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O Sitio Arquitetonico Da Estrada de Ferr
O Sitio Arquitetonico Da Estrada de Ferr
CAMPO GRANDE – MS
2013
ANA CLAUDIA MARQUES
CAMPO GRANDE – MS
2013
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Grande, 2013.
89f.
ii
iii
Dedico a presente dissertação à
minha mãe, fiel e insistente no meu
progresso, e ao meu irmão Octávio,
pois sem o seu incentivo, essa
conquista não seria possível.
iv
AGRADECIMENTOS
iv
“Feliz aquele que transfere o que sabe e
aprende o que ensina.”
(Cora Coralina)
v
RESUMO
vi
ABSTRACT
The object of this work is the social functions of the Site Architectural Railroad
Northwest Brazil in Campo Grande, MS and integrates online research Society,
Environment, and Regional Sustainable Development. Describes the importance of
such historically Architectural Site, since the arrival of NOB in 1914, until its decay,
and evaluates the changes occurred, the social functions performed by him, the
process of overturning the area and how they are being treated. Theoretically
supports the research the study of ALVES (1986) and Marx and Engels (2007).The
literature review raised relevant information in respect of matters pertaining to the
railroad, urban planning and expansion of the city. The data collection was made
from documents, maps and interviews to coaches and officials responsible for organ
fallen well as the PLANURB and IPHAN, and residents Architectural Site. From the
data obtained it is clear that the process of refunctionalisation that space is not yet
completed. Slow and gradual, it comes derive from government initiatives and public-
private partnerships. In the past, it was the expression domain of the NOB, which
centralized and polarized the city's development, while its architectural units at
present are restored and refuncionalizadas projects predominantly to serve the
cultural area.
vii
LISTA DE FIGURAS
x
Figura 18 - Campo Grande: Estação Ferroviária transformada em Armazém Cultural
após sua revitalização...............................................................................................70
Figura 19 - Campo Grande: Primeira casa de alvenaria a ser construída para o
Chefe da Estação, está em processo de recuperação e fica no espaço da Orla
Ferroviária. ................................................................................................................71
Figura 20 – Projeto Parque Esplanada: zoneamento das propostas de reutilização do
Sítio Arquitetônico do Brasil. .....................................................................................72
Figura 21 - Campo Grande: Croqui do Parque Esplanada e suas propostas para
novo uso do espaço .................................................................................................73
Figura 22 - Bauru: Casa do Engenheiro Chefe já restaurada e com esquadrias e
toldos que não pertencem ao projeto original. ..........................................................77
Figura 23 - Bauru: Casa do Engenheiro Chefe já restaurada e com esquadrias e
toldos que não pertencem ao projeto original. ..........................................................77
Figura 24 - Campo Grande: Casa de Pouso dos dirigentes que passavam pela
cidade, esquadrias e portão ainda de madeiras........................................................78
Figura 25 - Bauru: Casa de Pouso para altos cargos que passavam pela cidade,
alterações no gradil. ..................................................................................................78
xi
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................01
1 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................05
1.1 FONTES TEÓRICAS...........................................................................................05
1.2 FONTES HISTORIOGRÁFICAS .........................................................................09
2 MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................12
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................15
CONCLUSÃO ...........................................................................................................81
REFERÊNCIAS.........................................................................................................84
ANEXO 1...................................................................................................................87
ANEXO 2...................................................................................................................88
ANEXO 3...................................................................................................................89
xii
INTRODUÇÃO
O crescimento das cidades por onde o trilho passou foi patente. Lugares
antes sem perspectiva alguma tiveram sua realidade e futuro completamente
modificados.
Para se ter uma ideia do impulso que tomou, em um quarto de século, de
1914 a 1940, o povoamento dessas regiões, bastará observar que a
população dos quatro municípios, de Três Lagoas (15.378 hab), Campo
Grande (49.629), Aquidauana (20.949) e Miranda (14.126) ascendeu, nesse
período, a mais de cem mil habitantes ou mais do quíntuplo da população
estimada antes da construção da estrada de ferro. (AZEVEDO, 1950, p. 83).
2
As relações com o estado de São Paulo ficaram cada vez mais estreitas e,
tudo e todos que faziam o percurso de trem para, em seguida, se dirigir ao Norte do
Estado, tinham que passar por aqui. A cidade recebeu, como imigrantes, não só
brasileiros de outras regiões, mas, também, contingentes de paraguaios, japoneses
e árabes.
A Noroeste do Brasil fez, sobretudo, a extensa região mato-grossense orbitar
economicamente em torno do eixo São Paulo-Santos, retirando-a da influência
platina. Daí a importância de se discutir a história, a cultura e a economia antes e
depois da chegada do trem, para compreender a importância do patrimônio histórico
e cultural que fez de uma Vila Entroncamento, a Capital do Estado de Mato Grosso
do Sul e um dos maiores centros de exportação de gado de corte do país.
Campo Grande foi a cidade que mais “avultou”, no SMT, com a chegada da
ferrovia. Entretanto, deve ser dito que essa afirmação apresenta-se
incompleta: o problema, de fato, não consiste simplesmente em
determinadas localidades haverem obtido maior ou menor vulto, mais
importante que essa constatação parece ser o fato de que Campo Grande
concentrou, notavelmente, os impactos gerados pela Noroeste – de tal
modo que muitos dos efeitos alvissareiros, detectados no âmbito de nossa
“área da NOB”, correspondem a eventos limitados, em considerável medida,
ao município de Campo Grande. (QUEIROZ, 1999, p. 497).
3
A partir dos anos 30 a Ferrovia Noroeste do Brasil, sofreu déficits por conta da
queda do café, que foi a mercadoria que mais rendeu lucros para a NOB durante
seu funcionamento. A região do Sul de Mato Grosso não pagava seus próprios
custos, devido à estrutura deficitária e às baixas tarifas por força das longas
distâncias. A partir do incentivo do governo de Juscelino Kubitschek para a criação
das rodovias e a instalação de indústrias automobilísticas no país, gradativamente o
fluxo de uso da ferrovia diminuiu.
Campo Grande teve através dos trilhos, o fortalecimento de suas relações
comerciais, intensificou o seu contado com São Paulo e investiu na criação de gado,
tanto em quantidade, como em qualidade. Mesmo os vagões tendo auxiliado, e
muito, no trajeto do gado negociado com outros estados, deixou a desejar pois não
investiu em momento algum em vagões frigoríficos.
Com a chegada das rodovias, os caminhões foram tomando conta dos
transportes. A Ferrovia, deixou de funcionar para transporte de pessoas em 1995 e
foi privatizada no ano seguinte, quando também conseguiu ser reconhecida como
Patrimônio Histórico Municipal.
Para compreender melhor este processo o presente estudo analisou o espaço
que a NOB ocupa na cidade, seu corredor, a vila dos ferroviários, as ruas e como a
cidade se desenvolveu ao redor de uma área, outrora tão importante e que depois
de uma longa fase de decadência do transporte ferroviário, se tornou Patrimônio
Histórico e se encontra em processo de revitalização.
O objetivo geral deste trabalho é a análise do espaço correspondente ao sítio
arquitetônico da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil em Campo Grande, no intuito
de compreender a função social desse espaço no desenvolvimento da cidade.
Para tanto, como objetivos específicos, busca: a) Analisar, a partir de
levantamentos documentais, bibliográficos e em periódicos, o processo de produção
do sítio arquitetônico da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil em Campo Grande; b)
Apreender, através da história, como se estabeleceram as relações sociais neste
espaço, tanto no processo de maior influência da Noroeste, como no momento de
sua decadência.
O trabalho foi dividido em capítulos de forma que cada um deles consiga
explicitar claramente as etapas do trabalho e a sua linha de estudo. A revisão de
literatura, traz as fontes teóricas que fundamentaram a linha de pesquisa e as
4
atraíram cada vez mais investimentos para o setor de destaque local, a pecuária.
Através dessa produção e dos interesses gerados pelo capital monopolista, essa
produção passa a atender a demanda do setor industrial do estado de São Paulo
que, como consequência, passou a firmar parcerias de exportação deste mesmo
produto.
Outro autor que estuda as relações sociais em Mato Grosso, nesse período,
através do progresso do mundo capitalista, é Alves. No ensaio que realizou sobre a
transição do domínio econômico da casa comercial para a hegemonia do capital
financeiro, consegue explanar, através de dados econômicos, as mudanças que
aconteceram do período anterior a este estudo, onde Corumbá era o grande
entreposto comercial através do Porto. E finda com a chegada da Ferrovia que veio,
então, a fazer da cidade de Campo Grande a cidade de maior ligação comercial com
o eixo São Paulo – Santos.
Este ensaio contribuiu muito para o entendimento das questões políticas da
região, da mudança das formas de negociação e dos que possuem o poder do
capital. Em um primeiro momento as Casas Comerciais eram determinantes nas
relações de comércio e exportação.
Com a vinda dos bancos as relações comerciais mudam e isso também afeta
todo um ciclo de acontecimentos, tanto nas alianças políticas, quanto econômicas.
Alvesapresenta em seus levantamentos que antes mesmo da chegada da Ferrovia,
havia um próspero investimento na pecuária. Com as instalações de frigoríficos no
estado de São Paulo, este interesse pela área Sul de Mato Grosso como produtora
de gado se intensifica e ao mesmo tempo a vinda da NOB só contribuiu para
acelerar esse processo.
Ao utilizar o trabalho de Marx e Engels como base, fica muito mais claro
entender as relações que se formaram durante todo o processo de inserção desta
Ferrovia, a sua vida útil e sua decadência. Em suma, pode-se afirmar que
pertencemos a uma sociedade capitalista, uma vez que o Brasil desde o século XVI
foi incorporado como colônia portuguesa e assim a um mundo capitalista.
Para uma análise focada no urbano, levou-se em conta a cidade moderna e
suas formas de organização, seus zoneamentos e desta forma a divisão de classes.
O trabalhador, como o grande produtor da energia ou de capital, esteve sempre
limitado pelo capital monopolista e seus interesses. Campo Grande se formou
através da NOB, mas, antes mesmo, já era um ponto de produção de gado e
estabelecia relações com grandes compradores de Minas Gerais e São Paulo. Na
verdade os acontecimentos foram gradativos e intencionais, para atender a
interesses de fundo econômico.
Alves (1986) deixa explícito em sua obra que o interesse na pecuária foi o que
determinou a mudança do poder de Corumbá para Campo Grande. Esclarece
também o porquê, até os dias de hoje, o Mato Grosso do Sul tem a pecuária como
sua principal fonte de renda, com destaque nacional e internacional na produção de
carne.
Dentro do ponto de vista de Marx e Engels, o estudo de Alves (1986),se
baseou em relatórios de compra e venda de mercadorias, exportação e demanda de
mercado, ele abordou claramente todas as relações políticas e foi através delas que
9
Além dos dados importantes que trás da criação da Ferrovia, é uma leitura
bastante enriquecedora, pois foi escrita no ano de 1950, quando a NOB ainda
estava em funcionamento. Azevedo acreditava que seria possível manter o avião, o
carro e o trem funcionando ao mesmo tempo, sem que um tomasse o espaço do
outro. Chegou a considerar como exemplo alguns países Europeus.Hoje concluímos
que as políticas do país não propiciaram este equilíbrio, e que o trem, em grande
parte, foi inutilizado.
Em Queiroz (1999) foi exposto, através de levantamentos bibliográficos e
relatórios anuais da NOB, um paralelo entre a atuação e o rendimento da Ferrovia
no estado de São Paulo e no Sul de Mato Grosso. Nesta pesquisa são apontados
vários fatores, retirados desses relatórios, que concluem que na verdade a Ferrovia
rendeu lucros apenas em São Paulo e que os trilhos do Estado de Mato Grosso
foram mantidos por esses rendimentos.
Houve um empenho muito grande na busca de informações que deixassem
claros os motivos da Ferrovia ter entrado em decadência. Enfatiza as dificuldades
que se teve para a construção dos trilhos, o sucateamento dos vagões, a grande
influência política dos militares no comando da NOB e as influências das revoluções
11
a partir de 1924. Mas deixa claro que o grande vilão dos déficits da Ferrovia era o
Sul de Mato Grosso. Deixa claro, assim como Azevedo (1950), que a NOB valorizou
as terras do Mato Grosso e contribuiu para a formação de cidades, reconhecendo o
movimento do progresso.
Em Congro (1920), tem-se uma espécie de relatório de acontecimentos na
cidade de Campo Grande, no período em que foi escrito. O autor faz um
levantamento de todas as condições físicas deste município. Fica evidente como
principal interesse a questão da pecuária local, pois além de realizar visitas nas
principais fazendas da região, faz uma memória fotográfica desse material. É uma
leitura muito rica e restrita a Campo Grande, ou seja, é bem específica. Mas, como
em Azevedo (1950), é bastante enriquecedor o fato de ter sido escrita quando a
Ferrovia ainda estava em funcionamento, pois havia várias expectativas econômicas
para o espaço físico da cidade.
Em todos os autores aqui citados, Alves (1986), Azevedo (1950) e Queiroz
(1999), há, através de análise de determinados acontecimentos, o estudo das
relações sociais. A todo o momento, mesmo durante o fornecimento de dados, se
evidenciam os interesses, e por fim entende-se que todo o desenvolvimento de uma
sociedade e o futuro que ela toma, depende das relações humanas e da força de
trabalho que é o homem.
2 MATERIAL E MÉTODOS
relevantes para a história nacional e quais os procedimentos para que este bem seja
protegido.
Foi possível o acesso ao documento de registro do patrimônio, que é um
relatório de condições do bem tombado que o IPHAN realiza logo que avalia as
condições do espaço. Neste material, fiscais do IPHAN fazem um estudo do espaço
e em que estado de conservação se encontram os bens. Este documento e datado
ano de 2009 e avalia todos os bens inclusos no tombamento da Estação Ferroviária,
escritórios, oficinas, armazém, rotunda de manutenção, casas para operários, casas
para funcionários intermediários, casas para funcionários graduados, caixa d’água e
escola, o conjunto de 135 edificações, ocupa 22,3 hectares. Após essa avaliação foi
realizada a inscrição dos mesmos, no livro do Tombo Histórico Arqueológico,
Etnográfico e Paisagístico. E ainda registra que a importância deste patrimônio se dá
pela participação que a Ferrovia teve na integração e na modernização nacional.
As entrevistas feitas no espaço do sítio, iniciaram em julho de 2012 e durante
as visitas ao Intituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, que tem suas
instalações na antiga casa de pouso da NOB, foi possivel obter o endereço de
moradores que participaram da ferrovia antes de sua privatização. Gradativamente
se deu o contato com essas pessoas que até hoje residem em casas dentro do sítio.
Ao todo buscou-se por aproximadamente 14 moradores que fizeram parte da
ferrovia e ainda residem naquele espaço, desse número apenas 10 se
disponibilizaram a dar entrevista.
15
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para os outros moradores desses ervais, ela impõe sua lei, de forma que
todos devem prestar serviços à Matte Larangeira, porque, pelos contratos
de arrendamento, só ela tem direito de autorizar a fixação de migrantes na
região. Aqueles que não aceitam ser empregados da Companhia e tentam
tornar-se proprietários são considerados estranhos, perturbadores da ordem
e, assim, a Companhia ficava autorizada a expulsá-los dos ervais e dos
Campos de Vacaria. (WEINGARTNER, 1995, p. 73).
A ocupação da região sul ocorreu, portanto, por meio de duas vertentes: uma
advinda do norte de Mato Grosso, que se instala no pantanal, baixo-paraguai; e a
segunda, constituída por mineiros e paulistas que ocuparam parte da fronteira com o
20
1
Machado se referia a Antônio Brabo, um pistoleiro da época, que se encontrava na rua Alegre, hoje
7 de setembro, uma das zonas de baixo meretrício, área pobre da vila.
24
E foi desta forma que Emílio Schnoor consolidou o novo traçado, que em
lugar de tomar o rumo de Cuiabá seguiu para Corumbá, em demanda da
Bolívia, e, por decisão de Schnoor, iria passar também por Campo Grande.
(MACHADO, 2008, p. 66).
Figura 3 - Rio de Janeiro: capital do Brasil, área central da cidade, início do século
XX. Fonte: Agenda Piracicabana. Disponível em:
<http://agendaculturalpiracicabana.blogspot.com.br/2012/04/joaquim-manuel-de-
macedo-um-olhar.html> Acesso em: setembro de 2012.
Figura 6 - Campo Grande: ainda Vila, início do século XX.Fonte: Ayala, 2011.
Diante das imagens podemos ter ideia do que acontecia antes da chegada da
Noroeste em Campo Grande. As construções de taipa começam ser substituídas por
alvenaria. A ferrovia atraiu para a cidade, emigrantes e entre eles alguns
construtores. O acesso a materiais vindos de São Paulo, como tijolos e telhas,
mudou o perfil das construções. A localização da cidade e seus campos propiciaram
a instalação de investidores e pecuaristas para esta região e isso atraiu interesses
econômicos dos grandes frigoríficos paulistas.
29
Com o fim da Guerra, a preocupação para ter maior controle desta fronteira
terrestre era constante. Ao final da disputa foi possível ter acesso, através da Bacia
Platina, à fronteira de Mato Grosso, que antes só poderia ser feito de forma terrestre
pelo estado de Goiás. O estado passa a ter um grande investimento por conta da
livre navegação, e Corumbá passa a ter destaque com as casas comerciais e o
ramo de importação e exportação, como citado anteriormente.
A ideia de vias mais rápidas para chegar até o estado de Mato Grosso já
acontecia antes mesmo da guerra, mas nada foi feito para que efetivamente algo
acontecesse. No entanto, só depois da guerra e de Mato Grosso ter sido invadido, é
que se teve a ideia de quão grande era a dificuldade de enviar reforços para defesa.
Diante disto, o governo imperial resolveu tratar o assunto com maior interesse,
organizando estudos sobre a ligação ferroviária do estado de São Paulo com o
estado do Mato Grosso.
Em 1907 esse traçado inicial sofreu alteração e a ferrovia passou a ter novo
rumo. O seu término, que se daria em Cuiabá, se deu em Corumbá. No ano seguinte
1908 já começou a construção partindo do Porto Esperança, no município de
Corumbá. As duas linhas, saindo de Bauru e a outra de Corumbá, se encontram, em
1914, próximo a Vila de Campo Grande e esse encontro faz a estação local ser
chamada de “Ligação”. A Noroeste ficou com seu ponto terminal em Porto
Esperança por muitos anos. Só a partir de 1938 é que se deu início ao trecho que
atingiria Corumbá e Ponta Porã, o qual só foi concluído totalmente em 1952.
32
[...] de acordo com esta perspectiva, que via nas ferrovias uma das
manifestações mais evidentes do progresso ao qual indivíduos e países
deveriam se sujeitar, cumpria, acompanhar o movimento determinado pela
própria história. Não saber andar junto com ela podia significar o
enfraquecimento e a perda de posição, entre as demais nações.
Inscrevendo-se o progresso na própria história e sendo as ferrovias um de
seus mais poderosos elementos, elas passaram a ser consideradas
fundamentais para garantir a força e o poder de uma nação. (CASTRO,
1992, p. 26)
Acresce que o valor estratégico de uma estrada de ferro não se mede
apenas pela sua capacidade de transporte de tropas e de seu
abastecimento, mas pela função civilizadora (econômica, comercial, política
e cultural) que exerce, transformando as regiões percorridas que, de terras
de ninguém, no man’s lands, desertas ou quase desabitadas, passaram a
ser poderosos centros de produção agrícola e industrial. É que, não apenas
os caminhos em si mesmos, mas povoamento, produção e circulação
constituem elementos essenciais de defesa das fronteiras de um país.
(AZEVEDO, 1958, p. 91)
A chegada dos trilhos à comarca de Campo Grande, em 1914, fez muita coisa
mudar. A vila passa a servir de ligação entre duas grandes pontas de mercado e de
capitais do país: o estado de São Paulo e o Porto de Corumbá. O fluxo de pessoas
que começou a acontecer por conta da estação local era muito grande. A vila
começa a receber povos de todos os tipos, de todas as culturas de forma muito
acelerada. Passa a conhecer novas tecnologias, mercadorias finas, trazidas por
mascates e novos comerciantes. Com o aumento do movimento local e o trânsito de
pessoas, a vila passa a ter a preocupação de organizar seu espaço urbano. Foram
criadas novas ruas, deram-se nome a elas. Esse desenvolvimento traz em 1918 a
elevação de vila de Campo Grande a município de Campo Grande.
Assim, “a 14 de outubro seguinte teve lugar a inauguração oficial da Estrada
de Ferro Noroeste do Brasil, datando da sua chegada o extraordinário
desenvolvimento, o vertiginoso progresso da localidade.” (CONGRO, 2003, p. 35).
As antigas ruas, como a Rua Velha, hoje 26 de agosto e a Rua Alegre, hoje 7
de setembro, começam a ficar relegadas ao esquecimento e a cidade passa a
acontecer próxima à ferrovia. Os moradores da Rua 26 de agosto começam a
procurar lugares mais altos para suas novas moradias, e começam a ocupar a Rua
15 de novembro e a nova Avenida Marechal Hermes, hoje Afonso Pena.2 A Rua 7 de
setembro passou a ser usada apenas para cabarés de baixo nível, chamada por isso
de Boca do Lixo.
Estar próximo das instalações da ferrovia trazia ares de nobreza a tudo que
se estabelecia por ali. Havia, nas ruas Dom Aquino e Maracaju, os cabarés de luxo e
esses locais eram conhecidos como “Baixadinha de Ouro”. A Rua 14 se tornou a rua
principal para o comércioe para o tráfego de pedestres, com os carros de praça que
atendiam aos viajantes recém chegados na cidade. Todas as características de uma
urbe e seus setores começam a ser delimitados de forma bem precisa nesse
período.
2
Nome dado em homenagem ao presidente que estava no governo, quando se decidiu instalar a
NOB em Campo Grande.
37
imigrantes vindos para a construção dos trilhos acabaram ao final da obra ficando
pela cidade e se instalando por aqui. Os árabes com a formação de casas
comerciais, italianos, japoneses com a área de plantio e hortas, espanhóis,
paraguaios, com sua comida e música, entre outros.
Junto com essas novas culturas vinham novos costumes, comidas, danças e
acabaram fazendo dessa pluralidade, uma cultura singular, que se revelava através
da mistura de várias etnias em um mesmo território. Dentro da ocupação econômica,
muitos delas se dedicaram ao comércio e outros resolveram investir na pecuária,
que era algo de bastante importância para Campo Grande.
Com o trajeto do trem acontecendo periodicamente, ficou muito mais fácil o
acesso de compradores de gado à região. A pecuária passa a crescer muito
rapidamente e, em meados de 1920, Congro (2003, p. 54) já previa maior evolução:
3
Raças que posteriormente foram substituídas pelo Nelore.
39
participação dos militares locais no golpe dado ao governo em 1930, sob o comando
de Getúlio Vargas, fortaleceu aqui a ideia de divisão do Estado.
Em 1926 é inaugurada a ponte ferroviária Francisco de Sá, que sai do estado
de São Paulo e cruza o Rio Paraná, atingindo Três Lagoas. A ponte era um projeto
ousado e oneroso, pois foi construída com materiais importados belgas, material que
não se tinha disponível no Brasil. O trajeto que antes era feito por balsas e atracava
no Porto de Parnaíba acabou e deu lugar a ponte, aumentando e facilitando o
tráfego da linha ferroviária. Apesar de todos os problemas e desgastes enfrentados
pela Noroeste nesse período, de acordo com levantamentos feitos por Queiroz, foi o
período de maior rendimento da ferrovia e, em 1927, ele também encontra um
relatório onde enfatiza o seguinte: “A exportação de gado em pé do Estado de Mato
Grosso, após a inauguração da Ponte do Paraná, vem se desenvolvendo de modo
animador.” (R.27, 1928, p. 17 apud QUEIROZ, 1999, p. 392).
Até 1930 a Ferrovia saía de Bauru, estado de São Paulo, e terminava no
Porto Esperança. A partir da década de trinta se dá início ao trecho que atingirá o
ponto final da estrada, que é Corumbá, que só veio a terminar realmente em 1953. E
no final da década de 30 começa a ser construída também, a Estrada de Ferro Brasil
- Bolívia.
Durante esse período de 1930 a 1945, Getúlio Vargas criou um movimento
que incentivava a ocupação do centro-oeste e levou o nome de Marcha para o
Oeste. A intenção era preencher os vazios demográficos. A região centro-sul estava
com um excedente populacional e, por conta disso, era melhor que migrassem para
outras regiões, servindo também de mão de obra para aumentar o fornecimento de
matéria-prima e promover as indústrias que viriam a se implantar na região sudeste.
Os principais estados que serviram para essa política foram Goiás, Paraná e Mato
Grosso, todos encarregados da produção de alimentos.
de serviços, com pensões e carros para traslados dos recém chegados a Campo
Grande. A Rua 14 concentrou toda a área de comércio e cafés. A maior parte
desses comércios era pertencente a emigrantes que aqui acabaram ficando após a
chegada do trem. Construíam seu comércio e, em um piso superior, suas
residências.
A área coberta por uma mancha verde, área de hortas, foi ocupada grande
parte por emigrantes japoneses. Vinham com um grande número de familiares em
busca de serviço e por disponibilizar da força braçal acabaram se dedicando ao
plantio. Atividade muito significativa, pois veio a atender a demanda do número de
moradores que aumentou consideravelmente após a chegada da NOB.
A mancha em cinza escuro, denominada por área militar, foi onde se instalou
o exército na década de 20, pertencente assim a ocupação 2. Para atender as
famílias desses militares, foi que se criou o primeiro bairro residencial de Campo
Grande, o bairro Amambaí. Era um local distante da área central da cidade e onde, a
maioria dos seus moradores se dedicava ao trabalho. Não havia nenhum
planejamento de convívio ou lazer, um bairro realmente criado dentro do ideal
modernista, das cidades pós-revolução industrial, bairro de trabalhadores.
O bairro Cascudo foi o segundo bairro a ser projetado e ficou ao Norte do
mapeamento, ladeando a Estação Ferroviária. Foi um bairro também criado para
abrigar trabalhadores; nele se instalaram prestadores de serviços, que
exerciamtrabalhos de olaria, barbearia, sapataria, açougue, ferraria, como também
residiam no mesmo local em que trabalhavam. O bairro abrigou também a Santa
Casa e o Colégio Dom Bosco.
A grande mancha em cinza claro foi onde se acomodaram os profissionais
liberais, médicos, advogados. As grandes casas dos fazendeiros da região também
ocuparam essa área. Ficou como uma área nobre da cidade, onde se instalaram as
pessoas de maior poder aquisitivo. A área contava com duas praças e também com
um clube, onde aconteciam todas as festas e reuniões desse mesmo público. O
Rádio Clube era um ponto de encontro e recreação dessas famílias que residiam em
suas proximidades e de acesso restrito.
A Estação Ferroviária teve muitas de suas casas construídas nesse mesmo
período. Outra parte delas, a mais antiga, acabou sendo refeita, pois as primeiras
instalações não eram nem de alvenaria. É possível, através de arquivos do IPHAN,
identificar os moradores das casas, as diferenças dos materiais empregados em
45
esses déficits, nem trazer rendimento semelhante. Dessa forma, era muito
importante que os locais onde a ferrovia estivesse instalada conseguissem gerar
renda que cumprisse com os gastos da ferrovia. Mas nem todos os povoados tinham
esse potencial. A maioria não tinha, principalmente no sul do Mato Grosso.
O sul de Mato Grosso tinha agora a pecuária como principal produção e fonte
de negociações com os estados vizinhos. A erva-mate e o charque atendiam países
vizinhos, e a cidade de Corumbá passou a focar mais suas relações com países
como a Bolívia. Seu porto continuou em funcionamento e ainda era a fonte de
ligação com Cuiabá.
Campo Grande se expandia cada vez mais e grandes criadores de gado
acabaram se estabelecendo na cidade, construindo suas casas e acomodando suas
famílias. O transporte do gado, em Mato Grosso, era feito em grande parte para
Minas Gerais e São Paulo, locais onde estavam os grandes compradores;mesmo
com a chegada da ferrovia, ainda era levado em comitivas. Os vagões, para o
transporte desse gado, eram poucos e o fato de o boi ser levado em pé, acabava
ocupando muito espaço.
A ferrovia facilitou o transporte de gado, principalmente nas épocas de chuva,
pois as estradas ficavam empossadas e muito ruins de serem trafegadas. Mas há
vários registros de que eram ineficientes a quantidade de vagões e, a maneira como
o gado era acomodado, não era satisfatória de acordo com a demanda que havia.
Segundo Machado, (2008, p. 66):
A própria ponte da NOB sobre o Rio Paraná parece haver contribuído não
só para o aumento dos transportes de gado pela ferrovia como, também,
para a saída de animais em pé. Numa demonstração desse fenômeno,
noticia-se em 1929 a execução de serviços visando a “adaptação”; tais
serviços, que consistiam no assoalhamento da ponte e na instalação de um
gradil de ferro em ambos os seus lados, foram concluídos em 1930 (R29,
1930, p. 15 – 16; R30, 1931, p. 15) – cabendo recordar que nessa época já
havia uma estrada boiadeira entre Três Lagoas e Araçatuba, a qual era
provavelmente percorrida por esse gado.
O criador arca, pelo processo atual, com todos os ônus e é o que menos
ganha. O invernista compra-lhe o boi, leva-o para suas pradarias bem
formadas e, no fim de um ano apenas, o revende rachando de gordo.
Ganha boa soma. O industrial, geralmente estrangeiro, em seu frigorífico
recebe o bovino e o aproveita integralmente. Paga apenas o preço da
carne, mas aproveita tudo: matambre, chifre, osso, casco, couro, sangue,
pêlo e até o estrume. Quando póde exportar carnes frigorificadas ou
enlatadas é um Deus nos acuda de dinheiro.[...] Por essa rápida exposição
todo o mundo póde averiguar a desigualdade entre o ganho dos que criam e
dos que negociam o animal bovino.
funcionários. Não era mais necessário tantas pessoas para o auxílio constante de
abastecimento de lenha, o que diminuía parte dos déficits da Ferrovia.
4
Depoimento feito pelo ex-prefeito de Campo Grande Dr. Wilson Fadul no ano de 1999, ele governou
Campo Grande de 1953 a 1955. Graduado médico no Rio de Janeiro em 1945, foi Deputado Federal
e chegou ao cargo de Ministro da Saúde no governo de João Goulart, veio a falecer em 2011.
53
Muito conhecida a frase de JK, “50 anos em 5”, seu lema era investir no
desenvolvimento de indústrias no país, acelerar a economia e atingir as regiões mais
distantes. Foi eleito em 1955 a presidente e terminou seu trabalho em 1961.
Conseguiu, com essa ideia de rodovias, atrair grandes indústrias como a
Volkswagen, Ford e General Motors.Abriu a economia brasileira para o capital
estrangeiro, abriu rodovias transregionais, ajudou no povoamento do Brasil Central,
construiu Brasília em tempo recorde, mas acabou deixando o país com uma grande
dívida externa. Em nome da estratégia de atrair investimentos e gerar empregos, as
ferrovias, que tiveram tanta importância no ciclo do café, foram sucateadas e
desprezadas em favor da rodovia.
Segundo Azevedo (1950, p. 32), havia a ideia de que poderíamos ter diversos
tipos de meios de transporte e que cada um deles desempenharia uma função,
chegando a um equilíbrio, de forma que nenhum anularia o outro. Assim,
A era do trem de ferro não passou: o automóvel e o avião não fizeram mais
do que ressaltar as “aptidões particulares” de cada um dêsses meios de
locomoção, seja qual fôr a fôrça motriz vitoriosa ou dominante, em vastos
planos de viação e de transportes, em cada país ou na esfera internacional.
rodoviária foi construída, mas não com recursos públicos, pois a prefeitura não os
tinha. Ela foi construída pelos irmãos Laburu.
Até 1948 os embarques e desembarques para transportes intermunicipais ou
interestaduais eram feitos em pontos que se distribuíam entre as ruas 14 de julho
(Rua Principal), Antônio Maria Coelho (Y Juca Pirama) e Avenida Afonso Pena
(Marechal Hermes). Depois de 1948 até a construção desta rodoviária, os
embarques e desembarques aconteciam nas proximidades do Hotel Gaspar, que
ainda se localiza próximo à Estação Ferroviária, na esquina da Avenida Mato Grosso
com a rua Calógeras.
Na década de 50 as ruas não tinham pavimentação e apenas o trecho
próximo à Estação era coberto por paralelepípedos. Foi implantada a Base Aérea
neste mesmo período e, logo depois, para atender essa região, construíram mais um
na Vila Alba. A região leste da cidade era onde a maior parte da economia local
acontecia: as transações comerciais e as prestações de serviço. Ao norte, a
prefeitura foi criando loteamentos que atendessem a demanda de crescimento da
cidade.
No ano de 1950 a cidade tinha 31.708 habitantes e uma década depois
atingiu 64.934. Isso atraiu muitos investidores, até mesmo de fora do estado, que
começaram a comprar grandes chácaras e loteá-las na intenção de vender a preços
bem elevados, devido a valorização local e o grande número de pessoas que atraía
anualmente. A prefeitura teve de assumir, após um tempo, o controle sobre essas
ações, pois não conseguia atender às medidas de saneamento, luz, asfalto para
cada novo lote que surgia.
Nesta mesma época se tornou frequente a reclamação da população sobre a
presença dos trilhos no centro da cidade, alegando que devido ao aumento do fluxo
de pessoas no local, os acidentes por atropelamento, e até mesmo óbito, por conta
da linha, eram corriqueiros. O prefeito deste período5 chegou a relatar que o
caminho feito pelos trilhos não foi realmente planejado,
A Noroeste foi feita com carroças e burros. Nós não tínhamos máquinas. Foi
feita na pá, no enxadão e o transporte de materiais em carrocinhas ou no
lombo de burro. Então, toda vez que se encontrava uma forma de desviar
de um aclive, de desviar de um pântano, se desviava e foram fazendo a
estrada ao sabor da linha mais favorável ao trânsito da ferrovia. (BUAINAIN,
2006, p. 81).
5
O prefeito em questão era Dr. Wilson Barbosa Martins.
56
O pedido da retirada do trilho era por conta dos acidentes. Mas ainda neste
momento a ferrovia tinha seu funcionamento ativo e frequente, pois servia de
entroncamento para as cidades próximas e a ligação com outros estados brasileiros
e a Bacia Platina. Mesmo assim, atendendo às reinvindicações da população, surge
uma proposta para fazer outra estação distante do centro.
O atual diretor superintendente da Estrada de Ferro Noroeste, engenheiro
Pedro Pedrossian, objetivando de maneira concreta, positiva e real o que
representa para o progresso da cidade a retirada dos trilhos do centro da
cidade, resolveu construir a variante de Campo Grande, deixando a cidade
livre dos trilhos da via férrea, eliminando assim as perigosíssimas
passagens de níveis que muitos e lamentáveis desastres têm dado e
continuam sendo o perigo constantes dos motoristas imprudentes. Esta
variante, que saíra das proximidades da Base Aérea Militar[...].(CORREIO
DO ESTADO, p. 1, 17 de maio, 1962 apud BUAINAIN, 2006, p. 82)
Ainda com Wilson Barbosa Martins como prefeito, foi criado o Conselho de
Planejamento. Este órgão tinha como função estudar a cidade e ajudar a prefeitura a
saber quais investimentos deveriam ser priorizados. Houve também a criação de leis
para realização de loteamentos e um código de posturas e de obras para a cidade.
O crescimento da urbes era tão intenso que já, à beira dos córregos, apareciam as
primeiras favelas de Campo Grande.
Durante todo esse período foi também discutida a ideia da chegada da
indústria, pois preocupava a possibilidade de Campo Grande ficar sempre
6
Relato de Wilson Barbosa Martins no ano de 1999, foi prefeito de Campo Grande de 1959 a 1963 e
se elegeu governador do estado de Mato Grosso do Sul em 1982. É advogado por formação, foi
presidente da OAB e deputado federal.
57
Quando as estradas chegaram, Corumbá foi perdendo, cada vez mais a sua
importância de distribuidor dos produtos vindos do exterior ou do próprio
Brasil. Então, a Noroeste foi entrando em decadência exatamente no
período em que nós estivemos na Prefeitura e, embora se discutisse o
problema dos trilhos, não havia condições de investimento para realizar a
59
mudança que naquela ocasião, não era importante aos olhos do Governo
7
Federal. (BUAINAIN, 2006, p. 238).
7
Relato de Marcelo Miranda Soares no ano de 1999, prefeito de Campo Grande no período de 1977
a 1979. Era engenheiro e chegou a Governador do Estado em 1982.
8
Relato de Albino Coimbra Filho no ano de 2000. Odontólogo e advogado, foi prefeito de Campo
Grande de 1979 a 1982.
60
A partir de 1983, a cidade cria novas leis para o uso do solo e o seu
zoneamento. A retirada dos trilhos do centro da cidade volta a ser a programação do
governo, como também a criação de uma nova rodoviária na saída para Três
Lagoas. Chegou a se pensar em fazer do sítio da ferrovia e de seus barracões um
local para bares e restaurantes. Mas nem uma coisa nem outra foram feitas.
Planejava-se, discutia-se o assunto, mas efetivamente nada era realizado.
Em 1990 a ferrovia já estava com o movimento bem deficitário, seu
rendimento era muito fraco para manter seu funcionamento. Em 1994 o prefeito
tentava ainda a negociação com a rede Ferroviária Federal para a retirada dos
trilhos da área central da cidade.
das casas do sítio acabou indo a leilão, sendo que parte delas foram compradas
pelos próprios ferroviários e outras por particulares9.
O relato de Juvêncio Cesar da Fonseca, ex-prefeito, avalia a privatização:
Tudo fica na mão de terceiro e terceiro quer só lucro. Veja a Estrada de
Ferro Noroeste do Brasil. A Novoeste desativou o ramal para Ponta Porã,
retirando os dormentes para fazer manutenção de outra linha,
simplesmente, por economia. E acabou deixando toda aquela região,
Maracaju, Ponta Porã, uma região produtiva, sem o transporte ferroviário
que é o mais barato. Preferiu destruir um ramal para não gastar dinheiro em
manutenção de outro ramal.(apud BUAINAIN, 2006, p. 364).
Fica clara que as intenções nesse período era a de restaurar o sítio e remover
os trilhos da região central. O PLANURB é o órgão que a prefeitura designou a partir
deste momento como responsável pelo estudo da proposta de revitalização da área.
A medida de retirada do trilho e limpeza daquela área, já valorizaria a região do
centro velho, que estava há anos em decadência, descaso e marginalizada.
Desde 2001, quando o patrimônio histórico já estava tombado pelo governo
federal, os moradores, antigos ferroviários ou descendentes dos mesmos, em
conjunto com a Câmara de Vereadores, fizeram reivindicação de que, qualquer
proposta que viesse a ser feita naquela área fosse, antes de mais nada, discutida
com os ferroviários que continuaram a morar no sítio, com a participação dos
moradores nas decisões.
9
Maneira como os ferroviários ou descendentes deles denominam as pessoas que compraram as
casas no leilão e não fizeram parte efetiva da história da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.
62
1995. Poucas estações na Noroeste são usadas, com grande parte das instalações
estão sem nenhum cuidado e a maioria dos trechos está em abandono total, caso do
trecho de Ponta Porã.
do processo de decadência pelo qual a Vila passou. Ver o espaço sem uso,
marginalizado, foi um impacto muito grande para eles. O Entrevistado 2 chega a
dizer:
Isso nada mais é do que um reflexo da ideia de exclusão que eles têm, após
este processo evolutivo pelo qual a cidade passou, pelo qual o Centro Antigo, em
processo de decadência há anos, hoje tenta se renovar, buscar novas funções.
O processo da privatização, e depois de tombamento do Sítio, fez com que
muitos Ferroviários se aposentassem. Mesmo não estando explícito, muitos se
sentiram sem rumo ao perder o emprego e precisaram buscar, fora daquele espaço,
uma ocupação e um auxílio financeiro. Eles não perdem a esperança de,
futuramente, surgirem novas possibilidades de emprego dentro do próprio espaço da
Ferrovia.
Segundo o Entrevistado 4:
“Projetaram um restaurante na Estação; queremos participar do processo de
seleção. Seria muito bom se pudéssemos trabalhar novamente neste espaço.”
(informação verbal)11
Segundo o Entrevistado 2:
“O projeto desse parque, nunca chegou até nós. A única coisa que estamos
sabendo é da Orla.” (informação verbal)12
10
Entrevista realizada com um dos aposentados da NOB, que ainda reside no sítio, em agosto de
2012.
11
Entrevista realizada com um descendente de funcionário da NOB que reside no sítio, em agosto
de 2012.
66
Segundo o Entrevistado 1:
“Agora aquela parte de mato do pátio da Ferrovia, sempre está sendo mantida
limpa; as ruas de acesso também, até o esgoto que vazava por dias, hoje recebe
auxílio imediato. Com o passeio do City Tour pela feira toda semana, eles precisam
12
Entrevista realizada com um dos aposentados da NOB, que ainda reside no sítio, em agosto de
2012.
13
Entrevista com um morador do sítio, descendente de ferroviário e aposentado da NOB, em julho
de 2012.
67
manter a ordem, pois acaba servindo de cartão postal para os turistas.” (informação
verbal)14
“Hoje a gente sente que há mais respaldo dos civis sobre o espaço da
Ferrovia.” (informação verbal)15
14
Entrevista com morador do sítio, descendente de ferroviário e aposentado da NOB, em julho de
2012.
15
Entrevista com morador do sítio, descendente de ferroviário da NOB, em agosto de 2012.
68
“A verba cedida pelo PAC, atendeu várias intervenções feitas na área central
da cidade. São 94 ações de reconversão de uso e ao longo do trilho temos a Orla
Morena 1 e 2, uma parte do centro e outra fora da zona de interesse cultural. O que
74
foi feito até o momento, relacionado a Ferrovia, e que está incluso nesta verba, foi o
Projeto do Parque Esplanada e a obra da Orla Ferroviária que deverá ser entregue
até fim de 2012.” (informação verbal)16
16
Entrevista realizada com um dos dirigentes do IPHAN em agosto de 2012.
17
Entrevista realizada com um dos dirigentes do IPHAN em agosto de 2012.
75
mesmo pertencendo a pessoas civis em sua maioria, apenas uma das casas é da
União. Independente de quem seja o proprietário, ele terá responsabilidade de zelar
por aquela propriedade. E qualquer mudança a ser feita no corpo daquele patrimônio
passará por várias instâncias:a primeiramente é levar a proposta para o SEMADUR,
depois PLANURB e então IPHAN. É necessário que todos eles autorizem qualquer
que seja a alteração ou restauração a ser feita no bem, já que agora é um bem de
interesse público.
O bem não deve ser descaracterizado, isso corresponde a intervenções
inadequadas a obra em questão. A obra tombada pertence a um período
arquitetônico e tem de ser restaurada de forma que condiza com suas
características reais. Demolições, mutilações ou acréscimos sem consulta aos
órgãos competentes é considerado ato de infração e os proprietários que o fizerem
sem autorização poderão pagar multas sobre o feito.
O Sítio da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil está como Patrimônio
Histórico e o IPHAN determinou que todas aquelas propriedades devem ser
mantidas da mesma forma que estavam antes do período de 2009. Por tanto
qualquer alteração a ser feita, deve ser antes comunicada as autoridades já citadas
acima. Em entrevista ao Campo Grande News, o Superintendente do IPHAN
comenta:
ALVES, Gilberto Luiz. Mato Grosso e a História: 1870 – 1929 (ensaio sobre a
transição do domínio econômico da casa comercial para a hegemonia do capital
financeiro). Boletim Paulista de Geografia, n. 61. São Paulo: AGB, 1984. 76 p.
Ensaio.
AZEVEDO, Fernando. Um trem corre para o oeste. São Paulo: Livraria Martins
Editora S.A, 1950.
BOSCO, Maria G. Dal. Viajantes da ilusão: os pioneiros. Dourados: Ed. Via Nova,
1995.
GRECO, Maria Madalena Dib Mereb. A menina e o trem. Campo Grande: Instituto
Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, 2011.
MÔNACO, Carlos Miguel. A Ferrovia. In. Campo Grande: 100 anos de construção.
Campo Grande: Matriz Editora, 1999.
QUEIROZ, Paulo Roberto Cimó. Uma ferrovia entre dois mundos: a Estrada de
Ferro Noroeste.Tese de Doutorado em História, USP. São Paulo, 1999.
QUEIROZ, Paulo Roberto Cimó. Uma ferrovia entre dois mundos: a Estrada de
Ferro Noroeste: a E.F. Noroeste do Brasil na primeira metade do século 20.Campo
Grande: Editora UFMS, 2004.
ANEXO 1
ROTEIRO – ENTREVISTA
Número _____________________
ANEXO 2
ROTEIRO - ENTREVISTA
ANEXO 3
ROTEIRO – ENTREVISTA