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POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA

DIRETORIA DE INSTRUÇÃO E ENSINO


CENTRO DE ENSINO DA POLÍCIA MILITAR
ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR DA TRINDADE

A ATUAÇÃO POLICIAL MILITAR SEGUNDO PRECEITOS DO USO


PROGRESSIVO DA FORÇA E DO EMPREGO DE TECNOLOGIAS NÃO-LETAIS

AUTOR: CLÁUDIO BÖING


ORIENTADOR: MAJ PMSC IZAÍAS OTACÍLIO DA ROSA

FLORIANÓPOLIS
2010
CLÁUDIO BÖING

A ATUAÇÃO POLICIAL MILITAR SEGUNDO PRECEITOS DO USO


PROGRESSIVO DA FORÇA E DO EMPREGO DE TECNOLOGIAS NÃO-LETAIS

Monografia apresentada como requisito


parcial para obtenção do título de
especialista em Administração de
Segurança Pública do Curso de Formação
de Oficiais, do Centro de Ensino da
Polícia Militar de Santa Catarina.

Orientador: Izaías Otacílio da Rosa, Msc.

FLORIANÓPOLIS
2010
DEDICATÓRIA

Aos meus familiares, em especial aos meus


pais, avós e padrinhos, e a minha namorada,
pois são eles os motivos que me levam a
buscar e conquistar os meus objetivos.
E ao meu avô paterno, Eriberto Böing (i. m.),
que não pode estar materialmente ao meu lado
neste momento tão importante, mas que
sempre estará em meus pensamentos e no meu
coração.
AGRADECIMENTOS

A Deus, por estar sempre presente em todos os momentos de minha vida,


principalmente nos mais difíceis.
Aos meus pais, José Böing e Maria Azenir Stüepp Böing, por terem me
acompanhado em todos os momentos de minha vida, além de todo o apoio a mim concedido,
assim como por ter oportunizado este momento em minha vida.
A minha namorada, Markele Aparecida Felizardo, pelo companheirismo, carinho
e compreensão demonstrados durante as minhas ausências devido aos meus estudos.
Ao meu professor e orientador Maj PM Izaías Otacílio da Rosa, pelo apoio e
incentivo dispensados, além da confiança em mim depositada.
Por fim, mas não menos importante, agradeço a todos os familiares e amigos que,
de alguma forma, contribuíram para que este trabalho se concretizasse.
“Quando sopram os ventos da mudança, alguns constroem abrigos e se colocam a salvo;
outros constroem moinhos e ficam ricos.” (Claus Möller).
RESUMO

A presente monografia trata de analisar como os conhecimentos do uso progressivo da força e


o emprego das tecnologias não-letais estão difundidos junto aos policiais militares que
trabalham ou executam a atividade operacional. Para realizar esta análise, foi escolhida uma
região policial militar, no caso a 11ª RPM, sendo escolhidos 45 (quarenta e cinco) policiais
aleatoriamente, os quais responderam a um questionário padrão que buscava avaliar seus
conhecimentos e intimidades, através de perguntas que tratavam de conceitos e/ou práticas do
uso progressivo da força e do emprego de tecnologias não-letais. Para que fosse possível tal
análise, iniciou-se a presente pesquisa com a abordagem histórica, conceitual e aspectos legais
de atuação da Polícia Militar, dando destaque à preservação da ordem pública e ao poder de
polícia, tendo em vista serem os basilares para a atuação policial militar voltados ao assunto
em tela desta pesquisa. Em seguida, foi tratado especificamente sobre o uso progressivo da
força, conceituando força, diferenciando a ação policial que se utiliza legalmente da força e o
uso da violência, além de apresentarem-se os fundamentos legais e ordenamentos jurídicos
que norteiam as ações policiais no exercício desta prerrogativa da instituição. Foram
apresentados, também, os diversos modelos existentes em todo o mundo, os quais orientam o
uso progressivo da força. Tratou-se, de forma particularizada, das tecnologias não-letais hoje
existentes na Polícia Militar de Santa Catarina, seus efeitos e modos de utilização. E, por fim,
foi analisado, por meio de gráficos confeccionados através das respostas do efetivo
entrevistado, como está o conhecimento e intimidade dos policiais militares para atuação
segundo preceitos do uso progressivo da força e do emprego de tecnologias não-letais.

Palavras-chave: Uso Progressivo da Força. Tecnologias Não-Letais. Atuação Policial Militar.


ABSTRACT

This monograph examines how the knowledge about the progressive use of force and the use
of non-lethal technologies has widespread among the military police officers that work or
execute an operational activity.
To realize this analysis was chosen one military police region, in this case the 11ª RPM,
where were chosen 45 (forty-five) police officers at random, who answered one standard
questionnaire that evaluates their knowledge and experience through questions that handle
with the use-of-force concepts and/or practices and the use of non-lethal-technologies
concepts and/or practices.
To make possible such analysis, this research began with a historical and conceptual
approach; and the legal aspects of the Military Police performance, highlighting the
preservation of the social order and the police power, in view of that, these subjects are the
base to the Military Police performance, mainly referenced to the subject of this research.
Then, we dealt specifically about the use of force, conceptualizing force, differentiating the
police actions that lawfully use the force and the violence. In addition, it presents the lawful
fundaments and the juridical orderings that guide the police actions on the practice of this
institution‟s prerogative.
Without forgetting that, in this moment we showed the many existents models around the
world, which guides the progressive use of force.
We dealt also, into a particular form about the non-lethal technologies, nowadays existents at
the Military Police of Santa Catarina, their effects and utilization ways. Finally, we examined
through graphics, created through the answers of the interviewed police officers, how are the
knowledge and experience of the military police officers in order to serve following the
precepts of the progressive use of force and the use of non-lethal technologies.

Keywords: Progressive use of force. Non-lethal technologies. Military police actions.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Modelo “FLETC” de uso progressivo da força ........................................................57


Figura 2: Modelo “GILIESPIE” de uso progressivo da força .................................................58
Figura 3: Modelo “REMSBERG” de uso progressivo da força ...............................................59
Figura 4: Modelo “CANADENSE” de uso progressivo da força ............................................60
Figura 5: Modelo “NASHVILLE” de uso progressivo da força ..............................................61
Figura 6: Modelo “PHOENIX” de uso progressivo da força ...................................................62
Figura 7: Modelo básico de uso progressivo da força .............................................................63
Gráfico 1: Tempo de serviço na atividade operacional do efetivo entrevistado ......................88
Gráfico 2: Atividade desempenhada pelo efetivo no serviço operacional ...............................88
Gráfico 3: Lapso temporal do último curso na área operacional .............................................89
Gráfico 4: Cursos, estágios e/ou treinamento na área operacional ..........................................90
Gráfico 5: Dados sobre o conhecimento dos princípios essenciais para o uso da força pelo
efetivo ......................................................................................................................................91
Gráfico 6: Modelo de uso progressivo da força utilizado pela PMSC .....................................92
Gráfico 7: Tecnologias Não-Letais utilizadas no exercício da atividade operacional .............94
Gráfico 8: Policiais militares entrevistados habilitados em Taser ...........................................95
Gráfico 9: Ações para redução dos efeitos dos agentes químicos ...........................................96
Gráfico 10: Distância mínima para aplicação de agentes químicos por espargidor ................97
Gráfico 11: Tempo de execução do jato de agente químico ....................................................98
Gráfico 12: Diferença das granadas Indoor e Outdoor ............................................................99
Gráfico 13: Distância mínima dos infratores da granada de explosão .....................................99
Gráfico 14: Distância mínima para um disparo com munições de impacto controlado ........100
Gráfico 15: Área do corpo a ser atingida por uma munição de impacto controlado .............101
Gráfico 16: Munição de impacto controlado utilizável em caso de disparo seletivo (alvo
determinado) ..........................................................................................................................102
Gráfico 17: Munição de impacto controlado utilizável em caso de dispersão de turbas .......102
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

Art. Artigo

CE/89 Constituição do Estado de Santa Catarina de 1989

CF/88 Constituição da República Federativa do Brasil

CN Cloroactofenona

CONSEG Conferência Nacional de Segurança Pública

CP Código Penal

CPM Código Penal Militar

CPPM Código Processual Penal Militar

CS Ortoclobenzalmalonitrila

MIC Munição de Impacto Controlado

N.º Número

OC Oleoresina de Capsaisina

PPT Pelotão de Patrulhamento Tático

SAI Subagência de Inteligência

SENASP Secretaria Nacional de Segurança Pública

RPM Região Policial Militar

TNL Tecnologia Não-Letal

UPF Uso Progressivo da Força


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................16

1.1 TEMA .......................................................................................................................18

1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA ....................................................................................18

1.2.1 Formulação do Problema ....................................................................................18

1.3 JUSTIFICATIVA ......................................................................................................19

1.4 OBJETIVOS .............................................................................................................19

1.4.1 Objetivo geral .......................................................................................................19

1.4.2 Objetivos específicos ...........................................................................................20

2 POLÍCIA: BREVE HISTÓRICO, CONCEITOS E ASPECTOS LEGAIS DA


ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR .........................................................................21

2.1 A ORIGEM DA POLÍCIA NA SOCIEDADE .........................................................21

2.1.1 Surgimento das formações policiais no mundo .................................................22

2.1.2 Surgimento das formações policiais no Brasil ...................................................24

2.2 ATRIBUIÇÕES LEGAIS DA POLÍCIA MILITAR ................................................25

2.2.1 Polícia Ostensiva ...................................................................................................26

2.2.2 Ordem Pública ......................................................................................................27

2.2.2.1 Segurança Pública ...............................................................................................28

2.2.2.2 Tranquilidade Pública .........................................................................................30

2.2.2.3 Salubridade Pública .............................................................................................30

2.2.2.4 Dignidade da pessoa humana ..............................................................................30

2.2.3 Prevervação da Ordem Pública: manutenção e restauração ...........................31


2.2.4 Poder de Polícia ....................................................................................................32

2.2.4.1 Atributos do Poder de Polícia .............................................................................34

2.2.4.1.1 Autoexecutoriedade ..........................................................................................34

2.2.4.1.2 Discricionariedade ...........................................................................................35

2.2.4.1.3 Coercibilidade ..................................................................................................35

2.2.4.2 Fases do poder de polícia ....................................................................................36

2.2.4.2.1 Ordem de Polícia .............................................................................................36

2.2.4.2.2 Consentimento de Polícia ................................................................................37

2.2.4.2.3 Fiscalização de Polícia ....................................................................................37

2.2.4.2.4 Sanção de Polícia .............................................................................................38

2.2.4.3 Limites do Poder de Polícia ................................................................................39

3 USO PROGRESSIVO DA FORÇA: CONCEITOS, LEGISLAÇÕES,


PRINCÍPIOS E MODELOS ........................................................................................41

3.1 USO DA FORÇA ......................................................................................................41

3.1.1 O que é força? .......................................................................................................41

3.1.2 Uso legítimo da força X uso legítimo da violência .............................................42

3.2 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE AS LEIS E PRINCÍPIOS AFETOS AO


MONOPÓLIO DO USO DA FORÇA PELO ESTADO ................................................43

3.2.1 Fundamentação legal para o monopólio do uso da força .................................43

3.2.1.1 Código de Conduta dos Funcionários Encarregados pela aplicação da lei .........43

3.2.1.2 Código Penal Brasileiro e Penal Militar ..............................................................44

3.2.1.3 Código de Processo Penal e Processo Penal Militar ...........................................45

3.2.2 Princípios norteadores para utilização da força ...............................................47


3.2.2.1 Princípios Básicos sobre o uso da força e armas de fogo ....................................47

3.2.2.2 Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado ..........................49

3.2.2.3 Princípios da Razoabilidade ................................................................................49

3.3 USO PROGRESSIVO DA FORÇA .........................................................................51

3.3.1 Conceito de uso progressivo da força .................................................................51

3.3.2 Princípios básicos específicos de aplicação do uso progressivo da força ........52

3.3.2.1 Princípios da Legalidade .....................................................................................52

3.3.2.2 Princípios da Necessidade ...................................................................................53

3.3.2.3 Princípios da Proporcionalidade .........................................................................54

3.3.2.4 Princípios da Conveniência .................................................................................55

3.3.2.5 Ética .....................................................................................................................55

3.3.3 Modelos que orientam o uso progressivo da força ............................................56

3.3.3.1 Modelo Fletc .......................................................................................................57

3.3.3.2 Modelo Giliespie .................................................................................................58

3.3.3.3 Modelo Remsberg ...............................................................................................59

3.3.3.4 Modelo Canadense ..............................................................................................60

3.3.3.5 Modelo Nashville ................................................................................................61

3.3.3.6 Modelo Phoenix ..................................................................................................62

3.3.3.7 Modelo Básico ....................................................................................................63

4 TECNOLOGIAS NÃO-LETAIS ..............................................................................65

4.1 O QUE SÃO TECNOLOGIAS NÃO-LETAIS ........................................................65

4.1.1 Equipamentos de proteção individual ................................................................68


4.1.1.1 Coletes balísticos .................................................................................................68

4.1.1.2 Capacetes .............................................................................................................69

4.1.1.3 Máscara contra gases ...........................................................................................70

4.1.1.4 Extintor de incêndio ............................................................................................70

4.1.1.5 Perneiras ..............................................................................................................71

4.1.1.6 Luvas e Balaclavas ..............................................................................................71

4.1.2 Equipamentos de proteção coletiva ....................................................................71

4.1.2.1 Escudos ...............................................................................................................72

4.1.3 Equipamentos não-letais ......................................................................................73

4.1.3.1 Bastões policiais ..................................................................................................73

4.1.3.2 Agentes químicos ................................................................................................74

4.1.3.2.1 CN ....................................................................................................................74

4.1.3.2.2 CS .....................................................................................................................74

4.1.3.2.3 OC ....................................................................................................................75

4.1.3.2.4 Espargidores ....................................................................................................76

4.1.3.3 Armas de projeção ...............................................................................................77

4.1.3.3.1 Espingarda calibre 12 ......................................................................................77

4.1.3.3.2 Lançador de munições não-letais ....................................................................78

4.1.3.3.3 Projetor de munições não-letais ......................................................................78

4.1.3.4 Granadas ..............................................................................................................79

4.1.3.4.1 Granadas de explosão ......................................................................................79

4.1.3.4.2 Grandas de emissão .........................................................................................80


4.1.3.4.3 Granadas de elastômero...................................................................................81

4.1.4 Munições não-letais ..............................................................................................82

4.1.4.1 Munições de impacto controlado ........................................................................82

4.1.4.1.1 Elastômero .......................................................................................................83

4.1.4.1.2 Calibre 12 .........................................................................................................83

4.1.4.1.3 Calibre 38,1 mm ...............................................................................................83

4.1.4.2 Munições de jato direto........................................................................................84

4.1.5 Equipamentos Eletrônicos de Controle ..............................................................85

4.1.5.1 Taser M 26 ..........................................................................................................85

5 A ATUAÇÃO POLICIAL MILITAR SEGUNDO PRECEITOS DO USO


PROGRESSIVO DA FORÇA E O EMPREGO DE TECNOLOGIAS NÃO-
LETAIS ..........................................................................................................................87

5.1 INFORMAÇÕES SOBRE OS POLICIAIS MILITARES ENTREVISTADOS ......87

5.1.1 Tempo de serviço na atividade operacional .......................................................88

5.1.2 Função desempenhada na atividade operacional ..............................................88

5.1.3 Curso, estágio e/ou treinamento na atividade operacional ...............................89

5.2 ANÁLISE DO CONHECIMENTO SOBRE O USO PROGRESSIVO DA FORÇA


..........................................................................................................................................91

5.3 ANÁLISE DO CONHECIMENTO E EMPREGO DE TECNOLOGIAS NÃO-


LETAIS ...........................................................................................................................93

5.3.1 Generalidades .......................................................................................................93

5.3.2 Agentes químicos ..................................................................................................95

5.3.3 Granadas ...............................................................................................................98

5.3.4 Munições de impacto controlado ......................................................................100


6 METODOLOGIA ....................................................................................................104

7 CONCLUSÃO ..........................................................................................................106

REFERÊNCIAS ..........................................................................................................108

ANEXOS ......................................................................................................................116
1 INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como tema o uso progressivo da força e o emprego de


Tecnologias Não-Letais na atuação policial militar.
Para se chegar ao tema, foi verificado que o emprego de Tecnologias Não-Letais
ganha cada vez mais destaque nas atividades Policiais Militares, principalmente após os
estudos realizados sobre o Uso Progressivo da Força, que o enfatizou, colocando-o em
posição de destaque nos diversos modelos existentes.
O policial militar, por diversas vezes, durante sua atividade, depara-se com a
necessidade do uso da força, devendo seguir sua progressão até a chegada de meios mais
extremos, se necessários. Porém, antes disso, há neste escalonamento o emprego de
Tecnologias Não-Letais, as quais determinam, necessariamente, um prévio conhecimento
técnico por quem as utiliza, para sua correta aplicação e satisfatório resultado.
Frente a tal importância, pode-se afirmar que a difusão destas técnicas, para uma
atuação fundamentada nos preceitos do Uso Progressivo da Força e do Emprego de
Tecnologias Não-Letais pelos policiais militares, acarretará uma melhora significativa do
atendimento das ocorrências e uma consequente efetiva restauração da ordem quebrada.
Na atual realidade vivenciada pelos integrantes das forças policiais e à luz da
própria legislação específica, estudar o Uso Progressivo da Força com foco na utilização de
Tecnologias Não-Letais é de extrema relevância social e científica, tanto para a instituição
como para o próprio pesquisador e, com certeza, para a sociedade, devido aos reflexos que
direta ou indiretamente incidirão sobre todos os envolvidos.
Diariamente policiais militares deparam-se, no exercício de sua função, com
situações de quebra da ordem em que necessitam destes conhecimentos para sua eficaz
resolução. Apresentar tais conceitos possibilitará que o efetivo, como um todo, norteie suas
ações centradas nos princípios da Legalidade, Necessidade, Proporcionalidade e
Conveniência, possibilitando uma melhor resposta, tanto para a restauração do status quo
quanto à sociedade, aumentando a confiança no serviço da Polícia e na atuação do policial
militar.
Além disso, poderá servir de base para trabalhos futuros, aprofundamentos,
melhoramentos e aperfeiçoamentos sobre o assunto, o que engrandecerá este trabalho, assim
como o esforço do seu autor.
17

Os objetivos desta pesquisa são difundir a doutrina específica do escalonamento


do uso da força ou do uso progressivo da força para utilização nas atividades policiais
militares; apresentar conceitos básicos e imprescindíveis para o emprego correto de
Tecnologias Não-Letais na execução da atividade operacional policial militar; e pesquisar,
junto aos policiais militares lotados na 11ª Região Policial Militar1, com vistas à identificação
e análise do status quo das condições para execução de suas atividades segundo preceitos do
Uso Progressivo da Força e do Emprego de Tecnologias Não-Letais e do conhecimento dos
policiais militares frente aos conceitos tratados nesta pesquisa, para isso aplicando um
questionário aos mesmos.
Para tanto, principia-se, no Capítulo 2, com um breve histórico da polícia,
trazendo suas origens, tanto no mundo como no Brasil. Em seguida, trata-se das atribuições
legais da Polícia Militar de uma forma geral, tratando de conceitos imprescindíveis a sua
atividade, tais como polícia ostensiva e ordem pública, esta dividida em segurança,
tranquilidade e salubridade pública e dignidade da pessoa humana. Junto à ordem pública,
tratou-se, ainda, de sua preservação, a qual é alcançada pelo poder de polícia, seus atributos e
fases, os quais são abordados neste momento da pesquisa.
No Capítulo 3, trata-se do uso progressivo da força, abordando conceitos, como o
de força, com a intenção de demonstrar que a Polícia Militar utiliza-se da força, e não da
violência, como instrumento para preservação da ordem pública e da paz social. Em seguida,
trata-se sobre princípios e textos legais que embasam e fundamentam a ação policial no
monopólio do uso da força. Por fim, são apresentados os conceitos do uso progressivo da
força e seus princípios inerentes, e os modelos que, atualmente, orientam as diversas
organizações policiais do mundo.
No Capítulo 4, são apresentadas as Tecnologias Não-Letais em suas diversas
formas, tais como equipamentos de proteção individual e coletiva, não-letais, munições
químicas lacrimogêneas, as quais abrangem os agentes químicos e as diversas munições, as
munições de impacto controlado e, por fim, o equipamento eletrônico de controle mais
comumente conhecido como Taser.
E, no Capítulo 5, trata-se especificamente do tema da pesquisa, sendo
apresentados e analisados os resultados obtidos no questionário aplicado aos policiais

1
Localizada na cidade de São José, abrangendo as seguintes unidades operacionais: 7o BPM – São José, 16o
BPM – Palhoça, 24o BPM – Biguaçu e GESA – Guarnição Especial de Santo Amaro da Imperatriz.
18

militares, desde informações individuais funcionais até os conhecimentos do uso progressivo


da força e das tecnologias não-letais.
A presente pesquisa encerra-se com a conclusão, na qual se retoma o que fora
explorado, ou seja, a idéia apresentada no decorrer da pesquisa de forma superficial, e, por
fim, apresentando o que se pôde constatar dos resultados obtidos com a pesquisa e com o
questionário realizado.
Por fim, quanto à metodologia empregada na Fase de Investigação e na Fase de
Desenvolvimento, foi utilizado o Método Dedutivo, através da utilização da técnica de
pesquisa bibliográfica, exploratória e descritiva, e com relação à abordagem qualificativa.

1.1 TEMA

O uso progressivo da força e o emprego de Tecnologias Não-Letais.

1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA

A atuação policial militar segundo preceitos do uso progressivo da força e do


emprego de tecnologias não-letais.

1.2.1 Formulação do problema de pesquisa

O emprego de Tecnologias Não-Letais ganha cada vez mais destaque nas


atividades Policiais Militares, principalmente após os estudos realizados sobre o Uso
Progressivo da Força, que o enfatizou, colocando-o em posição de destaque nos diversos
modelos existentes.
O policial militar, por diversas, vezes durante sua atividade, depara-se com a
necessidade do uso da força, devendo seguir sua progressão até a chegada de meios mais
extremos, se necessários. Porém, antes disso, há neste escalonamento o emprego de
19

Tecnologias Não-Letais, as quais determinam, necessariamente, um prévio conhecimento


técnico por quem as utiliza, para sua correta aplicação e satisfatório resultado.
Frente a tal importância, a difusão destas técnicas para uma atuação fundamentada
nos preceitos do Uso Progressivo da Força e do Emprego de Tecnologias Não-Letais pelos
policiais militares acarretará uma melhora significativa do atendimento das ocorrências e uma
consequente efetiva restauração da ordem quebrada.
Por estas razões se pergunta: pode-se afirmar que os policiais militares possuem
conhecimento teórico e prático das técnicas e táticas previstas nos preceitos do UPF e do
Emprego de TNL para uma boa execução de sua atividade operacional?

1.3 JUSTIFICATIVA

Na atual realidade vivenciada pelos integrantes das forças policiais e à luz da


própria legislação específica, estudar o Uso Progressivo da Força com foco na utilização de
Tecnologias Não-Letais é de extrema relevância social e científica, tanto para a instituição
como para o próprio pesquisador e, com certeza, para a sociedade, devido aos reflexos que
direta ou indiretamente incidirão sobre todos os envolvidos.
Diariamente policiais militares deparam-se, no exercício de sua função, com
situações de quebra da ordem em que necessitam destes conhecimentos para sua eficaz
resolução. Apresentar tais conceitos possibilitará que o efetivo, como um todo, norteie suas
ações centradas nos princípios da Legalidade, Necessidade, Proporcionalidade e
Conveniência, possibilitando uma melhor resposta, tanto para a restauração do status quo
quanto à sociedade, aumentando a confiança no serviço da Polícia e na atuação do policial
militar.
Além disso, poderá servir de base para trabalhos futuros, aprofundamentos,
melhoramentos e aperfeiçoamentos sobre o assunto, o que engrandecerá este trabalho, assim
como o esforço do seu autor.
20

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 Objetivo Geral

Analisar o conhecimento dos policiais militares lotados na 11ª Região de Polícia


Militar frente aos preceitos do uso progressivo da força e o emprego de Tecnologias Não-
letais para a execução da sua atividade operacional, diante da aplicação de questionário
padrão.

1.4.2 Objetivos Específicos

Difundir a doutrina específica do escalonamento do uso da força ou do uso


progressivo da força para utilização nas atividades policiais militares;
Apresentar conceitos básicos e imprescindíveis para o emprego correto de
Tecnologias Não-Letais na execução da atividade operacional policial militar;
Pesquisar, junto aos policiais militares lotados na 11ª Região Policial Militar, com
vistas à identificação do status quo das condições existentes para execução de suas atividades
segundo preceitos do Uso Progressivo da Força e do Emprego de Tecnologias Não-Letais.
2 POLÍCIA: BREVE HISTÓRICO, CONCEITOS E ASPECTOS LEGAIS DA
ATUAÇÃO DA POLÍCIA MILITAR

Inicia-se a presente pesquisa com um breve desenvolvimento histórico das


polícias no mundo e no Brasil, com o objetivo precípuo de contextualização do surgimento da
polícia no seio da sociedade, colaborando e permitindo que, em seguida, conceitos
imprescindíveis à atividade policial militar sejam apresentados para fundamentar sua atuação
e atual missão.

2.1 A ORIGEM DA POLÍCIA NA SOCIEDADE

O homem iniciou sua convivência em grupo frente a diversas necessidades que


foram verificadas não serem possíveis de alcançar isoladamente, isso porque “nascidos todos
livres e iguais não alienam a liberdade a não ser em troca da sua utilidade” (ROUSSEAU,
2003, p. 236). Dentre estas necessidades ou utilidades, estava a segurança, tendo em vista a
preocupação populacional de serem guarnecidos seus direitos e mantida a ordem naquela
formação criada, além da “necessidade de garantir a sua sobrevivência” (MARCINEIRO,
2005, p. 21). Neste contexto surge, então, um grupo que realizava esta missão, o que
inicialmente foi de competência dos exércitos ou afetas a uma variedade de autoridades destas
formações populacionais, sejam elas cidades, aldeias, clã etc, que futuramente se chamou de
polícia. Por essa razão, pode-se afirmar que não há uma data certa do seu surgimento, pois a
mesma se confunde com a própria formação da sociedade.
Mas o que é polícia? Para tratar do termo “polícia”, importante lembrar que não se
pode entendê-lo desconexo do conceito de sociedade, isso porque é uma palavra de origem ou
etimologia grega, que vem da expressão politeia e da palavra latina politia, ambas derivadas
da palavra polis, a qual na Grécia Antiga era a Cidade-Estado e a mais poderosa, sendo polites
o cidadão da Polis (MONET, 2001, apud AMORIM, 2009, p.21).
Lazzarini (1987, p. 20), seguindo o mesmo sentido, mas com certa expansão, traz
em seu conceito o sentido de organização política, sistema de governo e mesmo governo.
“Este conceito representa bem a realidade da sociedade da Grécia Antiga, onde a Polícia
confundia-se com o conjunto das instituições que governavam a cidade (polis)”
22

(MARCINEIRO, 2005, p. 23-24). Esta concepção de administração perdurou até a Idade


Média, quando, sob influência das ideias liberais, o termo “polícia” passou a ser entendido
como “atividades do Estado limitativas e condicionadoras das liberdades individuais, tal como
hoje universalmente empregado no Direito Administrativo” (MOREIRA NETO, 2009, p.
441).
Moreira Neto traz um conceito, ainda, mais abrangente e elaborado ao doutrinar
sobre o conceito de polícia, afirmando ser:

A função administrativa que tem por objeto aplicar concreta, direta e imediatamente
as limitações e os condicionamentos legais ao exercício de direitos fundamentais,
compatibilizando-os com interesses públicos, também legalmente definidos, com a
finalidade de possibilitar uma convivência ordeira e valiosa (MOREIRA NETO,
2009, p. 442).

Atualmente, o conceito de polícia vem sendo tratado por diversos autores


Lazzarini (1999, p. 186) é um dos autores que traz sua colaboração ao afirmar que polícia é:

O conjunto de instituições fundadas pelo Estado, para que, segundo as prescrições


legais e regulamentares estabelecidas, exerçam vigilância para que se mantenham a
Ordem Pública, a Moralidade, a Saúde Pública e se assegure o bem-estar coletivo,
garantindo-se a propriedade e outros direitos individuais.

No mesmo sentido, Amorim (2009, p. 21), colaborando com o assunto, entende a


polícia como “o conjunto de instituições legalmente estabelecidas com o fim de exercer a
vigilância para a manutenção da ordem pública, a saúde pública, assegurando-se o bem-estar
da coletividade”.
Após compreender como se originou a instituição polícia no seio da sociedade, e a
evolução do seu conceito até os dias atuais, passa-se, no próximo subtítulo, a apresentar como
surgiram as principais instituições policiais no mundo.

2.1.1 Surgimento das formações policiais no mundo

De forma institucionalizada, desde os tempos mais remotos, a polícia já existia


nos povos egípcios, hebreus, gregos e romanos (AMORIM, 2009, p. 22). Ludwig (1985, apud
AMORIM, 2009, p. 22) afirma que para os hebreus existia spar palek, responsáveis pela
23

fiscalização dos súditos, e no Egito existia para disciplinar o recenseamento e diminuir o


comércio ilícito.
As primeiras notícias da existência de profissionais integrantes da estrutura
pública encarregados da preservação da ordem na cidade são trazidas na obra A República, de
Platão (2003, p. 420), que descreve a existência dos denominados “guardiões da lei e da
cidade”, os quais, também, acumulavam a responsabilidade de administrar as cidades gregas.
Estes profissionais possuíam o direito de utilizar-se da coação física e da ameaça de ações
penais para cumprimento de sua missão.
Há também notícias da existência de uma administração policial pública,
profissional e especializada em Roma, no reinado de Augusto, cuja direção estava a cargo do
prefeito da cidade, a quem era incumbida a missão de manter a ordem nas ruas, tomar as
providências necessárias e intentar ações penais contra os contraventores (BAYLEY, 2002, p.
41); neste momento, surge uma polícia paga pelo Poder Público (AMARAL, 2001).
Na Idade Média, diante das diversas invasões ocorridas na Europa pelos bárbaros,
período marcado por pestes, motins, distúrbios, guerras, pilhagens e violências de toda
natureza, as instituições responsáveis pela segurança sofrem drasticamente uma interrupção
em suas atividades (MARTINS, 2008, p. 46).
No período compreendido entre o término da Idade Média e o início do Estado
Moderno, surgem modelos de polícia com aspecto das polícias modernas, como força policial
pública especializada, passando a ter um desenvolvimento peculiar.
A modernidade apresenta uma variedade de modelos de polícia, inclusive de
genes não policiais, que dispõem de algum poder de polícia.
Dentre os modelos que surgiram, destacam-se as que mais influenciaram e têm
influenciado a polícia no ocidente, sendo elas a da Inglaterra, em que a segurança era confiada
aos sherifs, representantes locais do poder real com status eminentemente civil, e da França,
onde se cria a Maréchaussé, responsáveis por reprimir a violência coletiva, controlar as
populações itinerantes e a criminalidade individual com status militar (MARTINS, 2008, p.
47). Sendo que, “em 1829, na Inglaterra, o Primeiro Ministro, Sir Robert Peel, criou a Polícia
Metropolitana de Londres, considerada a primeira organização policial do mundo”
(MARCINEIRO, 2005, p. 25).
24

2.1.2 Surgimento das formações policiais no Brasil

Depois desta breve contextualização da criação das polícias nos mais importantes
períodos históricos da civilização e nos Estados mais importantes para o seu
desenvolvimento, parte-se para a apresentação do surgimento das formações policiais no
Brasil.
A história das polícias no Brasil inicia-se com a vinda da Família Real
Portuguesa, fugindo da invasão de Napoleão a Portugal. “Ao chegar ao Brasil, D. João VI traz
junto consigo a Divisão Militar da Guarda Real de Polícia, considerada como sendo embrião
da Polícia Militar do Rio de Janeiro, iniciando assim a história das polícias no país”
(MARCINEIRO, 2005, p. 27), sendo, então, em 10 de maio de 1808, no Rio de Janeiro,
criada a primeira instituição policial brasileira, com o nome de Intendência Geral da Polícia e
da Corte. Já, em 13 de maio de 1809, foi criada a Divisão Militar da Guarda Real de Polícia
do Rio de Janeiro (COSTA, 2004, p. 86).
A primeira baseava-se no modelo francês introduzido em Portugal em 1760. Era
responsável pelas obras públicas e por garantir o abastecimento da cidade, além da segurança
pessoal e coletiva, o que incluía a ordem pública, a vigilância da população, a investigação
dos crimes e a captura dos criminosos (COSTA, 2004, p. 87).
Já a segunda era uma força policial de tempo integral, organizada militarmente e
com ampla autoridade para manter a ordem e perseguir criminosos. Foi a Guarda Real de
Polícia, formada com Oficiais e Soldados oriundos das fileiras do Exército, os quais recebiam
uma remuneração simbólica, além de alojamento e comida nos quartéis e uniforme (COSTA,
2004, p. 88).
Ocorre que, em 17 de julho de 1831, a Guarda Real de Polícia foi abolida, em
razão de sua insubordinação coletiva levada a efeito 3 dias antes, quando tomou seus
integrantes de assalto à cidade, saqueando lojas, atacando as pessoas e, segundo alguns
relatos, matando diversas pessoas, enfim, espalhando o pânico (PEDROSO, 2005, p. 77).
Como consequência da abolição da Guarda Real de Polícia, foi criada, em 18 de
agosto de 1831, a Guarda Nacional, com função genérica de defender a Constituição e a
liberdade, a independência e a integridade, o auxílio do Exército nas fronteiras da nação, além
de policiar a cidade, prestando obediência à lei, preservando ou restabelecendo a ordem e a
tranquilidade públicas (CARDOSO, 2010).
25

E, em decorrência do colapso da base institucional da repressão, foi criada, em 10


de outubro de 1831 a instituição denominada Corpo de Guardas Municipais Permanentes,
permanecendo com tal nome até 1858, quando é mudado para Corpo Militar de Polícia da
Corte e, após, em 1920, recebeu a designação, hoje ainda vigente, de Polícia Militar,
instituição que serviu de modelo para organizações semelhantes no resto do país, o que foi
possibilitado pela lei de 10 de outubro de 1831 (CARDOSO, 2010).
Até 1969, quando da promulgação do Decreto-Lei n.º 667, de 02 de julho de
1969, as Polícias Militares não se dedicavam com grande ênfase ao policiamento ostensivo
nos moldes atuais, pois, como se tratava de Forças Auxiliares e Reserva do Exército, eram
impelidas a seguir os padrões estabelecidos pela força principal a que estavam diretamente
ligadas (BRASIL, 1969).
Com o ingresso das polícias militares no âmbito dessa forma de policiamento,
passaram a assumir funções de defesa interna, dedicaram boa parte de seus esforços às
atividades de policiamento ostensivo, o que até já faziam antes, inclusive como forma de
buscar sua visualização, passando a delegar as tarefas de investigação criminal e de polícia
judiciária.
Em 1988, com a promulgação da atual Constituição da República Federativa do
Brasil, as Polícias Militares recebem nova atribuição, mais ampla do que policiamento
ostensivo e a manutenção da ordem pública, sendo agora de sua competência, conforme o art.
144, §5º, a polícia ostensiva com o propósito de preservação da ordem pública (BRASIL,
1988).

2.2 ATRIBUIÇÕES LEGAIS DA POLÍCIA MILITAR

Conforme citado no subtítulo anterior, a polícia militar, frente à atual constituição,


teve sua competência estendida. Neste sentido, com a intenção de melhor compreender o atual
status de sua competência, passa-se a apresentar os mais diversos conceitos relacionados às
atividades policiais militares e suas atribuições como órgão responsável pela segurança
pública.
26

2.2.1 Polícia Ostensiva

Até a promulgação da atual Constituição Federal, a atribuição prescrita em lei


para a Polícia Militar, “organização de assento constitucional, fundada na disciplina,
estruturada hierarquicamente” (MOREIRA NETO, 2009, p. 465), era o policiamento
ostensivo “a atividade de manutenção da Ordem Pública executada com exclusividade pela
Polícia Militar, observando características, princípios e variáveis próprias, visando à
tranquilidade pública” (MINISTÉRIO DO EXERCITO, 1985, p. 2).
Do Manual do Ministério do Exército, pode-se extrair outro conceito, este mais
difundido no meio policial, o qual entende o policiamento ostensivo como “atividade de
manutenção da Ordem Pública, em cujo emprego a fração é identificada de relance pela farda.
O armamento, equipamento, viatura e aprestos se constituem em formas complementares de
reconhecimento.” (MINISTÉRIO DO EXERCITO, 1985, p. 4).
Conhecendo o significado de policiamento ostensivo, faz-se necessária a sua
diferenciação para a nova expressão e atribuição, ou seja, a “polícia ostensiva”. A doutrina até
o momento não se permitiu positivar um conceito exato para esta nova atribuição, podendo
apenas se afirmar que é uma “atribuição com extensão ampla, abrangendo todas as fases do
poder de polícia” (LAZZARINI, 1999, p. 103), além de ser um conceito muito mais amplo do
que policiamento ostensivo, constituindo-se este tão-somente em uma de suas fases,
demonstrando cristalino o desejo do legislador em ampliar significativamente o campo de
atuação das Polícias Militares e torná-la exclusiva desta instituição policial (BRASIL, 2001,
p. 4).
Neste sentido, Lazzarini (apud MOREIRA NETO 1991, p. 42-43) afirma:

Polícia ostensiva é uma expressão nova, não só no texto constitucional, como na


nomenclatura da especialidade. Foi adotada por dois motivos: o primeiro, de
estabelecer a exclusividade constitucional e, o segundo, para marcar a expansão da
competência policial dos policiais militares, além do „policiamento‟ ostensivo. Para
bem entender esse segundo aspecto, é mister ter presente que o policiamento é
apenas uma fase da atividade de polícia. A atuação do Estado, no exercício de seu
poder de polícia, se desenvolve em quatro fases: a ordem de polícia, o
consentimento de polícia, a fiscalização de polícia e a sanção de polícia. O
policiamento corresponde apenas à atividade de fiscalização; por esse motivo, a
expressão utilizada, polícia ostensiva, expande a atuação das Polícias Militares à
integralidade das fases do exercício do poder de polícia.
27

Com as atribuições de polícia ostensiva, a Polícia Militar cumprirá, também, sua


outra competência, que é a preservação da ordem pública, a qual será objeto nos próximos
subtítulos desta pesquisa.

2.2.2 Ordem Pública

Após a análise da expressão “polícia ostensiva”, e antes de tratar da preservação


da ordem pública, é necessário que se apresente a ordem pública, conceitos que caminham
juntos, não apenas no texto constitucional como também na atuação policial militar.
Moreira Neto (2009, p. 457), ao estudar o assunto, distinguiu duas formas de
ordem, sendo uma espontânea, na qual a situação a ser alcançada e mantida é gerada pela
própria sociedade, e uma coacta, a qual é imposta pelo poder estatal através das
superestruturas por ele desenvolvidas.
A legislação brasileira colabora com a pesquisa definindo, no Decreto n.º 88.777,
de 30 de setembro de 1983, o conceito de Ordem Pública, no seu art. 2º, item 21, como sendo:

21) Conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento jurídico da Nação,


tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis, do interesse público,
estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica, fiscalizado pelo
Poder de Polícia, e constituindo uma situação ou condição que conduza ao bem
comum (BRASIL, 1983).

Além do conceito legal, há também conceitos doutrinários, os quais são


importantes, porém devem respeitar a ressalva feita por Lazzarini (1995, p. 53), o qual, antes
de conceituar ordem pública, afirmou que “a noção de ordem pública, em verdade, é mais
fácil de ser sentida do que definida”; além disso, “é por demais incerta, porque varia no tempo
e no espaço, de um para outro país e, até mesmo, em um determinado país de uma época para
outra”.
Dentre os conceitos elaborados doutrinariamente, destaca-se o de Moreira Neto
(1998, p. 82), o qual afirma que a ordem pública “é objeto da Segurança Pública, é a situação
de convivência pacífica e harmoniosa da população, fundada nos princípios éticos vigentes na
sociedade”.
28

No mesmo sentido, Silva (1963, p.1101) entende a Ordem Pública como sendo:

A situação e o estado de legalidade normal, em que as atribuições exercem suas


precípuas atribuições e os cidadãos as respeitem e acatam, sem constrangimento ou
protesto. Não se confunde com a ordem jurídica, embora seja uma consequência
desta e tenha sua existência formal justamente dela derivada.

Seria, então, uma situação de pacífica convivência social, o que não deve ser
entendido como ausência de conflitos, de divergências, de debates e até mesmo de
controvérsias interpessoais, e sim como uma convivência isenta de ameaça de violência ou de
sublevação que possa produzir, em curto prazo, a prática de crimes, ou seja, “é extremamente
vaga e ampla, não se tratando apenas da manutenção material da ordem na rua, mas também
da manutenção de uma certa ordem moral” (CRETELLA JÚNIOR, 1978, p. 370), “para que a
sociedade viva em harmonia e possa atingir seu objetivo principal, qual seja, o bem comum”
(MARCINEIRO, 2005, p. 40).
Por fim, destaca-se que a Ordem Pública, atualmente, apresenta-se não apenas
como um conceito, mas como uma “situação fática de respeito ao interesse da coletividade e
aos direitos individuais que o Estado assegura, pela Constituição da República e pelas leis, a
todos os membros da comunidade” (MEIRELLES apud LAZZARINI, 1987, p. 157).
Portanto, a Ordem Pública “é a situação de tranqüilidade e normalidade que o
Estado assegura – ou deve assegurar – às instituições e a todos os membros da sociedade,
consoante as normas jurídicas legalmente estabelecidas” (LAZZARINI, 1992, p. 92).
Compreendendo o seu significado, não se pode deixar de relacioná-lo a outros
conceitos não menos importantes, pois a ordem pública abarca a noção de segurança pública,
tranquilidade pública e salubridade pública, conceitos que serão explorados no próximo
subtítulo.

2.2.2.1 Segurança Pública

Antes da apresentação dos diversos conceitos de Segurança Pública, não se pode


deixar de citar o principal preceito legal do ordenamento jurídico brasileiro que trata do
assunto, ou seja, o artigo 144 da Constituição da República Federativa do Brasil:
29

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,


é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares (BRASIL, 1988).

No artigo acima descrito, pode-se observar a clara preocupação do legislador com


a Segurança Pública ao prevê-la como dever do Estado e, acima de tudo como
responsabilidade de todos que compõem a sociedade.
Como visto no subtítulo anterior, como um dos aspectos da ordem pública está a
Segurança Pública, conceito vago e amplo; por isso “quanto mais conceituarmos a Ordem
Pública, mais exatamente ter-se-á compreendido a Segurança Pública” (LAZZARINI, 1987,
p. 128).
A Segurança Pública, portanto, pode ser entendida como o “estado antidelitual,
que resulta da observância dos preceitos tutelados pelos códigos penais comuns e pela lei das
contravenções penais” (PESSOA, 1971, p. 7), “com ações de polícia repressiva ou
preventivas típicas, afastando-se, assim, por meio de organizações próprias, de todo o perigo,
ou de todo o mal que possa afetar a ordem pública, em prejuízo da vida, da liberdade ou dos
direitos de propriedade das pessoas” (LAZZARINI, 2003, p. 81).
No mesmo sentido, Moreira Neto (1987, p. 49) afirma que “a segurança pública é
o conjunto de processos, políticos e jurídicos, destinados a garantir a ordem pública, sendo
esta objeto daquela”.
Silva (2000, p. 751), ao tratar sobre o assunto, também, deu sua colaboração
entendendo a segurança pública como uma “situação de preservação ou restabelecimento
dessa convivência social que permite que todos gozem de seus direitos e exerçam suas
atividades sem perturbação de outrem, salvo nos limites de gozo e reivindicação de seus
próprios direitos e defesa de seus legítimos interesses”. Ou seja, o autor trabalha com a
máxima de que o direito de um termina ao iniciar o direito do outro.
30

2.2.2.2 Tranquilidade Pública

Outro elemento componente da Ordem Pública é a Tranquilidade Pública, que,


conceituada por Lazzarini (1999, p. 22), “exprime o estado de ânimo tranquilo, sossegado,
sem preocupações nem incômodos, que traz às pessoas uma serenidade, ou uma paz de
espírito”.
No mesmo sentido, Valla (2004, p. 5) leciona que “[...] é o estágio de serenidade
em que se encontra uma sociedade, tendo no clima de convivência harmoniosa e pacífica o
seu fundamento mais importante [...] efeito agradável da situação de bem-estar social”.
Lazzarini (1999, p. 22), seguindo seus estudos, afirma que a tranquilidade pública
“revela a quietude, a ordem, o silêncio, a normalidade das coisas, que, como se faz lógico, não
transitem nem provocam sobressaltos, preocupações ou aborrecimentos, em razão dos quais
se possa perturbar o sossego alheio”.
Portanto, a tranquilidade pública, “sem dúvida alguma, constitui direito inerente a
toda pessoa, em virtude da qual está autorizada a impor que lhe respeitem o bem-estar, ou a
comodidade do seu viver” (LAZZARINI, 1999, p. 23).

2.2.2.3 Salubridade Pública

Considerado como o último componente da Ordem Pública, o que não é


unanimidade, e não menos importante, está a Salubridade Pública, a qual se refere às
condições sanitárias coletivas, podendo ser entendida como “o estado de sanidade e de
higiene de um lugar, em razão do qual se mostram propícias as condições de vida de seus
habitantes (LAZZARINI, 1999, p. 258).

2.2.2.4 Dignidade da Pessoa Humana

Por fim, a dignidade da pessoa humana, a qual surgiu como mais um elemento da
ordem pública, e por esta razão a salubridade pública deixou de ser o último elemento. Porém,
31

a dignidade, para alguns doutrinadores, é considerada como inerente aos demais elementos, e
por essa razão não é considerada isoladamente.
Independente desta discussão, o importante é salientar que “[...] a ordem pública
não pode ser concebida senão sob a medida desse conceito de dignidade [...] sempre que a
ordem pública é expressamente invocada, a dignidade da pessoa humana não está longe”
(LEBRETON apud JUSTEN FILHO, 2005, p. 388), principalmente quando se observa que
esta é prevista como um dos direitos fundamentais elencados na Constituição Federal, mais
precisamente em seu art. 1º, III (BRASIL, 1988), sendo, portanto, considerada um dos
Princípios do nosso Estado Democrático de Direito.

2.2.3 Preservação da Ordem Pública: manutenção e restauração

Por fim, trata-se da ultima das ampliações de competência das polícias militares,
que é a preservação da ordem pública, e não mais a manutenção, como era previsto
anteriormente a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, ou seja, na
Constituição de 1967, mais precisamente no parágrafo quarto do art. 13, in verbis:

Art. 13. [...].


§ 4º As polícias militares, instituídas para a manutenção da ordem pública nos
Estados, nos Territórios e no Distrito Federal [...] são consideradas forças auxiliares,
reserva do Exército [...] (grifo do autor) (BRASIL, 1967).

Quando se fala que a competência da Polícia Militar foi ampliada com a troca da
expressão manutenção por preservação, é porque a preservação da Ordem Pública dá-se em
duas fases distintas: a primeira em situação de normalidade, ou seja, quando se atua na
manutenção da ordem existente, assegurando tal condição através de ações preventivas por
meio do exercício da polícia ostensiva, da qual já se tratou anteriormente, e se refere a um
sentido mais amplo que o policiamento ostensivo; e a segunda, em situação de anormalidade,
ou seja, na quebra da ordem pública, quando se tem o restabelecimento através de ações
repressivas enérgicas e imediatas.
Este é o entendimento de Lazzarini (1999, p. 105) ao lecionar que:

A preservação abrange tanto a prevenção quanto a restauração da ordem pública, no


caso, pois seu objetivo é defendê-la, resguardá-la, conservá-la íntegra, intacta, daí a
32

firmar-se agora com plena convicção que a polícia de preservação da ordem pública
abrange as funções de polícia preventiva e a parte da polícia judiciária denominada
de repressão imediata, pois é nela que ocorre a restauração da ordem pública [...].

Portanto, a prevenção pode ser caracterizada pela “previsão, ou seja, por medidas
que tenham como finalidade evitar a violação da ordem jurídica, da incolumidade do Estado,
das instituições e dos indivíduos; tanto pode atender a comportamentos como situações
potencialmente perigosas” (MOREIRA NETO, 2009, p. 462).
Já a repressão ou o restabelecimento caracteriza-se pela “provisão, ou seja, pela
efetivação de medidas e realização de ações que visem à cessação de comportamentos
adversativos e ao restabelecimento da normalidade de situações que põem em risco a ordem
jurídica, a incolumidade nacional e a segurança individual” (MOREIRA NETO, 2009, p.
462).
Neste sentido, pode-se afirmar que preservação é a soma da manutenção mais a
repressão ou restabelecimento, permitindo que sejam protegidos o livre exercício dos direitos
e liberdades e garantida a segurança do cidadão.

2.2.4 Poder de Polícia

O Poder de Polícia pode ser entendido como mais uma das atribuições das
Polícias Militares, porém deve-se ter em mente que ele não é apenas uma atribuição, mas um
instrumento para ações fiscalizadoras, como se poderá verificar nos conceitos apresentados a
seguir.
Neste sentido, leciona Carvalho Filho (1999, p. 49-50):

O Estado precisa ter mecanismos próprios que lhe permitam atingir os fins que
colima, mecanismos esses inseridos no direito positivo e qualificados como
verdadeiros poderes ou prerrogativas especiais de direito público. Um desses
poderes resulta exatamente do inafastável confronto entre os interesses público e
privado, e nele há a necessidade de impor, às vezes, restrições aos direitos dos
indivíduos.
[...] Quando o poder público interfere na órbita do interesse privado para
salvaguardar interesse público, restringindo direitos individuais, atua no exercício do
poder de polícia.
33

O conceito de Poder de Polícia está previsto legalmente no ordenamento jurídico


pátrio no artigo 78 do Código Tributário Nacional, in verbis:

Art. 78. Considera-se poder de polícia a atividade da administração pública que,


limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou
abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene,
à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado (BRASIL, 1966).

Doutrinariamente, o poder de polícia pode ser entendido como “a atividade do


Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do interesse
público” (DI PIETRO, 2007, p.104), “exclusivo das autoridades da Administração Pública,
enquanto poder público” (LAZZZAINI, 2003, p. 264).
Na lição de Meirelles (2000, p. 393):

O poder de polícia é faculdade de que dispõe a Administração Pública para


condicionar e restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em
benefício da coletividade ou do próprio Estado.
[...] em linguagem menos técnica, é o mecanismo de frenagem de que dispõe a
Administração Pública para conter os abusos do direito individual.

No dizer de Lazzarini (1987, p. 27), poder de polícia é “um conjunto de


atribuições da Administração Pública, como poder público, tendentes ao controle dos direitos
e liberdades das pessoas, naturais ou jurídicas, a ser inspirado nos ideais do bem comum”.
Cretella Júnior (1985, p. 55), ao tratar sobre o assunto, colabora sobremaneira a
pesquisa ao afirmar que:

Se a Polícia tem as possibilidades de agir, em concreto, pondo em atividade todo o


aparelhamento de que dispõe, isso se deve a „potestas‟ que lhe confere o poder de
polícia. O poder de polícia é que fundamenta o poder da polícia. Este sem aquele
seria arbitrário, verdadeira ação policial divorciada do Estado de Direito.

Moreira Neto (2009, p. 441), também, dá sua colaboração para a pesquisa ao


conceituar Poder de Polícia como sendo uma “função administrativa de polícia, por meio do
qual o Estado aplica restrições ou condicionamentos, legalmente impostos, ao exercício das
liberdades e direitos fundamentais, tendo em vista assegurar uma convivência social
harmônica e produtiva”. Destaca-se, neste conceito, que as restrições citadas pelo doutrinador
devem ser prescritas em lei, ou seja, devem respeitar o princípio da reserva legal, o que é base
para uma das fases do Poder de Polícia, que será tratada futuramente, qual seja, a Ordem de
Polícia.
34

Por fim, deve-se esclarecer que o poder de polícia, diante de sua amplitude e
complexidade, possui determinadas características, como atributos que lhe são específicos,
quais sejam: o da discricionariedade, o da autoexecutoriedade e o da coercibilidade; limites e
fases, estas podendo ser compreendidas como: ordem de polícia, consentimento de polícia,
fiscalização de polícia e sanção de polícia, conforme explica o Parecer GM-25 (BRASIL,
2001), ao tratar da atuação do Estado, sendo todos tratados a seguir individualmente.

2.2.4.1 Atributos do poder de polícia

Como citado anteriormente, o poder de polícia possui três atributos ou


características específicas, que serão abordados neste momento da pesquisa: a
autoexecutoriedade, a discricionariedade e coercibilidade.

2.2.4.1.1 Autoexecutoriedade

No que se refere à autoexecutoriedade do poder de polícia, esta explicita a


faculdade que a Administração Pública possui em decidir e executar suas decisões sem a
necessidade de prévia autorização do Poder Judiciário, isso decorrente da própria natureza do
poder de polícia (LAZZARINI, 2003, p. 267).
Neste sentido, Di Pietro (2003, p.114) afirma que “a autoexecutoriedade é a
possibilidade que tem a Administração de, com os próprios meios, pôr em execução as suas
decisões, sem precisar recorrer previamente ao Poder Judiciário”.
Gasparini (2009, p. 135), contribuindo com o assunto, deixa claro que a
autoexecutoriedade necessita de requisitos, devendo para tal ser utilizada na hipótese de
“inexistir previsão legal e não se tratar de situação de emergência”, pois, nestes casos, deverá
ser acionado o Poder Judiciário.
35

2.2.4.1.2 Discricionariedade

Conforme Lazzarini (2003, p. 266), a discricionariedade refere-se ao “uso da


liberdade legal de valoração das atividades policiadas, sendo que esse atributo ainda diz
respeito à gradação das sanções administrativas aplicáveis aos infratores”.
Como se pode verificar nas palavras do doutrinador, esta é uma prática usual e
rotineira da Administração Pública, utilizável nos seus mais diversos campos de atuação.
Meirelles (2002, p. 115) afirma:

[...] ser a livre escolha, pela Administração, da oportunidade e convivência de


exercer o poder de polícia, bem como, de aplicar as sanções e empregar os meios
conducentes a atingir o fim colimado, que é a proteção de algum interesse público.
Desde que os atos de polícia administrativa se contenha nos limites legais, e a
autoridade se mantenha na faixa de opção que lhe é atribuída, a discricionariedade é
legítima.

Devendo destacar que o atributo da discricionariedade do poder de polícia “não se


confunde com arbitrariedade, com arbítrio” (LAZZARINI, 2003, p. 266), devendo respeitar
certos limites.
Porém, devem-se destacar as palavras de Gasparini (2009, p. 131), que entende
que o Poder de Polícia também é vinculado, pois o autor afirma que “tal atribuição se efetiva
por atos administrativos expedidos através do exercício de uma competência às vezes
vinculadas, às vezes discricionária”.

2.2.4.1.3 Coercibilidade

Por último, o atributo da coercibilidade “é a imposição coativa das medidas


adotadas pela Administração no exercício do Poder de Polícia” (LAZZARINI apud
MEIRELLES, 2002, p.268).
Segundo os ensinamentos de Di Pietro (2003, p.115), “a coercibilidade é
indissociável da autoexecutoriedade. O ato de polícia só é auto-executório porque é dotado de
força coercitiva”.
Neste sentido, verifica-se que “o ato de polícia não é facultativo para o
36

administrado, de vez que todo ato de polícia tem a coercibilidade estatal para efetivá-lo.
Quando este opõe resistência, admite-se, até mesmo, o emprego da força para o seu
cumprimento” (LAZZARINI, 2003, p. 269).

2.2.4.2 Fases do Poder de Polícia

O Poder de Polícia, ao ser exercido, possui algumas fases ou modos de atuação,


que podem ou não se suceder, conforme a necessidade ou situação presenciada. As quatro
fases são: Ordem de Polícia, Consentimento de Polícia, Fiscalização de Polícia e Sanção de
Polícia.

2.2.4.2.1 Ordem de Polícia

A ordem de polícia se contém num preceito ou, conforme Moreira Neto (2009, p.
444), “é o preceito legal básico”, que, necessariamente, nasce da lei, salvaguarda dada por
uma reserva legal, embasando-se constitucionalmente no art.5º, II, podendo ser enriquecido
discricionariamente, consoante as circunstâncias e observando os limites legais, dando inicio
ao seu ciclo de atuação (BRASIL, 2001).
Moreira Neto (2009, p. 444), novamente, contribuindo com o tema, leciona que
tal fase do Poder de Polícia pode ser dividida em duas modalidades, sendo a primeira “um
preceito negativo absoluto”, e o segundo “um preceito negativo com reserva de
consentimento”. Na primeira a Administração Pública impõe restrições aos exercícios de
determinados direitos e/ou atividades; já na segunda modalidade a Administração impõe
condicionamentos para o exercício.
Portanto, pode-se verificar que a Ordem de Polícia é um preceito para que não
faça aquilo que pode prejudicar o interesse coletivo; em essência, consiste em uma série de
limitações à propriedade e à liberdade em prol do interesse coletivo, podendo ela ser
vinculada ou discricionária (MOREIRA NETO, 1998 apud LAZZARINI, 2003, p. 54).
37

2.2.4.2.2 Consentimento de Polícia

A segunda fase do Poder de Polícia a ser apresentada é o Consentimento de


Polícia, o qual “quando couber, será a anuência, vinculada ou discricionária, do Estado com a
atividade submetida ao preceito vedativo relativo, sempre que satisfeitos os condicionamentos
exigidos” (BRASIL, 2001, p. 07).
O consentimento fornecido pela Administração Pública é formalizado através do
Alvará, o qual “representa a pretensão do administrado, quando manifestada de forma legal”
(MEIRELLES, 1990, p. 122), e materializado por uma licença ou uma autorização,
outorgadas pelo Poder Público.
Portanto, pode-se afirmar que o alvará é “o instrumento da licença ou da
autorização para a prática de ato, realização de atividade ou exercício de direito dependente de
policiamento administrativo [...]” (MEIRELLES, 1990, p. 122).
Nesse sentido, o alvará pode ser classificado das seguintes formas: definitivo ou
precário, e de licença ou de autorização. O alvará definitivo consubstancia uma licença; já o
alvará precário expressa uma autorização; o de licença é um ato vinculado, declaratório e
permanente; já o de autorização refere-se a um ato discricionário, constitutivo e precário,
sendo todos meios de atuação do poder de polícia (MEIRELLES, 1990, p. 122).

2.2.4.2.3 Fiscalização de Polícia

A Fiscalização de Polícia é a continuação do ciclo do Poder de Polícia, sendo uma


forma ordinária e inafastável de atuação administrativa, através da qual se verifica o
cumprimento da ordem de polícia ou a regularidade da atividade já consentida por uma
licença ou uma autorização (MOREIRA NETO, 2009, p. 446-447), podendo a fiscalização ser
ex officio ou provocada. No caso específico da atuação da polícia militar ou polícia de
preservação da ordem pública, toma-se como denominação desta atividade de fiscalização o
exercício do policiamento (BRASIL, 2001).
A fiscalização pode ser dividida da seguinte forma: ex officio, provocada,
repressiva e/ou preventiva.
38

Essa fiscalização, como é obvio, restringe-se à verificação da normalidade do uso


do bem ou da atividade policiada, ou seja, da sua utilização ou realização em conformidade
com o alvará respectivo, com o projeto de execução e com as normas legais e regulamentares
pertinentes (MEIRELLES, 1990, p. 122).
Portanto, a Fiscalização de Polícia se fará para a verificação do cumprimento das
Ordens de Polícia, primeira fase apresentada, como também para se observar os abusos que
possam existir na utilização de bens e nas atividades que foram consentidas pela
Administração Pública.
Neste sentido, pode-se afirmar que a Fiscalização de Polícia tem sua utilidade de
forma dupla, pois realiza a prevenção das infrações pela observação do cumprimento, pelos
administrados, das ordens e dos consentimentos de polícia, e prepara a repressão das infrações
pela constatação formal dos atos infringentes.
Segundo Moreira Neto (1991, apud LAZZARINI, 1999, p. 103-104):

[...] o policiamento corresponde apenas à atividade de fiscalização; por esse motivo,


a expressão utilizada, polícia ostensiva, expande a atuação das Polícias Militares à
integralidade das fases do exercício do poder de polícia. O adjetivo “ostensivo”
refere-se à ação pública da dissuasão, característica do policial fardado e armado,
reforçada pelo aparato militar utilizado, que evoca o poder de uma corporação
eficientemente unificada pela hierarquia e disciplina.

Por fim, como no caso do Consentimento de Polícia, a Fiscalização de Polícia


também possui uma forma de materialização, que neste caso se dá com a emissão do Auto de
Infração, o qual dará início ao processo administrativo.

2.2.4.2.4 Sanção de Polícia

Na última fase do ciclo, encontra-se a Sanção de Polícia, em que, “falhando a


fiscalização preventiva, e verificada a ocorrência de infrações às ordens de polícias e às
condições de consentimento” (MOREIRA NETO, 2009, p. 447), surge a necessidade de uma
atuação de gênero repressivo contra aquele que deu motivo.
A Sanção de Polícia é “a submissão coercitiva do infrator a medidas inibidoras
(compulsivas) ou dissuasoras (suasivas) impostas pela Administração” (MOREIRA NETO,
2009, p. 447). Por essa razão, é certo que a Administração Pública deve proceder com
39

extrema cautela nesse aspecto, cuidando para não aplicar meios mais enérgicos do que o
suficiente para se alcançar o fim almejado.
Neste sentido, em caso da infração à ordem pública, “a atividade administrativa,
autoexecutória, no exercício do poder de polícia, deve se esgotar no constrangimento pessoal,
direto e imediato, na justa medida para restabelecê-la” (BRASIL, 2001).
Para Meirelles (2002, p. 133), a desproporcionalidade do ato de polícia ou seu
excesso equivale a abuso de poder e, como tal, tipifica ilegalidade nulificadora da sanção.
Enfim, o poder de polícia jamais deve ir além do necessário para satisfação do interesse
público pretendido.
Tais sanções, embora variadas nas espécies, iniciam-se pela conhecida multa e
vão aumentando, após, no rigor, como, pelo exemplo, interdição de atividade, fechamento de
estabelecimento [...] (LAZZARINI, 1999, p. 197).
Por fim, pode-se resumir a Sanção de Polícia em um ”ato unilateral, extroverso e
interventivo, que visa assegurar, por sua aplicação, a repressão da infração e a restabelecer o
atendimento ao interesse público, compelindo o infrator à prática do ato corretivo”
(MOREIRA NETO, 2009, p. 447).

2.2.4.3 Limites do Poder de Polícia

Por fim, para que a polícia possa exercer seu poder, o legislador entendeu que ele
não poderia ser ilimitado, impondo barreiras ou obstáculos ao poder de polícia exercido pelos
encarregados de aplicação da lei ou por quem exerce atividades da Administração Pública.
Portanto, não é uma carta branca, que permite fazer ou deixar de fazer algo pelo seu livre
arbítrio (LAZZARINI, 2003, p. 268), isto com a finalidade de manter este poder alinhado aos
propósitos da sociedade.
Neste sentido, Cretella Júnior (2001, p. 543) ensina:

[...] não basta que a lei possibilite a ação coercitiva da autoridade para justificação
do ato de polícia. A coexistência da liberdade individual com o poder de polícia
repousa na harmonia entre a necessidade de respeitar essa liberdade e a de assegurar
a ordem social. O requisito de conveniência ou de interesse público é, assim,
pressuposto necessário à restrição dos direitos individuais.

Estes limites são impostos, principalmente, pelas Leis em vigor no país e pelos
40

Princípios Constitucionais e Administrativos que permeiam a interpretação daquelas, ou seja,


o limite vem do direito. Como se pode observar no parágrafo único do art. 78 do Código
Tributário Nacional, o qual, em seu caput, conforme anteriormente já tratado, apresenta o
conceito de Poder de Polícia, e, em seu parágrafo, como deve ser exercido:

Art. 78. [...]


Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando
desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância
do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionária, sem
abuso ou desvio de poder (BRASIL, 1966).

Neste sentido, Gasparini leciona que há dois limites para os atos de polícia:

[...] o primeiro se encontra no pleno desempenho da atribuição, isto é, no amplo


interesse de impor limitações ao exercício da liberdade e ou uso, gozo e disposição
da propriedade. O segundo reside na observância dos direitos assegurados aos
administrados pelo ordenamento positivo (GASPARINI, 2009, p. 132).

Ou seja, o limite desta atribuição reside na relação do exercício do direito de


administrado com a faculdade de exercitar seus próprios direitos.
A polícia tem o “dever de aplicar a lei e de reprimir com energia a sua
transgressão em defesa da sociedade” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006, p. 5), mas sempre
respeitando os limites impostos pela própria lei, pois, não sendo obedecidos estes limites, o
agente público, no caso, o Policial Militar, incorrerá em conduta ilícita, a qual já foi citada
anteriormente nesta pesquisa, chamada abuso de autoridade, o qual pode ser entendido como
“toda ação que torna irregular a execução do ato administrativo, legal ou ilegal, e que
propicia, contra seu autor, medidas disciplinares, civis e criminais” (GASPARINI, 2009, p.
148), além de outros possíveis ilícitos.
3 USO PROGESSIVO DA FORÇA: CONCEITOS, LEGISLAÇÕES, PRINCÍPIOS E
MODELOS

Após terem sido tratados no capítulo anterior, aspectos históricos, conceituais e


legais da atuação policial militar, serão, neste capítulo, apresentados princípios norteadores e
basilares para o uso da força pelas instituições policiais, os preceitos legais autorizadores
desta prática, um breve conceitual de aspectos relacionados ao assunto, para, no fim, serem
apresentados modelos existentes sobre o uso progressivo da força.

3.1 USO DA FORÇA

Com o desenvolvimento social, legislativo e de consciência dos direitos e


obrigações do administrado e dos administradores, surge a necessidade de adaptação dos
órgãos policiais a esta nova realidade, principalmente na execução de sua atividade fim.
Diante dos movimentos que exigem uma polícia mais bem equipada e mais
profissional, a doutrina policial desenvolveu conceitos importantes, entre eles o do uso da
força, isso porque a “força é, para o policial, um recurso geral aplicável sob formas múltiplas
e numa infinidade de situações não definidas a priori.” (MONET, 2002, p.24), que será objeto
deste subtítulo.

3.1.1 O que é força?

Para compreender o sentido do uso da força, faz-se necessário conhecer o conceito


de força, a qual pode ser entendida pela conceituação gramatical como “ação de obrigar
alguém a fazer algo” (FERREIRA, 1988, p. 241).
No sentido da atividade policial, a força é entendida como “toda intervenção
compulsória sobre o indivíduo ou grupos de indivíduos, reduzindo ou eliminando sua
capacidade de autodecisão” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006, p. 2).
42

Neste sentido, para se utilizar da força, o policial militar deve fazê-lo através de
níveis: “é entendido desde a simples presença policial em uma intervenção até a utilização da
arma de fogo, em seu uso extremo (uso letal)” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006, p. 2).
Diante destes esclarecimentos, faz-se necessário apresentar uma discussão sobre a
correta forma de se utilizar a expressão “força”, quando relacionada à atividade estatal de
preservação da ordem pública.

3.1.2 Uso legítimo da força X uso legítimo da violência

Como se pôde verificar até o momento, utilizou-se, nesta pesquisa, apenas a


expressão “uso da força”, isso porque é esta a mais correta a se utilizar quando se fala nas
ações do Estado, e “não uso legítimo da violência”, como há quem se utilize, pois a violência,
em nenhum momento, é autorizada ou permitida no ordenamento jurídico brasileiro. Portanto,
desta forma, a atuação do Estado com violência não poderá ser legal e tampouco legítima.
Mesmo contrariando a nova tendência mundial voltada aos direitos humanos e à
cidadania, há autores que entendem que, ao agir, “o Estado intervém, com violência legítima,
quando um cidadão usa a violência para ferir, humilhar, torturar, matar outros cidadãos, de
forma a garantir a tranquilidade. É a lógica da violência legítima contendo a violência
ilegítima” (SILVA, 1994, p. 48).
Porém, a maioria dos doutrinados e os órgãos componentes e responsáveis pela
segurança pública entendem que este termo não mais pode ser utilizado. O MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA (2006, p. 3), corroborando o que leciona Viana (2000), entende que “o termo
utilizado por Silva (1994, p. 48), violência legítima, não é o mais adequado”.
Por isso, é importante que se empregue e se conheça o seguinte termo: “uso
legítimo da força”, o qual melhor atende ao assunto, pois este exige padrões legais e éticos,
enquanto a expressão violência vai de encontro com a atual filosofia da segurança pública, a
qual prestigia ações voltadas ao cumprimento da lei e ao respeito à dignidade da pessoa
humana.
Ciente de que o Estado tem a prerrogativa do “uso legítimo da força”, no próximo
subtítulo será apresentada a fundamentação teórica, através das leis e princípios que regem o
ordenamento jurídico brasileiro.
43

3.2 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE AS LEIS E PRINCÍPIOS AFETOS AO


MONOPÓLIO DO USO DA FORÇA PELO ESTADO

Para que o Estado possa utilizar-se da força, este deve estar basilado na lei e em
princípios, sejam eles Constitucionais, legais ou mesmo Administrativos. Por esta razão,
necessário se faz apresentar, neste momento, os fundamentos legais e principiológicos
permissores do uso da força pelos agentes do Estado.

3.2.1 Fundamentação legal para o monopólio do uso da força

Para fundamentar legalmente o monopólio do uso da força pelo Estado, far-se-á


uma breve análise dos diplomas legais internacionais e nacionais que tratam do assunto, os
quais se podem citar: o Código de Conduta dos Funcionários Encarregados pela aplicação da
lei, os Códigos Penais Comum e Militar e os Códigos Processuais Penais Comum e Militar.

3.2.1.1 Código de Conduta dos Funcionários Encarregados pela aplicação da lei

Um dos principais instrumentos para que o Estado, através dos seus agentes, possa
utilizar da força para “responder a qualquer situação que aconteça no seio da sociedade”
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006, p. 4) é o Código de conduta para encarregados da
aplicação da lei. Código adotado através da Resolução 34/169 da Assembléia Geral das
Nações Unidas, em 17 de dezembro de 1979, “instrumento internacional, com o objetivo de
orientar os Estados membros quanto à conduta dos policiais” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA,
2006, p. 6).
Esse código “busca criar padrões para que as práticas de aplicação da lei estejam
de acordo com as disposições básicas dos direitos e liberdades humanas” (MINISTÉRIO DA
44

JUSTIÇA, 2006, p. 6), elencando regras que devem ser cumpridas pelos Funcionários
Encarregados de Aplicação da Lei2.
Com relação ao assunto em pesquisa, importante se faz destacar, dentre os oito
artigos que compõem o código, o seu artigo 3º, que prevê a limitação do uso da força para os
encarregados de aplicação da lei, quando prevê que os mesmos devem empregar a força
apenas quando tal conduta se configure extremamente necessária, com a ressalva de que deve
ser na medida, ou seja, proporcional para o cumprimento da lei (ORGANIZAÇÃO DAS
NAÇÕES UNIDAS, 1979).

3.2.1.2 Código Penal Brasileiro e Penal Militar

Outro instrumento legal utilizado para fundamentar a ação policial, quando


necessita utilizar-se da força, é o Código Penal Brasileiro, quando trata das excludentes de
ilicitude e de crime: legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever
legal e exercício regular do direito.
As excludentes de ilicitude e de crime estão previstas nos artigos 23 e 42 do
Código Penal Brasileiro, in verbis:

Exclusão de ilicitude
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade3;
II - em legítima defesa4;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
Excesso punível
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo
excesso doloso ou culposo.
[...]
Exclusão de crime
Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;

2
Refere-se a todos os executores da lei, nomeados ou eleitos, que exerçam poderes de natureza policial,
especialmente o poder de efetuar detenções ou prisões. Nos países em que os poderes policiais são exercidos por
autoridades militares, uniformizadas ou não, ou por forças de segurança do Estado, a definição de encarregados
da aplicação da lei deverá incluir os agentes desses serviços (CCEAL) (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS, 1979).
3
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não
provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
circunstâncias, não era razoável exigir-se (BRASIL, 1984).
4
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem (BRASIL, 1984).
45

III - em estrito cumprimento do dever legal;


IV - em exercício regular de direito.
Parágrafo único. Não há igualmente crime quando o comandante de navio, aeronave
ou praça de guerra, na iminência de perigo ou grave calamidade, compele os
subalternos, por meios violentos, a executar serviços e manobras urgentes, para
salvar a unidade ou vidas, ou evitar o desânimo, o terror, a desordem, a rendição, a
revolta ou o saque (BRASIL, 1984).

Os artigos acima citados preveem as situações em que os agentes do Estado


podem se utilizar da força, até mesmo cometendo, aparentemente, um crime, porém, estarão
amparados legalmente, o que exclui a ilicitude desta conduta.
Outro instrumento do ordenamento jurídico brasileiro que trata do assunto é o
Código Penal Militar, que, de uma maneira particular, tendo em vista, suas características e
princípios basilares, como a hierarquia e a disciplina, prevê as mesmas excludentes, porém
conceitua de forma diferenciada o estado de necessidade, entendendo que o mal causado deve
ser inferior ao mal evitado, ou seja, só agirá coberto por esta excludente quando estiver
salvando algo de valor maior do que aquele dano que causar (BRASIL, 1969), sendo adepto à
Teoria Diferenciadora, e não à Unitária, utilizada no Código Penal Comum.
Veja-se agora como os Códigos Processuais Penais tratam do assunto em tela.

3.2.1.3 Código de Processo Penal e Processo Penal Militar

No ramo do direito processual brasileiro, podem-se extrair preceitos que tratam


especificamente sobre o uso da força, quando do cumprimento da lei por parte dos policiais
militares.
O primeiro artigo que trata do assunto no Código de Processo Penal traz de forma
negativa a utilização da força, demonstrando que a mesma é usada apenas em casos
excepcionais, ao se referir da seguinte forma:

Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável no caso de
resistência ou de tentativa de fuga do preso (BRASIL, 1941).

Os outros preceitos que tratam do uso da força no mesmo texto legal referem-se a
sua utilização, quando da existência, na prisão em flagrante ou no cumprimento da
determinação da autoridade competente, de resistência por parte de terceiros.
46

Os artigos preveem o seguinte:

Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão em
flagrante ou à determinada por autoridade competente, o executor e as pessoas que o
auxiliarem poderão usar dos meios necessários para defender-se ou para vencer a
resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas.
Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança, que o réu entrou ou
se encontra em alguma casa, o morador será intimado a entregá-lo, à vista da ordem
de prisão. Se não for obedecido imediatamente, o executor convocará duas
testemunhas e, sendo dia, entrará à força na casa, arrombando as portas, se preciso;
sendo noite, o executor, depois da intimação ao morador, se não for atendido, fará
guardar todas as saídas, tornando a casa incomunicável, e, logo que amanheça,
arrombará as portas e efetuará a prisão.
Parágrafo único. O morador que se recusar a entregar o réu oculto em sua casa será
levado à presença da autoridade, para que se proceda contra ele como for de direito
(BRASIL, 1941).

No Código de Processo Penal Militar, destaca-se o art. 234, o qual, além de prever
em qual circunstância o uso da força é permitido, elenca modalidades específicas, que é o
caso do emprego de algemas e de armas de fogo ao regular a conduta do policial militar da
seguinte forma:

Emprego de força
Art. 234. O emprego de força só é permitido quando indispensável, no caso de
desobediência, resistência ou tentativa de fuga. Se houver resistência da parte de
terceiros, poderão ser usados os meios necessários para vencê-la ou para defesa do
executor e auxiliares seus, inclusive a prisão do ofensor. De tudo se lavrará auto
subscrito pelo executor e por duas testemunhas.
Emprego de algemas
§ 1º O emprego de algemas deve ser evitado, desde que não haja perigo de fuga ou
de agressão da parte do preso, e de modo algum será permitido, nos presos a que se
refere o art. 242.
Uso de armas
§ 2º O recurso ao uso de armas só se justifica quando absolutamente necessário para
vencer a resistência ou proteger a incolumidade do executor da prisão ou a de
auxiliar seu (BRASIL, 1969).

O outro preceito legal do mesmo texto jurídico absteve-se de trazer qualquer


novidade, sendo cópia fiel do artigo do Código de Processo Penal.
Conhecendo o que dizem as leis sobre o uso da força, no próximo subtítulo
apresentar-se-ão as fundamentações principiológicas.
47

3.2.2 Princípios norteadores para utilização da força

Além dos textos legais, há também a existência de princípios que norteiam o


Estado e seus funcionários para a utilização da força. Há princípios positivados e organizados
em forma de texto, como no caso dos Princípios Básicos sobre o uso da força e armas e fogo,
e princípios em sua essência, como no caso da Supremacia do interesse público sobre o
privado e do Princípio da Razoabilidade.
Destaca-se que, mesmo sendo de conhecimento de que o Princípio da Dignidade
da Pessoa Humana poderia ser objeto de estudo neste momento, tendo em vista ser uma forma
de limitar o uso da força pelos agentes do Estado, o mesmo não será tratado, pois, ele já foi
objeto desta pesquisa ao tratar-se dos componentes da Ordem Pública no capítulo anterior.

3.2.2.1 Princípios Básicos sobre o uso da força e armas de fogo

Os princípios básicos sobre o uso da força e armas de fogo foram adotados no


oitavo congresso das Nações Unidas sobre a “Prevenção do crime e o Tratamento dos
infratores”, realizado na Capital de Cuba, em Havana, nos dias 27 de agosto a 7 de setembro
de 1990.
Estes princípios foram confeccionados “com o propósito de assistir os Estados
membros na tarefa de assegurar e promover a adequada missão dos funcionários responsáveis
pela aplicação da lei” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1990).
Devido à missão do Estado, neste cenário, ele deverá desenvolver e legislar sobre
o uso da força e de armas de fogo, com o intuito de normatizar as condutas dos responsáveis
pela aplicação da lei, sempre tendo como fundo a ética na utilização da força e de armas de
fogo (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1990).
Destaca-se, entre os princípios básicos sobre o uso da força e de armas de fogo, a
previsão dos governos de equipar os policiais com vários tipos de armas e munições,
permitindo um uso diferenciado de força e armas de fogo, ou seja, o Estado deve possibilitar
aos policiais meios que permitam utilizar-se do uso progressivo da força durante o exercício
de sua atividade, conforme se pode extrair do art. 2º, in verbis:
48

Art. 2º. Os governos e entidades responsáveis pela aplicação da lei deverão preparar
uma série tão ampla quanto possível de meios e equipar os responsáveis pela
aplicação da lei com uma variedade de tipos de armas e munições que permitam o
uso diferenciado da força e de armas de fogo (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS, 1990).

Seguindo o que previa o Código de Conduta dos Funcionários Encarregados pela


aplicação da lei, os Princípios preveem o uso da força como exceção, ao se referir sobre o
assunto da seguinte forma:

Art. 13. Ao dispersar grupos ilegais mas não-violentos, os responsáveis pela


aplicação da lei deverão evitar o uso da força, ou quando tal não for possível,
deverão restringir tal força ao mínimo necessário.
[...]
Art. 15. Ao lidarem com indivíduos sob custódia ou detenção, os responsáveis pela
aplicação da lei não farão uso da força, exceto quando tal for estritamente necessário
para manter a segurança e a ordem na instituição, ou quando existir ameaça à
segurança pessoal (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1990).

Outro elemento importante nesta convenção refere-se à formação profissional, a


qual é tratada no art. 20, in verbis:

Art. 20. Na formação profissional dos responsáveis pela aplicação da lei, os


governos e organismos encarregados da aplicação da lei devem dedicar atenção
especial às questões de ética policial e direitos humanos, especialmente durante o
processo de investigação; a alternativas ao uso da força e armas de fogo, incluindo a
solução pacífica de conflitos, a compreensão do comportamento das multidões e os
métodos de persuasão, negociação e mediação, bem como os meios técnicos,
destinados a limitar o uso da força e armas de fogo. Os órgãos encarregados da
aplicação da lei devem rever os seus programas de treinamento e procedimentos
operacionais à luz de eventuais incidentes concretos (ORGANIZAÇÃO DAS
NAÇÕES UNIDAS, 1990).

Por essa razão, os agentes do Estado, contentores do direito de usar da força,


deverão cumprir suas funções, sempre que possível, aplicando meios não ou menos violentos
antes de recursos mais extremados, os quais deverão ser utilizados apenas quando outros
meios mostrarem-se ineficientes para a obtenção de um resultado esperado
(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1990).
Desta forma, quando for inevitável o uso da força, este deverá seguir
determinados padrões, tais como: ser exercido com moderação e proporcional à gravidade da
infração; para minimizar danos e ferimentos; se houver feridos, que sejam prontamente
atendidos; e que os familiares deste sejam informados (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS, 1990).
49

Como dito anteriormente, além deste princípio positivado, há aqueles que


norteiam as condutas tanto dos administrados como dos administradores, sem qualquer
legislação, apenas sendo cumpridos pelo seu aspecto costumeiro; dentre estes, citam-se o
Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado e da Razoabilidade, ambos
tratados nos próximos subtítulos.

3.2.2.2 Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado

Mesmo que aparentemente este Princípio não condiga com o assunto em tela, ou
seja, o uso da força, ele tem extrema importância, pois ele é um dos princípios basilares do
Estado para utilizar-se deste instrumento. Isto porque este princípio serve “até mesmo, para
sobrevivência e asseguramento „do Estado‟. É pressuposto de uma ordem social estável, em
que todos e cada um possam sentir-se garantidos e resguardados” (MELLO, 2007, p. 69).
Este princípio confere ao Estado uma posição de privilégio sobre o particular,
além de “assegurar conveniente proteção aos interesses públicos instrumentando os órgãos
que os representam para um bom, fácil, expedito e resguardado desempenho de sua missão”
(MELLO, 2007, p. 70). Ou seja, ele é, também, um dos autorizadores dos agentes do Estado
em utilizar-se da força, quando do cumprimento de sua missão, pois, agindo para que o
interesse público prevaleça sobre o privado, pode necessitar-se do uso da força, o qual, sendo
necessário, será utilizado, devendo ser de forma razoável, como se poderá ver a seguir.

3.2.2.3 Princípio da Razoabilidade

Antes de tratar do Princípio da Razoabilidade, devem-se destacar as palavras de


Mello (2007, p. 105-106), que, ao tratar do assunto, leciona:

O fato de a lei conferir ao administrador certa liberdade (margem de discrição)


significa que lhe deferiu o encargo de adotar, ante a diversidade de situações a serem
enfrentadas, a providência mais adequada a cada qual delas, pois, pretende-se evitar
a prévia adoção em lei de uma solução rígida, única – e por isso incapaz de servir
adequadamente para satisfazer, em todos os casos, o interesse público estabelecido
na regra aplicanda -, é porque através dela visa-se à obtenção da medida ideal, ou
50

seja, da medida que, em cada situação, atenda de modo perfeito à finalidade da lei.

Diante das palavras do doutrinador, verifica-se que a lei concede ao agente


público poderes para que, ao exercer a sua função, possa aplicar a lei da melhor maneira
possível. Por isso, o ordenamento jurídico brasileiro utiliza-se do Princípio da Razoabilidade
que, conforme Niebuhr (2000, p. 98), é:

O critério máximo para a interpretação de toda e qualquer disposição normativa.


Não importa se regra, princípio ou dispositivo de outra natureza, o processo de
concretização de uma norma deve atentar ao razoável, ao prudente, ao plausível.

Meirelles (2003, p. 87) também trata do Princípio da Razoabilidade, dando-lhe


outra nomenclatura, além do seu objetivo, ao afirmar que:

Pode ser chamado de princípio da proibição do excesso, que, em última análise,


objetiva aferir a compatibilidade entre os meios e os fins, de modo a evitar restrições
desnecessárias ou abusivas por parte da Administração Pública, com lesão aos
direitos fundamentais.

Mello (2007, p. 105), ao tratar do Princípio da Razoabilidade na Administração


Pública, leciona que:

A Administração, ao atuar no exercício de discrição, terá de obedecer a critérios


aceitáveis do ponto de vista racional, em sintonia com o senso normal de pessoas
equilibradas e respeitosas das finalidades que presidiram a outorga da competência
exercida.

Como se pôde observar nas palavras dos doutrinadores acima citados, toda
conduta dos agentes do Estado deve ser razoável, ou seja, não deve haver excessos, o que nos
faz pensar, através do tema em tela, que todo uso da força deve ser limitado à medida
necessária para o cumprimento da missão e aplicação da lei.
Após as fundamentações necessárias para a compreensão do uso da força pelos
agentes do Estado, no próximo subtítulo tratar-se-á sobre o uso progressivo da força.
51

3.3 USO PROGRESSIVO DA FORÇA

A expressão “uso da força”, mesmo estando correta, acabou sendo aprimorada


quando utilizada na prática policial. Isso porque se analisou e verificou que a sua aplicação
não pode ser estanque, ou seja, não há como o policial militar apenas aplicar a força e resolver
a ocorrência. Por essa razão, surgiu o uso progressivo da força, o qual será objeto de estudo
deste subtítulo.

3.3.1 Conceito de uso progressivo da força

O uso progressivo da força baseia-se no escalonamento da força, conforme a


necessidade de utilização perante a situação apresentada, ou seja, “consiste na seleção
adequada de opções de força pelo policial em resposta ao nível de submissão do indivíduo
suspeito ou infrator a ser controlado” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006, p. 2).
As opções de força a que o conceito se refere, conforme modelo da SENASP, o
qual será apresentado em seguida, são: “presença policial, verbalização, controles de contato,
controle físico, táticas defensivas não-letais e força letal” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA,
2006, p. 11), destacando, devido ao objeto de pesquisa, as táticas defensivas não-letais, último
degrau antes do uso da força letal.
Neste sentido, pode-se afirmar que o uso progressivo da força é definido como
uma ferramenta para ajudar na determinação das técnicas ou níveis de força apropriados para
as várias situações que possam surgir. É uma lista de técnicas que possuem uma graduação,
que vai das mais “fracas” ou menos violentas, até as mais extremadas, como a força letal.
(BRASIL, 2009, p. 28).
Como no caso do uso da força, o uso progressivo da força também possui certos
princípios, porém estes, de forma específica, orientam como ele deve ser utilizado. No
próximo subtítulo, serão tratados mais amiúde, cada um deles.
52

3.3.2 Princípios básicos específicos de aplicação do uso progressivo da força

Para utilizar-se da força ou do seu uso progressivo, deve o policial militar ter
diante de si quatro princípios primordiais: Legalidade, Necessidade, Proporcionalidade e
Conveniência, além de todos estarem protegidos por condutas éticas. Estes princípios serão
apresentados individualmente, a seguir, através de seus conceitos e entendimentos
doutrinários.

3.3.2.1 Princípio da Legalidade

O Princípio da Legalidade, ou também conhecido como Princípio da Reserva


Legal, encontra-se fundamentado e positivado na Lei Magna do ordenamento jurídico
brasileiro, mais precisamente no art. 5º, inc. XXXIX, (BRASIL, 1988), assim como está
inserido no art. 1º do Código Penal (BRASIL, 1984), repetindo o que já prevê a Constituição
Federal, sendo, conforme Mirabete (2002, p. 55), “a mais importante conquista de índole
política, constituindo norma básica do Direito Penal moderno”. „Política‟ “no sentido de ser
uma garantia constitucional dos direitos do homem” (MIRABETE, 2001, p. 61).
Além disso, o Princípio da Legalidade tanto assegura “as pretensões punitivas e
reparadoras da vítima”, quanto “é garantia da liberdade para todos” (MIRABETE, 2001, p.
61), pois, conforme entendimento de Capez (2002, p. 39), tal Princípio:

Corresponde a uma aspiração básica e fundamental do homem, qual seja, a de ter


uma proteção contra qualquer forma de tirania e arbítrio dos detentores do exercício
do poder, capaz de lhe garantir a convivência em sociedade, sem risco de ter a sua
liberdade cerceada pelo Estado, a não ser nas hipóteses previamente estabelecidas
em regras gerais, abstratas e impessoais.

Bastos (1989, p. 23) traz grande colaboração sobre o assunto ensinando que o
princípio da legalidade “assegura, ao particular, a prerrogativa de repelir as injunções que lhe
sejam impostas por uma outra via que não seja a da lei”. Por essa razão, o agente do Estado só
poderá utilizar-se da força quando acobertado pela lei, pois, se não for nesta situação, o
particular persuadido poderá repelir tal força de agressão.
53

Portanto, o Princípio da Legalidade serve como uma defesa do homem contra


qualquer tipo de arbitrariedade daquele que possui o exercício do poder, não permitindo assim
que este faça algo que não esteja estritamente descrito na lei, assim como limita as condutas
do Estado ao que ela prevê. Ou seja, o uso da força é permitido apenas para atingir um
objetivo legítimo, desde que obedecida a forma estabelecida em lei. Por este motivo, deve o
policial perguntar a si mesmo se o emprego da força naquele momento é legal. Como, por
exemplo, nos casos das excludentes de ilicitude, já analisadas nesta pesquisa.
Além disso, os agentes do Estado “somente recorrerão ao uso progressivo da
força, quando todos os outros meios para atingir um objetivo legítimo tenham falhado, e o uso
da força pode ser justificado quando comparado com o objetivo legítimo” (LIMA, 2006, p.
21-22).
Além de legal, o uso da força deve ser necessário. Por esta razão, no próximo
subtítulo será tratado o Princípio da Necessidade.

3.3.2.2 Princípio da Necessidade

O Princípio da Necessidade possui duas vertentes, como se poderá observar,


porque ele está intimamente ligado à utilização dos meios para o uso da força. Por esta razão,
pode-se afirmar que o seu uso somente ocorrerá quando outros meios não forem eficazes para
se atingir o objetivo desejado.
Além disso, ao utilizar-se da força, o policial deve questionar se naquela situação
é necessário ou não o seu uso, e para responder, o policial “precisa identificar o objetivo a ser
atingido. [...] Caso contrário, o policial cometerá um abuso e poderá ser responsabilizado”
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006, p. 19). Por esta razão, Lima (2006, p. 22), ao lecionar
sobre o assunto, afirma que, dentro do Princípio da Necessidade, “os agentes do Estado no
exercício de sua atividade só empregarão o uso da força dentro das necessidades de momento
e do fato gerador da ação policial”.
Mesmo sendo legal e necessário, o uso da força ainda precisa ser proporcional.
Por este motivo, apresentar-se-á o Princípio da Proporcionalidade.
54

3.3.2.3 Princípio da Proporcionalidade

Antes de tratar do Princípio da Proporcionalidade, importante é entender que esse


Princípio se parece muito com o Princípio da Razoabilidade, anteriormente tratado. Para
Meirelles (2002, p. 87), “a razoabilidade envolve a proporcionalidade, e vice-versa”, ou,
conforme Mello (2007, p. 107), “o princípio da proporcionalidade não é senão faceta do
princípio da razoabilidade”.
Quanto ao Princípio da Proporcionalidade, interessante se fazem as palavras de
Avolio (1999, p. 25), que, ao lecionar sobre a Teoria da Proporcionalidade, afirma que:

Para que o Estado, em sua atividade, atenda aos interesses da maioria, respeitando os
direitos individuais fundamentais, se faz necessário não só a existência de normas
para pautar essa atividade e que, em certos casos, nem mesmo a vontade de uma
maioria pode derrogar (Estado de Direito), como também há de reconhecer e lançar
mão de um princípio regulativo para se ponderar até que ponto se vai dar preferência
ao todo ou às partes (Princípio da Proporcionalidade), o que também não pode ir
além de um certo limite, para não retirar o mínimo necessário a uma existência
humana digna de ser chamada assim.

Tratando do Princípio da Proporcionalidade, Freitas (2000, p. 65) traz como


objetivo principal deste Princípio:

Restringir abusos de toda espécie. Dessa maneira, não se pode, invocando-o coibir
abusos ou excessos esgrimindo com mais abusos ou excessos. Indubitavelmente, não
se devem combater desproporcionalidades com outras maiores. Com efeito, o
princípio da proporcionalidade quer dizer finalística e essencialmente isto: temos de
fazer concordar os valores jurídicos e, quando um tiver que ponderar sobre o outro,
mister salvaguardar, ao máximo, aquele que restou relativizado.

Colaborando com o assunto, Barros (2003, p. 30) afirma que “o princípio da


proporcionalidade funciona como parâmetro técnico: por meio dele verifica-se se os fatores
de restrição tomados em consideração são adequados à realização ótima dos direitos
colidentes ou concorrentes”.
Tratando diretamente do Princípio relacionado ao uso da força, Lima (2006, p. 22)
afirma que os agentes do Estado “devem ser moderados no uso da força e de armas de fogo e
devem agir em proporção à gravidade do delito cometido e ao objetivo legítimo a ser
alcançado. Somente será aceito aos agentes empregarem a quantidade de força necessária para
alcançar um objetivo legítimo”.
55

Neste sentido, pode-se afirmar que o uso da força deve ser empregado
proporcionalmente à resistência oferecida pelo opressor, considerando os meios que o policial
dispõe. Por isso, o objetivo não é ferir ou matar, mas apenas cessar ou neutralizar uma injusta
agressão.
Sendo, então, o uso da força legal, necessário e proporcional, basta para, que este
esteja dentro dos parâmetros esperados, ser convenientes. Por esta razão, no próximo subtítulo
será tratado o Princípio da Conveniência.

3.3.2.4 Princípio da Conveniência

Mesmo que, num caso concreto, o uso da força seja legal, necessário e
proporcional, é preciso observar se não coloca em risco outras pessoas, ou seja, se é
conveniente utilizar desse meio. Como, por exemplo, “reagir a uma agressão por armas de
fogo, se você estivesse em um local de grande movimentação de pessoas, tendo em vista o
risco que sua reação ocasionaria naquela circunstância, ainda que fosse legal, proporcional e
necessário” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006, p. 4). Neste sentido, pode-se afirmar que o
Princípio da Conveniência “diz respeito ao momento e ao local da intervenção policial”
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006, p. 4).
Portanto, para que o uso da força esteja amparado, ele deve ser legal,
proporcional, necessário e, por fim, conveniente, mas lembrando sempre que, deve ser
pautado em ações éticas. Por este motivo, tratar-se-á deste instituto no próximo subtítulo.

3.3.2.5 Ética

A ética pode ser considerada, também, um dos princípios para o uso da força e
pode ser entendida como “o conjunto de princípios morais ou valores que governam a conduta
de um indivíduo ou de membros de uma mesma instituição” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA,
2006, p. 2).
Para Rosa (2010, p. 7), a ética “trata do que é certo e errado e o que é dever e
obrigação moral”.
56

Mesmo tendo sido citado anteriormente, é importante destacar que o Código de


Conduta para os Funcionários encarregados da aplicação da lei tem relação direta com a ética,
pois ele objetiva proporcionar diretrizes aos princípios éticos e legais importantes para os
agentes do Estado, encarregados da aplicação da lei, podendo ser considerado um código de
ética profissional.
Isso porque “a natureza das funções dos encarregados da aplicação da lei na
defesa da ordem pública, e a maneira pela qual essas funções são exercidas, provocam um
impacto direto na qualidade de vida dos indivíduos, assim como da sociedade como um todo”
(ROSA, 2010, p. 6). Por essa razão, torna-se importante que as condutas dos agentes do
Estado sejam pautadas em princípios éticos.
Após toda esta fundamentação teórica, em que se tratou de princípios, de códigos
e leis relativos ao assunto, assim como conceitos relacionados ao uso da força e/ou uso
progressivo da força, far-se-á, no próximo subtítulo, uma apresentação dos modelos que
orientam o Estado para se utilizar desta sua prerrogativa.

3.3.3 Modelos que orientam o uso progressivo da força

A Secretaria Nacional de Segurança Pública, ao estudar o uso progressivo da força


verificou a existência de diversos modelos5, por todo o mundo, que disciplinam o assunto.
Neste sentido, entende-se importante para a pesquisa apresentar estes modelos, para que o
aplicador da lei possa verificar, analisar e escolher aquele que melhor se adapta a sua
realidade. Isso porque os modelos de uso progressivo da força “surgiram para orientar o
policial sobre a ação a ser tomada a partir das reações da pessoa flagrada cometendo um
delito, ou até mesmo em atitude suspeita quando questionada” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA,
2006, p. 1).
Os modelos que serão apresentados são: Flect, Giliespie, Remsberg, Canadense,
Nashville, Phoenix e, por fim, o Modelo Básico, estruturado pela SENASP após análise dos
demais modelos.

5
É um esquema que contém linhas gerais sobre determinado assunto, sobre determinadas ações, sobre
determinados procedimentos… e que pode, quando utilizado, orientar a execução de algo (MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA, 2006, p. 1).
57

3.3.3.1 Modelo Fletc

Figura 1: Modelo “FLETC” de uso progressivo da força


Fonte: MINISTÉRIO DA JUSTIÇA (2006).

O Modelo Fletc é aplicado pelo Centro de Treinamento da Polícia Federal de


Glynco, na cidade da Geórgia, nos Estados Unidos da América.
Ele apresenta-se em formato de gráfico com degraus, contendo cinco camadas e
três painéis. Nos painéis, encontram-se as percepções do policial em relação à atitude do
suspeito de um lado, e do outro as percepções do risco para o policial, simbolizado por
números em algarismos romanos e em cores, que correspondem às camadas. No terceiro
painel, encontram-se as respostas, ou seja, as reações de força possíveis em relação à atitude
dos suspeitos e percepção dos riscos (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006).
Com relação às setas duplas, estas descrevem o processo de avaliação e seleção de
alternativas. Conforme a atitude do suspeito e percepção de risco, haverá uma reação do
policial, na respectiva camada, sendo os níveis crescentes, de baixo para cima (MINISTÉRIO
DA JUSTIÇA, 2006).
Deve-se destacar, neste modelo, que “o autor não considera “presença policial”
como um nível de força, vinculando o primeiro nível com comandos verbais. Trata-se de um
modelo de fácil adaptação a todas as organizações policiais e pode ser utilizado perfeitamente
pela polícia” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006, p.3).
58

3.3.3.2 Modelo Giliespie

Figura 2: Modelo “GILIESPIE” de uso progressivo da força


Fonte: MINISTÉRIO DA JUSTIÇA (2006).

O Modelo Giliespie também se estrutura num modelo gráfico, porém em forma de


tabela, contendo cinco colunas graduadas por cores e seis linhas básicas, divididas em
comportamento do agente e ação-resposta do policial.
No caso da atitude do policial, esta é dividida em quatro colunas, que estão
subdivididas respectivamente em situações diferentes sobre a percepção do policial em
relação a ele.
Com referência à progressão de força, esta possui cinco níveis, com subdivisões
crescentes de respostas pelo policial, que interagem entre si.
Neste modelo, há uma correlação entre a atitude do suspeito com a avaliação de
risco, condição mental do policial e resposta (força) a ser utilizada (MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA, 2006).
Neste modelo, destaca-se que, para o autor, “a verbalização é uma graduação de
força que interage com outros níveis. Inicia-se no segundo nível de força e prossegue até o
penúltimo, antes de se usar a força letal. É um modelo complexo, porém bem completo em
sua opção de ação e reação. O policial que compreende a sua dinâmica está apto a fazer o uso
correto da força. Pode ser adaptado para uso na Polícia Brasileira, com o devido treinamento,
dada a sua complexidade” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006, p. 4).
59

3.3.3.3 Modelo Remsberg

Figura 3: Modelo “REMSBERG” de uso progressivo da força


Fonte: MINISTÉRIO DA JUSTIÇA (2006).

O terceiro modelo é chamado de Modelo de Remsberg, o qual é concebido em


forma de degraus em elevação, sendo os degraus mais baixos simbolizando os níveis de força
mais baixos, e os mais altos, os níveis de força mais altos.
Este modelo não faz qualquer relacionamento do nível de força com a ação do
suspeito ou percepção de risco do policial, muito embora o autor observe este fato na sua
teoria explicativa.
Este modelo prevê cinco níveis de força e cada um é subdividido em sub-níveis,
que também estão em ordem crescente de baixo para cima.
Para se colocar em prática esse modelo, o policial militar deve utilizar o degrau
correspondente ao nível de força de resposta que julgar mais adequado para aquela situação
vivida. Devendo, em caso de progressão, ou seja, mudanças de situação, subir ou descer os
níveis, conforme a necessidade (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006).
Destaca-se que este modelo “é muito simples e de fácil assimilação pelos
policiais. No entanto, não é um modelo completo. Faz apenas o escalonamento do uso da
força” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006, p. 5).
60

3.3.3.4 Modelo Canadense

Figura 4: Modelo “CANADENSE” de uso progressivo da força


Fonte: MINISTÉRIO DA JUSTIÇA (2006).

O Modelo Canadense, que pelo próprio nome deixa claro sua origem, é composto
por círculos sobrepostos e subdivididos em níveis diferentes, sendo o circulo interno
correspondente ao comportamento do sujeito, e o círculo externo, à ação de resposta do
policial.
Analisando mais especificamente cada um dos círculos, pode-se afirmar que, no
círculo interno, existem cinco subdivisões; para cada situação, uma ação do suspeito. Neste
círculo é utilizada uma graduação de tonalidades, que vai da cor branca para a ação de menor
ameaça do suspeito, até a cor preta, para a ação de maior ameaça.
Já o círculo externo refere-se à ação de resposta do policial, que está graduada em
sete níveis diferentes. Em cada nível, existe uma interação com o outro através da mudança de
cores. Esclarece-se que a mudança não é estanque, ou seja, ao terminar um nível de força,
haverá outros ainda disponíveis a serem aplicados na situação. Por fim, esclarece-se que são
usadas sete cores para cada uma das graduações de força ou níveis de uso da força
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006).
Destaca-se que é um modelo “muito prático, de fácil entendimento e memorização
por parte do policial. Pode ser facilmente adaptado pela Polícia Brasileira” (MINISTÉRIO
DA JUSTIÇA, 2006, p. 6).
61

3.3.3.5 Modelo Nashville

Figura 5: Modelo “NASHVILLE” de uso progressivo da força


Fonte: MINISTÉRIO DA JUSTIÇA (2006).

O quinto modelo refere-se ao Modelo Nashville, o qual, como se pode verificar,


possui um formato gráfico em forma de “eixo de coordenadas”, comum em operações
matemáticas. É dividido em dois eixos, o eixo “x”, correspondente à atitude dos suspeitos,
sendo dividido em cinco níveis, e o eixo “y”, correspondente aos quatro níveis de força.
Como nos gráficos matemáticos, este modelo, ao ser utilizado, é feito através da
análise do gráfico formado pelo cruzamento dos dois eixos “x e y”. Esta análise pode ser feita
de duas formas, uma mais severa e outra menos severa (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006).
Por fim, fazendo parte do gráfico, como forma de orientação, são colocados os
fatores e circunstâncias que podem ou influenciam o policial para a escolha do nível de força
a ser utilizado naquela situação (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006).
Destaca-se que é um modelo “simples. Possui duas variáveis para o uso da força,
não estando presente a avaliação do risco para o policial” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA,
2006, p. 7).
62

3.3.3.6 Modelo Phoenix

Figura 6: Modelo “PHOENIX” de uso progressivo da força


Fonte: MINISTÉRIO DA JUSTIÇA (2006).

O último modelo nominado pela doutrina é considerado o mais simples dos


modelos estudados até o momento. Este modelo foi elaborado no formato de tabela com duas
colunas, sendo a primeira coluna corresponde à ação do policial, e a segunda, à atitude do
suspeito.
Este modelo divide os níveis de força e atitudes dos suspeitos em sete gradações
diferentes, iniciando estas gradações de níveis com a ausência de força e a ausência de
resistência do suspeito, indo até a utilização da arma de fogo, tanto pelo policial, como pelo
suspeito (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006).
Este modelo é “é de fácil assimilação por parte dos policiais e pode ser adaptado
por qualquer organização policial” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006, p. 8).
63

3.3.3.7 Modelo Básico

Figura 7: Modelo básico de uso progressivo da força


Fonte: MINISTÉRIO DA JUSTIÇA (2006).

Após análise comparativa dos modelos anteriormente apresentados, a Secretaria


Nacional de Segurança Pública inovou e elaborou um modelo básico, que se tornou padrão
nas instituições policiais militares brasileiras, como, por exemplo, na de Santa Catarina, que
ao aprovar, através da Portaria 099/PMSC/2010, de 04 de fevereiro de 2010, sancionou o
Manual de Técnicas Policiais da PMSC (ROSA, 2010), o qual instituiu como o modelo
padrão desta corporação.
O Modelo Básico está representado através de um gráfico em forma de trapézio,
com degraus em seis níveis, todos com cores diferentes, de acordo com cada uma das ações.
No lado esquerdo do trapézio, existe a percepção do policial em relação à atitude do suspeito.
Já, no lado direito, encontram-se as reações ou respostas de forças possíveis em relação à
atitude do suspeito (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006).
A seta, que é dupla e encontra-se no centro do gráfico, significa o processo de
avaliação e seleção das alternativas, possibilitando que, de acordo com a atitude do suspeito,
exista uma reação do policial, na respectiva camada, sendo que os níveis são crescentes de
baixo para cima (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006).
Analisando o modelo, verifica-se que, da base para o topo, cada nível representa
um aumento da intensidade da força, movendo a escala daquelas opções que são mais
reversíveis para aquelas que são menos reversíveis; daquelas que oferecem menor certeza de
controle, para aquelas que oferecem maior certeza. Desta forma, quanto mais se sobe na
64

escala de nível, maior será a necessidade de se justificar posteriormente tal conduta


(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006).
Destaca-se neste sua fácil compreensão, o que permite ao policial percorrer
mentalmente todos os seus níveis para tomar a atitude correta frente à conduta e/ou à situação
a ele enfrentada. Ou seja, “na prática, sua resposta como policial será orientada pelo
procedimento do suspeito. Ele decide o que quer de você, com suas próprias ações ou pelo
modo como se comporta” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2006, p. 11).
4 TECNOLOGIAS NÃO-LETAIS

No capítulo anterior, ao tratar sobre o uso da força, falou-se sobre os seus níveis,
porém nada mais foi falado sobre ele. Isso porque é neste momento que será necessário
conhecer os seis níveis, que podem ser assim elencados: nível 1 – presença física; nível 2 –
verbalização; nível 3 – controles de contato ou controle de mãos livres; nível 4 – técnicas de
submissão (controle físico); nível 5 – táticas defensivas não-letais; e nível 6 – força letal.
Destes destaca-se o quinto nível, que trata do uso de tecnologias não-letais, objeto de estudo
deste capítulo.

4.1 O QUE SÃO AS TECNOLOGIAS NÃO-LETAIS

Antes de tratar-se do conceito de tecnologias não-letais, importante conhecer o


que vem a ser o conceito de não-letal. O MINISTÉRIO DA JUSTIÇA (2007, p. 4), ao tratar
sobre o assunto, afirmou ser não-letal “o conceito que rege toda a produção, utilização e
aplicação de técnicas, tecnologias, armas, munições e equipamentos não-letais em atuações
policiais” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 4).
Há na doutrina uma certa divisão sobre a correta nomenclatura. Há quem entenda
que o correto seria “menos letais” ou “menos que letais”, porém, entende-se que o correto é
mesmo “não-letais”, pois somente causarão qualquer tipo de lesão grave ou morte se os
artefatos não-letais forem usados inadequadamente (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007).
Desta forma, sendo utilizados de forma correta, exercerão a função para a qual foram
construídos.
No mesmo sentido, Alexander (2003, p. 19) afirma que, mesmo havendo pessoas
que entendam que este termo daria a entender que ninguém jamais seria morto por um sistema
não-letal, não existem sistemas perfeitos; além disso, nada irá impedir o seu uso indevido, que
é uma questão de treinamento e controle.
Diante deste conhecimento, pode-se agora explorar o conceito de tecnologias não-
letais, as quais podem ser entendidas como “o conjunto de conhecimentos e princípios
científicos utilizados na produção e emprego de equipamentos não-letais” (MINISTÉRIO DA
66

JUSTIÇA, 2007, p. 4). Dentro deste conceito estão englobados diversos outros, tais como:
técnicas não-letais, armas não-letais e munições não-letais.
As técnicas não-letais são “o conjunto de métodos utilizados para resolver
determinado litígio ou realizar uma diligência policial, de modo a preservar as vidas das
pessoas envolvidas na situação” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 4).
Tratando sobre o mesmo objeto, a Polícia Militar de São Paulo, ao pesquisar sobre
o assunto, produziu o seguinte entendimento: “é toda ação coroada de êxito, onde o Policial
Militar atua em uma ocorrência policial que, dependendo do desfecho, faça correto emprego
dos meios auxiliares para contenção da ação ilícita, somente utilizando a arma de fogo após
esgotarem tais recursos” (PMSP apud MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007).
As armas não-letais, também, possuem sua conceituação, podendo ser entendidas,
conforme Alexander (2003, p. 19), como “as projetadas e empregadas especificamente para
incapacitar pessoal ou material, minimizando mortes, ferimentos permanentes no pessoal,
danos indesejáveis à propriedade e comprometimento do meio ambiente”.
As munições não-letais “são as munições desenvolvidas com o objetivo de causar
a redução da capacidade operativa e/ou combativa do agressor ou oponente. Podem ser
empregadas em armas convencionais ou específicas para atuações não-letais” (MINISTÉRIO
DA JUSTIÇA, 2007, p. 4).
E, por fim, os equipamentos não-letais “são todos os artefatos, inclusive os não
classificados como armas, desenvolvidos com finalidade de preservar vidas, durante atuação
policial ou militar, inclusive os Equipamentos de Proteção individual” (MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA, 2007, p. 5).
As tecnolologias não-letais, conforme verificou-se, estão divididas da forma com
que são caracterizadas. Por esta razão, elaborou-se a representação que segue, a qual servirá
de base para a sequência da pesquisa, tendo em vista que, nos próximos subtítulos, cada um
dos assuntos serão tratados individulamente, respeitando sua posição no organograma.
67

Tecnologias Não-Letais

Equipamentos de Equipamentos de Equipamentos não-letais Dispositivo


Proteção Individual Proteção Coletiva Munições Não-Letais
Eletrônico de
Bastões policiais Cal 12 Controle
Coletes balísticos Escudos CN Munições de Impacto
Controlado Cal
Agentes CS Taser
38,1mm
Capacetes Químicos M 26
OC Munições de Jato direto
Máscaras contra
gases Espingarda Calibre 12
Armas
de Lançadores
Extintor de incêndio projeção
Projetores

Perneiras Explosivas
Granadas Emissão
Luvas e Balaclavas
Elastômeros
68

4.1.1 Equipamentos de proteção individual

Neste subtítulo, serão apresentados os principais equipamentos de proteção


individual utilizados pelos policiais militares, quando no exercício de sua atividade,
destacando que todos estão englobados no conceito de tecnologias não-letais, pois “visam
resguardar a vida do agente de segurança e [...] permitem quem ele tenha maior segurança na
ação policial e, consequentemente, tenha tranquilidade para agir tomando a decisão mais
adequada à ocasião” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 3).

4.1.1.1 Coletes balísticos

O primeiro dos equipamentos de proteção individual a ser tratado é o colete


balístico, o qual pode ser considerado um dos mais importantes, tendo em vista a sua função
primordial de proteção direta à vida do policial.
Atualmente, o uso do colete balístico como equipamento de proteção individual
“está amplamente difundido, tanto no meio militar quanto no policial, desde as equipes dos
grupos de operações especiais, no policiamento motorizado e até mesmo aos que cumprem o
policiamento ostensivo a pé” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 4).
É possível encontrar no mercado os mais diversos materiais para a fabricação do
colete. Os mais conhecidos, ou pelo menos mais citados nas doutrinas, são os de Fibra de
Aramida e os Polietilenos, além de sua combinação, conhecida como cerâmica balística.
Os coletes costumam ser classificados em níveis de proteção balística, segundo
preceitos elaborados pelo NIJ (National Institute of Justice), “desenvolvidos pelo Instituto
Nacional de Padrões e Tecnologias (NIST) do Escritório de Padrões de Polícia (OLES)”
(MACHADO, 2010, p. 244).
Diversas normas já foram publicadas no decorrer dos anos, isso devido às
mudanças ocorridas, as quais “se devem à evolução das armas de fogo usadas e à descoberta
de novos materiais e tecnologias para fabricação de coletes” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA,
2007, p. 5), podendo ser citada a exigência de deformação máxima (trauma) inferior a 44 mm,
quando da penetração de um determinado projétil (munição).
69

O colete deve “proteger preferencialmente o tórax em detrimento do abdômen,


logicamente em razão da localização dos principais órgãos vitais do corpo humano naquele”
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 6).
Destaca-se a necessidade de constantes inspeções nos painéis, que podem ser
verificados visualmente, “objetivando identificar qualquer ofensa a sua integridade, não
devendo ser utilizados aqueles já atingidos por projéteis antes de prévio contato com o
fabricante para que seja providenciado o devido reparo” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007,
p. 8).

4.1.1.2 Capacetes

Os Capacetes “destinam-se à proteção do crânio e face em ocorrências onde se


verificam possibilidades de impactos provenientes de arremesso de pedras e similares, golpes
com barras metálicas e disparos de arma de fogo, dentre outros” (MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA, 2007, p. 8).
Os capacetes possuem diversas funções na atividade operacional, podendo ser
empregado em situações de invasões táticas, de distúrbios civis ou mesmo para abordagens de
alto risco a edificações ou veículos.
Os capacetes podem ser classificados de duas formas: anti-impacto e balístico.
Os anti-impacto são os usados, principalmente, “pelas tropas de choque nas
situações de distúrbios onde não haja informe de uso de arma de fogo pelos manifestantes”
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 8).
Os capacetes balísticos são usados “para prevenir contra fragmentos e munição
leve” (MACHADO, 2010, p. 251), além de serem empregados, principalmente, pelos times
táticos “nos resgates de reféns e pelas tropas de choque nas situações em que haja a
probabilidade de emprego de arma de fogo pelos oponentes, tais como: em rebeliões e
situações envolvendo grupos hostis à ação policial” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p.
9).
70

4.1.1.3 Máscara contra gases

A máscara contra gases é, também, equipamento de proteção individual, a qual


“permite a permanência do homem em atmosfera gasada, sem que inspire ar contaminado. É o
principal meio de proteção individual, tanto em ambiente químico quanto biológico ou
nuclear” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 9). Protege o aparelho respiratório, principal
porta de entrada dos agentes químicos, além dos olhos, órgão principal responsável pelo
sentido da visão, a qual é extremamente sensível a estes materiais.
Na atividade policial, normalmente, está relacionada com atividades realizadas
por grupos de operações especiais e tropas de choque, “visto que essas unidades policiais
utilizam com maior frequência os agentes químicos, que exigem o uso deste importante EPI”
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 9).
A máscara “não possui equipamento de fornecimento de oxigênio. Deve ser usada
em ambientes onde haja quantidade suficiente de oxigênio”; “[...] é apropriada para
concentrações específicas de agentes contaminantes” (CONDOR, 2006, p. 5).

4.1.1.4 Extintor de incêndio

O extintor de incêndio também é considerado um equipamento de proteção


individual, o qual se destaca pela aplicação “voltada aos grupos envolvidos com atividades de
controle de distúrbios e enfrentamento a grupos guerrilheiros ou presidiários” (MINISTÉRIO
DA JUSTIÇA, 2007, p. 12).
Ele é importante para estes grupos, devido, principalmente, à “utilização de focos
de incêndio e bombas incendiárias por seus agressores. Com isso, é importante termos este
equipamento em guardas de presídio e em tropas de choque ou grupos de operações especiais
para combater estas agressões” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 12).
71

4.1.1.5 Perneiras

As perneiras ou protetores de pernas são comumente “usadas por tropas de choque


e grupos táticos” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 12). São construídas “em polietileno
rígido, ultrarresistente a impactos, como os chutes desferidos pelos baderneiros, pedras e
demais objetos que são lançados ou ricocheteiam contra as pernas dos policiais”
(MACHADO, 2010, p. 253). Visam proteger os policiais contra estas agressões, além de
“barricadas durante a entrada em edificações” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 12).
Os protetores de pernas também “constam com módulos de proteção para os pés,
módulos estes que podem ser afixados sobre as botas dos policiais [...] de grande importância
para utilização em policiamento hipomóvel” (MACHADO, 2010, p. 253).

4.1.1.6 Luvas e balaclavas

As luvas e balaclavas são equipamentos que “têm o objetivo de proteger o usuário


de chamuscamento no rosto e nos braços, causados pelo lançamento de coquetéis molotov ou
outros artefatos incendiários que possam vir a ser lançados contra a tropa ou por barreiras
incendiárias” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 13).
Mas, para este objetivo, elas não podem ser confeccionadas com materiais
inflamáveis, sendo, então, feitas com “Nomex, material que forma uma barreira contra a ação
do fogo e do calor” (MACHADO, 2010, p. 253).
No próximo subtítulo, serão apresentados os equipamentos de proteção coletiva
utilizados na atividade policial militar.

4.1.2 Equipamentos de proteção coletiva

Além dos equipamentos de proteção individual, há, também, aqueles que servem
de proteção à coletividade de policiais, ou seja, que se prestam a defender um conjunto. Como
exemplo, citam-se os Escudos, os quais serão tratados em seguida.
72

Destaca-se que podem ser de proteção individual, quando se prestarem a


salvaguardar apenas um policial.

4.1.2.1 Escudos

Os escudos são utilizados nas mesmas situações já elencadas para os capacetes,


além de possuírem as mesmas duas modalidades, ou seja, os anti-impacto e os balísticos.
Devido a esta classificação, há também diferenças no material que são produzidos.
Existem aqueles que são fabricados em policarbonato e os de aramida e polietileno.
“A vantagem dos fabricados em policarbonato é a diferença de massa, sendo bem
mais leves que os demais, embora não ofereçam proteção balística. Geralmente usados em
situações onde não haja informe de emprego de armas de fogo contra a tropa” (MINISTÉRIO
DA JUSTIÇA, 2007, p. 9).
Já os fabricados em aramida e polietileno, “por serem mais leves que os de
amianto, e também oferecerem proteção balística, substituíram aqueles, sendo estes os usados
atualmente. Os de aramida possuem viseira em plástico de alto impacto com transparência
superior a 70%” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 9).
Destaca-se que os escudos balísticos “em situações táticas deve ser utilizado por
tropas especiais, forças táticas ou operações de rotina” (MACHADO, 2010, p. 252).
Nos escudos antitumulto, é importante ressaltar que “se quebram sem estilhaçar
nos casos de impacto excessivo. Resistem à umidade e quando expostos ao fogo são auto-
extinguíveis” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 9).
Dando continuidade aos equipamentos utilizados pela corporação passa-se no
próximo subtítulo, a tratar dos equipamentos não-letais, os quais podem ser utilizados não
para a proteção, mas para a defesa do policial.
73

4.1.3 Equipamentos não-letais

Após conhecer os equipamentos de proteção individual e coletiva, serão


apresentados os equipamentos não-letais, os quais são utilizados como forma de possibilitar
alternativas para se evitar o uso da força letal na realização da atividade policial.

4.1.3.1 Bastões policiais

O primeiro equipamento não-letal a ser tratado será o bastão policial, o qual


possui as mais diversas espécies e materiais, além de servir para as mais diversas ocasiões.
Por este motivo, a escolha de qual bastão o policial deverá utilizar no exercício de sua
atividade dependerá do seu objetivo ou da forma como ele será aplicado nos mais diversos
tipos de policiamento.
Ao escolher um bastão, o policial militar deverá levar em conta algumas variáveis,
que são elencadas pelo MINISTÉRIO DA JUSTIÇA (2007, p. 13), no material produzido no
curso de tecnologias não-letais, as quais podem ser assim listadas:

O bastão deve ser adequado ao biotipo do policial e à habilidade no uso daquele tipo
específico de equipamento;
O bastão deve permitir um acondicionamento adequado junto ao corpo do policial,
permitindo-lhe manter as mãos livres;
O bastão deve ser produzido com material adequado e resistente (MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA, 2007, p. 13).

Tendo conhecimento das características necessárias para o bastão, importante


conhecer os modelos de bastões existentes para a atividade policial, pode-se citar:
 Bastões retráteis rígidos ou flexíveis;
 Bastões tipo tonfa de madeira, borracha ou policarbonato;
 Bastões para atividade de Controle de Distúrbios Civis (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA,
2007, p. 13).
Neste equipamento, importante destacar, na sua utilização, que “ele sempre
transmite a quem observa a sensação de defesa, mesmo quando usado para ataque. Discreto e
objetivo, colabora muito para a boa imagem das corporações” (MACHADO, 2010, p. 266).
74

4.1.3.2 Agentes químicos

Neste subtítulo, serão tratados os agentes químicos utilizados pela polícia Militar
de Santa Catarina em suas diversas tecnologias não-letais, tais como munições lacrimogêneas,
espargidores e granadas.
Antes de tratar-se especificamente sobre os agentes químicos, importante destacar
as palavras de Alexander (2003, p. 98), o qual afirma que “o emprego policial de agentes
químicos contra seres humanos compreende dispersar multidões, dominar um criminoso
suspeito e isolar uma área. Em todos os casos, é necessário que todas as providências sejam
tomadas, para garantir a recuperação da pessoa atacada”. Portanto, antes de utilizar o agente
químico, o policial deve estar ciente da sua verdadeira utilização.
Conforme Rosa (2009, p. 42), os agentes químicos são “empregados em instrução
de tropa como simulador de gases de guerra e no controle de distúrbios civis e motins. São
[...] mais usados no serviço policial militar, devido sua eficiência”.
Os agentes químicos são “classificados taticamente como inquietante, tendo como
objetivo quebrar a resistência do oponente, diminuindo sua capacidade combativa” (ROSA,
2009, p. 42).

4.1.3.2.1 CN

O agente químico CN, também conhecido como Cloro Aceto Fenona, é um “gás
com cheiro adocicado, comparado a botões de macieira; tem como princípio ativo o cloro; age
nas vias aéreas superiores, traqueias, brônquios, pulmões, além da pele úmida, é pouco
solúvel em água e causa hipersensibilidade nos brônquios” (ROSA, 2009).
O CN pode ser muito prejudicial à saúde e à vida humana, tendo em vista suas
características. Isso fez com que o seu uso, que até anos atrás era comum, acabou se
restringindo, devido “a vários históricos de acidentes, inclusive fatais” (MACHADO, 2010, p.
297), pois o “tampamento que o agente químico produz não deixando efetuar a troca gasosa
de O por CO, causando por fim edema pulmonar” (ROSA, 2009, p. 43), é extremamente
danoso aos alvéolos pulmonares.
75

Além desta ação fisiológica, o CN ainda pode causar “dor e irritação intensa,
espasmo das pálpebras e provocando abundante lacrimejamento, além do poderoso efeito
lacrimogêneo” (ROSA, 2009, p. 43).

4.1.3.2.2 CS

O agente químico CS, também conhecido como ortoclorobenzilmalonitrilo, é mais


forte que o CN, anteriormente tratado, já que “a cada 1g de CS obtém-se o mesmo resultado
que 5g de CN” (ROSA, 2009, p. 44), porém suas características ainda permitem que ele seja
considerado um agente padrão dos agentes químicos inquietantes, o que não ocorre com o
CN.
O CS “é um produto químico sintético, apresentado na forma de micropartículas
sólidas que, em diversas concentrações, forma o misto químico ou a solução lacrimogênea”
(MACHADO, 2010, p. 298).
Ele possui “cheiro de pimenta; age nas vias aéreas superiores, traqueias,
brônquios, pulmões, além da pele úmida; possui efeito acumulativo; e é insolúvel em água”
(ROSA, 2009).
É classificado como um agente “irritante, lacrimejante e esternutatório (que causa
espirros) (MACHADO, 2010, p. 298).
Das ações fisiológicas, destaca-se a “forte sensação de queimaduras nos olhos,
acompanhada de lacrimejamento intenso, sufocação, dificuldade de respiração e constrição do
peito, fechamento involuntário dos olhos, sensação de ardência da pele úmida, corrimento
nasal, vertigens e aturdimentos” (ROSA, 2009, p. 44).

4.1.3.2.3 OC

O OC é um produto “natural extraído de pimentas e se apresenta em forma oleosa


ou em pó, que em diversas concentrações forma a solução de agente pimenta” (MACHADO,
2010, p. 298). Como ele é extraído do fruto das plantas do gênero capsicum, da família das
76

solanáceas (pimenta malagueta), possui como princípio ativo a capsaicina, causadora da forte
irritação produzida pelo gás pimenta.
No composto existe ainda um segundo princípio ativo, “a dihidrocapsaicina,
juntos os dois princípios formam 80 a 90% das substâncias do OC”. Ele “é insolúvel em água
fria e parcialmente solúvel em água morna, e solúvel em álcool, éter, benzeno e clorofórmio”
(ROSA, 2009, p. 44).
O OC “é classificado como um agente natural, irritante, que causa grande
desconforto devido à dificuldade de respiração, impossibilidade de abertura dos olhos e
sensação de forte ardência nas áreas afetadas” (MACHADO, 2010, p. 298).
O gás não possui efeito tóxico ou colateral adverso, quando utilizado
corretamente, porém possui como principais efeitos fisiológicos: “ardor, lacrimejamento,
contração involuntária das pálpebras, tosses e espirros, rinorreia, efeitos dermatológicos, eritema
(podendo evoluir para queimadura de 1º e 2º graus), sensação de queimadura com dores que irradiam
para o braço e dermatite (inflamação da pele) (ROSA, 2009, p. 45).
Após o entendimento sobre os agentes químicos, neste momento necessário se faz
apresentar um dos meios que comumente é utilizado para dispersão destes agentes.

4.1.3.2.4 Espargidores de agentes químicos

Os espargidores de agentes químicos são “artefatos usados para dispersar agentes


químicos no ambiente” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 13). Eles “contêm uma
solução de agente químico pressurizada com micropartículas em suspensão que, ao atingirem
o agressor, provocam sua incapacitação. [...] Deve ser acionado diretamente contra a face do
agressor. Bastam um ou dois jatos de 0,5 a 1,0 segundo para incapacitar o agressor”
(CONDOR, 2006, p. 30).
Os agentes químicos mais comuns usados pelas polícias no Brasil são a
Oleoresina de Capsaisina (OC) e a Ortoclobenzalmalonitrila (CS), embora ainda seja possível
encontrar alguns espargidores utilizando-se de Cloroactofenona (CN), porém este não é mais
usado pelas corporações policiais por não se mostrar tão seguro e compatível com os
conceitos de tecnologias não-letais. Todos estes agentes serão objeto deste estudo, quando
forem tratadas as munições químicas lacrimogêneas.
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Voltando aos espargidores, eles “podem ser usados por encarregados de aplicação
de lei para defesa pessoal, nos casos de agressão à sua incolumidade física ou para atingir um
objetivo, dentro do amparo legal, que justifique o seu emprego” (MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA, 2007, p. 14).
No mesmo sentido leciona Rosa (2009) ao afirmar que eles foram desenvolvidos
“para a autodefesa e controle de pequenos distúrbios, mas podem ser utilizados em ações
policiais para conter pessoas em desvio de comportamento momentâneo e em criminosos
confinados em recintos fechados, exceto para ocorrências onde há envolvimento de reféns”.

4.1.3.3 Armas de Projeção

Dentro do âmbito dos equipamentos não-letais, podem-se encontrar as armas de


projeção, ou seja, o equipamento ou armamento responsável por projetar ou lançar as
munições não-letais. Neste subtítulo, serão tratadas quatro armas de projeção: espingarda
calibre 12, lançador de munições não-letais e projetores.

4.1.3.3.1 Espingarda calibre 12

A espingarda calibre 12 foi concebida inicialmente como uma arma letal, porém
“é essencial como arma não-letal, devido à grande quantidade de munições não-letais
desenvolvidas nesse calibre” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 16).
Para a espingarda calibre 12, há uma ressalva, quando de sua utilização, pois se
deve “evitar o lançamento de munições detonantes nessa arma devido ao risco de detonação
das mesmas no interior do cano, o que pode causar danos à arma ou lesões ao atirador”
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 16).
78

4.1.3.3.2 Lançador de munições não-letais

O lançador de munições não-letais é uma “arma portátil de emprego policial e uso


individual, utilizada para lançamento de munições químicas. Funciona exclusivamente em
ação dupla, sendo que seu cão não fica exposto visivelmente” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA,
2007, p. 24).
“Através de um bocal de lançamento e de um cartucho lançador, pode lançar
granadas equipadas com acionador do tipo EOT (espoleta de ogiva de tempo) com argola e
grampo de segurança” (CONDOR, 2006, p. 17).
A arma divide-se nas seguintes partes: cano, armação e coronha; nesta fica
localizada a chapa da soleira, “em borracha, a fim de amortecer o impacto da arma no ombro
do atirador, quando do disparo” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 24).
Esta arma possui diversos modelos, sendo os mais comuns nos calibres 37 mm,
38,1mm e 40 mm, “sendo este último mais empregado por forças armadas. Pode ser de tiro
singular ou de repetição” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 24).

4.1.3.3.3 Projetor de munições não-letais

Os projetores são armas usadas para lançamento de munições não-letais calibre 12


e 38,1mm. “Seu uso depende do tipo de munição a ser disparada, o que deve ser observado,
pois, se utilizado incorretamente, pode causar morte ou ferimentos graves nas pessoas
atingidas (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 15).
Os projetores podem possuir variações quanto ao seu formato, podendo ser em
forma de cassetete ou tonfa.
Os projetores, normalmente, são “manufaturados em alumínio no formato de um
bastão policial, podendo ser revestido anodizado na cor preta ou natural. Compõe-se de duas
partes principais, cano e punho, unidos por rosca” (CONDOR, 2006, p. 6).
Após a explanação sobre os equipamentos utilizados para projeção de munições
não-letais, serão tratadas neste momento das granadas, mais uma espécie de tecnologia não-
letal.
79

4.1.3.4 Granadas

Mesmo havendo doutrinadores como Rosa (2009), que ao tratar do assunto refere-
se às granadas como estando no mesmo âmbito das munições, nesta pesquisa preferiu-se
entender as granadas como armas de arremesso simples, diferentes das espingardas,
lançadores e projetores, os quais são considerados armas de arremesso complexas, conforme
Rabello (1982).
Neste diapasão, a pesquisa resolveu separar as granadas das munições, tendo em
vista, suas peculiaridades e características. Desta forma, tratar-se-ão neste momento das
granadas explosivas, de emissão e as granadas de impacto controlado.

4.1.3.4.1 Granadas Explosivas

As granadas explosivas podem ser caracterizadas pelo uso de projéteis, detonante


lacrimogêneo e de efeito moral. Essas granadas foram desenvolvidas para emprego em
operações de controle de distúrbios e combate à criminalidade.
Neste tipo de granada, a percussão da espoleta transmite chama à carga de
projeção, provocando a ejeção do projétil e acionando a coluna de retardo, que queimará
durante o tempo suficiente para que alcance o solo. Em seguida, há a detonação da carga
explosiva, a qual formará uma nuvem de cristais de CS (CONDOR, 2006), no caso daquelas
compostas com agentes químicas.
Este tipo de munição possui como orientação na sua utilização “ser lançado a
distâncias médias de 10m, com o objetivo de desalojar, dispersar ou movimentar grupos de
infratores da lei (CONDOR, 2006, p. 24), “sempre em ângulo de até 45º em relação ao solo”
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 17). “Nunca devem ser disparados diretamente contra
pessoa, podendo ocasionar sua morte, nem contra objetos rígidos, pois o impacto pode
danificar o trem de fogo, ocasionando falhas no funcionamento” (MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA, 2007, p. 17). E “em contato com materiais de fácil combustão, pode provocar
chamas” (CONDOR, 2006, p. 24).
80

A granada explosiva, em geral, pode ser dividida quanto suas partes em:
 Acionador EOT (espoleta de ogiva de tempo): Capacete (argola, grampo de segurança,
percussor, espoleta, coluna de retardo e alça da EOT);
 Tampa;
 Corpo (PVC rígido ou flexível);
 Carga de Depotagem (pólvora negra);
 Retardo da Carga de Explosiva (pólvora branca em ogiva plástica);
 Carga Inócua ou Agente Químico (conforme a granada) (Rosa, 2009).

Este tipo de granada possui grande efeito atordoante “provocado pela detonação
da carga explosiva, associado ao efeito do agente lacrimogêneo ou mesmo de uma nuvem de
fumaça inócua, criando condições favoráveis para uma rápida intervenção, sem causar
ferimentos letais” (CONDOR, 2010). Deve ser “lançada para explodir a uma distância
mínima de 10m dos cidadãos infratores, pois a distâncias menores existe a possibilidade de
projeção de partículas irregulares, oriundas da fragmentação do corpo plástico da granada”
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 27).
Destaca-se, nesta granada, a existência do duplo estágio de acionamento, o qual
“faz com que o corpo rígido do acionador seja ejetado antes da explosão da granada”
(CONDOR, 2010).

4.1.3.4.2 Granadas de Emissão

As granadas de emissão podem ser lacrimogêneas ou fumígenas, e, assim como as


granadas explosivas, possuem o EOT, porém, em apenas alguns de seus modelos, sendo
compostas basicamente da seguinte forma:
 Tampa protetora do acionador;
 Misto de ignição (cordão de acionamento, acionador de tração, espoleta e retardo);
 Disco de retenção;
 Misto iniciador (composto de zarcão e zircônio); e
 Carga lacrimogênea (CS em forma de gel pastoso).
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As granadas de emissão são aquelas que possuem “como dispositivo de iniciação


a queima da carga química, que é lançada no ambiente na forma de uma intensa nuvem de
fumaça” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p.25), que serve para mascarar a retirada e
movimentação de tropa, ou desorientação dos infratores.
Este tipo de granada é comumente utilizada “em situações extremas de graves
distúrbios e combate à criminalidade, e pode ser usada para forçar a saída dos infratores de
ambientes fechados, atirando-se a granada através de aberturas ou janelas” (MINISTÉRIO
DA JUSTIÇA, 2007, p. 25).
Além disso, “deve ser usada por tropas especialmente treinadas, em situações de
controle de distúrbios, tais como: reintegrações de posse, manifestações violentas e outras”
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p.).
Quanto ao seu funcionamento, o artefato “gera calor intenso, podendo provocar
chamas em contato com materiais de fácil combustão. Desta maneira, o lançamento dentro de
ambientes fechados deve ser analisado previamente pelo policial, para avaliar o risco”
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 26).

4.1.3.4.3 Granadas de elastômero

As granadas de elastômeros “foram projetadas para serem utilizadas em operações


de controle de graves distúrbios e no combate à criminalidade, quando os infratores da lei
encontram-se protegidos por barricadas ou colchões” (CONDOR, 2010).
Esta tecnologia não-letal “possui grande efeito atordoante provocado pela
detonação da carga explosiva (pelos múltiplos projéteis de borracha), que pode estar
associado aos efeitos dos agentes lacrimogêneo ou pimenta (CONDOR, 2010).
Seguindo com a pesquisa, no próximo subtítulo serão tratadas as espécies de
munições não-letais utilizadas na atividade operacional da polícia militar de Santa Catarina.
82

4.1.4 Munições não-letais

Uma das tecnologias mais comumente utilizadas pelos policiais militares que
atuam na atividade operacional são as munições não-letais, as quais mesmo aparentemente
populares no meio policial são de grande custo para a corporação.
Além disso, as munições não-letais não são resumidas apenas nas tradicionais
munições de borracha, por esta razão esta pesquisa preocupou-se em apresentar as suas
diversas espécies, as quais serão tratadas neste subtítulo.

4.1.4.1 Munições de impacto controlado

As munições de impacto controlado possuem variáveis, principalmente com


relação aos calibres existentes, os quais serão tratados neste momento da pesquisa.
As munições de impacto controlado “são munições que utilizam a tecnologia
física e, por meio de impacto de baixa energia cinética, provocam dor, sem causar lesões
graves, desde que usadas corretamente” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 18), além de
possuírem “alto poder de intimidação psicológica” (CONDOR, 2006, p. 7).
Essas munições “são comumente usadas com a finalidade de cessar agressões ou
dispersar grupos de infratores. Seu uso mais comum é no controle de distúrbios de diversas
proporções, retomada de prédios invadidos, desobstrução de vias públicas e contra presos
amotinados” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 18).
As munições de impacto controlado, de interesse para a Polícia Militar de Santa
Catarina, são as produzidas nos calibres 12 e 38,1mm. Deve-se ressaltar que, “de acordo com
o modelo, varia a distância de utilização e o resultado obtido” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA,
2007, p. 19).
No caso das munições que necessitam de lançadores, há a possibilidade de
utilização daquelas “que marcam as pessoas atingidas com tinta colorida. Há também
munições que dispersam agente lacrimogêneo ou gás pimenta, ao atingir o alvo, o que se
constitui em mais uma possibilidade de reduzir a capacidade combativa de agressores”
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 19).
83

4.1.4.1.1 Elastômero

Do material elastômero, que nada mais são do que formas de borracha, são
fabricadas munições e granadas, estas tratadas no subtítulo sobre granadas. Já as munições
podem ser divididas em dois diferentes calibres, no calibre 12 e no calibre 38,1mm, os quais
serão objeto a seguir desta pesquisa.

4.1.4.1.2 Munição Calibre 12

No calibre 12, existem formas variáveis de composição do cartucho: existem


aqueles com apenas um projétil cilíndrico, aqueles com formato que permite mais precisão, e
aqueles com três, dezoito ou vinte projéteis esféricos, todos de borracha macia.
Os projéteis deste calibre possuem como característica na sua aplicação “o disparo
a ser realizado contra as pernas dos agressores não contra as partes do corpo, em especial
baixo ventre e cabeça. O uso fora das condições acima descritas pode causar lesões graves ou
mesmo o óbito das pessoas atingidas (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 20).
Dependendo do material que compõe o projétil, ele deve respeitar certa distância
de uso, que pode variar entre mais de 5m (cinco metros), entre 10m (dez metros) e 20m (vinte
metros), ou mesmo em distâncias maiores do que 20m (vinte metros) (MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA, 2007).

4.1.4.1.3 Munição Calibre 38,1mm

Assim como o calibre 12, o calibre 38,1mm possui variáveis em suas espécies,
podendo conter em seu interior três ou doze projéteis arredondados de borracha macia.
A munição consiste resumidamente “num corpo cilíndrico de metal leve que pode
ser disparado contra uma ou mais pessoas, com a finalidade de deter ou dispersar pessoas, em
alternativa ao uso de munições convencionais” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 23).
84

Assim como os projéteis de calibre 12, o projétil de 38,1mm “possui alto poder de
intimidação psicológica, podendo provocar hematomas e fortes dores. Deve ser disparado
apontando-se para os membros inferiores da pessoa ou grupo de pessoas” (MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA, 2007, p. 23).

4.1.4.2 Munição de Jato Direto

A munição de jato direto “pode ser usada com projetores ou com espingardas de
repetição calibre 12. Porém, tem funções semelhantes aos espargidores, o que torna
desinteressante seu uso, deixando estes equipamentos livres para uso de outros tipos de
munição” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 18). Há também no calibre 38,1mm, o qual
necessita de lançadores de munição não-letal, e pode ser composta por substância
lacrimogênea e pimenta.
Esta munição “destina-se a ser lançada a curtas distâncias das pessoas, a um
ângulo tal que permita que a carga química se disperse pouco acima da cabeça do elemento
agressor, com uma distância mínima de disparo de 3m” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007,
p. 17).
“O tiro não deve ser feito contra o rosto do cidadão infrator, pois a ação mecânica
da carga lacrimogênea contra os olhos ou contra as mucosas da região pode provocar
ferimentos graves e irreversíveis” (SENASP, 2007, p. 18).
Neste sentido, a Condor (2006, p. 26) afirma que a “arma deve ser apontada a um
ângulo tal que permita que a carga lacrimogênea se disperse pouco acima da cabeça do
agressor, e não atirar contra o rosto do agressor, respeitar uma distância mínima de 3 (três)
metros, e evitar o disparo contra o vento”.
Por fim, deve-se esclarecer que, quando da utilização deste tipo de munição, a
“percussão da espoleta transmite chama à carga de projeção que provoca a ejeção da carga
lacrimogênea, formando-se uma nuvem de cristais de CS (ortoclorobenzalmalononitrilo)”
(CONDOR, 2006, p. 27).
Após esta explanação sobre os elementos componentes dos agentes químicos e
das munições jato direto, que se utilizam destas substâncias em sua composição, no próximo
subtítulo serão tratadas especificamente sobre as munições de impacto controlado.
85

4.1.5 Equipamentos Eletrônicos de Controle

Depois de serem apresentadas as mais diversas formas de munições e granadas, as


quais estão englobadas no conceito de tecnologias não-letais, importante se faz apresentar,
neste último subtítulo deste capítulo, os equipamentos eletrônicos de controle, os quais estão
surgindo como uma necessidade nas corporações policiais militares.
Existem diversos modelos deste equipamento hoje no mercado mundial, porém,
nesta pesquisa, será tratado apenas do Taser M26, pois é este o utilizado atualmente na Polícia
Militar de Santa Catarina.

4.1.5.1 Taser M 26

A criação do Taser foi uma inovação no mercado mundial de tecnologias não-


letais, isso porque “trouxe um aprimoramento considerável para as armas não-letais
disponíveis pela polícia” (ALEXANDER, 2005, p. 39), além de utilizar-se do “nitrogêncio
para atirar os dardos elétricos no agressor. Uma mira a laser que permite pontaria acurada até
quinze metros. Proporcionando uma distância de segurança ao usuário” (ALEXANDER,
2003, p. 98).
O Taser é uma arma não-letal que emite “ondas T – as TWaves – que paralisam o
agressor, interrompendo a comunicação do cérebro com o corpo. (MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA, 2007, p. 29). Isso porque o Taser é uma arma “de alta-voltagem e baixa-
amperagem. Alimentada por oito pilhas comuns do tipo AA, que provoca um choque de
50.000 volts, o qual leva à perda do controle neuromuscular. A pessoa afetada normalmente
cai ao chão, devido à incapacidade de comandar suas pernas (ALEXANDER, 2003, p. 98).
Desta forma, o objetivo do Taser é, portanto, “criar uma “janela” de tempo
suficiente para que o policial possa algemar o criminoso, levá-lo preso e/ou solicitar apoio,
caso necessite” (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 30). Este tempo pode variar conforme
a quantidade de vezes que o policial apertar o gatilho, tendo como orientação do uso mínimo
de 5 segundos, o tempo do primeiro ciclo do disparo.
Diferente dos aparelhos de choque elétrico convencionais, os quais agem no
sistema nervoso sensorial, o Taser age também no sistema nervoso motor. Assim, “enquanto
86

os aparelhos de choque elétrico causam uma dor que é transmitida dos nervos espalhados pelo
corpo ao cérebro, o Taser também causa interrupção dos comandos enviados do cérebro aos
músculos, causando desordem muscular na pessoa atingida”.
Por essa razão, o Taser “não é uma arma de submissão pela dor. Em vez disso,
emprega a tecnologia do descontrole eletro-muscular” (ALEXANDER, 2005, p. 39).
O Taser, como informado anteriormente, possui como acessório padrão uma mira
laser, que é extremamente importante na sua utilização, porque, “aumenta,
consideravelmente, a possibilidade de o policial acertar o alvo e, por si só, é um fator de
imposição de respeito à autoridade, afinal, basta posicionar o ponto luminoso sobre o corpo
do suspeito e dar-lhe “voz de prisão” para que este se sinta inibido em esboçar reação”.
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2007, p. 30).
De uso desta arma, um policial “pode, rapidamente e com segurança, incapacitar
um indivíduo agressivo” (ALEXANDER, 2003, p. 98).
Por fim, é importante ressaltar que o Taser possui diversos modelos, sendo que a
Polícia Militar de Santa Catarina atualmente utiliza-se do M-26, o qual possui vinte e seis
watts de potência, pesa, aproximadamente, meio quilo e tem como fonte de energia oito pilhas
comuns do tipo AA, as quais ficam alocadas no punho da arma (ALEXANDER, 2005, p. 39).
5 A ATUAÇÃO POLICIAL MILITAR SEGUNDO OS PRECEITOS DO USO
PROGRESSIVO DA FORÇA E O EMPREGO DAS TECNOLOGIAS NÃO-LETAIS

Neste último capítulo foi dado o mesmo título que o da pesquisa, pois é neste
momento, após todo o embasamento teórico apresentado nos capítulos anteriores, que serão
analisados dados e informações que permitam verificar como se desenvolve a atuação policial
militar segundo os preceitos do uso progressivo da força e das tecnologias não-letais.
Para esta análise, utilizou-se como instrumento de pesquisa um questionário
aplicado ao efetivo das unidades operacionais da 11ª Região de Polícia Militar, com a
intenção de verificar e/ou medir o grau de conhecimento, utilização e intimidade dos policiais
militares com o uso progressivo da força e o emprego das tecnologias não-letais utilizadas
pela corporação no atendimento de ocorrências policiais. O questionário foi aplicado a um
total de 45 (quarenta e cinco) policiais militares escolhidos aleatoriamente, dentre aqueles que
trabalham na atividade operacional, buscando relacionar os dados obtidos, ou seja, o grau de
conhecimento com o período de atividade policial militar e a função que realiza.
O questionário que foi aplicado divide-se em três grandes blocos: o primeiro
busca informações sobre a carreira do policial, a função que exerce atualmente e sobre sua
formação na área operacional; o segundo busca medir o seu conhecimento quanto ao uso da
força e seu escalonamento; e o terceiro busca verificar se o policial está habituado a algumas
nomenclaturas e normas de emprego de tecnologias não-letais.

5.1 INFORMAÇÕES SOBRE OS POLICIAIS MILITARES ENTREVISTADOS

Como foi informado anteriormente, foram entrevistados 45 (quarenta e cinco)


policiais militares, os quais podem ser identificados da seguinte forma:
88

5.1.1 Tempo de serviço na atividade operacional

Dos policiais militares entrevistados, obteve-se o seguinte gráfico, quanto ao


tempo de serviço na atividade operacional:

Gráfico 1: Tempo de serviço na atividade operacional dos policiais militares entrevistados.

Pode-se verificar, no gráfico acima que, o efetivo pesquisado é em sua maioria,


um efetivo mais experiente, obtendo-se quase dois terços de policiais com mais de 5 anos, e
um pouco mais de um terço já com mais de 15 anos de serviço na atividade operacional.

5.1.2 Função desempenhada na atividade operacional

Perguntou-se aos policiais militares e, foi elencado previamente, qual atividade


operacional exerciam, obtendo-se o seguinte resultado:

Gráfico 2: Atividade desempenhada pelo efetivo no serviço operacional.


89

Observa-se que o efetivo pesquisado é bem heterogêneo, abrangendo uma grande


diversidade das atividades operacionais hoje existentes. Destaca-se o grande número de
policiais militares do PPT, guarnição, a qual se espera seja composta por policiais com
maiores conhecimentos das técnicas e táticas policiais, devido às missões a eles impostas.

5.1.3 Curso, estágio ou treinamentos na atividade operacional

Neste subtítulo, serão apresentados dois gráficos, tendo em vista que a pergunta
feita aos policias militares, neste momento, necessitava de duas respostas dependendo do
resultado da primeira pergunta.
Primeiro foram questionados os policiais militares sobre o lapso temporal do
último curso/estágio e/ou treinamento na área operacional que o mesmo participou. Nesta
pergunta, foi obtido o seguinte resultado:

Gráfico 3: Lapso temporal do último curso na área operacional.

Neste gráfico, entende-se importante destacar o grande número de policiais com


mais de 2 anos sem qualquer curso, estágio e/ou treinamento na área operacional, excetuando
a revitalização, a qual foi excluída no próprio enunciado da pergunta.
90

Acredita-se que dois anos é um tempo excessivamente longo pela constante


mutabilidade existente na atividade operacional e policial militar. Além disso, assustou o
grande número de policiais militares que responderam nunca ter realizado qualquer curso,
estágio e/ou treinamento, e quem respondeu desta maneira também excluiu o seu curso de
formação, porém, mesmo assim, é um número a se destacar.
Dentre os policiais militares que responderam ter realizado algum curso, estágio
e/ou treinamento, pode-se extrair o seguinte gráfico:

Gráfico 4: Cursos, estágios e/ou treinamento na área operacional.

O gráfico acaba por refletir um pouco da atividade desempenhada por um grande


número de policiais militares entrevistados, ou seja, nos Pelotões de Patrulhamento Tático.
Por esta razão, o grande número de policiais militares com o estágio de táticas policiais.
Após esta prévia análise e apresentação do perfil dos policiais militares
entrevistados, passa-se, nos subtítulos seguintes, a analisar as respostas proferidas sobre o uso
progressivo da força e o emprego de tecnologias não-letais.
91

5.2 ANÁLISE DO CONHECIMENTO SOBRE O USO PROGRESSIVO DA FORÇA

Com referência ao uso progressivo da força, iniciou-se o questionário


perguntando sobre os princípios essenciais do uso da força. Nesta pergunta, pretendia-se
verificar se os policiais militares possuíam pelo menos o conhecimento básico e inicial teórico
do assunto.
Quando perguntados se conheciam os princípios essenciais do uso da força, com
as alternativas “sim” e “não” a serem assinaladas, o resultado foi o seguinte:

Gráfico 5: Dados sobre o conhecimento dos princípios do uso da força.

O que se pôde verificar foi um resultado até surpreendente positivamente, porque


quase dois terços dos policiais militares disseram conhecer os princípios básicos do uso da
força; porém, ao analisar a pergunta seguinte, a qual era ramificação da primeira, perguntando
quais eram estes princípios, apenas 17 (dezessete) responderam Legalidade, Necessidade,
Proporcionalidade e Conveniência, a resposta que se esperava do efetivo. Dos demais, 5
(cinco) responderam de forma incompleta, esquecendo na maioria das vezes o Princípio da
Conveniência, e 9 (nove) acabaram citando as fases do escalonamento do uso progressivo da
força.
Em seguida, perguntou-se ao efetivo se, dentre os modelos abaixo elencados,
poderia indicar qual o modelo apresentado pela SENASP e presente hoje no Manual de
92

Técnicas de Polícia Ostensiva que a Polícia Militar de Santa Catarina adota como padrão,
quando o assunto é escalonamento do uso da força ou uso progressivo da força.
Nesta pergunta, elencaram-se os diversos modelos apresentados pelo Curso de
Uso Progressivo da Força disponibilizado no módulo a distância pela SENASP, obtendo-se as
seguintes respostas:

Gráfico 6: Conhecimento sobre o modelo de uso progressivo da força utilizado pela PMSC.

Como se pode verificar no gráfico acima, as respostas acabaram sendo bem


distribuídas entre alguns dos modelos, havendo uma concentração um pouco maior no modelo
chamado pela SENASP como básico, o qual é adotado hoje na corporação; porém, deve-se
destacar que, mesmo concentrando-se as respostas neste modelo, não foi a maioria absoluta,
havendo diversas respostas para o modelo Fletc e Canadense, o que demonstra um certo
desconhecimento teórico do efetivo entrevistado.
Em seguida, foram elencadas as diversas etapas do escalonamento do uso
progressivo da força e solicitado que estas fossem enumeradas. Com esta pergunta, pretendia-
se verificar se os policiais militares conheciam as diversas etapas a serem seguidas ao se
utilizarem da pirâmide do uso progressivo da força.
Contrariando os dados obtidos no gráfico anterior, ou seja, mesmo desconhecendo
qual o modelo seguido hoje na corporação, todos os policiais entrevistados acabaram
enumerando de forma correta as fases ou etapas, na sequência esperada, desde a presença
policial até o uso da força letal.
93

Frente às informações e dados obtidos, passa-se, no subtítulo seguinte, a analisar


as respostas sobre o emprego das tecnologias não-letais.

5.3 ANÁLISE DO CONHECIMENTO E EMPREGO DE TECNOLOGIAS NÃO-LETAIS

Na parte sobre o emprego de tecnologias não-letais, o questionário foi um pouco


mais extenso, sendo dividido da seguinte maneira: na primeira parte é tratado de uma forma
mais generalista o assunto, buscando-se identificar as tecnologias não-letais mais utilizadas
pelos policiais militares, quando da execução do serviço operacional e o seu conhecimento
sobre o TASER; em seguida, na segunda parte, questiona-se o efetivo sobre os agentes
químicos, sua forma de utilização, seus efeitos e particularidades; na terceira parte, são
tratados assuntos relacionados às granadas; e, por fim, na quarta parte o questionário adentra o
assunto das munições de impacto controlado, buscando verificar se o efetivo conhece a
nomenclatura e a utilização desta munição comumente encontrada nas reservas de armamento
das organizações policiais militares da corporação.
Estas três últimas partes do questionário foram escolhidas dentre as várias
espécies de tecnologias não-letais por se acreditar serem as mais utilizadas na atividade
policial militar no atendimento de ocorrências, quando da aplicação do uso progressivo da
força.

5.3.1 Generalidades

A primeira pergunta elencou todas as tecnologias não-letais disponibilizadas pela


Polícia Militar de Santa Catarina ao seu efetivo, as quais foram tratadas em capítulos
anteriores desta pesquisa, e perguntou-se quais os policiais militares normalmente as usam na
execução do seu serviço operacional. Desta pergunta, obteve-se a seguinte resposta:
94

Gráfico 7: Tecnologias não-letais utilizadas no exercício da atividade operacional pelo efetivo.

Como se pode verificar no gráfico, o equipamento mais utilizado foi a tonfa,


porém o dado mais alarmante deve ser destacado neste momento, pois chama mais a atenção;
a quantidade de policiais militares que deixaram de assinalar o colete balístico como uma das
tecnologias não-letais que se utilizam no exercício da atividade operacional, sendo utilizado
apenas por 22 (vinte e dois) policiais militares, dos 45 (quarenta e cinco) entrevistados.
Outro fato bastante intrigante é a entrevista ter sido feita com um grande número
de policiais militares componentes de guarnições especializadas e não terem sido assinaladas
a máscara contra gases e as perneiras, equipamento de proteção individual importantes no
momento de uma entrada tática em recinto fechado, assim como no caso das perneiras, para o
controle de distúrbios civis.
Em seguida, como forma de verificar a quantidade de policiais militares
habilitados no dispositivo eletrônico de controle, conhecido no ambiente policial apenas como
TASER, foi perguntado se eram ou não habilitados para o uso deste equipamento, sendo
obtido o seguinte resultado:
95

Gráfico 8: Policiais militares entrevistados habilitados em TASER.

O resultado acabou coadunando com o gráfico anterior, que apresentou apenas 4


(quatro) policiais que se utilizavam deste equipamento no momento de executar sua atividade
operacional.
Em seguida, foi perguntado aos policiais militares se entendiam que o TASER era
realmente um equipamento seguro, com a intenção de verificar se havia policiais militares
com receio ou algum bloqueio para que a polícia militar se utilizasse deste dispositivo por
acreditar em inverdades, como por exemplo, que ele poderia matar. Porém, o resultado foi
muito positivo, tendo todos os policiais militares, mesmo os não habilitados, entendido que é
uma arma segura e, quando habilitados, com certeza a utilizarão, se necessário for.

5.3.2 Agentes Químicos

Quanto aos agentes químicos, inicialmente se questionou sobre os procedimentos


que deveriam ser tomados pelos policiais militares ao serem atingidos pelo spray do
espargidor de agente químico utilizado por si ou por outro policial militar. Nesta pergunta
buscou-se verificar se os policiais militares saberiam como minimizar os efeitos do agente.
Foram elencadas cinco alternativas, tendo duas corretas, obtendo-se o seguinte
resultado:
96

Gráfico 9: Ações para redução dos efeitos dos agentes químicos.

Como se pode observar, infelizmente, esperava-se que fossem assinaladas apenas


as atitudes de enxaguar com água em abundância, se possível lavando com sabão neutro e
voltar-se contra o vento para aumentar a ventilação; porém, como se observa, apenas um
pouco mais da metade do efetivo entrevistado pensou na segunda atitude, e um pouco mais de
um terço na primeira. Mas o que mais assusta é acreditar que o efetivo pensa que, se
mantiverem os olhos abertos ou ficar abrindo e fechando os olhos, os efeitos podem ser
reduzidos, o que, pelo contrário, poderá agravar ainda mais a situação devido à reação e
formação da hidrólise, ou seja, de uma nova substância calcicante.
Em seguida, foi elaborada uma pergunta aberta, a qual solicitava que fossem
elencados pelo menos três efeitos fisiológicos dos agentes químicos, ou seja, procurava-se
verificar se o policial saberia identificar quais os possíveis efeitos, diferenciando de outras
reações que a pessoa atingida pudesse possuir.
Desta pergunta não foi possível montar um gráfico, mas pode-se constatar que
algumas respostas foram repetitivas, tais como lacrimejamento, falta de ar ou dificuldade em
respirar, irritação da pele e das vias aéreas, rinorreia, ardência nas mucosas, contração
involuntária das pálpebras, tosses, espirros e náuseas, porém, deve-se destacar que, dos
policiais que responderam ao questionário, 12 (doze) não souberam relacionar qualquer tipo
de efeito fisiológico, um dado importante, pois os agentes químicos são comumente utilizados
por todos os policiais militares.
97

Continuando com os agentes químicos, estes possuem uma distância mínima a


serem aplicados com relação ao alvo a ser atingido, tanto pelo efeito, quanto pela condição do
espargidor. Desta forma, questionou-se qual a distância máxima para se utilizar um espargidor
de agente químico, exceto no formato Max ou superior, os quais possuem maiores condições
de se atingir um alvo a uma maior distância. Desta pergunta, pode-se elaborar o seguinte
gráfico:

Gráfico 10: Distância mínima para aplicação de agentes químicos por espargidor.

O resultado, pode-se dizer, foi positivo, tendo em vista que mais de 50% dos
policiais assinalou a resposta certa, ou seja, 1 (um) metro de distância, e quase 25% assinalou
2 (dois) metros, o que pode ainda ser considerado, tendo em vista a proximidade com a
resposta correta; porém, os demais 25% é que acabam sendo um índice preocupante, já que,
pela distância que entendem ser a correta, podem não ter os efeitos esperados.
Em seguida, questionou-se o efetivo sobre o tempo de execução do jato suficiente
para incapacitar o alvo, com a intenção de verificar o tempo de uso do agente químico, como
forma de analisar se está havendo, por parte do efetivo, o mau uso, seja com desperdício de
material ou mesmo o uso deficiente. Nesta questão, foi possível construir o seguinte gráfico:
98

Gráfico 11: Tempo de execução do jato de agente químico.

O resultado obtido acabou por vir a confirmar o que se pretendia verificar, ou seja,
que o efetivo está utilizando-se de forma desnecessária desta tecnologia não-letal, aplicando
demasiadamente o agente químico, tendo em vista que mais da metade do efetivo pesquisado
acabou por entender que o seu jato deve ser superior a 1 (um) segundo, o que vai de encontro
ao que prescreve o manual do fabricante.
Após esta análise dos agentes químicos, no próximo subtítulo, será analisada a
utilização das granadas pelos policiais militares.

5.3.3 Granadas

Nesta parte do questionário, buscou-se verificar o grau de conhecimento e


intimidade que o efetivo policial militar possui com referência às granadas utilizadas pela
corporação.
A primeira pergunta tratava sobre a diferença entre granadas indoor e outdoor,
sem se ater à diferença pontual de serem utilizadas dentro e fora de um recinto fechado. Nesta
pergunta, obteve-se o seguinte resultado:
99

Gráfico 12: Diferenças das granadas indoor e outdoor.

O resultado apresentou-se bem alarmante. Mesmo com mais da metade do efetivo


sabendo qual a diferença entre elas, uma grande porção acabou assinalando ou entendendo
não haver, ou não saber, qual a diferença que há entre estas duas formas de granadas, o que
demonstra a necessidade de uma rápida intervenção no efetivo sobre estas tecnologias tão
presentes na atividade policial militar atualmente.
Em seguida, foi questionado o efetivo sobre qual a distância mínima dos
infratores a ser respeitada para o lançamento de uma granada explosiva outdoor. Novamente,
buscava-se medir o grau de conhecimento e intimidade com esta tecnologia não-letal, tendo
em vista a grande utilização destas no controle de turbas ou distúrbios, ocorrências comuns
hoje para a atividade policial militar. Nesta pergunta, pode-se elaborar o seguinte gráfico:

Gráfico 13: Distância mínima da granada de explosão dos infratores.


100

Nesta questão, pelas respostas obtidas, imaginou-se que o efetivo acabou


confundindo a distância mínima com a máxima, pois a resposta correta seria 10 (dez) metros,
ou seja, ao ser lançada uma granada de explosão, esta deve ficar no mínimo a dez metros do
alvo, com a intenção de se obter o resultado esperado, não necessitando que ela seja
arremessada no alvo. Todavia, como não se pode saber se realmente foi uma confusão ou não,
é mais um alerta que se deve acender, quando o assunto é utilização de granadas.
Após esta breve análise das granadas, no próximo subtítulo, passa-se a analisar a
utilização das munições de impacto controlado, popularmente conhecidas como munições de
borracha.

5.3.4 Munições de Impacto Controlado

Por fim, o questionário chega às munições de impacto controlado, questionando,


novamente, o efetivo, com a intenção de medir seu conhecimento com este material tão
amplamente divulgado e utilizado hoje na corporação.
A primeira questão sobre o assunto refere-se diretamente a sua utilização, pois
pergunta que distância mínima o policial deve respeitar para efetuar um disparo contra
determinado alvo. Nesta pergunta, há uma preocupação com a segurança da integridade física
das pessoas, pois o desrespeito a esta distância pode acarretar sérios danos à saúde de quem
for atingido.
Desta pergunta, confeccionou-se o seguinte gráfico:

Gráfico 14: Distância mínima para disparo com M.I.C.


101

Novamente, observa-se um dado preocupante. Além de uma grande diversidade


de opiniões ou respostas, um grande número de policiais acredita que bastam até 5 (cinco)
metros ou estar entre 5 (cinco) e 10 (dez) metros, para que o disparo com uma munição de
impacto controlado já se encontre numa distância mínima e segura, o que não é o caso, tendo
em vista a recomendação pelo fabricante de, no mínimo, 20 (vinte) metros do alvo a ser
atingido.
A pergunta seguinte também se preocupa com a segurança da pessoa que será
atingida por uma munição de impacto controlado e, é claro, com o policial militar que
efetuará este disparo, tendo em vista as implicações jurídicas e administrativas que dele
poderão advir. Nesta questão, perguntou-se em qual área do corpo humano pode ou deve ser
efetuado um disparo. Para esta, obteve-se o seguinte gráfico:

Gráfico 15: Área do corpo a ser atingida por uma Munição de Impacto Controlado.

Como se pode observar, a maioria do efetivo acertou a área a ser atingida, ou seja,
os membros inferiores, porém chama a atenção para respostas como membros superiores e
para o baixo ventre, este, no caso, completamente proibido pelo fabricante deste tipo de
tecnologia não-letal.
Na sequência, foram feitas duas perguntas numa mesma questão, com o objetivo
de verificar se o efetivo conhecia a nomenclatura das munições de impacto controlado e qual
a situação em que deveria ser utilizada cada uma. Na primeira pergunta, queria-se saber qual a
munição cal. 12 a ser utilizada quando se deseja fazer um tiro seletivo, ou seja, quando se
quer acertar um determinado alvo. Neste caso, foi possível construir o seguinte gráfico:
102

Gráfico 16: M.I.C. utilizável em caso de disparo seletivo (alvo determinado).

Como se pode verificar, grande parte do efetivo acabou escolhendo a opção


incorreta. Isto nos mostra um certo desconhecimento da nomenclatura, tendo em vista que
fora informado apenas de que se tratava das munições AM-403 e AM-403-A, balote e três
esperas, respetivamente, não sendo informado o que seria a AM-403-P. Porém, o que chama
mais a atenção foi a escolha pela munição AM-403-A, utilizada para a dispersão de turbas ou
grupos, tendo em vista seu formato espalhar as esferas.
Na última pergunta, então, a situação se modifica e a intenção agora é saber qual
das munições é a mais indicada para dispersar de maneira rápida uma grande turba ou
aglomeração de pessoas. Neste caso, o gráfico ficou da seguinte forma:

Gráfico 17: M.I.C. utilizável em caso de dispersão de turbas.


103

Neste caso, o resultado acaba sendo um pouco mais satisfatório, pois se pretendia
que o efetivo realmente assinalasse a munição AM-403-A, a qual é composta por três esferas
de borracha, e serve para dispersar grandes públicos, pois, ao ser efetuado um disparo, ela
acaba atingindo mais de um alvo ao mesmo tempo, o que faz a turba se dispersar.
6 METODOLOGIA

Para a confecção deste trabalho, faz-se necessária a utilização de meios e


procedimentos normatizados como forma de disponibilizar condições para elaborar a pesquisa
e alcançar os objetivos propostos.
Neste sentido, Maria Margarida de Andrade afirma que a pesquisa “é um conjunto
de procedimentos sistemáticos, baseado no raciocínio lógico, que tem por objetivo encontrar
soluções para problemas propostos, mediante a utilização de métodos científicos.”
(ANDRADE, 1999, p. 103).
Para a elaboração da pesquisa, necessita-se da utilização de métodos, que,
conforme Marconi e Lakatos, “trata-se de um conjunto de atividades sistemáticas e racionais
que, com maior segurança e economia, permite alcançar um objetivo (conhecimentos válidos
e verdadeiros), traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do
cientista.” (LAKATOS; MARCONI, 1991, p. 83).
Nesta pesquisa, será utilizado o método dedutivo que, conforme Odília Fachin:

É um procedimento do raciocínio que, a partir de uma análise de dados particulares,


se encaminha para noções gerais. Neste caso, apresenta como forma ordenada do
raciocínio dos dados singulares para uma verdade geral. O raciocínio parte da
enumeração completa do grupo de um gênero para alcance do conhecimento geral
desse grupo de um gênero, ou seja, a análise racional ocorre com elementos gerais;
assim a marcha do conhecimento principia pelos elementos singulares e vai
caminhando para os elementos gerais. (FACHIN, 2001, p. 30).

Com referência aos objetivos propostos, a pesquisa será exploratória, isso porque:

[...] estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o
problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Pode-se
dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou
a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo
que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado
(GIL, 2002, p. 45).

E será descritiva, pois “não sofre a interferência do pesquisador, ou seja, ele


somente observa os fatos, registra-os, analisa-os, classifica-os e interpreta-os, sendo assim, os
fenômenos físicos e humanos são estudados e não manipulados” (ANDRADE, 1999, p. 108).
Quanto à técnica de pesquisa, ou seja, “procedimentos científicos utilizados por
uma ciência determinada no quadro das pesquisas próprias desta ciência” (CERVO;
105

BERVIAN, 1996, p. 46), será utilizada a bibliográfica, pois deseja-se “[...] explicar um
problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos”; “[...] busca conhecer e
analisar as contribuições culturais ou científicas do passado existentes sobre um determinado
assunto, tema ou problema” (CERVO; BERVIAN, 1996, p. 65).
E, em relação à abordagem, a pesquisa será qualificativa, pois “[...] considera que
há uma relação dinâmica entre o real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o
mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números.”
(SILVA, 2001, p. 20).
7 CONCLUSÃO

A presente pesquisa concentrou-se na coleta de informações extraídas dos


questionários aplicados ao efetivo policial militar da 11ª Região de Polícia Militar, com o
intuito de analisar e verificar o grau de conhecimento e intimidade que o efetivo possuía
quando o assunto era o uso progressivo da força e o emprego de tecnologias não-letais no
exercício da atividade policial militar.
Preliminarmente à análise dos dados e informações obtidas, destaca-se o poder
inerente às polícias militares do uso da força como representantes do Estado para a
preservação da ordem pública e manutenção do Estado Democrático de Direito, embasados
por princípios como o da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado, assim como em
documentos formalizados, como o Código de Conduta dos Funcionários Encarregados pela
aplicação da Lei.
Na análise do presente tema, outro aspecto fundamental a ser destacado são os
próprios princípios regulamentadores do uso da força, que permitem a utilização deste
instrumento apenas quando o policial militar estiver agindo dentro dos parâmetros da
Legalidade, Necessidade, Proporcionalidade e da Conveniência, o que tornará sua ação
legítima.
Além disso, como forma de resguardar as ações policiais, diversos estudiosos
acabaram montando modelos para orientar o uso progressivo da força, dos quais se destaca o
modelo chamado básico, nomenclatura dada pela SENASP, que é utilizado como padrão pela
Polícia Militar de Santa Catarina através do Manual de Polícia Ostensiva.
Quanto ao emprego das Tecnologias Não-Letais, importante destacar a grande
diversidade de equipamentos, munições e granadas atualmente disponibilizados pela Polícia
Militar de Santa Catarina ao seu efetivo, permitindo, assim, que os policiais militares possam
se utilizar desta tática de grande importância para a resolução de conflitos, de forma menos
traumática, porém mais eficaz, além de mais aceitável e desejada pela sociedade, frente à
atual realidade da segurança pública no país.
Por fim, com referência ao tema da pesquisa, ou seja, a atuação policial militar
segundo os preceitos do uso progressivo da força e o emprego de tecnologias não-letais, o
último capítulo apresentou um panorama muito preocupante. Verificou-se que, mesmo diante
de um maciço investimento nas mais diversas tecnologias não-letais pela corporação, podendo
dar como exemplo a aquisição de diversos equipamentos eletrônicos de controle, conhecidos
107

como Taser, assim como o investimento em formação, como a disponibilidade dos cursos de
habilitação do próprio Taser e do uso progressivo da força e tecnologias não-letais para o
efetivo das diversas organizações policiais militares, há um grande desconhecimento dos
princípios destes instrumentos pelos policiais militares.
Esta conclusão foi possível após constatar-se, pelas respostas fornecidas ao
questionário, que um grande número de policiais militares ainda não possui um conhecimento
que se possa afirmar ser razoável para uma aplicação eficiente dos preceitos do uso da força e
do emprego das tecnologias não-letais. Isso é preocupante, pois qualquer uso de forma
incorreta ou que não siga os preceitos determinados poderá acarretar danos, tanto a pessoas
inocentes, como à imagem da corporação, além de possíveis procedimentos administrativos e
judiciais em desfavor do policial militar.
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ANEXO – QUESTIONÁRIO APLICADO AO EFETIVO

ESTADO DE SANTA CATARINA


CENTRO UNIVERSITÁRIO PARA DEFESA E SEGURANÇA PÚBLICA COM
CIDADANIA DA PMSC
CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS

Com meus cordiais cumprimentos. Eu sou o Cadete Cláudio Böing do 4º CFO.


Este é um questionário que tem a intenção de medir o grau de conhecimento,
utilização e intimidade com o uso progressivo da força e das tecnologias não-letais utilizadas
pela corporação no atendimento de ocorrências policiais.
O questionário tomará apenas 10 minutos de seu tempo, possui cunho acadêmico,
não é necessária a identificação e as informações obtidas neste questionário servirão para
implementar os estudos realizados pelo Cadete para a elaboração de sua monografia, requisito
necessário para a conclusão do Curso de Formação de Oficiais.
Como o questionário é anônimo, seus comentários, bem como sua identidade
permanecerão guardados e sua participação é totalmente voluntária. Você pode recusar-se a
responder qualquer pergunta ou interromper a qualquer momento para dirimir qualquer
dúvida surgida.
Obrigado pela colaboração!

I – INFORMAÇÕES GERAIS

1- Quanto tempo de atividade operacional você possui?


( ) Até 5 anos ( ) Entre 5 e 10 anos ( ) Entre 10 e 15 anos ( ) Mais de 15 anos

2 – Qual a função que você desempenha atualmente?


( ) SAI ( ) PPT ( ) Radiopatrulha ( ) Trânsito ( ) Ostensivo a pé ( ) Guarda Prisional

3 – Há quanto tempo foi seu último curso e/ou estágio e/ou treinamento realizado na área
operacional (exceto revitalização)?
( ) Até 1 ano ( ) Entre 2 e 5 anos ( ) Entre 5 e 10 anos( ) Mais de 10 anos ( ) Nunca fez
Se você fez, qual foi?
( ) Táticas ( ) COESP ( ) Uso progressivo da força e Tecnologias não-letais
( ) TASER ( ) Outros __________________

II – USO PROGRESSIVO DA FORÇA

1 – Você conhece os princípios essenciais para o uso da força? ( ) Sim ( ) Não


Se você conhece, poderia citá-los?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

2 – Dos modelos existentes para o uso progressivo da força abaixo listados, você sabe qual
deles é aplicado na polícia militar de Santa Catarina, conforme Manual de Técnicas Policiais?
( ) Fletc ( ) Giliespie ( ) Remsberg ( ) Canadense
( ) Nashville ( ) Phoenix ( ) Básico (SENASP)
117

3 – Das fases do escalonamento ou do uso progressivo da força utilizadas pelo policial militar,
você poderia enumerá-las?
( ) Tecnologias não-letais ( ) Controle de Contato
( ) Controle Físico ( ) Presença Policial
( ) Verbalização ( ) Força Letal

4 – Com referência ao uso progressivo da força, você poderia descrever alguma experiência
em que o conhecimento dos seus conceitos o ajudou a resolver uma ocorrência de forma mais
pacífica ou menos traumática?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

III – EMPREGO DE TECNOLOGIAS NÃO-LETAIS

1 – Qual (is) a(s) Tecnologia(s) Não-Letais você normalmente usa em seu serviço
operacional?
( ) Tonfa ( ) Munição de impacto controlado ( ) Capacete
( ) Granadas ( ) Coletes balísticos ( ) Máscara contra gases
( ) Extintor de incêndio ( ) Perneiras ( ) Balaclavas
( ) Luvas ( ) Espargidor de agente químico ( ) Taser
( ) Lançador de Munições ( ) Projetor ( ) Munições explosivas
( ) Munição de emissão ( ) Munição de jato direto ( ) Escudo

2 – O Taser é uma das mais novas tecnologias não-letais existentes no mercado. Você possui
habilitação neste equipamento? ( ) Sim ( ) Não
Mesmo se você não possui habilitação, você acha um meio seguro e confiável para se aplicar
em um agente? ( ) Sim ( ) Não Por quê?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________

IV – AGENTE QUÍMICO

1 – Você, ao aplicar o gás de pimenta, pode acabar atingindo um de seus colegas ou o vento
pode estar num sentido contrário e atingi-lo. Para reduzir os efeitos do gás, você indicaria
tomar quais atitudes?
( ) Esfregar bem as mãos nos olhos para que o agente possa sair mais rapidamente;
( ) Ficar abrindo e fechando os olhos constantemente com a intenção de aumentar o
lacrimejamento;
( ) Jogar água em abundância logo após o fato, se possível com sabão neutro;
( ) Tentar manter sempre os olhos abertos, pois isso possibilitará que permaneça enxergando;
( ) Ficar contra o vento com a intenção de maior ventilação;

2 – Descreva três efeitos fisiológicos dos agentes químicos:


___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
118

3 – Qual a distância máxima para se utilizar um espargidor (exceto Max ou maiores) de


agente químico?
( ) 1 metro ( ) 2 metros ( ) 3 metros ( ) 4 metros ( ) Acima de 5 metros
E o tempo de execução do jato necessário para incapacitar o alvo?
( ) 0,5 a 1seg ( ) 1 a 1,5seg ( ) 2 seg ( ) 3 seg ( ) Acima de 4 segundos

V - GRANADAS

1 – Qual a diferença entre granadas outdoor e indoor, além do ambiente a ser utilizada?
( ) Apenas o tamanho ( ) Material de produção ( ) Elementos químicos
( ) As cores ( ) Tamanho e tempo de retardo ( ) Não há ou não sabem

2 – A que distância mínima dos infratores deve ser lançada uma granada de explosão
outdoor?
( ) 5 metros ( ) 10 metros ( ) 15 metros ( ) 20 metros

VI – MUNIÇÕES DE IMPACTO CONTROLADO

1 – De posse de uma espingarda calibre 12 com munições de borracha, estando numa situação
que necessita de sua utilização, conforme as técnicas preveem, você utilizaria a qual distância
do agente?
( ) Até 5 metros ( ) Entre 5 e 10 metros ( ) Entre 10 e 15 metros ( ) Mais de 20 metros

2 – Em qual a área do corpo deve ser efetuado um disparo com munições de borracha?
( ) Cabeça ( ) Membros Superiores
( ) Baixo ventre ( ) Membros Inferiores

3 – Você necessita realizar um tiro seletivo (acertar um determinado alvo). Qual a munição
cal 12 de borracha você utilizaria?
( ) AM-403 (balote) ( ) AM-403-A (três esferas) ( ) AM-403-P
E para o controle de uma grande turba, que a sua intenção é apenas dispersar o mais rápido
possível?
( ) AM-403 (balote) ( ) AM-403-A (três esferas) ( ) AM-403-P

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