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Luiz Felipe de Andrade Santos - 170067831

Filosofia Moderna Turma A - 2023/2


Outubro de 2023

René Descartes e a 1ª meditação


Ensaio sobre a dúvida hiperbólica, o corpo e alguma ecologia

Enormes são as influências do filósofo francês René Descartes no desenvolvimento das


ciências e da Filosofia. O argumento da dicotomia corpo-mente tem um registro que ao
mesmo tempo que estrutura os argumentos porvir, os limita incessantemente. Eis aqui minha
empreitada maligna: duvidar das verdades assumidas por Descartes. Isto é, questionar as
raízes do mantra cogital “penso, logo existo”.
Minha dúvida não parte da mente, porém da inscrição do corpo no ambiente e no
tempo, inspirado na túnica de Descartes. Seria minha dúvida hiperbólica? Registro que não.
A dúvida hiperbólica sugere a suspensão de juízos primeiros a fim de um alicerce seguro de
inverdades. Minha dúvida abraça as contingências e as incertezas, tendo a trabalhar
frustradamente com o inesperado; este podendo ser somente 1) nulo de verdade ou 2) a mais
pura verdade. Ao contrário de Descartes, meu corpo extenso não é uma pista de decolagem
duvidável para atingir o cogito, porém uma pista de aterrissagem e enraizamento para o meu
incessante fluxo de pensamentos, que apelidaram como mente.
A fins laboriais, hei de percorrer a estruturação da mencionada dicotomia corpo e mente
para reconhecer seus limites e querelas com outros assuntos que julgo pertinentes. Em
Descartes, a dicotomia corpo e mente não é uma eterna e fundada ruptura, mas uma divisão
estratégica da estrutura humana. A mente abençoada pensa enquanto os sentidos do corpo
enganam. O corpo, enquanto coisa extensa, não está separado da mente, enquanto coisa
pensante, apenas estão em posições diferentes. Esta é a estrutura de um dos mais
fundamentais dos argumentos cartesianos. Agora vamos aos seus limites e implicações.
Dizer que o corpo não pensa não implica dizer que ele não atua. Afirmar tal coisa seria
bárbaro. Certamente há valor nos enganos dos sentido, mesmo que um valor utilitário
maligno. Negar a experiência corporal e intuitiva, mesmo errônea, é negar uma grande
parcela da tradição filosófica. O corpo, enquanto sede da Alma e da mente, é matriz de
reflexões e dúvidas importantíssimas. Como por exemplo os aspectos relacionais com outros

TRABALHO DE FILOSOFIA MODERNA 1


corpos, sejam estes humanos ou não-humanos, pensantes ou não pensantes, vivos ou não
vivos.
É duro duvidar do corpo quando este é um pilar existencial e árvore frutífera de
imaginações e contemplações, até mesmo para Descartes, que pondera sobre sua juventude,
seus arredores e seus sonhos logo no início da Primeira Meditação. É duro duvidar do corpo
enquanto se realiza a operação da escrita. É duro duvidar do corpo quando se sofre violências
constantemente da mesma forma em que é duro duvidar do corpo quando se está vivo. A
redução cartesiana, todavia, se mostra útil como ferramenta de questionar tais relações que
remetem a esfera corporal. Certo distanciamento e atitude crítica são também, novamente em
uma medida utilitária, importantes para o discernimento do papel do corpo no mundo-
circundante.
Entretanto, a esfera da razão é certamente limitante visto que possuímos apenas uma
razão suficiente e não uma razão necessária. Há também os sentimentos (como o Amor) que
nos arrebatam; estes não estão na esfera do entendimento, mas sim da compreensão. Estes
não são adquiridos ou capturados pela vontade, porém praticados através de atos corporais tal
como a caridade.
Todavia, tal submissão e devoção ao Amor não apareceria em um René Descartes
acordado. Poderia aparecer, talvez, em um sonho que não estivesse fadado a um despertar. O
arrebatamento não suscita dúvidas nem carrega a qualidade de ser reduzido pelo cogito.
Definitivamente minha dúvida não foi nem jamais seria hiperbólica.

Bibliografia
DERRIDA, J. A farmácia de Platão. São Paulo: Iluminuras, 1997
DESCARTES, R. Meditações. São Paulo: Abril cultural, 1973.
PORETE, M. O espelho das almas simples e aniquiladas e que permanecem somente
na vontade e no desejo do Amor. São Paulo: Vozes, 2008.

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