente você não está se
referindo ao heroico Rupert.
Lake bufou. —Um herói não corteja uma mulher acima de sua
posição, quando sabe que a família dela não aprova.
—Seu pai não aprovava Rupert?
Um olhar exasperado atravessou o rosto de Lake. — Meu pai
sabia, como eu, que Rupert era um jovem impetuoso com mais
músculos que cérebro. Ele não tinha dinheiro para sustentar uma
mulher e não era provável que nunca o tivesse. Seu pai deixou, ele e
seu irmão, sem nada, e embora eles trabalhassem duro, não tinham
ambição. Com o tempo, suspeito que Annie teria visto isso, e o
romance teria terminado por conta própria.
—Então é por isso que seu pai pediu-lhes para esperar para
se casar?
Lake assentiu. — Ele sabia que se ele a proibisse de ver
Rupert, minha irmã intencionalmente faria o oposto. Então ele tomou
uma abordagem mais sutil, esperando que se atrasasse o
casamento, ela acabaria por recobrar o bom senso.
—Mas a abordagem sutil não funcionou.
—Funcionou melhor do que o meu método, que era tentar
separá-los.— Ele olhou ao redor da sala, uma pitada de remorso em
seu rosto. —Isso revelou-se desastroso.
—Como?— Perguntou Jarret, curioso para saber o quanto
Lake iria revelar sobre o que tinha acontecido entre Annabel e
Rupert.
Olhar afiado de Lake voltou-se para ele. —O homem partiu
para a guerra e levou seu coração com ele. Em seguida, foi morto. E
ela não tem sido a mesma desde então.
O pensamento dela suspirar por Rupert foi como um punhal
no peito. Ela tinha falado de sua culpa pela morte de Rupert, a dor
por ele talvez não a ter querido. Mas ela nunca dissera se ainda
amava o homem. Isso o incomodou.
—Bem, se seu coração ainda está com Rupert, você não
precisa se preocupar que ela vá entregá-lo a mim.
—Você quer seu coração?— perguntou Lake.
Outra questão contundente. Ele merecia uma resposta
contundente. —Eu não sei.
Isso não pareceu surpreender Lake. —Até que você saiba,
sugiro que a deixe sozinha.
Era quase engraçado, Jarret tinha dito algo muito semelhante
a Masters não havia uma semana. Lake tinha todos os motivos para
avisá-lo, e era uma marca da integridade do homem que ele era, se
preocupar tanto por sua irmã. Jarret admirou isso.
Mas nada disso fazia absolutamente nenhuma diferença na
forma como ele pretendia tratar Annabel. Depois de vários dias sem
poder chegar perto dela, ele queimava ainda mais por ela do que
antes. Ele tinha que vê-la novamente a sós.
Fazer amor com ela deveria ter atenuado sua necessidade,
como sempre tinha acontecido antes com as mulheres que entravam
e saíam de sua vida. Então, de novo, Annabel não era como essas
mulheres. Ele a desejava intensamente.
Ruídos inesperados na entrada fizeram-no e a Lake virar em
direção à porta. Em seguida, uma voz feminina conhecida soprou a
ele. —Me disseram que eu poderia encontrar Lorde Jarret Sharpe
aqui. Isso é verdade?
Jarret se levantou da cadeira com um suspiro. Que vá tudo
para o inferno. Ele tinha uma suspeita de que o seu tempo em Burton
tinha acabado de chegar ao fim.
Capítulo vinte e um

Annabel desceu as escadas devagar, com o coração na


garganta enquanto ouvia o intercâmbio com o mordomo. A mulher
estava aqui por Jarret. O que isso significa? E se ele tinha mentido
sobre suas relações com as mulheres? Será que ele teria uma
amante? Ou até mesmo uma noiva?
O pensamento cravou uma estaca em seu coração.
Especialmente pela mulher ser muito bonita. Cachos de
bronze beijados pelo sol emolduravam um rosto com características
risonhas, e um vestido elegante cor-de-lavanda delineava uma forma
curvilínea que qualquer homem desejaria.
Engolindo a inveja, Annabel se apressou o resto do caminho
descendo as escadas. —Você está buscando sua senhoria?— Ela
disse quando chegou a entrada.
Um par de olhos verdes que pareciam estranhamente
familiares encontraram os dela. —Sim. O gerente Peacock Inn nos
disse que provavelmente estaria aqui.
Nós?—Ele está de fato. Jantou aqui esta noite e está jogando
cartas com meu irmão.
—Então você deve ser Miss Lake!— A mulher exclamou,
parecendo muito feliz em ouvir isso. —Gabe me contou tudo sobre
você. —Pela expressão perplexa de Annabel, ela acrescentou: —Eu
sou Minerva Sharpe.
—Minha irmã. — Jarret adicionou da porta. —Eu acredito que
a mencionei algumas noites atrás, a Srta Lake.
Lembrando do contexto dessa observação, Annabel corou.
Era evidente que ele também lembrava, pois mostrava um
sorriso maroto em seus lábios antes de virar-se para sua irmã. —O
que você está fazendo aqui?
Lady Minerva fez uma careta. —Isso não é maneira de
cumprimentar sua irmã. Pelo menos me dê um beijo.
—Não há beijos até que você me diga o que está fazendo
viajando sozinha por toda a Inglaterra.
—Eu não estou sozinha, bobo. Gabe e Mr. Pinter estão fora
discutindo sobre quem deve pagar o transporte que nos trouxe a
quase meia milha da estalagem.
O olhar no rosto de Jarret era quase cômico. —Pinter e Gabe
estão aqui também? Meu Deus, por favor me diga que você não
trouxe Gran junto.
—Ela queria vir, mas o Dr. Wright proibiu. Então, eu fui
instruída a dar-lhe uma mensagem dela.— Ela prontamente golpeou
a mão de Jarret com o leque.
—Ow!— Ele esfregou a mão. —Que diabos foi isso?
—Eu disse a você, uma mensagem de Gran. Ela quer você
em casa.
Annabel não pôde resistir a uma risada, que ganhou um olhar
de Jarret.
Ele, então, virou-se para a irmã. —Eu tenho uma mensagem
para ela. Diga a Gran que ela pode muito bem esperar até que eu
esteja pronto para voltar.
Naquele momento, Lorde Gabriel e Mr. Pinter entraram pela
porta da frente, quase colidindo com Hugh quando ele saía da sala.
Uma enxurrada de apresentações seguiu-se. Sissy, descendo do
andar de cima, entrou na festa.
Um pouco mais tarde todos eles foram abrigados na sala de
jantar, sendo servidos cerveja e vinho enquanto o cozinheiro
apressava-se para arrumar uma refeição para os seus visitantes de
surpresa.
—Realmente, Mrs. Lake,— Lady Minerva disse, pela terceira
vez —nós não queremos incomodar. Viemos para buscar Jarret, isso
é tudo.
—Bobagem. — disse Sissy. —Vocês tem viajado o dia todo, e
Lorde Gabriel diz que ainda não jantaram. Não é nenhum incômodo.
Todos os amigos e familiares de Lorde Jarret são muito bem-vindos
aqui.
Lady Minerva sorriu em agradecimento, em seguida, olhou
para Annabel com curiosidade flagrante.
Annabel tentou parecer indiferente, mas seu coração batia
forte. Eles estavam aqui para buscar Jarret. Ele estaria indo embora
em breve. Ela sabia que esse dia chegaria, mas agora que chegara,
ela não sabia como poderia suportar.
Tinha ficado mais fácil afastar seu coração dele naquele
primeiro dia, com as palavras de Hugh tocando em seus ouvidos
sobre o quão preocupado ele havia estado, mas a medida que a
semana passava, ficara mais difícil.
Às vezes Jarret a olhava com tal calor que ela temia que
pudesse transbordar. Ele a seguia com os olhos, e ela seguia-o com
todos os seus sentidos, consciente em todos os momentos do modo
como ele cheirava, onde estava, com quem falava, o que ele dizia.
O pior de tudo eram as noites, cheias de memórias da noite
maravilhosa que tiveram juntos. Na cama, ela tocava-se, lembrando-
se da sensação de sua mão despertando seu corpo ... amassando
os seios, deslizando entre suas pernas ... levando-a para o céu mais
e mais e...
—Você quer pôr-me um pouco desse orgeat, senhorita Lake?
— Lady Minerva perguntou enquanto estendia sua taça. —A julgar
pela sua expressão de pura felicidade, deve ser deliciosa.
Annabel congelou, a cor inundando seu rosto. Quando ela viu
o olhar de Jarret sobre ela, ela quis afundar no chão. Será que ele lia
mentes? Será que toda a família dele lia mentes, pelo amor de
Deus?
Em silêncio, ela encheu o copo de Lady Minerva, com medo
de falar, e dizer algo que entregasse seus sentimentos.
Depois de observá-la por um momento, Jarret se acomodou
em sua cadeira. —Agora me diga, Minerva, o que é de tamanha
importância para Gran a enviar até aqui para 'buscar-me'?
—Na verdade,— Lorde Gabriel cortou —Gran enviou a mim.
Minerva só veio porque ela é intrometida.
—Não intrometida. — Lady Minerva protestou. —
Desesperada. Gran está me deixando louca. Ela está sempre
convidando homens solteiros para se juntar a família para jantar, e se
eu tento fugir, ela finge um ataque.
—Tem certeza que está fingindo? — perguntou Jarret com
uma careta.
—Ela se recupera bem o suficiente para aparecer no jantar,
então o que você acha?
Jarret riu. —Ela deve estar se sentindo melhor, se está
fazendo suas travessuras novamente.— Ele encontrou o olhar de
Annabel do outro lado da sala. —Mais uma razão para que eu não
precisar voltar correndo.
—Nós não queremos mantê-lo afastado de suas funções em
Plumtree Brewery. — disse Hugh. —Você e eu podemos colocar os
toques finais em nosso acordo amanhã, e você pode estar a caminho
pelo meio-dia.
Parecia que torcia uma faca no coração de Annabel.
Um olhar de pura frustração cruzou o rosto de Jarret,
enquanto olhava para Annabel. —Havia mais algumas coisas que eu
queria discutir com você. Poderia nos dar mais um dia, pelo menos.
—Ficarei feliz de permanecer por um ou dois dias. — Lady
Minerva disse —mas as instruções de Gran foram específicas.
Viemos para levá-lo de volta a tempo para a reunião com os homens
do malte.
—Porra, esqueci completamente sobre isso.
—Se sair ao meio-dia de amanhã, podemos conseguir, mas
não podemos deixar para mais tarde do que isso. — disse Lady
Minerva.
Annabel obrigou-se a ser prática. —E quanto mais cedo você
voltar a Londres, mais cedo você pode levar nosso caso aos capitães
das Índias Orientais. — ressaltou. —Talvez seja melhor assim.— O
pensamento de sua ida a estava matando.
Algo feroz brilhou em seus olhos quando eles encontraram os
dela.
—Talvez.
A palavra era evasiva. Mesmo Lorde Gabriel notou, pois ele
deu uma cotovelada em sua irmã, que estava sentada ao lado dele
no sofá. —Parece-me que o velho Jarret acabou bastante ligado a
Burton, né?— Jarret ignorou seu irmão, voltando-se para o silencioso
Mr. Pinter. —Acho que você trouxe notícias, não?
—Sim, senhor. Eu verifiquei os dois assuntos que você queria
que explorasse. Desde que eu não tinha certeza se Lady Minerva e
Lorde Gabriel seriam capazes de convencê-lo a voltar, achei melhor
vir consultá-lo sobre como proceder.
—Ele não queria dizer uma palavra a respeito desses
assuntos misteriosos de vocês . — Lady Minerva reclamou. —Eu
tentei persuadi-lo toda a viagem.
— Mais como ‘arrancar dele’? — Lorde Gabriel disse com
uma risada. Ele lançou um olhar conspiratório para Annabel. —
Nossa irmã poderia retirar a pintura de uma parede com a língua se
ela o quisesse. Vocês fariam um par e tanto.
Lady Minerva lançou um sorriso deslumbrante a Annabel. —
Então, ele continua me dizendo, mas não posso imaginar o que ele
queira dizer. Você tem estado absolutamente tímida desde que
chegamos.
—Porque ela não pode tirar uma palavra sensata de você. —
Jarret interviu —Dê uma chance a ela, e ela pode rivalizar até
mesmo a sua língua.
—Sinta-se livre para levar seu irmão a qualquer momento. —
Annabel disse acidamente. —Nós não vamos sentir falta dele, eu
garanto.
Todo mundo riu. Exceto Jarret. —Nem um pouco?— Sua voz
sedosa fez arrepios correrem ao longo de sua coluna vertebral.
Ela pegou Hugh observando-os e forçou um leve sorriso nos
lábios. —Só quando precisamos de alguém para assustar os
cidadãos de suas camas, com uma canção.
Lorde Gabriel riu. —Meu Deus, se você ouviu Jarret cantar,
então eu não te culpo por querer se livrar dele. Não se incomode
com a língua de Minerva.‘A voz’ de Jarret sim, pode arranhar tinta
das paredes. Poderia coalhar o leite. Poderia...
—Chega! — disse Jarret irritado. —Eles já sabem o quão ruim
é meu canto.
—E como é bom no seu jogo de cartas, suponho. — disse
Lady Minerva. —Gabe me contou como você e Miss Lake jogaram
whist de duas mãos para...
Annabel saltou sobre seus pés. —Perdoe a interrupção, Lady
Minerva, mas tenho que ir ver o que aconteceu com o jantar. Talvez
você venha comigo? Temos uma gravura interessante de Turner no
salão que eu tenho certeza que você gostará, uma vez que
representa um castelo daqueles de novelas góticas, e eu soube que
você escreve sobre eles. Isso é verdade?
Ela estava balbuciando, mas o que mais ela poderia fazer?
Não queria que Hugh soubesse mais sobre o jogo de cartas ou a
aposta.
Lady Minerva parecia confusa, mas ela levantou-se. —Eu
escrevo romances góticos, e acontece que eu adoro Turner.
—Eu também. — Jarret surpreendeu-a dizendo. —Eu vou
com vocês.
Mas tão logo os três estavam no corredor bem longe da sala
de jantar, ele disse à sua irmã: —O Turner está para lá. Dê uma boa
olhada, vá, enquanto eu falo com a Srta Lake?
Uma risada escapou da jovem. —Tudo o que você disser,
Jarret. Vou esperar aqui por mais instruções.
Ignorando o tom de provocação de sua irmã, Jarret puxou
Annabel para o outro lado do corredor no estudo de Hugh. Assim que
eles ficaram sozinhos, ele puxou-a em seus braços e beijou-a com
um fervor que deixou-lhe a cabeça girando. Ela deveria resistir, mas
como ela poderia com o conhecimento de sua partida iminente
pesando em seu peito?
Ela fechou os dedos em sua lapela e segurou-se como a sua
preciosa vida enquanto ele usava todos os seus poderes de
sedução, centrando-as inteiramente para devastar sua boca,
fazendo-a querer desmaiar. Ou implorar.
Esse pensamento deixou-a sóbria o suficiente para fazê-la
romper o beijo.
Ele pressionou a boca em seu ouvido, suas palavras
aquecidas, urgentes. —Eu tenho que te ver hoje à noite.
—Por quê?
—Você sabe por quê.
Ela sabia. E pior, ela queria. Agora ela não se importava com
Hugh ou Geordie ou nada além estar nos braços de Jarret
novamente. —O mesmo lugar?
Afastou-se com um olhar estreitado. —Eu pensei que eu ia ter
que torcer seu braço um pouco.
—Você está torcendo meu braço. — ressaltou. E, de forma muito
eficaz, também.
Passando as mãos por detrás dela, ele a puxou contra o
centro de suas coxas. —Estou feliz de torcer um pouco mais. —
disse ele em um tom rouco enquanto procurava sua boca
novamente.
—Não aqui.— Ela se soltou de seu abraço. —Mais tarde. Na
cervejaria.
Fogo ardia em seus olhos. —Tem certeza de que pode
escapulir? Eu não quero causar problemas para você com o seu
irmão.
—Eu não tenho certeza, mas vou tentar.
Ele pegou a mão dela e beijou-a, em seguida, virou-se para
beijar-lhe o pulso, onde o pulso batia um refrão selvagem. —Tente
mesmo. — ele pediu a ela com uma voz gutural. —Eu não vou deixar
Burton até vê-la a sós novamente.
Antes que ela pudesse responder, um sussurro veio de fora da
porta. —Jarret, eu ouço os criados que se aproximando.
Com uma maldição, frustrado, ele puxou Annabel para trás,
por onde tinham vindo. Embora ele soltasse sua mão logo que
chegaram ao salão, ela pôde sentir seus olhos sobre ela como uma
carícia. E quando os três se fundiram com os servos em direção a
sala de jantar, ele se aproveitou da confusão para sussurrar: —Até
hoje à noite, doce Vênus.
Seu coração derreteu. Ela honestamente pensara que tinha
fortalecido o coração contra ele um pouco, mas a cada dia, ele ia
desbastando as paredes, e agora eles eram nada além de pilhas de
escombros.
As próximas horas foram pura tortura. Ela só conseguia
pensar no que estava à frente. Assistindo Jarret com sua família era
doloroso, eles eram claramente afetuosos um para o outro, e
invejava-lhes a oportunidade de vê-lo todos os dias quando ela só
podia tê-lo por mais uma noite. Ela descobriu que gostava muito de
Lady Minerva, e Lorde Gabriel mantinha todos rindo com os contos
de suas façanhas de corrida.
Uma vez que os Sharpe e Mr. Pinter os deixaram, ela disse a
seu irmão e Sissy que ia se retirar. Quando ela chegou ao seu
quarto, ela despediu a empregada, dizendo que ela mesma iria se
despir. Então ela andou e deu voltas, perguntando-se como poderia
sair de casa sem alertar Hugh. Ela sabia dos servos que ele ficava
acordado até tarde todas as noites. Sem dúvida, ele estava de olho
nela.
E com razão. Ela não deveria sequer considerar isso. Que
diferença mais uma noite faria? Seu coração ficaria destroçado de
qualquer maneira.
Ainda assim, ela ansiava por mais uma noite com ele. Era
como uma doença, essa necessidade de vê-lo.
Uma batida repentina na porta a fez saltar. Antes que ela
pudesse ir para a cama, Sissy entrou. —Eu vejo que você ainda está
vestida.
A mente de Annabel estava em branco. Ela não podia nem
angariar uma desculpa para dar, explicando porque ela não tinha
vestido a camisola ainda.
—Eu suponho que você esteja indo para a cervejaria para
trabalhar. —Sissy continuou. Como Annabel a encarou, e ela
acrescentou: —Hugh me disse que foste lá na nossa primeira noite
de volta, e que ele proibiu você de ir de novo.
—Sim. Ele diz que é muito perigoso.
—Mas tenho certeza que você tem necessidade de ir hoje à
noite.— Sua cunhada procurou seu rosto. —Com sua senhoria indo
embora amanhã, você provavelmente tem muito a fazer.— Sua voz
se suavizou. —Eu entendo, mesmo que seu irmão não, que às vezes
a mulher tem certas... necessidades. Você precisa ir para a
cervejaria. E eu não culpo você.
Annabel olhou fixamente para sua cunhada. Sissy estava
sendo particularmente obtusa esta à noite? Ou ela estava, na
verdade, dando a entender que sabia a verdadeira razão por trás do
desejo de Annabel de ir para a cervejaria?
Ela escolheu as palavras com cuidado. —Hugh desaprovaria.
Sissy encolheu os ombros. —Você é sua irmã. O que
esperava? Mas isso não significa que seja errado você... buscar algo
que acha que é importante.— Ela atirou Annabel um olhar sério. —
Eu posso cuidar de Hugh se você se sente obrigada a ir para a
cervejaria esta noite.
Esperança cresceu no peito de Annabel. —Como?
Sissy riu. —Eu estou casada com o homem há 13 anos. Acho
que sei como distraí-lo. —Um olhar malicioso atravessou seu rosto.
— E eu vou recordar-lhe que a família de sua senhoria irá manter o
homem muito ocupado.
—Sim. Muito ocupado, tenho certeza.
—Então, Hugh não precisa se preocupar que sua senhoria vá
exigir sua atenção... até as primeiras horas da manhã. Certo?
O sangue dela vibrava em suas veias. —Certo. Exatamente.
Não precisará se preocupar.
Sissy sorriu gentilmente. —Eu nunca me preocupo com você.
Sei que vai fazer a coisa certa.
Um riso abafado escapou de Annabel. —Eu não tenho certeza
se ir a cervejaria esta noite é a coisa certa.
—Às vezes você apenas tem que ter fé. E eu tenho fé em
Lorde Jarret, especialmente depois de sua conversa com Hugh esta
noite.
Annabel congelou. —Que conversa?
—Hugh exigiu saber se suas intenções eram honrosas.—
Annabel gemeu. —Será que ele riu na cara de Hugh? — ela
perguntou amargamente. —Não. Esse é o ponto. Hugh disse que ele
parecia intrigado com a ideia.— Seu coração se afundou. —Ele
estava sendo educado, isso é tudo.
—Não há um pingo de educação na forma como Lorde Jarret
olha para você.— Ela mirou Sissy de soslaio. —Esqueceu-se da sua
reputação?
—Na verdade, não. Pelo que ouvi, ele prefere a fruta
suspensa nos galhos mais baixos da árvore: presas fáceis. Perdoe-
me, minha querida, mas você não é presa fácil. E nós duas sabemos
que ele ficou aqui por muito tempo além do que deveria.
—Se você está me ajudando por tolamente achar que ele
pode querer casar-se...
—Eu estou ajudando você, caro coração, porque você merece
um pouco de felicidade. Não importa em que forma venha.
Sissy tinha boas intenções. Estava tornando isso mais fácil
para ela. Mas Annabel nunca poderia deixar Geordie para trás.
Portanto, esta noite teria que ser a sua única noite com Jarret.
Capítulo Vinte e dois

Jarret estava grato que Minerva e Gabe se retiraram assim


que chegaram a pousada. Seu sangue fervia ao pensar em ver
Annabel.
Antes disso, porém, ele tinha algo mais importante para fazer.
Ele conduziu Pinter para a sala de estar privada que a pousada tinha
fornecido no momento da chegada de Jarret.
—Brandy?— ele perguntou enquanto Pinter se instalava em
uma cadeira. —Obrigado, meu senhor.
Jarret serviu. Depois de entregar o copo a Pinter, Jarret
bebericou o seu, muito nervoso para se sentar. —Então me diga o
que você descobriu.
—Eu ainda não localizei nenhum dos lacaios presentes nos
estábulos quando sua mãe saiu naquela noite.— Pinter bebeu de
seu copo. —Mas eu pensei que você deveria ouvir de imediato o que
eu descobri sobre o outro assunto.
—Ah!
Desmond Plumtree, seu primo. Jarret engoliu um pouco de
conhaque. Naquele fatídico fim de semana, enquanto voltava do
piquenique, ele pensou ter visto seu primo na floresta. Ele descartou
a possibilidade desde que Desmond não tinha sido convidado para a
festa em casa, supondo que ele tivesse confundido Desmond com
algum outro convidado e esqueceu o assunto completamente. Até a
história de Oliver lançar dúvidas sobre tudo no que tinha acreditado
daquela noite.
—Eu estava certo, não estava?— Disse ele a Pinter. —
Desmond estava na fazenda na noite das mortes.
—Eu só posso provar que ele estava nas proximidades. Tive
algum trabalho, mas eu encontrei um ex-lacaio de uma pousada na
cidade vizinha de Turnham que se lembrou de ter limpado o
equipamento de montaria de Sr. Plumtree na manhã seguinte.
—Espantoso que um lacaio deva se lembrar disso depois de
todos esses anos.
—Não se você considerar que ele encontrou sangue no
estribo.
Um calafrio desceu pela espinha de Jarret. Seu coração
acelerou, ele sentou-se. —Sangue? — ele disse em uma voz oca. —
E o homem não mencionou a ninguém?
—Ele disse Plumtree alegou ter ido a caçar. Isso não é
incomum por lá, nem é estranho para um caçador tenha sangue
nele.
—No entanto, ele lembrou-se.
—Ele achou estranho que o sangue estivesse no estribo. —
afirmou Pinter. —Quem recebe sangue no fundo de suas botas,
enquanto caça? Um homem da posição de Sr. Plumtree usaria
servos para buscar e limpar sua caça. Ainda assim, o lacaio não
conectou isso com a tragédia, uma vez que ele vira Desmond beber
na estalagem na noite anterior.
—Mas minha mãe e meu pai podem não ter morrido durante a
noite. Eles possivelmente morreram mais cedo, no final da tarde.
—Exatamente. Mas a maioria das pessoas não sabe disso,
por causa do trabalho que sua avó teve para encobrir a verdade.
Jarret assentiu distraidamente. O que teria acontecido se Gran
tivesse dito a verdade, em vez de tentar proteger o nome da família?
Teriam chegado ao fundo da questão muito mais cedo? Ou apenas
fariam as fofocas sobre sua família ainda piores?
E o que poderia ter sido pior do que as pessoas acreditarem
que Oliver tinha matado seus pais?
—Tudo bem. — disse Jarret, —assumindo que Desmond
estava lá e tinha algo a ver com sua morte, um bastante grande
pressuposto, que motivo ele teria para matá-los? Ele não era
herdeiro de nada. Não tinha nada a ganhar.
—Você não disse que sua avó ameaçou deixar a Cervejaria
Plumtree para ele?
—Sim, mas ela o disse só para atormentar nós cinco, pois ela
sabe que odiamos nosso primo. Além disso, assassinar nossos
pais não o faria herdar a cervejaria, mesmo se ele fosse herdeiro de
Gran.
—Mas há outra maneira de olhar para isso. Talvez o seu primo
esperasse herdar a cervejaria quando o marido de sua avó, seu tio,
morreu alguns anos atrás. Ou até mesmo poderia ser autorizado a
assumi-la. Tenho certeza que ele não esperava que ela para o
administrasse sozinha.
—É verdade.
Pinter cruzou as mãos sobre o colete. —Quando ele não a
herdou como tinha previsto, ele pode ter traçado uma outra maneira
de fazê-lo. Sua avó já estava sofrendo com a morte de seu marido.
Talvez ele acreditasse que suportar as mortes violentas de sua única
filha e genro, o escândalo que se seguiu poderia ser demais para
ela. Podendo não matá-la, mas poderia fazê-la desistir de administrar
a cervejaria.
Pousando o copo, Pinter levantou-se para andar pela sala. —
Você seria muito jovem ainda para administrá-la, e o jovem marquês
muito ocupado lidando com a propriedade. Se a sua avó não
conseguisse lidar com a cervejaria, a pessoa mais lógica para fazê-lo
teria sido seu sobrinho. Ele poderia até mesmo saber que ele era
designado como herdeiro, por isso, se ela morresse da pressão...
—Se fosse esse o seu raciocínio, porque não bastaria matar
Gran? Ela teria sido um alvo mais fácil.
— Ah, mas com os seus pais vivos, sua mãe poderia ter
herdado. Havia sempre uma chance dela escolher alguém para
administrá-lo. E ele não podia matar todos os três que ficaria muito
suspeito.
Jarret bebeu seu conhaque de um só gole. —Ainda assim, a
ideia de que ele fez tudo isso para obter a cervejaria nas garras é
mais um palpite, você não acha?
—Mas não é implausível—. Pinter interrompeu. —Claro, não
há nenhuma maneira de provar nada disso sem saber mais.— Ele
marcou as coisas com os seus dedos. —Por que ele estava na área.
Se ele realmente estava na propriedade naquela tarde. Qual era a
situação com o testamento de sua avó naquele ponto. Poderíamos
perguntar-lhe sobre isso
—Não, não a quero envolvida.
Pinter olhou para ele. —Se não for muita ousadia, meu
senhor, por que não?
Jarret pousou o copo. —Por um lado, ela ainda está doente.
Por outro lado, estas são acusações sérias sobre o seu próprio
sobrinho, com base em nada mais do que um pouco de sangue que
um lacaio afirma ter removido de seu estribo 19 anos atrás, e minha
memória fugaz de vê-lo na propriedade. E eu me pergunto se
Desmond teria mesmo estômago para cometer um assassinato a
sangue frio. Mas então, Desmond era realmente uma doninha. A
possibilidade de que ele possa ter matado sua mãe e pai fazia o
intestino de Jarret contorcer. E se a víbora tivesse estado em seu
meio em todos esses anos...
Não, não havia provas suficientes para acreditar. Ainda não,
de qualquer maneira. —Não há nenhuma maneira de descobrir sobre
o testamento de Gran sem alertá-la?
Pinter refletiu um momento. —Você pode dar permissão a
alguém para se aproximar de Mr. Bogg com um pedido para ver
todas as versões do testamento. Seu amigo Masters, o advogado,
poderia atuar em seu nome e me incluir no empreendimento. Ele
poderia dizer que você e seus irmãos querem ter certeza de seus
direitos legais sobre o ultimato de sua avó. Nem a sua avó, nem o Sr.
Bogg teriam que achar isso suspeito.
—Boa ideia. Vou discutir isso com Masters assim que
estejamos volta a Londres.
—Nesse meio tempo, eu posso continuar a investigar.
Enquanto estou buscando os lacaios, posso verificar se um deles
lidou com seu primo na fazenda naquele dia. Também posso
questionar seus servos sobre por que ele deixou a cidade.
—Tenha cuidado com isso. — disse Jarret. —Eu não quero
que Desmond saiba que nós estamos investigando ele. Se ele for
culpado, não há como saber do que ele é capaz fazer.
O rosto de Pinter escureceu. —Na verdade, meu senhor, isso
me leva a outro desagradável negócio envolvendo seu primo.
Aparentemente, ele está questionando abertamente a sua aptidão
para administrar a Cervejaria Plumtree. De alguma forma ele ficou
sabendo de como esse esquema com Miss Lake surgiu, e ele está
se espalhando boatos infames...
Jarret saltou sobre seus pés. —Eu vou matar o filho da puta!
—Eu não aconselharia isso. — Pinter disse secamente. —Eu
odiaria ter de prendê-lo.— Com um esforço, Jarret sacudiu a raiva,
mantendo o controle. —E o que você aconselha?— Pinter olhou para
ele com uma expressão sombria. —Você não vai gostar.
—Tente-me.
—Você poderia se casar com senhorita Lake.
Jarret tinha resistido à ideia do casamento por tanto tempo
que suas palavras eram puramente instintivas. —Quando você
começou a trabalhar para a minha avó?
Pinter riu. —Confie em mim, conhecendo a jovem, eu
compreendo a sua relutância.— Ele ficou sério. —Mas se você quer
dissipar rumores, não só sobre Miss Lake, mas sobre Plumtree e
suas dificuldades atuais, um casamento com outra família de
cervejeiros seria o ideal. Afora o fato de que isso iria dar-lhe algumas
vantagens no mercado, também faria sua associação recente com o
Lake Ale parecer menos o resultado de uma aposta questionável e
mais como um movimento de negócios inteligente. Isso cortaria as
pernas de debaixo do seu primo, e ele pareceria um tolo.
—Uma ideia atraente. — Jarret mordeu —mas não vale a
pena casar-se por isso.— Só que ele casaria com Annabel, com os
olhos brilhantes e sorriso de Vênus. Annabel, que o fazia rir e
desejar.
Annabel, que tinha a capacidade de esmagar seu coração
com sua mão capaz se ele a permitia tão perto. Um arrepio correu-o.
O investigador o observou, atento. —Só você pode saber se
casar senhorita Lake vale a pena.
—Nem tenho certeza que ela vá consentir. Lembra-se do que
ela pensa do casamento?
Um pequeno sorriso tocou os lábios de Pinter. —Ela foi
bastante clara sobre o assunto durante a seu jogo de cartas. Mas,
certamente, sua senhoria poderia fazê-la mudar de ideia.
Só se ele concordasse em desistir de seus passatempos
imprudentes de vez. Estranho, como isso não parecia tão
desagradável, como fora a uma mera semana.
—Vou levar seu conselho em consideração, Pinter. Nesse
meio tempo, eu gostaria que você continue sua investigação.
Discretamente, é claro. —Ele caminhou até a porta e abriu-a. —
Suponho que você estará voltando em sua própria carruagem
amanhã?
—Sim. — Pinter disse—Vou sair na primeira hora.
—Então vou levar o meu irmão e minha irmã comigo na
carruagem de Oliver. Vejo você pela manhã.
Tão logo o investigador foi-se, Jarret começou a andar pela
sala. Casar com Annabel. Era a segunda vez que alguém o sugeria
esta noite. Uma semana atrás, ele teria zombado da ideia. Porque se
ele se casasse com Annabel, Gran ganharia. Não havia nenhuma
maneira dele casar e desistir do negócio da cervejaria. A própria
Annabel praticamente exigiria que ele ajudasse na empresa de seu
irmão.
Além disso, sua renda com o jogo era muito incerta para que
ele possa contar com isso para sustentar uma esposa. Ela estava
certa sobre isso. Se ele se casasse com ela, ele poderia muito bem
aceitar administrar a Cervejaria Plumtree e associar-se com Lake
Ale, para o resto de sua vida.
Serviu-se de mais conhaque e bebeu profundamente. Isso
seria tão terrível? Esta semana o tinha desafiado de uma forma que
a ele não tinham desafiado havia um longo tempo. Ele descobriu que
gostava de ter um propósito, estar no comando, investir suas
energias em algo maior do que ele.
Então, o que importava se Gran ganhasse? Ambos poderiam
ganhar.
Exceto que, no final do ano, Gran recuperaria o controle da
empresa. Ele estaria na mesma posição que ele sempre lutara para
evitar: sob o seu polegar, lutando com ela sobre todas as decisões,
sendo seu lacaio.
A menos que você consiga provar ser capaz de administrar
sozinho.
A ideia o prendeu. Ele tinha quase um ano. Se ele pudesse
tirar a empresa da beira do desastre em tempo que ele teria
alavancagem. Ele poderia exigir a ela renunciar. Ela poderia até fazê-
lo, especialmente se ele tivesse tomado uma mulher então. E se
essa mulher fosse uma cervejeira, que só poderia ajudar.
Um lento sorriso curvou seus lábios. Com a emoção
crescendo no peito, ele bebeu o resto do brandy.
Ele poderia ter dificuldades em convencer Annabel. Ela disse
a ele duas vezes até agora que ela não tinha vontade de casar, mas
ele tinha alguns truques na manga. Ele tinha esta noite para
convencê-la, e ele queria mostrar-lhe exatamente como isso poderia
funcionar para ambos. Ela era uma mulher prática: ela veria as
vantagens comerciais de tal união. Ele não precisaria de um monte
de besteira emocional que ele não sentia. Ela não esperaria isso,
não é? Afinal, ela estava apaixonada por aquele bunda-mole Rupert,
que não tinha dado certo. Ela entenderia que casar por tais razões
frívolas só poderia fazer uma pessoa infeliz.
Incapaz de esperar mais, ele pôs-se a caminho de Lake Ale.
Para seu deleite, Annabel já estava lá quando ele chegou, atiçando o
fogo de carvão na pequena sala ao lado do escritório.
—Jarret— ela gritou quando se virou para ele, com um sorriso
tão largo quanto o Tamisa. —Eu estava com medo que você tivesse
mudado de ideia.
— Não nesta vida. — ele disse enquanto tirava o casaco e
jogava-o sobre uma cadeira. —Eu tive que conversar com Pinter.
Demorou mais do que eu esperava.— Talvez ele devesse abordar o
assunto do casamento de primeira. Tirando-o do caminho.
Mas se ela o rejeitasse, faria as coisas difíceis entre eles.
Ele não podia se arriscar, não depois de passar metade da
noite queimando para tê-la na cama novamente. Ele caminhou até
varrê-la em seus braços. —Você não tem ideia do quanto eu senti
sua falta. — ele murmurou.
—Como você pôde sentir minha falta?— Disse ela, com os
olhos cheios de malícia. — Você me vê todos os dias.
—Você sabe o que quero dizer, sempre me provocando moça.
— Ele abaixou a cabeça para beliscar sua orelha. —Senti falta do
gosto desses tensos lóbulos.— Ele espetou os dedos em seu
penteado para soltar os seus pinos. —A sensação de seus
luxuriosos cabelos entre as minhas mãos. E isso ...
Ele beijou-a de forma quente, profunda e longamente, com
toda a paixão que tinha contido durante as muitas reuniões e
jantares. Beijou-a até que ela tremeu e apertou seu corpo contra o
seu resplendor.
Quando terminou o beijo, ele disse em um sussurro rouco:—
Senti falta, acima de tudo, de ter você em meus braços e segurando-
se a mim.— Ele começou a despi-la, com tanta fome que não podia
esperar um momento mais. —Também sentiu?
—Certamente que não.— Vendo sua carranca, ela soltou uma
gargalhada. —Tudo bem, talvez um pouco.
A respiração acelerando, e depois que ele deixou-a apenas
com a camisa, ele podia ver os botões de seus mamilos, rosados e
duros sob o tecido fino.
—Mais que um pouco, eu garanto. — respondeu
asperamente. —Admita, sua atrevida. Você pensou em mim durante
a noite sozinha em sua cama. Você pensou em mim também,
sozinho na minha, doendo de necessidade por você.—Ele enfiou a
mão entre as pernas dela para encontrá-la tão malditamente úmida e
quente que fez louco. —Talvez você ainda tenha se tocado aqui,
lembrando-se.
—Jarret! — ela exclamou, seu rosto enrubescendo. —Eu
nunca...
—Nunca?— ele cutucou. —Nem uma só vez?
Soltando o seu olhar do dele, ela tirou seu colete, gravata e
camisa, em seguida, passou a trabalhar nos botões das suas calças.
—Bem, talvez... uma vez ou duas vezes.
No mesmo instante, sua imaginação conjurou uma imagem
dela acariciando-se. Seu pênis endureceu dolorosamente. —Mostre-
me.
Ela ficou boquiaberta. —O quê?
Ele tirou os sapatos, tirou as calças e gavetas, em seguida,
sentou-se na cama. —Mostre-me como você se tocou. Eu quero ver
você se tocar.
Seu rubor se aprofundou. —Isso soa... perverso.
—Eu sou um homem perverso, querida, algo que você
apontou com frequência suficiente. Eu sou um trapaceiro, um
tratante irresponsável, um demônio...
—Eu nunca o chamei de demônio! — protestou ela. —Você
chamou-se disso.
Agarrando a barra de sua camisa, ele desnudou sua doce e
fragrante pele. —O que seja, me agrade.— Ele tirou sua camisa e
jogou-a de lado, depois se acomodou na cama para apreciar a vista.
—Deixe-me ver você se tocar. Então eu vou ter algo para lembrar
durante minhas noites solitárias na cama, em Londres.
Quando ela empalideceu, seu pulso deu um salto. Ela não era
tão indiferente sobre sua separação iminente, quanto ela fingia.
Talvez ela não fosse tão indiferente ao casamento, também.
—Eu duvido que você vá estar sozinho por muito tempo em
Londres. — disse ela com sarcasmo.
—Ah, mas você estragou-me para qualquer outra pessoa. —
disse ele. —Tomei decididamente gosto por uma certa cervejeira
com corpo de Vênus e com a vontade de uma leoa.— Ele baixou a
voz para um murmúrio persuasão. —Você acariciou seus seios,
enquanto você estava sozinha no seu quarto?
Seus cílios baixaram recatadamente para proteger os olhos
bonitos, e ela balançou a cabeça.
—Mostre-me.
Finalmente, ela o fez. Ela brincava com os mamilos eretos, a
respiração ofegante, um pouco gutural que acendeu seu sangue.
—E o seu... ‘Às de espadas’? — ele perguntou com voz rouca,
encantado com a vista de suas mãos acariciando seus seios. —Será
que você se tocou lá, também?
O olhar dela encontrou o seu, timidamente. —Será que você
tocou o seu ‘valete’?
— Deus, sim!
Um sorriso curvou seus lábios. —Mostre-me.
Fechando sua mão ao redor de seu pênis, ele começou a
trabalhar devagar, com medo de que, se ele fizesse mais, não iria
durar até que pudesse estar dentro dela. Em resposta, ela deixou
cair uma mão entre suas pernas para acariciar sua pele lisa e
inchada.
Ele inspirou asperamente. Deus o ajudasse. Ela parecia tão
condenadamente tentadora acariciando-se com as mãos e os olhos
vidrados por sua excitação. Ela era a própria imagem da feminilidade
toda rosada e corada, os lábios entreabertos e com sua respiração
pesada. Seu pênis se sentiu pronto para explodir pela necessidade.
Um pouco mais, e ele iria envergonhar a si mesmo.
—Chega! — ele murmurou, liberando sua ereção para que ele
pudesse puxá-la montando-a nele. —Eu quero estar dentro de você.
Monte-me, doce Vênus. Leve-me para o céu.
A curiosidade iluminou seu rosto. —Montar você?
Ele recuou a cama e puxou seus joelhos para que descansem
em cada lado de suas coxas. —Levante-se e leve-me dentro de
você. Desça no meu... valete. Desde que você montou meu colo na
outra noite, eu imaginei-a empalada em mim, uma deusa tomando
seu prazer.
Consciência desceu ao seu rosto, mas ainda assim ela
hesitou. —Você tem uma daquelas coisas que você colocar no seu...
Valete?—
—A camisinha, — Parte dele queria dizer a ela que não
importava, que eles iam se casar, mas ele não queria estragar o
clima no caso dela não estar tão interessada como esperava. Então,
ele puxou as calças do chão e tirou a única camisinha remanescente
do bolso.
Ele entregou a ela. —Quer colocar?
Ela sorriu timidamente, puxou o objeto em seu pênis rígido e
amarrou-o no lugar. Em seguida, ela se levantou e deslizou para
baixo em cima dele para engoli-lo em seu calor feminino e sedoso.
Com um sincero gemido, ele empurrou-se dentro dela. —É
isso aí, querida. Assim. Agora você está no comando.
Seu rosto se iluminou. —Estou?
Ele gemeu. Ela estava sedutora o suficiente para usar seu
poder sobre ele para atormentá-lo.
Ela levantou-se e desceu nele novamente, com movimentos
lentos e fluidos que lhe deixou ofegante. Seu cabelo flutuavam sobre
os ombros como espuma de uma boa porter -ele nunca vira nada
mais erótico em sua vida. E os seios, oh Deus, eles eram exibidos
assim lindamente que ele não poderia resistir a encher as mãos com
eles, amassando-os, manuseando os mamilos enquanto ela
montava.
—Minha doce deusa ...— ele murmurou enquanto ela
aumentava o ritmo, enlouquecendo ele, arrastando-o rapidamente
para o ápice.
Seus suspiros suaves lhe disseram que estava se
aproximando de seu próprio gozo, e que provocou o seu, mandando-
o à loucura assim que ela gritou e caiu contra ele, ordenhando-o. E
nesse momento de intimidade, ele soube que faria qualquer coisa
para ficar com ela. Qualquer coisa em seu poder.
Enquanto a segurava contra si, acariciou seu cabelo,
escovando beijos em sua testa, ele sussurrou: —Case-se comigo,
Annabel.
Annabel recuou para olhá-lo. Ele realmente tinha acabado de
perguntar a ela ... Não, certamente que tinha imaginado. Ou talvez
ele estivesse perdido no momento em que ele disse isso. O Senhor
sabia que ambos tinham sido transportados. Ele assistindo enquanto
ela se tocava tinha despertado-a em maneiras que não esperava.
—Bem? — ele cutucou. —O que me diz?
Ela engoliu em seco. —E-eu não sei se eu ouvi o que você...
—Eu lhe pedi para casar-se comigo.—Carinhosamente, ele
afastou seu cabelo do rosto. —Para se tornar minha esposa.
Não fazia sentido, já que ela sabia disso dele. —Pelo que me
lembro, uma semana atrás, você se opunha firmemente a se casar
com alguém.
Um sorriso dançou em seus lábios. Ele envolveu seu cabelo
com a mão e beijou-a com tanta ternura que fez seu coração doer.—
Isso foi antes de eu tomar tanto gosto por você.
Bem, isso implicava certa quantidade de afeto, mas ainda
assim...
Ele empurrou-se contra ela. —Gosto por isso.
Ela franziu a testa e soltou-se dele, deixando seu colo para
buscar a camisa e puxá-la sobre sua cabeça. Ela não conseguia
pensar quando ele a tocava. E enquanto ela estivesse nua, ele ia
continuar a tocá-la.
Quando conseguiu confiar em si mesma para falar de maneira
uniforme, ela disse: —Então, você quer se casar comigo porque você
gosta de se deitar comigo.
—Porque eu gosto de você. — disse ele apressadamente. —
Você tem uma mente afiada e um temperamento tranquilo. Você é
leal a sua família. E nos adequamos um ao outro.
Ela ficou boquiaberta. —Adequamos um ao outro! Você é filho
de um marquês, e eu sou filha de um fabricante de cerveja.
— Eu não me importo com isso, e você também não. Admite-
o.
—Sua família se importará.
Ele arqueou uma sobrancelha. —Sim, eles irão. Minha avó vai
entrar em tal êxtase ao me ver casando com alguém respeitável,
com boas ligações na indústria cervejeira, que ela provavelmente vai
dançar uma giga nos telhados de Londres.—Seu tom tinha uma
ponta de ressentimento. —Se ela não entregar a cervejaria para
você sem mais nem menos.
—Fale sério, Jarret.
—Infelizmente, estou.— Levantou-se para lançar o
preservativo no fogo, em seguida, puxou suas cuecas. —Você é
exatamente o que minha avó iria querer para mim.
—Isso o incomoda, não?
Ele deu de ombros. —Um pouco. Eu odeio deixar Gran
ganhar.
— Então por que?
—Existem várias vantagens para o nosso casamento. Por um
lado, iria silenciar os rumores completamente.
Seu sangue gelou. —Rumores?
Um gemido escapou dele. —Certo. Eu não falei a você sobre
isso ainda.— Súbita raiva brilhou em seus olhos. —Parece que o
bastardo de um sobrinho de Gran ficou sabendo das fofocas sobre a
nossa aposta e está falando disso a todos, apresentando-o à pior luz
possível.
Só o que ela e Lake Ale precisavam, mais fofocas. —Você
quer dizer que ele está dizendo a verdade.
—O que ele acha que é verdade.
—Acontece que é verdade.
—Será que isso importa? O ponto é, não vai demorar muito
para que o conto alcance Burton. Eu não me importo com isso por
mim, mas não quero vê-la sofrer mais. Ou sua família.
Ela endureceu. —Então você vai se casar comigo porque tem
pena de mim?
—Não, porra! Não é isso. –— Ele caminhava à sua frente,
claramente agitado. —Eu estou apenas apontando as muitas
vantagens para a nossa união.— Parando em frente a ela, agarrou
suas mãos. —A melhor maneira de resolver esta situação é nós
termos uma conexão legítima.
—Conexão legítima. — ela repetiu estupidamente. Incrível
como ele conseguia fazer um casamento soar como um acordo de
negócios.
—Seria ótimo para Lake Ale. — disse ele, como que achando
que era a sua única objeção. —As pessoas veriam a nossa
associação como uma coisa de família, o que daria mais peso ao
nosso novo projeto. Os capitães das Índias Orientais terão certeza
de que eu posso seguir adiante. Ou fazer o seu irmão seguir adiante.
Ele estava certo. E com cada palavra, ele colocava mais um
prego em seu coração. — Como Pinter apontou...
Ela puxou as mãos das dele. —Você está propondo
casamento porque o Sr. Pinter disse que deveria?
—Não! Quero dizer, sim, que ele sugeriu... — Ele parou com
uma maldição. —Estou expondo mal, não estou?
—Deixe-me colocar desta forma. Eu nunca ouvi uma proposta
mais fria de casamento na minha vida. Mesmo o açougueiro, ao
menos fingiu que tinha alguma afeição por mim.
—Eu não disse que eu não tenho afeição por você.— Ele
esfregou a ponte do nariz, a própria imagem de um homem frustrado.
—Eu apenas pensei que ... quero dizer, você sempre me pareceu
uma mulher prática, e eu achei que, se ouvisse a vantagens...
—Esqueça as vantagens práticas. Eu preciso saber por que
você quer se casar comigo. Você, a pessoa. Não você, o
administrador temporário da Cervejaria Plumtree.
—Não temporário. — ele corrigiu. —Não mais. Eu quero
administrar o lugar. Quero desistir de jogar.— Ele cruzou os braços
sobre o peito, num gesto de beligerância. —Essa seria a sua objeção
a se casar, não seria? Eu vou deixar disso. Assim você não precisa
se preocupar com isso.
Essa revelação quase a derrubou. Desistindo de jogar? Para
casar com ela? Incrível. Quase lhe deu esperanças.
—Jarret,— ela disse suavemente—embora esteja satisfeita
além de palavras por você querer continuar a administrar a cervejaria
de sua família, o que eu quero saber, o que eu preciso saber, é o que
você sente por mim. Por que você acha que devemos passar a vida
inteira juntos.
A cautela instantânea em seu olhar fez seu coração afundar.
Por que não podia dar-lhe alguma coisa de si? Por que era tão difícil
para ele?
—Eu já te disse o que sinto por você. — ele cortou. —Eu
gosto de você. Gosto de fazer amor com você. E acho que você
deve preferir um homem que seja honesto com você, considerando
que foi enganada por um homem que dizia amá-la, mas fugiu para a
guerra, sem se importar o que iria sofrer por sua negligência.
Ela respirou fundo, lutando para não mostrar a dor que suas
palavras contundentes tinham infligido.
Um olhar desesperado surgiu em seu rosto. —Estou
prometendo ser seu marido em todos os aspectos, para apoiá-la, e
fazer o que puder para ajudar sua família. Estou prometendo parar
de jogar, pelo amor de Deus. Se tudo isso não for suficiente para
você, não sei mais o que oferecer.
Você poderia oferecer seu coração. Mas ele claramente não o
tinha.
Embora lhe doesse profundamente, ela teria sido capaz de
esquecê-lo se já não tivesse perdido o seu coração totalmente para
ele. Estava seriamente apaixonada por ele, mais do que ela tinha
sido por Rupert.
Ela amava como ele habilmente manejou seu irmão, fazendo
Hugh achar que estava guiando as negociações, quando era Jarret
quem realmente o fazia. Ela amava o quanto era ridiculamente ruim
cantando. Ela adorava que ele se preocupasse com ela.
Mas ele iria matá-la se casar com ele e não possuísse seu
coração. Especialmente porque ela teria que desistir da única pessoa
que tinha em seu coração. Geordie.
—Você está certo. —, disse ela. —Eu prefiro sua honestidade
às palavras de amor vazias de Rupert. Então, acho que o mínimo
que posso fazer é ser tão honesta quanto você.
Ela arrastou uma respiração pesada. —Há mais um fator a
considerar nesta... fusão de negócios que você está sugerindo. Algo
que eu não contei.— Ela lutou para manter a calma. —Algo que
provavelmente vai fazer você pensar duas vezes antes de se casar.
Ele entrou em estado de alerta, seus olhos se estreitaram em
fendas.
—Oh?
Não havia nenhuma maneira fácil de dizer isso. Ela segurou
os ombros, olhou diretamente nos olhos e disse: —Eu tenho um filho.

Capítulo Vinte e três

Jarret só conseguia olhar para ela, boquiaberto. O que diabos


ela quis dizer, eu tenho um filho?
Do nada vieram lembranças de suas palavras na primeira vez
que tinham feito amor - Tem quase 13 anos desde que eu estive com
um homem. Quase 13 anos.
A verdade o atingiu como um soco no peito. —George é seu
filho.— Ela engoliu em seco, depois assentiu.
—Por isso você nunca se casou.
—Sim.
—E por isso você foi tão insistente sobre tomarmos
precauções.— As coisas começavam a se encaixar como um
baralho. —É por isso que seu irmão se sente culpado por sua
relação com Rupert, e por isso você se sente culpada por ele. E
também por que você age tanto como uma mãe com George quanto
a sua... como a Sra. Lake.
—Exato— ela sussurrou.
O fato de que ela podia manter um segredo tão monumental
dele o cambaleou. —Quando estava planejando me contar? Nunca?
Ela estreitou seu olhar sobre ele.
—Oh, não sei, quando você acha que eu deveria ter contado?
Depois que você deixou bem claro que não tinha interesse em
casamento, e toda a intenção de seguir jogando com a morte?— Ela
caminhou em direção a ele, com os olhos em chamas. —Ou talvez
depois de que se gabou de ser o tratante que o acusei de ser.
—Eu não...
—Oh, eu sei! Eu deveria ter contado quando você se ofereceu
para me levar para Londres, onde eu poderia servir como sua
amante, sempre que em algum momento você...
—Chega! — disse ele, devidamente corrigido. —Você tem
razão.
Sua raiva desapareceu rapidamente, torcido pela angústia.
Isso repuxou sua consciência, e algo mais profundo: o desejo de
protegê-la, protegê-la de perigo. Quando esse desejo se tornou tanto
uma parte dele?
Uma expressão perturbada cruzou seu rosto. —Passei a vida
inteira de Geordie protegendo-o de ser proclamado um bastardo, de
ouvir sua mãe ser chamada de prostituta pelas costas.— Lágrimas
brotaram em seus olhos. —Eu o tenho visto chamar outra mulher de
'Mãe', com o meu coração q-quebrando um pouco mais de cada vez.
Eu não podia arriscar o seu f-futuro, contando o segredo para um
homem que não vai mesmo m-me falar sobre sua própria vida.
As lágrimas caíam livremente por suas bochechas agora, para
Jarret um tormento que dificilmente poderia suportar. —Shh, querida
— ele murmurou, puxando-a em seus braços. Ele abriu as portas de
sua dor, e não sabia como fechá-las.
Não era de admirar que o seu temperamento sempre
incendiava sobre qualquer coisa relacionada ao jovem George. E
não era de admirar que a Sra. Lake se curvasse às suas decisões
sobre o menino. Tudo fazia sentido agora.
Por que não tinha visto isso antes? Porque ela tivera 12 anos
para aprender a esconder. E porque ele estava muito ocupado
desejando-a para olhar sob a superfície tentadora e ver a mãe
inconsolável.
Ele esperou até que os soluços tivessem diminuído um pouco
antes de aventurar outra pergunta. —Será que George sabe?
Ela balançou a cabeça. —Eu ... eu não sei como lhe contar.
Tenho medo que ele vá me odiar, que entenderá.— Ela ergueu o
rosto com lágrimas para ele. —Eu não poderia suportar se ele me
fechar para fora de sua vida. Eu morreria se o fizesse.
Sua dor era palpável, exigindo a sua simpatia. Exigindo que
ele se importasse. Ele não queria se importar, mas não podia evitá-
lo. Ela estava muito machucada, e doía-lhe vê-la. —Como é que ele
poderia te odiar?— Disse ele, sentindo uma pontada de inveja do
menino que não tinha uma, mas duas mães dispostos a esbanjar
todo o seu carinho por ele. —Você desistiu de toda a sua vida por
ele. Ele tem que entender que coisa incrível fez.
—Espero que você esteja certo.— Sua voz era um sussurro
dolorido que o fez desejar poder banir toda a mágoa de sua vida. —
Eu terei que contar a ele em breve. Quanto mais eu protelar, o pior
será.—Ele não tinha resposta para isso. O que ele teria feito se sua
mãe tivesse chegado a ele com a notícia de que toda a sua vida era
uma mentira? Ele poderia suportar isso sem ficar zangado com ela?
Ela recuou para acalmar os ombros.—Pelo menos agora você
entende por que meu casamento com você seria impossível.
A palavra sombria‘impossível’o prendeu. —Eu não vejo o que
uma coisa tem a ver com a outra.
—Se eu me casar com você, ou eu que proclamarei Geordie
como meu, e ele será considerado um bastardo,submetendo-o a
fofoca e crueldade, ou deixá-lo com Sissy e Hugh. É uma escolha
impossível.
Ele queria que ela parasse de usar essa palavra. —Não é tão
impossível quanto você pensa. Ele seria parte da família Sharpe, e
estamos acostumados a escândalos. Um a mais dificilmente
importaria. Nós poderíamos protegê-lo do pior.
Ela o olhou de soslaio. —Tenho certeza de que sua avó ficaria
encantada em abrir os braços para a sua nova esposa, uma filha de
cervejeiro, com um filho bastardo.
—Minha avó é filha de um taberneiro, querida. E se eu posso
aceitar o seu filho, então ela também o fará, ou para o inferno com
ela.
—Você não pode se dar ao luxo de dizer ‘para o inferno com
ela’. Ela pode tirar a cervejaria de você a qualquer momento.
Ele endureceu. —Ela e eu fizemos um negócio, e ela não vai
voltar atrás. Mesmo se o fizesse, eu não vou deixar você e George
morrerem de fome, por isso não se preocupe com isso.
—Estou preocupada em machucá-lo. Estou preocupada de
levá-lo da única vida que ele já conheceu. E eu não posso deixá-lo
para trás, eu não posso.
—Eu não pediria isso de você.— Ele segurou o rosto úmido.
—Mas talvez você pudesse deixar essa decisão para ele. Diga-lhe a
verdade, veja o que ele prefere, arriscar um escândalo, vivendo com
sua mãe natural, ou ficar aqui, pelo menos até que ele seja velho o
suficiente para não se importar com isso.
—Se ele escolher a última opção, então eu não poderei ir. Não
vou deixá-lo.
Ele ficou tenso. —E eu não posso deixar Londres. Não
enquanto administrar a Cervejaria Plumtree.
— Você vê? — Ela se afastou dele. —Como eu disse,
impossível.
—Pare de dizer isso! Você realmente acha que ele ia querer
que você desista de sua vida por ele? Desistir de qualquer
esperança de ter um marido, a sua própria família, outras crianças...
Seus olhos se arregalaram. —Você ... você quer ter filhos?
Ele não tinha intenção de deixar escapar isso. O chão estava
saindo debaixo de seus pés, mudando a cada palavra sua. Se
George viesse a para morar com ele, ele teria um filho para cuidar.
Ele seria responsável por outras duas pessoas, quando até o
momento só fora responsável por si mesmo. E se ele decepcionar
aos dois? E se, Deus o livrasse, a Cervejaria Plumtree viesse
abaixo?
—Então?— ela estimulou.
—Tenho certeza de que um dia eu iria ... querer ter filhos.
Compaixão veio ao seu rosto. —Jarret, admite. Isso não é o
que você estava pensando quando você propôs. Eu entendo,
realmente, entendo. Ninguém quer assumir uma esposa e um filho
crescido em uma só penada, especialmente um homem que só há
pouco tempo nem sequer queria casar.
Com raiva por ela ter posto o dedo direto em seu problema,
ele caminhou até ela. —Pare de colocar palavras na minha boca!
Você teve mais de doze anos para se acostumar com a realidade de
ter George. Você me deu cinco minutos. Isso não significa que eu
não possa lidar com isso. Ou que eu não queira lidar com isso.
— Olhe, Jarret... — ela começou com aquela voz
apaziguadora dela, e empurrou-o direto ao limite.
—Sabe qual é o seu problema? Você tem medo de assumir
qualquer risco. Você toma o caminho seguro o tempo todo. Só
concordou com a aposta, porque tinha certeza de que poderia
ganhar, se tivesse alguma dúvida de que possa perder, você nem
teria feito isso.
—Isso não é verdade!
—Não? Não sou quem está evitando dizer ao meu filho a
verdade sobre quem ele é, porque tenho medo que ele vá mudar
tudo, com medo de que ele vá me forçar a viver para mim mesmo,
em vez de viver para os outros ao meu redor. Você prefere abraçar o
diabo que você conhece do que o risco confiando...
— O diabo eu não conheço.— ela disse amargamente. —
Você está certo. E esse é o problema, você é o diabo eu não o
conheço. Nunca me disse nada sobre si mesmo, eu poderia
aproveitar a oportunidade. Mas você não me ofereceu isso. Declarou
todas as razões práticas para o nosso casamento, mas nada disse
de seu coração.
Que Deus o ajudasse, ele estava em apuros se ela
começasse a falar sobre corações. —Eu não tenho coração. Você
não viu isso ainda?
—Eu sei que você não quer ter um. Essa é a maneira mais
fácil de evitar feri-lo, fingindo que não está lá.— Ela deu um passo
até colocar a mão em seu peito. —Mas eu não acredito nisso. Eu
não poderia ter me apaixonado por um homem sem coração.
Ele congelou. Amor? Não, isso não podia ser. O amor era a
armadilha que arruinava um homem. —Não diga isso.— O
sentimento de pânico aumentou em seu peito, ele empurrou a mão
para o lado. —Eu quero você na minha cama. Eu quero casar com
você. Realmente acredito que podemos ter um bom casamento e
trabalhar as dificuldades com George. Mas não peça mais do que
isso. Eu não tenho como dar.
O flash de dor em seu rosto despertou uma dor semelhante
nele. Droga, ele não queria isso! Ele não queria se importar tanto!
—Quem tem medo do risco agora? — ela disse suavemente.
—Acho que eu deveria esperar de um jogador que vá segurar suas
cartas perto do peito. Mas, eventualmente, você tem que jogá-las,
Jarret. Você tem que arriscar perder, mesmo na vida. Eu estou
disposta a arriscar a perder muito, talvez até mesmo George, se eu
tiver seu coração. Mas não vou me contentar com menos. Você
também não o deveria.
Ele se virou em direção à cama para recolher suas roupas. —
Você está certa. É impossível, nós dois.
Um longo silêncio caiu entre eles. Parte dele queria protestar,
dizer a ela para mudar de ideia: que não era impossível, ela poderia
se casar com ele e partilhar a sua cama, mesmo não tendo seu
coração.
Porém, parte dele também sabia, na alma, que ela não o faria.
Porque Annabel era assim. Quando ela colocava uma ideia na
cabeça, vacilava. Ele amava isso nela. Gostava disso nela, ele se
corrigiu.
Deus, ela o estava infectando com aquela conversa de
coração e amor. Ele não o permitiria.
Vestiam-se em silêncio. Ele terminou primeiro, em seguida,
ajudou-a com seu espartilho e vestido, apesar de sentir de forma
penetrante que, mesmo estando tão perto dela, ainda assim estava
muito longe. Ele não podia deixar de pensar que esta seria a última
vez que ele cheirava seu aroma doce, feito mel, a última vez que ele
tocaria o cabelo acetinado, a última vez que ele estaria com ela,
sozinho.
Pensou em beijá-la, tentar seduzi-la a concordar se casar com
ele. Mas como poderia, quando ela dizia estar apaixonada? Como
ele a tomaria, sabendo que significava algo tão precioso para ela?
Rapidamente terminando com seus botões, ele a deixou o
mais rápido que pôde. O prazer agridoce de estar perto dela era
muito intenso.
Então, um pensamento preocupante lhe ocorreu. Ele
caminhou até a escrivaninha e rabiscou alguns endereços. Enquanto
ela prendia o cabelo, aquela esplêndida cabeleira que ele amava –
gostava-tanto, ele se voltou para ela.
—Se os rumores chegarem aqui e você mudar de ideia quanto
a casar-se comigo, você pode me encontrar em um desses lugares.
O primeiro é meu quarto de solteiro, o segundo é a casa da cidade
de Gran, e o último é Halstead Hall. Mas ninguém está na
propriedade agora. Ele apertou o papel em sua mão.
Ela ergueu o olhar inexpressivo para ele. —Obrigada.
—Você vai estar aqui na cervejaria amanhã?
—Não haverá necessidade.
Não para ela, talvez, mas ele precisasse dela.
Não, ele não precisava de coisa nenhuma, maldição. Ele já
não tinha estabelecido isso? —Então eu suponho que isso é um
adeus. — disse ele.
Um jogo de sorriso tocou seus lábios. —Eu suponho que seja.
Ele queria beijá-la. Ele queria abraçá-la. Não fez nada disso.
Apenas virou-se e dirigiu-se para a porta.
Quando ele alcançou, ela perguntou: —Jarret?
Com um martelar de esperança perversa no peito, girou para
olhá-la.
—Sim.
—Obrigada.
—Por quê?
—Por vir aqui e ajudar meu irmão. Por iluminar minha vida,
mesmo que fosse só por um tempinho. Por me lembrar como é bom
ser mulher.
Um nódulo alojou-se em sua garganta. —Por nada.
Mas, enquanto deixava a cervejaria e se dirigia para a
pousada, ele perguntou-se se estava cometendo um grande erro,
deixando-a. Ela estava certa sobre ele? Ele estava sendo um
covarde? Ousaria dar o que ela queria e arriscar a dor que poderia
vir a sentir?
Não, disso estava certo. Ele tinha feito a coisa certa. Se lhe
machucava tanto deixar uma mulher que tinha sido apenas sua
amante, quanto pior lhe faria se ele lhe desse seu coração e algo a
tirasse dele?
Ela alegou que ele estava com medo de correr riscos. O que
ela não entendia é que cada jogador sabe que alguns riscos são
grandes demais para se correr. E ele estava bastante certo de que
este era um deles.

Capítulo Vinte e quatro

Annabel sentiu-se anestesiada nos dias que se seguiram.


Todos os dias ela repetia a conversa e reafirmava que ela tinha feito
o correto. Toda noite ela revertia a opinião, desejando ter aceito a
proposta.
Será que importava que ele não a amasse, que ele tivesse
concebido a ideia do casamento como uma forma de salvá-la? Isso
seria uma espécie de carinho, não?
Mas sempre que a aurora chegava, e ela se lembrava mais
uma vez que tinha feito a coisa certa. Como poderia ter mesmo
certeza que ele iria parar de jogar? Como poderia ter certeza de que
ele não iria se arrepender de ter tomado uma esposa, quando forem
casados por toda a eternidade? E tinha apenas sua palavra de que
sua família aceitaria Geordie.
Ela suspirou. Jarret estava certo de uma coisa: ela tinha que
dizer a verdade a Geordie. Ela estava sendo covarde. Quanto mais
tempo protelava, pior seria. Mas ela continuava dizendo-se que devia
esperar até depois que ele terminasse sua semana difícil na escola
secundária local, ou até depois da Páscoa, uma vez que era seu
feriado favorito ou ...
Ela estava protelando. Sabia disso.
Especialmente porque não havia razão para não contar a ele
nesses dias. Tudo estava indo bem. Hugh tinha surpreendido ao
tomar as rédeas de Lake Ale, parecendo um novo homem. A
esperança que Jarret lhes dera que eles seriam capazes de vender a
sua pale ale, através da Companhia das Índias Orientais tinha
reforçado a confiança de Hugh, e ele ia para a fábrica de cerveja
todos os dias com um ar de entusiasmo sobre ele.
Por isso, foi com alguma surpresa que ela espiou em seu
escritório cerca de uma semana depois da partida de Jarret para
encontrá-lo sentado em sua mesa com um copo de uísque na mão.
Era a primeira vez que o via beber desde o dia em que tinha voltado
de Londres.
O sangue gelou nas suas veias, até que ela percebeu que ele
não estava realmente bebendo, apenas olhando o copo,girando-o de
um lado e outro contra a luz. Ele devia tê-la percebido ali, pois sem
olhar para ela, disse:
—Entre, Annabel. Eu estava prestes a chamá-la.
Seu tom de voz tinha uma calma mortal que a assustava. —O
que aconteceu?
—Eu só ouvi uma interessante fofoca de Allsopp. Parece que
há uma conversa em Londres de minha irmã ter feito uma certa
aposta desagradável com um certo lorde.
Ele levantou o olhar para ela a tempo de vê-la pálida. —É
verdade, não é?
Ela estendeu-lhe o queixo e tentou salvar a situação. —Eu
apostei o anel de mamãe em troca de sua ajuda com Lake Ale.
—Isso não é o que estão dizendo.
— Eu sei, mas...
—E eu não acredito nem por um minuto que Lorde Jarret
Sharpe aceitaria um anel como uma aposta adequada.— Seus olhos
procuraram o rosto dela. —Mas estou bastante certo que Lorde
Jarret pularia em tê-la na cama, que é o que eles estão dizendo que
foi a aposta.
Calor subiu em suas bochechas. —Não importa o que era a
aposta. Eu ganhei.
— Então você não está negando.
Ela soltou um suspiro desesperado. —Hugh, por favor ...
—Não estou surpreso de Lorde Jarret fazer tal aposta, mas
estou surpreso que você tenha concordo com isso.
—Sinto muito por ter envergonhado você.
—Não é isso, porra!— Para seu alívio, ele pousou o copo. —É
o fato de que no seu desespero para salvar Lake Ale estava disposta
a... Você se sentiu compelida a...— Ele contorceu-se, enterrando a
cabeça entre as mãos. —Oh, Deus, não posso acreditar que te levei
a isso.
Com o coração na garganta, ela se aproximou para colocar a
mão em seu ombro. —Ele não teria ido até fim com a aposta. Ele é
um homem bom de coração.
Sua cabeça disparou. —Um homem bom não tira proveito de
uma mulher desesperada. Um bom homem não permite a uma
mulher arriscar sua reputação, então deixa-a suportar as fofocas
sozinha. Graças a ele, você vai ser pintada como uma prostituta por
metade das línguas abanando na cidade. Eu devia ir para Londres e
desafiá-lo só por isso, maldição!
—Você não pode! — disse ela com firmeza.
—Ele merece!
—Não, ele não merece.— Ela hesitou, mas se ele estava
falando de coisas loucas, como duelo, era melhor ela dizer a
verdade. —Assim que ele ouviu sobre a fofoca, ele ofereceu-se para
casar comigo. Eu recusei.
Hugh olhou para ela, em seguida, levantou-se lentamente de
sua cadeira. —Por que, pelo amor de Deus?
—Você sabe porquê: por Geordie.
—Você contou que Geordie é seu filho?
—Eu tinha de fazê-lo. Ele estava oferecendo casar comigo,
merecia saber .
Hugh recostou-se na cadeira com uma carranca para ela. —
Você nunca disse a qualquer um dos outros pretendentes que se
ofereceram para casar você.
—Eu não me importava com nenhum deles.
—Então você se importa por Lord Jarret.— Ela hesitou, depois
assentiu.
—Você não está preocupada que ele vá revelar a verdade
para alguém?
—Não, ele é muito discreto. — disse ela com firmeza.
—Vi como ele era discreto. Ele deve ter se vangloriado para
metade de Londres sobre essa maldita aposta .
—A fofoca não veio dele. Ele não é assim.
—Mesmo?— Fúria inundou as feições de Hugh. —Então por
que você recusou-o? Devo acreditar que foi porque ele não reagiu
bem a sua revelação.
—Na verdade, não. Ele foi muito compreensivo sobre isso.
Hugh piscou. —Agora eu estou confuso.— Ele enfiou os
dedos pelo cabelo. —Se ele não tinha nenhum problema com o fato
de Geordie ser seu filho, por que não aceitou a proposta?
—Eu não vou fazer Geordie deixar o único lar que ele
conhece. E eu não posso suportar deixá-lo aqui, para que eu possa
viver em Londres com Lorde Jarret. Simples assim.
—Talvez você devesse deixar Geordie fazer essa escolha.
Ela bufou. —Você e Lorde Jarret. Como pode um menino
dessa idade fazer essa escolha? Ele não tem ideia de como as
pessoas podem ser cruéis. Se eu proclamá-lo como meu - o que
teria que fazer para levá-lo para Londres sem as pessoas acharem
estranho - as fofocas vão correr soltas. Vai envergonhar a todos, não
só ele. E se ele optar por ficar aqui sem mim... —Ela parou de falar
com um soluço.
—Oh, querida.— Hugh tomou-a nos braços. —Você deve
dizer ao rapaz a verdade algum dia.
— Eu sei. E eu-eu vou.
Ele tirou um lenço. —Eu desejaria poder estrangular Rupert
por colocar um bebê em sua barriga quando ele não tinha a intenção
de cuidar dele. Aquela pequena doninha.
—É tudo passado agora.— Ela pegou o lenço e assuou o
nariz. —Eu cometi um erro, e chamar nomes ao Rupert não vai
mudar isso.
—Seu único erro foi ter confiado em um jovem que era muito
estúpido para ver como você é preciosa.— Ele estendeu a mão para
esfregar uma lágrima de seu rosto. —Isso é o que me preocupa,
Annie. Que você tenha encontrado outro como ele. Então você tem
que me dizer a verdade agora. Existe alguma razão para eu estar
preocupado de Lorde Jarret ter...— Suas orelhas avermelharam, mas
ele seguiu em frente. —Ele poderia ter colocado um bebê em sua
barriga também?
Senhor, isso poderia ficar pior? —Isso não é possível.— Jarret
tinha certeza disso.
—Eu não vou julgá-la, mas se há alguma chance de...
—Não há nada entre mim e Lorde Jarret, além da aposta
idiota, eu garanto. — disse ela com firmeza. Não mais, de qualquer
maneira. —E eu ganhei a aposta, então você não precisa se
preocupar.
Ele puxou-a novamente para descansar o queixo no topo de
sua cabeça. —Há ainda a fofoca. Eu odeio vê-la difamada pelos
nossos amigos e vizinhos.
Ela engoliu em seco. —Você quer que eu aceite a proposta?
Ele me deu seu endereço para escrever, se eu mudar de ideia. Eu
não quero te causar e Sissy mais constrangimentos.
—Oh, querida! — disse ele, escovando o cabelo de seus
olhos —Eu não me importo com isso, e Sissy também não. Você
sempre foi uma alegria para nós. Além disso, você vai ser a única a
sofrer o impacto dos boatos. Eu só desejaria poder poupar-lhe isso.
Ela se afastou e forçou um sorriso. —Vai dissipar com o
tempo.— Ela olhou além dele para o copo de uísque. —Você não vai
beber isso, não é?
—Depois de tudo que você sacrificou por causa disso? Não.
Eu estou satisfeito sem isso.— Ela soltou um longo suspiro. —
Graças a Deus!
Pelo menos uma coisa boa tinha saído de seu encontro com
Jarret. Isso fez com que quase valesse a dor de seu coração
maltratado.
George ficou congelado no corredor, incapaz de acreditar no
que ouvia. Ele era um bastardo. E a tia Annabel era sua mãe. Sua
mãe! E seu verdadeiro pai estava morto na guerra. Assim, ele não
tinha pai, porque o homem que ele pensava ser seu pai era
realmente seu tio.
Oh, meu Deus! Como podia ser isso? Mãe o tratava igual que
a todas as outras crianças. Certamente, se ele não fosse realmente
seu filho, ela teria dado alguma pista. Certamente ela não teria
mentido para ele-
Todos tinham mentido para ele! Lágrimas obstruíram sua
garganta, e ele engasgou-os com esforço. Como puderam? Eles
haviam escondido o fato de que ele era um ... um bastardo.
Bastardo. A palavra desagradável batia em sua cabeça,
fazendo-o doente. Ele tropeçou na escada e correu para o quarto
onde poderia ficar sozinho, onde poderia pensar. Um bastardo. Uma
dessas crianças a respeito de quem as pessoas falavam aos
sussurros, como Toby Mawer. A mãe de Toby nunca havia se casado
ninguém, assim como tia Annabel.
Não, não era tia Annabel. Mãe. Encolheu-se em uma bola na
cama. Ela era sua mãe. E ela não podia reclamá-lo filho, porque ele
ia envergonhar a todos. Porque a sua própria existência
envergonhava a todos. Oh, Deus, ele ia ficar doente.
Ele correu para o penico e soltou as suas angústias, em
seguida, caiu no chão e apertou os joelhos contra o peito. Seu
coração doía. Eram todos mentirosos. Tudo o que importava era ter
certeza que ninguém soubesse a verdade, nem mesmo ele.
Algo que, de repente, ocorreu-lhe. Será que avó e avô
sabiam? Não, espere, eles não eram mesmo sua verdadeira avó e
avô, eram eles?
Encheram de lágrimas os seus olhos. Ele não tinha avós,
porque eles estavam todos mortos. O noivo de tia Annabel – mãe -
tinha sido órfão. E seu irmão e irmãs não eram dele, ou, seja, eles
eram primos. Assim, ele não tinha pai ou avós ou irmãos, ou irmãs.
Ele tinha uma mãe que mentira para ele e não podia reclamá-lo seu.
Porque ele era um bastardo.
Não era culpa dele! Era culpa daquele horrível Rupert. George
não se importava se o homem tinha sido seu pai e um herói de
guerra. Ele colocou um bebê em tia Annabel - na barriga de sua mãe
- quando não devia. O pai tinha dito isso. Não, não era seu pai. Ele
não tinha pai!
Ele enterrou a cabeça entre os joelhos, lutando para conter as
lágrimas. Ele só queria que tudo voltasse a ser como era antes.
Quando ele não sabia. Quando tinha um pai e mãe e avós e irmãs e
um irmão...
Sua cabeça disparou. Por que não podia? Ninguém sabia que
tinha ouvido. Se ele e tia Annabel nunca disserem nada, tudo podia
ser como antes. Ele esticou o queixo. Ele não queria uma mãe
diferente. Ele queria que tudo ficasse na mesma. E poderia, se ele
escolhesse. Ninguém mais sabia da verdade.
Exceto Lorde Jarret.
Ele fez uma careta. Lorde Jarret, que tinha feito uma aposta
impertinente com Tia Annabel e contou a todos sobre isso. Lorde
Jarret, que havia dito que tinha boas intenções para com a tia
Annabel e não tinha nada disso. Tia Annabel tinha dito a George que
sua senhoria não estava interessado em casar.
Por vezes, ela mentira também. E agora ela estava dizendo
que sua senhoria havia oferecido casar com ela. Seria verdade?
Podia não ser.
Por um lado, ela disse ao Pai que não havia nada mais do que
a aposta entre ela e Lorde Jarret, mas era uma mentira. Lorde Jarret
tinha beijado ela, estava bastante certo disso. E tinha aquela outra
vez, quando os dois voltaram após andar na chuva, perto do
mercado Daventry e eles pareciam culpados, como se tivessem feito
algo errado. Também tinha a maneira como eles se olhavam,... da
mesma forma que mãe e pai se olhavam, às vezes.
Oh Deus, será que Lorde Jarret tinha colocado outro bebê na
barriga de tia Annabel? George não tinha certeza de como isso
acontecia, mas tinha a ver com o beijo e estar em uma cama. E se a
aposta era que Lorde Jarret receberia tia Annabel em sua cama...
George deu um soco no chão. Se ela tinha um bebê em sua
barriga, toda a família seria desonrada, tudo porque tia Annabel não
se casava por causa dele. E se Lorde Jarret contava as pessoas
sobre George ser um bastardo, toda a família seria desonrada.
Novamente, por culpa dele.
Se isso acontecesse, o culpariam e todo mundo ia saber que
ele era um bastardo. Isso não podia acontecer.
Havia apenas um meio de sair disso. De alguma forma, ele
teria que fazer Lorde Jarret se casar com tia Annabel e levá-la
embora. Então tudo poderia voltar a ser como era antes.
Só que aí não haveria tia Annabel cuidando dele. Não mais
chocolate quente que ela levava sorrateiramente para o quarto das
crianças quando o pai estava sendo um idiota. Não mais músicas
quando ele tivesse um pesadelo. Não mais viagens para o mercado
para ver os cavalos em leilão.
Ocorreu-lhe que ela tinha feito essas coisas, porque era mãe
dele.
Sua garganta estava crua. Ela não podia ser, ele não iria
deixar! Ele teria que fazer Lorde Jarret levá-la embora. Lorde Jarret
deve fazê-lo de qualquer jeito, por causa da fofoca. Isso é o que o
Pai tinha dito. George o faria voltar e se casar com ela, queira ela ou
não.
Mas como?
Escrever a Lorde Jarret não seria o suficiente. Ele poderia
ignorar a carta. Não, George teria que ir em pessoa.
A agitação começou na barriga novamente. Ir para Londres?
Sozinho? Mesmo que ele pudesse fazê-lo, seus pais iriam matá-lo.
Ele fez uma careta. Mas realmente não tinha pais, não é? Apenas
uma mãe que estava com vergonha dele.
Vamos lá, você sabe que eles se preocupariam, sua
consciência lhe incomodava.
E daí? Eles mereciam sofrer. Ele não era quem tinha mentido.
Ou poderia ser que nem se importem. Ele piscou para conter
as lágrimas. Ele era um bastardo, um embaraço. Mas só se ele não
corrigisse isso. Se ele corrigisse isso, tudo ficaria bem.
Imaginou-se chegando com Lorde Jarret para salvar o dia.
Lorde Jarret varreria a tia Annabel de seus pés e faria com que ela
se casasse com ele, e George seria o herói que o trouxera de volta.
Então, todo mundo iria esquecer que ele era um bastardo. E as
coisas iriam voltar para como eram antes. Isso era a parte mais
importante.
Mas, como chegaria a Londres? Ele, a mãe e tia Annabel
tinham viajado no coche-correio da primeira vez. Ele deixando a
pousada à meia-noite, ele não deveria ter problemas em esgueirar-
se e ninguém saberia que ele tinha ido até a manhã. Uma vez em
Londres, ele teria que contratar um carro de aluguel para chegar à
cervejaria, para que ele pudesse encontrar sua senhoria.
Agora tudo o que ele tinha que descobrir era como chegar no
coche-correio. Ele tinha certeza que ele tinha dinheiro suficiente para
um bilhete como dinheiro que seus avós lhe deram para o Natal.
Desde que ele só tinha ido a estalagem uma vez, não achava que
alguém iria se lembrar dele ou saber quem era.
Mas o cocheiro poderia deixar um menino de sua idade viajar
só. Ele faria todos os tipos de perguntas sobre seus pais e por que
ele estava viajando sozinho.
George sentou-se na cama para pensar. Talvez ele pudesse
fazer um dos servos colocá-lo no coche-correio, fingindo estar
enviando-o para sua família, em Londres. Não, isso não iria
funcionar. Eles o dedurariam sobre ele. Mas o que mais ele poderia
tentar?
Ele saltou da cama. Toby Mawer! Ele tinha dezessete anos, o
cocheiro iria ouvi-lo. E desde que George tinha voltado no carro de
um marquês, Toby e seus amigos tinham sido mais legais com ele.
Não amigáveis, mas não tão maus quanto antes.
Além disso, George tinha algo que Toby queria, o relógio que
seu lhe dera.
George puxou-o para fora da gaveta. Era um relógio de ouro
de verdade, com uma inscrição no interior que dizia: —Para George
Lake, em seu décimo segundo aniversário de 9 de janeiro de 1825.—
Seu primeiro relógio. Um nó prendeu na garganta. Será que ele
realmente queria dá-lo?
Ele tinha que fazer. Ele precisava de todo o seu dinheiro para
a viagem a Londres. Além disso, ele não tinha mais nada que Toby
desejaria.
Sentindo um aperto no peito, ele colocou-o no bolso. Pediria a
Toby para ajudá-lo, e eles planejariam onde se encontrar perto da
meia-noite. Depois que todo mundo estivesse dormindo, ele iria
esgueirar-se para fora e tomar o coche para Londres. E uma vez que
tudo fosse feito, tudo estaria bem novamente.

Capítulo Vinte e cinco

Annabel hesitou diante da porta de Geordie. Ele não tinha


descido para o café da manhã, o que a preocupava. Tinha se
comportado estranhamente à noite no jantar, afundado em um
silêncio sombrio. Embora ele caísse nesses estados de espírito às
vezes, isso parecia diferente, como se a raiva fervesse logo abaixo
da superfície, e ele estivesse a sufocando.
Geordie nunca sufocava o que sentia. Quando estava com
raiva, todos sabiam disso.
Provavelmente ele estivesse crescendo, aprendendo a
controlar seus sentimentos, o que tornava ainda mais imperativo que
ela lhe contasse a verdade. Era hora.
Se ele ficasse sabendo das fofocas sobre ela e Lord Jarret,
ele estaria zangado com ambos, e antes que isso acontecesse, ela
queria que ele soubesse as razões de Jarret permitindo-lhe suportar
os rumores. Por que ela não estava se casando com Jarret.
Levara a noite toda para criar coragem.
Ela bateu em sua porta. Ele não respondeu. Alarme disparou
em seu peito. Ela tentou abrir a porta, mas estava trancada. Ele não
tinha permissão para bloquear a porta.
—Geordie, você abrir esta porta neste minuto. — ela gritou.
Nenhuma resposta.
Depois de repetir o comando, ela voou para baixo pelas
escadas para buscar Hugh, rezando para que ele já não tivesse
partido para a cervejaria. Momentos depois, eles estavam todos do
lado de fora da porta de Geordie, e Hugh, com as mãos tremendo,
estava destrancando-a com a chave reserva.
Eles se adiantaram para encontrar o quarto vazio. Vazio!
Onde diabos ele poderia ter ido?
Então ela viu a janela aberta e a corda amarrada à sua
cabeceira, e seu coração perdeu uma batida. Ela voou para a janela,
esperando vê-lo deitado, quebrado e sangrando no chão, mas havia
apenas um conjunto de pegadas na lama.
Hugh apareceu ao lado dela. —Maldição, o que é o menino foi
fazer?
—Ele fugiu. Hugh, ele fugiu!
—Bobagem, tem que haver alguma outra explicação. Por que
ele iria fugir?
Ela virou para ele enquanto Sissy chamava os servos. —Você
viu como ele estava chateado no jantar na noite passada. Alguma
coisa o estava incomodando.
—Ele provavelmente foi dar algum passeio tolo meia-noite
para divertir-se na floresta ou ir pescar com rede de arrasto as
enguias no rio.— Hugh estava tentando parecer calmo, mas a
preocupação forrava seu rosto. —Ele vai vir passeando qualquer
minuto, gabando-se deter feito algo que não deveria. Todos os
garotos agem assim nessa idade.
—Alguma vez você saiu pela sua janela no meio da noite?—
Sissy exigiu. —Eu ouso dizer que você não o fez, Hugh Lake. Você
tem que chamar a polícia e trazê-los para cá imediatamente.
—Só temos de nos certificar que ele não só desceu a estrada
para seus avós.
Mas enquanto a manhã avançava, tornou-se cada vez mais
claro que este não era um passeio a meia-noite, e ele não tinha ido
para seus avós. Era como se ele tivesse desaparecido no ar. Os
servos não sabiam de nada, e ninguém o tinha visto sair.
Ao meio-dia, Annabel estava frenética, Hugh era uma massa
fervilhante de raiva, e Sissy não conseguia parar de chorar. O policial
havia sido enviado, mas antes que pudesse chegar, um homem veio
até a porta com um rapaz magro no reboque que parecendo preferir
estar em outro lugar.
— Boa tarde, Mr. Lake. — disse o homem. —Toby Mawer aqui
tentou me vender um relógio, mas eu vi a inscrição e percebi que era
do seu menino. Eu apenas pensei que eu iria verificar com o jovem
George e certificar-me que ele realmente deu para Toby.
Annabel lembrava ter ouvido Geordie reclamar sobre um
menino chamado Toby. O medo cresceu dentro dela. Toby tinha o
machucado para ganhar o relógio?
—George está sumido. — Hugh disse enquanto conduzia os
dois para dentro. Ele treinou um olhar escuro sobre Toby. —Onde ele
está, Toby?
Toby atuou indiferença. —Sei não, senhor. Ele me deu o
relógio, isso é tudo.
— Por razão nenhuma? —Annabel retrucou. —Ele só o deu a
você? Eu não acredito em você.
Algo brilhou nos olhos do rapaz. —Pense o que você desejar,
senhorita. Ele deu-me de forma livre e esclarecida.
—Bem, então. — disse Hugh, —desde que sei que o rapaz
nunca teria dado o relógio que ganhou de aniversário, e você diz que
ele o fez, deixaremos a polícia resolver o problema. Ele está a
caminho até aqui, por isso vamos entregá-lo a ele.—A voz de Hugh
endureceu. —Claro que, se George acaba morto em algum lugar,
você vai ser o culpamos. Mas pelo menos você vai ter um relógio de
ouro quando o enforcarem.
—Espere aí!— Toby gritou, seus olhos praticamente pulando
para fora de sua cabeça.—Agora veja aqui, senhor, não sou nenhum
assassino. Ele estava vivo quando o vi pela última vez, eu juro!
Hugh cruzou os braços sobre o peito. —E onde poderia ter
sido?
Toby engoliu em seco e olhou nervosamente para trás para a
porta. —Você não vai me entregar a polícia, não é?
—Depende do que você tem a dizer.
Ele estendeu o lábio inferior. —Eu sabia que não deveria ter
ajudado menino da mamãe. Eu disse que ele tinha um plano idiota,
mas ele não quis ouvir.
—Qual era o seu plano?— Annabel cutucou.
—Queria ir ver uns nobres em Londres. O mesmo que esteve
aqui na semana passada. Ele pediu para me fingir ser seu irmão
mais velho colocando-o no coche. Eu disse ao cocheiro que ele
estava fora a visitar o nosso tio. George pagou pelo próprio bilhete, e
me deu o relógio, porque eu o ajudei.
O coração de Annabel vacilou. Geordie tinha ido para Londres
sozinha? —Por que diabos ele iria querer ver o Lorde Jarret?— Sissy
exigiu.
—Eu não sei, minha senhora. Ele não quis dizer. Mas ele
continuou a me fazer perguntas sobre o que era ser um bastardo, até
que eu quase mudei de ideia sobre a ajudá-lo.
Um bastardo.
O olhar de Annabel voou para Hugh, cuja cor pálida disse que
ele estava pensando a mesma coisa que ela.
—Obrigado, rapaz, por dizer-nos a verdade. — Hugh disse em
uma voz tensa. —Pode ir agora.
Toby franziu a testa. —E o relógio? É meu, de forma justa.
—Fique feliz que não o estamos entregando a polícia,— Hugh
agarrou. —Eu não estou te dando esse relógio.
—Mas temos bolo, se você gosta. — Sissy acrescentou com
um sorriso amarelo. —Por nos ajudar.— Toby estendeu seu peito. —
Não preciso de bolo.— Ele olhou carrancudo para Sissy. —Mas se
você tiver alguma carne assada ...
—Tenho certeza de que encontraremos algo que você gosta—
Sissy disse gentilmente, levando-o para a cozinha.
Hugh agradeceu o dono da loja e mandou-o em seu caminho.
Assim que o homem saiu, Annabel disse: —Geordie deve ter ouvido
falar dele ontem. Você sabe o quanto ele tem escutado nas portas.
Hugh assentiu tristemente. —Eu vou preparar o coche. Vamos
ir a Londres juntos. Sissy pode ficar aqui com as crianças, no caso
de ele recuperar o bom senso e retornar.
Annabel acenou com a cabeça, seu coração batendo num
ritmo frenético. Qualquer coisa poderia acontecer com ele na estrada
sozinho.
Hugh colocou seu braço ao redor dela. —Ele vai ficar bem,
Annie. Ele é um garoto cheio de recursos.
—Como ele vai saber onde encontrar Jarret? E se ele se mete
em problemas, enquanto está vagando em Londres, sozinho? Todos
os tipos de coisas podem acontecer com ele na cidade!
—Eu sei, mas você não pode começar a imaginar o pior, ou
vai tornar-se louca. Nós vamos ter que esperar que ele chegue a
Lorde Jarret rapidamente.— Hugh deu-lhe um beijo na testa. —
Tenha um pouco de fé no rapaz. Ele tem uma boa cabeça em seus
ombros.
Isso não faria nenhuma diferença se viesse a encontrar alguns
dos tipos mais ásperos. Tudo o que podia ver em sua mente era
George sendo abordado por salteadores, assaltado e espancado, e
deixado para morrer em algum beco. —Eu devia ter dito a ele,— ela
sussurrou. —Se eu tivesse...
—O que está feito está feito. Vamos encontrá-lo, mesmo que
tenhamos de esquadrinhar toda Londres.
A determinação feroz na voz de seu irmão lhe deu pouco
conforto, mas uma coisa era certa. Se ela encontrar Geordie são e
salvo, ela nunca iria deixá-lo ir.
Jarret entrou no escritório da Cervejaria Plumtree depois do
meio-dia com um impulso nos passos os capitães das Índias
Orientais haviam concordado com um contrato com a Cervejaria
Plumtree para vender a cerveja de Lake Ale. Eles tinham se
impressionado com a qualidade da pale ale de Annabel que iam
colocar uma ordem de dois mil barris! Isso era quase tanto quanto
vinham negociando com os russos. Somente a parte de Lake Ale por
si só, poderia manter a pequena cervejaria, por pelo menos, mais um
ano, e Annabel ficaria extasiada.
Ele parou de repente. Deveria contar-lhe em primeira mão, ir
até Burton para que eles pudessem comemorar. Para que ele
pudesse vê-la.
Com um gemido, ele afundou em sua cadeira atrás da mesa.
Ele deveria estar tirando-a de sua mente. Desde que ele deixou
Burton, ele enterrou-se no trabalho, no projeto e em acertar as coisas
na Plumtree. Ele tentou esquecê-la.
Mas ele não conseguia. Quando sentia o cheiro do lúpulo
aromático, ele pensava nela sua fragrância limpa, seu aroma frutado.
Quando ele via a espuma no tanque, ele pensava em seus belos
cabelos. E quando as luzes estavam apagadas à noite e o lugar
silenciava, ele pensava em quando fez amor com ela naquela
pequena sala fora do escritório do Lake Ale, iluminado apenas por
um fogo de carvão e sua paixão.
Cristo, ele estava ficando sentimental novamente. Estava
começando a ser piegas o tempo todo. Ele sentia falta dela. Não
esperava sentir tanto sua falta.
Croft abriu a porta de seu escritório. —Mr. Pinter está aqui,
senhor. Você vai vê-lo? —Claro.—Pelo menos ele iria tirar sua mente
de Annabel.
Assim que Pinter se sentou, ele foi direto ao ponto. —Eu
encontrei o cavalariço que selou o cavalo de sua mãe naquele dia.
Ele diz que nunca viu ou ouviu nada sobre Desmond, não tinha ideia
de que estava nas proximidades. Mas sua mãe disse alguma coisa
para o homem que pode ser importante.
Jarret se firmou. —Sim?
Pinter mudou de posição na cadeira. —Ela ... er ... pediu que
ele não falar com seu pai, onde ela tinha ido.
Por um segundo, Jarret mal podia respirar. Isso confirmou –
sua mãe não tinha ido para enfrentar seu pai. Ela queria evitá-lo.
Mas então, como ele sabia onde ela estava indo? Por que tinha ido
atrás dela, quando mal se falavam na maioria dos dias?
—E Desmond? Você soube alguma coisa mais sobre isso?
Masters ainda está tentando contornar uma maneira para olhar as
versões anteriores do testamento vontade de Gran.
—Tudo o que sei é que a seu moinho estava enfrentando
dificuldades naquele momento.
—O que lhe dá um motivo mais forte.
—Sim.
—É possível que minha mãe estivesse indo encontrá-lo?
Talvez ela estivesse com raiva o suficiente de meu pai para querer
tramar algo com seu primo. Ela nunca o odiou como o resto de nós.
—É concebível. Mas mais uma vez ...
—Eu sei, você precisa de mais informações. Bem, então,
vamos continuar a cavar.
Pinter assentiu. —Você deve saber que Desmond ainda está
jorrando seu veneno, mas ninguém parece estar a pagando-lhe
muita atenção. Todo mundo fica impressionado pela forma como
você lidou com a cervejaria. Há ainda rumores de um grande
contrato com os capitães das Índias Orientais.
—Não são rumores. — Jarret disse com orgulho.
—Ah. Então parabéns! Tenho certeza de que os Lake vão ficar
satisfeitos.—
Jarret suspirou. —Á propósito, eu pedi Miss Lake em casamento. Ela
me rejeitou.
— Ela o fez?
—Parece que ela estava pouco esperançosa sobre minha
aptidão para ser um marido. — Pinter lhe lançou um olhar pensativo.
—Talvez isso mude sua mente.
—Duvido. Eu fiz uma confusão da minha vida até agora. Ela
seria louca para se casar comigo.
—Eu vi uniões mais estranhas. Seu irmão, por exemplo. Eu
não perderia as esperanças ainda. Na minha experiência, as
mulheres inteligentes precisam de mais tempo para as decisões do
que os homens pensam. Você não pode culpá-la por ser arisca.
Afinal, uma mulher dá-se muito mais ao casar do que um homem o
faz.
Depois que Pinter saiu, essas palavras ecoaram na mente de
Jarret. Ele realmente estava fazendo pedindo a ela para arriscar-se
muito – arriscar-se a perder seu filho por ele. E ele não ofereceu
nada em troca, exceto seu nome e uma promessa de que ele seria
um homem diferente, mesmo que ele não tivesse feito nada para
mostrar que poderia ser um homem diferente. Ele queria que ela
desse um salto de fé, quando nenhum outro homem jamais havia
sido digno de sua confiança.
Ele não estava nem mesmo disposto a deixá-la entrar na parte
dele que sempre manteve cuidadosamente escondida, a parte que
tinha pavor de se importar demais. Ela estava certa sobre uma coisa,
fingir não ter coração não o impedia quebrá-lo. E ele começava a se
perguntar se uma vida inteira sem ela não seria demasiado ruim.
Em algum momento no mês passado, ele tinha passado do
Jarret que não se importava, ao Jarret que se preocupava muito com
o que acontecia com ela. Com os dois. Isso o aterrorizava. Se ele se
permitia amá-la, e destino a tiraria dele, como tirara sua mãe e seu
pai...
Ele congelou. As informações de Pinter haviam deixado claro
que o destino não tinha tomado nenhuma parte nisso. A confissão de
Oliver tinha dito isso também, mas Jarret não queria acreditar. E por
quê? Porque se a mãe não tivesse matado acidentalmente Pai, se
tivesse sido um ato deliberado, então ele tinha perdido toda a sua
vida acreditando em uma mentira.
O destino podia ter uma mão em muitas das tragédias da vida,
mas muitos mais deles foram causados por pessoas comportando-se
tolamente ou perigosamente, ou mesmo, no caso de Gran,
teimosamente. Se um homem se separava das pessoas, se ele se
recusava a se importar, então ele simplesmente permitia que a tais
ações continuassem a acontecer. Mas o mundo precisava de
pessoas que se importavam o suficiente para equilibrar os néscios e
os perigosos, para colar as peças. O mundo precisava de pessoas
como Annabel.
Ele precisava de pessoas como Annabel. Não, ele precisava
de Annabel. Em sua vida, ao seu lado. E enterrar-se no trabalho não
ia mudar isso.
Capítulo Vinte e seis
Algumas horas mais tarde, Jarret ouviu uma familiar voz
estridente vindo do escritório exterior. Apesar de tudo, um sorriso
iluminou seu rosto. Segundos depois, Gran entrava com Croft em
seus calcanhares.
—Você realmente deve sentar-se, minha senhora. — disse
Croft. —Você sabe o que o Dr. Wright disse.— Ele correu para pegar
a colcha estendida sobre o sofá. —Aqui, seria melhor. Depois, você
pode descansar sua cabeça aqui e colocar os pés...
— Croft! Se você não parar de revoar sobre mim, vou colocar
meus pés no seu bundão!— Gran estalou—Eu estou bem. Eu me
sinto bem.
—Mas...
—Fora!— Ela apontou o dedo para a porta. —Eu quero falar
com o meu neto.
Com um olhar ferido, Croft cuidadosamente dobrou o cobertor
e colocou-o precisamente de volta no sofá, em seguida, saiu da sala.
—Você realmente devia ser mais agradável com o homem. —
disse Jarret, reprimindo um sorriso. —Ele adora o chão que você
pisa. Cada palavra da sua boca é ‘Sra. Pluntree diz que isso’e ‘Sra.
Pluntree diz que aquilo '.
—Ele acha que eu estou pairando sobre a sepultura. — ela
resmungou quando se sentou no sofá. —Todos vocês fazem.
—Não eu. Sei bem que odeio ter meus dedos batidos. —Ele
se recostou na cadeira e cruzou as mãos sobre o abdômen. —Como
você está se sentindo hoje?
—Muito melhor. — disse ela. —Dr. Wright pensa que estou me
recuperando.
Ela certamente parecia melhor do que estivera um par de
semanas atrás. Jarret não tinha ouvido tosse há algum tempo, e seu
rosto tinha uma boa cor. O próprio fato dela estar ali, dizia muito.
—Você deve ter fontes incríveis para já saber sobre o
contrato.
—Contrato? — ela disse com patente falsa inocência. —Que
contrato?
Ele arqueou uma sobrancelha para ela. —Gran, eu não estou
mais em minhas fraldas. Você já ouviu falarem sobre o negócio com
os capitães das Índias Orientais, não é?
Ela encolheu os ombros. —Há rumores ...
—E você veio para confirmá-los. Bem, são todos verdadeiros.
—Ele pegou uma cópia do contrato e deixo-o cair em seu colo. —
Veja por si mesma.
Ela lançou-se sobre o contrato. Levou alguns momentos para
assimilar as particularidades, mas quando chegou ao montante que
seria contratado, seus olhos se arregalaram. —Você os fez aceitar
comprar dois mil barris? Como conseguiu isso?
—Uma boa cerveja a um bom preço. Eles não são tolos.
— Mas isso é quase um quarto do mercado!
—Você parece surpresa. — ele disse secamente quando
sentou-se novamente. —O que achou que eu estava fazendo aqui
todo esse tempo? Girando meus polegares?
Ela devia ter ouvido o tom da sua voz, pois ela largou o
contrato. —Jarret, nunca deixarei que digam que eu não estou
disposta a reconhecer meus erros. E eu cometi um muito grande um
quando me recusei a deixá-lo continuar na cervejaria quando você
era jovem.
As palavras não deviam ter importância para ele, mas tinham.
—Ainda bem que admite isso.— De alguma forma, ele conseguiu dar
um sorriso. —Eu não estava talhado para ser advogado, Gran. Mas
eu percebo agora que você de repente se encontrou presa a cinco
netos para criar, e você provavelmente não precisava de todos eles
sob os pés...
— Oh, Deus, não era isso! — Seus olhos azuis se
aprofundaram na tristeza. —Você não vê, meu rapaz? Eu empurrei
minha filha para se casar com seu pai. Depois que terminou em
desastre, eu percebi que nunca tinha lhe dado uma escolha, seu avô
e eu o arrastamos para a cervejaria e dissemos-lhe que era o seu
futuro.
—Era um futuro que eu queria.
—Você tinha treze anos. O que sabia? Nunca tivera outra
escolha mostrada a você. Eu queria que visse o mundo que estava
disponível para você antes que entrasse no negócio da cervejaria.
Eu queria que você tivesse as mesmas vantagens que qualquer
cavalheiro de sua idade, uma boa educação, uma oportunidade para
algo maior.
Um mês atrás, ele teria a atacado por isso. Ele teria dito a ela
que Eton era o último lugar para se enviar um menino de luto cuja
família havia sofrido um escândalo e que precisava de lugares
familiares e pessoas familiares ao seu redor.
Mas isso fora antes de conhecer Annabel. Agora ele entendia
que as mães e avós, às vezes faziam os sacrifícios errados aos seus
filhos. Porque eles tinham recursos limitados ou conhecimento
limitado. Ou simplesmente porque estavam com medo.
Isso não queria dizer que os amava menos. Às vezes, isso
significava que os amava mais. —Você fez o que achava que era
certo. — ele disse baixinho, percebendo que qualquer ressentimento
que sentira por ela sobre o passado se fora. —Eu não a culpo por
isso.
Ela piscou para conter as lágrimas, em seguida, empurrou o
contrato de volta em seu colo e continuou a ler. —É um acordo
sólido, com muitas vantagens para nós.
—Eu sei.
Uma gargalhada escapou. —Patife arrogante, não é?
—Tem me sido dito.— Enquanto ela continuava a ler, ele
abordou um assunto que ele estivera adiando. —Gran, pretendo
continuar administrando a cervejaria após o final do ano.
Ela ficou lendo, mas suas mãos tremiam um pouco. —Eu
suponho que poderia ser arranjado.
—E você vai se aposentar.
Isso ganhou toda sua atenção. —O quê? Você não vai me
colocar para o pasto, Jarret Sharpe.
—Não, na verdade. Você é valiosa demais para isso. Pretendo
usar seus conhecimentos sempre que puder. —Como isso parecia
acalma-la, acrescentou gentilmente:— Mas o negócio da cerveja é
para os jovens. Você sabe disso, ou não teria me pedido para entrar
em cena —Ele lançou-lhe um olhar virado.— Além disso, se o seu
plano pouco tortuoso funcionar, você terá todos casados, e em breve
você terá bisnetos para mimar. Você não terá tempo para Plumtree.
Ela digeriu um momento. —Acho que você ainda desaprova
meus métodos.
—Eu o faço. Eu suspeito que no fim, isso vai lhe dar dor de
maneira que você não tinha previsto.
Com uma fungada, ela voltou para a leitura do contrato.
Quando terminou, ela pôs de lado. —Você acredita Lake Ale vai
cumprir seu lado da barganha?
—Eu não tenho nenhuma dúvida disso. Annabel irá certificar-
se de que até o façam.
— Annabel?— ela perguntou, suas sobrancelhas elevadas.
Ele hesitou. Mas ele já havia decidido que tinha que tentar
novamente com Annabel. Ela era tudo que ele queria. —Você
gostaria dela. Ela é parecida com você, na verdade, teimosa e
obstinada e uma praga de uma mulher. Com um coração tão vasto
quanto o oceano.
—Então por que você não se casa com ela?
—Eu propus, mas ela recusou.
—O quê?— Ela fez uma careta. —Bem, então eu não acho
que ela seja ideal para você. Soa como uma tola para mim, e você
não deve se casar com uma idiota.
—Ela não é boba, confie em mim. Um pouco arisca. E sua
vida é ... complicada.
—Bem, então descomplique isso.— Ela esfaqueou um dedo
no contrato. —Se você conseguiu um negócio como este, você pode
descomplicar a vida de qualquer cervejeira provinciana que gasta o
seu tempo para cuidar dos filhos de seu irmão, e não teve um
homem em sua vida desde que seu noivo morreu na guerra.
Ele piscou. —Como você sabe tudo isso?
Ela levantou seu queixo. —Eu tenho fontes, lembra?
Que Deus ajude a todos. Sem contar que outros segredos que
ela tenha dragado.
Ele estava prestes a incitar ainda mais quando um tumulto no
escritório exterior chamou a atenção. Croft soltou um grito, e um
menino entrou correndo, seus olhos selvagens.
—George?— Jarret disse enquanto ele saltava da cadeira,
seu coração trovejando. O que o rapaz está fazendo ali? E isso
significava que Annabel estaria, também?
Croft correu para pegar o pobre rapaz pelo colarinho. —
Perdoe-me, senhor, mas o moleque me chutou e passou por mim. Eu
juro...
—Deixe-o ir, Croft. Eu o conheço. Deixem-nos.
Croft ergueu as mãos, murmurou algo vagamente insultuoso,
e marchou com firmeza para fora. George parecia um pouco pior
devido ao cansaço, com as roupas amarrotadas, seu cabelo
despenteado,e seus sapatos enlameados. E que eram essas
migalhas de bolo em seu casaco?
Tão logo Croft fechou a porta, George disse, sem preâmbulos:
—Você sabia que eu era um bastardo, e não me disse!
O olhar de traição em seu rosto fez uma torção no intestino de
Jarret. Dane-se tudo para o inferno. —Eu não sabia que até a noite
antes de eu ir, quando sua tia...
—Minha mãe, você quer dizer. Você pode dizê-lo. Ela é minha
mãe.
Gran pigarreou. Em horror, George olhou para vê-la sentada
ali, e seu rosto ficou vermelho.
—George, esta é a minha avó, a Sra. Hester Plumtree. Gran,
este é George Lake, o...
—Filho— George terminado, sua postura beligerante. —Seu
filho bastardo.
Gran piscou, então se levantou. Chegando-se a George, ela
estendeu a mão. —Prazer em conhecê-lo, George. Já ouvi muitas
coisas boas sobre a sua mãe.
O rapaz olhou para ela, obviamente, não completamente certo
do que fazer. Por fim, ele pegou sua mão e apertou-a, um pouco
cauteloso.
—Gran, você poderia nos dar um momento?— Disse Jarret.
—George e eu precisamos ter uma conversinha.—
—Certamente.— Ela lançou-lhe um olhar furtivo.—Esta é uma
dessas complicações você estava falando?
—Você pode dizer isso.— E ela ia esperar mais detalhes mais
tarde.
Assim que ela se foi, Jarret disse: —É bom ver você, George,
mas onde está a sua família?
—Em Burton.—O queixo do rapaz tremia, como se estivesse
segurando-se com grande esforço. —Eu vim para Londres sozinho.
Eu fugi.
—Meu Deus, rapaz, você está maluco? Eles devem estar
loucos de preocupação agora.
Ele estendeu o lábio inferior. —Eles não se importam.— Sua
voz se tornou amarga. —Eu sou apenas um bastardo e um
embaraço para a família.
—Oh, George. Tenho certeza de que eles não dizem isso de
você.
—Não, eles não me dizem nada. Ninguém nunca me diz nada.
Ouvi-os falar sobre isso, sobre como... tia Annabel recusou sua
proposta por causa de mim, e eu vim aqui imediatamente. —Um
olhar de desespero brilhou em seu rosto. —Você tem que se casar
com ela!
Jarret levantou uma sobrancelha. —Eu já propôs casamento e
ela me recusou, rapaz.
—Isso é só porque ela está envergonhada que as pessoas
vão saber de mim. Mas eles não vão, porque eu não vou deixá-la
contar a ninguém. Você vai se casar com ela e levá-la para Londres,
p-pois assim tudo pode voltar a c-como era antes.
A forma como o rapaz estava tão tenso, com as mãos
fechadas em punhos e os olhos desesperados, fizeram algo no peito
de Jarret. —Sinto muito, George, mas nunca poderá voltar a ser
como era antes. Você não pode desfazer nada. Mesmo que ninguém
mais saiba, você saberá. Você não será capaz de tirar isso da sua
cabeça.
—Sim, eu vou! Você tem que se casar com ela, então tudo
pode ficar na mesma.— Ele firmou seus pequenos e ossudos
pequenos. —Se me obrigar, eu vou fazer você se casar com ela.
Jarret piscou. —Oh? E como você vai fazer isso?
— Eu vou desafiá-lo.
Custou a Jarret um esforço imenso para engolir o riso. —
Usando que arma?
—Eu estava esperando que você tivesse uma pistola de duelo
extra que eu poderia pedir emprestado.
— Entendo. Você sabe mesmo como disparar uma arma?
George inchou seu peito. —Eu acertei uma ave quando fui
caçar com o avô.— Uma carranca conturbada tocou a testa. —Bem,
eu suponho que ele não é realmente o meu avô já que ele não é o
pai da tia Annabel...
—Você vê, George?— Jarret disse suavemente. —As coisas
não podem voltar a ser como eram. Você sabe muito agora.
—Mas eu não quero saber!— Ele gritou. —Eu n-não quero n-
não ter pai e nenhuma irmã ou irmão e n-não-avós
Jarret estava ao lado de George em um instante, puxando o
menino em seus braços. —Está tudo bem, rapaz. Vai ficar tudo bem,
eu juro. Não neste momento, talvez, mas com o tempo.
—É n-nunca vai dar tudo certo!— George lamentou. —Eu sou
um bastardo, e não há nada que eu possa fazer sobre isso.
—Isso é verdade.— Ele puxou o menino para o sofá perto da
janela e puxou-o para sentar-se, então se sentou ao lado dele com o
braço sobre seus ombros. —Mas isso não tem que moldar sua vida,
se você não quiser.— Do jeito que ele deixara sua raiva e dor sobre
seus pais mortos moldar sua vida. —E eu sei que sua mãe não se
importa se você é bastardo.
—Não a chame assim! Ela não é minha mãe. Eu não vou
deixá-la ser minha mãe.
—Essa escolha é sua, é claro. Você pode continuar a viver na
mentira. Mas há uma chance de que isso vá machucá-la
profundamente.
Seu lábio inferior tremeu. —Ela deve ser ferida. Ela mentiu
para mim. Todos eles mentiram para mim.
—Sim. E eu posso ver que está muito zangado. Mas eles
estavam tentando protegê-lo de pessoas que são estúpidas e
ignorantes. Eles não estão envergonhados de você. Eles só não
querem que você seja envergonhado.
Ele apertou o menino. —Eu sei que é fato que sua mãe te
ama muito. A maioria das senhoras, quando tem um filho fora do
casamento, entregam-no para ser criado por outra pessoa. Então,
elas podem continuar a viver suas vidas como bem entenderem, se
casar como bem entenderem. Mas ela não fez isso. Ela desistiu da
chance do casamento e ter uma família e casa próprias para que
pudesse estar perto de você, para ver você crescer, para cuidar de
você.
George engoliu. —Eu continuo a achar que ela devia ter me
contado. Minha mãe e pai deveriam ter contado.
—Sim, eles provavelmente, deviam. Mas às vezes os adultos
não sabem o que é o melhor a fazer para as crianças. E considere
que a maioria das crianças só tem uma mãe. Perdi minha mãe
quando tinha a sua idade. Você sabe como eu estou com ciúmes de
você por ter duas mães que adoram você e se gabando quão
inteligente você é? Você tem muita sorte.
George fez uma careta para ele.
—Eu suponho que você não esteja se sentindo muito feliz
agora, mas a hora vai chegar.
—Isso significa que você não vai se casar com a tia... minha mãe?
Jarret sorriu. —Que tal isso? Se você esquecer o duelo, eu
vou pedir a sua mãe de novo para se casar comigo. Mas se ela me
recusa, não há muito que eu possa fazer. Você apenas tem que
aceitar sua decisão. Você pode fazer isso?
—Eu suponho.— Ele se ocupava da borda de seu casaco com
as mãos. —Isso quer dizer que você vai me levar de volta para
Burton?
—Na verdade, eu imagino que sua família já está a caminho
daqui.
—Eles não sabem que eu vim para Londres. Eu não deixei um
bilhete ou qualquer coisa.
—Eu ouso dizer que isso não vai detê-los. — disse ele
secamente. —Se eu conheço a sua mãe, ela já tem intimidado cada
cidadão de Burton para encontrar alguém que pudesse dizer-lhe
aonde foi.
George sacudiu a cabeça vigorosamente. —Toby Mawer não
dirá. Dei-lhe meu relógio.
— Toby Mawer... não é ele o sujeito que você chamou seu
arqui-inimigo?
—Sim.
—Nunca confie em um arqui-inimigo, rapaz. Estamos melhor
enviando um expresso para Burton dizendo-lhes que você está
comigo. Eu odiaria ir lá e perdê-los por estarem vindo em nosso
direção.— Ele deu um tapinha no ombro do rapaz. —Além disso, eu
quero que você conheça minha família. Apenas no caso deles se
tornarem sua família, também.
O rosto de George brilhou. —Se você se casar com a minha
mãe... , você seria meu pai, não é?
—Padrasto, sim. E meu irmão Gabe, aquele que corre com
cavalos, seria seu tio.
Na verdade, você ganha dois tios, duas tias e uma bisavó.
Não é tão bom quanto um irmão e irmãs, talvez, mas seria algo
assim.— Ele lançou ao garoto um olhar malicioso. —Claro, isso é só
se você optar por viver em Londres com sua mãe, e que todos
saibam que você é um bastardo. Eu não vou te culpar se você não
quiser isso.
Deixando George a ponderar, levantou-se e chamou Croft.
Assim que o funcionário entrou, deu-lhe instruções sobre o envio de
uma carta expressa aos Lake em Burton.
Gran entrou na sala atrás dele. —Quando foi a última vez que
comeu, George?— Não há dúvida de que ela estivera escutando à
porta e sabia de tudo.
George encolheu os ombros. —Uma senhora no ônibus me
deu um bolo hoje de manhã depois fiquei sem dinheiro.
A tensão tomou conta de Jarret ao pensamento de Geordie no
ônibus sozinho. Qualquer coisa poderia ter acontecido com ele.
—Por que eu não vou buscar-nos alguns pastéis da loja de
cozinheiro na esquina?— Vovó disse. —Isso deve segurar o rapaz
até que possamos levá-lo para casa para um jantar de verdade.
—Obrigado, vovó.
Depois que ela saiu, Jarret sentou-se atrás da mesa. —Então
me diga como você conseguiu a viagem para Londres.— Depois de
George relatou seu conto de ingenuidade incrível, Jarret balançou a
cabeça. —Você é um jovem inteligente, George Lake. Inteligente
demais para seu próprio bem, às vezes.— Ele lançou ao garoto um
olhar severo. —Você sabe que eu vou ter que puni-lo por esta
excursão perigosa. Nós não podemos ter você se arriscando assim
novamente e assustando sua família até a morte.
—Punir a mim?— George chiou. —Isso é o que os pais
fazem, não é?
Primeiro confusão, então raiva atravessaram o rosto de
George, mas Jarret podia ver um pouco de alívio lá, também. George
era um menino inteligente, afinal de contas. E os meninos
inteligentes queriam alguém a controlá-los quando eles fazem algo
errado.
Ele tomou o silêncio de George como aprovação. —Bem,
então vamos ter que pensar em algo adequado. Talvez um dia
ajudando a limpar a sujeira para fora dos estábulos da cervejaria
pode funcionar.
—Sim, senhor. — disse George, com um pouco mais de
entusiasmo do que se justificava.
Jarrett escondeu um sorriso. George teria uma surpresa se ele
achava que iria encontrar puros-sangues nos estábulos da Plumtree.
Havia apenas alguns grandes cavalos de carga, muito maçantes que
produziram uma quantidade prodigiosa de estrume. Seria
definitivamente um castigo que George iria lembrar.
—Eu tenho uma pergunta, senhor.
—Faça.
—Como é que você pretende convencer a tia Annabel...
minha mãe, eu quero dizer... a casar com você?
—Eu não tenho ideia. Alguma sugestão?
George franziu a testa, levando claramente a ideia a sério. —
Você deve começar por dizer-lhe o quão bonita ela é. Meu pai, quero
dizer, meu tio, sempre faz isso quando ele quer algo de minha ... a
minha ...
—Essa é uma excelente ideia! — disse Jarret suavemente.
—Diga a ela que ela é inteligente, também. — Geordie
ofereceu.— Ela não é como as outras mulheres, você sabe, ela acha
a si mesma inteligente, e ela fica ofendida se você diz o contrário.
Isso porque ela era inteligente. Jarret amava isso nela.
Amava?
Ele rolou a ideia em sua mente e percebeu que ele estava
falando sério. Ele tinha estado tão ocupado segurando-se a velha
maneira de viver - que não funcionava, realmente nunca tinha
funcionado - que ele não tinha enxergado a verdade olhando na cara
dele.
Ele a amava. Não queria ficar sem ela. Doía demais ficar sem
ela.
Ele não se importava em proteger seu coração por mais
tempo. Ela estava certa, alguns riscos valiam a pena.
—Eu suponho que iria ajudar contar a ela que eu a amo. —
disse Jarret.
George franziu o rosto. —Se você tiver que. Isso é muito
piegas. Mas eu acho que as senhoras gostam desse tipo de coisa.
Jarret reprimiu um sorriso. —Na minha experiência, eles
praticamente esperam isso em uma proposta de casamento.
George suspirou. —As mulheres são um monte de problemas,
não são?
—Sim.— Ele olhou para o menino que ele esperava criar logo.
Engraçado como o pensamento não o fez entrar em pânico. —Mas
acredite em mim, rapaz, elas valem a pena. Elas definitivamente
valem a pena.

Capítulo Vinte e sete


A viagem para Londres parecia interminável. Eles o fizeram
em 17 horas, o que era nada menos que um milagre. Hugh não
poupou nenhuma despesa. Como Geordie tinha várias horas de
vantagem a bordo de um coche-correio que podia ir muito mais
rápido do que o coche de Hugh, que estavam preocupados com a
quantidade de tempo que ele estava deixado à sua própria sorte em
Londres.
Ela quase chorou de alívio na sua primeira parada, na
cervejaria, o único lugar que eles sabiam que ele poderia ir produziu
a informação de que Geordie estava seguro na casa da cidade de
Mrs. Plumtree. Mr. Croft mesmo acompanhou-os até lá, a fim de
encaminhá-los, uma gentileza que Annabel não poderia deixar de
agradecer a ele.
Mas à medida que se aproximavam da casa na agitada
Mayfair, seus pensamentos se voltaram para um outro problema. Se
Geordie sabia a verdade agora, ele estaria com raiva. Como eles iam
lidar com isso? O que ela ia dizer?
Ocorreu-lhe que Jarret poderia estar lá também, que ela iria
vê-lo novamente, mas empurrou esse pensamento muito baixo em
sua mente. Ela podia lidar com apenas um desastre iminente de uma
vez.
Eles chegaram à casa da Sra. Plumtree pouco depois das dez
da manhã, onde foram imediatamente conduzidos a uma elegante
sala de jantar. Lá eles encontraram Geordie rodeado pela família de
Jarret, sendo mimado e mimado, alimentado com peixe defumado e
ovos e cada delicadeza que o menino adorava no café da manhã.
Ela reconheceu Lady Minerva e Lorde Gabriel, e assumiu que a outra
jovem seria Lady Celia e a mulher idosa era a avó de Jarret.
Jarret se sentou ao lado Geordie, brincando com alguma coisa
a ver com cavalos.
Geordie os viu, e por um momento, a alegria deu um salto em
seu rosto. Em seguida, ele desapareceu em uma expressão
preocupada que cortou seu coração. Especialmente quando ele
puxou seu olhar para o prato, recusando-se a olhá-la.
Ele sabia a verdade, de qualquer forma. Ela tinha perdido sua
confiança, e ela não sabia como obtê-la de volta. Jarret levantou-se,
com os olhos suaves, enquanto punha a mão no ombro de Geordie.
—Você vê, George, é como eu disse a você. Eles provavelmente
nem sequer receberam a carta expressa enviei. Eles devem ter
deixado lá por muito tempo antes dela chegar. Eles estavam
preocupados com você.
— Aterrorizados, na verdade. — Annabel sufocou. Geordie
apenas continuou a olhar para o prato.
Ela queria correr e tomá-lo nos braços para um abraço
esmagador, mas ela estava com medo que só iria piorar as coisas.
Jarret suavizou o momento, fazendo apresentações. Então ele
virou-se para sua avó e disse: —Eu acho que nós devíamos deixar
os Lake um momento a sós.
—Eu quero que você fique, Lorde Jarret. — Geordie
protestou. —Se estiver tudo bem para você.
Quando Jarret olhou para Annabel, ela concordou. Geordie
sempre o idolatrou, e embora ferido, seu filho corria para Jarret em
vez dela depois de ouvir a verdade, ela aceitaria qualquer coisa que
possa fazer este encontro mais fácil.
Jarret retomou seu assento enquanto sua família se levantava
e saía da sala, com os olhos cheios de curiosidade à medida que
passavam por ela e Hugh. Hugh apertou seu braço encorajando
enquanto caminhavam para se sentar em frente a Geordie.
—Como você sabia que eu estava aqui?— Geordie perguntou
em voz baixa, ainda não olhando para eles. Annabel lutou para
manter a calma. —Toby Mawer tentou vender o relógio que você deu
a ele, e o proprietário da loja viu a inscrição. Quando Hugh ameaçou
prender Toby, ele admitiu que tinha ido a Londres para ver ‘algum
nobre’.
Geordie olhou para Jarret. —Você estava certo, senhor.
Nunca confie em um arqui-inimigo.
—Eu não acho que você percebe a enormidade do que fez,
rapaz. — Hugh disse rispidamente. —Você assustou sua mãe e a
mim até a morte!
O olhar de raiva de Geordie disparou a Hugh. —Qual mãe? A
pessoa que fingia ser minha mãe, enquanto todos vocês mentiam
para mim? Ou a que realmente me deu à luz?
Como Annabel vacilasse diante do tom agudo de Geordie,
Hugh soltou uma maldição, mas quando ele começou a falar, ela
colocou a mão em seu braço.
—Ambas. — disse Annabel. —Estávamos todos petrificados
de medo. Fiquei imaginando você deitado em uma vala em algum
lugar, espancado e sangrando e sozinho.
Quando ela rompeu com um soluço, Geordie olhou para ela
pela primeira vez. —Sinto muito. E-eu não deveria ter fugido.
Ela estendeu a mão sobre a mesa para sua mão, mas ele
empurrou-a de volta. Seu coração se afundou. —Eu sei que te
machuquei profundamente, escondendo a verdade de você. Eu
deveria ter contado que sou sua mãe há muito tempo. Mas eu estava
com tanto medo que você...
Sua respiração ficou presa na garganta, e ela teve que engolir
antes que pudesse continuar. —Eu tinha medo que você me odiasse.
Que você nunca iria me perdoar por ter mentido para você. E eu te
amo tanto que eu não podia suportar você me odiando.
Seu queixo começou a tremer, e ele baixou o olhar para o
prato novamente. —Você está envergonhada de mim, todos vocês.
Eu ouvi você dizer s-seu irmão, que se casasse com Lorde Jarret e
me levasse para Londres, eu iria envergonhar todos.
Lembrava-se vagamente dizendo algo como isso, mas ele
estava tomando tudo errado. —Me desculpe, eu não quis dizer isso.
Eu estava pensando que eu não tinha o direito de expor Hugh e
Sissy a calúnia pública, afirmando-o como meu filho.— Sua voz
tremeu. —Mas não era você quem eu estava preocupado que iria
constrangê-los. Era eu.
Geordie levantou o olhar para ela, parecendo
verdadeiramente perplexo. —Por quê?
—Em uma situação como esta, não é o filho ilegítimo que as
pessoas culpam, é a mãe. Eles a vêem como... perversa. Eles vêem
a família como ímpia por encobrir sua indiscrição. Não me importo se
eles me chamarem prostituta pelas minhas costas, mas eles também
vão ser maus com Hugh e Sissy. Eu não sinto que tenha o direito de
fazê-los passar por isso.
Ela pegou a mão de Hugh. —Meu querido irmão me garantiu
que eles não se importam nem um pouco o que as pessoas dizem.
Mas não era só eles que me preocupam. Eu me preocupava em
como você se sentiria, também.— Ela baixou a voz. —Eu pensei que
você poderia se ressentir. Odiar-me por fazer-lhe objeto dos
comentários cruéis das pessoas.
— Eu não te odeio. — Geordie disse em voz baixa. —Eu
nunca poderia odiá-la.— Alívio correu por ela.
—O que eu não entendo, garoto, — Hugh disse—É por que
você veio aqui. O que em nome de Deus você achou que Lorde
Jarret poderia fazer?
Jarret encontrou o olhar de Annabel com um olhar tão gentil
que fez sua garganta fechar-se. —Ele tinha a ideia de que se eu me
casasse com você e te levasse para Londres, então tudo poderia
voltar a ser como era antes. Eu acredito que o jovem George está
particularmente preocupado com o fato de que, como ele vê, ele já
não tem irmãs e um irmão ou avós. Ou um pai.
O coração de Annabel quebrou. Ela ainda não tinha
considerado que ele podia sentir que tinha perdido a maior parte de
sua família em uma só penada. Ainda assim, pior era que ele
gostaria de se livrar dela ao invés de perdê-los. Era exatamente o
que ela estava com medo.
—Você sempre será meu filho no meu coração, menino. —
Hugh disse ferozmente. —Eu não me importo com o que acontece. E
eu sei que Sissy sente o mesmo.
—Geordie— Annabel disse, forçando-se a falar as palavras —
ainda podemos voltar a ser como era antes.— Ela engoliu as
lágrimas, decidido a não deixá-lo vê-los. Isso já era o bastante para
ele. —Você vai me chamar tia Annabel e eles vão ser seus pais, e
tudo vai ser como era.
— Não. — Geordie disse com firmeza. Seus olhos
embaçaram enquanto ele a olhava. —Lorde Jarret disse que não
podemos desfazer algumas coisas, e ele está certo. Eu não posso
voltar. Nós não podemos voltar atrás. Temos que ir em frente.— Ele
olhou para Jarret. —Você vai perguntar a ela?
A mudança abrupta de assunto jogou Annabel fora do
compasso, até que ficou claro para ela do que ele devia estar
falando.
—Sim. — disse Jarret, seu olhar travado com o dela — mas
não é algo que eu estou preparado para fazer diante de uma plateia,
rapaz.— Ele olhou para Hugh. —Mr. Lake, você e eu tivemos uma
discussão na noite antes de eu sair de Burton, e eu disse que não
sabia o que queria. Agora sei. Então, se você não se importa de
tomar conta de George por um momento, e deixar-me falar com
Annabel sozinho para...
—É claro! — Hugh disse.
Quando Geordie veio ao redor da mesa para encontrá-lo,
Annabel não aguentou mais. Levantou-se para agarrá-lo e segurá-lo
perto.
Por um momento, ele permaneceu rígido em seus braços.
Então seus braços vieram ao seu redor, e ele apertou a cabeça
contra seu ombro. — Vai ficar tudo bem, Mãe. — ele sussurrou. —
Realmente, vai.—Mãe. Lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ela
esperou tanto tempo para ouvi-lo chamá-la assim, e foi a coisa mais
linda que ela já tinha ouvido.
Ela observou-o até que ele foi até a porta, tentando não fazer uma
boba absoluta de si mesma. Então, ela sentiu Jarret imprensar algo
em sua mão. Um lenço.
—Você estava certa. — disse ele em voz baixa. —Você chora
muito.
Sua pena era quase tão dolorosa para ela quanto a distância
de Geordie tinha sido. Ela sabia o que estava por vir, depois de tudo.
Enxugando as lágrimas, ela virou-se para encará-lo. —Jarret, eu sei
que você sente pena de mim agora, e provavelmente se sente
obrigado a...
—Não me diga o que eu sinto. — disse ele, com a voz firme.
Ele puxou sua cadeira. —Sente-se, querida. Eu preciso te contar
uma história.
Ela piscou, mas fez o que ele pedia. Ele tomou a cadeira ao
lado dela e virou-o para que eles ficassem de frente um para o outro,
os joelhos tocando.
—Era uma vez um menino que adorava ir à cervejaria dos
seus avós mais do que qualquer coisa no mundo. Ele gostava do
cheiro perfumado de lúpulo e a cor dourada da cevada enquanto
assada. Ele teria vivido lá, se seus avós tivessem deixado.
Ele tomou-lhe as mãos. —Depois que seus pais morreram em
um acidente terrível, e sua avó viúva de repente teve cinco crianças
para criar, algo que não tinha planejado, ao mesmo tempo tendo que
administrar uma cervejaria. Ela fez o seu melhor por eles, mas a
cervejaria tinha de ser a prioridade, uma vez que era a fonte da
maior parte da renda familiar. O mais velho, o herdeiro da
propriedade, já estava na escola, a menina mais velha tinha uma
governanta, e as duas jovens estavam ainda no berçário, então eles
tinham uma babá. Mas o segundo filho era uma questão difícil.
Annabel respirou fundo ao dar-se conta do que ele estava
fazendo.
Ele olhou além dela para a janela. —Ele estava acostumado a
passar parte do dia na cervejaria, mas sua avó decidiu que seria
melhor para ele ir para a escola com seu irmão mais velho. Ela disse
que ele devia ser um advogado ou um clérigo ou um soldado, algo
condizente com sua posição. E não importou o quanto ele implorou
para ser autorizado a permanecer na cervejaria, ela se recusou.
— Oh, Jarret. — ela disse suavemente, sentindo a dor que ele
devia ter sentido, ao perder sua família e seu futuro em um curso.
Sua voz ficou grossa com emoção. —Ele não gostava da
escola. Os meninos zombavam dele pelos boatos infames sobre a
morte de seus pais, e ele sentia saudades da propriedade que sua
avó fechara depois do acidente. Felizmente ou infelizmente,
dependendo de como você olha para isso, ele descobriu que ele era
bom em jogos de azar, que poderia manter os encrenqueiros em seu
lugar com suas proezas nas cartas. Seu pai lhe ensinou a jogar. Foi
o único remanescente de sua antiga vida, e ele precisava
desesperadamente de algo para se apegar a partir disso.
Um longo suspiro escapou dele. —Você me perguntou uma
vez como eu me tornei um jogador. Foi assim que tudo começou.
Talvez fizesse sentido para um menino de treze anos, que perdeu
sua família, devido ao que ele sofria uma dor física cada vez que
pensava deles.
—Mas eu deixei-me levar até além do tempo, mesmo sendo
velho o suficiente para saber das coisas. Estava plenamente
abraçada a Madame Sorte, e porque eu já sabia que ela era uma
amante inconstante, eu era imune à dor que ela poderia me causar.
Então me propus a fazer-me imune à dor que as pessoas poderiam
causar. Isso foi fácil. Era só fazer com que elas nunca chegassem
perto o suficiente para me machucar.
Ele olhou para suas mãos, esfregando os polegares
suavemente sobre os nós dos dedos. —Depois eu te conheci. Você
era teimosa e bonita e inteligente como o inferno, e você me fascinou
desde o momento em que você entrou como que dançando no
escritório da cervejaria. Entrei em pânico, como os homens
costumam fazer, quando de repente eles vislumbram um futuro muito
diferente do que eles imaginavam para si. Eu fiz uma série de coisas
estúpidas enquanto tentava prendê-la ao comprimento do braço e
me convencer de que eu não podia cuidar de você. Que eu não me
importava com você.
Seu olhar se levantou para atender o dela, aprofundando para
aquela cor do oceano que ela sempre adorou. —Mas eu me importo.
— Ele levou suas mãos aos lábios e beijou-as. —Eu te amo, Annabel
Lake. Eu amo o jeito que você cuida de todos ao seu redor. Eu amo
o quão duro você luta pelo seu filho. E acima de tudo, eu amo isso,
quando você olha para mim, sem ver como sou, mas como eu posso
ser. Se eu pudesse só encontrá-lo no meu coração.
Lágrimas rolaram e ela lutou contra eles, não querendo
estragar o momento. Mas era difícil, pois era quando ela se sentia
muito, muito feliz que ela chorou mais.
Ele sorriu seu sorriso de covinhas. —Bem, eu encontrei algo
em meu coração, meu amor, e é você. Você preenche-o tão
completamente que eu não preciso de mais nada.— Seu olhar virou
solene. —Eu não quero mais ser o rio. Eu quero ser a terra que as
raízes da árvore adentram. E eu acredito que eu possa, se você for a
minha árvore. Você aceita?
Era demais. Ela começou a chorar, mas ela sorriu para ele
saber que eram lágrimas de felicidade. —Essa proposta ... é muito
superior... a última. — ela engasgou entre soluços. —Eu gostaria
muito amor, ser sua árvore.
Ele a beijou com tanta ternura, tão docemente, que seu
coração preenche-se com ele, também. E foi tudo mais precioso,
porque ela sabia que não era apenas um prelúdio para fazer amor.
Ele a amava. Ele realmente a amava! E queria casar com ela,
apesar de... Ela o empurrou de volta. —E Geordie?
Ele tirou o lenço dela e enxugou as lágrimas. —Ele e eu
temos discutido o assunto, e nós pensamos que viemos acima com
uma excelente solução para o problema de todos.— Ele se levantou,
puxando-a para seus pés. —Mas eu quero que você ouça isso dele.
Ou melhor dele e Gran, já que são os que conceberam isso.
Sua avó seria parte de uma solução para o problema da
bastardia de Geordie? Incrível. Talvez ele estivesse certo quando
disse que ela não se importava.
Annabel deixou-o levá-la para o salão onde, obviamente, toda
a família estava. Quando Lady Minerva lançou-lhe um sorriso,
Annabel corou. Oh, Senhor, eles eram tão ruins quanto Geordie,
ouvindo atrás das portas.
— Tudo bem, George. — Jarret disse— É a sua vez. Conte a
Annabel seu plano para onde você deve viver.
Geordie respirou fundo enquanto a enfrentava. —Bem,
lembra-se quando você disse que eu deveria ir para a escola?
Quando isso acontecer, Harrow está a seis quilômetros de Ealing, e
eles aceitam alunos diários. Sra. Plumtree diz que eu poderia viver
em Halstead Hall com você e Lorde Jarret, e ir para a escola todos
os dias.
—Ninguém acharia estranho que o rapaz vivesse com sua tia
e tio, enquanto vai a escola,— Sra. Plumtree apontou. —Eles nunca
precisaram saber da verdadeira relação com qualquer um de vocês,
se é isso que ele prefere.
—E, francamente,— Jarret colocou—seria melhor não ficar
em instalações de internato.— Dado o que Jarret tinha contado sobre
a sua própria experiência na escola, ela entendeu por que ele se
sentiria assim, embora Geordie pudesse preferir.
—Para os feriados, é claro, eu iria para casa de Burton. —
Geordie continuou, com um olhar furtivo para Hugh. —Se eles me
quiserem lá.
—É claro que nós o queremos, garoto. — disse Hugh. —Sissy
sentiria-se desolada se ela tivesse que se desfazer de você por
completo.
Geordie enfiou as mãos nos bolsos do casaco. —Então, o que
você acha? Ninguém teria-me o tempo todo, mas eu estarei com
todos em algum tempo.
Annabel olhou para o seu querido filho, depois para o homem
que ela amava mais do que a vida. Ela realmente achava que
poderia desistir de um deles pelo outro? Ela devia ter estado louca. E
graças a Deus que eles encontraram uma solução para que ela não
precisasse fazê-lo.
—Eu acho que é brilhante! — disse ela, as lágrimas
ameaçando novamente. —Absolutamente brilhante.
—Ele é um menino inteligente, nosso George. — disse Jarret,
deslizando um braço ao redor da cintura. —Mas, então, a sua mãe é
inteligente, também. É por isso que ela finalmente consentiu em ser
minha esposa.
Enquanto o salão explodia com parabéns e aplausos de
todos, Annabel não sabia se corava ou apenas começava a chorar
de novo. Ela estava tão feliz, não sabia se seu coração poderia
suportar.
Quando o barulho cessou, Lady Minerva disse: —Você está
satisfeita agora, Gran? Não só Jarret irá administrar a cervejaria,
mas vai casar também, e ganhou um novo bisneto no negócio.
Certamente que isso irá satisfazer a sua sede de nos ver casados.
Gran esticou o queixo. —Ainda faltam três, minha garota.
—Gran!— Lorde Gabriel protestou. —Você está sendo
irracional!
—Desista, Gabe. — Jarret comentou. —Você sabe como Gran
é quando ela define sua mente para alguma coisa. Ela não vai ser
demovida sobre isso. — Ele olhou para a Sra. Plumtree. —E por falar
em mover, talvez devêssemos mudar esta celebração para o salão.
Gran esteve de pé por muito tempo, e ela está parecendo um pouco
cansada agora.
—Eu não estou! — ela disse, mas Annabel percebeu que ela
não lutou quando Lady Celia e Lorde Gabriel correram para o seu
lado e cada um tomou um braço para guiá-la pelo corredor.
Lady Minerva parou ao lado de Jarret. —Isso significa que
você se tornou um traidor como Oliver, e está do lado de Gran?
Jarret sorriu. —Não. Acho que ela tem boas razões, mas ela
está fazendo tudo errado. Então, se você encontrar uma maneira de
lutar contra o ultimato dela, eu vou apoiá-la em cada passo. —Ele
lançou-lhe um olhar considerativo. —Eu estava pensando que deve
consultar Giles Masters sobre os aspectos jurídicos do mesmo. O
que você acha?
—Isso?— Disse Lady Minerva. Um rubor inexplicável
manchou suas bochechas. —Eu não posso imaginar o bem que ele
possa fazer.
—Ele é um advogado brilhante.
—Em sua própria mente, talvez. — ela atirou de volta, e se
virou para ir embora. —Mas como você queira. Ele é seu amigo.
—O que foi aquilo?— Annabel disse enquanto Jarret olhava
sua irmã andar para fora. Ele franziu a testa. —Eu não tenho certeza.
Hugh olhou de Annabel para Jarret. —Parece que você e eu
vamos ter uma conversa muito profunda sobre liquidações e
dinheiro, meu senhor.
—Eu diria que é uma necessidade. — disse Jarret —
Especialmente agora que estamos todos a ficar um pouco mais ricos.
— Quando Hugh pareceu perplexo, ele acrescentou: —Os capitães
das Índias Orientais decidiram levar dois mil barris de sua pale ale,
junto com algumas centenas de algumas variedades da Plumtree.
Espero que com o tempo, vamos tê-los comprando ainda mais.
Hugh ficou ali, atordoado. Annabel girou em direção a Jarret
com um pequeno grito e encheu-o de beijos. —Você fez isso! Ah, eu
sabia que podia fazê-lo! Você é o cervejeiro mais brilhante na
Inglaterra!
Um largo sorriso dividiu o rosto de Hugh. —Obrigado, meu
senhor, por nos ajudar.
Ele estendeu a mão para Jarret, que o tomou e sacudiu com
entusiasmo. —Eu vou te contar tudo sobre isso. — disse Jarret, —
mas primeiro quero um momento a sós com a minha futura esposa.
Com um aceno de cabeça, Hugh colocou o braço sobre o
ombro de Geordie. —Vamos, filho. Vamos dar aos pombinhos um
pouco de privacidade.
Assim que todo mundo deixou o hall, Jarret puxou-a para a
sala de jantar deserta. Ele puxou-a em seus braços e beijou-a, desta
vez com substancialmente mais calor do que antes.
Depois que ele tê-la tremendo da cabeça aos pés, ele afastou-
se a murmurar: —Quando podemos nos casar?
—Assim que você quiser.
—Gran vai querer um grande negócio, com hectares de bolo
de casamento e uma cerimônia em St. Paul. Eu não quero privá-la
disso, se é isso que você quiser, também.
Ela riu. —Contanto que eu tenha você, meu amor, nós
poderíamos nos casar em um celeiro.
Seu olhar ardia. —Considerando que quase consumamos a
nossa união em um, que parece apropriado. Mas eu me contentaria
com uma licença especial e uma pequena reunião em Halstead Hall,
se você aceitar.
—Isso soa perfeito. Claro que, se sua avó não aprova...
—Gran irá aprovar de qualquer coisa, contanto que ela veja
casar. Eu ouso dizer que se pudéssemos realizar o casamento na
cervejaria ao lado do tanque, e ela concordaria.
—Eu duvido seriamente disso. — ela disse com uma risada.
Um brilho súbito apareceu em seus olhos. —Importa-se de
uma aposta sobre isso, meu amor?— Ela olhou para ele com
desconfiança. —Eu pensei que você tivesse desistido do jogo.
—Ah, mas esta é uma aposta privada. Certamente isso se
pode ser permitido.
—Quais seriam as apostas?— ela perguntou maliciosamente.
—Uma vida na minha cama. — disse ele.
Ela reprimiu um sorriso. —E se você ganhar?— Ele piscou,
em seguida, caiu na gargalhada.
E, enquanto os sons da folia familiar flutuava até eles do fundo
do corredor, ele mostrou a ela exatamente o que esperar se ganhar
um diabrete em sua cama.
Epílogo

No final, eles tiveram um casamento simples na capela da


família Sharpe menos de duas semanas depois da chegada de
Annabel, a Londres. Embora teriam preferido esperar até que o
irmão de Jarret, Oliver voltasse para a Inglaterra, eles tinham que se
casar rapidamente. Queriam George na escola para o próximo
semestre em Harrow, e ele não poderia muito bem viver com um, tio
e tia, que não eram casados.
Agora, seis semanas após o casamento, Jarret subia as
escadas principais de Halstead Hall. Eles não tinham a intenção de
viver ali para sempre, uma vez que George estivesse na escola,
iriam encontrar um lugar na cidade mais próxima da cervejaria, mas
ele estava gostando de estar em sua casa de infância de novo.
Se apenas Annabel se sentisse melhor, sua vida estaria
completa. Esta doença do estômago dela preocupava, ela sempre
lhe pareceu muito resistente para essas coisas, e estava
prolongando por muito tempo. Ele não deveria ter deixado ela ir para
a cidade com os outros para receber Oliver e Maria nas docas, mas
ela insistiu.
Ele abriu a porta para encontrá-la cochilando. O sol da tarde
derramava todo o cabelo bonito do qual ele nunca se cansava de
tocar e as feições doces que sempre causavam um aperto no peito.
Era difícil acreditar que ela era dele. Por que ele hesitou em casar?
Ela era a alegria de sua vida.
Ela não só era uma companheira sempre divertida, na cama e
fora dela, mas ela era uma parceira maravilhosa de negócios,
também. Até que ela começou a se sentir mal, ela tinha ido para a
cervejaria com ele todos os dias para experimentar várias cervejas
ou consultar com Harper sobre as inovações que Jarret queria tentar.
Gostava de poder falar com ela sobre o negócio e ela entender o que
ele queria dizer, quais suas dificuldades. Ela fazia excelentes
sugestões, e sabia como colocar o dedo sobre o que estava
incomodando ele sobre qualquer situação.
De repente, ela se mexeu, e seu coração acelerou. —Como
você está se sentindo?— Ele perguntou enquanto chegava na cama.
O sono desapareceu de seu rosto, ela lhe lançou um olhar
penetrante.—Horrível. E é tudo culpa sua.
—Por quê? Eu lhe disse para não comer picles, uma vez que
não parecem fazer bem a você. Mas você é apreciadora dos mais
estranhos alimentos.
—Há uma razão para isso.— Ela sentou-se, ainda olhando
para ele. —Eu não estou doente. Estou enceinte. —Demorou um
pouco para entender, então o alívio se fez tão vertiginoso, que ele
riu.
—Não é engraçado! — ela gritou, enquanto se levantava. —
Você me garantiu que suas coisas, camisinhas funcionavam. Você
prometeu, mas aqui estou eu, exatamente na mesma situação que
eu estava 13 anos atrás,
—Não é exatamente a mesma situação. — apontou
alegremente. —Você está casada.
—Mas e se eu não tivesse casado? E se você fugiu para
Londres e me deixou com a criança, depois de jurar-me que não
havia nenhuma chance...
—Bem, há sempre uma possibilidade, mesmo com
camisinhas. Poderia ter havido um furo no meio, ou talvez não
estivesse bem amarrado, ou...
Ela bateu-lhe com um travesseiro. —Você me disse que
sempre funcionou! Como você sabe que você não tem dez pequenos
largados por Londres com toda a sua vida selvagem?
Ele se esforçou para esconder seus sorrisos, mas era difícil.
Ela era tão encantadora irritada. E ela estava tendo um filho dele.
Seu primeiro filho!
—Eu lhe asseguro, meu amor, se eu tivesse pequenos
espalhados, as mães teriam vindo até mim com as mãos estendidas
já. Eu sou filho de um marquês, você sabe.
—Eu sei muito bem. — ela disse com uma fungada. —E
depois de todos esses anos de valsas pela cidade, lançando a sua
semente sempre...
—Não foi tão jogado ou semeado.—Sob seu olhar, ele riu e
puxou-a em seus braços. —Oras, pois, certamente você não está
realmente com raiva de ter nosso bebê, não é?
A luta pareceu sair fora dela. —Não! — ela admitiu. Em
seguida, suavizou suas feições, e as lágrimas encheram seus olhos.
Jarret ofereceu-lhe um dos lenços que ele tinha aprendido a
manter sempre à mão.
—Deixe-me adivinhar. Você chora quando você está com
criança, também.
—Sim, mas são lágrimas de alegria. Você percebe que esta
será a primeira vez que eu posso segurar meu filho sem me
preocupar se as pessoas vão adivinhar a verdade? Eu posso cuidar
dele ou dela, sem restrição. Esse bebê vai ser realmente meu.
—E meu. — ele protestou.
Ela sorriu para ele através das lágrimas. —É claro.
Ele puxou-a para a porta. —Venha, você tem que conhecer o
meu irmão e cunhada.
—Agora? Mas eu pareço horrível! — ela lamentou.
—Você está absolutamente deslumbrante! — disse ele,
querendo dizer cada palavra. —Como sempre.
—Flertador. — disse ela, mas um pequeno sorriso brincou em
seus lábios.
Ainda assim, ele poderia dizer que ela estava nervosa quando
eles se aproximaram da sala de desenho. —Relaxe. — ele
murmurou. —Tenho certeza que Oliver deixou seu monóculo na
América e quebrou a bengala enquanto passeava no campo.
Tirou uma risada dela, por isso que, quando eles entraram,
seus olhos brilhavam e seus lábios estavam suavemente curvados.
Jarret queria beijá-la ali mesmo, e só se absteve porque seus irmãos
demoníacos estavam assistindo.
Oliver parecia capaz de ler sua mente, pois atirou a Jarret um
sorriso maroto quando ele se levantou com sua esposa e veio
cumprimentá-los.
—Oliver, Maria. — disse Jarret —permita-me apresentar
minha esposa, Annabel.
Enquanto Annabel fazia uma profunda reverência, Oliver se
inclinou para pegar a mão dela e apertá-la calorosamente. —Então
você é a cervejeira de quem meu irmão não conseguia parar de falar
a respeito no nosso caminho a Londres. Percebi que você
compartilha sua propensão para o jogo de cartas.
Ela ficou vermelha.
—Jarret, você, diabo, certamente não...
—Gabe contou a ele. Ele gosta de relatar a história de como
minha esposa me bateu nas mesas na primeira vez que nos
encontramos.
—Pelo menos ela não tentou enfiar uma espada em sua
garganta. — disse Oliver.
Maria fungou. —Você mereceu, e sabe disso.— Ela virou-se
para Annabel com um largo sorriso. —Eu ouso dizer que você teria
feito o mesmo se Jarret tivesse tentado mandar prendê-la.
—Oh, eu teria destinado um lugar menor do que sua garganta.
— Todos caíram na gargalhada.
—Você está certo, Jarret,— Oliver disse, batendo-lhe no
ombro. —Ela se encaixa com a nossa família esplendidamente.
De repente, George entrou na sala de desenho, tendo
acabado de chegar em casa da escola.
—Aí está você, meu filho. — disse Jarret. —Eu tenho algumas
notícias que acho que você vai gostar.— Ele ignorou o cotovelo
Annabel cavado costelas. —Parece que você vai ter um irmão ou
uma irmã depois de tudo.
—Isso é fantástico!— George gritou, parecendo genuinamente
feliz em ouvir isso.
Jarret passou a olhar para Minerva e viu um flash rápido de
inveja cruzar seu rosto. Confirmou para ele uma decisão que tinha
sido vacilante desde o dia em que ele propôs para Annabel, se que
ele deveria ou não dizer a seus irmãos que eles não precisavam
mais se preocupar com o ultimato de Gran, porque ele podia
sustentá-los com a cervejaria.
Uma coisa o detinha. Oliver uma vez dissera que eles
estavam com que sonâmbulos desde a morte de seus pais, e às
vezes ele se perguntava se Oliver poderia estar certo. Minerva em
particular tinha trancado fora do mundo.
Se Jarret acreditasse por um momento que ela poderia
realmente ser feliz sozinha, escrevendo seus livros, ele teria apoiado
sua decisão contra Gran lutaria com unhas e dentes por ela. Mas ele
começava a pensar que não era realmente o que queria. Seus livros
pareciam tanto uma maneira de se esconder da vida e da felicidade
quanto seu jogo tinha sido.
Ele queria melhor para ela. Para todos eles. Especialmente
agora que ele tinha a sua própria. E embora ele não tivesse
escolhido os métodos de Gran para forçar a questão, ele estava
disposto a deixar as coisas andarem e ver o que acontecia. Ele sabia
que sua irmã nunca se casaria sem amor. Então, se ela e os outros
estavam dispostos a arriscar a perder a fortuna de Gran para
permanecer solteira, então que assim seja: ele iria apoiá-los. Mas
não havia necessidade de dizer-lhes ainda.
—Você tem certeza de que sua esposa está grávida, meu
velho?— Gabe perguntou Jarret, com os olhos brilhando. —Você só
está casado há seis semanas. É um pouco cedo para saber uma
coisa dessas, não é?
Droga. Ele devia ter feito um pouco de matemática antes de
ele abrir a boca. Annabel iria matá-lo.
— Oh, hush hush, seu safado.—Gran gritou para Gabe
enquanto vinha em direção a eles. —Este é o meu primeiro bisneto.
Eu não dou a mínima para qual lado do cobertor foi concebido.
Oliver riu. —Na verdade, não é o seu primeiro bisneto. O que
acontece, é que Maria e eu também estamos esperando um filho. E
posso garantir que ele vai chegar antes do de Jarret.
—Oh, Senhor! — Maria disse com um olhar cúmplice para
Annabel — agora eles estão indo para tornar isso algum tipo de
competição.
—Antes eles do que eu. — disse Gabe.
—Seu tempo está chegando. — disse Jarret, o que significava
para um aviso para Minerva, também. —Gran já disse que não está
cedendo.
— Não, eu não vou! — vovó disse. —Mas já falamos
suficiente sobre isso. Esta notícia apela para um brinde.
Ela e Oliver se afastaram, discutindo que o vinho antigo
buscar na adega. Celia chamou Maria para uma discussão sobre a
reforma do antigo viveiro de Halstead Hall, e George foi dizer a Gabe
sobre o novo coche que ele tinha visto em seu caminho para casa da
escola.
Enquanto Jarret olhava para sua família, afeto brotou a ponto
de sufocá-lo. Ele deslizou o braço em torno da cintura de Annabel. —
Eles são um grupo bastante indisciplinado, não são?
—Sim.— Ela atirou-lhe um sorriso maroto. —E eu roubei o
melhor do lote.
Ele deu um beijo em seu cabelo. —Desculpe se eu te
envergonhei, anunciando o bebê tão cedo.
—Está tudo bem. Eles teriam percebido assim que a criança
nascesse.— Ela fez uma pausa. —Você está feliz com o bebê, não
é?
—Muito feliz.
Era verdade. Ele deveria estar aterrorizado. Mais uma pessoa
contando com ele, mais uma pessoa a quem poderia cuidar, que
poderia ser tirado dele por um toque inconstante do destino.
Mas, nas últimas semanas com Annabel, ele veio a perceber
que ele tinha errado tudo. A vida não era para lamentar o que tinha
perdido. Era para apreciar o que se tinha, pelo tempo que você
viesse a tê-lo. Embora sempre seja terrível perder os entes preciosos
para você, era muito mais terrível nunca tê-los tido de todo.
Assim, enquanto sua família ria e brindava, e compartilhavam
sua alegria, ele agradeceu o que o destino havia lhe permitido ter
nesse momento, essas pessoas, esta mulher ao seu lado. Era,
finalmente, o seu tempo. E isso era bom.

Fim
Demônios de Halstead Hall
1 – A Verdade sobre Lorde Stoneville
2 – Um Demônio em sua Cama
3 – How To Woo a Reluctant Lady
4 – To Wed a Wild Lord
5 – A Lady Never Surrenders

N.T.
A Pale Ale é uma cerveja de coloração âmbar, de paladar e amargor mais encorpados e complexos e com teor
alcoólico de 4,8%. É muito parecida com as Ales belgas e a temperatura ideal para seu consumo é entre 3 e 5
graus. A Eisenbahn é uma das únicas Pale Ale brasileiras - uma jóia rara para os apreciadores das melhores
cervejas.
O termo Pale Ale, que significa uma Ale Palha, ou clara. Foi criado na Inglaterra para descrever as cervejas
mais claras da época, que tinham cor de cobre. As cervejas do tipo Ale representam a melhor tradição
européia, especialmente as belgas e inglesas.
No Brasil os "Scones" não são muito conhecidos ainda, mas se falarmos em "Pãozinho de Minuto", este sim,
vai ser encontrado em muitos livros de receitas, com muitas variações. Assim são os scones para os
americanos, ingleses e australianos.

Ebooks distribuídos sem fins lucrativos e de fãs para fãs.


A comercialização deste produto é estritamente proibida
Notas

[←1]
Nota da Revisora: Como era chamado o dormitório dos estudantes, e cenário de
bullyings.
[←2]
Nota da Revisora: diminutivo para Grandmother
[←3]
Nota da revisora: Os Bow Street Runners são conhecidos como a primeira força
policial profissional de Londres.
[←4]
Nota da revisora: dança em que os bailarinos trançam fitas em torno de um
poste.
[←5]
Nota da revisora: pequena loja que vende artigos femininos.
[←6]
Nota da revisora: no original ‘long in the tooth” ditado que refere-se a cavalos, se
observava a idade de um cavalo pelo comprimento de seus dentes, quanto mais
novo, menos desgastado, logo, mais longos.
[←7]
Nota da revisora: Estilo de botas de couro
[←8]
Nota da revisora: primeiro perfume europeu com base a álcool.
Table of Contents
1
2
3
4
5
6
7
8
←1
←2
←3
←4
←5
←6
←7
←8
Table of Contents
1
2
3
4
5
6
7
8
←1
←2
←3
←4
←5
←6
←7
←8

Você também pode gostar