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Departamento de Física
Objetivo
Neste trabalho pretende-se estudar os muões produzidos pelo impacto de raios cósmicos primários na atmosfera
terrestre. Em particular, pretende-se medir a distribuição angular dos muões cósmicos ao nível do solo. Esta
distribuição pode ser prevista aproximadamente por um modelo simples. Para a execução deste trabalho será
feita uma montagem experimental incluindo detetores de cintilação e a sua eletrónica associada.
1 Introdução
Muões são partículas fundamentais semelhantes ao eletrão (leptões carregados) mas com uma massa de 105.7 M eV /c2 ,
cerca de 200 vezes maior que a do eletrão. São produzidos em grande número pelo decaimento de partículas
hadrónicas geradas pela colisão de raios cósmicos primários (primariamente protões muito energéticos que bom-
bardeiam a Terra vindos do espaço). Os muões e anti-muões decaem através da força fraca, com um tempo de
vida média relativamente longo (τ ∼ 2.2 µs) produzindo eletrões ou positrões (respetivamente) e neutrinos, de
acordo com as equações:
µ+ → e+ + ν̄µ + νe , e: µ− → e− + νµ + ν̄e
A atenuação do fluxo de muões cósmicos na matéria foi explorada pela primeira vez em 1955 para medir
a quantidade de matéria acima de um túnel rodoviário. A técnica de imagiologia chamada de muografia foi
aplicada por Alvarez em 1960 para procurar câmaras escondidas dentro da pirâmide de Quéfren. É usada
atualmente para investigar por exemplo o nível de lava existente dentro de vulcões ativos.
O fluxo de muões produzidos a grande altitude é atenuado pela atmosfera antes de chegar ao nível do solo,
onde observamos um fluxo de aproximadamente 1 cm−2 s−1 para um detetor horizontal. Essa atenuação depende
da constituição e pressão da atmosfera às várias altitudes atravessadas pelos muões, e uma estimativa precisa
do fluxo de muões ao nível do solo requer a simulação detalhada dos vários processos de interação dos muões
pelo método de Monte Carlo. Para este trabalho iremos adotar um modelo muito simplificado:
• Consideramos a superfície da Terra plana, e que os muões são produzidos a uma altura fixa h acima da
superfície;
• Consideramos que, devido à absorção pela atmosfera, o fluxo de muões que chega até nós é inversamente
proporcional à distância d = h/ cos θ percorrida até ao solo;
Daqui resulta que o fluxo de muões é dado por: I(θ) = Iθ=0 × cos θ, onde θ é o ângulo zenital, medido entre a
vertical e a direção dos muões. Considerando que o nosso detetor tem uma área finita e integrando o fluxo de
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Figura 1: Esquerda: detetor de cintilação lido por SiPM. Direita em cima: circuito para identificar e contar
partículas que atravessam ambos os detetores representados na imagem. Em baixo: sinais de entrada e saída
de uma unidade de coincidência.
muões para ter em conta que estes podem chegar de qualquer direção, obtemos finalmente uma taxa R dada
por:
R(θ) = Rθ=0 × cos2 θ
Um objetivo deste trabalho experimental será a verificação deste modelo simplificado.
Pergunta:
• Como fazer para deduzir esta expressão? Como conseguiria tornar este modelo mais realístico?
• Módulo de coincidências – gera um sinal lógico ao receber dois ou mais sinais lógicos em coincidência
(sinais no estado lógico 1 simultâneamente) ou anti-coincidência (um sinal no estado lógico 1 e outro no
estado 0);
A coincidência de dois sinais no tempo é usada frequentemente para suprimir contagens espúrias devidas ao
ruído eletrónico ou à radioatividade ambiente. A figura 1 (direita) representa um circuito para identificar e
contar o número de partículas que atravessam os dois detetores representados. Os sinais são normalmente
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transmitidos entre diferentes módulos de eletrónica através de cabos coaxiais por forma a minimizar a perda de
sinal a frequências elevadas, e minimizar o ruído eletrónico induzido. Encontram-se normalmente dois tipos de
cabos e conectores: cabos finos com conectores de encaixar ("LEMO") e cabos mais grossos com conectores de
enroscar ("BNC"). Ambos têm impedância característica de cerca de 50 Ω e o tempo de propagação dos sinais
está normalmente marcado no exterior dos cabos. Para evitar a degradação da forma dos sinais analógicos e
reflexões, pode ser necessário utilizar uma terminação de 50 Ω numa extremidade do cabo [1].
Pergunta:
• O que acontece aos sinais dos detetores quando não são usadas as terminações de 50 Ω? Porquê?
2 Procedimento experimental
A execução experimental pode ser dividida em várias etapas. Em cada uma delas será necessário estabelecer
as ligações corretas entre os detetores e os vários módulos eletrónicos de tratamento do sinal. Para atingir os
objectivos de cada etapa será muito útil observar os sinais à entrada ou saída de cada módulo com a ajuda de
um osciloscópio.
Siga o seguinte programa:
1. Observação de sinais de uma fonte radioativa adequada e de muões cósmicos em cada detetor com a ajuda
de um osciloscópio;
2. Se necessário, estabelecimento dos limiares de discriminação de cada SCA (ou verifique que os limiares
parecem apropriados);
6. Se o tempo permitir: determinação da eficiência absoluta dos dois detetores (e eletrónica associada) usados
na coincidência, com a ajuda do restante detetor, da unidade de coincidências, e de um scaler;
Estude os vários módulos e tente compreender as funções disponíveis antes de fazer as ligações que pretende.
• Que fontes radioativas serão apropriadas para observar os sinais dos cintiladores plásticos?
• Qual é, aproximadamente o tempo de subida do sinal do SiPM? A eletrónica poderá estar a degradar esse
tempo de subida?
• A taxa de deteção de muões é máxima para θ = 0. Quanto tempo deverá reservar para medidas a outros
ângulos?
• O modelo simplificado referido acima descreve apropriadamente as medidas experimentais que obteve?
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Referências
[1] W.R. Leo, “Techniques for Nuclear and Particle Physics Experiments”, 2nd edition (1994), Springer-Verlag
Berlin Heidelberg GmbH
[2] Hamamatsu web page 2016, "What is a silicon photomultiplier?", acedido a 14 de novembro de
2023, <https://hub.hamamatsu.com/us/en/technical-notes/mppc-sipms/what-is-an-SiPM-and-how-does-
it-work.html>