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O Senhor de

STRATHBURN
Highland Rogue 1

AMY ROSE BENNETT


Sinopse
Um romance Highland arrematador e sexy sobre um
Jacobita procurado e uma espirituosa escocesa de alma ferida
em fuga.
Robert Grant, há muito tempo afastado, retornou a casa,
o Castelo Lochrose nas Highlands, para se reconciliar com o
seu pai, o Conde de Strathburn. Mas existe um preço pela
cabeça de Robert e seu avarento meio-irmão, Simon, não quer
que ele reclame os seus direitos de nascimento. E não apenas
Simon, mas também os Casacas Vermelhas ameaçavam
destruir os planos depois que uma complicação de
flamejantes cabelos vermelhos do tipo feminino entra em
cena…
Jessie Munroe é forçada a fugir do Castelo Lochrose após
o dissoluto Simon Grant tentar coagi-la a virar sua amante.
Depois de um encontro fatídico com um caçador misterioso e
bonito, Robert, em um remoto vale das Highlands, ela coloca
a sua vida nas mãos dele, apesar de suspeitar que ele seja um
fugitivo. Ela logo percebe que ele é um homem perigoso de
uma forma totalmente diferente de Simon...
Apesar da atração arrasadora, Robert e Jessie lutam
para confiar um no outro enquanto procuram um local para
chamar de lar. As apostas são altas e apenas uma coisa é
certa: Simon Grant persegue os dois.
Para Richard, meu herói. Eu sempre o amarei.
Prólogo
16 de abril de 1746
Castelo Lochrose, Strathspey, Escócia

— Você é malditamente audacioso, Robert.


— Sim, eu sou. — Robert Grant, o em breve deserdado
Senhor de Strathburn e Visconde de Lochrose, apertou os
olhos através dos pontos escuros que encobriam o seu campo
de visão tentando, em vão, focar em seu sarcástico meio-
irmão, Simon. A ferida de baioneta em seu ombro latejava com
tanta intensidade que lhe roubava os pensamentos e tudo o
que ele podia fazer era ficar sentado sobre o seu trêmulo e
suado cavalo. Não tinha como ele desmontar sem ajuda.
Terminaria com o seu rosto firmemente plantado no cascalho
do pátio. — Mas pelo amor de Deus, Simon… — Ele
continuou, sua voz era pouco mais de um ruído rouco. —
Apenas me ajude a descer, estou ferido, pelo amor de Deus…
Ele mal se recordava do momento em que a lâmina do
soldado inglês atravessara as suas costas. O horror de tudo o
que ocorrera algumas horas antes no Pântano Drumossie
fluía em sua mente. Fez a náusea subir por seu esôfago.
Simon bufou.
— Você deve ter levado um golpe na cabeça, então, ou
teria se lembrado de que nosso pai o proibiu de voltar. — Ele
olhou além de Robert, pela trilha de cascalho que se dirigia
aos portões de Lochrose. — Você matou a todos, não foi? Foi
uma aniquilação, como nosso pai disse que seria, não foi? —
Seu olhar cinzento, endurecido por acusações e o
ressentimento de longa data voltou-se a Robert. — Ele nunca
o perdoará por isso.
Sem dúvidas. Homens de vinte e seis grandes clãs
mortos. E eu fui o jovem arrogante que os levou como ovelhas
ao abatedouro.
Robert engoliu tanto a bile quanto a amarga aspereza
que queimava a sua garganta.
— Eu sei. — Ele rosnou. — Mas, por favor …Eu preciso
apenas de um lugar para me esconder até que eu possa
seguir ... amanhã.
Embora ele tenha irrefutavelmente desobedecido ao pai e
conduzido o clã até Culloden, Robert rezava para que lhe
fosse mostrado um mínimo de compaixão. Que o conde
oferecesse, pelo menos, um santuário a seu filho mais velho
por uma única noite antes que este fugisse da Escócia e
passasse a vida em um exílio em algum lugar longínquo.
Robert não queria colocar a sua família em perigo por abrigar
um fugitivo, mas ele não era capaz de ir mais longe.
Simon sorriu, porém o sentimento não alcançava os seus
olhos.
— É claro, querido irmão. Eu devo ter um quarto
preparado para você. — Ele agarrou o antebraço de Robert
com uma mão e com a outra ele golpeou o plaid ensopado de
sangue grudado ao ombro dele.
Bastardo. Agonizando, uma dor lancinante
instantaneamente atravessou o corpo de Robert. Mesmo
quando a escuridão o clamava, ele não falhou em perceber
que Simon ainda sorria.

***

A oscilação da tocha no meio da escuridão, a insistente


pulsação em seu ombro e um chão de pedra frio embaixo dele
fizeram Robert discernir quando a consciência, por fim,
voltou. Tudo isso e seu profundo desespero reprimido.
Relutantemente abriu um olho e percebeu
preocupadamente que não haveria misericórdia para ele
depois de tudo, visto que estava amarrado como um cão no
que costumava ser a masmorra de Lochrose, mas que
atualmente era usado como depósito de vinho. Ele não tinha
ideia de quanto tempo passara ali ou se era dia ou noite. Mas
não havia dúvida em sua mente de que Simon já deveria ter
avisado os dragões Ingleses1 ou, menos possível, o regimento
da Guarda Negra por agora. Ele esperava não demorar muito
para ser levado para ser acusado de traição.
A menos que seu pai intervenha... Porém neste momento
específico, a possibilidade parecia tão improvável quanto
receber a salvação pelo próprio diabo.
Você não merece nada, Robert Grant. Você deve morrer no
campo como o resto de seus irmãos Jacobitas…
Com o que pareceu um esforço gigantesco, Robert se
esforçou até ficar sentado, a corrente estava presa ao seu
tornozelo esquerdo fazendo ruídos contra o implacável chão
de granito e seu ombro gritou em protesto. Quando a tontura
e outra onda de náusea o atingiu, ele esticou o seu braço
direito para se equilibrar e bateu no ombro. Vidros
quebraram. Apesar de seu humor sombrio, sua boca se
curvou em uma paródia de sorriso. Talvez ele pudesse se
embebedar até a morte antes que os soldados chegassem. Ele
pegou uma garrafa, puxou a rolha e bebeu um gole.
Ah uísque, seu favorito.
Estava na metade da garrafa quando ouviu o ruído
metálico de uma chave girando na fechadura da porta da
adega. Ele olhou para cima, estreitando os olhos contra a
repentina chama de uma tocha. No vão da porta, no topo das
escadas, emergiu a figura de um homem grande.
— Oh, bem, é muito fácil ver que você é definitivamente
filho do seu pai, se não se importa que eu diga isso, milorde.
MacTaggart. Robert conheceria aquela voz em qualquer
lugar. Um dos homens de maior confiança de seu pai e um
membro da Guarda Negra, Robert o conhecia a vida inteira.
Na realidade, MacTaggart lhe ensinara a brandir a sua
primeira espada e atirar com o seu primeiro mosquete.
Exceto que isso não servia para nada agora…
Suas entranhas tencionaram com desconfiança
enquanto Robert observava o Highlander corpulento descer as
escadas de pedra. Ao menos, ele estava sozinho. Nenhum
dragão Casaca Vermelha ou outro membro da Guarda Negra
apareceu para espreitar nas sombras do vão da porta ainda
aberta. Robert considerou este um leve sinal de
encorajamento de que não seria levado. Ainda.
Ele ergueu a garrafa de uísque em um brinde falso para
o seu antigo treinador.
— Gostaria de se unir a mim em uma pequena tragédia,
pelos velhos tempos?
MacTaggart sorriu torto.
— Não se preocupe se eu fizer. Apenas um gole, já que
preciso de uma mão firme para arrumar o seu ombro. — Ele
colocou a tocha sobre um barril de vinho próximo junto com
uma bolsa de couro. Depois de vasculhar em um dos bolsos
por um momento, ele se virou para Robert e sorriu. Em sua
mão havia uma agulha de aspecto perverso, longa e curva. —
A Sra. MacMillan emprestou-me o seu melhor gancho de
assar carne. Ela disse que isso costurará o seu ombro e o
deixará como novo.
Robert deu de ombros e ofereceu a garrafa de uísque a
MacTaggart.
— Não há sentido em estragar a agulha da Sra.
MacMillan por este arranhão. Minha cabeça se ajustará bem
na mesa do carrasco, com ombros bons ou não.
A sobrancelha volumosa de MacTaggart se moveu em um
franzido profundo. Agachando-se, ele apertou o ombro bom de
Robert com uma de suas mãos grandes e cheias de calos e o
olhou diretamente nos olhos.
— Não teremos este tipo de conversa agora, milorde.
Aqueles malditos Casacas Vermelhas não o pegarão. O seu
pai me instruiu a tirá-lo daqui o mais rápido que possa até o
amanhecer. E o seu jovem escudeiro, Tobias, se ofereceu para
acompanhá-lo. Se eu conseguir costurá-lo e tirá-lo daqui
durante a próxima hora, vocês dois poderão cavalgar até a
costa. Haverá uma embarcação de pesca e vocês poderão
embarcar nela, logo depois de Nairn. Lorde Strathburn diz
que o que fizer depois disso dependerá apenas de você. Mas
haverá dinheiro e papéis com uma nova identidade naquela
sacola ali. Como Robert Burnley soa como um novo nome?
Robert ficou grato pela luz incerta da tocha quando
lágrimas repentinamente encheram os seus olhos. Apesar de
tudo o que ele fizera, o seu pai não tinha o abandonado
completamente. Era mais do que ele merecia.
Ele deu outro gole no uísque antes de rasgar o seu plaid
e a sua camisa ensanguentada e expor o longo talho de
baioneta em suas costas.
— Eu prefiro o ponto em espinha de peixes, se não se
importar, MacTaggart.
Um
Dez anos depois; agosto de 1756
Kingston, Jamaica

— Tem certeza de que não é um Jacobita, Sr. Burnley?


Ouvi dizer que há alguns escondidos pelo Caribe.
Abafando uma maldição, Robert forçou-se a dar o seu
mais encantador sorriso torto para a bem-dotada e
consideravelmente inebriada Condessa Viúva de Ogilvy, ou
Eliza, já que ela, em meia voz, repetidamente insistia em ser
chamada assim. Ele moveu ligeiramente o seu antebraço,
assim a nobre escocesa se abstivesse de apoiar o seu amplo
seio sobre ele todas as vezes que se inclinava para falar.
Embora ele fosse um convidado do jantar do Governador
da Jamaica, George Haldane, em muitas ocasiões nos últimos
meses, não tivera a infelicidade de sentar-se ao lado de uma
convidada tão tentadora. Normalmente ignorava as atenções
das mulheres ricas da alta sociedade, preferindo contratar
uma amante sempre que sentisse necessidade de companhia
feminina. Como o Caribe nunca seria um lar para ele, não
desejava ter uma esposa ou se comprometer com uma
aristocrata carente como a condessa viúva. Preferia
relacionamentos mais simples e descomplicados.
Mantendo a expressão cuidadosamente neutra, uma
habilidade que aperfeiçoara durante o seu tempo de espião e
mercenário para o Exército Francês, ele respondeu em uma
perfeita imitação do sotaque de um nobre inglês:
— Que romântico seria jantar com um Jacobita, Lady
Ogilvy, mas receio ser tão escocês quanto o Pau Manchado1
com creme que tivemos como sobremesa.
Lady Ogilvy riu. Pelo canto dos olhos, Robert percebeu
que o Governador Haldane voltou a atenção para a direção
deles. Ele sabia que o governador servira como general da
brigada do exército do Rei George e esteve presente em
Culloden. Mesmo passando dez anos da rebelião, os jacobitas
definitivamente não eram os preferidos dele.
Ignorando a espiral de tensão em suas entranhas, Robert
calmamente encontrou o olhar de interesse do homem e
ergueu o copo em um brinde silencioso, observando a reação
de Haldane. Embora Robert residisse na colônia britânica por
quase cinco anos e fosse confiante de que a sua boa-fé se
sustentaria mesmo sob o mais cuidadoso escrutínio, era de
seu instinto natural ser cauteloso.
Felizmente, Haldane apenas sorriu de volta, depois
piscou. Maldito homem. Ele obviamente conhecia a provação
que a mulher Ogilvy poderia ser e estava apenas se divertindo
com o comportamento dela.
A condessa repentinamente apertou a coxa de Robert sob
a mesa em uma tentativa de atrair a atenção dele.
— Oh, você é perverso, Sr. Burnley. — Ela sorriu
afetadamente. — É uma pena que não seja escocês. Eu pensei
que poderia apreciá-lo em um kilt. Embora, agora que o Rei
os baniu, é possível que eu nunca mais veja um bom par de
pernas masculinas nuas.
Do outro lado da mesa, o bom amigo de Robert, o
Capitão Kenneth Drummond, começou a rir por trás do copo
de clarete.
— Eu acho que sou confundido com frequência com um
escocês por causa das companhias duvidosas que eu tenho.
— Robert disse com um sorriso deliberadamente devasso. —
Veja o capitão do meu navio mercante, A Fênix. — Ele
gesticulou em direção a seu amigo. — Ele é um Highlander
malandro, se já viu um, não acha?
A condessa virou o seu olhar levemente vesgo para
Drummond, que tinha peito de barril, rosto avermelhado e a
barba bagunçada. Robert sempre pensava que seu amigo era
notavelmente parecido com um boi das Highlands.
— Hummm. — Ela murmurou, claramente interessada,
antes de voltar a sua atenção a Robert. — Mas você, meu
querido Sr. Burnley, definitivamente é mais bonito. — Ela o
analisou pensativamente por um momento. — Na verdade, eu
sei a quem você me recorda, e que diabo de escocês bonito ele
era em seus dias, William Grant, o Conde de Strathburn.
Inferno maldito! Mais uma vez Robert se esforçou para
manter o seu rosto livre de qualquer tipo de reação. Que
maldito azar ele tinha, sentar-se próximo a alguém que
conhecia o seu pai! Ele realmente não podia esperar mais
para o governador anunciar que era hora de as damas
partirem, assim os cavalheiros poderiam apreciar dos cigarros
e do Porto. Felizmente desta vez, Haldane estava submerso
em uma conversa e não percebera o último pronunciamento
inoportuno da condessa. Porém ele notou que Drummond
escutara.
— Strathburn… Não estou familiarizado com esta
linhagem em particular. — Robert falou em voz baixa
enquanto direcionava o olhar para o decote da mulher na
tentativa em distraí-la.
Lady Ogilvy sorriu torto. Inclinando-se para frente a
ponto de seu nariz ficar a milímetros do dele, ela olhou
diretamente em seus olhos.
— Você tem os olhos de Lorde Strathburn, eu acho... um
tom inesquecível de azul-escuro.
Suspirando, ela se recostou e bebeu um gole
considerável de seu copo de vinho.
— Uma vez fui apaixonada por William, sabe. Mas então
ele se casou com aquela mulher horrorosa, Caroline
Hamilton. E tudo o que ele teve que suportar…é uma
tragédia. O seu filho mais velho aparentemente sumiu em
Culloden e agora, o devasso de seu filho mais novo está se
autoproclamando o único herdeiro. É um rival para você.
Simon, acho que é o nome dele. Quando estive em Edimburgo
da última vez há alguns meses, ouvi que ele estava apostando
metade da fortuna da família...
Simultaneamente, a esposa do governador se levantou e
anunciou que as damas poderiam se retirar. Robert praguejou
em voz baixa. Embora ele estivesse grato por se livrar da
companhia enjoativa da viúva, ela foi interrompida quando
estava prestes a lhe dizer algo realmente significante.
Enquanto ele e Drummond se levantavam junto com os
outros cavalheiros, ele trocou um olhar eloquente com o seu
amigo. Eles precisavam conversar.
Tão logo pareceu educado, eles se separarem do resto do
grupo, armaram-se com cigarros e copos de Porto e se
retiraram à larga sacada com vista para o Kingston Harbour.
— Você sabe, é sua culpa ser encurralado por aquela
mulher, sendo tão diabolicamente bonito. — Drummond
gargalhou enquanto olhava o seu amigo de cima a baixo.
Robert ignorou a gozação e deu de ombros. Ele estava
acostumado às zombarias de seu amigo sobre a atenção que
recebia das mulheres. Esta noite adotara o seu disfarce
habitual: um típico inglês. Ele vestia calças justas de cetim
preto e um, elegantemente costurado, casaco de veludo azul
meia-noite com uma abundância de babados de seda branca
nos pulsos e no pescoço. Entretanto, recusara-se a usar uma
peruca com pó. Ele realmente não poderia usá-las na maioria
das vezes e, certamente, não naquele clima tropical. No lugar
delas, usava o seu cabelo escuro arrumado na nuca, preso
por uma fita de veludo preta.
Mas não se vestia com trajes caros de cavalheiros e
assumia a sua versão urbana para atrair o sexo oposto. Era a
forma mais simples de se misturar com os altos escalões da
sociedade jamaicana. Entretanto, se a ocasião exigisse, ele
não era avesso a usar os seus encantos. E nesta noite,
aparentemente fazer isso o ajudara a chegar a uma
inesperada informação sobre a sua própria família por parte
de Lady Ogilvy.
— Então, quão confiável você acha que é a informação
daquela mulher? — Robert perguntou em voz baixa. Mesmo
após todos estes anos, a vontade de ir a casa e a necessidade
de descobrir como o seu pai e seu clã se saíram eram tão
inexoráveis quanto o brilho da lua sobre o mar diante dele.
Estava em seu sangue. Ele podia ser conhecido pelo nome de
Burnley, mas ele era um Grant até os ossos.
Drummond franziu a testa.
— É difícil afirmar. Embora possa haver um grão de
verdade nisso. Aquela última carta da prima de seu escudeiro
insinuava que havia problemas em Lochrose. Talvez seja hora
de retornar e descobrir você mesmo, meu amigo.
Robert deu um gole em seu Porto, considerando o que
Drummond sugeria. Casa. Tantas vezes ele esteve tentado a
retornar, implorar perdão ao seu pai. Reparar as coisas. Mas
tinha sido mais fácil ignorar o desejo mais profundo enquanto
pensava que o clã estava melhor sem ele.
Porém, aparentemente não estava. Simon sempre fora
preguiçoso e indulgente. E cruel. Quanto a sua madrasta,
mesmo quando jovem, Robert era ciente de sua ganância e
natureza esbanjadora. Isto fora fonte de conflito constante
entre Caroline e seu pai por muitos anos.
Agora o dever chamava Robert tão certo quanto uma
cruz ardente2. Ele era proprietário de plantações e um
comerciante de sucesso. E o seu pai e clã precisavam dele.
Apesar dos riscos, quase certo uma nova rejeição de seu pai e
o perigo em ser preso, tinha que tentar.
Ele suspirou e deslizou uma mão pelo rosto.
— Você está certo, Drummond. Parece que chegou a
hora de navegar para casa. — Sua boca repentinamente se
curvou em um sorriso irônico. — O maldito inconveniente é
que, provavelmente, eu ainda tenha a minha cabeça a prêmio.
Drummond deu um tapa em seu ombro.
— Oh, já enfrentou coisa pior. Pegue Lady Ogilvy como
exemplo. Não há nada mais assustador do que isso.

***

Outubro de 1756
Castelo Lochrose, Strathspey, Escócia

Jessie Munroe controlava a exausta égua, Blaeberry, no


alto de uma ribanceira que tinha vista ao que seria o seu novo
local de residência: o Castelo Lochrose. Ela ainda hesitava em
chamá-lo de lar, isso dependeria do novo chefe de seu pai, o
Conde de Strathburn e sua família, e se ele faria ela e seu pai
se sentirem bem-vindos.
O lago diante do castelo refletia as últimas luzes da
tarde, as águas cinza prateadas brilharam enquanto uma leve
brisa desmanchava a superfície. O tom recordava a Jessie o
brasão de estanho que um dia agraciou o Grande Salão de
Dunraven, sua antiga casa. Era mais uma das relíquias de
valor inestimável que era herança do clã, os Munroes de
Dunraven, que eles foram forçados a dar ao banco quando
estes reivindicaram a mansão jacobita, na verdade, toda a
propriedade do imponente Laird de Dunraven, o seu tio.
Jessie tirou uma mecha de seu cabelo ruivo
incessantemente rebelde dos olhos e olhou para o seu pai.
Alasdair Munroe, o irmão mais novo do antigo Laird de
Dunraven, era agora o novo administrador da propriedade
Strathburn. O orgulho de seu pai sofrera um golpe duro com
esta queda de sua fortuna no último ano. Isso a entristecia
bastante, vê-lo descer tanto, não apenas em espírito, mas
fisicamente. Ele não apenas estava dobrado sobre a sela como
se tivesse todo o peso do mundo em seus ombros, como
também, o seu rosto tinha linhas mais profundas e seus
cabelos ruivos começavam a mostrar sinais de cinza. Ela
rezou silenciosamente para a nova situação deles pudesse
restaurar um pouco da sua antiga vitalidade e devolver o
brilho aos seus olhos castanhos.
Como se sentisse o olhar dela, seu pai se virou e sua
boca se retorceu em um espectro de sorriso.
— Bem, moça Jessie , o que acha de Lochrose?
Jessie dirigiu o seu olhar novamente para o vasto castelo
cheio de torres de pedra caiada. Suas janelas gradeadas
piscavam para ela na luz fraca como se considerasse a
pergunta dele. Lochrose era impressionante, muito maior do
que as ruínas de Dunraven. Sem dúvidas, era uma
propriedade muito maior e seu pai ficaria mais ocupado do
que havia sido com o seu tio. Não pela primeira vez, as
dúvidas sobre o seu futuro ocuparam a sua mente. O que ela
faria com seus dias quando terminasse de ajudar o pai com
os livros de contabilidade? Como era seria recebida pelo
conde, sua condessa e pelos outros membros da criadagem de
Lochrose? A frustração de longa data, mesmo em Dunraven,
de que ela era uma pessoa de fora, uma pessoa presa no
patamar sombrio entre a nobreza mais baixa e superior aos
criados, inflamava dentro dela. Porém, não sobrecarregaria o
pai com as suas próprias inquietações. Em vez disso, ela
invocou o que esperava ser um sorriso brilhante e respondeu
a sua aparente pergunta simples.
— É linda, papai. Muito grande.
— Sim, realmente é, Jessie. Apenas espero que desta vez,
eu não falhe em meus deveres em administrar uma
propriedade tão grande.
Jessie esticou a mão e apertou a mão enluvada de seu
pai.
— Nós ficaremos bem, papai. Eu sei disso. Apenas espere
e veja.
Alasdair assentiu e suspirou.
— Será uma vida diferente, Jessie. Não aquela que
desejei para você. — Ele deu um tapinha na mão dela e fixou
o olhar no seu com uma expressão melancólica.
— Se Duncan Ross a tivesse pedido em casamento. Você
estaria em um compromisso feliz com um ótimo futuro e
pequeninos ao seu redor.
Talvez. Jessie sabia que se casaria um dia, mas seria
com alguém que realmente gostasse dela, não apenas se
contentasse com o seu dote. E este evidentemente não era
Duncan Ross. Tão logo a fortuna dos Munroes começou a
diminuir, o mesmo aconteceu com a atenção dos jovens
rapazes. Bem no fundo, a rejeição de Duncan ainda a fazia
sofrer um pouco, mas ela certamente não demonstraria isso.
Jessie tirou os cachos bagunçados pelo vento de seus
olhos novamente.
— Seria difícil, papai. Você sabe tanto quanto eu que
Duncan Ross era, desculpe a minha expressão grosseira, cara
de bunda.
A gargalhada de seu pai foi uma recompensa aos seus
ouvidos, Jessie não conseguiu evitar sorrir de volta.
— Tenho apenas dezenove anos, papai. Por favor, não se
preocupe se eu farei ou não um bom casamento. Vamos
apenas focar em impressionar o Lorde e a Lady Strathburn,
assim como o filho deles.
— O filho não é casado, sabia? — O seu pai respondeu
com um brilho conspiratório em seus olhos. — Eu chequei.
Jessie rolou os olhos enquanto mexia nas rédeas de
Blaeberry.
— Bem, então vamos apenas esperar que ele não seja
uma cara de bunda também.

***

Três semanas depois …

Jessie fechou os olhos e praguejou internamente ao se


encontrar em uma repentina e extrema posição vulnerável de
muitas maneiras diferentes. No presente momento, ela estava
empoleirada em uma escada, pegando um volume empoeirado
e antigo no topo de uma prateleira de uma das muitas
estantes da biblioteca de Lochrose. O postulante ao título de
Senhor de Strathburn, filho do chefe de seu pai e morador do
castelo, tinha sua mão em seu tornozelo.
— Você tem certeza de que consegue alcançá-lo, Srta.
Munroe? Aqui, deixe-me sustentá-la. — A voz de Simon Grant
ecoou com uma falsa preocupação enquanto a mão
continuava a sua jornada por cima de sua saia de lã marrom
até a panturrilha coberta por meia.
Quando Jessie pegou a cópia pesada de Ilíada de
Homero, ela sentiu uma súbita e avassaladora vontade de
jogar o épico na cabeça dele. Porém, devido ao fato de que o
próprio Lorde Strathburn tivesse pedido o volume, ela refreou
o impulso. Ela tinha certeza de que não cairia bem ao conde
se deixasse o seu filho inconsciente.
— Estou bem firme, Sir. Mas talvez você pudesse segurar
o livro para mim. — Jessie passou o livro grosso, assim Simon
foi forçado a segurá-lo com as duas mãos. Ela então
rapidamente desceu da cadeira e se afastou dele. Não daria a
oportunidade para que ele encurralasse o seu corpo contra a
estante. Embora estivesse vivendo em Lochrose havia
algumas poucas semanas, já descobrira a maior parte dos
métodos insidiosos de Simon para obter uma proximidade
íntima e indesejável com ela.
— É sempre um prazer ajudá-la, Srta. Munroe. — Simon
falou com seu tom aveludado. Ele cruzou o ricamente tecido
tapete turco até uma mesa de mogno e fingiu estudar as
páginas do livro. — Uma escolha interessante de leitura para
uma jovem como você, se não se importa que eu diga. —
Levantando o rosto, ele deslizou o olhar sobre o corpo dela
com uma lentidão proposital e Jessie foi incapaz de suprimir
um arrepio. Desprazer e nojo se misturaram dentro dela e
formavam nós. Alguns poderiam considerar os olhos verdes e
fisionomia fidalga bonita, mas não Jessie. Ela rapidamente
descobriu que não havia nada atraente neste homem. O ar
refinado que ele forçava – desde o topo da peruca
perfeitamente polvilhada com talco até as pontas de seus
sapatos de saltos altos, prateados e com fivelas prateadas –
era tudo uma fachada.
O Honorável Simon Grant não era um cavalheiro.
— O seu pai me pediu para localizar o livro. — Ela disse
tão docemente quanto conseguiu enquanto passava pelo
escrutínio contínuo do odioso homem. Seu pai lhe implorava
para controlar a língua afiada perto do conde e da família
dele. O que era mais fácil dizer do que fazer quando ela estava
com o Sr. Grant. — Como a sua mãe está ocupada com a
costureira esta tarde, ela me pediu para passar algum tempo
lendo para sua senhoria durante o chá.
— Entendo. — Prolongou Simon, virando a sua atenção
novamente para o livro.
Maravilha. Agora ele leria o maldito livro. Embaixo da
bainha de suas saias, Jessie começou a bater o pé.
Poucos dias após a chegada deles e do início de seu pai
como administrador, a imperiosa Lady Strathburn informou a
Jessie que, como o pai dela já tinha um assistente, ela,
obviamente, não teria nada melhor para fazer em seu tempo,
deveria se tornar útil, sendo a dama de companhia de Lady
Strathburn. Jessie recordava como os olhos verdes e
brilhantes da condessa haviam a avaliado com uma mistura
peculiar de especulação e desdém como se pronunciasse que,
certamente, Jessie não pensara ficar em Lochrose ao menos
que trabalhasse para isso. E claro Jessie não pôde fazer nada
além do que concordar.
O seu pai concordara imediatamente com o arranjo. Ele
ficou claramente feliz que Lady Strathburn desenvolvera um
aparente interesse nela, pois isso queria dizer que ela
passaria um tempo considerável dentro do castelo em vez de
se esconder na residência destinada ao administrador, Gate-
House.
E aí estava o problema. Jessie suspeitava fortemente que
seu pai ainda nutria a esperança irreal de que Simon Grant
poderia ter algum interesse romântico nela e que, talvez, em
breve ela poderia fazer um bom casamento. Mas Jessie sabia
que isso não aconteceria, por duas razões. Primeiro, ela não
tinha nada que a recomendasse. Uma moça sem dinheiro e
sem título não era material para casar-se com o filho do
Conde de Strathburn. Segundo, mas não menos importante,
ela não gostava do homem.
Jessie ainda não havia contado a seu pai que o interesse
de Simon nela era nem um pouco aparente ou bem-
intencionado. Ele tivera tensão demais no último ano e se
preocupar com o seu bem-estar era a última coisa que ele
precisava.
Mas o encontro de hoje com Simon havia sido o mais
evasivo. Por baixo de sua irritação. Jessie notou que estava
um pouco amedrontada. Naquele exato momento, o medo
formigou ao longo de sua pele e seu coração estava batendo
desconfortavelmente contra as suas costelas. Seus instintos
lhe diziam para ela manter as suas costas na mesa, fora do
alcance imediato de Grant. Ela realmente não podia esperar
para sair da biblioteca.
— Hummm, A Ilíada, creio que o melhor exemplo de
poema épico. Entretanto, noto que esta cópia está em grego
antigo. Está planejando traduzi-lo para o meu pai, Srta.
Munroe? — Os olhos cinza de Simon a varreu novamente um
sorriso questionador curvou os seus lábios.
É claro que estou. Nós guardávamos dezenas de textos
indecifráveis em línguas antigas na biblioteca de Dunraven.
Jessie mordeu a língua para impedir-se de responder. Seja
educada, Jessie. Você não quer provocá-lo.
— Temo que os meus conhecimentos linguísticos não se
estendam a esta língua. — Ela finalmente admitiu através dos
lábios apertados. — Não estava ciente que estava escrito em
grego…
O olhar frio e calculado de Simon recaiu sobre a sua
boca.
— Eu sou talentoso com a língua, Srta. Munroe. Eu
ficaria encantado em melhorar os seus talentos nesta área, se
quiser.
Quando o inferno congelar. Jessie se obrigou a ignorar o
duplo sentido na fala de Simon, mas para o seu desgosto,
suas bochechas coraram de indignação e vergonha.
— Tenho certeza de que não será necessário, sir. — Ela
respondeu, espantada com a firmeza em sua voz. — Mas
talvez você saiba de outra cópia. Uma versão em inglês? — Se
ela o encorajasse a procurar nas prateleiras, talvez ele se
distraísse o suficiente para ela fazer uma retirada rápida para
a sala de estar, onde Lorde Strathburn aguardava.
Simon fechou o livro e deu a volta pela mesma até se
aproximar de Jessie. Definitivamente ele estava muito
próximo dela para o seu gosto. Ele apoiou o quadril na mesa e
bateu com o dedo em seu lábio inferior.
— Talvez eu tenha uma cópia. Em minha coleção
privada. Você poderia me acompanhar lá em cima, ao meu
quarto, para me ajudar a procurar?
O estômago de Jessie se revirou em repulsa. Preparando-
se para ficar impassível diante de uma sugestão tão
inapropriada, na verdade, sinistra, estava provando muito
difícil. De qualquer modo, ela ergueu seu queixo e falou:
— Infelizmente, temo que eu tenha levado muito tempo e
Lorde Strathburn está me esperando. — O olhar dela se
dirigiu a mesa e ela ponderou se arriscar a pegar a versão
grega de A Ilíada ou se ia embora.
A boca de Simon se curvou em um sorriso perceptivo e
levou propositadamente uma mão à capa empoeirada do livro.
Ele sabia que ela não voltaria até o seu pai com as mãos
vazias.
Maldito seja por esta brincadeira de gato e rato que ele
jogava. Ele a desafiava a se aproximar e pegar o livro.
Jessie mudou de direção.
— Talvez seja melhor eu pegar o outro livro que o Lorde
Strathburn pediu. Se me der licença, sir. — Ela fez uma
reverência rápida antes de caminhar até a prateleira mais
próxima e pegar um livro aleatoriamente. MacBeth de
Shakespeare. Teria que servir.
Ela estava prestes a se virar e ir diretamente à porta
quando sentiu Simon atrás dela. Estúpida, estúpida. Que
insensatez a dela em não manter os olhos nele. Um arredio
gelado de preocupação a atravessou, gelando-a até os ossos.
Simon se inclinou sobre o ombro dela.
— Macbeth. Outro conto de grande paixão e violência. —
Ele estava tão próximo que Jessie podia sentir o hálito dele na
sua nuca exposta. O odor acre do clarete que ele tomara no
almoço ainda perdurava e a náusea a agitou. Ela odiava se
sentir tão exposta: imóvel, como uma corça em uma
armadilha, com medo de se mover e respirar. Onde estava a
sua raiva agora que precisava dela?
Uma mecha de seu cabelo escapara de um alfinete e
caíra sobre o queixo dela. Naquela posição tão próxima,
Simon obviamente percebeu isso. Ele esticou a sua mão e a
colocou atrás de sua orelha, seus dedos longos depois
trilharam por seu pescoço antes de agarrar o seu pescoço.
— Nas palavras de Macbeth: não deixe a luz ver meus
desejos sombrios e escuros. — Ele sussurrou em seus
ouvidos.
O arrepio de Jessie foi involuntário. Presa contra a
estante, ela não ousava se virar.
— Está com frio, Srta. Munroe?
A pergunta de Simon a levou a uma súbita ideia para
escapar.
— Estou com um pouquinho de frio, sir. Espero não
pegar um resfriado. — Ela respondeu e fungou alto.
Para alívio de Jessie, sua manobra funcionou. Simon
imediatamente se afastou alguns passos, deixando espaço
para que ela se virasse sem tocar nele. Lady Strathburn a
alertara em mais de uma ocasião de que Simon possuía uma
constituição delicada. Jessie presumiu acertadamente que
Simon estaria muito determinado em não contrair qualquer
doença. Com MacBeth em mãos, ela saiu apressada da
biblioteca.
Quando agarrou o puxador da porta, ela se virou para
certificar-se que Simon não a seguia. Felizmente, ele se
retirara para uma das janelas abertas, sua atenção voltada,
aparentemente, para o Lago Kilburn.
Não demore, Jessie. Vá. Ela silenciosamente abriu a
porta. Mas esta fez ruído.
Maldição.
Simon a olhou por cima do ombro, seus olhos cinzas
tinham um brilho distinto e predatório. Um olhar de lobo.
Todo o corpo de Jessie instintivamente se encolheu e ela
tropeçou no vão da porta.
— Bom dia, Jessie. — Ela o ouviu murmurar enquanto
fechava a porta. Ela não se incomodou em responder. Com
um livro não solicitado em mãos e com o coração na boca,
tudo o que ela conseguiu fazer foi correr para a sala de estar.

***
Quando Simon ouviu a porta fechar-se, ele sentou-se
perto da janela e abriu as cortinas, sua ereção pressionando
dolorosamente suas calças. As criadas não acenderiam a
lareira e as velas por, pelo menos, uma ou duas horas, então
ele poderia ficar sem ser incomodado.
Ele pensou que mataria a sua luxúria na jovem ruiva
que encontrou nos campos, na estrada rural e solitária perto
de Netly Bridge ontem à tarde, que diminuiria seu desejo por
Jessie, mas só fizera a dor em sua virilha ficar pior,
especialmente ao recordar como a moça lutou até que ele a
desacordou. Ele gostava quando elas resistiam. Não duvidava
que a toda importante Jessie Munroe tentaria resistir a ele
também.
A pulsação em sua virilha agora era mais urgente.
Rapidamente desabotoou a parte da frente de sua calça de
veludo preta e fechou os olhos. Quando a umidade de sua
liberação se espalhou em seu lenço de seda, ele deu de
ombros e sorriu com uma mistura de satisfação e expectativa.
Afortunadamente, o pai de Jessie partiria amanhã para
coletar os aluguéis e inspecionar toda a propriedade de
Strathburn antes da chegada do inverno. Finalmente a sua
linda Jezebel estaria sozinha. Ele conseguiria fazer tudo o que
desejava.

***

No retorno de Jessie à sala de estar ela encontrou Lorde


Strathburn caído no sono em sua cadeira favorita em frente à
lareira. Ao seu lado, deitado no tapete, seu devotado cão de
caça, Caesar. Nenhum dos dois percebeu a entrada dela.
Obviamente, ela se demorara demais na biblioteca, só
esperava que o conde não ficasse muito zangado com ela
quando acordasse.
Uma xícara pela metade estava em uma pequena mesa
de cerejeira ao lado dele. O pensamento em tomar uma xícara
para acalmar os seus nervos era realmente tentador, suas
mãos tremiam e seu estômago ainda se revirava, mas o risco
de ser pega tomando tal liberdade pela duquesa a fez pensar
melhor. Ela realmente não queria comprometer a posição de
seu pai ali.
Com um suspiro incerto, ela sentou-se no assento da
janela, descartando Macbeth na almofada de brocado perto
dela. Do lado de fora, a superfície espelhada do Lago Kilburn
refletia a impetuosa e arborizada ribanceira e o céu azul-
celeste. Era o dia perfeito de outono perfeito para cavalgar.
Mas não para ela. Não mais. Foram-se os dias em que
ela poderia selar Blaeberry quando quisesse para cavalgar e
explorar os campos. O desejo repentino de ser tão livre quanto
a águia que ela via mergulhando sobre o lago foi tão agudo
que lágrimas nublaram a sua visão. Talvez amanhã cedo,
antes que Lady Strathburn a chamasse. Ela pudesse escapar
furtivamente. Era também o dia em que o seu pai partiria. O
pensamento pairava como nuvens negras em sua mente.
A ideia de passar um dia inteiro sozinha em Lochrose
sem a proteção de seu pai, ainda mais uma quinzena, a fez
estremecer interiormente, especialmente após a conduta
lasciva de Simon na biblioteca agora a pouco. E para piorar,
apesar de seus protestos, seu pai arranjara para ela ficar no
castelo durante a sua ausência. Seria quase impossível evitar
Simon. O terror serpenteou a sua espinha diante do
pensamento dos próximos dias. E noites. Ela não sabia se
seria capaz de tolerar as atenções não requeridas do homem
por mais tempo.
Mas ela devia suportar, para o bem de seu pai. Ela não
tivera coração para lhe contar sobre os avanços de Simon,
exatamente quando o ânimo dele parecia ter melhorado.
Nesta mesma manhã, durante o desjejum, ela contara com
um sorriso enorme que o conde era um empregador muito
inteligente e justo. Jessie sabia que se ela contasse ao pai o
que estava acontecendo, ele ficaria furioso com o filho do
conde e iria querer partir imediatamente. E depois, o que eles
fariam?
Posições como estas eram poucas e distantes, e a miséria
não era uma perspectiva convidativa. Com um suspiro
pesado, Jessie secou as lágrimas inúteis e firmou uma
resolução. Independentemente de como a vida era
desagradável em Lochrose, ela apenas engoliria as frustrações
e de alguma forma, seguiria em frente.
Olhando para o Lorde Strathburn, ela percebeu que ele
ainda roncava baixinho. A cabeça descansava na lateral de
sua poltrona de couro e um cobertor de lã cobria os joelhos.
Apesar de suas preocupações, ela sorriu docemente. Ele era
um homem encantador, nem um pouco parecido com o filho,
e era apenas um pouco mais velho que o seu pai. Mas ele
parecia pelo menos uns vinte anos mais velhos em muitas
formas.
A cozinheira do castelo, a Sra. MacMillan, havia contado
a triste história do declínio do conde durante o chá com
bolinhos na cozinha na primeira manhã de Jessie em
Lochrose.
— O bom homem nunca se recuperou depois que o filho
mais velho, Robert, partiu com o Jovem Aspirante em
Culloden. O seu coração quebrou-se quando o jovem senhor
escolheu partir. Lorde Strathburn ameaçou deserdá-lo, você
entende? Ele realmente não tinha outra escolha. A
propriedade inteira poderia muito bem ter sido tomada pela
Coroa se Sua Senhoria não declarasse de que lado da cerca
ele estava. Agora, o Sr. Grant provavelmente terá tudo quando
o conde morrer, o que eu tenho certeza, agrada Sua Senhora.
— Ela piscou para Jessie de forma conspiratória. — Você não
ouviu isso de mim, moça.
— Peço desculpas se esta pergunta for indelicada, Sra.
MacMillan, mas… a família sabe o que aconteceu com Lorde
Lochrose em Culloden? — Jessie perguntou, curiosa sobre o
destino do jovem nobre. — Ouvi dizer que foi uma batalha
terrível.
A Sra. MacMillan bateu em seu braço com uma mão
enfarinhada.
— Oh, tudo bem perguntar, moça. Não é comum falar
sobre isso aqui, dado o que se passou entre Robert e o pai foi
uma tragédia, a forma como eles brigaram. O rumor é que o
esperto pequeno diabo conseguiu escapar e sair da Escócia,
mas onde ele foi ou como está depois de todo este tempo,
ninguém sabe. Tenho certeza de que Sua Senhoria ficaria
muito feliz em ter Robert mais uma vez em casa. Porém, a
menos que os Sassenachs tirem o preço por sua cabeça, ele
não poderá pôr os pés em solo escocês novamente. Melhor
viver exilado do que terminar encontrando o mesmo destino
do pobre Fraser de Lovat.
Jessie teve que concordar. Embora tivesse apenas nove
anos naquele tempo, ela ainda recordava o quão chocada o
seu pai ficara quando Fraser de Lovat, o chefe de um dos clãs
vizinhos, havia sido decapitado na Torre de Londres em 1747
por sua participação na Rebelião. Os ingleses não perdoavam
ou esqueciam facilmente os traidores escoceses. Atualmente,
ela ouvira falar em casos raros de perdão, o jovem MacDonald
de Clanranald era um desses casos. Mas, em geral, estes atos
de clemência eram poucos e escassos.
— Mas graças aos céus pelas pequenas misericórdias. —
A Sra. MacMillan dirigiu um sorriso caloroso a Jessie. —
Agradeço a Deus por seu pai ter vindo. Já era hora de Lorde
Strathburn passar o cargo para um administrador, antes que
Lady Strathburn e o Sr. Grant desperdiçarem toda a fortuna
da família, embora você nunca tenha me ouvido dizer isso.
Isso não costumava ser assim, entende?
A Sra. MacMillan, obviamente era uma oradora afiada,
serviu as xícaras delas antes de continuar a relembrar.
— Parece que foi ontem que Robert, o jovem senhor,
esteve aqui. Um bom homem em formação, era o que ele era.
Ele parecia com Sua Senhoria, em aparência e temperamento.
Encantador e bem-humorado. Justo com os criados e
locatários. Um líder natural. Todos pensavam bem dele. — Os
olhos castanhos dela piscaram. — Um homem bom de se
olhar, ele era. Oh, todas as moças viravam as suas cabeças
para o Lorde de Lochrose. Ele até mesmo fazia um pedaço
velho de carne de carneiro como eu corar ao olhar em minha
direção. Ele teria sido um devasso. Se tivesse ficado, por
agora estaria casado, com alguns pequeninos aos seus pés.
Ela então apertou a mão de Jessie e olhou dentro de
seus olhos, repentinamente séria.
— Agora o Sr. Grant, ele é de um material diferente. Você
deve ter muito cuidado perto dele. Se ele gosta da aparência
de uma jovem bonita como você... Bem, vamos dizer, as
outras mulheres da criadagem o apelidaram de ‘Mestre das
Mãos Errantes’, se entende o que quero dizer. Apesar de que
você tem o seu pai aqui, assim ele não vai achar inteligente
tentar algo com você.
Se fosse só isso.
O som da lenha caindo na lareira tirou Jessie de seu
devaneio. Um retrato antigo do conde estava pendurado sobre
a lareira da sala de estar. Cansada de ficar sentada sem fazer
nada, Jessie cruzou a sala para estudá-lo. Ela encontrou
dificuldade em conciliar o homem fraco e quebrado que
dormia atrás dela com o chefe do clã corajoso e confiante
daquela pintura. A versão jovem do Lorde Strathburn havia
sido muito bonita, ela decidiu. Mesmo com o semblante do
conde profundamente marcado por linhas profundas de
idade, uma coisa sobre ele não mudara: os profundos olhos
azuis que a encaravam tinha um brilho familiar em suas
profundezas.
Havia pouca semelhança entre ele e Simon, este
favorecia a mãe em aparência, ela pensou. Logo se perguntou
como Robert Grant, Visconde de Lochrose, o real Senhor de
Strathburn, parecia e se realmente era tão atraente quanto a
Sra. MacMillan parecia achar.
Jessie se virou para olhar para o conde novamente. Ele
se mexera um pouco no sono e o cobertor escorregara um
pouco por seus joelhos. Quando ela se abaixou para arrumá-
lo, percebeu que algo caíra no chão, ao lado da bengala
descartada. Era uma pequena caixa redonda de prata, como
um relógio de bolso, presa por uma corrente. Sua Senhoria
deve ter derrubado. Recolhendo-o com a intenção de devolver
à mesa lateral, o fecho destravou em seus dedos, revelando
não um relógio, mas sim um retrato dentro dele. Era um
homem jovem, talvez no fim da adolescência ou em seus vinte
e poucos anos. Jessie soube imediatamente que deveria ser
Robert Grant.
A Sra. MacMillan estava certa. Ele era
extraordinariamente bonito. Em vez de usar a peruca com
talco como a maioria dos aristocratas, Lorde Lochrose usava o
cabelo castanho escuro na altura da nuca. E assim como o
pai, ele possuía atraentes olhos azuis-escuros. Na verdade,
enquanto Jessie examinava a pintura em miniatura mais de
perto, ela definitivamente podia ver uma semelhança entre o
jovem e Lorde Strathburn. Havia algo de similar nas linhas
retas do nariz e no forte maxilar quadrado e sua atraente e
carnuda boca. Uma boca que se inclinava em um leve sorriso
torto como se secretamente se divertisse. Sem pensar, Jessie
gentilmente tocou o retrato com a ponta do dedo. Ela tinha
certeza de que Lorde Lochrose a teria feito corar e gaguejar
também.
A voz de Lady Strathburn no corredor do lado de fora fez
Jessie abandonar a sua avaliação e rapidamente fechar a
caixa antes de depositar nas mãos do conde. Mesmo
dormindo, os dedos deles se fecharam ao redor da caixa
reflexiva e possessivamente.
Jessie se afastou no mesmo instante em que Lady
Strathburn entrou na sala. No rastro da condessa, seguia a
sua costureira aparentando estar atormentada.
— Agora, Srta. Munroe, o que esteve fazendo durante
tanto tempo? — Os olhos verdes e frios de Lady Strathburn
avaliou Jessie, e depois o seu marido que se remexia. Ela não
esperou que Jessie respondesse. — Não muito pelo que vejo.
Você pode ajudar a Srta. Beattie com a costura pelo resto da
tarde.
— Sim, milady. — Jessie forçou-se a uma rápida
reverência. Era difícil manter maneiras respeitáveis perto da
condessa quando ela se comportava de modo tão arrogante. O
que era a maior parte do tempo.
Ela estava saindo, porém a condessa ergueu uma mão.
— Espere um momento. — Lady Strathburn estreitou os
olhos enquanto fazia uma inspeção contundente do vestido de
serviço de lã marrom de Jessie. A condessa era sempre
dispendiosa e bem vestida. Uma mulher alta de meia-idade,
ela sempre mantinha a sua bela figura. Esta tarde ela usava
um vestido de seda listrado lavanda, creme e verde folha.
Renda Bruges creme caiam de suas mangas e um fichu3 de
chifon lavanda estava preso sobre seu amplo seio com um
elaborado broche de pérola. Como o filho, ela aderira à moda
de usar peruca com talco. Hoje, os seus cachos arrumados
foram polvilhados com pó lavanda para combinar com o seu
vestido.
Ao completar a sua inspeção, a condessa acrescentou em
um tom de quem não toleraria discussão.
— Eu devo sugerir que você faça algo sobre o estado de
seu próprio guarda-roupa, Srta. Munroe? Eu estou para lhe
dizer isso desde a sua chegada. Se deseja continuar
trabalhando para a nossa família, deve se vestir com algo
mais adequado. As criadas da cozinha são mais
apresentáveis. Que a Sra. Beattie tome as suas medidas para,
pelo menos, cinco vestidos.
As bochechas de Jessie se inflamaram de vergonha.
— Com o maior respeito, milady, eu tenho meios
limitados e não posso me permitir mais do que um ou dois
vestidos.
— Isto não é problema meu. — Lady Strathburn disse
com uma fungada zombadora. — Mas tenho certeza de que o
valor dos vestidos pode ser simplesmente deduzido do salário
de seu pai se não puder pagar.
— Caroline, você não fará tal coisa.
A condessa girou para ver que o seu marido se levantara
da poltrona. O conde se apoiava duramente na bengala e o
cobertor caíra aos seus pés. Seus olhos azuis-escuros,
embora levemente inchados pelo sono, tinha um brilho
determinado. Virando-se para Jessie, ele se dirigiu a ela com
gentileza.
— Escolha qualquer coisa que quiser, minha querida
garota, qualquer coisa. A Sra. Beattie pode simplesmente
acrescentar à conta de Lady Strathburn.
Jessie balançou a cabeça.
— Isso é muito generoso, milorde. Eu não acho…
— Não, não. Não pense nisso, Srta. Munroe. — Ele disse
com um sorriso, seus olhos recompensando-a com seu calor
genuíno. — Apenas satisfaça o capricho de um velho que
gostaria de ter tido uma filha.
— Obrigada, milorde. Você é muito bondoso. — Jessie
respondeu, correspondendo o sorriso. A inesperada bondade
dele levou lágrimas aos seus olhos e ela fez uma reverência
abaixando a cabeça para que ele não visse a sua emoção
imprópria.
Quando Jessie se virou para seguir a Sra. Beattie, seus
olhos se fixaram momentaneamente nos de Lady Strathburn.
O olhar da mulher mais velha era tão venenoso que Jessie
sentiu um arrepio gelado em sua nuca. A Condessa de
Strathburn não gostava de ser contrariada.
A vida em Lochrose estava provando ser mais perigosa ao
passar dos dias.
Dois
Simon grunhiu ao terminar de usar o penico e empurrá-
lo ao seu valete, Baird. Sua cabeça doía como o inferno.
Maldito vinho tinto português barato. Por que seu pai não
permitia estocar a adega com alguma coisa mais decente da
França?
O barulho repentino vindo do lado de fora não ajudou o
seu humor, já desagradável. Ele vestiu o banyan4 de seda
oferecido por Baird e depois se arrastou até a janela do
quarto. Empurrando a pesada cortina de veludo, ele sorriu
para a manhã que se iniciava. Alasdair Munroe estava
atravessando os portões de Lochrose com o contador do conde
e um pequeno grupo de soldados que lhe protegeriam durante
a viagem para recolher os aluguéis das terras do Clã Grant.
Apesar da cabeça latejando, um sorriso de satisfação
puxou os cantos da boca de Simon. Agora ele teria bastante
tempo para fazer o que ele quisesse com Jessie. E teria
muitas oportunidades.
Ele ficara mais do que feliz ao ouvir que Munroe
arranjara para que a filha ficasse no castelo em vez de
permanecer em Gate-House durante a ausência dele, para a
segurança dela. O sorriso de Simon se alargou com a ironia.
À mãe não agradou o arranjo, mas diante de sua
insistência, relutantemente, ela concordou em instalar a
garota em um dos quartos de convidados na ala leste em vez
uni-la aos outros criados nos quartos dos serventes. Ela sabia
que era inútil frustrar as suas necessidades.
— Pelo amor de Deus, Simon, não engravide a garota. —
Foram as palavras finais dela no jantar de ontem, após seu
pai ter se recolhido ao seu quarto com o valete. Não que
fizesse diferença se seu pai estivesse ali quando ela fez esta
afirmação. O idiota geralmente não sabia que dia era, muito
menos o que seu filho estava fazendo.
Um súbito vislumbre de vermelho pelo canto da visão de
Simon chamou a sua atenção. Virando-se para olhar, ele
notou Jessie, também saindo montada do estábulo. Ah, sua
doce Jezebel pretendia fazer uma cavalgada matinal. Sozinha.
Ele assistiu como ela levava a sua montaria através do
amplo trecho gramado em direção às árvores e ao lago
encoberto pela névoa logo adiante. A petulante mentirosa não
estava com o resfriado que ela fingia ter ontem se estava em
pé àquela hora.
Atingido por uma súbita inspiração, Simon, por cima do
ombro, pediu a Baird que preparasse a sua roupa de
montaria. Embora fosse muito cedo, já estava mais do que na
hora de ele deixar bem claro para a jovem quais eram as
expectativas dele para as próximas semanas. E que ela
deveria pensar duas vezes antes de evitá-lo.
Ele podia sentir ficando duro pela expectativa.

***

A manhã de outono estava nítida e clara quando Jessie


saiu para a longa e esperada cavalgada com Blaeberry. Ela
sabia que Lady Strathburn não a esperava até pelo menos o
meio da manhã. Isso significava que ela teria, pelo menos,
uma hora ou duas para si mesma.
Jessie se esforçou muito para sorrir e conversar como se
ela não se preocupasse com o mundo enquanto se despedia
do pai no estábulo. Agora que ele se fora, pensamentos
perturbadores retornaram com força total para atormentá-la.
Ela rezava para que a sua cavalgada pudesse providenciar
uma oportuna distração. Ela realmente não queria pensar em
Simon Grant nesta manhã. Haveria mais do que tempo
necessário para se preocupar com o desaprovado morador de
Lochrose mais tarde.
Blaeberry soprava nuvens brancas no ar gélido e seus
cascos trituravam o chão coberto de gelo enquanto Jessie
dava liberdade à sua égua. Em pouco tempo elas chegaram ao
pequeno trecho de árvores que margeava a costa do lago.
Entrando no bosque, Jessie diminuiu os passos de Blaeberry
para uma caminhada mais tranquila e deixou a égua seguir
seu caminho através das antigas faias, castanheiras e
carvalhos. Os últimos fragmentos da fantasmagórica névoa
subiam pelo lago ao redor delas à medida que se
aproximavam da margem. Além do ruído tranquilo dos cascos
de Blaeberry no tapete de folhas, havia apenas silêncio.
Ao chegar à costa, Jessie deslizou das costas de
Blaeberry e encontrou uma pedra cinza lisa para sentar-se na
beira da água. Estava determinada a encontrar alguma paz,
pelo menos por enquanto. Fechando os olhos tentou esvaziar
a sua mente de tudo, exceto do que ela podia sentir: a brisa
fria que colocava finas mechas de seu cabelo solto sobre o
rosto, o aroma das folhas no bosque atrás dela e o ocasional
ruído das rédeas de Blaeberry. Ela estava tão cansada. Ela se
agitou e se mexeu e mal dormiu a noite passada.
Quando Jessie abriu os olhos novamente, a névoa havia
se esvaído totalmente e as águas do lago brilhavam com uma
luz deslumbrante. O ar ainda estava gelado, mas protegida
por seu vestido de veludo marrom e uma grossa capa de lã
vermelha, ela sentia-se devidamente aquecida. E feliz.
Blaeberry se afastou alguns metros para comer a grama perto
da margem. Em algum lugar no bosque atrás delas, uma
gralha cantou.
Quando Blaeberry abruptamente levantou a cabeça e se
virou em direção às árvores, orelhas em pé, Jessie franziu a
testa e olhou em direção ao bosque sombrio também. Então
seu coração parou. Ela ouvira também.
A aproximação de outro cavalo.

***

Robert parou o seu cavalo alugado sob uma densa


cobertura de pinheiros escoceses em uma montanha com
vista para o Lago Kilburn e a casa que ele pensou nunca mais
ver, o Castelo Lochrose. De sua posição, tinha uma boa visão
de onde o solo do castelo se estendia até as águas do lago,
cobertas pela névoa matinal. Atrás do bosque adjacente,
podia ver as duas torres do castelo em contraste com os picos
de Cairngorms e o céu colorido do amanhecer.
Uma gama de emoções o atingiu. Um desejo tão agudo e
forte que parecia dor física o cortou. Ele tinha um poderoso
sentimento de regresso a casa, ao lugar ao qual pertencia,
embora o cenário diante dele também parecesse um pouco
estranho, diferente de como ele imaginava em suas
lembranças. E nos sonhos. Uma sensação estranha de
irrealidade se apegava a ele e ele teve vontade de se beliscar,
certificar-se de que realmente estava ali.
Mas talvez tudo parecesse diferente porque ele estava
mudado. Não era mais um jovem de vinte e um anos, cabeça
quente e em busca de aventuras, que pensava que sabia tudo
e tomava as suas responsabilidades como certas, mas um
homem de trinta anos, que aprendera da maneira mais dura
que honra e dever para o clã e para a família eram mais
importantes do que perseguir o fantasma da glória em um
campo de batalha para um aspirante ao trono há muito
tempo perdido. Ele precisava consertar os seus erros.
Rezou com toda a sua alma que ainda tivesse a chance
de conseguir isso.
Engolindo o nó duro preso em sua garganta, focou em
como conseguir acessar Lochrose sem ser notado. A razão
daquela incursão era essencialmente de reconhecimento.
Precisa minimizar os riscos de ser pego quando tentasse se
reconciliar com o seu pai. Ser preso era um perigo muito real
mesmo após dez anos de ausência. Embora uma impaciência
bruta arranhasse seu interior ele sabia que atravessar
diretamente a porta da frente em plena luz do dia seria muita
tolice. Simon e sua madrasta, Caroline, poderiam não deixá-lo
escapar desta vez. Não quando uma fortuna e um título
estavam em jogo.
Robert imaginava que a melhor hora para se aproximar
de seu pai sem despertar a atenção de ninguém seria nas
primeiras horas da manhã ou durante o entardecer quando
os outros, como o seu maldito irmão e sua madrasta
provavelmente estariam dormindo. O que queria dizer que ele
provavelmente já perdera a oportunidade de agir hoje. O sol já
despontara bem alto e a névoa estava praticamente
esvanecida. Mas ele ainda podia explorar nas proximidades
do castelo.
Com um arrepio, Robert levou o seu cavalo pela encosta.
Ali, nas sombras pesadas e arrepiantes das árvores, o seu
manto de lã marrom escuro e calças de camurça estavam
longe de fornecer proteção adequada contra o vento. Embora
a manhã estivesse agradável, ele se esquecera de como as
Highlands eram frias. Graças a Deus, ele e seu escudeiro,
Tobias, foram capazes de se esconder na, obviamente há
muito tempo abandonada, cabana de caça de seu pai a noite
passada. Sua boca se puxou em um sorriso irônico: morar no
Caribe por tanto tempo o tinha deixado mole.
Por volta da metade da descida da ribanceira, um
vislumbre vermelho na água atraiu sua atenção. Dragões? O
pulso acelerou, ele hesitou e estreitou os olhos em direção ao
brilho da luz do sol dançando sobre as águas. Não, não era
um soldado. Lá na margem estava sentada uma mulher com
um manto vermelho. O cavalo dela, obviamente selado e
equipado para cavalgar, pastava nas proximidades.
Quem ela era? À distância era difícil distinguir qualquer
particularidade sobre a mulher, além dos seus gloriosos
cabelos vermelhos dourados. A única coisa que ele podia
deduzir é que ela saíra para cavalgar e definitivamente não
podia ser uma das criadas do castelo.
Seu interesse foi intensamente despertado, ele deslizou
do cavalo e amarrou as rédeas em um pinheiro baixo,
agradecendo a Deus por sua experiência de soldado,
lentamente desceu a última parte da encosta antes de
silenciosamente abrir caminho pelas árvores até a margem
em direção à mulher. Quando chegou a uns vinte metros de
distância, escondeu-se atrás do tronco grosso de uma antiga
castanheira, cuja folhagem dourada nos galhos baixos lhe
proporcionava camuflagem suficiente.
Agora a mulher estava ligeiramente inclinada em sua
direção. Sua cabeça descansava sobre os joelhos, como se
estivesse cochilando, o cabelo solto caia como uma cascata de
chamas vivas ao seu redor. Ele silenciosamente implorou que
ela olhasse para cima para poder ver o rosto.
E quando ela o fez o ar dele ficou preso na garganta. Ela
era uma das mulheres mais deslumbrantes que já vira.
Mesmo a distância, podia notar que o rosto dela era de
uma beleza clássica com um pequeno nariz reto, queixo
determinado e uma boca sensual. Suas bochechas altas
estavam pintadas de rosa por causa frio da manhã. Ele estava
um pouco distante para discernir a cor dos olhos, mas
imaginava que eram castanhos. Um castanho rico e
acolhedor. Mas era o seu magnífico tom de cabelo que o
deixou mais fascinado. Ele repentinamente foi atingido por
um desejo urgente de deslizar os dedos através por sua rica
abundância. Enterrar o seu rosto nos cachos de seu pescoço
e inalar o seu doce aroma. Experimentar a pele sedosa e
aqueles lábios deliciosos...
Ela sorria serenamente observando as águas. A beleza
dela era tão impressionante que repentinamente ele a
imaginou como uma criatura mística: uma náiade do lago,
uma dama do lago. Algo dentro dele se moveu, um sentimento
mais forte do que a mera excitação. Era um desejo tão
apurado que se perguntou se ela não era uma feiticeira.
Ele ardia por descobrir quem ela era.
O som inconfundível da aproximação de outro cavalo
quebrou o silêncio. Maldição. A jovem mulher e o cavalo
também escutaram. Blasfemando novamente em silêncio,
Robert recuou um pouco mais atrás da árvore. A garota se
levantou em um movimento rápido e gracioso e, apesar de
usar um manto, ele pode notar que ela era tão esguia quanto
um galho de salgueiro. Deu-lhe as costas e se virou em
direção às árvores.
E então outro cavalo e cavaleiro emergiram.
Simon.
Por um momento o tempo pareceu parar. O sangue de
Robert pulsou quente e intensamente e cada músculo de seu
corpo se retesou, pronto para a batalha. Simon deslizou de
seu cavalo e vagou até a garota que permanecia em silêncio.
Rígida. Ela estava esperando por ele?
A resposta veio rapidamente quando Simon a
cumprimentou.
— Bom a encontrar, minha querida Jessie.
Jessie. A deusa tinha um nome.
Robert rangeu os dentes a ponto de doer. Jessie e seu
irmão se conheciam e obviamente muito bem, dado que eles
estavam na base do primeiro nome. Subitamente lhe ocorreu
que testemunhava um encontro matinal de amantes. Uma
decepção amarga agitou as suas entranhas diante do
pensamento. O que diabos uma deusa como aquela estava
fazendo com o seu desprezível irmão? Levou cada grama de
seu treinamento de mercenário para manter as emoções sob
controle enquanto ele assistia.
Fique Robert. Não seja um tolo. Você pode descobrir algo
útil.
Uma expressão que só podia ser descrita como luxúria
distorceu as feições de Simon enquanto agarrava a garota,
Jessie, pelos braços e a puxava até ele. Ele falou, e Jessie
respondeu, porém por causa da distância, Robert não foi
capaz de escutar a conversa. Nem pôde ver a expressão de
Jessie já que ela continuava de costas para ele.
O ressentimento se agitou novamente quando Simon
acariciou as bochechas dela, depois pressionou o rosto em
seus cabelos e sussurrou algo em seus ouvidos. Não havia
mais dúvidas sobre o relacionamento deles agora.
Então, como ele havia imaginado fazer alguns minutos
atrás, seu meio-irmão enfiou uma mão na massa flamejante
do cabelo de Jessie e trouxe o pequeno corpo dela ainda mais
perto do dele. O beijo deles foi longo e intenso. Apaixonado.
Um beijo de amantes.
A decepção caiu como uma pedra dura e fria no
estômago de Robert. Ele já vira o bastante. Jessie não era
para ele.
Fumegando de desgosto, ele se virou e silenciosamente
de volta à colina.

***

— Bom a encontrar, minha querida Jessie.


Jessie estremeceu, o terror agarrando-a por dentro à
medida que Simon caminhava em sua direção. Não podia
acreditar no que estava acontecendo, que ele a perseguia
assim. O seu pai havia partido fazia uma hora e ele já estava
atrás dela. De repente ela ficou aterrorizada por ela estar
isolada e vulnerável ali no lago. Quão estúpida era por se
colocar naquela posição.
Bem, não podia mais ser boba. Teria que escapar
daquele encontro se tivesse qualquer esperança em
permanecer ilesa. Instintivamente soube que tentar fugir de
Simon apenas inflamaria a situação. Então fechou as mãos
em punhos e ergueu o queixo. Porém, mal engolia o nó de
medo que fechou a sua garganta quando ele parou diante
dela.
Os olhos verdes prateados dele brilhavam com a força do
desejo enquanto deslizavam sobre ela. Um predador prestes a
atacar a ovelha. Apesar de sua bravata mental, o coração de
Jessie batia loucamente contra as costelas. Sua boca estava
tão seca que parecia que estava cheia de areia. Por mais que
ela tentasse, não era capaz de formular palavras. Deus a
ajudasse. Por um momento ficou paralisada pelo medo.
Então Simon a pegou, agarrando os seus braços
rudemente. Os dedos dele eram como garras, machucando-a
mesmo sobre as roupas. Ele se inclinou sobre ela, o rosto tão
próximo que ela podia sentir o odor quente e fétido de seu
bafo.
— Penso que chegou a hora de fazer algo mais para
garantir a estadia aqui em Lochrose, não acha? — Seu tom
era tanto adulador quanto ameaçador.
Jessie estava certa de que se ele não a estivesse
segurando com tanta força, os joelhos teriam se dobrado.
— O que quer dizer? — Maldição! Sua voz entrecortada a
traía e demonstrava o seu medo. E embora a pergunta
indicasse o contrário, ela sabia exatamente do que ele falava.
O sorriso de Simon era condescendente enquanto ele
deslizava pela bochecha dela as costas de seus dedos
enluvados em uma carícia fingida.
— Ah, ainda estamos jogando? — A expressão dele
subitamente mudou, ficando mais dura, lupina. — Certifique-
se em usar a camisola mais bonita para mim hoje à noite,
minha doce Jezebel. E, se me agradar, deixarei o seu pai
manter a sua posição. — Os olhos cinzas escureceram e
miraram os lábios dela. — Hummm. Você é muito deliciosa
para o seu próprio bem, Jessie Munroe. — A boca dele
pressionou-se contra o ouvido dela e ele suspirou. — Eu
poderia devorá-la agora mesmo.
Um de seus braços repentinamente envolveu a cintura
dela, envolvendo-a como uma tira de aço, esmagando o seu
corpo contra o dele. Coma outra mão segurou a cabeça dela e
a forçou a permanecer imóvel enquanto violava a sua boca,
sufocando o seu grito. Ele a beijou com tal força que ela
apenas ofegou com dor. A língua dele saqueava a boca dela e
os dentes mordiam tão forte os lábios dela que ela
experimentou o sabor do próprio sangue.
Quando ele levantou a cabeça, seus olhos frios estavam
repleto de um triunfo cruel.
— Você deixará a sua porta destrancada esta noite.
Estou sendo claro?
Jessie assentiu, ainda muda pelo terror. Ela
instintivamente soube que desafiá-lo poderia ser o catalisador
de algo muito, muito pior do que o beijo que ela acabara de
ser forçada a suportar.
Entretanto, Simon parecia satisfeito com a resposta dela.
Ele sorriu como um lobo novamente.
— Bom. Fico feliz que agora temos este assunto
resolvido, minha doce Jezebel. Eu não quero puni-la por ser
desobediente. — Ele trilhou o dedo enluvado pelo lábio
inferior inchado.
Como se ele se importasse. Jessie sabia que o desejo de
infligir crueldade e satisfazer suas vontades indecentes eram
os únicos motivos das ações de Simon.
Assim que ele desapareceu nas árvores, Jessie correu
para a margem da água e vomitou. O corpo inteiro dela
tremia, e de alguma forma se forçou a se levantar e caminhou
desequilibrada em direção a Blaeberry. O cavalo dela,
claramente sentido que algo estava errado, aconchegou-a com
gentileza.
— Eu prefiro morrer a deixá-lo chegar perto de mim
novamente. — Ela sussurrou contra o pescoço de sua égua
enquanto lágrimas quentes queimavam suas pálpebras. —
Sim, eu deixarei a minha porta destrancada... Mas não estarei
lá.

***

Quando Jessie pôs um pé na cozinha, a Sra. MacMillan


percebeu que algo estava errado imediatamente. A boa
mulher largou o seu rolo e envolveu Jessie em um
enfarinhado e caloroso abraço.
— Oh, pela graça de Deus, moça, sente-se aqui antes
que desmaie e eu farei um pouco de chá.
A cozinheira rechonchuda conduziu Jessie até uma
cadeira de madeira colocada diante da larga mesa de carvalho
bem esfregada no centro da sala e rapidamente serviu-lhe
uma xícara do bule chinês mais elegante de Lady Strathburn.
Jessie começou a protestar, mas foi devidamente ignorada
quando a Sra. MacMillan adicionava dois cubos de açúcar e
creme ao seu chá. Para sua consternação, as mãos tremeram
ao tomar um gole.
A Sra. MacMillan franziu o cenho e balançou a cabeça,
mechas largas de seu cabelo cinza escaparam pelas pontas de
sua touca ao fazer isso. Ela estava claramente horrorizada
com o estado de Jessie.
— Você está tremendo como as bétulas quando sopra
vento do oeste. Quando acabar o seu chá, deverá me contar o
que aconteceu. Embora eu não vá me surpreender se tiver
alguma relação com o Sr. Grant.
Jessie assentiu e obedientemente bebeu o chá com leite e
doce. A Sra. MacMillan também colocou pão recém-assado
com manteiga e geleia de mirtilo à sua frente, mas Jessie não
seria capaz de tocá-los. Sua garganta estava apertada e a
náusea ainda estava presente.
Quando ela esvaziou a xícara, a Sra. MacMillan enxotou
duas criadas da copa que lançavam olhares curiosos sobre
ela.
— Agora, garota, você deve me contar exatamente o que
o bastardo fez. — Ela disse solenemente, seus perspicazes
olhos castanhos avaliando o rosto de Jessie.
Jessie fechou os olhos e engoliu as lágrimas que
ameaçavam cair. Ela se sentia completamente desgostosa
com si mesma: trêmula, humilhada e ao mesmo tempo
zangada como um gato preso em uma tempestade. Maldito
Simon Grant do inferno por fazê-la se sentir assim.
Mas sabia que deveria confidenciar-se com alguém. Não
sobreviveria ilesa desta situação se não tivesse ajuda.
Respirando profundamente, ela fixou o olhar na Sra.
MacMillan e começou a revelar os detalhes de seu recente
encontro com Simon, assim como os seus medos sobre aquela
noite e os dias seguintes. Mesmo tentando, não conseguiu
evitar o estremecimento em sua voz.
Os olhos da Sra. MacMillan brilhavam e suas bochechas
ficaram vermelhas com a indignação de tudo o que ouvia.
— Oh, esta é a desculpa para castrar um homem com o
meu cutelo de carne. — Ela se aborreceu quando Jessie
terminou. — Eu mesma o faria se não fosse pendurada por
isso.
Apesar da aflição, Jessie sorriu um pouco diante do
pensamento de castrar Simon. Embora também se
espantasse com a audácia dele em acreditar que poderia se
comportar de uma maneira tão abominável e sair bem disso.
A Sra. MacMillan já lhe havia alertado no primeiro dia para
desconfiar dele. Mas ir tão longe como estuprá-la debaixo do
mesmo teto que seus pais, como ele poderia considerar tal
coisa?
Ela se perguntou se o conde e a condessa sabiam como o
filho deles era depravado.
— Você acha que Lorde e Lady Strathburn sabem… das
intenções do Sr. Grant?
A Sra. MacMillan uniu as sobrancelhas.
— Eu diria que pouca coisa escapa à percepção da
senhora. Ela conhece os vícios de seu filho e não faz nada
para impedir. Já o conde… Eu não sei. Ele não tem muito que
fazer com o Sr. Grant, além de limitar as bebedeiras e os
gastos tanto quanto ele pode.
Jessie tinha certeza de que o conde ficaria horrorizado
com o comportamento do filho se soubesse o que estava
acontecendo. Era uma aposta, mas precisava considerar pedir
ajudar ao Lorde Strathburn como parte de ação para Simon
não colocar a mão e despedir o seu pai.
— E seu eu falar com Lorde Strathburn? Você acha que
ele poderia ajudar?
A Sra. MacMillan deu de ombros.
— Não sei como ele reagiria para ser honesta. Sua
Senhoria sempre foi um homem honrado. Mas se for apenas a
sua palavra contra a do Sr. Grant... bem, eu me pergunto se o
Lorde Strathburn pensaria que ter seu pai e você aqui seria
mais problema do que valioso quando tudo for dito e feito.
E isto era exatamente o que Jessie temia. Quando se
resumia assim, via que eles estavam há poucas semanas em
Lochrose. Lorde Strathburn podia simplesmente vê-la como
uma encrenqueira. No fim, era um risco que ela não estava
disposta a correr se significasse que seu pai perderia a sua
posição.
Havia apenas uma coisa a fazer, algo que ela soube logo
após a ameaça de Simon no lago. Eu tenho que partir.
A Sra. MacMillan obviamente percebeu isso também.
— Agora, moça, basta de especulação. — Ela disse com
expressão sombria. — Há apenas uma coisa que pode fazer
para se proteger. Você deve sair daqui, imediatamente.
Jessie sabia que o Sr. MacMillan falou tinha sentido,
mas ela ainda estava dividida entre o seu senso de
autopreservação e dever por seu pai.
— Eu sei que devo, mas como eu faço isso sem
comprometer a posição do meu pai? Esta é a questão, não é?
O Sr. Grant ameaçou demiti-lo se eu não… — Sua voz falhou,
incapaz de completar o pensamento odioso.
— Não se preocupe com o seu pai, moça. Lorde
Strathburn já terá visto que ele é um administrador
habilidoso, assim, o que quer que o Sr. Grant diga para
menosprezá-lo, no fim isso não importará a Sua Senhoria.
Agora você deve apenas pensar em sua própria segurança.
Você tem algum familiar ou amigos a quem possa recorrer?
Jessie considerou a pergunta.
— Quando perdemos Dunraven Hall, meu pai
inicialmente pensou em me enviar para Edimburgo para ficar
com a minha prima, Maggie Henderson. Ela é casada com
uma comerciante de chá e tem três filhos com outro a
caminho. Tenho certeza de que ela não se importaria se eu
ficasse, mesmo por pouco tempo.
O rosto da Sra. MacMillan se enrugou com um sorriso
irônico.
— Com tantos filhos tenho certeza de que ela não se
importará se ficar por um longo tempo. — A fisionomia dela
mudou, ficou séria novamente e ela esticou a mão e apertou a
de Jessie. — Agora, aqui vai o que deve fazer, moça. Você deve
escrever uma mensagem ao seu pai dizendo que recebeu uma
carta de sua prima, implorando que fosse e ficasse com ela
imediatamente para ajudá-la com os pequenos. Eu ficarei
com a mensagem e entregarei ao seu pai quando ele voltar,
assim, ele não se preocupará com o seu paradeiro.
— O que deverei contar a Lorde e Lady Strathburn? — A
boa opinião do conde realmente importava a Jessie. Ela não
desejava apagá-la e isso se refletisse na boa posição de seu
pai.
— Eu lhes direi a mesma história, então não se
preocupe, — Respondeu a Sra. MacMillan dando tapinhas em
seu braço.
— O correio chegou a Grantown-on-Spey hoje de manhã,
assim eles acreditarão em você sobre a sua prima enviar uma
carta. Seu pai não pode ser penalizado por você precisar
atender a uma crise familiar. O conde não aceitaria isso.
Lágrimas de alívio e gratidão encheram os olhos de
Jessie.
— Eu não posso agradecer-lhe o bastante.
A Sra. MacMillan puxou um lenço de seu avental e
ofereceu a Jessie.
— Isto não é nada, minha garota. Nada. Agora, o único
obstáculo que temos que superar é como você chegará a
Edimburgo.
Jessie franziu o cenho.
— Eu não acho que é inteligente cavalgar sozinha todo o
caminho. São mais de cento e sessenta quilômetros.
A Sra. MacMillan assentiu.
— O vagão público vindo de Inverness passa pela
Pousada Strathspey em Grantown-on-Spey daqui a dois dias.
Ao meio-dia. Ele só passa uma vez por mês e é muito lento.
Mas pessoas respeitáveis o usam. Até mesmo a Sra.
MacIntosh, a esposa do clérigo, viaja nele para visitar a irmã
dela. E eu ficaria muito feliz em ajudá-la com dinheiro para
pagar a tarifa.
Jessie sorriu.
— Não, isso não será necessário, querida Sra. MacMillan.
Você é muito bondosa. Eu tenho um pouco de dinheiro
guardado. Mas a questão é — ela suspirou pesadamente — O
que devo fazer neste período até a chegada do vagão? Eu
ainda preciso evitar o Sr. Grant. Se eu ficar aqui ou até
mesmo na pousada em Kilburn ou Grantown, tenho certeza
de que ele me encontrará.
— Sim. E ele não pensaria duas vezes em forçá-la,
mesmo na pousada. Você precisa desaparecer. — As
sobrancelhas da Sra. MacMillan se juntaram em vincos
profundos enquanto ela pensava um pouco mais. Então um
sorriso malicioso mudou o seu rosto rosado. — Eu conheço
um lugar, moça . Um lugar que ele não procurará.
Três
Jessie parou embaixo de um pinheiro escocês em uma
montanha escarpada e limpou o fio de suor da testa. Ela
estava subindo por quase uma hora e, além de precisar
recuperar o fôlego, queria se orientar antes de continuar. O
lago e o castelo estavam no largo vale abaixo dela. Se não
soubesse, teria pensado que este era um cenário de um conto
de fada e não o cenário de pesadelo que Simon planejara.
Mas ela não ficaria em Lochrose para se tornar a
concubina involuntária de Simon. Preferia escalar montanhas
e atravessar pântanos solitários.
Olhando por cima da montanha, Jessie apenas
conseguia enxergar o caminho que levava até o vale isolado
que era o seu destino final. Rezou para que a Sra. MacMillan
estivesse certa em supor que Simon não pensaria em
procurá-la na cabana de caça de Lorde Strathburn. Duas
noites — hoje e amanhã — era tudo o que Jessie teria que
enfrentar sozinha antes de seguir a Grantown-on-Spey do
outro lado do campo.
Uma nuvem solitária cruzava com o sol do meio-dia e
uma brisa fria remexia os cachos perdidos que já haviam
escapado da touca de Jessie. Estava na hora de prosseguir. O
tempo ainda estava relativamente bom, mas ali em cima, os
elementos poderiam mudar no espaço de um momento. Jessie
sabia que, quanto antes alcançasse o abrigo da casa de caça,
melhor. Como só tinha o seu vestido de lã marrom e sua capa
de viagem para vestir, ela realmente não queria que eles
ficassem arruinados; se pudesse evitar, melhor.
Juntando toda determinação, Jessie colocou a bolsa de
couro sobre o ombro antes de cuidadosamente contornar a
montanha e escalar o próximo morro, ainda mais íngreme.
Pedregulhos caídos e afloramentos de rochas apareceram e os
pinheiros escoceses dobrados pelo vento começaram a rarear.
O chão ficou menos nivelado e ela precisava tomar cuidado
onde pisava. Quando finalmente alcançou a passagem
estreita entre dois enormes pilares de rochas, sua respiração
estava curta e irregular e suas coxas doíam devido ao esforço
da subida. Parou para um breve descanso, lamentando ter
empacotado as suas coisas com tanta pressa e esquecido de
trazer água fresca. Ela esperava estar seguindo corretamente
as orientações da Sra. MacMillan e estar no caminho certo —
e esperava ferventemente estar — do contrário, em breve
poderia ter uma insolação.
O desfiladeiro mostrou ser um desafio maior do que
Jessie inicialmente previra. O caminho tinha uma superfície
irregular que o tornava traiçoeiro e em uma ocasião ela
precisou escalar entre as pedras caídas e rochas pontiagudas.
Ficara aliviada de não estar montando Blaeberry por esta rota
há muito tempo negligenciada. A Sra. MacMillan estava certa,
ela alertara Jessie de que seria uma cavalgada difícil, mesmo
para cavalos que estavam acostumados com o terreno
irregular. Andar significava que Jessie teria que demorar
muito mais para chegar à cabana e a Grantown, mas se isso
quisesse dizer que Blaeberry ficaria segura, valia a pena.
Quando Jessie finalmente emergiu do desfiladeiro e
desceu em um pequeno trecho de seixos de carvalho para a
base da montanha lá embaixo, estava tanto aliviada quanto
exausta. A combinação do pouco sono da noite anterior,
pouca alimentação e esforço físico extremo a deixou fraca e
trêmula. Ela caiu de joelhos perto de um riacho cheio de
pedras e com suas mãos trêmulas e cortadas, jogou água fria
no rosto antes de bebê-la.
Saciada a sua sede, ela sentou sobre seus calcanhares e
olhou para o brilho torcido pelo vento. A ideia de caminhar
por talvez mais algumas horas através de um duro pântano
para chegar à cabana de caça no outro extremo parecia
penoso deste ponto. Ela sabia que precisava comer e
descansar por um tempo antes de continuar. Um pouco mais
abaixo, além do fiorde tinha um pequeno grupo de sorbus e
larch5 ; a folhagem do bosque era brilhante e acolhedora
comparada às sombrias e cinzentas rochas e uma extensão de
urzes roxas e um gramado acobreado. Seria o lugar perfeito
para abrigar-se.
Jessie levantou-se instável, ainda com as pernas
trêmulas, seguiu caminho ao longo do leito do rio em direção
às árvores. Estava a alguns metros de distância quando
ocorreu o infortúnio: ela tropeçou em uma pedra escondida
na grama e o tornozelo direito virou. Ela gritou quando uma
dor pungente e agonizante a assaltou. Maldição, esta era a
última coisa que precisava.
De alguma forma, mesmo com a visão nublada por
lágrimas, Jessie conseguiu terminar o resto do caminho até o
grupo de árvores, seu tornozelo protestando a cada passo
desajeitado. Ao chegar às árvores perto do rio, jogou-se no
chão, depois removeu cuidadosamente a bota de couro e a
meia de lã para mensurar o dano. Para sua consternação,
notou que seu tornozelo estava começando a inchar. Inferno.
Estava bem e verdadeiramente torcido. Apertando os dentes,
colocou o tornozelo na água gelada e rezou para que o frio
diminuísse o inchaço.
Com dedos desajeitados e trêmulos, abriu a bolsa de
couro e pegou um pouco da comida que ela empacotara para
os próximos dias: uma porção de queijo partido e um pedaço
de pão de centeio. Embora não estivesse com vontade,
esforçou-se a comer. Estava cansada e desanimada. O que
mais poderia dar errado?
Simon poderia me encontrar. Não, não pensaria sobre o
que aconteceria se ele a encontrasse. Com alguma sorte, ele
provavelmente nem notaria a sua ausência até que fosse
tarde ou até mesmo só à noite. Ela confiou na afirmação de
que Simon detestava caçar e que ele não colocava os pés ali
desde os catorze anos.
Por enquanto, estava a salvo. Ela tinha que estar.
Quando Jessie não pôde mais aguentar o frio congelante,
removeu o tornozelo e inspecionou o inchaço. Maldição,
maldição, maldição. Pelo que podia perceber, a água fria não
ajudou afinal. Tentando, mas falhando em choramingar de
dor, colocou a meia, cada pequeno puxão, uma pequena
agonia. Não teria chance de colocar a bota, assim a colocou
na bolsa. Por um momento, chegar à cabana de caça também
parecia impossível. Ela mordeu o lábio e se impediu de
chorar. Isto é uma torção, Jessie. Nada está quebrado. Você
sobreviverá.
Ela mancou pelo bosque e cuidadosamente se deitou na
almofada de folhas e inclinou-se contra o tronco de um
sorbus antigo. O vento havia aumentado e sombras de
nuvens rasgavam os picos cobertos de neve ao noroeste. Pelo
menos não parecia que ia chover. Jessie apertou seu manto
escarlate ao redor do corpo e fechou os olhos. Descansaria
por um tempinho...

***

Jessie acordou com um sobressalto, seu coração batia


selvagemente. Por um momento, ela não teve ideia de onde
estava além de parecer que estava com o rosto enfiado em
uma pilha de folhas de outono. Então tudo voltou com uma
claridade de apertar o coração: a sua fuga de Lochrose e a
longa viagem que tinha frente e que agora teria que
administrar com um tornozelo torcido que de fato ainda doía
com o menor movimento. Respirando profundamente,
preparou-se para a inevitável pontada de dor e lentamente se
sentou, o corpo rígido por causa do frio.
Julgou ser fim de tarde pelo tanto que a luz se esvaiu.
Devia ter dormido por horas. Olhando ao redor do bosque,
notou que pesadas nuvens cinzentas estavam sobre as
montanhas e uma neblina úmida e pegajosa estava
começando a se formar no vale. Ela deveria se levantar e se
movimentar antes que a chuva caísse, mas o pensamento de
fazer isso era quase desmedido. As folhas acima dela e a relva
do pântano se remexeram com a repentina lufada de vento.
Jessie estremeceu. Alguma coisa se movera no canto de
sua visão. Ela virou a cabeça lentamente para a esquerda. Do
outro lado do sorbus, parcialmente coberto por um arbusto,
tinha um pequeno cervo fêmea. O cervo a fitava diretamente
com os seus enormes olhos castanhos cheios de medo. Um
fragmento de névoa flutuou entre elas.
E então um barulho ensurdecedor. Lascas de troncos de
árvores explodiram ao redor e uma dor lancinante subiu por
seu braço. Jessie gritou. E depois o seu mundo escureceu.

***

O coração de Robert parou e o sangue congelou ao ouvir


o grito, um grito aterrorizado de uma mulher. O cervo que
esteve observando para sua refeição noturna se mexera no
exato momento em que o som bruto quebrou o silêncio.
Através da névoa, ele não era capaz de enxergar sinais de
atividades dentro ou ao redor do pequeno aglomerado de
árvores. Sem cavalos ou vozes.
O que diabos acontecera?
Ao seu lado, escondido nos arbustos estava o seu
escudeiro, Tobias, estava igualmente surpreso. O rosto do
rapaz ficara no mesmo tom de branco que a neve no topo de
Cairngorms atrás deles e sua boca ficara paralisada em forma
de 'O'.
— Quem é, milorde? — Ele sussurrou.
— Deus sabe. — Robert jogou o ainda fumegante
mosquete por cima de seu ombro e no instante seguinte
estava em pé, meio correndo, meio saltando sobre a urze seca
em direção ao bosque onde o cervo estivera. Ele cruzou do rio
em direção às árvores e estacou.
A poucos metros estava a jovem que ele avistara com o
seu irmão naquela manhã, seu manto escarlate cobria o seu
corpo como uma mortalha de sangue.
Jessie.
Ela estava com olhos fechados e rosto mortalmente
pálido, exceto por um fio de sangue que escorria de sua
têmpora esquerda. Oh Deus no céu, o que eu fiz? O medo
congelou as entranhas de Robert. Ele rezou para que a sua
deusa de cabelos flamejantes não estivesse morta.
Ele se ajoelhou nas folhas e tateou o pescoço dela. O
alívio surgiu quando detectou a pulsação batendo forte sob os
seus dedos.
Com rapidez e eficiência, desatou o manto para procurar
por ferimentos no corpo da jovem. Ele logo verificou que o
ferimento à bala que ela sofrera fora de raspão no alto de seu
braço esquerdo. A manga de seu vestido marrom estava
rasgada e manchada de sangue. Com gentileza, sondou a
ferida, mas não havia bala. Graças a Deus. Levantando o
rosto notou que a bala se alojara na árvore atrás dela. O
sangue em sua têmpora fora causado pela lasca de galho que
furara superficialmente a delicada pele de seu rosto. Ele
também percebeu que a bota direita estava perdida. Curioso.
— Ela ficará bem, moço, foi apenas um arranhão. — Ele
se dirigiu a Tobias sobre o seu ombro. O rapaz chegara ao
bosque no momento em que Robert conduzia sua avaliação.
— Nós precisaremos de um pouco de água do riacho.
A voz de Tobias vacilou:
— Eu… ela… quem…? O que diabos ela está fazendo
aqui?
Robert passou uma mão entre os cabelos.
— Não tenho ideia.
Tobias se aproximou e se ajoelhou ao lado de Robert.
— Não é… não é a moça de quem falou, aquela que
estava com o seu irmão? O que faremos com ela?
— Sim, acredito que seja a mesma mulher. — Respondeu
Robert, lançando um olhar a Tobias. — E respondendo a sua
segunda pergunta, também não tenho ideia.
Neste exato momento, Jessie começou a se mexer. Ela
gemeu e suas pálpebras tremeram.
Robert se inclinou sobre ela e pegou uma de suas mãos
entre as deles. Estava tão gelada.
— Abra os seus olhos agora, moça. Houve um acidente,
mas tudo ficará bem. — Ele esperava que a sua voz tivesse a
quantidade certa de segurança. A última coisa que queria
fazer era assustar a pobre garota.
Os olhos de Jessie se abriram. Ele imediatamente notou
que eram castanhos mel, como o mais profundo âmbar de
uísque e mais bonito do que imaginara pela manhã. Ela
ofegou e lutou para se sentar, afastar-se dele. Estava
obviamente aterrorizada. Mas a sua luta foi prejudicada por
sua ferida. Gritou de dor e levou a mão ao braço.
Quando afastou a mão, esta estava coberta de sangue.

***

Sangue.
Havia sangue em sua mão e uma dor excruciante, como
fogo, em seu braço esquerdo. Jessie olhava para a mancha
vermelha brilhante em sua mão e em seus dedos sem
compreender por um momento antes que o pânico em sua
garganta subisse e roubasse o seu fôlego. Que raios?
O seu olhar se fixou no homem estranho inclinado sobre
ela. Não era Simon, Graças a Deus. Olhos azuis profundos a
fitavam diretamente, porém, embora tentasse, não conseguia
entender o que o homem dizia. Ela se sentia confusa, tonta,
como se sua cabeça tivesse sido empalhada. Isto devia ser
estar em choque...
Outro homem com o cabelo ruivo bagunçado
repentinamente apareceu em sua linha de visão. Ele passou
um frasco para o homem de olhos azuis.
— Aqui está, milorde.
Jessie engoliu em seco, tentando tragar ar suficiente
para falar.
— O que aconteceu? — Sua voz, quando emergiu, soou
rouca, estranha para os seus próprios ouvidos.
O homem de olhos azuis falou novamente e desta vez ela
compreendeu.
— Você foi uma vítima infeliz de um acidente de caça. —
Ele falou gentilmente com um leve traço de sotaque escocês.
— Seu braço esquerdo está ferido, mas não é grave.
Diante das palavras dele, a memória voltou. Havia uma
corça. E um ruído alto. Um tiro. Jessie tentou se sentar
novamente e ofegou quando uma onda quente de dor se
espalhou pelo braço tornando a simples ação quase
impossível. O movimento também a recordou de que seu
tornozelo estava torcido, embora, neste momento exato, o
palpitar daquele machucado fosse muito menor.
O homem pareceu perceber a sua luta. Ele a pegou com
gentileza pelos ombros e a ajudou a se sentar. Quando se
sentou, ele soltou as mãos, porém não se afastou.
— Você atirou em mim. — Sua voz saiu como um
sussurro irregular. Quando Jessie voltou a olhar para o
estranho, percebeu que ele vestia um manto marrom simples
e calças justas. Um mosquete pendia de seu ombro. Talvez
fosse um caçador. Um caçador ilegal…
O homem respirou fundo e passou a mão pelo rosto,
parecendo mais do que arrependido.
— Sim. — Ele admitiu, encontrando o seu olhar. — Sinto
muitíssimo. Meu companheiro e eu estávamos observando
uma corça. Ela estava no bosque com você e com esta
neblina... Bem, temo que estava perfeitamente camuflada. —
Sua boca carnuda se moveu em um meio sorriso triste. —
Obviamente não sou mais o bom atirador que costumava ser,
uma vez que estou perdendo corças e atirando em jovens
damas no lugar.
Apesar de ele ter atirado nela e ela não ter nenhum
motivo real para confiar no homem ou em seu acompanhante
de cabelos ruivos, Jessie sentiu que poderia ao menos
acreditar na sua palavra sobre o ocorrido. A explicação fazia
sentido. Ela recordava da corça. E deliberadamente vestira
cores que a esconderiam na paisagem outonal. Ele
provavelmente não a notara no meio da grama e das folhas
avermelhadas das árvores.
Mas e se a falsa fragilidade fosse mal interpretada? Ele
podia ter atirado nela por acidente, mas possuir arma de fogo
era ilegal para a maior parte dos highlanders. Então o que
diabos aquele homem fazia ali, observando corças nas terras
de Lorde Strathburn em primeiro lugar? Quem ele era?
Embora lhe garantisse que ela ficaria bem, uma
incerteza flutuou selvagemente em sua barriga. Estava
sozinha e ferida. Vulnerável ao extremo. Ela tentou assegurar
a si mesma que nem todo mundo era como Simon, um
predador frio e lascivo. No entanto, o senso comum ditava que
deveria pelo menos desconfiar deste homem e de seu
companheiro de caça.
Observou novamente o rosto do caçador. Ele estava
ajoelhado muito perto dela, seus olhos azuis a inspecionavam
constantemente, obviamente avaliando a sua reação ao que
acabara de contar. Um arrepio estranho correu a sua pele do
mesmo modo que o vento derrubava a grama e subitamente
lhe ocorreu que ele era bonito, apesar da aparência rústica.
Seu cabelo castanho, quase preto, estava amarrado e fora de
seu rosto, revelando uma mandíbula de ângulo forte
escurecido pelo começo de uma barba escura. Sobrancelhas
em forma de arcos, lábios bem formados… Ela não sabia dizer
o motivo, mas tinha a estranha sensação de que lhe parecia
vagamente familiar.
O estranho voltou a falar, sua agradável voz profunda
interrompeu a sua avaliação.
— Pode me dizer o seu nome, moça?
Ela considerou a pergunta e decidiu que não havia
motivos para não dividir a informação. Engoliu em seco. A
sua garganta ainda estava tão seca e apertada que mal
conseguia falar.
— Jessie… Jessie Munroe.
O homem percebeu a necessidade dela por uma bebida.
Imediatamente estendeu o frasco que o homem ruivo lhe dera.
— Apenas água. — Ele disse como se lhe garantisse que
não a machucaria.
Jessie o pegou com mãos trêmulas e bebeu o conteúdo
gratamente. A água fria desceu pela garganta, diminuindo a
secura.
— Obrigada. — Ela disse, devolvendo o frasco.
O homem de olhos azuis tomou um gole e depois
derramou um pouco de água sobre os dedos sujos de sangue.
Oh, Deus, era o sangue dela. Jessie engoliu uma repentina
onda de náusea.
O homem tapou o frasco e Jessie percebeu, agora que o
sangue se fora, que ele possuía mãos grandes e fortes e,
embora os nós dos dedos estivessem marcados, seus dedos
eram longos, quase elegantes, com unhas bem formadas.
Claramente não eram mãos de um arrendatário ou salteador
de gado. Pareciam mais com mãos de cavalheiro, talvez um
soldado. Embora as roupas simples e o rosto liso do homem
menosprezassem a posição de cavalheiro… Ele era um
enigma, para dizer o mínimo.
Ocorreu a Jessie que deveria perguntar ao estranho o
nome dele, mas quando começou a limpar a garganta para
perguntar, o homem falou novamente.
— Bem, Jessie. Você não se importa se eu a chamar pelo
primeiro nome, importa? Nós temos que ir a um lugar que nos
forneça um abrigo melhor. A noite cairá logo e parece que vai
chover. — Naquele exato momento, um som sinistro de um
trovão soou distante e uma rajada de vento jogou folhas
douradas e vermelhas sobre eles.
O homem de olhos azuis chamou o companheiro de
cabelos ruivos que estava parado no limite do bosque durante
todo este tempo, observando-os.
— Tobias, traga os cavalos.
— Sim, milorde. — Tobias respondeu à distância em um
distinto sotaque escocês antes de desaparecer no meio da
névoa.
O caçador voltou novamente para ela.
— Há uma cabana de caça velha e abandonada não
muito longe daqui que podemos usar.
Este homem não apenas estava caçando nas terras de
Lorde Strathburn como também parecia não se importar em
usar a cabana de caça do conde. Era uma infração para dizer
o mínimo. Jessie se perguntou como o estranho sabia da
existência dela.
A surpresa sobre o comentário dele sobre a cabana deve
ter sido evidente em seu rosto, pois ele lhe perguntou:
— Você sabe sobre ela?
Ela assentiu.
— Pertence ao Lorde Strathburn. Estas são as terras
dele.
O caçador não pareceu nem um pouco abalado com a
revelação dela.
— Bem, não há possibilidade de levá-la a qualquer outro
lugar diante do clima que está se formando. — Ele falou com
um sorriso torto, olhando as nuvens com um sorriso irônico.
— Tenho certeza de que, assim como eu, você prefere não
ficar lutando contra os elementos a noite toda.
Ele procurou e fixou o olhar no dela.
— Mas antes de irmos, Jessie, gostaria de dar uma
olhada mais de perto no seu braço ferido. Você perdeu um
pouco de sangue e a ferida talvez precise ser enfaixada. — Os
olhos dele agora tinham um brilho próximo a preocupação. —
Eu lhe asseguro, só tenho intenções honradas.
— Sim, certo. — Ela falou, preparando-se para a
avaliação dele. Supôs que se as intenções dele fossem
realmente desonrosas, já saberia, se quisesse tê-la, esta seria
a oportunidade perfeita. Além do mais, se realmente
pretendesse causar mais dano físico a ela, por que se
incomodaria em cuidar de seu braço?
O homem colocou o mosquete de lado, ainda sobre seus
joelhos, inclinou-se sobre ela. Ele estava muito perto. Ela
analisou o rosto dele porque não era capaz de olhar para a
sua ferida. As sobrancelhas arqueadas desceram em um
franzido enquanto ele gentilmente afastava a parte rasgada de
sua manga para checar a ferida sob ela. Diante dessa
proximidade, não pôde evitar notar outras coisas sobre ele. A
pele de sua garganta e abaixo da barba por fazer estava
bronzeada, como se passasse uma quantidade considerável
de tempo no sol. Notou um nariz longo e reto e maçãs do
rosto alta. Definitivamente bonito, decidiu. Um elegante
rufião.
Ele era um estranho sombrio e bonito que atirara nela e
agora a resgatava. Se não estivesse com tanta dor, sorriria
diante da ironia da situação.
— Jessie. — Ele falou com gentileza quando acabou a
sua inspeção. — Terei que cortar a sua túnica para fazer um
curativo para ajudar a parar o sangramento. E também terei
que cortar a sua manga, assim eu poderei enfaixar a ferida
corretamente. Ficará tudo bem? — Ele perguntou.
Ela assentiu fracamente. Realmente não tinha outra
escolha.
O caçador puxou um punhal de seu cinto e
cuidadosamente levantou a saia de lã e a anágua de cambraia
para expor a túnica. Usando o punhal, rapidamente cortou
um pedaço decente de tecido. Parte dela sabia que deveria se
incomodar, mas, ao mesmo tempo, ela estava cansada e com
muita dor para se preocupar com ele olhando as suas pernas
e arruinando as roupas.
Embora fosse muito gentil, ela não pôde evitar e ofegou
quando ele cortou a manga dela. Havia muito sangue, mas do
que pensara ter. Ela fechou os olhos, lutando contra uma
onda de náusea. Apertando os dentes, esforçou-se para não
desmaiar enquanto o homem enrolava com firmeza o curativo
ao redor de seu braço. O toque mais leve ou movimento
provocava choques agudos de dor. Quando o curativo foi
preso com segurança, Jessie estava tremendo e um brilho de
suor frio iluminava toda a sua pele.
O homem devolveu o punhal ao cinto.
— Você é uma mulher corajosa, Jessie Munroe. — Ele
disse, voltando o rosto para sua direção. Ela pensou ter visto
uma pitada de admiração no fundo dos olhos azuis.
Para sua irritação, ela sentiu as bochechas aquecerem
diante do escrutínio dele. Mas antes que pudesse reunir os
seus pensamentos confusos e responder, o caçador
prosseguiu, o tom caloroso de barítono de sua voz era tão
suave quanto uma carícia.
— Agora, não sei se notou, Jessie, mas você tem uma
lasca de madeira em sua têmpora que deve ser removida.
O olhar dele se moveu para a sua testa enquanto
lentamente levantava o cabelo do lado esquerdo do rosto dela.
Pela primeira vez Jessie notou que a sobrancelha estava
doendo. Ela levantou a mão direita e gentilmente sondou a
lasca, estremecendo um pouco. A testa estava pegajosa de
sangue.
O caçador cuidadosamente colocou o cabelo atrás de sua
orelha.
— Está na linha do seu cabelo e a ferida é superficial,
assim não ficará nenhuma cicatriz perceptível em seu
adorável rosto.
Ele me acha atraente? Provavelmente ele está brincando.
Embora ainda tremesse, Jessie sentiu suas bochechas
começarem a queimar diante de seu comentário.
— Suspeito que deva ser um pouquinho cego. — Ela
disse irregularmente com uma tentativa de sorriso. — Mas
não importa, estou pronta. Vá em frente e faça o seu pior. —
Quando fechou os olhos para se submeter aos cuidados dele,
pensou ter escutado o estranho tentar reprimir a risada.
Uma vez que a lasca foi removida, o homem se levantou.
Ele era alto, Jessie notou, muito alto. Ombros largos, esguio,
com pernas longas e musculosas. Mesmo se fosse capaz,
duvidava que conseguisse fugir dele se precisasse.
— Jessie, vou deixá-la aqui por um momento para
ajudar Tobias com os cavalos. — Ele tirou o manto e amarrou
ao redor dela. Jessie imediatamente sentiu o cheiro de lã
úmida combinada com o cheiro adstringente de folha de
pinheiro e uma outra nota, o aroma levemente almiscarado
dele. Não era desagradável, na verdade, ela quase gostava.
— Não demorarei. — Ele acrescentou, abaixando-se para
recolher o mosquete. E depois se foi.
A névoa estava ficando mais espessa no bosque. A fria
umidade parecia entrar nos ossos de Jessie. Tremendo,
puxou ainda mais o manto do caçador em volta dela,
tentando absorver o calor residual. Ela fechou os olhos,
repentinamente vencida pela fadiga. Era como se a névoa
tivesse penetrado em sua mente também.
Enquanto pairava à margem da consciência, foi
assaltada pelas dúvidas novamente. Ela odiava depender
daquele belo estranho. Era inquietante estar em tal
desvantagem. O que a impressionou novamente foi o fato de
que ela realmente não sabia nada sobre este homem, nem
mesmo o nome. Embora o rapaz de cabelo ruivo, Tobias,
tenha o chamado de meu lorde, era uma marca óbvia de
respeito. Em sua situação atual, não importava se o caçador
fosse um lorde sem nome ou um caçador ilegal sem nome.
Recusar a oferta dele de levá-la à cabana de caça seria
realmente imprudente.
Ela rezava para que o seu instinto inicial em confiar nele
estivesse certo.
— Jessie, precisa acordar, moça. — O caçador voltara,
falando suavemente em seu ouvido, uma de suas mãos
apertando levemente o seu ombro direito. — Os cavalos estão
aqui.
Com um esforço, ela abriu os olhos.
— Você acha que consegue se levantar?
Embora atordoada, Jessie conseguiu responder.
— Não tenho certeza. Tentarei.
— Isso mesmo, moça.
O homem deslizou o braço ao redor de sua cintura para
ajudá-la a se levantar, mas quando ela começou a se erguer,
seu tornozelo torcido e temporariamente esquecido protestou.
A dor aguda foi tão forte que ela chorou em agonia e agarrou
o braço e o ombro do homem. A sua cabeça flutuou com
tontura e ponto escuros apareceram diante de seus olhos.
— Meu tornozelo... eu... eu torci mais cedo. — Ela
engasgou.
A boca do homem se curvou em um sorriso torto.
— Ah, isso explica a bota faltando. Você sabe onde a
deixou?
Jessie olhou ao redor e depois apontou para a pilha de
folhas ao lado do tronco do sorbus.
— Está na minha bolsa, bem ali.
Ainda apoiando Jessie, o homem abaixou-se e pegou a
alça da bolsa com a sua mão livre. Então sem falar nada, ele
gentilmente a ergueu em seus braços, como se ela fosse uma
criança e a carregou através do bosque, cruzou o riacho
rochoso até onde Tobias estava esperando com dois cavalos.
Meu Deus, ele é forte. À medida que a sensação de
desmaio cedia, Jessie ficava mais ciente dos traços duros do
peito do caçador que a embalava em seus braços. Ele a
depositou na sela como se ela não pesasse nada, suas mãos
ainda em sua cintura.
— Você não vai desmaiar de novo, vai? — Ele perguntou,
a preocupação marcando sua testa.
— Não... Eu acho que ficarei bem. — Ela respondeu,
evitando os olhos dele ao agarrar-se à sela. Estava altamente
ciente da sensação que as mãos grandes e capazes dele
abrangendo o seu dorso e ficou mais do que aliviada quando
ele a soltou para prender a bolsa dela ao um dos alforjes de
sua montaria.
Trovões ecoaram novamente, desta vez mais altos. Jessie
estremeceu quando uma brusca rajada de vento os atingiu.
Apesar da queda da temperatura, desajeitadamente tirou o
manto do caçador e estendeu a ele.
— Tenho certeza que gostaria de ter o seu manto de
volta, Lorde... — Ela olhou para o belo estranho, a pergunta
em seus olhos. Após tudo o que acontecera, realmente queria
saber o nome deste homem.
Ele encontrou o seu olhar e sorriu, a inclinação atraente
e inegavelmente malandra de sua boca a fazendo enrubescer
novamente.
— Fico lisonjeado por me achar tão distinto. Mas eu sou
simplesmente o Sr. Robert Burnley. E você deve me chamar
de Rob. — Os seus dedos roçaram os dela enquanto pegava o
manto. — Obrigado, Jessie.
O breve contato fez a pele dela formigar de uma maneira
estranha e para a sua consternação, seu rubor aumentou. O
que diabos está acontecendo comigo?
O Sr. Burnley, ou Rob, como ele insistia em ser
chamado, vestiu o manto e então a desestabilizou novamente
ao puxar um plaid de lã de dentro de seu alforje. Era o
mesmo xadrez de caça do Clã Grant – um padrão de xadrez
azul, verde e preto. Jessie vira um plaid igual no escritório do
Lorde Strathburn. Era o mesmo xadrez usado pelo regimento
da Guarda Negra.
Rob notou que ela franzia o cenho.
— Eu costumava servir à Guarda nas redondezas. — Ele
falou a título de explicação enquanto envolvia o plaid ao redor
de si com clara eficiência.
Então era um soldado. A sua observação anterior estava
correta... Se pudesse confiar na palavra de Rob. Entretanto,
mesmo servindo na Guarda, não era garantia de que estava
segura em suas mãos. Jessie ouvira histórias terríveis sobre
as condutas tanto dos dragões e dos membros da Guarda
durante e após a Rebelião, contos de estupro, pilhagem e
assassinatos que a fizeram ficar enojada. Ela rezou para que
Rob fosse o homem honrado que aparentava ser e não fosse
um soldado violento e bruto ou um homem como Simon.
Todo pensamento coerente sumiu quando, com agilidade
e graciosidade, Rob subiu na sela atrás dela e pôs um de seus
fortes braços ao redor dela para mantê-la estável. Ela
percebeu que ele era zeloso em evitar contato com seu braço
ferido. A sua outra mão preguiçosamente sacudiu as rédeas e
o cavalo deles moveu-se em direção ao mar de neblina
impenetrável que se acumulava no chão do vale. Tobias
seguia em algum lugar atrás deles.
Não demorou muito e uma garoa leve e fria começasse a
cair. Jessie tremeu e, estando tão próximos, Rob
imediatamente percebeu o seu desconforto. Ele mudou de
posição na sela e enrolou o seu plaid ao redor, prendendo-a
mais perto dele. Parte dela sabia que deveria ficar chocada
com a flagrante intimidade de ser puxada contra ele, mas, na
verdade, estava grata por receber o calor que emanava do
corpo esguio de Rob.
Para desviar a atenção da sensação desconcertante e
estranhamente acolhedora, Jessie focou novamente no
enigma que era o Sr. Robert Burnley.
— Você conhece o Conde de Strathburn e sua família, Sr.
Burnley? — Ela aventurou-se. Ela não usara o nome de
batismo como fora pedido. Ela sentia que deveria tentar
manter alguma formalidade na situação, já que não havia
nada remotamente apropriado sobre a forma que eles estavam
sentados. A cada passo oscilante do cavalo, suas costas e
nádegas pressionavam e se esfregavam no homem.
Houve um curto silêncio. Os dedos de Rob apertaram as
rédeas, mas logo ele respondeu com suavidade.
— Sim, eu os conheço. Embora faça muito tempo que
estive não área. Mas tenho certeza de que o conde não se
importará que eu use de uma antiga camaradagem com a
família ao usar a cabana dele. E você deve se lembrar de me
chamar de Rob.
Ambos caíram em silêncio novamente. A mente de Jessie
flutuava entre os pensamentos semi-formados e as perguntas
que ela gostaria de fazer sobre a exata natureza da associação
de Rob com o conde e sua família — por exemplo, era ele um
velho amigo de Simon? — mas ela inesperadamente tinha
dificuldades em pensas em qualquer coisa, exceto o seu
desconforto. A inquietante proximidade física com o homem
atrás dela, a dor persistente de seus machucados e a chuva
congelante começavam a desgastá-la.
Vários minutos de quietude passaram antes que Rob a
assustasse e a tirasse de sua nuvem de fadiga com uma
pergunta.
— O que estava fazendo aqui sozinha, Jessie?
O seu pulso começou a martelar e sua boca
repentinamente começou a ficar seca. O que deveria dizer a
ele? Quanto de sua situação poderia ser dividido? — Eu... eu
estava seguindo... em meu caminho a Grantown-on-Spey... eu
queria conhecer os campos. Mas como você sabe, eu torci o
meu tornozelo. — A sua explicação soou fraca, inverossímil
até mesmo para os seus ouvidos.
— Hummm, percebo. — Rob fez uma pausa e o momento
tenso se estendeu. — Então você mora na região? Você parece
bem familiarizada com Lorde Strathburn e com a família dele.
O tom de voz de Rob era neutro, mas, mesmo assim,
Jessie lutou para controlar outra onda de pânico. Ela
precisava pensar com clareza. Apesar de estar sozinha e,
principalmente, indefesa, talvez se sugerisse uma associação
com a família do conde em vez de revelar que era apenas a
filha do administrador, Rob pensaria que tinha conexões em
lugares altos. Até agora, ele não se comportara de maneira
desagradável, no entanto, ela esperava que passar estas
informações, lhe daria alguma medida adicional de proteção
durante a noite que tinha pela frente.
Embora conhecer Lorde Strathburn não tivesse parado
Simon.
— Eu... eu fiquei... várias semanas no Castelo Lochrose.
— Ela gaguejou, silenciosamente blasfemando contra a sua
incoerência, isso a fazia soar como a mentirosa nervosa que
era.
A voz profunda de Rob soou em seus ouvidos.
— Mas o conde e a família dele não vão esperar por você?
Pergunto-me o porquê de eles permitirem que você se
afastasse tanto sozinha.

***

Jessie não respondeu. A tensão parecia vibrar por todo


corpo dela, sua coluna ficou rígida, seus ombros tensos, na
verdade, Robert pôde senti-la tremer contra ele. Ele
obviamente aterrorizara a garota a ponto de silenciá-la ao
apontar o isolamento dela. Parte dele se arrependia de que
esta linha incessante de perguntas estivesse destruindo a
frágil camaradagem que parecia estar se desenvolvendo entre
eles. Mas ele precisava saber se Simon ou alguém mais
sentiria falta da garota e viesse procurá-la e ao fazer isso o
encontrasse.
— Sim, suponho que Lorde e Lady Strathburn estejam
preocupados por agora. Eles talvez enviem a Guarda para me
procurar. — Jessie respondeu.
Que moça corajosa e inteligente ela era.
— Sim, tenho certeza de que irão, Jessie. — Robert
destacou apenas para lhe garantir que ele não queria
machucá-la. Além do que, ele já fizera, embora tenha sido
acidente.
E tudo porque eu tinha o desejo estúpido e sangrento de
carne de veado.
Ele não pôde evitar de admirar a estratégia dela de
sugerir aliados poderosos que poderiam cuidar de seu bem-
estar. Talvez ela fosse cuidadora de seu pai. Neste caso, tanto
a Guarda como outros homens do clã definitivamente seriam
enviados em busca dela. Ele amaldiçoou internamente. Ele
realmente não precisava disso. Mas então, a Guarda ou até
mesmo Simon estaria vasculhando os vales e montanhas em
uma noite diabólica como aquela? Com alguma sorte, eles
esperariam até a manhã seguinte.
A viagem continuou a um passo meticulosamente lento.
A chuva gelada ficava cada vez mais pesada e as nuvens de
neblina espessa tornavam impossível enxergar mais do que
alguns passos à frente. Frequentemente trovões rosnavam e
relâmpagos iluminavam brevemente as nuvens ao redor deles.
O ar estava carregado de correntes estranhas.
Robert apertou ainda mais o seu plaid ao redor dele e de
Jessie, em um esforço para dividir o calor de seu corpo com
ela, mas isso tudo era inútil. Não muito tempo depois, os dois
estavam ensopados e Jessie estava tremendo de frio e choque.
Apesar das condições abismais em que se encontravam,
Robert estava surpreso ao se ver tomado por uma poderosa
reação física por ter Jessie tão perto de seu corpo. Embora se
esforçasse, Robert não era capaz de ignorar a curva suave dos
seios dela esfregando-se contra a parte interna de seu braço
que a mantinha em segurança sobre o cavalo ou a pressão
que a parte mais baixa de suas costas e o seu traseiro
redondo balançando ritmicamente contra a sua virilha.
Cristo, o que estou pensando? Ele rezou para que a
garota – ao julgar por sua aparência, devia ter não mais do
que dezenove, vinte anos – não tivesse percebido quando ele
começou a inchar.
Seus pensamentos começaram a correr rapidamente
enquanto o cavalo avançava firmemente através da chuva.
Como fizera naquela manhã, ele se perguntou sobre a
natureza do relacionamento entre aquela adorável jovem e
Simon. Era curioso o fato de ela não ter mencionado qualquer
associação com o seu meio-irmão quando admitira conhecer
Lorde e Lady Strathburn. Embora só tenha fornecido poucos
fatos sobre o assunto. Ele se perguntava porque ela fazia isso.
Ela tinha um caso de amor ilícito com Simon?
Provavelmente se tivesse em algum relacionamento conhecido
com o seu irmão, falaria.
E o que realmente estava fazendo ali sozinha, no meio do
nada, com apenas uma sacola contendo alguns pedaços de
comida, algumas moedas e roupas de baixo? Ele
discretamente olhara em sua bolsa antes de prendê-la em sua
sela. Ele achou difícil acreditar que subira ali, naquele
cenário proibitivo, para um passeio agradável.
Deveria ter outro motivo. Ele considerou novamente o
que havia testemunhado entre Jessie e Simon no lago pela
manhã. Talvez eles tivessem combinado um encontro
clandestino na cabana de caça. Isso explicaria o fato de Jessie
estar ali. Na verdade, Robert usara a cabana para tais coisas
muitas vezes em sua juventude. Ela era isolada, o lugar
perfeito para encontro de amantes sem medo de serem
perturbados.
Entretanto, descartou a noção de que Simon estaria em
qualquer lugar ao redor no momento. Quando ele e Tobias
deixaram a cabana no meio da tarde para caçar, não viram
uma alma no vale até encontrarem Jessie. E, ao menos que
Simon tenha mudado drasticamente nos últimos dez anos,
não era provável que seu meio-irmão criado como um lírio
pudesse estar ali, particularmente com este tempo. Ele não
tinha coragem e nem resistência e teria virado seu rabo de
volta para casa no primeiro pingo de chuva por medo de pegar
um resfriado.
A lembrança de Simon beijando Jessie, selvagem e
possessivamente, introduziu-se na mente de Robert
novamente. A raiva surgiu e ele resistiu à vontade de puxar
Jessie para mais perto dele. Não seja um idiota, Robert. Você
não a conhece. Ela não é sua.
Ele não tinha ideia do motivo pelo qual estava com tanto
ciúme por Simon clamar Jessie. Mas naquele ponto, era inútil
examinar seus sentimentos completamente irracionais.
Precisava focar a sua energia em descobrir como esta
inesperada mudança de eventos – ferir e cuidar de Jessie –
afetariam os seus planos de reunir-se com seu pai e,
finalmente, ter uma chance de conseguir ser perdoado. Uma
coisa era certa, dada o clima terrível e as condições de Jessie,
não havia possibilidade de ele retornar a Lochrose esta noite.
Finalmente Robert notou as formas das árvores no meio
da chuva forte e do nevoeiro. Eles não estavam muito longe de
abrigo. A cabeça de Jessie havia tombado para trás, contra o
seu ombro algum tempo atrás. Ele suspeitava que ela
desmaiara em vez de dormir. Independente do risco para ele e
para Tobias por consequências, não havia dúvidas em sua
cabeça que fizera a escolha certa ao cuidar da garota. Não
poderia deixá-la no riacho, ferida e em choque. Especialmente
naquele tempo. Na verdade, em uma noite como aquela, ela
poderia morrer facilmente.
Mas o dilema que ainda enfrentava era: o que fazer com
Jessie agora? Resgatar donzelas em perigo não estava em
seus planos, especialmente donzelas que poderiam ter alguma
relação com o seu meio-irmão. Sem dúvida era uma moça
inteligente. Mesmo em considerável dor e choque, notara o
deslize de Tobias quando o rapaz se referiu a ele como meu
lorde. Eles precisavam ser extremamente cuidadosos sobre o
que diziam perto dela. Ele precisava lembrar a Tobias que se
referisse a ele apenas como Rob.
Isso trouxe a cabeça dele outra pergunta: Jessie
conhecia o notório Jacobita, Robert Grant – o há-muito-
tempo-perdido Senhor de Strathburn e antigo Visconde de
Lochrose? Depois de todo este tempo, ele ainda era um
homem procurado com um preço por sua cabeça? Agora que
voltara, o veria como uma ameaça direta à futura
reivindicação de Simon como Conde de Strathburn?
Ele não tinha certeza de que poderia confiar em Jessie
Munroe afinal.
Quatro

Quando Jessie abriu os olhos, foi para se ver ensopada e


com o maior frio que já sentira na vida. Os dentes batiam
incontrolavelmente e seu braço e tornozelo pulsavam no
mesmo ritmo de seu coração. Um áspero cobertor de lã a
cobria e sua bochecha estava apoiada sobre um tapete de pele
de carneiro. Ela devia estar na cabana de caça de Lorde
Strathburn.
Rob estava exatamente à sua frente, ajoelhado diante de
uma pequena lareira, cutucando os troncos de madeira com
um atiçador para encorajar as chamas a crescer. À luz
tremeluzente, notou que ele também estava molhado.
Mordendo o lábio para evitar choramingar, Jessie se
moveu para sentar-se usando o braço bom. A tontura a
assaltou e a sala – um quarto ao observar melhor – girou
loucamente por um momento, mas depois, felizmente, tudo se
acertou. O pequeno espaço possuía poucas mobílias, uma
poltrona e uma cama de dossel de aparência sólida. Um
grande baú de madeira estava aos pés da cama.
Ela desviou o olhar da cama e o pousou cautelosamente
em Rob. O que ele fará comigo? Ela realmente desejava ter
aquele atiçador em suas mãos. Apenas para o caso...
— Como está se sentindo, Jessie?
Ela pulou e seu olhar voltou para Rob. Os olhos azuis
dele estavam ainda mais escuros na luz incerta do fogo e
atentos – especulativo – enquanto a avaliava. Engoliu em seco
para achar voz.
— Um pouco de f-frio e dolorida. — Como se fosse para
desmentir a sua afirmação e apesar do seu estado de quase
congelada, suas bochechas se aqueceram enquanto ele
continuava com o seu escrutínio silencioso.
— E eu acho que ‘pouco’ é um exagero, minha moça. —
Ele disse com um sorriso irônico. — Você deve estar
congelando e com uma dor considerável. Mas eu cuidarei bem
de você. Não há nada a temer.
Estranha e, talvez, imprudentemente, Jessie estava
inclinada a acreditar na última frase dele. Não detectou
ameaça, apenas preocupação no olhar de Rob que
permaneceu em seu rosto por mais tempo antes de descer
para o resto dela. Avaliando-a. Que visão devia mostrar,
tremendo, pingando e sangrando, tão fraca e indefesa quanto
um carneiro.
Rob, por outro lado, parecia tudo menos indefeso.
Embora estivesse molhado como ela, parecia tão
descaradamente masculino e poderoso – na verdade, atraente
fisicamente – que seu coração bateu forte contra as suas
costelas. Ele removera o seu plaid e casaco e estava usando
apenas calças e a camisa. O tecido molhado e quase
transparente se agarrava a larga extensão de seu peito
musculoso, ombros impossivelmente largos e bíceps
consideráveis. Ela recordou a sensação de força de aço
quando ele a carregou, e como sentiu-se ao ser pressionada
contra o corpo duro e quente com os braços ao redor dela
enquanto cavalgavam. Ela enrubesceu novamente com a
lembrança.
Pare de olhar assim sua idiota, Jessie Munroe. Diga
alguma coisa.
— Sim, a-a-acredito em você, sir – Ela forçou para falar
entre o bater de dentes.
— Você quis dizer, Rob. — Ele falou, sua boca carnuda
puxando-se em um sorriso atraente, seus dentes brancos
contrastavam com a barba por fazer que escurecia a sua
mandíbula bronzeada.
— R-Rob. — Ela concedeu, tentando sorrir de volta. O
charme dele era contagiante. E perigoso. Ela tentou puxar os
lençóis com mais firmeza ao redor de si mesma para parar de
tremer, mas estremeceu quando uma dor afiada cortou o seu
braço.
Rob percebeu o seu desconforto imediatamente. Ele
franziu o cenho com o que parecia ser preocupação genuína.
Suas próximas palavras, no entanto, foram alarmantes.
— Jessie, você precisará tirar suas roupas molhadas e
me deixar olhar as suas feridas.
Ela sacudiu a cabeça enfaticamente.
— N-não. Se eu me sentar perto do fogo ficará t-tudo
bem.
— Não, não ficará. Você está em choque, sofrendo com
hipotermia e eu não tenho ideia de quanto sangue perdeu
com a ferida em seu braço. Acho que a bala apenas a
arranhou, mas preciso me certificar. Você precisa se secar,
aquecer e ter o curativo trocado. — Ele falou com tanta
tranquilidade e seriedade que Jessie percebeu que o que ele
falava tinha sentido. Mas ela não ia se desnudar na frente
dele, um completo estranho. Um homem perigosamente
atraente.
Ele adivinhou o motivo de sua relutância.
— Eu sairei para que se troque. Gostaria de alguma
ajuda para ir até a cadeira ou à cama?
Certamente para a cama não. Jessie balançou a cabeça e
se sentou um pouco mais ereta.
— N-n-não, obrigada. Acho que serei capaz de fazer isso.
Rob estreitou levemente os olhos, mas inclinou a sua
cabeça.
— Como quiser. Sua sacola está na cadeira atrás de você
e há uma toalha de linho, camisa seca e um plaid aos pés da
cama.
Assim que a porta se fechou, o alívio varreu Jessie e ela
soltou o ar que estava prendendo. Sabia que deveria fazer o
que Rob sugerira. E ao ver todos os itens que ele deixara, não
conseguiu evitar ficar tocada pelo tanto que ele era atencioso.
Decidiu então que o valorizaria, que ele estava apenas
tentando ajudá-la. Nem todos os homens eram como Simon.
Ela levantou-se lentamente. Embora ainda se sentisse
instável e que mal podia colocar peso sobre o seu tornozelo,
não pensou que desmaiaria. Deixando cair o lençol molhado
junto com o seu manto ensopado aos seus pés, mancou até a
cama para começar o doloroso processo de se desnudar sem
ajuda.
Uma coisa por vez, Jessie. Sentou-se no baú de madeira
e com a toalha secou o rosto, pescoço e cabelo da melhor
forma que conseguiu, em algum lugar no meio do caminho,
perdera a sua fita e seus cabelos estavam uma bagunça
molhada. Abaixando-se, tentou remover a bota restante, mas
o simples ato a deixou zonza de dor. Sua frustração
aumentou quando descobriu que as tiras que prendiam a
parte de cima das meias estavam irremediavelmente atadas.
Seus dedos trêmulos não conseguiam desfazê-los, por mais
que tentasse.
A tarefa de remover o resto das roupas ensopadas
subitamente pareceram além de suas condições. Desatar os
laços de seu vestido seria impossível de administrar com
apenas uma mão. Ela levantou uma mão trêmula para as
costas de seu vestido, mas como suspeitava, os esforços
foram infrutíferos. Lágrimas de frustração começaram a picar
suas pálpebras.
Uma leve batida na porta a fez pular.
— Você p-pode entrar. — Ela tentou secar rapidamente
as lágrimas enquanto Rob entrava. Ele franziu a testa quando
a viu, se era por causa de suas lágrimas ou inanição, não
saberia dizer. Ele evidentemente não tivera problemas para
trocar as suas roupas molhadas por uma camisa folgada de
linho branco, calças de camurça marrom e botas de couro
preta.
— Afinal eu não consigo administrar isso, sinto muito. —
Ela apontou para o curativo do braço como explicação de não
ter se trocado.
Sem uma palavra, Rob cruzou a sala e se ajoelhou diante
dela. Seus olhos mantiveram-se fixos nos dela por um longo
tempo e Jessie se perguntou sobre o que ele estava pensando.
Embora a expressão dele fosse ilegível, seu tom foi gentil ao
falar.
— Olharei o seu tornozelo antes. Não acho que está
quebrado, mas é melhor checar.
Jessie assentiu. Ela fechou os olhos e todo o rosto corou
devido ao constrangimento quando Rob cuidadosamente
ergueu a sua saia e começou a desatar as fitas que
amarravam suas meias acima do joelho. Nenhum homem a
tocara assim ou vira tanto de seu corpo. Ela agarrou a borda
do baú de madeira e teve dificuldade de engolir em uma
garganta repentinamente apertada e seca. Ela não acreditava
que estava permitindo que um completo estranho a tocasse
de um modo tão íntimo.
Porém, a coisa mais incrível de tudo era que o seu corpo
estava reagindo de um jeito completamente diferente de como
usualmente reagia quando Simon Grant tomava liberdades.
Não sentia repulsa às mãos de Rob em sua pele nua. Sentia-
se estranhamente inquieta, sua pele formigava onde os dedos
de Rob passavam e um calor inusitado começou a florescer na
parte de baixo de seu ventre. Mas ela não sentiu o impulso de
se afastar do Sr. Rob Burnley.
Não, não mesmo.

***
Por Deus, como supõe-se que devo ajudar Jessie a se
trocar com um semblante de compostura?
O sangue de Robert começou a bater mais forte e rápido
em suas veias enquanto ele se abaixava para a tarefa de
levantar as saias de Jessie e expor as suas pernas. Quando
inicialmente entrara na sala e percebeu que teria que ajudá-
la, ele tinha se determinado a endurecer os instintos de seu
corpo. Ele se lembrava com firmeza de que esta mulher
possivelmente era apaixonada por Simon e que não podia
confiar nela.
Apesar de sua resolução, rapidamente ficou
irremediavelmente ereto. E inexplicavelmente nervoso, as
mãos tremeram levemente e sua respiração ficou irregular.
Por Cristo, controle-se, Robert. Ele estava reagindo como um
garoto inexperiente e sem habilidades, não um homem de
trinta anos que já havia desnudado sua parcela de mulheres.
Ele tentou se concentrar apenas em desfazer as fitas de
Jessie e rolar as meias de lã molhadas uma por uma e não ao
fato de que ao subir a primeira vez as saias dela,
acidentalmente teve um vislumbre de cachos ruivos no vértice
de suas coxas, ou de suas pernas impossivelmente longas,
pálidas e elegantes, ou que, onde os dedos tocavam, deixava
uma trilha de arrepios na pele.
Cuidadosamente levantou seu pé direito descalço com
uma mão enquanto examinava o seu tornozelo inchado com a
outra. Ele lutou contra o súbito impulso de beijar o delicado
arco de seu pé e deslizar a língua ao longo da pele sedosa
atrás do joelho dela. Em vez disso, tentou se concentrar no
fato de que o tornozelo estava realmente torcido como eles
suspeitavam.
— Boas notícias. Sem ossos quebrados. Vou amarrá-lo
para você após eu ver o seu braço. — Ele informou sem olhar
para os olhos cor de uísque dela. Sua voz soou grossa, rouca.
Engoliu em seco e se levantou. Graças aos céus sua longa
camisa de linho estar solta e esconder o pênis que
pressionava a parte da frente da calça. Não queria que Jessie
se assustasse com sua inoportuna excitação. — Você acha
que pode ficar de pé para eu ajudá-la com o vestido?
Em resposta, ela se levantou cuidadosamente e
lentamente se virou, virando suas costas esguias para ele.
Perguntou-se se ela já fora desnudada por Simon. A mesma
raiva frustrante que sentiu quando os viu juntos pela manhã
voltou a cruzar ser corpo. Ele se perguntava o que ela vira em
seu meio-irmão.
Para poder ter acesso aos laços da parte de trás do
vestido, Robert deslizou a pesada cortina de cabelos úmidos
sobre um dos ombros, liberando um tentador aroma de água
de chuva fresca e algo mais floral e totalmente feminino.
Maldito inferno. Seu pênis ficou ainda mais duro. Neste ritmo,
sairia de suas calças antes que ele tivesse removido o vestido
dela.
Cerrando os dentes, tentou ignorar a pele cremosa na
parte de trás do pescoço e a elegante linha de sua coluna que
gradualmente era exposta à medida que soltava os laços. Tão
gentil e cuidadoso quanto podia, ele deslizou a manga
rasgada pelo braço machucado. Mesmo assim, ela se
encolheu e prendeu o ar quando a manga molhada
escorregou pelo curativo ensanguentado. A outra manga
deslizou suavemente e então seu vestido caiu no chão. As
anáguas rapidamente a seguiram.
Jessie agora estava parada diante dele apenas com
chemise e corset. E Deus o ajudasse, ele nunca tinha sido tão
afetado fisicamente por uma mulher assim em toda a sua
vida. Muito assustado para fazer outro movimento e fazê-lo
errado, passou a mão entre seus cabelos molhados,
esperando por alguma direção da moça. Com as costas ainda
viradas para ele, ela parecia estar atrapalhada com alguma
coisa.
Então a falou e suas palavras provavelmente trariam a
sua ruína.
— Os laços do meu corset estão na frente e receio que os
nós estejam muito apertados. Meus dedos parecem não
funcionar muito bem. — O seu corpo inteiro estava tremendo
e sua voz era um pouco mais do que um sussurro rouco.
O ar ficou preso no peito quando ela se virou para
encará-lo. Cristo, ela é linda. A luz do fogo iluminava-a de
frente e por um momento ele ficou estupefato. Fascinado. Os
olhos estavam direcionados para baixo, as bochechas coradas
e os lábios cheios levemente separados. Acima da umidade
quase transparente do linho de sua chemise, ele podia ver
claramente os montes roliços de seus surpreendentes seios
voluptuosos subindo e descendo com a rápida respiração. Não
conseguiu evitar e se perguntar de que cor seriam os seus
mamilos.
Agradecendo a Deus por ela não ser capaz de ouvir os
seus pensamentos excessivamente lascivos, aproximou-se e
começou a desamarrar os teimosos laços. Quando os nós dos
dedos acidentalmente roçaram a parte inferior dos suaves
seios, ele quase rosnou. Assim que completou a tarefa,
afastou-se abruptamente e andou para o outro canto da sala.
Precisava de um gole de uísque ou sair na chuva gelada
novamente, ou até mesmo dos dois, antes de ser capaz de
cuidar do braço.
Às suas costas, ouviu o ruído de mais peças de roupas
no chão e depois barulho de tecido seco de Jessie vestindo as
roupas que ele arrumara, uma camisa de linho igual a dele e
um plaid de caça do Clã Grant.
Ficou aliviado pelos plaids de sua família não terem sido
confiscados pelos dragões da região. Desde a Rebelião, o uso
de tartã havia sido proibido, exceto para os membros da
Guarda. Ainda guardados em segurança nos baús aos pés da
cama, entre galhos desintegrados de lavanda, parecia que os
panos não eram mexidos há anos. Talvez dez anos.
Quando Robert se virou, ficou surpreso em ver o quanto
lhe agradava ver Jessie nas cores de seu clã. Elas
combinavam bem com ela. Mas então, ela ficaria linda em um
saco e cheia de cinza. Ele se esforçou para encontrar o olhar
cauteloso. Obviamente, ela esperava por seu próximo
movimento.
Ele sorriu, aplicando uma calma que não sentia.
— Certo, Jessie. Vamos ver esse braço.

***
Jessie assentiu, muito abalada para falar. Achava que
nunca enfrentara algo tão perturbador antes. Na verdade, não
conseguia olhar nos olhos de Rob quando ele a pegou
novamente em seus braços e a levou para a outra sala.
Alguém poderia morrer de vergonha?
A cabana de caça era formada por três áreas principais:
o quarto onde ela havia acordado, uma cozinha com sala de
jantar central mobiliada com uma larga mesa de carvalho e
cadeiras e uma área para sentar-se diante da lareira e uma
sala menor, mais além, que parecia ter pouco mais que um
simples catre. Os alforjes estavam empilhados perto da porta.
Tobias, agora também seco, estava parado perto da lareira
principal acendendo velas.
Rob a carregou até a área de sentar-se perto da lareira e
a colocou em uma das poltronas. Tobias sorriu com incerteza.
Uma curiosa variedade de itens cobria a mesinha de café
diante dela: várias tigelas grandes, uma delas cheia de água,
uma toalha, faixas de linho rasgadas, uma pequena bolsa de
couro, um broche de prata do clã, alguns copos de vidro e
uma garrafa de uísque. Jessie mordeu o lábio. Ela
subitamente sentiu-se nervosa. Muito nervosa.
Rob sentou-se em um divã ao seu lado esquerdo e
prendeu o seu cabelo com uma tira de couro, muito
empenhado em sua tarefa.
— Certo, moça, vamos enrolar esta manga.
Antes que pudesse dizer sim ou não, ele empurrou o
tecido solto para cima de seu ombro e o prendeu com o
broche de prata. Ela ficou perturbada ao ver o tanto de
sangue que penetrara no curativo improvisado. Mordeu o
lábio mais forte e tentou não chorar quando Rob desamarrou
o tecido. Cada movimento aumentava o latejar.
Quando o curativo foi tirado, ela lançou um olhar para o
rosto de Rob, a sobrancelha dele estava franzida. Podia sentir
o sangue quente e fresco ensopando o seu braço.
— Quão ruim está? — Murmurou.
— Mais profundo do que eu pensei, mas eu já vi piores.
— Rob olhou diretamente nos olhos dela. — Jessie, você terá
que ser corajosa por mais um tempo.
Seu estômago se revirou como um salmão em terra.
— O q-que você quer dizer?
Rob apertou a sua mão.
— Isso soará estranho, mas eu aprendi por experiência
própria que feridas devem ser cuidadosamente limpas para
evitar que qualquer infecção se desenvolva. E por alguma
razão que eu não sei explicar, o uisge beatha — ele apontou
para a garrafa de uísque — parece fazer o truque. Uma vez
feito isso, terei que dar alguns pontos. Cinco ou seis no
máximo.
Jessie fechou os olhos e assentiu. Ela não gostava nem
um pouco de como isso soava.
— Eu quero que você beba isso antes. — Rob lhe
ofereceu um copo com uma dose razoável de uísque. Ela deu
um gole. Tinha gosto de turfa e mel e deixou uma trilha
quente por sua garganta.
— Beba tudo, Jessie. Ajudará.
Obedientemente bebeu de uma vez. Era algo potente e a
fez tossir um pouco. Em um estômago vazio, foi direto para a
cabeça, não apenas isso, um calor estranho parecia penetrar
em seus membros, fazendo-a sentir-se quase tão mole quanto
uma boneca de pano. Até Rob falar novamente. Ele olhava
para Tobias que pairava perto das costas de sua poltrona.
— Pode segurar os braços dela, moço? — Então seu olhar
voltou para ela. — Não mentirei, Jessie. Isso vai doer.
O seu coração bateu forte e rápido em seu peito e ela
subitamente ficou sem ar quando Tobias a pegou por trás e
segurou seus braços com firmeza. Entre horrorizada e
fascinada, assistiu Rob derramar outra dose de uísque em um
copo limpo. E mergulhou um bloco de tecidos nele. E então
pressionou o bloco ensopado de uísque contra a sua ferida
aberta.
Ela gritou. Um fogo excruciante a rasgou e lutou com o
aperto de Tobias. Sua respiração saia curta, ofegante e
irregular e a náusea aumentou.
— Eu vou vomitar.
Rob já estava pronto para esta reação. Ele, calma e
rapidamente, colocou uma tigela vazia no seu colo e puxou os
cabelos para trás enquanto ela colocava para fora o conteúdo
de seu estômago. Quando terminou, ele limpou o seu rosto
com uma toalha limpa e lhe ofereceu água para limpar a
boca.
— Certo, a pior parte acabou, moça. Tobias ainda a
segurará enquanto eu faço os pontos.
Ela assentiu, muito fraca para falar. Estava tremendo
novamente. Este pesadelo ia acabar?
Observou Rob abrir a pequena bolsa de couro e enfiar
uma linha em uma agulha. Ele também os mergulhou no
uísque antes de começar a costurar a laceração. Aquilo doeu
e trouxe lágrimas aos seus olhos, mas ele estivera correto
quando disse que a pior parte estava quase acabada. Era
eficiente e, em pouco tempo, terminou. Para terminar, colocou
outra bandagem de tecido limpo e abaixou a sua manga.
Quando acabou, ele se recostou e passou uma mão no
rosto. Ela percebeu que apesar de sua calma externa, suas
mãos tremiam levemente agora.
Ele lhe deu um sorriso fraco.
— Estamos quase terminando.
Jessie engoliu com dificuldade.
— O que quer dizer?
Robe se aproximou dela e gentilmente afastou o seu
cabelo de sua têmpora esquerda.
— Apenas quero averiguar o corte feito pela lasca. —
Com um pano limpo e molhado, cuidadosamente limpou os
traços de sangue seco que a chuva obviamente não lavara.
O rosto dele estava muito perto. Perto demais. O seu
olhar desviou de seus olhos azuis para a sua boca sensual,
distante apenas milímetros da dela. Como seria ser beijada
por aqueles lábios? Apesar do calor fluindo em suas
bochechas diante do pensamento errante, não foi capaz de
desviar o olhar. O que em nome de Deus havia de errado com
ela? O choque e o uísque claramente confundiram o cérebro.
Tobias pigarreou.
— Ah, irei me livrar dessas pequenas coisas, não,
milorde? Quero dizer, Rob. E então prepararei o jantar.
Rob balançou a cabeça quase imperceptivelmente como
se tivesse acordado atordoado. Ele se afastou abruptamente e
depois acenou bruscamente para Tobias que já estava
batendo em uma rápida retirada com a tigela descartada e
copos usados. Uma rajada de vento noturno soprou e as
chamas das velas e do fogo tremeram antes que a porta fosse
fechada. O clima estranho se quebrou.
Rob voltou-se para ela, concentrado novamente.
— Bem, vamos amarrar este tornozelo problemático
antes do jantar? Não sei você, mas estou faminto.
Jessie não soube dizer o porquê, mas ímpeto travesso de
dentro dela e que sempre a colocava em problemas, decidiu se
mostrar. Ela forçou um suspiro e depois curvou a boca em
um sorriso triste.
— Uma pena não termos carne de cervo.
Rob ergueu suas sobrancelhas, claramente surpreso,
depois jogou sua cabeça para trás e riu.
— Não poderia concordar mais com você, Jessie Munroe.
— Ele disse sacudindo a cabeça, diversão e, talvez, admiração
dançando em seus olhos. — Não poderia concordar mais.

***

Apesar da fome, Jessie apenas conseguiu suportar um


pouco do pão de centeio de sua sacola. Ela compartilhou com
alegria o resto de suas coisas, seu pedaço de queijo e algumas
maçãs com Rob e Tobias, que também tinham um estoque de
carne desidratada e bolo de aveia. Para caçadores ilegais, eles
estavam bem preparados. Ela se perguntava como Rob, que
obviamente era o senhor e Tobias seu servente, conheciam a
cabana de caça de Lorde Strathburn e porque a usavam com
tanta confiança, como se fossem familiarizados com ela, até
mesmo pertencessem ao lugar. Era tudo muito estranho.
Mas estava muito exausta para ponderar sobre o dilema
que o Sr. Rob Burnley por muito tempo. A segunda dose de
uísque que tomou com a refeição caíra muito melhor do que o
primeiro; um calor pesado e agradável se espalhou por ela ao
se sentar perto do fogo, enrolada no plaid e em um grosso
cobertor de lã. Embora o seu braço e tornozelo ainda
latejassem com uma dor constante, não demorou muito para
que seus olhos ficassem pesados e sua cabeça começasse a
pender.
Ela podia ouvir Rob e Tobias em uma conversa em voz
baixa sentados à mesa de carvalho, suas vozes eram nada
mais do que murmúrios acima do barulho pesado da chuva
no telhado. Talvez ela até mesmo tenha cochilado, por quanto
tempo não soube, mas então algo a trouxe a consciência
novamente. Estava ciente da conversa dos dois homens perto
dela. E Tobias falou o nome dela.
Prendeu o ar. Eles estavam conversando sobre ela. Eles
deviam ter assumido que ainda dormia.
— O que acha que ela realmente estava fazendo aqui em
cima, milorde?
— Depois do que vi esta manhã no lago, só posso
presumir que ela e Simon devem ter combinado outro
encontro. Só que o mau tempo claramente afastou Simon.
— Então você realmente pensa que são definitivamente...
amantes?
— O que eu presenciei era mais do um abraço de amigos,
Tobias. A pergunta que continuo fazendo a mim mesmo é
como Jessie veio a Lochrose e quão seriamente ela está
envolvida com Simon? E quanto podemos confiar nela?
Deus do céu. Rob estivera no Lago Kilburn naquela
manhã e a vira com Simon. Mais do que isso, ele vira Simon
beijá-la. Mas havia entendido tudo errado. E porque ele
estivera os espionando?
Além dos mais, tanto Rob quanto Tobias conheciam
Simon.
Antes que Jessie pudesse ao menos pensar sobre o que
descobrira, Tobias formulou outra pergunta que o fez o seu
coração galopar.
— O que fará com ela, milorde?
Jessie parou de respirar esperando a resposta de Rob.
Por que ele não respondia? Era realmente uma pergunta difícil?
— Não sei ainda. — Ele respondeu. — É uma situação,
no mínimo, complicada. Há o risco de Jessie voltar a Lochrose
e contar a Simon sobre nós. Ele facilmente somaria dois mais
dois e enviaria a Guarda e os dragões atrás de mim. Não
posso me arriscar a ser preso.
— Você realmente acha que ele faria isso?
— É mais do que um risco definido. Eu apostaria a
minha alma que é exatamente o que ele fará.
Respire, Jessie, respire. Não os deixe saber que está
ouvindo. Houve outra pausa curta em que Jessie ouviu o
tilintar de copo seguido pelo barulho de líquido derramado de
uma garrafa.
Rob falou novamente.
— Ela é um problema que não esperava. E isso pode ser
a minha queda.
— Acha que Simon sairá para procurar por ela amanhã?
Rob riu baixinho.
— Bem, suponho que depende do tempo. — Uma nota de
seriedade voltou a sua voz. — Mais provável que a Guarda
Negra entre em cena se ela não voltar ao castelo hoje à noite.
— Ela é uma moça graciosa, milorde. E se for apenas um
capricho para Simon?
— Hummm. Possivelmente. Mas acho que pode ser algo
mais. Ela é refinada. Fala e se veste bem e há moedas em sua
bolsa. E o cavalo que montou esta manhã é montaria de uma
dama. É mais do que apenas a garota da vila ou criada do
castelo. Perguntei-me se ela poderia ser cuidadora do meu
pai.
— Talvez eu possa perguntar à minha prima, Annie, ou a
outro criado do castelo sobre ela.
— A princípio soa como um curso razoável de ação,
Tobias. Amanhã, mas só depois de discutirmos que linha de
perguntas a seguir para evitar suspeitas. Precisamos agir com
cautela com o que quer que decidamos fazer com Jessie. Se a
deixarmos ir, sem dúvidas ela dirá a Simon sobre nós. E
mesmo que aparentamos ser apenas caçadores, isso será
suficiente para atrair homens do clã, se a Guarda não for
enviada. O pior cenário que eu posso prever seria Simon
descobrir o que realmente está acontecendo quando Jessie me
descrever.
Houve um breve silêncio no qual o único som discernível
era o estalar dos troncos queimando na lareira e da chuva lá
fora. Mesmo com os olhos fechados, Jessie sentiu que Rob se
virara para ela. Era como se pudesse sentir o seu olhar sobre
si, como se realmente a tocasse. Esforçou-se para ficar
perfeitamente imóvel, controlar para a sua respiração e
manter a sua expressão neutra. Deve ter sido bem-sucedida
em convencê-los que ainda dormia, pois ele retomou a
conversa especulativa... sobre ela.
— Por outro lado, se mantivermos Jessie conosco,
também arriscamos que Simon e outros que se preocupem
por ela enviem uma patrulha de busca. De qualquer forma,
teremos a Guarda Negra e os dragões em nosso rastro.
— Eu não acho que ela levará bem ser presa contra a
vontade.
— Sim, acredito que esteja certo sobre isso.
— Ela sabe demais, milorde.
— Sim, sabe. Ela é definitivamente uma complicação que
não podemos evitar.
— Talvez fosse mais fácil apenas... — Tobias
repetidamente parou de falar.
Jessie ouviu a cadeira raspar e passos se aproximando.
Eles poderiam dizer que ela estava ouvindo todo este tempo?
O seu coração estava batendo tão alto em seu peito que ela
era capaz de dizer que ele podia ser escutado. O que Tobias
quis dizer quando falou que seria mais fácil... O quê? Se livrar
dela?
Eles me veem como uma ameaça de algum tipo. Uma
complicação.
O medo estava registrado em seu rosto? Uma sombra
moveu-se perto e ela engoliu um grito.
— Jessie? — Era Rob. Apesar de seus melhores esforços
para controlar a sua respiração, estava rápida e irregular. Ele
saberia que ela estava ouvindo tudo.
Sua mão estava em seu joelho.
— Jessie moça, acorde.
Ela pestanejou, abriu os olhos e engasgou. O rosto de
Rob estava muito perto do dela.
— Está tudo bem, moça. Você deve estar tendo um
pesadelo.
Jessie assentiu. Sim, isso é um pesadelo. Um pesadelo
acordada. E o medo congelante que agarrava o seu coração
era muito real.
— Eu a carregarei até a cama. — Rob disse suavemente.
— Dormirá melhor lá. — Sem esforço a levantou, ela começou
a protestar, mas ele simplesmente lhe deu um sorriso torto.
— Não é um problema, moça. — A voz dele era uma carícia
para os seus ouvidos. — Você não pode colocar peso sobre
seu tornozelo ainda. Você já sentiu dor suficiente para um
dia. — Seu tom e expressão eram completamente
contraditórios com o que ele acabara de dizer a Tobias. Isso a
enervava ainda mais. Como Rob podia conversar
desapaixonadamente sobre mantê-la cativa, talvez até mesmo
desapontá-la, em um momento e em seguida lhe dirigir um
sorriso encantador? Com a mesma medida de ansiedade e
desapontamento, percebeu que o Sr. Rob Burnley, cujo nome
duvidava ser o seu nome verdadeiro, era perigoso afinal. Um
verdadeiro lobo em pele de cordeiro.
Ele a carregou até o quarto principal e a colocou
gentilmente na cama larga, assim ela se reclinou sobre as
almofadas. Então, sem convite, sentou-se ao seu lado.
— Receio que a cama esteja empoeirada e provavelmente
precise de uma boa arejada. Creio que este quarto não tenha
sido usado por muito tempo, mas pelos menos, é quente e
seco.
Jessie assentiu, não confiando em si mesma para falar.
Rob estava tentando intimidá-la ao se sentar tão perto?
Entretanto, não havia ameaça evidente em sua voz ou em sua
fisionomia e, como ela estava ferida, ele mostraria nada além
de bondade. Mas isso tudo era um ardil? Ele estava tentando
acalmá-la com uma falsa sensação de segurança enquanto
trabalhava em como resolver o problema que aparentemente
ela era? Estava confusa e com o coração apertado. E
assustada. Jogou os olhos sobre as roupas de cama. Não
conseguia olhar para ele.
Rob continuou sentado na beira da cama, observando-a.
Ele estava esperando que falasse? Ela quis garantir a ele que
não era uma ameaça, que não tinha nenhuma ligação com
Simon Grant. Não queria que ele acreditasse que estava em
um relacionamento com um tipo de pessoa como aquela,
apesar do que Rob havia visto. Ela queria que ele soubesse a
verdade, que o pensamento de ser amante de Simon a deixava
doente.
Mas como poderia começar a falar coisas tão estranhas e
degradantes como estas quando mal conhecia Rob? Ele
acreditaria nela? Não tinha motivos para confiar nela. Talvez
pensasse que negava uma ligação com Simon simplesmente
para salvar a própria pele. Ela mordeu o lábio inferior
enquanto tentava com todas as reviravoltas de seus
pensamentos.
Talvez se lhe transmitisse a quão grata estava por seus
cuidados. Provavelmente se ele entendesse que não
subestimava sua intervenção, que estava em dívida, fizesse
com que parasse para considerar a possibilidade de ela
realmente ser uma aliada em algum nível.
Com algum esforço, ela se esforçou a se sentar contra as
almofadas e tentou ignorar a pressão da musculosa perna de
Robert encostada na dela através das dobras do plaid. Ela
precisava de suas forças. Respirou fundo e obrigou-se a fixar
o olhar nos dele.
— Eu... Eu quero agradecer por me ajudar, Rob. Você
tem sido nada além de um... um cavalheiro bondoso em todas
as maneiras.
Ele sorriu e isso a fez enrubescer e a se recordar como
ele a ajudara a tirar suas roupas.
Ganhando coragem, prosseguiu.
— Aprecio tudo o que tem feito por mim e sinto muito ter
causado tanto problema. Se tiver alguma coisa que eu possa
fazer para retribuir... só precisa pedir...
Ela imediatamente se arrependeu das últimas palavras
quando o olhar de Rob pousou sobre os seus lábios. Os olhos
dele se estreitaram levemente e uma chama se inflamou
naquelas profundezas azuis meia-noite. Por um momento ela
teve a impressão de que ele estava prestes a beijá-la. Mas
provavelmente ele não esperava que ela... mostrasse gratidão
daquela forma.
Mas e se ele quisesse? O pulso dela começou a correr
selvagemente e aquele calor estranho que ela sentira mais
cedo começou a pulsar na parte de baixo de seu ventre. Ela
estava claramente louca. Ela deveria sentir repulsa como
sentira quando Simon forçou aquele beijo brutal. Mas os céus
a ajudassem, ela não sentia.
— Hummm. — Rob murmurou. Ele esticou a mão e
gentilmente pegou o queixo dela com seus dedos, assim ela foi
forçada a olhar diretamente em seus olhos. Ela prendeu o
fôlego. — Não pense mais nisso, mo ghaoil. Sou eu quem deve
implorar por seu perdão por tê-la machucado tanto. Se
alguém precisa de recompensa, é você, Jessie Munroe. —
Repentinamente levantou-se da cama e jogou uma manta
grossa sobre as pernas dela. — Mas o que acho mais
importante agora é que durma um pouco. — Então, no
instante seguinte, ele se fora, a porta fechando-se às suas
costas.
Com um suspiro, Jessie afundou-se na cama, muitos
pensamentos para contar girando em sua cabeça. Mesmo que
exausta, dormir parecia impossível. Ela resoluta, afastou as
memórias do momento em que pensou que Rob a beijaria.
Pensar nisso não a ajudaria a sair de sua situação.
Independente de tudo o que se abatera sobre ela hoje,
seu foco ainda era a necessidade de chegar a Grantown-on-
Spey para pegar a carruagem pública para Edimburgo como
planejara. Mas obviamente que seria impossível se Rob
decidisse mantê-la em cativeiro ou subjugá-la de outra
forma...
Entretanto ele a chamara de mo ghaoil, minha querida.
Friamente esmagou a noção de que Rob se importasse
um pouco por ela. Ele usara a palavra carinhosa em gaélico
apenas para fazê-la confiar nele.
Com um gemido de frustração, voltou sua mente para o
problema em questão. Ela revisou tudo o que tinha
descoberto da conversa que ela escutara entre Rob e Tobias.
Obviamente eles não eram caçadores ilegais, mas fugitivos de
algum tipo, dado que eles estavam tomando muito cuidado
em escapar da prisão pela Guarda Negra e pelos dragões. Mas
por quê? O que fizeram contra a lei?
De alguma forma, Rob conhecia Simon muito bem. Ele
era até mesmo consciente das idiossincrasias dele. Na
verdade, Rob parecia achar, por alguma razão que era
completamente intangível para ela, que Simon era um grande
traidor. E por causa da crença errônea de Rob, de que ela
tinha algum relacionamento com Simon, agora ele avaliava
quanto de ameaça ela representava para a sua segurança.
Mas ela não era uma ameaça afinal de contas. Jessie
novamente contemplou contar tudo a Rob, de que Simon não
era seu amante e, que na verdade, estava fugindo dele. Pelo
menos Rob saberia que ela não era leal àquele homem. Mas
se fosse honesta e revelasse que ela era apenas a filha do
administrador, como ninguém a procurando, Rob poderia vê-
la ainda mais dispensável. Seria mais fácil remover uma
complicação se a dita complicação não era procurada. No
entanto, se fingisse ser alguém com alguma importância para
o conde e seu filho, estaria nas mãos de Rob silenciá-la.
Ela fechou os olhos e tentou diminuir a sua respiração e
reprimir o turbilhão de pensamentos que a deixava em pânico
que rondavam a sua cabeça.
E se ela fugisse agora? Quando Rob e Tobias estivessem
dormindo, rastejaria para fora e pegaria um dos cavalos e
cavalgaria para... onde? Para o Castelo Lochrose e de volta
para Simon Grant? Preferia morrer a voltar para ele. E se
fosse para a Pousada Strathspey, ainda havia a grande
possibilidade de que Simon a encontrasse.
Na realidade ela sabia que uma fuga seria quase
impossível com as suas feridas. Então, havia o problema da
falta de roupas adequadas. Seu vestido estava arruinado e
duvidava ser capaz de conseguir vesti-lo novamente. E vestir
um plaid de caça proibido a menos que fosse da Guarda não
era uma conduta discreta. Ela logo seria notada e presa por
quaisquer Guardas ou dragões da região.
Jessie ainda escutava o barulho da chuva batendo nas
janelas da cabana de caça e ocasionais vislumbres de raios
iluminando o quarto. Certamente não era uma noite para
estar lá fora, especialmente considerando o seu atual estado.
Qualquer tentativa de sair estava fadada ao fracasso. Ela não
tinha meio de sair e nem tinha lugar para onde ir. Nunca se
sentiu tão só na vida. Lágrimas caíram de seus olhos. Por um
longo tempo ficou assistindo o fogo morrer na lareira, até
finalmente sucumbir à exaustão.

***

Quando Robert entrou no quarto novamente algum


tempo depois, descobriu que Jessie rapidamente adormecera.
Pela luz da vela que segurava, notou que ela chorara ao
detectar o brilho fraco de suas lágrimas secas em suas
bochechas.
Embora não soubesse dizer com certeza, seu instinto lhe
dizia que a garota ouvira a conversa entre ele e Tobias mais
cedo. Que tolo fora ao abaixar a guarda. Quando se
aproximara de Jessie, não falhara em notar a tensão em cada
linha do rosto dela, sua respiração irregular. Ela estava
apavorada. E provavelmente, agora sabia que ele a vira perto
de Simon, sabia que estivera contemplando o que fazer a
seguir. Que era um homem procurado. Mas ela já sabia que
ele era Robert Grant, o Jacobita?
O fogo morrera até ficar um brilho baixo e avermelhado.
Colocou a vela na lareira e após jogar outro tronco de
pinheiro, observou distraidamente as chamas subirem pela
chaminé. Atrás dele, Jessie se remexeu um pouco. Virou para
olhar para ela. A visão dela dormindo o fez sentir uma dor de
uma forma que não gostava. Ela era uma mulher perigosa,
perigosa além da imaginação.
Quando a pôs na cama mais cedo e ela traíra seu
nervosismo ao morder seu carnudo lábio inferior, levou cada
grama de força de vontade que possuía para se impedir de
agarrá-la naquele momento e beijá-la cegamente. A luxúria
masculina dentro dele queria acordá-la agora e se juntar a ela
na cama, para fazê-la desejá-lo tanto quanto o corpo dele
desejava o dela. Ele também queria deitar ao seu lado e
embalá-la em seus braços, dormir ao lado dela com seu rosto
enterrado em seus cabelos. Absorver tudo o que esta linda
moça da Highland tinha a oferecer. Mesmo agora, o cheiro de
uma mulher acolhedora e sonolenta o chamava como a
canção de uma sereia. Mas ele sabia que não faria nenhuma
dessas coisas com Jessie nesta noite. Ela pertencia à outra
pessoa, seu irmão.
Ocorreu repentinamente a Robert, que este desejo em
possuir Jessie surgiu de uma necessidade, até certo ponto,
egoísta: que talvez ela pudesse preencher o vazio negro de
dentro dele. Ajudá-lo a esquecer de seus temores e a culpa
sempre presente, perdendo-se no prazer irracional.
Porém, novamente, talvez quisesse torná-la sua,
simplesmente por que não gostava da ideia de ela pertencer a
Simon. Agora reconhecia a emoção pré-definida que sentia
sempre que pensava em Jessie com o seu meio-irmão como
ciúme. Ciúme, puro e simples. O ciúme que torcia suas
entranhas como uma faca.
Frustrado com os seus pensamentos conflitantes e sua
loucura, doendo de desejo por uma mulher que não poderia
ter, suspirou pesadamente e jogou-se na poltrona diante do
fogo. Ele ficaria ao lado de Jessie esta noite. Mesmo sabendo
que dificilmente ela fugiria por causa de seus ferimentos e do
mal tempo, não arriscaria. Independentemente do que ela
sabia ou não sobre ele, ou que pudesse adivinhar, tinha
certeza de que não a deixaria ir.

***

Simon estava parado diante da janela da sala de estar de


Lochrose, observando a tempestade atacar os terrenos do
castelo e pântanos adiante. De vez em quando, relâmpagos
iluminavam o lago e os inquietantes montes que cercavam o
vale. A noite combinava perfeitamente com o seu humor. Sua
Jezebel se fora, não estava em lugar algum. Desistira de
procurá-la em Lochrose quando o mau tempo se abatera no
fim da tarde. Baird fora enviado a Kilburn para procurar pela
garota, mas retornara sozinho.
Tinha certeza de que a Sra. MacMillan estava envolvida
de alguma forma no súbito desaparecimento da garota. A
velha vaca fora questionada por sua mãe, mas sem sucesso. A
mulher estava firme em sua história de que Jessie fora
convocada com urgência para ajudar a sua prima em
Edimburgo. Ele não acreditou naquela história nem um
minuto.
Uma raiva impotente tão negra e volátil quando as
nuvens de tempestades lá fora se agitavam dentro dele.
Serviu-se de outro copo de conhaque, mas como sempre, o
álcool fez pouco para acalmar a sua fúria. Sua Jezebel estava
em algum lugar lá fora, algum lugar próximo, podia sentir.
Sabia que a carruagem pública para Edimburgo não passaria
em Grantown-on-Spey até depois de amanhã. E a moça não
levara seu cavalo e nenhum outro cavalo dos estábulos de
Lochrose. Ela estava se escondendo dele, mas ele a
encontraria.
E quando a encontrasse, tomar-lhe-ia tão completamente
que ela nunca mais ousaria desafiá-lo.
Cinco
Quando Jessie acordou na manhã seguinte, descobriu
que Rob dormira na poltrona perto do fogo, em frente à sua
cama. Prendeu a respiração diante da visão inesperada e
totalmente avassaladora. Mesmo dormindo, ele apresentava
uma figura formidável esticado como estava na poltrona:
pernas longas e musculosas envoltas em calças justas de
camurça e botas de couro pretas. A camisa de linho solta e
aberta no pescoço e ela vislumbrou no triângulo invertido da
abertura, um pedaço de pele surpreendentemente bronzeada
que se estendia de suas clavículas até o centro de seu peito.
Um raio pálido de sol atravessava uma abertura da janela e
acariciava a barba escura que cobria sua mandíbula forte.
Inesperadamente, teve um pensamento inconsequente e
totalmente incongruente, dada a sua situação: como Rob
ficaria sem barba? Ela logo desejou que ele não fosse
devastadoramente bonito. Não conseguia pensar direito perto
dele. Ele tinha o poder de transformá-la em uma boba,
mesmo enquanto dormia.
Lembre-se que ele é um fugitivo, Jessie. Ele é perigoso.
Você precisa partir...
Mas como? Ela nem mesmo sabia se conseguiria andar.
Cuidadosamente começou a se erguer. Seu braço ainda
latejava e os pontos puxavam afiadamente, mas felizmente,
seu tornozelo parecia mais rígido do que dolorido. Afastando
os cobertores, preparou-se para deslizar da cama, mas então
Rob se mexeu.
Maldição.
Levou um momento para que Rob se levantasse
completamente, esfregou a nuca enquanto se aprumava na
cadeira, depois bocejou, empurrando seus cabelos castanhos
escuros para fora do rosto. A ação o fez parecer
estranhamente vulnerável. Até seus olhos azuis-escuros
focarem nela.
— Bom dia, Jessie. Dormiu bem?
Jessie engoliu com dificuldade, o som foi audível no
silêncio. A indagação de Rob a atingiu. Uma pergunta
educada sobre como ela havia descansado parecia
completamente fora de lugar, já que o homem efetivamente a
vigiou a noite toda. Mas não demonstraria que estava
abalada. De alguma forma evocou um sorriso irônico.
— Suspeito que melhor do que você.
Rob sorriu em reação à sua réplica, seus olhos viajaram
sobre sua forma desgrenhada. Ela enrubesceu e puxou o
cobertor para seu peito ao perceber que sua camisa de linho,
assim como a dele, havia se aberto no colarinho e mostrava
muito mais do que seu decote.
Irritantemente, o sorriso dele ficou maior.
— Hummm, acho que pode estar correta. Mas diga-me,
embora mostre-se muito bem para mim, como estão as suas
feridas?
Enquanto ela descrevia como estava o seu braço, Rob se
levantou e se aproximou da cama.
— Deixe-me ver os seus pontos. Não podemos deixar que
sua ferida gangrene agora, não é?
Relutante, Jessie estendeu o braço e piscou quando Rob
puxou a manga com cuidado, afrouxou o tecido para checar o
seu trabalho. Aparentemente satisfeito que tudo estava bem,
refez a bandagem.
— Você terá uma pequena cicatriz, receio.
Jessie deu de ombros.
— Não importa. — Ela subiu a manga, confusa sobre o
motivo de ele mostrar tanta preocupação com o seu bem-
estar, apesar de ontem à noite, ele e Tobias a considerarem,
sem sombra de dúvidas, uma ameaça. Poderia Rob ter
mudado de ideia? Talvez a deixasse ir, afinal. Mordeu o lábio
enquanto a preocupação roía a sua barriga. Ela acreditava
que seria capaz de lidar com qualquer contingência.
Ela tinha que lidar.
O olhar de Rob pela extensão do cobertor até os seus
pés.
— Devo conferir o seu tornozelo?
Jessie balançou a cabeça com veemência.
— Não, isso não será necessário. Melhorou bastante. Eu
devo conseguir me virar sem problemas hoje.
— Bem, eu a deixarei se refrescar. Espero que não se
importe, mas eu deixei o seu vestido e as outras roupas perto
da lareira a noite passada. Imagino que levará um tempo até
que elas estejam confortáveis para serem vestidas. Chame-me
se precisar de ajuda.
Após a porta se fechar, Jessie sacudiu a cabeça, confusa.
Não conseguia acreditar que Rob tentou secar as roupas para
ela e estava preocupado por ainda estarem molhadas.
Novamente as ações dele a confundia. Se ele quisesse o seu
mal, porque se preocupar sobre o estado de suas roupas?
Mas intrigar-se com perguntas sem respostas não a
tirariam desta bagunça. Vestir-se seria um bom começo.
Respirando profundamente, Jessie lutou para sair debaixo
dos cobertores e cuidadosamente testou o seu tornozelo.
Como suspeitara, ainda estava bastante rígido e um pouco
dolorido quando era colocado peso sobre ele, mas conseguia
suportar.
Achou um penico embaixo da cama e um jarro com água
perto da lareira. Após lavar-se da melhor maneira que
conseguiu, colocou a chemise e meias de lã limpas que tinha
em sua sacola. Ela confirmou que seu vestido ainda não
estava apto para ser usado, molhado ou seco. Além de ter
perdido sua manga esquerda, a lã marrom estava suja de
sangue e lama. Seu manto de lã, também sujo, ainda lhe seria
útil, porém como ainda estava molhada, ela a deixou perto do
fogo.
O que queria dizer que usaria uma combinação de
roupas inusitada, para dizer o mínimo. Decidiu vestir seu
corset, a camisa de linho que vestira durante a noite e sua,
quase seca, anágua de cambraia. Em seguida enrolou o plaid
a redor de sua cintura e sobre o ombro no estilo Arisaig6
antes de prender o broche de prata que Rob havia usado na
sua manga na noite anterior. Notou pela primeira vez que ele
exibia o brasão do Clã Grant, colinas queimando e o lema
Fique Firme. Que irônico, dada às circunstâncias dela. E não
achava que Lorde Strathburn se importaria que pegasse
emprestado.
Ela deveria parecer estranha, mas estava grata por estar
vestida.
Uma brusca rajada de vento balançou a janela, atraindo
Jessie para olhar o dia. Abrindo as cortinas, descobriu que os
vidros estavam cobertos de gelo, mas conseguia enxergar o
bastante do lado de fora para determinar que seria um dia
bom, apesar da ventaria. O vento forte havia limpado o céu de
todos os traços de nuvens e neblina. As árvores próximas se
curvavam diante do ataque, seus galhos faziam chover
rajadas de folhas douradas, laranjas e vermelhas no solo.
Mesmo estando claro, estaria frio.
Ao vislumbrar seu leve reflexo no vidro da janela, Jessie
mal conseguiu abafar um grito agudo. Seus cabelos eram
uma massa de nós em um emaranhado selvagem. Na
verdade, sua aparência era algo como uma Medusa
Flamejante. Embora evitasse a vaidade pessoal, enrubesceu
ao pensar que Rob a vira em tal estado de confusão. O calor
em suas bochechas se arrastou por todo rosto ao recordar
que Rob já a vira em pior estado de roupas, quando estivera
de pé diante dele, toda molhada, enlameada e seminua na
última noite.
Para afastar a lembrança de sua mente, apressou-se a
buscar seu pente em sua sacola e atacou seus cabelos com
vigor. Como não fazia ideia de onde fora parar a sua fita,
arrumou para deixar os seus cabelos soltos. Mechas
cacheadas e errantes, assim seria.
Quando começou a se virar, sentiu um movimento em
sua visão periférica. Era Tobias se afastando da cabana. Seu
cavalo já cobrira um pequeno trecho antes de desaparecer
nas árvores. Franzindo o cenho, ela percebeu que o rapaz
provavelmente estava indo a Lochrose para fazer averiguações
com a prima dele.
Jessie recordou que Rob e Tobias discutiram a
possibilidade. É claro que isso significava que Tobias em
breve descobriria que ela era apenas a filha do administrador
e não a cuidadora do conde. Ele não iria querer mais saber
dela. Confiava que a Sra. MacMillan nunca divulgaria os
detalhes sórdidos sobre a perseguição de Simon. E o resto dos
criados não sabia o motivo real que precipitou a sua partida
de Lochrose. Além da Sra. MacMillan, todos no castelo teriam
ouvido que ela fora chamada para ajudar a sua prima em
Edimburgo.
Isso queria dizer que ninguém poderia confirmar ou
negar que a filha do administrador era amante de Simon. Rob
ainda presumiria que ela era a amante dele.
A menos que eu confesse tudo para ele.
De repente lhe ocorreu que ela e Rob estavam sozinhos.
Agora seria um bom momento para dizer-lhe a verdade.
Endireitando os ombros e erguendo o queixo
resolutamente, Jessie abriu a porta do quarto e reprimiu um
ofego involuntário. Ali, diante da lareira, Rob estava
ajoelhado, nu da cintura para cima, amolando o seu punhal
em uma pedra de afiar. Sua camisa de linho estava jogada
sem cuidado nas costas de uma das cadeiras de orvalho da
mesa. Ele levantou o rosto brevemente, mas não pareceu
perturbado que ela o visse sem camisa.
Ele apontou para a poltrona mais próxima.
— Por que não se senta e se aquece perto do fogo? Esta
manhã está malditamente fria.
Fria? Jessie sentia tudo, menos frio. O seu pulso
acelerou e suas bochechas inflamaram e relutantemente
mancou até a cadeira que Rob lhe indicada e sentou-se. Como
ela professaria a sua verdadeira situação e obteria o seu apoio
com ele se exibindo assim? Novamente ele a desequilibrara e
a deixava sem palavras.
Ele estava de frente para ela, sua cabeça inclinada para
frente. Amarrara o cabelo com uma tira de couro, mas uma
mecha perdida continuava caindo sobre sua testa. Seu dorso
nu estava tão perto que se ela se inclinasse e esticasse a mão,
seria capaz de tocá-lo, traçar as linhas duras de seus tendões,
músculos e ossos. Ela enfiou as mãos dentro do plaid de lã
emprestado, determinada a ignorar o impulso lascivo e tentou
organizar seus pensamentos em alguma ordem aparente.
Mas isso era um empreendimento sem esperanças. Ela
nunca vira um homem em tal estado de nudez. Sentia-se
atordoada, impressionada e sem jeito, tudo ao mesmo tempo.
Com determinação, tentou não olhar para os ombros largos e
poderosos e para as duras placas do peito de Rob.
Desesperadamente tentou ignorar as ondulações de seu
estômago magro ou os músculos definidos e bem
desenvolvidos dos braços. Em vez disso, tentou focar nas
chamas que pulavam na lareira e como abordaria o assunto
de Simon e da necessidade de ir a Edimburgo. Suas
bochechas ainda queimavam, mas não era por causa do fogo
da lareira.
Rob continuava focado em sua tarefa de amolar o seu
punhal na pedra de amolar. De vez em quando testava a
lâmina em seu polegar antes de retornar ao processo de
retomar o processo de aumentar o poder do fio. Jessie
pigarreou para falar, mas repentinamente ficou apreensiva
sobre o motivo pelo qual ele estava tomando tanto cuidado em
afiar a faca, a mesma que usara ontem para cortar a sua
chemise e a tirar a sua manga. Deus, provavelmente não
usaria isso para ameaçá-la ou pior ainda...
Ela respirou profundamente e encontrou voz.
— Q-quais planos para o dia, Sr. Burnley? Após terminar
de afiar o seu punhal?

***

Robert sorriu para si enquanto testava novamente a


lâmina da faca. Jessie estava visivelmente nervosa, mas ele
não tinha certeza se era por causa de sua seminudez ou pela
tarefa na qual estava engajado. Talvez fosse ambos. De
qualquer forma, sentia-se divertido. Deixar a moça ocupar o
seu lugar, certamente tivera a sua vez em vê-la seminua. Era
justo que ele retribuísse o favor.
Mas também não queria Jessie com medo dele. Ela não
podia pensar que ele a machucaria fisicamente. Desde o
acidente de caça, fizera tudo o que podia para reparar os
danos que infligira.
Levantou o rosto e o que quer que estava prestes a dizer
ficou preso na garganta. Mesmo usando em um arranjo
incomum de roupas, a beleza de Jessie roubou o seu ar e o
atingiu até os ossos. Suas bochechas estavam coradas e seus
belos cabelos vermelho dourado caíam ao redor de seu rosto
como uma auréola brilhante. Uma lembrança de como ela
parecia na noite anterior, com nada além de sua chemise
molhada, queimou a sua mente e seu pênis se contraiu.
Deus, como ele a queria.
Mas sabia que não poderia tê-la. A decepção caiu
duramente em seu peito.
Jessie franzia o cenho e entrecerrando seus cautelosos
olhos castanhos uísque como se esperasse que ele
respondesse.
Culpa, por sua conduta nada cavalheira e pensamentos
totalmente lascivos, repentinamente se contorciam em suas
entranhas. Ele realmente deveria acalmar a moça.
— Todos os planos que eu tenho não são desagradáveis,
garanto-lhe. — Ele respondeu sem esconder o tom rouco de
sua voz, mas lhe dirigiu, o que achou ser, um sorriso
tranquilizador. — Quanto ao meu punhal, estou apenas me
certificando de que a lâmina esteja afiada, assim eu não me
cortarei quando for usá-lo. — Ele deslizou o polegar pela parte
escura de seu queixo. — Apenas porque estamos no meio do
nada, não quer dizer que devo andar por aí como um
selvagem.
— Percebo. — Ela respondeu e então ele notou uma
centelha de espiritualidade brilhando em seus olhos enquanto
ela fazia o seu próximo comentário. — E posso sugerir uma
adição de uma camisa pode ajudar em sua transformação
também.
Ele riu diante disso e percebeu que a tensão a postura
dela diminuiu um pouco. Um momento depois, ouviu o
estômago dela grunhir alto.
— Sobrou uma maçã se você quiser fazer um desjejum
rápido. — Ele acenou para a mesa onde a maçã estava entre
as chamas. — Tobias foi procurar mais comida. Ele não deve
demorar.

***

Jessie se levantou e sentou-se na mesa, duvidava que a


comida fosse tudo o que Tobias estava atrás. Entretanto,
estava aliviada por estar longe de Rob. Ele a desconcertava
terrivelmente e ela precisava muito pensar.
Enquanto mordia a maçã, ela contemplou novamente em
como abordar o assunto da sua situação. Precisava convencer
Rob em confiar nela. Se fosse bem-sucedida nisso, talvez
pudesse negociar com ele para ficar ali até que pudesse pegar
a próxima carruagem pública para Edimburgo como
originalmente planejara. Ela não estava com pressa de chegar
a Grantown-on-Spey ainda.
Mas não começaria a conversa que tanto precisava ter
até que o homem estivesse decentemente vestido. Precisava
de toda a sua força de vontade.
Apesar de sua resolução de não olhar para Rob, seus
olhos mantinham-se fixos na lareira, onde estava se
barbeando. Ele apoiou um pequeno espelho sobre a pedra da
lareira e ensaboou a mandíbula com sabão, o pequeno pedaço
agora estava ao lado de uma bacia com água na pedra da
lareira. Assistia fascinada como Rob segurava a pele de seu
rosto e deslizava a lâmina sobre ela, revelando uma suave e
bronzeada pele por baixo. Com seus cabelos puxados para
trás como estavam, podia ver com clareza os músculos
definidos de seus braços e costas enquanto ele se movia.
Ele lhe dissera que costumava ser da Guarda. Na
verdade, tinha um corpo de guerreiro, além da sua poderosa
musculatura, havia obviamente marcas antigas e curadas
feridas de batalhas em sua pele. O olhar dela traçou ao longo
da marca de uma cicatriz particularmente desagradável, um
longo corte que atravessava seu ombro esquerdo e descia até
a sua caixa torácica e ela se perguntou como ele a teria
sustentado. Deve ter sido uma dor excruciante. A sua ferida
de bala não era nada em comparação com aquilo.
Desvie o olhar, Jessie Munroe. Mas parecia que seus
olhos não obedeciam. A sua visão desceu para os quadris
estreitos de Rob e não conseguiu evitar e notar como as
calças de camurça abraçavam às firmes curvas de seu
traseiro e às coxas musculosas. Mordeu com força a maçã
para abafar um gemido puramente devasso e grosseiro. Céus,
Rob era muito... muito bonito, muito poderoso e totalmente
fascinante. O calor estranho que sentira embaixo da barriga
ontem começou a pulsar novamente e ela sentiu uma
umidade entre as coxas.
Alarmada e sentindo-se mais do que culpada por olhar
Rob com cobiça, estava prestes a afastar a vista quando
percebeu o reflexo dos olhos dele no espelho, encarando-a
com uma expressão entre irônica e divertida. Ele estava rindo
dela!
Raiva e vergonha se remexeram dentro dela e com uma
maldição abafada, deliberadamente mudou de posição na
cadeira, assim ficou de costas para ele. Como ousava desfilar
a sua frente como um... um pavão e não esperar que ela o
olhe. Era no mínimo audacioso. Não o olharia novamente até
que ele estivesse vestido.
No entanto, esquecera-se que ele jogara a sua camisa
sobre as costas da poltrona à sua frente. Quando terminou de
se barbear, ele caminhou e parou à sua frente, assim não teve
jeito, a não ser olhá-lo. Ela se concentrou em morder os
últimos pedaços de polpa de sua maçã. Ele colocou o punhal
na bainha presa no cinto de sua calça. Mesmo olhando para
baixo, podia ver uma saliência no contorno do osso de seu
quadril. Oh, deus, não olhe para os quadris e nem mais para
baixo, Jessie Munroe.
— Como está a maçã? — Ele perguntou em um tom
completamente zombeteiro.
Ela levantou o rosto para lhe dirigir o que esperava que
fosse um olhar ameaçador, mas em vez disso, suas
sobrancelhas se levantaram quando o absoluto espanto a
dominou.
— Oh, meu Deus. — Ela ofegou, soltando o miolo da
maçã. Ele rolou pela mesa e caiu no chão sem fazer barulho.
Rob olhou para ela, seus olhos se estreitaram,
claramente intrigado.
Jessie se levantou abruptamente, sua cadeira caiu com
um estrondo.
— Você é Robert Grant.
A verdade a atingiu, roubando o seu ar. Como ela fora
tão cega? Era o mesmo homem que vira no retrato em
miniatura que pertencia a Lorde Strathburn. O homem diante
dela era obviamente mais velho do que o jovem da pintura, as
linhas do rosto de Rob agora estavam mais elegantes, mais
definidas, mas duras de alguma forma. Mas podia ver
claramente que ambos compartilhavam as mesmas
características impressionantes, agora que a barba de Rob se
fora. Reconheceu a mesma mandíbula forte, a boca de lábios
carnudos, os cabelos escuros puxados para trás e os
surpreendentes olhos azuis.
Outros pedaços de informações voltaram e se
encaixavam em sua montagem. Este homem obviamente
costumava ser um soldado, parecia completamente familiar
com as terras e a cabana, conhecia o caráter de Simon. Como
ela não percebeu isso antes?
— Você voltou. — Ela acrescentou inutilmente e deu um
passo para longe da mesa, quase tropeçando na cadeira
derrubada.
Rob, ou Robert, inclinou a cabeça, um sorriso sardônico
puxou os cantos de sua boca.
— Assim parece.
— Mas... Tudo faz sentido agora, sobre você e Simon.
Oh, Deus, Simon... Ele... Quando você e Tobias estavam
falando ontem à noite... Quando esteve no lago... Simon e
eu... Não era o que você acha... — Ela estava gaguejando,
afastando-se dele o quanto podia. A boca de Robert formou
uma linha dura enquanto a seguia ao redor da mesa. Bateu
na parede atrás dela. O medo agarrou seu coração. O que ele
faria agora que ela o reconhecera, agora que definitivamente
ela sabia demais?
Robert cresceu sobre ela, seus olhos repentinamente
duros e avaliadores. Um músculo vibrava em sua bochecha.
— Então me diga, Jessie Munroe, como as coisas
realmente são entre você e meu meio-irmão? Como supõe-se
que devo confiar em você? — Ele se inclinou para frente e
apoiou o seu musculoso antebraço na parede acima da
cabeça dela, seus olhos fixos nos dela. — Ele é seu amante,
não é?
Ela engoliu em seco, quase incapaz de respirar. O peito
nu de Robert estava a pouca distância, seus lábios estavam
logo acima da linha de seu pescoço. Agora era a hora de
contar a verdade... mas ela estava muito envergonhada. E
temia que ele não acreditaria nela.
Lágrimas quentes inundaram seus olhos e ameaçavam
cair. Robert estava tão perto, podia sentir o cabo do punhal
dele em seu abdômen. Sentir o calor irradiar de seu corpo.
Ela recordou as suas palavras na noite passada.
Ela é uma ameaça, um problema, uma complicação.
Estou em perigo.
— Bem, Jessie? — Robert segurou o queixo dela,
forçando-a a olhar para cima. O olhar dele a avaliou por um
momento, depois pousou em sua boca. O pânico explodiu.
Roubou seu ar. A boca dele pairou sobre a dela.
Oh, Deus, ele a beijaria. E o beijo não seria gentil.
Não. Assim não.
— Simon e eu estamos comprometidos. Então eu sugiro
que me deixe, Robert Grant. — Ela deixou escapar em voz
baixa.
Robert congelou. Seus olhos escureceram para um azul-
escuro de nuvens de tempestades e abruptamente soltou a
sua mão arranhada do queixo dela. Então, sem dizer uma
palavra, deu meia volta, pegou sua camisa da cadeira e
marchou para fora. Pela grande porta aberta ela o viu
caminhar até o rio e ajoelhar-se antes de jogar água em seu
rosto.
Jessie caiu no chão também, com todo o corpo
tremendo. Não havia como saber se aquele blefe louco fariam
as coisas ficarem mais seguras para ela. Simplesmente rezava
que se fosse vista como alguém importante para Simon,
alguém com relevância, Robert não a machucaria. Ele
assumiria que Simon a procuraria. Teria que se mover, ou
arriscar ser capturado. Mas ele a deixaria ir?
Deus, o que fizera? Por que ela pulara da frigideira
quente direto para o fogo? Ela sentia-se manchada,
contaminada, como se tivesse vendido a sua alma para o
próprio diabo. E Robert provavelmente pensava o mesmo dela.
Oh, era uma moça tola de verdade.

***

A água gelada do rio deixou Robert com um semblante


calmo. Maldito inferno. As coisas estavam ficando piores do
que pareciam.
A admissão de Jessie sobre o compromisso com Simon
machucou com tanta força quanto qualquer baioneta. Mas
não havia tempo para avaliar os seus sentimentos agora. Não
havia mais dúvida sobre isso. Simon estaria procurando por
esta mulher. A questão era, quanto tempo ele teria antes que
Simon se aventurasse a sair em sua busca com ou sem a
Guarda Negra ou mesmo os dragões?
De qualquer forma, Jessie viria com ele, onde quer que
fosse em seguida. Não poderia arriscar em deixá-la ali. Ela
poderia alertar sobre a presença dele na área. Por enquanto,
sua única vantagem era que ninguém, exceto Jessie, sabia de
seu retorno à Escócia.
Ele se levantou e vestiu a sua camisa. Robert julgou que
eles ainda teriam um pouco de tempo entre agora e o horário
que a busca se iniciaria. Estava cedo e levaria algum tempo
para qualquer tamanho de comitiva de busca varrer cada
pedaço do terreno e passagens estreitas da montanha que era
o único caminho para chegar a este vale isolado. Tobias
estava, na realidade, neste exato momento procurando por
quaisquer sinais de atividades.
Definitivamente chegara a hora de interrogar Jessie
Munroe. Ele precisava saber exatamente quem ela era e
porque ela subira até ali sozinha em primeiro lugar. E se ela
fosse noiva de Simon, porque não mencionara isso ontem
quando ela clamara conhecer o pai dele e sua madrasta?
Alguma coisa na história dela não fazia sentido. Sim,
definitivamente chegara a hora da Srta. Munroe parar de
brincar e revelar a verdade.

***

O som de cascos de cavalos se aproximando chegaram a


Jessie de onde estava sentada no chão. Apesar de seus
joelhos ainda estarem tremendo, conseguiu se erguer. Pela
porta aberta, viu Tobias montado e conversando com Robert.
Tobias olhou em sua direção enquanto falavam, depois
rapidamente desviou. Ele assentiu a algo que Robert dizia
antes de desmontar e levar seu cavalo embora.
Jessie pensou que adoeceria esperando para ver o que
aconteceria a seguir.
Robert também desaparecera de sua linha direta de
visão. Enquanto Jessie mancava até a porta, Tobias apareceu
em seu vão. Sua expressão afável da noite passada se fora.
Ele lhe acenou como uma forma de cumprimento antes de
caminhar até a mesa de jantar onde cuidadosamente colocou
uma pequena parcela de alimentos recolhidos: alguns ovos de
pato e uma pequena quantidade de mirtilos da estação
passada. Ele obviamente não estivera ainda em Lochrose.
Estava perdida sobre o que fazer, então se sentou na
mesa e observou Tobias quebrar os ovos e levá-los ao fogo.
Quando os ovos começaram a estalar e espirrar, Robert
voltou, dando de ombros por baixo do seu manto marrom. Ele
também amarrara uma simples gravata de tecido ao redor da
garganta. Puxando os punhos de seu casaco, não havia
dúvida em sua mente que ele era Robert Grant, antigo
Visconde de Lochrose e Chefe de Strathburn.
Um Jacobita com um preço sobre a sua cabeça.
Ele a encarou.
— Sugiro que termine de se vestir e recolha as suas
coisas. — Ele disse rispidamente. — Nós partiremos logo.
Mas para onde eles iam? — Jessie assentiu, esperando
para perguntar, mas algo na expressão de Robert a impediu.
Seus olhos ainda estavam frios e escuros como o céu da meia-
noite. Era um olhar estranho. Surpreendia-a como a
mudança no comportamento dele doía. Mas o que mais ela
esperava dele após proferir uma mentira sobre o seu
relacionamento com Simon?
Idiota. Garota Idiota.
Sem dizer uma palavra, voltou ao quarto.
Independentemente se ela fosse com ele ou fosse tentar
escapar, precisaria de suas coisas.
Ela enfiou a sua chemise úmida e meias de ontem na sua
bolsa, depois jogou seu vestido arruinado no fogo. Não tinha
porquê levá-lo. Não choraria. Ela se recusava. As lágrimas
que nublaram a sua visão, assegurou, eram apenas o
resultado da dor afiada em seu braço quando jogou
descuidadamente o seu manto vermelho ao redor dos ombros
e então a agonia de enfiar o tornozelo dentro da bota. Elas
não eram de agonia ou medo pelo que estava por acontecer. E
o que precisava que acontecesse em seguida era chegar a
Edimburgo.
Ao retornar para a sala principal descobriu que Robert e
Tobias estavam em algum lugar fora de sua vista, embora
pudesse notar atividade lá fora. Um prato de comida fora
deixado para ela: um ovo frito, um bolo de aveia e um
punhado de mirtilos. Embora seu apetite tivesse ido, forçou a
comer. Quem sabia quando seria a sua próxima refeição?
Quando pegou os últimos mirtilos no prato, percebeu
que o fogo se extinguira. Restavam cinzas úmidas e alguns
fiapos de fumaça. Robert repentinamente apareceu na porta
com um balde e sem olhar para ela, caminhou até
desaparecer no quarto principal. Ela escutou a água
espirrando e um ruído do último carvão e brasas sendo
apagados. Não parecia estar em perigo imediato, mas só Deus
sabia o que Robert estava planejando. Talvez devesse se
esgueirar pela porta agora e tentar pegar um dos cavalos
enquanto os homens estavam distraídos.
E naquele exato momento, Robert voltou. Maldição.
Ele se encostou na mesa perto dela, seus braços
cruzados na frente do peito. Sua fisionomia era inescrutável e
o seu coração pesou tanto quanto uma pedra. Fora realmente
tola em pensar que tinha qualquer chance de escapar.
— Agora, Srta. Munroe, chegou a hora de falar com
franqueza. — Ele falou, sua voz afiada como aço. — Preciso
saber exatamente com o que estou lidando aqui. Suspeito que
meu irmão irá procurá-la esta manhã. Você concorda?
Ela lambeu os lábios, sua garganta estava seca. Srta.
Munroe, era assim? Ele estava claramente zangado e distante
dela. Se ela não pudesse escapar, precisaria retratar a sua
mentira, não importa a que custo. Convencê-lo que não o
trairia.
— Talvez vá... Eu não sei com certeza. — Ela disse,
incapaz de esconder o tremor em sua voz. — Você percebe, eu
preciso explicar... sobre ontem e sobre o que viu no lago...
— Eu sei o que vi.
— Não é ...
Robert a interrompeu.
— Há quanto tempo você e Simon estão comprometidos?
Ele não acreditaria nela, não agora. A dolorosa percepção
cortou Jessie tão afiadamente quando a lâmina do punhal de
Robert. Engoliu o nó apertado em sua garganta e retomou a
sua farsa, odiava mentir, mas refutar a sua afirmação seria
inútil. Era tarde demais.
— Não muito. — Ela sussurrou.
— Você não é da região. De onde você é?
— Meu pai é Alasdair Munroe, o irmão mais novo do
antigo Laird de Dunraven, em Cromartyshire, Sir. Dugald
Munroe. Ele é toda a família próxima que tenho.
— E onde está o seu pai? Presumo que ele também
estará procurando-a?
Jessie sacudiu a cabeça.
— Não. Ele não estará. Ele não sabe que eu parti. Está
visitando todos os aldeões da propriedade Strathburn,
recolhendo os impostos. Não voltará em menos de uma
semana.
Robert levantou uma sobrancelha inquisidoramente.
Jessie prosseguiu, seus olhos fixos nos dele.
— Ele assumiu a posição de administrador para o seu
pai. Meu tio... Acabou em dívidas consideráveis e nossa
propriedade foi confiscada pelo banco. Apesar da perda da
família, nosso advogado, que é o mesmo de Lorde Strathburn,
recomendou meu pai para a posição, pois a perda da fortuna
do Munroe não foi atribuída a erros do meu pai, mas sim às
maneiras indignas do meu tio. E parecia que o seu pai
precisava de um assistente para administrar os negócios da
propriedade.
Foi um alívio compartilhar com Robert alguma coisa que
era verdadeira. Jessie apenas rezava para que ele acreditasse
nela.

***

Robert correu o olhar sobre o rosto de Jessie. Seus


instintos lhe diziam que ela lhe dizia a verdade sobre de onde
vinha e como chegou a Lochrose. Isso combinava com a sua
teoria de que teve educação de dama, não era uma criada. Ele
tinha certeza de que havia mais na história da família dela,
mas agora não era hora de seguir este assunto particular.
O que o surpreendia afinal, dado o que acabara de
descobrir sobre ela, era o fato de que havia um compromisso
entre ela e seu irmão. Ele podia ver Simon tomando-a como
amante... Mas esse não seria o tipo de acordo que esperava
que Simon fizesse. Nem um que a sua madrasta concordaria.
Quanto a seu pai, francamente não sabia o que ele achava de
tal união.
Robert teria pensado que uma jovem aristocrata ou pelo
menos a filha de um comerciante rico seriam mais adequadas
para a escolha de Simon, dada à natureza avara de sua
madrasta. Certamente não seria a sobrinha de um laird
empobrecido, não importa o quão bem educada e graciosa
fosse a moça.
A menos... A menos que a moça tivesse que se casar por
alguma razão. Ele não ficaria surpreso se Simon a tivesse
comprometido. Ou foi o contrário? Não era incomum para
uma mulher agarrar um marido rico e com título usando tais
meios. Em ambos os casos, sabia que seu pai insistiria que
Simon fizesse a coisa certa e honrada e se casasse com a
moça.
A sua parte cínica também se perguntava o quanto era
importante para Jessie estar prestes a se casar com o
herdeiro do Condado de Strathburn. Ela estava ansiosamente
esperando se tornar a próxima condessa? Ele também podia
imaginar o seu pai feliz com o acordo, dado que ele e o irmão
recentemente perderam tudo. Talvez a garota tenha sido
atirada em Simon, com a benção de seu próprio pai.
Ainda havia uma parte na história de Jessie que ele não
compreendia, entretanto.
— Srta. Munroe, por que você realmente subiu até aqui?
A cabeça de Jessie esteve o tempo todo abaixada
enquanto ele considerava as respostas dela. Ela o
surpreendeu quando respirou profundamente e olhou
diretamente nos olhos dele.
— E-Eu recebi uma carta de minha prima em
Edimburgo. Ela está casada com um comerciante de chá e
tem três filhos e um outro a caminho. Tem estado mal no fim
da gravidez e me pediu para ficar com ela e ajudá-la com as
crianças. Simon ficou chateado por eu estar partindo... Na
verdade, não queria me deixar ir, mas eu tenho que... Então
eu decidi viajar até Grantown-on-Spey para pegar a
carruagem pública para Edimburgo. Ela parte amanhã ao
meio-dia. Infelizmente, eu torci meu tornozelo... e você sabe o
resto...
Robert franziu a testa. A maior parte do que ela dissera
fazia sentido. Podia muito bem imaginar Simon sendo um tipo
possessivo e ciumento, ele se ressentia com o fato de ela ser
necessária para mais alguém. Mas ainda não entendia o
porquê de ela ter escolhido viajar para Grantown-on-Spey por
tal rota.
— Não teria sido mais fácil ir a Grantown pela estrada de
Lochrose?
— Simon estava zangado por eu estar indo. Eu pensei
que ele tentaria me impedir, então a Sra. MacMillan, você
deve se recordar dela, é claro, sugeriu que eu fizesse este
caminho e passasse algumas noites na cabana de caça em vez
de ficar na Pousada Strathpey, onde Simon com certeza me
procuraria. Ela achava que Simon não pensaria aqui
imediatamente, isso se procurasse.
Robert sorriu por dentro. A Sra. MacMillan, sempre tão
maternal. Ele estava feliz que ela ainda se preocupasse com
os outros como fazia com ele. Certificaria que Tobias falasse
cuidadosamente com ela quando visitasse o castelo mais
tarde, para ver se ela corrobaria a versão dos eventos de
Jessie. E, mesmo relutante em pedir ajuda para outros, a Sra.
MacMillan poderia até mesmo ajudá-lo a se reunir com o seu
pai. Ele rapidamente percebeu que tanto quanto quisesse
entrar sozinho em Lochrose, não queria colocar ninguém em
risco em seu nome, estava ficando cada vez mais difícil.
Mas agora, eles deviam se mexer. Embora o que a Sra.
MacMillan pensasse sobre a improbabilidade de Simon
procurar Jessie ali em cima, conhecia o seu irmão e quão
decidido podia ser. Se Simon quisesse a garota, e, sem
dúvida, era o caso, visto se o beijo que testemunhara fosse
algo por vir, seu irmão não deixaria nem uma pedra intocada
até encontrá-la.
Robert balançou a cabeça.
— Não concordo. Simon pode muito bem procurá-la aqui
em cima, particularmente agora que o tempo clareou. Nós
devemos partir imediatamente. — Ele se endireitou,
preparando-se para checar os cavalos, mas Jessie esticou e
agarrou a sua mão, encarando-o. Seus dedos longos e
elegantes eram pálidos contra sua pele bronzeada. Magoava-o
que esta mulher não fosse dele.
— Você me ajudará a alcançar a carruagem para
Edimburgo? Eu lhe garanto, não é minha intenção expô-lo. —
Seu rosto estava pálido e sem expressão, porém seus olhos
eram tão claros quanto à água do rio do lado de fora.
Ele considerou o pedido dela por um momento. O
intrigou que ainda pretendesse deixar Lochrose, que
compartilhar sua existência recém-descoberta com Simon não
era sua prioridade. Talvez não fosse uma fêmea gananciosa
em busca de elevação social que o visse como um obstáculo
para se tornar condessa.
— Não posso fazer qualquer promessa. — Ele respondeu,
saboreando a sensação dos dedos dela ao agarrá-lo. Que
homem idiota eu sou. Provavelmente você pode entender isso.
Eu sou um Jacobita procurado, um inimigo da Coroa. E neste
exato momento, é de vital importância que eu não seja preso.
Eu não desejo terminar com a minha cabeça no bloco para
decapitação ou no cadafalso ainda. Reconciliar-me com o meu
pai é a única maneira de eu ter qualquer chance de conseguir
um perdão. Então, você precisará me perdoar se não atendo
os seus desejos, uma vez que a sua aliança é com Simon.
Tenho certeza que sabe muito bem que não há nenhum amor
perdido entre meu irmão e eu.
Jessie assentiu com expressão grave e soltou a sua mão.
— Entendo, Lorde Lochrose.
Doeu que ela decidira regredir ao seu antigo título. Mas
então, ele também se sentia compelido a chamá-la de Srta.
Munroe. A camaradagem construída e a provocação que
pairava entre eles se foi. Um silêncio constrangedor se
estendeu e não foi quebrado até que o ranger de rédeas e o
estalar de folhas denunciassem a chegada de Tobias com os
cavalos.
O olhar de Jessie disparou para a porta.
— Aonde iremos?
— Para algum lugar seguro. Isso é tudo o que você
precisa saber. — Ele ajudou Jessie a se levantar e a escoltou
para o lado de fora, antes de levantá-la para cavalgar com ele
novamente. Juntando-se a ela na sela, a puxou, um bruto
egoísta, era o que ele era. Foi quando notou que ela estava
tensa como uma corda e, literalmente, tremendo. — Não se
preocupe agora, moça. — Ele murmurou contra o cabelo dela,
sentindo o ser mais desprezível. Apesar de tudo o que Jessie
lhe revelara e do perigo que significava, por alguma razão
insondável, ainda era importante que não lhe temesse.
Seu comentário pareceu ter funcionado, ela segurou o
seu braço e seu corpo relaxou um pouco contra o dele.
Sorrindo como um idiota, que, sem dúvida era, ele sacudiu as
rédeas e seguiram em frente: atravessariam o rio, as árvores,
galopariam em direção à charneca e penhascos escarpados
onde Simon não teria esperança de os encontrar.

***

Já entrara na tarde quando Simon e quatro homens do


regimento local da Guarda Negra atravessaram o pântano em
direção à velha cabana de caça de seu pai. A manhã inteira
ele estivera procurando com eles. Toda maldita manhã.
Ele estivera naquela distância que era Grantown-on-
Spey e questionara os criados da Pousada Strathspey ele
mesmo, mas sem sucesso. Até mesmo ordenara que algumas
cabanas de moradores locais e ao redor de Kilburn fosse
vasculhada. Apesar das ameaças de violência, todo mundo
negou ter visto a Srta. Jessie Munroe. Simon estava prestes a
açoitar o dono da pousada de Kilburn quando MacTaggart, o
Capitão da Guarda, em voz baixa sugerira que eles olhassem
na cabana de caça.
Não ocorrera a Simon procurar lá em cima e, embora
quisesse se chutar por ter ignorado o local, sua expectativa se
aguçou a se aproximar do pequeno bosque onde a cabana
estava. Deus, como ele odiava o lugar. Estivera apenas uma
vez ali, quando tinha catorze anos. Seu pai e Robert o levaram
a caçar um veado e ele odiara cada momento, rastejando-se
pela vegetação pantanosa, espantando mosquitos,
arranhando-se e sendo coberto de lama. E para piorar as
coisas, ele pegara uma terrível infecção que o deixara de cama
por várias semanas.
Quando a pequena construção de pedra entrou em sua
visão, parecia completamente deserta, as janelas estavam
fechadas, nenhuma fumaça saía pela chaminé. Mas a garota
era muito inteligente, inteligente demais para o seu gosto, e
ela poderia apenas estar tomando cuidado extra. Quando o
Capitão MacTaggart ordenou que seus homens procurassem
ao redor da cabana e do bosque, Simon desmontou e abriu a
porta. Havia um cheiro leve e acre no ar e MacTaggart, que o
seguira, apontou para as cinzas e carvão na lareira. Alguém
realmente estivera ali recentemente.
Mas não havia sinal de Jessie. Maldita do inferno.
— Sr. Grant. — Chamou um dos jovens da Guarda do
quarto principal. Simon entrou no quarto para encontrar o
homem segurando uma enorme fita de veludo marrom. —
Achei isso debaixo da cama e havia também alguns fios de
cabelo ruivo na almofada.
Simon agarrou a fita e a fechou no punho. A cadela
havia estado ali, não havia dúvidas sobre isso. Ela viajara a
pé, então se tivesse saído nas primeiras horas, teria feito um
pequeno percurso. Ele sorriu. Não demoraria muito para
encontrá-la.
As reflexões deliciosamente sombrias de Simon foram
interrompidas por chamado excitado de outro Guarda que
estava procurando lá fora. Ele e MacTaggart correram para
descobrir um jovem corpulento apontando para um espaço no
chão de onde havia retirado uma pilha de folhas.
— Estrume de cavalo, Capitão. E parece fresco.
Merda. Simon apertou os dentes com tanta força que seu
queixo estalou. Onde diabos a cadela conseguira um cavalo?
Da hospedaria ou de algum aldeão? Deus sabia onde ela
estaria se fosse este o caso.
— E agora, sir? — Perguntou MacTaggart.
Simon explodiu.
— Como infernos eu saberei? Ela pode estar em qualquer
lugar agora.
MacTaggart não hesitou.
— Talvez nós possamos retornar para Grantown e
questionar o chefe de estábulo da hospedaria. Eu também
posso enviar uma mensagem para os regimentos de
Cairnmore e Kingussoe para manter um olho nas estradas de
Inverness até Edimburgo. Se ela tem um cavalo, pode ir direto
para o local que originalmente planejara, afinal de contas.
Simon soltou outra série violenta de maldições,
dominado pelo desejo de esmagar alguma coisa com os seus
punhos. Como odiava sentir-se frustrado. Feito de tolo. O que
o capitão dissera fazia sentido, mas o ódio corria negro em
suas veias, precisava de alívio físico. Por um momento,
pensou em acertar o rosto do capitão, mas o homem parecia
tão sólido quanto uma parede de pedra da cabana atrás deles.
Apertando os punhos e fechando os olhos, ele imaginou o que
faria com Jessie Munroe quando a encontrasse.
Seis

Cristo, esta água está gelada.


Embora Robert estivesse com as coxas totalmente dentro
da lagoa e quase, literalmente, congelando seu traseiro,
permanecia imóvel. A superfície de água gelada ondulou no
momento em que a truta deslizou nas costas de seu joelho nu
e depois na palma de sua mão. Sim. Fazia uma década, mas
ainda tinha o jeito de pegar um peixe com suas próprias
mãos. Sorrindo, ergueu a truta que se contorcia e escorregava
para Jessie ver. Eles teriam que dormir em uma caverna,
mas, pelo menos, comeriam bem esta noite.
Os cantos da boca de Jessie se puxaram em um sorriso
de resposta.
— Ah, então você consegue caçar afinal de contas.
— Moça malvada. — Robert espirrou água nela que
gritou quando as gotas geladas choveram sobre seu rosto e
cabelo. Ele riu e saiu da água pela margem cheia de musgo,
atirando a truta em uma pedra próxima para estripar e
descamar com o seu punhal. — Você deve ficar agradecida
por isso, do contrário, seria carne seca novamente, Srta.
Munroe.
Ela apertou os lábios como se tentasse parecer séria,
embora não fosse capaz de esconder o brilho de travessura
em seus olhos.
— Eu sou muito grata, de verdade, milorde. Estou
faminta, ficaria feliz se tivesse capturado um porco-espinho
para o jantar.
— Eles são um pouco resistentes e não tem carne
suficiente. E pare de me chamar de milorde. Rob ou Robert é
melhor.
Ela olhou para ele empoleirada em cima de uma pedra e
ergueu as sobrancelhas em um arco.
— Bem, você tem a si mesmo para se culpar. Você
continua me chamando de Srta. Munroe.
— Sim, estou. — Ele secou a mão em seu plaid, então
esticou sua mão. — Vamos fazer uma trégua por esta noite,
Jessie?
Ela estreitou seus olhos, mas apertou as mãos dele de
qualquer forma.
— Concordo. Mas apenas se parar de se movimentar por
aí seminu. Isso é informalidade demais para se tomar, Robert
Grant.

***

Jessie tentou manter seu olhar longe enquanto Robert


secava as suas pernas e pés bronzeados com seu plaid antes
de vestir suas calças de camurça. Não que se importasse se
ela o observasse abertamente, visto o comportamento dele
pela manhã. Ora, o homem era totalmente sem-vergonha, a
forma que ficara em pé na água, usando apenas sua camisa e
plaid, o tecido enrolava-se em suas coxas nuas e musculosas
como um antigo guerreiro Highlander. Naquele ponto ela até
vislumbrou parte do traseiro dele.
Mas você também não é uma desavergonhada, Jessie
Munroe? Se ela fosse realmente honesta consigo mesma, não
negaria que estava salivando e não por causa da truta. Até
mesmo os pés descalços de Robert eram atraentes. Quem
imaginaria que alguém poderia ser despertado por tais
coisas?
Não estava ansiosa para passar outra noite sozinha com
Robert em um espaço pequeno. O seu pai ficaria horrorizado
se soubesse. Pelo menos Tobias retornaria em breve,
presumira que ele fora falar com a prima dele no castelo, e
serviria como um tipo de acompanhante. Deu de ombros, um
acompanhante masculino não servia afinal. Ela nunca
poderia contar nada disso a seu pai, nunca.
Com alguma sorte, estaria na carruagem pública pela
manhã e os últimos dias seriam apenas memórias ruins,
nada mais.
Um vento gelado repentinamente cruzou o vale sombrio,
esvoaçando o cabelo e o manto de Jessie. Nuvens cinzas
rapidamente se formaram ao longo dos picos de granito ao
redor deles. Olhou para Robert, que estava calçando as suas
botas.
— Você deve estar congelando.
Robert se levantou e colocou o manto.
— Sim. E você logo estará também. Nevará. Tão logo
limparmos esta truta, voltaremos para a caverna.
Jessie franziu a testa.
— Tem certeza de que não podemos passar a noite na
cabana?
Robert balançou sua cabeça, sua boca formou uma linha
sombria.
— Eu não lhe disse antes, mas Tobias está espionando e
viu um grupo de Guardas, além de Simon, no vale mais cedo.
Eu não posso me arriscar, Jessie. Quem sabe onde ou
quando seu prometido aparecerá lhe procurando? Felizmente
Tobias voltará logo de Lochrose, com mais notícias.
Oh, Deus. A Sra. MacMillan errara. Simon a procurara lá
em cima. Um tentáculo gelado de medo, mais frio do que o
vendaval que os chicoteava, serpenteou pela espinha de
Jessie, causando arrepios. E se Simon a tivesse encontrado...
? Não, não pensaria sobre isso. Ela estava bem, segura ali
com Robert. Seu captor.
Que bagunça em que estava metida. Uma vontade
estranha de rir a atacou. Devia estar quase histérica.
Respirou profundamente, tentando deliberadamente se
acalmar, diminuir as batidas de seu coração.
Refletiu sobre o outro pedaço de informação que Robert
compartilhara. Tobias definitivamente fora a Lochrose. Agora
ele já deve ter descoberto que ninguém no castelo tem
conhecimento de seu ‘noivado’. De súbito pareceu ridículo
persistir com a mentira. Robert não a machucaria, ela tinha
certeza disso.
Ela respirou fundo novamente.
— Robert...
Ele levantou os olhos de sua tarefa de limpar a truta e
ergueu uma sobrancelha questionadoramente.
Ela engoliu em seco.
— Robert, eu queria... — Neste momento uma
tempestade de chuva e granizo caiu, tirando o fôlego de
Jessie. Robert blasfemou e correu para o pinheiro escocês
onde os cavalos estavam amarrados.
Encolhendo-se em sua capa enquanto mancava atrás
dele, Jessie apertou os dentes por causa do frio cortante e da
frustração. Parecia que sua confissão teria que esperar.

***

O que está esperando, Jessie?


Sentada em sua capa arruinada, usando-a como
substituta de uma almofada, o que era melhor do que nada
para afastar o frio do chão da caverna, Jessie estendeu os
dedos dormentes para o fogo, decidindo se aquele seria o
momento certo para esclarecer as coisas com Robert e, mais
importante, negociar a sua liberdade para partir no dia
seguinte.
A trégua se mantivera entre eles pela última meia hora
enquanto iam até a caverna e enquanto Robert acendia uma
fogueira para afastar a mordida gelada da noite e cozinhava o
jantar. Mas agora, enquanto o olhava sentado à sua frente, o
rosto bonito estranhamente iluminado pelas chamas,
descobriu que o surto momentâneo de coragem que tivera na
lagoa a abandonara completamente. Na verdade, perdera-se
desde que eles retornaram para a caverna e se vira forçada a
contemplar as longas horas de frio pela frente. E o que seria
dela. Parecia que a ansiedade congelara a sua língua e que a
devorava com a mesma fome que grunhia em sua barriga.
Robert também parecia pensativo, suas sobrancelhas
franziram profundamente enquanto ele virara a truta no
espeto improvisado, criado a partir de galhos de bétula. Ela se
perguntou sobre o que pensava, mas não era corajosa o
bastante para perguntar. Em vez disso, assistia as chamas
saltarem e a fumaça subir em espiral, em direção à estreita
fissura no teto da caverna que funcionava como uma chaminé
natural. Eventualmente, uma lufada de vento jogava flocos de
neves pela entrada da caverna, mas afastados, no espaço
mais ao fundo da caverna, ela e Robert estavam relativamente
bem protegidos do frio cortante.
Era evidente que Robert tinha o olhar altamente treinado
para encontrar esconderijos no lado da montanha. A rocha, a
passagem estreita que seu cavalo seguira para chegar ali era
muito escondida, quase impossível de ser localizada a menos
que soubesse o que estava procurando.
Ela estaria protegida de Simon, mas sobreviveria à noite
com Robert?
O olhar dela atingiu o lado mais fundo da caverna, onde
uma cama feita de samambaias e urzes secas empilhadas.
Robert e Tobias haviam juntado feixes de folhas mais cedo,
antes de Tobias ir ao castelo. Não era a primeira vez que
Jessie se perguntava silenciosamente que tipo de arranjo para
dormir seria feito. Não parecia uma pilha grande o bastante
para acomodar mais do que uma pessoa. Certamente não
dividiria. Não sabia se sentiria mais ou menos estranha com o
retorno de Tobias. Talvez os homens fossem cavalheiros e a
deixassem usar a cama. Ou talvez pudessem revezar.
Se Tobias voltasse. O crepúsculo havia sido tingido pela
escuridão da noite e Jessie sentiu um formigamento de
incerteza, perguntando-se se Tobias estava bem. E se ele os
encontraria novamente. Caminhar na trilha da montanha era
traiçoeiro na melhor das hipóteses. Na escuridão, nevando,
seria suicídio.
Robert repentinamente se virou para ela, tirando-a de
seus pensamentos preocupados.
— Talvez você possa virar a truta de vez em quando,
assim ela não queima. — Ele se levantou e movimentou-se em
direção à porta da caverna.
— Está saindo? — Jessie não evitou a leve nota de
pânico em sua voz. Robert estava voltando a Lochrose hoje à
noite afinal? Sabia que ele estava ansioso para se encontrar
com o seu pai, mas provavelmente não sairia agora, sairia?
Criatura contraditória, era o que ela era. Preocupada em
passar a noite sozinha com ele, mas absurdamente, não
queria que ele se fosse também. Estava muito perigoso lá fora.
Tolice, Jessie. Você não sabe o que quer.
Mesmo na penumbra, conseguiu vislumbrar um lampejo
dos dentes brancos de Robert.
— Estou indo apenas pegar meus alforjes e cuidar do
meu cavalo. A neve parece ter se intensificado e quero
garantir que ele fique bem coberto. Não demorarei.
Jessie suspirou aliviada quando, fiel a sua palavra,
Robert voltou alguns minutos depois, seus alforjes
pendurados sobre o ombro e uma garrafa pela metade de
uísque puro malte na mão. Ele jogou as bolsas ao lado do fogo
antes de sacudir a neve de seu manto e cabelo.
Ele balançou o uísque para ela.
— Nós precisaremos de alguns goles disso para nos
manter aquecidos hoje à noite. Tobias definitivamente não
voltará agora, então haverá mais para nós. — Ele sentou-se
ao lado dela e, com um sorriso bobo, ofereceu-lhe a garrafa.
Então eles ficariam sozinhos. A noite inteira.
O alívio de Jessie se dissipou tão rápido quanto os flocos
de neve se derretendo nos ombros largos de Robert. Lambeu
os lábios secos. Realmente não achava que deveria beber
uísque. Não com Robert lhe sorrindo daquele jeito. Negou com
a cabeça.
— Para mim não, obrigada. Mas talvez você não se
importe em dividir de sua água.
Robert deu de ombros e vasculhou em seu alforje e
depois lhe passou o frasco de água. Ao pegar, os dedos deles
se tocaram, o leve contato fez a pele dela formigar e um
estranho rastro de calor fez todo o caminho até o seu baixo-
ventre. Resistindo ao desejo de aliviar esta sensação, ocupou-
se de beber a água e virar o peixe, assim ele continuaria a
assar igualmente.
Pelo canto do olho viu Robert afrouxando a gravata de
linho no pescoço antes de beber um gole de uísque direto da
garrafa. Após uma curta pausa, sentiu o olhar dele sobre ela.
— Como está o seu braço? — Ele perguntou.
Ela deu um leve sorriso, mantendo os olhos na truta.
— Para ser honesta, está bastante dolorido, mas não
acho que seja algo com que se preocupar.
Robert franziu o cenho.
— Hummm. Entretanto, olharei rapidamente e trocarei o
curativo, apenas para garantir. Em retrospectiva, você esteve
mais ativa hoje do que o ideal. — Ele escondia bem, mas
deveria estar frustrado em bancar a babá, assim como
guardião. Isso estava atrasando o seu encontro com o conde.
Antes que Jessie pudesse protestar e que não era
necessário conferir a sua ferida, ele se aproximara e,
gentilmente, enrolara a sua manga. As mãos dele estavam
surpreendentemente quentes sobre a sua pele nua enquanto
soltava o curativo.
— Está tudo bem. — Ele concluiu após inspecionar. Os
olhos dele tinham fagulhas de diversão. — Você pode olhar,
sabia. Não está tão ruim quanto pensa. Eu sou um bom
costureiro, se puder falar assim.
Jessie respirou profundamente e olhou para o seu braço.
Ele estava certo, a ferida estava suturada com seis pontos em
uma linha reta e vermelha, com cerca de dois centímetros.
Não havia sinal de inchaço ou infecção. Curaria de maneira
limpa. Ela tocou para sentir.
— Acho que tem alguma experiência com este tipo de
coisa.
— Um pouco. — Robert tirou a gravata solta em seu
pescoço e começou cuidadosamente a enfaixar o seu braço. A
intimidade do gesto fez o pulso dela acelerar e o calor fluiu
para as suas bochechas, mas felizmente, Robert não pareceu
notar. — Durante a Rebelião, — ele continuou. — e depois,
quando eu servi no Exército Francês.
A surpresa acendeu dentro de Jessie diante desta
revelação.
— Você serviu o Exército Francês?
Robert deu de ombros desdenhosamente.
— Por três anos. Depois de Culloden eu fui à França. Eu
tive que construir uma vida de alguma forma.
Então Robert Grant havia sido um soldado por mais do
que três anos. Isso explica algumas coisas sobre ele: sua
constituição forte, a habilidade em mover-se tão
silenciosamente quanto um leão caçando, sua calma sob
pressão. E suas cicatrizes de batalha.
Jessie jogou um olhar em seu perfil enquanto continuava
a cobrir a sua ferida. Este homem era muito complexo. Ela
queria perguntar-lhe o que mais vira e fizera nos anos
seguintes. Sua pele bronzeada sugeria que vivera em climas
mais quentes. Queria saber porque partira há tempo para
retornar a Lochrose. E porque se mantivera separado do pai
quando era algo que se lamentava. Ele fora efetivamente
renegado por Lorde Strathburn em favor de Simon,
obviamente para impedir que a propriedade Strathburn fosse
perdida anos atrás. Era uma situação que agora claramente
queria reverter.
Pelo que recordada da história da Sra. MacMillan, Robert
tivera um papel relativamente pequeno na Rebelião, e se
ouvia sobre perdões dados pelo rei se o suplicante fosse
penitente o bastante e tivesse a defesa de um patrocinador de
alto nível. Subitamente lhe ocorreu que, se Robert fosse
perdoado e retornasse para o seio da família, então Simon
seria o segundo da linha de sucessão do condado, uma vez
que Lorde Strathburn morresse e ainda assim, se Robert não
tivesse nenhum herdeiro masculino. Era essa a causa óbvia
de inimizade e desconfiança entre ele e Simon? Robert
realmente achava que Simon o prenderia, seu irmão há muito
tempo perdido, apenas para manter a herança do condado?
Sem dúvidas ele achava.
Jessie pensou discutir o assunto com Robert, mas agora,
o tópico era muito difícil de abordar. Junto com todos os
outros assuntos que ela precisava discutir. Estava relutante
em arruinar a camaradagem entre eles. Parecia muito
recente, muito frágil. Era uma covarde. Ela não queria ver a
mesma dureza no olhar de Robert que vira pela manhã. Ou o
humor introspectivo que o dominara apenas alguns
momentos atrás.
Talvez após o jantar tivesse coragem suficiente para
tentar novamente. Provavelmente precisasse de um gole ou
dois de uísque afinal.
Robert terminou a sua tarefa e recolocou a sua manga
no lugar. Do lado de fora da caverna, uma rajada de vento
uivou e outro sopro de flocos de neve entrou. O fogo queimava
e assava a truta que estalava.
Robert testou o peixe com a lâmina de seu punhal e
sorriu para ela.
— Acho que nosso jantar está pronto. Pelo menos para
mim. — Ele dividiu o peixe em um par de pequenos pratos
que tirou de seu alforje. Ela aceitou um agradecidamente e
ignorou a dor dos dedos queimados ao começar a partir a
carne suculenta e rosada.

***

Robert atacou a sua truta com prazer, o tempo todo


consciente da presença de Jessie sentada ao seu lado. O
sangue frio que teve unir para se armar desde a manhã,
rapidamente se evaporava à medida que a via mordiscando
sua porção com dentes brancos.
Mas não parecia importar quantas vezes ele dizia a si
mesmo, ela não é para você, ela é perigosa, ela pertence ao
seu irmão. Não importava nada quando a língua rosa dela
saia para lamber os sucos de seu lábio inferior e dos cantos
da boca, ou quando começou a lamber e chupar seus dedos.
Ele deu tudo dentro de si para impedir-se de rosnar alto como
uma besta selvagem. Deus do céu, tudo nesta mulher parecia
queimá-lo. Ele estava tão duro de desejo quanto a lâmina de
seu punhal.
Quando terminou de comer, limpou os dedos no canto
limpo do tecido descartado usado para o curativo e tomou
vários goles de uísque para acalmar seus impulsos furiosos.
Ofereceu a Jessie a garrafa. Desta vez ela pegou e deu um
gole decente. As bochechas dela estavam bastante coradas e,
diante do brilho do fogo, seus olhos tinham o mesmo brilho
âmbar e profundo do uísque. Ele podia notar porque Simon
queria tanto a mulher. Deus o ajudasse, ele a queria também.
Robert pegou a garrafa de volta e bebeu mais um pouco.
Quando sentiu seu corpo relaxar e julgou que poderia se
levantar de onde estava com certa decência, reabasteceu a
fogueira e depois procurou um cobertor para Jessie e outro
plaid da Guarda Negra para si mesmo. Envolveu o cobertor ao
redor dos ombros dela e ela lhe sorriu em agradecimento. Ele
decidiu naquela hora que dormiria no chão duro e de pedra
da caverna perto do fogo em vez de deitar ao lado dela na
cama feita de samambaia e urzes.
Enquanto se enrolava no plaid de lã áspera e se
encaminhava para o seu lugar diante da fogueira, ele se viu
contemplando o enigma que era o noivado de Jessie com o
seu meio-irmão. Alguma coisa não se encaixava na situação.
Perversamente, a pergunta que mais o atormentava
neste momento em particular era se Jessie amava Simon. Ela
nunca mencionou se importar com ele. Examinou as ações
dela desde que ele e Tobias a acharam no bosque ontem à
tarde. Em nenhum momento ela ativamente lutou para
escapar ou exigiu voltar a Lochrose. Nem ameaçara usar todo
o poder da lei sobre eles se ele e Tobias fossem pegos. Ele se
perguntava sobre isso. As ações dela não pareciam com
aquelas de alguém profundamente apaixonado e quer voltar
para o lado de seu prometido.
Mas talvez isso seja apenas desejo de sua parte...
O que era certo, Simon estava realmente procurando por
Jessie, não havia dúvida de que o seu irmão a queria de volta.
Agora descartava a teoria de que Simon fora manipulado para
entrar em um compromisso por Jessie ou pelo pai dela, já que
claramente o seu irmão ficaria feliz em lavar as suas mãos em
vez de persegui-la.
Jessie também afirmara que genuinamente precisava
deixar Lochrose e viajar para Edimburgo, pois se sentia no
dever de ajudar a sua prima. De todas as coisas que contara
até então, ele acreditava que essa era verdade.
Porém, independentemente do que precipitara a fuga de
Jessie de Lochrose ontem, ou o tanto que gostava de Simon,
ela ainda o trairia, ele, Robert, se a oportunidade surgisse?
Ela poderia se realmente aspirasse ser a próxima Condessa
de Strathburn. Provavelmente iria querer alertar a Simon de
seu retorno. Se ela seria uma mulher de má reputação ou
uma esposa devotada, ou algo totalmente diferente, não
importava.
Qualquer direção que Robert olhava, deixar Jessie ir
ainda era um grande risco. Ele não podia se arriscar.
Avaliou Jessie novamente enquanto tomava outro gole de
uísque. A visão dela, assim como o uísque, aquecia seu
sangue. Sua voz interior sussurrava novamente: Ela não é
para você. Ela é perigosa. Ela pertence ao seu irmão.

***

Um silêncio pesado se estendeu entre Jessie e Robert,


quebrado apenas pelo crepitar da fogueira ou pelo uivo do
vento. Jessie se contorceu, a estranha tensão na atmosfera
estava ficando mais palpável a cada minuto. Ocasionalmente
lançava um olhar na direção de Robert, mas ele estava
encarando fixamente as chamas, perdidos em pensamentos,
pensamentos sombrios, julgando sua carranca. Ela se
perguntava o que acarretara tal mudança nele. Ele não
parecia a si mesmo.
Colocando de lado o seu próprio prato, Jessie dispôs que
não podia adiar mais a conversa com Robert, especialmente
agora que a garrafa de uísque estava quase no fim. Se Robert
ficasse muito bêbado, sua tarefa seria mais difícil.
Controlando a sua inquietação e reunindo coragem, ela
respirou fundo e olhou diretamente para ele.
— Eu... Estou me perguntando se poderíamos conversar
sobe o que acontecerá amanhã. A carruagem sai ao meio-
dia...
Robert mal a olhou.
— Eu sei. — Ele bebeu mais uísque.
Jessie franziu o cenho e mordeu o lábio, lutando contra
a vontade de falar algo pelo qual se arrependeria. Ou pior
ainda, jogar toda a água do frasco sobre Robert para tirá-lo
daquela melancolia. Para afastar o idiota incomunicável que
virara. O bom senso dizia que devia reconhecer a sua
falsidade, mas estava difícil conversar sobre as exigências
degradantes de Simon quando Robert parecia tão... distante,
até mesmo hostil. Mas então, era parcialmente culpada por
aquilo, não era? Ela teria dificuldades em ganhar a confiança
de Robert. Mas tinha que tentar.
Talvez ajudasse se oferecesse algum tipo de barganha.
Oferece-lhe algum tipo de ajuda, mostrar boa intenção. Ela
respirou irregularmente e resistiu à vontade de torcer as
mãos.
— Robert, eu sei que não tem motivos para confiar em
mim... Mas talvez se eu prometer ajudá-lo, você se sentiria
mais inclinado a me ajudar.
Robert olhou para ela desta vez, mas seus olhos azuis
estavam quase pretos, sua fisionomia era inteligível.
Ela engoliu em seco e clareou a sua repentinamente,
seca garganta.
— Estive pensando sobre o motivo de sua volta depois de
tanto tempo. A Sra. MacMillan me contou um pouco sobre o
que aconteceu dez anos atrás, quando você se foi para lutar
pela causa do Príncipe Charles.
O rosto de Robert parecia uma pedra.
— Ela contou, foi?
Ela apressou-se, sentindo-se constrangida e nervosa
diante do olhar frio dele.
— Sim. A Sra. MacMillan fala com muito carinho você, se
quer saber. De qualquer forma, o que estava tentando dizer
era que eu sei como deve ser difícil retornar, sobre a
preocupação de ser reconhecido... E preso por ter participado
da Rebelião... Mas tendo vivido em Lochrose, eu conheço a
rotina da casa e dos horários de todo mundo. Eu... talvez
pudesse ajudá-lo a entrar no castelo sem ser notado, assim
você poderia ver o seu pai...
Os olhos de Robert se estreitaram. Houve uma súbita
intensidade em seu escrutínio. Pelo menos ele estava
interessado. Encorajada, ela se inclinou um pouco e
continuou a defender a sua causa.
— Eu sei que não tenho o direito de falar tais coisas, mas
tenho certeza de que o seu pai sente a sua falta também.
Embora eu nunca o tenha escutado falar sobre você, eu sei
que tem uma pintura em miniatura sua que carrega com ele.
Eu a vi, foi assim que o reconheci hoje de manhã. A Sra.
MacMillan diz que seu pai teve o coração quebrado depois de
Culloden, que nunca mais foi o mesmo desde o seu
distanciamento. Mas agora... Tenho certeza de que daria
qualquer coisa para vê-lo novamente... — Ela vacilou, ficou
sem saber o que dizer, pois a reação de Robert às suas
palavras a intrigou.
Ele abaixou a cabeça e apertou a ponte entre os olhos
como se uma grande emoção tivesse tomado conta dele. Um
músculo pulsava em seu queixo.
Quando levantou o rosto, olhou diretamente para ela. Os
olhos dele estavam duros e frios de raiva.
Deus, o que eu fiz?
— Como eu posso acreditar em uma única palavra do
que diz, Jessie? — Ele espetou. — Você está comprometida
com Simon e ambos estão prontos para serem os próximos
Conde e Condessa de Strathburn. Por que eu devo acreditar
em sua ajuda, quando ao fazê-lo, arruíno a chance de vocês
dois herdarem o precioso prêmio?
Robert pensava tão mal assim dela? Ignorando o aperto
na boca de seu estômago diante da ira dele, de alguma forma
conseguiu verbalizar:
— Você acredita que Simon trairia você, mas ele
realmente faria isso? Principalmente depois de tanto tempo
ele poderia ser receptivo...
Robert riu, cortando-a, mas não havia alegria no som.
Ele a olhou de uma forma que só poderia ser classificado
como assustador.
— É lógico que ele me trairia. Estou surpreso que não
tenha elucidado toda a história para você, como a sede de
sangue e busca por glória do seu irmão mais velho, ignorando
as súplicas de seu inteligente pai, correu para a batalha, para
apoiar o Malvado Aspirante a Rei e desperdiçou a vida de
vinte e seis homens do clã.
Jessie balançou a cabeça, as lágrimas picando suas
pálpebras.
— Eu não tinha ideia...
— O quê? Você não sabia que depois que o Vilão
Jacobita conseguiu escapar de ser capturado pelos ingleses
no campo de Culloden, voltou a Lochrose, covarde como era?
E que o filho firme e obediente o trancou na adega, pronto
para ser levado pelos dragões, porque, é óbvio, era a coisa
nobre e certa a ser feita?
Jessie estava estupefata. Se o que Robert acabara de lhe
contar fosse verdade, Simon agira como um demônio traidor
com o seu irmão. Que tipo de monstro sem coração ele era?
Isso a deixou sem ar.
— Que traição hedionda... Eu não sabia... A Sra.
MacMillan nunca me contou isso... — Ela parou, perdera as
palavras.
Robert a olhava como se fosse algum tipo de criatura
baixa que acabara de rastejar de baixo de uma pedra. Sabia
que isso era apenas por que na mente dele, ela e Simon foram
moldados na mesma forma, e não podia culpá-lo por isso. Ela
conseguiu puxar o ar, esperando descobrir mais.
— Mas você conseguiu escapar.
Robert bufou.
— Não graças a Simon. Embora eu tenha desafiado meu
pai, ele teve pena de mim. Ou não seria capaz de ver o nome
da família ser tragado pela lama mais do que já estivera.
Melhor ter um filho exilado do que um executado por traição.
De qualquer jeito, conseguiu com que um dos Guarda Negras
locais em quem confiava para me dar alguns pontos...
— Você estava ferido?
Robert deu de ombros.
— Você viu o meu ombro. Um corte de baioneta me
abriu. Eu nem lembro quando isso ocorreu no meio da
batalha. De qualquer forma, MacTaggart me costurou e me
tirou da adega de Lochrose. Junto com Tobias, ele me ajudou
a chegar à costa e embarcar em um barco sem ser
interceptado pelos homens do Rei. Era mais do que eu
merecia.
Robert deu outro gole no uísque antes de prosseguir.
— Tobias, o pobre bastardo... Ele perdeu o irmão mais
velho, Hamish, sabia. Tudo por causa da minha idiotice. Por
que ele se incomodou em vir comigo, nunca saberei.
Ele sacudiu a cabeça e contemplou o fogo, as chamas
criando estranhos padrões de luzes e sombras sobre o forte e
bonito rosto. Jessie observava a expressão dele se distanciar,
seus pensamentos obviamente se voltando para dentro.
— Eu deveria ter morrido. Eu merecia. — A voz dele
estava cheia de amargura e autopiedade. — Fui tão estúpido.
Jessie ficou chocada com a profundidade da dor interna
daquele homem. Ela imediatamente identificou que as
cicatrizes que carregava daquela batalha ocorrida há tanto
tempo, eram mais profundas do que as da pele. Ele ainda
estava profundamente ferido em sua alma.
Correndo o risco de ser objeto de seu desdém
novamente, reuniu coragem para falar, para quebrar o
silêncio tenso e doloroso, para tirar Robert de quaisquer
horrores que revivia em sua mente. Ela sabia que nunca
poderia lhe oferecer conforto, mas pelo menos, poderia
oferecer-lhe simpatia.
Ela o observou calmamente e esperou até que os seus
olhares se encontrassem novamente.
— Eu sei que não posso nem ao menos começar a
entender o que Culloden lhe custou, Robert. — Ela
aventurou-se com seriedade, seu coração apertado por ele. —
Mas eu quero que saiba que eu realmente abomino o que
Simon fez com você.
Sua tentativa de reconciliação falhou miseravelmente.
Robert se levantou abruptamente, olhando para ela, nada
além de desprezo em seus olhos. Ela se encolheu, puxando
com mais força o cobertor em torno de si, como se isso
pudesse lhe proteger.
Ele ergueu a garrafa de uísque em um brinde falso.
— Isso é para você, Jessie Munroe e seu prometido, o
Honrado Simon Grant, herdeiro do Condado de Strathburn.
Desejo tudo de bom. — Ele bebeu da garrafa e então
caminhou até a entrada da caverna. Inclinando-se contra a
parede de pedra, manteve as costas viradas para ela e
encarou com amargura a noite fria.
Jessie encarava a forma rígida. A zombaria em seu tom a
magoava mais do que ela queria admitir. Mas era inegável que
era culpa dela que Robert a visse como inimiga, ela
perpetuava a mentira sobre o seu relacionamento com Simon.
Ela não aguentava mais a ideia em ser associada a uma
figura tão baixa e desprezível. De uma vez por todas, ela tinha
que corrigir as coisas. Contar a Robert a verdade, não importa
a vergonha que ela sentiria.
Embora rígida e com frio, ela deixou cair o cobertor e se
levantou. Ele virou metade do rosto quando ela se aproximou.
Seu rosto estava na escuridão. Ela sentiu mais do que via a
sua animosidade. Praticamente emanava dele.
Inalou irregularmente.
— Robert... — Para sua consternação, sua voz saiu
levemente tremida. Ele se virou e a encarou, seus olhos eram
buracos negros. Ela recomeçou. — Robert, há algo que
deveria saber. É difícil falar sobre isso...
Exceto pelo frio gelado, levantando a mecha de cabelo
sobre o rosto Robert continuava imóvel. Basta, Jessie. Ela não
se intimidaria novamente por ele. Isso deveria ser feito.
— Estou envergonhada em admitir que não fui
completamente honesta com você. Eu preciso explicar...
Robert riu, um riso que parecia um latido curto, incisivo
e sarcástico.
— Bem, eu devo dizer que não me surpreende, dado as
companhias que você tem. — Ele jogou a garrafa, agora vazia,
e se afastou da parede da caverna e deu um passo em sua
direção. Apesar do tremor em seus ossos, ela se manteve
firme. Flocos de neve giraram no ar entre eles. — O que me
surpreende afinal, é que acha meu irmão, mesmo que
remotamente, valioso de sua atenção. Quero dizer, o que
diabos viu nele? Pode explicar isso para mim, Jessie, porque
eu realmente não consigo entender.
Jessie engoliu em seco, forçando-se a manter o segurar o
olhar ardente dele.
— Eu... Não é o que você acha... Quando viu Simon
comigo ontem...
— Vocês são amantes. Não negue. — Robert deu outro
passo em sua direção. Jessie deu um passo para trás e sentiu
a pedra áspera da parede da caverna atrás dela. Ela não tinha
para onde ir. Ela fechou os olhos quando uma brisa gelada a
atingiu. Isso não vai acabar bem.
Robert era implacável.
— Então, o que lhe atrai nele, Jessie? É a forma
elegante, a personalidade encantadora e o humor cintilante?
Jessie negou com a cabeça.
— Você não entende... — Os pensamentos coerentes
pareciam ter fugido. Robert estava tão perto agora, que estava
quase grudado nela. O seu aroma – folhas de eucalipto,
madeira queimada, uísque e alguma essência masculina – a
envolveu. Inebriou a sua mente. Ele inclinou para frente e pôs
os braços contra a parede atrás dela. Cercando-a.
Aprisionando-a. Ela não conseguia respirar, não conseguia
pensar.
Ele se abaixou, sua voz quente e rouca contra os seus
ouvidos.
— Ou é a promessa de riqueza e um título?
— Não. — Ela sussurrou, sua própria voz pouco mais do
que uma respiração choramingada, dividida entre querer
Robert e querer afastá-lo, assim poderia se explicar. — Não,
não é nada disso.
Robert deslizou um dedo pela sua bochecha, ao longo do
queixo e do decote. O toque dele era como fogo sobre a sua
pele. Todo seu corpo tremia, da cabeça aos dedos dos pés e o
coração batia freneticamente contra a parede de seu peito.
Mas se era de medo ou ansiedade, ela não sabia. A boca de
Robert estava tão perto da dela, sua respiração gelada
misturada a dela.
— Ou é o jeito que ele lhe beija, Jessie, que a deixou tão
encantada?
Antes que ela pudesse emitir qualquer som, ele segurou
seu queixo e clamou um beijo violento. Os lábios dele estavam
duros e exigentes ao se esmagar contra os dela. Uma raiva
quente inflamou-se dentro dela, extinguindo qualquer medo.
Como ele ousava beijá-la assim. Ele era tão desprezível quanto
Simon!
Porém, mesmo quando Jessie tentou afastar-se, um
calor a atravessou, tão potente quanto o uísque que eles
haviam bebido. Inutilmente ela empurrou com as mãos o
peito de Robert, mas seu corpo delgado e duro como pedra a
esmagou com força contra a pedra fria. Ela se sentia quente e
fria ao mesmo tempo, como se estivesse tomada por uma
febre estranha.
Robert enterrou ambas as mãos no emaranhado de seus
cabelos e aprofundou o beijo, sua boca movendo-se com
urgência sobre a dela. Ela nunca havia experimentado um
beijo como aquele e, nunca o seu corpo respondera de uma
maneira tão inexplicável.
Uma tempestade de fogo tomou conta dela: furiosa com
Robert por tomar tais liberdades, mesmo que no fundo, uma
excitação, além do que já imaginou conhecer, fluiu através
dela. Quando a língua dele traçou a curva de seus lábios e em
seguida os penetrou, arquejou com a invasão. Mas ela logo
cedeu ao toque íntimo da língua dele, até mesmo o provou.
Era como se o seu corpo tivesse sido envolvido, apesar de sua
mente resistir. Gradualmente, sentiu a ira começar a
dissolver no calor que pulsava em suas veias. Sem pensar
direito e ignorando a dor de seu braço ferido, agarrou a nuca
dele com ambas as mãos e o trouxe para perto. Ela se ouviu
gemer.
E então Robert a afastou. Bruscamente se afastou e
puxou as suas mãos de seu pescoço e as prendeu contra o
peito. Ele estava respirando irregularmente, o ar saía como
um som áspero de algo sendo serrado.
— Diga-me, Jessie. Ele te beija assim? — Seu olhar
sombrio e ardente procurou o dela. — É isso que ama nele?
Ela balançou a cabeça.
— Por favor... Eu...
— Ou ele a beija assim?
Novamente Robert cobriu a sua boca com a dele, mas
desta vez, o beijo foi lento, sinuoso, provocador. Um afago
quente e sedoso. Ele liberou as suas mãos e pegou o rosto
dela em suas mãos. Seus polegares acariciavam suavemente a
pele sensível debaixo do queixo e do pescoço. Ele quebrou o
contato para respirar, antes de abaixar a cabeça mais uma
vez. A ponta de sua língua correu sobre seu inchado lábio
inferior antes de penetrar novamente em sua boca,
saboreando-a como se ela fosse a iguaria mais requintada.
Jessie estava derretendo. Se não fosse o corpo de Robert
pressionado contra o dele, mantendo-a em pé, já teria
escorregado ao chão. As suas mãos se enrolaram na lã de seu
plaid, aproximando o corpo dele. Uma de suas musculosas
pernas se posicionou entre as dela e ela ficou meio em pé,
meio montada nele. Mesmo através das camadas de tecido de
sua anágua, o calor do corpo dele penetrava no dela. Quando
Robert se aproximou, sua pélvis gentilmente empurrou o seu
quadril, ela gemeu novamente, seus seios doíam, seu mamilo
latejava. Deus a ajudasse, estava rendida. Um sino de alerta
soou em algum lugar de sua cabeça: isto tem que parar
antes...
Estremecendo, Robert afastou sua boca, ofegando com
dificuldade. Ele a afastou e ela se sentou como se tivesse
levado um balde de água fria do lago.
— Não me atrevo a perguntar se há algo mais que ama
em meu irmão. — O seu tom era duro, amargo. Então se
virou abruptamente e caminhou para a escuridão lá fora.
Um som quase como um soluço escapou dos lábios
inchados de Jessie. Ela os tocou com os dedos trêmulos.
Novamente falhara em contar a verdade a Robert. Ela lutou
contra a vontade de chorar. Maldita a sua fraqueza. E maldito
Robert Grant por fazê-la se sentir assim. Esperava que ele
congelasse até a morte lá fora.
Muito cansada para examinar a confusão que eram os
seus pensamentos e emoções, Jessie decidiu optar pelo
esquecimento bem-vindo provocado pelo sono. Voltou até a
fogueira, que morria lentamente, e recolheu o seu cobertor e
manto antes de rastejar até a cama no fundo da caverna.
Estava muito frio ali, afastado do fogo, mas não se importava.
Enrolando-se apertadamente em seus cobertores, afundou-se
na cama improvisada de samambaias e urze, obrigando-se a
dormir. Teria que tentar se entender com Robert pela manhã,
quando ele estivesse sóbrio.
E se falhasse nisso, simplesmente pegaria o cavalo do
miserável.

***

Robert estava parado na neve, recriminando-se por seu


tratamento bruto com Jessie. Não devia ter bebido tanto
uísque. Deixou a guarda abaixar e sucumbiu aos próprios
desejos. A necessidade de tornar Jessie sua, roubá-la de seu
irmão, mesmo que apenas por um momento, ultrapassara
todos os pensamentos racionais. Era de esperar que a moça
achasse que ele era o pior tipo de besta lasciva.
O que não esperava era Jessie reagir com inexperiência
aos seus beijos. Lógico que previra que ela ficaria brava e
resistisse à sua presunção, quando inicialmente forçara o
beijo. E ela resistira, a princípio. Mas quando se entregou,
seus beijos não foram de uma amante experiente, mas de
uma novata experimentando.
Deslizou uma mão pelo seu cabelo coberto de neve. Mais
uma vez estava confuso com a mulher. Interpretara errado o
beijo, supostamente, apaixonado que testemunhara entre
Jessie e Simon? Ele fechou os olhos e embora machucasse,
reviu a cena. Não havia o que dizer. Em retrospecto, tinha
sido um idiota por não ter ficado mais tempo observando a
conversa. Porém, comprometida ou não, apostava que Jessie
tinha pouco ou nenhuma experiência no ato de amor.
Então por que se importava tanto com a inocência dela?
Porque Simon tem uma veia cruel e a destruirá, você sabe.
A frustração que beirava a angustia se revirava dentro de
Robert, a emoção ainda mais forte agora que saboreara a
doçura de Jessie. Ele desejava que Simon fosse para o
inferno. Desejava que Jessie fosse dele. Acima de tudo,
desejava não ter começado a gostar dela.
Mas começara.
A neve continua inabalável. O frio gélido rapidamente o
deixou sóbrio e ele percebeu que precisava voltar à caverna.
Para Jessie. Suspirando longamente, apertou o plaid em volta
de si e caminhou de volta pela passagem. Jessie desaparecera
de vista. A sua confissão de que desconhecia a participação
em sua prisão após Culloden o confundiu também. O seu
choque e a seguida compaixão lhe pareceram genuínos. Ele
queria acreditar nela, mas teria coragem?
Ela lhe oferecera ajuda para entrar em Lochrose, mesmo
arriscando sua chance de ir a Edimburgo amanhã. Mas a
oferta dela seria um ardil para atraí-lo até Lochrose e colocá-
lo no caminho de Simon? Ela seria cúmplice dos jogos de
Simon ou inocente?
Talvez quando Tobias voltasse, Robert tivesse as
respostas que precisava para resolver o mistério que era a
Srta. Jessie Munroe.
Enquanto tirava a neve de seu cabelo e roupas na
entrada da caverna, imediatamente percebeu que Jessie já
havia se retirado à cama improvisada. A moça já estaria
dormindo ou apenas fingindo, assim não precisaria falar com
ele. Sorriu com tristeza. Não a culpava nem um pouco se ela
literalmente estivesse lhe dando um gelo.
A temperatura na caverna havia caído significativamente,
assim ele jogou mais alguns pedaços de madeira e galhos no
fogo. Apesar de sua resolução anterior de dormir no chão da
caverna, bem longe de Jessie, decidiu que seria pura tolice
fazê-lo. Estava congelando e ambos acabariam expostos se
não se precavessem, o que queria dizer que eles precisavam
compartilhar o calor dos seus corpos embaixo da escassa
oferta de cobertores e plaids.
Endireitando os ombros, Robert preparou-se para se
aproximar de Jessie. Ele ajoelhou-se ao lado dela então
gentilmente tocou seu braço por baixo dos cobertores.
— Jessie, moça. Você deve acordar.
Seus olhos se abriram imediatamente e ela se levantou,
enrolando o manto e no cobertor defensivamente ao redor de
seus braços. Parecia exausta e receosa, a boca era uma linha
apertada, os olhos brilhavam por causa do choro. Lágrimas
que, sem dúvida, ele causara. A culpa apertou o seu coração.
Ela o encarava, esperando.
Robert engoliu em seco, lutando para encontrar as
palavras para se desculpar e de alguma forma recuperar o
frágil relacionamento que ele acabara completamente. Ela
nunca concordaria com a sua proposta de outra forma.
— Jessie... Sinto muito pelo meu comportamento
anterior. Foi inapropriado eu ter... tomado vantagem de tal
forma. Eu não tenho perdão, mas espero que considere
aceitar as minhas sinceras desculpas.
Jessie olhou para baixo e empurrou os cabelos
desarrumados para trás da orelha. Ele percebeu então que ela
estava tremendo levemente. Segurou o ar, esperando que ela
falasse.
— Eu aceito. — Ela disse em voz baixa. Ela então ergueu
o rosto e ele viu seus belos olhos castanhos dourados
brilharem com calma, determinação e força. — Mas há algo
que eu quero que entenda. Amanhã, você deve me deixar ir.
Meu único desejo é ir a Edimburgo, ficar com a minha prima.
Eu lhe prometo que não direi nada a Simon ou à Lady
Strathburn sobre o seu retorno. E sobre a minha oferta
anterior, sobre ajudá-lo a ver o seu pai novamente, foi sincero
e ainda está de pé. Eu percebi que você não tem um motivo
real para confiar em mim, mas eu peço que faça. Talvez nós
possamos fazer um trato eu o ajudarei a entrar em Lochrose
sem ser notado em troca da minha liberdade. O que diz?
Robert estendeu sua mão.
— Concordo, Jessie Munroe.
Jessie a apertou. As mãos dela estavam tão geladas que
ele desejou colocá-las de baixo de sua camisa, contra o seu
peito, para aquecê-las. Em vez disso, as envolveu com suas
mãos e começou a esfregar com gentileza e a massagear seus
dedos gelados.
Ela fechou os olhos e suspirou.
— Por que você é tão quente, Robert? Isso não é justo.
Robert sorriu, encorajado por Jessie não o ter enviado
para dormir com o seu cavalo. Mas ele precisava fazer mais
do que segurar as suas mãos para aquecê-la? Como ela
reagiria a sua próxima sugestão? Respirou fundo,
preparando-se para a ardente censura.
— Jessie moça ... Está tão frio quanto Hades hoje à noite
e eu temo que nós dois soframos se não adotarmos medidas
extra para nos manter aquecidos.
Ela abriu os olhos e o encarou cautelosa. Mas não
afastou as mãos.
— O que está sugerindo?
Robert manteve o olhar fixo no dela.
— O que você está vestindo não está nem perto e nem
adequado a este tipo de tempo. Eu posso sentir quanto frio já
sente e está ficando mais frio aqui.
Um pequeno vinco de suspeita surgiu em sua testa.
— Sim...
Ele deu outra inalada profunda. É tudo ou nada, Robert.
— Nós devemos nos deitar juntos e dividir o calor do
nosso corpo embaixo dos cobertores e plaids.
Enquanto falava, os olhos dela ficaram enormes. Ela
sacudiu a cabeça veementemente e afastou a mão.
— Você e eu... Não acho que seja apropriado. De modo
algum.
— Jessie, eu juro que não é nenhum esquema para
seduzi-la. Se não fizermos isso, poderemos muito bem
congelar até a morte. Deve acreditar em mim.
Ela mordeu o lábio e o encarou duramente, avaliando.
Deve ter ficado satisfeita com o que viu, pois se moveu para
lhe dar espaço ao seu lado na cama de samambaias e urzes.
— Muito bem, Robert Grant. Mas se eu pegar suas mãos
vagando por onde não deveriam, usarei o seu próprio punhal
em você. Entendeu?
Robert levantou as mãos em um gesto de rendição.
— Entendo. Eu serei nada além de um perfeito
cavalheiro. — Ele se acomodou próximo a ela e depois jogou
seu plaid e o cobertor ao redor deles. Jessie deitou-se imóvel
ao seu lado, mal o tocando. Ela ainda tremia e seus dentes
começaram a bater.
Isso não funcionaria. Lenta e cuidadosamente, a
envolveu em seus braços, a frente do corpo dele pressionando
a lateral do seu corpo. Ele a ouviu inalar, mas não fez nada
para se afastar.
— É o melhor jeito. — Ele sussurrou suavemente em seu
ouvido. O cabelo dela cheirava um pouco a urze e madeira
queimada. — Diga-me se eu estiver machucando o seu braço.
Ela assentiu, o cabelo dela roçando a sua bochecha.
— Estou bem. — Ela murmurou. A respiração dela
estava quente contra a curva de seu pescoço. Ele lutou contra
o familiar desejo de beijá-la, pois jurou para si mesmo que
não faria nada para quebrar a confiança dela. Rezou para que
ela não percebesse que ele já começara a ter uma ereção.
— Boa noite, Jessie. — Murmurou e lentamente sentiu a
tensão esvair-se do corpo dela. Ela relaxou em seu abraço e
os seus tremores diminuíram enquanto ela silenciosamente
adormecia. A palma de sua mão esquerda subiu para
descansar sobre o coração dele e com um sorriso leve nos
lábios. Ele fechou os olhos e deixou que o sono o clamasse.
Sete
Quando Jessie acordou na manhã seguinte, foi
surpreendida ao perceber que seus membros estavam
entrelaçados aos de Robert e que estava aquecida, até mesmo
confortável. Na realidade, estava muito confortável. Envolvida
no calor de Robert, tinha a cabeça apoiada sobre o ombro e
uma das coxas dele sobre o seu quadril. Ainda mais chocante,
uma das mãos de Robert segurava gentilmente um de seus
seios. Ela deveria ficar afrontada e afastar a mão dele.
Desembaraçar-se das pernas dele e usar o punhal nele como
ameaçara na noite anterior. Mas sabia que não queria fazer
isso e esse pensamento a deixou perturbada, muito
perturbada. Robert estava brincando ontem, mas talvez ela
fosse uma garota má.
Ela se moveu devagar e Robert se mexeu. Afastou a mão
de seus seios para tirar a mecha de cabelo do rosto dela.
— Parece que está virando um hábito, passarmos a noite
juntos. Como dormiu? — A voz dele era baixa e rouca, uma
carícia em seus ouvidos.
Jessie encontrou sua voz, também rouca pelo sono e
uma outra emoção que não queria saber o nome.
— Melhor do que esperava... E você?
— Dormi bem. — Ele murmurou, deslizando a mão da
cabeça dela para o ombro, depois para a curva de sua
cintura. — Melhor do que bem.
Oh céus. Jessie se afastou dele, tentando criar um
espaço entre eles, quebrar a intimidade. Isso foi um erro. Os
olhos azuis dele estavam suaves e escuros na luz difusa do
amanhecer, seu sorriso lânguido. Ninguém deveria ter o
direito de parecer tão lindo logo de manhã. Ela engoliu em
seco, afastando os seus olhos dos seus lábios. Sua linda,
convidativa e carnuda boca. Ela definitivamente era malvada.
E isso era perigoso. Muito perigoso. Precisava se levantar.
Começar o dia.
Ir a Edimburgo.
Os pensamentos de Robert devem ter se desviado da
mesma maneira. Ele suspirou e deu um rápido beijo em sua
testa.
— Embora eu apreciasse ficar aqui deitado o dia inteiro,
acho que devemos nos levantar. Além do mais, Tobias deve
estar de volta a qualquer momento e...
— Bom dia, milorde. Srta. Munroe.
Tobias. Jessie gritou e se afastou rapidamente da cama,
ignorando o repuxo em seus pontos e da dor de seu tornozelo
dormente. O rosto dela se afogueou enquanto ajustava o plaid
e enrolava o cobertor bem apertado ao seu redor. Tobias
pairava sem jeito na entrada da caverna.
— Ah, bom dia para você, Tobias. — Robert imitou
Jessie, saindo de baixo dos cobertores e se espreguiçou
indolentemente, parecendo imperturbável por ter sido pego na
cama com ela. — Espero que a sua viagem tenha valido a
pena.
— Sim, milorde. — Tobias, cujo rosto também estava tão
vermelho quanto beterraba, olhava apenas para o seu senhor.
— Na realidade eu tenho notícias que lhe interessarão.
Robert olhou na direção dela, sua fisionomia agora séria.
— Se me der licença, Jessie. — Ele inclinou a cabeça em
direção à entrada da caverna. — Moço, e se fossemos checar o
meu cavalo?
O coração dela se apertou. Jessie observou os homens
desaparecerem na névoa de início de manhã que flutuava no
ar gelado da montanha. Apesar do acordo que fizera com
Robert na noite anterior, ele ainda não confiava nela.
Suspeitava que alguma informação de Tobias era sobre ela.
Pelo menos haveria a confirmação de sua fala sobre ser filha
do administrador e que ela fora chamada por sua prima,
embora essa última fosse mentira. Mas rezava para que a
informação melhorasse a opinião de Robert sobre ela, mesmo
que só um pouco. O que queria dizer que ele ainda tinha a
última palavra sobre o fim do acordo.
Se Deus quiser, em poucas horas, estaria na carruagem
pública para Edimburgo.

***

A névoa continuava impenetrável quanto Jessie, Robert e


Tobias desceram com uma lentidão diligente do vale alto
coberto de neve para os bosques mais baixos e ao Lago
Kilburn. Jessie montava com Robert, seu braço a envolvendo.
Não tinha certeza se era para segurá-la ou retê-la.
Depois que os homens retornaram para a caverna,
Robert estivera deprimido e distante. De vez em quando,
Jessie o pegava a analisando especulativamente, fazendo-a se
preocupar novamente com o que ele descobrira sobre ela, e se
ela a deixaria ou não sair. Na pressa de se aprontar e partir,
não houve oportunidade de conversar com ele sobre a
estratégia proposta para entrar com segurança no castelo, ou
o qual a sua participação nisso. À medida que se
aproximavam de Lochrose, ficava mais do que frustrada com
Robert por não compartilhar o que planejara. Mas criticá-lo
não era uma opção, não quando discrição e subterfúgios eram
fundamentais.
Felizmente eles não encontraram ninguém no caminho.
O mundo ao redor deles estaca quieto, silencioso e cinza, as
árvores emergiam do nevoeiro como espectros
fantasmagóricos. Robert insistira que ela deixasse a sua capa
escarlate para trás, pois era muito visível na paisagem
coberta de neve. Embora Robert tenha compartilhado seu
plaid com ela, Jessie tremia de frio... E um medo profundo.
Tinha plena consciência que cada passo que o cavalo de
Robert dava a levava para mais perto de Simon. A ansiedade
dava nós em sua barriga e rasgava seus nervos a ponto de
fazê-la sentir náuseas. Provavelmente não ajudava que tudo o
que tinha em seu estômago era carne seca novamente, mas,
mesmo que tivesse um banquete à espera em Lochrose,
duvidava poder comer algo.
Pelo menos, começava a identificar as paisagens
familiares que se materializavam através da névoa. Eles
estavam contornando o lago, indo em direção ao portão
principal de Lochrose e a Gate-House. Apertou os punhos à
sua frente e começou a morder o lábio inferior. A vinda fora
tão lentamente frustrante que agora estava aterrorizada com
o fato de o tempo escapar dela. Ela estimava que tinha
apenas algumas horas para chegar a Grantown-on-Spey.
Realmente não aguentava mais não saber sobre o plano.
Ela virou a cabeça em direção a Robert.
— Para onde iremos? — Ela perguntou em voz baixa,
odiando-se por não conseguir esconder a ponta de hesitação
em sua voz. — Eu não consigo imaginar você cavalgando
diretamente para a entrada do castelo.
Robert esperou o tempo de uma batida de coração antes
de responder suavemente contra o ouvido dela.
— Sua casa, Jessie.
— Oh. — A sobrancelha se uniu em um vinco profundo.
Ele realmente a surpreendera. — Mas por quê? Você vai
contar o seu plano, assim posso ajudá-lo? Não se lembra de
nosso acordo?
— Lógico que lembro. Mas tudo será relevado há sua
hora.
Jessie esperava que sim. Ela realmente esperava. Não
restava muito tempo.
Quando chegaram uns cinquenta metros de Gate-House,
Robert e Tobias entraram e amarraram em um denso bosque
de pinheiros e lariços no fundo da casa. Robert a ajudou a
desmontar e ela se viu pressionada contra os músculos duros
do corpo dele, as mãos a segurando com firmeza ao redor da
cintura. Apesar da apreensão, ela sentiu o corpo responder à
proximidade, a respiração ficou presa e, embora estivesse
congelando até os ossos, o calor inundou as suas bochechas.
Sua atração física por Robert devia ser mortificantemente
óbvia. E, apesar do enorme abismo de desentendidos e
desconfianças entre eles, ela também sentia que Robert a
desejava também.
Ela lançou um olhar para o rosto dele e Robert sorriu.
— Faz muito tempo desde a última vez que estive tão
perto de casa, Jessie. — Ele falou suavemente enquanto
procurava os olhos dela. — E estou confiando em você para
não me entregar.
O coração de Jessie bateu de uma forma estranha. Ela
lhe deu um pequeno sorriso em resposta, esperando que
Robert pudesse ver que era realmente sincera. A boa opinião
dele sobre ela importava, mais do que percebera até o
momento.
— Eu não o decepcionarei. E caso se esqueça, nós
podemos entrar em Gate-House pelos fundos. Eu deixei a
porta traseira destrancada.
Robert olhou para Tobias que estava parado ali perto,
parecendo ocupado com as rédeas de sua montaria. Uma
comunicação silenciosa se passou entre eles. Tobias assentiu
e então Robert se virou para Jessie. Ele pegou a sua mão.
— Leve-nos então, mo ghaoil.
A casa estava deserta, exceto pelo fato de que alguém
estivera ali em algum momento após a sua partida. Alguém
com muita, muita raiva. Os cabelos da nuca de Jessie se
levantaram quando viu que uma das cadeiras da cozinha
havia sido arremessada e a garrafa de uísque de seu pai
estava quebrada no chão. Mais perturbador era o estado do
quarto dela no andar de cima. Houvera uma busca grosseira
em seus poucos pertences. A sua cômoda fora aberta e as
suas roupas foram jogadas pelo quarto.
Robert, parado ao seu lado na soleira da porta ergueu
uma sobrancelha.
— Simon?
Jessie assentiu, apoiando-se no batente da porta,
controlando-se para engolir a náusea que subia por sua
garganta.
— Ele deve estar realmente muito frustrado por você
deixá-lo, Jessie. — Robert fez uma pausa, franzindo a testa
enquanto a avaliava. Preocupação escureceu os seus olhos. —
Imagino que gostaria de se trocar. Ficará bem se eu a deixar
por alguns minutos?
Ela encontrou voz embora não pudesse esconder o
tremor.
— Sim, é claro. Ficarei bem. Não demorarei. Prometo.
Robert lhe dirigiu um sorriso de confiança e apertou sua
mão.
— Muito bom, moça. Chame-me se precisar de alguma
coisa. — Ela assentiu e então desapareceu pelas escadas.
Embora os seus nervos estivessem completamente
esfarrapados e tivesse pouco e precioso tempo a perder – o
relógio na lareira indicava que era quase nove horas – Jessie
não desejava desperdiçar a oportunidade de se lavar e vestir
roupas limpas antes de sair. Não importava que a água que
deixou na vasilha há alguns dias estivesse gelada quando a
jogou no rosto. O mais rápido que pôde, jogou a miscelânea
de roupas no chão. Evitou pensar em Simon tocando os seus
itens mais privados. Mas não tinha escolha, usaria o que
tinha em mãos.
Do seu guarda-roupa, rapidamente selecionou um manto
de lã preto e seu melhor vestido de viagem de lã verde
esmeralda, que tinha uma pequena quantidade de renda
marfim em cada manga e o fichu combinando. Ele se
amarrava na frente com uma fita de veludo preta sobre um
stomacher7 de renda marfim que era relativamente fácil de
vestir. Apesar de seu tornozelo ainda estar inchado e dolorido,
ela conseguiu calçar suas bostas macias de couro preto sem
muita dificuldade.
Ela olhou para o relógio. Cinco para as nove.
Seu cabelo... Bem, seu cabelo estava um desastre. Jessie
sentou-se diante do espelho de sua penteadeira e passou a
escova pelo emaranhado antes de arrumar as mechas em um
arranjo baixo e prender com uma tira de couro preta. Havia
sombras vermelhas embaixo de seus olhos, mas, pelo menos,
não parecia mais uma bruxa selvagem. Estava apresentável o
bastante para pegar a carruagem pública.
Se fizesse isso a tempo. Se saísse por volta das onze
horas e cavalgasse como o vento, seria capaz de chegar a
Grantown-on-Spey perto do meio-dia. Tudo sairia bem.
Se Robert mantivesse a sua promessa.
E se eu não me encontrar com Simon.
Lágrimas encheram seus olhos e Jessie fez uma careta
ao seu reflexo. Pare, Jessie. Você não tem tempo para chorar.

***

Robert estava parado perto de uma das janelas


gradeadas da pequena sala da frente, vasculhando a entrada
quando Jessie se uniu a ele.
Na luz fraca que entrava pela janela, percebeu que
Robert também tivera a oportunidade de melhorar a
aparência para a reunião com o seu pai. Embora não tenha
raspado a sombra escura de sua barba, amarrara o cabelo
para trás com uma fita de veludo preta. Ele descartara seu
plaid amassado e sujo pela viagem e agora usava calças de
veludo enfiadas em suas botas de cano baixo, uma camisa
branca de linho limpa atada com uma elegante gravata e seu
casaco de caça marrom. Mesmo o traje de Robert sendo
simples, não se podia deixar de notar o ser de autoridade.
Robert Grant, o cavalheiro Jacobita, um portador digno dos
títulos de Senhor de Strathburn e Visconde de Lochrose.
Jessie rezava para que o conde visse isso também.
Ela se aproximou da janela.
— É muita sorte a névoa persistir. Algum sinal de
movimento lá fora?
Robert franziu o cenho, sua boca era uma linha dura.
— Quatro membros da Guarda Negra passaram em
direção ao castelo dois minutos atrás. — O olhar dele
encontrou o de Jessie. — Simon é persistente, tenho que dar
crédito disso a ele.
Jessie apertou sua capa preta de viagem mais perto do
corpo e sua pele se arrepiou de inquietação novamente.
Considerou sair escondida pelos fundos e pegar um cavalo
sob a cobertura da névoa, mas começou a se questionar se
seria inteligente ir a qualquer local desacompanhada, uma
vez que Simon ainda a procurava ativamente. Na verdade,
começava a se perguntar se não seria melhor ficar com
Robert. Apesar da desconfiança entre eles, das dúvidas
iniciais sobre ele, não podia negar que ele, acima de todos os
outros, a fez se sentir segura.
De repente Robert esticou a mão e levantou o queixo dela
com dedos gentis, forçando-a a olhar para ele.
— O que foi, moça? — A voz dele era suave baixa, mas
seu olhar era especulativo. — Por que você está tão...
O rangido da porta da cozinha sendo aberta fez Jessie
pular e Robert suar. Ele imediatamente colocou Jessie para o
lado da porta da sala, seu punhal desembainhado. Com o ar
preso, o coração batendo contra as costelas, ela observou
Robert, encantada com a sua rápida reação e aparente calma.
Até quando a mão dele segurou a dela, esteve consciente do
forte controle de energia, um soldado endurecido no campo de
batalha prestes a atacar.
— Sou só eu, milorde.
Só Tobias. Obrigada, Deus. Jessie vergou contra a
parede, seus joelhos quase dobrando-se embaixo dela.
Robert visivelmente exalou também e lhe deu um sorriso
tenso antes de guardar o seu punhal. Ele caminhou até a
cozinha.
— Como está lá fora, Tobias?
— Não muito bem, milorde. Simon ainda está dormindo,
ficou acordado bebendo até as três horas de acordo com o
valete dele, Baird. Mas há quatro impacientes membros da
Guarda Negra esperando no pátio para que ele se levante.
Mas Baird não sabe quando ele irá... Ninguém é louco o
bastante para acordá-lo. Minha prima Annie diz que desde
que a Srta. Munroe partiu... — Tobias lançou um olhar a
Jessie. — O Sr. Grant tem estado no temperamento mais
desagradável que ela já vira.
Robert passou uma mão pelo rosto e suspirou
pesadamente.
— Você sabe, provavelmente Simon tem seus homens
vigiando a pousada também, Jessie. — Ele falou com vigor,
uma careta vincando sua testa. — Ele está tornando quase
impossível que você pegue a carruagem.
— Eu sei. — Jessie respondeu em um fio de voz, o medo
e o desespero entalados em sua garganta. Ela odiava ter que
ser a mariposa em direção à luz e, em consequência, arruinar
os planos de Robert. Pior ainda era saber que seu próprio
plano de escapar estava destinado ao fracasso. Não tinha
ideia de que Simon seria tão obstinado. Fechou os olhos e
enfiou as unhas na palma de sua mão, obrigando-se a engolir
as lágrimas e a não ceder. Precisava pensar. E não queria
desmoronar na frente de Robert.
Ela sentiu a mão de Robert em seu ombro.
— Talvez meu pai possa interceder, Jessie. Por nós dois.
Ela assentiu fracamente. Talvez... Que outra escolha eu
tenho?
— Está pronto então, milorde? — Tobias perguntou.
Pronto para quê? Embora sua visão estivesse encoberta
pelas lágrimas, ela estreitou o olhar em Robert.
— Acho que chegou a hora de contar o seu plano,
milorde.

***

Robert esfregou o queixo, a culpa corroendo o seu


estômago. Jessie o olhava com cautela, os olhos brilhando
com lágrimas não derramadas e uma suspeita aguda. Ela
sabia que algo estava acontecendo. E agora era a hora de
contar-lhe o que era escondido. O problema era que sabia que
ela não ficaria feliz. Ele inalou profundamente e a olhou
diretamente.
— Jessie, eu vou deixar você aqui com Tobias. Você
ficará totalmente segura.
O rosto dela ficou branco.
— Você não confia em mim? Por favor... Eu imploro,
deixe-me ir com você. Dou-lhe a minha palavra, eu não
delatarei a sua presença.
Robert hesitou. Jessie estava tremendo de medo.
Inicialmente lhe ocorrera que talvez tivesse encenando, que
sua demonstração de medo era um plano elaborado para
colocá-lo dentro do castelo, assim poderia alertar Simon ou a
sua madrasta sobre o retorno dele. Mas agora, enquanto
avaliava o seu rosto pálido, descartou a ideia. Por que Jessie
tinha tanto medo de ficar ali com Tobias? Se Simon era uma
ameaça a sua partida, provavelmente era mais seguro que ela
ficasse ali, onde ficaria escondida.
— É melhor para todo mundo se eu fizer isto sozinho. —
Ele falou com cuidado. — Se algo der errado... É melhor que
você e Tobias não sejam culpados em ajudar um homem
procurado. Tobias cuidará de você.
Jessie engoliu em seco e umedeceu os lábios secos. O
medo dela era palpável.
— Eu apenas quero ajudá-lo. Este era o nosso acordo.
Eu devo chegar a Edimburgo, não importa como. Mas se
Simon vier aqui me procurar novamente... Não creio que ele
me deixará ir.
— Jessie, é mais provável que encontre Simon dentro do
castelo do que se permanecer aqui. Tobias a protegerá.
Ela balançou a cabeça e segurou a mão dele, o desespero
cobrindo seus olhos castanhos dourados.
— Por favor, eu prefiro ficar com você...
Ele examinou o seu rosto perturbado. Claramente havia
algo errado. Ele olhou ao redor da sala, para a garrafa
quebrada e a cadeira jogada.
— Por que você tem tanto medo, moça? — Ele perguntou
com gentileza. — Simon fez alguma coisa para machucar
você? Há algo que não me contou, eu sei disso.
Os olhos dela ficaram arregalados por um momento,
suas pupilas dilataram-se de pânico. Depois fechou os olhos.
Não podia olhar para ele.
— Não importa... — Sua voz era algo um pouco acima de
um sussurro. Suas bochechas estavam vermelhas.
Ela estava com vergonha de lhe contar. A raiva inflamou-
se dentro dele. Simon a machucara de algum jeito, tinha
certeza disso. Ele estava determinado a descobrir o que
realmente se passara.
Mas agora não era a hora para questionar Jessie. A cada
minuto que se passava, mais provável que Simon e sua
madrasta se levantassem. E com isso aumentariam as
atividades dentro e ao redor do castelo.
Ele tomou uma decisão rápida.
— Certo, Jessie, você pode vir comigo.
Ela segurou o braço dele, quase caindo de alívio diante
dele.
— Obrigada, Robert. — Ela falou trêmula. — Você não
terá nenhum motivo para se arrepender de sua decisão,
prometo.
Robert olhou para Tobias que parecia tentar permanecer
o mais discreto possível durante a tensa conversa.
— Você deve partir. O resto do plano continua igual.
Tobias parecia incerto, mas concordou.
— Se tem certeza, milorde.
— Eu tenho, Tobias. — Robert caminhou até ele e
colocou uma mão sobre o seu ombro. Sabia que o melhor
lugar e mais seguro para o rapaz era estar o mais longe
possível dele, caso algo saísse errado. — Você já fez mais do
que o bastante em me ajudar. Não há sentido esperar aqui
pelo veredito do meu pai, se ele me ajudará ou não. É melhor
regressar para A Fênix. Além do mais, se tudo der certo para
mim, eu o verei, assim como Drummond em Edimburgo antes
que ambos naveguem novamente.
Tobias inclinou a cabeça.
— Como quiser, milorde. Que Deus esteja com vocês.
Robert sorriu e lhe deu um tapinha no ombro.
— Bem, garoto. Dê minhas lembranças a Drummond. E
vá com Deus, Tobias.
Quando a porta dos fundos se fechou, Robert a trancou
contra qualquer visitante inesperado, depois se virou para
Jessie.
— Há algum candeeiro ou lamparina a óleo por aí, moça?
Ela estreitou os olhos e o mirou interrogativamente por
um momento, mas rapidamente pegou uma lamparina, assim
como estopa de um armário perto da lareira.
— Nós vamos para algum lugar escuro para eu pegar
isso?
— Muito. — Robert respondeu com um sorriso antes de
rapidamente colocar a estopa e acender o pavio da lamparina.
— Você não tem medo de túneis escuros, tem? Ou passagens
secretas?
Jessie o olhou com suspeitas.
— Não, você realmente não precisava de minha ajuda
afinal, não é?
Robert ignorou a pergunta dela e lhe deu um sorriso em
vez disso. Ele ficou feliz em ver que ela não estava mais
tremendo e que até mesmo enrubescera um pouco diante do
sorriso dele. Pegando a lamparina em uma das mãos e
agarrando firmemente a mão de Jessie com a outra, a levou
para a porta do porão de Gate-House.
— Acompanhe-me.

***

A mão de Robert estava quente e lhe dava segurança


enquanto eles desciam para o porão.
Apesar de ter estado mais do que frustrada com Robert
por ele ter demorado em revelara sua estratégia secreta, que
envolvia em deixá-la para trás, Jessie não dava a mínima
importância para onde a levava agora. Ela confiava nele.
Depois de tudo o que enfrentara nos últimos dois dias, agora
sabia, sem sombra de dúvida, que poderia contar com ele
para manter-se segura. Sua razão inicial para dizer que
estava comprometida com Simon, para proteger-se de Robert,
agora parecia completamente absurda. Quando Robert se
reunisse com seu pai, ela contaria a verdade.
Ela assistia com interesse enquanto Robert ia para um
dos cantos mais afastado e escuro do porão. Após colocar a
lamparina em uma caixa sem uso, deslizou a mão pelos
tijolos rústicos até localizar algo que parecia estar solto e, sem
muito esforço, o tirou. Pôs sua mão dentro do espaço escuro e
pressionou algo que decididamente fez um clique. Uma parte
da parede do fundo imediatamente abriu um pedaço.
Robert recolocou o tijolo e acenou para ela.
— Acha que o seu tornozelo está bom para isso, Jessie?
— Acho que sim. — Ela não seria deixada para trás. —
Farei o meu melhor para não nos atrasar.
— Boa garota. — Ele lhe lançou um sorriso rápido e
pegou novamente a mão dela para guiá-la no túnel
subterrâneo. Uma explosão de ar gelado a atingiu. Quando a
porta fechou atrás deles, eles foram imediatamente lançados
na mais completa escuridão, salvo pela luz pálida da
lamparina. Jessie não conseguiu conter um arrepio.
Como se sentisse a incerteza dela, Robert a levou para
perto dele e apertou sua mão.
— Coragem, Jessie. Tobias esteve aqui embaixo ontem e
me garantiu que o caminho está livre.
— Aonde vai dar? — Ela perguntou, seguindo Robert
através da escuridão. O chão de pedra do túnel era irregular e
levemente inclinado para baixo.
— Na adega de vinho. Quando o meu tataravô construiu
o castelo, optou por túneis de fuga no caso de eventual
ataque em vez de instalar fossos, pontes levadiças e paredes
fortificadas. Há outro túnel que cruza com esse em direção ao
lago, mas Tobias disse que parte da parede dele caiu e
precisaria cavar. A maior umidade do solo perto do lago
provavelmente enfraqueceu a rocha. — Robert olhou para ela
e ela viu um vislumbre do sorriso dele mesmo na luz fraca. —
Mas não tema. Não é o caso deste túnel.
Eles continuavam andando por um tempo
indeterminado, Robert cuidadosamente a conduzindo ao
redor de eventuais pedras protuberantes ou a alertando para
se abaixar quando o túnel ficava mais baixo. O frio era úmido
e penetrante. Na hora em que chegaram à outra porta de
tijolos, Jessie tremia muito.
Novamente Robert localizou uma trava e a porta
relutantemente se abriu. Atravessando-a, Jessie podia ver que
eles realmente estavam em uma adega de vinho. Fileiras e
fileiras de barris e garrafas estavam empilhadas em ordem
nas prateleiras que se estendiam pela escuridão. Ela ouviu
um baque surdo de porta batendo atrás deles e então Robert
a levou em direção às escadas.
— Cuidado por onde pisa. — Robert assinalou uma pilha
de correntes e algemas no caminho.
Jessie olhou para baixo e parou quando entendeu a
presença delas ali e estacou.
— Aqui é onde Simon o prendeu? Como um animal? —
Ela apertou a mão de Robert, seus olhos brilhavam. — Oh,
meu Deus, Robert. Como ele pôde? Você estava ferido... —
Mesmo na luz difusa, podia ver que o rejunte entre as pedras
estavam manchadas, sem dúvida o sangue de Robert. A raiva
explodiu em seu coração, a evidência da crueldade de Simon
tirou o seu ar.
Robert deu de ombros e depois esticou a mão e com o
polegar acariciou a bochecha dela, secando a lágrima
derramada.
— Foi há muito tempo, moça. Seque as suas lágrimas.
Não valho isso.
Sem pensar, Jessie pressionou o rosto contra a mão dele.
— Sim, você vale, Robert Grant. O que Simon fez foi
errado. Muito errado.
Segurando o olhar dela, Robert levou a mão dela para os
seus lábios e depositou um beijo nos nós dela. Sua boca era
quente, seus lábios... oh... tão suaves. Desta vez quando
Jessie tremeu, não foi por causa do frio. O calor escaldou
suas bochechas e ela não era capaz de desviar seus olhos
dele. Se as coisas apenas fossem diferentes, para nós dois.
Robert Grant poderia ser o homem a conquistar o meu coração
e...
A chama da lanterna diminuiu momentaneamente e
Robert inalou, sacudindo a cabeça como se saísse de um
sonho.
— Venha. Vamos seguir, mo ghaoil. Está na hora de
parar de adiar este encontro com o meu pai.
Em vez de subir as escadas, Robert a levou para uma
alcova embaixo delas, onde vários barris estavam empilhados.
Após passar a lamparina a ela, ele empurrou os barris para o
lado e apertou um dos painéis de madeira que pareciam fazer
parte da parede. Outra porta se abriu, revelando uma escada
estreita escondida atrás da porta.
— Isto nos levará para o corredor onde está o quarto do
meu pai. — Ele falou pegando a mão dela novamente.
Embora ele, por fora, aparentasse calma, Jessie sentiu a
tensão crescer em Robert; um músculo latejava em sua
mandíbula e o aperto em sua mão estava mais forte, quase
desconfortável. Com um sobressalto, repentinamente ela
descobriu o motivo.
— Como se sente sobre ver o seu pai depois de todo este
tempo? — Ela perguntou em voz baixa.
Para a sua surpresa, a boca de Robert abriu um sorriso
torto.
— Nervoso para diabo. — Ele admitiu. — Mas não há
como voltar atrás agora. — Ele pegou a lamparina e a
conduziu pela escada, encorajando-a a ir à frente. — Você
define o ritmo, Jessie. Não quero que tropece se eu for muito
apressado.
Jessie assentiu e levantou as saias, começando a subir a
escada íngreme e estreita.
A lamparina lhe proporcionava apenas luz suficiente
para ela poder ver o caminho à frente sem muito problema.
No entanto, seu tornozelo logo começou a doer. Ignorando as
pontadas afiadas o melhor que podia, ela continuou a subir. A
certa altura ela tropeçou, ofegando tanto de dor quanto de
susto. Robert a pegou, apoiando-a contra a sólida parede que
era o peito dele.
— A segurei. Como está o seu tornozelo — Sua
respiração era quente contra seu ouvido.
— Dói um pouco, mas eu ficarei bem. — Ela sussurrou
de volta, grata por ele sugerir que ela fosse à frente. Ele deve
ter antecipado algo como isso. — Obrigada por me segurar.
Ela sentiu os lábios dele se curvando em um sorriso
perto de sua orelha.
— É um prazer, Jessie. Não é todo dia que uma moça
bonita cai em meus braços.
— Humph. Isto é o que diz, Robert Grant, mas estou
inclinada a não acreditar em você. — Jessie disse, tentando
ignorar a vibração em seu pulso em reação às palavras dele e
a sensação dos braços fortemente musculosos ao redor de
sua cintura. — Seu sorriso malicioso é muito bem ensaiado.
Tenho certeza que as moças bonitas caem sobre você o tempo
todo. — Quando se afastou, não tinha certeza, mas
suspeitava fortemente que Robert murmurara que realmente
era uma garota perversa. Ela sorriu.
Ao chegar ao topo da escada, estava sem fôlego, mas
aliviada, pois a dolorosa subida acabara. Se por algum motivo
ela tivesse que fugir por ali... Fechou os olhos, rezando que
não precisasse. Tinha que acreditar que Simon era tão
preguiçoso que não havia se levantado ainda. Definitivamente
esta não era a hora para perder a coragem. Passou o capuz de
sua capa por cima do seu denunciador cabelo, preparando-se
para o que viria a seguir, a parte mais perigosa da missão.
Robert gentilmente passou por ela que se encostou à
parede de pedra, antes de cuidadosamente pendurar a
lamparina em um pequeno gancho sobre a sua cabeça. A
mulher perversa dentro dela repentinamente sentiu vontade
de passar seus braços ao redor do seu peito largo e inalar seu
perfume masculino, para ter o prazer de sentir a força dele
pela última vez. Mas não o fez. Não queria distrair Robert ou
parecer um fardo. Sob a luz faca e tremeluzente, podia apenas
notar que estava tenso também, seu rosto estava esgotado e
sua boca formava uma linha apertada.
Ele colocou seu ouvido sobre a porta de madeira que
parecia um painel a frente deles.
— Dedos cruzados para que esteja limpo, Jessie. — Ele
sussurrou. Então ele soltou a trava e empurrou.
Oito

A porta se abriu para o largo corredor que era


dolorosamente familiar. Robert parou no limiar, seu coração
batendo de maneira estranha. Estava em casa.
Olhou para ambos os lados do corredor, agradecendo a
Deus por ele estar completamente deserto. Deu um passo
para fora seguido de perto por Jessie. Ela tinha ido bem ao
chegar até ali com ele. Sua resiliência e determinação o
surpreenderam. Virou-se na direção dela e ela lhe deu um
sorriso tímido. Debaixo de seu verniz de coragem, ela
obviamente estava tão nervosa quanto ele.
Estava totalmente silencioso ali. O grosso tapete turco
amortecia seus passos enquanto eles rapidamente
atravessavam o longo corredor, indo em direção ao quarto de
seu pai. Ele percebeu que as paredes de pedra entre cada
porta ainda tinham penduradas finas tapeçarias e pinturas
das paisagens das Terras Altas. O outro lado do corredor era
intercalado em intervalos regulares por janelas altas, com
arcos e colunas. A névoa ainda não se dissipara, com uma
aguda pontada de lamento, Robert percebeu que não veria o
jardim de rosas que a sua mãe instalara muitos anos atrás
quando ainda era um bebê.
Eles passaram pelo quarto de Simon. Nenhum som era
emanado lá de dentro. Robert rezou para que o safado ainda
estivesse dormindo, não apenas por sua segurança, mas pela
de Jessie também.
Finalmente. Robert levou Jessie para o abrigo da janela
posicionada em frente ao último par de portas de carvalho no
fim do corredor. O dormitório do Conde de Strathburn. Ele
dirigiu a Jessie o sorriso diabólico o qual zombara, mais para
tranquilizar a si mesmo do que a ela.
— Bem, aqui estamos.
Jessie retribuiu o sorriso.
— Sim.
Um pálido raio de sol que conseguira penetrar o denso
nevoeiro destacava faixas douradas nos olhos cor de uísque
dela e Robert decidiu que poderia afogar-se alegremente
naqueles olhos. O olhar dele caiu sobre a sua boca. Patife
como era, não resistiu à visão dos seus lábios cheios e
tentadores. E esta poderia ser a última chance de beijá-los, se
o encontro a seguir não desse certo.
— Um beijo de boa sorte? — Sussurrou e antes que
Jessie pudesse responder, ele inclinou a cabeça e a beijou de
uma vez, com gentileza. Não precisou se preocupar com a
concordância dela. Ela respondeu imediatamente, seus lábios
separando-se levemente em uma completa aceitação do beijo
roubado. Ficou surpreso e tentado a prolongá-lo. Mas tanto
quanto queria, não era nem hora e nem lugar para demorar-
se em um abraço. Relutantemente controlou seu desejo e
começou a se afastar.
Apenas para Jessie agarrar-se à sua lapela e puxá-lo de
volta. Ela esmagou seus lábios mais uma vez nos dele, em um
breve, mas ardente beijo. Quando interrompeu o contato,
seus olhos brilhavam.
— Boa sorte, Robert. Você merece ser feliz.
— Obrigado, mo ghaoil. — Respirando firme para reunir
coragem e com a mão de Jessie ainda na dele, deu um passo
em direção à porta e testou a maçaneta.
Passaram-se dez anos desde que estivera ali e brigado
tão amargamente com o seu pai. Dez longos anos desde que
tolamente saíra tempestuosamente por aquela mesma porta e
a batera atrás dele. E por dez anos, esperou por esta ocasião:
uma ocasião em que em seus momentos mais escuros de
desespero, temia que nunca pudesse acontecer.
A porta se abriu silenciosamente. Com seu coração na
boca, a atravessou, puxando Jessie com ele.
Eles estavam na sala de estar de seu pai. Um fogo
estalava na lareira e as cortinas de veludo azul da janela
estavam puxadas para permitir que a luz fraca da manhã
entrasse. Levou um momento para que os olhos de Robert se
ajustassem à penumbra enquanto ele analisava a sala. À
primeira vista parecia desocupada. Os móveis e acessórios
pareciam estar exatamente como se recordava: mesas finas de
nogueira e várias poltronas de couro enfeitadas com um
tapete turco de estampa bordô e azul posicionado perto do
fogo. Estantes de livros e uma mesa de nogueira flanqueavam
a parede oposta à lareira. Entre elas tinha uma porta fechada
que levava ao quarto de vestir de seu pai. Além dele estava o
seu dormitório.
Então Robert notou um movimento em uma das
poltronas e um gemido estranho. Ele estacou.
— Caesar. O cão de caça de seu pai. — Sussurrou
Jessie. — Sinto muito, eu não pensei...
O cão enorme ficou de pé e olhou para Robert, seu olhar
era intenso. Ele farejou o ar.
Robert engoliu em seco.
— Caesar. — Ele sussurrou.
O animal gemeu novamente e depois começou a abanar
seu rabo. De repente se atirou em Robert, suas grandes patas
descansando sobre os seus ombros enquanto lambia
desesperado o rosto de Robert. Robert riu, esfregando as
costas do cão.
— Não acredito. Você se lembra de mim, Caesar.
Jessie sacudiu a cabeça, claramente perplexa.
— Ele te conhece?
Robert assentiu, tentando empurrar o animado cachorro
para baixo. O rabo do cachorro se agitava de um lado para o
outro descontroladamente.
— Meu pai me deu quando fiz dezoito anos. Foi meu
cachorro por dois anos, antes de eu partir. É incrível que
ainda me reconheça.
— Caesar! — Uma voz rouca pela idade veio de trás de
Robert e seu pulso acelerou.
Pai. Ele não conseguia acreditar. Depois de todos esses
anos, ali estava, a alguns metros de distância. Estava parado
na soleira da porta de seu quarto de vestir, apoiando-se
pesadamente em uma bengala, uma careta vincando sua
testa. Olhou entre Robert e Jessie.
— Srta. Munroe, o que diabos está fazendo aqui em meu
quarto com este estranho? — Ele exigiu. — Pensei que havia
ido para Edimburgo. Por favor, explique-se.
Ignorando a torção em seus intestinos, Robert deu um
passo à frente e procurou o olhar de seu pai.
— Pai... Sou eu... Robert.
O olhar de irritação de Lorde Strathburn foi substituído
por um de raiva.
— O que quer dizer? Como ousa vir até aqui dizendo ser
o meu filho. Robert morreu. — Ele deu vários passos em
direção a Jessie.
— Srta. Munroe, o que significa isso?
Jessie tirou o capuz e cruzou a sala, pegando as mãos
trêmulas de seu pai, as mãos de um homem velho. Seu pai
parecia ter envelhecido vinte em vez de dez anos. Uma grande
onda de tristeza brotou dentro de Robert por tudo o que eles
sofreram e perderam. Sua visão nublou-se.
Jessie continuou.
— Lorde Strathburn, é verdade. Este é o seu filho, Robert
Grant. Ele retornou a Lochrose.
O seu pai o encarou longamente, estudando o seu rosto e
depois se aproximou. Seus úmidos olhos azuis se voltaram
para Caesar, que ainda lambia a sua mão. Rabo balançando.
Caesar choramingou e olhou para o conde.
Robert engoliu o nó dolorido em sua garganta e lutou
para manter a voz calma.
— Caesar se lembrou de mim, pai. Depois de tanto
tempo, não é impressionante?
— Robert? — Seu pai sussurrou. Seu rosto empalideceu.
— Robert... É você? Oh, meu Deus. Meu filho. — Ele largou a
bengala e deu um passo à frente ao mesmo tempo em que
Robert cruzava o quarto para abraçar o seu pai. Enquanto
eles se abraçavam apertadamente, Robert sentiu seu pai
tremer contra o seu ombro, mal podia acreditar. Seu pai não
tinha lhe virado as costas. Ele me chamou de filho.
— Robert, meu rapaz. — A voz do seu pai estava
sufocada por uma emoção pura. Ele afastou Robert, mas o
segurando a distância do braço, lágrimas caindo pelo rosto. —
Deixe-me ver você. Fale. Diga-me que isto não é apenas o
sonho de um velho. Diga-me novamente que é você.
Robert piscou para afastar suas lágrimas, sua voz,
quando conseguiu falar, era um pouco mais de um ruído
rouco.
— Sim, sou eu, pai, Robert. Não um fantasma ou
alucinação. Sou eu, de carne e osso, dez anos mais velho,
com cicatrizes de batalha, mas eu, o mesmo de sempre.
Seu pai o esmagou em um novo abraço feroz.
— Mal posso acreditar nisso. Você se foi há tanto tempo.
Eu pensei que estava morto. Por que ficou longe por tanto
tempo?
Robert fechou os olhos. A culpa e a vergonha do que
fizera duelava dentro dele com a ferida dolorosa e infectada.
Ele gentilmente se afastou do abraço apertado de seu pai e
olhos em seus olhos.
— Sinto tanto por tê-lo decepcionado. Eu era um tolo
malditamente idealista, o pior tipo de tolo. Eu deveria ter
ouvido seus conselhos. Mas eu fui arrogante. Pensei que
soubesse o que era melhor para o clã. Mas estava errado. E
nossos homens morreram por causa do que eu fiz... — Sua
voz quebrou, ele não conseguia seguir.
Seu pai apertou seu ombro e o sacudiu levemente.
— Robert, você era jovem e cabeça quente, sim, mas você
não é culpado pelos erros que aquele príncipe tolo ou pela
brutalidade dos ingleses no campo de batalha. Diga-me que
você não se afastou todo este tempo por causa das palavras
idiotas que falei em um momento de raiva.
Robert secou seus olhos de modo brusco na sua manga.
— Não foi apenas o seu ultimato, pai, que me manteve
afastado. Eu não podia voltar para casa porque eu não
conseguia encará-lo, ou o clã de qualquer maneira. — Ele
ergueu os olhos para seu pai. — Mas eu fui covarde por muito
tempo. Eu tenho uma dívida de honra que precisa ser
reparada com todos aquelas famílias que perderam um filho,
um marido ou um pai. Não espero perdão, seu ou deles, mas
eu preciso tentar consertar... Se me permitir.
O seu pai colocou a mão sobre seus ombros e o olhou
diretamente.
— Filho, eu lhe perdoo. Você deve acreditar em mim. Eu
agradeço a Deus que tenha retornado para mim. Agora, sente-
se comigo e me conte mais. Nós temos uma década de
histórias para contar.

***
Lorde Strathburn e Robert sentaram-se perto do fogo.
Caesar deitou-se aos pés de Robert, com o focinho em suas
botas. Jessie continuou a pairar pelo canto da sala, insegura
do que fazer. Secretamente enxugou as lágrimas involuntárias
que se derramaram por suas bochechas ao testemunhar a
cena de partir o coração entre pai e filho. Ela sentia-se uma
intrusa assistindo tal momento de privacidade.
Quis deixar Robert e seu pai algum tempo sozinhos, mas
não podia sair do quarto. O risco de ser descoberta por Simon
ou por Lady Strathburn, ou mesmo por algum outro criado,
era muito grande. E seria inapropriado que se retirasse para o
quarto de se vestir ou dormitório do conde. Então ficou perto
da porta dupla de carvalho, tentando permanecer tão discreta
que fosse possível.
E realmente parecia que Robert e o conde estavam
esquecidos de sua presença naquele momento.
Por insistência de seu pai, Robert brevemente recontou a
sequência de eventos que sucedeu a sua fuga de Lochrose dez
anos atrás. Ele falava com calma, sua voz mal era audível de
onde Jessie estava em pé do outro lado da sala.
— Acreditei na sua palavra, pai, quando me disse para
nunca mais volta, por muito tempo pelo menos. MacTaggart
levou-me à costa onde eu consegui persuadir um capitão de
um navio de pesca de Nairn a me levar até Skye. De lá eu
segui até a Irlanda e depois à França. Ficará feliz em saber
que a minha nova identidade como Robert Burnley escapou
ao escrutínio de um comandante de uma fragata inglesa que
interceptou o barco para a Irlanda. Seu magistrado fez um
trabalho excelente e o comandante acreditou que meus papéis
eram legítimos. Se não fosse você e MacTaggart...
— Ainda não acredito que Simon o manteve acorrentado
na adega de vinho para entregá-lo aos ingleses. — O rosto do
conde estava vermelho de raiva. — Não importa que você me
desafiou, eu não poderia permitir que Simon lhe traísse
assim. Foi abominável. — Seu punho bateu no braço da
poltrona e Caesar levantou a cabeça e choramingou.
Robert segurou a mão de seu pai.
— Acalme-se, pai. Não deve se extenuar demais. Eu não
aguentaria se algo lhe ocorresse, principalmente agora que
nos reencontramos.
Lorde Strathburn deu um tapa no braço de Robert.
— Ficarei bem, filho. A Sra. MacMillan está cuidando
bem de mim com o seu chá especial de confrei e casca de
salgueiro. Juro que aquela mulher tem o toque de sacerdotisa
nela. — A coloração começou a diminuir enquanto ele falava.
— Mas, por favor, continue.
A expressão de Robert ficou sombria.
— Não me orgulho de como passei os anos seguintes.
Basta dizer que não me importava muito com o que colocava
em mãos.
— Conte-me, Robert. Acabou agora, O que quer que
tenha feito, não importa.
Robert estudou e expressão sincera de seu pai por um
momento e então suspirou.
— Efetivamente me tornei um soldado contratado, um
mercenário do Exército Francês. Lutar foi a única coisa que
parecia adequado.
Lorde Strathburn esticou a mão e apertou o ombro de
Robert. Havia lágrimas nos olhos do homem mais velho.
— Você queria morrer, não era, meu filho?
A voz de Robert era baixa e ele fixou o olhar em suas
mãos apertadas em seu colo.
— Sim. Por muito tempo, a vida não parecia mais valer a
pena.
Jessie se surpreendeu com a revelação de Robert. Ele
estava abrindo a sua alma para revelar sua dor mais
profunda. O coração dela chorava por ele.
O conde falou novamente.
— Então, o que o fez desistir?
— Eu desejaria ter uma razão melhor e mais nobre, mas
francamente, eu apenas fiquei cansado, pai, da loucura, da
insanidade sangrenta de tudo. E eu não sei o porquê, mas eu
parecia ter a sorte do próprio diabo no campo de batalha.
Além das feridas ocasionais e superficiais, nada mais parecia
me tocar.
Lorde Strathburn assentiu.
— Isso, ou você é o maldito de um bom soldado.
MacTaggart sempre comentou que você era um bom atirador
e um espadachim melhor ainda. Então, o que fez depois?
Robert sorriu timidamente, surpreendendo Jessie. Ele
parecia quase um menino orgulhoso.
— Eu fui ao Caribe. Jamaica para ser exato. Eu tenho
sido o muito inglês Sr. Robert Burnley, dono de uma
plantação e comerciante por alguns anos. Até mesmo tenho
meu próprio navio mercante, A Fênix. Ela me trouxe para
casa, pai. Seu capitão, Drummond, é o nome dele, atualmente
está ancorado em Edimburgo.
Lorde Strathburn sorriu calorosamente.
— E em casa é onde exatamente deve estar. Senti sua
falta, meu filho, mais do que pode imaginar.
A fisionomia de Robert ficou severa novamente.
— Pai, um dos motivos que me aventurei a voltar para
casa foi ter ouvido um rumor que sugeria que a propriedade
não estava rendendo muito ultimamente. É verdade?
Lorde Strathburn suspirou pesadamente.
— Verdade. Tanto quanto odeio admitir, essa é a
realidade. Sua mãe e seu meio-irmão... — Ele suspirou
cansado e passou a mão pelo rosto. — Bem, vamos apenas
dizer que eu tenho o firme controle no momento e eles não
estão nada contentes. As coisas começaram a dar errado
cerca de um ano atrás quando eu comecei a entregar a
administração da propriedade a Simon. Achei que estava
fazendo a coisa certa, tentando mantê-lo ocupado e fora de
problemas. Foi um grave erro. Mas agora eu tenho um novo
administrador, Munroe é o nome dele, mantendo o olho nas
coisas, a situação começou a melhorar.
Robert assentiu e olhou na direção de Jessie. Os olhos
deles se encontraram brevemente, mas foi tão rápido, que ela
não pôde ler sua expressão.
O momento passou e Robert voltou sua atenção ao seu
pai. Quando ele falou, havia uma determinação em sua voz.
— Como eu disse, esta foi uma parte do motivo para o
meu retorno. Eu não suporto o pensamento de deixar a
propriedade e o destino do clã nas mãos de Simon. Eu sei que
você pode precisar de tempo para pensar sobre isso, mas se
houver qualquer chance para que possa achar isso em seu
coração e me perdoar, eu gostaria de reparar todo o dano que
causei. — Ele inalou profundamente. — Pai, você me deixaria
voltar para casa?
Lorde Strathburn apertou as mãos de Robert.
— Obviamente. Nada me deixaria mais feliz do que ver
você de volta a Lochrose. Eu não quero isso de outra forma.
— Ele se levantou da poltrona. — Agora, Robert, deixe-me
chamar o meu valete, MacGowan assim ele pode preparar o
seu velho quarto para você.
— Pai. — Robert se levantou e tocou o ombro do conde,
encarando-o. — Isso não seria inteligente.
Lorde Strathburn franziu a testa.
— O que quer dizer?
— Pode ainda existir um preço por minha cabeça. Se
Simon ou Caroline descobrirem sobre o meu retorno, eles
podem fazer com que me prendam.
O conde fez uma careta.
— Eles não ousariam. Eu os colocaria para fora mais
rápido que eles pudessem piscar.
— No entanto, pai, sinto que precisamos nos movimentar
com máxima preocupação. Eu sou um conhecido Jacobita,
um traidor do Rei George. Eu preciso conseguir o meu
perdão. Até lá, não estarei a salvo.
Lorde Strathburn suspirou pesadamente.
— Você está certo. Fui pego pelo momento e não pensei
com clareza. — Ele apertou o braço de Robert. — Escreverei
imediatamente uma petição para que possa apresentar a
Lorde Arniston, o Lord Advocate8, pedindo clemência. Mesmo
se não for absolvido imediatamente, pelo menos pode ser solto
sob a minha custódia.
Quando Lorde Strathburn começou a caminhar
hesitantemente em direção à mesa, Jessie avançou mancando
um pouco. Ela pegou a bengala do conde e lhe estendeu. As
sobrancelhas dele se ergueram de surpresa.
— Srta. Munroe, estive tão distraído que me esqueci de
sua presença. — Ele pegou a bengala e deu um tapinha em
sua mão.
— É perfeitamente compreensível, milorde, dadas as
circunstâncias. — Respondeu Jessie com um sorriso.
— Percebi que está mancando. Está com dor? — Ele
perguntou, a preocupação evidente em seus olhos.
— Apenas um pouco. — Jessie subestimava o grau de
dor que sentia agora, seu tornozelo estava latejando. — Talvez
se eu pudesse sentar-me...
— É lógico, Jessie. Você deveria ter falado antes. —
Robert deu um passo à frente e sem esforço a guiou para um
dos sofás, segurando-a ao redor da cintura com um dos seus
braços. Quando afundou no sofá, ela lançou um olhar a Lorde
Strathburn e percebeu que ele franzia a testa ferozmente.
— Srta. Munroe, como é que você chegou até aqui com
Robert? — Ele perguntou com uma severidade que fez o
coração de Jessie se apertar de consternação. — Lady
Strathburn me informou que você partiu a Edimburgo dois
dias atrás, que havia uma emergência familiar de algum tipo.
— E assim foi, milorde. — Jessie esperava que tivesse
soado convincente. Depois de tudo, ela não estava mentindo
totalmente, havia um tipo de emergência, mas era com ela. —
Estava planejando ir a Edimburgo para ajudar a minha prima
que tem estado doente. Infelizmente a carruagem pública não
parte até o meio dia de hoje.
— Mas onde esteve neste meio tempo e como encontrou
Robert? — Lorde Strathburn exigiu saber.
Robert colocou sua mão sobre o ombro dela, quase como
se a estivesse protegendo.
— É complicado, pai. — Ele disse com cuidado.
— Bem, talvez você possa esclarecer. — Disse Lorde
Strathburn olhando de um para o outro duramente.
Claramente não estava impressionado.
Pensar rápido era, sem dúvida, necessário, Jessie
engoliu em seco, rezando para que ela não soasse nervosa.
— Milorde... Eu saí em direção a Grantown-on-Spey
anteontem. — Ela explicou. — Como pode ver, eu me
machuquei...
— Então como? — Indagou o conde.
— Eu torci o meu tornozelo no meio do caminho e...
Lorde Lochrose e seu escudeiro vieram em minha ajuda. —
Jessie admitiu com relutância. Ela não queria complicar
ainda mais as coisas ao confessar que também tinha levado
um tiro no braço.
— Então você esteve em Grantown-on-Spey com Robert
durante todo este tempo — Lorde Strathburn soava duvidoso.
Jessie enrubesceu.
— Não, milorde... Não em Grantown. A Sra. MacMillan
sugeriu que eu ficasse em sua cabana de caça em vez de ficar
sozinha na Pousada Strathspey... Seria impróprio eu ficar
sozinha em um lugar público sozinha. Eu me desculpo se foi
inapropriado eu usar a sua cabana sem pedir a sua
permissão.
Os olhos de Lorde Strathburn se estreitaram com
suspeitas.
— Srta. Munroe, estou começando a suspeitar que a sua
partida repentina tem pouco a ver com uma iminente crise
familiar e mais com meu filho Simon. Você estava se
escondendo dele, não estava?
O coração de Jessie acelerou e o calor coloriu suas
bochechas. Ela estava relutante em responder. Se o conde
seguisse por esta linha, Robert logo saberia que ela tinha
continuadamente mentido para ele sobre o compromisso
ficcional com seu meio-irmão. Agora que o momento se
abatera sobre ela, não suportava.
Sentia o olhar de Robert sobre ela e uma onda de
humilhação a varreu. Ela desejou que o chão a engolisse.
Lorde Strathburn continuou quando não respondeu, sua
voz era surpreendentemente gentil.
— Eu posso estar velho, Srta. Munroe, mas eu tenho
olhos e ouvidos. Esta não é a primeira vez que algo assim
acontece. Eu sei como Simon é. Infelizmente, você não é a
primeira a receber suas... atenções indesejadas. — Ele se
moveu em direção a Jessie e sentou-se na poltrona perto dela.
— Acredite, minha querida. Entendo a sua situação melhor
do que pensa.
Reunindo o que sobrara de coragem, Jessie levantou os
olhos para o conde.
— Eu acho que seria melhor para todos se eu fosse ficar
com a minha prima, milorde.
Lorde Strathburn assentiu.
— Se é isto o que você quer, Srta. Munroe, eu farei o
melhor para que seja assim. Eu apenas queria que tivesse
vindo até mim antes.
Jessie suspirou irregularmente.
— Eu não quis criar uma confusão, milorde, ou tornar as
coisas difíceis para o meu pai. Apenas pareceu mais fácil
fugir... — Ela olhou para Robert. O que ele estaria pensando?
A postura dele era rígida, virtualmente imóvel, salvo pelo
latejar de um músculo em sua mandíbula. Que idiota eu tenho
sido.
Quando ela desviou o olhar, Robert se agachou diante
dela.
— Jessie, isso tudo é verdade? Simon forçou sobre você?
Seus olhos de azul profundo penetraram nos dela e
Jessie soube que não havia como escapar da verdade desta
vez. Inalando, ela ergueu o queixo resistindo à vontade de
desviar o olhar.
— Sim, é verdade.
A confusão brilho nos olhos de Robert.
— Então você mentiu sobre estar comprometida com
Simon. Por que você fez isso? Eu não entendo.
— O quê? Simon e a Srta. Munroe estão comprometidos
— Lorde Strathburn exclamou.
Robert olhou para seu pai.
— Fui levado a creditar que eles estavam
comprometidos. — Ele se virou para Jessie. — Fale-me com
honestidade. O noivado é uma mentira?
Jessie ergueu o queixo uma fração mais alto,
preparando-se para admitir a sua perfídia.
— Sim, eu menti, Robert. Mas eu prefiro pensar que foi...
Autopreservação. — Agora que a mentira foi revelada, era
como se ela desafiasse Robert a censurá-la por suas ações.
Robert entrecerrou os olhos.
— Então eu interpretei errado tudo o que eu vi no lago.
— Sim. — Ela admitiu. — Eu tentei explicar o que
realmente acontecera naquela manhã, mas estava sozinha e
ferida, e para ser honesta, mais do que amedrontada. Eu não
sabia se pretendia me ferir. Então quando descobri que me
considerava uma ameaça à sua segurança, não pensei que
acreditaria em mim se negasse o que você presumira ser
verdade: que era a amante de Simon. Eu sei que soa ilógico,
mas acreditei que se pensasse que eu era alguém importante,
a prometida de Simon, então talvez você veria que era
menos... dispensável.
— Oh, Jessie, moça. Eu devo ter sido o pior tipo de
bárbaro para que pensasse que a machucaria, apenas para
me proteger de ser descoberto. Você deveria ter me contado
que estava errado sobre o que vi no outro dia. — Robert
repentinamente a pegou em seus braços e gentilmente beijou
seus cabelos.
— Eu não poderia. — Ela sussurrou contra a camisa
dele, lágrimas quentes caíam de suas pálpebras. — Estava
muito envergonhada... — Agora que Robert entendia o quão
precária era a situação dela e a razão de sua mentira, ela
sentiu o alívio varrer sobre ela. Sentindo-se mais forte, ela
levantou a cabeça do ombro de Robert e procurou seus olhos.
— Naquela manhã no lago, Simon disse-me que se eu não
fizesse o que queria, ele faria o meu pai perder a posição aqui.
Mas eu não seria capaz de ceder às exigências... então eu
parti. E você sabe o resto.
Robert tirou o cabelo do rosto dela e gentilmente secou
uma lágrima de sua bochecha com as costas do dedo.
— Você nunca mais sofrerá com a presença dele
novamente, Jessie. Eu me certificarei disso.
Ela lhe deu um sorriso fraco, espantada com a
capacidade dele de perdoar.
— Eu acredito em você.
Lorde Strathburn pigarreou intencionalmente.
— Robert, por favor, diga-me que você não ficou sozinho
com a Srta. Munroe nas últimas duas noites.
Robert se virou e encontrou o olhar do seu pai
diretamente sobre ele.
— Circunstâncias além do nosso controle nos forçaram a
ficar juntos, pai, mas deixe-me assegurar que nada de ruim
aconteceu.
— Mas vocês passaram duas noites juntos. — Insistiu
Lorde Strathburn. — Não foi assim, Srta. Munroe?
— Receio que sim, milorde. — Todo o rosto de Jessie
queimava de vergonha. — A primeira noite nós ficamos na
cabana de caça... Não havia outro lugar para ir, uma vez que
estava ferida... Embora nós não estivéssemos totalmente
sozinhos, Tobias, o escudeiro de Robert, também estava na
cabana. Então, na última noite, quando Robert e eu ficamos
na caverna...
As sobrancelhas de Lorde Strathburn se levantaram.
— Vocês o quê?
Robert se levantou.
— Eu estava preocupado que Simon estivesse
procurando por Jessie com a ajuda dos dragões ou da
Guarda. — Ele explicou calmamente. — Nós nos movemos
para um lugar mais isolado ontem à noite para evitar a minha
prisão. Um encontro com os homens do rei era a última coisa
que precisava. Nós ficamos aquecidos e nenhum dano foi
feito. Você não precisa se preocupar.
A expressão de Lorde Strathburn era sombria.
— Robert, independentemente do motivo, você não pode
ignorar a seriedade desta situação. O que o pai de Jessie
pensará quando ouvir sobre isto?
Jessie respirou profundamente, pedindo paciência.
— Lorde Strathburn, como Robert disse, não ocorreu
nada entre nós que possa gerar preocupação...
— Srta. Munroe, o mero fato de você ter ficado
virtualmente sozinha na companhia do meu filho por duas
noites é motivo suficiente para arruiná-la completamente. —
Lorde Strathburn advertiu. — E eu posso ver pela forma como
Robert a olha e abraça que vocês compartilham algum grau
de afeição. Vocês não podem negar isso, é óbvio até para um
velho tolo como eu. Seu pai ficará lívido se ficar
comprometida, mesmo que apenas a reputação. Eu sei que
ele tem muitas esperanças em a ver bem casada. Se fosse
minha filha, eu também teria.
— Talvez fosse melhor se o pai dela não soubesse então.
— Sugeriu Robert cuidadosamente.
Lorde Strathburn balançou a cabeça.
— Mentir por omissão não mudará a realidade da
situação, Robert.
— Você está certo, pai. Mas por que chatear o pai de
Jessie sem necessidade, se nada aconteceu?
— Tem certeza sobre isso? Apesar das garantias do
contrário, parece-me como se algo tivesse ocorrido entre vocês
dois.
— O que está sugerindo, então? — Robert perguntou,
uma nota de impaciência endurecendo a sua voz.
— Há apenas um curso de ação que acertará as coisas.
— O conde disse com gravidade. Seus olhos azuis de aço
miravam intransigentemente entre Robert e Jessie. — Vocês
dois terão que ser unir em handfasting9.
Jessie ofegou. Oh Deus, provavelmente o conde estava
brincando.
Robert obviamente pensou o mesmo.
— Não pode estar falando sério. — Ele explodiu.
— Oh, na verdade estou, meu filho. — Disse Lorde
Strathburn, sua boca formava uma linha de determinação. —
Não há outra coisa a se fazer com você e a Srta. Munroe,
considerando as circunstâncias. Não ficarei parado vendo
esta pobre garota ser arruinada. Vocês se unirão em
handfasting nesta sala, hoje, antes que partam.
— Mas, pai... — Começou Robert, afastando-se de Jessie
em direção à lareira. — Provavelmente não é justo com Jessie,
já que o meu futuro está longe de ser brilhante neste exato
momento. Eu sou um homem procurado. Tenho certeza de
que o Sr. Munroe não ficará feliz em ter a sua filha prometida
a alguém como eu.
— Você me perdoará, Robert. — O conde declarou tão
confiante como se estivesse simplesmente afirmando uma
verdade universal. — Lorde Arniston é um velho amigo meu.
Não haverá problema. E depois que for perdoado, vocês dois
voltarão para se casar em Kilburn Kirk. Além do mais, — O
conde sorriu para Jessie — é um bom partido para a Srta.
Munroe. Ela será uma Viscondessa afinal. Seu pai ficará
encantado.
A cabeça de Jessie estava girando, seu coração
galopando selvagemente. Esta tentativa de enlace por Lorde
Strathburn era inesperada. Era reconfortante que ele se
preocupasse tanto com o seu bem-estar, mas sugerir que
devesse se casar com seu filho, parecia injustificado ao
extremo.
Ela arriscou um olhar a Robert. O que deveria estar
pensando? Ele passou uma mão pelo rosto. Julgando por sua
cara feia, estava exasperado, para dizer o mínimo. Talvez até
mesmo furioso.
Quando falou, pareceu a Jessie que estava se esforçando
para manter seu tom calmo e sob medida.
— Pai, apesar de sua fé no Lord Advocate, há ainda uma
chance significativa de as coisas saírem erradas. Como disse,
tenho certeza de que Jessie e seu pai preferirão que o seu
noivo não seja um homem fugitivo, procurado por traição. Eu
entendo a sua preocupação com a reputação de Jessie, mas
talvez seja mais seguro e inteligente que um compromisso
seja realizado após o meu perdão.
Robert lançou um olhar duro sobre ela.
— E é claro, se Jessie e seu pai concordarem. — Ele
arqueou sua sobrancelha escura. — O que diz, Jessie?
Jessie desviou do olhar questionador dele, tentando
pensar claramente. Ela mal podia acreditar que isto estava
acontecendo. Unir-se em handfasting a Robert Grant, um
Jacobita e um aventureiro, era uma loucura. Mas no fundo de
seu coração, sabia que não estava totalmente chocada com a
sugestão do conde. Uma pequena parte dela vibrava de
emoção ao pensar em unir-se em casamento com um homem
como aquele. Embora ela o conhecesse há apenas alguns
dias, não podia negar a profunda atração por ele. Ela queria
estar perto dele. Estar com ele.
Mas como Robert se sentia a respeito dela? Ele parecia
gostar um pouquinho. Mesmo o conde havia notado que seu
filho parecia mostrar uma preocupação genuína por sua
segurança e bem-estar.
Mas aquilo era base suficiente para começar um
casamento?
Ela mordeu o lábio, desejando ferventemente que ela
tivesse mais tempo. As coisas estavam acontecendo muito
rápido, saindo do controle. Talvez quando Robert estiver livre
e ele escolher lhe fazer uma proposta, ela seriamente
considerasse tal oferta. E apenas talvez, se pensasse que ele
pudesse amá-la e correspondesse, uma condição nem sempre
necessária para o casamento, mas que em sua mente era
altamente desejável. Especialmente quando o homem em
questão era um libertino como Robert.
Então não poderia dar o seu consentimento agora. Eles
não deveriam ser forçados a um compromisso de casamento
não desejado por nenhum deles. E ainda existiam os desejos
de seu pai a considerar. O que ele queria para o futuro dela?
Jessie era consciente que ambos homens a encaravam,
esperando por sua resposta à pergunta de Robert. Ela
levantou o rosto para o conde e pigarreou.
— Concordo com Robert, milorde. Eu não vejo
necessidade de apressar qualquer coisa. E eu prefiro ter a
benção de meu pai antes que eu aceite uma proposta de
casamento.
O olhar de Lorde Strathburn se suavizou ao olhá-la.
— Eu entendo, moça , mas como Chefe do Clã Grant de
Strathburn e guardião de todos aqueles dentro das minhas
propriedades, eu tenho o dever de cuidar que eu não consigo
ignorar. — Ele pegou a mão dela. — Eu preferiria que você
estivesse sob os cuidados de Robert em seu caminho a
Edimburgo. Não posso permitir que você faça esta longa
viagem, sozinha. Na verdade, eu nunca me perdoaria e penso
que o seu pai me responsabilizaria se a deixasse desprotegida.
Você já sofreu o bastante, graças a Simon.
Lorde Strathburn então se levantou e encarou o seu
filho, a obstinação marcando sua mandíbula.
— Robert, eu insisto que você e a Srta. Munroe se unam
em handfasting diante de mim imediatamente. Eu não
escreverei o pedido de clemência até lá.
Até mesmo Jessie podia ver que Lorde Strathburn não
seria influenciado. De súbito teve uma pista de como ele
deveria ter sido dez anos atrás quando proibiu Robert de
liderar o clã para a guerra.
Robert suspirou pesadamente e deslizou uma mão entre
os cabelos, como se resignasse com o seu destino, como um
homem prestes a andar para o cadafalso.
— Como quiser, pai. — Ele respondeu com seriedade. —
Nós faremos. Mas — ele se virou para Jessie — apenas se
você consentir.
Jessie olhou para o homem bonito de tirar o fôlego diante
dela, percebendo com desespero as linhas finas de tensão ao
redor de seus olhos e ao lado de sua boca perfeitamente
esculpida. Um músculo latejava em seu queixo novamente
enquanto ele esperava por sua resposta. Percebeu que sua
resposta determinaria se Lorde Strathburn ajudaria ou não
ele a ganhar seu perdão. Ele estava segurando Robert como
um refém. Isso era injusto.
Ela levantou o queixo.
— Eu não tinha previsto esta reviravolta, Robert, e
realmente sinto ter que colocá-lo em tal situação. — Fez uma
pausa momentânea antes de atirar-se no precipício sem
direito a retorno. O seu coração começou a bater mais rápido,
um galope incerto dentro de seu peito. Sentiu que Robert
estava prendendo o fôlego. — Mas como eu não desejo
impedir as suas chances de obter clemência... eu concordarei
com o handfasting para o seu bem.
Robert inclinou a sua cabeça, o canto de sua boca se
ergueu em um pequeno sorriso. Seu olhar era inescrutável.
Ela sentiu-se tonta com enormidade do que ela acabara de
concordar a atingiu.
Lorde Strathburn esfregou as mãos e sorriu
abertamente.
— Excelente, tudo ficará acertado. — Ele pegou um
cachecol longo de lã fina com o padrão do clã Grant de sua
sala de se vestir. — Para amarrar as mãos. — Ele destacou
enquanto ele chamava Robert e Jessie para perto da lareira.
Robert auxiliou Jessie a ficar de pé. O toque de suas
mãos em seu braço e em uma pequena parte de suas costas
parecia queimar toda pele debaixo de suas roupas. Ela
subitamente se recordou da sensação das mãos dele sobre a
sua pele quando ele a ajudou a se despir na cabana de caça.
Quando eles estivessem casados, seria direito dele como seu
marido vê-la e tocá-la da forma que desejasse. Ela se arrepiou
com o pensamento.
Eles tomaram as suas posições de frente um ao outro,
diante de Lorde Strathburn. Jessie olhou para o rosto de
Robert. Ele parecia sério, sombrio até. Era óbvio que não
queria fazer isso. A apreensão vibrou selvagemente em seu
estômago. Não era assim que imaginou que seria seu noivado.
Ela se forçou a diminuir o ritmo de sua respiração e tentou
focar no que Lorde Strathburn estava dizendo agora.
— Robert e Jessie, quero que unam as mãos. — Ele disse
sorrindo para ambos.
Pelo menos ele estava feliz. Robert segurou as suas mãos
nas dele e o conde cuidadosamente envolveu o cachecol ao
redor dos pulsos e mãos, amarrando-os juntos.
— Agora, Robert — o conde continuou — eu quero que
repita as seguintes palavras depois de mim.
Robert obediente e solenemente repetiu o voto simples de
compromisso. Seus olhos azuis fixos nos de Jessie enquanto
ele falava.
— Eu, Robert James Alexander Grant, Visconde de
Lochrose e Senhor de Strathburn, prometo tomá-la, Jessie
Munroe, como minha esposa. — No fim, ele apertou
gentilmente as suas mãos debaixo do cachecol e lhe deu um
breve meio sorriso de encorajamento.
Agora era a vez dela. A boca de Jessie estava tão seca
quanto a pedra da lareira e era difícil pegar ar suficiente para
falar.
— Eu, Jessie Elizabeth Munroe, prometo tomá-lo, Robert
James Alexander Grant, Visconde de Lochrose e Senhor de
Strathburn, como meu marido. — Ela tentou retribuir o
sorriso para Robert, mas apenas conseguiu em trêmulo puxão
com seus lábios.
Lorde Strathburn se dirigiu a eles mais uma vez.
— Como Chefe do Clã Grant, e tendo testemunhado as
suas promessas, os declaro agora unidos por handfasting.
Robert deu um passo à frente e ergueu suas mãos
atadas até os seus lábios. Entre as dobras do tecido, ele
depositou beijos nas pontas de seus dedos.
— Mo nighean ruadh mhaiseach. — Ele murmurou em
gaélico, sua boca larga se erguendo em um sorriso. Minha
bela ruiva. — Eu a protegerei e cuidarei de você de hoje em
diante.
Mas ele a amaria? Até mesmo mais importante, ele seria
livre para amá-la?
Com todo o seu coração e cada fibra de seu ser, Jessie
rezava que ele fosse.
Nove
Simon estacou na soleira da porta de seu quarto, o
sangue correndo diretamente de sua cabeça para a sua virilha
em uma corrente quente de uma luxúria furiosa. Não podia
acreditar. Depois do baile que Jessie tinha lhe dado por dois
dias e noites inteiros, ali estava ela, embaixo do seu nariz.
Sua presa. Emergindo do quarto de seu pai tão ousada
quando satisfeita, suas saias se movimentando ao redor de
seu traseiro bem formado e completamente fodível. Ele não
podia esperar para deixá-la de quatro e fazê-la ficar sem
sentidos.
— Jessie!
Ela se virou, seus lábios cheios formaram um grande 'O'
de surpresa. Ele sorriu. Imagine como será forçá-la a usar
aquela boca em seu... Espere... Quem diabos era aquele com
ela?
Mas antes que Simon tivesse tempo de pensar um
segundo a mais, seu acompanhante, um homem alto, de
ombros largos e cabelos escuros, virou-se e fixou nele seu
olhar frio e duro.
Merda. O mundo de Simon parou de girar. Ele agarrou a
maçaneta e esforçou para tomar ar. Porra, não. Não. Não. Não.
Robert. Mas não podia ser Robert. Robert estava
supostamente morto. Que diabos?
Ainda mais inacreditável, a puta, sua própria Jezebel,
estava de mãos dadas com o bastardo. Embora a negação
gritasse através de Simon, uma pequena parte de seu cérebro
sabia que ele não estava vendo o fantasma de Robert.
De alguma forma ele foi capaz de reunir sua voz, o ácido
girando dentro dele, enrouquecendo a sua voz.
— Robert!
Enquanto Simon dava um passo instável em direção ao
casal, ele notou, sem sombra para dúvidas, que era Robert,
apenas que este homem possuía um corpo mais largo e duro
do que o jovem Robert de dez anos atrás. Então, antes que
pudesse respirar novamente, a versão mais velha de Robert
soltou a mão de Jessie e diminuiu a distância entre eles tão
rápido e silenciosamente quanto um leão predatório.
Arrogante. Nem mesmo a forma como ele andava mudara.
Isso fez com que Simon quisesse vomitar.
— Simon, sugiro que nos deixe seguir nosso caminho.
Não precisa fazer um rebuliço.
O tom confiante e suave de Robert imediatamente
aumentou a ira de Simon a proporções incendíaveis. Ele
bufou e bateu no ombro de seu odiado irmão com a palma da
mão. Como se eu fosse deixá-lo ir. Nunca.
— Foda-se, Robert. Você voltou rastejando para lamber
as botas de nosso pai, não foi? Bem, eu não vou permitir.
Você não é nada além de um traidor imundo. Uma desgraça.
Você não é desejado aqui. — Ele lançou um olhar por cima do
ombro de Robert, diretamente para Jessie. — E onde diabos
você esteve todo este tempo, sua vagabunda...
O soco de Robert foi tão rápido que Simon nem percebeu
a sua chegada.
Ele cambaleou de costas em direção à fresta da janela e
deslizou pela parede. De olhos fechados, lutou para sugar o
ar, parecia que seu corpo estava paralisado pela combinação
de descrença, uma fervente raiva e uma dor de roubar
pensamentos. Segurou a pesada cortina de veludo com tanta
força que quase rasgou o tecido de seu suporte. Com sua
outra mão trêmula, ele sondou timidamente o lado esquerdo
de sua mandíbula, onde Robert acertara seu soco de quebrar
os ossos.
Antes mesmo de abrir os olhos ele soube que Robert e
Jessie tinham ido. Merda, merda, merda. Com a cabeça ainda
girando, ele se obrigou a levantar e se jogou no assento da
janela e cuspiu um bocado de sangue e um pedaço de dente
quebrado. Sacudiu a sua cabeça que zumbia, tentando
clarear a visão, depois avaliou o agora vazio corredor. Por
mais que tentasse se convencer de que apenas vira o
fantasma de seu irmão, a realidade de seu rosto que latejava,
desmentia a ideia.
Robert definitivamente retornara.
Certamente seu irmão não estava morto como a sua mãe
tolamente o convencera anos atrás. Simon sempre suspeitara
que seu pai havia arquitetado a inexplicável fuga de Robert da
adega de vinhos há dez anos, mas ele nunca fora capaz de
provar nada. Não, a única coisa que importava agora era que
Robert realmente voltara, e seu pai nunca cumpriu a sua
ameaça de declarar seu filho mais velho morto ou deserdá-lo
por meio de uma Lei do Parlamento.
O que significava que Simon teria que agir para proteger
os seus próprios interesses. Imediatamente.
Apoiando-se nas cortinas se levantou e engoliu uma
onda de náusea.
Outro pensamento inesperado lhe ocorreu: Onde Jessie
se escondera nos últimos dois dias e como diabos ela voltou
com Robert?
A imagem deles de mãos dadas se espalhou por sua
mente.
Com um rosnado que abalou até o vidro da janela à sua
frente, Simon rasgou a cortina. Tremendo de raiva, foi ao
quarto de seu pai. Robert podia ter emergido da morte, mas
ele se certificaria de impedir o seu irmão de requerer sua
posição e herança no condado.
E Jessie Munroe.
— Pai! — Explodindo dentro do quarto de seu pai, Simon
poderia dizer que era esperado. O pai estava parado diante da
lareira e mesmo apoiado em sua bengala, havia um olhar de
aço nos olhos do idoso: frio e desdenhoso. Seu pai sempre o
desprezara. Ele nunca fora o bastante e nunca seria.
Não como a porra de Robert.
Simon respirou fundo. De alguma forma conseguiu
resistir à vontade de dar um soco no rosto de seu pai e
apontou um dedo em sua direção.
— Você não pode deixá-lo voltar. Eu não permitirei.
Caesar deu um rosnado baixo. Se Simon tivesse
segurando uma pistola, teria atirado no maldito cachorro, o
cachorro de Robert, ali mesmo.
Seu pai nem ao menos piscou.
— Esqueça isso, Simon. Ele voltou. Será perdoado. O
novo Lord Advocate é meu amigo.
Simon fechou o punho.
— Você sabe que a lei está ao meu lado. — Ele grunhiu,
sua mandíbula latejando a cada som emitido. — Robert é um
maldito traidor...
O pai dele bufou e se endireitou.
— Você não se importa com a lei. Tudo o que se importa
é em herdar a fortuna que financia o estilo de vida dissoluto
seu e de sua mãe.
Verdade. Mas o dinheiro — tudo — deveria ser dele.
Simon tinha que fazer o seu pai ver isso.
— Mas Robert o desobedeceu. — Oh, Deus, ele soava
como se estivesse choramingando. — Ele não merece uma
segunda chance.
— Uma vez! Ele me desobedeceu apenas uma vez! — Seu
pai rosnou, seu rosto ganhando um tom escuro de vermelho.
Ele enfiou a bengala no peito de Simon e Caesar se levantou,
rosnando. — O que você acha que tem feito durante todos os
dias nos últimos dez anos, se não forem mais? Você não se
importa comigo. Você não se importa com a propriedade ou
com o clã. Como uma criança mimada, você só se importa
consigo.
Foda-se. Simon recuou para a porta. Irônico que a
demonstração de temperamento explosivo parecia ser a única
coisa que tinha em comum com o velho idiota. Enquanto
tocava a maçaneta, lembranças dolorosas e há muito tempo
enterradas de Robert, sendo mais rápido a cavalo, batendo-o
na esgrima, superando-o nas lições com o tutor deles,
encheram a mente de Simon. Ele engoliu o nó duro e amargo
em sua garganta e olhou novamente para seu pai, uma névoa
estranha, vermelha e turva de ódio e angústia embaçaram
sua visão.
— Mamãe, está certa. Eu nunca fui bom o bastante, fui?
Não é justo. Eu sempre fui o segundo melhor para você.
— Você toma e toma, Simon. Você nunca doa. É você
quem não merece nada. Dia após dia eu tenho lhe dado a
oportunidade para se prover. Mas você escolheu desperdiçar
tudo. Se eu deixasse você com rédeas soltas, você nos
arruinaria.
— Sim, foi Robert que saiu correndo e arriscou trazer-
nos a ruína. — Simon abriu a porta. — Eu não deixarei que
ele escape desta vez. E não há uma maldita coisa que possa
fazer sobre isso.
Ele se virou e saiu da sala como se Caesar ou os cães do
inferno estivessem em seu rastro. Robert e Jessie tinham
quinze minutos de vantagem sobre ele pelo menos. Levaria
MacTaggart e os membros da Guarda Negra. Reuniria um
grupo de Casacas Vermelhas também.
Ele veria Robert morto nem que fosse a última coisa que
fizesse.
***

A névoa estava começando a clarear quando Robert e


Jessie finalmente saíram de Gate-House. Estava no meio da
manhã e um sol suave emergia intermitentemente entre as
nuvens cinzentas. Após o encontro deles com Simon, tinham
corrido pelas escadas secretas até a adega e pela passagem de
volta até a moradia do administrador.
Os olhos de Robert vasculhavam o chão coberto de
folhas entre a casa e o bosque onde eles deixaram os cavalos.
Não havia sinal de nenhum Guarda, graças a Deus. Ele não
tinha ideia de quanto tempo eles tinham, agora que Simon os
vira.
Simon. Robert trincou a mandíbula ao recordar o desdém
lascivo no rosto de seu irmão quando colocou os olhos sobre
Jessie. Ele relutara em usar força física, mas logo que o vira-
lata a insultou, Robert não foi capaz de se segurar. Ele julgou
ter usado força bastante no soco para incapacitar o seu irmão
pelo menos um pouco. Com alguma sorte, eles teriam
ganhado tempo o suficiente para se afastarem antes que
Simon fosse atrás deles. Melhor ainda, Robert esperava que o
pai deles pudesse impedir Simon de agir. Mas não podia
contar com isso.
Ele olhou para Jessie, sua noiva, enquanto estava de pé
ao seu lado na soleira da porta, apoiada no batente,
recuperando o fôlego. Mal conseguia compreender que ela era
sua prometida. Uma tempestade de pensamentos conflitantes
atingiu o seu cérebro, mas não era hora de avaliá-los. A
prioridade deles era fugir em segurança. Ele pegou a mão de
Jessie e percebeu seu olhar preocupado.
— Está pronta para correr até as árvores?
Ela lhe dirigiu um sorriso sombrio.
— Uma mancada rápida é o bastante?
Robert apertou sua mão e assentiu.
— Servirá.
Como planejado MacGowan, o valete de seu pai, estava
esperando por eles no bosque com a égua de Jessie, selada e
pronta para ir.
— Blaeberry. — Jessie disse com seu rosto se
iluminando pela alegria. O cavalo resfolegou em resposta e
esfregou seu focinho nela.
— Você ficará bem cavalgando sozinha? — Robert
perguntou. — Nós temos um caminho longo e duro pela frente
se quisermos ter alguma esperança em despistar Simon e
chegar a Edimburgo em um tempo vantajoso. — Desde que
eles tinham se comprometido por handfasting, ficara decidido
que era desnecessário e imprudente que Jessie pegasse a
carruagem pública. Lorde Strathburn concordara que havia
uma boa chance de Simon ter a estrada para Grantown-on-
Spey e a pousada sendo espionadas.
Os olhos de Jessie brilharam.
— Ficarei bem. — Ela lhe assegurou. Ela bateu no flanco
de sua égua. — E no final não o atrasarei. Blaeberry nos
manterá no ritmo, assim, não se preocupe com isso.
Robert agradeceu a ajuda de MacGowan.
— A qualquer momento, milorde. — Respondeu o valete
de cabelo grisalho, inclinando-se. — E se não se importa que
fale, é muito bom vê-lo de volta, saudável e ativo. Se precisar
de algo mais que possa fazer...
Robert sorriu.
— Talvez possa verificar se o cavalo do meu irmão
necessita de ferraduras neste instante. E que os outros
cavalos pastem, em campos distantes, seria muito útil.
MacGowan assentiu e devolveu o sorriso.
— É claro, milorde. Desejo que você e a Srta. Munroe
tenham uma viagem rápida e segura a Edimburgo.

***

Eles cavalgaram duro pelo resto da manhã, parando


brevemente apenas para descansar e dar água aos cavalos e
quando Robert julgava que estavam seguros, longe das terras
do Clã Grant e onde provavelmente não encontrariam homens
da Guarda Negra local ou regimentos de dragões.
Ao retomar a fuga veloz e apressada, Robert começou a
refletir sobre a imprevista virada de eventos em que eles
foram atirados. Eles estavam unidos em handfasting,
comprometidos, mas a hora não podia ser pior. A culpa
apertava seu coração. Como podia, evocando qualquer tipo de
consciência, prometer casamento a uma mulher quando sabia
muito bem que seria preso e atirado na prisão, ou pior,
executado?
Uma coisa estava clara em sua mente, faria o que era
certo e honrado. Apesar de ele e Jessie estarem
comprometidos, não a levaria para a cama, não importa
quanto a desejasse. Não até ter sido perdoado e eles se
casassem diante de um ministro. Se as coisas saíssem errado
para ele, queria que Jessie fosse capaz de escapar ilesa. Ele
não a comprometeria mais do que já fizera.
Eu só tenho que evitar a tentação hoje à noite.
E isso seria difícil, pois queria muito a Jessie, mais do
que qualquer outra mulher que já conhecera. Mesmo agora,
enquanto assistia seus quadris subirem e descerem na sela
enquanto galopavam em um trecho solitário da charneca,
sentia a tensão crescendo em sua virilha. Nunca antes fora
dominado pela febre do desejo. Na verdade, sentira-se assim
desde a primeira vez que pôs os olhos nela.
Se tentasse encontrar uma explicação racional para a
sua necessidade, provavelmente seria que estava sem uma
amante há muito tempo. Pelo menos seis meses desde que
encontrara prazer com uma amante. Negar liberação física
por muito tempo fazia coisas estranhas com um homem. Já
se questionava se ele e Jessie não compartilhavam nada além
das experiências intensas dos últimos dias e talvez, por isso,
sentisse fortes emoções ao redor dela.
Ou ele estava simplesmente se apaixonando por ela?
Se Robert fosse realmente honesto consigo, sabia estar
atraído por Jessie além de sua beleza física de tirar o fôlego.
No pouco tempo juntos, descobrira que ela tinha um
pensamento rápido, era inteligente, espirituosa e leal com
aqueles de quem gostava. E o mais importante de tudo,
apesar do início instável entre eles, ela era alguém em quem
ele podia confiar.
Repentinamente lhe ocorreu enquanto ela olhava e lhe
dirigia um sorriso, que talvez a potente mistura de emoções
que sentia, paixão, admiração e uma necessidade imperiosa
de proteção, fosse realmente os primeiros sinais do amor. Ele
nunca amou antes, assim, não tinha com o que comparar os
seus atuais sentimentos. Em todos estes anos de exílio,
nunca esteve tão emocionalmente ligado a uma mulher.
Todos seus relacionamentos foram breves e casuais e, em sua
cabeça, ter uma esposa sempre esteve interligado ao seu
retorno a Lochrose.
E tudo dando certo com o Lord Advocate, ele poderia
enfim ter os dois: uma esposa a quem ele podia amar e a
liberdade para reclamar tudo o que perdeu, seu lar e os
direitos por nascimento.

***

Não foi até o meio da tarde, quando pararam para


descansar novamente, que Jessie percebeu o quão dolorido e
inchado o seu tornozelo tinha ficado. Quando Robert a ajudou
a desmontar de Blaeberry, ela gritou agudamente e se
agarrou aos seus largos ombros, ela mal podia apoiar seu
peso nos pés.
Robert amaldiçoou entre os dentes.
— Jessie moça, você deveria ter me falado que seu
tornozelo doía tanto. — Ele a recriminou. Antes que ela
pudesse protestar a levantou em seus braços e a carregou
pelo riacho raso e arenoso, que salpicava ao passar por
troncos retorcido de bétulas e pinheiros escoceses. Ele
gentilmente a abaixou sobre uma camada gramada queimada
pelo frio, depois se ajoelhou ao seu lado.
— Certo, deixe-me ver, moça. — Ele falou gentilmente,
uma de suas fortes mãos se dirigindo para a bainha de seu
vestido.
Jessie reteve suas saias com firmeza ao redor de seus
tornozelos.
— Eu ficarei bem. — Ela disse, sem ter certeza se seria
capaz de lidar com as mãos de Robert em sua pele nua em
plena luz do dia sem parecer tola. Seu coração já estava
acelerado, seu estômago agitado, e apenas pensara no
assunto. Só Deus sabia como reagiria quando ele realmente a
tocasse. Embora eles estivessem comprometidos, saber que
em breve Robert teria o direito de explorar o seu corpo
intimamente quando ele tornasse o seu marido, a fazia se
sentir estranhamente quente, dolorida e nervosa por todo
lado.
— Você não está com vergonha de mim, está? — Robert
perguntou delicadamente com um meio sorriso. — Recorde-
se, não há nada que eu não tenha visto antes. E, afinal,
estamos comprometidos agora.
Maldita sua habilidade de me ler como um livro aberto.
Jessie sabia que o que ele dizia, fazia sentido. Com um
suspiro de resignação, ela enfiou a mão embaixo da saia,
tirou a bota e cuidadosamente desceu a meia. Fechando os
olhos e mordendo com força o lábio inferior, tentou ignorar a
dor tanto quanto a sensação de formigamento que o toque
dele despertou ao testar sua carne inchada e dolorida.
— É minha culpa, Jessie. — Ele disse com tristeza após
terminar sua avaliação. — Eu nunca deveria tê-la levado a
Lochrose esta manhã. Você ficou muito tempo de pé.
Jessie abriu os olhos e franziu a testa, surpresa por seu
tom de autocondenação.
— Mas eu o fiz me levar. — Ela respondeu. — Além do
mais, era parte do nosso acordo.
Ele franziu levemente o cenho, seus olhos azuis
profundos encarando-a com tanta compaixão que aqueceu
todo seu corpo até os dedos de seus pés.
— Eu podia ver o quanto estava assustada. Assim que vi
a sua reação à bagunça que Simon fizera em Gate-House, eu
soube que algo estava errado. Mas realmente sinto muito,
Jessie, pela dor física que tenho lhe causado, assim como
dragá-la para dentro da bagunça que a minha vida é. — Sua
boca se inclinou em um sorriso irônico. — Aposto que ficar
comprometida com um fugitivo provavelmente nunca esteve
em seus planos, não é?
— Não, realmente não. — Ela admitiu, abaixando os
olhos. A demonstração de ternura de Robert estava causando
estragos em seu pulso, fazendo-a enrubescer. — Mas então,
tenho certeza de que você também não tinha intenção de
estar ligado a alguém como eu. — Em um impulso, ela pegou
a mão de Robert, fechando os seus dedos ao redor dos dele. —
Você não deveria se culpar por coisas que não são
responsabilidade sua, Robert Grant. E minha vida estava
muito complicada também, mesmo antes de conhecê-lo. E
ainda estaria se não fosse você. — Ela então levantou o rosto
para ele, descartando suas inibições, esperanço que ele visse
a sua sinceridade. — Eu não poderia estar segura longe de
Lochrose agora.
Robert deslizou sua grande mão sobre a dela e levou
seus dedos para os lábios.
— Você é muito generosa, mo ghaoil. — Seu tom era tão
gentil quanto cuidadoso.
Jessie se arrepiou no momento em que imaginou que ele
a beijaria, mas então se virou e focou na tarefa de enfaixar o
seu tornozelo. A decepção apertou o seu coração. De repente
percebeu que ansiava por ser beijada por ele novamente, e
beijá-lo de volta. Mas não sabia como dizer-lhe. Ou mostrar-
lhe. Embora tivesse um conhecimento básico sobre o que
ocorria a um homem e uma mulher na cama durante o
casamento, sua prima Maggie lhe explicara tais coisas uma
vez, Jessie não tinha ideia de como iniciar nem a mais
inocente das seduções.
Ela supôs que a recém-descoberta de Robert sobre as
atenções forçadas de Simon mudasse suas atitudes. Parte
dela, a parte devassa que ansiava pelo toque e beijos de
Robert, desejava que ele não fosse tão solícito com os
sentimentos dela.
Mas ele seria tão solícito esta noite?
Após partirem novamente pela acidentada estrada militar
da charneca que levava ao sul, os pensamentos de Jessie
continuavam voltando às complicações imprevistas que o
compromisso deles representava, e o que recaía sobre a
cabeça dela e de Robert. Ela ainda não conseguia acreditar
que isto realmente estava acontecendo. Tudo tinha acontecido
tão rápido. Sua mente girava, um verdadeiro turbilhão de
pensamentos complicados e sentimentos extraordinários, o
principal era chocar-se por estar noiva de um homem a quem
mal conhecia.
Ela assumiu a tarefa cuidadosa de tentar catalogar o que
sabia sobre Robert, este homem perversamente bonito que a
fazia tremer por dentro e enrubescer tão facilmente.
Considerou o comportamento dele desde que seus caminhos
se cruzaram. Logo no começo, ele não tinha mostrado nada
além de consideração, mesmo quando acreditava que estava
comprometida com seu irmão. Cuidou de seus ferimentos e
fez o máximo possível para mantê-la aquecida. E mesmo com
a forte suspeita que a desejava, ele não parecia ter intenção
de seduzi-la, pelo menos não no momento.
Mas ele iria querer fazer amor com ela agora que eles
estavam comprometidos?
Embora o handfasting fosse visto por muitos Highlanders
como um tipo de casamento e fosse legalmente lícito se o
casal consumasse a união, em sua mente, isso não era igual a
estar casada diante de um ministro na igreja. Um beijo era
uma coisa, mas o resto... Hoje à noite ela deveria ser forte e
não trair as suas crenças, não importava o quanto o seu
corpo traidor doesse por Robert. Ou dos infames ardis que ele
pudesse empregar para seduzi-la.
Jessie lançou um olhar na direção de Robert. Ele
cavalgava ao seu lado, seu corpo longo, esguio e musculoso
movia-se em perfeita união com o galope de seu cavalo, o
vento tirando seus cabelos escuros de seu rosto muito bonito.
Embora não usasse um plaid, era um guerreiro Highland em
todo sentido.
Meu guerreiro.
Talvez.
Ocorreu a Jessie que se Robert não fosse agraciado com
a clemência, este seria um de seus últimos dias de liberdade.
O seu sangue repentinamente correu mais gelado que o rio
mais gelado da Highland. Ela não suportava a ideia de pensar
nele capturado e trancado em Tolbooth, em Edimburgo, ou na
formidável e dura prisão de Ardsmuir, perto de Inverness.
Ainda pior era o pensamento de que ele poderia ser
executado. Não era algo estranho a possibilidade para crime
de traição. Ela estremeceu diante do pensamento. Seria
desperdiçar a vida de um homem bom. Um homem por quem
ela poderia facilmente se apaixonar.
Quando Robert virou a cabeça em sua direção e lhe deu
um sorriso, seu coração dançou selvagemente em seu peito.
Talvez já estivesse começado a se apaixonar por ele.
Dez

Ao entardecer, enquanto passavam pela guarnição do


Castelo Braemar ao redor da pequena aldeia de Invercauld,
Robert percebeu que Jessie lutava para ficar ereta na sela. Ele
voltou a cavalgar ao lado dela.
— Parece que há uma pequena, mas respeitável pousada
mais a frente, Jessie. Conto com o fato de que Simon pensará
que nós pegaremos a rota mais curta a Edimburgo através de
Drumochter Pass. Duvido que ele nos procure aqui. E estou
relutante em forçar mais os nossos cavalos no escuro. Uma
refeição quente e uma cama macia é o que nós precisamos
neste momento.
Jessie franziu o cenho.
— Você não está preocupado com a guarnição?
Provavelmente terá dragões entre eles.
Robert deu de ombros.
— Eles não estão me procurando ainda. Não, quando
não sabem que estou aqui. E eu tenho papéis atestando que
eu sou o muito inglês Robert Burnley.
Jessie arqueou uma sobrancelha.
— Você não soa muito como um Sassenach.
Robert sorriu.
— Oh, mas é claro que eu pareço, minha querida. — Ele
disse em seu melhor sotaque das classes altas. — Foi assim
que eu sobrevivi por quase uma década.
Quando Jessie o encarou como um salmão fisgado,
Robert não conseguiu segurar o riso.

***

Em pouco tempo conseguira um quarto privado na


relativamente isolada Pousada Invercauld às margens do
Clunie Water. Felizmente Jessie parecia muito exausta e
distraída para questionr o arranjo de dividirem um quarto. No
entanto, enrubesceu um tom de vermelho vivo quando Robert
a apresentou para o dono da pousada e suas duas filhas
como a sua nova esposa, Sra. Burnley.
O dono da pousada sorriu em entendimento para eles.
— Eu enviarei Mary lá em cima para preparar o quarto
imediatamente, Sr. e Sra. Burnley. — Ele disse. — E talvez
levar algumas bandejas para o quarto...
— Sim, seria excelente. — Respondeu Robert com um
sorriso, continuando sua encenação de um elegante
cavalheiro inglês. Era uma máscara que lhe caia muito bem.
— Minha esposa e eu estamos muito cansados por causa da
viagem e, dadas as circunstâncias, nós apreciaríamos muito
um pouco de privacidade. — Ele ofereceu uma quantidade
adicional de moedas. — Por sua discrição, vamos dizer. — Ele
acrescentou com uma piscada.
— Oh, é óbvio, Sr. Burnley. — Sorriu o dono da pousada.
— E se precisar de qualquer outra coisa, deixe que minha
filha saiba. Mary os levará agora.
Durante a conversa, Jessie começara a se inclinar
pesadamente sobre Robert e ele pôs um braço ao redor de sua
fina cintura para apoiá-la. O seu tornozelo e braço
provavelmente estavam doendo loucamente. Quando a garota,
Mary, começou a subir as escadas em direção aos quartos dos
visitantes, ele ergueu Jessie em seus braços.
— O que diabos acha que está fazendo? — Jessie sibilou
em seu ouvido.
— Desculpe-me, minha doce esposa escocesa. — Ele
sussurrou de volta enquanto seguia a filha do proprietário. —
Apenas fazendo um pequeno espetáculo. O hospedeiro pode
ficar menos propenso a divulgar detalhes a qualquer um que
apareça fazendo perguntas se ele achar que nós realmente
somos recém-casados.
Jessie fez uma cara feia, mas, mesmo assim, relaxou em
seus braços. Até eles entrarem no quarto, o que obviamente
era um quarto nupcial.
— Você pode me pôr no chão agora, você sabe. — Ela
sussurrou, seu corpo se retesando novamente logo que Robert
cruzou o limiar da porta.
— Mas eu gosto de segurá-la. — Ele falou, carregando-a
até a larga cama de dossel que dominava o quarto. — E
recorde-se, esse é o costume para os recém-casados.
Jessie enrubesceu mais uma vez. Sua noiva era tão
inocente. E obviamente estava consciente, assim como ele,
que em breve eles ficariam sozinhos com a noite toda pela
frente. Ele rezou ter forças para manter as mãos longe dela.
Uma vez que as velas e a lareira foram acesas, Robert
ficou surpreso e mais do que agradado com o quarto tão bem
decorado para uma hospedaria tão pequena.
A cama de dossel onde Jessie estava reclinada era
coberta por uma cortina de damasco e colcha de um azul
profundo e uma abundância de almofadas brancas e macias
empilhadas contra a cabeceira de mogno esculpida. Do lado
oposto aos pés da cama, havia uma lareira de tamanho
decente com um par de poltronas e uma pequena mesa de
carvalho arrumada diante delas sobre o tapete da lareira. De
um lado do tapete, perto das janelas fechadas, havia uma
grande bacia de porcelana que servia de lavatório. O quarto
estava apto para o próprio Rei George.
Mary pairava perto da porta.
— Vocês gostariam que Elspeth e eu trouxéssemos água
quente e toalhas após o jantar? — Ela perguntou em voz
baixa. — Nós frequentemente fazemos isso para os casais que
ficam aqui...
Robert lançou um olhar para Jessie, que ainda estava
vermelha, antes de voltar a olhar para a jovem criada. — Acho
que é uma ideia esplêndida. Sou realmente grato, Mary.
Mary fez uma reverência e uma vez que a porta se
fechou, Robert se virou para Jessie. Eles precisavam
conversar.
— Eu... Eu não esperava nada assim. — Jessie disse
gesticulando para o quarto, olhando para todos os lugares,
menos para ele, enquanto ele se aproximava. Ela estava tão
nervosa quanto um gato selvagem. — Uma cama em uma boa
pilha de palha seca seria mais do que suficiente.
Robert sentou-se ao seu lado na cama e pegou uma de
suas mãos entre as dele. Jessie mordeu o lábio, mostrando
ainda mais o quanto ela realmente estava nervosa... com ele.
— Jessie moça, precisamos discutir a nossa... situação.
— Ele começou e depois parou, incerto de como continuar um
assunto tão delicado. Vários momentos se passaram em um
pesado silêncio que era quebrado apenas pelo estalar do fogo
e pelo ruído na janela quando havia uma rajada de vento.
Pode ter sido um mau começo de sua parte, mas foi o
bastante para precipitar Jessie. Ela respirou fundo e enfim
encontrou os seus olhos.
— Eu gostaria. — Ela disse calmamente, tentando sorrir.
— Nenhum de nós esperava que algo assim acontecesse... e
agora estamos os dois se perguntando...
— O que vai acontecer em seguida? — Robert terminou.
Ele ficou animado ao ver o sorriso largo de Jessie.
— Sim. — Ela concordou. — Exatamente isso. — Sua
testa formou um vinco. — Então... o que acontecerá a seguir,
Robert?
Robert de ombros, franzindo a testa também.
— Não sei o que o amanhã nos trará. Mas esta noite... —
Fixou o olhar no dela, esperando que pudesse ver a
sinceridade em seus olhos. — Não tenho certeza sobre o que
esperava, mas eu quero que saiba que não deve se sentir
obrigado a mim apesar de estarmos unidos por handfasting.
Eu lhe garanto, não tentarei tirar vantagem de você. — Ele lhe
deu um meio sorriso. — Bem, pelo menos até estarmos
propriamente casados.
Um profundo suspiro de alívio escapou pelos lábios de
Jessie e sua postura rígida ficou visivelmente relaxada. Ele
percebeu que estava certo em conversar tão claramente sobre
algo que obviamente a tinha preocupado. Tinha também que
tentar diminuir as suas preocupações, fazendo uma
referência velada às exigências de Simon e que ele, Robert,
não esperava nada daquilo dela.
— Robert… eu compreendo o que está dizendo. — Ela
falou, apertando a sua mão. — E obrigada. Eu me sinto
segura com você. Eu sei que é um homem honrado.
Robert deixou seu olhar vagar sobre Jessie que estava
recostada contra os travesseiros, as mechas vermelhas
douradas despenteadas emoldurando seu rosto, os olhos
castanhos uísque brilhando calorosamente. Se ela apenas
soubesse o quão convidativa parecia sentada ali na cama e o
quanto ele queria seduzi-la, ela não se sentiria tão segura.
Respirou fundo, sua consciência brigando com os seus
instintos mais básicos.
— Hummm, segura. Eu nunca fui descrito desta forma
antes. — Ele levantou uma sobrancelha. — Muito devido à
minha reputação de patife rebelde.
Jessie sorriu, seus olhos dançando travessamente.
— Oh, você é um patife com charme em excesso, Robert
Grant. Mas confio que possa manter a sua promessa, que não
tentará usá-lo em mim até que estejamos casados. — O
sorriso dela desvaneceu e outro vinco surgiu entre suas
sobrancelhas. — Como estamos sendo francos, eu também
queria esclarecer... sobre Simon. É difícil falar sobre o seu
irmão e sobre o que ele fez... — Ela se calou, puxando
distraidamente a colcha azul, como se procurasse as palavras
certas.
— Você não tem que falar sobre isso, Jessie. Está tudo
certo. — Disse Robert com gentileza. Podia ver que isso a
entristecia. Mas também entendia que, talvez, ao dividir sua
experiência com ele, acalmaria a sua mente. E isso também o
impediu de imaginar o pior. Era hipocrisia, dado suas
próprias ações no passado, mas estava com dificuldades em
lidar racionalmente com o conhecimento que Simon beijara
Jessie contra a vontade dela. Se algo mais tivesse
acontecido... Ele precisaria ser contido fisicamente de
arrebentar Simon quando seus caminhos se cruzassem
novamente.
Jessie ergueu o queixo, olhando-o diretamente nos olhos.
— Não, eu preciso, Robert. Eu quero que saiba que
Simon apenas me beijou. Nada mais. Eu fugi antes que
pudesse me forçar a... submeter a qualquer de suas
exigências. De qualquer forma, achei que gostaria de saber.
— Compreendo. — Robert respondeu com doçura, a
raiva ainda agitando suas entranhas pelo que Simon a havia
feito passar, mas ele também estava aliviado pelo porco não a
ter machucado de outra forma.
— Mas não é tudo. — Ela disse, subitamente corando.
Enquanto esperava que ela prosseguisse, notou o rubor se
espalhando por todo caminho desde o pescoço até onde o
vislumbre tentador de seu decote era visível, acima do fichu
marfim de renda. — Eu gostaria que soubesse que quando me
beijou ontem à noite e nesta manhã, foi diferente... e para ser
perfeitamente honesta com você... Eu gostei de como me
senti... Talvez até um pouco demais. — Ela se calou,
mordendo o lábio por um momento antes de inalar
profundamente. — Eu queria que soubesse disse também,
agora que estamos comprometidos.
— Percebo. — Ele disse com o coração acelerado. Isto era
perigoso, muito perigoso de verdade. Ele estava tendo
dificuldade em atenuar seu desejo por Jessie sem esta
admissão, uma admissão que enviou uma repentina onda de
calor através de suas veias diretamente à sua virilha.
Remexeu-se desconfortável na cama, esperando como o
inferno que Jessie não notasse o sinal revelador de sua
crescente excitação.
Mas não precisava ter se preocupado. O olhar de Jessie
estava voltado para baixo, ela estava retorcendo a colcha
novamente.
— Sinto muito. — Ela falou calmamente. — O choquei
com a minha ousadia, não foi?
A culpa afligiu a sua consciência. Ela obviamente
entendera errado o seu silêncio, vendo-o como desaprovação.
Ele esticou a mão e gentilmente levantou o seu queixo para
capturar o seu olhar.
— Não, não estou chocado, Jessie. Aprecio a sua
honestidade. Você deve saber que eu a quero muito.
Entretanto, não acho que seja inteligente comprometê-la mais
do que já fiz, não quando o meu futuro é tão incerto.
Ele não voltaria atrás com a sua palavra, não importa o
quão duro ele estivesse ou o quanto doessem as suas bolas.
Seria uma noite muito longa.

***

Comprometida. Seu coração acelerou-se diante do olhar


de desejo que ele lhe lançava, sua pele arrepiou-se com o seu
toque e Jessie decidiu que gostaria de estar um pouco mais
comprometida por aquele noivo diabolicamente bonito. Seu
bom senso claramente voara pela janela. Ela poderia estar
segura dele, mas estava segura de suas próprias fraquezas e
luxúria?
— Parece que esta noite será difícil para nós dois. — Ela
disse sem pensar e depois corou até as raízes do cabelo
quando o olhar de Robert se intensificou sobre ela. Pare de se
comportar como uma gata no cio, Jessie Munroe. Robert está
certo. Eles não devem ceder ao desejo. Não quando a situação
de Robert era tão precária.
Uma batida na porta a salvou de fazer qualquer
admissão reveladora. Após checar quem era, Robert
destrancou-a para receber Mary e Elspeth com o jantar deles.
O estômago de Jessie roncou ruidosamente enquanto as
criadas arrumavam tudo na pequena mesa perto do fogo.
Fazia três dias desde que fizera uma refeição quente e
decente. Pelo menos existia um tipo de fome que poderia
aplacar esta noite.
Quando as filhas do dono da hospedaria saíram, Robert
ajudou Jessie a sentar-se, depois brincou de criado, servindo
o vinho, assim como distribuiu porções quentes do guisado de
lebre nas tigelas para os dois.
— Slainte. Por nossa saúde, Jessie. — Sorriu Robert
tocando seu copo de clarete no dela. Seus olhos estavam
calorosos como o azul profundo do mar no meio de um dia de
verão.
Oh, meu Deus. Jessie realmente desejava que Robert
não a olhasse assim. Ela pigarreou.
— Slainte. — Ela respondeu, não se surpreendendo
afinal, quando sua voz emergiu rouca. Pigarreou novamente.
— E posso acrescentar outro brinde por sua clemência e
retorno seguro ao lar.
Robert inclinou a cabeça, sua boca se curvando em um
sorriso torto.
— Obrigado, mo ghaoil. Este é um dos meus maiores
desejos.
Apenas um deles. Jessie realmente não queria pensar
quais outros desejos que Robert poderia ter diante do olhar
dele focado em sua boca. Em vez disso, lançou seu olhar para
a tigela do cheiroso guisado diante dela e começou a atacar a
comida.
Durante a refeição e depois, enquanto se deliciava com
um prato de peras de outubro e queijo, Jessie se descobriu ao
mesmo tempo, entretida e encantada por Robert, enquanto a
presenteava com suas divertidas anedotas sobre a sua
experiência na França e sua vida na colônia jamaicana. Ela
pensou que ele deveria achá-la terrivelmente provinciana
dada que passou a maior parte de sua vida na parte mais ao
norte da Escócia, na verdade, a maior cidade em que estivera
era Edimburgo, mas ele nunca demonstrou isso pelos seus
comentários ou expressões. Na realidade, sentia como se ele a
estive observando bem de perto e prestando atenção a cada
palavra sua.
— Conte-me mais sobre a sua família, Jessie. — Robert
falou, enchendo seu copo de vinho, seus olhos mal a deixava.
— Não há muito que contar. Tem sido apenas meu pai e
eu tanto quanto eu posso me lembrar. — Jessie parou
quando uma onda de tristeza a atingiu. — Minha mãe,
Elizabeth era o nome dela, faleceu quando eu tinha apenas
três anos.
— Sinto muito. — O olhar compassivo de Robert pousou
em seu rosto. — Parece que nós temos circunstâncias ruins
em comum. Minha mãe morreu alguns meses após o meu
nascimento. Eu acho que é a razão pela qual meu pai se
casou novamente tão rapidamente. Mas seu pai, Alasdair,
certo? Ele nunca se casou novamente?
— Não. — Jessie respondeu, brincando com a haste do
copo de vinho. Os olhos de Robert foram atraídos pelo
movimento dos seus dedos e ela, inesperadamente, sentiu-se
um pouco mais quente. Ela deu um gole apressado em seu
clarete e o olhar de Robert voltou ao seu rosto. — Eu não
tenho certeza se ele realmente parou de chorar por minha
mãe. E depois, ele esteve sempre tão ocupado com os
negócios da propriedade.
— Seu pai parece ser um homem cheio de recursos. —
Robert observou. — É óbvio que o meu pai o tem em alta
estima.
Jessie sorriu inexplicavelmente feliz por Robert ter
notado a reputação de seu pai.
— Ele é um pai maravilhoso e o homem mais generoso.
— E um administrador inteligente, pelo que percebi.
— Sim. — Jessie concordou. — Se não fosse as suas
habilidades, Dunraven, a propriedade do meu tio, teria
entrado em colapso muito antes do que aconteceu. É difícil
admitir, mas o meu tio, Sir. Dugald Munroe, era um jogador
inveterado, uma tendência que ele escondeu por muito tempo.
Quando o meu pai descobriu a extensão do problema, foi
muito tarde. No fim, foi apenas a generosidade do meu pai
que livrou o meu tio de ir à prisão de devedores. Meu pai usou
suas próprias economias para cobrir uma quantia suficiente
da dívida e evitar que isto acontecesse. — Sua boca se
apertou com desaprovação. — O triste é que eu acho que nem
o meu tio, minha tia e suas três filhas realmente apreciarão o
sacrifício que ele fez por eles.
Robert assentiu.
— Onde estão o seu tio, tia e as filhas agora? — Ele
perguntou.
— Vivendo calmamente nas profundezas do campo de
Yorkshire, acredito, com a família da minha tia. — Respondeu
Jessie. — Sem dúvidas eles agora estão desejando sentir o
gostinho da sociedade londrina. Eu sei que a minha tia, o pai
dela é um conde, tem altas esperanças que minhas primas
farão um bom casamento. Ela ficará amargamente
desapontada com o declínio deles. É uma pena para todos os
envolvidos.
Robert tomou um fole de seu clarete, estudando-a sobre
a borda de seu copo por um momento.
— Isso pode ser indelicado de minha parte em falar, mas
imagino que a perda de sua família também afetou os seus
planos, Jessie. Alguém tão amorosa quanto você deveria ter
um ou dois pretendentes pelo menos...
— Um ou dois. — Ela sorriu, dando um gole em seu
vinho, obrigando-se a não corar. — Sim, é indelicado de sua
parte conversar sobre tais coisas, Robert Grant. Eu não
pretendo perguntar sobre seus namoros passados. E eu tenho
certeza que deve ter sido bem mais do que um ou dois.
A boca de lábios carnudos de Robert se curvou em um
sorriso e ele ergueu seu copo na direção dela.
— Touché. — Ele esticou e pegou a mão dela. — Eu
quero que saiba que não me importa nem um pouco com a
falta de dinheiro de sua família. Ou que o seu dote
provavelmente serviu para liquidar as dívidas de seu tio. Você
é tudo o que importa, Jessie. Apenas você. Eu quero que se
recorde disso.
Jessie tremeu, embora seu rosto estivesse quente. Ela
não soube o que dizer. A percepção de Robert e sua bondade
a surpreendeu novamente. Ela deu um grande gole em seu
vinho, tentando esconder a sua confusão.
Eles estavam dividindo o restante do clarete quando
soou uma batida na porta.
Robert se levantou da mesa.
— Suspeito que sejam as garotas com a água do nosso
banho.
Confirmando, Mary e Elspeth entraram e depositaram
uma grande jarra de água fervente, um fardo de toalhas ao
lado e sabão no lavatório antes de discretamente saírem do
quarto. Assim que a porta fechou, o pânico começou a dançar
como um carretel selvagem dentro da barriga de Jessie. Não
havia nem um biombo na sala e de modo algum ela tomaria
banho na frente de Robert.
Como se sentisse a sua inquietação, Robert virou-se para
olhá-la, um sorriso puxando o canto de sua boca.
— Não fique tão apreensiva, mo ghaoil. Eu irei à taverna
por meia hora, assim poderá ter alguma privacidade... A
menos que sinta a necessidade de minha ajuda... — Um
brilho perversamente divertido surgiu em seus olhos. — Eu
sou muito bom em tirar corsets, como bem sabe e... lavar as
costas.
Tal imprudência não poderia ficar impune.
— Custa tanto o seu voto de manter suas mãos si
mesmo, Robert Grant? — O repreendeu com uma cara feia,
depois atirou o miolo da pera nele.
Ele desviou facilmente, rindo.
— Bem, suponho que tenho a minha resposta. Aprecie o
banho, mo nighean ruadh. — Com uma piscadela e outro
irritante sorriso perverso, ele partiu, trancando a porta atrás
dele.
Jessie deu um suspiro exasperado e jogou fora o resto de
seu clarete. Robert Grant era tanto um patife quanto um
cavalheiro Jacobita. Ele era, francamente, irresistível.
Maldito fosse.
E maldita fosse a sua luxúria errante.
Provavelmente isso a colocaria em problemas. Alguém
definitivamente teria que dormir no chão.

***

Quando Robert voltou ao quarto, mais do que meia hora


depois, encontrou Jessie dormindo, seu selvagem cabelo
vermelho dourado espalhado nos travesseiros brancos, a
colcha dobrada ao redor do queixo. Suas bochechas estavam
rosadas por causa do sono e sua respiração saia levemente
entre os seus lábios levemente separados. Tão linda. Ele
expirou pesadamente, resistindo à vontade de afastar uma
mecha de seu cabelo da sua bochecha. Ela estava claramente
exausta, pobre moça. Ele deveria deixá-la.
Uma rápida olhada pelo quarto revelou que ela colocara
vários cobertores e um travesseiro perto do fogo. Ele sorriu.
Ela também era uma moça esperta.
Sua diversão rapidamente morreu quando viu o vestido
verde de viagem, o corset e as meias de Jessie penduradas em
uma poltrona. Isso significava que, por baixo dos cobertores,
Jessie usava apenas a sua chemise de linho. E ele sabia
exatamente como ela ficava apenas de chemise.
Seu pênis se contraiu com a vívida lembrança. Maldição.
Seu sofrimento era maior do que o chão duro. Ele rezou para
que a exaustão o vencesse, do contrário, provavelmente não
dormiria afinal.
Com outro suspiro pesado de resignação, tirou o seu
manto e o colocou no assento perto do fogo e então tirou uma
bota. Desajeitado por causa do cansaço, caiu. Inferno. O som
do couro batendo no chão de madeira foi alto no silêncio.
Seus olhos voaram para Jessie. Ele a acordara? Ela
murmurou e se virou em seu sono, a colcha escorregando. E
ele blasfemou novamente ao ter um vislumbre de tirar o fôlego
de seu ombro nu e suave monte de seus seios.
Seu pênis endureceu totalmente.
Havia uma única coisa a fazer. Teria que aliviar o seu
ardor. Provavelmente ainda tinha água morna na jarra o
suficiente para um banho e para fazer o que ele precisava
fazer.
Não queria perturbar Jessie ou chocá-la novamente, se
ela acordasse e o encontrasse seminu ou ainda pior, matando
a sua luxúria. Ele silenciosamente se aproximou da cama e
puxou as pesadas cortinas de damasco até o fim.

***

À deriva no meio de um sonho, Jessie se remexeu


dormindo. Água era espirrada e ela se imaginou na praia de
Cromarty Firth, em casa, em Dunraven. Suspirando e
esperando voltar a seu sonho, ela se virou e de súbito, uma
pontada de dor em seu braço a trouxe diretamente à
realidade.
Ela não estava em casa. Não estava nem mesmo em
Lochrose.
Ela estava em Invercauld. Com Robert.
Mas onde ele estava? Ele já teria voltado?
Ela se levantou um pouco, tirando uma mexa
emaranhada de seu cabelo dos olhos. O quarto ainda estava
coberto pelo brilho quente do fogo e pelas luzes das velas, as
cortinas haviam sido puxadas até o fim da cama de dossel.
Franziu o cenho, os nervos formigando com uma curiosa
ansiedade. Não fizera aquilo.
Com todos os sentidos em alerta, sentou-se reta. Em um
estreito espaço entre as faixas do tecido azul-escuro, notou
um movimento. E então segurou um suspiro ao ter um
vislumbre inesperado de Robert, com seu torso nu, as calças
penduradas ao redor de seus quadris estreitos. Estava perto
do lavatório, de costas para ela. Devia estar se banhando.
Ela deveria fechar os olhos ou, pelo menos, desviar o
olhar, mas era incapaz.
Ela estava enfeitiçada.
Certamente ele não se importaria se ela espiasse, não
depois do seu desfile diante dela ontem.
Pela abertura, conseguia ver apenas uma parte das
costas e do quadril de Robert, a luz do fogo delineava a pele
suave e os músculos elegantes com um brilho dourado.
Inconscientemente umedeceu os lábios, sua boca
repentinamente ficou seca, seu coração acelerado. Ele era
magnífico. Um Apolo de cabelos escuros. Seus dedos coçavam
por tocá-lo, explorá-lo.
Então ele se virou levemente e ela o viu, ele inteiro. E o
seu ar ficou preso em seu peito. Ele não estava se banhando.
Sua mão envolvia a sua masculinidade, acariciando a
longitude de seu membro, seu duro e impossivelmente longo
membro.
O que diabos ele estava fazendo?
A resposta a atingiu como um raio. Ele está dando prazer
a si mesmo, sua tonta. Lembre-se do que Maggie lhe disse... é o
que os homens fazem.
Desta vez ela não conseguiu evitar ofegar.
Robert imediatamente virou a cabeça em direção à cama.
— Jessie? — Ele a chamou.
Jessie ficou boquiaberta, sem palavras. Ele soube que
ela o observara. As bochechas dela estavam inflamadas,
fechou os olhos enquanto Robert fechava as cortinas. Não
podia olhar para ele.
— Jessie. Sinto muito se eu a assustei, moça. — Houve
um barulho de algo farfalhando. — Você pode olhar agora.
Cuidadosamente, abriu um olho e depois o outro para
encontrar com Robert parado no fim da cama, sua calça de
camurça abotoada e no lugar. Graças a Deus. Apesar da
enorme vergonha que ainda se remexia dentro dela, não pôde
evitar e deslizar o olhar sobre o seu bonito corpo, seu peitoral
duro com uma leve camada de pelos escuros, os sulcos duros
de seu estômago e mais para baixo, para a suspeita
protuberância abaixo do cintura de sua calça.
Ela mordeu os lábios entre os dentes. Agora sabia o que
era aquilo. Apreensão e desejo, na mesma medida, enrolaram
seus dedos.
Perversa, perversa, Jessie.
— Está tudo bem? — Robert perguntou. Ela duvidava
que era apenas preocupação que dava à sua voz um tom
rouco.
Ela engoliu em seco e sacudiu a cabeça como se
chacoalhasse para acordar antes de levar o olhar de volta
para o rosto dele.
— Eu... eu acordei e pude ver você... voltou... através da
cortina... e você estava... — Ela não pôde falar o que ela
realmente vira. Ela mordeu o lábio novamente.
Robert ergueu uma sobrancelha, um brilho de diversão
em seus olhos.
— Seminu e me banhando – Ele sugeriu.
— Sim. — Ela bufou, irritada e indignada agora. Ela
odiava quando ele se divertia às suas custas. — E você ainda
está semi... você sabe...
O sorriso de Robert ficou ainda maior.
— Seminu. Como você.
Jessie olhou para si mesma e gritou. Sua chemise de
linho escorregara a um nível alarmante, revelando muito dos
seus seios. Corando furiosamente novamente, ela puxou os
cobertores até o queixo.
— Você deveria ter me dito antes. — Ela o acusou.
Robert estremeceu, sua fisionomia um pouco contrita.
— Sim, eu deveria. Não podia zombar de você. Desculpe-
me por ter lhe acordado. E, se de alguma forma, eu a assustei
ou a ofendi por qualquer outra razão, peço-lhe desculpa
também. Nós homens somos criaturas muito simples às
vezes. E... bem, asseguro-lhe, não acontecerá novamente.
Então Robert suspeitava que ela o vira. Jessie lutou para
não corar novamente. Mas o pedido de desculpa de Robert
dispersou um pouco da tensão entre eles. Ela soltou um
suspiro trêmulo e reuniu coragem para encontrar o olhar
dele.
— Obrigada, Robert. Sua desculpa está aceita.
— Bem. — Robert esfregou a nuca. — Suponho que é
hora de ir para a cama.
Jessie fez uma careta.
— Sobre isso...
Robert lhe deu um sorriso tranquilizador.
— Não se preocupe. Se você pode abrir mão de um
travesseiro, fico feliz em dormir no chão. Essa sempre foi a
minha intenção.
A culpa se agitou no estômago de Jessie. De repente ela
se sentiu malvada e não gostou disso.
— Aqui está. — Ela disse desnecessariamente, puxando
um dos travesseiros de suas costas e lhe passando quando
ele se aproximou pela lateral da cama. — Tem certeza que
isso é tudo o que precisa?
— Certeza. — Quando os dedos dele, inocentemente,
roçaram os delas, sua respiração vacilou. Mesmo o breve
contato deixou a sua pele em chamas, fez seu pulso acelerar
novamente. O desejo doía dentro dela a ponto de ela quase
não suportar.
Um travesseiro podia ser tudo o que Robert precisava,
mas ela definitivamente precisava de algo mais, algo que ela
prometera a si mesma que não teria.
A pergunta era, Robert lhe daria?

***
Robert pairava ao lado da cama de Jessie, travesseiro em
mãos, em um dilema: dar um beijo de boa noite em sua noiva
ou rapidamente se afastar em direção ao fogo.
Ele realmente lamentava que Jessie o pegara em
flagrante. Não tinha certeza de quanto ela realmente vira, mas
ao julgar a sua reação, foi o bastante para chocá-la. Ela podia
ter aceitado a sua desculpa, mas ainda havia um
constrangimento estranho entre eles. Na verdade, o próprio ar
ao redor deles parecia vibrar com isso.
Talvez um breve beijo de boa noite ajudaria a aliviar a
tensão.
Afinal de contas, eles estavam unidos por handfasting.
Ele olhou para Jessie, ela havia começado a morder seu
lábio inferior novamente. A vontade de cuidar da pobre boca
maltratada com a dele era forte, mas não podia. Manteria o
seu beijo leve a amigável. E longe dos seus lábios deliciosos.
— Bem, mo chridhe10. — Ele murmurou, atraindo o seu
olhar. — Desejo-lhe, então, uma boa noite. — Abaixando-se,
ele se dirigiu para a bochecha de Jessie. Mas de alguma
forma, tudo saiu errado. No instante antes de beijá-la, Jessie
virou a cabeça e os seus lábios encontrara a boca dela, a boca
suave e exuberante como pêssego, e os lábios dela se
moveram imperceptivelmente contra os dele. Ela fizera aquilo
deliberadamente? Surpreso, ele quebrou o contato e fixou os
olhos nos dela.
Não havia nem censura e nem ansiedade nas
profundezas castanho douradas. Na realidade, os olhos de
Jessie pareciam quase sonolentos de desejo, suas pálpebras
pesadas, pupilas dilatadas. Ela lhe disse mais cedo que
gostava de seus beijos. Ela aceitaria outro?
Deus o perdoasse, ele definitivamente queria outro.
Ele pigarreou.
— Jessie, o que aconteceu agora...
— É tudo minha culpa, Robert. — Ela disse
apressadamente. — Eu queria que me beijasse... Só não sabia
como lhe dizer.
Cristo. Ela realmente quis dizer aquilo. Apesar de o ter
pego no meio de um ato grosseiro, apesar de todas as
provocações, ela ainda o queria. Era muito mais do que ele
merecia.
Robert soltou o travesseiro e sentou-se na beira da cama.
Ela não se afastou. Ela se aproximou, seu olhar fixo na boca
dele.
Mais um beijo, era tudo o que ele precisava. Mais um
beijo e ele se saciaria. Que mal poderia fazer quando eles já
estavam praticamente casados?
Ele engoliu com dificuldade, sua garganta apertada pelo
desejo.
— Jessie, posso beijá-la mais uma vez?
A ponta de sua língua rosa umedeceu os seus lábios.
— Sim. — Ela sussurrou, seus olhos escureceram como
mel derretido. — Eu pensei que nunca pediria.

***

Finalmente, o momento que esperara por toda a tarde e


boa parte da noite chegara.
Jessie prendeu o fôlego quando Robert deslizou uma de
suas mãos entre as mechas bagunçadas de sua nuca, então,
tão lentamente abaixou a cabeça para reivindicá-la. A boca
dele pousou sobre a dela, faminta, mas gentil. Seus lábios
eram suaves, mas firmes. Delicioso. Intoxicante.
Arrebatador.
Ela se encostou contra o peito nu de Robert e o potente
cheiro dele – convidativo, limpo e masculino – a envolveu.
Inundou os seus sentidos. A cabeça girava enquanto ela o
inalava. Deslizou suas mãos sobre a pele nua e quente e os
poderosos músculos flexionaram e ondularam sobre o seu
toque... Ela não podia tocá-lo o suficiente. Não podia saboreá-
lo o suficiente.
Robert estava se segurando, tomando muito cuidado com
ela. E ela não queria que ele fizesse isso. Queria paixão e um
calor ofuscante, todas as sensações que ele lhe despertara na
noite anterior. Corajosa instintivamente, deslizou a língua
entre os lábios dele. Com um grunhido profundo e gutural
que a fez estremecer até os dedos dos pés, ele retribuiu o
impulso, sua língua lhe acariciando e provocando em
resposta.
Foi divino, celestial, mas acabou muito rápido. Com um
rosnado de agonia, Robert subitamente afastou sua boca e
pegou as suas mãos exploradoras entre as dele. Ele estava
respirando com dificuldade, seus olhos azuis estavam tão
azuis quanto o mar turbulento.
— Tenha piedade, moça. Se continuarmos assim por
mais tempo, nós queimaremos em chamas.
Jessie olhou para os dedos entrelaçados apoiados sobre
a coxa dele e imediatamente notou como o beijo, como ela,
afetara Robert. Sua impressionante ereção pressionava a
frente de sua calça de camurça novamente.
Ele percebeu para onde o olhar dela viajara e sorriu,
quase envergonhado.
— Não há como esconder o seu efeito sobre mim, Jessie.
Desculpe-me se meu estado a assusta.
— Não, isso não me assusta. — Ela disse trêmula,
respondendo o sorriso dele com outro. Na verdade, a visão de
sua excitação apenas servia para aumentar a dela. Seu corpo
despertara em uma maneira desconfortante, seus mamilos
doíam e o lugar secreto entre as suas coxas parecia pesado e
pulsava de desejo. Eles não podiam parar ali. Ela não queria
apenas saborear a boca dele, ela queria provar e explorar toda
a sua atraente ereção. E queria que ele a tocasse em retorno.
Quando se tornara tão descarada e depravada?
Apesar de Jessie entender o motivo pelo qual Robert
havia interrompido o interlúdio amoroso, também lhe
ocorrera que esta podia ser uma das últimas oportunidades
que ele teria para estar com uma mulher. Estar com ela. E
esta era uma experiência que, repentinamente, percebeu que
não queria perder também, apesar das consequências, apesar
da promessa para si mesma.
Ela respirou profundamente.
— Robert... — Ela começou. Ela puxou uma de suas
mãos das dele e acariciou a sua mandíbula escurecida. Ele a
encarou com tanta intensidade que ela pensou que poderia
pegar fogo. — Robert... Eu sei que nós deveríamos esperar
para consumar o handfasting. Mas depois de amanhã ou até
mesmo amanhã... isso pode ser muito tarde. Se esta for uma
das últimas chances de passar uma noite com alguém...
comigo...
Robert pressionou um dedo sobre os lábios dela. Seu
sorriso era carinhoso, seus olhos estavam cheios de remorso
ao falar.
— Apesar de desejá-la muito, Jessie, não seria certo de
minha parte tomar a sua virgindade, quando o meu futuro é
tão incerto. Se eu for preso ou até pior, executado... — Ele
respirou profunda e irregularmente e acariciou a bochecha
dela com as costas de seus dedos. — É um risco que eu não
quero tomar.
Ela balançou a cabeça.
— Eu entendo a sua preocupação comigo, mas você é
muito nobre para o seu próprio bem. — Em um impulso, ela
se inclinou para frente e beijou a lateral de seu pescoço. Ela
ficou entusiasmada ao senti-lo estremecer e ouvir sua
respiração irregular.
Ele grunhiu.
— Jessie... Se você tivesse ideia de quanto eu a quero, o
quão difícil é para mim resistir a torná-la minha, não seria
tão ousada.
Em resposta, ela levantou a cabeça e o beijou no queixo
e depois na lateral de sua boca. A força de seu próprio desejo
a estava tornando imprudente. Ela não se importava.
— Eu o quero, Robert Grant. — Ela sussurrou contra os
lábios dele. — Mais do que tudo o que já quis antes.

***

A boca de Robert esmagou a de Jessie em um beijo duro,


quase doloroso. Um beijo possessivo. Ela me quer tanto quanto
eu a quero. Seu sangue zumbiu diante da inebriante
percepção.
Se fosse um homem melhor, não faria aquilo, beijar
Jessie assim, empurrando-a pelos ombros e distribuindo
beijos quentes e de boca aberta ao longo de seu pescoço, colo,
descendo pela sombra profunda de seu decote. Mas os céus o
ajudassem, não era forte o bastante para resistir àquele
flagrante convite.
E Jessie estava certa, podia nunca mais ter essa chance
novamente.
Mas ele não tomaria a virgindade dela. Ele satisfaria as
necessidades dela e as suas, mas não se arriscaria a deixá-la
grávida, não naquela noite.
Robert interrompeu o beijo brevemente para
cuidadosamente deitar Jessie nos travesseiros. A visão de
seus seios voluptuosos pressionando o tecido de sua chemise
fez o seu pênis ficar mais duro, a ponto de doer. Mas tanto
quanto queria rasgar sua vestimenta do corpo dela, não
queria assustá-la. Apesar de todo o seu entusiasmo, ela ainda
era inexperiente. Seguraria o seu entusiasmo e seguiria o
tempo dela.
Queria que ela apreciasse tanto quanto ele.
***

O coração de Jessie explodiu em um galope selvagem e


desenfreado quando Robert deitou na cama ao seu lado. Seu
noivo atencioso e tão bonito de tirar o fôlego faria amor com
ela. Ela mal podia acreditar.
Mal podia esperar.
— Jessie, você deve me dizer se quiser que eu pare. —
Robert murmurou, sua voz estava rouca e emocionada. — Eu
não farei nada que você não queira fazer.
Ela assentiu, sem ar para responder. Mas duvidava
seriamente que iria querer pará-lo. Por nada.
— Você é tão, tão bonita, mo chridhe. Meu coração. O
olhar escurecido pela paixão de Robert vagou de seu rosto
para os seus seios. — Em todos lugares.
Ele me acha bonita. O coração de Jessie palpitou com o
prazer inesperado.
— Você também é. — Ela sussurrou e colocou uma mão
no peito desnudo de Robert. Ela jurava que podia sentir o
coração dele batendo embaixo da parede dura de músculo,
um eco das batidas de seu coração.
Incapaz de resistir a explorá-lo um pouco mais, ela
correu seus dedos através da fina camada de pelos escuros ao
longo de seu tórax, sorrindo quando seus mamilos reagiram.
Robert estremeceu e, com um grunhido instável,
enterrou seu rosto nos cabelos dela. Afastando as mechas
emaranhadas de seu pescoço, ele inalou profundamente antes
de depositar um beijo quente na curva abaixo da orelha dela.
Encorajando sua exploração, arqueou o pescoço, encantada
com as sensações de cócegas que a habilidosa boca dele
provocava ao mordiscar e lamber todo o caminho de sua
garganta até alcançar o decote de sua chemise.
Então ele parou. Ergueu sua cabeça e fixou os olhos nos
dela.
— Deixe-me vê-la, Jessie. — Ele sussurrou.
Ela não hesitou. Com dedos trêmulos, desajeitadamente
afrouxou os laços de seu decote, todo tempo observando a
fisionomia de Robert. Os olhos dele ficaram escuros, cheios de
desejo e quando a sua roupa se abriu revelando os seus seios,
ele engasgou.
— Eu estava certo. Lindos. — Ele murmurou com
reverência, trilhando a ponta de um dedo por um seio até o
mamilo, enrijecido e dolorido. Ela fechou os olhos e gemeu,
arqueando-se em direção às mãos dele. A dor quente e
agitada dentro dela era demasiada. Precisava sentir mais.
E, graças a Deus, Robert obedecia. Ele abaixou a cabeça
e quando os lábios se fecharam ao redor do mamilo exposto,
ela choramingou de um prazer agonizante. O desejo quente e
sombrio se agitou dentro dela enquanto, sem misericórdia, ele
sugava e provocada os seios com sua língua e dedos. Ela se
contorcia debaixo dele, enroscando as mãos em seus cabelos,
incerta se ela podia aguentar muito mais daquela maravilhosa
tortura, não quando a pulsação em sua virilha aumentava a
cada minuto que passava.
Por fim, ele ergueu a cabeça e lhe sorriu, um sorriso
malicioso, totalmente satisfeito. Através de sua fina chemise,
acariciou delicadamente suas costas e desceu até seu ventre,
fazendo-a se arrepiar.
— Por favor, não pare. — Ela lamentou. Incerta do que
ele exatamente faria em seguida, ela esperava que focasse sua
atenção na parte dela onde a insatisfação mais latejava.
— Não pararei. — Ele abaixou a cabeça e a beijou na
boca novamente enquanto gentilmente levantava a barra de
sua chemise. Uma de suas mãos subia lentamente pela parte
interna de uma coxa e depois por outra. Instintivamente ela
separou as pernas, procurando o seu toque leve como uma
pena. Quando seus dedos escorregaram para cima e para
baixo entre as suas dobras mais secretas, quente e
escorregadia pela umidade, ela ofegou com o puro e
inesperado prazer. Era uma devassa. Selvagem. Mas não se
importava, não quando Robert podia fazê-la se sentir daquele
jeito.
Mas não era o fim, longe disso. Com uma precisão
infalível, a ponta de um dos dedos de Robert encontrou o foco
de seu pulsante desejo. Ela se sacudiu e ofegou, porém as
carícias provocantes não perderam o ritmo. Enquanto ele
habilmente aumentava a intensidade das sensações dentro
dela até um ponto insustentável, ela arquejava e gemia em
total abandono, sem saber quanto mais ela aguentaria. Ela
parecia subir cada vez mais alto em direção a algum mundo
celestial, até então desconhecido, onde a agonia e o prazer se
fundiam.
Então sua realidade explodiu em êxtase. Gritou e gritou
com o poder esmagador de seu alívio, seu útero se apertando
com o orgasmo pela primeira vez. Aos poucos, flutuou de
volta à terra e ficou ciente de Robert beijando seu pescoço, o
queixo, a bochecha, as pálpebras. Ela sentiu-se completa e
assombrada, tudo ao mesmo tempo.
Abriu os olhos e sorriu preguiçosamente para Robert.
— Obrigada. — Ela murmurou. — Eu não tinha ideia...
que era... o que fez foi incrível... eu não posso descrever de
outra forma. — Ela pegou e colocou a mão de Robert sobre o
peito, não desejando perder contato com sua pele quente. —
É assim para você também?
— Pode ser. — Ele murmurou antes de beijar seu cabelo
e puxá-la para dentro de seus braços. Jessie sentiu a ereção
dele empurrar com força contra seu ventre.
Robert a satisfizera, mas seu desejo continuava grande.
Jessie não poderia deixá-lo sofrer assim.
— Hummm, acho que é a minha agora. — Ela falou,
então beijou seu pescoço onde seu pulso batia em um ritmo
forte e firme. Apesar de tudo o que eles acabaram de
compartilhar, e do tanto que queria agradá-lo,
repentinamente sentiu-se insegura sobre o que deveria fazer.
Deslizou uma mão por seu peito até seu estômago plano,
parando no cós da calça.
Ela mordeu o lábio, perguntando como proceder. Ela vira
como Robert se tocara. Por tentativa, esticou sua palma sobre
o comprimento grande e largo dele. Ele a deixaria vê-lo, tocá-
lo, dar-lhe prazer? Ela fechou os dedos comprovando e Robert
respirou com dificuldade, arquejando contra ela.
Ela sorriu para si mesma. Talvez ele deixasse.
— Eu nunca fiz isso antes. — Ela disse em voz baixa,
encontrando o olhar atento e escuro como a madrugada. —
Você precisa me mostrar o caminho.
Robert sorriu com gentileza.
— Acho que encontrou o caminho certo. — Ele falou,
depois a beijou de leve. — Tem certeza que está pronta para
isso? Posso esperar... Se não tiver certeza sobre continuar.
As bochechas de Jessie ficaram quentes, mas ela não
desviou o olhar.
— Sim, tenho certeza. Eu quero que sinta o que eu senti.
— Ela se ergueu, respirou profundamente e começou a
desabotoar a frente da calça dele, expondo o misterioso
inchaço. Daquela distância, a visão de seu membro
totalmente ereto, sobressaindo-se entre os pelos escuros de
sua virilha, quase tirou seu ar. Ele era poderoso e
excessivamente bonito.
E hoje à noite seria todo dela.

***

O ar de Robert ficou preso diante da visão de Jessie,


seios ainda expostos, olhando fascinada e extasiada para a
sua severa ereção. Evidentemente não se deixou levar por seu
comportamento libidinoso anterior. Sua língua umedeceu
seus lábios inchados pelos beijos e ele quase engasgou.
Não, ela claramente não estava perturbada.
Deus o ajudasse, estava tão excitado que não tinha
certeza se explodiria assim que ela o tocasse.
Ela estendeu e deslizou um dedo hesitante ao longo de
seu membro, como se testasse a sensação e a textura dele.
Quando o envolveu com toda a mão perto da base e depois a
subiu pela extensão pulsante até a cabeça, ele grunhiu e
apertou os lençóis, desejando não se derramar ainda. Ela
repetiu a ação, deslizando sua mão para cima e para baixo,
uma e outra vez. Como aprendera fazer aquilo? O ritmo e a
forma que o segurava era malditamente perfeita. Talvez ela
tivesse visto mais de sua tentativa falha de masturbação do
que ele pensara.
— Diga-me se quiser que eu pare. — Ela sussurrou com
um satisfeito sorrido coquete. Evidentemente ela estava feliz
com a reação dele até agora.
— Jessie. — Ele rosnou. — Não ouse parar.
Por vontade própria, os quadris começaram a se mover
no mesmo ritmo que ela acariciava e apertava. Fechando os
olhos, ele rangeu os dentes. Faíscas voaram atrás de suas
pálpebras. Ele não sabia quanto tempo mais seria capaz de se
segurar.
Então ela roçou a língua nele. Sugou. Cristo. Ele se
sacudiu e abriu os olhos.
— Eu... Sinto muito. — Jessie gaguejou. Os seus olhos
estavam arregalados. — Eu não quis assustá-lo. Ou ofendê-lo.
— Não precisa se desculpar, mo ghaoil. — A voz dele era
um pouco mais do que um sussurro entre os dentes. — E eu
não estou ofendido afinal... longe disso. É apenas que eu não
estava esperando que você me beijasse assim. — Ele
conseguiu sorrir. — E se continuasse, logo descobriria o
quanto eu realmente gostei disso e, não sei se está pronta
para a experiência. — Ele pegou a mão dela que ainda o
segurava e a guiou de volta ao ritmo deslizante que ela
começara, apenas um pouco mais rápido.
Mais alguns impulsos e ele chegaria lá.
— Jessie. — Ele grunhiu e a puxou para baixo dele,
desejando tomar a sua boca, saqueá-la com a língua
enquanto empurrava seu membro rígido e latejante contra
seu ventre suave. O seu doce sabor, seu perfume floral
almiscarado o envolveu. Mais um impulso e o glorioso estupor
o clamaria. Estremecendo e ofegando o nome dela contra seu
pescoço, ele empurrou até ficar quieto e exausto.
A paixão de Jessie foi uma revelação. O coração e o corpo
de Robert vibravam com o contentamento mais profundo que
já experimentara. Se o pior acontecesse e não houvesse um
amanhã para ele, morreria como um homem feliz.
Mas haveria tempo o suficiente para se preocupar com o
seu futuro amanhã. Ele ainda tinha que descansar da noite
que compartilhara com Jessie.
Robert beijou o delicado lóbulo da orelha de Jessie.
— Obrigado. — Ele murmurou, atraindo o seu olhar
quente como o mel. — Você não tem ideia de quanto isso
significou para mim. — Então, porque ele era ganancioso e
não era capaz de resistir, roubou outro beijo. — Agora, vamos
usar a água do banho antes que ela fique completamente fria.
Ele deslizou da cama e voltou um pano úmido e quente.
Uma vez que limpou o ventre de Jessie e a si próprio, ele
colocou a chemise e sua calça em ordem.
— Bem, boa noite novamente. — Ele disse, abaixando-se
para beijar a testa dela, perto da cicatriz deixada pela lasca
da árvore. Ele se levantou para pegar o travesseiro descartado
no chão.
Jessie pegou a mão dele.
— Não vá. Durma aqui, comigo. — Ela o convidou. —
Você ficará mais confortável e nós teremos outro longo dia
pela frente.
— Contando que prometa se comportar desta vez. — Ele
zombou com uma falsa cara feia.
— Prometo. — Jessie disse com um sorriso solene e se
afastou para lhe dar espaço. Robert subiu ao seu lado e a
puxou com firmeza para o seu lado. Ele gostou da forma como
o corpo dela imediatamente moldou-se ao dele, a bochecha
descansou em seu peito descoberto e seus dedos se fecharam
ao redor de seu ombro. Parecia tão certo tê-la ali em seus
braços.
Enquanto Robert observava Jessie cair no sono, rezava
para que esta não fosse a última vez.
Onze
— A Pousada Invercauld é bem ali em frente, Sr. Grant.
Simon diminuiu seu exausto cavalo a um trote e olhou
para o dragão que se dirigia a ele.
— Obrigado, Capitão Slater. Conto que nossa presa
esteja escondida lá.
Simon agradecia a Deus por ter previsto e colocado vigias
em todas as estradas que levavam ao sul. Se não tivesse feito
isso, ele não teria descoberto que Robert e Jessie tinham
escolhido a rota mais longa para o sudeste, ao longo da
Estrada Caulfied em direção a Port-na-Craig. Com alguma
sorte, eles teriam parado na Invercauld para passar a noite.
Os dragões da guarnição do Castelo Braemar ficaram muito
interessados ao ouvir que podiam ter um Jacobita procurado
bem embaixo dos seus narizes.
Mesmo se Robert e Jessie não estivessem na hospedaria
e tivessem decidido buscar abrigo em um celeiro ou cabana,
os habitantes locais poderiam os ter visto passar pela vila.
Com seus cabelos ruivos flamejantes, sua Jezebel teria sido
notada por algum olhar masculino.
— Talvez nós possamos trocar nossos cavalos lá, sir. —
Sugeriu MacTaggart quando a considerável comitiva deles,
que também incluía Baird, três outros membros da Guarda
Negra e quatro dragões, ruidosos no pátio da pousada. —
Provavelmente é o único lugar com montarias decentes nas
redondezas.
Simon odiava admitir isso, mas MacTaggart estava certo.
O sol já tinha se posto atrás das Montanhas Cairngorms há
várias horas e tudo o que eles tinham para iluminá-los era a
reflexiva lua amarela. Seria idiotice viajar ao longo da estreita
e irregular estrada Highland com cavalos cansados. Simon
certamente não quebraria o pescoço por causa de Robert.
A pousada, embora pequena, ainda estava aberta àquela
hora da noite. Deixando os negócios das trocas de cavalos e o
interrogamento para os Guardas, Simon seguiu para o salão
com Baird, MacTaggart o capitão Slater e seus homens. Para
seu aborrecimento, ele descobriu que o salão mal iluminado
parecia estar repleto de soldados de folga, viajantes
empoeirados, trabalhadores locais e boiadeiros em seu
caminho aos mercados de Edimburgo. Ele teve dificuldade
para achar uma mesa sem ter que gastar uma ou duas
moedas.
Avaliou a sala e percebeu que as únicas mulheres
presentes eram duas graciosas criadas esperando nas mesas.
Não havia sinal de Robert. Ele informou ao capitão dos
dragões que assentiu e enviou seus homens para questionar
os criados da taverna, os soldados de folga e outros clientes.
Simon se virou e se dirigiu a MacTaggart por cima do
barulho das pessoas.
— Você pode ir e questionar o proprietário sobre quem
procurou acomodações para a noite. E seja rápido sobre isso.
MacTaggart estreitou os olhos, contudo, o insolente filho
da puta concordou.
— Sim, sir.
Uma vez que o Guarda partira, Simon encaminhou-se ao
bar. Pelo menos poderia tomar uma cerveja ou duas enquanto
esperava por notícias. Observou a criada gorda e de cabelos
ruivos passando com uma bandeja de comida. Sorriu para si
mesmo. Se sua Jezebel não estivesse ali, ele poderia provar o
que a criada da taverna tinha para oferecer.
De qualquer forma, não partiria até se satisfazer.

***

Apesar de sua exaustão, não demorou muito para Robert


perceber que o sono lhe fugiria enquanto as curvas suaves
estivessem pressionadas contra ele e sua respiração quente
soprasse gentilmente em seu peito. Seu corpo já estava tenso
pelo desejo novamente.
Com um suspiro de frustração, ele cuidadosamente se
afastou dela e, silenciosamente, levantou-se da cama e se
vestiu. Um pequeno gole ou dois de uísque provavelmente o
relaxariam o bastante para dormir. Embora ainda houvesse
muitos clientes na taverna, não estava preocupado. Sua
estratégia em se esconder à plena vista funcionara
notavelmente ao longo dos anos e ele não tinha razão para
acreditar que falharia agora. Uma década após Culloden,
Invercauld dificilmente seria um berço de atividades ilícitas
dos Jacobitas. E, como ele dissera a Jessie antes, os Casacas
Vermelhas locais não procurariam por ele.
Além disso, não havia modo no inferno de Simon ter a
determinação para viajar a esta distância ao sul em um dia,
mesmo que ele pensasse em procurar esta rota em primeiro
lugar.
Robert apostaria a sua vida que ele e Jessie estavam
seguros aquela noite.
Enquanto arrumava seu casaco, notou o pergaminho
levemente enrugado no seu bolso da frente, a carta de seu pai
apelando para o Lord Advocate. Após checar que estava em
um lugar seguro, ele olhou para Jessie, ainda dormindo. Um
pequeno sorriso surgiu em seu rosto enquanto contemplava
como seria ser um homem livre, livre para verdadeiramente
oferecer a Jessie a sua mão em casamento. E o quão
maravilhoso se ela ainda lhe dissesse sim.
O sorriso ainda estava em seu rosto à medida que seguia
em direção ao bar. A multidão diminuíra um pouco e, além
dos poucos soldados de folga, não havia nenhum sinal de
Guardas ou qualquer coisa ou alguém que considerasse
desagradável. Com o uísque em mãos, estava prestes a se
virar para procurar um canto escuro na taverna quando
alguém agarrou seu ombro de uma maneira quase dolorosa.
Então algo duro e metálico, possivelmente o cano de uma
pistola, foi empurrado contra suas costas, perto de seu rim.
Uma voz baixa e masculina sibilou em seu ouvido.
— Bem, bem, Robert. Se não é o próprio filho pródigo.
Merda. Simon. Não tinha engano no tom venenoso de seu
meio-irmão. Robert estacou, amaldiçoando-se internamente
por ter sido tão arrogante e abaixar a sua guarda. Ele
seriamente subestimara o seu oponente.
Robert cuidadosamente colocou seu uísque no balcão e
se virou lentamente, palmas erguidas em um gesto de
rendição. Obviamente um Simon sorridente estava parado à
sua frente. Ele notou com um pequeno grau de satisfação que
seu irmão só conseguia dar um sorriso meio torto, uma vez
que o lado esquerdo de seu queixo estava roxo e inchado com
um machucado impressionante.
— Feliz em encontrá-lo aqui, querido irmão. — Simon
provocou enquanto empurrava a pistola no estômago de
Robert. Robert rapidamente avaliou o salão e blasfemou entre
os dentes novamente ao ver quatro dragões parados perto da
porta e três membros da Guarda Negra pairando atrás de
Simon. Ele estava apanhado. Não havia como enfrentar tantos
homens, mesmo sem uma pistola engatilhada pressionando
seu estômago.
Maldito, maldito inferno. Como ele fora tão tolo e cego. As
apostas eram altas e ele cometera um erro sobre a capacidade
de vingança de Simon.
A agora Jessie estava em perigo. Medo, como nenhum
que Robert já experimentara, rasgou sem misericórdia as
suas entranhas. Se Simon encontrasse Jessie lá em cima,
sozinha, adormecida...
O rosto soberbo de Simon atraiu a sua atenção.
— Nem mesmo pense em escapar disso. Como pode ver,
não tem como, mesmo para um lendário Jacobita como você,
poder escapar desta vez.
— Receio que tudo isso seja para nada, Simon. — Robert
respondeu tranquilamente. — Nosso pai entrará com um
pedido de clemência com o Lord Advocate. Qualquer
esperança de me ver sendo executado por traição está morta.
Simon bufou quase rindo.
— Bem, eu tenho que admirar o seu otimismo, e nada
mais. — A expressão dele repentinamente tornou-se
maliciosa. — Ou talvez haja algo mais em você que eu
admire... algo que na verdade é meu. — Ele olhou
significativamente para o teto.
As entranhas de Robert se reviraram com a potente
combinação de terror congelante com a fúria quente.
— O que quer dizer? — Ele grunhiu cerrando os punhos,
imaginando a agradável visão de atingir o lascivo sorriso no
rosto de Simon.
O olhar de Simon voltou a Robert. Seus olhos brilhavam
com sua intenção maliciosa.
— Eu sei em qual quarto ela está e não há nada que
possa fazer para me impedir de possuí-la.

***

Jessie começou a acordar, seu coração acelerado. O que


a acordara? Por um momento ficou desorientada. Ela sentou-
se e a consciência voltou rápido. Estava na cama de dossel, o
lavatório, o fogo se apagando. E o fato de estar sozinha
novamente.
Por que Robert a deixara e por quanto tempo ela esteve
dormindo? A onda de pânico aumentou dez vezes quando
houve uma batida na porta. Não podia ser Robert. Ele tinha a
chave.
A batida parou e uma áspera voz masculina chamou.
— Srta. Munroe, deve acordar. Meu nome é MacTaggart.
Eu sou um Capitão da Guarda Negra e trabalho para Lorde
Strathburn. Devo falar com você urgentemente.
Oh, Deus, alguma coisa acontecera. Por favor, que Robert
esteja bem. Com o coração batendo contra as costelas, Jessie
desceu silenciosamente da cama e jogou o vestido por cima da
cabeça. Enquanto freneticamente tentava amarrar os laços de
seu corset com dedos trêmulos, a voz do homem soou
novamente.
— Srta. Munroe, eu tenho uma das filhas do proprietário
da pousada comigo, Mary, para mostrar-lhe que não vou
machucá-la. Eu sei que está assustada, mas por favor, deve
acreditar que não tenho nada além de intenções honradas
com a sua segurança. Por favor, deixe-nos entrar.
Uma jovem falou.
— É verdade o que ele diz, senhorita. Sou Mary. Servi-lhe
mais cedo.
Ignorando o protesto de seu tornozelo, Jessie cruzou a
sala até a porta tão rápido quando pôde. Embora um
turbilhão de pensamentos e perguntas rondassem a sua
cabeça, ela não estava pronta para abrir a porta ainda. Ela
falou através da pesada madeira.
— MacTaggart, assim diz? — O nome do homem era
vagamente familiar. Mas este homem realmente trabalhava
para Lorde Strathburn ou era pago por Simon? Ela poderia
confiar nele? — O que está acontecendo? Por que exatamente
você está aqui?
As próximas palavras de MacTaggart acertaram o
coração de Jessie como uma lâmina de medo.
— Srta. Munroe, Simon Grant está lá embaixo e, neste
exato momento, prendendo Lorde Lochrose. Ele tem vários
dragões e alguns dos meus homens com ele. Eu tenho muito
temor por sua segurança.
Jessie caiu contra a porta, mal conseguindo respirar.
Simon estava ali. Ele tinha Robert. Ela devia estar em um
pesadelo. A qualquer momento ela acordaria e se encontraria
aninhada e Robert a seu lado na cama.
— Srta. Munroe, acredito que o Sr. Grant em breve lhe
fará uma visita. Abra a porta e deixe que Mary a ajude a se
vestir.
MacTaggart estava certo. Se Simon viesse atrás dela em
seu atual estado de nudez... a situação sairia do controle.
Com as mãos trêmulas, Jessie destrancou a porta para
revelar um homem alto e de pesada constituição usando um
plaid da Guarda Negra. Uma trêmula Mary estava parada ao
seu lado.
O homem da Guarda fez uma leve reverência.
— Obrigado, Srta. Munroe. Eu esperarei aqui fora
enquanto Mary a ajuda. Sugiro que ela fique com você o resto
da noite.
Jessie assentiu, O rosto de MacTaggart podia ser
marcado pelas batalhas e, à primeira vista, parecer feroz, mas
ele possuía bondosos olhos castanhos. Ela estava inclinada a
aceitar a sua palavra.
— Obrigada por sua bondade, sir. Sou muito grata.
Garantirei em elogiá-lo ao conde e ao meu pai.
MacTaggart inclinou a cabeça.
— Tapadh Leibh. Obrigado.
Antes que Jessie fechasse a porta ela lhe fez uma última
pergunta. Sua garganta estava apertada, as palavras mal
saíram.
— Para onde eles levarão Lorde Lochrose?
O membro da Guarda Negra fixou o olhar diretamente no
dela.
— Para o quartel daqui e amanhã, para Edimburgo...
para Tolbooth. Eu farei o que puder para ajudá-lo, mas agora
há dragões envolvidos, receio que não haja muito o que fazer
para salvá-lo.
E era isso o que Jessie temia.

***

Depois que Robert foi levado pelos dragões, Simon


impacientemente avaliou a taverna em busca de MacTaggart.
Sem dúvidas o homem ainda estava lá em cima localizando
Jessie para ele como fora instruído. Robert negou que Jessie
estivesse ali. De fato, ele insistira que ela tomara a carruagem
pública em Grantown-on-Spey. Mas Simon sabia que era uma
mentira.
Jessie estava ali, ele sentia. Em questão de minutos teria
a garota inteira para si.
Ele bebeu o uísque descartado por Robert em um único
gole e se dirigiu para os quartos do andar de cima.
Alcançando o topo da escada, ele viu MacTaggart diante de
uma das portas. Excelente. O membro da Guarda a
encontrara. As bolas de Simon ficaram mais pesadas e
apertadas diante do desejo.
— Isso é tudo, MacTaggart. Eu cuidarei da Srta. Munroe
a partir de agora. — Simon esticou sua mão pela chave do
quarto, mas em vez disso, tudo o que recebeu foi um olhar de
pedra do corpulento membro da Guarda Negra.
A impaciência.
— MacTaggart. Dê-me a maldita chave.
O Guarda devolveu o olhar, praticamente imperturbável.
— Sinto muito, Sr. Grant. A Srta. Munroe já se retirou
para a noite. A criada que a atende me informou que ela não
está disponível para se encontrar com você até amanhã de
manhã.
— Vá para o inferno, MacTaggart. Do que está
brincando? — Rosnou Simon. — Saia da frente e abra a
maldita porta.
A porta do quarto repentinamente se abriu um pouco e
uma tímida criada saiu.
— Sr. Grant, a S-Srta. Munroe diz que o receberá...
contando que a porta fique entreaberta e o Capitão
MacTaggart fique por perto.
— Eu o tirarei de sua posição por isso, MacTaggart. —
Simon falou de maneira selvagem entre os dentes enquanto,
rudemente, abria passagem entre o capitão e a criada para
dentro do quarto.
Jessie estava sentada em uma poltrona diante da lareira.
Ela estava sentada ereta e totalmente vestida, seu queixo
erguido, olhando-o em desafio. Oh, como ele gostaria de tirar
aquela expressão de seu rosto. Ele lhe dirigiu um olhar
deliberadamente obsceno e depois, um olhar significativo para
a cama de dossel desarrumada.
— Uma pena você ainda não estar deitada, Srta. Munroe.
Mas não importa. Em breve você voltará para lá.
Ela não respondeu, apenas levantou seu queixo um
pouco mais, seus olhos brilhavam.
A raiva atravessou Simon, quente e feroz. Ele se jogou
em uma poltrona em frente a Jessie, reclinando-se com as
suas pernas estendidas, seus pés cruzados sobre os
tornozelos. Descansou o queixo na mão e estreitou o olhar,
avaliando-a. Seu rosto estava pálido, exceto por duas
manchas de cor brilhante na parte alta de suas bochechas.
Bom. Apesar de sua aparência externa tenho-mais-atitude-do-
que-você, abalara a pequena cadela.
Agora queria cobri-la ainda mais. Quando falou, incutiu
em sua voz uma ameaça sutil.
— Eu tenho uma proposta para você, Srta. Munroe.
Passe a noite comigo e faça as minhas vontades... ou eu a
verei presa pelos dragões e jogada em uma cela por ajudar e
ser cúmplice de um fugitivo procurado.

***
Passarei a noite com você quando os porcos voarem.
Jessie segurou a resposta e encarou Simon, sua raiva
superava o medo. Ela já tivera o suficiente deste homem a
intimidando e, enquanto tivesse o apoio de MacTaggart,
pretendia mostrar alguma coragem. Ter a adaga de Robert em
sua mão embaixo da cobertura de suas saias também a
encorajava. Graças aos céus que ele a deixou para trás no
lavatório.
Simon pegou um fiapo inexistente em sua roupa,
obviamente afetado pela indiferença, um músculo latejava em
seu queixo.
— Estou esperando a sua resposta, Srta. Munroe. Eu
não tenho a noite inteira. O que será?
Jessie apertou o punhal de Robert com mais força,
agradecida pela sensação do cabo de aço frio na sua palma
suada. Sua voz, quando ela emergiu, tremeu apenas um
pouco.
— É melhor enviar os dragões então. Eu prefiro dormir
no chão frio de pedra com os piolhos e os ratos como
companhia do que passar mais um momento com você.
Ela o pressionou demais.
Com um grunhido, Simon se levantou de sua poltrona e
se inclinou sobre ela, suas mãos nos braços da poltrona dela,
seu rosto a centímetros do dela. Engasgando, ela se afastou
dele. Àquela distância, via claramente as consequências do
soco de Robert em sua mandíbula. Isso a recordava que
Simon não era o todo poderoso.
Coragem, Jessie. Aumentou o aperto em torno do
punhal. Ela o usaria contra ele se fosse necessário. Não
importa as consequências.
— Agora escute-me sua pequena v... — Começou Simon.
— Não, escute-me você. — Devolveu Jessie, tão furiosa
que ela podia cuspir. — Eu sugiro que se afastasse de mim
imediatamente ou eu pedirei que MacTaggart o prenda por
ameaça de ataque. — Ela instintivamente soube que era
capaz de contar com a ajuda do bom capitão.
Simon instantaneamente se afastou e a encarou, sua
raiva mal contida. Suas mãos estavam fechadas em punhos e
seus olhos cinzas brilhavam com uma afiada raiva. Ele a
recordava um lobo prestes a atacar a sua presa.
Apesar das pernas trêmulas, Jessie se levantou e o
encarou, o punhal ainda em mãos. Tinha algo que precisava
dizer e o faria com os olhos no mesmo nível. Não se
acovardaria diante dele.
— Eu acho que já deve saber, esta mesma manhã, seu
pai fez o enlace entre Robert e eu. Logo que Robert seja
perdoado pelo Lord Advocate, e ele irá, seu irmão e eu nos
casaremos. Tenho certeza que Lorde Strathburn não ficará
nada contente com você, se ouvir que o seu comportamento
comigo, como meu futuro cunhado, não foi nada exemplar.
Você não concorda?
— Bem, nós não temos feito bem a nós mesmos, minha
querida Jezebel? — A voz de Simon ficou suave novamente.
Um pequeno sorriso, como uma careta, retorceu seus lábios
finos. — Estava certo sobre você o tempo inteiro. Você não é
nada além de uma prostituta avarenta e gananciosa.
Ele caminhou em direção à porta, mas então parou com
a mão na maçaneta e se virou. Seu olhar de despedida a
congelou até os ossos.
— Mas o que será de você, Srta. Munroe, quando a
cabeça do meu irmão estiver no bloco para ser decapitado?
Eu ainda estarei aqui... esperando. Ao cair no sono hoje à
noite, irá se lembrar disso, não irá, minha querida?

***

Guarnição do Castelo Braemar

— Gostaria de lhe dar boa noite, milorde, mas eu sei que


não terá. — A risada rouca do dragão ecoou pelas paredes de
pedra da torre vazia do Castelo Braemar, a prisão de Robert
pela noite.
Bem, isso não é surpreendente. Robert suspirou
pesadamente e encostou a parte de trás de sua cabeça contra
os tijolos ásperos atrás dele, quando o soldado bateu a porta
pesada de madeira cravejada com ferro. Ele já sabia que não
seria capaz de dormir durante o restante da noite.
Não era tanto pelo frio cortante do ao seu redor ou pelas
pedras duras do chão embaixo dele que destruíam qualquer
esperança de descanso, mas sim pelo medo nauseante e a
acre auto recriminação que rasgava seu interior em pedaços.
O ambiente lhe trazia à mente seu confinamento de muitos
anos atrás, na adega de vinho de Lochrose. Apenas que desta
vez, não havia chance de se afogar em uísque em uma
tentativa fraca de acabar com a cadeia sombria e
perturbadora que eram os seus pensamentos.
O seu pior pesadelo tinha se tornado realidade, ele fora
capturado e amanhã seria transportado a Tolbooth em
Edimburgo. Deus o ajudasse. E talvez Deus ajudasse aqueles
a quem amava.
O que menos afetava Robert eram os pensamentos sobre
sua própria mortalidade. Ele encarara o espectro da morte
incontáveis vezes antes. Na verdade, desde Culloden e por
três longos anos depois, a morte fora sua companhia
constante. Não, ele fizera as pazes com a ideia de morrer há
muito tempo.
O que ele não suportava era a enorme sensação de
fracasso que o inundava, que na verdade caía sobre ele
pesadamente, como se não pudesse mais respirar e que seu
coração tivesse sido esmagado até ficar sem vida, ser apenas
uma pedra vazia em seu peito. Se for considerado culpado por
traição e, em seguida, executado, isso seria o desastre certo:
Simon era nada além de um bêbado egoísta e Lady
Strathburn era mais podre e avarenta que Lady Macbeth. Não
havia dúvidas em sua mente que eles arruinariam a
propriedade, destruiriam seu pai e devastariam o clã tão certo
como um contingente de dragões faria em um tumulto. Os
membros do clã seriam jogados de suas vilas e terrenos, a
terra vendida. E Jessie... Deus, Jessie!
Após ele ter sido arrastado da taverna pelos dragões pela
noite a dentro, Robert não vira nem um fio de cabelo de
Simon. O que, provavelmente, queria dizer que o seu
insignificante irmão fora atrás de Jessie, assim como ele
ameaçara. A bile queimou a garganta de Robert e suas
entranhas se retorceram. Se Simon tocara em um único fio de
cabelo de Jessie...
Ele bateu o punho no chão duro de pedra,
perversamente se contentando com a dor aguda que
ricocheteou e protestou através dos nós de seus dedos.
Jessie era forte, capaz e inteligente. Mas ela estaria
pronta para lidar com Simon se fosse pega de surpresa?
Jesus, quando Robert a deixara, ela estava dormindo
profundamente na cama deles...
Eu ainda sou tão imprudente e cabeça quente quanto o
jovem inexperiente de uma década atrás. Não aprendi nada.
Deixei minhas bolas atrapalharem o pensamento racional e
estratégico e deixei a complacência tomar vantagem. Se
alguma coisa acontecer a Jessie, será culpa minha...
Era uma inútil tentar conter que as lágrimas quentes
deslizassem por seu rosto. Lágrimas de culpa, vergonha e
uma raiva desesperada. De todas as coisas que Robert fizera
errado, aquela era a que nunca seria capaz de se perdoar:
falhar com a sua doce Jessie.
Ele passou a manga de sua camisa nos olhos. Os
Casacas Vermelhas tinham levado o seu casaco quando
procuravam por armas. A carta de seu pai, sua única
esperança de salvação se fora. Ele rezava que ela tivesse sido
entregue ao Capitão Slater, parecia ser um homem justo,
apesar do fato de ser um Sassenach. Ele reconheceria o selo
do Conde de Strathburn e do destinatário da missiva, o
próprio Lord Advocate. Talvez o capitão já tivesse feito isso,
pois a sala da torre podia ser tão gelada quanto Hades e ser
desprovida de móveis, mas pelo menos Robert não estava
acorrentado em alguma masmorra suja e úmida.
Superficialmente, parecia ser uma concessão de algum tipo.
Mas se a carta de seu pai tivesse caído nas mãos de
Simon...
Robert fechou os olhos e trincou os dentes contra o
familiar turbilhão de desespero em seu peito. Esperança. Ele
devia se recordar de que havia esperança. Só Deus sabia o
porquê, mas o seu pai ainda acreditava nele. E ele não devia
isso ao seu pai, ao clã e a Jessie? Não desistir.
Quando a luz pálida e trêmula da manhã começou a se
infiltrar através da pequena janela com barras sobre a sua
cabeça e o barulho de parafusos enferrujados sendo puxados
o levou a um completo estado de alerta, Robert já tinha
gravado firmemente a suas resoluções no que restava de seu
coração. Eu não morrerei. Quando sair dessa, serei o filho que
deveria ter sido. O líder que quero ser. Honrarei meu
compromisso com Jessie. E com Deus como testemunha,
certificar-me-ei que Simon nunca mais machuque ninguém.
Doze

Após a partida de MacTaggart, Jessie passou várias


infrutíferas horas tentando descansar, porém o medo
constante pela segurança de Robert espetava o seu cérebro,
tornando o sono impossível. A filha do dono da pousada
parecia não ter este problema e mais de uma vez, Jessie
enviou olhares invejosos sobre a jovem criada dormindo
profundamente em um catre estreito ao lado de sua cama de
dossel.
Com efeito, Jessie desistiu de dormir e passou o restante
da noite em uma das poltronas diante do fogo apagado. Ela
tentou criar algum tipo de plano para ajudar Robert, mas no
fim, ela sabia que não havia nada que pudesse fazer sozinha
no meio da noite. Libertar Robert de uma cela trancada em
uma guarnição de um castelo definitivamente era uma
façanha impossível.
No fundo de sua mente, uma pontada de pensamento a
irritava: por que Robert a deixara sozinha no quarto?
MacTaggart lhe dissera que Robert fora preso na taverna. Ela
rezava para que Robert não lamentasse o encontro físico deles
e alimentasse segundos pensamentos sobre estar unido em
handfasting com ela. Provavelmente ele não a abandonaria ali
e iria a Edimburgo sozinho.
Rapidamente ela descartou suas paranoias ao olhar ao
redor do quarto e ver vários objetos de Robert, uma camisa,
seus alforjes e, obviamente, seu punhal. Ele não deixaria
todas estas coisas para trás se pretendesse partir. Deveria
haver outra explicação lógica para a saída dele. Talvez ele
simplesmente quisesse uma bebida. O que quer que fosse,
preocupar-se mais não resolveria a situação.
No fim, Jessie determinou que embora viajar sozinha
fosse perigoso, não havia outro curso de ação para ela, exceto
voltar a Lochrose para informar Lorde Strathburn sobre a
situação de Robert. Ela rezava para que o conde estivesse
bem o bastante para viajar a Edimburgo para defender
pessoalmente o caso com o Lord Advocate.
Ela também pedia a Deus que, ao partir, Simon estivesse
indo em direção oposta, para Edimburgo. Se ela o
encontrasse sozinha em algum lugar da estrada... Estremeceu
e afastou para longe o pensamento angustiante. Ela
simplesmente não aguentava pensar sobre isso.
Assim que amanheceu, Jessie pegou a sua bolsa e o que
restava dos pertences de Robert com a ajuda de Mary e então
desceu para o vestíbulo da pousada... para encontrar um
jovem membro da Guarda Negra esperando.
— Srta. Munroe. — Ele disse inclinando a cabeça
educadamente. — Meu nome é Corporal MacGillie. Espero
que não se importe, mas o Capitão MacTaggart me pediu para
escoltá-la com segurança a Edimburgo. Ele também me pediu
para que a avisasse que ele acredita que Lorde Strathburn
está viajando a Edimburgo, mas por Drumochter Pass. Com
alguma sorte, nós devemos encontrar Sua Senhoria na
estrada sul de Port-na-Graig.
— Oh. — As lágrimas encheram os olhos de Jessie ao
saber que MacTaggart ainda estava cuidando dela. Ela não
espera tal apoio e repentinamente se sentiu bastante
consternada. — Obrigada.
— Não há problemas, senhorita. Parece que Lorde
Lochrose já acertou a sua conta de ontem a noite quando
vocês chegaram e eu trouxe seu cavalo. Assim, se estiver
pronta para partir...
Jessie assentiu, engolindo as lágrimas.
— Sim, é claro, Corporal MacGillie. Vamos seguir nosso
caminho.

***

Eles fizeram em um bom tempo. A estrada sul de


Invercauld era muito melhor do que o trecho anterior pelo
qual viajara no dia anterior com Robert, assim, ela e MacGillie
conseguiram chegar às cercanias de Port-na-Graig no
momento em que o crepúsculo descia.
Eles começavam a fazer uma curva na estrada em um
trecho arborizado perto das margens do rio Tummel quando
Jessie ouviu o som inconfundível de rodas de carruagem se
aproximando. Ela lentamente diminuiu o passo de Blaeberry
e tinha acabado de parar na grama quando uma carruagem
puxada por quatro elegantes cavalos apareceu virando a
curva.
Enquanto a carruagem se aproximava, Jessie
imediatamente percebeu o brasão de Strathburn estampado
na porta de carvalho da carruagem. O alívio surgiu,
especialmente quando era Lorde Strathburn a avaliando, seus
olhos arregalados em surpresa. Em segundos, a carruagem
parou e o valete do conde, MacGowan, saltou de seu lugar
perto ao cocheiro e abriu a porta de Lorde Strathburn.
— Srta. Munroe, meu senhor a verá. — Ele falou.
Jessie levou Blaeberry em direção a carruagem e
MacGowan a ajudou a desmontar.
— Minha querida, Srta. Munroe, entre imediatamente e
me conte o que está acontecendo. — Apressou o conde, seu
rosto cheio de ansiedade. — Onde está Robert? Deus Santo,
Simon interceptou vocês?
— Sim, milorde, receio que sim. — Jessie tomou assento
na carruagem, em frente ao cavalheiro de rosto acinzentado e
uma brilhante Lady Strathburn. Ela notou que o conde tinha
os nós dos dedos brancos sobre a ponta prateada de sua
bengala e algumas sombras escuras embaixo de seus olhos
preocupados. Embora aliviada em ter cruzado com Lorde
Strathburn logo, Jessie também estava triste em ser a
portadora de más notícias. Lady Strathburn permanecia em
silêncio, seus lábios apertados em uma linha fina, seu olhar
tão sombrio e hostil quanto qualquer topo de granito das
Highlands.
Jessie a ignorou e se virou para Lorde Strathburn e lhe
explicou tudo o que ocorrera.
— O Capitão MacTaggart acha que Robert será levado a
Tolbooth. — Ela concluiu.
— Acho que ele pode está certo, minha querida. — Disse
Lorde Strathburn suspirando longamente. — Apenas rezo
para que os dragões não o tenham maltratado. Você sabe o
que aconteceu com a minha carta endereçado ao Lord
Advocate?
— Não estava nas coisas de Robert na pousada, milorde.
— Respondeu Jessie. — Acredito que Robert a guardasse em
seu casaco. Ele deve ter ido com ele quando foi preso.
— Talvez isso o ajude em uma pequena medida até que
eu consiga falar pessoalmente com Lorde Arniston. — Disse
Lorde Strathburn. — Foi tolice de minha parte enviá-los por
conta própria, especialmente depois do... — Ele lançou um
breve olhar para Lady Strathburn antes de retornar seu olhar
para Jessie. — Inoportuno encontro com Simon antes de sair
de Lochrose. Eu ouvi tudo. Tão longo Simon declarou que
perseguiria você e Robert, eu sabia que deveria segui-los
imediatamente. Posso estar frágil, mas eu simplesmente não
podia deixar Simon bancar o juiz, júri e executor ao mesmo
tempo. — O conde inclinou-se para frente e apertou a mão de
Jessie. — Você foi muito corajosa por ter chegado tão longe.
Jessie sorriu.
— Graças a você e ao Capitão MacTaggart, eu fui bem
cuidada. Após Robert ser levado, MacTaggart designou que
Corporal MacGillie — ela apontou ao jovem membro da
Guarda Negra lá fora — que me escoltasse o resto do caminho
até Edimburgo.
Lorde Strathburn assentiu.
— MacTaggart é um bom homem. Sempre fui capaz de
confiar nele para fazer a coisa certa. Graças a Deus eu
conseguir ter uma palavra com ele sobre o que estava
acontecendo antes que ele e seus homens partissem de
Lochrose. Mesmo assim, pergunto-me se não teve mais
problemas com Simon.
Diante deste comentário, Lady Strathburn lançou um
olhar fulminante em direção ao marido.
— Realmente, William. Como se Simon se incomodasse
com ela.
Lorde Strathburn lançou um olhar feio de volta a sua
esposa.
— Não seja ridícula. Você sabe quão arraigadas são as
inclinações de Simon. E eu sugiro que tenha mais respeito
pela Srta. Munroe. Precisa que eu lhe recorde que, em breve,
ela será sua nora?
— Sim. Você continua me lembrando. — Lady
Strathburn encarou Jessie, seus olhos verdes estavam
glaciais pela hostilidade antes de se virar novamente para
contemplar a paisagem do lado de fora da janela da
carruagem.
Jessie suspirou lentamente. Seria uma viagem longa e
desconfortável.
O conde, sempre perceptível, olhou para Jessie piscou.
— Você deve estar exausta, minha querida criança, e nós
ainda temos um longo caminho pela frente. Mas pararemos
em Port-na-Graig para um breve jantar e trocaremos os
cavalos, assim continuaremos através da noite. Quanto antes
chegarmos a Edimburgo, melhor.
Jessie retribuiu o sorriso, grata por sua bondade
inabalável. Ela concordava plenamente.
***

Strathburn House, Canongate, Edimburgo

A noite já havia caído quando a carruagem Strathburn


chegou à casa do conde em Edimburgo, dois dias depois. Ao
entrar na cidade, MacGowan fora enviado à frente para se
assegurar que a equipe deixaria a casa pronta à chegada
deles. A residência de três andares de pedra marrom — a
maior entre os muitos prédios estreitos ao longo da Royal Mile
— estava localizada no final da Praça Auldgate, uma pequena
rua de pedregulhos paralela a Canongate e a uma curta
distância do Palácio Holyrood. Na realidade, do que ela
recordava de uma visita anterior à capital para visitar a sua
prima, a Prisão Tolbooth também estava a uma caminhada de
distância de Strathburn House, menos de um quilômetro
depois da colina da High Street no Distrito de Lawnmarket.
Quando Jessie saiu da carruagem, ficou extremamente
tentada a se afastar da porta completamente aberta, não
importa o quão convidativo o vestíbulo iluminado por velas
parecia. A vontade de pegar a Royal Mile11 em direção à
prisão era muito mais forte. No entanto, seu tornozelo
definitivamente não estava apto à tarefa e não havia garantias
de que Robert já estivesse em Edimburgo. Ela teria que ser
paciente e esperar o dia seguinte para descobrir exatamente
onde ele estava.
Ela começara a subir cuidadosamente os poucos degraus
até a porta com Lorde Strathburn quando outra silhueta
apareceu na porta de Strathburn House ao lado do mordomo.
— Boa noite, queridíssimo pai, Srta. Munroe. — Ecoou
uma voz familiar.
Jessie estacou, um medo congelante se espalhou por ela.
Simon estava parado diante dela na soleira da porta,
inclinando-se negligentemente contra o batente, um sorriso
que era um desdém cruzando o seu rosto. Por que não lhe
ocorrera que Simon ficaria ali também? Ela mordeu o lábio,
tentando conter a explosão de pânico e frustração. Nunca
ficaria livre das atenções não desejadas deste homem?
Novamente ela teve o impulso de dar meia volta e fugir
pela Mile. Talvez se pudesse pedir que lhe trouxessem um
cavalo, ela pudesse seguir até a casa de sua prima Maggie na
Grassmarket. Não era muito longe. Lorde Strathburn com
certeza entenderia.
Simon parecia visivelmente feliz pelo efeito
desconcertante de ambos. Seu sorriso ficou ainda maior
quando ele ergueu um copo com um líquido, possivelmente
conhaque, em um brinde falso.
— Bem-vindos a Edimburgo. — Ele se afastou da porta e
fez uma reverência afetada e desajeitada, claramente ele
estava bêbado. Jessie sentiu o braço de Lorde Strathburn se
enrijecer sob a sua mão.
— O que diabos pensa que está fazendo aqui sob o meu
teto, Simon? — Exigiu o conde, sua voz trêmula pela raiva.—
- O que o fez pensar que eu permitiria que ficasse aqui depois
do que fez a Robert e à Srta. Munroe? Sua audácia me
surpreende.
— Mas querido pai, não sou o fugitivo, o traidor do rei, o
filho desobediente. Está me renegando apenas por seguir a
lei?
Lorde Strathburn apontou a sua bengala para Simon.
— Saia da minha frente. — Ele gritou. — Saia e não
retorne até que eu o permita.
Simon deu de ombros.
— Não importa. Tenho certeza de que a Pousada White
Horse tem quartos. — Ele passou seu copo ao mordomo. —
Pegue o meu casaco, Gordon. Acho que caminharei pela
Canongate. Oh, e envie meu valete com as minhas coisas.
Com o casaco em mãos, Simon deliberadamente passou
por Jessie enquanto descia as escadas. Seu hálito era quente
e fedido em seu ouvido.
— Certamente atirarei beijos em direção à colina onde o
seu amado vive, doce Jezebel. Durma bem, futura irmã.
Jessie fechou os olhos e estremeceu. Mas ao ouvir o som
dos passos de Simon ficar mais distante, ela sorriu para si.
Pelo menos sabia que Robert definitivamente estava ali.
Ela seria capaz de vê-lo no dia seguinte.
Treze
Apesar de sua ansiedade sobre o destino de Robert e
como ele se saíra nas mãos dos dragões nos últimos dias,
Jessie rapidamente caiu em um sono exausto e ininterrupto
naquela noite. Lorde Strathburn cuidara para que ela fosse
acomodada em um dos quartos de visitantes bem equipados
da casa com uma jovem criada chamada Janet para atender
às suas necessidades. Como precaução adicional contra
qualquer tentativa de visita noturna por parte de Simon, que
sem dúvida ainda mantinha o seu molho de chaves da casa
da cidade, o conde ordenara que a criada passasse a noite em
um catre em seu quarto. Era um gesto que Jessie apreciava
muito.
Jessie não estava certa se fora dito a Janet ou qualquer
outro criado da casa que ela estava comprometida com Robert
ou sobre a sua captura e prisão. Em sua chegada, ela fora
apresentada apenas como Srta. Munroe, sem maiores
explicações, embora ela suspeitasse que Simon tivesse gritado
triunfantemente sobre a dramática desgraça que seu irmão
caíra para todos.
Quando Jessie se levantou na manhã seguinte,
encantou-se a descobrir que um pequeno baú de viagem
contendo algumas de suas coisas, roupas íntimas e vários
vestidos — fora entregue em seu quarto. De acordo com
averiguação de Janet junto a MacGowan, Lorde Strathburn
pedira a uma das criadas de Lochrose que empacotasse o baú
quando partiram. Aparentemente, a Sra. Beattie, a costureira
de Lady Strathburn, estivera realmente ocupada. Lágrimas
brotaram nos olhos de Jessie enquanto ela colocava o vestido
a frente de seu corpo. Nunca seria capaz de agradecer o
bastante a Lorde Strathburn por sua consideração e por todos
os problemas que enfrentava, mas ela certamente tentaria.
Mas antes, ela tinha outras coisas para cuidar; sua
prioridade era fazer alguma coisa para ajudar Robert. E isso
exigia uma caminhada pela rua Mile até Tolbooth.
Felizmente, seu tornozelo estava bem melhor. O
ferimento na parte superior de seu braço continua a se curar
bem debaixo dos pontos de Robert. Os olhos de Janet se
arregalaram de surpresa ao ver a ferida, entretanto ela não
falou nada, para alívio de Jessie. Em vez disso, a criada
silenciosamente pegou uma jarra de água quente e
gentilmente limpou a ferida, aplicando um pouco de óleo de
lavanda e uma faixa de tecido limpa que ela achara em algum
lugar.
Uma vez que o braço de Jessie foi enfaixado, Janete a
ajudou a se banhar e vestir seu vestido novo, um vestido bem
cortado de lã azul real, enfeitado com veludo preto no decote,
punhos e saia. Janet parecia ter também um notável talento
em arrumar cabelos, pois a jovem rapidamente e sem esforço
arrumou as incontroláveis mechas de Jessie em um estilo
sofisticado com alguns cachos artisticamente moldados
escapando em seu pescoço. Além das leves sombras de fatiga
embaixo de seus preocupados olhos, Jessie pensou que a
jovem mulher que a encarava no espelho parecia
decididamente civilizada, bem distante do personagem sujo e
cansado pela viagem que ela se tornara nos últimos dias. Não
que sua aparência realmente importasse muito para ela,
entretanto ela queria garantir estar apresentável quando ela
reencontrasse o conde.
E claro, quando ela fosse visitar Robert.
Robert. Seu coração se apertou tanto de apreensão
quanto de alegria a cada vez que pensava nele. A necessidade
de vê-lo, tocá-lo, certificar-se de que ele estava bem era uma
dor constante.
Mas a ansiedade que ela sentia não era nada comparado
ao que Robert devia estar suportando. Além de ter que lidar
com o horror de ser encarcerado, ele, sem dúvida, estaria
atormentado com a preocupação sobre o destino dela
também. Estava certa de que Simon o provocara com
mentiras sobre o que acontecera com ela. Mas se pudesse ver
Robert hoje, ela, pelo menos, poderia descansar sua cabeça
sobre esta questão.
Enquanto Janet terminava retocar seu cabelo, Jessie não
conseguiu segurar o sorriso diante da memória de suas
últimas horas sozinha com Robert. Ela não lamentava nem
um minuto. Ela nunca se sentira tão desejava e – ela
dificilmente ousava pensar a palavra – amada.
Repentinamente percebeu que queria, mais do que qualquer
coisa, que Robert fosse perdoado. Mesmo que Lorde
Strathburn a tivesse unido a Robert por algum tipo de
decência equivocada, ela sabia que em seu coração manteria
os seus votos do handfasting, aconteça o que acontecesse.
Apenas desejava que Robert se sentisse da mesma
forma. De qualquer maneira , em breve ela descobriria se seu
plano para a manhã funcionaria.
— Você está adorável, senhorita. — Ofereceu Janet
timidamente quando terminou de amarrar a fita de veludo
preta no cabelo de Jessie. Se não se importa que eu diga,
acho que o seu pretendente pensará o mesmo. Você vai vê-lo
hoje?
Jessie se viu corando.
— Como você soube sobre o meu compromisso com
Lorde Lochrose?
Cores intensas cobriram o rosto já rosado dela e
começou a mexer nas mechas ao redor do pescoço de Jessie.
A garota estava claramente envergonhada.
— Ah... A Sra. Duncan, nossa cozinheira, conversou com
o valete de Lorde Strathburn, MacGowan. Sinto muito,
senhorita, se a ofendi com a minha tagarelice. Lady
Strathburn não gosta que os criados fofoquem.
— Está tudo certo, Janet. — Jessie rapidamente a
tranquilizou. Ela não queria que a garota se metesse em
problemas com a condessa por sua culpa. — Talvez eu precise
pedir a sua ajuda esta manhã...
O reflexo de Janet no espelho assentiu.
— Nós precisaremos ser discretas. — Jessie a alertou.
— Claro, Srta. Munroe. Não direi uma palavra.
O relógio do corredor no topo da escada marcava oito
horas quando Janet levou Jessie para a cozinha no andar de
baixo.
— Tem certeza que quer apenas uma xícara de chá e
bolo de aveia? — Inquiriu a cozinha gorducha de meia idade,
a Sra. Duncan. Ela pareceu mais do que confusa quando
encontrou a convidada do conde em sua cozinha, mas quando
Jessie explicou o motivo, a boa mulher ficou mais do que feliz
em atender os seus pedidos. Jessie se deliciou ao descobrir
que a cozinheira era a irmã mais nova da Sra. MacMillan, o
que explicava a semelhança nas características faciais e
físicas. Jessie também esperava que a mulher fosse tão boa
cozinheira quanto a Sra. MacMillan.
Pouco tempo depois, com uma pequena cesta cheia de
comida em um braço e sua bolsa presa às anáguas – os
guinéus poderiam ser muito necessários para obter sua
entrada em Tolbooth – Jessie silenciosamente saiu de
Strathburn House com Janet de acompanhante.
A manhã estava fria e cinza enquanto elas faziam o
caminho pela Praça Auldgate e em direção à movimentada
Royal Mile. No fim da colina, Jessie pode ver as elegantes
torres do Palácio Holyrood, a antiga sede do quartel general
do tolo Bonnie Prince Charlie, e além deles, para o sudeste,
erguiam-se os exuberantes penhascos de Salisburry Crags e
Arthur's Seat. Jessie virou e olhou para o alto do Castelo de
Edimburgo bem no topo da Royal Mile e suspirou. Robert
estava lá na Tolbooth. Ele estava tão perto e inesperadamente
pareceu tão distante.
Ela apertou o seu manto preto ao redor de si para afastar
o vento cortante que soprava da colina e ameaçava soltar os
grampos e laços de seu cabelo. Chovera durante a noite. Os
paralelepípedos estavam escorregadios, haviam recebido um
pouco da lama e sujeira que normalmente enchia as calhas
então ela teria que tomar cuidado para não machucar
novamente o seu tornozelo agora que ele parecia melhor. O
progresso delas para subir a Mile não era tão rápido quanto
ela gostaria.
— Senhorita, nós podemos alugar um par de liteiras para
nos levar ao topo da colina. — Sugeriu Janet, claramente
notando a apreensão de sua nova senhora em começar a
caminhada. — Lady Strathburn tem uma liteira muito boa,
mas não acho que ela estaria disposta a nos emprestar. Com
o seu tornozelo machucado e tudo... as liteiras não são muito
caras e levará pouco tempo para encontrar uma para você,
senhorita.
— Uma liteira. Que excelente ideia. — Jessie concordou,
sorrindo para Janet. Ela não sabia como não pensou nisso
antes. As travessas e corredores na maioria das vezes eram
tão estreitas e sinuosas nesta parte da capital que era
impossível achar um coche de aluguel. Mas liteiras iam
praticamente a todos os lugares. Ela nunca pegou uma, mas
se isso evitasse de ter que subir a colina com o seu tornozelo
torcido, ficaria mais do que feliz de alugar uma.
Como Janet previra, não demorou muito para dois
liteireiros trotarem com uma liteira vazia suspensa entre eles
sob pedaços de madeira resistente. Os homens pararam
diante do chamado de Janet, a tarifa para que eles as
levassem ao destino foi acordada e então Jessie subiu pela
porta da frente e entrou no pequeno espaço. Uma vez
sentada, os homens começaram a subir a colina, abrindo
caminho entre a multidão de pedestres, outras liteiras e
carroças que também viajavam para cima e para baixo na
rua.
A alta torre da Catedral de St. Giles soou o sino das nove
horas quando a liteira parou diante dos portões da Prisão de
Tolbooth. Jessie desceu, pagou a tarifa ao liteireiros e virou-se
para encarar o imponente edifício de tijolos cinzas enquanto
esperava a chegada de Janet em outra liteira. Em algum lugar
dali, trancado entre aquelas paredes de pedras frias e
miseráveis estava Robert.
Ela apertou seu manto ao redor de si e mordeu o lábio,
repentinamente assolada por uma onda de desespero e
nervosismo que agitavam o seu estômago. O que ela poderia
dizer aos guardas para fazerem com que eles a admitisse ver
Robert? Ela nem mesmo sabia se havia horário de visita.
Deveria ter esperado por Lorde Strathburn.
— Você está bem, senhorita? — Janet estava ao seu
lado. Jessie nem ao menos notara a sua chegada.
— Eu... Não sei se os guardas permitirão que eu visite
Lorde Lochrose. — Com o coração pesado, Jessie se afastou
dos portões de ferro e olhou para baixo, em direção à rua
Canongate. — Eu agi precipitadamente. Talvez devêssemos
voltar.
Janet se aproximou de Jessie e abaixou a voz.
— Não se preocupe, senhorita. — Ela sorriu
conspiratoriamente. — Eu devia ter mencionado antes. Meu
tio Angus é um dos vigias daqui. Ele nos deixará entrar, não
se preocupe. Apenas me deixe fazer o pedido. Você verá.
Janet era tão boa quanto sua palavra. Ela falou com o
sentinela de plantão e em poucos minutos, Angus McDonald,
o tio de Janet, as conduzia pelos portões em direção ao
interior escuro fétido da prisão.
Jessie levou seu manto ao nariz em uma tentativa de
dissipar o mau odor ao redor dela enquanto seguia o tio de
Janet pelos corredores escuros e subia por uma escada
estreita. Ela se arrepiou, incerta se foi devido ao ar frio e
putrefato ou os gemidos piedosos e chamados desesperados
que vinham de vez em quando por trás das portas trancadas
pelas quais eles passavam em seu caminho. Seu coração doía
diante do pensamento de Robert estar trancado naquelas
condições desumanas e miseráveis. Ela silenciosamente rezou
para que ele logo se libertasse daquele lugar infernal.
Após o que pareceu um tempo interminável, eles
chegaram no quarto andar onde o corredor de pedra era
melhor iluminado e parecia haver menos portas trancadas. O
ar era notavelmente mais limpo também.
Surpreendentemente, havia apenas um guarda em dever
naquele andar. Ele estava parado perto da porta de ferro onde
eles tinham entrado e após uma rápida avaliada na cesta de
comidas de Jessie, ele as levou pelo corredor.
Enquanto Jessie passava por uma janela com barras, ela
pôde ver lá embaixo os paralelepípedos escuros da Praça do
Parlamento onde os condenados eram executados no Mercat
Cross12. Sua prima uma vez lhe dissera que em, nos casos
das decapitações, as cabeças das vítimas eram exibidas em
lanças ao longo da parede norte da praça. Não havia exibições
obscenas hoje. Ela se arrepiou e apressou-se.
— Aqui estamos então, senhorita. — Angus falou quase
jovialmente para Jessie quando eles pararam diante de uma
das portas, mas então franziu o cenho ao observar o seu
rosto. — Você está muito pálida, senhorita. — Ele se virou
para a sua sobrinha. — Você sabia, surpreende-me que não
pensou em trazer um pouco de sais de cheiro com você,
Janet. Você sabe disso muito bem. Sua senhora parece como
se estivesse prestes a desmaiar.
— Estou bem. — Disse Jessie rapidamente, receosa de
que o tio de Janet subitamente interrompesse sua visita se
pensasse que ela não suportaria. — Quanto tempo eu tenho
com Lorde Lochrose?
— Um quarto de hora é tudo o que é permitido, moça. —
Ele respondeu. — Sr. Cameron, a porta, por favor.
O Sr. Cameron. O guarda, destrancou a porta da cela.
— Lochrose, dê o ar de sua graça. Você tem companhia.
— Ele anunciou sem cerimônias para o lugar escuro. —
Espero que esteja decente. São damas.
Jessie olhou para o interior mal iluminado enquanto
atravessava o limiar da porta. Embora a cela fosse maior do
que esperava, a única fonte de luz era a janela alta e com
grades que deixava entrar uma fina e fraca faixa de luz cinza.
No canto esquerdo, encoberto pelas sombras, ela notou um
movimento. Robert.
Ele estava sentado em um beliche estreito, esfregando
suas mãos no rosto como se tivesse acabado de acordar.
— Jessie? — Sua voz estava rouca pelo sono.
Ela quis ir até ele, envolvê-lo em seus braços, mas ficou
parada na porta, insegura de si mesma e dele. Nas sombras e
com a luz fraca ela não conseguia ver o seu rosto.
— Sim, Robert, sou eu. — Ela murmurou, sua voz
instável. Ela tentou dar um passo para dentro da cela no
mesmo instante que Robert se levantou. Ela podia ver seu
rosto agora e seu coração se apertou por ele. Parecia
exaurido, sua mandíbula estava coberta por uma escura
camada de barba e seus cabelos desgrenhados caíam pela
testa e ombros. Apesar de seu desalinho, ou talvez por causa
dele, ele estava obscuramente bonito e ao mesmo tempo
ameaçador.
Ela deu outro passo, mas suas próximas palavras a
detiveram, deixando-a completamente surpresa.
— Cristo, Jessie. Não acredito que está aqui. — Ele tirou
o cabelo do rosto com uma mão trêmula e a varreu com o
olhar. Ele franziu o cenho, claramente chocado. — Não
deveria ter vindo.
Jessie ficou sem ar. Ela abriu a boca para falar, porém o
som ficou preso em sua garganta. Ele não a queria ali. No que
ela pensara? Talvez ele quisesse a ter deixado na pousada em
Invercauld afinal. Ela obviamente se enganara sobre os
sentimentos dele por ela. Lágrimas repentinamente encheram
os seus olhos. Ela sabia que deveria ir, mas não conseguia se
mover, congelada naquele ponto pelos penetrantes olhos azuis
de Robert.
Ela sentiu Janet se aproximar pegando a cesta em seu
braço.
— Lorde Lochrose, a Srta. Munroe pensou que gostaria
de algumas provisões... para fazê-lo se sentir mais
confortável.
Robert afastou o olhar de Jessie para um breve
reconhecimento da presença de Janet. Depois de um
segundo, ele deu dois passos em direção a Jessie e a envolveu
em seus braços. Enterrou seu rosto em seus cabelos.
— Jessie, Jessie, meu amor. — Ele murmurou em seus
ouvidos. — Sou tão idiota. Eu não quis dizer que não queria
vê-la. Eu apenas não posso acreditar que pôs os pés em um
lugar perdido por Deus como este. Depois de tudo o que
passou, este é o último lugar que queria que estivesse.
Poderia ter me enviado uma carta.
Jessie soltou um suspiro irregular, o alívio a invadindo.
Ele a chamara de meu amor. Ele gostava dela. Ele estava
preocupado com ela. Ela pressionou sua bochecha úmida na
camisa dele, inalando o seu cheiro almiscarado,
embebedando-se no calor de seu peito musculoso enquanto
ele a apertava contra ele.
— Eu queria ver se estava tudo bem com você. — Ela
sussurrou. — Eu apenas tinha que saber...
Robert gentilmente a afastou dele, seus olhos
procurando os dela.
— Você tinha que saber se eu estava bem. — Ele falou
balançando a cabeça, um sorriso meio torto que ela tanto
amava repuxando os cantos de sua linda boca carnuda. —
Jessie, se soubesse o quanto me preocupei com você. Na
pousada, quando Simon me prendeu, ele sabia que você
estava lá também. Eu enlouqueci sem saber o que lhe tinha
acontecido. — Os olhos de Robert brilharam com um
repentino fogo azul e seu aperto em seus ombros ficou mais
intenso. — Diga-me, Jessie, ele a machucou? Eu tenho que
saber. Porque, se ele o fez... — A intenção não verbalizada e
mortal estava clara na fisionomia de Robert.
Jessie esticou a mão e acariciou sua bochecha.
— Ele não me machucou, Robert. — Ela rapidamente lhe
explicou o que acontecera na pousada: como MacTaggart a
tinha acordado e alertado sobre a prisão dele e a iminente
visita de Simon e como corajoso Guarda a protegera. — Se
não fosse pelo Capitão MacTaggart... Eu mal posso pensar no
que poderia ter acontecido... Eu achei que ele poderia ter
falado com você que eu estava em segurança, mas ele deve ter
sido impedido.
Robert ergueu uma sobrancelha ironicamente.
— Interferência de Simon, sem dúvidas. Garantirei que
meu pai dê boas referências do bom capitão. Se eu conseguir
ver o meu pai. — Ele acrescentou um tanto irônico.
Jessie sorriu.
— Seu pai está aqui em Edimburgo, Robert. Ele partiu
de Lochrose com a sua madrasta logo após Simon montar a
sua caçada. Ele suspeitou que haveria problemas e quis ser
capaz de defender seu caso pessoalmente com o Lord
Advocate se fosse preciso, como realmente é.
— Como você sabe de tudo isso? — Perguntou Robert
passando uma de suas mechas rebeldes por trás da orelha.
Jessie se arrepiou com o toque dele, mas respondeu a
sua pergunta assim mesmo.
— Depois que você foi levado, eu decidi voltar a Lochrose
para pedir ajuda ao seu pai. Nós nos encontramos na estrada
para Port-na-Craig e eu fiz o resto da viagem na carruagem
dele. Eu fiquei com a sua família na casa da cidade na Praça
Aulgate a noite passada.
Robert estreito os olhos, preocupado.
— E onde Simon ficou? Ele está em Edimburgo tentando
orquestrar a minha morte, sem dúvida.
— Seu pai ordenou que ela saísse assim que chegamos.
— Ela respondeu. — Ele pretendia conseguir acomodações na
Pousada White Horse.
— Hummm, tenho certeza que o meu querido irmão
ficará à espreita em um lugar próximo para testemunhar a
minha desgraça. — Disse Robert com um sorriso cínico.
Virando as costas para o guarda do lado de fora e para Janet,
que havia a esta hora recuado para uma distância discreta
nas sombras da porta, ele a puxou de volta para os seus
braços e enterrou seu rosto em seus cabelos. — Você deveria
ir, meu amor. — Ele murmurou. — Você já ficou tempo o
bastante neste lugar terrível.
— Não há lugar que eu preferia estar neste momento. —
Ela sussurrou, virando seu rosto para cima, desejando que
ele a beijasse. Ela não se importava que Janet e o guarda
estivessem ali perto.
E aparentemente nem Robert. Ela viu o sorriso em seus
olhos no momento em que ele abaixou a cabeça para tomar
sua boca ansiosa na sua.
Quem teria pensado que o céu poderia ser encontrado em
uma cela? Ela suspirou, ansiosamente separando seus lábios
enquanto a língua dele gentilmente explorava sua boca com
movimentos lentos, profundos e tentadores. Ela acariciou o
rosto dele, áspero pela barba, depois enfiou suas mãos entre
seus cabelos pretos, puxando-o mais para perto, esperando
que aquele beijo agridoce cheio de promessas e desejo de
continuidade nunca acabasse e todo o tempo rezando para
que aquele não fosse o último beijo deles.
Cedo demais, Robert gentilmente desenlaçou as mãos
dela de seus cabelos e quebrou o contato de suas bocas.
Como ela, ele estava levemente sem fôlego. E sorria.
Intencionalmente o guarda pigarreou.
— O tempo acabou, sinto muito, Lochrose. — Ele falou.
Jessie sentiu-se corar. Relutantemente, se afastou de
Robert, mas ele não soltava suas mãos.
— Adeus, minha amada. — Ele murmurou e depois
beijou seus dedos.
— Não diga adeus, Robert. — Jessie pôs um dedo sobre
seus lábios. — Eu não suportaria, se fosse um adeus. Você
será perdoado. Tenho certeza. — Com grande esforço, ela saiu
do abraço de Robert e se dirigiu à porta. Quando ela se virou
para olhar para ele pela última vez, ele sorriu. E então o
guarda fechou a porta da cela.
O estrondo retumbante parecia tão final quanto qualquer
sentença de morte.
Janet tocou o seu braço.
— Vamos, senhorita.
Jessie seguiu a garota pelo corredor onde o tio dela as
esperava para escoltá-las. Vislumbrando o Mercat Cross
novamente, Jessie parou, uma imagem indesejada de Robert
se ajoelhando diante do bloco do executor apareceu em sua
mente. A dor enlaçou o seu coração e lágrimas encheram os
seus olhos. Robert não podia morrer. Ela achava que não
seria capaz de suportar isso.
E então ela percebeu com o coração parando que, com
certeza, ela amava aquele homem. Completamente.
Não importa que eles tenham passado apenas alguns
dias juntos. Ela sabia que o amava tão certo quanto as noites
seguiam os dias. Ela decidiu naquele exato momento fazer
qualquer coisa em seu poder para salvar Robert da morte
como traidor, nem que fosse implorar pessoalmente ao Lord
Advocate. E antes de retornar a Strathburn House na
Canongate, ela visitaria a St. Giles e rezaria por Robert com
todo o seu coração e alma. Era o mínimo que ela poderia
fazer.
Catorze

Quando Jessie voltou à casa da cidade na praça


Auldgate, encontrou Lorde Strathburn bastante ocupado,
fazendo arranjos para seu encontro com o Lord Advocate.
— Hoje às duas horas, Jessie minha querida, é quando
nós resolveremos tudo. — Ele anunciou com um sorriso
quando ela entrou na sala de estar.
Para sua surpresa, o conde parecia visivelmente bem,
apesar da longa e exaustiva viagem de Lochrose. Na verdade,
desde o retorno de Robert, parecia que um grande peso fora
tirado dos ombros do homem idoso. Havia agora um brilho
em seus olhos e cores saudáveis em seu rosto.
Embora fosse extremamente intrigante que Lorde
Strathburn não parecesse nem um pouco preocupado com a
prisão de seu filho, esperando o julgamento por traição. Ela
se perguntava se era certeza de que tudo daria certo.
— Então, ouvi que você visitou Robert. — Ele falou,
gesticulando para que ela tomasse assento na poltrona em
frente a ele, perto da lareira. — Você é muito corajosa em ir
lá, minha querida. Como o encontrou? Acredito que o tio da
jovem Janet, Angus McDonald, esteja cuidando
adequadamente dele.
Jessie assentiu, impressionada pelo conhecimento de
Lorde Strathburn.
— Ele parece bem, meu lorde. — Suas sobrancelhas
uniram-se pela preocupação. — Mas acredito que esteja
preocupado pensando que não seja perdoado facilmente.
Assim como eu.
Lorde Strathburn sorriu tranquilizadoramente.
— Lorde Arniston e eu somos muito bons amigos. Ele se
certificará de conseguir o perdão junto ao rei. E enquanto nós
esperamos, estou certo de que ele libertará Robert sob a
minha custódia. Esta mesma tarde ele estará conosco, apenas
espere e veja.
— Oh, sim. Mal posso esperar. — A voz de Lady
Strathburn escorreu sarcasmo ao entrar na sala.
Jessie imediatamente se levantou e fez uma pequena
reverência enquanto a condessa se instalava na poltrona ao
lado do marido. Enquanto Lady Strathburn alisava as saias
de seu vestido de seda verde-jade, Jessie se lembrou de uma
cobra venenosa, pronta para atacar. Claramente ela não teria
que esperar muito por mais um dos comentários venenosos
da condessa.
Fixando seus olhos verdes em Jessie, seus lábios finos se
retorceram no que só poderia ser descrito como um sorriso
cruel.
— Estou ansiosa pelo retorno de Robert tanto quanto o
seu casamento com meu enteado, Srta. Munroe. Um Jacobita
e a filha do administrador. Não será o evento social da
temporada?
Jessie sentiu o calor subir por suas bochechas enquanto
se remexia em sua própria cadeira, incerta se deveria ficar ou
sair depois de observação tão condescendente. A humilhação
guerreava com a raiva dentro dela. Ela era ciente de que seu
casamento estava acima de sua posição, mas não apreciava
que o tema fosse pontuado de maneira tão desdenhosa.
Especialmente não queria ouvir Robert ser tão menosprezado.
Lorde Strathburn olhou para a sua esposa.
— Agora ouça aqui...
— Meu queridíssimo marido. — Lady Strathburn o
interrompeu, parecendo despreocupada com a raiva do conde.
— Quando você permitirá que nosso outro filho volte para
casa, visto que você, sem cerimônias, o colocou nas ruas
ontem à noite?
Lorde Strathburn se levantou e olhou para sua esposa.
Seus olhos estavam estreitos em fendas finas.
— Até onde eu sei só quando o inferno congelar. — Ele
ralhou com a voz trêmula pela raiva contida. — Após todas as
mentiras e traições, sem mencionar seus modos dissolutos.
Simon terá sorte se receber uma mesada de minha parte. E
lhe agradeço por me recordar quem financia seus modos
extravagantes, minha senhora. — O conde sacudiu a bainha
das saias de sua esposa com a bengala.
O rosto de Lady Strathburn ficou visivelmente mais
pálido debaixo do pó e brilho malicioso em seus olhos foi
substituído por medo. A cena era demais para Jessie
testemunhar. Ela engoliu em seco e olhou ao redor, o
constrangimento formigando em sua pele. Embora ela
achasse que a condessa merecesse ser rebaixada, ela se
sentia mal. Uma intrusa.
Ainda aparentemente alheio à presença de Jessie, o
conde prosseguiu.
— Sim, é melhor morder a sua língua de cobra, querida
esposa, ou em breve descobrirá cavalgando vestindo nada
além de saco de serragem. — Terminando suas repreensões,
ele se dirigiu até Jessie e lhe ofereceu seu braço para escoltá-
la para fora da sala.
Quando Jessie olhou de relance para Lady Strathburn, o
olhar sem disfarce de ódio que a mulher lhe lançou atingiu o
seu coração com um mau presságio. Ela temia que quando a
cobra atacasse novamente, seria muito pior do que um
comentário cheio de farpas.

***

Não demorou muito para a retaliação de Lady


Strathburn. Não muito depois de Jessie ter se retirado ao seu
quarto para descansar antes da reunião no Parlamento com o
Lord Advocate, a condessa entrou em seu quarto sem bater,
pegando-a completamente de surpresa.
Jessie se levantou de sua poltrona e fez uma reverência.
— Milady? — Ela inquiriu. A apreensão escorria como
água gelada por sua espinha.
Lady Strathburn a varreu com um olhar desdenhoso que
fazia Jessie parecer ser algo repelente que ela encontrara na
sola de seu sapato de salto.
— Não tenho ideia do que Lorde Strathburn vê em você.
— Ela começou.
Calma, Jessie. Ela mordeu a língua, certa de que
dissesse algo, conteria mais do que alguns palavrões. Lady
Strathburn estava obviamente determinada a menosprezá-la e
a colocar de volta no que ela considerava ser o seu lugar de
direito – a ajudante contratada. Mesmo sabendo que
provocaria a condessa, Jessie não conseguiu evitar a vontade
de erguer o queixo em desafio.
Lady Strathburn não perdeu o insulto. Ela estreitou os
olhos, definitivamente, cheio de veneno.
— Eu posso compreender até certo ponto porque o meu
próprio filho deseja divertir-se com você. — Ela continuou. —
Você obviamente possuí certos atributos — espalhafatosos e
óbvios em minha opinião — que os homens consideram
atraentes. Mas, o pensamento em tê-la como minha nora, a
esposa do Visconde de Lochrose, é risível.
Jessie sentiu o calor subir por suas bochechas, mas
estava determinada a não ser intimidada por esta mulher. Ela
não tinha nada do que se envergonhar.
— Bem, seu marido e meu Lorde Lochrose certamente
discordam de você, milady. — Ela respondeu com firmeza.
Lady Strathburn sorriu.
— Você acha que conseguiu algo bom, não foi? Isso se
meu enteado escapar da execução. Mas o que você realmente
sabe sobre o seu prometido, Jessie Munroe? — Ela deu
alguns passos rápidos e agarrou o braço de Jessie, seus
dedos cruelmente enfiando na pele suave exatamente onde
Jessie fora ferida pela bala. Jessie ofegou e tentou sem
sucesso puxar o braço. Lágrimas de dor caíram.
O rosto de Lady Strathburn era uma máscara feia e
maliciosa.
— Você sabia que o seu amado Robert era um libertino,
assim como o seu irmão Simon? Antes da Rebelião, era
impossível contar o número de moças com quem ele se
deitou. O que a faz pensar que será diferente com você? Pelo
que eu sei, Lorde Substratum forçou Robert em unir-se em
handfasting com você, obviamente uma vã tentativa de conter
as tendências rebeldes de seu filho. Robert pode achá-la uma
moça simpática, mas uma vez que ele a tiver, se já não o fez,
ele logo se cansará de você. Assim como meu Simon teria.
A condessa soltou o seu braço e deslizou para a porta,
suas saias largas de seda verde praticamente sibilando
enquanto varriam o chão. Ela parou no limiar da porta e
lançou a última farpa sobre Jessie.
— Minha esperança é de que nem haja casamento para
começar. Tanto Robert pode ser executado ou cairá em si e
terminará essa farsa de noivado. De qualquer forma, eu não a
terei que suportar muito tempo a sua presença na minha
casa.
Apenas quando a porta se fechou, Jessie cedeu ao
tremor das pernas. Afundando-se na poltrona, ela pressionou
os dedos trêmulos sobre os lábios. A força da animosidade de
Lady Strathburn a aterrorizou até os ossos. Até onde esta
mulher iria para removê-la e talvez até mesmo Robert de sua
vida?
Uma coisa era certa, Jessie realmente não queria
descobrir. Mas ela temia que em breve saberia.
***

Quando o relógio bateu uma e meia, os nervos de Jessie


estavam distendidos como uma corda em um arco. Enquanto
ela esperava ao lado do conde que a carruagem fosse levada
para a frente da casa, ela ficou grata por Lorde Strathburn
estar feliz por ela o acompanhar em sua reunião com o Lord
Advocate. Ação de qualquer tipo era melhor do que ficar
esperando sentada ansiosa, esperando por descobrir qual
destino Robert teria. E agindo, ela poderia mantê-la longe dos
pensamentos de quando o machado de Lady Strathburn
cairia.
Embora ela achasse que não havia nada substancial que
ela pudesse contribuir para influenciar na decisão do Lord
Advocate de agraciar Robert com a clemência, o conde
rapidamente lhe assegurou que a sua presença faria
diferença.
— Por acaso eu sei que Lorde Arniston encontrará
dificuldade em resistir ao pedido de alguém tão justo. — Ele
lhe disse com um sorriso tranquilizador quando já estavam
instalados na carruagem. — E assim que Robert expressar
adequadamente seu pesar e a intenção de se acalmar, o
perdão lhe será concedido, tenho certeza.
A viagem até o Parlamento levou pouco tempo. O prédio
estava localizado perto de onde ela caminhara pela manhã, na
verdade, era bem em frente da Catedral St. Giles e da Prisão
de Tolbooth. A carruagem parou na praça de paralelepípedos
diante de uma estátua com a forma do Rei Charles II montado
a cavalo.
Foi com um certo grau de apreensão que Jessie olhou
para a obscura fachada em estilo baronial escocês do
Parlamento, com tijolos cinzas e torres imponentes. Os oficias
da corte de rostos sombrios, roupas pretas e perucas brancas
entravam e saiam pela entrada principal também não lhe
instigavam uma sensação de confiança. Conscientemente ela
tentou diminuir a respiração e relaxar os dedos que se
agarraram no puxador da porta da carruagem.
Lorde Strathburn notando sua insegurança, inclinou-se
e apertou sua outra mão.
— Coragem, querida criança. Tudo ficará bem.
Ao desembarcar da carruagem, Lorde Strathburn e
Jessie foram imediatamente recebidos por um cavalheiro de
peruca, elegantemente vestido que se apresentou como o
secretário do Lord Advocate e os conduziu até os escritórios
de Lorde Arniston.
Se Jessie estivesse menos nervosa, teria sido capaz de
admirar o teto com arcos de vigas de carvalho e magníficos
vitrais enquanto eles atravessavam o corredor principal do
prédio do Parlamento. De qualquer forma, foi feito algum
esforço – dado a tendência do conde em ficar sem fôlego e o
ainda consideravelmente dolorido tornozelo de Jessie – de
ambos para manter o ritmo do secretário que os levava
através de uma série de corredores e escadas acima até que,
enfim, pararam diante de um conjunto de portas de carvalho
protegidas por um par de guardas escoceses vestidos de
vermelho. A um sinal do secretário, um dos soldados abriu a
porta para permitir que eles entrassem na sala seguinte.
Parecia ser uma sala de espera ou algum tipo de
antecâmara, elegantemente decorada com couro e pesados
móveis de carvalho. Estante que iam do chão ao teto cobriam
duas paredes. Uma pequena lareira flanqueada por duas
janelas altas e estreitas, permitiam uma pequena visão das
torres da St. Giles e do céu cinzento.
O secretário indicou que eles deveriam sentar-se perto da
lareira antes de desaparecer pela porta da outra sala. Com o
coração martelando suas costelas, Jessie sentou-se em uma
das poltronas de couro, esperando não ter que esperar demais
para que Lorde Arniston aparecesse. O suspense era quase
insuportável.
Lorde Strathburn esfregou a testa com um lenço de seda.
— Hummm, uma xícara de chá agora não era ruim, não
é, minha querida?
Jessie assentiu distraidamente, pois duvidava
seriamente que seu estômago estava em estado de receber
qualquer coisa. Embora estivesse um pouco ofegante e com
sede, Lorde Strathburn não mostrava nenhum sinal de estar
desconfortável. Ela tinha um pouco de inveja de seu
autocontrole.
Jessie tinha começado a contar as figuras de urze
escocesa no teto de gesso para se distrair durante o que
parecia uma espera interminável, quando o repentino clique
de uma trava a fez pular. Com a boca seca, suas palmas
úmidas, ela levantou-se quando um cavalheiro corpulento,
usando uma peruca elegantemente penteada e o manto de
trabalho entrou na sala – sem dúvidas era o próprio Lord
Advocate, Robert Dundas, o quarto Lorde Arniston.
Apesar de suas pernas trêmulas, ela fez uma reverência.
Este homem era o representante do Rei George na Escócia. E
ele tinha a vida de Robert em suas mãos.
— William Grant. — Lorde Arniston entoou em um tom
de barítono ressoante enquanto caminhava em direção a eles.
— Faz muito tempo desde que nos vimos. — Ele apertou com
firmeza a mão de Lorde Strathburn antes de direcionar o seu
olhar penetrante para Jessie. — Ah, e se não estiver
enganado, você deve ser a futura nora de Lorde Strathburn, a
Srta. Munroe.
— Sim... Sou eu, milorde. — Assombrada por Lorde
Arniston claramente saber quem ela era, que ela era a noiva
de Robert, Jessie conseguiu se recompor e sorriu quando
Lorde Arniston fez uma saudação com a mão. Mas como
diabos o Lord Advocate sabia aquelas coisas sobre ela quando
eles nunca tinham se encontrado ou mesmo tinham sido
apresentados? Lorde Strathburn não mencionara o nome dela
para o secretário anteriormente.
O conde parecia igualmente confuso pela misteriosa
averiguação de Lorde Arniston.
— Sim, ela é a Srta. Jessie Munroe. Mas se não se
importa que eu pergunte, como sabia... ?
O Advocate virou para olhar ao seu velho amigo, uma
grande diversão iluminando os seus olhos.
— Acredite-me, poucas coisas acontecem por aqui que
escape a minha atenção, Strathburn.
O coração de Jessie pulou com o comentário seguinte do
astuto Lord Advocate.
— Agora, meu amigo, suponho que seja melhor soltar o
seu filho rebelde sob a sua custódia, assim ele pode se
estabelecer e casar-se com esta moça.
Lorde Strathburn pareceu ainda mais estupefato.
— Mas eu estava esperando...
— Defender o caso de Robert por suas transgressões
passadas contra o rei e o país? — Lorde Arniston deu um
tapinha no ombro de seu amigo, continuando a sorrir com
sua maneira jovial. — Quando eu ouvi que Robert Grant, o
Visconde de Lochrose e Senhor de Strathburn o filho mais
velho de um de meus mais velhos amigos, havia sido
instalado em Tolbooth, arranjei uma entrevista com ele. Eu já
li o seu apelo escrito a mão por clemência e, devo dizer, Lorde
Lochrose defendeu-se muito bem sozinho. Fiquei muito
impressionado com sua honestidade quando confessou sua
participação da Rebelião. É óbvio que ele se lamenta
profundamente e, como agora se comprometeu a ser um
súdito fiel a Sua Majestade o Rei, não vejo motivos para
mantê-lo preso por conta de crimes cometidos há dez anos.
Jessie mal podia acreditar no que o Lord Advocate lhes
dizia. Robert ia ser solto. A decisão já havia sido tomada em
favor de sua clemência. Sua vida seria poupada. Uma forte
combinação de alívio e excitação nervosa borbulhou dentro
dela tão rapidamente quanto as correntes mais fortes dos rios
das Highlands. Isso queria dizer que ela e Robert sem dúvida
se casariam. Seu olhar viajou para Lorde Strathburn,
observando a sua reação à surpreendente boa notícia.
Havia lágrimas nos olhos azuis-escuros do conde
enquanto ele apertava a mão de Lorde Arniston.
— Não posso lhe agradecer o bastante por sua tolerância
e compreensão, meu amigo. Você fez um homem velho, que
havia desistido da esperança de rever o filho, muito feliz.
Lorde Arniston expressou o seu prazer e chamou o seu
secretário para trazer os documentos de requerimento de
custódia para que Lorde Strathburn assinasse
imediatamente. Eles sentaram-se nas cadeiras de couro
diante da lareira enquanto o conde examinava os papéis.
— Agora Strathburn. Você verá enquanto lê os
documentos, que o seu filho está sendo libertado sob custódia
e está, na verdade, em liberdade condicional pelo prazo de um
ano e um dia. — Lorde Arniston pontuou, seu tom todo agora
oficial. Apesar de suas prévias maneiras afáveis, Jessie agora
via a autoridade que se adequava ao seu antigo cargo de
Procurador Geral da Escócia e atual posição de Advocate.
— Você deve garantir que Lorde Lochrose permaneça leal
aos assuntos de Sua Majestade o Rei George e cumpridor das
leis o tempo todo. — Ele prosseguiu. — Após o tempo de
comprovação terminar, ele será agraciado com o perdão
completo por Sua Majestade. E eu devo dizer, o fato de Lorde
Lochrose se casar em breve com esta adorável jovem ajuda
muito em sua tentativa de liberdade. — Lorde Arniston lançou
a Jessie um sorriso benevolente. — Não há nada como o amor
de uma boa mulher para fazer um homem se assentar e se
reformar de suas escolhas erradas. Eu confio que achará os
termos satisfatórios, Strathburn.
— Realmente eu os acho. — Lorde Strathburn sorriu
calorosamente para seu amigo enquanto assinava os
documentos.
E tão fácil, a liberdade de Robert foi assegurada.
Jessie mal podia acreditar. Fora tudo tão rápido, tão
simples. Enquanto o enorme alívio e a alegria por Robert estar
livre ainda a inundavam, uma corrente oculta de incerteza a
puxava como mar revolto. Por mais que tentasse, ela não
conseguia suprimir as dúvidas que Lady Strathburn
despertara. E se ela fosse honesta consigo mesma, as mesmas
dúvidas haviam rondado a sua cabeça desde o começo: que
Robert realmente não desejava casar-se com ela e foi forçado
a unir-se em handfasting por seu pai e agora, até mesmo pelo
Lord Advocate.
Se ela soubesse como Robert se sentia em relação a ela.
Existiam quaisquer sentimentos além da atração física e um
grau de proteção? Ele a amava como ela o amava? Como ele
se sentiria ao ganhar a liberdade apenas para cair na
armadilha de um casamento não desejado?
Ela não queria que Robert se sentisse daquele jeito.
Preso em uma armadilha.
Depois de assinar os papéis de liberação e carimbá-los
com seu selo pessoal em cera vermelha, Lorde Arniston
levantou-se de seu assento e esfregou suas mãos em óbvia
expectativa do que estava por vir.
— Agora, por fim, a parte desta tarde que mais esperei.
— Ele declarou e acenou para o seu secretário que
prontamente desapareceu na sala adjunta.
E então a porta se abriu para revelar Robert.
Por um momento ele simplesmente ficou parado no vão
da porta, seus olhos azuis-escuros fixos nos delas e seu rosto
se iluminou com um sorriso de parar o coração, fazendo o ar
de Jessie ficar preso no peito. Ela se levantou hesitantemente
do assento, esperando com todo coração correr e jogar os
braços ao redor dele, mas consciente da presença dos outros
e do local muito formal, ela se segurou.
Em vez disso, ela alisou a saia com as mãos úmidas e
esperou, tentando em vão impedir que as palavras venenosas
de Lady Strathburn e suas próprias inseguranças infectassem
os seus pensamentos novamente.
Mesmo assim, não conseguiu repelir a pergunta que
mais a preocupava: Robert realmente a queria como sua
esposa?
E se ele não a quisesse, por mais que desapontasse
Lorde Strathburn e talvez até mesmo o pai dela, por mais que
a machucasse, ela iria embora. Melhor do que ficar e vê-lo se
cansar dela como Lady Strathburn previra.
Jessie resolveu que assim que tivesse a oportunidade de
ficar a sós com Robert, ela lhe perguntaria como ele realmente
se sentia.

***

Estou livre.
Uma onda de pura felicidade atingiu Robert quando ele
pousou seus olhos em seu pai e em Jessie. Ele tinha sua
família e a vida que tanto desejou por mais de uma década de
volta em seu poder. Engolindo uma onda de lágrimas, ele
cruzou a sala em direção ao seu pai e o abraçou calorosamente
antes de se virar para Jessie.
Minha prometida. Ele a olhou, pegando cada detalhe em
cima dela. Por um momento ele considerou jogar a precaução
aos ventos, seu desejo era pegá-la em seus braços e beijá-la
incrivelmente forte. Mas a convenção venceu e ele não
desejava criar uma cena em frente ao Lord Advocate e lhe
embaraçar, então ele simplesmente pegou sua mão e
depositou um leve beijo em seus dedos. Haveria muito tempo,
na verdade todo o tempo do mundo, para beijá-la e ter prazer
com a sua futura esposa.
Quando ele levantou a cabeça e encontrou o olhar de
Jessie novamente, ele notou uma aparência fugaz – era
indiferença ou apreensão? — em sua fisionomia, antes que
ela sorrisse incerta para ele, Deus, ele esperava que ela não
tivesse reavaliando o compromisso deles.
Agora que ele a amava.
Amor.
Ele amava Jessie Munroe. A percepção o atingiu como
um raio vindo de cima. Sorrindo como um idiota, ele apertou
a mão de Lorde Arniston e trocou as gentilezas exigidas com o
secretário do Advocate e seu pai, tudo enquanto se deleitava
com a alegria que fluía em suas veias, inflando o seu coração.
Jessie podia estar um pouco moderada agora, talvez um
pouco insegura, mas não demoraria muito até eles ficarem
sozinhos. Então ele afugentaria todas as dúvidas — ele tinha
que fazer isso — porque conseguir o amor de Jessie era uma
tarefa que ele definitivamente queria vencer.
Quinze
A pequena viagem de volta à Praça Auldgate foi uma
imensa tortura para Jessie. Instalada no canto mais distante
do assento de couro, de frente a Lorde Strathburn, ela se via
igualmente excitada e consternada com Robert ao seu lado.
Sua grande estrutura muscular parecia preencher o espaço
confinado da maneira mais desconcertante possível. Ela se
viu enrubescendo ao sentir suas coxas musculosas
pressionarem a sua perna quando a carruagem fez uma curva
acentuada na Royal Mile, o contato lhe trouxe à mente outras
partes delgadas e duras do corpo nu de Robert e ela lutou
para o desejo de se contorcer diante da dor entre as suas
próprias pernas. Aparentemente o seu lado lascivo voltara.
Graças a Deus, tanto Robert quanto Lorde Strathburn
estavam profundamente imersos em uma conversa sobre os
planos para um jantar de celebração naquela mesma noite em
Strathburn House e pareciam não ter notado seu estado
confuso. Céus, ela precisava ter um pouco de controle quando
estivesse perto de Robert. Eles não estavam mais isolados em
uma caverna ou na pousada, estavam no meio da sociedade
educada. Ela precisava se comportar com decoro,
especialmente agora que estava insegura sobre o
compromisso deles.
Ela lutava para não pensar nas afirmações da condessa
sobre Robert, a mulher claramente tinha o propósito de nada
menos vê-los separados.
Para dizer a verdade, as ações de Robert quando entrou
na antecâmara do Lord Advocate a confundiu. Ele pareceu
feliz por tê-la visto e, à primeira vista, ela tivera a impressão
de que ele a abraçaria assim como fizera com o seu pai. Mas
no fim, tudo o que ele fez foi beijar a sua mão como qualquer
cavalheiro conhecido faria. Embora ela não pudesse ter
esperado um cumprimento com um beijo no escritório do Lord
Advocate, ela se perguntou o porquê que ele não mostrara
mais afeição do que um gesto frio e superficial.
Talvez ela estivesse correta afinal e ele estava
repensando. Era perfeitamente compreensível e seria melhor
saber agora, ela dizia para si, tentando ignorar a sensação de
peso em seu coração e a súbita vontade de chorar. Ela olhou
para fora pela janela da carruagem, e tentou pensar em
alguma coisa diferente.
Isso provou ser muito difícil enquanto Jessie estava
ciente de cada movimento de Robert e cada olhar dele em sua
direção. Ela arriscou olhar para ele. Se ele não fosse tão
bonito. Esta era parte do problema. Mesmo em uma camisa
amassada, calça suja de lama e uma barba de três dias, ele
parecia obscuramente atraente. Seus olhos permaneceram em
sua mandíbula e ela recordou a sensação da barba debaixo de
seus dedos e contra a sua bochecha quando ele a beijara
naquela manhã, quando ele a chamara de meu amor.
E este era o outro problema, suas memórias de estar em
seus braços, suas carícias eram muito vívidas. Seus olhos
foram para os lábios dele, carnudos e firmes, curvados no que
parecia um sorriso torto que nunca falhava em deixá-la sem
fôlego.
Deus Santo, ela tinha que falar com ele. Ela precisava
saber se realmente era o amor dele ou ele se expressara
carinhosamente em um momento de paixão desenfreada
quando acreditava que seria executado. Era muito difícil estar
perto dele, sentir-se daquela forma e não saber se ele
realmente, de verdade, sentia o mesmo que ela.
— Jessie, chegamos a Strathburn House. — A voz de
Robert interrompeu suas reflexões e devaneios. Ela notou com
alguma surpresa que Lorde Strathburn já estava descendo da
carruagem com a ajuda de um dos lacaios.
— Eu... ah, sim... obrigada. — Ela murmurou,
encontrando dificuldade para olhar nos olhos de Robert. Em
vez disso ela ocupou-se de juntar as saias em preparação
para descer da carruagem, esperando que ele não percebesse
o quão desesperadamente nervosa e constrangida ela estava.
O quanto antes eles conversassem em particular,
melhor.

***

Robert franziu o cenho. Jessie parecia estranhamente


calada e distraída. Novamente ele se perguntou se ela tinha
dúvidas sobre o compromisso deles. Seria demais para ela
confrontar a realidade agora que ele estava em liberdade?
Talvez o seu desejo de casar-se com ela – e levá-la para a
sua cama – fosse maior do que ela sentia por ele. Resolveu ser
mais cuidadoso com ela, cortejá-la como um cavalheiro faria
em vez de continuar persegui-la como um veado no cio.
Firme com a sua nova decisão, Robert gentilmente
fechou sua mão ao redor do cotovelo de Jessie e a ajudou a
descer os degraus da carruagem. Ele percebeu que ela ainda
mancava um pouco, mas resistiu ao impulso de pegá-la em
seus braços e carregá-la para dentro. Entretanto, ao
chegaram ao corredor da entrada, ele parou e pegou uma das
mãos de Jessie entre as suas. Ele não suportava aquele
silêncio constrangedor. Por que ela nem ao menos olhava
para ele?
— Jessie, moça. — Ele a chamou em voz baixa. — Está
tudo bem?
Ela levantou o queixo e encontrou seu olhar com o que
parecia muito esforço. Havia sombras roxas, como
hematomas, embaixo de seus olhos e seu sorriso parecia
frágil.
— Sim, milorde. — Ela respondeu, seu tom era muito
formal para o seu gosto. — Estou muito cansada, isso é tudo.
— Entendo. — Talvez tudo o que havia acontecido nos
últimos dias caíram sobre ela – suas feridas, a longa viagem,
a constante ameaça de perigo. Ela devia estar exausta. No
entanto, Robert ainda se dividia entre o desejo de beijá-la sem
reservas e cuidar dela. — Tenho consciência de que devo estar
parecendo um rufião no momento. — Ele falou em voz baixa
apenas para ela. — Talvez possamos nos encontrar mais
tarde, depois que descansar e eu ter a chance de me arrumar.
Acho que devemos discutir como nós devemos... proceder com
esta situação que nos encontramos. Concorda?
Jessie assentiu e, para o seu alívio, sorriu para ele.
Houve pouca chance de falar mais porque imediatamente
apareceu um enorme grupo de pessoas na entrada para
cumprimentá-lo, seu pai, sua madrasta e os criados de
Strathburn House alinhados.
Todos, exceto Lady Strathburn, estavam radiantes e
indisfarçadamente felizes por ele e Jessie.
— Minha Senhora, faz muito tempo. — Robert
cumprimentou a sua madrasta educadamente, inclinando-se
diante da sua mão estendida. — Parece ótima.
— Charmoso como sempre. — Ela respondeu
maliciosamente, seu olhar saindo dele e caindo sobre Jessie.
Era um olhar estreito e ameaçador. Um olhar intimidador.
A preocupação correu ao longo da espinha de Robert. O
que diabos a sua madrasta estava tramando? Ele tentou
pegar o olhar de Jessie, mas ele o mantinha no chão. Suas
mãos se retorciam à sua frente. Alguma coisa estava se
passando entre elas, tinha certeza disso. E ele suspeitava que
seria causa da súbita reticência de Jessie.
Ele voltou sua atenção à Lady Strathburn.
— Eu acredito que possa ficar instalado nos meus
antigos aposentos, minha senhora?
— Como quiser. — Ela respondeu com frieza. — Posso
enviar Gordon para arrumá-lo. Embora tema que a maior
parte de seus bens e todas as suas roupas foram removidas
há muito tempo. — Ela passou os olhos por suas roupas
desarrumadas, seu desgosto abertamente aparente.
— Não importa. — Robert se virou para o seu pai. A visão
dele em pé tão alto, olhos brilhando com orgulho e alegria, fez
formar um nó na garganta de Robert. — Pai, poderia contar
com a sua generosidade em me emprestar MacGowan e sua
carruagem por um pouco tempo enquanto arrumo o triste
estado de minha aparência? — Ele falou com a voz contrita
pela emoção. Apesar da relutância em deixar Jessie e seu pai,
ele tinha vários assuntos que precisavam ser resolvidos,
incluindo uma visita às Docas Leith, onde A Fênix, estava
ancorada. Enquanto estivesse lá, ele seria capaz de pegar seu
baú com seus pertences assim como convidar Drummond
para jantar hoje à noite.
Seu pai tocou seu ombro.
— É claro, meu filho. Tudo o que precisar será feito. Eu o
verei quando retornar.
Assim que seu pai e sua madrasta saíram do vestíbulo –
em direções opostas – e os criados começaram a dispersas
para cumprir as suas variadas tarefas, Robert se virou para
ver que Jessie começava a subir as escadas, escapando...
dele.
— Jessie. — Ele a chamou, caminhando em sua direção.
O desconforto se agitou em sua barriga. Ele não podia deixá-
la ir, não quando havia uma estranha corrente de tensão
vibrando entre eles. Ele não gostava dessa versão deprimida
de Jessie – algo estava definitivamente errado. A conversa que
ele pretendia ter com ela mais tarde, precisava ser agora
mesmo. E apesar de sua prévia resolução de agir como um
cavalheiro, ele estava determinado a tomar todas as medidas
necessárias para ver faíscas nos olhos dela novamente. A
faísca calorosa que brilhava apenas por ele.
Ela parou no topo da escada e se virou, uma mão
elegante apoiada no corrimão. Ele se aproximou lentamente
como se fosse uma corsa assustada, parou diante dela, perto,
mas sem a tocar. Em vez disso, ele fixou os olhos nos dela.
Ele podia jurar que ela prendia o ar. Ele começou sem
preâmbulos.
— Eu não acreditaria em uma palavra que a bruxa
maldosa da minha madrasta diz, especialmente se for sobre
nós.
Os olhos de Jessie se arregalaram e ela visivelmente
exalou.
— Eu... Como você soube? — ela falou entre os dentes.
A boca de Robert se curvou levemente.
— Minha madrasta é conhecida por seus modos egoístas,
mo ghaoil. Suspeito que ela vá se esforçar muito para manter
a sua influência e Simon na família. E isto pode incluir tentar
sabotar a nossa união. Ela nos vê como uma ameaça. Eu
voltei e substituí Simon como herdeiro e você, em breve será
Lady Lochrose e no devido tempo, a próxima Condessa de
Strathburn. Imagino que ela tenha sugerido que meu desejo
por você é passageiro.
Jessie assentiu, corando um pouco. Enfim uma reação
nela. Ele estava certo.
— Sim. — A incerteza nublou seus olhos normalmente
castanho claros enquanto ela continuava. — Mas verdade seja
dita, eu não poderia culpá-lo se fosse o caso, Robert. Não é
como se tivesse tido muita escolha no que se refere ao
handfasting. Foi, como recordo, um fato consumado. Agora
que ganhou a sua liberdade e eu... Estou longe de qualquer
perigo, entenderia se precisasse de tempo para reconsiderar...
Não tinha chances de isso acontecer, não quando o
coração de Robert batia apenas pela mulher diante dele. Ele
lentamente esticou a mão e pegou a mão que estava no
corrimão e a trouxe para o seu peito. Com as costas da outra
mão, acariciou o seu rosto.
— Eu sei exatamente o que sinto sobre esta situação,
Jessie. Mas o que eu realmente gostaria de saber é: como você
se sente?
Jessie prendeu a respiração e olhou para os lábios de
Robert.
— Eu acho... não, eu sei... — Sua voz saiu baixa com a
deliciosa falta de fôlego. — Eu quero ... eu quero beijá-lo.
Graças a Deus. Finalmente Robert poderia ter Jessie
exatamente do jeito que ele queria desde que foi solto.
Pegando o seu delicado rosto entre as suas mãos, ele
depositou os seus lábios sobre os dele e bebeu profundamente
o mel quente dela. A resposta de Jessie foi tudo o que sonhou:
ela tomou tudo o que ele lhe dava, cada carícia de seus lábios,
cada movimento de sua língua. E ela o provocava e o
despertava em retorno. Ela o queria, não havia dúvidas em
sua mente de que ela estava esperando este momento tanto
quanto ele. Sim, Jessie, você é minha. Ele sentia isso em cada
fibra se seu ser, na parte mais profunda de sua alma. Sim.
O desejo queimava, obscuro e intenso, e sem pensar ele
a pressionou contra o corrimão e segurou um de seus seios.
Ela choramingou e passou seus braços ao redor do pescoço
dele, pressionando-se contra a sua palma, mesmo através das
camadas de suas roupas, ele podia sentir a pressão
imprudente de seu mamilo. Quando, instintivamente, ela
empurrou os seus quadris contra ele, seu pênis já meio
excitado endureceu mais um pouco. Deus, ele queria mais.
Muito mais. Mas agora não era a hora.
Mas mais tarde naquela noite...
Com o coração acelerado, Robert interrompeu o beijo. Ele
sorriu satisfeito com a visão de Jessie, flexível em seus
braços, lábios vermelhos, bochechas coradas. Seus olhos,
sonolentos pelo desejo, eram como o âmbar do mel líquido.
Ele fora bem sucedido em afastar as sombras de reserva que
os separava. Com aquele beijo, eles chegavam a um
entendimento: eles desejavam um ao outro, estavam unidos
um ao outro. Hand-fasted.
— Eu devo ir, meu amor. — Ele murmurou, roçando seu
polegar levemente sobre seu lábio inchado. — Tenho que
cuidar de algumas coisas a bordo do meu navio, mas devo
voltar à noite. E mais tarde, após o jantar, talvez possamos
continuar nossa conversa, em privado, para esclarecer ainda
mais as nossas posições.
Os olhos de Jessie brilharam carinhosamente.
— Esperarei ansiosa, mo chridhe.
O sorriso ainda estava nos lábios de Robert quando ele
deixou Strathburn House na carruagem de seu pai um pouco
depois. Ele pensou que poderia ficar sorrindo o resto da tarde.

***

A Pousada White Horse, era a maior estalagem de


Edimburgo, ficava a uma pequena distância da Praça
Auldgate. Robert não pretendia ficar muito tempo. Ele via o
pequeno desvio de seu destino, as Docas Leith, como um mal
desagradável, mas necessário, semelhante a remover pragas
do porão de seu navio.
Ele deixou MacGowan com a carruagem no pátio e em
alguns minutos – cortesia de um proprietário avarento com
lealdades dúbias para seus clientes – ele tinha a chave do
quarto de Simon. O proprietário também lhe ajudara
informando que o Sr. Grant valete, Baird, havia acabado de
sair em uma liteira para a Grassmarket, para realizar
algumas tarefas para o seu senhor.
Robert parou brevemente na porta de Simon para ouvir
antes de entrar. Tudo estava silencioso lá dentro. Conhecendo
os hábitos de Simon e suspeitando que dez anos
provavelmente só aumentariam os modos pervertidos de seu
irmão, ele provavelmente estava na cama, dormindo sob os
efeitos de muito vinho e conhaque.
Embora Robert soubesse que Simon também gostava da
companhia de prostitutas no passado – e provavelmente
ainda o faria – ele duvidava que seu irmão compartilhasse a
companhia de uma local a essa hora do dia. Apesar de o
proprietário pudesse ter sido facilmente subornado para lhe
dar uma chave, era improvável que ele deixasse Simon
flagrantemente reduzir a reputação da estalagem durante a
luz do dia. A Pousada White Horse tinha que manter a
aparência e ter, pelo menos, algum padrão.
Quando a porta foi aberta, foi para revelar, como Robert
suspeitara, que Simon estava desmaiado sob a cama
desarrumada. O quarto cheirava a suor velho, cerveja
derramada e ao conteúdo de um penico usado. Simon nem se
mexeu quando Robert fechou e depois trancou a porta e
guardou a chave no bolso. As cortinas estavam fechadas e
não havia nada além de cinzas na lareira. Na luz fraca, Robert
avistou uma cadeira de madeira do outro lado do quarto,
perto da janela. Ele se moveu ao redor da cama e abriu as
cortinas antes de girar a cadeira em um movimento fluído
apoiando seus braços no encosto. Ele sabia que parecia o pior
tipo de rufião com uma barba de três dias e roupas
amassadas. Mas se sua aparência rústica intimidasse Simon,
seria melhor.
Simon grunhiu e rolou para ficar com a barriga para
cima, levando o braço para cima dos olhos para bloquear a
luz.
— Eu lhe disse, sua porca estúpida, que não queria que
limpasse o meu quarto. — Ele resmungou.
— Temo que não seja a criada de quarto, querido irmão.
— Falou Robert.
Simon se sentou. Suas pálpebras inchadas abriram-se
para revelar olhos injetados de sangue que se fixaram
incrédulos em Robert. Ele abriu a boca para falar, mas nada
saiu. Em vez disso, ele simplesmente olhava horrorizado, seu
peito magro desnudo subindo e descendo rapidamente, a pele
ficou acinzentada.
Robert estreitou seus olhos e encarou Simon com
deliberada frieza e inflexibilidade.
— Sim, Simon, o seu pior pesadelo foi solto. — Ele disse
em voz baixa. — Escapei do machado do carrasco. E você,
atacado pela estupidez neste momento, serve ao meu
propósito. Agora, tudo o que quero que faça é que escute, pois
só falarei uma vez.
Ele se inclinou para frente sobre o encosto da cadeira,
intencionalmente flexionando os bíceps que pressionaram o
tecido de sua camisa. Simon encolheu-se nos lençóis de cama
manchados. Parecia que ia vomitar.
Robert prosseguiu em um tom de voz suave que estava
em total desacordo com a sua postura. Se isso confundisse
Simon, melhor.
— Dentro de uma semana, você residirá em alojamentos
que eu arranjarei para você aqui em Edimburgo, com um
subsídio anual que será suficiente para se manter em um
nível adequado de conforto até alcançar seu diploma
universitário. Eu realmente não me importo qual seja. No
entanto, espero que encontre um trabalho de algum tipo.
Você continuará sendo o destinatário de minha oferta, mais
do que generosa, desde que cumpra minhas condições: você
nunca mais colocará os pés em Strathburn House e nem em
Lochrose novamente.
— Oh, eu digo que... — Murmurou Simon, finalmente
encontrando sua voz. — Você não pode fazer isso. O que
nosso pai tem a dizer? E minha mãe não concordará.
A boca de Robert se contorceu e ele ergueu uma
sobrancelha.
— Até onde eu sei, nosso pai já o baniu de Strathburn
House e eu não dou a mínima importância se a sua mãe
concorda ou não.
O rosto de Simon ganhou um alarmante tom de
vermelho.
— Isso é ridículo. Não é como se nosso pai já tivesse
morrido, tornando o rei do castelo. Você não tem nenhum
direito.
— Na realidade, eu tenho todo o direito, Simon, desde
que serei eu quem providenciará seus fundos e não papai. E
eu tenho a leve impressão de que ele não planeja ser tão
magnânimo no que lhe concerne, considerando que você me
prendeu... duas vezes. Você precisa ser responsabilizado por
suas ações, especialmente aquelas que machucam os outros.
Você viveu uma existência hedonista e egoísta por tempo
demais. Definitivamente chegou a hora de aprender a viver
com os seus próprios meios e parar de drenar a propriedade
da família.
Robert se levantou abruptamente e empurrou a cadeira,
pairando sobre Simon. Ele deu a sua voz uma entonação de
aço para fazer o seu pronunciamento final.
— E a minha condição final concerne à Srta. Munroe,
minha futura esposa.
Simon zombou.
— O quê? Aquela Jezebel se tornará Lady Lochrose?
Agora há uma contradição...
Basta. Robert esmagou o punho no rosto sarcástico de
seu irmão. Simon bateu nos travesseiros, grunhindo. Robert
sacudiu a mão, flexionando os dedos rapidamente antes de
continuar a falar, como se nada tivesse acontecido.
— Você nunca mais chegará perto da Srta. Munroe
novamente. Ela nunca mais terá que olhar para você
novamente. Se eu descobrir que violou esta condição, eu lhe
garanto, enfrentará algo muito pior do que um soco. Fui claro,
irmão?
Simon assentiu seu consentimento, apalpando seu rosto
onde um hematoma roxo escuro começara a florescer.
— Bom. Eu sabia que entenderia o meu ponto. — Robert
moveu-se até a porta e a destrancou. — Eu mandarei o valete
de papai, MacGowan, avisá-lo sobre os detalhes de suas
novas acomodações quando esta estiver finalizada. Se eu
nunca mais o vê-lo, ainda será pouco.

***

Não muito depois da partida de Robert soou uma batida


na porta de Simon. Ele grunhiu e sentou-se. Ele duvidava que
fosse Robert, uma vez que seu irmão de alguma forma
conseguira roubar uma chave. Provavelmente era a criada
novamente.
A batida soou novamente, mas insistente desta vez.
— Simon, sou eu. Abra a porta imediatamente.
Mãe. Simon blasfemou entre os dentes. O que diabos ela
queria dele além de informar da liberdade de Robert e a
consequente mudança de posição? Como se isso fosse mudar
alguma coisa. Simon se arrastou da cama e se aproximou da
porta.
— Mãe, não estou decente. — Ele falou através da porta.
— Bem, não é novidade. — Ela sibilou em resposta. —
Eu o encontrarei em uma das salas privadas no térreo, a
verde. Não demore. É urgente.
Dez minutos depois, Simon se juntava à sua mãe na sala
que ela alugara. Um bule de chá e uma variedade de biscoitos
e bolos estava sobre a pequena mesa diante da lareira. Simon
pensou que vomitaria e balançou a cabeça quando a sua mãe
lhe ofereceu uma xícara enquanto ele se sentava.
Lady Strathburn lançou-lhe um olhar crítico.
— Simon, você está indecoroso. Realmente deveria conter
as suas bebedeiras de algum modo. — Ela franziu o cenho ao
ver seu novo hematoma. Ele tentara, mas não teve sucesso
em esconder os hematomas mais antigos de sua mandíbula
ao usar uma peruca mais longa que a usual e amarrar uma
elaborada gravata. — E como diabos conseguiu este
hematoma horroroso? — Ela continuou. — Espero que não
tenha sido brigando em uma taverna barata. Você está
parecendo um criminoso comum.
Simon sacudiu a cabeça.
— O maldito Robert me fez uma visita a não menos do
que vinte minutos atrás.
Lady Strathburn inalou profundamente.
— O patife.
— Suspeito que seja por isso que tenha vindo, alertar-me
que meu irmão escapou da cova dos leões e que meu pai
concorda com suas condições ridículas em me banir.
A boca de Lady Strathburn se moveu em um malicioso
sorriso.
— Sim, em parte. Mas também tenho um plano em
mente, meu querido Simon, para nos livrarmos de seu irmão
e de sua noiva. Mas para termos sucesso neste
empreendimento, você precisará se manter sóbrio por, pelo
menos, o resto do dia e o próximo. E encontrar alguma
coragem para quando a ocasião surgir. Você acha que poderá
fazer isso por mim e por você mesmo?
Simon devolveu o sorriso.
— Sim, mamãe, acho que posso.
Dezesseis

Jessie teve dificuldade para achar qualquer coisa para se


distrair durante a tarde. Embora estivesse exausta, sua
mente estava inquieta demais e ela era incapaz de se
concentrar. Vários livros foram selecionados na pequena
biblioteca do térreo de Lorde Strathburn e depois descartados.
Ela tentou reparar a costura na bainha de seu manto de lã
preto, mas logo cansou-se da tarefa.
Por fim, ela sentou-se na poltrona de damasco cinza em
frente à pequena lareira em seu quarto e simplesmente ficou
olhando ao fogo, seus pensamentos persistiam em Robert
assim como a intensa expectativa pelo que estava por vir à
noite e no futuro quando eles fossem marido e mulher.
Ela fechou os olhos e se recostou na cadeira, imaginando
o que poderia acontecer.
— Srta. Munroe, está na hora de se preparar para jantar.
Céus, ela tinha adormecido. Jessie se mexeu e se
espreguiçou antes de tentar focar seus olhos turvos em Janet.
— Que horas são? — Ela perguntou bocejando.
— Cinco horas, senhorita. — Respondeu Janet. Ela
estava acendendo as velas sobre a lareira. — E o jantar é às
sete.
— Oh. — Jessie franziu o cenho e seu estômago
repentinamente se agitou nervoso. Ela dormira por mais de
uma hora e tinha muito o que fazer para ficar pronta para o
jantar de celebração de Robert. O que a levou para a próxima
preocupação. O que diabos ela vestiria?
Um vestido de viagem manchado ou um vestido de lã
simples não serviriam afinal. Ela era a noiva de um visconde.
E ela não queria desapontar Robert.
Levantando-se rigidamente de seu assento, seu olhar
caiu sobre a cama. E ela engasgou. Ali, em cima do cobertor
de brocado cinza, estava o vestido mais bonito que ela já vira,
o corpete era de seda âmbar dourado e suas saias cheias
estavam enfeitadas por um elegante stomacher de seda creme
com delicados laços e pequenas rosas feitas de fita, e uma
profusão de seda creme que caíam pelas mangas apertadas.
— Quem... como... de onde estas coisas vieram? —
Jessie gaguejava enquanto se dirigia à cama e então
gentilmente tocava a roupa requintada com os dedos
trêmulos.
— Não tenho certeza, senhorita, mas talvez tenha sido
pela mesma pessoa quem mandou aqueles sapatos e... roupas
de baixo. — Janet apontou para um par de sapatos de seda
cremes bordados com pequenas pérolas que estavam sob um
banco e um par de meias marfins e uma delicada chemise
pendurada na poltrona ao lado da cama.
Jessie sorriu, lágrimas de gratidão encheram seus olhos
enquanto ela juntava as mãos embaixo do queixo. Ela não
tinha ideia de como Robert fizera aquilo, mas ela sabia que ele
devia ter feito aquele arranjo para ela. Ele era muito generoso.
Ela nunca seria capaz de agradecê-lo o bastante.
Em uma hora, Jessie tomara seu banho e com a ajuda
de Janet, trocara as suas roupas de baixo. Elas serviram
perfeitamente, o tamanho dos sapatos, o comprimento do
vestido e o caimento do corpete justo e apertado na cintura. O
único aspecto do qual Jessie estava insegura era a
profundidade do decote. Observando-se no espelho da
penteadeira enquanto Janet arrumava o seu cabelo, ela podia
ver um bom pedaço dos topos de seus seios que se erguiam
sobre o baixo decote. Ela nunca vestira nada tão revelador em
sua vida. Ela coraria a noite inteira.
Janet, por ouro lado, não parecia notar nada errado na
aparência de sua senhora. Ela domou os cabelos em um
elaborado e artístico coque no topo de sua cabeça, com
algumas mechas cascateando sobre os ombros. O feito era
realmente atraente e até mesmo elegante. Jessie sorriu diante
de seu reflexo, talvez ela parecesse a noiva de um visconde,
mesmo que por dentro estivesse tão agitada quanto uma lebre
da montanha.
Quando finalmente ela ficou pronta, Jessie se dirigiu até
o espelho e virou o corpo lentamente, admirando o efeito da
fina seda e de como a luz evidenciava os tons dourados. Ela
tinha que admitir que a cor do vestido era a combinação
perfeita para seus cabelos vermelhos dourados.
— Senhorita, você está muito bonita. — Suspirou Janet
a observando.
— Realmente ela está. — Concordou uma voz profunda,
decididamente masculina. Jessie girou para encarar Robert.
Oh, meu Deus. A visão dele apoiado no batente tirou o
seu ar. Ele estava barbeado, revelando os planos fortes e
bronzeados de seu rosto e instantaneamente desejou sentir
aquela suavidade debaixo de suas palmas. Seus cabelos
castanho escuros estavam amarrados para trás com
normalmente, porém com uma fita de veludo preta em vez da
tira de couro. Ele ficou feliz por ele resistir à moda de usar
talco, ou ainda pior, peruca.
O seu olhar vagou sobre seu traje requintadamente
costurado, um casaco de veludo preto que parecia moldado a
seus ombros, usado por cima de uma camisa de seda marfim
e do colete de brocado prateado. Um broche safira, do mesmo
tom profundo de seus olhos, piscava para ela no meio das
rendas brancas como a neve em seu pescoço. E como eram
pecadoras aquelas calças justas de cetim preta na altura do
joelho e meias de seda marfim? Elas se apegavam quase
indecentemente ao longo dos músculos bem definidos de suas
coxas e panturrilhas.
Não existiam mais traços do salteador Jacobita. Lorde
Lochrose, o devastadoramente e bonito libertino realmente
retornara.
E ele é totalmente meu. Jessie engoliu em seco, perplexa
pela percepção, mas registrando o fato de Robert deslizar o
olhar sobre ela em flagrante apreciação, um sorriso puxando
um dos cantos de sua boca. Ele se afastou da porta e entrou
no quarto, dirigindo-se à jovem criada.
— Obrigado por ajudar tão habilmente a Srta. Munroe.
Isso é tudo.
Janet fez uma reverência.
— Obrigada, milorde. — Ela murmurou, corando
lindamente antes de sair da sala.
Jessie de algum jeito encontrou voz.
— Foi você, não foi, Robert? — Ela gesticulou para a sua
figura. — Que arranjou tudo isso para mim? Eu não sei como
agradecê-lo. Em minha vida eu nunca vi nada tão... divino.
Robert se moveu em sua direção e acariciou novamente
sua figura com o olhar.
— As roupas parecem bonitas porque você é a criatura
divina que as veste, mo chridhe. — Ele disse roucamente.
Gentilmente, ele pôs as mãos em seus ombros e a virou,
assim ela poderia se olhar no espelho, seus ombros
pressionando contra o seu peito, seu traseiro descansando
contra seu quadril.
Através do reflexo do espelho, Jessie observou Robert
abaixar a sua cabeça e depositar um leve beijo em sua pele
sensível onde o pescoço encontrava o ombro. Então ele
deslizou o seu longo e bronzeado dedo ao longo de sua
clavícula, arrepiando-a.
— Você sabe, tão bonita como está. — Ele murmurou,
seu fôlego acariciando sua pele. — Há ainda alguma coisa
faltando neste conjunto. — Ele levantou o rosto e a encarou
através do espelho, sua boca abrindo um sorriso.
Ela balançou a cabeça espantada.
— Eu não preciso de nada mais, Robert. De verdade. —
Ela sussurrou. O que mais ele poderia lhe dar?
— Ah, tenho que discordar, mo ghaoil. — Robert,
continuando a sorrir, colocou a mão dentro de seu casaco de
noite e tirou de lá, uma caixa longa e estreita, presa com um
fecho de prata. Ele esticou a mão e colocou a caixa nas suas
mãos. — Para você, Jessie, meu amor.
Com dedos trêmulos, Jessie abriu o fecho e levantou a
tampa. Dentro, sobre a cama de seda azul-escuro, descansava
um colar de pérolas brilhantes e cremosas e, combinando, um
par de brincos também de pérolas. Ela ofegou, impressionada.
Ele olhou para o reflexo de Robert e o percebeu sorrindo
largamente para ela.
— Robert... Eu... Isto é demais. — Ela falou.
Ele respondeu depositando outro beijo leve como pena
atrás de sua orelha.
— Não é nem perto do bastante. — Ele disse, pegando o
colar e o colocando ao redor de seu pescoço e em seguida,
prendendo os brincos nos lóbulos de suas orelhas. As pérolas
brilhavam contra a sua pele. Ela nunca se sentiu tão bonita.
Ou adorada. A forma como os olhos azuis profundos de
Robert se iluminavam, ela quase podia acreditar que era
amada. Seu coração deu um pulo. Seria verdade?
— Agora, milady. — Ele pegou a sua mão e depositou um
beijo leve nos dedos, fazendo-a se arrepiar novamente. —
Deixe-me escoltá-la ao jantar. Acredito que alguns dos
convidados já chegaram.
Jessie colocou sua mão sobre a manga da roupa dele e
juntos eles desceram para a sala de estar.
Todas as cabeças se viraram quando Gordon, o
mordomo, anunciou a chegada deles.
— O Visconde Lochrose, Senhor de Strathburn e a Srta.
Jessie Munroe.
Jessie pôde ver o Lorde e a Lady Strathburn perto da
lareira, o conde sorrindo orgulhosamente e a condessa, sem
surpresa, olhando feio para ela e Robert. Para sua surpresa,
eles estavam conversando com Lorde Arniston e uma atraente
mulher de cabelos escuros que aparentemente tinha a mesma
idade da condessa. Lorde Strathburn a apresentou como Jean
Dundas, Lady Arniston.
Jessie também ficou intrigada ao descobrir que o Lord
Advocate havia se casado com Jean, sua segunda esposa, há
poucos meses. Ela se perguntou se o recente casamento de
Lorde Arniston contribuíra para a sua óbvia atitude
magnânima em relação a Robert. Talvez o romantismo do
handfasting tenha influenciado em sua decisão de conceder o
perdão, sugerindo que Robert superara os tempos selvagens.
Jessie tinha a impressão que Lorde Strathburn sabia todo o
tempo que o noivado favoreceria Robert.
Robert conduziu Jessie ao redor da sala, apresentando-a
aos demais convidados reunidos: o ministro da próxima
Canongate Kirk e sua adorável esposa, assim como os amigos
de longa data de Lorde Strathburn, o Barão Brose, sua esposa
e sua filha solteira, Agnes. O último convidado que Robert
apresentou a Jessie era um personagem verdadeiramente
interessante: Kenneth Drummond, o capitão do navio
mercante de Robert, A Fênix.
Jessie gostou imediatamente do marinheiro áspero com
peito de barril. Havia uma óbvia camaradagem entre ele e
Robert. Jessie gostava do jeito como os olhos do Capitão
Drummond vincava quando sorria e piscava para ela, o que
foi frequente. Ela suspeitava que ele tinha um monte de
histórias divertidas sobre as viagens ao redor do mundo e das
façanhas de Robert. Ela certamente estava ansiosa para ouvi-
las.
Após a rodada de apresentações, Gordon e Janet
serviram champanhe francês, cortesia do Capitão Drummond
– e vinho Madeira para todos. Com a taça em mãos, Lorde
Strathburn levou seus convidados a um brinde de aquecer o
coração sobre o retorno de Robert.
— E agora, damas e cavalheiros. — Ele continuou,
olhando ao redor, atraindo todos os olhares. — Eu tenho um
dever, mas do que agradável, antes do jantar ser servido. —
Ele gesticulou em direção a Jessie e Robert, sorrindo
abertamente. — É com grande alegria que eu anuncio
oficialmente o noivado de meu querido filho, Robert com esta
adorável jovem dama a quem vocês tiveram o prazer de
conhecer, Srta. Munroe. Por favor, ergam as suas taças e
vamos fazer um brinde para o casal.
Os aplausos espontâneos e os votos oferecidos por todos,
com exceção de Lady Strathburn, aumentaram o ânimo de
Jessie e ela não conseguiu evitar sorrir para o grupo reunido.
Quando todos se voltaram para suas próprias conversas, ela
deu um gole em seu champanhe e sob a borda da taça,
percebeu Robert a observando. Ele se aproximou e
aproveitando do volume que sua saia fornecia, ele pegou a
sua mão. Sua voz soou baixa em seus ouvidos.
— Aquece o meu coração vê-la sorrindo tanto. Deveria
ser sempre assim, meu amor.
Ela gentilmente apertou os dedos dele, seu próprio
coração, na verdade, seu corpo inteiro sentia-se aquecido.
Mas debaixo do prazer de saber que Robert gostava dela, ela
também se sentia triste. Tudo seria perfeito se não fosse por
uma coisa.
Os convidados começaram a dispersar para a sala de
jantar, mas Robert a manteve ao seu lado. Ele levou sua mão
aos lábios.
— O que foi?
— Eu não consigo esconder nada de você, não é? — Ela
disse com um sorriso irônico. Ela respirou fundo e depois
soltou um pequeno suspiro. — Estou um pouco triste por
meu pai não estar aqui esta noite para dividir estes
momentos.
Robert acariciou sua bochecha com um dedo.
— Eu entendo completamente. Meu pai e eu enviaremos
uma nota para ele em Lochrose amanhã. E, em alguns dias,
após eu resolver meus negócios aqui, nós retornaremos para
vê-lo. Ficará tudo bem assim?
Jessie assentiu e sorriu em agradecimento.
— Sim.
— Excelente. — Robert levou a mão dela a seu braço e a
escoltou para a sala de jantar.
As próximas horas passaram agradavelmente sobre o
jantar que, para Jessie, era adequado para o próprio rei. Mas
no fim dos quatro pratos da refeição, Jessie sentiu-se
bastante satisfeita e relaxada, aquecida pela conversa e pelo
vinho que ela bebera durante a refeição. Todo o desgaste e a
preocupação dos últimos dias haviam se afastado dela como
uma névoa se dissipando. Ela pegou o olhar de Robert sobre
ela, ainda admirada pelo fato de estar comprometida com
alguém como ele. Sentindo o seu olhar, ele se virou e, através
da seda fria de suas saias, ela sentiu sua larga mão sobre seu
joelho.
— Recorde-se que concordamos em terminar a nossa
conversa sobre a nossa situação, doce Jessie. — Ele
murmurou, seu fôlego acariciando sua orelha. — Você
esperará por mim em seu quarto após a partida dos
convidados?
Um delicioso arrepio de desejo desceu pela espinha de
Jessie.
— Eu espero por isso, milorde. — Ela sussurrou de volta,
todos os traços de alegria foram substituídos pela sensação
de expectativa. Ela não conseguiria esperar.
Ela bebeu mais um pouco de seu vinho e olhou para a
ponta da mesa onde Lorde e Lady Strathburn estavam
sentados e sua respiração oscilou. A condessa a observava
com lábios retorcidos em um estranho sorriso enquanto ela
erguia uma sobrancelha e sua taça em direção a Jessie como
se zombasse de algo.
Os cabelos da nuca de Jessie se arrepiaram e ela afastou
o olhar, tanto Robert quanto Lorde Strathburn pareciam
gostar dela, mas como ela viveria ali ou em Lochrose com
aquela mulher vingativa fungando em seu pescoço, desejando
o seu mal? Lorde Strathburn banira Simon da casa e, com
certeza, Robert deveria tomar mais medidas para assegurar
que seu irmão nunca mais cruzasse o caminho dela
novamente. Mas, ao menos que Robert arrumasse uma
alternativa para eles quando se casassem, provavelmente ela
viveria sob o mesmo teto da condessa.
E como ela suportaria aquilo?
Como se estivesse sintonizado com o desconforto dela,
Robert pegou a sua mão e entrelaçou os dedos com os dela
por baixo da cobertura da mesa. Jessie apertou a mão dele e
ele lhe sorriu. O brilho amoroso nos olhos dele fez seu
coração pular e ela esmagou o presságio dentro dela.
Tudo ficará bem com Robert ao meu lado. Aconteça o que
acontecesse, Jessie tinha certeza de que eles teriam uma vida
feliz juntos. Ela não via de outro modo.
Dezessete
Robert sentiu-se particularmente satisfeito com o fato de
os cavalheiros presentes na festa não quiseram ficar para
compartilhar uísque e o porto após o jantar e não demorou
muito para que todos se retirassem para a sala de estar.
Jessie e sua madrasta começavam a servir o chá às outras
damas.
Parado ao lado da lareira com Drummond, Robert
observava Jessie do outro lado da sala habilmente encher a
fina xícara de porcelana chinesa com chá para Lady Arniston.
Ele sentiu um sorriso apaixonado puxar seus lábios. Sua
noiva havia desempenhado o papel de anfitriã secundária com
perfeição hoje a noite. Para alguém que não tivera a
oportunidade de ser apresentada formalmente à sociedade,
ele estava bastante impressionado. As maneiras de Jessie
eram impecáveis e mostrava uma maneira natural e
inteligente de conversar facilmente sobre uma grande
variedade de tópicos com todos os convidados reunidos. Sem
dúvida, sua dama das terras altas era a esposa perfeita.
Drummond sorriu compreensivo.
— Então parece que você foi atraído e bem fisgado por
uma verdadeira ninfa. Eu sempre achei que você cairia duro
por uma bonita moça um dia. Só não achei que seria logo
após chegar a sua casa.
Robert sorriu. Era inútil tentar esconder seus
sentimentos.
— Nem eu, meu amigo. E eu fui bem e verdadeiramente
enredado por Jessie. Embora eu me envergonhe em admitir
que as circunstâncias que fomos apresentados foram
bastante inoportunas, para dizer o mínimo. Receio que nosso
primeiro encontro foi quase um desastre, totalmente minha
culpa, e fico surpreso de ela aparentar corresponder meus
sentimentos, considerando a situação.
Drummond ergueu uma sobrancelha
questionadoramente.
— Você se apresentou seminu? Pisou nos pés dela?
Derramou uísque sobre o seu vestido?
Quando Robert balançou a cabeça para cada uma
daquelas sugestões, Drummond o cutucou jovialmente as
suas costelas.
— Vamos. Conte-me, homem.
Robert sorriu por cima da borda de seu copo de uísque.
— Eu atirei nela. No braço. Pensei que era uma corça.
A gargalhada de Drummond atraiu a atenção de todas as
damas e cavalheiros, incluindo a de Jessie. Ela fixou o olhar
em Robert e ergueu uma sobrancelha em questionamento. Ele
deu de ombros antes de Drummond lhe lançar um olhar de
dor.
Desatento ao desconforto dele e aos olhares inquisidores,
Drummond bateu no ombro de Robert.
— Você realmente passou muito tempo fora das
Highlands para confundir uma moça com uma corça. Estou
surpreso pela Srta. Munroe não apenas falar como querer se
casar com você!
— Eu também, Drummond. Deve ser o destino que nos
juntou, é tudo o que posso dizer. Certamente não foi por
causa do meu cortejo encantador.
Drummond engoliu o último gole de seu uísque e colocou
o copo vazio sobre a lareira.
— Não ficarei para o chá com os cavalheiros, Robert. Mas
espero você amanhã nas docas para se despedir da Fênix. Ela
está carregada até os canhões e pronta para navegar na
primeira maré cheia.
Robert deu um tapa nas costas de seu amigo em um
gesto de despedida.
— Sim. Está na hora de ela voltar ao Caribe. Mas não me
espere ao alvorecer. Acho que manterei o horário dos
cavalheiros amanhã.
Drummond piscou para ele.
— Combinado. Suspeito que precisará recuperar as suas
forças depois desta noite.
Precisou de toda a força de vontade para Robert resistir à
vontade de dar um tapa na orelha de Drummond enquanto
acompanhava o seu amigo pela sala para que ele se
despedisse.
***
— Gostaria de minha ajuda para se despir, senhorita?
Jessie ouviu a pergunta de Janet e quase soltou o seu
livro, Pamela, no tapete do quarto. Ela suspirou, perdida em
deliciosos pensamentos desde que Robert se despedira dela
no vestíbulo há cinco minutos. Ela duvidava ser capaz de se
concentrar na história sobre o apuro de uma criada que, em
muitos aspectos, lembrava a si mesma e sua situação... até
conhecer Robert.
Jessie sorriu e levou sua mão ao rosto. Ela podia jurar
que a sua pele ainda formigava onde Robert tinha depositado
um beijo. E a lembrança da intensidade dos seus olhos azuis,
a forma como eles haviam acariciado o seu rosto e a sua
figura, prometendo muito mais, a fez se arrepiar, mais uma
vez, com desejo. Janet poderia notar como ela estava
irremediavelmente distraída? E o porquê?
Mesmo aos próprios ouvidos, a sua desculpa para
dispensar a ajuda de Janet soou fraca. Jessie corou
novamente, sabendo que seu real motivo para ficar acordada
era bastante aparente.
Mas Janet, discreta como sempre, nem mesmo piscou.
— Sim, senhorita. — A criada fez uma reverência e, após
rapidamente atender a alguns pedidos de Jessie, partiu.
Finalmente sozinha, Jessie colocou o pobre Pamela em cima
da mesa mais próxima antes de se afundar na poltrona macia
perto da lareira. Tirando seus sapatos de brocado, ela elevou
o seu recuperado tornozelo em cima de um pequeno apoio de
pés. A leitura definitivamente não estava em sua mente
enquanto ela observava as brilhantes chamas que lambiam os
troncos secos dentro da lareira.
Quanto tempo levaria até Robert vir? Embora estivesse
evidente que ele a queria como sua esposa, parte dela ainda
queria, precisava, que ele lhe dissesse que realmente gostava
dela. Ele a tinha chamado de meu amor, mo ghaoil e mo
chridhe – meu coração. Mas poderia lhe dizer que a amava?
Afinal, passaram poucos dias desde que se conheceram.
Ela fechou os olhos contra a luz das chamas e sorriu,
recordando o encontro deles, os momentos íntimos que
compartilharam desde que se conheceram. Ela suspeitava
que não levaria muito tempo para descobrir as respostas para
as suas dúvidas...
Um barulho – o clique da porta de seu quarto se
fechando – a fez pular. Ela não estava certa de quanto tempo
passara desde que ela caíra no sono, mas ela suspeitava que
fora pouco tempo, o fogo ainda queimava forte na lareira e as
velas em cima dela ainda não tinham acabado. As chamas
crepitaram levemente devido à corrente de ar que entrara pela
porta, fazendo as sombras dançarem.
O seu pulso acelerou de ansiedade, ela sentou-se um
pouco e virou a cabeça em direção à porta, esperando ver
Robert. Mas não havia ninguém. Franzindo o cenho em
confusão, levantou-se da poltrona e imediatamente foi
agarrada por trás por um homem.
Simon. Oh, Deus, não! O cheiro de conhaque e da colônia
que ele usava assaltaram os seus sentidos quando ele a
puxou contra o seu peito, seu braço como um pedaço de aço,
tirando o seu ar.
Um grito subiu em sua garganta, mas a mão de Simon
tapou a sua boca e nariz, abafando todo o som.
— Ah, doce Jezebel. — O fôlego de Simon era quente e
desagradável em seu ouvido. — Esperei muito tempo por este
momento.
Uma raiva ardente e quente se espelhou por Jessie,
dando-lhe forças. Ela lutou, chutou, tentou soltar-se dos
braços que a seguravam, mas tudo para nada. Simon a
arrastou inexoravelmente para trás, em direção à cama, como
se ela fosse apenas uma boneca de pano. Um soluço ficou
preso em sua garganta quando seu corpete rasgou e uma
chuva de pérolas caiu no chão. Com o vigor renovado, ela se
retorceu selvagemente e arranhou a mão que cobria o seu
rosto.
Simon sibilou quando ela lhe tirou sangue.
— Vagabunda. — Ele amaldiçoou e enterrou o rosto dela
na cama, rudemente empurrando a sua cabeça no meio do
cobertor. — Estava preparado para ser gentil com você, mas
parece que gosta de força.
Ela não conseguia respirar. Isto não podia estar
acontecendo. A qualquer minuto Robert entraria pela porta e
acabaria com aquilo. Mas agora Simon estava levantando as
suas saias.
Não, não, não. Jessie se debateu novamente e conseguiu
virar a cabeça para o lado. E gritar.
— Cale. — Simon levou a mão sobre o rosto dela
novamente, interrompendo abruptamente o seu grito. Ela
agitou a cabeça e a mão dele escorregou um pouco. Ela
mordeu a sua carne tão forte quanto conseguiu, qualquer
coisa que o fizesse parar o que ele tentava fazer.
Ele a soltou, gritando uma série de insultos. Seu peso
ficou mais leve em cima dela que rolou de lado,
instintivamente esticando a mão em busca de algo com que se
armar. Sua mão entrou em contato com a jarra na mesa de
cabeceira. Ela a agarrou e a sacudiu.

***

Era quase meia-noite quando Robert finalmente se


despediu de seu pai com um caloroso boa noite. Após os
convidados restantes partirem, Jessie e sua madrasta terem
se retirado, o conde sugerira que os dois compartilhassem um
gole de uísque pelos velhos tempos antes de irem dormir. Por
mais impaciente que Robert estivesse em se juntar a Jessie
em seu quarto, ele não poderia negar a seu pai um pedido tão
simples depois de tudo o que ele fizera desde a sua volta.
Além do mais, para garantir um grau de discrição, ele
calculou o tempo que levaria para dividir um uísque com seu
pai e alguma conversa seria o bastante para a criada de
Jessie terminar de atender a sua senhora antes de se
aventurar a subir as escadas.
Tudo estava silencioso na casa, exceto pelo crepitar dos
troncos das macieiras na lareira, quando Robert voltou à
poltrona de couro diante do fogo para terminar de beber seu
fino malte – o mesmo rico castanho dourado dos olhos de
Jessie era notado no copo que ele segurava diante das
chamas – quando um grito cortou o ar. O grito de Jessie.
Cristo. Robert derrubou o copo e correu da biblioteca em
direção às escadas. O que em nome de Deus estava
acontecendo? Com o pânico ardendo em seu peito, ele subiu
as escadas de dois em dois degraus. Ele jurava que o grito
viera do primeiro andar, possivelmente de seu quarto. Ao
alcançar a porta, ele ouviu a voz de um homem blasfemando e
em seguida um estrondo.
— Jessie. — Ele gritou e depois amaldiçoou ao descobrir
que a sua porta estava trancada. Ele deu um passo para trás,
virou-se e deu um chute explosivo na porta, logo abaixo à
maçaneta. A porta estourou para revelar o cenário de um
pandemônio.
O cabelo dela estava desgrenhado, o vestido rasgado e
Jessie estava em pé em cima da cama, segurando a asa de
uma jarra quebrada. A seus pés se encontrava Simon
esparramado, com a peruca torta, seu rosto e uma das mãos
sangrando e pedaços de porcelana e pérolas do colar
quebrado de Jessie em cima dele.
— A vagabunda me mordeu e depois me bateu com a
maldita jarra. — Ele grunhiu.
Com um rosnado, Robert investiu contra Simon,
levantou e o jogou contra a parede tão forte que os dentes de
seu irmão estremeceram. Levou cada grama de sua força de
vontade para que não esmagar Simon em pedaços ali mesmo.
— Como ousa! Como diabos entrou aqui? — Ele exigiu,
falando entre os dentes cerrados.
Simon, bastardo que era, sorriu.
— Pela porta da frente, certamente. Pensei que eu era
convidado da festa.
— Você pagará por isso. — Robert vociferou. — Isto é
imperdoável. Eu exijo satisfação.
Simon bufou zombador.
— Com prazer. Podemos cruzar as espadas amanhã à
primeira luz do dia no Parque Holyrood, na área pública entre
Arthur Seat e a Colina Dunsapie?
— De acordo. — Robert deu um passo abrupto para trás
e afastou Simon dele, empurrando-o em direção à porta
quebrada. — Agora, saia daqui, antes que eu o mate como um
cachorro agora mesmo.
Simon tropeçou de costas em direção à porta, justo
quando MacGowan e Gordon apareciam no corredor.
Limpando o sangue de um grande corte em sua sobrancelha,
ele inclinou-se para Robert, um sorriso maléfico retorcendo a
sua fisionomia.
— Até amanhã então, querido irmão. Sete em ponto se
perdoar o trocadilho. Estou ansioso para lhe espetar com a
minha espada.
— Garanta que meu irmão parta, cavalheiros. Pegue as
chaves dele e depois tranque todas as portas. — Ordenou
Robert. MacGowan e Gordon, ambos com rosto pálido e
sombrios, assentiram e escoltaram Simon para fora.
Robert virou-se para Jessie que permanecia no mesmo
lugar que a encontrara, seus dedos ainda segurando a asa da
jarra. Ela olhava para o chão, trêmula.
Ele se aproximou dela lenta e cuidadosamente.
— Jessie, moça. — Ele murmurou gentilmente.
Ela ergueu o rosto pálido para ele. As lágrimas nublavam
seus olhos.
— Ele quebrou seu colar de pérolas, Robert. — Ela
sussurrou. Ela respirou profundamente e percebeu que ainda
segurava a asa da jarra. Ela olhou para ela e depois a jogou
no chão, junto aos outros cacos. Ela caminhou em direção a
ele.
Robert abriu seus braços, embalando-a enquanto ela
enterrava o rosto em seu peito, seus ombros tremendo
enquanto se entregava às lágrimas. Deslizando sua mão por
suas costas delgadas, ele percebeu que o tecido de seu
corpete estava rasgado. Mesmo murmurando palavras de
conforto sobre seus cabelos, a raiva o alcançava até os ossos.
Ele já havia percebido hematomas em seu pescoço, ele se
aterrorizou só em pensar que outros machucados ele lhe
infligira. Oh, sim. Simon pagaria mortalmente por este ultraje.
Quando Jessie finalmente levantou a cabeça, ele
gentilmente secou suas lágrimas restantes nas suas
bochechas com seu polegar.
— Jessie, mo ghaoil, o colar não importa. — Ele
sussurrou, fixando o olhar no dela, mentalmente se
preparando para o pior com a próxima pergunta. — O que eu
preciso saber é, embora possa ser duro para me contar, o
quanto Simon a machucou?
Os olhos de Jessie se arregalaram por um momento ao
perceber o que ele lhe perguntava e um frio mortal congelou
seu sangue. Mas então, graças a Deus, ela sorriu
timidamente.
— Além de alguns hematomas, estou bem, Robert. Ao
contrário do seu irmão, fico muito feliz em lhe dizer. É
verdade que eu mordi a mão dele e lhe atingi com a jarra. Foi
a única maneira que encontrei para afastá-lo de mim.
— Graça a Deus, Jessie. — Robert a aconchegou
novamente entre os seus braços e beijou seus cabelos. —
Você lutou corajosamente, meu amor.
Internamente ele prometeu: E eu prometo que depois de
amanhã, você nunca mais terá a preocupação que isto ocorra
novamente.
Como se ouvisse os pensamentos de Robert, o relógio do
corredor começou a soar a meia-noite. Quando o último dos
carrilhões cessou, Gordon apareceu novamente na soleira da
porta com uma Janet de olhos arregalados e uma Sra.
Duncan de rosto sombrio atrás dele. A Sra. Duncan carregava
uma bandeja de chá e biscoitos.
— Desculpe a minha intromissão, milorde. — Gordon
começou, seu olhar fixado discretamente em um ponto
qualquer do outro lado do quarto. — Eu pensei que talvez a
Srta. Munroe precisasse de alguma... ajuda.
Robert soltou Jessie de seu abraço com relutância,
embora ainda a mantivesse perto dele, seus braços em sua
cintura.
— Você está certo, Gordon. — Ele se virou para as
criadas e se dirigiu a elas. — Janet, por favor encontre
alguma camisola apropriada para a Srta. Munroe e leve a
minha suíte, assim como uma bacia de água quente e
algumas bandagens. Sra. Duncan, você pode levar a bandeja
para a minha sala. — Ele já não se importava com o que os
criados pensariam sobre o fato de Jessie ser instalada em sua
suíte. A noite inteira tinha terminado em desastre. A
sensibilidade dos criados era a menor de suas preocupações.
Ele se virou para o mordomo.
— Como está o resto da casa, Gordon? — Sem dúvidas
os outros, incluindo o seu pai, ouviram o grito de Jessie e a
comoção seguinte.
Gordon foi sucinto em sua avaliação.
— Todos estão seguros no andar de baixo, milorde.
MacGowan explicou a situação a Sua Senhoria. Lorde
Strathburn bondosamente pediu que fale com ele quando
tiver oportunidade. A Senhora não saiu de seus quartos. Aos
outros criados não foi dito nada, além de que eles tomassem
conta de suas próprias vidas.
— Muito bem, Gordon. Eu posso lhe pedir que chame o
criado mais confiável. Precisarei que ele entregue uma
mensagem no meu navio nas Docas Leith. — Robert queria
avisar com antecedência a Drummond que ele precisaria de
segundo para o duelo. — Falarei com ele em breve, assim que
a Srta. Munroe estiver tranquila.
— Muito bem, milorde.
Assim que Gordon saiu, Robert trouxe Jessie para perto
dele e gentilmente levantou seu queixo, assim ele teria a
atenção dela. Durante a conversa com os criados, ela
permanecera muda e estranhamente imóvel. Ela estava
claramente em choque.
— Jessie, moça. — Ele falou em voz baixa e ficou aliviado
ao notar que ela olhou em seus olhos quando ele falou. —
Vou carregá-la pelas escadas até a minha suíte. — Ele
percebeu que ela usava apenas as meias de seda quando fora
até ele e ele não queria que ela cortasse os seus pés nos
vários cacos de porcelana.
Sem questionar, ela se aproximou dele e ele a ergueu em
seus braços. Ele beijou sua têmpora, engolindo em seco um
nó que estava preso em sua garganta. A sua completa
confiança nele dizia muito.
O seu dormitório ficava no segundo andar, ocupando o
canto noroeste da casa. Quando Robert a carregava para
dentro de sua sala privada, ele ficou grato ao ver um fogo
brilhando na lareira e que a Sra. Duncan deixara a bandeja
de chá e biscoitos na mesa baixa. Robert gentilmente colocou
Jessie na poltrona de couro perto do fogo e, ignorando o bule
de chá, foi até o aparador e serviu uma dose de uísque.
Voltando à lareira, ele puxou um banquinho e sentou-se à
sua frente, oferecendo-lhe o copo.
— Isto ajudará a diminuir os seus tremores, meu amor.
Jessie obedientemente deu alguns goles no malte forte,
tossindo um pouco, mas pareceu reviver. Quase
imediatamente ela se sentiu menos desconectada do ambiente
ao redor e dele. Ela lhe deu um sorriso fraco, o brilho dourado
voltando aos seus olhos castanhos.
— Não foi assim que imaginei que nossa noite
terminaria.
Aliviado por ver que o seu ânimo retornava, Robert sorriu
levemente.
— Não. Certamente não progrediu da forma que eu
antecipei também. — Ele esticou a mão lentamente e com
carinho pegou uma mecha de seu cabelo bagunçado e a
afastou de seu rosto. — Jessie, importaria se eu soltasse o
seu cabelo? — Ele perguntou, rezando para que ela não
rejeitasse o seu toque, embora entendesse se ela o fizesse. —
Confesso que estive louco para fazer isso, a noite inteira.
— Claro. — Ela disse em voz baixa, depois corou
enquanto passava a mão por seu penteado desfeito. — Eu sei
que devo parecer assustadora.
— Nunca. Você nunca vai parecer nada além de bonita
para mim. — Ele se inclinou para frente, assim poderia, com
maior facilidade, soltar os grampos restantes e, em pouco
tempo, seus cachos vermelhos dourados caiam em cascata
sobre seus ombros. Ele voltou a se sentar no banco e se
esforçou para manter suas mãos imóveis. Seus dedos
ansiavam por tirar o vestido arruinado, mas ele não a forçaria
a tal intimidade, não depois de tudo o que ela enfrentara.
Além do mais, ele tinha outros assuntos para resolver.
Ele sorriu com tristeza.
— Por mais que eu queira ficar com você um pouco mais,
infelizmente, eu tenho que deixá-la. Preciso dizer a meu pai
sobre o que aconteceu... E eu preciso fazer alguns arranjos
para amanhã.

***

Jessie franziu o cenho confusa, então com uma


crescente sensação de horror, ela repentinamente recordou a
conversa de Robert e Simon antes do último ter sido expulso
do quarto. A memória retornava com força total, era como se
um véu tivesse sido tirado de seus olhos.
Com o coração acelerado ela pegou as mãos de Robert.
— Você está fazendo arranjos para o duelo. — Ela falou
entre os dentes. — Por favor não faça isso, Robert. Eu sei que
o que Simon fez foi... errado, imperdoável. Mas não arrisque a
sua vida ou a sua liberdade defendendo a minha honra.
Depois de tudo o que passou, não quero que jogue tudo fora
por minha causa.
Embora fosse costume um cavalheiro de caráter resolver
suas disputas de honra deste jeito, Jessie também sabia que
oficialmente, duelos eram estritamente proibidos por lei. Se
Robert fosse pego envolvido em tal ato, não havia dúvidas que
as consequências para ele seriam terríveis. Não haveria como
escapar do machado do carrasco desta vez.
Robert levou as suas mãos aos lábios e gentilmente
beijou as pontas dos dedos. Seus olhos azuis estavam escuros
pelas emoções.
— Você tem um valor inestimável para mim, mais do que
a minha própria vida, mo chridhe. E defender a sua honra
definitivamente vale o risco. Além do mais, — a expressão em
seu rosto repentinamente mudou, ficou mais obscura, e ele
deslizou a mão pelo rosto dela — me sinto parcialmente
culpado pelo que Simon tem feito.
As sobrancelhas de Jessie se uniram em descrédito.
— O que quer dizer? Você sabe que Simon tem
procurando uma oportunidade para... possuir-me desde que
eu o conheci. Não pode se culpar pelo que aquele monstro
tentou fazer hoje à noite.
Robert se levantou abruptamente e caminhou até o
aparador. Ele se serviu de uísque e deu um gole antes de se
virar para encará-la. O vinco em sua pele e a rigidez das
linhas de seu rosto claramente marcavam a sua angústia.
— Mais cedo, eu fiz uma visita a Simon em seu
alojamento e deixei claro que ele não poderia mais continuar
a se aproveitar da fortuna da família. Eu também o alertei
para não chegar perto de você. Acho que o incitei a tomar
uma decisão precipitada. Se eu soubesse que ele iria tão
longe... machucá-la para se vingar de mim...
Ele parou de falar e correu uma mão entre os cabelos
escuros, um olhar severo de autor recriminação encobria os
seus olhos.
Jessie levantou-se do seu assento e caminhou em cima
do tapete parando diante dele.
— Não ouse se culpar, Robert Grant. — Ela o repreendeu
com gentileza. — Os únicos culpados são o seu irmão... e
Lady Strathburn.
Robert ergueu uma sobrancelha.
— Por que você acha que minha madrasta está envolvida
nos eventos de hoje à noite? — Ele perguntou. — Eu sei que
disse mais cedo que ela provavelmente se esforçaria para
manter o domínio sobre esta família. Mas orquestrar um
ataque direto sobre você? — Ele balançou a cabeça. —
Certamente ela não desceria tanto.
— Não sei exatamente, é apenas uma suspeita que
tenho. — Jessie caminhou lentamente até a lareira, a cabeça
abaixada, o queixo descansando na palma de sua mão
enquanto ela contemplava a melhor forma de colar em
palavras os seus pensamentos. O fogo crepitava e um tronco
caiu, atirando faíscas em direção à bainha rasgada de seu
vestido, mas ela não se importou. Ela se virou para olhar para
Robert e começou a explicar. — Esta tarde, Lady Strathburn
deixou bastante claro para mim que ela não desejava que eu
me tornasse a sua nora. Eu não tenho provas, mas acho que,
em parte, este ataque foi elaborado para se livrar de mim.
Talvez ela pensasse se Simon me arruinasse, você não
desejaria se casar comigo.
Robert pôs o seu copo de lado e caminhou até ela. Ele
ergueu o queixo dela, capturando o seu olhar.
— Este nunca seria o caso. — Ele disse um tom de voz
aveludado. — Nada poderia me impedir de me casar com
você. — Ele deslizou um dedo por seu rosto antes de capturar
uma mecha de seu cabelo. — Se foi um plano de minha
madrasta. — Ele continuou, sua voz com um tom de aço nela.
— Ela não planejou bem. Tudo o que ela conseguiu garantir
foi que o seu filho será transpassando por mina espada.
Antes que ela pudesse pensar em responder, Robert a
puxava para os seus braços. Com um suspiro trêmulo, Jessie
cedeu ao impulso de deitar sua cabeça contra o peito largo de
Robert, inalar o agora familiar cheiro de sabão e sua própria
essência inebriante. Ela podia ouvir os fortes batimentos de
seu coração debaixo de seu ouvido. Sentir seu peito subindo e
descendo enquanto ele respirava. Que homem maravilhoso ele
era.
Ela fechou os olhos, desejando por ficar ali para sempre,
porém, mesmo com o corpo começando a relaxar, seus
pensamentos estavam agitados. Havia alguma coisa em toda
esta reviravolta que a deixava desconfortável. Não era apenas
sobre ela. Era como se o ataque sobre ela tivesse sido
orquestrado para atingir Robert. Ela sentia a traição.
Sim! Era isso. Um frio gelado desceu por sua espinha.
Ela se endireitou e segurou o braço de Robert. Ela tinha
fazê-lo ver que estava em perigo.
— Acho que tudo isso tem mais a ver com se livrar de
você, Robert, do que de mim. Quanto mais considero o que
aconteceu, mas fico convencida de que você foi manipulado a
fazer algo que resultará em sua própria queda.
Um brilho afiado de interesse iluminou os olhos de
Robert.
— Estou ouvindo.
Jessie respirou profundamente e rezou para que Robert
acreditasse nela.
— Você sabe que a sua madrasta sempre desejou que
Simon fosse o próximo Conde de Strathburn. Tive a
impressão esta tarde de que ela contava com a sua execução.
Mas então você foi solto. Posso estar errada, mas penso que
ela tem uma mão na elaboração do ataque de Simon, sabendo
que você sem dúvidas desafiaria o seu irmão para um duelo.
Ela sabe das condições de sua liberdade. Se violar tais
condições, como ser pego duelando, você pode ser preso
novamente. E eu acho um pouco mais do que estranho a
concordância imediata de Simon com o duelo em primeiro
lugar. Suspeito que metade da Guarda Escocesa estará
esperando por você no Parque Holyrood ao amanhecer.
Embora não tenha nenhuma evidência. Acho que sua
madrasta e seu irmão criaram uma armadilha para se livrar
de pelo menos um de nós, se não, de ambos de uma única
vez.

***

Robert correu uma mão pelo rosto dela. Jessie estava


certa. Havia um elo de verdade no que ela sugeria. E quanto
mais ele pensava sobre isso, ele não era capaz de descartar a
lógica dela. Era verdade de que a sua madrasta sempre
quisera substitui-lo por Simon como o próximo conde.
Caroline era mais do que capaz de ter elaborado o ataque. E
Simon estaria mais do que disposto em participar de um
plano que envolvia a ruína de Jessie e dele.
Também fazia sentido que Simon apenas tivesse
concordado com o duelo se pensasse que não haveria chance
de sair ferido, o que, sem dúvida, era o caso se teriam
soldados esperando.
Simon era um intimidador e covarde de coração, ele
provavelmente colocaria o rabo entre as pernas e fugiria em
vez de encarar uma luta de espadas se ele não tivesse chance
de vencer. Entretanto, fora Simon que sugerira o horário e o
lugar para o duelo.
Era mais do que estranho, como Jessie sugerira.
Mas Simon encararia as consequências de suas ações.
Sobre isso, não havia dúvidas.
Robert exalou longamente.
— Jessie, acho que pode estar certa. Mas eu não posso
deixar isso passar, apesar do perigo. Depois do que Simon fez,
ele precisa aprender uma lição.
Jessie balançou a cabeça, seus olhos arregalados de
medo.
— Por favor, não faça isso. Eu nunca me perdoaria se
algo acontecesse... — Seu adorável lábio inferior tremia e
lágrimas escorriam, Robert soube sem sombra de dúvida de
Jessie gostava dele. Talvez até mesmo o amasse. E enquanto
seu coração se apertava por vê-la tão desesperada e
preocupada, seu sangue se agitou.
— Eu ficarei bem, meu amor. — Ele sussurrou, secando
as suas lágrimas com os dedos. — Confie em mim.
— Mas...
Ela não foi mais longe. Por que usar palavras quando
podia mostrar a Jessie o quanto ele gostava dela? Capturando
seu rosto bonito entre as suas mãos, ele a beijou com uma
terna reverência, sua boca gentilmente exigindo a dela,
amando-a. Ela mergulhou nele, imediatamente pressionando
suas curvas suaves contra o seu corpo, passando suas mãos
ao redor de ser pescoço para que ele se aproximasse mais.
Seus lábios apertaram-se contra os dela, sua língua
provocando seus lábios cheios, procurando acessar a doce
suavidade exterior. Ela abriu a boca com um suspiro,
rendendo-se completamente ao beijo que lentamente se
aprofundava, envolvendo a sua língua com a dele em sua
própria exploração.
Deus do céu, sua Jessie era tão ardente quanto
destemida – seu encontro com Simon certamente não
reduzira o seu ânimo em beijar. E quanto ao seu prazer por
qualquer outra coisa de natureza física, quando a hora
chegasse, Robert jurou a si mesmo que seria paciente. Ela
ditaria o ritmo e ele a seguiria. Mas agora não era o momento
certo. Ele tinha assuntos de honra para resolver.
Com um grunhido de frustração, interrompeu o beijo,
relutantemente afastando a boca. Ele a olhou, observando os
olhos dela e abrirem antes de focar nele e um sorriso
curvando seus lábios.
— Você vai me esperar acordada? — Ele perguntou,
aliviado por, talvez, parte de sua calma ter sido restaurada.
— Certamente. — Ela falou. — Faria qualquer coisa por
você.
Ele sorriu.
— Não demorarei. Vou pedir a Janet que venha ajudá-la
enquanto estiver fora. — Enquanto ele saía, consolava a si
mesmo com o pensamento de que quanto mais rápido ele
fizesse os arranjos necessários para lidar com Simon, mas
cedo ele voltaria para mostrar a Jessie exatamente o quanto
ela significava para ele.
O quanto ele a amava.
Dezoito

Janet chegou logo depois que Robert saiu. Jessie ficou


agradecida pela jovem garota ser tão profissional enquanto a
ajudava a trocar seu vestido arruinado. Não houve perguntas
curiosas ou comentários sobre o ataque de Simon ou os
vários hematomas que apareceram em seus braços e pescoço.
Nem tinha olhares de censura sobre o fato de ela ficar
instalada no quarto de Lorde Lochrose durante a noite. Jessie
era grata pela discrição e praticidade da garota. Ela pensou
que Janet seria uma excelente criada pessoal de uma dama.
Entretanto, Jessie ofegou e corou quando Janet
apareceu com um novo conjunto noturno: uma requintada
camisola de seda açafrão e rendas que combinava com um
roupão e com os calçados. Eles obviamente faziam parte das
compras que Robert fizera aquela tarde. O tecido fino e quase
transparente sussurrava sobre a pele de Jessie enquanto ela
as vestia. Certamente elas não eram como as camisolas
modestas de flanela ou cambraia que estava costumada a
vestir para dormir. Ela se perguntava o que Janet achava do
traje ousado e até mesmo escandaloso, mas, felizmente, a
garota continuava a epítome da discrição.
O relógio ormolu13 na lareira estava próximo a soar
meia-noite e meia quando Janet finalmente partiu. Jessie
estava curiosamente bem acordada apesar da hora avançada.
Ela se serviu de uma xícara de chá, mas também estava
agitada demais para bebê-lo.
Suas emoções saltaram loucamente da raiva do ataque
de Simon à apreensão pelo perigo potencial em que Robert
estava e depois ao nervosismo pela espera do que poderia
acontecer quando Robert voltasse.
Incapaz de continuar sentada, ela, por fim, descartou a
xícara e foi explorar o conjunto de salas de Robert –
acreditava que ele não se importaria. A sala de estar era
ricamente mobiliada, um par de poltronas e um sofá de
damasco listrado arrumados em torno do tapete de padrões
orientais em frente à lareira. Um aparador, uma mesa e uma
estante de carvalho posicionavam-se entre as janelas com
cortinas de veludo vinho. Acima do aparador, ela notou um
retrato emoldurado de um casal distinto e muito bonito; o
conde em uma idade muito jovem, talvez em seus trinta anos,
posando ao lado de uma jovem muito bonita com abundantes
cachos castanhos claros e grandes e solenes olhos azuis –
presumidamente era a antiga Condessa de Strathburn, a mãe
de Robert. Jessie imaginou que Robert sentia muito a falta
dela, assim como ela sentia a de sua própria mãe.
Do outro lado da porta de comunicação, descobriu uma
sala de vestir-se, totalmente vazia, exceto pelos poucos itens
de Robert e um baú de madeira. Outra porta no final da sala
de vestir levava ao dormitório de Robert. O fogo queimava na
lareira revelando uma enorme cama de dossel com cortinas de
damasco douradas. A cama estava coberta com um rico
cobertor de brocado dourado e creme e uma quantidade
abundante de travesseiros gordos de seda marfim encostados
na cabeceira da cama. Parecia suntuosa.
Tentadora.
Alguém, talvez Janet, tinha levantado os cobertores para
revelar finos lençóis de algodão. Jessie teve uma vontade
repentina e esmagadora de rastejar entre eles. Seu pulso
acelerou em pensar que ela poderia dormir com Robert esta
noite.
Mas eles iriam apenas dormir?
Ela sorriu. Se estivesse em seu modo perverso,
certamente eles não dormiriam.
Mas se Robert fosse enfrentar Simon no campo de duelo
amanhã... O estômago de Jessie se agitou. Não, não pensaria
mais sobre isso. Ela tinha que acreditar na afirmação de
Robert que tudo ficaria bem. Que ele ficaria bem.
Ao terminar sua exploração, Jessie voltou a sala de estar
para esperar pelo retorno de Robert. Ela tirou os chinelos de
seda e sentou-se em uma das poltronas em frente ao fogo e
bebeu o uísque que Robert lhe servira mais cedo esperando
que o líquido ardente pudesse acalmar seus pensamentos e o
pulso acelerado. Ela havia bebido o último gole quando ouviu
o ruído da porta se abrindo.
Robert. Graças a Deus. Seu primeiro impulso foi correr e
jogar seus braços ao redor de seu pescoço, mas quando ela
começou a se levantar, Robert sinalizou com a mão.
— Jessie, meu amor, não se levante por minha causa.
Enquanto ela voltava a se sentar na poltrona, ele tirava
sua jaqueta de veludo e removia sua gravata de renda.
— Devo me desculpar por ter demorado tanto. —
Continuou, jogando as peças em um sofá próximo. — Mas
com a vantagem de seu raciocínio sagaz, eu precisei... ajustar
os meus planos para amanhã. Demorou mais do que esperava
preparar o terreno, mas... — Os cantos de sua boca se
curvaram em um sorriso malicioso. — Você pode descansar
sossegada, pois, com a ajuda do Capitão Drummond e de
Tobias, eu não serei pego de surpresa por nenhum dos
homens do Rei. Com pouco risco para mim, Simon está
prestes a aprender uma valiosa lição de vida. — Agora com a
camisa aberta no pescoço, Robert puxou um banquinho no
qual sentou-se à sua frente. Ele inclinou-se para frente,
apoiando os braços em suas pernas musculosas. Seus olhos
estavam sorridentes. — Isso a deixa mais calma, meu amor?
— Para ser sincera, não totalmente. — Ela respondeu
com uma voz ofegante, tanto pelo nervosismo quanto pela
percepção sexual enlouquecedora. Ela não deveria ficar
distraída pelo físico de Robert agora, mas estava. Afastando o
olhar da visão tentadora da forte garganta e do pedaço de
peito logo abaixo de seu noivo, ela se esforçou para entender
as suas palavras. O seu plano parecia muito superficial para
seu gosto. — Não consigo evitar a preocupação com você
envolvido em qualquer tipo de empreendimento arriscado,
dadas as condições de sua liberdade condicional. Suponho
que não estava planejando me contar sobre o seu plano,
certo?
O sorriso de Robert se alargou.
— Você acha superficial e eu acho que Simon terá a
maior surpresa ao descobrir que ele está prestes a embarcar
em uma jornada de construção de caráter – ou algo assim.
Mas não sem antes eu lhe dar a sova que ele tanto merece, é
claro.
— É claro, — Concordou Jessie, pelo menos retribuindo
o seu sorriso. Apesar do risco, ela estava decidida a confiar no
julgamento de Robert.
— Agora, chega de falar de amanhã. — O olhar de Robert
se suavizou. — Acredito que temos assuntos não terminados
para conversar.
O ar de Jessie ficou preso na garganta e seu pulso
acelerou. Robert estava dobrando as mangas de sua camisa
de seda, revelando seus antebraços musculosos e bronzeados.
— Deixe-me ver esta sua ferida. — Ele disse gesticulando
para o seu braço esquerdo. — Cruzei com Jante no corredor
mais cedo e ela me informou que o seu curativo tinha um
pouco de sangue. Fiquei preocupado que os pontos tenham
soltado.
Jessie engoliu em seco, repentinamente ciente de que
estava vestindo apenas um conjunto de noite muito fino.
— Tenho certeza de que está tudo bem. — Ela
murmurou. Mesmo após ter conferido as fitas que prendiam a
frente do roupão, ela se repreendeu internamente por ficar tão
tímida diante de Robert depois de tudo o que eles já haviam
passado. — Não dói. De verdade.
Sentindo a sua resistência, Robert lhe deu um sorriso
suave.
— Olharei apenas para o seu braço, prometo.
Ela assentiu, seu corpo subitamente ficou muito quente,
sua pele formigando diante do olhar intenso de Robert. Ela se
perguntava o motivo daquele efeito potente que este homem
tinha sobre ela cada vez que a olhava, que a tocava. Ela sabia
que era mais do que desejo. No espaço de apenas sete dias,
ela caíra irrevogável e irremediavelmente apaixonada por ele.
E ela confiava nele. Com os olhos fixos nos dele, Jessie
desamarrou as fitas e deixou a seda escorregar por seus
ombros.

***

Apesar de suas boas intenções, o olhar de Robert


deslizou pelo fino decote de renda da camisola de Jessie –
uma que ele mesmo escolhera quando visitou a modista na
Rua High. Deus Santo, Jessie era bonita. A atraente visão de
seus seios enquanto eles subiam e desciam devido a sua
respiração fez o pênis dele se agitar.
No entanto, seus lábios formaram uma linha fina ao
perceber as evidências do ataque de Simon. As marcas roxas
ao redor do pescoço de Jessie e em seus braços se
destacavam como argolas obscenas na perfeita pele de
alabastro. Com um esforço considerável, ele afastou a sua
mente do grande prazer que teria ao fazer Simon pagar dez
vezes pelo que fizera a Jessie e de alguma forma focou sua
atenção no cuidado da ferida dela. Enquanto ele tirava o
tecido, foi abruptamente levado de volta no tempo a outra
tarde, quando ele costurara sua ferida de bala diante da luz
de outro fogo. Isso foi há sete dias, ainda assim, ele sentia
como se sempre a conhecera. E agora não conseguia se
imaginar viver sem ela.
Ele lançou um olhar para cima e percebeu que Jessie o
observava; seus lábios levemente separados e sua pulsação
acelerada em sua garganta. Ele mordeu o lábio para conter
um gemido e o desejo de enterrar o rosto em seu pescoço.
Deus. Ela tinha alguma ideia do que fazia com ele?
Dominando o seu desejo ao focar na tarefa que tinha em
mãos, ele puxou o último curativo para revelar a ferida; uma
pequena quantidade de sangue escorria pelos pontos, porém,
os seus pontos permaneciam intactos. Ele olhou para cima
mais uma vez e sorriu encorajadoramente.
— Está tudo certo, mo ghaoil. Eu irei lavá-la e refazer o
curativo.
Jessie assentiu e ofereceu um sorriso pequeno e trêmulo.
— Obrigada.
Ela ainda está nervosa perto de mim. E isso era
completamente compreensivo diante das circunstâncias.
Jessie provavelmente percebera que ele estava tão excitado
quanto um veado no cio. Quando ele acabou de cuidar de
ferimento de seu braço, ele gentilmente deslizou o roupão de
volta para o lugar. Então, com o que parecia um enorme
esforço, ele tirou a mão de seu ombro suave como marfim.
Deus Santo, ele estava tremendo.
Agora, finalmente, chegara a hora de eles esclarecerem
suas posições referente ao handfasting. Mas Robert não
conseguiria se concentrar se a estivesse tocando.
E ele tinha que fazer isso dar certo.
Ele se sentia tão nervoso quanto um garoto que ia dar o
seu primeiro beijo em uma garota. A língua amarrada e
irremediavelmente tonto de desejo. Mas até então, ele nunca
havia dito a qualquer mulher o que estava prestes a dizer a
Jessie.
Com o coração na boca, Robert olhou diretamente para
os olhos dela.
— Jessie... — Ele respirou fundo e de algum jeito
ordenou seus pensamentos e a sua coragem. — Hoje mais
cedo, nós concordamos que precisávamos chegar a um
entendimento sobre o nosso compromisso, dado que o destino
nos juntou de algum jeito.
Jessie não desviou o olhar do dele.
— Sim, nós combinamos. — Ela reconheceu, sua voz
levemente sem fôlego, traindo seu próprio estado de nervos.
Ela deslizou a língua sobre o lábio inferior, deixando a
umidade através da deliciosa plenitude.
Robert quase gemeu alto outra vez. Em um impulso, ele
pegou as mãos dela, lutando para ter controle para dizer o
que ele precisava antes que cedesse ao desejo dentro dele.
— Eu sei exatamente como me sinto em relação a você,
mo chridhe. Acho que me senti desta forma desde o momento
em que a vi pela primeira vez no lago em Lochrose. Você
roubou o meu ar e o meu coração... Jessie Munroe, eu a amo
e não posso imaginar a minha vida sem você.
Ele ficou de joelhos diante dela e levou as suas mãos aos
lábios, roçando o mais leve dos beijos sobre os elegantes
dedos com os olhos fixos nos dela.
— Eu tenho algo a lhe pedir, não porque seja obrigado,
mas porque eu quero. — Ele engoliu em seco e firmou a voz.
— Jessie Munroe... quer se casar comigo?

***

O fôlego de Jessie ficou preso em sua garganta. Seu


coração disparou. Ela não acreditava no que estava ouvindo.
Robert me ama.
E ele realmente queria que ela fosse sua esposa.
Ela avaliou o rosto dele – seus olhos azuis estavam cheio
de expectativa, sua respiração superficial. Ele estava nervoso?
Sim, Lorde Lochrose, o Senhor de Strathburn estava tão
esticado quando uma corda, esperando por sua resposta.
Homem tolo. Ele não percebia que seu coração batia só por
ele? No entanto, a incerteza dele emprestava uma comovente
doçura ao momento e trouxe um sorriso em seus lábios.
— Sim, aceito me casar com você, Robert. — Ela
respondeu, sua voz cortada pela emoção. — Não porque eu
sou obrigada, mas porque eu quero, muito.
Robert sorriu e inclinou sua cabeça para beijá-la, mas
Jessie o parou colocando uma mão em seu peito. Surpreso,
ele ergueu uma sobrancelha.
Embora estivesse quase sem ar, ela tinha que contar a
Robert como ela realmente se sentia.
— Eu ainda não acabei de esclarecer minha posição. —
Ela deslizou da cadeira, se ajoelhou e levou uma das mãos de
Robert ao seu peito, onde estava seu coração. Ele batia
loucamente em um abandono de alegria e ela se perguntou se
ele podia senti-lo. — Robert Grant, eu o amo intensamente,
com todo o meu coração. Hoje à noite, quero que nós não
apenas façamos promessas um ao outro, mas que realmente
nos unamos em handfasting, como marido e mulher.

***

Robert respirou fundo enquanto tentava controlar a


potente e súbita mistura de emoções que o atravessaram –
uma felicidade autêntica diante da confissão de amor de
Jessie misturando-se a uma inebriante onda de desejo. Ela
queria estar com ele, unir-se a ele, ser sua mulher.
— Tem certeza, Jessie? — Ele perguntou, sua voz rouca,
seus olhos procurando os dela.
— Nunca tive tanta certeza em minha vida. — Jessie
segurou as mãos dele entre as suas e as segurou contra o
peito. — Eu, Jessie Elizabeth Munroe, tomo-o, Robert James
Alexander Grant, Visconde de Lochrose e senhor de
Strathburn, como meu esposo a partir deste momento e para
todo sempre. — Ela sussurrou, seus olhos brilhavam com
amor.
Robert sorriu para ela como um tolo apaixonado, mas
não se importou.
— E eu, Robert James Alexander Grant, Visconde de
Lochrose e Senhor de Strathburn, tomo-a, Jessie Elizabeth
Munroe, como minha esposa, a partir deste momento e para
todo sempre. — Seu olhar caiu sobre os lábios dela e, graças
aos céus, desta vez Jessie não o impediu de colar sua boca
sobre a dela.
Ele a beijou profundamente, sua boca movendo-se com
urgência sobre a dela, o desejo que ele mantivera sob controle
por tanto tempo, pulsando através de suas veias sem
restrição. Ele enterrou as suas mãos nas cascadas de suas
mechas, trazendo-a para perto, tomando tudo o que ela lhe
oferecia, seus lábios, sua língua. A boca dela correspondia a
cada demanda sua.
Ele sentiu Jessie remexendo nos botões de seu colete,
puxando sua camisa de seda para fora de sua calça e, em um
instante, as suas mãos deslizavam por baixo do tecido. Um
assobio de prazer escapou de seus lábios. Ele a deixou
brincar, excitando-se com a sensação das suas mãos quentes
acariciando sua pele fervente. Quando eles interromperam o
beijo e ela abaixou a cabeça para experimentar a sensível
curva em sua clavícula, ele gemeu alto diante da sensação
erótica – os lábios e língua marcavam a sua pele como fogo.
No entanto, quando ela alcançou a parte da frente de sua
calça de cetim preta ele a deteve.
— Ainda não, meu amor. — Ele murmurou, sua voz
áspera de luxúria. Embora seu pênis estivesse mais duro que
um atiçador de ferro, ele queria ir no seu tempo. Jessie
merecia mais do que um ato áspero e apressado.
Queria que fosse perfeito para ela.
Ele capturou o rosto dela em suas mãos e capturou sua
boca novamente até que ambos estivessem sem fôlego.
Afastando para trás os seus cabelos, seu odor feminino –
repleto de flores e a essência da própria Jessie – o atingiu,
intoxicando-o enquanto ele traçava uma linha de beijos
ardentes e de boca aberta ao longo do delicado queixo,
descendo para o pescoço. Ela deu um gemido baixo, um som
de prazer profundo em sua garganta. Deus, como ele a queria.
Mais do que qualquer coisa neste mundo.
E, aparentemente, ela o desejava tanto quanto. Ela
massageou incessantemente os ombros dele até que ele a
ajudou a tirar seu colete e puxar a sua camisa. Com seu
dorso despido, ela acariciou, mordiscou e lambeu. A
exploração inexperiente e desinibida de seu peito e ombros,
rapidamente fizeram a sua excitação chegar a um estado
febril que ele pensou poder explodir.
Para distraí-la – na verdade, evitar que ele acabasse
muito cedo – gentilmente afastou seu roupão cor de açafrão; a
seda escorreu até o chão ao redor de seus joelhos, mas ela
não parecia se importar agora por ele a estar lhe despindo.
Muito longe disso. A luz do fogo lançava uma luz dourada
sobre os seus braços e ombros descobertos e tornava a frágil
confecção de seda e renda de sua camisola ficar transparente
– ele podia ver claramente as curvas dos seios voluptuosos de
Jessie e os pontos duros de seus mamilos enquanto ela
arqueava seu corpo em sua direção. Seu pênis latejava.
Ele tinha quer ver mais, provar mais. Ter tudo dela.
— Talvez devêssemos ir para o dormitório. — Ele grunhiu
contra a têmpora dela, acariciando sua orelha com seu fôlego.
— Eu a quero em minha cama, Jessie. Agora e sempre.
Ela o respondeu levantando-se e o puxando para
acompanhá-la. Parecia que ela estava tão ansiosa quanto ele.
Ele a ergueu em seus braços e a carregou até a cama,
deitando-a gentilmente sob os travesseiros. Mas ele não
juntaria a ela imediatamente; o fogo havia abaixado na lareira
e gananciosos como era, iria querer ver o corpo celestial de
Jessie.
Além do mais, a distração momentânea poderia impedi-
lo de se liberar em suas calças. Ele se abaixou na pilha de
madeira e atirou troncos adicionais na lareira. A luz brilhou
tão quente e intensamente quanto a sua paixão por Jessie.
Sua mulher.

***

Enquanto Robert atirava troncos no fogo e o trazia de


volta à vida, Jessie engoliu em seco e umedeceu os lábios, a
agonia de sua espera era quase demasiada para aguentar. A
visão de músculos rígidos flexionando desde os ombros de
Robert a fez estremecer de desespero, fez as dobras entre as
suas coxas ficarem escorregadias pela umidade.
— Venha para cama. — Ela insistiu inquieta,
ajoelhando-se. Ela fechou e abriu as mãos sobre a seda de
sua camisola. Não conseguia mais esperar que seu marido
por handfasting a tornasse sua mulher de verdade.
Quando Robert se endireitou e se virou para ela, seu
olhar se fixou no dela. Sem nem piscar ou corar, ele
rapidamente tirou seus sapatos, suas meias de seda e a calça
de cetim, finalmente revelando seu desejo descarado por ela.
Seu pênis estava longo e duro – pronto para ela – a cabeça
brilhando com a umidade.
Oh, Deus. Ela mordeu seu lábio para impedir um gemido
puramente devasso. Embora já o tivesse visto completamente
nu na pousada em Invercauld, ela ainda se impressionou
quão magnífico, quão poderoso ele era – tinha a figura de um
guerreiro – com todos membros longos e musculosos. Mesmo
com cicatrizes de batalhas, não importava, em seus olhos ele
era perfeito.
— Olhe o que faz comigo, mo chridhe. — Grunhiu,
segurando seu pênis como se estivesse com dor. — Eu a
quero tanto...
Ainda que a excitação nervosa flutuasse em seu ventre,
uma profunda emoção disparou através de Jessie até os seus
pés. Ela sorriu e esticou a mão.
— Você não está sozinho, Robert. Eu também o quero
muito.
Com um grunhido baixo, Robert subiu na cama, cada
movimento era sinuoso e gracioso. Ele a beijou novamente,
um beijo duro e apaixonado, pressionando-a contra os
travesseiros. Sua ereção pressionada calorosamente contra
seu ventre e ela arqueou os braços, arqueando em direção a
ele, desejando que ele tomasse mais.
Parando para respirar, ele levantou a cabeça e segurou
seu queixo com uma mão, seu olhar quente e pesado.
— Eu tenho que vê-la, Jessie.
Sem uma palavra, ela ajustou sua posição, então Robert
podia ajudá-la a tirar o roupão de seda e renda. Ela então
deitou de costas contra os travesseiros, queimando de
necessidade, observando Robert através de seus olhos
semicerrados enquanto o olhar dele vagava sobre ela. Ela
deveria estar inibida, mas não estava, sentia-se adorada,
querida. Desejada.
Mas acima de tudo, ela se sentia amada.
— Faça amor comigo, marido do meu coração. — Ela
sussurrou.

***

Robert engoliu com dificuldade diante da visão do belo


corpo de Jessie.
— Você é perfeita. — Ele conseguiu grunhir, seus olhos
devorando seus seios voluptuosos, sua cintura pequena,
ventre plano, os cachos ruivos entre suas coxas e suas pernas
longas e delgadas. Segurando os seios, ele abaixou sua boca e
sugou um de seus mamilos rosados, enquanto rolava e
puxava o outro mamilo endurecido entre o polegar e o
indicador. Gemendo, ela abriu os dedos entre seus cabelos,
puxando a fita de veludo que os prendiam. Ele amava o fato
de ela estar ficando selvagem, fazendo-a perder o controle. E
ele tinha apenas começado.
Lenta e deliberadamente, uma de suas mãos deslizaram
por seu ventre plano em direção à parte interna de suas coxas
e ela imediatamente separou as pernas para lhe permitir
acesso. Com alguns movimentos certeiros, ele provocou sua
fenda escorregadia e centro pulsante, antes de deslizar um
dedo e depois outro dentro de sua feminilidade, apertada e
quente. Ela ofegou com a invasão, seu corpo se retesando
inicialmente, mas não se afastou. Quando ele começou a
deslizar gentilmente seus dedos para dentro e para fora dela
enquanto simultaneamente roçava seu polegar sobre o nó
inchado de seu clitóris, ela instintivamente se adequou a seu
ritmo, arqueando os quadris e o movimentando. Seus
choramingos de prazer eram os sons mais doces que ele já
ouvira.
Mas Robert queria mais do que apenas tocá-la. Sua
própria luxúria ardente o incitava a experimentar e a possuí-
la completamente. Ele se afastou de seus deliciosos seios e fez
uma trilha de beijos por seu corpo até que sua boca pairou
sobre seus cachos ruivos. Ela podia ser inocente, mas era
apaixonada e aventureira. Não doeria perguntar...
Confusa por sua inanição, Jessie levantou levemente a
cabeça e lançou um olhar entrecerrado.
Robert lhe deu aquele sorriso torto que sabia que ela
gostava.
— Jessie, eu quero beijá-la inteiramente. Permitirá?
Deus, ele esperava que ela lhe dissesse sim.

***

Jessie ofegou.
— Lá embaixo? De verdade?
Robert sorriu, aquele sorriso lindamente indecente.
Aquele ao qual não era capaz de resistir.
— Sim. De verdade.
Homem perverso. Ela não conseguiu esconder o seu
choque. Ela confiava em Robert com todo o coração, mas a
ideia de ele colocar a boca em suas partes mais secretas...
Mas então ela já o provara uma vez. E ela sabia que ia querer
fazer isso de novo.
Talvez o pedido de Robert não seja tão estranho afinal. A
curiosidade venceu.
— Está bem. — Ela sussurrou.
Seu coração batia a um ritmo selvagem, ela jogou a
cabeça pra trás, sob os travesseiros e fechou os olhos. O
cabelo de Robert acariciava suas coxas e seus dedos
gentilmente separou suas úmidas dobras. Oh Deus, ela não
podia acreditar que o deixara...
Todo pensamento esvaiu-se quando a sua língua
perversa deslizou ao longo de sua fenda e depois a agitou
contra o seu centro pulsante. Um prazer intenso e quente a
atravessou. Contorcendo-se sem pensar, ela agarrou a cabeça
de Robert e gritou o nome dele, mas ele não se importou – ele
sugou e lambeu sem piedade até que a tensão dentro dela
aumentou a ponto de ser insuportável. Luzes brilhantes como
estrelas explodiram em seus olhos quando, profundamente,
empurrou os dedos dentro dela novamente e ao mesmo tempo
chupava com força seu núcleo pulsante. Foi demais. Ela
perdeu o domínio sobre a realidade. Um grito de agonia subiu
por sua garganta e um arrebatamento ardente finalmente a
tomou completamente, atirando-a ao céu.
Quando as ondas de prazer lentamente diminuíam, ela
sentiu Robert voltar ao seu lado. Envolvendo-a em seus
braços, ele a acariciou seu pescoço e orelha, murmurando
palavras afetuosas em gaélico contra a sua pele quente. Ela
se aconchegou a ele, pressionando-se contra o seu corpo
duro, suas pálpebras estavam tão pesadas por causa do
desejo saciado que ela mal as podia manter abertas.
— Eu não tinha ideia... Nunca me ocorreu que você
poderia me beijar... desta forma. — Ela murmurou contra seu
ombro nu.
Ela sentiu mais do que viu o sorriso de Robert contra
sua têmpora.
— Devo entender que você particularmente gostou disso,
mo chridhe? — Ele zombou, sua mão acariciando seus seios
mais uma vez, reacendendo o calor entre as suas pernas. Ela
levantou a cabeça e lhe respondeu com um beijo – seu lábio e
língua estavam salgados com o seu gosto, mas ela não se
importava. Na verdade, ela achou estranhamente prazeroso.
Erótico.
Robert rosnou o nome dela e a deitou de costas,
gentilmente afastando as suas coxas com um de seus joelhos.
— Está pronta para nos unirmos como marido e mulher,
meu amor? Receio que vá doer na primeira vez, mas serei o
mais gentil que puder. — Seu corpo pairava sobre o dela, sua
masculinidade descansando pesadamente sobre a sensível
pele de seu ventre.
— Não me importo. Não quebrarei. — Ela respirou e
envolveu o seu membro pulsante e rígido com uma das mãos,
desejando que ele os tornasse um só. Robert grunhiu e fechou
os olhos, afastando a mão dela. Por um momento ela se
perguntou como ele caberia dentro dela, mas ela queria tanto
agradá-lo. Ela sabia que precisava acabar com a umidade que
já escorria dele para seus dedos.
Robert colocou o seu peso sobre seus antebraços, depois
empurrou seu quadril para a frente, a cabeça de seu pênis
tocando a sua entrada. Jessie gemeu quando a pressão se
intensificou e ela apertou os ombros de Robert. A dor ardente
era quase demais.
— Diga-me se quiser que eu pare. — Ele resmungou, o
estremecimento devastando o seu corpo.
Jessie percebeu que a restrição a que ele se impunha por
sua causa também era dolorosa para ele.
— Não pare. Tome-me, Robert. — Ela sussurrou,
tocando em sua mandíbula tensa com dedos trêmulos. —
Faça-me sua.

***

Com um rosnado agonizante, Robert fez um impulso


para frente e com um movimento rápido entrou no corpo
quente e úmido de Jessie. Deus querido, ela era apertada.
Apesar de sua iniciativa, Jessie choramingou e depois
enterrou o rosto nos ombros dele, ofegando. Robert
imediatamente parou todo movimento. Ele a machucara. A
culpa o atravessou.
— Minha doce, Jessie, sinto muito. — Ele sussurrou em
seus cabelos. — Mas confie em mim, ficará melhor.
Jessie assentiu e beijou seu pescoço.
— Eu sei. Recorde-se, eu quero isso também.
Tão corajosa. Embora as suas bolas doessem, seu pênis
latejasse, Robert jurou que só se moveria quando Jessie
estivesse pronta. Ignorando seu próprio desejo de mover-se
dentro dela, ele depositou beijos pelas pálpebras, bochechas e
testa de Jessie, esperando até que ela ajustasse à sensação de
tê-lo dentro dela.
Ela abriu os olhos e tirou seu cabelo da testa.
— Estou bem agora. — Ela o acalmou, abaixando-o para
um beijo lento, profundo e lânguido. Então ela moveu seus
quadris.
Graças a Deus. Ela ainda o queria. Seguindo a liderança
de Jessie, Robert lentamente saiu, depois a penetrou
novamente, mais fundo do que antes. Jessie gemeu e suas
mãos deslizaram para o traseiro dele. Atento, ele repetiu a
ação e desta vez Jessie suspirou de prazer. A alegria queimou
como o calor incandescente do sol do Caribe. Ganhando
confiança já que ela estava começando a apreciar o ato,
Robert começou a deslizar para frente e para trás e a dar
golpes e lentos, poderosos, embora controlados, observando
mudança na fisionomia de Jessie, avaliando suas reações,
certificando-se de que ela continuava a apreciar aquilo tanto
quanto ele.
Ofegando embaixo dele, ela assumiu o ritmo dele, suas
mãos apertando os seus ombros escorregadios de suor. Seu
interior começou a tremer e ele apertou os dentes contra a
sua própria necessidade de se liberar. Ele queria garantir que
ela chegasse antes, mesmo se isso o matasse. Ele investiu
mais rápido e mais forte até que ela chegasse ao limite.
Quando ela gritou o seu nome, quando sua feminilidade se
apertou e ondulou ao redor dele, ele se regozijou.
Mas ele não era capaz de controlar a maré crescente de
sua própria paixão. Com uma investida final, Robert também
sucumbiu à adrenalina da liberação que o consumia. Seu
corpo estremeceu várias vezes enquanto grandes ondas de
prazer o consumia como nada que ele experimentara antes.
Ele enterrou seu rosto na curva do pescoço de Jessie,
grunhindo seu nome.
Ao finalmente acabar, ele virou de lado, envolvendo
Jessie em seus braços, ainda unido a ela. Ele gentilmente
traçou uma linha por seus lábios beijáveis com o polegar e
então tirou uma mecha emaranhada de seu rosto.
— Eu te amo, minha esposa. — Ele sussurrou, um
sorriso de pura felicidade curvando sua boca.
Jessie devolveu o sorriso com olhos sonolentos e felizes.
— E eu te amo, meu marido. — Ela murmurou, depois se
aconchegou a ele.
Com os membros lânguidos ainda entrelaçados aos dele,
Jessie logo adormeceu. O ritmo tranquilo de sua respiração
acalmou a alma de Robert como nada mais pudesse fazer. Ele
acariciou seus cabelos, agradado ao sentir o calor de sua pele
sedosa contra a dele e finalmente, ele deixou que a admiração
e a profunda satisfação em saber que esta linda mulher era
real e verdadeiramente sua, afundar em seus ossos.
Tudo o que ele faria a partir de agora seria por ela e
pelos filhos que eles fariam juntos. A manhã e os dias
seguintes trarão desafios à porta deles. Mas Robert jurou que
ninguém – nem Simon, nem a sua madrasta e nem o próprio
diabo – atrapalharia a sua felicidade e a de Jessie. Nunca.
Dezenove
Simon se sentou na beira de sua cama na Pousada
White Horse, segurando a cabeça que latejava entre as mãos,
esperando que o mundo parasse de girar. Por que diabos ele
não ouviu a sua mãe e se manteve afastado da bebida como
ela ordenara? Uma ressaca era tudo o que ele precisava, além
de um rosto machucado e roxo, testa cortada e a mão
mordida – todas ainda doloridas.
Que o diabo o levasse; ele estava uma bagunça.
Ele duvida conseguir ficar em pé, muito menos disputar
um duelo com o seu maldito irmão. Seu único consolo era
que, se tudo acontecesse conforme o plano de sua mãe,
improvavelmente ele teria que levantar um dedo, muito menos
uma espada.
Ele não tinha ideia de que horas eram, mas ele julgava
que estava perto do amanhecer. Baird, seu valete, o acordara
há pouco tempo antes de desaparecer no quarto ao lado para
buscar as suas roupas e espada.
Desmaiado na cadeira diante da lareira roncava o seu
amigo da onça e relutante segundo para o duelo, Archibald
Ramsay. Um suborno simples assegurara os serviços dele. A
promessa de cobrir a substancial dívida de jogos de Archie,
assim como o incentivo em visitar um bordel na Grassmarket
foram o truque.
Graças à considerável quantidade de vinho e rum que ele
bebera, ele tinha apenas vaga lembrança da prostituta de
cabelos vermelhos que ele e Archie tinham usado antes de
serem jogados na rua pela dona do estabelecimento e por seu
capanga. Aparentemente ele e Archie foram muito rudes com
a moça, embora na mente de Simon ela não tenha sido
complacente o bastante.
Assim como Jessie.
Ele sorriu ao imaginar como ele trataria Jessie quando
finalmente a tivesse toda para si. Não ia demorar muito. Se
tudo ocorresse conforme o plano, Robert seria trancado
novamente em Tolbooth antes mesmo que o sol aparecesse
sobre o rio Firth of Forth.
O retorno de Baird o despertou de suas divagações.
Levantando-se da cama, assim ele podia se vestir, Simon
percebeu que seu criado estava molhado.
— O que infernos aconteceu com você? — Ele exigiu,
puxando a orelha de Baird com a sua mão boa. — E cuidado
com as minhas roupas, seu tolo. Você as está molhando.
— Sinto muito, Sr. Grant. Mas está chovendo para afogar
os peixes no Firth. E eu não tive chance de me trocar, visto
que acabei de retornar da minha vigia ao portão principal do
Parque Holyrood.
— E? — A voz de Simon estava cheia de impaciência
enquanto Baird levantava a sua calça de camurça e as
amarrava. — Não perca tempo com os detalhes. Havia
qualquer sinal da Guarda Escocesa?
O envolvimento da Guarda era parte do plano engenhoso
de sua mãe para enganar Robert. Ontem à noite, Baird levara
uma mensagem da Condessa de Strathburn ao regimento
dragão posicionado no Castelo de Edimburgo sobre o
iminente duelo. Simon estava contando com a Guarda no
local para prender Robert antes mesmo de ele ter uma chance
de desembainhar a sua espada. Ele não era tolo para
acreditar que superaria o seu irmão mais velho em um
confronto físico. Mas ele tinha certeza de que ele e sua mãe
poderiam enganar Robert, sem esforço.
— Sim, Sr. Grant. — Respondeu Baird enquanto passava
a Simon uma camisa limpa de cambraia. — Eu vi um oficial
Casaca Vermelha com seis soldados passando há menos de
dez minutos, indo em direção à Arthur’s Seat.
— Bom. Maldito tempo inconveniente. — Simon fez uma
careta enquanto vestia uma pesada jaqueta. — É bom que
aqueles malditos soldados estejam lá ou eu estarei em
grandes problemas, Baird. Eu não quero enfrentar aqueles
elementos por nada.
Baird simplesmente lhe passou seu cinto e uma pequena
espada; ele estava acostumado ao mau humor de seu senhor.
— Devemos acordar o Sr. Ramsay? — Ele perguntou
secamente. — Já são seis e meia.
Simon olhou para seu companheiro totalmente
inconsciente.
— Não se incomode. — Ele bufou, colocando o manto
oleoso que Baird lhe passara. — Ele apenas nos atrasará e
você pode ser o meu segundo de qualquer forma. Além do
mais, não haverá duelo se a Guarda Escocesa chegar na hora.
No mesmo momento, uma rajada de chuva atingiu o
vidro da janela.
— Maldito inferno, quais as chances de conseguir uma
carruagem tão em cima da hora, Baird? Eu não gosto da ideia
de andar nesta chuva.
— Verei o que posso fazer, sir. Acredito que há uma
pequena carruagem nos estábulos ao lado da pousada que
pode ser alugada. Vi isso ao voltar do parque.
— Bom. Esperarei por você nas escadas da frente. E é
melhor você ser malditamente rápido.
Depois que Baird partiu, Simon jogou água fria no rosto
para ajudar a clarear sua cabeça. Suas mãos tremiam
enquanto secava seu rosto com uma toalha — um exercício
inútil já que ele estava prestes a se molhar. Ele ouvia a chuva
ritmicamente contra a janela agora. Quando abriu uma das
venezianas e olhou para o pátio abaixo, ele mal conseguiu
enxergar alguma coisa — estava tão escuro quanto Hades.
Então uma carruagem preta apareceu na entrada. Baird
fora bem-sucedido. Pelo menos a sorte do diabo estava
funcionando para ele naquele momento.
Ele acreditava que continuaria assim.
A entrada da pousada estava deserta quando Simon
chegou ao vestíbulo. Ele passou a porta da frente para o
pórtico que protegia da chuva. Onde, em nome de Lúcifer,
estava Baird?
Ele olhou de soslaio através da chuva e da escuridão
para o cocheiro, mas ele estava coberto do um capuz. Mais
tarde ele chutaria a bunda de Baird por ser preguiçoso
demais para descer do banco do motorista e abrir a porta
para ele. Ele se jogou no interior da carruagem e fechou a
porta.
Apenas para encontrar o toque de algo metálico e frio
entre os seus olhos. Alguma coisa clicou.
Merda. Era o som de uma pistola sendo engatilhada.
— Agora, Simon Grant. — Veio uma voz de barítono
retumbante da escuridão da cabine. — Bem-vindo ao
Purgatório.

***

Tanto quanto Robert teria amado ficar na cama com


Jessie até pelo menos a metade do dia seguinte, ele dormiu
com ela em seus braços apenas por algumas poucas horas. O
relógio ormolu da lareira da sala de estar marcava seis e meia
quando ele gentilmente se soltou do abraço carinhoso dela.
Ela mal se mexeu quando ele afastou as mechas de seu rosto
e depositou um beijo suave em sua testa. Assim que ele
lidasse com o seu irmão, ele jurou voltar para o lado dela, sua
mulher.
Seu amor e sua vida.
Então ele não a perturbaria, entrou no quarto de se
vestir adjacente e vestiu a camisa de linho que deixara
desdobrada, deixando-a aberta no pescoço, calças pretas de
uma lã elegante e botas de couro preto. Ele não se importou
em barbear-se ou até mesmo pentear-se – quanto mais
estivesse descomposto quando as tropas do rei
inevitavelmente chegassem a sua porta, melhor. Então ele foi
à sua sala de estar e tocou o sino pedindo chá. Gordon
rapidamente apareceu e em pouco tempo, o fogo foi
restaurado, as velas acesas e uma bandeja de biscoitos
quentes e um bule de chá foi trazido da cozinha por um dos
lacaios.
Enquanto refletia sobre a estratégia que ele e seu pai
planejaram para expor a traição de Caroline e Simon, ele
notou que a chuva aumentava a intensidade que batia nas
janelas. Gordon ainda não afastara as cortinas, mas Robert
suspeitava que as valetas e as ruas de paralelepípedos
estariam alagadas. Definitivamente não era o tipo de tempo
para se realizar um combate homem a homem com espadas
curtas. Os terrenos abaixo o Arthur’s Seat e a Colina
Dunsapie no Parque Holyrood virariam um atoleiro. Ele quase
sentiu pena dos pobres soldados da Guarda Escocesa que
estariam deitados esperando a chegada dele e de Simon. Ele
se perguntava quanto tempo eles ficariam em posição antes
de perceber que o duelo não aconteceria.
Com a xícara em mãos, ele foi até à janela e afastou a
cortina para o lado. A praça abaixo estava deserta no
momento. Acima da evidente massa dos Rochedos Salisbury,
ele imaginou que o pesado manto de nuvens cinzas escuras
iriam começar a serem iluminadas por relâmpagos em
questão de tempo. Estimou que dentro de uma hora um
oficial poderosamente irritado e enlameado bateria na porta
de Strathburn House.
Ele estava muito errado. O relógio marcava sete e meia
quando ouviu os barulhos dos cascos de cavalo ecoaram nas
pedras do lado de fora. Ele abaixou a sua segunda xícara de
chá e esperou pacientemente que Gordon o chamasse.
Efetivamente, em alguns minutos, Gordon reapareceu.
— Milorde, o Capitão McBryde da Guarda Escocesa
bondosamente solicita a sua presença. — Os lábios do
mordomo estavam puxados em um sorriso.
— Certamente. Acredito que meu pai também gostaria de
ter uma palavra com o capitão, Gordon. Se tiver a bondade de
pedir que MacGowan acorde sua senhoria.
Gordon fez uma reverência.
— Com certeza, milorde.
Robert passou as mãos entre os cabelos, bagunçando-os.
Decidido que parecia que acabara de acordar, ele desceu ao
vestíbulo.
O Capitão McBryde estava parado no meio do corredor
da entrada, parecendo tanto descontente quanto ensopado,
em medidas iguais. Água escorria de seu sobretudo no chão
de madeira e suas botas estavam sujas de lama. A porta da
frente ainda estava aberta e Robert podia ver pelo menos meia
dúzia de Casacas Vermelhas tremendo no pórtico lá fora. A
chuva caía a cântaros. Robert mordeu a parte interna da boca
para reprimir um sorriso enquanto cumprimentava o oficial.
— Capitão McBryde. — Ele disse inclinando a cabeça. —
O que posso fazer por você a esta hora do dia?
McBryde retribuiu o cumprimento, mas não antes de
olhar Robert de cima a baixo, notando que estava seco e mal
vestido. Um olhar de resignação substituiu a expressão de
irritação.
— Desculpe-me, Lorde Lochrose, por ter sido tirado de
sua cama. Parece que eu fui enganado por alguém.
Robert fingiu estar confuso.
— Não compreendo, Capitão.
McBryde suspirou e secou uma gota de água que
escorria pelo nariz.
— Às dez horas da noite de ontem meu comandante
recebeu uma carta – escrita em um papel com o brasão dos
Strathburn – alertando que você marcou um duelo com seu
irmão, Simon Grant. Dizia que o duelo aconteceria a meia
hora atrás no Parque Holyrood. Como você saíra de Tolbooth
ontem e está em condicional – o escritório de Lorde Arniston
informou à Guarda dos termos de sua liberdade ontem – nós
deveríamos investigar. Mas nem você e nem o seu irmão
apareceram. Posso apenas concluir que um de vocês, ou
ambos, pensou melhor e ‘cancelou’.
Robert olhou diretamente ao capitão.
— É verdade que meu irmão e eu tivemos uma discussão
ontem à noite sobre algo... um assunto particular. Palavras
ríspidas foram trocadas e no calor do momento, meu irmão
propôs que resolvêssemos a queixa na ponta da espada à
primeira luz no Parque. Mas ir a um duelo contra ele seria
imprudente, para dizer o mínimo, considerando a minha
situação atual. Eu decidi que não valia a pena, como a minha
ausência claramente demonstra.
Só então o conde apareceu no patamar da escada.
— O que significa tudo isso? — Ele exigiu saber antes
que MacGowan o ajudasse a descer as escadas e parar ao
lado de Robert. Era óbvio que ele acabara de sair da cama –
ele vestia um quimão de veludo sobre suas roupas de dormir
e sua peruca estava levemente torta.
Um toque magistral, pensou Robert. A raiva irradiava do
conde enquanto ele lançava um olhar penetrante ao capitão.
O Capitão McBryde fez uma reverência digna de crédito
em face de ira do nobre e novamente explicou a situação.
— Bobagem. — Declarou seu pai. — Mostre-me a carta
que alega que haveria um duelo entre os meus filhos.
O capitão puxou um pergaminho um pouco molhado do
bolso de sua jaqueta escarlate usada embaixo de seu
sobretudo e estendeu. Seu pai correu o olho rapidamente e se
virou para encarar Robert.
— O que foi? — Robert perguntou com uma calma
enganosa. Ele já sabia o que seu pai estava prestes a
anunciar.
Seu pai pigarreou e olhou ao capitão com uma expressão
adequada de vergonha em seu rosto.
— Por mais que eu odeie dizer isso, acredito que minha
esposa, Lady Strathburn, escreveu isso. Isso é de seu material
pessoal, o selo de cera e eu reconheceria a sua grafia em
qualquer lugar.
Robert teve dificuldade em suprimir um sorriso irônico.
Sua sagaz Jessie estava certa sobre quem havia elaborado o
plano contra eles. Ele se dirigiu ao oficial.
— O que acho estranho, Capitão McBryde, é o fato de
minha madrasta enviar esta carta para a Guarda bem antes
de Simon e eu termos nossa briga. Era quase meia-noite
quando o duelo foi marcado. Pergunto-me como Lady
Strathburn sabia o que ia acontecer.
McBryde pareceu pensativo por um momento.
— Lorde Strathburn, importaria se sua esposa fosse
chamada para que eu possa ter uma palavra com ela?
— Claro que não, Capitão. Eu entendo completamente.
Na verdade, eu insisto. — Respondeu o conde. — Gordon, por
favor acorde sua senhoria e deixe claro que eu a espero na
biblioteca em dez minutos. E se ela não estiver que enviarei
vários membros da Guarda Escocesa para ajudá-la.
Gordon fez uma reverência. Sua boca torcida novamente.
— Sim, milorde.

***

Pouco tempo depois, uma visivelmente pálida e trêmula


Lady Strathburn apareceu na biblioteca. Ela estava vestindo
matutino amassado e levava seus cabelos grosseiramente
puxados para trás cobertos por uma touca de renda. Robert a
observava de um canto escuro da sala, instalado em uma
poltrona marrom de couro. Ela estava tão abalada que mal
reconheceu a sua presença, lançado-lhe apenas um incomum
olhar nervoso.
Esta conversa seria realmente interessante.
Seu pai a direcionou a uma poltrona diante do fogo. O
Capitão McBryde estava em pé perto da lareira diretamente a
sua frente, mãos para trás, uma presença realmente
impositiva, regalia de sua posição, com a espada presa em
seu quadril.
Lady Strathburn olhava descontrolada de seu marido a
Guarda Escocesa.
— O-O que aconteceu? Por que Simon não está aqui com
estes... soldados? Aconteceu alguma coisa a ele? — Ela
perguntou, sua voz trêmula.
— Por que pensaria algo assim, minha querida? —
Perguntou o seu pai, nivelando seu olhar de afiado sobre ela.
— Por causa do duelo...
— E como você saberia de alguma coisa sobre isso,
minha querida? Acreditava que estava na cama quando foi
combinado a noite passada.
Lady Strathburn engoliu em seco e retorceu as mãos,
seu olhar entre seu marido e o capitão.
— Os criados... Você sabe como eles fofocam...
Seu pai lhe passou a carta.
— Que bobagem. Você detalhou o evento nesta carta que
endereçou ao Comandante da Guarda Escocesa. Negará que
este é seu papel de carta e a sua letra?
Lady Strathburn mal olhou para a folha.
— Está certo, sim. Sim, eu a escrevi. — Ela admitiu em
desafio. Ela ergueu o queixo, um toque de sua maneira
usualmente amarga voltando. — Um crime seria cometido por
seu filho traidor e inútil.
Então ela se virou no assento para encarar o capitão.
— Espero que prenda Lorde Lochrose. Se ele feriu meu
pobre Simon...
Seu pai sacudiu a folha para ela.
— Como sabia sobre os detalhes do duelo, minha
senhora? Um duelo que, devo acrescentar, não ocorreu.
A beligerante máscara de confiança de Lady Strathburn
caiu um pouco.
— O que quer dizer?
O Capitão McBryde finalmente falou. Ele olhou para a
condessa em óbvia desaprovação.
— Nem Simon Grant e nem Lorde Lochrose estavam no
Parque Holyrood na hora marcada e local descrito. Parece que
você enviou a mim e a meus homens em uma perseguição
inútil, milady.
Lady Strathburn torceu suas mãos novamente.
— Eu não entendo... Talvez o tempo tenha evitado que
Simon comparecesse... — Suas próximas palavras foram
faladas com considerável dose de veneno. — Estava tão certa
de que Robert, — ela virou a cabeça para o seu lado e lhe
lançou um olhar aguçado — faria um espetáculo para
defender a honra de sua rameira.
— Está falando de mim, Lady Strathburn?
Santo Deus, era Jessie.
Robert virou sua cabeça para a porta, assim como todos
na biblioteca. O que ela estava fazendo ali? Isto não fazia
parte do plano. Robert não suportava a ideia de ela ser
exposta a mais julgamentos. Ela já passara por suficiente.
Ela levou seu ar embora. Não parecia em anda com a
rameira que sua madrasta acabara de declarara que ela era.
Estava parada logo depois da porta, parecendo tão fresca e
adorável como um dia de verão naquele vestido de seda azul,
outra criação da modista que ele comprou ontem. Seu cabelo
vermelho ouro tinha um estilo desarrumado, meio solto, com
cachos caindo em cascatas sobre um de seus ombros. Ela era
inegavelmente a Viscondessa de Lochrose, sua esposa.
Robert se levantou e, do outro lado da sala, procurou o
seu olhar. Ele hesitou em apresentá-la por um momento,
tentando avaliar o que ela estava penando. Eles tinham se
tornado marido e mulher na noite passada, mas Jessie queria
que ele anunciasse esse fato a todos na sala? Embora eles
tivessem trocado votos legítimos e consumado a união de
acordo com a lei comum da prática de handfasting, ele não
tinha dúvidas que Alasdair Munroe preferiria que sua filha se
casasse diante de Deus em uma igreja. Assim como seu
próprio pai. Como se sentisse a razão de sua indecisão, Jessie
lhe deu um breve olhar e um sorriso compreensivo antes de
dar atenção ao Capitão McBryde.
— Eu sou Jessie Munroe, a noiva de Lorde Lochrose. —
Ela disse com clareza.
McBryde se apresentou e depois dirigiu um olhar a
Robert.
— Então é disso que se trata, milorde? Defender a honra
desta jovem dama?
Robert olhou para Jessie, um vinco de preocupação
marcava a sua testa. Ele queria poupá-la de qualquer
humilhação pública. Mas como ele faria aquilo, ainda mais
quando estava claro que sua madrasta e Simon haviam
planejado o terrível ataque a ela? Era uma pergunta difícil.
— Está tudo bem, milorde. — Jessie falou, devolvendo
seu olhar com firmeza enquanto finalmente entrava na sala.
Embora a biblioteca estivesse iluminada apenas pela lareira e
pela fraca luz da manhã que entrava pelas janelas, foi o
suficiente para revelar os hematomas ao redor da garganta de
Jessie. Ela enfiou o fichu de tecido diáfano ao redor do decote
baixo em uma tentativa claramente mal sucedida de tentar
esconder a evidência do ataque de Simon. Robert viu o olhar
do Capitão McBryde piscar diante das marcas reveladores. —
É verdade que Lorde Lochrose tentou defender a minha
honra, mas ele foi profundamente provocado por seu irmão.
— Eu apreciaria se pudesse descrever exatamente o que
aconteceu, Srta. Munroe.
Para o crédito de Jessie ela não corou ou desviou o olhar
do capitão.
— Um pouco antes da meia-noite, depois que nos
retiramos, Simon entrou no meu quarto sem ser convidado
em uma tentativa de se forçar sobre mim.
Caroline bufou.
— Uma história previsível. Essa vadia tem se jogado
sobre Simon desde que cruzou nossa porta.
— Basta! — Seu marido ordenou. — Não ouse falar outra
palavra contra esta jovem.
Lady Strathburn empalideceu, mas isso não a impediu
de jogar a Jessie um olhar sinistro.
O Capitão McBryde inclinou a cabeça.
— Por favor, continue, Srta. Munroe.
Jessie respirou profundamente antes de retomar a sua
história. Encontrando o olhar do capitão novamente ela
sucintamente contou cada detalhe angustiante de seu
infortúnio. Robert só pôde admirar sua coragem.
— Felizmente, Lorde Lochrose ouviu o meu grito e veio
em minha ajuda. — Ela concluiu, lançando um olhar
agradecido a Robert. — Se não fosse por ele...
Sua mão voou para sua garganta machucada. Ela fechou
os olhos por um momento antes de voltar a olhar para
McBryde.
McBryde assentiu, havia compreensão e compaixão em
seus olhos.
— Posso ver como é difícil para você falar sobre isso,
Srta. Munroe. Você merece todo o crédito por sua franca
explicação.
McBryde virou-se para Robert.
— Posso ver porque você esteve compelido a defender a
honra de sua noiva, Lorde Lochrose. Mas, obviamente,
pensou melhor sobre agir tão imprudentemente ao
amanhecer. Parabenizo-lhe por isso.
— Verdade. — Robert concordou levantando uma
sobrancelha ironicamente. — E acredite, Capitão, não foi fácil
ignorar a oportunidade de punir meu irmão. Mas no fim,
percebi que meu desejo por ficar livre para me casar com a
Srta. Munroe era mais forte do que o meu desejo de vingança.
Tolbooth não é o melhor lugar para começar a vida de casado,
não acha?
McBryde assentiu, um leve sorriso quebrando a sua
fachada aparentemente impecável.
Robert se moveu pela sala até parar diante de sua
madrasta. Chegara a hora de ela ser responsabilizada por sua
perfídia. Ela visivelmente se encolheu na poltrona, suas mãos
puxavam as mangas de seu roupão. Foi satisfatório vê-la se
retorcer.
— Agora, queridíssima mãe, importaria de explicar como
possuía tantos detalhes sobre o duelo bem antes de ele ser
realmente marcado? Simon não propôs a hora e nem o local
até perto da meia-noite. Depois ele foi expulso de Strathburn
House. Como claramente não esteve presente ao confronto,
como foi capaz de avisar o Capitão McBryde sobre os termos
exatos do duelo com, pelo menos, duas horas antes do desafio
ter sido realmente feito, madame?
Caroline ficou boquiaberta como um peixe fora d’água.
— Eu... O Capitão McBryde deve estar enganado sobre a
hora que recebeu a carta.
McBryde ergueu uma sobrancelha.
— Na verdade não estou, Lady Strathburn. Era
precisamente dez e cinco da noite passada quando eu
entreguei a carta ao meu Comandante. Não há erro.
— Bem, não importa a hora. — Ridicularizou Lady
Strathburn. — Lorde Lochrose claramente quebrou os termos
de sua condicional ao desafiar o seu irmão a um duelo.
Duelos são contra a lei ou não? Ele deveria ser preso.
Lorde Strathburn deu um passo à frente.
— Este não é o caso. Robert desistiu do duelo, então não
cometeu um crime. Mas você, madame, e Simon, parecem ter
participado de uma conspiração contra Robert e a Srta.
Munroe. Deveria pedir ao bom capitão que a prendesse por
crimes de conspiração e incitar a violência. Você instigou,
ajudou e incentivou o ataque de Simon a Srta. Munroe, um
esquema que foi elaborado claramente para induzir Robert a
cometer um crime passional pelo qual seria preso. Você me
enoja, madame.
Seu pai virou-se para o Capitão McBryde.
— O que você acha, Capitão?
McBryde fez uma careta.
— Certamente existem evidências suficientes para
garantir uma investigação mais aprofundada tanto sobre o
envolvimento do Sr. Grant e de Lady Strathburn no ataque
contra a Srta. Munroe. Definitivamente parece existir um
elemento de premeditação na participação de ambos. Gostaria
que passasse o assunto para o escritório do Lord Advocate,
Lorde Strathburn?
Ignorando os ofegos horrorizados de sua esposa, Lorde
Strathburn olhou para Robert e Jessie.
— Como vocês se sentiriam levando este assunto para
frente? Especialmente você, minha querida Srta. Munroe.
Jessie franziu o cenho levemente enquanto pensava na
pergunta.
— Penso que você e Robert tenham que lidar com
escrutínio e dificuldades o suficiente, milorde. Eu não sinto a
necessidade de levar as coisas adiante.
Robert segurou a sua mão e levou até os lábios.
— Tem certeza, meu amor?
Jessie assentiu, um leve rubor iluminando suas
bochechas.
— Você e eu estamos seguros. Isso é tudo o que importa
para mim. — Ela disse em voz baixa, seus olhos brilhando.
Robert levou a mão dela a dobra de seu braço e se dirigiu
a McBryde.
— Pessoalmente eu gostaria muito de ver a minha
madrasta e meu meio-irmão acusados por seus crimes, a
minha futura esposa e eu não desejamos acrescentar nada à
infâmia que já está associada ao nome de nossa família. —
Ele olhou para a sua madrasta, o rosto dela agora ficou
doentiamente em um tom de verde. — E pela fisionomia de
Lady Strathburn, talvez a ameaça de um processo tenha sido
punição o suficiente. Não concorda, pai?
O olhar de seu pai estava definitivamente frio ao pousar
em sua esposa.
— Talvez. Pensarei sobre isso. Neste momento, direi que
estou decididamente menos inclinado a ser tão magnânimo
quanto ao subsídio que concedo a ela. Quanto ao nosso filho
mais novo, pretendo renegá-lo completamente.
Lady Strathburn ficou boquiaberta.
— Você já baniu Simon desta casa. — Ela ofegou. —
Certamente não cortará a sua única fonte de renda. Ele ficará
arruinado. Pense no escândalo, William.
— Vocês deveriam ter pensado nisso antes de você e
Simon embarcarem neste esquema para arruinar Robert e a
Srta. Munroe. — Alfinetou o conde. — E eu já tive o bastante
de sua presença maliciosa por esta manhã. Sugiro que se
retire ao seu quarto.
Lady Strathburn se levantou desequilibrada e se virou
para partir. Entretanto ao chegar à porta, ela conseguiu
estabilidade o bastante para lançar a última farpa na direção
de Robert.
— Você pode fingir inocência, mas não confio em você. —
Ela sibilou. — Não deixaria que Simon escapasse desta forma.
— Ela o desafiou. — Deve haver uma razão para ele não ter
ido ao duelo. O que fez ao meu filho?
Robert manteve a expressão perfeitamente neutra.
— Absolutamente nada, minha senhora. Não tenho ideia
de onde Simon está. Se ela não desmaiou de tanto beber em
seu quarto na Pousada White Horse, provavelmente está
escondido em uma casa de má reputação qualquer. E você
sabe tanto quanto eu que a chuva seria motivo suficiente para
mantê-lo afastado. Tenho certeza de que ele aparecerá.
Vinte

Quando Robert desceu para o porão d’A Fênix com


Drummond uma hora depois, foi para encontrar Simon
acorrentado a ferros no reduto abaixo do convés de carga. Na
luz vacilante das lamparinas, ele podia ver que os olhos de
seu irmão ainda estavam fechados – se dormindo,
inconsciente ou apenas fingindo, não saberia dizer. Embora
tenha obtido alguma satisfação com a visão, ele sabia que não
estava nem perto de aplacar a sua sede de vingança. Simon
precisava pagar pelo que ele fizera a Jessie.
A justiça seria feita de um jeito ou de outro.
— Assim que ele viu que eu tinha uma arma, ele
desmaiou. — Explicou Drummond com uma risada. — Ele
bateu a cabeça na maçaneta da porta da carruagem no
caminho. Tem um pequeno galo. Gostaria que eu chamasse
Tobias para trazer um balde com água para jogarmos nele?
Isso deve trazê-lo de volta de onde quer que ele esteja.
Robert se abaixou através das barras da treliça.
— Hora de acordar. — Ele chamou. — Você já ficou
desmaiado por muito tempo.
Simon abriu um olho e gemeu.
— Seu bastardo. Você não se safará disso.
Robert sorriu.
— Oh, eu acho que irei, especialmente depois que
escrever uma carta de despedida a sua mãe. Como estão as
suas habilidades de ditado?
— Vá para o inferno.
— De onde estou, diria que é onde está, querido amor.
O ajudante de contramestre e Tobias foram chamados e
em minutos, eles levaram Simon, ainda acorrentado, do porão
para a cabine de Drummond onde, sem cerimônias, foi
depositado em uma cadeira diante da mesa do capitão. Tobias
e o ajudante de contramestre tomaram a sua posição na porta
enquanto Drummond se acomodava negligentemente em sua
própria cadeira, uma fisionomia divertida em seu rosto
barbudo, ele atuava como o pirata mau e ameaçador muito
bem.
Robert encostou-se na mesa, seus braços cruzados sobre
o peito, encarando seu irmão. Na luz acinzentada que se
infiltrava através da janela da cabine, ele percebeu que
embaixo dos vários cortes, arranhados e hematomas, o rosto
de Simon também tinha um tom esverdeado de alguém que
decididamente enjoava no mar. Ele sorriu internamente
diante do pensamento.
— Você não pode fazer isso. — Simon resmungou,
apoiando a sua testa em suas mãos. Sob as mangas rendadas
de seu irmão, Robert podia ver que as algemas já deixavam
em cerne viva e áreas avermelhadas em seu pulso. — Isso é
rapto.
A boca de Robert se torceu em um sorriso irônico.
— Oh, mas eu posso. E eu acho que rapto é uma palavra
muito forte. Pense mais como... emprego remunerado. Você
está prestes a descobrir como é ser um marinheiro capaz.
Uma vez que o navio zarpar, você trabalhará como qualquer
outro a bordo.
Simon abaixou as mãos e atirou a Robert um olhar de
puro ódio.
— Sobre o meu cadáver.
Qualquer traço de humor abandonou o rosto de Robert.
— Acredite. Isso pode ser facilmente arranjado.
Simon bufou.
— Você tem nem coragem. Nem mesmo se apresentou ao
duelo.
Drummond se levantou abruptamente e se inclinou para
frente sobre a mesa.
— Eu acreditaria na palavra dele, rapazinho. — Ele
rosnou. — Seu irmão foi um mercenário, sabia? Há pouca
coisa que ele não faria.
Simon repentinamente empalideceu.
— Eu vou vomitar.
Drummond suspirou pesadamente e sinalizou para o de
contramestre.
— Oh, dê o balde ao bebezinho. — Na hora que Simon
acabou de esvaziar o conteúdo de seu estômago, Robert já
tinha pena, tinta e papel prontos.
Simon limpou a boca na manga da camisa.
— Eu não escreverei esta maldita carta. — Ele
murmurou com menos convicção do que antes.
Robert suspirou.
— Eu achei que diria isso. — Entretanto ele duvidava
que fosse preciso realmente usar qualquer tipo de força física
para coagi-lo. Como a maioria dos valentões covardes, Simon
provavelmente atenderia suas exigências diante da mera
menção a qualquer coisa remotamente dolorosa.
Fazendo uma demonstração disso, tirou o sobretudo e a
jaqueta e começou a enrolar a manga de sua camisa,
flexionando os músculos de seu braço. Ele voltou a olhar a
Simon e percebeu que ele lambia os lábios. Ele estava
nervoso.
Bom.
— Nós podemos fazer isso de um jeito fácil ou de um
difícil, Simon. Tudo depende de você. — Robert prosseguiu em
voz suave. Ele se virou para Drummond. — Você acha que
deveríamos começar com uma motivação?
Drummond estreitou seus olhos escuros para Simon e
esfregou sua barba, entrando no jogo.
— Pessoalmente acho que um bom ferro quente aplicado
nas regiões inferiores funciona muito bem. Mas você
realmente não pode deixar passar um bom esfolamento.
Devemos pedir ao Sr. Kennedy, nosso ajudante
de
contramestre aqui, para buscar o seu gato de nove caudas14,
milorde? Faz muito tempo que tivemos a oportunidade de
administrar uma flagelação decente?
Robert considerou o rosto sem cor de seu irmão. Ele já
estava decididamente verde novamente. Não levaria muito
tempo até ceder.
— Hummm, tentador. Mas estava pensando em algo
mais imediato e, desculpe-me o trocadilho, algo mais às
mãos. Você ainda tem aquele conjunto de anjinhos15?
Drummond sorriu.
— Uma ideia muito boa, milorde. — Ele disse pegando
um deles na gaveta de sal mesa. — Ei os tenho exatamente
aqui...
Simon ergueu seu queixo em sua última tentativa de
coragem.
— Você não ousaria.
Robert segurou o ombro de seu irmão e disse com uma
voz imbuída de ameaça suave e mal controlada.
— Oh, sim, eu teria. Você nem imagina o que eu faria
para puni-lo pelo que fez ontem à noite. Você realmente quer
me testar para descobrir?
Simon recostou-se na cadeira.
— Está certo. — Ele resmungou. Ele estava pálido e
suava. — Escreverei a maldita carta.
— Excelente. Sabia que você veria as coisas do meu jeito.
— Robert sorriu e empurrou os instrumentos de escrita para
Simon. — Você pode soltar as mãos dele dos ferros, Sr.
Kennedy.
Com dedos trêmulos, Simon pegou a pena. Ele estava
prestes a mergulhar a pena na tinta quando parou, a pena
suspensa sobre o pote. Ele ergueu seus olhos verdes para
Robert.
— Exatamente quanto tempo durará a minha
penitência? — Ele perguntou em um tom incomum e
moderado.
Os lábios de Robert formaram uma linha.
— Depende inteiramente de você, Simon, e o quão bem
cumpra os seus deveres a bordo do navio. Deixarei
Drummond lhe explique os detalhes de seus deveres diários.
Mas superficialmente posso dizer, tudo indo bem — incluindo
demonstração suficiente de arrependimento – prevejo que
terminará em um ano e um dia, assim como a minha
liberdade condicional.
O rosto de Simon ficou da mesma cor do leite, mas
assentiu e se inclinou para começar sua tarefa.
Robert esfregou o queixo.
— Agora, como começaremos? Querida mãe...

***

Querida mãe,
Após fazer uma análise de consciência, percebi que por
causa das minhas transgressões contra a minha família e
particularmente à Srta. Munroe, não me encontro apto a
permanecer na esfera da sociedade educada. Trouxe desonra
incalculável ao nome de nossa família e, por isso, lamento
sinceramente. Por favor, transmita as minhas mais sinceras
desculpas a todos que prejudiquei, especialmente à Srta.
Munroe.
No entanto, como está claro para mim que nunca serei
capaz de reparar adequadamente os meus erros, acredito que
a única ação razoável para tomar é me retirar do seio da
família. Decidi considerar isso como uma oportunidade de
explorar novos horizontes e procurar um novo propósito de
vida.
Robert tem me apoiado muito e me ajudando em minha
busca de autoaperfeiçoamento em minhas novas aventuras,
Seu devotado filho,
Simon

Lady Strathburn jogou a carta na frente de seu marido


enquanto ele terminava seus biscoitos com chá.
— É uma completa besteira, William. Você sabe tanto
quanto eu que Robert o forçou. Simon nunca iria por conta
própria.
A carta endereçada a ela havia sido entregue apenas um
pouco depois das dez horas por um jovem menino de rua.
Lorde Strathburn suspirou e pegou o papel. Ele o avaliou
rapidamente.
— Caroline, acho que seria melhor para todos envolvidos
se deixar isso quieto. Acho que é hora do nosso filho
experimentar mais da vida do que neste canto protegido do
mundo tem para oferecer. E se Robert está disposto a ajudá-
lo nesta aventura, quem sou eu para interferir?
Lady Strathburn encarou seu marido.
— Que podridão. Nosso filho foi raptado, tenho certeza
disso, e você não levantará um dedo para ajudá-lo. A menos...
— Os olhos dela se estreitaram cheios de suspeita. — Você
sabe exatamente onde Simon está, não é? Aposto minha alma
que você e Robert planejaram esse rapto juntos.
Lorde Strathburn levantou-se e friamente encontrou seu
olhar.
— Tudo o que você precisa saber é que Simon está
aprendendo uma lição de vida. Uma que está há muito tempo
atrasada.
— Aaargh. — Lady Strathburn pegou a carta de volta. —
Descobrirei onde ele está e o trarei. E então haverá um
inferno para pagar, marque minhas palavras.
Ela se precipitou até a campainha e chamou por Gordon,
que respondeu quase imediatamente. Ela suspeitava que ele
estivera ouvindo atrás da porta, mas ela não tinha tempo
para repreendê-lo.
— Diga a minha criada para pegar o meu manto e que
peça a minha liteira. E certifique-se que chamar um liteireiro
decente. Estou com pressa. — Ela ordenou.
O mordomo fez uma reverência.
— Sim, milady. Mas devo alertá-la que ainda está
chovendo.
Lorde Strathburn franziu o cenho.
— Talvez seja melhor que você use a carruagem,
Caroline.
— Não tenho tempo para esperar por ela. — Ela
respondeu enquanto pegava o manto preto de sua criada, que
estivera esperando no vestíbulo. Ela a vestiu sobre seu
vestido de dia de seda roxa e lançou ao marido outro olhar
furioso. — Se alguma coisa tiver acontecido a Simon,
responsabilizarei não apenas Robert, mas você também.
A liteira chegara imediatamente e dentro de pouco
tempo, Lady Strathburn estava batendo na porta do quarto de
Simon na Pousada White Horse.
Baird, seu valete, abriu uma fresta porta, mas ao
perceber quem era, abriu-a totalmente e fez uma reverência.
— Milady?
Ela passou por ele, entrando no quarto velho e vazio.
— Onde está o seu senhor? — Ele exigiu.
Baird, um homem alto de pele pálida e meia-idade,
encarou o chão.
— Sinto muito, milady. Eu não sei... Eu não o vejo desde
o amanhecer.
Abafando a onda de pânico que crescia, Lady Strathburn
olhou ao redor do quarto. Tanto quanto ela podia ver, não
havia sinais de luta ali.
— Diga-me o que aconteceu. Ele se preparou para o
duelo? E onde está o segundo dele?
Baird engoliu em seco e olhou para ela, como se tivesse
perdido as palavras. Ela percebeu pela primeira vez que o
valete estava em péssimas condições. Na verdade, parecia que
ele se arrastara em uma poça de lama.
— Não fique aí parado, seu tolo. — Ela espetou. —
Desembuche.
Baird balançou a cabeça, seus cabelos escuros caindo
sobre os olhos.
— Este é o problema, milady. Eu não sei exatamente o
que aconteceu. Eu acordei o Sr. Grant e o ajudei a se
preparar para o duelo às seis e dez como planejado. Seu
segundo, o Sr. Ramsay, estava dormindo, mas o Sr. Grant
não quis que eu o acordasse. Ele pensou que não precisaria
visto que eu tinha visto a Guarda Escocesa entrar no Parque.
Estava chovendo pesadamente, assim o senhor me pediu para
alugar uma carruagem para ele. Eu sabia que a pousada
mantém uma na estrebaria. Mas quando eu desci para pedi-
la... bem, acho que fui atacado na cabeça por trás. — Ele
massageou a parte de trás de sua cabeça e estremeceu.
— E? — Lady Strathburn exigiu, gesticulando
impacientemente. — Eu não quero ouvir sobre a sua
incompetência, seu idiota. O que aconteceu com o seu
senhor? Onde está o Sr. Ramsay?
Baird fez uma careta.
— Bem, a verdade, milady, é que fiquei apagado e
demorei para vir aqui. E quando eu voltei... o Sr. Grant já
havia ido. O Sr. Ramsay ainda estava aqui, mas ele não sabia
nada sobre o que acontecera. Ele só partiu há uma hora. Eu
acho que ele retornou para o seu alojamento em Lawnmarket
se quiser falar com ele.
Lady Strathburn sacudiu a mão em gesto de rejeição.
— Basta, seu idiota. Era suposto que deveria cuidar de
seu senhor. E com um crânio tão grosso quanto o seu, não
posso acreditar que foi derrubado por um transeunte comum.
Ao menos... — Seus olhos se estreitaram. Você disse que não
viu quem o atingiu?
— Não, milady. Estava muito escuro na estrebaria, além
da chuva forte. Sinto muito, milady.
— Cale-se, Baird. Eu preciso pensar.
Ela foi até a única janela do quarto e olhou para o pátio
de paralelepípedos abaixo, onde sua liteira esperava. Um ou
mais lacaios de Robert obviamente bateram em Baird e então
pegaram Simon. Mas dois podiam praticar o jogo do rapto.
Ela sorriu lentamente. Ela olhou por cima do ombro para o
valete.
— Simon deixou suas pistolas de duelo em algum lugar
por aqui?

***

Embora a manhã ainda parecesse sombria por causa da


chuva, Jessie estava com o espírito leve quando decidiu se
aventurar para fora do quarto de Robert e procurar a
companhia de Lorde Strathburn. Após a reunião na
biblioteca, Robert partira para as Docas Leith para despedir-
se d’A Fênix antes que ela embarcasse em sua viagem de volta
à Jamaica.
A para se despedir do irmão.
Robert lhe contara o seu engenhoso plano de recrutar
Simon como membro da tripulação de sua embarcação. Ela
não duvidava que depois de um ano em tal trabalho, Simon
seria um homem corrigido. E para seu alívio permanente, isso
queria dizer que ela não teria que vê-lo por este tempo.
Atravessando o corredor que levava às escadas, Jessie
sorriu ao recordar como Robert a beijara antes de sair de
Strathburn House. Ela tocou com os dedos os seus lábios
levemente inchados e deixou sua mente vagar para
pensamentos de como ela e seu marido por handfasting
passariam a tarde quando ele retornasse. Ele prometeu
retornar o mais breve possível...
O clique de uma porta se abrindo e o farfalhar de seda
logo atrás dela atraíram a sua atenção.
— Não faça barulho ou eu apertarei o gatilho. — Jessie
pulou ao som da voz de Lady Strathburn tão perto de seu
ouvido. Então ela sentiu algo duro ser empurrado entre suas
omoplatas. O cano de uma pistola.
Oh Deus. Jessie estacou. Seu pulmão ficou sem ar e um
terror congelante agarrou seu coração. A condessa
obviamente se lançava em uma contraofensiva porque Robert
levara o seu filho. Mas o que, em nome de Deus, ela
planejara? A vingança de algum tipo estava claramente em
sua programação, mas como exatamente ela pretendia
executá-la?
Respirando fundo, Jessie tentou se virar.
— Isso não ajudará, milady. O que poderia esperar...
— Eu lhe disse para ficar calada, sua pequena
vagabunda. — Lady Strathburn esticou o braço e segurou o
braço de Jessie e depois o puxou rudemente para trás, assim
ela ficaria pressionada contra o corpo da condessa. A pistola
estava agora empurrada na parte mais baixa de suas costas.
Jessie deteve-se imediatamente. Ela sabia que um tiro
descarregado em seu rim seria fatal.
— Agora, eis o que faremos. — Lady Strathburn
prosseguiu. — Você e eu desceremos as escadas e entraremos
em minha liteira. Se tentar alertar qualquer um ou tentar se
afastar de mim, não hesitarei em atirar em você. Fui clara?
Jessie assentiu, tentando conter o seu medo. A mulher
deve ter enlouquecido. Mas ela não ousava arriscar escapar,
não agora com uma pistola pronta para matá-la.
— Mova-se.
Jessie fez o que a condessa exigiu, rezando para alguém
aparecer e perceber que ela estava sendo coagida a sair.
Provavelmente Robert voltaria logo. Mas a escada e o
vestíbulo estavam completamente desertos quando desceram.
Até mesmo Gordon estava longe de vista.
A luxuosa liteira e seus dois estoicos carregadores
estavam parados na praça do outro lado de Strathburn
House. A chuva forte atingiu Jessie assim que ela emergiu no
pórtico coberto – ela se esforçou para não escorregar nos
degraus que levavam ao pavimento de paralelepípedo. Em
instantes ela ficou ensopada. Seu cabelo grudou cobriu seus
olhos e suas saias de seda agarraram-se as suas pernas
dificultando a subida ao recinto fechado da liteira. Ela
esperava que Lady Strathburn pudesse perder o equilíbrio,
mas em nenhum momento a pistola perdeu o contato com o
seu corpo.
Uma vez lá dentro, Lady Strathburn fechou a porta e
tomou assento ao lado de Jessie, a pistola agora diretamente
em seu flanco. Mesmo que a liteira da condessa fosse muito
mais confortável do que a que Jessie alugara no dia anterior,
ela se viu empurrada incomodamente contra o painel de
couro marroquino, do lado da janela coberta por cortina. O
quadril e a perna de Lady Strathburn estavam pressionados
contra a dela do outro lado.
— Ouvi dizer que tiros são uma forma lenta e dolorosa de
se morrer, então eu não planejaria nada se fosse você. —
Ameaçou a condessa. Com a outra mão, ela bateu no teto da
liteira e, apesar da chuva e do peso adicional de outra pessoa,
os carregadores partirem em um ritmo constante.
Um pouco de luz entrava na cabine através de uma
fresta estreita na cortina que cobria a porta do lado oposto ao
dela. No interior mal iluminado, Jessie podia identificar
apenas a inflexível dureza nos olhos da condessa. Seu
coração caiu como uma pedra. Seria difícil argumentar com a
mulher, mas ela tentaria.
Ela respirou fundo, sua garganta estava apertada de
medo.
— Por que está fazendo isso?
Um sorriso irritante se espalhou lentamente pelo rosto
de Lady Strathburn.
— Acho que você sabe o motivo. Mas caso não tenha
percebido, o seu noivo levou Simon, então agora estou
levando você. Simples.
Jessie ergueu o queixo, uma raiva repentina lhe dando
força.
— Não será bem-sucedida.
— Claro que serei. Por que Robert deve ser o único a
quem é permitido quebrar as regras? Circunstâncias
drásticas pedem medias drásticas. Quando eu tiver o meu
filho de volta, Robert poderá ter você.
Mas eu voltarei a Robert viva ou morta? O terror se
retorcia na barriga de Jessie em nós apertados. A expressão
fria e intransigente nos olhos de Lady Strathburn desmentia a
noção de que ela escaparia ilesa da situação.
Ela desviou o olhar da condessa em direção à janela.
Aonde elas estavam indo? Com as cortinas de veludos
fechadas, era impossível ver algo além de sombras passando.
Jatos gelados de medo pinicavam a sua pele. Ela tremia.
Ousaria perguntar à condessa a sua intenção? Talvez se ela
soubesse mais, ela poderia pensar e formular um plano de
algum tipo. Embora houvesse pouco o que pudesse fazer no
momento, ela não desistiria da ideia de escapar. Ela tinha
muito o que viver — havia encontrado o amor. Ela se
agarraria a qualquer chance que tivesse para voltar a Robert.
A liteira repentinamente parou. Jessie olhou para a
fresta da cortina, mas só viu um pouco das costas do liteireiro
e um pedaço de céu cinza escuro. A liteira girou lentamente
como se contornasse um obstáculo na via e então, entre os
telhados, ela teve o vislumbre das torres do Palácio Holyrood e
de seus portões.
— Aonde estamos indo? — A voz de Jessie beirava o
desespero. Robert nunca a encontraria tão longe de
Strathburn House. Elas poderiam facilmente desaparecer em
qualquer uma das vielas labirínticas. Ou ainda pior,
aventurar-se em uma das zonas desrespeitáveis e áreas
desoladas do Parque Holyrood: a antiga terra de caça real era
cercada por penhascos altos, terras cobertas de tojo e
pântanos que cobriam uma grande área de mais de seiscentos
acres. A área leste, perto dos Penhascos Salisbury estaria
praticamente deserta, principalmente em um dia como
aquele.
Lady Strathburn suspirou.
— Não importa. — Ela disse com um entediado desdém.
— O conhecimento de seu destino imediato não a ajudará de
nenhum jeito, se é isto o que está pensando.
Repentinamente ocorreu a Jessie que elas não poderiam
ir muito longe em uma liteira. Lady Substratum deve ter mais
alguém convenientemente esperando por perto. Jessie sabia
que ela deveria agir rápido para se libertar se fosse o caso.
Sua mente trabalhava furiosamente. Devia haver alguém mais
envolvido no esquema da condessa.
De algum jeito, Jessie conseguiu falar novamente.
— Quem você recrutou para ajudá-la? Você não
conseguiria realizar o meu sequestro sozinha.
Lady Strathburn sorriu.
— Baird. Você lembra dele, não? Ele ficou mais do que
disposto em ajudar, especialmente quando eu lhe ofereci
liberdade a usá-la durante o seu confinamento. Ele está
acostumado a usar os restos de Simon.
Oh, Deus, não. A bile subiu à garganta de Jessie e pontos
escuros dançaram diante de seus olhos. Um terror, como
nunca sentira antes, ameaçava dominá-la. Ela cavou as
unhas nas palmas de sua mão e lutou para não desmaiar. Se
ela fizesse, não haveria chance de escapar.
Ela respirou fundo e se forçou a olhar diretamente nos
olhos da condessa. Havia alguma chance de ela apelar pelo
melhor daquela mulher?
— Como uma mulher bem-nascida como você se
comporta de uma maneira tão inescrupulosa e com
condenada depravação? — Ela perguntou, sua voz trêmula
tanto de medo quanto de ultraje. — Você não tem nenhum
senso de decência moral, Lady Strathburn? Por favor, imploro
que reconsidere...
A condessa de repente apontou a pistola em direção à
têmpora de Jessie e se inclinou até que seus narizes
estivessem quase se encostando. Seu hálito saiu
doentiamente doce contra os lábios de Jessie.
— Agora escute aqui, sua putinha conveniente...
Neste momento, a liteira balançou loucamente para o
lado e bateu na rua com a força de sacudir os ossos. Jessie
gritou e se agarrou freneticamente à alça de couro acima de
sua cabeça para impedir de cair do assento. Lady Strathburn
caiu sobre ela e Jessie sentiu o cano frio e duro da pistola
apertasse contra a sua testa. Oh, Deus, por favor não deixe
isso acontecer. Um deslize no dedo da condessa e ela estaria
morta.
Através da neblina de seu medo, Jessie ficou consciente
da grande cacofonia do lado de fora – um cavalo relinchando,
seguido do barulho de madeira se partindo, o som de algo se
quebrando nos paralelepípedos e vozes gritando e
blasfemando.
Em segundos a porta da liteira foi amplamente aberta e
uma dos liteireiros olhou para dentro.
— Vocês estão bem, miladies? Senhora? Sinto muito,
mas houve um acidente. Meu companheiro escorregou e
machucou-se. E outro veículo tombou.
— Sim, é claro que estamos bem. Saía do meu caminho,
homem estúpido. — A condessa se mexeu agarrando Jessie
com firmeza ao redor dos ombros com uma das mãos e
falando em seus ouvidos:
— Saía. Não diga uma palavra ou juro que a matarei.
Jessie assentiu fracamente, muito paralisada pelo medo
para falar. Por que o liteireiro não notara que a condessa
tinha uma arma pressionada contra a sua cabeça? Talvez ela
estivesse escondida pela massa emaranhada e encharcada
que eram os seus cabelos. Ela gemeu, mas o homem já havia
desaparecido de vista. Sem outro recurso a não ser obedecer,
Jessie de alguma forma fez seus membros trêmulos
funcionarem e desceu da liteira. A condessa manteve seu
aperto em seu ombro enquanto elas saíam, a pistola agora em
suas costas. Elas estavam no final da Mile, no meio da via
onde a Canongate, o Water Gate e a Abbey Strands se
cruzavam. O portão do Parque Holyrood estava bem à frente
delas. E em algum lugar das cercanias, Baird deveria estar
lhes esperando com uma carruagem. Não.
Jessie piscou contra as duras alfinetadas de chuva que
pinicava, seu rosto enquanto, freneticamente, olhava ao
redor, incerta do que fazer ou de que caminho seguir. Tudo ao
redor era um caos. O liteireiro que caíra estava deitado na via,
gemendo horrivelmente enquanto agarrava a sua perna – seu
tornozelo estava em um ângulo estranho, havia sangue e um
osso saliente. Oh, Deus. A náusea aumentou dentro de Jessie
diante da horrível visão. Outro veículo estava tombado diante
dela havia perdido a carga. Maçãs, cebolas, repolhos e deus
sabia o que mais se espalhado pela via. Um cavalo com um
olhar selvagem relinchava e se empinava. Havia pessoas em
todos lugares, mas elas pareciam focadas na condição do
carregador ou divergiam sobre como desviar o tráfego. Alguém
tocava um sino de alerta e vários homens tentavam controlar
o cavalo.
Deveria me libertar agora e correr.
A pistola encostou nas costas de Jessie novamente e o
aperto da mão da condessa sobre seu ombro aumentou. Lady
Strathburn não seria frustrada tão facilmente.
— Continue andando. Mova-se.
Jessie cambaleou ao redor do veículo e cruzou a via em
direção aos portões do Parque Holyrood. A esperança brotou
diante do pensamento de que o oficial na portaria pudesse
notar a sua situação, porém a condessa a forçou a virar à
esquerda em direção à Leith Road, para longe da confusão.
Longe de qualquer perspectiva de ajuda. Deus, salve-me. Isto
não pode estar acontecendo.
Mas estava. Jessie tropeçou na beira da estrada,
cruzando o Water Gate, passando pelo poço público e pela
parte de trás da Canongate até a condessa forçá-la a parar na
entrada de uma via imunda. Uma fileira de cortiços, estábulos
e armazéns de aparência duvidosas e bem compactados ficava
de um lado e uma extensão de terreno pantanoso do outro
lado.
— Não sei para que lado ir. — A voz de Jessie estava
fraca por causa das lágrimas e do desespero. Ela nem tinha
percebido que estava chorando.
— Baird está nos esperando lá embaixo. Apresse-se.
Lady Strathburn a empurrou e Jessie começou a andar
em frente, suas pernas estavam rígidas, seus pés pesando
toneladas. Este não podia ser o seu fim. Ela não podia deixar
que Lady Strathburn se safasse disso.
Tenho que voltar para Robert.
Mas como?
Havia um terreno abandonado do final da via e, logo à
direita, levemente ocultada por pequenas árvores, uma
carruagem preta e comum e um homem... Baird. Seu cabelo
preto estava grudado em seu pálido rosto de doninha.
Quando elas se aproximaram, a boca dele abriu um sorriso
estranho e lascivo.
Não. Jessie se deteve e Lady Strathburn bateu nela.
— Eu não irei com você.
Vinte e Um
Onde, em nome de Deus, estava Jessie?
Robert parou o seu cavalo na beira da Auldgate Square,
olhando freneticamente para cima e para baixa da Royal Mile
por qualquer sinal da liteira de sua madrasta. Embora o
tráfego estivesse relativamente escasso para essa hora do dia,
sua visão estava encoberta pela chuva forte.
Uma torrente de medo percorreu suas veias. Sua
madrasta raptara Jessie, ele tinha certeza disso. Ele se
culpava por ter enviado a carta de Simon a Strathburn House
antes de ele retornar d’A Fênix. Deveria ter previsto que
Caroline era capaz de agir de maneira imprudente e insensível
e não hesitaria em agir, olho por olho, dente por dente. A
mulher já demonstrara que era podre até o âmago.
E novamente a sua falta de planejamento criterioso e
prognóstico – provocado por seu próprio excesso de
autoconfiança e arrogância – tinham colocado a sua linda e
jovem esposa, a luz que aquecia a sua alma obscura, em
iminente perigo. Se algo acontecesse a ela, ele nunca se
perdoaria.
Felizmente Gordon vira Jessie e sua madrasta subirem
na liteira menos de dez minutos atrás. Elas não podiam ter
ido muito longe com este tempo. Mas por onde elas tinham
ido?
Robert estreitou seus olhos no meio dos jatos gelados de
chuva e olhou em direção ao fim da Canongate. A Pousada
White Horse e o Parque Holyrood ficavam naquele caminho.
Se Caroline pretendia afastar Jessie, ou fazer pior, ele supôs
que ela podia ir naquela direção em vez de subir a colina em
direção ao Castelo Edimburgo, onde o regimento da Guarda
Escocesa estava. Claro, havia inúmeras vielas obscuras ou
ruas sem saídas que ela poderia ter levado a sua liteira. Se
fosse o caso, seria quase impossível de localizar Jessie
rapidamente.
Robert direcionou seu cavalo para a via principal. As
ruas estavam alagadas – as condições eram verdadeiramente
traiçoeiras. A vontade de viajar mais rápido do que um lento
trote era forte, mas ele manteve a impaciente sob as rédeas.
Seria muito fácil para qualquer um, a pé ou a cavalo,
escorregar na via. Ele sufocou outra onda de medo por Jessie.
Ele precisava focar em localizar a liteira e não em sua
imaginação solta.
Ele tinha cavalgado cerca de cem metros na Canongate
quando percebeu uma comoção à frente, não muito distante
dos portões de Holyrood. Vozes gritando, um sino soando, o
relincho de um cavalo amedrontado.
O que diabos acontecera? O instinto lhe disse que tinha
alguma relação com Jessie.
Ignorando o risco, ele incitou seu cavalo em direção ao
caos na rua. E então parou a uma curta distância do que
parecia o quadro de seu pior pesadelo. Entre as rodas do que
parecia uma carroça quebrada e as pernas da multidão
reunida, vislumbrou o que parecia alguém no chão. Gemendo
terrivelmente e se contorcendo.
Oh, não, não, não. Seu coração batia acelerado contra
suas costelas, Robert saltou de seu cavalo e atravessou
empurrando os espectadores chocados.
Não era Jessie. Graças a Deus. Era um homem – pela
aparência um carregador de liteira – com uma fratura no
tornozelo impressionante. Ele estremeceu em simpatia antes
de avaliar os rostos ao redor dele.
Ainda não havia sinal de sua esposa.
Então ele viu. Ali perto, ao lado da carroça, estava a
liteira de sua madrasta com a porta aberta. Inferno. Estaria
Jessie lá dentro? Ferida?
O medo o rasgou por dentro novamente e Robert forçou
sua passagem pela multidão e correu até a liteira.
Mas não tinha ninguém lá dentro.
Santo inferno. Robert não sabia se amaldiçoava ou
agradecia a Deus.
Ele se endireitou e girou ao redor, avaliando as aberturas
escuras paras todas as vielas e ruas sem saídas além do
cenário do acidente entre a Abbey Close e o Parque Holyrood.
Para baixo a Horse Wynd. Em frente a movimentada via para
a Abbey Hill e para a Leith. Jessie devia estar por perto. Era
como se ele pudesse sentir a sua presença.
Lá. Mas adiante, passando o Water Gate. Ele conseguia
apenas identificar duas figuras femininas –ele apostaria em
figura esbelta e ruiva – virando a esquina de outra rua.
Caroline deve estar armada. Jessie nunca teria ido com
sua madrasta, a menos que fosse obrigada. Graças a Deus ele
pensara em trazer consigo a sua arma – uma pistola. Enfiada
na parte de trás do cós de sua calça, seu casaco a escondia.
Ser visto com uma arma proibida certamente não o
favoreceria se a Guarda da Cidade ou a Escocesa estivessem
por perto, ou o Alto Comando localizado no portão principal
de Holyrood. Sua condicional seria revogada até mesmo pela
menor das transgressões. E aquilo poderia não acontecer. Não
agora que ele tinha uma vida pela qual valia ser vivida.
Após montar e realinhar seu cavalo, Robert manobrou o
cavalo entre a multidão de espectadores, então o incitou a um
trote rápido pela Leith Road para a rua lateral.
Sim. Lá estavam elas no final da via, indo em direção a
um conjunto de árvores e à margem do terreno público que
levava à Calton Hill. Não querendo perder tempo, mas ciente
de que uma aproximação silenciosa era mais indicada, Robert
desceu de seu cavalo na metade do caminho e entregou as
rédeas e uma coroa a um garoto que estava nas sombras
entre duas pensões. Ele seguiria a pé. Observar, depois tomar
as medidas necessárias.
A chuva pesada continuava inabalável. Isso bloqueava a
sua visão, mas também disfarçava os respingos de seus
passos enquanto ele atravessava a via enlameada.
Embora seu coração martelasse em seu peito e sua
barriga se agitasse de ansiedade, ele não podia se permitir ser
dominado pelo pânico. Ele precisava ter a mente limpa. Por
Jessie.
Chegando ao bosque, ele parou e se escondeu, ouvindo.
— Eu não irei com você.
Jessie. Seus instintos estavam certos.
Sua madrasta falou, sua voz carregada de malícia.
— Ah, então obviamente você quer uma bala em seu
flanco direito agora...
— Você blefa, Lady Strathburn. Nunca mais terá a
chance de ver seu filho novamente se me matar. Robert
cuidará disso, pode ter certeza.
Isso, moça. Protele. Robert lançou um olhar ao redor das
árvores. Havia uma carruagem. Um homem alto, rosto oleoso,
pouco corpulento parecia destrancar a carruagem e descer os
degraus.
Então as próximas palavras de Caroline alcançou os
seus ouvidos e seu sangue correu quente e zangado em suas
veias.
— Bem, talvez Baird possa lhe providenciar algum
incentivo de cooperação. Ou entra na carruagem ou o deixarei
lhe foder bem aqui e agora enquanto eu assisto.
Sobre o meu cadáver. Elimine Baird, depois lide com
Caroline.
Eles não poderiam ir a lugar nenhum se não tivessem
um cocheiro. Aproveitando-se do fato que todos estavam com
as costas viradas para ele, Robert se agachou e rastejou até
um arbusto de tojo e uma cerca de madeira quebrada a sua
esquerda. Mais perto. Jessie estava a poucos metros de
distância agora. Ele vislumbrou a arma de Caroline – pela
aparência era uma arma de duelo – pressionada nas costas de
Jessie enquanto ela era rudemente empurrada em direção à
carruagem. Merda. Ele esperava que sua madrasta tivesse
firmeza nos dedos.
Baird estava parado de lado, perto da trilha, sorrindo
enquanto acariciava sua virilha com uma mão, sua atenção
em Jessie quando ela levantou as saias para subir na
carruagem. Bastardo.
Robert puxou sua pistola das costas de suas calças e
focou com toda a concentração, preparando-se para atacar.
Um bom golpe e limpo na parte de trás da cabeça com o cabo
da arma seria suficiente.
Cinco passos rápidos, um golpe curto e Baird fora
derrubado.
— Afaste-se de Jessie, Caroline. — Ele rosnou enquanto
apontava a sua pistola em direção à cabeça de sua madrasta.
— Ou irei matá-la antes que saiba o que lhe atingiu.
Caroline gritou e puxou Jessie contra o seu próprio
corpo. A cadela estava tentando usar Jessie como escudo,
mas, pelo menos, agora a sua pistola estava virada para ele.
— O que fez com meu filho? — Ela gritou, sua pontaria
oscilando descontroladamente enquanto ela cuspia cada
palavra. Seu rosto estava branco, exceto por duas manchas
feias e vermelhas em suas bochechas.
Jessie choramingou, seus olhos arregalados,
aterrorizados.
— Robert...
Caroline puxou com crueldade os seus cabelos com a
mão livre.
— Cale a sua boca. — Ela gritou.
Inferno, a mulher estava mais instável do que Robert
percebera. Ele engoliu com dificuldade a bola de medo que
rapidamente apertava sua garganta. Deus sabia o que sua
madrasta poderia fazer.
— Abaixe a pistola, Caroline, e eu a levarei até Simon.
Asseguro-lhe, ele está bem.
— Mentiroso. Eu não acredito em você.
Houve um clique; o característico som de uma arma
sendo engatilhada.
Cristo.
— Não! — Jessie torceu o pulso de Caroline tentando
arrancar a pistola.
— Solte, sua vadia. — O rosto de Caroline estava
contorcido em uma máscara feia, cheia de ódio e, pelo espaço
de tempo de uma batida do coração, as duas mulheres
lutaram entre si para obter o controle da arma.
Jesus Cristo, não. Se alguma coisa acontecer a Jessie...
Robert avançou no momento em que as mulheres
escorregaram na lama e caíram no chão, Jessie em cima de
Caroline. Um tiro soou.
Não, não, não.
— Jessie! — O terror rasgou dentro dele tão certo quanto
a bala que acabara de ser disparada. Robert avançou e
afastou Jessie de sua madrasta. Sangue. Em ambas. —
Jessie, amor?
— Estou bem, Robert. — Ele foi alcançando por Jessie e
sentiu-se cair na lama, abraçá-la, embalá-la em seus braços
enquanto ela soluçava contra o seu pescoço.
— Eu não queria que a pistola disparasse, mas pensei
que ela o mataria. Graças a Deus, você está bem também.
Sim. Graças a Deus. Enquanto o alívio o varria, Robert
acariciava os cabelos molhados e bagunçados de Jessie e as
suas costas trêmulas. Segura. Sua linda esposa estava em
segurança. Ele mal conseguia entender. Mesmo não
desejando, mas sabendo que tinha que fazer, ele olhou para a
sua madrasta. Ela levara um tiro no peito. Lado esquerdo.
Morta como pedra.
Nós precisamos nos afastar daqui.
— Jessie, moça. Devemos nos mover. Se alguém nos
achar aqui com Lady Strathburn...
Jessie respirou fundo e se afastou de seu abraço.
— Oh, Deus, você está certo. Especialmente você não
pode ser visto aqui.
Quando se levantaram, as pernas de Jessie cederam
momentaneamente. Robert blasfemou e a puxou contra ele.
Após empurrar sua pistola no cós da frente de sal calça, ele
vestiu seu sobretudo e a abraçou seu corpo trêmulo. Depois
ele a levantou em seus braços.
— Espero que meu cavalo ainda esteja no local onde o
deixei.
Graças aos céus, o garoto que ele o entregou era
confiável. O rapaz aceitou outro punhado de moedas sem
dizer uma palavra, ofereceu a Robert um sorriso cheio de
dentes e correu para as sombras de uma das casas. Após
colocar Jessie em sua montaria, Robert subiu atrás dela e
virou seu cavalo na direção da Canongate novamente.
— Estamos i-indo para casa? — Perguntou Jessie entre
os dentes que se batiam.
Robert a puxou para mais perto dele enquanto trotavam
pela via.
— Temo que teremos que voltar à cena do acidente, mo
chridhe. Estará a Guarda Escocesa, ou pelo menos, a Guarda
da Cidade, averiguando o local por agora. Eles notarão a
liteira de Caroline lá e quando questionarem – e nós sem
dúvidas seremos – atestaremos que você esteve lá o tempo
todo e que eu cheguei até você logo após me despedir d’A
Fênix. Estou contando com o fato da confusão ainda esteja
reinando e ninguém terá notado nossas idas e vindas.
Jessie assentiu.
— Rezo para que esteja certo.
Ao se aproximarem da Canongate, Robert pode ver que
ainda havia uma grande atividade ao redor do local do
acidente. Ele estimava que eles deviam ter apenas uns dez
minutos. Com alguma sorte, ninguém teria procurado por
Jessie e pela condessa ainda. Ele desmontou, depois ajudou
Jessie a descer. Ele pegou a sua mão.
— Acha que consegue andar daqui?
Ela assentiu e lhe deu um sorriso trêmulo.
— Sim.
Em menos de meio minuto, eles chegaram a Royal Mile
novamente. Robert segurou seu cavalo e então a levou a um
beco escuro nas proximidades para que pudesse tê-la em
seus braços. Ele ainda não conseguia acreditar que ela
sobrevivera aquele pesadelo sem ferimentos. Esmagando o
corpo contra o dela, ele aspirou o cheiro doce de seus cabelos.
Lágrimas escaparam dele e se misturaram à chuva que caía
no rosto dela enquanto ele depositava beijos leves em sua
testa, pálpebras e bochechas.
— Tem certeza de que não se machucou, meu amor?
— Estou bem. — Ela murmurou sem ar, estendendo a
mão para tirar o cabelo do rosto dele. Seus olhos se
encontraram e ele pôde perceber que seu olhar era mais
solene do que de alívio. Ela não conseguia esconder isso dele.
As sombras de todo sofrimento ainda permaneciam em suas
profundezas e, muito provavelmente, duraria algum tempo. —
Você provavelmente percebeu que a sua madrasta estava
tentando me raptar com intuito de resgatar Simon. Não sei
como me encontrou...
— Gordon lhe viu saindo com a minha madrasta. Depois
o acidente atraiu a minha atenção. Foi um infortúnio, mas se
não fosse ele... Garantirei que o pobre liteireiro e qualquer
familiar que tiver sejam bem recompensados.
Jessie assentiu, depois fechou os olhos brevemente antes
de focar seu olhar novamente no dele.
— E Baird?
Robert sentiu os músculos de sua mandíbula
enrijecerem.
— Tenho certeza que ele já se recuperou e, se tiver algum
cérebro, ele baterá em retirada. Ele pode ir para o inferno,
junto com Simon e a minha madrasta. Não é menos do que
eles merecem. — Por mais que isso o irritasse, ele estava
inclinado a deixar Baird escapar. E como Simon estava fora,
ele duvidava que um dia veria o rosto do homem novamente.
Baird era apenas malditamente sortudo, pois os termos de
sua condicional o deixava de mãos amarradas para buscar
qualquer forma de justiça real.
Outro toque de sineta atraiu a atenção de Robert para a
rua. Relutantemente, soltou Jessie e se virou. Uma carroça
ambulância finalmente chegara e o carregador ferido seria
levado em uma maca. Um par de soldados da Guarda
Escocesa e alguns da Guarda da Cidade puderam ser vistos
no meio da multidão. Na verdade, o outro carregador da liteira
falava com um dos dragões e apontava para Jessie. Os
batimentos de Robert aumentaram um pouco. Não demoraria
muito até que alguém quisesse interrogá-la. E eles
provavelmente perguntariam sobre a localização de Lady
Strathburn.
— Apesar de tudo o que a sua madrasta fez, eu sinto
muito que as coisas tenham terminado desta forma. — Jessie
murmurou. A emoção encobria a sua voz. — Pelo menos, por
causa de seu pai.
Robert voltou-se encantado pela capacidade de
compaixão e de perdão de Jessie. Ela realmente tinha uma
bela alma. Ele a trouxe novamente para os seus braços, não
apenas para confortá-la, mas para assegurar a si mesmo que
ela estava a salvo... e foi então que ele sentiu o cabo de sua
pistola pressionando afiadamente o osso de seu quadril.
Droga. Inferno maldito. Se a Guarda Escocesa ou a da
Cidade a visse, ele já era. O mais furtivamente possível, ele
deslizou a pistola para as suas costas e a encaixou em suas
calças, rezando para que sua jaqueta de lã pudesse ser o
suficiente para esconder a protuberância suspeita. Ele não
tinha lugar melhor para escondê-la, seu sobretudo ainda
estava sobre os braços de Jessie e ela claramente precisava
dele, não apenas para aquecê-la, mas para cobrir as manchas
de sangue da frente de seu encharcado vestido azul.
Pensar que ele quase a perdeu...
— Não me importa nada além do fato de você estar viva e
comigo. — Ele murmurou empurrando gentilmente as mechas
de seu cabelo molhado para longe de seus olhos. Ele segurou
seu adorável rosto em suas mãos, roçando levemente o seu
polegar ao longo das maçãs de seu rosto, onde ainda tinham
traços de lágrimas e de chuva .
— Beije-me — Ela sussurrou.
Ele se viu afogado no brilho carinhoso de seus olhos
castanhos uísque. Deus, como ele podia resistir?
— O que minha dama quiser. — Ele murmurou.
Ele quis que o beijo fosse leve e lento, uma gentil
homenagem a tudo o que Jessie significava para ele, mas logo
ficou claro que a sua apaixonada esposa tinha outras ideias.
Quando ela agarrou a sua nuca e moveu sua boca
ansiosamente contra a dele, ele perdeu o controle de toda
emoção reprimida e correspondeu ao beijo com igual ardor. E
a loucura do mundo atrás deles desapareceu.
Robert a encostou na parede de tijolos da rua e devorou
tudo o que ela oferecia. Sua língua e lábios exploravam
completamente a boca dela, saboreando sua inebriante
doçura.
Ele sentiu as mãos de Jessie deslizarem por sua jaqueta
e freneticamente agarrarem o tecido molhado que se agarrava
ao seu peito e costas; as mãos estavam em todos os lugares,
como se ela quisesse rasgar sua camisa. Ele também estava
impaciente para tocar sua pele, a seda molhada de seu
vestido logo se tornou uma barreira que ele não poderia
tolerar. Sua fome por ela, toda ela, aumentava
constantemente a cada momento. Ele enfiou a mão pelas
dobras de seu sobretudo, procurando seus seios...
— Ora, ora, Lorde Lochrose. Não me faça prendê-lo por
demonstrações inapropriadas de afeto e assédio a uma dama
em local público.
Robert levantou a cabeça e olhou por cima do ombro. O
Capitão McBryde, montado em um excelente cavalo da
cavalaria, estava bem atrás dele. Maldito homem do inferno. O
pânico cresceu. Robert rezava para que os olhos afiados do
soldado não percebessem o contorno da pistola embaixo de
sua jaqueta. Ele puxou Jessie para perto de seu corpo para
esconder as manchas de sangue no vestido.
Apesar da externa expressão de preocupação do oficial,
Robert pensou ter detectado um brilho de divertimento nos
olhos do homem. Pigarreando ele disse suavemente:
— Apenas cuido de minha mulher, Capitão. Ela estava
na liteira com Lady Strathburn, como sabe.
O Capitão McBryde ergueu uma sobrancelha. Para seu
crédito, o homem nem hesitou ao termo mulher usado por
Robert para se referir a Jessie. Ele olhou de Robert para
Jessie.
— Você sabe onde Lady Strathburn está, milady?
A pergunta era inevitável e Robert sentiu Jessie se
enrijecer em seus braços, mas ela manteve o olhar firme no
capitão.
— Temo que não, Capitão. Você vê, eu recebi um golpe
na cabeça e com toda a confusão, não tenho certeza do que
aconteceu.
Robert sorriu por dentro, ele não ficou nada além de
impressionado com a rapidez de pensamento de Jessie e a
demonstração de sangue frio.
Entretanto McBryde franzia o cenho.
— Tem certeza que está tudo bem?
— Estou muito bem, Capitão. — Jessie respondeu com
aparente calma. Sua boca se inclinou em um sorriso tímido
ao acrescentar. — Especialmente agora que meu Lorde
Lochrose chegou para cuidar de mim.
Talvez ainda sentindo que faltava alguma coisa, o olhar
do capitão disparou para Robert antes de voltar a Jessie.
Dado o incidente desta manhã e a peculiaridade de Jessie
acompanhar a condessa em uma liteira que servia apenas
para uma pessoa, não era de admirar que ele suspeitasse de
algo. No entanto ele meramente sorriu de volta e inclinou a
cabeça.
— Talvez eu possa visitá-la esta tarde em Strathburn
House para pegar a sua declaração sobre o acidente.
— Isso seria muito bom. — Jessie falou com uma
elegante inclinação de cabeça. — Nós o esperaremos.
O vinco na testa de McBryde repentinamente aumentou
com uma falsa preocupação.
— Tem certeza de que este homem não a perturba, Lady
Lochrose? Eu ainda posso prendê-lo se estiver, você sabe.
Ela sorriu largamente.
— Posso garantir, Capitão, que estou sendo muito bem
cuidada.
McBryde sorriu. Depois olhou para Robert.
— Bem, como quiser então, milorde. — Ele afastou seu
cavalo.
Robert lançou a Jessie seu sorriso torto que tanto
significado tinha para ela enquanto ele a abraçava – a mulher
que ele amava mais do que qualquer coisa, sua mulher.
— Quem sou eu para desobedecer a lei?
Epílogo
Abril, 1758
Castelo Lochrose, Strathspey, Escócia

As águas espelhadas do Lago Kilburn refletiam o claro


azul do céu e a folhagem verde primavera das árvores ao
redor quando Robert e Jessie tomaram seus lugares para um
piquenique. Um salgueiro-chorão parecia um bom lugar para
estender seus cobertores entre os grupos de narciso, açafrão
roxo e neve. Para Jessie parecia como o paraíso privado deles.
Passaram-se algumas semanas desde que eles
conseguiram algum tempo para ficarem sozinhos. O filho
deles, William Robert Alasdair Grant, ou Will como Jessie
costumava chamá-lo — só agora estabelecera horários
apropriados de sono após alguns dias e noites sem dormir por
causa dos dentes. Embora Annie Shaw, a prima de Tobias,
fosse uma excelente cuidadora, apenas nesta manhã que
Jessie se sentiu bastante confortável para deixar seu precioso
filho de sete meses por mais de algumas horas. De cabelos
pretos como Robert e olhos castanhos como os dela, ele era
um menino bonito, saudável, forte, normalmente — dentição
a parte — disposto, feliz e com sorriso pronto.
Assim como o pai. Jessie pensou enquanto olhava a
Robert. Ele estava desembrulhando o pão, queijo e vinho
francês da cesta que a Sra. McMillan preparara. Uma mecha
de seu cabelo caíra sobre sua testa, escondendo seus olhos
azuis profundos de vista. Ele removera sua jaqueta e botas e
agora estava vestindo apenas a camisa de linho, aberta no
pescoço e as calças de veludo. Ela repentinamente sentiu-se
faminta, mas não pelo que estava sendo espalhado pelo
cobertor.
Sorriu para si mesma, contemplando como eles
passariam as próximas horas. Sim, hoje estava destinado
para apreciar cada segundo que teria com seu lindo marido.
Ela sabia que eles poderiam contar com a total privacidade ali
no lago. Não havia mais ninguém em Lochrose, exceto o filho
deles, que poderia ter qualquer motivo para precisar deles. Na
verdade, Lorde Strathburn e seu pai estavam atualmente em
Inverness resolvendo assuntos da propriedade e não
voltariam por mais alguns dias.
Mesmo agora sendo uma Viscondessa, seu pai escolhera
continuar como administrador. Ele concluíra que a
propriedade precisaria ter os melhores administradores para
garantir que seus netos herdassem propriedades mais
lucrativas. E Robert e Lorde Strathburn ficaram felizes por ele
fazer essa escolha.
Robert vira que, em um pouco espaço de tempo, o pai
dela fizera uma diferença real na lucratividade da
propriedade. Na verdade, levou apenas seis meses para a
propriedade, sob a cuidadosa administração de seu pai, gerar
lucros o bastante para readquirir as terras que foram
vendidas para pagar as montanhosas dívidas de Lady
Strathburn e Simon. Com a recuperação das terras do Clã
Grant e o rápido reabastecimento dos cofres da família,
Robert foi capaz de oferecer o que ele considerava ser uma
compensação justa a todas as famílias do clã que perderam
alguém em Culloden. Jessie suspeitava que a culpa de Robert
nunca seria totalmente reduzida, mas ela sabia que ele estava
menos preocupado do que antes.
É claro, seu pai havia inicialmente ficado confuso e mais
do que um pouco preocupado com a indecorosa pressa com
que ela tinha se unido em handfasting a Robert. Jessie — pelo
desejo de poupar esforços desnecessários para o pai —
fornecera a ele uma versão altamente editada dos eventos que
ocorreram naqueles tumultuosos sete dias que uniram ela a
Robert. Ela não gostava de mentir ao pai, mas detalhar tudo o
que ela esteve perto de perder — particularmente nas mãos
de Simon e Lady Strathburn — apenas causaria a ele
nervosismo e não havia nada que pudesse ser alterado.
Naturalmente o seu pai ficara profundamente
consternado por ela casar com um condenado em primeira
ordem – Lorde Lochrose agora era um Jacobita perdoado. Mas
ela logo o convencera que Robert gostava dela genuinamente e
ela dele e que realmente desejava ser sua esposa. Assim, em
um dia claro polvilhado por neve em novembro de 1756 que
seu pai caminhara feliz ao seu lado pelo corredor da Catedral
de Kilburn para, oficialmente, casá-la com o reformado
cavalheiro Jacobita. Fora um dos dias mais felizes de sua
vida.
Lorde Strathburn continuava a ser o sogro mais gentil,
apesar das origens humildes de Jessie. Ele sempre a fazia se
sentir que ela era mais do que uma companheira valiosa pra
Robert e por isso ela era muito grata. Apesar de estar casada
há um ano e meio com um par do reino, Jessie ainda tinha
dificuldade de acreditar que seria a próxima Condessa de
Strathburn e que o filho deles um dia seria um conde. Ela se
sentia verdadeiramente abençoada por tudo o que lhe fora
dado, nada mais do que o marido mais amável e carinhoso.
Lorde Strathburn lamentou silenciosamente a morte
prematura de sua esposa. Depois que o corpo da condessa
fora descoberto com a arma de duelo de Simon no Parque
Holyrood, houve, é claro, uma investigação. Felizmente o
Capitão MacBryde acreditara nas histórias dela e de Robert —
que ela ficara atordoada após o acidente com a liteira e que
Robert a encontrara quando voltava das Docas Leith. Baird
nunca mais fora visto por ninguém. Então com poucas
evidências, o legista por fim considerou a morte como uma
desventura, mais do que suicídio. Jessie agradecia a Deus
todos os dias por ela e Robert terem de algum modo
conseguido escapar ilesos.
Jessie suspeitava que Lorde Strathburn sentia-se tanto
triste por perder a mulher que um dia amou como também
desapontado ao perceber quão amarga e vingativa ela era.
Mas ele lentamente se adaptara a vida de viúvo. Na verdade,
era evidente, tanto para Jessie quanto para Robert, que a
recentemente recuperação a vontade de viver e o vigor do
conde coincidia com o nascimento de Will. Lorde Strathburn
era um avô muito carinhoso e podia ser frequentemente
encontrado no berçário ou nos jardins, acariciando seu neto
risonho sobre seus joelhos.
Jessie acreditava firmemente que o retorno de Robert a
casa, assim como a chegada de um neto saudável, foram as
razões para o seu sogro ser capaz de superar outra perda em
sua vida: a morte de Simon.
A notícia da morte de Simon chegara a Lochrose um
pouco mais de um ano atrás. Após A Fênix ter partido para o
Caribe, Robert enviou uma carta informando sobre a morte de
Lady Strathburn para Drummond via outro navio mercante
que ia para a Jamaica. De acordo com Drummond, Simon
não aceitou bem as notícias, ele ficara horrivelmente bêbado
em uma taverna em uma área de pouca reputação em
Kingston e fora morto em uma briga.
Jessie sabia que Robert tinha toda a intenção de libertar
Simon de sua punição a bordo d'A Fênix depois de um ano e
um dia. Drummond havia reportado que antes de entrar no
porto de Kingston, Simon realmente começara a mostrar
alguma aceitação com seu dever e começara a participar de
bom grado e como um membro ativo nas atividades da
tripulação a bordo do navio. As notícias confortaram um
pouco Lorde Strathburn, a ideia de que seu filho mais novo
demonstrara alguma força de caráter que indicava que pelo
menos, Simon tentara melhorar.
Quanto a Robert, Jessie sabia, em seu coração, que as
cicatrizes profundas que ele carregou por tanto tempo
estavam começando a se curarem. Ela podia perceber a cada
dia em seus sorrisos fáceis e as gargalhadas frequentes que
iluminavam seus olhos azuis. Muitas vezes era desejo. Na
verdade, os olhos que agora a contemplava continha uma
aparência apaixonada e especulativa enquanto ele lhe
passava uma taça de vinho.
Jessie aceitava o vinho branco fresco e direcionou a seu
marido um sorriso deliberadamente provocativo. Ela deu um
gole mantendo os olhos presos aos de Robert e
cuidadosamente colocou a taça de lado. Ela se perguntou se
ele já adivinhara qual era o seu plano. Embora eles já
estivessem casados há quase dezoito meses, eles nunca
visitaram o lago para fazer amor. Definitivamente chegou a
hora de ela e Robert criarem uma nova e duradoura
lembrança própria naquele lugar.
Robert ergueu uma sobrancelha.
— Não é do seu gosto, meu amor?
Ela sorriu novamente e começou a mexer nas fitas da
frente de seu vestido.
— É adorável, mas... Eu prefiro pensar que estou
faminta para experimentar algo mais. — Ela percebeu a
imediata e reciproca chama faminta na expressão de Robert
enquanto ela afrouxava as fitas, lentamente revelando sua
fina chemise de cambraia. Ela deliberadamente escolheu
aquele vestido – uma criação adorável e frívola de seda
listrada de limão e marfim com um decote baixo e uma trilha
de mangas de renda marfim.
Desde que a sedução de seu marido era prioridade em
sua mente enquanto se arrumava para o piquenique, ela
dispensou o uso do corset. Ela deixou seu vestido escorregar
pelos ombros antes de começar, lentamente, a abrir os botões
da frente de sua chemise, um por um. O tempo todo Robert a
assistia com atenção quieta e ávida.
Ele se apoiou sobre um cotovelo, suas longas pernas e
pés descalços estendidos sobre o tapete de lã azul, a taça de
vinho que ele segurava em seus dedos, esquecida. Quando ela
baixou a visão para o volume revelador dentro de suas calças,
sentiu a força de seu próprio desejo começar a pulsar
profundamente, sua respiração acelerando e seus mamilos
sensíveis, endurecidos e doloridos.
Com os seios livres dos tecidos restritivos de seus
corpete e chemise, começou a tarefa de lentamente soltar os
grampos de seu cabelo que foram cuidadosamente arrumados
no topo da cabeça, deixando longas mechas sobre seus
ombros. Ela sabia que Robert adorava quando ela usava os
cabelos soltos. Os olhos de Robert não a abandonaram
nenhuma vez. Ficou satisfeita ao perceber que o ritmo de sua
respiração também aumentava.
— Acho que está um pouco quente hoje, milorde, e você
está, decididamente, usando roupas demais, não acha? — Ela
perguntou com a voz rouca de desejo. Ela se inclinou para
frente, tirou a taça de vinho de suas mãos antes de começar a
abrir os punhos das mangas e puxar a camisa dele de dentro
das calças. Ela estava prestes a tirá-la pela cabeça quando ele
se endireitou e puxou a camisa, atirando-a na grama,
ignorada. Sua visão moveu-se brevemente para apreciar a
beleza de seu corpo magro e dorso musculoso. A boca dele
estava a um mero fôlego de distância da dela. Ela lambeu os
lábios e ele sorriu.
— Ainda faminta? — Ele perguntou roçando seus lábios
nos dela enquanto falava. Ele buscava provocá-la, mas ela
não havia acabado com ele, não do jeito que ela queria.
Ela o beijou levemente na boca antes de recuar um
pouco.
— Muito. Mas acho que estou disposta a algo um pouco
mais encorpado do que um beijo. — Após dezoito meses de
felicidade conjugal com um homem apaixonado e amoroso,
ela não tinha mais timidez em dar e receber prazer físico. Não
que ela realmente tivesse sido com Robert...
Robert se deixou ser empurrado contra o tapete e ela
deslizou os dedos sobre os músculos duros de seu peito e pelo
abdômen rígido até alcançar as calças. Ele retinha o ar,
esperando. Ela abriu os botões da frente com uma lentidão
tentadora, deliberadamente aumentando sua ansiedade até,
finalmente, seu pênis distendido ficasse livre. Uma emoção,
intensa e quente, a percorreu. Ele era todo dela, para fazer o
que quisesse.
Sorrindo, ela atraiu o olhar pesado dele e acariciou com
um de seus mamilos distendidos a cabeça de seu pênis,
percebendo satisfeita sua respiração ofegante. Ela
preguiçosamente correu os dedos ao longo do membro longo e
duro como uma pedra até segurar com firmeza ao redor da
base, para mantê-lo estável enquanto se deliciava.
Depois, incapaz de resistir mais tempo à tentação que ele
oferecia, ela abaixou a cabeça e passou a língua ao redor da
cabeça vermelha, apreciando a textura sedosa e o gosto
almiscarado de seu sexo. Delicioso. Ele grunhiu e ela sentiu
as suas mãos em seus cabelos. Então ela capturou o máximo
que pôde de seu considerável comprimento em sua boca,
sugando ritmicamente para cima e para baixo.
Deleitando-se com o poder que tinha sobre ele,
entusiasmou-se ao ouvi-lo ofegar e gemer seu nome enquanto
começava a perder o controle e a se dilatar ainda mais em sua
boca até explodir, e ela bebeu, com prazer, a sua semente
quente e salgada. Erguendo a cabeça, ela lambeu os lábios e
sorriu a seu marido enquanto ele caía esparramado ao seu
lado, exausto e ofegante. Não havia visão no mundo que ela
pudesse apreciar mais.
Quando Robert enfim abriu os olhos, eles estavam
escuros, quase pretos de desejo. Ele puxou sua cabeça para
exigir sua boca, a língua acariciando, provocando ao mesmo
tempo que, gentilmente, puxava e revirava um de seus
mamilos com os dedos da outra mão. Ela gemeu e ele soltou
sua boca.
— Minha vez. — Ele rosnou antes de girá-la para baixo
dele. — Você não é a única que está faminta, mo chridhe.

***

Robert contemplava a bela mulher embaixo dele e puxou


seus lábios em um sorriso lento e torto. A criatura divina que
era a sua esposa estava satisfeita, agora, definitivamente,
chegara a sua vez de saborear e instigar até que ela
estremecesse e gritasse o seu nome.
Ele a suspeitava que ela tinha mais do que um
piquenique em mente quando pediu à Sra. MacMillan para
preparar uma cesta para o almoço deles. Will, o filho lindo e
saudável deles, era só sorrisos no berçário, então ele sabia
que Jessie ficaria feliz em deixá-lo aos cuidados da cuidadora
pela maior parte da tarde.
O que queria dizer que ele estivera ansioso todo a manhã
por este momento a sós com Jessie. Não, não é toda a
verdade. Se ele fosse brutalmente honesto consigo, ele sabia
que desejou fazer amor com Jessie no lago desde o momento
em que a viu pela primeira vez ali, há tanto tempo. E para seu
espanto, ele não sabia o porquê ele não ter pensado nisso
antes. Mas a sua esposa tinha e ele estava prestes a
agradecê-la.
Ele reivindicou a boca de sua doce ninfa mais uma vez e
acariciou a parte inferior e sensível de seus voluptuosos seios
com toques leves como pena que estimulava seus mamilos
rosas a tornarem-se botões enrijecidos. Ela se mexeu, assim
seus dedos tocaram os pontos rosados e ele sorriu sobre seus
lábios.
— Você quer que eu a saboreie aí, mo ghaoil?’
— Sim. — Ela murmurou, enterrando suas mãos em seu
cabelo e empurrou a sua cabeça para baixo enquanto
arqueava o corpo. — Você me tortura com desejo.
— Hummm. Bem, deixe-me pensar se posso diminuir a
dor. — Ele abaixou a cabeça e começou a sugar cada seio até
ela ofegar e se contorcer, pernas e quadris empurrando-se
contra ele, fazendo seu pênis palpitar novamente.
Ele se ajoelhou e ergueu suas saias, deslizando as mãos
por suas longas e esguias pernas, até o polegar alcançar os
cachos ruivos que escondiam o seu sexo. Ela separou suas
pernas ansiosamente e ele sorriu em uma preguiçosa
satisfação ao perceber que ela brilhava com a umidade. Ele
gostava disso.
Ele deslizou o polegar ao longo de suas dobras,
separando-as gentilmente até expor o nó duro de seu clitóris.
Uma luxúria quente o atravessou diante desta visão,
deixando-o tonto. Abaixando-se, ele delicadamente lambeu o
centro latejante. Ela arquejou e apertou os cobertores debaixo
dela.
— Mais? — Ele murmurou explorando o seu corpo até
encontrar o seu olhar – ele ficou contente em perceber que o
desejo havia escurecido seus olhos para uma cor de mel
derretido.
— Muito mais. — Ela arfou e abriu-se ainda mais. Desta
vez, ao abaixar-se, a boca dele bebeu em um abandono
impulsivo até sua língua e lábios experimentarem cada parte
de seu sexo. O orvalho com fragrância de almíscar era o
manjar dos deuses em seus lábios e língua. Ela curvou os
quadris e ele adorou ouvir seus suspiros e gemidos cada vez
mais frenéticos até finalmente ela gritar quando ele a levou a
um clímax estremecedor.
Ele contemplou o interior de suas coxas. Ela parecia
saciada, mas ele não terminara. Seu pênis, definitivamente,
estava pronto novamente.
— Temo ainda estar com fome, minha dama.
Ela abriu os olhos e riu, um som gutural e sensual.
— Você é um homem ganancioso, Lorde Lochrose.
— Quando se trata de você, sempre, mo ghaoil.
Ele gentilmente a levantou para que se ajoelhasse à sua
frente. Seus cabelos flamejantes estavam emaranhados ao
redor de seus ombros nus, mas as mangas de seu vestido
ainda estavam agarradas a seus braços. A cicatriz onde a sua
bala acertara no braço esquerdo havia se suavizado há muito
tempo. Ele depositou um beijo suave na leve marca e depois
tirou as mangas e a chemise fora até que a parte superior de
seu corpo estivesse completamente nua, exceto pelas mechas
selvagens. Ele engoliu em seco, embebedando-se dela. Ela era
realmente uma deusa. E era dele.
Ele deitou-se de costas e a levantou e a pôs por cima
dele, assim ela o montaria, suas dobras úmidas e quentes
instigando a cabeça de seu membro. Ela sorriu, um calor
dourado iluminava os seus olhos enquanto ela se acomodava
lentamente sob sua ereção, tomando-o completamente dentro
dela. A umidade quente e os músculos tensos de seu interior
à medida que ela se estabelecia sobre ele quase o levaram a
ruína.
Ele cerrou os dentes, esforçando-se para não ceder à
vontade de derramar a sua semente dentro dela como um
jovem inexperiente. Como se sentisse o seu tênue controle, ela
imediatamente parou seus movimentos e o beijou com
delicadeza, diminuindo um pouco a sua tensão.
Quando recuperou domínio suficiente sobre seu desejo,
ele fixou o olhar no dela e a levantou, encorajando-a a definir
o ritmo de sua união. Ela compreendeu a dica e começou a
cavalgá-lo, inicialmente com lentidão. A fricção de sua
passagem úmida e apertada contra o seu membro duro era a
melhor das torturas.
Não demorou muito para eles aumentarem o movimento.
A respiração de Jessie começou a sair em suspiros curtos e
entrecortados enquanto ele empurrava os quadris com mais
fora e rapidez, coincidindo perfeitamente com o ritmo de seu
mergulho selvagem. Ele segurou os seios dela e cobriu a sua
boca com a dele, empurrando a língua em suas profundezas.
Ele não conseguia ter o suficiente dela.
E então ele sentiu os seus músculos internos
convulsionarem ao redor dele. Ela atirou a cabeça para trás e
gritou de prazer, enfiando as unhas em suas costas. A força
de seu orgasmo foi tão forte que ele não conseguiu se segurar
muito mais. Com um longo e gutural grunhido, ele se perdeu
dentro dela, a semente se derramando em seu útero.
Completo e, finalmente, saciado, ele enterrou o rosto no
pescoço dela e exalou o cheiro doce e intoxicante que era tão
característico dela, feliz por saber que compartilharam o
êxtase.
E o amor.
Jessie levantou o queixo e tirou os cabelos úmidos de
sua testa. Seus olhos brilhavam com um sentimento
profundo.
— Eu te amo, Robert Grant. — Ela sussurrou. — Você é
o senhor de meu coração, do meu corpo e da minha alma.
Nunca duvide disto.
Ele amoldurou o rosto dela com as suas mãos,
capturando seu olhar carinhoso no dele. Esta mulher, sua
Jessie, ela prendera seu coração e sua alma deste o primeiro
momento em que a viu, sua dama do lago. Ela o fez se sentir
vivo novamente, curado.
— E eu sou completamente seu, Jessie Grant. Agora e
sempre. — Ele afirmou com absoluta sinceridade.
Seu sorriso de resposta, suave e lânguido, foi o convite
que Robert precisava para beijá-la mais uma vez. Ele passou
seus dedos entre seus cabelos e a beijou profundamente, mas
também com uma terna reverência, querendo que ela
soubesse que não eram apenas palavras, mas que ao tocá-la,
que seu mundo começava e terminava com ela.
E que ele nunca a deixaria de amá-la. Jamais.
Notas da Autora

Os filhos de um conde escocês, na verdade, têm dois


títulos de acordo com a Debrett’s Peerage16. Por isso que
Robert Grant é tanto o Senhor de Strathburn, como Visconde
de Lochrose. Ele é conhecido normalmente como Lorde of
Lochrose.
Admitirei que usei um pouco de licença poética referente
à carruagem pública de Inverness a Edimburgo que Jessie
Munroe tentava pegar. No tempo em que se passa O Senhor
de Strathburn, 1756, aparentemente havia uma carruagem
pública de Glasgow a Edimburgo, uma vez por semana por
volta de 1678, e duas vezes por semana a partir de 1749.
Entretanto, um serviço regular de transporte público não
operava entre Inverness e a cidade de Perth (com rota para
Edimburgo) até 1806. Como eu precisava de uma carruagem
para a minha heroína, deliberadamente, alterei este detalhe
histórico para a minha história.
A liberdade de Robert de Tolbooth pelo Lord Advocate em
custódia de seu pai pareceu rápida, mas liberdades desta
natureza tinham precedentes. Há inúmeros relatos de como
Aeneas Mackinosh – Chefe do Clã Mackintosh e apoiador do
Rei George – foi capturado na Batalha de Prestonpans em 45,
e depois solto sob custódia de sua esposa, simpatizante
Jacobita, Anne Farquharson-Mackintosh ou ‘Coronel Anne’
pelo Prince Charles Edward Stuart, o ‘Bonnie Prince’. Após a
Batalha de Culloden, Coronel Anne foi presa pelas tropas do
governo, mas depois de seis semanas, foi libertada sob
custódia de seu marido. Para o propósito da minha história,
escolhi ter Robert solto nas mesmas circunstâncias.
Há várias figuras históricas que aparecem em O Senhor
de Strathburn. Robert Dundas os Arniston, o jovem (1713-
1787) serviu como Lord Advocate – o chefe legal e conselheiro
da Coroa e do Governo Britânico, tanto em assuntos civis
como criminais – de 1754 a 1760. Quando se passa O Senhor
de Strathburn, Lorde Arniston era realmente um homem
recém-casado. Em setembro de 1756 ele se casou com sua
segunda esposa, Jean Grant, neta de William Grant, Lorde
Prestongrange. Foi uma licença puramente poético de minha
parte que Robert Dundas seja descrito como sendo
particularmente brando ao lidar com meu personagem
totalmente ficcional, Robert Grant.
O Governador George Haldane que fez uma breve
aparição no começo da história, foi um general que lutou na
segunda Rebelião Jacobita. Em 1756, aos 34 anos, ele foi
nomeado Governador da Jamaica.
A Tolbooth onde Robert foi preso não é o mesmo prédio
que pode ser visitado hoje na Canongate em Edimburgo. A
velha Tolbooth, que não mais existe, estava localizada no
meio da High Street, na esquina noroeste da catedral de St.
Giles. Construída no século XIV, ao longo dos anos funcionou
como gabinete de cobrança de taxas, câmara de conselho e
tribunal. A Tolbooth começou a ser usada como prisão no
final do século XV. Foi demolida em 1817.
Apesar do nome popular do pudim inglês “Pau
Manchado” seja verificar desde 1849 quando inicialmente
apareceu no livro de receitas The Modern Housewife or
Ménagère de Alexis Soyer, parece que já era uma sobremesa
popular bem antes disso. As origens de seu nome singular
não são claras.
Notas

[←1]
O pau manchado é um pudim britânico, tradicionalmente feito com sebo
e frutas secas e geralmente servido com creme.
[←2]
A cruz ardente é um termo de língua inglesa para um objeto de madeira,
como uma cruz ou bastão, carregado por um mensageiro e usado pelos
europeus do norte, por exemplo na Escócia e na Escandinavia, para reunir
pessoas para defesa, convocar para batalhas ou rebelião.
[←3]
Fichu é espécie de abrigo, de tecido leve e formato triangular, com que
as mulheres cobrem o pescoço e ombros por pudor ou para proteger-se do
sol.
[←4]
Banyan é uma peça do vestuário inspirada nos quimonos japoneses.
[←5]
Sorbus e Larch são árvores
[←6]
Araisag é uma pequena vila escocesa.
[←7]
stomacher, uma peça triangular, ricamente decorada, que é alfinetada
ao corset.
[←8]
O Lord Advocate, também conhecido como Advogado de Sua Majestade,
é o alto funcionário escocês da lei ( uma espécie de juiz).
[←9]
O handfasting é uma prática tradicional que, dependendo do uso do termo,
pode corresponder a um casamento não oficiado, um noivado ou um
casamento temporário.
[←10]
mo chridhe = meu coração.
[←11]
A Royal Mile é o nome popular para a sucessão de ruas que formam a
principal via do centro histórico de Edimburgo, na Escócia. Como o nome
sugere, a Royal Mile é de aproximadamente uma milha escocesa, e se estende
entre os dois pontos históricos da cidade: a partir do Castelo de Edimburgo
até a Abadia de Holyrood.
[←12]
Uma cruz mercat é o nome escocês para a cruz do mercado encontrada
freqüentemente em cidades, vilas e aldeias escocesas, onde historicamente o
direito de realizar um mercado ou feira regular era concedido pelo monarca,
bispo ou barão.
[←13]
Ormolu - Bronze dourado com uma fina camada de ouro. Usado
principalmente para montagens em móveis, obras de arte e relógios
[←14]
Gato de nove caudas é o nome de um chicote que possui nove cordas.
[←15]
A tradução perde o sentido ao se traduzir. O nome do objeto em inglês é
Thumbscrews, que seria algo como 'Parafusar Polegares'. Em português
chama-se anjinhos, anéis de ferro com parafusos, por vezes presos a uma
tábua, para apertar os polegares de criminosos e fazê-los confessar seus
crimes.
[←16]
A Debrett's é uma empresa de treinamento profissional, editora e
autoridade em etiqueta e comportamento, fundada em 1769

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