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Filosofia 11º Ano

O documentário "Particle Fever" traz à vida o bosão de Higgs


O documentário é relato fascinante e bem informado sobre a maior experiência
científica do planeta, mas é também um drama real sobre a compreensão do universo.

Mark Levinson - Por sorte havia muito drama natural. Não


tivemos de inventá-lo, só de reconhecê-lo e captá-lo à
medida que se desenrolava.

Observer - Você está a referir-se a 2008, quando o LHC


foi fechado por mais de um ano devido a um problema
com os ímanes?

Mark Levinson - O acidente aconteceu cerca de 10 dias


depois de ter começado a filmar. A minha reação imediata
foi pensar que seria o fim do meu filme. Mas percebi que
era provável que o acelerador viesse a ser reativado, e
Um novo documentário, "Particle Fever", consegue o que o acontecido servisse para conferir dramatismo ao
quase impossível: torna compreensível – e empolgante – filme. Havia muita pressão por causa do acidente, e por
o funcionamento do acelerador de partículas LHC (Large isso a reativação do LHC foi ainda mais tensa, bem como
Hadron Collider), até mesmo para os espectadores com a o resultado, que nos deixou em suspenso sobre o que iria
maior aversão à ciência. Mark Levinson, o realizador do acontecer a seguir.
filme, visitou o CERN, o centro de pesquisa na fronteira
entre a França e a Suíça que abriga o LHC, pela primeira Observer - No cerne do filme está o estranho elo entre a
vez em 2007, e voltou diversas vezes até julho de 2012, física teórica e a física experimental. Você pode explicar-
quando a equipa de físicos de elite concluiu as suas duas nos o que está em causa nessa distinção?
décadas de buscas para encontrar o bosão de Higgs.
"Particle Fever" acompanha meia dúzia de personagens – Mark Levinson - O estereótipo dominante é o do físico
entre os mais de 10 mil cientistas, de mais de 100 países teórico solitário, trabalhando sozinho numa sala, como
– que trabalham na maior e mais cara experiência Einstein, e ocasionalmente caminhando até ao quadro
científica do planeta. O filme mostra-os teorizando, negro. Eles são a elite, em certo sentido, muito
discutindo, jogando ténis de mesa. matemáticos e abstratos. Mas precisam de pessoas que
concebam experiências com base nas suas teorias e lhes
Observer - Você disse que não acha que "Particle Fever" forneçam dados que os apontem na direção correta. O
seja um documentário científico. O que é o filme, então? conflito muitas vezes surge devido às escalas de tempo
distintas entre os dois ramos. Um físico teórico pode
Mark Levinson - Creio que seja sobre a busca do homem acordar de manhã e de repente apagar uma equação,
pela compreensão do universo. Eu queria fazer um filme reescrevendo-a em seguida. Já o físico experimental,
atraente para pessoas que podem pensar que nem estão enquanto isso, passou 10 anos a construir uma máquina
interessadas em ciência, mas que conseguem envolver- para provar aquela teoria.
se nessa busca humana absolutamente maravilhosa. Tim Lewis, Observer.
Pode ser difícil justificar o LHC em termos de despesa – http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/
mas, ainda que ele talvez não seja necessário para a 2014/04/1441238-filme-particle-fever-traz-a-vida-o-boson-
nossa sobrevivência, é algo que está ligado ao que nos de-higgs.shtml
torna humanos e importantes.

Observer - Quando você começou a filmar, imaginava O Conhecimento Científico


que os cientistas do CERN encontrariam a partícula de
Higgs? Os Gregos, na antiguidade, buscavam através do
uso da razão, a superação do mito ou do saber
Não. Eu definitivamente acreditava que a partícula de comum. O avanço na produção do conhecimento,
Higgs, ou algo parecido, existia. conseguido por esses pensadores, foi estabelecer a
Mas que eles a encontrassem quando estávamos a
filmar? Nunca imaginei. Quase todos os físicos haviam
ciência como pensamento sistematizado (filosofia,
dito que encontrar o bosão de Higgs seria tão difícil que física, matemática...), o que perdurou até ao início
provavelmente seria necessário recolher dados durante da Idade Moderna. A partir daí, as relações dos
anos. Na verdade, todos achavam que, se encontrassem homens tornaram-se mais complexas bem como
alguma coisa, provavelmente seria uma nova partícula, toda a forma de garantir a sua sobrevivência.
mas não a de Higgs. Gradativamente, houve um avanço técnico e
científico, como a utilização da pólvora, a invenção
Observer - A Física parece envolver muito tempo de da imprensa, a Astronomia de Galileu, a Física de
contemplação de números numa Newton, etc.
tela de computador. Como tornar essa situação
dramática?
Foi no início do século XVII, quando o mundo
europeu passava por profundas transformações,
que o homem se tornou no centro da natureza
(antropocentrismo). Acompanhando o movimento
histórico, ele mudou toda a estrutura do http://www.geocities.com/joaojosefonseca/
pensamento e rompeu com as concepções de esquerdo.htm?200615(15/08/2006)
Aristóteles, ainda vigentes e defendidas pela Igreja, _______________________________________
segundo as quais tudo era hierarquizado e imóvel,
desde as instituições políticas até ao planeta Terra.
Quem é Higgs:
O homem passou, então, a ver a natureza como
objeto da sua ação e do seu conhecimento, https://pt.wikipedia.org/wiki/Peter_Higgs
podendo interferir nela. Portanto, podia formular
hipóteses e experimentá-las para verificar a sua
veracidade, superando assim as explicações O que é o Bosão de Higgs
metafísicas e teológicas que até então
https://pt.wikipedia.org/wiki/B
predominavam. O mundo imóvel foi substituído por %C3%B3son_de_Higgs
um universo aberto e infinito, ligado a uma unidade
de leis. Era o nascimento da ciência enquanto um
Mais experiências sobre o Bosão:
objecto específico de investigação, com um método
próprio para o controlo da produção do https://www.publico.pt/2018/08/28/ciencia/
conhecimento. Assim sendo, ciência e filosofia n oticia/bosao-de-higgs-visto-finalmente-a-
separam-se. desintegrarse-1842316
O conhecimento científico transformou-se numa
prática constante, procurando afastar crenças
supersticiosas e a ignorância, através de métodos
rigorosos, para produzir um conhecimento https://www.publico.pt/2014/06/25/ciencia/
sistemático, preciso (rigoroso) e objetivo que n oticia/o-bosao-de-higgs-que-nao-tem-nada-
a-ver-com-deus-e-uma-particula-muito-
consiga prever os acontecimentos e agir de forma importante-1660326
mais segura.
Sendo assim, o que diferencia o senso comum do
conhecimento científico é o rigor. Enquanto o senso
comum é acrítico, fragmentado, preso a
preconceitos e a tradições conservadoras, a ciência Seis tópicos fundamentais
preocupa-se com as pesquisas sistemáticas que sobre filosofia da ciência:
produzam teorias que revelem a verdade sobre a
realidade, uma vez que a ciência produz o https://
conhecimento a partir da razão aliada à experiência. m undoeducacao.bol.u
Desta forma, o cientista, para realizar uma pesquisa o l.com.br/filosofia/
seis-topicos- fundamentais-sobre-
e torná-la científica, deve seguir determinados filosofia-ciencia.htm
passos. Em primeiro lugar, o pesquisador deve
estar motivado a resolver uma determinada
situação-problema. Normalmente a colocação de
um problema é seguida pela formulação de algumas
hipóteses.
Usando a sua criatividade, o pesquisador deve
observar os factos, colher dados e, então, testar as
suas hipóteses, que poderão transformar-se em
teorias e, posteriormente, ser incorporadas nas leis
que possam explicar e prever os fenómenos.
Porém, é fundamental registar que a ciência não é
somente acumulação de verdades prontas e
acabadas, mas devemos vê-la como um campo
sempre aberto às novas concepções e contestações
sem perder de vista os dados, o rigor e a coerência
e aceitando que o que prova que uma teoria é
científica é o facto de ela ser falível e aceitar ser
refutada.
O termo ciência vem do latim, scientia, de sciens,
conhecimento, sabedoria. É um corpo de doutrina,
organizado metodicamente que constitui uma área
do saber e é relativo a determinado objecto.
O que caracteriza cada ciência é o seu objecto
formal, ou seja, aquilo que é estudado, porém, o
desdobramento dos objetos do saber científico
caminhou progressivamente para a especialização
das ciências (que marcou bastante o século XIX
com o advento da técnica e da industrialização).

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