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Brenda Joyce

Amor Escandaloso

(Série Dinastia Warenne 13)


(Livro Relacionado)
Sinopse
A rebelde e independente Lady Nicole Bragg Shelton se recusa a
ser restringida pelas regras sufocantes da Inglaterra Vitoriana. E
agora, o desejo impeliu a bela herdeira para uma ligação chocante
com Hadrian Braxton-Lowell, Duque de Clayborough.
Ligado pelos ditames da honra e do dever para com a mulher,
Hadrian é encurralado pela conduta ousada de Nicole, mas fascinado
pelo seu espírito livre de fogo e sensualidade de tirar o fôlego.
Embora decidido a fazer a beleza de cabelos negros sua amante,
nunca concordará em se casar com ela. Mas Nicole não é brinquedo
de nenhum homem. E está preparada para arriscar a infelicidade para
satisfazer sua paixão selvagem e intransigente... e ganhar a lealdade
inabalável do duque e seu amor eterno.
Prólogo
Clayborough, 1874
O salão estava cheio de convidados. Vozes animadas, risadas
felizes e as cepas exultantes de um quarteto de cordas soavam pelos
corredores. O menino pequeno estava deitado em sua cama enorme
dois andares acima do salão de baile, ouvindo os sons ecoando por
sua casa. Seus pequenos punhos estavam cerrados em suas cobertas
enquanto ele olhava insone para a escuridão.
Não gostava da escuridão, tinha seis anos não era mais um bebê
não ligaria a luz ao lado da cama. Em vez disso olhou para as sombras
em sua parede feitas pelos candelabros antiquados do corredor que
brilhavam em sua porta, deixados cuidadosamente por sua babá.
Ele imaginou que as sombras bruxuleantes eram pessoas,
mulheres de joias brilhantes e homens de fraque preto à meia-noite.
Imaginou ser um deles, não um menino, mas um homem real, tão
forte e poderoso quanto qualquer um dos senhores abaixo. Tão forte
e poderoso quanto o duque, seu pai.
A fantasia o fez sorrir e por um instante se sentiu adulto. E
então os ouviu e seu sorriso desapareceu, sentou-se empertigado,
tremendo.
Eles estavam do lado de fora de sua porta, no corredor. Ele se
esforçou para ouvi-los quando não o queria. Sua mãe disse para o pai
com voz suave, quase um sussurro.
— Eu não esperava você de volta, deixe-me ajudá-lo.
— Tão ansiosa em me apressar para ir à cama — Não havia
nada de suave na voz do duque de Clayborough.
O garotinho segurou a colcha com mais força, as sombras não o
assustavam mais, pois o monstro estava agora do lado de fora de sua
porta, no corredor.
— Qual é o problema, Isobel? — Francis Braxton-Lowell exigiu —
Eu te afligi? É óbvio que você não está satisfeita por eu estar aqui.
Com medo que eu converse com os convidados em minha própria
casa?
— Claro que não — sua mãe respondeu calmamente.
O menino não queria sair da cama, mas ele ficou de pé,
arrastou-se até a porta aberta e espiou em volta.
O duque era alto, louro e bonito suas finas roupas de noite
estavam amarrotadas e estava barbado. Sua mãe era mais loira,
incrivelmente bonita e elegante era a imagem da perfeição em seu
vestido de cetim azul e diamantes cintilantes. O desgosto se gravou
claramente no rosto do duque e ele se virou bruscamente, tropeçou e
cambaleou pelo corredor. Ansiosamente, ela o seguiu.
Ele olhou atrás deles.
O duque parou do lado de fora da porta de sua suíte.
— Eu não preciso da sua ajuda.
— Você vai descer?
— Com medo de que eu te desgrace?
— Claro que não.
— Você mente tão bem. Por que você não me convida para
baixo, Isobel?
A mãe dele estava de costas, não era possível ver sua expressão
e sua voz não soava tão calma.
— Se você quiser se juntar a nós, por que não muda suas
roupas primeiro?
— Talvez eu vá! — Ele rosnou. Seu olhar de repente se fixou no
fio de diamantes em sua garganta — Eu nunca vi essa peça antes.
— Eu fiz isso recentemente.
— Isso não parece com vidro e pasta!
Isobel não respondeu.
O silêncio caiu pesadamente entre eles. O garotinho havia se
arrastado para frente e se agachou atrás de uma mesa de oração de
laca. O medo encheu-o. Os olhos do duque estavam se arregalando e
de repente, violentamente, ele arrancou as joias da garganta da
mãe. Isobel sufocou um grito. O menino saltou para frente.
— Esta coisa é real! — O duque gritou — Por Deus, estes são
verdadeiros diamantes. Sua puta traidora, você tem escondido
dinheiro de mim, não é?
A duquesa ficou congelada.
O garoto também congelou, ofegante, logo atrás dela.
— Você não tem? — Francis gritou — Onde você conseguiu o
dinheiro para isso? Onde? Maldita!
— De royalties — disse Isobel, o mais leve tremor em seu tom —
Recebemos nossos primeiros royalties da Dupres Mining Company.
— Primeiro você aluga minhas terras sem minha permissão —
Francis gritou furiosamente — Agora você esconde meu dinheiro de
mim? Você nunca para, não é?
— Como mais eu posso salvar seu patrimônio?
Francis moveu-se com surpreendente rapidez para um homem
tão bêbado e bateu na esposa com força no rosto. Ela gritou e
cambaleou contra a parede.
— Você sempre foi uma fraude, Isobel, desde o dia em que te
conheci. Uma fraude e uma mentirosa! — Ele cambaleou para ela
novamente, o braço levantado.
— Pare! — O menino gritou, atacando o pai pelos joelhos —
Não a machuque... não a machuque.
— Maldita seja você — Francis gritou, batendo em sua esposa
novamente.
O golpe acertou-a na bochecha e desta vez a derrubou no
chão. O garoto reagiu. Ele socou as coxas de seu pai com tanta força
quanto pôde, cheio de uma raiva ofuscante. Ele odiava tanto o pai
que doía.
Como se seu filho não fosse mais que um gatinho perdido,
Francis o puxou pela nuca e o jogou de lado. Ele caiu de costas, bateu
a cabeça no chão e por um momento viu estrelas.
— Você moleque, acha que é um homem, não é? Bem, amanhã
você vai ter o castigo de um homem por interferir onde não deveria —
Seu pai se elevou sobre ele. — Um pirralho insignificante e uma
fraude, assim como sua mãe.
O garoto piscou para clarear sua visão, seu pai foi embora. Mas
não as palavras cruéis e odiosas, essas permaneciam em sua
mente. Por um momento ele ficou tremendo de dor parecia um punho
em seu peito, em seu coração e doeu terrivelmente. Mas isso não foi
causado pelo golpe físico de seu pai. Fechou os olhos e suor manchou
sua testa, lutou até que diminuísse a dor, a necessidade de lágrimas,
o ódio, tudo. Até que não restasse nada.
E quando ele abriu os olhos, viu a mãe ainda de bruços. Ele
correu em direção a ela no momento em que se sentou com as
lágrimas caindo por suas bochechas.
— Mãe? Você está bem? — Ele não parecia uma criança, parecia
um adulto.
— Oh querido — Isobel chorou envolvendo o filho nos braços —
Seu pai não quis dizer isso.
Pacientemente o garoto deixou que ela o abraçasse então se
afastou. Ele assentiu sem expressão embora soubesse que não era
verdade, enquanto sua mãe soluçava em silêncio. Ele sabia que seu
pai pretendia pôr em ação cada palavra. Assim como ele sabia que
seu pai o odiava. Mas isso não importava.
Não mais... pois uma coisa boa veio desta noite. Finalmente a
dor foi embora, aprendera a controlá-la e a persegui-la durante a
noite. Ele aprendera a abraçar o vazio. E isso era muito.
Capítulo 1
Dragmore, 1898

— Você tem visitantes minha senhora.


— Mas eu nunca tenho visitas — protestou Nicole.
Aldric olhou para ela, seu rosto enrugado insondável, embora
seus olhos castanhos estivessem brilhando — As senhoras Margaret
Adderly e Stacy Worthington, minha senhora.
Nicole ficou surpresa. É claro que era um exagero dizer que ela
nunca tinha visitas, sua melhor amiga, a viscondessa de Serle, assim
como a nobreza local e sua família, fazia visitas com bastante
frequência. Mas eles realmente não contam. O que contava era o fato
de que ela mesma não tinha o costumeiro grupo de pessoas que se
visitavam como as outras jovens de sua classe. Não nos últimos anos
desde o escândalo... O que essas mulheres que ela nunca conhecera
poderiam querer?
— Diga a eles que eu vou descer, sirva refrescos, Aldric — disse
ela ao mordomo. Uma bolha de excitação surgiu nela. Aldric assentiu,
mas antes de sair ele levantou uma sobrancelha branca e espessa.
— Talvez eu deva mencionar que você estará lá em alguns
minutos, minha senhora?
Ela entendeu e riu olhando tristemente para os calções de
homem e botas de montaria enlameadas. Embora tenha sido quase o
alvorecer de uma nova era — o século XX — as mulheres não usavam
roupas masculinas mesmo quando tinham justa causa. Algumas coisas
nunca mudam.
— Que bom que tenho você para me lembrar, Aldric. Eu não
deveria afastar meus ilustres visitantes antes mesmo de descobrir por
que eles vieram.
Ainda rindo esperou que Aldric saísse imaginando o choque que
as duas senhoras no andar debaixo receberiam se a vissem vestida
como um homem.
Nicole suspirou honesta o suficiente consigo mesma para saber
que sua atitude despreocupada e seu senso de humor inadequado
não ajudariam sua situação — não que ela estivesse realmente em
uma situação, lembrou a si mesma. Afinal, ela escolheu permanecer
no país. Enquanto folheava descuidadamente o armário para as
roupas de baixo apropriadas, admitiu para si mesma que era bom ter
mulheres jovens a visitando. Fazia muito tempo. Não que ela não
estivesse feliz em Dragmore, porque ela estava. Sua vida era
Dragmore, cavalos e livros. Era só isso, bem, fazia muito tempo.
Nicole vestiu uma combinação, meias e anágua o mais rápido
que pôde. Ela odiava espartilhos e se recusava a usá-los, embora
tivesse 1,81 de altura em seus pés descalços. Ela era maior que a
maioria das mulheres e depois havia a idade dela e se recusou a
tentar cingir sua cintura como se tivesse 1,5 metros de altura, dezoito
anos e menos de cem quilos. As pessoas adoravam conversar.
Não foi apenas uma questão de conforto, Nicole era uma leitora
voraz. Ela concordava com algumas de suas escritoras favoritas que
preferiam calças e calções, em vez das modas atuais que segundo
elas eram constrangedoras e pouco saudáveis como os
espartilhos. Assim como a sociedade moderna inventou regras de
decoro expressamente para manter as mulheres em seu lugar,
também inventou as modas para o mesmo propósito.
Afinal de contas não se poderia esperar de uma dama que
fizesse mais que sorrir e respirar. Uma dama não podia correr,
cavalgar, atirar ou pensar. Uma dama era recatada.
Nicole era sábia o suficiente para saber que ela deveria manter
sua sabedoria para si mesma.
Quando ela terminou de se vestir parou por um instante para
olhar nervosamente no espelho, ciente do nó apertado de antecipação
em sua barriga. Ela fez uma careta para si mesma.
Não era que ela não gostasse de sua jaqueta e saia azul-
marinho, pois não se importava com roupas, desde que não fosse
restringida por elas. Foram outros aspectos de sua aparência que a
desagradaram.
Ela suspirou — Bem, o que você esperava? — perguntou
seriamente ao seu reflexo — Ser mais baixa? Ser loira? O que você é,
uma idiota? Se as pessoas julgarem você pela sua aparência é porque
não valem um centavo.
Sua porta se abriu — Você está me chamando, minha senhora?
Nicole corou, se os servos a pegassem falando sozinha, ela
nunca escaparia disso — Uh, sim Annie, você levaria minhas calças
para Sue Anne? O joelho esquerdo precisa de remendos. Sorriu
brilhantemente, esperando até que Annie pegasse as calças e
saísse. Então olhou para si mesma com uma carranca, ainda era
ridiculamente alta e muito escura. Ela herdou toda a aparência
morena de seu pai e nada de sua pequena mãe loira. Ela não era
rabugenta por natureza, mas o cabelo dela não podia ser marrom em
vez de negro?
Ela deveria ter pedido a Annie para ajudá-la com seus cabelos,
em vez de inventar uma história sobre suas calças, tentando passar
um pente, porque a massa preta grossa e ondulada caiu até a cintura
e era indomável sem um segundo par de mãos. Era tarde demais para
isso agora e Nicole a amarrou de volta rapidamente com uma fita. As
senhoras Adderly e Worthington estavam esperando, sua barriga se
apertou novamente, se demorasse mais um minuto, seria totalmente
rude. Abruptamente Nicole saiu do quarto e desceu as escadas
esquecendo-se que estava de saia até tropeçar e ser forçada a um
ritmo mais calmo e elegante.
No corredor abaixo parou para recuperar o fôlego e acalmar
seus nervos trêmulos. Disse a si mesma que estava sendo boba — ela
só estava recebendo visitas, algo que outras jovens faziam todos os
dias de suas vidas. Apressando-se por um longo corredor de piso de
mármore, desejou que sua mãe, a condessa de Dragmore, estivesse
em casa para lhe dar uma dose de bons conselhos. Mas Jane estava
em Londres com a irmã mais nova de Nicole, Regina, que se recusou
a permanecer na zona rural isolada quando a temporada estava em
pleno andamento. Nicole desejou que seus pais deixassem Regina se
casar e esquecer o fato de que ela, a irmã mais velha, era solteira e
provavelmente permaneceria assim para sempre.
Ela parou na porta do grande salão amarelo
brilhante. Instantaneamente as duas jovens senhoras que estavam no
sofá congelaram, a conversa cessou. Uma era loira e perfeita, a outra
era uma morena deslumbrante. As duas jovens senhoras olhavam
para Nicole com grandes olhos azuis. Por um instante bobo, Nicole se
sentiu como algo exótico sob uma lente de aumento e então a
sensação passou.
Sorrindo ela entrou — Olá, que gentil de vocês virem.
Ambas as garotas se levantaram, seus olhares abertamente
curiosos quando deslizavam sobre o corpo alto de Nicole enquanto
trocavam apresentações. Nicole se sentiu em pé ao lado delas, pois
ela se elevava sobre os diminutos 1,5 m de altura.
— Lady Shelton — disse a loira — eu sou Lady Margaret Adderly
e esta é minha amiga, Lady Stacy Worthington.
As formalidades dispensadas, Nicole pediu-lhes para se sentar
vendo que elas tinham sido servidas com chá e bolos. Ela se sentou
de frente para elas em uma poltrona de brocado. Stacy Worthington
olhou-a com muita atenção.
— Você sabe sobre o Duque? — Margaret perguntou
animadamente.
Ela só poderia estar se referindo a um homem — O duque de
Clayborough? — perguntou Nicole, imaginando o que ele poderia ter a
ver com qualquer coisa, muito menos com aquelas duas jovens
damas.
— Sim — Margaret sorriu — Ele entrou em posse de Chapman
Hall. Você percebe que ele é seu vizinho!
— Claro — disse Nicole um pouco perplexa. Não sabia nada
sobre o duque, exceto que acabara de chegar ao Chapman Hall, a
poucos quilômetros dos portões da frente de Dragmore. Ela nunca
tinha ouvido falar dele antes daquela semana.
— Ele é meu primo — anunciou Stacy Worthington. Ela sorriu
presunçosamente, como se ser primo de um duque fosse uma
questão de grande importância.
— Como você é afortunada — Nicole conseguiu falar.
Stacy não pegou o sarcasmo implícito de Nicole — Nós nos
conhecemos desde a infância — ela disse grandiosamente.
Nicole sorriu.
— Ele está na residência — disse Margaret — e nesta sexta-
feira vamos realizar uma festa em sua homenagem em Tarent Hall.
Afinal, ele deve ser bem recebido no país.
— Sim, eu acho que sim.
— Tenho certeza de que se o conde e a condessa estivessem
em casa, teriam a honra de sediar o evento, mas como não estão
minha mãe decidiu fazê-lo.
Nicole assentiu.
Stacy sorriu — Nós sabíamos que você estava aqui, não em
Londres e é claro que seria muito impróprio se nós não a
convidássemos. Então, aqui estamos nós.
Nicole piscou endurecendo, ficando surpresa com o que Stacy
havia dito e o modo como dissera. Tinha acabado de receber o
convite mais rude, a implicação clara de que ela tinha que ser
convidada quer ela fosse querida ou não. Ao mesmo tempo a jovem
se referiu a Nicole não estar em Londres com seus pais e irmã e todas
as outras moças solteiras de meios e posições que estavam caçando
marido. A implicação adicional era pior — que ela não era bem-vinda
em Londres e isso não era verdade.
Não exatamente.
— Oh — foi tudo o que Nicole pôde pensar em dizer. Ela se
sentiu colocada no lugar, pois raramente saía para a sociedade, na
verdade não o fazia há anos. Essa mulher sabia disso? Claro que ela
sabia, todo mundo sabia disso.
— É claro que você virá — Stacy sorriu — Você não vai?
Nicole não pôde sorrir, estava sendo desafiada, não era sua
imaginação e o estômago dela estava em nós. Fazia tanto tempo.
Certamente agora as pessoas teriam esquecido.
— Bem? — Stacy perguntou. Ela ainda estava sorrindo.
Nicole não gostava dela, a outra mulher esperava que ela
recusasse o convite. Todo mundo sabia que ela raramente saía e eles
não tinham vindo chama-la em nome da amizade, mas apenas por
dever. Seria terrivelmente impróprio se eles não convidassem a filha
do conde de Dragmore para um evento tão importante — Claro que
vou — disse Nicole orgulhosa, sem sorrir.
Stacy pareceu chocada. Mas isso não era nada comparado à
expressão no rosto de Margaret — Você irá? — a loira guinchou.
A raiva encheu Nicole. Ela ainda não entendia a motivação de
Stacy, mas isso não importava. O que importava era o desafio — Até
sexta-feira — disse Nicole, se colocando em pé.
Quando as duas mulheres saíram, Nicole se arrependeu de
deixá-las recua-la em um canto. Mas como ela poderia recusar o
desafio que Stacy Worthington havia jogado contra ela? E agora as
pessoas tinham esquecido, não tinham?
Depois do escândalo, Nicole tinha sido objeto de fofocas e
especulações muito feias e isso doeu. Seus pais ficaram muito
zangados com ela e mesmo que quisesse se esconder em sua casa
em Londres, eles não teriam permitido. Mas não era uma covarde e
continuou a temporada como se nada tivesse acontecido, mantendo a
cabeça erguida e ignorando todo o escândalo e as fofocas.
Quando o escândalo começou a morrer, Nicole se curvou. Desde
o tempo de sua estreia Nicole não ficou impressionada com os bailes
e o alvoroço, as recepções e festas de jantar, que ela achava
intermináveis, repetitivas e bastante entediantes. Gostava de se
levantar com o sol e passar o dia a cavalo, cuidando de Dragmore
com seu pai e irmãos. E para ela, um bom livro era muito mais
divertido do que a maioria desses assuntos.
Os últimos quatro anos não foram infelizes. Nicole amava sua
família, amava Dragmore e se contentava com a vida que levava. Na
verdade, foi porque ela não queria mudar sua vida que ela havia
causado o escândalo em primeiro lugar.
Mas... às vezes, geralmente quando sua irmã mais nova Regina
estava em Londres com a mãe, comparecendo a uma festa após a
outra, vestida com sedas fabulosas e cortejada por solteiros bonitos,
Nicole sentia falta dela e se sentia sozinha e de repente desejava
estar lá também. Regina sempre foi a bela do baile, como Nicole
nunca fora e sabia que desejava o que não poderia ter. Foi um
pequeno desejo, um desejo passageiro. Nicole lembrou-se das poucas
vezes que saíra com a família desde o escândalo, tempos que não
eram divertidos, momentos em que as pessoas olhavam para ela, se
lembravam e às vezes sussurravam atrás das costas também. Ela só
tinha que lembrar daqueles tempos e o sentimento melancólico
passaria e seria esquecido por semanas a fio.
E agora ela não estava apenas saindo de novo, mas indo
sozinha. Não só seus pais e Regina estavam em Londres, como seu
irmão Ed estava em Cambridge e seu irmão Chad estava na França a
negócios, ela não tinha uma acompanhante. As damas não
compareciam às festas sem acompanhante, a menos que tivessem
mais de trinta anos, coisa que ela não tinha.
No entanto, ela iria assistir a essa festa mesmo sem uma
acompanhante. Ela faria isso em grande estilo e mostraria a esnobe
Stacy Worthington.
Dobrando-se em uma fina capa de lã vermelha, Nicole partiu
para o Tarent Hall na noite de sexta-feira. Era uma confusão de
nervos quando finalmente estava a caminho. Mais cedo naquele dia,
tinha tido algumas dúvidas sobre ir sem uma acompanhante, mas
finalmente as sufocou pela força de vontade. Ela fora desafiada e não
era covarde — ia comparecer à festa, aconteça o que acontecer.
Ela tinha um pressentimento terrível de que se arrependeria
desta noite. Se fosse sensata, pensou consigo mesma, esqueceria
tudo sobre Stacy Worthington e ficaria em casa como uma boa moça
deveria.
Mas já era tarde demais, pensou Nicole, tocando a anágua cor-
de-laranja brilhante e a saia rosa-viva por baixo do manto. Nunca foi
adequada, na verdade não. Havia um traço selvagem nela que
sempre existira. Conseguiu isso do lado da família do pai, pelo menos
foi o que a mãe disse, embora o conde insistisse que o desrespeito
pelas convenções era uma característica dos Barclay. Aos vinte e três
anos era madura e honesta consigo mesma para reconhecer esse lado
estranho de sua natureza e aceitá-lo. Foi essa parte selvagem dela
que aceitou o desafio de Stacy e que agora estava impulsionando-a
para frente sem uma acompanhante.
Nicole sempre odiou as regras e convenções que ligavam todas
as mulheres de sua época. Felizmente, não estava sozinha, embora
estivesse em uma minoria bastante radical, liderada por sufragistas e
agitadoras como Elizabeth Cady Stanton e sua tia, Grace Bragg. As
mulheres deveriam fazer nada mais do que se aborrecer com
atividades femininas gentis, como arranjos de flores e aquarelas.
Quando seu tutor tentou ensinar-lhe essas artes; Nicole, de oito anos
ficou furiosa. Ela passaria seus dias pintando rosas enquanto Chad, Ed
e seu pai passavam em Dragmore, supervisionando os inquilinos, as
fazendas e o gado? Nunca!
Claro, foi forçada a aprender tais atividades o que fez de
maneira desanimada, mas em seu tempo livre assombrou os homens
de sua família e foi autorizada a acompanhá-los depois de seus
estudos, uma liberdade inédita para uma bem-educada moça. Durante
a infância e a adolescência, lamentou incessantemente que não fosse
um menino. Quando não estava a cavalo com seus irmãos e pai,
podia ser encontrada lendo, desde a poesia sensual de Byron até os
direitos de mulheres de John Stuart Mills. Sua família nunca pensou
duas vezes sobre suas inclinações de menino até que de repente se
tornou uma mulher adulta e então eles fizeram o possível para ignorar
seus modos não convencionais.
Eles cairiam mortos se soubessem o que ela estava fazendo ou
pior se a vissem agora.
Ela tivera apenas três dias para encontrar uma fantasia fabulosa,
mas resolvera o problema revirando o vasto sótão de sua casa. Sua
mãe, Jane Barclay, tinha sido uma popular atriz de teatro embora
tivesse desistido de sua carreira promissora para se dedicar aos filhos,
ao marido e a Dragmore alguns anos depois de seu casamento. A
atuação estava em seu sangue pois Jane seguia os passos de sua
mãe, a famosa e incomparável Sandra Barclay e havia baús de trajes
maravilhosos no sótão.
Nicole escolheu um traje cigano. Inclusive ela teve que admitir
que com sua coloração nas roupas de cores brilhantes que
encontrara, parecia a coisa real. Claro, o traje era ousado não era
exatamente correto. A blusa caia de seus ombros de uma maneira
muito sugestiva e as saias eram apenas na altura do joelho. Mas os
ciganos, pelo menos é o que Annie de treze anos assegurava,
andavam descalços em saias curtas. Nicole não se importou. Quando
Stacy Worthington e sua amiguinha a vissem ficariam estupefatas.
Nicole estava certa de que elas não esperavam realmente que ela
fosse.
Ela sorriu enquanto se sentava nos bancos de couro macio da
grande carruagem negra de Dragmore, que era puxada por seis
cavalos cinzas e acompanhada por quatro lacaios de libré. Não só
estava assistindo a festa em um traje muito autêntico, estava
realmente começando a ficar excitada. Fazia muito tempo desde que
ela estivera em um baile e ainda mais desde que estivera em um baile
de fantasias.
A entrada circular em frente à casa de tijolos da Geórgia já
estava cheia de vagões e carruagens. Uma carruagem com o dobro
do tamanho do veículo Dragmore havia se adiantado no caminho à
frente deles. Essa carruagem também era preta e tão polida que
brilhava ao luar. O brasão de armas era brilhantemente vívido, as
luzes da carruagem certificando-se de que ninguém poderia perdê-lo,
superdimensionado e gravado como estava em duas das portas da
carruagem. Dois leões, um vermelho e um dourado, erguiam-se
contra um escudo preto, vermelho e dourado, enquanto outro leão
vermelho se erguia sobre ele. Abaixo do escudo, os dois leões em pé
estavam em uma fita de prata, com um lema que dizia simplesmente
— Honra em primeiro lugar. Um brasão tão elaborado só poderia
pertencer ao duque de Clayborough.
Oito magníficos cavalos negros puxavam a carruagem, plumas
douradas acenando de seus freios. Havia quatro lacaios no estrado de
trás, esplêndidos em uniformes vermelhos, pretos e dourados. Uma
dúzia de batedores acompanhava o duque, todos montados
magnificamente em baios, todos com a pintura nas cores do duque. O
treinador era esplêndido o suficiente para a realeza, que Nicole sabia,
o duque não era.
Eles pararam na entrada, sua carruagem atrás, com Nicole se
esforçando para vislumbrar o ilustre convidado de honra. Ela discerniu
apenas uma figura alta e poderosa com cabelos de ébano, um manto
negro rodando sobre os ombros, alinhado em carmesim, quando ele
pousou. Ele havia escolhido não se fantasiar, ela notou e não havia
nenhuma Duquesa a reboque.
Ela foi ajudada na carruagem e subiu apressadamente os
degraus em direção às luzes brilhantes da mansão. As portas da
frente estavam abertas e um empregado de libré pegou sua capa, ela
seguiu o lacaio até a entrada do salão de baile, seu coração
começando a bater. Quando pediu seu nome, ela deu
automaticamente.
Por um momento recordou muitos saraus e muitos fracassos, o
lado ousado dela recuou e ela se sentiu assustada.
Parou atrás do Duque enquanto era anunciado. Ele era ainda
mais alto do que imaginara, quase 15 cm mais alto que ela com
ombros maciçamente largos, seu cabelo era longo demais para estar
na moda, como se estivesse ocupado demais para se preocupar com
um barbeiro. Era uma cor escura e castanha e mesmo na iluminação
interior podia ver que estava muito queimada do sol, como se ele
passasse a maior parte do tempo fora de casa.
— Hadrian Braxton-Lowell, o nono Duque de Clayborough —
entoou o mordomo. Uma longa sequência de vários outros títulos do
duque se seguiu.
O duque fez uma pausa, sua postura impaciente e descuidada,
mas o mordomo mal havia terminado a introdução antes dele descer
os degraus até o salão de baile. Nicole se adiantou, observando-o
enquanto uma mulher esplendidamente vestida, claramente a anfitriã,
o cumprimentava.
— Lady Nicole Bragg Shelton — o mordomo estava dizendo.
Nicole não o ouviu, seu coração estava em sua garganta. De
repente, estava extremamente consciente de suas pernas nuas e pés
descalços e sentiu como se a multidão inteira estivesse olhando para
ela, o que eles estavam, é claro, porque ela tinha acabado de ser
anunciada e logo depois do Duque. Um silêncio caiu sobre a multidão
e ela rezou que fosse por causa do duque e não por causa de sua
aparência nessa fantasia.
Mas ele também se virou e olhou para ela.
Nicole levantou a cabeça. Descalça, como seria um verdadeiro
cigano, com pulseiras nos braços, o cabelo caindo até a cintura, as
saias rodando acima das panturrilhas, ela desceu graciosamente as
escadas. As pessoas começaram a sussurrar. Nicole teve uma
sensação horrível de que eles estavam falando sobre ela.
Ela estava certa, nunca deveria ter vindo. Ninguém havia
esquecido e sua fantasia era ousada demais para um baile.
Infelizmente ela vislumbrou Stacy Worthington em pé na frente
da multidão, vestida com um vestido regente branco, um tipo de traje
perfeitamente adequado. Stacy não estava estupefata, estava
sorrindo.
Nicole esqueceu tudo sobre Stacy Worthington. O duque estava
olhando para ela. Ele tirou o fôlego dela. De alguma forma se moveu
em direção a sua anfitriã sem cair em um desmaio.
— Lady Adderly — murmurou ela, fazendo uma reverência.
A viscondessa piscou para ela. Nicole sentiu os olhos do duque
queimando nela. — Oh sim, lady Shelton, que bom que você veio. E
que fantasia... charmosa ...
Nicole não pôde sorrir ainda não conseguia respirar. Mas ela não
tinha certeza se era porque ela ainda estava sendo admirada por
centenas de convidados, ou se era porque ele estava tão perto dela
que ela fantasiava que podia sentir o calor de seu corpo poderoso. —
Obrigada — ela murmurou.
— Um traje magnífico — disse o duque, elevando a voz sem
qualquer esforço aparente.
Nicole girou e encontrou seus olhos. O chão pareceu sair de
debaixo dos pés dela.
Era bonito. Devastadoramente bonito, devastadoramente
masculino. Ele quase a ultrapassou. Seus olhos escuros pareciam
comandar os dela e ela foi mantida cativada em seu poder. — Você é
única, lady Shelton — ele disse abruptamente, seu olhar deslizando
por seu corpo. — E eu, por exemplo, acho refrescante.
Assim como abruptamente virou as costas para ela, acenou para
a sua anfitriã e saiu deixando as duas mulheres ali sozinhas.
— Única— disse Lady Adderly, como se não pudesse acreditar.
O coração de Nicole começou a bater de novo, um êxtase
selvagem a encheu, reconheceu suas palavras como um elogio. Deus,
aquele homem lindo a havia elogiado!
Ela se viu flutuando no meio da multidão, as pessoas ainda
olhavam, mas só suas palavras soavam em seus ouvidos , estava
alheia a todos ao seu redor. — Um traje magnífico ... você é única,
lady Shelton ...
Nicole se encontrou segurando uma taça de champanhe, seu
pulso estava batendo rapidamente e ela se sentiu excessivamente
quente. Ela examinou a multidão e o viu instantaneamente. Para seu
choque, ele estava olhando fixamente para ela.
Eles estavam separados por léguas, não podia ver claramente os
olhos dele, mas se sentia queimada por seu olhar. Podia ver a
intensidade em seu rosto, não conseguia desviar o olhar até que ele
ergueu o próprio copo de champanhe como se estivesse brindando
com ela, ou com eles.
Rapidamente Nicole se virou. O duque de Clayborough. Quanto
tempo ele estaria no Chapman Hall? Ele era casado? E o que estava
acontecendo com ela? Ela era uma massa de nervos trêmulos e não
conseguia tirar os olhos dele.
Ele estava ouvindo vários senhores e senhoras, parecendo um
pouco entediado e impaciente como tinha estado quando entrou pela
primeira vez na sala. Stacy Worthington estava a seu lado olhando-o
com adoração. Nicole sentiu uma pontada de ciúmes profunda, rápida
e quente. A intensidade disso a surpreendeu. E então, como se
sentisse o olhar dela, o duque se moveu e perfurou-a diretamente
com o olhar novamente. Nicole sabia que deveria deixar cair os olhos,
mas ela não... ela não podia.
Um olhar elétrico passou entre eles.
— Cara Nicole, há quanto tempo...
A atenção de Nicole foi forçada a se retirar do duque, assim
como viu seus lábios parecendo se curvar em um sorriso sarcástico.
Ela reconheceu a mulher de cabelos grisalhos como a marquesa de
Hazelwood e ficou tensa. Essa mulher tinha sido uma das maiores
caluniadoras após o escândalo.
Mas agora a marquesa sorria como se fossem velhas amigas. —
É tão bom ver você de novo, Nicole. Meu Deus, você pode imaginar?
O Duque diz que você é bem única.
Nicole não sabia que jogo a marquesa estava jogando, mas ela
não faria parte dele. — Sim, já faz algum tempo, não é mesmo? —
Sua voz era fria, porque não se esquecera de como essa mulher a
havia cortado há quatro anos. — Oh, eu acredito que já faz quatro
anos desde a festa em Castleton, você se lembra daquela pequena
festa?
A marquesa certamente tinha que lembrar como ela havia
puxado sua espada verbal e cortado Nicole em fatias na frente de
uma dúzia de convidados de Castleton, mesmo indo tão longe a ponto
de chamá-la de inaceitável, sabendo que Nicole podia ouvir cada
palavra dela. Mas agora ela sorria como se aquela noite nunca tivesse
ocorrido.
— Oh, há tantos casos, suspirou. — Ela ergueu os óculos,
estudando o traje de Nicole. — Sim, posso ver como o duque acharia
seu traje bastante singular. Por favor, avise para a próxima vez que
estiver perto de Hazelwood e dê meus cumprimentos à condessa e ao
conde — Apertando a mão de Nicole de maneira amigável, ela se
virou.
Nicole estava atordoada e indignada não era boba e sabia que a
marquesa a convidara para Hazelwood apenas porque o duque a
aprovara. Fumegou interiormente, se o duque não tivesse estado aqui
esta noite ou se ele não tivesse aprovado seu traje, ela não teria sido
nem um pouco amigável... Nicole estava certa de que a resposta era
não.
Nicole bebeu outra taça de champanhe movendo-se, procurando
o duque discretamente na esperança de esbarrar nele. Para sua
surpresa, muitos dos convidados a procuraram estendendo
convites. Não podia estar satisfeita, mas pela primeira vez percebeu a
extensão do poder que alguém como o duque exercia. Esta noite ele
não tentou ser seu protetor sua declaração tinha sido honesta, mas
descuidada. De repente, era como se o escândalo nunca tivesse
existido.
— Você não parece feliz, Lady Shelton — sua voz profunda veio
de trás dela.
Nicole ofegou girando tão rapidamente para encará-lo, o
champanhe espirrou sobre a borda de seu copo. Ele ficou tão perto
dela que seus seios cobertos apenas por uma fina camisa sob a blusa
de seda roçaram o braço dele. Horrorizada, corando recuou
descontroladamente, derramando mais champanhe.
O olhar em seus olhos quando ele pegou o seu copo foi difícil de
ler. Sua cor não era muito marrom-escura, mas o rico ouro do
xerez. Ela pensou que ele poderia estar se divertindo e a mão dele
pegando seu copo tocou a dela e pareceu acariciar sua própria
alma... Queimou.
— Deixe-me reabastecer isso — Ele não precisou se mover, pois
um criado se materializou atrás dele com uma bandeja de taças
borbulhantes. O duque pegou uma para si e lhe entregou outra. —
Por que você está zangada?
Nicole rapidamente tentou recuperar seu juízo. — Eu não estou
exatamente com raiva — disse ela com cuidado. De perto, ele foi
ainda mais impressionante do que de longe e seu impacto foi ainda
mais enervante, se viu encarando sua boca e se perguntando como
seria ser beijada por ele. Quando percebeu o rumo de seus
pensamentos, ficou horrorizada.
— Você certamente não está com raiva agora — seu olhar se
movendo lentamente sobre ela.
Havia algo em seu tom que provocou uma resposta instantânea
nela, algo íntimo de que Nicole era muito inexperiente para
definir. Nicole sentiu os seios se apertarem como se ele realmente a
tivesse tocado. — Eu não estou com raiva agora — ela respirou.
Sua voz era rouca, uma carícia baixa. — Bom. Eu não gostaria
que você ficasse com raiva de mim, não agora quando acabamos de
nos conhecer.
Havia significados ali, vastos significados em suas palavras e
Nicole tinha medo de adivinhar o que poderiam ser. Ela desejou que
sua expressão fosse menos impassível, menos controlada. Seu
semblante era severo, inescrutável e ela não tinha a menor ideia do
que ele estava pensando ou por que a procurara. Mas quando seus
olhos seguraram os dela seu coração deu cambalhotas. — Eu nunca
poderia estar com raiva de você — ela se ouviu dizer. Então ela corou,
pois soava como uma coisinha tímida e era exatamente esse tipo que
ela não podia tolerar.
— Ah, mas há o outro lado a considerar, pois imagino que sua
raiva é como o resto de você, tão nova e tão estimulante.
Ela ficou sem fala, pois não havia resposta possível para isso,
assim como não conseguia imaginar o que ele estava dirigindo.
— É isso?
— Eu não sei. — Ela estava completamente desfeita.
— Não tenho dúvidas — e sua voz baixou muito — assim como
não tenho dúvidas de que sua originalidade se estende muito além do
domínio público.
Ela pensou em como andava por Dragmore, vestida de
homem. Aqui, pelo menos era um terreno seguro. Seu olhar era direto
e ela respirava com mais facilidade. — Sim.
Ele prendeu a respiração bruscamente, seus olhos de repente
brilhando. Nicole teve a nítida impressão de que ele não a entendera
e de fato, aplicara um significado às palavras dela que ela não
pretendia. Envergonhada por sua preocupação, Nicole procurou um
território absolutamente seguro para conversar. — Somos agora
vizinhos — ela disse educadamente. — Chapman Hall não fica longe
de Dragmore, de modo algum.
— Que conveniente — ele respondeu secamente. — Então seria
apenas minha vizinha que convidaria para a minha casa, não é?
Ela foi mantida em cativeiro por seus olhos dourados. Não podia
acreditar em seus ouvidos. Ela sorriu e não entendeu por que ele
voltou a inspirar. — Passeio pelo Chapman Hall com frequência —
disse ela ansiosamente.
— Eu tenho certeza que você faz. Então, da próxima vez que
você estiver passando, você deve fazer um pequeno desvio e dizer
olá. — Suas palavras carregavam todo o peso de um comando ducal.
— Eu irei — Nicole falou apaixonadamente. — Eu devo ir.
Capítulo 2
O duque de Clayborough retornou a Chapman Hall perto da
meia-noite, seu humor mais do que irritado. Ele odiava ser festejado
não tendo absolutamente nenhuma ilusão sobre por que as pessoas
lhe serviam. Ele era recluso por natureza e sua popularidade baseava-
se apenas em seu título, riqueza e poder. Ele tinha pouco respeito
pelos gostos dos Adderlys que o bajulavam e se faziam, em sua
opinião, completos idiotas.
Nunca gostou dos bailes e saraus infinitos que muitos de seus
colegas pareciam deleitar-se. Ele os achava um desperdício de seu
tempo, seus interesses sempre foram em outro lugar. Passou os
últimos doze anos, desde que era um jovem de dezoito anos,
administrando as vastas propriedades de Clayborough, enquanto seu
pai, Francis, o oitavo duque, acumulava uma dívida que finalmente
alcançou a incrível soma de um milhão de libras. Enquanto Francis
estava se entregando a todos os seus vícios, seu filho estava lutando
para administrar as propriedades em uma depressão econômica. As
propriedades de Clayborough ocupavam quase duzentos mil acres e
continham quase cem fazendas, as propriedades espalhadas por
Sussex, Kent, Derbyshire e até Durham. Como a maioria da nobreza,
o duque tinha uma riqueza e subsistência baseada na agricultura. No
entanto, os britânicos sofreram severamente nas últimas décadas,
incapazes de competir com os produtos que eram colhidos por
máquinas, que a América estava exportando. A agricultura tinha sido
o ponto crucial da fortuna da família Clayborough por centenas de
anos e foi preciso mais do que disciplina e trabalho duro para
combater a maré que se voltou contra ela.
Foram necessárias novas estratégias ousadas e inovadoras.
Enquanto Francis passava seus dias em salões de jogos e suas noites
em lugares que só Deus sabia onde, o astuto jovem herdeiro estava
investindo no comércio, na área imobiliária e financeira de Londres.
Mas as dívidas de Francis continuaram a aumentar e continuaram a
ser uma terrível perda para as propriedades.
Aqueles dias acabaram. O duque não sentia nem um pouco de
tristeza pelo fato de seu pai abandonado ter morrido há dois anos, na
cama com outra pessoa que não sua esposa. O detalhe mais sórdido
era que o amante de Francis fora um homem jovem — o caso foi
efetivamente silenciado por seu filho antes que qualquer dano a mais
pudesse ser feito. Não que os caminhos de seu pai fossem um
segredo. O duque também não tinha ilusões quanto a isso. Tinha
certeza de que toda a sociedade sabia exatamente o tipo de homem
que o oitavo duque tinha sido, assim como sabiam que ele era
exatamente o oposto.
Seu pai apreciava todas as festas e caçadas de fim de semana,
os bailes e o alvoroço, nunca se retirando antes do amanhecer e
nunca se levantando antes do meio-dia. O duque acordava de
madrugada e geralmente se retirava antes da meia-noite. Seus
assuntos de negócios exigiam sua atenção constante e era conhecido
por trabalhar até tarde da noite. Não foi inteiramente disciplina, parte
disso era uma ambição ardente que tinha certeza que vinha do lado
materno da família. Os de Warennes eram conhecidos por seu senso
de negócios perspicaz, que até a duquesa viúva de Clayborough
possuía em abundância. Quando o duque mergulhou nos assuntos de
Clayborough, ele trabalhou lado a lado com a mãe, espantado com a
forma como ela administrava as propriedades nas últimas duas
décadas, sem nenhuma ajuda do marido.
Estava irritado esta noite porque era tarde e tinha uma agenda
completa para o dia seguinte, se levantaria como de costume, com o
sol. Ele não era desumano, embora muitos parecessem pensar que
ele era e se não dormisse logo, amanhã estaria cansado. E esta noite
não passara de uma perda de tempo e energia.
Ele entrou no Chapman Hall seu mordomo, Woodward e seu
criado, Reynard, estavam esperando por ele e o chefe dos lacaios,
Jakes, acompanhou-o. Woodward pegou seu manto preto e carmesim
sem que o duque sequer percebesse. — Isso vai ser tudo, sua graça?
— Vá para a cama, Woodward — ele acenou para ele com
desdém. Esta noite não foi exatamente uma completa perda de
tempo, pensou seu pulso acelerando. A imagem cigana apareceu
vividamente em sua mente. — Nem eu preciso de você, Reynard.
Obrigado, Jakes. Boa noite.
Reynard e Jakes desapareceram, mas Woodward tossiu e o
duque parou antes de subir a escada. Ele levantou uma sobrancelha.
— A Duquesa viúva chegou esta noite, Vossa Excelência. Foi
inesperado mas nós a acomodamos e a colocamos na sala azul na ala
oeste. Parecia estar nas melhores condições, Vossa Graça.
— Muito bem — disse ele. Quando subiu as escadas, sua testa
franziu. O que sua mãe estava fazendo ali, sabia que não era uma
emergência terrível, pois se tivesse sido, a duquesa viúva estaria de
pé e esperando por ele andando impaciente por mais tardia que fosse
a hora. Ainda assim, as propriedades estavam em Derbyshire, o que
não era fácil de se fazer e se ela tivesse vindo de sua casa em
Londres, isso teria significado uma jornada de quase meio dia. Ela não
veio apenas para conversar, algo importante estava em sua mente.
Mas teria que esperar até amanhã. Amanhã. Seu corpo ficou
tenso. Será que a completamente sedutora Lady Shelton passaria por
ali? Um sorriso curvou seus lábios, seu primeiro sorriso real da noite,
revelado apenas na privacidade do quarto principal e compartilhado
apenas com o Borzoi, que estava batendo seu rabo entusiasticamente
em saudação ao seu mestre.
Clayborough se despiu, ainda estava chocado com a sua
admissão de que ela era tão original em privado quanto em público e
novamente, pela enésima vez, a imaginou nua em sua cama,
montada nele, devorando-o com sua selvagem paixão cigana. Em sua
imaginação ele era um pouco passivo como nunca fora em toda a sua
vida. A fantasia o despertou insuportavelmente e não era um homem
que sucumbia aos devaneios.
Ela era mais que original era ousada e adivinhou que era
imprudente também. Claro, sabia que ela estava de alguma forma
relacionada ao Conde de Dragmore, a quem conhecia, admirava e
respeitava. Nicholas Shelton era muito parecido com ele: um
trabalhador duro e disciplinado e um homem de negócios inteligente.
Ela era sua nora? Alguma prima, talvez?
Obviamente ela era casada, pois não era a sua primeira
temporada e suas maneiras ousadas, especialmente estar
desacompanhada e em tal traje confirmavam isso. O duque estava
acostumado a mulheres casadas que se atiravam a seus pés e faziam
tudo o que podiam para entrar em sua cama. Apesar de não se
entregar a jogos de azar, ao álcool ou a outras atividades que o
impediam, nunca conseguiu recusar uma mulher bonita, embora
raramente se incomodasse em ser o perseguidor. Ele sempre
mantinha uma amante também, é claro, mas se cansava rapidamente
desses relacionamentos e estava continuamente mudando de ligação.
Estava bem ciente de que tinha uma reputação de ser um mulherengo
cruel, mas isso não o incomodava, pelo menos não era sodomita
como seu falecido pai.
Ocorreu-lhe que Lady Shelton seria uma boa amante, não a
conhecia bem, mas sentiu. Infelizmente, como era casada, levá-la
como sua amante estava fora de questão e teria que se contentar
com um caso. Normalmente seus interlúdios com mulheres casadas
eram ainda mais curtos do que suas relações com suas
amantes. Raramente tinha tempo para as reuniões clandestinas
exigidas por uma mulher casada, geralmente um tombo ou dois
bastavam. Lady Shelton o interessava mais do que um pouco, não
achava que algumas noites seriam suficientes.
Ele suspirou, aborrecido com o inconveniente que isso lhe
causaria.
A duquesa viúva também era uma madrugadora fora de moda.
Isobel de Warenne Braxton-Lowell tinha adquirido o hábito plebeu nos
primeiros anos de seu casamento, quando Francis entrou pela
primeira vez em seu patrimônio após a morte do sétimo duque. Não
levara muito tempo para ver que Francis não tinha intenção de mudar
seus modos de raciocínio. Quando as contas começaram a se
acumular, ela finalmente contratou um chanceler para atendê-las. Foi
um choque grosseiro descobrir que os fundos eram
desesperadamente escassos e que as propriedades estavam murchas,
mas nada como o choque grosseiro que o seu casamento causara. E
isso foi apenas o começo. Alguém teve que administrar o ducado
enorme. Isobel tornara-se alguém assim e quanto mais adepta se
tornava, mais irritado ficava Francis.
Já passava das seis da manhã e Woodward serviu o chá de uma
urna prateada, que apontava para a situação dos proprietários
anteriores de Chapman Hall, tão eloquentemente quanto os terrenos
escassos e o gasto chão de carvalho. Nenhum dos conhecidos da
duquesa viúva usava bandejas de prata, especialmente bandejas de
prata manchadas e amassadas.
Apesar da hora, Isobel estava vestida em um elegante conjunto
de dia azul, o vestido de gola alta com largas mangas, a cintura
excessivamente estreita, a saia em forma de sino e plissada nas
costas. Isobel tinha cinquenta e quatro anos, mas sua figura era de
uma mulher de vinte e poucos anos e ela passou com delicadeza. Da
mesma forma, exceto pelas rugas nos cantos de seus vívidos olhos
azuis e as linhas de caráter ao redor de sua boca, sua pele era suave
como marfim e com a ajuda de cremes especiais luminescente. Seu
rosto era um oval perfeito, alta dama e patrícia, do tipo que se veste
bem, ainda era bonita e atraente, quando jovem tinha sido uma
grande beleza.
Agora, para combinar com a cara seda azul de seu vestido usava
brincos de safira e uma larga pulseira de diamantes, intercalada com
mais safiras. Uma grande safira alada com dois pequenos rubis piscou
da mão direita, não usava as alianças de casamento. Na verdade,
ficara aliviada em finalmente deixá-las descansar junto com seu
marido morto.
— Eu pensei em te encontrar — comentou o duque entrando no
quarto com calças apertadas, botas e camisa branca solta. — Bom Dia
mãe. — Foi diretamente para ela e beijou sua bochecha.
— Bom Dia. — Isobel estudou-o quando ele se sentou ao lado
dela na cabeceira da mesa de mogno marcada. Grande quantidade de
orgulho a varreu enquanto o observava. Ele era seu único filho e o
concebera relativamente tarde em seu casamento, sete anos depois
de se casar, aos 24 anos de idade. Não foi apenas a sua aparência
marcante que a emocionou, ou seu comportamento viril, mas tudo
sobre ele. Pois era um homem honrado, um filho que qualquer mulher
teria orgulho: Tão forte, sólido e responsável quanto Francis tinha
sido fraco, desonesto e irresponsável. Mesmo sabendo o que ela fazia
tudo por ele, ficava entristecida, pois mesmo no homem adulto
poderoso, ainda vislumbrava o menino sombrio que nunca teve a
infância que deveria ter tido.
— Tenho medo de perguntar — disse o duque enquanto
Woodward lhe servia café preto e rico. — Mas o que te traz aqui?
Em vez de responder, Isobel disse: — Como foi o baile ontem à
noite? — Outro criado trouxe-lhes pratos de ovos, bacon e peixe
defumado.
O duque sorriu ligeiramente. — Um maldito incômodo é claro.
Ela o olhou imaginando o que seu sorriso pequeno e satisfeito
significava, depois agradeceu educadamente a Woodward ao sair da
sala, estavam sozinhos. — Estou preocupada com Elizabeth, Hadrian.
À menção de sua noiva, o duque fez uma pausa, o garfo
erguido. — O que está errado?
— Talvez se você passasse mais tempo com ela, não teria que
perguntar — disse Isobel gentilmente.
O duque colocou o garfo no prato. — Clayborough não pode
seguir sozinha mãe, como você, de todas as pessoas, deveria saber.
— Eu sei, mas seus caminhos se cruzam cada vez menos e eu
sei que isso a incomoda, até mesmo a machuca.
O duque olhou sombriamente. — Então eu sou negligente — ele
finalmente disse. —Porque eu não iria machucá-la, não
propositadamente. Ela é tão ocupada em Londres com a agitação
social, eu pensei que a fazia feliz. Não me ocorreu que
pudesse ter saudades de mim.
— É claro que ela é feliz em Londres, mas você é seu
prometido. Em alguns meses vocês vão se casar. As pessoas estão
começando a conversar.
— É isso que você veio me dizer?
— Não, eu a vi anteontem, Hadrian e enquanto ela tenta fingir
que tudo é como deveria ser, está claro que não está bem.
— Ela está doente?
— Eu estou com medo. Está muito pálida e perdeu peso. Eu
finalmente perguntei a ela diretamente e foi necessário algum
estímulo, pois você sabe como Elizabeth é, nunca querendo
sobrecarregar ninguém, Deus me livre! Mas finalmente confessou
estar cansada o tempo todo e embora não esteja comendo menos,
perdeu peso suficiente para que todos os seus vestidos tivessem que
ser alterados. Eu a encorajei a ver um médico, mas riu de mim e disse
que é apenas fadiga e vai passar.
— Bem, isso não soa como se ela estivesse em péssimas
condições, mãe ou iria a um médico. Eu estarei em Londres em uma
semana ou duas, assim que terminar aqui. Vou investigar o que está
precisando de tratamento médico, você pode ter certeza que ela vai
recebê-lo.
Isobel sabia que ele cumpriria cada palavra, pois nunca deixava
de cumprir suas obrigações. Embora mantivesse uma amante como a
maioria dos homens, sabia que ele seria um bom marido. Quando
estava com Elizabeth sempre foi cortês, gentil e respeitoso e não era
um jogo, era de sua natureza. Ele nunca lhe negou nada, nem mesmo
um pedido para participar de alguma função, embora odiasse muito e
fosse um homem ocupado. Não era abusivo de nenhuma maneira e
mantinha seus assuntos discretos.
Isobel sabia que ele gostava de Elizabeth, porque eram primos.
De fato, Hadrian tinha doze anos, Elizabeth dois, quando foram
prometidos. Isobel sabia que Hadrian não sentia nenhum amor
ardente por Elizabeth, cuidando dela como alguém poderia cuidar de
uma irmã, assim como tinha certeza de que Elizabeth o amava e não
como alguém amaria um irmão. Isso, claro, não era da conta dela. O
mais importante era que Hadrian e Elizabeth eram amigos e que
Hadrian sempre a honraria e respeitaria. Isobel tinha visto o suficiente
do mundo para saber que a amizade não era uma base ruim para um
casamento, pois apenas alguns poucos tiveram a sorte de
experimentar o amor, muito menos de amar o cônjuge. Ela foi levada
de volta para outra época, para outras praias e ficou triste. Mas o
momento passou.
O duque comeu rapidamente, considerando o que sua mãe lhe
dissera. Ele não ficou alarmado, embora Isobel devesse estar ou ela
não teria ido até Chapman Hall. Sua primeira ordem de negócio
quando voltasse a Londres seria discutir a saúde de Elizabeth com ela
e não seria enganado se ela estivesse de fato doente. Também iria
acompanhá-la ao teatro e outras bobagens. Mais uma vez, a duquesa
viúva estava certa e ele se sentiu culpado. Estava muito imerso nos
negócios de suas propriedades e negligenciara sua noiva. Era
diferente dele, se tivesse calculado corretamente, não a via há mais
de um mês. Não havia desculpa, uma vez casados não deixaria que
tal padrão se desenvolvesse novamente.
O duque pediu licença para assistir as obras do Chapman Hall,
que estava em uma condição tristemente negligenciada. Ao sair da
mesa seus pensamentos mais uma vez se voltaram para a atrevida
cigana lady Shelton. Ele flertara com ela na noite anterior como um
idiota superficial, não era um paquerador, nunca fora. Ele realmente a
perseguiu, a convidara para Chapman Hall e agora lamentava ter feito
isso. Embora Isobel provavelmente fosse embora amanhã, ele
absolutamente não poderia permitir que ela conhecesse Lady Shelton,
uma futura amante, seria o máximo de impropriedade e desrespeito.
Não estava pensando muito claramente na noite passada, a realidade
o perturbou.
O duque passou a manhã terminando a revisão da pequena
propriedade, que cobria apenas 20 acres, pois não passava de uma
casa de campo para seus antigos donos. Ele retornou ao salão a
tempo para um jantar de cordeiro, que participou com sua
mãe. Isobel estava cavalgando, ela era uma ávida amazona e disse
que partiria na manhã seguinte para voltar a Londres.
Ele compartilhou alguns de seus planos para Chapman Hall com
Isobel, que como sempre estava profundamente interessada em
qualquer coisa que tivesse a ver com o império ducal. Eles estavam
terminando a refeição quando Woodward apareceu, anunciando uma
visita.
O duque não precisou saber quem era, ele sabia. Mas Woodward
informou-o seriamente que o visitante era Lady Nicole Shelton,
embora ele mal tivesse ouvido. Sua mãe estava olhando para ele
estranhamente, dizendo: — Lady Nicole Bragg Shelton de Dragmore,
Hadrian?
O mais leve rubor tingiu suas altas maçãs do rosto quando se
levantou abruptamente. — Eu tenho um compromisso para cavalgar
— disse secamente, seu tom cortando quaisquer outras questões, saiu
apressado deixando-a boquiaberta atrás dele.
Woodward conduziu-o até a pequena sala de visitas do vestíbulo
com piso de ardósia. A porta estava aberta e os passos do duque
desaceleraram quando a viu. Uma necessidade primitiva surgiu nele e
se tornou um macho perseguidor. Estava sentada no sofá e
imediatamente ficou de pé, seu olhar travando com o dele.
Ela não era uma cigana louca hoje, mas era mais fascinante do
que na noite anterior. Usava um traje de cavalgar cor verde garrafa
com um chapéu combinando, o cabelo preso e fora de vista. Ela
segurava luvas pretas de couro e um chicote de equitação, torcendo o
primeiro em suas mãos.
— Estou feliz que você tenha vindo — ele disse baixo, parando
na frente dela. Seu olhar varreu suas características requintadas e
sim, ela era tão incrivelmente bonita quanto ele se lembrava. Não foi
sua imaginação correndo solta.
Ela fez uma reverência, mas a parou, levantando-a de volta. —
Por favor, sem formalidades, acho que isso seria ridículo dadas as
circunstâncias, não é?
Ela piscou para ele seus olhos eram tão pálidos que eram quase
prateados. Ele se perguntou se ela já o ouvira ou se entendera. Às
vezes, o deixava perplexo com seu rubor e confusão, como se não
fosse uma dama de experiência. Ou talvez estivesse tão desfeita com
a atração física que corria entre eles como ele próprio parecia estar.
— Obrigada, Sua Graça — ela disse sua voz baixa e rouca.
Ele ouviu passos no corredor e endureceu, sabendo que era a
duquesa viúva. Não havia saída graciosa para a situação, teria que
apresentá-los a mandíbula do duque se apertou.
Isobel entrou no vestíbulo parecendo perturbada seu olhar indo
da visitante para si mesmo. O duque pensou ter lido desaprovação
nos olhos dela e isso o perturbou, assim como o encontro dela com
lady Shelton. — Lady Shelton, a duquesa viúva de Clayborough — ele
disse formalmente, seu tom de voz não dando absolutamente
nenhuma indicação de que algo estava errado.
As duas mulheres trocaram cumprimentos. Isobel disse: — Você
não vai se juntar a nós para o chá, Lady Shelton? Woodward, por
favor, traga-nos alguns refrescos.
O duque a interrompeu, segurando o braço de Nicole com
firmeza. — Sinto muito mãe, mas como eu disse, temos um encontro
de montaria.
Antes que Isobel pudesse insistir em que ficassem, viu pela sua
expressão que ela o faria, ele estava levando sua convidada para fora
do salão e através do vestíbulo. — É um dia lindo e seria uma pena se
não aproveitássemos — comentou, pensando em como logo tiraria
vantagem do que ela lhe oferecia.
— É claro — Nicole gaguejou, aparentemente nervosa com uma
saída tão abrupta. Ela lançou um olhar por cima do ombro. O duque
não tinha a menor dúvida de que sua mãe estava ali na varanda,
sabendo exatamente o que ele tinha em mente e chocada por ele ser
tão indiscreto com isso.
Mas então ficou bastante chocado mais isso não mudaria suas
intenções de modo nenhum.
Capítulo 3
Nicole tentou olhar de novo por cima do ombro enquanto o
duque a conduzia com firmeza pelos degraus baixos e para longe da
casa. A duquesa viúva seguiu-os e ficou olhando para eles em choque
e desaprovação. O desânimo de Nicole aumentou. A mãe do duque
estava claramente descontente com o interesse do filho por ela, devia
saber tudo sobre o passado sórdido de Nicole, assim como todo
mundo sabia.
Mas então suas palavras com seu tom rouco e íntimo
afugentaram todos os pensamentos da duquesa viúva. — Eu esperava
que você viesse hoje, Nicole.
Estavam nos estábulos e ele estava ordenando a um lacaio que
trouxesse suas montarias. Os olhos de Nicole estavam arregalados,
fixados em suas feições marcantes a chamara de Nicole, tudo estava
acontecendo tão rápido e era como um sonho se tornando realidade.
Na noite anterior não conseguira dormir, seus pensamentos
nadando com a imagem dele, recordara todas as palavras que lhe
dissera no baile de máscaras. Nicole nunca se interessara por homem
algum antes, mas agora entendia a atração entre os sexos. E o que
estava sentindo não podia ser mais que amor.
— Eu espero que você não se importe em chamar você de
Nicole.
— Como eu poderia me importar? — Murmurou, seu tom e olhar
enviando arrepios através de seu corpo.
— Bom, então vamos dispensar todas as formalidades e você
pode me chamar de Hadrian.
— Hadrian — ela sussurrou, incapaz de desviar o olhar.
O lacaio apareceu com os cavalos e o duque se afastou dela
para verificar o tamanho de sua montaria. Nicole aproveitou a
oportunidade para deleitar seus olhos nele. Ontem à noite tinha sido
arrojado e inegavelmente masculino em sua roupa preta de noite,
mas hoje era ainda mais viril na aparência. Seus calções de montaria,
feitos do mais fino e macio tecido, abraçavam suas poderosas coxas
como uma segunda pele. Ele se virou para ela que rapidamente
baixou o olhar, rezando para que não a visse olhando tão
avidamente, tão descaradamente.
Cavalgaram ao longo de um caminho pelos campos. O duque
elogiou seu gosto em raça de cavalo, admirando sua égua castanha
de sangue. Nicole montava seu próprio cavalo, um garanhão puro-
sangue de temperamento quente. Mas hoje ignorara suas próprias
inclinações, pois queria muito causar uma boa impressão. Estava
andando de lado para o seu benefício. Assim como duas empregadas
a ajudaram a se vestir e a pentear, toda a toilette tomou duas longas
e intermináveis horas. Ela pensou que ele estava satisfeito com
ela, tinha valido a pena.
Chapman Hall estava muito atrás deles agora, perdido atrás de
uma linha de carvalhos altos e espessos. O caminho serpenteava pela
floresta e à frente deles havia uma clareira, onde um riacho
balbuciava. — Vamos andar — disse o duque abruptamente,
deslizando com força para o chão.
Nicole não se importou com o que eles fizeram, parou a égua
enquanto ele se aproximava, ela escorregou direto para os braços
dele.
Ela endureceu de surpresa enquanto suas mãos se fechavam em
seus braços, seus joelhos se tocaram. Ele esperou muito mais tempo
do que o necessário antes de se afastar dela. Então sorriu como se
não a tivesse abraçado. Isso mudou completamente sua expressão
proibidora.
Nicole ficou sem fôlego. Como tal homem poderia estar
interessado nela? Mas ele estava, porque já não lhe dissera que
esperava que ela fosse ao Chapman Hall naquele dia?
— Vamos andar? — ele perguntou.
A língua de Nicole estava amarrada, conseguiu assentir,
esperando que ele não a achasse uma idiota completa. Tentou pensar
em um assunto adequado de conversa, mas ele pegou sua mão e
toda a coerência fugiu de seus pensamentos.
Um silêncio tenso pareceu se estender entre eles enquanto
passeavam ao longo das margens do riacho, o duque tendo tomado
as rédeas dela e conduzindo os dois cavalos. Nicole estava mais que
sem palavras agora, seu coração estava martelando. Nunca tinha sido
tão consciente de um homem quanto era do duque de
Clayborough. Mas tinha que dizer alguma coisa ou ele começaria a
pensar que ela não passava de uma idiota fêmea tola e obcecada.
Ele deve ter percebido sua aflição, pois falou, invadindo a
quietude da tarde. — Você parece ser uma amazona muito hábil.
Ela era muito mais do que hábil, mas a modéstia era
considerada uma virtude em uma dama. — Sim — ela concordou com
ele. Procurou algo mais a dizer afinal se ela não pudesse expor sobre
o assunto dos cavalos, o que ela poderia discutir? — Eu... eu gosto
muito de andar.
Ele inclinou um olhar para ela. — Eu gosto muito de andar
também.
Seu tom mudara e ela engoliu em seco. Era quase como se
houvesse outro significado para suas palavras. — Eu monto quase
todos os dias.
Ele estava olhando para ela. — Seus passeios são dóceis Nicole
ou perigosos? — Seu tom era baixo.
Ela piscou. Ela só podia pensar em como ela preferia viajar a
uma velocidade alucinante em todo o curso de caça. — Perigoso.
— Ela não conseguia entender onde essa conversa estava levando.
— Perigoso — repetiu lentamente. Ele parou e ela também,
porque ainda segurava sua mão — Quão perigoso?
— Eu não sei. — Seu olhar estava enervando-a. Como era seu
tom de voz.
— Você acha o perigo excitante?
Não havia nada mais emocionante do que dar um salto de
quatro pés em alta velocidade. — Sim — ela sussurrou.
Sua mão apertou a dela por um momento pareceu que ele não
podia falar. — Você é tão diferente das outras. Eu nunca conheci uma
mulher antes que admitisse que é atraída pelo perigo de seus
passatempos.
Nicole piscou para ele. Era um elogio, ou ela pensava que era,
embora mal pudesse pensar em tudo. — Vamos continuar? — ela
sussurrou.
— Como parceiros de equitação? — ele voltou.
— Parceiros? — gaguejou, incapaz de acreditar em sua boa
sorte e de não o entender. — V-você gosta de caçar também?
Ele se aproximou dela pegando sua outra mão. Nicole arregalou
os olhos. O aperto dele nas palmas das mãos dela era duro. Não
poderia ter se afastado mesmo se quisesse, o que ela não fez.
— Não até hoje — ele disse duramente. — Quão bom é
cavalgando, Nicole?
Nicole não conseguia mais pensar. Ele estava enrolando-a em
seus braços e ela sabia, ela só sabia, que ele ia beijá-la. — Vai ser
muito bom — ela sussurrou.
— Eu imagino que você é soberba — disse ele. Suas mãos
deslizaram até os cotovelos e seus corpos se tocaram.
Nicole nunca havia sido beijada antes. Na verdade, ela nunca
imaginou o que poderia ser atraente sobre um homem cobrindo sua
boca com a dele até a noite passada. Ontem à noite ela tinha sonhado
com seus beijos, imaginando sem parar e sem vergonha como seria e
agora, querido Deus, ela estava prestes a descobrir.
— O tempo de fingimento acabou — disse ele. — Eu quero
você, Nicole. Eu te quero muito.
Nicole mal podia acreditar no que estava ouvindo. Suas coxas se
tocaram, seus seios roçaram a frente de sua camisa. E então sua boca
cobriu a dela, o beijo lento, suave e delicado.
Um desejo arrebatador encheu Nicole enquanto sua boca
provocava e a seduzia. Ela se esforçou contra ele, seu ardor natural,
até mesmo inocente e suas mãos instantaneamente apertaram, quase
a machucando. A pressão de seus lábios mudou de repente e ele a
estava devorando.
Nicole engasgou, pressionou contra ele de ponta a ponta, com
os braços em volta dela sua boca era feroz, quase brutal, exigindo
rendição instantânea. Ela se abriu para ele e ficou chocada quando a
língua dele entrou em sua boca. Ele a saqueou, enquanto ela foi
varrida pelo desejo quente.
Cheia de uma necessidade súbita e desesperada, ela tocou a
língua na dele. Sua resposta foi instantânea. Ele gemeu suas mãos
descendo até as nádegas dela, agarrando-as firmemente, levantando-
a contra o longo e duro membro de sua masculinidade. Rapidamente,
sacudindo os braços, Nicole começou a cercá-lo. Ela estava segurando
as dobras de sua camisa, agarrando-se e pressionando-se
violentamente contra ele.
Abruptamente ele a deitou na grama perto do riacho e cobriu o
corpo dela com o seu. Enquanto se acomodava em cima dela, sua
masculinidade massiva contra seus quadris, Nicole gritou em um
desesperado e aturdido prazer. Ela o sentiu puxar as saias enquanto
ela se arqueava contra ele.
— Em breve, Nicole — ele murmurou — em breve, eu prometo
a você, vou dar-lhe tudo o que você quer, eu vou montar você como
você nunca foi montada antes...
Nicole mal podia pensar quando a mão dele deslizou sobre o
joelho dela, debaixo de suas saias e anáguas, depois sobre a coxa. Ele
moveu a boca para o pescoço dela e ela se moveu, gemendo, uma
pedra abruptamente cavando na parte de trás de sua cabeça. Seus
olhos se abriram e a sanidade atingiu sua força total. Ela estava
deitada de costas, no meio na grama e no chão, o duque de
Clayborough estava tratando-a como nenhuma dama deveria ser
tratada.
Ela não queria que ele parasse. Mesmo quando sua mente gritou
uma advertência feroz, suas mãos se enterraram no espesso e
comprido cabelo castanho-amarelado em sua nuca. Mesmo sabendo
que não devia continuar com esse esforço, ela gemeu e se debateu
enquanto ele acariciava o interior de suas coxas, apenas o algodão
fino de suas meias de renda entre sua carne e a dele. Suas mãos
subiram e ele começou a soltar os botões de sua jaqueta de
equitação. Este era o Duque de Clayborough, ela conseguiu pensar
freneticamente e ela não queria apenas causar uma boa impressão,
mas ser sua esposa.
Essa necessidade era mais convincente do que qualquer outra
necessidade e ela agarrou seus pulsos para detê-lo, gritando. — Não,
por favor! Não é assim.
Instantaneamente ele ficou parado, não se mexeu por um
instante, mas o momento foi de trégua. Apesar da deliciosa agonia
em que seu corpo estava, apesar da urgência em suas veias, toda
coerência reclamou Nicole. Ela sabia e não havia dúvida, tinha ido
longe demais. Nenhuma dama faria o que ela fizera ou permitiria o
que ela permitiu.
O desânimo a encheu, afugentando todos, menos o desejo dela
por ele.
De repente, ele saiu de cima dela e se sentou. Não a olhou. —
Você está certa eu sinto muito.
Não esperava isso e Nicole fechou os olhos brevemente,
aliviada. Ela rezou para que seu pedido de desculpas significasse que
ele não a condenaria como imoral. Quando abriu ele estava de pé em
cima dela, olhando-a, sua expressão inescrutável, o que o fazia
parecer ainda mais ameaçador do que antes. Tentou ler os olhos dele,
mas estavam escuros e indecifráveis e era impossível.
Ele estendeu a mão e Nicole, ruborizada, aceitou. Ele puxou
rapidamente e a levantou.
Fez um grande show de escovar suas saias, para não ter que
encontrar seu olhar novamente, estava com medo de saber o que ele
estava realmente pensando, com medo de que tivesse acabado de se
arruinar em seus olhos. Como poderia ser de outra forma? Ela, que
nunca se importou com o que qualquer homem poderia pensar dela,
passou horas se preparando para essa reunião, apenas para arruinar
tudo com sua selvageria. — Não é sua culpa — disse ela, passando o
vestido. Ela tinha o desejo de chorar.
— Eu sei melhor — ele disse calmamente, ainda olhando para
ela. — Nenhuma mulher merece ser jogada no chão como uma
leiteira.
Atônita, rapidamente levantou o olhar para ele. Mais uma vez
achou seu semblante insondável. Mas a esperança encheu seu
peito. — Você está com raiva de mim?
Por um momento, ela pensou que algo brilhou em seus olhos. —
Eu não estou bravo com você. — Ele fez uma pausa. — Nenhum
homem pode ficar zangado com uma mulher tão bonita.
O alívio a inundou e quase caiu, estava muito aliviada para
pegar o tom forçado de suas palavras. — Você acha... que eu sou
bonita?
De repente pareceu confuso. Então sorriu, mas não era nada
parecido com o sorriso que lhe dera antes, foi sarcástico. — Claro que
te acho bonita, minha querida. Se eu não a conhecesse um pouco,
pensaria que você não tem certeza de si mesma. — Ele riu. — Se
você insistir em lisonja, eu vou obrigar você.
Algo acontecera e Nicole não sabia o que era, viu o cinismo em
seus olhos. Não tinha certeza se ele era sincero também, mas então
se lembrou de como ele a beijara e não havia nada insincero nisso.
— Venha para o Chapman Hall amanhã. — À tarde, eu estarei
esperando por você.
Nicole assentiu com os olhos arregalados, tremendo,
desanimada e alegre. — Eu estarei lá.
Ele deu um beijo rápido em sua boca. — É melhor voltar para
Dragmore agora. Vou acompanhá-la até que você esteja à vista da
casa.
Nicole assentiu, também enfeitiçada por ele para fazer algo além
de concordar.
O duque de Clayborough tinha uma rédea apertada em si
mesmo quando retornou a Chapman Hall, o mesmo controle restrito
que vinha exercendo desde que praticamente caíra em Nicole
Shelton. Ele ficou perturbado, pois não podia negar o que havia
acontecido. Era um homem de disciplina, mas acabara de perder a
cabeça e todo o seu controle de ferro. Quase tivera uma relação
sexual pecaminosa com lady Shelton na grama. Ela o fizera perder o
controle momentâneo e não gostou. Para piorar a situação estava
cheio de antecipação de seu próximo encontro.
E o duque não era um homem que sonhava com as mulheres,
ou qualquer outra coisa, não pensava nesse assunto.
No entanto já planejava romper seu relacionamento com sua
atual amante, a srta. Holland Dubois, assim que retornasse a Londres.
Estava entediado com ela desde o mês passado; ele só a visitou meia
dúzia de vezes. Para facilitar a separação daria algumas joias e uma
quantidade substancial de moedas, pois as amantes ficavam furiosas
quando a relação terminava, mas ela não teria dificuldade em
encontrar outro protetor, pois era muito bonita, prestativa e muito
habilidosa.
Talvez ele permanecesse um pouco mais em Chapman Hall. Em
vez de ver a Holland, estaria na cama com Lady Shelton. Sua
mandíbula endureceu novamente só de pensar no que estava por vir
e percebeu que estava perigosamente perto de se apaixonar por
ela. Severamente, ele balançou seus pensamentos livres dela.
Ficou chocado quando assim que desmontou e entregou o
garanhão ao chefe dos criados, Isobel desceu os degraus de Chapman
Hall e aproximou-se dele com os passos de um soldado furioso. —
Hadrian — ela disse com firmeza. — Entre, vamos conversar.
Ele não tinha a menor dúvida de que estava prestes a ser
considerado um mulherengo , embora merecesse, não estava com
vontade de ouvi-lo. — Mãe, posso lembrá-la de que não sou um
menino de dez anos? — Seu tom era muito educado.
— Eu não preciso me lembrar disso, Hadrian — ela retrucou. De
repente ela voltou para a casa, sem esperar para ver se ele iria seguir.
O duque suspirou e intuiu o humor dela. Ficou parado e
impotente, observando o tratamento insensível e cruel de seu pai por
muitos anos, quando era criança, para não a obedecer neste caso, por
mais tola que fosse. Aquele abuso finalmente parou quando tinha
quatorze anos. Naquela altura, tinha quase 1,80 metro de altura,
vários centímetros a mais que Francis e quase o mesmo peso.
Enquanto a força deles poderia ter sido igualada, Francis não tinha o
poder da raiva do seu lado, enquanto Hadrian o fazia. Não foi a
primeira vez que ele tentou impedir seu pai de abusar de sua mãe.
Quando ele era criança, tentou se interpor entre eles, apenas para ter
as bofetadas dolorosas que Francis apontou para Isobel ser desviada
para ele. Quando cresceu, suas tentativas de proteger sua mãe foram
atendidas por um desvio para ele. Quando tinha catorze anos, todos
os abusos cessaram. Tanto o que dirigiu a sua mãe, e que sofreu
quando tentou interferir, porque Hadrian atingiu seu pai com um
golpe determinado em sua mandíbula, fazendo com que Francis
desmoronasse a seus pés. Ele começou a bater nele mais duas vezes,
até que ele estava friamente satisfeito que Francis nunca ousaria
tentar machucar sua mãe novamente.
Então agora por mais que se ressentisse de sua interferência, ele
a ouviria com respeito e paciência.
Isobel prontamente fechou a porta da pequena biblioteca
surrada, deixando-os em absoluta privacidade. — Você perdeu a
cabeça?
— Para o que, precisamente, você está se referindo? — Como se
ele não soubesse.
— Hadrian! É inconveniente o suficiente ter um amante aqui,
mas meu Deus! Nicole Shelton! Como você pôde?
Um sexto sentido avisou-o de um desastre iminente. — Estou
com medo de estar perdendo alguma coisa importante.
— Você a arruinou? — Isobel exigiu sem rodeios. — O pai dela
vai te matar, independentemente de quem você é.
— Mãe — disse ele lentamente, embora sua mente estivesse
correndo — Eu não acho que nós precisamos discutir a minhas
indiscrições.
— Você a arruinou? — Isobel chorou.
A raiva cresceu dentro dele. — Claro que eu não a arruinei — ele
retrucou. — A dama não é nenhuma debutante e eu não entendo o
seu interesse.
— Ela não é debutante, mas ela é a filha de Shelton, Hadrian e
não é como você, ah! Atacando inocentes.
Ele se levantou. — Perdoe-me mas ela não é inocente. Temo
que não estamos discutindo a mesma senhora.
— Estamos discutindo Lady Nicole Bragg Shelton, filha mais
velha de Dragmore e solteirona ou não, escândalo ou não, você não
pode arruiná-la.
Ele olhou a cor escoando de seu rosto. — Solteirona?
— O que você achou?
— Eu pensei — ele começou e parou. — Ela é solteira? — Ele
não poderia acreditar naquilo.
— Ela está solteira! Ela estava prestes a se casar com Lorde
Percy Hempstead há quatro anos, mas ela nunca apareceu para o
casamento, deixando o pobre homem lá sozinho no altar. Foi um
terrível escândalo que, é claro, arruinou suas chances. É claro que
Shelton poderia comprar um marido para ela, mas que tipo de homem
ele seria? Ambos conhecemos Shelton e não posso vê-lo
comprometendo seus padrões dessa maneira. Independentemente
disso, Nicole é bastante excêntrica, ou é o que dizem. Ela é ainda
mais reclusa do que você, passa a maior parte do tempo em
Dragmore, raramente se aventura na sociedade. E quem pode culpá-
la? Eu vi como cruelmente foi cortada depois daquele escândalo. Você
a arruinou, Hadrian?
Estava em choque, ficou chocado com o terrível erro que quase
cometera, chegou perigosamente perto de arruinar uma jovem
senhora. No entanto, tinha respondido a ele como se ela fosse uma
mulher de experiência, mas agora ele se lembrava muito claramente
aqueles momentos quando seus rubores e sua confusão a fazia
parecer incerta e inocente. Mas como poderia saber? Comparecera ao
baile de máscara sem escolta e ousadamente fantasiada e não flertara
com ele? Ou interpretou mal todas as suas nuances? Teria ela
propositalmente o conduzido ou ele tinha sido o predador
indiscriminado? — Eu não a arruinei — ele disse rigidamente e então
saiu da sala.
Nicole desejava que sua melhor amiga, Martha Huntingdon, a
viscondessa de Serle, voltasse de Londres, pois não tinha ninguém a
quem confiar sobre o duque. Era tão quase inacreditável. Que ela,
muito alta e desajeitada, um fracasso sombrio quando saíra, depois
arruinada pelo escândalo, deveria ser cortejada pelo carismático e
belo duque de Clayborough! Pois não era isso que estava fazendo? Ele
a convidou para sua casa, não uma vez, mas duas vezes. E ele a
beijou, disse a ela que era linda. Não era tão poderosamente afetado
por ela como ela era por ele? Todas as suas ações não indicavam que
a estava cortejando?
Nicole sabia que era altamente inexperiente quando se tratava
de homens, mas tinha quase certeza de que a pediria para se casar
com ele em breve. Sonhava em como ele iria propor, sonhava em ser
sua duquesa. Se viu com o filho dele em seus braços e o viu sorrir
carinhosamente enquanto observava ela e o bebê.
E a pequena dúvida que ela tinha, as minúsculas sementes de
confusão, a memória sombria de seu sorriso sarcástico e tom frio, ela
empurrou para dentro dos recessos de sua memória.
Seu pai e Chad voltaram naquela noite da França, tendo
concluído seus negócios. Ed, seu irmão mais novo, frequentou
Cambridge, onde estudava a lei. Ela cumprimentou Earl e Chad com
um sorriso radiante e abraços, surpreendendo os dois com sua
exuberância.
— O que aconteceu com você? — Chad perguntou, seu belo
rosto com uma expressão suspeita. — O que você está fazendo
agora, irmãzinha?
Chad tinha quase trinta anos, cabelos escuros como o pai,
embora tivesse herdado a cor da mãe dele, a primeira esposa do
conde. Ele era muito bonito de um modo completamente patrício,
enquanto o apelo do conde era mais sombrio, mais perigoso. Nicole
fez uma careta para ele. — Eu não estou fazendo nada, irmão — ela
respondeu. — Afinal, não sou eu quem sai à noite e só volta depois do
amanhecer.
— Você não é um homem — Chad apontou alegremente.
— Chega — o conde disse suavemente, seu olhar percorrendo
sua filha com calor. — Você está brilhando, Nicole. Há algo que você
quer me dizer? — Ele fez a pergunta casualmente.
Seu pai a conhecia muito bem. Ela era sua primeira filha com a
condessa Jane e passara mais tempo no joelho do que qualquer outra
de seus irmãos. Ela estava mais perto dele do que Chad, Ed ou
Regina. Havia um vínculo entre eles que era difícil de explicar, embora
sua mãe tivesse provocado que isso pudesse ser explicado pelo
sangue selvagem em ambas as veias e pelo desrespeito pelas
convenções que resultavam disso. Nicole achara uma piada e achara
graça a sagacidade de sua mãe, mas o conde parecia um pouco
exasperado com a esposa por seu comentário insignificante.
Sempre foi a menina dos olhos dele e ela sabia disso. Ele a
conhecia muito bem , além disso era inteligente demais. Nicole
certamente não estava pronta para dizer a alguém da sua família que
tinha um pretendente, muito menos que era o duque de Clayborough,
não ousou se questionar muito sobre suas motivações para manter
este caso em segredo, quando nunca guardou segredos de sua família
antes. Pensou sobre o que tinha acontecido no riacho pela zilionésima
vez e ela corou. — Não, pai — ela disse tão recatadamente quanto
possível. — Estou feliz que esteja em casa, senti sua falta. —
Rapidamente o abraçou novamente, mas o olhar que lhe deu foi
duvidoso.
Na manhã seguinte, Nicole novamente teve duas empregadas
para ajudá-la a se vestir para o encontro com o duque. Felizmente,
tanto Chad quanto o conde estavam na propriedade, cuidando de
seus assuntos, de modo que não comentavam sobre o traje incomum
que ela estava usando. Ela invariavelmente os acompanhava, mas
hoje conseguira mentir e dizer que estava com dor de cabeça. Os dois
homens a olhavam com ceticismo e Chad até desatou a rir.
— Você? — Ele dissera incrédulo. — Você tem dor de cabeça?
— Ainda rindo, ele havia partido com seu pai e Nicole queria
estrangulá-lo.
Ela apareceu no Chapman Hall pouco depois do meio-dia,
incapaz de esperar outro momento. Antes mesmo que desmontasse e
um lacaio tomasse as rédeas na frente da casa, viu o duque sair de
dentro do salão, como se estivesse esperando por ela.
Nicole lançou-lhe um sorriso ofuscante, mas não houve
resposta. Sua expressão era severa. Por um instante, a inquietação a
assaltou, mas depois agradeceu ao criado e desceu para o
chão. Quando olhou para cima, o duque estava dispensando o lacaio
e dizendo que um lacaio não seria necessário, desconcertando
Nicole. Se eles voltassem a cavalgar, por que ele não ordenou que a
montaria dele fosse trazida?
Ela ficou sombria, sua alegria desaparecendo quando ela
percebeu o quão duro e fechado seu rosto realmente era. Não havia
calor em seus olhos quando eles finalmente se assentaram. —
Aconteceu alguma coisa? — Ela perguntou, seu coração batendo
incerto.
— Receio que sim — disse ele com firmeza. — Parece que eu
vou estar sempre me desculpando com você. Eu cometi um erro
terrível, mas não tão terrível quanto poderia ter sido.
— Que... que erro? — Seu coração começou a afundar. Não
podia estar dizendo que tinha confundido seus sentimentos por ela,
sabia que ele não poderia dizer isso.
Sua mandíbula se apertou. — Eu não sabia que você era
solteira.
No começo, Nicole não entendeu. Ele não percebeu que ela era
solteira? E daí? Então, horrivelmente, o primeiro indício de
compreensão começou. — O que você está dizendo?
— Eu entendi que você fosse casada, é claro.
— Você achou que eu fosse casada? — Ela repetiu.
Ele não disse nada.
Ele tinha pensado que ela era casada. Se ele achara que ela
fosse casada, sua intenção não fora cortejá-la. Ela o olhou chocada.
— Mas você me beijou.
Ele se mexeu impaciente. — Certamente você não pode ser tão
ingênua a ponto de achar que um homem se abstenha de beijar uma
mulher só porque ela é casada.
Sua compreensão aumentou, horrivelmente. Pensou que era
casada, não pretendia pedi-la em casamento, mas sim para ser um
certo tipo de mulher casada, sem nenhuma moral. Não a estivera
cortejando; longe disso. Para usar suas próprias palavras, queria
apenas derrubá-la. Ela engasgou, feriu, raiva e consternação
subjugando-a imediatamente. Ele estava se divertindo à custa dela.
Seus sonhos desmoronaram no pó a seus pés.
— Eu sinto muito. Eu sei que devo parecer um tipo muito baixo,
mas francamente, eu estou tão acostumado a senhoras casadas se
oferecendo para mim que...
— Eu não me ofereci para você. — Nicole chorou, esmagada,
devastada. Lágrimas encheram seus olhos.
— Eu confundi seus modos, então. Obviamente, Lady Shelton,
você não pode vir aqui novamente. — Seu olhar segurou o dela,
escuro e insondável.
Nicole estava em choque e ferida além das palavras. —
Obviamente — ela conseguiu dizer como um fantasma de seu antigo
espírito — eu seria dez vezes uma tola se voltasse aqui. Você
certamente nunca mais me verá.
Arrancou as rédeas de suas mãos e antes que pudesse ajudá-la,
pulou na sela. Era feita para andar de lado e ela não tinha escolha a
não ser fazê-lo. Não importava, a única coisa que importava era
escapar dele o mais rápido possível. Lágrimas de pesar e humilhação
a cegaram, o peito atou em dor, esporeou sua égua a galope e o
deixou em pé sozinho em uma nuvem de poeira.
Capítulo 4
Nicole usou a desculpa da dor de cabeça para permanecer em
seu quarto naquela tarde e toda aquela noite, não desceu para
jantar. Tanto o Conde quanto Chad vieram perguntar por ela e foi
preciso uma quantidade suprema de autocontrole para esconder seu
coração despedaçado deles. Não querendo despertar mais suspeitas
do que já tinha, aceitou a bandeja que Annie trouxe, depois entregou
o conteúdo a um dos gatos da casa.
Sua miséria se aprofundou com a noite. Quão ingênua ela tinha
sido! Quão estúpida! Acreditar em contos de fadas quando os contos
de fada não existiam, pelo menos não para ela, nunca para
ela. Tolamente havia se apaixonado pelo duque, não com o homem
que ele realmente era, mas com um homem que ela criara em sua
imaginação selvagem. Aquele homem não existia e o duque não
passava de um namorador imoral.
E tão tolamente pensou que ele também estivesse apaixonado
por ela.
Estava muito machucada para odiá-lo, pelo menos por agora.
Quase cedeu às lágrimas, mas lutou contra elas. Quando saiu
pela primeira vez e não tinha sido aceita por seus colegas, isso
também tinha doído horrivelmente. Na época, foi o golpe mais
chocante de sua vida. Havia crescido em Dragmore, onde foi aceita e
amada por todos, desde o mais baixo cavalariço até seus adorados
pais. Nunca houve um dia em sua vida, até sua estreia, que ela não
se sentisse segura. Mas sua estreia mudou tudo isso.
Pois o fato era que Nicole era diferente das outras jovens da
sociedade e elas percebiam isso imediatamente. Não tinha
absolutamente nada em comum com elas, tinha sido criada para ser
ativa e pensar por si mesma e como consequência, ela era franca e
direta; elas tinham sido criadas para serem bonitas, modestas e
recatadas, fingiam ser simplórias ante os homens e fofocavam umas
com as outras. Seus interesses predominantes na vida eram as
últimas modas e a captura de um marido, e como Nicole
honestamente não compartilhava desses interesses, era uma pária
desde o começo. Não poderia ser perdoada por tal sacrilégio.
Ela mesma criara o escândalo, mas Nicole não esperava que a
sociedade a atacasse tão cruelmente quanto antes. Na verdade não
tinha pensado muito sobre o que estava fazendo, sabendo apenas no
último minuto que simplesmente não poderia continuar com o
casamento. Nunca tinha amado Percy Hempstead, nunca se importou
de uma maneira ou de outra sobre ele. Os dois primeiros anos se
passaram e ela não demonstrou nenhum interesse em qualquer
pretendente, razão pela qual seu pai finalmente entrou em cena e
ofereceu a ela uma perspectiva após a outra. Eles lutaram. Nicole
implorou para não se casar como uma égua de ninhada enviada ao
garanhão, mas ele era surdo aos pedidos dela.
— Há dezenas de homens finos e elegíveis para você escolher —
ele se enfureceu com ela. — No entanto, em dois anos você negou
cada um deles! Eu não vou permitir que você arruíne o seu futuro,
Nicole, então agora eu vou encontrar para você o homem certo.
Nicole fugira dele, furiosa e aborrecida, mas também sabia que
ele estava motivado pelo amor por ela, achava que estava fazendo o
que era melhor e também achava que um dia ela olharia para trás e
concordaria que ele estava certo.
Percy Hempstead era alguns anos mais velho do que ela, bonito,
agradável, herdeiro do conde de Langston. Nicole desejou poder
reunir algum interesse por ele, pois era claramente muito gentil, gentil
com todos, incluindo seus cavalos e cachorros, um verdadeiro teste de
caráter.
Também era um trabalhador duro, não um perdulário e muitas
mulheres jovens tinham definido suas atenções para ele. Até Even
Martha era atraída por ele, declarando o quão bonito ele era com seus
cabelos escuros e olhos azuis e suas características finamente
esculpidas. Pressionada por todos e gostando de Percy como amigo,
finalmente concordou com a aliança.
Quando o casamento se aproximava, suas objeções originais a
se casar ficaram cada vez mais fortes, não o amava, mal o conhecia,
era praticamente um estranho. Não queria se casar e nem ser esposa,
cujas duas funções primordiais na vida eram ser um belo ornamento e
dar a seu marido filhos. Não queria sair de Dragmore, o pânico a
encheu com o pensamento sabia instintivamente que Percy nunca iria
deixá-la levantar com o sol e andar ao lado dele em suas fazendas
arrendatárias. Esperava que se entretivesse com outras damas e
passatempos femininos adequados, sempre vestida de maneira
adequada, passiva e obediente para ser, enfim, a mulher ideal.
Terrível medo encheu Nicole. Sua vida estava prestes a ser mudada
irrevogavelmente, para sempre.
Ela não podia continuar com isso. Na noite anterior ao
casamento, ela fugiu. Ela tinha uma nota entregue a Percy,
implorando seu perdão, mas sabia que não havia nenhuma explicação
razoável que pudesse oferecer a ele ou a qualquer outra pessoa por
seu comportamento. Deixou outra nota para seus pais. Não foi muito
longe, pois não era necessário era o suficiente estar ausente no dia do
casamento e ter enviado o bilhete para Percy. Mais de quinhentos
convidados tinham sido esperados e embora não tivesse deixado
Percy literalmente de pé no altar, como as fofocas mais tarde
afirmavam, o que tinha feito era ruinoso o suficiente. Percy nunca
falou com ela novamente e seis meses depois se casou com uma
dama vitoriana adequada.
Seu pai também não falou com ela durante quase um mês
depois que o primeiro grito de raiva se esvaiu. Nicole estava
desesperadamente arrependida por ter machucado Percy e também
estava arrependida por ter perturbado seus pais, mas não lamentava
não ter se casado com Percy.
Ela tinha apenas uma semana para se recuperar do que havia
feito. Nos meses seguintes, seus pais haviam saído como de costume
e Nicole os acompanhara por toda parte. — Você não vai se esconder
em Dragmore — seu pai disse a ela, as únicas palavras que falou em
uma semana. — Você vai enfrentar o que você fez.
Tinha sido horrível, ir a um baile ou em casa, ser olhada, sendo
a fofoca no momento em que virava as costas. Sabia que seus pais
estavam sofrendo tanto quanto ela e de certa forma, machucou eles
mais do que a si mesma. Nicole levantou a cabeça e agiu como se
nada estivesse errado, mas por dentro sentia-se como uma estranha
espécie de animal em um zoológico. Depois de alguns meses, seus
pais permitiram que fizesse o que desejava, mas a essa altura sua
aparência não era mais um acontecimento e os fofoqueiros haviam
encontrado novas forragens para suas fábricas.
Agora, deitada em sua cama, olhando para as pregas douradas
do dossel, queria chorar de um jeito que nunca quisera antes. Sua
vida tinha sido perfeita até que completou dezoito anos e saiu. Então
foi um desastre após o outro, deveria ter aprendido a lição. Mas não,
ingênua até o fim, olhou para o duque, apaixonada e estupidamente
pensou que ele fosse seu cavaleiro de armadura brilhante. Nunca
seria tão tola novamente.
Virou de lado, com os olhos secos, pensara que ela fosse casada
nunca teve uma intenção honrosa para com ela. De repente, ela
cerrou o punho, o começo de raiva varrendo sobre ela. Quão
desprezível ele era.
Naquela manhã, Nicole levantou com o sol, como de costume,
passou uma noite agitada queimando com raiva recém
descoberta. Sua adrenalina lhe dava força e apesar de mal ter
dormido, não estava cansada. Se juntou a seu pai e irmão no café da
manhã, vestida em suas calças, determinada a se juntar a eles
naquele dia e continuar sua vida como se nada tivesse
acontecido. Como se o duque de Clayborough não existisse.
Os dois homens olharam para ela. — Você parece um inferno —
disse Chad.
Nicole o ignorou, sentada à esquerda do pai, em frente ao
irmão. Ela se serviu de chá, sentindo o respeito do pai por ela. — A
dor de cabeça durou a maior parte da noite.
— Quero que você veja um médico — disse o conde.
— Estou bem agora pai, de verdade — disse Nicole, mas não
conseguiu sorrir para o benefício dele.
— Você nunca está doente — disse Nicholas Shelton
categoricamente. — Eu quero que você descanse hoje, Nicole.
Ela falou firmemente. — Eu quero andar com você e Chad.
— Absolutamente não. — Ele a olhou e sabia que não devia
discutir.
Depois de tomar o café da manhã, Nicole sentiu-se cansada e
esgotada. Quando Chad e o conde saíram, voltou para o quarto e caiu
na cama, de repente exausta. A bela imagem de ouro do duque
nadou ante ela. Ela cerrou os punhos e fechou os olhos. — Vá
embora, maldita, vá para o inferno! — Foi a maldição mais chocante
que ela conheceu.
Uma batida em sua porta a tirou de um sono pesado e muito
necessário. Nicole piscou surpresa ao perceber que cochilara por
algum tempo. Parecia ser fim da manhã, quase meio-dia. Grogue ela
se sentou. — Sim?
Aldric apareceu. — Eu sei que você não está se sentindo bem,
minha Senhora, mas a Viscondessa Serle está aqui. Devo dizer a ela
que você está indisposta? — Seus olhos gentis estavam preocupados,
embora seu tom fosse formal e impassível.
— Martha está aqui. — Nicole chorou, encantada. — Não, não!
Eu vou descer em um momento.
— Muito bem — Aldric disse, parecendo aliviado quando ele
recuou.
Nicole voou da cama e rapidamente lavou o rosto, ajeitando o
cabelo em uma longa cauda. Então ela desceu as escadas. — Marta!
A viscondessa de Serle era uma mulher pequena, um tanto
gorda, com grossos cabelos castanhos e pele de marfim. Estava
sentada recatadamente no sofá de veludo dourado na sala, uma
xícara de chá em suas mãos pequenas, vestida em um conjunto
listrado verde e rosa. Ela colocou a xícara no chão e ficou de pé com
um grito de prazer. As duas garotas se abraçaram entusiasticamente.
— Eu senti tanto a sua falta! — Martha chorou.
— Estou tão feliz que você está de volta — Nicole soltou,
radiante.
Martha sentou-se, puxando Nicole para baixo ao lado dela. Seu
sorriso desapareceu quando ela olhou para sua amiga. — Nicole,
seus olhos estão inchados. Você esteve chorando?
A expressão de Nicole ficou sombria. — O que aconteceu?
Rapidamente, Nicole ficou de pé e fechou com firmeza a porta
da sala, voltando-se para encarar a amiga. De repente, ela estava
sobrecarregada com o desejo de chorar. Horrorizada, ela cobriu o
rosto com as mãos e lutou para deter a enchente crescente.
— Oh, querida — Martha engasgou, correndo para ela. — Venha
sentar-se, diga-me o que aconteceu para te chatear tanto.
— Sinto muito — disse Nicole, uma vez que tinha um aperto em
suas emoções cruas, olhou para sua melhor amiga. — Eu sou uma
imbecil, Martha.
Embora Martha estivesse acostumada com o traje pouco
convencional, os maneirismos e a linguagem de Nicole, ela corou
ligeiramente. — Você não é boba.
— Eu me fiz de boba com o duque de Clayborough — gritou
Nicole.
Martha ofegou. — Com o duque de Clayborough?
Nicole assentiu sombriamente. — Eu fui ao baile de máscaras
outra noite no Adderlys '. Foi em sua honra. Eu olhei para ele e meu
coração parou Martha. Que idiota eu era.
— Ele é muito bonito — disse Martha, com um tom cauteloso.
— Nós conversamos. Quando olhou para mim, seus olhos eram
como chamas, me convidou para ir ao Chapman Hall.
Martha ofegou. — Ele convidou você para Chapman Hall! Mas
isso não soa como o Duque de Clayborough, de modo algum! Ele
deve ter ficado muito fascinado por você.
Nicole olhou-a seus olhos brilhando como gelo. — Oh, ele foi
completamente tomado, deixe-me assegurá-la disso. Ele pensou que
eu era casada, me convidou para ir lá para um... um... um ...
Martha engasgou novamente. — Ele pensou que você era
casada?
— Eu pensei que ele tinha se apaixonado por mim. — Nicole
desviou o olhar a cor sumindo. — Eu até pensei — ela parou. — Eu
pensei que ele estava me cortejando. — Ela deu uma olhada para a
amiga, cuja expressão estava atordoada. — Ele me beijou, Martha.
— Oh querida — foi tudo o que Martha pôde dizer.
— Eu gostei. — Pensar no que havia acontecido entre eles
trouxe um rubor mais profundo à pele dourada de Nicole. Pior, seu
coração começou a martelar erraticamente, e podia sentir seus lábios
quentes e famintos nos dela como se a estivesse beijando
novamente. — Eu o beijei de volta.
— Nicole — começou Martha, mas Nicole interrompeu.
— Agora eu sei por que ele me empurrou para fora da casa e
não me deixou tomar chá com sua mãe. — Nicole chorou, furiosa e
humilhada de novo.
— A duquesa viúva estava lá? — Martha gemeu. — Ela viu você
na casa dele? Nicole, você não tinha acompanhante com você? — A
pergunta era esperançosa.
Nicole sacudiu a cabeça. — Ontem voltei para o Chapman
Hall e ele me convidou para voltar. De alguma forma ele descobriu
que eu não era casada e tudo mudou. O bastardo! Ele estava tão frio
quanto o gelo, se desculpando por seu erro e dizendo que eu nunca
deveria ir de novo, como se eu fosse...
— Oh Deus! — Martha disse, fazendo Nicole arregalar os olhos.
— Ele achava que eu era uma prostituta casada com a qual ele
se divertiria — Nicole sussurrou com urgência. — Oh, eu o odeio.
— Oh, Nicole — Martha pegou sua mão, apertando-a. Ele
não... ele só beijou você, não foi?
Nicole ficou vermelha. Lembrou-se de como o corpo dele tinha
pressionado o dela na grama, como desabotoara o casaco, como suas
mãos tinham acariciado intimamente ao longo da parte interna de
suas coxas. Seu corpo começou a pulsar em resposta a sua agitação
mental vívida. — Eu ainda sou virgem, se é isso que você está
perguntando.
— Então nenhum dano foi feito — disse Martha, acariciando sua
mão e suspirando de alívio. — Oh, minha pobre querida! Clayborough
é um terrível libertino, você sabe e bastante implacável. Nenhuma
mulher mantém seu interesse por muito tempo, dizem que nem
mesmo suas amantes. E supostamente suas amantes são as mulheres
mais bonitas do reino.
— Ele tem mais de uma? — Nicole perguntou, sentindo-se
magoada de novo.
— Não, ele fica com uma de cada vez. — Martha viu sua
expressão e acrescentou: — Mas a maioria dos homens tem.
— Robert não, não é? — De repente, Nicole desejou ter mordido
a língua, pois a pergunta era íntima demais para perguntar, mesmo
para sua melhor amiga.
Mas Martha sorriu, sua expressão suave. — Não, Robert não, e
eu tenho muita sorte. —
Nicole sabia o quanto Martha amava seu marido e como ele a
adorava. — Você tem muita sorte — ela concordou.
Martha olhou para ela. — Eu acho que Clayborough se
interessou por você, Nicole.
— Ele pensou que eu era casada. —
— Eu ainda acho que ele teve interesse. Eu o vejo de vez em
quando em Londres e nunca mostra qualquer interesse em qualquer
mulher, estão sempre se jogando para ele. Exceto, é claro, para Lady
Elizabeth Martindale.
— Lady Elizabeth Martindale? —
— A filha do marquês de Stafford. — Martha fez uma careta. —
Oh, é uma pena que eles estejam noivos.
Nicole congelou. — Ele está noivo dela?
— Você não sabia?
— Eu não sei nada sobre ele — disse Nicole, a sala de repente
muito pequena em torno dela.
— Eles estão prometidos há muito tempo, desde que ela tinha
dois anos e ela tem apenas dezoito anos — disse Martha gentilmente,
como se para suavizar o golpe. — Sempre foi um fato que o Duque de
Clayborough não está disponível, para grande desânimo de toda
jovem. Ela deve ter sua temporada e eles devem se casar neste
verão.
— Posso ver — disse Nicole rigidamente, levantando-se. Seu
pulso começou a rugir, ensurdecendo-a. Um noivado feito entre duas
famílias tão poderosas, um que havia sido sustentado por dezesseis
anos, foi escrito em pedra. Ele era tão bom quanto casado.
Nicole viu vermelho.
Assim, não pensara apenas que ela era casada, estava noivo de
outra e dentro de sete ou oito meses, estaria casado. Era mais
desprezível do que jamais sonhara.
— Nicole — Martha ficou parada, parecendo preocupada. —
Sente-se e beba um pouco de chá, por favor.
Nicole olhou para ela, os olhos brilhando. — Eu pensei que ele
queria se casar comigo! Eu...
— Oh, Nicole!
Nicole se virou e caminhou em direção à porta, furiosa em cada
um de seus longos passos.
— Nicole, onde você está indo? — Martha chorou
freneticamente. — Não faça algo que você vai se arrepender! Por
favor, não faça!
Se Nicole a ouviu, ela não deu sinal. Momentos depois, Martha
viu-a com o rosto vermelho ruborizado, montada em seu cavalo, com
o nariz quase enterrado na juba preta do garanhão, galopando dos
estábulos em direção a Chapman Hall.
O duque deixou o estábulo, o som de martelos batendo na
madeira seguindo-o. Ele estava substituindo as duas paredes traseiras
do celeiro, que estavam tristemente precisando de reparos. Até agora
estava satisfeito com o progresso que os trabalhadores que contratou
estavam fazendo.
Ele se dirigiu para a casa com passos largos, pretendendo cuidar
de alguma correspondência antes de sua refeição do meio-dia. Só deu
alguns passos, no entanto, quando o som de cascos de corrida o fez
parar, procurando por sua causa.
Um magnífico puro-sangue estava emergindo dos bosques do
outro lado dos gramados maltrapilhos, correndo para fora. O
garanhão galopou pelo gramado, o cavaleiro debruçado sobre as
costas e segundos depois, o animal chegou a um ponto de parada ao
lado. O duque ficou surpreso ao ver Nicole Shelton montada nele.
Ele nunca tinha visto uma senhora montada em um cavalo dessa
forma antes, ou qualquer outra mulher e isso era chocante o
suficiente. A visão de suas longas pernas, encaixadas firmemente nos
calções dos homens, agarrando com força o cavalo, hipnotizava-o.
Então ele tomou consciência de sua beleza severa e selvagem, seus
olhos ardentes e prateados, seu cabelo solto e varrido pelo vento,
fluindo atrás dela. Era magnífica e ele estava congelado, ambos
chocados por desafiar cada regra de convenção que existia e se
agarrou a um desejo bárbaro.
Nicole saltou para o chão e caminhou em sua direção, suas
longas pernas esticando o tecido de suas calças, deixando nada de
sua forma para sua imaginação. Por outro momento, não conseguiu
desviar o olhar dos braços dela e ocorreu-lhe que qualquer mulher
que montasse um cavalo assim certamente poderia montá-lo
igualmente bem. Distraído só a viu levantar o chicote no último
momento possível.
— Miserável bastardo — ela sussurrou, sacudindo-o
furiosamente em direção ao seu rosto.
Atuando puramente no reflexo, o duque segurou-lhe o pulso no
momento em que o chicote raspava sua mandíbula, deixando uma
pontada avermelhada. A raiva rapidamente substituiu sua surpresa.
Pegou o chicote dela, abrindo-o abruptamente em dois e o jogou de
lado. Ela gritou, o som de pura raiva, sua mão subindo novamente
com a intenção de atingi-lo novamente. Pegou o braço dela e a virou
rapidamente e suas costas bateram no celeiro. Ela se atreveu a
resisti-lo, sua outra mão estendendo a mão para ele, os dedos
curvados, unhas equilibradas como garras. Ele também a pegou,
prendeu-a na parede, os dois pulsos acima da cabeça e em outro
momento de escassez, fechou os últimos centímetros entre eles,
pressionando o corpo duro e excitado contra o dela.
O que acabara de acontecer era inacreditável, mas continuava a
lutar descontroladamente contra ele, como um animal apanhado
numa armadilha, enlouquecido. Cada movimento dela abanou o fogo
nele e se pressionou mais fortemente contra ela, sua masculinidade
pulsando avidamente contra sua suavidade enquanto ele
instintivamente procurava subjugá-la. — Solte-me — ela gritou. —
Liberte-me, então eu posso te dar o que você merece.
Terrivelmente gráficas, imagens sexuais dançaram em sua
mente. — E o que é que eu mereço? — Sua respiração ventilou seus
lábios, ela ficou imóvel. Ele sabia que naquele exato momento ela se
dava conta de sua virilidade.
— Dez chicotadas, não uma. — Ela rosnou.
— Eu não acho que é por isso que você voltou.
— Voltei para tirar seu sangue.
Ele tremeu, tanto em resposta à sua verdadeira selvageria
quanto à ideia de tirar o sangue dela. — Derramar meu sangue excita
você, Nicole? — ele perguntou, muito, muito baixo.
— Sim Sim Sim! — Ela resistiu violentamente contra ele
novamente, depois congelou, ofegante, quando seus giros só serviram
para aumentar a intimidade entre eles.
— Cuidado, se houver mais sangue a ser derramado hoje, não
será meu. — Ele a olhou nos olhos, latejando tão fortemente contra
ela que ela não poderia escapar do seu significado. Seus olhos se
arregalaram e ele ficou satisfeito por ela entender.
— Você não faria.
— Agora, eu faria. Não foi por isso que você voltou?
Por um momento, ficou muito aturdida com a resposta dele para
responder; então ela gritou, torcendo-se descontroladamente e
gritando com a dor que ela causou a si mesma em seu aperto imóvel
e de ferro. — Agora você me ameaça com estupro?
— Ameaça, não. Aviso, talvez. Estupro, nunca.
— Eu vou lutar com você até meu último suspiro — ela chorou.
Ele a viu lutando contra ele, depois gozando em seus
braços. Seu domínio sobre ela aumentou, pensou que poderia perder
o último de seu controle. — Você vai gostar de morrer em meus
braços, Nicole — ele prometeu suavemente. — Vou me certificar
disso.
— Liberte-me — ela chorou freneticamente. Sabia que ela não
entendia o seu significado, mas ela sentiu o perigo em que estava. —
Liberte-me agora, maldito seja.
Ele teve que a libertar se não o fizesse, deixaria de ser
responsável por suas ações. Seu corpo estava gritando com ele,
implorando por sua própria liberação, então virou a cabeça para longe
dela, respirando profundamente. — Nós temos uma trégua?
Ela riu. — Nunca.
Virou o olhar para o dela e viu o brilho de ódio em seus olhos. —
Então você me odeia, agora, não é?
— Oh sim — ela cuspiu. — Por um momento eu te amei, mas
agora, como eu te odeio!
Ele congelou. Que ela o amava, mesmo que de forma tola e por
um curto período de tempo, o surpreendeu. Muitas mulheres se
apaixonaram por ele e estava bem ciente disso. Mas nunca prestou
atenção e certamente nunca se importou com o que elas
sentiam. Agora, algo parecia picá-lo e talvez fosse sua consciência. —
O amor não muda para o ódio tão rápido, Nicole — ele disse
suavemente. Suas bocas estavam muito próximas. — Vamos testar o
quanto você me odeia? — Não sabia por que era tão importante para
ele provar que estava errada.
— Não há nada para testar — disse ela, de repente sem
fôlego. Seu olhar se moveu para sua boca. — Não.
Não havia como se impedir de beijá-la, não importando o quanto
estivesse errado, não agora. Não quando seus corpos eram
pressionados juntos dos pés à cabeça, não quando ele se esforçava
contra sua feminilidade, não quando ela se atrevia a declarar seu ódio
por ele. — Eu acho que você me quer mais do que você me odeia —
ele murmurou.
Ela abriu a boca para protestar, mas ele cobriu os lábios, não
permitindo que mais palavras escapassem.
Ela torceu violentamente contra ele, mas meramente
pressionou-a com mais força contra o celeiro, apenas apertou seu
aperto já doloroso em seus pulsos. Ela fez ruídos enfurecidos; ele
vorazmente reivindicou sua boca, querendo reivindicar muito mais e
sabendo que se deixasse isso continuar reivindicaria tudo dela. Ela
resistiu contra ele e era o paraíso, mas também era o inferno.
Como havia pensado, ela iria lutar com ele até o fim.
Ela falou quando sua boca se moveu para o pescoço, onde seus
beijos deixaram marcas de crescente vermelho. — E a sua preciosa
Elizabeth.
Ele ficou parado. — O que de Elizabeth?
— Você nem finge ser fiel a sua noiva!
— Então você fez sua lição de casa — disse-lhe levantando a
cabeça para olhá-la, viu a raiva flamejante em seus olhos, queria
mudar isso para paixão por ele. — É disso que se trata?
— Você não é diferente de um homem casado — ela sussurrou.
— Mas você é um desprezível libertino. Deixe-me ir agora.
Estava certa e porque no final das contas tinha muita honra para
violá-la, ele a libertou. Ela gritou e saltou para ele, tentando acertá-lo
novamente.
Ele a pegou, dessa vez pela cintura, prendendo os braços ao
corpo, atordoado de novo com sua selvageria e ainda mais
excitado. Ela girou em seus braços antes dele apertar seu aperto,
tentando fugir dele. — Pare com isso — ele retrucou, sacudindo-a
uma vez.
Ela estava ofegando como se tivesse lutado uma grande batalha
e agora ele estava pressionado contra o traseiro dela, o que não era
um alívio. Seus seios estavam cheios e pesados em seus braços, onde
os envolveu ao redor de seu torso. Ela parou de tentar libertar-se,
ofegando os grandes pulmões de ar e ele relaxou um pouco,
condenando a si mesmo e à sua incontrolável libido mais uma vez.
— Eu não vou bater em você de novo — ela finalmente disse
duramente. — Apenas me deixe ir.
— Por quê? — Ele respirou contra o pescoço dela. — Eu não
acho que te envergonho, Nicole. Ou eu o faço?
Estava muito quieta, e ele sabia que ela estava sentindo-o
latejando contra suas nádegas, queria ver seus olhos, ver sua
resposta. Ele a sentiu tremendo em seus braços. — Você não me
envergonha — ela finalmente disse. — Você só se envergonha.
Porque seu comportamento era indesculpável, seu tom era
sarcástico quando a soltou. — Touché. Mas são necessários dois para
jogar este jogo e se você não tivesse vindo aqui, nada disso teria
acontecido.
Ela girou para encará-lo, recuando cautelosamente. Viu o brilho
nos olhos dela pelo que era e enquanto uma parte dele estava
horrorizada consigo mesmo, outra parte era triunfante.
— Você é o único sem moral, você é o único que não iria parar
em nada para conseguir o que você quer.
Raiva explodiu. — Errado. Eu avisei para você não voltar aqui e
você fez isso por sua conta e risco. Se você não voltou para o que eu
posso te dar, então por que você voltou?
Ela engasgou, cor carmesim inundando suas bochechas. —
Como você é arrogante! Voltei para lhe dizer o que penso de você
agora que sei a verdade.
Suas mãos encontraram seus quadris, sua boca curvou-se
zombeteiramente. — A verdade. Oh sim, Elizabeth.
— Você é tão bom quanto casado, mas você me perseguiu! Eu
não sabia, achava que você era elegível. Você achava que eu era uma
mulher casada sem moral. Então, quem faz isso certo e quem faz isso
errado?
A culpa o feriu, mas ele não estava pronto para enfrentá-la. E
não gostava de ser acusado de comportamento errado, não estava
acostumado a ouvir que estava errado. Ninguém ousaria. No entanto,
ela se atreveu. E ele não gostou de seu próprio comportamento não
antes e não agora. Mais uma vez, o incitou à raiva e a uma luxúria
indesejável. — Você achou que meu interesse em você era o de um
solteiro cortejando uma jovem? — Seu tom era zombeteiro, duro e
cruel.
Ela recuou, avermelhando. — Eu não achei que você
simplesmente quisesse que eu fosse uma amante.
— Assim como eu não achei que você fosse uma virgem solteira.
Ela ofegou.
Ele não podia acreditar no que acabara de dizer.
— Você é cruel.
— Você me leva a isso! — Dolorosamente, ele disse: — Deixe-
me dizer-lhe novamente. Você não é bem-vinda aqui, Lady Shelton e
você não deve voltar.
Ela cruzou os braços com força sob os seios. — Eu nunca
voltarei aqui, Vossa Graça. A menos que, é claro, seja para trazer a
você e à sua noiva um presente de casamento.
Seu sorriso era tão sarcástico quanto suas palavras. — Então a
tigresa tem mais do que garras. Deixe-me repetir, você não é bem-
vinda aqui, Nicole e se você acha que pode causa problemas entre eu
e Elizabeth, pense de novo.
— Não se preocupe, não tenho intenção de perturbar a sua
preciosa Elizabeth! — Nicole se virou abruptamente, correndo para o
garanhão.
Capítulo 5
Seu cachorro favorito, o cão de caça Borzoi, olhava para ele
com esperança. De pé em frente a um espelho de corpo inteiro ao
lado de uma cômoda chinesa de laca vermelha, o duque ajustou sua
gravata de seda, olhando-se sem expressão. Quando ele se virou e
recebeu seu casaco de noite preto do seu criado, Reynard, o Borzoi
bateu o rabo com entusiasmo.
O duque murmurou: — Vou jantar, rapaz, lamento dizer.
O Borzoi suspirou e apoiou a cabeça em suas enormes patas,
resignado a uma noite em frente à lareira.
— Você parece bem, Vossa Graça, se não se importa que eu
diga — disse Reynard com admiração.
O duque assentiu com gratidão. — Você pode ir, Reynard, eu
vou descer em um momento.
Ele se afastou de seu reflexo e andou até a mesa do mordomo,
onde se serviu de uma xícara de chá, misturada especialmente para
ele. Grimly, ele olhou para o conteúdo do copo de porcelana delicada,
que era diminuta em sua mão.
Ele deveria ter recusado o convite de Shelton. Ele nem sequer
pensara em fazê-lo.
Passara-se uma semana desde que Nicole Shelton galopara tão
imprudentemente em seu pátio e depois galopara para longe depois
de seu prolongado e acalorado encontro. Infelizmente, a mera
memória agitou seus quadris dolorosamente e ele sabia muito bem
por que ele estava indo para Dragmore hoje à noite.
O que estava acontecendo com ele? Era este o caminho da
luxúria não correspondida? Ele nunca teve uma mulher em sua mente
antes. Por mais insensível que parecesse, todos os seus contatos
haviam sido meramente sexuais e assim que o ato foi completado,
sua atenção voltou-se para assuntos mais significativos. Ele não
queria ter essa mulher em particular agora. Irritado tomou um gole do
chá exótico e perfumado, depois jogou o resto a xícara e o pires no
fogo ardente. A porcelana estalou e despedaçou-se ruidosamente,
fazendo o cachorro o olhar com curiosidade.
Ele havia liberado a tensão, mas não havia apagado Nicole
Shelton de seus pensamentos. Ainda ficava um pouco chocado
sempre que sua mente errante a imaginava como a viu pela última
vez, montada em um imenso cavalo, em calções de homens. E ela
bateu nele com o chicote dela. Ainda era inacreditável, ainda era
incrivelmente excitante.
O duque pensava, não havia como recusar o convite de Shelton
agora. Mas na verdade, nem queria, passou a mão pelo cabelo grosso
e manchado de sol, estava brincando com fogo. Ele sentiu e sabia
disso e ela era o fogo.
Na semana passada ele se jogou na restauração de Chapman
Hall com uma determinação implacável. Havia se levantado mais
cedo do que o habitual e foi para a cama mais tarde, não se
permitindo um momento para descansar ou pensar. No entanto, não
importava o quanto se ocupasse, ela sempre se escondia nas bordas
confusas de sua consciência, assombrando-o. Por que estava tão
fascinado por ela? Ou era obcecado?
Seus impressionantes olhares eram o suficiente para
enlouquecer qualquer homem, ele decidiu, mas era o jeito dela, a
ousadia, a selvageria dela que era inebriante. A maioria das
mulheres eram terrivelmente chatas. Com exceção de sua mãe, cuja
inteligência e interesse não convencional em questões de negócios a
diferenciavam de outras mulheres, não conseguia pensar em uma
moça que valesse seu tempo e atenção. (Elizabeth era um assunto
completamente diferente, sendo sua noiva). Nenhuma mulher que ele
conhecia participava de festas sem acompanhantes, a menos que
tivesse mais de trinta anos, nenhuma mulher andava de calções,
falava como ela, nenhuma mulher demonstrava tal temperamento,
nem até mesmo sua última amante, que era francesa e rápida em
irar-se. E nenhuma mulher, perseguia um homem e o atingia com
seu chicote.
Era tudo o que as mulheres de seu conhecimento não eram, por
essa razão decidiu, que estava tão malditamente cativado.
O problema era que não confiava mais em si mesmo. Havia se
comportado abominavelmente com ela na semana anterior, mesmo
que extremamente provocado. Não havia desculpa para forçar-se a
ela, por usar sua força para afirmar seu poder sobre ela, por beijá-la,
tocá-la. Sem desculpa. No entanto, nada poderia detê-lo e temia que
da próxima vez nada o segurasse.
Próxima vez?
Devia se certificar de que não haveria próxima vez. Não poderia
viver com si mesmo se a arruinasse, não importando que sua
reputação já estivesse em pedaços. Não importa como o provocasse
seu último encontro foi uma sedução bárbara. Não haveria próxima
vez, jurou ele.
Viveu sua vida inteira com honra sempre no fundo de sua mente
estava o conhecimento de como o pai fora desonroso. Seu pai, se ele
preferisse mulheres, teria levado Nicole naquele primeiro dia na
grama junto ao riacho. Ele não era seu pai, nunca foi seu pai e nunca
arruinou nenhuma mulher, as mulheres que levou para a cama já
eram de moral altamente questionável. Talvez tivesse passado a vida
toda expiando os pecados de seu pai, mas essa era uma vida da qual
podia se orgulhar até o momento. Agora estava em perigo e isso o
assustou.
Estava atrasado a menos que desse desculpas era hora de ir. O
duque foi.
Nicole ficou deitada na cama lendo um artigo de Amanda
Willison, americana, sobre a necessidade de reformar a educação e
vestimentas para meninas. Como esta mulher estava certa, pensou
Nicole. Houve uma batida em sua porta e Nicole deixou seu livro de
lado quando sua mãe entrou.
A condessa havia voltado para casa ontem. Não foi surpresa
para Nicole, pois Jane nunca ficou longe do marido por muito tempo e
Nicole sabia que, se Regina já não tivesse idade e um casamento
eminente, Jane não teria seguido para Londres. Regina tinha ficado
em sua casa na Tavistock Square, acompanhada pela viúva Lady Beth
Henderson. Jane pretendia voltar a Londres no dia seguinte e o conde
planejava se juntar a ela alguns dias depois.
— Você não está vestida — Jane disse surpresa ao ver que
Nicole ainda estava vestida apenas com um roupão, o cabelo úmido
do banho.
— Me desculpe, eu fiquei tão envolvida em ler que o tempo me
escapou. O nosso convidado está aqui?
— Não, ele está atrasado. Deixe-me chamar Annie para ajudá-la.
Nicole escorregou da cama quando sua mãe chamou a
empregada e tirou um vestido ao acaso do armário. Jane era
pequena, magra e loira platinada, extraordinariamente bela aos
quarenta e um anos, naturalmente elegante. Ela franziu a testa ao ver
o vestido azul-claro que Nicole tirara do cabide. — Isso não faz
justiça a você querida.
Nicole deu de ombros. — Quem vem jantar mamãe e por que
todo o alarido? Cook estava absolutamente enlouquecendo esta tarde
nas cozinhas o lugar parecia como se fôssemos banquetear a realeza.
— O duque de Clayborough — Jane respondeu. — Por que não
usar o seu vestido amarelo? Ou o verde?
Nicole congelou. Por um momento, estava certa de que tinha
ouvido mal. — O duque de Clayborough?
— Sim. Então você vai usar o amarelo? É melhor eu descer. Ele
deve estar aqui a qualquer momento.
Nicole assentiu, sem ouvir uma palavra, olhou para a porta
depois que ela foi fechada. Então deu um grito feroz e frustrado.
Ele ousaria vir aqui... Foi demais, ela não aguentaria e não o
faria, não faria.
Nicole andou em um frenesi como e poderia enfrentá-lo depois
de seu último encontro? Não se arrependia do que fizera, mas lhe
mostrara que era tudo o que as fofocas afirmavam ser. Em resumo,
lhe mostrara que não era uma moça adequada. Cor quente subiu em
suas bochechas, a atingira mais uma vez e a beijara em troca. E as
coisas que ele disse...
Nunca odiara um homem, mas nunca sonhara com beijos de
ninguém antes, do mesmo jeito que sonhava com o dele.
Foi uma desgraça vergonhosa, não conseguia dormir à noite
atormentada por sua impressionante imagem dourada e pela
lembrança da sensação de sua boca quente, suas mãos sedutoras e
seu corpo duro e poderoso. Ele não estava apenas levando-a a
loucura estava arruinando a sua vida.
Estava assustada por sua atração por um homem que
desprezava, ou um homem que deveria desprezar. Lembrou-se de
uma conversa com sua prima, Lucy Bragg, de dois verões atrás.
Longe de acalmá-la, a lembrança provocou uma sensação de pânico.
Naquele verão, em 1897, Nicole e sua família foram para
Paradise, no Texas, para a celebração do octogésimo aniversário de
seu avô, Derek Bragg, um homem que nascera nas montanhas do
Texas e domara a fronteira, fundando um império para ele e sua
família no processo. Nicole e Lucy sempre foram as melhores amigas,
apesar de só se encontrarem em verões alternados quando Nicole era
criança e adolescente, se juntou a seus parentes americanos por um
mês ou dois. Nicole e Lucy não só eram as melhores amigas, mas
tinham compartilhado mais más ações do que quaisquer duas garotas
em todo o estado, ou talvez até mesmo em todos os Estados Unidos
da América. Naquele verão, Lucy fizera uma confissão chocante para
Nicole.
Na noite da festa de aniversário, o garanhão premiado de Derek
fora roubado e um homem fora assassinado. Um dos novos
moradores do rancho havia sido baleado nas costas, e logo descobrira
que ele fora um criminoso fugitivo de Nova York. Quando
Lucy entregou seu coração a Nicole, aquele homem, Shoz Cooper,
estava na prisão local, recuperando-se de sua lesão. Lucy dissera a
Nicole que ele a beijara mais de uma vez e que ela gostara. No
entanto, também dissera a Nicole que o desprezava.
Na época, Nicole ficou surpresa, nunca tendo sido beijada e de
modo algum entendendo como alguém poderia gostar do beijo de um
homem enquanto não gostava dele. No entanto, lembrar da confissão
de Lucy não aliviou seus próprios medos agora. Shoz Cooper se
revelou inocente, ele e Lucy estavam agora noivos e se casariam no
mês de junho seguinte. Então Lucy só pensava que o desprezava, na
verdade ela o amava.
Nicole não estava apenas com medo de como ansiava pelos
beijos do duque, temia que, como Lucy, seus sentimentos fossem
mais profundos, ela se recusou a considerar até que ponto seus
sentimentos poderiam ser mais profundos.
Podia se recusar a descer, mas essa era a saída do covarde,
nunca foi uma covarde nem mesmo durante o escândalo e não
começaria agora, morreria antes de perder a coragem diante do
maldito duque de Clayborough.
Annie bateu no mesmo instante em que Nicole decidiu que não
só se juntaria ao ilustre convidado para o jantar, como também se
vestiria para a ocasião. — Annie, qual é o meu vestido mais ousado
que tenho?
Annie ficou boquiaberta para ela. — Eu não sei, minha senhora,
eu teria que olhar através de suas coisas.
— Então vamos olhar — disse Nicole sombriamente, uma ideia
se formando.
O duque estava ciente desde o momento em que entrou no
vestíbulo e entregou o manto ao mordomo, com todos os nervos do
corpo tensos de antecipação. Cumprimentou seu anfitrião, anfitriã e
Chad, mas ficou desapontado que Nicole não estivesse
presente. Sabia então que ela não iria se juntar a eles para o jantar,
deveria ter ficado aliviado, mas ele não estava.
Shelton serviu-se a si próprio e a Chad, sua esposa um xerez e
preparou o chá para o duque. Não era segredo que o duque de
Clayborough nunca bebeu álcool. O duque acomodou-se em uma
grande poltrona. Shelton pegou a oposta. — Então como está indo
seu trabalho no Chapman Hall? — ele perguntou.
— Estou quase terminando. Voltarei a Londres daqui a alguns
dias.
— Você a restaurou rapidamente. Eu me lembro do Hall estar
em um estado lastimável.
— Sim, foi. — Os dois homens começaram a discutir alguns dos
reparos que o duque fizera no salão. Alguns minutos depois a porta se
abriu e Nicole entrou.
Shelton parou o que estava dizendo no meio da frase com os
olhos arregalados. Chad quase engasgou com o gole de conhaque
que havia tomado. A condessa ficou olhando, evitando separar os
lábios em um enorme O. Mas o duque não viu a surpresa e o espanto,
pois estava preso no caos louco de seus sentidos concorrentes.
Nicole sorriu para a mãe. — Me desculpe mãe, estou atrasada.
Rapidamente Jane se levantou correndo em sua direção. — Tudo
bem. Por favor, venha conhecer nosso convidado.
O duque levantou-se todas as suas boas intenções fugiram
imediatamente esquecidas. Ela usava um vestido vibrante cor de
coral, fora do ombro e ousadamente decotado. Era mais adequado
para um baile do que uma refeição em casa e revelava o tom de
pêssego de suas bochechas e a rosado de seus lábios. Seu cabelo
estava penteado da maneira atual, usava pérolas na garganta e nos
ouvidos. Quando ela fez uma reverência ele tremeu por um momento.
Pois estava prestes a mostrar todos os seus magníficos seios.
Nicole se endireitou graciosamente. — Mas nos conhecemos,
mãe — disse ela, com os olhos segurando os dele. Sua expressão era
suave, mas não havia como ele sentir falta do sarcasmo açucarado
em seu tom. E não havia nada educado em seus olhos, pois
gotejavam de raiva. — Não é verdade, Sua Graça? Você poderia dizer
que somos velhos amigos e conhecidos?
Sua mandíbula se apertou, e todo momento íntimo que eles
compartilharam passou por sua mente. — Eu acredito que tive a
honra de uma introdução — murmurou educadamente. Seu olhar era
escuro e perigoso alertando-a parar. Mas as linhas de batalha foram
claramente desenhadas, o desafio lançado por ela e ele não confiava
nela, no mínimo.
— De onde vocês dois se conheceram? — perguntou o conde.
Nicole sorriu sabiamente. — Talvez a Sua Graça devesse
responder isso.
A raiva brilhou nos olhos do duque, pois tinha certeza de que ela
pretendia causar-lhe algum dano de qualquer maneira que pudesse.
— Ele se virou para o anfitrião. — No baile de máscaras de Adderlys,
eu acredito.
— Oh sim! Eu ouvi dizer que te deram uma festa — disse Jane,
com um sorriso rápido e um olhar incerto que viajou com a velocidade
do relâmpago do duque para sua filha. Nicole ainda usava aquele
meio sorriso estranho e zombeteiro.
— E é claro — ela disse suavemente — nós reforçamos
nosso conhecimento em Chapman Hall, não foi? — Ela se virou para
ele interrogativamente.
Raiva brilhou em seus olhos novamente com sua ousadia,
enquanto não tinha escolha a não ser lembrar como haviam
aprofundado seu conhecimento com ele jogando-a de costas na
grama. O silêncio encheu a sala. — Foi muito amável e gentil da sua
parte — o Duque finalmente disse, quando conseguiu encontrar a sua
língua — para me chamar e me receber no país.
Nicole riu o som rico e rouco. — Foi tão gentil da minha parte. —
Seu olhar foi mordaz ambos sabiam muito bem que era Hadrian que a
convidara para Chapman Hall para uma sedução.
Mas Nicole não terminou. — E foi muito gentil da parte
dele me convidar para andar com ele. — Ela sorriu docemente. — Me
mostrou os jardins gostei disso — disse a seus pais e a Chad e olhou
com expectativa para o duque.
O duque quase engasgou. — Uma boa ação merece outra —
disse rigidamente, pensando em como adoraria coloca-la sobre o
joelho e bater em seu traseiro, independente dela ser uma mulher
adulta.
Nicole deu-lhe um olhar que dizia não se arrepender e que não
tinha intenção de acabar com as provocações. — Nós acabamos
naquele pequeno e doce riacho, você sabe, aquele que cruza nossa
propriedade. Não que nós nos importássemos onde estávamos, por
quais são os limites entre os novos vizinhos? — Ela deu-lhe outro
olhar este longo e íntimo, o olhar de uma mulher que esteve com um
homem e o quanto está interessada em repetir o encontro. Seu olhar
se alargou um pouco antes de retomar sua expressão inescrutável.
Mas ele estava furioso e amaldiçoando-a em voz baixa, sabendo
que iria brincar com ele até que se entediasse com o esforço, sabendo
que este jogo perigoso dela era algum tipo de vingança desprezível
por seu erro insensível em pensar que ela fosse casada e tentado
iniciar um caso com ela. A tensão estalou no ar e ele sabia que sua
família estava ficando perturbada enquanto tentavam entender os
significados mal escondidos por trás de suas palavras.
Era hora de jogar seu jogo por suas regras e ensinar-lhe uma
lição que ela havia pedido. Deu um pequeno sorriso mordaz para ela.
— Você quase sofreu um grande dano à sua pessoa, se bem me
lembro — ele disse suavemente.
Um rápido rubor subiu pelas bochechas de Nicole, seu pequeno
sorriso triunfante desaparecendo. Olhou-o com olhos arregalados e
espantados.
— Quando seu cavalo fugiu de você — acrescentou.
Seu alívio era transparente. — Como eu te devo — ela
conseguiu.
— Por te salvar? — Perguntou suavemente, pensando em como
sua virgindade mal lhe escapara. — Um homem honrado não poderia
ter feito outra coisa senão estender-se a fim de aliviar a aflição de
uma dama... — Ele se lembrava muito claramente da angústia física
dela quando estava em seus braços e debaixo de seu corpo quente e
excitado, como teria adorado aliviar sua agonia!
— Eu não posso te agradecer o suficiente. — Ela mal conseguiu
pronunciar as palavras.
— Mas você já tem — disse ele. — Porque não foi esse o motivo
da sua segunda visita?
Sua mandíbula se apertou. — Claro.
Ele tocou o lado de sua bochecha onde ela o cortou com o
chicote. Apenas a menor cicatriz rosa era visível se alguém se
incomodasse em olhar bem de perto. — Você teve muita sorte —
disse ele, lembrando-se de como sua selvageria incitou sua luxúria.
— Tanta sorte — Nicole olhou.
Chad quebrou o silêncio que se seguiu à sua volta, um silêncio
onde eles se entreolharam, os olhos brilhando. — Nicole é uma
cavaleira muito boa. Não consigo imaginar o cavalo dela fugindo com
ela.
— Bem, você vê — disse o duque, sem sorrir, lembrando-se de
seu corpo macio sob o dele — minha montaria foi bastante
deserdada, com uma mente e inclinação própria. Foi minha culpa.
Fora de controle, eu passei por cima dela, eu não pude parar até o
último momento.
Nicole fez um som abafado. Ele estava terrivelmente consciente
dela de pé ao seu lado, alguns centímetros entre eles, em seu
brilhante vestido de baile laranja. Seus seios estavam arfando agora,
ofegando com sua fúria. Ele se perguntou se poderia controlar sua
natureza selvagem, ou se o vulcão de seu temperamento estava
prestes a entrar em erupção.
Mas ela falou docemente, muito docemente. — Eu
sou tão sortuda, eu tive a sorte de ser montada pelo Duque, quer
dizer, pela montaria do Duque, não é todo dia que isso acontece, não
é?
— Você quer dizer — gritou o duque — se eu não tivesse
cavalgado sobre você, sua égua não teria se esquivado e não teria a
distinta honra de salvá-la — Ele achou difícil controlar seu
temperamento e seu tom.
Nicole ficou sem palavras.
O duque sorriu selvagemente.
A condessa trocou um olhar preocupado com o
marido. Rapidamente, antes que eles pudessem se envolver em mais
duelos verbais, ela disse — Por que não entramos e sentamos para
jantar? — Jane sorriu muito brilhantemente, deslizou para frente e
ofereceu o braço ao duque mas olhou para Nicole. — Você nunca me
disse que o conheceu querida.
— Nunca surgiu a oportunidade — disse Nicole
Como convidado de honra o duque estava sentado à direita do
conde. Estavam jantando na menor das duas salas de jantar da casa,
a reservada para encontros íntimos ou familiares. A condessa estava
sentada no outro extremo da mesa, que comportava doze pessoas,
com Chad à sua direita. Nicole se sentou em frente ao duque do outro
lado do pai. O duque ajudou Jane e voltou ao seu lugar a tempo de
ver Nicole se acomodar em sua cadeira, inclinando-se para revelar
uma porção generosa de seus seios.
Propositadamente? Ele tinha experiência suficiente para ter
certeza disso. Seus trocadilhos mais cedo e sua proximidade, já
haviam feito coisas perigosas em seu corpo, acendendo lhe um fogo
que ele não desejava, nem agora nem nunca. Com os lábios
apertados, ele se sentou, resolvendo manter os olhos longe de sua
pessoa.
Sua última observação ainda doeu. Ela realmente queria dizer o
que ele achava que ela tinha? Se ela ousou se referir a quão
facilmente ele ficou excitado em torno dela? Encontrou seu olhar
sobre ela novamente, deu a ele um sorriso conhecedor, um que era
infinitamente sedutor e infinitamente irritante.
Ela estava brincando com ele e se não estivessem ali, em
Dragmore, a arrastaria para fora e mostraria o que aconteceu quando
ela ousou fazer um jogo tão perigoso com um homem de seu
calibre. Nenhuma mulher jamais se atrevera a despertar sua raiva
como ela, tanto naquela noite quanto na última vez em que se
encontraram. Era uma tola, ou infinitamente corajosa e igualmente
imprudente? O tempo diria, ele pensou surpreso ao perceber que
antecipava algum tipo de continuação de seu relacionamento. E isso
não era apenas impossível, estava fora de questão.
Ela estava olhando para ele e seus olhares se
encontraram. Embora estivessem aqui em Dragmore jantando com
sua família, sua vez chegaria em breve. Segurou seu olhar por tanto
tempo que deixou de ser educado, forçando-a a se afastar primeiro.
— O que você pretende fazer com Chapman Hall? — perguntou
o conde quando serviram o primeiro prato, um salmão frio em molho
delicado de limão.
— Eu não decidi, mas talvez irei colocá-lo à venda.
— Tanto trabalho só para vender? — Nicole perguntou seu tom
provocativo.
Seu duro olhar castanho se encontrou e segurou o dela,
novamente. — Alguns esforços exigem trabalho e quanto mais
trabalho maior a recompensa final. — Ele poderia estar se referindo a
praticamente qualquer coisa, mas neste caso, ele estava se referindo
a ela.
Ela sorriu. — E às vezes pode haver um tremendo trabalho
e nenhuma recompensa. — Ela encontrou seu olhar.
Como gostaria de jogar este jogo até o fim, ele pensou. Como
gostaria de levá-la onde ela estaria imersa em seu poder, incapaz de
negá-lo. — Tais casos são muito, muito raros. — De repente, virou-se
para a mãe de Nicole sem querer continuar as brincadeiras, com
medo de já terem revelado demais. — O salmão esta delicioso, Lady
Jane.
Jane não se conteve de lançar seu olhar entre eles. — Estou feliz
— ela conseguiu fracamente, finalmente captando o olhar de seu
marido.
Entendendo-a, o conde começou um tópico mais inofensivo: o
estado do mercado. Embora as economias não fossem geralmente
discutidas em companhia mista, como o chefe da família, o conde
poderia abordar o assunto que ele escolhesse. No entanto, ambas as
mulheres pareciam interessadas o suficiente na conversa para ouvir
atentamente. O duque respondeu ao seu anfitrião automaticamente,
mas sua atenção estava em outro lugar.
Pois Nicole continuava a colidir com ele, desta vez lançando lhe
longos olhares por baixo dos cílios, certa de que não haveria
consequências.
Depois da refeição todos eles foram levados juntos ao salão para
desfrutar de bebidas depois do jantar. O conde lhe perguntou se ele
se importava com a companhia das damas. É claro que agora o duque
estava completamente irritado, tendo que suportar a sedução de
Nicole durante todo o jantar e teria adorado ter um charuto da paz
com o Earl e Chad sozinho. Como cavalheiro, no entanto, ele não
podia recusar.
Mas vinte minutos depois, Nicole se desculpou, com um último
olhar para o duque. Ele a assistiu sair. Ela estava sinalizando para
ele? O olhar que ela lhe dera tinha sido gelado, presunçoso e de
alguma forma tímido de uma só vez.
Depois de cinco minutos, se desculpou momentaneamente da
reunião. Seu anfitrião iria assumir que estava respondendo a uma
necessidade natural. Enquanto caminhava pelo corredor, deixando o
salão para trás, seus sentidos se agitaram. Ele sabia que ela estava
em algum lugar próximo. E quando ele passou pela biblioteca, um
olhar lhe disse que ele estava certo. Ele parou.
Ela estava deitada no divã de lado lendo. A pose intencional ou
não, era de uma Vênus clássica. Seus quadris estavam cheios,
curvados e exuberantes, seus seios voluptuosos derramando de seu
vestido, arregalou os olhos ao vê-lo. Ele não podia ter certeza se era
um ato de provocação ou não.
Ele sorriu, seu primeiro sorriso de verdade naquela noite e foi
infinitamente perigoso. Entrou na biblioteca e fechou a porta.
Nicole ofegou largando o livro. — O que você pensa que está
fazendo? Você não pode entrar aqui.
— Eu não posso? — Ele andou em direção a ela.
Ela se sentou embora seus pés não caíssem no chão. Ele assistiu
a ascensão e queda de seus seios, apreciando a vista. — Você jogou
— ele disse suavemente — e agora você pode pagar.
Com isso ela ficou de pé. Naquele momento, ele saltou sobre
ela, fazendo-a gritar quando ele a puxou contra ele. — Você se
divertiu esta noite, Nicole?
— Você se divertiu? — ela jogou de volta desafiadoramente.
— Não — ele disse, — mas pretendo agora.
Certo do que estava vindo tentou libertar-se do aperto dele. Ele
recusou-se a deixá-la ir embora uma parte de si mesmo ficou chocado
com o desrespeito que estava mostrando por seu anfitrião e com seu
descarado desrespeito por quaisquer consequências que pudessem
acontecer. Ignorou aquela parte de si mesmo e puxou-a contra ele e
a beijou.
Ela fez ruídos incoerentes de protesto furioso, que ele ignorou,
manteve um aperto de aço em seus pulsos, moldando sua boca com a
dele, sua paciência sem fim. Ela respirou fundo e ele aproveitou o
momento, empurrando sua língua profundamente dentro dela. Ela
engasgou quando começou a empurrar em sua boca insistentemente,
implacavelmente e então ela ficou em seus braços.
Seu ataque implacável não cessou, transferiu seus pulsos para
uma mão e com a outra pegou suas nádegas, puxando-a contra
si. Ela se tornou mais flexível em seu abraço, gemendo baixinho. Sua
própria postura mudou não mais o predador inimigo, aliviou seu
aperto e seu abraço tornou-se um abraço doce e inebriante. O beijo
deles se tornou um acasalamento mútuo. Ele continuou e continuou.
Um barulho se intrometeu em seus sentidos. A consciência de
quem ele era, quem ela era, onde eles estavam e o que estavam
fazendo era instantânea. Ele empurrou-a dele.
Ela tropeçou, corou e ofegou. O olhar que ela lhe deu foi
desfocado, o de uma mulher no auge da paixão.
— Minha recompensa — disse ele com voz rouca. Sabendo que
não poderia ficar com ela em outro momento, sabendo que ser pego
ali seria a ruína de ambos, abruptamente se virou e saiu pela porta
deixando-a ali, atordoada.
Ele estava na metade do corredor quando a ouviu amaldiçoá-lo e
então ouviu o som de vidro se quebrando. Se perguntou o que ela
havia quebrado, mas não conseguia sorrir. A vitória nem sempre foi
doce.
Capítulo 6
Jane saiu de seu próprio quarto que era dentro do quarto do
conde. Ela nunca, jamais dormiu em sua própria suíte, mas manteve
todos os seus pertences lá e ocasionalmente se sentava em frente ao
fogo com um romance. Agora parou na porta, vestida com um roupão
de seda azul, sua expressão preocupada.
O conde estava despido até a cintura, ainda de calça comprida,
os pés descalços. Com cinquenta e poucos anos, possuía o corpo
esguio e rígido de um homem que gastara e passara grande parte do
seu tempo em trabalho físico. Ele aprendera a gostar de um trabalho
físico duro quando menino, no Texas e não era um hábito que jamais
desejara quebrar. Até hoje, se houvesse um muro de pedra a ser
construído ou um celeiro para ser levantado, ele de bom grado estava
dentro, se o tempo permitisse. Agora, ele encontrou o olhar azul de
sua esposa, suas próprias feições sombrias.
Ela mordeu o lábio, vindo para frente. — O que é que está
acontecendo entre eles, Nicholas?
— Então você viu também?
— Como eu não podia ver!? Por tudo o que ele tentou esconder,
o duque estava quase fervendo e Nicole, eu juraria que ela estava
brincando com ele, provocando-o.
O conde sentou-se num divã para tirar as meias. — Eu nunca vi
Nicole assim antes.
De repente, os olhos de Jane brilharam de excitação. —
Nicholas, ela se vestiu para ele. Ela está interessada nele.
O conde se endireitou, seus olhos cinzentos extraordinariamente
pálidos cintilando. — Você parece feliz. Você perdeu a cabeça?
Jane endureceu, pois o marido nunca falou com ela dessa
maneira. — Garanto-lhe todas as minhas faculdades estão intactas.
— Eu sinto muito — ele gemeu, imediatamente de pé e
puxando seu corpo pequeno e magro em seu abraço. — Eu estou
chateado e estava descontando isso em você.
Ela se agarrou a ele, amando a sensação de seu corpo duro e
poderoso, amando-o ainda mais do que quando se conheceram
quando ela tinha dezesseis anos. Uma vida inteira atrás, uma vida
maravilhosa atrás. — Nicholas, devemos nos preocupar, mas... — Ela
respirou fundo. — Você pode imaginar? Nossa filha, uma duquesa?
Nicholas a soltou incrédulo. — Jane, você não está pensando
direito! O duque de Clayborough está prometido.
— Eu sei disso. Mas os noivados podem ser quebrados.
Nicholas olhou para ela com muita severidade. — Não neste
caso — ele disse categoricamente. — Eu conheço Clayborough bem o
suficiente. Ele vive pelo lema de sua família — Honra primeiro. —
Mesmo se ele cair loucamente apaixonado por nossa filha ele nunca,
jamais quebrará seu noivado. Em vez disso, quebrará o coração de
Nicole.
— Oh querido — disse Jane.
Nicholas se virou, passando a mão pelos cabelos negros e
grossos, riscados de cinza. — Então, o que quer que esteja
acontecendo entre eles, acabou. Quanto mais cedo Clayborough
voltar a Londres, melhor para todos nós.
— Mas você disse que ele é honrado e tenho certeza de que
você está certo. Basta olhar para ele para saber que é um homem
bom e correto. Nunca faria algo desfavorável para comprometer
Nicole. Estamos nos preocupando demais.
Nicholas se virou com uma expressão irônica no rosto. — Jane
ele é um homem. Esse fato fala por si mesmo. Ou você esqueceu que
às vezes os homens de honra se comportam de maneira mais
desonrosa quando as mulheres que amam estão envolvidas?
Ambos foram jogados de volta para outro tempo, neste mesmo
lugar, quando ela tinha dezesseis anos.
— Agora estou preocupada, Nicholas — disse Jane e ela foi para
os braços dele.
Nicole fingiu dormir demais, mas no momento em que ouviu os
cascos do lado de fora da janela, saltou da cama para ver seu pai e
Chad saindo dos estábulos. Ela mordeu o lábio nervosamente, depois
correu para a cômoda, tirando uma camisa branca solta e
calça. Ontem à noite ela ficou furiosa, mas esta manhã ela estava
estranhamente excitada, quase exultante.
Não que ela ainda não estivesse zangada, claro. Era o auge da
arrogância para o duque ir jantar lá depois do que se passara entre
eles, depois de suas suposições sobre ela, seu interesse por ela e sua
rejeição a ela. Muito pior eram as liberdades que ele ousara tomar na
biblioteca, com seus pais a poucas portas de distância. E se ela
tivesse a coragem de enfrentar toda a verdade, havia a questão de
sua própria resposta aos seus avanços a considerar, havia se rendido
a ele com apenas uma palavra! Apenas recordando trouxe raiva,
vergonha e humilhação. Teria ele pretendido humilhá-la, seduzindo-
a? Nicole não se surpreenderia, agora que sabia de sua reputação
escandalosa de mulherengo. Obviamente, o homem não tinha moral
nem senso de honra. Nicole pretendia dizer-lhe exatamente o que ela
achava de seu comportamento desprezível.
Vestiu-se e voou escada abaixo, sabendo que não veria ninguém
além do pessoal a esta hora adiantada, sua mãe gostava de dormir
até quase oito, o que ainda era antiquado para uma dama se
levantar. O estômago de Nicole estava cheio de antecipação, então
ela não parou nem para uma xícara de chá. Em vez disso, correu para
o celeiro e pediu que um dos cavalariços selasse seu grande garanhão
sanguíneo.
Ela partiu a galope o ar da manhã estava frio e fresco,
prometendo a morte súbita do outono. Ela galopou pelo caminho,
depois desviou do outro lado dos gramados, pulando uma parede de
pedra sem esforço. No prado seguinte, ela espalhou as ovelhas e
cordeiros, rindo em alegria, em seguida tomou outro muro em uma
exibição crescente de equitação soberba. Eles voaram por um
caminho através da floresta, agitando as folhas douradas e marrons
sob os pés. Uma milha depois, Nicole puxou a montaria para a beira
dos gramados, em vista do Chapman Hall.
Seu coração estava batendo descontroladamente em seu peito e
suas bochechas estavam coradas do passeio louco. O garanhão
fungou impaciente, ainda querendo fugir. — Mais tarde — disse
Nicole, acariciando seu pescoço quente. Olhos brilhantes, ela incitou o
animal para frente.
Era cedo, mas o som de carpinteiros vinha dos estábulos, seus
martelos soando alto. Nicole se dirigiu para a casa, descendo o
cavalo. Ela amarrou-o a um poste e subiu os degraus, batendo a
pesada aldrava de latão.
Não houve resposta.
Nicole bateu várias vezes, ficando perturbada. O duque podia
não estar, mas com certeza sua equipe estava lá. No entanto, a casa
parecia vazia, deserta.
Desânimo subiu em seu peito. Nicole recuperou as rédeas da
montaria e caminhou decididamente para o celeiro. Talvez ele
estivesse lá, dentro dos estábulos, supervisionando seus
homens. Senão certamente eles saberiam onde ele estava. Tinha que
estar aqui, não é?
Deixando o garanhão do lado de fora ela entrou seus olhos se
ajustando à luz fraca. Os dois homens pararam de serrar e bater,
virando-se para olhá-la. — Estou procurando o duque — disse ela,
reconhecendo os trabalhadores como homens da aldeia de
Lessing. Ainda assim, o seu respeito flagrante a deixou
desconfortável. Nunca entrou em contato com os trabalhadores, a
menos que estivesse viajando com seu pai e Chad. Estava nitidamente
consciente de seu traje masculino e sendo desacompanhada e
desprotegida.
— Ele não está aqui — disse o homem mais velho, olhando para
ela.
O jovem se endireitou, malicioso. — Ele não está aqui, mas nós
estamos.
Nicole deu-lhe um olhar duro que o avisou para não pensar em
pensamentos desagradáveis. — Onde ele está? E por que ninguém
está atendendo a porta do Hall?
O jovem, cujo nome ela achava ser Smith, avançou. — Não há
ninguém lá. É por isso, senhorita.
— Ninguém lá? — ela repetiu.
— O duque e sua equipe já se foram — disse o homem mais
velho.
— Agora, por que você está tão interessada em Sua graça? —
Smith sorriu conscientemente.
Nicole não ouviu. — Foi para onde?
— De volta a Londres — o velho disse.
— De volta a Londres — repetiu Nicole, mal conseguindo
absorver essa informação. — Mas quando ele voltará?
— Ele não disse.
— Mas enquanto você espera que ele volte, sempre há eu —
disse Smith, aproximando-se.
— Vá para o inferno! — Nicole estalou, assustando os dois
homens. Ela girou e correu do celeiro, ainda tentando compreender
que o duque tinha ido embora. Ela montou seu cavalo, empurrando-o
em um trote rápido.
Foi! Ele se foi!
E não havia dúvida sobre isso, o coração dela tinha afundado até
os dedos dos pés. Ela estava absolutamente vazia.
Ele entrara em sua vida de forma tão abrupta e da mesma
maneira abrupta se fora. Um dia só havia sua família, seus cavalos,
seus livros e Dragmore, no seguinte havia o duque dourado e
viril. Mas agora ele se foi.
Deveria estar aliviada e procurar ser feliz. Ela não era nenhuma
dessas coisas e ficou profundamente desapontada.
— O que há de errado com você? — ela disse em voz alta. —
Você realmente enlouqueceu? Ele tem apenas as piores intenções em
relação a você, está prestes a se casar com outra e você está de luto
por sua ausência.
A lógica não subjugou seu estranho tremor, nem elevou seus
espíritos.
Ela desacelerou a montaria para uma caminhada quando
chegaram à trilha que corria pela floresta. Poucos minutos depois
chegaram ao riacho de corrida e Nicole foi assaltada com a lembrança
de como haviam cavalgado até ali e como ele a beijara, tocara-
a. Parou a montaria, escorregou e se ajoelhou ao lado do riacho,
tocando a água gelada.
A vida nem sempre foi justa. Mas tinha aprendido isso há muito
tempo, então por que estava se sentindo tão dolorosamente triste
agora? Por que ele voltou a Londres tão abruptamente? Ontem à
noite dissera que estaria saindo em poucos dias. Ontem à noite... ele
tinha ido embora por causa da noite passada!
Nicole se endireitou certa de que ela era responsável depois de
ter ido longe demais. Mas ele tinha começado isso simplesmente indo
para Dragmore quando poderia ter feito suas desculpas. E ela não foi
a única a insistir no confronto e neste caso, ela ansiosamente se
preparou para a ocasião, saboreando a batalha.
O que isso importava? Ele não era para ela e nunca seria. O
máximo que podia esperar era mais de seus beijos, ou pior, dormir
em sua cama. Ao pensar, Nicole corou. Sexo era um tópico que as
damas nunca discutiam, mas ela entendia o básico do ato, tendo sido
criada na propriedade e visto um garanhão ser colocado em uma égua
uma vez. Foi chocante, mas emocionante. Ela nunca tinha visto um
homem nu, mas ela sentiu a masculinidade do duque quando ele se
pressionou contra ela e podia imaginar como ele era. Imaginar o que
sentiria dentro dela. Crescendo muito quente, ela cegamente acariciou
o pescoço de seu cavalo, sabendo que deveria estar envergonhada
com a direção que seus pensamentos estavam tomando. Mas não
estava envergonhada, de modo algum e esse era todo o problema.
Claro, ela nunca iria dormir com ele dessa maneira, era o cúmulo
da fantasia imaginar o que estava imaginando. Nem ela nunca mais
teria seus beijos, seus beijos perigosos e fumegantes. Um nó se
formou em sua garganta, uma sensação de pânico sufocante.
Ela se recompôs. — É o melhor — disse ao garanhão, que
estava mordiscando um pedaço de grama. Montou abruptamente,
empurrou-o para um galope e não parou de novo até chegar ao
estábulo em Dragmore. Lá entregou sua montaria a um cavalariço e
correu de volta para a casa, mantendo sua mente abençoada e
intencionalmente vazia.
Ao passar pela sala de jantar, sua mãe gritou para ela, parando-
a em seu caminho. Nicole entrou surpresa ao ver a mãe a mesa, pois
costumava tomar chá e bolinhos no quarto enquanto se vestia.
— Bom Dia mãe. — Nicole entrou hesitante, instintiva, deixando-
a desconfortável.
— Aldric diz que você ainda não comeu — Jane sorriu, parecia
um pouco cansada, como se não tivesse dormido bem. — Sente-se e
junte-se a mim, querida. — Jane serviu-lhe uma xícara de chá,
entregando-a enquanto Nicole se sentava.
— Eu não estou com muita fome hoje.
— Você está se sentindo bem?
— Sim, estou bem.
— Eu não pude deixar de notar que você não saiu com seu pai
e Chad hoje.
— Eu... eu estava cansada da noite passada.
Jane assentiu e passou manteiga em um muffin quente,
entregando metade para sua filha. — Você gostou do seu passeio
esta manhã?
Nicole ficou vermelha.
Jane colocou o bolinho no prato, sem ter dado uma mordida. —
Nicole, onde você foi?
Nicole não conseguiu segurar o olhar direto de sua mãe. A cor
inundou suas bochechas. — Apenas ao redor.
— Para Chapman Hall?
Nicole ofegou. — O que... o que faz você pensar que?!
— É melhor conversarmos — disse Jane gentilmente.
— Não há nada para falar — gritou Nicole, em pânico.
— É óbvio que há algo entre você e o duque de Clayborough.
— Mãe... você está errada! — Nicole começou a se levantar, mas
Jane a conteve.
— Então eu estou feliz, pois ele está noivo e logo ele se casará
com sua noiva. Ele nunca vai acabar com isso, Nicole — Jane disse
gentilmente.
Nicole sabia disso, mas ouvir as palavras de alguma forma
doía. — Não há nada entre nós — disse Nicole rigidamente. — Eu o
acho desprezível, se você deve saber a verdade. Ele é um idiota
arrogante e pomposo.
Jane estava visivelmente chocada.
De repente, Nicole ficou olhando para a mãe. — Mãe, você vai
voltar para Londres hoje?
— Sim, esta tarde. Eu não me sinto bem deixando Regina lá,
mesmo com Lady Henderson. Afinal, eu deveria estar compartilhando
sua temporada com ela.
Nicole molhou os lábios. — Eu vou com você. Vou arrumar as
malas agora!
Jane piscou. — Mas você nunca vai à cidade. Você odeia
Londres.
— Eu mudei — anunciou Nicole, em pé. — Eu estou entediada
com a vida aqui, eu preciso sair, conhecer pessoas. Você não
concorda?
— Tem sido o desejo mais profundo meu e do seu pai —
declarou Jane, surpresa. — Não é saudável ficar isolada no país na
medida em que você faz.
— Eu vou estar pronta em pouco tempo — declarou Nicole,
piscando um sorriso e correndo da sala.
Jane a observou ir embora, sorrindo também. Era disso que sua
filha precisava, para sair de novo no jogo, onde ainda podia encontrar
um homem qualificado, onde ainda encontrasse amor. E o fato de o
Duque de Clayborough estar aqui em Chapman Hall fez com que
Nicole se juntasse a ela e a Regina em Londres. Ainda sorrindo, Jane
pegou seu muffin, seu apetite restaurado.
Capítulo 7
O duque chegou a Londres naquela tarde e foi diretamente para
sua residência no Nº. 1 Praça Cavendish. Clayborough House era uma
visão imponente, ocupando todo o quarteirão no lado norte do
gramado. Fora construído no início do século XVIII para o primeiro
duque de Clayborough e sofrera desde então algumas adições. Seis
andares de altura, toda a fachada frontal voltada para a rua continha
uma centena de janelas e três torres. O telhado fez a estrutura
parecer ainda maior, por causa dos três frontões gigantes que
subiram por vários andares adicionais no céu. Cada um ostentava o
brasão de armas de Clayborough, incrivelmente enorme. A mansão
era isolada da rua por uma balaustrada de pedra imponente e
primorosamente projetada, exceto onde a escadaria de pedra, que era
larga o suficiente para acomodar uma dezena de convidados, se eles
escolhessem entrar de uma vez só, descia a rua.
O duque enviara alguns de seus funcionários para Londres na
noite anterior, depois de jantar em Dragmore e agora Woodward o
cumprimentava na porta. O duque fez sinal para que ele seguisse e
eles percorreram um corredor de piso de mármore preto e branco que
se transformava em uma biblioteca que podia acomodar metade do
Chapman Hall. Ele foi até sua mesa, tirou um de seus cartões do
bolso e rapidamente escreveu uma nota pessoal sobre ele. Entregou
ao mordomo. — Envie isto para Lady Elizabeth agora.
— Haverá mais alguma coisa? Um pouco de chá com o seu
banho, Sua Graça?
O duque assentiu descuidadamente e subiu as escadas correndo.
Sua própria suíte também tinha piso de mármore, dourado e
branco. Uma vez o quarto tinha sido apontado como se para abrigar a
realeza. Após a morte de seu pai, ele imediatamente removeu todos
os móveis, exceto por alguns e redecorou como escolheu. O gosto de
Francis tinha sido muito decorativo e caprichoso para se adequar ao
seu, mas mais precisamente, o duque não queria nenhuma lembrança
de seu pai presente, tendo memórias suficientes para assombrá-lo por
toda a vida.
Agora, dezenas de tapetes persas cobriam o chão,
proporcionando calor à noite, quando o duque gostava de andar
descalço. Uma velha poltrona otomana, estofada em um rico couro de
vinho, estava de frente para a lareira, com um banquinho chinês do
século XVI nas proximidades, para que o duque colocasse seus papéis
e livros. Já gostou de antiguidades orientais, Hadrian selecionara para
uma parede uma imensa tela chinesa de laca preta incrustada com
madrepérola, projetada com um motivo floral por cima e cortando
cavalos abaixo. O resto do mobiliário era uma coleção um tanto
eclética de peças que Hadrian escolhera estritamente para o conforto
e o valor utilitário. A única herança de família que restava na sala era
uma secretária de mogno do século XVIII que ele não removeria,
sabendo que seu avô, o sétimo duque de Clayborough, que morrera
vários anos antes de ele nascer, gostava muito dela.
A sala era bastante diferente do resto da casa, mas era seu
santuário pessoal e tudo dentro dela o agradava. Ele tinha certeza de
que Elizabeth o odiaria no momento em que o visse, assim como
Isobel odiara, dizendo-lhe sem rodeios que estava — terrivelmente
feio — mas ele não se importava. Ele conhecia bem Elizabeth e ela
não o desafiaria quando ele lhe dissesse que nem uma polegada de
sua suíte estava sujeita a mudanças. Na verdade, ela certamente
nunca abordaria o assunto novamente.
Seu criado já havia preparado o banho no banheiro, que
também era pavimentado em mármore e tão grande quanto a maioria
dos quartos de campo. Aceitando o chá, o duque se despiu e afundou
na sumptuosa banheira submersa.
Atualmente ele pretendia visitar Elizabeth, pedir desculpas a ela
por sua negligência e determinar o estado de sua saúde. No entanto,
sua intenção não era retornar a Londres hoje ou até amanhã. Não até
a noite passada.
Sua conduta foi escandalosa. Sua conduta fora igualmente
escandalosa, mas isso não era desculpa. Obviamente, era o
personagem de Nicole Shelton que desafiava as convenções. Depois
de testemunhar seu comportamento altamente incomum e bastante
chocante várias vezes agora, ele não podia mais ficar surpreso por ela
ter sofrido um escândalo que ela própria fez há alguns anos. Um
pequeno sorriso de repente puxou sua boca. Ninguém jamais a
acusaria de ser chata. A convencionalidade era entediante, era por
isso que ele não gostava da rotina das festas, das casas e dos
passeios sociais que o resto da turma gostava tanto. De repente,
ocorreu-lhe que, de certo modo, ele e Nicole não eram muito
diferentes.
Seu sorriso desapareceu abruptamente.
Ele perseguiu um pensamento tão ridículo fora de sua cabeça.
Ele era considerado um tanto recluso, seu desdém pelo turbilhão
social era bem conhecido, mas nunca provocou um escândalo e seu
comportamento certamente não causou aborrecimento nas línguas.
Com exceção de seu extremo interesse em negócios, que não era
considerado apropriado para um nobre de qualquer categoria,
certamente não era sua propensão a desafiar as convenções.
O duque percebeu que, longe de relaxar na banheira de água
quente, estava perturbado e quase com raiva agora. Recordando sua
batalha verbal na noite anterior e sua física, como ele poderia
esquecer? Ele não tinha certeza se estava com raiva de Nicole ou de si
mesmo. Apenas uma coisa parecia estar clara. Seu controle de ferro,
sua vontade e sua autodisciplina não eram o que ele pensava que
fossem, não no que dizia respeito a Nicole Shelton.
Ele ficou mais perturbado, pulou da banheira, a água caindo em
cascata por seu corpo nu e poderoso.
Decidiu que o tempo acabaria com sua atração por ela. Ela
estava agora em Dragmore e ele não pretendia voltar a Chapman Hall
até que seu interesse por ela diminuísse. Nunca fora indigno de
confiança em nenhum aspecto antes, era indigno de confiança quando
estava preocupado. Havia realmente algo do caráter desprezível de
Francis nele?
Ele estava esfregando uma toalha grossa lentamente sobre seu
corpo, agora ele congelou. O pensamento era arrepiante.
O duque não sabia ao certo quando começou a odiar o pai, pois
não tinha uma única lembrança de nunca o odiar. Foi ainda muito
jovem que se deu conta da aflição que seu pai causou à mãe, ganhou
seu primeiro tapa quando tinha quatro anos por tentar proteger Isobel
dele. O golpe o feriu, mas isso não foi nada comparado ao medo
terrível que se seguiu. Não apenas medo por si mesmo, mas medo
por sua mãe.
Pois, ao ver seu filho ferido, Isobel ficou furiosa, voando para
Francis com a intenção de afundar as unhas no rosto dele. Ainda
atordoado por ter sido atingido, Hadrian observara seu pai evitar que
Isobel o espancasse e então ele o viu atingi-la e derrubá-la. Francis
saiu do quarto depois de rir e chamando-a de prostituta. Hadrian
tinha se arrastado até a mãe, chorando, mas para seu alívio ela se
sentou e o abraçou, cantando para ele que tudo estava bem. Uma vez
que ele viu que sua mãe estava bem, Hadrian estava cheio de um
ódio ardente por seu pai que ainda perdurava até hoje. Ele mal ouviu
sua mãe dizendo que ele nunca devia interferir novamente entre seus
pais. Estava ocupado demais desejando que o pai morresse, um
desejo que se cumprira vinte e dois anos depois.
Mas ele não era abusivo como Francis, Hadrian pensou, porque
nunca em sua vida ele havia ferido uma criança ou uma mulher. Ele
não bebeu e não jogou. E ele certamente não tinha inclinação para os
meninos.
Quando ele era jovem, no entanto, Francis aparentemente
gostava de mulheres, pois não era até que ele era mais velho e
casado que ele tinha se voltado para os do seu próprio sexo. Um
cavalheiro nunca teria abordado Nicole como fizera na noite anterior,
mas sem dúvida, era algo que seu pai teria feito sem escrúpulos.
O duque lembrou-se de sua briga física fora de Chapman Hall e
como ele a tinha batido contra o lado do celeiro depois que ela o
atingiu com seu chicote. Ele não pretendia subjugá-la tão rudemente,
mas o fez.
Ele estava com medo do lado dele mesmo que havia
desenterrado, um lado sombrio, que até agora não sabia que
existia. Nenhuma outra mulher havia trazido esse lado à luz e isso era
mais uma razão para ele ficar longe dela.
Estava noivo de Elizabeth, que não era apenas sua prima, mas
uma jovem gentil e doce, a conhecera quase toda a sua vida, nunca
iria machucá-la nem renegaria seu dever e violaria sua honra ou a
dela. Então, por que ele tentou o destino na noite passada em
Dragmore? Se ele e Nicole tivessem sido encontrados juntos, teria
sido forçado a se casar com ela e romper seu noivado com
Elizabeth. Ele tinha sido, Hadrian decidiu sombriamente,
temporariamente louco.
Uma imagem de Nicole como sua esposa o atacou. Ela seria a
pior esposa, insolente, desobediente, sempre provocando seu
temperamento. Ao contrário de Elizabeth, que dedicaria sua vida a
agradá-lo. Por que estava comparando as duas, quando não havia
nada para comparar?
No entanto, Nicole tinha querido casar com ele. Assim como
agora ela parecia querer enfurecê-lo, uma forma equivocada e
imprudente de retorno. De repente ele ficou muito quieto.
Ela estava armando uma armadilha para ele?
Ela não foi a primeira mulher a querer se casar com ele, longe
disso. O duque estava bem ciente de que, a cada temporada, muitas
esperançosas debutantes estavam determinadas a chamar sua
atenção e fazer com que ele largasse de Elizabeth. Claro, ele as
ignorou.
Mas não podia mais ignorar o que havia acontecido com
Nicole. Ela pensou que ele a estivesse cortejando, enquanto ele
pretendia apenas um breve caso. A culpa o reivindicou. Ele a
machucou. Pela primeira vez desde que ambos haviam aprendido a
verdade um sobre o outro, se atreveu a encarar esse fato
diretamente. Claramente se lembrava do choque dela quando pedira
desculpas por erroneamente presumir que ela fosse uma mulher
casada. E agora que ele ousava recordar esse encontro, podia
facilmente lembrar-se da mágoa e da angústia em seus olhos. Então,
tentou evitar o conhecimento do que ele tinha feito, mas agora, ele
não podia. Ele se sentiu como um asno.
Mas ela havia se recuperado rapidamente de qualquer angústia
que ele tivesse causado a ela. E ontem à noite ela não tinha sido
magoada, pensativa. Ontem à noite ela tinha sido uma sedutora,
ostentando sua beleza e desafiando-o a encontrá-la em um confronto
de espadas verbais. Ontem à noite ela foi fascinante. Ontem à noite,
em vez de se retirar para a segurança de seu quarto, ela se deitara no
sofá da biblioteca em uma pose desafiante e provocante. E quando
ele tinha mordido a isca, a perseguiu, tomou-a nos braços, ela mal
resistiu a ele. Dentro de instantes, ela estava gemendo em abandono.
Teria sido uma armadilha?
Ele jogou a toalha no chão e ficou nu em seu quarto. Mal ciente
do que estava fazendo, vestiu um roupão. Raiva derramou através
dele. Ela não seria a primeira a tentar seduzi-lo com sua beleza, mas
foi a primeira a quem sucumbiu, tinha certeza agora de que ela
tentara seduzi-lo, ver-se comprometida, tê-los capturado por sua
família. Por que mais ela teria esperado por ele na biblioteca? Por que
diabos mais?

Foi coincidência, mas Elizabeth estava sentada com Isobel, as


duas desfrutando de chá e bolinhos, quando a mensagem do duque
chegou. Elizabeth aceitou o cartão que o mordomo lhe entregou,
reconhecendo instantaneamente o brasão ducal. — É de Hadrian —
ela respirou, um sorriso iluminando seu pequeno rosto e deixando-a
quase linda.
Isobel também sorriu, pensando que Elizabeth ainda era tão
jovem e transparente. — E?
Elizabeth virou os olhos azuis brilhantes para a duquesa viúva. —
Ele voltou! — ela falou alegremente. — Ele voltou e vem esta noite!
— Já estava na hora — disse Isobel. — Não fique muito
excitada, querida, você sabe que não estava se sentindo bem hoje.
Um rubor rosado cobriu as bochechas de Elizabeth. — Como
não posso ficar excitada? Já faz mais de um mês desde que o vi
Isobel — as duas estavam em condições íntimas — não fale
indelicadamente de Hadrian. Seria diferente se ele estivesse ausente
por causa de outra coisa. Mas nós duas sabemos o quanto ele
trabalha duro e com que seriedade ele leva suas tarefas. Se eu não o
castigar, você também não deveria — As palavras foram ditas com
cuidado e gentilmente, pois Elizabeth não era capaz de levantar a voz
para ninguém.
— Uma mãe tem o direito de repreender seu filho — disse Isobel
acariciando a mão pequena e pálida de Elizabeth. — Mas estou feliz
em ver a cor de volta em suas bochechas. E acho que é hora de eu ir
embora.
Embora Elizabeth estivesse ansiosa para subir e se arrumar, ela
protestou sinceramente. — Você acabou de chegar! Você não pode ir
tão cedo e na verdade, tenho tempo suficiente antes que ele chegue.
Isobel sorriu e beijou sua bochecha. — Estou indo embora
querida, corra para seus aposentos e troque de roupa, como eu sei
que você quer fazer.
Elizabeth sorriu. Sua própria mãe gentil morrera quando era
jovem e amava muito a duquesa viúva. — Estou tão feliz, finalmente,
que você está realmente se tornando uma mãe para mim.
— E você sempre foi a filha que eu nunca tive — Isobel disse
suavemente, abraçando-a uma vez. E era verdade, pois Isobel sempre
gostara especialmente de Elizabeth.
Elizabeth sorriu, abraçando o cartão em seus pequenos seios.
Ela era uma menina esbelta, pequena, com uma tez de marfim e
cabelo loiro fino. As pessoas diziam que ela era bonita, mas Elizabeth
sabia que na verdade ela era bastante simples, sendo muito pálida e
magra demais, o cabelo muito fino. Ela também tinha uma pitada de
sardas no nariz, que ela cobriu com uma fina camada de pó branco.
No entanto, Elizabeth não podia saber que para muitos ela era bonita
e não tinha nada a ver com sua aparência física real, mas tinha tudo a
ver com seu calor.
Tão animada que ela estava com falta de ar, Elizabeth correu
para sua suíte, chamando por sua empregada. Uma hora depois havia
se transformado, em um vestido verde pastel, o cabelo recém-
penteado e enrolado em cima da cabeça. Em volta do pescoço ela
usava uma tripla vertente de pérolas requintadas com um fecho de
diamante, um presente de Hadrian quando ela completou dezoito
anos, dois meses atrás. Acabara de se vestir quando o mordomo
informou que o duque de Clayborough havia chegado e estava no
andar de baixo. Sem fôlego, Elizabeth voou do quarto.
O duque se levantou no instante em que ela entrou no salão,
com um sorriso em seu rosto, pegando sua mão e beijando-a. Ela o
conhecia desde que conseguia se lembrar. Ele a colocou no joelho até
que ela ficou grande demais para ele fazer isso e então testou sua
resistência durante toda a sua infância, marcando atrás dele a partir
do momento em que ela poderia engatinhar quando ele era um deus
lindo e robusto. Como a menina de doze anos, até que de repente se
tornou consciente de sua feminilidade quando a puberdade a
empurrou para a adolescência. Ele até salvou a vida dela quando ela
escorregou e caiu em um lago com a idade de oito anos. Ele estava
pescando lá com seu golden retriever e como sempre, Elizabeth o
seguia. Ela não teve medo quando a água gelada a reivindicou, pois
ele era seu herói, ela sabia que ele iria salvá-la. Elizabeth não se
lembrava de uma época em que não o amava.
— Estou tão feliz que você esteja de volta — ela disse
simplesmente, depois de terem trocado saudações.
Sentado ao lado dela no sofá, ele se desculpou. — Eu sinto
muito por ter estado longe por tanto tempo.
— Não se desculpe! Eu entendo, eu realmente entendo.
O duque estudou-a. Ela parecia sem fôlego, mas não parecia
doente, pois seus olhos estavam brilhando de felicidade e suas
bochechas estavam coradas. No entanto, ela estava mais magra. Era
tudo muito perceptível agora que sua mãe havia mencionado isso. —
Minha mãe disse que você não está bem.
O sorriso de Elizabeth desapareceu. — Estou bem, na verdade. É
verdade que estou cansada, mas Hadrian, vou a festa depois de festa
e às vezes não chego em casa até o amanhecer. Você sabe como é a
estação! É de se admirar que eu esteja cansada?
Estava certa e sua mãe estava sendo tola, embora se houvesse
uma coisa que Isobel não fosse, era tola. — Então você deve voltar
para casa mais cedo se cansar tão facilmente.
— Eu prometo — disse ela e sabia o que queria dizer com aquilo,
assim como ele sabia que ela faria qualquer coisa que pedisse.
Nicole e Jane só chegaram a Londres depois da meia-noite, pois
não haviam saído de Dragmore até aquela tarde. Regina ainda estava
com Lady Henderson. Segundo a governanta, a Sra. Doyle, de rosto
comprido, fora ao baile de Barrington. Nicole e Jane se retiraram para
a noite.
Nicole estava acordada logo após o nascer do sol, incapaz de
quebrar seu hábito secular e ansiosa por ver sua irmã, que não via há
meses. Enquanto a vida de ontem parecia cheia de tristeza, hoje os
pássaros cantavam do lado de fora de sua janela e Nicole sentia-se
positivamente exultante. Pela primeira vez em anos, ficou encantada
por estar na cidade e ansiosa por quaisquer festividades que o dia
trouxesse.
Ela também não pôde deixar de imaginar se o veria.
Fez um passeio matinal, acompanhada de um cavalariço por que
era o apropriado. O Regents Park estava deserto àquela hora,
considerada ímpia pelos modistas, a maioria dos quais acabara de
entrar em suas camas. Às oito da manhã, ela não conseguiu se conter
e abriu a porta do quarto da irmã. Regina estava encolhida em uma
bola embaixo das cobertas, dormindo. Sorrindo, Nicole ficou na ponta
dos pés, em seguida, puxou as cobertas dela.
Regina gemeu em protesto, jogando uma mão sobre os olhos.
— Acorda, dorminhoca — gritou Nicole, tirando o travesseiro de
Regina da cabeça de cabelos castanhos e jogando-o para ela.
— Nicole?
Nicole se sentou na cama. — Sou eu.
Regina jogou o travesseiro no chão, agora acordada e
incrédula. Então deu um grito de alegria e abraçou a irmã
profundamente. — O que você está fazendo aqui? Eu não posso
acreditar!
— Eu estava entediada — disse Nicole, sorrindo. — Você está
horrível. A que horas você chegou ontem à noite?
Regina franziu o cenho, o que não fez absolutamente nada para
diminuir sua beleza clássica. E na verdade, a jovem de dezoito anos
nunca pareceu horrível. — Ao amanhecer. O Barrington deu um bom
baile. Todo mundo que era alguém estava lá! Oh, você deveria ter
vindo antes!
Nicole congelou, então, para esconder sua expressão, ela pegou
o travesseiro do chão. — Todo mundo estava lá? Quem é todo
mundo?
— Você quer que eu cite nomes? — Regina estava incrédula.
Totalmente acordada agora, Regina sentou-se, em relação à sua
irmã, em tom de dúvida. — Nicole, você parece diferente. O que está
acontecendo? Você odeia Londres. Você realmente vai sair e entrar na
correria das coisas?
Nicole hesitou, querendo tanto confiar em sua irmã, mas com
medo de fazê-lo. Afinal, o que havia para confiar?
Que o duque de Clayborough abrigara intenções imorais para
ela? Que ela, a tola, apreciara seus beijos? Que ela sabia que ele
estava em Londres e que talvez, apenas talvez, fosse por isso que
Dragmore de repente fosse tão chato? Que ela estava se perguntando
se ela o veria hoje à noite? — Estou cansada de não ter nada além de
ovelhas e vacas como companhia — ela finalmente disse, odiando
mentir para Regina, a quem ela amava muito.
— Bem eu não te culpo! — Regina falou enfaticamente. A partir
do momento em que conseguia andar, Regina sempre preferira
rendas e bonecas a cavalos e árvores trepadeiras, não sendo duas
irmãs menos parecidas. — Eu estou tão feliz por você estar aqui! —
Impulsivamente, ela abraçou sua irmã com força. — Você vai ficar só
comigo — ela disse a Nicole a sério. — E vou apresentá-la a todos e
você terá um ótimo momento!
Capítulo 8
O grande salão no Willoughby's já estava cheio quando Nicole
chegou com Regina e a mãe delas naquela noite. Menor que um salão
de festas, o grande salão podia acomodar cem pessoas com
facilidade, mas agora estava lotado e quente. Os convidados estavam
em toda parte, bebendo champanhe e outras bebidas, enquanto os
criados ofereciam uma variedade exótica de aperitivos. Um trio tocava
em uma plataforma construída para a ocasião, mas os acordes do
piano, da harpa e do violino foram abafados pela conversa animada
da multidão reluzente.
O salão estava lotado, mas não tão lotado que Nicole não foi
imediatamente notada e comentada. Quando ela, Regina e Jane
entraram na sala, ela estava ciente das pessoas que estavam mais
perto da entrada arqueada, virando-se para sorrir para sua irmã e
mãe, então olhando boquiaberta para ela. E seu coração já estava em
sua garganta.
Enquanto se vestia para a noite, ela havia sido acometida por
um caso de nervosismo. Com um pouco de sondagem, Nicole supôs
que a alta sociedade de Londres estaria nessa velada, pois lorde
Willoughby não era apenas o marquês de Hunt, mas também
confidente do primeiro-ministro. Embora Nicole tivesse aprendido com
Martha em sua conversa em Dragmore que o Duque de Clayborough
aparentemente não gostava de reuniões sociais, por causa do poder e
conexões de Willoughby, ela achava que havia uma boa chance de
que ele pudesse estar lá hoje à noite. E mesmo que não fosse, ela
não duvidava que sua prometida Elizabeth Martindale estaria, não
apenas porque era sua noiva, o que por si só lhe dava um tremendo
status, mas porque ela era um membro da família de Warenne e seu
patriarca, o conde de Northumberland, era um dos homens mais
poderosos do reino.
Sabendo que ela veria um ou os dois tinham sido suficientes
para deixá-la tensa e nervosa enquanto vestia seu vestido de baile de
moiré turquesa. Ainda assim, ela evitou uma inspeção muito próxima
de sua motivação em vir a Londres e participar dessa festa. Quando
ela saiu de casa na Tavistock Square, seu nervosismo piorou. Apesar
de ter passado mais de um ano desde que ela esteve em Londres, ela
não passara por um caso na cidade desde o escândalo. A última
verdadeira festa a que ela assistira fora o baile de máscaras de
Adderlys, e isso teria sido um desastre se o duque não a tivesse
aprovado. Esta noite, mesmo se ele estivesse aqui, ela estava sozinha.
Nicole estava muito perto de se arrepender de ter vindo.
Um grupo grande de pé não muito longe da porta se virou para
olhá-la. — Eu digo, não é a filha mais velha de Dragmore? — Um
janota perguntou com sua voz carregada.
— É — respondeu uma matrona, tirando rapidamente o olhar de
Nicole. — Você ouviu sobre o traje que ela usava para os Adderlys? —
Abruptamente, a matrona baixou a voz, virando as costas para Nicole
e sua família.
— Eles são todos bruxos! — Regina falou alto. Ela olhou para o
grupo furiosamente, seu passo normalmente gentil se tornando duro
e longo.
Nicole segurou o braço enluvado no cotovelo. — Está tudo bem,
Rie. Eu esperava algo desagradável.
— Eu sei exatamente quem está nesse grupo e vou cortá-los
dolorosamente da próxima vez que meu caminho cruzar com qualquer
um deles — declarou Regina, os olhos âmbar brilhando. Então ela
olhou desconfiada para a irmã. — Que tipo de roupa você usou para
os Adderlys? E quando foi isso?
Antes que Nicole pudesse responder, ela foi salva pela
interrupção da mãe. — Você está bem, querida?
— Verdadeiramente, mãe, eu estou. — Nicole conseguiu um
sorriso tranquilizador, embora não estivesse exatamente bem. Ela
também ficou horrorizada porque estava realmente suando. Ela
adoraria arrancar suas luvas brancas até o cotovelo, mas não ousou.
Jane prontamente as manobrou para outro grupo, este cheio de
amigos pessoais dela. Enquanto eles expressaram surpresa sobre a
presença de Nicole, foi de uma forma genuína, sem qualquer
rancor. Nicole ficou aliviada e por alguns instantes, parou para
conversar com os Howards e os Bentons.
— Martha está aqui — Regina sussurrou, afastando-se do grupo
de pessoas mais velhas e levando Nicole com ela. — Veja. — Regina
acenou.
Nicole sorriu, emocionada por sua melhor amiga ter retornado a
Londres. Martha se apressou, abraçando as duas garotas. — O que
você está fazendo aqui? — ela exclamou com seu olhar penetrante.
Nicole deu de ombros, sabendo que Martha provavelmente
adivinhava a verdade.
— Dragmore de repente a aborrece — Regina respondeu, dando
a Nicole um olhar astuto. — O que você sabe Martha?
— Por que, o que você quer dizer? — Martha voltou-se para
Nicole. — É maravilhoso que você esteja aqui! — Ela deu a Nicole um
longo olhar cheio de significado que Nicole não conseguiu decifrar.
— Lorde Hortense está aqui — Regina de repente sussurrou,
animada. — Nicole, rápido, olha.
Nicole seguiu o olhar da irmã e encontrou um homem moreno
de trinta e poucos anos olhando para elas. Ela ficou inquieta, de
repente se perguntando se lorde Hortense estava olhando para ela ou
para sua irmã. Regina puxou a mão dela. — Ele não é bonito? Ele é
rico também e sua reputação e maneiras impecáveis. Ele me chamou
duas vezes, Nicole. Acho que está me cortejando, acho que ele vai
pedir ao meu pai a minha mão.
Nicole deu outra olhada para o belo senhor e ardeu com o olhar
ousado que ele lhe enviou. Desta vez não houve dúvidas e ela
rapidamente se afastou. — Você ainda é jovem, Regina. Certamente
ele não é seu único pretendente?
— Claro que não — disse Regina, mas o coração de Nicole
afundou no olhar brilhante nos olhos de sua irmã. — Mas... eu estou
apaixonada por ele, Nicole.
Nicole mordeu o lábio, trocando um olhar preocupado com
Martha. Ela detestava lorde Hortense com todos os instintos que
possuía.
— Eu vou me misturar — disse Regina sem fôlego e ambas as
garotas a observaram voar para a multidão, movendo-se na direção
de Hortense.
Nicole viu que ele estava lhe dando outro longo olhar e ela
rapidamente virou as costas para ele, furiosa. — Ele vai partir o
coração dela.
— Ele certamente está lhe dando atenção — disse Martha. —
Normalmente eu não me preocuparia, porque Regina é muito popular
e toda semana ela é apaixonada por outra pessoa. Mas acho que essa
coisa com lorde Hortense é muito mais séria, Nicole. Há dois meses
ela fala de ninguém além dele.
— Oh — Nicole respirou. — De alguma forma eu devo avisá-la
para ficar longe dele.
— Você deve. Nicole, ele está aqui.
Nicole congelou. — O duque? — Ela perguntou baixinho,
enquanto seu coração disparava freneticamente.
— Sim. — Martha examinou a multidão. — Eu o vi há algum
tempo, ele deve ter acabado de voltar para Londres. — Ela olhou para
a amiga. — Nicole, o que você está fazendo?
— Oh, Martha — gritou Nicole, sabendo exatamente o que ela
queria dizer — se ao menos eu soubesse! Eu simplesmente não podia
ficar no Dragmore, não podia.
Martha agarrou o braço dela. — Eu o vejo.
Engolindo em seco, Nicole seguiu o olhar de Martha. Seu corpo
ficou tenso ao vê-lo.
Ele parecia absolutamente magnífico em seu fraque preto meia-
noite e calças. Ele ergueu a cabeça acima da multidão,
esplendidamente bonito e totalmente masculino. Todos os homens à
sua volta pareciam tolos em comparação, seus rostos de lírios brancos
contrastando com sua ousada coloração dourada, suas formas quase
ridiculamente esbeltas ao lado de sua poderosa constituição. Seu
cabelo ainda era longo demais. Mais do que escovou o
colarinho. Nicole sorriu, pensando que ele ainda desdenhava visitar
seu barbeiro. Apenas um homem como o duque poderia se safar com
uma inclinação tão fora de moda.
É claro que ele estava entediado e inquieto, como estivera no
Adderlys, mal prestando atenção nas palavras de alguma matrona,
seu olhar se deslocando enquanto inclinava a cabeça para a mulher
idosa. Finalmente ele se endireitou em sua altura total, sorrindo um
pouco dolorosamente e concordando com o que ela disse. E naquele
exato momento seu olhar inquieto encontrou o dela.
Ele congelou. Sua expressão atordoada e incrédula. Seus olhares
se encontraram. Nicole não conseguiu desviar os olhos. Havia certa
distância entre eles, mas não o suficiente para impedir que Nicole
lesse todas as suas expressões. A incredulidade se transformou em
raiva avermelhada. Um momento depois, o olhar dele passou por ela
rapidamente, descendo até os dedos dos pés e depois voltando para
cima novamente. Não foi uma leitura educada, não foi o
comportamento de um cavalheiro.
— Ele está furioso — Martha engasgou. Nicole esquecera que
estava ali, de fato, esquecera tudo e todos naqueles poucos
momentos, exceto ele.
— Ele me despreza tanto quanto eu o desprezo — disse Nicole
instável. Ela ergueu o queixo com orgulho, tentando parecer
descuidada, como se o encontro de seus olhares tivesse sido
acidental. Ficou magoada com a raiva dele, mas não deveria
estar. Instantaneamente ele se afastou dela.
Nicole ficou muito quieta. Uma pequena mulher loira pegou o
braço dele, pressionando-o contra o lado dela. O duque se inclinou
sobre ela para ouvir o que estava dizendo e ela estava
sorrindo. Quando se endireitou, estava sorrindo também.
Nicole se sentiu triste. — É ela, não é?
— Sim. —
Nicole se virou de costas para o casal. Não teve um bom
vislumbre de Elizabeth, aninhada no duque, mas ela tinha visto o
suficiente. Ela era pequena e loira e perfeita. Nunca Nicole se sentiu
tão alta, escura e desajeitada. E o duque gostava dela, genuinamente
gostava dela. Era tão óbvio, Nicole percebeu, que as lágrimas lhe
arderam nos olhos.
— Nicole, vamos para o lavabo — disse Martha rapidamente,
pegando a mão dela.
A primeira reação de Nicole foi protestar, mas ela mordeu de
volta. Em vez disso, ela deu um sorriso torto e seguiu Martha do
salão.
Quando voltaram, Nicole se recuperou do impacto de finalmente
ver o duque com a noiva. Ela se misturava como Martha e foi
apresentada a muitas pessoas, todas educadas, pois Marta era
discreta e sabia a quem apresentá-la. E nas duas horas seguintes,
Nicole sempre sabia exatamente onde estava o duque.
Elizabeth raramente saiu do seu lado, enquanto ele ignorou
Nicole. Duas vezes mais os olhos deles haviam inadvertidamente se
encontrado e ele rapidamente virara-lhe as costas, como se ela não
existisse, ou como se estivesse debaixo dele. Essa rejeição foi
deliberada. Nicole tinha certeza de que ele estava tão consciente dela
quanto ela, mas determinado a evitá-la a todo custo.
Sentia muito por não ter pretendentes próprios, pois então se
penduraria nos braços deles como Elizabeth pendurava no dele. Foi
constrangedor. Ela tinha vinte e três, quase vinte e quatro anos, uma
solteirona sem chance de casamento, a menos que fosse para um
homem gordo e velho. Elizabeth tinha apenas dezoito anos, loira e
perfeita, prometida ao duque. Nicole não gostava dela, sabendo que
não era caridoso, mas como não poderia? A pequena sujeita tinha
tudo teve seu príncipe, ela teve o sonho de curta duração. Era
impossível não desgostar dela, assim como era impossível não o
desprezar.
Quando os relógios marcavam a meia-noite, Nicole não
aguentou mais a impressão. Ela saiu do salão, procurando um pouco
de ar, certa de que o duque também partira na última hora com sua
preciosa noiva, pois ela não o via há algum tempo. Encontrou as
portas de um pátio e saiu silenciosamente. A noite estava fresca e
fria, um contraste acolhedor ao calor abafado do salão. Nuvens
atravessavam o céu, algumas estrelas cintilavam e ocasionalmente a
lua minguante aparecia. Nicole foi até a parede de tijolos e encostou-
se a ela, olhando para os jardins bem iluminados do outro lado.
Percebeu que estava totalmente drenada agora que ele se fora e que
a noite tinha sido nada menos do que um desastre.
Nunca deveria ter ido a Londres, tinha vindo por causa dele,
podia enfrentar isso agora e era uma tola. De alguma forma, seu
coração quebrou novamente esta noite.
Não ouviu as portas do pátio abrindo e fechando, não ouviu os
passos dele. Sua voz quando ele falou estava baixa e zangada. — O
que você está fazendo aqui?
Nicole ofegou, girando para encarar o duque de
Clayborough. Embora o pátio estivesse mal iluminado, ela podia ver
bem o suficiente para distinguir sua expressão, o que revelou que não
havia confundido o tom dele.
— Estou tomando um pouco de ar, não que seja algum assunto
seu.
— Você sabe que não é isso que eu quero dizer.
— Eu sei?
— Não brinque comigo — ele disse ameaçadoramente, dando
um passo em direção a ela. — Por que você me seguiu para Londres?
Ela ofegou, não à sua pergunta, mas à precisão de suas
suspeitas. — Como você é orgulhoso! Eu não te segui para Londres.
— Ela mentiu, pois nunca poderia admitir que fora atraída para
Londres por ele.
— Eu não acredito em você.
— Isso é problema seu não meu.
— Não — ele disse lentamente — aí você está errada.
Definitivamente, é o nosso problema.
Nicole ficou muito quieta não entendeu o significado, não até
que o olhar dele escorregou para seu decote baixo e então ela
prendeu a respiração bruscamente. Desejo perigoso varreu através
dela. Foi um longo momento antes de falar, seus olhares se
encontraram. — Eu sei que você nunca vem para Londres, Nicole. Eu
sei que você veio por minha causa.
— Você é arrogante, impossivelmente arrogante — ela retrucou.
— E você é uma mentirosa.
— Não. — Ela gritou, tremendo.
— Então por que você veio para a cidade quando você nunca
vem, não desde o escândalo?
É claro que ele sabia sobre sua desgraça, assim como todo
mundo fazia, mas que ele se referindo abertamente a isso a
afligia. Como era doce fingir que ele não sabia, ou melhor, que não se
importava.
— Bem você não consegue encontrar uma desculpa
conveniente?
Suas bochechas coraram quando ela se lembrou da necessidade
de se defender e mentir para ele. — Eu vim para Londres no ano
passado e essa é a verdade! Regina sempre me implora para vir,
assim como ela me implorou agora.
Ele deu outro passo em sua direção. Seu sorriso estava frio. — E
pensar que eu imaginei que você fosse uma excelente atriz.
Nicole recuou. — Eu não estou atuando.
— Não? Neste momento você é uma atriz terrível. — Ele deu
mais um passo e Nicole recuou. — O que há de errado, Nicole? Você
tem medo de mim? — Ele desafiou.
Nicole imediatamente se manteve firme. — Não se iluda!
Seu sorriso era sombrio. — Eu não penso assim. Você não tem
medo de mim? Eu conheço seu jogo, Nicole. Eu não sou um tolo.
— Eu não sei do que você está falando.
Ele riu o som depreciativo. — Agora isso é atuação!
Nicole afundou nos calcanhares, furiosa com a zombaria dele. —
Pense no que você quiser. Mas eu não tenho ideia do que você está
falando!
— Você está me perseguindo, não é querida?
— Você está seriamente iludido — ela disse.
— Muitas mulheres — disse-lhe duramente — tentaram o que
você está tentando. E nenhuma delas conseguiu me tirar de Elizabeth.
Você entendeu?
Suas palavras eram como um tapa na cara. Se levantou, as
lágrimas brilhando em seus olhos. — Eu não procuro aliciar você
longe de sua preciosa Elizabeth! — ela assobiou. — E eu sugiro que
você volte para ela antes que venha procurar por você e o encontre
tão intimamente sozinho com outra.
— Elizabeth está em casa.
— Aquecendo sua cama? — Nicole zombou.
Ele ficou atordoado, mas apenas por um instante. — Do jeito
que você gostaria?
Nicole ofegou. Seu rosto corou, mas esperançosamente estava
escuro demais para ele ver. — Esse é o último lugar que eu gostaria
de estar.
— Sério? Preciso te lembrar dos nossos encontros passados?
— Eu preciso te lembrar que seu comportamento que foi
abominável? — Ela falou.
— Suponho que seja de primeira ordem para uma dama atacar
um homem com seu chicote de equitação, para não falar de andar
pelo campo vestida de menino.
Nicole se levantou. — Eu estou indo embora. Eu não tenho que
ficar aqui e ouvir seus insultos.
Pegou o braço dela enquanto passava por ele, chicoteando-
a. Ela nem tentou se afastar, sabendo que seria inútil. Seu rosto
estava muito perto do dela e não conseguia respirar ainda mais
superficialmente. — Deixe Londres.
— Você não pode me mandar sair da cidade!
— Você não terá sucesso em seu esforço, Nicole.
Ele libertou o braço dela. — Eu não estou tentando seduzi-lo
para longe de Elizabeth! Eu não tenho interesse em uma pessoa
imoral como você.
— Não? — Ele pegou o queixo dela em uma grande mão e
antes que ela percebesse, seus lábios estavam muito próximos dos
dela. — Mesmo?
— Não faça isso! O que você procura ganhar?
Eles se encararam. Sua mandíbula estava cerrada com
força. Seus dedos machucaram seu rosto. Ela esperou pelo beijo dele,
esperando, querendo, com medo. De repente ele a soltou.
— É o que você procura ganhar — Disse com olhos brilhando.
— Se você não sair de Londres, Nicole, eu saio.
— Bom — ela gritou de volta. — Bom! Então vá! Porque você
não vai me dar ordens como se eu fosse sua preciosa Elizabeth.
Ele olhou para ela, tão furiosamente irritado que estava
tremendo. Por um instante, Nicole teve certeza de que iria atingi-
la, ou arrastá-la para seu abraço e violá-la. Mas o instante passou e
antes que ela pudesse piscar, ele estava caminhando pelo pátio, longe
dela. Ele abriu as portas e depois as fechou.
Nicole afundou no duro banco de pedra no canto do pátio,
tremendo violentamente. Ela não viu as estrelas no alto, não
conseguiu ver nada além dele. Então cobriu o rosto com as mãos, que
ainda tremiam. O que estava acontecendo? Por que, oh, por que ela
teve que pôr os olhos no duque de Clayborough?
Capítulo 9
Incapaz de lutar contra o desânimo, Nicole agarrou o peitoril da
janela e olhou para fora, para o sol brilhante e claro de outubro. Ela
ouviu passos atrás dela, mas não se moveu, reconhecendo-os como
os de sua irmã.
— Nicole, eu vou passear no Hyde Park com os amigos. Charlie
Ratcliffe tem um carro novo. Há espaço para mais um, por que você
não se junta a nós?
Nicole não se virou, não querendo que Regina visse o rosto dela
e lhe fizesse perguntas sondadoras. Embora Regina tivesse o olhar
inocente de um anjo, era muito inteligente e certamente conhecia
Nicole tão bem quanto qualquer um, o suficiente para adivinhar que
algo estava seriamente errado. — Acho que não. Vou andar a cavalo
esta tarde — disse Nicole, embora não tivesse tais intenções.
Regina hesitou, depois disse que a veria mais tarde e
fugiu. Nicole suspirou e se afastou da janela, vagando sem rumo pela
sala de manhã verde-clara. Sozinha, estava assombrada pela imagem
do duque, suas palavras, seu encontro. Era como estar possuído pelo
demônio e o odiava, como o odiava.
Aldric apareceu. — Minha Senhora, a Viscondessa Serle está
aqui.
— Não se preocupe em me anunciar, Aldric — disse Martha,
entrando. Ela deu uma olhada para a amiga e se virou para o
mordomo. — Traga-nos chá, por favor, Aldric.
Quando ele saiu, Martha se adiantou para se sentar ao lado de
Nicole no sofá. — Eu nunca vi você assim, Nicole, mas de alguma
forma eu tive uma sensação terrível de que você estaria desanimada
hoje. Você deve colocá-lo fora de sua mente. Você deve.
— Eu não posso. Acredite em mim, se eu pudesse, eu faria,
mas não posso.
— Há outros homens em Londres, muitos outros homens. Por
favor, deixe-me apresentá-la a alguns deles.
— Oh Marta, não se incomode. Minha reputação me precede.
— Você pode mudar sua reputação, Nicole, se você tentar!
— Martha disse com raiva.
— Talvez eu não queira — ela retrucou. Então ela agarrou a mão
de Martha. — Sinto muito, não é com você que estou com raiva.
— Eu sei.
— Vir para Londres foi um erro, um grande erro. Estou indo para
casa.
Martha olhou para ela por um longo momento. — Fugindo?
Como um covarde?
Nicole ficou vermelha.
— Você vai deixar ele te afastar?
Nicole mordeu o lábio. Marta não sabia o que tinha acontecido
na noite passada, mas ela sabia. Não só ele presumiu que ela fosse
embora de Londres, ele realmente a desafiara ao fazê-lo. E ele ousou
sugerir que ela tinha medo dele! Se de repente ela partisse, o duque
pensaria que ele conseguira expulsa-la da cidade. Ele também
concluiria que ela era realmente uma covarde e com medo dele. E
aparentemente nada iria mudar sua suposição ridícula de que ela
tinha vindo a Londres para atraí-lo para longe de sua preciosa
Elizabeth de qualquer maneira. Ela endureceu. Isso foi uma suposição
ridícula, não foi?
Será que ela secretamente esperava conquistá-lo de sua
noiva? Que outra explicação possível poderia haver para o
comportamento dela ao persegui-lo até Londres?
Nicole tremeu, desanimada consigo mesma. Ela nunca esteve
tão confusa em sua vida. Ela preferia deixá-lo pensar o pior, o que ele
pretendia fazer de qualquer maneira, do que deixá-lo vencer sua
batalha particular. E nunca admitiria, nem para ele nem para si
mesma, que ela poderia possivelmente ter tido tanta motivação para
ir a Londres. — Você está certa. Eu devo ficar um pouco mais, então.
— Bom! Mas você não deve pular. Esta tarde eu estou jogando
tênis no clube com várias outras senhoras. Estamos perdendo um
sexto. Você pode vir conosco, vai ser divertido.
— Eu não.
— Nicole, você gosta de tênis! Você deve sair e pelo menos
parecer que está bem, então ele não vai achar que você está
ansiando por ele.
— Você é muito inteligente, Martha — disse Nicole, sorrindo com
relutância. — Tudo bem, eu vou.
Elas chegaram ao Club-Near-the-Strand no início da tarde. Nicole
cavalgou com Martha em sua carruagem e entrou como convidada de
Marta. O atendente na porta obviamente conhecia Martha, pois ele a
cumprimentou pelo nome, checando-a em sua lista. Lá dentro, eles
começaram a encontrar raquetes e bolas, depois passearam ao ar
livre para se juntar ao resto da festa.
O tênis era muito popular nos dias de hoje, especialmente com
jovens senhoras. Todas as quadras estavam em jogo, exceto pelas
três que haviam sido reservados para o grupo, e todos os jogadores
eram mulheres, exceto por um par de rapazes.
O resto do grupo já estava lá, esperando por elas. Cinco
mulheres sentavam-se em volta de uma mesa com uma jarra de
limonada, todas vestidas de camisa branca e saias azul-marinho, com
as raquetes nas cadeiras. Quando Nicole e Martha se aproximaram,
Martha murmurou: — Oh, querida.
Nicole perdeu um passo quando viu Elizabeth Martindale entre o
grupo. — Você não me disse que ela estaria aqui! — E não apenas a
noiva do duque estava presente, mas sentada ao lado dela estava
Stacy Worthington.
— Eu não sabia. Sinto muito, Nicole.
As senhoras interromperam a conversa abruptamente quando
Nicole e Martha chegaram à mesa. — Olá — disse Martha. — Eu
pensei que precisávamos de um sexto e eu trouxe Lady Shelton, mas
vejo que errei.
— Assim, podemos ver — disse Stacy. Seu olhar era
desdenhoso. — Eu trouxe minha prima, Elizabeth, para fazer o sexto.
— Não havia dúvida de que Nicole não seria bem-vinda para brincar
com elas.
— Tenho certeza de que podemos trabalhar alguma coisa, Stacy
— disse Martha educadamente, embora seus olhos estivessem adagas
quando ela olhou para a morena.
— Tudo bem — disse Nicole rapidamente, tentando não olhar
para Elizabeth, pois era a primeira vez que a via de perto. A pequena
loira perfeita sentou-se em silêncio no meio do grupo obviamente
hostil. — Estou cansada de qualquer maneira. Vou pegar sua
carruagem e ir para casa e mandar o motorista de volta para você.
Martha olhou para ela.
Nicole não queria discutir e ela deu uma olhada a Martha
também. Normalmente, lutaria contra alguém como Stacy, mas a
presença de Elizabeth efetivamente sufocava suas inclinações
naturais.
— Talvez isso seja o melhor — disse outra garota, uma ruiva
esbelta usando óculos finos com armação de ouro. Ela olhou
nervosamente para Nicole.
— Eu não quero compartilhar meu tempo de quadra — disse
Stacy.
— Stacy! — Elizabeth reprovara. Ela se levantou. — Eu não
acredito que nos conhecemos. — Seu sorriso foi amigável. — Eu sou
Elizabeth Martindale, Lady Shelton.
Nicole ficou imóvel por um longo momento, olhando para a mão
oferecida. Finalmente, ela se lembrou de suas maneiras e aceitou. —
Como vai?
— Obrigada. Lady Shelton, não me importo de ficar de fora e
assistir. Realmente, não me importo. Você pode jogar no meu lugar.
Na verdade, não gosto muito do esporte.
A mandíbula de Nicole se apertou. O sorriso caloroso da loira
nunca escorregou e seus olhos azuis pareciam genuinamente
amigáveis. Muito friamente, Nicole disse — Tudo bem, lady
Martindale. Você não precisa desistir do seu tempo na quadra por
minha causa.
— Eu realmente não me importo — disse Elizabeth, apenas para
ser cutucada por sua prima, Stacy.
— Se ela quiser, deixe-a ir para casa — disse Stacy.
Elizabeth franziu a boca em forma de arco. — Stacy, temos
tempo suficiente para que todos possam jogar, mesmo se eu optar
por fazê-lo. — Ela virou-se novamente para Nicole. — Nós podemos
dividir o tempo da quadra, se você quiser mas eu te aviso, eu me
canso facilmente. — Seu sorriso estendeu a mão para Nicole
novamente, deixando-a muito desconfortável.
— Tudo bem — Nicole se ouviu dizer rigidamente. — Você pode
jogar primeiro. — Ela não conseguia formar um sorriso, não podia
nem tentar.
Todas as garotas foram para as quadras que tinham reservado,
enquanto Nicole estava sentada sozinha na mesa de cabeceira,
tentando assistir, mas ainda incomodada com a presença de Elizabeth
Martindale. A noiva do duque de Clayborough parecia ser uma boa
pessoa. Nicole não conseguiu superar sua aparente simpatia. Mas
tinha que ser insincera, não era?
Nicole se viu ignorando todos os jogadores, exceto Elizabeth, de
quem ela não conseguia manter o olhar. Ela realmente parecia
cansar-se facilmente, sem resistência ou força alguma. Ela era a pior
jogadora nas quadras, na verdade, ela mal conseguia acertar a bola.
Ela era, então, o tipo de mulher que o duque preferia? Alguma loira
magra pálida? Uma mulher muito delicada até para jogar um jogo de
tênis aceitável? Uma mulher que tinha olhos azuis sinceros e um
sorriso sempre pronto? Nicole odiava admitir, mas de todas as garotas
que ela acabara de conhecer, Elizabeth realmente parecia bem. Ela
era a única que tentara ser amiga dela; até as amigas de Martha, Julie
e Abigail, olhavam para ela cautelosamente e não haviam tentado
falar com ela. Nicole sabia que Martha se sentia mal por tê-la
convencido a vir.
Nem mesmo dez minutos depois, Elizabeth andou pela quadra,
ofegante e suada e bastante vermelha no rosto. — Eu te disse que me
canso facilmente — ela engasgou, afundando ao lado de Nicole.
Por mais que Nicole não gostasse dela, ela rapidamente serviu
uma limonada. — Você está bem?
Incapaz de falar, Elizabeth se abanou com uma revista deixada
na mesa, assentindo. Ela bebeu com sede. Finalmente ela disse —
Obrigada. Eu só preciso descansar. Eu não deveria ter vindo. Eu não
tenho me sentido muito bem hoje em dia.
— Você provavelmente tem um toque de gripe — respondeu
Nicole, girando a raquete desconfortavelmente.
— Eu não penso assim — disse Elizabeth com tristeza.
Nicole a deixou para se juntar aos outros. Por um tempo, ela
jogou com Matilda, mas foi um jogo ruim, Matilda nem conseguiu
segurar um voleio curto. Stacy veio. — Vamos você e eu jogar — ela
disse, bem maliciosamente. — Matilda e Martha estão mais
equilibradas.
Nicole concordou, certificando-se de que Stacy não visse sua
expressão, que havia escurecido com determinação. Stacy foi a
melhor jogadora da quadra e sua intenção era óbvia; Nicole estava
certa de que a outra garota esperava trucidá-la. As meninas se
mudaram para lados opostos da quadra e começaram a jogar
vôlei. Nicole jogou muitas vezes com os irmãos em uma quadra
pública não muito longe de Lessing e ela era uma boa
jogadora. Agora ela acertou a bola facilmente para Stacy, que a
devolveu com a mesma facilidade. Gradualmente, as duas garotas
começaram a bater a bola com mais força. De repente, Stacy levou a
bola furiosamente para Nicole, que conseguiu devolvê-la ainda mais
furiosamente, fazendo com que Stacy perdesse a corrida.
Ambas as meninas estavam ofegantes, olhando-se com
determinação e antipatia e o jogo começou a sério.
Whack! Stacy acertou a bola. Wham! Nicole devolveu. De um
lado para o outro, as garotas dispararam, o mais forte que
puderam. Mais uma vez Stacy errou, desta vez correndo direto para a
cerca, incapaz de parar. A essa altura, as outras senhoras tinham
parado e se reuniram para assistir, com Elizabeth chegando também à
cerca. Stacy estava ofegante, Nicole nem ficou sem fôlego.
— Teve o suficiente? — Nicole perguntou docemente.
— O que eles dizem é verdade — Stacy cuspiu entre grandes
goles de ar. — Você não é uma dama, nem joga tênis como uma
dama! — Com isso, ela saiu da quadra.
Nicole ficou vermelha de vergonha e raiva, pois Stacy tentava
convencê-la tanto quanto ela própria estivera tentando vencer. As
outras damas se afastaram, exceto Martha e Elizabeth. A boca de
Martha estava franzida. Lentamente Nicole foi até elas.
— Por favor, perdoe Stacy — disse Elizabeth, tocando o braço de
Nicole.
Nicole afastou o braço dela.
— Ela geralmente não é tão rude, eu não sei o que aconteceu
com ela. — O olhar de Elizabeth estava implorando.
Nicole não respondeu e Elizabeth se virou.
— Isso foi um erro — disse Nicole a Martha.
— Eu esqueci que a bruxa Stacy estaria aqui, Nicole e eu sinto
muito, mas você deve considerar que ela é horrível para todos que
não estão em seu círculo encantado. Só porque ela é sobrinha de
Northumberland, ela acha que o sol nasce e se põe a seu capricho. Se
ela não estivesse aqui, as outras garotas teriam sido mais amigáveis,
tenho certeza disso.
— Suas amigas ficaram consternadas com a minha presença.
— Isso não é verdade, Julie e Abigail são apenas quietas e
tímidas. Dê-lhes uma outra chance, eu prometo a você, você verá que
elas são muito simpáticas.
Nicole assentiu e as duas voltaram para o grupo, agora reunidos
em volta da mesa tomando limonada. Elizabeth havia puxado Stacy
para longe e Nicole ficou chocada ao ouvi-la repreendendo a morena.
— Como você pôde ser tão rude, Stacy? Foi realmente
insuportável. Você deve oferecer suas desculpas a Lady Shelton
imediatamente.
— Eu me desculpar com essa bárbara? Às vezes você é cega,
Elizabeth, você não vê nada além de bom em todo mundo.
Você não ouviu falar sobre ela? Ela é inaceitável e nada vai
mudar isso.
— Você está sendo muito indelicada e muito pouco caridosa —
repreendeu Elizabeth. Então, vendo Nicole e Martha, ela se
interrompeu. — Você já está indo embora? Talvez devêssemos mudar
de parceiro, ainda temos tempo.
Nicole achava que era incrível, essa mulher a havia defendido,
uma estranha, para sua prima e agora procurava, obviamente, salvar
a tarde sem o benefício de ninguém, exceto de Nicole. — Eu tenho
outro compromisso.
— Bem, talvez a gente jogue outra vez — disse Elizabeth. — Foi
muito bom conhecer você, Lady Shelton.
— E eu você — Nicole conseguiu, incapaz de cortá-la.
Ela e Martha foram embora e logo foram abrigadas na
carruagem de Serle em silêncio. Depois de muitos minutos, Martha
olhou para Nicole. — O que você está pensando? —
Nicole mordeu o lábio, olhando para o telhado com desespero.
— Estou pensando que ela não é apenas bonita, ela é legal.
— Elizabeth é muito legal — disse Martha calmamente. — Não
há ninguém que não goste dela.
Nicole se virou para olhar para fora da carruagem sem ver
Covent Garden, que elas estavam passando. É por isso que o duque a
amava? — Exceto eu — ela disse tristemente.
Marta não teve resposta.

— Lady Elizabeth vai descer em breve, sua Graça.


O duque assentiu, olhando uma vez para o relógio de bolso de
dezoito quilates e andando impaciente pela pequena sala de estar. Era
diferente de Elizabeth chegar atrasada, mais quinze minutos se
passaram antes que ela desceu, vestida, ele viu, não para o jantar e
para o teatro, mas em um vestido de dia. — Você me esqueceu? —
Ele perguntou, surpreso e provocando-a um pouco.
Elizabeth suspirou, aproximando-se dele. — Eu sinto muito,
Hadrian, eu não esqueci. Eu temo ter cometido um erro grave.
Ela afundou no sofá e ele sentou ao lado dela. — Eu duvido
disso, você está se sentindo mal?
— Eu estou apenas exausta. Eu joguei tênis esta tarde e isso me
cansou terrivelmente. Eu deveria ter mandado dizer a você que
cancelasse nosso encontro, mas eu queria muito te ver e eu não
queria desapontá-lo, tampouco. Eu esperava que um cochilo pudesse
restaurar meu ânimo, mas acabo de despertar e ainda estou exausta.
— Não se preocupe comigo — disse o duque. — Você não
deveria ter jogado tênis, Elizabeth e eu concordo, você deveria voltar
para a cama a noite.
Ela tocou a mão dele. — Você não está com raiva de mim?
— Claro que não. — Então seu olhar se suavizou. — Mas valeu
a pena? Você gostou do seu passeio?
Ela olhou para ele com desânimo. — Não foi muito agradável,
Hadrian, na verdade, ainda estou chateada.
— O que te aborreceu?
— Duas das senhoras foram terrivelmente rudes com outra,
cortando-a terrivelmente e uma delas era Stacy.
— Stacy não é a pessoa mais gentil que conhecemos.
— Eu me senti muito mal por Lady Shelton, de verdade. E não
há desculpa para isso! Eu sei que aparentemente houve algum
escândalo há alguns anos atrás, mas isso é no passado e é errado
segurar um erro contra alguém para sempre.
O duque estava muito quieto. — A mulher que cortaram foi
Nicole Shelton?
— Sim. Você a conhece?
Ele se mexeu. Ela não havia saído da cidade. — Nicholas
Shelton agora é meu vizinho, desde que entrei em posse de Chapman
Hall. Jantei com ela e sua família pouco antes de voltar a Londres.
— Bem, ela ficou terrivelmente doída com todo o incidente,
posso dizer, é muito orgulhosa e tentou esconder isso. Eu falei para
Stacy quão desapontada eu estava com ela.
O duque pigarreou. Ele não estava apenas desconfortável com a
conversa, mas com seu comportamento passado e seus pensamentos
mais íntimos sobre o assunto em questão. Fora apenas na noite
anterior que Nicole Shelton o levara a uma fúria quase incontrolável.
Foi apenas na noite passada que por um fio de cabelo não a tomou
nos braços e fez com ela o que queria. Era muito inconveniente estar
discutindo Nicole Shelton com a noiva, considerando tudo o que havia
acontecido entre eles. — Stacy precisa ser cortada de vez em quando.
Se não for hoje à noite, devemos adiar o jantar até amanhã? — Mas
por que ela não saiu de Londres? Ela ainda pensava em seduzi-lo para
longe de Elizabeth?
— Isso seria maravilhoso. Hadrian, pelo que eu entendo, Nicole
não é muito bem-vinda entre a sociedade. E agora que ela está de
volta a Londres, acho que é terrivelmente injusto.
O duque fez uma pausa. Se ousasse continuar insistindo nesse
assunto, teria que concluir que ele mesmo achava que era injusto
também e pior, ele não aprovou que Nicole Shelton fosse cortada hoje
por um escândalo há muito tempo morto. No entanto, não queria
discutir o assunto, não com a noiva, pois tornar-se seu defensor seria
terrivelmente inadequado. — A vida raramente é justa.
— Isso não é como você! Eu vou convidá-la para se juntar ao
nosso círculo de poesia e vou me certificar de que ela seja aceita por
todos.
O duque fez uma careta. Por um lado, o que Elizabeth queria
fazer era nobre e certo, mas, por outro lado, estava chocado com o
pensamento de ela se tornar amiga de Nicole Shelton. — Elizabeth,
talvez você se sinta diferente amanhã. Pelo que vi de Lady Shelton,
ela é uma mulher forte e algumas fofocas desagradáveis não a
derrubarão.
— Estou determinada, Hadrian — disse Elizabeth com
naturalidade. — Ela precisa de amigos como eu, é claramente óbvio e
eu serei sua amiga.
Muito brevemente, Hadrian fechou os olhos. Esta bomba poderia
piorar? Nicole não aceitaria a oferta de amizade de sua noiva, não
poderia? E por que ela ainda estava em Londres? Foi por causa dele?
Ele ainda deveria estar furioso com ela, mas não estava. Sua
raiva havia morrido na noite passada. De fato, se ousasse ser honesto
consigo mesmo, estava quase exultante por ela não ter saído da
cidade.
O duque tinha uma terrível sensação de morte iminente.
Capítulo 10
Nicole ficou chocada no dia seguinte, quando recebeu um
convite belamente escrito de Elizabeth para se juntar a seu círculo de
poesia na noite seguinte no Marquês de Stafford. Regina olhou para
ela com curiosidade, as irmãs estavam relaxando com chá e doces na
sala verde da manhã. — O que é isso? — ela perguntou.
Nicole releu o convite, ainda incapaz de acreditar que era para
ela. — É de Elizabeth Martindale. Ela me convidou para participar de
um círculo de poesia.
Regina veio se sentar ao lado de sua irmã. — Você deveria ir.
Que legal de Elizabeth.
Nicole cuidadosamente colocou o convite de lado, seu coração
batendo pesadamente. — Por que ela me convidaria? — ela
perguntou em voz alta. — Ela mal me conhece. — Mas ela não pôde
deixar de pensar em como isso era irônico, a única dama em Londres
a oferecer-lhe amizade não era outra senão a noiva do homem que
abrigara uma paixonite.
— Porque ela é muito legal. Sem dúvida, ela sabe que você é
nova na cidade e está tentando incluir você em seu círculo.
— Você a conhece bem?
— Somos amigas. Vá, Nicole — incentivou Regina. — Você
precisa fazer alguns amigos aqui.
Nicole reprimiu uma resposta. Ela não poderia explicar para sua
irmã por que ela não podia se juntar ao círculo de poesia de Elizabeth,
mesmo que quisesse, o que ela certamente não sabia.
Regina de repente olhou para o relógio de parede com um
suspiro. — Oh, eu devo ir e me trocar! Lorde Hortense está me
levando para uma viagem esta manhã! Ela voou do quarto.
Nicole não podia nem se distrair com a obsessão da irmã com
o miserável Hortense. Mais uma vez ela olhou para o convite. Ela
sabia que não havia outro motivo. Tendo conhecido Elizabeth apenas
uma vez, ela tinha certeza disso. Como Regina dissera, Elizabeth
estava apenas sendo legal.
Abruptamente, ela amassou a carta na mão.
Por que no inferno ela tem que ser tão doce? Por que ela não
podia ser uma megera como sua prima, Stacy? E por que, no inferno,
ela precisava convida-la? Não só ela não queria sua amizade, ela não
precisava disso.
Nicole mordeu o lábio com força. A terrível verdade era que, no
fundo de seu coração, havia uma frágil parte dela que adoraria
responder às propostas da outra garota. Mas é claro que isso era
impossível. Elas nunca poderiam ser amigas. Não depois do que
aconteceu entre ela e o duque de Clayborough.
E porque, nas horas mais sombrias da meia-noite, ela ainda
sonhava com ele.
Rapidamente, antes que ela pudesse mudar de ideia, Nicole
escreveu uma recusa educada e a entregou naquela tarde. Ela
assumiu que isso seria o fim, pois certamente Elizabeth não
continuaria a procurá-la e se tornar amiga dela. No entanto, ela
estava errada.
Elizabeth a visitou na tarde seguinte.
— Por favor, sente-se — disse Nicole formalmente.
— Obrigada — Elizabeth sorriu. Ela estava um pouco sem fôlego,
uma visão loira pálida em um terno de seda azul prateado sob
medida. — Eu sinto muito que você não possa se juntar a nós hoje à
noite, Lady Shelton.
— Tenho medo de já estar comprometida — mentiu Nicole. Ela
se sentou em frente a Elizabeth em um bergère, ambas as mãos
segurando seus braços suaves de madeira.
— Espero que você não pense que Stacy estará lá, pois ela não
faz parte do nosso grupo, não tem interesse em literatura. — Os olhos
de Elizabeth seguraram os dela.
Nicole ficou chocada porque Elizabeth poderia pensar que ela
tinha medo de se juntar ao grupo por causa de sua prima. — Stacy
não é a razão pela qual eu não posso ir.
— Bom. — Elizabeth sorriu. — Como Hadrian apontou, ela tem
uma tendência a ser um tanto deselegante às vezes e não é só com
você.
Nicole congelou. — Ah ...o duque disse isso?
— Oh, eu estava tão terrivelmente chateada com o
comportamento dela naquele dia, que quando ele veio me levar para
jantar, eu não pude falar de mais nada. Ele aprovou que eu repreendi
Stacy completamente.
Nicole engoliu em seco, o rosto ardendo. Elizabeth se sentou
com o duque de Clayborough discutindo-a! Oh, como ele deve ter se
divertido! Foi demais! Absolutamente demais!
— Eu vim para convidá-la para outro caso, neste sábado à
tarde. Estou ajudando a mãe de Hadrian, a duquesa viúva, a
organizá-lo. Todo ano ela faz um piquenique ao estilo americano, uma
ideia que aparentemente tirou de seus parentes de Boston, moças
trazem uma caixa de almoço, que os senhores leiloam. Os
vencedores, é claro, apoiam as senhoras cujo almoço compraram e os
rendimentos vão para uma caridade muito carente, a dos órfãos
pobres desta cidade. — Elizabeth sorriu. — É sempre um grande
sucesso e muito divertido. Todo mundo acha. Você não vem?
Nicole ficou horrorizada. Se ela colocar um almoço em leilão,
ninguém iria comprá-lo! Ela não tinha uma dúvida! — Eu não sei...
Elizabeth estava à frente dela e ela interrompeu. — Eu não quis
dizer que você deveria trazer um almoço, eu entendo porque você
não iria querer. Eu só queria que você viesse e aproveitasse a tarde.
Na verdade, eu ficaria muito surpresa se seus pais não estivessem
planejando comparecer. — E eu sei que Regina estará lá.
— Meus pais — disse Nicole rigidamente — estão voltando para
Dragmore no fim de semana.
— Oh...
Nicole estava corada, zangada. Elizabeth não pretendia insultá-la
casualmente, presumindo que não ousaria trazer uma caixa para o
almoço, mas sim. Ela entendeu a humilhação que Nicole colheria se
trouxesse um almoço e ninguém o comprasse. A mandíbula de Nicole
se apertou.
— Eu não queria incomodar você — disse Elizabeth
suavemente, preocupada. — É realmente um bom momento e nem
todo mundo está trazendo um almoço. Sendo como eu sou uma das
organizadoras, eu sei e você certamente pode fazer um piquenique
comigo e com Hadrian.
— Eu não estou chateada — disse Nicole com o maior orgulho
possível. — E o que faz você pensar que eu não viria? Com um
almoço?
Os olhos de Elizabeth se arregalaram brevemente antes de se
recuperar. — Oh! Estou tão feliz então, que você participe.
Nicole sorriu sombriamente, sabendo que ela havia se
comprometido tolamente com um curso que só poderia resultar em
desastre. Mas ela estava presa no auge de seu próprio orgulho e ela
não podia recuar, não na frente de Elizabeth Martindale.
Sábado foi um dia ensolarado, um dia de verão indiano. O céu
estava sem nuvens e as árvores de Hyde Park tremeluziam
incandescentemente de ouro. Cerca de duzentas nobres e damas se
reuniram para a ocasião, todas vestidas com roupas alegres, seus
coches e carruagens alinhados por quilômetros atrás deles na trilha
dos cavalos que atravessava o parque. Agora todos se reuniam em
torno de uma plataforma que havia sido construída para a festividade,
com uma extremidade empilhada de cestos de piquenique toda
alegremente pintada e decorada com fitas, laços e laços.
Elizabeth agarrou-se ao braço do duque, de pé perto da
plataforma, de frente para a multidão, seus olhos procurando-a. —
Eu me pergunto se ela decidiu não vir depois de tudo — ela
murmurou.
— Quem? — O duque perguntou, mudando impacientemente,
incapaz de evitar o aborrecimento. Ele tinha uma questão jurídica
pesada em mente e em poucas horas, teve uma reunião em sua casa
com vários advogados. Sua pergunta foi distraída e não se importou
com a resposta de Elizabeth, até que ela respondeu.
— Nicole Shelton.
Ele congelou, olhando para ela. Ficara aliviado quando Elizabeth
lhe dissera que Nicole recusara o convite para ler poesia. Ele já havia
decidido que, se Nicole aceitasse, ele a procuraria e exigiria conhecer
suas intenções. Mas ela não aceitou e ele não teve que procurá-la. —
Eu não imagino por que ela viria aqui — ele disse rigidamente,
embora o pensamento de que ela estivesse presente fez seu pulso
disparar.
— Ela disse que viria e disse que levaria um almoço. —
Elizabeth parou de escanear a multidão. — Eu não quis dizer para ela
participar do leilão, apenas para vir e jantar conosco.
— Você a convidou para jantar conosco? — ele perguntou
incrédulo.
— Claro. Isso foi antes que ela dissesse que iria trazer um
almoço. Eu assumi tão tola, que ela não iria e como eu poderia deixá-
la comer sozinha? Mas ela sabia que eu entendi que se ela trouxesse
um almoço, não seria muito popular e poderia ser bastante
embaraçoso, então ela abruptamente me disse que iria trazer um
almoço. Ela tem muito orgulho, eu a admiro.
A mandíbula de Hadrian se apertou. — Você não precisa admirá-
la — disse ele, embora suspeitasse que ele pudesse, secretamente,
admirá-la também, embora no momento não estivesse disposto a
admitir isso. Ele também podia imaginar como qualquer cavalheiro
aqui adoraria comprar sua caixa e passar a tarde com ela na
privacidade de um bosque de árvores, independentemente do
escândalo em seu passado. Afinal, eles tinham olhos em suas
cabeças. Ele descobriu que estava claramente descontente com o
pensamento de Nicole Shelton dividindo um piquenique com algum
colega não identificado.
— Mas eu faço — continuou Elizabeth. — Eu gostaria de ser
mais parecida com ela.
— Você é perfeita como você é.
— Oh, Hadrian, você está sendo excessivamente galante.
Também devo confessar que tenho medo de que ninguém compre o
almoço dela.
— Tenho certeza que ela tem seus admiradores.
— Hadrian, você é um querido, mas você não é mais atual e
como você pode ser quando vem tão pouco na cidade? Eu não estou
criticando você — ela acrescentou rapidamente — porque você sabe
como eu estou orgulhosa de sua habilidade em questões de negócios.
Mas nosso círculo simplesmente não esquece. Às vezes eles podem
ser tão cruéis.
— Tenho certeza de que você está exagerando — disse ele,
certo de que os machos presentes competiriam ansiosamente pela
companhia de Nicole Shelton.
Elizabeth olhou para ele com um sorriso carinhoso. — Eu espero
que você esteja certo, mas eu já cuidei do assunto, se eu suspeitar
que aconteceria. Pedi ao nosso primo Robert para fazer uma oferta no
almoço e ele concordou, embora não fosse exatamente caridoso sobre
isso.
— Robert — o duque ecoou, pensando no belo e raivoso irmão
de Stacy. Ele fez uma careta, certo de que não demoraria muito para
que Robert a colocasse de costas. — Ele não é confiável.
Elizabeth deu-lhe um olhar curioso, surpresa com sua expressão
feroz. — Robert vai se comportar, mas eu não o vejo em lugar
nenhum. Oh! Hadrian, ela está aqui! Ela veio.
Estranhamente sem fôlego, o duque virou-se lentamente para
seguir o olhar de prazer de Elizabeth. Nicole ficou com a irmã, um
pouco à parte da multidão, com a cabeça erguida. Ela era uma visão
impressionante em um terno listrado de pêssego e um chapéu de
palha adornado com uma rosa vibrante cor de coral. Seu olhar
encontrou o dele.
Ele havia esquecido de respirar e respirou fundo. Essa
circunstância era intolerável. Como ele poderia estar aqui com sua
noiva, de quem ele gostava sinceramente, enquanto cobiçava outra
mulher, uma que ele não poderia ter? Essa paixão, essa
obsessão, havia durado o suficiente. Mas como diabos ele ia acabar
com isso?
Nicole desejou estar em qualquer lugar, menos lá. Regina estava
conversando animadamente com duas jovens damas e seus
namorados, deixando Nicole momentaneamente excluída. Ela estava
se esforçando muito para não olhar para ele, mas era impossível.
Seu olhar lhe roubou de novo e de novo ficou paralisada, pois o
olhar dele estava nela também.
Nicole rapidamente desviou o olhar estava tremendo. Por que
ele tem que ser tão magnífico? Por que ela teve que notar? Por que
tinha que estar aqui hoje para testemunhar o que certamente seria
sua humilhação? E por que, por que ele teve que ser prometido a
Elizabeth?
O leilão havia começado. Nicole não prestou atenção porque a
cesta de uma senhora, pintada de azul e branco e amarrada com uma
fita rosa, foi vendida a um jovem por vinte e cinco libras. O pavor a
inundou.
Mesmo no último momento, ela deveria ter recuado. Foi o auge
da estupidez para ela ter trazido uma cesta de almoço, ninguém iria
comprá-la. Ela silenciosamente amaldiçoou seu orgulho.
Vários outros almoços haviam sido leiloados, a maioria deles por
dez ou vinte libras. Nicole se perguntou se poderia se tornar covarde
e sair agora, antes que sua caixa fosse colocada no bloco. Ela se viu
encarando o Duque novamente.
Por um momento escasso, que pareceu durar para sempre, seus
olhares se encontraram. Desta vez foi ele quem desviou o olhar e
quando o fez, disse algo a Elizabeth. Mas Elizabeth chamou sua
atenção e ela acenou alegremente. Nicole não sabia se ela respondia
ou não. Só sabia que não podia virar as costas e fugir, não
agora. Com um suspiro resoluto, Nicole se virou para a plataforma
novamente.
— Você viu Robert? — Elizabeth perguntou preocupada. — Há
apenas alguns almoços sobrando e eu não o vi.
O duque estava tenso. — Ele provavelmente entreteu-se na
noite passada e esqueceu tudo sobre a sua feliz promessa para você.
— Não seria diferente de Robert e de certo modo o duque ficaria feliz
se o belo solteiro nunca aparecesse para comprar o almoço de Nicole.
— Stacy! — Elizabeth chamou, vendo sua prima passando pela
multidão com seu pretendente, que acabara de comprar o almoço de
cesta bem decorado.
Stacy se aproximou, cumprimentando os primos. — Este é o
senhor Harrington — disse ela, dando-lhe um olhar tímido. — Ele
comprou meu almoço por trinta e cinco libras.
— Que bom — disse Elizabeth, fazendo uma pausa para
cumprimentá-lo corretamente, apesar de sua angústia. Então ela
pegou a mão da prima e a levou de lado. — Stacy, onde está seu
irmão? Onde está Robert?
— Ah, esqueci de te dar uma mensagem — disse Stacy,
sorrindo. — Esqueceu-se que tinha outro compromisso hoje, em
Brighton, que ele absolutamente não podia perder.
Elizabeth empalideceu.
Stacy riu. — Não se preocupe, ele me contou sobre o seu
esquema, e não deixou você na mão. Ele pediu a um amigo para vir
tomar o seu lugar.
— Quem? — Elizabeth perguntou.
Stacy apontou. — Veja aquele ruivo de terno branco de linho?
Em pé ao lado da que está na manta? O nome dele é algo de Chester
e ele vai comprar o almoço de Nicole. — Ela riu novamente.
Elizabeth olhou para o jovem cavalheiro desgrenhado e seu
amigo. Ambos estavam claramente impressionados. — Vou matar
Robert — disse ela.
Stacy riu. — Eu tenho que ir, Elizabeth. Divirta-se! — Ela fugiu
com lorde Harrington para assistir ao final do leilão.
Elizabeth voltou ao duque, angustiada e contou-lhe o que havia
acontecido.
Sua cesta de almoço foi colocada à venda. O coração de Nicole
estava na garganta e ela queria morrer enquanto o leiloeiro segurava
a cesta de palha que era dela. Ela sabia que deveria decorá-lo como
Regina fizera com a dela, mas ela tentara, e as tentativas tinham sido
fracassadas. Arcos e fitas pareciam bobos, assim como rendas e
panos. As flores pareciam ainda piores e finalmente, com nojo, Nicole
pintara a cesta de um vermelho vivo. Todos os outros haviam
escolhido pintar suas cestas de branco ou de cores pastéis, aparando-
as com fitas, laços e outros trajes femininos. Nicole sabia que sua
cesta era horrível.
Quando o leiloeiro segurou, seus olhos se arregalaram, uma
risada escapou da multidão. — Agora o que temos aqui? Humm? —
ele murmurou. — O que quer que esteja nessa cesta incomum, cheira
muito bem! Quem vai abrir o leilão?
O silêncio o cumprimentou e o rosto de Nicole se queimou. Ela
tentou não olhar para qualquer lugar, exceto para frente e para o
leiloeiro gordo segurando sua cesta terrivelmente colorida.
— Vamos lá, senhores, vamos começar o leilão! — ele chamou.
— Quem vai começar? Eu ouço cinco libras? Cinco libras, senhores...
— De quem é isso? — Um homem chamou.
A identidade das garotas que haviam feito as cestas não era
segredo, mas geralmente não havia necessidade de perguntar qual
cesta era de quem, pois os pretendentes certamente iriam descobrir
de antemão. Algumas risadas se levantaram sobre essa questão, a
primeira desse tipo naquele dia. Quando o leiloeiro olhou para a
pequena etiqueta na mesa e leu o nome dela, Nicole realmente queria
morrer.
O silêncio seguiu seu anúncio e centenas de olhos se voltaram
para focar nela. Então alguém disse — Dez pences.
Risos cumprimentou a oferta escandalosamente baixa.
Nicole estava congelada. Isso não poderia estar
acontecendo. Eles fariam uma piada com ela agora.
— Dez pences — disse o leiloeiro, aliviado por finalmente
conseguir uma oferta. — Eu tenho um quilo? Eu ouço uma libra?
— Um quilo — alguém disse, bastante grosso.
Os olhos de Nicole começando a nadar de lágrimas procuraram
esse novo licitante. Ele usava uma jaqueta de linho branco e um
chapéu de palha, e ele estava terrivelmente bêbado. Sem perceber o
que estava fazendo, lançou um olhar angustiado ao duque e viu que
ele estava furioso, considerando o homem de branco como se
quisesse amavelmente matá-lo. Então ele se virou para olhar para ela.
A compaixão que ela viu suavizando seu rosto era demais para
suportar. Era a última coisa que ela esperava dele e isso ameaçava
ser sua ruína. Nicole respirou fundo, olhando para o chão, usando
toda sua força de vontade para não ceder às lágrimas. De repente,
alguém pegou a mão dela. Foi Regina. O leilão parecia estar parando
a uma libra, o que era tão humilhante quanto se ninguém tivesse
pedido nada.
— Eu os odeio — disse Regina. — Nós vamos para casa.
Nicole não conseguiu responder.
— Um quilo — o leiloeiro disparou. — Indo... indo...
E então uma voz profunda e forte, que ela conhecia tão bem,
soou, efetivamente silenciando tudo e todos. — Quinhentas libras —
disse o duque de Clayborough.
Houve um silêncio aturdido. Então o leiloeiro sorriu, batendo o
martelo. — Quinhentas libras! — ele rugiu. — Eu ouço quinhentas e
cinquenta? Eu tenho quinhentas libras... indo... indo... ouço
quinhentas e cinquenta? E foi! Vendido para o Duque de Clayborough
por quinhentas libras.
Capítulo 11
Elizabeth quebrou o silêncio atônito em torno deles. — Hadrian
— gritou ela — olha o que você fez.
O duque estremeceu. Seu olhar passou pelo topo da cabeça de
Elizabeth e encontrou a de Nicole. Ela estava de olhos arregalados,
absolutamente incrédulos. Durante o leilão para a sua cesta, sua raiva
tinha se inflamado com a zombaria infligida a ela por seus pares. Com
tristeza, ele a observou tentando esconder a angústia que ele podia
ler por trás de sua expressão orgulhosa e congelada. Ele queria
estrangular o amigo de Robert por sua ridícula oferta de um quilo. E
quando ele percebeu que não haveria contraproposta, que o almoço
de Nicole seria realmente vendido por uma quantia tão embaraçosa,
ele teria vindo em socorro com sua incrível oferta de quinhentas
libras.
Nada poderia tê-lo impedido de resgatá-la da humilhação que
sofria, mas ele decidiu pensar que teria resgatado alguém em situação
semelhante. Ele não inspecionaria suas motivações mais do que
isso. Mas Elizabeth entenderia?
O duque desviou o olhar de Nicole, imaginando há quanto tempo
eles estavam encarando um ao outro. — Elizabeth — ele começou
sem jeito.
Ela bateu palmas. — Como você é heroico.
Seus olhos se arregalaram.
Ela se agarrou ao braço dele, radiante. — Como você é
inteligente! Agora todos saberão que você a colocou sob sua proteção
e ninguém jamais ousará se divertir tanto com ela novamente.
— Você não tem um osso mesquinho em seu corpo? — ele
perguntou suavemente.
Confusão nublou seus olhos.
Ele poderia pelo menos revelar um pouco da verdade. — Isso
me irritou ao vê-la zombada. Eu nunca gostei de nenhum tipo de
abuso. — Ele relembrou, num piscar de olhos, como seu pai zombara
da mãe com a mesma crueldade. E como Francis zombou de seu
próprio filho, desdenhando o menino em cada turno, ridicularizando
todos os esforços dos quais a criança deveria se orgulhar. Aquela
criança... ele mesmo.
— Eu sei e é por isso que eu... porque eu gosto tanto de você —
ela disse, apertando o braço dele. — As pessoas estão esperando,
Hadrian, você deve ir buscar sua cesta. — O leiloeiro iniciara o leilão
de um dos dois últimos almoços.
Mesmo quando ele disse as palavras, ele sentiu uma decepção
tola. — Eu só comprei a cesta dela para salvá-la do constrangimento,
Elizabeth, não para compartilhar um piquenique com ela.
— Hadrian, você deve! Se você não compartilhar seu almoço, as
pessoas vão pensar que eu desaprovo e estou com ciúmes. Será um
escândalo e você terá desfeito todo o bem que acabou de fazer. Você
deve.
Ele ficou chocado. Sua própria noiva estava enviando-o para os
braços de outra mulher, uma cobiçada ainda apesar de suas melhores
intenções. Claro, Elizabeth não tinha ideia de como Nicole assombrou
seus pensamentos. — Vamos todos jantar juntos — disse ele com
firmeza, embora achasse essa solução ainda mais assustadora do que
dividir o almoço com Nicole sozinha.
— Não, não — disse Elizabeth com a mesma firmeza. — Estou
cansada demais. Estou aqui desde manhã cedo preparando este
evento com sua mãe. Se você pretende jantar comigo esta noite,
Hadrian, então é melhor me retirar para a tarde.
— Eu vou te levar para casa, então.
— E deixar Nicole aqui, sozinha, para ser motivo de piada? Não
seja bobo! Vou mandar sua carruagem de volta. — Ela deu-lhe outro
sorriso caloroso, depois se virou para acenar para a nervosa Nicole.
O duque fez um último esforço. — Elizabeth, se você sair agora
as pessoas vão pensar que você está com muita dor.
Elizabeth riu alegremente, claramente no melhor dos
espíritos como qualquer um podia ver. — Pelo contrário, eles saberão
o quanto eu confio em você e em breve deixarei claro para todos os
meus amigos o quanto estou satisfeita com a forma como você
estendeu sua proteção a Lady Shelton.
Suas palavras, é claro, não fizeram nada menos que perturbá-lo
imensamente. Quanto eu confio em você. Como ela estava errada.
Houve muitas mulheres em sua vida. Não se esperava que um
cavalheiro fosse fiel a uma esposa, muito menos a uma noiva e quase
todos os cavalheiros mantinham uma amante. Essas outras mulheres
não eram de qualidade, por isso não importava. Era aceitável, até
esperado. E era bem sabido que as damas se satisfaziam com o fato
de seus maridos encontrarem conforto em outro lugar, pois as damas
eram gentis demais para ter que suportar o apetite de um homem, a
não ser com o propósito de conceber filhos. No entanto, conviver com
Nicole Shelton não era aceitável. Violou não apenas a confiança de
Elizabeth nele, mas o código de conduta honrosa de que todos os
cavalheiros viviam. Lady Nicole Shelton era outro assunto
inteiramente diferente, pois ela era da aristocracia.
Hadrian passou por Elizabeth através da multidão, tentando não
pensar em nada. Não foi fácil. Seu coração estava batendo forte e sua
mente não estava em sua noiva, não do jeito que deveria ser. Ele
estava consciente demais da mulher alta e morena do outro lado da
clareira. — Eu vou te ver hoje à noite, Hadrian — disse Elizabeth
quando chegaram a sua carruagem.
O duque assentiu e ajudou-a a entrar, dando ordens ao
cocheiro. Ele recuou quando o cocheiro se afastou e conseguiu sorrir
quando Elizabeth lhe deu uma última onda de despedida.
Nicole os observou saindo, ainda incapaz de assimilar o que
havia acontecido. Por que ele comprou a cesta dela e por uma quantia
tão incrível? Como ele poderia fazer algo assim na frente de Elizabeth
e isso significa alguma coisa, previa algo? Ela tentou se alertar para
não ser tola, mas suas emoções eram terrivelmente cruas e a
advertência parecia trivial comparada com o quão monumentalmente
ele salvou o dia.
Agora ele estava saindo. Nicole não conseguia tirar os olhos
deles, ainda de pé sob o carvalho alto e espesso onde estava desde o
início do leilão. Claro que estava saindo, o que esperava? Ele vir e
reivindicá-la como todos os outros jovens ansiosos tinham
reivindicado suas damas? Ainda guardava estranhas fantasias
românticas sobre ele? Ainda se atrevia a ser tão tola?
Regina segurou seu braço, lembrando a Nicole que ela ainda
estava ao lado dela. — Eu não acredito — ela sussurrou
animadamente. — O duque de Clayborough comprou o seu almoço,
oh, Nicole, este é um ótimo sinal, sinalizou a todos que você não deve
brincar.
Tremendo, Nicole conseguiu um sorriso fraco. É isso que
significava? Ou... poderia significar algo mais? Esperança pulou em
seu peito, embora ela tentasse sufocá-la. Regina não sabia quantas
vezes estivera em seus braços e como chegara a se entregar a ele,
noiva ou não. Talvez, apenas talvez... — Lorde Hortense está
esperando por você. Vá em frente, vou para casa e mandarei a
carruagem de volta para você. — Nicole não se atreveu a completar
seus pensamentos.
— Você tem certeza? — Regina perguntou, então ela agarrou o
braço de Nicole com entusiasmo. — Nicole, olha.
Nicole seguiu o olhar da irmã e ficou surpresa. O duque se
elevou sobre todos enquanto se aproximava da multidão, sem se
aproximar dela, mas da plataforma. Seus olhos se lançaram à frente
dele. O leilão havia acabado há muito tempo e a única coisa na
plataforma que não as alegres bandeiras brancas e verdes e a
variedade de rosas de estufa era sua cesta vividamente vermelha. O
duque não se deteve, dirigindo-se infalivelmente a isso. Ele pegou e
se virou, seu olhar encontrou o dela e começou a caminhar em sua
direção.
Ambas as meninas ficaram em silêncio, cada uma atordoada por
suas próprias razões. Regina quebrou o silêncio primeiro. — Eu acho
que... eu acho que ele pretende almoçar com você.
— Acho que não — disse Nicole, instável, mas seu coração
tremulava como as asas de um beija-flor.
O duque se aproximou. — Senhoras — ele disse formalmente.
Regina voltou a si em primeiro lugar, caindo em uma reverência
lindamente executada. — Sua Graça. Eu... — Ela olhou de um para o
outro, fascinada pela intensidade de seus olhares. — Lorde
Hortense está esperando por mim — ela conseguiu sem fôlego, então
ela se virou e fugiu.
Um silêncio caiu entre eles, denso com uma tensão gerada pelo
passado e agravada pelo presente. Nicole quebrou, molhando os
lábios nervosamente. — Todo mundo está olhando. O que você está
fazendo?
— Deixe-os olharem. — Ele estendeu o braço. Sua expressão era
extremamente sombria. Ele ainda tinha que sorrir ou mostrar qualquer
expressão. — Devemos?
Nicole piscou em seu braço. — Eu eu não entendo.
Sua mandíbula se apertou. — Estamos almoçando juntos, Lady
Shelton, como eu comprei sua cesta.
Ela ergueu o olhar trêmulo para ele. — Mas... Elizabeth?
— Elizabeth aprova com entusiasmo e se ela não estivesse tão
cansada, ela também se juntaria a nós.
Uma decepção terrível, que Nicole não tinha o direito de
experimentar, invadiu-a. — Entendo. — Ela se virou, mas não segurou
o braço dele, não tendo intenção de fazê-lo. Seus lábios apertaram
firmemente enquanto a bolha secreta dentro dela explodia. Seu balão
de fantasia, cheio de sonhos, desapareceu. O que ela secretamente
esperava? Que ele rompeu com Elizabeth, aqui e agora, tão
publicamente? Quebrado para ficar com ela? Ela não era mais do que
um caso de caridade, para ambos, embora os motivos do duque
certamente pudessem ser mais suspeitos.
Percebendo que Nicole não aceitaria, ele deixou cair o braço, os
olhos escurecendo. Juntos, eles atravessaram a clareira até chegarem
a um ponto sombreado por três Aceres vermelhos flamejantes. Nicole
olhou ao redor enquanto o duque abaixava a cesta. Eles estavam à
vista de todos, mas isso era de se esperar, assim como a curiosidade
que eles despertavam.
— Você trouxe um cobertor?
— O que?
Grosseiramente ele repetiu sua pergunta.
Nicole sacudiu a cabeça. O duque tirou o casaco verde de
caçador, espalhando-o por ela. Nicole não pôde agradecê-lo e em vez
de se acomodar, olhou para ele.
— Eu garanto a você, eu não tenho piolhos.
Ela virou o olhar para ele. — Isso é ridículo. Você realmente
espera que nos sentemos aqui e almocemos juntos civilizadamente?
— Eu não apenas espero — ele disse, com os olhos arregalados
— eu exijo isso.
Raiva brilhou nos olhos dela e ela se aproximou dele. — Eu não
preciso da sua caridade!
— Pelo contrário — ele disse suavemente — você certamente
precisa.
— Eu não pedi para você comprar minha cesta.
— Não, você não pediu.
— Então, por que você fez isso? — ela falou, tremendo.
Ele olhou a veia em seu pescoço latejando visivelmente. —
Porque parecia que você não tinha outros socorristas — ele finalmente
disse.
— Como você é galante! — Nicole exclamou, sem conseguir
segurar as lágrimas. — Eu não precisava de resgate e certamente não
por você.
— Talvez você deva deixar de lado o seu orgulho por um
momento, Nicole. Quantas vezes ele fez com que você agisse
precipitadamente? Quantas vezes criou mais problemas do que
resolveu?
— Isso não é problema seu.
— Eu sugiro que você se sente — disse ele, com o rosto
vermelho de raiva. — Antes de fazer um espetáculo de nós mesmos e
desfazer tudo o que foi feito.
— Eu não preciso da sua proteção — ela disse amargamente. —
Vá proteger a doce Elizabeth.
— Ela não precisa da minha proteção e tolo que eu sou, eu
pareço ter estendido para você, tão ingrata como você é. Agora
sente-se. — Abruptamente ele a empurrou até os joelhos, e Nicole
não teve escolha a não ser sentar-se rapidamente em seu casaco.
Ele caiu na grama ao lado dela e quando Nicole estava prestes a
saltar, ele agarrou a mão dela, mantendo-a ancorada onde ela
estava. — Nós ainda somos o foco de muita atenção e uma luta irá
alimentar as fofocas. Você não teve fofocas suficientes, Nicole?
Ela fechou os olhos brevemente. — Sim.
Ele soltou a mão dela.
Quando ela abriu os olhos, encontrou-o olhando fixamente para
o rosto dela. Nicole levantou o queixo, piscando de volta as lágrimas
quentes por trás de suas pálpebras. Ela podia lutar com tudo o que
queria, negar tudo o que queria, mas precisava da caridade dele,
precisava dele para resgatá-la e agora, se fosse brutalmente honesta
consigo mesma, queria ainda mais.
Não havia dúvidas sobre sua força. Emanava dele em um
carisma que ninguém podia negar. Se ele fosse dela, ela iria para seus
braços e choraria pelo passado, que não poderia mudar e choraria por
um futuro que desejava tão desesperadamente ter. Ele seria um
refúgio, um refúgio inviolável que precisava desesperadamente, um
escudo invencível entre ela e o resto do mundo. Mas ele não era dela,
pertencia a Elizabeth e esta situação era nada menos que impossível.
Ele ainda estava olhando para ela, muito de perto, como se
pudesse ler seus pensamentos e sentimentos mais privados. Nicole se
viu atraída pelo poder dele, arrastada por ele. Mais uma vez, ela
estava impotente para desviar o olhar dele. Ela temia que ele
conhecesse seus pensamentos mais íntimos. Com medo que estivesse
revelando demais, não queria que ele soubesse, ou suspeitasse, o que
ela temia reconhecer.
Sua raiva havia morrido. O rubor revelador sumiu. Seus olhos
eram novamente o rico ouro de xerez, os olhos de um tigre,
perigosamente hipnotizantes. Nicole ficou quieta, embalada em total
indiferença, antecipando-se a ele.
De repente ele levantou a mão. Não havia dúvida de que iria
tocá-la, alcançou o rosto dela. Naquele momento, Nicole ansiava
desesperadamente por ele. E, de repente, baixou a mão e o olhar,
abrindo-se abruptamente para o lanche.
— Talvez devêssemos comer — disse ele.
Uma grande decepção a consumiu. Ela não pôde responder. Ela
só podia vê-lo abrir a cesta e começar a remover os itens.
Levou apenas um instante para que todas as emoções
turbulentas e contundidas de Nicole se transformassem em uma
ardente bola de desejo explosivo. Embora se sentasse imóvel,
determinada a esconder sua resposta a ele, estava tremendo, o corpo
tenso e apertado, quase dolorosamente. Ele estava prestes a tocá-la,
estava certa disso. Ela não conseguia pensar em mais nada.
Seu olhar se levantou e eles se encararam. O brilho de seu olhar
era tão brilhante quanto o dela, inconcebível.
Oh, meu Deus, pensou Nicole, quando o desejo violento caiu
sobre ela. Naquele momento, não se importava com nada nem
ninguém além de si mesma e do duque, pois cada folha tremia acima
deles, cada folha de grama doce em volta deles, a multidão festiva
espalhada pelo parque, o mundo inteiro, acabara de desaparecer no
esquecimento. Não havia nada nem ninguém em existência além de si
mesma e do homem poderoso e viril sentado à sua frente.
Apenas seus olhos se moviam, seu corpo incapaz de movimento.
Eles vagavam por todas as características primorosas de seu rosto,
demorando-se em seus lábios sensualmente esculpidos, recordando o
calor e o poder deles, a fome devoradora. Eles desceram mais, sobre
os ombros largos e peito volumoso, vestindo apenas uma camisa
branca de linho, os dois primeiros botões abertos e revelando apenas
um vislumbre de cabelos grossos e escuros no peito. Suas pernas
longas e poderosas estavam envoltas em calções curtos, as botas
altas pretas e reluzentes. Assustada, o olhar dela voou de volta para
os quadris dele, onde uma excitação rígida e grossa tencionou o
tecido apertado de suas calças. Por um longo momento ela não
conseguiu desviar os olhos, não conseguiu se mexer, não conseguiu
respirar. Seu corpo se esticou e estremeceu contra os limites de sua
pele. De repente, algum tipo de morte parecia iminente, uma que a
levaria diretamente para o céu.
Ele amaldiçoou. — Droga. Isso é intolerável. Isso não pode
continuar.
Nicole molhou os lábios, pensando desavergonhadamente sobre
seus beijos, sobre como se sentia em seus braços e sobre outro ato
que nenhuma dama contemplaria.
— Eu sugiro — ele disse bruscamente — que você pense sobre
algo, qualquer outra coisa.
Seus desejos mais privados revelados. Ela ergueu o olhar para
ele e foi consumida alegremente pelo calor que encontrou lá. — Eu
não posso — ela sussurrou.
Ele soltou a respiração duramente. — Se você não fizer — ele
disse asperamente — então temos uma hora muito longa pela frente.
Ela o olhou suas palavras atraindo sua atenção para longe de
seus pensamentos indecentes.
— Eu acho que uma hora será suficiente, se pudermos suportar
isso.
— Uma hora será suficiente — disse ela lentamente. — É
apropriado para nós compartilharmos um piquenique por uma hora e
então, é claro, você deve retornar para Elizabeth.
— Sim.
As palavras foram mais eficazes do que baldes de água gelada
lançados sobre sua cabeça e ela sorriu quase com tristeza. Como ela
podia sentar aqui e cobiçar o homem de outra mulher, que era
praticamente seu marido? Era terrivelmente imoral, tão imoral quanto
seu escandaloso desejo físico e Nicole ficou envergonhada. Por alguns
breves momentos, se esquecera de Elizabeth e teria feito qualquer
coisa para ficar sozinha com o duque, sozinha de uma maneira íntima.
Mas como ela poderia ter esquecido? Ela não deve esquecer! Este
homem foi levado, ele não pertencia a ela, mas a outra. Ela nunca
poderia tê-lo e sentar-se aqui cobiçando-o abertamente era o cúmulo
do comportamento covarde.
— Não vamos demorar — disse ela abruptamente, sem se
atrever a olhar nos olhos dele. — Vamos embora. Você pode dizer a
todos os seus amigos maravilhosos que eu era a mais encantadora,
mas eu tive uma terrível dor de cabeça. E você deve agradecer a
Elizabeth, claro, por sua parte graciosa neste resgate.
Ele ficou em silêncio, sentiu seu olhar, mas se recusou a olhar
para ele, sentiu como se estivesse morrendo por dentro, pouco a
pouco, um tipo completamente diferente de morte do que a
arrebatadora que sentiu poucos minutos antes.
— Você está certa — disse ele com voz rouca, fechando a cesta
e ficando de pé. Ele estendeu a mão, mas Nicole sabia melhor do que
tomá-lo, com medo de tocá-lo, embora não quisesse mais
nada. Cuidadosa para não encontrar o olhar dele, tomando cuidado
para não deixar suas mãos se roçarem, ela entregou sua jaqueta,
esperando enquanto a vestia.
Lado a lado, atravessaram o parque em direção à longa fila de
carruagens. Quando passaram por um grupo de piqueniques após o
outro, o duque assentiu com a cabeça e disse um breve olá, mas
Nicole não olhou para ninguém, muito absorta em seus próprios
sentimentos esfarrapados. A carruagem de Dragmore chegaria em
breve, mas uma parte teimosa desejava evitar a separação iminente,
pois dessa vez sabia que seria para sempre. Na segunda-feira voltaria
para Dragmore.
O cocheiro abriu a porta da carruagem de laca preta
brilhante. Nicole estava prestes a intervir quando o duque agarrou o
braço dela, contendo-a. Ela teve o cuidado de não o olhar, mas não
conseguiu seu olhar voou para o dele. Enquanto seus olhares se
trancavam, uma emoção sem nome, íntima e poderosa, brilhou entre
os dois.
— Nicole — disse o duque com voz rouca — precisamos
conversar.
— Existe realmente alguma coisa para discutir? — Ela perguntou
tristemente.
Sua mandíbula se apertou. Muitos segundos se passaram e ele
não respondeu, aparentemente batalhando consigo mesmo. Então seu
aperto aumentou. — Vamos conversar. Minha carruagem não voltou.
Você pode me dar uma carona de volta para Clayborough.
— Eu não farei tal coisa.
Mas o duque decidira e ele estava impulsionando-a pelos
degraus e entrando na carruagem. Nicole pousou
despreocupadamente no banco de trás. Seus olhos se arregalaram
quando seu corpo apareceu na porta. Ele se sentou ao lado dela,
fechando a porta atrás de si.
— Clayborough — ele disse ao cocheiro. — E então você pode
levar Lady Shelton para casa.
— Sim, sua graça. — O cocheiro desapareceu e a carruagem
rolou para a frente.
— Por que você está fazendo isso? — Nicole exclamou.
Ele virou para encará-la. Seus olhos estavam em chamas e
Nicole respondeu imediatamente seu próprio desejo turbulento se
agitara dentro dela desde que ele se aproximara dela com sua caixa
de piquenique.
— O que você vai fazer? — Ele perguntou.
Teria percebido suas intenções? Ou era tão óbvia e ele também
astuto? Conseguiu um sorriso, mas estava desamparada. — Eu vou
sair. Estou voltando para Dragmore na segunda-feira.
Ele olhou para ela. Nicole podia ouvir seu próprio batimento
cardíaco acelerado. A maneira como estava olhando e sua
proximidade estava tornando quase impossível pensar, mas estava
quase esperando que ele protestasse contra seus planos. Ele não o
fez.
Virou a cabeça para longe dela, revelando a linha dura do
maxilar, olhou para fora da janela da carruagem. Decepção alagou
Nicole. Queria chorar, estender a mão e tocar a manga do casaco dele
ao mesmo tempo, mas não fez.
Ele a encarou novamente. — Então isso é um adeus — disse ele
com firmeza.
— Sim.
Outro momento tenso encheu o vazio entre eles.
— Nicole...
Ela esperou, esperou que ele protestasse, ou se declarasse.
— Você é única — disse ele. — Você não é como as outras.
Foi o maior elogio que ele poderia ter dado a ela, ela percebeu e
as lágrimas começaram a derramar suavemente por suas bochechas.
— Não chore — ele ordenou, seus dedos pousando em seu
rosto. — Porque você está chorando?
Ela balançou a cabeça sem palavras, os olhos fixos nos dele. Ele
se inclinou para frente. Ela não se moveu, mesmo sabendo o que
estava fazendo e o que estava por vir, mesmo sabendo que deveria
resistir. Mas este seria o último beijo e queria lembrar disso para
sempre.
Segurando seu rosto, ele colocou a boca sobre a dela.
Foi um beijo carinhoso, como se houvesse afeição real entre
eles. Então a mão dele deslizou até o pescoço dela e apertou, sua
boca se movia com mais insistência, com súbita urgência. As lágrimas
de Nicole pararam.
Ela gemeu em encorajamento, segurando as lapelas do seu
casaco. Sem hesitar, deslizou para frente sob o corpo dele, ele desceu
em cima dela. Seus braços estavam ao redor dela; os braços dela
estavam ao redor dele. Suas línguas se acasalaram em uma febre de
necessidade, ela o sentiu assentar o calor espesso de sua
masculinidade na fenda entre suas pernas. Ele começou a se mover
contra ela com crescente abandono, com insistência.
Não queria que terminasse assim, não queria deixá-lo ir, não
queria perdê-lo para outra mulher, não importa quem ela fosse queria
que ele pertencesse a ela.
Ele se levantou contra seu corpo. Nicole agarrou-o, deixando-o
fazer o que quisesse. O nó de tensão dentro dela estava crescendo. A
qualquer momento explodiria, eclipsando-a.
Ele parou de se mexer estava deitado em cima dela
pesadamente, ofegante. Nicole também estava ofegante percebeu
que suas pernas estavam enroladas em torno de seus quadris. Ela
queria morrer, mas não de vergonha. Naquele momento, a vergonha
era a última coisa em sua mente.
— A carruagem parou — ele finalmente disse, suas palavras
cortadas. — Parou há algum tempo.
Nicole fechou os olhos.
— Se eu fosse um canalha, nós terminaríamos isso aqui e agora.
— O duque se afastou dela.
Foi um bom momento antes que ela pudesse se forçar a se
sentar. Ele sentou-se rigidamente ao lado dela, observando-a. — Não
é por isso que eu vim de carona para casa com você.
— Eu sei.
— Não é isso que eu pretendia. — Eu não sinto muito.
Ele olhou fixamente. O desejo de sucumbir à tristeza veio
novamente com intensidade renovada. E novamente esperou que ele
lhe dissesse para não sair de Londres.
— Adeus — o duque disse suavemente. Abruptamente, ele abriu
a porta e saiu da carruagem, para longe dela.
Nicole deu uma última olhada em seu rosto quando fechou a
porta. Era austero e impassível. Inesquecível. Ele foi inesquecível. Ela
se abraçou, tentando encontrar conforto no gesto, o espaço a seu
redor agora vazio e frio. Sozinha e encoberta pela luz fraca, sentiu os
olhos se encherem de lágrimas.
A carruagem começou a se afastar, pensou que podia sentir ele
a observando. E então, pensou ter ouvido ele.
— Nicole — Sussurro-suave, urgente.
Não se atreveu a olhar pela janela, não se atreveu. Em vez
disso, bravamente, resolutamente, enxugou os olhos e virou-se para
encarar a escuridão.
Capítulo 12
Martha seguiu Nicole para cima e para o quarto dela. Ela não
estivera no piquenique, tendo outras obrigações, mas, é claro, ouvira
em detalhes precisos o que havia acontecido. — Você vai me dizer —
ela começou, então parou, olhando para Annie, a jovem criada, que
estava dobrando roupas de uma pilha enorme na cama de Nicole e as
arrumando em sua bagagem. — Onde você vai?
Nicole disse a Annie que ela poderia terminar mais tarde, se
quisesse, e se virou para sua melhor amiga. — Onde você pensa que
vou? Estou voltando para Dragmore.
— Mas você não pode sair de Londres agora!
— Por que não?
— Porque o duque aceitou você e em breve outros se
estenderão a você também. Sua vida está prestes a se virar, você não
pode sair.
Nicole mordeu o lábio, desviando o olhar, tinha que sair sabia
disso. Ontem tinha sido adeus. Foi final. Não havia outra escolha.
No entanto, Dragmore não parecia mais um santuário. Dragmore
não mais a atraía como antes, sua casa parecia terrivelmente
isolada. A tentação de permanecer era real e forte, e apenas um
ligeiro encorajamento seria necessário para mudar sua resolução
atual. Ainda assim ela devia sair. Eles tinham dito adeus. Permanecer
em Londres, onde o duque de Clayborough estava com sua
noiva seria nada menos do que abuso auto infligido. — Quase quebro
meu coração toda vez que estou com ele — ela disse suavemente.
— Oh, Nicole — Martha murmurou, segurando sua mão. — Se
você quer saber, eu acho que ele gosta de você e tenho certeza que é
por isso que comprou seu almoço. Mas é um homem de honra e
nunca vai deixar Elizabeth. Todo mundo sabe que ela está lutando
com algum tipo de fadiga misteriosa e que deixou o piquenique de
caridade porque havia se excedido em seus preparativos. Ele a levou
para o teatro na noite passada, mas não ficaram muito tempo.
Nicole atravessou a sala de costas para a amiga. — Eu sei,
Martha e é por isso que não posso ficar. Devo confessar a verdade
para você também. Eu tenho medo do que eu possa sentir por ele.
Eu... eu o cobiço, indevidamente, quando ele pertence a outra, é
vergonhoso — Nicole olhou para Martha, imaginando se sua amiga
poderia entender exatamente o que ela queria dizer.
E se Martha adivinhou o significado por trás de suas palavras,
ela não deixou transparecer, o assunto sendo íntimo demais para o
melhor dos amigos. — De certo modo você está certa, você deve
retornar a Dragmore, até que você possa superá-lo, mas agora o
momento é propício para a sua reentrada na sociedade, e
você vai esquecê-lo mais cedo ou mais tarde de qualquer maneira. Se
você ficar, você pode encontrar outra pessoa. Tenho certeza disso.
— Eu não quero outra pessoa.
— Por que ela deveria encontrar outra pessoa? — Regina
perguntou, em pé na porta. — E onde Nicole está indo?
— Você deveria bater — Marta repreendeu.
Regina sorriu docemente. — Por quê? Minha irmã tem algo a
esconder? — Ela fechou a porta e se virou animadamente. — O que
aconteceu ontem? Você deveria ter visto como o Duque de
Clayborough estava olhando para você.
As palavras de sua irmã rasgaram-na, fazendo-a tremer
esperançosa quando soube que era inútil. — Como ele estava olhando
para mim? — Ela não queria fazer a pergunta, mas não conseguia
mais segurá-lo do que morder sua própria língua.
— Como se você fosse a única mulher no mundo.
— Por favor, Regina — Nicole se sentou abruptamente. — Você
está enganada.
Regina veio se sentar ao lado dela, puxando um divã. — E você
gosta dele também, eu poderia dizer que era muito óbvio.
— Era óbvio? — Nicole chocou, ficando vermelha, totalmente
horrorizada.
— Óbvio para mim — assegurou Regina. — É verdade que você
o levou para casa na sua carruagem?
— Sim, é verdade. — Nicole não corou. E ela se lembrava de
cada detalhe do que seria seu último encontro e ela sempre faria.
— Elizabeth é boa o suficiente — Regina estava dizendo — mas
nada comparado a você. Estou rezando para que o Duque a largue
para ficar com você.
— Regina — Marta repreendeu bruscamente. — Não dê sonhos
tolos e impossíveis a sua irmã. Ele não fará tal coisa.
— Você se tornou uma velha peluda — Regina arremessou. —
Com amor, tudo é possível.
Nicole se levantou e deixou as duas garotas discutirem entre
si. Ela sabia que Martha estava certa e Regina estava errada, mas a
romântica em seu interior desejava que não fosse assim. Ela não
conseguia afastar sua imagem dourada de seus pensamentos, nem
sua despedida ontem. Ela estava certa, agora, de que ele realmente
chamara o nome dela e que isso não era fruto de sua imaginação. Por
que a chamara? Teria realmente olhado para ela como se fosse a
única mulher no mundo? Nicole esfregou as têmporas latejantes. Ela
não deve ouvir Regina, que não sabia nada sobre os homens e seus
caminhos.
Martha ganhou sua atenção. — Você não deve sair de Londres,
Nicole, eu estou te implorando. O duque nunca fica na cidade por
muito tempo e ele não se arrisca muito frequentemente entre os
participantes. É claro que seus caminhos se cruzarão algumas vezes,
mas não mais que o razoável. Se você sair agora, estará resignando-
se para sempre a uma vida de solteirona no país. Não faça isso.
Nicole olhou fixamente para Martha, pensando em como o
duque virara toda a sua vida de cabeça para baixo. Antes de
encontrá-lo no Adderlys, ela estava contente. Não havia nenhum
anseio tolo e doloroso em seu coração pelo que ela não podia ter. Ela
amava sua vida exatamente como era.
Não mais. Encontrá-lo apenas uma vez bastaria para nunca o
esquecer. Mas foi mais de uma vez e mais do que apenas uma
introdução. Como o sol, sua aura era dourada, poderosa e
resplandecente. Como o sol, era uma força vital inescapável. Ele havia
perturbado o padrão e a harmonia de sua vida irrevogavelmente. Pois
mesmo quando não estava presente, como o sol, ainda estava lá,
sempre estaria lá.
Ela não podia mais se imaginar em Dragmore, sua vida na
propriedade de repente parecia insuportavelmente solitária. Nunca se
sentira solitária antes, mas agora o sentimento a consumia e ela
odiava isso.
— Eu não sei. Eu devo pensar.
Regina também a incentivou a ficar, mas Nicole tentou não ouvir
sua irmã mais nova, que continuava insinuando a possibilidade de o
amor florescer entre ela e o duque. Quão ingênua e jovem parecia
sua irmã, acreditar em sonhos tão adolescentes. Além disso, Nicole
tinha que enfrentar outra coisa, algo que ela não podia mais
negar. Não conseguia desgostar de Elizabeth, não importava o quanto
tentasse, não a conhecia bem, mas não precisava. Era uma das
pessoas mais amáveis que Nicole já conhecera. Mesmo que Regina
estivesse certa, mesmo que o duque deixasse Elizabeth e a
escolhesse, Nicole nunca poderia viver consigo mesma por infligir tal
ferimento à outra jovem. Não havia um resultado feliz possível para
essa situação miserável, exceto, é claro, esquecer o duque de
Clayborough.
Como se alguém pudesse escapar do sol.

O duque entrou no foyer de sua casa em Londres, o cabelo


despenteado, o rosto vermelho da mordida viva do vento. Estava
voltando de um longo passeio matinal pelo parque e depois ao longo
do Tâmisa, cavalgara como se perseguido por demônios, duro, rápido
e imprudente, numa tentativa de escapar de seus pensamentos. Tinha
sido bem-sucedido, pois tinha tomado toda a sua atenção para
controlar a montaria que havia escolhido, um bruto particularmente
cruel e perigoso de um garanhão.
Não havia tomado o café da manhã e um brunch de salmão
defumado e peixe branco estava esperando por ele quando entrou na
sala de jantar. Não ficou surpreso ao ver a duquesa viúva ali, pois vira
sua carruagem do lado de fora. Normalmente, a presença de sua
mãe seria bem-vinda, mas não hoje, pois não tinha a menor dúvida
de por que ela viera. Seu mau humor inabalável aumentou.
— Bom dia, mãe — ele disse, beijando sua bochecha e
sentando-se.
Isobel devolveu sua saudação, servindo-lhe chá preto, que ele
bebeu. — Nós levantamos mil quinhentos e vinte e oito libras ontem
— disse ela, em tom de conversação. Mas o olhar dela não era.
Hadrian se recostou na cadeira. — Isso inclui as quinhentas
libras que eu contribuí?
Os olhos de Isobel se fixaram nele nitidamente. — Sim.
— Por favor, eu sei que você está morrendo de vontade de me
rasgar. Sinta-se livre.
— Eu não sei se quero rasgar você ou não — disse Isobel,
olhando para seu único filho. — Fiquei horrorizada ao vê-la tão
envergonhada e seu resgate me emocionou. Por outro lado...
Ele levantou uma sobrancelha.
— Hadrian, por favor, me diga que não há nada acontecendo
entre vocês dois.
— Você não acha — disse ele com firmeza — que esse tópico de
discussão é mais inapropriado entre mãe e filho?
— Como seu pai está morto, eu tenho pouca escolha.
— Há sempre uma escolha, mãe.
— Hadrian?
— Eu procurei proteger Nicole Shelton de novos abusos. Vamos
deixar por isso mesmo.
Isobel ficou preocupada com as mãos no colo. — Elizabeth ama
você, Hadrian.
Ele estremeceu. — E eu gosto muito dela, sempre fui
apaixonado por ela. Eu estava no seu batismo, brinquei com ela no
meu joelho. Assim que podia andar, começou a me seguir por toda
parte. Eu não vou renegar nosso compromisso Mãe.
Isobel sabia que agora podia acreditar nele completamente, que
queria dizer o que ele disse. Suas palavras não puderam aliviar sua
ansiedade. Pois ela sabia muito bem como as questões do coração
tendiam a seguir seu próprio curso, sem levar em conta as
consequências. E estava tão terrivelmente amedrontada que podia ver
isso acontecendo entre seu filho e Nicole Shelton.
Ela não era de julgar, Deus sabia, tendo sucumbido uma vez a
essa paixão ilícita, mas tinha sido diferente com ela. Francis fora um
marido cruel e infiel. As palavras de Hadrian a empurraram de seus
pensamentos. — Estou preocupado com Elizabeth — ele estava
dizendo. — Estou convencido de que você está certa e de que ela está
doente. Ela ainda está perdendo peso e se cansa mais facilmente do
que quando cheguei a Londres. Eu chamei um médico para atendê-la.
— Estou feliz — disse Isobel. — Ela sabe?
O duque olhou para ela severamente. — Não só ela sabe, desta
vez ela não protestou.
Mãe e filho se entreolharam, absorvendo a implicação disso. Até
aquele dia, Elizabeth insistia em dizer que estava bem, mas aceitar
um médico equivalia a admitir que algo estava errado.
De repente Isobel pensou em Nicole Shelton, tão diferente de
Elizabeth quanto a noite do dia. Oh, ela podia entender a atração de
Hadrian por ela, pois ela era forte e inteligente, vibrante e saudável, o
tipo de mulher que seria uma companheira para uma vida tão
poderosa e dinâmica quanto seu filho. Se não fosse por Elizabeth,
apesar do escândalo, ela teria aprovado de bom grado tal partida. De
repente, ela rezou para que não tivesse cometido um erro terrível e se
arrependeu do convite que havia mandado naquela manhã.

O conde e a condessa de Dragmore retornaram a Londres no


final do dia seguinte. Nicole ainda não saíra dividida entre voltar para
Dragmore, que agora temia e ficar em Londres, onde não podia
esperar mais que um vislumbre do duque de tempos em
tempos. Depois do jantar, Jane convidou Nicole para um bate-papo.
Nicole frequentemente passava tempo com a mãe, mas não à
noite e não nos quartos. Era óbvio que havia algo que sua mãe queria
discutir com ela. Ela se sentou em uma poltrona vermelha cereja em
frente ao fogo, olhando Jane com expectativa.
Jane serviu-lhes xerez e sentou-se perto dela em um pequeno
sofá listrado. — Querida, eu ouvi dizer que você está fazendo as
malas.
Nicole aceitou a bebida. — Eu decidi voltar a Dragmore, mas
agora não tenho certeza. — Ergueu o olhar para o de sua mãe,
querendo confiar tudo a ela, mas sabendo que não podia.
— Por causa do duque de Clayborough? — Jane perguntou
suavemente.
Nicole conteve um suspiro, seu olhar assustado voando para a
expressão gentil de sua mãe.
— Eu também ouvi sobre o acontecimento — disse Jane,
estendendo a mão para apertar sua mão.
— Oh, mãe. — Um caroço se formou na garganta de Nicole. Ela
rapidamente desviou o olhar, estudando as mãos entrelaçadas.
— Você pode confiar em mim, querida.
— Eu não posso.
— Nada do que você disser pode me chocar e além disso, tenho
certeza de que já sei o que você está sentindo.
Nicole se atreveu a olhar para a mãe. É claro que Jane ficaria
chocada se soubesse o que se passara entre a filha e o duque. Nicole
não tinha intenção de contar a ela, mas o resto de seu fardo era
grande demais. — Você provavelmente se sentiu assim por causa do
pai — Nicole disse trêmula. Ela ficou atordoada quando pronunciou as
palavras, chocada com o que revelaram não para a mãe, mas para si
mesma.
Jane estava igualmente ferida, sem ter certeza até agora de
quão fortes eram as emoções de sua filha para o duque de
Clayborough. — Eu fugi de seu pai — disse ela, assustando Nicole e
fazendo com que ela derramasse um pouco de seu xerez. — Ele
concordou em se casar comigo, mas eu tinha certeza de que ele tinha
feito isso só porque ele havia me comprometido. — Ela não contava à
filha a verdade, que, de fato, seduzira o conde, subindo em sua cama
quando ele estava bastante bêbado. — Eu o amava tanto que não
suportaria ser sua esposa, a menos que ele também me amasse.
— Eu acho que posso entender.
— Você o ama? Porque foi isso que senti por seu pai desde o
momento em que pus os olhos nele.
Nicole virou o rosto, olhando para o fogo. Durante muito tempo,
não falou, com medo de responder, com medo da
resposta. Finalmente, ela disse — Ele não me ama. Ele ama Elizabeth,
que é gentil e boa. E eu gosto dela, embora no começo eu a odiasse.
Ele simplesmente... me deseja.
Jane fez uma careta. — Amor entre duas pessoas é um presente
raro e precioso, acredito que se realmente amasse Elizabeth, não iria
querer você. Mas isso é irrelevante. O Duque é um homem de palavra
e nunca quebrará seu noivado. Fico feliz que você veja a situação tão
claramente, que você entenda isso. Você é jovem e forte e sei que
pode esquecê-lo.
Nicole se virou para a mãe, com os olhos cheios de lágrimas que
ela se recusou a derramar. — Eu nunca vou esquecê-lo,
mãe, nunca. Mas isso não importa em nada.
Jane levantou-se e abraçou a filha, consolando-a como tantas
vezes quando era mais nova. Quando Nicole estava calma, ela sentou-
se novamente. — Como eu gostaria de poder ajudá-la nisso.
— Eu estou bem.
— Tudo vai dar certo para a melhor, Nicole. Confie em mim.
Depois do que ele fez no sábado no piquenique, todo mundo agora
sabe que o duque aceitou você e outros entre o grupo também devem
fazê-lo. Eu sei que agora você está sofrendo, mas sair de Londres
seria um grande erro.
— Isso é o que Martha disse.
— Eu quero que você fique — disse Jane, segurando as mãos.
— Esta é a sua chance de recuperar a aceitação na sociedade e de
encontrar alguém que vai amá-la tanto quanto você o ama. Não
balance a cabeça! Você vai superar o Duque! Você pode ser uma
popular e muito procurada Senhora aqui, ou uma solteirona solitária
em Dragmore. Eu desisti e me machucou terrivelmente ver você
passar os melhores anos da sua vida sozinha, assim como o seu pai.
Nós dois estamos implorando para você ficar Nicole e aproveite o que
o Duque fez.
Seus pais raramente lhe pediam qualquer coisa e Nicole não
podia recusá-los. Na verdade, ela não queria recusar. A parte dela que
se recusou a esquecer o duque não queria sair de Londres por causa
de sua presença aqui, não queria voltar para Dragmore, onde, se
fosse honesta consigo mesma, simplesmente aceitaria.
— Você realmente acha que eu poderia ganhar aceitação e me
tornar popular? — Ela tentou imaginar o tipo de futuro que sua mãe
queria para ela, um futuro em que ela mantinha a corte entre os
solteiros até que um deles, seu príncipe encantado, a reivindicasse,
mas ela falhou. Se ela pudesse esquecê-lo e ter uma vida que nunca
desejara antes, se pudesse ser feliz de novo, com tal vida, então ela
deveria esperar por tal advento, mas não pensou por um minuto que
isso era possível.
— Estou certa — disse Jane.
— Eu vou ficar.
Um sorriso de satisfação cruzou o rosto de Jane. Então ela
hesitou. — Se você estiver disposta, devo lhe contar sobre um convite
que aceitei para nós. É para um fim de semana de caça.
— Adoro caçar — disse Nicole, momentaneamente iluminando-se
ao pensar em um fim de semana como aquele.
— A duquesa viúva de Clayborough é anfitriã.
— Mãe, eu não posso. — No entanto, mesmo quando ela disse
as palavras, a mente de Nicole correu com as possibilidades: ela
poderia caçar, o duque estaria lá e Elizabeth certamente não poderia
caçar.
— Eu não conheço bem a duquesa viúva, mas tenho falado com
ela de tempos em tempos ao longo dos anos e a admiro muito. Acho
que ela sente o mesmo por mim. Sempre ficamos fabulosamente
bem. Apenas trinta famílias foram convidadas para essa festa, trinta
das famílias mais poderosas do reino, só haverá um ou dois rapazes
elegíveis lá, Nicole, mas há muitos solteiros entre essas famílias,
quero que eles vejam você. A Duquesa viúva especificamente incluir
você em seu convite é um grande ato de generosidade. Como o
duque fez no sábado, ela está estendendo sua proteção para você
também. E Nicole, isso é apenas o começo.
Doeria ir e ver o duque ali com Elizabeth, mas seu coração
disparou ao pensar em vê-lo novamente. Ao mesmo tempo, ela
entendia exatamente o que significava ter sido convidada pela
duquesa viúva de Clayborough para sua casa naquele fim de
semana, foi um convite que não pôde ser recusado. — Por que ela fez
isso? — Nicole perguntou, aturdida.
— Talvez porque, como o filho dela, ela seja uma mulher
decente que não suporta a injustiça — disse Jane simplesmente. — Eu
sei que esta é uma posição embaraçosa para você e enquanto eu
quero que você vá, se você ainda é muito suscetível, vou respeitar
sua decisão e diremos que você está doente.
— Se ela me convidou diretamente, então eu vou — declarou
Nicole. E ela disse a si mesma que iria começar uma nova vida, que
logo lhe renderia muitos novos pretendentes e grande popularidade,
mas seu coração riu de volta e lhe disse que era mentira.
Capítulo 13
Não foi até a tarde de segunda-feira após o piquenique de
caridade que Elizabeth estava se sentindo melhor. Embora o duque a
levasse ao teatro na noite do piquenique, eles tiveram que deixar a
apresentação mais cedo para que Elizabeth pudesse descansar. Ela
permaneceu na cama por dois dias. Embora ela não tivesse febre, ela
parecia estar em crescente dor e sem vontade de se levantar. O
médico que o duque convocara não tinha certeza do que poderia estar
afligindo-a, dizendo finalmente ao duque que ela poderia possuir um
coração fraco e nesse caso teria que descansar com a frequência que
precisasse e para sempre evitar se esforçar.
— Mas então por que ela agora diz que o corpo dela a machuca?
— O duque exigira, irritado com a incapacidade do médico de lhe
dizer exatamente o que estava errado e exatamente como curá-lo.
— Isso eu não sei, mas talvez seja um toque de gripe também.
Você disse que esta é a primeira vez que ela está em algum
desconforto, não é mesmo? — Perguntou o médico.
— Está correto — respondeu o duque. O médico disse-lhe para
dar um pouco de láudano pelo desconforto.
Na segunda-feira à tarde, Elizabeth estava sentada, sorrindo e
se sentindo muito melhor. Terça-feira ela saiu com sua empregada
para fazer algumas compras e parecia que o médico estava certo, ela
tinha uma gripe e seu coração estava fraco, o que explicava por que
ela se cansou tão facilmente. O duque ficou aliviado.
A condição de piora de Elizabeth não apenas o desanimou como
também começou a assustá-lo. O duque era um homem acostumado
a estar no controle. Ele era um homem com uma vontade de ferro e
uma rígida autodisciplina. Se as questões de negócios fossem erradas,
ele trabalhava incessantemente para corrigi-las, durante o tempo
necessário, fazendo o que tinha que ser feito com a maior paciência e
perseverança. Fazia muitos anos que ele administrara o império ducal
e estava acostumado a uma quantidade extraordinária de poder.
Nesse caso, porém, ele ficou subitamente impotente. A condição de
sua noiva estava além de seu controle, mas felizmente ela se tornara
melhor tão misteriosamente quanto piorara.
Parecia de repente que toda a sua vida estava se inclinando de
uma maneira precária e desordenada. A rotina normal a que estava
acostumado, uma predominantemente dedicada ao trabalho duro, não
existia mais. E não foi apenas a doença de Elizabeth, que parecia
desafiar a explicação. Havia também a questão de Nicole Shelton e
seu incansável interesse por ela. Isso, também, desafiava a explicação
e exercitava o controle onde ela estava inserida parecia ser uma
batalha perdida. O duque não era um homem que perdera muitas
batalhas.
Embora o duque tivesse muitas questões urgentes para ocupar
seu tempo em Londres, ele fez questão durante esse curto intervalo
de visitar a casa de Stafford duas vezes por dia para verificar o
progresso de Elizabeth. Teria sido imprudente e rude da parte dele
não o fazer. Mas o que era mais rude ainda eram seus próprios
pensamentos quando olhava para a noiva.
Seus pensamentos vieram espontaneamente e não
desejados. Eles consistiam em uma comparação indecorosa. Elizabeth
não estava bem, tão pequena e tão frágil. A imagem de Nicole
Shelton se formou em sua mente. Ela não estava doente, pequena
nem frágil, mas precisamente o contrário. Ela era vibrantemente
saudável e vitalmente viva. Em uma visita em particular, durante a
qual Elizabeth adormecera enquanto ele se sentava ao lado dela,
ocorreu-lhe que não sentia o menor desejo por ela e que ele nunca
teve. Na verdade, ele nunca a beijou, exceto uma vez em seu décimo
oitavo aniversário e só porque sabia que ela esperava. E foi um beijo
casto.
Ele fez mais do que beijar Nicole Shelton. Ele a tocara
intimamente, com a boca, as mãos e o próprio corpo.
Elizabeth ia se tornar sua esposa e ele sabia que ela seria uma
pessoa exemplar. Ele não tinha certeza de como iria se apresentar
com ela na cama, na verdade, ele nunca pensara nisso até agora, um
momento altamente inadequado para especular sobre tal
acontecimento, mas assumiu que, quando chegasse o momento, ele
conseguiria.
Enquanto ele estava lá olhando para ela enquanto ela dormia na
espreguiçadeira em sua sala de estar, seu rosto jovem e inocente,
uma dúvida surgiu. Pela primeira vez em sua vida, ele questionou ter
sido prometido a sua prima enquanto ela era uma criança e ele uma
criança. E foi por causa de Nicole Shelton.
Sua intromissão na sua vida e em sua mente tornaram-se
perigosas.
Se ele era um homem obcecado e parecia que ele era, sua
obsessão se tornara pior.
Lamentou ter ido ao piquenique outro dia, lamentando que ele a
tivesse resgatado. Ele desejou como o inferno poderia ter sido algum
outro homem. No mesmo fôlego, ele sabia que estava mentindo para
si mesmo.
Chocado com onde seus pensamentos estavam prestes a vagar,
o duque os interrompeu. A vida era concreta circunstância gerava
circunstância e realidade a realidade. Fantasiar sobre o que poderia
ser era para os fracos, os tolos e os românticos, não para alguém
como ele.
Ele estava feliz por ela ter saído de Londres, disse a si mesmo,
feliz e aliviado. Sua presença parecia precipitar paixões que não era
capaz de controlar e ele tinha controle total sobre si mesmo desde
que era uma criança muito pequena, ele se orgulhava de sua
autodisciplina. Agora não seria colocado em mais nenhum teste.
Na terça-feira à noite, Elizabeth estava bem o suficiente para se
juntar a ele em uma casa, no conde de Ravensford. Foi uma pequena
reunião íntima. O duque não pôde deixar de ficar um pouco
desanimado ao ver que dois dos convidados eram o conde de
Dragmore e sua esposa. Eram duas das últimas pessoas com quem
ele queria conversar, mas evitá-las seria o máximo da grosseria. Com
alguma determinação, ele os procurou antes do jantar.
Ele apresentou Elizabeth e conversou com o conde e a condessa
amigavelmente. Ao fazê-lo, ele estava ciente de que a condessa de
Dragmore estava estudando Elizabeth discretamente. Ele tinha um
desconfortável sentimento de que ela poderia saber mais do que o
apropriado sobre o relacionamento dele com a filha, mas ele nomeou
a sensação de tolice, ou talvez por que se sentisse culpado.
Quando a ceia acabou, Elizabeth estava pálida. Silenciosamente,
antes de os homens se dirigirem separadamente ao porto e charutos,
Hadrian a levou de lado. — Você está bem, Elizabeth?
Ela deu a ele seu sorriso atraente, o que a fez quase bonita. —
Você se preocupa demais, Hadrian, como um velho babaca de pelúcia.
Ele teve que sorrir. — Você quer ir para casa? Você parece
cansada.
Ela hesitou. — Eu não quero parecer rude e não quero
interromper uma noite tão agradável.
— Vou explicar tudo ao nosso hospedeiro — afirmou o
duque. Enquanto ele fazia isso, Elizabeth pediu licença para cuidar dos
assuntos no banheiro. O duque estava no corredor esperando por ela,
sozinho, exceto por um criado que segurava o manto forrado de pele
de Elizabeth. Ele ficou momentaneamente surpreso ao ver a condessa
de Dragmore entrar no corredor.
E ela estava indo diretamente para ele.
— Sua Graça — ela disse, deslizando na direção dele — Eu sei
que isso é incomum, mas podemos ter uma palavra?
Era mais do que incomum, mas o duque assentiu. Ele se
perguntou o que ela queria e se perguntou ainda mais em sua
ousadia e desconsideração por convenções. Ela tinha apenas dez anos
ou mais que ele, ainda mais bonita. Os empregados gostavam de falar
e o que segurava a capa de Elizabeth, fingindo não os ver, logo
espalhava rumores sobre o duque de Clayborough e a condessa de
Dragmore. No entanto, se ela não se importasse com o que poderia
ser dito, ele também não. Ocorreu-lhe que o desrespeito de Nicole
pela convenção poderia ter vindo de sua mãe, que ele sabia, já fora
uma atriz de teatro. O duque dirigiu seu olhar ao mordomo. — Por
favor, deixe-nos um momento.
O homem desapareceu.
— Obrigada. — Jane sorriu suavemente. — Meu marido e eu
queremos agradecer pelo que você fez no outro dia no piquenique.
O duque estava sem expressão.
— Você não só salvou nossa filha de um terrível
constrangimento, você tornou possível para ela recuperar a aceitação
na sociedade. Nós não podemos agradecer o suficiente.
— Elizabeth gosta muito dela. Eu não poderia fazer menos. —
Mas, quando o duque disse as palavras, ele se perguntou como Nicole
Shelton retomaria a aceitação na sociedade se ela partisse de
Londres.
— Nicole gosta dela também. E estou feliz que ela esteja melhor.
— Não havia segredos em Londres.
— Obrigado. — A expressão de Hadrian não mudou, mas ele
estava certo de que Nicole Shelton não gostava de sua noiva. Ele
ficaria chocado se ela realmente fizesse.
Elizabeth apareceu e cumprimentou a condessa. — Eu não pude
deixar de ouvir — acrescentou ela. — Eu admiro sua filha
terrivelmente, lady Shelton. Por favor, envie-lhe meus cumprimentos e
diga a ela que eu vou chamá-la assim que puder.
— Eu vou. — Jane sorriu.
O duque não pôde evitar franzir a testa. Nicole havia saído de
Londres, não foi? — Você está voltando para casa, condessa? — ele
perguntou educadamente.
— Não imediatamente. Nicholas retornará a Dragmore em
poucos dias. Mas devo ficar. Afinal, é raro eu ter minhas duas filhas
na cidade, então devo aproveitar a situação e é claro, acompanha-las
adequadamente.
— Eu entendo — disse o duque. Ela não havia saído da cidade
depois de tudo.
Deveria estar com raiva. Há poucos dias, sua presença em
Londres o enfurecera. Mas onde estava sua raiva agora? Isso lhe
escapou.
Perguntou-se se ela havia deliberadamente mentido para ele,
mas instintivamente sabia que não tinha mentido. Evitou pensar no
dia do piquenique, mas agora não podia fazer nada além de
lembrar. Alguma coisa tinha surgido entre eles, algo que tinha medo
de inspecionar muito de perto, algo que era mais do que apenas
paixão. E foi por causa disso que disse que sairia de Londres
imediatamente. Foi por causa daquilo que ficou aliviado por ela estar
indo. No entanto, não tinha ido.
Elizabeth notou sua mudança de humor instantaneamente e
comentou na imponente carruagem de Clayborough quando a levou
para casa. — Você está chateado, Hadrian? Eu fiz alguma coisa para
te desagradar? Você queria ficar no Langleys?
Ele achou difícil se concentrar em sua noiva quando sua mente
estava girando. — Claro que você não me desagradou.
— Estou feliz — disse Elizabeth com um sorriso. — Assim que
me sentir melhor, convocarei Lady Shelton.
Ficou em silêncio os sentimentos que se precipitavam sobre ele
eram esmagadores e turbulentos, caóticos e sem nome, impossíveis
de escapar, não queria identificá-los e nem tentaria. Por um momento
teve a mais estranha sensação de ser jogado no oceano por uma
onda áspera, derrubando-o em todos os sentidos e tornando-se
brevemente impossível que seus pés encontrassem o chão. E então o
momento passou.
Seus sentidos se aguçaram e duas potentes imagens poderosas
surgiram em sua mente. Viu Nicole no baile de máscaras de Adderlys,
tão inadequada e ousadamente fantasiada como cigana. Ele a
resgatou na época, embora na época ele não tivesse insistido nisso ou
em seus motivos, mas qualquer tolo teria conhecimento das correntes
subjacentes que se avolumavam na multidão enquanto se preparavam
para trucidá-la por sua ousadia. Instantaneamente ele a aprovou para
que ninguém ousasse fazer o mesmo.
E a viu como ela estivera no piquenique de caridade, congelada
de humilhação e tentando esconder-se, tão orgulhosa.
Não queria que sua noiva chamasse Nicole Shelton. No entanto,
não podia tirar a chance que dera a Nicole para ser aceita por seus
colegas. — Isso é muito atencioso da sua parte, Elizabeth — ele disse.
Elizabeth sorriu feliz. O duque não o fez.

Os Sheltons chegaram a Maddington, a casa da duquesa viúva


de Clayborough, na tarde de sexta-feira. Maddington pertencera aos
Clayboroughs por mais de quinhentos anos e uma vez fora uma vasta
propriedade que havia sido a pedra angular das posses da família em
Derbyshire. Ao longo dos anos, a terra foi vendida e agora era uma
pequena propriedade de cerca de cem hectares de parque. A mansão
ainda continha a fortaleza original construída nos últimos tempos
normandos, mas tantas adições, de tantas maneiras diferentes,
haviam sido feitas no edifício original, que era preciso ser um
especialista em arquitetura para discernir quando cada parte da vasta
estrutura abobadada foi construída.
Ao chegar, Nicole e Regina foram levadas para o quarto que
dividiriam, assim como seus pais. A ceia era às oito, disseram-lhes e
perguntaram-lhes se gostariam de tomar banhos quentes e tomar
chá. Ambas as meninas responderam afirmativamente.
Enquanto Regina se jogava em uma das camas de dossel, Nicole
se dirigiu às janelas altas que davam para uma pequena sacada e
para a grama verde-esmeralda abaixo. Seu coração estava em sua
garganta e ela estava tremendo nervosamente. Perguntou-se, se o
duque já estaria lá.
No meio da semana, quando as fofocas afirmavam que Elizabeth
estava bastante doente e acamada, Nicole pensara que elas não
viriam e ficara desapontada. Sabia que era a altura da loucura querer
vê-lo, quando não podia ter a atenção dele e quando estaria com sua
noiva. No entanto, não conseguia controlar mais suas emoções do
que um cavalo enlouquecido e fugitivo.
Mas Elizabeth se recuperou. Nicole havia se tornado uma ávida
fã de fofoca, fingindo grande interesse em todos os acontecimentos
do círculo social, para grande parte das suspeitas de Martha e Regina,
enquanto na verdade só procurava informações sobre o duque. Ela
sabia que ele havia saído com Elizabeth duas vezes esta semana, não
havia razão para o casal não vir a Maddington neste fim de semana.
Ela suspirou, ciente de quão tola ela era, observando uma
carruagem puxada por seis cavalos brancos rolar pelo longo caminho
de cascalho e não se importando com quem era, porque não era sua
majestosa carruagem negra com o trio de leões em relevo gravado no
alto das portas.
— Que bela casa — Regina suspirou preguiçosamente. — Lady
Isobel é famosa por sua elegância.
Nicole assentiu, mal olhando para o quarto. As paredes estavam
cobertas com um tecido azul e branco, o sofá em damasco rosa, as
camas feitas em montanhas de renda branca com almofadas azuis e
brancas. Um enorme carpete oriental cor de cereja cobria a maior
parte do chão e como o quarto era grande o suficiente para acomodar
dois convidados em camas separadas com bastante conforto, não era
uma tarefa pequena.
— Ela também é conhecida por sua habilidade em assuntos de
negócios — observou Nicole. Antes de conhecer a duquesa viúva, ela
ouvira falar dela. Muito poucas mulheres administravam vários
empreendimentos e nenhuma delas era da nobreza. Nicole sabia que
era reputada por ser atraente, mas a sua reputação era mais de uma
mulher forte e esperta. E antes de Nicole a conhecer, esperava
alguém completamente diferente, alguém mais bonito e mais
masculino, não uma mulher de beleza feminina atemporal e bondade
extraordinária.
— Renomado? Notório é mais assim — Regina jogou. — Dizem
que ela recebeu o nome de uma infame ancestral dela, uma mulher
que teve vários maridos e era amante de um sultão turco e do rei.
Nicole sorriu, não acreditando em tal história. — Um sultão
turco? Que rei? — Ela perguntou secamente.
— Eu acho que foi um dos filhos do Conquistador — disse
Regina. — Foi há séculos atrás.
Outra carruagem estava rondando no caminho e Nicole
rapidamente se virou para a janela. Mas não foi ele.
— O que você fará, se ele vier com Elizabeth?
— É claro que ele vem com Elizabeth — disse Nicole
bruscamente.
— Talvez ele não vá — disse Regina, ignorando o tom de sua
irmã — Talvez ele esteja apaixonado por você...
— Regina, por favor, pare com isso! — Nicole chorou, torcendo
as mãos. Se sua irmã continuasse com suas fantasias bobas de
colegial, ela a deixaria louca e alimentaria as menores faíscas de
esperança que Nicole estava determinada a apagar. Nicole não queria
ter esperança. Seria muito doloroso.
— Mas ela não caça — disse Regina incisivamente. — Então por
que ela deveria vir?
Nicole controlou seu temperamento. — Você não está caçando
amanhã e nem a mãe. Nem o pai, para esse assunto! — O conde
tinha puxado um músculo em sua perna no início da semana e estava
sob instruções estritas de reclinar sempre que possível e caçar estava
fora de questão.
— Eu acho que você está certa — disse Regina, quando uma
batida na porta a interrompeu, sinalizando a chegada do chá.
Com gratidão, Nicole deixou o criado entrar. Ela continuou a
manter um olhar não tão discreto na calçada abaixo. Mas quando
chegaram ao andar de baixo, o duque de Clayborough ainda não
havia chegado. E como se viu, Regina estava certa. Elizabeth não
estava no jantar naquela noite. Mas também não estava o duque.
Capítulo 14
A caçada estava marcada para as nove daquela manhã. Antes
disso, todos os participantes participaram de um grande café da
manhã, onde os espíritos estavam em alta. Nicole estava tão animada
quanto os outros convidados. Na noite anterior, ela ficara
decepcionada pelo duque de Clayborough não estar presente e por
não estar em Maddington. Não dormiu bem, mas agora todos os
vestígios de fadiga e desapontamento desapareceram enquanto o
pulso acelerava em antecipação à próxima caçada.
A maioria daqueles que caçavam naquele dia eram homens, mas
várias senhoras estavam presentes, incluindo a duquesa viúva. Ela
tinha a reputação de ser uma excelente amazona. Todos os anos ela
tinha vários fabulosos fins de semana de caça e os convites para
esses eventos eram altamente cobiçados e difíceis de obter.
Os convidados da Duquesa viúva sempre foram o crème de la
crème da sociedade inglesa e este fim de semana não foi exceção. Os
que aguardavam ansiosamente o chamado para subir eram vários
duques, meia dúzia de marqueses, muitos condes e o príncipe de
Gales. Havia alguns estrangeiros presentes também, incluindo vários
membros reais da Casa de Habsburgo e dois nobres ex-patriarcas
russos. A única coisa que todos tinham em comum nessas reuniões,
além de poder e sangue azul, era o amor por cavalos.
No final da refeição do café da manhã, Isobel tocou um pequeno
sino de prata para chamar a atenção de todos. — Devemos? — Ela
perguntou sorrindo, os olhos brilhando.
Um grito empolgante cumprimentou as palavras de Isobel
enquanto todos se punham de pé, incluindo Nicole. Ela virou-se para
a porta com um sorriso animado, sua mente não mais no duque. Mas
então congelou.
Ele estava lá, vestido para a caça de calções curtos, botas pretas
de cano alto reluzentes, uma jaqueta de caça escarlate e uma
cartola. Seu olhar estava fixo nela.
Nicole ficara sabendo ontem à noite que, embora ele e Elizabeth
tivessem sido convidados para o fim de semana, eles não
viriam. Elizabeth estava novamente doente e confinada à sua
cama. Uma empregada disse-lhe que a especulação correu
desenfreada sobre o que, exatamente, estava errado com a jovem e
os vários médicos que a atendiam não conseguiam chegar a um
acordo sobre que doença a afligia. Ver o duque agora era um choque
distinto, mas não desagradável. Já apertada, Nicole começou a
tremer.
Ele desviou o olhar do dela e caminhou casualmente até a mãe,
beijando-a no rosto e oferecendo-lhe um bom dia preguiçoso. Foi
prontamente cercado por muitos dos convidados, todos o saudando
com entusiasmo e oferecendo-lhe sinceros sentimentos pela saúde de
sua noiva.
Nicole o deixou respondendo educadamente aos convidados de
sua mãe e acompanhou aqueles que já estavam reunidos no pátio do
lado de fora. Logo o resto do grupo se juntou a ela quando os
cavalariços começaram a tirar suas montarias. Todos tinham trazido
seus próprios caçadores, incluindo Nicole. Embora quisesse trazer seu
garanhão, isso teria sido temerário, pois ele era demais para lidar com
a cavalgada, o que a propriedade ditava que ela deveria fazer. Havia
trazido um grande castrado preto e agora foi até ele e acariciou seu
pescoço. Ele bufou e balançou a cabeça, sentindo sua excitação,
movendo-se inquietamente em torno dela. Mas não era o caçador de
dezesseis mãos no que estava pensando, era o duque de
Clayborough.
Ele estava aqui, ele veio depois de tudo. Sem Elizabeth.
Imediatamente abraçou o pescoço do cavalo, de costas para a
pequena multidão. O que ela estava pensando? Não importava que
tivesse vindo sozinho. Mesmo que Elizabeth não tivesse chegado, as
poucas palavras que eles poderiam compartilhar, os poucos
momentos, eram apenas isso, alguns momentos e não poderiam ser
mais. Nunca.
Ela teve que parar seus pensamentos errantes. Não apenas
porque não tinham esperança, mas porque a caça era um esporte
perigoso e precisava de toda a sua concentração para participar
dela. Era mais fácil se concentrar na caça do que em seu coração.
Mas quando parecia que poderia fazê-lo com sucesso, ele parou
atrás dela. Não precisou se virar para vê-lo, para saber quem era,
nem precisou falar para se identificar, apenas sabia.
— Bom dia, lady Shelton. — A saudação foi oferecida
educadamente, mas Nicole achou que ouvira mais.
Lembrando-se de ser casual, lembrando-se de que ninguém
além de si mesma poderia saber com que rapidez seu coração batia,
se virou para encará-lo. Seus olhares se encontraram
instantaneamente. Foi um momento de extrema intimidade, embora o
pátio fosse um hospício, cheio de duas dúzias de cavalos inquietos,
seus cavaleiros excitados e todos os cavalariços. Ele não conseguia
tirar o olhar do dela e Nicole sentiu toda a força de seu poder, pois
parecia estar tentando alcançar as profundezas de seu coração e
alma. Naquele instante, sabia que algo havia mudado entre eles. Não
ousou considerar o que poderia ser. — Vai ser bom o esporte hoje, o
clima é perfeito — disse ela tão levemente, tanto quanto poderia.
— Não obstante — disse ele, movendo-se para o lado negro e
verificando a circunferência — temos um grande grupo. Caçar com
tantos cavaleiros convida a acidentes. Fique longe nas costas.
Os olhos de Nicole se arregalaram em protesto surpreso, pois
nunca andava pelas costas, embora fosse para lá que as mulheres
deviam cavalgar e não tinha intenção de fazê-lo agora. Então ocorreu
que ele poderia estar preocupado com a segurança dela. Tinha uma
lembrança de como a resgatara no piquenique de caridade. Foi
possível? Realmente se importava com ela só um pouco? Se viu
olhando para ele, que também a olhou.
Muito abruptamente ele estendeu as mãos, segurando o joelho
dela. Nicole permitiu que a ajudasse a montar, passando a perna pela
lateral e tomando as rédeas. — Obrigada.
— Boa caçada — ele disse secamente, virando-se.
— Boa caçada — Nicole ecoou de costas. Ela o observou
enquanto se afastava para sua própria montaria, um grande garanhão
negro com uma chama ousada e duas meias. Nicole exalou, seus
sentidos se descontrolaram. Seu caçador começou a dançar
impaciente, sentindo seu humor e Nicole teve que se concentrar em
acalmá-lo.
Cinco minutos depois estavam desligados. Os cães haviam
pegado o cheiro da raposa e estavam zurrando loucamente, correndo
pela primeira campina. Nicole se permitiu ser empurrada para as
costas com as outras mulheres quando elas começaram. Agora,
enquanto a manada de cavalos e cavaleiros cambaleava pelo prado
ondulado, seguindo os cães de caça, ela não podia deixar de estar
sintonizada onde o duque estava, cavalgando à sua frente.
O grupo começou a se espalhar quando se aproximaram da
primeira cerca, um muro baixo de
pedra. Whoosh! Whoosh! Whoosh! Uma dúzia de cavalos limpou-a,
depois mais uma dúzia, algumas quase em conjunto. O grupo estava
se alongando enquanto cada piloto encontrava seu próprio ritmo, as
garotas recuando. Nicole avançou, à frente das damas, passou pela
duquesa viúva cujo primeiro olhar de surpresa mudou para um
sorriso.
Os vários cavalheiros de quem ela veio depois não eram tão
caridosos. Eles estavam mais do que assustados enquanto ela
galopava por eles, eles ficaram chocados. Apenas um nobre russo
sorriu para sua ousadia.
Um pequeno riacho estava à frente. Seu caçador sobrevoou
graciosamente, sem interromper o passo e Nicole riu com prazer,
apanhada agora na emoção do louco passeio. Ela passou por outro
cavaleiro, reconhecendo o pai de Elizabeth, o marquês de Stafford.
Ele também parecia bastante atordoado com o seu cavaleiro corajoso,
mas Nicole não se importava. Seu caçador estava em um galope
controlado e Nicole o levava constantemente para o meio da matilha.
Um grande galinheiro bloqueou a trilha. À frente de Nicole, duas baias
tombaram, uma após a outra, o primeiro cavalo agarrando as patas
traseiras no trilho superior e tropeçando do outro lado. O outro
cavaleiro estava tão perto do primeiro que Nicole decidiu que poderia
haver um acidente e insistiu para que a montaria se movesse um
pouco, já colecionando-o. Eles subiram sobre o galinheiro em um
ângulo e ela ficou feliz ao ver que os dois cavaleiros conseguiram não
cair. Um segundo depois ela passou por eles também.
Duas milhas depois, Nicole estava por trás do duque e do
caçador, que estavam agora na frente. Uma parede de pedra de
quatro pés se aproximava e teve tempo de ver o Duque prosseguir
sem esforço e admirá-lo ao fazê-lo. Seu caçador, ansioso para se
mover para frente, estava correndo duro agora. Nicole lutou para
checá-lo, a parede se aproximava e eles se precipitaram sobre
ela. Eles pousaram suavemente e ela o deixou correr.
Ele se esticou a galope, Nicole se inclinando para frente, sem
atrapalhar seu precário equilíbrio. O nariz de seu caçador tocou o
flanco do garanhão do duque. Ele virou a cabeça, a viu e ficou
absolutamente atordoado.
Nicole riu exultante quando ela se aproximou dele.
— Volte! — ele gritou enquanto galopavam lado a lado, seus
dois enormes caçadores rasgando o chão, seus poderosos cascos
trovejando alto e quase abafando suas palavras. — Droga, vá para
trás.
— Cuidado — gritou Nicole, ainda rindo. Eram três passos de
outro obstáculo de quatro pés, este feito de troncos partidos. O duque
não teve escolha senão voltar sua concentração para sua própria
montaria. Ambos os cavaleiros pegaram seus cavalos
simultaneamente e em perfeita harmonia, eles subiram, pousando
lado a lado e caminhando em passos largos.
Momentos depois ele se virou para ela novamente. — Eu quero
dizer isso, sua idiota — ele gritou furioso. — Você vai se matar! Vá
para trás agora.
— Eu sempre ando na frente — ela gritou de volta
desafiadoramente. Mas Nicole estava aproveitando cada momento do
passeio selvagem e sua raiva. Sob suas coxas, o cavalo era quente e
poderoso, uma tonelada de cavalos que ela controlava apenas com
sua habilidade e seu corpo. E ao lado dela, montado em seu garanhão
poderoso e trovejante, o duque exercia um efeito tão potente sobre
seus sentidos, bonito, masculino, viril e agora enfurecido.
— Vá mais devagar — ele ordenou, gritando acima dos cães e
dos batimentos dos cascos. — Ahead é uma entrada e saída
traiçoeira.
Nicole apenas deu um sorriso, deixando seu caçador sair ainda
mais rápido. Atrás dela agora, o duque amaldiçoou.
A entrada e a saída eram traiçoeiras, com apenas um passo
entre as duas cercas, mas Nicole estava se exibindo e amando-a. Ela
levou as duas cercas um pouco de forma imprudente, mas sem falhas
também. Momentos depois, o duque se aproximou dela novamente.
Um olhar para o rosto dele mostrou-lhe o quanto ele estava zangado,
mas estoicamente aceitou que não podia fazê-la diminuir a velocidade
sem interferir perigosamente com ela. Eles galoparam juntos, os dois
caçadores bem combinados, correndo em conjunto. Eles não falaram
novamente. O som do sopro pesado dos animais e o estrondo de seus
cascos tornaram isso quase impossível. Nicole ficou impressionada
com a sensação da carne quente e úmida debaixo de suas pernas,
com a sensação física de ser um com o animal poderoso, acelerado
pela velocidade com que estavam viajando e pela proximidade do
duque.
Uma hora depois, a caçada havia terminado e todos os
cavalheiros se reuniram, incluindo as últimas damas. Nicole se
permitiu cair na parte de trás do grupo quando eles voltaram para a
mansão, segurando seu cavalo para um passeio apertado, ignorando
os protestos do animal. Ela entendeu a fera, pois ela se sentia da
mesma maneira. Embora cansada da longa e difícil viagem, ela estava
animada demais para querer parar e se tivesse continuado,
continuaria ansiosa também.
O duque, claro, cavalgava longe na frente. Ele a deixou no
momento em que terminou, de boca fechada, olhos ardentes,
aparentemente muito zangado até mesmo para falar com ela. Não era
seu lugar castigá-la, mas tinha a sensação de que ele iria. Nicole
ainda estava animada demais para ficar apreensiva, nunca tinha
gostado mais de uma caçada!
Estava tão envolvida no crepúsculo que, a princípio, não se deu
conta de que as outras damas a olhavam com frieza, com exceção da
duquesa viúva, que cavalgava um pouco à frente das damas e não se
dava conta de seus olhares. Quando Nicole percebeu que ela era o
objeto de sua desaprovação, queria rir em seus rostos. Porque não
podiam montar como ela, porque não tiveram a coragem de montar
como ela fez, elas a condenaram por desfrutar o esporte do jeito que
um homem faria. Nada poderia amortecer a alegria que estava
sentindo, não hoje. Ela desacelerou ainda mais seu caçador, não
querendo a companhia delas e permitindo que se adiantassem a ela.
Um momento depois, ela percebeu que o porte de sua montaria
estava desligado.
Franzindo a testa, ela o deteve e desmontou, acariciando seu
pescoço molhado e amarrado. Uma inspeção de seu casco frontal
esquerdo mostrou a ela que uma pequena pedra estava presa
ali. Preocupada, Nicole a soltou, com medo de ter estado ali durante a
caça, o que poderia significar uma lesão grave e até incapacitante em
sua montaria. Para seu alívio, uma inspeção provou que a almofada
era apenas tenra; ele só havia pegado a pedra recentemente e logo
deveria ser tão bom quanto novo.
— Você foi soberbo, querido — ela sussurrou, acariciando seu
focinho macio. — Tão soberbo. — A imagem do duque encheu sua
mente.
Ela se virou e com um suspiro, viu que todos os cavaleiros
haviam desaparecido em uma esquina da trilha. Não importa, ela
andaria o resto do caminho. Tomando suas rédeas, o levou ao longo
do caminho.
O duque de Clayborough estava febril de raiva. Seu garanhão
sentiu, deslizando e sacudindo a cabeça sem parar. Nicole Shelton
podia ser a melhor amazona que ele já viu, mas era uma tola
imprudente. Agora não queria nada mais do que colocar as mãos nela
e sacudi-la até que ela admitisse como estava errada.
Ninguém tentou falar com ele porque eles sentiram seu humor e
Hadrian cavalgou sozinho para o lado do grupo. Suas risadas e
conversas encheram a manhã calma, ecoando na floresta. O duque
não ouviu nada do que diziam enquanto animavam a recontagem e
reviviam a caça. Ele estava muito zangado.
E o menor de tudo era que ela o desafiara, embora isso também
fosse incrível. Ele a mandara para os fundos, rira dele e cavalgara
para frente. Naquele momento, ele não conseguia pensar em uma
única pessoa, homem ou mulher, que tivesse desobedecido a um
comando expresso dele.
Teve sorte de não ter tido um acidente sério do jeito que estava
andando, teve sorte de não ter causado um acidente sério. Já tinha
visto muitos acidentes terríveis resultantes da condução descuidada
neste esporte, muito menos imprudente equitação. Pessoas
quebraram o pescoço e foram mortas e ele viu um jovem rapaz
paralisado. Um dia ela se tornaria a infeliz vítima do esporte também,
se continuasse a caçar assim. Por Deus, teria sido ruim o suficiente se
ela estivesse cavalgando, mas estava andando de lado! Foi loucura!
Respirou fundo para acalmar seus próprios nervos. Seu pulso
ainda estava acelerado, a adrenalina ainda correndo através dele. Não
conseguia afastar sua imagem de sua mente como havia estado
durante as últimas duas horas. Quase 1,80 de mulher soberba
andando como um morcego fora do inferno, alegria escrita em todo o
rosto.
Ainda podia ouvir sua risada, selvagem e imprudente, ainda
podia senti-la a seu lado enquanto cavalgavam como demônios
possuídos nos caçadores esforçados. Uma onda de calor varreu seu
corpo e ele realmente tremeu.
Cavalgou como um selvagem. Ela tinha sido, ele tinha que
admitir, magnífica. Seria, sem dúvida, igualmente magnífica na
cama. Na cama dele. De repente, naquele instante, a queria tanto que
estava pronto para arrastá-la para a floresta e fazer o que ele queria,
ali mesmo.
Respirou fundo mais um pouco para aliviar o estado mais
agonizante em que já estivera. Depois, sem se sentir aliviado, virou-se
para procurar um vislumbre dela. Para seu choque, ela não estava à
vista.
Abruptamente, ele girou seu garanhão ao redor e montou até as
senhoras andando na última linha ao longo da trilha. — Onde está
Lady Shelton?
Parecendo surpresos, todos se viraram para olhar para trás. —
Eu não sei, Vossa Graça — disse a condessa Arondale. — Ela estava
atrás de nós um momento atrás.
Hadrian fez uma careta e partiu para encontrá-la, imaginando o
que poderia ter acontecido agora. Cinco minutos depois, ele a
encontrou a um quilômetro e meio da trilha, onde ainda estava
arborizado e sombrio. Ela estava andando em sua montaria, sem
pressa alguma. Foi direto para ela que o viu e o ar esquentou e chiou
entre eles.
— O que aconteceu? — ele disse bruscamente.
— Ele pisou em uma pedra.
O duque desceu abruptamente do seu negro cavalo, tentando se
concentrar no assunto em questão. Ele entregou as rédeas a Nicole
sem uma palavra, mas seus dedos roçaram. Ele
amaldiçoou silenciosamente, ajoelhando-se ao lado do grande cavalo
preto e pegando o casco. — Não é tão ruim, mas ele deve ser levado
de volta. — Finalmente, seu olhar se ergueu para encontrar o dela.
Ela ficou muito quieta. Suas bochechas estavam coradas pelo
vento e o sol, seus olhos eram prateados e brilhantes.
— Eu vou voltar com você — disse ele, entregando-lhe as rédeas
e pegando as de seu garanhão.
— Você não precisa — ela disse, sem se mexer.
Ele não respondeu estava muito consciente dela, avançou com
passos largos e decididos, como se quisesse ultrapassá-la. Ele a ouviu
seguindo.
Eles caminharam em absoluto silêncio, apenas a brisa nas
árvores fazendo qualquer barulho. No entanto, Hadrian sabia não só
que ela estava atrás dele, mas que estava a poucos metros de
distância e à direita dele, podia sentir sua presença e algo mais, algo
que era muito experiente para não reconhecer, a pesada tensão
sexual que a fascinava tanto quanto o fascinava.
Por que queria tanto essa mulher? Seria porque foi proibida para
ele? Seria porque era tão diferente? Seria porque, por um lado, era
tão orgulhosa e forte, por outro lado, tão vulnerável? Ele queria uma
resposta, mas sabia que não encontraria uma.
Ele estava suando queria rasgar o casaco, mas estava sofrendo
de excitação e não queria expor isso. Para não expor a sua própria
falta de controle, fechou os olhos brevemente, dizendo a si mesmo
que se ele não tivesse controle, não era nada mais que uma
besta. Não mais que Francis. Conseguiu combater a tentação que ela
ofereceu nas últimas semanas, não devia se render agora. Enquanto
lutava consigo mesmo, escutou atentamente os passos dela, a
respiração suave e superficial. E finalmente foi Nicole quem quebrou o
silêncio.
— Por que você voltou aqui?
Ele parou abruptamente, mas não se virou. Seu caçador tocou o
chão sem descanso. — Ocorreu-me que, após a sua apresentação
mais cedo hoje, você poderia ter feito outra coisa tão imprudente.
Nicole também parou a par com ele. — Mas por que você
voltou?
Ele a encarou. — Tola, eu pensei que você poderia estar com
algum problema.
Ela sorriu.
Ele fez uma careta.
— Você voltou para me resgatar.
O duque não negou isso. — Aparentemente é um novo hábito
meu.
— Eu não me importo.
— Você se importou no outro dia.
Ela olhou nos olhos dele. — Não, eu não me importei. Isso foi
uma farsa.
Eles se encararam. O momento estava cheio de muitas
possibilidades. Era íntimo demais. O duque despedaçou-a
intencionalmente. — Você montou como um maníaco hoje. Diga-me,
você é sempre tão imprudente? Eu começo a temer que você é.
Abriu a jaqueta e o peito exuberante levantou-se. Ele lembrou
que ela não usava espartilhos. — Eu não sou. Eu sou uma excelente
amazona e não tinha chances reais de perigo.
— Não há chances reais? Você aproveitou todas as chances! Um
dia você vai se matar.
Sua voz, quando veio, era suave como um sussurro. — Você se
importa?
Ele não foi capaz de responder, ele se recusou a responder, se
recusou a inspecionar seus próprios sentimentos. — Há um córrego
fora da trilha — disse ele, quebrando o silêncio que havia caído entre
eles. — Você deve estar com sede. Vamos regar os cavalos e tomar
uma bebida.
O riacho ficava a poucos minutos da trilha. Ambos os cavalos
estavam agora suficientemente frios para beber e abaixavam a cabeça
para a água. O duque permaneceu distante, imóvel. Nicole caiu de
joelhos e começou a colocar água em suas mãos, bebendo com sede.
Ele a observou. Mais uma vez ele ficou impressionado com a
forma como ela era tudo que as senhoras que conhecia não eram. Ela
bebeu com abandono, derramando tanta água em sua camisa como
ela conseguiu absorver. Então espirrou seu rosto, levantando-o
brevemente para a luz do sol que entrava pelas árvores. Ele era tão
incapaz de tirar os olhos dela como era incapaz de parar de querê-
la. De repente, consciente de sua consideração, ela se acalmou e
olhou para cima.
Havia consciência em seu olhar. Consciência e
antecipação. Sabia que ela não o recusaria, não hoje, não
agora. Hadrian se encontrou caminhando em direção a ela. Seu
coração estava martelando, um rugido surdo em seus ouvidos que
impedia qualquer protesto que pudesse fazer mentalmente para si
mesmo. Lentamente ela se levantou.
Suas mãos se fecharam sobre seus braços. — Diga-me não.
Ela balançou a cabeça negando o pedido dele. — Sim.
Ele cobriu a boca com a dele, toda a sua resistência desmoronou
naquele momento preciso. Não havia jogos, agora, sem pretextos,
não para qualquer um deles e Nicole imediatamente jogou os braços
ao redor de seu pescoço, agarrando-se. Hadrian abraçou-a como se
ela fosse algo selvagem e precioso que havia capturado e que a
qualquer momento ele poderia perder.
Suas línguas acasalavam-se em feroz abandono, um prelúdio de
como eles também logo se acasalariam.
Eles se ajoelharam no banco molhado e argiloso. Ele não podia
reivindicar o suficiente dela. Suas mãos se moveram sobre sua
jaqueta, abrindo-a. Seus gritos suaves encorajaram-no. Ele a
empurrou de costas, mergulhando em sua camisa e na camisa que
usava abaixo, tocou seu seio nu.
Ele deixou sua carne encher sua palma e transbordar. Ele era
um amante calmo e controlado, mas agora queria gemer como um
animal e queria expressar seu profundo prazer. Estava acariciando-a
incessantemente, ciente do sentimento de necessidade explosiva e
júbilo inebriante se levantando nele.
Nicole engasgou de prazer quando ele passou as mãos sobre sua
carne, sobre os mamilos duros e tensos. Quando ele empurrou as
roupas dela para o lado e baixou o rosto para os seios dela, outro
gemido escapou dela.
Ele tinha que pelo menos chamar o nome dela, ele tinha que
fazer. — Nicole
Ela agarrou seu cabelo comprido, em sua cabeça. — Hadrian —
Foi um suspiro.
Ele não fez uma pausa, provocando sua carne distendida e
ansiosa com a boca e a língua. — Diga-me para parar.
— Não. Não pare, Hadrian, nunca pare.
Ele fechou a boca em uma ponta rosa e ao mesmo tempo
fechou sua mente para o conhecimento do que estava fazendo. Nicole
se arqueou no chão. Ele sentiu o quão precipitadamente ela pairou
perto de seu clímax e seu corpo ficou selvagem em resposta. Não
sendo o tipo de amante que livremente murmurava carinhos e
promessas, ele fez suas promessas com seu corpo.
Promessas que, num momento mais sadio, seriam impossíveis
de manter.
Nicole começou a devolver suas carícias agressivamente. Suas
mãos estavam em sua pele, debaixo de sua camisa. Suas próprias
mãos deslizavam sob as saias, ao longo das coxas cobertas de
algodão. Ela gritou seu nome quando ele a tocou. Nunca seu nome
soou tão maravilhoso antes.
Determinação para vê-la cumprida em seus braços varreu-o. Ele
faria tudo ao seu alcance também para conseguir isso. Suor frisou sua
testa. — Morra por mim, Nicole — ele ordenou, tocando-a, beijando-a.
Logo ele foi recompensado. Ela gritou, arqueando em abandono
em seus braços. Ele sentiu seus espasmos, fortes e rítmicos e intensos
contra a palma da mão. E quando ela se aquietou ele sentiu uma
intensa satisfação que ele nunca tinha experimentado antes.
Ela colocou os braços em volta do pescoço dele. — Oh — foi
tudo o que ela disse.
Aquela palavra transmitiu tudo. Foi seu primeiro orgasmo. Ela
não foi experiente. Ela era indubitavelmente uma virgem. Ela era
certamente lady Shelton. O olhar do duque varreu-a, do rosto corado
até as coxas abertas, onde as saias eram jogadas para o alto na
cintura. Ele estava prestes a pegar as calças, para se libertar, mas sua
mão estava congelada. Agora não era o momento de sua consciência
se intrometer, lembrando-se de quem ela era e quem ele era. Mas era
tarde demais. Ele fechou os olhos, lutando contra si
mesmo. Pensando muito claramente. Ele deu a ela seu primeiro
clímax e se isso continuasse, ele seria seu primeiro amante. Foi muito
errado.
Sem um som, ele se afastou dela, jogando-se de costas na
grama molhada e lamacenta.
Capítulo 15
Nicole se sentou. Ela foi abalada até o âmago de seu
ser. Embora ela fosse certamente mais experiente do que a maioria
das jovens no que diz respeito ao tema do sexo, ela nunca havia
considerado a possibilidade de que pudesse ser uma experiência
devastadora. Ainda sem fôlego, ela olhou para o duque de
Clayborough.
Deitou-se de costas na grama enlameada, tão duro e imóvel
quanto uma tábua, exceto pelo fato de estar ofegante. Nicole
lembrou-se de como abruptamente ele se afastara dela e
compreendeu que, embora tivesse experimentado tudo o que o ato de
amor poderia oferecer, ele não o fizera.
Tremeu, seu olhar varrendo sobre ele, era o homem mais
magnífico e viril que ela já havia visto e vê-lo em tal estado de desejo
bruto alimentou sua própria fome, uma fome que ela achava
aliviada. Algo mais a varreu também, algo doce e dolorido e
terrivelmente terno. — Hadrian? — ela sussurrou, amor subindo e
inundando-a em uma maré rápida e absoluta. Ela tocou sua
bochecha.
Ele se afastou dela e ficou de pé em um movimento ágil. — Não
me toque.
Ela recuou, chocada com a raiva em seu tom e com sua rejeição.
— E não olhe para mim como se eu tivesse acabado de te chutar
nas costelas.
Nicole ficou rígida. — Eu sinto muito.
Ele a ignorou, caminhando para o riacho. Ela não pôde deixar de
notar que ele ainda estava excitado. Ele entrou no meio do riacho e
mergulhou abaixo da superfície da água.
Nicole gritou. A água estava assustadoramente fria, estava
louco! — Hadrian — ela engasgou quando ele subiu a sua altura
total, tremendo. — Você vai acabar morrendo.
— Você será minha morte.
Ela o olhou incerta. — Você quer dizer... a morte que você uma
vez se referiu... o que aconteceu hoje?
— Não! Essa não é a morte que eu quero dizer.
— Por que você está tão bravo? O que eu fiz?
— Tudo — ele rosnou, seu olhar varrendo sobre ela.
Isso não explicou nada a Nicole e ela o viu se afundar
novamente no córrego gelado. Lentamente, ela ficou de pé, com um
medo terrível de não conseguirem recuperar o calor e a intimidade
que acabavam de compartilhar, pois as léguas do abismo já pareciam
estar se abrindo entre eles, devia fazer algo para neutralizar sua raiva
inexplicável devia fazê-lo rapidamente. Ela pegou o paletó e quando
ficou de pé novamente, a água caindo em cascata por seu corpo
magro e rígido, ela disse — Venha aqui.
O olhar que lhe deu foi rude, mas ele saiu do riacho, tremendo
de novo. Nicole colocou o paletó nos ombros dele, esfregando-o como
se fosse uma toalha que ela segurava. Ele pegou o casaco dela e se
afastou do seu toque. — Você está tentando me seduzir? — ele
perdeu a cabeça.
Ela estava? — Isso seria tão terrível?
— Você é a única mulher que eu conheço que jamais admitiria
tal coisa. Isso não está certo.
— Quando estamos juntos — ela disse, muito suavemente —
nada está mais certo.
Ele olhou para ela. Seu olhar era inescrutável.
Embora seus modos fossem ousados, por dentro ela tremia,
porque muita coisa estava em jogo. Ela se aproximou dele, tocando-
o. Desta vez não se afastou. — Por que você se afastou de mim
agora? Eu não sou uma tola completa. Eu sei que há mais. Você não
me quer?
Por um longo momento ele não falou e Nicole ficou com medo
de sua resposta. — Eu gostaria de não querer você — ele finalmente
disse com firmeza.
Ele não parecia feliz com o assunto. Apreensão a encheu. Ela o
tocou novamente, pegando a mão dele. — Eu quero você, Hadrian. Eu
ainda quero você.
Ele não se afastou dela, ficando completamente imóvel. — Você
é impiedosa. Você não pode ver que eu estou tentando ser nobre?
— Agora eu não dou a mínima para nobreza — ela murmurou,
apertando a mão dele.
Ele arrancou a palma da mão dela. — Isso é intolerável, não
pode continuar. Assumo total responsabilidade pelo que passou. As
virgens são para se casar, não para isso.
Ela foi incapaz de impedir que a esperança pulasse em seu peito.
Sabia que ela era virgem, estava insinuando que deveria se casar com
ela? Seus sentimentos pareciam tão intensos quanto os dela, com
certeza havia mais envolvimento do que apenas desejo. Será que ele
iria acabar com a noiva agora que percebeu como se
sentia? Ofereceria o casamento a ela? — Eu não posso continuar
assim também. Eu não suporto ficar longe de você.
— Se você ainda pensa em me seduzir, você está fazendo um
trabalho admirável.
Nicole deu um passo atrás. Suas palavras tiveram o efeito de
uma chicotada, fisicamente machucando-a. — É isso que você pensa?
Eu pensei... eu esperava... — Ela parou, percebendo, de certa forma,
que ele estava certo.
Ele se afastou dela, Nicole o observou. Ele andava inquieto em
um círculo apertado, indo e voltando, para frente e para trás. Certo de
que não concordaria com o que estava sugerindo, Nicole disse,
hesitante — Posso voltar para Dragmore e nunca mais poderemos
olhar um para o outro. Essa é uma solução.
Ele se virou para ela. — Essa é a solução ideal.
Nicole ofegou.
— Eu tinha pensado, também, que era o que você estava
planejando fazer, a última vez que nos falamos.
Ele queria que ela saísse de Londres para que não pudesse vê-
la. Não podia ser possível, não depois da intimidade que acabavam de
compartilhar. Certamente ela estava entendendo mal o significado
dele.
— Por que você não foi embora? — Ele demandou.
A inteligência de Nicole foi embaralhada e ele teve que repetir a
pergunta. — Eu... eu estava indo. Meus pais me pediram para ficar.
— Horrorizada, ela sentiu o calor das lágrimas subindo em seus olhos.
— Eles esperam que eu volte a entrar na sociedade e seja um grande
sucesso.
Sua mandíbula quadrada se apertou. — E é isso que você
deseja? Você agora procura um marido?
Ela olhou-o, um deus dourado, exceto que ele era carne e
sangue e mortal. Queria se casar com ele no momento em que o viu
pela primeira vez. — Sim — ela sussurrou.
— Então eu desejo a você toda a sorte.
Ele não iria propor casamento a ela, desejou a sua sorte em
encontrar um marido, alguém além de si mesmo. Nicole cambaleou
como se tivesse sido atingida. O duque moveu-se para pegá-la, mas
ela deu de ombros e rapidamente se virou para que ele não visse o
quanto ela estava arrasada. Como ele poderia se importar tão pouco,
quando parecia que ele se importava tanto? Ele não tinha vontade de
dizer nada depois de tudo?
— Eu não sou nada para você, não mais do que uma diversão
passageira.
— Deixei claro desde o início que você não poderia ter nenhuma
expectativa de mim. —
Nicole girou. — Desgraçado! — ela cuspiu. Foi a primeira vez
que ela usou uma palavra tão suja e ficou feliz ao ver que o havia
chocado brevemente. — É por isso que você veio me procurar hoje?
Para levantar minhas saias na floresta?
— Você sabe que isso não é verdade.
— Eu sei? — Sua voz subiu, ela sabia que parecia
histérica. Ela estava histérica. — Eu sei apenas o que aconteceu aqui
hoje! Você me diz que eu não deveria esperar nada de você, mas
você se comporta de uma maneira que me leva a esperar tudo.
— Eu me considero uma besta. — Ele não tirou os olhos
dela. — Afinal, sou filho de meu pai.
Nicole se virou, tremendo de dor e raiva. — Deus, eu te odeio.
— Então isso faz dois de nós — ele disse tão suavemente que
tinha certeza de que ela não o tinha ouvido corretamente.
— Estou saindo daqui — disse Nicole, caminhando em direção a
sua montaria.
Sua mão saiu e ele pegou o braço dela. Com raiva, Nicole
libertou-se dele, desafiando-o com sua furiosa consideração para
tocá-la de novo.
— Você não pode voltar para a casa assim, disse ele. — Você
parece como se tivesse sido jogada no chão.
— Mas eu fui, não fui? — ela disse ironicamente.
— Não é bem assim — ele disse.
— Oh sim, porém eu poderia esquecer sua nobreza. — Ela
começou a montar, zangada e chateada demais para pensar no pé
dolorido de seu caçador. O duque a pegou novamente e desta vez a
arrastou para longe do cavalo.
— O que você está fazendo? — Ela gritou com todas as suas
emoções explodindo.
Ele a levantou em seus braços. — Não é o que você está
pensando — ele disse friamente.
Com um grito selvagem, Nicole se contorceu e tentou bater os
punhos no rosto dele. Ele se abaixou, mas precisava de ambas as
mãos para carregá-la, para não se defender e um golpe de seu queixo
surgiu — É a terceira vez que você bateu no meu rosto — disse ele
sombriamente.
— Mas não a última — respondeu Nicole furiosa.
Mas pouco antes de suas unhas poderem arranhar sua pele, ele
a soltou e ela mergulhou na água gelada do riacho. Ela ofegou,
afundando como chumbo abaixo da superfície, conseguindo fechar a
boca antes de engolir muita água. Antes que ela pudesse reagir,
sentiu-o puxá-la acima da superfície por seu colarinho. Ela engasgou e
saiu cuspindo enquanto ele a arrastava para o banco. Ela caiu de
joelhos e ele começou a bater com força nas costas dela. Ela cuspiu a
água que havia engolido.
Ela virou o olhar para ele. Foi assassino. — Agora eu vou matar
você.
Seus braços estavam cruzados e ele a considerou sem nenhuma
emoção. — Você se afastou do grupo e decidiu regar seu cavalo. Eu
vim atrás de você. Sua montaria recuou, você caiu. Eu vim atrás de
você.
Sua única resposta foi um som inarticulado de raiva impotente.
No caminho de volta, eles foram encontrados na trilha por dois
criados que haviam sido enviados para procurá-los. O duque contou-
lhes prontamente o que havia acontecido, ou melhor, a história que
ele inventara. Desde que ele e Nicole estavam molhados, eles
pegaram as montarias novas dos meninos e deixaram um dos criados
para trás para andar com o caçador ferido de Nicole.
Quando chegaram à casa, vários convidados ainda estavam no
pátio, discutindo as aventuras da manhã. Eles foram recebidos com
alívio e preocupação. Mais uma vez o duque relatou a história que
inventara e ninguém duvidou de uma palavra dela. Não, claro, até
entrarem na casa.
Isobel pairava ansiosa na sala de visitas que ficava ao lado do
vestíbulo e no momento em que o duque e Nicole entraram ela correu
para eles. Seu olhar foi de Nicole para seu filho. — O que aconteceu?
— A montaria de Nicole recuou e ela caiu em um riacho. Eu
havia voltado procurando por ela e fui atrás dela — disse o duque
com naturalidade.
— Mas estou bem — disse Nicole, conseguindo um sorriso
brilhante para o benefício da duquesa viúva. Ela não recebeu nenhum
sorriso em troca. Isobel observou-a especulativamente e Nicole teve
certeza de que duvidava de todas as palavras que seu filho dissera. A
vergonha inundou-a, acrescentando motivação ao impulso irresistível
de fugir dela, não apenas da Duquesa viúva com seus olhos
sabedores, mas de seu filho.
— É melhor você subir e sair dessas roupas molhadas — Isobel
finalmente disse.
Nicole assentiu com a cabeça, feliz de sair, quando a mãe gritou
atrás dela. Seu coração afundou quando viu Jane e seu pai descendo
a larga e sinuosa escadaria. — Querida, você está bem? — Jane
chorou, correndo para ela com o marido em seus calcanhares.
— Eu estou bem — ela assegurou, tentando esconder sua
inquietação. Uma coisa era dizer a todos que ela havia caído da
montaria, outra bem diferente era impingir tal história aos pais
dela. Com cuidado para não olhar para o pai, ela contou a Jane como
ela havia caído da montaria e como o duque a resgatara.
— Você caiu do seu cavalo? — Jane disse incrédula. Seu pai
olhou para ela.
— Eu pensei que estava sozinha — Nicole mentiu com
desenvoltura. — E eu estava naquela péssima mira que você sabe
que eu nunca uso. Hadrian se assustou não só com o meu cavalo,
mas comigo! Era apenas uma daquelas coisas. — Ela lançou um olhar
para o pai. Ela viu de sua expressão severa que sabia muito bem que
estava mentindo através de seus dentes.
— Você deve sair de suas roupas — Jane disse com firmeza,
parando apenas para mostrar ao duque um sorriso caloroso. —
Obrigado, sua graça.
O duque assentiu.
Foi então que Nicole percebeu que ela acabara de se referir a ele
por seu nome e não como o duque ou — Sua graça — Seu coração
parou e lançou um olhar para a duquesa viúva, que estava olhando
desaprovadora para ela. Outra espiada, desta vez em seu pai,
mostrou que estava usando quase a expressão idêntica. Nenhum
deles tinha perdido o terrível deslize da língua e a cor vermelha
inundou suas bochechas. Não se atreveu a olhar para o duque, mas
não precisou fazê-lo. Ela podia sentir sua fúria silenciosa.
Apenas a mãe dela estava inconsciente e naquele momento,
Jane conduziu Nicole para as escadas.
Um silêncio desceu sobre o grupo deixado sozinho no
vestíbulo. O duque encontrou o olhar de Nicholas Shelton, frio e
zangado. Ele se encolheu interiormente. Mesmo antes do deslize
desastroso de Nicole, o outro homem sabia que ele e Nicole não
estavam inocentemente sozinhos durante todo esse tempo. O duque
sentiu isso no momento em que apareceu e agora as suspeitas de
Shelton estavam confirmadas.
Quando Nicholas Shelton falou, seu tom era tão gelado quanto
seu olhar cinza pálido. — Talvez a Sua Graça se importasse em se
juntar a mim na biblioteca? Eu gostaria muito de aprender tudo sobre
a queda de Nicole de seu cavalo.
O duque quase estremeceu. Ele não tinha dúvida de que, se não
convencesse Shelton de que sua filha não havia sido arruinada, um
confronto desastroso ocorreria. — Nicole está bem — ele disse
educadamente. — Se eu não tivesse tomado a situação firmemente
em mãos, ela não teria tido tanta sorte. Mas posso assegurar-lhe que
não foi prejudicada e que não é de forma alguma pior pelo que
aconteceu a ela.
A expressão do conde de Dragmore não mudou. — Eu entendo
— disse ele, com a mandíbula apertada. — Espero que não haja outro
incidente desta natureza. — Seu olhar se fixou no do duque. — As
consequências seriam mais do que desagradável, eu asseguro.
— Claro que não — Hadrian disse rigidamente. O conde estava
bem dentro de seus direitos, mas o duque não gostava de ser
ameaçado, independentemente de quão justificável fosse a ameaça.
Shelton assentiu e virou-se abruptamente, mancando
ligeiramente do músculo puxado em sua perna. O duque observou-o
sair, finalmente se permitindo sentir todo o peso de sua própria raiva
e praticamente tudo isso foi dirigido a si mesmo. O fato de que ele
quase arruinou Nicole o consumiu, assim como ela interpretou mal
suas intenções.
— É melhor você começar a pensar em Elizabeth — disse Isobel
atrás dele.
Foi outro aviso e seu temperamento explodiu. — Eu estou
casando com Elizabeth em junho — ele retrucou — Eu não me
esqueci disso por um segundo. E então tudo ficará bem, não é?
Isobel olhou para ele com tristeza.
— Pois todos serão felizes, não serão? — Sua mandíbula se
apertou. — Ou devo dizer, quase todo mundo?
Ele se afastou, seus passos duros e bravos. Ele não pretendia
deixar que seu temperamento assumisse assim, mas aconteceu e com
isso veio o conhecimento de seus sentimentos mais profundos e
secretos, que ele não queria confrontar. Mas era tarde demais. Todos
ficariam felizes quando ele se casasse com Elizabeth. Todos, exceto
ele mesmo.
Pois ele não estava mais ansioso para o seu casamento. De
repente, apareceu diante dele como nada mais que um ato final de
auto sacrifício.
Capítulo 16
Não foi até tarde naquela noite que Isobel foi finalmente
premiada com a paz e privacidade de seus próprios aposentos, seus
convidados finalmente se retiraram para suas camas. Sozinha
finalmente, ela estava livre para pensar e se preocupar.
Ela ficou na frente da enorme lareira de mármore em sua sala
de estar, olhando para as chamas dançantes. A alegria convivial que
havia marcado sua expressão antes e em seu lugar era uma grande
preocupação. Seus olhos azuis estavam ansiosos e ela preocupou-se
com a faixa cor-de-rosa de seu vestido de seda.
Isobel não era boba, nunca fora uma, embora uma vez, quando
jovem fosse ingênua e inocente. Francis havia mudado isso com
bastante rapidez, havia sido apresentada ao lado desagradável da
vida com um pouco de dificuldade e aprendera e se adaptara
rapidamente. Agora estava na casa dos cinquenta e não apenas uma
duquesa viúva, mas uma mulher educada, experiente e inteligente,
também uma mulher de negócios. Poucas mulheres tinham
experimentado tudo o que ela tinha e Isobel sabia melhor do que a
maioria de que a vida sempre tratava de curingas, especialmente
quando menos se esperava.
Hadrian havia se apaixonado por Nicole Shelton e era óbvio. Era
igualmente óbvio que a pobre jovem estava loucamente apaixonada
por seu filho. E eles fizeram um casal tão marcante, de maneiras que
não tinham nada a ver com a sua boa aparência individual. Isobel
estava triste.
Ela não era estranha ao amor ilícito, nem ao coração
partido. Sabia muito bem que a dor esmagadora do amor proibido
gerava. Embora a dor fosse morrer lenta e demorada, a tristeza pelo
que não poderia ser nunca morreria, pelo menos para ela não. Seu
coração doía agora por seu filho. Ela desejava desesperadamente que
Hadrian não estivesse apaixonado por Nicole Shelton, para poupá-lo
da dor que certamente seria seu destino.
E a pobre Elizabeth. Era um triângulo terrível, pois Isobel sabia o
quanto Elizabeth amava Hadrian. Hadrian nunca a abandonaria, Isobel
tinha certeza disso, ele era honrado demais. Assim como ela fora
honrosa demais para fugir de Francis. Tal mãe, tal filho. Foi
assustador.
Isobel afundou em uma cadeira, sentindo o desejo de derramar
lágrimas. Suas emoções eram cruas, como se ela estivesse em seus
vinte anos novamente, como se ela fosse aquela jovem mulher se
apaixonando pela primeira vez e torturada com seus próprios
sentimentos ilícitos por um homem que não era seu marido. A
imagem dele apareceu à sua frente como se fosse apenas ontem que
estiveram juntos; alto e poderoso, cabelos castanhos listrados de ouro
pelo sol, o rosto envelhecido e robusto, mas ainda assim muito
atraente. Seu coração se apertou dolorosamente. Ela percebeu que
estava errada, a dor nunca morreu.
Ela não desejava amor tão malfadado a ninguém e certamente
não ao filho ou a Elizabeth, nem à pobre Nicole Shelton, que não
merecia tudo o que sua vida lhe dera até então.
Isobel sabia muito bem como o amor não conhecia limites. O
amor não se submeteu à razão ou à lógica, desafiou todas as
tentativas de ser circunscrito. Hadrian era poderoso, nobre e honrado,
mas ele era apenas um homem. Nunca teria a intenção de arruinar
Nicole, mas depois de tê-los visto juntos, tendo sentido a tensão entre
eles, quanto tempo mais demoraria até que o inevitável
acontecesse? Hadrian sobreviveria a essa indiscrição com muito mais
facilidade do que Nicole e não era o lugar de Isobel se preocupar com
a outra mulher, mas sim. Não era justo, mas a vida raramente era
justa.
Ela fechou os olhos, pensando em Hadrian, mas não o homem
que era seu filho, ao contrário, seu homônimo. Não pela primeira vez
e não pela última vez, ela desejou desesperadamente que ousasse
contar ao filho a verdade. No entanto, ela, que nunca fora covarde
antes, era agora uma covarde. Estava com medo de testemunhar seu
choque, pior, com medo da repulsa que ele poderia sentir e estava
com medo de perder seu respeito e seu amor. Não, nunca poderia
contar a ele, nem mesmo quando ele tivesse todo o direito de saber,
e a verdade não tinha nada a ver com tentar ensinar seu filho, para
que ele aprendesse com os próprios erros do passado. Porque se
tivesse a oportunidade de voltar trinta anos, ela não mudaria nada.

O duque de Clayborough não conseguiu dormir.


Ele havia parado na residência de Stafford duas vezes naquele
dia, tinha voltado para Londres ontem, mas em ambas as vezes
Elizabeth estava dormindo e ele não havia falado com ela. Mesmo que
ele quisesse perturbá-la, não teria sido capaz, pois recebera uma dose
de láudano para a dor que repentina e constantemente a afligia.
Foram várias horas depois da meia-noite. Sozinho em seu quarto
de pé-direito alto com apenas o Borzoi como companhia, a imagem
exótica de Nicole o perseguia e com ele, a pálida e delicada
Elizabeth. Nenhuma pequena quantidade de culpa o atormentava e
não havia pouca confusão. Ele não podia mais escapar da verdade.
Nenhuma mulher jamais havia assombrado seus momentos
acordados - e dormindo - como Nicole fazia. Nenhuma mulher jamais
criara uma luxúria tão enorme dentro dele e pior, nenhuma mulher
jamais fizera com que ele se comportasse de maneira tão abominável
e desonrosa quanto ele com ela. Estava furioso consigo mesmo por se
permitir responder a ela daquela forma.
Deixando a cama, o duque colocou um robe de veludo sobre o
corpo nu. Andou até a lareira, onde o Borzoi bateu o rabo em uma
saudação feliz. O duque estendeu a mão para a cabeça grande do
animal. — Eu não sei mais quem eu sou — ele admitiu para o
cachorro.
Todas as reuniões que eles já tiveram se repetiram
instantaneamente em sua mente. Não foi a primeira vez, mas a
milésima vez. Foi uma tortura. Seu corpo foi torturado.
Ele era como o pai dele afinal de contas? Francis tinha sido tão
obcecado por seus jovens amantes que não pôde se conter a não ser
consorciar-se com eles e enganar sua mãe? Talvez Francis também
tivesse sido torturado por sua moral. Talvez pai e filho fossem mais
parecidos do que qualquer um sabia.
Se havia algum motivo para ficar longe dela, esse era seu
próprio medo de se tornar uma réplica de seu pai, um homem que
ainda podia odiar até hoje sem nenhum remorso. Claramente
abrigava dentro de si um lado sombrio, um que obviamente herdara
de Francis, que ele deveria, a todo custo, subjugar.
— Maldito — disse ele ao cachorro e ao fogo. Então ele fez uma
careta. — Não, não é culpa dela é minha.
Agora Nicole Shelton procurou reentrar na sociedade e ganhar
um marido. O duque sabia que não deveria estar zangado com ela por
interesses tão legítimos, mas estava. Teria ela esperado que ele fosse
um pretendente, apesar de Elizabeth? Que ele jogaria uma noiva só
para pegar outra? Ele acreditava que sim.
Seus pulsos aceleraram de forma perturbadora. O duque andava
mais rápido, o Borzoi observando-o com interesse esperançoso. O
fogo estava morrendo para um brilho suave. O duque ignorou o frio
que entrava no quarto. Ele estava determinado a não questionar suas
próprias reações. Absolutamente não.
O lema de Clayborough de — Honra Primeiro — não estava
apenas em relevo em seu brasão de armas, mas sim em seu
coração. Não importa como ele possa se sentir sobre o seu
casamento, não iria, não poderia quebrar o noivado. Mas e quanto a
Nicole?
Ele fechou os olhos. Ela queria um marido. Toda mulher que ele
conhecia queria um marido, ela estava bem dentro de seus
direitos. Ela esperava reentrar na sociedade com sucesso. Agora podia
fazer isso porque havia estendido seu patrocínio para ela. Ele poderia
estender ainda mais, poderia ser ainda mais do que honrado, poderia
ser caridoso, poderia encorajar perspectivas adequadas. Poderia até
achar um marido para ela.
Era a coisa certa a se fazer. De alguma forma, Hadrian sabia
disso em seu coração. No entanto, a ideia era terrivelmente
desagradável. E quanto mais consciente de quão bilioso ele achava
ser o papel dos casamentos, mais determinado ficava o duque para
ajudá-la, encontrando-a um marido adequado.
O duque agendara compromissos de negócios durante todo o dia
seguinte. Portanto, ele voltou para a residência de Stafford na manhã
seguinte, esperando que dessa vez ele pudesse visitar Elizabeth.
Acontece que ela estava acordada e ansiosa para vê-lo, segundo seu
pai, o marquês de Stafford. Hadrian só precisava olhar para o homem
para saber que ela não melhorara nos últimos dias. O marquês estava
com os olhos vermelhos, como se não estivesse dormindo bem e seu
rosto estivesse esticado. Nas poucas semanas desde que Elizabeth
ficou visivelmente doente, ele tinha envelhecido vinte anos. Hadrian
trocou algumas palavras educadas com o homem e foi mostrado o
andar de cima pelo mordomo.
Ele parou na entrada de sua sala de estar, fazendo sinal para o
mordomo sair. Elizabeth parecia estar dormindo. Ela reclinou-se em
uma chaise grande, coberta com um pesado cobertor angorá
violeta. Ela era terrivelmente pálida e frágil, diminuída pela chaise, o
que a fazia parecer ainda mais pequena e frágil. Seu coração se
apertou. Ela parecia muito, muito pior e pela primeira vez desde que
ela ficou tão obviamente doente, o medo por ela o tomou.
Sentindo sua presença, ou talvez o ouvindo, ela abriu os
olhos. O duque avançou rapidamente, administrando um sorriso
brilhante. Levou um momento para se concentrar, depois sorriu
também. — Hadrian — Com essa única palavra, seu nome, ela
expressou todos os seus sentimentos por ele e todo o seu prazer em
vê-lo.
— Olá, Elizabeth, eu não queria acordar você. — Ele sentou-se
em uma poltrona, puxando-a ao lado dela.
— Estou feliz que você tenha vindo.
Ele conseguiu não mostrar sua aflição. Sua voz era suave,
ofegante, quase inaudível. — Você está se sentindo melhor hoje?
Seus olhos se afastaram dos dele. — Um pouco.
Ele sabia que era mentira. E Elizabeth nunca mentiu. Seu medo
aumentou, congelando-o. Ele pegou a mão dela. — Devo lhe contar
sobre a caça?
Ela assentiu com a cabeça, o movimento ansioso e ligeiro.
Por alguns minutos, ele começou a regalá-la com uma descrição
da caça. Seus olhos quase brilharam quando ele descreveu as cercas
mais difíceis que ele havia tomado. Quando ele fez uma pausa, ela
sorriu. — Parece maravilhoso. Estou tão feliz por você ter ido,
Hadrian.
Segurando a mão dela, olhando em seus olhos de adoração,
ouvindo suas palavras altruístas, ele se amaldiçoou por todos os
pensamentos desleais que ele estava tendo e seu comportamento
desleal. Elizabeth não o merecia, merecia melhor, mas estavam
comprometidos lhe devia sua lealdade. Sua determinação em ver
Nicole se casar aumentou.
— Hadrian — disse Elizabeth, hesitante. — O que você fará se
se eu morrer?
Hadrian congelou. — Você não vai morrer — ele disse,
horrorizado. Estava expressando o terrível medo que tinha e era
covarde demais para encarar.
Um leve brilho de lágrimas apareceu em seus olhos. — Eu temo
que você esteja errado.
Ele engoliu, segurando a mão dela. — Você não deve nem
pensar assim — ele disse com firmeza, mas Deus, ela parecia estar
morrendo. Ninguém jamais olhou mais perto da porta da morte.
Ela piscou, virando a cabeça. — Eu não quero que você sofra —
disse ela instável. — Eu quero que você seja feliz, eu sempre quis que
você fosse feliz. Você é jovem e forte e já esperou por muito tempo
para continuar com sua vida.
— Elizabeth — ele protestou pálido.
Uma lágrima deslizou por sua bochecha. — Você acha que eu
não sei? Eu sei que você não é realmente feliz, Hadrian, eu sempre
soube disso, desde que eu era uma criança pequena.
Ele não podia falar.
Mais lágrimas caíram. — Eu queria muito ser a única a trazer
felicidade para a sua vida. Mas não vai ser.
Ele agarrou suas pequenas mãos.
— Você precisa de um filho. Você deveria se casar rapidamente
e ter um filho. — Agora ela estava chorando. — Eu queria ser sua
esposa, eu queria ser a única a lhe dar um filho, eu queria fazer você
feliz. Mas por alguma razão, Deus não vai deixar isso acontecer.
A angústia o inundou e ele a tomou em seus braços. Ela era tão
frágil e magra quanto uma criança desnutrida de dez anos. Segurou-a
gentilmente, a única vez que a abraçou desde que havia superado
suas botas, além da única vez que a beijara em seu décimo oitavo
aniversário. Como ela poderia falar assim?
— Eu não gosto desse tipo de conversa, Elizabeth — ele
conseguiu. — Você é jovem e certamente não está morrendo. Vamos
nos casar em junho e você me dará um filho. — Ele acariciou o cabelo
dela. — Você está errada, você me faz muito feliz.
Ela se inclinou para olhar para ele e viu que ainda estava
chorando, mas em silêncio agora. — Eu não quero morrer. Eu te amo
tanto. Tudo o que eu sempre quis foi ser sua esposa. Oh, Hadrian!
Não é justo.
Ficou chocado, ficou horrorizado. E tudo o que podia fazer era
abraçá-la e acalmá-la como se fosse uma criança. Agora podia
entender por que o pobre marquês tinha estado com os olhos
vermelhos. Não foi por falta de sono, mas por chorar.
— Você deve dormir — disse ele, assustado com sua crescente
palidez. — Eu voltarei mais tarde hoje à noite, mas se você estiver
dormindo, só olharei para você, não vou te acordar.
Seus olhos se fecharam, mas ela estava se agarrando a ele com
um aperto surpreendentemente forte. O duque retirou gentilmente a
mão da dela e ficou de pé, tremendo. Tinha exatamente um
pensamento: ele devia procurar um médico imediatamente. Ele se
virou para ir embora, então hesitou.
Ele voltou e se inclinou sobre ela, parecia estar dormindo. Tocou
sua testa, estava fria e seca. — Elizabeth — ele murmurou. — Você
significa muito para mim. — E ele roçou seus lábios lentamente com
os dele.
E desta vez, quando ele olhou para o outro lado da sala antes de
sair pela porta, viu que ela estava sorrindo.
Capítulo 17
Foi Regina a portadora de más notícias.
Nicole retornara à Tavistock Square no domingo à noite com os
pais e a irmã, emocionalmente exaustos desde o final de semana e
ansiosos para deixar Maddington. Ela não pusera os olhos em cima de
Hadrian desde a caçada às raposas, ou melhor, desde aquele
incidente desconfortável no foyer com a duquesa viúva e seus pais,
quando eles voltaram sujos e molhados do riacho. Ela não sabia o que
esperar depois que Jane a levara para o andar de cima. Não esperava
precisamente que Hadrian deixasse Maddington imediatamente, mas
ele o fez. Não muito tempo depois de ter trocado de roupa molhada,
ela ouvira uma comoção do lado de fora de sua janela no pátio. Com
súbita intuição, correu para a janela para vê-lo entrar na carruagem
Clayton, de laca preta. A dúzia de batedores de libré aguardava o
veículo, emparelhados em uma linha imóvel como soldados atrás dele.
Pouco antes de subir, o duque fez uma pausa e de repente olhou para
trás como se a estivesse observando. Mas não a viu e momentos
depois ele e sua magnífica comitiva se foram.
Desde que Nicole chegara a Londres, tentara muito não pensar
no duque e no último encontro, mas era impossível. Não estava mais
tão brava quanto estava humilhada. Suas ações falavam por si
mesmas, obviamente não a considerava uma dama. Toda vez que
eles se encontravam, ficava em seus braços ansiosamente. Suas
intenções não eram honradas desde o início, mas por que elas
deveriam ser? Se ela se atrevia a ser dolorosamente honesta consigo
mesma, admitiria que estava certo em sua avaliação dela. Uma dama
não ia a baile de máscaras desacompanhada e em trajes ciganos
escandalosos, uma dama não se envolvia com um noivo — no último
momento, uma dama não andava de calça. E certamente uma dama
não deixava ninguém, nem mesmo o marido a tocar do jeito que ela
deixara Hadrian tocá-la. Se fosse uma dama como Elizabeth, nunca
teria se comportado com ela de maneira tão escandalosa.
Nicole também estava envergonhada de que, durante a caçada,
esquecera completamente a existência de Elizabeth. Quando estava
com Hadrian e desejava poder parar de pensar nele de uma forma tão
íntima, quando estava com o duque, era fácil esquecer tudo. Nicole
desejou que Elizabeth fosse uma pessoa horrível e mesquinha, como
sua prima Stacy, pois então não teria remorso ou culpa pelo que
fizera com Hadrian. Mas ela não era como Stacy, ela era gentil e boa,
uma das poucas pessoas nesta cidade que tinha feito de tudo para
fazer Nicole se sentir aceita. Nicole não queria trair Elizabeth e
também sentia pena de não ser uma verdadeira dama.
E então Regina trouxe notícias que fizeram Nicole se sentir ainda
pior.
— O que aconteceu? — Nicole perguntou quando sua irmã
entrou correndo sem fôlego em seu quarto.
— É Elizabeth Martindale — Regina engasgou. — No fim de
semana passado, deu uma reviravolta para o pior, está tão doente
que nem consegue se levantar da cama e os médicos dizem que ela
está falhando.
Nicole olhou, a cor esvaindo-se do rosto dela. — Falhando?
Regina acenou com a cabeça, olhos enormes, sua pele
fantasmagórica branca.
— O que você quer dizer, falhando?
— Eu não sei. — Sua irmã chorou. — Os médicos dizem que ela
está “falhando”. Eu acho que isso significa que ela está morrendo.
Nicole sentou-se com força em uma cadeira, totalmente
chocada. — Morrendo?
Regina sentou-se também, tão entorpecida. As duas irmãs se
encararam, sem palavras.
— Eu não acredito — Nicole finalmente disse. — Elizabeth é
jovem, mais jovem que qualquer uma de nós! Meninas jovens não
morrem de repente.
A boca de Regina tremeu e lágrimas encheram seus olhos. — Eu
não posso acreditar também — disse ela com voz rouca. — Talvez não
seja verdade.
— Claro que não é verdade! — Nicole chorou, alívio inundando-
a. — É um rumor horrível e você sabe como a menor coisa é
exagerada quando é administrada a fábrica de fofocas.
— Você provavelmente está certa — disse Regina, relaxando
um pouco. — Ela provavelmente tem gripe, um caso ruim e isso é
tudo.
Nicole assentiu, mas ainda estava abalada até o núcleo.
Nicole ainda estava perturbada quando, uma hora depois, a
carruagem Dragmore parou em frente à residência de Stafford. A
fofoca era uma coisa terrível, é verdade, mas muitas vezes onde havia
fumaça havia fogo. Nicole rezou para que esse não fosse o caso, na
verdade, ela se recusou a acreditar. Esperando que Elizabeth
estivesse apenas doente, queria pagar suas condolências à menina
mais jovem que tinha sido tão gentil com ela. Um cocheiro ajudou-a a
sair da carruagem e um mordomo a deixou entrar no saguão de
entrada.
Nicole entregou-lhe o cartão de visitas, explicando que entendia
que lady Elizabeth estava doente e que ela havia vindo expressar seus
melhores desejos, se possível. Em uma mão enluvada, ela segurava
uma caixa de chocolates lindamente embrulhada, que comprara no
caminho de Oxford Street.
O mordomo estudou seu cartão, mas antes que e pudesse falar,
uma furiosa voz masculina disse — Elizabeth não está recebendo
visitas.
Nicole se virou para ver o duque de Clayborough caminhando
em sua direção, sua expressão positivamente negra. Estava apenas
em mangas de camisa, que estavam enroladas, nem estava usando
um colete. Suas calças, geralmente perfeitamente prensadas, estavam
vincadas e enrugadas. Sua consideração sombria estava em
chamas. Havia círculos cinzentos de insônia e preocupação sob seus
olhos. Seus cabelos, sempre compridos demais, pareciam mais longos
e desalinhados. Sem tirar o olhar de raiva de Nicole, ele se dirigiu ao
mordomo — William, você pode ir.
William desapareceu.
Nicole não esperava vê-lo aqui e sua raiva também a pegou de
surpresa. Instintivamente, recuou um passo, mas ele continuava
chegando. Agarrou o braço dela. — O que diabos você está fazendo
aqui?
— Eu vim para ver Elizabeth.
— Você veio para ver Elizabeth? Por quê? Para ver sua condição
em primeira mão?
Tentou se afastar, mas ele não a soltaria. — Me solta, por favor.
Ele a ignorou, sacudindo-a rudemente, puxando-a para mais
perto, de modo que seu rosto estivesse perto do dele. — Você se
atreve a pensar que, se ela morrer, eu vou casar com você?
Por um longo momento, Nicole ficou estupefata sem
palavras. Então soltou o braço dela. — Como você pode imaginar que
eu pensaria uma coisa dessas? — ela falou.
— Então por que você veio? — ele respondeu. — Por que diabos
você viria aqui?
Ela estava tão atordoada por sua óbvia angústia quanto pela
acusação que acabara de fazer.
— Você não é bem-vinda aqui.
Ela conseguiu se manter firme e manter o queixo alto, mas seus
olhos estavam brilhando de lágrimas. — Seu homem desprezível! Eu
vim para dizer o quanto estou triste por ela estar doente.
— Por que você se arrependeria? — Ele riu sem alegria. — Eu
imagino que você é a última pessoa na Inglaterra que lamentaria.
Que ele deveria continuar a difamar seu caráter tão diretamente,
que ele obviamente acreditava que ela era capaz de emoções tão
frias, conseguiu acender uma faísca em sua mera autodefesa. — Ela
nunca foi nada além de boa para mim, quando todos os outros nesta
cidade incluindo a presente pessoa, foram nada além de grosseiros e
insultantes.
— Eu acho muito difícil acreditar que você veio aqui por um
espírito de caridade. —
— O que você acredita, você fez mais do que claro. — Ela olhou
para ele, querendo chamá-lo de um nome nada divino, querendo dizer
a ele exatamente o que ela pensava dele agora, mas não o fez. Mas
só porque a pobre Elizabeth estava obviamente doente nesta mesma
casa e o criado estava, indubitavelmente, espreitando ao virar da
esquina, escutando com fascinação cada palavra deles. Nicole ficou
horrorizada ao pensar que qualquer fofoca sobre ela e o duque
poderia chegar a Elizabeth. — Eu não ligo mais para o que você pensa
— ela disse rigidamente, entorpecida. — Se ela não está recebendo
visitantes, então você gentilmente levaria este presente e diria a ela o
quanto eu sinto muito.
O duque não fez nenhum movimento para alcançar o pacote que
estava segurando. Lágrimas feriram os olhos de Nicole e ela
rapidamente colocou a caixa de doces em uma
cadeira. Abruptamente, antes que ele pudesse discernir o quanto ela
estava ferida, Nicole virou as costas para ele e caminhou para a porta.
Ele a parou. — Eu quero que você saiba — ele disse, sua voz
cortando — assim que Elizabeth... se recuperar... eu estou saindo de
Londres.
Nicole deu de ombros e se virou para ele. — Sua agenda não me
interessa.
— E Elizabeth virá comigo. Não vamos esperar até junho para
casar. Vamos nos casar imediatamente.
Ela levantou o queixo, encontrando-o olhando fixamente,
quando suas palavras foram mais eficazes do que qualquer faca em a
ferir. Como esse homem poderia ser o mesmo que a abraçou tão
apaixonadamente nos bosques de Maddington apenas dois dias
atrás? Ele agia como se a odiasse. Nicole não conseguiu conter um
arrepio. Ela fez algo para transformar seu desejo em ódio? Ou será
que a culpava pelo o que tinha acontecido na caça?
Ela podia se machucar, mas ela ainda tinha seu orgulho. De
alguma forma, ela conseguiu esconder seus sentimentos. — Então eu
desejo a vocês muita felicidade.
Naquele momento, enquanto olhavam um para o outro como o
pior dos inimigos, uma série rápida de imagens passou pela cabeça de
Nicole, deles juntos, dela em seus braços. Podia sentir seu toque
como se a tocasse agora. Quando a abraçou, pensou que ele se
importasse. Mas essa tinha sido sua imaginação correndo solta, pois o
homem que a encarava agora não se importava nem um pouco com
ela, nem um pouco. Se qualquer coisa, ele a desprezava.
E o duque não parecia satisfeito com sua resposta educada, se
alguma coisa, parecia ainda mais irritado. Abruptamente Nicole se
virou para sair.
William se materializou para abrir a porta para ela e Nicole
novamente rezou para que nenhuma fofoca desagradável chegasse a
Elizabeth. Ela ainda tinha que atravessar o limiar quando o duque
cortou sua espada verbal mais uma vez. — Eu quis dizer isso quando
disse que você não é bem-vinda aqui. Não retorne.
Ela endureceu, corando, tinha cem respostas, mas nenhuma
delas era adequada para os ouvidos do mordomo e as consequentes
fofocas do andar de baixo. Certamente acabaram de gerar o suficiente
disso. Então decidiu que qualquer resposta que escolhesse não
poderia fazer muita diferença em face da magnitude das fofocas que
certamente seguiriam essa troca. — Ao contrário do que você pensa
e você parece decidido a pensar apenas no pior de mim, Elizabeth é
minha amiga. Ela merece a felicidade. Ninguém em quem eu possa
pensar merece mais.
Nicole fez uma pausa antes de sair pela porta, agora aberta para
ela pelo mordomo. — Mas a única coisa que não merece é você.
E você certamente não a merece.
O duque ficou furioso.
William, o mordomo, ficou boquiaberto.
E Nicole decidiu que era hora de ir embora.
Elizabeth morreu naquela noite. Seu pai, o marquês de Stafford,
encontrou-a na manhã seguinte em sua cama. A notícia de sua morte
só chegou aos ouvidos de Nicole algumas horas depois e ao meio-dia
todos de Londres sabiam que a bela e gentil jovem dama havia
falecido.
Nicole estava em choque. Elizabeth Martindale, morta? Doce,
gentil, linda Elizabeth? Elizabeth que todo mundo gostava? Elizabeth,
que nunca viu o mal em alguém ou alguma coisa? Ninguém merecia
morrer jovem era o auge da injustiça. Nicole imediatamente se retirou
para a privacidade de seu quarto. Ela estava em choque.
Agora, talvez, ela pudesse entender o temperamento e grosseria
inexplicáveis de Hadrian ontem. Elizabeth estava morrendo e embora
ela mesma não soubesse, certamente sabia. Um homem que enfrenta
a morte de alguém de quem gostava - ou amava - não poderia ser
considerado educado, racional ou agradável. Nicole afundou na cama,
tremendo. Deve ter amado muito Elizabeth. Jamais teria certeza da
extensão de seu amor por ela, mas a angústia de ontem provou o
quão profunda ela corria. O coração de Nicole se apoderou dele
quando imaginou sua dor.
Elizabeth foi velada por três dias. Nicole foi prestar seus últimos
cumprimentos, acompanhada por sua família, com exceção de Chad,
que estava em Dragmore. Edward veio de Cambridge para que ele
também pudesse expressar suas condolências. A enorme residência
de Stafford era estranhamente silenciosa, embora estivesse cheia de
centenas de convidados. Todo mundo se movia por falar em voz
baixa, parando para olhar para Elizabeth disposta em sua elegância
em um belo caixão de mogno. O marquês, tendo perdido primeiro a
esposa e agora sua única filha, estava inconsolável. Ele não pôde
fazer mais do que acenar quando os enlutados pararam para falar
com ele, pois ele era incapaz de falar.
Elizabeth parecia serena na morte. Ela até parecia bonita e
alguém colocara um sorriso em seus lábios ou ela morrera
assim. Nicole parou ao lado do caixão, Regina a seu lado. Ela mordeu
o lábio quando a vontade de chorar veio sobre ela. Como alguém tão
gentil e tão jovem poderia morrer antes mesmo de sua vida
começar? De alguma forma, a morte era compreensível quando o
falecido era velho e vivia uma vida plena, ou não era uma pessoa
particularmente boa. Mas neste caso foi chocante e sacrílego.
— Eu não posso olhar para ela — Regina sussurrou, sua voz
rouca com lágrimas não derramadas. — Eu simplesmente não posso.
— Ela saiu correndo.
Nicole respirou fundo e fez uma pequena oração, esperando que
Elizabeth pudesse ouvi-la. Agradeceu-lhe a gentileza e pediu
desculpas por ter sido íntima com Hadrian. Mas ela simplesmente não
podia confessar o último, ela não podia. Talvez Elizabeth nunca
soubesse. Ela esperava que não.
Esfregando os olhos, ela passou pelo caixão. Seu olhar se
ergueu e pousou na duquesa viúva de Clayborough.
Por um momento, Nicole ficou surpresa, lembrando-se de como
a mulher a olhara no vestíbulo de Maddington, como se soubesse que
ela e Hadrian não tinham feito nada de bom. A duquesa viúva era a
última pessoa que queria ver, além do filho. No entanto, Isobel,
embora com os olhos marejados, conseguiu um pequeno sorriso.
Nicole não teve escolha então; teve que cumprimentar a mulher.
— Eu sinto muito.
— Todos nós sentimos — disse Isobel suavemente, com os olhos
cheios de lágrimas. — Obrigado por vir. — Sua voz falhou.
Nicole assentiu e passou por ela. Encontrou Regina esperando-a
do lado de fora do salão onde Elizabeth estava em repouso final. As
duas irmãs trocaram olhares de fadiga, angústia e tristeza. — Papai e
mamãe estão falando com o marquês. Disseram que podemos sair
daqui a meia hora mais ou menos.
Nicole assentiu, querendo partir naquele exato minuto, mas
fazer isso seria incrivelmente rude. Ela e Regina se encolheram contra
a parede no corredor, sem ter vontade de ir para o salão maior, onde
um bufê era servido para os convidados. Através da multidão de
pessoas se movendo pelo corredor até o salão, ela vislumbrou Martha
e seu marido. Martha pediu licença ao grupo em que estava e foi até
as duas mulheres.
— Isso é tão terrível — sussurrou Martha depois de trocarem
abraços. — Estou em choque, não posso acreditar. — Seus olhos
lacrimejaram.
— Nenhum de nós pode acreditar — respondeu Nicole.
— É tão injusto — Regina sussurrou. — Como Deus poderia
deixar isso acontecer?
As duas mulheres mais velhas se voltaram para ela, por ousar
expressar um pensamento que todas elas estavam tendo. O silêncio
caiu; Regina não esperava uma resposta de qualquer maneira. Então
Martha falou com Nicole. — O duque está aqui.
Nicole não disse nada, mas seu coração se apertou, com medo,
com tristeza. Mesmo que agora pudesse entender por que ele havia
sido um monstro assim outro dia, não aliviou a dor que ele lhe infligiu.
— Você já o viu?
— Não.
— Ele parece horrível. Eu tentei falar com ele, mas foi como
falar com uma parede. Eu não acho que ouviu uma coisa que eu
disse, mas isso é compreensível.
O desejo de chorar novamente superou Nicole. Hadrian devia tê-
la amado muito, mais do que pensara, por ele ter sido tão fora de si
no outro dia e estar tão abalado agora. — Ele a amava muito.
Martha olhou para ela. — Ele a conhecia toda a sua vida. É
muito tempo para conhecer alguém, eram primos e também
prometidos.
— É muito tempo para amar alguém — Nicole sussurrou
tremulamente. Era inadequado, mas a percepção bateu nela com a
força estranguladora de Jack, o Estripador. Ele realmente amara
Elizabeth, nunca a amou. Ele a cobiçara, o que era algo
completamente diferente.
— Ele precisa de algum tempo — disse Martha, tocando a mão
de Nicole.
Se havia uma insinuação ali, Nicole não queria entretê-
lo. Felizmente, não o viu nos próximos minutos e logo depois saiu
com o resto da família. Naquela noite chorou, por Elizabeth, por
Hadrian e talvez, só um pouquinho, por si mesma.
O dia do funeral foi particularmente apropriado para o luto. O
céu era uma chuva cinzenta escura que ameaçava chover, um vento
norte soprava incessantemente e a essa altura a maioria dos imensos
carvalhos que rodeavam a cripta de Stafford estavam nus, os
membros retorcidos sombrios e tortos. Eles lembraram morosamente
a Nicole dos esqueletos, dos muitos esqueletos que devem estar neste
mesmo cemitério. Nicole suspeitava que cerca de mil pessoas
tivessem comparecido ao culto na catedral de Londres, mas aqui em
Essex, apenas umas cem pessoas tinham chegado ao túmulo de
Elizabeth.
Ela ficou entre sua mãe e Regina, cercada pelo resto de sua
família. Chad tinha vindo para o funeral e Edward, é claro, ficara em
Londres para poder estar presente também. Apesar de não estarem
em uma das primeiras fileiras, Nicole era mais alta do que a maioria
dos presentes e tinha uma visão clara do caixão sendo abaixado no
cofre escuro sob a capela de Stafford. Também tinha uma visão clara
de Hadrian.
Estava do outro lado do túmulo, de onde estava com a família,
vestido com um terno preto, sem chapéu e com a cabeça baixa. Tinha
um braço ao redor de sua mãe, que tentou sem sucesso não
chorar. Ao lado dela estava o marquês de Stafford, que chorou
também. O som de um homem adulto perdendo o seu controle era
terrivelmente enervante e angustiante.
Ao lado deles estava o patriarca da família, o conde de
Northumberland, com sua esposa e parentes próximos. Roger de
Warenne era o cunhado de Stafford. Era um homem alto e magro,
com setenta e poucos anos, cabelos muito brancos. Estava
acompanhado por sua segunda esposa, que tinha a idade de Isobel e
seus três filhos e suas esposas, incluindo seu herdeiro, o meio-irmão
de Isobel, o visconde de Barretwood. De Warenne tinha uma dúzia de
netos desses casamentos e todos estavam presentes, o mais novo
apenas cinco e tentando parecer terrivelmente solene. A família
Northumberland pôde traçar seu poder e antecedentes até a
Conquista.
Atrás dos de Warennes estavam seus parentes, os Martindales,
os Hurts e os Worthington. Incluído entre este último grupo estava
Stacy Worthington, prima de Elizabeth. Ela chorou ostensivamente em
um lenço.

Nicole não pôde deixar de encarar Hadrian enquanto o caixão


era levado para o mausoléu. Ele parecia terrível e seu coração se
apertou dolorosamente com a visão. Estava abatido e pálido, os
ombros caídos em exaustão. Era muito longe para ver seu rosto
claramente, mas podia sentir, mesmo à distância, a dor que ele
estava sofrendo.
Parada ali enquanto Elizabeth finalmente descansava, Nicole
esqueceu tudo o que havia entre eles. Não havia mais raiva, nem
mais vergonha, nem mais mágoa nem mais orgulho. Em um dia como
este dia, as verdades foram impiedosamente nuas. Olhou para
Hadrian e chorou por causa da dor que ele sofria e não havia dúvida
de que ela o amava completamente. Se eles estivessem sozinhos,
teria ido até ele e o teria tomado em seus braços como se fosse uma
criança, para segurá-lo, consolá-lo, curá-lo. Mas não estavam
sozinhos, só podia observá-lo e lamentar-se com ele de longe.
Seu coração estava partido e amando-o, também era o dela.
Capítulo 18
Três longos dias se passaram desde o funeral. Nicole não tinha
ido a nenhum encontro social porque não estava com disposição para
ser alegre. Ela não conhecia Elizabeth bem ou por muito tempo, mas
o choque de sua morte abrupta ainda permanecia angustiante. E
então havia Hadrian.
Seus pensamentos foram consumidos pelo duque e por ele,
sofreu. No funeral, ela sentira seu luto, embora estivessem
fisicamente separados por muitos metros, sua angústia era dela.
Como ela queria consolá-lo. E mesmo quando ela queria consolá-lo,
curá-lo, também havia dor, de uma natureza diferente, na percepção
de quanto ele deveria ter amado Elizabeth. Mas a dor ela empurrou
de lado, porque o sofrimento dele era muito mais importante.
Nicole teve que o ver. Tinha que ajudar a aliviar sua tristeza e
oferecer o apoio que pudesse, para que soubesse que não importava
o quê, estava lá para ele. Sabia que não era apropriado, não
tanto quanto as aparências superficiais, mas de alguma forma, era
altamente apropriado, porque Hadrian precisava dela, estava nervosa
sem saber que tipo de saudação poderia receber inicialmente, mas
nada neste mundo poderia impedi-la de chamá-lo.
Ela sabia, por intermédio de Regina e Martha, que estava na
cidade desde o funeral, que o duque recusara todos os convites e
todas as chamadas. E estava certa de que ele não a recusaria.
O mordomo permitiu que ela entrasse no amplo foyer
abobadado enquanto pegava seu cartão de visitas. Um homem
corpulento e maltratado estudou-a e disse impassível — Sua Graça
não está recebendo visitantes.
— Isso eu ouvi — disse Nicole, respirando fundo. — Mas eu sou
uma boa amiga do Duque, qual é o seu nome?
— Woodward — ele disse, sem se impressionar.
— Por favor, Woodward, diga à Sua graça que eu estou aqui. Ele
não se recusará a me ver.
Woodward hesitou, depois assentiu e saiu pelo corredor. Nicole
expeliu a respiração. Ela percebeu que estava tremendo.
O duque de Clayborough estava bêbado.
Não obviamente bêbado, não fedendo bêbado, mas bêbado, no
entanto. Hadrian não havia bebido desde que era um adolescente
desordeiro de quatorze anos, mas naquele dia o fizera com
determinação, não dormia há dias. Precisava dormir e beberia até que
pudesse. Precisava dormir para poder escapar das emoções que
ameaçavam dominá-lo, a tristeza e a culpa.
A tristeza pesava seu coração como se ele carregasse uma pedra
pesada dentro de seu peito. Sabia agora, tardiamente, que amara a
noiva. Não de um jeito carnal, nunca de um jeito carnal, mas a amara
e agora sentia falta dela. Sentia falta da doçura dela e do sorriso
dela. Sentia falta de sua bondade infalível, sua generosidade, sua
compaixão e sua graça. Memórias o assombraram. Elizabeth quando
pequena, tropeçando de uma peça de mobília para a outra, enquanto
ele, aos doze anos, assistia com pouca diversão. Elizabeth caiu do
pônei aos seis e chorou em seus braços. Elizabeth aos treze anos,
quase uma mulher, timidamente oferecendo-lhe biscoitos que ela
mesma havia assado. Elizabeth aos dezoito anos, aturdida depois de
beijá-la pela primeira vez.
Era tarde demais agora, mas percebeu que Elizabeth era sua
melhor amiga. Seu único amigo. Ele era um homem que guardava
para si mesmo, um hábito aprendido precocemente na infância. Mas
nunca com Elizabeth. Talvez o dever tivesse ditado seu
comportamento em relação a ela, mas fora tão fácil estarem juntos. E
enquanto ele tinha tomado seu relacionamento como garantido, ela
tinha sido altruísta sido constantemente apoiadora dele, não importa a
circunstância, sempre esteve lá para ele. Quando não estava lá para
ela, tinha cem desculpas para fazer por ele.
Se pudesse reviver seu relacionamento o faria. E tudo seria
diferente.
Hadrian estava inundado de emoções explosivas que não queria
enfrentar. Pois também aprendera em sua infância a esconder
cuidadosamente sua dor, sua angústia. Nunca revelar o que podia
estar pensando ou sentindo. Não apenas da percepção dos
outros, mas de si mesmo. E teve sucesso por muitos anos ao fazê-lo
até recentemente. E agora, a morte de Elizabeth, foi a última faísca e
uma conflagração do coração ameaçado.
Não entendia por que ela havia morrido. Acreditava em Deus,
embora ele não frequentasse a igreja com muita frequência e a morte
dela não fazia sentido. Mas então, grande parte da vida, como havia
testemunhado, não fazia sentido. A crueldade do pai com a mãe não
fazia sentido. Nem a crueldade de seu pai para ele. Talvez não
houvesse Deus depois de tudo, ou talvez não houvesse justiça ou
misericórdia.
Talvez ele pudesse ter lidado com a tristeza se isso fosse tudo o
que havia. Mas havia mais, muito mais; havia a culpa.
Bebeu outro uísque escocês, franzindo o cenho para o gosto. Ele
estava em sua biblioteca não a deixava há dias. Andou até o fogo e
cutucou, tentando não deixar seus pensamentos tomarem seu rumo
inevitável. Mas eles não o obedeciam.
Culpa purificada. A imagem de Nicole subiu, ainda o
assombrando, com Elizabeth mal gelada em seu túmulo. Maldita seja,
pensou ele, acertando o fogo violentamente. Maldita seja ela.
Ou ele deveria se amaldiçoar?
Nos últimos meses, enquanto Elizabeth estivera doente e
morrendo, não lhe poupou um pensamento, muito menos sua
atenção, estava muito ocupado desejando Nicole Shelton. Elizabeth
não merecia isso dele, merecia muito mais.
Eu sou um bastardo, um bastardo total, um bastardo carnal
egoísta, não muito diferente do meu pai.
Fechou os olhos, mas a imagem vívida em sua mente não iria
embora. O rosto vibrante e exótico de Nicole, rindo, cintilante, ao lado
da pálida e sem vida de Elizabeth.
Tinha tudo de mais bonito na vida, era energia ardente, beleza
exótica, orgulho indomável. Elizabeth nunca tinha sido impetuosa,
exótica ou indomável, mas sim o exato oposto. O contraste era
inquietante, horripilante.
Tinha ido tão longe a uma jornada que era incapaz de parar,
apesar do uísque escocês, uma jornada profunda em seu interior mais
escuro e privado. E ele não queria dar outro passo.
Havia um desejo nele, um anseio secreto, que não conseguia
abalar e estava focado em Nicole.
Uma batida na porta arrancou-o de seu devaneio. Hadrian
dissera à equipe que não deveria ser incomodado, mas jamais tiraria
seu temperamento explosivo em nenhum deles. Seu tom civilizado,
disse — Sim?
Woodward entrou parecendo tão apologético quanto era capaz
de olhar, dada sua implacabilidade bem-educada. — Lady Nicole
Shelton está aqui. Ela insistiu em vê-lo, sua graça.
O coração de Hadrian bateu. O desejo, o anseio, sufocou-o. —
Mande-a embora. — Ele rosnou.
Woodward pareceu chocado, mas se recuperou
instantaneamente. — Sim, sua graça.
— Espere! — Hadrian chamou quando o mordomo estava na
porta. — Eu mudei de ideia. Mande-a entrar.
Woodward assentiu sem expressão e desapareceu. Hadrian
passeava, seu sangue fervendo. Por que ela veio? Não poderia
esperar um intervalo decente depois do funeral? Não tinha respeito
pelos mortos? O que queria? Como ousava?
Ele quisera dizer o que dissera outro dia, pouco antes de
Elizabeth ter morrido, que iria para o país com a noiva e que se
casariam imediatamente. Talvez soubesse que ela estava morrendo e
suas intenções tinham sido uma forma de negação. Durante toda a
semana em que assistiu Elizabeth em seu leito de morte, resolveu ser
leal a ela, tanto em ações quanto em pensamento, o que significava
que deveria acabar com sua obsessão por Nicole Shelton. Agora, à
beira de um precipício que não tinha intenção de cair, Hadrian estava
mais determinado do que nunca a tirá-la da mente e da vida.
Woodward mostrou Nicole e Hadrian acenou para ele. Seu olhar
a perfurou. Por que ela veio? Porque agora?
Quando olhou para ela, viu que estava perturbada. Certamente
não por causa de Elizabeth. Isso seria uma ironia absoluta. Seus
pálidos olhos cinzentos pareciam estar cheios de compaixão e
preocupação. Se perguntou se estava mais bêbado do que pensava,
pois, essa empatia não poderia ser para ele. Poderia? Esta não era a
megera selvagem que ele conhecia tão bem, não era essa a mulher
que praticamente confessara que procurava seduzi-lo.
— Hadrian? Você está bem?
Recostou-se contra a lareira, ignorando o calor das chamas atrás
dele, que estavam perigosamente perto de seu corpo. — Oh, eu
estou bem — ele disse, seu tom zombando e entediando suas
palavras. — Afinal, a morte de uma noiva é um evento cotidiano.
Um imenso silêncio saudou suas palavras. Sua expressão
dissolveu-se em ainda mais simpatia, enquanto estava chocado com o
que ele tinha feito, havia se mostrado nu e revelado sua dor. Como se
ele quisesse que ela reagisse, o que ela não fez.
— Eu sinto muito — ela chorou, mas ele a interrompeu.
— Eu não deveria ficar surpreso com esta visita, deveria? Você
sempre desafiou as convenções. Mas confesso que estou.
Ela não se moveu, de pé atrás do sofá, de frente para ele, suas
mãos enluvadas segurando sua bolsa. — Eu não podia ficar longe —
ela disse suavemente. — Eu tinha que ter certeza de que você estava
bem.
— Você veio aqui por preocupação comigo? — Perguntou
incrédulo. Não acreditou nela ou acreditava? O olhar carinhoso em
seus olhos o torturou. Testando-o.
— Por que mais?
— Eu posso pensar em outras razões — ele disse
grosseiramente, seu olhar deslizando sobre ela. — Eu quis dizer o que
eu disse no outro dia, acabou Nicole. O que quer que estivesse entre
nós acabou. — Raiva tomou conta dele com intensidade
assustadora. Raiva para ela, para si mesmo, para o mundo.
— Compreendo.
— Se você entendesse, não estaria aqui.
— É porque entendo que estou aqui, Hadrian — ela disse
suavemente. — Você não deveria estar sozinho.
— Eu quero ficar sozinho.
— Se isso é verdade, então por que você me permitiu entrar?
Olhou para ela, incapaz de negar mais da verdade absoluta. Não
queria ficar sozinho, ele queria estar com ela. — Saia. Agora. Antes
que seja tarde demais.
Ela não se mexeu. Seus olhos pareciam mais macios, mais
carinhosos. Isso só poderia ser uma ilusão.
Ele estava furioso agora. — Você não me ouviu? — ele rugiu. —
Eu te disse para sair! Fora daqui, fora da minha vida! — Ele não sabia
que ainda estava segurando o copo de uísque, mas a próxima coisa
que sabia, tinha jogado o mais forte que podia, não para ela, mas na
porta atrás dela. Passou pela cabeça dela e se espatifou
explosivamente contra a madeira rica.
Nicole se encolheu ligeiramente.
Ele estava ofegante. Uma caverna se abrira dentro dele. Era
preto, mas no fundo do abismo havia um caleidoscópio de cores vivas,
seu sangue, suas entranhas. Tantos sentimentos. A todo custo para
ser evitado, odiava isso, a odiava. — Você é uma tola. Eu quase te
machuquei.
— Mas você não fez — ela sussurrou. — E não vai fazer.
Ele se virou abruptamente para longe dela, tremendo.
— Eu sei que você está sofrendo — ela murmurou. — Sei que
você está me atacando porque não há mais ninguém para atacar, não
me importo. Também acho horrivelmente injusto. Como isso pode
acontecer? Para alguém tão gentil, tão sincero?
— Não — Ele estava de frente para a lareira e seu calor ardente
estava se tornando doloroso em suas coxas e estômago. Ele fechou
os olhos. Ela era tudo o que Elizabeth nunca fora e por estar aqui
agora, tão viva e vital e vibrante, parecia-lhe doloroso. Tão
doloroso. E a imagem de Elizabeth estava retrocedendo, devorada
pelo desejo sufocante. Em seu lugar estava Nicole.
— Vou pedir a Woodward para nos trazer chá — disse ela
finalmente. Ele a ouviu saindo e sentiu um momento de pânico
quando soube que deveria estar aliviado. Tentou chamar de volta o
rosto de Elizabeth, mas só conseguiu ganhar uma imagem nebulosa e
indistinta. Respirou fundo para controlar suas emoções. Devia lutar
contra si mesmo... deveria.
Nicole entrou. Seu batimento cardíaco tornou-se errático no
momento em que ela o fez. — Você parece muito cansado, Hadrian.
Por favor, venha e sente-se. Woodward estará aqui em breve com chá
quente. Você comeu alguma coisa recentemente?
Ele se virou devagar. Seu olhar encontrou o dela e segurou por
um longo tempo. Não estava imaginando, a expressão em seus
olhos. Foi genuíno. Foi por ele. Estava com medo de chegar perto
dela. Pois, naquele momento, o desejo bateu violentamente sobre ele.
— Hadrian?
Sua resposta foi se afastar dela, apoiar-se no manto e olhar para
as chamas na lareira. Não importa o quanto tentasse, não podia mais
ver o rosto de Elizabeth claramente em sua mente.
Woodward bateu e entrou com o chá. Ouviu quando o mordomo
abaixou a bandeja e perguntou a Nicole se queria mais alguma coisa,
mas não se virou. Estava com medo de se mover, com medo de si
mesmo e do que poderia fazer.
A porta se fechou. O silêncio que caiu na biblioteca foi quebrado
apenas pelo tique-taque do relógio de seu avô em uma parede e pelo
estalar das chamas. Ouviu Nicole se levantar e caminhar até ele, ficou
tenso.
Ela ficou atrás dele tão perto que ele sentiu seu calor. —
Hadrian? Você não quer se sentar?
— Não.
— Você gostaria de subir as escadas para dormir? Assusta-me
vê-lo assim.
Isso o assustou. Não se mexeu, segurando o manto de
pedra. Era sua intenção dizer a ela de novo para sair, ordenar que
saísse. Em vez disso disse: — Eu não posso dormir Nicole. Se eu
pudesse, acredite em mim, eu não estaria aqui assim.
Ela fez um pequeno som de angústia. Hadrian quase saltou
quando a sentiu tocar suavemente suas costas. Fechou os olhos, mal
ouvindo o que estava dizendo, desejando desesperadamente que
colocasse os braços ao redor dele e o segurasse como se fosse uma
criança. Mas ela não fez.
Ele não podia mais lutar.
— Hadrian, talvez se você tentar agora, você será capaz de
dormir. Eu posso ver como você está exausto. Deixe-me chamar
Woodward.
Sua palma tremia nas costas dele. Ele soltou um longo
suspiro. Sem pensar agora, exceto pela única palavra que gritava para
ele interiormente. Perigo! — Não chame Woodward — ele disse
duramente.
Nicole mordeu o lábio e depois, com as duas mãos, começou a
massagear o pescoço dele. Hadrian ficou muito quieto, ficando ainda
mais tenso. Quando suas mãos cavaram seus músculos, sentiu que
estava começando a tremer, não aguentou. Ele havia perdido.
— Nicole — ele gritou, virando-se abruptamente e envolvendo-a
em seus braços.
Ela congelou, mas não tentou afastá-lo. Seus olhos estavam
arregalados, mas não assustados. Ele a abraçou e sentiu um tremor
em seu corpo enterrou o rosto no pescoço dela. As cores vibrantes
giravam sobre ele, rápido e muito difícil para identificar.
— Está tudo bem — ela tremeu. Ela acariciou o cabelo dele, as
costas dele. — Está tudo bem.
Estava ciente de que ele estava esmagando-a, talvez a
machucando. Mas como se estivesse em transe, não conseguiu aliviar
o aperto, a segurou por um longo tempo. As ondas de cor
continuaram caindo sobre ele. Alegria, desespero. Dor e dor, muita
dor e uma estranha exultação. O pânico se foi. Em vez disso, havia
desejo pulsante.
E em seus braços, Nicole estava quente e maravilhosamente
viva. Podia sentir a batida da vida nela, pulsando através dela, seu
calor. Ela era força, era tristeza e compaixão, alegria e triunfo, a
embalou e ela se agarrou a ele.
Lágrimas feriram seus olhos fechados, ficou chocada com a
forma como ele precisava dela. A necessidade era tão forte ou estava
confundindo com desejo físico? Mas era tão forte e os sentimentos só
se intensificaram.
Suas mãos subiram para segurar seu rosto. — Sempre — ela
sussurrou, afastando-se para poder olhar nos olhos dele. Ele viu
lágrimas nos dela também. — Eu sempre estarei aqui para você. —
Lentamente, quase castigada, ela cobriu a boca dele com a sua.
Foi demais. Hadrian explodiu. A mão dele se ancorou na nuca
dela, afrouxando abruptamente o cabelo não varrido de modo que se
derramasse por suas costas. Ele inclinou o rosto para o beijo. Por um
instante, seus olhos se encontraram, os dela arregalados de surpresa
e antecipação, ardendo. Então sua boca cobriu a dela.
Duro e quente. Molhado. Suas línguas se entrelaçaram de forma
imprudente. Acasalado com abandono. Ruídos de miado escaparam
da garganta de Nicole. Hadrian caiu de joelhos, levando-a com
ele. Quando estava de costas, ele choveu beijos desesperados e
famintos por todo o rosto; nas pálpebras, na testa, nas bochechas e
na têmpora, na mandíbula, na boca e no pescoço. Nicole soluçou.
— Nicole — sussurrou Hadrian, seu corpo grosso e duro caindo
sobre o dela. Havia palavras que queriam explodir, mas ele estava tão
sobrecarregado que não conseguiu encontrá-las, não se atreveu a
expressá-las.
Nicole apertou-o ferozmente, beijando-o de volta
descontroladamente. Hadrian puxou as saias para cima, encontrou a
fenda em suas calças e, agarrando o tecido com as duas mãos, ele o
rasgou.
Segundos depois, ele libertou seu falo maciçamente ingurgitado
e estava empurrando impiedosamente dentro dela. Ela endureceu
com o ataque dele, mas era tarde demais, ele tinha esquecido que ela
era virgem, tinha esquecido tudo, tentou desacelerar suas investidas
furiosas, tentou impedir a loucura que o possuía e fracassou.
Um momento depois, acabou. Ele desmoronou, estremecendo,
em cima dela. Ela o segurou, acariciando-o. Seus pulsos diminuíram e
finalmente sua mente começou a funcionar.
As cores ainda estavam lá. Brilhante e forte, vívido. Sua
expressão estranhamente suave, relaxada, Hadrian sorriu. — Eu sinto
muito.
— Não se desculpe — disse Nicole veementemente, acariciando
seu cabelo úmido. — Nunca se desculpe, não comigo.
Ele estava grogue agora com uma fadiga induzida não apenas
pela liberação física, mas pelo uísque com o qual não estava
acostumado e pelos dias em que não dormira. As carícias
tranquilizadoras de Nicole eram impossíveis de combater. Ele sentiu o
pesado manto de sono descendo e não pôde resistir. Ele apertou
ainda mais a mulher em seus braços. Seu último pensamento foi que
não queria mais resistir, não a ela e não a ele mesmo, sonhava com
um arco-íris brilhantemente colorido.
Capítulo 19
Hadrian acordou na escuridão. Por um momento ficou
completamente desorientado. Ele virou a cabeça, estremecendo com
a pontada de dor por trás de suas têmporas e viu as brasas
moribundas da lareira. As cortinas cor de vinho nas altas janelas da
parede estavam abertas, revelando uma pesada escuridão lá fora. Era
muito tarde da noite. O que aconteceu o atingiu. Ele estava no chão
da biblioteca, onde adormecera. Depois de fazer amor com Nicole
Shelton.
Outro feroz esfaqueamento atravessou seu crânio ao pensar
nisso.
Tudo voltou para ele quando lentamente, timidamente,
se levantou para sentar, empurrando o cobertor para seus
quadris. Ela havia chegado com simpatia nos olhos e nos lábios, havia
sido dominado por uma necessidade que nunca sentira antes por
qualquer ser humano.
Por um instante, ele ficou assustado com a lembrança. Com a
mesma rapidez, recuperou o controle e o sentimento indisciplinado
desapareceu.
Ele se lembrou do calor dela quando a abraçou, apenas
segurando-a, depois se lembrou de como furiosamente e
grosseiramente a levara ao chão e a penetrara. Ele podia sentir um
rubor sombrio e quente de vergonha cobrindo suas bochechas,
vergonha que competia ferozmente com sua raiva. Não só tinha sido
tão inexperiente quanto um estudante virgem, tinha sido também
precipitado.
Como isso foi acontecer?
Muito amargo e muito abalado, Hadrian levantou-se, ajustando
suas roupas. Há muito tempo, havia acrescentado iluminação elétrica
a suas casas e ao encontrar um interruptor, inundou a biblioteca com
luz. Se moveu atrás de sua mesa e sentou-se com força.
O que diabos ele fez?
Com a cabeça em suas mãos, foi varrido com sensações como
se estivesse experimentando-as novamente. Muitas sensações, muitos
sentimentos. Ele os sacudiu com um tremendo esforço. Era mais
fácil, mais seguro, concentrar-se nos fatos.
Não importava que ela tivesse vindo aqui e não deveria, ele
deveria ter se recusado a vê-la. Em vez disso perdera uma batalha
que vinha travando desde que pusera os olhos em Nicole Shelton,
uma contra si mesmo e seus próprios desejos. Havia perdido, estava
feito. Um fato consumado. Não havia sentido em se deter sobre o que
não poderia ser mudado. E agora, claro, havia apenas um curso de
ação aberto a ele. Ele se casaria com ela.
Com Elizabeth mal gelada em seu túmulo. Com esse
pensamento rude gemeu, a cabeça latejando agora. No entanto, a
culpa purulenta sumiu. Ele não sabia por que e não se preocupou em
especular sobre a resposta. Foi o suficiente para que aquela fonte
específica de tormento tivesse se dissipado.
Seu olhar se levantou e percebeu os dois travesseiros no chão
com o cobertor. Se tivesse acordado, não teria continuado a dormir
no chão, muito menos buscar esses itens para si mesmo. Woodward
nunca ousaria. Tinha que ter sido Nicole. Ficou tenso ao imaginá-la
cobrindo-o com o lençol e colocando travesseiros sob sua
cabeça. Droga! Não queria sentir ternura com ela.
No entanto, ela seria sua esposa. Não havia razão para evitá-la
por mais tempo, nem motivo para estar tão zangado, a não ser talvez
consigo mesmo. Não podia deixar de estar ciente de que não estava
realmente descontente com a noção de Nicole se tornar sua noiva. De
fato, sua boca se suavizou em um sorriso desnudo.
Rapidamente Hadrian ficou de pé, andando de um lado para o
outro. Não estava escolhendo-a como esposa, disse a si mesmo
duramente. Isto não foi uma questão de escolha. Se tivesse sido uma
questão de escolha, certamente não escolheria Nicole. Não podia
imaginá-la sendo uma esposa adequada, muito menos uma
duquesa. Não definitivamente não seria sua escolha.
Este era um rolo de sua própria fabricação e ele cumpria seu
dever. Isso foi tudo, não havia mais nada para isso. Precisava de uma
esposa de qualquer maneira, mais cedo ou mais tarde e devido
às circunstâncias, seria apenas um pouco mais cedo do que ele
previra. Amanhã falaria com ela e resolveria o assunto
definitivamente.
E se houvesse uma vida após a morte, esperava fervorosamente
que Elizabeth entendesse.
Nicole passara metade da noite acordada, incapaz de pensar em
outra coisa que não fosse Hadrian, o que acabara de acontecer e o
que poderia acontecer agora.
No começo estava em estado de êxtase, sonhando acordada
com ele quando o relógio bateu à meia-noite. A intimidade que
compartilhavam a emocionou e não se arrependeu por um
momento. Nada poderia ser mais maravilhoso do que ter Hadrian em
seus braços sem raiva e sem defesas, expondo sua alma a ela. Claro
que odiava vê-lo tão angustiado, mas se virou para ela em busca de
conforto, conforto que ela prontamente lhe daria de novo e de novo.
Mas à medida que a noite se aprofundava, alguns dos prazeres
de Nicole diminuíram. Ela se perguntou o que Hadrian pensaria sobre
o que aconteceu, se perguntou o que pensaria sobre ela. Sabia que
não deveria ficar esperançosa. Ele certamente não estaria deitado em
sua cama com um sorriso no rosto, sonhando com ela. O conhecia
bem o suficiente para pensar que não aceitaria isso. Com toda a
probabilidade, estaria com raiva. E provavelmente ficaria bravo com
ela.
Nicole não estava mais sorrindo sonhadoramente.
E quanto a Elizabeth? Nicole ficou sóbria. Quanto à moça morta,
ficou com vergonha. Esperava fervorosamente que Elizabeth já
estivesse no céu e não tivesse visto o que haviam feito. Mas... Nicole
tinha a sensação de que, mesmo que tivesse, ela
entenderia. Elizabeth nunca nutria rancor contra ninguém em sua
curta vida e sempre procurava ver o melhor das pessoas. Certamente
entenderia como a dor de Hadrian o havia desencaminhado e como
Nicole o amava genuinamente e não podia mais lutar contra seu amor
por ele.
Pensamentos de Elizabeth eram mais do que preocupantes, eles
quebraram o último de seu prazer abruptamente. Hadrian estava de
luto. Como ela poderia esquecer? Estava de luto pela mulher que
amava. E era terrivelmente óbvio, depois de vê-lo ontem, o quanto
amara sua noiva. Não deveria ficar desanimada, pois Nicole já sabia
de seus sentimentos, mas estava. Como poderia haver tanta tristeza
onde momentos atrás havia tanta alegria?
Era tarde demais para arrependimentos, mas Nicole desejou que
pelo menos algumas semanas se passassem antes que ela fosse
consolá-lo. Ou alguns meses. Recordou agora como Martha dissera
que Hadrian precisava de tempo. Eventualmente, ele viveria
plenamente no presente novamente. E estaria lá, esperando que ele
fosse capaz de amá-la, só um pouco.
Nicole abraçou um travesseiro no colo. Como ela poderia ter
esquecido, mesmo por alguns minutos, que era apenas um objeto de
sua paixão, não de suas afeições? Mas ela não tinha amor suficiente
para os dois? Isso não poderia mudar? Não poderia, um dia, vir a
cuidar dela?
No entanto, como poderia competir com uma mulher morta, um
paradigma do sexo feminino?
Nicole não sabia como sobreviveria aos dias até ver novamente
Hadrian para avaliar seu humor e seus sentimentos em relação a
ela. Estava certa de que não deveria ser a pessoa a visitá-lo, que
deveria esperar que ele viesse até ela. Mas estava com muito medo
de que ele não a chamasse. De repente, Elizabeth apareceu entre eles
com mais força do que quando estava viva.
No final da tarde, quando estava trocando o hábito de montar
em um vestido simples para o jantar, Regina voou para o quarto sem
bater. Nicole fez uma pausa, olhando-a com curiosidade, enquanto
Annie abotoava as costas do vestido de seda com dedos hábeis. Os
olhos de Regina estavam quase saindo de sua cabeça.
— O que é isso? — Nicole perguntou.
— Você tem um visitante! Você não vai acreditar quem é.
— Não estou com disposição para adivinhar jogos — disse
Nicole. Durante todo o dia, seu humor tinha sido desagradável, sentiu
como se quisesse arrancar o cabelo ou pular da própria pele. Ela não
suportava o desconhecido, a espera.
— É o duque de Clayborough.
A boca de Nicole caiu. — Hadrian? Quero dizer, o duque?
Mas... o que ele quer?
— Eu não sei! É impressionante por que Elizabeth acabou de ser
enterrada e tudo! Nossa mãe está com ele, pois o pai não está de
volta de suas reuniões ainda. O que ele poderia querer?
Nicole começou a tremer. Essa pergunta exata estava ecoando
em sua mente. Não fazia absolutamente nenhum sentido que viesse
para cá depois do que acontecera ontem, a menos que estivesse tão
zangado que tivesse vindo para se enfurecer com ela. Somente a fúria
bruta o traria aqui em total desrespeito à convenção e à
propriedade. Se apenas um pouco mais de tempo tivesse decorrido
para que pudesse se acalmar!
Nicole se remexeu enquanto Annie e Regina prendiam os
cabelos, depois agradeceu sem fôlego e correu escada abaixo. Ela
derrapou até chegar à porta da sala de chá, prendeu a respiração e
graciosamente entrou.
O duque estava sentado ao lado de sua mãe em um sofá com
uma xícara de chá na mão e bolinhos no prato. Sua cabeça girou em
sua entrada e seu olhar fixou nela. Nicole esperava ver uma ira
ardente, mas não viu nada em sua expressão. Ele levantou-se.
Nicole corou, lembrando-se de tudo, fazendo uma reverência
insegura. — Bom dia, sua graça.
Ele lhe devolveu a saudação superficialmente. Jane serviu-lhe
uma xícara de chá e Nicole sentou-se diante deles numa pequena
cadeira de encosto reto. Suas mãos eram muito instáveis para segurar
a xícara e o pires sem chocalhá-los, então os colocou na mesa. — Isso
é muito inesperado — disse ela.
Sua expressão era enigmática. Ele não parecia tão bem como de
costume, mas não parecia como tinha sido ontem. Os círculos
desapareceram de baixo dos olhos, embora ainda estivessem
vermelhos. Seu rosto era sombrio, as linhas ao redor de sua boca
estavam tensas, mas estava bem barbeado e impecavelmente vestido
com um paletó marrom, uma gravata mais escura e calças marrons.
— É?
O rubor de Nicole se aprofundou. Sabia exatamente a que ele
estava se referindo e quase queria morrer. Um silêncio constrangedor
caiu quando ele não continuou. Jane, olhando de um para o outro,
tentou aliviá-lo. — Agora que você saiu, você vai participar da baile de
Fairfax neste fim de semana?
— Eu não pretendo fazê-lo — disse Hadrian, voltando sua
atenção para a condessa. — Eu não estou exatamente com vontade
de dançar, comer e ser feliz.
— Claro que não — Jane respondeu. — Eu não posso deixar de
ficar surpresa, também, Vossa Graça, que você viria aqui.
— Talvez se você me der alguns momentos a sós com sua filha,
todos os assuntos logo farão sentido — ele retornou, sem sorrir.
Jane assentiu dando a Nicole um olhar especulativo antes de se
levantar. — Eu tenho algumas cartas que devo responder — disse
ela. — Deve levar cerca de quinze minutos. — Ela saiu, deixando a
porta aberta atrás dela.
Abençoe a mãe, pensou Nicole, pois não podia imaginar
nenhuma outra senhora deixando sua filha sem acompanhante com
um cavalheiro, mesmo com o duque de Clayborough. Nicole se mexeu
enquanto ele continuava a encará-la e a estava deixando-a
extremamente desconfortável.
Ela apertou as mãos, esperando que falasse, parecia contente
em apenas sentar lá e olhar. Hoje era um homem diferente daquele
que tinha sido ontem. Era como se fosse outra pessoa completamente
diferente. Ou ontem tinha sido alguma invenção selvagem de sua
imaginação?
Não foi só porque ele estava sóbrio. Não havia dor para o
público ver, sem desolação, sem desespero. Seu rosto era uma
máscara. Mas sabia que ele ainda devia estar sentindo todas essas
coisas, não poderia ter imaginado a profundidade de sua dor. — Você
está bem? — Ela sussurrou instável, querendo alcançar a pequena
mesa e tocar sua mão. Sabia instintivamente que ele iria rejeitar tal
gesto de sua parte imediatamente.
— Essa é uma pergunta que eu deveria estar perguntando a
você.
Ela corou. — Eu estou bem.
Agora ele parecia desconfortável. — A minha visita é realmente
uma surpresa?
— Sim.
— Você achou que depois de ontem eu não viria?
Ela piscou, sentando-se em linha reta e muito quieta. Ele quis
dizer o que ela achava que queria dizer? Que veio porque queria vê-
la? Deu-lhe um sorriso incerto.
— Eu vim para corrigir assuntos, Nicole.
— Para corrigir questões?
— Eu gostaria de falar com você em particular — disse o duque
abruptamente, levantando-se. Ele atravessou a sala com passos
firmes e fechou a porta profundamente. Ele se virou para ela, de
braços cruzados. — A única coisa que eu sou é honrado. Eu vivo por
minha honra, ou eu tento. Ontem eu falhei miseravelmente.
As esperanças de Nicole mergulharam para baixo. — Você está
com raiva de mim.
Seu rosto se apertou. — Não há nenhum ponto na raiva. Você
não tem culpa. Eu sou o culpado. Minhas ações falam por si mesmas.
— Eu não te culpo — ela sussurrou, querendo chorar. Ele se
arrependeu do que havia acontecido, se arrependeu do que eles
fizeram, o que tinham compartilhado.
— Se você me culpa ou não é irrelevante. A consequência de
sua visita é o que é importante, nada mais.
Nicole molhou os lábios. — A consequência?
— Você não é mais virgem e pode estar com meu filho.
— Eu não me importo com o primeiro e quanto ao segundo... —
Ela parou. Nicole não tinha pensado nisso, propositalmente.
— Só você responderia assim. — Ele parecia mais sombrio. —
Eu vim para ter certeza de que você entende que eu não deixaria as
coisas entre nós como elas são. Isso seria ainda mais intolerável do
que o meu comportamento ontem. Nós nos casaremos.
Sua boca caiu aberta.
— Normalmente nós esperamos um ano — ele disse, seu olhar
penetrante, seu tom de comando. — Mas como poderia haver uma
criança, nós nos casaremos imediatamente. Eu falarei com seu pai
quando ele retornar esta tarde.
Nicole ficou chocada. Por um momento, a cabeça dela estava
girando e ela não conseguia separar seus pensamentos. No entanto,
mesmo que não pudesse, não havia júbilo, apenas a aurora da
escuridão, do desespero. — Você não quer se casar comigo.
Ele fez uma pausa. — O que eu desejo é irrelevante. Minhas
ações ontem decidiram seu destino e o meu.
— Entendo.
— Você parece distraída — ele comentou, atravessando a sala e
servindo-lhe um xerez. — Eu não queria ser tão direto.
— Você não poderia ter sido mais direto — disse ela. Nicole
sentiu as lágrimas transbordarem e furiosamente as afastou com os
cílios. — Você deixou claro que você quer se casar por dever e honra.
Ele entregou-lhe um xerez, ela recusou. — Você fala como se
minhas intenções fossem as de um porco. É meu dever casar com
você.
— Assim como era seu dever se casar com Elizabeth — disse
Nicole. — No entanto, ela amava você.
Ele não respondeu.
— Você realmente não quer se casar comigo, você quer
Hadrian? Se você tivesse uma escolha.
Viu a raiva dele pela primeira vez. — Não há escolha! O que eu
quero é inconsequente.
— Não para mim.
O silêncio caiu.
— O que isso significa? — Ele demandou.
Nicole estava prestes a confessar tudo, mas parou. Tinha vindo
aqui para fazer o seu dever — para corrigir os problemas — como se
ela fosse um caso de negócios que precisava de ajustes. Quão nobre
ele era. Quão nobre quando ontem esteve tão perto de lágrimas
quanto um homem de seu calibre poderia estar, em detrimento de
outra mulher, amava outra mulher. A única coisa que Nicole deixara
era o orgulho dela. — Se você não sabe, então eu não direi a você.
Ele se virou e olhou para ela.
Orgulhosamente, a boca franziu com força, ela levantou a
cabeça. — Eu não posso casar com você, sua graça.
Ele ficou chocado.
Finalmente pôde ler a expressão dele e quase a fez mudar de
ideia. Parecia que havia lhe dado um golpe doloroso e inesperado no
rosto. Nicole desviou o olhar, as mãos tremendo no colo. Queria se
casar com Hadrian e ser sua esposa mais do que quase qualquer
coisa, mas a única coisa que queria ainda mais era o amor dele. Ele
amava e lamentava por uma mulher morta, não queria se casar com
ela, só o faria porque havia tomado sua virgindade. Como poderia
aceitar a oferta dele nesses termos? Como poderia dar-lhe o
coração, enquanto tudo o que ele lhe dava era um anel de ouro frio?
Ele já havia quebrado seu coração muitas vezes para contar e
ser uma esposa mal-amada seria o pior de todos.
— Eu ouvi você corretamente?
— Eu não vou casar com você — ela disse, com mais firmeza. —
Elizabeth não está nem fria em seu túmulo e...
— Como eu disse — disse ele — nós nos casaremos
imediatamente. Já pedi aos meus advogados que preparem os
documentos e eles estão adquirindo uma licença especial.
Nicole estava de pé, furiosa com suas ações presuntivas. A raiva
foi um refúgio que ela acolheu. — Minha mente pode pensar por si
mesma. Eu acho que você deveria sair. — Agora.
Ele não se mexeu. — Você é a mulher mais rude que eu
conheço. Eu sugiro que você pense muito claramente.
— Não há nada para pensar. E se você não for, então eu tenho
receio de ter que ser a única a sair.
Um longo momento se estendeu entre eles enquanto ele a
olhava e ela olhou para qualquer lugar, menos para ele. Finalmente
disse — Eu não acredito nisso. Eu não acredito em você. Não há uma
única mulher na Grã-Bretanha que me recuse.
Ela olhou para ele com tristeza — Há uma.
— Você não terá que sair — disse ele, atravessando a
sala. Abriu a porta e passou por ela antes que ela pudesse piscar. —
Bom dia, lady Shelton. Perdoe-me minha audácia.
Sua raiva morreu instantaneamente. Ela abriu a boca para
chamar de volta e fechou abruptamente. Nicole observou-o com
angústia até que não pudesse mais vê-lo e escutou até que seus
passos se desvaneceram. — Adeus, Hadrian — ela sufocou.
Capítulo 20
Hadrian voltou diretamente para o Nº. 1 da Praça
Cavendish. Abalado. Bravo. No entanto, havia muito mais por trás da
raiva, muito mais.
Ela o recusou.
Ele mal podia acreditar. No entanto, reconheceu uma vontade de
aço quando a viu e Nicole não foi tímida. Resolvido como estava para
se casar com ela e corrigir a situação, estava igualmente determinada
a não se casar com ele.
Se trancou em sua biblioteca. O Borzoi estava dormindo debaixo
de sua mesa e ao ver o duque, levantou-se ansiosamente para
cumprimentá-lo. O duque estava tão preocupado que nem notou. A
pergunta ecoou, gritando dentro de seu crânio. Por que ela não o
queria?
Era possível, depois de toda a paixão que tinham compartilhado,
que realmente não o queria? Não queria se casar com ele no
momento em que eles se conheceram? O que poderia ter acontecido
para mudar sua mente? Algo aconteceu, isso foi muito claro. Por que
mais ela o rejeitaria, o duque de Clayborough? Hadrian não era
vaidoso, de modo algum, mas era astuto o bastante para saber que,
com a morte de Elizabeth, era uma presa importante na
sociedade. Então, por que agora essa rejeição?
Esta rejeição que estava queimando.
O duque não era bobo, estava bem ciente de que foi atendido
por causa de sua posição, riqueza e poder. Estava bem ciente de que
poderia fazer o que quisesse apenas porque era o Duque. Ele era
ansiosamente procurado por seus pares apenas porque era o Duque
de Clayborough. De fato, sua natureza reclusa e sua propensão para
os negócios seriam fortemente desaprovadas, ele provavelmente seria
considerado um tanto estranho.
Mas Hadrian não se importou. Ele havia parado de se importar
com o que os outros pensavam sobre ele há muito tempo.
Com as mulheres não foi diferente. Muitas mulheres se
apaixonaram por ele. As mulheres competiam ferozmente umas pelas
outras por sua atenção. Elas competiam ferozmente pela honra de
pular em sua cama. Muitas esperavam conquistá-lo de Elizabeth.
Muitas quiseram se casar com ele. Mas não foi porque ele era bonito,
viril, inteligente ou honrado que elas o queriam. Não era ele mesmo
que elas queriam, era o duque de Clayborough.
As mulheres até competiram para se tornar sua amante, embora
tais esforços não tivessem qualquer influência sobre quem ele
escolheu. E não foi por causa de sua destreza na cama, nem de quão
excessivamente ele as inundou com os presentes que desejavam, ou
como as mantinha abundantemente ricas. Sua amante atual era a
deslumbrante Holland Dubois. Ela ganhou um status definitivo de ser
amante do Duque de Clayborough. Quando ia ao teatro, aos
restaurantes ou às casas de moda, onde quer que fosse
publicamente, atendiam a todos os seus caprichos instantaneamente.
Ganhou grande poder de sua ligação com ele, mais poder do que
poderia ganhar de qualquer outro homem que não a realeza. Ela tinha
um grau de poder que só poderia ser superado por sua esposa, se um
dia ele tomasse uma.
Ele havia proposto a Nicole Shelton. Ele pretendia se casar com
ela, para fazê-la sua esposa, para torná-la a duquesa de
Clayborough. Nunca mais a sociedade ousaria criticá-la. Seria
irrevogavelmente aceita. Pois o poder, posição e riqueza que eram
dele se tornariam dela.
No entanto, ela recusara.
E ela quis dizer isso. Ela não queria as armadilhas de sua posição
que ele oferecia e não o queria. Algo tinha acontecido para fazê-la
resistir a ele. Era óbvio o que era aquilo. Seu próprio
comportamento. Seu comportamento ontem, na biblioteca, seu
comportamento toda vez que seus caminhos se cruzaram.
Ele não era diferente de Francis e ela reconheceu isso.
Hadrian ofegou, virando-se para encarar seu rosto no espelho
sobre o suporte da lareira. Ela sabia de seu pai, da criatura pervertida
e dissipada que ele tinha sido? Ela havia aprendido sobre seus
antecedentes? Teria ela vislumbrado esses mesmos traços nele?
— Eu não sou como Francis — ele disse duramente. — Eu passei
toda a minha maldita vida vivendo honrosamente, eu não sou como
ele.
Ele viu a dor em seus próprios olhos viu a dúvida. Por um
momento ficou atordoado consigo mesmo. E então a expressão que
cultivara com tanto cuidado, por tanto tempo, estava em seu lugar,
perfeitamente agradável e perfeitamente impassível.
Mas a verdade zombou dele. A verdade dói, o rejeitara. Doeu o
jeito que ele havia sido machucado antes uma dor que há muito
tempo ele pensava estar morta.
Uma dor que ele estava determinado a enterrar agora.
A verdade era história, uma história que escolhera
cuidadosamente esquecer e de fato, havia sido bem-sucedido no
empreendimento. Até agora. Até ela. Agora a verdade estava no
presente, tão vívida como se fosse hoje, não anos do passado. A
verdade era um menino muito pequeno, chorando e assustado,
sozinho em sua cama, sozinho em seu quarto, em Clayborough, na
escuridão de uma noite interminável.
Ele pensou que era sua lembrança mais antiga. Achava que não
tinha mais de quatro anos. Ele seria o próximo duque, então ele
deveria ser homem, mas não era homem. Ele estava com medo. Ele
tentou parar as lágrimas, mas seus soluços acordaram seus pais. —
Querido, o que é isso? — Isabel murmurou, entrando rapidamente em
seu quarto e abraçando-o.
Tentando não chorar, tentando não ter medo, ele contou a ela
sobre o monstro que o perseguia na escuridão. Ela o acalmou e ele se
sentiu melhor, até ouvir a voz do pai na porta. Mesmo antes de
entender as palavras, ele ficou tenso. — Você estraga-o. Deixe-o em
paz. Que covarde ele é! — Francis riu. Ele entendeu e ficou chocado
com a declaração cruel. Era realmente um covarde? Seu pai estava
olhando para ele, sorrindo de uma maneira desagradável. — Garoto
maricas — ele zombou. — Com medo do escuro! Duques nunca tem
medo do escuro, mas você nunca será um duque de verdade, vai?
Você nunca será um verdadeiro duque! — Isobel estava de pé,
furiosa. Ele se aconchegou em si mesmo, já sabendo o que estava por
vir, já com medo. Ele sabia que era sua culpa, o que estava
acontecendo. — Pare! — Ela gritou, voando em Francis. — Como você
ousa! Como você se atreve... — Eu ouso e eu me atrevo — Francis
rosnou. Ele a pegou e empurrou violentamente para o corredor. —
Deixe o maricas sozinho! Você me escutou? Deixe o seu maricas
sozinho! — Eles lutaram. Ele assistiu eles lutarem, sabendo que sua
mãe estava sendo machucada porque ela queria protegê-lo, um
garoto maricas. Ele chorou não podia evitar. Não sabia quanto tempo
ele assistiu antes, apesar de seu medo, ele se levantou e tentou
ajudar sua mãe, mas era pequeno e não muito forte, seus dois
pequenos punhos só enfureceram Francis e o fizeram voltar-se para
ele. O pai ordenou que fosse deixado na escuridão e a porta dele
estava trancada do lado de fora. Ele se arrastou para a cama,
sofrendo, infeliz, ainda com medo. Não foi sua primeira percepção
que seu pai ... aquele homem alto, loiro e bonito como um deus, o
duque, não gostava dele. Não o amava. Não conseguia se lembrar de
quanto tempo ele estava ciente disso. Para sempre talvez, se enrolou
sob as cobertas.
A verdade. Hadrian olhou para si no espelho e recuperou o
controle de si mesmo. Deus, isso tinha sido há muito tempo e pensara
que essa memória particular estava morta. Ele pensara que a dor
estava morta. A dor da rejeição de seu pai de algum modo se enredou
com a dor da rejeição de Nicole.
Ele disse a si mesmo que estava sendo um tolo. Mas era tarde
demais, já havia enfrentado emoções nuas e cruas e saído do
precipício. Ainda havia tempo para voltar atrás.
Poderia se debruçar sobre o ódio que nunca havia morrido. O
ódio que sentia por Francis ainda lhe dava forças. E poder. Francis lhe
dera sua força, embora quisesse transformá-lo em um fraco. Francis,
afinal de contas, era o maricas e por ser um fraco, havia vitimado
aqueles que eram mais fracos do que ele, especialmente sua esposa e
filho. Era tão fácil entender agora, era impossível não entender.
Ele não se preocuparia com Francis e não iria insistir na recusa
de Nicole de sua petição. Francis estava morto, o passado estava
morto. Estava orgulhoso de quem ele era. Se ela achava que ele era
como o pai dele, então estava errada e provaria isso a ela. Alcançaria
profundamente dentro de si mesmo para tirar ainda mais força. E a
besta que havia sido revelada nunca mais emergiria.
Mais calmo, agora poderia considerar Nicole sem emoção. Não
importava o que pensava sobre ele, ou o que achava que queria. Era
imprudente, impulsiva, pouco convencional e nesse caso, tola. Ele
sabia melhor. Não queria se casar com ele, mas isso não o impediria
de fazer o que ele sabia que era certo.
E isso significava fazer dela sua esposa.
Nem mesmo uma hora depois, o duque voltou para a casa de
Shelton na Tavistock Square. Ele foi conduzido para dentro pelo
mordomo, a quem deu seu casaco e luvas drapeados. Um inquérito
assegurou-lhe que o conde estava na residência e Hadrian foi levado
ao escritório do conde.
Ele estava, claro, evitando a etiqueta. Especialmente em um
caso como este, deveria ter enviado uma nota formal solicitando uma
entrevista no momento mais curto e conveniente para Shelton. Mas
Hadrian sentiu que deveria resolver o assunto o mais breve possível.
Nicholas Bragg Shelton cumprimentou-o informalmente e
Hadrian sabia que o perdoara por todas as ofensas que suspeitava ter
tomado com a filha durante a caçada. O homem estava prestes a ficar
chocado. Não havia como evitá-lo. Hadrian esperava que suas
honradas intenções difundissem o que poderia ser uma situação
terrivelmente desagradável.
— Olá, Hadrian. O que te traz assim?
— Nicholas — Os dois homens apertaram as mãos. — Devo me
desculpar por chamar sem aviso prévio — ele começou, mas Shelton
o interrompeu.
— Você deveria me conhecer melhor do que isso. Eu não dou a
mínima para convenções e eu nunca as tenho. Devo pedir o maldito
chá que você preferir?
Hadrian sacudiu a cabeça, imaginando se a atitude de Shelton
explicava o desafio de Nicole às convenções. Ele afundou em uma
exuberante poltrona verde-esmeralda em frente ao conde. — Vou
direto ao assunto, Nicholas. Quero me casar com sua filha.
Shelton balbuciou, recuperou-se e olhou fixamente. — Nicole?
— Sim.
— Eu tenho medo que você tenha me pegado completamente
de surpresa.
— De alguma forma eu pensei que iria — Hadrian murmurou.
Shelton se inclinou para frente, sua atenção perfurando. —
Elizabeth mal esfriou em seu túmulo.
— Infelizmente isso é verdade.
O olhar de Shelton endureceu. — Por que você está vindo para
mim agora? Como você sabe muito bem, Nicole não é inundada com
propostas de casamento. Haveria pouco a temer se você tivesse
esperado outros seis meses antes de me pedir a mão dela.
Hadrian fez uma careta. Havia a possibilidade de que esperar
seis meses pudesse ser desastroso, mas ele não queria ressaltar isso,
ainda não.
Shelton se levantou abruptamente. — Existe um motivo para
pressa?
Hadrian também se levantou. — Infelizmente, existe.
Shelton estava parado.
— Meu comportamento foi indiscreto.
Por um instante houve outro silêncio. — Quão indiscreto?
— Pode haver uma criança.
Shelton prendeu a respiração.
Hadrian não disse nada, dando ao homem um momento para
absorver essa informação.
Shelton recuou a cadeira e caminhou até as janelas que iam do
chão ao teto, observando os espetaculares jardins da mansão.
— Eu vejo — ele finalmente disse as palavras cortadas. — Agora
eu entendo sua oferta. — Ele se virou para encarar Hadrian, seu olhar
cinzento tão afiado quanto aço, brilhando. Era um olhar que faria um
homem menor se esconder. — Eu gostaria muito de levar meu punho
ao seu rosto, Hadrian.
O duque não disse nada.
— Mas eu não sou idiota, mesmo que minha filha tenha se
permitido ser usada como tal. Apesar desse fato infeliz, você e eu
sabemos que essa é a melhor coisa que poderia acontecer a ela.
Hadrian assentiu, aliviado de que o pior tivesse passado. — Vou
enviar meus advogados na primeira hora amanhã de manhã, se for
conveniente, para elaborar os contratos de casamento.
— Você não deseja pechinchar os detalhes agora?
— Se o dote da sua filha consistisse em um pene, eu me casaria
com ela de qualquer maneira — Hadrian disse categoricamente.
— Claro — Shelton retornou. — Honra em primeiro lugar. Mas
talvez você devesse ter lembrado o lema de sua família antes de
arruinar minha filha.
— Touché — Hadrian disse com outra careta. — Eu só posso
pedir desculpas. Estou verdadeiramente chocado com o meu próprio
comportamento e assumo total responsabilidade por tudo o que
aconteceu.
Shelton olhou para ele completamente. — Talvez seja melhor
direcionar suas desculpas para Nicole.
— Ela se recusou a aceitá-las. Talvez você devesse saber, ela
não está interessada na ideia de nosso casamento ou no pedido de
desculpas.
— Por quê?
— Eu não sei.
— Não se preocupe com Nicole — disse Shelton com firmeza. —
Enquanto a mim, não agrada a ideia de forçá-la novamente para o
altar, certamente você já ouviu falar que foi um desastre quando eu
arranjei para ela se casar com Percy Hempstead. Ela vai fazer o que
ela deve agora.
— Eu achei que você se sentiria assim.
— Você já pensou em um dia?
— Sim. Eu já comecei o processo para obter uma licença
especial para que pudéssemos nos casar imediatamente. O segundo
domingo de hoje se encontra com a sua aprovação?
— Esse tipo de pressa vai causar um escândalo. As pessoas vão
adivinhar porque vocês dois estão se casando.
— Eu vou cuidar das fofocas. Não haverá escândalo, não do tipo
que você está pensando. Vou deixar bem claro que estou obcecado
com Nicole, um homem tão apaixonado como eu não podia esperar
mais um momento por causa de Elizabeth, eu serei condenado, não
Nicole.
Uma expressão que Hadrian não pôde ler cruzou o rosto de
Shelton. — Tudo bem. Eu te agradeço por poupar minha filha de mais
sofrimento.
A mandíbula de Hadrian se apertou. Não achava que tivesse
entendido mal a referência do conde e não podia deixar passar. — Eu
sinto muito se machuquei sua filha, Nicholas — ele disse,
suavemente. — E se vai facilitar a sua mente, quando nos
conhecemos ela não sabia que eu estava noivo e queria se casar
comigo. Tanto tem ocorrido desde então, mas com o tempo as coisas
vão se endireitar entre nós, eu tenho certeza disso.
— Mas a questão é como você vai se sentir com o tempo.
Assustado, Hadrian teve um momento para responder e quando
fez isso, foi honesto. — Eu não me oponho a tomar Nicole como
minha esposa.
Shelton olhou para ele, seu olhar procurando. Hadrian sentiu
uma vergonha embaraçosa.
Shelton de repente sorriu. — Sim — ele disse, com a mesma
suavidade — Acho que você está certo. Acho que, com um pouco de
tempo, as coisas vão funcionar muito bem.

— Você não está pronta ainda? — Regina perguntou.


Nicole se sentou em sua cama em sua roupa íntima. Ela olhou
para sua irmã, que tinha uma visão dourada deslumbrante em chiffon
amarelo e suspirou. — Eu gostaria de não ter prometido ir.
— Nicole! Você prometeu e a menos que você diga que está
doente, tio John ficará terrivelmente ferido se você não for.
Nicole sabia que Regina estava certa. Embora John Lindley não
fosse realmente seu tio, era o melhor amigo de seu pai e o conhecia
desde a infância. Quando era criança, ele nunca deixava de chegar a
Dragmore com presentes para ela e seus irmãos e irmã. Nicole não
poderia tê-lo amado ainda mais se fosse seu tio.
Mas não se recuperou daquela tarde. Da proposta miserável e
tão honorável de Hadrian, nunca se recuperaria. Como ela
poderia? Quando ela queria se casar com ele tanto que doía e
quando se casar com ele a machucaria ainda mais?
Regina se aproximou, suas saias sussurrando ao redor dela
enquanto se movia. — Nicole, o que é isso? Eu não vi você tão para
baixo desde que você veio para Londres. — Ela se sentou ao lado de
sua irmã na cama, seus olhos âmbar registrando sua preocupação. Ela
baixou a voz. — É ele, não é?
Nicole assentiu, encontrando o olhar da irmã.
Regina pegou a mão dela. — Ele gosta de você, Nicole, é tão
óbvio. Uma vez que ele tenha cessado o luto por Elizabeth, você vai
ver. Tenho certeza de que se apresentará para cortejá-la. E você deve
encorajá-lo, vou lhe ensinar como.
Nicole quase começou a chorar. Ela disse — Ele já propôs
casamento para mim.
Regina ofegou. — O que? Por que, isso é impressionante.
Nicole sacudiu a cabeça. — Eu recusei.
— Você o que?
— Eu recusei.
— Você está louca?
Nicole segurou o braço dela. — Ele não me ama, ama Elizabeth,
deu seu coração a uma mulher morta. Só se ofereceu para casar
comigo porque ele me beijou... indevidamente. — Ela corou. Ela não
se atreveu a dizer a sua irmã a verdade. — Intimamente.
Regina olhou confusa. — O que você quer dizer com
intimamente?
Nicole fechou os olhos. — Lorde Hortense não beijou você?
— Claro.
A maneira como Regina respondeu disse a Nicole que ela não
tinha ideia de como um beijo poderia ser íntimo e sem
vergonha: boca aberta, quente, línguas se tocando.
— O que ele fez, Nicole? Como assim, ele te beijou intimamente?
Um beijo é íntimo.
— Há beijos — disse Nicole suavemente — e há beijos.
Regina ficou perplexa e mais do que curiosa. — Você não vai me
contar?
— Tudo bem! — Nicole quase gritou. Lágrimas a inundaram. —
Ele me beijou com tanta força que minha boca está machucada!
Nossas línguas se tocaram! Ele me tocou onde não deveria! Isso
satisfaz sua curiosidade?
Regina ficou chocada sem palavras.
— Nunca deixe Lorde Hortense, ou qualquer homem tomar
essas liberdades com você! — Nicole chorou. — Ou você vai se
encontrar na minha posição.
Ainda claramente atordoada, Regina conseguiu — Você deve se
casar com ele.
— Eu não vou. Eu não posso! Ele admitiu que estava pedindo
minha mão por dever e nada mais.
Os olhos de sua irmã se arregalaram novamente. Finalmente ela
encontrou sua voz. — Tudo bem, então não é o ideal. Mas ele é o
Duque de Clayborough. Você deve dizer sim.
— Eu não posso! — Nicole disse novamente. — Ele me trata
com ódio! Eu o amo e ele não tem nenhum fragmento de amor em
seu coração por mim! Você não entende? Eu não suportaria ser sua
esposa, amando-o, enquanto não sente nada por mim, enquanto
corre para outras mulheres, para suas amantes. Você não entende
isso?
— Não — Regina disse sem rodeios. — Todos os homens têm
amantes, Nicole. Estamos falando do Duque de Clayborough! Você é
estúpida se não se casar com ele, especialmente quando o ama.
— Eu não me importo que ele seja um duque. Eu me preocupo
com o que sente por mim. E nem todos os homens têm amantes. O
nosso pai não tem uma amante — Nicole respondeu. — Nem o
Visconde Serle.
— Eles são exceções — afirmou Regina. — E você está sendo
excessivamente insensata.
— Se você se casar com lorde Hortense, vai ficar tão contente
quando souber que mantém uma mulher também?
Regina coloriu ligeiramente. — Eu não ficarei surpresa.
— Então você não o ama! — Nicole se pôs de pé para andar em
uma rajada de anáguas de seda.
— Eu estou — Regina chorou — Estou loucamente apaixonada
por ele.
— Se você o amasse, não seria capaz de aceitá-lo tão
casualmente.
— Talvez eu seja realista e você Nicole, seja romântica.
Ambas as irmãs se entreolharam. A própria noção parecia
absurda. Qualquer um que as conhecesse juraria que era o contrário,
mas naquele momento parecia que Regina estava certa. Uma batida
na porta salvou Nicole de responder.
Jane enfiou a cabeça para dentro. — Nicole, quando você se
vestir, você poderia se juntar a seu pai e a mim na biblioteca?
Nicole ficou desconfortável. — Para o que, mãe?
— Há algo que seu pai deseja discutir com você — disse Jane,
sua expressão séria.
O medo dominou Nicole. Foi sobre Hadrian. Ela estava certa
disso. E se eles tivessem descoberto alguma coisa sobre ela visitar a
Clayborough House ontem? — O que é isso?
— Apenas se junte a nós na biblioteca, por favor. — Não foi um
pedido. Jane sorriu e fechou a porta.
Nicole percebeu como estava nervosa quando Regina tocou seu
braço, fazendo-a pular. — Você tem um vestido melhor — disse
ela. Sua expressão, geralmente alegre era sombria. — E é melhor
você mudar de ideia rapidamente e dizer ao duque que aceitará a
proposta dele.

— Por favor, feche a porta.


Nicole olhou do pai, em frente à mesa, para a mãe, sentada no
sofá. Ela fechou as portas de mogno atrás dela. — Eu fiz algo que
não sei? — Ela tentou sorrir.
Nenhum dos pais dela sorriu de volta. Seu pai estava muito
sombrio. A sensação de medo aumentou novamente, passando por
cima dela. Especialmente quando sua mãe se levantou e se
aproximou dela, parecendo tão terrivelmente ansiosa. — Oh, querida
— Jane disse suavemente.
— O que é isso? — Nicole perguntou.
— O duque de Clayborough esteve aqui hoje — disse Nicholas.
— Ele pediu sua mão e eu concordei.
Por um instante, Nicole pensou que o pai dela estava se
referindo à visita de Hadrian quando ele se propusera a ela na sala de
visitas. Levou um momento para compreender o que ele dissera. O
duque voltou para a Tavistock Square depois disso e foi diretamente
para o pai com o pedido. — O que?
— Nossos advogados estão se encontrando amanhã de manhã.
— Não! — Ela chorou violentamente. — Eu não vou casar com
ele.
Jane apertou seu braço, mas antes que ela pudesse falar,
Nicholas estava caminhando na direção dela. — Eu acredito que você
não tem escolha.
Nicole congelou, presa pelos olhos de seu pai. Ele sabia. Hadrian
havia dito a ele. Ela gemeu.
— É um pouco tarde para arrependimentos — disse ele, olhando
para ela. — E por causa da possibilidade de você estar grávida, você
deve se casar no segundo domingo a partir de hoje.
— Vou matá-lo — gritou Nicole.
— Não haverá choro, Nicole. Se você era contra o casamento
com Hadrian, deveria ter pensado nisso antes de permitir que ele te
levasse para a cama.
Nicole se soltou da mãe e correu para a janela, tentando
controlar sua histeria. Ela estava furiosa, furiosa com Hadrian por ir ao
pai e contar tudo a ele, não apenas humilhá-la, mas também
assegurar que Nicholas aceitasse sua ação e a aceitasse com
determinação. Também estava cheia de pânico.
— Querida — disse Jane, quebrando o terrível silêncio. — Não
pode ser tão ruim. Hadrian é um bom homem. Ele será um bom
marido. E eu sei que você tem sentimentos por ele. Mesmo que você
pense que não o ama mais, com o tempo, tenho certeza de que seus
sentimentos voltarão.
Nicole girou. — Ele ama outra mulher! Ele ama a Elizabeth.
Jane e seu pai ficaram olhando para as implicações de sua
explosão emocional. Jane veio até ela. — Elizabeth está morta.
— Isso faz com que seja pior. Você não pode ver? Eu não
poderia competir com ela quando ela estava viva, mas agora, agora
serei eternamente assombrada por sua memória.
— Você o ama — Jane disse suavemente, tocando a bochecha
de sua filha.
Nicole se afastou. — Você fugiu do pai porque o amava! E é
exatamente por isso que não posso me casar com Hadrian! Com
certeza você, mãe, de todas as pessoas, é a única que pode me
entender.
— Eu fui uma idiota — disse Jane. — A melhor coisa que já
aconteceu comigo foi o seu pai me encontrar e ter me obrigado a
casar com ele.
A mandíbula de Nicole se apertou em uma linha dura. — Eu não
vou casar com ele. Eu não vou.
Nicholas falou, lembrando a ambas que ele estava presente. —
Aceitei a oferta de Hadrian e você não vai mudar de ideia. Ou
esqueceu a possibilidade de estar grávida?
Nicole estremeceu com a terminologia contundente.
— Sim, Nicole, grávida — disse Nicholas grosseiramente. — Eu
não vou permitir que você me traga um neto bastardo.
Lágrimas encheram seus olhos. Ela nunca soube que seu pai
poderia ser tão cruel. — Se nós esperarmos, talvez.
— Não. Basta, já é o suficiente. Aparentemente você ama o
homem mesmo assim.
— Eu não o amo! — Ela gritou e nesse momento não o fez. —
Eu o odeio.
— Independentemente disso — disse Nicholas duramente. —
Minha decisão permanece.
— Querida, vai dar certo — Jane disse consoladora.
Ela estava ofegante. Mais uma vez ela sacudiu o toque da
mãe. — Haverá um escândalo. Pai não suporto outro escândalo.
— Não haverá escândalo. O duque está preparado para assumir
toda a culpa pelo seu casamento precipitado. Ele fará com que a
sociedade pense que é um tolo apaixonado. Ninguém suspeitará das
circunstâncias, ou se o fizerem, ficarão em dúvida.
— Ele vai fingir que me ama? — Ela não podia suportar.
— Ele está protegendo você do escândalo — disse Nicholas.
— Você vai me forçar de novo?
— Sim.
— Você não lembra o que aconteceu da última vez?
Suas palavras pairaram no ar. Nicole imediatamente se
arrependeu delas. Nicholas olhou para ela. — Você está me
ameaçando, Nicole?
Pela primeira vez em sua vida, estava com medo de seu pai,
mas se manteve firme. — Não faça isso comigo.
— Eu não vou deixar você fugir — disse Nicholas ferozmente. —
Não dessa vez.
— Você terá que me amarrar e me levar ao altar.
— Se você deseja criar o escândalo, que assim seja.
Nicole respirou fundo. Jane gritou com o marido em
protesto. Para Nicole era demais. Não havia como mudar de
ideia. Com um pequeno soluço ela fugiu do quarto.
Capítulo 21
Nicole estava em pânico. Seu pai e o duque de Clayborough
eram os dois homens mais poderosos que ela conhecia. Se os dois
tivessem decidido que ela iria se casar com Hadrian, então isso
aconteceria. Ela pegou seu pai de surpresa pela última vez, fugindo
no último momento. Na verdade, tinha vergonha do que fizera, mas
não tivera escolha. Nunca se arrependeria de fugir de Percy
Hempstead. No entanto, nunca havia lutado contra esse casamento
do jeito que ela lutaria contra este. E desta vez seu pai foi prevenido.
Nicole estremeceu. Ele quis dizer isso quando disse que não a deixaria
fugir, insinuou que iria amarrá-la e carregá-la até o altar, se
necessário! Ele estava tão preocupado em ela se casar com Hadrian
que nada iria mudar sua opinião.
Andava de um lado para o outro em um frenesi. Uma vez o pai
dela tinha sido seu maior aliado, seu melhor amigo. Como ele poderia
fazer algo assim? Como poderia forçá-la a casar contra sua vontade?
Era como se fosse um bem. Como se fosse um escravo para ser
vendido a outro ser humano por capricho. Embora outras mulheres
não tivessem escolha no casamento, embora outras mulheres nem
esperassem uma escolha, Nicole não tinha sido criada como outras
mulheres. Sempre teve um grau de liberdade chocante. Nicholas não
a criara para ser uma boneca de porcelana estúpida e delicada
colocada sobre um pedestal. Não tinha sido criada para ser uma
esposa ornamental e nada mais. Ele tinha aprovado seu conhecimento
sobre agricultura e criação de animais e matemática, tinha aprovado
sua educação não convencional, de fato, ele sempre se interessou
pela opinião dela em assuntos que iam de Dragmore a política. E
muito menos se importava com o modo como se vestia quando estava
em Dragmore com a família. Ele pensara que as calças dela eram
mais sensatas para andar. Certamente concordara que pintasse
aquarelas, quando não tinha talento e cantar quando não tinha voz.
Ele tinha orgulho de suas realizações incomuns e seu intelecto.
Agora não se importava como ela se sentia, a estava casando
apesar de seus protestos mais profundos, estava tomando uma
decisão sobre ela e sua vida, a mudando completamente, contra sua
vontade, não era mais seu maior amigo e aliado. Estava contra
ela. Hadrian havia se metido entre eles... Hadrian tinha feito isso.
Pensar no duque e no que fizera a enfureceu. O temperamento
de Nicole explodiu. Como ousa interferir em sua vida! Como se atreve
a arruinar seu relacionamento com o pai.
Houve uma batida suave em sua porta. Nicole reconheceu a
batida de sua mãe e endureceu, não pediu para ela entrar. Jane tinha
ficado do lado do pai contra ela e Nicole não podia perdoar.
Jane entrou mesmo assim. Nicole virou as costas para ela. —
Não fique com raiva de mim ou de seu pai — ela disse gentilmente. —
Nós amamos muito você. Nós só queremos o melhor para você.
— Se você realmente me amasse, não me obrigaria a casar com
ele.
— Com o tempo você vai se sentir diferente e entender o que
fizemos.
— Eu duvido.
Jane hesitou, ainda falando com as costas da filha. — Estamos
indo para o John. Vou dizer a ele que você está doente.
— Por quê? Eu não estou doente, apenas louca.
— É melhor que você não vá — respondeu Jane calmamente
— Nicholas me disse que o duque estava na lista de convidados de
John. Eu duvido que ele estará lá, mas acho melhor vocês não se
encontrarem até que seu temperamento tenha diminuído.
Ele era a última pessoa que Nicole queria ver. — Eu
sinceramente concordo — ela gritou.
Sua mãe saiu do quarto. Alguns instantes depois, Nicole foi até a
janela e viu a carruagem Dragmore descendo a estrada e indo para a
rua. Ela ficou olhando.

A primeira coisa que Nicole viu quando entrou no salão vermelho


da casa de John Lindley foi o duque de Clayborough. A segunda coisa
que viu foi Stacy Worthington.
Ela decidira vir. Por que deveria ficar de mau humor em seu
quarto? Talvez pensasse que ela o estava evitando. Era a última
pessoa que estava evitando. Na verdade, tinha algumas coisas que
adoraria contar a ele.
Mas não contava com esse cenário.
Pegou um xerez de uma bandeja passada por um criado e bebeu
rapidamente. Seu coração batia irregularmente. Stacy Worthington
estava flertando com Hadrian. Nicole não conseguiu tirar os olhos
deles.
Ela riu de tudo que ele disse, se aproximou do seu lado, olhando
para o rosto dele com um olhar de êxtase, pareceu devorar suas
poucas palavras, se agarrou a ele.
Não que Nicole se importasse. Ela não se importou. Não se
importava que ontem estivesse nos braços de Hadrian, que hoje eles
estivessem supostamente noivos. Se ele quisesse fazer papel de bobo
com outra mulher, uma mulher esbelta e bonita, isso era bom para
ela. Na verdade, talvez decidisse fazer de Stacy sua esposa! Nada
poderia lhe servir mais.
Quem ela estava enganando?
Nicole estava chateada, mais chateada do que estivera o dia
todo. Percebeu que estava olhando para eles e terminando o xerez de
uma maneira muito grosseira, ela se virou. A miséria se gravou em
seu coração.
Olhou ao redor do salão lotado, desejando não ter vindo,
ignorou seus pais. Viu Regina rindo com Martha e seu marido, ficou
feliz em ver que sua melhor amiga estava presente. Sorriu para eles
do outro lado da sala. Então se deu conta de como estava sozinha no
meio de todos os aglomerados de pessoas conversando. De repente,
sentiu-se desconfortável e gostaria de se juntar a um dos grupos, mas
não conhecia ninguém. Também estava ciente de que as duas
senhoras estavam olhando para ela, embora estivessem tentando ser
discretas.
O estômago de Nicole se apertou e por um momento, esqueceu-
se do duque e de Stacy. Estava fora do turbilhão social há anos e só
chegara a Londres recentemente, então disse a si mesma que não era
de surpreender que essas senhoras estivessem interessadas
nela. Quem ela estava enganando? Ainda era considerada uma
espécie esquisita e excêntrica, apesar de todos os anos que se
passaram desde o escândalo. Isso nunca mudaria? Ela sempre seria
uma estranha?
Caminhou até os Serles e Regina, foi muito cuidadosa para não
sequer olhar para o duque. Mas no momento em que a viu, ela ficou
ciente, podia senti-lo olhando para ela.
— Martha — disse Nicole, sem nenhum alívio.
Martha abraçou-a enquanto o marido beijava sua bochecha. Ele
se desculpou para deixá-las sozinhas para suas fofocas.
— Nicole — Regina disse uma vez que ele se foi — se eu fosse
você, eu iria e falaria com o Duque. Aquela bruxinha Stacy
Worthington está de olho nele e se você não tomar cuidado, ela vai
pegá-lo, também.
Nicole olhou para a irmã friamente. Felizmente, Regina ainda
não havia sabido sobre os arranjos feitos entre o duque e seu pai. —
Eu não me importo.
— Ele veio sozinho — disse Martha. — Mas Stacy
definitivamente está atrás dele.
— Bom. Ela pode tê-lo. — Nicole pegou outro copo de xerez de
uma bandeja de passagem. Senhoras nunca tiveram mais de uma
bebida, mas ela não era uma dama, não é? Lembrou-se de ter caído
nos braços de Hadrian no chão da biblioteca ontem e sentiu o calor
subir em suas bochechas. Sabia que ele a estava olhando. Talvez
estivesse se lembrando também. Incapaz de controlar, se virou para
olhá-lo. Seus olhares se encontraram.
Stacy tentava falar com ele, mas não parecia estar
ouvindo. Nicole pensou em como decidira imperiosamente o destino
dela. Sobre como ele achava que ia se tornar seu marido. Ela deu-lhe
um olhar muito zangado. Ele assentiu educadamente. Foi então que
Stacy percebeu onde estava sua atenção e Nicole ficou satisfeita em
vê-la ficar cor-de-rosa pálida. Nicole se virou.
— Você pode mentir com os dentes o dia todo, Nicole, mas sei
como você se sente — sussurrou Martha.
Nicole viu que Regina estava prestes a falar, deu-lhe um olhar
reprovador. Regina sorriu um pouco presunçosamente. Nesse
momento, dois senhores pararam ao lado delas, saudando
educadamente Martha. Apresentações foram feitas por toda parte e
Nicole percebeu que Lorde Glaser estava interessado nela. — Como
você está esta noite, Lady Shelton? — Glaser perguntou.
Nicole respondeu educadamente depois de recuperar seus
sentidos. Fazia muito tempo desde que um homem a procurara na
sociedade. O que mudou? Ela não saíra desde o piquenique de
caridade, excluindo o velório e o funeral de Elizabeth. De repente, foi
considerada aceitável porque o duque havia estendido sua proteção
para ela? Ninguém, é claro, sabia do envolvimento deles ainda. E
ninguém nunca iria saber, pensou resolutamente.
Ela pegou Glaser lançando um olhar para sua pessoa, o tipo de
olhar que Hadrian tinha enviado cem vezes para ela. Ele rapidamente
corrigiu o olhar, mas Nicole estava desconfortável. Não gostava de
pensar nisso, mas o ávido interesse de Hadrian nunca a incomodara.
— Devo dizer, estou feliz que você esteja aqui esta noite, lady
Shelton. Você ilumina as coisas consideravelmente.
Ela não teve escolha senão agradecer-lhe.
— Você vai ficar em Londres pelo resto da temporada?
— Eu duvido — disse Nicole sem jeito. Estava interessado nela e
não sabia se ria ou chorava.
— Você deve ficar — disse Glaser.
— Eu ainda não decidi — disse Nicole. Viu que Hadrian estava
olhando para eles. Nunca fora namoradeira e, na verdade, não sabia
como ser uma. Mas de repente foi subjugada pela vontade de tentar,
embora sempre tivesse desprezado as mulheres que se curvavam tão
baixo a ponto de deixar seus namorados com ciúmes.
Ela sorriu para Lorde Glaser e o olhou diretamente nos olhos. —
Mas talvez você possa me convencer. — No momento em que as
palavras saíram, sabia que elas eram sugestivas demais para serem
tímidas. Martha ficou horrorizada. Glaser ficou brevemente surpreso.
— Quero dizer — ela corou. — Quero dizer, estou me divertindo
tanto e... oh, desculpe-me.
Libertou-se do grupo, empurrando a multidão. Não quis ser
sugestiva assim, não quis dizer nada, só queria flertar! Mas flertar era
para idiotas como Stacy Worthington! E agora era a única que agira
como um idiota.
Fora do salão, o corredor estava vazio, mas não parou até
chegar ao lavabo. Felizmente estava vazio e ela entrou
apressadamente, trancando a porta atrás dela.
Oh, que gafe! Virou-se para se olhar no espelho e viu que ainda
estava vermelha de vergonha. Poderia ter cometido um erro pior?
Nicole engoliu em seco e molhou uma toalha e umedeceu o
rosto. Quando estava composta, deixou o banheiro, resolvendo evitar
Lorde Glaser pelo resto da noite. Saiu e lá estava ele, esperando por
ela.
Ele era um homem bonito e estava sorrindo. Nicole estava
congelada. — Você não deveria ter fugido — disse ele.
— Meu senhor — ela disse — me perdoe meu deslize da língua.
Eu não quis dizer isso do jeito que soou.
— Claro que você não fez — ele sorriu novamente. Ela não
sabia se ele acreditava nela ou não. Ele tocou seu pulso com luvas
levemente. — Há um baile sexta à noite no Abbots, gostaria de me
acompanhar?
Ela ficou chocada com o convite. Mas não teve a chance de
responder.
— Ela não vai acompanhá-lo, Glaser — disse o duque de
Clayborough. — E se você não tirar a mão do braço dela, eu mesmo
removerei.
Ele apareceu atrás deles silenciosamente. Nicole deu um
pulo. Glaser ficou intrigado. — Eu imploro seu perdão, mas o ouvi
corretamente?
— Você me ouviu corretamente.
Nicole olhou para Hadrian. Seu belo rosto parecia ter sido
esculpido em pedra. No entanto, seus olhos estavam em chamas
enquanto ele olhava para a palma de Glaser, descansando tão
levemente em seu braço. O aperto de Glaser se intensificou. — Eu
não tenho permissão para convidar a mulher mais bonita de Londres?
Veja aqui, você pode ser um duque, pode me superar, mas isso não
lhe dá direitos especiais.
— Eu tenho todo o direito. Minha futura esposa não irá com
você para o baile dos Abades.
Glaser de repente baixou a mão. — Eu não tinha ideia, Sua
Excelência — ele disse rapidamente.
O sorriso do duque estava frio. — Claro que você não tem. O
noivado só foi acertado hoje. O anúncio estará nos jornais de
amanhã.
— Desculpe-me novamente — disse Glaser, acenando para
ambos. Ele saiu apressado.
Nicole estava boquiaberta. — Como você pode?
Ela tinha esperado contra todas as probabilidades de sair deste
noivado antes de se tornar de conhecimento comum. Não tinha
dúvidas de que Lorde Glaser estaria espalhando a notícia em
segundos. Na manhã seguinte, toda Londres saberia do noivado,
tornando impossível uma separação graciosa e privada. Mais uma vez,
o duque irrevogavelmente colocou os acontecimentos em movimento,
afetando sua vida e seu futuro, intencionalmente e sem seu
consentimento.
— Como eu poderia o quê? Resgatá-la de um admirador
indesejado?
— Quem disse que ele era indesejado? — Ela se atirou
despreocupadamente.
Ele agarrou o braço dela. — É melhor que ele tenha sido
indesejado, Nicole.
Ela tentou afastá-lo e não conseguiu. — Solte!
Ele obedeceu quando lhe convinha. — Eu vejo que você está
chateada.
— Chateada? Ha! Isso é um eufemismo, sua graça!
— Você está chateada porque eu afugentei um pretendente
bonito, mas atualmente ilegítimo?
— Você sabe muito bem porque eu estou chateada! — Ela
esperava que sua maldição o chocasse.
Isso não aconteceu. Isso só o irritou. — No momento em que
alguém entrar nesse corredor, seremos um espetáculo.
Nicole riu. — Nós vamos ser um espetáculo no minuto em que
nosso noivado for anunciado! Vai ser é um escândalo.
— Não permitirei que você seja o alvo de qualquer escândalo.
Tomarei todo o peso de qualquer repercussão.
— Fingindo me amar?
Por um momento ele não respondeu. — Confie em mim.
— Confiar em você?
Ele corou. No entanto, colocou a boca em uma linha dura e
sombria. — Não faz sentido bater em um cavalo morto — avisou. —
Eu já disse que sou culpado pelo incidente de ontem.
— Incidente de ontem? — Lágrimas abruptamente chegaram aos
olhos de Nicole. Este homem de frente para ela estava tão frio quanto
o gelo, não o apaixonado que a abraçara e a amara. Mas isso era
apenas isso, não a amava, na verdade não. E agora ele fingiria amá-
la. — Fico feliz que você se culpe. Vamos esquecer o passado. Mas
não vou me casar com você.
— Você é muito tola e além disso, neste momento, ninguém
está perguntando a você.
— Como você está certo.
— Eu perguntei a você — ele lembrou-a severamente.
— E eu disse “não”.
— Você deixou seus sentimentos bem claros. Por que você
insiste nesse argumento?
— Minha vida inteira está sendo decidida sem o meu
consentimento e você me pergunta por que eu discuto com você?
— Nicole — disse ele, cansado — você pode argumentar até
ficar de cara feia, mas o assunto já foi decidido. Vamos nos casar no
segundo domingo de hoje. E isso é o final.
Nicole levantou o queixo. Lágrimas encheram seus olhos. Estava
de costas para a parede e não poderia fazer nada, a menos que
fizesse algo terrivelmente drástico, mas nem sequer se atrevera a
pensar tão à frente.
— Hadrian! — Uma mulher chamou. — Aí está você, eu queria
saber onde você tinha ido.
Nicole ficou rígida e o duque soltou o braço dela. Afastou as
lágrimas de impotência e fúria. Stacy Worthington sorriu docemente
para o duque, ignorando Nicole. — Vamos voltar para dentro? — Ela
perguntou.
— Minha querida — disse o duque, segurando o braço de
Nicole. Ele atirou-lhe um olhar de advertência que Stacy não pôde
ver. Seu polegar acariciou seu pulso enluvado. — Devemos? — Ele
perguntou, dando a ela um de seus raros sorrisos. Isso suavizou suas
feições e por um momento, Nicole ficou hipnotizada.
Stacy estava olhando também.
Nicole poderia se afogar em seus olhos dourados. Com um
esforço, percebeu que aquilo era um jogo, que tudo era
fingimento. Seu coração se virou. Tentou se afastar, mas o aperto
dele aumentou tão rapidamente que não conseguiu se mover nem um
centímetro. Na verdade, estava pressionada contra o lado dele.
Não queria estar pressionada contra o lado dele, nem queria
estar perto dele, nem queria ser o destinatário de um olhar tão íntimo
e terno. Mas não havia escolha.
— Stacy — disse o duque de Clayborough. — Eu acredito que
você já conheceu Lady Shelton?
— Sim.
— Lady Shelton fez-me a grande honra de concordar em se
tornar minha esposa — continuou ele, dando-lhe outro olhar muito
quente.
Nicole disse a si mesma com veemência que não iria chorar, não
iria.
— Hadrian! — Stacy ofegou. — Mas... Elizabeth!
O duque olhou para a prima. — Elizabeth está morta — disse
ele. — E eu estarei casando com Nicole em menos de duas semanas.
Nicole fechou os olhos, mas não antes de ver a ira da outra
garota.
Seu braço se moveu e deslizou ao redor de seu ombro em um
abraço caloroso e íntimo. — Estou com medo de não poder esperar
— disse o duque.
Capítulo 22
Nicole saiu imediatamente de Lindley, implorando uma carona
com os Serles, que também se preparavam para partir. Estava aflita
de seu encontro com Hadrian e sabia o que isso mostrava. Martha, no
entanto, nunca a questionaria na frente do marido e Nicole contava
com isso. Praticamente pulou da carruagem deles quando eles
pararam na Tavistock Square, murmurando seus agradecimentos e
correndo para a casa. Uma vez dentro, não havia necessidade de
fingimento. A expressão de Aldric estava abertamente preocupada
enquanto ele a observava correndo pelo foyer. — Minha senhora —
ele chamou atrás dela. — Você está bem?
— Não, Aldric — gritou Nicole descontroladamente, já subindo as
escadas. — Eu não estou bem.
Seu quarto não era um santuário. Poucos minutos depois, ela
ouviu seus pais e Regina no corredor do lado de fora, dizendo suas
boas noites. Nicole rapidamente apagou as luzes do quarto, querendo
manter sua privacidade. Ouviu seus pais descendo o corredor. Um
momento depois, houve uma batida selvagem em sua porta. Ela
gemeu. A essa altura, a própria cabeça também estava batendo.
Regina não esperou a resposta de Nicole e entrou bruscamente.
— Você parece como se alguém tivesse morrido! — Regina exclamou,
seu próprio entusiasmo não diminuiu nem um pouco. — É verdade? É
verdade que você vai se tornar sua esposa? Várias pessoas me
perguntaram quando você estava deixando o tio John! Eles disseram
que você estava noiva! Nicole! Você será a próxima Duquesa de
Clayborough?
— Por favor. — Sua dor de cabeça havia acabado de aumentar.
— Oh, Deus, é verdade? — Regina chorou. — O que aconteceu?
Eu pensei que você tivesse recusado ele?
— Eu recusei! — Nicole disse com raiva. — O desgraçado foi
para o pai. Pai aceitou sem o meu consentimento.
Regina sorriu. — Isso é maravilhoso.
— Eu não vou me casar com ele.
O sorriso de Regina desapareceu. — Espero que você esteja
brincando comigo. —
Nicole deu-lhe um olhar sombrio.
— Pai arranjou! Ele é o Duque de Clayborough! O que há de
errado com você? Você me disse que é louca pelo homem.
A essa altura, Nicole não fazia ideia de como se sentia em
relação a Hadrian Braxton-Lowell, embora suspeitasse de verdade que
seus sentimentos haviam mudado. — Não mais, eu não sou mais.
— Você é uma tola se não se casar com ele.
— Então eu acho que sou um tola.
Regina bufou, os punhos cerrados. — Você vai lutar contra isso,
não vai? Você vai lutar com o pai, não vai?
— Eu estou. Por que você está chateada?
— Por que eu estou chateada? — Regina parecia como se
estivesse à beira das lágrimas. — Bem, Nicole, eu vou te dizer porquê.
Porque você está sendo egoísta.
Nicole nunca ouvira sua irmã xingar e ficou chocada. — Sou
egoísta?
— Eu nunca reclamei antes. Mas se não fosse por você eu já
estaria casada! Caramba! Eu tenho quase dezenove anos e eles estão
me fazendo esperar, esperando que um dia você receba uma oferta,
então você poderia se casar primeiro. — Bem, agora você tem uma
oferta e boa, mas você é burra demais para ser razoável. E eu estou
doente e cansada de ser uma solteirona. Maldição.
Regina estava tão perturbada que lágrimas se acumularam em
seus olhos. Nicole ficou horrorizada, não tendo ideia de que sua irmã
estava tão angustiada. — Por favor, tente e entenda. Não posso casar
com ele, não posso.
— Eu não entendo, nunca vou entender! Você está sendo
egoísta e teimosa e simplesmente estúpida! — Regina saiu correndo
do quarto, batendo a porta atrás dela.
Nicole estava tremendo. Ela e sua irmã eram muito
próximas. Embora tivessem muitas brigas, nunca brigaram assim. Há
quanto tempo Regina se sentia assim? Quanto tempo culpou Nicole
por ser forçada a esperar para se casar? De repente, Nicole sentiu que
sua irmã estava certa e que a culpa era dela de que Regina ainda
estava solteira. Sentiu como se tivesse ofendido Regina, amava sua
irmãzinha, não a machucaria voluntariamente.
Mas Nicole também sentiu como se sua irmã a tivesse
abandonado. E isso a machucou. Agora, quando precisava
desesperadamente da irmã como amiga e aliada, Regina a
abandonara.

— Nicole, precisamos conversar! — Martha falou.


Era a hora do chá no dia seguinte ao de Lindley, em casa. Nicole
ficou imensamente feliz em ver Martha. Durante todo o dia havia sido
confrontada com os preparativos para o casamento, agora
loucamente em andamento. Aparentemente, apesar da pressa, ou por
causa disso, o duque estava determinado a ter o casamento da
sociedade mais grandioso em anos e Jane estava imersa em um
turbilhão de planejamento.
Nicole não se importou com o que planejaram. Mas sua mãe
garantiu que ela fosse mantida informada sobre os detalhes mais
importantes. Jane também mandou chamar uma costureira de uma
das principais casas de moda e Nicole foi obrigada a suportar as
atenções daquela mulher por muitas horas, enquanto seu vestido de
noiva e seu enxoval eram escolhidos, ajustados e reformados. Na
verdade, seria uma semana de acessórios sem fim.
Nicole ficou com mais e mais raiva.
Era evidente, pelo tom perturbado de Martha, que soubera das
núpcias iminentes. — Está em toda a cidade! Eu não acreditei! Mas
quando entrei aqui e vi o Sr. Henry, o melhor chef da cidade e
Madame Lavie, a designer mais criativa e cara da cidade, percebi que
é verdade.
Nicole estava em suas roupas de baixo em seu quarto, Madame
Lavie tendo acabado de sair. Ela se afastou. — É verdade.
— E você não me contou! — Martha exclamou, magoada.
Nicole girou. — Tudo aconteceu ontem, Ohh! Aquele bastardo se
certificou de que não haveria saída.
— É melhor você me contar tudo — disse Martha,
imediatamente preocupada.
Nicole sentou-se e fez isso. Quando terminou, Martha pareceu
chocada, pois Nicole não escondera o verdadeiro motivo do
casamento. No entanto, ela pegou a mão de Nicole para segurá-la
confortavelmente. — Eu sei que não é assim que uma mulher sonha
em se casar, mas é o que você queria desde o início. E poderia haver
uma criança, Nicole. É claro que você deve se casar com ele. Por que
você está sendo tão teimosa e tola?
Nicole ficou de pé. — Estou cansada de me ser dito a mesma
coisa por todos que eu amo, por todos que deveriam estar do meu
lado.
— Tem que haver lados, Nicole?
— Ele transformou isso em uma guerra — disse ela
sombriamente. — Se tivesse esperado apenas...
Martha olhou para ela com indiferença.
Nicole fez uma careta e recusou-se a falar em voz alta seus
pensamentos inacabados. Mas eles estavam lá. Se ele tivesse
esperado, talvez, a tempo, tudo isso pudesse ter acontecido como
deveria. Com ele me pedindo casamento por vontade própria, por me
amar.
— Minha pobre querida — disse Martha suavemente.
— A última coisa que quero é sua pena. Como vou sair disso
agora?
— Você não pode! — Martha chorou, horrorizada. — Todo
mundo sabe do noivado e esse evento por si só é inconveniente o
suficiente.
Gemendo Nicole sentou-se de frente para sua amiga. — Como é
inconveniente? Eu também quero saber tudo. O que as fofocas estão
dizendo agora?
Martha hesitou.
— Eles estão dizendo o pior — Nicole adivinhou, aflita, embora
soubesse que aconteceria dessa maneira, outro escândalo com ela no
centro.
— É aquela cadela da Stacy Worthington — Martha declarou
acaloradamente, sua linguagem vulgar chocando Nicole e fazendo a
mulher mais velha corar. — Eu mesma a ouvi esta tarde na Sarah
Lockheart.
— O que ela está falando?
Martha hesitou. — Que há apenas uma razão possível para o
duque de Clayborough, um homem de honra, se casar com você logo
após a morte de sua noiva.
— E ela está certa — disse Nicole. — Tanto para a pretensão de
Hadrian.
— Que pretensão?
Nicole contou-lhe como ele planejava bancar o tolo apaixonado
para remover todas as suspeitas sobre o motivo por trás de seu
casamento abrupto.
— Há essa fofoca também — disse Martha ansiosamente. —
Sarah é a única que disse que ouviu Clayborough ficar absolutamente
louco por você e essa é a verdadeira razão para tal pressa.
— Quem acreditaria nisso? — Nicole perguntou tristemente, seu
coração dolorido novamente.
Nicole se sacudiu. — Agora você está sendo tola.
— O tempo vai dizer, não vai?
A possibilidade de que, com o tempo, o duque passasse a amá-
la, inundou-a com um anseio tão feroz que Nicole engasgou. — Ele é
um homem frio — ela sussurrou, mas lembrou-se dele na biblioteca,
abraçando-a como se fosse um fantasma que poderia desaparecer a
qualquer instante. Abraçando-a como se precisasse dela
desesperadamente. Como se a amasse. Fechou os olhos, não
querendo lembrar, não querendo ter esperança.
De repente, Martha sorriu. — Não será como da última vez,
Nicole. O escândalo não pode machucá-la agora, não como a noiva do
duque. Não como sua esposa.
Nicole respirou, compondo-se. — Eu devo encarar isso, não
devo? Vou me casar com ele e em uma semana e meia. Não há nada
que eu possa fazer para evitar isso.
Martha olhou para ela solenemente. — Você fugiu de Percy.
Você sempre pode fugir novamente.
Nicole olhou de volta para sua querida amiga. Como ela poderia
explicar a Martha que ela nem sequer consideraria abandonar Hadrian
de uma maneira tão horrível, quando ela não conseguia nem explicar
para si mesma?
Martha sorriu. — Mas você não vai, Nicole? E não é porque o
duque não vai deixar você fazer isso.
Sabiamente, Nicole não respondeu, pois não tinha uma resposta
plausível a fazer.

Hadrian voltou à Clayborough House com um humor negro. Seus


advogados haviam passado o dia com Shelton pagando os contratos
de casamento e várias horas atrás ele os assinara com um floreio.
Então se vestiu com um cuidado incomum para fazer uma visita
adequada para sua noiva. Não tinha ilusões... tinha certeza de que
não estaria de bom humor, aquele temperamento como tinha estado
na noite passada. Estava preparado para conter suas próprias
respostas e resolveu não ser incitado por nada que ela dissesse ou
fizesse.
Ele não a tinha visto. Ao chegar à Tavistock Square, o mordomo
lhe informou com expressivos olhos tristes que Nicole estava
indisposta. Embora o rosto do homem fosse impassível, estava claro
que estava mentindo a pedido de sua amante e estava aflito em
negar ao duque. Pouco depois, a condessa apareceu. Ela se desculpou
informando que Nicole estava doente e confinada em sua
cama. Hadrian podia adivinhar exatamente o quanto estava doente e
qual era a causa de sua doença.
Fingiu aceitar as desculpas de Jane, perguntou educadamente
depois da saúde de Nicole e informou à condessa que voltaria no dia
seguinte e com sorte, Nicole estaria bem o suficiente para recebê-
lo. No entanto, uma vez que ele estava na sua carruagem, a fachada
civil que ele usava caiu.
Entrou na Clayborough House, tão irritado e preocupado que
nem viu Woodward, que esperava que lhe entregasse o casaco, bateu
às portas da biblioteca com força. Não precisava dessa pretensão dela
para saber que estava descontente com os arranjos, já havia deixado
seus sentimentos muito claros quando rejeitou sua proposta.
Este jogo terminaria em breve, pensou sombriamente. A
condessa entendera sua advertência velada de que seria melhor que
Nicole o recebesse no dia seguinte. Se insistisse em ser tão
abertamente oposta à sua união, como ele iria salvá-la do
escândalo? Estava tentando protegê-la, mas suas ações estavam indo
para desfazer tudo o que procurava realizar.
No entanto, deveria ter sabido que ela não aceitaria
humildemente o matrimônio quando fosse arranjado sem o
consentimento dela. Não havia nada recatado ou passivo sobre Nicole
e nunca houve. Não a havia admirado secretamente mais de uma vez
por seu ousado desrespeito às convenções? No entanto, agora não
era hora de contrariar os códigos sociais. Aquele traço imprudente
que tanto o atraía e ele supunha que esse era o atrativo que ela
possuía, tornaria suas intenções de protegê-la muito mais difíceis de
cumprir.
Mas ele iria cumpri-los.
Ela se tornaria sua esposa e, como tal, ganharia não apenas seu
nome, seu título e sua riqueza, mas também o respeito que lhe era
devido. Nunca tinha dado a mínima antes sobre o que seus colegas
diziam sobre ele. Sempre soube que eles o admiravam, mas
secretamente nutriam algum grau de dúvida sobre ele também. Mas
agora não haveria mais dúvidas, não sobre ele e não sobre sua
esposa.
Ele se certificaria disso.
Isobel chegou a Clayborough House naquela noite, vestida para
o jantar com um magnífico vestido vermelho, a saia trabalhada
elaboradamente ao longo da bainha. Embora a figura de Isobel ainda
fosse suficientemente bonita para que ela pudesse se safar com a
mais ousada moda atual, ela era realista o suficiente para saber que,
com mais de cinquenta anos, não tinha a pele de uma mulher de vinte
anos e seus vestidos eram mais modestos do que reveladores. Para
combinar com seu vestido, carregava uma bolsa vermelha escura em
forma de jacto e ela também mostrava rubis nas orelhas, na garganta
e nos pulsos.
A essa altura, ela ouvira as fofocas, não duvidou disso. Não
depois da tensão que havia testemunhado entre eles. Ela pretendia
perguntar diretamente ao filho se ele se casaria com Nicole Shelton
em menos de duas semanas.
Woodward cumprimentou-a com um sorriso reservado
exclusivamente para ela. Isobel suspeitava que ele se apaixonara por
ela quando se casara com Francis, mais sabiamente, sempre fingiu
ignorar suas emoções. — Olá, Woodward. Como você está esta
noite? — Ela sempre estivera familiarizada com a equipe, mesmo
quando Francis a ridicularizava por isso.
— Tudo bem, obrigado. Sua graça está no salão vermelho
esperando por você.
Isobel sorriu, entregou-lhe o casaco de marta e permitiu que ele
a acompanhasse até o filho e anunciasse formalmente.
Hadrian cumprimentou-a calorosamente, embora parecesse
perturbado. Quando estavam sozinhos e sentados com bebidas, chá
para ele e vinho branco para ela, Isobel olhou diretamente para ele.
— Eu ouvi fofocas, Hadrian.
Ele fez uma careta. — Que fofoca?
— Tudo isso, eu suspeito. Você vai se casar com Nicole
Shelton?
— Sim, eu vou. Sinto muito que você teve que descobrir dessa
maneira, antes que eu pudesse lhe dizer.
— O resto da fofoca é verdade também?
Ele permaneceu inquieto. — Se você quer dizer que eu estou
loucamente apaixonado por ela, não.
Isobel olhou para ele.
— Eu pretendo contornar quaisquer rumores desagradáveis,
parecendo absolutamente apaixonado — afirmou.
— Entendo. — Ela teve que sorrir. — Eu não posso imaginar
você agindo de forma estúpida.
— Mais uma razão para que meu comportamento seja aceitável.
— Hadrian, você se importa de eu perguntar? Por que você está
se casando com Nicole Shelton tão logo após a morte de Elizabeth?
Ele corou. — Porque ela poderia estar com meu filho.
— Eu entendo. Então também há verdade no resto das fofocas.
Seu rosto escureceu. — Então essa é a conversa, é? Eu vou
cortar pela raiz rapidamente! Vou descobrir os autores dessa fofoca e
tornar meu descontentamento inequivocamente conhecido.
— Tenho certeza que você vai parar os rumores em pouco
tempo — disse Isobel suavemente. Ela também se levantou e colocou
a mão no braço do filho. — Como você está se sentindo?
Ele ficou tenso e se afastou. — Eu sempre sentirei falta de
Elizabeth, mas ela está morta. — Ele andou até a janela alta e olhou
para fora dela.
— Eu quero dizer sobre o seu casamento. Sobre a sua noiva.
Ele se virou, seu sorriso educado. — Estou assumindo total
responsabilidade pelo meu comportamento, mãe. O que mais você
quer que eu diga? Que estou realmente apaixonado por lady Shelton?
Garanto-lhe que não estou.
Isobel sorriu. — Entendo.
— Posso ter sua aprovação? — Ele perguntou. — Eu sei que ela
não será a melhor duquesa, mas imagino que com o tempo
conseguirá lidar bem.
— Pelo contrário — disse Isobel, ainda sorrindo. — Eu acho que
ela vai ser uma boa duquesa e uma esposa maravilhosa.
Hadrian ficou olhando um pouco vermelho e tossiu, afrouxando
a gravata. — Estou feliz que você pense assim.
— Ela é uma boa mulher. Eu gosto dela. Admiro sua capacidade
de recuperação e seu pensamento independente.
Hadrian suspirou. — Mãe, ela está mortalmente contra esse
casamento. Seu ”pensamento independente” já está me causando
dor.
Isobel riu. — Eu imagino que esteja. Hadrian, você é muito
certo. Um pouco de impropriedade em sua vida lhe fará bem.
— Um pouco de impropriedade na minha vida vai me fazer
bem? — Ele ecoou. — Você não faz ideia , mãe. Obviamente eu não
estou nem perto do suficiente.
Isobel ficou séria. — Querido, todos nós cometemos erros. Você
não é o único homem consciencioso a sucumbir à sua paixão por uma
mulher. Acredite em mim quando digo que uma boa dose ou dois do
pensamento independente de Nicole Shelton é exatamente o que você
precisa.
— Uma dose de Nicole Shelton equivale a cem doses de
qualquer outra mulher! Nicole não faz nada pela metade, mãe.
Quando ela é ousada, está em plena forma. Você está me acusando
de ser muito apropriado?
— Eu estou?
— Você prefere que eu seja como o querido Francis?
Isobel ficou instantaneamente sombria. — Claro que não.
Você não é nada como ele, Hadrian, nada.
— Mesmo? — Andando até a mesa do mordomo e servindo
outra xícara de chá. — Talvez Lady Shelton pense diferente.
Isobel começou. — O que isso significa?
— Temo que ela ache meu comportamento um pouco
repreensível. Na verdade, foi repreensível. Há mais Francis em mim
do que eu suspeitava.
Isobel estava branca de raiva. — Isso não é verdade.
Ele ergueu o olhar para ela. Sua expressão estava zombando. —
Todos nós temos um lado negro, mãe. Para alguns, é mais escuro que
os outros.
Isobel ficou sem palavras.
— Eu não queria incomodar você — disse o duque rapidamente.
— Este tópico é muito mórbido. Vamos discutir os planos de
casamento? Eu decidi que toda Londres deveria comparecer, para ver
que não temos nada a esconder.
— Hadrian — Isobel veio até ele e tocou seu braço. — Você não
é como Francis. Isso me incomoda quando você fala assim. Você não
é como ele! — A culpa foi apresentada em seu peito por negar ao
filho a verdade.
— Eu nunca deveria ter mencionado isso. — Seu rosto estava
fechado e sabia que ele não iria discutir um assunto desagradável e
íntimo com ela novamente.
Isobel se virou. Seu coração batia forte e as palmas das mãos
estavam úmidas. Francis estava morto e enterrado há dois
anos. Tinha pensado que ele estava fora de suas vidas. Mas outro
rápido olhar para o rosto pensativo de Hadrian lhe disse que ele ainda
assombrava não só ela, mas seu filho. Oh Deus! Deveria dizer a
verdade! Resolveu que a faria. Não tinha percebido que Francis ainda
afetava Hadrian, mesmo morto e enterrado, que seu filho estava se
acusando de ser um monstro como Francis e que achava que Nicole
concordava que era tão desonroso quanto. Hadrian era o homem mais
honrado que ela conhecia e como tal, tinha todo o direito de saber a
verdade.
Isobel tremeu. O tempo nunca tinha estado mais certo. Afinal,
estava prestes a se casar, logo teria seu próprio filho, contaria tudo a
ele. Ela devia.
— Mãe, você está bem?
— Apenas um pouco fraca — Isobel conseguiu.
— Vamos entrar para comer — disse Hadrian, rapidamente
chegando e tomando seu braço. Seu olhar cor de xerez absorvia suas
feições com grande preocupação.
Isobel queria chorar. Pois o mesmo dilema que a confrontara
havia anos ainda pairava diante dela. E se, ao contar tudo a ele,
sacrificasse seu amor e sua confiança? Hadrian era a coisa mais
importante em sua vida e não suportaria que se afastasse dela, ela
não podia. De alguma forma, precisava se aprofundar em si mesma
para encontrar a força e a coragem de que precisava para revelar o
que devia ao filho.
Capítulo 23
Isobel nasceu na primavera de 1844. Ela foi o primeiro filho do
conde de Northumberland. Sua mãe, lady Beatrice, morreu ao dar à
luz a ela. Foram quinze anos antes que Roger de Warenne se casasse
novamente. No tempo seguinte, havia apenas os dois, pai e filha.
Desde o início, ela era uma beleza loira, de olhos azuis. Seu pai
a adorava e a amava, assim como toda a família e todas as suas tias e
tios também. Em consequência, não podia deixar de ser um tanto
mimada, mas, por natureza, Isobel não era manipuladora e seus
modos precoces eram cativantes. O conde observou com orgulho que
era inteligente demais para uma dama, mesmo que jovem.
O conde estava determinado em arranjar o melhor casamento
possível para sua filha. Os Warennes eram uma das mais importantes
famílias do reino. Todos acreditavam que Rolfe de Warenne havia
vindo para a Inglaterra com William, o conquistador e que era um dos
seus melhores generais e intimo conselheiro. Ele se tornou o primeiro
Conde de Northumberland em 1805 e todo mundo sabia que era o
poder por trás do trono. Isso era uma tradição familiar. Roger não era
uma exceção; era confidente do primeiro ministro e exercia o poder
nos bastidores dos assuntos do País.
Ele também era amigo íntimo do sétimo duque de Clayborough,
Jonathan Braxton-Lowell, outro homem extremamente influente,
embora naqueles dias ele estivesse com a oposição. Deixando de lado
a política, os dois homens não só estavam bem familiarizados, como
se gostavam genuinamente, admiravam e respeitavam um ao outro.
Foi uma noite fatídica em seu exclusivo clube de James Street que
decidiram casar seus filhos um com o outro.
Naturalmente, para dois desses homens havia muito mais do
que amizade envolvida na formação de tal aliança. Roger de Warenne
não conhecia os detalhes, mas adivinhou os fatos no contrato de
casamento que os dois homens concordaram. Isobel foi uma das
maiores herdeiras da terra, mas Jonathan insistiu que ela trouxesse
uma genuína quantidade para o ducado de Clayborough, bem como
duas propriedades muito produtivas. Roger só podia supor que
Clayborough era pobre em dinheiro. Isso não o incomodou, nem um
pouco, porque Northumberland era muito rico.
Francis era um dos solteiros mais cobiçados da Grã-Bretanha,
por isso não era de surpreender que Roger o escolhesse para sua
filha. Um dia ele esperava ter um filho legítimo para herdar seu título,
sua riqueza e seu poder, mas Isobel foi seu primeiro filho e ele a
amava muito. Já tinha riqueza por ser uma grande herdeira. Como
sua filha, detinha o título de cortesia de Lady. Ela poderia ter qualquer
homem que quisesse, mas não dependia dela escolher. Roger queria
mais por ela, muito mais do que era obviamente atingível. Casando
ela com o futuro Duque de Clayborough, ele conseguiu muito mais,
pois um dia ela seria uma duquesa, sua posição superaria até a
dele. Um dia seu filho seria o nono Duque de Clayborough. Roger
exerceu grande poder, mas seu neto teria, inacreditavelmente, ainda
mais.
Roger era muito perspicaz para se arriscar em sua visão do
futuro. Porque Jonathan estava tão desesperado pela esterlina, ele
conseguiu manobrá-lo em um canto. Se Francis morresse antes de
Isobel, sem nenhum problema de sua união, Isobel herdaria
Clayborough. De Warennes viveu uma vida longa, por isso Roger não
tinha a menor dúvida de que Isobel sobreviveria a Francis e se
tivessem o azar de não ter um filho, Clayborough voltaria para os
Warennes. E se eles tivessem um filho, seu sobrenome seria de
Warenne Braxton-Lowell. De qualquer maneira, Roger ganhou para
sua família o que ele queria.
O contrato foi assinado, selado e entregue. Mas a amizade entre
Roger e Jonathan nunca mais foi a mesma. O duque de Clayborough
não podia perdoar o conde de Northumberland pelo que ele exigira.
Isobel tinha dezesseis anos e pela primeira vez em sua vida, ela
estava infeliz. Um ano antes de seu pai se casar com uma mulher não
muito mais velha do que ela, o relacionamento deles mudou
terrivelmente. Sua nova esposa, Claire, era uma viúva de vinte e
poucos anos, uma beleza estonteante e sombria de quem seu pai
parecia não poder estar separado. De repente, Isobel não era mais o
foco de seu universo. De repente, mal percebeu que Isobel existia.
Isobel ficou emocionada quando o conde anunciou seu
noivado. Estava ansiosa para escapar de sua casa e de seu pai, ficou
tão ansiosa que exigiu que seu casamento fosse transferido para uma
data anterior, em vez de esperar até depois de sua primeira
temporada e seu pai concordou.
Sem sequer conhecer Francis, já estava apaixonada por
ele. Sabia tudo sobre Francis Braxton-Lowell. Ele era 12 anos mais
velho que ela e considerado o melhor pretendente em toda a Grã-
Bretanha. Ele era loiro e arrojado e tinha todas as mulheres que o
conheciam desmaiando. Quando Isobel o encontrou, ela não ficou
desapontada. Era lindo e sua arrogância desdenhosa só o tornava
mais atraente.
Em maio de 1861, no décimo sétimo aniversário de Isobel, eles
se casaram.
E suas ilusões foram prontamente destruídas.
Antes da noite de núpcias, Francis sempre fora o perfeito
cavalheiro. Na verdade, nunca a beijou, nem mesmo lhe ofereceu
nenhuma das lisonjas florais que Isobel estava tão acostumada a
ouvir. Não que se importasse, era o príncipe de seus sonhos e não
podia errar. Era sua sofisticação, assegurou a si mesma, o que o
deixou indiferente e excitante.
Sabia vagamente o que esperar em sua noite de núpcias. Sua
avó havia explicado a ela com algum detalhe o que seu marido
faria. Isobel ficou chocada, ainda assim excitada. Não podia imaginar
um homem tendo um apêndice que crescesse grande e duro que ele
colocaria dentro dela. Pensar nos beijos que a avó lhe assegurara
constituía o importante acontecimento que a excitou ainda
mais. Como estava ansiando pelos beijos de Francis!
Francis chegou a ela com um brilho frio em seus olhos, sem
sorrir, sem oferecer conforto, sem ternura e sem palavras de amor —
Você está pronta para mim? — Ele perguntou, seu tom
zombeteiro. Seu olhar varreu-a quando se inclinou contra a porta
fechada do quarto dela.
Isobel sentiu um momento de pânico. Estava vestida com uma
camisola linda e bonita, o cabelo solto e caindo até a cintura. No
entanto, ele parecia não estar impressionado, mesmo indiferente. —
Sim — ela conseguiu manter a voz firme, ela conseguiu sorrir.
— Uma moça tão corajosa — ele zombou de novo,
aproximando-se dela. — Você ainda será corajosa em outro
momento?
Seus olhos se arregalaram, não pôde responder. Teve a nítida
impressão de que não só ele não a amava, ele nem gostava dela! Mas
tinha que estar errada.
Ele jogou o roupão de lado e Isobel foi tratada com a primeira
visão do corpo de um homem nu. Francis era esbelto, mas todo
músculo magro, mas não conseguia se concentrar nisso. O que atraiu
sua atenção foi o apêndice a que sua avó se referia e parecia enorme
para seus olhos inocentes e de repente ela estava com muito medo.
Ele riu, descendo em cima dela. — Não tão corajosa agora, não
é?
— Francis espere — ela chorou, o pânico a envolvendo.
Ele a ignorou e a beijou.
Isobel instantaneamente recuou. Sua respiração cheirava a
cigarros e uísque. Seu beijo estava molhado e escorregadio, ela não
gostou nada disso.
— Cadela frágil, não é? — Ele murmurou. — Abra suas pernas.
Isobel congelou em suas palavras. Antes que ela pudesse reagir,
ele estava abrindo as coxas dela e então ele estava rasgando-a. Se
soubesse que a dor seria tão grande, estaria preparada e não teria
gritado. Mas ela não sabia, não estava preparada e gritou. Felizmente,
Francis se gastou rapidamente e com a mesma rapidez ele a deixou.
Mas não antes de uma cruel palavra de despedida. — Espero
que sua atitude melhore.
Depois disso, Isobel o odiou. Ela nunca havia sido abusada
antes, não fisicamente e não verbalmente. E não era uma mulher que
pudesse esconder seus sentimentos. Francis estava
divertido. Rapidamente percebeu que ele estava feliz que o odiava e
gostava de machucá-la na cama.
Felizmente não veio para a cama dela com muita frequência.
Embora Isobel desprezasse o marido, nascera na nobreza e se
tornara uma futura duquesa com facilidade e desenvoltura. Eles se
divertiam pelo menos uma vez por semana, era uma excelente
anfitriã, logo considerada uma das principais anfitriãs do
reino. Recebeu mais convites do que poderia aceitar e estava fora
todas as noites da semana, sem Francis, que seguiu seu próprio
caminho com seus próprios amigos.
Isobel também ficou famosa com o duque e a duquesa, de quem
gostava muito. A duquesa era uma mulher austera e indiferente, mas
quando elogiou quis dizer isso e aprovou Isobel. O duque era quente,
caloroso e gentil e ele a adorava. Isobel não conseguia entender
como duas dessas pessoas poderiam ter tido um filho cruel como
Francis.
Ela logo ouviu os rumores. Ficou claro para ela que Francis
passava todo o tempo com uma multidão selvagem de jovens, a
maioria dos quais eram solteiros. Eles se dedicavam ao jogo, corrida,
bebida e caça. Isobel também aprendeu com uma das mulheres de
seu círculo social que Francis mantinha uma bela dançarina como
amante.
Ela estava furiosa. Ela sabia que os homens tinham amantes,
mas nunca lhe ocorrera que o marido seria como os outros
homens. Na verdade, nunca tinha sonhado que um casamento como
o dela pudesse existir! Foi o maior insulto ao seu orgulho que Francis
passou a maior parte de suas noites com outra mulher, embora ela
não o quisesse em casa com ela. E a pior parte disso era que o
mundo inteiro sabia de sua infidelidade.
— Alguém me disse que você mantém uma amante, Francis —
ela disse furiosamente. — E aparentemente é de conhecimento
comum. É verdade?
Não houve hesitação. O golpe veio antes que ela pudesse ver
isso chegando. Ele a atingiu no rosto com tanta força que caiu no
chão e viu estrelas. Quando começou a se concentrar
vertiginosamente, o rosto latejando de dor, Francis estava debruçado
sobre ela. — Nunca mais fale comigo dessa maneira, Isobel. O que eu
faço não é da sua conta. Você tem um propósito em minha
vida entendeu? E isso é, para me dar meu herdeiro.
Sabiamente, Isobel não respondeu e não se moveu. Ele se
afastou dela, deixando-a no chão. Então ela se sentou. Apesar da dor,
que provocou lágrimas quentes, os olhos dela brilharam.
Não havia mais ilusões a serem quebradas, não mais inocência a
perder. Ainda não tinha dezoito anos.
Isobel não podia conceber um filho. Francis chegou ao seu leito
cada vez com menos frequência, o que não ajudou em nada. No
entanto, quanto mais tempo passava sem que ela engravidasse, mais
ele a acusava de ser estéril e sem valor e mais rápido ele era para
encontrar uma desculpa para agredi-la.
Quatro anos depois de se casarem, o duque de Clayborough
morreu. Isobel ficou profundamente entristecida pela perda do
homem que se tornara tão amigo dela, quase substituindo o pai e
chorou no funeral dele. Francis não demonstrou remorso. Se qualquer
coisa, ele assumiu o título de Duque ansiosamente o suficiente e
permaneceu isolado de luto por menos uma semana inteira.
Isobel ficou furiosa com ele. Teve o cuidado de ignorá-lo e não
dizer nada, no entanto. Ela aprendera a não apenas evitar o marido,
mas a se abster de criticá-lo. Além disso, todos sabiam que Francis
era um vampiro viciado em álcool, ela sabia disso agora.
Foi nessa época que seu pai veio vê-la sem Lady Claire. Ele veio
para consolá-la. Nos últimos anos, ele havia começado uma nova
família; Claire havia lhe dado dois filhos. Isobel raramente o via e não
parecia mais amá-la e isso a machucara mais do que qualquer coisa.
— Eu sei o quanto você gostava de Jonathan — ele disse
pesadamente, sofrendo sua própria dor pela perda de seu amigo. —
Eu também sinto falta dele.
Ele sempre parecera imortal para Isobel, mas de repente o viu
como um homem da sua idade. De repente, percebeu que ele não era
muito mais jovem do que o duque de Clayborough e o duque estava
morto por causas naturais. O medo a varreu. Não importava o que
tivesse acontecido desde que se casara com aquela mulher, ele era o
pai dela e ela o amava. — Pai, devemos passar mais tempo um com
o outro — disse ela com firmeza.
Ele pareceu surpreso e satisfeito. — Estou sempre disposto a
arranjar tempo para você, querida — disse ele. — Mas você está
sempre muito ocupada.
— Eu! Você está sempre com Claire e os meninos.
— Desde o seu casamento, eu a convidei várias vezes a se
juntar a nós em Londres ou no país e você sempre recusou. Mas sei
que você e Francis seguem caminhos separados. Presumi que você
tem um horário social tão ocupado e importante que não tem tempo
para o seu pai.
Chocada, Isobel percebeu que ele estava ferido. Ela entrou em
seus braços. — Eu pensei que você estava muito ocupado para mim
— ela murmurou. — Parece que nos confundimos um com o outro.
Depois disso, começou a aceitar seus convites e logo descobriu
que adorava seus meios-irmãos. Claire não era tão ruim assim, na
verdade, fazia de tudo para fazer amizade com Isobel. E seu pai
sempre conseguia encontrar tempo para que os dois pudessem ficar
sozinhos. Isobel percebeu que tinha sido uma jovem tola para se
afastar dele todos aqueles anos atrás. Era óbvio que estava contente
com Claire e que adorava seus meninos. Ela estava feliz por ele.
Seis meses depois, o primeiro dos devedores de Francis veio
bater à sua porta. Estava extremamente nervoso e apologético, mas
tinha uma nota que estava quatro meses atrasada, por vinte mil
libras. Isobel ficou chocada e quando ela disse a Francis, depois de ter
colocado o homem para fora, disse a ela para cuidar de seu próprio
negócio. No mês seguinte, vários outros devedores
apareceram. Isobel não pagou a ninguém, dizendo-lhes que deviam
falar com o marido, que era muito hábil em evitá-los. A quantidade
impressionante que Francis parecia dever era cem mil libras.
Ele finalmente disse que não tinha o dinheiro.
Os devedores continuaram a persegui-la. Francis apenas riu,
ignorando todo o caso. Finalmente, um dos devedores ameaçou levar
Francis ao tribunal. Isobel odiava Francis, mas não podia permitir que
isso acontecesse. Ela penhorou as joias de sua família.
Irritada com o que havia acontecido, Isobel estava determinada
a avaliar por si mesma a situação da família. Se encarregou de passar
por sua mesa. Para sua surpresa, ela encontrou muitas contas não
pagas, todas devidas pelas propriedades. Vários gerentes das
diferentes propriedades de Clayborough tinham vindo pedir dinheiro a
ela recentemente e também os dispensara. Agora Isobel procurou o
gerente de seu lar ancestral e o questionou de perto. Ela aprendeu
que, embora houvesse gerentes para as várias propriedades e
propriedades de Clayborough, eles sempre tinham sido encarregados
das operações do dia-a-dia, enquanto os cordões e a supervisão geral
haviam sido deixados para o duque. Jonathan estava morto há nove
meses, mas Francis não assumira suas responsabilidades. Isobel ficou
chocada.
Ela sabia o que queria fazer. Ela pensou que Francis poderia
ficar descontente. No entanto, ela há muito que deixara de se
importar com o que ele pensava.
Viajou de uma propriedade para outra, inspecionando cada
centímetro da propriedade de Clayborough, examinando os livros e
fazendo reuniões com os gerentes. Quando teve uma firme
compreensão da situação, foi até o banco deles e mandou fazer um
empréstimo. Ela então apresentou a Francis.
— Há muitas contas que não foram pagas, Francis — ela disse
ao marido uma manhã, quando ele voltou para casa desalinhado e
barbado da noite de folia anterior. — Eu examinei todas as contas
completamente e preciso de acesso a oitenta mil libras para pagar
nossas dívidas. Nosso banqueiro fez esse cheque. Você poderia
assiná-lo?
Ele pegou o rascunho. Ele viu que era pago a sua esposa. Ele
rasgou. — Se tivéssemos oitenta mil libras no banco, você acha que
eu deixaria você gastar?
— Mas o Sr. Pierce ficou muito contente de fazer o cheque.
— Insensata. Ele ficaria feliz em emprestar-nos a soma! Com
interesse — Francis saiu em disparada.
Isobel pensou por um longo tempo. Então se encontrou com os
advogados de Clayborough. Ela voltou para o Sr. Pierce. O pai dela foi
com ela. Um empréstimo foi organizado, apenas em seu nome. Todas
as contas da propriedade foram pagas e elas começaram a funcionar
sem problemas novamente, sob a supervisão de Isobel.
Ela agora administrava as vastas propriedades ducais com todos
os seus assuntos. Embora fosse novata, era inteligente e tinha os
advogados e o pai para ajudá-la. Quando os primeiros pequenos
lucros vieram de suas fazendas no Sul e das vendas de madeira no
Norte, Isobel sentiu uma tremenda sensação de satisfação ao assinar
um rascunho e enviá-lo ao Sr. Pierce. Demoraria muito tempo até que
Clayborough voltasse a estar em pé de igualdade, mas com uma
administração prudente, ela pretendia que isso acontecesse.
E quanto mais bem-sucedida era, mais Francis zombava
dela - mais a odiava.
No outono de 1867, Isobel fez sua primeira viagem à América.
Fazia três anos desde que Jonathan morreu, e as propriedades de
Clayborough estavam se segurando, apesar dos maus momentos
econômicos. Isobel havia feito alguns investimentos que esperava
serem sábios, incluindo um em uma empresa de mineração. Ela
alugou vastas extensões de terra e também uma parceria com eles.
No futuro, esperava ver lucros consideráveis, estava apostando nisso
quando não tinha condições de jogar.
Com o fim da guerra entre os estados, ela, assim como muitos
outros, viu as possibilidades de ganho que viriam com a reconstrução
do sul. Isobel estava a caminho da Virgínia para investir em terras que
agora estavam queimadas e baratas, mas que um dia valeriam uma
fortuna. É claro que não tinha fundos para comprar, mas o sr. Pierce
ficara apenas feliz em lhe dar o que agora era seu terceiro
empréstimo.
Não era segredo que ela administrava as propriedades de
Clayborough e que havia empreendido vários empreendimentos
comerciais. O pariato ficara chocado, até escandalizado. Que ela, uma
mulher, uma duquesa, tivesse entrado em atividade, estava além de
sua crença. A aristocracia desdenhava as coisas como é natural e não
podia acreditar que uma dama - uma duquesa - tinha realmente e
ativamente imergido em tal perseguição. Eles ainda desaprovaram. No
entanto, como a duquesa de Clayborough, Isobel era poderosa
demais para ser evitada; ninguém jamais recusaria um de seus
convites altamente cobiçados, ninguém jamais a deixaria fora de sua
lista de convidados. De fato, as anfitriãs rezaram para que ela
participasse de seus assuntos. Ninguém se atreveu a olhar
desconfiadamente para ela. Isobel sabia que ela era o auge da fofoca
e achou divertido. Francis não chocou ninguém (exceto ela) com sua
nova tendência para jovens, mas ela chocou a todos com sua óbvia
inteligência e resolução.
Francis não achou graça. Não pelas fofocas e não por ela. Nunca
lhe agradecera por resgatar ele ou sua casa e ele nunca a
perdoou. Também nunca deixou de zombar dela como uma cadela
estéril e sem sexo de mulher.
Isobel não se importou, desde que ele a deixasse sozinha. Ela
supôs que ele estava certo, que era estéril, pois ainda não tinham
filhos. No entanto, ele não vinha para a cama dela há mais de um
ano, como se também tivesse desistido. Isobel sabia que estava muito
envolvido com seu amante atual para encontrar tempo para ela. E
enquanto Isobel estava aliviada, não pôde deixar de ficar triste. Ela
era inteligente o suficiente para saber que querer uma criança era
tolice, não com Francis como pai, mas queria. Não era, ela percebeu,
o que aconteceria. Ela tinha apenas vinte e três anos, mas sentia-se
como se tivesse cinquenta anos e bem além de seus anos férteis.
Capítulo 24
O Sea Dragon era elegante e de mastro branco, um dos mais
rápidos no mar. Ele normalmente não transportava passageiros, mas
uma vez que Isobel decidiu fazer essa viagem de negócios, ela queria
chegar à América o mais rápido possível. Conhecendo seu
empregador, sua secretária providenciou seu transporte no Sea
Dragon pagando uma taxa excepcional.
Isobel o viu antes mesmo de embarcar. Estava no cais com sua
empregada e um único baú, incapaz de se mover. Seu coração estava
alojado em sua garganta.
Ela não podia nem o ver claramente. O sol estava atrás dele,
obscurecendo sua visão. Ela só viu uma figura de homem
incrivelmente alta e poderosa, de botas e calças altas e uma camisa
de linho descuidadamente usada. Ela o ouviu gritando ordens. Seu
sangue correu. Seu corpo estremeceu. Era impossivelmente
masculino. O que havia de errado com ela?
Ele saiu do sol ofuscante e congelou, virando a cabeça
lentamente para ela. Seu cabelo castanho, manchado de ouro,
descuidadamente roçava seus ombros. Emoldurava um rosto forte,
atraente e fascinante. Com olhos penetrantes, ele procurou no cais
até encontrá-la.
Isobel não conseguiu desviar o olhar. Olhou para ela pelo que
parecia ser uma eternidade, uma eternidade que ela esperou por toda
a sua vida e então ele sorriu. O sorriso era direto e íntimo. E como
estava sozinha. Isobel corou.
— Vá — ela pediu sua empregada, Bessie. — Vá encontrar
alguém para carregar meu baú. — Houve alívio em concentrar sua
atenção em outro lugar, mas sabia que ele ainda estava
olhando. Assim como sabia, com cada fibra de seu ser, que não
deveria embarcar neste navio - seu navio. Ela não precisava saber que
era dele. Assim como também sabia que não poderia voltar atrás.
— Quem é você?
— Isobel.
Era pôr do sol. Eles navegaram o dia todo. Foi a primeira palavra
que ele falou com ela. Ele subiu atrás dela silenciosamente, mas não
se assustou. Estava parada sozinha no trilho há algum tempo,
esperando por ele.
— Isobel.
Ela se virou para encará-lo completamente.
O impacto que teve nela foi tão poderoso quanto antes. Ele a
deixou sem fôlego, sem sentidos.
— Meu nome é Hadrian — ele disse suavemente, seu olhar
varrendo seu rosto. Estudando, memorizando. — Hadrian Stone.
— Eu sei. Eu perguntei.
Eles se encararam. O coração de Isobel estava batendo
descontroladamente, quase com medo. Mas não foi um susto. E sabia
que deveria estar com medo. Pois foi desejo. Desejo que nunca tinha
experimentado antes em sua vida, nem mesmo no menor
grau. Desejo ardente quente e selvagem, desejo que se acumulou
entre suas coxas.
Ele não era muito bonito. Seu rosto estava duro, sua mandíbula
muito forte, seu nariz um pouco grande demais. Seus olhos eram
âmbar, uma chama de ouro. Tinha barba por fazer e seu cabelo era
muito grande. Se elevou sobre ela por meio metro pelo menos. Era
grande e poderoso. Ela pensou que se ele a tocasse, ela morreria.
Ele inalou por muito tempo e devagar. — Deus, droga — ele
disse. — Você é a mulher mais linda que eu já vi e o dia todo eu
continuei dizendo a mim mesmo que você era um sonho que você não
poderia ser real. Mas você é real não é?
— Eu sou real — ela sussurrou, querendo desesperadamente
tocá-lo.
Ele levantou a mão. Isobel esperou, suspensa em agonia. Seus
dedos roçaram a curva alta de sua bochecha. Ela fechou os olhos,
rezando para que a levasse em seus braços. Ela não se importava
com quem veria.
De repente, se afastou dela, amaldiçoando. Seus olhos se
abriram e viu que ele estava com raiva. Ela não podia adivinhar por
quê. Ele girou os calcanhares e saiu sem outra palavra.
Depois de um momento, Isobel o seguiu.
— Pare — ele disse no corredor abaixo do convés. Um músculo
em seu pescoço se arqueava. — Pare aí mesmo.
Ela sabia, sem ser informada de que sua cabine estava atrás da
porta que ele guardava de costas. Molhou os lábios, estava nervosa,
como se tivesse dezesseis anos novamente. — Eu não posso — ela
sussurrou.
Seu rosto endureceu. — Você é uma dama — ele disse. — E de
acordo com aquele anel, uma casada.
— Sim, eu sou — ela disse tristemente.
— Isso é tão fácil para você? Você faz isso o tempo todo?
Ela estava horrorizada com o que ele pensava. — Não! Nunca,
nunca fui infiel ao meu marido nos sete anos que nos casamos. Até
agora.
Ele agarrou seus braços, praticamente arrastando-a contra ele.
— Você está me dizendo a verdade?
A verdade estava em seus olhos. — Sim.
Seu aperto aumentou. Isso machucava. Isobel não se importou.
— Você não vê? — Ele estava quase gritando. — Eu não quero uma
noite de você. Eu prefiro não ter você em tudo.
Era demais, soluçou Isobel. Ela agarrou a camisa branca macia e
encontrou os punhos pressionados contra o abdômen duro como
pedra. — Hadrian! Eu também não quero uma noite.
Ele esmagou seu corpo com o dele, no colchão duro de sua
cama espartana. Isobel ainda chorou, com necessidade. Ele entendeu,
varrendo suas saias e saiotes, rasgando suas calças, tocando sua
carne quente e escorregadia.
Ela gritou descontroladamente, atingindo seu primeiro clímax
instantaneamente em ondas enormes e insuportáveis. Ele a segurou
enquanto ela caía.
— Deus, Isobel — ele suspirou, abrindo o corpete.
As lágrimas de alegria brilhavam nos olhos dela. — Essa foi a
primeira vez — ela sussurrou e então ela começou a chorar a sério.
Ele não entendeu, mas sentiu a mudança nela. Ele a envolveu
em seus braços e a abraçou com força enquanto chorava. Chorou por
si mesma pela primeira vez em sua vida adulta. Chorou por toda a
dor que sofrera nas mãos de Francis, por sua inocência perdida e por
ilusões destruídas. Chorou por se encontrar com Hadrian quando já
era tarde demais, pela primeira vez em muitos anos, estava a salvo,
pois finalmente encontrara seu refúgio.
— Você deve me achar louca — ela disse finalmente. Um longo
tempo havia passado. Mais tarde, Hadrian diria que havia chorado sua
dor por horas.
Ele ainda a segurava, em suas roupas rasgadas, meio nua e
apertada contra o seu lado. — Eu nunca vi uma mulher com esse
coração partido — disse suavemente. Ele acariciou o cabelo dela,
afrouxando-o. — Você quer me contar sobre isso?
Isobel sorriu, tristeza e alegria entrelaçadas. — Não. Não agora.
Talvez nunca. O coração partido se foi. Você o afugentou.
Ele sorriu, beijando sua testa suavemente. — Estou feliz.
Se ao menos Isobel tivesse percebido o quanto estava errada. O
desgosto não foi embora. Estava apenas começando.
Ela o observou se despir. Seus seios estavam arfando das muitas
carícias que ela havia suportado. Estava deitada em meio a suas
roupas rasgadas no único cobertor que ele dormia. Aquele calor agora
familiar já estava queimando entre suas coxas. Ela olhou com desejo
de dar água na boca para seu tórax enorme e nu.
Ele olhou de volta, um desejo feroz em seus olhos. — Estou
orgulhoso de você me olhar assim — disse ele.
— Você é tão bonito — Isobel retornou.
Ele riu, o som cru, trêmulo. Ele tirou as calças. Isobel gemeu ao
ver suas pernas longas, duras e poderosas. Então ela viu seu enorme
falo estressado. — Eu posso explodir apenas observando você — ela
sussurrou.
Ele fez um som inarticulado, instantaneamente caindo em cima
dela. Estendeu a mão para ele descontroladamente. Suas bocas se
fundiram. Ele já estava se acomodando entre as coxas abertas dela
que já estava trancando as pernas ao redor de sua cintura. Ele
empurrou nela. Ambos gritaram.
— Querido Deus — ele disse. — Isobel, Isobel, é possível que eu
já esteja apaixonado por você?
Ela agarrou-o ferozmente enquanto ele a balançava com sua
força, seu poder e seu amor. — Espero que sim. Como eu espero que
sim.
Ela nunca contou a ele sobre Francis. Ele perguntou, mas
quando deixou claro que não era importante, não para eles, respeitou
seus desejos e se retirou. Isobel sabia que a amava tanto quanto o
amava. Não queria que Francis se intrometesse em sua felicidade. Ela
também não queria pensar no futuro.
Mas quando eles se aproximaram da costa da América, ele não
deixou. — Quando você vai me dizer que você é a Duquesa de
Clayborough?
Isobel estava nua em seus braços em sua pequena cabana
nua. Ela ofegou. — Você sabe! Você já sabia o tempo todo?
— Sim, eu sei. Você realmente achou que eu não faria
perguntas no momento em que te vi parada no cais?
Isobel ficou zangada e aliviada. — Você poderia ter me dito que
você sabia.
— Você poderia ter me dito quem você é.
Ela ficou em silêncio, sentando-se, ele ficou em silêncio. Eles se
entreolharam. — Agora não — ela finalmente disse. Ela o tocou,
acariciando seu peito. — Agora não, Hadrian.
Ele sentou-se, segurando sua mão e impedindo-a de adiar a
discussão. — Sim agora. Eu sei que você não o ama. Eu sei que você
me ama.
— Eu vou sempre amar você.
Sorriu satisfeito.
Ela não sorriu.
Ficou inquieto. — Isobel, eu nunca quis casar antes. Até você.
Eu quero você, não apenas aqui na minha cama. Eu quero você como
minha esposa. Eu quero dar a você filhos, filhos pequenos e filhas. —
Ele foi intenso.
— Talvez você tenha me dado um, pelo menos. — Ela não podia
sorrir também. Uma sensação de pânico a envolveu.
— Você não vai voltar para ele. — Não foi bem uma afirmação,
não foi bem uma pergunta.
Isobel choramingou. — Como eu posso fugir?
Ele ficou chocado. — Você me ama! Aquele bastardo... eu não
sei o que ele fez com você, mas eu sei que ele quebrou seu coração!
Você não pode voltar para ele.
— Mas fugir? — Ela ficou chocada com a própria ideia, uma ideia
que evitou a todo custo.
— Isso era um jogo, então? — Ele gritou, furioso e em pé.
— Não! Nunca foi um jogo! Eu te amo! Mas Hadrian, eu sou um
de Warenne.
— Você quer dizer que ser uma maldita duquesa significa mais
para você do que eu, é isso?
— Não! Significa que de Warennes cumpre o seu dever,
por mais doloroso que seja. Um de Warenne não foge do marido e da
sua vida. Ela não...
— Oh meu Deus — disse ele, quando percebeu que acreditava
no que estava dizendo com todo seu coração. — Você está falando
sério? Você está falando sério?
Isobel fechou os olhos. Ela era uma de Warenne. Ela sempre foi
uma de Warenne. E agora ela fazia parte de Clayborough. Não era
que ela amava Clayborough. Era que ela acreditava em lealdade,
dever e honra. Se não o fizesse, então não era Isobel de Warenne
Braxton-Lowell. Se não o fizesse, então ela não era ninguém.
Ele saiu do quarto abruptamente, seu rosto branco com a
percepção do que ele nunca entenderia. Do que eles nunca teriam.
Isobel ficou na Virgínia por três meses com Hadrian Stone. Foi
agridoce. Ambos tentaram não pensar na sua separação, tentaram
desesperadamente viver apenas no presente. Nunca Isobel amara
mais. E no dia em que teve que finalmente deixar a América, nada a
tinha machucado mais.
Até agora ele a conhecia como apenas um homem que ama
verdadeiramente uma mulher. Não a pediu para deixar Francis
novamente. Sabia o quanto ela se machucou e levou para o banco
dos réus.
Isobel estava decidida a não chorar, porque se começasse, sabia
que não haveria como conter a tempestade de suas emoções. Se
recusou a entreter suas dúvidas também. Seria tão fácil ficar com ele,
dar as costas para quem e o que ela era, se ousasse pensar em fazê-
lo. A todo custo, ela teve que fechar sua mente até a opção que não
poderia existir.
Suas mãos se fecharam sobre os ombros dela. Além deles, outro
cortador, não o Sea Dragon, mas uma imitação insípida, balançava em
suas amarras. Acima deles, o céu estava impecavelmente azul. A
primavera estava no ar em todos os lugares, exceto em seus
corações.
— Eu te amo e eu te respeito — disse ele finalmente, olhando
em seus olhos. — É por isso que estou deixando você tomar a decisão
mais importante de sua vida. Se é isso que você sente que deve fazer,
então eu apoio você.
Ela não conseguia mais conter as lágrimas. Elas inundaram
copiosamente.
— Eu sempre amarei você — ele disse duramente. — E eu
sempre estarei aqui. Se você mudar de ideia no ano que vem, no ano
seguinte ou daqui a dez anos, estarei aqui. Nunca haverá mais
ninguém, Isobel, nunca.
— Eu não quero que você espere por mim — ela tentou dizer a
ele, mas era uma mentira e ambos sabiam disso.
— Nunca haverá mais ninguém — ele disse novamente. — Eu te
amo, Isobel.
Isobel embarcou no navio, cega por suas lágrimas. Ela estava de
cama com sua dor, deixou a América e, com isso, seu coração. Pois
isso pertencia a Hadrian Stone e sempre seria assim. Ela voltou para a
Inglaterra, mas nunca mais voltou a ser o que era.

Ele tinha certeza de que não ouvira corretamente. — Perdão?


Isobel estava branca, mais branca do que qualquer fantasma
poderia estar. — Hadrian... eu deveria ter te dito há muito tempo.
Francis não é seu pai.
O duque de Clayborough ficou olhando.
Eles tinham acabado de jantar e se retiraram para um dos salões
mais íntimos para que a duquesa viúva pudesse se entregar a um
porto depois do jantar, apesar do fato de que as mulheres raramente
bebiam algo mais forte do que xerez. Assim que as duas portas de
teca pesadas e reluzentes se fecharam atrás delas, Isobel pediu ao
filho que se sentasse. Curioso, ele concordou. E então ela afirmou que
Francis não era seu pai.
— Isso é algum tipo de piada de mau gosto? — Ele
perguntou. Mas seu coração estava trovejando tão alto que ele mal
podia ouvir suas próprias palavras.
— Não é uma piada. Francis — e ela engoliu nervosamente —
não é seu pai.
Hadrian foi esculpido em pedra. O ritmo impossível de seu pulso
aumentou. As palavras de sua mãe rugiram em sua cabeça. Francis
não é seu pai. Era impossível, era inacreditável; foi um sonho que se
tornou realidade para um homem que nunca sonhou.
— Você está bem? — Isobel perguntou ansiosamente. — Aqui,
beba isso. — Ela estava pairando sobre ele, oferecendo-lhe seu copo
de vinho do porto. Suas mãos tremiam.
Hadrian agarrou seu pulso com força impensada. — Ele não é
meu pai?
— Não.
Ele estava de pé, ainda segurando o braço da mãe. — Então
quem é?
— Você está me machucando — Isobel engasgou.
Hadrian viu a palidez de seu rosto e as lágrimas em seus olhos e
instantaneamente a soltou. — Querido Deus, perdoa-me, mãe. Não
percebi o que estava fazendo.
— Não há nada para eu perdoar — disse ela tristemente
— Quem é meu pai? — Hadrian exigiu novamente. Seus sentidos
ainda estavam se recuperando.
— O nome dele é Hadrian Stone. Um americano de Boston.
Capitão de um navio. —
O duque ficou olhando. Ele se afastou e caminhou até o manto,
olhando para as chamas que saltavam dentro. Longos momentos se
passaram antes que pudesse começar a assimilar essa
informação. Francis não era seu pai, Graças a Deus. Seu pai era um
americano chamado Hadrian Stone. Um capitão de mar. Era tão
bizarro que se perguntou se, afinal de contas, estaria sonhando.
— Você está bem?
Ele se virou lentamente. — Eu gostaria de ouvir toda a história,
mãe.
Ela assentiu, torcendo as mãos.
Hadrian ficou em frente à lareira, imóvel. E finalmente,
finalmente, a verdade foi revelada.
Foi incrível, ele pensou. Embora parecesse calmo quando Isobel
terminou sua história, contando-lhe sua decisão de deixar Virginia e
Hadrian Stone para retornar a Clayborough, ele estava longe disso. —
Isso explica tudo — disse ele no pesado silêncio que se seguiu.
O rosto de Isobel ainda era uma palidez sobrenatural. Ela
sentou-se na beira do sofá de frente para o filho, as mãos
preocupadas com as dobras do vestido no colo. Ela olhou para
Hadrian ansiosa, procurando, mas ele mal a viu.
— Não é de admirar que ele me odiasse e você.
Isobel mordeu o lábio. — Ele me odiava antes de eu conhecer
seu pai. Ele me odiava quando eu assumia a responsabilidade por
essas propriedades que deveriam ter sido dele e seu ódio crescia toda
vez que eu o salvava de dívidas.
— Sim, isso eu sei. — Ele estava em pé, agora ele andava de um
lado para o outro. — Jesus — ele finalmente disse e quando se voltou
para sua mãe, seus olhos brilharam de raiva. — Você deveria ter me
dito anos atrás.
— Eu sei — ela sussurrou. — Você está com raiva.
— Eu estou tentando não estar. Estou tentando entender como
você gostaria de manter seu caso em segredo até mesmo de mim.
Mas bom Deus! Eu não deveria saber antes que aquele bastardo não
era meu pai natural?
— Sim.
— Deus, mãe, eu queria que você tivesse me dito! — Ele se
afastou. Agitação apareceu em todos os seus longos e inquietos
passos. De repente, ele se virou para encará-la. Ele era egoísta
demais para perceber o quão perto sua mãe estava das lágrimas. — O
que aconteceu depois que você saiu da Virgínia? Você já ouviu falar
dele de novo?
O coração de Isobel, já bombeando loucamente, começou uma
batida errática e assustada. — O que você está pensando?
— Eu preciso encontrá-lo, é claro. Se ele ainda estiver vivo.
Ela ficou muito quieta.
— Bem? — Ele exigiu bruscamente.
Lágrimas finalmente encheram seus olhos. — Sim, eu ouvi
dele por um tempo. Mas já faz vinte anos... sem nenhuma palavra.
— Você pode explicar, por favor? — Ele estava impaciente.
— Depois que voltei para Francis, ele me enviou uma nota. Uma
nota curta, breve e impessoal. Foi uma investigação depois do meu
bem-estar. Por vários anos continuou fazendo isso. Sempre ficou claro
no carimbo onde ele estava.— No tempo, seu endereço era em
Boston. Quando eu o conheci, era onde estava sua casa.
— E depois o que aconteceu?
O coração de Isobel se revirou. As lembranças eram muito
dolorosas, assim como o interrogatório abrupto de seu filho. Ele não
dissera nada, mas estava zangado, estava zangado com ela. E depois
da raiva, então o que seguiria? Seu desdém? Muito suavemente, ela
falou, tentando manter os tremores de sua voz. — Eu sei que, no
começo, queria que eu soubesse onde estava. Era a maneira de me
dizer que ainda estava lá, esperando por mim, se eu mudasse de
ideia. Mas então as cartas pararam. — Sua voz se quebrou e lágrimas
se derramaram. — Talvez esteja casado ou morto. Eu não sei.
Hadrian olhou com olhos arregalados quando a compreensão o
atingiu. — Você ainda o ama?
Isobel encontrou um lenço e enxugou os olhos, recuperando
rapidamente e desesperadamente uma aparência de controle. Suas
lágrimas eram tanto pelo filho quanto pelo pai verdadeiro e por si
mesma.
De repente, Hadrian mudou-se para o lado de sua mãe e
colocou uma mão desajeitadamente em seu ombro. — Eu sei que isso
é difícil para você... mas mãe, isso é da maior importância para mim.
Eu devo ter esse endereço em Boston.
— Claro — ela conseguiu desamparadamente.
Hadrian se afastou. Para o quarto em geral, ele disse, tentando
controlar a onda de excitação que o inundava — Vou escrever uma
carta para ele imediatamente. Vou contratar investigadores. Vou
mandar um deles para Boston. Se ele estiver vivo, vou encontra-lo.
Isobel engoliu em seco, preparando-se para entregar o golpe de
misericórdia ao filho. — Hadrian, ele não sabe. — Hadrian girou.
— Eu nunca disse a ele, não tem ideia de que ele tem um filho.
A revelação foi chocante. Naquela noite, depois que sua mãe
partiu, Hadrian se sentou sozinho na biblioteca com o Borzoi, fitando
as chamas dançantes do fogo sem vê-las. Ele mal conseguia entender
o que aprendera, que Francis não era seu pai, que sua mãe tivera um
caso com um homem chamado Hadrian Stone e que ele era seu pai.
Raiva o varreu. Estava zangado com a mãe, muito
zangado, embora estivesse se esforçando para não estar. Estava
tentando entender suas motivações, embora para a vida dele, não
pudesse. Isobel não só não lhe contara a verdade anos antes, quando
deveria tê-la, ela nem contara a verdade a Hadrian Stone.
Quando exigiu saber como ela poderia ter omitido a verdade de
seu pai, assim como ele, estava tão angustiada que não podia
responder.
Não conseguia parar de pensar no misterioso americano que era
seu verdadeiro pai. Hadrian Stone. Isobel o nomeara depois de seu
amante. Como era esse americano? Era um capitão de mar. Hadrian
não podia imaginar sua mãe com um capitão de navio e, em sua
mente, não conseguia passar pela imagem de um homem atarracado,
barbudo e de cabelos grisalhos, de camisa listrada e calças azul-
marinho. Embora a tivesse pressionado repetidamente, Isobel
recusara-se a responder às suas perguntas. Embora soubesse que
estava perturbando-a perguntando-lhe sobre o pai, mas não podia
parar. Não tinha o direito de saber alguma coisa? Qualquer coisa? Ela
finalmente dissera que Hadrian Stone era tudo que Francis não era e
com isso, em lágrimas, fugira do quarto e de sua
casa. Momentaneamente, Hadrian tinha ficado com remorso pelo que
fizera, mas então sua mente se apoderou novamente do fato de que
não conseguia superar o fato de sua paternidade.
Riu alto agora ele podia amaldiçoar Francis à vontade do
coração, sem remorso e mais importante, podia entender por que
Francis o desprezara. Pois essa tinha sido a questão que o assombrou
toda a sua vida, finalmente, foi colocada para descansar.
Capítulo 25
Hadrian visitou sua noiva no dia seguinte. Apesar dele estar
transbordante com a esperança de encontrar seu pai vivo e bem e
estar correndo atrás desde a noite que sua mãe lhe disse toda a
verdade, seu casamento estava se aproximando. Não tinha dormido
na noite passada e estava finalmente conciliado com os fatos e com
que o homem chamado Hadrian Stone era seu pai. Além de esperar
pelos resultados da investigação que tinha iniciado, não havia mais
nada para fazer. Mas, no que concernia sua futura esposa, tinha
muito a fazer, como se assegurar de um futuro para eles.
Hadrian pretendia continuar com seu plano de proteger Nicole
do escândalo que estava tentando criar raízes sobre o casamento
iminente. Para fazer isso, deviam se aventurar na sociedade para
assumir seu papel de um louco apaixonado. Hadrian não perdera a
determinação de eximir as fofoqueiras maliciosas de espalhar contos
muito próximos da verdade para serem de consolo. Agora estava mais
determinado do que nunca para proteger sua noiva e ganhar para ela
a aceitação que merecia.
A imensa carruagem preta de Clayborough, com seu trio de
leões estampados acima em suas portas, parou em frente à residência
dos Shelton, na Tavistock Square. O duque desceu. Seus passos eram
sempre ágeis, mas hoje eram particularmente fáceis. De fato, quando
Aldric respondeu a chamada na porta, não pôde deixar de ficar
boquiaberto com o duque, que o cumprimentou com um sorriso não
característico. Hadrian sabia que provavelmente sorria como um
idiota, mas não conseguia atenuar seu bom humor, mesmo que
quisesse.
Mas enquanto esperava por Nicole no salão matinal, seu prazer
começou a desvanecer-se. Ela não apareceu. Quinze minutos se
tornaram meia hora. Meia hora se tornou três quartos de hora. O
prazer de Hadrian se transformou em aborrecimento, que se
transformou em raiva. Como poderia ter esquecido por um momento,
apesar da incrível reviravolta nos acontecimentos, que sua noiva
estava mais do que relutante? A última vez que a viu foi na casa de
Lindley e ficou furiosa com ele. Ontem conseguira evitá-lo. Não
recebera a advertência velada que dera à condessa? Realmente
pensou em evitá-lo novamente? Ela poderia ser tão tola?
Ele saiu da sala e encontrou um Aldric claramente ansioso no
foyer.
— Sua Graça! Posso lhe trazer mais refrescos?
— Onde é o quarto dela? — O duque exigiu.
Aldric congelou. — Sua graça... er, sua graça...
— Posso presumir que é por essas escadas?
— No segundo andar — o mordomo respirou, os olhos
arregalados.
O duque de Clayborough esperou.
— Quinta porta à esquerda — sussurrou Aldric.
O duque subiu as escadas sem nenhum esforço no
momento. Ele bateu bruscamente na quinta porta duas vezes e sem
esperar por um convite que duvidava que fosse divulgado assim que
sua identidade fosse conhecida, ele entrou.
Nicole estava em roupa de baixo. Havia pilhas e pilhas de sedas,
chiffons, tafetás, veludos, tule, lã, cashmeres e até peles na cama,
enquanto plumas, fitas, rendas e outros itens de acessórios estavam
espalhados pela sala. Caixas de chapéus, todas abertas e luvas,
estavam por toda parte. O chão mal era perceptível, pois o tecido
envolvente estava espalhado ao acaso. Havia uma pilha de reticulados
em todos os tamanhos, formas e cores imagináveis, no chão, junto ao
sofá. A renomada costureira Madame Lavie estava de joelhos,
medindo a bainha da anágua de seda dourada brilhante de
Nicole. Duas outras jovens estavam sentadas na sala, costurando
loucamente. Todo mundo congelou e ficou boquiaberto com o duque.
Nicole foi a primeira a se recuperar. Ela protegeu os seios,
estalando como estavam do espartilho coberto de renda, com os
braços. — Saia.
Levou Hadrian uma fração de segundo para perceber que não
tinha intenção de descer para vê-lo. — Todos saiam. Agora.
Em outro segundo, a sala estava vazia, exceto pelo duque e sua
noiva.
Com os braços ainda cruzados no peito, Nicole recuou, pisando
nas montanhas de tecido frágil. — Você não pode estar aqui. Você
está piorando o que já é um caso escandaloso.
— Um caso escandaloso? — Ele zombou. — Eles vão dizer que é
um amor escandaloso.
— Oh! Como eu poderia esquecer o jogo que você está
jogando?
Hadrian sorriu, não agradavelmente. Embora ela cobrisse seu
peito de sua vista, já tinha visto a carne madura se esforçando contra
seu espartilho, já tinha vislumbrado mamilos vermelhos escuros
cutucando o laço fino de ouro. — Quanto tempo você pretende que
eu espere você lá embaixo, Nicole?
— Para sempre.
Ele sorriu novamente, a expressão implacável. — Não é um
curso de ação muito sábio. — Seu olhar varreu-a novamente. Seu
corpo pulsava com a consciência de como eles estavam sozinhos e
onde eles estavam em seu quarto com sua cama, a um passo deles.
— Você deve sair. Haverá mais conversas por causa de você
entrar no meu quarto assim. — Sua voz ficou sem fôlego.
— Bom — disse ele, dando um passo em sua direção. Um
degrau apertado e duro, tão apertado e duro quanto seu corpo
grande. — Eles vão dizer que eu sou tão louco por você que eu te
persegui em seu quarto, perdendo todo o sentido de qualquer tipo de
conduta cavalheiresca.
Nicole se moveu rapidamente para o outro lado da cama. —
Você é louco!
— E você, minha querida, é uma covarde — ele disse
suavemente, perseguindo-a.
— Eu não sou uma covarde — ela gritou, agarrando uma das
colunas da cama, grossa e intrincadamente esculpidas. Seus seios
arfavam em fúria. — Você é o covarde para ir pelas minhas costas e
pedir ao meu pai a minha mão, depois que eu já te recusei.
Ele congelou, estava em cima dela, agarrando-a pelos braços e
arrastando-a da cabeceira da cama. Ela gritou. Ele a sacudiu e assistiu
com interesse irritado como seus seios se libertaram de seu
espartilho. — Pelo contrário — ele disse em seu ouvido, com um tom
tenso — qualquer tolo o suficiente para se casar com você é o mais
corajoso dos homens.
Nicole se soltou, alcançando descontroladamente um dos tecidos
luxuosos espalhados pela cama e segurando um chiffon vermelho
opaco no peito. — Então sinta-se livre para chorar! — Ela gritou. — Eu
não vou me ofender.
Ele disse a si mesmo, mesmo quando a abordou, que estava
apenas agindo contra a necessidade de calá-la antes que arruinasse
suas intenções de protegê-la e acrescentasse mais combustível às
fofocas que procurava evitar. Mesmo enquanto pensava nisso, mesmo
quando a arrastou contra seu corpo e a puxou contra o comprimento
de sua masculinidade, sabia que era uma desculpa. O fato era que
estava doente e cansado desses jogos, desses protestos. — Então sua
sensibilidade é mais forte que a minha. Estou avisando, Nicole, eu não
me ofendo rapidamente. — Com um sorriso duro que não era um
sorriso, ele cobriu os lábios dela com os dele.
Ela lutou descontroladamente, tentando atingi-lo e quase
conseguindo, ele pegou seus pulsos e empurrou-a para o monte de
material luxuoso que cobria a cama. — Eu posso ver a dor em seus
olhos! Por que não admitir sua vulnerabilidade? Por que você me
pressiona tanto? Como é que você me faz esquecer de mim mesmo?
— É tudo minha culpa, claro! — Ela gritou, mas estava imóvel,
deitada de costas na cama, seu corpo pesado a prendendo ali, as
pernas entre as dela.
Não respondeu verbalmente. Muito deliberadamente, puxou o
chiffon vermelho que ela estava segurando entre eles. Seus olhos se
arregalaram e resistiu, mas não soltou seus pulsos e manteve-a presa
na cama.
Por um longo momento, ela não se moveu, exceto por seus
seios nus, que estavam subindo por baixo de sua camisa
nitidamente. — Podemos parar com todo esse absurdo? — Ele
demandou.
Seu olhar se dirigiu para sua boca. Rapidamente voou de volta
para os olhos dele. — Meu futuro está em jogo. Não acho que isso
seja um absurdo.
— Nosso futuro está em jogo — respondeu ele. — Nosso
futuro.
Ela empurrou contra ele novamente. — Como você ousa fazer
isso comigo — ela sussurrou.
Seu olhar cintilou para seus seios nus. Ele pensou na sua decisão
de se casar com ela, apesar de seus protestos. — Desista, Nicole.
Você já perdeu. Aceite o que vai ser. Aceite o fato de que daqui a
alguns dias você será minha esposa.
Ela se esforçou contra ele novamente. Sabia que devia estar
machucando-a, pois não conseguia apertar seus pulsos de leve e
sabia que estava tão dolorosamente consciente dele, sua maciça
dureza enterrada como estava em sua virilha. — Eu nunca vou aceitar
isso — ela engasgou.
Ele não riu. Não havia nada divertido sobre continuar a resistir à
sua vontade. Só ela poderia inflamar seu temperamento tão
facilmente, como fizera desde o momento em que se encontraram. —
Você nunca aprende — ele disse. Suor frisou sua testa enquanto
lutava consigo mesmo e perdeu. Seu corpo começou a tremer. A
enormidade de sua necessidade era aterrorizante.
Seus olhares continuaram a estar unidos. Assim como sabia que
deveria se render à paixão que estava nele, sentiu a resistência dela
estalar. Com um pequeno grito, Nicole fechou os olhos, arqueando o
corpo contra o dele.
De qualquer maneira, ele não precisava de nenhum
encorajamento. Ele ajoelhou entre suas coxas e tomou sua boca com
a dele. Seus beijos foram explosivos. Nicole se ergueu contra ele
ansiosamente, procurando sua língua com a dela. Impiedosamente ele
bombeava seus lombos contra ela.
Houve uma batida determinada na porta.
Hadrian levantou-se imediatamente. Ele puxou o
espartilho. Nicole olhou para ele com olhos vidrados e cheios de
paixão. — Temos companhia — sussurrou com urgência, colocando-a
de pé. Era como um manequim, um peso morto. Ele a sacudiu uma
vez e ficou aliviado ao ver o foco retornando à sua
expressão. Deixando-a, enfiou a camisa e endireitou a gravata
enquanto ia até a porta. Ele a abriu assim como houve outra batida.
Foi a condessa. Hadrian não tinha a menor dúvida de que ela
não se deixara enganar por eles, embora seu sorriso fosse agradável.
— Sua Graça, pensei que talvez devesse lhe trazer mais refrescos
enquanto você visita minha filha.
— Quão cuidadoso — murmurou, olhando para Nicole. Ela ficou
de costas para eles, olhando para fora de uma das janelas altas,
vestida agora com um roupão de impressão verde. Ficou aliviado com
a interrupção, embora seu corpo não estivesse, não pretendia que as
coisas ficassem tão fora de controle.
Jane colocou uma bandeja sobre uma mesa de vidro. Por alguns
momentos trocaram amabilidades. Quando partiu, deixou a porta
aberta. Hadrian se virou para a noiva. A essa altura estava de cara
feia para ele, claramente, os últimos minutos não haviam melhorado
seu humor.
— Eu espero que você esteja satisfeito — ela atirou
descuidadamente.
— Estou longe de estar satisfeito.
Ela corou. Seus braços foram novamente defensivamente
cruzados na frente de seu peito. — Por que você veio? Jogar sal em
minhas feridas?
— Que feridas? — Ele perguntou secamente, virando-se para
ela. Agora que estavam sozinhos de novo, embora estivesse coberta
pelo manto, a dor quente em seus lombos estava se formando de
novo. Serviu as duas xícaras de chá, na esperança de distrair o corpo
de sua intenção.
— Você sabe que feridas — ela retrucou. — Por que você insiste
nesse casamento ridículo? Eu sinceramente concordo com o que você
disse, que você é um tolo em se casar comigo.
— Eu não disse isso, Nicole.
— Eu não sou do tipo que é uma duquesa, como você bem sabe
— disse ela, como se não o tivesse ouvido.
— Talvez você se venda barato.
Seus olhos se arregalaram.
Calmamente tomou um gole de chá, mas não tirou os olhos
dela.
Ela se recuperou. — Hadrian, por que você insiste que nos
casemos? Se o que aconteceu entre nós não importa para mim, então
por que diabos isso importa para você?
Ele estremeceu, mas não em sua linguagem crua. Será que
poderia querer dizer o que acabara de dizer, que o que aconteceu em
sua biblioteca há vários dias não era importante para ela? — Você
sabe por quê. Você pode estar com meu filho.
— Se estou com uma criança, posso tê-lo sem me casar com
você. Estou acostumada ao escândalo, que diferença fará um pouco
mais?
Ele estava triste agora. — Se você acha que pode mudar de
ideia, pense novamente. Não vou mudar.
— Então você terá uma duquesa muito relutante em suas mãos
— ela disse friamente.
— Você se atreve a me ameaçar?
— Eu não ameaço. Eu aconselho.
— E você mente — disse com uma calma que não
sentia. Colocou sua xícara e pires para baixo. — Nós dois sabemos na
realidade o quão relutante você é, a prova sendo óbvia há apenas
cinco minutos atrás.
Ela corou, mas com raiva, constrangimento ou ambos, não sabia
dizer. — Talvez eu não esteja relutante quando se trata de assuntos
da carne, mas estou relutante quando se trata de me casar com você.
Sua farpa o atingiu com precisão infalível e não gostou da ferida
que deixou. Ela não se abrandara nem um pouco na perspectiva de se
casar com ele. Não podia saber que Francis não era seu pai, apesar
de que isso não seria uma preocupação para ela, mas era orgulhoso
demais para contar e mais importante, não confiava nela com tal
segredo. Ainda não. Não podia arriscar a reputação de sua mãe. — Eu
sou verdadeiramente tão odioso?
Ficou muito quieta, o rosto pálido, um pouco da raiva deixando
os olhos. Quando respondeu, foi com o máximo cuidado. — Se eu te
acho odioso ou não, não é o problema.
— Você me acha odioso? — Ele demandou.
— Não.
Agora estava parado. Era muito difícil impedir que um sorriso se
formasse em seus lábios. — Então eu não sou um ogro — Seus olhos
procuraram os dela.
Sua boca tremia. — Não me force contra a minha vontade.
— Nicole, é tarde demais.
— Não é tarde demais. Você pode cancelar. As pessoas só vão
dizer que você recuperou sua sanidade mental.
Ele podia sentir o desespero dela e qualquer sorriso que pudesse
ter entretido tinha desaparecido. Por qualquer motivo, ela estava em
oposição a ele agora. — Eu sugiro que você mude sua vontade — ele
disse friamente.
— Eu não quero ser sacrificada à sua nobre ideia de dever.
— Você se fez muito claro — ele disse. — Na verdade, estou
muito cansado de ouvir esse refrão. A verdade é que não ligo para o
que você quer.
— Droga — ela sussurrou. — Você só se importa com você
mesmo. Você é frio e sem coração, assim como todo mundo diz.
Hadrian sorriu, não agradavelmente. Seus sentimentos foram
feridos, estava com raiva que poderia estar vulnerável onde ela estava
preocupada. — Eu pretendia convidá-la para me acompanhar esta
noite, mas posso ver que não seria sensato.
— Não seria sensato — Nicole concordou ferozmente. — Eu
recusaria. Não tenho intenção de ir a qualquer lugar com você.
Estava furioso e apenas controlava sua fúria com a maior das
vontades. Não a obrigaria a acompanhá-lo à um baile. Só iria acabar
com sua animosidade em relação a ele já tão evidente. Pois seria um
milagre se ela se curvasse às aparências e se comportasse como uma
noiva deveria. — Eu vou te ver na catedral. — Já estava indo para a
porta, mas suas próximas palavras o impediram de andar.
— Espere — Ela chorou.
Ele se virou devagar. Não havia como esconder suas emoções
agora. — Eu não sou Percy Hempstead — ele disse, muito devagar e
muito distintamente. — Deixe-me esclarecer esse fato.
Ela não se mexeu, nem pareceu respirar.
— Eu não sou um menino de vinte e dois anos, não sou um
idiota enlouquecido. Se você pensa em me abandonar, pense de
novo. Porque eu não vou virar o rabo e correr para o outro lado como
ele fez, oh não. Eu te encontrarei e te arrastarei para o altar em
minhas costas, se necessário, não importa como você esteja gritando.
Não importa quão escandaloso possa ser.
Ela ainda não se mexeu.
Sorriu perigosamente. — E ninguém me condenaria pelo meu
comportamento. Porque eu sou o Duque de Clayborough e porque eu
sou um homem. Enquanto você, você não é nada além de uma
mulher. Uma a quem, eles dirão, precisa de uma mão masculina firme
e talvez uma surra ou duas.
Nicole ofegou.
— Minhas ações serão aplaudidas — ele terminou
implacavelmente. — a sua será condenada.
— Eu te desprezo — Nicole conseguiu.
Seu sorriso foi torcido. — Se você optar por criar esse tipo de
escândalo, que assim seja. Vou lavar minhas mãos do caso e deixar
você para cozinhar em seus próprios sucos. Minha generosidade em
proteger não vai tão longe.
— Saia.
Ele não respondeu, estava com muita raiva e saiu do quarto.
Capítulo 26
O duque de Clayborough estava nervoso.
Era o dia do seu casamento.
Não vira Nicole nos últimos dez dias, desde a última vez que a
visitara com a intenção de convidá-la para o baile. Foi um curso
deliberado de ação. Mais uma vez deixara seus sentimentos por ele
perfeitamente claros, despertando suas próprias emoções, que eram
explosivas demais em torno dela em qualquer caso. Era mais seguro,
muito mais seguro manter distância até depois de se casarem.
E não ousava pensar na batalha que aconteceria depois que ela
fosse sua esposa.
O duque permaneceu em Londres uma semana e meia. Naquele
curto espaço de tempo, ele assistiu a três residências, dois bailes,
uma regata e uma suntuosa festa. Surpreendeu-se ter aceitado mais
convites em uma semana do que no ano anterior. E não só havia
aparecido nessas várias funções como permanecido por várias horas,
misturado com os outros convidados. Esse tipo de comportamento era
tão pouco característico do lorde recluso e um tanto insociável que o
duque se tornara o tópico mais popular de conversa entre os
participantes.
Mas a natureza de Hadrian não havia mudado, não estava mais
interessado na vida social de seus colegas do que antes. Na verdade,
estava ansioso para chegar a Clayborough, onde vários assuntos
aguardavam sua atenção pessoal. Ficara em Londres apenas por
causa de Nicole. Estava fazendo um novo começo para os dois, nunca
fora impopular, é claro, era poderoso demais para não ser um
convidado cobiçado, mas não era excessivamente popular por causa
de sua indiferença gritante ao turbilhão social. No final dos dez dias,
se tornara popular. E sua popularidade logo seria de sua esposa.
Os rumores desagradáveis já não circulavam em Londres. Se
qualquer fofoca sobre o mau momento do casamento dele e de Nicole
persistisse, estava no meio de uma morte lenta. A nova fofoca era
exatamente como havia se reinventado. Em todas as funções que
Hadrian participou, o parabenizaram por seu noivado, estava
apropriadamente entusiasmado. Qualquer demonstração aberta de
emoção do duque era tão incomum que isso poderia ter sido
suficiente para fazer o truque. No entanto, a notícia se espalhou como
a pior tempestade de seu advento no quarto de Nicole no outro dia. E
desta vez a fofoca era favorável.
Em todos os lugares que Hadrian frequentava, as pessoas
falavam sobre eles. Na noite anterior, no sarau de Avery, ele ouvira
duas matronas e uma dama solteira, todas conhecidas dele.
— Chocante — Lady Bradford declarou. — Ele realmente
expulsou Madame Lavie para que eles pudessem ficar sozinhos.
— Escandaloso — Lady Smythe-Regis respondeu
fervorosamente. — Deve estar completamente louco por Lady Shelton
para esquecer a noiva assim.
— Você pode imaginar ser objeto de tal interesse da parte do
Duque? — Lady Talbott disse sonhadora. — Isso deve ser amor.
Hadrian se virou rapidamente antes que pudessem identificá-lo
escutando. Estava mais do que satisfeito.
Não ficou satisfeito, no entanto, na tarde em que decidiu
aparecer em seu clube na James Street. Ao entrar no covil que ele
ajudou, estava ciente de toda a conversa silenciosa
parando. Normalmente era saudado educadamente e depois ignorado
pelos outros membros, todos conheciam sua preferência pela
solidão. Se perguntou o que causara essa mudança na reação de seus
colegas. Seria muito esperançoso pensar que não tinha nada a ver
com a sua noiva e ele próprio.
Ele logo descobriu. O conde de Ravensford, a quem conhecia
melhor que a maioria dos outros senhores, aproximou-se dele. —
Você se importa se eu me juntar a você por um momento, Hadrian?
— Jonathon Lindley perguntou.
Surpreso, Hadrian concordou. Logo ficou óbvio que o conde
tinha alguma coisa em mente. — O que é que você quer me dizer,
Jonathon?
— Você não ficará satisfeito — avisou Lindley, mantendo a voz
baixa.
Hadrian fez um gesto para que ele continuasse.
— Nicole é como uma filha para mim, então devo lhe contar o
que acabei de ouvir. Dois membros deste clube fizeram uma aposta.
O duque se enrijeceu. — Que tipo de aposta?
— O tipo de aposta que precisa ser corrigida. Lorde Hortense e
lorde Kimberly apostam que sua noiva lhe dará um filho dentro de
nove meses depois do seu casamento.
Hadrian não se mexeu. Embora seu rosto estivesse tão imóvel
quanto o granito esculpido, a fúria varreu-o em uma onda
quente. Quando pode falar, era para agradecer a Ravensford pela
informação. Um momento depois, se despediu.
Encontrou Hortense naquela noite em sua casa enquanto se
preparava para sair. A entrevista foi curta e direta. Um golpe bem
colocado afrouxou vários dentes de Hortense. A ameaça que se
seguiu foi levada a sério. Hortense foi muito apologético.
Lorde Kimberly encontrou exatamente o mesmo destino.
Mais fofocas, mais escândalo, mas tudo isso a favor do
duque. Ele havia agido honradamente na defesa da reputação de
Nicole, enquanto os outros dois cavalheiros nunca foram conhecidos
por serem nada além de patifes. Além disso, as senhoras
sussurravam, era tão romântico.
A única coisa que não correu bem naquela semana foi uma
entrevista com o marquês de Stafford, pai de Elizabeth.
Hadrian tinha ido chamar seu próprio amigo, na esperança de
explicar de alguma forma o que seria inexplicável para o homem
desolado. Stafford ainda estava trancado em sua casa em um estado
inconsolável de pesar. Por não ter visto ninguém desde o funeral, não
sabia do noivado. E porque Hadrian era como um filho para ele, assim
como o noivo de sua filha desde a infância, Stafford o recebeu quando
não estava recebendo visitas.
— Eu não vou perguntar como você está, George — Hadrian
disse calmamente.
— Não. — Stafford estava magro e de olhos vermelhos. — Eu
não posso parar de lamentar. Como eu gostaria de poder.
— Eu sei que é banal, mas com o tempo, você será capaz de se
lembrar dela sem muita dor.
— Não — disse Stafford. — Você está errado. Essa dor nunca
vai morrer.
Hadrian ficou em silêncio. Estava terrivelmente desconfortável,
pois como poderia dizer a este homem que estava se casando com
outra mulher nos calcanhares da morte de Elizabeth? No entanto,
precisava informá-lo pessoalmente, antes que Stafford soubesse por
outra pessoa. — George, eu também sinto falta de Elizabeth. Eu
sempre a amarei.
Stafford começou a chorar. Com um grande esforço, recuperou
o controle. — Eu sei.
Brevemente Hadrian fechou os olhos. Na verdade, por mais que
se importasse com Elizabeth e tão triste quanto estava pela morte
dela, era claramente difícil visualizá-la agora. — Ela está feliz,
George, está em paz quando estava com tanta dor. Pois, se existe um
paraíso, ela encontrou.
Stafford começou a chorar novamente. Hadrian entregou-lhe o
lenço, imaginando se deveria, afinal, partir e deixar que Stafford
soubesse das núpcias depois do fato.
— Sim — o marquês finalmente disse, tremendo — Elizabeth
está no céu. Ninguém merecia mais o céu.
Depois de alguns minutos se passaram e o marquês estava mais
calmo, Hadrian falou. — George, lamento muito ter vindo
pessoalmente informá-lo de algo e o momento é o mais inapropriado.
Se houvesse outro jeito, acredite em mim, eu não iria me intrometer
em sua dor agora.
— Hadrian, meu querido, você é sempre bem-vindo aqui.
Hadrian tremeu. Por um momento sentiu uma culpa que não
sentia desde que consumara sua paixão com Nicole. E de repente viu
Elizabeth com claridade cristalina, como se estivesse diante dele no
quarto atrás do pai. Estava sorrindo e olhando para ele com
amor. Não houve acusação de traição em seu rosto. Os olhos do
duque se arregalaram e se endireitou, mas era uma invenção de sua
imaginação - uma alucinação fantasmagórica - porque a imagem
desaparecera. E também, milagrosamente, foi a culpa.
Com dificuldade, Hadrian começou. Achava que devia ser
honesto com ele e embora soubesse que ficaria chateado, confiava na
honra do homem e estava certo de que a verdade estaria segura,
apesar de tudo. — Em minha própria dor, eu me virei para outra
mulher em um momento de paixão.
Stafford olhou para ele. Então ele disse — Eu entendo. O que
isso importa? Você é um homem jovem. Não se culpe.
— Eu não acho que você entende, George. A outra mulher não
era minha amante, nem era uma prostituta.
Stafford ficou intrigado.
— Ela era uma jovem solteira, com quem eu agora devo casar.
Stafford olhou, incapaz de compreender imediatamente o que
estava sendo dito.
— Estou casando com Nicole Shelton em uma semana.
Stafford ainda estava olhando.
— Sinto muito — disse Hadrian.
Stafford se levantou de um salto. — Você vai se casar com outra
mulher na semana que vem.
Hadrian também se levantou. — Sinto muito.
— Como você pôde? Querido Deus, como você pôde fazer isso?
— Stafford gritou. — Elizabeth mal está morta, nem mesmo fria em
seu túmulo! Como você pode fazer isso, como?
— É uma questão de honra — disse Hadrian, apenas
exteriormente composto. — Elizabeth está morta e eu arruinei Nicole.
E é claro que há necessidade de pressa.
Stafford estava com o rosto vermelho. — Como você ousa vir
aqui para me dizer que vai se casar com outra mulher semana que
vem! Maldito seja seu coração, Hadrian! Maldito seja! Maldito seja
você! Oh... você não amava minha filha, vejo isso agora! Você nunca
a amou. Que bom que ela não está se casando com um bastardo frio
e sem coração como você.
— Sinto muito.
— Saia! — Stafford gritou. — Saia! Saia, saia, saia.
O duque de Clayborough chegou cedo à igreja. A cerimônia seria
realizada em St. Martin-in-the-Fields, na Trafalgar Square. Uma
pequena capela havia originalmente existido neste local nos tempos
normandos e, no século XII, uma igreja ali tinha sua própria paróquia.
Ela foi reconstruída várias vezes, mais recentemente no início do
século XVIII. Era agora uma magnífica peça de arquitetura, um
grande edifício retangular com um pórtico imponente escarpado por
um alto campanário, com uma estátua arrojada de Charles I em
primeiro plano.
Hadrian entrou por uma entrada dos fundos, deixando sua mãe,
o conde de Northumberland e Lady Claire, o conde e condessa de
Dragmore para saudar os convidados, que somavam quase mil. Por
causa das circunstâncias que cercavam seu casamento, decidiu fazer
o casamento do ano, no mínimo. Estava determinado que ninguém de
qualquer importância fosse deixado de fora da lista de convidados e
que ninguém achasse que sua noiva tinha algo a esconder. Isobel
concordara, assim como os Sheltons e seu avô, Roger de Warenne.
Assim, a lista de convidados incluía não apenas a aristocracia mais
importante da terra, mas também muitos políticos influentes,
empresários e até a própria rainha Vitória.
Hadrian preferiu ficar sozinho em uma pequena antecâmara. Ele
estava extremamente nervoso e não conseguia entender por quê. Ele
foi atingido com uma imagem desagradável, de si mesmo sozinho no
altar, esperando por sua noiva, que nunca veio. Andava de um lado
para o outro, cheio de tensão. Nicole Shelton não ousaria, a ideia era
ridícula.
Depois do que pareceram horas de espera, ouviu-se uma batida
na porta e seu avô entrou. Roger de Warenne, o conde de
Northumberland, olhou-o atentamente. — Você parece um pouco
verde sobre as guelras, rapaz.
— Eu me sinto verde — Hadrian retornou. — Ela está aqui?
— Ela está aqui. Ela não correu de você.
Hadrian fez uma careta, mas apesar de suas melhores intenções,
sentiu alívio. Disse a si mesmo que nenhum homem poderia saborear
a ideia de arrastar uma noiva furiosa sem querer para o altar em
frente a mil convidados.
O conde de Northumberland riu. — Nada como um desafio, não
é?
A mandíbula do duque se apertou. — Estou espantado por você
aprová-la.— No momento em que decidira se casar com Nicole, ele foi
ao seu avô para informá-lo de sua intenção. É claro que poderia fazer
o que escolhesse nesse estágio de sua vida, mas era uma questão de
respeito procurar a aprovação de Northumberland. Ele esperava
alguma quantidade de oposição. Não houve nenhuma.
— Eu não sei ainda se eu a aprovo — disse o conde de
Northumberland sem rodeios. — Eu aprovo a família dela e aprovo um
casamento oportuno. Não estou interessado em ter um neto bastardo.
Hadrian não lhe contara o motivo do casamento e na época, o
avô não perguntara. Ele ergueu uma sobrancelha, sabendo que não
deveria se surpreender com o insight de Roger de Warenne.
— Você pode enganar toda Londres, rapaz, mas não pode me
enganar — disse Northumberland.
— De fato.
— Sua gravata precisa se endireitar, Hadrian.
O duque começou a se atrapalhar e preocupado, não viu o
sorriso satisfeito do conde de Northumberland.
Nicole ficou muito quieta, mal respirando. Sua irmã estava com
ela e infelizmente, Regina estava tão nervosa e assustada como se
fosse seu próprio casamento. Martha sentou-se ao lado dela e
segurou a mão dela. Ela era a única relativamente calma na sala e até
a palma da mão estava úmida. — Relaxe. Você parece como se
estivesse indo para o seu funeral.
— Não estou?
Regina gritou. — Você vai persistir em ser uma tola mesmo
agora?
Elas mal haviam falado a semana toda. Regina estava
obviamente entusiasmada com a partida, deixando Nicole ainda mais
irritada toda vez que seus caminhos se cruzavam. O relacionamento
delas parecia ter se deteriorado completamente, da amizade à
hostilidade.
— Eu vou me sentir exatamente do jeito que eu quero sentir —
Nicole retrucou.
— Por que não deixar o mundo inteiro ver quão infeliz você é! —
Regina atirou de volta.
— Eu pretendo.
— Pare com isso! — Martha exclamou de pé. — Meu Deus,
agora não é hora de lutar. E Nicole, se eu fosse você, pensaria duas
vezes antes de humilhar o duque na frente de todos os seus
convidados.
Nicole abriu a boca para responder a Martha, felizmente, mas
parou abruptamente. As tensões da música que vinha enchendo a
sala pela última meia hora haviam cessado. Seus pais
cumprimentaram os convidados quando chegaram; agora todos os
convidados deviam estar sentados. Todos congelaram, ouvindo o
silêncio. Foi a decisão inflexível de Nicole de que não haveria
procissão, apenas a marcha nupcial até o altar onde o noivo estaria
esperando com seu avô. Regina tirou um lenço branco da luva e
enxugou a testa.
Nicole tremeu. Estava prestes a acontecer. Ela estava se
casando com o duque de Clayborough. Oh Deus.
— Aqui — Regina empurrou o lenço na mão.
Nicole aceitou, sem ver a simpatia no rosto da irmã, pois seus
olhos estavam subitamente cheios de lágrimas. Ela nem sabia por que
estava chorando.
Regina olhou para Nicole e Martha. — Onde está o pai? — O
pânico encheu sua voz.
Talvez algo tenha acontecido, pensou Nicole,
desesperada. Talvez tenha ocorrido alguma crise e não haveria
casamento.
Seu pai entrou no quarto. — Você está pronta? — Ele perguntou
a sua filha. Ele olhou para as outras duas garotas. — É melhor vocês
irem e tomarem seus lugares.
Martha agarrou a mão de Nicole e beijou sua bochecha. Regina
hesitou, então rapidamente beijou sua irmã também.
Quando eles estavam sozinhos, Nicole levantou-se instável. Seu
relacionamento com o pai também fora destruído pelo advento do
casamento dela, não conseguia olhar para ele sem se sentir traída e
perdida.
O olhar de Nicholas a varreu. — Você é tão bonita — disse ele,
com a voz embargada. — Estou tão orgulhoso de ti.
Foi a ruína de Nicole. O que ele deveria se orgulhar? Ela
escandalizara a sociedade desde que saíra, só se casaria agora porque
era obrigada, não falara com ele desde que havia arranjado esse
casamento. Lágrimas brotaram. — Pai...
— Eu te amo muito, Nicole. Acredite em mim, tenho insistido
muito em saber se fiz a coisa certa ao aceitar o pedido de Hadrian. E
estou convencido de que o fiz. Por favor, me perdoe por fazer o que
acho melhor para você.
Não poderia continuar esta luta com ele, não aqui, não agora, no
dia de seu casamento. Veio para frente, querendo ser sua filha
novamente, mas a dor que ele causou não iria embora. Ela o olhou,
querendo dizer tanto, querendo perguntar como poderia fazer isso,
querendo dizer que o perdoou e que o amava. Ela abriu a boca para
falar, viu a esperança em seus olhos. Mas nenhuma palavra saiu.
A marcha do casamento começou.
Eles se olharam por um longo momento. Nicholas estendeu o
braço sombriamente. Incapaz de falar agora, Nicole aceitou.
Mil convidados estavam esperando.
O duque de Clayborough estava esperando.

CAPITULO 27

O duque de Clayborough ficou furioso, mas não aparentou. No


entanto, era improvável que enganasse qualquer um de seus
convidados. E se sua noiva continuasse a mostrar abertamente sua
má vontade em relação a ele, ele pensou, poderia esquecer as
aparições públicas e todo o bem que fizera na semana anterior e
estrangulá-la abertamente.
A recepção seria realizada em sua própria residência na Praça
Cavendish, devido ao grande número de convidados. A catedral era
um esplêndido trabalho de arquitetura e vasto o suficiente para
acomodar seus mil convidados. E Nicole tinha sido uma noiva
arrebatadora em seu vestido de prata, no entanto, ela também era
uma pessoa zangada.
Seu véu tinha sido transparente. Delicadamente fiado de tule
prateado, não escondeu nada. Sua expressão, sua raiva, era óbvia
para todo mundo ver. Não fez nenhuma tentativa de parecer uma
noiva feliz, de fato, o inverso parecia ser verdade.
No momento em que Hadrian a viu descendo pelo corredor,
ficou atordoado sem sentido. As emoções mais ferozes que já
experimentara haviam surgido nele e por um instante, sabia que, de
alguma forma, estava apaixonado por ela.
Esse instante passou imediatamente. Seu semblante ficou claro
quando ela se aproximou, seu belo semblante escuro de olhos
prateados. Não havia dúvidas sobre suas emoções. Ela se atreveu a
humilhá-lo e a si mesma na frente de seus mil convidados.
Ela evitou olhá-lo quando se aproximou. Na verdade, mantinha o
queixo alto, a boca em uma linha sinistra e teimosa. Nem olharia para
ele quando parasse a seu lado no altar. Quando chegou a hora de
fazer seus votos, realmente ficou em silêncio. Hadrian tinha segurado
a mão dela e a apertou muito, muito forte uma advertência de que a
forçaria à sua vontade, mesmo que estupidamente fizesse mais um
espetáculo de si mesma agora. Ela então, finalmente, para o seu
alívio, falou. Mas era tarde demais para reprimir sua raiva.
Agora eles eram marido e mulher.
E não havia uma alma na Clayborough House que não
compreendesse que a noiva estava relutante, para dizer o mínimo.
O sorriso educado do duque havia muito caído à beira do
caminho, uma máscara fria e inflexível deslizando em seu lugar. Ele
tinha o suficiente, não se importava que eles estivessem em sua
própria recepção por apenas uma hora. Quanto mais permanecia
sentado ao lado de sua noiva de rosto pétreo, que se recusava a
comer, beber ou até mesmo falar, mais perigosa ficava sua raiva. E
estava ficando muito difícil controlá-lo.
— Nós estamos indo — ele disse abruptamente.
— Agora?
— Agora. Neste minuto. — Ele se levantou e porque segurou a
mão dela, puxou-a para cima.
— Então me deixe mudar.
— Interessada em convenções agora? É um pouco tarde, você
não acha, Senhora Esposa?
Ela endureceu. — Eles não vão cortar o bolo por horas.
— Eu não dou a mínima.
— Isso é evidente — disse ela, olhando para ele de forma
significativa.
— Seu duplo sentido me escapa. Por que você procura atrasar?
— Porque ficar aqui é melhor do que sair com você.
Ele riu friamente. — Ah, agora chegamos ao fundo das coisas.
Você procura adiar o inevitável. Tem medo de ficar sozinha comigo e
de se trair?
— Eu não tenho medo — disse ela com firmeza. — Eu apenas
desejo atrasar o que será extremamente desagradável, nosso futuro.
— Se você continuar a me irritar dessa maneira será mais do
que desagradável.
Seus olhos se arregalaram. — Você me ameaça?
— Pegue-o como desejar. — Agarrou o braço dela novamente e
a impulsionou junto com ele. Começou a lutar e ele se voltou contra
ela com fúria controlada. — Você não acha que já fez cena demais
por hoje? Você quer fazer outra?
— Você é quem está fazendo uma cena — ela sussurrou, mas
parou de lutar com ele.
Hadrian a ignorou. Pararam para se despedir de suas
famílias. No processo de partida, no entanto, foram atacados de novo
e de novo por simpatizantes, muitos dos quais não podiam disfarçar
seu interesse sinistro pelo noivo legal e pela noiva hostil. O duque
quase jogou sua esposa na carruagem de Clayborough quando
estavam do lado de fora.
Ela correu para o canto oposto e sentou-se lá. Hadrian subiu em
frente a ela, ignorando-a o melhor que pôde, embora estivesse tão
zangado que queria estrangulá-la. Fez sinal ao motorista para
começar sua jornada.
Nenhum dos dois falava, Hadrian estava furioso com ela por seu
comportamento naquele dia, diante da nata da sociedade
britânica. Tinha trabalhado duro para reprimir qualquer fofoca sobre
eles, desperdiçando seu tempo precioso em festas estúpidas e bailes
bobos, senhoras insípidas encantadoras e senhores aduladores,
agindo como um idiota apaixonado. Sem dúvida todos agora
pensavam que ele era o maior tipo de tolo obcecado por uma noiva
que abertamente o desprezava. Em apenas algumas horas, Nicole
havia desfeito tudo o que conseguira nos últimos dez dias tudo o que
conseguira para ela.
— Espero que você esteja satisfeita consigo mesma — disse ele.
— Por que eu deveria estar satisfeita com qualquer coisa neste
dia entre todos os dias?
Estava sentada o mais longe dele possível, no canto do outro
lado da carruagem. Por mais zangado que estivesse, não pôde deixar
de notar como ela era espetacular em seu vestido de noiva de prata
com o cabelo de ébano solto. Esticou suas longas pernas de maneira
casual, o que desmentia a tensão que crescia nele. — Eu sugiro que
você comece a mudar sua atitude. Agora você é minha esposa. Essa
circunstância não vai mudar, não até que eu esteja morto. Ou você
gosta de criar um escândalo?
Ela olhou — Você sabe que não.
— Pelo contrário, acho que você realmente gostou de fazer uma
cena atrás da outra hoje. — E ele certamente sabia que ela gostava
de humilhá-lo. Outra onda de raiva ondulou sobre ele que lutou para
se conter.
— Você me forçou ao altar. Você achou que eu viria
humildemente? Com a cabeça baixa, em submissão? Se você pensava
assim, então pensava errado.
— Há apenas um lugar onde você se submete a mim, senhora.
— Seu olhar a espetou. — Talvez esse seja o único lugar onde eu
deveria mantê-la. Para o nosso bem.
Nicole se ruborizou com sua referência à sua infeliz natureza
apaixonada, agora ela engasgou com a sugestão dele. — Eu espero
que você esteja brincando — ela murmurou severamente.
— A ideia tem um grande apelo.
Eles se encararam. Para Nicole, a carruagem era muito
pequena. Hadrian estava perto demais para o conforto. Sua
proximidade foi perturbadora desde o momento em que se aproximou
dele no altar. Sua proximidade era sempre perturbadora. Não pôde
deixar de pensar na noite iminente... sua noite de núpcias.
Era impossível acreditar, mas agora era sua esposa. Uma vez
queria isso com todo o seu coração, mas isso parecia ter sido uma
vida atrás. Era sua esposa, ele cumprira seu dever. E agora esperava
que ela aceitasse sua posição. Ela cerrou os punhos. Não podia forçá-
la a casar e esperar que fosse dócil, não podia. E se realmente
pensasse que esta noite o aceitaria de braços abertos, então ele era
insano.
Mas e todas as noites depois dessa? Mesmo se ela recusasse
com sucesso esta noite, quanto tempo ela conseguiria rejeitá-
lo? Nicole não precisou pensar muito tempo para saber que sua causa
era sem esperança. Pois rejeitou de imediato a ideia de uma anulação
e nem sequer examinou suas razões.
Mas não poderia forçá-la a sua vontade, não desse jeito.
No entanto, seu coração estava batendo muito rápido e estava
muito consciente de seu desejo por ela. Era ousado e descarado suas
intenções eram óbvias. Nicole desejou não poder lembrar como era
estar em seus braços, como era ser a receptora de seus
beijos. Infelizmente, sua memória era perfeita.
Nicole se afastou para olhar pela janela. A noite de inverno se
aproximava com pressa indevida, mas apesar do frio no ar e do fato
de que o manto de raposa prateada estava aberto, não estava com
frio. Longe disso. De repente, foi tomada por um pânico inexplicável,
de repente se sentindo encurralada, encaixotada. Ela segurou a
raposa mais perto, em busca de conforto.
Hadrian quebrou o silêncio entre eles. — Eu não fiz nenhum
plano para uma lua de mel.
— Bom.
Ele continuou calmo o suficiente. — Tenho assuntos urgentes
para tratar em Clayborough e em várias outras propriedades. Terei
eliminado esses assuntos dentro de três semanas. Podemos viajar
então, se você quiser.
Ela finalmente se virou para encará-lo, o pânico ainda ali, o
parceiro desesperado. — Eu não desejo! Eu não quero ir a qualquer
lugar com você! Eu não desejo ser sua esposa! — Sua voz falhou. —
Eu não posso.
— Mais uma vez, seus sentimentos não são revelação. Na
verdade, estou cansado de ouvi-los. Por favor, mantenha sua aflição
sobre o assunto de nosso casamento com você mesma.
Nicole virou o olhar choroso de seu duro e brilhante.
— Eu não tenho nenhum desejo de lua de mel com uma noiva
rabugenta, de qualquer maneira — disse ele.
Não deveria ter doído, porque não queria ir para o exterior com
ele. Luas de mel eram para amantes, não antagonistas. Ela sabia, sem
dúvida, que se tivesse se casado com Elizabeth, eles teriam
aproveitado semanas e semanas sozinhos juntos no continente. Mas
doeu. Se aconchegou profundamente na capa de raposa, lutando
contra as lágrimas de exaustão, histeria e talvez derrota.
Eles chegaram ao Clayborough Hall cinco horas depois. Estava
escuro agora, uma noite sem estrelas e sombria, Nicole não podia
realmente ver o palácio que, ela ouvira, rivalizava com a dos duques
reais. Hadrian ajudou-a da carruagem. Nicole deixou-o, não tendo
escolha, mas no momento em que seus pés tocaram o chão sólido,
ela rapidamente retirou sua mão da dele. Ouviu sua respiração
assobiar em desgosto.
Havia tantos criados alinhados na imensa entrada para
cumprimentá-la que Nicole ficou surpresa e um pouco
assustada. Talvez uma centena de membros da equipe estivessem
esperando para encontrar sua nova amante. Ela puxou sua capa de
raposa de prata mais firmemente sobre seus ombros, seu único
movimento. Ela percebeu que Hadrian estava se dirigindo a eles.
— É tarde. Você pode encontrar a Duquesa amanhã ao meio-dia.
Por favor, retorne às suas obrigações.
Todos sumiram.
Duquesa. Você pode encontrar a Duquesa amanhã. Não tinha
realmente registrado. Nicole ainda não se mexeu. Ela era a duquesa
de Clayborough. Foi incrível, foi aterrorizante.
— Esta é a governanta, Sra. Veig. Esta noite ela vai mostrar seus
aposentos.
Nicole conseguiu acenar para a mulher de rosto severo e
uniformizada que estava em silêncio ao lado da escada. Hadrian então
perguntou se ela os deixaria por um momento. A Sra. Veig também
desapareceu.
Nicole percebeu que o quarto em que estavam - o foyer - era
maior do que a maioria dos salões de baile. O teto tinha vários
andares de altura. Os pisos sob os pés eram de mármore verde e
dourado. Enormes colunas brancas subiram para tocar o teto. Anjos
nus foram esculpidos em seus topos. Esta era a casa de Hadrian?
Esta agora era sua casa?
— Vou lhe mostrar a casa amanhã — disse ele.
Ela se virou para olhá-lo.
— Porque é tarde, vamos comer em nossos quartos, mais tarde.
Nicole ficou olhando para ele, ainda tentando se adaptar à ideia
de que era agora a duquesa de Clayborough, uma das principais
mulheres do reino.
— Eu vou estar pronto em meia hora — disse ele. — Eu espero
que você também esteja pronta. É tempo suficiente?
De repente o que estava dizendo a atingiu e seus olhos se
arregalaram. Percebeu que a estava observando atentamente,
tentando ler seus pensamentos. Antes que pudesse dizer para não se
incomodar com ela nesta noite, chamou a governanta, que apareceu
instantaneamente. Sem outra palavra, o duque se afastou
abruptamente.
— Você está pronta, sua graça? — A Sra. Veig perguntou. Sua
voz não era tão severa quanto sua expressão.
Nicole ficou abalada com as circunstâncias, incluindo o fato de
que aquela era sua noite de núpcias e não ia se submeter a Hadrian
novamente. Conseguiu se virar para a governanta. — Sim, por favor.
O rosto da sra. Veig se suavizou. — Venha para cá, então. Suas
malas já foram trazidas.
Nicole seguiu a Sra. Veig, apreensão livremente a preenchendo
agora. Como ela administraria uma casa assim? E esta foi apenas uma
das muitas residências fantásticas que ele manteve! Como poderia
supervisionar uma equipe tão grande? Ora, ela nem saberia por onde
começar! De repente, lamentou que sua educação não tivesse sido
mais convencional, que ela se recusara a se preocupar em aprender
sobre o manejo doméstico, exceto em seus aspectos mais
rudimentares.
O olhar de Nicole a percorreu à frente, subindo os intermináveis
lances de escadas em curva, a mão percorrendo o corrimão liso de
teca. Um corredor vermelho enfeitado de ouro cobria as
escadas. Enormes pinturas, algumas paisagens, alguns retratos,
muitos feitos por mestres, olhavam para ela das paredes.
Não pararam no segundo patamar. — Há mais apartamentos
aqui, mas a suíte de Sua Graça e a sua estão no terceiro andar —
explicou a sra. Veig.
As palavras da governanta abalaram Nicole de volta ao presente
e à crise prestes a confrontá-la. Em meia hora, Hadrian estaria à sua
porta. Seu estômago revirou nervosamente, mas seu pulso também
saltou. Se ao menos pudesse ter certeza de que poderia, de fato,
controlar seu desejo por ele. Mas não tinha nenhuma confiança, por
mais furiosa que estivesse com os eventos em torno deste dia e com
Hadrian, nunca poderia negar que ele era o homem mais espetacular
que já tinha visto.
Mas morreria de vergonha se cedesse a seus caprichos esta
noite.
Nicole finalmente entrou em seu quarto através de uma
grandiosa sala de estar feita em tecido de tule rosa e branco. Havia
um escritório à esquerda, as paredes forradas de papel amassado e
dois grandes closets e seu vestiário. Mais uma vez, o tema em todos
os lugares era rosa e branco, até os pisos de mármore do banheiro
eram um rosa pálido. Brilhava com tristeza através da mente de
Nicole que o rosa era provavelmente a cor escolhida por
Elizabeth. Ocorreu-lhe que toda vez que entrasse nesses
apartamentos seria lembrada da menina morta e do amor de Hadrian
por ela e sua tristeza. Hadrian, que agora era seu marido, mas não
por escolha.
Nicole repentinamente desprezou rosa.
Cinco empregadas estavam loucamente no trabalho
desembrulhando suas coisas, incluindo sua própria Annie de treze
anos de idade. Apenas dois de seus cinco baús permaneceram
fechados. O resto de seus pertences chegariam no final da semana.
Mais do que apreensão estava enchendo Nicole agora. Ela
tremeu, sentindo-se desesperadamente triste. — Obrigada — disse ela
às empregadas domésticas e governanta. — Tudo bem. Eu posso
fazer o resto mais tarde. — Ela queria ficar sozinha.
Todos se viraram para ela, chocados com a exceção de Annie,
cujos olhos eram tão grandes quanto uma coruja desde que entrara
no palácio pela primeira vez. A governanta finalmente falou, seu tom
gentil apesar da advertência. — Temos muitos funcionários para fazer
isso, Sua Graça. Quando você quiser alguma coisa, basta puxar a
campainha.
Nicole assentiu.
A Sra. Veig dispensou as criadas, exceto Annie. — Há mais
alguma coisa que você esteja querendo?
— Apenas um banho.
— Está preparado — disse ela. — Boa noite então.
Nicole se sentiu desorientada, aturdida. Se afundou na cama,
um enorme estofado, com dossel e cortinas que parecia ter saído de
vários séculos atrás. O cobertor era um veludo rosa pálido, suave ao
seu toque. Então viu sua camisola branca de noiva colocada na
cama. Em menos de meia hora, Hadrian viria aqui, pretendendo
reivindicar seus direitos como marido.
— Você está bem, senhora? — Annie perguntou, ainda de olhos
arregalados. Então ela corou. — Quero dizer, sua graça?
— Por favor, Annie, a formalidade não é necessária. — Nicole
estava de pé. Foi até as pesadas cortinas brancas e as puxou de volta,
mas não conseguiu ver nada. A noite estava escura e
nebulosa. Apenas algumas luzes iluminavam o caminho de cascalho
circular, que brilhava como conchas polidas em seu brilho.
— Annie, eu quero ficar sozinha — disse Nicole. Ainda estava
tremendo, mais agora do que antes tinha que pensar e rapidamente.
Annie acenou com a cabeça e rapidamente se virou e se dirigiu
para a porta mais próxima. Abriu-a apenas para se encontrar na sala
de estar. Corando, ela encontrou a porta do corredor e a fechou
silenciosamente atrás dela.
Nicole se virou para olhar a cama rosa e branca.
Olhou para a camisola fina ali, destinada a inflamar o apetite
sexual do marido.
Ela se lembrou de seus beijos, seu toque.
O tremor de Nicole aumentou. De repente, percebeu que estava
exausta a ponto de se sentir desmaiada. Sentou-se com dificuldade
em uma cadeira vermelha, desejando ter mais tempo, desejando
poder pensar com clareza. Mas não conseguia pensar em nada, seus
pensamentos estavam confusos. Só sabia que depois de tudo o que
tinha acontecido hoje, não deveria permitir que Hadrian a atropelasse
e reivindicando seus direitos conjugais, não esta noite. E amanhã
pensaria sobre o futuro e como lidaria com isso... com ele e ela
mesma.
Perguntou-se, se ousaria trancar Hadrian fora de seus
aposentos. Nervosa, Nicole se aproximou de uma porta, ciente do
barulho do relógio na parede à sua direita. Não achava que havia
muito tempo antes que Hadrian batesse em sua porta. Não se sentia
à vontade para outro confronto com ele, estava tão cansada, sabia
que ficaria zangado se fechasse as portas, mas seria muito mais fácil
trancá-lo e encará-lo de manhã do que deixá-lo entrar e lutar com ele
esta noite. Rapidamente, Nicole virou a fechadura da porta da qual
havia entrado no quarto, depois foi até a que se abria no corredor e a
fechou também. Seu desconforto aumentou quando ela recuou para o
meio da sala.
Este não era o caminho para começar um casamento,
percebeu. Foi provavelmente o pior caminho possível para começar
um casamento. Antes que pudesse dar um passo para trás, para uma
das portas trancadas, ele bateu.
Nicole congelou. Ainda não! Ela rezou para que fosse uma
empregada e não seu marido. — Sim? — Sua voz era instável.
— Sou eu — disse Hadrian.
Nicole hesitou, debatendo abrir a porta. Uma súbita covardia a
assaltou. Se não o deixasse entrar... seria mais fácil mantê-lo do outro
lado da porta, muito mais fácil. Ela tentou pensar em algo para dizer a
ele e não conseguia pensar em nada que fosse reconfortante.
— Nicole? — Ele perguntou. Havia impaciência em seu tom. —
Posso supor que você está pronta?
— Não — ela desabafou. — Eu não estou.
Houve um curto silêncio. Se esforçou para ouvir o que ele estava
fazendo, mas não ouviu nada. Então ele tentou a maçaneta, dizendo:
— Você novamente procura atrasar? Isso não seria sábio. — Ele
parou.
Ela imaginou sua expressão, atordoada ao encontrar-se trancado
fora de seu quarto. Ela torceu as mãos. — Hadrian — ela
começou. — Estou muito cansada. Eu acho...
— Eu começo a entender — ele disse suavemente.
Em seu tom, Nicole congelou.
— Abra a porta, senhora.
Este foi um grande erro! — Hadrian — ela gritou, lamentando
uma estratégia tão tola de tentar impedi-lo de entrar em seu quarto
— Estou muito cansada, amanhã conversaremos.
Não houve resposta. Segundos se passaram. Nicole ficou
surpresa quando percebeu que ele estava indo embora! Seu truque
havia funcionado.
Tremendo descontroladamente, desabou sobre um pequeno sofá
macio na frente do reluzente manto de granito rosa. Tinha o
pressentimento de que acabara de escapar de um confronto muito
angustiante talvez o pior de sua vida.
Seu batimento cardíaco, ainda errático, finalmente começou a
diminuir. Ela riu, o som um pouco trêmulo, bateu a mão sobre a boca,
enquanto mais risadas, muitas delas histéricas, ameaçavam
explodir. Deus, ela o despistou e foi tão fácil!
De repente, um clique concentrou sua atenção na porta. Ela se
abriu, revelando o poderoso e rígido corpo do duque, uma chave em
uma de suas mãos cerradas.
Pela primeira vez em sua vida, Nicole quase desmaiou.
— Você nunca mais vai me trancar fora de novo — ele
disse. Seu tom era muito calmo.
Capítulo 27
Nicole ficou absolutamente imóvel. Seu coração batia num ritmo
frenético e assustado. Hadrian encheu a porta e pôde sentir o calor de
sua raiva emanando dele em ondas grossas e ondulantes. Estava
vestido apenas com um roupão de lapela aveludada. Suas panturrilhas
e pés estavam nus. Ficou claro para que ele estivesse nu sob o
roupão e ela começou a recuar. Sua expressão estava ferozmente
irritada.
— Você me entendeu? — Ele saiu do chão. Uma veia pulsou em
sua têmpora. Seus olhos eram negros. Nicole viu que seus punhos
estavam cerrados ao lado do corpo. Observou-o enfiar a chave no
bolso do roupão.
— Você não tem o direito — disse ela em um sussurro, sua
coragem quase falhando completamente.
— Eu tenho todo o direito. E se você deseja começar nosso
casamento nesta nota, então assim seja. — Seu olhar varreu-a com
força. — Você é uma mulher muito imprudente, Madame.
Uma dúzia de respostas e uma dúzia de pedidos passaram por
sua mente. — Você foi avisado. É você quem é imprudente. Para me
tomar como sua esposa quando eu claramente te recusei.
Seus olhos se arregalaram. Um silêncio grave pairou entre eles.
Nicole desejou ter respondido qualquer coisa, exceto a que
escolhera.
Hadrian não podia acreditar em seus ouvidos, estava tão furioso
que não confiava em si mesmo para falar por um longo tempo. Olhou
para a sua noiva assustada, mas selvagemente hostil. Se fosse menos
homem a viraria sobre o joelho como se fosse uma criança
desobediente e soltaria algumas pancadas dolorosas. Claro, nunca
seria tão abusivo.
Foi a humilhação que finalmente chegou a ele. Primeiro a
humilhação na frente de toda a sociedade, podia imaginar as fofocas
agora, sua alegria enquanto discutiam quão loucamente apaixonado o
pobre duque estava com sua odiosa noiva. Mas o golpe final ainda
estava por vir. Pois teve que ir até a sra. Veig para conseguir uma
chave para a fechadura do quarto de sua noiva. A essa altura, tinha
certeza de que todos os criados que empregavam especulavam sobre
o motivo pelo qual a noiva impedira o noivo de entrar em seus
aposentos na noite de núpcias. Um rubor tocou as altas maçãs do
rosto do duque. Haveria fofoca sobre eles, mesmo na privacidade de
sua própria casa, era hora de acabar com esse absurdo de uma vez
por todas.
— Você se fez bem clara na primeira vez, quando me propus
diretamente a você. Você tem um desejo de morte, madame? Eu não
pedi claramente a você para manter sua aflição para si mesma?
— Você acha que isso vai me fazer ir embora?
Ele realmente tinha o suficiente. Exercitando grande vontade, se
virou com postura exterior e fechou a porta atrás de si, se virou para
encarar sua noiva cautelosa e vigilante. — Você tem exatamente um
minuto para tirar o seu vestido de casamento, Madame e se você não
fizer isso, eu vou removê-lo para você.
— Você iria me violentar?
Ele sorriu friamente. — Eu não tenho intenção de te estuprar.
Ou devo lembrá-lo novamente de um certo aspecto ávido de sua
natureza? Eu sugiro que você comece com os botões. Você tem
quarenta e cinco segundos sobrando.
Ela se endireitou, seus seios voluptuosos se arfando. — Eu não
vou, Hadrian. Eu não vou compartilhar uma cama com você hoje à
noite.
— Eu não estou dando a você uma escolha.
— Que idiotice eu pensar que você faria! Sua Graça! Que
idiotice minha não perceber que um senhor tão todo-poderoso como
você mesmo não consideraria sequer dar a uma mulher - sua esposa -
uma escolha! Você não me deu uma escolha tanto quanto casar com
você, então por que você me daria uma escolha agora? — Seus olhos
estalaram de raiva, mas também brilhavam com lágrimas.
Ele poderia ceder a esse argumento ou não. Ele escolheu não. —
Trinta segundos, senhora.
Nicole parecia gritar incoerentemente com frustração.
Abruptamente jogou o cabelo sobre um ombro, enfureceu-se em
todos os seus movimentos. Abriu os botões na parte de trás do
vestido, as pequenas pérolas se soltaram e se espalharam pelo chão.
Nenhuma mulher poderia desabotoar seu vestido, em circunstâncias
normais, mas sua esposa era tão louca que tinha poderes quase
sobre-humanos. Ele a observou puxar violentamente o belo tecido,
tirando todo o resto dos botões. Sabiamente, Hadrian não fez um
comentário.
Também não se mexeu durante o confronto, a luxúria foi a
última coisa em sua mente. Só estava perseguindo isso por causa da
luta pelo poder entre eles, estava determinado a tornar Nicole sua
esposa em todos os sentidos da palavra e acabar com essa ridícula
resistência dela de uma vez por todas. Agora seu corpo respondeu
instantaneamente, agressivamente, à visão dela arrancando seu
próprio vestido. Era uma visão que não esqueceria por muito tempo,
se é que alguma vez o faria.
Nicole puxou o vestido rasgado para baixo sobre os quadris e
desceu pelas pernas longas e intermináveis, se afastou, chutando
para ele. Ofegante, ela levantou o olhar selvagem para ele.
Não se moveu, observando-a sem piscar.
Mas ela já estava tirando muitas camadas de anáguas e
chutando-as para longe com seus sapatos prateados de salto alto até
que o quarto ao seu redor estivesse cheio de sedas e chiffons
espumantes e sensuais. Com o mesmo tipo de esforço sobre-humano,
tirou os cadarços superiores do espartilho e arrancou-o de seu corpo,
jogou diretamente para ele. Reflexivamente, Hadrian capturou.
Eles se enfrentaram. Nicole ainda estava em um frenesi e sua
respiração ofegante encheu o quarto.
— Você já terminou? — Hadrian perguntou em voz baixa.
— Você está satisfeito?
Mais uma vez, Hadrian achou mais sensato não responder.
O silêncio se alongou. O frenesi de Nicole diminuiu. Hadrian
observou a sanidade retornar. Ele a observou ofegante, lenta e suave,
até que seus seios nus apenas tremeram, a observou se endireitar,
viu a consciência entrar em seu olhar, viu o tom de rosa cobrir suas
bochechas. Incapaz de se ajudar, cruzou os braços para cobrir o
peito.
Ele poderia ter feito um comentário, mas não fez, estendeu a
mão. — Venha aqui — ele disse suavemente.
Nicole levantou o olhar para ele. Ele viu mais lágrimas brilhando
ali. Em vez de lhe dar a mão, em sinal de rendição, virou as costas
para ele, apertando-se. Ela estremeceu.
Ele se aproximou dela silenciosamente por trás. — Não tem que
ser assim — disse ele gentilmente.
— Não tem?
Suas mãos se fecharam em seus ombros nus. Sua pele era lisa,
sedosa e quente. — Não, não tem. — Ele se inclinou para frente
quando a trouxe de volta contra ele. Ficou tensa com o contato com o
corpo dele. Hadrian baixou a boca para a curva do pescoço dela.
Estava imóvel, seus lábios brincavam delicadamente sobre sua
pele, mas não havia nada de delicado no modo como seu falo se
esticava contra suas nádegas. — Oh Deus, não — ela gemeu.
Ele a ignorou passou por seus braços cruzados para segurar
seus seios, pressionou totalmente nela e continuou a beijar seu
pescoço por trás.
Nicole engasgou, mas foi quase um soluço. Foi um momento de
rendição e Hadrian sabia disso, virou-a rapidamente e levantou-a nos
braços, levando-a para a cama. Pouco antes de ele descer em cima
dela, seus olhos se encontraram. Ainda estavam molhados de
lágrimas, mas também viu as faíscas do desejo. Beijou a umidade de
suas pálpebras, ainda deliberadamente mantendo-se sob controle, o
mais difícil ato de força de vontade que já havia experimentado em
sua vida.
A cabeça de Nicole escorregou de volta para o abundante luxo
de seda e travesseiros de veludo e ela se arqueou em seu corpo. —
Hadrian — ela sussurrou, suas mãos de repente entrelaçadas no
cabelo dele.
Era o momento que ele estava esperando por toda a sua
vida. Sua paixão explodiu. Apertou-a em um abraço duro como pedra,
sua boca na dela, devorando e exigindo. Nicole se abriu para ele
completamente.
Suas línguas se apressaram um no outro. Suas coxas se
fecharam em torno de seus quadris. As mãos de Hadrian corriam por
seu longo corpo curvado, procurando o calor e a umidade de sua
feminilidade. Ela o cumprimentou com um rápido movimento de seus
quadris. De repente, estava temporariamente insano. Ele levantou os
quadris e enterrou o rosto em seu calor. Nunca em sua vida fez algo
tão escandaloso. Ela engasgou e começou a adorá-la com a boca,
beijando-a intimamente, descontroladamente e então sua língua
estava acariciando cada frágil carne deliciosa que podia encontrar.
Ela chegou ao clímax violentamente e sentiu cada arrepio no seu
rosto. Ela chegou ao clímax pela segunda vez, ofegando seu nome,
enquanto continuava a acariciá-la. Hadrian levantou-se sobre ela
poderosamente. Os músculos dos ombros, tórax e braços estavam
inchados e tensos. Segurou o rosto dela com ambas as mãos
grandes. — Olhe para mim.
Seus olhos se abriram. Eles estavam escuros e quentes de
desejo e ainda úmidos de lágrimas. Suas almas se
encontraram. Hadrian entrou nela.
Seus corpos se eriçaram e investiram freneticamente sobre a
colcha de veludo rosa. Almofadas de seda, cetim e brocado caíram no
chão. As colunas da cama de três séculos de idade gemeram, o dossel
rosa salmão balançou, o corte franzido saltou loucamente. E quase
como um só, seus gritos, masculinos e femininos, dividiram a noite.
Nicole tentou não chorar. Mas algumas lágrimas escorreram por
suas bochechas. Não sabia se eram lágrimas de desespero ou
lágrimas de alegria. Foi apenas exaustão emocional?
Virou a cabeça para observar o marido. Marido dela. Seu pulso
acelerou com a própria ideia. Estava deitada nua sobre o veludo rosa
da cama; ele estava alimentando o fogo na lareira, também estava
sem roupa. De costas para ela e sem vontade ainda hipnotizada, se
inclinou sobre um cotovelo para encará-lo abertamente.
Era magnífico, um suspiro que ela não pôde conter escapou
dela. Os músculos dos ombros largos e os braços musculosos
ondulavam quando acrescentou madeira às chamas. Suas costas eram
compridas, esculpidas com uma força mais brilhante e esculpida. Suas
nádegas eram altas e duras e poderosamente masculinas. Seu olhar
escorregou curiosamente. Ele se endireitou e virou instantaneamente,
seu olhar encontrando o dela.
Sabia o que ela estava fazendo. Um rubor cruzou suas feições. A
consciência quente engrossou em suas veias, correu para seus
quadris. Ela se mexeu inquieta.
— Eu encontro sua aprovação? — Ele perguntou baixinho.
Nicole olhou nos olhos dele. O fogo saltou atrás de seu corpo nu
e dourado. Foi uma ilusão, não foi, o calor que viu lá? Com uma
cobiça própria, seu olhar deslizou sobre ele novamente, sobre seu
peito largo e denso, sobre seus quadris em bom estado, sobre sua
masculinidade pesada e grande, agora flácida e úmida. — Sim — se
ouviu sussurrar.
Mudou-se para ela que tentou manter os olhos longe dos dele,
mas era impossível. Seus olhares estavam trancados juntos. Sentou-
se na cama ao lado dela. Para sua surpresa, ele passou a mão pelo
cabelo grosso e ondulado, acariciando-o. Pela segunda vez em sua
vida, quase desmaiou, mas desta vez, com prazer inebriante.
Ela tentou ler seus pensamentos, tentou penetrar e
compreender o calor, pois certamente era o calor que viu em seus
olhos. Estava com tanto medo que estava vendo o que queria ver,
mas a esperança era impossível de se afastar. E então, quando
inclinou a cabeça para a dela, deixou de importar. Não naquele
momento. Esperou uma eternidade pela sensação de seus
lábios. Quando chegou, ela suspirou... suspirou e se rendeu.
Nicole acordou animada demais para estar cansada, apesar do
fato de que mal dormira, devido a seu marido insaciável. Se esticou
com satisfação e olhou para o lado dele da cama, apenas para
descobrir que tinha ido embora.
Sentou-se, ainda estava nua e sentia-se gloriosa, apesar do fato
de que também estava terrivelmente dolorida por tanta paixão
excessiva. Mas ela sorriu e sorriu e sorriu e sorriu.
Oh que idiota tinha sido, sabia disso agora. Tinha sido
totalmente estúpida em resistir a se casar com Hadrian. Para resistir a
casar com o homem que amava tanto que doía.
Era melhor estar com ele do que estar separada dele. Muito
melhor.
Lentamente, se levantou da cama. Viu que já passava da
metade da manhã, dormira vergonhosamente tarde. Encontrou o
roupão no chão e colocou-o, depois foi até as cortinas e as abriu. Um
dia cinzento pesado a saudou. O inverno estava a caminho.
Perguntou-se onde estava Hadrian, como agiria em relação a ela
agora.
Entrou para o banheiro de mármore e começou a correr a
água. Pensativamente, se sentou ao lado da banheira. Não devia se
iludir, sabia. Só porque eles compartilhavam uma paixão tão
esplêndida pelos corpos um do outro não significava que a
amava. Não podia esquecer que Elizabeth não estava morta há um
mês. No entanto, com o tempo, sua dor diminuiria. E ela, Nicole,
ainda estaria aqui, sua esposa.
Se eles compartilhavam tanta paixão agora, não poderia um dia
vir a amá-la?
Tentou se lembrar de que havia se casado com ela por
dever. Não parecia mais tão relevante.
As mãos de Nicole tremeram. Nunca deveria ter resistido a esse
casamento. Nunca deveria ter exibido abertamente sua raiva na frente
de todos os seus convidados. Não deveria ter tentado trancá-lo na
noite passada. Oh, como odiava seu orgulho hoje! Percebeu com
tristeza que ela provavelmente não tinha escondido seus
sentimentos. Ele tinha visto isso ontem à noite.
E ela não se importou.
Houve uma batida na porta dela. Nicole se levantou para
atender e encontrou a sra. Veig com Annie. A empregada parecia
ansiosa e segurava uma bandeja de café da manhã nas mãos. — Sua
Graça, eu nunca presumo incomodá-la, mas não pude deixar de ouvir
a água do banho. — E ela lançou a Annie um olhar de desaprovação.
Nicole sorriu. — Estou prestes a tomar um banho.
— Você tem pessoal para preparar o seu banho, Sua Graça —
disse a Sra. Veig. Então sua consideração tornou-se sombria e
acusadora enquanto olhava para a pequena Annie. — Entre você,
menina! Vá e veja se o banho é exatamente como Sua Graça gosta.
— Sim! — Annie fugiu.
Nicole piscou, havia esquecido a extensão de suas novas
circunstâncias, não era mais Lady Shelton, ela era a duquesa de
Clayborough. E duquesas, presumiu, não se atreviam a preparar seus
próprios banhos. — Sinto muito — disse ela.
Mas a Sra. Veig não ouviu ou fingiu não ouvir, entrou na sala e
colocou a bandeja na mesa de vidro delicadamente forjada em frente
à lareira. Um fogo crepitou ali e a governanta se virou para atendê-lo,
atiçando-o. Nicole se perguntou se Hadrian - seu marido - havia feito
o fogo para ela antes de sair de sua cama ao amanhecer. — Alguém
veio esta manhã para cuidar da lareira?
— Não, sua graça. — A Sra. Veig ficou chocada. — Eu nunca
permitiria que alguém te perturbasse, a menos que você desse ordens
explícitas ao contrário. Você quer que sua empregada atinja o fogo à
primeira luz? Ela pode fazer isso em voz baixa, sem acordá-la.
Nicole se perguntou se Hadrian compartilharia sua cama
novamente esta noite. — Não, não, tudo bem. Eu tenho sono leve,
prefiro não ser incomodada.
A Sra. Veig assentiu, indo em direção à cama.
Nicole sentou-se um pouco estupidamente na espreguiçadeira,
olhando sem ver a bandeja de bolinhos, geleia e chá. Hadrian havia
atiçado o fogo por ela. Um gesto tão pequeno. E ela foi levada às
lágrimas!
— Annie — a Sra. Veig chamou bruscamente. — Assim que
você terminar lá, leve estes lençóis para a lavadeira, e então você
pode fazer a cama.
Nicole olhou para a sra. Veig. A mulher se virou, movendo-se
para as cortinas das outras janelas e abrindo-as automaticamente. O
olhar de Nicole se alargou quando olhou para a cama. Havia uma
mancha vermelha escura bem no meio dela e parecia sangue.
Não podia acreditar em seus olhos.
Nicole desceu as escadas devagar, insegura. Esta era sua casa
agora, mas se sentia como uma estranha, não como sua amante e
certamente não como uma duquesa. Não tinha ideia de para onde
estava indo, ou o que deveria fazer ou estar fazendo.
Era a esposa de Hadrian, a duquesa de Clayborough. Ainda era
incrível. Mas sorriu, incapaz de esquecer de estar em seus braços na
noite passada, ou o olhar de calor em seus olhos. E hoje, hoje, havia
alimentado o fogo por ela. Foi um ato tão pequeno, ainda que para
Nicole, isso fosse terrivelmente significativo.
Era sua esposa. Não foi tão ruim, não foi nada mal. Talvez
pudesse dar certo, com um pouco de esforço da parte dela. Faria o
melhor possível para recuperar o começo desastroso. Faria mais do
que aceitar ser sua esposa, ia tentar ser uma boa esposa, iria tentar
agradá-lo. E conquistar seu amor.
No caso dele estar na casa, queria aparecer como uma duquesa
deveria, tinha que evitar sua própria propensão para cometer
impropriedades, queria ser adequada. Havia exercido o maior cuidado
ao fazer o toilette naquela manhã. Annie estivera lá para ajudá-la,
mas a jovem criada sabia tanto quanto Nicole em relação ao traje
adequado e Nicole não fazia a menor ideia de como uma duquesa
deveria se vestir de manhã. Estava determinada a se vestir
adequadamente. Felizmente, a Sra. Veig estava com elas, pairando
sobre Annie, querendo se certificar de que todas as necessidades de
Nicole fossem atendidas.
A única necessidade de Nicole era saber o que vestir. Não queria
parecer ignorante e perguntara casualmente à sra. Veig qual era sua
preferência, se ela gostava desse vestido ou daquele. Lisonjeada, a
empregada escolhera um lindo conjunto amarelo e verde, o paletó
apertado e chamejado no quadril, a saia enrolada nas costas. Foi
como Nicole suspeitou. Duquesas vestidas. Não estava muito feliz em
ter que usar tal enfeite tão cedo no dia, mas faria isso.
Ao atravessar o segundo andar, passou por um bando de
empregadas ocupadas limpando no corredor, no patamar e no
fantástico salão de baile ao lado do patamar. Suas portas estavam
escancaradas, revelando brilhantes pisos de mármore preto e branco,
colunas de gesso branco e um teto com afrescos. Todos rapidamente
fizeram uma reverência para ela com o mesmo refrão — Bom dia, Sua
Graça
Nicole continuou lentamente sua descida. Ficou um pouco
abalada com tal deferência, foi incrível. Ela ficou ainda mais abalada
com a noção e esperança de que Hadrian estivesse em algum lugar
deste palácio e que ela o veria. Seu coração já estava batendo de
excitação.
No térreo, fez uma pausa. O que uma duquesa faz com seu
tempo? A sra. Veig lhe informara que o jantar era de uma só vez, se
isso fosse aprovado e Nicole dissera que sim. Eram apenas onze e
meia. Em algum momento teve que decidir o cardápio da ceia da
noite, pois a sra. Veig perguntara o que gostaria de ter naquela noite.
Nicole não se importava com o que o chef preparava, mas parecia
importante para a sra. Veig que determinasse a passagem, então ela
o faria.
Mas primeiro precisa encontrar o marido. As esposas sempre
não cumprimentavam seus maridos com um alegre — Bom dia — Até
duquesas? Hesitou nervosamente no primeiro andar. Dois criados
masculinos de libré estavam à frente dela no vestíbulo, mantendo
vigilância sobre as enormes portas da frente. Nicole rapidamente se
aproximou deles. Ambos a cumprimentaram como todos os outros
funcionários tinham naquela manhã.
— Por acaso você saberia onde está Hadrian? Quero dizer — ela
corou — onde Sua Graça poderia estar?
Os homens estavam impassíveis, não rompendo nem o menor
sorriso com o seu erro. O ancião respondeu. — Ele ainda não saiu Sua
Graça. Você pode tentar o seu escritório, ou a biblioteca verde.
— E onde estão esses cômodos?
— Seu escritório é no final do corredor, a décima porta à sua
esquerda. Sua biblioteca está no andar de cima no terceiro andar, a
porta antes de sua suíte. Há uma biblioteca em cada andar — ele
explicou gentilmente, vendo sua expressão de questionamento.
Nicole partiu para o seu escritório. As duas portas vermelhas
estavam fechadas. Estava tremendo agora e uma fantasia a assaltou,
uma na qual Hadrian se levantou de trás de sua mesa para abraçá-la
ansiosamente quando entrou em seu domínio. Quão tola estava
sendo. Ela bateu.
Lá dentro, o duque vinha tentando atender ao assunto de vários
relatos, sem muito sucesso, durante toda aquela manhã. Geralmente
passava as manhãs em sua propriedade a cavalo. Esta manhã, depois
de deixar sua nova noiva aconchegada sob as cobertas de veludo,
escolheu fazer papelada em seu escritório e esperá-la.
Era um madrugador e hoje, apesar da noite passada, não havia
sido uma exceção. Na verdade, duvidava que tivesse dormido mais de
uma hora ou duas. Mas não estava cansado. Pelo contrário, não havia
como confundir a alegria que fluía em suas veias.
E foi por causa de sua esposa.
A esposa dele.
Durante toda a manhã, testou essa frase, silenciosamente, sem
nenhuma satisfação. Ficou surpreso com a intensidade da satisfação
que sentia e a possessividade que a acompanhava. Nem conseguia
parar de pensar nela. Sua obsessão aumentara cem vezes, não
diminuíra. Mas o que isso importava? Por enquanto era dele, estava
obcecado por ela.
Ela teria se suavizado depois da incrível noite que eles
compartilharam? Seu coração pulou com o pensamento. Ou ela, com
a luz da manhã, seria sua velha, recalcitrante e orgulhosa? Teriam
uma batalha ou estabeleceriam uma trégua?
Ao bater leve em suas portas se levantou, derrubando uma pilha
de papéis de sua mesa. Se curvou para recuperá-los apressadamente,
sabendo que era Nicole que estava do lado de fora de sua porta e
sabendo muito bem que era a causa de seu erro. Decidindo resolver a
bagunça mais tarde, colocou a pilha ao acaso em sua mesa, que
nunca tinha sido menos do que limpa e arrumada. Ele atravessou
rapidamente o escritório e abriu as duas portas.
Suas bochechas arderam quando seus olhares se
encontraram. Por um instante, nenhum dos dois falou, ambos olhando
um para o outro, talvez avaliando o humor um do outro.
— Bom dia — disse Nicole.
— Bom dia — ele respondeu educadamente. Era difícil manter a
emoção fora de sua voz, emoções que ele não ousava analisar. Mas
as cores estavam lá, em tons de arco-íris e elas nunca foram tão
brilhantes.
Quando percebeu que ela estava no corredor, ele rapidamente
se afastou. — Por favor entre.
— Obrigada.
Fechou a porta atrás dela, pensando que era a criatura mais
linda que já vira, e aquele amarelo vivo e brilhante era uma cor
magnífica nela. Topázios, pensou. Compraria seus topázios.
Entrou no centro da sala e a observou. Se virou, sorrindo
deliberadamente, incerta. Ele conseguiu sorrir de volta. Nenhum deles
usava o coração na manga, percebeu. Hoje estava tentando ser tão
cautelosa e educada quanto ele. Isso em si declarou algum tipo de
trégua existente.
— Você dormiu bem? — Ele finalmente se aventurou no
prolongado silêncio. Era impossível não pensar nela fisicamente, não
estar ciente dela fisicamente. Estava quente, o quarto estava
quente. Ele se perguntou qual seria a reação dela se a pegasse em
seus braços e fizesse amor com ela no sofá.
— Sim. Não. Não realmente. — Desta vez, uma pequena risada
borbulhante escapou dela.
Desta vez seu sorriso, em resposta, foi genuíno.
Seus olhares se encontraram.
Nervosa, Nicole se virou primeiro. — Eu só queria dizer olá.
— Estou feliz.
Sua cabeça girou ao redor, ela olhou fixamente.
Sentiu-se corando, então agora também se virou. E deveria
adivinhar a verdade? Queria ser mais condescendente com ele e
queria ser mais do que acolhida? — Você gostaria de conhecer a
equipe?
— Oh, sim — ela disse ansiosamente.
Gesticulou para ela que se moveu para ele. Abriu a porta para
ela e permitiu que o precedesse. — Depois que as apresentações
forem feitas — disse ele, novamente, muito consciente da tensão
sexual entre eles — devo partir para cuidar de assuntos que
negligenciei por tempo demais.
— Oh!!
Ela ficou desapontada? Esperava que ele não fosse um tolo em
pensar assim. — A Sra. Veig serve um almoço em uma hora. Se você
não se importa com o horário, troque-o como faria.
— Está bem.
Era muito difícil andar ao lado dela e não a abordar, o completo
abandono da noite anterior tornou ainda pior. Sabia que estava sendo
totalmente egoísta ao menos pensar em como poderia discretamente
e com tanta clareza desistir de suas responsabilidades e levá-la de
volta ao andar de cima. Ela provavelmente não estava em condições
de entreter seu marido sensual esta manhã. Ainda assim, não
conseguia tirar a noção de sua mente.
As apresentações levaram uma hora. A equipe que mantinha a
residência de Clayborough contava cento e dez. Além disso, havia o
resto do pessoal a considerar, os jardineiros, os guarda-parques, o
gerente do parque, os cavalariços, o treinador, o canil, os cocheiros,
os lacaios e os batedores. Havia também dois maçons e quatro
carpinteiros, pois, como o duque explicou, sempre havia consertos a
serem feitos em uma casa tão antiga.
Ele a levou de volta para a casa, se tal uma residência palaciana
poderia ser chamada assim. Na porta da frente, ele a entregou para a
sra. Veig e Woodward. — Aproveite seu almoço, senhora. Sinto muito
por não poder acompanhá-la. — Seu tom era formal, mas seu
arrependimento era sincero.
— Eu entendo — disse Nicole, com os olhos nos pés de botas. —
Que horas você vai voltar, meu senhor?
Sua sobrancelha subiu e sorriu para a forma cuidadosa de
nomeá-lo que escolheu. Mas tinha sido a forma adequada de
endereço, assim como ela havia aparecido a imagem de propriedade
durante toda a manhã. Se sua esposa tivesse decidido mais do que
uma trégua, ela mudara de ideia? Seria sensato para ele estar tão
satisfeito com essa perspectiva?
— Pretendo voltar às seis e meia. Se você quiser, pode me
encontrar no salão vermelho para um xerez antes do jantar, às sete e
meia. A ceia é às oito. A menos, é claro, que não encontre com sua
aprovação.
— Não, tudo bem — Disse Nicole, corando um pouco.
— Você pode mudar qualquer coisa que quiser Nicole — disse o
Duque suavemente, de modo que só ela podia ouvir. Queria deixar
perfeitamente claro que sua posição como esposa e duquesa lhe dava
um poder, em seu domínio, compatível com o dele. E talvez,
obliquamente, quisesse que ela soubesse que ele próprio estava
tentando agradá-la. — Você só tem que me dizer, a Sra. Veig ou
Woodward, o que você gostaria de ter feito.
Nicole assentiu com a cabeça, os olhos arregalados no rosto
dele.
Ele hesitou. Havia tanto em seu olhar, tanto que tinha medo de
considerar o que viu. Sua mandíbula apertou quando o absurdo
pensamento de a beijar brotou em sua mente. Também não seria um
beijo educado na bochecha. Seria uma exibição empolgante de
paixão. Com grande dificuldade, se conteve.
Mas se arrependeu o dia todo.
Capítulo 28
Eles rapidamente se estabeleceram em uma rotina.
Nicole acordava numa hora indecente, apenas para descobrir
que Hadrian tinha ido embora. Nicole não o veria novamente até se
encontrarem na biblioteca do primeiro andar antes do
jantar. Aprendeu que montava em torno de suas propriedades logo
após o nascer do sol. Embora tenha voltado à tarde, isolava-se em
seu escritório e Nicole achou mais prudente não invadir seu santuário,
embora teria amado muito.
Assim, Nicole teve o dia para si mesma. Depois de um banho
descontraído, não havendo necessidade de se apressar. Nicole se
vestia com a orientação involuntária da sra. Veig, então descia de sua
suíte para se encontrar com o chef para discutir os cardápios do dia.
Isso parecia ser da maior importância para todos. Depois dessa
tarefa, não parecia haver mais nada que exigisse sua atenção. A sra.
Veig e Woodward dirigiam a equipe e a casa com a máxima eficiência.
Se Nicole quisesse intervir ou supervisionar, não saberia por onde
começar. Seu único outro dever parecia ser decidir que roupa vestir
para a refeição da noite e informar Annie, para que pudesse informar
a Sra. Veig.
Suas circunstâncias eram novas demais para que o tédio se
instalasse. A casa era tão vasta que Nicole continuou as explorações
que começou em seu primeiro dia. Essas explorações foram
demoradas. No espaço das várias horas que permaneceram até o
jantar ser servido, Nicole não podia sequer cobrir um andar inteiro e a
mansão tinha sete.
Ocorreu-lhe que poderia ter que passar o resto da sua vida
explorando.
Também ocorreu a que seria legal se juntar a Hadrian enquanto
fazia as rondas de seus arrendatários e operações agrícolas e
pecuárias.
Destruiu esses pensamentos de sua mente. Não teve que
perguntar para saber que as duquesas não se entregavam à
administração da propriedade, provavelmente não gastaram todo o
seu tempo explorando suas próprias casas também. Mas Nicole não
conseguia descobrir o que elas faziam.
À uma da tarde, almoçou sozinha. Naquele primeiro dia, servira
sua refeição na sala de jantar formal. A experiência foi um pouco
desconcertante. O quarto era o comprimento de duas quadras de
tênis e assim era a mesa de jantar. Sentou-se ao pé dela, sendo
servida uma refeição de sete pratos por um bando de servos, com
Woodward pairando sobre ela para cuidar de todos os seus desejos e
caprichos. Infelizmente, Nicole não era uma grande comedora e não
tinha fantasias extravagantes. Depois disso, pediu que servissem o
almoço na sala de música, que era alegre e aconchegante, em
comparação com o monstruoso refeitório. Afinal, Hadrian dissera que
poderia fazer o que quisesse.
Nas tardes cavalgava. O dono do estábulo era um irlandês
baixinho e rude chamado William O'Henry. Ele primeiro insistiu que
andasse com uma escolta de seis criados com libré. Nicole ficou
desanimada com essa perspectiva. E porque o marido deixara bem
claro que poderia mudar qualquer coisa que não satisfizesse sua
aprovação, insistiu que cavalgasse sozinha. O Sr. O'Henry ficou
espantado. Finalmente, eles se comprometeram, mas só porque
insistiu que o duque teria sua cabeça (e o descartaria francamente) se
a deixasse andar pela propriedade sem supervisão. O próprio O'Henry
se juntou a ela. Nicole logo descobriu que não se importava. O
homem mais velho era um verdadeiro deleite, não apenas sendo um
mestre cavaleiro, mas também um sujeito bastante espirituoso. Ele a
regalou com contos de cavalos, corridas, caçadas e tinha mais do que
algumas histórias engraçadas para relatar sobre vários cavalos
excepcionalmente apresentáveis que ele cuidara em sua longa vida.
Nicole fez questão de voltar às cinco para ter tempo de sobra
para se vestir para o jantar. Naquela primeira noite, Annie fez a espiã.
A pequena criada discretamente discerniu que o duque não se vestia
para o jantar. Para o alívio de Nicole, Annie informou-a de que o traje
de Sua Graça estava relaxado à noite, consistindo em não mais do
que uma jaqueta, calças e chinelos.
Muito ansiosa para ver Hadrian novamente depois da noite em
que passaram juntos, Nicole escolheu seu traje com cuidado. Vestiu
um vestido casual de azul da meia-noite e cuidadosamente debateu
se devia adornar-se com pérolas ou diamantes. Não querendo parecer
formal demais, ela finalmente decidiu contra qualquer joia, exceto por
um pequeno par de brincos e um camafeu em sua gola. Ela aplicou
um leve aroma à garganta e aos pulsos e permitiu que duas
empregadas por hora colocassem os cabelos em um estilo que parecia
sem arte e sem nenhum tipo de complicação.
O duque a estava esperando na biblioteca. Parecia inquieto e
impaciente, mas certamente não podia ser, pois Nicole chegou
exatamente às sete e meia, embora estivesse pronta meia hora antes.
Para seu completo desânimo, encontrou o marido vestido
formalmente com um terno preto e gravata trespassada. De alguma
forma, havia entendido mal ou Annie fora mal informada. Nicole
esperava que Hadrian não achasse que sua aparência fosse
terrivelmente deficiente.
Na noite seguinte, estava determinada a ser uma duquesa
adequada até o último centímetro de seu corpo alto. Usava um
vestido de noite ousadamente recortado e de silhueta reta que era a
última moda e o auge da sofisticação, com todos os seus diamantes,
com sapatos de cetim de salto alto e uma bolsa de noite
combinando. Suas mãos estavam enluvadas e ela carregava um
pequeno e requintado leque de seda. Seu cabelo levou duas horas
para fazer e desta vez foi inventado, não cometeria o mesmo erro
duas vezes.
Para seu choque, Hadrian a cumprimentou em nada menos que
sua jaqueta de fumar e chinelos!
— Parece que estamos com objetivos opostos, madame —
comentou secamente. Mas seus olhos estavam brilhando com
admiração franca.
— Ontem à noite você se vestiu — disse Nicole sem fôlego,
incapaz de achar a situação divertida, não quando era a receptora de
um olhar tão masculino, cheio de promessas.
— Madame, ontem à noite você escolheu não se vestir.
Ela piscou. De repente, os dois sorriram. Ele veio em sua
direção. Mesmo em sua jaqueta de smoking, o duque era o epítome
de um macho viril. Seus passos eram longos, inquietos. Uma energia
sexual altamente carregada parecia ondular visivelmente sobre seu
corpo. Entregou-lhe um xerez. — Talvez devêssemos discutir isso —
disse ele. Seu tom não era casual. Foi baixo e sugestivo.
Nicole molhou os lábios. Nunca mais ficaria imune a sua
proximidade, seu calor, sua intenção. — O que você gostaria que eu
fizesse?
— Ahh, precisa perguntar agora?
Ela corou, recordando as coisas que ele a guiara a fazer na noite
passada, a segunda noite de êxtase coisas que nenhuma mulher
decente deveria suspeitar que fossem possíveis entre amantes.
Ele veio em seu socorro, um dedo indicador tocando sua
bochecha. — Perdoe-me. Você me distrai, Senhora Esposa.
Nicole estava fraca de prazer.
— Você gostaria que eu subisse e me transformasse em roupas
mais formais? — Ele perguntou, sério agora.
Balançou a cabeça. — Eu prefiro muito mais você assim.
Sorriram e tiveram seu primeiro entendimento.
Jantavam todas as noites na sala de jantar formal. Foi um
assunto sem conversas. A mesa era para oitenta. Nicole contara as
cadeiras na primeira vez em que fizera uma refeição lá. Separada do
marido por um espaço tão vasto, nem podia esperar continuar uma
conversa com ele. O máximo que podia fazer era roubar olhares
discretos e não tão discretos, que se tornavam cada vez mais
aquecido à medida que a refeição progredia. No final da semana,
Nicole decidiu que era hora de insistir em que fossem adiadas para
uma sala menor para o jantar. Hadrian ficou surpreso com o pedido
dela, mas também parecia contente com isso. Depois disso, eles
jantaram em um dos salões menores no primeiro andar. E embora a
conversa fosse agora mais do que possível, havia pouco disso. Havia
muita tensão entre eles.
Porque ambos sabiam o que os esperava depois do jantar. Uma
noite de paixão ardente, de indulgência decadente.
No final da primeira semana, Nicole ficou emocionada por ter a
visita de sua mãe, Regina e Martha. Jane enviara uma nota
perguntando a Nicole se tudo ia bem e Nicole logo lhe assegurou que
uma visita não seria uma intrusão indesejável. A presença de Marta
com sua irmã e mãe foi uma surpresa maravilhosa. Nicole se absteve
de cumprimentá-los na porta da frente como gostaria de fazer. Estava
muito consciente de sua mudança de status agora e preocupada
demais em ser adequada. Woodward escoltou o trio para a sala de
música arejada e momentos depois, Nicole fez sua entrada.
Estava vestida com roupas casuais considerando seu status, mas
o vestido de ouro era o moiré mais caro com um tema
contemporâneo ricamente folheado e era na última moda, que era
bem direta e completamente ousada. Também usava o presente que
Hadrian lhe dera na noite anterior, um deslumbrante conjunto de
topázios incrustados de diamantes e seu cabelo estava empilhado alto
de uma forma muito elegante. Suas três convidadas ficaram
boquiabertos, sem palavras.
Nicole se aproximou radiante e em êxtase para ver todo mundo.
— Mãe! Regina! E Marta! Que bom que você veio!
Elas trocaram abraços. Martha se recuperou primeiro, seu olhar
se movendo lentamente sobre Nicole e depois os móveis. — Meu
Deus — ela disse, sorrindo. — Você se tornou uma duquesa.
Nicole ficou ruborizada de prazer. — Eu suspeito que devo
manter as aparências. — Ela apontou para o vestido. — Até agora,
não houve ninguém para ver meus esforços, exceto a equipe.
— E seu marido — disse Martha.
— Ele se levanta com o sol e desaparece pouco depois. Volta em
algum momento da tarde e se tranca em seu escritório até que ele
mude para o jantar. — Mas não era uma reclamação, sorria enquanto
falava.
Jane de repente sorriu. — Você teve uma mudança de coração,
Nicole?
— Que tola eu fui! — Nicole exclamou apaixonadamente. —
Como eu pude ser tão estúpida para resistir a esse casamento!
— Você está feliz, então? — Nicole mordeu o lábio. — Não
tenho mais orgulho. Admito a verdade. Estou mais do que feliz, estou
em êxtase.
Martha se levantou e correu para abraçá-la. — Eu estou tão feliz.
— Querida, estou tão feliz por você — Jane chorou
animadamente, também abraçando a filha.
Regina esperou de olhos arregalados.
Nicole ficou sombria.
— Eu estou feliz por você também — disse Regina, lágrimas
brotando em seus lindos olhos dourados.
— Oh Re! — Nicole chorou. — Eu odiava lutar com você, eu juro.
— Eu estava sendo egoísta não você — disse Regina, tremula. —
Não foi sua culpa que o pai estava me fazendo esperar para casar.
— Mas eu deveria saber como você se sentiu — protestou
Nicole, apertando as mãos uma da outra com força.
— Você está apaixonada? — Regina sussurrou.
— Sim — Nicole sussurrou de volta. — Sim eu estou.
Sorrisos envolveram os rostos das duas irmãs e se abraçaram
entusiasticamente.
Mais abraços foram trocados por toda parte. Quando todos se
sentaram novamente, Nicole se virou para Jane. — Mãe, como está o
pai?
— Está bem. E ficará emocionado quando eu lhe disser como
você está feliz.
— Eu sinto muito por termos lutado. Estava certo, como
geralmente está, em me fazer casar com Hadrian. É a melhor coisa
que já aconteceu comigo.
— Por que você não diz isso a ele? — Jane perguntou,
satisfeita. — Ele sente sua falta, querida. E está tão preocupado de
não ter feito a coisa certa.
— Antes de sair, vou escrever uma carta para ele — decidiu
Nicole. — Por favor, peça para vir me visitar em breve.
As senhoras começaram a conversar animadamente sobre o
casamento de Nicole e sobre os deveres de uma duquesa. Nicole
finalmente disse — Eu acho que, com o tempo, ele pode vir realmente
a cuidar de mim. E mesmo que não, eu acho que pelo menos seremos
amigos, é gentil e respeitoso e atencioso. Na verdade, eu acho que
está tentando o seu melhor para me agradar — Ela corou novamente
com prazer.
— Assim como você está tentando agradá-lo — apontou Martha,
ainda incapaz de acreditar na aparência elegante e discreta de Nicole.
— Sim, eu estou — disse Nicole. Desta vez, seu rubor foi trazido
por memórias gráficas de como tentou agradá-lo na cama. Não havia
dúvida de que havia sido bem-sucedida nesse esforço. Estava
rapidamente se tornando tão habilidosa quanto uma cortesã,
decidiu. Na noite anterior, finalmente teve a coragem de fazer o que
queria desde a primeira noite, adorar o corpo dele com as mãos e a
boca, enquanto ele adorava o dela. E depois Hadrian a segurou com
muita força por um longo tempo.
— Eu não posso esperar até que vocês dois comecem a sair —
Regina disse com satisfação. — Eu não posso esperar até que a
sociedade veja você agora! Se eu fosse você me exibiria bastante
para todos que já te condenaram.
— Não vai ser como da última vez? — Nicole disse com
tristeza. Odiava até mesmo pensar sobre seu comportamento no dia
do casamento e como havia humilhado Hadrian na frente de todos os
seus convidados. Era incrível que não estivesse mais irritado com ela,
era espantoso que tivessem se recuperado privadamente de sua
indiferença descuidada por aparições públicas.
— Eu deveria esperar que não! — Martha exclamou. — O pobre
duque tem sido o alvo de algumas boas risadas, mas uma vez que as
pessoas percebam que você está por perto, elas não vão mais fazer
piadas.
— Piadas? Que piadas?
Martha piscou e rapidamente olhou para Jane, que era curiosa e
aparentemente ignorante do ridículo e Regina, que não era. — Oh
querida, é claro que você não sabe. Não é importante, Nicole, o
importante é que vocês estão se dando bem.
— Conte-me. — Seu queixo estava definido teimosamente,
severamente.
Marta estava relutante.
Regina não. — Ela deveria saber! Se fosse eu, eu
absolutamente gostaria de saber!
Martha suspirou. — Na semana anterior ao seu casamento, ele
era o mais encantador e amável dos homens! Todos não podiam
deixar de notar a mudança nele, pois no passado não fazia segredo
de sua indiferença, nem mesmo tédio, com o turbilhão social. Lembra
como prometeu jogar o tolo apaixonado? Bem, fez o seu trabalho
muito bem, como loucamente apaixonado o Duque era e como você
deve ter sido responsável por uma mudança tão dramática em sua
personalidade, a pressa de casar foi escandalosa, também foi o
consenso de que devia ser amor.
— Oh, não — disse Nicole quando Martha fez uma pausa.
Martha suspirou novamente. — Infelizmente, sua raiva com o
duque era óbvia demais em seu casamento. Depois, o consenso
mudou. Eles disseram que era um amor verdadeiro da parte do
Duque. Claramente você não retribuiu os sentimentos. Foi o auge da
conversa.
Nicole estava com raiva, zangada com as fofocas e ainda mais
zangada consigo mesma por humilhar Hadrian de tal maneira. O
casamento deles poderia ter sido o pior escândalo imaginável se os
rumores desagradáveis não tivessem sido interrompidos. No entanto,
ele havia feito mais do que os impedir, realmente tornara o
casamento precipitado aceitável, mais do que aceitável, se o tom de
Martha fosse qualquer indicação. Ele a protegera como prometera,
enquanto ela desfizera tudo o que ele fizera de uma só vez, atacando-
o brutalmente, se não intencionalmente. Silenciosamente prometeu
corrigir as coisas imediatamente. Da próxima vez que saíssem, se
asseguraria de que não havia dúvida de que a noiva do duque estava
loucamente apaixonada pelo marido.
— Eu não queria chatear você — disse Martha.
Nicole não respondeu. Um novo pensamento a atingiu,
hipnotizando-a. Havia se esquecido do sangue em seus lençóis na
manhã seguinte à sua noite de núpcias. Não tinha sido capaz de
pensar em qualquer razão plausível para a mancha de sangue, exceto
que Hadrian deve ter se cortado de alguma forma. Agora, uma ideia
impressionante lhe ocorreu. Estava tentando protegê-la novamente?
Teria planejado a mancha de sangue em seus lençóis para que
ninguém soubesse que ela não era virgem na noite de núpcias deles?
Servos fofocavam terrivelmente lá embaixo. Se não houvesse
nenhuma mancha, todos em Clayborough saberiam disso logo em
seguida. Logo uma empregada contaria a outra criada que estava
empregada em outro lugar.
Nicole tinha certeza de que Hadrian havia manchado seus
lençóis. Para protegê-la. Não havia como se cortar na cama com ela.
Seu coração inchava impossivelmente com seu amor por ele.
Os convidados de Nicole passaram a noite. Todos passaram uma
noite maravilhosa com muita risada e bom humor, até mesmo o
duque, que não pôde deixar de desfrutar da camaradagem
compartilhada pelas senhoras. A condessa, Regina e Martha partiram
cedo na manhã seguinte. Depois da partida, Nicole calçou as calças e
as botas e saiu correndo da casa. A essa altura, ninguém sequer
piscou para o traje dela. No primeiro dia em que foi cavalgar, no
entanto, nem mesmo pensando em sua fantasia, todos pelos quais
havia passado aparentemente ficaram atordoados. As criadas a
consideravam com os olhos estalando, os porteiros ficaram
boquiabertos, Woodward ficou branco e os cavalariços piscaram e
rapidamente desviaram o olhar. Sim, estava desconfortável. Mas ela
se recuperou e todos os outros também.
Ela supôs, com pesar, que as duquesas deviam montar de lado
em trajes de equitação da moda. No entanto, Hadrian havia dito que
ela poderia fazer o que quisesse e montar seu garanhão vermelho
sangue era fazer exatamente isso. Depois daquela primeira vez, não
pensou mais sobre isso.
O mestre dos estábulos estava esperando por ela. Nicole acenou
quando se aproximou, sorrindo. Sorriu de volta. O'Henry também
usava calções e botas, mas as dele estavam manchadas e bem
gastas, enquanto seu casaco verde de caçador definitivamente tinha
visto dias melhores. — Boa tarde para você, Sua Graça — disse ele,
liderando suas montarias. — Eu pensei que você não poderia estar
vindo neste dia feliz.
— Esquecer minha equitação? Nunca!
Montaram e partiram. Nicole estava de bom humor, pois seu
mundo se tornara quase perfeito. Tudo o que precisava ser completo
era o amor do marido e estava cada vez mais confiante de que essa
era, de fato, uma possibilidade real.
Uma hora depois, atravessaram um prado e entraram em uma
estrada secundária. Ninguém estava por perto e o Sr. O'Henry virou-
se para ela com um sorriso. — Ruffian aqui está querendo fugir. Acha
que pode continuar, Sua Graça?
Nicole riu. O Sr. O'Henry agora sabia que era uma cavaleira
muito boa e não se preocupava mais com ela, pois tinha os primeiros
minutos de sua primeira viagem juntos. — Você pode me
acompanhar? — Nicole desafiou e, inclinando-se sobre o pescoço de
sua baia, eles foram embora.
Se nivelaram em um duro galope, os dois garanhões trovejando
lado a lado, estendendo-se por tudo que valiam e saboreando-
o. Correram pescoço e pescoço por uma milha ou duas, até que
ambos os cavaleiros viram três homens descendo a estrada em
direção a eles. De uma só vez, Nicole e O'Henry controlavam suas
montarias, não querendo causar um acidente ou chutar a terra nos
rostos dos pedestres.
Chegaram mais perto e Nicole viu que os três homens eram
jovens, malvestidos e carregando mochilas. — Trabalhadores rurais
desempregados — ela adivinhou. Provavelmente estavam carregando
tudo o que possuíam em suas costas, sentiu pena deles. Como ela
não podia? Os tempos eram realmente difíceis para as classes mais
baixas nos dias de hoje.
— Fora daqui, se você me perguntar — O'Henry bufou. — Se
um alguém quer trabalhar, ele sempre pode manipular alguma coisa.
Você não deve dar a eles nenhuma ajuda, Sua Graça.
Mas Nicole não tinha moedas consigo, embora tivesse prazer em
dar aos homens alguns quilos se pudesse. De repente, um dos
homens fez contato visual com ela. Nicole estava olhando curiosa,
agora olhou rapidamente para longe. O olhar do ruivo era ousado e
rude, muito interessado em sua aparência para o conforto dela.
O trio de repente ficou em silêncio. Nicole não olhou para eles
de novo, de repente tomada pelo desconforto, mas sabia que olhavam
para ela e para o cavalariço. — Ande de um lado para o outro —
O'Henry disse em voz baixa, movendo sua montaria em um trote.
Nicole estava prestes a fazer o mesmo quando o homem ruivo
agarrou o freio de seu garanhão. Seus olhos se arregalaram em
choque.
— Bom dia, moça. Um grande cavalo, você tem aqui.
— Deixe-me ir, por favor — disse Nicole calmamente, não
querendo fazer um incidente do que, esperançosamente, seria nada
mais do que um pedido de esmola.
— Tem uma ou duas libras? — Ele perguntou com um sorriso de
dentes largos.
— Deixe-a ir — disse O'Henry. Ele passou pelo grupo e agora
virou a montaria e voltou para Nicole. Ele teve que conter
abruptamente quando um homem entrou na frente dele para
bloquear seu caminho.
— Por favor — disse Nicole. — Eu não tenho moeda. Como
você pode ver, eu não tenho minha bolsa comigo.
— Ela não tem sua bolsa, rapazes — o ruivo riu.
— Eu estou atrás para passar por cima de você, rapaz —
O'Henry avisou o homem barrando seu caminho. — Deixe sua graça
ir.
— Sua graça? — O agressor de Nicole riu. — Se ela é sua
graça, eu sou o duque! Bem, se ela não tem nenhuma moeda, com
certeza tem um belo cavalo e um belo conjunto de pernas. Acho que
eu tenho uso para ambos.
Nicole ofegou. O'Henry seguiu em frente, prestes a cumprir sua
ameaça de atropelar o homem em seu caminho. Ao mesmo tempo,
Nicole insistiu com o garanhão. O homem ruivo que segurava o cavalo
não se soltou, na verdade, com a outra mão, agarrou sua perna. O
garanhão parou, confuso e cada vez mais perturbado.
O ruivo não chegou mais longe. O'Henry cavalgou até ele por
trás, forçando o único homem a pular de seu caminho e enviou seu
chicote para as costas do ruivo. O homem soltou Nicole e o cavalo
com um grito, agarrando o cavalariço com um grito. Ao mesmo
tempo, seus dois amigos atacaram O'Henry e no instante seguinte, o
cavalariço estava sendo arrastado de seu cavalo.
Nicole gritou quando viu os três vagabundos começarem a socá-
lo. Ela montou seu garanhão no corpo a corpo. Agarrando seu
chicote, ela começou a cortar freneticamente para os homens.
O ruivo desdentado virou-se com intenção vingativa brilhando
em seus olhos. Nicole tentou atingi-lo em seu rosto feio, mas ele
pegou o chicote e puxou-a de seu alcance, jogando-a para longe. Seu
coração parou. Ele sorriu. Naquela fração de segundo, sabia que seu
destino estava em suas mãos e que seria pior do que a morte poderia
ser.
Mas o garanhão, já frenético, agora sentindo o cheiro de sangue
humano, gritou e recuou. Seus cascos se agitaram
descontroladamente, atingindo o atacante de Nicole. O homem gritou,
descendo sob as patas dianteiras do animal. Nicole puxou o garanhão
para trás para evitar atropelar o homem.
Ele ficou de joelhos. Nicole vislumbrou sangue no rosto e nas
roupas rasgadas. Ele se levantou e de repente seus dois amigos
estavam fugindo.
Por um instante, Nicole ficou sentada olhando para eles,
tentando manter seu garanhão sob controle, ofegando
freneticamente. Então virou o olhar para O'Henry, que estava sentado
e cambaleando. Seu rosto estava ensanguentado e ele cuspiu um
dente.
Com um grito, pulou da sela e correu para ele. — Oh meu Deus!
Você está bem?
Olhou para ela, seu rosto ostentando várias contusões
sangrentas. — Eu estou bem, Sua Graça. Eles não te machucaram,
não é?
E antes que Nicole pudesse responder, seu sorriso desapareceu,
seus olhos brilharam e caiu de volta à terra, inconsciente.
Capítulo 29
O estômago de Isobel se revirou.
Parou ao lado de Woodward quando o mordomo bateu duas
vezes na porta do escritório de Hadrian. Sua visita não foi
inesperada. Ontem enviou ao filho uma nota solicitando uma
audiência com ele. A nota fora estranhamente formal e Isobel tentara
reformulá-la duas vezes, mas não conseguira alcançar a intimidade
casual que outrora existira tão naturalmente entre ela e o filho. No
final, deixou como estava.
Não tivera uma conversa significativa com o filho desde que lhe
revelara a verdade sobre seu nascimento, quase um mês atrás. Em
todo o tempo que se passou desde então, ela mal o tinha visto. De
maneira nenhuma insignificante, Isobel evitava seu próprio filho.
Ela se ofereceu para ajudar a condessa de Dragmore com os
preparativos do casamento. Jane concordara com pouco alívio. Isobel
conhecia Lady Shelton há alguns anos, mas não intimamente; agora
se tornaram parceiras em ações e em espírito. Ficaram fabulosamente
amigas. Isobel sempre gostou do que conhecia de Jane e depois
daquelas últimas semanas, gostava dela ainda mais e admirava-a
também. Pois, como Isobel, Jane era secretamente uma rebelde no
coração. Era inteligente, independente, compassiva e sábia. E como
Isobel, era uma mulher de experiência, não um modelo enclausurado
de feminilidade. Isobel estava bem ciente de que uma vez a condessa
tinha sido a popular atriz de teatro, Jane Barclay. Não achava que isso
fosse um demérito de seu caráter, pelo contrário, a admiração de
Isobel por ela só cresceu.
Conhecendo a condessa agora, Isobel estava mais certa do que
nunca de que sua filha era a companheira perfeita para seu filho.
Planejar um casamento tão grandioso e elaborado tinha sido
uma distração para Isobel do medo que a atormentava havia quase
trinta anos e que continuava a assombrá-la agora. Diariamente tentou
não confrontar esse medo, mas ele piorou. Agora já não tinha
preparativos para o casamento para serem consumidos. Agora não
podia mais evitar o que estava em seu coração.
A última vez que realmente falou com Hadrian, o encontro
terminou em raiva. Estava zangado com ela e com razão, por negar-
lhe seu pai todos esses anos. Temia o desdém dele por seu
comportamento, assim como temera que se zangasse por lhe
esconder a verdade. Seus piores medos se realizaram. Estava furioso
com ela? Ela não poderia continuar a tolerar o
desconhecido. Enfrentar cada dia tornara-se uma tarefa cheia de
angústia.
Hadrian se levantou de trás de sua mesa quando Isobel
entrou. Não podia sorrir, embora ele fizesse. — Como você está, mãe?
Que pedido estranho. Você me pede uma audiência?
Nada parecia ter mudado. Isobel ousou esperar. Lágrimas de
repente encheram seus olhos, obscurecendo sua visão. — Eu não
queria me intrometer.
— Você não está se intrometendo — disse ele, um tanto
bruscamente. Deu a volta na mesa. — O que é isso?
Enxugou os olhos com o lenço e olhou para o filho. — Hadrian
— perguntou suavemente. — Pelo seu comportamento, posso concluir
que você não está mais com raiva de mim?
— Talvez seja melhor você sentar — ele disse, guiando-a para
uma cadeira.
— Você ainda está com raiva?
Ele olhou fixamente. — Mãe, foi errado você não me contar a
verdade sobre Francis e Hadrian Stone assim que eu tivesse idade
suficiente para entender. Mas eu tenho tentado entender você, mas
eu teria entendido. E admiti há muito tempo que é significativo que
um homem conheça a identidade de seu pai. Como você não pôde ver
isso?
— Eu sabia que estava errado — Isobel sussurrou.
— Então por quê? — Hadrian exigiu. — Por que você não me
contou mais cedo? Eu entendo porque você não contou a Hadrian
Stone, afinal, ele não fazia mais parte da sua vida. Mas eu sou seu
filho. Eu precisava saber. Foi o maior alívio saber que Francis não é
meu verdadeiro pai.
— Eu estava com medo.
— De que? O segredo se tornando público? Isso nunca vai
acontecer, mãe. Eu vou guardar sua reputação zelosamente.
— Eu não estava preocupado com a minha reputação — disse
Isobel, torcendo o lenço implacavelmente em suas mãos.
— Então o que? Minha herança é segura mesmo que a verdade
seja descoberta. Afinal, o avô Jonathan fez de você seu herdeiro
depois de Francis. Você é a legítima herdeira de Clayborough e eu
depois de você. Eu tenho muitos primos que gostariam de disputar
minha propriedade, mas suas reivindicações seriam derrubadas no
tribunal.
— Eu temia que você nunca me perdoasse por minhas ações e
por não ter contado a você.
Hadrian piscou. Então ele sorriu suavemente. — Mãe, isso é
ridículo.
— Você me perdoa? — Ela perguntou incrédula.
— Mãe, eu estava com raiva, mas isso está no passado. Nada
mudou. Embora eu esteja um pouco insultado por você me achar
capaz de condenar você por encontrar amor com outro homem que
não Francis. Estou feliz, terrivelmente feliz, você teve uma pequena
quantidade de felicidade em sua vida. Deus sabe que Francis fez o
melhor que pôde para torná-la miserável.
Isobel cobriu o rosto com as mãos. O alívio a inundou, tremia e
queria chorar. Deveria saber que seu filho, seu lindo filho, nunca se
afastaria dela. No entanto, como poderia saber? Hadrian era tão
heterogêneo, às vezes até puritano, era tão honrado a pessoa mais
honrada que conhecia. E o que fizera não passava de desonroso,
mesmo que tivesse sido por amor.
Hadrian deu um tapinha no ombro dela desajeitadamente. —
Não chore, mãe. O passado é passado. Temos o futuro à nossa frente
agora.
Isobel conseguiu sorrir.
— Eu coloquei investigadores em campo. Um deve ter chegado a
Boston há duas semanas. Se meu pai está lá, se estiver vivo, deve ter
recebido minha carta. Eu sei que é otimista demais, mas não posso
deixar de ter esperança que mesmo agora uma resposta está voltando
através do Atlântico.
Isobel ficou muito quieta. Também deveria saber que Hadrian
teria instigado a busca por seu pai imediatamente.
— Quando eu ouvir alguma coisa, eu vou deixar você saber.
— Não. — Isobel sacudiu a cabeça com veemência. — Não. Eu
não quero saber. Não quero saber se ele está vivo ou morto. Ou
casado. Não.
Ele olhou para ela.
O coração de Isobel estava batendo forte. Depois de todos esses
anos, era impensável que estivesse vivo, solteiro e ainda apaixonado
por ela. Impensável. A dor de vê-lo se fosse feliz ou indiferente a ela
seria insuportável. Assim como seria se estivesse morto.
— Tudo bem, mãe — Hadrian disse suavemente. Para mudar de
assunto, ele perguntou se gostaria de ficar e jantar com ele e sua
esposa.
Isobel sorriu chorosamente. Estava prestes a recusar, sabia
muito bem que os recém-casados mereciam mais tempo sozinhos
para resolver o seu relacionamento, mesmo que estivesse ansiosa
para saber o que estava acontecendo entre seu filho e sua
esposa. Antes que pudesse responder, as portas do escritório se
abriram.
Isobel e Hadrian ficaram assustados quando Nicole entrou no
quarto, ofegante e de olhos arregalados. — Hadrian.
Com a visão de sua esposa, bastante despenteada e claramente
angustiada, com calções e botas enlameadas, Hadrian saltou para
frente. Mas Nicole parou imediatamente, seu olhar frenético
percorrendo a duquesa viúva, que a observava calmamente. O
semblante pálido de Nicole instantaneamente ficou com um tom de
vermelho fosco. — Ah não! — Ela gemeu.
Hadrian já a havia agarrado, virando-a abruptamente para
encará-lo. — Qual é o problema? O que aconteceu? Você está bem?
Nicole tentou recuperar o fôlego para poder responder. Olhou
desesperadamente novamente para a duquesa viúva, mal ciente de
que seu marido a estava sacudindo. Era apenas a sorte dela que a
sogra tivesse que a ver pela primeira vez em seu novo papel de
duquesa vestida como um cavalariço!
Hadrian continuou a sacudi-la. — Nicole! O que aconteceu?
Você está bem? — Ele repetiu ansiosamente.
Sua atenção foi empurrada de volta para o marido. — Hadrian!
Você deve vir rapidamente! Houve um acidente terrível! O cavalariço
foi atacado por rufiões e eles o espancaram! Levou-me uma
eternidade para levá-lo a meu cavalo e voltar para Clayborough,
estava inconsciente, Woodward enviou alguém para buscar um
médico, mas estou com tanto medo! — Essas últimas palavras se
transformaram em soluços.
Ainda segurava os dois braços dela. — Você está ferida?
Ela conseguiu balançar a cabeça negativamente.
Hadrian a soltou abruptamente e atravessou a sala. — Fique
com ela, mãe — ordenou e então se foi.
Nicole cobriu a boca com as mãos, que estavam
tremendo. O'Henry ainda estava inconsciente quando finalmente
voltou a Clayborough com ele deitado propenso e de frente para o
garanhão, enquanto Nicole conduzia o cavalo a pé. Estava com medo
de que ele estivesse morto.
— Aqui, querida, tome um gole disso. Vai acalmar seus nervos.
Nicole começou a perceber novamente que a duquesa viúva era
uma testemunha de suas maneiras e vestimentas mais indecorosas, o
que em si constituía um comportamento sórdido demais para ser
aceitável. Queria irromper em lágrimas, em vez disso, aceitou o copo
e tomou vários goles. A duquesa viúva deu um tapinha nas costas
dela.
Nicole olhou-a. A mulher estava sendo gentil, não condenando.
— Quão mal foi o ferimento do Sr. O'Henry? — Ela perguntou.
— Eu não sei! — Nicole gemeu. — E foi tudo culpa minha.
— Tenho certeza de que você está exagerando, assim como
tenho certeza de que tudo ficará bem.
— Eu tenho medo que ele esteja morrendo... ou morto.
A duquesa viúva deu um tapinha nela novamente. — Você quer
falar sobre isso?
Nicole sabia que não deveria. O incidente estava além do limite
para qualquer dama, muito menos uma duquesa. Então Nicole olhou-
a. Os olhos de Isobel eram quentes, gentis e preocupados. A
resistência de Nicole desmoronou e antes que pudesse se conter,
estava balbuciando toda a história. — Eu insisti que cavalgássemos
sozinhos. Um dos homens me atacou! Tenho certeza que poderia ter
ido embora, mas o sr. O'Henry imediatamente começou a bater nele
com seu chicote! Havia dois outros e eles o arrastaram de sua sela e
eu estava com medo de que fossem matá-lo então fui lá bati neles o
melhor que pude com meu chicote e graças a Deus, meu garanhão
ficou furioso. Ele feriu seu líder, quase o pisoteando e todos correram
para longe.
— Oh querida — disse a duquesa viúva.
Nicole olhou para ela miseravelmente. Seu tom era tão gentil
que convidava ainda mais a intimidade. — Eu fiz uma bagunça terrível
das coisas, não fiz? Não sou uma duquesa muito boa e queria muito
ser.
Isobel esfregou as costas dela. — Bem — ela suspirou — seu
marido provavelmente ficará furioso com você, mas graças ao Senhor
você não foi ferida.
— Sinto muito, você deve saber disso e me ver assim — Nicole
sussurrou desanimada.
Isobel sorriu de verdade. — Isso não muda minha opinião sobre
você, se é isso que está te preocupando.
Nicole gemeu. — Tenho certeza que só confirma isso.
Isobel piscou. Então conduziu a distraída Nicole para o sofá e
ambas se sentaram. — Minha querida, você acha que eu estou
desanimada com você?
— Você não está?
— De modo nenhum.
Nicole ficou chocada.
Isobel sorriu. — Pelo contrário, eu aprovo este casamento. De
fato, estou certa de que você é a melhor escolha possível de uma
esposa para meu filho.
Nicole teria sufocado se estivesse tomando o xerez. — Mas, por
quê?
— Você é uma mulher independente, minha querida, é por isso.
Você é ousada e pouco convencional. De certa forma, você e meu
filho têm muito em comum. Em outros, nada. E é esse equilíbrio
preciso que estou contando.
Nicole estava agora verdadeiramente aturdida. — Está?
Isobel deu um tapinha na mão dela. — Vocês dois amam o
campo e uma vida simples. Interesses comuns são importantes. No
entanto, Hadrian é muito prudente e independente para o seu próprio
bem. Você não é. Ele precisa ser colocado em seu lugar de vez em
quando. Sim, vocês dois devem se sair bem.
Nicole não acreditou no que estava ouvindo. — Eu tenho medo
de ter mais do que colocado ele no lugar hoje.
— Bem, foi um pouco imprudente participar da briga — disse
Isobel alegremente. — Mas eu não vou contar a ninguém.
Hadrian não achava que tivesse estado mais irritado em sua
vida. Will O'Henry já não estava inconsciente e relatara todos os
detalhes do que acontecera naquela tarde. Pisando mortalmente, o
duque voltou para a biblioteca.
Parou diante de Isobel e Nicole, elevando-se acima delas
enquanto se sentavam juntas no sofá. — Mãe, esta noite não seria
uma boa hora para você se juntar a nós para o jantar.
Isobel ficou de pé. — Eu entendo. Seja gentil com ela, Hadrian.
Ela sofreu muito hoje.
— Isso não é nada em comparação ao que está prestes a sofrer.
Nicole ficou rígida.
— Seja corajosa — disse Isobel, inclinando-se para beijar a
bochecha de Nicole. Novamente deu a seu filho um olhar de
advertência antes de partir.
O silêncio encheu a sala. O relógio de pêndulo em pé em uma
parede passou os segundos em voz alta. — Você pode se explicar? —
Hadrian finalmente perguntou.
— Sinto muito — Nicole tentou.
— Você está se desculpando?! — Hadrian estava incrédulo. —
Madame você estava prestes a ser estuprada e você me diz que sente
muito?
Com medo, ela disse — Nós não vamos andar nas estradas
públicas novamente.
Hadrian explodiu. — Droga, se você vai andar em qualquer lugar
novamente.
Nicole ficou de pé. — Hadrian, seja razoável!
— Seja razoável! Por que eu deveria ser razoável enquanto você
não é nada além de irracional!
— Eu não procurei essa aventura.
— Aventura! — Ele berrou, agora muito além do controle. — Só
você, minha esposa, se refere a um possível estupro como uma
aventura.
— Não foi isso que eu falei — ela gritou.
Ele desejava puxar seus próprios cabelos. Seus punhos estavam
cerrados. — Eu tenho feito tudo que eu poderia — desde o começo —
para proteger você de si mesma. Basta eu virar minhas costas, você
faz algum dano. Mas isso não vai mais acontecer! Seu bem-estar, sua
vida você colocou seriamente em risco.
— Eu sinto muito! — Nicole respondeu. O pranto estava preso
em sua garganta.
Hadrian estava além de parar. — Olhe para você! — ele se
enfureceu. A sacudiu, ignorando suas tentativas de se libertar. —
Você parece um cavalariço, exceto que claramente você não é
menino! Bom Deus! Você também podia estar nua! Alguma vez você
já pensou em como me sentiria, tendo minha esposa correndo de
roupa tão apertada que todo homem pode facilmente imaginá-la nua?
Raiva explodiu. — Agora você está exagerando.
— Oh eu estou? William me contou tudo, senhora. Você atraiu
as piores intenções dos homens. Se você estivesse vestida com um
traje de equitação adequado, se você tivesse uma escolta adequada,
eles nunca ousariam atacar você - a Duquesa de Clayborough! — Foi
um rugido. — Ou preciso lembrar de quem você é?
Nicole se soltou de seu aperto. — Não, você não precisa me
lembrar de quem e o que eu sou agora! Eu sei muito bem que agora
sou sua duquesa! Como eu poderia esquecer?
— Ah, então se arrependeu?
— Sim! Eu quero dizer não!
— Claramente você não tem ideia do que quer dizer — gritou
ele. — Assim como você claramente não tem ideia do tipo de
destruição que seu comportamento imprudente continua a provocar.
Como suas palavras doeram. — Agora suponho que você vai me
dizer que eu nunca devo montar, devo, a todo custo, à custa do meu
próprio prazer, manter aparências.
— Sim, droga.
Nicole ficou horrorizada. — Com certeza você está de
brincadeira?
— Acredite em mim, senhora, não há nada para brincar agora.
— Então você mentiu! — Nicole chorou histericamente. — Você
me disse que eu poderia fazer o que eu escolhi, disse muitas vezes,
escolhi andar assim, eu sempre ando no Dragmore assim.
— Isso não é Dragmore e caso você tenha esquecido, você é
minha duquesa agora. Droga, Senhora, tenho certeza que corre por
toda a cidade que você tem a tendência de se vestir como um
menino. As fofocas devem ter um dia de campo. Você quer
eternamente ser o foco de fofocas maliciosas?
— Não — admitiu em lágrimas. — Mas...
— Não há mas. — Hadrian a soltou e se afastou dela,
respirando profundamente. Ainda estava abalado até o fim por quão
perto ela tinha chegado de ser estuprada, ou até mesmo morta.
Estava tremendo e no pior tipo de medo, um medo irresistível por sua
esposa. Se algo tivesse acontecido com Nicole, nunca teria perdoado
O'Henry ou a si mesmo, quando era a própria Nicole a culpar. Correu
as mãos trêmulas pelo cabelo, procurando um controle que mal podia
invocar. Estava com medo de fazer algo impensável, como colocá-la
sobre o joelho e espancá-la até que se transformasse em um ser
racional e uma dama de decoro.
Passou muito tempo até que finalmente se virou para encará-la
novamente.
— O Sr. O'Henry vai ficar bem?
— Ele ficará, sem dúvida, confinado à sua cama por uma
semana ou duas, mas não está às portas da morte. Embora pudesse
até ter morrido.— Ignorou sua crescente palidez. Não conseguia
afastar a imagem em sua mente de Nicole indo direto para a briga e
atacando os três agressores de O'Henry com o chicote dela. — Suba
as escadas. Saia dessas roupas. Imediatamente.
Nicole se abraçou. — O que você vai fazer?
Ele fez uma careta. — Por um lado, eu quero essas calças
queimadas. — Ele ignorou o protesto dela. — Em segundo lugar,
você, Madame, deve ficar longe dos estábulos indefinidamente.
Nicole ficou indignada.
— Em terceiro lugar, pretendo prender esses bandidos e mandá-
los jogar em Newgate.
— Hadrian — gritou Nicole — você não está sendo justo.
Ele girou. — Nunca se atreva a me acusar de ser injusto! Eu
tenho os melhores interesses no coração! Claramente alguém tem que
fazer isso quando você não faz! Eu sugiro que você me deixe
imediatamente.
— Quando você se acalmar — ela conseguiu — podemos
continuar essa discussão.
— Suba as escadas, Madame. Quero dizer agora. Quero dizer
neste instante. Antes de você me fazer comportar de uma maneira
que eu me arrependerei.
Nicole não hesitou mais, ela fugiu.
Capítulo 30
Demorou muito até que Nicole parasse de tremer.
Foi uma combinação de todas as circunstâncias que a
assediaram tanto. Havia sido abordada com intenção violenta e o
bondoso mestre do estábulo quase morrera defendendo-a. Aquelas
circunstâncias sozinhas teriam sido suficientes para manter os nervos
dela tremendo incontrolavelmente, mas a reação do marido a tudo e a
luta furiosa deles foi o golpe de misericórdia. Nicole correu para ele
em busca de consolo mais do que qualquer outra coisa. Em vez disso,
recebeu uma resposta escaldante.
E talvez, o que tornou insuportável, foi que Hadrian estava certo
e ela errada. Agiu mais do que imprudentemente, tinha sido tola. Se
tivesse pelo menos estado nas estradas públicas com uma escolta
adequada, os três vagabundos nunca ousariam se aproximar
dela. Mas não só não tinha uma escolta, nem sequer estava vestida
como a duquesa de Clayborough deveria estar. De qualquer forma,
Nicole não podia negar que a culpa era dela. Por causa do seu
comportamento imbecil, um homem quase foi morto.
Sentou-se na suntuosa colcha de veludo rosa em suas roupas
sujas e se abraçou. Teve que admitir tristemente que estava se
tornando uma duquesa em plena forma, além de arruinar suas
chances de um relacionamento feliz com o marido.
Ouviu cavaleiros galopando para longe da frente da casa. Nicole
correu para a janela. Podia distinguir o marido na liderança com seu
caçador negro de ossos crus. Seu estômago se apertou. Estava indo
atrás de seus agressores.
Houve uma batida na porta dela. Nicole respondeu e ambas, a
Sra. Veig e Annie, intervieram. Annie estava com o rosto pálido e
ansiosa, Nicole silenciosamente abençoou sua pequena criada por sua
lealdade. A Sra. Veig estava sombria. Nicole sabia que sua expressão
incomumente impassível era uma tentativa de encobrir sua
desaprovação, o primeiro exemplo que Nicole ainda tinha de discernir.
— Arrume o banho dela, Annie — disse a sra. Veig. Annie se
apressou em obedecer. A Sra. Veig colocou uma bandeja de bolos e
chocolate quente na cama. — Eu pensei que você poderia gostar de
algo doce para acalmar seus nervos.
Nicole não tinha apetite, mas assentiu.
A governanta ocupou-se no armário de Nicole, tirando um robe
de lã quente e chinelos de brocado forrados de lã. Nicole atirou as
botas, calções e camisa no chão. Annie disse que o banho estava
pronto. Nicole estava prestes a tirar a calcinha quando viu a Sra. Veig
pegar suas roupas espalhadas. A Sra. Veig nunca cuidou de suas
roupas sujas e um alarme soou na mente de Nicole. — Sra. Veig —
ela disse — o que você está fazendo?
— Sinto muito, Sua Graça. Mas a Sua Graça ordenou que eu
levasse essas roupas.
Nicole ficou muito quieta. — E queimá-las?
— Sim.
Seu corpo inteiro ficou tenso.
— Sinto muito, Sua Graça — a governanta disse novamente. Ela
saiu com as roupas, felizmente deixando as botas personalizadas de
Nicole para trás.
Nicole fechou os olhos. Realmente sentia muito por seu papel no
que tinha acontecido, mas isso estava indo longe demais. No entanto,
em vez de raiva, havia apenas dor. Esta semana passada tinha sido o
paraíso. Agora, onde foi?
Nicole não deixou seus aposentos. Esperou que o marido
voltasse a Clayborough sem muita ansiedade. Esperava que fosse
mais calmo e mais razoável quando voltasse. Estava determinada a
desfazer o dano que havia causado e determinada a retomar o
relacionamento deles na pista em que estivera. Encontraria na
biblioteca antes do jantar, como sempre e ela seria um exemplo de
propriedade. Se não se curvasse, se decidisse não esquecer ou
ignorar o que acontecera naquele dia, seria mais agressiva em seu
plano de ataque. Iria roubar em sua cama e seduzi-lo. Uma noite de
paixão certamente o distrairia de sua raiva com ela.
Foi um plano simples. Rezou para que não tivesse que usá-lo,
rezou para que, quando Hadrian voltasse, estivesse em um estado de
espírito melhor e mais tolerante.
Parecia que Nicole passara uma eternidade esperando que o
marido voltasse, mas uma olhada no relógio lhe disse que não era
nem uma hora. Esperou incerta em seu quarto, seu coração se alojou
como uma pedra em seu peito. Viria vê-la? Ele não viria para lhe dizer
se tivera sucesso em caçar os rufiões que haviam atacado ela e
O'Henry? Então ela teria a chance de julgar o seu humor antes de ir
encontrá-lo na biblioteca. Não suportava a incerteza, a espera.
Mas ele não veio. Ela o ouviu entrar em seus aposentos, os
quais se juntavam aos dela. Ela esperou, ouviu atentamente os sons
vindos de seus aposentos, não conseguia decidir o que estava
fazendo, mas parecia que estava trocando de roupa. Suas esperanças
se levantaram por um breve instante, enquanto pensava que estava
se preparando para encontrá-la na biblioteca, mas depois afundaram
abruptamente. Pois o ouviu saindo de sua suíte e indo pelo corredor
não em direção à porta, mas longe dela.
E alguns momentos depois, ouviu uma carruagem e cavalos se
aproximando da frente da casa. Nicole correu para a janela. Chocada,
assistiu seu marido, vestido para viajar em um sobretudo de várias
camadas, entrar na carruagem de Clayborough. Um momento depois,
rolou no meio de sua cavalgada de batedores de libré.
Três dias depois, Nicole começou a ficar bastante
zangada. Hadrian saiu sem se incomodar em informá-la onde estava
indo. E ainda não tinha mandado uma única palavra para ela, quando
voltaria. Separada como estava, não conseguia avaliar o humor dele,
mas achava difícil acreditar que ainda estivesse zangado com um
incidente que estava se tornando rapidamente uma história antiga.
Nicole tinha orgulho demais de perguntar à sra. Veig para onde
o marido havia ido. Mas levara seu criado e mordomo com ele, o que
não era um sinal encorajador. Mais uma vez, Annie foi encarregada de
extrair informações. Ela logo contou a Nicole que ele tinha ido à
Clayborough House em Londres, e que ninguém fazia ideia de quando
voltaria.
Poderia ser possível que ele ainda estivesse zangado com ela?
Ou era simplesmente indiferente e completamente afoito?
No terceiro dia, Nicole estava ficando completamente zangada.
Essa era sua maneira de puni-la? Ela não se desculpou, até aprendeu
a lição! No futuro, iria montar em público com uma escolta e em
trajes adequados. Ninguém teria motivos para dizer uma palavra
acusatória sobre a duquesa de Clayborough. Seu marido ficaria
orgulhoso dela. Em particular, no entanto, continuaria fazendo o que
quisesse. Achava isso o mais justo dos compromissos. Ainda tinha que
exercitar este último passo, porém, querendo resolver seu
relacionamento com o marido primeiro. Podia imaginar muito bem
que, se descobrisse que andava de calções, mesmo que fosse na terra
de Clayborough ao raiar do dia com alguns cavalariços, chegaria às
conclusões erradas. Colocaria esse argumento desastroso por trás
deles, não abanaria as chamas de outra briga de fogo.
Nicole tinha acabado de decidir ir a Londres para se juntar ao
marido quando a sra. Veig informou que tinha um visitante. Nicole
levantou uma sobrancelha, surpresa, imaginando quem poderia
ser. Ainda não recebera ninguém além de sua família e Nicole estava
feliz por terem vindo quando ainda vivia em um estado de paraíso e
não agora, quando se sentia como se estivesse prestes a atravessar
os portões do inferno.
A Sra. Veig disse que era Lady Stacy Worthington.
Nicole sentiu muito mal.
Ela resolveu ser gentil, seria um modelo de propriedade, a
duquesa perfeita. Rapidamente, mandou a sra. Veig ajudá-la a vestir
um vestido espetacularmente caro, adequado a uma tarde na cidade e
não em casa no campo. Com ele vestiu seus diamantes, todos eles.
Meia hora depois, ela desceu as escadas como uma rainha para
cumprimentar Stacy no salão de rosas. Aquele quarto em particular
era do tamanho do salão de baile de muitos cavalheiros. Claro, Stacy
sem dúvida tinha ido a Clayborough muitas vezes, mas sendo uma
convidada, não poderia ter feito mais do que vislumbrar um quarto da
residência palaciana. Mesmo que estivesse nesta sala antes, ainda era
imponente.
Stacy levantou-se do sofá onde estava sentada. — Boa tarde,
Sua graça.
Quando Nicole chegou mais perto e levou algum tempo para
atravessar a sala , ela viu o brilho nos olhos da outra mulher e seu
senso de suspeita cresceu. — Olá, Stacy. Que surpresa. Sra. Veig, por
favor, traga-nos mais sanduíches. E alguns doces. — Nicole sorriu
para Stacy. Ela se dirigiu a sem seu título deferente
propositalmente. Pois Stacy não seria realmente Lady Stacy até que
ela se casasse com um nobre.
Stacy sorriu de volta. Foi feroz.
Nicole se sentou em uma bergère de frente para sua
visitante, Stacy voltou a se sentar no sofá. As duas mulheres se
entreolharam. O silêncio reinou.
Normalmente, Nicole teria perguntado sem rodeios a Stacy o
que queria. Mas estava decidida a ser a epítome de uma anfitriã. —
As estradas estão ficando ruins, não estão? Espero que isso não tenha
dificultado muito a viagem.
— Elas não são tão ruins, ainda não. Então, quando Hadrian
voltará?
Nicole ficou desanimada com a possibilidade de que Stacy
soubesse que Hadrian estava em Londres e não aqui com ela. — Com
licença?
— Da cidade. — Stacy ainda estava sorrindo.
— Por que, assim que ele conclua seus negócios?
— Quão urgente deve ser. Afinal, você não se casou há mais de
uma semana. —
Nicole manteve seu temperamento. — Foi da maior urgência.
— Humm. Mas ele ainda teve tempo de ir ao número 12 da
Crawford Street.
Nicole piscou. O que quer que Stacy estivesse dirigindo, não
tinha noção do que poderia ser. — Sim, bem, imagino que tenha
negócios lá também.
Stacy piscou. — Você não sabe, não é? Você não sabe o que é o
número 12 da Crawford Street.
Foi muito difícil manter o equilíbrio. — Não, eu não sei. — Mas
de repente ela teve uma ideia, uma ideia desagradável.
Stacy estava alegre. — Hadrian tem apartamentos lá. Ele tem
apartamentos lá desde os dezoito anos.
Nicole tentou muito não entender. — Entendo.
— Você ainda não me compreende, mantém esses apartamentos
para sua amante.
A cor sumiu do rosto de Nicole. Quando falou, foi entorpecido. —
Eu não acredito em você. — Ela não acreditava nela! Ela não iria
acreditar nela!
— Com certeza você não se casou com Hadrian ignorando sua
reputação com as mulheres! Por que sua atual amante é considerada
a mulher mais bonita de toda Londres. Ela é francesa, uma atriz. Seu
nome é Holland Dubois.
Não, Nicole pensou, não é verdade, não poderia ter ido para
outra mulher, não depois do que eles compartilharam. Mas sabia que
tinha uma amante, sabia de sua reputação. Não tinha sido essa a
razão pela qual não queria se casar com ele em primeiro lugar? Sabia
que um dia se cansaria dela e iria para outras mulheres?
— Se você não acredita em mim, então por que você não vai ver
por si mesma? — Stacy falou triunfante.
Embora a dormência de Nicole estivesse rapidamente se
transformando em uma dor lancinante, falou com a máxima calma. —
Por que eu deveria fazer isso? Todos os homens têm amantes e sim,
eu certamente conhecia a reputação do meu marido antes de nos
casarmos. As notícias que você me traz não mudam nada. Afinal, eu
sou a Duquesa de Clayborough. Você acha que eu me importo sobre
seu namorico com uma atriz?
Stacy foi pega de surpresa. Sua alegria se foi. — Bem — ela
disse em um huff. — Eu estava apenas tentando ajudá-la.
— Que gentil que você é.
Stacy levantou-se. — Eu posso ver que você não quer minha
amizade! Eu acho melhor sair.
— Você certamente pode fazer o que quiser. — Educadamente,
Nicole também se levantou, convocando a Sra. Veig. — Por favor,
acompanhe Lady Worthington até a porta — disse ela.
Ela sabia que era verdade.
Não acreditaria, até que visse Holland Dubois na rua Crawford,
número 12, com seus próprios olhos.
Não acreditaria que Hadrian a tivesse deixado depois do que
haviam compartilhado, depois da promessa que havia sido inerente ao
começo florescente de seu relacionamento de ir para outra mulher.
Não iria e não o fez.
Mas é claro que era verdade.
Era um mulherengo. Todo mundo sabia disso. Ela sabia disso,
havia aprendido sobre sua reputação no início de seu
relacionamento. Elizabeth provavelmente também
sabia. Mas provavelmente não se importou. As damas não deveriam
se preocupar com as amantes do marido. Se qualquer coisa, deveriam
estar aliviadas que seus maridos se aliviassem em outro lugar.
Nicole não ficou aliviada. Nicole estava doente.
Como poderia ter esquecido por um momento por que não
queria se casar com ele em primeiro lugar? Mas em uma semana
curta tinha esquecido, por causa da felicidade carnal que
compartilharam. Mas era só isso, felicidade carnal, mas tinha
estupidamente, ingenuamente, pensado algo mais.
Nicole espiou pela janela da carruagem. Seus punhos enluvados
apertaram-se firmemente em seu colo. Assim que Stacy partiu, ela
partiu imediatamente de Clayborough para Londres, levando apenas
Annie consigo e nem mesmo informando a angustiada senhora Veig
sobre aonde ia. Uma vez na cidade, mandou seu motorista para
Covent Garden. (Um lugar para onde Hadrian nunca iria e assim
nunca se depararia com sua própria carruagem.) Ela ordenou que seu
motorista e Annie os esperassem ali. Ela tinha subido em um cabriolé
e agora eles estavam puxando para cima na frente do nº.12 Crawford
Street.
Ocorreu-lhe que Hadrian poderia estar dentro daquela residência
até agora.
Se estivesse lá, ela morreria. Não se ele estivesse lá, ela seria
forte, seria impassível, legal, perfeitamente composta. Ela não iria
deixá-lo saber como a estava machucando.
Nicole mal olhou para a casa com sua cerca de ferro forjado e
sua fachada de tijolos pintados. Ela saiu da cabana pedindo ao
motorista que esperasse. Estava entorpecida, como se estivesse
sonhando ou atordoada. Lentamente atravessou o portão e subiu as
escadas. Bateu uma aldrava de bronze antiquada.
Um mordomo imediatamente atendeu a porta.
A boca de Nicole estava tão seca que ela não pôde, por um
momento, falar. — Eu gostaria de uma palavra com Miss Dubois.
O mordomo a deixou entrar. — Quem devo dizer está
chamando?
Nicole hesitou. Ele não dissera que não havia Miss Dubois
lá. Brevemente fechou os olhos, náusea subjugando-a. Até agora,
Stacy não mentiu. Assim como Nicole sabia.
Quando Nicole abriu os olhos, recuperou o controle. — Não
importa. Diga a amante que eu estou aqui. — Nicole era
imperiosa. Pelo menos aprendera a ser uma duquesa, quando era
tarde demais para importar.
Ela passou pelo mordomo, a cabeça erguida, passos graciosos e
fluidos, seu vestido fabulosamente caro girando sobre seus sapatos de
seda. Caminhou direto para a sala de estar. Não se sentou, assim
como não tirara as luvas ou o casaco. Não deu ao mordomo outra
opção a não ser fazer o que pedia.
Enquanto esperava, Nicole absorveu todos os móveis finos os
móveis delicados, os tapetes persas, as paredes cobertas de papel e
as pinturas de paisagem. Miss Dubois vivia bem. Vivia bem além dos
meios de uma atriz.
Alguns minutos depois, uma mulher disse da porta — Você quer
me ver?
Nicole se virou. Se virou para ver uma pequena e delicada
mulher em um vestido deslumbrante e caro, muito decotado para ser
apropriado no meio da manhã em casa. A mulher era tão linda quanto
qualquer mulher poderia ser, era tão perfeita quanto qualquer boneca
de porcelana. Seu olhar azul estava intrigado, mas quando Nicole a
encarou, a verdade a atingiu como uma marreta, a confusão deixou
os adoráveis olhos de gato de Holland Dubois.
— Oh querida — disse a amante de Hadrian. — É você! Oh
querida!
Por outro longo momento, Nicole não se mexeu.
— Sua Graça — disse Holland sem fôlego — Eu não tenho
certeza do que você quer, mas por favor, sente-se.
Nicole tinha visto o suficiente. Rapidamente, antes que a outra
mulher pudesse começar a ver a umidade se formando em seus
olhos, passou por ela e entrou no corredor.
— Espere! — Holland Dubois chamou. — Por que você veio?
Espere.
Mas Nicole não parou. Seus longos passos a levaram pelo
corredor e saíram pela porta da frente em uma névoa embaçada.
De alguma forma conseguiu entrar na carruagem. Entrou na
carruagem antes que suas lágrimas caíssem e com isso, todos os seus
sonhos, desmoronando na poeira do chão a seus pés.
Capítulo 31
Hadrian se moveu para frente em seu assento. Espiou pela
janela de sua carruagem e vislumbrou sua casa. A tensão passou por
ele.
Havia deixado Clayborough quatro dias atrás. Quatro dias
agonizantemente longos atrás. Não tinha saído em um ataque de
raiva, embora ainda estivesse indignado com Nicole por se colocar no
perigo que passava sozinha com O'Henry nas vias públicas. Havia
saído em um momento de medo. Ele estava, de fato, fugindo.
Mas não funcionou.
Não podia mais fugir de si mesmo, de seus sentimentos ou de
sua esposa.
O episódio com os rufiões todos os quais haviam sido capturados
e despachados diretamente para o carcereiro local dentro de uma
hora do retorno de Nicole a Clayborough - levara Hadrian a um
violento confronto com seus sentimentos mais profundos e
sinceros. O conhecimento que procurara evitar, provavelmente desde
o início de seu relacionamento com Nicole, surgiu de maneira franca e
inescapável em sua mente. O instante em que sabia, sem dúvida, que
amava sua esposa, foi o momento mais aterrorizante de sua vida.
Passou a vida inteira mantendo controle frio de si mesmo e de
suas paixões, passou a vida toda mantendo suas emoções
rigorosamente sob controle. Quando muito jovem, aprendera a
esconder seus sentimentos, até mesmo de si mesmo. Pois sentir era
estar vulnerável. Sentir era ser ferido.
E agora não era mais invulnerável. Pelo contrário, nunca tinha
sido mais vulnerável em sua vida. Amava Nicole tão apaixonadamente
que beirava a obsessão. Aqueles vagabundos quase a machucaram,
talvez a tivessem assassinado. O simples pensamento, mesmo agora,
quatro dias depois, aterrorizou-o e consumiu-o.
Depois de prender os três homens, deixou Clayborough
imediatamente para Londres. Como se para fugir de suas
emoções. Como se para ultrapassar o conhecimento que agora
enfrentava. Pretendia recuperar o controle de si mesmo e do coração
não importando o custo. Mesmo que isso significasse abandonar sua
esposa indefinidamente em sua casa de campo e buscar refúgio nos
braços de outras mulheres.
Nenhuma rota de fuga foi bem-sucedida. Ele tinha ido para a
Holland Dubois com a intenção de levá-la tão profundamente que
nunca mais pensaria em Nicole, mas ao mesmo tempo se viu
polidamente terminando seu relacionamento. Pretendia permanecer
em Londres, imerso em seus negócios, mas em vez disso estava indo
para casa ansiosamente.
O conhecimento, tão novo, tão poderoso, ainda estava lá dentro
dele e ainda era assustador. Houve momentos nos últimos dias em
que acordara no meio da noite sentindo o tipo de pânico e solidão que
sentira quando menino. Enquanto o sono fugia, a ansiedade
aumentava, mas não antes de reconhecer a sua própria
vulnerabilidade. Sua própria humanidade.
Finalmente desistira e cedera a si próprio para ela. Era sua
esposa e estava apaixonado. Ela o rejeitara muitas vezes no passado,
mas havia sobrevivido, assim como havia sobrevivido às cruéis
rejeições de Francis. Recentemente, porém, não o rejeitou mais.
Recentemente houve uma trégua entre eles durante o dia, que, à
noite, desapareceu completamente na forma mais atraente de
intimidade. Houve esperança. Seu casamento poderia ter sucesso. A
primeira semana de seu casamento prometia isso. No entanto,
Hadrian sabia que nunca se contentaria com o que haviam
compartilhado até agora. Agora queria muito mais, queria o seu amor,
queria que fosse tão sincero e apaixonado e obsessivo quanto o dele.
Quando a carruagem subiu a longa trilha de cascalho, começou
a transpirar. A última vez que a viu, estavam no meio de um
confronto furioso. Um que havia iniciado, devido ao seu próprio medo
de cortar o coração por sua segurança. Provavelmente agravou as
coisas, deixando nem sequer uma palavra sobre seus planos. Não
tinha certeza de que tipo de recepção estava prestes a receber.
Levou consigo uma oferta de paz. Uma caixa grande,
embrulhada para presente, estava no assento em frente a
ele. Quando visse o seu conteúdo, reconheceria a sinceridade dele em
querer compensar a extensão de sua raiva enfurecida e por sua
partida imprudente de Clayborough.
A carruagem parou em frente às enormes portas da frente de
Clayborough. Hadrian desceu da carruagem, a caixa embaixo de um
braço. A Sra. Veig cumprimentou-o nos degraus. Perguntou por sua
esposa e foi informado de que estava no andar de cima em seu
quarto.
Hadrian estava tão nervoso como um menino de escola sendo
chamado ante seu diretor. Se moveu um pouco lentamente pelos dois
lances de escada. No corredor, seu passo se alongou. Seu coração
martelou ansiosamente agora.
Sua porta estava aberta, entrou em sua sala de estar e ouviu
sons de movimento vindo de seu quarto.
Caminhou até a porta, uma alegria súbita e feroz o
preenchendo, sempre sentiria uma onda de alegria ao vê-la,
percebeu. E então, quando estava no limiar, sua alegria morreu.
Nicole estava de costas para ele. Um grande baú estava no
chão, aberto e quase cheio de roupas e nenhuma delas estava bem
dobrada. Em sua cama havia pilhas e pilhas de vestidos, anáguas,
roupas, calçados, luvas, cachecóis e retículas. Annie ficou ansiosa ao
lado da cama. Quando Nicole pegou outra pilha de roupas, Annie o
viu e congelou. Nicole largou a pilha no porta-malas e também o viu.
Ele ficou muito quieto. — Madame — ele disse rigidamente.
Seus olhos estalaram com fúria, mas seu tom era mais do que
educado, era frio formal e ártico. — Sua graça. — Abruptamente ela
virou as costas para ele e pegou outra pilha de roupas.
O duque largou a caixa com muito cuidado contra a parede e
cruzou os braços sobre o peito. — Posso perguntar o que você está
fazendo? — Mas não precisava perguntar, pois era óbvio. As cortinas
do entorpecimento começaram a se separar um pouco e a dor
atravessou seu peito.
— Você não pode ver?— Ela respondeu, jogando a roupa no
baú. — Estou empacotando.
— Isso é óbvio. Onde você está indo?
Ela o olhou, seus olhos cinzentos tão brilhantes quanto
diamantes e igualmente duros. — Eu o estou deixando.
Não havia entorpecimento agora. No entanto, como o duque
passara a vida inteira aprendendo a manter suas reações mascaradas,
nada aparecia nos planos requintadamente esculpidos de seu rosto. —
Deixando?
— Eu estou deixando você.
— Entendo. — Sua compostura ameaçou
quebrar. Rapidamente, entrou na sala e foi a janela, olhando sem ver,
de costas para ela. Ele a ouviu retomar sua bagagem. Empurrando as
mãos nos bolsos, lutou para conseguir um aperto de ferro no pânico
rodando nele. Ele virou. — Posso perguntar por que?
Ela girou. — Você se atreve a me perguntar por quê! — Foi um
grito. Quando as palavras explodiram, o alcançou em três passos
ágeis e bateu a palma da mão aberta sobre o rosto dele o mais forte
que pôde. Ele cambaleou de volta sob o impacto.
Ela não se afastou, esperou, os olhos brilhando
descontroladamente, ansiosa para fazer batalha violenta com ele. Mas
nunca machucaria a mulher que amava. — Isso é, eu acredito, a
quarta vez que você me bateu.
— E a última.
Nenhuma palavra poderia dar maior testemunho de suas
intenções irrevogáveis. Sua resolução irrevogável. Para deixá-lo. O
pânico estava lá, espreitando sob a superfície, uma névoa negra
ameaçando sufocá-lo, arrastá-lo para baixo.
Quando viu que ele não iria enfrentar o desafio, quase riu, com
grande amargura. Com ódio. Deu-lhe as costas abruptamente e bateu
a tampa do baú. — Annie. Consiga dois criados aqui para levar isto
abaixo.
Annie não pôde falar, fugiu do quarto. O duque nem sequer
tinha percebido sua presença durante o intercâmbio.
Alcançou profundamente dentro de si mesmo para mais força do
que já tinha exigido de si mesmo para qualquer empreendimento e
milagrosamente, ele encontrou. Com aparente casualidade, se moveu
em direção a sua esposa. Ela não recuou e compreendeu
desapaixonadamente que ainda queria um confronto com ele, não
estava disposto a lhe dar um. Agora não. Não quando estava no
controle total, pegou o queixo dela entre as pontas dos dedos.
— Um aviso, madame — disse ele sem paixão. — Se você me
deixar agora, você não será bem-vinda de volta. Nunca mais, fui
claro?
Ela riu, o som maníaco. — Eu nunca vou voltar! Para sempre.
Ainda não sabia por que, mas ele não se importava mais. Pois as
cores desapareceram agora e a escuridão o consumira. Mas era
familiar, quase reconfortante. — Muito bem — ele a soltou. Seu
sorriso estava frio. — Você foi prevenida. Desta vez, Madame, sua
natureza imprudente vai levá-la aonde quiser e você não será salva
por mim.
— Bom.
Ele virou-se e saiu do quarto, estava mais do que entorpecido
agora, mas isso não importava. Havia deixado para trás os
fragmentos de seu coração, por isso era incapaz de sentir e isso se
adequava ao Duque de Clayborough, assim como qualquer coisa
podia.
A vida rapidamente voltou ao normal. O duque esqueceu que
tinha tido uma esposa. Ele escorregou de volta para uma rotina a que
havia aderido por muitos anos para contar, se levantou com o sol e
cuidou das muitas operações que exigiam sua supervisão em suas
vastas propriedades. Passava as tardes e noites trancado em seu
escritório com seus papéis ou seus gerentes e dormia pesadamente,
sem sonhos.
Exceto que sempre acordou no meio da noite, se sentia como
um menino de seis anos, não um homem perto dos trinta anos. Nas
escuras horas da meia-noite, o pânico tomou conta dele e foi real. Foi
só então que se lembrou dela e a odiou. Mais uma vez, o ódio era seu
refúgio, sua força.
Uma semana depois, o duque levantou-se de sua mesa para
cumprimentar sua mãe. Sua visita foi inesperada, não gostou de vê-la,
estava no meio de uma reunião com o gerente de suas fazendas
madeireiras, que passara um dia inteiro viajando para o sul para essa
consulta. O gerente foi avisado para esperar e o duque fechou a porta
atrás da mãe. — Mãe, isso é uma surpresa. — Seu tom era educado,
mas nada mais.
— Hadrian, o que está acontecendo? Ouvi o boato mais
impossível! Que sua esposa passou a morar com os Serles na Casa
Cobley.
— Minha esposa? — Ele era casual. — Ah, a duquesa. — Deu de
ombros, claramente desinteressado no assunto da conversa. Mas um
súbito latejar começou atrás de suas têmporas.
— Vocês dois tiveram uma briga? Ou ela está realmente apenas
visitando os Serles? Eu rezo para que esta seja a resposta, mas que
noiva de algumas semanas foge para visitar uma amiga e deixa o
marido?
— Mãe, este é um assunto que eu não desejo discutir. No
entanto, eu responderei sua pergunta desta vez, nós escolhemos viver
separados.
— Viver separados! — Isobel ficou horrorizada.
Raiva repentina varreu-o. Era tão forte e desgastante que quase
derrubou o duque. — Isso é feito o tempo todo — ele disse friamente.
— De fato, devo agradecer a você por me lembrar. Devo ver uma
residência adequada para fornecer a ela.
— Uma residência adequada! Hadrian, o que aconteceu?
Sua sobrancelha se levantou. — Nada. Absolutamente nada. —
Mas uma parte de sua mente clicou, e um pensamento se
materializou, seu vasto significado se condensou em uma
palavra: tudo. Ele rapidamente fechou os olhos, não querendo estar
consciente do que sua mente subconsciente já sabia.
— Isso é ridículo — exclamou Isobel. — Vá buscá-la de volta.
Vocês dois são feitos um para o outro! Se ela deixou você, esqueça o
seu orgulho, ponha o pé no chão.
Em vez de responder, o duque contornou a mãe e abriu a porta
para ela. — Eu estou no meio de uma reunião — disse ele sem
rodeios. — Eu acredito que esta discussão acabou.

Nicole se vestiu para o jantar. Ela fez isso com grande


concentração, fez todas as pequenas coisas com grande
concentração. Até mesmo as tarefas mais simples a consumiam
mentalmente, como escovar os cabelos ou tomar uma xícara de
chá. Ela descobriu que, concentrando-se completamente no que quer
que estivesse fazendo, poderia sobreviver a cada dia.
Chegara à casa de campo dos Serles há uma semana
inesperadamente. Martha olhara para o rosto dela, manchado de
lágrimas, com os olhos inchados e apressou-se a subir para o quarto
de hóspedes. Nicole, sem fachada para manter, chorou copiosamente
nos braços de sua melhor amiga. Entre as lágrimas havia surtos de
quase violência, onde havia dado um soco nos travesseiros com toda
a força que tinha, desejando que fosse Hadrian, estava esmurrando
em pedaços. E contara tudo a Martha.
Ela existia, mas isso era tudo, tomava cada dia a cada momento,
mantendo sua mente abençoadamente em branco ou completamente
ocupada com as tarefas mundanas. Não ousava pensar nele, não se
atrevia a sentir. O desgosto se escondia dentro dela, ameaçando
entrar em erupção. Ousara esperar, ousara sonhar. Por um breve
momento, parecia que seus sonhos se tornariam realidade. E isso
tornava sua traição impossível de suportar. A tristeza que jazia
enterrada profundamente e solidamente dentro dela era tão imensa
que sabia que nunca deveria desabafar.
E ele nem sequer tentou impedi-la, a soltou sem a menor
hesitação, era tão sem importância que nem sequer lutou por ela.
Nicole não se atreveu a permitir que tal conhecimento
escorregasse para seus pensamentos conscientes.
No final da semana, Regina apareceu. Nicole sabia que seria
apenas uma questão de tempo até que sua família soubesse de seu
paradeiro. Nicole ficou feliz em vê-la, mas também teve medo de vê-
la.
— O que é que você fez! — Regina chorou, nunca um para bater
em torno do arbusto. — Nicole, é melhor você pensar sobre o que
está fazendo.
Nicole teve uma lembrança reluzente. Lembrou-se de como
Regina a vira pela última vez quando a visitara em Clayborough com
Jane e Martha. Nicole lembrava exatamente como estava vestida, até
o último detalhe dos minúsculos brincos de pérola que usava nos
ouvidos, exatamente como se lembrava exatamente do que estava
sentindo. Estava em uma nuvem altíssima, em um estado impossível
de êxtase, estava apaixonada.
Fechou os olhos, abraçando-se, lutando pelo controle.
— Por favor, Regina, nem sequer traga o assunto do meu
casamento. Acabou. Eu nunca vou voltar.
— Sua idiota! Sua idiota! O que poderia ter feito para fazer você
se comportar tão estupidamente! Algumas semanas atrás você estava
extasiada e apaixonada.
Nicole conseguiu sorrir para a irmã. — Você vai voltar para
Londres em breve? Você ainda está vendo lorde Hortense?
Regina piscou. — Não mude de assunto.
Nicole ficou instantaneamente com raiva. — Não me chateie! É a
minha vida! Se ele se importasse, viria atrás de mim, maldito seja ele
para o inferno.
Regina ficou chocada.
E Nicole quase se permitiu sentir a imensidão da dor que não
queria sentir. Enterrou o rosto nas mãos. Regina de repente se mudou
para ela e a abraçou.
— Sinto muito — sua irmã sussurrou. — Você está certa, é a sua
vida. É só que eu te amo tanto e quero que você seja feliz. — Ela a
soltou.
Nicole enxugou uma lágrima e conseguiu assentir. — O que eu
faria sem você? E sem Martha? Por favor, por favor, seja minha
aliada. Por favor, não fique do lado dele.
Regina mordeu o lábio. Sua expressão muito séria e muito
preocupada, finalmente assentiu em concordância. — Você quer me
dizer o que aconteceu?
— Não. — Nicole respirou fundo, depois deu um sorriso. — Lá,
eu me sinto muito melhor. E assim que eu deixar este casamento
completamente para trás, eu serei uma nova pessoa. Eu voltarei para
Dragmore. Minha vida será exatamente como costumava ser e eu
serei tão feliz como eu costumava ser. — Seu sorriso era muito
brilhante.
Regina olhou para ela com tristeza. — E como você vai colocá-
lo atrás de você?
Nicole não ousou responder à pergunta com honestidade, muito
menos considerá-la. — Eu imagino que um homem tão poderoso
quanto ele será capaz de obter um divórcio.
— Um divórcio.
Nicole assentiu. — Esse casamento foi um erro desde o começo.
Mandei-lhe uma carta pedindo-lhe o divórcio.
Capítulo 32
Ele releu a carta. Não pela segunda vez ou pela terceira ou
quarta. Ele lera tantas vezes que sabia seu conteúdo de cor. Mais uma
vez, as palavras ficaram borradas. As lágrimas eram de alegria e
tristeza. Deus querido, ele teve um filho.
“Prezado Senhor,
Eu sou o filho de Isobel de Warenne Braxton-Lowell. Eu só posso
esperar que, apesar da passagem de tantos anos, você se lembre da
minha mãe e do que uma vez transpirou entre vocês. Recentemente
ela confiou em mim. Fiquei tão chocado quanto tenho certeza de que
você ficará, pois ela não só me revelou que o conhecia há tanto
tempo, mas que você é meu pai natural. Espero encontrá-lo vivo e
bem e conhecê-lo, a seu critério, é claro. Tal reunião pode ocorrer no
solo de sua terra natal, ou na minha. Até então, sinceramente,
Hadrian de Warenne Braxton-Lowell, o nono duque de
Clayborough”
Ele dobrou a carta com cuidado, pois já estava começando a
rasgar e enfiou-a no bolso interno do paletó.
Ele teve um filho.
Embora já se passassem semanas desde que Hadrian Stone
recebera pela primeira vez a notícia milagrosa de que ele tinha um
filho, não conseguiu se recuperar da descoberta. Ainda estava
impressionado com o conhecimento da existência de seu filho.
Seu filho que esperava conhecê-lo.
Hadrian Stone mal podia esperar pelo próprio dia.
Como sempre, seus pensamentos estavam preocupados com
aquele tópico, seu filho. A especulação de Stone era desenfreada. O
tom da carta era tão formal e tão apropriado que ele não conseguia
colocar um rosto nas palavras que continha ou emoções. O filho dele
estava certo em se dirigir a como um estranho - o que de fato era -
ou estava sendo cauteloso? Estava entusiasmado em conhecê-lo, ou
apenas curioso, até mesmo desanimado? Talvez estivesse com
raiva. Seu filho era o nono duque de Clayborough. Era aparente que,
até recentemente, pensara que o oitavo duque era seu pai. Não
estaria com raiva? Talvez até se sentisse ameaçado. Hadrian Stone
conhecia apenas alguns senhores britânicos, mas sabia que eles
davam grande importância ao sangue e aos títulos, e era óbvio que o
título de seu filho poderia agora ser facilmente desafiado por irmãos,
primos, tios ou qualquer outra instância, parentes masculinos.
Mas por qualquer razão, seu filho pediu uma reunião, seja na
América ou em Londres. Stone nem se incomodou com uma
resposta. Pulara a bordo do primeiro navio que partiu para a
Inglaterra no mesmo dia em que recebera a missiva em sua casa em
Boston.
Ficou olhando para o desordenado horizonte londrino à medida
que surgia, o navio de ferro movendo-se com pouca graça pelo rio
Tâmisa sob o vapor. Era um dia frio e cinzento e estava chuviscando,
mas Hadrian Stone estava acostumado com as intempéries e mal
tinha conhecimento do frio ou da umidade. Puxou a gravata,
sentindo-se desconfortavelmente restringido por ela e pelo terno que
estava usando. Provavelmente não usara um terno mais de uma dúzia
de vezes em todos os seus sessenta anos.
A alegria quase o sufocou, foi tomado por uma maré quente,
abrupta e completa, como acontecia com frequência. Ele teve um
filho. Seu filho era o duque de Clayborough. Foi um sonho que se
tornou realidade.
Não teve filhos, nunca se casou. Apenas uma vez em sua vida
ele quis se casar, a tinha amado muito...o suficiente para se casar.
Mas isso foi há muito tempo, no passado. Seus arrependimentos eram
poucos, pois não era um homem introspectivo, sendo um homem de
ação, mas sempre lamentara não ter filhos e recentemente, o anseio
se tornara mais intenso.
E agora tinha um filho, que como ele, acabou de saber de sua
existência. Novamente, Stone se perguntou como ele seria. Era muito
orgulhoso ou muito apropriado para revelar qualquer um dos seus
sentimentos em uma carta para o estranho que era seu verdadeiro
pai? Hadrian Stone também era um homem muito orgulhoso, mas
sabia quando contê-lo e sempre o tinha feito. Por outro lado, não
estava nem um pouco interessado em decoro. Stone não tinha um
osso formal em seu corpo, mas pelo tom da carta, estava começando
a suspeitar que seu filho tinha mais de um.
Não podia imaginar que seu filho fosse adequado, ou pior, um
britânico de sangue azul. No entanto, haveria muitas diferenças mais
vastas entre eles. Stone era um homem que construiu um império de
navegação a partir de pura determinação, com nada além de uma
vontade de ferro e suas próprias mãos fortes e calejadas. Aqueles que
o conheceram nunca imaginariam que era um magnata de negócios
de sucesso. Quando estava em seus escritórios, trabalhava em
mangas de camisa como qualquer funcionário comum, sua maneira
aberta e familiar, embora fosse rápido para temperar, caso aqueles
que trabalham para ele não fizessem o melhor que podiam. Sempre
que podia, abandonava seus escritórios para comandar um de seus
navios em um porto distante. Seu amor pelo mar havia começado
quando era pequeno aos treze anos havia embarcado. Ele nunca tinha
sido um homem para ser acorrentado por muito tempo a uma
escrivaninha. Ele sempre foi um homem do ar livre, do mar. O mar
era sua vida, seu amor.
Stone tentou se preparar para o inevitável. Seu filho não era
apenas aristocracia, mas um duque. Stone não precisava saber nada
sobre ele para saber que provavelmente nunca havia levantado um
dedo em sua vida em trabalho manual ou para atender a si
mesmo. Foi muito difícil para Stone chegar a um acordo com isso. Não
só alcançara o topo como o fizera vindo de baixo, por não ter medo
de qualquer forma de trabalho duro. Devia honestamente enfrentar a
nítida probabilidade de que seu filho nunca tenha tido um suor
honesto em sua vida. Stone estava decidido a não o julgar por isso,
mesmo que seu filho abertamente desprezasse a ética do trabalho.
Mas seu filho o julgaria?
Rezou para que fosse apenas uma formalidade educada que ele
havia discernido na carta de seu filho, não uma indiferença fria ou um
esnobismo arrogante. Mas a questão estava lá, uma que o assombrou
desde o momento em que soube do título de seu filho. Seu filho seria
capaz de aceitá-lo, um homem simples e trabalhador que se via como
capitão do mar?
Seu estômago revirou com o pensamento. Tinha medo de muito
pouco em sua vida, mas tinha medo da rejeição do filho. Estava com
medo que seu filho olhasse para baixo do nariz para ele. Conhecera
homens nobres o suficiente, britânicos ou europeus, para saber que
se viam como superiores ao homem comum, que eram esnobes.
Por mais que aguardasse ansiosamente o encontro, também
temia.
E foi rápido em culpar Isobel pelas circunstâncias. Se soubesse
que tinha um filho, teria reclamado e com razão. O menino não teria
crescido nos salões das classes altas britânicas, teria crescido no
convés dos navios marítimos. Teria aprendido o valor do trabalho duro
e ficaria orgulhoso de si mesmo, não por causa de algum título
maldito.
Mas não era para ser. Por causa de Isobel, que havia lhe negado
seu filho. Isobel, que o havia enganado por todos esses anos.
Raiva o envolveu.
Por todos esses anos, havia negado a ele seu filho. Isobel era a
única mulher que amara. Não tinha entendido sua noção de dever e
lealdade, não tinha entendido como ela realmente poderia amá-lo e
deixá-lo para voltar para seu marido, embora, Deus sabia, havia
tentado o seu melhor para compreendê-la. No entanto, seu amor por
ela nunca havia oscilado. Não em quase trinta anos, apesar da
angústia, apesar do desgosto. Até agora.
Ela havia lhe negado seu filho. Não era a mulher que ele
pensara que seria durante todos esses anos, era egoísta e desonesta,
o havia enganado. Propositadamente, manteve escondido o fato da
existência de seu filho, raiva queimou em seu coração onde antes
havia amor, nunca esqueceria e nunca perdoaria.

No momento em que o duque leu a carta curta e bruta de sua


esposa no momento em que compreendeu seu pedido de divórcio,
todo o seu controle cuidadosamente exercido desapareceu. Com um
rugido rasgou a nota em pedaços e gritou por seu cavalo.
Estava bem ciente da fúria que o consumia, bem ciente de que
não era assim que deveria reagir, mas era tarde demais. Todo o
controle que exercia desde que ela o deixara havia desaparecido. A
raiva bombeava em suas veias até que não sentiu mais nada e ele a
acolheu.
Escolheu montar Ruffian, a montaria mais rápida em seus
estábulos. Cavalgava com uma ambição ardente e isso era chegar à
Casa Cobley antes do amanhecer seguinte. No entanto, após os
primeiros momentos enlouquecidos ao galopar para longe de
Clayborough, ele desacelerou, recuperando sua sanidade. Embora a
adrenalina ainda corresse em suas veias, era astuto o suficiente para
saber que matar sua montaria em um passeio louco não seria apenas
uma ação da qual se arrependeria mais tarde, não o levaria a Sussex
mais rápido.
Para o inferno com seu orgulho, pensou selvagemente. Era sua
esposa e nunca lhe daria o divórcio. Nem permitiria que continuasse
esse jogo sem sentido. Se tivesse que arrastá-la de volta para
Clayborough a contragosto, que assim seja. Se quisesse ficar de mau
humor e recorrer a vapores femininos, que assim seja. Podia ficar de
mau humor e fazer cara feia em Clayborough, que era onde ela
pertencia.
Porque não estava desistindo dela... tinha o suficiente.
Quando Hadrian chegou a Cobley House, foi várias horas após a
primeira luz. Tanto ele como seu garanhão estavam cobertos de lama
e encharcados até o osso do suor e da chuva. Estava viajando
sozinho, sem alarde e quando o mordomo abriu a porta da frente dos
Serles, não foi reconhecido. O homem não o convidou para entrar,
mas barrou seu caminho.
Hadrian limpou o rosto novamente com um lenço
enlameado. Ignorando o mordomo, deu a volta ao redor dele e entrou
no vestíbulo, pingando lama e chuva sobre o brilhante piso de
madeira.
— Venha aqui, agora — protestou o mordomo. — Você não pode
ir invadindo.
— Onde está a minha esposa? — Hadrian perguntou.
O mordomo congelou.
A sanidade que lhe havia voltado no dia anterior, no decorrer da
longa e cansativa viagem, desaparecera. Raiva fria e dura estava em
seu lugar e com isso, uma determinação resplandecente. — Minha
esposa — repetiu Hadrian. — A duquesa de Clayborough.
O mordomo empalideceu. — Sua graça, me perdoe! Eu não
sabia... quero dizer... — Ficou ainda mais branco sob o olhar
implacável e cada vez mais hostil de Hadrian. — Ela está no quarto de
hóspedes no segundo andar. A sua porta é a primeira à direita.
Hadrian girou, seu sobretudo flutuando ao redor dele como uma
grande criatura alada e subiu as escadas. Não parou antes da porta
dela. Sem perder um passo, chutou para fora de suas dobradiças e
entrou na sala.
Nicole gritou, estava vestida apenas com uma camisola azul e
um robe prateado e bebia chocolate quente na cama. O chocolate
derramou-se sobre os lençóis brancos imaculados, o copo caindo no
chão. Sentou-se em puro pavor, depois ficou muito branca quando a
compreensão da presença real do marido a encheu.
— Eu vim para te levar para casa.
Nicole segurou as cobertas, ficou momentaneamente sem
palavras.
— Hadrian — sorriu, não muito bem. Ele abriu uma porta para o
armário, revelando suas roupas perfeitamente penduradas. Ele rasgou
um vestido de um cabide e jogou para ela, caiu em suas pernas. —
Vista-se.
Nicole voltou a si. — Como você se atreve! Saia! Saia agora.
— Eu não vim aqui para discutir com você, Senhora Esposa —
ele gritou. — Você não precisa se vestir. A escolha é sua.
Nicole chutou o vestido para o chão, chutando para o lado as
cobertas no processo. — Eu não vou com você. Saia agora. Você não
pode me forçar.
Hadrian riu. — Você me subestima, Madame. — Um instante
depois, estava alcançando ela.
Nicole gritou novamente quando a agarrou. Seus gritos ficaram
ainda mais altos, o suficiente para acordar os mortos, quando
percebeu o que ele estava fazendo. Se contorceu como um peixe
quando Hadrian a pendurou de cabeça para baixo por cima do ombro,
sem mais cuidados do que teria dado a um saco de ração.
— Deixe-me ir! Deixe-me no chão! Neste instante! — Ela uivou
furiosamente.
— Eu já tive o suficiente — ele avisou e bateu com força em
suas nádegas finamente vestidas.
Nicole ficou em silêncio em choque. Hadrian entrou no
corredor. Ficou cara a cara com os anfitriões de sua esposa. Martha
estava branca, a mão cobrindo a boca, os olhos arregalados. No
entanto, o visconde estava tentando não sorrir.
— Olá, Serle. Perdoe-me por te incomodar — disse o duque.
— Não pense em nada, Sua Excelência — Robert Serle
respondeu educadamente.
— Eu apreciaria muito o uso de uma de suas carruagens.
— O prazer é meu — disse Serle, virando-se e chamando as
escadas para o mordomo para pedir a carruagem.
— Traidor! — Nicole chorou, voltando aos seus sentidos. — Me
ajude, por favor! Martha.
Hadrian bateu em suas nádegas novamente. Nicole ficou
estupefata em silêncio. — E meu garanhão precisa de cuidados, por
favor.
— Não se preocupe, ele deve ser alimentado e preparado
imediatamente.
— Coloque-me no chão.
— Por quê? — O duque perguntou calmamente. — Você escolhe
se comportar mal como uma criança, então você deve ser tratada
como uma criança. Esposas errantes recebem o que merecem. — Ele
começou a descer as escadas.
— Oooh! — Nicole ficou momentaneamente incoerente com
raiva.
— Teste minha paciência mais uma vez — disse também em
tom de conversa enquanto começava a torcer freneticamente — e eu
vou colocar você sobre meu joelho como se você tivesse seis anos.
Ela parou de lutar.
Pararam no foyer. O mordomo fingiu despreocupadamente não
os ver. Martha desceu correndo as escadas. Nicole tentou chamar sua
atenção desesperadamente, mas Martha teve o cuidado de não olhar
para ela. — Você vai precisar disso — disse a Hadrian. Ela deu ao
mordomo dois cobertores pesados e um casaco de pele comprido.
— Você também! — Nicole chorou, quase soluçando agora.
— A carruagem está aqui, Vossa Graça — disse o mordomo. Ele
não conseguia manter o alívio de sua voz.
— Obrigado, lady Serle. Mais uma vez, perdoe a intrusão —
disse o duque, seguindo o mordomo para o lado de fora e para a
carruagem. Felizmente, parou de chuviscar. Quando o criado abriu a
porta, Hadrian atirou sem cerimônia Nicole para um dos assentos,
passando por ela para trancar a porta oposta antes que ela pudesse
se mover para pular daquele lado da carruagem e guardou a chave no
bolso.
— Espera! — Martha chorou, correndo da casa com uma garrafa
na mão. — Você precisará disso também! — Empurrou uma garrafa
de conhaque para ele. O mordomo fechou a porta.
Hadrian acenou com gratidão e bateu no teto com força. O
cocheiro partiu. Então esticou suas longas pernas e se virou para
olhar para sua esposa.
— Eu te odeio! — Ela chorou, lágrimas pesadas brilhando em
seus cílios.
— Tenha certeza que sei — disse calmamente. Jogou o casaco
de pele para ela. — Afinal de contas, se você me amasse, não me
pediria o divórcio, sim?
As narinas de Nicole se abriram. Lágrimas escorregaram de seus
cílios, rastreando suas bochechas. Ela olhou para ele como se fosse
incapaz de responder.
— Só para esclarecer as coisas — disse o duque, em tom de
conversa — um divórcio está fora de questão.
— Por quê?
— Porque eu não desejo isso.
— E meus desejos não te interessam nem um pouco?
— Está correta.
Nicole ficou rígida, depois cobriu o rosto com as mãos, não ia
chorar. Não iria soltar toda a tristeza e angústia que tão
cuidadosamente e profundamente enterrara... não iria.
Mas podia sentir isso fervendo como um vulcão prestes a
vomitar seu conteúdo quente e fundido.
Lutou consigo mesma finalmente ganhou. Separou as mãos para
ver o duque a frente dela, impassível. — Vou tornar a sua vida
insuportável.
— Já é — disse calmamente.
Nicole piscou.
Seu sorriso estava apertado, frio. — Eu sou amaldiçoado se eu
fizer e amaldiçoado se eu não fizer — informou a ela. — Mas eu
posso muito bem tirar algo desse casamento, como um herdeiro.
Não entendia e não se importava, não quando ele estava
afirmando suas intenções tão mal. — É isso que eu sou para você?
Uma égua de ninhada? Maldito seja! Eu não vou te dar um filho.
Ele se inclinou para ela abruptamente. Não havia mais nada
casual em sua postura ou em sua expressão a fúria quente brilhava
em seus olhos. — Você pode fazer a sua posição como a minha
mulher tão elaborada, ou tão mundana, como você escolher. Mas
você vai cumprir o seu dever e vai me dar um filho.
— Não! — Nicole chorou, frenética. Passou por ele pela porta,
estava trancado, como sabia que estava, mas ela agitou-se
descontroladamente de qualquer maneira. Imediatamente a puxou
para longe, por trás. Com um grito selvagem que era meio soluço
torceu para arranhá-lo violentamente. Ele pegou e conteve suas mãos
instantaneamente, forçando seu corpo em um abraço íntimo com o
seu e empurrando-a para trás contra as almofadas do assento. Nicole
se contorceu e se contorceu desesperadamente enquanto a segurava
presa lá, ofegando e se debatendo, lágrimas de raiva, frustração e
desespero riscando suas bochechas. Finalmente, ela não tinha forças
e desabou contra os assentos na derrota.
Ele não se mexeu, não fez nenhuma tentativa para libertá-la,
embora ambos soubessem que estava exausta e que havia
perdido. Quando a respiração de Nicole desacelerou, quando a raiva
furiosa que a cegou diminuiu, ficou mais consciente da sensação do
peito dele contra o dela, o quadril dele contra o dela. Seus braços
estavam ao redor dela, suas mãos segurando seus pulsos, presos
atrás das costas. Um dia de crescimento de barba foi áspero contra
sua bochecha. Sua respiração constante estava quente contra sua
pele.
O pânico explodiu.
Se acendeu no instante em que todos os seus sentidos
começaram a ter consciência total de sua força, seu poder, seu calor,
sua masculinidade. E sua intimidade.
— Eu não vou tentar escapar — Nicole sussurrou, virando a
cabeça ligeiramente. Para seu horror, seus lábios roçaram o queixo
dele enquanto falava. — Permita-me levantar. — Sua voz tremeu.
Ele não se moveu nem respondeu. O silêncio se alongou. Seu
coração estava batendo loucamente agora. Embora ainda segurasse
seus pulsos, agora estava frouxamente, e ela percebeu que estava
realmente em seus braços, estava com medo de levantar o olhar, com
medo de olhar em seus olhos.
Sabia o que veria lá.
Olhou para cima. Seus olhares se encontraram. Ele estava
queimando, mas não com raiva. — Por favor, não — implorou.
Ele se mexeu levemente e seu batimento cardíaco entrou em
contato com o dela. Seus seios foram esmagados pelo seu peito. Seu
casaco estava aberto, a camisa encharcada. Os mamilos de Nicole se
apertaram instantaneamente em resposta à sensação de pele
masculina quente coberta apenas pela camada mais fina de seda; seu
próprio corpete de seda estava agora igualmente molhado e
igualmente perturbador. Desanimada, sabia que ele podia sentir a
resposta exuberante de seu corpo.
— Por favor — ela implorou novamente, sua voz pegando sem
fôlego.
Ele se mexeu. Nicole pensou que estava se afastando dela e
queria chorar de alívio. Mas ele só se moveu para soltar as mãos dela
para que pudesse deslizar as palmas das mãos até os seios. — É aqui
que nos adequamos — disse asperamente. — Ao contrário, é assim
que nos adequamos. Você não vai me negar agora, Nicole, vai?
Ela queria negá-lo. Mas ele esmagou seus seios suavemente em
suas mãos, as pontas dos dedos roçando seus mamilos, seu olhar
nunca deixando o dela. E em vez de protestar, Nicole ofegou de
prazer.
Ele trancou os braços sob as costas dela e levantou-a
abruptamente em um arco à boca. Levou um mamilo vestido de seda
à boca, sugando com força. Nicole segurou-lhe a cabeça, para não o
afastar, mas para segurá-lo.
Ele a soltou, agarrou seus joelhos e a puxou para o
assento. Enquanto se erguia sobre ela, seus olhares se encontraram
novamente. Sopros de vapor se formaram com cada respiração rápida
e dura que ele tomou. Nicole olhou para seu rosto primorosamente
bonito, tenso com uma paixão tão sombria e consumida quanto a
dela, e seu coração deu um pulo. Seus olhos eram chamas douradas,
queimando intensamente. Prometendo intensamente. Mas
prometendo a ela o que? Um momento paradisíaco? Ela queria a
eternidade.
Percebeu o que ele estava fazendo. Suas mãos se atrapalharam
com o fecho de suas calças. Observou-o revelar seu falo, ingurgitado
e completamente ereto. Abruptamente, sacudiu as saias de seda de
sua camisola por cima da cintura e tirou do caminho. Nicole fechou os
olhos, imóvel, esperando.
Desceu sobre ela e deslizou nela em um movimento rápido e
fluido. Nicole imediatamente se levantou para abraçá-lo. Seus braços
se enrolaram ao redor de seus ombros, suas pernas ao redor de seus
quadris. Ele a encheu completamente, instantaneamente,
calorosamente. Por um momento ele ficou parado dentro dela.
Novamente seus olhares se trancaram. Mais uma vez vislumbrou a
promessa que não entendia. Então tomou sua boca com a dele, tão
completamente quanto tomou seu corpo com o dele.
Ele se mudou, moveu rápido e profundo. Nicole sentiu dor, pois
a introdução não foi gentil, nenhum prólogo brincalhão, apenas um
empurrão duro e áspero. Nicole recostou-se nos bancos, empurrando
os próprios quadris para encontrá-lo em uma série de violentas
colisões mortais. Mais difíceis. Mais rápido. Seus corpos se
encontraram com fúria, punindo um ao outro. Nicole agarrou-o
ferozmente quando uma onda de intenso prazer mental se espalhou
sobre ela, gritou com sua libertação.
Ele riu enquanto a montava em um impulso final que era mais
profundo, mais completo, mais duro. Suas poderosas nádegas ficaram
tensas enquanto a empurrava contra o lado oposto da
carruagem. Nicole segurou com força, as unhas penetrando em sua
pele quando outra onda de espasmos selvagens a atacou enquanto
ele inchava, inchava e finalmente explodia dentro dela.
Eles ficaram moles, drenados. A carruagem os balançou para
frente e para trás. Nicole se deu conta de todo o seu peso
esmagando-a, de sua camisa molhada e calça aberta, os seios nus e
as pernas nuas. Sua camisola estava emaranhada desesperadamente
em torno de sua cintura. No entanto, ela não estava com frio. Seu
corpo fumegou com o calor, aquecendo sua própria carne.
A percepção do que acabaram de fazer e de sua própria
participação ativa e ansiosa trouxe o desespero rapidamente para seu
coração. Nicole virou o rosto para longe dele, fechando os olhos. No
momento em que fez isso, tomou consciência de sua consideração por
ela.
Não iria encontrar seu olhar, pois se abrisse os olhos,
choraria. Ele já era o vencedor e não merecia outra vitória.
Ela ainda o amava. Apesar de tudo o que aconteceu, não tinha
esquecido por que fugira, ou como a havia sequestrado na Casa
Cobley. E agora, agora, se lembrava de quão desesperada era sua
resistência a ele, de qualquer forma ou de qualquer jeito.
— Nicole — ele disse.
Ela se recusou a responder.
— Eu sei que você não está dormindo.
Fechou os olhos com força, desejou que ele se levantasse para
que não precisasse ser lembrada de quão quente e duro seu corpo
era, mas ele apenas se moveu para o lado. A angústia estava lá
novamente. Ele a forçou a voltar para ele, não podia escapar, assim
como não podia escapar de seu amor por ele. E seu único interesse
era sexual, assim como seu interesse por Holland Dubois e só Deus
sabia quantas outras mulheres. Foi sem esperança, tão sem
esperança. Amar tal homem era sem esperança, não ia chorar, porque
se o fizesse, nunca iria parar.
Ele tocou o rosto dela. Nicole se recusou a responder. Mas seus
dedos eram leves e gentis e apesar de sua aflição, seu toque parecia
terno, o que sabia que era uma ilusão exagerada de sua parte. Seu
polegar acariciou sua boca.
— Por favor, não.
— Então olhe para mim.
Ela fez e lágrimas brotaram em seus olhos, não sabia o que
esperava ver em seu olhar, mas não era a suavidade que estava
lá. Foi sua ruína e sufocou um soluço.
— Talvez, se você chorar, se sinta melhor.
— Não.
— Eu duvido que você se sinta pior. — Ele sorriu levemente.
Ela não podia sorrir de volta. De repente, queria estar em seus
braços, quando esse era o último lugar em que deveria pensar em
procurar conforto. Rapidamente fechou os olhos e virou o rosto
novamente, rezando em uma respiração que iria colocar alguma
distância entre eles, e no próximo, que iria alcançá-la e segurá-la.
— É realmente tão ruim assim?
Seu tom era gentil. Ele ainda pairava sobre ela, estava perto
demais. Nicole sabia que deveria dizer algo inflamatório. Em vez disso,
ela abriu os olhos e novamente encontrou o seu olhar.
A suavidade ainda estava lá. Sua expressão parecia carinhosa,
mas sabia que ele não se importava, não com ela, não realmente, não
mais do que com sua amante. Suas mãos encontraram o peito dele e
tentou empurrá-lo para longe, o pânico sufocando-a. — Por favor!
Ele se sentou e puxou-a em seus braços.
— Deus não! — Ela chorou, agitando-se para ele cegamente e
perdendo por uma larga margem.
Ele embalou-a contra seu peito. — Chore.
— Por favor, não faça isso — ela disse, mas já estava
chorando. Ele não respondeu, mas passou uma mão grande para cima
e para baixo nas costas repetidamente. — Droga — chorou Nicole. —
Maldito — soluçou ela. Seus punhos fecharam e golpearam seu peito,
os golpes lamentáveis, esmagados como ela estava pelas lágrimas. —
Eu te odeio — ela soluçou, agitando-se para ele. — Eu te odeio.
Ele ficou tenso, mas não a soltou e continuou a acariciá-
la. Continuou a chorar, dando vazão a tal tempestade de lágrimas que
ficou chocado com a profundidade de sua dor. Não conseguia
entender por que chorava, mas podia se identificar com esse tipo de
dor reprimida e profunda. Seus braços a apertaram mais. Ele a
embalou como se fosse uma criança. E segurando-a se sentia triste.
Estava triste por ela por qualquer coisa que lhe causasse
tamanha angústia e imaginou que fosse ele. Também estava triste por
si mesmo. Porque agora que havia reconhecido o seu amor por ela e
o quanto precisava dela, não podia mais negar seus sentimentos e
eles não estavam prestes a ir embora. Aparentemente, seu amor
permaneceria não correspondido. Seu coração parecia sangrar. E
quando ela chorou em seus braços como uma criança, de repente se
sentiu como um menino de novo e também sentiu vontade de
chorar. Lágrimas vieram aos seus olhos.
Tentou se lembrar que não era um menino pequeno, que era um
homem adulto, mas não funcionou.
Ela soltou sua angústia por um longo tempo, mas eventualmente
o pranto tornou-se soluço, eventualmente os pequenos golpes que
apontou em seu peito diminuíram e desapareceram. Ele não a soltou
e continuou a abraça-la. Seus punhos se abriram, apenas para se virar
como garras, e estava agarrada a sua camisa.
Embora ela não chorasse mais, um tremor varreu seu
corpo. Passou a mão pelas costas dela, acalmando-a. Percebeu que
ela estava caindo no sono em seus braços. — Você vai se sentir
melhor amanhã — Hadrian prometeu a ela. — Amanhã não vai
parecer tão ruim.
Ela suspirou. — Eu não te odeio — ela sussurrou em sua
camisa. — Na verdade não.
Ele quase sorriu e outra lágrima cintilou em seus cílios. — Durma
agora. Em poucas horas estaremos em casa.
O aperto dela na camisa dele se apertou. — Eu te amo, Hadrian.
Eu não te odeio, eu te amo.
Ele ficou chocado.
Seu aperto afrouxou e ela caiu em seus braços. Ainda
atordoado, olhou-a e viu que ela estava em um sono profundo e
exausto. Muito cuidadosamente, muito gentilmente, a deitou no
assento. E ele olhou para o rosto devastado pelas lágrimas.
Eu não te odeio, Hadrian, eu te amo.

Ela estava apenas delirando. Não estava?


Capítulo 33
Era tarde da noite quando o duque e a duquesa chegaram a
Clayborough. O duque desceu da carruagem dos Serles primeiro, seus
próprios porteiros ficaram boquiabertos quando o reconheceram antes
de se recuperarem rapidamente. Mas Hadrian tinha mais surpresas
reservadas para eles, além de sua aparência desgrenhada, pegou sua
esposa adormecida. Ela não se moveu ou emitiu um som em
horas. Nunca tinha visto um ser humano em um sono tão
profundo. Agora não queria acordá-la e muito gentilmente, levantou-a
em seus braços.
Nicole se mexeu.
Hadrian levou a esposa pelos degraus e entrou no
vestíbulo. Woodward, a Sra. Veig e seu criado, Reynard, corriam para
a sala quando ele entrou. Ninguém sequer piscou ao ver o duque
carregando sua esposa errante, descalça e vestida com um casaco de
pele e dormindo em seus braços. Sem parar, se dirigiu à Sra. Veig. —
Quando Sua Graça acordar, ela vai, sem dúvida, querer um banho
quente e uma refeição quente.
Quando ele subiu as escadas, Nicole suspirou, segurando-o com
as mãos. Observou o rosto dela enquanto entrava no seu
quarto. Seus olhos se abriram. Gentilmente Hadrian a deitou na cama.
— Estamos em casa. Volte a dormir. É tarde.
Nicole sorriu para ele. Era um sorriso lindo, sem graça e
sonolento e o coração de Hadrian dava cambalhotas. Seus olhos
instantaneamente se fecharam novamente. Não pôde deixar de
desejar que pudesse receber muito mais daqueles sorrisos e que
seriam propositalmente dirigidos a ele.
Havia tirado a camisola molhada horas atrás e estava nua sob o
casaco de pele. Ele tirou rapidamente, puxando as muitas colchas
pesadas sobre ela. Então ele foi até a lareira e acendeu o fogo.
As últimas palavras que tinha falado com ele ainda tocavam em
seus ouvidos. Tinha sido capaz de pensar em pouco mais durante o
restante da viagem para Clayborough. Eu não te odeio, Hadrian, eu te
amo. Sabia que ela não quis dizer isso, ou quis?
Estava com medo de ter esperança. Se quisesse dizer o que
dissera, seria o homem mais feliz da terra.
O fogo começou a queimar, Hadrian saiu do quarto, mas não
antes de dar um último e longo olhar à esposa. Hadrian entrou em
seus próprios aposentos, onde Reynard o estava
esperando. Entregou-lhe o sobretudo. — Eu também gostaria de um
banho e algo para comer.
— Eu já preparei seu banho, Sua Graça. E Woodward está
trazendo sua refeição.
Hadrian ficou repentinamente inquieto. Ele deu um tapinha no
Borzoi, que se adiantou para cumprimentá-lo, mas o fez sem pensar,
ainda pensando em Nicole. Woodward apareceu na porta com uma
mesa. Ele a colocou no quarto e colocou o guardanapo do duque com
um floreio eficiente.
— Você vai tomar seu banho primeiro, sua graça?
— Absolutamente — disse Hadrian. Ele duvidava que algum dia
tivesse ficado mais imundo em sua vida.
— Antes de você ir, Sua Graça, posso dizer-lhe que você tem um
visitante? — Woodward perguntou.
Hadrian estava desabotoando sua camisa. — Um visitante?
— Chegou inesperadamente ontem, logo depois que você saiu.
Não tinha cartão e eu o teria mandado para o Boarshead Inn, mas
como veio da América, eu pensei melhor e o coloquei no quarto andar
em um dos quartos.
— É meu mensageiro retornando de Boston? — Ele exigiu
nitidamente, esperança pulando em seu peito.
— Não, Sua Graça. Seu nome é Stone, mas ele não disse o que
queria. O Sr. Stone está presentemente tomando um conhaque na
biblioteca do quarto andar. Posso dizer que o espere lá depois que
você jantar, ou eu posso dizer a ele que você o verá amanhã?
O sangue correu da cabeça de Hadrian e pela primeira vez em
sua vida, ele se sentiu fraco.
— Sua Graça? Você está doente?
Ele se recuperou. Se recuperou para virar e caminhar em direção
às escadas, dando dois passos de cada vez, deixando Woodward
olhando para ele. Seu pai estava aqui. Não podia acreditar, ele não o
faria, até que ele mesmo colocasse os olhos sobre o homem.
Hadrian Stone inspecionou incansavelmente a coleção de
volumes da biblioteca que era apenas uma das várias na residência do
duque. Um sentimento terrível de desconforto o assaltou. Não deveria
ter vindo, sabia disso agora.
A ansiedade que gradualmente se intensificara durante os longos
dias que passara atravessando o Atlântico ao se encontrar com seu
filho tornou-se mais iminente, não era nada comparada à aflição que
agora sentia. Sabia que seu filho era um duque, mas nada poderia tê-
lo preparado para a propriedade de seu filho, nada poderia tê-lo
preparado para Clayborough.
Esperava luxo sim... esperava riqueza. O que não esperava era
um lar digno da realeza como viviam há um século, lar de proporções
palacianas e pretensão palaciana. Toda a sua dúvida veio correndo
para o primeiro plano. Era um homem simples, seu pai tinha sido
sapateiro, sua mãe uma costureira. Ele se via como o capitão de um
navio, não como um magnata dos navios. Vestia roupas caras, mas
sentia-se uma fraude e preferiria muito mais o suéter de lã e o saguão
de chuva de um marinheiro. Mesmo essa pequena biblioteca o
dominava, pois na verdade não havia nada de pequeno nisso.
Que tipo de homem ele era?
Hadrian Stone temia muito que fosse um arrogante e que ele
estava prestes a ser julgado indigno por seu próprio filho.
Um movimento pela porta aberta fez com que se afastasse de
sua leitura das pilhas. Um homem alto e forte estava parado na porta,
meio nas sombras.
Hadrian Stone soube no momento em que o homem pisou na luz
que era seu filho. Seu rosto era de Isobel. Mal capaz de respirar e
incapaz de se mover, olhou para o homem... o homem adulto que era
seu filho.
E o duque de Clayborough olhou de volta.
Stone viu que, embora seu filho tivesse ganhado a maioria de
seus olhares impressionantes de sua mãe, sua mandíbula era forte e
quadrada como a dele e isso o salvou de ser bonito demais. E seus
olhos, seus olhos eram o mesmo âmbar dourado como o seu próprio.
Mas a semelhança não terminou aí. O duque de Clayborough também
possuía a mesma altura imensa, a mesma construção poderosa que
seu pai.
E então Stone notou suas roupas. Ele viu uma camisa de seda
úmida e calças bronzeadas e sujas. As botas do duque brilhavam de
chuva e estavam cobertas de lama. O olhar de Stone novamente
varreu o rosto do filho. Não havia nada afetado sobre as roupas do
homem, não havia nada afetado sobre o rosto dele, também. Seu
filho era um homem, em todos os sentidos da palavra e aquele que,
pela sua aparência, suportara um dia incrivelmente longo e difícil.
O alívio encheu as veias do pai

O duque estava ocupado com sua própria inspeção. De olhos


arregalados, Hadrian não conseguia tirar os olhos do outro homem.
Seu pai estava aqui. Longos momentos se passaram. Hadrian sacudiu-
se do verdadeiro torpor que o segurava. — Eu não esperava uma
resposta tão imediata à minha pergunta. — Stone hesitou.
Os tons cultivados vindos do outro homem foi uma surpresa,
lembrando-o novamente que não era apenas um país diferente, mas
uma classe diferente os separava e sua ansiedade se renovou.
— Como eu não poderia vir imediatamente? — Hadrian fechou a
porta e entrou no quarto.
— Eu devo me desculpar por não estar em casa quando você
chegou. — Stone acenou para ele.
— Obviamente eu não era esperado. — Os dois homens caíram
em um silêncio constrangedor. Hadrian partiu cruzando o quarto.
— Você gostaria de outro conhaque?
— Talvez seja melhor — Stone murmurou. Hadrian serviu
meticulosamente ao pai uma bebida. — Você viu Isobel? — A
pergunta foi casual, sem intenção, enquanto procurava
desesperadamente um tópico para quebrar o gelo entre eles.
— Não.
Sobressaltado, Hadrian olhou para cima, vendo a escuridão
passando pelo rosto do pai. Sabia quando recuar, sabia que não devia
continuar com o tema de sua mãe, embora a veemência de seu pai o
intrigasse. Depois de tantos anos, teria esperado indiferença, não
raiva. Ele se aproximou do outro homem pela primeira vez,
entregando-lhe seu conhaque. Sem distância física separando-os, os
dois ficaram em silêncio e imóveis, em pé, olho no olho e nariz a
nariz, olhando um para o outro.
— Droga — Hadrian finalmente respirou. — Isso é incrivelmente
estranho. Como diabos alguém cumprimenta o pai perdido há muito
tempo?
Stone riu de repente. — Droga está certo! — Ele exclamou. —
Graças a Deus você pode amaldiçoar.
De repente, Hadrian sorriu, igualmente atormentado pela tensão
nervosa. — Você quer que eu amaldiçoe?
— Não é que eu queira que você xingue — disse Stone, seu
sorriso desaparecendo — eu estava apenas imaginando se iríamos
continuar a conversa tão formalmente.
— Nós, ingleses, somos defensores da formalidade — disse
Hadrian.
— Sim, mas você é meio americano.
Hadrian parou de sorrir. Finalmente sua boca se suavizou. — Eu
estava ansioso para conhecê-lo — ele admitiu. — Obrigado por ter
vindo.
— Que pai poderia ficar longe em tal situação? — Stone
perguntou francamente.
— Muitos, devo imaginar.
Stone ganhou um indício, então, na alma de seu filho. — Eu
sempre ansiava por um filho. Eu não tenho filhos. Nenhum. Em vez
disso — e ele sorriu — até agora. — Aquele sorriso contou tudo a
Hadrian. Já havia aprendido com Isobel que esse homem era tudo
que Francis não era. Mas temia, secretamente com medo, que a
paternidade significaria pouco para o estranho que o havia criado. No
entanto, isso não aconteceu. Seu pai ficou satisfeito ao descobrir que
tinha um filho. Mais do que satisfeito, se a pressa com a qual chegara
à Inglaterra era uma indicação. — E eu sempre quis um pai como
todos os outros garotos — admitiu Hadrian.
Stone olhou para ele. — Você teve um pai.
O rosto de Hadrian virou pedra. — Eu não tive pai. Francis sabia
que eu era um bastardo. Eu não sabia a verdade, no entanto, nunca
pude entender por que ele me odiava. Descobrir a verdade foi o maior
alívio da minha vida.
O rosto de Stone estava sombrio. — Ela deveria ter dito muito
antes disso... deveria ter me contado.
Hadrian ouviu seu tom... a condenação e ficou olhando. — Ela
tinha suas razões.
Stone instantaneamente reconheceu a lealdade que seu filho
tinha por sua mãe e recuou. Se fosse acusar Isobel de traição,
alienaria seu próprio filho, a quem estava ansioso por fazer amizade.
— Passado é passado. Eu sou grato que ainda estou vivo para ver
este dia, para ver você, meu próprio filho, em carne e osso.
Hadrian sorriu. — Eu esperei ansiosamente por este dia também.
Isobel só falou de você uma vez, mas quando o fez, deixou claro que
você era tudo que Francis não era.
— Ele foi tão mal? — Stone perguntou baixinho, terrivelmente
preocupado.
— Ele era um bêbado e um sodomita que odiava não só eu,
mas sua esposa. Ele era um covarde e um valentão. Abusou de nós
dois, até que eu fiz quatorze anos e o derrubei com meus próprios
punhos.
Stone ficou horrorizado. De repente, teve uma imagem clara de
Isobel como havia sido trinta anos atrás, esbelta, orgulhosa e
requintadamente bela, sendo atingida por algum homem inexpressivo
que era seu marido, um garotinho segurando suas saias. Sacudiu a
simpatia que não queria sentir, não por ela e concentrou-se em seu
filho. — Talvez algum dia você compartilhe sua história comigo.
— Possivelmente. — Hadrian se virou.
Stone sabia que havia avançado demais, rápido demais. Era um
homem descomplicado; seu filho era terrivelmente complicado. No
entanto, apesar do que deveria ter sido uma infância horrível, era
claramente um homem forte e honrado. Ninguém conseguia falar com
o duque de Clayborough por muito tempo sem reconhecer sua virtude
e seu poder.
Hadrian se virou novamente. — Você quer que eu mande
chamá-la?
— Não.
Hadrian ficou novamente chocado com a veemência no tom do
pai. Uma compreensão nebulosa, ainda sem forma, começou a enchê-
lo. — Você disse que não tem filhos. Você já se casou?
— Não. — A expressão de Stone foi feroz. — Como eu disse, o
passado é o passado. — Ele suavizou seu tom. — Não tenho o desejo
de retomá-lo e tenho certeza de que sua mãe também não.
Naquele exato momento, Hadrian discordou e sentiu o poder das
emoções muito particular e complexo para identificar, no entanto, o
instinto astuto fez com que decidisse ignorar os desejos de seu pai. —
Você provavelmente está certo — disse placidamente. — Quanto
tempo você vai ficar?
Stone sorriu, percebeu que não estava mais ansioso ou com
medo, nem um pouco. Pelo contrário, seu coração estava maduro
para explodir de amor por seu único filho. Seus sentimentos eram tão
demorados que o deixaram sem fôlego. Nunca sonhara que alguém
pudesse se sentir assim. — Enquanto eu for bem-vindo.
— Você será sempre bem vindo aqui.
O coração de Stone disparou, olhou para o filho e viu o leve
rubor em sua bochecha e instintivamente, entendeu como era difícil
para ele ser tão franco, tão cedo. — Obrigado.
— Não há motivo para me agradecer. Você é meu pai. Você
será sempre bem vindo aqui — Hadrian repetiu com firmeza.
Um novo pensamento que Stone não tinha considerado
realmente fez crescer sombrio. — Meu relacionamento com você não
coloca em risco sua posição?
Hadrian parecia divertido, levantou uma sobrancelha. — Ahh,
entendi. Minha posição como o Duque? Não, não coloca.
— Mas como isso é possível?
— Isobel foi criada como herdeira legítima de Clayborough
quando se casou com Francis. Seu pai, o conde de Northumberland, é
um homem muito perspicaz. Eu tenho muitos primos que adorariam
me ver destronado, por assim dizer, que adorariam desafiar a vontade
de Jonathan Braxton-Lowell. Mas não chegará a isso. Não porque
desejo poder ou posição, o que não faço questão. Não porque eu ame
Clayborough e detestaria desistir... o que eu desistiria. Mas porque,
não importa o quão importante seja para mim que você seja meu pai,
é mais importante para mim que a reputação da minha mãe
permaneça intacta. A verdade sobre o nosso relacionamento nunca
pode ser revelada. Pois se fosse revelado, eu não poderia protegê-la.
— Entendo. — Stone não ficou desapontado, embora uma parte
dele adorasse reivindicar Hadrian Braxton-Lowell como seu filho. Em
vez disso, estava orgulhoso quase ao ponto das lágrimas da lealdade
feroz e inabalável de seu filho e senso de honra. No entanto, pensou
que houvera um aviso no tom de Hadrian.
— Admiro-te, Hadrian — disse ele em voz baixa. — E eu tenho
orgulho do homem que você é. Eu não vim aqui para reivindicá-lo
publicamente ou atrapalhar sua vida. Você não precisa se preocupar
com isso.
— Eu sei — disse Hadrian, igualmente sério. — Eu sei sem você
ter que me dizer. Você não é vingativo, não é um caçador de
fortunas, não é mesquinho. Eu não preciso te conhecer melhor para
saber tudo isso. — E com humor raro, o duque de Clayborough sorriu.
— Você pode ser americano, mas é um homem de honra.
E Hadrian Stone riu.
Capítulo 34
Isobel se perguntou o que poderia ser tão urgente. Já havia
passado várias horas da hora do jantar na noite anterior em que
recebera uma intimação urgente de seu filho, pedindo que se
encontrasse com ele na manhã seguinte em Clayborough. Isobel
estava preocupada, assumiu que a convocação tinha algo a ver com a
esposa dele. O que mais poderia ser? O que mais poderia ser tão
importante?
Claro que nunca iria ignorar esse pedido, havia se levantado com
o sol e partiu para Clayborough uma hora depois. Quando chegou à
propriedade ducal, ainda era de manhã cedo, entrou rapidamente
para a casa.
— Sua graça ainda está tomando o desjejum — Woodward
informou a ela.
Isobel piscou. Hadrian nunca tomou um café da manhã tão
tardio eram nove e meia e não conseguia imaginar por que estava
fazendo isso agora. Sua preocupação aumentou. — A duquesa está
com ele? — Estava quase com medo de perguntar, mas esperando
além da esperança que estivesse.
— Não, Sua Graça, a Duquesa ainda está na cama.
Isobel quase desmaiou de alívio. — Então ela voltou? — Ela deu
um sorriso.
Por um raro momento, Woodward também sorriu. — De fato ela
voltou. Estamos todos muito satisfeitos, Sua Graça. Embora não tenha
retornado espontaneamente.
Isobel conhecia Woodward por muito tempo para se surpreender
por ele oferecer informações que não pedia, obviamente queria lhe
dizer algo. — O que você quer dizer?
— Sua graça a trouxe de volta.
Da entonação pouco sugestiva de Woodward, Isobel supôs o
pior. Hadrian, sem dúvida, havia buscado sua esposa de volta, podia
imaginar a luta que eles deveriam ter tido. Suspirou e correu pelo
corredor até a sala de jantar.
— Ele não está lá, Sua Graça — Woodward correu atrás dela.
— Está tomando o desjejum na sala de música, prefere assim.
Isobel levantou uma sobrancelha, sabendo naquele momento
que tudo ficaria bem. Nicole Shelton Braxton-Lowell estava domando
seu filho, centímetro por centímetro. Já era hora de alguém amolecer
seu coração. Deixou Woodward abrir as portas da sala de música e
entrou com um sorriso alegre. Um segundo depois, congelou.
Era Hadrian, seu Hadrian, Hadrian Stone. Estava sentado à mesa
com o filho, os dois conversando em tom sério, tomando café da
manhã como se fizessem isso todos os dias de suas vidas, pai e filho
juntos. Seu mundo girou loucamente, tinha certeza de que
desmaiaria.
— Mãe! — Hadrian exclamou.
Isobel tinha uma vontade de ferro, sempre teve, desejou que
seu coração batesse e se obrigou a ficar parada, forte e alta. Mas não
podia desejar o sangue para seu rosto, que estava mortalmente
pálido. Nem podia afastar o olhar de Hadrian Stone.
Ele também ficou olhando.
Hadrian, o filho deles, estava de pé. Olhou de um para o outro,
de sua mãe, congelada e fantasmagoricamente branca, para o pai,
sentado em estado de choque na mesa. Foi Stone quem se recuperou
primeiro. — Isso é uma piada? — Ele perguntou friamente.
— Eu tenho negócios urgentes para atender — disse Hadrian e
então se foi, batendo as portas atrás de si.
Stone ficou de pé. — Isso é algum tipo de piada podre?
Isobel piscou. Isso não foi um sonho. O homem que uma vez
amou com todo seu coração e alma - o homem que ainda amava -
estava diante de si em carne e osso. Era mais velho, seu cabelo não
era mais um castanho brilhante, mas enredado de cinza e havia
muitas rugas novas em seus olhos e boca, mas ainda era alto, ainda
musculoso e ainda a fascinava instantaneamente com seu
magnetismo masculino. Ainda era o homem mais bonito que já tinha
visto e sempre seria. Seu corpo inteiro estremeceu em resposta a ele,
assim como seu coração batia freneticamente e erraticamente.
Ele chutou a cadeira para trás. — Eu não tinha intenção de
colocar os olhos em você novamente — disse em tom duro. — Mas
aparentemente nosso filho decidiu o contrário.
Isobel estremeceu. De repente ficou claro e a atingiu como uma
faca cortante de aço frio, ele a odiava. Seus olhos ardiam de ódio,
ficou ali olhando para ela como se fosse o tipo mais baixo de
verme. Dor rasgou através dela, quase derrubando-a de seus
pés. Querido Deus, como poderia tal amor ter mudado para tal ódio?
E como, oh como, como poderia encará-lo quando ele se sentia
assim?
Encontrou mais força do que sabia que tinha, endireitou os
ombros, levantou o queixo. Quando falou, sua voz mal tremeu. —
Pelo visto sim.
Ela deslizou em direção à mesa, mas não olhou para ele, embora
pudesse sentir seus olhos ardentes sobre si. Nunca tinha sido vaidosa,
mas agora sentia cinquenta anos e se sentiu mal ao saber disso,
enquanto olhara para ele e derretia com um desejo quente e
turbulento, ele a olhava com nada além de ódio, vendo nada além de
uma velha. Pegou o bule e começou a encher sua xícara antes de
encher a própria.
Ele agarrou o pulso dela do outro lado da mesa, gritou quando a
puxou para frente, de modo que seus rostos quase se tocaram. —
Bom Deus! — Ele gritou. — Depois de tudo que me fez ainda me
serve um chá?
Lágrimas encheram seus olhos enquanto olhava de volta para
seu olhar furiosamente irritado. — Solte-me.
Ele fez isso instantaneamente.
— Está se comportando como um bruto. — Ficou impressionada
com a calma de sua voz, quando por dentro sentiu que estava
morrendo.
— Se estou me comportando como um bruto é porque você me
transformou em um.
— Francis sempre me culpou por sua fraqueza também.
Ele congelou. Seu rosto ficou branco. Então, com o maxilar tão
apertado que as cavidades se formaram sob suas bochechas, disse —
Sinto muito.
Ele não era nada como Francis, nunca poderia ser como Francis
e Isobel sabia disso. — Eu também — ela disse suavemente.
Sua cabeça se levantou. Seus olhos brilhavam. — Sentir muito
agora é um pouco tarde!
Isobel deu um passo para trás.
Ele se atirou ao redor da mesa e pensou que iria agarrá-la
novamente. Mas não, ele apenas ficou ali diante dela, tremendo de
raiva. — Do que diabos você sente muito, Isobel?
As lágrimas vieram então, enchendo seus olhos. — Sinto muito
por tudo.
— Por tudo? — Ele era sarcástico. — Por mentir, por ser
enganadora, por ser nada mais do que uma cadela autocentrada?
Ela se afastou dele. — Oh Deus!
Ele a agarrou. Havia imenso poder em suas mãos, mas não a
machucou, a sacudiu uma vez. — Eu amava uma mulher que não
existia! Que nunca existiu! Adorei uma mentira! Adorei uma mentira
adorável!
Ela chorou. — Por que você está fazendo isso? Por que você está
me machucando assim? Por que você me odeia tanto?
— Você me negou meu filho e se atreve a me perguntar por
que eu te odeio?
Ela tentou se concentrar nele através da enxurrada de lágrimas.
— Eu fiz isso porque estava com medo. Eu estava com tanto medo.
— Medo? — Ele ficou parado. — Com medo de quê? De
Francis?
— Não! Quero dizer, é claro que eu estava com medo de
Francis. Ele me odiava por administrar as propriedades tão bem e
então odiava Hadrian por não ser seu filho, por lembrá-lo de sua
impotência. Precisava apenas da menor desculpa para me machucar.
Hadrian era como você, apesar de ser um garotinho, era corajoso,
tentou me proteger tantas vezes! — soluçou.
— Eu teria protegido você! — Agora a sacudia com força. —
Droga, eu teria protegido vocês dois! Eu teria levado vocês dois para
longe daqui.
— Isso era o que eu temia — ela chorou. — Eu sabia que você
viria se te contasse sobre Hadrian. Sabia que você viria reivindicar seu
filho. Assim como sabia que era errado negar-lhe a verdade. Mas,
Hadrian! Deus querido, tente e entenda! Deixando você e voltar para
Clayborough foi a coisa mais difícil que já fiz. Foi um milagre que eu
fizesse isso. Um milagre tênue. De alguma forma eu sobrevivi a cada
dia sem você. Quando soube que estava grávida de seu filho, isso me
dava a vontade de viver e lutar de novo. Eu não lhe disse a verdade,
porque se você viesse, você destruiria a existência que eu mal
conseguira alcançar. Eu sabia que se eu colocasse os olhos em você
de novo, eu deixaria de bom grado Clayborough e meu marido, eu
voluntariamente violaria minha honra e minha própria integridade,
fugiria com meu filho e você, se eu fizesse isso, eu me odiaria pelo
resto da vida.
Ele a soltou. Ele correu a mão trêmula pelo cabelo, olhando para
ela com os olhos arregalados. — Jesus. Tanta maldita nobreza.
Nobreza abnegada!
— Se eu tivesse levado Hadrian e ido para você, não teria só me
odiado. Com o tempo, teria odiado você também — sussurrou.
Congelou e se afastou dela. Ela o observou, as lágrimas
escorrendo livremente por seu rosto agora, seus ombros
tremendo. Mas não fez nenhum som.
Quando se virou para olhá-la, seus próprios olhos estavam
molhados de lágrimas não derramadas. Mas a raiva se foi. — A vida
nunca é preta ou branca, é? — Ele perguntou tristemente. — Tantos
malditos tons de cinza. Por que você tem que ser a mulher que você
é, Isobel? Mas então — sua risada era amarga — é por aquela mulher
que eu me apaixonei.
— Eu escolhi ficar longe de você, amando você, ao invés de
estar com você, odiando você.
Ele absorveu isso com grande gravidade. — Eu não teria sido
capaz de suportar o seu ódio também.
— Você entende, então? — Ela chorou.
— Sim, eu entendo auto respeito — disse muito pesadamente.
Ela desabou na cadeira mais próxima com um alívio
esmagador. — E — ela sussurrou ousando olhar para ele — e você
pode me perdoar?
— Eu não sei.
Ela foi esmagada.
— Quão ruim foi para Hadrian? — Ele tinha que saber. — Você
o sacrificou para a sua maldita nobreza também?
— Não! — Ela chorou. — Francis nunca o amou, mas eu mais do
que compensei. Francis bateu nele algumas vezes, mas eu logo o fiz
parar com chantagem, a mesma chantagem que fez Francis aceitar
ele como seu filho. Eu ameacei revelar ao mundo toda a verdade
sobre Francis sua natureza, sua embriaguez, sua preferência por
garotos e como teve que ser resgatado por sua esposa de suas
dívidas. Essa foi a última que garantiu seu silêncio sobre Hadrian não
ser seu filho. Francis não podia suportar para o mundo saber o quanto
ele era inepto, Hadrian não tinha o amor de um pai, mas eu tentei
compensar isso: você o conheceu, viu o bom homem em quem se
transformou, veja como ele é forte. Você pode ter orgulho dele,
Hadrian, você deveria se orgulhar dele. É como você em todos os
sentidos.
— Mas ele cresceu sofrendo.
Resumidamente, Isobel fechou os olhos. — Ele sofreu uma
grande dor que o assombra até hoje. A dor de não ser amado. A dor
de ser desprezado por um dos pais. Eu o protegi o melhor que pude.
Talvez eu fosse egoísta. Talvez você esteja certo. Sou egoísta, talvez
tenha escolhido errado. Tenho me perguntado tantas vezes se fiz a
escolha certa, você teria dado a ele amor, mas nosso relacionamento
não teria sobrevivido se virasse minhas costas para o meu casamento
e minha vida teria feito Hadrian uma criança mais feliz?
Era impossível especular sobre a miríade de possibilidades,
Hadrian percebeu. Ele observou Isobel chorar silenciosamente em um
lenço. Foi um alívio não ficar mais com raiva. Em seu lugar, se sentiu
curiosamente entorpecido. Observou o contorno de seus ombros
pequenos e trêmulos e suas mãos delicadas enquanto segurava a
roupa no rosto. Uma fabulosamente grande safira brilhava em seu
quarto dedo. Notou que ela não usava mais os anéis de casamento.
Ela levantou o rosto, erguendo o olhar para ele.
Sua respiração ficou presa. Não havia entorpecimento
agora. Isobel não era mais uma garota de vinte anos, mas
envelhecera magnificamente. Seu rosto não havia mudado. Oh, havia
linhas mais profundas ao redor de sua boca, e alguns pés de galinha
sobre seus olhos, seu cabelo estava muito mais pálido agora do que
tinha sido, quase platinado, mas suas feições eram tão refinadas
como sempre. Ficou surpreso ao ver-se olhando para ela, preenchido
com o tipo de desejo cru que não sentia por qualquer outra mulher
em trinta anos, que só sentiu quando estava com ela.
Seus olhos se arregalaram.
Cerrou os punhos com força quando a onda de luxúria o
varreu. Seus olhares se encontraram cautelosamente, viu que ela
sabia e viu algo mais, a brilhante e selvagem esperança em seu olhar.
— Você ainda é linda, Isobel — ele disse cuidadosamente.
— Eu sou velha.
— Você não parece velha.
— Não faça isso.
Ele se aproximou dela. — Não faça o que?
— Não faça isso! — Ela tentou se esquivar das mãos dele, mas
elas se fecharam rapidamente em seus braços e foi puxada contra ele.
Ele estremeceu violentamente no contato. Cada pedaço dela era
esbelta e macia, feminina e familiar. Olhou-o, presa em seus braços,
seus olhos tão vívidos e adoráveis como se lembrava.
— Não faça isso — ela disse novamente.
— Por que não? Isso não mudou, não é? Nós ainda queremos
um ao outro. Eu quero você.
Lágrimas encheram seus olhos. — Mas eu te amo — ela
sussurrou.
Ele congelou e então parou de pensar. Seu abraço apertou, sua
boca caiu sobre a dela. De repente, todos os anos que se passaram
desapareceram; ontem e hoje se tornou um. Não tinha mais sessenta
anos, mas trinta e a mulher que segurava nos braços era uma
menina. Eles poderiam estar se abraçando no convés de seu navio
clipper, o Sea Dragon, ou nas margens da Virgínia. O tempo deixara
de existir. Tudo o que existia para ele era Isobel e a enormidade de
seu amor por ela, que nunca havia morrido.
Suas mãos deslizaram sobre ela, lembrando. Sua boca se moveu
lentamente sobre a dela, parou quando percebeu que estava
saboreando suas lágrimas salgadas. — Não chore — ele murmurou,
segurando-a com força. — Não chore, Isobel.
Ela chorou mais forte. — Eu amo você, Hadrian. Eu não posso
fazer isso. Não com você me odiando. — Mas se agarrou com tanta
força às lapelas de seu paletó fino que os fios se rasgaram.
— Eu não te odeio — ele gritou. — Como eu poderia odiá-la?
Passei toda a minha vida amando você. — E lembrando-se das
palavras de seu filho, ele disse — Até um americano pode ser leal.
Ela riu, chorando. — Você quer dizer isso? Você não me odeia?
Você pode me perdoar?
— Não há um ditado — ele perguntou suavemente, segurando
seu esplêndido rosto em suas grandes mãos — que o amor cura todas
as feridas?
Agora ela realmente riu, apertando suas mãos com as suas
enquanto segurava o rosto dela. — Esse é o tempo que cura todas as
feridas.
— Então, para nós é amor — disse simplesmente. Seu aperto
aumentou quando um novo e assustador pensamento lhe ocorreu e
se o passado pudesse se repetir? E se ainda sentisse algum
sentimento miserável de lealdade a Clayborough ou ao duque morto?
— Você vai se casar comigo desta vez, Isobel.
— Sim — ela chorou descontroladamente. — Sim Sim Sim!
— Não foi uma pergunta — disse ele, com lágrimas repentinas o
cegando.
— Eu sei! — E ela lançou seus braços ao redor dele.
Capítulo 35
Nicole demorou apenas um momento para perceber onde
estava... piscou, levantando-se em um braço e olhando para a coluna
larga da cama de dossel muito drapeada. A lembrança se precipitou
sobre ela. De repente, caiu de costas nos travesseiros.
Ontem, Hadrian a arrastou com força da Casa Cobley. Ontem
fizeram amor em sua carruagem, sem inclinação de resistir. Ontem
sua raiva fugira na esteira de seu amor, que simplesmente não
morreria. E ontem tinha quebrado em seus braços, finalmente dando
vazão ao seu desgosto.
Cautelosamente, Nicole se sentou. Estava nua, mas não se
lembrava de se despir ou subir na cama. De fato, a última coisa de
que se lembrava era soluçar descontroladamente nos braços de
Hadrian na carruagem em direção a Clayborough. Seu abraço foi tão
terno.
Seu coração acelerou.
Parecia lembrar-se de lhe dizer que o amava também. Esperou
fervorosamente que não tivesse, que isso tivesse sido apenas um
sonho.
Querido Senhor, o que faria agora?
Uma imagem da linda Holland Dubois surgiu em sua mente.
Nicole levantou-se da cama e vestiu uma túnica. Lavou o rosto e
escovou os dentes, tentando se concentrar na tarefa em mãos. Ela
não pôde. As lembranças continuaram a atraí-la, maiores que a vida.
Nicole ficou muito quieta no banheiro, segurando a penteadeira com
tampo de mármore. Estava totalmente acordada agora e era
impossível não estar ciente do que estava evitando na semana
passada. Durante sua estada na Cobley House, ela era como um
zumbi, irrefletida e insensível. Agora podia pensar... e podia sentir.
Estava com medo de analisar suas emoções muito de perto. No
entanto, elas estavam lá, inevitáveis, um pouco tenros e um pouco
crus. Ainda doía pensar em Hadrian e na Holland. No entanto, não
parecia se sentir muito mal. Seu coração estava milagrosamente
intacto.
O que iria fazer sobre a amante? O que poderia fazer? Hadrian
realmente foi tão gentil e atencioso ontem? Ou isso também tinha
sido um sonho?
O aperto de Nicole na escova aumentou, queria ver o marido, se
sentiu obrigada a vê-lo. Devia descobrir se imaginou toda a
suavidade, compaixão e carinho que tinha visto em seus olhos. De
repente, isso era o que era importante e não dava a mínima para
qualquer outra coisa.
Desejou que não tivesse sido um sonho. Queria tanto que tinha
que ser a verdade.
Nicole se moveu rapidamente pelo quarto. Sabia que não
deveria sair de sua suíte em seu estado atual de vestimentas, mas
agora era impelida para frente por uma força que não conseguia
identificar. Entrou na sala de estar. Estava prestes a se mover para o
corredor quando viu a caixa embrulhada de presente.
Ela parou. Era uma grande caixa retangular encostada na
parede. Parecia ter sido descuidadamente colocado ali e
esquecida. Nicole sabia que era para ela. Assim como sabia que era
de Hadrian. Como se atraída por um ímã, ela se aproximou do
pacote. E então, uma vez em suas mãos, ela rasgou-o como um
demônio possuído.
A primeira coisa que viu sob o lenço de papel verde foi uma
surpresa. Ela piscou, puxando um par de calções de montaria, pegou
outro par e outro. Havia meia dúzia no total, cada uma com uma cor
diferente, creme e bege, cinza e marrom e verde-caçador. Segurou o
último par para cima, um calção preto. Não teve que experimentar um
único par para saber que os calções se ajustariam perfeitamente a
ela.
Nicole foi levada às lágrimas, apertou as calças de ébano no
rosto. O que isso significa? Oh, o que isso significa?
Abruptamente, jogou as calças para o lado, vasculhando
freneticamente as roupas e o tecido por um cartão. Ela encontrou
um. Dizia apenas — Para minha querida esposa — Hadrian havia
rabiscado seu nome ilegivelmente abaixo.
Ela abraçou o pequeno cartão ao peito. Para minha querida
esposa. Ele havia escrito — para minha querida esposa — Não tinha
sido meramente educado, estava certa. Assim como estava certa de
que tinha visto carinho e compaixão em seu olhar ontem.
Ele se importava.
Nicole ficou em pé. Nada iria impedi-la de encontrá-lo agora.
Correu pelo corredor, ignorando as empregadas ocupadas por
quem passava, que pararam em suas tarefas para piscar em seu traje
antes de oferecer-lhe suas boas manhãs. Nicole desceu as escadas
rapidamente, ficando sem fôlego. Seu coração estava
trovejando. Antecipação a encheu, devia encontrar Hadrian
imediatamente.
No andar térreo, ignorou os porteiros, que nem mesmo via e
correu em direção ao escritório. Vozes vindas da sala de música
chamaram sua atenção. Vozes felizes, um homem e uma
mulher. Nicole derrapou até parar. O tom que compartilhavam era
conspiratório, íntimo. A voz do homem quase soava como a de
Hadrian e por um segundo, Nicole pensou o pior, mesmo sabendo que
sua suspeita não estaria correta. Ela abriu a porta.
Por um instante, olhou para a duquesa viúva sendo intimamente
abraçada por um homem. Isobel e seu amante se voltaram para olhá-
la. A cor quente inundou o rosto de Nicole. — Com licença! — Ela
exclamou, recuando. — Eu sinto muitíssimo!
Fechou a porta e ficou do lado de fora, ofegante. O que quer
que estivesse acontecendo, importava? Devia encontrar seu marido!
Ele não estava em seu escritório. Agora correndo, Nicole se virou
e subiu correndo as escadas.
Quando Hadrian fechou as portas da sala de música de seus
pais, estava se sentindo mais do que um pouco culpado e muito
ansioso, não tinha mais certeza de ter feito a coisa certa. Estava claro
que os dois ainda se amavam, mas não era romântico, sabia mais do
que isso, mas estava agindo como se tentasse uni-los. Na realidade,
tanta água havia passado sob a ponte, era duvidoso que seriam
capazes de recuperar o que tinham conquistado uma vez.
Enquanto caminhava pelo corredor, olhou para o relógio de
bolso, não pela primeira vez. Logo seria dez. Seu coração se
apertou. Nicole dormia há quase vinte e quatro horas e estava ficando
muito alarmado. Ontem à noite a examinou três vezes, cada vez mais
ansioso. Ela dormiu como um morto. Naquela manhã, às seis horas,
ainda estava em coma. Às oito estava se mexendo. No entanto, ainda
não estava acordada.
Tomando as escadas traseiras porque era mais rápido, ele
decidiu acordá-la. E quando se aproximou da suíte dela, começou a
tremer. Sentiu como se o próximo encontro determinasse o curso de
todo o seu casamento, sentiu em cada medula do seu ser, sabia que
tal sentimento era ridículo. Mas não podia abalar sua certeza.
E se ela realmente o amasse? A essa altura, estava se
perguntando se sua imaginação ávida o estava pregando, se tivesse
ouvido uma declaração apenas porque queria.
Seus aposentos estavam vazios. Grande decepção reivindicou-
o. E então ouviu um movimento na porta atrás dele e se virou para
encontrá-la ali de pé.
— Hadrian — ela sussurrou sem fôlego.
Seu olhar deslizou sobre ela enquanto a maneira como dizia seu
nome e o modo como seus olhos se iluminavam ao vê-lo, faziam seu
coração ansiar perigosamente. Ele lutou pela compostura quando
queria exigir imediatamente se de fato ouvira o que achava ter ouvido
ontem na carruagem. — Bom dia, senhora. Eu estava começando a
ficar alarmado, você dormiu um dia inteiro.
— Eu dormi? — Ela perguntou, ainda sem fôlego. — E você
estava preocupado?
— Sim.
De repente, ela sorriu e estendeu o punho. Viu que ela agarrava
um pedaço de papel. Então abriu a mão e ele viu que não era um
pedaço de papel enrolado que segurava, mas um pequeno cartão... o
mesmo que havia inserido no presente que pretendia dar a ela uma
semana atrás.
Eles se encararam.
— Hadrian — exclamou ela — o que isso significa? O que o seu
presente significa?
Ele hesitou. — Isso significa que eu me comportei como um
idiota e sinto muito.
Esperança explodiu. Alegria brotou. — Você sente muito pela
Holland? — Ela sussurrou.
Ele piscou. — Holland? — Simplesmente não lhe ocorreu que
saberia o nome de sua ex-amante. — Holland quem?
Nicole ficou rígida. A alegria começou a se dissipar. — Holland
Dubois.
Uma suspeita o inundou. Ele pegou sua mão. — Nicole, o que a
Holland tem a ver com isso? E como, em nome de Deus, você
aprendeu sobre ela?
Nicole não fez nenhum movimento para se libertar. — Eu pensei
que estava arrependido que você tinha ido para ela. Mas eu posso ver
que eu estava errada. Errada de novo, sendo tola novamente.
— Espera! — Ele não a libertou. — O que diabos você está
falando?
— Eu não posso compartilhar você, Hadrian — ela disse
simplesmente. — Eu não farei. — De repente, se endireitou quando
uma determinação feroz a encheu. — Oh, que estupidez eu fiz! Por
que eu não pensei em lutar pelo que é meu antes?
Hadrian só podia olhar para ela. Então, um sorriso puxou sua
boca quando o início da compreensão chegou até ele. — E por quem
é que você vai lutar? E com quem você vai lutar agora?
— Eu vou lutar por você — afirmou, com os olhos ardendo. — E
eu vou lutar contra a Holland. E é tarde demais para você mudar de
ideia, pois eu inventei a minha. Eu não quero mais o divórcio.
— Entendo — disse, imaginando se parecia tão absurdamente
satisfeito quanto se sentia. — E o que eu quero?
Ela olhou para ele. — Eu vou atirar suas próprias palavras de
volta para você. O que você quer não é da minha conta.
— De fato? — Ele riu. — Por que eu acho que você está
mentindo?
Ela piscou para ele. — Eu não entendo sua atitude, Hadrian,
mas talvez eu deva me esclarecer.
— Por favor — disse imensamente feliz. nunca tinha sido mais
feliz.
— Não quero o divórcio. Mas não vou dividir você. Sei que não
posso impedi-lo fisicamente de visitar aquela mulher, mas posso
impedi-la de entretê-lo.
Ele riu. — Querida, você certamente pode me conter fisicamente
e você já me tem, mas por favor o que você tem em mente para a
pobre Holland?
— Esqueça qualquer sentimento que você possa ter por ela,
Hadrian — disse Nicole, carrancuda. — Não vai mais vê-la, não uma
vez que eu a chame de novo.
Ele gemeu. — Agora eu começo a entender! Deixe-me
adivinhar! Você a viu enquanto eu estava em Londres!
— Eu não fui a única — disse Nicole bruscamente.
— Você está com ciúmes! Admita?
— Você sabia que eu tenho uma gota de sangue índio americano
correndo nas minhas veias?
O duque sorriu e puxou-a em seus braços. — Eu não posso dizer
que estou muito surpreso.
— O que você está fazendo? — Nicole falou quando ele a
acariciou de volta.
— Estou segurando minha esposa. Minha querida esposa.
Isso a chocou. Ela congelou, tremendo. — Você quis dizer isso?
O que você escreveu no cartão?
— Sim eu fiz. Nicole, por favor, não leve seu chicote para o
pobre rosto de Holland como fez com o meu. Eu odeio te dizer isso,
querida, mas você tem sido tristemente enganada.
Ela agarrou a frente da camisa dele. — Eu tenho?
— Você tem. Holland Dubois não é minha amante.
— Ela, não é?
— Não mais. Nosso relacionamento foi encerrado quando eu
estive pela última vez em Londres.
Nicole foi inundada de alívio, atordoada de alegria. Ela se
agarrou ao marido. — Você quer dizer que você nem sequer teve uma
separação doce?
— Eu tenho toda a doçura que eu preciso aqui, querida.
Ela se sentiu fraca, mas ele a segurou firmemente. — Oh
querido — ela sussurrou. — E pensar que eu iria cortar seu lindo
rosto com uma faca de cozinha.
Hadrian gemeu.
— Oh, como eu poderia ter agido tão precipitadamente e
fugido?! — Nicole gemeu.
— Não faço ideia — disse o duque, segurando o rosto nas mãos.
— Mas algo me diz que não será a última coisa precipitada que você
faz. — Ele silenciou o protesto de Nicole com um longo beijo íntimo e
prolongado. — Mas eu estarei aqui para resgatá-la, querida, não
tenha medo.
— Querida? — Ela sussurrou, atordoada. — Por que você
continua me chamando querida? Por que você agora me chama de
querida?
— Porque o seu ciúme me agrada — disse o duque com ternura.
Seu olhar era mais suave do que no dia anterior na carruagem e
Nicole se derreteu. — Oh Hadrian — ela suspirou. — Quando você
olha para mim desse jeito...
— Sim? — Ele cutucou.
— Eu mal posso pensar — ela murmurou. — Na verdade, mal
posso ficar de pé.
— Você pode pensar o tempo suficiente para me dizer o que
você me disse ontem?
— O que eu te disse ontem? — Ela grunhiu nervosamente.
— Eu não quero mais jogar Nicole — disse ele muito a
sério. Então ele acrescentou — Querida.
Ela gemeu. — Não foi um sonho, foi? Ontem, o jeito que você
me segurou, como se você se importasse.
— Eu me importo.
Ela agarrou-o com força ou teria caído direto no chão. — E eu
amo você, Hadrian. Mas você já sabia disso, não sabia? Porque eu te
disse ontem.
— Comecei a suspeitar que era verdade há apenas alguns
minutos — disse ele, delirantemente feliz. — Quando você começou a
ameaçar a pobre Holland.
— Ela não é tão pobre! Ela é a mulher mais linda que já vi!
— Ela não é a mulher mais linda que já vi — disse o duque.
Nicole estava quase se recuperando de alegria. — Você pode me
perdoar por fugir? Por envergonhar você de novo? Oh, eu nunca vou
me perdoar por te humilhar mais uma vez! Eu prometo que nunca
farei algo tão imprudente de novo.
— Por favor, não prometa, eu sei agora esperar o inesperado de
você. Contanto que você me ame, Nicole, nada mais importa.
— Oh Hadrian — disse Nicole, agarrando seus ombros. — Isso é
bom demais para ser verdade. Receio que, se eu me beliscar,
descobrirei que estou sonhando.
Ele riu novamente e beliscou sua bochecha. — Você está
acordada, não está sonhando. Você é minha duquesa — sua voz
baixou — e eu te amo.
Nicole caiu nos braços dele ansiosamente. Esperou para sempre
ouvir essas palavras. E ele estava certo. Seu marido, o duque, estava
certo. Nada importava mais, não quando se amavam, e não quando
tinham finalmente colocado mal-entendidos para descansar.
Às vezes, percebeu feliz, sonhos realmente se tornam realidade.

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