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TESOUROS DE NATAL

Heather Graham
Para todos que acreditam no espírito natalino...
Não importando qual possa ser sua crença!
Não as guirlandas e presentes, mas o carinho e a fraternidade!

Paz a todos – e um Feliz Ano Novo e repleto de saúde.

E, claro, obrigada pela leitura!


Para minha família, meus amigos, aos de perto e aos de longe, aos que encontro
frequentemente e àqueles de quem carinhosamente sinto falta, Feliz Natal.
UM PEQUENO MILAGRE
A caminho de um indesejado casamento além-mar, a nobre beldade francesa,
Lady Tessa Dousseau reza por um milagre de Natal. Ela tem seu desejo
atendido da forma mais inesperada, quando é sequestrada pelo
devastadoramente viril pirata: Red Fox[1]. Entretanto, mares revoltos e mesmo
um pirata ainda mais áspero, não podem impedir um milagre de acontecer.
Capítulo 1
— Santo Jesus, Maria e José! — Anna Maria clamou, terror profundo
brilhando em seus olhos cinzentos enquanto olhava as ondas brancas diante
delas. — Aquele é um navio pirata; veja como a caveira balança solidamente em
seu mastro! — Ela se benzeu uma vez, então de novo, e ainda mais uma vez. —
Querido Senhor, nos salve!
Tessa Dousseau, em pé com Anna Maria na proa do armado veleiro francês,
Mademoiselle, estreitou seus olhos e olhou através das ondas, sentindo tremores
de medo, excitação e o terror percorrendo sua espinha. De fato, o navio parecia
ser um navio pirata, dirigindo-se até eles rápida e velozmente,
independentemente das nuvens cinzentas, do céu ameaçador,
independentemente das selvagens e temerárias ondas de pontas brancas, como
se tivessem sido tocadas pela neve.
O Mademoiselle era um bom veleiro, e enquanto estava sendo construído,
pretendia-se que carregasse trinta canhões e uma tripulação de mais de cem
marujos robustos para os operar. Mas, de alguma forma, ele deixou o porto com
uma baixa de quinze canhões e dezenas de homens. Não houve tempo para
equipá-lo apropriadamente, não com o inverno tão próximo de chegar. E, o pai
de Tessa, o Conde de la Verre, estava muito determinado em que Tessa chegasse
à ilha francesa de Dejere bem antes das festas de Natal – pois ela era, na mente
dele, um presente para um amigo.
Era quase primeiro de novembro agora, e eles estavam a menos de vinte e
quatro horas de distância de seu porto.
Enfrentando um navio pirata...
— Oh, querido Deus, por favor! — Anna Maria começou novamente, e
Tessa observou sua criada ajoelhar-se na proa do barco. Os dedos de Tessa se
fecharam mais fortemente ao redor do arco de madeira do barco enquanto se
lembrava o quanto ela rezou aquelas mesmas palavras, uma vez e outra, por
todo o caminho em alto-mar.
Querido Senhor, por favor. Querido Senhor, por favor...
Ela tinha estado implorando e rezando para que um milagre a libertasse da
barganha de seu pai. Dia após dia, hora após hora.
Ela considerou pular no mar, não para tirar sua própria vida, mas para nadar
para algum lugar distante na costa.
Mas agora parecia que suas preces estavam prestes a ser atendidas, e da
forma mais desagradável e aterrorizante. Havia um navio pirata vindo em
direção a eles, estava equipado com uma bandeira inglesa – e uma outra com a
caveira e os ossos cruzados – ambas tremulando fortemente contra o vento a
partir do mastro do navio.
— Ladies! — Tessa ouviu Don Juan Diego, o capitão espanhol do
Mademoiselle, berrando alto para elas. Ela voltou-se, o vendo em seu elegante
casaco, sua gravata em laço branco e a peruca perfeitamente arranjada com pó, e
perguntou-se como seu pai podia ter sequer imaginado que um dândi como
aquele fosse adequado para uma comissão no mar. A face de Don Diego parecia
quase tão branca quanto sua peruca. — Vocês devem apressar-se para baixo,
milady! — Ele ordenou a Tessa. — Nós temos um sanguinário patife inglês à
frente de nosso navio! Ele é aquela miserável criatura, o temido Red Fox, o
único capitão inglês, tolo o bastante, para alertar seus inimigos com suas cores
brilhantes e audácia. Vocês devem ir e se esconder da luta!
— Você o vencerá, Don Diego! — Anna Maria chorou, saltando em seus
pés.
— Nós temos uma batalha à nossa frente, uma violenta! — Don Diego
prometeu. Então ele se encolheu de ombros. — Uma batalha ou talvez uma
rendição. Esse pirata não mata homens como tantos outros fazem. Ele procura
obter resgate de reféns. Talvez...
— Você não pode deixá-lo nos levar, Don Diego! — Anna Maria clamou em
horror.
— Uma batalha pode ser violenta e sangrenta.
— Mas Lady Tessa está prestes a casar-se com Raoul Flambert, Conde de
Sierre e o governador real de Dejere! Você não pode confiá-la aos desejos de um
homem inglês!
Tessa decidiu não lembrar Anna Maria de que sua mãe era inglesa, de que ela
viveu a maior parte de sua vida na Inglaterra, até muito recentemente. Apesar
disso não importar para ela. A pirataria era uma profissão miserável, e nenhum
homem tinha o direito de simplesmente usurpar os tesouros do navio de outro
homem – não importando qual fosse sua nacionalidade. E piratas eram
repugnantes, homens cabeludos com dentes apodrecidos, pernas curvadas, e
rançosos, barbas infestadas por insetos. Ela deveria preferir morrer a se render a
homens tão perversos.
— Meu pai estaria sinceramente desapontado com sua covardia, Don Diego!
— Tessa disse firmemente, seus olhos, de um azul profundo como o mar
cintilando uma sincera admoestação. Não adiantou, é claro, que ela tenha
alertado seu pai sobre os ataques corsários que estavam acontecendo quando ele
se decidiu por aquele curso de ação. Mas seu pai havia recebido uma fantástica
soma – em ouro – para que ela se casasse, e havia acenado uma mão para a
possibilidade de piratas. — Eles vão atrás de navios com tesouros, minha
querida. O Mademoiselle não carregará nenhuma carga mais preciosa que você,
Tessa, e por isso os piratas ficarão todos na costa.
Não esse pirata. Talvez ele não saiba que a única carga preciosa a bordo do
navio era uma noiva comprada e paga em ouro. Havia móveis franceses a bordo,
lençóis, sedas, todas as coisas que acompanhavam uma mulher que estava
prestes a se casar. Havia as poucas joias que ela possuía. Talvez, mesmo essa
escassa pilhagem, valesse a pena para o miserável pirata Red Fox.
De repente, um canhão disparou, e caiu próximo à proa do navio, um
tremendo jorro de água emergindo do mar. Tessa estava assustada pelo pequeno
tremor de terror que subitamente rompeu em seu coração. Ela não desejava
morrer. Não queria mesmo chegar em Dejere e para seu destino lá, mas também
não queria morrer. Ela apertou seus dentes fortemente juntos, agarrando na
balaustrada da proa para manter seu equilíbrio quando o navio balançou sobre o
mar, enquanto os camaradas e marujos gritavam, choravam e corriam em
confusão.
— Mantenha a estabilidade, mantenha a estabilidade! — Don Diego ordenou
ao seu primeiro ajudante no leme levantado acima deles.
— Esse foi um disparo de aviso! — Tessa se ouviu gritar — Não fuja dele
tão rapidamente, dispare de volta!
— Vá para baixo! — Don Diego, com a face muito vermelha, ordenou a ela.
— Você deve ir para baixo!
— Mas eu não estou amedrontada, Don Diego — ela mentiu para ele, olhos
apertados. — Eu não me submeterei tão rapidamente às táticas bárbaras de um
pirata!
— Senhorita! Nós não estamos adequadamente armados! — Don Diego
gritou para ela.
Houve outro estouro de um disparo de canhão não muito distante. O
disparo não acertou o navio. Água jorrou novamente, caindo atrás deles como
gotículas de chuva.
— Levante a bandeira branca! — Don Diego bradou.
— Seu chorão covarde! — Tessa gritou, agitada. — Você não vê? Ele não
está tão ansioso para te acertar! Ele quer confiscar seu navio. Você pode lutar
contra ele, ou você pode fugir dele!
— Senhorita, vá para baixo! — Ele berrou novamente, balançando sua
cabeça. — Mon Dieu e Dios mio! — Ele resmungou, combinando seu espanhol e
seu francês. — Eu avisei seu papai que você frequentou as escolas inglesas por
tempo demais!
— Fuja dele! — Tessa exigiu. — Senão, caro Capitão, você terá que dizer
muito mais que isso ao meu pai!
Por um momento pareceu que Don Diego não podia decidir se ele tinha
mais medo dos piratas ou do pai de Tessa, não meramente o Conde de la Verre,
mas um homem entre os favoritos do Rei Sol[2].
— Vá para baixo, eu lhe imploro, — ele pediu, — e eu farei o meu melhor
para fugir dessa ameaça inglesa.
— Venha, milady, por favor! — Anna Maria implorou, agora puxando seu
braço.
Tessa permaneceu no convés por um momento, sentindo o toque da brisa e
a umidade do mar sobre suas bochechas. Ela não queria ir para baixo, mas Anna
Maria estava puxando seu braço e Don Diego ainda a encarava, com um mudo e
desesperado apelo em seus olhos.
Ela permitiu que Anna Maria a apressasse ao longo do caminho. Elas
correram rapidamente para baixo pelas escadas estreitas até os quartos que
ficavam abaixo do convés, e então abaixo no corredor em direção à cabine do
capitão, destinada a Tessa durante a longa viagem do Velho Mundo para o
Novo. Pequenas janelas panorâmicas davam vista para fora a partir do arco da
cabine, e assim que Anna Maria fechou a porta após elas entrarem, Tessa se
apressou para a larga beliche que ficava no lado direito da cabine e olhou através
do vidro para o mar além dele.
O coração dela bateu forte novamente. Talvez ela fosse uma tola. Ela não
queria condenar a uma sentença de morte todos os homens que navegavam o
Mademoiselle. O navio pirata aproximava-se dele, muito próximo, e com uma
tremenda velocidade que Tessa estava morrendo de medo. Era um barco muito
maior que o Mademoiselle, Tessa podia contar trinta canhões somente no
estibordo, o lado em que ela estava.
Agora ela podia ouvir os gritos no convés acima, Don Diego, gritando alto,
misturando o espanhol e o francês para sua equipe. Ele disse que tentaria fugir
do navio pirata, e ele o faria.
Ele tinha chances muito pequenas, e Tessa sabia disso.
— Ele deve se render! — Ela disse subitamente, com o coração apertado.
Ela se levantou do beliche, desviando ao redor de Anna Maria, que era alta e
delgada, e estava começando a ficar grisalha. A face dela era magra, seus olhos
eram muito grandes e castanhos, usava um vestido cinza e sua única
preocupação sobre moda era o aro que usava embaixo da saia – o ressurgimento
do estilo farthingale[3]. Pobre mulher! Ela havia gastado toda sua vida cuidando
dos pequenos meio-irmãos de Tessa, e ela jamais havia vivenciado um momento
de violência em sua vida. Ela estava definitivamente consternada, e pensar que
ela tinha irritado Tessa desde que se encontraram... Mas no momento Tessa
sentia pena dela.
— Eu tenho que sair, Anna Maria.
Mas Anna Maria estava encostada na porta, pálida, paralisada. Ela finalmente
conseguiu balançar a cabeça. — Você não deve ir lá fora. Os piratas estão vindo!
E o que um pirata pode fazer com uma jovem tão bela como você...
— Não tão jovem, — Tessa prontamente a corrigiu, e com amargura em seu
coração. O pai dela estava excepcionalmente ansioso por aquele casamento,
porque ela já estava com mais de vinte anos agora, muito velha para ele, desde
que ele havia casado com a mãe dela quando tinha apenas dezesseis anos e sua
noiva era um ano inteiro mais nova que ela. — Praticamente definhando, como
meu pai diria, — Tessa disse, tentando sorrir. — Anna Maria, você deve me
deixar sair agora. Eu condenei todos aqueles pobres homens, e eu preciso
consertar as coisas.
Anna Maria permaneceu parada no chão, muito paralisada para se mover,
mas Tessa estava determinada. Ela caminhou até a porta gentilmente, mas
firmemente afastou a magra mulher de frente da porta, a pondo de lado.
— Você está sob os meus cuidados, eu tenho que proteger você! — Anna
Maria disse desanimada, mas Tessa não tinha tempo para respondê-la, pois ela já
estava voltando apressadamente pelo corredor até as escadas estreitas. Ela estava
quase alcançando as escadas quando o navio estremeceu violentamente, e se
encostou contra a parede tentando encontrar seu equilíbrio enquanto o pânico a
invadia. Eles devem ter sido abordados. O navio pirata devia ter alcançado o
Mademoiselle e o atingido com força.
Ela pressionou as mãos contra as orelhas, agachando-se de joelhos, ouvindo
os gritos, os berros e os selvagens lamentos de desespero. Então ela levantou-se,
determinada a consertar o que ela havia feito com suas exigências.
Ela se apressou pelas escadas, e chegando ao convés deu de encontro com
um pirata de cabelos escuros e magro, com uma faca entre seus dentes e um
cutelo desembainhado em suas mãos. Ele congelou quando percebeu que estava
diante de uma mulher desarmada.
Aterrorizada, Tessa deu um empurrão no homem, acertou-o na mandíbula e
desviou-se dele, agarrando suas mãos enquanto ele caía. Seus nós dos dedos
explodindo em dor. Ela balançou suas mãos, olhando abismada ao homem que
ela havia derrubado.
Ela agachou-se ao lado dele, olhou para cima e viu que mais homens corriam
em direção a ela. — Tome cuidado! A mulher é perigosa. Olhem o que ela fez
ao Wily Fred!
Mais uma vez, não tinha sido coragem, mas puro pânico o que comandou
suas ações. Os homens estavam se apressando para alcançá-la, ela precisava ter
algum meio de defesa, então ela pegou a espada do pirata caído e a balançou
ameaçadoramente em direção à meia dúzia de corsários ingleses que subitamente
se dirigiam a ela. Todos eles pararam fora do alcance dos movimentos
desgovernados e olharam para ela cautelosamente. Ela olhou de um para o
outro; eles não eram nada do que ela esperava. Certamente, eles estavam muito
bem vestidos para piratas, todos usavam calções apertados até abaixo dos
joelhos, meias de seda ou nenhuma meia e pés descalços. Suas camisas eram de
linho branco, estranhamente limpas. Um dos piratas era muito alto, cabelos
grisalhos, olhos cinzentos e curvado; três eram mais jovens, um era ruivo, dois
loiros; e dois eram camaradas de meia idade e usavam perucas brancas apesar da
batalha que estavam travando.
Ela queria gritar em inglês e dizer a eles que o navio se renderia, para
implorar por misericórdia para todos os homens, mas ela não teve chance.
Ouviu o estrondo de uma profunda e rica voz, e antes que ela pudesse falar, os
homens abriram caminho até ela, que foi silenciada à primeira vista que teve dele.
Ele era alto, sem camisa sob o sol, com ombros largos que reluziam um
profundo bronzeado. Ele usava botas altas e calções carmim que aderiam em
seus quadris e às suas coxas rígidas. Ele movia-se como um formidável gato,
suave, macio, silencioso. Quando ele parou diante dela, ele parecia quase como
um deus pagão. Ele estava despreocupado por sua seminudez, estável sobre seus
pés calçados, seu cutelo de pirata sustentado ociosamente em sua mão direita.
Ele parecia intrigado somente por ela, e a encarava com olhos castanhos claros
esverdeados, como os de um gato, situados profundamente numa face
bronzeada – uma face surpreendentemente atraente com maçãs do rosto
salientes, sobrancelhas arqueadas, um nariz estreito e longo, e lábios cheios,
curvados e muito sensuais. O cabelo dele era de um castanho avermelhado
muito profundo e rico, uma cabeça repleta deles, cortados logo abaixo do
pescoço, como se tal estilo o impedisse de ser enfadonho. Havia alguma coisa
sobre ele, talvez fosse simplesmente o modo imponente com o qual ele parecia
se mover, como se prontamente a alertasse de que ele era o capitão, o miserável
pirata Red Fox.
— O que nós temos aqui? — Ele murmurou e ela ficou assustada pela
riqueza e refinamento de sua voz. Possuía um tom profundo e masculino, um
que parecia tocá-la por dentro e por fora, de um modo que ela nunca havia
sentido antes.
Ela percebeu que ainda estava parada com a espada roubada em riste,
encontrando seu olhar gatuno. Ele não aparentava em nada estar amedrontado.
Em fato, ele parecia tão confiante que ela quase se jogou contra ele para arrancar
aquele olhar confiante de seus pretensiosos olhos.
Contudo, ele pareceu ler tudo o que se passava na mente dela, e curvou-se
reverentemente para ela. — Senhorita, eu pegarei a espada.
Ela balançou a cabeça. Ele falou com ela em francês, e ela deu a ele uma
simples resposta na mesma língua.
— Non!
Os ombros musculosos enrigeceram-se. Com as mãos nos quadris, ele
pareceu ficar ainda mais alto. Novamente, ele falou em francês. — Senhorita,
você é Lady Tessa Dousseau, filha do infame Conde de la Verre, e brevemente a
noiva do desprezível Conde Raoul Flambert, o hediondo governador da colônia
francesa de Dejere.
Ela permaneceu muito rígida, calada, olhando-o nos olhos verdes-dourados
com a espada roubada direcionada à garganta dele. Ela inalou o ar e tentou dizer
a sua demanda num rápido e raivoso francês. — Você, senhor, é o muito
miserável pirata Red Fox. E você deve jurar agora que esses homens, que não
lhe causaram nenhum mal, não receberão mal nenhum em retorno.
Um sorriso profundo curvou seus lábios. Então, subitamente ela ofegou,
pois ele levantou sua própria espada e atingiu a dela desarmando-a e levantando
a própria espada a poucos centímetros da garganta dela.
— O negócio com a morte não me agrada, milady, mas a de espanhóis e
franceses – e adquirir muitos tesouros no meio do caminho – sim. A voz dele,
grave e macia, de repente aumentou para um tom de trovão e mais uma vez ele
gritou em francês, — Abaixem suas armas agora! Vocês não serão mortos, ou
tordurados ou maltratados, se vocês abaixarem suas armas agora!
Subitamente, ouviu-se o barulho de espadas caindo no convés.
Tessa queria que a tripulação se rendesse. No entanto, eles não precisavam se
render com uma rapidez tão humilhante.
— E agora você, ma cherie, — ele disse com prazer, — me acompanhará a
bordo do Golden Wind, sossegada em saber que nenhum homem morrerá por
você.
Ele estava rindo dela, ela pensou, e ela desejou alcançá-lo e dar uma bofetada
no belo rosto dele, mas a espada dele continuava muito perto da garganta dela,
então ela se controlou para permanecer parada.
— Eu não me importo de trocar de navio, — ela disse a ele
entusiasmadamente.
— Você o quê? — Ele inquiriu, arqueando uma sobrancelha.
— Eu não me incomodo em acompanhar você ao seu navio, seu pirata sujo!
— Ela disse, ainda respondendo mecanicamente em francês, pois esta era a
língua que ele estava falando.
— Sujo? — Ele virou-se para o pirata alto e grisalho, agora próximo das
costas dele. — Eu não me banho mais frequentemente do que a maioria dos
homens, Thibault? — Ele perguntou.
— Mais frequentemente! — Thibault garantiu ansiosamente em inglês.
— Acene com a cabeça! Nossa senhorita é francesa, e provavelmente
entende muito pouco do inglês, e eu quero que ela entenda você agora,
perfeitamente!
O homem inglês sorriu e acenou a cabeça vigorosamente. O Red Fox voltou-
se para Tessa, arqueando a sobrancelha.
— Senhor, — Tessa disse, — o corpo não é nada mais que a concha de
nossa existência, mas a sujeira com a qual você convive pousa pesadamente em
sua alma!
— De fato? — Ele perguntou. Ele permaneceu sorrindo, mas agora aqueles
gélidos olhos verde-dourados estreitaram-se e ela concluiu que o tinha irritado
também. Infelizmente, ela pensou com raiva, um preço muito pequeno pela
pirataria dele!
— Como eu disse, Senhor Pirata! Eu o acompanharei a qualquer lugar! —
Ela disse acusadoramente.
— É mesmo? — Ele perguntou suavemente.
E então, antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, ela encontrou-se
levantada, e gritou enquanto era jogada sobre os ombros dele. Ela sentiu a carne
nua dele, queimando contra a face dela, sentiu os batimentos do coração dele,
sentiu sua respiração.
— Bastardo! — Ela o acusou, tentando levantar-se, mas sem conseguir. Ela
podia apenas lutar contra ele e bater seus punhos contra seus ombros.
Um esforço claramente desperdiçado, pois ele parecia nem notar a
ferocidade dela. Novamente, ele moveu-se como um gato. Tão rápido quanto
um leopardo em uma selva do Novo Mundo, caminhando pelo convés,
atravessando a balaustrada que unia os dois navios.
— Espere, por favor! — Ela ouviu Don Diego gritando em desespero.
No próprio navio, ainda carregando a mulher em seus ombros, o pirata Red
Fox virou-se.
— O que é? — Ele perguntou irritado.
— O que... o que você fará com ela? — Don Diego perguntou sem fôlego.
— O que eu farei com ela? — A questão pareceu ser um enigma para ele.
Então ele riu suavemente. — Por quê? Eu pedirei um resgate por ela, com
certeza.
— O Conde Raoul Flambert pagará por ela – pela sua segurança! Por ela –
pela sua inocência – sua castidade! — Don Diego clamou rapidamente.
— Ele irá?
Tessa se encontrou subitamente paralisada pelo estranho tom na voz dele,
um que era muito amargo.
— Ele pagará qualquer preço que você exigir! — Don Diego gritou
ansiosamente.
— Oh, de fato, ele pagará! — O pirata Red Fox disse alto. — Certamente,
ele pagará.
— Você conseguirá o resgate rapidamente!
— Eu pedirei o resgate, — o pirata respondeu suavemente, — quando eu
tiver terminado com ela! — E dito isso, voltou-se, e Tessa se ouviu gritando
com raiva e temerosa, batendo furiosamente contra os ombros musculosos dele
novamente enquanto ele começou a atravessar o próprio convés. Dirigindo-se
para sua cabine de capitão.
Capítulo 2
Então, essa era a resposta dela! Tessa pensou enquanto eles atravessavam a porta
da cabine, e ela se encontrou caindo pesadamente em um enorme beliche,
coberto com lençóis ricamente bordados e franceses! Ela aterrissou na cama
duramente e sem fôlego sobre uma pilha de travesseiros e encarou com um
medo feroz e ultrajante o homem que a havia trazido até ali.
Ele pareceu estar divertindo-se novamente. Encostando suas costas contra a
porta da cabine dele, ele sorriu e não se moveu, ainda a observando enquanto
ela se esforçava para sentar-se e arrumar suas rebeldes saias e anáguas, para
recuperar alguma dignidade.
E encontrar um meio de defesa.
Ele não fez nenhum movimento em direção a ela, mesmo assim, ela não
conseguia deixar de pensar que ele iria, de fato, como um gato de uma selva do
Novo Mundo, brincando com ela, a provocando, ah, sim! Um gato brincando
com sua comida – logo antes de devorá-la inteira. Ele sorriu. No entanto, havia
um certo olhar de total perigo sobre o homem. Ele era jovem, ágil, notável – e
muito mortal, Tessa estava certa disso. A qualquer momento, ele estaria em cim
dela…
Aquilo, aquilo, era a resposta às preces dela.
Ela havia rezado – dia e noite – para ser resgatada, e agora ela estava ali, a
prisioneira de um capitão pirata. Ao menos conseguiu evitar uma execução – ele
prometeu poupar até mesmo a vida do capitão e da tripulação do navio dela.
Não! Ela não seria somente usada e liberada – ela seria usada e abusada...
E vendida para Raoul mais uma vez!
Não era justo – ela apenas não conseguiria! Aquele miserável corsário não
iria capturar o navio do pai dela, tentando levá-la às lágrimas, a aviltar e molestá-
la – e se safar disso!
— Você, bastardo! — Ela sibilou, as palavras saindo num tom muito baixo,
rouco e tenso, cheio de maldade. — Você não vai se safar disso! Flambert te
fatiará e cortará em pedaços! Te picará do pescoço até as pontas dos pés!
Ele arqueou as sobrancelhas para ela. Permanecia encostado na porta, sua
cabeça de alguma forma estava inclinada e seus braços estavam cruzados sobre o
peito largo. — Ele fará tudo isso? — Ele inquiriu.
— Mais que isso! — Ela prometeu.
— Ah! Eu estou tremendo de medo! — Ele disse a ela, os olhos cheios de
escárnio, então o sorriso dele desvaneceu e ele se afastou da porta. — Flambert,
milady, não me desafiará. Não, eu temo que ele, ma belle, esse seu elegante conde,
não fará esforço nenhum para vir te resgatar – ele pagará o preço pedido sobre
qualquer circunstância, e só então, você retornará para os queridos braços de seu
amado.
— Nas melhores condições, eu imagino! — Ela disse, os olhos estreitando-
se, a respiração pesando.
Novamente, o brilho de escárnio se acendeu em seus olhos. — Hmmm. Eu
devo pensar sobre isso. Eu desprezo completamente o homem, então não pode
ser cogitado, para um inimigo que se preze, que eu a poupe. É claro, tem havido
rumores de que ele consideraria para ser sua noiva apenas a mais doce e
inocente senhorita, e desde que você já terá passado por tudo isso... bem, talvez
seja o seu bom comportamento que determine as condições em que você será
devolvida como refém.
Ultrajada, ela se encontrou levantando e o olhando incrédula. — Pomposo
inglês... burro! — Ela se encontrou chamando-o. Eles ainda estavam
conversando em francês, e pela primeira vez na vida dela, ela estava sentindo
simpatia pelo povo de seu pai e determinada a falar a língua deles. — Você não
deveria ter tanta certeza disso, levando-se em conta a sua própria coragem –
atacando navios que transportam mulheres! – O oposto de um homem decente
como o Conde Flambert!
— Decente! Ah! — Ele exclamou, balançando sua cabeça. — Milady, essa é a
maior compaixão que você encontrará, por cada hora a menos que você será
poupada do inferno que viverá com aquela criatura abominável. Mas até o
momento você não se encontrou com seu noivo. Sua face pode não ser tão
monstruosa, mas eu lhe garanto que sua alma sim.
— Isso vindo de um pirata! — Ela disse docemente. — E você está
enganado. Eu já me encontrei com meu noivo.
— Encontrou-se então? Diga-me, é engano meu ao pensar que você não o
conheceu ainda – ou que você não saiba o monstro que ele é?
— Pirata inglês, você deve ir diretamente para o inferno!
— Isso quer dizer que você sabe que ele é um monstro?
— Não quer dizer nada disso! — Ela mentiu rapidamente.
— Oh. — Será que uma centelha de desapontamento alcançou os olhos
dele? Ele pareceu ter se cansado daquela discussão entre eles.
— Desde que você não o acha tão repugnante, você escreverá uma carta para
ele e fará isso imediatamente. Você garantirá a ele que é minha prisioneira,
esperando ser resgatada. O resgate monetário dele. Incluirá também um
pequeno cacho desse belo cabelo loiro para garantir a ele que eu de fato estou de
posse de um tesouro que ele tinha alegremente esperado. Minha mesa está ali.
Eu a deixarei e você deve começar a escrever agora. Oh, e você deve garantir a
ele também que – por hora – você permanece uma senhorita tão casta quanto
estava ao chegar ao meu navio, mas você deve sugerir que ele se apresse, pois
somos homens impacientes e que estamos por um longo tempo em alto-mar. E
que somos todos monstros destruidores, é claro.
— Eu não direi nada disso, — Tessa o informou regiamente.
Ele enrijeceu, encarando-a. — Perdoe-me, milady?
— Eu não escreverei nada disso.
— Eu disse você que escrevesse.
— E eu disse a você. Eu não o ajudarei em seu assalto e roubaria! Não
escreverei uma palavra disso no papel! Se você quer convencer Conde Flambert
de que você me tem como refém, então você mesmo escreva a carta!
— Você não tem ideia do risco que está correndo! — Ele a advertiu
duramente.
— E você não está compreendendo completamente – eu não me importo!
— Ela assegurou a ele, mas apesar de sua fachada de coragem, ela ouviu sua voz
tremendo, apenas um pouco, no final. Será que ele também ouviu aquele leve
tom de medo ou incerteza em sua voz?
Ele, subitamente, curvou-se profundamente diante dela. — Milady, eu a
deixarei por agora. Sua coragem e bravata são muito emocionantes, mas
dificilmente comedidas ou inteligentes, devido às circunstâncias. Eu preferiria
não a machucar. Mas eu tenho um ódio feroz e pessoal por Flambert, e como
ele é um covarde, é muito provável que eu não o encontre em alto-mar
novamente. Não será necessário muito para me persuadir a negar a ele qualquer
coisa que ele deseje. Milady...
E novamente, ele se curvou.
No mesmo movimento rápido, ele virou, então abriu a porta e com um único
longo passo, saiu da cabine batendo a porta atrás dele.
Tremendo, Tessa afundou-se ao sentar novamente no beliche do pirata.
Parecia que os respingos de um fluxo de água tinham sido lançados sobre ela
enquanto ela se deitava sobre a cama, agarrando o travesseiro macio e fofo do
pirata, descansando sua cabeça enquanto encarava a porta, atordoada com tudo
o que ele tinha dito...
E as próprias respostas dela.
Aquilo não era o que ela pretendia enquanto rezava por um resgate...
Apenas por um milagre. Um único milagre de Natal. E parecia que ao invés
disso, ela havia atraído o desastre sobre todos eles!
Ela não queria casar com o Conde Raoul Flambert. Aquele pirata,
certamente, não poderia saber como ela se sentia, e ela não deveria se atrever a
demonstrar. Mas ela tinha conhecido Flambert cinco anos atrás quando ele
havia ido até a Inglaterra com o pai dela. Ela estava estudando em Oxford, as
freiras ficaram em um estado de absoluta agitação, e ela ficou em algum tipo de
humor selvagem – ela não tinha encontrado o pai desde que era uma criança de
três anos. A mãe dela havia morrido naquele ano e seu avô, o imponente Lorde
Inglês Simmons, dirigiu-se até as terras de seu pai, próximas a Paris, e garantiu
ao Conde de la Verre que Tessa deveria ser cuidadosa e gentilmente criada, e a
criação de tão jovem e gentil criatura seria melhor alcançada na Inglaterra. Ela
nunca soube exatamente o porquê de seu pai ter concordado, exceto que,
enquanto ela crescia, ela descobriu que seu pai era muito jovem e extremamente
bonito, e pensou que seu pai deve ter amado muito sua esposa inglesa, mas com
seu falecimento, ele tornou-se novamente um dos mais elegíveis homens no
mercado do casamento, e havia muitas vantagens para um homem obter através
do casamento. Então Tessa foi para a Inglaterra, ela amou profundamente seus
avós e mais ainda a escola que haviam escolhido para ela, e as gentis e algumas
vezes muito ingênuas freiras que a ensinaram lá. Quando o pai dela chegou com
Flambert, a Irmã Mary Margaret a levou para encontrar os homens, e apesar de
Mary Margaret estar próxima dos sessenta anos – se algum dia ela teve – ela não
pareceu entender uma única coisa sobre o amigo de seu pai – o que Tessa fez.
Idade, aparentemente, não eram garantia de sabedoria ou instinto.
Flambert era impressionante, um homem bonito como seu pai, de estrutura
magra, com ricos e longos cachos castanhos, um fino bigode; e uma perfeita e
enrolada barba. Os olhos dele eram escuros e brilhantes com uma luz enervante
enquanto ele a olhava de cima a baixo. Tessa mal tinha reconhecido seu pai, mas
então já havia decorrido mais de uma década desde que ela o tinha visto, por
isso suas memórias eram muito vagas. Ele havia se casado duas vezes desde
então, e se mantido ocupado com os filhos que teve em seu segundo e terceiro
casamentos. Tessa, de alguma forma, deduziu que ele havia esquecido da
existência dela, o que foi bastante bom para ela. Ela gostava da vida que tinha e
não queria seu pai de volta nela.
Mas ele voltou, e com Raoul Flambert. E Tessa notou com profundo
desdém que o homem havia despido as freiras com os olhos, como se ele
estivesse pronto para devorá-las. Ele havia sido polido, cortês, e totalmente
apropriado, não havia dito uma palavra em inglês, contudo ele era um
convidado em um país hostil, pois a Inglaterra estava à beira de entrar em guerra
contra a Espanha e a França.
— Uma bela criatura, eh, mon ami[4]? — O pai de Tessa questionou seu
amigo – após ele mesmo inspecionar a aparência de Tessa. Então Flambert
permitiu que um sorriso curvasse seus lábios.
— Ah, tres Jolie[5], Conde de la Verre. De fato, uma bela jovem. — O pai de
Tessa franziu a testa por um minuto.
— Muito jovem, — ele comunicou Flambert.
—Ah, mas a juventude é bela, não é? — Flambert peguntou, e Tessa se
sentiu cheia de inquietação e repulsa. Uma vez mais, os olhos de Flambert
moveram-se, olhando-a de cima a baixo. Ela sentiu vontade de encolher-se
dentro de si mesma, mas não muito depois disso os homens partiram, e nos
meses que se seguiram, Tessa, para seu alívio, não ouviu mais nada sobre seu
pai. Ela amava a Inglaterra, e amava as férias que passava na propriedade de seus
avós, próxima a Londres, e adorava Londres também, e os dias maravilhosos
que passou servindo à Princesa Anne, a herdeira da coroa inglesa após a morte
de William III. Anne era gentil, dedicada ao seu marido, amável àqueles ao seu
redor, e uma eterna romântica.
O pai dela não significava nada para ela. Tessa imaginou que a vida poderia
continuar como sempre tinha sido. Ela residiria com seus avós, serviria à
princesa, que um dia seria rainha, e flertaria com os muito belos e jovens lordes
e cavalheiros que serviam a William, mas também percebeu que Anne se
tornaria rainha. Eles divertiam Tessa. Ela era feliz em ouvir seus sonetos e
canções. Contudo, assuntos mundanos não a agradavam muito. Logo uma
mulher sentaria no trono da Inglaterra, mas lhe parecia que as mulheres tinham
pouco controle de suas vidas. Independentemente da época iluminista, mulheres
ainda eram compradas e vendidas por seus guardiões – homens – no jogo do
matrimônio. Graças ao seu avô agradavelmente moderado e gentil, Tessa não
estava preocupada com o que se relacionava ao campo do matrimônio. Ela e seu
avô tinham um maravilhoso e não dito acordo sobre o assunto.
Mas então, Charles II da Espanha morreu, sem deixar herdeiros. Tessa nunca
havia imaginado que algo assim poderia atingir diretamente sua vida.
Estava para mudá-la completamente.
Charles II desejou que seu sucessor fosse um neto de Louis XIV da França.
Isso era mais do que a Inglaterra e seus aliados e inimigos do Rei Sol – Holanda,
Áustria, Prússia, Suécia e Dinamarca – poderiam tolerar. A França possuía
tremendo poderio, e a união da França e da Espanha formava uma ameaça que,
simplesmente, não poderia ser tolerada pelas nações vizinhas. O rei Francês
apoiava o Aspirante ao trono inglês, e não somente isso, como também cobrava
taxas desastrosas sobre os produtos ingleses. Por meses, Tessa andou
cuidadosamente ao redor da princesa Anne, assistindo temerosamente cada
evolução nas crescentes tensões.
Em plena iminência de Guerra, o Conde de la Verre chegou com uma grande
delegação francesa, indo diretamente ao rei William e exigindo o retorno de sua
filha, desde que hostilidades poderiam, em breve, acometer-se entre as duas
nações.
Tessa estava ciente de que sua vida poderia ter pouco significado para o Rei
William, e mesmo assim ela se jogou aos pés de Anne e implorou para
permanecer na Inglaterra. A Princesa Anne chorou junto com ela, mas havia
sido decidido que quando um nobre – francês, inglês ou qualquer outro – exigia
o retorno de um filho, aos interesses de todos os envolvidos, o filho deveria ser
devolvido.
Logo, Tessa se encontrou fortemente escoltada pelos homens de seu pai –
que sabiam que ela desejava mais que tudo, escapar – e despediu-se daqueles que
a haviam criado tão gentilmente.
A realidade de seu destino a atingiu assim que ela estava prestes a embarcar
no navio que deveria levá-la através do canal com um perfeito estranho – seu
pai. Ela voltou-se, pronta para fugir, e encontrou-se enfrentando vários dos
homens armados de seu pai novamente, e ela soube que deveria embarcar
naquele navio por vontade própria – ou amarrada e carregada.
Apesar de ela odiar seu pai naquele momento, ela descobriu que Christian de
la Verre não era um homem cruel, mas um homem aos velhos moldes de
nobreza, que considerava a si mesmo privilegiado e superior por nascimento.
Ele era senhor de tudo que lhe pertencia – incluindo seus filhos. Ele tinha três
filhos para prover, e uma filha, Tessa. A atual esposa de seu pai, Jeanne Louise,
não era muitos anos mais velha do que Tessa e parecia desprezá-la, não
importando quantas vezes ela deu a Tessa seu sorriso forçado.
Tessa manteve-se longe de seu caminho.
Ela implorou ao seu pai que lhe permitisse voltar para a Inglaterra, mas os
eventos conspiraram para tornar aquilo impossível.
O Rei William III morreu; e a Princesa Anne tornou-se a Rainha Anne, e seu
gentil marido tornou-se Príncipe Regente. Em setembro de 1702 a Rainha Anne
começou a dar autorização para a pirataria.
Seu pai ficou indignado contra os ingleses. Não havia súplica para que ele
permitisse que Tessa retornasse ao lugar que ela considerava seu lar.
Após ela estar com ele por um ano, ele a convocou ao seu escritório, onde
ele estava sentado com diversas de suas cartas, e a informou de maneira fria e
distante de que lhe havia feito um arranjo de casamento muito vantajoso. Raoul
Flambert, intitulado, rico, um nobre com uma linhagem familiar impecável, e
um velho amigo dele e bem favorecido pelo rei, havia pedido sua mão. Seu pai,
agora, estava ansioso para que ela fosse entregue à porta dele antes do Natal,
para que então Raoul tivesse seu feriado enriquecido com o calor de um amor
recém-descoberto e a felicidade conjugal.
Por vários segundos Tessa permaneceu apenas encarando seu pai, incapaz de
falar. Então ela, é claro, falou muito rapidamente. Ela disse a ele que ela não
podia nem ao menos imaginar casar-se com Flambert, que ela considerava o
homem muito velho e repugnante, e que o interesse dele por jovens garotas era
completamente indecoroso. Dito aquilo, ela acbou por ofender completamente
a seu pai, que tinha quase a mesma idade de Flambert, e não considerava a si
mesmo velho. Qualquer chance que ela tinha de se ver livre da situação acabou
então naquele momento.
Mas a determinação dela em não casar com Flambert não acabou ali. Ela fez
um plano para escapar da mansão de seu pai e voltar para a Inglaterra, onde ela
ainda considerava seu lar, apenas para se encontrar sendo escoltada de volta
pelos criados de seu pai, dois camponeses gigantes que se desculparam
profusamente, contudo precisavam do trabalho que seu pai lhes dava, e,
portanto, deveriam obedecê-lo.
Ela foi absolutamente humilhada quando seu pai lhe disse que as crianças –
especialmente as filhas – deviam obedecer. E ele ordenou que ela fosse
amarrada a uma cadeira e ele mesmo lhe deu vinte acoites nas costas nuas. Ela o
odiou então, e se forçou a não chorar, não importando o quanto doesse.
Quando ele acabou, assegurou a seu pai que ela pensava que o que ele havia
feito a ela não chegaria aos pés da vida que ela teria com Flambert, e mais uma
vez, seu pai ficou profundamente ofendido. Por fim, sozinha em seu quarto, ela
chorou novamente. E então ela começou a rezar. — Não deixe isso acontecer,
por favor, Deus! Envie-me um milagre, eu Lhe imploro! Faça com que meu pai
enxergue a verdade sobre seu amigo!
Quanto mais Tessa argumentasse, mais seu pai insistia em que ela necessitava
casar-se, e casar com um homem forte como Raoul Flambert, um homem que
pudesse manter-se firme sobre uma noiva jovem. Tessa então assegurou ao seu
pai que ela seria miserável e infeliz e que Flambert não iria querer casar com ela.
Flambert, seu pai garantiu, havia sido avisado e não se importou. Ele estava
pronto para enfrentar o desafio que seria a tão jovem noiva. E que seria tanto
um protetor, quanto um professor e também um conselheiro. Não havia nada a
temer.
— Mas haverá um grande desafio a ser enfrentado, pai! — Tessa garantiu a
ele. — Pois eu não direi os votos de casamento.
— Infelizmente, minha querida, eu penso que quando chegar o momento,
certamente, você os dirá.
— Eu o humilharei com a minha birra, senhor, eu lhe juro isso!
— Então como seu guardião e desposado marido, Flambert providenciará
que você seja devidamente castigada. — Então seu pai bateu o punho no braço
de sua cadeira. — Os ingleses que fizeram isso com você! O dever de uma filha
é a obediência! Voce não é nada mais do que uma gata inglêsa selvagem, Tessa, e
eu ficarei agradavelmente satisfeito em visitá-la daqui a alguns poucos anos e
descobrir que você se tornou uma boa e quieta esposa para um tão bom nobre
como Flambert!
— O senhor me encontrará morta, como não! — Tessa gritou de volta. Sua
terceira e tão jovem esposa entrou então, e o pai de Tessa bateu o punho mais
uma vez em sua cadeira. — Madame! — Ele disse a sua esposa. — Não me
provenha mais filhas!
E com uma imprecação ele deixou a ambas. Mas pareceu que ele havia
entendido o quão determinada ela estava em não se casar com Flambert.
Quando o dia do embarque chegou, ela planejou cuidadosamente aparecer para
embarcar, e então escapar e fazer seu caminho de volta para a Inglaterra. O
sonho foi doce. Seu avô providenciaria tudo e não exigiria nada em retorno, e
ela o serviria e o amaria carinhosamente. Mas, mesmo que ela tivesse engolido
seu café da manhã, ela sentiu uma estranha letargia a acometendo, e antes que
sua cabeça caísse sobre a toalha branca da mesa do café, ela percebeu que o pai a
havia drogado. Sem despedidas regadas a lágrimas para sua única filha. A pegou,
a carregou a bordo do navio e cumpriu seu papel com ela.
Quando ela acordou, eles estavam em pleno alto-mar, e tristemente, ela
começou a rezar novamente. — Faça algo, por favor, querido Senhor! Pare isso,
apenas me providencie um pequeno milagre...

E ali estava ela, naquela miserável posição, a prisioneira de um dominador


pirata inglês, ameaçada tanto de um lado como de outro! O Red Fox estava
interessado em uma única coisa – ouro. E ela seria prontamente entregue a
Flambert. De fato, o miserável pensamento, seria o dever de ter que escrever sua
própria carta de resgate!
Ele estava louco. Certamente, ela não faria aquilo.
Ela mordeu o lábio subitamente, sentado-se. Ao menos, haveria um atraso.
Ela, certamente, não ajudaria aquele pirata inglês... E ela deveria começar a
planejar sua fuga. A porta, subitamente, foi aberta.
Ele havia voltado. Uma vez mais, ele estava ali, o Red Fox, o corsário inglês
dos mares! Uma silhueta que dominava a soleira da porta, ele permanecia em pé
agora com as mãos nos quadris, seus pés calçados em botas estavam afastados,
suas pernas rígidas e simétricas. Uma sobrancelha bem definida levantou-se num
arco enquanto a observava com um olhar gélido, um sorriso curvando seus
lábios sensuais.
— Bem, milady? — Ele perguntou, e a pergunta foi surpreendentemente
suave. — Já se decidiu a escrever para seu noivo?
Ela se pôs de pé, suas mãos sobre seus quadris, numa postura sólida e
determinada, a cabeça erguida, com sua garganta arqueada para trás. Seu olhar
queimando no dele.
— O inferno congelará, meu lorde, antes que eu faça qualquer coisa que você
ordene!
O sorriso dele se intensificou. Ele entrou no quarto, fechando a porta
silenciosamente atrás dele.
— O fogo do inferno não congelará, milady, ele começará a queimar aqui e
agora!
Ele deu um passo largo em direção a ela, e a coragem que ela tinha quase se
esvaiu. Então ele deu outro passo... E outro.
Capítulo 3
Doce Jesus, o que acontecia com aquela mulher? Não trazia ela nenhum
senso consigo? Ali estava ele, o infame Red Fox, causando terror em vários
robustos marinheiros espanhóis e franceses, e aquela pequena mulher espevitada
com sua cabeça cheia de cabelos dourados e seu olhar amplo com os alhos
azuis-celeste o estava desafiando com muita confiança.
Ele achou que fosse querer ferí-la. Ferí-la como aquele miserável do
Flambert havia feito com a doce e jovem Jane. Talvez não fosse próprio dele ser
tão cruel, ou talvez, agora que o momento havia chegado, ele tinha estado muito
assustado pela beleza jovem da noiva de Flambert. A partir do momento que ele
a viu pela primeira vez, a desafiante criatura em seu elegante linho e veludo
azuis, os cabelos dourados contra eles, seus olhos tempestuosos como o mar, ele
tinha estado em desvantagem. Mesmo quando ela tinha segurado a espada
contra ele, quando ele a tinha desarmado, ele estava em desvantagem. Ela não
era nada do que ele esperava.
De tal maneira, ela não o havia irritado ainda mais. Flambert não merecia
uma garota como ela. Não alguém tão bonita, nem alguém de tamanha coragem.
Ou alguém com uma força de vontade tão ousada ou feroz, tão corajosamente
determinada que ela não se dobraria ou se submeteria!
Então o quê? O que ele faria agora? Agora que ele estava andando em
direção a ela, a ameaça em seus olhos, se não em seu coração – e ainda assim,
todos os desejos e torturas do inferno pareciam despertar dentro dele? Ela
deveria provocar, se virar, implorar, suplicar, de alguma forma ela deveria
quebrar diante dele!
Mas ela não o fez. Ele se pôs em pé diante dela, e ela não se afastou. Aqueles
olhos, de um infinito azul da cor do mar, olhavam diretamente os dele com uma
raiva selvagem e fúria, as mãos finas e longas e de dedos delicados, permaneciam
firmemente em seus quadris. Ele tocou seu queixo, o levantando. E então, se
rendendo a tentação que jamais havia o tocado na alma, ele a beijou. Sem
crueldade, mordidas, não um beijo de pirata. Ele tocou os lábios dela com os
seus, fascinado, provando, testando, respirando sua doce fragrância, sentindo a
explosão de calor que parecia emanar dela, sentindo a insaciável sedução
advinda daquele simples toque...
Nessa altura, ela estava em seus braços. Ela enrijeceu, ainda que parecesse ser
apenas por alguns segundos, e em seguida ele sentiu a maciez dela, a inteira
pressão de seus seios, seu corpo sedoso, o sabor doce como o mel de sua boca.
Bem, eu tenho ameaçado violar e arruinar, ele pensou enquanto mergulhava sua língua
mais profundamente, e seus dedos se entrelaçavam nos cabelos dela, e o fogo se
construía em sua virilha. Ah, sim! Eu bem poderia ser o pirata que ela imagina, poderia
despí-la, tê-la aqui e agora, pois certamente eu sou mais forte, e o pirata, e em toda minha vida
nunca quis tanto uma mulher...
Um gemido escapou dos lábios dele, ressoando entre os lábios deles, e
subitamente ele descobriu que ainda estava segurando-a, com suas mãos agora
segurando os ombros dela enquanto a olhava dentro dos olhos, ainda mais
bonitos naquele momento, pois estavam com um toque de umidade, assim
como seus lábios ligeiramente inchados.
—Garota, você não tem nenhum juízo! —Ele quase rugiu para ela. Ele
apertou os dentes, e de repente a agarrou e a jogou sobre o beliche. Apontou o
dedo para ela. —Você aprenderá a me obedecer ou arcará com as
consequências!
Para assombro dele, subitamente ela estava de pé de novo, e o seguindo. Ela
andou até estar a menos de meio metro dele, os cabelos loiros caindo
eroticamente sobre suas costas. O encarou, e de repente, sem aviso algum, bateu
pesadamente com sua mão contra a face dele.
Aturdido, ele segurou os pulsos dela e a puxou para ele. — Nunca mais, ma
belle[6]! — Ele a advertiu suavemente. — Nunca, mas nunca mais!
— O que você fará? — O interrogou enfaticamente, e apesar da raiva que
sentia, ele sentiu algo torcer e lamentar dentro dele, pois apesar de suas palavras
e atitudes, ela estava prestes a chorar. — Me baterá, senhor? Me afogará? Me
jogará ao mar, talvez? Me dará de alimento aos tubarões?
— É mais certo que cause uma tremenda indigestão aos tubarões! — Ele
praguejou, empurrou-a a uma certa distância dele pelo pulso, então a soltou e
curvou-se profundamente mais uma vez. — Você juntará-se a nós no
alojamento dos oficiais para o jantar, milady? Ou você prefere que sua refeição
seja trazida até aqui?
— Eu não janto com piratas, — ela o informou gelidamente.
Ele sorriu novamente, certo de que acabaria com sua altivez antes de algum
desastre se abater sobre eles. —Excelente, milady, você não jantará com piratas!
Mas esta noite, ma belle amie[7], você dormirá com um!
Com aquelas palavras ele se voltou novamente, quase desesperado para
escapar dela.
No convés, os dedos dele apertavam fortemente a grade, ele olhava através
do mar para a luz vermelha do crepúsculo. Ele podia ver o Mademoiselle,
conduzido agora por seus homens, seguindo seu curso pelas ondas. O sol estava
descendo e a lua subindo. Havia ouvido de manhã que haveria um vendaval,
mas eles navegaram mesmo assim, e agora as ondas estavam altas e seguiam um
belo ritmo. A noite estava calma, o ar salgado era doce e a brisa estava fria.
Ele ainda sentia como se o fogo do inferno o assolasse. Nunca. Nunca em
toda sua vida ele quis tanto algo. Nunca havia tocado uma mulher e sentido
aquela agonia de desejo. Grunhiu alto para o vento. Atrás dele, Billy Bowe, um
pequeno e mirrado pedaço de homem, que ele havia contratado como criado
pessoal, clareou a garganta. —Capitão, o que agradará mais a lady? Devo eu
levar um bocado para ela na sua cabine?
O Red Fox – melhor conhecido como Steven Mallory para seus amigos
próximos – inclinou-se contra o parapeito, agora encarando Billy Bowe. O que o
homem poderia saber? Ainda assim, Billy parecia olhar para ele com um olhar
de pena, como se ele sentisse que algo estava errado, apesar de não saber o quê.
—Sim, dê-lhe um bocado de alguma coisa! —Steven murmurou com raiva,
sacudindo sua cabeça em frustração. Billy era um homem intuitivo, o havia
aconselhado sobre quais navios atacar e ele tinha a capacidade de saber o que
cada capitão espanhol ou francês transportava – ele tinha a habilidade de ler os
homens, e aquilo vinha servindo a Steven muito bem. A licença deles, é claro,
havia partido diretamente da Rainha Anne, e era verdade que eles poderiam ser
chamados de corsários, mas eles eram piratas, e pronto. Claramente eles só
atacavam navios de inimigos da Inglaterra, mas não havia diferença. Era uma
vida muito dura, e uma que Steven havia escolhido apenas por causa de Jane.
Somente porque algum dia proveria uma chance de ele ter sua vingança
contra Raoul Flambert.
Steven sempre havia amado o mar. A casa de sua família era próxima de
Bristol e seu pai era Lorde Malcolm Mallory, que havia servido um longo tempo
na marinha britânica. Primeiro, ele lutou contra os holandeses com Charles II,
conteve brevemente seu comando durante o breve reinado de James II, serviu a
William e Mary, e então somente a William, e retirou-se do mar apenas com a
morte de do rei William, quando concluiu que já havia sobrevivido a vários
monarcas e queria passar tempo com sua família. Claramente, nessa altura seus
filhos e filhas já estavam crescidos, mas sua esposa estava feliz em tê-lo em casa,
e Steven ainda ficava feliz em visitar a propriedade da família quando estava na
Inglaterra. Mas mesmo que ele estivesse determinado a nunca se alistar na
Marinha Real, Steven navegou toda sua vida.
Ele era fascinado pelos países e ilhas do Novo Mundo. Amava Nova Iorque,
a velha “Nova Amsterdam” que eles haviam tomado dos holandeses, e estava
apaixonado pelas onduladas colinas azuis e verdes da Colônia da Virgínia. As
Ilhas do Caribe eram lugares de calma beleza, com areia branca; um sol quente e
cintilante; graciosas palmeiras ondulantes; e plantas e flores exóticas. Ele mesmo
navegou para vários monarcas em aventuras como pirata; tornou-se rico com o
comércio, e quando a guerra estourou, ele havia escolhido a dedo uma tripulação
amigável, talentosa e leal. E ainda... teria batalhado contra qualquer navio
inimigo com todo seu poderio, mas ele não havia escolhido lutar pela causa da
rainha até que teve conhecimento do que houve com Jane.
Eles cresceram juntos perto de Bristol. Ela era sua prima em terceiro grau,
doce, e ainda assim com um alegre espírito por diversão e aventuras. Assim que
as hostilidades haviam surgido, ela estivera navegando com seu irmão mais
velho pelo Caribe, bem próxima a ilha de Dejere. Um navio francês atacou seu
navio mercante. O irmão de Jane foi assassinado na luta, e Jane foi levada para
Dejere.
Ele nunca soube exatamente o que aconteceu com ela na ilha; ela chorou
cada vez que ele tentou conversar com ela sobre o assunto. Mas ela foi vendida
de volta para o pai por Flambert após vários meses de duras negociações. Não
importaram as diversas vezes que a piedosa Rainha Anne tentou intervir, não
houve nada que ela pôde fazer para acelerar o processo. Jane permaneceu com o
Conde Raoul Flambert por meses antes que o rei francês finalmente exigisse que
ela fosse devolvida pelo resgate acordado. Steven esteve navegando pelo Rio
James e para a nova capital da Colônia da Virgínia, Williamsburg, a apenas
alguns dias depois que Jane havia retornado. O irmão dela tinha partido; ele era
tudo o que ela tinha. Ele estava pronto para levá-la de volta para sua família na
Inglaterra, mas Jane não voltaria. Era noiva de Sir Ralph Lawston, um brilhante
advogado em ascensão na política britânica, mas implorou para que Steven
levasse para ele uma carta dela rompendo o noivado. Ela jamais se casaria,
garantiu a Steven. Planejava permanecer na Virgínia e levar o cristianismo aos
indígenas do oeste da colônia.
Era uma causa nobre o suficiente, mas Steven temia não apenas pela vida
dela, mas por sua sanidade. Ralph a amava muito e ficaria de coração partido;
seus pais ficariam desolados.
Jane estava hospedada na mansão de um amigo em comum na Virgínia,
quando ele chegou após seu retorno. Ele caminhou por todo o comprimento da
sala de desenho enquanto procurava em vão as palavras certas para dizer a ela.
Jane, sempre uma lady, nunca diria que Flambert a havia estuprado; quando ele
sugeria algo do tipo, os lábios dela tremiam e ela exigia que ele não a fizesse falar
sobre aquilo. Frustrado, ele atravessou a sala como um leão furioso. — Eu o
matarei, lhe juro Jane, o matarei por isso. Você não deve jogar sua vida fora por
causa dele!
— Eu não posso casar, jamais me casarei.
— Todos os homens não são Flambert!
— Mas eu nunca irei – oh, Steven, você não sabe! — Ela sussurrou.
— Eu quero saber, quero ajudá-la.
— Então me deixe em paz.
— Eu casarei com você.
— Steven, não seja tolo, você não me ama.
— Eu sempre amei-a.
— Como um bom e querido amigo. Não, eu não me casarei com você, e não
voltarei para casa. Devo reconstruir minha alma novamente, Steven, por favor,
entenda! — Por fim, sem escolha, ele a deixou.
Três semanas depois, ela morreu de uma febre. Ele a levou de volta para casa
na Inglaterra num caixão, diante do qual ele sentava-se morosamente dia após
dia da longa viagem. Quando ele chegou à Inglaterra, havia aceitado uma
comissão como corsário da rainha na Guerra da Sucessão Espanhola. Em
meses, ele havia ganhado uma reputação como um dos mais perigosos piratas
do mar. Ficou conhecido entre seus inimigos pelo seu navio e pelo nome que os
espanhóis haviam lhe dado – Red Fox. Red por seu cabelo, Fox por sua
habilidade em alcançá-los de supetão e por esgueirar-se pelos bancos de neblina
sempre que parecia em desvantagem em número ou armas.
Ele já havia tomado um total de vinte e três navios espanhóis e quatorze
franceses. Mas ele nunca havia estado tão ansioso em tomar um navio, como
estava em tomar o Mademoiselle. Os rumores corriam pelas ilhas de que Raoul
Flambert, governador da colônia francesa, Ilha de Dejere, estava aguardando
uma noiva. Ela era uma jovem e inocente filha de um rico aristocrata francês,
muito bela – um presente de Natal que ele esperava ansiosamente de seu amigo,
o pai da garota. E ela deveria estar a bordo do Mademoiselle.
Steven não tinha dado a mínima se tinha havido um único pedaço de ouro
no navio. Ele morreria para tomá-lo – apenas para roubar a noiva de Flambert.
Bem, ele a tinha. E agora que ele a tinha…?
Ele percebeu que Billy Bowe permanecia diante dele, esperando. Steven
franziu a testa.
— Ela não deseja ter sua refeição no salão com os oficiais, Capitão? — Billy
disse.
— Ela não pensa em nenhum de nós como oficiais, Billy. Para ela somos
piratas, — ele disse irritado. — Além disso, ela provavelmente não fala inglês, e
ela deveria se sentir desconfortável lá.
— Talvez nós devêssemos ter trazido a criada dela para o navio, como
companheira, — Billy sugeriu.
— Talvez você deva lavar minha roupa! — Steven disse com uma careta, mas
Billy apenas tentou esconder um sorriso.
— O que será então, capitão? Levo-lhe uma refeição decente, ou pão e água?
Os olhos de Steven rolaram e sua feição escureceu, mas Billy fingiu não
perceber o mau temperamento de seu capitão. — Ela é algo, eh, aquela pequena
fada francesa! — Ele balançou a cabeça em admiração. Então cuspiu no convés.
— E ainda pensa! Você terá que lhe devolver para o bel prazer de Flambert!
Steven enrijeceu-se no convés. — O que você quer que eu faça com ela –
arremessá-la ao mar? — Ele hesitou por um momento e então sentiu um pouco
da tensão aliviar-se de seus músculos. — A garota não é culpada por nenhum
crime; Flambert é o monstro. Se ela está tão determinada em casar com ele, eu
providenciarei para que ela retorne para ele. Por um preço que o quebrará. Eu
juro isso, e somente depois que ele acreditar que ela sofreu tanto quanto ele fez
sofrer a outros.
— Então, ela sofrerá ou não sofrerá? — Billy perguntou, e os traços de um
sorriso permaneciam no canto de seus lábios.
— Você cumprirá com suas obrigações na galé[8], homem? — Steven
reclamou, irritado.
— Sim, Capitão, agora mesmo! — Billy concordou. Ele começou a sair e
então virou-se. — Senhor, devo preparar outras acomodações para você, desde
que a refém permanece nas suas?
— Sim – Steven começou dizendo, mas então ele parou, lembrando de sua
promessa à garota. Ela não comeria com piratas. Mas dormiria com um. Ele
pensou novamente em Jane... E deu um pouco de atenção para a agonia
remexendo dentro dele. — Não, Billy. Eu dormirei nos meus próprios
aposentos esta noite. Se nossa convidada se achar desconfortável... bem, é um
risco que se deve correr quando navega por essas águas! — Ele garantiu a Billy.
— Agora, saia do meu caminho, Sr. Bowe. Eu devo dar atenção ao nosso
percurso.
Ele passou por Billy, determinado a tirar a garota de sua mente. Steven já
havia decidido em qual ilha ele levaria o navio capturado – e a noiva de
Flambert. Era uma ilha muito pequena no Caribe, não muito longe da ilha do
próprio Flambert, Dejere, porém era desconhecida, e aqueles que a
encontravam, geralmente, eram destruídos pelos recifes circundantes, por
desconhecerem o canal profundo que dava pleno acesso à ilha – se pudessem
encontrá-la. As areias eram brilhantes e brancas, o mar possuía o mais
extraordinário tom de verde azulado. As falésias protegiam o porto, havia um
bom suprimento de água fresca, e eles acharam que o porto da ilha era protegido
o suficiente para ter deixado alguns dos confortos de casa. Steven e seus homens
construíram casas de madeira e palha lá e trouxeram utensílios de cozinha,
lençóis, cobertores, bacias, sal, rum, cerveja e até luxos como sabonetes
franceses roubados, perfumes e bons vinhos vintages.
De lá ele mandaria a Flambert as exigências para as negociações e começaria
o despojo do navio capturado para transformá-lo em uma embarcação de guerra
inglesa.
Ele andou em direção ao leme.

Billy Bowe assistiu seu capitão sair e suspirou. Steven Mallory era um bom
capitão com quem trabalhar – e apesar do desprezo francês e espanhol por tão
talentoso inimigo, ele era um homem extraordinário. Eles sempre dispensaram
importância a todas as vidas humanas quando lutaram – primeiramente vinham
as vidas dos próprios homens, e depois o Capitão Mallory era convicto em
ganhar o máximo possível ao custo do menor número de vidas inimigas. E eles
tinham conseguido isso. O companheiro que ficava de vigília tinha um olho de
falcão, e ele podia ver navios a longa distância, determinar seus nomes, e – de
acordo com os constantes rumores e fofocas que eles ouviam nos portos de
escala – calcular quão fortes eles eram e quanto conseguiriam saquear.
De fato, o capitão era um bom homem...
E também era um muito atormentado!
Ah, bem, agora o tempo tinha chegado. A vingança estava ao alcance de
Steven Mallory. O que resultaria disso tudo?
Billy Bowe começou a assoviar. Ele havia se apressado até a galé, e com a
ajuda do cozinheiro, preparou uma bandeja para a prisioneira que era muito
ilustre para o navio a bordo. Havia um Chablis[9] enchendo uma delicada taça de
prata, uma recém pescada garoupa[10] temperada com limão; pão escuro,
bananas conseguidas no último porto de escalada, e café com creme – Bessie, a
única vaca leiteira no porão, nunca falhava em prover leite para eles. Com essa
bandeja em suas mãos, Billy fez uma visita à adorável cativa francesa.
Ele bateu na porta da cabine do Capitão e não recebeu resposta alguma.
Bateu de novo e ouviu um levemente embaraçado “Entre!”. Ele abriu a porta
com a bandeja – havia até uma flor – em sua outra mão.
Ele encontrou Lady Tessa sentada à mesa do Capitão, seu diário de bordo
fechado em cima dela, uma pluma, tinta, e papéis de carta próximos, ainda
intocados. Ela estava lendo o diário, Billy pensou. Jovem senhorita esperta.
Traçando sua própria fuga.
Ele dirigiu-se até a mesa, pegando o diário. — Eu devo tirar isso de seu
caminho, senhorita, — ele disse a ela. Mesmo sendo um homem do mar sem
instrução, Billy aprendeu a falar fluentemente francês, espanhol, alemão, italiano
e português, assim como seu inglês com sotaque de Liverpool. — E voila[11]! —
Ele disse, tirando a cobertura do prato. Ela olhou da bandeja para ele, estudando
sua face enrugada, e então seu corpo fino e arqueado. Ele lhe deu um sorrisinho
e ela sorriu de volta, provavelmente surpreendendo a si mesma com isso.
— Merci, — ela disse a ele. — É amabilidade sua. Eu não estou com muita
fome, eu temo.
— Oh, mas você deveria estar! — Ele disse a ela solenemente. — Este é um
navio no mar, milady. Você precisa manter suas forças desde que não sabe –
pois nunca se sabe para onde o vento soprará, e quais oportunidades surgirão à
sua frente.
Ela havia começado a pegar a taça de vinho, mas o encarou novamente. Ele
nunca havia visto olhos assim, ele pensou. Eles eram estranhos. Mais bonitos do
que qualquer exótica água verde azulada do Caribe. E os cabelos dela, pareciam
ouro. Não havia nada pálido neles, que resplandeciam com a luz do sol.
— Oportunidades... — ela disse suavemente. Então ela alcançou as mãos
dele. — Você parece ser um homem gentil, — ela disse rapidamente. — Se você
puder me ajudar a escapar de qualquer maneira, o recompensarei ricamente, eu
lhe juro isso!
Billy puxou sua mão com desdém. — Senhorita, eu sinto muito! Eu não
posso lhe ajudar. Eu sirvo a um bom mestre.
— Um bom mestre! Um que rapta mulheres inocentes! — Ela o acusou.
—Milady, eu só posso lhe dizer novamente, eu sirvo a um bom mestre.
Tome cuidado com ele. Fale gentilmente, e ele providenciará para que seja
rapidamente devolvida ao seu noivo.
— De fato! — Ela lamentou alto, raivosa e perturbadamente. Ela pegou sua
taça de vinho e bebericou seu conteúdo, então sorveu um longo gole. Bebeu até
que a taça estivesse vazia, e então a pousou na bandeja novamente.
— Se houver qualquer coisa que eu possa lhe trazer, milady, será um grande
prazer para mim.
— Você me tirará daqui? — Ela perguntou gentilmente.
Ele balançou tristemente a cabeça.
— Então não há nada que você possa me fazer. — Ela disse a ele.
— Mesmo assim, eu deixarei a bandeja, — ele disse a ela, o diário de bordo
em sua mão. Ela o observou, meio sorrindo com os olhos no diário. Ela não
queria que ele o levasse.
Mallory o enforcaria se ele não o levasse.
Billy Bowe deixou a cativa, fechando a porta da cabine do capitão atrás dele.
Ele se apoiou na porta, segurando o diário de bordo em seu peito.
Ah, mas seria um interessante Natal aquele ano! Ele se afastou andando
suavemente, pensando consigo mesmo, não totalmente certo do porquê tinha
sentido que o mau humor do Capitão, em breve, desapereceria com o vento...

Steven sentou-se na cabeceira da mesa dos oficiais em balbúrdia, grande para


os padrões de uma embarcação. A cabine, do outro lado do navio, longe dos
aposentos privados do capitão na proa, foi cuidadosamente projetada com
painéis nas paredes belamente esculpidos, a mesa e cadeiras de um rico mogno,
a louça de porcelana chinesa e as taças de cristal italiano. Tomando vinho em
seu cálice, Steven concluiu que o negócio de pirataria tinha seus benefícios
especiais, pois havia muito pouco das pequenas extravagâncias que ele e seus
homens não pudessem aproveitar.
— Então nós iremos para a Ilha Hidden, — seu primeiro ajudante, Walt
Shelby, disse a ele, falando baixo, e mantendo as palavras, pelo momento,
somente entre eles.
— Sim, veremos se o Mademoiselle será despojado por lá, — Steven replicou,
falando suave e gentilmente. Ele encolheu os ombros. — Talvez nós possamos
colocar a própria tripulação para trabalhar e transformar o Mademoiselle num
barco inglês – agora, disso eu iria gostar! Mas quando estiver acabado, eu quero
que os tripulantes sejam soltos aos franceses – apenas a garota ficará para trás.
— E a criada da garota? — Walt perguntou a ele.
— Eu não pensei muito sobre a criada, — Steven lhe disse. — Talvez... bem,
eu perguntarei a Lady Tessa qual é a sua preferência.
— Claramente a garota irá querer sua criada! — Walt disse.
— Sim, com certeza. E depois, talvez, ela se torne um pouco mais agradável!
— Steven disse. — Veremos sobre a questão da criada, mas eu penso que a
garota será mais maleável sem ela.
— Ela ainda precisa escrever a carta sobre a sua situação para Flambert? —
Walt perguntou.
Steven serviu-se de mais vinho. — Não, — ele disse após um momento.
— Doce Jesus, lembre-a de que não poderá estar nos braços de seu amado
antes do Natal se ela não cooperar! — Will disse. Ele era um bom homem de
família também, um pai de meninas. Ele não estava contente em ter a cativa com
eles, contudo tinha ouvido o suficiente sobre Flambert para querer despojar o
homem de cada riqueza que possuía em Dejere.
Subitamente, ele apontou um dedo para Steven. — Você deve se tornar mais
ameaçador para ela!
— Mais ameaçador! —Steven protestou. — Os espanhóis tremem quando
ouvem que eu estou próximo deles; homens depõem suas armas quando eu
entro a bordo de seus navios. Eu a tenho ameaçado, garanto a você. Além do
mais, não importa. Eu continuarei exigindo que ela escreva, mas eu enviarei a
Flambert minhas exigências com uma mecha do cabelo dela. Com ou sem a
cooperação dela, eu providenciarei que nossas exigências sejam entregues.
Agora, se vocês me dão licença, cavalheiros...? — Ele levantou-se e olhou de
Walt a Ned, o contramestre, e para Thomas, o chefe de artilharia. — Boa noite,
meus amigos.
— Capitão, esta noite merece uma celebração! — Thomas, um belo jovem, o
informou com um amplo sorriso. — Você é o mais fino pirata inglês dos mares!
Em todo esse tempo, nós perdemos apenas dois homens, e exploramos um mar
de navios inimigos! Hoje nós derrotamos aquele miserável francês, Flambert!
Senhor, deveria ficar conosco um pouco e encher a barriga de um bom rum!
Steven parou, balançou sua cabeça com um meio sorriso e encarou Walt. —
Infelizmente, não essa noite, meus amigos.
— Por que você esta saindo? — Ned perguntou.
— Para ser um pirata mais feroz! — Steven disse e os deixou.
Steven andou até o convés, sentindo o vento contra suas bochechas por
vários minutos. Bem, o que era ele, um homem ou um rato? Com uma amarga
diversão, ele deixou o ar salino da noite do mar aberto e seguiu rumo a sua
cabine novamente com passadas longas e certeiras.
Billy, abençoado seja, tomou conta da cativa, trancando a porta. Quando ele
a deixou, estava muito irritado para tomar uma precaução como essa. Mesmo
assim, teria ela escapado? Homens perigosos espreitavam o convés, com certeza
ela deve ter pensado!
Ainda assim era irritantemente verdadeiro – ela não se amedrontava
facilmente.
Ele parou um momento diante da porta. Então, não dando a si mesmo
tempo para pensar, ele deslisou a trava, entrou na cabine e fechou a porta atrás
dele novamente.
Ela estava lá, ainda completamente vestida, seus chinelos de veludo azuis
ainda em seus pés, aparecendo por debaixo da barra de sua elegante saia. Ela
sentou na cadeira atrás de sua mesa, mas não estava escrevendo nenhum tipo de
carta. Ela estava usando a pluma e a tinta – mas apenas para fazer um esboço de
Billy Bowe, um muito bom. O rosto de Billy ocupava todo o esboço, as rugas
sulcadas por todos os anos exposto ao sol quente, seu sorriso de garoto. Mais.
Havia um olhar gentil em seus olhos. O esboço era muito bom, havia capturado
algo do espírito do homem.
Ela o encarou, sem dizer nada, enquanto ele entrava na cabine e se dirigia a
ela. Ele sentou nos pés da cama, alcançando o esboço. Ele o observou
novamente e então encontrou os olhos dela. — Isto é excelente, — ele disse a
ela.
Ela não respondeu. Ele estava muito certo de que ela não jantaria com um
pirata por escolha – e tampouco agradeceria a um. Steven olhou do desenho
para ela. — Eu imagino o que um esboço de mim pareceria, — ele disse para
ela.
— Um dragão, — ela disse sem rodeios.
— Um dragão?
— Um monstro, certamente.
Ele sorriu suavemente. — Ah, bem. Assim é a vida. Onde está minha carta
para seu querido noivo?
— Já lhe assegurei que não escreverei tal carta.
— Sempre há um amanhã.
— O que será diferente amanhã? — Ela exigiu gelidamente.
Ele sentiu seu sorriso aprofundar-se. Seja mais ameaçador! Walt havia lhe dito.
— Por que, milady, chegado o amanhã, você terá passado a primeira noite
nos braços de um pirata!
Ela o encarou novamente. Tão friamente, tão distante. Tão intocada por
qualquer ameaça...
E então ela disparou, levantou-se, bateu seus punhos contra o peito dele e
correu para a porta.
Mas ele estava lá diante dela. Segurando seus pulsos. Virando-a para ele.
E de fato...
Ela estava em seus braços.
Capítulo 4
As mãos dela pousavam no peito dele. A camisa branca dele estava aberta
pela metade, e ela podia sentir sua carne, quente como chumbo fundido,
vibrante, musculoso, coberto com cabelos encaracolados de um vermelho
escuro. Ele a segurava apertado, tão próxima a ele que ela pensou que
desmaiaria enquanto a respiração deixava seu corpo, e nenhum ar parecia
retornar. Aqueles olhos a encaravam diretamente no seus, verde-dourados, tão
masculinos, eles pareciam atravessá-la, a condenando.
— Deixe-me ir! — Ela exigiu, consternada pelas palavras não serem nada
além de um sussurro.
— Eu estou tentando deixá-la ir. Você não tem me ajudado muito com isso.
— Eu não posso lhe ajudar!
— Então, milady, você pagará o preço.
— Você é tudo aquilo que eles dizem que você é. Besta devastadora, escória,
monstro.
— Escreva a carta. Então a deixarei ir.
Os lábios dela estavam secos. A mais estranha espiral de calor a percorria,
atormentando-a. escreva a carta. Escape desse momento! Ela disse a si mesma.
Mas para os braços de Flambert…não!
Ela encontrou-se estudando o homem novamente. Ele era um bom capitão,
o pequeno anão que havia lhe trazido o jantar havia dito. Um bom homem.
Ele era um homem jovem. Cinco ou dez anos mais velho que ela, ela pensou.
Bonito, impressionante. Sentir sua pele quente sob seus dedos era incrivelmente
estimulante. As ondulações de seus músculos eram tanto assustadoras como
excitantes.
Ela estava perdendo seu juizo, ela disse a si mesma. Ela estava tão
desesperada para escapar de Flambert, que estava achando um pirata tentador.
Mas ele era tentador. Seus olhos eram atraentes; até o som de sua voz era
sedutor...
— Eu, eu não escreverei a carta, — ela disse a ele.
— Então você dormirá comigo, — ele disse prontamente.
Ela gritou quando ele a girou e começou a desabotoar os pequenos ganchos
e colchetes de seu vestido. Ela tentou girar para encará-lo, para o parar, mas as
mãos dele estavam firmes em seus ombros e um sussurro em sua orelha
prometia e ameaçava ao mesmo tempo. — Apenas o vestido e as cruéis anáguas;
elas podem perfurar sua pele, milady! No entanto, se você quer insistir em lutar
contra alguma ameaça maior, eu posso rasgar mais do que eu pretendia!
O coração dela bateu fortemente no peito. No momento, ela estava
paralisada. Um a um. Descendo por suas costas. Ela sentiu as pontas dos dedos
dele, e a cada carícia acidental, ela quase gritou. Acabado com a delicada tarefa
de desfazer os ganchos e colchetes, ele pegou seu vestido e o tirou por seus
ombros. Sua anágua e espartilho permaneceram sobre suas calçolas e camisa. Ela
afastou-se rapidamente dele, mas seus dedos tremiam tanto que ela não
conseguia desfazer o laço que prendia sua anágua na cintura. Encontrou-se
novamente encostada contra ele, agora muito consciente de cada pelo em seu
peito enquanto estes espetavam suas costas. Os dedos dele trabalharam no laço,
e ela afastou-se dele novamente e para fora das anáguas. Do outro lado do
quarto ela virou-se novamente, ombros e tórax meio descobertos. Ela ainda
tentou manter-se ereta para enfrentar o olhar dele com uma excitação nos
próprios olhos. —Suficiente? — Ela exigiu.
Os olhos dele moveram-se sobre ela vagarosamente e ele sorriu. Ela sentiu
como se uma febre a acometesse, corando sua pele de vermelho. — Nem
remotamente perto, mas por esta noite... — ele encolheu de ombros. — Não
serei perfurado acidentalmente por ossos.
— Se – ou talvez quando – eu o perfurar, senhor, não será por acidente! —
Ela assegurou a ele.
— Então eu tomarei o maior cuidado com você, milady! — Ele prometeu,
mas ela pensou que ele estava rindo, e se fosse, ele deveria estar rindo dos dois,
pois sua voz possuía um tom amargurado novamente. Ele sentou-se nos pés da
cama e tirou as botas, então puxou sua camisa branca sobre sua cabeça, os
músculos brilhando como ouro na luz da vela.
Abraçando a si mesma apertadamente, Tessa moveu-se para longe da cama
novamente. Ela pensou que ele estava prestes a tirar as calças, mas ela deu um
pequeno suspiro e ele voltou-se para olhá-la. Arqueou uma sobrancelha e a
lembrou suavemente, —Milady, esta é a sua escolha.
— Dificilmente, minha escolha.
— Você poderia escrever…
— Eu prefiro o lado direito do beliche! — Ela lhe disse altivamente, e
deitou-se, puxando as cobertas até seu queixo e quase caindo do espaço em que
permitiu-se deitar.
Um momento depois, ele apagou a vela e deitou-se ao lado dela. E ela gritou
suavemente de novo quando sentiu os dedos dele em sua barriga, puxando-a
para longe da beirada da cama. Ela estremeceu, ainda ficou surpresa pela
suavidade da voz que ouviu na escuridão. — Milady, eu estou apenas tentando
salvá-la de uma queda. Venha para o meio da cama.
— Eu…
— Você está a salvo, senhora, por esta noite.
Ela permaneceu paralisada. Sentiu que ele se ajeitava ao lado dela, com os
braços ainda ao seu redor. Ele não tinha dormido, mas não havia retirado o
braço. Ele disse que ela estaria segura naquela noite...
Ela suspirou, o ar escapando dela. Fechou os olhos, assombrada ao
descobrir-se exausta. E então se achou ponderando sobre o homem ao lado dela
novamente. Ele tinha um aroma agradável, masculino, puro, um toque de mar;
era bela e fortemente constituído, flexível, esguio, poderoso. Ela gostou dos
olhos dele, seu rico e vasto cabelo, de seu comprimento e do som de sua voz...
Ele era um pirata, pedindo um resgate por ela e ela estava deitada ao lado
dele, desejando...
Desejando que ela pudesse ficar com ele, ao invés de um homem como
Raoul Flambert.
— Descanse, milady, — ele disse muito suavemente, uma mão afastando
uma mecha de cabelo de sua face. Havia ternura naquele toque e sentiu um
estremecimento a percorrendo novamente, e ela soube que não era por medo.
Aquilo tinha vindo de uma súbita saudade...
— Verdadeiramente, eu não tenho nenhum desejo de machucá-la, milady.
Pense nisso. Se você cooperar estará com seu voivo, uma doce noiva no Natal.
Sonhe com o que pedirá ao seu nobre rico como presente!
Ela mexeu-se inquietamente na cama. — Há apenas uma coisa que eu desejo
para o Natal! — Ela murmurou.
Estava escuro, muito escuro e não podia ver o rosto dele, mas ela sentiu que
ele se levantou num cotovelo para poder olhar para ela. Provavelmente, ele não
podia ver na escuridão. — O que seria isso? — Ele perguntou a ela, seu tom
muito sério.
Ela umedeceu seus lábios. — Minha liberdade. — Ela disse a ele.
— Sua liberdade? De mim? Mas eu ja lhe disse – você pode conseguir isso
facilmente –
— Apenas liberdade!
— Ah, de todos os homens, — ele disse, e então havia diversão e escárnio
em sua voz. — Mas, milady. Eu raramente poderei pedir um resgate para seu
noivo se eu não planejar devolvê-la para ele.
— Você me deixará em paz? — Ela exigiu com raiva.
Mas ele estava em silêncio novamente. Ela sabia que ele ainda a observava.
Após um momento ele disse, — Raoul Flambert me cortará e me derrubará por
essa indignidade, ma belle, lembra-se?
— De fato! Agora, se você pretende me enviar ao suplício ou – ou – —
Violá-la?
— Sim, se você pretende fazê-lo, por favor, prossiga logo com isso! Se você
não tem nada mais com o que me atormentar esta noite, eu lhe imploro, me
deixe em paz.
— Ah, mas eu estou deitado aqui em tal tormento! — Ele murmurou, e havia
um rico, trêmulo som em sua voz, sem provocação, sem amargura.
Uma simples verdade, ela pensou. E rezou para conseguir dormir.
Eventualmente, ela conseguiu. E sonhou. Doces sonhos nos quais o mundo
era diferente, muito diferente! Era um mundo em que seu pai não havia
invadido e nem se imposto. Um em que ela não estava cruzando o mar para
encarar um homem como Raoul Flambert, ou era uma prisioneira de qualquer
pirata. Ela era simplesmente amada, fortes braços a seguravam, estava deitada
aquecida, confortável e segura contra todos os males. Uma gentil neblina estava
em torno dela e de seu amado, e estava livre para aquecer-se em sua excelente
masculinidade, sua força, o rosto contra seu peito bronzeado, o nariz irritado
com os pelos escuros dele...
Ela acordou, e por um momento não soube onde estava. Seu nariz estava
irritado pelos pelos de um muito masculino, musculoso peito. Sua mão pousava
em cima dele também. Ela estava esticada ao lado dele – não, metade dela estava
em cima dele! – e todo o calor era muito real, parecendo muito estranho agora
que ela tomou ciência de sua posição. Ela olhou acima para ele e descobriu que
ele estava acordado há algum tempo, que ele sabia que ela havia dormido
daquele jeito, que ele havia permitido isso, seus dedos moviam-se gentilmente
por seu cabelo durante o tempo todo.
Ela se afastou dele, consternada. O bastardo era um pirata, apenas
interessado em vendê-la de volta a Raoul, e manteve suas mãos longe dela
porque imaculada, ela valeria mais!
Aqueles olhos de avelã de um verde dourado e brilhantes a observavam
agora com um surpreendente calor, mas estreitaram-se rapidamente. — Tendo
segundos pensamentos sobre a carta, ma belle? — Ele exigiu.
— Não! — Ela lhe disse cortantemente, e levantou-se da cama, rapidamente
procurando por suas roupas. Ela se posicionou dentro da pilha de suas anáguas,
puxando-as rapidamente. Ele a assistia silenciosamente enquanto ela se vestia, e
ela se encontrou mais alerta, mais amedrontada por ele do que estivera até então.
Oh, que idiota! Ela estava começando a se importer com ele, fazendo
comparações entre ele e os braços que a aguardavam em Dejere.
Um corcunda de dois pés teria sido preferível a Raoul! Ela pensou consigo
mesma, então pensar que aquele pirata era mais tentador não era realmente um
elogio. Ainda assim ela estava pensando aquilo. Mesmo que ela fosse forçada a
viver toda sua vida com Raoul, ela teria dado quase tudo para saber como teria
sido se...
Fosse amada. Não, não amor; por certo que era apenas uma ilusão tola.
Talvez então, a ilusão fosse o que ela desejava, apenas uma vez talvez, apenas
por uma noite...
Ela estava se esforçando em fechar os fechos quando sentiu que ele estava
atrás dela, habilmente prendendo o que ele havia desfeito na noite anterior. —
Nós iremos pegar suas coisas do outro navio hoje. — Ele lhe disse. — Nós
temos uma banheira a bordo se você quiser se banhar. Qualquer coisa que
precise, nós podemos providenciar para você.
Ela virou-se para ele, não importando que todos os fechos ainda não
estivessem presos ainda. — Ar! — Ela lhe disse. — Eu, eu quero tomar um
pouco de ar. Por favor, eu apenas preciso de ar! Com isso, ela virou-se
novamente e dirigiu-se para a porta da cabine. Estava destrancada. Ela a abriu e
saiu por ela, apressando-se para a balaustrada de madeira no convés do navio.
À distância, havia uma ilha. Uma bela ilha. Cheia de falésias, ricas vegetações
verdes cresciam por lá. Doce Jesus, mas seria um lugar perigoso, ela pensou.
Cercado por afloramentos de pedras…

Na cabine, Steven estremeceu quando ela saiu de sua presença. Bem, o que,
em nome de Deus, a mulher queria? Ele havia permitido que ela dormisse em
paz na noite anterior.
Ele havia permanecido acordado até o amanhecer, lutando contra o calor e a
agonia que havia o queimado por todas aquelas horríveis horas. Ela esteve tão
determinada em manter-se distante dele – ele deveria ter deixado. E daí se ela
tivesse caído no chão! Ela não teria sofrido metade da agonia que aquela noite
tinha causado a ele.
Ele falou a língua dela; tentou ser polido. Mas quando ela tinha acordado, ela
não queria nada mais do que não estar perto dele!
Mesmo que ele tenha se apressado em vestir sua camisa e botas, ele ficou
surpreso ao ouvir gritos assustados vindos do convés – e o som de uma pancada
na água. Ele saiu disparado da cabine, apenas para encontrar toda sua tripulação
o encarando como se houvessem crescido chifres e cascos fendidos nele durante
a noite.
— Ela pulou! — Thomas gritou em desalento.
— O que, em nome de Deus, você fez a ela? — Walt exigiu.
— Nada! Nenhuma maldita coisa! — Steven replicou rapidamente, pulando
em seus pés enquanto tirava as botas que havia acabado de calçar, lançando-se
para o topo da grade, e mergulhando diretamente na água.
Ele mergulhou facilmente no mar caribenho, sendo lançado para baixo até
que seus pés cessassem o ímpeto de sua movimentação. Ele submergiu, jogando
seus cabelos para trás, olhando e observando o horizonte. Lá! Ela estava à frente
dele, nadando bravamente em direção à ilha. Ela deveria imaginar que poderia
ser um refúgio; talvez ela não tenha percebido que havia um canal e que seus
navios estavam abordando a ilha como refúgio.
Ela simplesmente quis libertar-se, quis fugir... E novamente, talvez ela não
tenha percebido quão distante estava da ilha, pois ao passo que nadava
rapidamente, se aproximando dela, ele podia ouvir o quanto estava ofegante. Ela
era uma nadadora surpreendentemente boa, mas tinha se arremessado da proa
toda vestida, e suas saias e anáguas estavam afundando-a pesadamente.
Enquanto ele nadava determinado e estava quase a alcançá-la, ela começou a
afundar, um pequeno grito escapando dela.
Ele a alcançou, puxando-a para a superfície. Ela tossiu e cuspiu – e voltou
com todas as suas forças a lutar contra ele. — Deixe-me ir, seu patife!
— Você está se afogando, sua tolinha! — Ele a acusou.
— Eu não estou me afogando, eu nado muito bem, eu apenas – ela parou
com um grito assustado enquanto via-o tirar uma faca de sua panturrilha e
direcionar para ela.
— Fique quieta! — Ele ordenou ferozmente, cortando a saia pesada que
estava prestes a causar-lhes uma morte nas águas.
— Posso fazer isso eu mesma. — Ela arfou, completamente ciente de que
suas roupas estiveram prestes a matar os dois.
— Então você não estava tentando se matar!
— Matar-me? — Ela reclamou. — Por sua causa? Eu posso nadar
excepcionalmente bem, quero que saiba — ela começou a dizer, mas a cabeça
dele, subitamente, estava sob a água enquanto puxava as saias, afastando todo o
peso para longe dela, e as deixando cair no fundo do mar. Ela lutou novamente.
— Como eu estava dizendo, eu nado excepcionalmente bem – a não ser que
alguém esteja tentando me afogar!
— É uma longa distância até a ilha, milady. — Ele lhe disse.
Tessa pôs o pé na água enquanto observava, então olhou de volta para ele. A
saia dela tinha-se ido agora. Talvez ela estivesse pensando, imaginando se era
possível ela nadar para longe dele, direto para sua liberdade, mais uma vez.
— Você pode conseguir chegar à ilha. E se o fizer, logo eu e meus homens a
alcançaremos.
— O quê?
— É minha ilha. Bem, está certo, não é minha, mas eu considero como se
fosse. Está em poucos mapas, e para a maioria dos homens, é inacessível.
— Mas não para um pirata experiente! — Ela o acusou.
— É muito confortável, — ele assegurou a ela, ainda pisando a água
enquanto sua tripulação os observava, imaginando o que estaria acontecendo
entre eles. — Nós cnstruimos casas, nós...
— Você não pode ter feito isso! — Ela lamentou desconsolada.
— Mas nós construímos, — ele lhe disse gentilmente. — Devemos navegar
até lá? —Ele perguntou suavemente. — É muito longe para nadarmos até lá!
A derrota tocou seus olhos brevemente, então os fechou e os abriu
novamente, e ela começou a nadar determinadamente por ele. Em segundos ela
estava novamente no navio. Billy Bowe estava lá, pronto para jogar-lhes a escada
de corda para ambos subirem a bordo, também pronto para recebê-la com um
cobertor. A água do mar estava quente o suficiente, mas a brisa da manhã estava
fria.
Steven sentiu frio enquanto rastejava acima pela escada até o convés. Ela
permanecia em pé lá, envolta pelo cobertor, o encarando. Então voltou-se, seus
cabelos molhados jogando um jato d’água, e marchou de volta para sua cabine.
Ela bateu a porta com força. Ele a seguiu, mas então parou e sorriu. Bruxa.
Ele a seguiu, mas não entrou na cabine; deslizou o ferrolho da porta, fazendo
barulho e com segurança.
Capítulo 5
Steven fez um ponto ao não retornar para sua cabine. Quando eles estavam
seguros no porto e ancorados, ele enviou o primeiro bote para a ilha, ainda
encolerizado pelo último encontro com sua refém. Sua tripulação continuou a
lhe dar olhares horríveis, e até o último homem, estavam imaginando o que ele
havia feito à garota para que ela se jogasse ao mar. Era muito difícil explicar-lhes
que ela, provavelmente, nadasse muito melhor que a maioria deles,
especialmente desde que a metade deles, por mais estranho que fosse, tinha
medo da água, ponto final. Então ele decidiu que não daria explicação a nenhum
deles; eles poderiam pensar o que bem quisessem.
Dirigindo-se para sua própria casa na ilha, ele descobriu que havia sido
mantida limpa em sua ausência e pronta para seu retorno por Judith, a viúva e
mais velha matrona que havia viajado com ele há muito tempo da Inglaterra para
a Colônia da Virgínia, apenas para descobrir que tinha amado a ilha quando
passaram por ela; ela amou o sol, o mar, a brisa leve e fácil, o sentimento de
ociosidade de tudo aquilo. Alta e magra, com cabelos grisalhos e ainda com uma
bela face, perpetuamente vestida de negro, Judith estava contente em auxiliá-lo
enquanto ele estava lá, e cuidava de sua casa em sua ausência. Ela tinha sua
própria casinha na ilha e gostava de viver nela sozinha. Quando ele chegou na
praia, ele olhou ao alto no penhasco e sua própria casa e ficou contente por ter
deixado sua cativa no navio.
Maldita seja. Ele escreveria a própria carta para o Senhor Conde Raoul
Flambert e ele faria aquilo antes que a gata selvagem fosse trazida até ele. Ela
era, totalmente, uma distração.
Caminhando da praia até sua casa, ele acenou para mais alguns daqueles que
chamavam a Ilha Hidden de lar; Miles e Jake, pescadores que pirateavam com
ele ocasionalmente; John Hill, o irritável e pequeno irlandês que governava a
pequena comunidade na ausência de Steven e providenciava as idas e vindas dos
navios capturados por Steven; Bill Whaley, que mantinha a taberna local suprida;
e Rachel e Louise, as jovens filhas de John Hill, que estavam surfando,
esperneando no mar e na areia.
Ele irrompeu em sua própria pequena casa que era simplesmente composta
de dois cômodos separados por um corredor central, o quarto ficava à direita e a
sala principal onde ele tinha entrado. A sala principal era bem grande, com uma
enorme lareira e outra lareira para cozinhar ao longo da parede com uma mesa
grande de jantar de frente para ela, pesada, esculpida em carvalho, e do outro
lado da sala, um belo conjunto de cadeiras e poltronas, todas dispostas
confortavelmente em volta da sala com uma pequena mesa de cerejeira no
centro.
A atenção de Steven foi diretamente direcionada para a mesa, pois parecia
que Judith estivera bem ocupada em sua ausência, preparando a casa para o
Natal. Embora não tivessem folhas de azevinho para decorar a casa na ilha,
Judith tinha montado um presépio no meio das folhas selvagens e flores
perfumadas da ilha, todos dispostos no centro da mesa de cerejeira.
Steven parou para pegar uma das belas figuras construídas. O presépio era
espanhol; ele se lembrava do navio no qual tinham o conseguido. Segurando a
pequena figura de Cristo que ele havia pegado de seu berço de feno, Steven se
surpreendeu com a beleza incomum de uma peça que alguém tinha esculpido
com tanta paciência. Alguém tinha criado um angelical infante Jesus com um
rosto tranquilo. Ele esperava que a pessoa que tinha trabalhado no presépio
tenha sido bem recompensada por seu esforço, e que ele tenha sido perdoado
por ter roubado tal conjunto, mas também poderia ter sido feito para ser
vendido em algum porto espanhol, e ele estava certo de que ele daria ao belo
presépio um lar tão bom quanto qualquer outro. Ele o achou extraordinário, e
mesmo quando o segurava, sentiu uma onda de culpa o acometendo.
A garota tinha sido um presente de Natal para Flambert. Não que ele
pudesse sentir qualquer culpa ao que concernia a Flambert, mas... Ela seria livre
em breve e a tempo, com ou sem a participação dela.
Ele devolveu firmemente a pequena peça e voltou suas costas para ela e
sentiu como se os olhos da figura o estivessem seguindo. Maria provavelmente
estaria lhe dando um olhar dos mais condenadores, e até mesmo José deveria ter
seus olhos aborrecidos voltados para suas costas!
— Nenhum dano será causado a ela! — Murmurou alto. — Eu tentarei
mandá-la para longe dessa ilha o mais rápido que eu puder!
Ele andou a passos largos até seu quarto e foi até a grande mesa de capitão
perto da janela, sentando-se na cadeira giratória. Pegou um papel de carta, sua
pena e tinta da mesa e com uma determinação audaz começou a escrever a carta
com o pedido de resgate para Flambert:
Senhor Conde Flambert, se os rumores já o alcançaram, já deve estar ciente
de que o Red Fox capturou seu presente de Natal, sua noiva. Devo lhe
cumprimentar, senhor, pela rara beleza de sua noiva.

Parou de escrever por um momento, então lhe pareceu que a pena começou
a voar pela página.
A lady tem a mais macia pele, perfeita em seu tom de alabastro, sedosa para
tocar. Seus cabelos são como uma cascata radiante de luz do sol, seus olhos
competem com a cor azul esverdeada do mar à minha volta. Ela é puro fogo e
espirituosa também, e eu deveria estar relutante em devolvê-la a você por
qualquer preço, mas então, Senhor Conde, eu esperarei ansiosamente uma
palavra sua sobre o quanto pagará por ela. Sugiro-lhe urgência. Minha fascinação
pela senhorita cresce a cada hora.

Ele parou de escrever novamente.


Santo Deus, mas escrever a carta aconteceu rapidamente. Descrever sua
refém tinha sido uma tarefa fácil. Ele encarou as palavras que tinha escrito,
sentindo uma crescente irritação para consigo mesmo. Bem, estava feita e
deveria ser enviada. A garota estava tão determinada em ser livre de Steven,
deixe-a ter Flambert. Ela descobriria por si mesma como Flambert era.
Ah, e então havia a ironia! Como poderia Steven, sendo o pirata que tinha
tomado o navio dela, a raptado – e mesmo assim ser aquele que lhe diria que
Flambert era um rato miserável?
Impacientemente, ele dobrou a carta, passou cera quente para selá-la e
estampá-la com a insígnia do anel em seu dedo mindinho, uma raposa uivando.
Foi só então que ele sentiu algo atrás dele. Ele girou a cadeira.
Ela estava lá. Parada em pé perto dos pés da cama, seus cabelos caindo em
cascata nas suas costas em ondas infinitas cor de sol, e estava vestida agora em
um elegante vestido verde esmeralda com longas luvas e uma saia debaixo de
um bege claro. Ela estava de tirar o fôlego. Tanto que ele sentiu um aperto
instantâneo em sua virilha e um repentino e irracional aumento em seu
temperamento para acompanhar.
Ele estava especialmente irritado por não a ter ouvido entrar. Era capaz de
ouvir o cair das penas de um pardal! Mas então, esteve profundamente
concentrado descrevendo-a para Flambert, tentando fazer com que o Conde
percebesse justamente o que ele tinha em mãos.
— O que você está fazendo aí? — Ele a repreendeu.
— Eu fui entregue aqui, — ela disse gelidamente.
— Entregue – para ficar atrás de mim? — Exigiu-lhe.
— Entregue à sua porta, obrigada a entrar em sua casa. E eu apenas cheguei
aqui e – e vi que estava escrevendo.
Esteve ela lendo sobre seus ombros? Mas ele havia escrito a Flambert em
inglês. Ela não poderia saber o que ele havia dito em sua demanda provocadora.
— Então? — Ele inquiriu.
Ela girou em seus saltos e saiu do quarto. Steven a ouviu andando pelo
corredor e dirigir-se para a porta, então ele levantou-se e a seguiu rapidamente.
— Para onde você está indo? — Exigiu.
Seus cílios baixaram sobre seus olhos por um momento. — Eu pensei que eu
ficaria aqui. Se não irei, devo procurar um lugar.
— Volte aqui, milady. Você vai ficar aqui. É uma refém de um pirata,
lembra-se? Você cuidará das minhas coisas, cozinhará e limpará para mim.
Ela arqueou uma sobrancelha elegante. — Oh, eu acho que não! —
Garantiu-lhe.
Não tinha sido o que ele pretendeu dizer, mas a sua fria recusa irritou seu
temperamento.
— Eu gosto do meu café forte, quente e puro, milady. E eu gosto dele assim
que eu acordo.
Ela arqueou uma sobrancelha em resposta.
Houve uma batida na porta. Sem esperar por resposta, Billy Bowe a abriu, e
Steven rapidamente viu o porquê. O pobre Billy estava palpitante debaixo do
peso de um baú, e passou com tudo pela entrada, soltou o baú no chão e
suspirou. — Capitão, peço-lhe perdão, mas...
— Deixe aí, Billy, deixe aí! — Ele disse em inglês.
Billy assentiu. — Bem, se eu estiver livre, capitão, estou indo para a taverna,
posso?
Steven começou a assentir, então parou. — Um momento, Billy, — ele disse,
ainda falando em inglês. — Eu escrevi a nota de resgate da garota, o homem
francês precisa saber que nós a temos, e desde que ela mesma não tocará na
pena, eu estou lhe mandando uma mensagem o alertando de que sua noiva é um
bocado entadora. De fato, entregue a carta ao Patrick, e lhe peça que a envie
através de um navio neutro a Flambert o mais rápido possível. Eu juro que se
não tiver noticias dele em vinte e quatro horas, é possível que torcerei o pescoço
dela!
Billy arqueou uma sobrancelha. — Capitão, eu...
— Está certo, Billy, talvez eu não lhe torça o pescoço, mas por Deus,
Flambert não a terá de volta do mesmo jeito que ela era quando abordou meu
navio, lhe juro isso! —Ele encarou sua cativa hostil e deixou a ambos por um
instante, enquanto buscava a carta, e então a entregou nas mãos de Billy.
Billy olhou para a garota infeliz. — Capitão, eu...
— O quê?
Billy suspirou. — Eu verei se conseguimos achar um navio neutro, — Billy
disse e saiu, então Steven encontrou-se sozinho de novo com sua bela refém.
Ele se curvou profundamente, zombando. — Sinta-se em casa, milady.
Ela elevou seu queixo e apontou para a porta entre os cômodos da casa. —
Aquela será minha prisão? — Ela perguntou.
— Você não está numa prisão.
— O quarto será. Você não ficará, é claro, no quarto agora?
Ele cruzou os braços sobre seu peito. — Sim, eu ficarei. E você não está em
uma prisão nesta casa.
— Apenas nesta ilha.
Ele apertou seus dentes com impaciência. — Sim, então você é uma
prisioneira nesta ilha! E se essa for a maneira que você escolher, então será uma
prisioneira nesta casa! Você tentará fugir nadando, eu imagino, se eu a deixar
percorrer o lugar?
— De fato, eu farei qualquer coisa para escapar de você! — Ela sibilou.
Furioso com ela, ele saiu a passadas largas da casa, batendo a porta. Fora da
casa, vários membros de sua tripulação estavam o esperando e ele gritou uma
ordem direta para todos. — Cuidem para que ela não saia! Dois homens de
plantão; alternem-se, duas horas de vigília, duas de descanço, até eu voltar.
Furioso e carrancudo, ele dirigiu-se para a taverna. Ele estava pronto para
uma boa rodada de rum de pirata!
*

Ele passou a tarde bebendo com sua tripulação, pronto a se arriscar um


pouco, desde que John Hill manteria um olhar sano e sóbrio sobre a ilha. Walt
estava ali, bebendo na taverna também, ainda que Steven estivesse muito certo
de que todos eles ficariam instantaneamente sóbrios caso surgisse a necessidade.
Havia pouco perigo ali. Mesmo se um navio inimigo chegasse à ilha, havia
canhões posicionados desde o alto dos penhascos até o porto, e quase nenhum
navio conseguiria atravessar o coral o suficiente para oferecer algum real perigo.
Rose e Sarah, duas garotas de taverna de espírito livre, mantiveram o rum
rodando, a comida sendo servida, e um alto nível de distração acontecendo;
cantando, dançando, e continuando por todo o tempo em volta deles. Steven
tentou entrar no clima festivo de chegar ao porto após uma bem-sucedida
captura, mas parecia que ele sorria muito, gargalhava facilmente.
Falsamente.
Ele não queria nada além de voltar para sua casa.
Por quê? Ele zombou de si mesmo. Para torturar-se ao querer o presente de
Natal de outro homem? Ah, não era aquilo. Ele não se importava em nada por
Flambert, era só que...
Doce Jesus, se ele pudesse ser o patife que ela pensava que ele era apenas por
uma noite!
Finalmente ele cansou de tentar rir e brincar com seus companheiros.
Deixou a taverna e fez seu caminho para sua própria casa, não tão bêbado
quanto desejara estar, ainda mais aborrecido pela dor de cabeça.
Ele passou por um de seus homens dormitando no alpendre, acenou, e
entrou em casa para ouvir sons de água chapinhando. Intrigado, ele atravessou o
corredor até a porta do quarto e parou lá.
Ela estava se banhando. Alguém tinha providenciado para que a imensa
banheira de madeira fosse trazida para ela. Eles tinham conseguido a banheira
de um navio francês há cerca de seis meses e era uma peça elegante de
extravagância, com uma malha de leões entrelaçados com uma guarnição de
bronze. A banheira era projetada quase como uma espreguiçadeira feminina,
com um acento alto e suficientemente longa na frente para se esticar
completamente as pernas.
As pernas dela não estavam esticadas. Estavam encolhidas em seu peito
enquanto ela se inclinava para trás, com seus olhos fechados. A água ainda
vaporosa e cheirando sutil e docemente a algum óleo de banho. Os olhos dela
não se abriram enquanto ele permaneceu parado em pé na porta. Seu cabelo
estava alto, enrolado e preso no topo de sua cabeça. Seu pescoço parecia
incrivelmente longo. Parado ali, olhando-a, lhe doeu, como se não pudesse se
lembrar de ter sentido tanta dor alguma vez em sua vida.
Os olhos dela abriram-se subitamente, brilhante azul esverdeado, brilhante
como a luz do fogo.
—Como se atreve! —Ela murmurou furiosamente. —Você não podia bater?
Você não tem o direito de simplesmente ficar parado aí!
—Piratas não batem, —disse a ela.
—Fora! — Ela exigiu.
Ele não saiu. Ele andou até a banheira e ajoelhou-se ao lado, colocou os
dedos na água quente, sentindo como se o vapor o infundisse.
—Saia de perto de mim! —Ela exigiu de novo, mas as palavras dela saíram
trêmulas e quando ele encontrou os olhos dela novamente, ela percebeu que os
olhos dele estavam atormentados por uma infelicidade que partia o coração dele.
—Você cheira mal como uma taverna! —Ela lhe disse e adicionou suavemente,
—e como cada rameira dentro dela!
—Piratas não batem para entrar, —disse a ela, —nem dão explicações,
milady.
Com uma súbita raiva, ela bateu a mão na água molhando a cabeça e a camisa
dele. Surpreso e furioso ele levantou-se sacudindo a água e alcançando sua cativa
na banheira. Antes que ele soubesse o que estava fazendo, ele a tinha tirado nua
e molhada da banheira e a carregava pelo quarto.
—Você não…
—Milady, você parece não entender a situação aqui! —Ele disse com raiva e
a voz trêmula. O que no inferno ele estava fazendo? Ele agora a tinha em seus
braços, toda ela, e toda a sua perfeita nudez. Magra, ela não pesava mais que
uma pena. Ainda assim, cada polegada daquela magreza tinha sido moldada em
curvas e em algo incrivelmente belo, exótico e sensual, os seios eram fartos e
tinham cumes carmesim, os picos tão firmes quanto os seixos, tentando seu
toque, seus lábios, suas carícias. Quadris que se alargavam provocativamente,
pernas que eram primorosamente longas e torneadas, cintura fina, pele sedosa, o
cheiro dela enviava uma tortura direta para sua mente e coração.
Antes que ele soubesse, estava deitado com ela na cama saboreando aquela
pele, as palmas da mão explorando a selvagem beleza daquele corpo e curvas.
—Não se atreva! Saia de cima de mim, me deixe em paz!
Ela bateu contra ele com raiva, mas alguma coisa nele pareceu explodir com
o desejo que ela lhe provocava. —Piratas não pedem permissão, minha senhora!
—Ele lhe garantiu. —E você foi devidamente alertada... —Sussurrou a ela, seus
lábios tocando sua garganta.
Ela sussurrou-lhe suavemente então. —Por favor, não assim, não quando
você esteve bebendo tanto, por favor...
Oh, ela era boa!
Um gemido áspero cortou através dele, ele não soube se o gemido saiu como
um grito em voz alta ou se silenciosamente o cortou em pedaços. Ele deve ter
ficado parado lá por infinitos minutos, e então ele caiu de lado. Após um
momento, ele tocou as bochechas dela. A umidade que havia lá não era pelo
vapor de seu banho, mas pelas lágrimas. Novamente ele lamentou, e lutando
contra a agonia em sua virilha, ele virou-se e passou seu braço em volta dela e a
trouxe para perto dele. —Está tudo bem, não irei feri-la, —ele disse
suavemente.
Ela não lutou contra ele, não se moveu, não murmurou uma única palavra.
Graças a Deus que o rum estava ofuscando seus sentidos, ofuscando a dor.
Após um tempo, até o fez adormecer.
*

Quando ele acordou, entrou em pânico ao descobrir que sua cativa se tinha
ido.
Ele levantou-se rapidamente da cama e correu para o corredor. Billy Bowe
estava sentado à mesa de jantar, sorvendo um café.
—Onde ela está? —Ele perguntou acaloradamente.
—Na cachoeira. —Billy disse.
—Na cachoeira? —Steven bramiu. —Sozinha?
—Agora, honestamente Capitão, como a garota escapará da ilha? Ela
acordou e pediu para apenas sentir a brisa da manhã, e eu disselhe sobre o
riacho e a cachoeira. Ninguém a perturbará lá, e a moça não podia continuar a
ser mantida confinada ao seu quarto o tempo todo, não é, senhor?
—Se os franceses puserem as mãos em nós, estaremos confinados em
espaços muito menores! — Steven assegurou com raiva. —Você não pode
confiar nela; ela sabe cada truque de manipulação. Se você não a encontrar, Billy
Bowe, descobrirá como é andar por pequenos espaços!
—Ela está lhe atingindo, eh, Capitão?
Steven jurou suavemte e deu passadas largas para fora da casa, rezando para
que ele a encontrasse, para que ela não tivessse desaparecido de alguma forma.
Ele havia dormido até tarde e o sol já estava alto no céu. Ele seguiu pelo
caminho acima ao longo do penhasco e através da folhagem rapidamente, quase
correndo, como se pudesse recompensar o tempo perdido. Ele invadiu o
terreno irregular onde uma grande palmeira se estendia à vista de uma nascente
de águas frescas. Ele se apoiou contra a árvore, tomando fôlego e olhando
abaixo.
Ela estava lá. Nua. Sob o lugar onde a água caia em cascata. Sua cabeça
estava inclinada, e a fria e clara água escorria por sua face e seus cabelos.
—Sua bruxa miserável! —Ele gritou para ela.
Ela não estava assustada; não estava nem um pouco surpresa ao vê-lo. Seus
olhos abriram-se e o olharam, seu queixo permaneceu elevado e uma delicada
sobrancelha arqueou apenas um pouco.
—O que foi agora, Senhor Pirata? — Ela perguntou.
—O que você fez, andou nua na frente de Billy Bowe, para fora de casa e
por toda a vila?
Um sorriso curvou os lábios de Tessa. —Minhas roupas estão estendidas no
galho logo ali, —ela disse a ele.
Ele queria olhar para o galho, mas não podia tirar os olhos dela.
Ela era mais bonita à luz do sol – e através de olhos sóbrios – do que ele
podia imaginar. Tudo nela era elegante, magro, assombroso, perfeito.
—Maldição, se você pensa que pode continuar a me fazer de tolo, milady,
está enganada! Você acena, provoca, e então chora fugindo! Bem, minha
senhora, tenha isso em mente! Eu sou um pirata e nosso único propósito na
vida é atacar e devastar.
—Ameaças! —Ela gritou para ele, se afastando da cachoeira, nua, dourada,
suas mãos nos quadris, seus olhos brilhantes em puro desafio. —Ameaças,
ameaças, ameaças! Bem, você é um pirata ou não?
—Ah, maldição, lady, pois eu sou!
E mais uma vez, antes que ele soubesse o que estava fazendo, estava se
movendo.
Do penhasco ele mergulhou na água límpida abaixo, e mesmo enquanto a
água o envolvia, ele sabia que daquela vez, quando ele a tocasse, não a deixaria
ir.
Capítulo 6
O que, em nome de Deus, ela estava fazendo? Tessa imaginou em um
momento de pânico. Não haveria retorno agora, ela soube pelo olhar dele, justo
antes dele pular do penhasco para mergulhar na água.
Mas mesmo quando ele emergiu das águas claras como o cristal,
completamente vestido e encharcado, ela sentiu o furioso batimento cardíaco
começar e percebeu exatamente o que ela estivera fazendo. Tinha ponderado
sobre a vida, ou ao menos sobre a sua vida, e tinha decidido que era muito
provável que ela fosse forçada a desperdiçar ano após ano com Raoul Flambert.
E se esse fosse o caso...
Ela quis aquilo, em primeiro lugar. E daí que ele era um pirata, e daí que
tinha capturado o navio dela, e pretendia vendê-la de volta para Raoul. Ele
odiava Raoul – o que ela não entendia completamente, mas tinha ficado
surpreendentemente claro para ela, durante o tempo que tinham passado juntos,
que o Red fox era um pirata cavalheiro. E ele era impressionante, musculoso
como aço, com um sorriso que compelia e assombrava, assim como os tons
profundos de sua voz. Se o resto de sua vida fosse ter que passá-la com
Flambert, então esse tempo seria dela. O tempo dela com este homem. Gostava
dele, o admirava, o achava fascinante, não importando as circunstâncias
ultrajantes. Além da fachada de pirata, ele era um homem excepcional. Ela podia
ter lutado bastante, provocado, tentado e fugido dele, mas na noite passada eles
chegaram muito perto...
Mas assim como ela descobriu que o desejava, que desejava alcançar aquele
pequeno pedaço de paraíso, não queria que ele acordasse no dia seguinte com
uma dor de cabeça saturada pelo rum, não lembrando uma única coisa sobre ela
quando seria um dos momentos mais importantes da vida dela. Ela queria
acordar sabendo que ele... Que havia vivido algo especial também.
Ah, bem, e agora ela tinha feito aquilo. E ele emergiu da água e vinha em
direção dela, e o dourado de seus olhos parecia brilhar como puro fogo, e os
delas pareciam vivos com a espera. E novamente, o buliço do pânico a
acometeu. O que ele lembraria dela? Ela não tinha ideia do que estava fazendo.
Apenas sabia que ele lhe afetou como ninguém antes, despertou um calor
estranho e excitante em seu sangue. De fato, ele havia lhe feito algo milagroso,
por que outro motivo ela estaria parada ali esperando...
Ele parou diretamente em frente dela, punhos apertados em seus lados, suas
roupas molhadas não disfarçavam em nada a tensão ou o ardor de seu corpo.
Ela tentou arduamente manter seus olhos nivelados com os dele e não os deixar
baixar na protuberância em suas calças encharcadas. —Lady, você provoca além
da compaixão. —Ele a alertou.
—Está com medo de mim, pirata? —Ela disse sem fôlego. Lutou por
controle, tentou abordá-lo com bravura quando na verdade estava tremendo
como uma folha ao vento. Mas logo ela deixou de tremer quando foi atraída
para seus braços com um vigoroso puxão e também estava dolorosamente
ciente dos batimentos acelerados de seu coração enquanto sentia sua nudez
sendo apertada contra ele. O fogo pareceu explodir entre eles, a aquecendo
enquanto suas mãos assolavam seus cabelos, seus lábios e língua assolavam sua
boca. Ela se agarrou a ele, saboreando cada sensação selvagem e doce,
descobrindo que estava trêmula novamente, que mal poderia se sustentar em pé,
e ainda assim não estava sentindo nenhum frio; apesar da água gelada, ela estava
em chamas.
Na verdade, ela começou a cair, mas os braços dele a seguraram e a
ergueram, os olhos dele brilhavam, o rosto tenso enquanto a carregava das águas
frescas até o gramado macio um pouco adiante. A brisa soprava suave e
gentilmente, ramos dançavam e balançavam, fazendo sombra na terra e na água.
Ela mal podia perceber o dia, mas estava ciente de cada sensação, de sentir o
solo em suas costas, a umidade das gotas de água que se apegavam à sua pele...
Ela sentiu os dedos dele em seus cabelos novamente, seus lábios sobre os
dela, suas mãos por toda sua nudez. Ela queria tirar sua camisa para tocar sua
pele, contudo não tinha confiança suficiente para o fazer, e em segundos, aquilo
não importou. Ele havia despido sua camisa e levantado de novo, tirando as
botas e as calças, e por um momento, olhando seu explendor nu e corajoso, ela
caiu novamente, como se a terra estivesse tremendo, como se ela mesma
estivesse caindo dela. Mas então, ele estava deitado com ela mais uma vez, e a
sensação da pele dele de encontro à dela era um fogo novo e excitante, e a
tempestuosidade de seu toque rapidamente aumentava selvagem e
exigentemente. Ela encontrou seu beijo, contorcendo-se com seu toque, e
perdeu o fôlego quando subitamente seus membros foram separados e ela sentiu
o peso do corpo dele entre eles, dentro dela. Ele a segurou em seus braços e ela
lutou contra a dor repentina e abrasadora, mordendo seu lábio inferior e
desejando não gritar. No entanto, lágrimas quentes e aturdidas afloravam de
seus olhos e ela o abraçou e enterrando sua face entre sua cabeça e seus ombros
para que ele não visse a repentina agonia que estava sentindo. Entretanto, ele
ficou parado, gemendo suavemente. E então suas palavras, sussurradas em
francês chegaram aos seus ouvidos. —Santo Deus, mas por que você me tentou
tanto? Agora é muito tarde. Eu nunca a teria machucado, ma belle, no entanto,
temo que já não posso deixá-la!
—Não me deixe! —Ela sussurrou, agarrando-se a ele.
—Tessa... —Seu nome nos lábios dele era muito macio, tão terno. Mas então
lhe pareceu que ele mudou de ideia, que ele tinha chegado muito longe... e não
havia nada a ganhar se parasse ali.
Ele segurou seu queixo, trazendo seus olhos aos dele. Ele beijou suas
pálpebras e lábios e começou a mover-se novamente, tão vagarosamente no
início, que ela descobriu que a dor já não existia e estava se movendo de
encontro ao corpo dele antes de vir, e mais uma vez a sensação de desejo, de
fome, de intenso querer a varreu. Cada segundo mágico parecia lhe trazer mais
da doce fome, uma necessidade maior. Ela alcançou e se esticou, e nem ao
menos soube o que buscava...
Até que veio em cascatas sobre ela. Belos e pequenos riachos prateados de
êxtase a envolveram; o mundo lhe pareceu preto exceto por aquelas explosões
prateadas. Ela estava vagamente consciente dele, seu pirata, o homem que lhe
trouxera aquela glória cintilante, e lhe pareceu que ele também havia alcançado
aquele doce e macilioso ápice, tornado-se tenso como um arco, e lhe dando um
novo calor, como mercúrio derretido dentro dela...
Amortecida, sem fôlego, lutando para recuperar sua razão novamente, Tessa
ficou quieta enquanto ele caia ao lado dela, silencioso e olhando as estrelas no
céu. Então, após um longo momento, ele resmungou e sentou-se, olhando para
ela com aspecto rígido e duro. O coração dela pareceu dar um pulo dentro dela
e ela mordeu o lábio inferior de novo, imaginando o porquê de ele estar tão
bravo quando ela era a cativa ali.
—Você não poderia simplesmente se comportar, não é, milady? —Ele
reclamou. —Você não será mais a noiva casta de Natal de homem nenhum
como está agora! Deus sabe, lady, que o seu desaventurado noivo deve lhe
recusar agora!
—Ah! E você não terá seu resgate! —Ela lamentou, sentando-se também,
lágrimas ardendo em seus olhos enquanto ela cruzava seus braços sobre seu
peito, sentindo-se tola e envergonhada. Ela o havia quisto tanto, e quis também
que ele a quisesse, esperou pela magia, mas agora...
Agora ela sabia que o que tinha sido importante para ela, não tinha sido para
ele – ele não era tão cavalheiro, estava meramente determinado a vendê-la pelo
preço mais alto!
Ela o atacou com uma fúria repentina, os punhos voando, seriamente
tentando acertá-lo. Ele grunhiu enquanto ela o acertava no peito, mas a segurou
pelos pulsos e a arrastando para baixo e embaixo dele.
—Sua pequena tola! —Ele a censurou. —Você não entende, minha disputa
era com seu miserável noivo, não com você! Eu nunca a quis prejudicar! Jesus,
mas você está me deixando louco! Na noite passada você chorou implorando e
hoje você fica nua em um riacho e me tenta até eu não poder suportar! E agora
estou consternado por eu ter arruinado sua vida.
—Você não arruinou minha vida! —Ela falou. Ele pausou, suas belas feições
ainda muito tensas, seus olhos dourados cautelosos e irritados.
—Se você começar – ele começou a dizer.
—Oh, seu estúpido! —Ela o atacou. —Eu não que me casar com Flambert;
eu o desprezo tanto quanto você! Meu pai arranjou esse casamento, tão
determinado a que eu fosse a noiva de Flambert como um presente de Natal.
Ela havia falado demais, então ficou em silêncio, muito quieta, o encarando,
engolindo com dificuldade.
—Ah... —Ele disse após um momento. —Que criatura incrível você é,
milady. Primeiro você estava tão furiosa quanto uma pantera enjaulada, e então
tão inocente e ultrajada quanto uma freira! Em seguida você se torna a sedutora
mais impressionante... todavia, agora eu entendo. Não foi nada pessoal, você me
seduziu para poder escapar dele!
Não, ela não o fez, mas contra a raiva dele, lhe pareceu a melhor defesa. Ela
estreitou os olhos e cuspiu, —Sim, e por que não? Supõe-se que você seja um
pirata; apenas serei acrescentada na sua espantosa reputação!
—Conde Flambert e eu fomos ambos conduzidos, milady! Por uma pequena
sirigaita que não queria nada além de sua liberdade para o Natal.
—Essa é uma coisa tão horrenda de se desejar? —Ela sussurrou.
Após um momento, ele acenou com a cabeça. Um pouco da raiva e da
tensão parecia ter deixado sua expressão rígida, ainda assim, seus olhos dourados
ardiam. Ela pensou que ele levantaria a soltando, mas ele não o fez. Ele abaixou
sua cabeça, tocando seus lábios novamente. Ele a beijou muito vagarosamente,
testando, saboreando. Ela tentou afastar sua cabeça, mas ele a prendeu com seu
beijo, e após um momento ela não desejava mais se afastar dele; ela podia sentir
o calor, a fome, o desejo crescendo nela mais uma vez. E a lembrança da mágica
que ele lhe causou ainda permanecia vividamente fresca e doce dentro dela...
—O que você está fazendo? —Ela murmurou desesperadamente quando a
face dele se ergueu acima da dela novamente.
—Bem, ma belle, nós chegamos até aqui. Não importa mais o quão longe
avançaremos.
Ela tremeu embaixo dele. —Importa! —Ela sussurrou. —Importa, porque...
—Porque...?
—Você tem que me desejar! —Conseguiu dizer.
—Oh, lady! Eu quero você! —Disse com dureza. — Querido Deus, mas eu
quero você. De fato, Tessa, o presente que foi negado a Flambert, eu guardarei
em meu coração como o meu incrível presente de Natal!
Os lábios dele tocaram os dela novamente, suas mãos provocaram sua
mágica em sua pele.
E ela o tocou. Acariciou os mísculos de seus ombros, plantou pequenos
beijos em sua pele quente e vibrante. O mundo girou novamente, e ela estava
perdida na paixão e no desejo, mais doce, mais alto desta vez, pois não havia
dor. Apenas a maravilha absoluta, o êxtase. E então estava acabado, ela percebeu
que o sol tinha abaixado e que as sombras tinham se aprofundado. Ele a segurou
em silencio por um longo momento, e então suspirou. —Nós devemos voltar.
Antes que sintam nossa falta e venham atrás de nós.
Ela não disse nada, mas levantou-se e procurou por suas roupas. Ficou
assustada quando ele insistiu em ajudá-la com os fechos, e de alguma forma
ficou tocada pela intimidade que sentiu com o toque de seus dedos em suas
costas. Ele segurou sua mão então, a guiando pela trilha que os levaria de volta
para a casa dele no paraíso.
—O que você fará agora? —Ela perguntou-lhe suavemente.
—Piratas não respondem a esse tipo de perguntas de seus cativos, —ele disse
brevemente.
—Mas...
—Tudo bem, milady. Nesse exato momento? Eu estou faminto. Eu espero que
Judith tenha ido até a casa e que ela tenha passado o dia cozinhando algo
formidável.
—Judith? —Tessa exigiu sem fôlego, tentando acompanhá-lo. —Judith? —
Ela repetiu.
Havia um brilho em seus olhos ao olhar para ela. —Minha mulher aqui, —
ele lhe disse.
Ela tentou se livrar dele, mas ele a trouxe mais próxima ainda, segurando-a
mesmo enquanto ela se debatia. —Bem, lady Tessa? E se eu tivesse uma mulher,
uma esposa, uma amante? Você não presumiu que eu havia passado a noite
passada na companhia de uma prostituta? Diga-me, você achou que um pirata
esperaria sua vida inteira para ser seduzido por você?
—Deixe-me ir. —Ela exigiu.
—Eu não posso deixá-la ir, porque você determinou esse rumo! —A
advertiu e virou-se de repente, andando novamente com suas longas passadas e
arrastando-a com ele.
—Pare, pirata! —Ela insistiu.
Ele parou, voltando-se para ela novamente. —Pirata? Eh? Mas então, tudo
bem! Você nem ao menos sabe meu nome.
—Eu não precisava saber seu nome! —Ela lamentou. —Eu precisava apenas
conhecer...
—O quê? —Ele exigiu.
Os olhos dela baixaram por um momento. —Você, — ela disse suavemente.
Ele suspirou suavemente. —Eu era uma opção melhor para uma primeira
experiência que Flambert, é isso, milady?
—Sim, — ela sussurrou.
Os dedos dele se entrelaçaram nos dela novamente. —Judith tem sessenta
anos, — ele lhe disse. —Você gostará muito dela e ela é uma cozinheira
maravilhosa. —Ele ficou em silêncio por um momento. —E meu nome é
Steven.
Ele começou a andar novamente, suas mãos ainda nas dela. Ela o seguiu sem
mais comentários. Billy Bowe estava sentado na pequena varanda da casa do
capitão, talhando. Ofereceu-lhe seu sorriso de gnomo. —Stew está lá dentro, —
disse em francês. —Desde que vocês dois saíram, há algum tempo, devem estar
famintos. —Levantou-se, olhando para Steven, então mudando suas palavras
para um inglês brando, pensando que Tessa não entenderia.
—Nós já tivemos notícias de Flambert. Ele soube que você capturou o navio
de sua noiva quase imediatamente e escreveu dizendo que pagará qualquer
resgate para obtê-la de volta – em qualquer condição – e implorou para que
você apressasse as negociações.
Tessa congelou, lutando para controlar sua expressão, determinada a que eles
não percebessesm que ela falava inglês fluentemente. Desse jeito ficaria sabendo
de muito mais coisas.
Mesmo que ela odiasse o que ficaria sabendo.
—O que nós faremos? —Billy Bowe perguntou a Steven.
Steven franziu o cenho, olhando para Tessa. —Faremos os arranjos depois,
— ele disse cortante. Levou Tessa para dentro da casa na frente dele. Na luz
fraca, levou um momento para ela ver a mulher que estava parada ao lado da
lareira.
Na verdade, se aquela fosse Judith, ela era uma mulher mais velha, ainda
assim era de alguma forma fascinante, uma muito atraente. Ela tinha uma
compleição magra e elegante, e estava vestida da cabeça aos pés de preto, um
vestido fora de moda com saias estreitas. Seus cabelos eram grisalhos, escovados
num coque atrás na nuca. Seus olhos também eram cinzentos, curiosos,
calculistas – e condenadores enquanto caíam sobre Steven.
—Ah, mas está cheirando muito bem aqui! —Steven disse em inglês.
—Sim, e eu os alimentarei agora, meu senhor Steven, mas teremos uma boa
conversa antes de eu fazê-lo novamente! —Judith disse.
—Agora, o que... —Steven começou.
—Você é um pirata comissionado pela rainha, espoliando os inimigos da
coroa, e isso está bem e certo. Mas agora, você raptou uma prisioneira e a trouxe
para sua cama! Meu Deus, eu estou aturdida!
—Você estaria mais atordoada se soubesse a metade disso! —Steven disse
cansado.
Judith bufou e passou por ele, pegando no braço de Tessa e a levando até a
mesa. —Ela fala inglês? —Judith disse. —Mas meu francês é tão pobre... ah,
bem, deixe-me pensar, Avez-vous faim?[12]
"Oui, J'ai faim,"[13] Tessa lhe assegurou, sentando-se no lugar oferecido a ela à
mesa. Ela estava com fome. Faminta. Judith rapidamente a serviu uma tigela de
guisado, e Tessa lhe agradeceu, ouvindo atentamente ao que estava sendo dito –
e não sendo dito - entre os dois.
—É melhor eu levá-la para minha casa, — Judith disse firmemente.
—Não, você não irá, — Steven argumentou. —Não seja enganada por essa
carinha de anjo. Ela fugirá de você.
—E para onde ela irá?
— Judith, posso ter algum guisado também, por favor? —Pediu irritado.
— Eu deveria fazer você servir-se sozinho! —Judith resmungou, mas parece
que Steven tinha autoridade na ilha, ou então Judith gostava mais dele do que
pretendia demonstrar sob as circunstâncias, pois ela lhe serviu uma tigela de
guisado e uma caneca de cerveja, ainda que tenha ficado lá de pé diante dele,
persistindo em sua postura.
—Steven.
—Ela não vai com você, Judith.
—Mas…
Ele suspirou. —Judith, seria trancar o estábulo após os cavalos terem fugido
há muito tempo.
—Realmente, Steven…
—Não se preocupe! Ela não ficará na ilha tanto tempo! —Steven disse com
firmeza.
Judith apertou os lábios. —Humm! —Ela bufou. —Bem, então, meu francês
é muito pobre para conversar com a garota, e eu não tenho nenhuma vontade
de falar com você! — E dirigiu-se até a porta e saiu. Steven sentou em sua
cadeira, vendo-a ir e então olhou para Tessa.
Ela não ficaria muito na ilha. Raoul já havia prometido pagar qualquer coisa
por ela – não importando nada. Steven a devolveria...
Ela mordeu o lábio, determinada a não desistir de forma alguma, tinha que
encontrar uma forma de escapar – logo. Antes que fosse devolvida a Raoul.
—Ela está brava comigo, — ele disse a Tessa.
—Por quê?
—Por que eu a violei.
Um rubor tocou suas bochechas.
—Ela quer levar você para sua casa.
—Oh.
—Você quer ir? —Perguntou-lhe.
Ela baixou os olhos e então olhou para ele de novo, com a maior expressão
de inocência possível. —Seria fechar o estábulo depois do cavalo ter fugido, não
é?
—Algo do tipo, — ele disse, seus olhos semicerrando os olhos e
permanecendo a olhá-la. —Não que isso importe. Eu não a deixarei ir para lá.
Não agora, — ele disse muito calmamente. Comeu outro bocado de seu guisado,
o mastigou e engoliu rapidamente e levantou-se rapidamente. —Billy Bowe está
na porta e eu lhe disse que não há mais passeios pela ilha para você. Eu tenho
que discutir algumas coisas com meus homens, retornarei em breve.
—Você discutirá meu retorno para Raoul? —Ela interrogou.
Ele sacudiu a cabeça. —Não esqueça, talvez ele não a queira mais, —ele
disse.
Mentiroso! Ela quase gritou, mas se conteve para não o fazer. Esperou até
que ele saísse, então pulou na frente da mesa e nervosamente começou a andar
pela agradável sala. Ela viu o presépio na mesa de centro e andou até ele.
Sentou-se, estudando as belas e pequenas figuras, pegou o pequeno menino
Jesus. —Você é o milagre! —Ela sussurrou suavemente. —Fé e perdão, paz...
Oh, querido Senhor, eu mesma rezei por um milagre, e isto foi o que você me
deu! Por favor, querido Senhor, mande-me um milagre, se essa for Sua vontade.
E se não for...
Ela se interrompeu. Bem, tinha passado todo o dia seduzindo um pirata, e as
freiras da escola dificilmente chamariam aquele comportamento de digno de um
milagre – especialmente um de Natal. Mas ela não estava arrependida, ainda não
conhecia muito bem o pirata dela – certamente conhecia muito melhor agora
que antes – e ainda assim não estava arrependida. Ela havia lhe dito a verdade.
Mesmo que ela tivesse ficado brava depois, sentiu que já o conhecia.
O dia tinha sido bonito e algo que ela lembraria por toda sua vida. Ela deu
um salto. Deus, haviam lhe dito, ajudava aqueles que ajudavam a si mesmos, e
estava na hora dela começar.
Ela abriu a porta um pouco e viu Billy Bowe talhando na varanda. Estava
certa de que poderia passar por ele e desaparecer no penhasco acima através da
cachoeira e do riacho, então ela poderia voltar para a costa... e pegar um dos
pequenos barcos e partir para o mar. E depois? Ela poderia morrer lá... não!
Com a misericórdia de Deus, algum navio a encontraria e com essa mesma
misericórdia, seria um navio inglês.
Ela aguardou na porta, observando Billy Bowe. Ele estava muito
concentrado trabalhando em sua peça de madeira. Ela escolheu um momento
em que ele estava de costas, para poder sair e se esgueirar pela parede até
alcançar o final da casa. Passou por baixo do corrimão de madeira e segurou seu
fôlego enquanto tentava seguir silenciosamente da folhagem até a trilha.
Ele não a viu e ela correu.
*

Ela não iria para Flambert. Steven encontrou-se com seus oficiais e a maioria
da tripulação na taverna e lhes disse francamente que ele ficou sabendo que a
cativa desprezava Flambert tanto quanto eles. —Eu não posso mandá-la para ele
por nenhum preço, —ele disse simplesmente — No entanto, eu recompensarei
vocês, pagarei a recompensa por ela com o que lucrei dos outros navios que
pirateamos, e pagarei o imposto para a rainha também.
Primeiramente, houve silencio na sala. Então Walt levantou sua caneca de
cerveja e clamou, — Isso, meu senhor capitão! Nós concordamos aqui, com um
homem, eu acho! —Então ele parou. —O que você fará com ela?
Steven encolheu os ombros. —Eu não sei. De alguma forma realizarei seu
desejo de Natal. Liberdade. Eu não posso mandá-la de volta para seu pai, pois
ele simplesmente a enviará para o Flambert novamente.
—Você poderia torná-la uma mulher decente e enfurecer Flambert além de
toda medida. Case-se com ela. —Walt sugeriu.
Steven sorriu. —Ela não deseja casar-se, quer sua liberdade. Eu devo pensar
na melhor forma de dar isso a ela.
Ele bebeu com seus homens, rindo, conversando, ainda assim tentando
resolver o problema sobre o que fazer com Tessa. Talvez ele pudesse levá-la
para Nova York ou para a Virgínia e ela estaria segura por lá. Mas isso também
significava problemas, pois ela uma mulher da nobreza, a filha de um conde e
estava acostumada com um estilo de vida muito diferente da vida nas colônias.
Então o que ele poderia fazer…
Mantê-la ali, ele disse a si mesmo. Mantê-la, amá-la, dormir com ela, acordar
e ver aqueles gloriosos olhos azuis, aquela face delicada, ouvir seus sussurros, a
tocar, fazer amor com ela. Passar o Natal no paraíso...
Exausto, ele voltou para sua casa, determinado a encontrar um navio para
colocá-la, um com um capitão de sua confiança e manda-la para Williamsburg
pelo tempo necessário. Ele tinha vários bons amigos, amigos que a ajudariam
por ele.
Ele andou até Billy Bowe e por seu sorriso, ele pôde dizer que o homem já
sabia que ele não devolveria a refém para Flambert.
—Ela está aqui, Billy, eu presumo? —Perguntou.
—Sim, capitão, está aí. —Billy lhe gantiu.
Steven passou por ele, abriu a porta e se surpreendeu com o silêncio lá
dentro. Ela estava dormindo? Chorando em algum lugar? —Tessa? —Ele
chamou. Atravessou o corredor até seu quarto e descobriu que ela não estava lá.
Furioso, ele voltou até Billy. —Ela fugiu!
A surpresa de Billy lhe garantiu que ele não sabia nada sobre a fuga da refém.
—Ela deve estar lá.
—Ela não está! Querido Deus, está escuro e a ilha pode ser perigosa à noite.
Encontre Walter e os outros; diga a eles que têm que a encontrar antes que lhe
aconteça algo!
Dito aquilo, ele mesmo partiu da casa, desesperado para encontrá-la.
*

Escapar tinha sido incrivelmente facil. Ela tinha seguido o caminho até o
penhasco, cruzou o rio, onde não havia nada além de um fio de água, fez seu
caminho até a praia e parou lá, olhando os pequenos botes puxados até a areia.
Havia marinheiros lá, falando, conversando, alguns limpando peixes, alguns
tirando as cracas de seus pequenos botes. No entanto, enquanto a escuridão
começou a descer, eles deixaram suas tarefas, guardaram seus pescados e
começaram a subir o penhasco.
Sempre havia homens ou guardas, Tessa pensou. Ela podia ver a silhueta de
um homem em uma das rochas altas que davam para observar a entrada do
porto. Mas ele estaria procurando por grandes navios inimigos. Ele talvez não
percebesse um pequeno bote à deriva no oceano. Ainda assim ela esperou,
esperou tanto que pensou que talvez quisesse ser pega. Era verdade que ela não
queria deixá-lo. Ela amou a ilha, com suas praias, com suas belas correntes de
água fresca, a cachoeira, a folhagem. Uma cativa ali, e tinha sido feliz como em
nenhum outro lugar, desde...
Desde que seu pai tinha ido à Inglaterra para buscá-la. Então tinha sido uma
verdadeira prisioneira. Agora... Ela ainda era uma cativa, e podia sonhar em
voltar para tudo o que queria, dormir nos braços dele novamente, o que não
significaria nada porque ele era ocupado, mesmo agora, fazendo os arranjos para
a devolver para Raoul.
Ela endureceu suas costas e assim que o último homem tinha ido há algum
tempo, se esgueirou de seu esconderijo de arbustos e rapidamente correu até um
dos pequenos barcos. Foi preciso um pouco mais do que ela tinha imaginado de
esforço, para tirar o barco da areia. E assim que estava sentada nele descobriu
que remar também não era tão fácil. Ainda assim, ela persistiu, empurrando com
força, forçando seus braços até que doessem e ela estivesse a ponto de chorar.
Ela estava começando a se mover para o centro do porto quando o primeiro
relâmpago cortou o céu. O pequeno barco foi lançado e jogado. Segundos
depois a chuva começou. Então o vento aumentou, chicoteando a água e seu
barco, selvagem e cruelmente. Ela gritou e lamentou quando o remo caiu de
suas mãos e o pequeno bote subitamente começou a rodar, ela não conseguia
mais controlá-lo. A chuva a cobriu, o vento batia nela. Parecia que o mundo
inteiro estava preto, com excessão de quando os raios cortavam e iluminavam o
céu.
Ela arrastou os remos, gritando e se esquivando quando o vento bateu forte
no barco novamente, o agitando em um círculo selvagem e quase o virando.
Então esse seria o seu milagre! Uma morte por afogamento!
Ela gritou de novo enquanto o bote começou a inclinar e empinar, a proa
quase encostando no mar. Então ela engasgou, muito aterrorizada para gritar,
pois parecia que algo estava se elevando do mar.
Não algo, mas alguém…
—Onde estão os remos? —Ele rosnou por cima dos rasgos das ondas e do
barulho do vento. —Tolinha, onde estão os malditos remos? Nós bateremos no
coral a qualquer momento!
Ela tateou pelos remos com seus dedos congelados enquanto ele subia no
barco e pegava os remos de suas mãos. Seus cabelos negros como a tinta,
encharcados contra sua pele. Suas roupas agarravam-se ao seu corpo. Ele estava
descalço e ela vagamente percebeu que ele havia tirado suas botas para nadar até
ela. Até aquilo. Naquela terrível tempestade.
—O que, em nome de Deus, fez você velejar nessas condições? —Ele
questionou. —Eu sou tão miserável assim para você? —Ele perguntou,
profunda emoção em sua voz.
—Não, —disse soluçando.
—Então…
—Você pretendia me tirar da ilha e me mandar para Raoul o quanto antes.
Eu disse a você – eu o odeio! Eu não me casarei com ele, eu...
—O que fez você pensar que a enviaria de volta para Raoul?
—Eu ouvi o que Billy te disse; ouvi o que você disse a Judith...
—Você entende inglês? —Ele disse devagar.
—É claro que eu entendo! —Ela disse em inglês. O vento bateu forte
novamente e ela foi jogada contra ele.
—Você quase nos mata! —Ele exclamou, tentando segurá-la e aos remos e
também manter o barco estável.
—Eu não tentei...
—Você fala inglês? —Ele bramiu.
—Eu sou inglesa! —Ela ostentou. —Se você quer saber – eu cresci na
Inglaterra, minha mãe era inglesa e eu fui criada sob os cuidados de meu avô
inglês a maior parte da minha vida. Meu pai me trouxe para a França um pouco
antes de estourar a guerra. Ele deve ter tido a intenção de me dar em casamento
a Flambert quando ele foi me buscar, mas não me disse nada então.
—E eu sei o que você pretendia fazer! —Ela murmurou.
—Pule! —Ele disse de repente. —Nós chegamos na praia.
Ele saltou sobre a borda do barco também, empurrando-o para a areia muito
mais facilmente do que ela o tinha empurrado para o mar. Ela saltou,
cambaleando pelo vento e pela água até a areia. Respirou fundo, tremendo
contra a chuva. Ela cambaleou de novo quando uma rajada a apanhou, mas
enquanto ela tentava se equilibrar, subitamente se encontrou carregada por seus
braços novamente.
Ambos estavam molhados e congelando da cabeça aos pés. Ela passou seus
braços em volta de seu pescoço, se segurando perto dele. Ele começou a andar,
gritando que a havia encontrado. Os homens correram até ele, dizendo que
estavam aliviados e gritando aos outros naquela miserável tempestade, fazendo-
os saber que a refém havia sido encontrada.
Sozinho, Steven continuou a carregá-la pelo caminho até a casa dele. Ela
sentiu que ele a olhava e ergueu seus olhos para ele.
—Você estava errada, — ele disse muito suavemente. —Eu nunca teria
devolvido você para Flambert uma vez que fiquei sabendo que você não
desejava ir para ele. Eu tive minhas dúvidas até mesmo antes disso, mas quando
eu confisquei seu navio... é uma longa história. Eu não a deixei para fazer
qualquer plano de devolvê-la por uma recompensa. Eu fui dizer aos meus
homens que pagaria seu resgate eu mesmo.
—Oh! —ela engasgou.
A porta da casa dele foi aberta e Judith, em sua roupa preta, esperava por
eles.
—Pobre moça, e olhe o que você fez a ela, Steven Mallory! Traga-a para
dentro; tenho um banho quente preparado. Ela morrerá de frio!
Steven sorriu, andando até a varanda onde a chuva não podia alcançá-los –
eles apenas gotejavam tudo que já havia para cair.
—E então ela vai querer levá-la para casa com ela, — Steven sussurrou na
orelha de Tessa.
—Mas eu sou sua cativa. —Tessa protestou alto.
—Ela fala inglês! —Judith exclamou.
—Perfeitamente, — Steven disse pesarosamente. —E você a ouviu, ela é
minha cativa. Banhe-a e a vista, Judith, mas ela ficará aqui!
Ele colocou Tessa para baixo e desapareceu na chuva mais uma vez, se
certificando que todos soubessem que ela havia sido encontrada. De fato. Sua
cativa “noiva de Natal” estava de volta.
Capítulo 7
—Sempre foi meu período favorito do ano, —Tessa disse duas semanas
depois, enrolada nos braços dele em seu quarto, limpa e aquecida, e muito mais
contente do que deveria estar na cama de um corsário inglês. Mas uma vez que
ela soube que não seria enviada para Flambert, ela se permitiu o luxo de não se
preocupar com nada mais além do fato de que havia recebido seu pequeno
milagre. E o havia recebido das mãos de Steven.
E ela estava se apaixonando profunda e intimamente por seu pirata. Era
muito fácil ficar com ele, conversar tolamente com ele após fazerem amor,
envolta em seus braços, sentindo-se serena e segura com sua força. Naquela
noite ela havia confessado a ele que havia rezado por um milagre de Natal, e
pensou que talvez ela tenha demorado um pouco para perceber isso, que ele
havia sido, na verdade, o milagre.
—O Natal é a época em que a magia pode acontecer, — ela disse
suavemente. Ele ficou em silêncio por um momento, e ela continuou a falar, —
Eu costumava amar a casa do meu avô no Natal. O salão ficava cheio de folhas
e galhos e sempre havia um tremendo banquete de Natal. Neve no chão, e
acendíamos muitas velas para espantar o frio e a escuridão. Sempre
começávamos o dia na capela, meu avô é um homem muito bom, e gosta de
seguir as tradições, então os pobres eram todos convidados e lavávamos seus
pés e lhes dávamos moedas. As músicas de Natal eram tão bonitas, e é
realmente a época para o amor fraterno e...
—E? —Ele perguntou a ela, após ela ter feito uma pausa.
—Eu não pude acreditar que seria a noiva de Raoul Flambert no Natal! —
Disselhe, se arrepiando.
—Tudo o que você queria para o Natal era sua liberdade, — ele disse
suavemente. —Voce terá liberdade, tenha certeza, eu nunca deixarei você ir para
ficar com Flambert, — ele prometeu, com paixão em sua voz.
— No Natal?
— Nem para o Natal e nem nunca!
Ela pensou que seu coração sacudiu dentro do peito com a pura felicidade
que a encheu quando ele a puxou para seus braços mais uma vez e seus lábios
tocaram os dela. Ela descobriu que estava apaixonda por ele, e esse amor
aumentava cada vez mais com o passar das horas ao lado dele.
A noite foi feliz, ainda que parecessse que ele estava insaciável, não que ele
tivesse muita necessidade de sono. Quando Tessa finalmente conseguiu dormir,
dormiu muito profundamente, e quando acordou pode ouvir o chilrear dos
pássaros e sentir a claridade da luz do sol vinda das janelas. Talvez já fosse tarde
na manhã, provavelmente próximo ao meio-dia. Pensou que nunca tinha
dormido até tão tarde.
Ela pulou da cama, se lavou e vestiu rapidamente, saindo para a sala, certa de
que se encontraria sozinha, que Steven tivesse saído para falar de negócios com
seus homens. Mas ela não estava sozinha, ficou surpresa ao encontrar Steven
acompanhado por um cavalheiro muito bem vestido e propriamente usando
uma peruca branca.
—Capitão Tyler, —Steven disse, —deixe-me apresentá-lo à lady em questão,
Tessa Dousseau. Tessa, Capitão Henry Tyler, aos serviços de sua majestade – e
ao seu.
—Me – perdoe? —disse Tessa.
—Ele veio buscá-la para levá-la para casa. Para a Inglaterra, na casa de seu
avô, — Steven disse, seus olhos sem demonstrar nenhuma emoção enquanto a
olhava.
—Oh! —Ela engasgou. Agarrou o batente da porta, rezando para que não
demonstrasse seu desânimo. Ele a estava mandando embora, enquanto ela se
apaixonava por ele, vivendo em um paraíso de tolos, em um sonho...
Bem, de fato, ela tinha sido a tola. Tinha seduzido um pirata, vivido com ele,
o amado. E o pirata tinha continuado a ser um cavalheiro, não a traindo, nem
mesmo por um fantástico resgate. Mas ele a estava mandando embora.
Ela levantou seu queixo. —Capitão Tyler, — ela o reconheceu polidamente.
—Senhor, quando partimos?
—Com a maré, — Disselhe. —Você talvez tenha uma hora ou quase para
arrumar suas coisas. Claro, os homens providenciarão para que seus baús sejam
levados até a praia e para o pequeno barco, e de lá nós cuidamos deles. Você, é
claro, ficará alojada em minha cabine.
—Obrigada, senhor.
—É um grande prazer, milady.
—Você pode ir e pegar suas coisas, — Steven disse brevemente. —Eu tenho
negócios a resolver com Capitão Tyler.
—De fato, temos outros negócios! —Capitão Tyler disse. Ele foi até Tessa,
curvou-se e beijou-lhe as mãos, um homem caloroso e cortês com olhos
agradáveis. Ela lhe sorriu em resposta, sentindo-se fraca.
Os homens saíram. Ela andou de volta ao quarto e sentou-se nos pés da
cama. Homens! Ele havia conversado com ela sobre o Natal, sobre liberdade.
Ele a havia segurado durante toda a noite. Ele havia feito ela se apaixonar por
ele, e agora...
Ela tinha se jogado para ele, isso era verdade. Nunca havia sequer pensado
em indagar-se se havia uma concumbina em algum lugar, uma mulher, uma
amante... Talvez houvessem muitas.
Ela lutou contra as lágrimas. Ela teve o que queria, seu milagre de Natal.
Talvez não chegasse em casa a tempo para o Natal, mas estaria de volta com seu
avô o mais cedo possível, e então comemorariam o Natal novamente. Os
menestréis tocariam os compassos, a neve continuaria a cair, o salão continuaria
cheia com os cheiros exuberantes, e o mundo estaria...
Vazio.
Estava acontecendo aquilo que ela havia quisto! Ela castigou a si mesma. Ela
estava indo embora.
Quando eles retornaram, ela estava pronta. Estava vestindo um dos seus
melhores vestidos; tinha arrumado cuidadosamente seus cabelos, estava tão
distante e magnificente quanto poderia ficar.
Ela quase afastou sua mão quando Steven a segurou para escoltá-la pelo
caminho e até o pequeno barco. Quando chegaram no barco, estava pronta para
subir rapidamente e muito perto de chorar. Mas ele segurou suas mãos,
puxando-a para trás enquanto os homens do capitão entravam no barco.
—Boa viagem à Inglaterra, para sua liberdade, — disselhe.
Ela acenou, não confiando em si mesma para falar. Então ela umedeceu os
lábios e disse a ele, — Obrigada. A liberdade é um maravilhoso presente.
—Amor é ainda um muito melhor, — disse a ela. Ele beijou sua mão,
parecendo relutante em deixá-la ir embora.
—Estamos prestes a perder a maré! —Clamou capitão Tyler.
Steven deu um passo para trás, escuro, alto, musculoso e esplêndido em suas
botas negras, calças e uma simples camisa branca de algodão. —Pense em mim,
milady, no Natal! —Ele gritou para ela.
Ela acenou com a cabeça novamente e entrou no pequeno barco, voltada de
costas para ele. Os homens começaram a remar para longe da praia. Ela não se
atreveu a olhar para trás.
Um pouco adiante, parado no porto, estava o navio do Capitão Tyler, o
Marianne. Ela manteve seu olhar fixo nele.
E ela não explodiria em lágrimas até que estivesse sozinha na cabine do
Capitão.
*
Como ele tinha permitido que ela partisse? Steven pensou, sentado sozinho
em sua casa, afundando-se em uma das cadeiras, encarando o fogo.
Ele deveria tê-la mantido prisioneira. Não tinha sido tão sombrio para ela –
ela havia rido e sorrido. Seus olhos o deslumbraram por seu brilho e ela o havia
segurado, tocado, feito amor com ele, certamente como ele a havia amado...
Era natal. Maldito Natal! Quando ela havia falado sobre seu avô, e a neve, e
as maravilhas da estação, tudo o que ele podia lembrar era que ela havia dito que
queria apenas uma coisa.
Liberdade.
E assim, ele a deixou partir, mesmo que tenha parecido que seu coração tinha
sido cortado com uma espada. Subitamente, ele percebeu que até o ultimo
minuto ele teve esperança... esperança de que ela viraria para ele e diria que não
queria partir, que ela não se importava com mais nada, que ela estava apaixonada
por ele...
Ele olhou o pequeno presépio e sorriu. —Isto é o que quero para o natal! —
Ele disse suavemente. —Mas eu tenho sido um corsário, servindo ao meu país;
o fazendo com compaixão, pelo menos foi o que sempre pensei! Não tenho sido
perfeito, de todo modo, mas é a estação para o perdão... —a voz dele falhou por
um momento. —Um pequeno milagre, querido Deus. Traga-a de volta. —Ele
disse suavemente.
A porta foi aberta de repente, mas não era tessa, não era seu milagre que
havia chegado.
Billy Bowe parou em pé, a face torcida e tensa. —Eles foram atacados! Os
franceses enviaram um navio bem próximo à enseada para a Ilha Hidden.
Certamente, eles estão procurando por ela desde que ele ouviram que sua noiva
havia sido raptada e seu navio confiscado. Pelo amor de Deus, Capitão, eles
estão bombardeando o navio do capitão Tyler, com lady Tessa a bordo!
Steven levantou correndo de sua cadeira. Antes que Billy pudesse dizer outra
palavra ele estava fora da casa, se dirigindo a um pequeno barco, gritando
ordens para qualquer um que estivesse próximo dele de que estariam navegando
imediatamente. Billy estava correndo atrás dele, com os membros de sua
tripulação tão apressados quanto eles. Quando ele chegou na praia, ele pulou no
primeiro barco seguido por Billy, Walt e dois de seus homens mais robustos e
saíram da baia Galway.
Steven remou o pequeno barco ele mesmo, cortando através da água com
incrível rapidez. Ele mal tinha embarcado em seu navio quando começou a
gritar ordens novamente, e estavam prontos para navegar mesmo antes do
último membro da tripulação conseguir saltar da escada de cordas para dentro
do navio e ter se juntado a eles.
Dentro de trinta minutos eles chegaram ao ponto onde uma batalha armada
estava acontecendo. O mastro do Marianne do capitão Tyler havia sido
destruído, mas o navio flutuante ainda estava revidando o fogo contra a
embarcação francesa, Aurora. O Aurora, entretanto, estava movendo-se no vento
e pronto para fazer a última varredura sobre o Marianne e tomá-lo como
prisioneiro o atacando com ganchos e armas.
—Conduza-o ao redor! —Steven gritou para Walter ao leme. —Artilheiros
em suas posições, apontem seus canhões rapidamente; acender e atirar à
vontade!
Seus canhões começaram a atirar, três tiros caindo perto, mas o quarto e
quinto dilaceraram o navio francês, um deixando seu equipamento em pedaços e
o próximo caindo em sua proa. O navio chafurdou e mesmo enquanto listava, o
barulho dos ganchos podia ser ouvido, e fortemente, foi de encontro ao
Marianne do Capitão Tyler.
—Doce Jesus, Walt, nos leve até aquele navio! Homens, afunilem as velas e
nos aproximem da proa deles!
O mar estava calmo em um estranho contraste com a cena caótica que
acontecia na frente deles. O navio francês tinha vindo equipado para guerra e
dúzias de homens invadiram a embarcação inglesa. Os minutos que demoraram
para o navio de Steven alcançar o Marianne pareceram eternos, mesmo quando o
primeiro gancho foi jogado para os prender no navio, o deixando entre seu
próprio navio e o francês, ele havia lançado o cordame ele mesmo e se preparou
para pular no convés.
Os navios se chocaram com um forte estrondo. Steven saltou para a luta
acontecendo no convés do Marianne. Os homens foram ao seu encontro com as
espadas em riste, pistolas foram disparadas, fumaça subindo, mas ele deu pouca
atenção aos que tentavam o atacar; ele procurava apenas por um homem, um
inimigo, e ele abriu seu caminho entre os demais, rezando para que não chegasse
muito tarde.
Ele ainda procurava por Flambert quando ouviu um grito.
Tessa.
Ele pulou sobre um rolo de corda e caminhou rapidamente sobre o mastro
caído. Quando ele chegou na proa, onde portas entalhadas davam passagem
para a cabine do capitão, ele a viu, seu braço sendo segurado num rígido aperto
de um francês vestido em brocado, bem vestido mesmo numa ocasião como
aquela. Um homem bonito e moreno com um sorriso curvado e cruel enquanto
olhava para Steven.

—Ah, então esse é o Red Fox. Finalmente nos encontramos, senhor!


—De fato. Solte a garota inglesa se você valoriza sua vida.
—Uma garota francesa, senhor! Minha prometida, com contratos assinados
por seu pai.
—Nós não vivemos na idade das trevas, senhor. A dama não tinha desejos
de casar-se. Ela se considera inglesa, e a Inglaterra é seu lar escolhido.
—Você insulta meu país?
—Ah, França! —Steven murmurou, tentando não encontrar o olhar de Tessa
naquele momento. Ele pensou no que deveria dizer para parar o francês, dando
tempo à sua tripulação para abordar no Marianne. Seus homens mais os de Tyler
poderiam tomar o navio, sem dúvidas.
No entanto, o francês tinha Tessa, e um florete bem afiado e Steven tinha
certeza que aquele homem sabia usá-lo muito bem.
—Eu não estou insultando seu país, conde, mesmo eu estando em guerra
contra ele. Paris é a cidade mais sedutora, o campo é magnífico, não? As
mulheres são belas, o vinho francês é soberbo. Ainda assim, senhor, mesmo de
um país maravilhoso, monstros podem surgir. Deixe-a ir. Agora.
Raoul Flambert moveu-se muito rapidamente. Tessa chorou baixinho
quando a espada do francês tocou sua garganta, segurou-a contra sua veia e ele
olhou furiosamente para Steven. — Eu sugiro, senhor pirata, que você baixe sua
arma e nos dê passagem, e então senhor, você deve ordenar que seu navio se
renda a mim, e se você quiser viver, pulará desse casco podre e nadará até a
praia!
—Steven, não! Ele o matará em um segundo, eu sei disso! —Tessa gritou.
Steven sorriu para ela. —Não tenho escolha! —Ele disse a ela.
—Que burrice! —Flambert riu em silencio. —Que idiota! Você teria se
tornado um pirata rico, se tivesse apenas aceitado minha oferta pela garota, mas
agora, você será um pirata morto.
—Você já causou mortes o suficiente. —Steven lhe advertiu acaloradamente.
—Ah, então é isso! Vingança pela garota inglesa! O que eu fiz não foi pior
que isso, pirata. Eu a tive; eu a soltei. A culpa não é minha que a tola garota
tenha ido encontrar a morte nas colônias inglesas!
—O que? —Tessa exclamou, olhando dele para Steven.
—Ah, veja só, querida menina! O pirata não estava somente interessado em
amá-la, mas em me atingir também. Ele procurou se vingar de uma tola
brincadeira que fiz com uma de suas amigas.
Aqueles olhos azuis esverdeados que ele havia encarado nas últimas semanas
voltaram-se para ele. Seu quarto falhou em seu peito enquanto ele rezava para
que ela não vacilasse por causa das provocações de Flambert.
—Você está errado, Flambert! —Ela disse após um momento.
—Se ele quisesse vingança, teria tratado-me com crueldade, mas apenas me
deu liberdade.
Steven, olhando para ela, sorriu vagarosamente, entendendo a mensagem de
orgulho e simpatia que saltava de seus olhos.
—Nada disso tem importância! —Flambert bradou. —Eu não desistirei de
meu presente de natal por ninguém, bastardo inglês.
—Eu também não desistirei do meu! —Steven disse suavemente, olhando
para Tessa. Ele abaixou seu braço e encurvou-se, abixando sua espada no chão e
olhando para Tessa. Os olhos dela se semicerraram em alerta, e apesar de todo
perigo que corriam, ele sentiu uma emoção atravessar seu coração. Ela se
importava com ele, pensou. De fato, parecia quase como se... ela o amasse.
—Agora, seu navio! —Flambert disse enquanto erguia sua espada – apenas
uma polegada, mas o suficiente. Steven pulou nele como um tigre, atingindo o
homem com todo seu peso e derrubando os dois duramente para rolar no
convés, numa luta feroz de vida ou morte. Steven ouviu Tessa gritar, mas apenas
pode pensar – Ela está livre.
Flambert tentou acertar a garganta de Steven com seu cotovelo. Com uma
incrível descarga de energia, Steven rolou novamente, trazendo Flambert para
abaixo de si. Flambert tentou tirar sua faca de sua panturrilha, e antes que ele
conseguisse, Steven lhe deu um soco no maxilar. O francês deu um grito
assustado e ficou em silêncio. Steven preparou seu braço para dar outro soco no
homem, mas um grito súbito e o toque de dedos femininos em seu braço o
pararam. —Ele está inconsciente, Steven. Tal vingança não aliviará a dor que ele
lhe causou. Ele não é ameaça para nós, deixe que ele seja levado para a
Inglaterra para enfrentar um julgamento por todos os navios que confiscou de
nós. Steven, por favor!
Ele respirou profundamente. Ela estava certa. Ele havia desperdiçado anos
querendo assassinar aquele homem com suas próprias mãos, mas a justiça seria
feita – diante de uma courte de justiça inglesa. E aquilo era tudo que importava.
Ele permitiu que Tessa o levantasse. Steven olhou para seus olhos por um
longo momento, então a segurou em seus braços.
—Ela era uma amiga, — ele disse suavemente.
Tessa sorriu. —E ainda assim, você nunca foi capaz de me machucar.
Ameaças e ameaças! Eu tive de fazer todo o trabalho sujo, eu mesma. Você
finge ser um bom pirata, Steven, e você o faz muito bem. Mas tudo que você é,
é um bom homem.
Ele beijou seus lábios, saboreando seu gosto e a sensação deles nos seus, a
segurando como se nunca fosse deixá-la novamente.
—Capitão! Nós seguramos o navio, senhor! —Walt gritou para ele. — Quais
são as ordens, senhor?
—Os sobreviventes devem abordar nosso navio, meu amigo, pois essas
embarcações afundarão. Salve aquilo que for possível e nós equiparemos o
capitão Tyler na ilha para sua viagem de volta a casa. —Ele olhou para baixo e
para Flambert. —Ele deve enfrentar um julgamento na Inglaterra. Eu o
confiarei a Tyler, pois não posso confiá-lo a mim mesmo!
Tessa olhou para ele e sorriu vagarosamente. —Levará algum tempo para
equipar um novo navio, não levará?
— Tanto quanto eu puder o fazer, —ele lhe disse.
— Um pequeno milagre, — ela murmurou.
—O quê?
—Meu milagre de Natal, — ela disse suavemente. —Eu estou
verdadeiramente livre de Flambert. E…
—E? —Ele perguntou.
—Eu passarei o Natal com você.
A respiração dele pareceu parar em sua garganta. Um pequeno milagre. —Se
você passar o Natal comigo, milady, você não será livre como desejou.
O sorriso dela aprofundou-se. —Liberdade é poder escolher, Capitão Red
Fox. Eu escolho estar com você.
—Uma noiva para o Natal? —Perguntou rouco.
—Bem, essa era a intenção de meu pai, — ela disse.
Ele começou a rir. Então a levantou e rodou com ela, e estava certo de que
todos os marinheiros os viam, franceses e ingleses, e todos certamente
pensavam que ele havia perdido o juízo.
Ele os ignorou, a carregando pelo navio afundando, segurando uma corda
que jogaram para ele para levar os dois a bordo de seu navio. Billy Bowe estava
lá, esperando por ele.
—Nós a temos de volta, Billy. —Steven disse.
—Sim, capitão!
—Ele me quer como presente de Natal, Billy! —Disse ao seu homem.
—Sim, senhor! —Billy disse, um pouco surpreso. Na verdade, ele estava
sorrindo como se tivesse arranjado tudo aquilo.
Steven pegou tessa em seus braços uma vez mais e a beijou profundamente
enquanto sua tripulação os olhava, aplaudindo alto. Ele separou seus lábios dos
dela e sussurrou baixinho, —Diga, Tessa!
Os olhos dela brilhavam com sua beleza verde marinha. —Eu amo você! —
Ela disse suavemente. —Você é meu milagre de Natal, e não é de nenhuma
forma, um pequeno milagre!
Ele sorriu. —Casa! —Bradou aos seus homens. —Casa, —ele disse
novamente, mais suavemente para ela. Pssou os braços em volta dela enquanto
o navio movia com o fluxo do vento.
—Não haverá neve, — lhe disse, — e nós não teremos guirlandas na casa.
Nós não teremos muita música, mas podemos dar nosso melhor...
—Natal, meu amor, não é um lugar. O Natal está dentro de nós.
—Oh, lady, —ele disselhe humildemente. —Eu não sou o milagre, mas
houve um. É um que sempre vem com o Natal.
—E este seria? —Ela perguntou.
—Amor! —Ele disse suavemente e a beijou novamente.
Epílogo
A manhã de Natal estava quente e perfumada. Eles não estavam tão
desprovidos de encantos quanto Steven havia descrito, Tessa concluiu. Os
piratas ingleses – corsários! Ela lembrou a si mesma – tinham um padre alegre
vivendo com eles na ilha, realizando casamentos, cuidando dos batismos, e, é
claro, conduzindo missas numa capela coberta de palmeiras.
A própria capela era um belo lugar, enriquecido com o cheiro de flores
selvagens. Tessa ficou em pé diante do padre no dia em que eles casaram,
cercada pelo doce aroma de flores tropicais e por seus novos amigos. Judith
serviu como sua testemunha e Walt foi a de Steven.
O serviço não ocorreu sem música. Eles não tinham muitos instrumentos,
mas alguns homens podiam tocar flauta belamente, e os moradores da ilha
cantaram alegremente as músicas de Natal. Eles tiveram um enorme banquete,
assando a comida em fogueiras na praia e todos que moravam na ilha assistiram
a cerimônia.
PRESENTES DE AMOR
Kaitlin, uma pobre, mas bonita noiva por encomenda, viaja para o oeste para
descobrir a alegria do Natal, e encontra mais paixão e aventura do que ela
esperava nos braços de Shane, um rude ex-pistoleiro. Mesmo no oeste selvagem,
um pistoleiro e uma noiva por encomenda podem encontrar um milagre no
Natal.
Prólogo
Vinte e quatro...
Kaitlin cuidadosamente riscou o número no couro da tenda. Vinte e quatro.
Ele seguiu seus outros números, uma série que começou com o número três, e
estava ordenado como os dias numerados de um calendário.
Quando terminou de riscar o número, lágrimas brotaram em seus olhos. Ela
as enxugou furiosamente. Ela não chorou quando riscou todos os outros
números, mas este era diferente.Vinte e quatro. O mês era dezembro. Era
véspera de Natal. E amanhã seria o Natal. Em casa, em sua pequena cidade, as
pessoas estariam passeando pelas ruas. Pela primeira vez em sua vida, ela teria
celebrado o Natal em sua própria casa.
Shane lhe tinha proporcionado isso.
Ela teria decorado a casa com galhos verdes e azevinho, assim como ela
havia prometido a Francesca que ela faria. Ela ainda podia lembrar os olhos da
menina crescendo com admiração quando ela contou sobre o Papai Noel.
— Bem, ele é realmente São Nicolau, sabe —, Kaitlin disse a ela com uma
piscadela, enquanto elas sacudiam o lençol da cama. — Ele era um bispo, há
centenas e centenas de anos, e era gentil e generoso, o santo padroeiro das
crianças, e gostava de dar presentes. Para os holandeses que moravam em Nova
York, ele era 'Sinter Klaas. ' Então, para nós agora, ele é Papai Noel! E ele vem
todo Natal para trazer presentes. Um ministro chamado Moore o descreveu em
um poema em 1823 - antes mesmo de eu nascer - e ele é maravilhoso,
Francesca, realmente maravilhoso! Ele se veste com uma roupa vermelha com
revestimento branco e é um enorme homem rechonchudo, tão gentil, tão
maravilhoso.
E ela ainda podia se lembrar de ter olhado para cima e ver que Shane a
observava do corredor, seu olhar especulativo e curiosamente suave. Ele pegou
seu braço quando ela tentara escapar. — Obrigada.
— Porquê?
— Por dar a ela um Natal.
E ela assentiu, precisando fugir do calor do seu toque. Ela o proporcionou
tão pouco. Ele a havia dado tanto. Mas ela tinha construído as paredes que se
encontravam entre eles, e Shane parecia mais do que determinado a permanecer
em seu próprio lado delas. Ele podia ser tão difícil. Suas batalhas, talvez a sua
sobrevivência, dependiam dele ser assim.
Mas então ele tocou sua bochecha. Tão gentilmente. — Você é como ela,
sabe. Uma criança privada do Natal —. E sua voz era suave, tão suave. — Este
ano, teremos Natal. Vamos beber vinho quente diante do fogo. Vou derrubar
um abeto e nós o decoraremos com anjos e estrelas. E todos iremos colocar
presentes debaixo da árvore. Você terá um Natal, Kaitlin.
Ela teve que se afastar. Nós apertaram em seu estômago, seu coração parecia
estar bem dentro de sua garganta. Como ele a conhecia tanto, tão facilmente?
Como ele podia tocar os lugares em seu coração que eram os mais vulneráveis?
— Eu não tenho nenhum dinheiro proprio—, ela disse a ele. — Não terei
nenhum presente para você.
Aquele olhar brilhante dele, quente, muito conhecedor, zombador, perverso
e sábio, veio varrendo sobre ela e ela ouviu o som de sua risada, um som que a
tocava de cima abaixo por sua coluna. — Oh, mas, meu amor, pense nisso, você
tem, você tem.
Suas bochechas se aqueceram. Ela queria estapeá-lo nesse momento.
Ela queria cair em seus braços ...
Ela não teve a chance de fazer nenhum dos dois. Ele se aproximou dela. No
entanto, com toda a aspereza de seu toque, havia uma nota de saudade
verdadeira e dolorosa em sua voz quando ele falou. — Um filho, Kaitlin, me dê
meu filho.
E ela se afastou dele mais uma vez. — Você terá que falar com Deus sobre
isso, senhor, já que parece que eu não tenho escolha no assunto.
— Mas você tem. Você foge. Você luta contra mim —, ele disse a ela. Sua
voz era muito suave. Seus olhos também estavam buscando. Ele estava
chegando tão perto da criança que sempre havia perdido o Natal, da mulher que
ainda estava tão terrivelmente assustada.
— Eu não pareço fugir rápido o suficiente —, ela o informou
implacavelmente, o que trouxe uma risada aos lábios dele, mas algo mais em em
seus olhos. Ele queria coisas dela. Coisas que ela não podia dar.
Coisas que ela estava com muito medo de dar.
— O que é, Shane? Alguma coisa errada? — Francesca perguntou
preocupada. Pobrezinha. Ela tinha apenas dez anos, e às vezes parecia muito
velha. A vida lhe deu uma consciência muito apurada. Ela tinha passado de
parente para parente, e agora estava preocupada que ela pudesse ser a causa dos
problemas que haviam entre eles.
— Errada? — Shane disse a sua sobrinha, levantando a menina em seus
braços. — Quando eu moro com duas das mulheres mais bonitas do Oeste?
Nunca! Estávamos apenas discutindo o Natal, Kaitlin e eu. E o Papai Noel virá
este ano.
— Ele nunca veio antes —, disse Francesca.
— Bem, ele virá este ano. Direto da chaminé.
— Ele vai chamuscar seu traseiro! — Kaitlin advertiu.
— Nunca. Papai Noel é invulnerável ao fogo.
Francesca riu. — Ele virá por nós duas, por Kaitlin e eu?
Os olhos dele tocaram Kaitlin com uma curiosa luz de compreensão quando
ele respondeu a Francesca. — Oh, sim. Papai Noel virá por você. E por Kaitlin.
Mas Papai Noel poderia não vir. Não aqui, para esta tenda no deserto, onde
todos aqueles que a rodeavam não acreditavam no Natal.
As lágrimas se tornaram quentes atrás de seus cílios. Ela piscou forte, não
querendo deixar a primeira cair.
Ela ainda não chorou. Não importava quão assustada estivesse, não
importava o quão desesperada, nunca cederia as lágrimas. Ela era forte, sua
vontade era forte, seu espírito era forte. Shane disse isso. Era uma das coisas que
ele admirava nela. Observando-a com aquela expressão calma nos olhos, as
mãos nos quadris, a cabeça ligeiramente inclinada em um ângulo, ele havia dito
que sim. Ela ainda podia lembrar o timbre profundo de sua voz quando ele
falou com ela depois da primeira invasão dos índios. — Bem, você tem
coragem, meu amor e uma vontade de aço.
Talvez a implicação considerava que faltasse outras coisas nela, mas ela tinha
coragem.
Kaitlin recostou-se contra o couro cru da tenda, fechando os olhos,
continuando a lutar contra o impulso irresistível de chorar.
Você estava errado, Shane! Ela pensou. Tão errado. Algumas das outras
coisas estavam lá. Eu realmente te amo, mas não tive coragem de te contar.
Ela quase disse a ele. Ela quase disse naquele dia fatídico quando ela gravou
seu primeiro número na pele da tenda. Um três ... para três de dezembro de
1869.
Era o dia em que haviam brigado tão furiosamente porque ela o
desobedecera.
Genevieve havia desaparecido no extremo norte do campo. Ela era uma égua
pequena, parte-árabe, parte-selvagem, e ela era preciosa para Kaitlin. Ela não era
apenas o único cavalo que Kaitlin já possuíra, ela era elegante, linda e tão
afetuosa. Ela deu a Kaitlin tanto amor.
Então, quando ela desapareceu, Kaitlin a seguiu, montando o velho Henry, o
cavalo do arado. Não encontrou Genevieve, mas Shane a encontrou. E ele quase
a arrastou de volta, chamando-a de tola uma e outra vez, e advertindo-a de que
não tinha tempo para ir atrás dela. Seria um inverno brutal para aqueles que
vivem ao pé das Black Hills. (* Montanhas Negras) — Eu não fiz nada ...
— Diga aos Blackfeet quando eles encontrarem você da próxima vez!
— Eu não estou preocupada com os índios. Chancey me disse que eles estão
longe.
— Eles estão bem na nossa fronteira!
— Vivendo suas vidas. Enquanto vivemos nossa ...
— Não se engane, Kaitlin! Os Blackfeet eram a tribo mais guerreira da
região!
— Sim, e mataram um monte de brancos, e os brancos os mataram. Mas isso
é porque os brancos estavam violando seu comércio de peles. E agora nós
compramos as peles deles e…
— E supõe-se que isso torna tudo melhor?
— Mas os índios não chegam tão perto ...
— O inferno que não! Desde que aquele tolo caçador desapareceu com o
garoto de Black Eagle, os Blackfeet estão se aproximando cada vez mais. Todo
tipo de rumores estão circulando sobre a guerra dos indios, guerra real, horrível
e desastrosa. Droga Kaitlin, conheço Black Eagle! Eu o conheço bem. Você fica
fora do campo norte e da floresta ao norte!
— Mas Genevieve ...
— Genevieve agora é um pônei dos indios. Não há nenhum ladrão de
cavalos mais hábil no mundo do que os Blackfeet. Se você realmente se
importasse com qualquer coisa viva ao seu redor, ela talvez não tivesse
desaparecido!
Para Kaitlin, tinha sido isso. Ela imediatamente lhe assegurou que ele era o
único ser vivo ao seu redor que ela não se importava.
— Eu tirei você de um esgoto de Nova Orleans. Talvez seja lá que você
pertença!
Ela o atingiu. E de repente ela estava sendo arrastada pelo quarto deles e
jogada na cama deles. — Eu vi o fogo em você —, Shane disse com raiva. —
Eu vi você sorrir e rir. Por Deus, estava aí. Estava aí por Daniel Newton.
— Daniel é um cavalheiro ...
— E um amador meio tolo. E ele não é para você. Mas que droga, Kaitlin, o
fogo está aí. Dentro de você.
— Talvez você não tenha a faísca para acender qualquer fogo dentro de
mim! — ela respondeu furiosamente.
E ele ficou imóvel. Totalmente imóvel. — Oh, mas eu —, ele assegurou-lhe.
— Oh, mas eu tenho!
Ela saltou, de repente sentiu muito medo. Mas estava determinada que ele
nao o visse.
Ela queria correr - ela não pode. Ele colocou as mãos nos quadris,
bloqueando a porta. — Bem, você tem coragem, meu amor e uma vontade de
aço. Mas isso não irá ajudá-la agora. Nem um pouco. Se eu a cortejei ou a
ganhei, Kaitlin, eu a tornei minha esposa. E você concordou com os termos. E
serei amaldiçoado se deixar você tentar me expulsar por mais um minuto. Você
quer faiscas, Sra. McAuliffe? Vou acender uma caixa de fósforos, e então ajude-
me, vamos encontrar o fogo dentro de você.
Sua voz tinha trovejado, profunda, áspera, determinada. Sentada na tenda,
Kaitlin ainda podia ouvir o trovão em sua mente. Lembrando, sentiu um tremor
em seus dedos, e o tremor parecia se espalhar. Ela não podia esquecer o que
seguiu. Ela havia revivido uma e outra vez, aqui nesse desolado cativeiro no
deserto.
Houve mais naquela tarde. Muito mais.
Mesmo agora, o pensamento de tudo o que havia acontecido podia lhe trazer
um rubor às bochechas. Houve muito mais ...
Houve sua mão em seu braço e o impressionante aperto de ferro de seus
dedos. Ela olhou para aquela mão que a detinha, e uma replica afiada surgiu em
seus lábios. Mas então ela encontrou seus olhos. Olhos de avelã, com faíscas de
ouro cintilante. Olhos que comandavam, olhos que a mantinham. Olhos mais
quentes do que o brilho do sol, vivos com raiva, com determinação, com fogo ...
E com desejo.
Ah, sim, houve mais. A força violenta de seu beijo, a renda e o rasgo do
tecido. Seus punhos haviam voado em protesto, lutando contra ele. E depois...
Depois, houve a magia. As coisas sussurradas nas sombras de seu quarto.
Coisas íntimas. Um toque, um roçar, suas mãos, sua carícia, tão conhecida.
Exigindo aqui, tão terno ali. A sensação de sua carne nua contra ela, e uma
explosão de ouro quente de seus olhos entrando nela, de modo que uma chama
foi acesa dentro dela, agitando-a, despertando-a, levando-a a lugares que ela
nunca tinha estado antes, até que uma chuva de êxtase explodiu sobre ela como
uma chuva de mel vinda do céu ...
Tinha sido tentada a chorar também. Pois as palavras deveriam ter chegado.
Ela deveria ter sussurrado, ela deveria ter feito ele acreditar. Ela deveria ter tido
a coragem de arriscar o ridículo; ela deveria ter conseguido entregar-se a ele
finalmente.
Mas tinha tanto medo de que ele deixasse de lado esse presente ...
E então ela não falou, e ele se levantou, e ela virou as costas para ele. — Eu
sinto muito, Kaitlin. Não, maldição, eu não sinto muito. Você é minha esposa. E
eu quero que você seja mais do que uma cozinheira. Não vou parar na Nelly
Grier quando eu tenho uma beleza de cabelos negros em casa, mesmo que ela
tenha os olhos esmeralda piscando com nada além de ódio em minha direção.
Kaitlin não respondeu. Se ele não gostava tanto da diligente Nelly Grier,
talvez ela não desejasse ser a princesa de gelo que ele gostava de chamá-la.
— De cabelos negros e de coração negro —, Shane sussurrou suavemente, e
foi então que ela girou sobre ele.
— Não! Não! Não sou eu, Shane MacAuliffe. Você prova repetivamente que
prefere a compahia de Nelly do que a que voce tem em casa.
— Droga, eu prefiro uma centelha de calor!
O que ela acabou de dar a ele, ela se perguntou, se sentindo perdida. E por
que ele parecia mais violento e furioso agora do que nunca? Ela tinha jogado o
travesseiro nele com uma fúria repentina, e gritou que o odiava ...
E ele a encarou. Duro. Ele quase falou, mas não o fez. Ele girou o calcanhar
e a deixou, batendo a porta atrás dele.
— Não, não, isso foi uma mentira! — Ela sussurrou, mas falou para a porta
fechada. — Eu te amo, Shane —. E ela realmente o amava. Não a bela casa que
ele lhe dera. Não o armário cheio de vestidos. Nenhuma das coisas com as quais
ela se casou realmente significava qualquer coisa, não quando as comparava com
aquele olhar nos olhos dele quando ela insistia que o odiava.
Ela tinha que dizer a ele. E ela tinha que fazê-lo acreditar nela.
E então ela se lavou rapidamente e correu para fora da casa. Ela correu para
os estábulos que ele havia construído nos limites do deserto. Chancey, o antigo
colega de Shane e agora o dono de todos os comércios, estava lá, assobiando
enquanto esfregava óleo em um arnês. — Chancey, onde está Shane?
— Bem, eu acho que ele foi para o campo do norte. Disse que deveria haver
uma boa caçada naquela direção.
Esquecendo tudo o que Shane tinha dito a ela sobre o campo norte e
desconsiderando todos os protestos de Chancey, ela selou o velho Henry. — Eu
tenho que encontrar Shane —, ela disse com urgência.
E partiu.
E ela rapidamente soube o quão errada estava, pois ela mal chegou a floresta
norte antes de ouvir os gritos. Ela se virou, aterrorizada por vê-los. Uma festa de
guerra. Eles estavam equipados para o inverno, vestidos com peles de cervo
com franjas, jaquetas com contas e calções com franjas. Penas das faixas
dançavam em suas cabeças.
Seus clamores, seus gritos e chamados, enviaram um pânico espiralando por
ela.
Ela poderia ter conseguido voltar para o rancho com segurança com
Genevieve, mas não com o velho Henry.
Ela tentou apressar o cavalo. Mas ela mal tinha começado antes que o
primeiro dos guerreiros se acercou dela.
Ela esperou sentir uma flecha ou uma machadinha indigena percorrê-la. Ao
invés disso braços fortes a rodearam. Ela foi puxada para a montaria do índio. A
cavalgada selvagem que se seguiu foi quase tão assustadora como a primeira
visão dos índios.
Mas ela não chorou. Ela recusou ser intimidada.
Mesmo quando o índio a empurrou de seu cavalo para o chão.
Mesmo quando percebeu que os índios pareciam pensar que o velho Henry
era um prêmio maior do que ela mesma.
Talvez não, pois rapidamente percebeu que ela seria propriedade desse
primeiro guerreiro, que liderou a festa e a varreu de seu cavalo.
Ele era alto, quase tão alto quanto Shane, e tinha cabelos longos, lisos e
pretos. Seu rosto era profundamente bronzeado, com maçãs do rosto rigidas e
altas e olhos escuros profundos. Se ela não estivesse tão aterrorizada, ela poderia
ter dito que era um rosto nobre.
Ela não conseguiu pensa-lo como um rosto nobre por muito tempo, porque
quando a noite caiu, o índio chegou a tenda onde ela havia sido trazida.
Rapidamente ela percebeu que ele tinha a intenção de ter uma branca como
propriedade, pois ele mal terminou a refeição fornecida por uma india antes de
alcançá-la.
Ela lutou. Valentemente, pensou. Mas nunca houve qualquer disputa. O
índio riu, achando suas lutas divertidas. Ele a jogou no chão, seus olhos escuros
reclamando-a, seus lábios se curvaram em um sorriso. Então, de repente, seus
dedos se moveram sobre o seu anel.
Seu anel de casamento. Não havia nenhum anel de ouro apropriado quando
Shane casou-se com ela. O anel de noivado era o anel de sinete do seu dedo
minimo, colocado sobre seu dedo médio, feito para caber nela com linhas longas
enroscadas.
Ah, seus esforços não resultaram em nada.
Um olhar para aquele anel, e o índio se afastou.
Então ela descobriu que o índio que ela estava chamando de todos os tipos
de nomes falava inglês, e falava muito bem.
— Este é o anel de MacAuliffe. O que você está fazendo com isso?
— Eu sou a esposa de MacAuliffe —, ela disse, seu coração parecia ter
deixado de bater.
E foi assim. O índio levantou-se. — A esposa de MacAuliffe.
Ele saiu da tenda.
E Kaitlin tinha arranhado o número três na pele da sua curiosa prisão.
Tres de dezembro ...
Tanto tempo agora! E ela não tinha sofrido. Eles a tinham arrastado de volta
quando ela tentou escapar, mas fora disso, eles tinham sido o suficiente gentis
com ela.
Shane tinha dito a ela que conhecia Black Eagle. Conhecia bem. Ela não
sabia como, mas, aparentemente, havia algum tipo de ligação entre eles, pois o
chefe dos Blackfoot respeitava seu marido. Por que, ela não tinha certeza.
Sim ela tinha. Porque Shane sempre foi honesto; ele mantinha sua palavra.
Porque ele era determinado e honrado. Porque ele era corajoso. Porque ele
respeitava seus vizinhos indios; porque os via como seres humanos.
Havia tantas coisas maravilhosas sobre Shane.
E ela acabou de descobri-las muito tarde. Ela estava tão envolvida em sua
necessidade desesperada de encontrar a felicidade que ela a havia deixado
escorrer através de seus dedos.
E agora era quase Natal. Quão tolo seu orgulho tinha sido. Agora que ele
significava tão pouco, ela podia facilmente ter jogado tudo fora. Ela fechou os
olhos com força. Ela deveria estar em casa. Com os galhos de abeto e azevinho.
Com a árvore decorada. Com o vinho quente frente ao fogo ...
Não, as decorações realmente não significavam nada. Shane significava tudo.
Ela deveria estar com ele. Ela deveria ter se sentado em seu colo, colocado seus
braços ao redor de seu pescoço e sussurrado em sua orelha. — Shane, eu tenho
um presente para você ...
Mas o Natal viria e iria. O Natal seria o número vinte e cinco gravado no
couro da tenda. Não poderia haver ajuda para isso. A tribo de Black Eagle de
Blood Blackfeet até agora superava em número os colonos brancos na região de
modo que ninguém podia vir em seu resgate. Como Shane disse sobre
Genevieve, — Ela agora é um pônei dos indios —, então eles devem estar
dizendo sobre ela, — Ela é uma mulher dos índios agora —. Se eles assumissem
que ela ainda estava viva.
Nenhuma grande força policial poderia vir até o seu resgate. Ninguém
poderia vir resgatá-la. Ninguém mesmo.
Kaitlin se impulsionou de repente quando a aba da tenda, fechada contra o
frio da estação, foi de repente aberta. Black Eagle, alto e ameaçador em sua
camurça e peles de inverno, estava diante dela.
Ele estendeu a mão. — Levante-se, Kaitlin.
Ela o encarou com dificuldade. Ela estava aqui pelo que parecia por muito
tempo agora. Sentiu que conhecia bastante Black Eagle, pois falava com ele
muitas vezes.
Mas ele nunca veio até ela assim, exigindo que ela fosse com ele. Não em um
dia em que as neves do inverno se empilhavam lá fora e um vento cruel varria
sobre elas.
— Kaitlin, levante-se! — ele repetiu.
Ela não se atreveu a contrariá-lo. Ela o deixou pegar sua mão e puxou-a a
seus pés.
Ele jogou uma pele pesada sobre seus ombros e a levou para fora, onde o
vento soprava forte e perversamente e os flocos de neve varriam
descontroladamente através da vila de tendas.
E então ela o viu.
Ninguém podia vir ajudá-la. Qualquer homem branco que entrasse no
acampamento de Black Eagle agora tinha que estar louco, pois Black Eagle
estava furioso com os brancos, e os Blood Blackfoot eram conhecidos por sua
habilidade na guerra, na tortura e morte.
Mas Shane se aproximou.
Ele estava montado em Diablo, o belo garanhão preto que o havia levado
com segurança durante anos de guerra, errante e em paz. Ele estava muito alto
em sua sela, assim como ele tinha estado no dia em que ela o conheceu em
Nova Orleans.
Ele estava vestido contra o frio severo com suas altas botas de caça, uma
capa de lã negra com mangas, luvas de couro pretas e um chapéu com abas
baixas. A mechas dos seus cabelos cor de areia escapavam do chapéu com o
vento. Sob a borda de seu chapéu, ela pensou que via o brilho de seus olhos.
Ouro, desafiador, nunca vacilando ao encontrar o olhar castanho-escuro de
Black Eagle.
O coração de Kaitlin parecia bater contra o peito. Ele não poderia estar lá,
não realmente. Ela tinha pensado nele de forma tão pungente que tinha causado
essa miragem. Isso realmente não estava acontecendo ...
Mas estava.
— Esta é a sua esposa? — Perguntou Black Eagle, segurando fortemente
Kaitlin.
— Sim, essa é ela —, Shane respondeu simplesmente.
— Então vamos conversar —, disse Black Eagle. Seu aperto permaneceu
firme nos ombros de Kaitlin. Quando Shane desmontou de Diablo, Black Eagle
falou suavemente com Kaitlin. — MacAuliffe é um homem corajoso. Vamos
ver o quão corajoso. Talvez ele vá embora com você. Talvez ele morra no final
por minha faca de caça.
Seus joelhos tremiam. Ela ia cair.
— Volte para a tenda —, comandou Black Eagle. — Eu vou encontrá-lo em
outro lugar.
Ela balançou a cabeça com ferocidade. — Não! Eu…
— Vou conversar com ele em outro lugar! — Black Eagle repetiu.
Mais uma vez, ela balançou a cabeça. — Por favor, apenas um momento!
Ela não esperou por uma resposta. Ela não acreditava que Shane tivesse
vindo aqui, que tinha arriscado a morte quase certa.
Por ela. Ela tinha que dizer-lhe para ir.
Ela se libertou do aperto Black Eagle e começou a correr. A neve estava
profunda e ela teve que deslizar por ela.
— Kaitlin, pare! Volte para ele! — Shane ordenou.
Mas ela não obedeceu, não podia. Ela quase o alcançou e ela tropeçou no
final da neve, entrando em seus braços.
Ele parecia tão bom. Ela ergueu os olhos para os dele. Deus, eles eram tão
dourados. Tão reluzentes quanto o sol. Tão surpreendentes, tão poderosos.
Ela nunca esperava vê-lo novamente. Os traços bonitos e duros de seu rosto.
Essa mandíbula que poderia se apertar tão decididamente. Ela nunca esperava
sentir seus braços ao redor dela, sentir o calor crescente de sua proteção.
— Shane! Vá! — ela disse, seus lábios tremendo, seus dentes rangendo. —
Vá, enquanto você pode. Ele gosta de você, você sabe. Ele o admira. Se você
apenas o deixar em paz e ir para casa, de volta para Francesca ...
— MacAuliffe! — Black Eagle trovejou.
Shane a sacudiu. — Pare, Kaitlin, agora! Volte para ele e deixe-me falar.
— Ele poderia te matar!
— É um jogo —, admitiu Shane.
— Então…
Seus lábios se torceram em um sorriso irônico. — Ah, mas sempre parece ser
um jogo, não é, Kaitlin? Foi um jogo nos termos conhecido, a sacudida de uma
carta termos nos casado. Bem, eu sou um jogador. Deixe-me jogar o jogo.
Black Eagle estava quase ao seu lado. Shane iria devolve-la, até que eles
jogassem esse jogo de azar entre eles, seja lá o que fosse. Kaitlin ficou
aterrorizada.
— Shane, eu te amo! — ela gritou de repente, apaixonadamente.
Seus braços se apertaram ao redor dela. Eles eram quase brutais. — Porra,
Kaitlin, não diga coisas assim só porque eu vim aqui por você!
— Não, é verdade! — ela sussurrou com urgência.
Seus olhos, ferozes e dourados, encontraram os dela. Eu amo você por tanto
tempo, de verdade! Ela pensou. Mas ela não podia dizer isso agora. Ela não
podia começar a explicar.
— Não jogue com sua vida! — ela implorou.
Mas seus olhos deixaram os dela e encontraram os de Black Eagle. Ele a
empurrou para o chefe dos Blackfoot.
— Você é um idiota, ou um homem extremamente corajoso —, disse Black
Eagle.
— É quase Natal —, disse Shane. — Um feriado muito bom para meu povo.
Nós trocamos presentes nesse dia. Eu vim pedir minha esposa de volta para o
Natal. Ela seria seu presente para mim.
— Eu não sou branco, mas sei tudo sobre o Natal. Por que eu deveria dar-
lhe tal presente?
— Porque eu tenho um presente para você —, disse Shane. — Se você vir
comigo ...?
— Sozinho? Por que eu deveria confiar em você?
— Por que não deveria? Quando eu já traí uma confiança?
— Se eu não ficar satisfeito com seu presente, eu o matarei, não importa o
quão bem eu conheça você —, disse Black Eagle a Shane.
— Você irá tentar. Eu irei me defender —, disse Shane.
Black Eagle sorriu. — Será como você diz —. De repente, ele se virou para
Kaitlin. — Volte para a tenda como ordenei, ou chamarei as mulheres para ter
certeza de que você o fez. Você será um presente de um homem esta noite, meu
ou dele. Se ele for morto, eu não preciso, por honra a qualquer homem,
respeitar seus votos de casamento.
Os joelhos dela estavam dobrando de novo. No entanto, ela pretendia
obedecê-lo porque sabia que as mulheres Blackfoot podiam ser muito piores do
que os homens quando cuidavam de uma refém.
Mas Shane ainda estava lá ... com seus olhos ardentes sobre ela, cheios de
alguma emoção. Paixão, ódio, amor?
Ela não sabia qual.
— Por favor...! — ela sussurrou.
E Shane moveu-se. Contra seu próprio julgamento, ele deu um passo pela
enorme pilha de neve. Ele a tomou em seus braços por um momento, e seu
beijo queimou seus lábios com uma força surpreendente e com calor. Ela iria
cair por causa da batida feroz de seu coração ... por causa do jeito que seu
sangue fluia através de suas veias.
— Volte —, ele disse a ela.
— Shane…
— É um jogo Kaitlin —. Ele tocou sua bochecha, alisou seus cabelos. Sua
respiração era uma nuvem contra o frio do dia. — E eu sou um jogador. Você
sabe bem.
Ele virou-se, empurrando-a para longe dele, deixando-a. Kaitlin sentiu as
lágrimas ferroando seus olhos com força agora. Ela começou a tropeçar de volta
a tenda através da neve. Não havia nada que pudesse fazer.
A não ser esperar.
Ela caiu de joelhos na tenda. Lágrimas inundaram seus olhos.
Ela olhou para cima e viu os números que ela arranhara no couro da tenda.
O último número.
Vinte e quatro.
Era véspera de Natal. O último dia em que ela podia ver Shane.
Ela fechou os olhos novamente.
E de repente, tudo o que podia fazer era lembrar-se do primeiro dia em que
o viu, o primeiro.
Engraçado.
Já era quase Natal, também.
Capítulo 1
Christmastide 1868
Vieux Carree - o bairro francês Nova Orleans, Louisiana

Kaitlin estava no saguão coberto de fumaça da casa de vinhos e cervejas de


Madame de Bonnet, olhando fixamente para o homem chamado Jack Leroux.
Ele estava sentado em uma das mesas. Seu jogo esta noite era o poker.
Graças a Deus pelo poker.
O jogo tirou a atenção de Leroux dela, e se ela pudesse apenas pensar mais
claramente, poderia encontrar uma maneira de escapar de Leroux. Ela realmente
precisava escapar dele? Ela ainda não havia se comprometido legalmente com
ele; Ele não tinha o direito de rete-la!
Mas desde o momento em que a viu na estação, ele começou a rir, um riso de
puro prazer.
A última coisa que ela tinha vontade de fazer era rir. O medo que a consumiu
em sua viagem em todo o caminho do leste da Geórgia rapidamente se
converteu em horror.
O que a possuíra para responder a um anúncio de uma noiva por
correspondencia?
Vida, ela se lembrou tristemente. Não que ela já tenha sido realmente boa.
Seu pai – que Deus descansase sua alma - tinha sido um bêbado. Uma vez, ele
tinha dado sorte o suficiente com seus jogos de azar para adquirir um atrativo
pedaço de terra. O suficiente para convencer os pais aristocratas de sua mãe de
que ele seria uma boa presa.
Mas a terra que ele adquiriu foi lentamente vendida acre por acre. A mãe de
Kaitlin havia morrido quando ela tinha apenas cinco anos, deixando para trás
um lindo retrato de si mesma e nada mais. Houve anos de dificuldades onde
obteve o suficiente para comer, para pagar as contas. E havia Jemmy, seu irmão,
um ano mais novo do que ela, sua única salvação.
Mas a guerra chegou. E a guerra tomou Jemmy. E quando acabou, a guerra
tinha levado até o escasso telhado sobre sua cabeça.
Ela tentou. Ela tentou tanto. Embora ele fora um bêbado, ela adorava seu
pai, e ela era a única pessoa a cuidar dele. Ela ensinou as crianças a ler e a
escrever, mas a guerra tirou o dinheiro dos aristocratas, e deixou os exploradores
e um mundo que era apenas um fantasma do que foi uma vez.
Então, no ano passado, seu pai finalmente havia morrido e ela olhou a volta
para a devastação da Geórgia, e de repente decidiu que era hora de partir. No
Oeste, em Montana, no Arizona e em Dakota do Sul, havia novos mundos.
Mundos não assolados por Sherman e suas tropas. Mundos onde crianças
pequenas não passavam fome.
Ela queria um gosto desse mundo.
E então, ela começou a ler os jornais e, finalmente, encontrou o anúncio
perfeito. Um Sr. Jack Leroux estava procurando uma noiva. Ele era um
empresário de recursos, francês de descendência. Ele era alto, jovem, bonito e
amável, e procurava uma linda jovem para iluminar seus dias.
Ele havia lhe enviado uma foto de si mesmo e pediu uma em troca. Ela lhe
enviou uma, e logo depois, ela recebeu o dinheiro da passagem.
Foi uma idéia selvagem. Mas não havia nada para ela em casa, e a idéia de
conhecer este francês em Nova Orleans era emocionante. Sua propriedade era
em Montana, mas ele freqüentemente viajava para Nova Orleans. Seria um
ótimo lugar para se casar com uma noiva.
Desde o primeiro momento em que ela o viu - esperando por ela em sua
carruagem - ela soube que cometera um erro terrível e horrivelmente ingênuo.
Ele não se assemelhava à sua foto. A fotografia tinha mostrado o rosto
delgado de um jovem magro com cabelos escuros e um bigode exuberante.
Bem, esse Jack tinha cabelos escuros e um bigode, mas foi aí que qualquer
semelhança terminava. Jack Leroux era um homem grande, largo nos ombros,
gorducho no meio. Kaitlin não se preocupou com isso. Ela não esperava se
apaixonar. Tudo o que ela queria era algo tangível da vida. Uma casa
confortável. Vestuário que não fosse reparado em cima dos remendos.
Alimentos que não fossem cebolas e batatas. Coisas simples realmente. E o
homem da carta prometia muito mais. Sedas e cetim e assim por diante.
O que a horrorizava sobre Jack Leroux era seus olhos. Eles eram quase
negros e pequenos.
E eram malvados.
Ela mal sentiu a ponta dos dedos dele nela quando percebeu que fora uma
tola. Que ingênua idiota. Jack Leroux não estava à procura de uma esposa. Ou
talvez ele estivesse - talvez ele tenha se casado com muitas mulheres. Mas ela
sabia - sabia! - assim que seu olhar varreu sobre ela, avaliando que ele tinha
outros planos para ela, que não envolvia nenhuma propriedade no Oeste.
Ela tentou manter seu sorriso no rosto enquanto suas mãos tocavam as dela.
Ela se desculpou discretamente, dizendo que precisava procurar sua bagagem.
E então ela tentou correr. Ela não sabia para onde ir. Ou como faria quando
ela chegasse até lá. Ela gastou o dinheiro de Leroux na passagem. Isso
significava que ela estava em dívida com ele? Ele teria uma reivindicação legal
em relação a ela?
Ela estava com medo, mesmo da lei, porque a Reconstrução trouxe consigo
uma horda de compradores, ladrões e malandros, e não parecia importar se
houvesse um título antes do nome de um homem ou não.
Não importava porque, enquanto tentava fugir, ela não seria pega pela lei.
Ela foi pega por dois bandidos de Leroux, que logo a devolvera ao chefe. Ele
havia informado grosseiramente que tinha um jogo para participar, e que ela
também poderia passar sua primeira noite em Nova Orleans se acostumando
com sua nova posição na vida. De acordo com Jack, ela estava em dívida com
ele. Num montante de cinquenta dólares em ouro.
— Você não pode me forçar a casar com você! — Ela disse a ele, enquanto a
carruagem se movia adiante.
Quando ele riu, sabia que ele não se importava com o casamento.
— Você se acostumará com sua nova vida em breve, minha preciosa. Mas
você é uma beleza, um prêmio e tanto! Você me pagará em breve.
— Eu não irei pagar nada!
— Espero que você não esteja pensando em tentar fugir de mim novamente,
minha querida.
— E também não farei nada por você!
— Conheço homens que gostam de uma mulher briguenta.
— Eu tentarei matar você de alguma forma, eu matarei.
Isso o levou a mais gargalhadas. — Outra Rebelde se gabando! Bem,
senhorita High and Mighty, seu lado perdeu a guerra, lembra?
Ela cuspiu nele. Ele tirou o lenço branco como neve e enxugou o rosto. —
Eu verei como você pague por isso mais tarde, ma chérie. Agora, abra os olhos.
Dê uma olhada ao redor. Você tem a beleza para ganhar dinheiro. Dinheiro
verdadeiro. Pense nisso.
Quando o carro parou em frente a cervejaria, Leroux e seus capangas a
acompanharam forçosamente para dentro. Então Leroux foi embora, deixando-
a no corredor. Não importava. O local estava cheio de seu povo. Ele tinha
confiaça de que não havia nenhuma maneira de ela fugir.
Mas ela tinha que fugir, de alguma forma!
E era quase Natal. A época de paz, de boa vontade para com os homens!
Havia gente decente em Nova Orleans, Kaitlin estava convencida disso. Com
guerra ou sem guerra, malandros ou não. Se ela apenas pudesse conseguir iludir
Jack e seus homens.
O jogo de poker parecia uma dádiva de Deus. Jack estava sentado em uma
mesa, inclinando-se para trás na cadeira. As luzes estavam muito fracas, e a
fumaça era pesada. Havia outras mulheres no lugar. Loiras, morenas, ruivas e
com roupas escassas, estranhas. Elas se moviam com várias partes de seus
corpos espostos gigando indecentemente enquanto serviam bebidas para os
homens.
Os jogadores estavam bebendo uísque puro.
Os riscos eram altos.
Sem mais nada para evitar o pânico, Kaitlin começou a estudar os jogadores.
Ao lado de Jack havia outro grande companheiro. Ele era redondo como um
querubim com uma pequena boca em arco e, uma cabeça careca e limpa. Ele
deve ter sido muito rico, pois jogava moedas de ouro após moedas de ouro na
mesa. Ao lado dele, em contraste, estava um companheiro de traços finos com
bochechas escuras amareladas e um longo cabelo pegajoso.
Próximo a ele estava um homem mais jovem. Ele usava um chapéu baixo de
abas largas, mesmo na mesa. Ele provavelmente seria alto quando se levantasse,
pensou Kaitlin, e ele era bem constituido, com ombros largos elegantes e uma
cintura estreita. Ele estava vestido com um longo casaco de ferroviário, e parecia
ser amigo do companheiro sentado à sua direita.
Aquele sujeito era um jovem que chamou a atenção de Kaitlin.
Ele tinha lindos olhos azuis. Suaves como nuvens. Kaitlin sabia porque ele
tinha olhado diretamente para ela enquanto ela estava no corredor. Suas feições
eram muito bonitas, e seu cabelo era tão claro que era quase da cor de platina.
Ele sorriu para ela, e ela sentiu o baque do coração contra seu peito. Ele era
maravilhoso. Se ao menos ele fosse o homem que fez o anuncio buscando uma
noiva ...
Mas, certamente, um homem como esse teria escolhido jovens mulheres
respeitáveis. Ele não precisaria anunciar. Ela era tão tola.
Ao seu lado, seu amigo cutucou. O homem loiro disse algo, e seu vizinho
olhou para Kaitlin.
E ela viu claramente o rosto dele.
Olhos brilhantes, olhos castanhos que brilhavam como ouro, fixos nos dela
com diversão e especulação. Ele mastigava uma palha preguiçosamente e a
olhou de cima abaixo de uma forma que parecia fazer seu sangue vaporizar. Ela
queria rastejar por baixo da mesa.
Não é minha culpa que eu esteja aqui, e não sou esse tipo de mulher! Ela
queria gritar. Maldito seja ele. Havia tanta zombaria em seu olhar dourado.
Tanta especulação. Algo frio, e algo duro. E algo tão curioso também.
Ela rangeu os dentes. Ele era um homem muito bonito, magro, firme, e
bronzeado, ao mesmo tempo robusto e elegante. Mas suas maneiras a
perturbaram e ela olhou para seu amigo novamente.
A esperança subitamente nasceu em seu peito. Quando fosse a hora certa, ela
iria atirar-se à mercê do homem loiro. Certamente, ele não podia ser parte do
partido de Jack Leroux!
— Vamos, Leroux, coloque seu dinheiro na mesa! — o loiro disse.
— E não puxe outro ace, — o homem com os olhos dourados advertiu.
— Você está me acusando de trapacear! — Leroux de repente estava de pé.
— Eu não estou acusando ninguém de nada —, disse o homem. Ele estava
calmo, e tranquilo. Aqueles olhos de ouro avaliaram Leroux. — Eu só estou
sugerindo que você não arranque outro ace.
— Por que, você... — Leroux começou, e atrás dele, dois homens
apareceram com armas.
Houve o barulho de uma arma de fogo. Kaitlin tinha certaza de que ela
gritara.
O homem com os olhos dourados tinha retirado suas armas e desarmado os
homens que tinham mirado nele.
Ele não os tinha matado. Ele tinha atirado nas mãos dos dois. Nas armas das
mãos.
— Jesu! — alguém engasgou.
— Você quer colocar seu dinheiro na mesa? — o homem de traços finos
perguntou a Leroux.
Leroux sentou muito quieto, olhando para suas cartas. Então ele olhou para a
pilha de ouro na mesa.
— Eu não tenho mais o ouro.
— Então você está fora, — o homem com os olhos dourados disse.
— Não, não, eu não estou. — Leroux sorriu amplamente. — Tenho algo
melhor do que o ouro. Um presente de Natal, senhores.
De repente, ele empurrou a cadeira para trás e se levantou. Virando-se,
dramaticamente, ele varreu o braço na direção de Kaitlin. — Um prêmio muito
maior do que o ouro, senhores. Senhorita Kaitlin Grant, minha noiva. — Ele
retirou os papéis do bolso. — Sua dívida para mim, senhores. Ela pode ser de
vocês. — Ele jogou os papéis em cima da mesa.
Kaitlin engasgou. Ela olhou para os homens sentados à mesa. O homem
magro tinha uma aparência esguia, faminta sobre ela. Não era tranquilizador.
O gordo olhou para ela como se ela fosse um bife com purê de batatas e
torta de maçã, tudo em um.
— Mas eu não sou propriedade! — Kaitlin protestou.
Jack Leroux ignorou. — Estamos nessa, cavalheiros?
O homem louro bonito com os olhos azuis e seu amigo de olhos dourados
tambem estavam ambos olhando para ela.
O loiro, gentilmente.
O homem de olhos dourados mais especulativo do que nunca. Bem, ela
pertencia a Jack Leroux, parecia. Ela deve parecer uma prostituta.
— Eu não sou propriedade! Eu não devo nada a nenhum homem! Eu estou
tentando conseguir um xerife ou um policial ou a lei de uma forma ou de outr…
— Cale-se! — Jack disse, caminhando em direção a ela. — Cale a boca, ou
eu vou te ver negra e azul…
— O destino da senhora está sobre a mesa —, uma voz interrompeu
bruscamente. Ele pertencia ao homem com os olhos dourados. — Não toque
nela. Mostre sua mão.
Jack praguejou em francês. Mas seus dois capangas ainda estavam gemendo
com suas mãos dilaceradas pela bala, e eles não pareciam apreciar a idéia de
testar o rápido estranho novamente. Sentou-se e desvirou suas cartas.
Kaitlin não podia vê-las. Ela estava com medo de respirar.
Rapidamente, um por um, o resto dos homens desviraram suas cartas.
O louro bonito deu um grito de alegria. Jack praguejou novamente, parte em
Inglês, parte em francês. O homem gordo parecia desanimado.
O estranho com os olhos dourados deu de ombros. — Parece-me que você
esta acabado, Leroux.
Kaitlin não ouviu mais nada, pois o homem loiro se ergueu de seu assento,
correndo em sua direção. Antes que ela se desse conta ela foi pega e girada a sua
volta. Então, rindo com um humor maravilhoso de menino, ele a colocou no
chão novamente.
— Você está salva, princesa!
Ela sorriu de volta, certa de que ele tinha ganho o jogo.
— Deixe-me apresentar-me. Eu sou Daniel…
— Daniel, cuidado!
Daniel virou, arrastndo-a com ele, a tempo. Jack Leroux tinha se levantado,
uma faca pequena mas afiada brilhando em sua mão. Mas antes que ele pudesse
usá-la, o som de um tiro explodiu na sala. Leroux gritou, a faca tiniu no chão.
O homem com os olhos dourados tinha feito outro tiro perfeito.
— Talvez seria melhor a gente levar nossos ganhos e sair daqui, Shane —,
disse Daniel.
— Acho que concordo.
O homem de olhos dourados, o chamado Shane, ficou de pé, depois de ter
recolhido o ouro da mesa. Ele estava desconfiado, os olhos sobre todos os
homens ali enquanto ele recuava para o corredor.
— Desgraçado! — Jack assobiou para ele.
— Estamos partindo, Leroux. Não deixe ninguém erguer a mão para nos
impedir. Da próxima vez, eu vou atirar para matar. E vou mirar bem no seu
coração.
Kaitlin envolveu sua mão no braço de Daniel, seguindo enquanto ele abria o
caminho para fora. O homem chamado Shane ficou para trás, cobrindo sua
saída.
Um minuto depois, eles estavam na rua. Uma brisa vinda do Mississippi
flutuava. Ela levantou o cabelo de Kaitlin, e parecia acariciar sua bochecha. A
excitação estava trazendo um rubor a suas bochechas; o alívio a estava deixando
tonta.
Não seja uma tola! Ela tentou alertar a si mesma. Ela havia confiado o
suficiente nas cartas de Leroux para suportar uma viagem áspera por vários
estados apenas para descobrir que ele queria transformá-la em uma prostituta.
E tinha que haver algo para a dívida da correspondencia. Todos os homens
estavam dispostos a jogar por isso.
Ou por ela.
Mas isso Daniel ...
Ele era tão bonito, e muito gentil. Ela não podia deixar de rir com ele, não
podia deixar de sentir admiração com sua presença.
— Pegamos ele! — Daniel exclamou. — Pegamos aquele Francesinho
bastardo, Shane!
— Sim —, o chamado Shane disse, com a aba do chapéu puxado ainda mais
baixo agora. Ainda assim, Kaitlin sentiu seus olhos. Ela realmente não podia vê-
los sobre ela, ela apenas os sentia. Observando-a. Perguntando-se sobre ela.
Condenando-a?
Eles a tinham encontrado com Leroux.
— Em vez de ficar por aqui tagarelando, eu acho melhor nós começarmos a
nos mexer —, disse Shane. — Estamos muito perto do rio aqui, e não é uma
boa parte dele.
Daniel mencionou o nome de um hotel. — É muito adequado, podemos
tomar as providências para a nossa princesa aqui, Kaitlin. Kaitlin Grant. É assim
que ele disse que se chama, certo?
Ela abriu a boca para responder.
Shane respondeu por ela. — Se ele nos deu seu nome real.
— Que outro nome eu iria usar? — Kaitlin demandou. Se ela tivesse pêlos,
eles estariam se erguendo. Assim como aqueles em qualquer cão de caça,
quando se sabia que um animal perigoso estava nas proximidades.
Talvez não uma besta tão má como Leroux, mas não menos perigosa.
— Eu não sei —, disse ele sem rodeios. Ele empurrou o chapéu para trás, e
aqueles olhos dourados estudou-a da cabeça aos pés. — O que exatamente você
estava fazendo com ele? Há quanto tempo você tem estado com ele? Você
estava fazendo muito dinheiro para ele?
Kaitlin engasgou.
Nem mesmo os Yankees falavam assim!
Rápida como um gatilho, ela estendeu a mão para golpeá-lo.
Ele foi mais rápido, segurando o braço dela.
— Shane! — Daniel protestou, angustiado. — Shane, olhe para seu vestido!
É óbvio que ela é uma dama. Vamos ouvi-la!
Ele ainda segurava o braço dela. Seus dentes estavam cerrados, os olhos
estavam em chamas. — Tire as mãos de mim!
O som da voz dela foi cortante. Ela havia perdido sua mãe anos atrás, mas
ela nunca, nunca esqueceu. Nunca esqueceu as coisas que uma mulher devia
fazer, a maneira que uma dama devia agir. Ela sabia muito bem como vestir um
manto de dignidade que poucas pessoas poderiam romper.
Entretanto, ela ficou um pouco surpresa quando este homem a soltou.
No entanto, ela ainda não gostou do sorriso zombeteiro no rosto.
— Talvez nós superamos Leroux. Talvez ela está nos superando.
Kaitlin não iria falar com ele por mais tempo. Ela virou-se para Daniel. —
Todos os membros da minha família estão mortos —, ela disse suavemente. —
Meu irmão morreu na guerra, meu pai há apenas um ano. Não havia mais nada.
Eu tinha de partir. Eu tinha. Se você pudesse ver o jeito que eles estão
comandando o lugar…
— Os Yankees?
Ela hesitou. — Eu conheci alguns Yankees que não eram tão ruins, — ela
continuou calmamente. — Eles tentaram me deixar algum telhado, e algo para
comer. Eles eram soldados cansados quando chegaram, assim como meu irmão
poderia ter sido um soldado cansado no Norte. Não foram soldados que vieram
depois. Era lixo como Leroux. Então, eu tive que partir.
— Então você se vendeu a um homem como Leroux, — Shane interrompeu
secamente.
— Não! Sim! Eu não achei que...oh, não importa! Você não vai entender,
não importa o que eu diga!
Shane grunhiu sem se comprometer. Daniel a pegou pelo braço. — Vamos,
Shane. Ela está tremendo terrívelmente. Vamos para o hotel e jantar.
Shane deu de ombros. — Mas tenho que voltar pela manhã. Não importa o
que aconteça.
— Eu não... — Kaitlin começou.
Daniel puxou levemente seu braço. — Por favor, vamos para o hotel —,
disse ele.
Eles caminharam rapidamente pelas ruas. Havia marinheiros, e
provavelmente ladrões, batedores de carteira e prostitutas. Daniel a empurrou
entre ele e Shane enquanto se moviam ao longo da rua. Ela engoliu seco, ciente
do corpo duro do homem à sua esquerda. Ela não queria permitir que ele tivesse
alguma graça, ele era tão mordaz e tão rude. Mas, para seu crédito, ela percebeu,
ele não tinha nenhuma intenção de deixar que algo acontecesse a ela.
E ela não podia esquecer o quão rapidamente ele fez as pistolas em seu cinto
incendiarem.
Enquanto caminhavam, a atmosfera da cidade mudava gradualmente. Não
havia tantos marinheiros vagando pelas ruas. Carruagens bonitas começaram a
rolar.
As mulheres tinham um olhar diferente, e um ar diferente.
Em seguida, Daniel fez uma pausa ante um conjunto de portas de madeira
pesadas com as palavras — The Saint Francis — estampada acima deles. Ele
abriu a porta e a conduziu para dentro.
O hotel era lindo. Kaitlin não achava que ela já tinha visto nada parecido,
mesmo antes da guerra. Veludos escuros ricos cobriam uma variedade de
cadeiras e namoradeiras. Lustres de bronze com cristais brilhantes pendurados
nos tetos. O saguão era forrado com um bege elegante com flores brancas em
relevo quase imperceptíveis. O balcão da recepção era feito da madeira mais
profunda e escura.
— Vou tomar providências —, Shane disse, deixando Kaitlin com Daniel no
centro do saguão, onde um assento circular estava colocado sob um dos grandes
lustres.
— Por que ele é tão mau? — Kaitlin perguntou a Daniel.
— Shane? Bem, ele não é exatamente mau. Eu só acho que ele não confia
muito mais nas pessoas, isso é tudo. — Ele não iria falar mais. Ele parecia mais
perplexo com Kaitlin e as circunstâncias na qual ela se encontrava.
— Você não tem nenhuma casa para ir? — ele disse.
Ela balançou a cabeça. — E eu enho certeza que você já ganhou minha
divida. Eu posso compensá-la para você, eu prometo. Eu ensino. Eu posso
ensinar quase tudo. Leitura, geografia, história, piano.
— Mas você pretende ser uma noiva por correspondência?
Ela assentiu com a cabeça, sentindo-se escoar a cor em suas bochechas
novamente. Será que este homem pretende se casar com ela? A excitação
percorreu suas veias. Seria o ideal. Ele era tão atraente e tão gentil. Ela poderia
facilmente levar um casamento com ele. Ela não o amava, é claro; ela mal o
conhecia. Mas ela não estava esperando amor mais do que ela esperava um
verme de lixo branco como Jack Leroux.
As pessoas os estavam observando, ela percebeu de repente. Ela chamava
atenção de qualquer número de olhos masculinos. Ninguém entrava na sala sem
olhar em sua direção. Isso a tornou desconfortável.
— Bem? — Daniel persistiu. — Você ainda está disposta a ser uma noiva?
Ele a estava pedindo para casar com ele? — Sim —, ela disse suavemente.
— E você ensina? Sabe cozinhar? — ele perguntou.
Ela olhou-o nos olhos. Ele tinha um sorriso tão bonito! Ela assentiu com a
cabeça, sorrindo, também. — Sim. Muito bem, na verdade.
— Você seria tão boa para Francesca.
Ela franziu a testa, mas então percebeu que ele não estava realmente falando
com ela.
O homem chamado Shane apareceu atrás dela. Ela não sabia quanto tempo
ele tinha estado lá, ou há quanto tempo ele estava ouvindo. Ela não se
importava.
Shane grunhiu.
Daniel continuou falando como se ela não estivesse mais lá. — Ela deve ser a
criatura mais linda que já vi em toda a minha vida. Ela cozinha e limpa e
ensina…
— É o que ela diz. Talvez seus verdadeiros talentos estão em seus olhos, ou
talvez até mesmo quando ela está de costas...
— E o quão ruim seria isso? — Daniel exigiu.
— Chega! — Kaitlin exclamou.
Daniel pegou o braço dela. — Por favor! Eu peço desculpas por ele! Ele não
encontrou com uma dama por tanto tempo que ele só não sabe como se
comportar!
Shane ignorou. — Você acha que ela deveria ser uma noiva?
— O que se tem a perder?
Em seguida, Shane estava olhando para ela com aqueles olhos de ouro dele.
Eles pareciam brilhar através dela. Eles pareciam despi-la, ali mesmo no saguão.
Então, ele sorriu novamente, ironicamente, mas o escárnio foi dirigido de
alguma forma a ele mesmo. — Inferno, sim, você está certo, o que se tem a
perder! Bem, senhorita Kaitlin Grant, não poderá haver jogos de amor aqui. Mas
vamos ouvir de seus lábios. Você está pronta para enfrentar uma terra que é
quase um deserto bruto? Os índios ainda pensam que é deles. Você terá uma
casa e um lar. E uma boa quantidade de riquezas, acho. Mas há termos para um
casamento como este. O deserto também pode oferecer uma vida dura e uma
casa deve ser cuidada. É um lugar solitário às vezes. E um marido tem que ser
cuidado, também, senhorita Grant, se você entende o que quero dizer, estou
certo de que você sabe.
Ela sentiu uma faísca de fogo correndo em suas bochechas novamente. Se
ela pudesse bater-lhe muito forte, apenas uma vez, ela se sentiria muito melhor.
Mas ela não podia, não estando no elegante saguão, não com o muito amável
e gentil Daniel aguardando sua resposta.
Por que ele estava deixando este Shane fazer todas estas perguntas? Bem,
quando se casasse com Daniel, ela não deixaria que Shane dirigisse a sua vida
um minuto a mais.
— Leroux estava certo sobre uma coisa, senhor —, disse ela com firmeza. —
Você certamente é um-um bastardo.
— Esses são os termos, senhora.
— Seus termos.
— Meus termos, — ele repetiu, sem rodeios. — Oh, sim. Você parece ser
uma mulher muito bonita, senhorita Grant. Não há nada debaixo do tecido que
iria estragar a beleza, alguma falha que devamos saber?
— Shane! — Daniel protestou.
Esse homem me dá nos nervos! Ele devia saber, ele não a teve praticamente
despida com os olhos, bem ali no saguão?
— Não há falhas, senhor —, ela retrucou.
— Bem, você concorda com os termos?
Ela olhou para Daniel. Ele queria tornar as coisas muito mais fáceis para ela,
ela podia vê-lo. Ela engoliu seco. A parte íntima do casamento ia ser difícil, não
importa como fosse. Mas ela tinha aceitado isso quando ela tinha concordado
com a proposta de Leroux.
— Eu entendo o acordo, senhor —, ela disse friamente para Shane.
— Então talvez possamos resolver isso agora. Hoje à noite, — Daniel disse
alegremente.
— Por que não? — disse Shane. — Desculpe-me. Vou ver se eles podem
nos ajudar com uma mesa.
Mais uma vez, Shane se afastou. Kaitlin estava dormente. Tanta coisa havia
ocorrido em um dia.
Ela virou-se e olhou em volta do belo hotel. Alguém tinha atado as janelas
com ramos do azevinho e pequenas contas vermelhas de azevinho estavam
brilhantes e bonitas. Uma série de anjos de Natal brilhantemente coloridos
pendurados sobre os painéis atrás da mesa, onde Shane estava agora.
Era quase Natal. Como é maravilhoso. Para o Natal, ela estaria recebendo
um marido...Daniel.
— Eu acho que poderiamos ir até a suíte, — Daniel disse, sorrindo. — Ah,
aí vem Shane agora!
Ele estava caminhando em direção a eles de novo, tão alto nesse longo
casaco ferroviário dele. Ele deveria estar incompativel nesse elegante saguão.
Mas ele não estava. Ele se mostrava uma figura imponente, impressionante e
dominante.
E má, pensou Kaitlin. Ela lançou seu olhar com confiança em Daniel.
— Eu falei com o gerente, e ele foi muito compreensivo com... er...com a
delicadeza da nossa situação. Ele em breve estará lá em cima com um amigo, o
Padre Green de Saint Paul. Devemos ir? Suíte 204, Daniel, acima pelas escadas.
Kaitlin desejou que aqueles olhos dourados dele não brilhassem tão
intensamente em sua direção, nem piscassem com desafio muito, muito
divertido.
Daniel tomou sua mão, e a levou até as escadas. Ela se surpreendeu ao sentir
o toque de Shane sobre os ombros, puxando o tecido de algodão simples de seu
vestido.
— Você vai precisar de um novo guarda-roupa —, comentou ele. — Caro.
Ela virou-se para ele, arqueando uma sobrancelha. — Talvez meu marido vai
me achar merecedora dele.
Ele riu suavemente. — Talvez.
— Ah, aqui está a nossa suite! — Daniel disse.
Shane encaixou uma chave na porta e abriu-a. Eles entraram em um salão
elegante e pequeno com várias mesas laterais de madeira escura e cadeiras
ricamente estofadas. Sobre um aparador estava uma bela garrafa de vidro
lapidado cheia de conhaque e taças ao seu lado.
Havia duas portas na sala de estar. Uma levando a uma sala à esquerda, e um
que levava a uma sala à direita.
— Você gostaria de refrescar-se? — Daniel perguntou a Kaitlin. — Eu tenho
certeza de que há água no quarto…
— Podemos pedir um banho para ela, uma vez que isso tudo acabar, —
Shane disse secamente. — Conhaque? — ele perguntou a Daniel.
Então ele olhou para Kaitlin. — Senhorita Grant? Talvez você sinta a
necessidade de um. Afinal, você está prestes a vender sua alma ao diabo.
— Não, obrigado —, Kaitlin disse docemente. — Eu não sinto que eu esteja
vendendo minha alma ao diabo absolutamente.
— Não? — ele respondeu, arqueando uma sobrancelha mel escura. Seus
olhos estavam brilhando.
Houve uma batida na porta. Dois homens entraram: Sr. Clemmons, o
gerente, e uma alma de cabelos brancos, de aparência idosa, em vestes que foi
apresentado como Padre Green um ministro episcopal.
— Bem, agora, entendo que as circunstâncias aqui têm sido um pouco
peculiares. — os olhos cinzentos suaves olharam Kaitlin de cima abaixo. — Ah,
moça, você é uma beleza, e atraída para um covil de ladrões, por assim dizer!
Bem, vamos agradecer ao Senhor que este gentil cavalheiro pretende fazer de
você uma mulher honesta, dar-lhe o seu nome, e todos os bens terrenos que ele
possui. Se adiatem agora, e ouçam as palavras de nosso Senhor!
Kaitlin se moveu para a frente. Ela fechou os olhos e ouviu enquanto Padre
Green lia seu livro de orações.
Para ter e manter, para honrar e estimar.
Ela estava prestes a se casar. Legalmente casados. E ela iria deixar para trás
tudo o que lhe era familiar, deixar para trás seu amado, mas esfarrapado Sul, e
partir para uma nova vida. Ela tinha sido salva das garras de Jack Leroux por um
homem maravilhoso que agora a estava se tornando sua esposa.
— Você, Shane Patrick MacAuliffe, aceita esta mulher para ser sua esposa
legalmente...
Ela não ouviu mais nada. Seus olhos se abriram e olhou para seu lado.
Ela não estava se casando com Daniel. Ela estava se casando com Shane!
— Você! — ela suspirou, interrompendo o ministro.
— Bem, o que você acha? — Shane disse, exasperado. — Eu ganhei seus
papéis da dívida.
Não! Pensou com desânimo. Não! — Mas eu…
Ele se aproximou. — Daniel já está casado, Senhorita Grant. Sua esposa está
de volta a sua casa em Black Hills —, informou ele em um sussurro em seus
ouvidos somente para ela.
— Algo está errado? — perguntou o Padre Green.
— Tudo está errado! — disse Kaitlin.
Shane puxou-a para o lado. — Que diferença faz? — ele disse em voz baixa,
o rosto ilegível. — É um acordo, lembra? Eu sugeri que você podia estar
vendendo sua alma ao diabo, mas você parecia disposta assim mesmo. E o
próprio diabo podia ser uma melhoria em relação a Leroux, e você concordou
em entregar sua vida a ele.
— Eu não fiz isso! Eu expliquei…
— Sim claro.
— Oh, como você se atreve.
Padre Green pigarreou alto. — Se houver dificuldades…
— Não! — Daniel gritou do lado de fora. Ele deu um passo para a frente. —
Shane, não podemos deixá-la aqui!
— Eu posso fazer o meu próprio caminho- — começou Kaitlin.
— Vocês dois, pensem nisso! — Daniel pediu. — Vocês podem dar tanto
um ao outro o que vocês precisam! Pense em Francesca, Shane. E Kaitlin, você
estará segura!
— Eu continuo? — perguntou o Padre Green.
— Sim! — Daniel respondeu por eles.
Shane a puxou de volta a seu lugar a frente do ministro. Seus dedos estavam
frios. Tão frios. Ela ouviu a cerimônia seguir adiante. E adiante. Então Padre
Green pediu-lhe para jurar que ela iria amar, honrar e obedecer Shane Patrick
MacAuliffe.
E ela ouviu seu próprio sussurro quebrado. — Eu juro.
Ele colocou um anel em seu dedo. Era muito grande, ela teve que apertar os
dedos para mantê-lo. Ela olhou para ele. Era um anel de sinete com a iniciais
SPA.
— Eu vos declaro marido e mulher. Agora você pode beijar a noiva, Sr.
MacAuliffe.
Estava feito.
Kaitlin não deu a Shane a chance de beijá-la. Ela correu para o aparador e
pegou a garrafa de brandy.
Ele a seguiu, seus olhos dourados zombando sobre ela. — Então você
vendeu sua alma ao diabo. Já se arrependeu?
— Eu posso manter um acordo —, ela disse a ele friamente.
— Pode?
— Sr. e Sra MacAuliffe, há papéis para assinar, — Padre Green lembrou.
Kaitlin assinou os papéis. Então, ela não tinha certeza do que acontecia. Ela
estava tão entorpecida. Todos eles tomavam brandy. Então Padre Green e o Sr.
Clemmons desapareceram. Um jantar com carne assada foi providenciado para
os três: ela, Daniel e seu marido, Shane MacAuliffe, que ordenou um banho de
vapor quente para ela.
E, em seguida, Shane apoiou seu copo de brandy. — Talvez você gostaria de
se preparar para seu banho, Sra MacAuliffe.
Ela assentiu com a cabeça rigidamente.
Ele fez-lhe uma reverência cortês, seu braço estendido para indicar uma das
portas. — Madame, a sua esquerda. — Ele sorriu ironicamente. — Nosso
quarto.
Seus joelhos se curvaram. Ela iria cair.
Não. Ele queria que ela falhasse de alguma forma. Ele havia se casado com
ela, mas ele parecia desprezá-la.
Bem, ela não iria vacilar, e ela não iria falhar. Ela nunca falharia no seu dever.
Mas ela não iria dar-lhe mais nada. Nunca. Ela jurou silenciosamente para si
mesma.
Ela só tinha se casado.
Ela tinha acabado uma guerra, pensou tristemente.
Em algum lugar um relógio soou.
Shane começou a rir. Assustada, ela olhou para ele.
— Feliz Natal, meu amor —, disse ela. Seu olhar sustentou o dela e ele
engoliu mais brandy. — Oh, sim, Feliz Natal! Que presentes maravilhosos
demos um ao outro!
Capítulo 2
Ela era, Shane decidiu, a mulher mais bonita que já tinha visto.
Ele pensou por muito tempo antes da estranha reviravolta no jogo de poker.
Do momento em que ele a tinha visto no corredor pela primeira vez, de pé
contra a parede, olhando tão confusa, ele sentiu o mais curioso fascínio.
Qualquer homem a acharia bonita. Ela tinha o cabelo mais negro que o
ébano, quase azul em sua riqueza. Pequenos cachos enrolados sobre a moldura
oval do rosto e grandes olhos verdes enquanto a maior parte dele estava retirado
de seu rosto por prendedores que cascateavam livremente por toda extensão de
suas costas. Sua boca era generosa, os lábios carnudos, prometendo uma riqueza
de sensualidade. As maçãs do rosto eram clássicas-elas poderiam ter agraciado
uma estátua de Vênus em um museu. Seu nariz era fino e reto, as sobrancelhas
negras eram belamente arqueadas e finas. Ela era de estatura média, mas mesmo
em suas roupas gastas e remendadas e um pouco volumosas, sua forma era tudo
menos mediana. Ela era pequena, e magra, mas parecia haver as curvas mais
extraordinárias em seu corpo.
Mas ela tinha estado com Jack Leroux. Sua experiência com as mulheres não
tinha deixado um gosto confiante em sua boca, e ele ainda estava se
perguntando se ele não estava sendo o maior idiota do oeste.
Ela tinha pensado que ela estava casando com Daniel.
O riso era para os dois, talvez.
— Bem, então, Feliz Natal, Mr. MacAuliffe! — brindou a si mesmo. Ele
estava sentado sozinho no bar, mas de repente decidiu a poucos minutos após a
cerimônia, que tinha tido o suficiente de sua nova esposa para o momento. Ele
precisava escapar da suíte por um tempo. Para sentar-se sozinho.
Para refletir?
Bem, inferno, sim, era Natal. Ele tamborilou com os dedos sobre o painel de
carvalho do bar do hotel. Ele deveria estar em casa com Francesca. Ela não
deveria ter sido deixada sozinha. Ela estava tão frágil estes dias. Seu pai, o irmão
de Shane, tinha morrido nos primeiros dias da guerra, quando ela não era nada
além de um bebê de colo. Sua mãe tinha sucumbido à varíola um ano depois.
Francesca foi passar os próximos anos com a irmã de sua mãe, mas, em seguida,
Deidre, também, morreu de uma febre assustadora.
O proprio Shane tinha estado com o general Kirby-Smith. Eles não haviam
se rendido a Lee, que tinha lutado direto em maio, e tinha sido perto de
novembro de '65 quando Shane voltou finalmente para casa.
Bem, para o que restava de sua casa.
Jeannie tinha ido embora. Ela não foi morta por qualquer incêndio acidental
na guerra, e ela não tinha sucumbido a qualquer doença, a menos que a doença
tinha sido a ganância.
New Orleans tinha caído rapidamente. E uma série de grandes casas fora da
cidade simplesmente tinham sido tomadas.
Bem, pelo que Shane ouviu, Jeannie tinha descoberto que, se os ianques
estavam tomando o lugar, ela estava indo assumir os ianques.
Quando ouviu pela primeira vez sobre isso, ele quis matá-la. Ela, e o coronel
de infantaria com o qual ela tinha escolhido passar o tempo. Ele tinha ido lutar
longe, porém, tudo o que a sua ira conseguiu fazer era torná-lo descuidado. Em
algum lugar, no meio de alguma batalha, ele tinha decidido que simplesmente
não estava mais com raiva. Ele tinha algumas boas conexões, e ele requisitou um
divórcio.
Pareceu levar o resto da guerra para obter o divórcio, mas ele conseguiu. Ele
nunca teve que ver Jeannie novamente. Ele estava feliz. Ele estava com medo de
que ele fosse tentado estrangulá-la e o coronel, e desde que a guerra acabou, eles
provavelmente o teriam enforcado por isso, e que não teria — sido justo.
Ele tinha montado em casa, um atirador de elite, ou ex-atirador agora, que
tinha sido criado para assumir o trabalho de uma grande plantação. Apenas
parecia que simplesmente não restou mais nenhuma plantação, maior ou menor.
Um olhar para o que uma vez tinha sido sua casa de família, ao norte do
território bayou no sul da Louisiana o havia convencido de que era hora de
seguir em frente. Nesse aspecto, ele tinha tido sorte. Em Shiloh ele conseguiu
salvar a vida de um homem em sua companhia, e aconteceu que esse homem
tinha um pai muito inteligente uma pessoa que não se virou contra o Sul para
investir em dólares Yankee, mas que tinha conseguido se manter firme seu ouro
e participações negociando com a Europa. Ele tinha determinado a recompensar
Shane, e ele o fez, presentear-lhe com uma grande parcela de terreno nas Black
Hills de Dakota do Sul. Ainda era uma terra bruta, e não muito tempo atrás
realmente tinha havido uma violenta atividade indígena. Mas os índios estavam
sendo constantemente forçados em uma direção mais ocidental, e tinha havido
muito poucos problemas até agora.
A cidade mais próxima era um lugar chamado Three Mills, e uma quantidade
e uma variedade incrível de bens podia ser encontrado lá, junto com uma
quantidade razoável de sociedade. Pelo menos, foi o que disseram a Shane. E
enquanto caminhava entre as ruínas do que uma vez tinha sido sua casa, era algo
que ele estava determinado a acreditar. A guerra tinha acabado. Ele estava indo
para o norte.
Ele tinha estado alí há pouco mais de um ano, quando Francesca chegou. Ela
foi enviada em um navio até o Mississippi, em seguida, ela foi colocada em
qualquer ferrovia disponível, e trazida por montaria o resto do caminho. Ele
nunca tinha visto uma criatura mais abandonada do que sua sobrinha quando ele
chegou na cidade para buscá-la naquela tarde favoravelmente fria de fevereiro.
Seu rostinho estava comprimido, havia lágrimas quase congeladas em seu rosto,
mas seu queixo estava alto e seus olhos ...
Seus olhos quase tinham partido seu coração. Eles eram olhos maduros em
um rosto tão jovem. Eles eram de um belo marrom aveludado, mas eles
espelhavam uma solidão terrível, e um medo pior de rejeição. Durante anos, as
pessoas morriam em sua vida. E, em seguida, aqueles que permaneceram a
levavam de um lugar para outro. A morte de sua avó pelo lado de sua mãe a
tinha trazido aqui agora. Olhando para aquela carinha desolada, Shane tinha
jurado que, se ele conseguisse mais nada na vida, ele iria compensar Francesca
em tudo o que ela tinha perdido em seus anos mais jovens. Ele percebeu rápido
que amava muito a menina. E embora ela se aproximasse lentamente, ele sabia
que ela o amava. Confiar era difícil para ela, e Shane podia facilmente entender o
porquê. Cada vez que ele lembrava dos olhos da sobrinha ...
Olhos.
Os de Francesca eram de um marrom profundo, rico, assustados. Enquanto
os de sua nova esposa eram de um verde cintilante. Mas, como os de Francesca,
pareciam assustados. Eles o arrastavam para dentro. Havia algo tão gritante
neles, tão angustiados, tão ... bem, assustados. Mais do que sua beleza, o olhar
em seus olhos o tinham levado a sua decisão de fazê-la sua esposa.
Esposa. Que palavra estranha. Ele não tinha pensado em usá-la novamente
em relação a si mesmo.
Ele bebeu um copo de uísque, rolando a palavra por sua mente. Jeannie tinha
sido esposa suficiente para várias vidas. Shane decidiu que qualquer coisa que ele
quisesse de uma mulher podia ser obtido no Nelly Grier. Afinal, Three Mills não
era uma cidade ilícita. Nelly dirigia um estabelecimento elegante com belas,
talentosas, e vivazes pequenas criaturas que faziam algumas poucas exigências
sobre homens.
E ele, em troca, não esperava nada delas. Nada, exceto o riso e o
entretenimento do momento.
Que diabos tinha acontecido? Agora ele tinha uma esposa novamente. Bem
quando as coisas começavam a ir realmente bem. Ele tinha quase mil cabeças de
gado. Chancey, que tinha estado com ele na guerra, atuava como capataz dos
contratados. Francesca cuidava da casa. Bem, mais ou menos; mas ele tinha sido
um soldado, e os soldados tornaram-se acostumado a cuidar de si mesmos. Era
uma boa vida. Ele se preocupava um pouco sobre Francesca, e estava
sinceramente se arrependo de não estar com ela agora, para o Natal, mas ele
teve que ir a Nova Orleans para resolver algumas velhas disputas da família. A
propriedade que tinha sido roubada estava sendo retormada, e Shane tinha
decidido que era necessário ter sua terra de volta. Ele poderia nunca se importar
se ele iria ver o Oeste ou o Velho Sul novamente, mas um dia, Francesca
gostaria de saber de onde seu pai tinha vindo.
Ele tamborilou com os dedos no bar. Bem, pelo menos ele poderia dizer a
Francesca, quando retornasse a Three Mills, que ele tinha feito algo por ela no
Natal. Seus dedos se feriram em volta do copo. Ele teria que ter uma longa
conversa com a beleza hostil no andar de cima. Ele não se importava se ela
lamentasse seu acordo a partir desta noite até o dia em que ela morresse, mas ela
iria tornar a vida agradável para Francesca. Ela havia dito que podia cozinhar.
Os jantares iriam melhorar muito. Ela poderia manter a casa. Bem, suas roupas
eram melhor serem mantidas limpas e arrumadas, o seu salão em forma.
Mas nenhuma dessas coisas realmente importava. Havia apenas uma coisa
que sua nova aquisição precisava fazer, e era cuidar de Francesca de uma
maneira que Shane não podia.
Ele olhou para a escada. Será que ele foi pego por uma das melhores
prostitutas de Jack Leroux?
E se isso realmente importa? Conquanto ela tivesse um coração, coração
suficiente para Francesca?
Ele jogou uma moeda no bar e se levantou, olhando para as escadas. Era
Natal, e ele agora tinha uma esposa. Uma mulher que era excepcionalmente
bonita, e quem se casara com ele concordando com seus termos.
Talvez fosse a hora dele descobrir um pouco mais sobre ela.
Ele subiu as escadas de dois em dois, de repente, sentindo uma onda quente
de raiva e o desejo disparar através dele como lava vulcânica. Ele entrou pela
porta da suíte e encontrou o salão vazio.
Onde diabos estava Daniel? Ele e a nova Sra MacAuliffe foram juntos para
algum lugar?
Ele apertou os dentes, perguntando por que ele estava permitindo que seus
pensamentos sobre ela o fizessem desconfiar de um bom amigo. Ainda assim, a
questão permaneceu com ele. Ele caminhou em silêncio do outro lado da sala
para a porta do lado esquerdo da sala e silenciosamente a abriu.
Ela estava lá. Sozinha. Esticada para fora em uma grande banheira de lata.
Seus olhos estavam fechados, sua cabeça estava inclinada para trás, o
comprimento luxurioso de seu cabelo estava sobre a borda da banheira, onde a
cabeça descansava, as extremidades apenas tocando o chão.
Bolhas a cercavam. Muitas delas. Mesmo que elas escondessem seu corpo,
elas simplismente intensificavam, aquela sensação de fogo que crescia dentro
dele. Fogo que ardia, e fogo que trazia ...
Calor. Um calor que ele não queria sentir. Ela parecia muito cansada, e
indefesa. A beleza de porcelana de seu rosto nunca tinha sido tão evidente. Em
seguida, seus olhos se abriram e ela saltou violentamente. Ela o tinha ouvido.
Por um momento tão breve, ele pensou que viu o medo dentro de seus
olhos. Mas então eles estavam piscando, esmeraldas e brilhantes, e muito hostis.
Ele entrou no quarto, lançando o casaco e seu cinturão. Ela o observou
durante todo tempo, os cílios vibraram quando seu olhar caiu sobre seu
cinturão.
— Eu não vou atirar em você —, ele disse a ela. Então ele parou por um
momento refletindo. — Ainda não, de qualquer maneira.
Ela olhou para ele. Ele sorriu e deu de ombros inocentemente.
— Você é muito bom com elas —, disse ela.
— Sim, eu sou.
— E você é humilde.
— Não é uma questão de ser humilde. Passei quatro anos da minha vida
usando-os quase que diariamente. Sim, eu sou bom com eles —, disse ele,
cansado. Sentou-se na cama e tirou as botas. Ela pareceu saltar uma milha
quando eles bateram no chão. Seus olhos se encontraram. Eles ficaram cativos
alí enquanto ele desabotoava a camisa, botão por botão. Então ele puxou as
franjas de sua calça jeans e deixou a camisa cair casualmente no chão. Ele parou.
Mais uma vez, houve aquele olhar de pânico nela. Um pulso que batia como um
incêndio na base de sua bela garganta.
Ele aproximou-se da banheira. Em seguida, se ajoelhou ao lado dela. Talvez
tinha sido seu erro. O cheiro era suave, uma mistura de rosas e limpeza
feminina. Algo torceu dentro dele. Ele coçou para tocá-la, arrancá-la da
banheira, e tê-la ali mesmo e olhar para as sutilezas mais tarde. Ele rangeu os
dentes novamente, determinado que não iria ser assim. Talvez ela fosse uma das
putas de Jack Leroux. Talvez, o inferno. Provavelmente. Mas ela era sua esposa.
Ele moveu os dedos na água, logo acima dos seios. Ela não se moveu.
Somente aquele pulso em sua garganta, e, em seguida, a subida galopante e a
queda do seu peito.
— Tem segundos pensamentos? — ele perguntou.
Seus olhos se encontraram. Ela balançou a cabeça. Ele sorriu. Ela estava com
vontade clara de acertá-lo. Esperando para realmente atingi-lo.
— Penso que você esteve nessa banheira tempo suficiente?
Ela balançou a cabeça novamente. — Se você simplesmente for embora por
alguns minutos…
Ele riu alto. — Não, eu não simplesmente irei embora. Fizemos um acordo.
Você não está tentando se safar dele, não é?
— Não, não estou tentando me safar de qualquer coisa. Sim, eu fiz um
acordo! E pretendo manter cada promessa dolorosa que fiz!
— Promessa dolorosa? — Shane disse indignado. — Eu discordo. Nunca
tive quaisquer queixas.
— As luminarias estão acesas, eu não tenho nenhuma camisola decente.
— Você certamente não precisa de uma camisola…
— Mas a luz! Ninguém pensaria em fazer, o que você está pensando em
fazer, com tanta luz…
— Eu não tenho tanta certeza de que somos pessoas decentes, Sra.
MacAuliffe. E eu só adquiri uma noiva em circunstâncias muito incomuns.
Tenho a intenção de inspecionar cada polegada de minha nova aquisição.
Seus olhos ficaram muito amplos, e de repente ele não aguentou mais. Sem
se importar com as calças que ele ainda usava, enfiou a mão na banheira,
arrancando-a com, bolhas e tudo. Ele baixou-a na cama, se espalhando a meio
caminho sobre ela. Um grito assustado começou a escapar de seus lábios e ele os
cobriu com a palma da sua mão.
— Você não deve começar a gritar de prazer ainda —, alertou a ela
sarcasticamente. — Temos companhia. Daniel. Ele provavelmente está
dormindo agora. Infelizmente, meu amor! E você pensou que estaria dormindo
com ele. Desculpe, sou eu!
A fúria brilhou nos olhos dela outra vez, quentes e verdes. Shane sentiu
como se as chamas rompessem em sua virilha, e rasgasse através de toda
extensão dele. Ele reconhecera sua beleza tão rapidamente. Ele sabia que estava
caindo em alguma prisão com o assombroso esmeralda de seus olhos.
Ele não percebeu que poderia querê-la dessa maneira. Tão
desesperadamente. Que as chamas dentro dele pudessem queimar e subir mais
brilhantes do que a perversa tempestade de um incêndio florestal.
Ela mordeu sua mão. Ele soltou uma maldição abafada e a afastou.
— Eu não estou prestes a gritar de prazer —, assegurou ela.
— Talvez você vá—, ele zombou. Suas mãos estavam pressionando contra
seu peito. — Então, novamente, talvez você queira renegar.
— Não! Vamos em frente com este acordo miserável!
Por um momento ele fez uma pausa, olhando para seu rosto. Era Natal.
Deixe ela estar. Procurar um pouco de paz.
Não. Era Natal, e eles formaram um estranho acordo. E provavelmente seria
melhor se ela soubesse desde o início que ele não tinha tomado uma esposa por
seu valor ornamental, que ela iria cumprir todos os aspectos do seu acordo.
— Eu vou tentar torná-lo o menos miserável que eu puder —, ele disse a ela
suavemente.
Poderia ter havido um indício de lágrimas nos olhos dela. Um suave indicio.
Então ela os fechou.
E então ele realmente não pode esperar mais tempo.
Ele beijou suas pálpebras. Levemente. A ponta do nariz. Em seguida, ele
encontrou seus lábios. Encontrou resistência dentro deles. Mas ele a beijou de
qualquer modo. Sua boca estava fechada contra ele. Imóvel. Ele deixou sua
lingua provocar e acariciar a suavidade de seus lábios até que eles começaram a
se separar. Ele acariciou a carne interna mais macia. E quando ela começou a
oferecer, ele permitiu que paixão e desejo dessem rédea solta, livremente,
completamente, poderosamente conhecendo os segredos de seus lábios, dentes
e língua, e sentir o trovão cada vez maior de desejo dentro de suas próprias
entranhas.
Seus dedos não mais pressionavam contra ele. Ele se levantou rapidamente,
expondo todo seu corpo a seus olhos enquanto ele tirava as calças. Ela ficou
imediatamente na defensiva novamente, os olhos crescendo muito largos
enquanto ela olhava para ele, seus dedos tateando para as cobertas.
— Não! — ele disse a ela com a voz rouca, pegando sua mão e pausando por
um minuto.
Não havia falhas nela em nenhum lugar. Ela tinha a forma de uma deusa,
com seios firmes e fartos, culminando no rosa escuro dos mamilos. Ela tinha
uma cintura minúscula, quadris suavemente arredondados, e pernas longas e
bem torneadas. Ela era tão impressionante que ele a olhou. Olhou para ela tanto
tempo que seu humor e rebeldia chamejaram e seu descomforto desapareceu.
— Devo ficar de pé, devo andar por aí? — Ela exigiu furiosamente.
Shane riu. — Madame, eu não me importaria nem um pouco!
— Oh! — Ela engasgou, mas ele permitiu que seu protesto fosse mais longe,
descendo sobre ela, e cobrindo a sua nudez novamente com a maior parte de
seu corpo. Ele capturou os lábios novamente, e beijou-a até que ela se rendeu ao
beijo.
Então seus lábios deixaram os dela, e traçou um padrão lento e constante ao
longo de seu corpo. Sua boca parou no pulsar de sua garganta. Ela brincou onde
os mamilos rosa escuro se erguiam tão duros e tentadores à sua frente. Ele a
ouviu segurar sua respiração, sentiu seu corpo retorcendo debaixo dele, e
passou, enterrando seu rosto contra a superfície plana e doce de sua barriga.
Os dedos dela enterraram em seu cabelo. Ela murmurou alguns protestos.
Ele os ignorou, torcendo o corpo dela de repente, acariciando o comprimento
de sua coluna com seu toque, e seguindo o toque com a umidade quente de sua
língua. Ele virou-a de novo e encontrou os olhos dela nos dele. Seus seios
subiam e desciam rapidamente. Talvez ela não estava gritando com prazer, mas
ela tremia ferozmente. Tão ferozmente.
Ele sorriu, e passou seus dedos ao longo dela novamente, suavemente
acariciando seus seios, sua barriga, e abaixo. Ele apertou seus lábios contra sua
carne mais uma vez. Cada vez mais baixo. Ela gritou em protesto, mas ele não
lhe deu trégua, tocando, acariciando, acariciando. Quando se elevou acima dela,
a cabeça estava jogada contra o travesseiro. Ele a pegou, segurou-a firme, e
encontrou seus olhos.
Bom Deus, mas havia paixão dentro deles! Se apenas ele pudesse tirar o calor
e o fogo. Ela estava tentando desesperadamente se segurar contra ele.
Ela era sua esposa.
Ele separou suas coxas, seu desejo em um pico feroz e faminto.
Mesmo refreando o desejo rapidamente quando sentiu a barreira, ouviu a
nitida tomada de sua respiração. Ele encontrou seus olhos de novo e eles
estavam brilhando com umidade. — Você não era uma das prostitutas de
Leroux.
— Eu lhe disse quem eu era! — ela gritou. Seus braços estavam sobre ele
agora, mãos que agarraram seus ombros, preparando contra a dor. Ele podia
parar, ele poderia se afastar. Mas o dano estaria feito.
E ela era sua esposa. Eles estavam ligados agora. E ela o assegurou de que ela
faria seu miserável dever.
Ele a manteve imóvel, então se moveu lentamente. Tão devagar. E começou
a sentir a mudança sutil em seu corpo, sentiu-o dar, o sentiu aceitar. Mais uma
vez, a força do seu desejo o atravessou. Aumentou e arrastar. O cheiro dela, a
sensação dela, mesmo o esmeralda de seus olhos, tudo arrastando para a força
de sua necessidade.
Ela se moveu. Ele tinha tocado algo dentro dela. Talvez ele não tivesse
encontrado a paixão ardente dentro dela, mas ele tinha tocado alguma coisa. Um
som suave escapou de seus lábios. Seu corpo se movia debaixo dele.
A profundidade de sua própria avidez o capturou. Desmoronando, volátil,
rasgou através dele até que explodiu dentro dela, e arrastou para ela. Sua
consequencia manteve tremores varrendo através dele enquanto ele aliviou o
peso nela, vindo para seu lado. Ela tentou afastar-se dele, sufocando,
embaraçada.
— Não —, ele disse a ela suavemente.
— Não, o que? Eu já cumpri meu acordo.
— Esse acordo 'miserável'! — disse Shane. Droga. Ele queria dar um tapa
nela. Ele sabia que ele tinha dado a ela alguma coisa. — Mrs. MacAuliffe, esta
foi uma noite. Nós temos uma vida inteira pela frente.
— Mas você…
— Eu apreciei este 'miserável' bocado tremendamente. Especialmente desde
que descobri ...
— Que eu não era uma das prostitutas do Leroux? — Ela exigiu.
Ele olhou para ela; seu cabelo de ébano era uma cabeleira selvagem em volta
de seus traços finos. — Sim —, disse ele.
Ela tentou se afastar. Ele pegou o braço dela, desejando que ele não tivesse
começado o relacionamento com tanta hostilidade. Qual relação? Perguntou-se.
Ele mal a conhecia.
Ele tinha desconfiado dela desde o início.
Inferno, ela ainda era uma aventureira.
Talvez isso não fosse tão ruim. Talvez eles fossem todos conchas danificadas
que uma vez tinham sido pessoas.
Se nada mais, ele pensou, ele tinha uma parceira de cama tentadora.
Incêndios poderiam construir e queimar dentro dele novamente tão
rapidamente ...
Ele se conteve, rangendo os dentes. Casara-se com ela. Ele iria fazer
funcionar.
— Vamos dar uma trégua para o Natal —, disse ele suavemente.
— O que?
— É Natal, Kaitlin. A temporada de boa vontade, paz e tudo o mais. Vamos
dar uma trégua. Vamos agir como homem e mulher, até amanhã à tarde.
— Amanhã à tarde? — Seus belos olhos verdes se estreitaram com
desconfiança e ele riu.
— Sim, você vai apreciar isso, creio eu. Vou voltar para casa sem você.
O prazer de surpresa nos olhos dela era francamente quase um insulto.
— Você tem que conseguir alguma roupa, e somente Nova Orleans poderia
ser o lugar certo para fazê-las. Eu tenho que voltar. Deixei Francesca, e um
grande rebanho de gado. Você pode partir assim que adquirir tudo o que pode
precisar. Você pode querer olhar artigos para o lar também. Compre algumas
panelas e frigideiras que você goste. E cortinas.
Ele não tinha certeza de que impressão lhe deu, permitindo—lhe rédea livre
nas compras. Ela o estudou gravemente, enquanto falava, então, perguntou: —
Quem é Francesca?
— A minha sobrinha. Ela vive comigo. Ela tem quase dez anos.
— Oh, — ela disse simplesmente.
Raiva, talvez irracional, de repente, o apoderou. Ele subiu em cima dela,
montando-a na cama. — Você pode ter qualquer hostilidade contra mim que
você queira Sra MacAuliffe, mas você nunca a mostre diante dela! E nunca
levante um dedo cruel para essa criança, você entende?
O fogo esmeralda acendeu seus olhos. — Estarei inteiramente grata pela
companhia dela ao invés da sua! — Ela olhou para ele em desafio, e então ela
pareceu perceber sua posição, e a nudez deles. Suas pestanas baixaram. —
Honestamente. Eu amo crianças. Você vai realmente partir pela manhã?
— Sim. Provavelmente será abril, até que você me veja de novo, quando for
capaz de viajar.
Ela arregalou os olhos para ele. Ela assentiu com gravidade. — Ficará tudo
bem. — Ela podia ser tão formal às vezes. — Vou ser muito cuidadosa com o
seu dinheiro —, disse ela.
— Você não precisa ser tão cuidadosa. Você precisa comprar o que quiser, e
o que você precisa. Eu consegui me tornar um homem bastante rico —, disse
ele. Ele achou que seus olhos se arregalaram novamente. — O acordo não é de
tal modo unilateral, Sra MacAuliffe. Acho que você vai gostar de sua nova casa.
É muito graciosa. Como eu disse, compre qualquer coisa que você queira.
Seus olhos se encontraram. — Obrigada.
— Teremos uma trégua de Natal?
— Sim. — Foi apenas um sussurro.
— Então deite-se, Sra MacAuliffe, pois eu vejo meses frios e solitários a
minha frente, quando acabei de adquirir uma esposa.
Ela engoliu seco. Em seguida, ela passou os braços ao redor dele, e apertou
seus lábios contra os dele.
Surpreso, ele endureceu e a puxou de volta. — Isso é pela roupa? — Ele
perguntou a ela amargamente. — Ou pela casa?
— Oh! — ela gritou, e tentou se afastar. — Por nenhum dos dois! Foi pelo
Natal.
Ele sentiu muito, muito. Não importava o que tinha sido aquilo, ela fez um
movimento hesitante em sua direção.
E ele a queria. Sua fascinação por ela havia se tornado algo a vencer dentro
dele, levando-o. Ele não seria capaz de tirá-la de sua mente uma vez que ele a
deixasse. Nem por um minuto. Ele sentia muito por sua promessa. Ele não
poderia começar a prever os meses à frente sem ela.
— Kaitlin!
Ela rolou para o lado dela por baixo dele. Ele pegou seu ombro, puxando-a
de volta. — Kaitlin, eu sinto muito. Vem. Vem me amar para o Natal.
Aqueles olhos dela encontraram os dele. Brilhantes, bonitos.
Ela não fez nenhuma insinuação para ele novamente, mas ela também não
lutou com ele.
Bem, ela tinha dito que estava determinada a cumprir o seu dever.
E ainda...
Ele fez amor com ela lentamente, completamente. E a necessidade dele por
ela atingiu picos que o surpreendeu, eles foram tão fortes.
Ele tocou algo em troca. Alguma coisa. Ele sabia que ele a machucou, que ele
deu a ela. Mas ela se conteve. Não importava quais emoções e sentimentos
escaparam dela, havia algo que ela se conteve.
Talvez isso não importasse. Talvez isso viria. No entanto, o deixou com uma
sensação de perda, de avidez mais intensa.
Ele tinha que ter isso.
Isso seria o futuro.
Para aquele inicio de manhã de Natal antecipada, ele dormiu com sua nova
esposa em seus braços.
Trégua de Natal.
Capítulo 3
Kaitlin não chegou a Three Mills até o final de maio.
Shane e Daniel partiram a tempo de evitar o pior clima da temporada.
Quando Kaitlin deveria ter partido, o inverno tinha-se tornado tão duro que
Shane enviou um telégrama aconselhando-a adiar seus planos de viagem por um
tempo.
Kaitlin olhou para o telegrama por um longo tempo, perguntando se ele já
não estava arrependido de tudo. Ele a tinha deixado no dia de Natal.
Não tinha sido um Natal tão terrível. Ela despertou e descobriu que ele tinha
deixado o quarto, e uma caixa ao lado da cama. Feliz Natal, lia-se. E dentro dele
havia um lindo vestido de veludo e seda vermelho, um vestido de Natal. Havia
uma nota inclusa nas dobras, também.
O ajuste pode não ser perfeito, mas você irá usá-lo para fazer suas próprias compras.
Parecia bastante difícil se levantar e caminhar naquela manhã. Seu corpo
estava dolorido, mas ainda tão quente!
E só de pensar na noite, ela poderia corar muito facilmente. Disse a si mesma
que seria miserável, mas que ela tinha determinação, ela era forte, ela iria
suportar.
Mas no final...
A noite não pareceu tão miserável. Talvez tivesse havido magia de Natal em
torno deles. Algo quente, algo muito generoso. Deveria ter sido tão horrível.
Foi extremamente agradável. Ele a fez pensar em seu novo marido com uma
luz totalmente diferente. Havia algo em seu toque ...
Fosse o que fosse, em um minuto ele a tinha tornado temerosa para vê-lo de
novo e ansiosa para vê-lo logo. Por um lado, sua partida não foi, no mínimo
romântica. Ela tentou agradecê-lo, não tanto pelo vestido, mas porque ele tinha
dado a ela um presente de Natal. Parecia uma eternidade desde que ela tinha
recebido um.
Mas pela manhã, à luz do dia, os olhos de ouro pareciam sagazes e avaliavam
uma vez mais cada vez que se dirigiam a ela. — Eu dificilmente deixaria minha
mulher vestida em trapos, — ele disse a ela sem rodeios.
— No entanto, obrigada —, ela disse afetadamente. — Eu-eu não tenho um
presente para você.
Seu sorriso era perverso, provocando. — Ontem à noite já foi um presente
por si só.
Ela se afastou dele rapidamente, sentindo como se cerdas subissem em sua
nuca. Ele sabia que ela nunca tinha sido uma das mulheres de Leroux. Mas ele
ainda parecia condená-la pelo fato de ela estar lá para começar a ser uma.
Ela começou a sentir mais do que raiva ou fascínio por ele. Mais do que a
eletricidade surpreendente que parecia cercá-los na noite passada. Ele estava
dando a ela o que ela queria. Um lar. Uma família. Um mundo diferente. E ele
era um homem único. Ele era...
Bonito. Maravilhosamente forte, poderoso. Ele tinha uma constituição linda,
firme e magra, com músculos ondulados que eram duros e vibrantes. Naquela
noite, mesmo quando ele tinha acabado de sair do quarto, ela viu-se lembrando
da sensação de seus braços, o calor de sua carne ao lado dela, a amplitude
abrangente de seus ombros. Para sua surpresa, ela não temeu mais seu toque.
Ela dormiu absurdamente tranquila com os braços dele a sua volta.
Mas ela não podia deixá-lo saber. Ele pensaria que ela era uma prostituta e
estaria mais convencido de que ela deveria ter ficado com Jack Leroux.
Ele podia ser muito gentil. Ele também podia ser tão duro como uma rocha.
Ela tinha que ter cuidado, muito cuidado, do que ela oferecesse. A guerra tinha
tomado muito dela. Ela simplesmente não podia se machucar mais. Ela não
permitiria que ninguém o fizesse. Ela seria uma boa esposa, apenas manteria
uma distância cuidadosa. Ela certamente não iria se apaixonar por ele.
E ainda, naquele dia de Natal, na suíte do hotel, era muito mais do que ela
pudesse esperar. Shane ordenou um ganso de Natal, e ela, ele e Daniel o
jantaram. E se Shane esteve quieto, seus olhos estavam duros sobre ela durante
toda refeição, Daniel estava encantador. Ela riu e conversou com ele o tempo
todo, tentando ignorar o olhar dourado sobre ela.
Em seguida, foi a vez dos homens partirem. Shane tinha conseguido que
Kaitlin se hospedasse no hotel, e forneceram a ela uma passagem de navio a
vapor ao longo do Mississippi, bilhetes de transporte ferroviário uma vez que
chegasse ao Norte, e tarifas dali.
Ela não achava que seu novo marido fosse dar-lhe um beijo de despedida.
Mas ele o fez. Embaixo na rua. De repente, ele a tomou em seus braços, e ela se
assustou com a força da febre que envolvia seu toque. Surpresa e assustadas. Ela
não queria se importar muito; era perigoso fazê-lo.
Ele a colocou no chão, e encontrou seus olhos. Havia algo quase gentil neles
por um momento. — Sinto muito que este seja o seu Natal.
Seus olhos se arregalaram. Este tinha, de fato, sido um Natal maravilhoso.
Ele só não sabia como os Natais passados dela tinham sido. — Foi bom.
— Nenhuma árvore, nenhuma decoração, nenhuma leitura do hino de natal
do Sr. Dickens com a família aquecida pelo fogo.
— Eu ... eu gostaria de um dia como esse. Certamente.
— O proximo Natal. O Natal seguinte, eu juro. Por Francesca. Por você.
Em seguida, ele se foi, e Kaitlin foi deixada pensando depois de um tempo se
aquilo realmente tinha acontecido.
Em seguida, o clima tornou-se tão severo, e logo depois disso ela recebeu seu
telegrama avisando-a para não tentar viajar até que um pouco da neve fosse
derretida. Então ela começou a se perguntar se ele realmente queria que ela
viesse mesmo, se ele não estava arrependido com todo seu coração e mente de
seu casamento apressado.
No início de maio, porém, ela recebeu outro telegrama. Ela não tinha certeza
de como ele conseguiu conter tanta raiva em tão poucas palavras. É melhor chegar
em breve. Então Kaitlin imaginou que ele estava pensando que ela era uma das
mulheres de Leroux da pior espécie, do tipo que aceitaria o pagamento e não
daria nada em troca.
Isso a a deixou com raiva, e trouxe arrepios ao longo de sua coluna. Ela tinha
que ir. Eles não fizeram um acordo simples. Ela era sua esposa.
E assim, ela chegou na primavera. As montanhas se erguiam majestosamente,
bem ao longe, a grama era infinitamente verde, e a pequena cidade estava
agitada. Ela mal tinha chegado e já tinha visto tudo isso e mais, pois lá estava
Shane, esperando nos lances da escada do hotel Three Mills Travellers, com uma
jovem diante dele.
Em principio, Shane lhe deu toda sua atenção. Houveram tantos dias noites
intermináveis quando ela tanto temia quanto antecipava sua reunião novamente.
Ele era mais alto do que ela se lembrava. Mais magro, a pele mais bronzeada.
Mas ela se lembrava bem de seus olhos. Ohos de ouro que eram tocados
com o fogo mais extraordinário.
Ela desviou o olhar do dele e olhou para a garotinha. Grandes olhos
hesitantes encontraram os dela. Olhos castanhos grandes e belos. Cautelosos. A
menina tinha um belo rosto, Sua fisionomia bela e delicada. Francesca estava
com medo de conhecê-la, pensou Kaitlin. Pessoas ferem as pessoas com tanta
freqüência, e Francesca sabia disso.
Kaitlin estremeceu, lembrando do aviso feroz de seu novo marido sobre sua
sobrinha. Ele não se importava o que mais ela fizesse, desde que ela fosse boa
para Francesca.
Ele não precisava tê-la avisado sobre tal coisa, pensou ela, indignada. Ela
nunca machucaria a menina. Nunca.
Eles não foram até ela. O chefe da estação a ajudou descer da carruagem. A
sensação de pânico tomou conta dela. Ele foi tão frio, e depois tão irritado.
Havia realmente algum tipo de boas vindas ali para ela?
Ele havia prometido a ela o Natal deste ano, ela pensou. Um Natal, para ela e
Francesca.
Ela deu um passo a frente, — Bem! Ela veio! Ela o fez! — uma voz gritou. E
Daniel Newton, levando uma mulher grávida pequena e bonita em seu braço,
irrompeu para fora da porta do hotel. Ele não pareceu perceber que ninguém
tinha realmente recebido qualquer pessoa e saiu do lado de sua esposa para dar a
Kaitlin um caloroso abraço, girando-a a seu ao redor. — Veja, ela está aqui,
Shane, Francesca. Oh, Kaitlin, esta é minha esposa, Mary. Ela está morrendo de
vontade de conhecê-la e está feliz por ter outra mulher por perto! Estamos bem
distantes da cidade.
— Naturalmente, — Mary disse, estendendo a mão, sorrindo calorosamente.
— Seu marido nos deu nossa propriedade. É próxima a sua.
Kaitlin apertou a mão de Mary. — Estou verdadeiramente feliz —, disse ela.
Então ela virou-se para Francesca. — E estou verdadeiramente feliz em
conhecê-la, também, Francesca.
A menina corou, rosada. Ela ficou satisfeita. — Obrigada —, ela disse
suavemente.
— Bem, vamos lá, vamos lá! — Daniel disse. — Vamos entrar e pedir algo
para comer. Foi uma viagem muito longa para Kaitlin. E também temos mais de
uma hora de viagem de volta para casa esta noite!
Daniel abriu o caminho com Mary, deslizando seu braço através de
Francesca para apressá-la.
Kaitlin sentiu como se um vento frio a tocasse. Ela encontrou o olhar de
Shane novamente. Ela tentou sorrir. — Você não me saudou ainda, Shane. —
Seu estômago estava agitado. Ela sentia como se suas palavras parecessem
vazias. — Você não está feliz por eu ter vindo?
— Oh, na verdade, estou muito feliz que você veio. E não se preocupe. Eu
vou recebê-la em casa, Kaitlin.
Faiscas tocaram sua espinha. Ele tomou seu cotovelo, e seguiram atrás dos
outros.
Eles chegaram a Three Mills com uma grande carroça, sabendo que Kaitlin
estaria trazendo produtos de New Orleans. E ela tinha alguns baús com ela,
cheios principalmente com utilidades domésticas. Ela comprou com muita
parcimônia os itens pessoais. Shane olhou para todos os pacotes e baús
enquanto eles os arrumavam, mas não disse uma palavra.
A viagem para sua casa não foi tão ruim, ou pelo menos não teria sido se
Kaitlin não estivesse tão nervosa por estar indo para casa com Shane. Para se
distrair, ela pensou em seus outros companheiros. Mary era uma mulher doce,
maravilhosa, que realmente parecia pertencer a Daniel, ambos eram tão
amigáveis e alegres. E Francesca ...
Francesca a observava. Como seu tio o fazia.
A casa para a qual Shane a levou podia ser no deserto, mas era linda. Era
uma casa grande, dispersa de dois andares, que tinha sido pintada de branco e
aparada com uma floresta verde profundo para combinar com a folhagem
circundante. Seus olhos estavam sobre ela desde o minuto em que o vagão
parou. Seus olhos permaneceram nela quando ele a desceu da carroça.
— Eu mantive a minha parte no acordo? — Ele perguntou suavemente.
— Sim —, respondeu ela.
— Então você mantenha a sua, — ele disse a ela.
Mais uma vez, seu estômago catapultou. Ela fugiu de seu aperto e se virou
para a menina. — Francesca, você me mostraria a casa, por favor?
Corando de novo, Francesca deu um passo adiante. Timidamente, ela pegou
a mão de Kaitlin. E então a levou para dentro.
No interior, a casa era bonita também. Havia uma enorme sala de estar, uma
cozinha interna e uma grande sala de jantar maravilhosa. No andar de cima havia
quatro quartos. — Aqui é o meu, — Francesca lhe disse com orgulho, levando-a
até o primeiro. E ela deveria estar orgulhosa. Havia uma bela colcha de malha
branca sobre a cama, que era coberta com um dossel de conto de fadas. Seu
mobiliário era pintado de branco, e de tudo Kaitlin não poderia imaginar um
quarto mais perfeito para uma menina.
— É lindo —, disse ela, sorrindo.
O lábio inferior de Francesca tremeu. — É, não é? É o primeiro quarto que
já tive só para mim.
Kaitlin se ajoelhou diante dela. — Esta casa é realmente a primeira que eu já
tive —, disse ela.
Francesca hesitou, em seguida, colocou os braços em volta Kaitlin e a
abraçou apertado. Kaitlin a abraçou, e gentilmente alisou seu cabelo.
Finalmente Francesca afastou. — Vamos, deixe-me mostrar seu quarto!
— Meu quarto?
— Bem, seu e de Shane!
Sim, dela e Shane. Ela seguiu Francesca pelo corredor, e encontrou seu
quarto. A maioria de suas malas já estavam lá. Shane, Daniel e o capataz de
Shane, Chancey, já haviam trazido as coisas.
O quarto de Shane, ela pensou. Era um quarto masculino. Os móveis eram
todos de mogno, sem adornos ou babados poeirentos de qualquer tipo. Os dois
armários eram grandes e pesados. O quarto não era tão grande. Havia mais dois
quartos no corredor ... Ela encontrou seus olhos.
Ele deve ter lido sua mente. Ele sorriu e balançou a cabeça lentamente.
Ela desviou o olhar do dele, seus pensamentos dispersos. Daniel e Mary
ainda estavam lá. Chancey era um bom homem com um caloroso aperto de
mão. Ela já tinha feito amizade com Francesca. Havia um clima festivo no lugar.
Ela tinha sua própria casa. Sua própria casa. Ela iria ignorar Shane, e apreciar a
celebração.
Na verdade ela não era bem capaz de ignorar Shane, então ele a convidou até
o celeiro. Eles não estavam sozinhos, pois os outros os seguiram. Ele primeiro a
apresentou para Jimmy e Jane, os cavalos do arreio, e então para Diablo, o seu
próprio grande garanhão preto, e então ele levou-a para a estrebaria, onde ela
viu a mais bonita égua que já tinha visto, uma égua com um nariz comprido e
uma cauda alta rápida. — Genevieve —, ele disse a ela. — Eu a peguei para
você na semana passada.
— Ela é minha? — Kaitlin perguntou. Ela mal podia imaginar possuir tal
criatura. Cavalos tornaram-se tão preciosos na Geórgia durante o fim da guerra.
Ela não havia pensado que fosse ver algo como Genevieve novamente. —
Minha? — O presente parecia incrível. A égua aninhou-a, empurrando contra
seu peito. Kaitlin tocou o nariz quente e aveludado e uma onda de afeição a
invadiu. — Ela, ela é maravilhosa. Obrigada.
Shane deu de ombros. — Você precisa de um bom cavalo aqui. — Ele virou
as costas para ela. Ela se perguntou o que ela tinha feito de errado. Então ela
decidiu que iria aproveitar a noite e desfrutar de sua nova vida, não importava o
quê fosse. Ela iria ignorar Shane.
E ignorou. Chancey tinha feito seu melhor com uma refeição de carne de
veado e vegetais de verão, e Daniel-sendo Daniel— forneceu o champanhe. Eles
tiveram uma refeição maravilhosa. E quando termiraram, sentaram-se na sala,
tomando café com apenas um toque de conhaque.
Kaitlin sentou-se na namoradeira, e Francesca adormeceu com a cabeça em
seu colo.
Mas, em seguida, foi a vez de Daniel e Mary partirem, para irem para a sua
própria casa. E Shane ergueu Francesca em seus braços para levá-la para a cama.
E, finalmente, não havia mais nada para Kaitlin fazer, a não ser ir para seu
próprio quarto e esperar por seu marido.
Ela comprou um vestido novo de flanela que era abotoado até sua garganta e
foi nesse vestido que ela o esperou, na escuridão, em sua cama. Ela pensou em
fingir estar dormindo, mas então decidiu não se preocupar. E em questão de
minutos, ele estava lá com ela. Ele abriu e fechou a porta e encostou contra ela
na escuridão.
— Hora desse negócio 'miserável' novamente, eh, Sra MacAuliffe?
— Se você vai tirar sarro de mim…
— Eu não vou tirar sarro de você. Essa não é minha intenção de modo
algum.
Não era. Em segundos, ele atravessou o quarto. E o vestido de flanela estava
no chão.
E, de repente, todo o medo e a antecipação de todos os longos meses se
foram com ela. Seus beijos eram quentes e febris. Eles faziam coisas incríveis e
maravilhosas com ela. Na escuridão, parecia que a magia do Natal estava lá mais
uma vez, a mágica que lhes tinha tocado quando eles se casaram. Ela poderia ter
retornado cada toque, cada carícia. Ela poderia ter retornado sua paixão. Ela
lutou tanto para se conter. Ela tinha tanto medo de se oferecer a ele
completamente.
No entanto, mais tarde, parecia que ele era o único a se retirar. Ele não a
abraçou, mas ficou em seu próprio lado da cama. Ela de repente estava certa de
que ele podia ver na escuridão com aqueles olhos de ouro dele.
Mas ele não disse nada a ela. — Shane? — ela perguntou em voz baixa.
Ele resmungou. — Vá dormir. Às vezes a vida pode ser dura aqui.
Talvez tenha sido uma vida dura. Na manhã seguinte, às cinco foi acordada
com uma mão firme sobre seu traseiro. Antes que ela percebesse, ela estava fora
da cama; mal vestida e meio adormecida, ela provou que podia cozinhar,
cumprindo suas ordens para um café da manha. Ele a estava testando, pensou
irritada. Ela falhou com ele de alguma forma, e esta era sua maneira de fazê-la
compensar isso. Bem, ela não iria deixa-lo vencer. Ela poderia cozinhar, e ela o
fez.
E ela podia cuidar da casa, e ela o fez. Até o final de suas primeiras duas
semanas em Three Mills, ela tinha mudado tudo no lugar. Embora a casa fosse
grande e adequadamente decorada, faltava pequenos toques que só uma mulher
podia fornecer. Kaitlin deu ao lugar esses pequenos toques. Agora, havia
cortinas amarelas ensolaradas na janela da cozinha sobre a pia e sobre a bomba
de água. Haviam belos tecidos com valências no salão. Travesseiros bordados
descansavam confortavelmente sobre os sofás da sala de estar.
E Francesca havia se tornado quase falante.
O passeio de uma hora de duração até a cidade a manteve afastada de
qualquer escolaridade regular, mas ela era uma menininha brilhante. E Kaitlin
descobriu que, se ela podesse se atrever a amar mais alguém nesta vida, seria
Francesca. Ela ensinou-lhe muito mais do que leituras, escrita e matemática.
Quando elas terminaram com duas horas do básico, todas as manhãs, Kaitlin
seguia com ela, ensinando-lhe tudo o que ela conseguia se lembrar sobre
etiqueta, do jeito que sua mãe lhe tinha ensinado. Elas tomavam chá, e riam
juntas quando Kaitlin exagerava drasticamente a maneira correta de segurar um
copo. Foi divertido.
E atarefado. Havia muito o que fazer. Era uma casa grande para manter
limpa. Havia sabão e velas para serem feitos, roupas a serem lavadas, galinhas
para serem alimentadas, pisos para serem varridos. E Kaitlin estava determinada
a se superar em tudo.
E Shane notou. Cada movimento que ela fazia, ele notava. No entanto, ele
raramente comentava, a menos que ela perguntasse a ele. — Você gosta do
salão? — Ou — A cozinha ficou boa para você?
Ela presumiu que seus grunhidos eram um meio de aprovação.
Exceto quando a viu com Francesca. Em seguida, ele a observava muito
cuidadosamente.
E depois havia as noites ...
As duas primeiras semanas foram exatamente as mesmas. Ele vinha para a
cama às dez, olhava para ela sem expressão, e a tomava nos braços.
E enquanto as noites passaram, descobriu-se mais e mais fascinada com o
marido. A excitação agitava seu sangue quando ele se aproximava dela, a
surpresa a preenchia com seu toque. Mas ela se continha, com tanto cuidado,
determinanda de não ousar colocar muita confiança nele, nem dar-lhe qualquer
oportunidade de zombar dela.
Normalmente, ele olhava para o teto quando eles acabavam, então,
eventualmente, adormeciam.
Mas uma noite no final de maio, ele não o fez. Ele abruptamente se virou
para ela.
— De que maneira eu falhei com você? — Ele exigiu. — Você veio do outro
lado do país para uma nova vida. Você tem meu nome e minha casa. Por que
você não cumpre a sua parte do trato?
Kaitlin suspirou, afastando-se. Como ela tinha falhado? Ele teria encontrou
alguma falha nela? Ela simplesmente fez tudo errado?
— Eu mantive minha parte do trato!
— Não, não, você não manteve! — ele disse a ela. Suas mãos estavam em
seus ombros. Embora as sombras penetrassem entre eles, ela podia vê-lo. Vejo
paixão e resistencia em seu rosto. — Você ainda está apaixonada por Daniel?
— Eu nunca fui apaixonada por Daniel!
— Ele era o homem que você queria se casar.
— Ele não me acusou de coisas horríveis!
— Bem, eu a encontrei em um estabelicimento de jogos de azar e prostibulo.
— Eu lhe disse…
— Sim, você me disse —, disse ele, cansado.
— Eu era uma dama! Sempre fui! — ela chorou.
— Oh, sim, sempre. Com seu dedo mindinho para cima enquanto você
saboreiava seu chá. É maravilhoso. Simplesmente maravilhoso.
— Se há algo de errado comig…
— Não, não, Kaitlin, não há nada de errado com você. Mesmo Chancey diz
que nunca viu uma mulher mais perfeita ou bonita. Você é uma princesa,
Kaitlin. Uma maldita princesa. Uma princesa de gelo! — acrescentou
suavemente.
Ela sentiu como se tivesse levado um tapa, e se afastou dele, lutando contra
as lágrimas. — Eu não sei o que voce quer dizer —, disse ela, indignada.
Os dedos dele tocaram suas costas. — Você não sabe? Não importa. Vá
dormir, Kaitlin.
Ela não soube exatamente como as coisas mudaram depois disso. Talvez ela
teve uma chance de felicidade, e talvez ela a tivesse jogado fora.
Talvez fosse apenas o verão, e a magia de Natal tinha desaparecido.
Talvez fosse a situação com os índios.
Qualquer que seja. Mas no dia primeiro de agosto Shane estava partindo.
Tinha havido confrontos com os índios Blackfoot e desde que Shane uma vez
assinou seu próprio tratado indivídual com Black Eagle, ele prometeu ao xerife e
as pessoas de Three Mills que iria falar com o chefe mais uma vez.
Seu coração parecia estar na garganta no dia em que ele partiu. Ela estava
com medo de que nunca fosse vê-lo novamente. Ela queria dizer a ele que ela...
Que ela o quê?
Que ela queria que ele voltasse para casa, que ela precisava dele. Ele tinha se
tornado sua vida. Ela se importava com ele.
Naquela manhã, ela descobriu que amava seus olhos. Aqueles olhos de ouro
que podia olhar para ela tão perspiscazmente, sempre buscando. Ela amava as
formas de seu rosto, a onda irônica de seus lábios. Ela amava seus ombros, e a
sensação quente de sua carne bronzeada. Ela adorava dormir com ele.
Mas não houve tempo. Não houve tempo para dizer todas essas coisas. Os
tambores de guerra soaram, e Francesca estava ao seu lado. E lágrimas
brilhantes estavam nos olhos de Francesca. Shane estava olhando para ela, a
desafiando a ser nada além de perfeita.
Sua perfeita princesa de gelo.
Então, ela acenou para ele quando ele partiu, quando ele cavalgou para longe,
e ela segurou firme em Francesca.
Os dias pareciam mais longos. Ela não ensinava Francesca por muito tempo
pela manhã. As duas começaram a tomar passeios matinais para ver Daniel e
Mary. Kaitlin amava cavalgar com Genevieve. E ela estava grata pela compahia,
e feliz por estar lá por Mary, que estava muito proxima de fato. Os dias ela
conseguia administrar.
As noites ela dormia sozinha. E esperava.
— Eu não me preocuparia com Shane, — Daniel disselhe um dia. — Ele viu
Black Eagle com bastante frequência no passado.
— Eu realmente não estou preocupada—, Kaitlin mentiu.
Ela mal tinha dito essas palavras antes de Mary de repente chamar por eles.
O bebê estava chegando.
Daniel, completamente desconcertado, teve que ser lembrado de que ele
precisava caminhar até a cidade em busca do médico. Kaitlin, teve um medo
tolo, mas determinou que Mary não percebesse, tentou se lembrar de todas as
coisas adequadas a fazer. Eles precisavam de todos os tipos de roupa limpa e
tesouras para o cordão umbilical, e o pior de tudo era que ela precisava sentar-se
com Mary.
Para as primeiras duas horas, Mary parecia estar bem. Em seguida, ela
chorava e gritava, e não importava o que Kaitlin tentasse dizer a ela ou fazer por
ela, nada parecia ajudar. Mary estava encharcada de suor. Ela adormeceu várias
vezes, apenas para acordar gritando mais uma vez.
Kaitlin foi até a janela, esperando que Daniel retornasse com o médico. Eles
não vieram. Ela começou a perceber que as coisas iam mal, muito mal, e que
não havia ninguém ali, exceto ela mesma.
Ela cerrou os dentes, e esperou um pouco mais. A viagem até a cidade era de
pelo menos uma hora. E uma hora de volta. O médico ainda viria.
Mas mais duas horas se passaram. Em seguida, três. E Kaitlin percebeu em
pânico que o bebê estava chegando.
— Eu vou morrer, — Mary disse suavemente, olhando para o teto.
— Você não vai morrer! Eu simplesmente não vou deixar. Eu não vou viver
aqui sem você —, Kaitlin disse a ela ferozmente.
E eu não vou viver aqui e ter um bebê, nunca! Ela decidiu. Era muito
assustador, muito terrível, depois de tudo o que ela já tinha passado.
— Oh, Kaitlin, o bebê está chegando!
O bebê estava chegando. Kaitlin assegurou a si mesma que era capaz, e ela
não parava de pensar em todas as coisas que ela devia fazer. Ela teve que ajudar
dar a luz ao bebê.
E ela o fez. A pequena cabeça apareceu primeiro em suas mãos, e ela pediu a
Mary para empurrar novamente. Então veio um ombro, e depois o outro.
E o bebê pareceu saltar direto em suas mãos e, para seu grande alívio, soltou
um grito estridente, enchendo seus pulmões.
— Oh, Kaitlin! O que é?
— O que? — Kaitlin olhou para o milagre em suas mãos, pois mesmo que
fosse uma confusão sangrenta, o bebê de Mary era um milagre.
— Um menino! — disse Kaitlin. — Um menino!
Foi a poucos minutos mais tarde que Daniel e o médico chegaram. O médico
entrou para ver Mary, e Kaitlin saiu para o corredor com Daniel.
— O que aconteceu? Porque que demorou tanto? — Kaitlin exigiu. Talvez
ela não devesse ser tão dura com Daniel, ela repreendeu-se. Ele olhou como se
tivesse acabado de passar pelo próprio inferno.
— Quando fui até Thompson, eles me disseram que havia alguma
preocupação sobre um ataque de indios aos cavaleiros brancos na estrada
principal. Eu pensei que era melhor ir pelo caminho mais longo.
— Oh, — Kaitlin disse simplesmente. Ela caminhou pelo corredor, com os
joelhos tremendo. Ela amava Daniel, ela o amava como ela amava Mary. Ambos
eram pessoas boas.
Mas ela estava certa de que Shane nunca a teria deixado em tal posição. Ele
teria montado através de cada bando de índios no Oeste e ter a sua criança
nascida com segurança.
Só que ela nunca iria ter um filho. Ela estava determinada sobre isso. Não
depois de hoje.
Exausta, ela desceu as escadas e se afundou em uma das suas cadeiras de
salão. Ela inclinou a cabeça para trás, apenas querendo fechar os olhos, mas
adormeceu. Em sono profundo.
Ela se assustou quando uma voz masculina a acordou. — Kaitlin. Kaitlin.
Ela abriu os olhos, muito desorientada. Então percebeu que Shane estava de
pé em cima dela. Ele estava de volta.
— Shane! — Por um momento, um largo sorriso iluminou seu rosto e ela
quase saltou aos seus pés para cumprimentá-lo. Ele estava de volta.
Ele parecia estar olhando para ela com um sorriso um tanto tolerante.
— Sim. E eu soube que me casei com uma heroína e tanto. Você deu a luz
ao bebê de Mary.
— Eu não fui uma heroína. Eu não tive a intenção de dar a luz ao bebê.
Ele beijou sua testa. — Talvez não. Mas ele é bonito. Grande e bonito. E
maravilhoso. Com alguma sorte, talvez nós vamos em breve ter um filho.
O sorriso desapareceu em seus lábios. Não. Não, ela não queria ter um bebê.
Mas ele não viu a expressão dela no momento. Ele estava falando com
Daniel, dizendo-lhe sobre seu encontro com Black Eagle, o chefe da tribo
Blackfoot.
— Acho que ele vai suspender seus guerreiros. Enquanto nós mantermos a
nossa parte do acordo.
— Eu não acho que ele possa ser confiável —, Daniel estava dizendo. — Ele
é um pagão! Ora, ninguém foi mais guerreiro antes. Lembra-se dos Petersons?
Como eles foram mortos?
— A esposa de Black Eagle tinha sido morta por esse Johnson, caçador
estúpido, logo antes! — disse Shane.
— Você está defendendo ele.
— Eu não estou defendendo ele. Eu o conheço. Ele vai matar se achar que é
necessário. Ele inclusive prometeu que me mataria se eu o perturbasse em suas
próprias terras novamente. Mas há algo sobre ele ...
— O que? — Daniel perguntou.
— Ele está sempre disposto a ouvir.
Kaitlin estava caindo no sono de novo, quando de repente ela sentiu fortes
braços ao redor dela. Piscando, ela encontrou os olhos dourados de Shane.
— Estou levando minha esposa para casa, Daniel. Parabéns pelo garoto.
Kaitlin não foi para casa em seu próprio cavalo. Shane segurou-a na sela
diante dele, com Genevieve trotando atrás deles na liderança.
*
Quando chegaram em sua própria casa, ela tinha adormecido em seus braços.
Shane olhou para sua esposa por um longo tempo, então engoliu suas
expectativas para a noite. Ele a levou até as escadas e a deitou em sua cama.
Ela era tão linda. E forte, e corajosa.
Talvez ele tivesse sido muito duro com ela. Talvez ele a devesse mais. Sua
amargura sobre seu primeiro casamento tinha contaminado o segundo. No
entanto, quando ela o viu pela primeira vez esta noite, havia algo maravilhoso
em seus olhos. Como se ela tivesse esperado por ele. Como se ela o quisesse.
Como se ela o amasse.
Ele sorriu. Talvez ele não tinha percebido isso, mas talvez tivesse sido o
melhor presente de Natal que já tinha recebido.
Ele não iria perturbá-la, mas a deixaria dormir. Seu rosto era como porcelana,
sua pele marfim, seu rosto corado como uma perfeita rosa.
Ele se inclinou para beijar sua testa, não com a intenção de acordá-la. Ela
estava muito cansada, e ele também estava cansado. E de repente ele determinou
que iriacortejá-la. Fazê-la cair no amor com ele.
E talvez ali ele iria encontrar o calor e a paixão que sentia por baixo das
barreiras que ela lançou contra ele.
Mas, quando seus lábios tocaram sua carne, ela abriu os olhos. E ela sentou-
se rapidamente, como se ela de repente tivesse medo dele.
— Qual é o problema? — ele perguntou.
— Estou, estou cansada. Estou tão exausta. Por favor ...
— Por favor, o que? — Ele exigiu, irritado.
Ela corou e seus cílios baixaram. — Por favor, não-eh, me force.
Ele cerrou os dentes. — Eu não sabia que eu forcei as coisas com você.
Ela se levantou da cama. — Eu posso ir para o quarto de hóspedes e não
incomodar você.
— Venha aqui, — ele disse a ela severamente. — Eu irei forçar isso em você,
você pode dormir em sua própria cama. Nunca tive a intenção de te tocar,
Kaitlin. Não esta noite. Eu sei que você está esgotada, o que aconteceu com o
bebê…
— É isso mesmo —, ela sussurrou. — Eu...
— O que?
— Eu não quero um bebê.
— O que? — ele disse novamente, sem expressão.
— Eu não quero um bebê. Nós temos Francesca. Eu não quero ter um filho
aqui no deserto, onde nunca pode se conseguir um medico.
— Kaitlin, eu teria conseguido um médico.
— E as crianças são tão delicadas. Olhe o que aconteceu com Francesca.
Olha como ela foi passada de mão em mão. A vida pode ser muito cruel com as
crianças.
— Foi tão cruel com você? Minha senhora com seu dedo mindinho voando
tão elegantemente no ar?
— Eu cresci em uma cabine com um bêbado como pai. É isso o que você
quer ouvir, Shane? A única coisa boa na minha vida foi meu irmão, mas a guerra
cuidou dele. Eu nunca fui mulher de Leroux, mas eu nunca fui uma grande
beldade, também. Você está feliz? Seja como for, não importa. Eu não quero
um bebê!
Um bebê? Ou seu bebê? Shane estreitou os olhos. — Bem, nós estamos em
uma situação lamentável aqui, não estamos? Eu quero um bebê.
Ela estava muito pálida. Ele tentou se lembrar de sua determinação para
conquistá-la. E se fogos inimagináveis pareciam queimar dentro dele quando ele
se deitava ao lado dela? Ele não ia forçar nada. Não por um tempo, de qualquer
maneira. Ela estava cansada. Chateada. Talvez ela só não o visse como o homem
dócil e charmoso que ela via em Daniel.
— Vá para cama! — ele rugiu. — Eu não vou tocar você. Não esta noite.
Com seus olhos verdes luminosos, ela obedeceu.
E deitou ao lado dele, de costas para ele.
Seu presente de Natal ...
Sim, mas haveria o próximo Natal. E ele viria em breve, muito em breve.
Por alguma razão, ele sentiu um arrepio ao longo de sua coluna.
Capítulo 4
O dia de Ação de Graças chegou, e foi um dia maravilhoso para Kaitlin. A
casa estava quente e confortável, nevou levemente, e Shane, sempre vigilante a
suas costas, parecia disposto a deixá-la ter tudo do seu jeito.
Uma vez abastecida, sua mesa era quase ostensiva. Ela tinha cozinhado um
enorme peru, um generoso pedaço de presunto, e um macio espeto de carne
bovina. Seus convidados eram Daniel, sua esposa e o bebê, Kevin, Richard
Newton, e o reverendo Samuels e sua esposa, Jemimah-uma mulher
maravilhosamente pequena e redonda com o sorriso mais encantador que
Kaitlin já tinha visto desde que saiu da cidade. Todo o dia anterior, Kaitlin e
Francesca cozinharam e prepararam, e na manhã seguinte, elas começaram com
todos os seus pratos de carne e vegetais frescos.
No brilho suave das velas, a sala de jantar estava bonita. Kaitlin ficou
satisfeita ao ouvir o reverendo dizendo a Shane que ele tinha de fato trazido
uma esposa bonita e talentosa para o deserto, e mais tarde ela estava duplamente
feliz em ouvir Daniel dizendo a Shane que ele era um sujeito de sorte, Kaitlin
era simplesmente fantástica.
A pena foi que ela estava inteiramente certa de que Shane não a achava o
mínimo surpreendente, e ultimamente parecia cada vez mais que ele estava
muito cansado dela.
Ele não voltava para casa até muito tarde da noite. Muitas vezes depois da
meia-noite. E ela soube que havia um certo lugar na cidade, como o
estabelecimento chamado Nelly Grier, onde sabia-se que os fazendeiros se
reuniam.
Kaitlin não tinha certeza do por que, porque ela se deu conta que ela lhe
pediu para ele deixá-la sozinha e que isso era exatamente o que ele estava
fazendo, mas ela estava furiosa com ele.
Talvez fosse porque ela realmente não queisesse mais ser deixada sozinha.
Ou então ela não queria que fosse tão fácil para ele deixá-la sozinha. Ela
queria resolver, ela só não sabia como fazê-lo. E uma vez que Mary tinha
deixado escapar sobre o lugar da Nelly Grier ... bem, então ela tinha estado
muito teimosa e zangada para sequer pensar em tentar fazer as coisas direito
com Shane.
Talvez ele simplesmente não ligasse mais. Esse pensamento a fez miserável,
mas isso realmente não mudou nada. Noite após noite, eles se deitavam, de
costas um para o outro.
Mas então, veio o Ação de Graças e Kaitlin estava determinada a provar o
seu valor, e pareceu que ela foi capaz de fazê-lo. A refeição estava deliciosa. A
conversa fluiu facilmente ao redor da mesa até que o reverendo mencionou
Black Eagle e os índios que estavam realmente muito perto da propriedade de
Shane.
— Você sabe que os índios atacaram três cavaleiros na semana passada,
Shane —, disse o reverendo Samuels, parando com uma porção de peru a meio
caminho de seu prato.
Kaitlin olhou para Shane. Ele não havia mencionado Black Eagle
recentemente. Na verdade, ele realmente falou muito pouco com ela sobre sua
visita com o índio. Mas, então, eles mal falaram desde aquela noite.
Shane deu de ombros. — Ouvi falar. Mas eu também ouvi dizer que um tolo
caçador chamado Nesmith invadiu um dos campos de Black Eagle e seqüestrou
um de seus filhos. Se isso for verdade, poderemos muito bem ter uma grande
guerra em nossas mãos muito em breve.
— Oh, meu Deus! — Mary Newton chorou, abraçando seu bebê perto dela.
— Será que estamos em perigo?
Shane balançou a cabeça. — Ainda não, de qualquer forma. Exceto, talvez...
— Talvez o quê? — Kaitlin exigiu.
— Talvez nas florestas do norte, e nos campos do norte. Black Eagle acha
que a estrada logo além dela foi construída sobre as terras dele. Ele pode ser
perigoso. A menos que esse garoto seja encontrado e devolvido a ele
rapidamente. — Ele olhou para Mary e sorriu gentilmente. — Não tenha medo.
Não houve nenhum problema real com os indios aqui por um longo, longo
tempo.
A festa natalina de Kaitlin se tornou bastante sombria. Ela se levantou. —
Tortas de abóboras e maçãs chegando já. E vamos tomar café e conhaque aqui
na mesa. Senhores, vocês estão convidados para fumarem seus charutos aqui.
Não vamos nos separar em um feriado com os homens indo em uma direção e
as mulheres na outra!
Em seguida ela esteve muito ocupada por algum tempo, recolhendo os
pratos, colocando os pratos de pizza e o café. Mas algum tempo depois ela teve
algum tempo, e insistiu em tirar Kevin Richard Newton um pouco de sua mãe.
Ela e Shane iriam ser os padrinhos e ela ficou encantada. O menino era um
pequeno pacotinho adorável de amor, e todo o medo e incerteza que sentira
quando ele nasceu foi desaparecendo.
Enquanto ela o segurava, ficou surpresa ao encontrar Shane olhando-a. Ela
olhou para cima, sentindo-se culpada. — Ele é lindo, não é? — ela disse.
— Há apenas uma coisa errada com ele.
— O que é?
— Ele não é nosso.
As bochechas de Kaitlin arderam. — Bem, Shane MacAuliffe, os céus sabem
que você poderia ter meia dúzia de crianças, pelo que eu entendo, — ela
sussurrou, se afastando de seus convidados, indo para o outro lado da sala.
— É mesmo? E como você sabe disso? — ele perguntou, seguindo-a.
— Bem, você desapareceu muito mais do que meia dúzia de noites.
— Eu não sabia que eu estava perdido. E parece que não tive qualquer razão
para me apressar para casa.
— Contanto que você parece tão determinado a visitar Nelly, você não tem
nenhuma razão para se apressar para casa. E enquanto eu tenho uma escolha…
— Você não tem uma escolha, minha adorável, querida, incrível pequena
princesa de gelo! Basta ter isso em mente, e ficar do meu lado bom. E tenha em
mente este fato, também. Este estado de coisas não vai durar para sempre!
Ele não durou para sempre. Ele foi interrompido naquela mesma noite, por
alguma febre que tinha varrido o sistema de Kaitlin, e ela estava determinada a
causar-lhe alguma dor de cabeça.
Talvez tenha sido por sua própria causa.
Mas quando todos os convidados foram embora, quando era hora de dormir,
ela descobriu que não estava realmente pronta para se deitar. Nem se vestiu com
algo afetado ou feito de flanela, mas escolheu um vestido branco etéreo de seda
macia. E estava em pé diante da janela, olhando a lua, escovando os cabelos,
certa de que ele iria provar seu ponto que a escolha não era realmente dela.
Ele a ignorou até que seu cabelo foi escovado pelo menos duas centenas de
vezes. Então, ele disse a ela, irritadamente que ele tinha muito trabalho no dia
seguinte, mesmo que ela não tivesse.
Rejeitada, furiosa, ela se arrastou para a cama.
E então ele a deixou ferver até que ela quase estava no ponto de ebulição
antes que ele de repente e com força a puxou para seus braços.
Ela abriu a boca para gritar com ele, mas ele parou suas palavras com um
beijo. Então, dentro de minutos, o desejo de detê-lo tinha desaparecido.
Cada vez que a tocava, a magia chegava mais arrebatadora sobre ela. E
quando finalmente parecia disparar através dela, ela escondeu o rosto no
travesseiro, determinada que não gritaria com o prazer intenso que ele lhe davaa.
Ela não era uma das mulheres de Jack Leroux, nem uma das prosttutas de
Nelly Grier.
Não, ela certamente não era, de modo que pela manhã, ele pediu desculpas
sem constrangimento por seu duro tratamento dela.
E à noite, ele chegou em casa muito tarde.
Kaitlin queria cortá-lo em pedaços. Ela se perguntou por que isso a
machucava tanto, como facas rasgando sua alma. Então ela soube. Tinha
acontecido lentamente. Tinha acontecido por muitos bons motivos.
Ela tinha se apaixonado pelo marido.
Mas o amor era uma emoção brutal, uma que ela não se atrevia a confiar.
Mais uma vez, ela decidiu que sua melhor defesa era ignorá-lo. Era
incrivelmente difícil quando ele dormia ao lado dela, mas ela disse a si mesma
que ele não receberia nada dela de novo, absolutamente nada.
Ainda assim, era quase Dezembro. E ela tinha uma casa este ano, uma bela
casa. Ele tinha dado a ela. Ela podia decorar com o que escolhesse, ela poderia
fazer o que quisesse.
E havia Francesca. Francesca que tinha aprendido muito pouco sobre os
mistérios de Cristo, de Natal, de Papai Noel e de cantos.
— Existe Papai Noel? — Francesca lhe perguntou animadamente apenas
alguns dias após o feriado.
— Bem, ele é na verdade de Saint Nicholas, sabe —, disse Kaitlin, piscando.
Ela e Francesca tinham lavado as roupas, e agora faziam as camas. — Ele era
um bispo centenas e centenas de anos atrás, e ele foi gentil e generoso e o santo
padroeiro das crianças e ele gostava de dar presentes. Para os holandeses que
vieram morar em Nova York, ele era 'Sinter Klaas.' Portanto, para nós agora, ele
é Papai Noel! E ele vem a cada Natal trazer presentes. Um ministro chamado
Mr. Moore descreveu-o em um poema por volta de 1823, antes de eu nascer! E
ele é maravilhoso, Francesca, verdadeiramente maravilhoso! Ele se veste com
um terno vermelho com detalhes brancos, e ele é este enorme urso
rechonchudo de homem, tão amável, tão maravilhoso.
Ela ouviu um barulho. Era cedo, mas Shane estava em casa. Ele estava
parado na porta, observando-a.
Kaitlin terminou a cama, e tentou caminhar até ele. Ele a agarrou pelo braço.
Ela olhou para ele, esperando.
— Obrigado.
— Por quê?
— Por dar a ela um Natal.
Ele tocou seu rosto. Ela se assustou com a ternura em seus dedos. — Você é
como ela, sabe. A criança privada do Natal. — E sua voz era suave, tão suave.
— Este ano, teremos um Natal. Vamos beber vinho quente diante a lareira. Vou
derrubar uma árvore de abeto e vamos decorá-la com anjos e estrelas. E todos
nós vamos colocar presentes debaixo da árvore. Você terá um Natal, Kaitlin.
Esta bondade dele quase trouxe lágrimas aos seus olhos. Ela se afastou. —
Eu não tenho meu próprio dinheiro. Não terei um presente para você.
Ele riu com a voz rouca. — Oh, mas, meu amor, pense nisso, você tem, você
tem.
E então o riso se foi, e ela estava em seus braços, segurando-a tão forte. —
Um filho, Kaitlin, dê-me meu filho.
Ela afastou-se dele. — Você vai ter que falar com Deus sobre isso, senhor, já
que parece que eu não tenho nenhuma escolha nesse assunto.
— Mas você tem. Você foge de mim. Você luta comigo.
— Eu não pareço fugir rápido o suficiente —, informou ela, com os olhos
piscando lembrando-lhe da noite há muito tempo, quando ela tinha provocado e
insultado ...
E ele tinha vencido no final.
Ele começou a rir, mas depois Francesca de repente estava ali, olhando
preocupada para ambos.
— O que é, Shane? Há algo errado?
— Errado? — Shane a levantou em seus braços. — Quando eu vivo com
duas das mais belas mulheres do oeste? Nunca! Nós estávamos discutindo o
Natal, Kaitlin e eu. E Papai Noel virá este ano.
— Ele nunca veio antes —, disse Francesca.
— Bem, ele virá este ano. Descendo pela chaminé.
— Ele vai chamuscar seu traseiro! — Kaitlin avisou.
— Nunca. Papai Noel é invulnerável ao fogo.
Francesca riu. — Ele virá por nós duas, por Kaitlin e eu?
— Oh, sim. Papai Noel virá por você. E por Kaitlin. — Ele sorriu para
Kaitlin, seus olhos dourados em chamas. — Você acha que ele virá por mim?
— Eu não sei —, Kaitlin disse docemente. — Eu ouvi de uma fonte segura
que você não tem sido um menino muito bom este ano. — E com isso ela
passou por ele.
No jantar naquela noite Chancey veio com notícias e eles ouviram que uma
das fazendas havia sido queimada até o chão. O fazendeiro e sua esposa tinham
sido poupados, mas os guerreiros de Black Eagle os tinham forçado a assistir à
destruição, e o próprio Black Eagle havia dito que eles deviam avisar os brancos
que o pior estaria por vir.
Shane entrou na cozinha enquanto Kaitlin lavava os pratos. — Pode vir a
ficar perigoso aqui. Estou pensando em mandar você e Francesca para o sul até
que isso acabe.
Ela deixou cair o prato e virou-se. — Não, eu não vou a lugar nenhum. Nós
vamos ter um Natal em família. Nós, nós prometemos a Francesca.
— Kaitlin, escute.
— Por favor, Shane!
Ele suspirou, olhando para ela. Ela perguntou o que estava por trás do brilho
de seus olhos. Então ele falou suavemente. — Bem, você tem coragem, meu
amor. E uma vontade de aço. — Ele olhou duro para ela. — Sim, eu vou lhe
conceder isso.
Em seguida, ele se foi.
Era o dia seguinte, quando Genevieve desapareceu.
Kaitlin decidiu passear até a cidade. Ela não precisava do carrinho porque ela
não iria fazer grandes compras, mas ela queria fitas, vermelha e verde. Ela e
Francesca iriam começar a decorar. O dia de Ação de Graças acabou, eles
estavam em dezembro. Talvez estava um pouco cedo, mas Francesca era uma
criança que realmente tinha tido muito poucos Natais em sua vida.
Talvez Shane estivesse certo. Talvez Kaitlin também fora uma criança que
realmente tinha tido muito poucos Natais em sua vida.
Ela estava determinada a compensar isso.
Mas quando ela trouxe Genevieve para fora do estabulo para escovar e sela-
la ela se distraiu quando Daniel chegou montando. Ele sempre tinha um sorriso
tão bom para ela. Ela parou para conversar. E quando ela se virou, Chancey
acabou de alertá-la que a égua rebelde tinha se soltado e saido correndo.
Direto para o campo ao norte.
Kaitlin realmente não se lembrou de nenhum dos avisos de Shane. Ela estava
desesperada para encontrar sua pequena égua afetuosa. O velho Henry, o cavalo
do arado ainda estava no celeiro e assim ela o selou rapidamente e disparou.
Chancey estava gritando atrás dela, mas ela o ignorou.
Ela cavalgava direto para o campo norte. E ela procurou e procurou,
chamando por ela, mas ela não viu um sinal da pequena égua.
Então ela viu Shane, andar em direção a ela com Diablo. Ele estava furioso.
— que diabos você está fazendo aqui, sua tola!
— Eu apenas…
— Você está voltando para a casa. Agora!
— Eu não sou sua prisioneira, Shane…
— Não, você é uma maldita tola! Volte, ou eu vou fazer com que você volte!
Ela andava na frente dele, incitando o velho Henry em um ritmo tão rápido
quanto pôde, e ela e Shane brigaram todo o caminho de volta. Quando
chegaram ao celeiro saltou do velho Henry e se dirigiu para a casa. Ela pretendia
alcançá-la antes que ele gritasse mais.
Mas sua mão estava em seu braço.
— Droga, Kaitlin, ouça-me…
— Eu não fiz nada…
— Diga isso para os índios quando eles a encontrem na próxima vez!
Ela se retirou para longe dele. Ele não a deteve. Mas quando ela se dirigiu
para casa, ele estava bem atrás dela. E quando ela percebeu que ele estava
seguindo para a cozinha, ela se dirigiu para a escada.
Ele também a seguiu até lá. E quando ela teria batido a porta do quarto, ele a
empurrou e, em seguida, bateu a porta atrás dele.
— Eu não estou preocupado com os índios! — Kaitlin disse bruscamente.
— Chancey me disse que eles estão bem longe.
— Eles estão bem na nossa fronteira!
— Vivendo suas vidas. Enquanto vivemos as nossas…
— Não se engane, Kaitlin! Os Blackfeet eram a tribo mais guerreira da
região!
— Sim, e mataram um monte de brancos, e os brancos os mataram. Mas isso
é porque os brancos estavam infringindo seu comércio de peles. E agora nós
compramos as peles deles e…
— E supõe-se que isto torna tudo melhor?
— Mas os índios não vêm tão perto…
— O inferno que não! Desde que aquele tolo caçador desapareceu com o
menino de Black Eagle, os índios foram chegando cada vez mais perto. Todos
os tipos de rumores estão indo de encontro a uma horrível guerra com os
índios, uma guerra real, desastrosa. Maldita seja, Kaitlin, eu conheço Black
Eagle! Conheço-o bem. Você fica longe do campo norte e das florestas do
norte!
— Mas Genevieve…
— Genevieve é um pônei dos indios agora. Não existem melhores ladrões de
cavalos do mundo do que os Blackfeet. Se você realmente já se importou com
alguma coisa viva ao seu redor, ela pode não ter desaparecido!
Kaitlin engasgou, atordoada. Lágrimas brincaram em seus cílios. Ela tentou
tanto ...
— Você é a única coisa que vive em torno de mim que eu particularmente
não me importo muito, Shane MacAuliffe!
Suas palavras pareceram afiadas como uma faca, de modo que os olhos dele
brilharam e sua mandíbula apertou. — Eu a tirei de um esgoto em New Orleans.
Talvez seja onde você pertence!
Ela o atingiu. E de repente ela estava sendo arrastada pelo quarto, e jogada
em sua cama.
— Eu vi o fogo em você —, ele disse a ela. — Eu vi você sorrir e rir. Por
Deus, está lá. Estava lá pelo Daniel Newton.
— Daniel é um cavalheiro.
— E um tolo meia-boca. E ele não é para você. Mas caramba, você, Kaitlin,
o fogo está aí. Dentro de você.
— Talvez você não tem a faísca para acender qualquer fogo dentro de mim!
— Ela retrucou.
Os olhos de Shane estreitaram. Então ele falou suavemente. Muito baixo. —
Oh, mas eu tenho. Oh, mas eu tenho!
Ela saltou, de repente com medo. Ela realmente nunca tinha estado com
medo dele antes, mas ela nunca, nunca o vi tão furioso.
Ele bloqueou a porta com seu corpo. Ela não pode alcançá-la e abri-la.
— Bem, vamos ver, nós concordamos. Você tem coragem, meu amor. E
uma vontade de aço. Mas isso não vai ajudá-la agora. Nem um pouco. Se eu a
cortejei ou se eu a ganhei, Kaitlin, eu fiz de você minha esposa. E você
concordou com os termos. E eu serei amaldiçoado se eu deixar você tentar me
expulsar mais um minuto. Você quer um fósforo, Sra McAuliffe? Vou acender
uma caixa cheia deles, Sra. MacAuliffe, e então me ajude, vamos encontrar o
fogo dentro de você!
— Não se atreva a falar comigo assim, Shane- — ela começou, levantando o
queixo e tentando andar ao redor. Mas não pode fazê-lo. Sua mão pegou o
braço dela com força.
— Você está certa. Não vamos falar.
Ela ficou chocada com a ferocidade repentina de seu beijo, varrido pela
paixão dentro dele. Na verdade, ele tinha o fósforo para acender o fogo dentro
dela, dentro de segundos, ela sentiu o calor subindo por todo o corpo. Ela
sentiu seu toque em sua carne, e ela parecia senti-lo dentro de seu sangue,
também. E ela queria seu beijo, queria seu toque, mais do que ela jamais
imaginou querer isso antes.
Ela ouviu o tecido ceder, e pensou com um certo espanto que ele tinha
realmente rasgado sua roupa. E isso não importava. Nem um pouco.
Mas seus olhos se tocaram, rebeldes, desafiantes. Ela gritou, batendo os
punhos contra o peito dele, mas ele não parecia se importar. Eles estavam
caindo juntos, e a suavidade da cama estava lá para acolhe-los. Ele sussurrou
suave em seu ouvido. Seu beijo acariciou sua garganta.
E o calor começou a subir.
Seu beijo era seda contra sua carne nua. Seu sussurro roçava a pele com
pequenas voltas de fogo. Suas mãos acariciaram a extensão dela, tão
intimamente. Ela estava vagamente consciente de que seus dedos se moviam
contra seu peito, acariciando, acariciando. Ela respirou suavemente contra seus
lábios, e eles foram presos em um beijo frenético, mais uma vez.
Algo estava diferente. Sua raiva havia se dissipado, mas uma intensidade
permanecia. Ela estava profundamente consciente de suas palavras, seus
sussurros. As coisas que ele dizia. Coisas íntimas. Cada toque tornou-se
extraordinariamente intenso. Ele estava exigindo muito, e ainda dando a ela tão
ternamente. Roupas pareciam derreter, e eles ficaram entrelaçados como um só,
e tudo o que tinha sido doce antes era muito mais agora. Hoje à noite, as estrelas
pareceram explodir em seu quarto. Ela estendeu a mão para o céu, e por um
momento, seus dedos o roçou. E as estrelas explodiram em cima dela com a
beleza mais extravagante que já tinha imaginado.
Um grito rasgou sua garganta. A tempo ela o engoliu de volta, desesperada
de que ela pudesse dar tanto a um homem tão determinado a passar suas noites
longe dela. Ela flutuou de volta, de volta do êxtase surpreendente, camuflado
por longos momentos doces em magia e névoa.
Então ela engoliu seco, cuidando para não falar.
O tempo passou lentamente. Ela sentiu a tensão de Shane. Então ele se
levantou. E se vestiu.
— Sinto muito, Kaitlin. Não, maldita seja, eu não sinto muito. Você é minha
esposa. E eu quero que você seja mais do que uma cozinheira. Eu não vou parar
em Nelly Grier, quando eu tenho uma beleza de cabelos negros em casa, mesmo
se ela tem olhos de esmeralda piscando com nada além de ódio em minha
direção. De cabelos negros, e de coração negro.
— Não! — ela gritou. — Não! Não sou eu, Shane MacAuliffe. Você provou
uma e outra vez que prefere a companhia de Nelly àquela que tem casa…
— Droga! Eu prefiro uma centelha de calor!
Uma centelha de dor riscou através dela. Esta tarde ela havia dado a ele ...
Ela pegou o travesseiro e o atirou nele como uma vingança. — Eu te odeio,
Shane! Eu te odeio!
A paixão brilhando em seus olhos dourados era mais profunda do que ela já
tinha visto. Ela quase se encolheu, certa de que ele pretendia feri-la.
Mas ele não o fez. Ele se virou, e a deixou. A porta se fechou com um
estrondo alto.
— Não, não, isso era uma mentira! — Kaitlin sussurrou. Muito tarde. — Eu
amo você, Shane.
Ela pulou da cama, jogou água no rosto, e vestiu-se rapidamente. Já tinha
ficado escuro lá fora, mas ela não se importava. Ela correu para fora até aos
estábulos.
Chancey estava lá, trabalhando. Ele deve ter visto Shane chegar e partir.
— Chancey, onde está Shane? — Ela perguntou.
— Bem, eu acho que ele partiu para o campo norte. Disse que poderia haver
uma boa caçada naquela direção. — Ela mal ouviu enquanto ele continuou
falando. — Claro, o que aquele homem tolo está caçando no escuro, eu não sei.
Kaitlin não lhe respondeu. Ela estava ocupada selando o velho Henry.
— Kaitlin, o que você pensa que está fazendo? — Chancey perguntou
preocupado.
— Eu tenho que falar com ele.
— Fale com ele mais tarde.
— Não, não, eu tenho que falar com ele agora. Não posso esperar!
Chancey continuou chamando por ela. Kaitlin o ignorou quando ela partiu.
Ela exigiu muito do velho Henry, correndo uns bons vinte minutos na noite.
Havia uma lua para guiá-la.
O velho Henry ficou rapidamente cansado, e apesar da tempestade em seu
coração, Kaitlin o freou depois de um tempo. Ela chegaria ao campo norte em
breve. Talvez ela precisasse ter cuidado. Shane poderia lhe atirar se ele estivesse
ali.
Mas ele não estava no campo norte. Alguém estava. Ela viu os cavalos antes
dela reconhecer seu perigo.
Então ela percebeu que numerosos cavalos que moviam-se em um
semicírculo eram montados por homens estranhos. Índios.
Seu coração começou a bater. Ela olhou para eles, observando com um
terrível fáscineo. Eles estavam aquecidos contra o inverno em suas peles. Ela
podia vagamente ver que seus rostos estavam pintados. Ela tinha visto esboços
de partes da guerra dos Blackfoot ...
E ela tinha acabado de se aproximar de um. Um grito se elevou em sua
garganta. Ela tentou girar o velho Henry de volta. Ele bufou, brigando com a
liderança dela. Ele não tinha sido tratado tão brutalmente por anos, Kaitlin
estava certa.
E ele não iria aceitá-la agora. — Droga Henry! — ela gritou, batendo os
calcanhares contra seus flancos. E ele começou a correr. Em um trote lento. —
Por favor, por favor! — ela gritou. Ela sentiu o vento frio contra seu rosto, mas
não com força suficiente.
Ela olhou para seu lado. Os índios a estavam alcançando. Havia um à sua
esquerda e um à sua direita. Dois deles já tinham avançado seus pôneis à frente
dela.
Ela iria morrer. Ela estava presa. Em poucos segundos, o aço iria perfurar
sua carne.
Mas ela não morreu. O índio à sua esquerda levou seu pônei contra o velho
Henry. Ele se esticou, capaz de cavalgar apenas com a tensão de suas coxas,
mantendo-o sobre sua montaria. Ele a pegou de seu cavalo, e a colocou no seu
próprio.
E começou a correr para longe.
*
Shane não esteve em qualquer lugar perto do campo norte. Ele tinha
montado Diablo para olhar para a lua, seu coração e alma ainda uma
tempestade.
Eu te odeio, Shane ...
Ela tinha dito essas palavras, as disse claramente. Mas ele não tinha dado a
ela todos os motivos para fazê-lo?
No entanto, ele não tinha acreditado. Ela tentou esconder as coisas dele, mas
ele a conhecia ... melhor do que ela conhecia a si mesma. E ele acreditava de
todo o coração que ele poderia agradá-la. Ele sabia exatamente onde ele a tinha
levado, e onde eles estavam juntos quando faziam amor.
Ela estava errada sobre Nelly Grier. Inferno, ele não poderia mesmo ir mais
lá.
Não desde que ela tinha entrado em sua vida. Cumprindo todas as
promessas. Sua casa estava bonita. Francesca estava mais feliz do que Shane já
tinha visto. Eles tinham tudo ...
Se apenas eles tivessem um ao outro.
Ele olhou para o céu e fechou os olhos, um sorriso lento nos lábios. Talvez
ele deveria dizer a ela. Apenas deixar sair e dizer a ela. Talvez tivesse acontecido
lentamente. Talvez tivesse acontecido no início. Não importava quando. Ele não
queria machucá-la, ele nunca queria forçá-la a nada. Ele nem sequer se
importava se eles nunca tivessem um filho, não se ela não quisesse.
Ele simplesmente a amava, isso era tudo. E ele precisava dela.
Talvez se ele só falasse com ela, eles poderiam ter uma trégua de Natal mais
uma vez.
Ele virou Diablo e voltou para casa. Nos estábulos desmontou, mas Chancey
veio correndo saindo do celeiro.
— Shane, Kaitlin ainda está lá fora.
— Fora? Onde?
— Ela veio aqui desesperada logo depois que você partiu. Ela disse que ela
tinha que falar com você imediatamente. Ela foi para o campo norte. E ainda
não voltou.
Ele sentiu como se seu coração tivesse saltado em sua garganta. Ele montou
em Diablo mais uma vez e estimulou o cavalo em um galope como a velocidade
do vento norte.
E ainda assim ele chegou ao campo tarde demais. Não havia ninguém lá. Ele
ouviu o som do vento nas árvores, e nada mais.
Kaitlin se foi. Ele desmontou e caminhou pelo campo. Ele se ajoelhou.
Havia uma pena de águia preta no chão.
Ele gritou em sua agonia, trovejando para a noite. Não importava. Não havia
ninguém para ouvir.
Finalmente, ele cerrou os dentes e se levantou, suas mãos apertadas ao ao
lado. Ele não podia lutar com Black Eagle sozinho. Bem, ele poderia encenar
uma guerra de um homem contra o índio, mas ele não iria ganhar. Eles o
matariam, e, em seguida, eles só poderiam matar Kaitlin, também.
Jesu, ele tinha que trazer Kaitlin de volta. Ele tinha. Ela veio como um
presente de Natal, uma trégua, e ee la tornou sua vida, e agora, ele sabia que não
teria vida sem ela.
Shane exalou lentamente, em seguida, montou Diablo mais uma vez.
Havia uma chance. Havia uma chance ...
Black Eagle não celebra o Natal, mas talvez, apenas talvez, Shane poderia
também pedir uma trégua de Natal para o índio.
Montou rígido de volta para sua casa, orando para que Deus concedesse a ele
e a Kaitlin o tempo que ele precisava.
Por favor, Deus, pelo Natal ...
*
Três ... quatro ... cinco ...
Vinte e um ... vinte e dois ... vinte e três ...
Kaitlin olhou para o último número gravado na pele da tenda.
Era véspera de Natal.
— Querido Deus, por favor, pelo Natal. Deixe-o viver. Eu nunca vou pedir
nada de novo, eu prometo. Apenas deixe-me vê-lo novamente, deixe-me dizer-
lhe que eu tenho um presente para ele neste Natal. Deixe-me dizer -lhe que ele
vai ter seu filho. Oh, por favor, deixe-nos sair daqui juntos!
Kaitlin murmurou as palavras em voz alta. Ela continuou a rezar
fervorosamente.
Fora da tenda, o vento da noite uivou.
Capítulo 5
Kaitlin foi surpreendida pelo som da aba da camurça sussurando quando
Black Eagle entrou na tenda. Nas sombras bruxuleantes criadas pelo pequeno
fogo no centro, ele apareceu grande, sinistro e ameaçador.
Seu coração pareceu parar. Ele tinha matado Shane.
— Meu Deus! — ela respirou. O mundo parecia estar girando em torno dela.
A escuridão a alcançou. Ela teria agradecido. Qualquer coisa para não aceitar o
fato de que Shane poderia estar morto. Sua garganta estava seca, seus olhos
estavam cheios de lágrimas, cegando-a.
— Venha, Kaitlin —, disse Black Eagle.
Não, ela nunca iria segui-lo em qualquer lugar. Ele poderia matá-la ali
mesmo, exatamente onde ela esperava.
— Kaitlin! — Desta vez, uma voz diferente. Ela enxugou os olhos, e olhou
para a entrada. Shane estava lá. Ela ficou de pé e foi pulando os poucos passos
em direção a ele.
Mas Black Eagle estava em seu caminho, arrastando-a de volta para seu lado.
— Eu ainda não recebi meu presente de Natal, — Black Eagle disse a Shane.
Kaitlin olhou para o marido, o medo correndo ao longo de sua espinha. O
que Shane esperava? O que ele estava tentando fazer?
Os olhos de Shane estavam nos dela tranqüilizadores, enquanto falava com
Black Eagle. — É isso mesmo. Você não recebeu seu presente. Venha, e eu o
levarei até seu presente.
Shane deixou a tenda. Black Eagle colocou uma mão sobre o braço de
Kaitlin, arrastando-a.
Eles saíram em um dia coberto de neve. O sol já estava baixando. Rosa e
laranja riscavam pelo céu em faixas dramáticas. As tendas dos Blackfeet,
alinhadas contra o horizonte, apareciam como um conjunto de colinas quase
perfeitas, Montanhas em forma de A nas sombras pastel que começavam a se
formar.
Proxíma a tenda, o povo Black Eagle estava em linha. Alguns eram
guerreiros, despojados de sua pintura agora, ainda assim, de pé tão
orgulhosamente.
E as mulheres estavam lá. Beatiful yellow Flower (Bela Flor Amarela) que
tinha sido a mais gentil para Kaitlin, A forte Cries Like The Wind (Chora Como
o Vento) que zombou dela como vingança. Até as crianças se reuniram ao redor,
observando Black Eagle) e Shane, o homem branco curioso que tinha vindo até
eles antes, e veio até eles agora, apesar das advertências de que ele poderia muito
bem ser morto.
Diablo esperou em frente a tenda. Black Eagle gritou uma ordem, e outro
cavalo foi trazido. Kaitlin ficou surpresa quando Yellow Flower veio para a
frente, falando baixinho para Black Eagle. Perguntou-se se o temperamento do
chefe iria se enfurecer com tal interrupção, mas Black Eagle fez uma pausa,
ouvindo a mulher. Black Eagle grunhiu, então ele realmente pareceu sorrir. Mas
ele gostava de Yellow Flower, e Kaitlin estava convencida de que Yellow Flower
estava apaixonada por Black Eagle. Ela não entendia por que os dois não eram
marido e mulher, mas ali, tremendo de frio e esperando, ela não se importava.
Tudo o que ela podia se preocupar era com Shane.
Ele montou Diablo, e esperou. Observando-a.
Tão intensamente. Seus olhos dourados brilhavam, e ela ansiava tão
desesperadamente para correr para ele. Mas seu olhar também a avisava. Ele
ainda estava no meio de negociações.
— Kaitlin! — disse Yellow Flowers. Kaitlin e virou e suspirou baixinho.
Yellow Flower tinha ido buscar Genevieve. Sua pequena égua estava diante dela,
adornada em com uma corda indigena em sua cabeça e uma sela indígena.
Kaitlin olhou para Shane, hesitando.
— Black Eagle a trouxe para você.
Kaitlin segurou um punhado de crina da égua e rapidamente pulou sobre o
cavalo. Black Eagle havia montado sua pintura, e os três estavam prontos. Um
dos guerreiros disse algo para Black Eagle. Black Eagle riu e respondeu em
Inglês.
— Este homem mantém sua palavra, e seus negócios. Ele não vai me
machucar. E ele não é um tolo. Se ele fizer isso, você irá matá-lo e a sua mulher.
Lentamente. Você está ciente disso, MacAuliffe, certo?
— Muito consciente, — Shane respondeu educadamente. — Devemos ir?
Black Eagle assentiu e Shane estimulou Diablo seguir. A égua de Kaitlin
seguiuem trote rápido. Black Eagle manteve o ritmo atrás deles.
Em pouco tempo, a colina de tendas em forma de A começou a desaparecer
atrás deles quando eles deixaram a aldeia de inverno dos Blackfoot para trás.
Eles deviam ter montado por cerca de vinte minutos antes que Shane freasse
por fim. Kaitlin não conseguia imaginar onde estavam, e as sombras da noite
estavam começando a cair em torno deles. Então, ela ouviu um barulho e
aguçou os olhos em direção a um grupo de árvores. Havia algum tipo de um
alpendre construído lá. E quando ela olhou para ele, um homem apareceu de
repente. Seus olhos se arregalaram de surpresa. Era Chancey.
— Shane? — ele disse cautelosamente.
— Sim, sou eu —, disse Shane. — E Black Eagle está conosco. Ele trouxe
meu presente de Natal, mas agora tenho de dar-lhe o seu antes que eu estou
autorizado a manter o meu.
Mesmo nas sombras, Kaitlin podia ver largo sorriso de Chancey. — Tudo
bem, Shane. Isso está muito bem!
Shane desmontou e caminhou pela neve em direção ao alpendre. Ele
desapareceu dentro dele.
Black Eagle esperou em silêncio.
Então Shane reapareceu carregando uma pequena trouxa preta com um
tampo envolto em uma pele. Por um momento, Kaitlin não tinha certeza do que
era.
Em seguida, ela engasgou quando o pacote se moveu. Shane o abaixou. O
pacote gritou e começou a correr.
Era uma criança. Um bebê realmente, pensou Kaitlin, um menino de não
mais de três ou quatro anos.
Black Eagle respondeu ao grito com um grito rouco e feliz. Ele jogou a perna
por cima do pescoço de seu cavalo e saltou graciosamente para o chão, em
seguida, correu para o menino com os braços estendidos.
O menino estava em seus braços. Black Eagle se levantou e deu a volta nas
sombras, aninhando o menino contra ele.
Kaitlin olhou para Shane. Ela não podia esperar mais. Ela correu para ele,
debatendo-se um pouco na neve, quase caindo, mas foi então presa na força dos
braços dele.
— Kaitlin ...
Ela ouviu seu sussurro. Sentiu o calor dele contra seu rosto. Ela passou os
braços ao redor dele, não querendo se separar nem pela por uma polegada.
Black Eagle não veio até eles novamente. Foi o próprio Shane que a colocou
de lado quando o índio caminhou até ele, ainda segurando seu filho.
— Seu presente de Natal é seu, — Black Eagle disse, — e o meu ... é meu.
Isso é uma boa coisa, essa troca de presentes.
— Eu também acho que sim. — Shane disse suavemente.
— É um velho costume? Parte do seu cristianismo?
Shane sorriu. — Bem, sim. Você vê, Cristo foi um presente de nosso Deus
para nós. E na noite em que ele nasceu, homens sábios viram uma estrela no céu
para seguir, e eles o fizeram, trazando presentes para um rei recém-nascido. Em
honra ao seu nascimento, trazemos presentes uns aos outros.
Kaitlin sentiu uma curva de sorriso nos lábios enquanto observava Black
Eagle. Ela nunca tinha imaginado que um homem poderia ser tão terno, tão
gentil.
Mas todos os homens, ela percebeu, amava seus filhos. Black Eagle não era
nem mais nem menos do que qualquer outro homem.
Ele olhou para Kaitlin, depois sorriu para Shane. — Você me deu um bom
presente.
— E o senhor, não poderia ter me dado um melhor, — Shane respondeu.
Black Eagle estendeu a mão. Shane apertou. Em seguida, o índio voltou com
seu pequeno menino em seus braços e montou de volta em sua grande pintura.
Ele olhou para trás.
— Kaitlin!
— Sim, Black Eagle?
— A égua é o seu presente de Natal.
Ela sorriu. — Obrigada. Muito obrigada. Eu não tenho nenhum presente
para você. Se...
Ele interrompeu-a com sua risada suave. — Talvez você tenha me dado um
presente. Vou para casa agora. Eu vou dizer a Yellow Flower que ela vai ser meu
presente de Natal. Eu tenho o meu filho que voltou para mim. Sua mãe está
morta há muito tempo agora. Ele terá outra.
Black Eagle acenou, e chutou seu pônei. Então ele foi engolido pelasa
sombras da noite de Natal.
— Oh, Shane! — Kaitlin respirava.
Chancey pigarreou. — Acho que é melhor eu voltar agora. Talvez nós
levamos Black Eagle para o espírito de Natal, mas eu odiaria contar com a súbita
conversão de toda a sua tribo.
— Certo, Chancey, é melhor voltarmos. — Mas Shane ainda estava
segurando Kaitlin e Kaitlin ainda estava olhando em seus olhos. Nenhum deles
podiam realmente importar se no momento, eles fossem cercados por toda a
nação indigena. — Chancey, você vai na frente. Você monta a frente e diga-lhes
que está tudo bem. Que Kaitlin e eu estamos voltando para casa.
— Eu não deveria deixar vocês sozinhos aqui fora —, Chancey murmurou.
— Vocês são como um par de bebês na floresta agora, é o que vocês são!
Ele resmungou mais quando levou seu baio para o lado do alpendre e o
montou. Ele ainda estava resmungando quando ele lançou os calcanhares contra
o lado do cavalo e correu através da neve.
Eles estavam sozinhos. Sozinhos no deserto branco, com a última luz
desaparecendo rapidamente, e as estrelas começando a aparecer acima deles,
mesmo enquanto a luz desaparecia.
— Oh, Shane ... — Kaitlin sussurrou.
Ele a beijou por fim. Um beijo alimentado tanto com paixão quanto ternura,
um beijo que roubou o último de seu fôlego e fez seu coração bater ferozmente.
Ela o beijou de volta. Com todas as barreiras caídas, com todo calor, desejo e
amor que ele poderia ter desejado. Ficaram ali, mal conscientes das macias
partícculas de neve que começava a cair sobre eles.
Então Kaitlin finalmente se afastou, mal conseguindo ficar em pé, tão feliz
de ter os braços dele ao redor dela. — Oh, Shane, eu te amo! Eu estava
tentando encontrá-lo, tentando dizer a você...
— E você encontrou os índios em vez disso, — ele disse suavemente. Ele a
embalou ferozmente contra ele. Ela se lembrou do caminho que Black Eagle
tinha feito com seu filho, e ela nunca tinha e sentido mais amada, mais
protegida, mais acarinhada.
— Oh, Shane, é verdade! Você me encontrou em um esgoto de New
Orleans. E eu vim de uma casa horrível, e fui despedaçada pela guerra. E eu
queria as coisas materiais. Eu nunca soube o quão pouco essas coisas
significavam até que estive tão certa de ter perdido você. E eu não queria ser tão
horrível, exceto porque eu estava com medo. Shane, perdoe-me, por favor?
— Kaitlin! — Seus braços varreram em volta dela novamente. Tão
ferozmente. — Kaitlin, eu fui horrível com você desde o momento em que nos
conhecemos. Mas sabe, eu estava fascinado por você, então. Eu acho que eu
estava com muito medo de mim. Sabe, eu me arrisquei por amor uma vez. E eu
não ousava acreditar em qualquer coisa boa.
— Estávamos todos feridos —, Kaitlin sussurrou. — Você, eu, mesmo
Black Eagle. Talvez nós começamos a curar uns aos outros.
Shane sorriu. Um amplo sorriso terno e torcido. — Talvez —, ele
concordou. — Ele-te machucou?
Ela balançou a cabeça. — Acho que ele pretendia. Mas ele viu seu anel no
meu dedo, e se recusou a me tocar por causa de seu respeito por você. — Ela
começou a tremer. — Oh, Shane, mesmo os índios conheciam você melhor do
que eu!
Ele riu. — Não é assim, Kaitlin, mas não importa. Nada disso importa mais.
Eu tenho você de volta. E isso está começando a nevar mais forte. Penso que
seria melhor irmos para casa.
Ela assentiu com a cabeça, os olhos cintilando quando eles se encontraram.
— Não, eu não posso deixar você ir.
— Então vamos cavalgar juntos com Diablo. Vou amarrar Genevieve a ele
para que ela possa nos seguir para casa.
Uma vez que estavam montados, Kaitlin apoiou a cabeça contra o peito dele,
incapaz de acreditar que ela estava em seus braços, e que eles estavam a caminho
de casa. — Como você conseguiu chegar até mim? Black Eagle avisou que iria o
matar mesmo se você o perturbasse.
Os braços de Shane se apertaram ao redor dela. — Eu fiquei quase louco
quando soube que você se foi, e o que tinha acontecido. Eu teria vindo direto
para você, exceto por eu saber que eu não poderia salvá-la sozinha, e que não
havia pessoal suficiente aqui para fazer qualquer ataque a Black Eagle e a toda
tribo. Então percebi que poderia fazer um assalto a aquele caçador tolo que
tinha levado o filho de Black Eagle, e assim eu fui até o seu acampamento.
— Pacificamente?
— Armas em punho —, Shane admitiu, — mas eu tive que convencê-lo de
que falava sério. Ele entregou o menino para mim, porque eu prometi a ele uma
guerra em grande escala e o fim de seu futuro negócio, se ele não o fizesse.
Claro, eu também lhe prometi uma bala na cabeça. Isso pareceu o argumento
mais convincente.
Kaitlin riu suavemente. — Oh, Shane ... E eu pensei que iria passar o Natal
em uma tenda, não amada, não desejada!
— Nunca, Kaitlin, nunca, — ele sussurrou com voz rouca. — Foi há um ano
atrás, que você entrou na minha vida. Faz um ano, hoje, lembra? E eu disse a
mim mesmo que você era um presente de Natal. Eu só não sabia, então, que
você era o maior presente de Natal que eu já receberia.
— Oh, Shane! — Ela virou-se na sela, lançando os braços ao redor dele,
quase derrubando os dois. Ela lhe deu um beijo molhdo, e ele a beijou de volta.
De alguma forma conseguiram manter-se equilibrados na sela. Com o tempo
eles se separaram. Diablo bufou como se estivesse certo de que seu mestre e
amada tivessem enlouquecidos.
— Tudo bem, Diablo, — Shane disse a ele, — estamos quase lá.
E eles estavam quase lá. Francesca estavaesperando nos degraus da frente,
apesar do frio. Quando ela viu Kaitlin, ela deu um grito de alegria e veio
correndo escada abaixo pela na neve.
— Você está em casa, Kaitlin, você está em casa! Você é tudo que eu pedi
para o Natal, eu orei por você todas as noites, e agora você está aqui! Oh,
Kaitlin!
Ela abraçou Francesca, abraçou-a e abraçou-a. E quando terminou, ela se
agarrou a ela ainda. E Daniel e Maria estavam ali, ansiosos para abraçar e segurá-
la.
Atéo reverendo Samuels estava lá com Jemima, todos prontos para recebê-la.
Ela tinha voltado para casa para o Natal. Ela realmente tinha voltado para
casa.
Houve muito mais alvoroço por um longo tempo. Mary tinha preparado um
banho quente preenchido com o doce aroma de rosas que a aguardava primeiro
na cozinha. Mary estava convencida de que ela estava se sentindo terrivelmente
suja da sua estadia com os índios. Os Blackfeet realmente acreditavam muito
mais no banho do que um monte de gente branca que Kaitlin conhecia, mas
desde que Mary tinha passado por tantos problemas para fornecer o delicioso
banho, Kaitlin decidiu esclarecê-los mais tarde sobre a tribo. Ela sorriu. Mary era
uma boa amiga Assim como Daniel. Eles eram pessoas maravilhosas.
Apenas não tão maravilhosos quanto Shane.
Quando ela estava banhada e vestida, vestindo o lindo vestido que Shane
tinha comprado para ela no ano anterior, na noite em que tinham se casado, ela
voltou para a sala. Todo mundo queria falar com ela, estar com ela. Para Kaitlin,
estava tudo bem. Ela sentou-se na sala, diante do fogo. Mary serviu seu vinho
quente, Francesca se enrolou ao lado dela no sofá com a cabeça em seu colo.
Havia uma grande árvore de abeto na sala, também. Chancey a tinha arrastado.
— Não está muito decorada, senhora —, ele disse a Kaitlin, — mas eu estava
pensando que talvez você, Shane e Francesca pudessem querer terminar
amanhã. Nenhum de nós jamais perdeu a esperança, sabe. Era Natal. E nós só
queriamos você de volta para o Natal.
Kaitlin deu a Chancey um grande beijo, o que trouxe um rubor nas suas
bochechas. Então ela percebeu que Shane estava muito tranquilo durante toda a
noite. Ele só ficava ali de pé, encostado no manto, observando-a.
Então, finalmente, era hora de todos irem para a cama naquela noite. Eles
todos ficaram, os Newtons e seu bebê em um dos quartos, o reverendo e
Jemimah em outro. Seria de manhã bem cedo, que todos eles viajariam para a
cidade para os serviços de Natal.
Eles teriam canções em seguida, pensou Kaitlin. Ela abraçou Francesca
apertado. Não haveria canções na igreja. E esta noite, o Papai Noel só poderia
descer pela chaminé.
Shane tinha dito que lhe daria um Natal. Ele tinha feito exatamente isso.
E, finalmente, ela estava sozinha com ele. Ele não havia deixádo-a subir. Ela
o assegurou que ela não havia passado por quaisquer dificuldades, mas ele não a
deixou subir os degraus de qualquer modo.
Ele a carregou, seus olhos se encontraram com os dela todo o caminho. Ela
passou os braços em volta do pescoço dele, sorrindo.
—Papai Noel desceu pela chaminé por Francesca? — ela perguntou em voz
baixa.
— Eu acho que o Papai Noel veio esta noite por Francesca, também —,
disse ele, sorrindo com ternura em troca. — Mas sim. Ele a trouxe um novo
vestido brilhante e uma bela boneca. Terei de ver que ele o coloque
corretamente sob a árvore muito em breve. Ele está vindo por você, também.
— Ele já veio por mim, — Kaitlin disse ele. — Ele veio quando eu vi seu
rosto esta noite.
— Mas haverá um presente debaixo da árvore para você, também. Eu- —
Ele fez uma pausa. — Eu nunca perdi a esperança.
— Oh, Shane, eu realmente não tenho nada para você sob a árvore- — ela
começou. Então ela se interrompeu. — Oh, mas eu tenho algo para você!
Eles tinham chegado ao seu quarto. Shane ainda a segurava, fechando a porta
atrás deles com o pé. O luar entrava no quarto.
Seus olhos brilharam na direção dela. — Eu disse que você era meu presente
de Natal. O melhor presente que já recebi. Eu realmente não preciso de nenhum
outro.
— Mas eu tenho um, meu amor! — Kaitlin sussurrou. — Eu acho que nós
vamos ter ... não, eu tenho certeza agora. Nós vamos ter um bebê. No próximo
ano, eu acho que você vai ter o seu filho.
Os braços dele se apertaram ao redor dela. — Kaitlin ...
Por um momento ele ficou completamente imóvel.
Em seguida, ele a abraçou, a colocou no chão e soltou um grito, um grito
alegre. Era algo como um grito, algo como um grito.
E Kaitlin esteve certa de que ele acordou a casa inteira.
Ele o fez. Houve de repente uma batida em sua porta.
Shane abriu-a.
O Rev. Samuels estava ali. — Shane, Kaitlin, há algo errado? Alguém está
machucado…
— Não, não, nós estamos bem! — Shane disse rapidamente. — Eu estava
apenas recebendo meu presente de Natal.
O reverendo engasgou. Kaitlin riu, percebendo que o reverendo tinha
assumido que ele estava gritando algo indecente.
— Shane MacAuliffe, há uma criança nesta casa…
— E haverá uma outra! Boa noite agora, a todos. Não, não é boa noite. É
pós meia-noite. É Natal. Feliz Natal a todos. Feliz Natal. Agora vão para a cama!
Ele fechou a porta com um estalo firme. Ele sorriu para Kaitlin. — Feliz
Natal, meu amor!
Ela sorriu, e voou para seus braços. — Nós temos os melhores presentes do
mundo —, ela sussurrou. — Presentes de amor.
Ele segurou-a com ternura, em seguida, beijou-lhe os lábios. — Vem, dê-me
o meu! — ele sussurrou de volta.
E com a neve caindo suavemente além da janela, sua casa cheia com o mais
maravilhoso espírito de Natal, Kaitlin envolveu seus braços ao redor dele.
E deu-lhe o dom de seu amor.
EM CASA PARA O NATAL
Quebrou o coração de Travis ver Isabelle partir, mas ele era o capitão ianque
que havia conquistado sua casa e ela era uma filha da Confederação. Por mais
que desejasse, Travis sabia que só um milagre poderia segurar Isabelle com ele e
mantê-los juntos. Mesmo no Sul arrasado pela guerra, os milagres de Natal
podem acontecer.
Uma nota de Heather:
Como meu pai era escocês, minha mãe é irlandesa e meu marido e os sogros
são italianos, o jantar de Natal em nossa casa geralmente é um caso incomum.
Eu amo o natal. Com quatro filhos ou mais, o dia é selvagem, acolhedor e
maravilhoso. A casa está toda decorada, e geralmente acendemos a lareira,
mesmo que naquele dia estejam quase trinta graus no sul da Flórida.
Costumamos a ter muitos familiares e amigos todos os anos, de trinta para
cinquenta pessoas, e minha mãe, minha irmã, sua sogra e todos os outros
preparam algo e o trazem. Temos peru, molho, batatas e um grande presunto, e
também temos lasanha, almôndegas e cheesecake italiano.
Uma das minhas receitas de Natal favorita é um molho de molusco que eu
aprendi com meu primo, e é minha receita favorita porque sempre gostei muito
dela, leva pouco tempo e esforço. Quando chega companhia inesperada, pode
ser preparada em menos de meia hora. Também é praticamente infalível!

Molho de Molusco do Primo Jimmy para o Natal 4 latas de molusco picadas


1 kg de manteiga ou margarina 1 grande bolbo de alho (sim, tanto!), picado 1
colher de sopa de azeite Salsa fresca, picada
Saltear o alho no azeite. Adicione o molusco e suco (Use um pouco de água
para garantir que todos os moluscos e suco sejam enxaguados das latas.).
Adicione a salsa.
Aqueça a mistura até quase ferver.
Adicione manteiga ou margarina e aqueça até que a mistura borbulhe
levemente.
O molho pode ser servido imediatamente ou pode ser cozido em fogo baixo
durante mais de uma hora.
Sirva sobre linguine, tortellini ou qualquer outra massa de escolha, fica ainda
melhor quando reaquecido.
Eu gosto de preparar o molho com manteiga, mas quando me sinto
consciente da saúde, faço com margarina, ou às vezes é feito com uma colher de
cada.
Outra dica de natal: Para aqueles que gostam de recheio cozido no fogão,
bem como dentro do peru, cozinhe o peru sem o recheio. Em vez disso, insira
uma colher de manteiga ou margarina embrulhada em várias folhas de alface.
Cozinhar o recheio no interior do pássaro seca o peru, enquanto a alface o
mantem úmido, e a manteiga ou a margarina regam o interior.
Prólogo
Noite de Natal, 1864

Uma neve suave e leve estava caindo enquanto o capitão Travis Aylwin
estava junto à janela do salão. Ele quase podia ver os flocos individuais dançar
contra o céu cinzento caindo na terra. Era uma imagem bonita, serena. Não
havia trombetas; nenhum soldado lançando gritos de guerra; nenhum cavalo
silvando; e nenhum sangue marcava a pureza e brancura do dia de inverno.
Era véspera de Natal, e desde aquela janela, no salão que ele havia assumido
como seu escritório, poderia ter havido paz na Terra. Era possível esquecer que
homens morreram no próprio terreno diante de casa, que os membros sem vida
cobertos de cinza haviam caído sobre membros sem vida vestidos de azul. A
serenidade do dia que escurecia fora completa. Um fogo queimando na lareira, e
o aroma do pinheiro estava pesado no ar, pois a casa estava vestida para a
estação com azevinho e ramos da floresta, fitas vermelhas brilhantes e arcos de
prata. Hawkins tinha assado castanhas na lareira naquela manhã, e seu cheiro de
inverno ainda se apegava levemente à sala, como a risada zombeteira de férias
vividas há muito tempo. Ele não pediu essa guerra! Não estava em casa para o
Natal em quatro longos anos, e nenhum aroma de castanhas ou spray de visco
curaria a dor assombrosa que o atormentava naquele dia.
Ela podia curar a ferida, pensou. Ela, que poderia passar o feriado em sua
própria casa, em seu próprio lado. Mas ela não queria, ele pensou. E nenhuma
palavra que dissesse mudaria seus sentimentos, pois era quase Natal, e não
importava o que havia passado entre eles, por mais que ele falasse gentilmente,
Isabelle pegou a batalha no Natal, como se lutasse por todos os soldados que
descansavam no campo.
Em algum lugar ele podia ouvir cantar. O cabo Haines estava tocando piano,
e Joe Simon, de Baltimore, Maryland, estava cantando — O, Holy Night — em
seu maravilhoso tenor. Havia uma qualidade pungente na música que soava tão
alta e clara. Duas pessoas estavam cantando, ele percebeu. Isabelle Hinton
juntou-se, sua voz subindo como um rouxinol, as notas verdadeiras e doces.
Ela perdoou os homens, pensou ele. Ela os perdoou por serem ianques; ela
perdoou-lhes a guerra. Era só a ele que não podia perdoar, não quando era
Natal.
Os sons da música desapareceram.
Ele fechou os olhos de repente, e foi a imagem do passado que viu, e não o
presente. Não a pureza da neve, o cinza suave do dia. Ele não podia esquecer o
passado, pensou, e tampouco ela o poderia fazer.
Ele ficou tenso, os músculos de seus braços e ombros se estreitando, sua
respiração chegando rapidamente. Ela estava lá. Ele sabia que ela estava lá. O
sargento Hawkins havia dito a ele que Isabelle pedira uma audiência com ele, e
agora sabia que ela estava esperando na porta. Ele podia cheirar seu sabão de
jasmim; podia sentir sua presença. Ela estava parada na entrada quando ele se
virou, esperando que ele lhe oferecesse para entrar. Ela ficaria orgulhosa e
distante, como fora no primeiro dia em que a conheceu. E, assim como
aconteceu pela primeira vez, o coração martelava dentro de seu peito enquanto a
observava. Ela era uma mulher extraordinária. Suas mãos apertaram os punhos
em seus lados. Estava quase acabado. A guerra estava quase acabada. Ele sabia
disso; Os soldados magros e famintos do Sul o sabiam; ela sabia disso, mas ela
nunca o admitiria.
Endireitou os ombros, com cuidado de colocar uma máscara de comando.
Ele se virou e, como sabia, ela estava lá. E, como suspeitava, estava vestida para
viajar. Seu vestido borgonha e rendas estavam usados; o seu pesado casaco preto
estava desgastado e, sob suas anáguas remendadas, sabia que ela estaria usando
uma calça estreita e reparada, pois ela não levaria nada dele, exceto a “renda”
pela casa, e isso ela guardava cada mês atrás de um tijolo na lareira. Antes ela
guardava isso para dois irmãos, mas agora um deles descansava na parcela
familiar que estava escondida pela neve, e então ela guardou o dinheiro para o
tenente James L. Hinton, Artilharia dos Estados Confederados, do Exército da
Virgínia do Norte, na esperança de que ele voltasse um dia para casa. Ela pegou
o dinheiro porque o Exército dos Estados Unidos tomou conta de sua casa. Por
estar determinada a não perder seu lar, não teve escolha senão deixá-los usá-la.
A plantação de Hinton estava muito perto de Washington, DC, e embora o
exército tivesse sido forçado a abandonar a propriedade na ocasião, quando as
forças de Lee chegaram perto, elas sempre voltavam.
Isabelle sabia disso. Que ele sempre voltaria.
Travis não falou imediatamente. Ele não tinha intenção de facilitar as coisas
para ela, não naquela noite, não quando sentia uma tempestade tão
desesperadora em sua alma. Cruzou os braços sobre o peito e ficou sentado no
assento da janela, observando-a educadamente, esperando. Os seus batimentos
cardíacos se aceleraram, como sempre acontecia quando estava perto. Tinha
sido assim desde a primeira vez que a viu, e agora que a conhecia tão bem...
Ela estava pálida naquela noite, e ainda mais bonita por sua falta de cor.
Poderia ter sido uma rainha de inverno enquanto estava parada, alta, magra,
coberta por seu manto, seus fascinantes olhos verde cinza enormes contra a
perfeição oval de seu rosto. Sua pele era como um alabastro, e a escuridão de
seus cílios varria sedutoramente a perfeição de sua aparência impecável. Seu
nariz era aquilino, os lábios da cor do vinho. Cachos de cabelos dourados
ondulados por baixo do capuz de sua capa, mal insinuando a profusão radiante
de longos e sedosos cabelos abaixo. Ao vê-la, ele estava tentado a atravessar a
sala, levá-la a seus braços, apertá-la até que ela clamasse por misericórdia, até
que ela prometesse que se renderia.
Mas ele não o faria, ele sabia. Antes a tocara com raiva, a sacudiu para
dissipar o gelo de seu coração. Ele tinha o poder, e às vezes o usava, em
desânimo, em desespero, e uma vez com a triste determinação para salvar sua
vida. Mas não a tocaria aquela noite. Ele a amava e não a forçaria a ficar.
— Boa noite, Isabelle — disse a ela. Não tinha intenção de ajudá-la. Ele a
deixaria ir, porque tinha que fazê-lo, mas não a ajudaria a abandoná-lo para o
vazio estéril de outro natal sem ela.
— Capitão — ela reconheceu.
Ele não disse uma palavra. Ela levantou o queixo, sabendo que ambos
estavam plenamente conscientes de por que ela tinha vindo e que ele não iria
facilitar a sua vida.
Com uma dignidade suave, ela falou novamente. — Eu gostaria de uma
escolta para o lugar de Holloway, por favor.
— O clima é severo — ele disse sem compromisso.
— Isso não importa, senhor. Irei com ou sem sua escolta.
— Você sabe que não vai dar dois passos sem minha permissão, senhorita
Hinton.
Seu lábio enrolado, e suas grossas pestanas cobriam suas faces. — Você me
impediria de ir, capitão?
Por que não o fez? Ele se perguntou. Poderia virar as costas para ela, poderia
negar o pedido dela. Se tentasse deixá-lo, se tentasse se afastar a nevasca, ele só
precisava acompanhá-la, capturá-la, arrastá-la para trás. Seria tão fácil.
Mas se apaixonou por ela e nunca poderia segurá-la pela força. Se quisesse ir,
ele iria selar o cavalo se necessário.
— Não, senhorita Hinton — ele disse suavemente. — Não vou impedir que
você vá, porque esse é o desejo do seu coração.
Ele se levantou e caminhou até a escrivaninha, a mesa do irmão, a
escrivaninha. Era uma mesa ianques agora, empilhada com a papelada, as
ordens, as cartas, os desejos de Natal que lhe chegavam, as cartas que ele havia
ditado aos pais, amantes, irmãos e noivas dos homens que havia perdido na
última escaramuça, cartas que ainda não foram enviadas. Ele procurou suas
formas de conduta seguras, tirou a cadeira, sentou-se e começou a preencher os
espaços em branco. Qualquer patrulha da União iria providenciar passagem
segura para a senhorita Isabelle Hinton para Holloway Manor, apenas cinco
quilômetros a sudoeste de sua própria localização no norte da Virgínia. Ela seria
acompanhada pelo sargento Daniel Daily e pelo cabo Eugene Ripley, e não
deveria ser interrompida, questionada ou encaminhada para qualquer propósito.
Ele assinou seu nome, então olhou para cima. Pensou detectar o brilho de
lágrimas por trás do deslumbramento de seus olhos cinza-verdes. Não faça isso!
Ele desejava lhe ordenar. Você não vê isso neste mesmo ato nega nosso amor?
Mas ela nunca disse que o amava. Nunca, nem enquanto ardia nas chamas do
desejo, nem nos poucos momentos roubados de ternura que tinham chegado a
ela. E nem, Deus o ajudasse, ele alguma vez sussurrou tais palavras, pois não
podia. A guerra estava entre eles e os inimigos não se amavam.
Ele ficou de pé, depois se aproximou dela com o passe. Suas mãos enluvadas
estavam bem dobradas, mas começaram a tremer contra a saia.
— Isabelle... — Ele começou a entregar o papel.
Ela procurou alcançar, mas seus dedos não conseguiram alcançá-lo e o passe
caiu no chão. Ele queria se inclinar para pegá-lo, mas não o fez. Seus olhos
escuros prenderam-se nos dela, e a sala pareceu encher com uma tensão
palpável. De repente, ele descobriu que era a mulher que ele procurava, e não o
papel. Puxou-a para dentro de seus braços e soube que ela não era feita de gelo,
que o calor aquecia e queimava dentro dela. Um grito suave escapou de seus
lábios, e sua cabeça caiu de volta. Seus olhos encontraram os dele com um
desafio deslumbrante, mas eles traíram coisas que ela não diria, que ela negaria
até à tumba se ele o permitisse.
— Isabelle! — ele repetiu, olhando-a nos olhos, devorando seus traços
perfeitos, seus dedos calosos descansando na suave inclinação de sua bochecha
e queixo. Mais uma vez, ele sussurrou seu nome e sentiu o bater frenético de seu
coração antes de a beijar. Ele tocou seus lábios contra os dela, e o fogo pareceu
rugir atrás dele enquanto mergulhava profundamente em sua boca, acariciando
os recantos internos com a língua e evocando memórias dentro deles. Seus
lábios acariciaram e consumiram os dela, e as chamas alojaram-se em seu peito,
suas coxas, seu corpo, até que pensou que não poderia suportar mais. Seus seios
empurraram explicitamente contra sua camisa de cavalaria enquanto se enchia
do gosto doce dela, um gosto que logo seria negado.
Se ela pensou em lutar contra o seu toque, ele rapidamente tirou esse
pensamento de sua mente. No poder de seus braços, ela não... não podia negá-
lo. O beijo evocava lembranças. Memórias de cegueira, paixão e necessidade
desesperadas, memórias de ternura, de sussurros, de momentos dourados e
preciosos fora do tempo, quando o amor tinha ousado e desafiado a realidade da
guerra.
O beijo era esfomeado e doce, e nesses segundos roubados significava tudo
que o Natal deveria significar para ele. Ele começou a ferver de paixão, lembrou
profundamente no seu coração dos tempos em que riram juntos. Dos tempos
em que ele a abraçou contra o mundo. Começou em tempestade, e no entanto
foi um sussurro de paz e compromisso da alma. Prometia anos juntos, noites
ante uma lareira com crianças em suas voltas e os sons doces de canções de
natal dançando em seus ouvidos. Era tudo o que um beijo de Natal deveria ser.
— Não! — Ela gemeu suavemente, afastando-se dele. Suas pequenas mãos
enluvadas estavam contra seu peito, e as lágrimas que tinham umedeciam seus
olhos agora molhavam suas bochechas. — Travis, não! Eu devo ir! Não
entende? Eu tenho que estar com minha gente para o Natal, não no seio do
inimigo!
— Por Deus, Isabelle! Você não vê? Você está em casa. Esta é a sua casa…
— Não com você, Travis! — Ela interrompeu, afastando-se dele. — Travis,
por favor! — O som desesperado de suas lágrimas estava em sua voz. — Por
favor, deixe-me ir!
Ele sentiu como se seu corpo fosse composto de aço, tenso e rígido, mas se
forçou a respirar e, observando-a, lentamente se forçou a retomar o papel.
Entregou-o a ela, e seus dedos roçaram quando ela o pegou.
— Não vá, Isabelle — ele disse simplesmente.
— Eu tenho que ir!
Ele balançou sua cabeça. — A guerra está quase acabada — Não posso ser
uma traidora.
— Amar-me não significa dar as costas ao seu próprio povo. A guerra vai
acabar. A nação deve começar a curar-se, sarar suas feridas — A guerra não
acabou.
— Isabelle! Os homens de Lee estão usando trapos e farrapos. Eles estão
desesperados por comida, por botas. Você não vê? Sim, eles lutaram e
morreram, e levaram a União ao chão, mas há mais e mais de nós, e temos rifles
de repetição quando metade dos meninos de cinza lida com mosquetes de um
único tiro! Eu não fiz essa guerra, e você também não! Isabelle...
— Travis, não! Eu não quero ouvir isso!
— Fique, Isabelle.
— Eu não posso.
— Você deve.
— Por quê? — Ela exigiu desesperadamente.
— Porque eu amo você.
Ela congelou enquanto ele falava as palavras simples, suas bochechas ficando
cada vez mais pálidas. Mas ela sacudiu a cabeça em uma feroz negação. —
Somos inimigos, Travis.
— Nós somos amantes, Isabelle, e nenhuma mentira, nenhum heroísmo,
nenhuma recusa pode mudar isso!
— Você é um ianque! — Ela ofegou. — E nenhum cavalheiro para dizer
essas coisas em voz alta!
Um sorriso dolorido tocou suas feições. — Eu tentei, mas um cavalheiro não
poderia ter tido você, e eu tinha que ter você. Não vá embora. É Natal. Você
deveria estar em casa para o Natal.
— Não! — Ela balançou a cabeça com fúria, girou e correu para a porta. Ela
a atravessou, depois a bateu em seu caminho.
— Isabelle!
Travis correu atrás dela. Ele a ouviu encostar-se contra a porta e fez uma
pausa, os dedos apertando e desapertando.
Não restava nada a dizer.
— Você deveria estar em casa para o Natal — repetiu suavemente.
Ele ouviu seu soluço suavemente, então afastou-se da porta.
E então ela se foi.
Finalmente Travis entrou na sala e sentou-se diante do fogo. As chamas
saltaram alto, e ele viu seu rosto no incêndio vermelho-dourado. Venha para
casa! Ele pensou. Venha para casa e fique comigo esta noite.
Ele se recostou. Era quase Natal quando se conheceram, pensou.
De longe, ouviu o piano novamente. As vozes dos homens se moldando em
uma versão de Noite silenciosa. O fogo continuou a queimar, e além da janela os
delicados flocos de neve continuaram a cair.
Ele poderia ir atrás dela, pensou. Talvez ele devesse.
Era quase Natal, uma noite como esta, quando eles se conheceram pela
primeira vez.
Ele fechou os olhos e pôde vê-la novamente. Ver como ela tinha parado nos
degraus da frente, uma mulher sozinha, pronta para desafiar todo o exército da
União.
Capítulo 1
Dezembro de 1862

A neve tinha parado de cair, mas a casa aparecia como um palácio de gelo,
como algo tirado de um conto de fadas. A chuva tinha gelado sobre a neve
branca, acabada de cair, e quando o sol saiu, a casa e os terrenos pareciam
deslumbrantes, como se estivessem cobertos com cem mil aparas de diamante.
A paisagem parecia estéril, uma pintura de um livro para crianças. Era um lugar
onde a rainha do inverno deveria viver, talvez, certamente era o que parecia, não
tivesse influência na vida real.
Mas a vida real era pelo que eles tinham vindo. Desde que os primeiros tiros
foram disparados em Forte Sumter, todos sabiam que o norte da Virgínia seria
um viveiro, e que certas áreas deveriam ser mantidas pelos Yankees para que
Washington DC fosse protegido.
Agora, com a guerra em disputa, tornou-se cada vez mais importante
solidificar a presença da União na Virgínia. A casa de Hinton era apenas um dos
lugares que tinham de ser tomados. O pequeno município já estava se enchendo
com seus homens e, ao estudar seus mapas à procura de locais estratégicos,
Travis sabia que a casa de Hinton seria o melhor lugar para sua sede. Sua
ocupação manteria os Rebeldes longe, enquanto ele ainda teria acesso fácil à
cidade nas proximidades se fosse necessário recuar. Além disso, estaria em boa
posição para se juntar ao exército principal, caso fosse chamado.
O dia parecia muito frio e quieto. Travis podia ouvir apenas o ruido de
arneses e os sons dos cavalos enquanto sua pequena companhia de vinte
homens se aproximava da casa. O sopro de homens misturou-se com a
respiração dos cavalos enquanto atravessavam a neve, criando rajadas de névoa
no ar. Ele parou de repente, sem saber por que, apenas olhando para a casa.
Era uma estrutura tão elegante, como uma grande dama na neve cristalizada.
As grandes colunas gregas se erguiam sobre a ampla varanda, alta e imponente.
A casa era branca, e os flocos de neve brancos e de diamantes pegavam no
telhado e nas janelas. Mesmo as dependências estavam cobertas de cristal.
Através de uma janela, ele podia ver uma cintilação de vermelho e ouro, e
percebeu que um fogo estava queimando, quente e reconfortante contra a neve
e o frio.
— Capitão? Está muito frio aqui fora — o sargento Will Sikes o lembrou.
— Sim. Sim, está um frio poderoso — disse ele. Ele cutucou Judgment, seu
grande puro-sangue preto, para a frente. Seus homens, frios e silenciosos,
sobreviventes de Sharpsburg e mais esse ano, seguiram em silêncio. Todos
pensaram que a guerra acabaria em maio. Algumas semanas. Os Yankees haviam
esperado uma vitória fácil, enquanto os Rebeldess haviam pensado que podiam
baixar as calças dos Yankees, o que eles haviam feito na ocasião, Travis teve que
admitir, mas eles não contaram com a tenacidade do Sr. Lincoln. O presidente
não tinha intenção de deixar a nação se desmoronar. Ele iria lutar contra a
guerra, não importa como. Assim, o Norte tinha aprendido que não havia uma
vitória fácil, e o Sul soube que a guerra poderia durar para sempre, e aqui estava,
apenas alguns dias antes do Natal, e todos estavam se preparando para dormir
na Virgínia, em vez de voltando para casa aos seus entes queridos.
Claro, para alguns, o Natal estava destinado a ser ainda mais sombrio. Para
alguns, a guerra já tomara seu preço. Pais, amantes, maridos e filhos, muitos já
haviam retornado para casa, retornados em caixas de pinho, envoltos em seus
sudários, e para o Natal eles ficariam em seus cemitérios familiares, em casa para
o feriado.
Ele estava ficando melancólico, se lembrou, algo que não podia se permitir.
Ele estava encarregado desse grupo de vinte jovens e dos cem que deixara na
cidade. Não tinha a intenção de deixar o moral cair, nem tinha a intenção de
atirar em nenhum dos seus homens por deserção.
— Parece um lugar bom o suficiente, hein? — Ele gritou, levantando-se da
sela para virar e ver as tropas. Recebeu vários sinais de cabeça, vários sorrisos e
voltou a virar para a casa.
Foi quando a viu.
Ela saiu para ficar na varanda. Provavelmente ouviu o ruido dos arreios dos
cavalos, e sabia que os homens estavam vindo. Deve ter esperado que fosse uma
empresa confederada, mas parecia que havia suspeitado de Yankees, porque ela
tinha saído com uma espingarda, e Travis estava certo de que estava carregada.
Para a vida dele, naquele momento, ele não podia se importar.
Ela estava vestida de veludo azul, um vestido rico e suntuoso com mangas de
sopro e um corpete ousado que deixava seus ombros abertos e provocava uma
sugestão dos seios de marfim que surgiam contra o tecido. Não usava casaco ou
manto contra o frio, mas estava no topo do alpendre, aquela arma pesada varreu
e apontou para ele, mesmo quando uma delicada madeixa de cachos de ouro
como o sol caiu em um rico redemoinho contra os olhos. Ela jogou o cabelo
para trás, e ele soube que era jovem, e embora não conseguisse ver a cor de seus
olhos, sabia que seriam fascinantes. Ele sabia que nunca tinha visto uma mulher
mais linda, mais impressionante, mais delgada e delicada. Durante alguns
segundos, perdeu de vista o dever e a honra, mesmo o fato de estarem em uma
guerra.
— Parece que ela pretende usar essa coisa — Will murmurou, lançando um
olhar rápido para Travis. — O que você acha, capitão?
Travis encolheu os ombros, sorriu. Ela não poderia estar a ponto de atirar
neles. Uma mulher solitária contra um grupo de vinte homens. Ele levantou
uma mão e se torceu na sela para falar. — Aguentem, homens. Vou conversar e
ver se não podemos manter isso de forma educada.
Ele incitou sua montada para a frente, deixando os outros na névoa de neve
pelos prados e portões. Ela apontou a espingarda direto para ele, e ele puxou seu
cavalo, levantando uma mão para ela em um gesto civil.
— Pare exatamente onde você está, Yank! — Ela ordenou. A voz
correspondia à mulher. Era de veludo e seda. Era forte, mas com tons brilhantes
que a tornavam ainda mais feminina.
— Senhorita Hinton, sou o capitão Travis Aylwin do...
— Você é um Yank, e eu quero você fora da minha propriedade.
Desmontou e dirigiu-se para o caminho que levava ao alpendre. Sua capa de
lã pesada flutuou atrás dele, pegada pela brisa. Ele puxou o chapéu sobre a testa,
reconhecendo que havia encontrado uma senhora, mas antes que pudesse dar o
primeiro passo, descobriu-se espantado. Ela disparou o rifle e apenas cortou a
pena no chapéu.
— Filho da puta! — Ele rugiu.
Atrás dele, vinte rifles estavam armados.
— Segure-o! Segure-o! — Ele gritou para seus homens. Ele tirou o chapéu e
o enviou voando sobre uma nevasca, e então olhou para este anjo do sul, seus
olhos escuros brilhando com fúria. — Que diabos é o problema com você? Se
você tivesse me atingido...
— Se eu tivesse a intenção de acertar em você, Capitão, você estaria morto
— ela prometeu suavemente, solenemente. — Agora, pegue seus homens e saia
de minha propriedade.
Ele jogou de volta a capa, colocou um pé no primeiro degrau, colocou as
mãos nos quadris e apertou os dentes. Não havia maneira fácil de assumir a
propriedade de uma pessoa, mas isso era guerra.
— Então você não pretendia me acertar, hein? — Ele demandou.
— Você não acredita em mim, capitão? — Uma testa requintada se elevou
com a questão.
— Oh, sim, senhora, eu acredito em você. Se eu não o fizesse, você estaria
amarrada e na parte de trás de um cavalo agora.
Ele observou seus olhos se estreitarem e um rubor lento subiu em suas
bochechas. Ela começou a apontar o rifle novamente e, embora quisesse
acreditar que não era estúpida ou suficientemente viciosa para atirar em um
homem, mesmo um ianque, não queria arriscar. Ele saltou os passos restantes,
varrendo um braço ao redor da cintura para arrancar o rifle de seu aperto. Um
suspiro suave escapou dela, mas seu aperto era forte, e seus esforços para
desalojar a arma os desequilibrou. De repente, eles caíram nos degraus e se
estatelaram na neve. Travis instintivamente tentou manter seu corpo alojado
debaixo do dela. Ele não sabia o porquê, afinal ela queria matá-lo. Talvez ele
simplesmente não pudesse suportar a idéia de que uma criatura tão bonita fosse
ferida de qualquer maneira.
Quando eles pousaram, ela ainda estava fervendo e lutando. Ele a prendeu
debaixo dele, segurando os pulsos e cuspiu um juramento. Não havia uma
maneira agradável de fazer isso, nenhum jeito agradável.
— Senhora, em nome do governo dos Estados Unidos — O governo dos
EUA será condenado! Esta é a Confederação! Não me ameace com o governo
dos EUA!
— Senhora — ele disse cansado — isso é guerra...
— Sai da minha propriedade!
— No nome…
— Saia de mim! Não vou ouvir um governo que...
Ele empurrou as mãos com força, arrastando-as acima da cabeça e
inclinando-se muito perto dela. — Não escute o governo, então, ouça-me.
Ouça-me porque eu tenho duas vezes seu tamanho, dez vezes sua força, e
porque tenho vinte homens armados atrás de mim. Isso é lógico o suficiente
para você? Ouça, agora, e escute bem. Estou tomando esta casa. É chamado de
confisco, e é algo que acontece em tempos de guerra. Desculpe-me pelo fato de
sua propriedade estar tão perto da fronteira, mas é assim que é.
Ela piscou, e ele notou flocos de neve agarrando-se firmemente sobre as
pestanas e esfolando suas bochechas. Ela era muito branca e estava tremendo
debaixo dele. Ele não sabia se era o frio que a fazia tremer, ou se tremia de raiva.
Ela humedeceu os lábios para falar, e ele se viu olhando fascinado pela boca, sua
língua rosa enquanto movia seus lábios. Eram lábios maravilhosos, bem
definidos, cheios, sensuais, lindos. Ele queria tocá-los. Ele queria sentir o calor
que sabia que iria encontrar dentro dos recessos de sua boca.
Ele piscou, erguendo-se contra o frio do dia.
Ela falou então, a respiração apressando-se dela em uma rajada. — Você não
vai queimar a casa?
Ele quase sorriu. Ela poderia odiar ter um grupo de ianques em sua
propriedade, mas queria que sua propriedade sobrevivesse.
Ele balançou sua cabeça. — Vou pegar a casa para a minha sede. Esses
companheiros ficarão aqui, tenho mais uma centena de homens na cidade.
Faremos o nosso melhor para compensar o que usamos.
Ela ainda estava olhando para ele, sem pestanejar agora. Seu vestido de
veludo estava molhado com a neve, seus cabelos dourados caídos como
curiosos raios de sol dourado contra ele, e seus olhos cinza-verdes eram
surpreendentemente brilhantes e profundos contra a palidez de suas bochechas.
Ele sentiu-a tremer novamente e viu que a neve estava tocando seus ombros nus
e seus seios onde eles se elevavam acima de seu corpete. Pequenos flocos caíram
profundamente no vale sombreado entre eles. Flocos de neve sortudos, Travis
pensou, então percebeu que estava congelando e silenciosa em sua miséria. Ele
pensou com uma fúria repentina e irracional de que ela era do que o Sul estava
feito, que ela sofreria qualquer agonia em silêncio, que seu orgulho valia tudo
para ela. Esta guerra continuaria até a eternidade por causa de todos os malditos
sulistas, assim como ela. Eles tinham algo que todos os armamentos e os
números dos ianques não podiam bater, esse sentido de orgulho, de honra.
— Levante-se! — Ele recomeçou de repente.
— Eu mal posso fazer isso, senhor, quando você está em cima de mim! —
Ela voltou, mas ele já se levantara e se abaixou para ajudá-la. Ela não queria
pegar sua mão, mas ele não permitiu que ela fosse sem sentido, pegou as dela
dela. Ele puxou-a para seus pés, varreu sua capa de seus ombros e atirou-a sobre
ela. — Eu não preciso do calor ianque! — Ela protestou.
— Quer você precise ou não, você vai pegar! — Ele rosnou e cutucou-a nos
degraus. — Quem mais está dentro?
— General Lee e todo o exército do norte da Virgínia — disse ela
docemente.
— Sargento! Realize um detalhe de cinco e atire em tudo que vive e respira
dentro daquela casa!
— Não! — Ela gritou em protesto. Ela girou ao redor, presa dentro de seus
braços, mas encontrou seus olhos novamente. — Eu vou te dizer quem está
dentro! — Ela respondeu. — Peter, o mordomo, Mary Louise, minha
empregada doméstica, Jeanette, Etta e Johnny Hopkins, todos eles domésticos.
No celeiro você encontrará Jeremias, o ferreiro e outros cinco, trabalhadores de
campo. É isso mesmo. Apenas os servos…
— Apenas os escravos?
Ela ergueu o queixo, sorrindo com um supremo senso de superioridade que
ele queria esbofetear. — Meus pais estão mortos; E meus irmãos estão lutando.
Os servos são todos homens e mulheres livres, Capitão. Meus irmãos
providenciaram assim antes de partirem para a luta. Todos livre para que eles
pudessem sair se chegassem problemas, e não ser atingidos por aqueles como
você!
Era muito mais provável que seus negros fossem baleados por Confederados
renegados, mas ele não iria discutir o assunto com ela. Ele se virou, confiando
nela de repente, porque não tinha mais motivos para mentir. — Sargento, traga
os homens para dentro. Está ficando maldito lá fora. Oh, com licença, senhorita
Hinton — Ele curvou-se para ela, então se inclinou para pegar o chapéu da
nevasca. Ele começou a subir os degraus, depois fez uma pausa, pois estava
olhando para ele com puro ódio. — Indique o caminho, senhorita Hinton.
— Por que, capitão? Eu não estou convidando você para entrar.
Ele caminhou e pegou seu braço, um som de rosnar pegou sua garganta.
Assumira que a beleza do sul, a quem tinha que retirar a casa, poderia ter os
vapores, ou desmaiar à vista de um grupo ianque. Ele não esperava que ela
viesse atrás dele com uma espingarda, nem esperava esse desafio.
— Tudo bem. Eu posso acompanhá-lo em outro lugar.
— O quê? — Ela disse.
— Posso ver que você seja enviada para outro lugar, se esse for o seu desejo.
Posso a enviar para sul, Srta. Hinton. Onde você gostaria de ir? Richmond,
Nova Orleans, Savannah, Charleston?
— Você pretende me tirar da minha própria casa?
Um fulgor de guerra estava acontecendo dentro de seus lindos olhos. Ela não
queria estar perto dele, mas também não queria abandonar sua casa. Ele sorriu.
— Senhora, a escolha é sua.
— Capitão, você não estará aqui o tempo suficiente para fazer qualquer coisa
por mim.
— Eu não estarei?
Ela sorriu serenamente. — Stonewall Jackson patrulha esta zona, senhor. E
Robert E. Lee. Eles voltarão, e eles irão derrota—lo.
Ele sorriu em troca. — Você guarde esse pensamento, Srta. Hinton. Mas por
enquanto... bem, pode conversar com Peter sobre algo para jantar, ou posso
enviar minha tropa para arruinar suas adegas. Meus homens são bons caçadores.
Eles podem a manter e aos seus comendo bem. Apenas não interfira.
— Interferir…
— Deus no céu, mulher, está frio aqui fora! — Ele agarrou seu braço
fortemente e empurrou-a, abrindo a porta da casa e empurrando-a para dentro.
Os criados de quem falara estavam ao longo da elegante escada esculpida que
levava do vestíbulo de mármore ao segundo andar. As portas se alinhavam em
um longo e elegante corredor à direita e outro à esquerda, mas Travis estava
certo de que não tinha mentido, de que os servos eram os únicos ocupantes da
casa. Todos estavam olhando para ele agora com os olhos arregalados. Esse
devia ser Peter, um homem alto, bonito vestido com farda impecável, e aquela
ao seu lado seria Mary Louise. Os outros estavam espiando por trás deles.
— Olá. — Ele tirou o chapéu para eles, sorrindo, ciente de que o sargento
Sikes estava vindo atrás dele com metade dos homens. Peter assentiu
gravemente, em seguida, olhou para a Srta. Hinton.
— Fale com eles, — Travis sugeriu.
Ela umedeceu os lábios. — Peter, este é, er, capitão Travis Aylwin. — Ele
pensou que ela estava prestes a cuspir no chão, mas as maneiras que tinha
aprendido há muito tempo no colo da mamãe a impediam de o fazer. — Oh, o
inferno! Os malditos ianques vieram ocupar a casa.
— Eles não são um… vão nos queimar… — Peter começou.
— Não! — Ela disse rapidamente, em seguida, atirou um olhar furioso a
Travis. — Pelo menos, o capitão prometeu que não vão.
— Eu não me lembro de prometer nada — disse ele agradavelmente. —
Mas, Peter, não é minha intenção de fazê-lo. A não ser que sua senhora seja uma
espiã. Ela não é, ou é?
Os olhos de Peter ficaram ainda maiores. — Não, senhor. Por que, você
pode ver como é aqui, inverno e tudo. Você dificilmente pode ir de casa em casa
nestas partes, muito menos encontrar um exército para espionar!
Travis riu. Ele teve de concordar. Eles estavam prestes a ficar presos pela
neve no momento, exceto que ele ia ter que ter a palavra por meio de
inteligência sobre a sua localização e a situação ali. — Há vinte de nós aqui,
Peter.
— E nós estamos com mais frio do que a teta de uma bruxa e com mais
fome do que um conjunto de ursos! — Disse o sargento Sikes.
— Sargento! — Travis latiu.
Mas Sikes já parecia horrorizado com suas próprias palavras. Ele estava
olhando para sua relutante anfitriã como se estivesse muito mortificada pelas
palavras. Travis encontrou-se sorrindo. — Tenho certeza de que a Srta. Hinton
já ouviu tais palavras antes, até mesmo usou algumas, talvez, mas um pedido de
desculpas está em ordem.
Ela lançou-lhe um olhar mordaz, mas seus lábios se curvaram em um sorriso
curioso. — Se eu não usei esse tipo de linguagem, Capitão, tenho certeza que
vou fazer antes de ver o último de vocês.
— Ceia, senhorita Hinton? — Peter perguntou.
Ela levantou uma mão. — Alimente a ralé, uma vez que temos que o fazer,
Peter. — Ela afastou-se do lado de Travis, deixando sua capa militar cair no
chão. — Desculpe-me, capitão, mas eu escolho não assistir seus rufiões arruinar
meu lar e minha casa.
Ela começou a subir a escada. Ele olhou para ela com cautela enquanto ela se
afastava, mas não a impediu. Ela poderia muito bem estar indo encontrar uma
faca bowie ou uma pistola, pelo momento ele só iria deixá-la ir. Era hora de se
instalar.
— Onde é o quarto da Srta. Hinton, Peter? — Ele perguntou.
— Segundo andar, segunda porta à esquerda, senhor — disse Peter, inquieto.
Travis apenas balançou a cabeça e sorriu. — Obrigado, Peter. Sikes, encontre
um quarto na casa e encontre um para mim, também. Quanto aos homens…
— O celeiro tem um barracão cheio, — Peter aconselhou. — Lareira, fogão
a lenha, todas as comodidades, senhor. Acomoda trinta facilmente.
— Mas isso deixa o sargento Sikes e a mim sozinhos em casa, não é, Peter?
Você não estaria planejando alguma coisa, não é?
Peter balançou a cabeça.
— Mas sua senhora pode estar.
Peter baixou a cabeça, mas não antes de Travis ver o reconhecimento em
seus olhos. Ela era perigosa, senhorita de conto de fadas, princesa Hinton. Mas
ele poderia lidar com o perigo. — Tudo bem, Peter, obrigado. Os homens vão
tomar o barracão. Sikes e eu vamos encontrar quartos aqui, e se você valoriza a
sua vida e a da Srta. Hinton, você vai ter o cuidado de ver se ela se comporta.
Peter acenou com a cabeça, mas Travis teve a sensação de que ele não tinha
certeza de estar à altura da tarefa.
— Eu com certeza vou tentar, capitão. Vou tentar certamente. — Peter disse
a ele.
Travis começou a caminhar ao longo do corredor para encontrar um quarto
que pudesse usar como escritório. Ele fez uma pausa, voltou atrás. — Por quê?
— Ele perguntou Peter.
Peter sorriu, seus dentes brancos piscando quando sorriu. — Eu não quero
vê-la abatida por vocês ianques, Capitão, e isso é um fato.
Travis assentiu, sorriu e começou a descer o corredor. Ele acenou com a
mão. — Veja os homens, Sikes. E por si mesmo. Peter, quando será o jantar?
— Eu posso conseguir em uma hora, capitão.
— Uma hora. Todos na casa. Não é bem véspera de Natal, mas vamos fingir
que é. Toda a gente na mesa de jantar, exceto uma guarda de dois.
— Apenas dois, senhor? — Sikes perguntou.
— Só dois. O inimigo se esconde dentro da casa esta noite — avisou, então
vagou pelo corredor.
*
Isabelle Hinton não apareceu para o jantar. Os homens comeram, aquecendo
suas mãos perto do fogo e olhando para os pratos finos, pratas e as taças de
cristal como se não vissem tal luxo em anos. Fazia tempo desde que se sentaram
para esse tipo de refeição. Era como se tivessem passado o ano inteiro na
batalha. O pior de tudo tinha sido em Sharpsburg, perto de Antietam Creek.
Travis nunca tinha visto tantos homens morrem, nunca vira os corpos
empilhados tão alto, nunca cheirara tanto sangue. Grandes campos de milho
tinham sido cortados pelos tiros. Ianques e rebeldes tinham morrido da mesma
forma, e apenas aquela batalha lhes havia ensinado a todos que a guerra era uma
coisa má.
Enquanto os homens estavam na sala de estar tocando piano e cantando
canções de Natal, Travis retirou-se para o cômodo que escolhera para usar
como seu escritório. Ele tomou um gole de uma taça de conhaque e descansou
as botas sobre a mesa, olhando para as chamas que ardiam na lareira. Fechou os
olhos, e, por um momento, sentiu o sol novamente como havia feito naquele dia
em Sharpsburg. Ele se lembrava como se sentira estranho por comandar uma
carga de cavalaria e depois ver como os homens foram ceifados à sua volta. Ele
próprio tinha tomado metralha no ombro e se perguntou se não seria mais fácil
apenas morrer do que esperar que a infeção se instalasse. Mas não tinha perdido
o braço, e não tinha morrido, ele viveu para lutar novamente.
Os homens estavam cantando uma interpretação empolgada de Deck the
Halls. O calor do fogo envolveu Travis, e a dor da batalha se apoderou
lentamente de sua memória. Ele se perguntou o que estaria fazendo se estivesse
em casa. Bem, ele não estaria em sua própria casa. Desde que sua esposa tinha
sucumbido à varíola, ele tinha evitado a sua própria casa na época de Natal, mas
nunca a sua família. Teria ido na cidade para a casa de sua mãe. Haveria um
enorme peru assando e o cheiro de presunto revestido de mel encheria a casa.
Sua irmã Liz estaria lá com as crianças, e Allen estaria perguntando-lhe tudo
sobre West Point, enquanto Eulalie iria querer um passeio a cavalo no joelho.
Jack, seu cunhado, iria falar sobre a lei com seu pai, e todas as vozes se
misturariam, a conversa, o riso, o amor. Eles iriam à igreja na véspera de Natal, e
todos se lembrariam, mesmo nas profundezas do desespero mais profundo, que
era Natal, porque uma criança tinha nascido para livrar o mundo da morte e do
sofrimento. E de alguma forma, não importa o quão escuro eles pareciam
enfrentar, ele iria acreditar novamente na humanidade. E mesmo agora, mesmo
aqui, longe de casa, ele sabia que o Natal sempre o convenceria de que poderia
amar novamente. Apenas queria estar em casa.
Os homens já não estavam cantando; a casa tinha ficado tranquila. Travis
colocou sua taça de conhaque sobre a mesa, levantou-se e espreguiçou-se. Ele
tinha uma pilha de mapas sobre a mesa, mas iria olhar para eles amanhã. Agora
queria ir para a cama.
Encontrou Peter no corredor, retornando o último dos copos de cristal para
uma prateleira de madeira esculpida na parede. — Lá em cima, capitão. Nós lhe
demos a suíte principal, terceira porta à direita.
— Obrigado, Peter. Sikes?
— Ele subiu, senhor. Terceiro andar, primeira porta à sua esquerda.
— É uma casa grande, Peter.
— Deus, sim. Precisava ser, antes da guerra. Houve festas em abundância,
primos vinham de todo o lado para dormir durante toda a semana. Por que, por
esta altura, no Natal...
A voz de Peter desvaneceu. Travis bateu um braço sobre o ombro do
homem. — O Natal é meio difícil agora, Peter. Boa noite.
Travis subiu as escadas e encontrou a porta de seu quarto. A suíte principal.
Era uma sala enorme, com uma cama de dossel contra a parede oposta, dois
grandes armários, uma secretária de frente para uma janela e uma mesa em
madeira de cerejeira com uma cadeira francesa generosamente estofada ao lado
dela, perto do fogo.
Colocou sua espada e a bainha sobre uma cadeira e tirou os fechos de sua
jaqueta, então a lançou também, sobre a cadeira. Sua camisa em seguida. Depois
sentou-se para puxar as botas e as meias antes de despir as calças. Ele teria
dormido em sua longa roupa interior, mas havia um grande jarro de água e uma
bacia em um pequeno lavabo perto de um dos armários, então se despiu por
completo e descobriu que a água ainda estava um pouco quente. Havia uma
barra de sabão lá, também, fornecida por Peter, ele estava certo e não sua
anfitriã. Não importava. Esfregou-se o melhor que podia, e depois secou-se,
tremendo, diante do fogo, antes de cair na cama. Não era bem sua casa, mas era
um bom colchão macio e um travesseiro ainda mais suave, e era, de fato, tão
confortável que não tinha certeza se seria capaz de dormir.
Ele fechou os olhos e estava começando a cochilar quando ouviu o som. Ele
abriu os olhos, em seguida fechou-os rapidamente, permitindo que se abrissem
um pouco. A luz do fogo dançava nas paredes, e por um momento ele não sabia
o que tinha ouvido. A porta para o corredor não tinha aberto.
Mas não estava sozinho. Ele sabia disso.
Ele esperou. Então sentiu a fragrância rosa suave de seu perfume e soube
que ela tinha invadido seu quarto, embora com que finalidade ele não sabia.
Podia vê-la através da cortina de seus cílios. Todo o exuberante cabelo loiro dela
estava livre, fluindo como uma cascata de ouro sobre os ombros e as costas. Ela
estava vestida com algo comprido e suave de flanela, mas a luz do fogo ignorou
a castidade de seu vestuário, jogando através do material e delineando a beleza
sedutora de suas formas. Seus seios eram altos e firmes, sua cintura fina e
tentadora, seus quadris e nádegas resplandecendo provocativamente abaixo dela.
Ela carregava alguma coisa, ele viu. Uma faca. E ela estava mesmo ao lado da
cama.
Ele serpenteou um braço, capturando seu pulso, puxando-a com força em
cima dele. Ela engasgou de surpresa, mas não gritou. Seus olhos verde-cinza
encontraram os dele com um medo que ela tentou desesperadamente esconder,
mas sem nenhum remorso. Ele apertou seu pulso e a faca caiu no chão.
— Que bem lhe traria me matar? — Ele perguntou.
Ela tentou se afastar dele. Ele não lhe deu trégua; de fato, algum demônio
malicioso dentro dele gostava de suas feições coradas e da maneira
desconfortável como ela se contorcia contra ele. Ele não a arrastara para o
quarto; ela tinha vindo de sua própria vontade.
— Eu não ia matá-lo! — Ela protestou.
Ele passou as duas mãos pelo comprimento dos seus braços, então
entrelaçou os dedos com os dela e puxou-a para o seu lado, inclinando-se
tensamente sobre ela. Ela engoliu em seco e se tencionou contra ele, mas ainda
assim não gritou e tentou com dificuldade, não olhar na direção dele. — Eu vejo
— disse ele gravemente. — Você veio oferecer um barbeado a seu hóspede, é
isso?
Seus olhos caíram para seu peito nu. Ele podia sentir o aumento dos seios, o
contorno de seus quadris, o calor impressionante vindo de sua pele. Ele sabia
que ela estava ciente do desejo subindo nele. Ela não podia deixar de sentir a
força dele contra ela.
— Eu… eu só... — A voz dela sumiu.
— Você veio aqui para me matar! — Ele estalou com raiva.
— Não, eu...
— Sim, maldição!
De repente, seus olhos se encontraram. Eles brilharam com fúria, com
consciência, depois com medo. Então algo mais. — Tudo certo! — Ela
sussurrou. — Eu… eu pensei que eu iria matá-lo antes que você viola—se
minha casa! Mas então...
— Então o quê? — Ele demandou.
Ela umedeceu os lábios. Seus cílios caíram, e ela era tão bonita que mal podia
se conter. Ele queria viver de acordo com a reputação que os soldados ianques
tinham no Sul; queria envolver seus braços em volta dela, para tê-la, para fazer
amor com ela a todo custo. Teria trocado toda a esperança que tinha no céu
apenas para preencher suas mãos com o peso de seus seios; teria vendido sua
alma ao diabo para sentir-se dentro dela.
— Eu percebi que você era um homem, carne e sangue... Eu... — As
palavras dela sumiram, e seus olhos se encontraram. Ela não vira as mortes em
Sharpsburg; não os vira cair em Manassas. Mas esta noite ela tinha jogado com a
morte, e tinha descoberto que não era gloriosa, nem honrosa.
Ela o havia reconhecido como um ser humano.
— Eu ainda queria que você estivesse morto! — Ela retrucou, surgindo
contra ele de repente, como se estivesse horrorizada por ter esquecido sua luta.
— Você ainda é um ianque maldito e… — Ela parou, respirando com
dificuldade. Ele sorriu, porque ambos estavam muito conscientes de que ele era
humano, e muito mais um homem.
— Por favor Capitão, se você for tão gentil, para me soltar agora...?
Ele começou a rir baixinho. Ela ainda poderia ser um elegante belle, digna,
tão real apesar de sua posição.
— Desculpe — disse ele.
— Desculpe! — Ela suspirou, percebendo que ele não tinha intenção de
deixá-la ir. — Mas, mas...
— Eu não posso correr o risco de você decidir que é capaz de me matar
apesar de tudo — disse ele, rolando e arrastando-a com ele. Teve que esquecer a
modéstia para trazê-la junto com ele e então poder encontrar um lençol. Ela
tentou lutar com ele, olhar para qualquer lugar menos para ele, mas ele foi
implacável quando a puxou consigo até que encontrou um lençol, então a trouxe
de volta para a cama, onde amarrou seus pulsos e a deitou com as costas contra
ele.
Ela jurou, chutou, protestou, se contorceu e lutou até o riso dele a advertir
que seus movimentos estavam puxando seu vestido precariamente alto nos
quadris.
Então ela simplesmente jurou. Como um condutor de mula. O sargento
Sikes poderia ter aprendido uma coisa ou duas.
— Durma! — Advertiu ele, por fim. — Você não tem medo que me lembre
que eu seja invasor, pilhador, assassino, estuprador ianque?
Ele a ouviu exalar ruidosamente. Ela não sabia o quão perto tinha chegado
de forçá-lo a descobrir que um monstro desesperado vivia em cada homem.
Mas com o tempo ela dormiu, e ele também, e quando acordou, seu braço
estava ao redor dela, sua mão descansando logo abaixo da plenitude de seu seio.
Sua perna nua descansava entrelaçada com as dela, enquanto a seda dourada de
seu cabelo brincava em seu nariz e queixo. Era tão bom segurá-la. Desejá-la,
ansiar por ela. Mesmo doendo. Apenas vê-la, bastava tocá-la, evocando sonhos.
Sonhos de um tempo distante, sonhos de um futuro pacífico. Naqueles
primeiros segundos da madrugada, ela parecia ser o mais maravilhoso presente
que ele já tinha recebido.
Ela torceu em seus braços, instintivamente procurando calor. Aconchegou-se
em seu peito, os dedos movendo levemente em toda a sua pele, seus lábios
roçando sua carne. Ele a puxou contra ele. Como a luz da manhã entrando no
quarto, seus lábios estavam entreabertos, ligeiramente úmidos, vermelhos como
vinho.
Cuidadosamente, ele desamarrou seus pulsos, liberando as mãos.
Então ele a beijou. Ele tocou seus lábios nos dela e a beijou. Um som suave
retumbou dentro de sua garganta, mas ela não acordou imediatamente. Seus
lábios se separaram mais afastados, e sua língua rapidamente dançou entre eles, e
ele provou, plena e avidamente, tudo o que sua boca tinha para oferecer. Calor
foi subiu dentro dele, rápido e combustível, inundando-o, ferindo-o, fazendo-o
doer e ansiar por mais. Seus dedos se curvaram sobre seu peito, e a achou tão
completa e fascinante como havia imaginado. Ele tocou seus mamilos sob a
flanela que ainda os guardava e sentiu sua agitação debaixo dele quando roçou
os lábios nos dela.
Seus olhos se abriram lentamente, e ele percebeu que ela estava perdida em
seus próprios sonhos. Seus olhares se encontraram, em seguida, um sussurro
horrorizado deixou seus lábios. De repente, ela pareceu perceber qual era a
situação e torceu violentamente para longe dele.
E ele deixou-a ir. Ela saltou longe da cama, os dedos trêmulos, ao tocarem os
lábios, seus braços apertados em torno de si mesma. Ela olhou para ele em fúria.
— Você... você ianque! Como você poderia, como você ousa, como…
— Você tentou me matar, minha senhora, lembra?
— Mas você tentou que… — Ela parou. Ele realmente não tinha usado
qualquer força contra ela. — Você sabe o que fez! Você não é um cavalheiro!
— Eu nunca tive qualquer pretensão de ser um cavalheiro quando estou no
meio de tentar permanecer vivo! — Ele disse a ela com raiva.
— Um virginiano, senhor, teria sido um cavalheiro até o fim. Um
virginiano…
Interrompeu-se quando seu olhar caiu sobre ele, sobre sua nudez, e ela se
virou para correr.
Ele a agarrou pelo braço e puxou-a com força contra ele. Seus olhos ardiam
nos dela. — Eu sou um virginiano, senhorita Hinton. E confie em mim, minha
senhora, nada está tão errado como esta guerra. Tenho primos de azul e primos
de cinza, e sabe de uma coisa, senhorita Hinton? Cada um deles é um cavalheiro,
um homem bom, decente. E às vezes eu acordo com tanto medo de não poder
suportar isso, porque poderia encontrar-me atirando em um dos meus muitos
decentes algum dia. Meus primos cavalheirescos. Na maioria das vezes eu
acordo com os meus pesadelos. Esta manhã eu acordei para vê-la, foi como um
vislumbre do paraíso.
O sangue drenara de seu rosto e quando seus olhos se encontraram
encheram-se de uma tempestade de emoção, mas ela não tentou se afastar.
Durante muito tempo eles só ficaram lá, então ele tocou levemente sua
bochecha. — Obrigado. Foi como um presente de Natal.
Ela não se mexeu mesmo com isso. Sua mão se levantou, e ela tocou seu
rosto, por sua vez. Sentiu a textura de sua pele, áspera por falta de barbear.
Então, de repente ele se foi, naquele momento curioso quando eles não eram
inimigos. Sua mão caiu, e ela pareceu se lembrar que estava enrubescida contra
um ianque nu. Com um grito suave ela se virou e atravessou a sala, e ele
descobriu que havia uma porta na parede, muito astuciosamente escondida pelos
painéis.
Ela desapareceu por ali sem uma palavra.
*
Mais tarde naquele dia, ela encontrou-o em seu recanto, que ele havia
tomado posse como seu escritório. Ela usava um gorro e casaco, e suas mãos
eram aquecidos por um regalo de pele elegante.
— Você disse que eu poderia ir onde eu escolhesse, capitão.
Seu coração batia e saltou quando ele olhou para cima de seu trabalho. Seria
melhor se ela fosse embora. Ele deixaria de sonhar e desejar; ele seria capaz de
se concentrar mais plenamente na guerra.
Não queria que ela fosse. Nunca saberia quando ela pretenderia puxar uma
faca de novo, mas estava disposto a lidar com o perigo apenas para apreciar a
batalha.
— Sim — ele disse a ela.
— Eu gostaria de ir a um vizinho.
— Oh? Você não vai ficar para proteger sua propriedade? — Ele disse,
tentando provocá-la. Seus olhos nunca deixaram os dela. Seus cílios caíram, e ela
corou encantadoramente. Ela estava lembrando aquela manhã, pensou ele, e ele
estava contente com o rubor que tocou seu rosto, assim como estava feliz dos
momentos totalmente inadequados que haviam compartilhado.
Seus olhos se encontraram novamente. — Não se preocupe, capitão. Eu vou
estar de volta. Apenas não quero passar o Natal com o inimigo.
Ele olhou para baixo rapidamente. Ela ia voltar. Abriu a gaveta, encontrou
uma folha e começou a escrever sobre ela. Olhou para cima. — Eu não sei o seu
nome.
— Isabelle — ela disse a ele.
Ele olhou para ela. — Isabelle, — ele murmurou, uma curiosa nota
melancólica em sua voz. Em aborrecimento, ele rabiscou duro. — Isabelle.
Isabelle Hinton. Bem, senhorita Hinton, onde está esse vizinho?
— Nem a dois quilômetros do lado oposto da cidade.
Ele assentiu. — O sargento Sikes e um outro soldado servirão como escolta
para você. Quanto tempo pretende ficar?
Ela hesitou. — Até dois dias depois do Natal.
— O sargento Sikes vai voltar por você.
— Eu quase não vejo por que isso será necessário.
— Eu vejo isso como muito necessário. Tenha um bom dia, senhorita
Hinton.
Ela virou-se e deixou-o.
*
O Natal amanheceu cinza e frio. Inquieto, Travis saiu para a neve com uma
espingarda. Ele derrubou um enorme Veado macho e ficou feliz, porque isso
significaria carne por muitas noites para vir.
Na casa, Peter e os servos estavam quase amigáveis. Houve uma longa e
solene oração antes de começarem a comer a ceia de Natal, e havia um bom
humor geral quando a refeição terminou. Travis tentou participar, mas quando
percebeu que seu clima era solene escapou da companhia de seus soldados e
voltou para o escritório. Ele não sabia quando o Natal se tornou tão sombrio.
Sim, sabia. Tinha-se tornado cinza e vazio quando Isabelle Hinton partira.
*
Ele não ouviu o seu regresso. Tinha passado o dia debruçado sobre as cartas
dos vales e montanhas, apontando as regiões onde Stonewall Jackson tinha feito
estragos com o Exército da União. Um mensageiro tinha chegado de
Washington com as ordens e todos os tipos de informações recolhidas de
espiões, mas Travis tendia a duvidar de muitas das coisas que ouviu.
Ao cair da noite, ele estava cansado de homens indo e vindo, bem como de
notícia da guerra. Peter lhe trouxera um prato de guisado de veado e uma xícara
de café, o que tinha sido o seu alimento para o dia. Exausto, ele subiu os degraus
para seu quarto, tirou o casaco de cavalaria e esfregou o rosto. Então pareceu
ouvir movimentos furtivos na sala ao lado.
Seu coração acelerou, mas, em seguida, seus olhos se estreitaram com
desconfiança. Ele não tinha esquecido como ela tinha vindo sobre ele naquela
primeira noite, mesmo se ela tivesse desistido de cortar sua garganta.
Silenciosamente, ele atravessou a sala, perguntando-se o que ela estava fazendo.
Ele encontrou o trinco da porta secreta e, lentamente, apertou-o. A porta se
abriu e ele entrou em seu domínio.
Um sorriso tocou suas feições, e ele se inclinou casualmente contra a porta,
observando-a, apreciando a vista. A Srta. Isabelle Hinton estava inundado de
bolhas, submersa até o queixo elegante, uma perna longa e bem torneada
levantada acima da tina de banho de madeira enquanto ela a ensaboava com
abandono. Vapor se levantava da banheira, sussurrando em torno de seus
cachos dourados, deixando-os agarrados a sua carne. Do seu ponto de vista, ele
podia distinguir o aumento dos seios, bastava ver a linha esbelta de sua garganta
e as linhas artísticas de seu perfil.
Depois virou-se, sentindo-o lá.
Sua perna espirrou na água, e ela começou a sentar-se direita, mas então ela
afundou, consciente de que estava exibindo se levantando. Ela ergueu o queixo,
percebendo que fora pega, e de sua postura ocasional contra a porta, ela sabia
que ele não estava prestes a virar educadamente e sair.
— Bem-vinda a casa — ele disse a ela.
Ela corou furiosamente. — O que você está fazendo no meu quarto,
capitão?
— Procurando um pouco de hospitalidade do sul?
Ela jogou o sabão para ele. Ele riu, abaixando.
— Nenhum cavalheiro iria entrar no quarto de uma senhora! — Ela retrucou
com raiva.
— Ah, mas nenhuma senhora iria se aventurar no quarto de um homem
Isabelle, e parece que você fez isso comigo. Na verdade, você não me deixou
entrar, mas você invadiu a minha, er, privacidade e segurança, no entanto.
Ignorando-o, ela exigiu — Saia, ou você se arrependerá gravemente.
— Será?
Assim desafiado, ele atravessou a sala em direção à banheira. Seus olhos se
arregalaram, e ela colocou os braços ao redor dos seios, afundando um tanto
quanto pôde em sua abundância de bolhas. Ele sorriu, agachando-se ao lado da
banheira. Ela olhou para ele em silêncio por um momento, em seguida, chamou-
o de todo nome desprezível que já tinha ouvido. Ele riu, e ela esfriou-o com um
punhado de água, mas ele não se importou nem um pouco, desde que seu
movimento exibira um pouco mais dela.
— Eu vou estrangular você! — Ela prometeu. Mas ele pegou seus pulsos
quando seus dedos se fecharam em torno de sua garganta, e depois, mesmo
enquanto ela lutava, ele beijou ambas as palmas das mãos. Então ele se levantou,
soltando-a e recuou.
— Droga, eu esqueci de ser um cavalheiro de novo — ele se desculpou. —
Mas eu só estava me perguntando se você tinha uma faca escondida sob a água
ou não. Você tem?
Ela respirou fundo. — Não!
— Eu poderia verificar, você sabe — alertou.
Seu olhar de indignação o fez rir. Deu-lhe sua melhor vênia, em seguida,
voltou para a porta que separava seus quartos.
— Eu estou mudando de quarto! — Ela o chamou.
Ele parou na porta, olhando para ela. — Não, você não está. Você escolheu-
o desta maneira a noite em que planejou minha morte precoce. Então agora vai
ficar.
— Vou me mudar se eu escolher.
— Se você se mudar, eu vou arrastá-la de volta. Depende disso. Se você
ficar, eu prometo que estamos quites. Não vou passar pela porta a menos que
seja convidado. Uma ameaça, e uma promessa, e vou realizar ambas, senhorita
Hinton.
Grossos cílios de mel caíram sobre os olhos. Ela era tão linda que ele doía da
cabeça aos pés olhando para ela. — Você nunca vai ser convidado a entrar,
Capitão — disse ela.
— Pobre de mim, você tem um convite permanente para entrar no meu
quarto, senhorita Hinton. Claro, eu peço que deixe suas armas para trás.
Seus olhos voaram para os dele. Ele ofereceu-lhe um sorriso terno,
curiosamente e ela não desviou o olhar, mas o observava. Ela estava tão quieta e
perfeita como um busto de alabastro. Seu pescoço era longo e brilhava da água.
Seus cachos dourados se agarrando firmemente a sua carne, e se ela se movesse,
ele sabia que ela seria fluida, graciosa, um redemoinho líquido de paixão e
energia.
Estava se apaixonando, pensou. — Eu senti sua falta no Natal, Isabelle, —
ele disse a ela. Ela não respondeu, e ele deslizou pela porta, fechando-a atrás
dele.
Capítulo 2
Isabelle Hinton nunca quisera gostar do comandante ianque que tinha vindo
ocupar sua casa. Ela passou horas lembrando-se que os rapazes de azul estavam
causando a guerra, que o Sul tinha só querido ir embora em paz. Ela lembrou-se
de todas as atrocidades que ocorreram; uma e outra vez se lembrou de que seus
irmãos estavam lá fora, enfrentando balas ianques diariamente, mas nada que ela
pudesse dizer a si mesma parecia ajudar muito. Ele nunca alegou ser um
cavalheiro, e de fato, seu comportamento tinha sido absolutamente ultrajante às
vezes. Mas ainda assim, com o passar dos dias, ele provou ser um verdadeiro
cavalheiro apesar de tudo.
Ela tentou ignorar todos eles em primeiro lugar. Mas uma noite, quando
soube que ele estava jantando sozinho, sua curiosidade levou-a para a mesa.
Embora ela tentasse provocá-lo, ele esteve calmo e tranquilo durante a refeição,
o brilho em seus olhos escuros foi a única indicação de que ela tocou sua
paciência. Ele era um homem com boa aparência, ela o admitira desde o início.
Seus olhos eram tão escuros como mogno que é quase carvão preto; o cabelo
também era escuro, cuidadosamente cortado na linha do colarinho. Ele era a
imagem perfeita de um oficial quando saía para montar, sua capa caindo sobre
os ombros, o chapéu de plumas puxado sobre a testa, protegendo aqueles olhos
dançantes. Por baixo da barba, suas feições eram limpas e nítidas, as maçãs do
rosto altas, seu queixo firme, os lábios cheios e rápidos a sorrir com uma
sensualidade que muitas vezes a deixou sem fôlego. Até mesmo seu tom de voz
fascinava; suas palavras eram claras e bem enunciadas, mas havia algo rude nele,
também, apenas o traço o lento falar virginiano. E, claro, ela estava muito
consciente do resto do corpo; mesmo que não visse muito diariamente, a
imagem estava vividamente em sua memória.
Ela não tinha tido muita experiência com os corpos dos homens, mas tinha
dois irmãos mais velhos, e depois de algumas batalhas tinha ido para os hospitais
improvisados para ajudar com os feridos. Ela foi do círculo das senhoras, onde
ela e outras tinham enrolado ataduras, para serem entregues na tenda de um
cirurgião de campo, e ela tinha aprendido em primeira mão uma grande dose do
horror da guerra. Limpara, acalmara e enfaixara muitos peitos masculinos, mas
nenhum deles tinha comparação com o peito muito bonito que pertencia ao
capitão Travis Aylwin. Seus ombros eram largos e tensos de músculos e tendões,
e a mesma onda de poder era evidente em seu tronco e braços. Sua cintura era
equilibrada e o pelo escuro criava um padrão bonito em seu peito, em seguida,
diminuía para uma linha fina antes de resplandecer novamente para... bem, ela
não queria pensar nisso. Fora educada muito apropriadamente, lembrou-se uma
e outra vez, mas isso não a impediu de se lembrar dele, tudo dele, uma e outra
vez. Ela não podia deixar de se perguntar sobre ele, nem podia impedi-lo de
invadir seus sonhos.
Ela sempre despertou antes de qualquer coisa poder acontecer, embora suas
bochechas escurecessem com um rubor vermelho brilhante, e houvesse um
ardor atrás de seus olhos enquanto desejava rastejar sob o piso em humilhação.
Ela se esforçou para ficar longe dele. Ele respeitava a distância, como havia
prometido quando saiu do quarto depois do Natal, mas ela sempre soube que
ele estava lá à noite, um pouco além de sua porta. Seus homens eram
perfeitamente corteses e educados, e eram bons caçadores; havia sempre muito
para comer. Tanto assim, ela sabia, que quando mencionou que alguns de seus
vizinhos estavam enfrentando tempos difíceis, os oficiais da União foram
rápidos para deixar uma parte do veado diante de uma porta, ou uma meia dúzia
de coelhos, ou o pássaro que se aventuraram perto demais dos caçadores. Fora a
liderança de Travis que levou à sua generosidade e carinho, ela sabia. Travis não
gostava da guerra.
Ela começou a vê-lo e a suas tropas não como inimigos sem rosto, mas
como homens, assim como os amigos que tinham vindo para suas festas, assim
como os jovens sulistas que tinham vindo à sua casa para rir e sonhar, se
apaixonar e planejar um futuro. Ela tinha que dizer a si mesma que eles eram o
inimigo, e que não queria que o inimigo fosse de carne e osso.
Era final de janeiro, quando ela desceu para jantar com ele novamente. Ele
estava lendo alguns papéis, mas uma vez que mascarou sua surpresa com seu
aparecimento, rapidamente os colocou de lado, levantou-se e estendeu a cadeira.
Ela sentou-se, rapidamente pegando o copo de vinho que tinha acabado de ser
cheio para ele e engoliu profundamente. Ele sentou-se novamente, um toque de
diversão em seus olhos. Deveria ter sido um verdadeiro conquistador em casa,
ela pensou. Estava cheio de calor e alegria, uma força tranquila e uma
masculinidade sutil, mas irresistível. Seus olhos tinham tanto, e seus lábios se
curvavam tão rápido para um sorriso. Mas ele podia ser cruel, também, que ela
sabia. Aprendera isso a primeira noite, quando ele segurou-a ao seu lado até o
amanhecer.
— A que devo esta honra? — Ele perguntou suavemente. Mal necessitou
levantar sua mão. Peter estava lá com um segundo copo quase que
imediatamente. Mais vinho foi derramado para ele. Peter olhou em sua direção
preocupado. Ela piscou, tentando assegurar seu servo que ela estava, como
sempre, no comando.
— A honra, senhor? Bem, na verdade, eu estava esperando que a neve
estivesse derretendo, que você possa estar marchando novamente para a batalha
em breve.
Ele sentou-se, observando-a. — Talvez nós estaremos. Será que realmente
dá-lhe tão grande prazer?
Ela se levantou, não acreditando que ele pudesse fazê-la sentir vergonha por
querer que o inimigo caísse em batalha. Ela caminhou ao redor da sala, fazendo
uma pausa perante a foto de sua família tomada pelo Sr. Brady pouco antes da
guerra. Seus irmãos estavam em um lado dela, e seus pais se sentavam diante
deles. Mas os rapazes já estavam vestidos com seus uniformes, e cada dia ela
orava para que eles voltassem. Se eles se estabelecessem em alguma casa do
norte, haveria uma menina desejando que eles fossem para o campo de batalha,
a sangrar, a morrer?
— Eu só quero você fora da minha casa — disse a ele, voltando-se.
Ele tinha se levantado e estava olhando para a foto, também. Ele caminhou
ao redor até lá. — Família bonita — disse ele. — Seus pais?
— Eles morreram em 1859, com poucos dias de intervalo. Eles pegaram
varíola. Meus irmãos e eu ficamos a salvo, eu acho, porque tivemos casos muito
leves na infancia. Nem a mãe nem o pai pegaram na altura, mas um dos bebês
vizinhos apanhou e então... — ela parou, encolhendo os ombros.
— Eu sinto muito.
— É uma morte horrível — ela murmurou.
— Eu sei — ele disse, afastando-se dela. Ele estava atrás de sua cadeira. —
Vamos jantar?
Ela sentou. Peter serviu-lhes o presunto curado nas adegas, conservas de
damasco e pequenas cenouras em conserva e beterraba.
— Onde é sua casa, capitão? — Ela perguntou a ele.
— Alexandria.
Alexandria. A bela cidade velha tinha sido mantida desde o início da guerra
por causa de sua proximidade com Washington, DC, mas muitos de seus
cidadãos eram unionistas. Era uma guerra curiosa. Já os municípios do oeste
haviam rompido e um novo estado tinha nascido, Virgínia Ocidental.
— Você irá ter sua casa de volta, você sabe, senhorita Hinton — ele disse a
ela.
— Vou?
— Claro.
Ela colocou o garfo. — Como eu sei que você não vai decidir incendiar a
casa quando sair?
Ele colocou o garfo para baixo, também. — Você realmente acredita que eu
pretendo fazer isso? — Ele perguntou.
Ela observou-o por vários momentos. Ele colocava manteiga em um dos
biscoitos especiais de Peter, então, ofereceu a ela.
— O general Lee perdeu Arlington House — disse ela. — E, eu admito,
estou muito surpresa que vocês ianques não a queimaram por inteiro.
Ele colocou o biscoito para baixo e tomou um gole de vinho. — É uma bela
casa — ele disse suavemente. — E tem vista para o Capitólio. O general Lee
soube, no momento em que escolheu lutar pelo Sul, que teria que deixar sua
casa. Sua esposa sabia, sua família sabia, e ainda assim ele tomou sua decisão.
Algumas pessoas foram amargas. Alguns dos homens que tinham lutado com
ele ou aprenderam com ele antes da guerra queriam queimar o lugar. É da Sra.
Lee que tenho pena, ela cresceu lá. E, como neta de George Washington, ela
sempre teve um grande senso de história. Ela é uma magnífica senhora. — Ele
fez uma pausa, como se tivesse falado demais. Então deu de ombros, colocando
sua taça de vinho. — Eles não vão incendiar a casa. Enterraram lá soldados da
União desde o início da guerra. A terra vai se tornar um cemitério nacional.
— E Lee irá sempre perder a sua casa.
— O Sul ainda pode ganhar a guerra — disse a ela.
Assustada, ela olhou para ele. Não tinha percebido que mostrara uma atitude
tão derrotada. — O Sul vai ganhar a guerra! — Ela assegurou a ele, mas, em
seguida, franziu a testa. — Você fala como se estivesse próximo dos Lees.
Ele empurrou a cadeira para trás. — O general é meu padrinho, senhorita
Hinton. Nós todos perdemos nesta guerra. Ele fez suas escolhas, e assim o fiz
eu. Um homem deve fazer o que sente que é certo. E contudo digo-lhe,
senhorita Hinton, que este fratricídio deve e vai acabar, e quando o fizer, se
formos abençoados por viver, então ele vai ser meu amigo e mentor de novo, e
eu serei o seu servo mais disposto.
Ela saltou para cima, envolvendo seus dedos ao redor das costas de sua
cadeira, olhando para ele em fúria. Era quase blasfêmia falar assim do general
Robert E. Lee; ele era adorado por suas tropas, pelo Sul como um todo.
Ele era um magnífico general e um senhor de fala suave.
— Como você ousa! — Ela cuspiu, tremendo.
Ele deu um passo em direção a ela, agarrando-lhe o pulso, segurando-a com
força quando ela teria fugido de sua presença. — Você faz de todos nós
monstros?
— Eu li sobre as coisas que aconteceram. Eu sei o que os ianques fazem.
— Sim, sim, e todos temos que ler Cabana do Pai Tomás, mas eu ainda
tenho que ver você chicotear, encadear ou aproveitar seus escravos. Por Deus,
sim, há injustiça, e alguns horrores sempre são verdade, mas nós devemos criar
mais do que nós mesmos?
— Eu não estou criando nada. — Ela se soltou dele e virou-se, correndo do
quarto, mas ele a chamou de volta.
— Isabelle!
Ela virou. Ele era alto e impressionante vestido em seu fraque e botas altas
de cavalaria, seu sabre pendurado na bainha amarrado na cintura. Seus olhos a
tocaram, quentes e escuros.
— Eu não sou um monstro — ele disse.
— Importa o que eu penso? — Ela exigiu.
Um sorriso triste tocou seus lábios. — Bem, sim, para mim importa. Você
vê, eu... importo-me.
Ela engasgou com espanto: — Bem, não, ianque, não! Não se atreva a se
importar por mim!
Ela fugiu e correu escada acima.
*
Naquela noite, e todas as noites depois em que ela ficou acordada ouviu seus
movimentos, mas ele nunca tocou sua porta, e nunca mencionou nada sobre
seus sentimentos novamente. Sempre foi infalivelmente educado com ela, e
embora sentisse que deveria manter distância dele, ela não podia. Ela desceu
para uma refeição de vez em quando, geralmente quando o sargento Sikes ou
um dos outros homens se juntava a ele.
Às vezes, ele desaparecia por dias, e ela suspeitava que ele tinha ido para
fornecer informações sobre movimentos de tropas, ou para recebê-las.
No início de abril, Isabelle despertou para descobrir que a casa estava cheia
de atividade. A forma como os homens estavam agitados, indo e vindo do
escritório, ela soube que algo estava acontecendo.
Desceu as escadas e se apresentou no escritório. A cabeça escura de Travis
estava debruçada sobre um mapa em um estudo sério. Ele sentiu a presença dela
e olhou para cima rapidamente.
— O que está acontecendo? — Ela perguntou sem preâmbulos.
Ele endireitou-se e estudou-a tão completamente quanto ele tinha estudado o
mapa, uma sombra curiosa escondendo alguma emoção em seus olhos. — Nós
estamos indo para fora. Há uma companhia de rebeldes vindo para este lado.
— Você está indo para a batalha? — Ela perguntou.
— É sobre isso que a guerra é, — ele voltou, e havia apenas um ligeiro traço
de amargura em sua voz. Ele se sentou na beirada da mesa, ainda olhando para
ela. — Você deve estar satisfeito. Talvez todos nós vamos morrer.
— Eu não quero que vocês morram — disse ela. — Eu só quero que vocês
vão embora.
Ele sorriu e ergueu a mão no ar, em seguida, deixou-a cair de volta para sua
coxa. — Bem, nós estamos fazendo exatamente isso. Diga-me, Isabelle, você vai
sentir minha falta?
— Não.
Ele se levantou e caminhou em direção a ela. Ela deu um passo para trás até
que ficou contra a porta. Fechou-se, e ela se encostou contra ela, mas ele
continuou vindo de qualquer maneira, até que ficou bem à sua frente. Não a
tocou, apenas pôs a palma da mão contra a porta junto a sua cabeça. — Você
está mentindo só um pouco, não é? — Ele sussurrou.
Ela balançou a cabeça, mas de repente descobriu que não podia falar, que
seus joelhos eram líquidos, que suas mãos estavam apoiadas contra a porta para
que ela pudesse ficar em pé. Cheirava a sabão, a couro e tabaco de cachimbo
rico. Seus olhos eram como ébano, assombrando-a; sua boca estava cheia e
móvel.
— Eu poderia morrer um homem feliz se você apenas sussurrasse que se
importa um pouco, — ele disse a ela, o calor de sua respiração criando uma
tempestade quente contra sua pele enquanto o tenor de sua voz evocou um
curioso incêndio dentro dela.
Ela manteve os olhos firmemente e sorriu docemente. — Tenho certeza que
você diz essas palavras para cada mulher cuja casa confisca.
Ele sorriu lentamente. — O seu é o único lar que eu já confisquei. — Ele se
inclinou mais perto. — E você sabe há algum tempo o que sinto por você.
Ela queria sacudir a cabeça novamente, mas descobriu que não podia. Seus
lábios roçaram os dela, e então sua boca consumiu a dela enquanto o barulho
dentro de sua alma veio correndo até abafar o resto do mundo. Ela caiu em seus
braços e sentiu a força masculina esmagadora de seus lábios se separando e
acariciando a sua própria; ela sentiu a invasão inebriante de sua língua, tão
profunda que parecia que ele poderia possuir toda a sua apenas com o beijo.
Suas mãos, desesperadas, ásperas, massagearam seu crânio, e seus dedos se
envolviam avidamente pelos cabelos, segurando-a perto. Mas ela não poderia tê-
lo deixado. Nunca conhecera qualquer coisa como aquele beijo, nunca sentira o
mundo a girar em tal movimento delirante, nunca conhecera a fome de tocar um
homem de volta, para sentir o cabelo, fresco e limpo, sob os dedos, para sentir
seu corpo, seu calor e seu coração pulsando ferozmente contra os seios. O sabor
doce, inebriante de sua boca a deixou sedenta por mais e mais, até que a
sanidade retornou a ela, uma voz da razão gritando dentro dela que ele era o
soldado ianque que havia ocupado sua casa, um ianque que ia partir finalmente.
Ela afastou-se dele, seus dedos tremendo quando ela os levou aos lábios.
Ele olhou para ela, seus olhos escuros e enigmático, e suspirou baixinho. Seu
sorriso triste tocou seus lábios novamente. — Você se importa se eu voltar,
Isabelle?
— Você é um ianque. Eu espero que você nunca mais volte — disse a ele.
Ela limpou a boca como se pudesse limpar a memória de seu beijo, então se
virou e saiu apressadamente da sala.
Mas, mais tarde, em seu quarto, estava deitada em sua cama e sabia que tinha
se apaixonado. Certo ou errado, ela estava apaixonada por ele. Apaixonada por
seus olhos, sua boca e sua voz... E por todas as coisas que ele disse. E ele estava
partindo. Talvez morresse.
Ela se levantou quando ouviu o sargento gritar as ordens e desceu correndo
as escadas de dois em dois. Obrigou-se a abrandar e caminhar modestamente
para a varanda. Lá estava ele, à frente de suas tropas, o seu chapéu de plumas
magníficas no lugar, sentado facilmente em sua montaria.
Ele a viu e chegou mais perto, seu cavalo empinando-se quando chegou
perto. Tocou o chapéu em saudação e esperou.
— Bem, eu espero que você não parta para ser morto — ela disse a ele.
Ele sorriu. — Não é exatamente uma declaração de devoção eterna, mas eu
suponho que terá que servir. — Ele se inclinou para mais perto dela. — Eu não
vou ser morto, Isabelle. E eu vou estar de volta.
Ela não lhe respondeu imediatamente. Não o lembraria de que ela
dificilmente poderia querer que ele voltasse, pois se o fizesse, isso significaria
que a União estava segurando fortemente grandes extensões da Virgínia.
— Como eu disse, espero que você sobreviva. E isso é tudo.
Seu sorriso se aprofundou quando ele apertou os calcanhares nos flancos de
seu cavalo e montou duro para a frente da sua linha.
Isabelle assistiu as tropas até que eles estavam muito longe.
*
Notícias chegaram a ela em abundância quando a primavera deu lugar ao
verão. Houve uma batalha horrível em Chancellorsville. A União tinha mais de
dezesseis mil soldados mortos, feridos ou capturados; o Sul perdeu mais de doze
mil, e embora o Sul fosse aceito como o vencedor, recebeu um duro golpe.
Stonewall Jackson foi erroneamente baleado por um dos seus próprios homens
e morreu no dia dez de Maio em resultado de suas feridas.
Isabelle orou por mais notícias. Ela se ofereceu para o serviço hospitalar
novamente. Trabalhou horas intermináveis, com medo de que cada soldado
confederado poderia ser um de seus irmãos, ansiosa que qualquer soldado da
união que caía em suas mãos, podesse ser Travis.
Ela estava trabalhando no hospital em julho quando chegou a notícia de que
uma batalha horrível tinha sido travada em uma pequena cidade na Pensilvânia
chamado Gettysburg. As perdas em vidas humanas foram surpreendentes. E o
General Lee e seu exército da Virgínia do Norte estavam em retirada. Homens
sussurraram que era o ponto de viragem da guerra. O Sul estava de joelhos.
Isabelle apressou-se para casa, ansiosa para ouvir sobre seus irmãos, ansiosa
para ouvir sobre Travis. Na cidade, ela esperou interminavelmente pelas listas de
mortos, feridos e capturados, e quando ela foi capaz de obter uma folha, ela
ansiosamente procurou os nomes de seus irmãos. Quando não os encontrou
agradeceu a Deus em uma oração silenciosa, encolhendo-se quando ouviu as
lágrimas horríveis daqueles que haviam perdido filhos, pais, namorados e
irmãos.
Ela engoliu em seco, perguntando-se sobre Travis e rezou para que ele
estivesse bem. Tremendo, ela levou sua carruagem para casa. E naquela noite
admitiu em suas orações que amava Travis Aylwin, e que mesmo que fosse um
ianque, ela queria que Deus o vigiasse sempre.
*
Em setembro estava ocupada escolhendo o último dos legumes de verão de
seu pequeno jardim quando ouviu Peter chamando-a ansiosamente. Ela veio
correndo ao redor da casa, limpando as mãos no avental. Peter estava na
varanda, ansiosamente apontando para o leste. Isabelle protegeu os olhos do sol
da tarde. Cavaleiros estavam chegando. Ela podia vê-los. Seu coração começou a
bater mais rápido. Havia cerca de vinte ou trinta homens a cavalo. No azul da
União.
Seu coração bateu. Travis estava vivo!
Mas e se não fosse Travis? E se fosse algum outro ianque que não tivesse o
senso de certo e errado de Travis Aylwin, mesmo no meio da guerra?
Ela virou-se para a varanda e subiu correndo as escadas, empurrando Peter
fora de seu caminho. No final do corredor, abriu a caixa das armas e pegou a
espingarda. Com os dedos trêmulos ela tentou carregá-la. Uma mão caiu sobre
seu ombro e ela gritou, girando ao redor.
— Você vai atirar em mim de novo? Maldição, eu não sobrevivi a
Chancellorsville e Gettysburg apenas para ser atingido por você, Isabelle!
Estava magro, muito magro, raquítico. E ainda assim seus olhos escuros
estavam vivos como fogo. Ela começou a se mover e a arma levantou-se com o
seu movimento. Seus olhos se arregalaram, e ele pegou-a dela, fazendo-a voar
pelo chão. Então ele a tomou em seus braços e beijou-a com força, e ela não
podia começar a lutar com ele, não até que a aliviasse de sua prisão. Agarrou-a
com força para ele, seus dedos apertados em torno de seus braços. — Diga-me
que sentiu minha falta, Isabelle. Diga-me que você está feliz por eu estar vivo!
Ela engoliu em seco. Era uma sulista, uma virginiana. Seu coração estava
vivo e parecia que a respiração a tinha abandonado, mas não podia se render
enquanto o Sul lutava. Ela afastou-se dele. — Estou feliz por você estar vivo,
ianque, mas eu desejo sinceramente que você não estivesse aqui!
Ela correu para cima, onde passeou em seu quarto enquanto os ianques se
estabeleciam. Quando a escuridão caiu, ela ouviu seus passos na sala ao lado.
Ouviu-os chegar perto de sua porta; ouviu-os recuar. De novo e de novo.
Não foram duas semanas depois que o cavaleiro ianque veio correndo para a
casa. Ele se apressou para dentro da casa, em seguida, correu para o refúgio com
Travis. Isabelle veio correndo escada abaixo, perguntando o que estava
acontecendo. Os homens estavam entrando em sua casa, derrubando o vidro
das janelas e depois ocupando posições com seus rifles. Travis saiu do refúgio a
tempo de vê-la ao pé da escada. — Isabelle, você tem de descer ao porão.
— Por quê? O que está acontecendo?
— Rebeldes. Brigada de Clancy.
— Brigada de Clancy? — Ela disse, com o rosto pálido.
— Sim, a brigada de Clancy, — ele repetiu. — Eles estão a caminho daqui.
Ouviram que ianques estavam ocupando esta casa e a cidade, e eles querem uma
batalha.
Ela ia cair, pensou. Estava fraca demais para ficar de pé.
— Isabelle, o que é?
— Steven está com a brigada de Clancy. Meu irmão Steven.
Ela viu em seus olhos que ele sentiu a dor dela, mas ela viu, também, que
nesse momento estava no comando de seus homens, que esta era a guerra, e que
ele tinha que lutar para vencer. — Você tem de descer ao porão.
— Não!
Travis virou-se para o mordomo, que tinha acabado de entrar em cena. —
Peter! Peter, não sei quem vai ganhar ou perder aqui hoje, mas eu seja
amaldiçoado se vou deixar Isabelle se tornar uma vítima desta guerra! Leve-a lá
em baixo.
Peter colocou seu braço ao redor dela e correu-a para as escadas do porão.
Atordoada, ela o deixou forçá-la para baixo.
Quando ouviu o primeiro rugido de canhão, ela gritou e bateu as mãos sobre
os ouvidos. Então a casa estremeceu, e ela ouviu uma explosão de fogo e
conchas, e os gritos de cavalos e homens. Ela nunca soube o que a incitou, mas
não poderia suportá-lo, sabendo que Steven estava lá fora, bombardeando sua
própria casa. Ela escapou de Peter e saiu correndo, esquivando-se enquanto
balas zuniam pelas janelas abertas. Ela não sabia o que esperava conseguir, é
claro que queria que os confederados ganhassem. Mas encontrou o privado
Darby com suas sardas, dentes tortos e sorriso fácil, e havia sangue escorrendo
de seu ombro, e parecia como se ele estivesse em estado de choque. Isabelle
arrastou rapidamente para a janela ao seu lado, rasgando-a anágua, encontrando
pano para curar a ferida, para estancar o fluxo de sangue.
— Obrigado, senhorita Hinton, obrigado, — ele disse a ela uma e outra vez.
Esticou-o no chão; em seguida, ouviu Travis gritando seu nome em fúria.
— Isabelle! — Foi um rugido. Ele veio correndo até ela, girando-a para longe
da janela, pressionando-a contra a porta. — Você poderia ser morta, sua
pequena tola!
Ela não ouviu suas palavras. Estava olhando para fora da janela e queria
gritar. Steven, em seu ouro malhado e cinza, estava chegando cada vez mais
perto da casa, esgueirando em direção à traseira. Ele parecia tão perto que quase
podia estender a mão e tocá-lo. Em seguida, ele endureceu e o vermelho
floresceu em todo o cinza de sua camisa de cavalaria, e ele caiu sobre a grama.
— Steven! — Ela gritou o nome de seu irmão e se libertou de Travis para
correr em direção a uma das janelas. Ela não sentiu nada quando escorregou
sobre o parapeito da janela com seu vidro quebrado. Não conhecia o medo
quando correu pela linha de batalha até à forma silenciosa de seu irmão. —
Steven, oh, Steven! — Ela chorou desesperadamente.
— Abaixe-se!
Travis estava atrás dela, jogando-se em cima dela, trazendo-a para o chão.
Balas voavam por eles, cravando-se na casa, no chão de modo muito perto
deles. — Tola! Você vai levar um tiro!
— Esse é o meu irmão, eu não vou voltar para a casa sem ele!
— Você tem que voltar!
— Ele poderia morrer!
— Entre na casa! Se você for, eu vou levá-lo de volta. Eu juro. Por tudo que
é sagrado, Isabelle, tenho uma chance! Você não tem nenhuma!
Ele rolou-a para longe com um empurrão. Então, antes que ela pudesse
protestar, ele foi-se, correndo pelo gramado para chegar a Steven. Um soldado
confederado levantou-se, com a espada erguida para o combate corpo-a-corpo.
Travis não estava preparado e caiu com o homem sobre a grama verdejante.
Isabelle mordeu as costas da mão, reprimindo um soluço. Então ela viu Travis
novamente, viu-o chegar a Steven, viu-o erguer seu irmão e cambalear em
direção à casa.
Quando ele se aproximou dela, vários de seus próprios homens correram ao
seu encontro. Steven foi deitado no chão da sala de estar. Isabelle caiu ao lado
dele, rasgando sua camisa, descobrindo que a bala tinha perfurado o peito,
assustadoramente perto de seu coração. Ela estancou o fluxo de sangue,
descobriu que a bala tinha passado limpa através dele e envolveu a ferida, com
lágrimas caindo pelo seu rosto o tempo todo. Ela percebeu de repente que o
som da batalha tinha diminuído, que mais armas soando, não mais gritos ou
gritos rebeldes subindo no ar. Ela virou-se para a porta. Travis estava lá,
apoiando-se na moldura da porta, observando-a.
Ela umedeceu os lábios. Os ianques tinham mantido seu território, mas ele
tinha trazido Steven para ela. Devia-lhe alguma coisa. — Obrigada — ela disse a
ele rigidamente.
Ele sorriu seu sorriso torto, tirando o chapéu. — Não foi nada, minha
senhora, nada.
Mas então de repente ele cambaleou e tombou com força no chão, e ela se
ouviu gritando quando viu o sangue jorrando de seu peito.
*
Travis iria sobreviver. O cirurgião ianque lhe prometeu que, embora ele
tivesse perdido muito sangue, ele iria sobreviver. Ele era resistente. A lesão de
Steven era de longe a pior das duas.
O ianque trabalhou duro sobre seu irmão. E ele parecia ser um homem com
conhecimentos, usando esponjas limpas para cada homem, lavando as mãos
ensanguentadas com regularidade. Ela não poderia ter pedido um melhor
atendimento para seu irmão. Os ianques tinham morfina, o que o manteve sem
dor. Deram-lhe o seu melhor.
Mas, de qualquer maneira, naquela noite Steven morreu. Ela segurou-o em
seus braços quando ele deu seu último suspiro e, em seguida, o segurou até o
amanhecer, soluçando. Ninguém poderia levá-la para longe dele.
Ela estivera apenas vagamente consciente, quando amanheceu, finalmente,
que Travis estava com ela. Em calças e pés descalços, o peito envolto em
ataduras, e não muito firme em seus pés, ele veio até ela. Ele fechou os dedos
sobre os dela, e ela lentamente relaxou seu domínio sobre o irmão que tinha
amado. Ele sussurrou para ela, a acalmou e ela caiu em seu ombro e permitiu
que as lágrimas fossem absorvidas por sua bandagem. Então percebeu quem
estava segurando-a e tentou se afastar, batendo os punhos contra ele. Não o viu
estremecer com a dor e de fato, aquilo não significava nada para ele. Embora
tivesse visto homens morrer uma e outra vez na guerra, ele teve pouca
oportunidade de ver o que significava para os entes queridos que ficavam.
E ele amava Isabelle Hinton.
— Solte-me ianque! — ela ordenou, mas ele não a soltou. E, finalmente, seus
soluços acalmaram. Com o tempo ele levantou-a nos braços e levou-a para cima,
onde a deitou em sua cama.
Horas mais tarde ela acordou. E ele ainda estava com ela. Enfaixado e em
suas calças olhava pela janela para os campos onde a guerra tinha chegado a
casa. Onde o sangue de seu irmão ainda manchava a grama.
— Travis? — ela sussurrou, e as lágrimas brotaram nos olhos dela, porque
queria acreditar que tudo tinha sido um sonho, um pesadelo. Ele veio para seu
lado, silencioso e grave. Olhou nos olhos dela e encontrou sua mão, apertando
os dedos. — Sinto muito, sinto tanto, Isabelle. Eu sei que você teria preferido
que tivesse sido eu, mas juro que nós tentá…
— Oh, Deus, Travis, não diga isso, por favor! Eu… — Ela parou,
balançando a cabeça. Suas lágrimas estavam muito perto de cair de novo; ela
sentiu que tinha sido destruída nos momentos em que Steven dera seu último
suspiro. — Obrigada — disse ela afetadamente. — Eu sei o quanto você tentou
salvá-lo. E você… Você não deveria estar em pé, você está ferido. — Na
verdade, ele parecia prostrado, cansado e abatido, e envelhecera nos meses em
que estivera fora.
— Eu estou bem — ele disse a ela.
Ela balançou a cabeça lentamente. — Eu também, — ela sussurrou.
— Eu estou sempre aqui se precisar de mim.
— Eu não posso precisar de você! — ela sussurrou.
Ele respirou profundamente, mas soltou sua mão, virou-se e deixou-a.
Naquela tarde enterraram Steven. Ficaram junto à sua sepultura, e o capelão
disse que ele tinha sido um soldado valente, lutando por aquilo em que
acreditava. Então Travis ordenou que os músicos tocassem “Dixie”. Isabelle não
ia chorar de novo, mas ela fez. Então correu para longe do túmulo e retirou-se
para seu quarto. Ela não falou com ninguém por dias. Peter trouxe comida em
uma bandeja, mas ela comeu muito pouco.
Steven estava morto há quase duas semanas, quando uma pancada na porta,
em seguida, um estrondo a tirou de sua letargia. Ela abriu a porta, furiosa por
sua privacidade estar sendo quebrada, mas quando teria protestado em vez disso
ficou em silêncio. Era o Dr. Allen Whaley, o cirurgião que tinha tentado tão
arduamente salvar Steven. Ele parecia sério e preocupado.
— O capitão está morrendo, senhorita Hinton. Achei que você deveria
saber.
— O quê? — ela engasgou, incrédula. — Mas ele estava bem! Eu o vi. Ele
estava bem, ele foi…
— Ele não deveria ter se levantado. Ele perdeu mais sangue e chegou perto
da infecção. Agora está ardendo em febre.
Isabelle correu para a porta de ligação de seu quarto com o de Travis.
Empurrou-a e correu para seu lado.
Ele estava queimando. A bandagem em volta do peito tinha sido cortada
para cobrir apenas a ferida e a carne ao redor dela estava escorregadia e quente.
O sargento Sikes estava sentado perto dele, enxugando inutilmente sua carne
com um pano molhado.
— Levante-se sargento! — Isabelle ordenou rapidamente. Ela assumiu a
tarefa de umedecer a testa e rosto de Travis com água fria. Tocou-lhe o pulso e
o sentiu. Ela se encolheu com o fogo da sua pele e olhou para o Doutor Whaley,
que acenou aprovando qualquer coisa que ela pudesse tentar. Lavou Travis de
sua cintura à garganta com a água fria. Ela começou a falar com ele e falou até
estar rouca.
Mais tarde o Doutor Whaley veio e retiraram as bandagens. O médico
lancetou e drenaram a infeção, em seguida, envolveu-o novamente. E ainda
assim a febre continuava queimando.
— Esta noite irá nos dizer: — O Doutor Whaley disse a ela. — Se você
quiser orar por um ianque, senhorita Hinton, rogue por este esta noite.
Ela tentou orar e continuou se movendo. Embebendo-o de novo e de novo,
tentando que arrefecesse. Enxugou sua testa e face; ela viu que a guerra gravara
linhas ao redor dos seus olhos e pensou em como amava seu fascinante e bonito
rosto. Se ele morresse, ele teria morrido por ela, percebeu. Ela queria Steven. Ele
tinha ido para Steven por ela.
— Não morra, não morra, maldito! Eu… eu preciso de você! — ela
sussurrou fervorosamente para ele.
Não poderia ter sido seu sussurro. Realmente não poderia ter sido. Mas ele
inalou de repente, um grande trago irregular, e então ficou tão quieto que ela
pensou que ele tinha morrido. Colocou seu ouvido contra o peito e ouviu que
ainda respirava. Ela tocou sua testa e estava perceptivelmente mais frio.
Começou a rir quando afundou na cadeira ao lado da cama. — Oh, meu Deus,
ele está melhor! — Ela soprou as palavras em voz alta.
E então o Doutor Whaley estava ao seu lado, levantando-a. — Sim, ele está
melhor, senhorita Hinton. E agora é melhor você descansar um pouco antes de
desmoronar sobre nós!
Ele a levou para longe, e quando dormiu naquela noite, ela dormiu
profundamente, com um sorriso nos lábios pela primeira vez desde que Steven
tinha morrido. Havia um Deus no céu; Travis tinha vivido.
*
Ele ficou na cama por uma semana antes de encontrar força suficiente para
ficar em pé. Isabelle manteve a distância dele, não confiando em si mesma.
Ouviu-o, porém, no dia em se levantou pela primeira vez. Ele gritou agora e,
em seguida, quando um de seus homens parecia pensar que precisava de mais
ajuda para se locomover do que ele necessitava. Seus soldados andavam naquele
dia com sorrisos satisfeitos, ignorando seu tom. Apenas estavam contentes de
tê-lo levantado.
Isabelle queria vê-lo, mas não teve coragem de fazê-lo. Evitou a sala de
jantar; evitou seu escritório. Estava com medo de ficar muito perto dele.
Novembro se foi. Dezembro chegou, e Isabelle fez seus planos de partir para
o Natal. Ela estava fazendo as malas quando percebeu que alguém estava
olhando para ela da porta aberta.
Esse alguém era Travis.
Ele estava completamente curado agora. Ainda estava magro, mas suas
feições eram tão impressionantes que sua magreza apenas acentuava as linhas
limpas do seu rosto. Seus olhos seguiram cada passo dela e onde quer que
caíssem, ela era tocada com calor, com fogo. Ele estava marcante nas calças de
lã azul, suas botas de cano alto e camisa regular de cavalaria, as insígnias de
oficial sobre o seu ombro. — O que você está fazendo? — Ele perguntou a ela.
— Empacotando.
— Por quê?
— Eu estou saindo para o Natal.
— Por quê?
— Porque não é um feriado para ser gasto com o inimigo.
— Eu não sou seu inimigo, Isabelle.
Ela deu de ombros e continuou empacotando.
Ele bateu a porta e atravessou a sala, pegando-a pelos ombros, arrancando-a
de sua tarefa. Seus olhos perfuraram os dela como punhais de ébano.
— Deixe-me ir! — ela chorou.
— Por quê, Isabelle?
— Porque, porque…
— Não! — ele gritou e atirou a maleta de couro para o chão, levando-a para
baixo em cima da cama. Seus dedos enrolados em torno dela, segurando as
mãos acima da cabeça.
— Travis, maldito!
— Eu preciso de você, Isabelle. Eu preciso de você!
Ela queria lutar com ele. Ela queria negar tudo o que acontecera, tudo que
sentia, mas pensou que talvez ele sempre tivesse vindo por isso, desde o início,
quando tinham caído juntos na neve. Ela abriu a boca para xingar, para
protestar, mas seu sussurro já estava entrando em sua boca.
— Eu preciso de você, Isabelle, meu Deus, eu preciso de você!
Em seguida, seus lábios estavam nos dela, seu beijo ardente, construindo um
fogo dentro dela. Ele sussurrou contra sua boca, e os seus lábios queimaram um
rastro de fogo em todo o rosto e sua garganta, contra o lóbulo da orelha, em
seguida, de volta para sua boca novamente. Sua língua brincou em seus lábios,
em seguida, mergulhou entre eles.
Ela colocou os braços ao redor dele, seus dedos se enredando em seus
cabelos, e ela ganhou vida, regozijando-se com a sensação de seu cabelo, a
ondulação dos músculos de seus ombros e costas. Não teve certeza de quando
isso aconteceu, mas parecia que a camisa se dissipara e estava dividida entre risos
e lágrimas quando suas mãos se moviam através de sua carne nua, deleitando-se
com o calor dele, na sensação de vida. Tocou as cicatrizes onde a guerra tinha
rasgado sua carne e colocou os lábios contra elas tão ternamente quanto
possível. Mas depois disso poucas coisas foram ternas, quando a tempestade
explodiu entre eles com um desespero e agitação súbita. Seu corpete de alguma
forma foi aberto e o rosto dele se encontrou enterrado contra o vale entre seus
seios. E então ele estava tomando um em sua boca, seus lábios e dentes quentes
sobre um pico rosado e a sensação foi estilhaçante, enviando tremores de fogo e
ansiedade através dela. Engasgou, agarrando-se a ele, então engasgou novamente
quando sentiu suas mãos sobre seus quadris nus, em seguida, entre as coxas. Ela
gemeu, fechando os olhos, tremendo e respirando profundamente contra seu
pescoço enquanto seu toque tornou-se ousado e íntimo, acariciando,
mergulhando, evocando necessidade e espalhando um calor abrasador e prazer
fundido...
As calças foram despidas; seu vestido era uma pilha emaranhada em torno
deles; suas feições eram tanto duras como ternas quando ele foi sobre dela.
Gentilmente puxou e afastou para longe o emaranhado de sua roupa até que
estava nua e tremendo debaixo dele. E ainda assim ela confiava nele, o inimigo;
ele viu em seus olhos. Ele deitou sua cabeça contra os seios, então estremeceu
com uma força assustadora. — Meu Deus, eu precisava de você, Isabelle. Eu
posso ser seu inimigo, mas nenhum inimigo nunca vai te amar tão ternamente.
Nenhum amigo poderia jurar com maior fervor ser tão gentil.
Ela gritou, encontrando seus lábios, se afogando em seu beijo. Enquanto eles
se beijaram, suas mãos viajaram pelo corpo dela. Ele tocou e acariciou
infinitamente, corajosamente, intimamente.
E gentilmente, ternamente.
Finalmente a paixão subiu rapidamente, desenfreadamente, dentro dela. O
desejo florescera tão completamente e com tal certeza que ela não soube nada
de sofrimento ou dor, e tudo sobre a beleza arrebatadora de ser tomada por um
homem que lhe deu amor. Ela conheceu a fúria de sua paixão e a riqueza de seu
êxtase quando ele a levou para um pico de êxtase tão doce que era o céu na terra
antes que ele estremeceu violentamente e caiu ao lado dela, os dois cobertos por
uma fina camada de seu próprio suor.
Eles ficaram em silêncio por muito tempo. Então ele estendeu a mão e tocou
um caracol na umidade de sua bochecha. — Sinto muito, Isabelle, eu não tinha
o direito...
Ela pegou sua mão. — Não! Shh. Por favor, não diga essas coisas, não agora!
Ele rolou, acariciou seu rosto e olhou descaradamente a ascensão e queda de
seus seios. — Eu te amo, sabia.
— Não! Não diga isso, também!
Ela se afastou, tremendo enquanto pegava sua roupa.
— Isabelle — disse ele, levantando-se, tentando impedi-la.
Ela não sabia por que estava tão chateada. Ela o queria… ela o tinha querido
desesperadamente! E ela o amava também.
Mas havia uma guerra.
— Travis, deixe-me em paz. Por favor.
— Isabelle, eu não…
— Não, Travis, você não me forçou. Não fez nada de errado. Você foi…
você foi o perfeito cavalheiro! Mas, por favor, deixe-me em paz agora. Tenho de
ficar sozinha.
Ele virou-se com raiva e puxou a camisa e calças, em seguida, suas botas. —
Vou esperar você no jantar esta noite — disse a ela.
Ela observou-o sair, então lavou-se, vestiu-se e terminou de empacotar. Ela
desceu as escadas em direção a seu escritório.
— Eu quero partir para o Natal, capitão — disse a ele.
Ele se levantou, olhando para ela do outro lado da mesa. — Não vá, Isabelle.
— É a guerra, capitão.
— Não entre nós.
— Eu não posso ficar! Você não entende? Eu não posso passar o Natal com
o inimigo!
— Mesmo que você durma com ele?
Ela lhe deu um tapa. Ele não fez nenhum movimento e ela mordeu o lábio,
desejando não o ter atingido. Não sabia o que estava fazendo para qualquer um
deles de qualquer maneira. Apenas que agora o som de canções de Natal a
faziam chorar. Ela queria tanto estar em casa para o Natal, mas não sabia mais
onde era casa.
— Vou escrever um passe para você imediatamente — disse ele secamente.
— O sargento Sikes olhará por você.
— Obrigada.
Ele escreveu o passe e entregou a ela, depois olhou para o trabalho
empilhado sobre a mesa.
Isabelle se virou e se dirigiu para a porta, então hesitou. Ela queria gritar para
ele; queria correr de volta.
Mas não podia. Algo profundo dentro dela lhe disse que ele simplesmente
não estava certo. Ela podia estar apaixonada pelo inimigo, mas ainda era errado
passar o Natal com ele.
Capítulo 3
Isabelle passou o Natal e Ano Novo com Katie Holloway. A casa de Katie
era uma antiga fazenda e Katie era tão sólida e robusta como o terreno que a
cercava. Ela tinha visto o cerco britânico de Fort McHenry durante a guerra de
1812 e vivera o suficiente para dizer, fazer e pensar o que queria.
— Está morrendo agora, você entende Isabelle. Esta guerra está quase no
fim.
— Isso não é verdade! Nossos generais correm em círculos ao redor deles. E
outra vez ganharemos o dia com muito menos tropas e…
Balançando na cadeira, Katie pousou suas agulhas de tricô e exalou
lentamente. — Quando nossos homens morrem, não sobra ninguém para
substituí-los. Sim, nós lutamos boas batalhas! Ninguém jamais vai esquecer os
gostos de Stonewall Jackson. Mas ele e muitos de sua espécie se foram agora,
ceifados como flores na primavera, e não podemos ir sem eles. Nem mesmo Lee
pode lutar esta guerra sozinho. Acabou. Em tudo, exceto para a morte.
Isabelle não tinha vontade de discutir com Katie; ela só tinha vontade de
chorar. Não sabia como seria a vida quando tudo estivesse terminado; apenas
sabia que tinha visto o suficiente e estava pronta para que acabasse. Ela tinha
enterrado um irmão; queria que o outro vivesse.
Ela queria que Travis vivesse.
— Eu acho que estou indo para casa amanhã — disse a Katie. Era final de
janeiro, a neve estava alta e ela não deveria ir para casa sozinha. O sargento Sikes
ou um dos homens tinham vindo a cada dois dias para ver se ela estava pronta
para partir. Ninguém viera por alguns dias, ela fora determinada ao dizer que
não ia voltar. Não até que a neve derretesse. Não até que os homens fossem
para a guerra novamente.
Mas agora, de repente, não queria que eles fossem para a guerra. Ela não
queria que Travis fosse para a guerra.
Ela pulou e beijou a face envelhecida de Katie, então correu para o quarto
para fazer as malas.
Era o final de janeiro, e nem mesmo o meio-dia trouxe muito calor. Apesar
dos protestos de Katie que ela não deveria viajar sozinha, Isabelle estava indo
para casa.
— Você deve esperar por uma escolta! O capitão Aylwin não vai ficar
satisfeito.
— Bem, Katie, eles ainda não ganharam a guerra. Eu ainda posso fazer o que
quiser — ela assegurou a amiga.
Montou sua égua baia e envolveu a capa calorosamente ao redor dela. Estava
determinada a não passar pela cidade, havia muitos soldados ianques que ela não
os conhecia. Então ela se dirigiu a leste, passando por pequenas propriedades e
mansões arruinadas. Tudo era inverno, sombrio e sua égua bufou contra o frio,
enchendo o ar com a névoa de sua respiração. As árvores estavam nuas e a
paisagem era estéril. Era sempre assim durante o inverno, disse a si mesma. Mas
não era. Tudo estava estéril por causa da guerra.
Cavalgara por uma hora quando chegou à fazenda deserta de Winslow. Com
sede e preocupada com sua égua, ela decidiu parar para ver se a calha tinha
congelado. Desmontou nos altos montes e levou a égua para o cocho. Suspirou
com alívio, porque a água tinha apenas uma fina camada de gelo. Rompeu o gelo
com o salto de sua bota, então deu um tapinha na égua enquanto ela abaixou a
cabeça para beber. Em seguida ouviu um barulho atrás dela e se virou.
Um soldado tinha saído para a varanda. Ele estava vestido em cinza
esfarrapado e avelã, sua barba era grande e seus olhos eram duros, hostis e
turvo. No início seu coração havia disparado, era um dos seus. Mas quando o
homem olhou de soslaio para ela a sensação de euforia transformou-se em
pavor. Ela soube imediatamente que ele era um desertor e estava ali se
escondendo dos confederados e os ianques.
Ela puxou as rédeas ao redor rapidamente, pronta para montar, mas sem
sucesso. O homem atirou-se contra ela, arrastando-a para baixo na neve. Ela
bateu seus punhos contra ele desesperadamente e seus gritos rasgaram o ar, mas
também não teve qualquer efeito sobre ele. Sua respiração era horrível e rançosa,
ele estava mais sujo do que ela alguma vez imaginara que um homem pudesse
estar, e o cheiro dele aterrorizava além da medida. Ela sabia o que ele pretendia
e pensou descontroladamente que realmente preferia morrer do que deixá-lo
tocá-la. Mas ela estava desarmada; não tinha nenhuma razão para viajar com
uma arma, Travis sempre cuidara de sua segurança.
E agora ela estava sozinha.
— Ei, senhora, eu estou apenas procurando alguma boa e velha
hospitalidade do sul! — ele provocou.
Ela libertou a mão e bateu em seu rosto. Um ruído duro assegurou-lhe que o
tinha ferido. Tomou a vantagem e deu uma joelhada na virilha com toda sua
força. Ele gritou com a dor, mas segurou o cabelo dela e puxou-a para seus pés,
em seguida, arrastou-a para a casa. Ela começou a gritar novamente, mas isso
não importava; ele a arrastou até as escadas e pela porta. Um fogo ardia na
lareira acesa, e ele atirou-a para baixo antes dele. Ela tentou se arrastar, mas ele
se lançou sobre ela. Ela torceu o rosto, frenético com medo, quando ele tentou
beijá-la.
Então, de repente, o homem foi arrancado longe dela e jogado duramente
através da sala. Travis estava lá. Travis, em sua capa de inverno, seus olhos
escuros de ébano queimando com fúria. Quando Isabelle se afastou viu o
desertor rebelde sacar sua pistola. — Travis! — Ela gritou em sinal de
advertência. Ela ouviu uma explosão de fogo, mas Travis não caiu. A mancha
vermelha espalhada pela camisa de seu atacante, e ela percebeu que Travis,
também, tinha puxado uma pistola. Ele não perdeu tempo apiedando-se do
rebelde mas caminhou rapidamente para Isabelle, pondo-a de pé.
— O que você estava fazendo sozinha? — Ele demandou.
— Eu estava voltando para casa.
Suas mãos estavam sobre ela. Ele estava tremendo; estava sacudindo-a. —
Idiota! — ele explodiu e afastou suas mãos para longe dela, virando as costas
paraela. Ela queria agradecer-lhe; queria dizer que estava grata por ele ter vindo.
Até queria gritar que o amava, mas não podia. Ele era o inimigo.
— Graças a Deus eu decidi vir por você esta manhã! Droga, Isabelle, você
não sabe o que poderia ter acontecido? Ele poderia ter estuprado você, cortado
sua garganta e abandoná-la na neve, e nós nem sequer teríamos sabido disso!
Ela umedeceu os lábios. Não podia dizer-lhe que estava ansiosa para voltar
para casa porque estava ansiosa para vê-lo. Ele a agarrou pelo braço e puxou-a
junto com ele, até que chegaram fora. Em seguida, levantou-a em sua égua antes
de montar seu próprio cavalo e partiram em silêncio. O silêncio manteve-se até
chegarem à casa, onde ele desmontou e se aproximou dela antes que ela pudesse
desmontar. Desceu-a com as mãos febris e fortes. Seu cabelo caiu em cachos
imprudentes ao redor de seu rosto, dourado sob o sol. — O que? — ele
perguntou de repente, irritado. — Você está chateada porque eu matei o
rebelde? Ele era um dos seus, certo? Um bom e velho rapaz sulista!
— Claro que não!
— Amigo ou inimigo, é isso, Isabelle? E eu estou sempre condenado como o
inimigo? — Seus olhos estavam vivos como fogo e seus dedos estavam
mordendo seus braços.
— O que você quer de mim? — ela chorou.
Seu aperto relaxou um pouco, e um sorriso lento e amargo apenas curvou os
cantos de seus lábios. — Natal, — ele disse a ela calmamente. — Eu quero
Natal.
E de repente o Natal era tudo, tudo o que ele queria e tudo o que ela não
poderia dar. Ela soutou-se de seus braços e correu para dentro da casa.
*
Travis se condenou a si mesmo milhares de vezes pela forma como lidou
com as coisas. Mas encontrá-la nos braços do desertor o assustara até os ossos, e
tremeu ao pensar que ele não teria estado lá se não tivesse determinado em ir
essa manhã à senhora Holloway ele mesmo e trazê-la de volta.
E ele tinha feito isso só porque suas ordens haviam chegado. Eles estavam
indo para fora outra vez. Deveria levar seus homens para montar com Sheridan.
Grant estava no comando na frente oriental agora, determinado a apanhar o
astuto Lee, custe o que custar. Grant sabia que os outros generais da União
tinham sido vencidos por Lee e intimidados por sua reputação.
Ele tinha apenas alguns dias restantes para ficar ali. Certo ou errado, estava
apaixonado por ela e depois dos intermináveis meses de tortura, descobriu que
ela não era apenas gelo e reserva, mas que poderia ser fogo e paixão também.
Ele queria um sabor do fogo em seus lábios quando partisse novamente.
Mas aquilo estava perdido agora, pensou.
Ele sentou-se na sala de jantar sozinho, à espera de Peter para servi-lo. Mas
então ficou impaciente consigo mesmo, com ela. Saiu da mesa e caminhou até as
escadas para o seu quarto, e, uma vez lá, irrompeu pela porta de ligação.
Parou bruscamente, pois já a tinha encontrado daquela forma antes. Ela
estava aninhada em uma espuma de bolhas, uma perna esbelta saindo da água
enquanto ela a ensaboava furiosamente. Seus olhos se encontraram quando ele
entrou no quarto e um rubor carmesim subiu para seu rosto. Mas ela não negou
sua presença e até sorriu suavemente. — Eu estava indo para jantar — ela disse
calmamente. Mordeu o lábio inferior. — É só que eu me senti tão... suja depois
de hoje.
Os cachos louro-dourado foram empilhados em cima de sua cabeça, alguns
fugindo para balançar suavemente contra seu rosto e a longa coluna de seu
pescoço. Ele não tinha resposta para ela que não fosse um grito rouco e os
passos largos que o levaram a ela. Ele não procurou seus lábios, mas parou na
base do banho, sorrindo tristemente quando caiu de joelhos, em seguida, pegou
o pequeno pé que empurrou as bolhas, e beijou o arco, provocando a carne
doce e limpa, com o toque de sua língua. Seus olhos encontraram os dela, que
brilhavam com névoa e beleza, e ele ouviu a ingestão aguda de sua respiração.
Seus cílios caíram, meio sensual, convidativo. Seus lábios se separaram, e ainda
seu olhar permaneceu sobre ele. Ele acariciou com seus dedos ao longo de sua
panturrilha, encharcando sua camisa quando se inclinou para a água, mas ele não
se importou. Descaradamente passou a mão ao longo de sua coxa. Em seguida a
levantou, pingando e com sabão da elegante banheira. Segurou-a na frente do
fogo, beijando-a, antes de caminhar com ela até a cama, deixou de lado a camisa
encharcada e as calças e se inclinou sobre ela.
Nenhuma mulher jamais tivera cheiro tão doce; nenhuma pele alguma vez
fora como seda pura. Ela era a coisa mais linda que ele já imaginara, com os
seios firmes e altos, cintura fina, quadris ondulantes. Beijou-a em todos os
lugares, ignorando seus gritos, bebendo da visão, paladar e som dela, precisando
de mais e mais dela.
Naquela noite, ela se atreveu a amá-lo em troca, acariciando-o com as unhas
pelo peito, deslumbrando-o com a ponta dos dedos. O jantar foi esquecido. A
noite demorou para sempre. Ele não a abandonou, nem pensou em se levantar
até que o sol estivesse cheio sobre eles e ele ouviu bater em sua própria porta.
Ele beijou seus lábios doces suavemente e se levantou. Entrando em suas
calças e botas, ele correu para seu próprio quarto e abriu a porta.
Havia um mensageiro lá de Sheridan, Sikes disse a ele. Era necessário descer
imediatamente.
Ele encontrou uma camisa limpa e desceu as escadas, onde se encerrou com
o batedor de cavalaria e recebeu as últimas notícias.
Tinha apenas até quatorze de fevereiro para se encontrar com outras tropas a
norte de Richmond.
*
Isabelle desceu mais tarde. Ela vestiu sua reserva novamente, como outra
mulher poderia usar uma capa. — Você está indo? — ela perguntou friamente,
sentando-se em frente a ele.
— Em breve.
Seus dedos se fecharam ao redor de sua cadeira, seus cílios abaixaram. Ele
levantou-se e ficou de pé diante dela, em seguida, ajoelhou-se tomando suas
mãos. — Case-se comigo, Isabelle.
— Casar com você! — Ela arregalou os olhos, incrédula. Cinza-esverdeado
brilhando contra a beleza suave de seu rosto, eles se encheram de descrença.
— Eu te amo. Eu morreria por você. Você sabe disso.
Ela engoliu dolorosamente, depois sacudiu a cabeça. — Não acabou ainda.
Eu não posso me casar com você.
— Isabelle, você me ama, também. — ele disse a ela.
Ela balançou a cabeça novamente. — Não. Não, eu não. — Ela parou por
um segundo, e ele sentiu as lágrimas atrás de sua voz. — Eu não posso amar um
ianque. Você não entende?
Ela saltou e foi embora. Não desceu para o jantar, e ele não quis ir até ela.
Ele comeu sozinho, então bebeu um conhaque, antes de finalmente atirar o
copo no fogo e tomar as escadas de dois em dois. Ele invadiu seu quarto e
encontrou-a vestida com uma suave camisola branca de seda e rendas, um
vestido simples, que se agarrava à perfeição requintada de suas formas. Ela
estava andando diante do fogo, mas quando o viu fez uma pausa. Ele caminhou
até ela, arrastando-a para os seus braços, sacudindo-a ligeiramenre, de modo que
seu cabelo caísse em uma cascata nas suas costas, e seus olhos se tornaram
desafiadores para os dele. — Se você não pode se casar comigo — disse ele
amargamente, — e não pode me amar, então venha para a cama comigo e
acredite que eu, pelo menos, amo você!
A princípio, ele pensou que ela iria lançar-se para ele em fúria. Ele se
inclinou, jogando-a por cima do ombro, e os dois caíram juntos na cama. Seus
olhos estavam brilhando, mas ela só roçou seu rosto suavemente com a palma
da mão.
— Eu não posso te amar, ianque! — ela sussurrou. Mas seus lábios
provocaram os dele, seu hálito doce como hortelã, e seu corpo era um fogo
debaixo dele. Sua boca se movia contra a dele. — Mas eu posso precisar de
você, e eu preciso muito de você hoje à noite!
*
Manteve-se assim entre eles nos dias que restavam. De dia ela mantinha a
distância, a fria e digna Senhorita Hinton, mas à noite ela era sua, criando
sonhos de paraíso.
Mas nem paraíso nem sonhos poderiam parar a guerra, e no devido tempo,
ele cavalgou para seu compromisso com a batalha. Ela estava na varanda e
observou quando ele montou em seu cavalo. E então, como fizera antes, chegou
tão perto quanto pôde até onde ela estava de pé na varanda.
— Eu te amo — lembrou ele gravemente.
— Não se deixe matar, Travis, — ela disse a ele. Ele balançou a cabeça e
começou a se afastar.
Ela o chamou de volta. — Travis!
Ele virou. Ela hesitou, em seguida, sussurrou: — Vou rezar por você.
Ele sorriu e balançou a cabeça novamente, em seguida, afastou-se. A guerra o
aguardava.
*
Eles disseram que o Sul tinha vindo a perder a guerra desde Gettysburg, mas
você não poderia dizer isso pela forma como eles estavam lutando, Travis
pensou mais tarde.
No final de fevereiro, quando Travis foi juntar-se com as forças de Sheridan,
o general Kilpatrick encenou um ataque mal concebido em Richmond.
Documentos encontrados no corpo do coronel Dahlgreen indicavam a intenção
de queimar a cidade e assassinar o presidente Jefferson Davis e seu gabinete.
Meade, questionado por Lee sob uma bandeira de trégua, negou vigorosamente
tais intenções e Lee aceitou que os papéis eram falsificações. Travis ficou feliz
em saber que ambos os lados poderiam questionar algo tão hediondo, e que,
mesmo no meio da guerra, algumas coisas poderiam ser discutidas.
Em maio, Travis e suas tropas estavam envolvidos na batalha de Wilderness,
que ficariam em sua memória para sempre. Rebeldes e ianques foram igualmente
apanhados, confusos e horrorizados, nas profundezas da floresta. Logo as
árvores estavam em chamas e mais homens morreram por causa da fumaça e
fogo do que de balas.
De lá, os sobreviventes se mudaram para a batalha de Spotsylvania. Em
seguida, Travis seguiu Sheridan na batalha de Yellow Tavern, onde a cavalaria,
dez mil homens, reuniu-se com as tropas do sul de Stuart, nos arredores de
Richmond. Stuart trouxe mais de quatro mil homens e a luta foi dura e
desesperada, mas Travis conseguiu sobreviver. No entanto, o grande cavaleiro
confederado Jeb Stuart foi mortalmente ferido. Ele morreu em Richmond dias
mais tarde.
No final de junho, Isabelle percebeu um homem se aproximando da casa a
pé. Ela estava lá em cima no quarto e observava da janela. Mordeu o lábio
inferior, perplexa. Ele usava um uniforme cinza, mas ela não podia mais confiar
em soldados confederados, não depois do que havia ocorrido em sua jornada da
casa de Katie.
Travis tinha dado a ela um dos novos rifles de repetição e ela correu pelas
escadas para o armário de armas para obtê-lo. Carregou a arma e correu para a
janela, mas sua preocupação desapareceu quando viu o homem se aproximando.
Com um grito feliz largou a arma e correu para fora, jogando-se nos braços dele.
Era seu irmão, James.
— Oh, meu Deus, você está em casa! — Ela o beijou e ele a abraçou e a
rodeou, e ela riu e então chorou. E então eles estavam na casa, e Peter estava ali
e os outros servos também, todos ansiosos para recebê-lo em casa. Ele só tinha
alguns dias de licença; era um tenente na artilharia e tinha tido a sorte de receber
mesmo depois de muito tempo.
Isabelle estava determinada a fazer seu tempo em casa perfeito. Ela ordenou-
lhe um banho fumegante, procurou suas roupas, supervisionou o jantar, e
quando ele estava vestido e em baixo novamente, ela estava pronta para sentar
com ele para uma refeição de guisado de carne de veado. Ele sorriu para ela, um
jovem muito sério com seus próprios olhos coloridos e curiosos, cabelo um
pouco mais escuro e, agora, rosto recém barbeado. Ele começou a comer
avidamente, como se não tivesse visto tal refeição em anos. Então, de repente,
ele jogou o garfo e olhou para ela, com os olhos cheios de fúria nua.
— Isto é ensopado ianque!
Isabelle afastou para trás em sua cadeira, sentando-se muito direita. Ela olhou
para suas mãos.
James ficou de pé, andando pela sala atrás dela. — Eu acabo de perceber o
que isso significa. A casa está de pé, e há comida nela. O que você pagou por
essas concessões, Isabelle?
Ela ofegou e pôs-se de pé. — Eu não paguei nada por concessões! — A
culpa a rasgou, mas nunca pagou por nada. Ela estava protegida, sim, mas nunca
pagara por essa proteção. Ela simplesmente se apaixonou. — Eles usam a casa
como sua sede, é por isso que ainda está de pé. E há comida na despensa,
porque eles a trazem, para seu próprio uso e o nosso também.
— E você ficou aqui! — ele acusou, suas mãos em seus quadris.
— Eu fiquei aqui, seu tolo, por você e Steven! Eu fiquei de modo para que
eles não queimassem a casa. Eu até tenho pegado os dólares ianques que o
sargento Sikes me dá como aluguel, e os guardei para manter este lugar vivo para
que você e... e Steven tivessem uma casa para voltar!
Ele saiu da sala de jantar, para o corredor e entrou no gabinete. Com fúria
empurrou os papéis de Travis da mesa de seu pai. Algo vibrou em seus pés, e ele
inclinou-se para pegá-lo. Era um registro de seu salvo-conduto para a casa de
Holloway para o Natal. Ele olhou do registro para Isabelle. — O que é isso?
— Salvo-conduto. Eu… Eu sempre parti para o Natal.
De repente, ele começou a rir, mas ela não gostou do som. — Oh, isso é
bom! Você joga a prostituta durante todo o ano, mas depois parte para o Natal!
Oh, Isabelle!
Ela tinha vontade de lhe dar um tapa no rosto, mas ele estava muito magro
por tudo o que tinha passado e além disso, sentia a terrível verdade de suas
palavras. Ela se virou, um soluço arrancando dela, e correu escada acima.
Explodiu em seu quarto, onde se deitou em sua cama e chorou. Era estranho,
pensou. Era pelo Natal que ela subitamente estava chorando, e não pela guerra,
a morte, a dor. Era a paz do feriado que tinha sido perdido, a paz e os sonhos
suaves, e a crença de que o homem poderia se elevar sobre seus pecados.
Sua porta se abriu. James entrou e se sentou ao lado dela na cama, em
seguida, pegou-a nos braços. — Sinto muito, Isabelle. Eu sinto muito. A guerra
me deformou. Eu a conheço Isabelle. Você é a irmã que banhava todos os meus
cortes e contusões quando eu pensei que era grande demais para os meus
amigos me verem chorar. Aquela que ficou por nossos pais. Aquela, Peter me
disse, que correu para fora no meio de uma chuva de balas para alcançar a
Steven. Isabelle, eu te amo. Se algum ianque a manteve segura, então eu estou
contente. Você pode me perdoar?
Ela o abraçou forte, porque as palavras não eram necessárias entre eles. Em
seguida, eles desceram para o jantar frio e quando tinham comido, Isabelle o
levou para o túmulo de Steven, e disselhe quão estranho tinha sido ouvir
músicos ianques tocando “Dixie”.
Ele colocou seu braço ao redor dela, em seguida, fez uma saudação silenciosa
para Steven antes de caminharem para a casa juntos.
Ao longo dos dias seguintes ele a puxou para fora. Ouviu os relatos da morte
de seu irmão e ouviu quando ela lhe contou, hesitante, sobre o desertor que a
tinha atacado. Ele também a ouviu falar sobre Travis. Não lhe deu nenhum
conselho, apenas a avisou — Isabelle, você está apaixonada por ele.
Ela balançou a cabeça, olhando o fogo. — Mesmo agora, ele poderia estar
morto. Ele está lutando em algum lugar ao sul daqui. — Ela engoliu em seco.
Era a frente para onde James iria voltar em breve.
James se inclinou para ela. — Você está apaixonada por ele. E parece que ele
te ama.
— Ele ainda é o inimigo.
— Será que ele se casará com você?
— James, não posso me casar com o inimigo!
— A guerra não pode continuar para sempre, mesmo que pareça que sim.
Mas me ensinou que a vida e o amor são doces, e muito facilmente roubados de
nós antes que possamos tocá-los.
James partiu no dia seguinte. Obrigou-se a sorrir quando ele abotoou o
casaco e colocou o chapéu na cabeça. — Você estará em casa logo e para
sempre! — ela lhe disse.
Ele sorriu. — Sim, eu prometo, eu prometo voltarei para casa para sempre.
— Ele beijou a bochecha dela, e ela o acompanhou até a varanda. Ele tinha que
ir alguns quilômetros a pé, uma vez que estava em território ianque. Em algum
lugar ao sul seria pego por um vagão de transporte. Cavalos eram raros agora, e
ele se recusou a levar a égua. — Eles apenas a iriam matar, Isabelle. Deixe-a
sobreviver a esta coisa. Posso precisar dela quando voltar!
Ela abraçou-o uma última vez, ferozmente, e então ele partiu. Ela observou-
o da varanda, e de repente ele se virou. — Isabelle, não se case com ele, se você
sente que não pode. Mas dê-lhe o Natal. Ele merece o Natal.
Então ele foi embora, e ela orou para que a guerra acabasse em breve. Ela
assegurou a Deus que realmente não se importava, no mínimo, se os ianques
ganhavam, contanto que alguém terminasse a maldita coisa.
*
As batalhas eram travadas rápido e furiosamente na frente oriental enquanto
o verão progredia. As mulheres eram desesperadamente necessárias para cuidar
dos feridos, e Isabelle encontrara transporte para sul, para os arredores de Cedar
Creek, onde uma antiga igreja estava sendo usada como hospital de campanha.
Uma batalha horrível tinha sido travada em dezenove de outubro. O Sul tinha
quase tomado o dia, mas, no final, a União tinha prevalecido.
Rebeldes e ianques ambos estavam sendo trazidos, e Isabelle estava grata de
ver que nenhum homem ferido estava sendo deixado no campo. Ainda assim,
cada vez que via um casaco azul com a listra vermelha da cavalaria seu coração
afundava. Travis tinha cavalgado para se juntar a Sheridan, e os homens de
Sheridan haviam vencido esta batalha. Travis tinha também montado
vitoriosamente para longe?
Por fim, ela descobriu que ele não tinha, pois uma tarde ela virou-se para
uma forma coberta para descobrir que era Travis.
Seu rosto estava branco como a morte e ele estava quase sem respirar. Ela
rasgou o uniforme para descobrir que um sabre tinha cortado selvagemente seu
flanco.
Isabelle se virou para procurar um dos cirurgiões. Ela queria o Dr. Hardy,
um homem com uma crença interessada em higiene. Se a ferida não matou
Travis, a infecção poderia.
— Seu pulso é bom, sua respiração é constante e até agora, sem febre, — Dr.
Hardy disse a ela um pouco mais tarde. — Mantenha a ferida limpa e ele deve
sobreviver.
Ela fez o que ele tinha dito. Teve o cuidado de atender a todos os homens,
mas reservava tempo diário de lavar e ligar a ferida de Travis.
No terceiro dia ele abriu os olhos. Olhou para ela, incrédulo; em seguida,
seus olhos se fecharam novamente. O esforço para mantê-los abertos era
demais. — Água — ele resmungou.
Ela umedeceu os lábios ressecados, advertindo-o a não beber muito
rapidamente. Ele conseguiu abrir os olhos novamente, e ela tentou não sorrir.
Apesar de seu cabelo longo, ainda era tão bonito. Seus olhos escuros cheios de
espanto quando percebeu que estava em um hospital confederado.
— Você poderia muito bem me deixar morrer — ele disse a ela.
— Não fale assim.
— Andersonville é a morte — lembrou ele bruscamente, e um pavor frio
encheu seu coração, porque rumores diziam que era verdade, que os soldados da
União morriam como moscas no campo de prisioneiros confederado.
— Você está doente demais para ser enviado para Andersonville agora — ela
disse a ele, então se afastou.
Na manhã seguinte ficou consternada ao descobrir que Travis tinha atraído o
interesse entre as mulheres do Sul que estavam ajudando como enfermeiras. Ela
foi incapaz de encontrá-lo sozinho. Se ele estava conseguindo tanto cuidado, ela
decidiu, iria manter à distância.
Ele se curou mais rapidamente do que qualquer um esperava. Duas semanas
depois de sua chegada ela foi fazer a cama ao lado da dele quando seus dedos de
repente apertaram em torno de seu pulso, e ele puxou-a para encará-lo.
— O que você está fazendo aqui? — ele exigiu asperamente.
Suas sobrancelhas arqueadas. — Ajudando! — Ela retrucou.
Ele balançou sua cabeça. — Você deveria estar em casa. Oh... Entendo.
Você quer encontrar o seu irmão.
— Meu irmão está bem, muito obrigado. Ele esteve em casa de licença
durante o verão. — Ela se afastou. — Talvez eu estivesse procurando por você,
Capitão. — ela disse a ele em voz baixa. Então o deixou. Tornava-se por demais
perturbador lidar com ele.
Não teve que lidar com ele muito mais tempo. Três dias mais tarde, quando
ela entrou ele se fora. Tremendo de pânico ela perguntou ao Dr. Hardy o que
tinha acontecido com ele.
— O ianque? Oh, ele se foi.
— Andersonville? — ela sussurrou em horror.
Hardy balançou a cabeça, observando-a de perto. — Ele escapou. Não que
nós tivéssemos muitos homens para vigiar os prisioneiros por aqui. Ele apenas
escapou durante a noite.
Três dias depois o Dr. Hardy a chamou, e quando ela se virou levou-a pelo
braço e conduziu-a para fora. Ela prendeu a respiração, com medo de que ele
fosse dizer que Travis tinha sido baleado durante sua tentativa de fuga.
Mas Hardy não a tinha chamado por causa de Travis. Ele limpou a garganta e
apertou a mão dela enquanto caminhavam ao longo do prado estéril. — Isabelle,
o tenente James Hinton está na nossa lista como prisioneiro de guerra. Ele foi
pego em Petersburgo.
— Não! — Ela gritou a palavra, em seguida caiu no chão, negando as
notícias de Hardy com tudo o que tinha. Ela queria gritar, continuar a gritar,
para fazer as palavras ir embora.
Hardy ajoelhou-se ao lado dela. — Isabelle, escute…
Ela não deu ouvidos. Agarrou seu braço. — Ele estava ferido? Eles estão
levando-o para oeste? Você…
— Ele não estava ferido, ele foi apenas obrigado por todas as adversidades a
se render. E ele está sendo levado para Washington. Isabelle, ele está vivo! E
bem. Provavelmente vai mesmo poder escrever para você. Isabelle, muitos
homens morreram em Petersburg! Seja grata por ele estar vivo. Pode ser melhor
naquela prisão Yankee. Pode ter a ceia de Natal.
Ela tentou sorrir, tentou acreditar em Hardy.
Duas semanas mais tarde, e dezembro já estava sobre eles e o lugar estava
praticamente vazio. Os feridos foram enviados para suas casas para se
recuperarem, ou de volta para o campo de batalha, ou tinham morrido.
Hardy chamou Isabelle em seu escritório improvisado e entregou-lhe um
documento selado. Ela olhou para ele. — Você está indo para casa, Isabelle.
Soldados confederados irão acompanhá-la para a linha da União. Essa carta
deve dar-lhe um salvo-conduto. Você precisa ir para casa. A guerra está parada
para o inverno. Eu estou seguindo em frente para Petersburgo.
Ele se levantou e a beijou em ambas as faces. — Feliz Natal, Isabelle.
Ela o beijou de volta. — Feliz Natal.
Ele sorriu e retirou algo de seu bolso, em seguida, entregou a ela. — Eu
receio que você não pense que é um Natal muito feliz. Acabei de receber essa
carta há duas horas. É para você, do seu irmão James. Ele ouviu que os ianques
entravam e saiam da casa, então ele escreveu através de mim.
Ela olhou para ele, em seguida, rasgou a carta, as lágrimas ardendo nos olhos.
Ele estava vivo; ele estava comendo; ele teve sorte, considerando o que poderia
ter acontecido.
Ele terminava sua carta com um comando: — Feliz Natal, irmã. Tenha fé no
Pai, e quem sabe, talvez no próximo Natal nos reúna de novo! .
Ela beijou o Dr. Hardy novamente, então correu para fora, pressionando a
carta em seu coração.
*
Como o Dr. Hardy tinha prometido, ela foi escoltada para a linha ianque por
dois soldados da cavalaria; em seguida seus papéis foram entregues e lhe foi
dada uma escolta através das linhas até sua porta. Ela tinha estado preocupada
todo o caminho com Travis. Ele devia estar fraco depois de sua provação; não
estava forte o suficiente para voltar à batalha. Esperava fervorosamente que ele
estivesse lá quando ela chegasse em casa.
Ele estava.
Travis estava esperando por ela na varanda. O sargento ianque com seus
papéis o saudou acentuadamente e respeitosamente, e disse que tinha trazido a
Senhorita Hinton para casa no comando da União, e que ele precisava de
permissão para voltar à sua própria unidade. Travis rapidamente concedeu-lhe
permissão, saudando em troca. Ele era alto e em linha direito, enquanto
observava Isabelle desmontar, então ordenou a um dos seus homens para pegar
seu cavalo. Quando ela subiu os degraus viu que seus olhos se iluminaram com
um prazer que desmentia suas feições solenes.
Ela passou por ele e entrou na sala, largando a gasta capa de viagem e o
chapéu jogando-os em uma cadeira. Segundos depois, Travis estava atrás dela,
puxando-a contra ele, pressionando seus lábios na garganta, sussurrando coisas
que eram totalmente incoerentes.
Ela virou-se, pronta para protestar, pronta para reprová-lo, mas as palavras
não viriam. Ela não dava a mínima, que estava na casa, quem viu o quê, ou o
que eles podiam pensar. Não naquele momento. Ela colocou os braços ao redor
de seu pescoço e ele a tomou em seus braços, em seguida, levou-a para a
enorme suíte principal que ele tinha reivindicado como sua. Um fogo queimava
na lareira, quente e ardente. A escuridão estava caindo, mas o fogo enchia a sala
com um brilho fascinante. Travis a deitou na cama, seus dedos tremendo
enquanto tirava sua roupa. Então, ele se despiu e montou-a, e começou a amá-
la.
O fogo lançou seu brilho sobre eles enquanto a noite passava. Naquela luz
curiosa, ele era elegante e acobreado e ela não podia manter os lábios afastados
de sua pele ou impedir os dedos de dançar sobre seus músculos ondulantes.
Mais cicatrizes foram gravadas agora em toda a sua carne e ela as tocou
suavemente, beijou-as com ternura. Amava-o tanto e agora ele era dela. Certo ou
errado, ela amava o inimigo.
Quando amanheceu, Isabelle não fez nenhuma pretensão de negação. Ela
beijou-o ansiosamente à luz do dia, encontrou seus olhos abertos, honestos e
sorriu para seu grito rouco quando foi arrastada para o ritmo ardente de seu
amor.
Ela jantou com ele naquela noite. Ele contou sobre as batalhas, sobre
Wilderness, sobre Cold Harbor, Chancellorsville. Havia tanta tristeza nele. Ela
manteve um rígido controle sobre suas próprias emoções quando lhe disse que
James tinha sido feito prisioneiro em Petersburgo, mas que tinha ouvido que ele
estava em Washington, e não em Camp Douglas, em Chicago, que os rebeldes
tanto temiam.
Duas noites mais tarde, os homens começaram a tocar canções de Natal.
Eles vieram e usaram o piano, e tocaram suas gaitas tristes. Sentia por eles, por
seu desejo de ir para casa.
Ela não fugiu quando eles cantaram e quando o sargento Sikes cutucou, ela
ainda subiu para cantar sozinha. Para a melodia de “Greensleeves”, ela cantou
sobre o nascimento do menino Jesus, e quando terminou, a sala ficou em
silêncio e imóvel, e os olhos de todos os homens no local estavam sobre ela. Por
fim Sikes limpou a garganta e o soldado Trent riu e disse que tinha feito uma
coroa de flores, saiu e trouxe-o. Ela disselhes que eles poderiam encontrar as
decorações domésticas no sótão, e eles correram para trazê-las. Logo o lugar
parecia, cheirava e brilhava a Natal.
Travis, que tinha observado ao lado do fogo, virou-se e saiu da sala. Ela
ouviu seus passos na escada.
Levantou-se determinada a segui-lo.
Ele estava no quarto que partilhavam, olhando para a maleta meio cheia que
tinha colocado em um canto. Ela olhou para ele em silêncio enquanto seus
olhos a desafiaram.
— Você está indo embora de novo?
— Sim.
Ele atravessou a sala para ela, prendendo-a contra a porta, as palmas das
mãos planas contra a madeira de cada lado da cabeça. Ele procurou os olhos por
um instante, depois se afastou para ficar na frente do fogo, com as mãos
cruzadas atrás das costas.
— Há algo para você sobre a mesa — ele disse a ela.
— O que é isso?
— Vá ver por si mesma.
Ela hesitou, depois atravessou a sala para a mesa redonda de carvalho perto
da janela. Havia um documento de aparência oficial envolto em papel vegetal e
fita vermelha.
— Travis...?
— Abra-o — ele comandou.
Ela fez isso, seus dedos tremendo. Havia um monte de linguagem oficial que
ela lia mais rapidamente e em confusão, e então viu o nome de seu irmão.
Tenente James L. Hinton. Ela continuou lendo, tentando fazer o sentido dos
termos legais e da escrita extravagante. Então percebeu que James iria ser
trocado por outro prisioneiro, que estava indo para ser enviado para casa.
Ela gritou e olhou para Travis. Não sabia como ele tinha arranjado, só que
ele tinha. Ela começou a correr em direção a ele, então parou, seu coração
martelando.
— Oh, Travis! Você fez isso!
Ele assentiu solenemente. — Feliz Natal. Você nunca me deixa dar-lhe um
presente. Este ano eu pensei que você poderia.
— Oh, Travis! — ela repetiu; então correu para seus braços. Ele a beijou
longa e profundamente, e tão quente e brilhante como o fogo. Sem fôlego, ela
apertou os lábios contra sua garganta. — Travis, é o presente mais maravilhoso
do mundo, mas não tenho nada para você. Eu lhe daria qualquer coisa…
— Então case-se comigo.
Ela ficou em silêncio. Viu a febre em seus olhos escuros, a intensidade
quebrando.
— Eu… eu não posso — disse ela.
Decepção encheu os olhos de ébano. Sua mandíbula endureceu, e ela podia
ouvir o ranger de seus dentes. — E amanhã à tarde você vai descer para o
escritório como se fôssemos perfeitos estranhos e vai pedir a minha bênção para
sair.
— Travis...
— Maldita seja! Maldita seja mil vezes, Isabelle! — Ele se afastou dela.
— Travis! — ela chamou novamente e ele se virou para ela.
Olhou para ela durante vários segundos agonizantes e em seguida, seus
passos largos o levaram a ela, e ele puxou-a com força em seus braços. Seu beijo
foi dado com força e fúria, e suas mãos foram menos do que ternas quando ele a
tocou. Ela não se importou. Conhecia sua fúria.
— Isabelle! — O nome dela rasgou dele amargamente enquanto seus dedos
se enfiavam em seu cabelo. No final, o amor foi doce, dolorosamente doce, e
acompanhado por murmúrios de quanto ele a amava.
Deitada de costas para ele, ela repetiu as palavras em silêncio. Eu te amo.
Mas a guerra ainda estava entre eles, ele ainda era o inimigo. Ela não podia ficar,
e não poderia dizer-lhe como se sentia.
Nem mesmo para o Natal.
*
Travis permanecia ao seu lado e observava a luz da lua, enquanto caia na
perfeição elegante de seu corpo. Suas costas eram longas e belas, e o brilho
marfim da lua as acariciava primorosamente. Seu cabelo estava livre e
emaranhado ao redor dele e ele pensou, com uma explosão impressionante de
dor, sobre o quanto a amava, o quanto precisava dela. E, talvez, Deus fosse
bom, porque ele estava vivo e capaz de segurá-la, e ela estava aqui com ele. E,
caramba, ele sabia que ela o amava!
Mas sabia, também, que amanhã viria, e que iria de fato entrar no estúdio e
exigir uma passagem segura.
De repente sorriu ironicamente. Ele podia se lembrar de ser jovem, podia
lembrar seus pais pedindo-lhe para escolher o que mais queria para o Natal. Ele
iria pensar cuidadosamente sobre isso, e eles sempre lhe deram o que escolheu.
Se apenas alguém lhe perguntasse agora. Ele não precisaria pensar. Só havia
uma coisa que iria pedir.
Isabelle.
Murmurou o nome dela, então se levantou, vestiu e saiu para o corredor. O
cheiro de castanhas assando estava no ar, juntamente com o aroma dos ramos
de pinheiro que os homens tinham trazido.
Amanhã seria véspera de Natal. Ela desceria por seu passe, e ele daria a ela.
*
Ele tinha razão. Ao meio-dia o sargento Hawkins veio para dizer-lhe que
Isabelle havia solicitado uma audiência com ele.
E agora ele estava sozinho.
Capítulo 4
Véspera de Natal de 1864

Com o passe em suas mãos, Isabelle fechou a porta do escritório de Travis


atrás dela e encostou-se nela. Será que ele não entendia que doía deixá-lo, mas
que era tudo o que ela tinha? Ela estava entre os quase derrotados, os superados.
Era uma parte do Sul. Uma vez que tinha se emocionado ao som de um grito
rebelde; uma vez que tinha acreditado de todo o seu coração que Virginia tinha
o direito de se separar; uma vez que tinha seguido esse tambor distante.
Era verdade, talvez, que o fim estava próximo, mas o Sul ainda tinha que se
render, assim como ela o poderia fazer?
Ela se apressou ao longo do corredor. O sargento Sikes estava lá, esperando
por ela com seus olhos azuis claros nublados, com o rosto triste e cansado. —
Então, você está partindo, senhorita Hinton. Eu esperava que pudesse ficar este
ano.
Ela ajustou suas luvas, e sorriu. — É Natal, Sargento. Devemos estar com a
nossa própria gente, você não acha?
— Não cabe a mim pensar, minha senhora. Eu sou apenas o sargento. —
Ele se virou, abrindo a porta para ela. — Parece-me, porém, que o Natal
significa que devemos estar com aqueles que amamos. Sim, senhora, é o que
parece para mim.
— Sargento — Isabelle disse docemente, dando um passo para a varanda —
Você simplesmente não acabou de me dizer que você não deveria ter qualquer
pensamento?
— Hum. — Ele assobiou, e seus cavalos foram trazidos por um dos
soldados. Ela montou sem a sua assistência, e ele suspirou e montou em seu
cavalo. Partiram, o sargento Sikes andando atrás dela. Mesmo assim, ele estava
determinado a falar. — Nós celebramos o dia em que um pequeno bebê nasceu.
Bois e cordeiros se reuniram em torno dele!
— Certo, Sargento — ela respondeu de volta.
— Havia anjos flutuando no céu. Os sábios fizeram uma viagem seguindo
uma estrela. Por que, minha senhora, Deus olhou para baixo do céu, e ele
realmente sorriu. Senhorita Hinton, mesmo Deus e o exército sabem que o
Natal é um momento para a Paz!
Ela se virou, sorrindo — Você o ama muito, não é, sargento?
— Capitão Travis? Pode apostar que sim, senhora. Ele é um grande oficial.
Eu o conheço há anos. Eu o vi colocar sua segurança pessoal atrás da de seus
homens. Eu o vi reunir uma sinalização de defesa com o poder de sua própria
energia, e eu o vi exigir que parassem as mortes quando a guerra se virou para
um açougue. Droga… Desculpe senhora… Eu o amo. e você, também, não é?
Ela abriu a boca, sem saber ao certo o que ia dizer. No final não disse nada.
Apenas olhou através dos campos cobertos de neve e viu que outra partida
acontecia naquele dia, três soldados da União em direção ao sul, arrastando um
carrinho hospitalar atrás deles. Eles estavam indo para a fazenda onde ela tinha
sido atacada no ano anterior.
— Sargento! Há um homem naquela carroça.
— Isso é o que parece, senhorita Hinton.
— Venha, então, vamos ver se podemos ser de ajuda!
Ela incitou seu cavalo, então percebeu que tinha esquecido que os homens
eram ianques. Talvez fosse a mágica de Natal que a fez tão preocupada pelo
soldado desconhecido no carrinho. Ela não sabia.
Sua égua cruzou através da densa neve branca até ficar quase em cima do
primeiro soldado. — Sir! O que aconteceu? Eu fui enfermeira, talvez possa ser
de alguma ajuda.
O jovem oficial fez uma pausa, controlando, olhando para trás quando um
dos outros soldados levantou um corpo do carro e se dirigia para a casa. — Eu
acho que não, senhora. O velho não irá conseguir. Nós o encontramos na trilha,
descalço e cheio de febre, e estamos tentando ajudá-lo, mas, bem, ele não parece
muito promissor.
Isabelle olhou para ele, então desmontou, jogando as rédeas sobre o
parapeito da varanda. Ela pegou as saias e correu ao longo dos degraus
entrando.
Um dos soldados estava trabalhando diligentemente para acender uma
lareira. O outro estava ao lado do velho, que ele tinha colocado no sofá, e estava
segurando uma garrafa nos lábios.
Isabelle se aproximou e o soldado ianque se afastaram educadamente. Ela
engasgou quando viu que o homem no sofá não era um ianque, mas um rebelde
vestido de cinza, com guarnição de artilharia a ouro. Ele tinha uns sessenta anos,
ela pensou, se os tivera um dia, mas ele tinha saído para lutar, e tinha tentado
voltar a pé para casa com o frio empolando, com nada além de trapos nos pés.
Ajoelhou-se ao lado dele, puxando o cobertor mais firmemente em torno
dele. — Eu fiz o possível — disse o ianque ao lado dele. Ele inclinou a cabeça
educadamente. — Frederick Walker, senhora, cirurgião na Nona de infantaria
do Wisconsin. Juro que fiz tudo o que é humanamente possível.
Ela assentiu com a cabeça rapidamente para ele, mas não deixou o lado do
velho. Ela tomou sua mão.
— Ele queria chegar em casa. Casa para o Natal. Estávamos tentando que ele
o conseguisse, mas... bem, às vezes a casa está muito longe.
— Ele está confortável? — Isabelle perguntou.
— Tão confortável quanto possível.
De repente, os olhos do velho abriram. Eles eram de um azul desbotado,
avermelhados, mas quando olhou para Isabelle, havia um brilho neles. — Deus
vivo! Eu tenho que estar no céu, e os anjos são loiros e bonitos!
Isabelle sorriu. — Não, senhor, este não é o céu. Eu vi os ianques trazê-lo e
vim ver se eu podia fazer alguma coisa. Sou Isabelle Hinton, senhor. — Ela
lançou um olhar para o médico, perguntando se deveria estar encorajando o
velho a falar. Os olhos do médico disseram a ela que era uma gentileza.
O velho ofegava, e seu peito estava agitado, mas ele continuou sorrindo. —
O que você está fazendo na véspera de Natal, em um dia como hoje? Você
devia estar quente e segura em casa, mocinha.
— E você não deveria ter estado andando em seus pés descalços!
— Eles não estavam nus. Eles estavam nos melhores sapatos que a
Confederação tem para oferecer estes dias! — ele disse, indignado. Suspirou
suavemente, em seguida, pegou seus olhos. — Oh, menina, não fique tão triste!
Eu sabia que meu jogo estava terminado. Estava apenas tentando ver se poderia
fazer isso em casa. Estes agradáveis rapazes tentaram me dar uma carona. — Ele
fez sinal para ela, indicando que deveria se aproximar. — Ianques! — ele disse a
ela, como se ela não tivesse notado. Então ele abriu um largo sorriso. — O
doutor aqui conhece meu filho Jeremy. Jeremy é um doutor na divisão da West
Virginia. Eles trabalharam juntos no campo. Em Spotsylvania e Antietam Creek.
Mesmo em Gettysburg. Não é mesmo, doutor?
— Seu filho está na União?
— Um deles. Ambos, os meus meninos com Lee ainda estão vivos e minhas
filhas, elas estão de volta para casa. Mas você sabe senhorita Hinton, a cada ano,
quem conseguiu obter licença voltou para casa para o Natal. Não que
pudéssemos conseguir muitos papéis mas... Não importa o que seja, todos
escrevemos. Meus meninos todos escreveram para mim não importando que cor
de uniforme estavam usando. E ter essas cartas, significava tudo. Isso significava
que estava em casa para o Natal. — Ele parou de falar, tossindo em um longo
espasmo. Isabelle preocupada bateu em seu peito. O jovem médico ianque
ofereceu-lhe outra bebida, ele acalmou a tosse. Então se deitou, exausto, mas
olhou para ela, preocupado. — Você não se preocupe assim, menina. Eu estou
indo para um lugar melhor. Vou para onde os anjos realmente cantam. Você
pode imaginar o que é uma celebração de Natal no céu? Onde a guerra não faz
diferença? Pare de se preocupar sobre mim. Vá para casa, vá para casa para o
Natal.
Ela balançou a cabeça, engolindo. — Eu… Eu não quero deixá-lo.
Seus olhos fechados, mas ele sorriu, os lábios ressecados e secos. — Então
fique comigo. Mas quando eu me for, prometa-me que você vai voltar para casa.
— Eu não sei onde é “a casa” — ela sussurrou sob sua respiração.
Mas ele a ouviu. Seus olhos se abriram, macios e nublados, mas ela sabia que
ele a estava vendo.
— Casa é onde há amor, criança. Certamente você sabe disso, não importa se
é um barraco, um palácio ou um cobertor ao lado de uma fogueira. A casa é o
lugar onde o amor está.
Seus olhos se fecharam novamente. Isabelle apertou a mão dele e ele apertou
de volta. Em seguida, seus pulmões sacudiram novamente e a pressão de sua
mão na dela desapareceu.
As lágrimas correram de seus olhos e transbordaram em seu cobertor.
Alguém estava tocando seu ombro. Sargento Sikes. — Você vem agora,
senhorita Hinton. Deixe-me levá-la para a casa de Katie Holloway.
Ela o deixou levá-la até a porta, porque mal podia ver. Não podia suportar a
injustiça de que o velho tivesse que morrer tão perto de casa.
Ela se soltou do toque do sargento e voltou. O velho parecia inteiramente
em paz. As linhas tinham aliviado de seu rosto. Ele até parecia estar sorrindo.
Ela entrou na neve. Alguém veio para ajudá-la na sela, e o sargento Sikes
montou também.
Eles poderiam continuar, poderia ir para casa de Katie para o feriado.
Ou ela poderia ir para casa.
Ela gritou de repente, puxando as rédeas com tanta força que o animal
assustado relinchou e se empinou, espalhando os flocos de neve em todos os
lugares.
— Senhorita Hinton… — começou o sargento.
— Oh, sargento Sikes! Ele não morreu em vão, pois não? Ele está ali
sorrindo, mesmo na morte. Porque está em casa. E eu estou indo para casa,
também. É Natal, sargento!
Deixe os ianques pensar que ela era louca, era verdade que a guerra ainda não
tinha acabado, mas para ela acabara. Pelo menos para o Natal.
Sentiu que estava voando sobre a neve. Era um dia que prometia paz para
toda a humanidade.
A neve foi empurrada para cima sob os cascos da égua, e o vento soprava
por eles enquanto corriam através do campo estéril. Sikes estava muito atrás
dela, mas ele não precisava estar preocupado. Ela conhecia o caminho.
Por fim, ela viu a casa. Através da janela pôde ver o fogo que ardia na lareira
no escritório.
Saltou de sua égua e correu, coberta de neve, subiu os degraus. Abriu a porta,
deixando-a entreaberta, e voou com pés alados até ao estúdio. Não bateu,
apenas abriu a porta. E então parou, completamente sem fôlego, incapaz de
falar.
Travis estava atrás da mesa. Ele olhou para ela com espanto, em seguida,
pôs-se de pé, chegando rapidamente ao redor dela. Ela caiu em seus braços.
— Isabelle! Você está ferida? O que aconteceu? Isabelle…
— Eu não estou ferida!
— Então…
— Nada aconteceu.
— Então…
— Estou em casa, isso é tudo. Eu vim para casa para as férias. Oh, Travis,
Eu te amo tanto!
Ele a levou para a lareira e sentou-se diante do fogo, segurando-a no colo, os
olhos à procura dela. Ele sussurrou seu nome e enterrou seu rosto contra sua
garganta, em seguida, repetiu o nome dela.
— Eu amo você, Travis. Muito.
Ele balançou a cabeça, confuso. — Eu acho que eu amarei você para sempre.
Mas você partiu....
— Eu tive que parar. Alguns ianques estavam levando um velho rebelde para
casa, mas ele não conseguiu. Ele morreu, Travis.
— Oh, Isabelle, eu sinto muito.
— Não, Travis, não. Ele ficou satisfeito com sua vida. Ele conheceu todos os
tipos de amor e... E ele nunca se preocupou com a cor deles. É tão difícil de
explicar. Ele só me fez ver... Travis, o amor é frágil. Tão difícil de encontrar, tão
duro para ganhar. Frágil como um floco de neve de Natal. Oh, Travis!
Ela passou os braços ao redor dele e beijou-o devagar e profundamente.
Então seus olhos encontraram os dele novamente. — Eu… Eu gostaria de dar-
lhe alguma coisa. O que você fez, conseguindo a liberdade de James, foi
maravilhoso.
— Isabelle, você é o meu presente de Natal. Você é o que eu quero para
sempre.
Ela corou. — Bem, eu estava esperando que você dissesse isso. Porque eu
não tenho nada para embrulhar para você. Eu tenho sido tão teimosa, tão
horrível.
— Isabelle…
— Travis, você realmente me ama?
— Mais do que qualquer coisa no mundo, Isabelle.
— Então eu posso ser seu presente de Natal?
— O que você quer dizer? — Ele começou a sorrir, mas seus olhos eram
suspeitos.
— Quero dizer, bem, seria um presente para mim, também, realmente.
Você… — Ela fez uma pausa, respirou fundo e mergulhou para a frente. —
Você disse que queria casar-se comigo. O nosso ministro foi para o sul com as
tropas, mas o seu capelão ianque está com você e a igreja fica apenas no final do
caminho. Travis, eu estou tentando dizer que eu vou casar com você. No Natal,
se você quiser, isto é…
Ele ficou em silêncio por um longo tempo. Em seguida soltou um grito que
rivalizava com o mais selvagem grito rebelde que ela já tinha ouvido. Ele estava
de pé, girando em torno com ela em seus braços. Ele fez uma pausa, finalmente
beijando-a; então riu e beijou-a novamente.
Quando seus olhos finalmente encontraram os dela novamente, eles estavam
brilhantes com o fogo do amor, e suas mãos tremiam onde tocou.
— Isabelle, não nunca, nunca houve um maior presente de Natal. Nunca.
Deus sabe, não há dom tão doce ou tão delicado como o dom do amor.
Ela sorriu, enrolando os braços mais firmemente em torno dele. — E o dom
da paz, Travis. Você me deu tanto.
*
Não era difícil de arranjar. Os homens tropeçavam uns nos outros para
decorar a igreja e embora pouco pudesse ser feito em tão pouco tempo, eles
conseguiram trazer a velha Katie Holloway para a cerimônia.
Isabelle estava na parte de trás da igreja, enquanto Katie insistia para que ela
tomasse o anel de pérola de sua mãe. — Algo emprestado, amor. Você deve
usar o anel.
Isabelle sorriu. Seu vestido era de seda azul claro, suas roupas eram muito
velhas, e seu amor... Seu amor era novo. Ela estava pronta para se tornar uma
noiva.
— Eu me pergunto o que está lhes tomando tanto tempo! — ela disse,
olhando para a parte de trás da igreja. Travis saiu para a neve, junto com metade
de seus homens. Ele virou-se de repente, viu-a e correu para dentro da igreja.
Para sua surpresa, ele a arrastou para a neve. — Isabelle! Você acredita no
Natal?
— Do que você está falando? — Ela exigiu. — Travis, você está se
comportando como um louco.
Ele começou a rir, então a empurrou em volta na frente dele. — Isabelle,
apenas estava faltando a pessoa adequada para a levar. Agora, bem, o temos
também.
Por longos momentos, ela olhou para o homem de uniforme cinza na frente
dela. Em seguida gritou de felicidade e se afastou de seu futuro noivo para saltar
para os braços do recém-chegado. Travis, tolerante de sua demonstração de
afeto por outro homem, assistiu à felicidade deslumbrante com a qual ela
cumprimentou seu irmão.
— Isabelle! — James a abraçou, em seguida, olhou para os uniformes azuis
em torno deles.
— Bem, ianques, há uma trégua em seguida, para um casamento?
Chapéus foram tirados e saíram voando para o ar. Um grito subiu.
Momentos depois, eles estavam todos dentro da igreja. James levou-a até o
altar e entregou-a para Travis. O capelão começou o serviço, e ela e Travis
declararam seus votos. E quando eles foram solenemente prometidos um ao
outro, o capelão declarou: — Nesta data, o Natal de 1864, com o poder
investido em mim por Deus e o estado de Virgínia, declaro Travis e Isabelle
marido e mulher. Capitão, pode beijar sua noiva.
Ele beijou-a e beijou-a. E a beijou.
Sikes tinha encontrado arroz para jogar sobre eles e James foi rápido a
participar. Rindo, os recém-casados correram da chuva de arroz para o carro de
suprimentos que os havia trazido, então foram para a casa.
Peter tinha feito o mais suntuoso jantar Natal e de casamento que se possa
imaginar, dado o estado da sua despensa, e apesar de que seus sentimentos
mudariam com a chegada do novo ano, James parecia disposto o suficiente para
ignorar o fato de que os homens em sua casa eram ianques, e os ianques
estavam mais do que dispostos a aceitá-lo como um dos seus próprios.
Era Natal.
*
Mais tarde, quando a maioria dos soldados tinha ido para seus quartos,
quando Sikes e James estavam meio dormindo em frente ao fogo do salão,
Isabelle percebeu que seu novo marido não estava por perto.
Encontrou-o na varanda fria, olhando para o céu. Ela enganchou o braço no
dele e ele sorriu para ela.
— O que você está fazendo aqui? — ela sussurrou.
— Seguindo uma estrela. — ele disse suavemente, afastando o cabelo do
rosto. — Eu pensei que estava longe de casa para o Natal, mas agora sei que não
estou. Estou em casa. Onde quer que esteja o amor, é onde eu vivo. Para
sempre, dentro do seu coração.
Ela não disse nada e ele levantou-a nos braços, preparando-se para levá-la da
varanda fria para o calor da casa e em seguida, para o quarto.
Mas parou pouco antes de atravessar o quarto e olhou para a Estrela do
Norte, sussurrando uma oração silenciosa.
Obrigado, Deus! Muito obrigado. Por Isabelle... Pelo Natal.

[1] O Raposa Vermelha


[2] Apelido do rei francês Luís XIV.
[3] Estrutura usada embaixo das saias para dar forma.
[4] Meu amigo em francês.
[5] Muito bonita em francês.
[6] Minha linda
[7] Minha linda amiga
[8] Cozinha do navio.
[9] Marca de vinho
[10] Tipo de peixe
[11] Aqui está, em francês.
[12] Você está com fome?
[13] Sim, estou com fome.

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