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Meteorologia
Poluição Atmosférica
Rita Yuri Ynoue
Michelle S. Reboita
Tércio Ambrizzi
Gyrlene A. M. da Silva
Nathalie T. Boiaski

10.1 Introdução
10.2 Tipos e fontes de poluentes atmosféricos
10.2.1 Classificação dos poluentes
10.2.2 Principais poluentes atmosféricos
10.3 Ozônio na troposfera
10.3.1 Química básica do ozônio
10.4 Ozônio na Estratosfera
10.4.1 Buraco da camada de ozônio
10.4.2 Medida da concentração de O3 na camada de ozônio
10.5 Fatores atmosféricos que afetam a poluição
10.5.1 Vento
10.5.2 Estabilidade e Inversão Térmica
10.6 Poluição atmosférica e ambientes urbanos
10.6.1 Ilha de calor
10.6.2 Deposição ácida
Referências

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Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 215

10.1 Introdução
Este texto trata da poluição atmosférica. Iniciaremos com as definições de poluentes
atmosféricos e apresentaremos os principais compostos presentes numa atmosfera urbana
poluída: material particulado, monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio e de enxofre e ozônio.
Neste momento, será oportuno distinguir o ozônio troposférico do ozônio estratosférico
e introduzir o conceito de camada de ozônio mostrando como ela está sendo destruída.
É importante destacar que os poluentes atmosféricos estão concentrados nas camadas mais
próximas da superfície da Terra, na baixa troposfera, enquanto que a camada de ozônio
encontra-se na estratosfera.
Os principais fatores meteorológicos que afetam a poluição do ar nas camadas mais baixas da
troposfera também serão discutidos. Uma vez que, as atividades urbanas têm se destacado como
principais fontes de poluição atmosférica. Outro tema abordado neste texto será os efeitos da
poluição nos ambientes urbanos (ilhas de calor e deposição ácida).

10.2 Tipos e fontes de poluentes atmosféricos


No Brasil, o órgão responsável pela deliberação e consulta de toda a Política Nacional do
Meio Ambiente é o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), que define
poluente atmosférico da seguinte forma:
Entende-se como poluente atmosférico qualquer forma de matéria ou energia com inten-
sidade e em quantidade, concentração, tempo ou características em desacordo com os níveis
estabelecidos, e que tornem ou possam tornar o ar:
I. impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde;
II. inconveniente ao bem-estar público;
III. danoso aos materiais, à fauna e flora;
IV. prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade e às atividades normais
da comunidade.

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10.2.1 Classificação dos poluentes

No texto Atmosfera Terrestre, vimos a composição majoritária da atmosfera, em termos


de gases. Entretanto, a variedade de substâncias que podem ser encontradas na atmosfera é
muito grande, compreendendo, além dos gases, os aerossóis, que podem estar na fase líquida
ou sólida. Consequentemente, há várias formas de se classificar os poluentes. Normalmente, os
poluentes são divididos em:
• Poluentes primários: aqueles que são diretamente emitidos por uma fonte.
• Poluentes secundários: aqueles que são formados na atmosfera, por exemplo, por
reações químicas entre poluentes primários e constituintes naturais da atmosfera.
Os poluentes também podem ser divididos com relação à sua origem, podendo ser emitidos
por fontes naturais, como vegetação, oceanos e vulcões, ou antrópicas, quando emitidos por
processos industriais ou relacionados a atividades humanas, como chaminés de indústrias,
escapamentos de veículos, navios, aviões, cigarro, fornos a lenha etc.

10.2.2 Principais poluentes atmosféricos

Antes de iniciarmos a descrição dos poluentes atmosféricos é importante destacar que nem
todos os gases poluentes são gases de efeito estufa e vice-versa. Por exemplo, o dióxido de
carbono (CO2) é um gás de efeito estufa, mas não é considerado poluente atmosférico.
O CONAMA, entre outras competências, estabelece normas, critérios e padrões relativos ao
controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente. O CONAMA define os padrões de
qualidade do ar da seguinte forma:
(...) as concentrações de poluentes atmosféricos que, ultrapassadas, poderão
afetar a saúde, a segurança e o bem-estar da população, bem como ocasionar danos
à flora e à fauna, aos materiais e ao meio ambiente em geral.
I. Padrões Primários de Qualidade do Ar são as concentrações de poluentes que,
ultrapassadas, poderão afetar a saúde da população.
II. Padrões Secundários de Qualidade do Ar são as concentrações de poluentes
abaixo das quais se prevê o mínimo efeito adverso sobre o bem-estar da
população, assim como o mínimo dano à fauna, à flora, aos materiais e ao
meio ambiente em geral.

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A Tabela 10.1 resume os padrões de qualidade do ar para os poluentes atmosféricos


legislados no Brasil, conforme CETESB (2010).

Tabela 10.1: Padrões nacionais de qualidade do ar (Resolução do CONAMA, nº 3, de 28/6/90). / Fonte: adaptado de CETESB,2010.

Tempo de Padrão Padrão Método


Poluente
amostragem primário mg/m3 secundário mg/m3 de medição
Partículas totais 24 horas1 240 150 Amostrador de
em suspensão MGA2 80 60 grandes volumes

Partículas 24 horas1 150 150 Separação


inaláveis MAA3 50 50 inercial/filtração

24 horas1 150 100


Fumaça MAA3 60 40
Refletância

Dióxido de 24 horas1 365 100


Pararosanilina
enxofre MAA3 80 40

Dióxido de 1 hora1 320 190


Quimiluminescência
nitrogênio MAA3 100 100

40.000 40.000
Monóxido de 1 hora1 35 ppm 35 ppm Infravermelho
carbono 8 horas1 10.000 10.000 não dispersivo
9 ppm 9 ppm

Ozônio 1 hora1 160 160 Quimiluminescência

Material particulado (MP)

Sob a denominação geral de Material Particulado, encontra-se um conjunto de poluentes


constituídos de poeiras, fumaças e todo tipo de material na fase líquida ou sólida que se mantém
suspenso na atmosfera por causa de seu tamanho pequeno. As propriedades do MP variam
em função de seu tamanho, composição química e origem. O tamanho das partículas, cujo
diâmetro pode variar de alguns nm (10-9 m) a dezenas de µm (10-6 m), está diretamente associado
ao seu potencial para causar problemas à saúde: quanto menores elas forem, maiores os efeitos
provocados. OMP também causa redução de visibilidade e impactos no clima. Com relação ao
clima, os efeitos podem ser divididos em duas classes:
• Efeitos diretos: são decorrentes do espalhamento e absorção da radiação solar. É o
mesmo processo que ocorre com a redução de visibilidade.

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• Efeitos indiretos: ocorrem quando o MP atua como núcleo de condensação de nuvens.


O CONAMA classifica o MP em três diferentes categorias, que recebem da Companhia de
Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo (CETESB) as seguintes definições:
• Partículas totais em suspensão (PTS): Podem ser definidas de maneira simplificada
como aquelas cujo diâmetro aerodinâmico é menor que 50 µm. Uma parte dessas partículas
é inalável e pode causar problemas à saúde. Outra parte pode afetar desfavoravelmente
a qualidade de vida da população, interferindo nas condições estéticas do ambiente e
prejudicando as atividades normais da comunidade.
• Partículas inaláveis (MP10): Podem ser definidas de maneira simplificada como aquelas
cujo diâmetro aerodinâmico é menor que 10 µm. As partículas inaláveis podem ainda
ser subdivididas como partículas inaláveis finas (MP2,5 - diâmetro aerodinâmico menor
que 2,5 µm) e partículas inaláveis grossas (diâmetro aerodinâmico entre 2,5 e 10 µm).
As partículas finas, devido ao seu tamanho diminuto, podem atingir os alvéolos
pulmonares; já as grossas ficam retidas na parte superior do sistema respiratório.
• Fumaça (FMC): Está associada ao material particulado suspenso na atmosfera proveniente
dos processos de combustão. O método de determinação da fumaça é baseado na medida
de refletância da luz que incide na poeira (coletada em um filtro), o que confere a esse
parâmetro a característica de estar diretamente relacionado ao teor de fuligem na atmosfera.
O MP pode ser primário, sendo emitido diretamente por fontes naturais e antrópicas.
Vulcões e oceanos emitem grandes quantidades de material particulado; os ventos no deserto
do Saara, por exemplo, suspendem uma grande quantidade de areia, uma parte da qual atinge
a Amazônia. Nessa categoria também são incluídos os bioaerossóis, como pólen, esporos e
microrganismos. Esses materiais particulados primários naturais normalmente têm diâmetros
relativamente grandes, ou seja, são encontrados no material particulado grosso. Já os emitidos
diretamente por fontes antrópicas, como a fumaça que sai dos escapamentos de caminhões
e ônibus ou de chaminés industriais, são normalmente partículas de tamanhos menores.
Boa parte do material particulado fino (com diâmetro menor que 2,5 mm) é secundária, ou
seja, é formada a partir de reações químicas de outros compostos na atmosfera, como óxidos
de enxofre, óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis.
O tempo de permanência do MP na atmosfera varia, dependendo de seu tamanho e da
precipitação. Partículas grandes e mais pesadas, com diâmetros maiores que 10 mm, tendem a

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ficar suspensas na atmosfera por volta de um dia, antes de se depositar nas superfícies. A esse
processo denominamos de deposição seca (por exemplo, a poeira que se acumula nos móveis
de casa). Entretanto, quanto menor a partícula, mais tempo ela tende a ficar na atmosfera.
Partículas menores que 1mm podem ficar várias semanas suspensas na atmosfera. Além da
deposição seca, os processos de deposição úmida também auxiliam na remoção deste MP
da atmosfera. A deposição úmida pode ser dividida em duas classes: “dentro de nuvens
(in cloud)” e “fora de nuvens (below cloud)”. A remoção de MP por processos “dentro de nuvens
(in cloud)” ocorre quando o MP age como um núcleo de condensação e, ao seu redor, a água é
incorporada, originando uma gota de nuvem. A remoção “fora de nuvens (below cloud)” ocorre
quando o MP é carregado por gotas de nuvem ou chuva já formadas.

Monóxido de carbono (CO)

É o principal poluente em áreas urbanas. É um gás incolor e inodoro que resulta da queima
incompleta de combustíveis de origem orgânica (combustíveis fósseis, biomassa etc). Assim,
sua principal fonte é a frota veicular. Altas concentrações de CO são encontradas em áreas de
intensa circulação de veículos.

Dióxido de enxofre (SO2)

É um gás incolor, que resulta principalmente da queima de combustíveis que contêm


enxofre, como carvão, óleo diesel, óleo combustível industrial e gasolina. Nas cidades, é
emitido principalmente por veículos pesados (caminhões e ônibus que utilizam o diesel
como combustível). Compostos contendo enxofre podem ser emitidos naturalmente, tanto
em erupções de vulcões como em partículas de sulfato nos sprays marinhos. Na atmosfera, o
dióxido de enxofre é rapidamente oxidado, formando poluentes secundários, como o ácido
sulfúrico, que é um dos principais componentes da chuva ácida.

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Compostos orgânicos voláteis (COVs)

Apesar de não serem poluentes legislados pelo CONAMA, são importantes no estudo da
química atmosférica. Representam uma classe de compostos orgânicos formados principalmente
de hidrocarbonetos. À temperatura ambiente, podem ser encontrados na forma de gás, sólido
ou líquido. A variedade de compostos é enorme, mas o metano (que se encontra na forma
gasosa, é emitido também por fontes naturais e não apresenta risco à saúde) é o COV mais
abundante. Assim, quando nos referirmos aos COVs, estaremos considerando os compostos
orgânicos voláteis, com exceção do metano. Nas cidades, esses gases e vapores resultam da
queima incompleta e evaporação de combustíveis e de outros produtos orgânicos voláteis.
Diversos hidrocarbonetos, como o benzeno, são cancerígenos e mutagênicos, não havendo
uma concentração no ambiente totalmente segura. Eles participam ativamente das reações de
formação da “névoa fotoquímica”.
A névoa fotoquímica, também chamada de smog fotoquímico, recebe tal denominação por
causar a diminuição de visibilidade na atmosfera.

Óxidos de nitrogênio (NOx)

São as somas de óxido de nitrogênio (NO) e dióxido de nitrogênio (NO2), que são gases
formados durante processos de combustão em altas temperaturas, quando o gás nitrogênio
(N2) do ar reage com o oxigênio (O2). Em grandes cidades, os veículos geralmente são os
principais responsáveis pela emissão dos óxidos de nitrogênio. O NO é oxidado rapidamente
na atmosfera para NO2 e tem papel importante na formação de oxidantes fotoquímicos,
como o ozônio. Dependendo das concentrações, o NO2 pode causar prejuízos à saúde.

Ozônio (O3)

Oxidantes fotoquímicos é a denominação que se dá à mistura de poluentes secundários


formados pelas reações entre os óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis na
presença de luz solar. Por ser o principal produto dessa reação, o ozônio é utilizado como
parâmetro indicador da presença de oxidantes fotoquímicos na atmosfera. Tais poluentes
formam a chamada névoa fotoquímica.

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Além de prejuízos à saúde, o ozônio pode causar danos à vegetação. É sempre bom
ressaltar que o ozônio encontrado na faixa de ar próxima ao solo (troposfera, onde respiramos)
é chamado de “mau ozônio”, pois é tóxico. Entretanto, na estratosfera (a cerca de 25 km
de altitude), o ozônio tem a importante função de proteger a Terra dos raios ultravioleta
emitidos pelo Sol, como se fosse um filtro.

10.3 Ozônio na troposfera


O O3 é formado naturalmente na atmosfera, tanto na estratosfera, onde forma a camada de
ozônio, quanto na troposfera. Aqui será descrita a química do ozônio troposférico, enquanto na
seção 10.4 a do ozônio estratosférico.

10.3.1 Química básica do ozônio

A luz solar, com radiação de comprimentos de onda menores que 0,41 µm (aqui representada
como hν), dissocia o dióxido de nitrogênio em óxido nítrico e oxigênio atômico:

10.1
NO2 + hν → NO + O

O oxigênio atômico, por sua vez, combina-se com um oxigênio molecular na presença de
uma terceira molécula (M, normalmente N2, pois é a molécula mais abundante na atmosfera),
formando o ozônio:

O + O2 + M → O3 + M 10.2

O ozônio é, então, destruído, ao reagir com o óxido de nitrogênio:

O3 + NO → NO2 + O2 10.3

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Havendo radiação solar, o dióxido de nitrogênio se dissocia novamente, voltando à reação


10.1. Portanto, nesse ciclo, há formação e consumo de ozônio, caracterizando uma condição
de estado foto-estacionário. Porém, em determinadas condições de concentração dos NOx e
presença dos COVs emitidos, podem ocorrer eventos de “smog fotoquímico”. Nas grandes
cidades, no entanto, há um grande acúmulo de ozônio, principalmente durante as primeiras
horas da tarde de um dia bastante ensolarado. Esse acúmulo de ozônio só é possível se o NO
deixar de reagir com o O3 (como na reação 10.3). Numa atmosfera urbana, o NO reage com
os COVs, produzindo NO2 e outros produtos e, assim, deixa de consumir O3, que acaba se
acumulando em concentrações significativas. De uma maneira bastante simplificada, a reação
10.3 é substituída pela reação 10.4, esquematizada na Figura 10.1.

COV + NO → NO2 + outros COVs 10.4

Figura 10.1: Esquema simplificado das reações que formam eventos de “smog fotoquímico”. / Fonte: adaptado de Adalgiza Fornaro, IAG/USP.

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10.4 Ozônio na Estratosfera


A camada de ozônio encontra-se na estratosfera, a, aproximadamente, 25 km de altura.
Ela protege os seres vivos na Terra dos danos causados pela radiação ultravioleta do Sol.
Raios ultravioleta em excesso, principalmente na faixa do UV-B (de 280 a 320 nm de
comprimento de onda) e de comprimentos de onda menores, que atinjam a superfície
terrestre, podem acarretar sérios prejuízos à saúde do homem e ao meio ambiente em geral.
O O3 forma-se naturalmente na estratosfera, num ciclo descoberto por Sydney Chapman
em 1930, como mostra a Figura 10.2.

Figura 10.2: Ozônio estratosférico. / Fonte: adaptado de Canal Ciência.

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Segundo Chapman (1930) na reação 1 a radiação solar ultravioleta na estratosfera


(com comprimentos de onda inferiores a 240 nm) lentamente dissocia o oxigênio (O2).
Na reação 2 o oxigênio atômico (O) reage de maneira rápida com o O2 na presença de uma
terceira molécula M (que pode ser outro O2 ou N2) para formar o ozônio (O3). Na reação 3
o O3 formado passa a absorver rapidamente a radiação com comprimentos de onda inferiores
a 320 nm voltando a se decompor em O2 e O. Na reação 4 o O3 também pode reagir com
o oxigênio atômico produzindo novamente duas moléculas de O2.O resultado final é uma
reação global onde 3O2 → 2O3 ou 2O3 → 3O2.
Com relação à química do O3 na estratosfera e troposfera, é importante ter em mente que
elas são ligeiramente diferentes. Na estratosfera ocorre a fotólise (dissociação de moléculas por
efeito da radiação eletromagnética) do O2, enquanto na troposfera ocorre a fotólise do NO2.

10.4.1 Buraco da camada de ozônio

O primeiro clorofluorcarbono (CFC) foi sintetizado no final década de 1920, composto


por 1 átomo de carbono, 2 de cloro e 2 de flúor, (CCl2F2) CFC-12 ou F-12 (Freon).
Entre suas principais características, estavam: não serem reativos, inflamáveis ou tóxicos.
Além disso, sob pressão normal, encontram-se na forma gasosa, mas com um pequeno aumento
na pressão, condensam, liberando calor e resfriando.
Ao evaporarem, reabsorvem calor, esquentando.
Assim, na década de 60, a industrialização do CFC
permitiu a aceleração da produção de geladeiras e
aparelhos de ar-condicionado.
Em 1972, dois cientistas da Universidade da
Califórnia, Sherwood Rowland e Mario Molina,
conduziram experimentos para determinar se as
características de persistência dos CFCs poderiam
causar algum problema por permanecerem indefini-
damente na atmosfera. Seus testes confirmaram que
os CFCs, estáveis na troposfera, gradualmente atin-
giam a estratosfera, onde estavam sujeitos à radiação
Figura 10.3: Ciclo de destruição do ozônio. / Fonte:
UV que não chegava à superfície da Terra por serem adaptado de NOAA.

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absorvidas pelo ozônio estratosférico. Na estratosfera, a radiação UV quebra a molécula de CFC,


liberando um átomo de cloro, que, por sua vez, ataca o ozônio estratosférico (Figura 10.3).
O átomo de cloro age como um catalisador, ou seja, acelera uma reação química sem ser
consumido pela reação. Como os CFCs podem durar de 40 a 100 anos na estratosfera, eles têm
o potencial de quebrar milhares de moléculas de ozônio. Em 1985, alguns cientistas britânicos
que trabalhavam na Antártida reportaram uma diminuição de 50% na camada de ozônio acima
do polo sul. Não é exatamente um buraco na estratosfera no qual inexiste ozônio, mas uma
região onde a concentração do gás está abaixo de um limite médio. Essa região aparece, por
exemplo, sobre a Antártica nos meses de setembro e outubro.
O Protocolo de Montreal (1987) exigiu cortes de 50% em relação aos níveis de 1986,
tanto na produção quanto no consumo de cinco principais CFCs até 1999. A Figura 10.4
mostra a concentração do CFC-11 entre 1977 e 1996. É interessante observar que a redução
na produção (e, portanto, emissão de CFC para a atmosfera) fez com que as concentrações se
estabilizassem em um patamar. Entretanto, esse CFC que continua disponível na troposfera
ainda poderá ser transportado para a estratosfera e destruir moléculas de ozônio.

Figura 10.4: Medidas das


concentrações atmosféricas
de CFC-11 em partes por
tonelada(ppt). / Fonte:
adaptado de NOAA.

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10.4.2 Medida da concentração de O3 na camada de ozônio

Imagine uma coluna desde a superfície da Terra


até o espaço (Figura 10.5). Se todo o ozônio
contido nessa coluna fosse submetido às condições
normais de temperatura e pressão (0 °C e 1013,25
hPa), a coluna teria 0,3 cm de altura (0,3 atm∗cm).
Uma unidade Dobson corresponde a 0,001 atm∗cm.
Portanto, a média de ozônio na atmosfera corres-
ponde a 300 unidades Dobson.
A concentração média de ozônio na estratosfera
corresponde a 300 unidades Dobson. As regiões onde
Figura 10.5: Medida da concentração na camada de ozônio.
a concentração é inferior a 220 unidades Dobson são
caracterizadas como “buracos de ozônio”. Buracos já foram observados na Antártica, no
Ártico, na Sibéria.
A Figura 10.6 mostra a variação do buraco de ozônio nos meses de setembro de 1995 a 2007.
Nota-se que há anos em que o buraco é maior e outros, em que o buraco é menor.

Figura 10.6: Média mensal do Ozônio Total para o mês de setembro de 1995 a 2007. Fonte: WDC.

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Além disso, nota-se que, mesmo com a estabilização das concentrações de CFCs na tropos-
fera, a área do buraco de ozônio aumenta a cada ano, começando cada vez mais cedo (meados
de agosto) e terminando cada vez mais tarde (dezembro).

Figura 10.7: Variação da área do buraco de ozônio entre 1995 e 2006. / Fonte: adaptado de WDC.

10.5 Fatores atmosféricos que afetam a poluição


Episódios de poluição do ar estão intimamente ligados às condições atmosféricas. É impor-
tante frisar os seguintes fatores:

10.5.1 Vento

O papel do vento na dispersão de poluentes atmosféricos é fundamental. O vento vai deter-


minar o quão rápido os poluentes emitidos por uma determinada fonte serão misturados com
o ar ao seu redor e qual distância atingirão. Normalmente, não se espera que episódios de altas
concentrações de poluentes atmosféricos ocorram quando há vento forte. Altas concentrações
de poluentes são permitidas quando os poluentes se acumulam, ou seja, quando não há vento
ou ele é muito fraco.

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10.5.2 Estabilidade e Inversão Térmica

Relembrando os conceitos de estabilidade atmosférica, vistos no texto Estabilidade


atmosférica, nuvens e preciptação, a estabilidade atmosférica determina qual é a extensão
que uma parcela de ar poderá ascender na camada de ar. Uma atmosfera instável promove
correntes de ar verticais, enquanto que uma atmosfera estável inibe movimentos verticais.
Consequentemente, uma pluma de fumaça lançada numa atmosfera estável tende a se espalhar
horizontalmente, havendo pouca mistura na vertical. No inverno, é comum observar inversões
térmicas na região metropolitana de São Paulo.A inversão térmica ocorre em noites com céu sem
nuvens e ventos muito fracos. Nesses dias, a superfície da Terra perde muita radiação, esfriando
mais que a atmosfera acima dela (Figura 10.8b). Assim, a temperatura acaba aumentando com
a altura ao invés de diminuir, como normalmente acontece. Daí o termo “inversão térmica”.
Esse tipo de perfil de temperatura (que aumenta com a altura) torna a atmosfera extremamente
estável, inibindo qualquer tipo de movimento vertical. Nessas condições, toda a poluição
emitida pelos veículos e outras fontes da região metropolitana vão se acumulando nessa camada
estável, que se torna visível (uma camada amarronzada), como mostrado na Figura 10.9.
a b

Figura 10.8: (a) atmosfera instável e (b) atmosfera estável, caracterizando uma inversão térmica.

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Figura 10.9: Acúmulo da poluição emitida pelos veículos e outras fontes poluidoras em
uma região metropolitana.

Na ocorrência de inversão térmica, é interessante computar a sua altura, gradiente


adiabático e investigar a sua origem (causas). Na sequência são abordados algumas das causas
das inversões térmicas.
• Radiação: Numa noite clara e de céu limpo, a superfície continua se resfriando devido
à emissão de radiação e o ar adjacente à superfície resfria por condução. Pela manhã, o
aquecimento da superfície faz com que a inversão desapareça. Contudo, a presença de
neblina pode retardar o aquecimento da superfície e o desaparecimento da inversão.
• Frente fria: Uma frente fria faz com que o ar frio penetre por baixo do ar quente,
causando uma inversão acima da superfície.
• Brisa marítima: A brisa marítima pode fazer com que o ar frio vindo do mar penetre
sob o ar quente que sobe sobre a terra.
• Anticiclones: são sistemas de alta pressão que favorecem movimentos descendentes de ar
no seu centro (o que inibe a formação de nuvens). Regiões sob a atuação de anticiclones
possuem grande perda radiativa no período noturno o que favorece a ocorrência de
inversão térmica.

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10.6 Poluição atmosférica e ambientes urbanos


10.6.1 Ilha de calor

É uma anomalia térmica, onde o ar da cidade se torna mais quente que o das regiões
vizinhas. Os efeitos da ilha de calor são bons exemplos das modificações causadas pelo homem
na atmosfera. As ilhas de calor surgem a partir do momento em que se modifica o uso do
solo, ou seja, superfícies “naturais” são pavimentadas, ocupadas por edifícios e outros tipos de
infraestrutura. Algumas modificações que contribuem para que as temperaturas urbanas sejam
maiores são:
• retirar árvores e vegetação implica diminuir os efeitos naturais do resfriamento, como
sombreamento e evapotranspiração.
• o ar quente pode ficar preso entre prédios altos e ruas estreitas, diminuindo a circulação do ar.
• o calor emitido por veículos, indústrias e diversos equipamentos podem aquecer o ar mais
próximo, intensificando o efeito da ilha de calor.
• uma grande quantidade de poluentes na atmosfera (dióxido de carbono) absorve mais a
radiação terrestre.
O ar frio rodeia a ilha de calor: a zona rural, com sua vegetação natural, torna-se uma região
mais fria; a zona urbana, com seu material característico na construção de prédios, áreas comer-
ciais e residenciais, cria uma região mais quente (Figura 10.10). Esse contraste térmico pode
gerar circulações locais, intensificando movimentos verticais sobre as ilhas de calor, como mos-
trado na figura. O acoplamento entre movimentos verticais mais intensos e a entrada da brisa
marítima na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, pode levar à maior precipitação
sobre a região urbana quando comparada à região mais periférica. Essa região (urbana) quase
totalmente pavimentada e sem superfícies de infiltração, ao receber uma grande quantidade de
chuva, acaba sofrendo com enchentes, como vem sendo sempre noticiado nos meses de verão.

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a b

Figura 10.10: Ilha de calor. / Fonte: adaptado de Blogspot.

10.6.2 Deposição ácida

Poluentes emitidos por fontes antrópicas, principalmente os óxidos de enxofre e de nitro-


gênio ou suas partículas resultantes, podem ser transportados por longas distâncias pelo vento.
Esses poluentes podem ser removidos da atmosfera por deposição seca ou úmida. O termo
deposição ácida compreende a deposição seca (tanto desses gases quanto de suas partículas) e a
úmida (também conhecida como chuva ácida).
A precipitação já é naturalmente ácida, ou seja, tem um pH de 5,6. Isso ocorre porque
o CO2 da atmosfera se dissolve nas gotas de chuva, formando o ácido carbônico e a torna
ligeiramente ácida.

A chuva só é considerada ácida se seu pH for menor que 5.

Diferentemente do CO2, os óxidos de enxofre e de nitrogênio emitidos nas atividades humanas


para a atmosfera formam ácidos fortes, aumentando a acidez da água da chuva. Altas concentrações de
deposição ácida podem danificar plantas e recursos hídricos.
A chuva ácida afeta florestas,principalmente aquelas que estão em altas altitudes.A água acidificada
dissolve os nutrientes que estão no solo e arrasta-os rapidamente antes que as plantas possam utilizá-los
para crescer. A chuva ácida pode causar ainda a liberação de algumas substâncias tóxicas (como
o alumínio) no solo, prejudicando sua fertilidade. Um exemplo pode ser visto na Figura 10.11.

Meteorologia
232 Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2

O impacto da chuva ácida em monumentos históricos também é grande e seu efeito é


mostrado na Figura 10.12, na estátua de arenito. A chuva ácida produzida pela poluição do ar
gerada na região altamente industrializada, provavelmente, explica os danos graves.

Figura 10.12: Efeito da chuva


ácida sobre monumentos
Figura 10.11: Efeito da chuva ácida sobre plantação. / Fonte: Thinkstock. históricos. / Fonte: Thickstock.

Referências
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Belmont, CA: Brooks/Cole, Cengage Learning, 2009.
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10 Poluição Atmosférica
Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 2 233

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ozone_hole/ozone_hole_size_1995_2006_sml.jpg>. [s.d].

Glossário
Chuva ácida: qualquer forma de precipitação (envolvendo ou não a água) com elevados níveis de ácidos
nétrico e sulfúrico. Portanto, a chuva ácida está associada tanto com a deposição seca e úmida.
Deposição seca: queda de pequenas partículas e gases sobre a superfície terrestre, sem haver chuva,
granizo, neve e nevoeiro.
Deposição úmida: processo pelo qual os aerossóis e gases são removidos da atmosfera e depositados na
superfície terrestre através da chuva, granizo, neve e nevoeiro.
Evapotranspiração: O termo evapotranspiração está relacionado à evaporação da água do solo, rios,
lagos, represas, oceanos etc. e à transpiração das plantas.
Hidrocarbonetos: Compostos orgânicos formados por carbono e hidrogênio.

Inversão térmica: quando uma camada de ar frio encontra-se abaixo de uma de ar quente. Como o ar
frio é mais denso ele não consegue ascender verticalmente. Assim, em geral, não haverá dispersão
de poluentes.
Poluente atmosférico: qualquer forma de matéria ou energia com intensidade e em quantidade,
concentração, tempo ou características em desacordo com os níveis estabelecidos pelo conselho
nacional do meio ambiente (CONAMA) e que causem problemas ao homem, fauna e flora.
Poluentes primários: aqueles que são emitidos diretamente por uma fonte.

Poluentes secundários: aqueles que são formados na atmosfera, por exemplo, por reações químicas entre
poluentes primário e constituintes naturais da atmosfera.

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