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Psicologia Social Comunitária

Regina Célia do Prado Fiedler


Capítulo de tese de doutorado a ser defendido, no prelo, 2007

Primeiramente devemos definir o que vamos chamar neste trabalho de comunidade. Para isso
utilizaremos a sua definição psicossocial, compreendendo-a como um sentimento de pertença grupal,
de compartilhamento de história, cultura e experiências em comum. Para Souza (2006), o sentimento
de comunidade é gerado pelo tecido psicossocial da comunidade: a consciência de um “nós”, que
vive e compartilha um processo histórico semelhante. Para a autora a consciência de um “nós” se dá
pelo reconhecimento de uma “igualdade”, ao serem percebidas condições semelhantes de vida.
Para não definirmos comunidade só como um sentimento que precisamos desenvolver nos
locais que vamos atuar, também definiremos comunidade como um lugar, que muitas vezes é
negligenciado, ignorado ou mesmo repudiado, mas um lugar de fazeres sociais: de produção de
significados e sentidos sociais. Assim, podemos nomear comunidade não só aquelas que têm
consciência do ‘nós’ que as constitui - senão correríamos o risco de não termos mais objeto de estudo
– mas um local que tenha um certo grau de permanência de seus moradores e que compartilhem,
minimamente, experiências em comum. Assim, não buscaremos um ideal romântico de comunidade
(SAWAIA, 1996), também não seremos tão concretos como Bauman (2003), ao dizer que o sentido
comunitário acabou. Pois é claro, para quem vive num país como o Brasil, que muitas comunidades
(ou grupos) sobrevivem graças a estes vínculos sociais.
Como veremos no corpo deste capítulo, um projeto de intervenção comunitária tem como base
os próprios processos comunitários: a própria história da comunidade, os tipos de liderança que este
espaço construiu, as redes de ajuda que desenvolveu cotidianamente, as estratégias de ação para a
sobrevivência diária, os elementos culturais que compõem a identidade coletiva desta população: suas
crenças, hábitos, normas e visões de mundo de uma cultura tão desvalorizada e marginalizada em
muitas pesquisas/intervenções.
A característica mais interessante da Psicologia Social Comunitária, é a sua característica
multidisciplinar (no sentido de incluir os mais diversas saberes e conhecimentos produzidos) e
transdisciplinar (articulando uma nova compreensão da realidade entre e para além das disciplinas
especializadas). Estas características têm como finalidade específica desenvolver com a comunidade
meios para a autogestão, e organização da sustentabilidade econômica e ecológica (no sentido da
ecologia humana – meio natural cultural e histórico), buscando construir nestes espaços, lugares de

1
conscientização e de desnaturalização da opressão e da vitimização em que as populações carentes se
encontram.
Por buscar desenvolver na comunidade meios de sustentabilidade econômica e ecológica a
partir dos seus recursos internos a intervenção comunitarista se propõe não assistencial, buscando
transformar as relações de dominação histórica entre cultos e incultos, ou entre poderosos e excluídos
sociais.
Na construção deste capítulo buscamos apresentar ao leitor as principais discussões, teorias e
intervenções da área da Psicologia Social Comunitária. De certa forma, realizamos esta tarefa nos
aprofundando nestas questões por conta de que toda, ou quase toda a bibliografia produzida sobre a
área estar em espanhol, o que pode impedir o acesso rápido a este panorama geral que gostaríamos
de apresentar neste texto.
Na primeira parte deste texto realizaremos um breve retrospecto do campo da Psicologia
Comunitária no Brasil e na América latina – a partir de Campos (1992, 1996) e de Freitas (1986,1994,
1996) para o Brasil e Montero (2004) para o desenvolvimento da área em outros países,
principalmente da América-latina – localizando as principais características de cada “eixo”1. Num
segundo momento as tendências teóricas da Psicologia Comunitária e as pesquisas brasileiras
baseadas nestas tendências, identificando também as áreas temáticas em que têm se concentrado as
intervenções em comunidades. Dando seguimento, buscaremos fazer uma análise dos principais
enfoques teórico-práticos da Psicologia Comunitária a partir de Freitas e Palmoneri. Logo depois
trataremos das questões teórico/práticas em Psicologia Social Comunitária e implicações
metodológicas da intervenção no campo.

1. História da Psicologia Social Comunitária.

A intervenção comunitária surge na América-latina durante a década de sessenta, quando


profissionais das ciências humanas e sociais se vêm envolvidos, se não direta, indiretamente, nos
movimentos populares que se insurgiam contra as políticas econômicas dos governos de forma geral.
Este foi o caminho percorrido pela sociologia, pelo serviço social, pelas ciências sociais. Na
Psicologia, a década foi importante para que se desenvolvesse, a partir da psicologia sócio-histórica,
uma nova concepção de Homem, de sociedade e da complementariedade entre as duas.

1
Nos baseamos nas citadas autoras, mas incluímos nossos estudos sobre estas tendências ou inclinações que surgiram em
um determinado período (histórico), mas que não significam que sigam uma ordem cronológica muito definida, já que
características destes ‘eixos’ permanecem até hoje no desenvolvimento da própria disciplina teórica e prática.
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Anos 70 até
Anos 60 até hoje Anos 70 até hoje hoje
Psicologia
Social
Psicologia na Comunidade Psicologia da Comunidade Comunitária
No Eclosão de movimentos sociais; Semelhante aos anos 60;
Semelhante aos
campo Agravamento das crises urbanas Abertura política; anos 70;
Oraganização
da sociedade
político Políticas paternalistas; Consolidação de um sistema político civil em
entidades
reivindicativas -
Dependência e dominação estrangeira; e econômico neo-liberal e globalizante. ONGs e etc;
Ditaduras militares
Aceitação de
paradigmas
Crise as Psicologia Social; Crise de legitimação de novos modelos mais sociais e
Nova concepção de Homem p/ a contrucionistas
No Psicologia epistemológicos e metodológicos; simbólicos;
Aceitação de
Influência marxista anarquista na Am. metodologias
campo da Lat. Reestruturação da aplicabilidade da participativas
Psicologia Lutas antimanicomiais. Psicologia no campo social
Gradual
Início da inserção do psicólogo na rede sistematização

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dos fenômenos
e
pública - gradual despolitização do práticas
discurso comunitárias:
Conscientização
Paulo Freire/ Fals Borda - princ. e componentes
Influências Busca de um modelo Psicossocial; afetivos;
Mov. Sociais e
No campo Desenvolvimento de Metod. mobilização
da Educação conscientizadora Participativas política;
Saúde Mental/
Psic. bem estar e
Comunitária Trabalho não específico da Psicologia Conceitos como liberdade, controle de autogestão;
recursos comunnitários para desev.
Trabalho não remunerado Coletivo
Multidisciplinar e pessoal.

Concebe-se, a partir de então, uma noção de sujeito humano como um ser ativo, dinâmico,
construído e construtor da sociedade. Baseia-se nesta concepção um interesse para novos campos de
atuação do Psicólogo, centrada nas relações sociais, intersubjetivas e construtoras de materialidade
histórica: a comunidade, a saúde pública, os movimentos sociais, as populações oprimidas e
desfavorecidas, as relações de desigualdade social.

Entretanto esta nova concepção de Homem vai deparar-se com diversos obstáculos dentro da
própria ciência: a tradição da prática clínica da psicologia, seguindo um modelo médico de assistência
a uma elite da população, que não só era entendida como única forma de atuação, como seu
entendimento baseava-se uma explicação individualizada de subjetividade humana; advindo deste
primeiro obstáculo o segundo era a falta de modelo teórico-prático que desse conta de intervir de
forma intersubjetiva no auxilio de transformações sociais. Esta era a situação de toda ciência da
psicologia nos vários continentes e mostrava a limitação da própria em aliar ciência e vida cotidiana.
A partir do Quadro B, na próxima folha, antes da Psicologia surgir enquanto ciência no Brasil,
o atendimento à comunidade era realizado por intelectuais das ciências humanas e sociais –
antropólogos, sociólogos, assistentes sociais e psicólogos, que ofereciam serviços básicos á

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população de forma assistencialista e pouco estruturada. Estas atuações representavam uma tentativa
de responder às graves crises políticas e sociais brasileiras, vividas com maior intensidade pelas
populações de baixa renda. Estes trabalhos eram desenvolvidos principalmente nos Centros
Comunitários de Assistência Popular, as chamadas comunidades eclesiais de base, que por sua vez
sofriam influências dos teólogos libertários que começavam a estruturar a Teologia da Libertação,
em resposta à ditadura Getulista e a crescente miséria da população, no Brasil e na América latina de
forma geral.

Quadro B: História da Psicologia Comunitária

O período pós-segunda guerra vai mudar a configuração dos órgãos de controle mundial –
bancos de financiamento mundiais e entidades organizativas das políticas mundiais, que neste
momento se organizarão para fornecer as países subdesenvolvidos condições necessárias para a
sobrevivência e consolidação de um sistema capitalista mínimo para a manutenção das relações de
poder provenientes do lucro e da exploração. Assim, Surge a ONU, com uma finalidade capitalista
de fortalecer as comunidades pobres ou miseráveis para que tivessem mínima condição de consumo.
Esta nova política assistencialista mundial vai resultar numa fina consonância entre Fundo
Monetário Internacional e governos com políticas paternalistas em toda América-latina, nosso caso é
Getúlio Vargas e culmina com as Políticas públicas de J. K. que servirão, em última análise, para
consolidar não só as relações de endividamento com os EUA, mais as relações de dependência e
dominação que marcarão a subjetividade dos povos subdesenvolvidos.
Quando da aprovação da profissão de Psicólogo no Brasil, em 1962, seus estudantes e os
professores destes cursos, começaram a desenvolver o primeiro ‘eixo’ da aplicação social da
psicologia, denominada Psicologia na Comunidade. Apesar de originada na década de sessenta suas
características duram até hoje, por isso não podemos delimitar o final de sua fase.
A eclosão de movimentos urbanos e agrários e a ditadura militar vão fazer uma revolução nas
práticas comunitárias. A preocupação com a violação aos Direitos Humanos da população de forma
geral, a perda da liberdade de imprensa e o crescente empobrecimento da população, unidos as
influências das teorias marxistas e anarquistas, irá resultar numa busca dos intelectuais e estudantes,
de forma geral, de uma forma de intervenção mais coerente com o plano socialista. Paulo Freire
representará, neste período, a grande resposta às práticas conscientizadoras, mostrando com isso o
pouco (mas fantástico) embasamento teórico/prático para ações mais efetivas nas comunidades. A

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atuação destes intelectuais se dava fundamentalmente na organização dos trabalhadores urbanos, na
assistência a comunidades de favelas, associações de bairros, igrejas e em movimentos sociais.
Para a Psicologia este período é marcado pelo início das lutas antimanicomiais a partir do
movimento antipsiquiatria, pela influência das teorias sociológicas sobre a produção social da doença
mental, que vai também estimular o início de uma postura preventiva, ainda que psico-higienista -
influência de Bleger no Brasil - da ação do psicólogo na comunidade e nas instituições.
Assim, a prática do Psicólogo na Comunidade, tinha como objetivo a prevenção da saúde
mental da população e a educação conscientizadora com um forte caráter político-ideológico de
transformação e muitas vezes de revolução social. Entretanto resultava num trabalho ainda não
específico da Psicologia, não remunerado, mas que já tinha o caráter elementar da
multidisciplinariedade.
Neste mesmo momento, o tratado anos sessenta, vai se desenvolver na América-latina e nos
Estados Unidos práticas profissionais que resumiam-se na aplicação de técnicas já desenvolvidas pela
psicologia , que viam na comunidade mais um lugar de aplicação. Estas práticas estavam (e muitas
vezes, ainda estão) baseadas em teorias como a fenomenologia, a psicologia comportamental, as de
corrente marxianas e tantas outras e que desenvolviam uma atuação desfocada da problemática vivida
pelas comunidades.
Esta crise de legitimidade e significação que a Psicologia na Comunidade vai produzir, pode
ser considerado um analisador histórico das crises que a Psicologia de forma geral vai passar para
reestruturar a sua aplicabilidade social e de sua transformação: as teorias psicológicas vigentes eram
inadequadas, incompletas e parciais para explicar o comportamento social e a psicologia teria que se
desenvolver e criar subsídios para ser legitimada no campo, não só comunitário, como social.
O segundo ‘eixo’ – a “Psicologia da Comunidade” - vai se caracterizar, fundamentalmente,
na América latina e no Brasil pelo desenvolvimento de teorias e metodologias capazes de
compreender o fenômeno comunitário como objeto de análise e estudo de um enfoque psicossocial
para a psicologia, aliado ao desenvolvimento de metodologias participativas, em meados dos anos
setenta e fundamentalmente no início dos anos oitenta. Escovar (1977), Serrano García (1979) já
defendiam uma psicologia que ajudasse no desenvolvimento comunitário afim de melhor qualidade
de vida, maior possibilidade de liberdade de expressão e da comunidade controlar seus próprios
recursos para tomada de poder e controle sobre sua vida coletiva.
Nos Estados Unidos o termo Psicologia Comunitária surgirá em maio de 1965 no congresso
denominado ‘Conference on the education of Psychologists for Community Mental health’ em
Massachutts. A saúde mental comunitária foi o foco de tal encontro, mas não era o único tema

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discutido. Os movimentos sócio-políticos de ‘guerra contra a pobreza’ (Mann, 1978), a defesa pelos
direitos civis e antisegregacionistas (Levine e Perkins, (1987) também eram foco de discussões.
(Montero, 2004)
No Brasil especificamente o período será marcado, além da característica anteriormente
citada, pela inserção do Psicólogo na rede pública de saúde e educação, na década de oitenta, e
posteriormente nas secretárias de bem-estar social, no sistema judiciário e penitenciário e, mais
recentemente, nas secretárias de habitação e de trânsito, representando o desenvolvimento gradual
que a psicologia tem no campo social e das políticas públicas desde os anos 80s.
A busca por legitimação de uma Psicologia menos elitizada e mais voltada para os problemas
sociais, que marca este eixo vai precisamente contribuir com o desenvolvimento de uma psicologia
que verá na comunidade uma população que precisa ser atendida e assistida pelo estado em suas
necessidade e carências. Este discurso de complementaridade dos psicólogos com o estado (que os
emprega) mostrará a cooptação do discurso do Psicólogo que militava por transformação social nos
anos sessenta e setenta e a crescente despolitização da profissão na década posterior. O período é
marcado pelo início da remuneração do Trabalho do Psicólogo que trabalhava em comunidades pelo
estado e a visibilidade que a profissão começa ter no sentido do atendimento social e que se amplia
até hoje.
O Terceiro ‘eixo’ é o denominado “Psicologia Social Comunitária” e resulta de uma série de
fatores históricos importantes desenvolvidas desde meados dos anos setenta até hoje. A chegada ao
Brasil das questões referentes a crise da Psicologia Social, o desenvolvimento de trabalhos descritivos
de práticas comunitárias específicas do contexto de repressão e miséria popular que viviam os países
latino-americanos, que desde seu surgimento teve um caráter de mobilização política.
Mesmo antes da abertura política em 1985 houve um aumento gradual das entidades de
organização civil - associações, ONGs, entidades filantrópicas - para atendimento à população carente
de recursos materiais ou simbólicos, que o Estado brasileiro, mergulhado no endividamento e na falta
de agilidade de um governo ditatorial, já não dava conta de responder minimamente. Aliado a estes
fatores o crescente e incontrolável descontentamento das classes populares com o sistema ditatorial
vigente, impulsionava as ciências a produzir teorias que dessem conta de explicar e intervir nos
fenômenos comunitários a partir de questionamentos sobre diversos fenômenos sociais/comunitários:
a) Os movimentos sociais e seus benefícios na construção de uma sociedade democrática – que
originará a ênfase política dos estudos em Psicologia Social Comunitária;

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b) O processo de conscientização e seus aspectos afetivos e emocionais no desenvolvimento psico-
político das comunidades carentes, que dará origem a Psicologia Social Comunitária com
enfoque Sócio-histórico;
c) As formas alternativas de organização do trabalho e do capital, com ênfase nas
cooperativas e nos trabalhos autogestionários de forma geral – em que se baseará os
estudos mais organizacionais sobre os processos comunitários;
É a partir de meados da década de 1970 que a influência da Psicologia Social Sociológica vai
ser marcante na Psicologia Comunitária no Brasil e também na América-Latina. Esta influência vai
ajudar a estabelecer uma prática e uma teoria da Psicologia Social Comunitária mais sólida e
respeitada como área de atuação do Psicólogo: com diferenças ideológicas, epistemológicas e
ontológicas substanciais da área clínica e organizacional (tradicionalmente áreas de especialização da
Psicologia). Muitos teóricos constroem este campo do ponto de vista epistemológico e metodológico.

2. Os enfoques teórico-prático da Psicologia Comunitária

Podemos refletir sobre inúmeras influências teóricas na construção da área. E importante dizer
que a divisão destas influências tem um sentido didático, na prática ocorre uma junção destas diversas
influências para a construção, tanto do universo teórico como de suas implicações práticas.
A primeira área a construir algum tipo de referencial para intervenção em comunidades, no Brasil
foi a educação. A prática da alfabetização conscientizadora de adultos de Paulo Freire propõe, antes
de tudo, trabalhar com a desvitimização dos povos oprimidos a partir da educação. Baseia-se
amplamente nos processo de desnaturalização e de conscientização dos determinantes políticos da
opressão.
Há também a influência dos sócio-analistas franceses como Lapassade, Loureau, Boreau entre
outros. Psicólogos comunitários, por exemplo, Rodrigues (2002), Barbosa (1999) e Góis (1999)
utilizam tais autores como base teórica e de orientação para suas análises e intervenções comunitárias.

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Tendências Educação Popular Institucionalista Marxista 1 Marxista 2
Vida cotidiana sócio - histórico
Principais Paulo Freire Lapassade Heller Vygotsky
Teóricos Loureau Lefebvre Lúria
Boureau Gramsci Leontiev

Aspecto afetivo na
Principais Desnaturalização, Grupo sujeito/objeto Análise da Vida Cotidiana construção
Contribuiç Espaço de Transformação dos significados da
ões Conscientização Relações de poder Social vida comunit.

Contribuiç Ciclo de educação Vivências grupais de


ões política Vivências grupais para Construção de espaços desvitimização
metodológi construção de atores dialógicos para reflexão Trabalhos de
cas/ Especialista a serviço da socias dos fortificação da
Interventiv transformação da determinantes sócio- identidade pessoal e
as comunidade mobilizados históricos social

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Tendências Psico-política Psicologia da saúde Ecologista 1 Ecologista 2
ecologista cultural -
Serrano- García autogestão EUA
Principais Martín- Baró Spink Singer Kelly
Teóricos Montero Guareschi Newbrought
Martí-González Jovchelovich

Mobilização coletiva, Estudo das co- Autogestão, Busca de qualidade


Principais redes com. construções de cooperativismo de vida
Contribuiç relações de poder, sentidos sobre saúde e desenvolviemnto
ões lideranças, doença relações solidárias sustentável
cidadania e participação
política
Contribuiç foco na mobilização Análise das práticas baseada no semelhante à
ões comunitária discursivas desenvolvimento de ecologista 1
metodológi e no desenvolv. De Não oferece proposta práticas autogestionárias,
cas/ identidade específica no treinamento,
Interventiv profissional para uma nova
as coletiva para intervenção organização do capital

Quadro C: Enfoques e áreas de atuação da Psicologia Comunitária


Há a influência de autores como Heller, Lefebvre e Gramsci, na linha dos analistas marxistas
e neo-marxistas e de Melucci, na linha da democratização da vida cotidiana para o enfoque em
intervenções que busquem construir espaços de conscientização na cotidianeidade vivida em
comunidades, caso da obra de Reboredo(1983,1995), entre outras.
Há ainda os teóricos que vêem, na experiência comunitária, uma possibilidade de desenvolver
estratégias de pesquisa e intervenção que privilegie o aspecto afetivo na construção de uma
comunidade mais consciente de si e dos sentidos de complementaridade para a criação de um espaço
de ação comunitária. Foram influenciados pela teoria sócio-histórica Sawaia e Lane (1985, 1995,
1996), Bonfim (1999) e Araújo (1999).
Uma outra influência na compreensão dos processos comunitários são as teorias que
compreendem o campo da Psicologia Política, que buscam especificamente compreender os
processos de mobilização política, conscientização, participação política. Teóricos latino americanos
10
como Serrano-Garcia, Martín González, Martin-Baró e Montero foram se concentrado nesta área da
Psicologia Social Comunitária. No Brasil autores como Salvador e Canino já se preocupavam com as
questões comunitárias ao tratar de dinâmica de movimentos sociais e introduzem a reflexão das
ciências políticas no campo da investigação comunitária no Brasil e são seguidos por outros vários
pesquisadores como, Martins (1987), Merisse (1987), Montana (1989), Joaquim(1990), Prado (1996),
entre outros que investigaram os processos políticos em comunidades diversas.
Outra área de bastante atual, ao refletirmos sobre conceitos e técnicas em Psicologia Social
Comunitária, é a área da Psicologia da Saúde, que já responde ao panorama histórico da
institucionalização da Psicologia de ação comunitária no campo da saúde pública. Esta área visa
atender ao enfoque social (interpessoal e individual) necessário para o desenvolvimento de técnicas
para o psicólogo que atua na rede pública de saúde, utilizando como instrumental teórico, a Teoria de
Representaçãoes Sociais de Moscovici e Jodelet, das Teorias de Práticas Discursivas, de perspecitiva
construcionista sobretudo de Bakhtin, a teoria de Foucault, entre outras. Os trabalhos de Spink (2003)
e Jovchelovich (2000) são representantes dos estudos sobre saúde e espaço público e o trabalho de
Zonta (1997) sobre os estudos de representações sociais em comunidades de periferia.
Outra área de atuação de psicólogos em comunidade tem se dado a área do trabalho:
organização e gestão de movimentos autogestionários como cooperativas ou mesmo associações,
formação do trabalhador nos SEBRAEs, em entidades não governamentais, autores como Tomazetta
(1972) Singer (1996, 2000a, 2000b), Gómes(1987), Leon Cedeño(1998) são representantes desta
área. A intervenção esta relacionada com programas de formação e qualificação profissional, além
das análises das relações de poder que se instituem em ambientes diferenciados de organização do
capital.
Podemos ainda ressaltar o enfoque de ecologia humana, proposta por Kelly (1986) e
Newbrough (1973), com intervenções na qualidade de vida e desenvolvimento sustentável,
assemelhando-se a corrente ecológico-cultural norte-americana, que propõe desenvolver capacidades
individuais para que o grupo social trabalhe melhor em comunidade.
Tendo apresentado os três períodos da formação da Psicologia Comunitária, os autores em
que se baseiam as tendências das teorias e das intervenções da atuação, bem como as áreas que têm
se concentrado as ações em comunidades buscaremos fazer uma análise dos principais enfoques
teórico-práticos da Psicologia Comunitária no Brasil.
Como bem nos lembra Spink (2003), duas pesquisas podem nos fornecer dados: a pesquisa
de Palmonari (1989) na Itália e a de Freitas (1986) no Brasil. Ambas trabalharam com a visão que os

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próprios psicólogos tinham de sua atuação, embora a de Palmonari tivesse ampliado seu foco para o
campo da Psicologia Geral e Freitas só com os psicólogos que atuam em comunidades.
Buscarei aqui realizar uma intersecção dos resultados dos dois pesquisadores, já que seus
resultados são bem semelhantes. São quatro os grupo de Psicólogos a partir da prática que
desenvolvem:
Grupo 1 – Ativista Político (Palmonari) ou de Orientação Social (Freitas) estão voltados para
a organização e mobilização coletiva, apoiando e participando ativamente destas; buscam evitar
qualquer instrumental clássico da psicologia por seu efeito mistificador e instituinte de poder e
dominação, mostrando claramente a influência institucionalista de autores como Lapassade e Loureau
– como bem trabalha Coimbra (2002:19):
“As perspectivas autoritárias, englobantes e totalizantes, o território fechado
da falta, da carência, do instituído e da neutralidade, interessam à militante-em-
nós, não uma especialidade-militante, mas o que busca a desnaturalização de
lugares sagrados do saber e do não saber, bem como a necessária
desmistificação do corporativismo e dos modelos imutáveis”.

Grupo 2 – o grupo de Orientação Psicossocial (Freitas), que considera a Psicologia como


uma ciência social, no entanto não se desvincula dos processos intra-individuais, mas
contextualizando-os na problemática socioeconômica da comunidade. Entende, assim, os fenômenos
coletivos e individuais como co-construtores. Um exemplo de trabalhos nesta linha é o de Reboredo
(1992) que investiga os processos psicosociais envolvidos na conscientização de uma população
favelada e os de Sawaia e lane(1985,1995,1996) entre outros.
Grupo 3 – o grupo de Orientação Psicológica (Freitas) consiste em transportar o modelo
clínico para as comunidades carentes, enxergando o seu papel como um auxiliar na cura intrapessoal
não dando conta de construir uma análise global do fenômeno comunitário e de suas inúmeras
possibilidades mobilizatórias. Este grupo compreende o terceiro e o quarto grupo de Palmonari já
que o terceiro diz respeito a atuação com um enfoque clínico à pequenos grupos que participarão do
processo de psicologização de seus problemas e conflitos e o quarto grupo adota uma perspectiva
teórica única: a psicanálise e sua única forma de atuação é na clínica como profissional liberal.
A partir do que foi apresentado aqui, é possível encontrar uma única definição ou um único
modelo de intervenção para o que chamamos de Psicologia Social Comunitária? Ou uma mais correta
e/ou coerente? Certamente que não, visto como são tão diferentes as inclinações teóricas que baseiam

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as práticas psicológicas e comunitárias. Estejam elas localizadas no MST, no posto de saúde, na
escola, na favela ou na universidade.
Cabe-nos, portanto, defender uma definição e um modelo de intervenção que nos responda,
da melhor forma, os problemas que as diversas ‘linhas’ de atuação se propõem, aliando uma proposta
de intervenção coerente com o campo da Psicologia Social, área de nosso interesse no doutorado, e
mais especificamente que se proponha a responder da forma mais abrangente possível, os problemas
apresentados pela Psicologia Política. Desta forma buscaremos explicar, no próximo subtítulo, que a
Psicologia Social Comunitária, com ênfase na produção latino-americana, é a abordagem psicossocial
que sugere um modelo coerente com um modelo de transformação social, a partir de uma proposta
de desenvolvimento de uma democracia participativa, que coloque em discussão o plano de
democracia dos países subdesenvolvidos de forma geral.

2. A Psicologia Social Comunitária

Os primeiros psicólogos a tratar da intervenção comunitária tinham a comunidade como lugar


de intervenção e não como um objeto de estudo, conforme já citamos anteriormente. Entretanto não
se isentavam de assinalar a situação conflituosa a respeito da vida dos grupos que viviam em situação
de falta de direitos sociais, como educação, saúde, informações. Rappaport (1977), Newbrough
(1973) nos estados unidos são exemplos claros destas primeiras conceitualizações.
Na América-latina, Fals Borda (1959, 1978), Freire (1969, 1970), Serrano-García (1979) e
Montero (1984) construíam seus primeiros conceitos não só sobre Psicologia Comunitária, mas sobre
novas formas de metodologias participativas e intervenções militantes de conscientização popular.
Assim como todo conceito construído em cima de uma práxis, O conceito de Psicologia
Comunitária, e mais adiante o de Psicologia Social Comunitária irá sofrer mudanças conforme a
evolução de suas intervenções e da própria evolução das teorias advindas do campo. Optaremos em
apresentar o resultado da evolução da área até a presente data.
Montero (1984) define a Psicologia Comunitária2 como a área da psicologia cujo objeto é o
estudo dos fatores psicossociais que permitem fomentar, desenvolver e manter o poder dos
indivíduos, podendo estes exercerem controle sobre seu ambiente individual e social, para solucionar
problemas advindos de sua vida e da vida de sua comunidade, promovendo mudanças nesse ambiente

2
A autora opta, nesta data, pelo nome mais utilizado na bibliografia produzida, mas no ano de 2003a optará em fazer uma
distinção entre o tal termo e a Psicologia Social Comunitária, que é predominantemente latino-americana, e caracteriza-
se pela intervenção coletiva com enfoque autogestionário das comunidades e suas transformações nas relações de poder
que suscitariam transformações sociais.
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e na estrutura social. Para melhor clarificar esta área de pesquisa e de campo profissional
esclarecemos suas implicações prático-teóricas, ontológica, epistemológica, metodológicas, ética e
política, a partir de um paradigma de construção e transformação crítica, baseado em Montero (1984,
2000, 2004a):
• Prático-teórico: ocupa-se de construir um corpo de conhecimentos intimamente relacionados,
cujo conteúdo explicita o produto de uma práxis que gera ação, modos de intervenção,
explicações e interpretações sobre a comunidade. Como vemos o modelo paradigmático da
“construção e transformação crítica” (Montero, 2004a, p.90), gerado em países da América
latina que viam nas metodologias participativas uma nova fazer ciência, voltada para as
necessidades específicas que viviam as populações dos países subdesenvolvidos, reflete o
momento de seu surgimento, nos anos setentas e oitentas. Entretanto não há só um modelo
paradigmático para a área. Alguns países desenvolvem intervenções sociais baseadas em um
paradigma clínico e de análise individual dos processos psicossociais.
• Ontológicos: define a natureza ativa do sujeito cognoscente, tanto o sujeito pesquisador
quanto os sujeitos ‘objeto’ da pesquisa de campo. Estes são concebidos como atores sociais,
agentes de transformação pessoal e social. Os sujeitos pesquisadores/interventores não são
neutros de valores e sentidos sociais, não se vêem como especialistas que garantem o sucesso
da intervenção. Concebem-se como investigadores de um campo teórico/prático que co-
construirá, em interdependência com os atores sociais da comunidade, uma intervenção
libertadora e inclusora social. Os moradores/participantes de uma comunidade/movimentos
sociais/associações também têm papel ativo e não só reativo. Produzem realidade e
protagonizam sua vida cotidiana, seja para altera-la ou mantê-la. Então mesmo que passivos
ou alienados, estão dando sua contribuição na construção social, a partir de suas ações e de
seus discursos. (Santiago, Serrano-García e Perfecto, 1983)
• Epistemológico: busca definir que a produção do conhecimento entre sujeito cognoscete e
sujeito cogniscível, na qual, num novo paradigma de ciência, tanto pesquisador como
comunidade são cognoscentes e cogniscíveis. Esta é feita em relação com o objeto
historicamente construído ‘comunidade’ e é complexo na medida que há vários sentidos
sociais e históricos em conflito e em negociação de poder, sendo que uma produção
teórica/prática é resultado destas negociações com o contexto cultural, histórico e social no
qual pesquisador e participantes da pesquisa estão inseridos.
• Metodológico: trata das metodologias participativas na produção do conhecimento e do
enriquecimento das próprias intervenções em âmbito comunitário. A grande questão que se

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coloca no sentido método da pesquisa é que ela seja desenvolvida junto com intervenções
transformadoras, no plano coletivo a comunidade e, no plano individual, o ator social,
protagonista deste coletivo. Busca-se construir uma metodologia dialógica, dinâmica e
transformadora. Desta forma é inconcebível uma intervenção previamente construída, sem
conhecimento das necessidades e objetivos da comunidade (Montero, 1994). É importante
elucidar, no entanto, que há outras formas de intervenção, mais baseadas no assistencialismo
e na manutenção das relações de poder desiguais numa comunidade ou sociedade.
• Ético: busca definir a natureza da relação pesquisador-interventor com as pessoas que vivem
nas comunidades, aquelas que tradicionalmente são chamadas de sujeitos de uma pesquisa,
concebidos a priori como objetos do conhecimento e sujeitos a ação do pesquisador. Na
Psicologia Comunitária as pessoas de uma comunidade são consideradas ativas na produção
do conhecimento. Assim, define sua participação na autoria e na propriedade do conhecimento
produzido. Podemos dizer também que é ética em sua dimensão includente, libertadora e
reflexiva das intervenções comunitárias. Na possibilidade de construir, a partir da ação
interventiva, um espaço de respeito as diferenças.
• Político: A comunidade é espaço de publicização das formas de opressão vividas no mundo
cotidiano privado. É lugar de libertação, de desnaturalização e de participação política. É lugar
síntese de expressão das diferentes vozes sociais e da negociação advinda da experiência de
participação. A produção teórico-prática é uma das sínteses desta negociação entre moradores
(ou participantes de tal comunidade - nos novos movimentos sociais) e entre moradores e
pesquisadores. Montero (2000, 2002) defende que a ética relacional, na qual o conhecimento
e a intervenção são co-produzidos, esta a serviço de um paradigma coletivista de politização
do espaço público:
“ Uma ética fundamentada na relação supõe uma forma de expressão da retidão
que vai além dos direitos a afirmação dos próprios interesses, para passar a
considerar os interesses comuns, acima do bem estar individual (...) o Outro não
é uma becha, uma diferença, ou algo que é dissonante , que separa. É parte de
mim. Compreende analisar que cada um é Outro e cada Outro sou eu.”
(Montero, 2000a, p. 23)

A partir do que já vimos neste texto, é possível também levantar os principais fundamentos da
Psicologia Social Comunitária, com o intuito de promover uma aproximação do leitor com a área.

15
Faremos isso a partir do quadro de características de (Montero:2004a, p. 73) e de Martín-González
(1998), Freitas (1996) e Guareschi (1996) e outros:
1. É necessariamente multidisciplinar e transdisciplinar, no sentido de que o tema que ‘atravessa’
as disciplinas é a da construção da cidadania e da transformação social.
2. Detém-se nos fenômenos psicossociais produzidos em relação com a comunidade, levando
em consideração o contexto cultural, histórico e social que determinaram seus processos;
3. Debruça-se nos processos de produção e reprodução das relações de poder que são desiguais
e opressoras, com o intuito, não de elimina-las, o que seria impossível, mas transforma-las em
ações coletivas para o bem comum (Guareschi, 1996 e Martin-Baró, 1998);
4. Concebe a comunidade como construída por atores sociais dinâmicos e interdependentes
(Freitas, 1996)
5. A ênfase do olhar do Psicólogo é dada às capacidades e habilidades dos atores sociais, não em
suas carências e debilidades;
6. Leva em conta a relatividade cultural e a diversidade (Wiesenfeld, 1994);
7. Tem orientação para a transformação social a partir da ação participativa e política (Montero,
1995);
8. Intenta que a comunidade controle os seus recursos e tenha poder de transformar seus
determinantes históricos sociais de vitimização (Freire, _);
9. Tem uma dupla função: a ação interventiva com finalidade de transformação social e a
produção científica desta ação;
10. Busca construir e despertar cidadania a partir do fortalecimento da comunidade e
concomitante fortalecimento da sociedade civil;
11. Tem caráter predominantemente preventivo (Lane, 1996)

3.1. Questões teórico/práticas em Psicologia Social Comunitária e implicações


metodológicas da intervenção no campo.

Tendo elucidado as origens, os princípios e os fundamentos da Psicologia Social Comunitária,


passaremos a apresentar e discutir algumas das principais questões teóricas, que dão conta de explicar
as dinâmicas comunitárias e que também de orientar a prática interventiva. Estas questões passam
por alguns dos maiores problemas psicossociais colocados pela sociedade como um todo e que a
Psicologia Social vai propor uma práxis a partir de uma concepção comunitarista de intervenção. São
elas:

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1) Identidade e ação coletiva ou comunitária X identidade e fortalecimento individual; 2)
Participação política X passividade e vitimização; 3) Tomada de controle comunitário X carência de
poder das populações excluídas; 4) Liderança autoritária X Liderança transformadora; 5) Manutenção
da injustiça social X transformação e ação cidadã.

3.1.1. Identidade e ação coletiva ou comunitária X Identidade e fortalecimento individual.

Este tópico busca enunciar talvez a questão mais polêmica da Psicologia Social Comunitária,
que é a discussão de que se a intervenção comunitária, seja ela em que área for (humana, saúde ou
educação), deve se ater mais ao desenvolvimento e fortalecimento do indivíduo ou do coletivo onde
este indivíduo está inserido.A polêmica de dá sobre vários aspectos.
Primeiro a tradicional discrepância entre a intervenção individualista nas comunidades
carentes de atenção do estado e a intervenção comunitária que visa o desenvolvimento das
comunidades como um todo, priorizando o aspecto coletivista destas.
A intervenção baseada na visão individualista foi desenvolvida fundamentalmente nos
Estados Unidos, mas influencia fortemente as práticas desenvolvimentistas em vários países (No
Brasil citamos, mais uma vez, os projetos financiados pela ONG Universidade Solidária, que tem
como intervenção social o treinamento e capacitação de pessoas para o mercado de trabalho).
A Psicologia Comunitária nos Estados Unidos surgiu na década de 60 e buscava conciliar uma
prática da psicologia menos elitizada com a resposta a um problema de prevenção de saúde mental,
já que a psicologia clínica estava absolutamente envolvida com o tratamento de distúrbios
comportamentais e não com sua prevenção. Começava-se a pesquisar, então, os processos cognitivos
individuais que originariam os distúrbios sociais, definindo uma visão na qual o processo individual
é o centro originário de todo comportamento social das massas, inclusive os comportamentos
políticos, realizando um movimento que Farr (2002) denominará individualização da psicologia
social, ou de americanização das ciências sociais. Definido que, nesta abordagem o foco do
comportamento social, político, comunitário, ou mesmo o foco de participação política é o indivíduo,
bem como espera a concepção liberal para os fenômenos das ciências humanas.
Neste sentido o foco para a intervenção comunitária baseia-se no ‘empoderamento’ (Montero,
2004b) ou empowerment (Rappaport, 1981) dos sujeitos dentro da comunidade, com práticas de
estímulo da auto-estima, do aumento da capacidade de gerir seus próprios recursos (empregabilidade,
formação de mão-de-obra, facilitação para a escolarização, etc.). Busca-se a autonomia do indivíduo
com relação as suas limitações e não procura, de forma geral, incentivar o envolvimento em

17
manifestações e reivindicação sociais. Desenvolve com esta visão uma ciência baseada na idéia de
que um indivíduo saudável é controlado, independente do social e dependente somente de si mesmo,
capaz de auto-afirmar-se e exigir da sociedade princípios de justiça e igualdade (Riger, 1993)
A Identidade para esta visão é concebida a partir de aspectos perceptivos, cognitivos e
subjetivos, na qual o contexto social e a processualidade histórica são menosprezados, sobrepujando
a estes o caráter de independência social e de motivação e entusiasmo pessoal. Mostra, assim, o
caráter liberal desta concepção, que delega ao indivíduo o seu sucesso ou fracasso na ascensão nas
esferas sociais.
Já para a Psicologia Social Comunitária, a ênfase da intervenção é no processo de construção
de uma identidade coletiva, construída através de um processo de fortalecimento das relações
comunitárias de solidariedade, de fortalecimento dos aspectos culturais, religiosos, históricos e
políticos próprios de cada contexto popular.
No entanto definirmos o que vem a ser identidade coletiva não é tarefa simples, pois como
todo conceito este é múltiplo e deriva de uma série de áreas diferentes e complementares. Usualmente
as ciências humanas utilizam o termo Identidade Coletiva para se referirem a uma espécie de fundo
cultural indispensável para explicar fenômenos sociais que não se materializam a não ser através da
linguagem e dos hábitos sociais exercidos por identidades individuais, que por sua vez são aprendidos
através de mediações comportamentais complexas e concretas, sendo, portanto, difícil sua
mensuração e investigação.(verbalizações, gestos, ações específicas) (Montero, 1984).
Outra forma de definirmos o que é identidade coletiva vem dos estudos sobre movimentos
sociais. Para Munck (1997) a tradição européia, principalmente Touraine(1996), Touraine et al,
1996), Thompson (1987) e Melucci (1999), salienta as discussões sobre construção de identidades,
individuais e coletivas, que estariam compreendidas em processos complexos de relações intra
movimento, inter movimento e relações superestruturais. Para Touraine a análise dos movimentos
sociais deve fundamentar-se inteiramente nas relações sociais que constroem a identidade dos atores
sociais, de modo que não pode ser definida independentemente do conflito social, do seu adversário
e do reconhecimento de seu papel na luta. Assim considera-se que a identidade (coletiva) de um
movimento social se forma no interior das estruturas de conflito das novas sociedades pós-industriais.

Podemos utilizar Thompson (1987) para definir que uma identidade coletiva específica
determina-se pela memória histórica de determinada população (para o autor, de um movimento
social), uma cultura de luta (ou passividade), de contestação política (ou não). Esta memória histórica
é transmitida de geração para geração, construindo as identidades sociais e pessoais dos seus atores
sociais. Esta identidade coletiva não nasce de uma hora para outra, ela vai se fazendo com o tempo e
18
a durabilidade das relações sociais, não só nas vivências dentro do movimento como e
fundamentalmente sobrevive a partir da durabilidade das condições desiguais do sistema social. Para
Thompsom esta identidade desenvolve uma consciência que a insere nos embates políticos de seu
tempo. Diz Thompson (1987: 9), ao explicar o sentido do fazer-se da classe operária inglesa, que se
trata de compreendê-la como um processo ativo, que se deve tanto à ação humana quanto aos
condicionamentos: "A classe operária não surgiu tal como o sol numa hora determinada. Ela estava
presente ao seu próprio fazer-se"

Para Thompsom há dois processos complementares na formação da identidade de um


movimento social (ou de uma identidade coletiva): um que resulta da própria história e memória
coletiva de seus membros e outra que resulta do papel ativo dos seus atores sociais, que em suas
vivências diárias, agem, escolhem, tomam posições, inventam uma forma diferente de se relacionar,
demonstrando o caráter mutante também da identidade coletiva.

Para autores como Montero (1991, 1992), León (1997), Melucci (1999) e outros tantos, só é
possível a participação política para reivindicações pertinentes ao abandono do estado se pessoas
agirem coletiva e organizadamente. Para que a ação coletiva reivindicatória ocorra é necessário que
se fortifique a identidade coletiva, para assunção de necessidades e objetivos coletivos para tais
reivindicações.
Para a Teoria da Ação Coletiva, defendida por Melucci (1999), a ação consensual e coersitiva
da coletividade, que é o que garante eficiência de tal, tem inúmeras e infinitas funções sociais: a
possibilidade de publicizar o conflito, de tornar as manifestações de determinada população legitima,
possibilidade de construir uma cultura política de participação e liberdade, denunciar as formas de
opressão.
É preciso, desta forma, definirmos o que é ação coletiva. Para a Psicologia Social
Comportamental as pessoas participam de ações coletivas por imitação, irracionalidade, contagio,
sugestão ou indução. Vemos assim, uma ação coletiva sem ator social, já que este não está consciente
de suas determinações, um ator social esvaziado de sentido político.
Para a sociologia do comportamento coletivo (Touraine, 1978; Gamson,1975; e outros) a ação
coletiva é uma resposta reativa à crise e à desordem do sistema político e social, que causa a
distribuição desigual de recursos e a conseqüente luta por estes. Para Touraine o ator social é muito
mais um reagente às crises sociais que um ator consciente de seu tempo e de seu papel político.
As recentes teorias que investigam a sociedade como um todo e os fenômenos coletivos, como
a formação da identidade coletiva e da ação coletiva, baseadas nas teorias cognitivistas e

19
construcionistas, vão buscar compreender que esses fenômenos são resultados de múltiplos processo
sociais, históricos, psicológicos e políticos, que favorecem ou impedem a formação ou a manutenção
das estruturas sociais, isto é, que mobilizam ou bloqueiam transformações sociais. Desta forma o que
orienta para a ação coletiva é um conjunto de condicionantes culturais e psicológicos construídos nos
discursos e nos embates discursivos entre movimentos sociais. É o caso de Bauman (1998, 2000)
Já para Melucci (1999) há uma pluralidade de ações coletivas que desenvolvem formas
diferentes de responder a também diferentes conflitos, que não a forma organizada nos convencionais
movimentos sociais. Há, na vida cotidiana das populações, comunidades ou grupos sociais uma forma
de entender seu mundo e de agir nele que estão apresentadas nas mais simples atitudes cotidianas da
vida em comunidade. Da roupa que se veste aos sonhos que se tem, tudo é mais ou menos
compartilhado pela experiência coletiva.
Assim, a cultura e mais precisamente a cultura política é desenvolvida num espaço de
compartilhamento de experiências do mundo vivido das pessoas. O caso é saber de estas experiências
compartilhadas estão conscientes nos indivíduos, ou são negadas por estes. Esta afirmação nos faz
refletir que existem diversas formas do agir coletivo, e que nenhuma delas podem ser desconsideradas
ao pensarmos nos aspectos mutáveis e plurais de nossa sociedade.
Como vimos a discrepância entre identidade individual e a identidade coletiva, e suas
respectivas implicações intervencionistas, nos remetem a um cenário onde o sujeito político é
construído numa vivência individual de fortalecimento e capacitação e, no caso da identidade
coletiva, este sujeito político poderia surgir de uma vivência cotidiana de participação num todo
coletivo desenvolvido em comunidades ativas (autogestionárias, cooperativas, experiências de
mobilização comunitária para fins de bem comum, etc) ou, especificamente em movimentos sociais.
Desta forma surge nossa segunda problemática: se o sujeito político real surge no seu
engajamento em causas consideradas de bem comum ou se este sujeito político real surge de um
despertar individual, instrumental e de escolha racional de suas manifestações políticas.
É necessário que entendamos, a partir de Mouffe (1999) que postular uma identidade coletiva,
ou no nosso caso, uma identidade comunitária, esta não deve encerrar uma luta política de interesses
diversos e antagônicos com outras instâncias políticas da sociedade. Deve, sim, ser entendida como
o início, como um pressuposto para iniciar a luta política de interesses múltiplos e complexos das
diferentes identidades (e seus discursos) dentro do espaço publicizado da comunidade que, ao
constituir um NÓS não deve limitar-se em si, nem em discurso, nem em ação. A construção ou
reforçamento de uma identidade de comunidade não serve para aniquilarmos as diferenças individuais
fundantes de um espaço político, mas deve servir para que, no espaço de reivindicação comunitário

20
os atores sociais nela envolvidos possam experimentar o exercício da participação e da negociação
de sentidos políticos e reivindicatórios.
Contanto, há inúmeras ações que nós, profissionais da área de humanas, podemos fazer com
respeito à identidade coletiva da comunitária: lembrar que a comunidade é o ‘organismo’ em questão,
e que seu processo – de pertença, de desvitimização e que precisa ser olhado como um todo; construir
espaços de compartilhamento de experiências solidárias na vida cotidiana da comunidade; reforçar a
cultura local – hábitos, crenças, costumes próprios da região - resgatando o sentimento de comunidade
e de pertença grupal; desenvolver intervenções que visem o desenvolvimento da maior parte possível
de pessoas da comunidade, visando não apenas o desenvolvimento pessoal como também da própria
comunidade.
Podemos ver o quanto seria importante a atuação do historiador, do assistente social, do
jornalista, do professor de língua portuguesa. Todos esses profissionais poderiam, em suas esferas
específicas de trabalho, auxiliar na construção desta identidade coletiva/comunitária.

3.1.2. A Participação Política X passividade e vitimização.

Segundo Bobbio (1995) o uso da expressão participação política é utilizada para designar
atividades como o ato do voto, a militância em partidos ou movimentos sociais, a participação em
reivindicações populares, comícios ou mesmo reunião de seção, o apoio a certo candidato em
campanha eleitoral, a difusão de informações políticas, a contribuição com agremiações, a pressão
exercida sobre um dirigente político. Como vemos, o termo desenvolvido substancialmente em países
ocidentais desenvolvidos, considera um sistema político contemporâneo mais ou menos democrático
e nossas relações com este sistema político organizado.
É importante ressaltar, todavia, que entende-se como participação política, atualmente ações
em determinado espaço social desde que nestes as pessoas possam negociar significados sociais
(valores, regras, condutas e atitudes) ou, no sentido econômico, compartilhar benefícios materiais ou
ainda no sentido religioso , compartilhar e negociar valores religiosos e suas funções mobilizatórias.
O termo participação, amiúde, pode ser utilizado para situações em que o sujeito contribui
direta ou indiretamente para uma decisão política. Diretamente estaria associado a uma relação direta
com organismos estatais de definição e aprovação de novas condutas sociais, ações exercidas por
representantes populares que constroem efetivamente o estado. De forma indireta, e esta sim nos
interessa, pois retrata os processos psicossociais que fazem as pessoas se mobilizarem para executar
ações sociais que permitem satisfazer necessidades pessoais (do ponto de vista micro-social) e

21
coletivas para mudanças sociais (macro-social), com finalidade última de mudanças nas instituições
públicas governamentais (Hernández, 1996).
Segundo Thompsonm (1987) com a falências das funções sociais do estado, entendidas, num
aspecto mais ideológico, pela apropriação do discurso neo-liberal de estado mínimo, obriga a
população a se organizar para suprir as carências mais urgentes que o estado já não busca suprir.
Assim, a sociedade civil começa a se organizar, não por conta de uma consciência mais crítica do
sentido de complementariedade (Heller, 2000), mas também incentivada por este abandono proposital
do estado de suas funções reguladoras.
É necessário entendermos que, contraditoriamente, a proposta democrática prevê cidadãos
informados sobre a ‘coisa’ pública, sobre os acontecimentos políticos no mais amplo espectro
possível. Só assim é possível a participação efetiva e não aquela que é governada por interesses
alheios de terceiros nem mesmo conhecidos.
Infelizmente o que as pesquisas têm mostrado é que as informações políticas estão restritas a
um pequeno círculo social. E que as informações midiáticas conservam a extrema limitação sobre as
complexidades das crises políticas. A militância em partidos políticos ainda é carregada de
politicismo e corporativismo, o que prejudica a conscientização para efetiva construção democrática.
Nas comunidades a vivência da exclusão é muitas vezes drástica e marcada por uma rejeição
material e simbólica de valores sociais (Xiberras, 2000), inclusive os valores políticos. A vivênica da
pobreza, em que vivem, pelo menos sessenta milhões de brasileiros que vivem com menos de 80
dólares mensais (UNESCO, 2005) obriga a população aceitar uma lógica da cidadania os remete a
ajuda e favores do estado, esvaziando o sentido dos direitos civis e democráticos que o estado deveria
nos garantir. (Telles, 1990)
Segundo Wanderley (2004) a vivência da exclusão passa, obrigatoriamente pela ausência de
poder e acesso aos serviços públicos. E é caracterizada por processos que podem se perceber na
análise de comunidades ou grupos sociais. São eles a desqualificação, processo relacionado aos
fracassos do estado na integração dos indivíduos ou grupos sociais às situações de empregabilidade;
a desinserção remete-se a dimensão simbólica da exclusão, que é definida pela avaliação social da
utilidade ou valor de determinado grupo social, que considera alguns grupos como invisíveis ou sem
função social. O julgamento radical desta função social de grupos marginalizados ocasiona diversos
atos violentos e discriminatórios da população de forma geral; a desafiliação, concretizada pela
gradual ruptura dos vínculos societais, marcada pela ausência de inscrição do sujeitos em estruturas
sociais que lhe dêem sentido (família, vizinhança, comunidade,instituições)

22
A experiência da exclusão é vivida e interiorizada pelos grupos sociais de forma intensa. Há
uma identificação com o esteriótipo da vítima social, propiciando processos psicológicos e cognitivos
que mantém a relação da exclusão, de forma simbólica e material. O processo de culpabilização pelo
fracasso na ascensão social é mantido pela falta de consciência dos determinantes sócio-históricos da
marginalização (Jodelet, 2004)
A experiência da participação política estimula a reflexão e a desnaturalização das formas
com que são encaradas as práticas discriminatórias, geradoras do processo de exclusão e busca
promover níveis de participação que garantam o exercício da cidadania, e não da passividade com
que estão marcadas as minorias sócias.
Montero (2004a) trabalhará com a questão da participação política sob o prisma das vivências
comunitárias, definindo-a em vários níveis de participação: ação conjunta e livre de grupos que
compartilham interesses e objetivos; contextualização e relação com a história da comunidade e com
o momento da conjuntura em que se realiza a ação participativa; processo que implica a produção e
divulgação do conhecimento produzido; intercambio de consensos, recursos e serviços produzidos
pela comunidade; ação socializadora e conscientizadora que compartilhe e modifique padrões de
conduta libertárias; colaboração ou trabalho compartilhado nos vários níveis de participação
comunitária; relações, idéias, recursos materiais ou espirituais compartilhados; organizar, dirigir e
tomar decisões, efetuando ações para alcançar metas estabelecidas coletivamente; organização de
padrões democráticos de comunicação; capacidade de refletir sobre o trabalho a ser feito e sobre o
mesmo já realizado e última; solidariedade.
Para Montero (1998) indica que o fenômeno da participação está aliado ao fenômeno do
compromisso social. Quanto maior compromisso com determinada causa, maior participação do
indivíduo ou grupo ou comunidade. Afirma que todos os níveis de participação são importantes, não
só o militante, mas o simpatizante também é importante, pois significa um possível aliado da causa.
Montero (2004a, p. 245) e Salvador (1985) citam os níveis de participação e compromisso na
comunidade:
1. Núcleo de máxima participação e compromisso (Militante)
2. Participação frequente e alto compromisso
3. Participação específica, médio compromisso
4. Participação esporádica, baixo compromisso
5. Participação inicial ou tentativas, baixo compromisso
6. Participação tangencial, compromisso indefinido
7. Curiosidade positiva ou amável. Não há compromisso.(simpatizante)

23
Discordamos da autora quando afirma que no nível simpatizante não há compromisso, pois o
sujeito simpatizante que comunica sua simpatia está, de alguma forma se comprometendo com a sua
fala e o com o seu argumento, podendo despertar outras pessoas para a causa de simpatia.
Os benefícios da participação comunitária são inúmeros e talvez ilimitados. A participação
agrega, nos indivíduos que participam, sentido de cidadania e de função da própria existência.
Desenvolve sentimento de pertença grupal e oferece um instrumento de desvitimização das minorias.
Por esta razão, como bem nos lembra Rodrigues (2002) a participação não precisa só de elementos
motivacionais para acontecer, mas fundamentalmente, a participação é um elemento motivador das
ações organizadas socialmente. Ela apresenta o espaço para o novo social: uma nova visão, um novo
problema e uma nova resolução.
Para que nós, profissionais envolvidos com estas questões, possamos incentivar a participação
política de membros das comunidades – tarefa árdua numa população historicamente construída nas
experiências de distanciamento da coisa política – é necessário que planejemos conjuntamente ações
que se desenvolvam o menor grau de participação e compromisso para uma ação que demande maior
compromisso e responsabilidade. Isto quer dizer que não podemos incentivar um trabalho de
participação que inicialmente fracassará por falta de voluntários para a ação ou pela desistência
destes.
Vejamos a importância de um administrador de empresa para ajudar a organizar a população,
um advogado que difunda direitos básicos e também como funcionam as esferas políticas do estado,
um comunicador social que faça documentário/ artigo difundindo as reivindicações da comunidade,
e tantas ouras possibilidades de intervenção nesta área.
As experiências de participação requerem atividades inicialmente simples e aparentemente de
pouca valia, mas nas quais se vivencie um resultado positivo de mobilização. È a própria experiência
positiva de participação, e sua permanente avaliação coletiva, é que mobilizará o grupo e seus
próximos integrantes para outra ação social dentro das comunidades, cooperativas e entidades de
forma geral.

3.1.3. Tomada de controle comunitário X carência de poder das populações excluídas

Cabe-nos, nesta discussão definirmos o que é poder no sentido de seu uso em comunidades, a
origem das relações de poder desiguais e o que podemos fazer para alterar as relações de poder das
populações/comunidades carentes de poder de transformação de sua realidade.

24
Poder é definido por Bobbio (1995) como capacidade ou possibilidade de ação. Para ele, o
poder é conceitualizado de forma relacional, identifica-o como posse dos instrumentos necessários
para a execução de um determinado objetivo, seja este individual ou coletivo, este objetivo alcançado
modifica o comportamento ou as vantagens de outro indivíduo ou grupo social, por isso é relacional
e também intrinsecamente conflituoso.
Montero (2004b) vai acrescentar que há várias formas de exercermos poder, pelo status, pela
força, pela beleza, pelo conhecimento, pelo dinheiro, pela simpatia. A durabilidade e a permanência
temporal destes atributos sociais (e culturais) naturalizam as relações de poder, pois estes atributos
são incorporados às crenças e valores cotidianos de grupo, de comunidade e de sociedade. Assim, a
autora justifica entendermos poder como alguma coisa que é danosa ao indivíduo, pois quem o detém
(o estado, as experiências ditatoriais na América-latina, as classes ricas que não se sensibilizam com
as populações excluídas) utiliza-o para oprimir e explorar as minorias sociais. Assim construímos
uma lógica de entender poder como abuso (de quem o tem) e carência (quem não possui os atributos
para tê-lo). O que é uma visão restrita do fenômeno. Nem toda forma de poder é danosa ao indivíduo
e ao grupo: Assunção de controle da geração de recursos necessários para a comunidade.
Para Montero as relações de poder comunitárias se constituem numa interação pessoal
cotidiana na qual as pessoas manifestam seus consensos sociais e as rupturas entre a sua experiência
e sua consciência. Esta interação é histórica, é materialmente definida e tem seus agentes em conflito
pelo controle e pela utilização exclusiva de um recurso, que pode ser material ou não, ao qual um
deles domina e ao outro interessa ter acesso. Sendo que essas rupturas entre consciência da
desigualdade e a experiência fracassada de ação, associadas à emergência das experiências imediatas
de sobrevivência (trabalhar, cuidar dos filhos, etc)que a própria vida cotidiana dos moradores ou
participantes de uma comunidade proporciona, constrói, sem intenção um consenso social de
aceitação e passividade frente às desigualdades radicais numa sociedade.
Martin-Baró (1989) definirá três características básicas do poder: ele se dá em relação social,
se baseia na posse dos recursos almejados pelos grupos em conflito pelo seu controle e última, ele
produz um efeito de mudança ou manutenção destas relações desiguais.
Entretanto, uma análise psicossocial nos remete a um aspecto importante destas relações de
poder. Apesar todas as relações humanas envolverem, de certo modo, relações de poder (Guareschi,
1996 e 2004), este poder tem uma tendência a ocultar-se ou negar-se a partir de uma vivência histórica
desfavorável de seu uso. Isto faz com que as relações desiguais de poder se naturalizem, por exemplo,
na justificativa racional da existência natural de um opressor ou da naturalização da própria miséria.
Ocorre que muitas vezes as comunidades excluídas não estão conscientes dos recursos e

25
possibilidades que têm para alcançar determinados objetivos, muitas vezes não se tem definido o que
é necessário mudar. Expliquemos melhor a origem deste fenômeno:
Como bem vimos no item anterior, comunidades vivenciam uma série de negações do Estado
e da sociedade civil. A identificação com a vítima, impedida de agir, é determinante para que
fracassem algumas tentativas de mobilização para fins coletivos na comunidade.
Para Martin-Baró (1989) o fenômeno da marginalização latino-americana constitui um
fenômeno de desintegração cultural e normativa, originadas desde a época da colonização que
consistiu, em última instância, em sobrepor as estruturas sociais dos colonizadores em detrimento das
estruturas sociais dos colonizados. Esta superposição desagregou a identidade social e sua cultura,
promovendo, no campo simbólico uma identificação com as próprias incapacidades e carências dos
povos colonizados em relação aos seus ‘superiores’
O processo de desintegração cultural e organizativa da identidade social e coletiva dos povos
latino-americanos de forma geral, a médio ou longo prazo proporciona uma relação de dependência
que é econômica, política, mas também é cultural e psicológica, ou melhor, psicossocial. Esta relação
de dependência vai se reproduzir nas relações de poder futuras que as sociedades capitalistas
modernas e contemporâneas vão organizar.
Assim, as populações marginalizadas historicamente vitimizadas vão construindo
cotidianamente formas de sobreviver e de se organizar na marginalidade, desenvolvendo uma
identidade própria, vitimizada e oprimida, que nos seus processos mais microscópicos vê-se a
reprodução das relações de poder abusivas, autoritárias e injustas. Berger e Luckamm (1989) nos
indicam que a família e as instituições socializadoras dão conta desta reprodução. Assim o pobre
aprende a ser pobre e a cultura da pobreza lhe ocasiona sentimentos de impotência, de apatia, de
fatalismo e de incapacidade de superar os problemas presentes.
Contudo, podemos afirmar que o uso inadequado do poder é que resulta nesta marginalização
e vitimização das comunidades carentes. As relações de desequilíbrio na utilização do poder nas
diferentes instâncias da sociedade ocasionam desajustes profundos nas formas de relações sociais. O
abuso de poder pelas maiorias -a associação de grandes empresários, entidades financeiras, entidades
internacionais com o estado, em busca de favorecimentos grupais - resulta na construção de políticas
públicas ineficientes e que aceleram ou agravam o processo de dependência das minorias.
Assim, um dos princípios básicos da Psicologia Social Comunitária é que o poder e o controle
dos recursos para determinada ação de transformação devem estar centralizados na comunidade.
Entendendo seus componentes como os principais agentes, o objetivo do psicólogo é desenvolver
ações que propiciem a tomada de consciência da comunidade para o uso de seus próprios recursos,

26
reconhecendo e implementando o poder que têm, buscando e gerando os recursos que ainda não têm
para alcançar determinado fim.
A questão que se põe é o que nós psicólogos comunitários podemos fazer com a identificação
da carência de poder dentro dos grupos comunitários?
Para Serrano-García e López Sánchez (1986) se o poder se configura em relação é necessário
que analisemos o contexto em que são produzidas, pois quanto mais conscientes os indivíduos que
atuam em uma comunidade são das desigualdades sociais, mais eles podem fazer para transformar
sua situação, e vice e versa. Assim constroem três componentes básicos ao analisarmos as relações
de poder dentro de comunidades:
Primeiramente é necessário analisarmos se há pré-requisitos básicos para que se configure
conscientemente uma relação de poder. São eles: Há necessidade e aspirações nas pessoas desta
comunidade?; as pessoas desta comunidade tem consciência das desigualdades na distribuição de tal
recurso para outras comunidades mais abastadas, ou não estabelecem comparação entre seu modo de
vida e o de outras pessoas?; Se há consciência do distribuição desigual do recurso, essa comunidade
tem idéia de como pode fazer para disputa-lo, isto é, sabe identificar os instrumentos necessários para
reivindica-lo?
Devemos também investigar como este contexto de carência de poder foi gerado
historicamente, buscando construir, com a comunidade a história de lutas ou embate com o estado, ou
com outras entidades (pois sempre têm histórias de reivindicação ou ações que proporcionaram efeitos
na comunidade, basta saber quais são). Busca-se neste resgate da história das lutas da comunidade
auxiliar na construção de uma consciência coletiva, ou de uma memória coletiva nas quais as pessoas
da comunidade já foram agentes de transformação social, opondo-se as histórias cristalizadas de
vitimização. Como vemos na figura 1.

27
Origem e manutenção da relação de poder

Alguém detém um recurso

Por isso que toda relação de Outra pessoa


(grupo/ sociedade)
poder é histórica e cultural se interessa por
ele

Isto gera uma resposta de Cria-se a relação


de
quem quer manter a situação poder
de poder: o poderoso

As formas como os “submetidos” respondem ao


poder pode transformar essa relação ou pode mantê-lo:
frenta-lo, resistir passivamente, recentir-se, denunciá-lo
Figura 1

O terceiro e último componente básico das relações de poder tem relação com a sua própria
capacidade de transformação. Há duas formas básicas de transformar as relações de poder
sedimentadas em uma comunidade. A primeira e muito mais eficiente ocorre de forma “acidental”,
que pode ser um acidente com um trabalhador que exerce suas atividades em risco, e isso faz com
que os outros trabalhadores do setor se reúnam para reivindicar condições melhores de trabalho, ou
qualquer outro acontecimento que denuncie as situações extremas de vida ocasionadas não ação
coletiva, e as formas planejadas de alteração de poder construídas por especialistas para propiciar um
espaço onde as pessoas da comunidade possam refletir sobre suas vidas, suas necessidades e seus

28
condicionantes sociais. As formas planejadas são sempre menos eficientes que aquelas que surgem
do próprio contexto (as acidentais)
Na verdade esta enunciação das alterações das relações de poder de forma acidental é bem
semelhante ao conceito de analisar histórico e construído que Lapassade formulou em sua obra, na
qual o analisador histórico é constituído como o atípico, o inesperado e o que revela. São atitudes,
fatos e comportamentos que surgem ao acaso e que revelam sobre aquela realidade. E o analisador
construído são os ‘jogos’ que os profissionais de diversas áreas podem construir para que apareçam
as discussões necessárias para a alteração dos discursos cristalizados na comunidade. Para Lapassade
(1983): “A intervenção socianalítica é ainda diretamente política pelo fato de estabelecer o poder
do especialista, nem que seja apenas o seu poder de distinguir os analisadores que farão análise em
seu lugar” (Lapassade, 1983, p. 97)
Para auxiliar na construção de práticas planejadas que alterem as relações de poder é
necessário entendermos que há fatores psicossociais que impedem que a população transforme a sua
dinâmica de marginalização e exclusão social. O medo de sofrer retaliações, as crenças, inclusive
crenças religiosas, de que a insurreição vai ocasionar castigos divinos ou terrenos, a desconfiança nas
lideranças comunitárias e a perda de valores transformadores são os principais empecilhos
psicológicos que, se não trabalhados podem ser impeditivos numa ação social.
Assim toda intervenção comunitária que vise alterar as relações de poder desiguais
reproduzidas neste âmbito deve se preocupar em iniciar sua intervenção com o reconhecimento das
necessidades da comunidade, e não como muito se vê nas intervenções planejadas por entidades
externas à comunidade, oferecer um benefício distante e ao mesmo tempo incompatível com as
necessidades reais daquela população, reforçando uma vinculação garantida pela dependência e não
pelo desenvolvimento sustentado.
Realizado o levantamento de necessidades da comunidade, deve-se iniciar, junto com a
comunidade, a reconhecer a possibilidade de controlar alguns recursos para alcançar aquilo que se
deseja. Muitas vezes o discurso das populações carentes, como vimos acima, é o de incapacidade,
insuficiência e dependência externa para alcançarem um determinado fim, porém não levam em conta
que o maior recurso a comunidade já tem de sobra: o material humano, a capacidade reivindicatória
e criativa do humano que, se mobilizado pode ser um grande instrumental de mudanças
Para isso é necessário construir o que para Bauman (2003) já se perdeu nas sociedades
complexas: o sentido de comunidade, ou mais precisamente, a identidade coletiva de uma população
que se construiu com processos histórico muito semelhante, bem como seu processo de vitimização

29
e exclusão social. Por traz destes processos há a necessidade de resgate dos valores e hábitos culturais
forçosamente esquecidos ou renegados em prol de uma adaptação à miséria.
Neste âmbito, a atuação de diversas áreas do conhecimento é infinita: Arquitetura, engenharia,
as licenciaturas, a administração, o direito e tantas outras podem auxiliar na instrumentalização de
grupos comunitários dispostos a gerir um micro-empresa, como uma padaria cooperativa, uma micro-
usina de reciclagem de lixo, etc.

4. A Liderança autoritária X Liderança transformadora

A temática da liderança está sempre presente nas discussões comunitárias. Muitas vezes os
interventores comunitários (não só psicólogos) sentem a dificuldade, em sua prática, do quanto a
presença ou ausência de um líder é salutar para o prosseguimento do trabalho, no sentido que, em
muitas intervenções a presença de um líder centralizador é impeditiva de uma maior participação
popular ou, ao contrário, a presença de uma liderança democrática é essencial para o sucesso de tal
intervenção.
È interessante ressaltar que os estudos de liderança comunitária diferem qualitativamente dos
fenômenos tradicionalmente estudados, seja pela Psicologia Social (Morales, Navas e Molero, 1996),
pelo enfoque das teorias de grupos (Baremblitt, 1982) ou ainda pelos psicólogos organizacionais.
O problema que se encontra na vivência específica da comunidade é que esses líderes
geralmente não obtêm nenhum ganho material com seu trabalho, diferentemente das lideranças
desenvolvidas no ambiente organizacional, no qual o líder vai ascendendo cada vez mais hierarquias
dentro da organização. Nas comunidades o líder experiência uma vivência de abrir mão de sua vida
particular, para ‘ajudar’ na melhora da vida comum. Na descrição de Montero (2004b), esta é uma
tarefa que exige representação, defesa e cuidado dos interesses da comunidade, atividade que os
líderes desenvolvem com uma grande responsabilidade e desgaste, e por esta razão, muitas vezes não
se dedicam a exercê-la.
O Fenômeno da liderança no contexto comunitário foi estudado fundamentalmente por
Hernandéz (1995) e Montero (1996, 2004b), que afirmam que a construção de líderes neste contexto
está diretamente relacionado com o nível de participação de toda comunidade. Isto é, se a comunidade
desenvolveu historicamente formas de participação seus líderes tenderão ser mais democráticos e, ao
contrário, se a comunidade não construiu elementos de uma cultura política de participação, seus
líderes tendem a ser mais centralizadores e autoritários.

30
O surgimento de um líder em uma comunidade se deve a algumas situações específicas: a
participação em um momento específico e urgente, em que foi preciso que alguém tomasse a frente
da situação; outras vezes o líder pode surgir de uma indicação política de um líder da comunidade ou,
pode ainda acontecer; do líder ser indicado por alguma entidade externa á vida na comunidade – por
exemplo o presidente de uma ONG, entidade ou mesmo representante do estado (aquele que vai
determinar o que determinada associação vai receber de benefícios do estado) que começa a organizar
os trabalhos na comunidade.
Como vimos a diferentes níveis de pertença grupal nas várias experiências de liderança num
contexto comunitário. Quanto mais o líder tiver uma história de luta dentro da própria comunidade,
mais identificação a comunidade terá com estes. É claro que a identificações em todas as lideranças,
senão o individuo não se tornaria líder, mas no caso de um líder surgido da própria comunidade
reforça a identidade coletiva de tal e acena para um possível assunção do poder comunitário, enquanto
nas experiências com lideranças externa a comunidade, a vivência é de reprodução das relações de
poder vigentes até então, na qual alguém de fora pode fazer mais pela comunidade do que ela mesma.
(Hernandéz, 1994). Nas palavras de Montero:
“O maior benefício que se pode derivar dessa condição de pertença,
identificação, história comum, elementos de vida compartidos (...) é a ampla
compreensão e conhecimento acerca das necessidades da comunidade, das
capacidades e limitações de muitos de seus membros, dos recurso em seu poder e dos
recursos a obter. Todo o qual supõe compartilhar sentimentos, conhecimentos e
atividades” (Montero, 2004b, 97-98)

É claro que o surgimento de um líder dentro da própria comunidade não garante todos esses
benefícios já que na maioria destes espaços a população está alheia a vida política das necessidades
comuns e preocupam-se apenas com suas necessidades individuais cotidianas, e muitas vezes vêm
nas associações de bairro um lugar para pedir e ser atendida. Esta dinâmica social proporciona a
construção de uma liderança que supra de forma paternalista as necessidades imediatas e básicas da
população, sem lhes pedir nenhum tipo de participação.
Desta forma vamos especificar os tipos de lideranças que podem se desenvolver no âmbito
comunitário, lembrando que segundo as teorias de grupos todos os grupos geram líderes – nem que
sejam ocasionais ou ocultos.

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• Líder narcisista sedutor positivo:
Este líder é o mais encontrado em comunidades marginalizadas. Ele é agradável, amável e
simpático; tem o carinho de toda comunidade e usualmente é referido como um “pai” ou uma
“mãe” para os moradores. Suas intenções são claramente coletivas, para isso desenvolve
atividades freneticamente, muitas vezes ele (ou ela) é o faz tudo na comunidade: distribui os
benefícios concedidos pelo estado (no caso do estado de São Paulo alguns programas são famosos
nas comunidades: o Viva Leite (Programa que, segundo assessoria do Estado de São Paulo,
distribui atualmente 130 milhões de litros de leite por ano e atende a 722 mil crianças e 40 mil
idosos no Estado), dos programas do governo federal a bolsa família (que segundo informações
no site do Ministério do Desenvolvimento Social atende a famílias pobres e extremamente pobres
do Brasil, ou seja, 11,1 milhões de famílias) junto com a ajuda para o gás de cozinha são também
os mais famosos. Este líder busca remédios para crianças doentes, arruma comida para quem
precisa, conserta o barraco do vizinho, etc.
Este tipo de liderança tem uma visão assistencialista e paternalista do trabalho comunitário.
Acredita que a população não tem capacidade para agir para transformações em suas vidas e na
vida da comunidade, tem um discurso ou de complacência com a passividade da população ou de
ataque a esta, retificando o discurso da exclusão social: os moradores são preguiçosos,
acomodados, não têm força de vontade e etc.
Assim, bloqueia de forma sutil e firme toda e qualquer atividade ou idéia que não surja dele,
pois no fundo não confia nos membros da comunidade. Acha que é uma pessoa diferenciada do
seu contexto social, que tem mais consciência crítica e o que reforça sua vida tão agitada é ser
querido e admirado por todos (por isso narcisista), além dos benefícios que muitas vezes consegue
para ‘sua’ comunidade (o que garante a sua positividade).
Apesar da comunidade achar o líder super eficiente o custo de um líder narcisista sedutor
positivo para a comunidade é alto: o trabalho feito a uma só mão sobrecarrega o líder, que não
consegue administrar tantas funções, assim se desmotiva e torna as atividades demoradas, quando
não fracassadas. No plano da participação popular, se esta já não era assídua agora piora de vez. Por
não se sentir escutada em suas poucas idéias ou sugestões e se sentir freqüentemente não necessária,
a população diminui mais ainda sua participação, diminuindo ainda mais as vinculações comunitárias
e societais de forma geral.

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Líder narcisista sedutor negativo:
O que diferencia este líder do primeiro é que suas motivações são essencialmente
egocêntricas, no momento em que vê no trabalho comunitário a possibilidade de conquistar seus
interesses individuais, não só afetivos relacionais, mais também materiais. No trato com a
comunidade ele é amável e simpático, semelhante ao líder anterior, o que a primeira vista pode
confundir o observador.
Assim, ele apoderá-se das idéias dos outros para levar o reconhecimento, não valoriza a
capacidade dos membros que participam e sobressai-se com suas auto atribuições. Mente, manipula
para aumentar sua importância. No plano material muitas vezes apropria-se do dinheiro da
comunidade (organizada sob forma de associação, coordenadoria de movimento, ONG, etc) para fins
individuais.
Nas comunidades/ entidades paulistas conhecidas por nós por experiência própria e por
supervisão com alunos das disciplinas de Psicologia Institucional e Comunitária, percebe-se uma
tendência dos representantes das entidades obterem com este trabalho alguns favorecimentos
pessoais, mesmo que para isso comprometam o próprio sucesso da entidade. No entanto esta ação de
apropriação, muitas vezes não é escondida ou mesmo dissimulada, o que demonstra uma certa cultura
política de licenciamento de tal ação, como podemos lembrar da frase célebre de um político em São
Paulo “Ele rouba, mas faz!”.
Os líderes menos mal intencionados, entram para a vida política com a justificativa de lá
poderem fazer mais para a comunidade. Se eleitos conseguem algumas melhorias para esta e se
mantém no poder por ameaça velada ou não de perderem tudo o que conseguiram até agora. Em
muitas comunidades carentes da perifiria da capital de São Paulo os vereadores surgiram da própria
comunidade e há anos financiam festas, creches, ONGs, declaradamente, com faixas e bótons do
‘padrinho’ da comunidade.
Por terem uma visão paternalista do trabalho comunitário, acham que a comunidade está
sempre lhe devendo favores. Por sua vez, a comunidade se acha devedora de tantos favores e ajudas
prestadas, perpetuando o vínculo improdutivo e danoso do líder com a comunidade.
É interessante ressaltar que este líder, mas também não é característica exclusiva dele, vai
fazer de tudo para ‘complicar’ a vida de uma equipe de intervenção dentro de ‘sua’ comunidade, pois
sente que ela oferecerá riscos para sua gestão e seus ‘jeitinhos’ materiais.

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Líder democrático e transformador:
Já o líder transformador é o mais desejado por nós em uma comunidade. Ele tem grande
interação com os membros da comunidade, conhece de perto suas necessidades e também conhece as
possibilidades e impossibilidades de conseguir sanar estas necessidades.
Tem grande interesse em promover intercambio de idéias e informações. Em suas ações está
sempre defendendo a capacitação pessoal e profissional de sua equipe de trabalho ou de sua
comunidade como um todo. É motivador e incentiva a todos para participarem com idéias, sugestões
e ações, por isso também descentraliza as ações comunitárias, incentivando a distribuição de tarefas.
Este líder tem carisma com a maioria do seu grupo social, aceita críticas sobre suas ações e as
leva em consideração para as próximas ações. Houve os diversos grupos sociais e procura sempre
mediar com estes o bem estar comum acima das vontades individuais. Entretanto, não é querido por
todos, pois provoca a mudança de uma mentalidade cristalizada há muito tempo. Há quem reclame
de sua forma de gestão, por preferir ser servido e não se organizar coletivamente.
É capaz de modificar a hierarquia de necessidade dos membros de um grupo organizado e
juntos redefinem as necessidades sentidas por outros membros da comunidade em geral. Também
fomenta mobilização da consciência sobre necessidades latentes da comunidade como um todo.
Assim como o líder sedutor positivo, coloca os benefícios comunitários acima dos pessoais, o
que pode, por muitas vezes prejudicar, sua permanência como líder. As vezes desiste da ação no meio
do caminho por cansar-se, outras abre mão de sua vida pessoal, o que não é afetivamente produtivo.
Hernández (1995) realizou um trabalho de identificação de características de liderança
eficientes na Venezuela. Estas características são: ter desenvolvido capacidade de organizar e dirigir
uma ação coletiva, seja ela uma festa ou uma reivindicação; ser considerado um modelo de ação e
fonte de informação e opinião; ter um comprometimento profundo com a sua comunidade; julgar-se
importante para o desenvolvimento e de atividades transformadoras e desnaturalizadoras da exclusão
de sua comunidade; ter forte influência na vida cotidiana das pessoas da comunidade, por estar
presente grande parte do seu tempo nesta e, por último; representar um compromisso militante com
o bem estar coletivo da comunidade.
Há uma série de empecilhos internos (que surgem dentro do contexto comunitário) e externos
(valores sócio-econômicos compartilhados por toda sociedade) para que se desenvolva uma liderança
transformadora e eficiente, e também para o sucesso desta liderança numa comunidade. (Montero,
2004b)
Para Hernández (1995) e Montero (2004b) os fatores internos podem ser assim elencados:
diferenças entre objetivos coletivos e objetivos individuais do líder; rivalidade e luta pelo poder entre

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outros membros da comunidade; a ritualização de estratégias que tiveram êxito no passado e que
agora não dão mais resultado; a falta de tempo para refletir sobre sua prática e aprender novas
estratégias de ação para a mobilização necessária. Acrescentamos a estes fatores internos impeditivos
a situação de carência material para a sobrevivência das famílias de uma comunidade carente, por
exemplo numa comunidade que dedique o seu dia-a dia a própria sobrevivência não há espaço para
reivindicações políticas e; também outro fator impeditivo é a situação geográfica da comunidade, já
que nos é conhecido comunidades sertanejas no norte e nordeste do país, onde sua população não
conhece meios de comunicação, bem como seus direitos civis. Organizam-se em suas próprias
comunidades e não tem perspectivas de reivindicação, pois não conhecem seus opositores.
Para os mesmos autores os fatores externos são: o individualismo, o personalismo vigente nos
nossos padrões de conduta social que impedem não só a mobilização da comunidade como da maioria
da sociedade em que vivemos. Este fator fez Bauman (2003) defender que compartilhar uma vida em
comunidade, nas sociedades complexas chega a ser uma ilusão ou uma prática utópica nos dias de
hoje.
Outros fatores de origem externa que pode ser prejudicial na construção de uma liderança
eficaz são as pressões exercidas por outras instâncias alheias a vida da comunidade (religiosas,
políticas, ou mesmo de organizações governamentais ou não) podem dificultar a construção das
necessidades reais de cada comunidade. Isto ocorre pois muitas vezes as finalidades destas outras
instâncias vêem sobrepujar as necessidades originais e eminentes da comunidade; a situação
econômica e política desfavorável no nível nacional podem ser impeditivas de ações reivindicatórias
nas comunidades, o que ocorre, por exemplo, nos regimes ditatoriais.
O que nós, psicólogos ou interventores comunitários de forma geral podemos fazer acerca do
fenômeno da liderança, imprescindível para uma vida mais ativa no contexto comunitário, é
primeiramente detectar líderes ou possíveis líderes em uma comunidade e proporcionar-lhes
formação, na qual sejam discutidas questões como táticas e estratégias de participação, de gestão
participativa e mesmo formas de sustentabilidade econômica e ecológica – hoje em dia poucas ou
nenhuma notícia se têm sobre instituições que ofereçam este tipo de formação, talvez alguns partidos
políticos e sindicatos. Outra ação importante é ajudar estabelecer uma liderança rotativa “em
benefício deles mesmos e da comunidade, em que o maior número de pessoas pudesse participar dos
grupos organizados e atividades planejadas por eles” (Montero, 2004b: 106); estimular a
distribuição de tarefas, garantindo a participação, estimulando a responsabilidade e o compromisso
com o coletivo.

35
3.1.5. Do sistema de manutenção da injustiça social X transformação de cidadã

Neste espaço buscaremos identificar as bases psicossociais da injustiça social e como ela é
construída na cotidianeidade da vida social, e também buscaremos esclarecer as bases psicossociais
da cidadania que, como veremos, constroem-se sobre os mesmos pilares: participação (ou falta dela),
indignação (ou acomodação).
Compreender os processos psicossociais de manutenção da injustiça social, que segrega,
estratifica e estabelece estereótipos e preconceitos baseados nos processos de dominação e submissão
de diferentes grupos sociais não se limita a simples constatação que os países subdesenvolvidos são
injustos, mas fundamentalmente refletir qual o nosso papel para que esta característica de
desigualdade social perdure, buscando entender também porque nos submetemos a injustiça e nos
acomodamos nela. Assim temos também que incluir nesta reflexão o entendimento da esfera da nossa
vida cotidiana, já que é só nessa esfera da vida comum que estes processos se produzem e reproduzem.
Sandoval (1989), Tilly(2000), Barrigton Moore, (1987) e Heller (2000) nos dão pistas de
como compreender os mecanismo psicossociais de valores, crenças e ideologias que sustentam a
forma como as consciências individuais lidam com as desigualdades sociais e suas legitimações.
Barrigton Moore descreve inúmeras figurações sociais de injustiça em diferentes épocas e em
diferentes sociedades, como a escravidão, o sistema de castas na Índia (em específico a casta dos
“intocáveis” e os campos de concentração dos judeus na época do nazismo para investigar que
significados estes grupos sociais (ou estes estratos sociais) atribuem às experiências de injustiça,
procurando descobrir mecanismos psicológicos e sociológicos que sufocam o sentido de justiça
social. Sandoval (1989) os sintetiza em 6 noções culturais que explicitamos aqui a título de inserir o
leitor nesta discussão:
• 1º noção de naturalidade da estabilidade social – há uma crença individual, que é construída
historicamente, de que a forma de organização da sociedade é estável e portanto não há o que se
fazer para alterar a configuração natural desta.
• 2º noção de naturalidade da estratificação social – isto é, é natural que a sociedade, por ser estável
(primeiro pressuposto) deva se dividir em estratos com determinadas funções sociais.
• 3º noção de naturalidade da hierarquia social – já que é natural que nos separemos por estratos
sociais, é natural que estes estratos determinem um status maior ou menor dentro da hierarquia
social. Nós acreditamos que, se há alguém ganhando muito dinheiro “logicamente” há de haver
os que não tenham acesso a este - este processo é entendido por nós como um processo natural,
já determinado a priori.

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• 4º noção de naturalidade da desigualdade – a crença de que é natural que a sociedade seja desigual
consolida-se através das três primeiras noções: a sociedade divide-se por estratos determinados
hierarquicamente, este processo é estável, assim, é natural que eu não tenha os mesmos direitos e
acessibilidade como as outras classes e estratos sociais.
• 5º noção de naturalidadeda legitimidade de autoridade – se é natural que sejamos desiguais, há de
haver pessoas, grupos e estratos que, pelo bem da estabilidade da sociedade, determinem como
devem “andar” as coisas. Se há estratos que devem se sujeitar, o que se há de fazer? Por
exemplo, a autoridade do Pai é legítima, isto é, não se discute isso quando criança.
• 6º noção de naturalidade da reciprocidade entre as camadas sociais – para que possamos viver em
harmonia (e estabilidade) sociais, há de haver certos códigos que permitam a camada x se
relacionar com a camada social y. Desta forma, construímos códigos de reciprocidade e esses
códigos são seguidos à risca por todos, para que não surjam conflitos. Por exemplo, é natural que
os ricos ajudem os mais pobres, ou os pobres concordem com os mais ricos.
Entretanto, não são só estas noções que sustentam os comportamentos de submissão e
alienação dos estratos sociais. A vida cotidiana também é uma forte aliada da comodidade e, como
bem diria Adler, da “perigosa capacidade de acostumar-se às coisas” (in Barrigton Moore, 107).
Heller (2000) focaliza seus estudos nesta esfera da vida: o cotidiano nos dá algumas fontes de
reflexão acerca de como a rotina diária colabora para a instauração da atividade alienada e
naturalizadora de injustiças e desigualdades sociais à que as estratificações sociais estão sujeitas.
Elucidarei aqui algumas delas.
As ações do cotidiano caracterizam-se por serem espontâneas e imediatas. Isto significa que
a tomada de decisão sobre algo, na maioria das vezes é realizada de forma irrefletida e automática,
para isso o indivíduo utiliza o repertório de ações observadas socialmente, contribuindo para tornar
legítimos os comportamentos que em outras sociedades poderiam não ser aceitos. Por exemplo,
diante de um impedimento legal, o indivíduo dirige-se ao funcionário público do executivo e diz:
“Não podemos dar um jeitinho neste processo? Oh, meu camarada, quebra o meu galho!” Em nossa
sociedade, frases como esta não significam uma ofensa à pessoa que a escuta, afinal, aprendeu-se que
pedir um favorecimento pessoal não é desrespeitar as leis. Em outras sociedades, isto seria visto
como um gigantesco disparate. Assim, continuamos a legitimar, através da imitação de repertórios
atitudinais já “comprovados” socialmente, por exemplo, o tal “jeitinho brasileiro” que favorece
alguns em detrimentos do todo e que também, segundo Da Matta (2000), é resultado de uma
aprendizagem de um povo que não tem igualdade de acesso a bens e serviços do estado-nação.

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Nossas ações do cotidiano também são econômicas e pragmáticas, isto é, ao agirmos no
cotidiano, buscamos sempre as soluções mais fáceis e práticas, que despendem o mínimo possível de
energia. Desta forma, as novas formas de pensar e agir são limitadas, para que não atrapalhem o dia-
a-dia e a estrutura do cotidiano das pessoas.
A vivência econômica na vida cotidiana requer que utilizemos de ultrageneralizações,
precedentes, analogias e imitações como forma de adaptarmos nosso comportamento em novas
situações. Assim, num emprego novo, observamos primeiro o local com atenção, como as pessoas se
comportam para definirmos que “personagens” iremos desenvolver.
Neste mesmo exemplo do emprego novo, buscamos também estabelecer (e dar continuidade)
a estereótipos e preconceitos próprios de cada vivência cotidiana: em uma semana de trabalho já se
sabe qual pessoa é “mal-vista”, qual é influente, qual chefe é legal, qual não é, e mais: como tratar os
ascensoristas, a faxineira, etc.
Compreendendo o cotidiano como um espaço de vida irrefletida, pragmática, imediata e
econômica, podemos imaginar que a explicação para os episódios de justiça e injustiça social, ou
ainda para a explicação das causas da vida em sociedade desigual, tem um caráter místico e simples:
a sorte ou azar, o presente ou o castigo de Deus. “Fulana deu sorte na vida: teve estudo, eu não” ou
“morar aqui nesta favela é castigo de Deus, moça!” ou ainda “ foi Deus que quis assim”.
Vimos então que o processo de submissão popular às injustiças inúmeras não é natural. Ele é
construído pelo Homem e suas relações com a sua própria vida privada e também com a vida pública
na comunidade, na instituição onde trabalha, estuda ou exerce outras atividades. Este Homem em
relação pode aceitar um papel passivo ou ativo e participante nas vivencias diárias das desigualdades
sociais.
Então, são as bases psicossociais da injustiça que impedem a construção da cidadania e da
participação política, na busca de direitos civis. Assim precisamos esclarecer o que vem a ser
cidadania e seus vários usos nos chamados países democráticos.
Conforme Coelho(2005) a cidadania é objeto tradicional de inúmeras ciências humanas e
sociais e por isso engloba dimensões políticas, históricas e psicossociais. Políticas porque resultam
de uma organização de estado que permite diferentes participações do indivíduo e de grupos sociais
e isso requer conflito e negociação política. Histórica pois estas formas de participação são exercidas
num tempo histórico, este por sua vez resultado da história pregressa de seu tempo. E psicossocial
porque quem participa é o homem moderno, é o ser que vive e internaliza sem tempo e seu estado.

38
Podemos definir como cidadão, a partir de Giddens (2000:34) o “Membro de uma comunidade
política que tem, por isso, direitos e deveres”. Esta conceitualização é limitada, como veremos, pelo
que a sociedade e o sujeito vão entender por direitos/deveres.
A partir de Hirschman (1983) podemos definir duas formas de se entender ‘direito’
para a população em geral. Uma que é passiva, onde o indivíduo busca receber do estado os direitos
concedidos por este, definindo-se então como um consumidor dos serviços prestados pelo estado.
Neste caso a relação entre cidadão/consumidor e estado é caracterizada pela ausência de luta,
reduzindo sua participação política ao voto, levando a uma apatia política. Para este
cidadão/consumidor é mais cidadão aquele que tem acesso (nem que seja pelo sistema privado) a
bens considerados elementares para a sobrevivência do indivíduo – direitos humanos e cívicos. Como
consumidor não vê possibilidade de agir politicamente, a não ser consumindo o pouco que lhe é
oferecido. (Hirschman, 1983). Por isso o estado está, cada vez mais, buscando formas de servir e
oferecer serviços assistenciais a estes cidadão.
A título de exemplo deste tipo de relação entre estado e cidadão, nos lembramos que na época
das eleições para governador, no Estado de São Paulo, em 2002, uma propaganda de um Programa
Social denominado ‘Bom Prato’na qual perguntavam a um sujeito o que era cidadania e ele respondia:
“ser cidadão é ser ajudado com respeito”. Numa pesquisa nossa, ainda em andamento, temos colhidos
diversos depoimentos do que vem a ser cidadania, ou ainda o que é agir politicamente. As respostas
variam: “ é ser amigo dos outros” , “é votar”, “é receber os benefícios do estado”, reafirmando o
posicionamento da população em geral frente ao estado.
Outra forma é conceber direito como igualdade entre a relação entre direitos e deveres do
estado e do cidadão, na qual o cidadão se vê como partícipe das transformações sociais, a partir de
reivindicações com o estado para mudanças nas política pública para que realmente sejam alcançados
direitos universais como igualdade e liberdade.
Assim, não é qualquer ação cidadã que propicia transformações das desigualdades sociais.
Numa perspectiva transformadora, a luta cidadã envolve identificação das desigualdades sociais e
também dos recursos (mais grupais que próprios) para se alcançar determinada mudança (como já
citamos no item sobre relações de poder, neste mesmo capítulo).
“(...) nem sempre a cidadania favorece o fim das desiguladades e, pelo contrário,
pode mesmo corroborar com sua existência, à medida que fica presa à mera
concessão de direitos e deveres, não questiona de fato as relações de poder e não
tem como valores fundamentais a liberdade e a igualdade(...) Portanto o exercício
da cidadania é necessariamente relacionado à consciência política, exigindo que o

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sujeito tenha pensamento crítico em relação aos fundamentos das relações de
dominação e que reconheça o outro como portador legítimo de direitos” (Coelho,
2005: 64)

Para Dagnino(1994) a concepção de cidadania sofre um grande salto com o surgimento e o


crescimento dos Movimentos Sociais, pois este vêm legitimar o indivíduo e os grupos sociais
diferentes entre si, como sujeito político reais, abrindo espaço para uma dimensão ética da vida e das
reivindicações sociais, pois considera que o reconhecimento da alteridade é fundamental para a
construção da nova cidadania.
Dagnino (1994) organiza a nova cidadania a partir de seis pontos, que Coelho explicitará de
forma suscinta:
1) Noção de direitos: a nova cidadania concebe o direito como direito a ter direitos.
Não se limita à conquista de direitos formais e abstratos, pelo contrário, incluí a
possibilidade de criação de novos direitos, que emergem de lutas específicas e
concretas.
2) Sujeitos sociais ativos: que irão definir o que consideram ser seus direitos e lutar
por seu reconhecimento(...) é um processo de tornar-se cidadão.
3) proposta de sociabilidade: “(...) os direitos podem ser pensados como forma de
intersubjetividade pela qual os indivíduos se percebem perante o outro nas suas
diferenças” (TELLES,2001, p.64) (...) Diz respeito ao alargamento do âmbito da
cidadania, que ode ser pensado como conquista simultânea dos direitos civis,
políticos e sociais.
4) Relação com a sociedade civil: a construção da cidadania requer “(...) um
processo de transformação das práticas sociais enraizadas na sociedade como um
todo” (DAGNINO, 1994, p.109). Portanto é necessário que a sociedade passe por
um processo de aprendizado de convivência com esses cidadãos que se recusam a
permanecer nos lugares socioculturalmente definidos para eles.
5) Definição de sistema; os cidadãos reivindicam o direito de participar da própria
definição de sistema, inventando uma nova sociedade, onde haja participação efetiva
nos governos locais. A intervenção popular no estado é também um espaço de luta
política para construção da cidadania (...)
6) direito à diferença: a nova noção de cidadania “(...) pode construir um quadro de
referência complexo e aberto para dar conta da diversidade de questões emergentes

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nas sociedades latino-americanas”(DAGNINO, 1994,p.112) Ela incorpora tanto a
noção de igualdade quanto de diferença, recusando”(...) as diferenças como
critérios discriminadores para afirma-las na sua positividade, exigindo direitos que
lhes garantissem equidade na vida em sociedade” (TELLES, 2001,p.
77)”(COELHO, 2005, P.66)

Dando conta ainda de explicitar a importância da construção da cidadania em intervenções


comunitárias, para a quebra do ciclo de injustiça e vitimização que se forma nas sociedades modernas
como um todo, impedindo a construção de um estado verdadeiramente democrático, podemos ainda
citar a teoria de Moscovici (1974) Sobre minorias ativas.
Neste estudo Moscovici vai investigar como as massas ou grupos oprimidos desenvolvem
formas de resistir protestar, converter e convencer e se opor aos grupos dominantes. Na expressão do
autor, com as minorias sociais - grupos historicamente excluídos das esferas de decisão política, ou
de mobilizar forças políticas para sua causa - oferecem formas de resistir as maiorias sociais -
detentoras do poder de mobilizar as políticas para suprir as suas próprias finalidades – transformando-
0se em minorias ativas, que conseguem se mobilizar e entrar em embate de poder com as maiorias
sociais.
Em sua teoria, Moscovici vai estudar as relações de poder de forma bem diferente.
Historicamente estudava-se o poder que as maiorias sociais exerciam sobre as minorias. Mas nunca
se fazia o estudo inverso. Moscovici realizou este estudo no âmbito dos movimentos sociais
emergentes no mundo todo na década de setenta.
Resumindo brevemente sua teoria das minorias ativas podemos dizer que são três as suas
grandes áreas de contribuições: a de elucidar como as minorias resistem e lutam para alcançar poder;
a de como as maiorias desenvolvem formas de deslegitimar esta busca e; que estas negociações de
sentido envolvem toda sociedade numa “guerra-discursiva”, na qual todos estamos envolvidos ao
defendermos ou repudiarmos qualquer idéia referente á transformações sociais, sintetizadas nos
inúmeros movimentos sociais que nossa sociedade conhece.Buscaremos então discutir didaticamente
as três esferas que dão conta de explicarmos o sentido de mobilidade social da teoria de Moscovici.
A minoria social, definida não em termos de menor número de pessoas em seu grupo, mas do
pouco ou nenhum poder atrelado a ela, desenvolve uma relação de dependência, ou ainda de
complementaridade, com a maioria social. Neste caso o grupo minoritário sente que as diferenças
sociais (de inclusão, de acesso ao bem público, de oportunidades, entre tantas outras) são naturais,
porque ocorre em todos os lugares, desde que o mundo é mundo. A consciência da minoria está

41
restrita ao que é intencionalmente transmitido pelos ensinamentos da elite e vivenciado na própria
experiência da vida cotidiana desigual (na família, na escola, no trabalho).
Ser maioria não é só, como muitos pensam, uma questão de dinheiro. Ser maioria significa ter
voz política e, sim, econômica, para decidir que este dinheiro vai continuar sendo gerado e gerido em
suas próprias mãos. Ser maioria é uma questão historicamente construída em cada sociedade de quem
decide as coisas num estado. Para um grupo se tornar minoria ativa é preciso, primeiramente que ele
se compreenda como um grupo que tem interesses opostos às maiorias sociais. Isto é, amplie sua
consciência histórica e rompa com o vínculo de dependência através do assistencialismo, por
exemplo, e busque formas internas de obter os próprios recursos, ou mais ainda, de entrar em embates
políticos para acessar os bens legais e públicos negados as populações excluídas. E como ela pode
fazer isso?
Para Moscovici, há, ao menos, três processos que um grupo ou comunidade ou movimento
social, que se posicionem ativamente, pode desenvolver para defender ou conquistar seus interesses:
1) A resistência – é nos hábitos, nas crenças, no resgate e manutenção da própria cultura do grupo
é que este resiste as tentativas de corromper a unidade ideológica e de luta de um grupo social
- vemos isso claramente nas experiências de tribos indígenas que sucumbiram a sal própria
cultura e foram dizimados; na importância das experiências religiosas no movimento pela
terra em nosso país. É na resistência que os grupos se reconhecem como capazes de efetuar
mudanças em suas vidas e na vida da sociedade como um todo.
2) Os protestos, que podem ser pacíficos ou agressivos, dependendo da finalidade do mesmo.
Quando a finalidade é a busca de aliados, na “guerra discursiva” para legitimar outros sentidos
sociais, o manifesto mais eficiente é o pacífico, caso da Parada Gay, realizada a anos nas
capitais brasileiras, com finalidade, não de reivindicar nada especificamente, só de oferecer
visibilidade para o assunto da homossexualidade para a sociedade em geral e para a mídia.
Entretanto quando a intenção é reivindicar diretamente direitos constitucionais, ou ainda
reivindicar o ‘olhar’ das autoridades para uma questão específica, e de resolução urgente, as
manifestações pacíficas não resultam respostas imediatas. Assim surgem os tipos de
manifestações agressivas, tais como o fechamento de uma rodovia para manifestação do preço
do produto agrícola, o fechamento de uma avenida para denunciar a vida na favela tal, etc. è
claro que o uso inteligente de um protesto se faz com o menos de menos violência.
3) A conversão: publicizar o assunto de reivindicação de determinado movimento é fundamental
para transformação social. Não poderá haver transformação no uso de determinado recurso
se os que não fazem uso deste não se mostrarem. O processo de conversão caminha desde

42
uma não aceitação da idéia da manifestação (como o direito gay, ou a legalidade do direito à
terra) e também uma não aceitação do público que manifesta essa idéia (quando os
consideramos impróprios para reivindicar tais ‘causas’) passa pela aceitação da idéia e
aceitação das pessoas que reivindicam a idéia e vai até a conversão do indivíduo ao
movimento propriamente dito.
Há também e em uma relação dialética e complementar, três formas que a maioria tem de impedir
que as minorias ativas alcancem seus interesses e alcancem o poder. Podemos notar estas três formas
de deslegitimar uma causa ou um movimento quando a mídia noticia algum fato de movimentos
sociais de forma geral. Vamos separá-las para fins didáticos:
1) A Psicologização – Atribui-se características psicológicas pejorativas ao grupo
manifestante, assim os integrantes do MST são loucos, ignorantes, preguiçosos, etc.
2) A Denegação – Aqui a idéia se torna ilegítima, a causa não tem sentido, torna-se a causa
injusta ou irracional: “Porque eles não vão trabalhar para ter terra!” ou “ Não ter que ter
união de pessoas homossexuais porque isto é uma doença”
3) A sociologização: explica o ato de reivindicar como ‘natural’ e ‘histórico’ de uma
população’ ignorante’, que tem ‘dificuldade de raciocinar’, próprio da ‘baixa classe social’.
E assim os mais informados não podem fazer nada com isso: ‘deixemos que eles se matem
sozinhos’.
Os embates que são produzidos por estas ‘lutas’ entre minorias ativas e maiorias é que dão o
caráter mutante á sociedade. Como diz Montero (2004b) uma comunidade pode estar localizada
nestas 3 posições sociais, a intervenção psicosociológica vem no auxílio da minoria, entretanto sem
finalidade última de transformá-la numa minoria ativa, pois muitas vezes o que a comunidade
necessita não vai contra a ordem estabelecida. Entretanto, o embate, o enfrentamento e,
principalmente, a resistência são os instrumentos que a comunidade tem para lutar por seus direitos ,
ou por suas necessidades, assim vemos que , no trabalho comunitário, as relações entre comunidade,
sociedade e mudança social são indissociáveis.
Trabalhos comunitários de cunho assistencialistas e paternalistas não auxiliam na
transformações das condições básicas de vida da comunidade: não mudam mentalidade política, pois
não alteram as condições de poder.
Como podemos ver abaixo, o espaço comunitário de intervenção pode ser um lugar de
construção de uma política mais democrática, participativa e includente.

43
Psicologia Social Comunitária

Porque é aí
que
Construção de uma está a vida
cotidiana
Democracia Participativa como
Um lugar de mudança social

Promover ações
comunitárias de
reflexão, decisão
e planejamento dirigido
à transformação social

Refletir e agir -
PARTICIPAR

Ajuda a construir uma sociedade mais reflexiva,


porque estimula as pessoas a pensar seu cotidiano e suas formas de
alienação

A Partir do que foi discutido sobre a construção da cidadania e o seu envolvimento com as
relações comunitárias, refletimos que nossa ação interventiva numa comunidade deve propiciar
espaços para discussão da rotina da vida não só individual mas também coletiva da população,
estimulando a preservação dos valores culturais construídos naquele local. Devemos auxiliar na
construção de espaços de coletivização de informações úteis para a vida (tanto individual como da
comunidade). Um agente comunitário deve ver na sua ação um espaço de incentivo à participação
ativa da população com quem está trabalhando, buscando promover ações de reflexão, decisão e
planejamento de ações de resistência e de reivindicação.
Como vemos, uma ação dentro de uma comunidade deve ter como finalidade última a
mobilização desta comunidade para transformação de si e possivelmente de uma transformação no
entorno social. Para isso um agente social (seja de qual área do conhecimento for) deve buscar sempre
o intercambio de informações e estratégias com outras entidades organizadas, pois quanto maior
forem as redes solidárias, maiores serão as chances desta comunidade se mobilizar.

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