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Atividade: Detectores de Raios X

Disciplina: Espectrometria de Fluorescência de Raios X


Aluno: Felipe Leria Stefenon
Data: 01/07/2022

1. Detectores de Raios X
De forma geral, o objetivo de um detector nas técnicas envolvendo a fluorescência de
raios X é transformar a radiação eletromagnética detectada em sinal elétrico. Esses sinais
(ou pulsos) elétricos são contados por um perı́odo de tempo, e essa taxa de contagem,
expressa em contagem por segundo (ou qualquer outra unidade de tempo) é uma medida
da intensidade da radiação dos raios X detectada.
Existem quatro principais classes de detectores que podem distinguidas para o uso na es-
pectroscopia de raios X de acordo com o meio responsável pela transformação da energia
(energia eletromagnética em elétrica). São eles: detectores a gás, detectores de cintilação,
detectores semicondutores e, entre os mais recentes, os detectores supercondutores (como
os de junções de túnel e microcalorı́metros). Esses diferentes detectores diferem, princi-
palmente, na eficiência de detecção dos fótons de raio X para uma dada energia e/ou no
intervalo de energia ou comprimento de onda para o qual eles são adequados.
A resolução espectral desses detectores depende da largura de distribuição da amplitude
do pulso resultante do impacto dos fótons de mesma energia. Entre os que possuem melhor
performance na descriminação da energia (resolução) são os detectores semicondutores e
os Silicon-Drift Detectors (SDD), sendo este último o de maior interesse para este tra-
balho. Por isso, a seguir serão abordados os detectores a gás, cintiladores, semicondutores
e SDD, respectivamente.

(a) Detectores a gás


Neste tipo de detector, o processo de troca de energia ocorre entre os fótons de raio
X e os átomos (ou moléculas) de uma gás em um forte campo elétrico. Quando um
fóton atinge um átomo exite uma dada probabilidade que o quantum de energia hν
do fóton seja transmitido completamente para um elétron orbital do átomo. Como
um resultado do ganho de energia, o elétron emerge do átomo com uma energia

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cinética Kele = hν − w (equação de Einstein para o efeito fotoelétrico).
Para o caso em que o gás é argônio,

Ar − hν −→ Ar+ + e− .

Com isso, o elétron transmite sua energia cinética a outros átomos, criando uma
série de pares elétrons-cátions em seu caminho através do gás, com um número igual
a Kele dividido pela energia necessária para expelir o elétron. Consequentemente,
os cátions e elétrons são acelerados na direção do cátodo ao ânodo do detector pelo
gradiente do campo elétrico entre ambos os eletrodos, formando uma sucessão de
novos pares de ı́ons no seu trajeto entre os eletrodos. A descarga nos eletrodos
dá origem a pulsos de correntes num circuito elétrico externo. Para uma gama de
potenciais de eletrodos, o pulso de corrente é proporcional a energia do fóton, e nos
espectrômetros, os detectores a gás são exclusivamente usados nesse intervalo.

(b) Detectores de Cintilação


As trocas de energia ocorrem neste tipo de detector em um meio de alta densidade
e com alto valor para o número atômico Z, como um iodeto de sódio dopado com
tálio [N aI(T l)], e devido a essas caracterı́sticas, esse tipo de detector é eficiente
apenas para fótons de alta energia (maiores que 6 KeV). Aqui, o elétron original-
mente ejetado é transmitido com quase toda a energia inicial do fóton. O elétron
ejetado dissipa essa energia promovendo elétrons da banda de valência para um es-
tado excitado cuja energia corresponde às radiações próximas do espectro visı́vel.
A intensidade do pulso de luz emitido é proporcional ao número de elétrons excita-
dos pelo fóton de raio X. Esses pulsos são detectados por um fotomultiplicador no
qual o pulso de luz produz alguns fotoelétrons no material cátodo. Esses elétrons
são acelerados dentro de um tubo de vácuo entre o cátodo e o primeiro ânodo in-
termediário, chamado de dı́nodo. Esses elétrons ganham energia cinética e geram,
por sua vez, um alto número de elétrons no dı́nodo. Esse processo é repetido 10
vezes, resultando em uma multiplicação substancial do número original de elétrons.
Essa multiplicação depende da diferença de potencial entre os sucessivos dı́nodos e

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a ordem de magnitude dessa multiplicação é 106 a 108 .

(c) Detectores semicondutores


Em termos gerais, neste tipo de detector, a ionização total produzida por cada fóton
raio X que atinge o detector é convertido para a voltagem do sinal com amplitude
proporcional a energia incidente. Processos eletrônicos e de pré-amplificação espe-
cialmente designados para esses detectores são empregados para manter a linearidade
do sinal de tensão com respeito ao pulso de carga original. Um analisador multi-
canal acumula um espectro de energia dos eventos sequenciais numa memória de
histograma. Pelo fato de que a análise de energia não depende de nenhuma forma
da difração ou da focalização dos raios X pelo detector, a geometria do sistema,
geralmente, independe do posicionamento do detector em relação a amostra. Uma
exceção para isso é na excitação por raio X polarizado, como nos casos em que se
pretende atenuar o espectro contı́nuo de Bremsstrahlung. Essa independência da
geometria e a habilidade para posicionar o detector próximo da amostra garante um
largo ângulo sólido alta eficiência geométrica.
Além disso, o mecanismo pelo qual o sinal de ionização é medido não se restringe
a uma região estreita de energia, permitindo assim a detecção simultânea de raios
X sobre uma ampla faixa do espectro de emissão. Portanto, as principais vantagens
desse tipo de detector para o a fluorescência de raios X por dispersão de energia
derivam da sua capacidade de detecções simultâneas, com alta eficiência geométrica,
de raios X caracterı́sticos de múltiplos elementos.

(d) Detectores de desvio de silı́cio - Silicon drift detectors (SDD)


Os SDD em sua forma mais básica, proposta em 1983 por Gatti e Rehak, consiste
em um campo elétrico paralelo a superfı́cie, criado por tiras de campo contı́guas
corretamente polarizadas que conduzem as cargas em direção a um ânodo coletor.
O recurso exclusivo deste detector é a capacitância extremamente baixa do ânodo,
que além disso é independente da área do detector. Para tirar vantagem máxima da
baixa capacitância de saı́da, na parte dianteira do detector, um capacitor de junção
FET (JFET) de canal-n é integrado ao chip detector próximo ao ânodo (Fig. 1). Eles

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estão localizados na parte superior do dispositivo no centro do anel de campo p+ .
Dessa forma, as capacitâncias parasitas das várias conexões são minimizadas, per-
mitindo ser alcançada uma correspondência correta entre a capacitância eletrônica
do detector e da parte frontal.

Figure 1: Seção transversal de um SDD cilı́ndrico com canal-n JPET integrado. O portão
do transistor é conectado ao ânodo coletor. A janela de entrada de entrada para radiações
ionizantes é a parte traseira não estruturada do dispositivo.

Os SDD podem ser considerados uma variação dos detectores do tipo Si(Li), usados
ainda em alguns ramos de estudos envolvendo raios x, como a astrofı́sica. Entretanto,
uma das principais diferenças entre esses dois tipos de detectores está no sistema de
refrigeração atrelado a eles. Os detectores Si(Li) precisam ser resfriados numa faixa
de temperatura próxima a 77 K, a fim de se reduzir o par e-h térmico, evitar que
os átomos de Li se difundam e reduzir o ruı́do no pré-amplificador FET. Isso exige
o uso de nitrogênio lı́quido, o que torna mais caro e complexo o uso desse tipo de
equipamento. Já os SDD conseguem operar a temperaturas mais quentes por serem,
em geral, mais finos, e por isso seu resfriamento é feito por métodos eletrônicos,
utilizando-se uma placa de Peltier, cujo funcionamento baseia-se em efeito de mesmo
nome, e que consiste numa diferença de temperatura criada pela aplicação de uma
tensão entre dois eletrodos conectados a uma amostra de material semicondutor.
Apesar das vantagens de refrigeração, os SDDs possuem uma maior eficiência na

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detecção de raios X com energias até 10 keV, enquanto os Si(Li) podem atingir bom
desempenho em energias superiores, de até 20 keV. Entretanto, essa eficiência para
baixas energias dos SDDs permite que eles sejam usados para detectar elementos
com número atômico baixo. Os modelos mais modernos, juntamente com o devido
sistema óptico, podem detectar átomos de carbono, flúor e oxigênio.

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