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A EVOLUÇÃO DO BAIRRO PALHANO, EM

LONDRINA - PR, A PARTIR DOS ESPAÇOS


CONSTRUÍDOS NO PERÍODO DE 2004-2017

Pedro Moratelli
Alisson Fernando
Prof. Nathália Prado Rosolém
Universidade Estadual de Londrina – UEL
Centro de Ciências Exatas – CCE
Geoprocessamento
07/02/18

INTRODUÇÃO

Com o objetivo de mapear o crescimento imobiliário do bairro Palhano, dos


anos de 2004, 2011 e 2017 e analisar como ocorreu tal crescimento e ocupação dos
espaços por grandes empreendimentos das empreiteiras e imobiliárias na região.
Nota-se uma grande valorização da área devido à uma boa localização e alguns
pontos importantes da cidade de Londrina próximos, como o Shopping Center Catuaí
e até mesmo um dos cartões postais da cidade que é o Lago Igapó.

Podemos observar a expansão dessas áreas construídas no bairro Palhano, e


como ela segue uma direção ás áreas mais a sudoeste, nas proximidades do
Shopping Catuaí, mas que ainda tem um grande potencial imobiliário a ser explorado
no bairro.

METODOLOGIA

Para a criação do mapa de espaços construídos do bairro Palhano, utilizamos


dois softwares proprietários: o Google Earth Pro 7.3.1, da Google, de onde obtemos
as imagens de satélite dos anos 2004, 2011 e 2017; e o ArcMap 10.5, da ESRI, onde
produzimos três mapas de espaços construídos, um para cada imagem de satélite, e
o mapa de espaços construídos final, onde sobrepusemos os três mapas previamente
ditos, mostrando a evolução dos espaços construídos no bairro ao passar dos anos.
O primeiro desafio do trabalho foi conseguir as imagens de satélite históricas,
a partir dos anos 2000. Como o boom do bairro se dá nesta década, por conta do
mercado imobiliário que vê a oportunidade de criar uma área nobre na zona Sul de
Londrina, é possível ver o crescimento e as mudanças do bairro ao passar dos anos
a partir de imagens de satélite. A professora Nathália Prado Rosolém, da
Universidade Estadual de Londrina (UEL), nos indicou usar o software Google Earth
Pro, pois nele existe uma ferramenta (figura 01) onde pode-se ver todas as imagens
de satélite que foram feitas de uma determinada área em ordem cronológica, como
se fosse uma espécie de túnel do tempo. Além disso, também é possível salvar estas
imagens em alta resolução (4800x2916), o que abre diversas abordagens e facilita
demasiadamente o trabalho sobre esta imagem.

Como dito anteriormente, trabalhamos com imagens dos anos 2004, 2011 e
2017. O motivo pela escolha destes anos é que as imagens antigas são escassas, e
imagens antigas com qualidade, isso é, sem nuvens ou com boa iluminação, são mais
raras ainda. Como pode-se ver na figura 01, apenas oito imagens de satélites antigas
estão disponíveis no Google Earth Pro, sendo três delas inutilizáveis por conta da
nebulosidade (25/02/2008, 25/05/2008 e 04/12/2009).

Figura 01: Linha do tempo do Google Earth Pro.

Cada traço cinza na barra azul representa uma imagem de satélite disponível para
visualização. Perceba a escassez de imagens de 2004 até 2012.

Fonte: Google Earth Pro

Isso criou um problema: tínhamos uma lacuna temporal muito grande sem
imagens, de 2006 até 2011. Se nosso plano inicial era utilizar imagens de cinco em
cinco anos, isso é, 2004-2009-2014-2017, este plano foi por água abaixo. Decidimos,
então, por fazer algo mais rústico, porém, que ainda estava perto da ideia inicial do
trabalho para não ter que mudar o projeto inteiro: utilizar imagens de 2004, 2011 e
2017.

Escolhidas as imagens, o próximo passo seria georreferenciá-las no ArcMap


antes de iniciar o processo de criação de polígonos. Este passo é necessário pois as
imagens trazidas do Google Earth Pro para o ArcMap são apenas rasters, simples
arquivos .jpgs, sem informação alguma de escala, latitude ou longitude. Este não foi
um processo simples e prático: é rudimentar, porém, funciona, o que é o mais
importante.

Buscamos na internet informações sobre como georreferenciar uma imagem


do Google Earth Pro, pois certamente não seríamos os primeiros e nem os últimos a
perguntar como se faz isso e alguém já deve ter criado um vídeo, um post em um
fórum, ou até um tutorial escrito explicando esta tarefa. O primeiro resultado no
Google era exatamente o que buscávamos: “How To: Add a Google Earth Satellite
Image Into ArcMap” é um tutorial do blog “Introduction to GIS”, feito por um professor
da University of California (UCLA) para a sua matéria de Geoprocessamento. Em
passos básicos, o tutorial nos fez marcar quatro pontos na imagem em que
pretendíamos usar, um em cada canto. Deveríamos utilizar, como ícone para estes
pontos, uma forma circular com outro círculo dentro, o que iria ajudar logo adiante.
Também deveríamos anotar as latitudes e longitudes de cada ponto (tabela 01). Após
isso, deveríamos salvar as imagens em resolução máxima para depois utilizá-las no
ArcMap.

Tabela 01: Localização de cada ponto nas imagens de satélite utilizadas.

Pontos Latitude Longitude


Superior Esquerdo -23.315042° -51.196692°
Superior Direito -23.315343° -51.165231°
Inferior Esquerdo -23.354604° -51.197445°
Inferior Direito -23.355305° -51.165813°

Fonte: Google Earth Pro


Feito isso, começamos então o processo de georreferenciamento
propriamente dito. Antes de mais nada, mudamos o Sistema de Coordenadas
Geográfica para WGS 1984, que é o sistema utilizado pelo Google Earth Pro. Após
isso, adicionamos as imagens ao ArcMap e, utilizando a ferramenta Add Control
Points no menu Georreferencing, começamos a marcar os pontos de referência
citados anteriormente. Após marcar um ponto, clicamos em Input X and Y... e
colocamos a latitude e a longitude correspondente, sendo X para longitude e Y para
latitude. Por fim, clicamos em Update Georreferencing e a imagem estava
georreferenciada.

Para automatizar o processo, que também deveria ser feito para as outras
imagens, clicamos em View Link Table e salvamos os links em um arquivo .txt, que
depois importamos para as outras imagens. Em outras palavras, este pequeno
detalhe nos salvou um tremendo trabalho de georreferenciar tudo novamente.

Pronto o processo de georreferenciamento, precisávamos delimitar a área a


ser trabalhada, no caso, o bairro Palhano (figura 02). Quando planejamos o trabalho,
não imaginávamos o tamanho do bairro, que pega a parte conhecida como Alta
Gleba, ou Gleba Palhano; o Alto da Colina; a Colina Verde; parte do bairro
Universitário; o famoso beco da UEL (R. Delaine Negro) e imediações; e todo o lado
oeste da Rod. Mábio Gonçalves Palhano até o seu encontro com a Av. Rui Ferraz de
Carvalho. Isso significa que tivemos uma surpresa ao pegar o limite dos bairros no
Sistema de Informação Geográfica de Londrina (SIGLON), e visto que não existe
apenas “Gleba Palhano” ou “Alto da Gleba” e sim um grande bairro chamado Palhano.

Figura 02: Localização do bairro Palhano na área urbana de Londrina.

Fonte: SIGLON.
Fizemos o download do shapefile dos bairros da área urbana de Londrina do
site do SIGLON e importamo-lo para o ArcMap. Já tínhamos as imagens e os limites,
mas não tínhamos certeza de que os dois estavam exatamente no mesmo lugar, isso
é, se as referências estavam corretas, se tínhamos feito o trabalho corretamente. Para
verificar, adicionamos o OpenStreetMap como basemap no ArcMap e sobrepomos
todas as camadas. Felizmente, tudo estava no lugar. Deletamos o basemap e demos
início ao processo de criação de polígonos a partir das imagens de satélite antigas.

Começamos pela imagem de 2004. Criamos polígonos para todo tipo de


espaço construído e edificações neste momento. Encontramos, no entanto, uma
dificuldade: ao criar polígonos no ArcMap, principalmente em escalas altas, como
1:1000, os polígonos se autocompletavam de maneira completamente diferente das
desenhadas e, muitas vezes, não se completavam, tornando impossível o desenho
do mesmo. Tivemos que trabalhar em uma escala muito menor do que a desejada,
como 1:10000, e, por esse motivo, os detalhes no mapa de espaço construído são
poucos. Infelizmente, não encontramos uma solução para este problema e, por conta
do tempo, decidimos prosseguir em frente mesmo assim. Ao finalizar os polígonos na
imagem de 2004, fizemos o mesmo nas imagens de 2011 e 2017 (Figura 03).

Figura 03: Polígonos representando os espaços construídos na imagem de 2017.

Fonte: Autores.
Finalmente, ao terminar as camadas com polígonos das diferentes imagens,
sobrepomos as três, colocando a mais recente por baixo das mais antigas, já que os
espaços construídos em 2004 continuaram presentes em 2017, em sua maioria,
resultando no mapa final, visto na página anterior.

ANÁLISE
A expansão dos condomínios verticalizados na área onde se encontra a Gleba
Palhano é um processo recente, que começou no inicio da década de 1990 e sofreu
um grande boom imobiliário a partir dos anos 2000. Paula (2006, p.78) relata que até
1999 havia apenas sete edifícios construídos. O que já mostrava um grande interesse
imobiliário naquela região.

Um dos grandes fatores que proporcionou essa valorização dos terrenos da


gleba foi a criação do Lago Igapó e a transposição da Av. Maringá que acabou por
gerar um acesso.

Até o início dos anos de 1990, a porção norte da Gleba era


predominantemente ocupada por chácaras e somente após a transposição
da Avenida Maringá sobre o Lago Igapó, garantindo acesso a Madre Leônia,
é que a Gleba passou a ser alvo da construção de edifícios. Estas obras
foram executadas pelo poder público mediante pressão das construtoras e
incorporadores, que requeriam a construção da mesma por garantir fluidez
do trânsito e infraestrutura em suas terras previamente adquiridas (PAULA,
2006, p.75).

A inauguração do Shopping Center Catuaí nas margens da PR-445 em 1990


e sua localização próxima dos terrenos da gleba também foram um dos
influenciadores para transformarem aquela região como principal foco das
construtoras e imobiliárias de Londrina.

A implantação deste shopping acabou por se tornar um fator atrativo à


expansão da área urbana na porção sudoeste da cidade, implicando em forte
valorização das terras no seu entorno – que forma em grande parte adquirida
por construtoras, loteadoras etc. em momento anterior ou ao longo da
construção do mesmo – retratando mais uma vez a especulação imobiliária.
(FRESCA, 2002 p. 259)
Observando como o mapa final está relacionando os anos, vemos que do ano
de 2004 para o ano de 2017 ocorreu uma grande expansão dos espaços construídos
no bairro Palhano, devido a diversos fatores como maior oferta de crédito imobiliário,
redução da taxa de juros, maiores prazos de pagamento nos financiamentos
imobiliários, etc... Segundo dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção
(CBIC), entre 2004 e 2010 o setor apresentou um crescimento de 42,4% e uma taxa
média de expansão anual de 5,18% (CBIC, 2011, p. 4).

Alguns dados mostram que em 2013, 41 edifícios em construção estavam


localizados na região da Gleba Palhano, de um total de 108 em construção na cidade
de Londrina (NASCIMENTO, 2015, p.99). O que nos faz pensar que o principal foco
das empreiteiras na cidade está na Gleba Palhano, onde predomina edifícios de alto
padrão com mais de 20 pavimentos.

Entretanto, mesmo com essa grande expansão dos terrenos construídos na


região da Gleba Palhano, algumas construtoras estimam que 40% da capacidade do
bairro ainda pode ser explorada, visando algumas áreas atrás da loja Havan e do
colégio PGD, e também mais algumas próximas ao Shopping Catuaí.

Segundo Olavo Batista Júnior, gerente regional da Plaenge, deve – se levar


ainda cerca de mais 10 anos para todo esse espaço vazio na região da Palhano ser
consolidado. E com cerca de 50% desses terrenos vazios já nas mãos das grandes
construtoras, o lançamento desses novos empreendimentos podem ocorrer dentro de
quatro ou cinco anos.

Por esse ponto de vista, percebemos que a expansão da Gleba só tende a se


acelerar de um modo que os condomínios verticais característicos dessa área se
aproximem dos outros condomínios horizontais que estão logo após o Shopping
Catuaí.

CONCLUSÃO
Após toda uma analise sobre os mapas produzidos e os dados por eles
apresentados, pode – se perceber que o potencial de áreas construídas na região do
bairro Palhano ainda tem muito a ser explorado pelas empreiteiras, e a valorização
da área através da construção de novos condomínios verticalizados tende a sofrer
algumas mudanças, pois muitas pessoas buscavam tranquilidade na hora que
começaram a morar lá, e com essas novas construções a tendência é uma migração
para os condomínios mais afastados, como por exemplo os que estão localizados
após o Shopping Catuaí.

BIBLIOGRAFIA

______. Construção: cenário e perspectivas: Banco de Dados da Câmara Brasileira


da Indústria da Construção. Brasília: CBIC, 2011.
BORTOLO, C. A. de. Do espaço produzido ao espaço consumido: a produção e
apropriação do entorno do Lago Igapó - Londrina – PR. GeoAtos, v. 10, n. 2, p. 36-
53, 2010.
FRESCA, Tania Maria; OLIVEIRA, E. L. A produção do espaço urbano de
Londrina: 19702000. Relatório de projeto de pesquisa. Londrina: UEL, 2005.
FRESCA, Tânia; Oliveira, Edilson. Sessenta anos de verticalização em
Londrina/PR. Revista da ANPEGE, v.11, p.85-121, 2015.
GONÇALVES, Juliana. Gleba Palhano ganha concorrentes. Folha de Londrina.
Londrina. 04/2017. Disponível em: https://www.folhadelondrina.com.br/cadernos-
especiais/gleba-palhano-ganha-concorrentes-976048.html. Acesso em: 05/02/2018.
NASCIMENTO, C. F. A verticalização de Londrina – PR: financeirização e mercado
imobiliário entre 2000-2013. 2015. Dissertação (Mestrado em Geografia) – UEL,
Londrina.
PAULA, Rubia Graciela de. A verticalização na Gleba Palhano – Londrina/PR: uma
análise da produção e consumo da habitação. 2006. Monografia (Bacharelado em
Geografia) - UEL, Londrina.

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