Você está na página 1de 280

CADERNO DE ESTUDOS

EJA - ENSINO MÉDIO


MATERIAL DE APOIO
MENSAGEM AO ALUNO EaD
Olá aluno(a)! Esse material foi especialmente elaborado para você.
Leia com atenção e procure complementar seus estudos com os demais recursos
do ambiente de ensino a distância. Conte com seus professores e tutores para ajudar.

www.visaoedu.com.br
O que é ciência,
notação científica
e unidades
Para início de conversa...

Muito provavelmente você já se perguntou, à noite olhando para o céu,

quantas estrelas existem. Você já imaginou a distância que elas estão? Sabemos

que existem o sol, os planetas, as estrelas, as galáxias, todos bem distantes de

nós. A contemplação do céu desperta muitas questões. Ficamos imaginando

qual a fronteira do “infinitamente grande”. Até onde podemos imaginar? Até onde

o mundo do “muito longe” vai?

O mais interessante é que tem outra direção que nos leva a outro mundo

igualmente fascinante: o do “muito pequeno”. Imagine que você pudesse mer-

gulhar numa gota d’agua sobre uma folha e fosse diminuindo cada vez mais de

tamanho... Você veria um mundo igualmente interessante, repleto de bactérias,

vírus, moléculas, átomos, cada um deles menor do que o outro e numa sucessão
que parece não ter fim.

Embora os nossos olhos sejam ferramentas excelentes, não podemos ob-

ter detalhes dos dois mundos que discutimos apenas com os olhos. Precisamos

de aparelhos que aumentem o poder da nossa visão. Os cientistas conseguem

ver o “muito longe” com os telescópios e o “muito pequeno” com os microscópios.

Veja as figuras 1 e 2 como exemplos desses dois mundos.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 145


Figuras 1 e 2: Veja quantos detalhes podemos perceber, por exemplo, na imagem de uma formiga obtida com um micros-
cópio eletrônico de varredura (esquerda) . A direita você pode ver a foto da galáxia Andrômeda obtida pelo telescópio
espacial Hubble (retirada de http://hubblesite.org). Ela é a galáxia espiral mais próxima da nossa e ainda assim a luz leva dois
milhões e meio de anos para chegar à Terra. Ela contêm cerca de um trilhão de estrelas... Quanto é um milhão e um trilhão?
Veremos em breve!

Além desses dois extremos, temos tudo o que nos rodeia e o que nos é mais familiar: carros, computadores, luz

elétrica, geladeira... Todo esse aparato tecnológico da nossa civilização funciona baseado nas mesmas leis que fazem

a Terra girar em torno do Sol e que fazem as estrelas brilharem.

A física é a mais básica das ciências. Ela lida com o comportamento e a estrutura da matéria. Aqui, matéria

quer dizer tudo que nos cerca, incluindo luz, ar e tudo o que está contido no Universo.

Nesta unidade discutiremos brevemente o que é ciência e como é possível conhecer as leis que regem a natu-

reza. Aprenderemos a notação científica e apresentaremos o sistema internacional de unidades.

Objetivos de aprendizagem
ƒƒ Identificar ciência e o que se denomina o método científico;

ƒƒ Empregar a notação científica e estimar ordens de grandeza;

ƒƒ Utilizar as unidades do sistema internacional.

146
Seção 1
O que é ciência

Podemos afirmar que o principal objetivo de todas as ciências, incluindo a física, consiste na procura de ordem,

de padrões, de relações no interior de um dado sistema em estudo. Esse sistema pode ser o sistema solar, no qual

existem regularidades nos movimentos dos planetas, pode ser um lago, no qual se estuda as interações entre as várias

espécies de peixes e outros animais, pode ser o desempenho da economia de um dado país etc.

Ciência é uma forma sistemática, organizada de obtenção de conhecimento sobre o Universo. Esse conheci-

mento é condensado e refinado na forma de leis e teorias que podem ser testadas e comparadas com os experimen-

tos. Os resultados são refeitos, reexaminados de forma independente por outros cientistas e as leis e teorias são aper-

feiçoadas. Observe que não se trata de simples coleta de dados (informações). É necessário imaginação e criatividade

para selecionar o que realmente é importante.

Os cientistas se vêem frequentemente forçados a abandonar ou modificar suas convicções sobre algum aspec-

to da realidade, embora nem sempre isso seja fácil. Tomemos um exemplo simples, o movimento de um bloco de

madeira em cima de uma mesa, ao qual se dá um pequeno empurrão de leve de modo que ele se mova sobre a mesa.

Ele vai escorregar um pouco sobre a mesa e parar.

Aristóteles, um filósofo grego do século 3 antes de Cristo, concluiu a partir desse simples fato que o estado na-

tural de um corpo (o bloco neste caso) é o estado de repouso. Galileu, um físico italiano do século 16 depois de Cristo,

imaginou (e realmente fez vários experimentos) o que aconteceria se a superfície da mesa fosse muito lisa, como

se tivesse coberta por um óleo muito escorregadio. O bloco iria escorregar muito mais na mesa. Isso, argumentava

Galileu, deve-se à diminuição do atrito entre o bloco e a mesa quando o óleo é espalhado na superfície. Se a mesa

for realmente muito lisa, de modo que não haja atrito, o bloco deslizaria para sempre (supondo uma mesa sem fim).

Galileu concluiu que o movimento é um estado tão natural quanto o repouso.

Observe que ele não conseguiu eliminar totalmente o atrito nos experimentos, mas foi uma conclusão lógica.

O atrito está presente em qualquer sistema mecânico com partes móveis, mas muitas vezes podemos ignorá-lo em

primeira aproximação. Com essa nova abordagem para o movimento, Galileu iniciou a moderna concepção de movi-

mento que nós estudamos até hoje.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 147


Figura 2: Galileu Galilei.

A ciência faz com que percebamos o mundo de forma mais interessante, mais rica e, de certa forma, mais

próxima da realidade. Por exemplo, os antigos gregos acreditavam que o Sol era uma carroça puxada por um deus

chamado Hélio. O primeiro a oferecer uma explicação mais próxima do que sabemos do Sol hoje foi Anaxágoras, um

filósofo do quinto século antes de Cristo. Ele supôs que o Sol fosse uma bola de metal incandescente e por isso foi

processado por ofender as crenças religiosas de sua época. Hoje ninguém acharia razoável pensar no Sol como uma

carroça e a nossa concepção do Sol é bem mais próxima da de Anaxágoras.

Figura 3: Anaxágoras foi processado por pensar de forma diferente das crenças de sua época, quando se achava que
o sol podia ser representado por um deus. Com o avanço da ciência, algumas crenças foram caindo para dar lugar a
explicações mais próximas da realidade.

148
Na realidade, existe muito debate hoje sobre o que é ciência. Sem dúvida há muitas formas de se conhecer a

natureza. Todos os povos desenvolveram algum tipo de conhecimento técnico que os possibilitou construir habita-

ções, caçar, construir calendários etc. Mas o que habitualmente é chamado ciência é um tipo de conhecimento mais

específico. Uma fração considerável dos cientistas e professores diria que a ciência (no sentido usual do termo) se

apoia fortemente nas seguintes ideias:

1. A ciência é uma tentativa de descrever o mundo real, ou seja, o mundo que existe independentemente

do pensamento humano. Dentre as várias descrições possíveis desse mundo existe uma que é a melhor

dentre elas.

2. Uma teoria científica se aplica universalmente, em todos os tempos e lugares. Assim, a mesma teoria que
descreve o movimento do bloco numa mesa na Terra também descreveria o movimento de um bloco numa

mesa em Marte.

3. A ciência em si mesma é neutra, do ponto de vista moral. Um exemplo seria a dinamite: ela pode ser uti-

lizada por um terrorista e causar muito mal à humanidade, mas também pode ser utilizada para construir

um túnel ou na prospecção de petróleo que vai melhorar uma determinada comunidade ou país. Nesse

sentido, devemos distinguir entre a ciência, ela mesma, e a sua utilização pelas pessoas e pelos governos.

4. É possível que existam várias teorias distintas sobre o mesmo sistema ou objeto em estudo. Mas a tendên-

cia é que essas diversas teorias caminhem juntas para uma única teoria.

5. O conhecimento científico é acumulativo. Há um crescimento constante na quantidade e na qualidade do

nosso conhecimento. Essa acumulação leva ao progresso.

Teoria
Para as ciências, teoria seria uma síntese (conclusão) sobre um determinado assunto ou conjunto de fatos observacionais rela-
cionados, baseado em hipóteses que sejam passíveis de experimentação ou que gerem previsões que possam ser submetidas
a experimento.

O que chamamos ciência se divide em vários ramos. Vamos citar alguns deles:

Física: Consiste no estudo das leis que descrevem os aspectos mais fundamentais da Natureza, como espaço,

tempo, matéria, luz, calor etc. Tudo que existe no universo é descrito pelas leis da física, incluindo planetas, carros,

átomos, e outros sistemas físicos. Portanto, a física é o ponto de partida para muitas pesquisas sobre a natureza. Os

conceitos que a Física utiliza - espaço, tempo, matéria, energia etc. -, fornecem os fundamentos para vários outros

ramos da ciência.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 149


As cinco ideias que apóiam o pensamento científico listados acima se aplicam especialmente bem à Física.

Astronomia: É o estudo das estrelas, planetas e outros corpos celestes. Sempre foi (e hoje cada vez mais) arti-

culada com a física.

Química: Toda a matéria no universo é composta de átomos. O estudo das suas combinações é o objeto da

Química. Esta ciência estuda também as reações químicas entre as substâncias, fenômenos que geram impactos em

nossas vidas e atividades.

Biologia: Estudo dos seres vivos. Os biólogos pesquisam a vida em todos os sistemas, desde os vírus e bactérias

até os mamíferos, que somos nós.

Existem muitos outros ramos, tais como Geologia, Geografia, Economia etc.

Figura 4: Cada ramo da ciência possui um objeto de estudo próprio. A Química estuda a matéria, a Física estuda as
leis que regem a natureza e a Biologia estuda os seres vivos.

150
O céu de Ícaro e o céu de Galileu
A banda brasileira Paralamas do Sucesso, em sua bela canção ‘Tendo a Lua’, argumenta que o céu
de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu. O céu de Ícaro é o céu dos mitos e do trágico. Ícaro
é filho de Dédalo que, entre outras coisas, fez asas de penas e cera para voar. Ícaro foi testá-las.
Desdenhou da recomendação de seu pai e, em sua vontade de explorar o desconhecido, se apro-
ximou demais do sol. O calor derreteu a cera, e ele se espatifou no mar, morrendo. O céu do físico
e astrônomo italiano Galileu Galilei (1564-1642) é aquele no qual o cientista, com telescópios e
satélites, observa o espetáculo das leis da física que regem o destino igualmente trágico do uni-
verso, cujo parto – junto com o nascimento do espaço e do tempo – se dá em uma explosão. O
céu de Galileu é jovem: começou a se delinear cerca de 500 anos atrás. Já em 1572, o astrônomo
dinamarquês Tycho Brahe (1546-1601), ao observar, na constelação de Cassiopeia, uma super-
nova (explosão de uma estrela massiva e moribunda), perturbava, de forma irreversível, a visão
clássica do céu como um lugar imutável. Galileu, apontando sua luneta para Júpiter e descobrin-
do o movimento elíptico de seus muitos satélites, abalou os fundamentos do cosmo como era
conhecido na Idade Média. Aquele pequeno sistema, movendo-se com as leis descobertas pelo
astrônomo alemão Johannes Kepler (1571-1630), tornava o céu mais complexo e interessante do
que se conhecia à época: nem todas as órbitas se davam em torno da Terra.

Adaptado da coluna Exatamente, Ciência Hoje, No.


276, Novembro de 2010.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 151


Seção 2
Ciência e Tecnologia

Já mencionamos que os cientistas utilizam instrumentos (telescópios, microscópios etc.) para explorar a na-

tureza. Chamamos tecnologia à atividade de aplicação das leis científicas para criar e aperfeiçoar instrumentos e

objetos. Por exemplo, um liquidificador é um eletrodoméstico que utiliza as leis básicas da física (da eletricidade e do

magnetismo, como veremos mais tarde) para simplificar as tarefas na cozinha.

Dê uma olhada ao seu redor. É possível que haja uma televisão por perto, o local esteja iluminado por uma

lâmpada elétrica, as paredes estejam pintadas, você tenha visto umas fotos no computador e que alguém da sua

família tenha tomado vacina recentemente.

Você já pensou quanta tecnologia tem por trás de tudo isso? É possível que a energia elétrica que você utiliza ago-

ra tenha sido produzida na represa de Sete Quedas, no Paraná, e que tenha sido conduzida por centenas de quilômetros

até sua casa. A tinta que cobre as paredes foi desenvolvida em laboratórios químicos para ter propriedades adequadas

ao uso doméstico. A televisão recebe sinais que viajam pelo ar (as chamadas ondas eletromagnéticas) que são transfor-

mados em imagens na tela por intermédio de circuitos eletrônicos, permitindo que você veja um filme em casa.

Toda essa tecnologia é ainda muito jovem vista no contexto da história da humanidade. Tanto os princípios

científicos quanto as tecnologias que os utilizam foram desenvolvidos nos últimos 150 anos. Poderíamos acrescentar

a essa lista o automóvel, a penicilina, o avião, a internet, vacina contra o pólio etc.

Pólio

Também conhecida como poliomelite, é uma doença ocasionada por vírus que ataca principalmente crianças pequenas e
causa paralisia e deformações no corpo

Tudo isso é o resultado da aplicação dos princípios científicos básicos aos quais nos referimos anteriormente.

A relação entre ciência e tecnologia é de ida e volta. Os instrumentos e aparelhos são construídos por meio da

utilização das teorias científicas. Por outro lado, melhores aparelhos ajudam a fazer melhores experimentos e podem

ter um grande impacto no aperfeiçoamento destas mesmas teorias.

A ciência no dia a dia

Enumere três consequências positivas para a sua vida trazidas pela ciência. Enume-

re três consequências negativas para a sua vida de atividades relacionadas com o progres-

so tecnológico.

152
Seção 3
O Método Científico

“A ciência não é nada além de senso comum treinado e organizado”

Thomas Huxley 1825-1895

Um dos grandes progressos da humanidade deu-se por meio do desenvolvimento de técnicas que pudessem

ampliar os sentidos com os quais fazemos observações. A invenção do microscópico e da balança (entre outros apa-

relhos) possibilitaram melhores medidas e resultados experimentais de melhor qualidade.

Surge então um conjunto de procedimentos que teriam como objetivo padronizar estas medidas e interpretá-

-las corretamente de forma a se construir uma teoria científica e até mesmo reformulá-la. Nasce então o Método

Científico.

Muitos autores afirmam que não existe um método exclusivo e único para se fazer ciência e que, muitas vezes,

o verdadeiro trabalho científico é muito menos formal, não sendo feito sempre de modo lógico e organizado. Estes

mesmos autores asseguram que uma investigação científica começa com a necessidade de resolver problemas, mas

todos são unânimes em afirmar que é sempre possível, após uma descoberta, construir um caminho lógico que a

confirme ou que a negue. Ou seja, se uma teoria não nasce inicialmente pela simples observação de um determinado

fato, com certeza sua veracidade será testada através de diversos experimentos científicos.

Quer conhecer um pouco mais sobre o método científico?


Então, acesse o link: http://www.youtube.com/watch?v=zneQG1jzJ-I

Nele você encontrará um excelente vídeo descrevendo um exemplo da aplicação do método científi-
co, mostrando suas etapas de modo divertido e claro.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 153


O que você acha do pensamento que abre esta seção?

Será que você, assim como o autor da frase, acredita que as descobertas científicas se deram apenas através de

mentes organizadas e treinadas e que o caminho destas descobertas é uma reta uniforme e constante?

Bom se você não concorda com Thomas Huxley não se chateie, uma vez que muitos outros pensadores pen-

sam como você. Eles acreditam que não é necessário uma lógica de outro mundo, incrivelmente precisa e altamente

sofisticada para que uma descoberta seja feita.

Por exemplo, suponha que há alguns meses, você tenha comprado uma tartaruga chamada Ligeirinha e, com

o tempo, você percebe que Ligeirinha tem uma estranha percepção das condições climáticas. Quando a chuva se

aproxima, você percebe que Ligeirinha tenta entrar em casa, o que exige uma grande antecedência, uma vez que

Ligeirinha, apesar do nome, demora um grande tempo para vencer a distância entre o quintal e a porta da sua casa.

Com isso, você deduz que sempre que Ligeirinha tenta entrar em casa a chuva é iminente. Um dia você percebe Ligei-

rinha tentando entrar em casa e, imediatamente, se prepara para fechar todas as janelas. No entanto, você percebe

que o céu está bem claro e que existe um gato enorme de olho em Ligeirinha. Daí em diante, você imagina que a ação

pré-chuva de sua tartaruga é um sistema de alarme que, apenas geralmente, prevê uma chuva, mas que ocasional-

mente pode representar a presença de um predador.

A sua estratégia para decifrar o mundo de Ligeirinha é semelhante à estratégia empregada pelos cientistas.

No início, você tomou a atitude de observação, sentindo (vendo, ouvindo, tateando ou provando), de alguma forma,

um padrão nos acontecimentos. Assim que percebeu uma modificação no comportamento de sua tartaruga, você

também modificou seu entendimento dos acontecimentos.

Figura 5: A observação das atitudes da tartaruga Ligeirinha é um exemplo de aplicação do método científico, no qual se
observam fatos para depois testá-los.

Fonte: http://www.sxc.hu/photo/1150376

154
3.1. As etapas do Método Científico

O médico e fisiólogo francês Claude Bernard percebeu que coelhos comprados em mercado apresentavam a

urina clara e ácida, característica de animais carnívoros. Como ele sabia que coelhos normais apresentavam urina tur-

va e básica por serem herbívoros, supôs que os coelhos do mercado não se alimentavam há muito tempo, e por isso

começaram a se alimentar de sua própria carne. Fez então uma testagem controlada com vários animais, variando seu

regime alimentar, dando a alguns alimentação herbívora, e a outros, carnívora. No final de tudo, concluiu que “em je-

jum todos os animais se alimentam de carne”. Vamos identificar então cada etapa do método aplicado neste exemplo:

Como você pôde observar, o Método Científico se apresenta como uma série de etapas:

1. Começa na observação de um fato;

2. Depois vem a criação de uma hipótese;

3. Passa para e experimentação (quando testamos essa hipótese), e

4. Termina com a generalização e criação de um modelo ou teoria para explicar o fato observado.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 155


Balões que flutuam... ou não?
No nosso cotidiano acontecem, geralmente, coisas que servem para ilustrar determinados estudos
teóricos. A contextualização é um meio muito utilizado para enriquecermos nosso conhecimento. As
figuras a seguir mostram elementos que exemplificam essa idéia. Observe-as:

De acordo com as figuras e o seu conhecimento em relação ao “método científico”, responda as se-
guintes questões:

Qual(is) quadrinho(s) representa(m) os passos correspondentes à experimentação (parte prática),


evidenciada no desenvolvimento de uma pesquisa científica?

O quadrinho I representa qual etapa de um método científico?

Perdido na floresta
Certa vez um menino se perdeu na floresta. Como fazia frio, decidiu procurar material para atear fogo.
À medida que ia trazendo objetos para sua fogueira, observava que alguns queimavam e outros não.
Começou, então, a fazer a lista abaixo, relacionando os que queimavam e os que não queimavam.
Depois de algumas viagens, sua classificação continha as seguintes informações:

156
A partir dessa lista, ele tentou encontrar uma regularidade que a guiasse na procura de novos mate-
riais combustíveis, chegando à seguinte conclusão:

“Todos os objetos cilíndricos queimam”

A frase descrita acima está associada diretamente a qual das etapas do método científico? Proponha
um experimento que pudesse contrapor a frase elaborada pelo menino.

Seção 4
Potências de dez

Como mencionamos na seção “Para início de conversa...”, muitas vezes temos que trabalhar com números mui-

to grandes ou muito pequenos. Por exemplo, a massa do Sol, em quilogramas, é de cerca de 2 seguido por 30 zeros!

Logo, escrever 2.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000 não é uma forma prática de se trabalhar. No trabalho cien-

tífico, muitas vezes, se utiliza a potência de dez ou notação científica, para facilitar essa escrita.

Por exemplo:

100 é igual a = 10 x 10 ou = 102 , ou seja, 10 elevado ao número de zeros que tem depois do 1, que são dois,
neste caso.

Assim, temos dez elevado ao expoente dois (ou dez ao quadrado), que é dez vezes dez, como já sabemos.

Outro exemplo: 1.000 = 10 x 10 x 10 = 103, ou seja, 10 elevado a terceira potência, que de novo é o número de
zeros (3) depois do 1.

Veja esses numerais a seguir:

1 = 100 (aqui não tem nenhum zero depois do 1)

10 = 101 (aqui tem um zero depois do 1, nada muda! )

100.000 = 105

e assim vai.

Também, como mencionado anteriormente, às vezes usamos os seguintes termos:

Milhar: 1.000 = 103

Milhão: 1.000.000 = 106

Bilhão: 1.000.000.000 = 109

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 157


Para números pequenos, o procedimento é semelhante. Assim, um décimo, ou seja, uma parte em dez, é dada

por:
1 0,1 10-1 de modo que aqui temos 10 elevado ao número de zeros na frente da vírgula, que é
10
um somente. Dizemos que temos 10 elevado ao expoente -1. Logo,

1 0,01 10-2
100

1 0,00001 10-5
100000

Vimos acima que a divisão de 1 por 10 equivale a colocar uma vírgula na frente do 1 e o resultado é 0,1. Mas se

quisermos dividir 27 por 10, por exemplo, o resultado é

27 = 2,7
10

Lembre que se um número for multiplicado e dividido ao mesmo tempo por outro, ele continua igual. Assim,

sempre podemos fazer :


27 = 27 x 10 = 2,7 x 10
10 e agora 27 está escrito em termos de potências de 10.

Da mesma forma 27.000 = 27 x 103 = 2,7 x 104

Escrevendo com notação científica


Escreva em potências de dez os seguintes números:

300 =

0.03 =

0.0001/0.001 =

158
Seção 5
Unidades

Você já observou que nos mercados os ovos são vendidos em dúzias, a carne em quilos, um fio em metros e o

leite em litros? É claro que todos têm que concordar com o que significa “um quilo”, senão haveria muita confusão no

comércio. Um quilo ou um metro são exemplos de unidades. Na Física, utilizamos o Sistema Internacional de Unida-

des. Nele, o comprimento é medido em metros (m), o tempo em segundos (s) e a massa em quilogramas (kg).

Figura 6: A padronização das medidas é essencial para que todos entendam o que está sendo dito. Por isso, no Sistema Inter-
nacional de Unidades, o comprimento é dado em metros, o tempo em segundos e a massa em quilogramas.

O seu relógio mede o tempo em horas. Cada hora tem 60 minutos e cada minuto tem 60 segundos. Nas olim-
píadas e nas corridas, muitas vezes os tempos são medidos em décimos ou em centésimos de segundo. Um décimo
é uma parte em dez do segundo e um centésimo é uma parte em cem do segundo.

Você já conhece alguns múltiplos do metro. Por exemplo, um quilômetro são mil metros. Um metro tem 100 centí-
metros. Ou seja, um centímetro é um centésimo do metro. Dizemos que centi é um prefixo que significa dividir por cem.

De forma similar, um quilograma é composto por mil gramas. Daí você percebe que quilo é um prefixo que

significa multiplicar por mil.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 159


Na tabela a seguir há uma lista de prefixos do Sistema Internacional:

Tabela 1: Prefixos do Sistema Internacional

Sempre que fizermos operações com grandezas físicas (que tem que ter uma unidade que as acompanha)

temos que utilizar as mesmas unidades. Por exemplo, se você compra 80 cm de tecido e seu amigo compra mais dois

metros, vocês juntos têm 80 cm + 200 cm = 280 cm de tecido. Lembre-se que cada metro possui 100 cm. Mas você

também pode dizer 0,8 m + 2 m = 2,8 m de tecido.

Na linguagem do dia a dia, dizemos dois metros e oitenta centímetros, e está correto! Mas para somar duas

quantidades temos que utilizar as mesmas unidades em todos os elementos da soma. Não se pode somar centímetro

com metro! E o mesmo vale para as outras unidades.

Lembre-se sempre que para fazer operações aritméticas de soma, subtração, multiplicação e divisão,
os valores devem apresentar a mesma unidade! Não pode somar metros com centímetros, nem quilo-
gramas com gramas, muito menos subtrair segundos de horas.

Além de comprimento, temos também área e volume. Dizemos que uma sala tem 16 m2 quando o seu com-

primento (em metros) multiplicado pela sua largura (também em metros) é igual a 16. Aqui a unidade é metros qua-

160
drados e quer dizer metro X metro. Por exemplo, se o comprimento da sala for 4 m e a largura também 4 m, a área da
sala é (4 m) x (4 m) = 16 m2.

Da mesma forma, temos a unidade de volume, que é dada em m3. Assim, você pode ouvir de um vizinho: tenho
uma caixa d’água que tem 4 m de comprimento, 3 m de largura e 2 m de altura. Dito isso, você já sabe que o volume
da caixa é de 24 m3 = (4 m) x (3 m) x (2 m). Você sabe também que a caixa d’água pode armazenar o volume de 24

caixas d’água menores, cada uma de 1 m3 .

Utilizando as unidades
Transforme 10 km em cm: ___________________

Transforme 3 m2 em cm2 : ___________________

Transforme 3 minutos em segundos: ___________________

Transforme 5 kg em g (gramas): ___________________

Transforme 8 litros em cl (centilitros): ___________________

Transforme 500 cg (centigramas) em g (gramas): ___________________

O conceito de ciência, como vimos no início do módulo, é o conceito central da unidade. A ciência trabalha com
as ideias de evidência experimental e consistência lógica. Elas nos acompanharão durante todas as unidades seguintes.

Resumo

ƒƒ Vimos que o método científico, de certa forma, está no nosso cotidiano, toda hora fazemos hipóteses e
tomamos decisões baseadas nessas hipóteses que são naturalmente refinadas em consequência do que
aprendemos no dia a dia.

ƒƒ As potências de dez simplificam a comunicação em ciência, um número enorme pode ser expresso com

facilidade.

ƒƒ E por fim, vimos que em física as unidades são fundamentais. Andar um metro é bem diferente de andar

um quilômetro.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 161


Veja Ainda

Você acha que a astrologia pode ser considerada ciência? Veja a esse respeito um vídeo (legendas em portu-

guês) do astrônomo Carl Sagan sobre o assunto: http://www.youtube.com/watch?v=MxwwpmF_czI

Neste vídeo o celebrado astrônomo e divulgador da ciência mostra como o ser humano projeta suas angústias

e desejos no céu. As constelações são projeções das diversas culturas no céu, não tendo nenhum significado objetivo.

Cada cultura vê algo totalmente diferente no mesmo conjunto de estrelas.

Imagens

• André Guimarães

• http://usgsprobe.cr.usgs.gov/ant.gif • Creative commons license.

• http://hubblesite.org/newscenter/archive/releases/2012/04/image/c/format/xlarge_web/ • Creative com-

mons license.

• http://www.sxc.hu/photo/1056593.

• http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Galileo.arp.300pix.jpg

• http://www.sxc.hu/photo/1327692

• http://www.sxc.hu/photo/574983

• http://www.sxc.hu/photo/1178795

• http://www.sxc.hu/photo/758308

• http://commons.wikimedia.org/wiki/File:D%C3%A9dalo_e_%C3%8Dcaro_-_Pyotr_Ivanovich_Sokolov.jpg

• http://www.youtube.com/watch?v=zneQG1jzJ-I

• http://www.sxc.hu/photo/1150376

162
• http://www.sxc.hu/photo/530409

• http://www.sxc.hu/photo/1223568

• http://www.sxc.hu/photo/481418

• http://www.sxc.hu/photo/517386 • David Hartman.

• http://www.sxc.hu/985516_96035528.

Atividade 1

São muitas as respostas possíveis. Positivas, podemos citar que atualmente se vive

muito mais tempo, com muito mais conforto (pense na luz elétrica, água encana-

da...) e a compreensão do mundo tornou-se mais rica. Negativas, podemos citar

os problemas de poluição, degradação do meio ambiente e a possibilidade de

destruição da vida humana pelas armas nucleares.

Atividade 2

Os quadrinhos II e III uma vez que eles representam, através de uma balança, um

experimento de investigação do peso do ar. No quadrinho I, nosso personagem

elabora uma hipótese na forma de uma pergunta.

Atividade 3

A frase representa uma lei (ou teoria). No entanto, bastaria ele fazer um novo expe-

rimento para refutar esta hipótese como, por exemplo, a queima de pedaço de

madeira de formato cúbico.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 163


Atividade 4

300 = 3 x 102

0.03 = 3 x 10-2

0.0001/0.001 = 10-4/10-3 = 10-1

Atividade 5

10 km = 10 x 103 m = 104 m = 104 x 102 cm = 106 cm

3 m2 = 3 x (100 cm)2 = 3 x 104 cm2

3 min = 3 x 60 s = 180 s

5 kg = 5000 g = 5 x 103 g

8 l = 800 cl

500 cg = 5 g

164
O que perguntam por aí?

Questão 1

(ENEM 2009)

Na linha de uma tradição antiga, o astrônomo grego Ptolomeu (100-170 d.C.) afirmou a tese do geocentrismo,

segundo a qual a Terra seria o centro do universo, sendo que o Sol, a Lua e os planetas girariam em seu redor em

órbitas circulares. A teoria de Ptolomeu resolvia de modo razoável os problemas astronômicos da sua época. Vários

séculos mais tarde, o clérigo e astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), ao encontrar inexatidões na teoria

de Ptolomeu, formulou a teoria do heliocentrismo, segundo a qual o Sol deveria ser considerado o centro do univer-

so, com a Terra, a Lua e os planetas girando circularmente em torno dele. Por fim, o astrônomo e matemático alemão

Johannes Kepler (1571-1630), depois de estudar o planeta Marte por cerca de trinta anos, verificou que a sua órbita é

elíptica. Esse resultado generalizou-se para os demais planetas.

A respeito dos estudiosos citados no texto, é correto afirmar que:

a. Ptolomeu apresentou as ideias mais valiosas, por serem mais antigas e tradicionais.

b. Copérnico desenvolveu a teoria do heliocentrismo inspirado no contexto político do Rei Sol.

c. Copérnico viveu em uma época em que a pesquisa científica era livre e amplamente incentivada pelas

autoridades.

d. Kepler estudou o planeta Marte para atender às necessidades de expansão econômica e científica da

Alemanha.

e. Kepler apresentou uma teoria científica que, graças aos métodos aplicados, pôde ser testada e generalizada.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 165


Gabarito: Letra E.

Comentário: A primeira lei de Kepler afirma que todas as órbitas são elipses com o Sol em um dos focos. É uma

lei que faz predições e pode ser testada.

166
CADERNO DE ESTUDOS

EJA - ENSINO MÉDIO


MATERIAL DE APOIO
MENSAGEM AO ALUNO EaD
Olá aluno(a)! Esse material foi especialmente elaborado para você.
Leia com atenção e procure complementar seus estudos com os demais recursos
do ambiente de ensino a distância. Conte com seus professores e tutores para ajudar.

www.visaoedu.com.br
A vida em
movimento
Para Início de conversa...

De modo geral, sempre ouvimos falar que praticar atividades físicas aju-
da na boa manutenção da saúde. Ao começar a prática de uma atividade física,
devemos procurar um médico para que ele possa indicar a melhor maneira de
se entrar nesse estilo de vida. Geralmente é recomendado para os sedentários
que se comece com uma caminhada leve de 30 minutos a 1 hora e reeducação
alimentar, se necessário. Ultrapassada essa fase, recomenda-se o aumento grada-
tivo da intensidade da atividade. Agora o praticante já pode correr aumentando o
esforço e a velocidade de sua prática esportiva.

Nesse texto, você acabou


de ler a palavra “velocidade” e, mui-
to provavelmente, você não sentiu
dificuldades para entender o que
ela quer dizer. Conforme veremos,
o conceito de velocidade é um dos
principais objetos de estudo desta
unidade.

Objetivos de aprendizagem

ƒƒ construir o conceito de velocidade média e instantânea;

ƒƒ aplicar o conceito de velocidade em situações de seu cotidiano;

ƒƒ traçar retas tangentes em um ponto de uma curva;

ƒƒ relacionar a inclinação da reta tangente à curva no gráfico S x t à velocidade


instantânea;

ƒƒ associar o conceito de aceleração à variação da velocidade no tempo.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 167


Seção 1
“A 1000 por hora...”

Quando dissemos, no início desta unidade, que se recomenda o aumento da intensidade e da velocidade, você

percebeu que a corrida ou caminhada deve se dar de maneira mais rápida, e isso é o que está por trás do conceito de

velocidade: a rapidez com que um corpo ou objeto se locomove.

Por exemplo, suponha que você se desloque de sua casa para o trabalho de bicicleta. Como você faria para

percorrer esse trajeto mais depressa? Uma possível solução, que depende do trânsito, seria usar um veículo motoriza-

do. Todas as possíveis soluções para este problema têm em comum o fato de encurtar o intervalo de tempo gasto no

trajeto. Isto é, quanto menos tempo se gasta em um determinado caminho, mais rápido o percorremos, ou seja, maior

será a sua velocidade. Dizemos que grandezas que se comportam dessa forma são inversamente proporcionais: en-

quanto uma cresce, a outra diminui, na mesma proporção.

Para medir distância, podemos usar o metro (m), o quilômetro (km), o centímetro (cm), entre outros. Já para medir

o tempo podemos usar a hora (h), o segundo (s), o dia (um dia vale 24h = 24x60 min = 24x60x60 = 86400s). Entretanto,

seguiremos o sistema internacional de unidades (S.I) que utiliza o metro e o segundo para esses casos. No fundo, a esco-

lha de unidades dependerá, em um problema prático, da conveniência de se usar essa ou aquela unidade.

Figura 1: No velocímetro do carro podemos observar duas medições:


a velocidade, indicada pelo ponteiro, e a distância percorrida, indicada na
numeração da parte de baixo, que é chamada de odômetro.

168
Unidades de Medidas

A unidade de medida é um valor padrão que utilizamos para mensurar as coisas. Por

exemplo, o metro não tem uma razão específica para ter o comprimento que tem, foi apenas

uma distância que se achou conveniente para se ter como padrão para medir objetos.

Mas imagine que você tem que medir o comprimento de seu dedo com um bastão

de 1 metro. Parece uma tarefa impossível. Para dar conta desse problema, dividimos o metro

em 100 partes iguais chamadas centímetros que servem para medir distâncias pequenas.

Ou então medir a distância entre duas cidades com o mesmo bastão, haja paciência e tem-

po! Por isso, multiplicamos o metro por 1000, chamado quilômetro (km), o que deixa essa

tarefa menos tediosa. Não é à toa que o odômetro dos carros mede distâncias em km.

Em verdade, podemos multiplicar e dividir qualquer unidade para adequá-la a uma

tarefa que estejamos enfrentando. En-

tretanto, o sistema de unidades que

se baseia no metro (km, dm, cm etc.) é

chamado de sistema decimal, porque as

unidades são separadas por potências

de 10 (por exemplo, 1 m = 100 cm e 1

km = 1000 m).

Imaginemos que um iniciante em atividades físicas esteja caminhando perto de sua casa (veja Figura 2). Diga-

mos que ele dê 2 passos a cada segundo e que cada passo meça precisamente 1 m. Qual seria a sua velocidade em

metros por segundo (m/s)?

Metros por segundo é a unidade que devemos utilizar para essa velocidade, pois estamos falando da razão

entre uma grandeza medida em metros e outra medida em segundos. Sem fazer nenhum tipo de conta no papel,

somos capazes de responder a essa pergunta.

Veja: se uma pessoa imprime uma velocidade de 2 passos por segundo, e cada passo mede 1 metro, essa pes-

soa caminha a 2 metros por segundo (v = 2 m/s). Entretanto, poderíamos fazer essa mesma pergunta de outra forma.

Digamos que essa pessoa dê 12 passos a cada 6 segundos medidos no cronômetro. Quanto valeria a sua velocidade?

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 169


Figura 2: Imagem estroboscópica do movimento de uma menina.

Agora, é conveniente armarmos a expressão para velocidade:

deslocamento
v=
tempo

O deslocamento será de 12 passos x 1 metro, pois cada passo mede 1 metro:

12 x1= 12m

Agora podemos fazer a conta:

12
v= = 2m / s
6

Note que a velocidade encontrada é a mesma da situação anterior. Nós apenas aumentamos o intervalo de

tempo de 1 para 6 segundos, contando o número de passos decorridos, que aumentaram proporcionalmente. Pode-

mos dizer também que essa mesma pessoa dava 10 passos a cada 5 segundos, ou 20 passos a cada 10 segundos. Inú-

meros exemplos são possíveis para essa mesma velocidade, inclusive com unidades diferentes das usadas. Podemos

dizer que o passo dessa pessoa mede 100 cm ou 0,001 km.

Essa é uma primeira ideia do conceito de velocidade. Devemos entender que essa pessoa pode variar o ritmo

da caminhada, fazendo com que a velocidade varie. Digamos que durante todo o trajeto esse indivíduo percorreu 5

km (ou 5000 m) e levou 1 hora (ou 3600 segundos). Com esses valores, podemos calcular a sua velocidade:

5000
V= = 1,39m / s
3600

170
Isso não significa que a pessoa percorreu todo esse trajeto com essa velocidade. Na verdade, muitas coisas po-

dem ter ocorrido: ele pode ter diminuído o ritmo, imprimindo menos passos por segundo; ter diminuído a distância

entre as passadas ou até mesmo parado para tomar uma água de coco no caminho. Enfim, a velocidade que obtive-

mos para esse exemplo é apenas um valor que caracteriza, na média, a velocidade num certo caminho. Vamos agora

apresentar a expressão que nos fornece a velocidade média desenvolvida em determinado percurso:

velocidade média = distância total


intervalo de tempo total

Lembre-se do exemplo que discutimos anteriormente. Aquele em que consideramos que uma pessoa caminhe

a uma velocidade de 2 passos a cada segundo. Esta velocidade também representa uma velocidade média relativa ao

movimento da pessoa. Entretanto, como o intervalo de tempo em questão é de apenas um segundo, podemos pen-

sar que a velocidade desenvolvida pela pessoa corresponde à velocidade que ela, de fato, obtinha naquele instante.

Imagem estroboscópica
Na imagem a seguir, temos vários momentos distintos do movimento de uma bilha de aço que rola sobre
um trilho de alumínio.

Imagem estroboscópica do movimento de uma bilha sobre uma superfície horizontal.

De que maneira podemos construir imagens como esta?

Uma solução é tirar várias fotografias, espaçadas em intervalos iguais de tempo, assim como fizemos
na Figura 2 (e na figura anterior). Nesta, temos uma sequência de quatro fotografias, tiradas uma a cada
segundo e “coladas” em uma mesma imagem. Chamamos este tipo de figura de imagem estroboscópica.

Repare que na figura da atividade 1 (mais à frente) as distâncias entre duas imagens sucessivas da boli-
nha são sempre iguais. Isso indica que a velocidade da bolinha praticamente não se altera. Ainda mais, a
velocidade média da bolinha para qualquer par de imagens escolhida será a mesma.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 171


Velocidade média

Nessa figura, temos a imagem estroboscópica do movimento de uma bilha sobre

um trilho de alumínio. Repare que a velocidade da bilha é constante.

Sabendo que cada uma das fotos da imagem estroboscópica acima (da bilha) foi

tirada em intervalos de tempo iguais a 0,1 s, calcule a velocidade média entre os pontos:

a) A e B; b) C e D; c) B e E; d) A e F.

Indo para a batalha

Suponha que você more a uma distância de 20 km do trabalho. Se o tempo que você

levou para percorrer esta distância foi de 30 min, calcule a velocidade média da sua viagem.

172
“Deixa Cair”

Veja a imagem estroboscópica da figura.

Uma menina solta uma pedra de sua mão. As fotos estão espaçadas por um interva-

lo de tempo igual a 0,1 s.

a. Calcule a velocidade média da pedra para as distâncias representadas na figura


da menina, sabendo-se que cada uma das fotografias da pedra nesta figura está

espaçada em 0,1 s.

Para cada um dos quatro intervalos do item anterior, calcule quanto a velocida-

de média aumentou (por exemplo, se num intervalo a velocidade média vale

1,0 cm/s e no intervalo seguinte ela passa a valer 5,0 cm/s, o aumento foi de 4,0

cm/s, porque 4,0 = 5,0 – 1,0).

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 173


Na Atividade 3 você calculou a velocidade média da pedra em 4 intervalos de tempo distintos. Note que a ve-

locidade calculada aumenta conforme a pedra cai, diferentemente do que vimos na figura da Atividade 1, em que a

velocidade foi a mesma em todos os casos. Esses dois tipos de movimento são bastante diferentes. O primeiro deles,

aquele em que a velocidade não se alterou (da Atividade 1), é o que chamamos de movimento uniforme. Já o segun-

do caso, em que a velocidade se modifica (da Atividade 3), é o que chamamos de movimento variado.

Todo movimento em que o valor da velocidade do objeto se modifica é chamado de movimento variado. O

segundo caso apresentado, no qual a velocidade aumenta regularmente (isto é, em intervalos de tempo iguais, a ve-

locidade aumenta sempre da mesma quantia), é somente um caso particular de movimento variado, que chamamos

de movimento uniformemente variado. Mais à frente, trataremos este tipo de movimento com mais detalhes. Vamos

agora introduzir de maneira mais precisa os conceitos de posição e deslocamento, juntamente com os gráficos de

posição por tempo (S x t) e velocidade por tempo (v x t).

Seção 2
Posição, Deslocamento e Gráficos

Para discutir os conceitos de posição e deslocamento, vamos começar distinguindo os diferentes tipos de mo-

vimento que podem ocorrer no espaço. Observe a figura a seguir:

Figura 4: Exemplo de movimento em uma única dimensão (formiga na corda), em duas dimensões (formiga sobre o chão de
cimento fresco) e em três dimensões (voo de um pássaro).

Perceba que um movimento pode se dar de três formas diferentes:

ƒƒ Em linha reta (ou unidimensional), como uma formiga andando sobre um corda;

174
ƒƒ em um plano (ou bidimensional), como o movimento de uma formiga sobre um piso com cimento fresco;

ƒƒ ou pode ser tridimensional, como no caso do voo de um pássaro.

Devido às dificuldades operacionais envolvidas na análise dos movimentos bidimensional e tridimensional,

vamos nos restringir ao movimento em uma linha reta (unidimensional), como na Figura 5.

Para começar a análise do movimento em uma linha reta (movimento retilíneo), é importante que a linha em

questão possua marcações, para que possamos determinar em que posição se encontra um dado objeto. Entretanto,

devemos escolher um ponto especial, que chamaremos de origem (ou marco zero), e a partir deste ponto marcare-

mos as posições restantes (veja a Figura 5).

Figura 5: Movimento em uma linha reta (uma dimensão). Escolhendo origens distintas, as posições marcadas na reta se mo-
dificam. Entretanto, o deslocamento (distância entre dois pontos) não se altera, conforme podemos constatar pela distância
entre os pontos A e B. Em ambos os casos, a distância entre estes pontos vale 2.

É importante ressaltar que quando fazemos isso todas as posições marcadas são relativas à origem que esco-

lhemos. A escolha de outra origem altera o valor da posição de todos os pontos (veja a Figura 5).

Outra grandeza importante, relacionada à posição, é o deslocamento. O deslocamento percorrido por um cor-

po em certo intervalo de tempo é a diferença entre a posição ocupada pelo corpo ao final deste intervalo de tempo e

a posição ocupada pelo mesmo no início do intervalo.

Por exemplo, se quisermos obter o deslocamento percorrido por um objeto que vai do ponto A ao ponto B da

Figura 5, temos que subtrair sua posição final (em B) da sua posição inicial (em A). Repare que, considerando a origem

indicada no item (a) desta figura, teremos:

Δs=B - A = 3 - 1 = 2

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 175


Δ
A letra grega Δ (delta) é utilizada em Ciências para representar intervalos ou variações.

Se repetirmos o procedimento considerando a origem indicada no item (b) desta mesma figura, também obteremos:

Δs= B - A = 5 - 3 = 2

Isso significa que o deslocamento percorrido por um corpo não depende do ponto que escolhemos para ser a

origem, como podemos observar na Figura 5.

Formalizando um pouco mais o que acabamos de ver, podemos escrever, então, para um caso mais geral que

o deslocamento percorrido por determinado corpo é dado por

Δs= Sf - S1

onde temos que o deslocamento (dado pela variação no espaço Δs) é igual à posição final (dado por Sf ) menos

a posição inicial (dado por S1 ).

Vamos agora iniciar uma nova discussão. Como podemos caracterizar o movimento de um certo corpo? Para ilus-

trar como fazer isso, considere o movimento estroboscópico representado na figura da atividade 1 (repetida a seguir).

Figura 6: Imagem estroboscópica do movimento de uma bilha sobre um trilho de alumínio apresentada na Atividade 1.

Podemos construir uma tabela que forneça a posição do objeto em diferentes instantes de tempo. Sabendo

que cada par de fotos sucessivas nesta figura está separada por um intervalo de tempo igual a 0,1 segundo, a tabela

desejada terá a seguinte forma (escolhemos o ponto A da figura como sendo a origem):

Tabela 1: Posição e tempo relacionados a pontos indicados no gráfico

Ponto Posição (cm) Tempo (s)


A 0 0
B 5 0,1
C 10 0,2
D 15 0,3
E 20 0,4
F 25 0,5

176
Lembre-se de que o espaçamento temporal entre fotos sucessivas é sempre igual. Entretanto, essas imagens

estroboscópicas têm em comum mais uma propriedade. A distância entre duas fotos sucessivas também é igual. Po-

demos ver este fato através da tabela construída.

É bastante comum o uso de tabelas para representar o movimento de certo corpo. Outra maneira muito co-

mum de representar o movimento de um objeto é fazendo uso de gráficos. Utilizando a tabela, podemos construir

um gráfico que dispõe a posição do objeto como função do tempo. A construção de um gráfico lembra um jogo

bastante popular, que você provavelmente conhece: a batalha naval.

Cada ponto do gráfico corresponde a dois números: o primeiro deles está relacionado à coordenada horizon-

tal, e o segundo, à coordenada vertical (a mesma coisa acontece no caso da batalha naval. Neste caso, a letra escolhida

corresponde à coordenada horizontal, e o número subsequente, à coordenada vertical).

Repare que as curvas representadas no gráfico da Figura 7 correspondem ao movimento uniforme. Podemos

ver isso de duas maneiras. A primeira delas vem do movimento estroboscópico associado a essas curvas. Em interva-

los de tempo iguais, os objetos percorrem sempre a mesma distância.

Figura 7: Dois gráficos S x t. Temos duas curvas distintas, correspondentes ao movimento de dois corpos distintos.

No gráfico, isso se reflete da seguinte forma: a curva associada ao movimento do objeto será uma reta. Per-
ceba, entretanto, que, embora ambos os movimentos sejam uniformes, as retas associadas ao movimento de cada
um deles têm inclinações distintas. O movimento estroboscópico em que a distância entre duas fotos consecutivas
é maior corresponde à reta mais inclinada. Não é mera coincidência. Objetos que possuem grandes velocidades per-
correm uma distância maior num pequeno intervalo de tempo. Isso nos permite concluir que a velocidade de um
objeto está diretamente relacionada à inclinação da curva do gráfico associado ao seu movimento. Quanto maior a
inclinação, maior será o valor da velocidade de um corpo. O motivo disso é que uma reta mais inclinada indica que
o corpo percorre um grande deslocamento num pequeno intervalo de tempo, enquanto uma reta menos inclinada

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 177


corresponde a um movimento que percorre um deslocamento menor num intervalo de tempo maior. Podemos ver

isso observando com detalhes a Figura 7.

Quem é mais rápido?

Considerando que os gráficos a seguir têm eixos com mesmos valores de tamanho,
a qual das curvas corresponde o movimento do corpo mais rápido?

178
Para o movimento estroboscópico da figura a seguir, construa:

a. Uma tabela que disponha, para cada intervalo de tempo, a posição do objeto,
sabendo que imagens consecutivas da bolinha estão separadas por um inter-
valo temporal de 0,1 s, que as marcações estão separadas por 5 cm e que o “0”
indicado na figura é a origem.

b. Um gráfico de S x t.

Seção 3
Saindo pela tangente

Na figura 8, temos um gráfico de posição contra tempo, de dois grandes recordistas numa corrida de 100 me-

tros rasos, Usain Bolt e Richard Thompson.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 179


Figura 8: Gráfico do movimento de dois velocistas famosos, competidores dos 100 metros rasos.

Perceba que um movimento não idealizado é consideravelmente mais complicado do que os casos que ana-

lisamos até o momento. As curvas no gráfico S x t acima não são linhas retas, o que nos permite caracterizar o movi-

mento como sendo não uniforme. Mesmo assim, apenas com o gráfico de S x t podemos comparar as velocidades dos

corredores em diferentes instantes de tempo.

Para que possamos fazer tais comparações, vamos apresentar a ideia de velocidade instantânea, isto é, a velo-

cidade que o objeto possui num momento exato. Por exemplo, imagine que você está acompanhando o velocímetro

de um ônibus, conforme ele viaja. Se você quiser saber a velocidade do mesmo em determinado instante, basta ler a

marcação no velocímetro. De maneira um pouco mais formal, dizemos que a velocidade instantânea corresponde à

velocidade média de um certo corpo num intervalo de tempo muito pequeno, porque, sendo esse tempo muito pe-
queno, não há tempo para a velocidade variar consideravelmente. Primeiramente, lembre-se de que, em um gráfico

S x t, associamos a velocidade do corpo à inclinação da reta. Podemos estender este conceito para o caso em que a

curva relacionada ao movimento de um corpo não seja uma reta. Neste caso, temos que considerar a reta tangente a

um ponto. Como podemos fazer isso?

Daremos a você um pequeno conjunto de instruções, que permite que você mesmo seja capaz de traçar uma

reta tangente a uma curva em um certo ponto qualquer da mesma. Conforme veremos, este procedimento é bastan-

180
te simples. Considere a curva e o ponto A pertencente à mesma. Ambos estão representados na Figura 9.

Figura 9: Uma curva e um ponto A pertencente à mesma. Desenhando um ponto muito próximo a A (indicado pela seta ver-
melha), somos capazes de traçar a reta tangente à curva no ponto A (é a reta que passa por ambos os pontos).

Se quisermos traçar a tangente à curva no ponto A da Figura 9, desenhamos um segundo ponto, que esteja

bastante próximo do primeiro. Agora só precisamos traçar uma reta que passe pelo ponto A e pelo ponto próximo a

ele, que acabamos de desenhar. Resumindo:

1. Escolha o ponto da curva onde você deseja traçar a tangente.

2. Desenhe um segundo ponto que esteja bastante próximo ao primeiro.

3. Trace uma reta que passa pelos dois pontos, e esta será a reta tangente.

Observação: Repare que, na verdade, o que temos é uma aproximação de uma reta tangente. A reta verda-

deiramente tangente precisa ser construída utilizando-se um ponto extremamente (infinitesimalmente) próximo ao

ponto original. Entretanto, esses conceitos estão associados ao cálculo diferencial e integral, e portanto não nos apro-

fundaremos neles.

Agora que sabemos como traçar uma reta tangente a um ponto qualquer de uma curva, introduzimos a ideia

de velocidade instantânea como sendo uma medida da inclinação da reta tangente à curva no instante desejado.

Isso significa que podemos comparar as velocidades instantâneas em dois pontos quaisquer de uma curva, mesmo

que ela não seja uma reta. A curva que possuir uma inclinação maior (isto é, aquela onde o ângulo formado pela reta

tangente e a horizontal é maior) corresponde a maior velocidade instantânea.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 181


No parque de diversões

O gráfico a seguir representa a velocidade de um carrinho bate-bate em um parque de 6


diversões. Em qual dos instantes representados no gráfico a seguir a velocidade do móvel é

maior? E menor? Coloque as velocidades em ordem crescente, da menor para a maior.

182
Pegando um ônibus

7 Suponha que você esteja em pé em um ônibus em movimento, ao lado do moto-


rista. Suponha também que você esteja atrasado para um compromisso, e portanto está
acompanhando ansiosamente o velocímetro do ônibus. A tabela a seguir mostra o que

você observou no velocímetro.

v (km/h) t(s)
0 0
2,5 1
10 2
22,5 3
40 4

a. Construa um gráfico que tenha no eixo vertical os valores da velocidade, e no


eixo horizontal, os valores de tempo correspondentes.

b. Em qual dos instantes de tempo a inclinação da curva, logo a aceleração,


obtida é maior?

Seção 4
Acelera, coração!

Conforme discutimos anteriormente, os movimentos reais, não idealizados, são muito mais complicados do

que os casos simples que estudamos até aqui. O movimento de um velocista ou mesmo de um ônibus, por exemplo,

não se dá à velocidade constante. O que vemos, na verdade, é que a velocidade se altera conforme o tempo passa

(veja a Figura 10 a seguir retirada da atividade 3).

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 183


Figura 10: Queda livre de um corpo.

Lembre-se do que discutimos quando introduzimos o conceito de velocidade. Interpretamos este conceito

como sendo a rapidez com que a posição de um corpo se altera. Podemos associar à velocidade uma grandeza muito

parecida. A rapidez com que a velocidade de um corpo se altera à medida que o tempo passa é o que chamamos de

aceleração. Para ilustrar de maneira simples este conceito, vamos voltar a analisar um dos tipos de movimento mais

comuns, cuja velocidade do corpo se altera: a queda livre.

Lembre-se agora de como montamos a Tabela 1. Podemos construir uma tabela (Tabela 2) semelhante a esta,

com base na Figura 10, e a partir desta tabela obter o gráfico S x t do movimento da pedra em queda (veja a Figura 11).

Tabela 2: Posição e tempo relacionados a pontos indicados na figura

Posição (cm) Tempo (s)


0 0

5,0 0,1

20,0 0,2

45,0 0,3

80,0 0,4

Agora podemos calcular a velocidade média para os intervalos de décimo de segundo representados no gráfi-

co da Figura 11. Para os intervalos, temos (veja a Atividade 1, onde foi montada a tabela do movimento) as seguintes

velocidades médias: 50 cm/s , 150 cm/s,

184
Figura 11: Gráfico da posição da pedra como função do tempo, para o movimento da pedra na imagem estroboscópica da Figura 10.

250 cm/s e 350 cm/s.

De posse dessas velocidades, podemos dispor de um gráfico da velocidade média como função do tempo.

Primeiramente, construímos uma tabela da velocidade média em função do tempo:

Tabela 3: Velocidade média (em intervalos de 0,1 s) em função do tempo

Velocidade média (cm/s) Tempo (s)


0 0
50 0,1
150 0,2
250 0,3
350 0,4

Perceba que a cada décimo de segundo (por exemplo, de 0,1 para 0,2 ou de 0,3 para 0,4) a velocidade é au-

mentada de 100 cm/s (excetuando-se o intervalo de 0 a 1 décimos de segundo). Quando o aumento na velocidade

é igual para intervalos de tempo iguais, dizemos que o movimento é do tipo movimento uniformemente variado

(MUV). Repare que a aceleração é a taxa com que a velocidade varia no tempo. Deste modo, podemos concluir que

o MUV corresponde a uma aceleração constante, ou seja, que não varia no tempo. Uma vez com a Tabela 3 em mão,

faça o gráfico v x t para o MUV.

Repare que a curva correspondente ao MUV no gráfico v x t é uma linha reta. Novamente frisamos que até mesmo

o MUV é uma espécie de movimento idealizado. Excetuando-se a queda livre nas proximidades da superfície da terra,

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 185


a maioria dos movimentos que ocorrem na natureza não possui aceleração constante. Apresentamos como exemplo a

velocidade dos corredores Usain Bolt e Richard Thompson como função do tempo, na corrida de 100 metros rasos.

A área do gráfico pode nos dizer muita coisa

Vamos começar esta discussão construindo uma tabela referente a velocidade e tempo para o movimen-
to da bilha da primeira figura da Atividade 1, como na Tabela 2.

Velocidade (cm/s) Tempo (s)


50 cm/s 0
50 cm/s 0,1
50 cm/s 0,2
50 cm/s 0,3
50 cm/s 0,4
50 cm/s 0,5

Com a tabela em mãos, fica fácil construir um gráfico de v x t (veja na figura a seguir).

Repare que a curva correspondente a este movimento é uma linha reta horizontal. E mais, veja que, se
calcularmos a área do retângulo formado, obteremos o seguinte:

186
Área = base x altura = 0,5s x 50cm/s = 25cm

que é exatamente a distância total percorrida pela bilha. Isso não é mera coincidência. Veja que a base
deste retângulo é medida em segundos (já que o eixo horizontal é o eixo do tempo), e a altura é medida
em m/s (porque o eixo vertical é a velocidade). Quando calculamos a área do retângulo, estamos multi-
plicando o intervalo de tempo pela velocidade:

cm/s x s = cm

Mesmo nos casos em que a curva correspondente ao movimento do objeto no gráfico v x t não for uma
reta, ainda podemos aplicar a mesma técnica. O fato é que, no gráfico v x t, a área sob a curva será o des-
locamento percorrido pelo corpo, mesmo que não saibamos como calculá-la.

Finalmente, pelo conceito apresentado de aceleração, podemos escrever a seguinte equação para a mesma:
∆V
a=
∆t
Isto é, a aceleração é a razão entre a variação da velocidade (Δv) em determinado intervalo de tempo (Δt). Devido

ao fato de medirmos velocidade em m/s e tempo em s no SI, a unidade de aceleração do SI é (m/s)/s = m/s x 1/s = m/s².

Seção 5
Queda Livre e o MUV

Discutiremos o problema de queda livre como o exemplo maior do MUV. Lembre-se do que vimos na seção

anterior. Sob certas condições, a queda de um corpo corresponde a um movimento de aceleração constante. Chama-

mos esta aceleração de aceleração da gravidade (g). O valor da aceleração da gravidade é de aproximadamente 9,8

m/s², mas para simplificar possíveis contas consideraremos g = 10 m/s².

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 187


Desprezando a resistência do ar
Uma condição indispensável para que o movimento de queda possua uma aceleração constante g
= 10 m/s² é que a resistência do ar possa ser desprezada. Você já deve ter percebido que objetos tais
como folhas de papel caem de maneira bastante peculiar. Entretanto, se não houvesse atmosfera aqui
na Terra, esses objetos cairiam com a mesma aceleração g = 10 m/s². Na verdade, na ausência da re-
sistência do ar, qualquer corpo, independente do valor da sua massa, cai com a mesma aceleração da
gravidade. A resistência do ar faz com que detalhes, como o formato do corpo, passem a influenciar no
movimento de queda do mesmo. Tanto é assim que uma folha de papel, uma vez amassada de modo
a virar uma bolinha, cai da mesma forma que outro objeto de maior massa, conforme você pode cons-
tatar largando ambos juntos de uma mesma altura. Antes de ser amassada, a folha teria uma queda
bastante diferente. Um vídeo bem interessante que ilustra esse fato é o seguinte:

http://www.youtube.com/watch?v=KDp1tiUsZw8

Ao final da última caminhada na superfície lunar feita pela equipe da Apolo XV, o comandante David
Scott faz a seguinte experiência: diante das câmeras, ele larga ao mesmo tempo uma pluma e um
martelo. Conforme podemos constatar, ambos os corpos atingem o solo ao mesmo tempo. Esse vídeo
serve como justificativa para a afirmativa de que a Lua não possui uma atmosfera (o que não é de todo
verdade; a diferença essencial, além das composições diferentes de gases, é que a atmosfera da Lua é
consideravelmente menos densa que a da Terra).

Vamos abordar outras informações acerca do MUV. Lembre-se de como construímos o gráfico de S x t para a

queda da pedra na Figura 11. Perceba que a posição S como função do tempo obedece à seguinte equação:
1
S = gt 2
2
onde g é a aceleração da gravidade (g = 10 m/s²) e t indica tempo. É simples verificar isso. Utilizando uma calcu-

ladora, veja que, se substituirmos g = 10 m/s² na equação e os valores de tempo t = 0, 0,1, 0,2, 0,3 e 0,4 s, obteremos:

S(0) = (½) 10 x 0² = 0 m

S(0.1) = (½) 10 x 0.1² = 0,05 m = 5 cm

S(0.2) = (½) 10 x 0.2² = 0,20 m = 20 cm

S(0.3) = (½) 10 x 0.3² = 0,45 m = 45 cm

S(0.4) = (½) 10 x 0.4² = 0,80 m = 80 cm

Que são exatamente os valores das posições ocupadas pela pedra na Figura 10.

Sempre que um objeto executar um MUV, sua posição exibirá um comportamento quadrático no tempo. Já

com respeito à velocidade, como vimos anteriormente, existe uma relação linear com o tempo. Como seria a forma da

188
curva da aceleração em função do tempo?

Bem, podemos construir uma tabela, como nos outros casos, dos valores da aceleração para intervalos iguais

de tempo. Entretanto, conforme vimos, a aceleração no MUV é constante, o que facilita muito na hora de construir o

gráfico a x t.

Podemos perceber que a forma da curva, nesse gráfico, é a de uma linha reta horizontal (paralela ao eixo do

tempo), pois à medida que o tempo passa o valor da aceleração não se altera.

Por fim, podemos resumir o MUV da seguinte maneira: no MUV, a velocidade do corpo se altera. Entretanto, a

variação de velocidade do corpo, em um mesmo intervalo de tempo, será sempre igual (basta se lembrar do que ob-

servamos no exemplo da Seção 4. Naquele caso, a velocidade média em janelas temporais iguais aumentou sempre

do mesmo valor). Podemos dizer que este é um traço marcante do MUV.

Testando seus reflexos!


Como uma aplicação interessante do que vimos no MUV, sugerimos
a você a seguinte atividade: pegue uma régua de 30 cm e peça auxí-
lio de outra pessoa para que segure a régua. Em seguida, posicione
uma de suas mãos em forma de garra, em torno da régua, na marca-
ção “0” da mesma. Agora, peça que esta outra pessoa largue a régua,
sem lhe avisar quando, e tente agarrar a mesma, antes de ela cair no
chão (veja a figura a seguir para uma descrição visual do que está
escrito nesta atividade).

Lendo na régua qual foi a marcação onde você a agarrou, você será
capaz de dizer o quanto a régua caiu (um exemplo típico seria algo
em torno de 20 cm). Finalmente, utilizando a fórmula S = 5t² (onde
já utilizamos g = 10 m/s² para o valor da aceleração), você saberá
aproximadamente o quão rápido é o seu reflexo.

Resumo

Nessa unidade adentramos o estudo da cinemática, onde aprendemos conceitos como velocidade e acelera-

ção. Podemos definir a velocidade como sendo a rapidez com que um corpo se move. Matematicamente, traduzimos

como a razão entre a distância percorrida por um corpo e o tempo gasto nesse trajeto. Mas bem sabemos que essa é

a velocidade média. Existe outro conceito de velocidade, que é a velocidade instantânea. Essa exprime o quão rápido

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 189


um corpo se move em um intervalo curto de tempo. Já a aceleração diríamos que é a velocidade da velocidade, ou

seja, o quão rápido um corpo varia a sua velocidade. De certo, a grande maioria dos movimentos que presenciamos

em nosso cotidiano não é constante ou uniformemente variado. A aceleração varia também, entretanto, todo estudo

de física, ou até mesmo de ciências, é uma adaptação de simplificação da realidade. E isso nos permite prever e con-

trolar fenômenos naturais.

Veja Ainda

Tudo não passa de um ponto de vista!

Apesar de termos estudado os conceitos de velocidade, posição, deslocamento etc., há um conceito muito

importante e fundamental que ainda não vimos: a ideia de velocidade relativa.

Talvez você já tenha ouvido alguém dizer, em tom informal, que “tudo é relativo”. Esta frase estabelece a ideia

de que não há valores fundamentais por si mesmos, e sim que os valores se estabelecem de uma certa perspectiva.

Não entraremos nos pormenores do relativismo cultural, mas focaremos na relatividade de Galileu.

Sugerimos que aprecie um vídeo que conta um pouco da história de Galileu Galilei, tido por muitos como o pai

da física e de toda a ciência moderna:

ƒƒ http://www.youtube.com/watch?v=m84brvmGgs0

Galileu foi um pesquisador bastante prolífico. Dentre os diversos assuntos estudados por ele, o movimento dos

corpos tem um papel fundamental. Podemos, inclusive, atribuir a ele a criação da física recente. Dizemos isso por que
ele foi o primeiro a associar a física a constantes práticas experimentais. Antes dele, os filósofos gregos já elaboravam

uma série de modelos complexos. Entretanto, pouquíssimos deles confrontavam as proposições de seus modelos

experimentalmente.

A ideia é a seguinte: imagine que você está viajando no banco do carona de um carro. Olhando para o mo-

torista, você deve ter a nítida impressão de que ele está em repouso, assim como você. Ao olhar pela janela e focar

num poste, entretanto, o mesmo lhe dará a impressão de se mover. Quando questionado a respeito do estado de

movimento real dos objetos, você provavelmente diria:

“Eu, o carro e o motorista é que estamos em movimento. Os postes estão presos ao chão, então são eles que

estão em repouso, assim como a estrada.”

À luz da relatividade galileana, esta seria uma resposta equivocada. Sempre que dizemos que um objeto está

190
em movimento, devemos dizer também em relação a qual outro corpo (que chamaremos de referencial) este movi-

mento se dá. Dizemos então que a velocidade do corpo que estamos estudando é sempre relativa a um referencial.

Quando você imagina que o poste está em repouso, lembre-se de que na verdade o poste, você e todas as pessoas

que você conhece estão no planeta Terra. Este, por sua vez, movimenta-se em nosso sistema solar, com uma velocida-

de de cerca de 30 km/s em relação ao Sol. Deste modo, sempre que dissermos que um objeto possui certa velocidade,

devemos ter em mente que esta velocidade é relativa a um determinado referencial, mesmo que não falemos isso

explicitamente. Assim, o conceito de referencial é fundamental em física. Veremos no próximo módulo a relação que

existe entre referenciais e as leis de Newton.

Movimento relativo! – Pense e responda

8 1. Suponha que uma pessoa M esteja sentada em um ônibus que se move em relação à

Terra. Duas cadeiras à frente, uma pessoa N também está sentada.

a. A pessoa N está parada ou está em movimento em relação à Terra?

b. E em relação à pessoa M?

2. Uma pessoa, em um carro, observa um poste na calçada de uma rua, ao passar por ele.

O poste está em repouso ou em movimento? Explique.

3. De acordo com as ideias da física atual (nem tão atual assim, pois sabemos disso desde

a época de Galileu), a diferença fundamental entre os modelos heliocêntrico (Copérni-

co) e geocêntrico (Ptolomeu) era simplesmente uma escolha de referenciais diferentes.

Qual o referencial que Copérnico estava adotando ao propor o sistema heliocêntrico?

Referências

HEWITT, Paul. Física Conceitual, 9ª. Edição. Porto Alegre: ARTMED Ed., 2002

LUZ, Antonio Máximo Ribeiro da e ÁLVARES, Beatriz Alvarenga. Curso de física. São Paulo: Scipione. 2007.

Boa, M. F. & Guimarães, L. A. Física: Termologia e óptica Ensino Médio São Paulo: Harbra, 2007

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 191


Imagens

• André Guimarães

• http://www.sxc.hu/photo/1239807.

• http://www.sxc.hu/photo/956386.

• http://www.sxc.hu/photo/1056593.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• http://www.sxc.hu/photo/517386 • David Hartman.

• http://www.sxc.hu/985516_96035528.

192
Atividade 1

c. Como estudamos nesse início de aula, a velocidade média é uma razão entre o

espaço percorrido, pela esfera de aço, e o tempo que ela levou para percorrer

essa distância. Logo, entre os pontos A e B temos d = 5,0 cm e t = 0,1 s. Note que

o intervalo de tempo decorrido entre uma foto e outra é de 0,1, exatamente o

tempo gasto para a esfera percorrer 5,0 m. Logo, temos: Vm = 5 / 0,1 = 50 cm/s.

d. Entre os pontos C e D a distância também é de 5,0 cm e ocorreram apenas duas

fotos, cujo intervalo de tempo entre elas é de 0,1s. Portanto, teremos a mesma

conta da letra a) e a velocidade média vale 50,0 cm/s.

c. Entre os pontos B e E temos três fotos, logo 3 x 1,0 = 0,3 s para o tempo e 15,0 cm

para a distância. Dessa forma, a velocidade média = 15/0,3 = 50 cm/s.

d. Entre os pontos A e F vemos que ocorreram 5 fotos, ou seja, toda a imagem es-
troboscópica. Logo, temos: 5 x 0,1 para o tempo e 5 x 5 para a distância. Vemos

que a velocidade média vale 50 cm/s.

Atividade 2

Nesse caso, não poderemos dividir o espaço pelo tempo indiscriminadamente. Você

já viu alguma velocidade cuja unidade era dada em km/min? Muito provavelmente não!

Vamos dar essa resposta em km/h e para isso temos que passar 30 min para hora. Bem, 1 h

tem 60 min, logo 30 min nada mais é que 0,5 h. Agora basta aplicarmos a definição: Vm =

20/0,5 = 40 km/h.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 193


Atividade 3

a. Aplicando o conceito de velocidade média, podemos resolver esse problema ra-

pidamente. Podemos notar que a primeira distância vale 5 cm, e o tempo que a

bolinha levou para percorrer essa distância é de 0,1 s (esse tempo é igual para

todo percurso consecutivo de bolinhas). Logo, Vm1 = 5/0,1 = 50 cm/s. Para o se-

gundo, Vm2 = 15/0,1 = 150 cm/s. Você já deve ter notado que, nesse caso, basta

dividir a distância entre uma foto e outra pelo tempo, que é de 0,1! Daí teremos

Vm3 = 250 cm/s, Vm4 = 350 cm/s.

b. Note que há aumento de 100 cm/s na velocidade em cada passo que damos no

tempo! Isso gera uma aceleração de 100 cm/s2, como veremos na próxima seção.

Atividade 4

O gráfico da direita representa o movimento de maior, pois tem maior inclinação.

Isso nos mostra que, para intervalos iguais de tempo, o móvel desse gráfico percorre uma

distância maior que a do gráfico da esquerda.

194
Atividade 5

a.
Tempo (s) Distância (cm)
0,0 0

0,1 5

0,2 10

0,3 15

0,4 20

0,5 25

b.

Atividade 6

Note que na imagem acima traçamos uma reta tangente em cada ponto. Com essa

reta podemos comparar as velocidades em cada um desses instantes. O que tiver a maior

inclinação tem a maior velocidade, que é o ponto c.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 195


Atividade 7

a.

b. No instante t = 3 s.

Atividade 8

1.

a. Em movimento.

b. Parada.

2. Em movimento, pois a pergunta refere-se ao passageiro. Logo, do ponto de vista do

passageiro, quem está em movimento é o poste.

3. O Sol, pois supunha que a Terra e os demais planetas do Sistema Solar estavam em mo-

vimento em relação ao Astro Rei.

196
O que perguntam por aí?
Atividade 1 (ENEM 2011)

Resposta: Por eliminação, podemos marcar o item d nesta primeira atividade. Entretanto, vale a pena enten-

der a afirmação deste item. Ele afirma que a régua sofre a ação de uma força Peso constante, isto é, que não varia no

decorrer de sua queda. Ainda não discutimos o conceito de forças (veja a Unidade 2), mas sabemos que a aceleração

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 197


de queda livre vale g = 10 m/s2, independente da massa do objeto (contanto que se possa desprezar a resistência do

ar). Na Unidade 3 vamos associar a Resultante das forças que atuam sobre um corpo com a aceleração adquirida por

ele (Segunda Lei de Newton), de modo que a resposta a esta atividade ficará ainda mais clara, uma vez que o leitor

estudará a Segunda Lei de Newton.

198
CADERNO DE ESTUDOS

EJA - ENSINO MÉDIO


MATERIAL DE APOIO
MENSAGEM AO ALUNO EaD
Olá aluno(a)! Esse material foi especialmente elaborado para você.
Leia com atenção e procure complementar seus estudos com os demais recursos
do ambiente de ensino a distância. Conte com seus professores e tutores para ajudar.

www.visaoedu.com.br
Eu tenho
a força!
Para Início de conversa...

Você já praticou musculação? Se a resposta for positiva, você deve ter visto

na sua academia algumas pessoas bastante fortes, capazes de erguer uma carga

bem acima do que uma pessoa normal é capaz (isto se você mesmo já não se

encaixa nessa categoria). Também se costuma associar a palavra força a estivadores

de porto, caminhoneiros e halterofilistas. O que essa palavra significa na Física?

Figura 1: Estivador de porto à esquerda e à direita, um halterofilista.

Conforme veremos neste módulo, as forças são responsáveis por alterar

o estado de movimento dos corpos. Lembre-se que no módulo passado vimos

diversos tipos de movimentos, mas em nenhum momento nos perguntamos

o porquê destes movimentos ocorrerem. Desta vez, iremos mais a fundo e

traçaremos relações entre o movimento dos corpos e as forças que agem neles.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 199


Objetivos de aprendizagem

ƒƒ Identificar em quais condições um corpo realiza um movimento retilíneo uniforme;

ƒƒ Associar o conceito de força a interações entre os corpos;

ƒƒ Desenvolver diagramas de corpo livre;

ƒƒ Explicar fenômenos simples, utilizando a Lei da ação-reação;

ƒƒ Associar a força peso à interação entre o planeta Terra e os objetos que nele residem;

ƒƒ Diferenciar força normal de força peso;

ƒƒ Associar a força normal a uma força perpendicular à superfície em questão.

200
Seção 1
Forçando a barra

Bem, no início desta unidade, vimos que empregamos constantemente a palavra força no nosso dia a dia. Um

outro exemplo do emprego desta palavra em nosso cotidiano é quando pedimos uma força para um camarada. Na

Física, associamos a palavra força à interação entre os corpos. Eventualmente, as forças que atuam num determinado

objeto podem até mesmo deformá-lo.

Existe uma categoria de forças que atuam mesmo que os corpos em questão estejam separados por uma

certa distância. É o caso, por exemplo, da força de atração entre um prego e um ímã. Mesmo quando estão um pouco

distantes um do outro, o prego e o ímã atraem-se mutuamente, mesmo que estivessem em uma câmara evacuada

(sem nenhum ar em seu interior). Veja a Figura 2.

Figura 2: Imagem de um ímã e um prego. Mesmo afastados a uma


certa distância, há uma interação (força) entre eles. Distantes aqui
é um certo exagero. Se os corpos em questão estiverem suficien-
temente afastados, o pedaço de ferro praticamente não sente a
ação do ímã.

Chamamos esta interação, entre o ímã e o prego, de força magnética. Forças como a magnética, que atuam

mesmo que os corpos não estejam em contato direto, são chamadas de forças de campo. Outros exemplos de forças de

campo são a força peso (a força de atração gravitacional entre a Terra e todos nós), a força eletrostática e a força nuclear.

Para dar prosseguimento aos nossos estudos, é importante que saibamos como podemos medir na prática

uma força. Para fazer isto, utilizaremos um dispositivo composto por um tubo, com uma gradação em milímetros em

seu exterior e em seu interior uma mola, tal como pode ser visto na Figura 3. Chamamos este tipo de aparelho, que

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 201


mede forças, de dinamômetro. Um tipo de dinamômetro muito conhecido é o utilizado em pesca, para medir o peso

de um peixe capturado.

Gradação

Gradação – marcação de unidades de medida em um determinado objeto, como em uma régua onde há a marcação de cada
milímetro, ou em uma balança onde há a marcação de cada grama.

Figura 3: Imagens de um dinamômetro com diferentes pesinhos. Cada um dos pesinhos tem 100g de massa. Podemos ver
também a marcação apontada pelo dinamômetro, conforme vamos acrescentando os pesinhos, de um em um.

Utilizando alguns pesinhos, cada um de 100 gramas, realizamos a seguinte experiência: colocamos um único
pesinho e constatamos que a marcação na gradação exterior do dinamômetro está em 1,0 cm. Colocando 2 pesinhos,
vemos que a marcação na balança dobrou. Se pusermos um trio ao invés de um par, a marcação do dinamômetro
passa a estar em 3 cm e, finalmente, quando dependuramos 400 g no total (4 pesinhos de 100 g cada), a marcação do
dinamômetro passa a apontar para 4 cm. Utilizando um dispositivo como este, podemos medir diversos tipos de forças.

Podemos montar um gráfico que contém a massa posta no dinamômetro e a deformação (expansão ou
contração) correspondente, que é lida na marcação feita no mesmo (veja a Figura 4).

Figura 4: Gráfico construído a partir da utilização do dinamômetro da figura 3.

202
Como você pode observar no gráfico, conforme aumentamos gradativamente a quantidade de pesinhos, a

deformação do dinamômetro aumenta proporcionalmente à massa dependurada.

Podemos então expressar esta relação como:

Força = constante x deformação da mola (1)

Esta fórmula é conhecida como lei de Hooke.

Você pode observar que há diferentes tipos de mola, desde espirais de caderno até molas utilizadas em

suspensões de automóveis. O que diferencia estes tipos de mola? Certamente, será a resistência oferecida à força

aplicada na mola. Por exemplo, com pouco esforço somos capazes de deformar a espiral de um caderno (a ponto,

inclusive, de estragar a mola). Porém, para deformar uma mola, utilizada em suspensões de ônibus, teríamos de fazer

uma força imensa, para verificar uma pequena deformação na mesma (lembre-se que elas são feitas para aguentar

o peso da carroceria do ônibus e de mais de 40 passageiros ao mesmo tempo, dos mais variados pesos). O que

caracteriza a resistência de uma mola é a constante que aparece na equação 1. Chamamos esta constante de constante

elástica. Veja um exemplo de mola típico na Figura 4.

Figura 4: Exemplo típico de uma mola. Há diversas aplicações, como molas de espirais de caderno etc.

A unidade do Sistema Internacional para medir uma força é o Newton, representada pela letra N. Conforme veremos

mais adiante, para determinar qual é a força peso que atua em um determinado objeto, devemos multiplicar o valor da sua

massa pela aceleração da gravidade (g = 9,8 m/s², que aproximaremos por 10, para facilitar as contas), isto é, temos que

Peso = Massa x Aceleração da gravidade (2)

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 203


Deste modo, temos que cada um dos pesinhos do experimento anterior tem o seguinte peso:

P = 100 (g) x 10 (m/s²) = 0,1 (kg) x 10 = 1 kg m/s² = 1 Newton (N).

Logo, se cada pesinho colocado no dinamômetro do experimento exerce uma força de 1 Newton na mola,

podemos descobrir a constante da fórmula (1) da seguinte forma:

Força = constante x deformação da mola

1N = constante x 1cm → constante = 1N / cm .

Agora que sabemos medir forças, podemos representá-las em algumas situações. Com um dinamômetro,

podemos determinar a intensidade (também chamada de módulo) de uma força. Entretanto, só a intensidade não

nos permite caracterizar completamente uma força. Forças com mesma intensidade podem ter diferentes efeitos

num objeto. Veja o exemplo da Figura 5.

Figura 5: Uma mesma força F é aplicada em duas direções diferentes. Veja que o efeito causado pela força depende da dire-
ção e do sentido da mesma!

Duas forças com mesma intensidade tiveram efeitos bastante distintos no objeto da figura. Qual o motivo
dessa diferença? Em um dos casos, a força aponta para a direita, enquanto que no outro, a mesma aponta para baixo.
Por causa disto, precisamos sempre dizer em qual direção e sentido uma certa força aponta.

A direção de uma força nada mais é do que a linha reta onde a força se encontra. No caso do bloco que está à
esquerda na Figura 5, esta linha é uma reta vertical, enquanto que para o bloco da direita, a força está na horizontal.
Para representar a direção de uma força, você só precisa desenhar a linha reta sobre a qual a força se encontra.

Só que dizer apenas a linha reta onde a força localiza-se não é o bastante. Uma vez que fixamos a direção,
sabemos apenas qual é a reta onde ela se encontra. Entretanto, um vetor sempre pode apontar para cada um dos dois
lados de uma reta. Cada um destes lados vem a ser o que chamamos de sentido. Quando dizemos qual a intensidade,
direção e sentido de uma força, caracterizamos esta força completamente. Grandezas deste tipo, que precisam destas
três informações para ser efetivamente determinadas, são chamadas de grandezas vetoriais. Já vimos anteriormente
outros exemplos de grandezas vetoriais, como, por exemplo, velocidade e aceleração. A partir de agora, utilizaremos
setinhas para representar forças. O tamanho da seta indicará a intensidade da força, enquanto que a própria seta

mostra a sua direção e sentido. Veja o exemplo da Figura 6.

204
Figura 6: Temos dois vetores. Como o tamanho do vetor está relacionado ao seu módulo, temos que o módulo do de baixo é
quatro (4) vezes maior que o do de cima.

Finalmente, vale a pena acrescentar que a representação de uma grandeza vetorial será feita, utilizando-se
  
uma seta em cima da grandeza em questão. Exemplos: ( F ), ( V ), ( S ), dentre outros.

Está perto ou distante?

Dê 3 exemplos de situações onde encontramos uma força de contato e outros 3

onde encontramos forças que atuam a distância, ou seja, forças de campo.

Mudando de forma

Um objeto pode ter a sua forma deformada sem a aplicação de uma força?

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 205


Seção 2
2 + 2 é mesmo igual a 4?

Como vimos anteriormente, a força é uma grandeza física que se comporta vetorialmente. Ela tem módulo (a

sua intensidade, que é representada pelo tamanho da “setinha”), direção (que é a reta onde o vetor se encontra) e

sentido (que é um dos dois lados da reta que se pode seguir).

Pelo fato das forças serem representadas por vetores, precisamos aprender como fazer operações matemáticas com

eles. Todas as grandezas vetoriais (como a força e a velocidade, por exemplo) não seguem a mesma forma da soma e da

multiplicação de grandezas escalares (os números que conhecemos 0, 1, -15, pi, 357.18, ....), como estamos acostumados.

Dois vetores cujos módulos valem 2N podem ter como resultado de sua soma 4N ou qualquer valor que vá de

0 (zero) a 4N. Achou estranho? Então, veja o exemplo da figura 7.

Figura 7: Dois amigos puxam uma corda, um da esquerda para direita e outro da direita para esquerda, com uma força de 2N cada.

Nesse caso, a soma das forças desses competitivos amigos vale zero. Veja por que: ambas as forças aplicadas

valem 2N, as direções são iguais (neste caso, a direção seria a linha horizontal) e os sentidos são opostos. Para efetuar

essa soma, precisamos escolher um sentido que indique qual das forças está em sentido positivo. Vamos escolher que

o sentido positivo é o da esquerda para a direita. Sendo assim uma força é positiva (a que o amigo da direita faz) e

outra é negativa, por que tem sentido oposto. Matematicamente, escrevemos:

2 + (-2) = 2 – 2 = 0 (3)

Assim, podemos ver que o sinal da força depende do sentido da mesma. Se ela está no mesmo sentido ou no

sentido oposto do que escolhemos como positivo.

Imagine agora que um dos amigos enfezou-se e aumentou a força que aplica na corda, e que o outro a manteve

igual. Neste caso, essa soma deixará de ter resultado zero. Digamos que o rapaz da direita aumente a sua força para

5N. Agora a força que está no sentido positivo é maior que a que está no sentido negativo. Matematicamente, temos:

5 + (-2) = 5 – 2 = 3N (4)

206
Desta vez, a resultante das forças vale 3N, que acarretará numa aceleração (mudança na velocidade) da

esquerda para direita (sentido que escolhemos como negativo. Note que se escolhêssemos o sentido oposto como

positivo, o resultado não mudaria em módulo).

Neste caso, em que ambas as forças possuem a mesma direção (no caso a horizontal), foi simples determinar a

soma vetorial. Mas se considerarmos vetores que podem ter direções diferentes, a soma vetorial já fica mais complicada.

Por causa disso, apresentaremos a seguir um conjunto de instruções (também chamado de algoritmo, ou de “receita de

bolo”) que nos permitirá determinar geometricamente a soma vetorial de uma quantidade qualquer de vetores.

2.1 - Soma Vetorial: A Regra do Polígono

Agora, apresentaremos um conjunto de instruções que, se seguidas, permitirão que somemos uma quantidade

qualquer de vetores. A soma de vetores também é um vetor (do mesmo jeito que a soma de dois números fornece outro
      
número). Assim, imagine que queremos somar os vetores A , B , C …, isto é, obteremos o vetor SOMA=A+B+C+... :

Primeiro, represente (desenhe) o primeiro vetor (no caso o A ) num espaço em branco;
  
Agora, pegue o próximo vetor da lista ( B , C , D , …) e coloque a ponta final (início) deste vetor na cabeça do
  
vetor anterior ( A , B , C , …);

Repita o passo 2) até que não haja mais nenhum vetor que desejamos somar;

Finalmente, representaremos o vetor final. Ele será um vetor cuja ponta final sai do início do primeiro vetor da

lista (no caso o A) e vai terminar na cabeça do último vetor da lista.


  
Como aplicação deste algoritmo, considere que desejamos somar os três (3) vetores A , B e C da Figura 8 do
exemplo a seguir.

Exemplo:

  
Figura 8: Representação de três vetores, A , B e C , onde a soma é mostrada passo a passo na Figura 9.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 207


Na Figura 9, temos a aplicação do algoritmo apresentado passo a passo.

Figura 9: Diagrama que mostra passo a passo como aplicamos o algoritmo apresentado para os vetores da Figura 8.

Há um outro método que nos permite determinar o vetor soma resultante da soma de dois
vetores, conhecido como Regra do Paralelogramo. Entretanto, não discutiremos esta regra aqui.

Para você entender melhor como uma força age, como funciona um vetor e como podemos realizar
sua soma, veja a tele-aula do Telecurso 2000 que está disponível no link a seguir:

http://youtu.be/f05sYSYb5fc

Propomos agora que você aplique a regra do polígono em algumas situações simples.

Faça sua lista!

Liste as três características de um vetor que devem ser levadas em consideração


numa operação como a soma.

208
Indicando a direção

Se uma pessoa sofre a ação de duas forças (indicadas pelas setas azuis), como mos-

tra a figura a seguir, qual deve ser a direção para qual ela acelerará?

Seção 3
Saindo do normal

Um tipo bastante comum de força é a força perpendicular (também chamada de normal). Esta força existe para

impedir que os corpos penetrem uns nos outros. Por exemplo, se você está lendo este texto, sentado em uma cadeira,

esta impede que você penetre nela, fazendo uma força em você para cima. Quando você empurra um carro com as mãos,

para ajudar um motorista com problemas em seu automóvel, a carroceria do carro impede que suas mãos penetrem no

mesmo. Neste caso, a força também será a normal. Por que este tipo de força, que impede penetrações, leva este nome?

Como o nome indica, o motivo deve-se ao fato de esta força ser sempre perpendicular (em Matemática, a palavra normal

é sinônimo de perpendicular) à superfície de contato entre os corpos (veja a Figura 10).

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 209


Figura 10: Um homem faz força sobre uma parede com suas mãos. Para evitar que as mãos do homem penetrem na parede,
a parede exerce uma força Normal à sua superfície, nas mãos do homem.

A força Normal é sempre perpendicular à superfície onde ela atua (veja a Figura 11).

Figura 11: Temos uma linha sinuosa, para ilustrar o conceito de perpendicularidade. A força normal num ponto qualquer de
uma superfície será sempre perpendicular à própria superfície naquele ponto.

Seção 4
Vale o quanto pesa

Você deve atentar para um fato importante. Quando subimos em uma balança, esse aparelho indica uma

grandeza que não é o peso (como comumente chamamos), mas sim a intensidade da força de interação entre seus

pés e a balança, que chamamos de Normal.

Uma maneira de visualizar o quanto essas duas grandezas (Peso e Normal) são diferentes é a seguinte. Fique

em cima de uma balança e dê alguns pulinhos. Conforme você poderá constatar, a marcação da balança sofrerá

alterações, à medida que você executa estes pequenos saltos. Entretanto, o seu peso não se altera neste processo.

Isto acontece por que o contato entre seus pés e a plataforma da balança, e por conseguinte a força Normal, fica ora

mais ora menos intensa.

No início desta aula, vimos que existem alguns tipos de força. O peso na verdade é uma força, do tipo força de

campo. Essa força não precisa de contato para existir: ela surge da interação entre dois corpos, mesmo a distância.

210
A força Peso sempre estará direcionada ao centro da terra. É ela a responsável pela queda das coisas. Quando
deixamos um objeto cair, a força Peso faz com que ele acelere com o valor de g, o que corresponde a um acréscimo

de 10 m/s em sua velocidade, a cada segundo (se não houver resistência do ar).

Treinando pesado!

Durante sua preparação para superar o conquistador de planetas Fre-

eza, Goku fez um treinamento rigorosíssimo, onde o mesmo estava

sujeito a uma gravidade 100 vezes a da Terra. Supondo que Goku te-

nha uma massa de 100 kg, qual seria o valor da força Peso, exercida

sobre ele, enquanto está sob essa gravidade aumentada de 100 vezes

(100 x g). Na nossa gravidade, que objetos poderiam ter o valor do peso calculado de Goku

na gravidade de 100 x g?

Treinando PESADO: O Retorno!

Agora, suponha que Goku vá até uma anã branca (um objeto celeste que resulta da evolução 6
de diversos tipos de estrelas, tais como o nosso Sol. Esta evolução dura bilhões de anos). A

gravidade na superfície de uma Anã Branca pode chegar a até 100.000 vezes o valor da ace-

leração da gravidade na Terra (100.000 x g). Se Goku conseguisse suportar essa gravidade,

qual seria o valor da força Peso exercida sobre ele na superfície da Anã Branca? Na nossa

gravidade, que objetos poderiam ter o valor do peso calculado de Goku na Anã Branca?

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 211


Será que estou no sobrepeso?

7 Em que situação uma balança funciona corretamente, expressando o valor da mas-

sa do objeto que repousa sobre ele?

Seção 5
Diagramas de corpo livre

Para determinar o movimento de um corpo, é importante que primeiro saibamos quais são as forças que atuam

sobre o mesmo. Para fazer isto, precisamos representar um diagrama de corpo livre (também chamado de isolamento

de forças). Apresentaremos a seguir uma receita de bolo, que deverá ser sempre seguida, quando formos isolar as

forças que atuam num objeto.

1. Represente apenas o corpo que será isolado. Não desenhe qualquer outro objeto no diagrama;

2. Identifique e marque primeiro quais forças de campo atuam no corpo em questão, utilizando sempre su-

bíndices para representar o corpo que exerce a força e o corpo que a sofre (por exemplo, se estamos isolan-

do um prego que está próximo de um ímã, a força exercida pelo ímã no prego será indicada como Fímã, prego);

3. Veja quantos objetos estão em contato com o corpo que está sendo isolado. Marque uma única força para

cada contato, usando a convenção de subíndices da regra 2 (por exemplo, se estamos isolando um livro

que está sobre uma mesa, a força exercida pela mesa sobre o livro seria representada como Nmesa, livro. Utiliza-
mos N neste caso por que a força é uma normal, que impede que o livro penetre na mesa). Vale a pena dar

uma dica, que pode nos ajudar a verificar se realizamos o isolamento corretamente. Imagine que estamos

isolando uma caneca que está sobre a mesa, conforme pode-se ver na Figura 12.

212
Lembre-se que quando isolamos um corpo, marcamos APENAS as forças que atuam SOBRE ele. Isto

significa que, se seguimos corretamente os 3 passos da receita de bolo fornecida anteriormente, todas as forças

devem ser do tipo Fmesa , caneca , por que estamos isolando a caneca. Em outras palavras, se o segundo nome que

aparece no subíndice das forças não for o mesmo nome do corpo que estamos isolando (neste caso, a caneca),

comece a questionar o seu diagrama.

Figura 12: Figura de uma caneca sobre uma mesa.

Deste modo, o isolamento da caneca é representado na Figura 13.

Figura 13: Representação do isolamento da caneca da Figura 12 passo a passo.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 213


Bate na madeira! Isola!

8 Considere que dois amigos truculentos, Tropeço e Gilson, desejam transportar uma
caixa muito pesada, tal como na figura desta atividade. Faça o diagrama de forças para
Gilson, Tropeço e para a caixa, e responda à seguinte pergunta:

a. Tropeço está fazendo alguma força na caixa? E em Gilson? Justifique.

Agora que conhecemos alguns tipos de forças e sabemos como isolar os corpos,
podemos nos perguntar qual a relação entre força e movimento. Esta pergunta será apenas
parcialmente respondida neste módulo.

Seção 6
A Lei do movimento (Primeira Lei de Newton,
ou ainda Lei do Movimento de Galileu)

O que acontece quando a resultante das forças que atuam sobre um objeto não é nula? Por exemplo, considere o caso

de um livro, que está sobre uma mesa áspera e que sofre um empurrão, de modo a entrar em movimento (veja a Figura 14).

Figura 14: Imagem que representa um livro que é posto a entrar em movimento, da esquerda para a direita com uma veloci-
dade inicial v, numa mesa áspera. Uma força de atrito atuará sobre o livro, até o mesmo entrar em repouso.

214
Podemos constatar, através da experiência, que existe uma força de contato, chamada força de atrito, que a

mesa exerce sobre o livro, enquanto este desliza sobre a superfície da mesa. Quanto maior for a força de atrito, mais

rápido ele entrará em repouso. Agora, imagine que a mesa fosse de gelo. Neste caso, o coeficiente de atrito seria

muito pequeno! Ao experimentar um empurrão numa mesa como essa, o livro iria percorrer uma distância enorme

antes de parar.

Figura 15: Representação do isolamento de forças para o livro, que está sobre a mesa áspera. Temos representadas três situ-
ações diferentes, onde variamos a aspereza entre o livro e a mesa. Quanto maior o coeficiente de atrito, maior será a força de
atrito que o livro exerce na mesma.

Se representássemos a velocidade do livro como função do tempo, para as três situações descritas na Figura

15, obteríamos algo muito parecido com o descrito a seguir.

Figura 16: Curvas correspondentes às situações da Figura 15 e ao caso limite [curva (4)], onde o atrito é nulo.

Quanto maior a força de atrito, mais rapidamente o livro atingirá a sua velocidade final, de repouso (v = 0).

Então, relacionando as situações da Figura 15 com as da 16, temos que a curva (1) corresponde ao caso onde a força

de atrito é a maior de todas, enquanto que a curva (2) equivale ao caso intermediário da Figura 15. Já o caso onde o

livro (ou a superfície) é de gelo, o gráfico mais adequado seria o da curva (3).

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 215


Newton imaginou o seguinte. Se fosse possível fazer com que o atrito fosse realmente nulo, isto é, se existisse
uma superfície plana e perfeitamente lisa, o objeto que sofre um empurrão, obtendo uma certa velocidade inicial
v0 teria essa velocidade constante a partir daí, como na curva (4) da Figura 16. Isto significa que neste caso ideal, a
velocidade do corpo não se altera.

E mais ainda, Newton generalizou o que discutimos com esse exemplo específico, dizendo que isto não ocorre apenas
no caso de um livro deslizando sobre uma mesa. Esta vem a ser a chamada primeira lei de Newton: sempre que a resultante
das forças que atuam num corpo for nula, o corpo em questão ou estará em repouso (conforme discutimos anteriormente),
ou executará um Movimento Retilíneo Uniforme (M.R.U.- movimento em linha reta, com velocidade constante). Perceba que
se um objeto está em repouso, sua velocidade vale zero (e portanto, é constante), então podemos dizer, de maneira mais geral,
que se a resultante das forças que atuam sobre um corpo vale zero, a velocidade do corpo será constante.

Agora está na hora de aplicar o isolamento de forças em algumas situações diferentes e discutir a primeira Lei
de Newton a estas situações.

Considere que uma pessoa empurra uma caixa (que poderia ser um tijolo ou um livro, por exemplo) sobre uma

superfície, de tal maneira que a velocidade da caixa seja constante, como vemos na Figura 17.

Figura 17: Imagem de uma pessoa que empurra uma caixa, de tal maneira que esta caixa desloca-se com velocidade cons-
tante sobre uma superfície.

Primeiro, vamos isolar as forças que atuam na caixa da Figura 17. Seguindo o procedimento descrito

anteriormente, temos na Figura 18 o isolamento da caixa.

Figura 18: Representação esquemática do isolamento do bloco da Figura 17 passo a passo.

216
Veja que por causa da Primeira Lei de Newton, a soma das forças que atuam no corpo deve ser nula. Por isso,
em (c) primeiro vimos qual é a soma da força peso e da força aplicada pela mão no bloco. Assim, em (d) representamos
uma força idêntica à soma de (c), mas com sentido oposto. Deste modo, a soma das três forças anular-se-á.

Repare que só pelo desenho, nós sabemos que a força exercida pela superfície sobre o bloco é maior que as
outras duas forças que atuam sobre ele (a força peso e a força que a mão faz no bloco). Neste caso, não é possível dizer
se a força peso é maior ou menor que a força que a mão faz no bloco, ou seja, a força em vermelho em (D) é igual à

soma de da força de atrito e da força normal que já foram apresentadas anteriormente.

Saia da Inércia

Na figura ao lado, temos um bloco de ferro que está preso a um 9


ímã, sendo sustentado pelo magneto. O ímã encontra-se amarrado a
um fio de massa desprezível, preso ao teto.

Isole, separadamente as forças que atuam no ímã e no bloco de


ferro, e utilizando a Primeira Lei de Newton, compare o módulo das forças que aparecem
no diagrama de corpo livre do ímã. Em seguida, repita o procedimento para as forças que

aparecem no isolamento do bloco de ferro.

Puxa que vai!

Considere novamente a caixa, carregada por Gilson e Tropeço. 10


Sabendo que a caixa desliza à velocidade constante, compare algumas das forças

que atuam na mesma.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 217


Saindo pela tangente!

11 Tropinho brinca com um carrinho que possui um bloco de madeira sobre ele, con-
forme pode-se ver na figura ao lado.

Num determinado instante Joaquim faz uma curva bem fechada. Diga o que pode

acontecer com o bloco, utilizando a primeira lei de Newton, que estudamos há pouco.

Seção 7
Tração nas 4, pra aumentar a Tensão!

Certamente, você já viu em algum lugar onde há uma obra em andamento (isto se você mesmo já não

colocou/coloca a mão na massa), que há alguns dispositivos que se utilizam de cordas para realizar algumas

atividades, tais como erguer um balde com cimento do térreo para um andar superior. Esses artefatos utilizam

algumas propriedades de cordas para realizar este trabalho. Para entender como se pode utilizar um cabo para

este tipo de fim, considere que temos uma corda de aço, amarrada de modo a ficar dependurada e presa nas suas

extremidades, tal como na Figura 19.

Figura 19: Em (a), temos uma corda que está presa a duas caixas, que chamamos de A (a da esquerda) e B (a da direita). Em
(b), temos a mesma situação, mas dessa vez a corda é muito leve.

218
Por que representamos a corda curvada para baixo? Como no exemplo a corda que está presa aos blocos A e B

da Figura 19 é de aço, temos que a massa da mesma (e consequentemente a força Peso) será elevada. Se a corda está

em repouso, como seria o diagrama de corpo livre da mesma? Veja na Figura 20.

Figura 20: À esquerda, temos o isolamento da corda, que sofre o Peso.

Para que a soma das forças que atuam na corda anule-se, as trações, nas duas extremidades da corda devem

ser inclinadas, como vemos no isolamento da corda na Figura 20. O motivo disto é que a força Peso, que a Terra

exerce na corda e que aponta para baixo, deve ser cancelada, já que a corda está em repouso. Entretanto, em alguns

casos somos capazes de jurar que não há nenhuma “barriga” na corda formada, devido ao seu peso. Veja o caso da

corda de um violão: uma vez que ela esteja devidamente tensionada no instrumento, não somos capazes de perceber

a olho nu nenhuma barriga. Para que não seja formada nenhuma barriga na corda, é necessário que a força Peso

exercida sobre a mesma, que aponta para baixo, seja muito menor que as trações que mantém a corda tensionada.

Neste caso, podemos desprezar a força Peso da corda, e assim, nenhuma barriga se formará. Nesta situação, em que

a massa da corda pode ser desprezada, a tração passa a ser a mesma em todos os pontos da corda. Este será o caso

da esmagadora maioria (se não for de fato a totalidade) dos problemas que envolvem cordas nos problemas de física

que você verá. Então, quando você ler num enunciado que a corda tem massa desprezível (ou algo parecido), só há

uma tração na corda, independente do ponto, e a corda poderá ficar perfeitamente estirada na horizontal, sem formar

nenhuma barriga (veja a Figura 19, à direita).

Como podemos utilizar cordas e fios para facilitar nossas atividades cotidianas? Veja que utilizamos fios e cordas

para diversos fins: para formar as cordas de um instrumento musical, para amarrar seus calçados e até mesmo para

sua higiene bucal. Uma aplicação interessante de cordas é a chamada roldana. Este instrumento é frequentemente

utilizado em construções e obras. Nesses ambientes de trabalho, desejamos erguer objetos de grande peso, como

sacos de cimento etc. (veja a Figura 21).

Vimos anteriormente que se submetemos uma tração na corda que seja muito maior que o peso dela, podemos

considerar que a mesma não forma barriga (embora nesse caso ela não formaria barriga), e que nesse caso, temos que

só existe uma tração na corda. Desprezando a massa da corda, temos então que a força que o rapaz da Figura 21 faz na

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 219


extremidade esquerda da corda é a mesma força em todos os pontos da mesma. Para entender o que está acontecendo

em mais detalhes, vamos representar o diagrama de forças para a roldana e para o balde (veja a Figura 22).

Figura 21: Imagem do uso de uma roldana para erguer diversos objetos

Conforme o que discutimos anteriormente, se a massa da corda for muito pequena, podemos dizer que a

tração é a mesma em todos os pontos da corda. Se o balde da Figura 21 sobe com velocidade constante, sabemos

que a resultante das forças que atuam sobre ele é zero. Nesse caso, a tração na corda é igual ao peso do balde (veja a

Figura 22 b). Então, se a massa do balde é de 20 kg, seu Peso (e a tração na corda) vale

P = mg = 200 N.

Figura 22: Em (a), temos o diagrama de forças para a roldana. Temos o mesmo em (b), desta vez para o balde.

Por sua vez, este será o valor da força exercida pelo rapaz, já que a tração na corda é a mesma em todos os

pontos. Repare que se a roldana está parada (velocidade nula), pela primeira Lei de Newton a força que o teto faz na

roldana para cima deve ser igual ao Peso da roldana mais duas vezes a tração na corda.

220
Quero ver se tu és brabo!

Imagine que você e um amigo estão competindo 12


para ver quem é mais forte. Na procura de desa-
fios, vocês fizeram queda de braço, cabo de guer-
ra e até foram a uma academia para ver quem
aguentava mais peso. Entretanto, em todos esses desafios vocês empataram! Ao comentar
dessa disputa com o professor de Física, ele resolveu ajudar, passando-lhes um desafio final.
O desafio consistia em arrumar uma pedra com mais de 5kg e amarrar uma corda, de maneira
que sobrem duas pontas de tamanhos iguais e grandes o suficiente para que vocês possam
segurar em ambas, veja a figura ao lado.

Então os participantes teriam que puxar nas duas pontas até que a corda fique total-
mente reta na horizontal. Pergunta: algum dos dois amigos será capaz de completar a tarefa?

Justifique a sua resposta.

Puxa que sobe!

Um trabalhador puxa um balde cheio de argamassa, pesando 150N, com auxílio de 13


uma corda e uma roldana (veja figura a seguir).

Na primeira situação, o trabalhador puxa a corda de maneira vertical, já na segunda


ele se inclina um pouco. Diga em qual das situações o rapaz tem de fazer mais força para

erguer o balde. Justifique a sua resposta.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 221


SEÇÃO 8
A Terceira Lei de Newton
(“Já está quase no fim! Ânimo! Reaja!”)

Conforme já adiantamos anteriormente, na discussão relativa à força Peso (força de interação gravitacional),

quando consideramos a interação, referente a um par de corpos, temos que: a força que o corpo 1 faz no corpo 2 é

a mesma força que o corpo 2 faz no corpo 1, independente do valor das massas dos corpos 1 e 2. Esta vem a ser a

Terceira Lei de Newton (também conhecida como Lei da Ação-Reação):

Quando dois corpos interagem, exercendo-se forças mutuamente, temos que a força exercida pelo corpo A
sobre o corpo B tem o mesmo módulo, mesma direção, mas sentido oposto ao da força exercida pelo corpo
B sobre o corpo A.”

Um argumento interessante, que serve para argumentar em favor da Terceira Lei de Newton é o seguinte.

considere o seguinte caso, relatado pelo chamado Barão de Munchausen. Este homem afirma ter conseguido escapar

de uma maneira muito peculiar, por certa vez, de um pântano similar à areia movediça. Quando estava prestes a

submergir completamente no lodo do pântano juntamente com seu cavalo, ele recorre à força que ainda guardava e

ergue a si e à sua montaria, puxando-se pelos cabelos, para fora da armadilha mortal (veja a Figura 23).

O que você acha dos relatos deste homem? Eles são razoáveis? Ao refletirmos um pouco sobre a possibilidade

de o acontecimento narrado pelo Barão ser de fato verídico, chegamos à conclusão de que este caso não passa de uma

história de pescador. Se tivesse sido possível ao Barão tal ato, não haveria necessidade do mesmo utilizar carruagens

de qualquer tipo. Bastaria erguer-se a si e viajar tal como o Peter Pan, cruzando os ares. De um ponto de vista lógico,

podemos refutar esta história, baseando-nos na Terceira Lei de Newton. Para simplificar, vamos considerar que o

Barão está sozinho, sem seu cavalo. Vamos então isolar a região do corpo do Barão em que ele pretende realizar sua

“mágica”, isto é, suas mãos e seu cabelo (veja a Figura 24).

222
Figura 23: Temos o Barão de Munchausen erguendo-se pelos cabelos e retirando a si e ao seu cavalo de uma armadilha
movediça, tal como descrito no texto.

Figura 24: Isolamento de forças do Barão

Da figura 24, podemos concluir algumas coisas. Uma vez que os cabelos do Barão estão presos ao seu próprio

corpo, temos que:

ƒƒ As mãos do Barão exercerão uma força nos cabelos para cima;

ƒƒ Os cabelos do Barão exercerão uma força nas mãos para baixo.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 223


Deste modo, o corpo do Barão sofre a atuação de duas forças, que de acordo com a Terceira Lei de Newton, são

iguais em módulo, direção e têm sentidos opostos, anulam-se. NESSE caso, por que o par ação-reação atua sobre um

mesmo corpo (força da mão sobre os cabelos ou força dos cabelos sobre a mão: pouco importa. Não devemos pensar

nos pares ação-reação como uma relação de causa-consequência. Em outras palavras, tanto faz a ação ser a força da

mão sobre o cabelo ou a força do cabelo sobre a mão.

Bate-rebate

14 Um par ação-reação pode ser aplicado em um único corpo?

Natureza das forças

15 Existe par ação-reação de naturezas distintas?

Resumo

Nesta unidade, começamos o estudo de diversos tipos de força que existem na Física, tais como: a força Peso,

Tração, Normal e Força de Atrito. Vimos que de um modo geral as forças provocam alterações no estado de movimento

de um corpo, ou causam-lhe deformações. Além disso, classificamos as forças em duas categorias distintas: forças de

224
campo, que atuam mesmo que os corpos não estejam em contato direto e forças de contato, que existem apenas

quando os corpos em questão estão encostados um no outro. Exploramos as três qualidades que caracterizam uma

força: seu módulo, sua direção e seu sentido.

Finalmente, relacionamos a soma de todas as forças que atuam sobre um corpo (Força Resultante) com o

movimento adquirido por este corpo, através da Primeira Lei de Newton. Por fim, fomos capazes de relacionar as

forças que um objeto exerce sobre outro (e vice-versa), utilizando a Terceira Lei de Newton (Lei da Ação-Reação).

Aplicamos todos estes conceitos a diversas circunstâncias simples, tentando tomar como exemplos situações

próximas à realidade do leitor.

Veja ainda

Caso você deseje aprofundar-se ainda mais no tema, dispomos a seguir um link que mostra como é possível

construir materiais que facilitam a compreensão das Leis de Newton.

http://www.educared.org/educa/index.cfm?pg=ensinar_e_aprender.turbine_interna&id_dica=233

Referências

ƒƒ HEWITTT, P. G. Física Conceitual. Ed. Bookman, 2008.

ƒƒ GUIMARAES, L. A. M., FONTE BOA, M. C. Física Mecânica. Ed. Futura, 2004.

Imagens

• André Guimarães

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Dockworker_lashing_a_container.jpg

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Bundesarchiv_Bild_183-14928-0006,_Wuhlheide,_Volksfest,_DDR-Meister_Ludwig.jpg

• Vitor Lara

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 225


• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• http://www.sxc.hu/photo/935741

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Fonte: http://www.flickr.com/photos/memoriesofyami/6681736257/sizes/m/in/photostream/ • Yami Ghor

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

226
• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Fonte: http://www.ils.uec.ac.jp/~dima/D/gravitsapa.htm

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• Leonardo Pereira Vieira e Vitor Lara.

• http://www.sxc.hu/photo/517386 • David Hartman.

• http://www.sxc.hu/985516_96035528.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 227


Atividade 1

Encontramos forças de contato em diversas circunstâncias. Basicamente, todas


as forças que exercemos são forças de contato. Quando seguramos ou empurramos um
objeto, realizamos uma força de contato sobre o mesmo.

As forças de campo também não são incomuns. Todos os objetos na superfície da Terra
sentem uma força de campo, a força Peso. Outro exemplo bastante comum é a força magnética,
responsável pela atração entre ímãs e alguns tipos de objeto (como o ferro, por exemplo).

Atividade 2

Pode. Quando alteramos a temperatura de um corpo, o mesmo normalmente tem


seu volume alterado. Este efeito é conhecido como dilatação térmica. Excetuando-se este
e possivelmente mais um ou outro caso isolado, as forças é que são responsáveis pelas
deformações dos objetos.

Atividade 3

Na soma vetorial, devemos levar em consideração o módulo, o sentido e a direção


dos vetores.

Atividade 4

Para responder a essa pergunta, devemos somar os vetores indicados na pessoa e


tomar como referencia a direção e o sentido do vetor resultante, pois é nessa direção que
ele acelerará! Ao fazer essa soma, você verá que será na diagonal, direita para cima.

Atividade 5

Temos que a força Peso exercida pelo planeta Terra sobre um corpo nas proximidades
de sua superfície é dada por P = mg.

228
Neste caso, a gravidade é aumentada de 100 vezes e; portanto, g = 100 x 10 = 1000
m/s². Temos então que P = 100 (kg) x 1000 (m/s²) = 100.000 N

Portanto, devemos procurar objetos que tenham um peso de 100.000 N na Terra,


onde a gravidade vale 10 m/s². Assim, podemos escrever P = m x g

100.000 = m x 10

m = 10.000 kg = 10 toneladas.

Como objetos ou corpos que tenham uma massa desta magnitude, podemos citar
algumas espécies de baleia ou um ônibus.

Atividade 6

Neste caso, a gravidade é 100.000 vezes maior que a da Terra. Portanto, o peso de
Goku na superfície de uma Anã Branca valeria P = m x g = 100 x 1000 000 = 108N.

Para determinarmos a massa de um objeto que teria este peso na Terra, usamos
novamente a fórmula P = m x g

108 = m x 10

m = 107 kg (10 milhões de quilogramas – ou 10.000 toneladas).

Para se ter uma ideia do valor desta massa, ela é equivalente ao peso da água de 4
piscinas olímpicas cheias até a borda.

Atividade 7

A balança funcionará corretamente, se você estiver em repouso sobre a mesma.


Ela também funcionará corretamente, se você e ela estiverem se movimentando com
velocidade constante.

Atividade 8

Tropeço não é capaz de realizar força nem em Gilson, e nem na caixa, afinal, ele não
está em contato direto com estes objetos. Entretanto, Tropeço realiza uma força na corda,

e esta sim, exerce força na caixa.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 229


Atividade 9

No ímã, a força de tração deve ter o mesmo módulo que a soma entre as força peso

do imã e a força que o bloco faz no ímã. Assim ele estará em repouso. Já no bloco de ferro a

força peso do bloco deve ter o mesmo módulo da força que o ímã faz no bloco.

Atividade 10

Bem, se o bloco viaja com velocidade constante, sabemos que o somatório das forças

deve ser zero! Logo, temos que o peso do bloco anulará a normal (força de contato entre o

bloco e o chão) e a soma das forças que os homens aplicam deve ter sentido oposto e módulo

igual a força de atrito entre a caixa e o chão. Assim, garantimos que a força resultante vale

zero! Logo, o bloco só poderá estar parado ou se movimentando com velocidade constante.

Atividade 11

Antes de realizar a curva o bloco tenderá a se mover em linha reta e com velocidade

constante, como diz a primeira lei de Newton. Logo, para que o bloco realize a curva, terá

de surgir uma força que o acelere. Essa força é a força de atrito entre o fundo do carrinho e

o bloco, que apontará para o centro da curva. Mas, se a rapidez com que Tropinho realizar a

curva for muito grande, o bloco pode seguir em linha reta, pois assim a força de atrito será

muito pequena para mudar a trajetória do bloco.

Atividade 12

Não! Note que ao puxar a corda estaremos aplicando duas forças, cujas componentes

verticais têm de anular o peso da pedra. Entretanto, ao aplicar essa força, de inicio a pedra

tenderá a subir. Pois o somatório dessas duas componentes será maior que o peso da pedra.

À medida que ela sobe maior tem de ser a força aplicada por você, pois menor será a

componente. Em verdade podemos dizer que para deixar a corda totalmente n horizontal

a força aplicada por você terá de ser infinita.

230
Atividade 13

Na verdade, ele terá de aplicar a mesma força. Pois a inclinação obtida não

influenciará na resultante. Talvez um desconforto, mas a força é a mesma e tem de ser igual

a força peso.

Atividade 14

Sim, entretanto o objeto não acelerará. Essa pode ser uma definição de força interna!

Atividade 15

Não! Eles precisam ser de mesma natureza!

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 231


O que perguntam por aí?
Veja a seguir alguns problemas de vestibular para o seu aprofundamento.

(UFMG) Uma pessoa está empurrando um caixote. A força que essa pessoa exerce sobre o caixote é igual e

contrária à força que o caixote exerce sobre ela. Com relação a essa situação assinale a alternativa correta:

a. a pessoa poderá mover o caixote porque aplica a força sobre o caixote antes de ele poder anular essa

força.

b. a pessoa poderá mover o caixote porque as forças citadas não atuam no mesmo corpo.

c. a pessoa poderá mover o caixote se tiver uma massa maior do que a massa do caixote.

d. a pessoa terá grande dificuldade para mover o caixote, pois nunca consegue exercer uma força sobre

ele maior do que a força que esse caixote exerce sobre ela.

Gabarito: b

(FAU.S.J.CAMPOS) Se você empurrar um objeto sobre um plano horizontal que imagina tão polido como para

não oferecer nenhuma oposição ao movimento, você faz com que ele se movimente com uma certa intensidade. No

momento em que você solta o objeto:

a) ele para imediatamente.

b) diminui a intensidade da sua velocidade até parar.

c) continua se movimentando, mantendo constante a sua velocidade vetorial.

d) para após uma repentina diminuição da intensidade de sua velocidade.

e) n.r.a.

Gabarito: c

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 233


Material Não Formatado_Links:

Simulação

Assunto: Lei de Hooke

Link: http://faraday.physics.utoronto.ca/GeneralInterest/Harrison/Flash/ClassMechanics/HookesLaw/

HookesLaw.html

Descrição: Recurso educacional que demonstra, através da mudança no sentido de um vetor, a força que está

sendo exercida sobre um corpo quando uma mola é comprimida e extendida.

Veja que não é qualquer objeto que utilizamos no interior do dinamômetro. As

molas em geral possuem uma propriedade bastante peculiar. Quando imprimimos

uma força em uma espiral, ela se deforma, e exerce uma força contra você, na

tentativa de trazer a mola ao seu formato original. Isto é, se esticamos uma mola, ela

exerce uma força na direção de fazê-la encolher-se e quando a comprimimos, ela nos

exerce uma para crescer. Chamamos forças deste tipo de forças restauradoras. Veja que no exemplo anterior, o dos

pesinhos, a força exercida pela mola cresce na mesma proporção que a deformação provocada por esta força. Isto

é, quando dobramos o peso, a deformação dobrou, quando triplicamos o peso, a deformação aumentou na mesma

proporção etc..

Texto/animações

Assunto: Soma de vetores e regra do paralelogramo.

Link: http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/bitstream/handle/mec/11253/05_teoria.htm?sequence=65

Descrição: Recurso educacional que mostra noções básicas de vetores.

Um exemplo bastante corriqueiro de Força Normal será a força exercida pelo chão sobre um

objeto que esteja sobre ele. Se não fosse o chão, você estaria caindo neste exato momento, em direção

ao centro da Terra. O chão faz em você uma força para cima que é sempre igual à força que você faz no chão evitando

que você caia, por que o chão quer evitar que você penetre nele (tanto é que se no lugar do chão tivéssemos água,

que é muito mais maleável, você penetraria na água, por que a mesma não consegue realizar uma força normal que

impeça essa penetração).

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 235


Título: Existe uma força de atração entre você e os objetos a sua volta!

Assunto: Força campo

Link: O arquivo anexo ficará disponibilizado no AVA.

Existe uma força de atração


entre você e os objetos a sua volta!

A afirmação feita no título desse anexo pode ser explicada através do conceito de força campo, aquela que não

precisa de contato para existir. Para entender fisicamente essa força, usaremos o exemplo de atração que ocorre em

nosso Sistema Solar.

Sabemos que todos os planetas do nosso Sistema Solar orbitam em torno do astro rei, o Sol. Os planetas giram

em torno do Sol devido à interação gravitacional entre eles, de maneira análoga a uma pedra amarrada num barbante

(conhecida popularmente como marimba), posta a girar por uma criança.

Figura 1: À esquerda temos uma marimba, posta a girar. À direita, temos a Lua, que gira em torno da Terra, devido à força de
atração gravitacional.

No caso dos astros que compõe o Sistema Solar, estamos falando de objetos cuja massa ultrapassa a marca de

trilhões de toneladas. Sir Isaac Newton, físico britânico e brilhante do século XVII, foi a primeira pessoa a dizer que a

força que atrai todos os objetos na superfície da Terra para baixo tem a mesma natureza que a força que mantém os

astros em movimento.

236
Na verdade, ele foi ainda mais longe. A Lei da Gravitação Universal de Newton estabelece que todo par de

objetos, contanto que possuam massa, atraem-se mutuamente, como você verá na próxima unidade. No caso da

interação entre os planetas e o Sol, as massas dos objetos são estupidamente grandes, o que faz com que a força

gravitacional também seja bastante intensa. Entretanto, mesmo objetos cuja massa seja muito pequena em

comparação à massa de planetas, tais como você e outros corpos ao seu redor, tais como lápis, cadeiras, carros, ou

mesmo prédios etc. atraem-se mutuamente. Mas se estou afirmando que existe uma força de atração entre você e um

objeto, por que esse objeto não se move até você e você não se move em direção a esse objeto?

A resposta é bem simples: a intensidade da interação gravitacional entre dois objetos depende da quantidade

de matéria existente nesses corpos. Uma massa como a sua e de seu colega interagem muito fracamente, ou seja, a

força de interação gravitacional entre vocês é extremamente pequena!

Concluindo, as forças de campo também são classificadas como forças de ação a distância. Quando pensamos

em força de campo, imaginamos que o chamado campo é uma espécie de “mediador”, responsável pela interação

entre dois corpos. Assim, existe um tempo para que o campo comunique a interação entre dois objetos que interagem,

que depende da distância entre eles.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 237


CADERNO DE ESTUDOS

EJA - ENSINO MÉDIO


MATERIAL DE APOIO
MENSAGEM AO ALUNO EaD
Olá aluno(a)! Esse material foi especialmente elaborado para você.
Leia com atenção e procure complementar seus estudos com os demais recursos
do ambiente de ensino a distância. Conte com seus professores e tutores para ajudar.

www.visaoedu.com.br
A segunda lei
de Newton
e a eterna
queda da lua
Para início de conversa...

O movimento é um dos conceitos mais importantes em Física. A nossa época

é a época do movimento: tudo muito rápido! Na TV vemos carros a 200 km/h, fogue-

tes cruzando o espaço entre as estrelas, lanchas velozes em filmes de espionagem,

atletas nas olimpíadas... A Mecânica é a parte da Física que descreve o movimento.

É interessante observar que o desenvolvimento da Mecânica começou com

as observações dos movimentos celestes. Há vários milênios, as pessoas observam

o movimento dos astros no céu. Do século XVII em diante começou-se a tentar des-

crever o movimento dos astros no céu e o movimento de projéteis com as mesmas

leis. Essa conexão foi muito importante para o desenvolvimento da física.

As leis da Mecânica são muito simples de serem enunciadas, mas estão

longe de serem óbvias.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 239


O conceito central desta unidade é o de força. Na Física clássica, um corpo interage com outro por meio de

forças, que podem ser de alguns tipos, como veremos.

Você provavelmente já deve ter ouvido a frase “Que a força esteja com você!”. Ela era dita na série de ficção

científica “Guerra nas Estrelas”, antes de alguma batalha, e ficou muito famosa entre os fãs desses filmes.

Esperamos que ao final desta unidade você tenha de forma clara que a força newtoniana não tem nada a ver

com a força da Guerra nas Estrelas!

Objetivos de Aprendizagem

ƒƒ Definir os conceitos básicos relacionados à segunda lei de Newton;

ƒƒ aplicar a segunda lei de Newton a problemas simples de Mecânica.

ƒƒ descrever o movimento dos planetas em torno do Sol.

240
Seção 1
Forças, massa e aceleração

Os corpos físicos interagem (influenciam uns ao outros) por meio de for-

ças. As forças se dividem entre duas grandes categorias: forças de contato e for-

ças a distância (ou mais propriamente forças de campo). As forças de contato

(como um empurrão ou um puxão) são as mais intuitivas, pois fazem parte da

nossa experiência cotidiana – todo mundo já empurrou um carro enguiçado

ou um velocípede de uma criança. As forças de ação a distância são as forças

gravitacionais (como a força gravitacional entre o Sol e a Terra) ou as eletromagné-

ticas (como a interação entre dois ímãs de geladeira). Por enquanto nos concentra-

remos nas forças de contato. As forças gravitacionais vão aparecer em uma seção

seguinte desta aula. As forças eletromagnéticas serão discutidas no último módulo.

Como obter a segunda lei de Newton de experimentos

Vimos que a aceleração quantifica a alteração do movimento. Se a velocidade aumenta, a aceleração foi positiva,

e se a velocidade diminui a aceleração é negativa. Qualquer objeto que acelera está sob a ação de uma força. Na realida-

de, geralmente há mais de uma força atuando no objeto. Por exemplo, um bloco sendo empurrado em uma superfície

plana geralmente desliza com dificuldade devido ao atrito entre o bloco e a superfície. Vamos quantificar a força de atrito

depois, mas por enquanto imaginemos o caso mais simples possível: um bloco deslizando em uma superfície extrema-

mente lisa, de modo que o bloco deslize suavemente, sem atrito com a superfície. Observe a figura 1 a seguir:

Figura 1: Em (a) temos que o bloco desliza sobre uma mesa sem atrito. Uma força
F age no bloco e causa uma aceleração a. Em (b), além da força F, agem no bloco
duas outras forças, o peso P do bloco e a força de contato entre o bloco e a mesa,
denominada força normal N. Na figura são mostradas todas as forças que agem
no bloco.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 241


Na Figura 1a, o empurrão no bloco está representado por uma flecha que dá a direção do empurrão e é simbo-
  
lizada pela letra F . Experimentando com a força, descobrimos que uma força F causa uma aceleração a , uma força
   
2F causa uma aceleração 2a , uma força 0.3F causa uma aceleração 0.3a etc. Assim observamos, diretamente dos
experimentos, que a aceleração é diretamente proporcional à força aplicada. Logo, podemos concluir que:

A aceleração de um objeto é diretamente proporcional e na mesma direção e sentido da força


agindo sobre o objeto.

Como vimos na discussão sobre vetores, na realidade, deveríamos dizer que é proporcional à soma das forças

agindo no corpo, ou, mais exatamente, à sua resultante.

Na Figura 1b mostramos outras forças que agem sobre o bloco, apoiado na mesa. Uma delas é a força de conta-

to entre o bloco e a mesa, denominada força normal e representada pela letra N . A outra força representada é o peso
do bloco, ou seja, a força com que a Terra o atrai. A força normal é a resposta da mesa sobre o bloco que o impede de
penetrar nela. Sendo assim, a mesa exerce a força normal sobre o bloco.

Vamos discutir melhor essas forças mais tarde; aqui o importante é que elas se anulam e sua soma (ou seja, a

força resultante), que atua no bloco, é apenas a força F .

A massa é a quantidade de matéria que o corpo contém e, ao mesmo tempo, é a resistência à mudança de
movimento. Assim, quando uma força é aplicada a um corpo, como no caso do bloco da Figura 1a, a aceleração que
o corpo vai desenvolver depende da massa do corpo.

Agora refaçamos os experimentos anteriores, só que dessa vez vamos manter a força F constante e variar a

massa do bloco. Se a nova massa é 2m, ou seja, dobramos a massa no carrinho, a aceleração agora será a / 2 . Se tri-

plicarmos a massa, 3m, a aceleração será a / 3 , e assim por diante.

Concluímos que:

A aceleração é inversamente proporcional à massa do objeto sob a ação da força.

242
As duas conclusões às quais chegamos podem ser resumidas na famosa fórmula da segunda lei de Newton:

A força resultante agindo num corpo de massa m provoca uma aceleração na mesma direção e sentido da força

de modo que a relação abaixo seja satisfeita:

Esta é a equação mais básica da Mecânica e, portanto, de toda a Física. Observe que não importa o tipo de

força; pode ser de contato ou ação a distância, a segunda lei sempre vale.

Forças são medidas em newtons: 1 N = 1 kg . m/s2.

Vamos aplicar a segunda lei em um exemplo bem simples. Suponha que o bloco da Figura 1a tenha 20 kg de

massa e seja empurrado com uma força horizontal constante de 40 N sem atrito com a mesa. Qual a aceleração dele?

Como já mencionamos no comentário sobre a Figura 1b, na realidade, outras forças agem no bloco, mas a

resultante é a própria força horizontal. Assim, da relação F = ma (agora tomada em módulo) a = F/m = 40/20 = 2 m/s2.

A força de atrito

O que é mais fácil? Passar uma flanela em uma mesa de madeira ou passar uma lixa sobre ela?

Se você já fez esse teste, provavelmente já percebeu que temos que colocar mais força na mão para deslizar a

lixa sobre a mesa do que deslizar a flanela. Isso se deve à força de atrito que é gerada no contato dos dois materiais:

em um caso, o contato da flanela com a madeira e, no outro, da lixa com a madeira.

Quando duas superfícies em contato deslizam uma sobre a outra, geralmente aparece uma força de

atrito.A força de atrito sempre se opõe ao movimento. Veja a Figura 2. Dizemos que há uma força de atrito estático

quando as superfícies não se deslocam uma sobre a outra (por exemplo, um bloco em uma superfície áspera que é empurra-

do mas não se move). Se o bloco se move, a força de atrito entre o bloco e a superfície é denominada força de atrito dinâmico.

Figura 2: O bloco desliza sobre uma mesa com atrito. Uma força F age no bloco e causa uma aceleração a, mas a força de atrito
age na direção oposta ao movimento.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 243


  
No caso em que há força de atrito, a resultante na direção horizontal é Fres = F − f , e a segunda lei fica
 
Fres = ma . É claro que a força de atrito acaba diminuindo a aceleração. Façamos um exemplo numérico. Suponha

que o bloco da Figura 2 tenha 20 kg de massa e seja empurrado com uma força horizontal constante de 40 N sobre

a mesa. A força de atrito entre o bloco e a mesa é de 10 N. Qual a aceleração dele?

As forças na direção vertical (que aparecem na Figura 1b) se anulam no bloco. As forças horizontais têm como

resultante (tomando o módulo): Fres = F − f = 40 − 10 = 30N

E da segunda lei: Fres = ma , temos 30 = 20 x a, logo a = 1,5 m/s2.

A força de atrito é uma força que só existe se houver movimento ou tentativa de movimento de um corpo

sobre o outro (estamos excluindo o movimento em fluidos etc.). Imagine o bloco do exemplo anterior em repouso

em cima da mesa. Não há força aplicada F e, portanto, não há força de atrito f. Agora imagine que lentamente a força

F vá crescendo. O bloco tenta se deslocar para a direita, mas aí aparece a força de atrito e ele não se move. A força F

vai crescendo e a força de atrito cresce também, até que a força de atrito atinge seu valor máximo (que depende das

propriedades das superfícies do bloco e da mesa). Então, a força aplicada F torna-se maior do que a força de atrito e o

bloco começa a ser acelerado para a direita. Na realidade, a força de atrito, quando o bloco está em movimento, é um

pouco menor do que a força de atrito estático máxima.

Atrito, o burro e o freio


Uma questão interessante sobre atrito é a seguinte. Imagine um burro puxando uma carroça. Sabemos que,
pela terceira lei de Newton, a força que o burro faz na carroça é a mesma força que a carroça faz no burro.

Se isso é verdade, como a carroça se move?

Uma dica para a resposta é pensar em uma estrada muito escorregadia (por exemplo, o burro puxando
a carroça no gelo). O que faz a carroça andar, na realidade, é a força de atrito entre as patas do burro e
a estrada. O burro empurra a estrada para trás com as patas e é empurrado de volta para a frente pela
reação da estrada. Se não houver atrito, as patas deslizam e o burro não se move.

Outra questão interessante sobre atrito é um carro fre-


ando bruscamente, digamos, em caso de emergência.
Se o freio for pisado com muita força, as rodas podem
travar. Enquanto as rodas estão girando, elas não estão
escorregando no chão e, portanto, o atrito entre a roda
e o chão é estático, e acabamos de ver que o atrito es-
tático é maior do que o atrito de movimento. Alguns
carros mais modernos já incorporam um sistema de
frenagem que evita o travamento da roda.

244
Isso explica, por exemplo, por que escorregamos em um piso ensaboado. Se você pisar em um chão de
cerâmica seco, não vai escorregar, mas se pisar nesse mesmo chão com sabão provavelmente não vai
conseguir sair do lugar, mesmo colocando a mesma força nos pés, pois o sabão diminui consideravel-
mente a força de atrito entre seus pés e o chão. Você já escorregou lavando o chão da cozinha?

Corredora e o atrito

Supondo que a maior força de atrito possível entre a sola dos sapatos de uma corre-

dora e a pista de corrida seja 70% do peso dela, qual a maior aceleração que ela pode obter?

O paraquedas

Após o paraquedas se abrir, a moça cai com velocidade constante de 4ms-1. Qual a

força total que age nela?

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 245


Veja um experimento clássico que mostra como a força de atrito reage em relação à força peso. Acesse
os três links a seguir:

Parte 1 - http://youtu.be/QMiNRVQzAUY

Parte 2 - http://youtu.be/t3AgZjSk3G4

Parte 3 - http://youtu.be/-69AbAmEQKI

Seção 2
Massa e Peso

Os conceitos de massa e peso são frequentemente misturados na linguagem cotidiana, mas há que se tomar

cuidado em distinguir os dois. Massa é a quantidade de matéria, medida em quilogramas. Um bloco de um quilo-

grama tem uma massa de um quilograma, em qualquer lugar onde ele esteja, seja na Terra, na Lua ou no espaço. Já

o peso do bloco é a força gravitacional que age nele. Um corpo de massa m na vizinhança da Terra pesa P = mg, onde

g ≈ 9,8 m/s2 é a chamada aceleração da gravidade. Assim, o bloco de um quilograma de massa vai pesar P = 9.8

N (pois o peso é uma força). Mas, se estivermos na superfície da Lua, a aceleração da gravidade é muito menor:

gLua = g/6. Assim, o bloco de um quilograma pesaria cerca de 1,6 N na Lua, mas sua massa continuaria a mesma,

um quilograma!

Além de medir a quantidade de matéria, a massa mede a inércia de um corpo, ou seja, a dificuldade do corpo

de mudar o seu estado de movimento (conforme discutido na segunda aula deste módulo). O peso de um corpo

depende de onde ele estiver. Já vimos que depende da gravidade presente no lugar onde o corpo estiver. Imagine

um astronauta bem longe da Terra e bem longe de qualquer outro planeta ou estrela. Não há gravidade significativa

presente. Imagine que ele tem uma pedra bem pesada na astronave. O peso da pedra é nulo no espaço interestelar,

mas a inércia da pedra continua igual. Assim, se o astronauta quiser balançar a pedra de

um lado para o outro, ele terá a mesma dificuldade que ele tem na Terra (exceto pelo fato

se não precisar sustentar a pedra, como na Terra), mesmo que a pedra não pese nada no

espaço interestelar. Isso ilustra bem a diferença do peso (que indica uma determinada

quantidade de matéria num campo gravitacional) e a inércia (que indica a dificuldade de

mudar o estado de movimento) da pedra.

246
Já vimos em aulas passadas que a aceleração da gravidade também significa quanto um corpo é acelerado

na vizinhança da Terra quando solto no ar. Ele cai com aceleração g. Se ele for solto na vizinhança da Lua, ele cai com

aceleração menor ou igual a um sexto de g.

Normalmente a massa de uma pessoa é medida com uma balança de molas, como na Figura 5. A pessoa pisa

na balança e seu peso, P, faz com que a mola da balança encolha até que a força que a mola faz na pessoa, para cima,

N, equilibre o peso, como mostrado na Figura 3a. Assim, P = mg = N. O que lemos na balança, a força N, que é normal-

mente mostrado em quilos, é numericamente igual à força P, que é P = mg, conforme explicitado na igualdade ante-

rior. Como na realidade queremos saber m, a balança já dá direto mb = N/g e vemos na balança 50 kg, por exemplo.
Neste caso, a massa medida pela balança mb é igual à massa “real” da pessoa, que supusemos ser m = 50 kg.

Agora vamos supor que a pessoa se pese dentro de um elevador que está acelerando para cima com a acele-

ração a = 2m/s2, conforme ilustrado na Figura 3b. Sabemos que a resultante das forças é igual à massa vezes a acele-
ração, conforme discutido anteriormente. Assim, neste caso:

ma = N - P

ma = N - mg

N = ma + mg = m(a+g)

Portanto, o que vai ser lido na balança é, como no exemplo anterior:


N m(a + g )
mb = =
g g

e neste caso, substituindo os valores mb = 50 x (2+9.8)/9.8 = 60,2 kg!

Ou seja, a massa medida pela balança no elevador acelerado é muito maior do que a correta. Observe que uma

pessoa não engorda no elevador, mas a balança, que na realidade mede a força que a pessoa faz na mola da balança,

mostra um valor da massa maior do que o real. É intuitivo pensar que, se o elevador está acelerando para cima, a ten-

dência da massa (por sua inércia) é ficar para trás, ou seja, pressionar mais a mola da balança.

Figura 3: (a) A força normal N, que é a força que a balança faz na pessoa, equilibra o peso. O que se lê na balança é m = N/g (em
quilos). (b) Pesagem em um elevador acelerado. A pessoa também está acelerada para cima e, portanto, a resultante das forças N-P
= ma. Veja texto em que mostramos que a massa dada pela balança no elevador acelerando para cima parece maior do que a real.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 247


Massa menor no elevador

Estudando cuidadosamente o problema de se pesar no elevador, argumente que

a massa medida pela balança será menor do que a massa real da pessoa que se pesa, se o

elevador acelera para baixo.

Seção 3
Gravitação

A força da gravitação é uma força de atração entre quaisquer duas massas. Ela é responsável pela queda de uma

maçã (e obviamente pela queda de qualquer corpo solto na vizinhança da Terra). Ela é também responsável pelo fato de

a Lua girar em torno da Terra e por muitos outros fenômenos. A gravitação é uma das quatro interações fundamentais da

natureza na física contemporânea. A descoberta da força da gravitação deveu-se mais uma vez a Newton. Ele percebeu

que a força que ocasionava a queda das maçãs e a força que mantinha a Lua em órbita deveriam ser as mesmas.

Posteriormente, as órbitas de todos os planetas em torno do Sol foram compreendidas como manifestação da
força de gravitação agindo entre o Sol e cada um dos planetas. Em resumo:

Existe uma força atrativa entre quaisquer dois corpos que é proporcional à massa dos corpos e inversamente
proporcional ao quadrado da distância entre eles.

Podemos resumir a frase anterior com a expressão

onde G é a constante gravitacional e tem o valor de 6,67 x 10-11 m3/(s2 . kg). Observe que F, na expressão dada,
é o módulo do vetor força, ilustrado na Figura 4.

248
Figura 4: Dois corpos com massas, m1 e m2, a uma distância d se atraem mutuamente com a mesma força F (força gravitacio-
nal). A força age na linha que une os centros (mais exatamente os centros de massa) dos dois corpos.

Conforme indicado na Figura 4, os dois corpos sofrem a mesma força de atração gravitacional. Elas formam um

par ação–reação.

A constante G que aparece na expressão citada foi medida pelo físico Henry Cavendish, em 1798. Ele

conseguiu medir a força de atração entre duas esferas de chumbo em seu laboratório com métodos experi-

mentais muito engenhosos. Sabendo a massa das esferas e a distância entre elas, ele determinou g.

Atração mútua

Qual a força gravitacional entre dois corpos de um quilograma cada separados à

distância de um metro?

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 249


Seção 4
Quem pesou a Terra?

“A Terra tem massa de 5,97 x 1024 kg”, diz a professora. “Como

é que você sabe? Que balança consegue pesar a Terra?”, pergunta o

menino de forma desafiadora, lembrando da balança de dois pratos

que ele vê no mercado.

Bom, a pergunta é muito

interessante e a resposta não é tão

óbvia. Vamos pensar na força que uma pedra de massa m sente na vizinhança da

Terra. Já vimos que é o peso: P = mg. Mas, de acordo com a fórmula (a lei da gra-
vitação), a força entre a pedra de massa m e a Terra que tem massa MT é dada por
GMT m
F=
RT2

onde RT é a distância entre a massa m na superfície da Terra e o centro da Terra, ou seja, o raio da Terra. Igualando as

duas expressões:

F=P
GMT m
= mg
RT2
gRT2
MT =
G
dado que RT = 6.378 km, g = 9,8 m/s2 e G = 6,67 x 10-11 m3/(s2.kg), substituindo os valores, chegamos a

MT = 6,0 x 10+24 kg, que é muito próximo ao valor mais preciso encontrado nas tabelas de constantes astronômicas.

Observe que a expressão frequentemente usada para a força de gravitação na superfície da Terra, P = mg, é

uma aproximação da equação na Seção 4 que dá a força de atração entre duas massas em uma distância d. Essa apro-

ximação vale quando uma das massas é muito pequena comparada com a massa da Terra, e está localizada a uma

altura muito menor do que o raio da Terra.

250
GMT
Na expressão dada para M,T podemos isolar g e escrever g = , que dá a expres-
RT2
são da gravidade. Sabendo-se que a massa da Lua é 0.012MT e que o raio da Lua é de 0.27RT,

calcule quanto é a gravidade na superfície da Lua.

Seção 5
Plano Inclinado

Um problema frequente nas aulas de Mecânica é o do plano inclinado liso. Observe a Figura 5a, onde vemos

um plano inclinado de um ângulo θ (lê-se ângulo teta) em relação à horizontal. Como o plano é liso, ou seja, sem atri-

to, é intuitivo que o bloco, colocado em repouso sobre o plano inclinado, comece a deslizar e a adquirir velocidade. O

nosso objetivo aqui é entender que forças atuam sobre o bloco e que aceleração o bloco adquire. Na Figura 5b estão

ilustradas as forças aplicadas ao bloco. Temos a força de contato bloco-plano N, que é perpendicular ao plano, e a

força peso P, que aponta para o centro da Terra. Como veremos adiante, essas forças agem em direções diferentes, e a

força resultante vai causar uma aceleração do bloco.

Figura 5: Em (a), um bloco de massa m sobre um plano inclinado de um ângulo θ que pode deslizar sem atrito. Em (b), as forças
que agem no bloco: força peso P e a força de contato ou reação da mesa sobre o bloco, N, chamada força normal.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 251


Figura 6: Bloco num plano inclinado. O sistema de coordenadas
foi escolhido de modo que o eixo y seja perpendicular à superfí-
cie do plano inclinado, como mostrado na figura. As componen-
tes da força peso nos eixos x e y estão ilustradas em vermelho.

Na Figura 6 estamos usando eixos de coordenadas inclinados; isso não tem nenhum problema, pois os eixos

são convenções nossas. Nesta figura mostramos duas coisas adicionais. A primeira é a decomposição da força peso

nas suas duas componentes, uma na direção de N, denominada Py, e outra na direção perpendicular, denominada Px.

Observe que todo vetor pode ser decomposto em duas componentes perpendiculares, e nós escolhemos as

direções convenientemente: uma perpendicular ao plano, Py, e outra na direção do plano, Px.

Deixemos claro aqui que as forças presentes continuam a ser apenas a força peso e a força normal. Apenas

decompusemos a força peso em duas componentes.

Além disso, na Figura 6 mostramos que o ângulo entre a força P e sua componente Py é θ também. Isso pode

ser demonstrado por geometria, pois o ângulo θ original é entre o plano horizontal e o plano inclinado. Mas P é per-

pendicular ao plano horizontal, e Py é perpendicular ao plano inclinado, ou seja, o ângulo entre eles é o mesmo que

o ângulo entre os planos.

Para se convencer disso, imagine que o plano inclinado lentamente se aproxima do plano horizontal, ou seja,

o ângulo θ entre os dois planos vai diminuindo. É simples ver que, nesse caso, o ângulo entre Py e P também diminui

(e no limite em que os dois planos estão um sobre o outro, elas são iguais: Py=P). Podemos ver também que Px = P

sen θ e Py= P cos θ.

Agora vamos escrever as expressões das forças. No eixo perpendicular ao plano inclinado, agem a força normal

N e a componente Py do peso. Nesta direção, o bloco não se movimenta (o bloco não sai do plano nem afunda nele),

não existe aceleração nesta direção. A soma das forças é nula. Assim, a segunda lei de Newton neste eixo é dada por:

Py − N = 0 P cosθ = N

252
No eixo x podemos escrever

Px = ma Psenθ = ma

Mas, como P = mg, temos o resultado que a aceleração no plano inclinado é a = g sen θ, e a força que o bloco

faz no plano (e que o plano faz no bloco) é N = mg cos θ.

Observe que uma suposição muito importante para esses resultados valerem é que o plano é liso, ou seja, o

movimento se dá sem a força de atrito. Em algumas situações, essa aproximação é razoável. Por exemplo, uma criança

descendo uma ladeira em um carrinho de rolimã com as rodinhas bem alinhadas e sem atrito e sem resistência do

ar (o que é razoável para baixas velocidades). Ela desce com aceleração a = g sen θ, onde θ é a inclinação da ladeira.

O problema do plano inclinado serve de modelo para várias aplicações das leis de Newton.

Ladeira abaixo

Calcule a aceleração de uma criança em um carrinho de rolimã descendo uma ladei- 6


ra cuja inclinação com relação à horizontal é de 30 graus.

Plano horizontal

No problema do plano inclinado, faça o ângulo θ tender a zero (ou seja, o plano dei- 7

xar de ser inclinado). Qual será o valor da aceleração do bloco? E da força normal? É o que

você adivinhou sem fazer contas?

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 253


Recursos Completares
Nesta seção, você encontrará o material não formatado indicado ao longo do texto. Ou seja, não faz parte do

conteúdo principal da aula, mas deve ser usado por você como recurso complementar para a sua formação.

Conhecendo a força de atrito

Para você entender melhor a força de atrito e como a calculamos, não deixe de acessar os seguintes links:

http://www.infoescola.com/mecanica/forcas-de-atrito/

http://www.youtube.com/watch?v=v_TYvAHoFn4

Experimento de Cavendish e a determinação da constate G

Para conhecer como a constante G foi descoberta, não deixe de visitar o link a seguir que exemplifica o

experimento de Cavendish.

http://www.if.ufrgs.br/historia/cavendish.html

Resumo

1. Nesta unidade enunciamos a segunda lei de Newton, que nos diz que a força resultante em um corpo é

igual à sua massa vezes a sua aceleração.

2. Você pôde perceber que massa e peso são grandezas distintas, sendo o peso uma força e a massa uma

grandeza que quantifica o grau de resistência do corpo à aceleração.

3. Você viu também que a gravitação é uma força de interação entre dois corpos quaisquer e está relacionada

diretamente à massa desses corpos e inversamente à distância entre eles.

254
Veja Ainda

A queda da maçã e a órbita da Lua

Antigamente pensava-se que as leis que regiam o Universo

supralunar (acima da órbita da Lua) eram totalmente diferentes das

leis que regiam o Universo sublunar (abaixo da Lua), uma herança

da visão aristotélica do mundo. Nesta concepção, abaixo da Lua to-

dos os seres e objetos eram compostos por quatro elementos (ter-

ra, água, ar e fogo), e cada um deles possuía um movimento dito

natural (terra e água para baixo, ar e fogo para cima). Mas outros

movimentos, chamados “violentos”, também eram permitidos abai-

xo da Lua.

Acima da Lua, no entanto, era o reino da perfeição: os corpos

celestes eram constituídos por um quinto elemento, o éter, que só era encontrado nessa região. Esferas de cristal

giravam em círculos perfeitos carregando consigo os corpos celestes. Cometas, novas estrelas, meteoros, tudo que

era passageiro era encarado como pertencendo ao universo sublunar, pois no universo supralunar tudo era perfeita-

mente ordenado, nada mudava.

Um dos grandes feitos de Newton, consolidando o trabalho de outros anteriores a ele (como Galileu, Ticho

Brahe e Kepler), foi unificar o mundo supralunar e o sublunar: a queda da maçã e o movimento orbital da Lua em

torno da Terra têm a mesma causa. O argumento de Newton está claramente ilustrado na Figura 4, que tomamos

diretamente do famoso livro de Newton “Princípios Matemáticos”.

Figura 4: Diagrama extraído do livro “Princípios Matemáticos”, de Isaac Newton, publicado em 1687.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 255


Newton argumenta que, se um objeto for atirado de uma montanha alta numa direção paralela à superfície

da Terra, ele vai cair em algum lugar perto da base da montanha. A distância que ele vai atingir depende da altura

da montanha, da força da gravidade e da velocidade inicial. Se o objeto for lançado sempre da mesma montanha, a

altura e a força da gravidade podem ser consideradas constantes. Agora imagine que o objeto seja lançado com mais

velocidade. Ele vai parar mais longe, conforme ilustrado na Figura 4. Se o objeto é lançado ainda com mais velocidade,

ele pode cair na Terra no lado oposto ao da montanha. Se finalmente aumentamos mais ainda a velocidade, o objeto

daria uma volta em torno da Terra, e se não houvesse resistência do ar ele ficaria circulando em torno da Terra, sempre

caindo, mas sem nunca realmente atingir a Terra! Ou seja, o objeto entraria em órbita em torno da Terra.

A Lua está em órbita em torno da Terra, ou seja, ela está sempre caindo para a Terra, mas nunca atinge a Terra.

Ou seja, como antecipamos, Newton unificou os fenômenos sublunares (a queda da maçã) e os fenômenos supralu-

nares (a órbita da Lua). Claro que o trabalho de Newton é muito completo e cheio de detalhes matemáticos que não

poderemos discutir aqui, mas a ideia central é essa.

Assista ao vídeo sobre a vida de Newton (em português):

http://www.youtube.com/watch?v=4ZIYMmJ2ewE

Referências

HEWITT, Paul G. Física conceitual. Porto Alegre: Bookman, 2000.

CASSIDY, David; HOLTON, Gerald; RUTHERFORD, James. Understanding Physics. Springer, 2002.

Imagens

• André Guimarães

• http://www.sxc.hu/photo/1213873.

• http://www.sxc.hu/photo/1183538.

256
• http://www.sxc.hu/photo/598323.

• http://www.sxc.hu/photo/1145177.

• http://www.sxc.hu/photo/981072.

• http://www.sxc.hu/photo/521192.

• http://www.sxc.hu/photo/1186277.

• http://www.sxc.hu/photo/1385352.

• domínio público.

• http://www.sxc.hu/photo/517386 • David Hartman.

• http://www.sxc.hu/985516_96035528.

Atividade 1

Como a força que impulsiona a corredora para frente é a força de atrito, a segunda

lei fica: 0.7 mg = ma, ou seja, a = 0.7g, que é cerca de 7 ms-2.

Atividade 2

Como a velocidade é constante, a aceleração é nula, portanto, a resultante das for-

ças é nula também, pela segunda lei de Newton. Assim, a força total é nula.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 257


Atividade 3

Se a aceleração está apontando para baixo, na Figura 3b do texto, vemos que a re-

sultante das forças aponta para baixo. Daí,


ma = P − N
ma = mg − N
N = mg − ma = m( g − a)

Portanto, o que vai ser lido na balança é de forma similar ao discutido no texto:
N m( g − a)
mb = =
g g
e, neste caso, substituindo os valores mb = 50 x (9.8-2)/9.8 = 39.8 kg!

Atividade 4

Resposta: Na fórmula G=6,67x10-11, faça m1 = m2 = 1 kg, R=1 m e obtenha F = 6.67 x

10-11 N, que é uma força extremamente pequena.

Atividade 5

G(0.012MT ) 0.012 1
Resposta: gL = 2
= 2
g = 0.17g = g
0.27RT 0.27 6

Atividade 6

Resposta: a = g senθ = 10 x sen(30°) = 10 x 0.5 = 5 ms-2. Observe que a aceleração

não depende da massa do menino mais carrinho.

Atividade 7

Resposta: Quando θ=0, sen θ=0 e cos θ = 1. Daí, a = 0 e N = mg, que são os valores

usuais para um bloco em repouso numa superfície plana.

258
O que perguntam por aí?
(UFPE) Um elevador partindo do repouso tem a seguinte sequência de movimentos:

1. De 0 a t, desce com movimento uniformemente acelerado.

2. De t1 a t2 desce com movimento uniforme.

3. De t2 a t3 desce com movimento uniformemente retardado até parar.

Um homem, dentro do elevador, está sobre uma balança calibrada em newtons.

O peso do homem tem intensidade P e a indicação da balança, nos três intervalos citados, assume os valores

F1, F2 e F3, respectivamente:

Assinale a opção correta:

a. F1 = F2 = F3 = P

b. F1 < P; F2 = P; F3 < P

c. F1 < P; F2 = P; F3 > P

d. F1 > P; F2 = P; F3 < P

e. F1 > P; F2 = P; F3 > P

Resposta: opção C.

Comentário: Este exercício é uma aplicação simples do que foi discutido na seção 2. O peso que a balança

fornece na realidade é a força normal que atua no homem. A força normal é maior do que o peso quando o elevador

está acelerando para cima (ou desce com movimento uniformemente retardado), é igual ao peso quando não há ace-

leração e é menor do que o peso quando o elevador está acelerando para baixo. Se o elevador caísse em queda livre,

o homem estaria se movendo com aceleração máxima para baixo e a balança marcaria peso nulo!

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 259


CADERNO DE ESTUDOS

EJA - ENSINO MÉDIO


MATERIAL DE APOIO
MENSAGEM AO ALUNO EaD
Olá aluno(a)! Esse material foi especialmente elaborado para você.
Leia com atenção e procure complementar seus estudos com os demais recursos
do ambiente de ensino a distância. Conte com seus professores e tutores para ajudar.

www.visaoedu.com.br
Buscando o
equilíbrio
Para início de conversa...

No dia a dia, é comum ouvirmos falar na importância de manter o equilí-

brio. Esta é uma expressão que pode dar margem a uma série de interpretações.

Como o equilíbrio emocional, financeiro, entre outros. No contexto da Física, a ne-

cessidade do equilíbrio verifica-se em várias situações. No caso da navegação, por

exemplo, o equilíbrio é condição indispensável para que o transporte da carga

seja feito com segurança. E é nesse contexto onde surge uma série de questões

que muitas vezes nos intrigam, como por exemplo: como é possível um peque-

no tijolo afundar e um enorme navio flutuar? Esta unidade pretende apresentar

conceitos e fenômenos de hidrostática, uma área da Física que pode auxiliá-lo a

compreender melhor esses fenômenos e responder a essas questões.

Figura 1: O que faz um navio flutuar na água?

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 261


Objetivos de aprendizagem
ƒƒ Conceituar pressão;

ƒƒ Diferenciar os conceitos de massa específica e densidade;

ƒƒ Calcular a pressão hidrostática em líquidos a partir do Teorema de Stevin;

ƒƒ Reconhecer o Teorema de Torricelli;

ƒƒ Identificar situações de equilíbrio em líquidos que não se misturam;

ƒƒ Identificar o Princípio de Pascal e o funcionamento da prensa hidráulica;

ƒƒ Reconhecer o Teorema de Arquimedes e calcular o empuxo.

262
Seção 1
Pressão

Um antigo truque, utilizado pelos ilusionistas, é aquele onde o faquir deita-se sobre uma cama, contendo mi-

lhares de pregos sem se machucar. Se o mesmo faquir fosse desafiado a se deitar sobre um único prego, certamente

ele não aceitaria o desafio. Você saberia explicar por quê? Para entendermos o porquê da provável recusa, precisamos

compreender o conceito de pressão.

Figura 2: Um dos truques mais famosos de ilusionismo é o do faquir que se deita em uma cama de pregos sem ser furado por
eles.

Apoiando entre as duas mãos um lápis, que esteja

apontado em apenas uma das extremidades e exercendo

uma força sobre ele, é fácil verificar que o incômodo pro-

vocado na mão que está em contato com a extremidade

apontada será maior do que na outra mão. Faça você mes-

mo o teste e comprove. Este incômodo é causado porque

a pressão provocada pela extremidade apontada sobre a

pele é maior.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 263


Seja F a força resultante de um conjunto de forças que atuam perpendicularmente sobre uma região de área

A, a pressão (p) dessa resultante sobre a superfície é definida pela razão entre a resultante (F) e a área (A). Matemati-

camente, escreve-se:

Voltando ao problema da cama de pregos, se pensarmos que a soma das áreas das pontas de milhares de

pregos é maior do que a área da cabeça de um único prego. Logo, a pressão que o conjunto de pregos exerce sobre

a pele do faquir é muito menor, em função da área por onde a força distribui-se ser muito maior, do que no caso do

desafio, onde a área é limitada por um único prego e, consequentemente, a pressão é enorme e vai perfurar a pele

do faquir. Daí a recusa.

Seção 2
Massa específica e densidade

É muito comum entre os estudantes, no início dos seus estudos de Física, fazer confusão entre os conceitos de

massa específica e densidade. Você sabe a diferença?

264
Matematicamente, a massa específica (µ, lê-se mi) e a densidade (ρ, lê-se rô) são definidas como a razão entre

a massa de um corpo (m) e o seu volume (V).

e .

Entretanto, no caso da massa específica, esta se refere a uma propriedade da matéria, ou seja, da substância

que constitui o corpo em questão. O seu cálculo leva em conta um corpo maciço e homogêneo, e o volume conside-

rado é o equivalente ao da quantidade de matéria que constitui o corpo.

No caso da densidade, seu cálculo está relacionado com o volume do corpo. Assim, não faz diferença se re-

alizarmos o cálculo do volume de um corpo esférico maciço e homogêneo, ou de um corpo esférico oco. Embora

a quantidade de matéria utilizada em cada caso seja diferente, teremos valores iguais para os dois cálculos. Logo,

devemos ser cuidadosos com nossas interpretações e estar atentos para não cometermos erros conceituais que nos

levem a erros de cálculo.

Calculando a densidade
A densidade dos corpos é propriedade importante para a Física e para outras ciências, como a Química.
Sendo ela definida como uma razão entre massa e volume, sua unidade no Sistema Internacional (SI)
é o Kg/m3. Entretanto, em função do contexto, ela pode ser expressa de outras maneiras, como em g/
cm3 (a mais utilizada) ou em Kg/l, onde:

Ou

A densidade da água é 1g/cm3

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 265


Seção 3
A pressão nos líquidos

A figura a seguir exibe um recipiente cheio de um líquido ideal, cuja


Líquido ideal densidade é ρ, em equilíbrio. No interior, está representada uma porção isolada
É aquele que é homogêneo e não
desse líquido, de formato cilíndrico, com as seguintes dimensões: altura = h e
permite compressão, ou seja, não
se comprime. área da base = A. A base superior do cilindro imaginário coincide com a super-

fície do líquido.

Figura 3: Cilindro imaginário imerso no líquido

Considere que sobre a face superior do cilindro atue uma força F0 para baixo e que na face inferior atue uma

força F para cima. Além disso, atua sobre o cilindro o peso (P) que a Terra exerce sobre a massa da água que está con-

tida na região do cilindro imaginário.

Como o líquido está em equilíbrio, a resultante das forças que atuam sobre o cilindro deve ser nula. Assim,

podemos escrever:

266
Podemos escrever o peso, utilizando a expressão da 2ª Lei de Newton:

Ou

Substituindo na expressão do equilíbrio:

Se dividirmos toda a expressão pela área A, teremos:

em que:

F
= p (pressão exercida sobre a base inferior do cilindro)
A

(pressão exercida pelo ar sobre a base superior do cilindro)

O terceiro termo pode ser escrito:

Substituindo os termos encontrados, podemos escrever a expressão matemática que traduz o Teorema de

Stevin, em que p0 é a pressão que o ar exerce sobre a superfície do líquido, chamada de pressão atmosférica.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 267


Traduzindo em palavras, o Teorema de Stevin afirma que a pressão exercida sobre um ponto situado à profun-

didade h no interior de um líquido em equilíbrio é dada pela pressão atmosférica (p0 = patm) exercida sobre a superfície

do líquido, mais a pressão exercida pela coluna de líquido, situada acima do ponto.

A partir do Teorema de Stevin é possível prever a existência de superfícies onde a pressão mantém-se constan-

te em todos os pontos. No caso do problema estudado, isso ocorre desde que a superfície seja horizontal.

A pressão exercida pela coluna de líquido recebe o nome de pressão hidrostática (pH) e pode ser calculada a
partir do produto ρgh que forma o terceiro termo da expressão.

Logo, podemos reescrever:

Ou

Seção 4
A medida da pressão atmosférica –
Experiência de Torricelli

Com o objetivo de criar uma forma de medir a pressão atmosférica, Tor-

ricelli realizou o seguinte experimento: encheu com mercúrio um recipiente e

um tubo de vidro de 120 cm de comprimento. No caso do tubo, ele encheu até

a borda. Em seguida, tapou a extremidade aberta do tubo, inverteu a sua posi-

ção e mergulhou a extremidade tapada no mercúrio que estava no recipiente.

Ao remover o dedo, destampando o tubo, o líquido desceu até certa altura e

depois parou atingindo uma situação de equilíbrio. Esta situação de equilíbrio

encontra-se representada na figura a seguir, que mostra a coluna de mercúrio

com 76 cm de altura em relação ao nível do mercúrio no recipiente.

268
Figura 4: Experiência de Torricelli

Esta altura de 76 cm se repete toda vez que o experimento é realizado no nível do mar. Quando este experi-

mento é realizado em locais de maior altitude, como as montanhas, esse valor será menor que 76 cm.

A explicação para isso está no fato de que no alto da montanha a quantidade de ar, exercendo força sobre a

superfície do mercúrio no recipiente é menor, e, por consequência, a pressão será menor. Com isso, o equilíbrio ocorre

para colunas menores do que 76 cm.

A relação entre as unidades


Na situação de equilíbrio, a pressão hidrostática exercida pela coluna de mercúrio iguala-se à pressão
exercida pela atmosfera. Quando a experiência é realizada no nível do mar, convencionou-se que esta
pressão equivale a uma atmosfera (1 atm), uma das unidades utilizadas para medir pressão. Esta unida-
de guarda uma relação de equivalência com a altura da coluna de mercúrio igual a 76 cm.

Assim, podemos expressar a pressão tanto em atm quanto em cm de Hg (símbolo químico do mercú-
rio), considerando a seguinte relação de transformação:

1 atm = 76 cm Hg

No Sistema Internacional (SI), a unidade de pressão é dada pela razão entre as unidades de força e de
área (N/m2). Esta razão recebe o nome de Pascal (Pa).

1 N/m²= 1 Pa

Para correlacionar as três unidades aqui apresentadas, por meio de uma relação de transformação,
podemos realizar o seguinte cálculo:

A pressão hidrostática equivalente aos 76 cm de Hg pode ser calculada:

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 269


Podemos encontrar o valor da densidade do mercúrio (ρHg = 13,6.103 Kg/m3) em uma tabela e utilizar
g = 9,8 m/s2. Substituindo esses valores, teremos:

76 cm Hg = 0,76 m Hg

Assim, teremos:

Calculando a pressão

Um cubo possui 10 cm de aresta e massa igual a 3 Kg. Determine a pressão exercida

por uma das faces deste cubo, quando ele se encontra apoiado sobre uma mesa.

Mergulhando fundo

Um mergulhador nada a uma profundidade de 10 m. Determine a pressão no ponto

onde este mergulhador encontra-se.

270
Será que a água vaza?

Procure obter o seguinte material:

• Um copo de vidro

• Meia folha de papel A4 em branco.

Encha o copo com água até que o nível atinja, mais ou menos, 1 cm da borda.

Coloque a folha de papel sobre a boca do copo. Segure o copo com uma das mãos

e com a palma da outra mão pressione a folha sobre a boca do copo, a fim de evitar que a

água escape entre a folha e a borda do copo. Vire o copo de cabeça para baixo, mantendo

pressionada a folha de maneira que não haja vazamento da água. Mantenha esta posição

por uns 5 segundos e, em seguida, remova com cuidado a mão que está segurando o pa-
pel.

O que você observou? Como você explica o que aconteceu, baseado no seu apren-

dizado de Física até aqui?

Seção 5
Equilíbrio em líquidos que não se misturam

A figura a seguir ilustra uma situação em que dois líquidos com densidades diferentes, como óleo e água, por

exemplo, são colocados cuidadosamente em um tubo em formato de U, de maneira que não se misturem.

Na situação de equilíbrio, o líquido à esquerda representa o óleo, cuja densidade p1 é menor do que a da água
(à direita), cuja densidade é p2.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 271


Figura 5: Equilíbrio em líquidos que não se misturam.

De acordo com o Teorema de Stevin, a pressão no ponto A (pA) é igual


Isobárico
É toda e qualquer transformação a pressão no ponto B (pB), já que eles se encontram sobre a mesma superfície
ou ambiente que possua pressão isobárica imaginária. Logo:
constante.
pA = pB

Escrevendo as expressões de pA e pB de outra forma:

272
Água e óleo não se misturam

Em um tubo em forma de U foram colocados água e um tipo de óleo, cuja densida-

de é igual a 0,6 g/cm3. Sabendo-se que a coluna de óleo mede 5 m, determine a altura da

coluna de água medida a partir do nível onde os líquidos se encontram em contato. Utilize

para a água a densidade de 1g/cm³.

Seção 6
O Princípio de Pascal e a prensa hidráulica

De acordo com o Princípio de Pascal, qualquer aumento de pressão, aplicado em um ponto de um líquido em

equilíbrio, é transmitido integralmente a todos os pontos deste líquido e também a todos os pontos das paredes do

recipiente que o contém. O Princípio de Pascal encontra aplicações em aparatos tecnológicos como o freio a disco,

utilizado em automóveis, e o elevador hidráulico, utilizada para elevar cargas pesadas.

A figura a seguir ilustra o funcionamento de uma prensa que consiste de dois cilindros de diferentes diâmetros,

interligados e contendo um líquido. Em cada lado, é colocado um êmbolo e as áreas das superfícies desses êmbolos

são, respectivamente, A1 e A2, sobre as quais atuam as forças F1 e F2.

Figura 6: Prensa hidráulica

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 273


Nesse caso, F2 ocorre no segundo êmbolo pelo fato de haver sido aplicada a força F1 no primeiro êmbolo. A

explicação para o aparecimento da força F2 está no Princípio de Pascal, pois a aplicação de F1 provoca um aumento de

pressão no líquido que irá se transmitir até o segundo êmbolo, submetendo-o a uma força F2.

Observando a figura, é possível concluir que a pressão p1 (sobre o primeiro êmbolo) é dada por:

Da mesma forma, a pressão p2 (sobre o segundo êmbolo) é dada por:

De acordo com o Princípio de Pascal:

Portanto, há uma relação direta entre as intensidades das forças aplicadas e as áreas dos êmbolos. Assim, é pos-

sível compreender o funcionamento da prensa hidráulica, verificando que a força aplicada do lado esquerdo (F1) pode

ser muito menor do que a força obtida do lado direito (F2), dependendo da relação entre as áreas. Em uma situação

limite, seria possível imaginar que, com um único dedo aplicado do lado esquerdo, poderíamos elevar um caminhão

posicionado no lado direito, caso o equipamento seja projetado com esta finalidade.

Outra análise possível envolve a relação entre a altura que o primeiro êmbolo desloca (h1) - se e a altura do
deslocamento do segundo êmbolo (h2).

É fácil verificar que, não havendo qualquer tipo de vazamento de líquido, o volume de líquido deslocado do

lado esquerdo (V1) para baixo deve ser igual ao volume deslocado do lado direito (V2) para cima. Logo:

V1 e V2 podem ser escritos, respectivamente, como:

Assim, podemos obter uma expressão matemática que relacione as duas alturas, substituindo na expressão

anterior.

274
Subindo com o peso

Um elevador de carga hidráulico opera por meio de um cilindro de área igual a

4.10-5 m2 e deve elevar um container de 4.103 Kg que se encontra apoiado em um êmbolo


de 8.10-3 m2 de área. Determine a intensidade mínima da força necessária para elevar o con-

tainer, e o deslocamento que deve ser realizado no primeiro êmbolo para que o container

eleve-se em 20 cm.

A água de lastro e seus problemas ambientais


Um navio cargueiro é desenvolvido para navegar longas distâncias com seus compartimentos cheios
de carga. Essa carga pode, muitas vezes, apresentar uma grande quantidade de massa, dependendo
do tamanho da embarcação. Esse peso a ser transportado é levado em conta no projeto dessas em-
barcações, influenciando no volume de casco que ficará submerso, enquanto o navio estiver com sua
carga máxima sendo utilizada. Assim, o que fazer quando a embarcação precisa navegar vazia – sem
carga –, já que o equilíbrio pode ficar comprometido em função da ausência do peso? Nesse caso,
costuma-se carregar um volume extra, denominado de lastro, no lugar da carga, a fim de preservar o
equilíbrio do navio.

Qualquer material utilizado para manter um objeto em equilíbrio é chamado de lastro. Nas embar-
cações antigas, era comum a utilização de sacos de areia ou pedras. Atualmente, os novos projetos
resolvem o problema, transportando a água do mar como lastro, que preenche compartimentos do
navio para completar o peso. Quando não é mais necessária, esta água é eliminada.

Um dos problemas relacionados com a utiliza-


ção da água de lastro é o impacto ambiental.
Ao encher os seus tanques com água do mar e
transportá-la para outro local, o navio estará trans-
portando, junto com a água, espécies marinhas e
microorganismos nem sempre compatíveis com o
ambiente onde essa água será descartada. Muitas
vezes, as espécies transferidas são predadoras das
espécies locais e podem causar grandes impactos
no Meio Ambiente. Além disso, doenças podem ser transportadas juntamente com essa água. Por isso,
estudos sobre o impacto causado por água de lastro vêm se intensificando no mundo inteiro.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 275


Seção 7
O Teorema de Arquimedes
e o cálculo do empuxo

No boxe Saiba Mais anterior estivemos discutindo brevemente alguns problemas, causados pela água de las-

tro, utilizada nos navios de carga e a necessidade da sua utilização para manter o equilíbrio dessas embarcações.

Nesta seção, vamos estudar a força de empuxo, que no caso dessas embarcações, pode colocar em risco a sua estabi-

lidade, quando estas se encontram descarregadas.

Quando carregamos uma criança nos braços e a mergulhamos em uma piscina, temos uma sensação de con-

forto em relação à força que realizamos para mantê-la nos braços. Ela parece que “fica mais leve”. É como se o líquido

a empurrasse para cima, “aliviando” o seu peso.

A explicação para este fenômeno foi elaborada pela primeira vez por Arquimedes (282 – 212 a. C.), e está tra-

duzida no seu teorema que afirma que todo corpo sólido submerso em um líquido em equilíbrio fica sujeito à ação

de uma força vertical e voltada para cima, cuja intensidade é equivalente ao peso do líquido que o corpo deslocou.

Essa força foi denominada empuxo (E), e pode ser calculada matematicamente a partir do peso do líquido

deslocado, ou seja:

Sendo ml a massa do líquido:

Escrevendo a massa em função da densidade do líquido (ρl):

276
Substituindo na expressão do empuxo:

A figura a seguir mostra um corpo de volume igual a V submerso em um líquido de densidade ρ1 onde atuam

sobre ele o peso (P) e o empuxo (E).

Figura 7: Empuxo sobre um corpo submerso

Nessa situação, o empuxo pode ser obtido, considerando-se que o volume de líquido deslocado é exatamente

igual ao volume do corpo (V), já que o corpo está totalmente submerso. Logo:

Assim,

E = pl xVxg

O exemplo exibido na figura anterior não caracteriza uma situação de equilíbrio.

Uma esfera de 100 g de massa e 2.10-4 m3 de volume encontra-se totalmente sub-

mersa em água e presa ao fundo de uma piscina por um fio que a impede de subir. Deter-

mine a tração no fio.


6

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 277


Veja ainda

Voltando ao problema da água de lastro

Como já foi dito anteriormente, a manutenção do equilíbrio em embarcações é extremamente importante.

A análise do problema do equilíbrio nas embarcações de carga pode envolver duas situações. Com o navio cheio de

carga, o casco mais submerso desloca um volume maior de líquido e o empuxo é maior, contrabalançando o peso. Por

outro lado, com o navio vazio, o casco fica menos submerso e o empuxo necessário para contrabalançar o peso tam-

bém é menor. Com o casco pouco submerso, a embarcação fica sujeita a instabilidades e a solução encontrada para

recuperar a estabilidade é o enchimento dos compartimentos da embarcação com a água do mar, a fim de aumentar

o seu peso e, consequentemente, ter o seu casco mais submerso.

Figura 8: Quando um navio de carga está em sua capacidade máxima, parte de seu casco afunda na água. Quando não há
carga a ser transportada, utiliza-se um lastro para que ele afunde na água a mesma quantidade do casco que afundaria se
ele estivesse carregado, isso mantém o equilíbrio dele durante a navegação.

278
Resumo

Nesta unidade, você viu que:

ƒƒ A pressão é dada pela razão entre a força e a área onde esta é aplicada: ;

ƒƒ A massa específica diferencia-se da densidades pelo fato da primeira se referir ao material puro, enquanto que a

densidade refere-se ao objeto que pode ser constituído de vários materiais diferentes. Ambas são definidas com a

razão entre a massa e o volume do objeto: e ;

ƒƒ A pressão no interior de um líquido é dada pela profundidade dentro do líquido, multipicado pela densidade do
líquido, vezes a gravidade mais o valor de uma atmosfera (quando se está no nível do mar): ;

ƒƒ O experimento de Torricelli mostrou a relação entre a medida de uma atmosfera e uma coluna de mercúrio, iden-

tificando a relação 1 atm= 76cm/Hg;

ƒƒ O princípio de Pascal, que rege o funcionamento de mecanismos hidráulicos é dado pela relação entre as razões

entre as forças aplicadas e suas respectivas áreas dos cilindros: .

Atividade 1

A pressão pode ser determinada pela expressão ,onde F é a força de contato

entre a face do cubo e a mesa, e A a área da face.

Sendo

E a força de contato igual ao peso do cubo:

F=P

F = mg

Utilizando g=10m/s2 teremos:

F= 3 . 10

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 279


Calculando a pressão:

Atividade 2

Podemos resolver o problema, utilizando a expressão:

Onde:

Substituindo os dados:

280
Atividade 3

Após a retirada da mão que segura o papel a folha não deve cair e a água não sai do

copo. Isso ocorre porque a pressão que atua de baixo para cima na folha é a pressão atmos-

férica, de valor igual à soma da pressão que a coluna de água exerce na folha de cima para

baixo, com a pressão que a pouca quantidade de ar disponível na parte superior do copo

(vazia) exerce também para baixo, configurando uma situação de equilíbrio.

Atividade 4

O problema pode ser resolvido, utilizando-se a expressão , onde

p1 = 1 g/cm3 e p2 = 0,6 g/cm3.

Assim:

Substituindo os dados:

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 281


Atividade 5

Para determinar a intensidade mínima da força F1 pode ser utilizada a expressão

, com e os demais dados fornecidos pelo problema:

Calculando o valor de F2, que é igual ao peso do container:

Substituindo todos os dados na expressão, teremos:

Para determinar o valor do deslocamento h1, pode ser utilizada a expressão


h1 .A1 = h2 .A2 , e o valor de h2 fornecido pelo problema:

282
Substituindo os dados:

Atividade 6

Sobre a esfera, atuam as seguintes forças: o peso (P) e a tração do fio (T) para baixo,

além do empuxo (E) para cima. Como a esfera está em equilíbrio, podemos escrever:

Para calcularmos o peso:

Utilizando:

Para calcularmos o empuxo:

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 283


Utilizando os dados fornecidos, teremos:

Págua =103 Kg/m3


v água = 2.10 -4 m3
E =103 .2.10 -4 .10
E = 2N

Substituindo os dados:

T =E -P
T = 2 -1
T =1N

Imagens

• http://www.sxc.hu/photo/923717

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:RGS_13.jpg

• http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Torricelli.jpg

• http://www.sxc.hu/photo/1355471

• http://www.sxc.hu/photo/984332

• http://www.sxc.hu/photo/1133571

284
O que perguntam por aí?

Atividade 1 (ENEM 2011)

Certas ligas, estanho-chumbo com composição específica, formam um eutético simples, o que significa que

uma liga com essas características comporta-se como uma substância pura, com um ponto de fusão definido, no caso,

183oC. Essa é uma temperatura inferior mesmo ao ponto de fusão dos metais que compõem esta liga (os estanho

puro funde a 232oC e o chumbo puro a 320oC), o que justifica sua ampla utilização na soldagem de componentes

eletrônicos em que o excesso de aquecimento deve sempre ser evitado. De acordo com as normas internacionais, os

valores mínimo e máximo das densidades para essas ligas são de 8,74 g/ml e 8,82 g/ml, respectivamente. As densida-

des do estanho e do chumbo são 7,3 g/ml e 11,3 g/ml, respectivamente.

Um lote, contendo cinco amostras de solda estanho-chumbo, foi analisado por um técnico, por meio da deter-

minação de sua composição percentual em massa, cujos resultados estão mostrados no quadro a seguir.

Com base no texto a na análise realizada pelo técnico, as amostras que atendem às normas internacionais são:

a. I e II

b. I e III

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 285


c. II e IV

d. III e V

e. IV e V

Gabarito: A resposta correta é o item C.

Comentário: A partir dos dados fornecidos, é possível calcular a densidade de cada liga, levando em conta os

percentuais de participação dos elementos estanho e chumbo em cada caso. Depois de realizar os cálculos para os

cinco itens, é possível identificar que as amostras II e IV são as que atendem às normas.

Cálculos das densidades:

Atividade 2 (ENEM 2011)

Em um experimento realizado para determinar a densidade da água de um lago, foram utilizados alguns mate-

riais conforme ilustrado: um dinamômetro D com graduação de 0 N a 50 N e um cubo maciço e homogêneo de 10 cm

de aresta e 3 Kg de massa. Inicialmente, foi conferida a calibração do dinamômetro, constatando-se a leitura de 30 N,

quando o cubo era preso ao dinamômetro e suspenso no ar. Ao mergulhar o cubo na água do lago, até que metade

do seu volume ficasse submersa, foi registrada a leitura de 24 N no dinamômetro.

Considerando que a aceleração da gravidade local é de 10 m/s2, a densidade da água do lago, em g/cm3, é:

a. 0,6

286
b. 1,2

c. 1,5

d. 2,4

e. 4,8

Gabarito: A resposta correta é o item B

Comentário: Atuam sobre o cubo as seguintes forças: o peso (P) para baixo, o empuxo (E) para cima e a força

que o dinamômetro exerce (F) também para cima. O problema fornece os seguintes dados:

O problema informa que somente a metade do volume do cubo está submerso. Logo, o volume de líquido

deslocado , onde V é o volume do cubo.

O cálculo da densidade da água do lago seria possível se tivéssemos como obter o valor do empuxo, já que:

Ou

Na situação de equilíbrio, temos:

Ou ainda

Realizando alguns cálculos a partir dos dados fornecidos e utilizando g = 10 m/s2:

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 287


Substituindo na expressão do empuxo:

Calculando o volume do líquido deslocado:

Substituindo na expressão da densidade:

Ou ainda:

Atividade 3 (ENEM 2011)

Um tipo de vaso sanitário que vem substituindo as válvulas de descarga está esquematizado na figura a seguir.

Ao acionar a alavanca, toda a água do tanque é escoada e aumenta o nível no vaso, até cobrir o sifão. De acordo com

o Teorema de Stevin, quanto maior a profundidade maior a pressão. Assim, a água desce, levando os rejeitos até o

288
sistema de esgoto. A válvula da caixa de descarga fecha-se e ocorre o seu enchimento. Em relação às válvulas de des-

carga, esse tipo de sistema proporciona maior economia de água.

A característica de funcionamento que garante essa economia é devida:

a. à altura do sifão de água;

b. ao volume do tanque de água;

c. à altura do nível de água no vaso;

d. ao diâmetro do distribuidor de água;

e. à eficiência da válvula de enchimento do tanque.

Gabarito: A resposta correta é o item B.

Comentário: A economia de água não pode ser justificada pela altura do sifão porque seja com a descarga

de válvula ou com a que utiliza o tanque a altura do sifão é a mesma. O mesmo acontece em relação à altura do nível

da água no vaso. O diâmetro do distribuidor de água e a eficiência da válvula somente determinam o tempo de en-

chimento do tanque, o que não justifica a economia. Assim, o fator determinante para a economia é a presença do

tanque que possui um volume definido para cada operação, evitando a utilização exagerada e o desperdício.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 289


CADERNO DE ESTUDOS

EJA - ENSINO MÉDIO


MATERIAL DE APOIO
MENSAGEM AO ALUNO EaD
Olá aluno(a)! Esse material foi especialmente elaborado para você.
Leia com atenção e procure complementar seus estudos com os demais recursos
do ambiente de ensino a distância. Conte com seus professores e tutores para ajudar.

www.visaoedu.com.br
Aprendendo
sobre energia
Para início de conversa...

Quando percebemos que estamos acima do peso, ou abaixo, costumamos

ir ao médico para que ele nos oriente em relação à nossa dieta. Em geral, essa

dieta é definida em função da quantidade de energia (calorias) contida em tudo

que ingerimos. A conta de luz que pagamos no final do mês também é definida

em função da quantidade de energia elétrica que consumimos naquele período

para iluminar nossas casas, conservar alimentos em geladeiras e freezers, preparar

refeições em fornos elétricos ou de micro ondas, para aquecer água, aclimatizar

ambientes por meio de aparelhos de ar condicionados, etc. Também no caso dos

automóveis, a energia obtida a partir da queima do combustível, é a responsável

pela movimentação dessas máquinas, assim como a energia proveniente do

processo de queima do gás de cozinha possibilita o cozimento dos alimentos.

Logo, se fizermos uma reflexão sobre a importância da energia na sociedade

contemporânea vamos verificar que, na maior parte dos casos, os processos que

envolvem transformações de energia estão associados a melhoria da qualidade

de vida e a promoção do bem-estar. Entretanto, não podemos dizer que isso seja

sempre verdade, se levarmos em conta, por exemplo, os efeitos nefastos do uso

da energia nuclear na indústria bélica e os inúmeros problemas socioambientais

que os diferentes processos de transformação de energia podem causar.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 131


Você deve ter percebido que nem sempre o termo energia aparece aplicado somente ao contexto científico. É

comum a sua utilização em diferentes situações no dia a dia. Nessa unidade vamos estudar o conceito de energia, pois

ele é um dos conceitos centrais, não só para a física como para outras ciências da natureza.

Objetivos de aprendizagem

ƒƒ Reconhecer o conceito de energia e o seu caráter universal nas ciências da natureza.

ƒƒ Descrever o teorema do trabalho – energia.

ƒƒ Conceituar energia cinética.

ƒƒ Conceituar trabalho.

ƒƒ Diferenciar os conceitos de energia potencial elástica e gravitacional.

ƒƒ Reconhecer o princípio da conservação da energia.

ƒƒ Identificar sistemas conservativos e não conservativos.

ƒƒ Avaliar os processos de transformação de energia envolvidos em diferentes tipos de usina para a produção

de energia elétrica.

132
Seção 1
Energia, um conceito universal

Apesar do homem e da sociedade como um todo dependerem tanto da energia, sobretudo

daquela que chega à Terra proveniente do Sol, não existe uma definição exata para este conceito

segundo FEYNMAN. Assim, estamos lidando com uma entidade física que manipulamos, processamos,

transformamos, e até pagamos por ela, sem que seja possível atribuir-lhe uma definição muito exata. A forma mais

utilizada para definir a energia de um sistema é associá-la à propriedade que o sistema possui de realizar trabalho.

Muitos processos naturais envolvem transformações de energia. Por isso, é comum a utilização de complementos

associados ao termo com o objetivo de identificar ou especificar esses processos. Termos como energia elétrica,

energia nuclear e energia solar, exemplificam alguma dessas situações onde se especifica um contexto para um

conceito que, na verdade, é universal.

No sistema internacional de unidades (SI), a unidade atribuída à grandeza energia é o Joule, cujo

símbolo é J, em homenagem a James PRESCOTT JOULE (1818 – 1889) , físico britânico que muito contribuiu

para este campo do conhecimento com seus estudos sobre o calor, considerado uma das formas de energia.

Conversão das unidades de medida


A diversidade de contextos onde a energia se encontra presente possibilita diferentes formas de ex-
pressar esta grandeza. Na termodinâmica, por exemplo, é comum o uso da caloria (cal), na física de
partículas o elétron-volt (eV), na área da engenharia elétrica o quilowatt-hora (kWh), e na indústria do
petróleo a tonelada equivalente de petróleo (tep). Tomando como referência o Joule (J), essas unida-
des guardam as seguintes relações de equivalência:

1 cal = 4,1868 J

1 eV = 1,602.10-19 J

1 kWh = 3,6.106 J

1 tep = 4,2.1010 J

A partir daqui serão introduzidas três atividades (1, 2 e 3) ao longo do texto, cujo objetivo é auxiliá-lo no

processo de construção dos conceitos de energia cinética, trabalho de uma força, e no reconhecimento da relação

que existe entre estes dois conceitos por meio do teorema do trabalho-energia.

A introdução das atividades obedece a uma sequência planejada para que esta construção ocorra de forma

gradativa. Logo, não se preocupe em extrair todas as conclusões das atividades antes de concluída a atividade 3.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 133


De olho na queda dos corpos

Procure obter o seguinte material:

ƒƒ Uma caixa quadrada de papelão sem tampa, de aproximadamente 2 cm de pro-


fundidade e 15 cm de lado;

ƒƒ Massa de modelar em quantidade suficiente para encher toda a caixa;

ƒƒ Duas esferas de aço dessas que se encontra em lojas de ferro velho, com diâme-

tros de aproximadamente 0,5 cm e 1,5 cm;

ƒƒ Uma régua.

Siga os sete passos a seguir e depois relate o que ocorreu:

1. Inicialmente, encha a caixa com a massa e cuide para que a superfície fique bem

regular (lisa).

2. Posicione a esfera menor a uma altura de 15 cm da superfície da massa e solte


fazendo com que a esfera caia em algum lugar da caixa.

3. Remova a esfera com cuidado para não mudar as características da deformação

provocada.

4. Repita o procedimento com a mesma esfera, a partir de uma altura de 25 cm,

tomando o cuidado para que a esfera não caia no mesmo local onde foi feita a

marcação da primeira queda.

5. Retire a esfera e registre as marcas deixadas em fotografia digital.

6. Agora, repita os cinco passos anteriores com as esferas diferentes (menor e maior)

partindo da mesma altura de 15 cm nos dois casos.

7. Cuidado ao remover as esferas e registre as novas marcas em fotografia digital.

Faça um pequeno relato (em seu caderno) por escrito sobre a deformação causada

na massa em cada caso.

134
Como já havia sido discutido anteriormente, a energia pode receber diferentes complementos em sua

denominação em função do contexto ou da forma segundo a qual ela se manifesta, embora seja este um conceito

universal. Vamos agora introduzir alguns desses casos começando por analisar a chamada energia cinética.

Seção 2
Energia cinética

A energia cinética de um corpo é definida como aquela que está associada ao seu estado de movimento. Sendo

assim, é possível fazermos estimativas sobre a quantidade de energia cinética do móvel a partir da sua velocidade.

Esta definição pode ser melhor compreendida promovendo-se aplicações em situações que nos são familiares.

Por exemplo, se um automóvel que se encontra parado é atingido

por outro de mesma massa que se encontra em movimento, o dano

provocado irá depender da velocidade do segundo automóvel antes

da colisão. Nesse caso, dizemos que o automóvel em movimento

possuía a energia cinética suficiente para realizar trabalho (amassar

o carro que estava parado). Se a velocidade do segundo automóvel

fosse maior as deformações provocadas após a colisão seriam ainda

maiores, já que a quantidade de energia cinética seria maior. Logo,

podemos dizer que, dois corpos de mesma massa, deslocando-se

com VELOCIDADES DIFERENTES POSSUEM ENERGIAS CINÉTICAS DIFERENTES, sendo maior a

energia daquele com maior velocidade. Fonte: http://www.sxc.hu/photo/748825, jason conlon.

Agora, suponhamos que um automóvel de massa equivalente a 1 tonelada esteja parado e seja atingido por

dois veículos em duas situações diferentes.

ƒƒ No primeiro caso, um automóvel de massa também equivalente a 1 tonelada, deslocando-se com uma velocidade

de 80 Km/h é quem colide com o primeiro.

ƒƒ No segundo caso, a colisão é provocada por uma carreta carregada que também se desloca com 80 Km/h, mas que

possui massa equivalente a 60 toneladas.

Não é difícil imaginar que o dano provocado na segunda situação será maior. Portanto, o trabalho realizado

(amassar o primeiro automóvel) será maior no segundo caso. Isso nos leva a concluir que a energia cinética também

é função da massa, e que por esse motivo a energia cinética da carreta é maior devido a sua massa ser maior, já que

nas duas situações as velocidades são iguais.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 135


De acordo os exemplos apresentados, foi possível observar que a energia cinética de um corpo depende tanto

da sua velocidade quanto da sua massa, e essa dependência pode ser confirmada experimentalmente. No entanto,

no caso da velocidade, não se trata de uma dependência linear, e sim quadrática.

O modelo matemático que descreve a relação entre a energia cinética do corpo, a sua massa e a sua velocidade,

é traduzido pela expressão:

onde Ec é a energia cinética, v a velocidade e m a massa do corpo.

A atividade 2 dá segmento à sequência previamente citada e tem como ponto de partida os resultados da

atividade 1.

Analisado a energia cinética

A partir das suas observações realizadas nos ensaios da atividade 1, e utilizando como

apoio a expressão matemática da energia cinética que você aprendeu, faça uma análise

qualitativa e apresente suas considerações por escrito sobre os valores da energia cinética

para cada caso isoladamente.

Seção 3
Trabalho de uma força

No dia a dia o termo trabalho pode estar associado a uma série de significados. Aqui vamos nos ater ao

significado que o termo adquire no contexto da física.

Trabalho pode também ser definido em termos da força aplicada a um corpo e do deslocamento a ele

transmitido, pois quando um corpo em movimento se encontra sob a ação de uma força resultante ele experimenta o

efeito de uma aceleração que provoca uma variação na sua velocidade. A esta variação na velocidade está associada

uma variação na energia cinética, como vimos na seção anterior.

O chamado teorema do trabalho – energia apresenta a definição de trabalho de uma força em função da

variação de energia cinética que o corpo sofre devido à ação desta força ao longo do trecho em que ocorre o

deslocamento. Segundo este teorema,


o trabalho que a força realiza equivale à variação da energia cinética sofrida pelo corpo.

136
Utilizando a letra W para representar o trabalho realizado pela força e ΔEc para representar a variação da

energia cinética, teremos:

W = ΔEc

Sendo o trabalho de uma força definido a partir de uma variação de energia pelo teorema do trabalho
– energia, a sua unidade no sistema internacional de unidades (SI) também será o Joule (J).

Na atividade 1 você observou as distintas deformações que as esferas causaram na massa, A partir da atividade

2 você analisou qualitativamente a energia cinética associada ao movimento de cada uma delas. Na próxima atividade,

sugerimos que você avance mais um pouco elaborando conclusões acerca do trabalho realizado pela força peso

sobre as esferas. Mãos à obra!

O trabalho realizado sobre as esferas

A partir das conclusões obtidas nas atividades 1 e 2, e dos seus conhecimentos so-

bre o teorema do trabalho – energia, faça uma análise qualitativa por escrito sobre os valo-

res do trabalho realizado pela força peso em cada caso.

Agora que já sabemos associar o trabalho com a variação da energia cinética, vamos analisar o trabalho

realizado por uma força constante que atua horizontalmente sobre um bloco em movimento horizontal.

Considere a ilustração apresentada na figura a seguir, onde um móvel, representado pelo bloco de massa m,

encontra-se na posição inicial Si em relação ao sistema de referência, com uma velocidade inicial vi, sofrendo a ação

de uma força horizontal e constante F. Aqui estamos desconsiderando a ação de forças de atrito.

Depois de certo intervalo de tempo Δt, o móvel alcança a posição Sf com velocidade final vf, após ter percorrido
uma distância total ΔS, sofrendo uma aceleração igual a a.

Figura 1: Móvel se deslocando sob a ação de uma força horizontal.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 137


Segundo o teorema do trabalho – energia:

W = ΔEc

Podemos escrever a variação da energia cinética como a diferença entre a energia cinética alcançada no

instante final (Ecf) e aquela que o corpo possuía no instante inicial (Eci).

ΔEc = Ecf – Eci

onde

As energias cinéticas final e inicial são escritas respectivamente da seguinte maneira: e

Logo, substituindo essa relação na primeira expressão (ΔEc = Ecf – Eci ) temos:

ou, isolando da expressão anterior temos:

Utilizando a expressão de Torricelli já conhecida:

v 2f = vi2 − 2a∆S

E substituindo na expressão anterior:

Como o produto m.a representa a força F (2ª Lei de Newton), e o trabalho é igual a variação de energia cinética

(W = ΔEc ), teremos:

W= FΔS

138
A expressão obtida possibilita calcular o trabalho diretamente a partir dos valores

da força constante que é aplicada e das posições final e inicial (deslocamento).

A notação vetorial das grandezas físicas envolvidas foi omitida porque o problema ocorre em ape-
nas uma dimensão, situação onde esta simplificação é permitida. Entretanto, cabe ressaltar o caráter
vetorial de grandezas como: posição, deslocamento, velocidade, aceleração e força. Por outro lado,
as grandezas energia e trabalho são de natureza escalar – não vetorial, embora estejam relacionados
com grandezas de natureza vetorial.

Calculando o trabalho

Um bloco encontra-se apoiado sobre uma superfície perfeita-

mente lisa (sem atrito). Sobre ele atua uma força horizontal de

5 N, que provoca um deslocamento horizontal de 3 m no blo-

co. Determine o trabalho realizado pela força.

E quando há mais forças envolvidas no movimento de um corpo? Como calculamos o trabalho?

O teorema do trabalho-energia aplicado ao caso do corpo que se move sob ação de uma força horizontal

constante, que acabamos de estudar, possibilitou a definição do conceito de trabalho, mas representa uma

simplificação de um problema mais complexo onde poderíamos ter considerado outras forças também presentes,

como o peso do bloco e o atrito.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 139


Em alguns casos, e dependendo da

complexidade do problema, o CARÁTER

VETORIAL DE GRANDEZAS COMO A FORÇA, a

velocidade e o deslocamento, precisa ser levado em conta.

Entretanto, embora a introdução do peso e do atrito aumente

a complexidade, ainda é possível tratar o problema sem

precisar lançar mão do cálculo vetorial, analisando

separadamente cada caso.

Considerando isoladamente o caso da força peso que atua no bloco, verificamos que esta age

perpendicularmente à direção do deslocamento e não provoca mudanças na velocidade nesta direção. Sendo assim,

não há variações na energia cinética provocadas pelo peso e, portanto, não há trabalho realizado.

No caso de isolarmos a força de atrito com o solo, que atua em sentido contrário ao do movimento, observamos

que ela provoca uma diminuição na velocidade do bloco e, portanto, uma variação negativa na energia cinética, já

que vf < vi , o que significa a realização de trabalho negativo.

Como podemos ver, é sempre possível realizar uma série de considerações baseadas em argumentos

qualitativos. Por outro lado, é necessário lançar mão de recursos matemáticos que nos permitam obter uma expressão

para o cálculo do trabalho que seja geral e possa prever as diferentes situações que se apresentam como problemas.

A figura a seguir mostra mais um exemplo onde um bloco de massa m é puxado por uma força constante F, que

atua em uma direção inclinada de um ângulo θ em relação á direção horizontal do deslocamento.

Figura 2: Móvel se deslocando sob a ação de uma força inclinada

É possível demonstrar que o trabalho realizado pela força F sobre o bloco é dado pela expressão geral:

140
A partir da expressão geral apresentada, os três casos anteriormente analisados podem ser verificados

quantitativamente.

No primeiro caso, o sentido e a direção da força F coincidem com os do deslocamento. Logo:

O trabalho realizado pela força que uma locomotiva exerce sobre um vagão de trem quando o sistema

(locomotiva + vagão) encontra-se acelerado exemplifica esta situação.

No segundo caso, a força presente é o peso (F = P), que atua perpendicularmente ao movimento. Assim:

Se considerarmos a mesma situação cotidiana da locomotiva que exerce força sobre o vagão provocando

neste uma aceleração, o trabalho realizado pelo peso do vagão ao longo do deslocamento será nulo, e exemplifica o

presente caso.

No terceiro caso, a força presente é o atrito (F = fat), que atua em sentido contrário ao do movimento e na
mesma direção. Logo:

Quando um caixote é arrastado sobre uma superfície não lisa em um supermercado, por exemplo, o trabalho

realizado sobre o caixote pela força de atrito entre o caixote a superfície do solo ao longo do deslocamento, exemplifica

este caso.

Como calcular o trabalho de uma força quando ela não é constante?

As expressões matemáticas apresentadas anteriormente não preveem o cálculo

do trabalho quando a força F não é constante. Problemas que envolvem forças que

variam ao longo do deslocamento demandam cálculos mais avançados. Então, que tal

avançarmos um pouco mais em nossa analise?

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 141


Na situação representada na figura a seguir, o gráfico que mostra o comportamento da força (F) em função da

posição do móvel (S) é conhecido.

Figura 3: Comportamento da força em função da posição ao longo do deslocamento

A partir de cálculos matemáticos sofisticados é possível mostrar que a área hachurada, compreendida entre a

curva que representa o comportamento da força e o eixo horizontal, no intervalo entre Si e Sf, possui valor numérico

igual ao trabalho realizado pela força.

W = ÁREA

Apesar da dificuldade de se calcular áreas como aquela que está representada na figura, o resultado obtido

é geral, e pode ser aplicado em qualquer situação. Logo, esse cálculo pode ser simples, dependendo do gráfico que

representa o comportamento da força e, consequentemente, da figura geométrica que ele proporciona.

A figura a seguir ilustra o caso particular estudado anteriormente, onde a força F se mantém constante ao

longo de todo o deslocamento. Seu comportamento é representado graficamente por uma reta paralela ao eixo

horizontal.

Figura 4: Comportamento de uma força de módulo igual a F, que se mantém constante ao longo do deslocamento.

142
Nesse caso, a expressão apresentada anteriormente pode ser obtida diretamente a partir do calculo da área do

retângulo hachurado.

A atividade 5 a seguir apresenta um interessante desafio cuja solução pode ser obtida partindo-se da ideia de

que a área sob o gráfico traduz numericamente o valor do trabalho realizado pela força.

Constante e inconstante

A figura a seguir mostra o comportamento de uma força F que, no primeiro caso,

se mantém constante enquanto atua sobre um móvel que percorre uma distância = x. No

segundo caso, a força varia enquanto o móvel percorre uma distância = 2 x.

Faça uma fotocópia dos gráficos e, com o auxílio de uma tesoura, descubra em qual

dos casos o trabalho realizado foi maior.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 143


Seção 4
Energia potencial

Diz-se que um sistema possui energia potencial quando ele está potencializado para

realizar trabalho. Em geral, a percepção imediata da presença de energia potencial em um

sistema não é tão fácil como no caso da energia cinética, que pode ser verificada pela

simples observação do corpo em movimento. A seguir, vamos lançar mão de dois sistemas

bem simples com o objetivo de auxiliar na compreensão do conceito de energia potencial.

O primeiro deles é o sistema massa – mola, onde atua apenas a força elástica da mola, e o

segundo é uma massa que realiza movimento vertical, onde atua somente o peso.

Energia potencial elástica

A figura a seguir mostra um sistema massa – mola livre de atrito. No primeiro caso observamos a mola relaxada,

no segundo caso temos a mola totalmente comprimida exercendo uma força Fel no bloco, e no terceiro caso, a mola

está totalmente distendida, exercendo a mesma força Fel no bloco, agindo em sentido contrário.

Figura 5: Sistema massa – mola

144
Mesmo estando em repouso – totalmente comprimida ou distendida –, a mola possui as

condições para movimentar a massa m, e com isso, realizar trabalho. Essa parcela de energia acumulada

no sistema e que o potencializa para a realização do trabalho é denominada ENERGIA POTENCIAL

ELÁSTICA do sistema.

Para pequenas deformações, que não comprometam as propriedades elásticas da mola, a relação entre a força

elástica que a mola exerce no bloco (Fel) e a deformação da mola (x) pode ser considerada linear e representada pela

expressão:

onde K é uma constante denominada constante elástica da mola.

Ao estudar as relações entre as deformações provocadas em uma mola


pela ação de forças aplicadas, Robert Hooke (1635-1703), verificou que a
deformação aumenta proporcionalmente à força. Daí estabeleceu-se a
chamada Lei de Hooke que acabamos de conhecer, traduzida pela se-
guinte expressão matemática: Fel = Kx

Hooke foi um cientista inglês, essencialmente mecânico e meteorologis-


ta nascido em em Freshwater, na Isle of Wight, que formulou a teoria do
movimento planetário e a primeira teoria sobre as propriedades elásticas
da matéria.
Fonte: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/RoberHoo.html

Graficamente, a relação entre Fel e x é mostrada na figura a seguir:

Figura 6: Comportamento linear da força elástica

A partir do gráfico, é possível determinar a quantidade de energia potencial elástica mínima que o sistema

precisa para que a força realize o trabalho de deslocar o bloco da origem (0), até um ponto distante x da origem. Essa

energia tem valor igual ao trabalho que a força realiza.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 145


O cálculo do trabalho pode ser feito a partir da área do triângulo hachurado. Logo:

Energia potencial gravitacional

A figura a seguir ilustra uma situação onde uma esfera de massa m se encontra posicionada em duas situações.

Na primeira, ela está apoiada sobre a superfície de uma mesa e na segunda ela encontra-se elevada até uma altura h

em relação ao nível de referência (0) que coincide com a superfície. Sobre ela está representada a ação da força peso (P).

Figura 7: Esfera de massa m elevada em relação à superfície de uma mesa.

Mesmo estando em repouso, no ponto mais alto o sistema se encontra em condições de realizar trabalho.

Nesse caso, diz-se que a energia acumulada potencializa o sistema, ou que o sistema está carregado de energia

potencial gravitacional. Uma vez liberada, a esfera irá se deslocar para baixo, percorrendo uma distância h sob a ação

da força peso (P).

Esta quantidade de energia potencial gravitacional tem valor igual ao trabalho que o peso realiza quando a

esfera percorre o trajeto do ponto mais alto até a superfície da mesa. Logo:

146
O cálculo do trabalho pode ser feito a partir da expressão geral anteriormente apresentada, uma vez que

estamos aqui considerando o peso uma força constante, para pontos próximos à superfície da Terra. Assim:

W = F ∆S cos θ
onde

Substituindo todos esses valores na expressão geral, teremos:

De onde se conclui que, para pontos próximos à superfície da Terra, a energia potencial gravitacional que a

massa acumula é definida pela altura em que ela se encontra em relação ao nível de referência.

Forças conservativas e dissipativas

Você deve estar familiarizado com forças de diferentes naturezas. A força de tração, por exemplo, é um tipo de

força que se propaga ao longo de cordas e cabos, enquanto a força gravitacional é um tipo de ação à distância que

não necessita de qualquer tipo de contato entre os corpos envolvidos.

Podemos realizar uma classificação para as forças que se define em função do trabalho que ela realiza sobre

o corpo. Quando uma força atua sobre um sistema sem provocar qualquer tipo de dissipação da energia do sistema,

ela é chamada de conservativa. Os exemplos mais comuns de força conservativas são a força gravitacional (peso) e a

força elástica exercida por uma mola ou por um sistema elástico.

Uma força é chamada de dissipativa quando, ao contrário, provoca a dissipação da energia do sistema. O

exemplo mais comum é a força de atrito, cujo trabalho realizado sobre o sistema é transformado em calor e se perde.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 147


Na palma das mãos

Encoste as palmas de suas duas mãos e esfregue bem uma


6 na outra. Você irá perceber um aumento na temperatura

em ambas as mãos. Baseado no conceito de força

dissipativa, explique por que ocorre o aumento da

temperatura.

Seção 5
Princípio da conservação da energia

Considerado como um dos princípios mais importantes da física, o princípio da conservação da energia

encontra aplicação em muitas situações do cotidiano onde ocorrem processos que envolvem transformações de

energia

No dia a dia é comum a ocorrência de processos de transformação de energia. No motor do automóvel,

por exemplo, a energia química acumulada no combustível é transformada em energia de movimento (cinética);

a energia contida nos alimentos que ingerimos sofre transformações, sendo utilizadas nas diversas tarefas que

desempenhamos; a energia elétrica que recebemos da concessionária é transformada em nossas casas em calor,

trabalho, energia de movimento (cinética), e etc., dependendo do eletrodoméstico que estamos utilizando.

Para auxiliar na compreensão deste importante princípio vamos utilizar o exemplo do sistema massa – mola

apresentado na figura 5, considerando que não há forças de atrito presentes no sistema.

Iniciamos nossas reflexões a partir da situação onde a mola encontra-se totalmente comprimida.

Nesse instante, a ENERGIA POTENCIAL DO SISTEMA É MÁXIMA, já que a deformação da mola é

máxima (x = xmax) e o corpo está em repouso. Portanto, não há energia cinética e a energia total do
sistema (E) encontra-se acumulada na forma de energia potencial elástica, dada pela expressão:

148
onde

ou

Uma vez liberada, a mola passa a exercer uma força decrescente Fel sobre o corpo com sentido voltado para a

direita e este inicia um deslocamento também para a direita. Durante este percurso a velocidade vai aumentando até

que o corpo chegue ao ponto x = 0 (ponto de referência), onde não haverá mais força elástica atuando (Fel = 0) e nem

energia potencial acumulada (Ep = 0). Nesse instante, a velocidade do corpo será máxima (v = vmax) e toda energia do

sistema será cinética:

onde

ou

Depois que o corpo ultrapassa a origem, o movimento continua ocorrendo para a direita e, a partir deste

instante, a força Fel começa a crescer e age sobre o corpo em sentido contrário ao do movimento, provocando uma

diminuição na velocidade até que o corpo chegue à outra extremidade com a mola totalmente distendida (x = xmax).
Nesse instante, toda a energia está acumulada pelo sistema na forma de energia potencial. Logo:

Na ausência de forças dissipativas como o atrito, este ciclo será periodicamente repetido, indefinidamente, e a

energia total conservada.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 149


Quando não estão submetidos a forças de natureza dissipativa, esses sistemas são chamados de conservativos,

porque preservam (conservam) a sua energia total.

O princípio da conservação da energia afirma que, na ausência de forças dissipativas, a energia total
do sistema se conserva.

Produção da energia elétrica


Desde que foi possível a produção de energia elétrica em larga escala a partir do século XIX, houve
uma mudança radical, não só na forma de vida das sociedades – sobretudo naquelas mais desenvol-
vidas –, mas também nos meios de produção.

Isso foi possível graças ao desenvolvimento do eletromagnetismo e das usinas geradoras de energia.
De maneira geral, essas usinas funcionam baseadas em sucessivos processos de transformação da
energia que é obtida de uma fonte natural em energia elétrica. A transformação final se dá no interior
de geradores elétricos.

Para que o gerador elétrico funcione (gere energia elétrica), é necessário que ele esteja acoplado a
um mecanismo que deve provocar o movimento de rotação do conjunto. Nas usinas hidrelétricas, ter-
melétricas e termonucleares, esses mecanismos são chamados de turbinas e podem se movimentar a
partir da queda d’água no caso das hidrelétricas, ou a partir do vapor d’água em alta pressão, produ-
zido nas termelétricas e termonucleares. No caso dos geradores eólicos, o mecanismo é um conjunto
de pás mecânicas que giram acopladas às unidades geradoras propriamente ditas a impulsionadas
pelo movimento do vento.

Independentemente da fonte ou da tecnologia utilizadas, o processo


envolve uma série de transformações e culmina com a transformação
de energia cinética de rotação em energia elétrica.

As reflexões anteriormente apresentadas se referem a situações limi-


te. Você deve estar se perguntando: o que ocorre nos pontos interme-
diários da trajetória do corpo?

Nesses casos, parte da energia presente no sistema será potencial e parte será cinética, já que teremos a

presença da força elástica e da velocidade concomitantemente, e o valor da energia total será partilhado entre as

duas parcelas – potencial e cinética – e representado pela expressão matemática a seguir, que traduz o princípio da

conservação da energia:

150
ou ainda

Podemos ainda, refletir sobre o exemplo anteriormente apresentado, que trata do momento

vertical da massa que desce sob a AÇÃO DO PESO e sem atrito. A energia total do sistema se conserva,

já que o peso é uma força conservativa. Também neste caso, a expressão matemática que traduz o

princípio da conservação da energia para pontos intermediários da trajetória será:

ou ainda

A atividade 7 a seguir permite que você reflita sobre a aplicação do princípio da conservação da energia em

problema hipotético inspirado na atividade 1 anteriormente analisada.

Exercitando o princípio da conservação da energia

Vamos imaginar, que no lugar da massa de modelar da atividade 1, tivéssemos uma


7
mola vertical, onde cada esfera poderia se chocar no final da queda.

A partir das suas observações realizadas nos ensaios da atividade 1, utilizando seus

conhecimentos sobre o princípio da conservação da energia, e a expressão matemática

da energia potencial elástica, faça uma análise qualitativa e apresente suas considerações

sobre os valores da energia potencial elástica acumulada no sistema para cada caso

isoladamente.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 151


O princípio da conservação da energia que acabamos de estudar nos afirma que um corpo pode exibir

somente energia do tipo cinética, somente energia potencial, ou os dois tipos concomitantemente, desde que o

balanço energético previsto pelo princípio seja obedecido.

Quando o corpo encontra-se acelerado, a variação da energia cinética deste corpo corresponde ao trabalho

que a força realiza sobre ele durante o intervalo de tempo que este gasta para realizar o deslocamento.

Recursos Complementares
Guia rápido

Assunto: Resumo de quem foi Richard Philips Feynman

Link: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/RichaPhi.html

A vida e o trabalho de James Prescott Joule

O físico inglês James Prescott Joule tornou-se famoso por suas experiências envolvendo a

“transformação trabalho em calor”. Seu nome está associado à possibilidades de conversão de trabalho mecânico e

de eletricidade em calor.Quer saber mais sobre a vida e os experimentos de Joule? Então, acesse o site da Unicamp e

mergulha em sua biografia: http://www.fem.unicamp.br/~em313/paginas/person/joule.htm

Link: http://www.fem.unicamp.br/~em313/paginas/person/joule.htm

Descrição: Site da Unicamp descrevendo a biografia do físico James Prescott Joule

Energia cinética

Link: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnica.html?id=22174

Descrição: experimento que ilustra como a energia cinética de um corpo, que está em movimento é transferida

a outro.

Força

Link: http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/bitstream/handle/mec/17577/index.html?sequence=115

Descrição: A animação tem o objetivo de Mostrar que forças são grandezas físicas que dependem,

além da intensidade, da direção e do sentido da aplicação. Ou seja, forças são grandezas vetoriais.

152
Energia elástica

Link: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnica.html?id=36886

Descrição: Neste experimento, é possível verificar o armazenamento de energia potencial elástica em uma

mola através de um sistema lançador de projéteis.

conservação de energia

Link: http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/bitstream/handle/mec/2242/index.html?sequence=8

Descrição: A animação apresenta, através da atividade salto da ponte, os conceitos de energia potencial

elástica, potencial gravitacional, energia cinética e conservação.

Assunto: Conservação de energia potencial em cinética.

Link: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnica.html?id=13625

Descrição: O experimento pretende mostrar que quanto maior a energia potencial gravitacional no início do

movimento de queda de um objeto, maior será sua energia cinética ao final da queda: a transformação da energia,

através do movimento de uma bolinha que escorrega numa rampa.

Resumo

Na unidade que acabamos de estudar você teve a oportunidade de discutir o caráter universal do conceito de

energia, grandeza física muito importante que é expressa em Joule (J) no sistema internacional de unidades. Além
disso, foram discutidos os conceitos de energia cinética, trabalho de uma força, energia potencial gravitacional e

energia potencial elástica. A partir do teorema do trabalho – energia, que relaciona o trabalho realizado por uma

força coma variação da energia cinética do móvel, foi possível a introdução de discussões e fórmulas matemáticas

que possibilitam o cálculo do trabalho realizado por uma força constante que atua sobre um móvel. Além disso,

foram estudados métodos gráficos que permitem o cálculo do trabalho em algumas situações particulares onde a

força varia em função da posição do móvel. Foram estudados ainda, a chamada Lei de Hooke, os conceitos de força

conservativa e força dissipativa, além do princípio da conservação da energia para sistemas conservativos.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 153


Veja ainda

Se você tem interesse em se atualizar e ampliara seus conhecimentos acerca da temática que envolve questões

energéticas, poderá ler os seguintes títulos:

Energia: uma abordagem multidisciplinar. Autores: de Maria Paula de castro Burattini e Claudio Zaki Dib.

Editora Livraria da Física, 2008.

Energia e meio ambiente. Autor: Samuel Murgel Branco. Editora Moderna, 2004.

Bibliografia consultada

Livros

ƒƒ FEYNMAN, Richard; LEIGHTON, Robert; SANDS, Matthew. The Feynman Lectures on Physics, v.1, London: Ed.

Addison-Wesley, 1977.

ƒƒ GUIMARÃES, Luiz Alberto; FONTE BOA, Marcelo. Física Ensino Médio, v. 1, São Paulo: Ed. Futura, 2004.

Imagens

• http://www.sxc.hu/photo/1161645, Zsuzsanna Kilian

• http://www.sxc.hu/photo/1382253,

• http://www.sxc.hu/photo/805175,

• http://www.sxc.hu/photo/1095723, Kriss Szkurlatowski

• http://www.sxc.hu/photo/748825, jason conlon

• http://www.sxc.hu/photo/965820, autor: Billy Alexander

• http://www.sxc.hu/photo/1084630, Svilen Milev

154
• http://www.sxc.hu/photo/1145532, Svilen Milev.

• http://www.sxc.hu/photo/131304

• http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/RoberHoo.html

• http://www.sxc.hu/photo/1178035

• http://www.sxc.hu/photo/1147438

Atividade 1

No primeiro caso, a esfera que partiu do ponto mais alto vai provocar maior

deformação na massa e no segundo caso, a esfera maior é quem vai causar a maior

deformação.

Atividade 2

No primeiro caso a segunda esfera chega ao ponto mais baixo da trajetória

(superfície da massa de modelar) com maior energia cinética. No segundo caso, a segunda

esfera possui maior massa e, consequentemente chega ao ponto mais baixo da trajetória

com maior energia cinética.

Atividade 3

No primeiro caso a variação da energia cinética sofrida pela segunda esfera até que

ela entre em repouso é maior. Por isso, o peso realiza mais trabalho provocando uma maior

deformação da superfície.

No segundo caso a segunda esfera passa pelo mesmo processo e o peso realiza mais

trabalho.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 155


Atividade 4

Podemos resolver o problema utilizando a expressão que possibilita o cálculo do

trabalho a partir da força e do deslocamento que ela provoca.

Substituindo os valores fornecidos pelo problema, teremos:

Atividade 5

Recortando o retângulo do primeiro gráfico e o triângulo do segundo com o auxílio

da tesoura, é possível, a partir de um segundo corte no triângulo seguido de uma simples

montagem, verificar que as áreas se equivalem. Logo, os trabalhos são iguais.

Atividade 6

A temperatura aumenta devido à dissipação de calor que a força de atrito (dissipativa)

provoca durante o processo de fricção entre as mãos.

Atividade 7

Em ambos os casos, desconsiderando-se as forças dissipativas, a energia potencial

elástica acumulada na mola, será igual a que estava acumulada na massa no alto da

trajetória na forma de energia potencial gravitacional, já que o sistema é conservativo.

Logo, no primeiro caso, a deformação da mola provocada pela segunda esfera será maior

e, consequentemente, será maior a energia potencial elástica acumulada na mola quando

ela estiver totalmente comprimida. Da mesma forma, no segundo caso, a deformação

provocada pela segunda esfera será maior e, consequentemente, será maior a energia

potencial elástica acumulada na mola no instante de compressão máxima.

156
O que perguntam por aí?

Questão 1. (ENEM 2005)

Um problema ainda não resolvido da geração nuclear de eletricidade é a destinação dos rejeitos radioativos,

o chamado “lixo atômico”. Os rejeitos mais ativos ficam por um período em piscinas de aço inoxidável nas próprias

usinas antes de ser, como os demais rejeitos, acondicionados em tambores que são dispostos em áreas cercadas,

ou encerrados em depósitos subterrâneos secos, como antigas minas de sal. A complexidade do problema do lixo

atômico, comparativamente a outros lixos com substâncias tóxicas, se deve ao fato de

a. emitir radiações nocivas, por milhares de anos, em um processo que não tem como ser interrompido

artificialmente.

b. acumular-se em quantidades bem maiores do que o lixo industrial convencional, faltando assim locais

para reunir tanto material.

c. ser constituído de materiais orgânicos que podem contaminar muitas espécies vivas, incluindo os pró-

prios seres humanos.

d. exalar continuamente gases venenosos, que tornariam o ar irrespirável por milhares de anos.

e. emitir radiações e gases que podem destruir a camada de ozônio e agravar o efeito estufa.

Gabarito: Letra A

Comentário

Os rejeitos radiativos não são orgânicos e nem emitem gases. Entretanto, permanecem emitindo radiação

perigosa para a saúde durante muitos anos. Logo, a resposta correta é o item A.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 157


(ENEM 2008)

Texto para as questões 2 e 3

O gráfico a seguir ilustra a evolução do consumo de eletricidade no Brasil, em GWh, em quatro setores de

consumo, no período de 1975 a 2005.

Questão 2.

A racionalização do uso da eletricidade faz parte dos programas oficiais do governo brasileiro desde 1980.

No entanto, houve um período crítico, conhecido como “apagão”, que exigiu mudanças de hábitos da população

brasileira e resultou na maior, mais rápida e significativa economia de energia. De acordo com o gráfico, conclui-se

que o “apagão” ocorreu no biênio

a. 1998 – 1999.

b. 1999 – 2000.

c. 2000 – 2001.

d. 2001 – 2002.

e. 2002 – 2003.

Gabarito: Letra C.

Comentário:

Observando o gráfico, é possível verificar a queda acentuada no período entre os anos de 2000 e 2001. Logo,

a resposta correta é o item C.

158
Questão 3.

Observa-se que, de 1975 a 2005, houve aumento quase linear do consumo de energia elétrica. Se essa mesma

tendência se mantiver até 2035, o setor energético brasileiro deverá preparar-se para suprir uma demanda total

aproximada de

a. 405 GWh.

b. 445 GWh.

c. 680 GWh.

d. 750 GWh.

e. e) 775 GWh.

Gabarito: Letra C

Comentário:

Para resolver essa questão é necessário construir uma equação matemática que represente o comportamento

aproximadamente linear que o gráfico exibe.

Seja E = E0 + a.Δt a expressão que representa o crescimento da energia (E) em função do tempo (Δt), onde E0

é a energia inicial e a o coeficiente angular da reta que mais se aproxima da rampa característica.

Do gráfico podemos obter, com razoável aproximação,

Logo:

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 159


Entre 1975 e 2035 teremos anos. Logo:

A resposta que mais se aproxima está no item C.

160
CADERNO DE ESTUDOS

EJA - ENSINO MÉDIO


MATERIAL DE APOIO
MENSAGEM AO ALUNO EaD
Olá aluno(a)! Esse material foi especialmente elaborado para você.
Leia com atenção e procure complementar seus estudos com os demais recursos
do ambiente de ensino a distância. Conte com seus professores e tutores para ajudar.

www.visaoedu.com.br
Quando mundos
colidem
Para início de conversa...

Certamente você já vivenciou ou presen-

ciou um jogo de futebol. Esse é sem dúvida um

ótimo esporte coletivo e uma verdadeira paixão

nacional. Qual é o indivíduo com mais de 60 anos

que não se gaba em dizer que viu Pelé ou garrin-

cha nos gramados? E quem não conta com entu-

siasmo as crônicas esportivas escritas por Nelson Rodrigues todos os domingos? Com

certeza esse esporte não é como antes, mas a física envolvida nessa bela e complexa

atividade é a mesma! Podemos utilizar a física

para entender inúmeras situações vividas dentro

das quatro linhas. Mas, convido-os a tentarmos

entender fisicamente o momento mais tenso de

uma partida: a cobrança de pênalti!

Por motivo de falta sofrida nos limites

da grande área o time atacante tem o direito de posicionar a bola em local

específico e chutá-la diretamente para o gol, com apenas o goleiro para impedir

a entrada da bola. Nessa situação o jogador tem que bater na bola a fim de lhe

dar grande velocidade e em uma direção específica. De preferência uma trajetória

que o goleiro não será capaz de alcança-la! Mas, pensando especificamente na

bola e no pé do jogador, o que tem que acontecer é que a bola que está parada

tem que entrar em movimento rapidamente.

E isso ocorre porque o batedor impulsiona o

seu pé com muita intensidade em direção a

bola. Esse choque faz com que a bola atinja

grande aceleração, uma vez que há um grande

aumento em sua velocidade em um intervalo


de tempo muito curto.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 161


Objetivos de aprendizagem

ƒƒ Construir o conceito de velocidade média e instantânea;

ƒƒ Escrever as equações que fornecem o Impulso e a Quantidade de Movimento;

ƒƒ Relacionar estas quantidades ao fenômenos de colisões;

ƒƒ Relacionar o Impulso e a Quantidade de movimento às Leis de Newton;

ƒƒ Determinar a Força Média exercida por um objeto sobre o outro, quando ambos colidem;

ƒƒ Descrever de maneira simplificada as condições necessárias para aplicação da conservação da Quantidade

de Movimento;

ƒƒ Resolver problemas simples que envolvam a conservação da Quantidade de Movimento em colisões uni-

dimensionais.

162
Seção 1
Pegando Impulso

Pensando no que foi explicado no texto inicial dessa aula e lembrando do que foi estudado na aula anterior,

podemos concluir que um objeto (no exemplo inicial, a bola) só muda de velocidade quando uma força é aplicada

sobre ele. Veja a figura 1: ela mostra uma imagem estroboscópica, onde podemos acompanhar quatro momentos

distintos de um chute.

Figura 1: Imagem estroboscópica, com a representação de 4 instantes diferentes.

No primeiro momento, o jogador acelera a sua perna em direção a bola. No segundo momento, o jogador

atinge. Note que a bola até se deforma com a pressão causada pelo pé do jogador. No terceiro momento, a bola perde

contato com o pé do atleta. Por fim, a bola segue na direção escolhida pelo jogador.

Observando a Figura 1, devemos ter total clareza de que a

bola só tem a sua velocidade alterada enquanto está em contato com

o pé do jogador. Tente pensar no tempo que o pé do jogador fica

em contato com a bola... é muito pequeno, não é? Isso mesmo! Esse

intervalo de tempo não passa de poucos décimos de segundo. Então,

vemos que a bola ganha alta velocidade em pouquíssimo tempo. A

esse tipo de fenômeno damos o nome de colisão.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 163


Para estudar este tipo de fenômeno, podemos definir uma grandeza física muito importante chamada impulso.

O impulso é definido como a multiplicação entre a força aplicada (f ) e o intervalo de tempo em que esse força foi

aplicada (t), portanto podemos escrever:

I = F × ∆t (1)

Note que a unidade dessa grandeza é N x s,pois pelo Sistema Internacional ( SI) a unidade de força é
Newton (N) e de tempo é segundos (s) (veja a equação 1). Vamos pensar um pouco. Se queremos fazer
com que um corpo atinja grandes velocidade rapidamente, ou seja, num curto intervalo de tempo,
precisamos aplicar uma grande força. Caso contrário, o impulso gerado será pequeno, por que o im-
pulso é definido como a multiplicação da força pelo intervalo de tempo.

Vamos aplicar agora um pouco do que discutimos até aqui. Nas atividades a seguir, você precisará aplicar a

equação 1, e discutir um pouco o seu significado físico.

Considere que um objeto é sujeito a uma força constante que vale 10 N. Se esta

força for aplicada durante 5 segundos, determine o Impulso adquirido por este objeto. Se

desejamos aumentar o impulso aplicado por esta força, o que devemos fazer?

164
Considerando a expressão do Impulso (equação 1), temos que o Impulso é igual ao pro-

duto da força aplicada pelo intervalo de tempo durante o qual a força atuou. Quando algum

jogador de futebol aplica uma força em uma bola, a força aplicada atua num curto intervalo de

tempo. Assim, a equação que nos fornece o Impulso determina que o Impulso adquirido pela

bola será pequeno. O que você acha desta afirmação? Ela está correta? Justifique.

Tente lembrar da aula que discutimos a Segunda Lei de Newton. Lá, mostramos à você que FR = m x a, ou seja,

que a soma de todas as forças aplicadas sobre um corpo é igual ao produto da massa desse corpo pela aceleração

adquirida por ele. Nós podemos utilizar a fórmula do impulso, que aplicamos nas duas atividades anteriores, para

qualquer força. Se desejamos determinar o impulso realizado pela força resultante, basta substituir a expressão da

força resultante (FR = m x a) na equação que nos fornece o impulso:

F = m × a e I = F × ∆t (2)

Lembre que a aceleração é igual a Δv/Δt, o que nos permite escrever a equação da força resultante da seguinte

forma:

F = m × ( ∆v ∆t ) , (3)

e em seguida substituir na equação do impulso:

I = F × ∆t
I = m × a × ∆t
I = m × ( ∆v ∆t ) × ∆t (4)

Deste modo, podemos cortar Δt com Δt nesta nova expressão, e teremos:

I = m × ∆v (5)

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 165


Você deve se lembrar que o prefixo Δ indica variação, logo temos que o impulso é igual a massa multiplicada

pela variação de velocidade sofrida pelo corpo:

I = m × ( vF − vI ) , (6)

ou seja, temos dentro do parênteses a velocidade final menos a velocidade inicial. Continuando o desenvolvimento

dessa expressão matemática e multiplicando a massa (m) pela velocidade final (vF) e inicial (vI), podemos dizer que:

I = mvF − mvI (7)

Desta forma, vemos que o impulso pode ser expresso como a variação de uma certa quantidade, o produto de

massa por velocidade. Chamamos esse produto de momento linear ou quantidade de movimento.

Esta também é uma grandeza física muito importante. Além disso, deve-se destacar que a quantidade de mo-

vimento é uma grandeza vetorial, e portanto que tem módulo direção e sentido. A quantidade de movimento (RC1:)

(Q = m x v) possui muita importância, pois, conforme veremos, ela se conserva (isto é, ela não se altera) quando corpos

colidem. E quando a força não é constante? Como calcular o impulso?

Seção 2
Quando Mundos Colidem

Bom, a equação (1) desta aula nos permite calcular o impulso gerado uma força constante. Entretanto, essa

fórmula tem uma grande limitação: ela só é válida para o caso em que a força F é constante.

O que podemos fazer no caso em que a força aplicada não é constante? Para responder esse questionamento,

observe os gráficos da figura 2:

Figura 2: Em ambos os gráficos, temos o gráfico de força versus tempo. Em (a), a força aplicada
é constante. Em (b), a força aplicada é variável.

166
Na figura 2 (a), temos o caso que já começamos a discutir. Se a força aplicada é F, e se a mesma atua

durante um intervalo de tempo (∆t), temos que o Impulso gerado é dado pela equação (1). Veja que se calcularmos

a área do gráfico da curva da figura 2 (a) (Área = base x altura), teremos exatamente o mesmo resultado dado pela

equação.

Se a força não for constante, ainda podemos calcular o Impulso através da área, mesmo que a equação (1) não

se aplique. Da mesma maneira que calculamos o deslocamento (∆S) através do gráfico v x t.

Caso você sinta a necessidade de recordar como calculamos a variação do deslocamento através do
gráfico v x t, recomendamos a releitura da aula de cinemática.

Vamos analisar agora um caso bastante interessante em que podemos aplicar a área do gráfico F x t para obter

o Impulso.

Força média

Imagine que temos uma mesa de sinuca. Para facilitar seu entendimento veja a ilustração da figura a seguir.

Figura 3: Imagem vista de cima de uma mesa de sinuca.

Se você acertar a bola branca, quando a mesma colidir com alguma outra bola, certamente esta outra bola

entrará em movimento. Quem é responsável por colocar esta bola em movimento? A resposta desta pergunta é

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 167


bastante simples. Durante a colisão, a bola branca exerce uma força de contato sobre a bola vermelha (e vice-versa).

É exatamente esta força que põe a bola vermelha em movimento. Mas, veja que o tempo em que as bolas ficam em

contato é muito curto, sem dúvida é bem menor que um segundo. Na verdade, o tempo de contato entre colisões

deste tipo é da ordem de 0,01 - 0,001 s. Já a força de contato deve ser grande, por que quanto menor o intervalo de

tempo em que a força atua, menor será o Impulso. Deste modo, para compensar, a força deve ser grande.

Como seria um gráfico de força contra tempo neste caso? Bom, seria algo parecido com o que se pode ver na

figura 4.

Figura 4: Em (a), temos um gráfico que representa como é a força entre as duas bolas de sinuca
durante a colisão. Em (b) temos o mesmo, com o acréscimo da força média.

Analisando os gráficos na Figura 4, podemos chegar a três conclusões importantes:

1. Antes da colisão, as bolas não estão em contato, e por isto, uma não exerce força alguma na outra.

2. Durante a colisão, que ocorre num curto intervalo de tempo, a força exercida por uma bola sobre a outra

deve aumentar, atinge um valor máximo, e volta a cair.

3. Depois da colisão, as bolas não estão mais encostadas uma na outra, novamente não há força de contato
entre as duas bolas.

Lembre-se do que diz a Terceira Lei de Newton: sempre que um objeto exerce uma força sobre um outro
corpo, este corpo reage, exercendo sobre o primeiro uma força de mesmo módulo e direção, mas de sen-
tidos contrários. Assim, temos que a força que a bola branca faz na bola vermelha tem o mesmo módulo
e direção que a que a bola vermelha faz na branca. Por isto,não especificamos qual bola sofre a força.

168
Conforme vimos anteriormente, a área do gráfico F x t nos fornece o Impulso de uma força. Só que não é tão

simples determinar a área de uma curva como a que temos na figura 4. Como podemos contornar este problema?

Você já deve ter visto em algum lugar o valor da extensão territorial (área) de diversos países. O formato das

fronteiras da maioria dos países, cidades e estados do mundo não é o de uma figura geométrica simples, como um

quadrado ou triângulo. Ao contrário, as fronteiras são cheias de curvas e pontas. Entretanto, podemos utilizar uma

figura geométrica simples, tal como um retângulo, que tenha a mesma área que a de um país. Por exemplo, a área do

território brasileiro vale 8.514.876 km². Assim, um retângulo cujos lados valem respectivamente 1000 km x 8.514,876

km terá a mesma área que a do território nacional (lembre-se que a área de um quadrado é calculado multiplicando

o valor de sua base pela sua altura, ou seja, A = b x h).

O mesmo raciocínio pode ser aplicado no caso da figura 4. Podemos representar um retângulo, cuja base é igual à

variação do tempo (∆t). Existe um valor para a altura deste retângulo que fará com que ele tenha a mesma área que a da

curva da figura 4. É exatamente isto que temos representado na figura 4 (b). Esta altura corresponde à uma determinada

força, que chamaremos de força média. A interpretação desta força é bastante simples. Embora a força varie, o impulso

gerado por esta força é o mesmo que o impulso gerado pela força média, por que as áreas, tanto da curva quando do

retângulo, são iguais. Assim, se no lugar da força variável, aplicássemos a força média, teríamos ao fim o mesmo impulso!

Deste modo, temos que a força média respeitará a seguinte equação:

IM = FM × ∆t = Q − Q0 (8)

Ou seja, o impulso é igual a variação da quantidade de movimento. Logo, isolando a força média temos:

FM = ( Q − Q0 ) ∆t (9)

Vejamos alguns exemplos que nos ajudarão a entender um pouco mais a fundo o que acontece no momento

de uma colisão (RC2).

Considere que duas pessoas estão jogando Tênis. Um dos jogadores prepara-se para fazer seu saque. Para

tanto, ele arremessa a bolinha para cima, e no exato instante em que a bolinha atinge seu ponto mais alto, o jogador

acerta a bolinha com a raquete (veja a figura 5).

Figura 5: À esquerda, imagem da bola de Tênis, num


instante da colisão da mesma com a raquete de
Tênis. À direita, temos a bolinha, que adquire uma
velocidade horizontal de 30 m/s após a colisão.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 169


Como a bola de Tênis estava em repouso, sua quantidade de movimento antes da colisão é nula, ou seja, vale

Q0 = m x v = 0.

Agora, imagine que após a colisão, a bola de Tênis tenha adquirido uma velocidade horizontal de módulo v = 50 m/s.

Vamos considerar que a bolinha de Tênis tem uma massa de aproximadamente 60 g (0,06 kg). Se o tempo de contato entre

a raquete e a bolinha vale ∆s = 0,005 s, como faremos para determinar a força média aplicada pela raquete sobre a bolinha?

Bem, para fazer isto, vamos utilizar a equação (9):

FM = ( Q − Q0 ) ∆t = m × v ∆t , (10)

Como a bolinha estava em repouso antes da colisão, a quantidade de movimento inicial é nula, ou seja, Q0 =

0. Assim, substituindo os valores na expressão acima, temos que

FM = (0,06 x 50)/0,005 = 600 N.

A fim de comparações, a força média aplicada pela raquete sobre a bola de Tênis, neste caso, é 1000 vezes

maior que a força Peso exercida pelo planeta Terra sobre a bolinha (P = m x g = 0,06 x 10 = 0,6 N)!

Outro exemplo interessante é o seguinte. Considere a existência de um super-herói, desses de histórias em

quadrinhos e filmes, tal como o Superman. Como todos sabemos, a pele do Superman é impenetrável, e as balas de

revólver ricocheteiam sobre o corpo do homem de aço (veja a figura 6).

Figura 6: À esquerda, temos uma bala que


atinge a pele do Superman, de tal modo
que ela ricocheteia, e sua velocidade
passa a apontar no sentido oposto, com o
mesmo módulo que tinha antes da colisão
(v = 300 m/s).

Se a massa da bala vale m = 8 g (0,008 kg) e o tempo de colisão da mesma com a pele do Homem de Aço vale

∆t = 0,001 s, quanto valerá a força média que o projétil exerce sobre o corpo do Superman?

Utilizaremos novamente a equação 9. Desta vez, entretanto, a quantidade de movimento da bala antes da coli-

são não é nula. Como sabemos, a quantidade de movimento é uma grandeza vetorial. Assim, teremos (veja a figura 7):

170
∆Q = Q – Q0 = m x v - (-m x vo) = 2 x m x v = 2 x 0,008 x 300 = 4,8 kg x m/s

Como o tempo de colisão é de 0,001 s, temos então que a força exercida pelo projétil sobre a pele do Homem

de Aço vale:

Fm = ∆Q/∆t = 4,8/0,001 = 4.800 N

Figura 7: Representação da quantidade de movimento da bala, antes e depois da


colisão. Temos também a representação da variação da quantidade de movimen-
to da bala.

A força exercida equivale ao Peso de um objeto de 480 kg! Isto se torna ainda mais incrível se levarmos em

conta que a área de contato entre a bala e a pele do Homem de Aço é muito pequena, o que levaria a uma enorme

pressão exercida (lembre-se que p = F/A)!

Antigamente é que era bom...


Em nosso dia a dia, frequentemente ouvimos alguma pessoa que
entoa frases nostálgicas, que remetem a tempos antigos, onde as
coisas eram melhores. Frases como, “Ah, não se fazem mais cerve-
jas como antigamente!”, ou “Os produtos de hoje em dia são muito
vagabundos! A qualidade caiu muito!”, são exemplos típicos.

Uma das situações onde se costuma empregar alguma frase


deste tipo é aquela onde se comparam os carros atuais com os
carros de antigamente. Os mais velhos dizem que os carros de antigamente eram muito mais resisten-
tes, enquanto que os de hoje em dia, são feitos de um material mais frágil.

Isto é bem verdade, mas em parte, deve-se a questões de segurança. Quanto mais rígida for a lataria de
um carro, menos ele se deformará numa colisão. Isto faz com que o tempo em que ocorre a colisão seja
muito pequeno, e portanto, a força média deverá aumentar (lembre-se da área do retângulo na figura 4).
Entretanto, caso o material seja mais maleável, ele se deformará mais, aumentando o tempo de colisão, e
deixando-a um pouco mais suave para as vítimas de um acidente, uma vez que a força média diminuirá.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 171


Agora vamos exercitar um pouco o que acabamos de discutir. Nestas atividades, você aplicará um pouco

do que vimos com relação à Força Média e fará novamente Isolamento de Corpos (lembre-se das aulas de Leis de

Newton). A partir daí, relacionaremos as Leis de Newton à Quantidade de Movimento e ao Impulso. Caso você sinta

muita dificuldade em algumas das atividades, dê uma olhada na resolução. Entretanto, recomendamos fortemente

que você só faça isso depois de pensar nos problemas e tentar resolvê-los.

Sabendo que a área do Estado do Rio de Janeiro vale 43.696.054 km², obtenha as

dimensões de um retângulo que tenha a mesma área do que a do nosso Estado.

172
Refaça o exemplo resolvido da bola de Tênis, considerando que a quantidade de

movimento da bola não é nula. Suponha que a velocidade da bolinha antes da colisão é de

30 m/s, apontando no sentido da raquete.

Suponha que a bola de futebol da figura 1 estava em repouso antes do chute. Se a

bola adquire uma velocidade de 20 m/s numa colisão que dura 0,01 s, determine a força

média exercida pelo pé do jogador sobre a bola (a massa da bola vale 500 g). Como esta

força se compara à força exercida pela bola sobre o pé do jogador?

Considere que um bloco A é arremessado sobre uma mesa sem atrito, de modo a

obter uma certa velocidade inicial v0A. No primeiro caso, o bloco A colide com um bloco

que chamamos de (1). O bloco (1) tem uma massa de 10 kg. Após a colisão entre A e 1,
6
sabemos que o bloco A bate e recua, como podemos ver na figura a seguir.

O mesmo experimento é repetido, mas desta vez, colocamos no lugar do bloco (1) o

bloco (2), que também tem massa igual a 10 kg. Entretanto, desta vez o bloco A fica parado

após a colisão.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 173


a. Embora a massa dos blocos (1) e (2) sejam iguais (ambas valem 10 kg), a veloci-

dade obtida pelo bloco A depois da colisão foi diferente para cada um deles. O

que poderia explicar essa diferença?

b. Represente os diagramas de força para ambas as colisões, entre A e 1 e entre A e 2,


em um instante qualquer da colisão.

c. Sabemos que o tempo de colisão entre os corpos em geral é bem pequeno (veja

o link http://www.youtube.com/watch?v=Qhn3zvlJjyo). Suponha que neste

caso, o tempo de colisão foi de “dt”. Durante a colisão, o bloco A faz uma força

de contato em (1) [e em (2)], e pela Terceira Lei de Newton, o bloco (1) [ou o (2)]

também fará uma força de contato no bloco A. Considere agora a resultante das

forças que atuam em A (FR,A) e a resultante das forças que atuam em (1) [(2)] [FR,(1)
(FR,(2))] durante a colisão. Compare o Impulso IR,A = FR,Adt e o Impulso IR,(1) = FR,(1)dt

(IR,(2) = FR,(2)dt) [lembrando que o Impulso é uma grandeza vetorial, você deverá

comparar o módulo, a direção e o sentido destes dois vetores].

d. Utilize a relação entre impulso resultante e variação da quantidade de movimento


(equação 8) para comparar a variação da quantidade de movimento dos blocos

que colidem em ambos os casos. Quanto vale a variação da quantidade de

movimento do sistema A e 1 (e do sistema A e 2)?

174
Seção 3
Atenção! Quantidade de movimento
conservada a frente!

O resultado mais importante da atividade 6 é o seguinte:

“Quando dois (ou mais) corpos colidem, a quantidade de movimento do sistema composto pelos 2 (ou mais)

corpos se conservará se a resultante das forças que atuam sobre o sistema for nulo.”

Podemos sintetizar essa frase através da seguinte relação:

QAntes = Qdepois, (11)

onde Qantes representa a quantidade de movimento do sistema antes da colisão (RC3), e Qdepois representa a

quantidade de movimento do sistema depois da colisão.

Vejamos novamente o caso da Atividade 6. Cada um dos blocos que compõe o sistema sofre a ação da força

Peso, da força Normal e da força que um exerce no outro (e vice-versa). A força Peso cancela-se com a força Normal

para cada um dos blocos; já a força que A exerce em (1) [ou (2)] é igual à força que (1)[ou (2)] exerce em a. Quando

consideramos o sistema formado por ambos os blocos que colidiram, este par ação-reação se anulará, da mesma ma-

neira que ocorreu com o Barão de Munchausen, na aula 2 deste módulo. Assim, podemos dizer que em uma colisão,

a quantidade de movimento de um sistema se conserva.

Agora que sabemos quando que a quantidade de movimento de um sistema não se altera quando ocorrem

colisões, podemos aplicar este conhecimento para analisar o que ocorrem em diversos tipos de colisões. Por exemplo,

considere que um projétil é arremessada sobre um bloco de madeira, de tal maneira que ambos os corpos fiquem

juntos após a colisão (veja a figura 8). Os dados do exemplo são: mBALA = 10 g, mBLOCO = 500 g e v0 = 500 m/s.

Figura 8: À esquerda, temos a bala, num instante um pouco anterior ao instante da colisão. Já na ima-
gem da direita, temos a situação final, onde a bala fica alojada sobre o bloco.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 175


Se considerarmos o que acontece um pouco antes da colisão, temos que a velocidade do projétil vale 500 m/s,

e portanto, para o sistema bala e caixa, temos que a quantidade de movimento antes da colisão é de

QANTES = mBLOCO x 0 + mBALA x v0 = 10 x 500 = 5.000 g x m/s, (12)

uma vez que o bloco estava em repouso. Repare que deixamos ambas as unidades de massa em gramas ao

invés de quilogramas. Neste caso podemos fazer isto. Veremos o motivo a seguir.

Durante a colisão, a bala exerce uma força sobre a caixa. Pela Terceira Lei de Newton, esta força deve ser igual

à força que a caixa exerce na caixa. Isto significa que a quantidade de movimento total deve ser a mesma, tanto antes

da colisão, quanto depois. Logo após a colisão, a bala fica encrustada na caixa. Deste modo, podemos imaginar que

agora temos apenas um único corpo, cuja massa é a soma da massa da caixa mais a massa da bala. Assim, a quantida-

de de movimento ao final da colisão é

QDEPOIS = (mBLOCO + mBALA) x vF = (510 g) x vF, (13)

Igualando a equação (12) à (13), temos:

5.000 g x m/s = 510 g x vF vF = 5.000/510 m/s = 9,80 m/s, (14)

(deixamos as massas em gramas por que, conforme pode-se ver na equação 14, as unidades se cancelam).

Repare que a velocidade do sistema bloco + projétil é consideravelmente alta! Imagine agora que esse bloco tivesse

uma massa de um ser humano. Para facilitar as contas, vamos considerar uma massa de 80 kg (80.000 g). Basta substi-

tuir este número no lugar de 500 g (como fizemos na equação 5) e refazer as contas. Você descobrirá que a velocidade

final é de fato bem pequena quando comparada ao resultado da equação 14. Por este motivo, armas de baixo calibre

não projetam alvos para trás, conforme comumente se retrata em filmes de ação (e as balas tem uma massa e veloci-

dade um pouco menores do que os das estimativas que fizemos).

Outro exemplo bastante interessante e simples, que nos permite entender um pouco como se dá o processo de

fragmentação de explosivos e similares é o seguinte. Considere que uma granada explode em apenas dois pedaços,

onde um dos pedaços tem massa m1 = 150 g, e o outro, m2 = 250 g (veja a figura 9). Conhecemos a velocidade final

adquirida pela massa m1 (v1 = 1500 m/s) , mas desconhecemos v2.

Antes de explodir, a velocidade da granada é nula, e portanto temos:

QANTES = (mGRANADA) x 0 = 0 g x m/s (15)

176
Como a quantidade de movimento também se conserva neste caso (uma vez que o movimento da granada se

deve apenas a forças internas, que se anulam por causa da Terceira Lei de Newton), temos que

QDEPOIS = Q1 + Q2 = - m1 x v1 + m2 x v2 = - (150 g) x 1500 m/s + (250 g) x v2 (16)

Figura 9: À esquerda, temos uma granada, que estava em repouso alguns instantes antes da
sua explosão. À direita, temos os dois fragmentos da granada, logo após a explosão.

Repare que Q1 foi escrito como sendo negativo na equação 16. Fizemos isto por que a quantidade de movi-

mento é uma grandeza vetorial. Deste modo, escolhemos como positivo o sentido da esquerda para a direita (para

esta escolha, temos que Q2 é positivo e Q1 é negativo).

Como temos que a quantidade de movimento é a mesma tanto antes quanto depois de uma colisão (lembre-

-se da equação 11), igualaremos 15 e 16, de modo que

- 2,25 x 105 g x m/s + 250 g x v2 v2 = 900 m/s (17)

Devemos nos lembrar, entretanto, que a quantidade de movimento é uma grandeza vetorial, e, por-
tanto, tem módulo, direção e sentido.

Neste caso, assim como no exemplo anterior, o movimento dos corpos ocorre em apenas uma dimensão:
os corpos só podem se movimentar para a esquerda ou para a direita. Deste modo, precisamos escolher
uma orientação para resolver o exemplo. Se escolhermos que o sentido positivo é o que aponta para a
direita, a quantidade de movimento Q2 será positiva, enquanto que a quantidade de movimento Q1 será
negativa. Escolhendo como positivo o sentido que aponta para a esquerda, teremos o inverso: Q2 será
negativo e Q1, positivo.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 177


Escolhendo como positivo o sentido que aponta da direita para a esquerda, teríamos:

QDEPOIS = Q1 + Q2 = m1 x v1 - m2 x v2 = + (150 g) x 1500 m/s - (250 g) x v2 (18)

Agora, refaça as contas deste exemplo utilizando a equação 18 ao invés da equação 16. O resultado é diferen-

te? Como você interpreta este resultado?

Feita esta discussão, propomos à você algumas atividades, onde aplicaremos os conceitos físicos que estamos

estudando a mais alguns exemplos de colisões aos quais o leitor também possa estar familiarizado.

Imagine que estamos jogando sinuca. Um dos jogadores faz uma tacada, arremes-

sando a bola branca na direção da bola preta. Veja a seguir a representação esquemática
7
das bolas de bilhar, antes e depois da colisão entre ambas.

Considerando que a colisão é unidimensional (as bolinhas só se movimentam em

uma linha reta), sabendo que a velocidade inicial da bola branca é de 50 cm/s e que após a

colisão a bola branca fica em repouso, utilize a conservação da quantidade de movimento

para determinar qual será a velocidade final da bola preta.

Considere dois casos:

a. A massa das bolas são iguais e ambas valem 150 g.

b. A massa da bola branca vale 200 g e a da preta vale 150 g.

178
Algumas crianças estão jogando bola de gude. Suponha que as massas das bolas de

gude são iguais e valem 10 g. A colisão entre as bolas é unidimensional. Antes da colisão a
8
velocidade inicial da bola verde vale 1 m/s e a bola azul inicialmente está parada. Sabendo

que a velocidade final da bola verde vale 0,4 m/s, determine a velocidade que a bola azul

adquire após a colisão. Veja a seguir a representação esquemática das velocidades das bo-

linhas antes e depois da colisão.

Considere que uma empresa armamentícia deseja fazer alguns testes balísticos.

Para isto, ela amarrou um bloco de madeira de 5 kg a uma corda, e a prendeu no teto do
9
laboratório onde serão feitos os testes. Em seguida, um projétil é disparado em direção ao

bloco. Sabendo que antes de penetrar no bloco a velocidade da bala é de 500 m/s, e que a

massa do projétil é de 10 g, determine a altura que o sistema projétil + bloco atingirá após

a colisão (veja a figura a seguir). Dica: Para resolver essa atividade você pode considerar útil

estudar novamente a aula de conservação de energia mecânica.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 179


Recursos Complementares
Impulso e quantidade de movimento

Link: http://objetoseducacionais2.mec.gov.br/bitstream/handle/mec/19192/index.htm?sequence=105

Descrição: Esta plataforma de aprendizagem contempla o estudo relacionado ao conceito de

impulso e quantidade de movimento. O conceito do impulso foi analisado na ótica da 2ª Lei de Newton, com uma

pequena discussão do que acontece no processo de interação do ponto de vista microscópico. Logo a seguir, relem-

bramos o conceito sobre quantidade de movimento. Mostramos que na ausência de forças externas que atuam num

determinado sistema, existe a conservação da quantidade de movimento. No nosso dia a dia existem inúmeras apli-

cações que envolvem os conceitos relacionados a impulso e quantidade de movimento.

Informações adicionais: O recurso apresentado se trata de uma mídia complexa que contém um

simulador(interativo), elementos de vídeo(que também servem de canal de acessibilidade aos usuários que tenham

deficiência visual ou auditiva) e referenciais teóricos que são apresentados como forma de possibilitar o avanço no

entendimento dos problemas que são propostos e na própria avaliação, como elementos de aprendizagem

Colisões e quantidade de movimento.

Link: http://www.labvirt.fe.usp.br/simulacoes/fisica/sim_energia_trombadas.htm

Descrição: Esse recurso trabalha o conceito de quantidade de movimento antes e depois de um

choque ocorrido entre carros/caminhões de diferentes massas e velocidades.

Conservação da quantidade de movimento

Link: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnica.html?id=30414

Descrição: Esse software tem por objetivo desenvolver habilidades para relacionar aspectos do

entorno social à fenomenologia da Física, vencendo expectativas meramente propedêuticas; desenvolver capacida-

de para delinear o contorno de problemas e buscar, por via investigativa, suas possíveis soluções; elaborar intelectual-

mente a modelagem do conhecimento, ou sua produção, à medida que ao serem apresentados problemas, de forma

contextualizada, o usuário é convidado/desafiado a resolvê-los; oportunizar uma maior abrangência dos aspectos

tecnológicos relacionados ao desenvolvimento da Física, sem perder de vista sua historicidade. Complementar lacu-

na tecnológica e técnica devida à inexistência de equipamentos dedicados à experimentação em Física, com vistas a

uma Educação Científica e Tecnológica de qualidade.

180
Resumo

Neste módulo, introduzimos duas grandezas físicas, o Impulso e a Quantidade de movimento, que são bas-

tante importantes no estudo das colisões. Vimos também o conceito de Força Média, que nos permite fazer algumas

estimativas a respeito da força que os objetos exercem entre si conforme colidem.

Além disto, realizamos uma análise a respeito do que acontece com a quantidade de movimento dos objetos

quando eles colidem. Vimos que a Terceira Lei de Newton e o curto intervalo de tempo de grande parte das colisões

nos permite dizer que a Quantidade de Movimento de todo o Sistema se conserva, isto é, a Quantidade de Movimen-

to total inicial (antes da colisão) deve ser igual à final (após a colisão).

Veja ainda...
Caso o leitor deseje aprofundar-se ainda mais no tema, dispomos à seguir alguns links com vídeos e discussões

interessantes.

ƒƒ Pato Donald no país da Matemágica – http://www.youtube.com/watch?v=TphWfs_OXkU: Uma animação muito di-


vertida, que discute de maneira lúdica a importância da matemática, bem como a existência de padrões matemá-

ticos em fenômenos naturais e humanos. Ele discute o caso da sinuca, que discutimos aqui do ponto de vista físico.

ƒƒ Vídeo aula de colisões unidimensionais – http://www.geograficamentecorreto.com/2011/09/geograficamente-


vestibulando-video-aula_1314.html: Vídeo aula que discute um pouco do que vimos nesta unidade, bem como

alguns tópicos que não exploramos. Discute-se o motivo de as colisões conservarem a Quantidade de Movimento

do Sistema, dentre outros detalhes. Pode servir para que você reveja alguns dos conceitos que discutimos.

Referências

ƒƒ HEWITTT, P. G. Física Conceitual. Ed. Bookman, 2008.

ƒƒ GUIMARAES, L. A. M., FONTE BOA, M. C. Física Mecânica, Ed. Futura, 2004.

Imagens

• André Guimarães

• http://www.sxc.hu/photo/1326077 - Alfredo Camacho

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 181


• http://www.sxc.hu/photo/1115083 - Andrzej Skwarczyński

• http://www.sxc.hu/photo/1013903

• http://www.sxc.hu/photo/1166518 - Michal Zacharzewski

• http://www.sxc.hu/photo/1104313

• http://www.jbrj.gov.br/pesquisa/div_tax/briofitas/mapas.htm

Atividade 1

Utilizando a equação (1), temos:

I = F x ∆t = 10 N x 5 s = 50 N x s.

Se desejamos aumentar o Impulso, das duas uma (ou ambas): ou aumentamos a

força, ou o intervalo de tempo durante o qual aplicamos esta força.

Atividade 2

Considerando a expressão do Impulso (equação 1), temos que o Impulso é igual ao

produto da força aplicada pelo intervalo de tempo durante o qual a força atuou. Quando

algum jogador de futebol aplica uma força em uma bola, a força aplicada atua num curto

intervalo de tempo. Assim, a equação que nos fornece o Impulso determina que o Impulso

adquirido pela bola será pequeno. O que você acha desta afirmação? Ela está correta?

Justifique.

Justifique. Embora pareça razoável à primeira vista, esta afirmação não está correta.

De fato, o intervalo de aplicação da força é pequeno. Entretanto, a Força Média é grande, e a

variação da Quantidade de Movimento (e por consequência, o Impulso) da bola também é.

182
Atividade 3

Há diversas possibilidades de resposta, uma vez que a área de um retângulo vale

A = b x h. A seguir, dispomos algumas delas.

b = 10.000 km h = 4.369,6054 km (A = 43.696.054 km²)

b = 1.000 km h = 43.696,054 km (A = 43.696.054 km²)

b = 100 km h = 436.960,54 km (A = 43.696.054 km²)

...

Na verdade, há uma infinidade de combinações. Não perca muito tempo tentando

enumerar todas elas.

Atividade 4

A resolução desta atividade é muito similar à do exemplo do Superman. Em ambos

os casos, os objetos que colidem invertem os sentidos de suas velocidades, porém man-

tendo o mesmo módulo. Aplicando a equação 10 (lembrando-se novamente do caráter

vetorial da Quantidade de Movimento, escolhemos como positivo o sentido da direita para

a esquerda - veja a figura 5), temos que:

FMEDIA = (Q – Q0)/∆t = (2 x m x v)/∆t = (2 x 0,06 x 50)/0,005 = 1200 N

Atividade 5

Aplicaremos a equação 10 para os dados deste problema. Para a bola, temos que

FMEDIA = ∆Q/∆t = ( mBOLA x v - mBOLA x 0)/0,01 s = 0,5 x 2000 = 1000 N

Esta força equivale ao Peso de um objeto de 100 kg! Finalmente, devido à Terceira

Lei de Newton, a força que o pé do jogador exerce na bola é igual à força que a bola exerce

sobre o pé do jogador.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 183


Atividade 6

a. Bem, podemos fazer um experimento muito simples que elucidará essa questão.

Pegue um dessas bolinhas pula-pula (também conhecidas como bolinha perere-

ca). Faça uma bolinha de papel alumínio, amassando uma folha, acrescentando

mais alumínio, até que as massas de ambas as bolinhas sejam muito próximas

(você pode inclusive utilizar uma balança para determinar se as massas estão

mesmo parecidas). Eleve-as de uma mesma altura e deixe-as cair simultanea-

mente sobre uma mesma superfície. Embora ambas cheguem juntas, você nota-

rá que uma delas quica muito mais alto que a outra. Isso ocorre por que a bolinha

de alumínio se deforma ao entrar em contato com o chão.

Entretanto, após deformar-se, a bolinha de alumínio não retoma a sua forma ori-

ginal, absorvendo grande parte da energia associada à colisão. Pelo material da

perereca ser diferente (ela é feita de um polímero) o efeito é diferente. A bolinha

perereca também se deforma, porém, ela volta a seu estado original, mantendo

a sua energia cinética quase intacta.

Deste modo, podemos dizer que os materiais dos blocos 1 e 2 devem ser dife-

rentes, embora ambos tenham a mesma massa. Um deles absorve uma pequena

parte de energia e o outro grande parte dela.

184
Se numa colisão, os corpos não absorvem nenhuma parcela da energia cinética

para si mesmos, dizemos que esta colisão é elástica (a energia mecânica se con-

serva). Quando os corpos absorvem parte da energia, dizemos que a colisão é

inelástica (a energia mecânica não se conserva).

b. Na parte de cima da figura a seguir, temos o isolamento de forças dos corpos A


e (1), durante a colisão de ambos. Na parte de baixo, na mesma figura, temos o

mesmo, só que para os corpos A e (2).

No item c, discutiremos a relação entre as forças que os corpos exercem um no outro

durante a colisão.

c. Podemos aplicar a Terceira Lei de Newton para analisar a figura do item anterior.

Em ambas as colisões, a força que A faz em 1 (e 2) é igual à força que 1 (e 2) exerce

em A. Como podemos ver na figura 5, a força varia com o tempo. Entretanto pela

terceira lei podemos dizer que em qualquer instante da colisão, as duas forças ci-

tadas acima são sempre iguais [por exemplo, se em t = 0,01 a força que A exerce

em (1) vale 10 N, a força que (1) exerce em A também valerá 10 N. Se em t = 0,02

a força que A exerce em (1) vale 40 N, a força que (1) exerce em A também valerá

40 N. O mesmo se aplica à colisão entre A e (2)]. Desse modo, podemos comparar

o impulso resultante sobre cada uma delas (veja a figura abaixo).

Vemos que os impulsos são iguais em módulo e direção, porém os sentidos des-

ses impulsos são contrários (tem o mesmo sentido das forças resultantes em

cada bloco). As forças que cada um dos corpos exerce sobre o outro devem ser

sempre iguais em módulo e direção. Só representamos o caso da colisão entre A

e (1), mas algo similar ocorre com a colisão entre A e (2). Vemos que os impulsos

são iguais em módulo e direção, porém os sentidos desses impulsos são contrá-

rios (tem o mesmo sentido das forças resultantes em cada bloco).

d. Conforme vimos no item c, o módulo do impulso resultante sobre A é sempre

igual ao módulo do impulso resultante em 1 (e 2). Lembre-se da equação 9:

IR = ∆Q

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 185


Já que os impulsos resultantes são iguais, para ambas as partículas que co-

lidem [tanto A e (1) quanto A e (2)], temos que a variação da quantidade de

movimento de ambos os blocos que colidem se comportará da mesma ma-

neira que o impulso: para os blocos que colidem, as variações de quantidade

de movimento de ambos serão iguais em módulo e direção, mas seus sentidos

serão contrários.

Por fim, se desejamos saber a variação da quantidade de movimento do sistema,

devemos somar dQ para cada um dos elementos que compõe este sistema.

Assim, temos:

∆QSISTEMA = ∆QA + ∆Q1 = 0,

Atividade 7

Aplicando a equação 11 (e escolhendo como positivo o sentido da esquerda para a

direita) temos:
QANTES = QDEPOIS

mBRANCA x v0 + mPRETA x 0 = mBRANCA x 0 + mPRETA x v

mBRANCA x v0 = mPRETA x v

mBRANCA x 50 cm/s = 150 g x v

Agora, basta substituir de mBRANCA como sendo 150 g em (a) e 200 g em (b).

186
Atividade 8

Esta atividade é bastante similar à atividade anterior. Utilizaremos novamente a

equação 11:
QANTES = QDEPOIS
mVERDE x v0 + mAZUL x 0 = mVERDE x v1 + mAZUL x v2
10 g x 1 m/s = 10 g x 0,4 m/s + 10 g x v2
v2 = 0,6 m/s.

Atividade 9

Primeiramente, podemos determinar a velocidade do sistema projétil + bloco utili-

zando a equação 11:


QANTES = QDEPOIS
mBLOCO x 0 + mPROJETIL x v0 = (mBLOCO + mPROJETIL) x v
10 g x 500 m/s = (5010 g) x v
v = 0,998 ~ 1,0 m/s.

Agora, para determinar a altura máxima que o sistema atingirá, utilizaremos a Con-

servação da Energia Mecânica (veja a unidade 4), que diz que na ausência de forças dissi-

pativas, a Energia Mecânica de um sistema se conserva. Escolhendo o ponto mais baixo

da trajetória do Sistema projétil + bloco como sendo o ponto em que a Energia Potencial

Gravitacional é nula, temos, escolhendo o ponto final o mais alto da trajetória, que:
EMECANICA INICIAL = EMECANICA FINAL
ECINETICA INICIAL DO SISTEMA = EPOTENCIAL FINAL DO SISTEMA
(1/2) x (mBLOCO + mPROJETIL) x v2 = (mBLOCO + mPROJETIL) x g x h
(1/2) = 10 x h
h = 0,05 m = 5 cm

Utilizamos também o fato de que no ponto mais alto de sua trajetória, a velocidade

do sistema projétil + bloco vale 0 (e portanto, sua energia cinética também é nula).

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 187


O que perguntam por aí?
Seguem a seguir alguns problemas de vestibular, para o aprofundamento do leitor interessado.

Questão 1 (VUNESP)

Um bloco de madeira de 6,0kg, dotado de pequenas rodas com massa desprezível, repousa sobre trilhos re-

tilíneos. Quando uma bala de 12g disparada horizontalmente e na mesma direção dos trilhos se aloja no bloco, o

conjunto (bloco + bala) desloca-se 0,70m em 0,50s, com velocidade praticamente constante. A partir destes dados,

pode-se concluir que a velocidade escalar da bala é, em m/s, aproximadamente igual a:

a. 5,0 . 102

b. 6,0 . 102

c. 7,0 . 102

d. 8,0 . 102

e. 9,0 . 102

Questão 2 (FUVEST)

Um vagão A, de massa 10t, move-se com velocidade escalar igual a 0,40m/s sobre trilhos horizontal sem atrito

até colidir com um outro vagão B, de massa 20t, inicialmente em repouso. Após a colisão, o vagão A fica parado. A

energia cinética final do vagão B vale:

a. 100J

b. 200J

c. 400J

d. 800J

e. 1 600J

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 189


CADERNO DE ESTUDOS

EJA - ENSINO MÉDIO


MATERIAL DE APOIO
MENSAGEM AO ALUNO EaD
Olá aluno(a)! Esse material foi especialmente elaborado para você.
Leia com atenção e procure complementar seus estudos com os demais recursos
do ambiente de ensino a distância. Conte com seus professores e tutores para ajudar.

www.visaoedu.com.br
Quente ou frio?
Para início de conversa...

Todos nós vivemos reclamando: no verão, que está muito calor;

no inverno, que está muito frio. Quando adoecemos é comum ficarmos

com febre, quando nosso corpo torna-se mais quente do que o normal. As

sensações de quente e frio estão presentes em todos os momentos de nossas

vidas. Temperatura é a propriedade física da matéria que se manifesta pelas

sensações de quente ou frio.

Para ser útil cientificamente, a noção de temperatura precisa ser

quantificada. Nossas sensações individuais de quente ou frio são apenas

qualitativas e, ainda por cima, altamente subjetivas, variam muito de pessoa

para pessoa. Há gente calorenta e gente friorenta.

Pessoas friorentas experimentam uma sensação de frio muito mais intensa

do que as outras pessoas nas mesmas condições atmosféricas; já as calorentas

sentem muito mais calor. Uma mesma pessoa pode ter sensações contraditórias

de calor ou frio, dependendo da situação.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 191


Faça a seguinte experiência: encha três panelas, uma com água fria, uma com água morna e outra com água

quente. Se você primeiro mergulhar uma das mãos na panela de água fria e, em seguida, mergulhar essa mão na

panela de água morna, esta parecerá quente. Se, agora, você mergulhar uma das mãos na panela de água quente

e em seguida a introduzir na panela de água morna, esta parecerá fria. Portanto, nossas sensações corporais ou

táteis não são confiáveis para medir temperatura. Para atribuir um único valor numérico à temperatura precisamos

de um termômetro.

Estudaremos de que maneira são construídas escalas termométricas que permitem associar um único número

à temperatura de um corpo por meio de um termômetro. Já que existem diversas escalas termométricas, veremos

como se faz para converter a temperatura medida numa escala em temperatura medida em outra escala. Por fim,

veremos de que maneira a temperatura de um corpo está relacionada com o movimento incessante dos átomos ou

das moléculas do referido corpo.

192
Figura 1: Exemplos de situações e objetos que nos remetem a algo quente e frio. Da esquerda para a direita, temos: uma mancha
solar, neve e um fogão a gás.

Objetivos de aprendizagem

ƒƒ Aplicar a noção física de temperatura;

ƒƒ Reconhecer a construção e o funcionamento de termômetros;

ƒƒ Reconhecer as escalas termométricas mais importantes;

ƒƒ Converter temperaturas entre diferentes escalas termométricas;

ƒƒ Associar temperatura aos movimentos microscópicos dos átomos ou das moléculas dos corpos materiais;

ƒƒ Conceituar equilíbrio térmico;

ƒƒ Relacionar temperatura e equilíbrio térmico.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 193


Seção 1
A Escala celsius

Em 1742, o astrônomo sueco Anders Celsius propôs à Academia Real de Ciências da Suécia uma escala
termométrica que se tornaria conhecida como escala Celsius. Essa escala, que é usada em quase todos os países, é
baseada na fixação de 0oC para a temperatura de fusão do gelo e de 100oC para a temperatura da água em ebulição,
ambas as situações sob a pressão atmosférica normal (1 atmosfera, no nível do mar), e na subdivisão desse intervalo
em 100 partes iguais, cada uma dessa partes representando a variação de temperatura de 1oC.

Anders Celsius (1701-1744) foi um astrônomo sueco. Ele organi-


zou uma coleção de centenas de observações da aurora boreal,
feitas por ele próprio e por outros estudiosos. Também fez parte
de uma expedição à Lapônia, dirigida por Pierre-Louis de Mau-
pertuis, que realizou medições de um arco de meridiano corres-
pondente a um grau e confirmou o achatamento da Terra nos po-
los. Celsius foi um dos fundadores do Observatório Astronômico
de Uppsala e tornou-se universalmente conhecido pela escala de
temperatura que leva o seu nome.

Os termômetros mais simples, para medição da temperatura ambiente, exploram a dilatação térmica de

mercúrio ou de álcool (etanol) colorido num tubo fino de vidro preso a uma escala graduada, como o termômetro

mostrado na Figura 2.

194
Figura 2: Termômetro na escala Celsius marca –17 oC num dia de inverno no hemisfério norte.

Para construir um termômetro, precisa-se de: (a) uma substância termométrica, tal como mercúrio ou álcool

colorido; (b) uma propriedade da substância termométrica que varie fortemente com a temperatura - por exemplo,

dilatação térmica; (c) dois valores fixos da temperatura para duas situações facilmente reprodutíveis; (d) uma escala

obtida pela subdivisão num certo número de partes iguais do intervalo entre os dois pontos fixos escolhidos.

Termômetro Clínico de Mercúrio

Um termômetro clínico convencional, usado para medir a temperatura do nosso corpo, usa mercúrio
como substância termométrica. Quando o bulbo do termômetro, cheio de mercúrio, é posto em con-
tato durante alguns minutos com o corpo de uma pessoa com febre, o mercúrio no bulbo se expande
e avança no tubo fino graduado. Na posição ocupada pela extremidade do filete de mercúrio, pode-se
ler a temperatura.

A temperatura normal do corpo humano situa-se entre 36,5oC e 37,0oC. Por causa de um estreitamento
proposital no tubo de saída de mercúrio do reservatório, o mercúrio não retorna à sua posição original
depois de desfeito o contato com o corpo, continua marcando a temperatura do corpo. Por isso, antes
de ser usado, deve-se sacudir o termômetro para forçar o recuo do filete de mercúrio para o reserva-
tório, para marcações inferiores a 36,0oC. Os termômetros clínicos de mercúrio têm sido cada vez mais
substituídos por termômetros clínicos digitais porque o mercúrio é um metal tóxico.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 195


A Importância da Pressão

Os pontos de fusão e de ebulição da água dependem da pressão. Por exemplo, sob pressão mais alta

que a normal (1 atmosfera) a água ferve a uma temperatura maior que 100oC; o contrário também acontece,

sob uma pressão mais baixa que a normal a água ferve a uma temperatura menor que 100oC. Como a pressão

diminui com a altitude, em lugares acima do nível do mar a água ferve numa temperatura inferior a 100oC.

Numa mina muito profunda, o ponto de ebulição da água é bem maior que 100oC. Eis aqui uma pequena

tabela com o ponto de ebulição da água em diversas altitudes (temperaturas calculadas em http://www.

csgnetwork.com/h2oboilcalc.html):

Altitude (m) Ponto de Ebulição da Água (oC) Pressão (atm)

-4000 112,4 1,8

-2000 106,3 1,3

-1000 103,2 1,2

0 100,0 1,0

1000 96,7 0,9

2000 93,4 0.8

5000 82,8 0,5

10000 63,3 0,2

Para sua referência: a mina mais profunda, na África do Sul, tem 3.700 m de profundidade; La Paz, a capital da

Bolívia, está a 3.600 metros de altitude; o pico da montanha mais alto (Monte Everest) está 8.848 metros acima do

nível do mar.

Termômetro de Lâmina Bimetálica

Este tipo de termômetro, assim como os de mercúrio ou álcool, também explora a dilatação dos materiais,

porém de um modo bastante especial. A “substância termométrica” não é uma substância no sentido estrito do

termo, mas uma lâmina bimetálica, isto é, uma lâmina formada por duas fitas muito finas de dois metais diferentes,

soldadas uma na outra, como na Figura 3 (a espessura das fitas está muito exagerada para facilitar a explicação do

funcionamento). O metal da camada superior se dilata mais do que o da camada inferior. Se as fitas metálicas não

196
estivessem soldadas uma na outra, um aumento da temperatura provocaria a mudança ilustrada na parte superior da

figura 3. Com as fitas soldadas uma na outra, o conjunto encurva-se, como na parte inferior da figura, por um motivo

geométrico simples: a lâmina é obrigada a se encurvar de tal modo que a parte externa da curva seja mais longa do

que a parte interna. Se a temperatura diminuir, a lâmina bimetálica encurva-se no sentido oposto ao representado na

figura. O grau de encurvamento depende da variação da temperatura.

Figura3: Lâmina bimetálica.

A lâmina bimetálica costuma ser enrolada, formando uma espiral, como uma serpentina de carnaval. A espiral

desenrola-se ou enrola-se mais compactamente, dependendo do sentido de variação da temperatura. A extremidade

livre da espiral bimetálica gira de um certo ângulo que depende da variação da temperatura. Conectando-se essa

extremidade a um ponteiro, a temperatura é indicada numa escala graduada, como no termômetro na Figura 4.

Figura 4: Termômetro de lâmina bimetálica.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 197


Veja um pequeno filme que mostra o fenômeno de uma lâmina bimetálica em espiral se expandindo
com o calor em:

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/26/Bimetal_coil_reacts_to_lighter.gif

No link

http://www.youtube.com/watch?v=ABL93J2pOGg

é mostrada uma experiência muito simples que simula uma lâmina bimetálica e que você pode fazer
na sua casa.

Termômetro Digital de Rua

Figura5. Termômetro digital no centro de Niterói, marcando uma temperatura típica de verão.

Termômetros digitais utilizam-se de outras propriedades termométricas, como, por exemplo, a variação da

resistência elétrica com a temperatura. Termômetros digitais de rua, tais como o representado na Figura 5, funcionam

da seguinte maneira: dentro do termômetro, há um resistor cuja resistência elétrica varia significativamente com a

temperatura, provocando variação na corrente elétrica num circuito contendo esse resistor; um sensor de corrente

conectado a um microcomputador registra a temperatura e mostra o seu valor no painel digital.

Definição Prática de Temperatura

Agora que já vimos como termômetros de vários tipos podem ser construídos, podemos adotar uma

definição operacional de temperatura: temperatura é aquilo que é medido por um termômetro.

198
Seção 2
A Escala Kelvin

Temperaturas negativas na escala Celsius são comuns: no inverno ocorrem no sul do Brasil e em muitas outras
partes do mundo (veja a Figura 2). Tudo indica que são possíveis temperaturas arbitrariamente altas. No entanto,
estudos realizados durante os últimos três séculos, em laboratórios de alta precisão, mostraram que existe uma
temperatura mínima, conhecida como zero absoluto. O zero absoluto corresponde à temperatura de –273,15oC, que
aproximaremos por –273 oC. Lord Kelvin introduziu uma escala em que o zero absoluto vale 0 K (zero kelvin) e uma
variação de temperatura de uma unidade nessa escala coincide com um grau na escala Celsius. Assim, se denotarmos
por C a temperatura indicada na escala Celsius e por K a temperatura indicada na escala Kelvin, temos:

K=C+273 .

Portanto, a temperatura de fusão do gelo é 273 K e a da água em ebulição é 373 K. A escala Kelvin é usada
principalmente em trabalhos científicos. A temperatura na escala Kelvin é também conhecida como temperatura
absoluta. O kelvin é a unidade de temperatura no Sistema Internacional de Unidades (SI) e lê-se sem a palavra “grau”:
por exemplo, 1 K lê-se “um kelvin”. É comum tomar-se 300 K para representar, em números redondos, a temperatura
ambiente. Você pode justificar essa escolha?

Na verdade, o zero absoluto é uma temperatura limite, que não pode ser atingida, nem, é claro, qualquer
temperatura inferior. A tabela abaixo ilustra a enorme variedade de temperaturas que a natureza admite, muitas delas
muito além do que somos capazes de perceber e até mesmo de imaginar.

EVENTO OU SISTEMA FÍSICO TEMPERATURA (K)

Universo logo após o Big Bang 1032


Maior temperatura obtida em laboratório 7,2x1012
Centro do Sol 1,6x107
Superfície do Sol 6.000
Temperatura média da superfície da Terra hoje 288
Temperatura da radiação cósmica de fundo hoje 2,7
Menor temperatura obtida em laboratório 0,000 000 000 1

Big Bang Radiação cósmica de fundo


Explosão primordial que teria ocorrido há 13,7 bilhões de Radiação eletromagnética predominantemente na frequên-
anos, dando origem ao Universo. cia de micro-ondas que preenche uniformemente o espaço. É
uma das mais fortes evidências a favor da teoria do Big Bang e
estima-se que sua formação ocorreu, quando o Universo tinha
cerca de 350 mil anos de idade.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 199


Esboce um gráfico da temperatura na escala Kelvin em função da temperatura na

escala Celsius, com a temperatura Kelvin no eixo das ordenadas e a temperatura Celsius

no eixo das abscissas. Refaça o gráfico, representando a temperatura Celsius no eixo das

ordenadas e a temperatura Kelvin no eixo das abscissas.

William Thomson, mais conhecido pelo título de Lord Kelvin, foi um engenheiro
e físico-matemático irlandês que deu importantes contribuições ao eletromagne-
tismo e à termodinâmica. Ele teve uma participação decisiva no empreendimento
que lançou o primeiro cabo submarino de um lado a outro do Oceano Atlântico,
que estabeleceu a comunicação telegráfica entre Europa e América do Norte.
Quando percebeu que há um limite inferior para a temperatura, Kelvin introduziu
uma escala termométrica absoluta que se tornou conhecida pelo seu nome.

Como saber quais foram as temperaturas máxima e mínima num dia sem precisar
ficar olhando o termômetro o tempo todo? Com a ajuda de um termômetro de má-
xima e mínima. O tipo de termômetro de máxima e mínima, representado na figura,
utiliza um tubo em formato de U. Ambos os lados medem a mesma temperatura.
Entretanto, a escala do lado esquerdo está invertida: as temperaturas acima do zero
são negativas. A substância termométrica não é o mercúrio, mas um líquido transpa-
rente (tipicamente álcool) no tubo esquerdo. Há, também, agulhas dentro dos tubos.
À medida que a temperatura diminui, o líquido transparente contrai-se e puxa o
mercúrio, que empurra a agulha da esquerda para cima. Assim é medida a tempera-
tura mínima, pois um ímã na parte de trás mantém a agulha na sua posição mais alta.
À medida que a temperatura aumenta, o líquido transparente expande-se empur-
rando a coluna de mercúrio da esquerda para baixo. Isto eleva a coluna de mercúrio
da direita, fazendo com que a agulha da direita seja empurrada para cima até regis-
trar a temperatura máxima, quando atinge a posição mais alta e fica lá. Para reiniciar
o termômetro, aperta-se o botão laranja central e as agulhas caem.
http://www.australiasevereweather.com/techniques/simple/thermom.htm

200
Seção 3
A Escala Fahrenheit

Termômetros nas escalas Celsius e Fahrenheit. O ponto de fusão da água corresponde e 0oC e 32oF. O ponto de ebulição da
água corresponde a 100oC e 212oF. Entre o ponto de ebulição e o ponto de fusão da água, há 100 graus Celsius e 180 graus
Fahrenheit. Temperaturas negativas em cada escala aparecem em vermelho.

A escala Fahrenheit de temperatura foi proposta em 1724 pelo físico Daniel Fahrenheit e permaneceu em uso

nos países de língua inglesa até os anos 1960. No fim dos anos 1960 e início dos anos 1970, a escala Fahrenheit foi

substituída pela Celsius em quase todos os países. Atualmente, a escala Fahrenheit é usada nos Estados Unidos, em

Belize, nas Ilhas Caimã e, parcialmente, no Canadá.

A Figura 6 ilustra de que maneira Fahrenheit definiu sua escala termométrica: a temperatura do gelo em fusão

vale 32oF; a temperatura da água em ebulição vale 212oF; esse intervalo de temperatura é dividido em 180 partes

iguais, cada uma dessas partes representando uma variação de temperatura de 1oF. Infelizmente, as razões que levaram

às escolhas dos números 32 e 212 ainda não são totalmente conhecidas, mas acredita-se que estão relacionadas às

temperaturas medidas em Copenhague (Dinamarca) durante os experimentos elaborados por Daniel Fahrenheit para

estipular uma escala termométrica para uso meteorológico que evitasse muitos números fracionários.

Como converter uma temperatura Fahrenheit em Celsius ou vice-versa? Suponha que a temperatura de um

corpo seja medida e encontremos o valor C na escala Celsius e o valor F na escala Fahrenheit. Veja que o número de

divisões que o termômetro Celsius marca acima da temperatura 0oC é C. O termômetro Fahrenheit marca F-32 divisões
porque a temperatura de fusão do gelo na escala Fahrenheit é 32oF. Mas 100 graus na escala Celsius correspondem

a 180 graus na escala Fahrenheit, de modo que o número de divisões na escala Fahrenheit é maior do que na escala

Celsius na proporção 180/100. Logo, F-32=180C/100, que se costuma escrever na forma simplificada equivalente

C F − 32
=
5 9

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 201


Por meio desta fórmula, é possível converter para a escala Celsius qualquer temperatura dada na escala
Fahrenheit e vice-versa. Por exemplo, a temperatura de 40oC ocorre no verão no Rio de Janeiro. A temperatura

correspondente na escala Fahrenheit é calculada da seguinte maneira:

Portanto, dias de muito calor caracterizam-se por temperaturas em torno de 100 oF

Muito frio na escala Fahrenheit.

Na situação da Figura 2, que está marcando -17°C, qual seria a temperatura in-

dicada por um termômetro, graduado na escala Fahrenheit?

Uma escala extinta como os dinossauros.

Uma escala termométrica que não se usa mais foi introduzida, em 1731, pelo físico

francês René-Antoine de Réaumur. Na escala Réaumur, é atribuída a temperatura de 0oR

ao gelo em fusão e de 80oR à água em ebulição, e esse intervalo é dividido em 80 partes

iguais. Encontre a fórmula que permite converter graus Réaumur em graus Celsius. Qual é

a temperatura em graus Celsius correspondente a 40oR?

202
Cinco vezes maior sem ser mais quente.

Um corpo está numa temperatura tal que um termômetro na escala Fahrenheit marca um

valor cinco vezes maior do que o valor indicado num termômetro na escala Celsius. (a)

Inspecionando a Figura 6, você espera que essa temperatura na escala Celsius seja positi-

va ou negativa? Determine exatamente o valor da temperatura na escala Celsius. O valor

obtido confirma a sua expectativa?

Mais frio é impossível.

Descubra qual é a menor temperatura possível na escala Fahrenheit.

Turista leva um susto.

Uma turista brasileira é levada a um hospital em Nova Iorque com suspeita de in- 6
fecção. Uma enfermeira examina-a e diz-lhe que não há motivo para alarme porque sua

temperatura é apenas 98°. Após um susto, a turista dá-se conta de que sua temperatura

foi medida num termômetro na escala Fahrenheit. A turista deve ficar mesmo tranquila?

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 203


Por que tanto apego à escala Fahrenheit?

Diversos motivos têm sido apontados para a resistência à adoção da escala Celsius nos Estados Uni-
dos. Uma razão plausível é que o intervalo de 0 a 100 graus na escala Fahrenheit encaixa-se mais
naturalmente na faixa de temperatura que ocorre na maior parte do território americano: 0°F = dia
muito frio de inverno; 50°F = dia típico de primavera/outono; 100°F = dia muito quente de verão. Em
comparação: 0°C = frio bastante comum; 50°C = calor extremo raramente registrado na superfície da
Terra; 100°C = água em ebulição, não ocorre como temperatura ambiente.

Seção 4
Temperatura, Agitação Molecular e Equilíbrio
Térmico

Na primeira década do século XX, a teoria atômica da matéria convenceu os últimos céticos e tornou-se

universalmente aceita. Os avanços ocorridos desde então estabeleceram que, na escala microscópica, toda a matéria

é composta por átomos e moléculas que, por sua vez, são formados por partículas ainda menores, tais como prótons,

nêutrons e elétrons. Os átomos e moléculas não são imóveis, mas estão em estado permanente de agitação. A

temperatura é compreendida, hoje, como uma medida do grau de agitação dos átomos e moléculas. As moléculas

não têm todas a mesma velocidade: a temperatura é determinada pela energia cinética média das moléculas.

204
Vejamos como esta ideia de temperatura permite explicar um fenômeno simples como a dilatação térmica.

Numa dada temperatura, a agitação das moléculas de um corpo sólido ou líquido tem uma certa amplitude, isto é, as

moléculas mantêm uma certa distância média entre si. Se a temperatura é aumentada, a agitação molecular torna-

se mais intensa e a distância média entre as moléculas cresce, fazendo com que o corpo aumente de tamanho. Se a

temperatura for suficientemente aumentada, a amplitude da agitação pode crescer tanto que moléculas começam a

escapar do corpo, e um líquido, por exemplo, passa ao estado gasoso. No processo de evaporação, moléculas de água

logo abaixo da superfície com velocidade acima da média conseguem escapar formando vapor e deixando a água

um pouco mais fria. A noção moderna de temperatura também explica por que existe uma temperatura mínima. À

medida que a temperatura é reduzida, chega-se cada vez mais perto do estado de agitação térmica nula (isto não

significa a cessação de todo tipo de movimento) que corresponde ao zero absoluto. Por outro lado, não existe um

estado de agitação térmica máxima, de modo que temperaturas arbitrariamente altas são possíveis.

Quando dois corpos em temperaturas diferentes são postos em contato, a temperatura do corpo mais quente

diminui e a do corpo mais frio aumenta, até que as temperaturas se igualam. A partir desse momento as temperaturas

dos corpos não variam mais e o sistema atingiu o equilíbrio térmico. As colisões entre as moléculas do corpo mais

quente (que são mais energéticas) e as do corpo mais frio (que são menos energéticas) fazem com que energia

cinética seja transferida das moléculas mais energéticas para as menos energéticas. Assim, a energia cinética média

das moléculas do corpo mais frio vai aumentando ao mesmo tempo que a energia cinética média das moléculas

do corpo mais quente vai diminuindo. Quando essas energias médias se igualam, o equilíbrio térmico é atingido.

Assim, para medir a temperatura de um corpo é preciso pôr o termômetro em contato com o corpo e esperar um

certo tempo a fim de que o termômetro entre em equilíbrio térmico com o corpo. A lei zero da termodinâmica

exprime um fato experimental: se dois corpos estão em equilíbrio térmico com um terceiro, eles estão em equilíbrio

térmico entre si. Historicamente, a lei do equilíbrio térmico, que é a mais básica de todas, só foi enunciada depois de

descobertas as três leis da termodinâmica. A fim de preservar a nomenclatura tradicional, em vez de renumerar as três

leis preferiu-se batizar a lei do equilíbrio térmico de lei zero da termodinâmica.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 205


Pode contrariar o manual de etiqueta, mas funciona.

7 Por que, para esfriar uma sopa escaldante, é uma boa ideia soprar a superfície da

sopa?

Resumo

Nesta unidade, discutimos:

ƒƒ A noção física de temperatura, que se manifesta pelas sensações de quente e frio.

ƒƒ Como funcionam os termômetros e algumas propriedades termométricas usadas na sua construção, tais

como dilatação e resistência elétrica.

ƒƒ As escalas termométricas mais importantes (Celsius, Kelvin e Fahrenheit) e como converter a temperatura

de uma escala para outra. Vimos que a fórmula K=C+273 permite converter temperatura Celsius em Kelvin

e vice-versa, e que a fórmula permite transformar temperatura Fahrenheit em Celsius e vice-versa.

ƒƒ A temperatura como uma medida do grau de agitação molecular.

ƒƒ O equilíbrio térmico de dois corpos, que só é atingido, quando os corpos ficam com a mesma temperatura.

ƒƒ A lei zero da termodinâmica: se dois corpos estão em equilíbrio térmico com um terceiro, eles estão em
equilíbrio térmico entre si.

Veja Ainda

Você certamente já ouviu falar no aquecimento global e suas possíveis consequências, assunto sempre presente

nos noticiários e que provavelmente faz parte de suas preocupações como cidadão. A temperatura média da superfície

206
da Terra tem aumentado nas últimas décadas. O mapa abaixo ilustra o quanto as temperaturas médias das várias

regiões da Terra estavam mais altas (em graus Celsius) na década 2000-2009 em comparação com as temperaturas

médias registradas entre 1951 e 1980, de acordo com a agência espacial americana NASA. A grande maioria dos

cientistas considera que há fortes indícios de que esse aquecimento deve-se à ação do homem, principalmente por

causa do efeito estufa, causado pela emissão contínua de grande quantidade de gás carbônico na atmosfera. No link

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/2001-efeito_estufa-o_efeito_estufa.shtml você poderá entender o que

é o efeito estufa. Para alguns cientistas, conhecidos como “céticos do clima”, o aquecimento global não é causado

pela ação humana, mas é parte dos ciclos naturais do nosso planeta. Em http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/ex-

cetico-do-clima-afirma-que-aquecimento-global-e-causado-pelo-homem e, mais detalhadamente, em http://www.

nytimes.com/2012/07/30/opinion/the-conversion-of-a-climate-change-skeptic.html?pagewanted=all&_r=0 um

físico explica por que moderou o seu ceticismo, quanto à responsabilidade humana pelo aquecimento global.

Referências

LUZ, Antônio Máximo Ribeiro da e ÁLVARES, Beatriz Alvarenga. Curso de Física Vol. 2. São Paulo: Scipione, 2008.

BOA, Marcelo Fonte e GUIMARÃES, Luiz Alberto. Física: Termologia e Óptica. Niterói: Futura, 2004

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 207


Imagens

• André Guimarães

• http://www.sxc.hu/photo/1396777

• http://www.sxc.hu/photo/1294264

• http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sunspot_TRACE.jpeg

• http://www.sxc.hu/browse.phtml?f=view&id=1154068

• http://www.sxc.hu/browse.phtml?f=view&id=1337264

• http://www.sxc.hu/photo/646898

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Kochendes_wasser02.jpg

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Anders-Celsius-Head.jpg

• http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pakkanen.jpg

• http://www.sxc.hu/photo/432233

• http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bimetaal.jpg

• http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Backofenthermometer.jpg

• http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Celsius.jpg

• http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Lord_Kelvin_photograph.jpg

208
• http://www.australiasevereweather.com/techniques/simple/thermom.htm

• http://www.sxc.hu/photo/506699

• http://commons.wikimedia.org/w/index.php?title=File:Atom_symbol.svg&page=1&uselang=pt-br

• http://earthobservatory.nasa.gov/IOTD/view.php?id=42392.

• http://www.sxc.hu/photo/517386 • David Hartman.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 209


Atividade 1

Eis um gráfico da temperatura Kelvin em função da temperatura Celsius. A linha reta

corta o eixo horizontal em –273o C e o eixo vertical em 273 K.

No gráfico abaixo, da temperatura Celsius como função da temperatura Kelvin, a

reta corta o eixo vertical em –273o C

Atividade 2

Como a temperatura é _17o C, seu valor na escala Fahrenheit é

F = 32 + 9C/5 = 32 – 9x17/5 = 32 – 30,6 = 1,4.

Portanto, um termômetro Fahrenheit marcaria 1,4o F.

210
Atividade 3

Seja C a temperatura na escala Celsius e R a temperatura na escala Réaumur. Como

ambas as escalas atribuem a temperatura zero ao gelo em fusão, há C divisões a contar do

zero na escala Celsius e R divisões na escala Réaumur. Como 100 graus Celsius equivalem a

80 graus Réaumur, o número de divisões na escala Celsius é maior do que na escala Réau-

mur na proporção 100/80, isto é, C=100R/80 . Numa forma simplificada, temos

C=5R/4, que é a fórmula desejada. Se R=40 resulta imediatamente C=50.

Atividade 4

A Figura 6 sugere que só para temperatura positiva pode acontecer de a esca-

la Fahreinheit marcar um valor cinco vezes maior do que o valor indicado na escala Cel-

sius. Examinando a figura com atenção, parece que a temperatura de 50o F corresponde a

10o C. Para verificar se isto é verdade, devemos substituir F=5C na fórmula que relaciona as

temperaturas nas duas escalas e resolver a equação resultante para C:

C/5=(F – 32)/9 → C/5=(5C – 32)/9 → 9C=25C – 160 → 16C=160 → C=10.

De fato, é para a temperatura de 10o C que um termômetro Fahrenheit marca um


valor 5 vezes maior.

Atividade 5

A menor temperatura possível é –273,15o C. O valor desta temperatura na escala

Fahrenheit é

F = 32 + 9C/5 = 32 - 9x273,15/5 = 32 - 491,67 = - 459,67.

Portanto, a temperatura correspondente ao zero absoluto é –459,67o F, que é a

menor temperatura possível na escala Fahrenheit

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 211


Atividade 6

A partir da fórmula de conversão C/5=(F – 32)/9, deduz-se que a temperatura na

escala Celsius correspondente a 98oF é C=5x(98 – 32)/9 =5x66/9 = 36,7.

Como sua temperatura é normal (36,7o C), a turista pode ficar tranquila: a ausência de
febre indica que ela não deve estar com nenhuma infecção.

Atividade 7

As moléculas de água mais rápidas escapam da sopa, deixando-a ligeiramente mais

fria, e acabam formando uma camada de vapor sobre sua superfície. Essa camada de vapor

tem uma temperatura apenas ligeiramente maior que a camada superficial da sopa e o

ritmo de evaporação diminui: o número de moléculas que escapa do líquido para o vapor

é só um pouco maior do que número de moléculas que retorna do vapor para o líquido.

Quando sopramos a sopa, essa camada de vapor é afastada e substituída por uma camada

de ar mais frio vindo das proximidades. Assim, as moléculas mais rápidas da sopa voltam a

escapar em maior quantidade e a sopa se resfria mais rapidamente.

212
O que perguntam por aí?

ENEM (2010)

Sob a pressão normal (ao nível do mar), a água entra em ebulição à temperatura de 100oC. Tendo por base esta

informação, um garoto residente em uma cidade litorânea fez a seguinte experiência:

ƒ Colocou uma caneca metálica, contendo água no fogareiro do fogão de sua casa.

ƒ Quando a água começou a ferver, encostou cuidadosamente a extremidade mais estreita de uma seringa

de injeção, desprovida de agulha, na superfície do líquido e, erguendo o êmbolo da seringa, aspirou certa

quantidade de água para o seu interior, tapando-a em seguida.

ƒ Verificando após alguns instantes que a água da seringa havia parado de ferver, ele ergueu o êmbolo da

seringa, constatando, intrigado, que a água voltou a ferver após um pequeno deslocamento do êmbolo.

Considerando o procedimento anterior, a água volta a ferver porque esse deslocamento

a. permite a entrada de calor do ambiente externo para o interior da seringa.

b. provoca, por atrito, um aquecimento da água contida na seringa.

c. produz um aumento de volume que aumenta o ponto de ebulição da água.

d. proporciona uma queda de pressão no interior da seringa que diminui o

e. ponto de ebulição da água

f. possibilita uma diminuição da densidade da água que facilita sua ebulição

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 213


Solução

A água dentro da seringa parou de ferver porque sua temperatura caiu um pouco abaixo de 100o C, o ponto

de ebulição da água sob a pressão atmosférica normal. Quando o êmbolo foi puxado, o ar com vapor no interior da

seringa passou a ocupar um volume maior, reduzindo a pressão no interior da seringa. Sob uma pressão menor que

a pressão atmosférica normal água ferve a uma temperatura inferior a 100o C. Por isso, a água no interior da seringa

voltou a ferver. A resposta correta é D

(UFF – RJ)

No Grande Rio, observa-se que em Bangu, um dos bairros mais quentes no verão, os termômetros chegam

a marcar 40o C, enquanto que no Alto da Boa Vista essa marca chega, quando muito, a 26o C. Tal variação, na escala

Kelvin, será de:

(A) 14 (B) 287 (C) 213 (D) 299 (E) 277

Solução

As variações de temperatura são iguais nas escalas Kelvin e Celsius: um aumento de temperatura de 1 grau

Celsius é igual a 1 Kelvin. Portanto a variação de temperatura na escala Kelvin é 40-26=14. A resposta correta é A.

214
CADERNO DE ESTUDOS

EJA - ENSINO MÉDIO


MATERIAL DE APOIO
MENSAGEM AO ALUNO EaD
Olá aluno(a)! Esse material foi especialmente elaborado para você.
Leia com atenção e procure complementar seus estudos com os demais recursos
do ambiente de ensino a distância. Conte com seus professores e tutores para ajudar.

www.visaoedu.com.br
Calor e Energia:
a primeira lei da
termodinâmica
Para início de conversa...

“Moro num país tropical...”,

canta Jorge Bem Jor. Isso significa

que falamos muito de calor, dias

quentes, praia e sol. Num dia quente

de verão procuramos ventiladores

ou ambientes com ar-condicionado.

Outra situação que também

envolve altas temperaturas é o mo-

tor de um carro. Ele produz calor por

meio das reações químicas entre

oxigênio e gasolina vaporizada que

ocorrem nos seus cilindros. Os cilin-

dros empurram os pistões que realizam trabalho e movem o carro.

Mas você deve estar se perguntando: qual é a relação entre o calor dos dias

quentes e o motor de um carro?

Tudo isso tem muito a ver com o assunto desta e da próxima unidade: Ter-

modinâmica, palavra que significa “movimento do calor”. Você já viu o conceito

de temperatura nas unidades anteriores, sabe o que é um termômetro e já ouviu

muito a palavra “quente”. Na linguagem cotidiana os termos “calor” e “temperatu-

ra” costumam ser utilizados como sinônimos. No entanto, veremos que esses dois

termos possuem significados bem distintos em física.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 215


Objetivos de Aprendizagem

ƒƒ Conceituar calor;

ƒƒ relacionar calor com trabalho e energia interna;

ƒƒ aplicar a primeira lei da termodinâmica a experimentos simples;

ƒƒ distinguir os processos isobáricos, adiabáticos, isocóricos e isotérmicos.

216
Seção 1
O experimento de Joule e a definição de calor

Até meados do século XIX a termodinâmica e a mecânica eram consideradas disciplinas distintas. Supunha-se

que o calor era um fluido sem massa, denominado calórico, que passava de um corpo quente para um corpo frio e

que nunca podia ser destruído. Podia-se fazer modelos matemáticos utilizando-se essa imagem do calor como um

fluido que na realidade descrevia muito bem alguns experimentos. Assim, grandes nomes da ciência da época como

Lavoisier, Laplace, Fourier e outros defendiam a teoria do calórico. No entanto, havia um número considerável de cien-

tistas que acreditavam – embora sem poder provar – que havia uma relação entre calor e o movimento das partículas

que compunham a matéria. Dentre estes destacavam-se Descartes, Bacon, Hooke e Newton.

Para iniciarmos a nossa discussão de termodinâmica, vamos de-

finir dois termos importantes: sistema e ambiente. Sistema é a região

que nos interessa estudar em relação a trocas de energia com o ambien-

te, e este é a região que circunda o sistema. Assim, se quisermos estudar

o resfriamento de uma xícara de café, podemos definir a xícara como

nosso sistema e o resto do universo como ambiente.

O estado do sistema é caracterizado por algumas grandezas mensuráveis, como temperatura, volume, pressão

etc. Se pelo menos uma delas varia, o sistema mudou de estado. Dependendo do contexto, a mudança de estado

pode significar algo mais drástico, como a mudança de água para vapor etc.

Lembremos que dois objetos estão em equilíbrio térmico se suas temperaturas não
Adiabático
Sistema que apresen- variam ao serem colocados em contato. Vimos também que um sistema isolado termicamen-
ta isolamento a qual- te não muda seu estado – não muda sua temperatura. Neste caso, Diatérmica
quer troca de calor ou
dizemos, então, que as paredes do recipiente são adiabáticas. Um Qualidade do material
matéria com o meio
que permite a passa-
externo. sistema não isolado termicamente possui paredes diatérmicas.
gem de calor.

James Joule realizou alguns experimentos fundamentais para estabelecer o concei-

to de calor. Em um recipiente bem fechado, uma palheta poderia agitar a água nele contida. A pá era acionada pela

queda de massas acopladas ao eixo da palheta como exemplificado na figura 1.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 217


Figura 1: Aparato experimental de Joule. Um recipiente contém água que pode ser agitada pelo movimento das pás quando
as massas caem. Um termômetro mede a variação da temperatura.

James Prescott Joule (1818 – 1889) foi um físico britânico que estudou a
natureza do calor e descobriu as suas relações com o trabalho mecânico.
Suas descobertas o direcionaram para a teoria da conservação da energia
(também conhecida com a Primeira Lei da Termodinâmica). A nomenclatura
joule, para unidade de trabalho no Sistema Internacional, só foi estipulada
após sua morte em sua homenagem.

Joule trabalhou com Lorde Kelvin, para desenvolver a escala absoluta de


temperatura, também encontrou relações entre o fluxo de corrente através
de uma resistência elétrica e o calor dissipado, agora chamada Lei de Joule.

Inicialmente o sistema possuía paredes adiabáticas, ou seja, estava termicamente isolado. Na prática, as pare-

des do recipiente estavam revestidas por fora de isopor ou algo similar. A queda dos pesos transformava a sua energia

potencial em energia de movimento das pás que por sua vez agitava a água. A quantidade de energia depositada na

água é simples de calcular, pois sabemos que o trabalho da força da gravidade quando uma massa cai de uma altura

h é: trabalho = força X distância, que usualmente escrevemos:

W=F.d=m.g.h

218
Por exemplo, se uma massa de 10 kg cai da altura de 1 m, W = 10 x 9,8 x 1 = 98 J (lembre que unidade de energia

mecânica é expressa em joules).

James Joule observou que a água ficava aquecida, ou seja, a temperatura da água aumentava de T0 para T1. Se o
isopor for removido (ou seja, agora paredes diatérmicas), a temperatura da água volta ao seu estado inicial T0. Em segui-

da, com as massas fixas e as paredes revestidas de isopor de novo (adiabáticas) um aquecedor foi mergulhado na água

e passou-se uma corrente elétrica por ele de modo que a corrente elétrica realizasse o mesmo trabalho (em Joules) que

a queda das massas anteriormente. De novo a temperatura do sistema subiu para T1. Ou seja, a mesma quantidade de

trabalho, independentemente da forma como é realizado, ocasiona a mesma mudança de estado do sistema.

No primeiro experimento a energia potencial gravitacional das massas foi transferida para a água, de modo

que a energia interna do sistema aumentou. Definimos energia interna de uma substância como a soma da ener-

gia cinética de suas partículas constituintes (moléculas) mais a energia de atração entre elas. Quando um material é

aquecido, a energia cinética de suas moléculas aumenta. Portanto, até aqui, podemos dizer que a lei de conservação

da energia pode ser escrita como:

∆U = W

Onde: ∆U é a variação de energia interna e W é o trabalho realizado no sistema.

Voltemos ao experimento de Joule. Agora vamos começar com o sistema na temperatura inicial T0 sem o reves-

timento de isopor, ou seja, paredes diatérmicas. Queremos levar o sistema de novo à temperatura T1 agitando as pás

pela queda das massas. Observamos agora que precisamos realizar mais trabalho (deixar cair mais vezes as massas)

para que o sistema atinja a temperatura T1. Vemos que esse trabalho adicional é necessário porque o sistema perde

energia para o ambiente por causa da diferença de temperatura da água, que é maior do que a do ambiente (e agora,

com as paredes diatérmicas, pode haver troca com o ambiente). Portanto, chegamos à definição de calor e trabalho:

ƒƒ Calor é a energia transferida de um objeto a outro devido à diferença de temperatura.

ƒƒ Trabalho é a transferência de energia que não se dá pela diferença de temperatura entre dois corpos.

Observe que no experimento de Joule calor é a diferença entre o trabalho realizado sobre o sistema, no caso

diatérmico, e o trabalho realizado, no caso adiabático.

Assim, a lei de conservação da energia agora se escreve:

∆U = W + Q

Atente para o fato de que na nossa convenção de sinais W>0 é o trabalho feito sobre o sistema, ou seja, que

tende a aumentar a energia interna do sistema. O trabalho realizado pelo sistema é negativo. Essa convenção ficará

mais clara quando examinarmos o sistema físico de um cilindro com gás sendo comprimido por um êmbolo que vai

aparecer adiante. Quanto ao calor, escolhe-se Q positivo quando o calor é transferido para o sistema.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 219


Calculando a energia interna

Um certo sistema realiza um trabalho de 200J e ao mesmo tempo absorve 150J de calor. De
quanto variou a energia interna do sistema?

Seção 2
Calor e calorias

No início dos estudos de termodinâmica, antes do reconhecimento da conexão entre a termodinâmica e a

mecânica discutida na seção anterior, o calor era definido em termos da variação da temperatura ocasionada por ele

mesmo (o calor). Existia uma unidade própria para quantificar o calor: a caloria (cal), que era definida como o calor

necessário para elevar a temperatura de um grama de água de 14,5°C para 15,5°C, ou seja, aumentar apenas 1ºC. Após

os experimentos de Joule e de outros pesquisadores posteriormente, compreendeu-se que tanto o calor quanto o

trabalho são formas de transferência de energia e ambos devem ser quantificados com a mesma unidade, o Joule,
com a correspondência:

1 cal = 4,186 J

Essa relação é conhecida como o equivalente mecânico do calor.

220
Queimando calorias

Muitas vezes se fala em “calorias” quando se discute dieta alimentar. Na realidade,

elas são quilocalorias (lembre, o prefixo quilo, cujo símbolo é k, significa mil). Ou seja, uma

caloria alimentar, na realidade, vale 4186 J.

Assim, depois de uma refeição de 2000 calorias alimentares, quantas vezes devemos

levantar um objeto cuja massa é de 100 kg à altura de um metro?

Seção 3
Calor específico

Quando transferimos calor de um corpo para o outro, podem acontecer duas situações:

ƒƒ A temperatura do segundo corpo aumenta ou

ƒƒ pode haver uma troca de estado físico deste corpo (um líquido se evaporar, um sólido se liquefazer etc.).

Essas duas situações podem acontecer sozinhas ou em conjun-

to, dependendo da quantidade de calor que é transferida entre eles.

Por enquanto, vamos supor que não haja troca de estado,

apenas o aumento de temperatura. O quanto o segundo corpo vai

variar a sua temperatura vai depender de algumas variáveis, como:

ƒƒ a massa do corpo,

ƒƒ o calor específico da matéria que constitui esse corpo e

ƒƒ a quantidade de calor que é transmitida a ele.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 221


O mesmo calor transferido para dois corpos de mesma massa pode aquecer muito mais um deles dependendo

do tipo de material de que são feitos (metal aquece mais do que a água, por exemplo). A relação entre o calor trans-

ferido e o aumento da temperatura é a seguinte:

Q=mxc∆T

Onde:

ƒƒ Q é a quantidade de calor fornecida;

ƒƒ m é a massa do material que recebe o calor;

ƒƒ ∆T (lê-se delta T) é a variação na temperatura do corpo causada pela transferência de calor e

ƒƒ c é o calor específico do material.

Pela fórmula, o calor específico deve ter a unidade J/(kg×°C). Observe que o calor específico também pode ser

dado em cal/(g×°C), ou seja, calor pode ser dado em joules ou calorias e a massa em quilograma ou grama. Deve-se

tomar cuidado com as unidades e utilizá-las de forma consistente nos problemas. Quando usamos uma massa em kg

(quilogramas), o calor específico deve ter kg em sua unidade. Quando a massa for em g (gramas), o calor específico

deve ser dado em função de g.

Já vimos anteriormente que, para se aumentar de um grau Celsius a água (na pressão atmosférica usual), é

necessária 1 caloria. Portanto, o calor específico da água é Cágua = 1cal/(g x oC) ou Cágua = 4.186 x 103J/(kg x oC) Para

converter um valor de c no outro, utilizamos as relações 1 cal = 4,186 J e 1 g= 10-3 kg.

Nos problemas de troca de calor, a regra a ser seguida é simples: um corpo perde calor que é transferido para

outro. Normalmente não se consideram perdas para o ambiente, mas se elas existirem devem ser levadas em conta

nos cálculos também.

222
Café morno

Suponha que 100 cm3 de café na temperatura de 95°C sejam derramados numa xí-

cara que está à temperatura de 20°C e é feita de 150g de louça. Qual a temperatura final

comum do café e da xícara, supondo que não haja perdas de calor para o ambiente? Vamos

supor que o calor específico do material da xícara é cx = 850 J/(kg×°C).

Seção 4
Calor latente e mudanças de fase

Na seção anterior vimos que um corpo pode aquecer se receber ca-

lor (e esfriar se perder calor). Além disso, pode haver também uma mudan-

ça de fase:

ƒƒ Sólido para líquido;

ƒƒ Líquido para gasoso;

ƒƒ Líquido para sólido;

ƒƒ Gasoso para líquido.

Na mudança de fase, a energia transferida em forma de calor não

resulta em mudança de temperatura, mas sim na alteração das característi-

cas físicas da substância: gelo virar água, por exemplo.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 223


A energia recebida pelo gelo é utilizada para romper as ligações entre

as moléculas (dizemos que houve um aumento da energia potencial inter-

molecular) e não para aumentar a energia cinética das moléculas. A quan-

tidade de energia na forma de calor necessária para a mudança de fase de

uma quantidade de massa m de uma substância pura é:

Q=±mxL

Onde: L é chamado de calor latente da substância em questão.

Por exemplo, quando o gelo se transforma em água, o calor latente é

chamado de calor latente de fusão e vale

Li = 3,33 x 105 J/kg

ou seja, para cada quilograma de gelo que derrete, 333.000 joules de calor são absorvidos. Se a água se trans-

forma em gelo (no congelador da sua geladeira, por exemplo), para cada quilo de gelo formado a mesma quantidade

de calor, 333.000 joules, foi retirada da água. E agora você já entendeu o sinal na fórmula dada: o positivo significa que

calor está sendo adicionado à substância, etc. Basicamente o mesmo vale para a vaporização da água (e condensação

do vapor). Aqui temos o calor latente de vaporização, que para a água vale:

Li = 2,26 x 106 J/kg

Como exemplo vamos acompanhar a mudança na temperatura e as mudanças de fase de um bloco de gelo

inicialmente à temperatura de -25 °C na figura 2, ao qual é fornecido calor a uma taxa constante. De a até b o bloco

de gelo aquece (mas ainda na forma de gelo) até atingir a temperatura de 0°C no ponto b. De b a c o gelo se funde

(ainda a 0°C) e temos uma mistura de gelo e água. Aqui o calor de fusão é absorvido. No ponto c o gelo se transformou

totalmente em água e agora a água começa a aquecer. De c a d a água aquece e em d ela chega a 100°C. De d a e a

água se vaporiza e aqui de novo utilizamos o conceito de calor latente, só que agora de vaporização. Finalmente, no

ponto e toda a água foi vaporizada e daí em diante o vapor começa a aquecer.

224
Figura 2: Gráfico da temperatura como função do tempo para certa quantidade de água inicialmente na forma de gelo.

Um líquido libera ou absorve energia quando se transforma em gás? E quando o

mesmo gás se transforma em líquido?

Seção 5
Processos termodinâmicos e trabalho

Na aula anterior estudamos um gás ideal. Vamos lembrar que para um gás ideal vale a relação:

PxV=nxRxT

Onde:

ƒƒ P é a pressão no interior do gás;

ƒƒ V é o volume do gás;

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 225


ƒƒ n é o número de moles do gás;

ƒƒ R = 8,1314 J/(mol.K) é a constante universal dos gases e

ƒƒ T é a temperatura (que nesta expressão deve ser utilizada na escala absoluta, expressa em Kelvin).

Para os gases perfeitos, também vale que a energia interna só depende da temperatura. No caso de um gás

monoatômico (ou seja, cujas moléculas sejam formadas por um único átomo), temos a seguinte expressão para a

energia interna:

3
U = nRT
2
Onde U representa a energia interna do gás, n o número de moles, R a constante universal dos gases e T a

temperatura (em graus Kelvin).

Vamos agora examinar alguns tipos mais comuns de processos termodinâmicos utilizando o sistema mostrado

na figura 3, um cilindro oco, fechado numa extremidade e no qual um pistão pode deslizar sem atrito.

Figura 3: Cilindro contendo gás ideal com um pistão móvel que pode deslizar sem atrito. Na figura está indicado também
um deslocamento ∆x do pistão.

Podemos calcular o trabalho realizado pelo sistema quando o pistão avança uma distância infinitesimal ∆x

lembrando que o trabalho foi definido como força vezes a distância: W = F∆x quando estudamos Mecânica. Por outro

lado, a pressão no êmbolo (de área A) do pistão é definida como P = F/A (pressão é força dividida pela área). Assim,

a força é pressão vezes a área (F=PA), de modo que a quantidade infinitesimal de trabalho ∆W causada pelo desloca-

mento ∆x é dada por:

D= PA∆x = P∆V

226
Onde também utilizamos o fato de que um pequeno deslocamento do pistão de ∆x induz uma variação pe-

quena do volume do gás de ∆V = ∆xA, pois o volume do cilindro é base vezes a altura. E agora um último detalhe (e

muito importante). Como na expressão da primeira lei convencionamos que o trabalho realizado sobre o sistema é

positivo, então quando o sistema aumenta o volume ele faz um trabalho sobre o ambiente, de modo que o sinal na

fórmula é negativo:

∆W = –P∆V

Agora que já sabemos calcular o trabalho realizado pelo sistema em um deslocamento muito pequeno, vamos

discutir alguns processos possíveis:

Um processo isobárico se dá com a pressão mantida constante. Ou seja, neste processo (idealizado) o pistão se

desloca para a direita (na figura 3), o volume do gás aumenta (o volume interior dentro do cilindro) e a pressão do gás

continua constante. Vamos supor que o volume aumentou de VA para VB. Como a primeira lei vale durante o processo,
a relação ∆U = W + Q significa que o trabalho é necessariamente negativo (pois o pistão está realizando trabalho no

ambiente). Por exemplo, se o gás mantiver a mesma temperatura (e portanto a mesma energia interna), então a ener-

gia interna não muda durante o processo e o cilindro tem que absorver calor (uma quantidade positiva na expressão

da primeira lei) para contrabalançar o trabalho negativo.

Observe que o trabalho total é fácil de calcular, pois a pressão é constante. Assim, é só somar os volumes infi-

nitesimais até obtermos a variação total de volume de A até B:

W = –P(VB – VA)

que é negativo, como já antecipamos. Na figura 4 mostramos um diagrama onde a pressão do sistema está no eixo

vertical e o volume no eixo horizontal. O sistema sai da posição A e vai até a posição B. Ele varia o volume de VA para
VB mantendo sempre a mesma pressão, que é igual PA= PB. O trabalho realizado pelo sistema é o negativo da área

debaixo da curva entre A e B.

Figura 4: Diagrama PV para um processo isobárico. O sistema se movimenta do ponto A para o ponto B variando apenas o
volume. A pressão continua a mesma durante o processo e é igual em A e B.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 227


Agora vamos passar a um processo (também idealizado) executado com o gás sempre à mesma temperatura,

denominado processo isotérmico. Para isso, vamos supor que o cilindro esteja encostado em um corpo de grande

massa e com uma certa temperatura T. Esse corpo é chamado reservatório térmico. Ele não muda a temperatura

mesmo que o calor seja absorvido dele (ou depositado nele) pelo cilindro. Como o gás obedece à lei dos gases per-

feitos PV = nRT e a temperatura será mantida constante, o gás obedece à relação PV = constante. Assim, o gráfico de

P contra V será o de uma hipérbole, como mostrada na figura 5.

Figura 5: Diagrama PV de dois processos isotérmicos. Em cada uma das curvas, a temperatura é constante. O sistema sai de A
e vai para B numa temperatura mais alta do que a temperatura que o sistema sai de A’ para B’.

Como a temperatura se mantém constante enquanto o sistema evolui de A para B, a energia interna também

não se modifica, e a primeira lei tem a forma:

∆U = 0 = W + Q e portanto –W = Q. Essa equação quer dizer que a quantidade de trabalho realizada pelo siste-

ma no ambiente (que sabemos que é negativo, mas como tem um sinal de menos na expressão anterior ele se torna

positivo) é igual ao calor absorvido pelo sistema (que é positivo). Observe que neste caso o trabalho (que é a área

debaixo da curva entre A e B) não é tão simples de calcular, pois em cada momento a pressão varia (diferentemente

do caso anterior).

Outro processo importante é o adiabático, ou seja, sem troca de calor entre o sistema (o gás) e o ambiente.

Para isso, podemos supor que o cilindro esteja envolvido por isopor ou algo semelhante. Assim, na expressão da pri-

meira lei, Q=0, e portanto ∆U = W, ou seja, o trabalho realizado pelo sistema quando o êmbolo desliza para a direita

(que é negativo) é igual à variação da energia interna do gás e, portanto, a energia interna diminui. Isso significa que

o gás dentro do cilindro esfriou.

Na figura 6 vemos a representação de um processo adiabático comparado com um isotérmico. Como a área

embaixo da curva representa o trabalho realizado pelo sistema no processo (área com o sinal negativo), vemos que o

trabalho na expansão isotérmica é maior (em módulo) do que o trabalho na expansão adiabática.

228
Figura 6: O sistema evolui do estado A para o estado B por uma transformação isotérmica ou do estado A para o estado C
por uma transformação adiabática. Como a área embaixo da curva representa o trabalho realizado pelo sistema no proces-
so (área com o sinal negativo), vemos que o trabalho realizado no processo isotérmico é maior do que o trabalho realizado no
processo adiabático.

Outro processo possível é o isovolumétrico no qual o volume do gás não se altera (e portanto o trabalho é

nulo). Daí, pela primeira lei, o calor recebido vai integralmente para aumentar a energia interna (e portanto a tem-

peratura) do gás. O diagrama PV para esse processo seria uma reta vertical (mesmo volume sempre, mas a pressão

aumentando, pois o gás estaria sendo aquecido).

Figura 7: Processo isovolumétrico (volume constante). O sistema mantém o volume inicial e varia a pressão.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 229


O gás no cilindro do item anterior, inicialmente com volume V1 e pressão P1, expan-

de-se para o volume V2 e pressão P2 de duas formas, indicadas pelos caminhos ABC

(processo 1) e ADC (processo 2). Veja a figura a seguir.

O calor absorvido pelo gás durante o processo 1 é 9,5 kJ e o trabalho realizado pelo

sistema em expansão é de 4,4 kJ.

a. Se o trabalho realizado pelo sistema no processo 2 é de 1,3 kJ, quanto de calor o


sistema recebe (ou perde) em cada caso?

b. O sistema é comprimido de volta à sua pressão e a volumes originais no proces-


so CA no qual o trabalho realizado no sistema é de 2,5 kJ. Quanto de calor é

absorvido ou emitido?

230
Resumo

Iniciamos a aula com o conceito de calor, definido como energia absorvida ou emitida por diferença de tem-

peratura. Depois, enunciamos a primeira lei da termodinâmica: a variação da energia interna de um sistema é igual

ao calor trocado (positivo se absorvido) mais o trabalho realizado pelo sistema (positivo se realizado sobre o sistema).

O calor específico de uma substância informa quanto de calor por unidade de massa ela deve absorver para que sua

temperatura varie de um grau. O sistema pode mudar de estado emitindo ou absorvendo calor. E, finalmente, vimos

que o sistema pode evoluir por meio de processos adiabáticos, isovolumétricos, isotérmicos ou isobáricos.

Veja ainda...
A termodinâmica e a Revolução Industrial

O desenvolvimento da termodinâmica se deu de modo bem acoplado com o desenvolvimento da tecnologia

moderna de motores, ou seja, máquinas que realizam trabalho. Na realidade, a busca por dominar o fogo, principal

fonte de energia térmica, se funde com o próprio desenvolvimento da humanidade. O fogo fascinou e ao mesmo

tempo amedrontou os humanos por muito tempo, mas já no tempo da grande era glacial já se dominava o fogo como

uma fonte de calor útil.

Até o final do século dezoito, o fogo foi utilizado principalmente para aquecimento, cozimento, para derreter

metais e como uma fonte de luz.

A nova sociedade industrial no início do século dezoito necessitava cada vez mais de carvão. A água que se

infiltrava nas minas tinha que ser extraída e era necessária outra fonte de energia que não a força dos braços. Denis

Papin (1647) foi o primeiro a perceber a “potência motriz do vapor”: um tubo de metal contendo água era levado ao

fogo e o vapor dentro dele levantava um pistão que deslizava no tubo. Depois o tubo era resfriado, o vapor condensa-

va e o vácuo que se formava dentro do tubo puxava o pistão para dentro do tubo de novo e assim um peso de cerca

de 30 quilos poderia ser levantado. As primeiras bombas de vácuo foram criadas por Thomas Savery (1698) e por

Newcomen (1705). Posteriormente, James Watt (1736) produziu uma bomba mais eficiente e ficou rico cobrando dos

mineradores uma fração do carvão adicional extraído graças às novas bombas.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 231


Figura 8: Máquina a vapor cirada por James Watt.

Em 1807, Fulton transformou a bomba na primeira máquina a vapor. As máquinas mudaram a natureza da

sociedade humana, transformando-as em sociedades industriais. Do ponto da vista da física, é interessante perceber

que a teoria da termodinâmica se consolidou muito depois que suas aplicações já eram um sucesso.

Figura 9: James Watt.

232
Referência

ƒƒ HEWITT, Paul G. Física conceitual. Porto Alegre: Bookman, 2000.

ƒƒ CASSIDY, David; HOLTON, Gerald; RUTHERFORD, James. Understanding physics. Springer, 2002.

ƒƒ GIANCOLI, D. C. Physics: Principles with applications. 6ª ed., Prentice Hall, 2005.

ƒƒ MULLER, I. A history of thermodynamics: the doctrine of energy and entropy. Springer, 2007.

ƒƒ ATKINS, P. The laws of thermodynamics: a very short introduction, Oxford University Press, 2010.

Imagens

• http://www.sxc.hu/photo/1268244

• http://www.sxc.hu/photo/1344508

• http://www.sxc.hu/photo/946782

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:SS-joule.jpg

• http://www.sxc.hu/photo/732685

• http://www.sxc.hu/photo/477592

• http://www.sxc.hu/photo/1145165

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Maquina_vapor_Watt_ETSIIM.jpg

• http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Hw-watt.jpg

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 233


Atividade 1

∆U = –200 + 150 = –50J. Para o sistema realizar trabalho, implica que o trabalho é

negativo (pois o sistema está perdendo energia) e ao mesmo tempo o calor transferido

para o sistema (calor absorvido é positivo) tende a aumentar a energia interna.

Atividade 2

A quantidade de energia em joules é:

E = 2000 x 4186 = 8.37 x 106 J

Lembre que ao levantar uma massa m à altura h o trabalho realizado é

W = mgh = 100 x 9.8 x 1 = 980J

e para “gastar” essa refeição devemos realizar um trabalho total que é levantar n

vezes a massa. O trabalho total deve ser igual à energia ingerida na forma de alimento:
E 8.37 x10 6
E = Wtot = nW e portanto, n = = = 8540 vezes!
W 980
ou seja, não é fácil gastar 2000 calorias!

Atividade 3

Pelo enunciado do problema, todo o calor perdido pelo café aquecerá a xícara e

ambos atingirão a mesma temperatura. A temperatura final do café será menor do que a

temperatura inicial, mas com a xícara acontecerá exatamente o contrário: sua temperatura

final será maior do que a inicial. Assim, as trocas de calor serão dadas por:

Qc = Qx

mc (95 – T)Cc = mx (T – 20)Cx

isolando T:

mxTcx + mxTcx = mx 20cx + mx 95cx


mx 20c x + mc 95c c
T=
mx c x + mc c c

234
Como a densidade da água (e do café) é de um quilograma por litro, 100 cm3 corres-

pondem a 100 g = 0.1 kg. Assim:


0.15 x 20 x 850 + 0.2 x 95 x 4186
T=
0.15 x 850 + 0.2 x 4186
ou seja, T = 85.1 °C.

Atividade 4

Quando se transforma em gás, ele absorve energia. Quando se transforma em líqui-

do, libera energia.

Atividade 5

a. A) Da primeira lei, podemos encontrar o valor de no processo 2, pois temos o

valor do trabalho e do calor. Assim,

ABC ∆U = –4,4+9,5 = 5,1J

Porém, tanto o caminho A BC quanto o caminho A DC têm a mesma va-

riação de energia interna, pois P e V (e portanto T) são os mesmos no início e no fim para os

dois caminhos, e U só depende da temperatura. Assim,

ADC Q = 5.1 + 1.3 = 6.4J

b. CA Como o sistema vai de C para A, a variação de energia interna é a mesma

do item anterior, só que com o sinal oposto. Assim, ∆U = –5.1J e da segunda lei:

Q = -5.1 -2.5 = -7.6 kJ.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 235


O que perguntam por aí?

Atividade 1 (Enem 2010)

Gabarito: Letra A.

Comentário: Calor e temperatura se referem a conceitos bem distintos em termodinâmica e normalmente

diferem do significado usual do dia a dia. Por exemplo, na frase “O calor de um dia de verão” faz um mau uso da pala-

vra “calor”, pois na realidade deveria ser “A temperatura de um dia de verão”. Se na questão “temperatura” for pensada

(incorretamente) como “a quantidade de calor de um corpo”, então não deveria ficar constante, pois supostamente a

água está absorvendo calor enquanto ferve.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 237


CADERNO DE ESTUDOS

EJA - ENSINO MÉDIO


MATERIAL DE APOIO
MENSAGEM AO ALUNO EaD
Olá aluno(a)! Esse material foi especialmente elaborado para você.
Leia com atenção e procure complementar seus estudos com os demais recursos
do ambiente de ensino a distância. Conte com seus professores e tutores para ajudar.

www.visaoedu.com.br
Entropia e a
segunda lei da
termodinâmica
Para início de conversa...

Alguns acontecimentos na natureza ocorrem apenas em uma única

direção. No início do jogo de bilhar, por exemplo, a bola branca bate nas outras

e elas se espalham na mesa. Não se observa um ajuntamento como o original no

decorrer do jogo. Tal observação pode parecer óbvia, no entanto incorpora um

dos conceitos mais profundos e importantes da Física, o de entropia.

Figura 1: Quando jogamos bilhar, tiramos as bolas de uma posição


inicial que não pode ser reconstituída naturalmente, durante o jogo,
ou seja, as bolas não voltam a sua posição inicial sozinhas, mas sim
quando arrumadas pelo jogador.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 239


Há uma profunda assimetria em alguns processos da natureza: energia térmica na forma de calor só se propaga

do corpo mais quente para o mais frio, uma bola, quicando no solo rapidamente, chega ao repouso, mas nunca se viu

uma bola de repente começar a quicar do nada. Embora nos processos inversos a energia também se conserve, eles

nunca acontecem. Por quê? Essa é a questão central desta aula.

Objetivos de Aprendizagem
ƒƒ Enunciar a segunda lei da termodinâmica;

ƒƒ Conceituar entropia;

ƒƒ Aplicar a segunda lei da termodinâmica a experimentos simples;

ƒƒ Compreender o funcionamento de máquinas térmicas, como geladeira e ar condicionado.

240
Seção 1
A conservação de energia não explica tudo

Na aula passada, estudamos a primeira lei da termodinâmica, que é basicamente uma reafirmação do conceito
de conservação de energia mecânica na presença de fenômenos térmicos.

Vimos também que a energia interna de um corpo, de um cilindro, contendo gás, por exemplo, pode aumentar
quando se realiza um trabalho sobre o corpo (comprimindo-se o gás) ou por meio da troca de calor. Lembremos que o
calor foi definido como o mecanismo pelo qual energia é transferida de um corpo a outro por causa de uma diferença de
temperatura entre eles. Também muitas vezes chamamos calor à quantidade de energia transferida por esse mecanismo.

Voltando à primeira lei, vemos que para um dado processo acontecer não é suficiente que a energia seja
conservada. Por exemplo, quando um corpo é colocado em contato com outro corpo que possui temperatura mais
elevada, o calor flui do corpo mais quente para o mais frio. Dizemos que esse é um processo irreversível, ou seja,
ocorre naturalmente apenas em uma direção. Nunca se observou o calor fluindo do corpo mais frio para o mais
quente, embora a energia total pudesse ser conservada num processo desse tipo.

Apesar dessa direção privilegiada para os processos que ocorrem usualmente na natureza, podemos pensar
numa classe de processos idealizados que seriam reversíveis. Um sistema que realiza um processo reversível está
sempre perto do equilíbrio termodinâmico com o ambiente. Qualquer mudança sempre acontece a partir de
mudanças infinitesimais nas condições do sistema. Um exemplo que utilizaremos no futuro é a reversão do fluxo de
calor entre dois corpos cujas temperaturas sejam muito próximas ajustando de modo infinitesimal uma temperatura
ou outra (veja figura 2). De forma geral, um processo cíclico reversível é um processo que se repete (cíclico) no qual
não há atrito mecânico interno, as forças mecânicas opostas diferem de forma infinitesimal em magnitude e qualquer
troca de calor ocorre com diferença de temperatura desprezível entre o sistema e o ambiente.

Infinitesimal
é uma expressão utilizada para se referir a alguma coisa muito pequena, porém maior do que zero.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 241


Figura 2: Exemplo de processo irreversível (acima) e processo reversível (abaixo). Estamos supondo
que os recipientes de metal estão isolados termicamente (por exemplo, estão contidos em caixas
de isopor) de modo que as trocas de calor sejam só entre o recipiente e o gelo e/ou água.

Do ponto de vista das aplicações práticas, veremos que não é possível fabricarmos um motor que seja 100%

eficiente (nem perto disso), mesmo que tenhamos a melhor tecnologia do universo.

Do ponto de vista das propriedades fundamentais da Natureza, temos que explicar porque as leis básicas da

física (por exemplo, a Mecânica Clássica) são reversíveis (ou seja, na mecânica, se eu filmar um choque de duas bolas

de bilhar e passar depois o filme de trás para frente, o processo ao contrário parece - e é - um processo permitido e

usual da mecânica). De modo mais geral, os processos microscópicos fundamentais de toda a física são reversíveis.

No entanto sabemos que muitos processos só acontecem numa única direção como a troca de calor exemplificada

acima, o envelhecimento dos seres vivos e até o próprio passar do tempo, ou seja, a distinção entre passado e futuro.

A resposta a todas as questões acima é dada pela Segunda Lei da Termodinâmica.

Existem algumas formulações sobre a segunda lei (e todas são equivalentes). Uma delas foi enunciada por

Rudolf Clausius (1822-1888) da seguinte forma: Calor pode fluir espontaneamente de um corpo quente para um

corpo frio, mas o calor não flui espontaneamente de um corpo frio a um corpo quente.

Já a formulação de William Thompson (1824-1907), mais conhecido como Lorde Kelvin, é a seguinte:

Não é possível um processo cíclico no qual calor é retirado de uma fonte quente e convertido inteiramente em trabalho.

Veremos as implicações da segunda lei a seguir.

242
Voltando atrás

Dentre os quatro processos a seguir quais deles podem ser considerados como

reversíveis?

a. Choque elástico de duas bolas de bilhar;

b. Choque inelástico de duas bolinhas feitas de massa de modelar;

c. Expansão adiabática de um gás num cilindro com êmbolo no qual a pressão ex-

terna é sempre mantida muito próxima da pressão interna.

d. Expansão livre de um gás.

O filme do Woody Allen “Tudo pode dar certo” apresenta um cientista que se apaixona por uma moça
mais jovem. No filme, alguns conceitos científicos são utilizados de forma qualitativa e muitas vezes
divertida. Por exemplo, quando um personagem explica o que é entropia: “Entropia é como uma pasta
de dente, depois de expelida a pasta nunca mais voltará para sua embalagem.” Veja o filme!

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 243


Seção 2
Máquinas térmicas e eficiência

Uma máquina térmica converte energia interna

em energia mecânica. Um carro é um exemplo comum

de máquina térmica.

A ideia básica por trás de uma máquina térmica é

a obtenção de energia mecânica, quando o calor flui de

uma temperatura mais alta para uma temperatura mais

baixa, como esquematizado na Figura 3.

Figura 3: Diagrama de um motor. Calor QA é extraído do


reservatório térmico à temperatura alta. Uma fração dele é
convertida em trabalho W e o resto é depositado no reserva-
tório térmico a baixa temperatura.

Os motores reais (de uma locomotiva a vapor ou de um carro, por exemplo) operam de forma cíclica, ou seja,

estão sempre retornando ao seu estado termodinâmico inicial e executando o ciclo de novo. Portanto, voltam-se ao

seu estado termodinâmico inicial, podemos afirmar que a energia interna durante o ciclo não varia e; portanto, num

ciclo (da primeira lei, veja unidade anterior):

244
∆U = ∆Q + W = 0

ou seja
QA = W + Q B

onde estamos utilizando uma convenção de sinais onde QA, QB e W são sempre positivos.

Num sistema real, por exemplo numa máquina a vapor, a chama e os gases quentes na caldeira são o reservatório

a alta temperatura e a água fria e o ar utilizado para condensar e esfriar o vapor compõem o reservatório frio.

Idealmente, gostaríamos da máquina mais eficiente possível, ou seja, que todo o calor extraído do reservatório

quente fosse transformado em trabalho e nenhum calor fosse desperdiçado no reservatório frio.

Define-se a eficiência de uma máquina térmica como sendo a razão entre o trabalho realizado e a quantidade

de calor fornecido, da seguinte forma:


W
e=
QA

Se a máquina fosse perfeita, ou seja, 100% eficiente, teríamos que e = 1 (todo o calor fornecido seria utilizado

para se realizar o trabalho). No entanto, tal eficiência não é possível, nem mesmo com a melhor das tecnologias.

Pela conservação da energia explicitada pela fórmula anterior, temos que W = QA − QB e, sendo assim:

W QA − QB QA QB Q
e= = = − = 1− B
QA QA QA QA QA

Portanto:

QB
e = 1−
QA

demonstrado pelo engenheiro Sadi Carnot (1796-1832).

Aqui nos interessa especialmente uma máquina reversível. Esta máquina não tem atrito, ou seja, ela não

desperdiça energia nem se aquece, quando está operando. Claro que esta máquina é ideal, uma abstração. Mas ela é

útil para estabelecer o mais alto rendimento possível de uma máquina. Ela é denominada máquina de Carnot.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 245


Clausius também mostrou que para uma máquina reversível pode-se escrever a equação anterior como

TB
e = 1−
TA

onde a temperatura é a chamada temperatura absoluta e medida em graus Kelvin.

A eficiência acima é a melhor eficiência possível de uma máquina térmica, seu limite teórico.

Outra propriedade da máquina térmica reversível é que ela pode ser operada ao contrário. Um motor operando

ao contrário é denominado um refrigerador. Se uma quantidade de trabalho W for realizada na máquina, então QB

pode ser extraído do reservatório à temperatura mais baixa e depositado no reservatório à temperatura mais alta, de

modo que a relação

QA = W + Q B

continua valendo. Para um refrigerador, a Figura 3 continua valendo, apenas agora todas as flechas (que

simbolizam os fluxos de calor e trabalho) são invertidas. Mais à frente, vamos descrever com detalhes o funcionamento

de um refrigerador real, um aparelho de ar condicionado.

Figura 4: Diagrama de um refrigerador. Calor QB é ex-


traído do reservatório térmico à temperatura baixa. Ele
e o trabalho W são depositado no reservatório térmico
a alta temperatura.

246
Eficiência de um automóvel

Suponha que o motor de um automóvel tenha eficiência de 20% e que produza

em média 15000J de trabalho mecânico por segundo, quando está em operação. Calcule

quanto calor tem de ser fornecido ao motor por segundo e quanto calor é desperdiçado.

Observe que aqui a “fonte quente” é o combustível do motor, queimando nas válvulas, e a

fonte fria é o ar externo ao motor.

Seção 3
Entropia e a segunda lei

Vamos agora discutir o conceito de entropia. De forma bem qualitativa, vamos identificar entropia como

desordem. Se compararmos a matéria e a energia num gás com a matéria e a energia num cristal, vemos que a

entropia é alta num gás e baixa num cristal: o gás é mais desordenado.

A entropia vai quantificar a “qualidade” da energia disponível. Energia sob uma forma ordenada e energia

térmica não são iguais. Pode-se facilmente converter energia ordenada em energia térmica, mas o contrário é bem

mais complicado. Por exemplo, se queimarmos um tronco de madeira, convertemos a energia química de ligação

das moléculas em energia térmica das moléculas, mas é claro que recriar o tronco a partir da energia térmica das

moléculas é impossível, embora esteja de acordo com a lei de conservação da energia.

Dessas observações pode-se afirmar que a entropia de um sistema isolado jamais decresce. Usualmente, a

entropia é representada pela letra S.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 247


A definição matemática de entropia é a seguinte:

∆Q
∆S =
T

ou seja, a variação da entropia num certo processo é dada pela quantidade de calor fornecida de modo irreversível

divido pela temperatura (em graus K).

Se imaginarmos uma biblioteca bem silenciosa, ela pode representar um sistema de baixa temperatura com
pouco movimento térmico desordenado. Em oposição, uma rua cheia de carros barulhentos vai representar um
sistema de alta temperatura, com muito movimento térmico desordenado. Se pensarmos num espirro como sendo
uma transferência de energia na forma de calor, vemos que a ação do espirro na biblioteca é muito maior no sentido
de aumentar a desordem do que a ação do espirro na rua barulhenta. Observe que essa conclusão está de acordo com
a fórmula acima: a mesma quantidade de calor trocada produz mais entropia onde a temperatura é menor.

Agora vamos pensar num outro exemplo. Suponha que você queira resfriar sua casa (que está na temperatura
TA), usando um lago cuja água está fria na temperatura TB ). Bombeando a água do lago para um recipiente na sua casa
– por exemplo, a banheira - ela seria aquecida e retornada ao lago. Assim você estaria transferindo calor para o lago. E
como fica o balanço de entropia? A entropia da sua casa diminui, pois o calor está saindo dela a uma temperatura mais
alta (na fórmula anterior, o calor é negativo quando sai e portanto a variação de entropia também). Mas a variação de
entropia do lago é positiva, pois o mesmo calor que saiu da casa é transferido para o lago que está a uma temperatura
menor e, portanto, a sua variação de entropia será maior (mesmo numerador e denominador menor):

−∆Q e ∆Q .
∆Scasa = ∆Slago =
TA TB
Aqui ilustramos um aspecto importante da entropia: ela pode diminuir num determinado sistema (aqui, a

casa), mas tem de aumentar no universo como um todo (aqui, casa e lago).
∆Suniverso = ∆Scasa + ∆Slago ≥ 0

Observe que calor é trocado (quanto de calor a casa perde o lago ganha) e estamos supondo que nenhum

calor é trocado com o ar (estamos simplificando bastante o problema). Como o calor é o mesmo e as temperaturas

são diferentes, a entropia sempre cresce, pois o calor sempre flui de um lugar (ou um corpo) com temperatura maior

para outro de temperatura menor. Sendo o calor o mesmo, a entropia sempre cresce!

Assim, uma outra forma de enunciar a segunda lei da termodinâmica é a seguinte:

Nenhum processo é possível no qual a entropia do universo decresça quando todos os sistemas que
participam do processo são levados em conta.

248
Cálculo da entropia

Calcule a variação de entropia num processo simples. Suponha que um quilograma de

gelo a 0o C seja derretido e convertido em água a 0o C também. Calcule a variação em entropia,

supondo que o processo seja reversível. O calor de fusão da água é Lf = 3.34 x 105 J/kg.

Seção 4
Um exemplo de máquina térmica: o aparelho
de ar condicionado

Figura 5: Esquema de um aparelho de ar condicionado. Ele é projetado para transferir calor de uma região
mais fria para outra mais quente.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 249


Vamos discutir em detalhe o funcionamento de uma máquina térmica, um aparelho de ar condicionado. Esse

aparelho transfere calor de um corpo frio (seu quarto) para um corpo quente (o exterior da casa). Se lembrarmos o

exemplo do lago, aqui parece que ocorre algo estranho. O calor sai de um corpo a temperatura mais baixa (ou seja,

grande entropia) e é transferido para um corpo a temperatura mais alta (baixa entropia). Lembre que a temperatura

está no denominador e o calor é o mesmo nos dois ambientes. Neste caso, parece que a entropia do universo diminuiu!

Mas isso não possível. Na realidade, temos de contar o aumento de entropia devido ao consumo de energia pelo ar

condicionado (na Figura 4, o trabalho que é realizado no refrigerador pelo compressor, como veremos em seguida).

Conforme a Figura 5, o aparelho de ar condicionado possui três componentes fundamentais: o evaporador,

o condensador e o compressor. O condensador fica na parte de fora do quarto (ou ambiente que se deseja esfriar),

assim como o compressor, já o evaporador fica no interior do recinto que será resfriado.

Na serpentina, mostrada na figura, corre um fluido (denominado fluido de trabalho) que se liquefaz no

condensador e se evapora no evaporador e nesse processo absorve calor no interior do quarto (no evaporador) e o

transfere para fora (no condensador). Como discutido anteriormente, a transferência de calor de um corpo mais frio

(o quarto) para um mais quente (o exterior do quarto) só é possível porque o compressor fornece a energia necessária

para que o balanço de entropia seja o correto.

O evaporador é basicamente um longo cano de metal (bom condutor de calor e parecido com uma serpentina)

por onde circula o fluido de trabalho. Sempre que esse fluido estiver mais frio que o ambiente (dentro do quarto) ele

vai absorver calor (conforme a Figura 5).

Durante o processo de funcionamento do ar condicionado, o fluido sai do condensador como um líquido a alta

pressão e temperatura próxima à temperatura do exterior do quarto. Ao passar por um estreitamento do cano que
impede o fluxo do fluido, sua pressão cai muito (depois do estreitamento). Essa queda brusca de pressão, ocasionada

pela passagem no estreitamento, faz com que o líquido se evapore ao entrar no evaporador.

Ao evaporar dentro do cano o fluido fica bem mais frio, pois para que as moléculas do líquido se separem ele

necessita absorver energia térmica. Esse gás frio esfria o evaporador e o calor do interior do quarto é absorvido por

ele. O fluido de trabalho sai do evaporador na forma de um gás a baixa pressão e se encaminha pelo cano para o

compressor (na Figura 5, a parte de cima da serpentina).

O compressor então recebe esse fluido como um gás a baixa pressão e o comprime de modo que sua densidade
fique muito maior. A compressão requer que haja trabalho e é nesse momento que o ar condicionado aumenta a sua
conta de eletricidade. No processo de compressão o gás aumenta muito a sua temperatura. Ele a seguir vai para o
condensador, que nada mais é do que um longo cano de metal na forma de serpentina (algo como o que se vê atrás
da geladeira). Aqui o calor do fluido de trabalho é transferido para o meio ambiente, fora do quarto. O condensador
está na temperatura ambiente e o fluido de trabalho se condensa de novo e volta a ser líquido. Quando o fluido de

trabalho sai do condensador ele está na forma de um líquido frio a alta pressão.

250
Ar condicionado e o enunciado da segunda lei

Um aparelho de ar condicionado viola a segunda lei como enunciada por Clausius?

A seta do tempo
Um aspecto muito interessante da segunda lei da termo-
dinâmica é que ela especifica em que direção o tempo flui.
Imagine que você esteja assistindo a um filme no qual to-
dos os pedaços de um vaso que caiu no chão se juntam para
formar o vaso de novo. Imediatamente, você percebe que o
filme está rodando ao contrário. Este seria um processo típi-
co no qual a segunda lei seria violada, ou seja, a entropia do
universo diminuiria. Muitos outros processos semelhantes
poderiam ser mencionados. Eles são impossíveis (ou melhor,
dizendo incrivelmente improváveis) no universo. É por isso que se diz que a segunda lei da termodi-
nâmica fornece a “seta do tempo”. Todos os processos que acontecem fazem com que a entropia do
universo aumente.

Resumo

Vimos as várias formulações da segunda lei. Definimos o conceito de entropia, que de forma bem qualitativa

pode ser relacionado ao grau de desordem de um sistema. A entropia sempre cresce (ou na melhor das hipóteses

fica constante) no universo. Um exemplo de máquina térmica estudado foi o um aparelho de ar condicionado que

transfere calor de um ambiente frio para um ambiente quente.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 251


Veja Ainda

O choro da energia abandonada

A primeira lei da termodinâmica expressa algo que aprendemos ainda no Ensino Fundamental: energia

conserva-se. Eis um pequeno enunciado com grandes implicações sociais, econômicas e... biológicas.

A revolução industrial precisava converter calor (energia) em trabalho das máquinas para mover pistões, fábricas

e trens. O engenheiro e físico francês Sadi Carnot (1796-1832) mostrou a ineficiência intrínseca dessa conversão: um

motor transforma calor em trabalho, mas uma fração da energia é sempre perdida nessa transformação. Ou seja, é

impossível construir uma máquina 100% eficiente.

Figura 6: Sadi Carnot

Essa impossibilidade é consequência da segunda lei da termodinâmica – cujas implicações são ainda mais

impactantes que as da primeira: corpos quentes esfriam-se, mas corpos frios não se esquentam espontaneamente;

uma gota de tinta que cai na água se espalha e jamais se reagrupa. Essa assimetria da natureza tem implicação funesta

para os seres vivos: o tempo corre sempre para frente.

Funesto
lamentável, infeliz, cruel, aterrador.

252
A segunda lei pode ser enunciada em termos de entropia, fenômeno que pode ser entendido como o grau

de desorganização de um sistema: os estados de entropia alta de um sistema (perda de calor e tinta espalhada, em

nossos exemplos) são mais prováveis que os de entropia baixa (corpo se aquecendo e tinta reagrupada).

Lição da segunda lei: a entropia sempre cresce no universo.

Mas, em partes do universo (ou de outro sistema qualquer), a entropia pode diminuir. Vejamos: o Sol é uma

fonte quente em um fundo frio e isso torna possível o uso de sua energia. A luz solar, em temperatura alta (entropia

mais baixa), é absorvida pelas plantas, que fazem fotossíntese e baixam sua entropia. A energia é, depois, irradiada de

volta ao espaço, em temperatura mais baixa (maior entropia).

Assim, a Terra basicamente não absorve energia do Sol, mas sim a usa para baixar sua entropia: comemos

as plantas – ou animais que as comem – e respiramos o oxigênio que elas produzem e, com isso, baixamos nossa

entropia. Em outras palavras, mantemo-nos organizados.

A segunda lei, desde o meio do Século XIX, perturba cientistas, filósofos e inspira visões pessimistas sobre

o futuro: o universo, em média, se dissipa, se desorganiza, inexoravelmente. “O fim do mundo para completar uma

evolução inevitável: esse é o Crepúsculo dos Deuses. A doutrina da entropia é a versão última não religiosa do mito”,

escreveu o historiador e filósofo alemão Oswald Spengler (1880-1936), em O declínio do Ocidente, no qual devota

um capítulo à entropia.

Hoje, a segunda lei é um dos pilares da física e um conceito fundamental para químicos, engenheiros e

bioquímicos, entre outros.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 253


O poeta brasileiro Augusto dos Anjos (1884-1914), em trecho de “O lamento das coisas”, traz sua versão da

segunda lei: “Ouço, em sons subterrâneos, do Orbe oriundos / O choro da Energia abandonada! / É a dor da Força

desaproveitada / – O cantochão dos dínamos profundos, / Que, podendo mover milhões de mundos, / Jazem ainda

na estática do Nada!”

Adaptado de texto do autor publicado originalmente na revista Ciência Hoje, 294, Julho de 2012.

Referências

ƒƒ Hewitt, Paul G. Física Conceitual. Bookman, Porto Alegra, 2000.

ƒƒ Cassidy, David; Holton, Gerald; Rutherford, James. Understanding Physics. Springer, 2002.

ƒƒ Giancoli, D. C. Physics, Principles with Applications. 6a. Edição, Prentice Hall, 2005.

ƒƒ Atkins, P. The Laws of Thermodynamics - A very short introduction., Oxford University Press, 2010.

Imagens

• André Guimarães

• http://www.sxc.hu/photo/456134.

• http://www.sxc.hu/photo/1344508

• http://www.sxc.hu/photo/32647

• http://www.sxc.hu/photo/1396991

• http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sadi_Carnot.jpg

• http://www.sxc.hu/photo/517386 • David Hartman.

254
Atividade 1

A) Um choque elástico é reversível, foi o exemplo das bolas de bilhar citado no texto.

B) Um choque inelástico não é reversível, pois um tanto da energia cinética das bolinhas

foi utilizada para aquecer e deformar a massa de moldar. Um filme da colisão passado

ao contrário mostraria duas bolas grudadas que se separariam de forma espontânea,

claramente algo que não acontece. C) O processo é reversível pois a força causada pelo

gás no interior do pistão é balanceada pela força externa (as pressões são quase iguais).

Assim, o gás se expande lentamente, sem trocar calor com o ambiente externo, e pode ser

comprimido de volta da mesma forma. D) A expansão livre de um gás não é um processo

reversível, pois não é um processo onde haja transformações infinitesimais.

Atividade 2

Da expressão

W
e=
QA

podemos calcular QA, pois temos W = 15000 J e e= 0,2. Assim QA = 75000 J por

segundo.

Sabemos também que QA – QB = W , portanto QB = 60000 J por segundo.

Atividade 3

Temos que calcular o calor absorvido pelo gelo. Da aula anterior, temos que , ou

seja, como m=1 kg, . Daí, como .

Observe que a temperatura absoluta deve ser sempre utilizada nos cálculos de

entropia. A temperatura na qual o gelo derrete (0o C) é 273 K.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 255


Atividade 4

Clausius enunciou a segunda lei com a afirmação de que o calor não flui

espontaneamente de um corpo frio para o um corpo quente. Num aparelho de ar

condicionado o compressor (que é um pequeno motor) força essa transferência, que não

é espontânea.

256
O que perguntam por aí?

Atividade 1 (Enem 2011)

Resposta: Item C

Comentário da resposta: Como vimos, não é possível ser construída uma máquina perfeita, cuja eficiência seja

de 100%. A conversão total de calor em trabalho é até possível mas não numa máquina que opera ciclicamente. A

máquina sempre vai desperdiçar QB.

Ciências da Natureza e suas Tecnologias · Física 257

Você também pode gostar