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“MATRIMÔNIO: SACRAMENTO VOCACIONAL”

Toda pessoa humana tem uma vocação, isto é, um chamado de Deus para
se realizar e ser feliz, no conjunto dos viventes. E não uma vocação qualquer, mas
vocação ao amor e à santidade. Deus não chama uns para a perfeição e outros para a
mediocridade. Assim é que, por diferentes caminhos, ou diferentes estados de vida
(casado, solteiro, consagrado ou sacerdote), todos são chamados à santidade e à
plenitude da caridade.
O matrimônio é vocação: um chamado de Deus ao dom de si no amor
recíproco e aberto à vida. É um chamado que Deus faz ao homem e a mulher para
constituírem uma comunhão geradora de vida. “Não é bom para o homem ficar só”,
disse Deus, nem é bom para a mulher (Gn 2,18-25). O casal humano torna-se o berço da
vida e da família. A família é assim o celeiro das vocações que pelo sacramento do
matrimônio, participa da missão educativa da Igreja, que é mestra e mãe.
A família cristã está fundada no sacramento do matrimônio, sendo sinal
do amor de Deus pela humanidade e da entrega de Cristo por sua esposa, a Igreja. A
partir dessa aliança se manifestam a paternidade e a maternidade, a filiação e a
fraternidade, e o compromisso dos dois por uma sociedade melhor.
O sacramento do matrimônio concede aos esposos a graça de amarem-se
com o mesmo amor que Cristo amou sua Igreja; a graça do sacramento leva à perfeição
o amor humano dos esposos, consolida sua unidade indissolúvel e os santifica no
caminho da vida eterna.
Através desse sacramento o próprio Cristo vem ao encontro dos cônjuges
cristãos e realiza a santificação dos dois em vista da vida de comunhão familiar.
Outro aspecto a ser analisado é fazer um contexto histórico do
matrimônio. Comecemos pelos cristãos dos primeiros três séculos, o matrimônio era um
assunto da família. Na era patrística, o matrimônio era considerado um “sacramentum”,
no sentido de compromisso ou juramento de fidelidade.
No século 4° ao 15 o matrimônio passa de um acontecimento profano-
civil para inspiração cristã, com o desenvolvimento da celebração aparecem a troca de
consentimentos e o véu e a benção nupcial durante a Eucaristia.
Já com o Concílio de Trento o matrimônio é visto como “instituição de
fé”. A partir do Concílio Vaticano II, o consentimento matrimonial é expressão do dom
recíproco dos esposos durante a totalidade da vida conjugal. No canôn 1055 nos diz que
o matrimônio não é apenas uma realidade jurídica (de contrato), mas uma realidade
pessoal e religiosa, onde o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão de
vida toda, e de contrato passa a ser aliança. Pois, o casamento não pode ser reduzido a
simples contrato de conveniência em nome de uma visão unilateralmente personalista
do amor.
No catecismo da Igreja Católica, o matrimônio corresponde à vontade de
Deus, o homem e a mulher são criados um para o outro e, juntos, em sua
correspondência recíproca, são imagem de Deus. Desse modo, a relação homem –
mulher reflete com clareza o íntimo do ser humano em si mesmo.
No Novo testamento o matrimônio é considerado dentro do mistério do
amor de Cristo e da Igreja. A união matrimonial é “um grande mistério”, assim a união
de Cristo com a Igreja é como a união do esposo com a esposa (Ef 5, 35ss). No
sacramento do matrimônio Cristo se faz presente não somente pelos gestos e símbolos
com os quais os esposos são santificados, mas pela forma como vai atuar na vida de
cada um deles.
A união Cristo – Igreja não constitui apenas modelo e exemplo do
matrimônio cristão, mas principalmente seu fundamento, seu significado e sua
grandeza. Só a reflexão antropológica sobre o sacramento do matrimônio nos permite
entendê-lo como sacramento da criação, primordial, enquanto sinal no mundo visível de
Deus. E, de fato, ao afirmarmos que o matrimônio corresponde à vontade de Deus,
devemos começar a verificar o que nos foi transmitido partindo da antropologia bíblica.
A finalidade desse sacramento é a realização do ser humano em
plenitude, tornando-se participante da fecundidade criadora e redentora de Deus. O ser
humano é capaz de manter contatos com outras pessoas, com as quais estabelece
relações. Somente o ser humano é realmente social. O casamento implica
fundamentalmente vida a dois, não como vivência paralela, um ao lado do outro, mas
como integração de esforços e de propósitos. É preciso percorrer, juntos, o caminho,
comprometidos um com o outro como personagens principais de uma única história: a
do casal.
Portanto, conclui-se conforme Goedert: “Na verdade, a vocação primeira
do ser humano não é a de ser um simples reprodutor, mas a de ser capaz de realizar
comunhão de vida a partir do amor mútuo. A procriação deve ser fruto dessa
experiência, interação interpessoal”. E ainda com o Ritual do Matrimônio:
O Matrimônio, desejado, preparado, celebrado e vivido na vida de
cada dia à luz da fé, é o que a Igreja une, a doação confirma, a benção
chancela, e o Pai ratifica. Que jugo extraordinário aceitam dois fiéis: o
jugo de uma só esperança, de um só teor de vida, de uma vida mesmo
serviço (Ritual do Matrimônio, n.11)
CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB – setor família),
Casamento e família no mundo de hoje: texto seletos do Magistério eclesial. Petrópolis:
Vozes, 1993.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Loyla, 2000.
GOEDERT, V.M. Ordem e Matrimônio..........
Compendio da doutrina.

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