(Livro Relacionado) Sinopse A rebelde e independente Lady Nicole Bragg Shelton se recusa a ser restringida pelas regras sufocantes da Inglaterra Vitoriana. E agora, o desejo impeliu a bela herdeira para uma ligação chocante com Hadrian Braxton-Lowell, Duque de Clayborough. Ligado pelos ditames da honra e do dever para com a mulher, Hadrian é encurralado pela conduta ousada de Nicole, mas fascinado pelo seu espírito livre de fogo e sensualidade de tirar o fôlego. Embora decidido a fazer a beleza de cabelos negros sua amante, nunca concordará em se casar com ela. Mas Nicole não é brinquedo de nenhum homem. E está preparada para arriscar a infelicidade para satisfazer sua paixão selvagem e intransigente... e ganhar a lealdade inabalável do duque e seu amor eterno. Prólogo Clayborough, 1874 O salão estava cheio de convidados. Vozes animadas, risadas felizes e as cepas exultantes de um quarteto de cordas soavam pelos corredores. O menino pequeno estava deitado em sua cama enorme dois andares acima do salão de baile, ouvindo os sons ecoando por sua casa. Seus pequenos punhos estavam cerrados em suas cobertas enquanto ele olhava insone para a escuridão. Não gostava da escuridão, tinha seis anos não era mais um bebê não ligaria a luz ao lado da cama. Em vez disso olhou para as sombras em sua parede feitas pelos candelabros antiquados do corredor que brilhavam em sua porta, deixados cuidadosamente por sua babá. Ele imaginou que as sombras bruxuleantes eram pessoas, mulheres de joias brilhantes e homens de fraque preto à meia-noite. Imaginou ser um deles, não um menino, mas um homem real, tão forte e poderoso quanto qualquer um dos senhores abaixo. Tão forte e poderoso quanto o duque, seu pai. A fantasia o fez sorrir e por um instante se sentiu adulto. E então os ouviu e seu sorriso desapareceu, sentou-se empertigado, tremendo. Eles estavam do lado de fora de sua porta, no corredor. Ele se esforçou para ouvi-los quando não o queria. Sua mãe disse para o pai com voz suave, quase um sussurro. — Eu não esperava você de volta, deixe-me ajudá-lo. — Tão ansiosa em me apressar para ir à cama — Não havia nada de suave na voz do duque de Clayborough. O garotinho segurou a colcha com mais força, as sombras não o assustavam mais, pois o monstro estava agora do lado de fora de sua porta, no corredor. — Qual é o problema, Isobel? — Francis Braxton-Lowell exigiu — Eu te afligi? É óbvio que você não está satisfeita por eu estar aqui. Com medo que eu converse com os convidados em minha própria casa? — Claro que não — sua mãe respondeu calmamente. O menino não queria sair da cama, mas ele ficou de pé, arrastou-se até a porta aberta e espiou em volta. O duque era alto, louro e bonito suas finas roupas de noite estavam amarrotadas e estava barbado. Sua mãe era mais loira, incrivelmente bonita e elegante era a imagem da perfeição em seu vestido de cetim azul e diamantes cintilantes. O desgosto se gravou claramente no rosto do duque e ele se virou bruscamente, tropeçou e cambaleou pelo corredor. Ansiosamente, ela o seguiu. Ele olhou atrás deles. O duque parou do lado de fora da porta de sua suíte. — Eu não preciso da sua ajuda. — Você vai descer? — Com medo de que eu te desgrace? — Claro que não. — Você mente tão bem. Por que você não me convida para baixo, Isobel? A mãe dele estava de costas, não era possível ver sua expressão e sua voz não soava tão calma. — Se você quiser se juntar a nós, por que não muda suas roupas primeiro? — Talvez eu vá! — Ele rosnou. Seu olhar de repente se fixou no fio de diamantes em sua garganta — Eu nunca vi essa peça antes. — Eu fiz isso recentemente. — Isso não parece com vidro e pasta! Isobel não respondeu. O silêncio caiu pesadamente entre eles. O garotinho havia se arrastado para frente e se agachou atrás de uma mesa de oração de laca. O medo encheu-o. Os olhos do duque estavam se arregalando e de repente, violentamente, ele arrancou as joias da garganta da mãe. Isobel sufocou um grito. O menino saltou para frente. — Esta coisa é real! — O duque gritou — Por Deus, estes são verdadeiros diamantes. Sua puta traidora, você tem escondido dinheiro de mim, não é? A duquesa ficou congelada. O garoto também congelou, ofegante, logo atrás dela. — Você não tem? — Francis gritou — Onde você conseguiu o dinheiro para isso? Onde? Maldita! — De royalties — disse Isobel, o mais leve tremor em seu tom — Recebemos nossos primeiros royalties da Dupres Mining Company. — Primeiro você aluga minhas terras sem minha permissão — Francis gritou furiosamente — Agora você esconde meu dinheiro de mim? Você nunca para, não é? — Como mais eu posso salvar seu patrimônio? Francis moveu-se com surpreendente rapidez para um homem tão bêbado e bateu na esposa com força no rosto. Ela gritou e cambaleou contra a parede. — Você sempre foi uma fraude, Isobel, desde o dia em que te conheci. Uma fraude e uma mentirosa! — Ele cambaleou para ela novamente, o braço levantado. — Pare! — O menino gritou, atacando o pai pelos joelhos — Não a machuque... não a machuque. — Maldita seja você — Francis gritou, batendo em sua esposa novamente. O golpe acertou-a na bochecha e desta vez a derrubou no chão. O garoto reagiu. Ele socou as coxas de seu pai com tanta força quanto pôde, cheio de uma raiva ofuscante. Ele odiava tanto o pai que doía. Como se seu filho não fosse mais que um gatinho perdido, Francis o puxou pela nuca e o jogou de lado. Ele caiu de costas, bateu a cabeça no chão e por um momento viu estrelas. — Você moleque, acha que é um homem, não é? Bem, amanhã você vai ter o castigo de um homem por interferir onde não deveria — Seu pai se elevou sobre ele. — Um pirralho insignificante e uma fraude, assim como sua mãe. O garoto piscou para clarear sua visão, seu pai foi embora. Mas não as palavras cruéis e odiosas, essas permaneciam em sua mente. Por um momento ele ficou tremendo de dor parecia um punho em seu peito, em seu coração e doeu terrivelmente. Mas isso não foi causado pelo golpe físico de seu pai. Fechou os olhos e suor manchou sua testa, lutou até que diminuísse a dor, a necessidade de lágrimas, o ódio, tudo. Até que não restasse nada. E quando ele abriu os olhos, viu a mãe ainda de bruços. Ele correu em direção a ela no momento em que se sentou com as lágrimas caindo por suas bochechas. — Mãe? Você está bem? — Ele não parecia uma criança, parecia um adulto. — Oh querido — Isobel chorou envolvendo o filho nos braços — Seu pai não quis dizer isso. Pacientemente o garoto deixou que ela o abraçasse então se afastou. Ele assentiu sem expressão embora soubesse que não era verdade, enquanto sua mãe soluçava em silêncio. Ele sabia que seu pai pretendia pôr em ação cada palavra. Assim como ele sabia que seu pai o odiava. Mas isso não importava. Não mais... pois uma coisa boa veio desta noite. Finalmente a dor foi embora, aprendera a controlá-la e a persegui-la durante a noite. Ele aprendera a abraçar o vazio. E isso era muito. Capítulo 1 Dragmore, 1898
— Você tem visitantes minha senhora.
— Mas eu nunca tenho visitas — protestou Nicole. Aldric olhou para ela, seu rosto enrugado insondável, embora seus olhos castanhos estivessem brilhando — As senhoras Margaret Adderly e Stacy Worthington, minha senhora. Nicole ficou surpresa. É claro que era um exagero dizer que ela nunca tinha visitas, sua melhor amiga, a viscondessa de Serle, assim como a nobreza local e sua família, fazia visitas com bastante frequência. Mas eles realmente não contam. O que contava era o fato de que ela mesma não tinha o costumeiro grupo de pessoas que se visitavam como as outras jovens de sua classe. Não nos últimos anos desde o escândalo... O que essas mulheres que ela nunca conhecera poderiam querer? — Diga a eles que eu vou descer, sirva refrescos, Aldric — disse ela ao mordomo. Uma bolha de excitação surgiu nela. Aldric assentiu, mas antes de sair ele levantou uma sobrancelha branca e espessa. — Talvez eu deva mencionar que você estará lá em alguns minutos, minha senhora? Ela entendeu e riu olhando tristemente para os calções de homem e botas de montaria enlameadas. Embora tenha sido quase o alvorecer de uma nova era — o século XX — as mulheres não usavam roupas masculinas mesmo quando tinham justa causa. Algumas coisas nunca mudam. — Que bom que tenho você para me lembrar, Aldric. Eu não deveria afastar meus ilustres visitantes antes mesmo de descobrir por que eles vieram. Ainda rindo esperou que Aldric saísse imaginando o choque que as duas senhoras no andar debaixo receberiam se a vissem vestida como um homem. Nicole suspirou honesta o suficiente consigo mesma para saber que sua atitude despreocupada e seu senso de humor inadequado não ajudariam sua situação — não que ela estivesse realmente em uma situação, lembrou a si mesma. Afinal, ela escolheu permanecer no país. Enquanto folheava descuidadamente o armário para as roupas de baixo apropriadas, admitiu para si mesma que era bom ter mulheres jovens a visitando. Fazia muito tempo. Não que ela não estivesse feliz em Dragmore, porque ela estava. Sua vida era Dragmore, cavalos e livros. Era só isso, bem, fazia muito tempo. Nicole vestiu uma combinação, meias e anágua o mais rápido que pôde. Ela odiava espartilhos e se recusava a usá-los, embora tivesse 1,81 de altura em seus pés descalços. Ela era maior que a maioria das mulheres e depois havia a idade dela e se recusou a tentar cingir sua cintura como se tivesse 1,5 metros de altura, dezoito anos e menos de cem quilos. As pessoas adoravam conversar. Não foi apenas uma questão de conforto, Nicole era uma leitora voraz. Ela concordava com algumas de suas escritoras favoritas que preferiam calças e calções, em vez das modas atuais que segundo elas eram constrangedoras e pouco saudáveis como os espartilhos. Assim como a sociedade moderna inventou regras de decoro expressamente para manter as mulheres em seu lugar, também inventou as modas para o mesmo propósito. Afinal de contas não se poderia esperar de uma dama que fizesse mais que sorrir e respirar. Uma dama não podia correr, cavalgar, atirar ou pensar. Uma dama era recatada. Nicole era sábia o suficiente para saber que ela deveria manter sua sabedoria para si mesma. Quando ela terminou de se vestir parou por um instante para olhar nervosamente no espelho, ciente do nó apertado de antecipação em sua barriga. Ela fez uma careta para si mesma. Não era que ela não gostasse de sua jaqueta e saia azul- marinho, pois não se importava com roupas, desde que não fosse restringida por elas. Foram outros aspectos de sua aparência que a desagradaram. Ela suspirou — Bem, o que você esperava? — perguntou seriamente ao seu reflexo — Ser mais baixa? Ser loira? O que você é, uma idiota? Se as pessoas julgarem você pela sua aparência é porque não valem um centavo. Sua porta se abriu — Você está me chamando, minha senhora? Nicole corou, se os servos a pegassem falando sozinha, ela nunca escaparia disso — Uh, sim Annie, você levaria minhas calças para Sue Anne? O joelho esquerdo precisa de remendos. Sorriu brilhantemente, esperando até que Annie pegasse as calças e saísse. Então olhou para si mesma com uma carranca, ainda era ridiculamente alta e muito escura. Ela herdou toda a aparência morena de seu pai e nada de sua pequena mãe loira. Ela não era rabugenta por natureza, mas o cabelo dela não podia ser marrom em vez de negro? Ela deveria ter pedido a Annie para ajudá-la com seus cabelos, em vez de inventar uma história sobre suas calças, tentando passar um pente, porque a massa preta grossa e ondulada caiu até a cintura e era indomável sem um segundo par de mãos. Era tarde demais para isso agora e Nicole a amarrou de volta rapidamente com uma fita. As senhoras Adderly e Worthington estavam esperando, sua barriga se apertou novamente, se demorasse mais um minuto, seria totalmente rude. Abruptamente Nicole saiu do quarto e desceu as escadas esquecendo-se que estava de saia até tropeçar e ser forçada a um ritmo mais calmo e elegante. No corredor abaixo parou para recuperar o fôlego e acalmar seus nervos trêmulos. Disse a si mesma que estava sendo boba — ela só estava recebendo visitas, algo que outras jovens faziam todos os dias de suas vidas. Apressando-se por um longo corredor de piso de mármore, desejou que sua mãe, a condessa de Dragmore, estivesse em casa para lhe dar uma dose de bons conselhos. Mas Jane estava em Londres com a irmã mais nova de Nicole, Regina, que se recusou a permanecer na zona rural isolada quando a temporada estava em pleno andamento. Nicole desejou que seus pais deixassem Regina se casar e esquecer o fato de que ela, a irmã mais velha, era solteira e provavelmente permaneceria assim para sempre. Ela parou na porta do grande salão amarelo brilhante. Instantaneamente as duas jovens senhoras que estavam no sofá congelaram, a conversa cessou. Uma era loira e perfeita, a outra era uma morena deslumbrante. As duas jovens senhoras olhavam para Nicole com grandes olhos azuis. Por um instante bobo, Nicole se sentiu como algo exótico sob uma lente de aumento e então a sensação passou. Sorrindo ela entrou — Olá, que gentil de vocês virem. Ambas as garotas se levantaram, seus olhares abertamente curiosos quando deslizavam sobre o corpo alto de Nicole enquanto trocavam apresentações. Nicole se sentiu em pé ao lado delas, pois ela se elevava sobre os diminutos 1,5 m de altura. — Lady Shelton — disse a loira — eu sou Lady Margaret Adderly e esta é minha amiga, Lady Stacy Worthington. As formalidades dispensadas, Nicole pediu-lhes para se sentar vendo que elas tinham sido servidas com chá e bolos. Ela se sentou de frente para elas em uma poltrona de brocado. Stacy Worthington olhou-a com muita atenção. — Você sabe sobre o Duque? — Margaret perguntou animadamente. Ela só poderia estar se referindo a um homem — O duque de Clayborough? — perguntou Nicole, imaginando o que ele poderia ter a ver com qualquer coisa, muito menos com aquelas duas jovens damas. — Sim — Margaret sorriu — Ele entrou em posse de Chapman Hall. Você percebe que ele é seu vizinho! — Claro — disse Nicole um pouco perplexa. Não sabia nada sobre o duque, exceto que acabara de chegar ao Chapman Hall, a poucos quilômetros dos portões da frente de Dragmore. Ela nunca tinha ouvido falar dele antes daquela semana. — Ele é meu primo — anunciou Stacy Worthington. Ela sorriu presunçosamente, como se ser primo de um duque fosse uma questão de grande importância. — Como você é afortunada — Nicole conseguiu falar. Stacy não pegou o sarcasmo implícito de Nicole — Nós nos conhecemos desde a infância — ela disse grandiosamente. Nicole sorriu. — Ele está na residência — disse Margaret — e nesta sexta- feira vamos realizar uma festa em sua homenagem em Tarent Hall. Afinal, ele deve ser bem recebido no país. — Sim, eu acho que sim. — Tenho certeza de que se o conde e a condessa estivessem em casa, teriam a honra de sediar o evento, mas como não estão minha mãe decidiu fazê-lo. Nicole assentiu. Stacy sorriu — Nós sabíamos que você estava aqui, não em Londres e é claro que seria muito impróprio se nós não a convidássemos. Então, aqui estamos nós. Nicole piscou endurecendo, ficando surpresa com o que Stacy havia dito e o modo como dissera. Tinha acabado de receber o convite mais rude, a implicação clara de que ela tinha que ser convidada quer ela fosse querida ou não. Ao mesmo tempo a jovem se referiu a Nicole não estar em Londres com seus pais e irmã e todas as outras moças solteiras de meios e posições que estavam caçando marido. A implicação adicional era pior — que ela não era bem-vinda em Londres e isso não era verdade. Não exatamente. — Oh — foi tudo o que Nicole pôde pensar em dizer. Ela se sentiu colocada no lugar, pois raramente saía para a sociedade, na verdade não o fazia há anos. Essa mulher sabia disso? Claro que ela sabia, todo mundo sabia disso. — É claro que você virá — Stacy sorriu — Você não vai? Nicole não pôde sorrir, estava sendo desafiada, não era sua imaginação e o estômago dela estava em nós. Fazia tanto tempo. Certamente agora as pessoas teriam esquecido. — Bem? — Stacy perguntou. Ela ainda estava sorrindo. Nicole não gostava dela, a outra mulher esperava que ela recusasse o convite. Todo mundo sabia que ela raramente saía e eles não tinham vindo chama-la em nome da amizade, mas apenas por dever. Seria terrivelmente impróprio se eles não convidassem a filha do conde de Dragmore para um evento tão importante — Claro que vou — disse Nicole orgulhosa, sem sorrir. Stacy pareceu chocada. Mas isso não era nada comparado à expressão no rosto de Margaret — Você irá? — a loira guinchou. A raiva encheu Nicole. Ela ainda não entendia a motivação de Stacy, mas isso não importava. O que importava era o desafio — Até sexta-feira — disse Nicole, se colocando em pé. Quando as duas mulheres saíram, Nicole se arrependeu de deixá-las recua-la em um canto. Mas como ela poderia recusar o desafio que Stacy Worthington havia jogado contra ela? E agora as pessoas tinham esquecido, não tinham? Depois do escândalo, Nicole tinha sido objeto de fofocas e especulações muito feias e isso doeu. Seus pais ficaram muito zangados com ela e mesmo que quisesse se esconder em sua casa em Londres, eles não teriam permitido. Mas não era uma covarde e continuou a temporada como se nada tivesse acontecido, mantendo a cabeça erguida e ignorando todo o escândalo e as fofocas. Quando o escândalo começou a morrer, Nicole se curvou. Desde o tempo de sua estreia Nicole não ficou impressionada com os bailes e o alvoroço, as recepções e festas de jantar, que ela achava intermináveis, repetitivas e bastante entediantes. Gostava de se levantar com o sol e passar o dia a cavalo, cuidando de Dragmore com seu pai e irmãos. E para ela, um bom livro era muito mais divertido do que a maioria desses assuntos. Os últimos quatro anos não foram infelizes. Nicole amava sua família, amava Dragmore e se contentava com a vida que levava. Na verdade, foi porque ela não queria mudar sua vida que ela havia causado o escândalo em primeiro lugar. Mas... às vezes, geralmente quando sua irmã mais nova Regina estava em Londres com a mãe, comparecendo a uma festa após a outra, vestida com sedas fabulosas e cortejada por solteiros bonitos, Nicole sentia falta dela e se sentia sozinha e de repente desejava estar lá também. Regina sempre foi a bela do baile, como Nicole nunca fora e sabia que desejava o que não poderia ter. Foi um pequeno desejo, um desejo passageiro. Nicole lembrou-se das poucas vezes que saíra com a família desde o escândalo, tempos que não eram divertidos, momentos em que as pessoas olhavam para ela, se lembravam e às vezes sussurravam atrás das costas também. Ela só tinha que lembrar daqueles tempos e o sentimento melancólico passaria e seria esquecido por semanas a fio. E agora ela não estava apenas saindo de novo, mas indo sozinha. Não só seus pais e Regina estavam em Londres, como seu irmão Ed estava em Cambridge e seu irmão Chad estava na França a negócios, ela não tinha uma acompanhante. As damas não compareciam às festas sem acompanhante, a menos que tivessem mais de trinta anos, coisa que ela não tinha. No entanto, ela iria assistir a essa festa mesmo sem uma acompanhante. Ela faria isso em grande estilo e mostraria a esnobe Stacy Worthington. Dobrando-se em uma fina capa de lã vermelha, Nicole partiu para o Tarent Hall na noite de sexta-feira. Era uma confusão de nervos quando finalmente estava a caminho. Mais cedo naquele dia, tinha tido algumas dúvidas sobre ir sem uma acompanhante, mas finalmente as sufocou pela força de vontade. Ela fora desafiada e não era covarde — ia comparecer à festa, aconteça o que acontecer. Ela tinha um pressentimento terrível de que se arrependeria desta noite. Se fosse sensata, pensou consigo mesma, esqueceria tudo sobre Stacy Worthington e ficaria em casa como uma boa moça deveria. Mas já era tarde demais, pensou Nicole, tocando a anágua cor- de-laranja brilhante e a saia rosa-viva por baixo do manto. Nunca foi adequada, na verdade não. Havia um traço selvagem nela que sempre existira. Conseguiu isso do lado da família do pai, pelo menos foi o que a mãe disse, embora o conde insistisse que o desrespeito pelas convenções era uma característica dos Barclay. Aos vinte e três anos era madura e honesta consigo mesma para reconhecer esse lado estranho de sua natureza e aceitá-lo. Foi essa parte selvagem dela que aceitou o desafio de Stacy e que agora estava impulsionando-a para frente sem uma acompanhante. Nicole sempre odiou as regras e convenções que ligavam todas as mulheres de sua época. Felizmente, não estava sozinha, embora estivesse em uma minoria bastante radical, liderada por sufragistas e agitadoras como Elizabeth Cady Stanton e sua tia, Grace Bragg. As mulheres deveriam fazer nada mais do que se aborrecer com atividades femininas gentis, como arranjos de flores e aquarelas. Quando seu tutor tentou ensinar-lhe essas artes; Nicole, de oito anos ficou furiosa. Ela passaria seus dias pintando rosas enquanto Chad, Ed e seu pai passavam em Dragmore, supervisionando os inquilinos, as fazendas e o gado? Nunca! Claro, foi forçada a aprender tais atividades o que fez de maneira desanimada, mas em seu tempo livre assombrou os homens de sua família e foi autorizada a acompanhá-los depois de seus estudos, uma liberdade inédita para uma bem-educada moça. Durante a infância e a adolescência, lamentou incessantemente que não fosse um menino. Quando não estava a cavalo com seus irmãos e pai, podia ser encontrada lendo, desde a poesia sensual de Byron até os direitos de mulheres de John Stuart Mills. Sua família nunca pensou duas vezes sobre suas inclinações de menino até que de repente se tornou uma mulher adulta e então eles fizeram o possível para ignorar seus modos não convencionais. Eles cairiam mortos se soubessem o que ela estava fazendo ou pior se a vissem agora. Ela tivera apenas três dias para encontrar uma fantasia fabulosa, mas resolvera o problema revirando o vasto sótão de sua casa. Sua mãe, Jane Barclay, tinha sido uma popular atriz de teatro embora tivesse desistido de sua carreira promissora para se dedicar aos filhos, ao marido e a Dragmore alguns anos depois de seu casamento. A atuação estava em seu sangue pois Jane seguia os passos de sua mãe, a famosa e incomparável Sandra Barclay e havia baús de trajes maravilhosos no sótão. Nicole escolheu um traje cigano. Inclusive ela teve que admitir que com sua coloração nas roupas de cores brilhantes que encontrara, parecia a coisa real. Claro, o traje era ousado não era exatamente correto. A blusa caia de seus ombros de uma maneira muito sugestiva e as saias eram apenas na altura do joelho. Mas os ciganos, pelo menos é o que Annie de treze anos assegurava, andavam descalços em saias curtas. Nicole não se importou. Quando Stacy Worthington e sua amiguinha a vissem ficariam estupefatas. Nicole estava certa de que elas não esperavam realmente que ela fosse. Ela sorriu enquanto se sentava nos bancos de couro macio da grande carruagem negra de Dragmore, que era puxada por seis cavalos cinzas e acompanhada por quatro lacaios de libré. Não só estava assistindo a festa em um traje muito autêntico, estava realmente começando a ficar excitada. Fazia muito tempo desde que ela estivera em um baile e ainda mais desde que estivera em um baile de fantasias. A entrada circular em frente à casa de tijolos da Geórgia já estava cheia de vagões e carruagens. Uma carruagem com o dobro do tamanho do veículo Dragmore havia se adiantado no caminho à frente deles. Essa carruagem também era preta e tão polida que brilhava ao luar. O brasão de armas era brilhantemente vívido, as luzes da carruagem certificando-se de que ninguém poderia perdê-lo, superdimensionado e gravado como estava em duas das portas da carruagem. Dois leões, um vermelho e um dourado, erguiam-se contra um escudo preto, vermelho e dourado, enquanto outro leão vermelho se erguia sobre ele. Abaixo do escudo, os dois leões em pé estavam em uma fita de prata, com um lema que dizia simplesmente — Honra em primeiro lugar. Um brasão tão elaborado só poderia pertencer ao duque de Clayborough. Oito magníficos cavalos negros puxavam a carruagem, plumas douradas acenando de seus freios. Havia quatro lacaios no estrado de trás, esplêndidos em uniformes vermelhos, pretos e dourados. Uma dúzia de batedores acompanhava o duque, todos montados magnificamente em baios, todos com a pintura nas cores do duque. O treinador era esplêndido o suficiente para a realeza, que Nicole sabia, o duque não era. Eles pararam na entrada, sua carruagem atrás, com Nicole se esforçando para vislumbrar o ilustre convidado de honra. Ela discerniu apenas uma figura alta e poderosa com cabelos de ébano, um manto negro rodando sobre os ombros, alinhado em carmesim, quando ele pousou. Ele havia escolhido não se fantasiar, ela notou e não havia nenhuma Duquesa a reboque. Ela foi ajudada na carruagem e subiu apressadamente os degraus em direção às luzes brilhantes da mansão. As portas da frente estavam abertas e um empregado de libré pegou sua capa, ela seguiu o lacaio até a entrada do salão de baile, seu coração começando a bater. Quando pediu seu nome, ela deu automaticamente. Por um momento recordou muitos saraus e muitos fracassos, o lado ousado dela recuou e ela se sentiu assustada. Parou atrás do Duque enquanto era anunciado. Ele era ainda mais alto do que imaginara, quase 15 cm mais alto que ela com ombros maciçamente largos, seu cabelo era longo demais para estar na moda, como se estivesse ocupado demais para se preocupar com um barbeiro. Era uma cor escura e castanha e mesmo na iluminação interior podia ver que estava muito queimada do sol, como se ele passasse a maior parte do tempo fora de casa. — Hadrian Braxton-Lowell, o nono Duque de Clayborough — entoou o mordomo. Uma longa sequência de vários outros títulos do duque se seguiu. O duque fez uma pausa, sua postura impaciente e descuidada, mas o mordomo mal havia terminado a introdução antes dele descer os degraus até o salão de baile. Nicole se adiantou, observando-o enquanto uma mulher esplendidamente vestida, claramente a anfitriã, o cumprimentava. — Lady Nicole Bragg Shelton — o mordomo estava dizendo. Nicole não o ouviu, seu coração estava em sua garganta. De repente, estava extremamente consciente de suas pernas nuas e pés descalços e sentiu como se a multidão inteira estivesse olhando para ela, o que eles estavam, é claro, porque ela tinha acabado de ser anunciada e logo depois do Duque. Um silêncio caiu sobre a multidão e ela rezou que fosse por causa do duque e não por causa de sua aparência nessa fantasia. Mas ele também se virou e olhou para ela. Nicole levantou a cabeça. Descalça, como seria um verdadeiro cigano, com pulseiras nos braços, o cabelo caindo até a cintura, as saias rodando acima das panturrilhas, ela desceu graciosamente as escadas. As pessoas começaram a sussurrar. Nicole teve uma sensação horrível de que eles estavam falando sobre ela. Ela estava certa, nunca deveria ter vindo. Ninguém havia esquecido e sua fantasia era ousada demais para um baile. Infelizmente ela vislumbrou Stacy Worthington em pé na frente da multidão, vestida com um vestido regente branco, um tipo de traje perfeitamente adequado. Stacy não estava estupefata, estava sorrindo. Nicole esqueceu tudo sobre Stacy Worthington. O duque estava olhando para ela. Ele tirou o fôlego dela. De alguma forma se moveu em direção a sua anfitriã sem cair em um desmaio. — Lady Adderly — murmurou ela, fazendo uma reverência. A viscondessa piscou para ela. Nicole sentiu os olhos do duque queimando nela. — Oh sim, lady Shelton, que bom que você veio. E que fantasia... charmosa ... Nicole não pôde sorrir ainda não conseguia respirar. Mas ela não tinha certeza se era porque ela ainda estava sendo admirada por centenas de convidados, ou se era porque ele estava tão perto dela que ela fantasiava que podia sentir o calor de seu corpo poderoso. — Obrigada — ela murmurou. — Um traje magnífico — disse o duque, elevando a voz sem qualquer esforço aparente. Nicole girou e encontrou seus olhos. O chão pareceu sair de debaixo dos pés dela. Era bonito. Devastadoramente bonito, devastadoramente masculino. Ele quase a ultrapassou. Seus olhos escuros pareciam comandar os dela e ela foi mantida cativada em seu poder. — Você é única, lady Shelton — ele disse abruptamente, seu olhar deslizando por seu corpo. — E eu, por exemplo, acho refrescante. Assim como abruptamente virou as costas para ela, acenou para a sua anfitriã e saiu deixando as duas mulheres ali sozinhas. — Única— disse Lady Adderly, como se não pudesse acreditar. O coração de Nicole começou a bater de novo, um êxtase selvagem a encheu, reconheceu suas palavras como um elogio. Deus, aquele homem lindo a havia elogiado! Ela se viu flutuando no meio da multidão, as pessoas ainda olhavam, mas só suas palavras soavam em seus ouvidos , estava alheia a todos ao seu redor. — Um traje magnífico ... você é única, lady Shelton ... Nicole se encontrou segurando uma taça de champanhe, seu pulso estava batendo rapidamente e ela se sentiu excessivamente quente. Ela examinou a multidão e o viu instantaneamente. Para seu choque, ele estava olhando fixamente para ela. Eles estavam separados por léguas, não podia ver claramente os olhos dele, mas se sentia queimada por seu olhar. Podia ver a intensidade em seu rosto, não conseguia desviar o olhar até que ele ergueu o próprio copo de champanhe como se estivesse brindando com ela, ou com eles. Rapidamente Nicole se virou. O duque de Clayborough. Quanto tempo ele estaria no Chapman Hall? Ele era casado? E o que estava acontecendo com ela? Ela era uma massa de nervos trêmulos e não conseguia tirar os olhos dele. Ele estava ouvindo vários senhores e senhoras, parecendo um pouco entediado e impaciente como tinha estado quando entrou pela primeira vez na sala. Stacy Worthington estava a seu lado olhando-o com adoração. Nicole sentiu uma pontada de ciúmes profunda, rápida e quente. A intensidade disso a surpreendeu. E então, como se sentisse o olhar dela, o duque se moveu e perfurou-a diretamente com o olhar novamente. Nicole sabia que deveria deixar cair os olhos, mas ela não... ela não podia. Um olhar elétrico passou entre eles. — Cara Nicole, há quanto tempo... A atenção de Nicole foi forçada a se retirar do duque, assim como viu seus lábios parecendo se curvar em um sorriso sarcástico. Ela reconheceu a mulher de cabelos grisalhos como a marquesa de Hazelwood e ficou tensa. Essa mulher tinha sido uma das maiores caluniadoras após o escândalo. Mas agora a marquesa sorria como se fossem velhas amigas. — É tão bom ver você de novo, Nicole. Meu Deus, você pode imaginar? O Duque diz que você é bem única. Nicole não sabia que jogo a marquesa estava jogando, mas ela não faria parte dele. — Sim, já faz algum tempo, não é mesmo? — Sua voz era fria, porque não se esquecera de como essa mulher a havia cortado há quatro anos. — Oh, eu acredito que já faz quatro anos desde a festa em Castleton, você se lembra daquela pequena festa? A marquesa certamente tinha que lembrar como ela havia puxado sua espada verbal e cortado Nicole em fatias na frente de uma dúzia de convidados de Castleton, mesmo indo tão longe a ponto de chamá-la de inaceitável, sabendo que Nicole podia ouvir cada palavra dela. Mas agora ela sorria como se aquela noite nunca tivesse ocorrido. — Oh, há tantos casos, suspirou. — Ela ergueu os óculos, estudando o traje de Nicole. — Sim, posso ver como o duque acharia seu traje bastante singular. Por favor, avise para a próxima vez que estiver perto de Hazelwood e dê meus cumprimentos à condessa e ao conde — Apertando a mão de Nicole de maneira amigável, ela se virou. Nicole estava atordoada e indignada não era boba e sabia que a marquesa a convidara para Hazelwood apenas porque o duque a aprovara. Fumegou interiormente, se o duque não tivesse estado aqui esta noite ou se ele não tivesse aprovado seu traje, ela não teria sido nem um pouco amigável... Nicole estava certa de que a resposta era não. Nicole bebeu outra taça de champanhe movendo-se, procurando o duque discretamente na esperança de esbarrar nele. Para sua surpresa, muitos dos convidados a procuraram estendendo convites. Não podia estar satisfeita, mas pela primeira vez percebeu a extensão do poder que alguém como o duque exercia. Esta noite ele não tentou ser seu protetor sua declaração tinha sido honesta, mas descuidada. De repente, era como se o escândalo nunca tivesse existido. — Você não parece feliz, Lady Shelton — sua voz profunda veio de trás dela. Nicole ofegou girando tão rapidamente para encará-lo, o champanhe espirrou sobre a borda de seu copo. Ele ficou tão perto dela que seus seios cobertos apenas por uma fina camisa sob a blusa de seda roçaram o braço dele. Horrorizada, corando recuou descontroladamente, derramando mais champanhe. O olhar em seus olhos quando ele pegou o seu copo foi difícil de ler. Sua cor não era muito marrom-escura, mas o rico ouro do xerez. Ela pensou que ele poderia estar se divertindo e a mão dele pegando seu copo tocou a dela e pareceu acariciar sua própria alma... Queimou. — Deixe-me reabastecer isso — Ele não precisou se mover, pois um criado se materializou atrás dele com uma bandeja de taças borbulhantes. O duque pegou uma para si e lhe entregou outra. — Por que você está zangada? Nicole rapidamente tentou recuperar seu juízo. — Eu não estou exatamente com raiva — disse ela com cuidado. De perto, ele foi ainda mais impressionante do que de longe e seu impacto foi ainda mais enervante, se viu encarando sua boca e se perguntando como seria ser beijada por ele. Quando percebeu o rumo de seus pensamentos, ficou horrorizada. — Você certamente não está com raiva agora — seu olhar se movendo lentamente sobre ela. Havia algo em seu tom que provocou uma resposta instantânea nela, algo íntimo de que Nicole era muito inexperiente para definir. Nicole sentiu os seios se apertarem como se ele realmente a tivesse tocado. — Eu não estou com raiva agora — ela respirou. Sua voz era rouca, uma carícia baixa. — Bom. Eu não gostaria que você ficasse com raiva de mim, não agora quando acabamos de nos conhecer. Havia significados ali, vastos significados em suas palavras e Nicole tinha medo de adivinhar o que poderiam ser. Ela desejou que sua expressão fosse menos impassível, menos controlada. Seu semblante era severo, inescrutável e ela não tinha a menor ideia do que ele estava pensando ou por que a procurara. Mas quando seus olhos seguraram os dela seu coração deu cambalhotas. — Eu nunca poderia estar com raiva de você — ela se ouviu dizer. Então ela corou, pois soava como uma coisinha tímida e era exatamente esse tipo que ela não podia tolerar. — Ah, mas há o outro lado a considerar, pois imagino que sua raiva é como o resto de você, tão nova e tão estimulante. Ela ficou sem fala, pois não havia resposta possível para isso, assim como não conseguia imaginar o que ele estava dirigindo. — É isso? — Eu não sei. — Ela estava completamente desfeita. — Não tenho dúvidas — e sua voz baixou muito — assim como não tenho dúvidas de que sua originalidade se estende muito além do domínio público. Ela pensou em como andava por Dragmore, vestida de homem. Aqui, pelo menos era um terreno seguro. Seu olhar era direto e ela respirava com mais facilidade. — Sim. Ele prendeu a respiração bruscamente, seus olhos de repente brilhando. Nicole teve a nítida impressão de que ele não a entendera e de fato, aplicara um significado às palavras dela que ela não pretendia. Envergonhada por sua preocupação, Nicole procurou um território absolutamente seguro para conversar. — Somos agora vizinhos — ela disse educadamente. — Chapman Hall não fica longe de Dragmore, de modo algum. — Que conveniente — ele respondeu secamente. — Então seria apenas minha vizinha que convidaria para a minha casa, não é? Ela foi mantida em cativeiro por seus olhos dourados. Não podia acreditar em seus ouvidos. Ela sorriu e não entendeu por que ele voltou a inspirar. — Passeio pelo Chapman Hall com frequência — disse ela ansiosamente. — Eu tenho certeza que você faz. Então, da próxima vez que você estiver passando, você deve fazer um pequeno desvio e dizer olá. — Suas palavras carregavam todo o peso de um comando ducal. — Eu irei — Nicole falou apaixonadamente. — Eu devo ir. Capítulo 2 O duque de Clayborough retornou a Chapman Hall perto da meia-noite, seu humor mais do que irritado. Ele odiava ser festejado não tendo absolutamente nenhuma ilusão sobre por que as pessoas lhe serviam. Ele era recluso por natureza e sua popularidade baseava- se apenas em seu título, riqueza e poder. Ele tinha pouco respeito pelos gostos dos Adderlys que o bajulavam e se faziam, em sua opinião, completos idiotas. Nunca gostou dos bailes e saraus infinitos que muitos de seus colegas pareciam deleitar-se. Ele os achava um desperdício de seu tempo, seus interesses sempre foram em outro lugar. Passou os últimos doze anos, desde que era um jovem de dezoito anos, administrando as vastas propriedades de Clayborough, enquanto seu pai, Francis, o oitavo duque, acumulava uma dívida que finalmente alcançou a incrível soma de um milhão de libras. Enquanto Francis estava se entregando a todos os seus vícios, seu filho estava lutando para administrar as propriedades em uma depressão econômica. As propriedades de Clayborough ocupavam quase duzentos mil acres e continham quase cem fazendas, as propriedades espalhadas por Sussex, Kent, Derbyshire e até Durham. Como a maioria da nobreza, o duque tinha uma riqueza e subsistência baseada na agricultura. No entanto, os britânicos sofreram severamente nas últimas décadas, incapazes de competir com os produtos que eram colhidos por máquinas, que a América estava exportando. A agricultura tinha sido o ponto crucial da fortuna da família Clayborough por centenas de anos e foi preciso mais do que disciplina e trabalho duro para combater a maré que se voltou contra ela. Foram necessárias novas estratégias ousadas e inovadoras. Enquanto Francis passava seus dias em salões de jogos e suas noites em lugares que só Deus sabia onde, o astuto jovem herdeiro estava investindo no comércio, na área imobiliária e financeira de Londres. Mas as dívidas de Francis continuaram a aumentar e continuaram a ser uma terrível perda para as propriedades. Aqueles dias acabaram. O duque não sentia nem um pouco de tristeza pelo fato de seu pai abandonado ter morrido há dois anos, na cama com outra pessoa que não sua esposa. O detalhe mais sórdido era que o amante de Francis fora um homem jovem — o caso foi efetivamente silenciado por seu filho antes que qualquer dano a mais pudesse ser feito. Não que os caminhos de seu pai fossem um segredo. O duque também não tinha ilusões quanto a isso. Tinha certeza de que toda a sociedade sabia exatamente o tipo de homem que o oitavo duque tinha sido, assim como sabiam que ele era exatamente o oposto. Seu pai apreciava todas as festas e caçadas de fim de semana, os bailes e o alvoroço, nunca se retirando antes do amanhecer e nunca se levantando antes do meio-dia. O duque acordava de madrugada e geralmente se retirava antes da meia-noite. Seus assuntos de negócios exigiam sua atenção constante e era conhecido por trabalhar até tarde da noite. Não foi inteiramente disciplina, parte disso era uma ambição ardente que tinha certeza que vinha do lado materno da família. Os de Warennes eram conhecidos por seu senso de negócios perspicaz, que até a duquesa viúva de Clayborough possuía em abundância. Quando o duque mergulhou nos assuntos de Clayborough, ele trabalhou lado a lado com a mãe, espantado com a forma como ela administrava as propriedades nas últimas duas décadas, sem nenhuma ajuda do marido. Estava irritado esta noite porque era tarde e tinha uma agenda completa para o dia seguinte, se levantaria como de costume, com o sol. Ele não era desumano, embora muitos parecessem pensar que ele era e se não dormisse logo, amanhã estaria cansado. E esta noite não passara de uma perda de tempo e energia. Ele entrou no Chapman Hall seu mordomo, Woodward e seu criado, Reynard, estavam esperando por ele e o chefe dos lacaios, Jakes, acompanhou-o. Woodward pegou seu manto preto e carmesim sem que o duque sequer percebesse. — Isso vai ser tudo, sua graça? — Vá para a cama, Woodward — ele acenou para ele com desdém. Esta noite não foi exatamente uma completa perda de tempo, pensou seu pulso acelerando. A imagem cigana apareceu vividamente em sua mente. — Nem eu preciso de você, Reynard. Obrigado, Jakes. Boa noite. Reynard e Jakes desapareceram, mas Woodward tossiu e o duque parou antes de subir a escada. Ele levantou uma sobrancelha. — A Duquesa viúva chegou esta noite, Vossa Excelência. Foi inesperado mas nós a acomodamos e a colocamos na sala azul na ala oeste. Parecia estar nas melhores condições, Vossa Graça. — Muito bem — disse ele. Quando subiu as escadas, sua testa franziu. O que sua mãe estava fazendo ali, sabia que não era uma emergência terrível, pois se tivesse sido, a duquesa viúva estaria de pé e esperando por ele andando impaciente por mais tardia que fosse a hora. Ainda assim, as propriedades estavam em Derbyshire, o que não era fácil de se fazer e se ela tivesse vindo de sua casa em Londres, isso teria significado uma jornada de quase meio dia. Ela não veio apenas para conversar, algo importante estava em sua mente. Mas teria que esperar até amanhã. Amanhã. Seu corpo ficou tenso. Será que a completamente sedutora Lady Shelton passaria por ali? Um sorriso curvou seus lábios, seu primeiro sorriso real da noite, revelado apenas na privacidade do quarto principal e compartilhado apenas com o Borzoi, que estava batendo seu rabo entusiasticamente em saudação ao seu mestre. Clayborough se despiu, ainda estava chocado com a sua admissão de que ela era tão original em privado quanto em público e novamente, pela enésima vez, a imaginou nua em sua cama, montada nele, devorando-o com sua selvagem paixão cigana. Em sua imaginação ele era um pouco passivo como nunca fora em toda a sua vida. A fantasia o despertou insuportavelmente e não era um homem que sucumbia aos devaneios. Ela era mais que original era ousada e adivinhou que era imprudente também. Claro, sabia que ela estava de alguma forma relacionada ao Conde de Dragmore, a quem conhecia, admirava e respeitava. Nicholas Shelton era muito parecido com ele: um trabalhador duro e disciplinado e um homem de negócios inteligente. Ela era sua nora? Alguma prima, talvez? Obviamente ela era casada, pois não era a sua primeira temporada e suas maneiras ousadas, especialmente estar desacompanhada e em tal traje confirmavam isso. O duque estava acostumado a mulheres casadas que se atiravam a seus pés e faziam tudo o que podiam para entrar em sua cama. Apesar de não se entregar a jogos de azar, ao álcool ou a outras atividades que o impediam, nunca conseguiu recusar uma mulher bonita, embora raramente se incomodasse em ser o perseguidor. Ele sempre mantinha uma amante também, é claro, mas se cansava rapidamente desses relacionamentos e estava continuamente mudando de ligação. Estava bem ciente de que tinha uma reputação de ser um mulherengo cruel, mas isso não o incomodava, pelo menos não era sodomita como seu falecido pai. Ocorreu-lhe que Lady Shelton seria uma boa amante, não a conhecia bem, mas sentiu. Infelizmente, como era casada, levá-la como sua amante estava fora de questão e teria que se contentar com um caso. Normalmente seus interlúdios com mulheres casadas eram ainda mais curtos do que suas relações com suas amantes. Raramente tinha tempo para as reuniões clandestinas exigidas por uma mulher casada, geralmente um tombo ou dois bastavam. Lady Shelton o interessava mais do que um pouco, não achava que algumas noites seriam suficientes. Ele suspirou, aborrecido com o inconveniente que isso lhe causaria. A duquesa viúva também era uma madrugadora fora de moda. Isobel de Warenne Braxton-Lowell tinha adquirido o hábito plebeu nos primeiros anos de seu casamento, quando Francis entrou pela primeira vez em seu patrimônio após a morte do sétimo duque. Não levara muito tempo para ver que Francis não tinha intenção de mudar seus modos de raciocínio. Quando as contas começaram a se acumular, ela finalmente contratou um chanceler para atendê-las. Foi um choque grosseiro descobrir que os fundos eram desesperadamente escassos e que as propriedades estavam murchas, mas nada como o choque grosseiro que o seu casamento causara. E isso foi apenas o começo. Alguém teve que administrar o ducado enorme. Isobel tornara-se alguém assim e quanto mais adepta se tornava, mais irritado ficava Francis. Já passava das seis da manhã e Woodward serviu o chá de uma urna prateada, que apontava para a situação dos proprietários anteriores de Chapman Hall, tão eloquentemente quanto os terrenos escassos e o gasto chão de carvalho. Nenhum dos conhecidos da duquesa viúva usava bandejas de prata, especialmente bandejas de prata manchadas e amassadas. Apesar da hora, Isobel estava vestida em um elegante conjunto de dia azul, o vestido de gola alta com largas mangas, a cintura excessivamente estreita, a saia em forma de sino e plissada nas costas. Isobel tinha cinquenta e quatro anos, mas sua figura era de uma mulher de vinte e poucos anos e ela passou com delicadeza. Da mesma forma, exceto pelas rugas nos cantos de seus vívidos olhos azuis e as linhas de caráter ao redor de sua boca, sua pele era suave como marfim e com a ajuda de cremes especiais luminescente. Seu rosto era um oval perfeito, alta dama e patrícia, do tipo que se veste bem, ainda era bonita e atraente, quando jovem tinha sido uma grande beleza. Agora, para combinar com a cara seda azul de seu vestido usava brincos de safira e uma larga pulseira de diamantes, intercalada com mais safiras. Uma grande safira alada com dois pequenos rubis piscou da mão direita, não usava as alianças de casamento. Na verdade, ficara aliviada em finalmente deixá-las descansar junto com seu marido morto. — Eu pensei em te encontrar — comentou o duque entrando no quarto com calças apertadas, botas e camisa branca solta. — Bom Dia mãe. — Foi diretamente para ela e beijou sua bochecha. — Bom Dia. — Isobel estudou-o quando ele se sentou ao lado dela na cabeceira da mesa de mogno marcada. Grande quantidade de orgulho a varreu enquanto o observava. Ele era seu único filho e o concebera relativamente tarde em seu casamento, sete anos depois de se casar, aos 24 anos de idade. Não foi apenas a sua aparência marcante que a emocionou, ou seu comportamento viril, mas tudo sobre ele. Pois era um homem honrado, um filho que qualquer mulher teria orgulho: Tão forte, sólido e responsável quanto Francis tinha sido fraco, desonesto e irresponsável. Mesmo sabendo o que ela fazia tudo por ele, ficava entristecida, pois mesmo no homem adulto poderoso, ainda vislumbrava o menino sombrio que nunca teve a infância que deveria ter tido. — Tenho medo de perguntar — disse o duque enquanto Woodward lhe servia café preto e rico. — Mas o que te traz aqui? Em vez de responder, Isobel disse: — Como foi o baile ontem à noite? — Outro criado trouxe-lhes pratos de ovos, bacon e peixe defumado. O duque sorriu ligeiramente. — Um maldito incômodo é claro. Ela o olhou imaginando o que seu sorriso pequeno e satisfeito significava, depois agradeceu educadamente a Woodward ao sair da sala, estavam sozinhos. — Estou preocupada com Elizabeth, Hadrian. À menção de sua noiva, o duque fez uma pausa, o garfo erguido. — O que está errado? — Talvez se você passasse mais tempo com ela, não teria que perguntar — disse Isobel gentilmente. O duque colocou o garfo no prato. — Clayborough não pode seguir sozinha mãe, como você, de todas as pessoas, deveria saber. — Eu sei, mas seus caminhos se cruzam cada vez menos e eu sei que isso a incomoda, até mesmo a machuca. O duque olhou sombriamente. — Então eu sou negligente — ele finalmente disse. —Porque eu não iria machucá-la, não propositadamente. Ela é tão ocupada em Londres com a agitação social, eu pensei que a fazia feliz. Não me ocorreu que pudesse ter saudades de mim. — É claro que ela é feliz em Londres, mas você é seu prometido. Em alguns meses vocês vão se casar. As pessoas estão começando a conversar. — É isso que você veio me dizer? — Não, eu a vi anteontem, Hadrian e enquanto ela tenta fingir que tudo é como deveria ser, está claro que não está bem. — Ela está doente? — Eu estou com medo. Está muito pálida e perdeu peso. Eu finalmente perguntei a ela diretamente e foi necessário algum estímulo, pois você sabe como Elizabeth é, nunca querendo sobrecarregar ninguém, Deus me livre! Mas finalmente confessou estar cansada o tempo todo e embora não esteja comendo menos, perdeu peso suficiente para que todos os seus vestidos tivessem que ser alterados. Eu a encorajei a ver um médico, mas riu de mim e disse que é apenas fadiga e vai passar. — Bem, isso não soa como se ela estivesse em péssimas condições, mãe ou iria a um médico. Eu estarei em Londres em uma semana ou duas, assim que terminar aqui. Vou investigar o que está precisando de tratamento médico, você pode ter certeza que ela vai recebê-lo. Isobel sabia que ele cumpriria cada palavra, pois nunca deixava de cumprir suas obrigações. Embora mantivesse uma amante como a maioria dos homens, sabia que ele seria um bom marido. Quando estava com Elizabeth sempre foi cortês, gentil e respeitoso e não era um jogo, era de sua natureza. Ele nunca lhe negou nada, nem mesmo um pedido para participar de alguma função, embora odiasse muito e fosse um homem ocupado. Não era abusivo de nenhuma maneira e mantinha seus assuntos discretos. Isobel sabia que ele gostava de Elizabeth, porque eram primos. De fato, Hadrian tinha doze anos, Elizabeth dois, quando foram prometidos. Isobel sabia que Hadrian não sentia nenhum amor ardente por Elizabeth, cuidando dela como alguém poderia cuidar de uma irmã, assim como tinha certeza de que Elizabeth o amava e não como alguém amaria um irmão. Isso, claro, não era da conta dela. O mais importante era que Hadrian e Elizabeth eram amigos e que Hadrian sempre a honraria e respeitaria. Isobel tinha visto o suficiente do mundo para saber que a amizade não era uma base ruim para um casamento, pois apenas alguns poucos tiveram a sorte de experimentar o amor, muito menos de amar o cônjuge. Ela foi levada de volta para outra época, para outras praias e ficou triste. Mas o momento passou. O duque comeu rapidamente, considerando o que sua mãe lhe dissera. Ele não ficou alarmado, embora Isobel devesse estar ou ela não teria ido até Chapman Hall. Sua primeira ordem de negócio quando voltasse a Londres seria discutir a saúde de Elizabeth com ela e não seria enganado se ela estivesse de fato doente. Também iria acompanhá-la ao teatro e outras bobagens. Mais uma vez, a duquesa viúva estava certa e ele se sentiu culpado. Estava muito imerso nos negócios de suas propriedades e negligenciara sua noiva. Era diferente dele, se tivesse calculado corretamente, não a via há mais de um mês. Não havia desculpa, uma vez casados não deixaria que tal padrão se desenvolvesse novamente. O duque pediu licença para assistir as obras do Chapman Hall, que estava em uma condição tristemente negligenciada. Ao sair da mesa seus pensamentos mais uma vez se voltaram para a atrevida cigana lady Shelton. Ele flertara com ela na noite anterior como um idiota superficial, não era um paquerador, nunca fora. Ele realmente a perseguiu, a convidara para Chapman Hall e agora lamentava ter feito isso. Embora Isobel provavelmente fosse embora amanhã, ele absolutamente não poderia permitir que ela conhecesse Lady Shelton, uma futura amante, seria o máximo de impropriedade e desrespeito. Não estava pensando muito claramente na noite passada, a realidade o perturbou. O duque passou a manhã terminando a revisão da pequena propriedade, que cobria apenas 20 acres, pois não passava de uma casa de campo para seus antigos donos. Ele retornou ao salão a tempo para um jantar de cordeiro, que participou com sua mãe. Isobel estava cavalgando, ela era uma ávida amazona e disse que partiria na manhã seguinte para voltar a Londres. Ele compartilhou alguns de seus planos para Chapman Hall com Isobel, que como sempre estava profundamente interessada em qualquer coisa que tivesse a ver com o império ducal. Eles estavam terminando a refeição quando Woodward apareceu, anunciando uma visita. O duque não precisou saber quem era, ele sabia. Mas Woodward informou-o seriamente que o visitante era Lady Nicole Shelton, embora ele mal tivesse ouvido. Sua mãe estava olhando para ele estranhamente, dizendo: — Lady Nicole Bragg Shelton de Dragmore, Hadrian? O mais leve rubor tingiu suas altas maçãs do rosto quando se levantou abruptamente. — Eu tenho um compromisso para cavalgar — disse secamente, seu tom cortando quaisquer outras questões, saiu apressado deixando-a boquiaberta atrás dele. Woodward conduziu-o até a pequena sala de visitas do vestíbulo com piso de ardósia. A porta estava aberta e os passos do duque desaceleraram quando a viu. Uma necessidade primitiva surgiu nele e se tornou um macho perseguidor. Estava sentada no sofá e imediatamente ficou de pé, seu olhar travando com o dele. Ela não era uma cigana louca hoje, mas era mais fascinante do que na noite anterior. Usava um traje de cavalgar cor verde garrafa com um chapéu combinando, o cabelo preso e fora de vista. Ela segurava luvas pretas de couro e um chicote de equitação, torcendo o primeiro em suas mãos. — Estou feliz que você tenha vindo — ele disse baixo, parando na frente dela. Seu olhar varreu suas características requintadas e sim, ela era tão incrivelmente bonita quanto ele se lembrava. Não foi sua imaginação correndo solta. Ela fez uma reverência, mas a parou, levantando-a de volta. — Por favor, sem formalidades, acho que isso seria ridículo dadas as circunstâncias, não é? Ela piscou para ele seus olhos eram tão pálidos que eram quase prateados. Ele se perguntou se ela já o ouvira ou se entendera. Às vezes, o deixava perplexo com seu rubor e confusão, como se não fosse uma dama de experiência. Ou talvez estivesse tão desfeita com a atração física que corria entre eles como ele próprio parecia estar. — Obrigada, Sua Graça — ela disse sua voz baixa e rouca. Ele ouviu passos no corredor e endureceu, sabendo que era a duquesa viúva. Não havia saída graciosa para a situação, teria que apresentá-los a mandíbula do duque se apertou. Isobel entrou no vestíbulo parecendo perturbada seu olhar indo da visitante para si mesmo. O duque pensou ter lido desaprovação nos olhos dela e isso o perturbou, assim como o encontro dela com lady Shelton. — Lady Shelton, a duquesa viúva de Clayborough — ele disse formalmente, seu tom de voz não dando absolutamente nenhuma indicação de que algo estava errado. As duas mulheres trocaram cumprimentos. Isobel disse: — Você não vai se juntar a nós para o chá, Lady Shelton? Woodward, por favor, traga-nos alguns refrescos. O duque a interrompeu, segurando o braço de Nicole com firmeza. — Sinto muito mãe, mas como eu disse, temos um encontro de montaria. Antes que Isobel pudesse insistir em que ficassem, viu pela sua expressão que ela o faria, ele estava levando sua convidada para fora do salão e através do vestíbulo. — É um dia lindo e seria uma pena se não aproveitássemos — comentou, pensando em como logo tiraria vantagem do que ela lhe oferecia. — É claro — Nicole gaguejou, aparentemente nervosa com uma saída tão abrupta. Ela lançou um olhar por cima do ombro. O duque não tinha a menor dúvida de que sua mãe estava ali na varanda, sabendo exatamente o que ele tinha em mente e chocada por ele ser tão indiscreto com isso. Mas então ficou bastante chocado mais isso não mudaria suas intenções de modo nenhum. Capítulo 3 Nicole tentou olhar de novo por cima do ombro enquanto o duque a conduzia com firmeza pelos degraus baixos e para longe da casa. A duquesa viúva seguiu-os e ficou olhando para eles em choque e desaprovação. O desânimo de Nicole aumentou. A mãe do duque estava claramente descontente com o interesse do filho por ela, devia saber tudo sobre o passado sórdido de Nicole, assim como todo mundo sabia. Mas então suas palavras com seu tom rouco e íntimo afugentaram todos os pensamentos da duquesa viúva. — Eu esperava que você viesse hoje, Nicole. Estavam nos estábulos e ele estava ordenando a um lacaio que trouxesse suas montarias. Os olhos de Nicole estavam arregalados, fixados em suas feições marcantes a chamara de Nicole, tudo estava acontecendo tão rápido e era como um sonho se tornando realidade. Na noite anterior não conseguira dormir, seus pensamentos nadando com a imagem dele, recordara todas as palavras que lhe dissera no baile de máscaras. Nicole nunca se interessara por homem algum antes, mas agora entendia a atração entre os sexos. E o que estava sentindo não podia ser mais que amor. — Eu espero que você não se importe em chamar você de Nicole. — Como eu poderia me importar? — Murmurou, seu tom e olhar enviando arrepios através de seu corpo. — Bom, então vamos dispensar todas as formalidades e você pode me chamar de Hadrian. — Hadrian — ela sussurrou, incapaz de desviar o olhar. O lacaio apareceu com os cavalos e o duque se afastou dela para verificar o tamanho de sua montaria. Nicole aproveitou a oportunidade para deleitar seus olhos nele. Ontem à noite tinha sido arrojado e inegavelmente masculino em sua roupa preta de noite, mas hoje era ainda mais viril na aparência. Seus calções de montaria, feitos do mais fino e macio tecido, abraçavam suas poderosas coxas como uma segunda pele. Ele se virou para ela que rapidamente baixou o olhar, rezando para que não a visse olhando tão avidamente, tão descaradamente. Cavalgaram ao longo de um caminho pelos campos. O duque elogiou seu gosto em raça de cavalo, admirando sua égua castanha de sangue. Nicole montava seu próprio cavalo, um garanhão puro- sangue de temperamento quente. Mas hoje ignorara suas próprias inclinações, pois queria muito causar uma boa impressão. Estava andando de lado para o seu benefício. Assim como duas empregadas a ajudaram a se vestir e a pentear, toda a toilette tomou duas longas e intermináveis horas. Ela pensou que ele estava satisfeito com ela, tinha valido a pena. Chapman Hall estava muito atrás deles agora, perdido atrás de uma linha de carvalhos altos e espessos. O caminho serpenteava pela floresta e à frente deles havia uma clareira, onde um riacho balbuciava. — Vamos andar — disse o duque abruptamente, deslizando com força para o chão. Nicole não se importou com o que eles fizeram, parou a égua enquanto ele se aproximava, ela escorregou direto para os braços dele. Ela endureceu de surpresa enquanto suas mãos se fechavam em seus braços, seus joelhos se tocaram. Ele esperou muito mais tempo do que o necessário antes de se afastar dela. Então sorriu como se não a tivesse abraçado. Isso mudou completamente sua expressão proibidora. Nicole ficou sem fôlego. Como tal homem poderia estar interessado nela? Mas ele estava, porque já não lhe dissera que esperava que ela fosse ao Chapman Hall naquele dia? — Vamos andar? — ele perguntou. A língua de Nicole estava amarrada, conseguiu assentir, esperando que ele não a achasse uma idiota completa. Tentou pensar em um assunto adequado de conversa, mas ele pegou sua mão e toda a coerência fugiu de seus pensamentos. Um silêncio tenso pareceu se estender entre eles enquanto passeavam ao longo das margens do riacho, o duque tendo tomado as rédeas dela e conduzindo os dois cavalos. Nicole estava mais que sem palavras agora, seu coração estava martelando. Nunca tinha sido tão consciente de um homem quanto era do duque de Clayborough. Mas tinha que dizer alguma coisa ou ele começaria a pensar que ela não passava de uma idiota fêmea tola e obcecada. Ele deve ter percebido sua aflição, pois falou, invadindo a quietude da tarde. — Você parece ser uma amazona muito hábil. Ela era muito mais do que hábil, mas a modéstia era considerada uma virtude em uma dama. — Sim — ela concordou com ele. Procurou algo mais a dizer afinal se ela não pudesse expor sobre o assunto dos cavalos, o que ela poderia discutir? — Eu... eu gosto muito de andar. Ele inclinou um olhar para ela. — Eu gosto muito de andar também. Seu tom mudara e ela engoliu em seco. Era quase como se houvesse outro significado para suas palavras. — Eu monto quase todos os dias. Ele estava olhando para ela. — Seus passeios são dóceis Nicole ou perigosos? — Seu tom era baixo. Ela piscou. Ela só podia pensar em como ela preferia viajar a uma velocidade alucinante em todo o curso de caça. — Perigoso. — Ela não conseguia entender onde essa conversa estava levando. — Perigoso — repetiu lentamente. Ele parou e ela também, porque ainda segurava sua mão — Quão perigoso? — Eu não sei. — Seu olhar estava enervando-a. Como era seu tom de voz. — Você acha o perigo excitante? Não havia nada mais emocionante do que dar um salto de quatro pés em alta velocidade. — Sim — ela sussurrou. Sua mão apertou a dela por um momento pareceu que ele não podia falar. — Você é tão diferente das outras. Eu nunca conheci uma mulher antes que admitisse que é atraída pelo perigo de seus passatempos. Nicole piscou para ele. Era um elogio, ou ela pensava que era, embora mal pudesse pensar em tudo. — Vamos continuar? — ela sussurrou. — Como parceiros de equitação? — ele voltou. — Parceiros? — gaguejou, incapaz de acreditar em sua boa sorte e de não o entender. — V-você gosta de caçar também? Ele se aproximou dela pegando sua outra mão. Nicole arregalou os olhos. O aperto dele nas palmas das mãos dela era duro. Não poderia ter se afastado mesmo se quisesse, o que ela não fez. — Não até hoje — ele disse duramente. — Quão bom é cavalgando, Nicole? Nicole não conseguia mais pensar. Ele estava enrolando-a em seus braços e ela sabia, ela só sabia, que ele ia beijá-la. — Vai ser muito bom — ela sussurrou. — Eu imagino que você é soberba — disse ele. Suas mãos deslizaram até os cotovelos e seus corpos se tocaram. Nicole nunca havia sido beijada antes. Na verdade, ela nunca imaginou o que poderia ser atraente sobre um homem cobrindo sua boca com a dele até a noite passada. Ontem à noite ela tinha sonhado com seus beijos, imaginando sem parar e sem vergonha como seria e agora, querido Deus, ela estava prestes a descobrir. — O tempo de fingimento acabou — disse ele. — Eu quero você, Nicole. Eu te quero muito. Nicole mal podia acreditar no que estava ouvindo. Suas coxas se tocaram, seus seios roçaram a frente de sua camisa. E então sua boca cobriu a dela, o beijo lento, suave e delicado. Um desejo arrebatador encheu Nicole enquanto sua boca provocava e a seduzia. Ela se esforçou contra ele, seu ardor natural, até mesmo inocente e suas mãos instantaneamente apertaram, quase a machucando. A pressão de seus lábios mudou de repente e ele a estava devorando. Nicole engasgou, pressionou contra ele de ponta a ponta, com os braços em volta dela sua boca era feroz, quase brutal, exigindo rendição instantânea. Ela se abriu para ele e ficou chocada quando a língua dele entrou em sua boca. Ele a saqueou, enquanto ela foi varrida pelo desejo quente. Cheia de uma necessidade súbita e desesperada, ela tocou a língua na dele. Sua resposta foi instantânea. Ele gemeu suas mãos descendo até as nádegas dela, agarrando-as firmemente, levantando- a contra o longo e duro membro de sua masculinidade. Rapidamente, sacudindo os braços, Nicole começou a cercá-lo. Ela estava segurando as dobras de sua camisa, agarrando-se e pressionando-se violentamente contra ele. Abruptamente ele a deitou na grama perto do riacho e cobriu o corpo dela com o seu. Enquanto se acomodava em cima dela, sua masculinidade massiva contra seus quadris, Nicole gritou em um desesperado e aturdido prazer. Ela o sentiu puxar as saias enquanto ela se arqueava contra ele. — Em breve, Nicole — ele murmurou — em breve, eu prometo a você, vou dar-lhe tudo o que você quer, eu vou montar você como você nunca foi montada antes... Nicole mal podia pensar quando a mão dele deslizou sobre o joelho dela, debaixo de suas saias e anáguas, depois sobre a coxa. Ele moveu a boca para o pescoço dela e ela se moveu, gemendo, uma pedra abruptamente cavando na parte de trás de sua cabeça. Seus olhos se abriram e a sanidade atingiu sua força total. Ela estava deitada de costas, no meio na grama e no chão, o duque de Clayborough estava tratando-a como nenhuma dama deveria ser tratada. Ela não queria que ele parasse. Mesmo quando sua mente gritou uma advertência feroz, suas mãos se enterraram no espesso e comprido cabelo castanho-amarelado em sua nuca. Mesmo sabendo que não devia continuar com esse esforço, ela gemeu e se debateu enquanto ele acariciava o interior de suas coxas, apenas o algodão fino de suas meias de renda entre sua carne e a dele. Suas mãos subiram e ele começou a soltar os botões de sua jaqueta de equitação. Este era o Duque de Clayborough, ela conseguiu pensar freneticamente e ela não queria apenas causar uma boa impressão, mas ser sua esposa. Essa necessidade era mais convincente do que qualquer outra necessidade e ela agarrou seus pulsos para detê-lo, gritando. — Não, por favor! Não é assim. Instantaneamente ele ficou parado, não se mexeu por um instante, mas o momento foi de trégua. Apesar da deliciosa agonia em que seu corpo estava, apesar da urgência em suas veias, toda coerência reclamou Nicole. Ela sabia e não havia dúvida, tinha ido longe demais. Nenhuma dama faria o que ela fizera ou permitiria o que ela permitiu. O desânimo a encheu, afugentando todos, menos o desejo dela por ele. De repente, ele saiu de cima dela e se sentou. Não a olhou. — Você está certa eu sinto muito. Não esperava isso e Nicole fechou os olhos brevemente, aliviada. Ela rezou para que seu pedido de desculpas significasse que ele não a condenaria como imoral. Quando abriu ele estava de pé em cima dela, olhando-a, sua expressão inescrutável, o que o fazia parecer ainda mais ameaçador do que antes. Tentou ler os olhos dele, mas estavam escuros e indecifráveis e era impossível. Ele estendeu a mão e Nicole, ruborizada, aceitou. Ele puxou rapidamente e a levantou. Fez um grande show de escovar suas saias, para não ter que encontrar seu olhar novamente, estava com medo de saber o que ele estava realmente pensando, com medo de que tivesse acabado de se arruinar em seus olhos. Como poderia ser de outra forma? Ela, que nunca se importou com o que qualquer homem poderia pensar dela, passou horas se preparando para essa reunião, apenas para arruinar tudo com sua selvageria. — Não é sua culpa — disse ela, passando o vestido. Ela tinha o desejo de chorar. — Eu sei melhor — ele disse calmamente, ainda olhando para ela. — Nenhuma mulher merece ser jogada no chão como uma leiteira. Atônita, rapidamente levantou o olhar para ele. Mais uma vez achou seu semblante insondável. Mas a esperança encheu seu peito. — Você está com raiva de mim? Por um momento, ela pensou que algo brilhou em seus olhos. — Eu não estou bravo com você. — Ele fez uma pausa. — Nenhum homem pode ficar zangado com uma mulher tão bonita. O alívio a inundou e quase caiu, estava muito aliviada para pegar o tom forçado de suas palavras. — Você acha... que eu sou bonita? De repente pareceu confuso. Então sorriu, mas não era nada parecido com o sorriso que lhe dera antes, foi sarcástico. — Claro que te acho bonita, minha querida. Se eu não a conhecesse um pouco, pensaria que você não tem certeza de si mesma. — Ele riu. — Se você insistir em lisonja, eu vou obrigar você. Algo acontecera e Nicole não sabia o que era, viu o cinismo em seus olhos. Não tinha certeza se ele era sincero também, mas então se lembrou de como ele a beijara e não havia nada insincero nisso. — Venha para o Chapman Hall amanhã. — À tarde, eu estarei esperando por você. Nicole assentiu com os olhos arregalados, tremendo, desanimada e alegre. — Eu estarei lá. Ele deu um beijo rápido em sua boca. — É melhor voltar para Dragmore agora. Vou acompanhá-la até que você esteja à vista da casa. Nicole assentiu, também enfeitiçada por ele para fazer algo além de concordar. O duque de Clayborough tinha uma rédea apertada em si mesmo quando retornou a Chapman Hall, o mesmo controle restrito que vinha exercendo desde que praticamente caíra em Nicole Shelton. Ele ficou perturbado, pois não podia negar o que havia acontecido. Era um homem de disciplina, mas acabara de perder a cabeça e todo o seu controle de ferro. Quase tivera uma relação sexual pecaminosa com lady Shelton na grama. Ela o fizera perder o controle momentâneo e não gostou. Para piorar a situação estava cheio de antecipação de seu próximo encontro. E o duque não era um homem que sonhava com as mulheres, ou qualquer outra coisa, não pensava nesse assunto. No entanto já planejava romper seu relacionamento com sua atual amante, a srta. Holland Dubois, assim que retornasse a Londres. Estava entediado com ela desde o mês passado; ele só a visitou meia dúzia de vezes. Para facilitar a separação daria algumas joias e uma quantidade substancial de moedas, pois as amantes ficavam furiosas quando a relação terminava, mas ela não teria dificuldade em encontrar outro protetor, pois era muito bonita, prestativa e muito habilidosa. Talvez ele permanecesse um pouco mais em Chapman Hall. Em vez de ver a Holland, estaria na cama com Lady Shelton. Sua mandíbula endureceu novamente só de pensar no que estava por vir e percebeu que estava perigosamente perto de se apaixonar por ela. Severamente, ele balançou seus pensamentos livres dela. Ficou chocado quando assim que desmontou e entregou o garanhão ao chefe dos criados, Isobel desceu os degraus de Chapman Hall e aproximou-se dele com os passos de um soldado furioso. — Hadrian — ela disse com firmeza. — Entre, vamos conversar. Ele não tinha a menor dúvida de que estava prestes a ser considerado um mulherengo , embora merecesse, não estava com vontade de ouvi-lo. — Mãe, posso lembrá-la de que não sou um menino de dez anos? — Seu tom era muito educado. — Eu não preciso me lembrar disso, Hadrian — ela retrucou. De repente ela voltou para a casa, sem esperar para ver se ele iria seguir. O duque suspirou e intuiu o humor dela. Ficou parado e impotente, observando o tratamento insensível e cruel de seu pai por muitos anos, quando era criança, para não a obedecer neste caso, por mais tola que fosse. Aquele abuso finalmente parou quando tinha quatorze anos. Naquela altura, tinha quase 1,80 metro de altura, vários centímetros a mais que Francis e quase o mesmo peso. Enquanto a força deles poderia ter sido igualada, Francis não tinha o poder da raiva do seu lado, enquanto Hadrian o fazia. Não foi a primeira vez que ele tentou impedir seu pai de abusar de sua mãe. Quando ele era criança, tentou se interpor entre eles, apenas para ter as bofetadas dolorosas que Francis apontou para Isobel ser desviada para ele. Quando cresceu, suas tentativas de proteger sua mãe foram atendidas por um desvio para ele. Quando tinha catorze anos, todos os abusos cessaram. Tanto o que dirigiu a sua mãe, e que sofreu quando tentou interferir, porque Hadrian atingiu seu pai com um golpe determinado em sua mandíbula, fazendo com que Francis desmoronasse a seus pés. Ele começou a bater nele mais duas vezes, até que ele estava friamente satisfeito que Francis nunca ousaria tentar machucar sua mãe novamente. Então agora por mais que se ressentisse de sua interferência, ele a ouviria com respeito e paciência. Isobel prontamente fechou a porta da pequena biblioteca surrada, deixando-os em absoluta privacidade. — Você perdeu a cabeça? — Para o que, precisamente, você está se referindo? — Como se ele não soubesse. — Hadrian! É inconveniente o suficiente ter um amante aqui, mas meu Deus! Nicole Shelton! Como você pôde? Um sexto sentido avisou-o de um desastre iminente. — Estou com medo de estar perdendo alguma coisa importante. — Você a arruinou? — Isobel exigiu sem rodeios. — O pai dela vai te matar, independentemente de quem você é. — Mãe — disse ele lentamente, embora sua mente estivesse correndo — Eu não acho que nós precisamos discutir a minhas indiscrições. — Você a arruinou? — Isobel chorou. A raiva cresceu dentro dele. — Claro que eu não a arruinei — ele retrucou. — A dama não é nenhuma debutante e eu não entendo o seu interesse. — Ela não é debutante, mas ela é a filha de Shelton, Hadrian e não é como você, ah! Atacando inocentes. Ele se levantou. — Perdoe-me mas ela não é inocente. Temo que não estamos discutindo a mesma senhora. — Estamos discutindo Lady Nicole Bragg Shelton, filha mais velha de Dragmore e solteirona ou não, escândalo ou não, você não pode arruiná-la. Ele olhou a cor escoando de seu rosto. — Solteirona? — O que você achou? — Eu pensei — ele começou e parou. — Ela é solteira? — Ele não poderia acreditar naquilo. — Ela está solteira! Ela estava prestes a se casar com Lorde Percy Hempstead há quatro anos, mas ela nunca apareceu para o casamento, deixando o pobre homem lá sozinho no altar. Foi um terrível escândalo que, é claro, arruinou suas chances. É claro que Shelton poderia comprar um marido para ela, mas que tipo de homem ele seria? Ambos conhecemos Shelton e não posso vê-lo comprometendo seus padrões dessa maneira. Independentemente disso, Nicole é bastante excêntrica, ou é o que dizem. Ela é ainda mais reclusa do que você, passa a maior parte do tempo em Dragmore, raramente se aventura na sociedade. E quem pode culpá- la? Eu vi como cruelmente foi cortada depois daquele escândalo. Você a arruinou, Hadrian? Estava em choque, ficou chocado com o terrível erro que quase cometera, chegou perigosamente perto de arruinar uma jovem senhora. No entanto, tinha respondido a ele como se ela fosse uma mulher de experiência, mas agora ele se lembrava muito claramente aqueles momentos quando seus rubores e sua confusão a fazia parecer incerta e inocente. Mas como poderia saber? Comparecera ao baile de máscara sem escolta e ousadamente fantasiada e não flertara com ele? Ou interpretou mal todas as suas nuances? Teria ela propositalmente o conduzido ou ele tinha sido o predador indiscriminado? — Eu não a arruinei — ele disse rigidamente e então saiu da sala. Nicole desejava que sua melhor amiga, Martha Huntingdon, a viscondessa de Serle, voltasse de Londres, pois não tinha ninguém a quem confiar sobre o duque. Era tão quase inacreditável. Que ela, muito alta e desajeitada, um fracasso sombrio quando saíra, depois arruinada pelo escândalo, deveria ser cortejada pelo carismático e belo duque de Clayborough! Pois não era isso que estava fazendo? Ele a convidou para sua casa, não uma vez, mas duas vezes. E ele a beijou, disse a ela que era linda. Não era tão poderosamente afetado por ela como ela era por ele? Todas as suas ações não indicavam que a estava cortejando? Nicole sabia que era altamente inexperiente quando se tratava de homens, mas tinha quase certeza de que a pediria para se casar com ele em breve. Sonhava em como ele iria propor, sonhava em ser sua duquesa. Se viu com o filho dele em seus braços e o viu sorrir carinhosamente enquanto observava ela e o bebê. E a pequena dúvida que ela tinha, as minúsculas sementes de confusão, a memória sombria de seu sorriso sarcástico e tom frio, ela empurrou para dentro dos recessos de sua memória. Seu pai e Chad voltaram naquela noite da França, tendo concluído seus negócios. Ed, seu irmão mais novo, frequentou Cambridge, onde estudava a lei. Ela cumprimentou Earl e Chad com um sorriso radiante e abraços, surpreendendo os dois com sua exuberância. — O que aconteceu com você? — Chad perguntou, seu belo rosto com uma expressão suspeita. — O que você está fazendo agora, irmãzinha? Chad tinha quase trinta anos, cabelos escuros como o pai, embora tivesse herdado a cor da mãe dele, a primeira esposa do conde. Ele era muito bonito de um modo completamente patrício, enquanto o apelo do conde era mais sombrio, mais perigoso. Nicole fez uma careta para ele. — Eu não estou fazendo nada, irmão — ela respondeu. — Afinal, não sou eu quem sai à noite e só volta depois do amanhecer. — Você não é um homem — Chad apontou alegremente. — Chega — o conde disse suavemente, seu olhar percorrendo sua filha com calor. — Você está brilhando, Nicole. Há algo que você quer me dizer? — Ele fez a pergunta casualmente. Seu pai a conhecia muito bem. Ela era sua primeira filha com a condessa Jane e passara mais tempo no joelho do que qualquer outra de seus irmãos. Ela estava mais perto dele do que Chad, Ed ou Regina. Havia um vínculo entre eles que era difícil de explicar, embora sua mãe tivesse provocado que isso pudesse ser explicado pelo sangue selvagem em ambas as veias e pelo desrespeito pelas convenções que resultavam disso. Nicole achara uma piada e achara graça a sagacidade de sua mãe, mas o conde parecia um pouco exasperado com a esposa por seu comentário insignificante. Sempre foi a menina dos olhos dele e ela sabia disso. Ele a conhecia muito bem , além disso era inteligente demais. Nicole certamente não estava pronta para dizer a alguém da sua família que tinha um pretendente, muito menos que era o duque de Clayborough, não ousou se questionar muito sobre suas motivações para manter este caso em segredo, quando nunca guardou segredos de sua família antes. Pensou sobre o que tinha acontecido no riacho pela zilionésima vez e ela corou. — Não, pai — ela disse tão recatadamente quanto possível. — Estou feliz que esteja em casa, senti sua falta. — Rapidamente o abraçou novamente, mas o olhar que lhe deu foi duvidoso. Na manhã seguinte, Nicole novamente teve duas empregadas para ajudá-la a se vestir para o encontro com o duque. Felizmente, tanto Chad quanto o conde estavam na propriedade, cuidando de seus assuntos, de modo que não comentavam sobre o traje incomum que ela estava usando. Ela invariavelmente os acompanhava, mas hoje conseguira mentir e dizer que estava com dor de cabeça. Os dois homens a olhavam com ceticismo e Chad até desatou a rir. — Você? — Ele dissera incrédulo. — Você tem dor de cabeça? — Ainda rindo, ele havia partido com seu pai e Nicole queria estrangulá-lo. Ela apareceu no Chapman Hall pouco depois do meio-dia, incapaz de esperar outro momento. Antes mesmo que desmontasse e um lacaio tomasse as rédeas na frente da casa, viu o duque sair de dentro do salão, como se estivesse esperando por ela. Nicole lançou-lhe um sorriso ofuscante, mas não houve resposta. Sua expressão era severa. Por um instante, a inquietação a assaltou, mas depois agradeceu ao criado e desceu para o chão. Quando olhou para cima, o duque estava dispensando o lacaio e dizendo que um lacaio não seria necessário, desconcertando Nicole. Se eles voltassem a cavalgar, por que ele não ordenou que a montaria dele fosse trazida? Ela ficou sombria, sua alegria desaparecendo quando ela percebeu o quão duro e fechado seu rosto realmente era. Não havia calor em seus olhos quando eles finalmente se assentaram. — Aconteceu alguma coisa? — Ela perguntou, seu coração batendo incerto. — Receio que sim — disse ele com firmeza. — Parece que eu vou estar sempre me desculpando com você. Eu cometi um erro terrível, mas não tão terrível quanto poderia ter sido. — Que... que erro? — Seu coração começou a afundar. Não podia estar dizendo que tinha confundido seus sentimentos por ela, sabia que ele não poderia dizer isso. Sua mandíbula se apertou. — Eu não sabia que você era solteira. No começo, Nicole não entendeu. Ele não percebeu que ela era solteira? E daí? Então, horrivelmente, o primeiro indício de compreensão começou. — O que você está dizendo? — Eu entendi que você fosse casada, é claro. — Você achou que eu fosse casada? — Ela repetiu. Ele não disse nada. Ele tinha pensado que ela era casada. Se ele achara que ela fosse casada, sua intenção não fora cortejá-la. Ela o olhou chocada. — Mas você me beijou. Ele se mexeu impaciente. — Certamente você não pode ser tão ingênua a ponto de achar que um homem se abstenha de beijar uma mulher só porque ela é casada. Sua compreensão aumentou, horrivelmente. Pensou que era casada, não pretendia pedi-la em casamento, mas sim para ser um certo tipo de mulher casada, sem nenhuma moral. Não a estivera cortejando; longe disso. Para usar suas próprias palavras, queria apenas derrubá-la. Ela engasgou, feriu, raiva e consternação subjugando-a imediatamente. Ele estava se divertindo à custa dela. Seus sonhos desmoronaram no pó a seus pés. — Eu sinto muito. Eu sei que devo parecer um tipo muito baixo, mas francamente, eu estou tão acostumado a senhoras casadas se oferecendo para mim que... — Eu não me ofereci para você. — Nicole chorou, esmagada, devastada. Lágrimas encheram seus olhos. — Eu confundi seus modos, então. Obviamente, Lady Shelton, você não pode vir aqui novamente. — Seu olhar segurou o dela, escuro e insondável. Nicole estava em choque e ferida além das palavras. — Obviamente — ela conseguiu dizer como um fantasma de seu antigo espírito — eu seria dez vezes uma tola se voltasse aqui. Você certamente nunca mais me verá. Arrancou as rédeas de suas mãos e antes que pudesse ajudá-la, pulou na sela. Era feita para andar de lado e ela não tinha escolha a não ser fazê-lo. Não importava, a única coisa que importava era escapar dele o mais rápido possível. Lágrimas de pesar e humilhação a cegaram, o peito atou em dor, esporeou sua égua a galope e o deixou em pé sozinho em uma nuvem de poeira. Capítulo 4 Nicole usou a desculpa da dor de cabeça para permanecer em seu quarto naquela tarde e toda aquela noite, não desceu para jantar. Tanto o Conde quanto Chad vieram perguntar por ela e foi preciso uma quantidade suprema de autocontrole para esconder seu coração despedaçado deles. Não querendo despertar mais suspeitas do que já tinha, aceitou a bandeja que Annie trouxe, depois entregou o conteúdo a um dos gatos da casa. Sua miséria se aprofundou com a noite. Quão ingênua ela tinha sido! Quão estúpida! Acreditar em contos de fadas quando os contos de fada não existiam, pelo menos não para ela, nunca para ela. Tolamente havia se apaixonado pelo duque, não com o homem que ele realmente era, mas com um homem que ela criara em sua imaginação selvagem. Aquele homem não existia e o duque não passava de um namorador imoral. E tão tolamente pensou que ele também estivesse apaixonado por ela. Estava muito machucada para odiá-lo, pelo menos por agora. Quase cedeu às lágrimas, mas lutou contra elas. Quando saiu pela primeira vez e não tinha sido aceita por seus colegas, isso também tinha doído horrivelmente. Na época, foi o golpe mais chocante de sua vida. Havia crescido em Dragmore, onde foi aceita e amada por todos, desde o mais baixo cavalariço até seus adorados pais. Nunca houve um dia em sua vida, até sua estreia, que ela não se sentisse segura. Mas sua estreia mudou tudo isso. Pois o fato era que Nicole era diferente das outras jovens da sociedade e elas percebiam isso imediatamente. Não tinha absolutamente nada em comum com elas, tinha sido criada para ser ativa e pensar por si mesma e como consequência, ela era franca e direta; elas tinham sido criadas para serem bonitas, modestas e recatadas, fingiam ser simplórias ante os homens e fofocavam umas com as outras. Seus interesses predominantes na vida eram as últimas modas e a captura de um marido, e como Nicole honestamente não compartilhava desses interesses, era uma pária desde o começo. Não poderia ser perdoada por tal sacrilégio. Ela mesma criara o escândalo, mas Nicole não esperava que a sociedade a atacasse tão cruelmente quanto antes. Na verdade não tinha pensado muito sobre o que estava fazendo, sabendo apenas no último minuto que simplesmente não poderia continuar com o casamento. Nunca tinha amado Percy Hempstead, nunca se importou de uma maneira ou de outra sobre ele. Os dois primeiros anos se passaram e ela não demonstrou nenhum interesse em qualquer pretendente, razão pela qual seu pai finalmente entrou em cena e ofereceu a ela uma perspectiva após a outra. Eles lutaram. Nicole implorou para não se casar como uma égua de ninhada enviada ao garanhão, mas ele era surdo aos pedidos dela. — Há dezenas de homens finos e elegíveis para você escolher — ele se enfureceu com ela. — No entanto, em dois anos você negou cada um deles! Eu não vou permitir que você arruíne o seu futuro, Nicole, então agora eu vou encontrar para você o homem certo. Nicole fugira dele, furiosa e aborrecida, mas também sabia que ele estava motivado pelo amor por ela, achava que estava fazendo o que era melhor e também achava que um dia ela olharia para trás e concordaria que ele estava certo. Percy Hempstead era alguns anos mais velho do que ela, bonito, agradável, herdeiro do conde de Langston. Nicole desejou poder reunir algum interesse por ele, pois era claramente muito gentil, gentil com todos, incluindo seus cavalos e cachorros, um verdadeiro teste de caráter. Também era um trabalhador duro, não um perdulário e muitas mulheres jovens tinham definido suas atenções para ele. Até Even Martha era atraída por ele, declarando o quão bonito ele era com seus cabelos escuros e olhos azuis e suas características finamente esculpidas. Pressionada por todos e gostando de Percy como amigo, finalmente concordou com a aliança. Quando o casamento se aproximava, suas objeções originais a se casar ficaram cada vez mais fortes, não o amava, mal o conhecia, era praticamente um estranho. Não queria se casar e nem ser esposa, cujas duas funções primordiais na vida eram ser um belo ornamento e dar a seu marido filhos. Não queria sair de Dragmore, o pânico a encheu com o pensamento sabia instintivamente que Percy nunca iria deixá-la levantar com o sol e andar ao lado dele em suas fazendas arrendatárias. Esperava que se entretivesse com outras damas e passatempos femininos adequados, sempre vestida de maneira adequada, passiva e obediente para ser, enfim, a mulher ideal. Terrível medo encheu Nicole. Sua vida estava prestes a ser mudada irrevogavelmente, para sempre. Ela não podia continuar com isso. Na noite anterior ao casamento, ela fugiu. Ela tinha uma nota entregue a Percy, implorando seu perdão, mas sabia que não havia nenhuma explicação razoável que pudesse oferecer a ele ou a qualquer outra pessoa por seu comportamento. Deixou outra nota para seus pais. Não foi muito longe, pois não era necessário era o suficiente estar ausente no dia do casamento e ter enviado o bilhete para Percy. Mais de quinhentos convidados tinham sido esperados e embora não tivesse deixado Percy literalmente de pé no altar, como as fofocas mais tarde afirmavam, o que tinha feito era ruinoso o suficiente. Percy nunca falou com ela novamente e seis meses depois se casou com uma dama vitoriana adequada. Seu pai também não falou com ela durante quase um mês depois que o primeiro grito de raiva se esvaiu. Nicole estava desesperadamente arrependida por ter machucado Percy e também estava arrependida por ter perturbado seus pais, mas não lamentava não ter se casado com Percy. Ela tinha apenas uma semana para se recuperar do que havia feito. Nos meses seguintes, seus pais haviam saído como de costume e Nicole os acompanhara por toda parte. — Você não vai se esconder em Dragmore — seu pai disse a ela, as únicas palavras que falou em uma semana. — Você vai enfrentar o que você fez. Tinha sido horrível, ir a um baile ou em casa, ser olhada, sendo a fofoca no momento em que virava as costas. Sabia que seus pais estavam sofrendo tanto quanto ela e de certa forma, machucou eles mais do que a si mesma. Nicole levantou a cabeça e agiu como se nada estivesse errado, mas por dentro sentia-se como uma estranha espécie de animal em um zoológico. Depois de alguns meses, seus pais permitiram que fizesse o que desejava, mas a essa altura sua aparência não era mais um acontecimento e os fofoqueiros haviam encontrado novas forragens para suas fábricas. Agora, deitada em sua cama, olhando para as pregas douradas do dossel, queria chorar de um jeito que nunca quisera antes. Sua vida tinha sido perfeita até que completou dezoito anos e saiu. Então foi um desastre após o outro, deveria ter aprendido a lição. Mas não, ingênua até o fim, olhou para o duque, apaixonada e estupidamente pensou que ele fosse seu cavaleiro de armadura brilhante. Nunca seria tão tola novamente. Virou de lado, com os olhos secos, pensara que ela fosse casada nunca teve uma intenção honrosa para com ela. De repente, ela cerrou o punho, o começo de raiva varrendo sobre ela. Quão desprezível ele era. Naquela manhã, Nicole levantou com o sol, como de costume, passou uma noite agitada queimando com raiva recém descoberta. Sua adrenalina lhe dava força e apesar de mal ter dormido, não estava cansada. Se juntou a seu pai e irmão no café da manhã, vestida em suas calças, determinada a se juntar a eles naquele dia e continuar sua vida como se nada tivesse acontecido. Como se o duque de Clayborough não existisse. Os dois homens olharam para ela. — Você parece um inferno — disse Chad. Nicole o ignorou, sentada à esquerda do pai, em frente ao irmão. Ela se serviu de chá, sentindo o respeito do pai por ela. — A dor de cabeça durou a maior parte da noite. — Quero que você veja um médico — disse o conde. — Estou bem agora pai, de verdade — disse Nicole, mas não conseguiu sorrir para o benefício dele. — Você nunca está doente — disse Nicholas Shelton categoricamente. — Eu quero que você descanse hoje, Nicole. Ela falou firmemente. — Eu quero andar com você e Chad. — Absolutamente não. — Ele a olhou e sabia que não devia discutir. Depois de tomar o café da manhã, Nicole sentiu-se cansada e esgotada. Quando Chad e o conde saíram, voltou para o quarto e caiu na cama, de repente exausta. A bela imagem de ouro do duque nadou ante ela. Ela cerrou os punhos e fechou os olhos. — Vá embora, maldita, vá para o inferno! — Foi a maldição mais chocante que ela conheceu. Uma batida em sua porta a tirou de um sono pesado e muito necessário. Nicole piscou surpresa ao perceber que cochilara por algum tempo. Parecia ser fim da manhã, quase meio-dia. Grogue ela se sentou. — Sim? Aldric apareceu. — Eu sei que você não está se sentindo bem, minha Senhora, mas a Viscondessa Serle está aqui. Devo dizer a ela que você está indisposta? — Seus olhos gentis estavam preocupados, embora seu tom fosse formal e impassível. — Martha está aqui. — Nicole chorou, encantada. — Não, não! Eu vou descer em um momento. — Muito bem — Aldric disse, parecendo aliviado quando ele recuou. Nicole voou da cama e rapidamente lavou o rosto, ajeitando o cabelo em uma longa cauda. Então ela desceu as escadas. — Marta! A viscondessa de Serle era uma mulher pequena, um tanto gorda, com grossos cabelos castanhos e pele de marfim. Estava sentada recatadamente no sofá de veludo dourado na sala, uma xícara de chá em suas mãos pequenas, vestida em um conjunto listrado verde e rosa. Ela colocou a xícara no chão e ficou de pé com um grito de prazer. As duas garotas se abraçaram entusiasticamente. — Eu senti tanto a sua falta! — Martha chorou. — Estou tão feliz que você está de volta — Nicole soltou, radiante. Martha sentou-se, puxando Nicole para baixo ao lado dela. Seu sorriso desapareceu quando ela olhou para sua amiga. — Nicole, seus olhos estão inchados. Você esteve chorando? A expressão de Nicole ficou sombria. — O que aconteceu? Rapidamente, Nicole ficou de pé e fechou com firmeza a porta da sala, voltando-se para encarar a amiga. De repente, ela estava sobrecarregada com o desejo de chorar. Horrorizada, ela cobriu o rosto com as mãos e lutou para deter a enchente crescente. — Oh, querida — Martha engasgou, correndo para ela. — Venha sentar-se, diga-me o que aconteceu para te chatear tanto. — Sinto muito — disse Nicole, uma vez que tinha um aperto em suas emoções cruas, olhou para sua melhor amiga. — Eu sou uma imbecil, Martha. Embora Martha estivesse acostumada com o traje pouco convencional, os maneirismos e a linguagem de Nicole, ela corou ligeiramente. — Você não é boba. — Eu me fiz de boba com o duque de Clayborough — gritou Nicole. Martha ofegou. — Com o duque de Clayborough? Nicole assentiu sombriamente. — Eu fui ao baile de máscaras outra noite no Adderlys '. Foi em sua honra. Eu olhei para ele e meu coração parou Martha. Que idiota eu era. — Ele é muito bonito — disse Martha, com um tom cauteloso. — Nós conversamos. Quando olhou para mim, seus olhos eram como chamas, me convidou para ir ao Chapman Hall. Martha ofegou. — Ele convidou você para Chapman Hall! Mas isso não soa como o Duque de Clayborough, de modo algum! Ele deve ter ficado muito fascinado por você. Nicole olhou-a seus olhos brilhando como gelo. — Oh, ele foi completamente tomado, deixe-me assegurá-la disso. Ele pensou que eu era casada, me convidou para ir lá para um... um... um ... Martha engasgou novamente. — Ele pensou que você era casada? — Eu pensei que ele tinha se apaixonado por mim. — Nicole desviou o olhar a cor sumindo. — Eu até pensei — ela parou. — Eu pensei que ele estava me cortejando. — Ela deu uma olhada para a amiga, cuja expressão estava atordoada. — Ele me beijou, Martha. — Oh querida — foi tudo o que Martha pôde dizer. — Eu gostei. — Pensar no que havia acontecido entre eles trouxe um rubor mais profundo à pele dourada de Nicole. Pior, seu coração começou a martelar erraticamente, e podia sentir seus lábios quentes e famintos nos dela como se a estivesse beijando novamente. — Eu o beijei de volta. — Nicole — começou Martha, mas Nicole interrompeu. — Agora eu sei por que ele me empurrou para fora da casa e não me deixou tomar chá com sua mãe. — Nicole chorou, furiosa e humilhada de novo. — A duquesa viúva estava lá? — Martha gemeu. — Ela viu você na casa dele? Nicole, você não tinha acompanhante com você? — A pergunta era esperançosa. Nicole sacudiu a cabeça. — Ontem voltei para o Chapman Hall e ele me convidou para voltar. De alguma forma ele descobriu que eu não era casada e tudo mudou. O bastardo! Ele estava tão frio quanto o gelo, se desculpando por seu erro e dizendo que eu nunca deveria ir de novo, como se eu fosse... — Oh Deus! — Martha disse, fazendo Nicole arregalar os olhos. — Ele achava que eu era uma prostituta casada com a qual ele se divertiria — Nicole sussurrou com urgência. — Oh, eu o odeio. — Oh, Nicole — Martha pegou sua mão, apertando-a. Ele não... ele só beijou você, não foi? Nicole ficou vermelha. Lembrou-se de como o corpo dele tinha pressionado o dela na grama, como desabotoara o casaco, como suas mãos tinham acariciado intimamente ao longo da parte interna de suas coxas. Seu corpo começou a pulsar em resposta a sua agitação mental vívida. — Eu ainda sou virgem, se é isso que você está perguntando. — Então nenhum dano foi feito — disse Martha, acariciando sua mão e suspirando de alívio. — Oh, minha pobre querida! Clayborough é um terrível libertino, você sabe e bastante implacável. Nenhuma mulher mantém seu interesse por muito tempo, dizem que nem mesmo suas amantes. E supostamente suas amantes são as mulheres mais bonitas do reino. — Ele tem mais de uma? — Nicole perguntou, sentindo-se magoada de novo. — Não, ele fica com uma de cada vez. — Martha viu sua expressão e acrescentou: — Mas a maioria dos homens tem. — Robert não, não é? — De repente, Nicole desejou ter mordido a língua, pois a pergunta era íntima demais para perguntar, mesmo para sua melhor amiga. Mas Martha sorriu, sua expressão suave. — Não, Robert não, e eu tenho muita sorte. — Nicole sabia o quanto Martha amava seu marido e como ele a adorava. — Você tem muita sorte — ela concordou. Martha olhou para ela. — Eu acho que Clayborough se interessou por você, Nicole. — Ele pensou que eu era casada. — — Eu ainda acho que ele teve interesse. Eu o vejo de vez em quando em Londres e nunca mostra qualquer interesse em qualquer mulher, estão sempre se jogando para ele. Exceto, é claro, para Lady Elizabeth Martindale. — Lady Elizabeth Martindale? — — A filha do marquês de Stafford. — Martha fez uma careta. — Oh, é uma pena que eles estejam noivos. Nicole congelou. — Ele está noivo dela? — Você não sabia? — Eu não sei nada sobre ele — disse Nicole, a sala de repente muito pequena em torno dela. — Eles estão prometidos há muito tempo, desde que ela tinha dois anos e ela tem apenas dezoito anos — disse Martha gentilmente, como se para suavizar o golpe. — Sempre foi um fato que o Duque de Clayborough não está disponível, para grande desânimo de toda jovem. Ela deve ter sua temporada e eles devem se casar neste verão. — Posso ver — disse Nicole rigidamente, levantando-se. Seu pulso começou a rugir, ensurdecendo-a. Um noivado feito entre duas famílias tão poderosas, um que havia sido sustentado por dezesseis anos, foi escrito em pedra. Ele era tão bom quanto casado. Nicole viu vermelho. Assim, não pensara apenas que ela era casada, estava noivo de outra e dentro de sete ou oito meses, estaria casado. Era mais desprezível do que jamais sonhara. — Nicole — Martha ficou parada, parecendo preocupada. — Sente-se e beba um pouco de chá, por favor. Nicole olhou para ela, os olhos brilhando. — Eu pensei que ele queria se casar comigo! Eu... — Oh, Nicole! Nicole se virou e caminhou em direção à porta, furiosa em cada um de seus longos passos. — Nicole, onde você está indo? — Martha chorou freneticamente. — Não faça algo que você vai se arrepender! Por favor, não faça! Se Nicole a ouviu, ela não deu sinal. Momentos depois, Martha viu-a com o rosto vermelho ruborizado, montada em seu cavalo, com o nariz quase enterrado na juba preta do garanhão, galopando dos estábulos em direção a Chapman Hall. O duque deixou o estábulo, o som de martelos batendo na madeira seguindo-o. Ele estava substituindo as duas paredes traseiras do celeiro, que estavam tristemente precisando de reparos. Até agora estava satisfeito com o progresso que os trabalhadores que contratou estavam fazendo. Ele se dirigiu para a casa com passos largos, pretendendo cuidar de alguma correspondência antes de sua refeição do meio-dia. Só deu alguns passos, no entanto, quando o som de cascos de corrida o fez parar, procurando por sua causa. Um magnífico puro-sangue estava emergindo dos bosques do outro lado dos gramados maltrapilhos, correndo para fora. O garanhão galopou pelo gramado, o cavaleiro debruçado sobre as costas e segundos depois, o animal chegou a um ponto de parada ao lado. O duque ficou surpreso ao ver Nicole Shelton montada nele. Ele nunca tinha visto uma senhora montada em um cavalo dessa forma antes, ou qualquer outra mulher e isso era chocante o suficiente. A visão de suas longas pernas, encaixadas firmemente nos calções dos homens, agarrando com força o cavalo, hipnotizava-o. Então ele tomou consciência de sua beleza severa e selvagem, seus olhos ardentes e prateados, seu cabelo solto e varrido pelo vento, fluindo atrás dela. Era magnífica e ele estava congelado, ambos chocados por desafiar cada regra de convenção que existia e se agarrou a um desejo bárbaro. Nicole saltou para o chão e caminhou em sua direção, suas longas pernas esticando o tecido de suas calças, deixando nada de sua forma para sua imaginação. Por outro momento, não conseguiu desviar o olhar dos braços dela e ocorreu-lhe que qualquer mulher que montasse um cavalo assim certamente poderia montá-lo igualmente bem. Distraído só a viu levantar o chicote no último momento possível. — Miserável bastardo — ela sussurrou, sacudindo-o furiosamente em direção ao seu rosto. Atuando puramente no reflexo, o duque segurou-lhe o pulso no momento em que o chicote raspava sua mandíbula, deixando uma pontada avermelhada. A raiva rapidamente substituiu sua surpresa. Pegou o chicote dela, abrindo-o abruptamente em dois e o jogou de lado. Ela gritou, o som de pura raiva, sua mão subindo novamente com a intenção de atingi-lo novamente. Pegou o braço dela e a virou rapidamente e suas costas bateram no celeiro. Ela se atreveu a resisti-lo, sua outra mão estendendo a mão para ele, os dedos curvados, unhas equilibradas como garras. Ele também a pegou, prendeu-a na parede, os dois pulsos acima da cabeça e em outro momento de escassez, fechou os últimos centímetros entre eles, pressionando o corpo duro e excitado contra o dela. O que acabara de acontecer era inacreditável, mas continuava a lutar descontroladamente contra ele, como um animal apanhado numa armadilha, enlouquecido. Cada movimento dela abanou o fogo nele e se pressionou mais fortemente contra ela, sua masculinidade pulsando avidamente contra sua suavidade enquanto ele instintivamente procurava subjugá-la. — Solte-me — ela gritou. — Liberte-me, então eu posso te dar o que você merece. Terrivelmente gráficas, imagens sexuais dançaram em sua mente. — E o que é que eu mereço? — Sua respiração ventilou seus lábios, ela ficou imóvel. Ele sabia que naquele exato momento ela se dava conta de sua virilidade. — Dez chicotadas, não uma. — Ela rosnou. — Eu não acho que é por isso que você voltou. — Voltei para tirar seu sangue. Ele tremeu, tanto em resposta à sua verdadeira selvageria quanto à ideia de tirar o sangue dela. — Derramar meu sangue excita você, Nicole? — ele perguntou, muito, muito baixo. — Sim Sim Sim! — Ela resistiu violentamente contra ele novamente, depois congelou, ofegante, quando seus giros só serviram para aumentar a intimidade entre eles. — Cuidado, se houver mais sangue a ser derramado hoje, não será meu. — Ele a olhou nos olhos, latejando tão fortemente contra ela que ela não poderia escapar do seu significado. Seus olhos se arregalaram e ele ficou satisfeito por ela entender. — Você não faria. — Agora, eu faria. Não foi por isso que você voltou? Por um momento, ficou muito aturdida com a resposta dele para responder; então ela gritou, torcendo-se descontroladamente e gritando com a dor que ela causou a si mesma em seu aperto imóvel e de ferro. — Agora você me ameaça com estupro? — Ameaça, não. Aviso, talvez. Estupro, nunca. — Eu vou lutar com você até meu último suspiro — ela chorou. Ele a viu lutando contra ele, depois gozando em seus braços. Seu domínio sobre ela aumentou, pensou que poderia perder o último de seu controle. — Você vai gostar de morrer em meus braços, Nicole — ele prometeu suavemente. — Vou me certificar disso. — Liberte-me — ela chorou freneticamente. Sabia que ela não entendia o seu significado, mas ela sentiu o perigo em que estava. — Liberte-me agora, maldito seja. Ele teve que a libertar se não o fizesse, deixaria de ser responsável por suas ações. Seu corpo estava gritando com ele, implorando por sua própria liberação, então virou a cabeça para longe dela, respirando profundamente. — Nós temos uma trégua? Ela riu. — Nunca. Virou o olhar para o dela e viu o brilho de ódio em seus olhos. — Então você me odeia, agora, não é? — Oh sim — ela cuspiu. — Por um momento eu te amei, mas agora, como eu te odeio! Ele congelou. Que ela o amava, mesmo que de forma tola e por um curto período de tempo, o surpreendeu. Muitas mulheres se apaixonaram por ele e estava bem ciente disso. Mas nunca prestou atenção e certamente nunca se importou com o que elas sentiam. Agora, algo parecia picá-lo e talvez fosse sua consciência. — O amor não muda para o ódio tão rápido, Nicole — ele disse suavemente. Suas bocas estavam muito próximas. — Vamos testar o quanto você me odeia? — Não sabia por que era tão importante para ele provar que estava errada. — Não há nada para testar — disse ela, de repente sem fôlego. Seu olhar se moveu para sua boca. — Não. Não havia como se impedir de beijá-la, não importando o quanto estivesse errado, não agora. Não quando seus corpos eram pressionados juntos dos pés à cabeça, não quando ele se esforçava contra sua feminilidade, não quando ela se atrevia a declarar seu ódio por ele. — Eu acho que você me quer mais do que você me odeia — ele murmurou. Ela abriu a boca para protestar, mas ele cobriu os lábios, não permitindo que mais palavras escapassem. Ela torceu violentamente contra ele, mas meramente pressionou-a com mais força contra o celeiro, apenas apertou seu aperto já doloroso em seus pulsos. Ela fez ruídos enfurecidos; ele vorazmente reivindicou sua boca, querendo reivindicar muito mais e sabendo que se deixasse isso continuar reivindicaria tudo dela. Ela resistiu contra ele e era o paraíso, mas também era o inferno. Como havia pensado, ela iria lutar com ele até o fim. Ela falou quando sua boca se moveu para o pescoço, onde seus beijos deixaram marcas de crescente vermelho. — E a sua preciosa Elizabeth. Ele ficou parado. — O que de Elizabeth? — Você nem finge ser fiel a sua noiva! — Então você fez sua lição de casa — disse-lhe levantando a cabeça para olhá-la, viu a raiva flamejante em seus olhos, queria mudar isso para paixão por ele. — É disso que se trata? — Você não é diferente de um homem casado — ela sussurrou. — Mas você é um desprezível libertino. Deixe-me ir agora. Estava certa e porque no final das contas tinha muita honra para violá-la, ele a libertou. Ela gritou e saltou para ele, tentando acertá-lo novamente. Ele a pegou, dessa vez pela cintura, prendendo os braços ao corpo, atordoado de novo com sua selvageria e ainda mais excitado. Ela girou em seus braços antes dele apertar seu aperto, tentando fugir dele. — Pare com isso — ele retrucou, sacudindo-a uma vez. Ela estava ofegando como se tivesse lutado uma grande batalha e agora ele estava pressionado contra o traseiro dela, o que não era um alívio. Seus seios estavam cheios e pesados em seus braços, onde os envolveu ao redor de seu torso. Ela parou de tentar libertar-se, ofegando os grandes pulmões de ar e ele relaxou um pouco, condenando a si mesmo e à sua incontrolável libido mais uma vez. — Eu não vou bater em você de novo — ela finalmente disse duramente. — Apenas me deixe ir. — Por quê? — Ele respirou contra o pescoço dela. — Eu não acho que te envergonho, Nicole. Ou eu o faço? Estava muito quieta, e ele sabia que ela estava sentindo-o latejando contra suas nádegas, queria ver seus olhos, ver sua resposta. Ele a sentiu tremendo em seus braços. — Você não me envergonha — ela finalmente disse. — Você só se envergonha. Porque seu comportamento era indesculpável, seu tom era sarcástico quando a soltou. — Touché. Mas são necessários dois para jogar este jogo e se você não tivesse vindo aqui, nada disso teria acontecido. Ela girou para encará-lo, recuando cautelosamente. Viu o brilho nos olhos dela pelo que era e enquanto uma parte dele estava horrorizada consigo mesmo, outra parte era triunfante. — Você é o único sem moral, você é o único que não iria parar em nada para conseguir o que você quer. Raiva explodiu. — Errado. Eu avisei para você não voltar aqui e você fez isso por sua conta e risco. Se você não voltou para o que eu posso te dar, então por que você voltou? Ela engasgou, cor carmesim inundando suas bochechas. — Como você é arrogante! Voltei para lhe dizer o que penso de você agora que sei a verdade. Suas mãos encontraram seus quadris, sua boca curvou-se zombeteiramente. — A verdade. Oh sim, Elizabeth. — Você é tão bom quanto casado, mas você me perseguiu! Eu não sabia, achava que você era elegível. Você achava que eu era uma mulher casada sem moral. Então, quem faz isso certo e quem faz isso errado? A culpa o feriu, mas ele não estava pronto para enfrentá-la. E não gostava de ser acusado de comportamento errado, não estava acostumado a ouvir que estava errado. Ninguém ousaria. No entanto, ela se atreveu. E ele não gostou de seu próprio comportamento não antes e não agora. Mais uma vez, o incitou à raiva e a uma luxúria indesejável. — Você achou que meu interesse em você era o de um solteiro cortejando uma jovem? — Seu tom era zombeteiro, duro e cruel. Ela recuou, avermelhando. — Eu não achei que você simplesmente quisesse que eu fosse uma amante. — Assim como eu não achei que você fosse uma virgem solteira. Ela ofegou. Ele não podia acreditar no que acabara de dizer. — Você é cruel. — Você me leva a isso! — Dolorosamente, ele disse: — Deixe- me dizer-lhe novamente. Você não é bem-vinda aqui, Lady Shelton e você não deve voltar. Ela cruzou os braços com força sob os seios. — Eu nunca voltarei aqui, Vossa Graça. A menos que, é claro, seja para trazer a você e à sua noiva um presente de casamento. Seu sorriso era tão sarcástico quanto suas palavras. — Então a tigresa tem mais do que garras. Deixe-me repetir, você não é bem- vinda aqui, Nicole e se você acha que pode causa problemas entre eu e Elizabeth, pense de novo. — Não se preocupe, não tenho intenção de perturbar a sua preciosa Elizabeth! — Nicole se virou abruptamente, correndo para o garanhão. Capítulo 5 Seu cachorro favorito, o cão de caça Borzoi, olhava para ele com esperança. De pé em frente a um espelho de corpo inteiro ao lado de uma cômoda chinesa de laca vermelha, o duque ajustou sua gravata de seda, olhando-se sem expressão. Quando ele se virou e recebeu seu casaco de noite preto do seu criado, Reynard, o Borzoi bateu o rabo com entusiasmo. O duque murmurou: — Vou jantar, rapaz, lamento dizer. O Borzoi suspirou e apoiou a cabeça em suas enormes patas, resignado a uma noite em frente à lareira. — Você parece bem, Vossa Graça, se não se importa que eu diga — disse Reynard com admiração. O duque assentiu com gratidão. — Você pode ir, Reynard, eu vou descer em um momento. Ele se afastou de seu reflexo e andou até a mesa do mordomo, onde se serviu de uma xícara de chá, misturada especialmente para ele. Grimly, ele olhou para o conteúdo do copo de porcelana delicada, que era diminuta em sua mão. Ele deveria ter recusado o convite de Shelton. Ele nem sequer pensara em fazê-lo. Passara-se uma semana desde que Nicole Shelton galopara tão imprudentemente em seu pátio e depois galopara para longe depois de seu prolongado e acalorado encontro. Infelizmente, a mera memória agitou seus quadris dolorosamente e ele sabia muito bem por que ele estava indo para Dragmore hoje à noite. O que estava acontecendo com ele? Era este o caminho da luxúria não correspondida? Ele nunca teve uma mulher em sua mente antes. Por mais insensível que parecesse, todos os seus contatos haviam sido meramente sexuais e assim que o ato foi completado, sua atenção voltou-se para assuntos mais significativos. Ele não queria ter essa mulher em particular agora. Irritado tomou um gole do chá exótico e perfumado, depois jogou o resto a xícara e o pires no fogo ardente. A porcelana estalou e despedaçou-se ruidosamente, fazendo o cachorro o olhar com curiosidade. Ele havia liberado a tensão, mas não havia apagado Nicole Shelton de seus pensamentos. Ainda ficava um pouco chocado sempre que sua mente errante a imaginava como a viu pela última vez, montada em um imenso cavalo, em calções de homens. E ela bateu nele com o chicote dela. Ainda era inacreditável, ainda era incrivelmente excitante. O duque pensava, não havia como recusar o convite de Shelton agora. Mas na verdade, nem queria, passou a mão pelo cabelo grosso e manchado de sol, estava brincando com fogo. Ele sentiu e sabia disso e ela era o fogo. Na semana passada ele se jogou na restauração de Chapman Hall com uma determinação implacável. Havia se levantado mais cedo do que o habitual e foi para a cama mais tarde, não se permitindo um momento para descansar ou pensar. No entanto, não importava o quanto se ocupasse, ela sempre se escondia nas bordas confusas de sua consciência, assombrando-o. Por que estava tão fascinado por ela? Ou era obcecado? Seus impressionantes olhares eram o suficiente para enlouquecer qualquer homem, ele decidiu, mas era o jeito dela, a ousadia, a selvageria dela que era inebriante. A maioria das mulheres eram terrivelmente chatas. Com exceção de sua mãe, cuja inteligência e interesse não convencional em questões de negócios a diferenciavam de outras mulheres, não conseguia pensar em uma moça que valesse seu tempo e atenção. (Elizabeth era um assunto completamente diferente, sendo sua noiva). Nenhuma mulher que ele conhecia participava de festas sem acompanhantes, a menos que tivesse mais de trinta anos, nenhuma mulher andava de calções, falava como ela, nenhuma mulher demonstrava tal temperamento, nem até mesmo sua última amante, que era francesa e rápida em irar-se. E nenhuma mulher, perseguia um homem e o atingia com seu chicote. Era tudo o que as mulheres de seu conhecimento não eram, por essa razão decidiu, que estava tão malditamente cativado. O problema era que não confiava mais em si mesmo. Havia se comportado abominavelmente com ela na semana anterior, mesmo que extremamente provocado. Não havia desculpa para forçar-se a ela, por usar sua força para afirmar seu poder sobre ela, por beijá-la, tocá-la. Sem desculpa. No entanto, nada poderia detê-lo e temia que da próxima vez nada o segurasse. Próxima vez? Devia se certificar de que não haveria próxima vez. Não poderia viver com si mesmo se a arruinasse, não importando que sua reputação já estivesse em pedaços. Não importa como o provocasse seu último encontro foi uma sedução bárbara. Não haveria próxima vez, jurou ele. Viveu sua vida inteira com honra sempre no fundo de sua mente estava o conhecimento de como o pai fora desonroso. Seu pai, se ele preferisse mulheres, teria levado Nicole naquele primeiro dia na grama junto ao riacho. Ele não era seu pai, nunca foi seu pai e nunca arruinou nenhuma mulher, as mulheres que levou para a cama já eram de moral altamente questionável. Talvez tivesse passado a vida toda expiando os pecados de seu pai, mas essa era uma vida da qual podia se orgulhar até o momento. Agora estava em perigo e isso o assustou. Estava atrasado a menos que desse desculpas era hora de ir. O duque foi. Nicole ficou deitada na cama lendo um artigo de Amanda Willison, americana, sobre a necessidade de reformar a educação e vestimentas para meninas. Como esta mulher estava certa, pensou Nicole. Houve uma batida em sua porta e Nicole deixou seu livro de lado quando sua mãe entrou. A condessa havia voltado para casa ontem. Não foi surpresa para Nicole, pois Jane nunca ficou longe do marido por muito tempo e Nicole sabia que, se Regina já não tivesse idade e um casamento eminente, Jane não teria seguido para Londres. Regina tinha ficado em sua casa na Tavistock Square, acompanhada pela viúva Lady Beth Henderson. Jane pretendia voltar a Londres no dia seguinte e o conde planejava se juntar a ela alguns dias depois. — Você não está vestida — Jane disse surpresa ao ver que Nicole ainda estava vestida apenas com um roupão, o cabelo úmido do banho. — Me desculpe, eu fiquei tão envolvida em ler que o tempo me escapou. O nosso convidado está aqui? — Não, ele está atrasado. Deixe-me chamar Annie para ajudá-la. Nicole escorregou da cama quando sua mãe chamou a empregada e tirou um vestido ao acaso do armário. Jane era pequena, magra e loira platinada, extraordinariamente bela aos quarenta e um anos, naturalmente elegante. Ela franziu a testa ao ver o vestido azul-claro que Nicole tirara do cabide. — Isso não faz justiça a você querida. Nicole deu de ombros. — Quem vem jantar mamãe e por que todo o alarido? Cook estava absolutamente enlouquecendo esta tarde nas cozinhas o lugar parecia como se fôssemos banquetear a realeza. — O duque de Clayborough — Jane respondeu. — Por que não usar o seu vestido amarelo? Ou o verde? Nicole congelou. Por um momento, estava certa de que tinha ouvido mal. — O duque de Clayborough? — Sim. Então você vai usar o amarelo? É melhor eu descer. Ele deve estar aqui a qualquer momento. Nicole assentiu, sem ouvir uma palavra, olhou para a porta depois que ela foi fechada. Então deu um grito feroz e frustrado. Ele ousaria vir aqui... Foi demais, ela não aguentaria e não o faria, não faria. Nicole andou em um frenesi como e poderia enfrentá-lo depois de seu último encontro? Não se arrependia do que fizera, mas lhe mostrara que era tudo o que as fofocas afirmavam ser. Em resumo, lhe mostrara que não era uma moça adequada. Cor quente subiu em suas bochechas, a atingira mais uma vez e a beijara em troca. E as coisas que ele disse... Nunca odiara um homem, mas nunca sonhara com beijos de ninguém antes, do mesmo jeito que sonhava com o dele. Foi uma desgraça vergonhosa, não conseguia dormir à noite atormentada por sua impressionante imagem dourada e pela lembrança da sensação de sua boca quente, suas mãos sedutoras e seu corpo duro e poderoso. Ele não estava apenas levando-a a loucura estava arruinando a sua vida. Estava assustada por sua atração por um homem que desprezava, ou um homem que deveria desprezar. Lembrou-se de uma conversa com sua prima, Lucy Bragg, de dois verões atrás. Longe de acalmá-la, a lembrança provocou uma sensação de pânico. Naquele verão, em 1897, Nicole e sua família foram para Paradise, no Texas, para a celebração do octogésimo aniversário de seu avô, Derek Bragg, um homem que nascera nas montanhas do Texas e domara a fronteira, fundando um império para ele e sua família no processo. Nicole e Lucy sempre foram as melhores amigas, apesar de só se encontrarem em verões alternados quando Nicole era criança e adolescente, se juntou a seus parentes americanos por um mês ou dois. Nicole e Lucy não só eram as melhores amigas, mas tinham compartilhado mais más ações do que quaisquer duas garotas em todo o estado, ou talvez até mesmo em todos os Estados Unidos da América. Naquele verão, Lucy fizera uma confissão chocante para Nicole. Na noite da festa de aniversário, o garanhão premiado de Derek fora roubado e um homem fora assassinado. Um dos novos moradores do rancho havia sido baleado nas costas, e logo descobrira que ele fora um criminoso fugitivo de Nova York. Quando Lucy entregou seu coração a Nicole, aquele homem, Shoz Cooper, estava na prisão local, recuperando-se de sua lesão. Lucy dissera a Nicole que ele a beijara mais de uma vez e que ela gostara. No entanto, também dissera a Nicole que o desprezava. Na época, Nicole ficou surpresa, nunca tendo sido beijada e de modo algum entendendo como alguém poderia gostar do beijo de um homem enquanto não gostava dele. No entanto, lembrar da confissão de Lucy não aliviou seus próprios medos agora. Shoz Cooper se revelou inocente, ele e Lucy estavam agora noivos e se casariam no mês de junho seguinte. Então Lucy só pensava que o desprezava, na verdade ela o amava. Nicole não estava apenas com medo de como ansiava pelos beijos do duque, temia que, como Lucy, seus sentimentos fossem mais profundos, ela se recusou a considerar até que ponto seus sentimentos poderiam ser mais profundos. Podia se recusar a descer, mas essa era a saída do covarde, nunca foi uma covarde nem mesmo durante o escândalo e não começaria agora, morreria antes de perder a coragem diante do maldito duque de Clayborough. Annie bateu no mesmo instante em que Nicole decidiu que não só se juntaria ao ilustre convidado para o jantar, como também se vestiria para a ocasião. — Annie, qual é o meu vestido mais ousado que tenho? Annie ficou boquiaberta para ela. — Eu não sei, minha senhora, eu teria que olhar através de suas coisas. — Então vamos olhar — disse Nicole sombriamente, uma ideia se formando. O duque estava ciente desde o momento em que entrou no vestíbulo e entregou o manto ao mordomo, com todos os nervos do corpo tensos de antecipação. Cumprimentou seu anfitrião, anfitriã e Chad, mas ficou desapontado que Nicole não estivesse presente. Sabia então que ela não iria se juntar a eles para o jantar, deveria ter ficado aliviado, mas ele não estava. Shelton serviu-se a si próprio e a Chad, sua esposa um xerez e preparou o chá para o duque. Não era segredo que o duque de Clayborough nunca bebeu álcool. O duque acomodou-se em uma grande poltrona. Shelton pegou a oposta. — Então como está indo seu trabalho no Chapman Hall? — ele perguntou. — Estou quase terminando. Voltarei a Londres daqui a alguns dias. — Você a restaurou rapidamente. Eu me lembro do Hall estar em um estado lastimável. — Sim, foi. — Os dois homens começaram a discutir alguns dos reparos que o duque fizera no salão. Alguns minutos depois a porta se abriu e Nicole entrou. Shelton parou o que estava dizendo no meio da frase com os olhos arregalados. Chad quase engasgou com o gole de conhaque que havia tomado. A condessa ficou olhando, evitando separar os lábios em um enorme O. Mas o duque não viu a surpresa e o espanto, pois estava preso no caos louco de seus sentidos concorrentes. Nicole sorriu para a mãe. — Me desculpe mãe, estou atrasada. Rapidamente Jane se levantou correndo em sua direção. — Tudo bem. Por favor, venha conhecer nosso convidado. O duque levantou-se todas as suas boas intenções fugiram imediatamente esquecidas. Ela usava um vestido vibrante cor de coral, fora do ombro e ousadamente decotado. Era mais adequado para um baile do que uma refeição em casa e revelava o tom de pêssego de suas bochechas e a rosado de seus lábios. Seu cabelo estava penteado da maneira atual, usava pérolas na garganta e nos ouvidos. Quando ela fez uma reverência ele tremeu por um momento. Pois estava prestes a mostrar todos os seus magníficos seios. Nicole se endireitou graciosamente. — Mas nos conhecemos, mãe — disse ela, com os olhos segurando os dele. Sua expressão era suave, mas não havia como ele sentir falta do sarcasmo açucarado em seu tom. E não havia nada educado em seus olhos, pois gotejavam de raiva. — Não é verdade, Sua Graça? Você poderia dizer que somos velhos amigos e conhecidos? Sua mandíbula se apertou, e todo momento íntimo que eles compartilharam passou por sua mente. — Eu acredito que tive a honra de uma introdução — murmurou educadamente. Seu olhar era escuro e perigoso alertando-a parar. Mas as linhas de batalha foram claramente desenhadas, o desafio lançado por ela e ele não confiava nela, no mínimo. — De onde vocês dois se conheceram? — perguntou o conde. Nicole sorriu sabiamente. — Talvez a Sua Graça devesse responder isso. A raiva brilhou nos olhos do duque, pois tinha certeza de que ela pretendia causar-lhe algum dano de qualquer maneira que pudesse. — Ele se virou para o anfitrião. — No baile de máscaras de Adderlys, eu acredito. — Oh sim! Eu ouvi dizer que te deram uma festa — disse Jane, com um sorriso rápido e um olhar incerto que viajou com a velocidade do relâmpago do duque para sua filha. Nicole ainda usava aquele meio sorriso estranho e zombeteiro. — E é claro — ela disse suavemente — nós reforçamos nosso conhecimento em Chapman Hall, não foi? — Ela se virou para ele interrogativamente. Raiva brilhou em seus olhos novamente com sua ousadia, enquanto não tinha escolha a não ser lembrar como haviam aprofundado seu conhecimento com ele jogando-a de costas na grama. O silêncio encheu a sala. — Foi muito amável e gentil da sua parte — o Duque finalmente disse, quando conseguiu encontrar a sua língua — para me chamar e me receber no país. Nicole riu o som rico e rouco. — Foi tão gentil da minha parte. — Seu olhar foi mordaz ambos sabiam muito bem que era Hadrian que a convidara para Chapman Hall para uma sedução. Mas Nicole não terminou. — E foi muito gentil da parte dele me convidar para andar com ele. — Ela sorriu docemente. — Me mostrou os jardins gostei disso — disse a seus pais e a Chad e olhou com expectativa para o duque. O duque quase engasgou. — Uma boa ação merece outra — disse rigidamente, pensando em como adoraria coloca-la sobre o joelho e bater em seu traseiro, independente dela ser uma mulher adulta. Nicole deu-lhe um olhar que dizia não se arrepender e que não tinha intenção de acabar com as provocações. — Nós acabamos naquele pequeno e doce riacho, você sabe, aquele que cruza nossa propriedade. Não que nós nos importássemos onde estávamos, por quais são os limites entre os novos vizinhos? — Ela deu-lhe outro olhar este longo e íntimo, o olhar de uma mulher que esteve com um homem e o quanto está interessada em repetir o encontro. Seu olhar se alargou um pouco antes de retomar sua expressão inescrutável. Mas ele estava furioso e amaldiçoando-a em voz baixa, sabendo que iria brincar com ele até que se entediasse com o esforço, sabendo que este jogo perigoso dela era algum tipo de vingança desprezível por seu erro insensível em pensar que ela fosse casada e tentado iniciar um caso com ela. A tensão estalou no ar e ele sabia que sua família estava ficando perturbada enquanto tentavam entender os significados mal escondidos por trás de suas palavras. Era hora de jogar seu jogo por suas regras e ensinar-lhe uma lição que ela havia pedido. Deu um pequeno sorriso mordaz para ela. — Você quase sofreu um grande dano à sua pessoa, se bem me lembro — ele disse suavemente. Um rápido rubor subiu pelas bochechas de Nicole, seu pequeno sorriso triunfante desaparecendo. Olhou-o com olhos arregalados e espantados. — Quando seu cavalo fugiu de você — acrescentou. Seu alívio era transparente. — Como eu te devo — ela conseguiu. — Por te salvar? — Perguntou suavemente, pensando em como sua virgindade mal lhe escapara. — Um homem honrado não poderia ter feito outra coisa senão estender-se a fim de aliviar a aflição de uma dama... — Ele se lembrava muito claramente da angústia física dela quando estava em seus braços e debaixo de seu corpo quente e excitado, como teria adorado aliviar sua agonia! — Eu não posso te agradecer o suficiente. — Ela mal conseguiu pronunciar as palavras. — Mas você já tem — disse ele. — Porque não foi esse o motivo da sua segunda visita? Sua mandíbula se apertou. — Claro. Ele tocou o lado de sua bochecha onde ela o cortou com o chicote. Apenas a menor cicatriz rosa era visível se alguém se incomodasse em olhar bem de perto. — Você teve muita sorte — disse ele, lembrando-se de como sua selvageria incitou sua luxúria. — Tanta sorte — Nicole olhou. Chad quebrou o silêncio que se seguiu à sua volta, um silêncio onde eles se entreolharam, os olhos brilhando. — Nicole é uma cavaleira muito boa. Não consigo imaginar o cavalo dela fugindo com ela. — Bem, você vê — disse o duque, sem sorrir, lembrando-se de seu corpo macio sob o dele — minha montaria foi bastante deserdada, com uma mente e inclinação própria. Foi minha culpa. Fora de controle, eu passei por cima dela, eu não pude parar até o último momento. Nicole fez um som abafado. Ele estava terrivelmente consciente dela de pé ao seu lado, alguns centímetros entre eles, em seu brilhante vestido de baile laranja. Seus seios estavam arfando agora, ofegando com sua fúria. Ele se perguntou se poderia controlar sua natureza selvagem, ou se o vulcão de seu temperamento estava prestes a entrar em erupção. Mas ela falou docemente, muito docemente. — Eu sou tão sortuda, eu tive a sorte de ser montada pelo Duque, quer dizer, pela montaria do Duque, não é todo dia que isso acontece, não é? — Você quer dizer — gritou o duque — se eu não tivesse cavalgado sobre você, sua égua não teria se esquivado e não teria a distinta honra de salvá-la — Ele achou difícil controlar seu temperamento e seu tom. Nicole ficou sem palavras. O duque sorriu selvagemente. A condessa trocou um olhar preocupado com o marido. Rapidamente, antes que eles pudessem se envolver em mais duelos verbais, ela disse — Por que não entramos e sentamos para jantar? — Jane sorriu muito brilhantemente, deslizou para frente e ofereceu o braço ao duque mas olhou para Nicole. — Você nunca me disse que o conheceu querida. — Nunca surgiu a oportunidade — disse Nicole Como convidado de honra o duque estava sentado à direita do conde. Estavam jantando na menor das duas salas de jantar da casa, a reservada para encontros íntimos ou familiares. A condessa estava sentada no outro extremo da mesa, que comportava doze pessoas, com Chad à sua direita. Nicole se sentou em frente ao duque do outro lado do pai. O duque ajudou Jane e voltou ao seu lugar a tempo de ver Nicole se acomodar em sua cadeira, inclinando-se para revelar uma porção generosa de seus seios. Propositadamente? Ele tinha experiência suficiente para ter certeza disso. Seus trocadilhos mais cedo e sua proximidade, já haviam feito coisas perigosas em seu corpo, acendendo lhe um fogo que ele não desejava, nem agora nem nunca. Com os lábios apertados, ele se sentou, resolvendo manter os olhos longe de sua pessoa. Sua última observação ainda doeu. Ela realmente queria dizer o que ele achava que ela tinha? Se ela ousou se referir a quão facilmente ele ficou excitado em torno dela? Encontrou seu olhar sobre ela novamente, deu a ele um sorriso conhecedor, um que era infinitamente sedutor e infinitamente irritante. Ela estava brincando com ele e se não estivessem ali, em Dragmore, a arrastaria para fora e mostraria o que aconteceu quando ela ousou fazer um jogo tão perigoso com um homem de seu calibre. Nenhuma mulher jamais se atrevera a despertar sua raiva como ela, tanto naquela noite quanto na última vez em que se encontraram. Era uma tola, ou infinitamente corajosa e igualmente imprudente? O tempo diria, ele pensou surpreso ao perceber que antecipava algum tipo de continuação de seu relacionamento. E isso não era apenas impossível, estava fora de questão. Ela estava olhando para ele e seus olhares se encontraram. Embora estivessem aqui em Dragmore jantando com sua família, sua vez chegaria em breve. Segurou seu olhar por tanto tempo que deixou de ser educado, forçando-a a se afastar primeiro. — O que você pretende fazer com Chapman Hall? — perguntou o conde quando serviram o primeiro prato, um salmão frio em molho delicado de limão. — Eu não decidi, mas talvez irei colocá-lo à venda. — Tanto trabalho só para vender? — Nicole perguntou seu tom provocativo. Seu duro olhar castanho se encontrou e segurou o dela, novamente. — Alguns esforços exigem trabalho e quanto mais trabalho maior a recompensa final. — Ele poderia estar se referindo a praticamente qualquer coisa, mas neste caso, ele estava se referindo a ela. Ela sorriu. — E às vezes pode haver um tremendo trabalho e nenhuma recompensa. — Ela encontrou seu olhar. Como gostaria de jogar este jogo até o fim, ele pensou. Como gostaria de levá-la onde ela estaria imersa em seu poder, incapaz de negá-lo. — Tais casos são muito, muito raros. — De repente, virou-se para a mãe de Nicole sem querer continuar as brincadeiras, com medo de já terem revelado demais. — O salmão esta delicioso, Lady Jane. Jane não se conteve de lançar seu olhar entre eles. — Estou feliz — ela conseguiu fracamente, finalmente captando o olhar de seu marido. Entendendo-a, o conde começou um tópico mais inofensivo: o estado do mercado. Embora as economias não fossem geralmente discutidas em companhia mista, como o chefe da família, o conde poderia abordar o assunto que ele escolhesse. No entanto, ambas as mulheres pareciam interessadas o suficiente na conversa para ouvir atentamente. O duque respondeu ao seu anfitrião automaticamente, mas sua atenção estava em outro lugar. Pois Nicole continuava a colidir com ele, desta vez lançando lhe longos olhares por baixo dos cílios, certa de que não haveria consequências. Depois da refeição todos eles foram levados juntos ao salão para desfrutar de bebidas depois do jantar. O conde lhe perguntou se ele se importava com a companhia das damas. É claro que agora o duque estava completamente irritado, tendo que suportar a sedução de Nicole durante todo o jantar e teria adorado ter um charuto da paz com o Earl e Chad sozinho. Como cavalheiro, no entanto, ele não podia recusar. Mas vinte minutos depois, Nicole se desculpou, com um último olhar para o duque. Ele a assistiu sair. Ela estava sinalizando para ele? O olhar que ela lhe dera tinha sido gelado, presunçoso e de alguma forma tímido de uma só vez. Depois de cinco minutos, se desculpou momentaneamente da reunião. Seu anfitrião iria assumir que estava respondendo a uma necessidade natural. Enquanto caminhava pelo corredor, deixando o salão para trás, seus sentidos se agitaram. Ele sabia que ela estava em algum lugar próximo. E quando ele passou pela biblioteca, um olhar lhe disse que ele estava certo. Ele parou. Ela estava deitada no divã de lado lendo. A pose intencional ou não, era de uma Vênus clássica. Seus quadris estavam cheios, curvados e exuberantes, seus seios voluptuosos derramando de seu vestido, arregalou os olhos ao vê-lo. Ele não podia ter certeza se era um ato de provocação ou não. Ele sorriu, seu primeiro sorriso de verdade naquela noite e foi infinitamente perigoso. Entrou na biblioteca e fechou a porta. Nicole ofegou largando o livro. — O que você pensa que está fazendo? Você não pode entrar aqui. — Eu não posso? — Ele andou em direção a ela. Ela se sentou embora seus pés não caíssem no chão. Ele assistiu a ascensão e queda de seus seios, apreciando a vista. — Você jogou — ele disse suavemente — e agora você pode pagar. Com isso ela ficou de pé. Naquele momento, ele saltou sobre ela, fazendo-a gritar quando ele a puxou contra ele. — Você se divertiu esta noite, Nicole? — Você se divertiu? — ela jogou de volta desafiadoramente. — Não — ele disse, — mas pretendo agora. Certo do que estava vindo tentou libertar-se do aperto dele. Ele recusou-se a deixá-la ir embora uma parte de si mesmo ficou chocado com o desrespeito que estava mostrando por seu anfitrião e com seu descarado desrespeito por quaisquer consequências que pudessem acontecer. Ignorou aquela parte de si mesmo e puxou-a contra ele e a beijou. Ela fez ruídos incoerentes de protesto furioso, que ele ignorou, manteve um aperto de aço em seus pulsos, moldando sua boca com a dele, sua paciência sem fim. Ela respirou fundo e ele aproveitou o momento, empurrando sua língua profundamente dentro dela. Ela engasgou quando começou a empurrar em sua boca insistentemente, implacavelmente e então ela ficou em seus braços. Seu ataque implacável não cessou, transferiu seus pulsos para uma mão e com a outra pegou suas nádegas, puxando-a contra si. Ela se tornou mais flexível em seu abraço, gemendo baixinho. Sua própria postura mudou não mais o predador inimigo, aliviou seu aperto e seu abraço tornou-se um abraço doce e inebriante. O beijo deles se tornou um acasalamento mútuo. Ele continuou e continuou. Um barulho se intrometeu em seus sentidos. A consciência de quem ele era, quem ela era, onde eles estavam e o que estavam fazendo era instantânea. Ele empurrou-a dele. Ela tropeçou, corou e ofegou. O olhar que ela lhe deu foi desfocado, o de uma mulher no auge da paixão. — Minha recompensa — disse ele com voz rouca. Sabendo que não poderia ficar com ela em outro momento, sabendo que ser pego ali seria a ruína de ambos, abruptamente se virou e saiu pela porta deixando-a ali, atordoada. Ele estava na metade do corredor quando a ouviu amaldiçoá-lo e então ouviu o som de vidro se quebrando. Se perguntou o que ela havia quebrado, mas não conseguia sorrir. A vitória nem sempre foi doce. Capítulo 6 Jane saiu de seu próprio quarto que era dentro do quarto do conde. Ela nunca, jamais dormiu em sua própria suíte, mas manteve todos os seus pertences lá e ocasionalmente se sentava em frente ao fogo com um romance. Agora parou na porta, vestida com um roupão de seda azul, sua expressão preocupada. O conde estava despido até a cintura, ainda de calça comprida, os pés descalços. Com cinquenta e poucos anos, possuía o corpo esguio e rígido de um homem que gastara e passara grande parte do seu tempo em trabalho físico. Ele aprendera a gostar de um trabalho físico duro quando menino, no Texas e não era um hábito que jamais desejara quebrar. Até hoje, se houvesse um muro de pedra a ser construído ou um celeiro para ser levantado, ele de bom grado estava dentro, se o tempo permitisse. Agora, ele encontrou o olhar azul de sua esposa, suas próprias feições sombrias. Ela mordeu o lábio, vindo para frente. — O que é que está acontecendo entre eles, Nicholas? — Então você viu também? — Como eu não podia ver!? Por tudo o que ele tentou esconder, o duque estava quase fervendo e Nicole, eu juraria que ela estava brincando com ele, provocando-o. O conde sentou-se num divã para tirar as meias. — Eu nunca vi Nicole assim antes. De repente, os olhos de Jane brilharam de excitação. — Nicholas, ela se vestiu para ele. Ela está interessada nele. O conde se endireitou, seus olhos cinzentos extraordinariamente pálidos cintilando. — Você parece feliz. Você perdeu a cabeça? Jane endureceu, pois o marido nunca falou com ela dessa maneira. — Garanto-lhe todas as minhas faculdades estão intactas. — Eu sinto muito — ele gemeu, imediatamente de pé e puxando seu corpo pequeno e magro em seu abraço. — Eu estou chateado e estava descontando isso em você. Ela se agarrou a ele, amando a sensação de seu corpo duro e poderoso, amando-o ainda mais do que quando se conheceram quando ela tinha dezesseis anos. Uma vida inteira atrás, uma vida maravilhosa atrás. — Nicholas, devemos nos preocupar, mas... — Ela respirou fundo. — Você pode imaginar? Nossa filha, uma duquesa? Nicholas a soltou incrédulo. — Jane, você não está pensando direito! O duque de Clayborough está prometido. — Eu sei disso. Mas os noivados podem ser quebrados. Nicholas olhou para ela com muita severidade. — Não neste caso — ele disse categoricamente. — Eu conheço Clayborough bem o suficiente. Ele vive pelo lema de sua família — Honra primeiro. — Mesmo se ele cair loucamente apaixonado por nossa filha ele nunca, jamais quebrará seu noivado. Em vez disso, quebrará o coração de Nicole. — Oh querido — disse Jane. Nicholas se virou, passando a mão pelos cabelos negros e grossos, riscados de cinza. — Então, o que quer que esteja acontecendo entre eles, acabou. Quanto mais cedo Clayborough voltar a Londres, melhor para todos nós. — Mas você disse que ele é honrado e tenho certeza de que você está certo. Basta olhar para ele para saber que é um homem bom e correto. Nunca faria algo desfavorável para comprometer Nicole. Estamos nos preocupando demais. Nicholas se virou com uma expressão irônica no rosto. — Jane ele é um homem. Esse fato fala por si mesmo. Ou você esqueceu que às vezes os homens de honra se comportam de maneira mais desonrosa quando as mulheres que amam estão envolvidas? Ambos foram jogados de volta para outro tempo, neste mesmo lugar, quando ela tinha dezesseis anos. — Agora estou preocupada, Nicholas — disse Jane e ela foi para os braços dele. Nicole fingiu dormir demais, mas no momento em que ouviu os cascos do lado de fora da janela, saltou da cama para ver seu pai e Chad saindo dos estábulos. Ela mordeu o lábio nervosamente, depois correu para a cômoda, tirando uma camisa branca solta e calça. Ontem à noite ela ficou furiosa, mas esta manhã ela estava estranhamente excitada, quase exultante. Não que ela ainda não estivesse zangada, claro. Era o auge da arrogância para o duque ir jantar lá depois do que se passara entre eles, depois de suas suposições sobre ela, seu interesse por ela e sua rejeição a ela. Muito pior eram as liberdades que ele ousara tomar na biblioteca, com seus pais a poucas portas de distância. E se ela tivesse a coragem de enfrentar toda a verdade, havia a questão de sua própria resposta aos seus avanços a considerar, havia se rendido a ele com apenas uma palavra! Apenas recordando trouxe raiva, vergonha e humilhação. Teria ele pretendido humilhá-la, seduzindo- a? Nicole não se surpreenderia, agora que sabia de sua reputação escandalosa de mulherengo. Obviamente, o homem não tinha moral nem senso de honra. Nicole pretendia dizer-lhe exatamente o que ela achava de seu comportamento desprezível. Vestiu-se e voou escada abaixo, sabendo que não veria ninguém além do pessoal a esta hora adiantada, sua mãe gostava de dormir até quase oito, o que ainda era antiquado para uma dama se levantar. O estômago de Nicole estava cheio de antecipação, então ela não parou nem para uma xícara de chá. Em vez disso, correu para o celeiro e pediu que um dos cavalariços selasse seu grande garanhão sanguíneo. Ela partiu a galope o ar da manhã estava frio e fresco, prometendo a morte súbita do outono. Ela galopou pelo caminho, depois desviou do outro lado dos gramados, pulando uma parede de pedra sem esforço. No prado seguinte, ela espalhou as ovelhas e cordeiros, rindo em alegria, em seguida tomou outro muro em uma exibição crescente de equitação soberba. Eles voaram por um caminho através da floresta, agitando as folhas douradas e marrons sob os pés. Uma milha depois, Nicole puxou a montaria para a beira dos gramados, em vista do Chapman Hall. Seu coração estava batendo descontroladamente em seu peito e suas bochechas estavam coradas do passeio louco. O garanhão fungou impaciente, ainda querendo fugir. — Mais tarde — disse Nicole, acariciando seu pescoço quente. Olhos brilhantes, ela incitou o animal para frente. Era cedo, mas o som de carpinteiros vinha dos estábulos, seus martelos soando alto. Nicole se dirigiu para a casa, descendo o cavalo. Ela amarrou-o a um poste e subiu os degraus, batendo a pesada aldrava de latão. Não houve resposta. Nicole bateu várias vezes, ficando perturbada. O duque podia não estar, mas com certeza sua equipe estava lá. No entanto, a casa parecia vazia, deserta. Desânimo subiu em seu peito. Nicole recuperou as rédeas da montaria e caminhou decididamente para o celeiro. Talvez ele estivesse lá, dentro dos estábulos, supervisionando seus homens. Senão certamente eles saberiam onde ele estava. Tinha que estar aqui, não é? Deixando o garanhão do lado de fora ela entrou seus olhos se ajustando à luz fraca. Os dois homens pararam de serrar e bater, virando-se para olhá-la. — Estou procurando o duque — disse ela, reconhecendo os trabalhadores como homens da aldeia de Lessing. Ainda assim, o seu respeito flagrante a deixou desconfortável. Nunca entrou em contato com os trabalhadores, a menos que estivesse viajando com seu pai e Chad. Estava nitidamente consciente de seu traje masculino e sendo desacompanhada e desprotegida. — Ele não está aqui — disse o homem mais velho, olhando para ela. O jovem se endireitou, malicioso. — Ele não está aqui, mas nós estamos. Nicole deu-lhe um olhar duro que o avisou para não pensar em pensamentos desagradáveis. — Onde ele está? E por que ninguém está atendendo a porta do Hall? O jovem, cujo nome ela achava ser Smith, avançou. — Não há ninguém lá. É por isso, senhorita. — Ninguém lá? — ela repetiu. — O duque e sua equipe já se foram — disse o homem mais velho. — Agora, por que você está tão interessada em Sua graça? — Smith sorriu conscientemente. Nicole não ouviu. — Foi para onde? — De volta a Londres — o velho disse. — De volta a Londres — repetiu Nicole, mal conseguindo absorver essa informação. — Mas quando ele voltará? — Ele não disse. — Mas enquanto você espera que ele volte, sempre há eu — disse Smith, aproximando-se. — Vá para o inferno! — Nicole estalou, assustando os dois homens. Ela girou e correu do celeiro, ainda tentando compreender que o duque tinha ido embora. Ela montou seu cavalo, empurrando-o em um trote rápido. Foi! Ele se foi! E não havia dúvida sobre isso, o coração dela tinha afundado até os dedos dos pés. Ela estava absolutamente vazia. Ele entrara em sua vida de forma tão abrupta e da mesma maneira abrupta se fora. Um dia só havia sua família, seus cavalos, seus livros e Dragmore, no seguinte havia o duque dourado e viril. Mas agora ele se foi. Deveria estar aliviada e procurar ser feliz. Ela não era nenhuma dessas coisas e ficou profundamente desapontada. — O que há de errado com você? — ela disse em voz alta. — Você realmente enlouqueceu? Ele tem apenas as piores intenções em relação a você, está prestes a se casar com outra e você está de luto por sua ausência. A lógica não subjugou seu estranho tremor, nem elevou seus espíritos. Ela desacelerou a montaria para uma caminhada quando chegaram à trilha que corria pela floresta. Poucos minutos depois chegaram ao riacho de corrida e Nicole foi assaltada com a lembrança de como haviam cavalgado até ali e como ele a beijara, tocara- a. Parou a montaria, escorregou e se ajoelhou ao lado do riacho, tocando a água gelada. A vida nem sempre foi justa. Mas tinha aprendido isso há muito tempo, então por que estava se sentindo tão dolorosamente triste agora? Por que ele voltou a Londres tão abruptamente? Ontem à noite dissera que estaria saindo em poucos dias. Ontem à noite... ele tinha ido embora por causa da noite passada! Nicole se endireitou certa de que ela era responsável depois de ter ido longe demais. Mas ele tinha começado isso simplesmente indo para Dragmore quando poderia ter feito suas desculpas. E ela não foi a única a insistir no confronto e neste caso, ela ansiosamente se preparou para a ocasião, saboreando a batalha. O que isso importava? Ele não era para ela e nunca seria. O máximo que podia esperar era mais de seus beijos, ou pior, dormir em sua cama. Ao pensar, Nicole corou. Sexo era um tópico que as damas nunca discutiam, mas ela entendia o básico do ato, tendo sido criada na propriedade e visto um garanhão ser colocado em uma égua uma vez. Foi chocante, mas emocionante. Ela nunca tinha visto um homem nu, mas ela sentiu a masculinidade do duque quando ele se pressionou contra ela e podia imaginar como ele era. Imaginar o que sentiria dentro dela. Crescendo muito quente, ela cegamente acariciou o pescoço de seu cavalo, sabendo que deveria estar envergonhada com a direção que seus pensamentos estavam tomando. Mas não estava envergonhada, de modo algum e esse era todo o problema. Claro, ela nunca iria dormir com ele dessa maneira, era o cúmulo da fantasia imaginar o que estava imaginando. Nem ela nunca mais teria seus beijos, seus beijos perigosos e fumegantes. Um nó se formou em sua garganta, uma sensação de pânico sufocante. Ela se recompôs. — É o melhor — disse ao garanhão, que estava mordiscando um pedaço de grama. Montou abruptamente, empurrou-o para um galope e não parou de novo até chegar ao estábulo em Dragmore. Lá entregou sua montaria a um cavalariço e correu de volta para a casa, mantendo sua mente abençoada e intencionalmente vazia. Ao passar pela sala de jantar, sua mãe gritou para ela, parando- a em seu caminho. Nicole entrou surpresa ao ver a mãe a mesa, pois costumava tomar chá e bolinhos no quarto enquanto se vestia. — Bom Dia mãe. — Nicole entrou hesitante, instintiva, deixando- a desconfortável. — Aldric diz que você ainda não comeu — Jane sorriu, parecia um pouco cansada, como se não tivesse dormido bem. — Sente-se e junte-se a mim, querida. — Jane serviu-lhe uma xícara de chá, entregando-a enquanto Nicole se sentava. — Eu não estou com muita fome hoje. — Você está se sentindo bem? — Sim, estou bem. — Eu não pude deixar de notar que você não saiu com seu pai e Chad hoje. — Eu... eu estava cansada da noite passada. Jane assentiu e passou manteiga em um muffin quente, entregando metade para sua filha. — Você gostou do seu passeio esta manhã? Nicole ficou vermelha. Jane colocou o bolinho no prato, sem ter dado uma mordida. — Nicole, onde você foi? Nicole não conseguiu segurar o olhar direto de sua mãe. A cor inundou suas bochechas. — Apenas ao redor. — Para Chapman Hall? Nicole ofegou. — O que... o que faz você pensar que?! — É melhor conversarmos — disse Jane gentilmente. — Não há nada para falar — gritou Nicole, em pânico. — É óbvio que há algo entre você e o duque de Clayborough. — Mãe... você está errada! — Nicole começou a se levantar, mas Jane a conteve. — Então eu estou feliz, pois ele está noivo e logo ele se casará com sua noiva. Ele nunca vai acabar com isso, Nicole — Jane disse gentilmente. Nicole sabia disso, mas ouvir as palavras de alguma forma doía. — Não há nada entre nós — disse Nicole rigidamente. — Eu o acho desprezível, se você deve saber a verdade. Ele é um idiota arrogante e pomposo. Jane estava visivelmente chocada. De repente, Nicole ficou olhando para a mãe. — Mãe, você vai voltar para Londres hoje? — Sim, esta tarde. Eu não me sinto bem deixando Regina lá, mesmo com Lady Henderson. Afinal, eu deveria estar compartilhando sua temporada com ela. Nicole molhou os lábios. — Eu vou com você. Vou arrumar as malas agora! Jane piscou. — Mas você nunca vai à cidade. Você odeia Londres. — Eu mudei — anunciou Nicole, em pé. — Eu estou entediada com a vida aqui, eu preciso sair, conhecer pessoas. Você não concorda? — Tem sido o desejo mais profundo meu e do seu pai — declarou Jane, surpresa. — Não é saudável ficar isolada no país na medida em que você faz. — Eu vou estar pronta em pouco tempo — declarou Nicole, piscando um sorriso e correndo da sala. Jane a observou ir embora, sorrindo também. Era disso que sua filha precisava, para sair de novo no jogo, onde ainda podia encontrar um homem qualificado, onde ainda encontrasse amor. E o fato de o Duque de Clayborough estar aqui em Chapman Hall fez com que Nicole se juntasse a ela e a Regina em Londres. Ainda sorrindo, Jane pegou seu muffin, seu apetite restaurado. Capítulo 7 O duque chegou a Londres naquela tarde e foi diretamente para sua residência no Nº. 1 Praça Cavendish. Clayborough House era uma visão imponente, ocupando todo o quarteirão no lado norte do gramado. Fora construído no início do século XVIII para o primeiro duque de Clayborough e sofrera desde então algumas adições. Seis andares de altura, toda a fachada frontal voltada para a rua continha uma centena de janelas e três torres. O telhado fez a estrutura parecer ainda maior, por causa dos três frontões gigantes que subiram por vários andares adicionais no céu. Cada um ostentava o brasão de armas de Clayborough, incrivelmente enorme. A mansão era isolada da rua por uma balaustrada de pedra imponente e primorosamente projetada, exceto onde a escadaria de pedra, que era larga o suficiente para acomodar uma dezena de convidados, se eles escolhessem entrar de uma vez só, descia a rua. O duque enviara alguns de seus funcionários para Londres na noite anterior, depois de jantar em Dragmore e agora Woodward o cumprimentava na porta. O duque fez sinal para que ele seguisse e eles percorreram um corredor de piso de mármore preto e branco que se transformava em uma biblioteca que podia acomodar metade do Chapman Hall. Ele foi até sua mesa, tirou um de seus cartões do bolso e rapidamente escreveu uma nota pessoal sobre ele. Entregou ao mordomo. — Envie isto para Lady Elizabeth agora. — Haverá mais alguma coisa? Um pouco de chá com o seu banho, Sua Graça? O duque assentiu descuidadamente e subiu as escadas correndo. Sua própria suíte também tinha piso de mármore, dourado e branco. Uma vez o quarto tinha sido apontado como se para abrigar a realeza. Após a morte de seu pai, ele imediatamente removeu todos os móveis, exceto por alguns e redecorou como escolheu. O gosto de Francis tinha sido muito decorativo e caprichoso para se adequar ao seu, mas mais precisamente, o duque não queria nenhuma lembrança de seu pai presente, tendo memórias suficientes para assombrá-lo por toda a vida. Agora, dezenas de tapetes persas cobriam o chão, proporcionando calor à noite, quando o duque gostava de andar descalço. Uma velha poltrona otomana, estofada em um rico couro de vinho, estava de frente para a lareira, com um banquinho chinês do século XVI nas proximidades, para que o duque colocasse seus papéis e livros. Já gostou de antiguidades orientais, Hadrian selecionara para uma parede uma imensa tela chinesa de laca preta incrustada com madrepérola, projetada com um motivo floral por cima e cortando cavalos abaixo. O resto do mobiliário era uma coleção um tanto eclética de peças que Hadrian escolhera estritamente para o conforto e o valor utilitário. A única herança de família que restava na sala era uma secretária de mogno do século XVIII que ele não removeria, sabendo que seu avô, o sétimo duque de Clayborough, que morrera vários anos antes de ele nascer, gostava muito dela. A sala era bastante diferente do resto da casa, mas era seu santuário pessoal e tudo dentro dela o agradava. Ele tinha certeza de que Elizabeth o odiaria no momento em que o visse, assim como Isobel odiara, dizendo-lhe sem rodeios que estava — terrivelmente feio — mas ele não se importava. Ele conhecia bem Elizabeth e ela não o desafiaria quando ele lhe dissesse que nem uma polegada de sua suíte estava sujeita a mudanças. Na verdade, ela certamente nunca abordaria o assunto novamente. Seu criado já havia preparado o banho no banheiro, que também era pavimentado em mármore e tão grande quanto a maioria dos quartos de campo. Aceitando o chá, o duque se despiu e afundou na sumptuosa banheira submersa. Atualmente ele pretendia visitar Elizabeth, pedir desculpas a ela por sua negligência e determinar o estado de sua saúde. No entanto, sua intenção não era retornar a Londres hoje ou até amanhã. Não até a noite passada. Sua conduta foi escandalosa. Sua conduta fora igualmente escandalosa, mas isso não era desculpa. Obviamente, era o personagem de Nicole Shelton que desafiava as convenções. Depois de testemunhar seu comportamento altamente incomum e bastante chocante várias vezes agora, ele não podia mais ficar surpreso por ela ter sofrido um escândalo que ela própria fez há alguns anos. Um pequeno sorriso de repente puxou sua boca. Ninguém jamais a acusaria de ser chata. A convencionalidade era entediante, era por isso que ele não gostava da rotina das festas, das casas e dos passeios sociais que o resto da turma gostava tanto. De repente, ocorreu-lhe que, de certo modo, ele e Nicole não eram muito diferentes. Seu sorriso desapareceu abruptamente. Ele perseguiu um pensamento tão ridículo fora de sua cabeça. Ele era considerado um tanto recluso, seu desdém pelo turbilhão social era bem conhecido, mas nunca provocou um escândalo e seu comportamento certamente não causou aborrecimento nas línguas. Com exceção de seu extremo interesse em negócios, que não era considerado apropriado para um nobre de qualquer categoria, certamente não era sua propensão a desafiar as convenções. O duque percebeu que, longe de relaxar na banheira de água quente, estava perturbado e quase com raiva agora. Recordando sua batalha verbal na noite anterior e sua física, como ele poderia esquecer? Ele não tinha certeza se estava com raiva de Nicole ou de si mesmo. Apenas uma coisa parecia estar clara. Seu controle de ferro, sua vontade e sua autodisciplina não eram o que ele pensava que fossem, não no que dizia respeito a Nicole Shelton. Ele ficou mais perturbado, pulou da banheira, a água caindo em cascata por seu corpo nu e poderoso. Decidiu que o tempo acabaria com sua atração por ela. Ela estava agora em Dragmore e ele não pretendia voltar a Chapman Hall até que seu interesse por ela diminuísse. Nunca fora indigno de confiança em nenhum aspecto antes, era indigno de confiança quando estava preocupado. Havia realmente algo do caráter desprezível de Francis nele? Ele estava esfregando uma toalha grossa lentamente sobre seu corpo, agora ele congelou. O pensamento era arrepiante. O duque não sabia ao certo quando começou a odiar o pai, pois não tinha uma única lembrança de nunca o odiar. Foi ainda muito jovem que se deu conta da aflição que seu pai causou à mãe, ganhou seu primeiro tapa quando tinha quatro anos por tentar proteger Isobel dele. O golpe o feriu, mas isso não foi nada comparado ao medo terrível que se seguiu. Não apenas medo por si mesmo, mas medo por sua mãe. Pois, ao ver seu filho ferido, Isobel ficou furiosa, voando para Francis com a intenção de afundar as unhas no rosto dele. Ainda atordoado por ter sido atingido, Hadrian observara seu pai evitar que Isobel o espancasse e então ele o viu atingi-la e derrubá-la. Francis saiu do quarto depois de rir e chamando-a de prostituta. Hadrian tinha se arrastado até a mãe, chorando, mas para seu alívio ela se sentou e o abraçou, cantando para ele que tudo estava bem. Uma vez que ele viu que sua mãe estava bem, Hadrian estava cheio de um ódio ardente por seu pai que ainda perdurava até hoje. Ele mal ouviu sua mãe dizendo que ele nunca devia interferir novamente entre seus pais. Estava ocupado demais desejando que o pai morresse, um desejo que se cumprira vinte e dois anos depois. Mas ele não era abusivo como Francis, Hadrian pensou, porque nunca em sua vida ele havia ferido uma criança ou uma mulher. Ele não bebeu e não jogou. E ele certamente não tinha inclinação para os meninos. Quando ele era jovem, no entanto, Francis aparentemente gostava de mulheres, pois não era até que ele era mais velho e casado que ele tinha se voltado para os do seu próprio sexo. Um cavalheiro nunca teria abordado Nicole como fizera na noite anterior, mas sem dúvida, era algo que seu pai teria feito sem escrúpulos. O duque lembrou-se de sua briga física fora de Chapman Hall e como ele a tinha batido contra o lado do celeiro depois que ela o atingiu com seu chicote. Ele não pretendia subjugá-la tão rudemente, mas o fez. Ele estava com medo do lado dele mesmo que havia desenterrado, um lado sombrio, que até agora não sabia que existia. Nenhuma outra mulher havia trazido esse lado à luz e isso era mais uma razão para ele ficar longe dela. Estava noivo de Elizabeth, que não era apenas sua prima, mas uma jovem gentil e doce, a conhecera quase toda a sua vida, nunca iria machucá-la nem renegaria seu dever e violaria sua honra ou a dela. Então, por que ele tentou o destino na noite passada em Dragmore? Se ele e Nicole tivessem sido encontrados juntos, teria sido forçado a se casar com ela e romper seu noivado com Elizabeth. Ele tinha sido, Hadrian decidiu sombriamente, temporariamente louco. Uma imagem de Nicole como sua esposa o atacou. Ela seria a pior esposa, insolente, desobediente, sempre provocando seu temperamento. Ao contrário de Elizabeth, que dedicaria sua vida a agradá-lo. Por que estava comparando as duas, quando não havia nada para comparar? No entanto, Nicole tinha querido casar com ele. Assim como agora ela parecia querer enfurecê-lo, uma forma equivocada e imprudente de retorno. De repente ele ficou muito quieto. Ela estava armando uma armadilha para ele? Ela não foi a primeira mulher a querer se casar com ele, longe disso. O duque estava bem ciente de que, a cada temporada, muitas esperançosas debutantes estavam determinadas a chamar sua atenção e fazer com que ele largasse de Elizabeth. Claro, ele as ignorou. Mas não podia mais ignorar o que havia acontecido com Nicole. Ela pensou que ele a estivesse cortejando, enquanto ele pretendia apenas um breve caso. A culpa o reivindicou. Ele a machucou. Pela primeira vez desde que ambos haviam aprendido a verdade um sobre o outro, se atreveu a encarar esse fato diretamente. Claramente se lembrava do choque dela quando pedira desculpas por erroneamente presumir que ela fosse uma mulher casada. E agora que ele ousava recordar esse encontro, podia facilmente lembrar-se da mágoa e da angústia em seus olhos. Então, tentou evitar o conhecimento do que ele tinha feito, mas agora, ele não podia. Ele se sentiu como um asno. Mas ela havia se recuperado rapidamente de qualquer angústia que ele tivesse causado a ela. E ontem à noite ela não tinha sido magoada, pensativa. Ontem à noite ela tinha sido uma sedutora, ostentando sua beleza e desafiando-o a encontrá-la em um confronto de espadas verbais. Ontem à noite ela foi fascinante. Ontem à noite, em vez de se retirar para a segurança de seu quarto, ela se deitara no sofá da biblioteca em uma pose desafiante e provocante. E quando ele tinha mordido a isca, a perseguiu, tomou-a nos braços, ela mal resistiu a ele. Dentro de instantes, ela estava gemendo em abandono. Teria sido uma armadilha? Ele jogou a toalha no chão e ficou nu em seu quarto. Mal ciente do que estava fazendo, vestiu um roupão. Raiva derramou através dele. Ela não seria a primeira a tentar seduzi-lo com sua beleza, mas foi a primeira a quem sucumbiu, tinha certeza agora de que ela tentara seduzi-lo, ver-se comprometida, tê-los capturado por sua família. Por que mais ela teria esperado por ele na biblioteca? Por que diabos mais?
Foi coincidência, mas Elizabeth estava sentada com Isobel, as
duas desfrutando de chá e bolinhos, quando a mensagem do duque chegou. Elizabeth aceitou o cartão que o mordomo lhe entregou, reconhecendo instantaneamente o brasão ducal. — É de Hadrian — ela respirou, um sorriso iluminando seu pequeno rosto e deixando-a quase linda. Isobel também sorriu, pensando que Elizabeth ainda era tão jovem e transparente. — E? Elizabeth virou os olhos azuis brilhantes para a duquesa viúva. — Ele voltou! — ela falou alegremente. — Ele voltou e vem esta noite! — Já estava na hora — disse Isobel. — Não fique muito excitada, querida, você sabe que não estava se sentindo bem hoje. Um rubor rosado cobriu as bochechas de Elizabeth. — Como não posso ficar excitada? Já faz mais de um mês desde que o vi Isobel — as duas estavam em condições íntimas — não fale indelicadamente de Hadrian. Seria diferente se ele estivesse ausente por causa de outra coisa. Mas nós duas sabemos o quanto ele trabalha duro e com que seriedade ele leva suas tarefas. Se eu não o castigar, você também não deveria — As palavras foram ditas com cuidado e gentilmente, pois Elizabeth não era capaz de levantar a voz para ninguém. — Uma mãe tem o direito de repreender seu filho — disse Isobel acariciando a mão pequena e pálida de Elizabeth. — Mas estou feliz em ver a cor de volta em suas bochechas. E acho que é hora de eu ir embora. Embora Elizabeth estivesse ansiosa para subir e se arrumar, ela protestou sinceramente. — Você acabou de chegar! Você não pode ir tão cedo e na verdade, tenho tempo suficiente antes que ele chegue. Isobel sorriu e beijou sua bochecha. — Estou indo embora querida, corra para seus aposentos e troque de roupa, como eu sei que você quer fazer. Elizabeth sorriu. Sua própria mãe gentil morrera quando era jovem e amava muito a duquesa viúva. — Estou tão feliz, finalmente, que você está realmente se tornando uma mãe para mim. — E você sempre foi a filha que eu nunca tive — Isobel disse suavemente, abraçando-a uma vez. E era verdade, pois Isobel sempre gostara especialmente de Elizabeth. Elizabeth sorriu, abraçando o cartão em seus pequenos seios. Ela era uma menina esbelta, pequena, com uma tez de marfim e cabelo loiro fino. As pessoas diziam que ela era bonita, mas Elizabeth sabia que na verdade ela era bastante simples, sendo muito pálida e magra demais, o cabelo muito fino. Ela também tinha uma pitada de sardas no nariz, que ela cobriu com uma fina camada de pó branco. No entanto, Elizabeth não podia saber que para muitos ela era bonita e não tinha nada a ver com sua aparência física real, mas tinha tudo a ver com seu calor. Tão animada que ela estava com falta de ar, Elizabeth correu para sua suíte, chamando por sua empregada. Uma hora depois havia se transformado, em um vestido verde pastel, o cabelo recém- penteado e enrolado em cima da cabeça. Em volta do pescoço ela usava uma tripla vertente de pérolas requintadas com um fecho de diamante, um presente de Hadrian quando ela completou dezoito anos, dois meses atrás. Acabara de se vestir quando o mordomo informou que o duque de Clayborough havia chegado e estava no andar de baixo. Sem fôlego, Elizabeth voou do quarto. O duque se levantou no instante em que ela entrou no salão, com um sorriso em seu rosto, pegando sua mão e beijando-a. Ela o conhecia desde que conseguia se lembrar. Ele a colocou no joelho até que ela ficou grande demais para ele fazer isso e então testou sua resistência durante toda a sua infância, marcando atrás dele a partir do momento em que ela poderia engatinhar quando ele era um deus lindo e robusto. Como a menina de doze anos, até que de repente se tornou consciente de sua feminilidade quando a puberdade a empurrou para a adolescência. Ele até salvou a vida dela quando ela escorregou e caiu em um lago com a idade de oito anos. Ele estava pescando lá com seu golden retriever e como sempre, Elizabeth o seguia. Ela não teve medo quando a água gelada a reivindicou, pois ele era seu herói, ela sabia que ele iria salvá-la. Elizabeth não se lembrava de uma época em que não o amava. — Estou tão feliz que você esteja de volta — ela disse simplesmente, depois de terem trocado saudações. Sentado ao lado dela no sofá, ele se desculpou. — Eu sinto muito por ter estado longe por tanto tempo. — Não se desculpe! Eu entendo, eu realmente entendo. O duque estudou-a. Ela parecia sem fôlego, mas não parecia doente, pois seus olhos estavam brilhando de felicidade e suas bochechas estavam coradas. No entanto, ela estava mais magra. Era tudo muito perceptível agora que sua mãe havia mencionado isso. — Minha mãe disse que você não está bem. O sorriso de Elizabeth desapareceu. — Estou bem, na verdade. É verdade que estou cansada, mas Hadrian, vou a festa depois de festa e às vezes não chego em casa até o amanhecer. Você sabe como é a estação! É de se admirar que eu esteja cansada? Estava certa e sua mãe estava sendo tola, embora se houvesse uma coisa que Isobel não fosse, era tola. — Então você deve voltar para casa mais cedo se cansar tão facilmente. — Eu prometo — disse ela e sabia o que queria dizer com aquilo, assim como ele sabia que ela faria qualquer coisa que pedisse. Nicole e Jane só chegaram a Londres depois da meia-noite, pois não haviam saído de Dragmore até aquela tarde. Regina ainda estava com Lady Henderson. Segundo a governanta, a Sra. Doyle, de rosto comprido, fora ao baile de Barrington. Nicole e Jane se retiraram para a noite. Nicole estava acordada logo após o nascer do sol, incapaz de quebrar seu hábito secular e ansiosa por ver sua irmã, que não via há meses. Enquanto a vida de ontem parecia cheia de tristeza, hoje os pássaros cantavam do lado de fora de sua janela e Nicole sentia-se positivamente exultante. Pela primeira vez em anos, ficou encantada por estar na cidade e ansiosa por quaisquer festividades que o dia trouxesse. Ela também não pôde deixar de imaginar se o veria. Fez um passeio matinal, acompanhada de um cavalariço por que era o apropriado. O Regents Park estava deserto àquela hora, considerada ímpia pelos modistas, a maioria dos quais acabara de entrar em suas camas. Às oito da manhã, ela não conseguiu se conter e abriu a porta do quarto da irmã. Regina estava encolhida em uma bola embaixo das cobertas, dormindo. Sorrindo, Nicole ficou na ponta dos pés, em seguida, puxou as cobertas dela. Regina gemeu em protesto, jogando uma mão sobre os olhos. — Acorda, dorminhoca — gritou Nicole, tirando o travesseiro de Regina da cabeça de cabelos castanhos e jogando-o para ela. — Nicole? Nicole se sentou na cama. — Sou eu. Regina jogou o travesseiro no chão, agora acordada e incrédula. Então deu um grito de alegria e abraçou a irmã profundamente. — O que você está fazendo aqui? Eu não posso acreditar! — Eu estava entediada — disse Nicole, sorrindo. — Você está horrível. A que horas você chegou ontem à noite? Regina franziu o cenho, o que não fez absolutamente nada para diminuir sua beleza clássica. E na verdade, a jovem de dezoito anos nunca pareceu horrível. — Ao amanhecer. O Barrington deu um bom baile. Todo mundo que era alguém estava lá! Oh, você deveria ter vindo antes! Nicole congelou, então, para esconder sua expressão, ela pegou o travesseiro do chão. — Todo mundo estava lá? Quem é todo mundo? — Você quer que eu cite nomes? — Regina estava incrédula. Totalmente acordada agora, Regina sentou-se, em relação à sua irmã, em tom de dúvida. — Nicole, você parece diferente. O que está acontecendo? Você odeia Londres. Você realmente vai sair e entrar na correria das coisas? Nicole hesitou, querendo tanto confiar em sua irmã, mas com medo de fazê-lo. Afinal, o que havia para confiar? Que o duque de Clayborough abrigara intenções imorais para ela? Que ela, a tola, apreciara seus beijos? Que ela sabia que ele estava em Londres e que talvez, apenas talvez, fosse por isso que Dragmore de repente fosse tão chato? Que ela estava se perguntando se ela o veria hoje à noite? — Estou cansada de não ter nada além de ovelhas e vacas como companhia — ela finalmente disse, odiando mentir para Regina, a quem ela amava muito. — Bem eu não te culpo! — Regina falou enfaticamente. A partir do momento em que conseguia andar, Regina sempre preferira rendas e bonecas a cavalos e árvores trepadeiras, não sendo duas irmãs menos parecidas. — Eu estou tão feliz por você estar aqui! — Impulsivamente, ela abraçou sua irmã com força. — Você vai ficar só comigo — ela disse a Nicole a sério. — E vou apresentá-la a todos e você terá um ótimo momento! Capítulo 8 O grande salão no Willoughby's já estava cheio quando Nicole chegou com Regina e a mãe delas naquela noite. Menor que um salão de festas, o grande salão podia acomodar cem pessoas com facilidade, mas agora estava lotado e quente. Os convidados estavam em toda parte, bebendo champanhe e outras bebidas, enquanto os criados ofereciam uma variedade exótica de aperitivos. Um trio tocava em uma plataforma construída para a ocasião, mas os acordes do piano, da harpa e do violino foram abafados pela conversa animada da multidão reluzente. O salão estava lotado, mas não tão lotado que Nicole não foi imediatamente notada e comentada. Quando ela, Regina e Jane entraram na sala, ela estava ciente das pessoas que estavam mais perto da entrada arqueada, virando-se para sorrir para sua irmã e mãe, então olhando boquiaberta para ela. E seu coração já estava em sua garganta. Enquanto se vestia para a noite, ela havia sido acometida por um caso de nervosismo. Com um pouco de sondagem, Nicole supôs que a alta sociedade de Londres estaria nessa velada, pois lorde Willoughby não era apenas o marquês de Hunt, mas também confidente do primeiro-ministro. Embora Nicole tivesse aprendido com Martha em sua conversa em Dragmore que o Duque de Clayborough aparentemente não gostava de reuniões sociais, por causa do poder e conexões de Willoughby, ela achava que havia uma boa chance de que ele pudesse estar lá hoje à noite. E mesmo que não fosse, ela não duvidava que sua prometida Elizabeth Martindale estaria, não apenas porque era sua noiva, o que por si só lhe dava um tremendo status, mas porque ela era um membro da família de Warenne e seu patriarca, o conde de Northumberland, era um dos homens mais poderosos do reino. Sabendo que ela veria um ou os dois tinham sido suficientes para deixá-la tensa e nervosa enquanto vestia seu vestido de baile de moiré turquesa. Ainda assim, ela evitou uma inspeção muito próxima de sua motivação em vir a Londres e participar dessa festa. Quando ela saiu de casa na Tavistock Square, seu nervosismo piorou. Apesar de ter passado mais de um ano desde que ela esteve em Londres, ela não passara por um caso na cidade desde o escândalo. A última verdadeira festa a que ela assistira fora o baile de máscaras de Adderlys, e isso teria sido um desastre se o duque não a tivesse aprovado. Esta noite, mesmo se ele estivesse aqui, ela estava sozinha. Nicole estava muito perto de se arrepender de ter vindo. Um grupo grande de pé não muito longe da porta se virou para olhá-la. — Eu digo, não é a filha mais velha de Dragmore? — Um janota perguntou com sua voz carregada. — É — respondeu uma matrona, tirando rapidamente o olhar de Nicole. — Você ouviu sobre o traje que ela usava para os Adderlys? — Abruptamente, a matrona baixou a voz, virando as costas para Nicole e sua família. — Eles são todos bruxos! — Regina falou alto. Ela olhou para o grupo furiosamente, seu passo normalmente gentil se tornando duro e longo. Nicole segurou o braço enluvado no cotovelo. — Está tudo bem, Rie. Eu esperava algo desagradável. — Eu sei exatamente quem está nesse grupo e vou cortá-los dolorosamente da próxima vez que meu caminho cruzar com qualquer um deles — declarou Regina, os olhos âmbar brilhando. Então ela olhou desconfiada para a irmã. — Que tipo de roupa você usou para os Adderlys? E quando foi isso? Antes que Nicole pudesse responder, ela foi salva pela interrupção da mãe. — Você está bem, querida? — Verdadeiramente, mãe, eu estou. — Nicole conseguiu um sorriso tranquilizador, embora não estivesse exatamente bem. Ela também ficou horrorizada porque estava realmente suando. Ela adoraria arrancar suas luvas brancas até o cotovelo, mas não ousou. Jane prontamente as manobrou para outro grupo, este cheio de amigos pessoais dela. Enquanto eles expressaram surpresa sobre a presença de Nicole, foi de uma forma genuína, sem qualquer rancor. Nicole ficou aliviada e por alguns instantes, parou para conversar com os Howards e os Bentons. — Martha está aqui — Regina sussurrou, afastando-se do grupo de pessoas mais velhas e levando Nicole com ela. — Veja. — Regina acenou. Nicole sorriu, emocionada por sua melhor amiga ter retornado a Londres. Martha se apressou, abraçando as duas garotas. — O que você está fazendo aqui? — ela exclamou com seu olhar penetrante. Nicole deu de ombros, sabendo que Martha provavelmente adivinhava a verdade. — Dragmore de repente a aborrece — Regina respondeu, dando a Nicole um olhar astuto. — O que você sabe Martha? — Por que, o que você quer dizer? — Martha voltou-se para Nicole. — É maravilhoso que você esteja aqui! — Ela deu a Nicole um longo olhar cheio de significado que Nicole não conseguiu decifrar. — Lorde Hortense está aqui — Regina de repente sussurrou, animada. — Nicole, rápido, olha. Nicole seguiu o olhar da irmã e encontrou um homem moreno de trinta e poucos anos olhando para elas. Ela ficou inquieta, de repente se perguntando se lorde Hortense estava olhando para ela ou para sua irmã. Regina puxou a mão dela. — Ele não é bonito? Ele é rico também e sua reputação e maneiras impecáveis. Ele me chamou duas vezes, Nicole. Acho que está me cortejando, acho que ele vai pedir ao meu pai a minha mão. Nicole deu outra olhada para o belo senhor e ardeu com o olhar ousado que ele lhe enviou. Desta vez não houve dúvidas e ela rapidamente se afastou. — Você ainda é jovem, Regina. Certamente ele não é seu único pretendente? — Claro que não — disse Regina, mas o coração de Nicole afundou no olhar brilhante nos olhos de sua irmã. — Mas... eu estou apaixonada por ele, Nicole. Nicole mordeu o lábio, trocando um olhar preocupado com Martha. Ela detestava lorde Hortense com todos os instintos que possuía. — Eu vou me misturar — disse Regina sem fôlego e ambas as garotas a observaram voar para a multidão, movendo-se na direção de Hortense. Nicole viu que ele estava lhe dando outro longo olhar e ela rapidamente virou as costas para ele, furiosa. — Ele vai partir o coração dela. — Ele certamente está lhe dando atenção — disse Martha. — Normalmente eu não me preocuparia, porque Regina é muito popular e toda semana ela é apaixonada por outra pessoa. Mas acho que essa coisa com lorde Hortense é muito mais séria, Nicole. Há dois meses ela fala de ninguém além dele. — Oh — Nicole respirou. — De alguma forma eu devo avisá-la para ficar longe dele. — Você deve. Nicole, ele está aqui. Nicole congelou. — O duque? — Ela perguntou baixinho, enquanto seu coração disparava freneticamente. — Sim. — Martha examinou a multidão. — Eu o vi há algum tempo, ele deve ter acabado de voltar para Londres. — Ela olhou para a amiga. — Nicole, o que você está fazendo? — Oh, Martha — gritou Nicole, sabendo exatamente o que ela queria dizer — se ao menos eu soubesse! Eu simplesmente não podia ficar no Dragmore, não podia. Martha agarrou o braço dela. — Eu o vejo. Engolindo em seco, Nicole seguiu o olhar de Martha. Seu corpo ficou tenso ao vê-lo. Ele parecia absolutamente magnífico em seu fraque preto meia- noite e calças. Ele ergueu a cabeça acima da multidão, esplendidamente bonito e totalmente masculino. Todos os homens à sua volta pareciam tolos em comparação, seus rostos de lírios brancos contrastando com sua ousada coloração dourada, suas formas quase ridiculamente esbeltas ao lado de sua poderosa constituição. Seu cabelo ainda era longo demais. Mais do que escovou o colarinho. Nicole sorriu, pensando que ele ainda desdenhava visitar seu barbeiro. Apenas um homem como o duque poderia se safar com uma inclinação tão fora de moda. É claro que ele estava entediado e inquieto, como estivera no Adderlys, mal prestando atenção nas palavras de alguma matrona, seu olhar se deslocando enquanto inclinava a cabeça para a mulher idosa. Finalmente ele se endireitou em sua altura total, sorrindo um pouco dolorosamente e concordando com o que ela disse. E naquele exato momento seu olhar inquieto encontrou o dela. Ele congelou. Sua expressão atordoada e incrédula. Seus olhares se encontraram. Nicole não conseguiu desviar os olhos. Havia certa distância entre eles, mas não o suficiente para impedir que Nicole lesse todas as suas expressões. A incredulidade se transformou em raiva avermelhada. Um momento depois, o olhar dele passou por ela rapidamente, descendo até os dedos dos pés e depois voltando para cima novamente. Não foi uma leitura educada, não foi o comportamento de um cavalheiro. — Ele está furioso — Martha engasgou. Nicole esquecera que estava ali, de fato, esquecera tudo e todos naqueles poucos momentos, exceto ele. — Ele me despreza tanto quanto eu o desprezo — disse Nicole instável. Ela ergueu o queixo com orgulho, tentando parecer descuidada, como se o encontro de seus olhares tivesse sido acidental. Ficou magoada com a raiva dele, mas não deveria estar. Instantaneamente ele se afastou dela. Nicole ficou muito quieta. Uma pequena mulher loira pegou o braço dele, pressionando-o contra o lado dela. O duque se inclinou sobre ela para ouvir o que estava dizendo e ela estava sorrindo. Quando se endireitou, estava sorrindo também. Nicole se sentiu triste. — É ela, não é? — Sim. — Nicole se virou de costas para o casal. Não teve um bom vislumbre de Elizabeth, aninhada no duque, mas ela tinha visto o suficiente. Ela era pequena e loira e perfeita. Nunca Nicole se sentiu tão alta, escura e desajeitada. E o duque gostava dela, genuinamente gostava dela. Era tão óbvio, Nicole percebeu, que as lágrimas lhe arderam nos olhos. — Nicole, vamos para o lavabo — disse Martha rapidamente, pegando a mão dela. A primeira reação de Nicole foi protestar, mas ela mordeu de volta. Em vez disso, ela deu um sorriso torto e seguiu Martha do salão. Quando voltaram, Nicole se recuperou do impacto de finalmente ver o duque com a noiva. Ela se misturava como Martha e foi apresentada a muitas pessoas, todas educadas, pois Marta era discreta e sabia a quem apresentá-la. E nas duas horas seguintes, Nicole sempre sabia exatamente onde estava o duque. Elizabeth raramente saiu do seu lado, enquanto ele ignorou Nicole. Duas vezes mais os olhos deles haviam inadvertidamente se encontrado e ele rapidamente virara-lhe as costas, como se ela não existisse, ou como se estivesse debaixo dele. Essa rejeição foi deliberada. Nicole tinha certeza de que ele estava tão consciente dela quanto ela, mas determinado a evitá-la a todo custo. Sentia muito por não ter pretendentes próprios, pois então se penduraria nos braços deles como Elizabeth pendurava no dele. Foi constrangedor. Ela tinha vinte e três, quase vinte e quatro anos, uma solteirona sem chance de casamento, a menos que fosse para um homem gordo e velho. Elizabeth tinha apenas dezoito anos, loira e perfeita, prometida ao duque. Nicole não gostava dela, sabendo que não era caridoso, mas como não poderia? A pequena sujeita tinha tudo teve seu príncipe, ela teve o sonho de curta duração. Era impossível não desgostar dela, assim como era impossível não o desprezar. Quando os relógios marcavam a meia-noite, Nicole não aguentou mais a impressão. Ela saiu do salão, procurando um pouco de ar, certa de que o duque também partira na última hora com sua preciosa noiva, pois ela não o via há algum tempo. Encontrou as portas de um pátio e saiu silenciosamente. A noite estava fresca e fria, um contraste acolhedor ao calor abafado do salão. Nuvens atravessavam o céu, algumas estrelas cintilavam e ocasionalmente a lua minguante aparecia. Nicole foi até a parede de tijolos e encostou- se a ela, olhando para os jardins bem iluminados do outro lado. Percebeu que estava totalmente drenada agora que ele se fora e que a noite tinha sido nada menos do que um desastre. Nunca deveria ter ido a Londres, tinha vindo por causa dele, podia enfrentar isso agora e era uma tola. De alguma forma, seu coração quebrou novamente esta noite. Não ouviu as portas do pátio abrindo e fechando, não ouviu os passos dele. Sua voz quando ele falou estava baixa e zangada. — O que você está fazendo aqui? Nicole ofegou, girando para encarar o duque de Clayborough. Embora o pátio estivesse mal iluminado, ela podia ver bem o suficiente para distinguir sua expressão, o que revelou que não havia confundido o tom dele. — Estou tomando um pouco de ar, não que seja algum assunto seu. — Você sabe que não é isso que eu quero dizer. — Eu sei? — Não brinque comigo — ele disse ameaçadoramente, dando um passo em direção a ela. — Por que você me seguiu para Londres? Ela ofegou, não à sua pergunta, mas à precisão de suas suspeitas. — Como você é orgulhoso! Eu não te segui para Londres. — Ela mentiu, pois nunca poderia admitir que fora atraída para Londres por ele. — Eu não acredito em você. — Isso é problema seu não meu. — Não — ele disse lentamente — aí você está errada. Definitivamente, é o nosso problema. Nicole ficou muito quieta não entendeu o significado, não até que o olhar dele escorregou para seu decote baixo e então ela prendeu a respiração bruscamente. Desejo perigoso varreu através dela. Foi um longo momento antes de falar, seus olhares se encontraram. — Eu sei que você nunca vem para Londres, Nicole. Eu sei que você veio por minha causa. — Você é arrogante, impossivelmente arrogante — ela retrucou. — E você é uma mentirosa. — Não. — Ela gritou, tremendo. — Então por que você veio para a cidade quando você nunca vem, não desde o escândalo? É claro que ele sabia sobre sua desgraça, assim como todo mundo fazia, mas que ele se referindo abertamente a isso a afligia. Como era doce fingir que ele não sabia, ou melhor, que não se importava. — Bem você não consegue encontrar uma desculpa conveniente? Suas bochechas coraram quando ela se lembrou da necessidade de se defender e mentir para ele. — Eu vim para Londres no ano passado e essa é a verdade! Regina sempre me implora para vir, assim como ela me implorou agora. Ele deu outro passo em sua direção. Seu sorriso estava frio. — E pensar que eu imaginei que você fosse uma excelente atriz. Nicole recuou. — Eu não estou atuando. — Não? Neste momento você é uma atriz terrível. — Ele deu mais um passo e Nicole recuou. — O que há de errado, Nicole? Você tem medo de mim? — Ele desafiou. Nicole imediatamente se manteve firme. — Não se iluda! Seu sorriso era sombrio. — Eu não penso assim. Você não tem medo de mim? Eu conheço seu jogo, Nicole. Eu não sou um tolo. — Eu não sei do que você está falando. Ele riu o som depreciativo. — Agora isso é atuação! Nicole afundou nos calcanhares, furiosa com a zombaria dele. — Pense no que você quiser. Mas eu não tenho ideia do que você está falando! — Você está me perseguindo, não é querida? — Você está seriamente iludido — ela disse. — Muitas mulheres — disse-lhe duramente — tentaram o que você está tentando. E nenhuma delas conseguiu me tirar de Elizabeth. Você entendeu? Suas palavras eram como um tapa na cara. Se levantou, as lágrimas brilhando em seus olhos. — Eu não procuro aliciar você longe de sua preciosa Elizabeth! — ela assobiou. — E eu sugiro que você volte para ela antes que venha procurar por você e o encontre tão intimamente sozinho com outra. — Elizabeth está em casa. — Aquecendo sua cama? — Nicole zombou. Ele ficou atordoado, mas apenas por um instante. — Do jeito que você gostaria? Nicole ofegou. Seu rosto corou, mas esperançosamente estava escuro demais para ele ver. — Esse é o último lugar que eu gostaria de estar. — Sério? Preciso te lembrar dos nossos encontros passados? — Eu preciso te lembrar que seu comportamento que foi abominável? — Ela falou. — Suponho que seja de primeira ordem para uma dama atacar um homem com seu chicote de equitação, para não falar de andar pelo campo vestida de menino. Nicole se levantou. — Eu estou indo embora. Eu não tenho que ficar aqui e ouvir seus insultos. Pegou o braço dela enquanto passava por ele, chicoteando- a. Ela nem tentou se afastar, sabendo que seria inútil. Seu rosto estava muito perto do dela e não conseguia respirar ainda mais superficialmente. — Deixe Londres. — Você não pode me mandar sair da cidade! — Você não terá sucesso em seu esforço, Nicole. Ele libertou o braço dela. — Eu não estou tentando seduzi-lo para longe de Elizabeth! Eu não tenho interesse em uma pessoa imoral como você. — Não? — Ele pegou o queixo dela em uma grande mão e antes que ela percebesse, seus lábios estavam muito próximos dos dela. — Mesmo? — Não faça isso! O que você procura ganhar? Eles se encararam. Sua mandíbula estava cerrada com força. Seus dedos machucaram seu rosto. Ela esperou pelo beijo dele, esperando, querendo, com medo. De repente ele a soltou. — É o que você procura ganhar — Disse com olhos brilhando. — Se você não sair de Londres, Nicole, eu saio. — Bom — ela gritou de volta. — Bom! Então vá! Porque você não vai me dar ordens como se eu fosse sua preciosa Elizabeth. Ele olhou para ela, tão furiosamente irritado que estava tremendo. Por um instante, Nicole teve certeza de que iria atingi- la, ou arrastá-la para seu abraço e violá-la. Mas o instante passou e antes que ela pudesse piscar, ele estava caminhando pelo pátio, longe dela. Ele abriu as portas e depois as fechou. Nicole afundou no duro banco de pedra no canto do pátio, tremendo violentamente. Ela não viu as estrelas no alto, não conseguiu ver nada além dele. Então cobriu o rosto com as mãos, que ainda tremiam. O que estava acontecendo? Por que, oh, por que ela teve que pôr os olhos no duque de Clayborough? Capítulo 9 Incapaz de lutar contra o desânimo, Nicole agarrou o peitoril da janela e olhou para fora, para o sol brilhante e claro de outubro. Ela ouviu passos atrás dela, mas não se moveu, reconhecendo-os como os de sua irmã. — Nicole, eu vou passear no Hyde Park com os amigos. Charlie Ratcliffe tem um carro novo. Há espaço para mais um, por que você não se junta a nós? Nicole não se virou, não querendo que Regina visse o rosto dela e lhe fizesse perguntas sondadoras. Embora Regina tivesse o olhar inocente de um anjo, era muito inteligente e certamente conhecia Nicole tão bem quanto qualquer um, o suficiente para adivinhar que algo estava seriamente errado. — Acho que não. Vou andar a cavalo esta tarde — disse Nicole, embora não tivesse tais intenções. Regina hesitou, depois disse que a veria mais tarde e fugiu. Nicole suspirou e se afastou da janela, vagando sem rumo pela sala de manhã verde-clara. Sozinha, estava assombrada pela imagem do duque, suas palavras, seu encontro. Era como estar possuído pelo demônio e o odiava, como o odiava. Aldric apareceu. — Minha Senhora, a Viscondessa Serle está aqui. — Não se preocupe em me anunciar, Aldric — disse Martha, entrando. Ela deu uma olhada para a amiga e se virou para o mordomo. — Traga-nos chá, por favor, Aldric. Quando ele saiu, Martha se adiantou para se sentar ao lado de Nicole no sofá. — Eu nunca vi você assim, Nicole, mas de alguma forma eu tive uma sensação terrível de que você estaria desanimada hoje. Você deve colocá-lo fora de sua mente. Você deve. — Eu não posso. Acredite em mim, se eu pudesse, eu faria, mas não posso. — Há outros homens em Londres, muitos outros homens. Por favor, deixe-me apresentá-la a alguns deles. — Oh Marta, não se incomode. Minha reputação me precede. — Você pode mudar sua reputação, Nicole, se você tentar! — Martha disse com raiva. — Talvez eu não queira — ela retrucou. Então ela agarrou a mão de Martha. — Sinto muito, não é com você que estou com raiva. — Eu sei. — Vir para Londres foi um erro, um grande erro. Estou indo para casa. Martha olhou para ela por um longo momento. — Fugindo? Como um covarde? Nicole ficou vermelha. — Você vai deixar ele te afastar? Nicole mordeu o lábio. Marta não sabia o que tinha acontecido na noite passada, mas ela sabia. Não só ele presumiu que ela fosse embora de Londres, ele realmente a desafiara ao fazê-lo. E ele ousou sugerir que ela tinha medo dele! Se de repente ela partisse, o duque pensaria que ele conseguira expulsa-la da cidade. Ele também concluiria que ela era realmente uma covarde e com medo dele. E aparentemente nada iria mudar sua suposição ridícula de que ela tinha vindo a Londres para atraí-lo para longe de sua preciosa Elizabeth de qualquer maneira. Ela endureceu. Isso foi uma suposição ridícula, não foi? Será que ela secretamente esperava conquistá-lo de sua noiva? Que outra explicação possível poderia haver para o comportamento dela ao persegui-lo até Londres? Nicole tremeu, desanimada consigo mesma. Ela nunca esteve tão confusa em sua vida. Ela preferia deixá-lo pensar o pior, o que ele pretendia fazer de qualquer maneira, do que deixá-lo vencer sua batalha particular. E nunca admitiria, nem para ele nem para si mesma, que ela poderia possivelmente ter tido tanta motivação para ir a Londres. — Você está certa. Eu devo ficar um pouco mais, então. — Bom! Mas você não deve pular. Esta tarde eu estou jogando tênis no clube com várias outras senhoras. Estamos perdendo um sexto. Você pode vir conosco, vai ser divertido. — Eu não. — Nicole, você gosta de tênis! Você deve sair e pelo menos parecer que está bem, então ele não vai achar que você está ansiando por ele. — Você é muito inteligente, Martha — disse Nicole, sorrindo com relutância. — Tudo bem, eu vou. Elas chegaram ao Club-Near-the-Strand no início da tarde. Nicole cavalgou com Martha em sua carruagem e entrou como convidada de Marta. O atendente na porta obviamente conhecia Martha, pois ele a cumprimentou pelo nome, checando-a em sua lista. Lá dentro, eles começaram a encontrar raquetes e bolas, depois passearam ao ar livre para se juntar ao resto da festa. O tênis era muito popular nos dias de hoje, especialmente com jovens senhoras. Todas as quadras estavam em jogo, exceto pelas três que haviam sido reservados para o grupo, e todos os jogadores eram mulheres, exceto por um par de rapazes. O resto do grupo já estava lá, esperando por elas. Cinco mulheres sentavam-se em volta de uma mesa com uma jarra de limonada, todas vestidas de camisa branca e saias azul-marinho, com as raquetes nas cadeiras. Quando Nicole e Martha se aproximaram, Martha murmurou: — Oh, querida. Nicole perdeu um passo quando viu Elizabeth Martindale entre o grupo. — Você não me disse que ela estaria aqui! — E não apenas a noiva do duque estava presente, mas sentada ao lado dela estava Stacy Worthington. — Eu não sabia. Sinto muito, Nicole. As senhoras interromperam a conversa abruptamente quando Nicole e Martha chegaram à mesa. — Olá — disse Martha. — Eu pensei que precisávamos de um sexto e eu trouxe Lady Shelton, mas vejo que errei. — Assim, podemos ver — disse Stacy. Seu olhar era desdenhoso. — Eu trouxe minha prima, Elizabeth, para fazer o sexto. — Não havia dúvida de que Nicole não seria bem-vinda para brincar com elas. — Tenho certeza de que podemos trabalhar alguma coisa, Stacy — disse Martha educadamente, embora seus olhos estivessem adagas quando ela olhou para a morena. — Tudo bem — disse Nicole rapidamente, tentando não olhar para Elizabeth, pois era a primeira vez que a via de perto. A pequena loira perfeita sentou-se em silêncio no meio do grupo obviamente hostil. — Estou cansada de qualquer maneira. Vou pegar sua carruagem e ir para casa e mandar o motorista de volta para você. Martha olhou para ela. Nicole não queria discutir e ela deu uma olhada a Martha também. Normalmente, lutaria contra alguém como Stacy, mas a presença de Elizabeth efetivamente sufocava suas inclinações naturais. — Talvez isso seja o melhor — disse outra garota, uma ruiva esbelta usando óculos finos com armação de ouro. Ela olhou nervosamente para Nicole. — Eu não quero compartilhar meu tempo de quadra — disse Stacy. — Stacy! — Elizabeth reprovara. Ela se levantou. — Eu não acredito que nos conhecemos. — Seu sorriso foi amigável. — Eu sou Elizabeth Martindale, Lady Shelton. Nicole ficou imóvel por um longo momento, olhando para a mão oferecida. Finalmente, ela se lembrou de suas maneiras e aceitou. — Como vai? — Obrigada. Lady Shelton, não me importo de ficar de fora e assistir. Realmente, não me importo. Você pode jogar no meu lugar. Na verdade, não gosto muito do esporte. A mandíbula de Nicole se apertou. O sorriso caloroso da loira nunca escorregou e seus olhos azuis pareciam genuinamente amigáveis. Muito friamente, Nicole disse — Tudo bem, lady Martindale. Você não precisa desistir do seu tempo na quadra por minha causa. — Eu realmente não me importo — disse Elizabeth, apenas para ser cutucada por sua prima, Stacy. — Se ela quiser, deixe-a ir para casa — disse Stacy. Elizabeth franziu a boca em forma de arco. — Stacy, temos tempo suficiente para que todos possam jogar, mesmo se eu optar por fazê-lo. — Ela virou-se novamente para Nicole. — Nós podemos dividir o tempo da quadra, se você quiser mas eu te aviso, eu me canso facilmente. — Seu sorriso estendeu a mão para Nicole novamente, deixando-a muito desconfortável. — Tudo bem — Nicole se ouviu dizer rigidamente. — Você pode jogar primeiro. — Ela não conseguia formar um sorriso, não podia nem tentar. Todas as garotas foram para as quadras que tinham reservado, enquanto Nicole estava sentada sozinha na mesa de cabeceira, tentando assistir, mas ainda incomodada com a presença de Elizabeth Martindale. A noiva do duque de Clayborough parecia ser uma boa pessoa. Nicole não conseguiu superar sua aparente simpatia. Mas tinha que ser insincera, não era? Nicole se viu ignorando todos os jogadores, exceto Elizabeth, de quem ela não conseguia manter o olhar. Ela realmente parecia cansar-se facilmente, sem resistência ou força alguma. Ela era a pior jogadora nas quadras, na verdade, ela mal conseguia acertar a bola. Ela era, então, o tipo de mulher que o duque preferia? Alguma loira magra pálida? Uma mulher muito delicada até para jogar um jogo de tênis aceitável? Uma mulher que tinha olhos azuis sinceros e um sorriso sempre pronto? Nicole odiava admitir, mas de todas as garotas que ela acabara de conhecer, Elizabeth realmente parecia bem. Ela era a única que tentara ser amiga dela; até as amigas de Martha, Julie e Abigail, olhavam para ela cautelosamente e não haviam tentado falar com ela. Nicole sabia que Martha se sentia mal por tê-la convencido a vir. Nem mesmo dez minutos depois, Elizabeth andou pela quadra, ofegante e suada e bastante vermelha no rosto. — Eu te disse que me canso facilmente — ela engasgou, afundando ao lado de Nicole. Por mais que Nicole não gostasse dela, ela rapidamente serviu uma limonada. — Você está bem? Incapaz de falar, Elizabeth se abanou com uma revista deixada na mesa, assentindo. Ela bebeu com sede. Finalmente ela disse — Obrigada. Eu só preciso descansar. Eu não deveria ter vindo. Eu não tenho me sentido muito bem hoje em dia. — Você provavelmente tem um toque de gripe — respondeu Nicole, girando a raquete desconfortavelmente. — Eu não penso assim — disse Elizabeth com tristeza. Nicole a deixou para se juntar aos outros. Por um tempo, ela jogou com Matilda, mas foi um jogo ruim, Matilda nem conseguiu segurar um voleio curto. Stacy veio. — Vamos você e eu jogar — ela disse, bem maliciosamente. — Matilda e Martha estão mais equilibradas. Nicole concordou, certificando-se de que Stacy não visse sua expressão, que havia escurecido com determinação. Stacy foi a melhor jogadora da quadra e sua intenção era óbvia; Nicole estava certa de que a outra garota esperava trucidá-la. As meninas se mudaram para lados opostos da quadra e começaram a jogar vôlei. Nicole jogou muitas vezes com os irmãos em uma quadra pública não muito longe de Lessing e ela era uma boa jogadora. Agora ela acertou a bola facilmente para Stacy, que a devolveu com a mesma facilidade. Gradualmente, as duas garotas começaram a bater a bola com mais força. De repente, Stacy levou a bola furiosamente para Nicole, que conseguiu devolvê-la ainda mais furiosamente, fazendo com que Stacy perdesse a corrida. Ambas as meninas estavam ofegantes, olhando-se com determinação e antipatia e o jogo começou a sério. Whack! Stacy acertou a bola. Wham! Nicole devolveu. De um lado para o outro, as garotas dispararam, o mais forte que puderam. Mais uma vez Stacy errou, desta vez correndo direto para a cerca, incapaz de parar. A essa altura, as outras senhoras tinham parado e se reuniram para assistir, com Elizabeth chegando também à cerca. Stacy estava ofegante, Nicole nem ficou sem fôlego. — Teve o suficiente? — Nicole perguntou docemente. — O que eles dizem é verdade — Stacy cuspiu entre grandes goles de ar. — Você não é uma dama, nem joga tênis como uma dama! — Com isso, ela saiu da quadra. Nicole ficou vermelha de vergonha e raiva, pois Stacy tentava convencê-la tanto quanto ela própria estivera tentando vencer. As outras damas se afastaram, exceto Martha e Elizabeth. A boca de Martha estava franzida. Lentamente Nicole foi até elas. — Por favor, perdoe Stacy — disse Elizabeth, tocando o braço de Nicole. Nicole afastou o braço dela. — Ela geralmente não é tão rude, eu não sei o que aconteceu com ela. — O olhar de Elizabeth estava implorando. Nicole não respondeu e Elizabeth se virou. — Isso foi um erro — disse Nicole a Martha. — Eu esqueci que a bruxa Stacy estaria aqui, Nicole e eu sinto muito, mas você deve considerar que ela é horrível para todos que não estão em seu círculo encantado. Só porque ela é sobrinha de Northumberland, ela acha que o sol nasce e se põe a seu capricho. Se ela não estivesse aqui, as outras garotas teriam sido mais amigáveis, tenho certeza disso. — Suas amigas ficaram consternadas com a minha presença. — Isso não é verdade, Julie e Abigail são apenas quietas e tímidas. Dê-lhes uma outra chance, eu prometo a você, você verá que elas são muito simpáticas. Nicole assentiu e as duas voltaram para o grupo, agora reunidos em volta da mesa tomando limonada. Elizabeth havia puxado Stacy para longe e Nicole ficou chocada ao ouvi-la repreendendo a morena. — Como você pôde ser tão rude, Stacy? Foi realmente insuportável. Você deve oferecer suas desculpas a Lady Shelton imediatamente. — Eu me desculpar com essa bárbara? Às vezes você é cega, Elizabeth, você não vê nada além de bom em todo mundo. Você não ouviu falar sobre ela? Ela é inaceitável e nada vai mudar isso. — Você está sendo muito indelicada e muito pouco caridosa — repreendeu Elizabeth. Então, vendo Nicole e Martha, ela se interrompeu. — Você já está indo embora? Talvez devêssemos mudar de parceiro, ainda temos tempo. Nicole achava que era incrível, essa mulher a havia defendido, uma estranha, para sua prima e agora procurava, obviamente, salvar a tarde sem o benefício de ninguém, exceto de Nicole. — Eu tenho outro compromisso. — Bem, talvez a gente jogue outra vez — disse Elizabeth. — Foi muito bom conhecer você, Lady Shelton. — E eu você — Nicole conseguiu, incapaz de cortá-la. Ela e Martha foram embora e logo foram abrigadas na carruagem de Serle em silêncio. Depois de muitos minutos, Martha olhou para Nicole. — O que você está pensando? — Nicole mordeu o lábio, olhando para o telhado com desespero. — Estou pensando que ela não é apenas bonita, ela é legal. — Elizabeth é muito legal — disse Martha calmamente. — Não há ninguém que não goste dela. Nicole se virou para olhar para fora da carruagem sem ver Covent Garden, que elas estavam passando. É por isso que o duque a amava? — Exceto eu — ela disse tristemente. Marta não teve resposta.
— Lady Elizabeth vai descer em breve, sua Graça.
O duque assentiu, olhando uma vez para o relógio de bolso de dezoito quilates e andando impaciente pela pequena sala de estar. Era diferente de Elizabeth chegar atrasada, mais quinze minutos se passaram antes que ela desceu, vestida, ele viu, não para o jantar e para o teatro, mas em um vestido de dia. — Você me esqueceu? — Ele perguntou, surpreso e provocando-a um pouco. Elizabeth suspirou, aproximando-se dele. — Eu sinto muito, Hadrian, eu não esqueci. Eu temo ter cometido um erro grave. Ela afundou no sofá e ele sentou ao lado dela. — Eu duvido disso, você está se sentindo mal? — Eu estou apenas exausta. Eu joguei tênis esta tarde e isso me cansou terrivelmente. Eu deveria ter mandado dizer a você que cancelasse nosso encontro, mas eu queria muito te ver e eu não queria desapontá-lo, tampouco. Eu esperava que um cochilo pudesse restaurar meu ânimo, mas acabo de despertar e ainda estou exausta. — Não se preocupe comigo — disse o duque. — Você não deveria ter jogado tênis, Elizabeth e eu concordo, você deveria voltar para a cama a noite. Ela tocou a mão dele. — Você não está com raiva de mim? — Claro que não. — Então seu olhar se suavizou. — Mas valeu a pena? Você gostou do seu passeio? Ela olhou para ele com desânimo. — Não foi muito agradável, Hadrian, na verdade, ainda estou chateada. — O que te aborreceu? — Duas das senhoras foram terrivelmente rudes com outra, cortando-a terrivelmente e uma delas era Stacy. — Stacy não é a pessoa mais gentil que conhecemos. — Eu me senti muito mal por Lady Shelton, de verdade. E não há desculpa para isso! Eu sei que aparentemente houve algum escândalo há alguns anos atrás, mas isso é no passado e é errado segurar um erro contra alguém para sempre. O duque estava muito quieto. — A mulher que cortaram foi Nicole Shelton? — Sim. Você a conhece? Ele se mexeu. Ela não havia saído da cidade. — Nicholas Shelton agora é meu vizinho, desde que entrei em posse de Chapman Hall. Jantei com ela e sua família pouco antes de voltar a Londres. — Bem, ela ficou terrivelmente doída com todo o incidente, posso dizer, é muito orgulhosa e tentou esconder isso. Eu falei para Stacy quão desapontada eu estava com ela. O duque pigarreou. Ele não estava apenas desconfortável com a conversa, mas com seu comportamento passado e seus pensamentos mais íntimos sobre o assunto em questão. Fora apenas na noite anterior que Nicole Shelton o levara a uma fúria quase incontrolável. Foi apenas na noite passada que por um fio de cabelo não a tomou nos braços e fez com ela o que queria. Era muito inconveniente estar discutindo Nicole Shelton com a noiva, considerando tudo o que havia acontecido entre eles. — Stacy precisa ser cortada de vez em quando. Se não for hoje à noite, devemos adiar o jantar até amanhã? — Mas por que ela não saiu de Londres? Ela ainda pensava em seduzi-lo para longe de Elizabeth? — Isso seria maravilhoso. Hadrian, pelo que eu entendo, Nicole não é muito bem-vinda entre a sociedade. E agora que ela está de volta a Londres, acho que é terrivelmente injusto. O duque fez uma pausa. Se ousasse continuar insistindo nesse assunto, teria que concluir que ele mesmo achava que era injusto também e pior, ele não aprovou que Nicole Shelton fosse cortada hoje por um escândalo há muito tempo morto. No entanto, não queria discutir o assunto, não com a noiva, pois tornar-se seu defensor seria terrivelmente inadequado. — A vida raramente é justa. — Isso não é como você! Eu vou convidá-la para se juntar ao nosso círculo de poesia e vou me certificar de que ela seja aceita por todos. O duque fez uma careta. Por um lado, o que Elizabeth queria fazer era nobre e certo, mas, por outro lado, estava chocado com o pensamento de ela se tornar amiga de Nicole Shelton. — Elizabeth, talvez você se sinta diferente amanhã. Pelo que vi de Lady Shelton, ela é uma mulher forte e algumas fofocas desagradáveis não a derrubarão. — Estou determinada, Hadrian — disse Elizabeth com naturalidade. — Ela precisa de amigos como eu, é claramente óbvio e eu serei sua amiga. Muito brevemente, Hadrian fechou os olhos. Esta bomba poderia piorar? Nicole não aceitaria a oferta de amizade de sua noiva, não poderia? E por que ela ainda estava em Londres? Foi por causa dele? Ele ainda deveria estar furioso com ela, mas não estava. Sua raiva havia morrido na noite passada. De fato, se ousasse ser honesto consigo mesmo, estava quase exultante por ela não ter saído da cidade. O duque tinha uma terrível sensação de morte iminente. Capítulo 10 Nicole ficou chocada no dia seguinte, quando recebeu um convite belamente escrito de Elizabeth para se juntar a seu círculo de poesia na noite seguinte no Marquês de Stafford. Regina olhou para ela com curiosidade, as irmãs estavam relaxando com chá e doces na sala verde da manhã. — O que é isso? — ela perguntou. Nicole releu o convite, ainda incapaz de acreditar que era para ela. — É de Elizabeth Martindale. Ela me convidou para participar de um círculo de poesia. Regina veio se sentar ao lado de sua irmã. — Você deveria ir. Que legal de Elizabeth. Nicole cuidadosamente colocou o convite de lado, seu coração batendo pesadamente. — Por que ela me convidaria? — ela perguntou em voz alta. — Ela mal me conhece. — Mas ela não pôde deixar de pensar em como isso era irônico, a única dama em Londres a oferecer-lhe amizade não era outra senão a noiva do homem que abrigara uma paixonite. — Porque ela é muito legal. Sem dúvida, ela sabe que você é nova na cidade e está tentando incluir você em seu círculo. — Você a conhece bem? — Somos amigas. Vá, Nicole — incentivou Regina. — Você precisa fazer alguns amigos aqui. Nicole reprimiu uma resposta. Ela não poderia explicar para sua irmã por que ela não podia se juntar ao círculo de poesia de Elizabeth, mesmo que quisesse, o que ela certamente não sabia. Regina de repente olhou para o relógio de parede com um suspiro. — Oh, eu devo ir e me trocar! Lorde Hortense está me levando para uma viagem esta manhã! Ela voou do quarto. Nicole não podia nem se distrair com a obsessão da irmã com o miserável Hortense. Mais uma vez ela olhou para o convite. Ela sabia que não havia outro motivo. Tendo conhecido Elizabeth apenas uma vez, ela tinha certeza disso. Como Regina dissera, Elizabeth estava apenas sendo legal. Abruptamente, ela amassou a carta na mão. Por que no inferno ela tem que ser tão doce? Por que ela não podia ser uma megera como sua prima, Stacy? E por que, no inferno, ela precisava convida-la? Não só ela não queria sua amizade, ela não precisava disso. Nicole mordeu o lábio com força. A terrível verdade era que, no fundo de seu coração, havia uma frágil parte dela que adoraria responder às propostas da outra garota. Mas é claro que isso era impossível. Elas nunca poderiam ser amigas. Não depois do que aconteceu entre ela e o duque de Clayborough. E porque, nas horas mais sombrias da meia-noite, ela ainda sonhava com ele. Rapidamente, antes que ela pudesse mudar de ideia, Nicole escreveu uma recusa educada e a entregou naquela tarde. Ela assumiu que isso seria o fim, pois certamente Elizabeth não continuaria a procurá-la e se tornar amiga dela. No entanto, ela estava errada. Elizabeth a visitou na tarde seguinte. — Por favor, sente-se — disse Nicole formalmente. — Obrigada — Elizabeth sorriu. Ela estava um pouco sem fôlego, uma visão loira pálida em um terno de seda azul prateado sob medida. — Eu sinto muito que você não possa se juntar a nós hoje à noite, Lady Shelton. — Tenho medo de já estar comprometida — mentiu Nicole. Ela se sentou em frente a Elizabeth em um bergère, ambas as mãos segurando seus braços suaves de madeira. — Espero que você não pense que Stacy estará lá, pois ela não faz parte do nosso grupo, não tem interesse em literatura. — Os olhos de Elizabeth seguraram os dela. Nicole ficou chocada porque Elizabeth poderia pensar que ela tinha medo de se juntar ao grupo por causa de sua prima. — Stacy não é a razão pela qual eu não posso ir. — Bom. — Elizabeth sorriu. — Como Hadrian apontou, ela tem uma tendência a ser um tanto deselegante às vezes e não é só com você. Nicole congelou. — Ah ...o duque disse isso? — Oh, eu estava tão terrivelmente chateada com o comportamento dela naquele dia, que quando ele veio me levar para jantar, eu não pude falar de mais nada. Ele aprovou que eu repreendi Stacy completamente. Nicole engoliu em seco, o rosto ardendo. Elizabeth se sentou com o duque de Clayborough discutindo-a! Oh, como ele deve ter se divertido! Foi demais! Absolutamente demais! — Eu vim para convidá-la para outro caso, neste sábado à tarde. Estou ajudando a mãe de Hadrian, a duquesa viúva, a organizá-lo. Todo ano ela faz um piquenique ao estilo americano, uma ideia que aparentemente tirou de seus parentes de Boston, moças trazem uma caixa de almoço, que os senhores leiloam. Os vencedores, é claro, apoiam as senhoras cujo almoço compraram e os rendimentos vão para uma caridade muito carente, a dos órfãos pobres desta cidade. — Elizabeth sorriu. — É sempre um grande sucesso e muito divertido. Todo mundo acha. Você não vem? Nicole ficou horrorizada. Se ela colocar um almoço em leilão, ninguém iria comprá-lo! Ela não tinha uma dúvida! — Eu não sei... Elizabeth estava à frente dela e ela interrompeu. — Eu não quis dizer que você deveria trazer um almoço, eu entendo porque você não iria querer. Eu só queria que você viesse e aproveitasse a tarde. Na verdade, eu ficaria muito surpresa se seus pais não estivessem planejando comparecer. — E eu sei que Regina estará lá. — Meus pais — disse Nicole rigidamente — estão voltando para Dragmore no fim de semana. — Oh... Nicole estava corada, zangada. Elizabeth não pretendia insultá-la casualmente, presumindo que não ousaria trazer uma caixa para o almoço, mas sim. Ela entendeu a humilhação que Nicole colheria se trouxesse um almoço e ninguém o comprasse. A mandíbula de Nicole se apertou. — Eu não queria incomodar você — disse Elizabeth suavemente, preocupada. — É realmente um bom momento e nem todo mundo está trazendo um almoço. Sendo como eu sou uma das organizadoras, eu sei e você certamente pode fazer um piquenique comigo e com Hadrian. — Eu não estou chateada — disse Nicole com o maior orgulho possível. — E o que faz você pensar que eu não viria? Com um almoço? Os olhos de Elizabeth se arregalaram brevemente antes de se recuperar. — Oh! Estou tão feliz então, que você participe. Nicole sorriu sombriamente, sabendo que ela havia se comprometido tolamente com um curso que só poderia resultar em desastre. Mas ela estava presa no auge de seu próprio orgulho e ela não podia recuar, não na frente de Elizabeth Martindale. Sábado foi um dia ensolarado, um dia de verão indiano. O céu estava sem nuvens e as árvores de Hyde Park tremeluziam incandescentemente de ouro. Cerca de duzentas nobres e damas se reuniram para a ocasião, todas vestidas com roupas alegres, seus coches e carruagens alinhados por quilômetros atrás deles na trilha dos cavalos que atravessava o parque. Agora todos se reuniam em torno de uma plataforma que havia sido construída para a festividade, com uma extremidade empilhada de cestos de piquenique toda alegremente pintada e decorada com fitas, laços e laços. Elizabeth agarrou-se ao braço do duque, de pé perto da plataforma, de frente para a multidão, seus olhos procurando-a. — Eu me pergunto se ela decidiu não vir depois de tudo — ela murmurou. — Quem? — O duque perguntou, mudando impacientemente, incapaz de evitar o aborrecimento. Ele tinha uma questão jurídica pesada em mente e em poucas horas, teve uma reunião em sua casa com vários advogados. Sua pergunta foi distraída e não se importou com a resposta de Elizabeth, até que ela respondeu. — Nicole Shelton. Ele congelou, olhando para ela. Ficara aliviado quando Elizabeth lhe dissera que Nicole recusara o convite para ler poesia. Ele já havia decidido que, se Nicole aceitasse, ele a procuraria e exigiria conhecer suas intenções. Mas ela não aceitou e ele não teve que procurá-la. — Eu não imagino por que ela viria aqui — ele disse rigidamente, embora o pensamento de que ela estivesse presente fez seu pulso disparar. — Ela disse que viria e disse que levaria um almoço. — Elizabeth parou de escanear a multidão. — Eu não quis dizer para ela participar do leilão, apenas para vir e jantar conosco. — Você a convidou para jantar conosco? — ele perguntou incrédulo. — Claro. Isso foi antes que ela dissesse que iria trazer um almoço. Eu assumi tão tola, que ela não iria e como eu poderia deixá- la comer sozinha? Mas ela sabia que eu entendi que se ela trouxesse um almoço, não seria muito popular e poderia ser bastante embaraçoso, então ela abruptamente me disse que iria trazer um almoço. Ela tem muito orgulho, eu a admiro. A mandíbula de Hadrian se apertou. — Você não precisa admirá- la — disse ele, embora suspeitasse que ele pudesse, secretamente, admirá-la também, embora no momento não estivesse disposto a admitir isso. Ele também podia imaginar como qualquer cavalheiro aqui adoraria comprar sua caixa e passar a tarde com ela na privacidade de um bosque de árvores, independentemente do escândalo em seu passado. Afinal, eles tinham olhos em suas cabeças. Ele descobriu que estava claramente descontente com o pensamento de Nicole Shelton dividindo um piquenique com algum colega não identificado. — Mas eu faço — continuou Elizabeth. — Eu gostaria de ser mais parecida com ela. — Você é perfeita como você é. — Oh, Hadrian, você está sendo excessivamente galante. Também devo confessar que tenho medo de que ninguém compre o almoço dela. — Tenho certeza que ela tem seus admiradores. — Hadrian, você é um querido, mas você não é mais atual e como você pode ser quando vem tão pouco na cidade? Eu não estou criticando você — ela acrescentou rapidamente — porque você sabe como eu estou orgulhosa de sua habilidade em questões de negócios. Mas nosso círculo simplesmente não esquece. Às vezes eles podem ser tão cruéis. — Tenho certeza de que você está exagerando — disse ele, certo de que os machos presentes competiriam ansiosamente pela companhia de Nicole Shelton. Elizabeth olhou para ele com um sorriso carinhoso. — Eu espero que você esteja certo, mas eu já cuidei do assunto, se eu suspeitar que aconteceria. Pedi ao nosso primo Robert para fazer uma oferta no almoço e ele concordou, embora não fosse exatamente caridoso sobre isso. — Robert — o duque ecoou, pensando no belo e raivoso irmão de Stacy. Ele fez uma careta, certo de que não demoraria muito para que Robert a colocasse de costas. — Ele não é confiável. Elizabeth deu-lhe um olhar curioso, surpresa com sua expressão feroz. — Robert vai se comportar, mas eu não o vejo em lugar nenhum. Oh! Hadrian, ela está aqui! Ela veio. Estranhamente sem fôlego, o duque virou-se lentamente para seguir o olhar de prazer de Elizabeth. Nicole ficou com a irmã, um pouco à parte da multidão, com a cabeça erguida. Ela era uma visão impressionante em um terno listrado de pêssego e um chapéu de palha adornado com uma rosa vibrante cor de coral. Seu olhar encontrou o dele. Ele havia esquecido de respirar e respirou fundo. Essa circunstância era intolerável. Como ele poderia estar aqui com sua noiva, de quem ele gostava sinceramente, enquanto cobiçava outra mulher, uma que ele não poderia ter? Essa paixão, essa obsessão, havia durado o suficiente. Mas como diabos ele ia acabar com isso? Nicole desejou estar em qualquer lugar, menos lá. Regina estava conversando animadamente com duas jovens damas e seus namorados, deixando Nicole momentaneamente excluída. Ela estava se esforçando muito para não olhar para ele, mas era impossível. Seu olhar lhe roubou de novo e de novo ficou paralisada, pois o olhar dele estava nela também. Nicole rapidamente desviou o olhar estava tremendo. Por que ele tem que ser tão magnífico? Por que ela teve que notar? Por que tinha que estar aqui hoje para testemunhar o que certamente seria sua humilhação? E por que, por que ele teve que ser prometido a Elizabeth? O leilão havia começado. Nicole não prestou atenção porque a cesta de uma senhora, pintada de azul e branco e amarrada com uma fita rosa, foi vendida a um jovem por vinte e cinco libras. O pavor a inundou. Mesmo no último momento, ela deveria ter recuado. Foi o auge da estupidez para ela ter trazido uma cesta de almoço, ninguém iria comprá-la. Ela silenciosamente amaldiçoou seu orgulho. Vários outros almoços haviam sido leiloados, a maioria deles por dez ou vinte libras. Nicole se perguntou se poderia se tornar covarde e sair agora, antes que sua caixa fosse colocada no bloco. Ela se viu encarando o Duque novamente. Por um momento escasso, que pareceu durar para sempre, seus olhares se encontraram. Desta vez foi ele quem desviou o olhar e quando o fez, disse algo a Elizabeth. Mas Elizabeth chamou sua atenção e ela acenou alegremente. Nicole não sabia se ela respondia ou não. Só sabia que não podia virar as costas e fugir, não agora. Com um suspiro resoluto, Nicole se virou para a plataforma novamente. — Você viu Robert? — Elizabeth perguntou preocupada. — Há apenas alguns almoços sobrando e eu não o vi. O duque estava tenso. — Ele provavelmente entreteu-se na noite passada e esqueceu tudo sobre a sua feliz promessa para você. — Não seria diferente de Robert e de certo modo o duque ficaria feliz se o belo solteiro nunca aparecesse para comprar o almoço de Nicole. — Stacy! — Elizabeth chamou, vendo sua prima passando pela multidão com seu pretendente, que acabara de comprar o almoço de cesta bem decorado. Stacy se aproximou, cumprimentando os primos. — Este é o senhor Harrington — disse ela, dando-lhe um olhar tímido. — Ele comprou meu almoço por trinta e cinco libras. — Que bom — disse Elizabeth, fazendo uma pausa para cumprimentá-lo corretamente, apesar de sua angústia. Então ela pegou a mão da prima e a levou de lado. — Stacy, onde está seu irmão? Onde está Robert? — Ah, esqueci de te dar uma mensagem — disse Stacy, sorrindo. — Esqueceu-se que tinha outro compromisso hoje, em Brighton, que ele absolutamente não podia perder. Elizabeth empalideceu. Stacy riu. — Não se preocupe, ele me contou sobre o seu esquema, e não deixou você na mão. Ele pediu a um amigo para vir tomar o seu lugar. — Quem? — Elizabeth perguntou. Stacy apontou. — Veja aquele ruivo de terno branco de linho? Em pé ao lado da que está na manta? O nome dele é algo de Chester e ele vai comprar o almoço de Nicole. — Ela riu novamente. Elizabeth olhou para o jovem cavalheiro desgrenhado e seu amigo. Ambos estavam claramente impressionados. — Vou matar Robert — disse ela. Stacy riu. — Eu tenho que ir, Elizabeth. Divirta-se! — Ela fugiu com lorde Harrington para assistir ao final do leilão. Elizabeth voltou ao duque, angustiada e contou-lhe o que havia acontecido. Sua cesta de almoço foi colocada à venda. O coração de Nicole estava na garganta e ela queria morrer enquanto o leiloeiro segurava a cesta de palha que era dela. Ela sabia que deveria decorá-lo como Regina fizera com a dela, mas ela tentara, e as tentativas tinham sido fracassadas. Arcos e fitas pareciam bobos, assim como rendas e panos. As flores pareciam ainda piores e finalmente, com nojo, Nicole pintara a cesta de um vermelho vivo. Todos os outros haviam escolhido pintar suas cestas de branco ou de cores pastéis, aparando- as com fitas, laços e outros trajes femininos. Nicole sabia que sua cesta era horrível. Quando o leiloeiro segurou, seus olhos se arregalaram, uma risada escapou da multidão. — Agora o que temos aqui? Humm? — ele murmurou. — O que quer que esteja nessa cesta incomum, cheira muito bem! Quem vai abrir o leilão? O silêncio o cumprimentou e o rosto de Nicole se queimou. Ela tentou não olhar para qualquer lugar, exceto para frente e para o leiloeiro gordo segurando sua cesta terrivelmente colorida. — Vamos lá, senhores, vamos começar o leilão! — ele chamou. — Quem vai começar? Eu ouço cinco libras? Cinco libras, senhores... — De quem é isso? — Um homem chamou. A identidade das garotas que haviam feito as cestas não era segredo, mas geralmente não havia necessidade de perguntar qual cesta era de quem, pois os pretendentes certamente iriam descobrir de antemão. Algumas risadas se levantaram sobre essa questão, a primeira desse tipo naquele dia. Quando o leiloeiro olhou para a pequena etiqueta na mesa e leu o nome dela, Nicole realmente queria morrer. O silêncio seguiu seu anúncio e centenas de olhos se voltaram para focar nela. Então alguém disse — Dez pences. Risos cumprimentou a oferta escandalosamente baixa. Nicole estava congelada. Isso não poderia estar acontecendo. Eles fariam uma piada com ela agora. — Dez pences — disse o leiloeiro, aliviado por finalmente conseguir uma oferta. — Eu tenho um quilo? Eu ouço uma libra? — Um quilo — alguém disse, bastante grosso. Os olhos de Nicole começando a nadar de lágrimas procuraram esse novo licitante. Ele usava uma jaqueta de linho branco e um chapéu de palha, e ele estava terrivelmente bêbado. Sem perceber o que estava fazendo, lançou um olhar angustiado ao duque e viu que ele estava furioso, considerando o homem de branco como se quisesse amavelmente matá-lo. Então ele se virou para olhar para ela. A compaixão que ela viu suavizando seu rosto era demais para suportar. Era a última coisa que ela esperava dele e isso ameaçava ser sua ruína. Nicole respirou fundo, olhando para o chão, usando toda sua força de vontade para não ceder às lágrimas. De repente, alguém pegou a mão dela. Foi Regina. O leilão parecia estar parando a uma libra, o que era tão humilhante quanto se ninguém tivesse pedido nada. — Eu os odeio — disse Regina. — Nós vamos para casa. Nicole não conseguiu responder. — Um quilo — o leiloeiro disparou. — Indo... indo... E então uma voz profunda e forte, que ela conhecia tão bem, soou, efetivamente silenciando tudo e todos. — Quinhentas libras — disse o duque de Clayborough. Houve um silêncio aturdido. Então o leiloeiro sorriu, batendo o martelo. — Quinhentas libras! — ele rugiu. — Eu ouço quinhentas e cinquenta? Eu tenho quinhentas libras... indo... indo... ouço quinhentas e cinquenta? E foi! Vendido para o Duque de Clayborough por quinhentas libras. Capítulo 11 Elizabeth quebrou o silêncio atônito em torno deles. — Hadrian — gritou ela — olha o que você fez. O duque estremeceu. Seu olhar passou pelo topo da cabeça de Elizabeth e encontrou a de Nicole. Ela estava de olhos arregalados, absolutamente incrédulos. Durante o leilão para a sua cesta, sua raiva tinha se inflamado com a zombaria infligida a ela por seus pares. Com tristeza, ele a observou tentando esconder a angústia que ele podia ler por trás de sua expressão orgulhosa e congelada. Ele queria estrangular o amigo de Robert por sua ridícula oferta de um quilo. E quando ele percebeu que não haveria contraproposta, que o almoço de Nicole seria realmente vendido por uma quantia tão embaraçosa, ele teria vindo em socorro com sua incrível oferta de quinhentas libras. Nada poderia tê-lo impedido de resgatá-la da humilhação que sofria, mas ele decidiu pensar que teria resgatado alguém em situação semelhante. Ele não inspecionaria suas motivações mais do que isso. Mas Elizabeth entenderia? O duque desviou o olhar de Nicole, imaginando há quanto tempo eles estavam encarando um ao outro. — Elizabeth — ele começou sem jeito. Ela bateu palmas. — Como você é heroico. Seus olhos se arregalaram. Ela se agarrou ao braço dele, radiante. — Como você é inteligente! Agora todos saberão que você a colocou sob sua proteção e ninguém jamais ousará se divertir tanto com ela novamente. — Você não tem um osso mesquinho em seu corpo? — ele perguntou suavemente. Confusão nublou seus olhos. Ele poderia pelo menos revelar um pouco da verdade. — Isso me irritou ao vê-la zombada. Eu nunca gostei de nenhum tipo de abuso. — Ele relembrou, num piscar de olhos, como seu pai zombara da mãe com a mesma crueldade. E como Francis zombou de seu próprio filho, desdenhando o menino em cada turno, ridicularizando todos os esforços dos quais a criança deveria se orgulhar. Aquela criança... ele mesmo. — Eu sei e é por isso que eu... porque eu gosto tanto de você — ela disse, apertando o braço dele. — As pessoas estão esperando, Hadrian, você deve ir buscar sua cesta. — O leiloeiro iniciara o leilão de um dos dois últimos almoços. Mesmo quando ele disse as palavras, ele sentiu uma decepção tola. — Eu só comprei a cesta dela para salvá-la do constrangimento, Elizabeth, não para compartilhar um piquenique com ela. — Hadrian, você deve! Se você não compartilhar seu almoço, as pessoas vão pensar que eu desaprovo e estou com ciúmes. Será um escândalo e você terá desfeito todo o bem que acabou de fazer. Você deve. Ele ficou chocado. Sua própria noiva estava enviando-o para os braços de outra mulher, uma cobiçada ainda apesar de suas melhores intenções. Claro, Elizabeth não tinha ideia de como Nicole assombrou seus pensamentos. — Vamos todos jantar juntos — disse ele com firmeza, embora achasse essa solução ainda mais assustadora do que dividir o almoço com Nicole sozinha. — Não, não — disse Elizabeth com a mesma firmeza. — Estou cansada demais. Estou aqui desde manhã cedo preparando este evento com sua mãe. Se você pretende jantar comigo esta noite, Hadrian, então é melhor me retirar para a tarde. — Eu vou te levar para casa, então. — E deixar Nicole aqui, sozinha, para ser motivo de piada? Não seja bobo! Vou mandar sua carruagem de volta. — Ela deu-lhe outro sorriso caloroso, depois se virou para acenar para a nervosa Nicole. O duque fez um último esforço. — Elizabeth, se você sair agora as pessoas vão pensar que você está com muita dor. Elizabeth riu alegremente, claramente no melhor dos espíritos como qualquer um podia ver. — Pelo contrário, eles saberão o quanto eu confio em você e em breve deixarei claro para todos os meus amigos o quanto estou satisfeita com a forma como você estendeu sua proteção a Lady Shelton. Suas palavras, é claro, não fizeram nada menos que perturbá-lo imensamente. Quanto eu confio em você. Como ela estava errada. Houve muitas mulheres em sua vida. Não se esperava que um cavalheiro fosse fiel a uma esposa, muito menos a uma noiva e quase todos os cavalheiros mantinham uma amante. Essas outras mulheres não eram de qualidade, por isso não importava. Era aceitável, até esperado. E era bem sabido que as damas se satisfaziam com o fato de seus maridos encontrarem conforto em outro lugar, pois as damas eram gentis demais para ter que suportar o apetite de um homem, a não ser com o propósito de conceber filhos. No entanto, conviver com Nicole Shelton não era aceitável. Violou não apenas a confiança de Elizabeth nele, mas o código de conduta honrosa de que todos os cavalheiros viviam. Lady Nicole Shelton era outro assunto inteiramente diferente, pois ela era da aristocracia. Hadrian passou por Elizabeth através da multidão, tentando não pensar em nada. Não foi fácil. Seu coração estava batendo forte e sua mente não estava em sua noiva, não do jeito que deveria ser. Ele estava consciente demais da mulher alta e morena do outro lado da clareira. — Eu vou te ver hoje à noite, Hadrian — disse Elizabeth quando chegaram a sua carruagem. O duque assentiu e ajudou-a a entrar, dando ordens ao cocheiro. Ele recuou quando o cocheiro se afastou e conseguiu sorrir quando Elizabeth lhe deu uma última onda de despedida. Nicole os observou saindo, ainda incapaz de assimilar o que havia acontecido. Por que ele comprou a cesta dela e por uma quantia tão incrível? Como ele poderia fazer algo assim na frente de Elizabeth e isso significa alguma coisa, previa algo? Ela tentou se alertar para não ser tola, mas suas emoções eram terrivelmente cruas e a advertência parecia trivial comparada com o quão monumentalmente ele salvou o dia. Agora ele estava saindo. Nicole não conseguia tirar os olhos deles, ainda de pé sob o carvalho alto e espesso onde estava desde o início do leilão. Claro que estava saindo, o que esperava? Ele vir e reivindicá-la como todos os outros jovens ansiosos tinham reivindicado suas damas? Ainda guardava estranhas fantasias românticas sobre ele? Ainda se atrevia a ser tão tola? Regina segurou seu braço, lembrando a Nicole que ela ainda estava ao lado dela. — Eu não acredito — ela sussurrou animadamente. — O duque de Clayborough comprou o seu almoço, oh, Nicole, este é um ótimo sinal, sinalizou a todos que você não deve brincar. Tremendo, Nicole conseguiu um sorriso fraco. É isso que significava? Ou... poderia significar algo mais? Esperança pulou em seu peito, embora ela tentasse sufocá-la. Regina não sabia quantas vezes estivera em seus braços e como chegara a se entregar a ele, noiva ou não. Talvez, apenas talvez... — Lorde Hortense está esperando por você. Vá em frente, vou para casa e mandarei a carruagem de volta para você. — Nicole não se atreveu a completar seus pensamentos. — Você tem certeza? — Regina perguntou, então ela agarrou o braço de Nicole com entusiasmo. — Nicole, olha. Nicole seguiu o olhar da irmã e ficou surpresa. O duque se elevou sobre todos enquanto se aproximava da multidão, sem se aproximar dela, mas da plataforma. Seus olhos se lançaram à frente dele. O leilão havia acabado há muito tempo e a única coisa na plataforma que não as alegres bandeiras brancas e verdes e a variedade de rosas de estufa era sua cesta vividamente vermelha. O duque não se deteve, dirigindo-se infalivelmente a isso. Ele pegou e se virou, seu olhar encontrou o dela e começou a caminhar em sua direção. Ambas as meninas ficaram em silêncio, cada uma atordoada por suas próprias razões. Regina quebrou o silêncio primeiro. — Eu acho que... eu acho que ele pretende almoçar com você. — Acho que não — disse Nicole, instável, mas seu coração tremulava como as asas de um beija-flor. O duque se aproximou. — Senhoras — ele disse formalmente. Regina voltou a si em primeiro lugar, caindo em uma reverência lindamente executada. — Sua Graça. Eu... — Ela olhou de um para o outro, fascinada pela intensidade de seus olhares. — Lorde Hortense está esperando por mim — ela conseguiu sem fôlego, então ela se virou e fugiu. Um silêncio caiu entre eles, denso com uma tensão gerada pelo passado e agravada pelo presente. Nicole quebrou, molhando os lábios nervosamente. — Todo mundo está olhando. O que você está fazendo? — Deixe-os olharem. — Ele estendeu o braço. Sua expressão era extremamente sombria. Ele ainda tinha que sorrir ou mostrar qualquer expressão. — Devemos? Nicole piscou em seu braço. — Eu eu não entendo. Sua mandíbula se apertou. — Estamos almoçando juntos, Lady Shelton, como eu comprei sua cesta. Ela ergueu o olhar trêmulo para ele. — Mas... Elizabeth? — Elizabeth aprova com entusiasmo e se ela não estivesse tão cansada, ela também se juntaria a nós. Uma decepção terrível, que Nicole não tinha o direito de experimentar, invadiu-a. — Entendo. — Ela se virou, mas não segurou o braço dele, não tendo intenção de fazê-lo. Seus lábios apertaram firmemente enquanto a bolha secreta dentro dela explodia. Seu balão de fantasia, cheio de sonhos, desapareceu. O que ela secretamente esperava? Que ele rompeu com Elizabeth, aqui e agora, tão publicamente? Quebrado para ficar com ela? Ela não era mais do que um caso de caridade, para ambos, embora os motivos do duque certamente pudessem ser mais suspeitos. Percebendo que Nicole não aceitaria, ele deixou cair o braço, os olhos escurecendo. Juntos, eles atravessaram a clareira até chegarem a um ponto sombreado por três Aceres vermelhos flamejantes. Nicole olhou ao redor enquanto o duque abaixava a cesta. Eles estavam à vista de todos, mas isso era de se esperar, assim como a curiosidade que eles despertavam. — Você trouxe um cobertor? — O que? Grosseiramente ele repetiu sua pergunta. Nicole sacudiu a cabeça. O duque tirou o casaco verde de caçador, espalhando-o por ela. Nicole não pôde agradecê-lo e em vez de se acomodar, olhou para ele. — Eu garanto a você, eu não tenho piolhos. Ela virou o olhar para ele. — Isso é ridículo. Você realmente espera que nos sentemos aqui e almocemos juntos civilizadamente? — Eu não apenas espero — ele disse, com os olhos arregalados — eu exijo isso. Raiva brilhou nos olhos dela e ela se aproximou dele. — Eu não preciso da sua caridade! — Pelo contrário — ele disse suavemente — você certamente precisa. — Eu não pedi para você comprar minha cesta. — Não, você não pediu. — Então, por que você fez isso? — ela falou, tremendo. Ele olhou a veia em seu pescoço latejando visivelmente. — Porque parecia que você não tinha outros socorristas — ele finalmente disse. — Como você é galante! — Nicole exclamou, sem conseguir segurar as lágrimas. — Eu não precisava de resgate e certamente não por você. — Talvez você deva deixar de lado o seu orgulho por um momento, Nicole. Quantas vezes ele fez com que você agisse precipitadamente? Quantas vezes criou mais problemas do que resolveu? — Isso não é problema seu. — Eu sugiro que você se sente — disse ele, com o rosto vermelho de raiva. — Antes de fazer um espetáculo de nós mesmos e desfazer tudo o que foi feito. — Eu não preciso da sua proteção — ela disse amargamente. — Vá proteger a doce Elizabeth. — Ela não precisa da minha proteção e tolo que eu sou, eu pareço ter estendido para você, tão ingrata como você é. Agora sente-se. — Abruptamente ele a empurrou até os joelhos, e Nicole não teve escolha a não ser sentar-se rapidamente em seu casaco. Ele caiu na grama ao lado dela e quando Nicole estava prestes a saltar, ele agarrou a mão dela, mantendo-a ancorada onde ela estava. — Nós ainda somos o foco de muita atenção e uma luta irá alimentar as fofocas. Você não teve fofocas suficientes, Nicole? Ela fechou os olhos brevemente. — Sim. Ele soltou a mão dela. Quando ela abriu os olhos, encontrou-o olhando fixamente para o rosto dela. Nicole levantou o queixo, piscando de volta as lágrimas quentes por trás de suas pálpebras. Ela podia lutar com tudo o que queria, negar tudo o que queria, mas precisava da caridade dele, precisava dele para resgatá-la e agora, se fosse brutalmente honesta consigo mesma, queria ainda mais. Não havia dúvidas sobre sua força. Emanava dele em um carisma que ninguém podia negar. Se ele fosse dela, ela iria para seus braços e choraria pelo passado, que não poderia mudar e choraria por um futuro que desejava tão desesperadamente ter. Ele seria um refúgio, um refúgio inviolável que precisava desesperadamente, um escudo invencível entre ela e o resto do mundo. Mas ele não era dela, pertencia a Elizabeth e esta situação era nada menos que impossível. Ele ainda estava olhando para ela, muito de perto, como se pudesse ler seus pensamentos e sentimentos mais privados. Nicole se viu atraída pelo poder dele, arrastada por ele. Mais uma vez, ela estava impotente para desviar o olhar dele. Ela temia que ele conhecesse seus pensamentos mais íntimos. Com medo que estivesse revelando demais, não queria que ele soubesse, ou suspeitasse, o que ela temia reconhecer. Sua raiva havia morrido. O rubor revelador sumiu. Seus olhos eram novamente o rico ouro de xerez, os olhos de um tigre, perigosamente hipnotizantes. Nicole ficou quieta, embalada em total indiferença, antecipando-se a ele. De repente ele levantou a mão. Não havia dúvida de que iria tocá-la, alcançou o rosto dela. Naquele momento, Nicole ansiava desesperadamente por ele. E, de repente, baixou a mão e o olhar, abrindo-se abruptamente para o lanche. — Talvez devêssemos comer — disse ele. Uma grande decepção a consumiu. Ela não pôde responder. Ela só podia vê-lo abrir a cesta e começar a remover os itens. Levou apenas um instante para que todas as emoções turbulentas e contundidas de Nicole se transformassem em uma ardente bola de desejo explosivo. Embora se sentasse imóvel, determinada a esconder sua resposta a ele, estava tremendo, o corpo tenso e apertado, quase dolorosamente. Ele estava prestes a tocá-la, estava certa disso. Ela não conseguia pensar em mais nada. Seu olhar se levantou e eles se encararam. O brilho de seu olhar era tão brilhante quanto o dela, inconcebível. Oh, meu Deus, pensou Nicole, quando o desejo violento caiu sobre ela. Naquele momento, não se importava com nada nem ninguém além de si mesma e do duque, pois cada folha tremia acima deles, cada folha de grama doce em volta deles, a multidão festiva espalhada pelo parque, o mundo inteiro, acabara de desaparecer no esquecimento. Não havia nada nem ninguém em existência além de si mesma e do homem poderoso e viril sentado à sua frente. Apenas seus olhos se moviam, seu corpo incapaz de movimento. Eles vagavam por todas as características primorosas de seu rosto, demorando-se em seus lábios sensualmente esculpidos, recordando o calor e o poder deles, a fome devoradora. Eles desceram mais, sobre os ombros largos e peito volumoso, vestindo apenas uma camisa branca de linho, os dois primeiros botões abertos e revelando apenas um vislumbre de cabelos grossos e escuros no peito. Suas pernas longas e poderosas estavam envoltas em calções curtos, as botas altas pretas e reluzentes. Assustada, o olhar dela voou de volta para os quadris dele, onde uma excitação rígida e grossa tencionou o tecido apertado de suas calças. Por um longo momento ela não conseguiu desviar os olhos, não conseguiu se mexer, não conseguiu respirar. Seu corpo se esticou e estremeceu contra os limites de sua pele. De repente, algum tipo de morte parecia iminente, uma que a levaria diretamente para o céu. Ele amaldiçoou. — Droga. Isso é intolerável. Isso não pode continuar. Nicole molhou os lábios, pensando desavergonhadamente sobre seus beijos, sobre como se sentia em seus braços e sobre outro ato que nenhuma dama contemplaria. — Eu sugiro — ele disse bruscamente — que você pense sobre algo, qualquer outra coisa. Seus desejos mais privados revelados. Ela ergueu o olhar para ele e foi consumida alegremente pelo calor que encontrou lá. — Eu não posso — ela sussurrou. Ele soltou a respiração duramente. — Se você não fizer — ele disse asperamente — então temos uma hora muito longa pela frente. Ela o olhou suas palavras atraindo sua atenção para longe de seus pensamentos indecentes. — Eu acho que uma hora será suficiente, se pudermos suportar isso. — Uma hora será suficiente — disse ela lentamente. — É apropriado para nós compartilharmos um piquenique por uma hora e então, é claro, você deve retornar para Elizabeth. — Sim. As palavras foram mais eficazes do que baldes de água gelada lançados sobre sua cabeça e ela sorriu quase com tristeza. Como ela podia sentar aqui e cobiçar o homem de outra mulher, que era praticamente seu marido? Era terrivelmente imoral, tão imoral quanto seu escandaloso desejo físico e Nicole ficou envergonhada. Por alguns breves momentos, se esquecera de Elizabeth e teria feito qualquer coisa para ficar sozinha com o duque, sozinha de uma maneira íntima. Mas como ela poderia ter esquecido? Ela não deve esquecer! Este homem foi levado, ele não pertencia a ela, mas a outra. Ela nunca poderia tê-lo e sentar-se aqui cobiçando-o abertamente era o cúmulo do comportamento covarde. — Não vamos demorar — disse ela abruptamente, sem se atrever a olhar nos olhos dele. — Vamos embora. Você pode dizer a todos os seus amigos maravilhosos que eu era a mais encantadora, mas eu tive uma terrível dor de cabeça. E você deve agradecer a Elizabeth, claro, por sua parte graciosa neste resgate. Ele ficou em silêncio, sentiu seu olhar, mas se recusou a olhar para ele, sentiu como se estivesse morrendo por dentro, pouco a pouco, um tipo completamente diferente de morte do que a arrebatadora que sentiu poucos minutos antes. — Você está certa — disse ele com voz rouca, fechando a cesta e ficando de pé. Ele estendeu a mão, mas Nicole sabia melhor do que tomá-lo, com medo de tocá-lo, embora não quisesse mais nada. Cuidadosa para não encontrar o olhar dele, tomando cuidado para não deixar suas mãos se roçarem, ela entregou sua jaqueta, esperando enquanto a vestia. Lado a lado, atravessaram o parque em direção à longa fila de carruagens. Quando passaram por um grupo de piqueniques após o outro, o duque assentiu com a cabeça e disse um breve olá, mas Nicole não olhou para ninguém, muito absorta em seus próprios sentimentos esfarrapados. A carruagem de Dragmore chegaria em breve, mas uma parte teimosa desejava evitar a separação iminente, pois dessa vez sabia que seria para sempre. Na segunda-feira voltaria para Dragmore. O cocheiro abriu a porta da carruagem de laca preta brilhante. Nicole estava prestes a intervir quando o duque agarrou o braço dela, contendo-a. Ela teve o cuidado de não o olhar, mas não conseguiu seu olhar voou para o dele. Enquanto seus olhares se trancavam, uma emoção sem nome, íntima e poderosa, brilhou entre os dois. — Nicole — disse o duque com voz rouca — precisamos conversar. — Existe realmente alguma coisa para discutir? — Ela perguntou tristemente. Sua mandíbula se apertou. Muitos segundos se passaram e ele não respondeu, aparentemente batalhando consigo mesmo. Então seu aperto aumentou. — Vamos conversar. Minha carruagem não voltou. Você pode me dar uma carona de volta para Clayborough. — Eu não farei tal coisa. Mas o duque decidira e ele estava impulsionando-a pelos degraus e entrando na carruagem. Nicole pousou despreocupadamente no banco de trás. Seus olhos se arregalaram quando seu corpo apareceu na porta. Ele se sentou ao lado dela, fechando a porta atrás de si. — Clayborough — ele disse ao cocheiro. — E então você pode levar Lady Shelton para casa. — Sim, sua graça. — O cocheiro desapareceu e a carruagem rolou para a frente. — Por que você está fazendo isso? — Nicole exclamou. Ele virou para encará-la. Seus olhos estavam em chamas e Nicole respondeu imediatamente seu próprio desejo turbulento se agitara dentro dela desde que ele se aproximara dela com sua caixa de piquenique. — O que você vai fazer? — Ele perguntou. Teria percebido suas intenções? Ou era tão óbvia e ele também astuto? Conseguiu um sorriso, mas estava desamparada. — Eu vou sair. Estou voltando para Dragmore na segunda-feira. Ele olhou para ela. Nicole podia ouvir seu próprio batimento cardíaco acelerado. A maneira como estava olhando e sua proximidade estava tornando quase impossível pensar, mas estava quase esperando que ele protestasse contra seus planos. Ele não o fez. Virou a cabeça para longe dela, revelando a linha dura do maxilar, olhou para fora da janela da carruagem. Decepção alagou Nicole. Queria chorar, estender a mão e tocar a manga do casaco dele ao mesmo tempo, mas não fez. Ele a encarou novamente. — Então isso é um adeus — disse ele com firmeza. — Sim. Outro momento tenso encheu o vazio entre eles. — Nicole... Ela esperou, esperou que ele protestasse, ou se declarasse. — Você é única — disse ele. — Você não é como as outras. Foi o maior elogio que ele poderia ter dado a ela, ela percebeu e as lágrimas começaram a derramar suavemente por suas bochechas. — Não chore — ele ordenou, seus dedos pousando em seu rosto. — Porque você está chorando? Ela balançou a cabeça sem palavras, os olhos fixos nos dele. Ele se inclinou para frente. Ela não se moveu, mesmo sabendo o que estava fazendo e o que estava por vir, mesmo sabendo que deveria resistir. Mas este seria o último beijo e queria lembrar disso para sempre. Segurando seu rosto, ele colocou a boca sobre a dela. Foi um beijo carinhoso, como se houvesse afeição real entre eles. Então a mão dele deslizou até o pescoço dela e apertou, sua boca se movia com mais insistência, com súbita urgência. As lágrimas de Nicole pararam. Ela gemeu em encorajamento, segurando as lapelas do seu casaco. Sem hesitar, deslizou para frente sob o corpo dele, ele desceu em cima dela. Seus braços estavam ao redor dela; os braços dela estavam ao redor dele. Suas línguas se acasalaram em uma febre de necessidade, ela o sentiu assentar o calor espesso de sua masculinidade na fenda entre suas pernas. Ele começou a se mover contra ela com crescente abandono, com insistência. Não queria que terminasse assim, não queria deixá-lo ir, não queria perdê-lo para outra mulher, não importa quem ela fosse queria que ele pertencesse a ela. Ele se levantou contra seu corpo. Nicole agarrou-o, deixando-o fazer o que quisesse. O nó de tensão dentro dela estava crescendo. A qualquer momento explodiria, eclipsando-a. Ele parou de se mexer estava deitado em cima dela pesadamente, ofegante. Nicole também estava ofegante percebeu que suas pernas estavam enroladas em torno de seus quadris. Ela queria morrer, mas não de vergonha. Naquele momento, a vergonha era a última coisa em sua mente. — A carruagem parou — ele finalmente disse, suas palavras cortadas. — Parou há algum tempo. Nicole fechou os olhos. — Se eu fosse um canalha, nós terminaríamos isso aqui e agora. — O duque se afastou dela. Foi um bom momento antes que ela pudesse se forçar a se sentar. Ele sentou-se rigidamente ao lado dela, observando-a. — Não é por isso que eu vim de carona para casa com você. — Eu sei. — Não é isso que eu pretendia. — Eu não sinto muito. Ele olhou fixamente. O desejo de sucumbir à tristeza veio novamente com intensidade renovada. E novamente esperou que ele lhe dissesse para não sair de Londres. — Adeus — o duque disse suavemente. Abruptamente, ele abriu a porta e saiu da carruagem, para longe dela. Nicole deu uma última olhada em seu rosto quando fechou a porta. Era austero e impassível. Inesquecível. Ele foi inesquecível. Ela se abraçou, tentando encontrar conforto no gesto, o espaço a seu redor agora vazio e frio. Sozinha e encoberta pela luz fraca, sentiu os olhos se encherem de lágrimas. A carruagem começou a se afastar, pensou que podia sentir ele a observando. E então, pensou ter ouvido ele. — Nicole — Sussurro-suave, urgente. Não se atreveu a olhar pela janela, não se atreveu. Em vez disso, bravamente, resolutamente, enxugou os olhos e virou-se para encarar a escuridão. Capítulo 12 Martha seguiu Nicole para cima e para o quarto dela. Ela não estivera no piquenique, tendo outras obrigações, mas, é claro, ouvira em detalhes precisos o que havia acontecido. — Você vai me dizer — ela começou, então parou, olhando para Annie, a jovem criada, que estava dobrando roupas de uma pilha enorme na cama de Nicole e as arrumando em sua bagagem. — Onde você vai? Nicole disse a Annie que ela poderia terminar mais tarde, se quisesse, e se virou para sua melhor amiga. — Onde você pensa que vou? Estou voltando para Dragmore. — Mas você não pode sair de Londres agora! — Por que não? — Porque o duque aceitou você e em breve outros se estenderão a você também. Sua vida está prestes a se virar, você não pode sair. Nicole mordeu o lábio, desviando o olhar, tinha que sair sabia disso. Ontem tinha sido adeus. Foi final. Não havia outra escolha. No entanto, Dragmore não parecia mais um santuário. Dragmore não mais a atraía como antes, sua casa parecia terrivelmente isolada. A tentação de permanecer era real e forte, e apenas um ligeiro encorajamento seria necessário para mudar sua resolução atual. Ainda assim ela devia sair. Eles tinham dito adeus. Permanecer em Londres, onde o duque de Clayborough estava com sua noiva seria nada menos do que abuso auto infligido. — Quase quebro meu coração toda vez que estou com ele — ela disse suavemente. — Oh, Nicole — Martha murmurou, segurando sua mão. — Se você quer saber, eu acho que ele gosta de você e tenho certeza que é por isso que comprou seu almoço. Mas é um homem de honra e nunca vai deixar Elizabeth. Todo mundo sabe que ela está lutando com algum tipo de fadiga misteriosa e que deixou o piquenique de caridade porque havia se excedido em seus preparativos. Ele a levou para o teatro na noite passada, mas não ficaram muito tempo. Nicole atravessou a sala de costas para a amiga. — Eu sei, Martha e é por isso que não posso ficar. Devo confessar a verdade para você também. Eu tenho medo do que eu possa sentir por ele. Eu... eu o cobiço, indevidamente, quando ele pertence a outra, é vergonhoso — Nicole olhou para Martha, imaginando se sua amiga poderia entender exatamente o que ela queria dizer. E se Martha adivinhou o significado por trás de suas palavras, ela não deixou transparecer, o assunto sendo íntimo demais para o melhor dos amigos. — De certo modo você está certa, você deve retornar a Dragmore, até que você possa superá-lo, mas agora o momento é propício para a sua reentrada na sociedade, e você vai esquecê-lo mais cedo ou mais tarde de qualquer maneira. Se você ficar, você pode encontrar outra pessoa. Tenho certeza disso. — Eu não quero outra pessoa. — Por que ela deveria encontrar outra pessoa? — Regina perguntou, em pé na porta. — E onde Nicole está indo? — Você deveria bater — Marta repreendeu. Regina sorriu docemente. — Por quê? Minha irmã tem algo a esconder? — Ela fechou a porta e se virou animadamente. — O que aconteceu ontem? Você deveria ter visto como o Duque de Clayborough estava olhando para você. As palavras de sua irmã rasgaram-na, fazendo-a tremer esperançosa quando soube que era inútil. — Como ele estava olhando para mim? — Ela não queria fazer a pergunta, mas não conseguia mais segurá-lo do que morder sua própria língua. — Como se você fosse a única mulher no mundo. — Por favor, Regina — Nicole se sentou abruptamente. — Você está enganada. Regina veio se sentar ao lado dela, puxando um divã. — E você gosta dele também, eu poderia dizer que era muito óbvio. — Era óbvio? — Nicole chocou, ficando vermelha, totalmente horrorizada. — Óbvio para mim — assegurou Regina. — É verdade que você o levou para casa na sua carruagem? — Sim, é verdade. — Nicole não corou. E ela se lembrava de cada detalhe do que seria seu último encontro e ela sempre faria. — Elizabeth é boa o suficiente — Regina estava dizendo — mas nada comparado a você. Estou rezando para que o Duque a largue para ficar com você. — Regina — Marta repreendeu bruscamente. — Não dê sonhos tolos e impossíveis a sua irmã. Ele não fará tal coisa. — Você se tornou uma velha peluda — Regina arremessou. — Com amor, tudo é possível. Nicole se levantou e deixou as duas garotas discutirem entre si. Ela sabia que Martha estava certa e Regina estava errada, mas a romântica em seu interior desejava que não fosse assim. Ela não conseguia afastar sua imagem dourada de seus pensamentos, nem sua despedida ontem. Ela estava certa, agora, de que ele realmente chamara o nome dela e que isso não era fruto de sua imaginação. Por que a chamara? Teria realmente olhado para ela como se fosse a única mulher no mundo? Nicole esfregou as têmporas latejantes. Ela não deve ouvir Regina, que não sabia nada sobre os homens e seus caminhos. Martha ganhou sua atenção. — Você não deve sair de Londres, Nicole, eu estou te implorando. O duque nunca fica na cidade por muito tempo e ele não se arrisca muito frequentemente entre os participantes. É claro que seus caminhos se cruzarão algumas vezes, mas não mais que o razoável. Se você sair agora, estará resignando- se para sempre a uma vida de solteirona no país. Não faça isso. Nicole olhou fixamente para Martha, pensando em como o duque virara toda a sua vida de cabeça para baixo. Antes de encontrá-lo no Adderlys, ela estava contente. Não havia nenhum anseio tolo e doloroso em seu coração pelo que ela não podia ter. Ela amava sua vida exatamente como era. Não mais. Encontrá-lo apenas uma vez bastaria para nunca o esquecer. Mas foi mais de uma vez e mais do que apenas uma introdução. Como o sol, sua aura era dourada, poderosa e resplandecente. Como o sol, era uma força vital inescapável. Ele havia perturbado o padrão e a harmonia de sua vida irrevogavelmente. Pois mesmo quando não estava presente, como o sol, ainda estava lá, sempre estaria lá. Ela não podia mais se imaginar em Dragmore, sua vida na propriedade de repente parecia insuportavelmente solitária. Nunca se sentira solitária antes, mas agora o sentimento a consumia e ela odiava isso. — Eu não sei. Eu devo pensar. Regina também a incentivou a ficar, mas Nicole tentou não ouvir sua irmã mais nova, que continuava insinuando a possibilidade de o amor florescer entre ela e o duque. Quão ingênua e jovem parecia sua irmã, acreditar em sonhos tão adolescentes. Além disso, Nicole tinha que enfrentar outra coisa, algo que ela não podia mais negar. Não conseguia desgostar de Elizabeth, não importava o quanto tentasse, não a conhecia bem, mas não precisava. Era uma das pessoas mais amáveis que Nicole já conhecera. Mesmo que Regina estivesse certa, mesmo que o duque deixasse Elizabeth e a escolhesse, Nicole nunca poderia viver consigo mesma por infligir tal ferimento à outra jovem. Não havia um resultado feliz possível para essa situação miserável, exceto, é claro, esquecer o duque de Clayborough. Como se alguém pudesse escapar do sol.
O duque entrou no foyer de sua casa em Londres, o cabelo
despenteado, o rosto vermelho da mordida viva do vento. Estava voltando de um longo passeio matinal pelo parque e depois ao longo do Tâmisa, cavalgara como se perseguido por demônios, duro, rápido e imprudente, numa tentativa de escapar de seus pensamentos. Tinha sido bem-sucedido, pois tinha tomado toda a sua atenção para controlar a montaria que havia escolhido, um bruto particularmente cruel e perigoso de um garanhão. Não havia tomado o café da manhã e um brunch de salmão defumado e peixe branco estava esperando por ele quando entrou na sala de jantar. Não ficou surpreso ao ver a duquesa viúva ali, pois vira sua carruagem do lado de fora. Normalmente, a presença de sua mãe seria bem-vinda, mas não hoje, pois não tinha a menor dúvida de por que ela viera. Seu mau humor inabalável aumentou. — Bom dia, mãe — ele disse, beijando sua bochecha e sentando-se. Isobel devolveu sua saudação, servindo-lhe chá preto, que ele bebeu. — Nós levantamos mil quinhentos e vinte e oito libras ontem — disse ela, em tom de conversação. Mas o olhar dela não era. Hadrian se recostou na cadeira. — Isso inclui as quinhentas libras que eu contribuí? Os olhos de Isobel se fixaram nele nitidamente. — Sim. — Por favor, eu sei que você está morrendo de vontade de me rasgar. Sinta-se livre. — Eu não sei se quero rasgar você ou não — disse Isobel, olhando para seu único filho. — Fiquei horrorizada ao vê-la tão envergonhada e seu resgate me emocionou. Por outro lado... Ele levantou uma sobrancelha. — Hadrian, por favor, me diga que não há nada acontecendo entre vocês dois. — Você não acha — disse ele com firmeza — que esse tópico de discussão é mais inapropriado entre mãe e filho? — Como seu pai está morto, eu tenho pouca escolha. — Há sempre uma escolha, mãe. — Hadrian? — Eu procurei proteger Nicole Shelton de novos abusos. Vamos deixar por isso mesmo. Isobel ficou preocupada com as mãos no colo. — Elizabeth ama você, Hadrian. Ele estremeceu. — E eu gosto muito dela, sempre fui apaixonado por ela. Eu estava no seu batismo, brinquei com ela no meu joelho. Assim que podia andar, começou a me seguir por toda parte. Eu não vou renegar nosso compromisso Mãe. Isobel sabia que agora podia acreditar nele completamente, que queria dizer o que ele disse. Suas palavras não puderam aliviar sua ansiedade. Pois ela sabia muito bem como as questões do coração tendiam a seguir seu próprio curso, sem levar em conta as consequências. E estava tão terrivelmente amedrontada que podia ver isso acontecendo entre seu filho e Nicole Shelton. Ela não era de julgar, Deus sabia, tendo sucumbido uma vez a essa paixão ilícita, mas tinha sido diferente com ela. Francis fora um marido cruel e infiel. As palavras de Hadrian a empurraram de seus pensamentos. — Estou preocupado com Elizabeth — ele estava dizendo. — Estou convencido de que você está certa e de que ela está doente. Ela ainda está perdendo peso e se cansa mais facilmente do que quando cheguei a Londres. Eu chamei um médico para atendê-la. — Estou feliz — disse Isobel. — Ela sabe? O duque olhou para ela severamente. — Não só ela sabe, desta vez ela não protestou. Mãe e filho se entreolharam, absorvendo a implicação disso. Até aquele dia, Elizabeth insistia em dizer que estava bem, mas aceitar um médico equivalia a admitir que algo estava errado. De repente Isobel pensou em Nicole Shelton, tão diferente de Elizabeth quanto a noite do dia. Oh, ela podia entender a atração de Hadrian por ela, pois ela era forte e inteligente, vibrante e saudável, o tipo de mulher que seria uma companheira para uma vida tão poderosa e dinâmica quanto seu filho. Se não fosse por Elizabeth, apesar do escândalo, ela teria aprovado de bom grado tal partida. De repente, ela rezou para que não tivesse cometido um erro terrível e se arrependeu do convite que havia mandado naquela manhã.
O conde e a condessa de Dragmore retornaram a Londres no
final do dia seguinte. Nicole ainda não saíra dividida entre voltar para Dragmore, que agora temia e ficar em Londres, onde não podia esperar mais que um vislumbre do duque de tempos em tempos. Depois do jantar, Jane convidou Nicole para um bate-papo. Nicole frequentemente passava tempo com a mãe, mas não à noite e não nos quartos. Era óbvio que havia algo que sua mãe queria discutir com ela. Ela se sentou em uma poltrona vermelha cereja em frente ao fogo, olhando Jane com expectativa. Jane serviu-lhes xerez e sentou-se perto dela em um pequeno sofá listrado. — Querida, eu ouvi dizer que você está fazendo as malas. Nicole aceitou a bebida. — Eu decidi voltar a Dragmore, mas agora não tenho certeza. — Ergueu o olhar para o de sua mãe, querendo confiar tudo a ela, mas sabendo que não podia. — Por causa do duque de Clayborough? — Jane perguntou suavemente. Nicole conteve um suspiro, seu olhar assustado voando para a expressão gentil de sua mãe. — Eu também ouvi sobre o acontecimento — disse Jane, estendendo a mão para apertar sua mão. — Oh, mãe. — Um caroço se formou na garganta de Nicole. Ela rapidamente desviou o olhar, estudando as mãos entrelaçadas. — Você pode confiar em mim, querida. — Eu não posso. — Nada do que você disser pode me chocar e além disso, tenho certeza de que já sei o que você está sentindo. Nicole se atreveu a olhar para a mãe. É claro que Jane ficaria chocada se soubesse o que se passara entre a filha e o duque. Nicole não tinha intenção de contar a ela, mas o resto de seu fardo era grande demais. — Você provavelmente se sentiu assim por causa do pai — Nicole disse trêmula. Ela ficou atordoada quando pronunciou as palavras, chocada com o que revelaram não para a mãe, mas para si mesma. Jane estava igualmente ferida, sem ter certeza até agora de quão fortes eram as emoções de sua filha para o duque de Clayborough. — Eu fugi de seu pai — disse ela, assustando Nicole e fazendo com que ela derramasse um pouco de seu xerez. — Ele concordou em se casar comigo, mas eu tinha certeza de que ele tinha feito isso só porque ele havia me comprometido. — Ela não contava à filha a verdade, que, de fato, seduzira o conde, subindo em sua cama quando ele estava bastante bêbado. — Eu o amava tanto que não suportaria ser sua esposa, a menos que ele também me amasse. — Eu acho que posso entender. — Você o ama? Porque foi isso que senti por seu pai desde o momento em que pus os olhos nele. Nicole virou o rosto, olhando para o fogo. Durante muito tempo, não falou, com medo de responder, com medo da resposta. Finalmente, ela disse — Ele não me ama. Ele ama Elizabeth, que é gentil e boa. E eu gosto dela, embora no começo eu a odiasse. Ele simplesmente... me deseja. Jane fez uma careta. — Amor entre duas pessoas é um presente raro e precioso, acredito que se realmente amasse Elizabeth, não iria querer você. Mas isso é irrelevante. O Duque é um homem de palavra e nunca quebrará seu noivado. Fico feliz que você veja a situação tão claramente, que você entenda isso. Você é jovem e forte e sei que pode esquecê-lo. Nicole se virou para a mãe, com os olhos cheios de lágrimas que ela se recusou a derramar. — Eu nunca vou esquecê-lo, mãe, nunca. Mas isso não importa em nada. Jane levantou-se e abraçou a filha, consolando-a como tantas vezes quando era mais nova. Quando Nicole estava calma, ela sentou- se novamente. — Como eu gostaria de poder ajudá-la nisso. — Eu estou bem. — Tudo vai dar certo para a melhor, Nicole. Confie em mim. Depois do que ele fez no sábado no piquenique, todo mundo agora sabe que o duque aceitou você e outros entre o grupo também devem fazê-lo. Eu sei que agora você está sofrendo, mas sair de Londres seria um grande erro. — Isso é o que Martha disse. — Eu quero que você fique — disse Jane, segurando as mãos. — Esta é a sua chance de recuperar a aceitação na sociedade e de encontrar alguém que vai amá-la tanto quanto você o ama. Não balance a cabeça! Você vai superar o Duque! Você pode ser uma popular e muito procurada Senhora aqui, ou uma solteirona solitária em Dragmore. Eu desisti e me machucou terrivelmente ver você passar os melhores anos da sua vida sozinha, assim como o seu pai. Nós dois estamos implorando para você ficar Nicole e aproveite o que o Duque fez. Seus pais raramente lhe pediam qualquer coisa e Nicole não podia recusá-los. Na verdade, ela não queria recusar. A parte dela que se recusou a esquecer o duque não queria sair de Londres por causa de sua presença aqui, não queria voltar para Dragmore, onde, se fosse honesta consigo mesma, simplesmente aceitaria. — Você realmente acha que eu poderia ganhar aceitação e me tornar popular? — Ela tentou imaginar o tipo de futuro que sua mãe queria para ela, um futuro em que ela mantinha a corte entre os solteiros até que um deles, seu príncipe encantado, a reivindicasse, mas ela falhou. Se ela pudesse esquecê-lo e ter uma vida que nunca desejara antes, se pudesse ser feliz de novo, com tal vida, então ela deveria esperar por tal advento, mas não pensou por um minuto que isso era possível. — Estou certa — disse Jane. — Eu vou ficar. Um sorriso de satisfação cruzou o rosto de Jane. Então ela hesitou. — Se você estiver disposta, devo lhe contar sobre um convite que aceitei para nós. É para um fim de semana de caça. — Adoro caçar — disse Nicole, momentaneamente iluminando-se ao pensar em um fim de semana como aquele. — A duquesa viúva de Clayborough é anfitriã. — Mãe, eu não posso. — No entanto, mesmo quando ela disse as palavras, a mente de Nicole correu com as possibilidades: ela poderia caçar, o duque estaria lá e Elizabeth certamente não poderia caçar. — Eu não conheço bem a duquesa viúva, mas tenho falado com ela de tempos em tempos ao longo dos anos e a admiro muito. Acho que ela sente o mesmo por mim. Sempre ficamos fabulosamente bem. Apenas trinta famílias foram convidadas para essa festa, trinta das famílias mais poderosas do reino, só haverá um ou dois rapazes elegíveis lá, Nicole, mas há muitos solteiros entre essas famílias, quero que eles vejam você. A Duquesa viúva especificamente incluir você em seu convite é um grande ato de generosidade. Como o duque fez no sábado, ela está estendendo sua proteção para você também. E Nicole, isso é apenas o começo. Doeria ir e ver o duque ali com Elizabeth, mas seu coração disparou ao pensar em vê-lo novamente. Ao mesmo tempo, ela entendia exatamente o que significava ter sido convidada pela duquesa viúva de Clayborough para sua casa naquele fim de semana, foi um convite que não pôde ser recusado. — Por que ela fez isso? — Nicole perguntou, aturdida. — Talvez porque, como o filho dela, ela seja uma mulher decente que não suporta a injustiça — disse Jane simplesmente. — Eu sei que esta é uma posição embaraçosa para você e enquanto eu quero que você vá, se você ainda é muito suscetível, vou respeitar sua decisão e diremos que você está doente. — Se ela me convidou diretamente, então eu vou — declarou Nicole. E ela disse a si mesma que iria começar uma nova vida, que logo lhe renderia muitos novos pretendentes e grande popularidade, mas seu coração riu de volta e lhe disse que era mentira. Capítulo 13 Não foi até a tarde de segunda-feira após o piquenique de caridade que Elizabeth estava se sentindo melhor. Embora o duque a levasse ao teatro na noite do piquenique, eles tiveram que deixar a apresentação mais cedo para que Elizabeth pudesse descansar. Ela permaneceu na cama por dois dias. Embora ela não tivesse febre, ela parecia estar em crescente dor e sem vontade de se levantar. O médico que o duque convocara não tinha certeza do que poderia estar afligindo-a, dizendo finalmente ao duque que ela poderia possuir um coração fraco e nesse caso teria que descansar com a frequência que precisasse e para sempre evitar se esforçar. — Mas então por que ela agora diz que o corpo dela a machuca? — O duque exigira, irritado com a incapacidade do médico de lhe dizer exatamente o que estava errado e exatamente como curá-lo. — Isso eu não sei, mas talvez seja um toque de gripe também. Você disse que esta é a primeira vez que ela está em algum desconforto, não é mesmo? — Perguntou o médico. — Está correto — respondeu o duque. O médico disse-lhe para dar um pouco de láudano pelo desconforto. Na segunda-feira à tarde, Elizabeth estava sentada, sorrindo e se sentindo muito melhor. Terça-feira ela saiu com sua empregada para fazer algumas compras e parecia que o médico estava certo, ela tinha uma gripe e seu coração estava fraco, o que explicava por que ela se cansou tão facilmente. O duque ficou aliviado. A condição de piora de Elizabeth não apenas o desanimou como também começou a assustá-lo. O duque era um homem acostumado a estar no controle. Ele era um homem com uma vontade de ferro e uma rígida autodisciplina. Se as questões de negócios fossem erradas, ele trabalhava incessantemente para corrigi-las, durante o tempo necessário, fazendo o que tinha que ser feito com a maior paciência e perseverança. Fazia muitos anos que ele administrara o império ducal e estava acostumado a uma quantidade extraordinária de poder. Nesse caso, porém, ele ficou subitamente impotente. A condição de sua noiva estava além de seu controle, mas felizmente ela se tornara melhor tão misteriosamente quanto piorara. Parecia de repente que toda a sua vida estava se inclinando de uma maneira precária e desordenada. A rotina normal a que estava acostumado, uma predominantemente dedicada ao trabalho duro, não existia mais. E não foi apenas a doença de Elizabeth, que parecia desafiar a explicação. Havia também a questão de Nicole Shelton e seu incansável interesse por ela. Isso, também, desafiava a explicação e exercitava o controle onde ela estava inserida parecia ser uma batalha perdida. O duque não era um homem que perdera muitas batalhas. Embora o duque tivesse muitas questões urgentes para ocupar seu tempo em Londres, ele fez questão durante esse curto intervalo de visitar a casa de Stafford duas vezes por dia para verificar o progresso de Elizabeth. Teria sido imprudente e rude da parte dele não o fazer. Mas o que era mais rude ainda eram seus próprios pensamentos quando olhava para a noiva. Seus pensamentos vieram espontaneamente e não desejados. Eles consistiam em uma comparação indecorosa. Elizabeth não estava bem, tão pequena e tão frágil. A imagem de Nicole Shelton se formou em sua mente. Ela não estava doente, pequena nem frágil, mas precisamente o contrário. Ela era vibrantemente saudável e vitalmente viva. Em uma visita em particular, durante a qual Elizabeth adormecera enquanto ele se sentava ao lado dela, ocorreu-lhe que não sentia o menor desejo por ela e que ele nunca teve. Na verdade, ele nunca a beijou, exceto uma vez em seu décimo oitavo aniversário e só porque sabia que ela esperava. E foi um beijo casto. Ele fez mais do que beijar Nicole Shelton. Ele a tocara intimamente, com a boca, as mãos e o próprio corpo. Elizabeth ia se tornar sua esposa e ele sabia que ela seria uma pessoa exemplar. Ele não tinha certeza de como iria se apresentar com ela na cama, na verdade, ele nunca pensara nisso até agora, um momento altamente inadequado para especular sobre tal acontecimento, mas assumiu que, quando chegasse o momento, ele conseguiria. Enquanto ele estava lá olhando para ela enquanto ela dormia na espreguiçadeira em sua sala de estar, seu rosto jovem e inocente, uma dúvida surgiu. Pela primeira vez em sua vida, ele questionou ter sido prometido a sua prima enquanto ela era uma criança e ele uma criança. E foi por causa de Nicole Shelton. Sua intromissão na sua vida e em sua mente tornaram-se perigosas. Se ele era um homem obcecado e parecia que ele era, sua obsessão se tornara pior. Lamentou ter ido ao piquenique outro dia, lamentando que ele a tivesse resgatado. Ele desejou como o inferno poderia ter sido algum outro homem. No mesmo fôlego, ele sabia que estava mentindo para si mesmo. Chocado com onde seus pensamentos estavam prestes a vagar, o duque os interrompeu. A vida era concreta circunstância gerava circunstância e realidade a realidade. Fantasiar sobre o que poderia ser era para os fracos, os tolos e os românticos, não para alguém como ele. Ele estava feliz por ela ter saído de Londres, disse a si mesmo, feliz e aliviado. Sua presença parecia precipitar paixões que não era capaz de controlar e ele tinha controle total sobre si mesmo desde que era uma criança muito pequena, ele se orgulhava de sua autodisciplina. Agora não seria colocado em mais nenhum teste. Na terça-feira à noite, Elizabeth estava bem o suficiente para se juntar a ele em uma casa, no conde de Ravensford. Foi uma pequena reunião íntima. O duque não pôde deixar de ficar um pouco desanimado ao ver que dois dos convidados eram o conde de Dragmore e sua esposa. Eram duas das últimas pessoas com quem ele queria conversar, mas evitá-las seria o máximo da grosseria. Com alguma determinação, ele os procurou antes do jantar. Ele apresentou Elizabeth e conversou com o conde e a condessa amigavelmente. Ao fazê-lo, ele estava ciente de que a condessa de Dragmore estava estudando Elizabeth discretamente. Ele tinha um desconfortável sentimento de que ela poderia saber mais do que o apropriado sobre o relacionamento dele com a filha, mas ele nomeou a sensação de tolice, ou talvez por que se sentisse culpado. Quando a ceia acabou, Elizabeth estava pálida. Silenciosamente, antes de os homens se dirigirem separadamente ao porto e charutos, Hadrian a levou de lado. — Você está bem, Elizabeth? Ela deu a ele seu sorriso atraente, o que a fez quase bonita. — Você se preocupa demais, Hadrian, como um velho babaca de pelúcia. Ele teve que sorrir. — Você quer ir para casa? Você parece cansada. Ela hesitou. — Eu não quero parecer rude e não quero interromper uma noite tão agradável. — Vou explicar tudo ao nosso hospedeiro — afirmou o duque. Enquanto ele fazia isso, Elizabeth pediu licença para cuidar dos assuntos no banheiro. O duque estava no corredor esperando por ela, sozinho, exceto por um criado que segurava o manto forrado de pele de Elizabeth. Ele ficou momentaneamente surpreso ao ver a condessa de Dragmore entrar no corredor. E ela estava indo diretamente para ele. — Sua Graça — ela disse, deslizando na direção dele — Eu sei que isso é incomum, mas podemos ter uma palavra? Era mais do que incomum, mas o duque assentiu. Ele se perguntou o que ela queria e se perguntou ainda mais em sua ousadia e desconsideração por convenções. Ela tinha apenas dez anos ou mais que ele, ainda mais bonita. Os empregados gostavam de falar e o que segurava a capa de Elizabeth, fingindo não os ver, logo espalhava rumores sobre o duque de Clayborough e a condessa de Dragmore. No entanto, se ela não se importasse com o que poderia ser dito, ele também não. Ocorreu-lhe que o desrespeito de Nicole pela convenção poderia ter vindo de sua mãe, que ele sabia, já fora uma atriz de teatro. O duque dirigiu seu olhar ao mordomo. — Por favor, deixe-nos um momento. O homem desapareceu. — Obrigada. — Jane sorriu suavemente. — Meu marido e eu queremos agradecer pelo que você fez no outro dia no piquenique. O duque estava sem expressão. — Você não só salvou nossa filha de um terrível constrangimento, você tornou possível para ela recuperar a aceitação na sociedade. Nós não podemos agradecer o suficiente. — Elizabeth gosta muito dela. Eu não poderia fazer menos. — Mas, quando o duque disse as palavras, ele se perguntou como Nicole Shelton retomaria a aceitação na sociedade se ela partisse de Londres. — Nicole gosta dela também. E estou feliz que ela esteja melhor. — Não havia segredos em Londres. — Obrigado. — A expressão de Hadrian não mudou, mas ele estava certo de que Nicole Shelton não gostava de sua noiva. Ele ficaria chocado se ela realmente fizesse. Elizabeth apareceu e cumprimentou a condessa. — Eu não pude deixar de ouvir — acrescentou ela. — Eu admiro sua filha terrivelmente, lady Shelton. Por favor, envie-lhe meus cumprimentos e diga a ela que eu vou chamá-la assim que puder. — Eu vou. — Jane sorriu. O duque não pôde evitar franzir a testa. Nicole havia saído de Londres, não foi? — Você está voltando para casa, condessa? — ele perguntou educadamente. — Não imediatamente. Nicholas retornará a Dragmore em poucos dias. Mas devo ficar. Afinal, é raro eu ter minhas duas filhas na cidade, então devo aproveitar a situação e é claro, acompanha-las adequadamente. — Eu entendo — disse o duque. Ela não havia saído da cidade depois de tudo. Deveria estar com raiva. Há poucos dias, sua presença em Londres o enfurecera. Mas onde estava sua raiva agora? Isso lhe escapou. Perguntou-se se ela havia deliberadamente mentido para ele, mas instintivamente sabia que não tinha mentido. Evitou pensar no dia do piquenique, mas agora não podia fazer nada além de lembrar. Alguma coisa tinha surgido entre eles, algo que tinha medo de inspecionar muito de perto, algo que era mais do que apenas paixão. E foi por causa disso que disse que sairia de Londres imediatamente. Foi por causa daquilo que ficou aliviado por ela estar indo. No entanto, não tinha ido. Elizabeth notou sua mudança de humor instantaneamente e comentou na imponente carruagem de Clayborough quando a levou para casa. — Você está chateado, Hadrian? Eu fiz alguma coisa para te desagradar? Você queria ficar no Langleys? Ele achou difícil se concentrar em sua noiva quando sua mente estava girando. — Claro que você não me desagradou. — Estou feliz — disse Elizabeth com um sorriso. — Assim que me sentir melhor, convocarei Lady Shelton. Ficou em silêncio os sentimentos que se precipitavam sobre ele eram esmagadores e turbulentos, caóticos e sem nome, impossíveis de escapar, não queria identificá-los e nem tentaria. Por um momento teve a mais estranha sensação de ser jogado no oceano por uma onda áspera, derrubando-o em todos os sentidos e tornando-se brevemente impossível que seus pés encontrassem o chão. E então o momento passou. Seus sentidos se aguçaram e duas potentes imagens poderosas surgiram em sua mente. Viu Nicole no baile de máscaras de Adderlys, tão inadequada e ousadamente fantasiada como cigana. Ele a resgatou na época, embora na época ele não tivesse insistido nisso ou em seus motivos, mas qualquer tolo teria conhecimento das correntes subjacentes que se avolumavam na multidão enquanto se preparavam para trucidá-la por sua ousadia. Instantaneamente ele a aprovou para que ninguém ousasse fazer o mesmo. E a viu como ela estivera no piquenique de caridade, congelada de humilhação e tentando esconder-se, tão orgulhosa. Não queria que sua noiva chamasse Nicole Shelton. No entanto, não podia tirar a chance que dera a Nicole para ser aceita por seus colegas. — Isso é muito atencioso da sua parte, Elizabeth — ele disse. Elizabeth sorriu feliz. O duque não o fez.
Os Sheltons chegaram a Maddington, a casa da duquesa viúva
de Clayborough, na tarde de sexta-feira. Maddington pertencera aos Clayboroughs por mais de quinhentos anos e uma vez fora uma vasta propriedade que havia sido a pedra angular das posses da família em Derbyshire. Ao longo dos anos, a terra foi vendida e agora era uma pequena propriedade de cerca de cem hectares de parque. A mansão ainda continha a fortaleza original construída nos últimos tempos normandos, mas tantas adições, de tantas maneiras diferentes, haviam sido feitas no edifício original, que era preciso ser um especialista em arquitetura para discernir quando cada parte da vasta estrutura abobadada foi construída. Ao chegar, Nicole e Regina foram levadas para o quarto que dividiriam, assim como seus pais. A ceia era às oito, disseram-lhes e perguntaram-lhes se gostariam de tomar banhos quentes e tomar chá. Ambas as meninas responderam afirmativamente. Enquanto Regina se jogava em uma das camas de dossel, Nicole se dirigiu às janelas altas que davam para uma pequena sacada e para a grama verde-esmeralda abaixo. Seu coração estava em sua garganta e ela estava tremendo nervosamente. Perguntou-se, se o duque já estaria lá. No meio da semana, quando as fofocas afirmavam que Elizabeth estava bastante doente e acamada, Nicole pensara que elas não viriam e ficara desapontada. Sabia que era a altura da loucura querer vê-lo, quando não podia ter a atenção dele e quando estaria com sua noiva. No entanto, não conseguia controlar mais suas emoções do que um cavalo enlouquecido e fugitivo. Mas Elizabeth se recuperou. Nicole havia se tornado uma ávida fã de fofoca, fingindo grande interesse em todos os acontecimentos do círculo social, para grande parte das suspeitas de Martha e Regina, enquanto na verdade só procurava informações sobre o duque. Ela sabia que ele havia saído com Elizabeth duas vezes esta semana, não havia razão para o casal não vir a Maddington neste fim de semana. Ela suspirou, ciente de quão tola ela era, observando uma carruagem puxada por seis cavalos brancos rolar pelo longo caminho de cascalho e não se importando com quem era, porque não era sua majestosa carruagem negra com o trio de leões em relevo gravado no alto das portas. — Que bela casa — Regina suspirou preguiçosamente. — Lady Isobel é famosa por sua elegância. Nicole assentiu, mal olhando para o quarto. As paredes estavam cobertas com um tecido azul e branco, o sofá em damasco rosa, as camas feitas em montanhas de renda branca com almofadas azuis e brancas. Um enorme carpete oriental cor de cereja cobria a maior parte do chão e como o quarto era grande o suficiente para acomodar dois convidados em camas separadas com bastante conforto, não era uma tarefa pequena. — Ela também é conhecida por sua habilidade em assuntos de negócios — observou Nicole. Antes de conhecer a duquesa viúva, ela ouvira falar dela. Muito poucas mulheres administravam vários empreendimentos e nenhuma delas era da nobreza. Nicole sabia que era reputada por ser atraente, mas a sua reputação era mais de uma mulher forte e esperta. E antes de Nicole a conhecer, esperava alguém completamente diferente, alguém mais bonito e mais masculino, não uma mulher de beleza feminina atemporal e bondade extraordinária. — Renomado? Notório é mais assim — Regina jogou. — Dizem que ela recebeu o nome de uma infame ancestral dela, uma mulher que teve vários maridos e era amante de um sultão turco e do rei. Nicole sorriu, não acreditando em tal história. — Um sultão turco? Que rei? — Ela perguntou secamente. — Eu acho que foi um dos filhos do Conquistador — disse Regina. — Foi há séculos atrás. Outra carruagem estava rondando no caminho e Nicole rapidamente se virou para a janela. Mas não foi ele. — O que você fará, se ele vier com Elizabeth? — É claro que ele vem com Elizabeth — disse Nicole bruscamente. — Talvez ele não vá — disse Regina, ignorando o tom de sua irmã — Talvez ele esteja apaixonado por você... — Regina, por favor, pare com isso! — Nicole chorou, torcendo as mãos. Se sua irmã continuasse com suas fantasias bobas de colegial, ela a deixaria louca e alimentaria as menores faíscas de esperança que Nicole estava determinada a apagar. Nicole não queria ter esperança. Seria muito doloroso. — Mas ela não caça — disse Regina incisivamente. — Então por que ela deveria vir? Nicole controlou seu temperamento. — Você não está caçando amanhã e nem a mãe. Nem o pai, para esse assunto! — O conde tinha puxado um músculo em sua perna no início da semana e estava sob instruções estritas de reclinar sempre que possível e caçar estava fora de questão. — Eu acho que você está certa — disse Regina, quando uma batida na porta a interrompeu, sinalizando a chegada do chá. Com gratidão, Nicole deixou o criado entrar. Ela continuou a manter um olhar não tão discreto na calçada abaixo. Mas quando chegaram ao andar de baixo, o duque de Clayborough ainda não havia chegado. E como se viu, Regina estava certa. Elizabeth não estava no jantar naquela noite. Mas também não estava o duque. Capítulo 14 A caçada estava marcada para as nove daquela manhã. Antes disso, todos os participantes participaram de um grande café da manhã, onde os espíritos estavam em alta. Nicole estava tão animada quanto os outros convidados. Na noite anterior, ela ficara decepcionada pelo duque de Clayborough não estar presente e por não estar em Maddington. Não dormiu bem, mas agora todos os vestígios de fadiga e desapontamento desapareceram enquanto o pulso acelerava em antecipação à próxima caçada. A maioria daqueles que caçavam naquele dia eram homens, mas várias senhoras estavam presentes, incluindo a duquesa viúva. Ela tinha a reputação de ser uma excelente amazona. Todos os anos ela tinha vários fabulosos fins de semana de caça e os convites para esses eventos eram altamente cobiçados e difíceis de obter. Os convidados da Duquesa viúva sempre foram o crème de la crème da sociedade inglesa e este fim de semana não foi exceção. Os que aguardavam ansiosamente o chamado para subir eram vários duques, meia dúzia de marqueses, muitos condes e o príncipe de Gales. Havia alguns estrangeiros presentes também, incluindo vários membros reais da Casa de Habsburgo e dois nobres ex-patriarcas russos. A única coisa que todos tinham em comum nessas reuniões, além de poder e sangue azul, era o amor por cavalos. No final da refeição do café da manhã, Isobel tocou um pequeno sino de prata para chamar a atenção de todos. — Devemos? — Ela perguntou sorrindo, os olhos brilhando. Um grito empolgante cumprimentou as palavras de Isobel enquanto todos se punham de pé, incluindo Nicole. Ela virou-se para a porta com um sorriso animado, sua mente não mais no duque. Mas então congelou. Ele estava lá, vestido para a caça de calções curtos, botas pretas de cano alto reluzentes, uma jaqueta de caça escarlate e uma cartola. Seu olhar estava fixo nela. Nicole ficara sabendo ontem à noite que, embora ele e Elizabeth tivessem sido convidados para o fim de semana, eles não viriam. Elizabeth estava novamente doente e confinada à sua cama. Uma empregada disse-lhe que a especulação correu desenfreada sobre o que, exatamente, estava errado com a jovem e os vários médicos que a atendiam não conseguiam chegar a um acordo sobre que doença a afligia. Ver o duque agora era um choque distinto, mas não desagradável. Já apertada, Nicole começou a tremer. Ele desviou o olhar do dela e caminhou casualmente até a mãe, beijando-a no rosto e oferecendo-lhe um bom dia preguiçoso. Foi prontamente cercado por muitos dos convidados, todos o saudando com entusiasmo e oferecendo-lhe sinceros sentimentos pela saúde de sua noiva. Nicole o deixou respondendo educadamente aos convidados de sua mãe e acompanhou aqueles que já estavam reunidos no pátio do lado de fora. Logo o resto do grupo se juntou a ela quando os cavalariços começaram a tirar suas montarias. Todos tinham trazido seus próprios caçadores, incluindo Nicole. Embora quisesse trazer seu garanhão, isso teria sido temerário, pois ele era demais para lidar com a cavalgada, o que a propriedade ditava que ela deveria fazer. Havia trazido um grande castrado preto e agora foi até ele e acariciou seu pescoço. Ele bufou e balançou a cabeça, sentindo sua excitação, movendo-se inquietamente em torno dela. Mas não era o caçador de dezesseis mãos no que estava pensando, era o duque de Clayborough. Ele estava aqui, ele veio depois de tudo. Sem Elizabeth. Imediatamente abraçou o pescoço do cavalo, de costas para a pequena multidão. O que ela estava pensando? Não importava que tivesse vindo sozinho. Mesmo que Elizabeth não tivesse chegado, as poucas palavras que eles poderiam compartilhar, os poucos momentos, eram apenas isso, alguns momentos e não poderiam ser mais. Nunca. Ela teve que parar seus pensamentos errantes. Não apenas porque não tinham esperança, mas porque a caça era um esporte perigoso e precisava de toda a sua concentração para participar dela. Era mais fácil se concentrar na caça do que em seu coração. Mas quando parecia que poderia fazê-lo com sucesso, ele parou atrás dela. Não precisou se virar para vê-lo, para saber quem era, nem precisou falar para se identificar, apenas sabia. — Bom dia, lady Shelton. — A saudação foi oferecida educadamente, mas Nicole achou que ouvira mais. Lembrando-se de ser casual, lembrando-se de que ninguém além de si mesma poderia saber com que rapidez seu coração batia, se virou para encará-lo. Seus olhares se encontraram instantaneamente. Foi um momento de extrema intimidade, embora o pátio fosse um hospício, cheio de duas dúzias de cavalos inquietos, seus cavaleiros excitados e todos os cavalariços. Ele não conseguia tirar o olhar do dela e Nicole sentiu toda a força de seu poder, pois parecia estar tentando alcançar as profundezas de seu coração e alma. Naquele instante, sabia que algo havia mudado entre eles. Não ousou considerar o que poderia ser. — Vai ser bom o esporte hoje, o clima é perfeito — disse ela tão levemente, tanto quanto poderia. — Não obstante — disse ele, movendo-se para o lado negro e verificando a circunferência — temos um grande grupo. Caçar com tantos cavaleiros convida a acidentes. Fique longe nas costas. Os olhos de Nicole se arregalaram em protesto surpreso, pois nunca andava pelas costas, embora fosse para lá que as mulheres deviam cavalgar e não tinha intenção de fazê-lo agora. Então ocorreu que ele poderia estar preocupado com a segurança dela. Tinha uma lembrança de como a resgatara no piquenique de caridade. Foi possível? Realmente se importava com ela só um pouco? Se viu olhando para ele, que também a olhou. Muito abruptamente ele estendeu as mãos, segurando o joelho dela. Nicole permitiu que a ajudasse a montar, passando a perna pela lateral e tomando as rédeas. — Obrigada. — Boa caçada — ele disse secamente, virando-se. — Boa caçada — Nicole ecoou de costas. Ela o observou enquanto se afastava para sua própria montaria, um grande garanhão negro com uma chama ousada e duas meias. Nicole exalou, seus sentidos se descontrolaram. Seu caçador começou a dançar impaciente, sentindo seu humor e Nicole teve que se concentrar em acalmá-lo. Cinco minutos depois estavam desligados. Os cães haviam pegado o cheiro da raposa e estavam zurrando loucamente, correndo pela primeira campina. Nicole se permitiu ser empurrada para as costas com as outras mulheres quando elas começaram. Agora, enquanto a manada de cavalos e cavaleiros cambaleava pelo prado ondulado, seguindo os cães de caça, ela não podia deixar de estar sintonizada onde o duque estava, cavalgando à sua frente. O grupo começou a se espalhar quando se aproximaram da primeira cerca, um muro baixo de pedra. Whoosh! Whoosh! Whoosh! Uma dúzia de cavalos limpou-a, depois mais uma dúzia, algumas quase em conjunto. O grupo estava se alongando enquanto cada piloto encontrava seu próprio ritmo, as garotas recuando. Nicole avançou, à frente das damas, passou pela duquesa viúva cujo primeiro olhar de surpresa mudou para um sorriso. Os vários cavalheiros de quem ela veio depois não eram tão caridosos. Eles estavam mais do que assustados enquanto ela galopava por eles, eles ficaram chocados. Apenas um nobre russo sorriu para sua ousadia. Um pequeno riacho estava à frente. Seu caçador sobrevoou graciosamente, sem interromper o passo e Nicole riu com prazer, apanhada agora na emoção do louco passeio. Ela passou por outro cavaleiro, reconhecendo o pai de Elizabeth, o marquês de Stafford. Ele também parecia bastante atordoado com o seu cavaleiro corajoso, mas Nicole não se importava. Seu caçador estava em um galope controlado e Nicole o levava constantemente para o meio da matilha. Um grande galinheiro bloqueou a trilha. À frente de Nicole, duas baias tombaram, uma após a outra, o primeiro cavalo agarrando as patas traseiras no trilho superior e tropeçando do outro lado. O outro cavaleiro estava tão perto do primeiro que Nicole decidiu que poderia haver um acidente e insistiu para que a montaria se movesse um pouco, já colecionando-o. Eles subiram sobre o galinheiro em um ângulo e ela ficou feliz ao ver que os dois cavaleiros conseguiram não cair. Um segundo depois ela passou por eles também. Duas milhas depois, Nicole estava por trás do duque e do caçador, que estavam agora na frente. Uma parede de pedra de quatro pés se aproximava e teve tempo de ver o Duque prosseguir sem esforço e admirá-lo ao fazê-lo. Seu caçador, ansioso para se mover para frente, estava correndo duro agora. Nicole lutou para checá-lo, a parede se aproximava e eles se precipitaram sobre ela. Eles pousaram suavemente e ela o deixou correr. Ele se esticou a galope, Nicole se inclinando para frente, sem atrapalhar seu precário equilíbrio. O nariz de seu caçador tocou o flanco do garanhão do duque. Ele virou a cabeça, a viu e ficou absolutamente atordoado. Nicole riu exultante quando ela se aproximou dele. — Volte! — ele gritou enquanto galopavam lado a lado, seus dois enormes caçadores rasgando o chão, seus poderosos cascos trovejando alto e quase abafando suas palavras. — Droga, vá para trás. — Cuidado — gritou Nicole, ainda rindo. Eram três passos de outro obstáculo de quatro pés, este feito de troncos partidos. O duque não teve escolha senão voltar sua concentração para sua própria montaria. Ambos os cavaleiros pegaram seus cavalos simultaneamente e em perfeita harmonia, eles subiram, pousando lado a lado e caminhando em passos largos. Momentos depois ele se virou para ela novamente. — Eu quero dizer isso, sua idiota — ele gritou furioso. — Você vai se matar! Vá para trás agora. — Eu sempre ando na frente — ela gritou de volta desafiadoramente. Mas Nicole estava aproveitando cada momento do passeio selvagem e sua raiva. Sob suas coxas, o cavalo era quente e poderoso, uma tonelada de cavalos que ela controlava apenas com sua habilidade e seu corpo. E ao lado dela, montado em seu garanhão poderoso e trovejante, o duque exercia um efeito tão potente sobre seus sentidos, bonito, masculino, viril e agora enfurecido. — Vá mais devagar — ele ordenou, gritando acima dos cães e dos batimentos dos cascos. — Ahead é uma entrada e saída traiçoeira. Nicole apenas deu um sorriso, deixando seu caçador sair ainda mais rápido. Atrás dela agora, o duque amaldiçoou. A entrada e a saída eram traiçoeiras, com apenas um passo entre as duas cercas, mas Nicole estava se exibindo e amando-a. Ela levou as duas cercas um pouco de forma imprudente, mas sem falhas também. Momentos depois, o duque se aproximou dela novamente. Um olhar para o rosto dele mostrou-lhe o quanto ele estava zangado, mas estoicamente aceitou que não podia fazê-la diminuir a velocidade sem interferir perigosamente com ela. Eles galoparam juntos, os dois caçadores bem combinados, correndo em conjunto. Eles não falaram novamente. O som do sopro pesado dos animais e o estrondo de seus cascos tornaram isso quase impossível. Nicole ficou impressionada com a sensação da carne quente e úmida debaixo de suas pernas, com a sensação física de ser um com o animal poderoso, acelerado pela velocidade com que estavam viajando e pela proximidade do duque. Uma hora depois, a caçada havia terminado e todos os cavalheiros se reuniram, incluindo as últimas damas. Nicole se permitiu cair na parte de trás do grupo quando eles voltaram para a mansão, segurando seu cavalo para um passeio apertado, ignorando os protestos do animal. Ela entendeu a fera, pois ela se sentia da mesma maneira. Embora cansada da longa e difícil viagem, ela estava animada demais para querer parar e se tivesse continuado, continuaria ansiosa também. O duque, claro, cavalgava longe na frente. Ele a deixou no momento em que terminou, de boca fechada, olhos ardentes, aparentemente muito zangado até mesmo para falar com ela. Não era seu lugar castigá-la, mas tinha a sensação de que ele iria. Nicole ainda estava animada demais para ficar apreensiva, nunca tinha gostado mais de uma caçada! Estava tão envolvida no crepúsculo que, a princípio, não se deu conta de que as outras damas a olhavam com frieza, com exceção da duquesa viúva, que cavalgava um pouco à frente das damas e não se dava conta de seus olhares. Quando Nicole percebeu que ela era o objeto de sua desaprovação, queria rir em seus rostos. Porque não podiam montar como ela, porque não tiveram a coragem de montar como ela fez, elas a condenaram por desfrutar o esporte do jeito que um homem faria. Nada poderia amortecer a alegria que estava sentindo, não hoje. Ela desacelerou ainda mais seu caçador, não querendo a companhia delas e permitindo que se adiantassem a ela. Um momento depois, ela percebeu que o porte de sua montaria estava desligado. Franzindo a testa, ela o deteve e desmontou, acariciando seu pescoço molhado e amarrado. Uma inspeção de seu casco frontal esquerdo mostrou a ela que uma pequena pedra estava presa ali. Preocupada, Nicole a soltou, com medo de ter estado ali durante a caça, o que poderia significar uma lesão grave e até incapacitante em sua montaria. Para seu alívio, uma inspeção provou que a almofada era apenas tenra; ele só havia pegado a pedra recentemente e logo deveria ser tão bom quanto novo. — Você foi soberbo, querido — ela sussurrou, acariciando seu focinho macio. — Tão soberbo. — A imagem do duque encheu sua mente. Ela se virou e com um suspiro, viu que todos os cavaleiros haviam desaparecido em uma esquina da trilha. Não importa, ela andaria o resto do caminho. Tomando suas rédeas, o levou ao longo do caminho. O duque de Clayborough estava febril de raiva. Seu garanhão sentiu, deslizando e sacudindo a cabeça sem parar. Nicole Shelton podia ser a melhor amazona que ele já viu, mas era uma tola imprudente. Agora não queria nada mais do que colocar as mãos nela e sacudi-la até que ela admitisse como estava errada. Ninguém tentou falar com ele porque eles sentiram seu humor e Hadrian cavalgou sozinho para o lado do grupo. Suas risadas e conversas encheram a manhã calma, ecoando na floresta. O duque não ouviu nada do que diziam enquanto animavam a recontagem e reviviam a caça. Ele estava muito zangado. E o menor de tudo era que ela o desafiara, embora isso também fosse incrível. Ele a mandara para os fundos, rira dele e cavalgara para frente. Naquele momento, ele não conseguia pensar em uma única pessoa, homem ou mulher, que tivesse desobedecido a um comando expresso dele. Teve sorte de não ter tido um acidente sério do jeito que estava andando, teve sorte de não ter causado um acidente sério. Já tinha visto muitos acidentes terríveis resultantes da condução descuidada neste esporte, muito menos imprudente equitação. Pessoas quebraram o pescoço e foram mortas e ele viu um jovem rapaz paralisado. Um dia ela se tornaria a infeliz vítima do esporte também, se continuasse a caçar assim. Por Deus, teria sido ruim o suficiente se ela estivesse cavalgando, mas estava andando de lado! Foi loucura! Respirou fundo para acalmar seus próprios nervos. Seu pulso ainda estava acelerado, a adrenalina ainda correndo através dele. Não conseguia afastar sua imagem de sua mente como havia estado durante as últimas duas horas. Quase 1,80 de mulher soberba andando como um morcego fora do inferno, alegria escrita em todo o rosto. Ainda podia ouvir sua risada, selvagem e imprudente, ainda podia senti-la a seu lado enquanto cavalgavam como demônios possuídos nos caçadores esforçados. Uma onda de calor varreu seu corpo e ele realmente tremeu. Cavalgou como um selvagem. Ela tinha sido, ele tinha que admitir, magnífica. Seria, sem dúvida, igualmente magnífica na cama. Na cama dele. De repente, naquele instante, a queria tanto que estava pronto para arrastá-la para a floresta e fazer o que ele queria, ali mesmo. Respirou fundo mais um pouco para aliviar o estado mais agonizante em que já estivera. Depois, sem se sentir aliviado, virou-se para procurar um vislumbre dela. Para seu choque, ela não estava à vista. Abruptamente, ele girou seu garanhão ao redor e montou até as senhoras andando na última linha ao longo da trilha. — Onde está Lady Shelton? Parecendo surpresos, todos se viraram para olhar para trás. — Eu não sei, Vossa Graça — disse a condessa Arondale. — Ela estava atrás de nós um momento atrás. Hadrian fez uma careta e partiu para encontrá-la, imaginando o que poderia ter acontecido agora. Cinco minutos depois, ele a encontrou a um quilômetro e meio da trilha, onde ainda estava arborizado e sombrio. Ela estava andando em sua montaria, sem pressa alguma. Foi direto para ela que o viu e o ar esquentou e chiou entre eles. — O que aconteceu? — ele disse bruscamente. — Ele pisou em uma pedra. O duque desceu abruptamente do seu negro cavalo, tentando se concentrar no assunto em questão. Ele entregou as rédeas a Nicole sem uma palavra, mas seus dedos roçaram. Ele amaldiçoou silenciosamente, ajoelhando-se ao lado do grande cavalo preto e pegando o casco. — Não é tão ruim, mas ele deve ser levado de volta. — Finalmente, seu olhar se ergueu para encontrar o dela. Ela ficou muito quieta. Suas bochechas estavam coradas pelo vento e o sol, seus olhos eram prateados e brilhantes. — Eu vou voltar com você — disse ele, entregando-lhe as rédeas e pegando as de seu garanhão. — Você não precisa — ela disse, sem se mexer. Ele não respondeu estava muito consciente dela, avançou com passos largos e decididos, como se quisesse ultrapassá-la. Ele a ouviu seguindo. Eles caminharam em absoluto silêncio, apenas a brisa nas árvores fazendo qualquer barulho. No entanto, Hadrian sabia não só que ela estava atrás dele, mas que estava a poucos metros de distância e à direita dele, podia sentir sua presença e algo mais, algo que era muito experiente para não reconhecer, a pesada tensão sexual que a fascinava tanto quanto o fascinava. Por que queria tanto essa mulher? Seria porque foi proibida para ele? Seria porque era tão diferente? Seria porque, por um lado, era tão orgulhosa e forte, por outro lado, tão vulnerável? Ele queria uma resposta, mas sabia que não encontraria uma. Ele estava suando queria rasgar o casaco, mas estava sofrendo de excitação e não queria expor isso. Para não expor a sua própria falta de controle, fechou os olhos brevemente, dizendo a si mesmo que se ele não tivesse controle, não era nada mais que uma besta. Não mais que Francis. Conseguiu combater a tentação que ela ofereceu nas últimas semanas, não devia se render agora. Enquanto lutava consigo mesmo, escutou atentamente os passos dela, a respiração suave e superficial. E finalmente foi Nicole quem quebrou o silêncio. — Por que você voltou aqui? Ele parou abruptamente, mas não se virou. Seu caçador tocou o chão sem descanso. — Ocorreu-me que, após a sua apresentação mais cedo hoje, você poderia ter feito outra coisa tão imprudente. Nicole também parou a par com ele. — Mas por que você voltou? Ele a encarou. — Tola, eu pensei que você poderia estar com algum problema. Ela sorriu. Ele fez uma careta. — Você voltou para me resgatar. O duque não negou isso. — Aparentemente é um novo hábito meu. — Eu não me importo. — Você se importou no outro dia. Ela olhou nos olhos dele. — Não, eu não me importei. Isso foi uma farsa. Eles se encararam. O momento estava cheio de muitas possibilidades. Era íntimo demais. O duque despedaçou-a intencionalmente. — Você montou como um maníaco hoje. Diga-me, você é sempre tão imprudente? Eu começo a temer que você é. Abriu a jaqueta e o peito exuberante levantou-se. Ele lembrou que ela não usava espartilhos. — Eu não sou. Eu sou uma excelente amazona e não tinha chances reais de perigo. — Não há chances reais? Você aproveitou todas as chances! Um dia você vai se matar. Sua voz, quando veio, era suave como um sussurro. — Você se importa? Ele não foi capaz de responder, ele se recusou a responder, se recusou a inspecionar seus próprios sentimentos. — Há um córrego fora da trilha — disse ele, quebrando o silêncio que havia caído entre eles. — Você deve estar com sede. Vamos regar os cavalos e tomar uma bebida. O riacho ficava a poucos minutos da trilha. Ambos os cavalos estavam agora suficientemente frios para beber e abaixavam a cabeça para a água. O duque permaneceu distante, imóvel. Nicole caiu de joelhos e começou a colocar água em suas mãos, bebendo com sede. Ele a observou. Mais uma vez ele ficou impressionado com a forma como ela era tudo que as senhoras que conhecia não eram. Ela bebeu com abandono, derramando tanta água em sua camisa como ela conseguiu absorver. Então espirrou seu rosto, levantando-o brevemente para a luz do sol que entrava pelas árvores. Ele era tão incapaz de tirar os olhos dela como era incapaz de parar de querê- la. De repente, consciente de sua consideração, ela se acalmou e olhou para cima. Havia consciência em seu olhar. Consciência e antecipação. Sabia que ela não o recusaria, não hoje, não agora. Hadrian se encontrou caminhando em direção a ela. Seu coração estava martelando, um rugido surdo em seus ouvidos que impedia qualquer protesto que pudesse fazer mentalmente para si mesmo. Lentamente ela se levantou. Suas mãos se fecharam sobre seus braços. — Diga-me não. Ela balançou a cabeça negando o pedido dele. — Sim. Ele cobriu a boca com a dele, toda a sua resistência desmoronou naquele momento preciso. Não havia jogos, agora, sem pretextos, não para qualquer um deles e Nicole imediatamente jogou os braços ao redor de seu pescoço, agarrando-se. Hadrian abraçou-a como se ela fosse algo selvagem e precioso que havia capturado e que a qualquer momento ele poderia perder. Suas línguas acasalavam-se em feroz abandono, um prelúdio de como eles também logo se acasalariam. Eles se ajoelharam no banco molhado e argiloso. Ele não podia reivindicar o suficiente dela. Suas mãos se moveram sobre sua jaqueta, abrindo-a. Seus gritos suaves encorajaram-no. Ele a empurrou de costas, mergulhando em sua camisa e na camisa que usava abaixo, tocou seu seio nu. Ele deixou sua carne encher sua palma e transbordar. Ele era um amante calmo e controlado, mas agora queria gemer como um animal e queria expressar seu profundo prazer. Estava acariciando-a incessantemente, ciente do sentimento de necessidade explosiva e júbilo inebriante se levantando nele. Nicole engasgou de prazer quando ele passou as mãos sobre sua carne, sobre os mamilos duros e tensos. Quando ele empurrou as roupas dela para o lado e baixou o rosto para os seios dela, outro gemido escapou dela. Ele tinha que pelo menos chamar o nome dela, ele tinha que fazer. — Nicole Ela agarrou seu cabelo comprido, em sua cabeça. — Hadrian — Foi um suspiro. Ele não fez uma pausa, provocando sua carne distendida e ansiosa com a boca e a língua. — Diga-me para parar. — Não. Não pare, Hadrian, nunca pare. Ele fechou a boca em uma ponta rosa e ao mesmo tempo fechou sua mente para o conhecimento do que estava fazendo. Nicole se arqueou no chão. Ele sentiu o quão precipitadamente ela pairou perto de seu clímax e seu corpo ficou selvagem em resposta. Não sendo o tipo de amante que livremente murmurava carinhos e promessas, ele fez suas promessas com seu corpo. Promessas que, num momento mais sadio, seriam impossíveis de manter. Nicole começou a devolver suas carícias agressivamente. Suas mãos estavam em sua pele, debaixo de sua camisa. Suas próprias mãos deslizavam sob as saias, ao longo das coxas cobertas de algodão. Ela gritou seu nome quando ele a tocou. Nunca seu nome soou tão maravilhoso antes. Determinação para vê-la cumprida em seus braços varreu-o. Ele faria tudo ao seu alcance também para conseguir isso. Suor frisou sua testa. — Morra por mim, Nicole — ele ordenou, tocando-a, beijando-a. Logo ele foi recompensado. Ela gritou, arqueando em abandono em seus braços. Ele sentiu seus espasmos, fortes e rítmicos e intensos contra a palma da mão. E quando ela se aquietou ele sentiu uma intensa satisfação que ele nunca tinha experimentado antes. Ela colocou os braços em volta do pescoço dele. — Oh — foi tudo o que ela disse. Aquela palavra transmitiu tudo. Foi seu primeiro orgasmo. Ela não foi experiente. Ela era indubitavelmente uma virgem. Ela era certamente lady Shelton. O olhar do duque varreu-a, do rosto corado até as coxas abertas, onde as saias eram jogadas para o alto na cintura. Ele estava prestes a pegar as calças, para se libertar, mas sua mão estava congelada. Agora não era o momento de sua consciência se intrometer, lembrando-se de quem ela era e quem ele era. Mas era tarde demais. Ele fechou os olhos, lutando contra si mesmo. Pensando muito claramente. Ele deu a ela seu primeiro clímax e se isso continuasse, ele seria seu primeiro amante. Foi muito errado. Sem um som, ele se afastou dela, jogando-se de costas na grama molhada e lamacenta. Capítulo 15 Nicole se sentou. Ela foi abalada até o âmago de seu ser. Embora ela fosse certamente mais experiente do que a maioria das jovens no que diz respeito ao tema do sexo, ela nunca havia considerado a possibilidade de que pudesse ser uma experiência devastadora. Ainda sem fôlego, ela olhou para o duque de Clayborough. Deitou-se de costas na grama enlameada, tão duro e imóvel quanto uma tábua, exceto pelo fato de estar ofegante. Nicole lembrou-se de como abruptamente ele se afastara dela e compreendeu que, embora tivesse experimentado tudo o que o ato de amor poderia oferecer, ele não o fizera. Tremeu, seu olhar varrendo sobre ele, era o homem mais magnífico e viril que ela já havia visto e vê-lo em tal estado de desejo bruto alimentou sua própria fome, uma fome que ela achava aliviada. Algo mais a varreu também, algo doce e dolorido e terrivelmente terno. — Hadrian? — ela sussurrou, amor subindo e inundando-a em uma maré rápida e absoluta. Ela tocou sua bochecha. Ele se afastou dela e ficou de pé em um movimento ágil. — Não me toque. Ela recuou, chocada com a raiva em seu tom e com sua rejeição. — E não olhe para mim como se eu tivesse acabado de te chutar nas costelas. Nicole ficou rígida. — Eu sinto muito. Ele a ignorou, caminhando para o riacho. Ela não pôde deixar de notar que ele ainda estava excitado. Ele entrou no meio do riacho e mergulhou abaixo da superfície da água. Nicole gritou. A água estava assustadoramente fria, estava louco! — Hadrian — ela engasgou quando ele subiu a sua altura total, tremendo. — Você vai acabar morrendo. — Você será minha morte. Ela o olhou incerta. — Você quer dizer... a morte que você uma vez se referiu... o que aconteceu hoje? — Não! Essa não é a morte que eu quero dizer. — Por que você está tão bravo? O que eu fiz? — Tudo — ele rosnou, seu olhar varrendo sobre ela. Isso não explicou nada a Nicole e ela o viu se afundar novamente no córrego gelado. Lentamente, ela ficou de pé, com um medo terrível de não conseguirem recuperar o calor e a intimidade que acabavam de compartilhar, pois as léguas do abismo já pareciam estar se abrindo entre eles, devia fazer algo para neutralizar sua raiva inexplicável devia fazê-lo rapidamente. Ela pegou o paletó e quando ficou de pé novamente, a água caindo em cascata por seu corpo magro e rígido, ela disse — Venha aqui. O olhar que lhe deu foi rude, mas ele saiu do riacho, tremendo de novo. Nicole colocou o paletó nos ombros dele, esfregando-o como se fosse uma toalha que ela segurava. Ele pegou o casaco dela e se afastou do seu toque. — Você está tentando me seduzir? — ele perdeu a cabeça. Ela estava? — Isso seria tão terrível? — Você é a única mulher que eu conheço que jamais admitiria tal coisa. Isso não está certo. — Quando estamos juntos — ela disse, muito suavemente — nada está mais certo. Ele olhou para ela. Seu olhar era inescrutável. Embora seus modos fossem ousados, por dentro ela tremia, porque muita coisa estava em jogo. Ela se aproximou dele, tocando- o. Desta vez não se afastou. — Por que você se afastou de mim agora? Eu não sou uma tola completa. Eu sei que há mais. Você não me quer? Por um longo momento ele não falou e Nicole ficou com medo de sua resposta. — Eu gostaria de não querer você — ele finalmente disse com firmeza. Ele não parecia feliz com o assunto. Apreensão a encheu. Ela o tocou novamente, pegando a mão dele. — Eu quero você, Hadrian. Eu ainda quero você. Ele não se afastou dela, ficando completamente imóvel. — Você é impiedosa. Você não pode ver que eu estou tentando ser nobre? — Agora eu não dou a mínima para nobreza — ela murmurou, apertando a mão dele. Ele arrancou a palma da mão dela. — Isso é intolerável, não pode continuar. Assumo total responsabilidade pelo que passou. As virgens são para se casar, não para isso. Ela foi incapaz de impedir que a esperança pulasse em seu peito. Sabia que ela era virgem, estava insinuando que deveria se casar com ela? Seus sentimentos pareciam tão intensos quanto os dela, com certeza havia mais envolvimento do que apenas desejo. Será que ele iria acabar com a noiva agora que percebeu como se sentia? Ofereceria o casamento a ela? — Eu não posso continuar assim também. Eu não suporto ficar longe de você. — Se você ainda pensa em me seduzir, você está fazendo um trabalho admirável. Nicole deu um passo atrás. Suas palavras tiveram o efeito de uma chicotada, fisicamente machucando-a. — É isso que você pensa? Eu pensei... eu esperava... — Ela parou, percebendo, de certa forma, que ele estava certo. Ele se afastou dela, Nicole o observou. Ele andava inquieto em um círculo apertado, indo e voltando, para frente e para trás. Certo de que não concordaria com o que estava sugerindo, Nicole disse, hesitante — Posso voltar para Dragmore e nunca mais poderemos olhar um para o outro. Essa é uma solução. Ele se virou para ela. — Essa é a solução ideal. Nicole ofegou. — Eu tinha pensado, também, que era o que você estava planejando fazer, a última vez que nos falamos. Ele queria que ela saísse de Londres para que não pudesse vê- la. Não podia ser possível, não depois da intimidade que acabavam de compartilhar. Certamente ela estava entendendo mal o significado dele. — Por que você não foi embora? — Ele demandou. A inteligência de Nicole foi embaralhada e ele teve que repetir a pergunta. — Eu... eu estava indo. Meus pais me pediram para ficar. — Horrorizada, ela sentiu o calor das lágrimas subindo em seus olhos. — Eles esperam que eu volte a entrar na sociedade e seja um grande sucesso. Sua mandíbula quadrada se apertou. — E é isso que você deseja? Você agora procura um marido? Ela olhou-o, um deus dourado, exceto que ele era carne e sangue e mortal. Queria se casar com ele no momento em que o viu pela primeira vez. — Sim — ela sussurrou. — Então eu desejo a você toda a sorte. Ele não iria propor casamento a ela, desejou a sua sorte em encontrar um marido, alguém além de si mesmo. Nicole cambaleou como se tivesse sido atingida. O duque moveu-se para pegá-la, mas ela deu de ombros e rapidamente se virou para que ele não visse o quanto ela estava arrasada. Como ele poderia se importar tão pouco, quando parecia que ele se importava tanto? Ele não tinha vontade de dizer nada depois de tudo? — Eu não sou nada para você, não mais do que uma diversão passageira. — Deixei claro desde o início que você não poderia ter nenhuma expectativa de mim. — Nicole girou. — Desgraçado! — ela cuspiu. Foi a primeira vez que ela usou uma palavra tão suja e ficou feliz ao ver que o havia chocado brevemente. — É por isso que você veio me procurar hoje? Para levantar minhas saias na floresta? — Você sabe que isso não é verdade. — Eu sei? — Sua voz subiu, ela sabia que parecia histérica. Ela estava histérica. — Eu sei apenas o que aconteceu aqui hoje! Você me diz que eu não deveria esperar nada de você, mas você se comporta de uma maneira que me leva a esperar tudo. — Eu me considero uma besta. — Ele não tirou os olhos dela. — Afinal, sou filho de meu pai. Nicole se virou, tremendo de dor e raiva. — Deus, eu te odeio. — Então isso faz dois de nós — ele disse tão suavemente que tinha certeza de que ela não o tinha ouvido corretamente. — Estou saindo daqui — disse Nicole, caminhando em direção a sua montaria. Sua mão saiu e ele pegou o braço dela. Com raiva, Nicole libertou-se dele, desafiando-o com sua furiosa consideração para tocá-la de novo. — Você não pode voltar para a casa assim, disse ele. — Você parece como se tivesse sido jogada no chão. — Mas eu fui, não fui? — ela disse ironicamente. — Não é bem assim — ele disse. — Oh sim, porém eu poderia esquecer sua nobreza. — Ela começou a montar, zangada e chateada demais para pensar no pé dolorido de seu caçador. O duque a pegou novamente e desta vez a arrastou para longe do cavalo. — O que você está fazendo? — Ela gritou com todas as suas emoções explodindo. Ele a levantou em seus braços. — Não é o que você está pensando — ele disse friamente. Com um grito selvagem, Nicole se contorceu e tentou bater os punhos no rosto dele. Ele se abaixou, mas precisava de ambas as mãos para carregá-la, para não se defender e um golpe de seu queixo surgiu — É a terceira vez que você bateu no meu rosto — disse ele sombriamente. — Mas não a última — respondeu Nicole furiosa. Mas pouco antes de suas unhas poderem arranhar sua pele, ele a soltou e ela mergulhou na água gelada do riacho. Ela ofegou, afundando como chumbo abaixo da superfície, conseguindo fechar a boca antes de engolir muita água. Antes que ela pudesse reagir, sentiu-o puxá-la acima da superfície por seu colarinho. Ela engasgou e saiu cuspindo enquanto ele a arrastava para o banco. Ela caiu de joelhos e ele começou a bater com força nas costas dela. Ela cuspiu a água que havia engolido. Ela virou o olhar para ele. Foi assassino. — Agora eu vou matar você. Seus braços estavam cruzados e ele a considerou sem nenhuma emoção. — Você se afastou do grupo e decidiu regar seu cavalo. Eu vim atrás de você. Sua montaria recuou, você caiu. Eu vim atrás de você. Sua única resposta foi um som inarticulado de raiva impotente. No caminho de volta, eles foram encontrados na trilha por dois criados que haviam sido enviados para procurá-los. O duque contou- lhes prontamente o que havia acontecido, ou melhor, a história que ele inventara. Desde que ele e Nicole estavam molhados, eles pegaram as montarias novas dos meninos e deixaram um dos criados para trás para andar com o caçador ferido de Nicole. Quando chegaram à casa, vários convidados ainda estavam no pátio, discutindo as aventuras da manhã. Eles foram recebidos com alívio e preocupação. Mais uma vez o duque relatou a história que inventara e ninguém duvidou de uma palavra dela. Não, claro, até entrarem na casa. Isobel pairava ansiosa na sala de visitas que ficava ao lado do vestíbulo e no momento em que o duque e Nicole entraram ela correu para eles. Seu olhar foi de Nicole para seu filho. — O que aconteceu? — A montaria de Nicole recuou e ela caiu em um riacho. Eu havia voltado procurando por ela e fui atrás dela — disse o duque com naturalidade. — Mas estou bem — disse Nicole, conseguindo um sorriso brilhante para o benefício da duquesa viúva. Ela não recebeu nenhum sorriso em troca. Isobel observou-a especulativamente e Nicole teve certeza de que duvidava de todas as palavras que seu filho dissera. A vergonha inundou-a, acrescentando motivação ao impulso irresistível de fugir dela, não apenas da Duquesa viúva com seus olhos sabedores, mas de seu filho. — É melhor você subir e sair dessas roupas molhadas — Isobel finalmente disse. Nicole assentiu com a cabeça, feliz de sair, quando a mãe gritou atrás dela. Seu coração afundou quando viu Jane e seu pai descendo a larga e sinuosa escadaria. — Querida, você está bem? — Jane chorou, correndo para ela com o marido em seus calcanhares. — Eu estou bem — ela assegurou, tentando esconder sua inquietação. Uma coisa era dizer a todos que ela havia caído da montaria, outra bem diferente era impingir tal história aos pais dela. Com cuidado para não olhar para o pai, ela contou a Jane como ela havia caído da montaria e como o duque a resgatara. — Você caiu do seu cavalo? — Jane disse incrédula. Seu pai olhou para ela. — Eu pensei que estava sozinha — Nicole mentiu com desenvoltura. — E eu estava naquela péssima mira que você sabe que eu nunca uso. Hadrian se assustou não só com o meu cavalo, mas comigo! Era apenas uma daquelas coisas. — Ela lançou um olhar para o pai. Ela viu de sua expressão severa que sabia muito bem que estava mentindo através de seus dentes. — Você deve sair de suas roupas — Jane disse com firmeza, parando apenas para mostrar ao duque um sorriso caloroso. — Obrigado, sua graça. O duque assentiu. Foi então que Nicole percebeu que ela acabara de se referir a ele por seu nome e não como o duque ou — Sua graça — Seu coração parou e lançou um olhar para a duquesa viúva, que estava olhando desaprovadora para ela. Outra espiada, desta vez em seu pai, mostrou que estava usando quase a expressão idêntica. Nenhum deles tinha perdido o terrível deslize da língua e a cor vermelha inundou suas bochechas. Não se atreveu a olhar para o duque, mas não precisou fazê-lo. Ela podia sentir sua fúria silenciosa. Apenas a mãe dela estava inconsciente e naquele momento, Jane conduziu Nicole para as escadas. Um silêncio desceu sobre o grupo deixado sozinho no vestíbulo. O duque encontrou o olhar de Nicholas Shelton, frio e zangado. Ele se encolheu interiormente. Mesmo antes do deslize desastroso de Nicole, o outro homem sabia que ele e Nicole não estavam inocentemente sozinhos durante todo esse tempo. O duque sentiu isso no momento em que apareceu e agora as suspeitas de Shelton estavam confirmadas. Quando Nicholas Shelton falou, seu tom era tão gelado quanto seu olhar cinza pálido. — Talvez a Sua Graça se importasse em se juntar a mim na biblioteca? Eu gostaria muito de aprender tudo sobre a queda de Nicole de seu cavalo. O duque quase estremeceu. Ele não tinha dúvida de que, se não convencesse Shelton de que sua filha não havia sido arruinada, um confronto desastroso ocorreria. — Nicole está bem — ele disse educadamente. — Se eu não tivesse tomado a situação firmemente em mãos, ela não teria tido tanta sorte. Mas posso assegurar-lhe que não foi prejudicada e que não é de forma alguma pior pelo que aconteceu a ela. A expressão do conde de Dragmore não mudou. — Eu entendo — disse ele, com a mandíbula apertada. — Espero que não haja outro incidente desta natureza. — Seu olhar se fixou no do duque. — As consequências seriam mais do que desagradável, eu asseguro. — Claro que não — Hadrian disse rigidamente. O conde estava bem dentro de seus direitos, mas o duque não gostava de ser ameaçado, independentemente de quão justificável fosse a ameaça. Shelton assentiu e virou-se abruptamente, mancando ligeiramente do músculo puxado em sua perna. O duque observou-o sair, finalmente se permitindo sentir todo o peso de sua própria raiva e praticamente tudo isso foi dirigido a si mesmo. O fato de que ele quase arruinou Nicole o consumiu, assim como ela interpretou mal suas intenções. — É melhor você começar a pensar em Elizabeth — disse Isobel atrás dele. Foi outro aviso e seu temperamento explodiu. — Eu estou casando com Elizabeth em junho — ele retrucou — Eu não me esqueci disso por um segundo. E então tudo ficará bem, não é? Isobel olhou para ele com tristeza. — Pois todos serão felizes, não serão? — Sua mandíbula se apertou. — Ou devo dizer, quase todo mundo? Ele se afastou, seus passos duros e bravos. Ele não pretendia deixar que seu temperamento assumisse assim, mas aconteceu e com isso veio o conhecimento de seus sentimentos mais profundos e secretos, que ele não queria confrontar. Mas era tarde demais. Todos ficariam felizes quando ele se casasse com Elizabeth. Todos, exceto ele mesmo. Pois ele não estava mais ansioso para o seu casamento. De repente, apareceu diante dele como nada mais que um ato final de auto sacrifício. Capítulo 16 Não foi até tarde naquela noite que Isobel foi finalmente premiada com a paz e privacidade de seus próprios aposentos, seus convidados finalmente se retiraram para suas camas. Sozinha finalmente, ela estava livre para pensar e se preocupar. Ela ficou na frente da enorme lareira de mármore em sua sala de estar, olhando para as chamas dançantes. A alegria convivial que havia marcado sua expressão antes e em seu lugar era uma grande preocupação. Seus olhos azuis estavam ansiosos e ela preocupou-se com a faixa cor-de-rosa de seu vestido de seda. Isobel não era boba, nunca fora uma, embora uma vez, quando jovem fosse ingênua e inocente. Francis havia mudado isso com bastante rapidez, havia sido apresentada ao lado desagradável da vida com um pouco de dificuldade e aprendera e se adaptara rapidamente. Agora estava na casa dos cinquenta e não apenas uma duquesa viúva, mas uma mulher educada, experiente e inteligente, também uma mulher de negócios. Poucas mulheres tinham experimentado tudo o que ela tinha e Isobel sabia melhor do que a maioria de que a vida sempre tratava de curingas, especialmente quando menos se esperava. Hadrian havia se apaixonado por Nicole Shelton e era óbvio. Era igualmente óbvio que a pobre jovem estava loucamente apaixonada por seu filho. E eles fizeram um casal tão marcante, de maneiras que não tinham nada a ver com a sua boa aparência individual. Isobel estava triste. Ela não era estranha ao amor ilícito, nem ao coração partido. Sabia muito bem que a dor esmagadora do amor proibido gerava. Embora a dor fosse morrer lenta e demorada, a tristeza pelo que não poderia ser nunca morreria, pelo menos para ela não. Seu coração doía agora por seu filho. Ela desejava desesperadamente que Hadrian não estivesse apaixonado por Nicole Shelton, para poupá-lo da dor que certamente seria seu destino. E a pobre Elizabeth. Era um triângulo terrível, pois Isobel sabia o quanto Elizabeth amava Hadrian. Hadrian nunca a abandonaria, Isobel tinha certeza disso, ele era honrado demais. Assim como ela fora honrosa demais para fugir de Francis. Tal mãe, tal filho. Foi assustador. Isobel afundou em uma cadeira, sentindo o desejo de derramar lágrimas. Suas emoções eram cruas, como se ela estivesse em seus vinte anos novamente, como se ela fosse aquela jovem mulher se apaixonando pela primeira vez e torturada com seus próprios sentimentos ilícitos por um homem que não era seu marido. A imagem dele apareceu à sua frente como se fosse apenas ontem que estiveram juntos; alto e poderoso, cabelos castanhos listrados de ouro pelo sol, o rosto envelhecido e robusto, mas ainda assim muito atraente. Seu coração se apertou dolorosamente. Ela percebeu que estava errada, a dor nunca morreu. Ela não desejava amor tão malfadado a ninguém e certamente não ao filho ou a Elizabeth, nem à pobre Nicole Shelton, que não merecia tudo o que sua vida lhe dera até então. Isobel sabia muito bem como o amor não conhecia limites. O amor não se submeteu à razão ou à lógica, desafiou todas as tentativas de ser circunscrito. Hadrian era poderoso, nobre e honrado, mas ele era apenas um homem. Nunca teria a intenção de arruinar Nicole, mas depois de tê-los visto juntos, tendo sentido a tensão entre eles, quanto tempo mais demoraria até que o inevitável acontecesse? Hadrian sobreviveria a essa indiscrição com muito mais facilidade do que Nicole e não era o lugar de Isobel se preocupar com a outra mulher, mas sim. Não era justo, mas a vida raramente era justa. Ela fechou os olhos, pensando em Hadrian, mas não o homem que era seu filho, ao contrário, seu homônimo. Não pela primeira vez e não pela última vez, ela desejou desesperadamente que ousasse contar ao filho a verdade. No entanto, ela, que nunca fora covarde antes, era agora uma covarde. Estava com medo de testemunhar seu choque, pior, com medo da repulsa que ele poderia sentir e estava com medo de perder seu respeito e seu amor. Não, nunca poderia contar a ele, nem mesmo quando ele tivesse todo o direito de saber, e a verdade não tinha nada a ver com tentar ensinar seu filho, para que ele aprendesse com os próprios erros do passado. Porque se tivesse a oportunidade de voltar trinta anos, ela não mudaria nada.
O duque de Clayborough não conseguiu dormir.
Ele havia parado na residência de Stafford duas vezes naquele dia, tinha voltado para Londres ontem, mas em ambas as vezes Elizabeth estava dormindo e ele não havia falado com ela. Mesmo que ele quisesse perturbá-la, não teria sido capaz, pois recebera uma dose de láudano para a dor que repentina e constantemente a afligia. Foram várias horas depois da meia-noite. Sozinho em seu quarto de pé-direito alto com apenas o Borzoi como companhia, a imagem exótica de Nicole o perseguia e com ele, a pálida e delicada Elizabeth. Nenhuma pequena quantidade de culpa o atormentava e não havia pouca confusão. Ele não podia mais escapar da verdade. Nenhuma mulher jamais havia assombrado seus momentos acordados - e dormindo - como Nicole fazia. Nenhuma mulher jamais criara uma luxúria tão enorme dentro dele e pior, nenhuma mulher jamais fizera com que ele se comportasse de maneira tão abominável e desonrosa quanto ele com ela. Estava furioso consigo mesmo por se permitir responder a ela daquela forma. Deixando a cama, o duque colocou um robe de veludo sobre o corpo nu. Andou até a lareira, onde o Borzoi bateu o rabo em uma saudação feliz. O duque estendeu a mão para a cabeça grande do animal. — Eu não sei mais quem eu sou — ele admitiu para o cachorro. Todas as reuniões que eles já tiveram se repetiram instantaneamente em sua mente. Não foi a primeira vez, mas a milésima vez. Foi uma tortura. Seu corpo foi torturado. Ele era como o pai dele afinal de contas? Francis tinha sido tão obcecado por seus jovens amantes que não pôde se conter a não ser consorciar-se com eles e enganar sua mãe? Talvez Francis também tivesse sido torturado por sua moral. Talvez pai e filho fossem mais parecidos do que qualquer um sabia. Se havia algum motivo para ficar longe dela, esse era seu próprio medo de se tornar uma réplica de seu pai, um homem que ainda podia odiar até hoje sem nenhum remorso. Claramente abrigava dentro de si um lado sombrio, um que obviamente herdara de Francis, que ele deveria, a todo custo, subjugar. — Maldito — disse ele ao cachorro e ao fogo. Então ele fez uma careta. — Não, não é culpa dela é minha. Agora Nicole Shelton procurou reentrar na sociedade e ganhar um marido. O duque sabia que não deveria estar zangado com ela por interesses tão legítimos, mas estava. Teria ela esperado que ele fosse um pretendente, apesar de Elizabeth? Que ele jogaria uma noiva só para pegar outra? Ele acreditava que sim. Seus pulsos aceleraram de forma perturbadora. O duque andava mais rápido, o Borzoi observando-o com interesse esperançoso. O fogo estava morrendo para um brilho suave. O duque ignorou o frio que entrava no quarto. Ele estava determinado a não questionar suas próprias reações. Absolutamente não. O lema de Clayborough de — Honra Primeiro — não estava apenas em relevo em seu brasão de armas, mas sim em seu coração. Não importa como ele possa se sentir sobre o seu casamento, não iria, não poderia quebrar o noivado. Mas e quanto a Nicole? Ele fechou os olhos. Ela queria um marido. Toda mulher que ele conhecia queria um marido, ela estava bem dentro de seus direitos. Ela esperava reentrar na sociedade com sucesso. Agora podia fazer isso porque havia estendido seu patrocínio para ela. Ele poderia estender ainda mais, poderia ser ainda mais do que honrado, poderia ser caridoso, poderia encorajar perspectivas adequadas. Poderia até achar um marido para ela. Era a coisa certa a se fazer. De alguma forma, Hadrian sabia disso em seu coração. No entanto, a ideia era terrivelmente desagradável. E quanto mais consciente de quão bilioso ele achava ser o papel dos casamentos, mais determinado ficava o duque para ajudá-la, encontrando-a um marido adequado. O duque agendara compromissos de negócios durante todo o dia seguinte. Portanto, ele voltou para a residência de Stafford na manhã seguinte, esperando que dessa vez ele pudesse visitar Elizabeth. Acontece que ela estava acordada e ansiosa para vê-lo, segundo seu pai, o marquês de Stafford. Hadrian só precisava olhar para o homem para saber que ela não melhorara nos últimos dias. O marquês estava com os olhos vermelhos, como se não estivesse dormindo bem e seu rosto estivesse esticado. Nas poucas semanas desde que Elizabeth ficou visivelmente doente, ele tinha envelhecido vinte anos. Hadrian trocou algumas palavras educadas com o homem e foi mostrado o andar de cima pelo mordomo. Ele parou na entrada de sua sala de estar, fazendo sinal para o mordomo sair. Elizabeth parecia estar dormindo. Ela reclinou-se em uma chaise grande, coberta com um pesado cobertor angorá violeta. Ela era terrivelmente pálida e frágil, diminuída pela chaise, o que a fazia parecer ainda mais pequena e frágil. Seu coração se apertou. Ela parecia muito, muito pior e pela primeira vez desde que ela ficou tão obviamente doente, o medo por ela o tomou. Sentindo sua presença, ou talvez o ouvindo, ela abriu os olhos. O duque avançou rapidamente, administrando um sorriso brilhante. Levou um momento para se concentrar, depois sorriu também. — Hadrian — Com essa única palavra, seu nome, ela expressou todos os seus sentimentos por ele e todo o seu prazer em vê-lo. — Olá, Elizabeth, eu não queria acordar você. — Ele sentou-se em uma poltrona, puxando-a ao lado dela. — Estou feliz que você tenha vindo. Ele conseguiu não mostrar sua aflição. Sua voz era suave, ofegante, quase inaudível. — Você está se sentindo melhor hoje? Seus olhos se afastaram dos dele. — Um pouco. Ele sabia que era mentira. E Elizabeth nunca mentiu. Seu medo aumentou, congelando-o. Ele pegou a mão dela. — Devo lhe contar sobre a caça? Ela assentiu com a cabeça, o movimento ansioso e ligeiro. Por alguns minutos, ele começou a regalá-la com uma descrição da caça. Seus olhos quase brilharam quando ele descreveu as cercas mais difíceis que ele havia tomado. Quando ele fez uma pausa, ela sorriu. — Parece maravilhoso. Estou tão feliz por você ter ido, Hadrian. Segurando a mão dela, olhando em seus olhos de adoração, ouvindo suas palavras altruístas, ele se amaldiçoou por todos os pensamentos desleais que ele estava tendo e seu comportamento desleal. Elizabeth não o merecia, merecia melhor, mas estavam comprometidos lhe devia sua lealdade. Sua determinação em ver Nicole se casar aumentou. — Hadrian — disse Elizabeth, hesitante. — O que você fará se se eu morrer? Hadrian congelou. — Você não vai morrer — ele disse, horrorizado. Estava expressando o terrível medo que tinha e era covarde demais para encarar. Um leve brilho de lágrimas apareceu em seus olhos. — Eu temo que você esteja errado. Ele engoliu, segurando a mão dela. — Você não deve nem pensar assim — ele disse com firmeza, mas Deus, ela parecia estar morrendo. Ninguém jamais olhou mais perto da porta da morte. Ela piscou, virando a cabeça. — Eu não quero que você sofra — disse ela instável. — Eu quero que você seja feliz, eu sempre quis que você fosse feliz. Você é jovem e forte e já esperou por muito tempo para continuar com sua vida. — Elizabeth — ele protestou pálido. Uma lágrima deslizou por sua bochecha. — Você acha que eu não sei? Eu sei que você não é realmente feliz, Hadrian, eu sempre soube disso, desde que eu era uma criança pequena. Ele não podia falar. Mais lágrimas caíram. — Eu queria muito ser a única a trazer felicidade para a sua vida. Mas não vai ser. Ele agarrou suas pequenas mãos. — Você precisa de um filho. Você deveria se casar rapidamente e ter um filho. — Agora ela estava chorando. — Eu queria ser sua esposa, eu queria ser a única a lhe dar um filho, eu queria fazer você feliz. Mas por alguma razão, Deus não vai deixar isso acontecer. A angústia o inundou e ele a tomou em seus braços. Ela era tão frágil e magra quanto uma criança desnutrida de dez anos. Segurou-a gentilmente, a única vez que a abraçou desde que havia superado suas botas, além da única vez que a beijara em seu décimo oitavo aniversário. Como ela poderia falar assim? — Eu não gosto desse tipo de conversa, Elizabeth — ele conseguiu. — Você é jovem e certamente não está morrendo. Vamos nos casar em junho e você me dará um filho. — Ele acariciou o cabelo dela. — Você está errada, você me faz muito feliz. Ela se inclinou para olhar para ele e viu que ainda estava chorando, mas em silêncio agora. — Eu não quero morrer. Eu te amo tanto. Tudo o que eu sempre quis foi ser sua esposa. Oh, Hadrian! Não é justo. Ficou chocado, ficou horrorizado. E tudo o que podia fazer era abraçá-la e acalmá-la como se fosse uma criança. Agora podia entender por que o pobre marquês tinha estado com os olhos vermelhos. Não foi por falta de sono, mas por chorar. — Você deve dormir — disse ele, assustado com sua crescente palidez. — Eu voltarei mais tarde hoje à noite, mas se você estiver dormindo, só olharei para você, não vou te acordar. Seus olhos se fecharam, mas ela estava se agarrando a ele com um aperto surpreendentemente forte. O duque retirou gentilmente a mão da dela e ficou de pé, tremendo. Tinha exatamente um pensamento: ele devia procurar um médico imediatamente. Ele se virou para ir embora, então hesitou. Ele voltou e se inclinou sobre ela, parecia estar dormindo. Tocou sua testa, estava fria e seca. — Elizabeth — ele murmurou. — Você significa muito para mim. — E ele roçou seus lábios lentamente com os dele. E desta vez, quando ele olhou para o outro lado da sala antes de sair pela porta, viu que ela estava sorrindo. Capítulo 17 Foi Regina a portadora de más notícias. Nicole retornara à Tavistock Square no domingo à noite com os pais e a irmã, emocionalmente exaustos desde o final de semana e ansiosos para deixar Maddington. Ela não pusera os olhos em cima de Hadrian desde a caçada às raposas, ou melhor, desde aquele incidente desconfortável no foyer com a duquesa viúva e seus pais, quando eles voltaram sujos e molhados do riacho. Ela não sabia o que esperar depois que Jane a levara para o andar de cima. Não esperava precisamente que Hadrian deixasse Maddington imediatamente, mas ele o fez. Não muito tempo depois de ter trocado de roupa molhada, ela ouvira uma comoção do lado de fora de sua janela no pátio. Com súbita intuição, correu para a janela para vê-lo entrar na carruagem Clayton, de laca preta. A dúzia de batedores de libré aguardava o veículo, emparelhados em uma linha imóvel como soldados atrás dele. Pouco antes de subir, o duque fez uma pausa e de repente olhou para trás como se a estivesse observando. Mas não a viu e momentos depois ele e sua magnífica comitiva se foram. Desde que Nicole chegara a Londres, tentara muito não pensar no duque e no último encontro, mas era impossível. Não estava mais tão brava quanto estava humilhada. Suas ações falavam por si mesmas, obviamente não a considerava uma dama. Toda vez que eles se encontravam, ficava em seus braços ansiosamente. Suas intenções não eram honradas desde o início, mas por que elas deveriam ser? Se ela se atrevia a ser dolorosamente honesta consigo mesma, admitiria que estava certo em sua avaliação dela. Uma dama não ia a baile de máscaras desacompanhada e em trajes ciganos escandalosos, uma dama não se envolvia com um noivo — no último momento, uma dama não andava de calça. E certamente uma dama não deixava ninguém, nem mesmo o marido a tocar do jeito que ela deixara Hadrian tocá-la. Se fosse uma dama como Elizabeth, nunca teria se comportado com ela de maneira tão escandalosa. Nicole também estava envergonhada de que, durante a caçada, esquecera completamente a existência de Elizabeth. Quando estava com Hadrian e desejava poder parar de pensar nele de uma forma tão íntima, quando estava com o duque, era fácil esquecer tudo. Nicole desejou que Elizabeth fosse uma pessoa horrível e mesquinha, como sua prima Stacy, pois então não teria remorso ou culpa pelo que fizera com Hadrian. Mas ela não era como Stacy, ela era gentil e boa, uma das poucas pessoas nesta cidade que tinha feito de tudo para fazer Nicole se sentir aceita. Nicole não queria trair Elizabeth e também sentia pena de não ser uma verdadeira dama. E então Regina trouxe notícias que fizeram Nicole se sentir ainda pior. — O que aconteceu? — Nicole perguntou quando sua irmã entrou correndo sem fôlego em seu quarto. — É Elizabeth Martindale — Regina engasgou. — No fim de semana passado, deu uma reviravolta para o pior, está tão doente que nem consegue se levantar da cama e os médicos dizem que ela está falhando. Nicole olhou, a cor esvaindo-se do rosto dela. — Falhando? Regina acenou com a cabeça, olhos enormes, sua pele fantasmagórica branca. — O que você quer dizer, falhando? — Eu não sei. — Sua irmã chorou. — Os médicos dizem que ela está “falhando”. Eu acho que isso significa que ela está morrendo. Nicole sentou-se com força em uma cadeira, totalmente chocada. — Morrendo? Regina sentou-se também, tão entorpecida. As duas irmãs se encararam, sem palavras. — Eu não acredito — Nicole finalmente disse. — Elizabeth é jovem, mais jovem que qualquer uma de nós! Meninas jovens não morrem de repente. A boca de Regina tremeu e lágrimas encheram seus olhos. — Eu não posso acreditar também — disse ela com voz rouca. — Talvez não seja verdade. — Claro que não é verdade! — Nicole chorou, alívio inundando- a. — É um rumor horrível e você sabe como a menor coisa é exagerada quando é administrada a fábrica de fofocas. — Você provavelmente está certa — disse Regina, relaxando um pouco. — Ela provavelmente tem gripe, um caso ruim e isso é tudo. Nicole assentiu, mas ainda estava abalada até o núcleo. Nicole ainda estava perturbada quando, uma hora depois, a carruagem Dragmore parou em frente à residência de Stafford. A fofoca era uma coisa terrível, é verdade, mas muitas vezes onde havia fumaça havia fogo. Nicole rezou para que esse não fosse o caso, na verdade, ela se recusou a acreditar. Esperando que Elizabeth estivesse apenas doente, queria pagar suas condolências à menina mais jovem que tinha sido tão gentil com ela. Um cocheiro ajudou-a a sair da carruagem e um mordomo a deixou entrar no saguão de entrada. Nicole entregou-lhe o cartão de visitas, explicando que entendia que lady Elizabeth estava doente e que ela havia vindo expressar seus melhores desejos, se possível. Em uma mão enluvada, ela segurava uma caixa de chocolates lindamente embrulhada, que comprara no caminho de Oxford Street. O mordomo estudou seu cartão, mas antes que e pudesse falar, uma furiosa voz masculina disse — Elizabeth não está recebendo visitas. Nicole se virou para ver o duque de Clayborough caminhando em sua direção, sua expressão positivamente negra. Estava apenas em mangas de camisa, que estavam enroladas, nem estava usando um colete. Suas calças, geralmente perfeitamente prensadas, estavam vincadas e enrugadas. Sua consideração sombria estava em chamas. Havia círculos cinzentos de insônia e preocupação sob seus olhos. Seus cabelos, sempre compridos demais, pareciam mais longos e desalinhados. Sem tirar o olhar de raiva de Nicole, ele se dirigiu ao mordomo — William, você pode ir. William desapareceu. Nicole não esperava vê-lo aqui e sua raiva também a pegou de surpresa. Instintivamente, recuou um passo, mas ele continuava chegando. Agarrou o braço dela. — O que diabos você está fazendo aqui? — Eu vim para ver Elizabeth. — Você veio para ver Elizabeth? Por quê? Para ver sua condição em primeira mão? Tentou se afastar, mas ele não a soltaria. — Me solta, por favor. Ele a ignorou, sacudindo-a rudemente, puxando-a para mais perto, de modo que seu rosto estivesse perto do dele. — Você se atreve a pensar que, se ela morrer, eu vou casar com você? Por um longo momento, Nicole ficou estupefata sem palavras. Então soltou o braço dela. — Como você pode imaginar que eu pensaria uma coisa dessas? — ela falou. — Então por que você veio? — ele respondeu. — Por que diabos você viria aqui? Ela estava tão atordoada por sua óbvia angústia quanto pela acusação que acabara de fazer. — Você não é bem-vinda aqui. Ela conseguiu se manter firme e manter o queixo alto, mas seus olhos estavam brilhando de lágrimas. — Seu homem desprezível! Eu vim para dizer o quanto estou triste por ela estar doente. — Por que você se arrependeria? — Ele riu sem alegria. — Eu imagino que você é a última pessoa na Inglaterra que lamentaria. Que ele deveria continuar a difamar seu caráter tão diretamente, que ele obviamente acreditava que ela era capaz de emoções tão frias, conseguiu acender uma faísca em sua mera autodefesa. — Ela nunca foi nada além de boa para mim, quando todos os outros nesta cidade incluindo a presente pessoa, foram nada além de grosseiros e insultantes. — Eu acho muito difícil acreditar que você veio aqui por um espírito de caridade. — — O que você acredita, você fez mais do que claro. — Ela olhou para ele, querendo chamá-lo de um nome nada divino, querendo dizer a ele exatamente o que ela pensava dele agora, mas não o fez. Mas só porque a pobre Elizabeth estava obviamente doente nesta mesma casa e o criado estava, indubitavelmente, espreitando ao virar da esquina, escutando com fascinação cada palavra deles. Nicole ficou horrorizada ao pensar que qualquer fofoca sobre ela e o duque poderia chegar a Elizabeth. — Eu não ligo mais para o que você pensa — ela disse rigidamente, entorpecida. — Se ela não está recebendo visitantes, então você gentilmente levaria este presente e diria a ela o quanto eu sinto muito. O duque não fez nenhum movimento para alcançar o pacote que estava segurando. Lágrimas feriram os olhos de Nicole e ela rapidamente colocou a caixa de doces em uma cadeira. Abruptamente, antes que ele pudesse discernir o quanto ela estava ferida, Nicole virou as costas para ele e caminhou para a porta. Ele a parou. — Eu quero que você saiba — ele disse, sua voz cortando — assim que Elizabeth... se recuperar... eu estou saindo de Londres. Nicole deu de ombros e se virou para ele. — Sua agenda não me interessa. — E Elizabeth virá comigo. Não vamos esperar até junho para casar. Vamos nos casar imediatamente. Ela levantou o queixo, encontrando-o olhando fixamente, quando suas palavras foram mais eficazes do que qualquer faca em a ferir. Como esse homem poderia ser o mesmo que a abraçou tão apaixonadamente nos bosques de Maddington apenas dois dias atrás? Ele agia como se a odiasse. Nicole não conseguiu conter um arrepio. Ela fez algo para transformar seu desejo em ódio? Ou será que a culpava pelo o que tinha acontecido na caça? Ela podia se machucar, mas ela ainda tinha seu orgulho. De alguma forma, ela conseguiu esconder seus sentimentos. — Então eu desejo a vocês muita felicidade. Naquele momento, enquanto olhavam um para o outro como o pior dos inimigos, uma série rápida de imagens passou pela cabeça de Nicole, deles juntos, dela em seus braços. Podia sentir seu toque como se a tocasse agora. Quando a abraçou, pensou que ele se importasse. Mas essa tinha sido sua imaginação correndo solta, pois o homem que a encarava agora não se importava nem um pouco com ela, nem um pouco. Se qualquer coisa, ele a desprezava. E o duque não parecia satisfeito com sua resposta educada, se alguma coisa, parecia ainda mais irritado. Abruptamente Nicole se virou para sair. William se materializou para abrir a porta para ela e Nicole novamente rezou para que nenhuma fofoca desagradável chegasse a Elizabeth. Ela ainda tinha que atravessar o limiar quando o duque cortou sua espada verbal mais uma vez. — Eu quis dizer isso quando disse que você não é bem-vinda aqui. Não retorne. Ela endureceu, corando, tinha cem respostas, mas nenhuma delas era adequada para os ouvidos do mordomo e as consequentes fofocas do andar de baixo. Certamente acabaram de gerar o suficiente disso. Então decidiu que qualquer resposta que escolhesse não poderia fazer muita diferença em face da magnitude das fofocas que certamente seguiriam essa troca. — Ao contrário do que você pensa e você parece decidido a pensar apenas no pior de mim, Elizabeth é minha amiga. Ela merece a felicidade. Ninguém em quem eu possa pensar merece mais. Nicole fez uma pausa antes de sair pela porta, agora aberta para ela pelo mordomo. — Mas a única coisa que não merece é você. E você certamente não a merece. O duque ficou furioso. William, o mordomo, ficou boquiaberto. E Nicole decidiu que era hora de ir embora. Elizabeth morreu naquela noite. Seu pai, o marquês de Stafford, encontrou-a na manhã seguinte em sua cama. A notícia de sua morte só chegou aos ouvidos de Nicole algumas horas depois e ao meio-dia todos de Londres sabiam que a bela e gentil jovem dama havia falecido. Nicole estava em choque. Elizabeth Martindale, morta? Doce, gentil, linda Elizabeth? Elizabeth que todo mundo gostava? Elizabeth, que nunca viu o mal em alguém ou alguma coisa? Ninguém merecia morrer jovem era o auge da injustiça. Nicole imediatamente se retirou para a privacidade de seu quarto. Ela estava em choque. Agora, talvez, ela pudesse entender o temperamento e grosseria inexplicáveis de Hadrian ontem. Elizabeth estava morrendo e embora ela mesma não soubesse, certamente sabia. Um homem que enfrenta a morte de alguém de quem gostava - ou amava - não poderia ser considerado educado, racional ou agradável. Nicole afundou na cama, tremendo. Deve ter amado muito Elizabeth. Jamais teria certeza da extensão de seu amor por ela, mas a angústia de ontem provou o quão profunda ela corria. O coração de Nicole se apoderou dele quando imaginou sua dor. Elizabeth foi velada por três dias. Nicole foi prestar seus últimos cumprimentos, acompanhada por sua família, com exceção de Chad, que estava em Dragmore. Edward veio de Cambridge para que ele também pudesse expressar suas condolências. A enorme residência de Stafford era estranhamente silenciosa, embora estivesse cheia de centenas de convidados. Todo mundo se movia por falar em voz baixa, parando para olhar para Elizabeth disposta em sua elegância em um belo caixão de mogno. O marquês, tendo perdido primeiro a esposa e agora sua única filha, estava inconsolável. Ele não pôde fazer mais do que acenar quando os enlutados pararam para falar com ele, pois ele era incapaz de falar. Elizabeth parecia serena na morte. Ela até parecia bonita e alguém colocara um sorriso em seus lábios ou ela morrera assim. Nicole parou ao lado do caixão, Regina a seu lado. Ela mordeu o lábio quando a vontade de chorar veio sobre ela. Como alguém tão gentil e tão jovem poderia morrer antes mesmo de sua vida começar? De alguma forma, a morte era compreensível quando o falecido era velho e vivia uma vida plena, ou não era uma pessoa particularmente boa. Mas neste caso foi chocante e sacrílego. — Eu não posso olhar para ela — Regina sussurrou, sua voz rouca com lágrimas não derramadas. — Eu simplesmente não posso. — Ela saiu correndo. Nicole respirou fundo e fez uma pequena oração, esperando que Elizabeth pudesse ouvi-la. Agradeceu-lhe a gentileza e pediu desculpas por ter sido íntima com Hadrian. Mas ela simplesmente não podia confessar o último, ela não podia. Talvez Elizabeth nunca soubesse. Ela esperava que não. Esfregando os olhos, ela passou pelo caixão. Seu olhar se ergueu e pousou na duquesa viúva de Clayborough. Por um momento, Nicole ficou surpresa, lembrando-se de como a mulher a olhara no vestíbulo de Maddington, como se soubesse que ela e Hadrian não tinham feito nada de bom. A duquesa viúva era a última pessoa que queria ver, além do filho. No entanto, Isobel, embora com os olhos marejados, conseguiu um pequeno sorriso. Nicole não teve escolha então; teve que cumprimentar a mulher. — Eu sinto muito. — Todos nós sentimos — disse Isobel suavemente, com os olhos cheios de lágrimas. — Obrigado por vir. — Sua voz falhou. Nicole assentiu e passou por ela. Encontrou Regina esperando-a do lado de fora do salão onde Elizabeth estava em repouso final. As duas irmãs trocaram olhares de fadiga, angústia e tristeza. — Papai e mamãe estão falando com o marquês. Disseram que podemos sair daqui a meia hora mais ou menos. Nicole assentiu, querendo partir naquele exato minuto, mas fazer isso seria incrivelmente rude. Ela e Regina se encolheram contra a parede no corredor, sem ter vontade de ir para o salão maior, onde um bufê era servido para os convidados. Através da multidão de pessoas se movendo pelo corredor até o salão, ela vislumbrou Martha e seu marido. Martha pediu licença ao grupo em que estava e foi até as duas mulheres. — Isso é tão terrível — sussurrou Martha depois de trocarem abraços. — Estou em choque, não posso acreditar. — Seus olhos lacrimejaram. — Nenhum de nós pode acreditar — respondeu Nicole. — É tão injusto — Regina sussurrou. — Como Deus poderia deixar isso acontecer? As duas mulheres mais velhas se voltaram para ela, por ousar expressar um pensamento que todas elas estavam tendo. O silêncio caiu; Regina não esperava uma resposta de qualquer maneira. Então Martha falou com Nicole. — O duque está aqui. Nicole não disse nada, mas seu coração se apertou, com medo, com tristeza. Mesmo que agora pudesse entender por que ele havia sido um monstro assim outro dia, não aliviou a dor que ele lhe infligiu. — Você já o viu? — Não. — Ele parece horrível. Eu tentei falar com ele, mas foi como falar com uma parede. Eu não acho que ouviu uma coisa que eu disse, mas isso é compreensível. O desejo de chorar novamente superou Nicole. Hadrian devia tê- la amado muito, mais do que pensara, por ele ter sido tão fora de si no outro dia e estar tão abalado agora. — Ele a amava muito. Martha olhou para ela. — Ele a conhecia toda a sua vida. É muito tempo para conhecer alguém, eram primos e também prometidos. — É muito tempo para amar alguém — Nicole sussurrou tremulamente. Era inadequado, mas a percepção bateu nela com a força estranguladora de Jack, o Estripador. Ele realmente amara Elizabeth, nunca a amou. Ele a cobiçara, o que era algo completamente diferente. — Ele precisa de algum tempo — disse Martha, tocando a mão de Nicole. Se havia uma insinuação ali, Nicole não queria entretê- lo. Felizmente, não o viu nos próximos minutos e logo depois saiu com o resto da família. Naquela noite chorou, por Elizabeth, por Hadrian e talvez, só um pouquinho, por si mesma. O dia do funeral foi particularmente apropriado para o luto. O céu era uma chuva cinzenta escura que ameaçava chover, um vento norte soprava incessantemente e a essa altura a maioria dos imensos carvalhos que rodeavam a cripta de Stafford estavam nus, os membros retorcidos sombrios e tortos. Eles lembraram morosamente a Nicole dos esqueletos, dos muitos esqueletos que devem estar neste mesmo cemitério. Nicole suspeitava que cerca de mil pessoas tivessem comparecido ao culto na catedral de Londres, mas aqui em Essex, apenas umas cem pessoas tinham chegado ao túmulo de Elizabeth. Ela ficou entre sua mãe e Regina, cercada pelo resto de sua família. Chad tinha vindo para o funeral e Edward, é claro, ficara em Londres para poder estar presente também. Apesar de não estarem em uma das primeiras fileiras, Nicole era mais alta do que a maioria dos presentes e tinha uma visão clara do caixão sendo abaixado no cofre escuro sob a capela de Stafford. Também tinha uma visão clara de Hadrian. Estava do outro lado do túmulo, de onde estava com a família, vestido com um terno preto, sem chapéu e com a cabeça baixa. Tinha um braço ao redor de sua mãe, que tentou sem sucesso não chorar. Ao lado dela estava o marquês de Stafford, que chorou também. O som de um homem adulto perdendo o seu controle era terrivelmente enervante e angustiante. Ao lado deles estava o patriarca da família, o conde de Northumberland, com sua esposa e parentes próximos. Roger de Warenne era o cunhado de Stafford. Era um homem alto e magro, com setenta e poucos anos, cabelos muito brancos. Estava acompanhado por sua segunda esposa, que tinha a idade de Isobel e seus três filhos e suas esposas, incluindo seu herdeiro, o meio-irmão de Isobel, o visconde de Barretwood. De Warenne tinha uma dúzia de netos desses casamentos e todos estavam presentes, o mais novo apenas cinco e tentando parecer terrivelmente solene. A família Northumberland pôde traçar seu poder e antecedentes até a Conquista. Atrás dos de Warennes estavam seus parentes, os Martindales, os Hurts e os Worthington. Incluído entre este último grupo estava Stacy Worthington, prima de Elizabeth. Ela chorou ostensivamente em um lenço.
Nicole não pôde deixar de encarar Hadrian enquanto o caixão
era levado para o mausoléu. Ele parecia terrível e seu coração se apertou dolorosamente com a visão. Estava abatido e pálido, os ombros caídos em exaustão. Era muito longe para ver seu rosto claramente, mas podia sentir, mesmo à distância, a dor que ele estava sofrendo. Parada ali enquanto Elizabeth finalmente descansava, Nicole esqueceu tudo o que havia entre eles. Não havia mais raiva, nem mais vergonha, nem mais mágoa nem mais orgulho. Em um dia como este dia, as verdades foram impiedosamente nuas. Olhou para Hadrian e chorou por causa da dor que ele sofria e não havia dúvida de que ela o amava completamente. Se eles estivessem sozinhos, teria ido até ele e o teria tomado em seus braços como se fosse uma criança, para segurá-lo, consolá-lo, curá-lo. Mas não estavam sozinhos, só podia observá-lo e lamentar-se com ele de longe. Seu coração estava partido e amando-o, também era o dela. Capítulo 18 Três longos dias se passaram desde o funeral. Nicole não tinha ido a nenhum encontro social porque não estava com disposição para ser alegre. Ela não conhecia Elizabeth bem ou por muito tempo, mas o choque de sua morte abrupta ainda permanecia angustiante. E então havia Hadrian. Seus pensamentos foram consumidos pelo duque e por ele, sofreu. No funeral, ela sentira seu luto, embora estivessem fisicamente separados por muitos metros, sua angústia era dela. Como ela queria consolá-lo. E mesmo quando ela queria consolá-lo, curá-lo, também havia dor, de uma natureza diferente, na percepção de quanto ele deveria ter amado Elizabeth. Mas a dor ela empurrou de lado, porque o sofrimento dele era muito mais importante. Nicole teve que o ver. Tinha que ajudar a aliviar sua tristeza e oferecer o apoio que pudesse, para que soubesse que não importava o quê, estava lá para ele. Sabia que não era apropriado, não tanto quanto as aparências superficiais, mas de alguma forma, era altamente apropriado, porque Hadrian precisava dela, estava nervosa sem saber que tipo de saudação poderia receber inicialmente, mas nada neste mundo poderia impedi-la de chamá-lo. Ela sabia, por intermédio de Regina e Martha, que estava na cidade desde o funeral, que o duque recusara todos os convites e todas as chamadas. E estava certa de que ele não a recusaria. O mordomo permitiu que ela entrasse no amplo foyer abobadado enquanto pegava seu cartão de visitas. Um homem corpulento e maltratado estudou-a e disse impassível — Sua Graça não está recebendo visitantes. — Isso eu ouvi — disse Nicole, respirando fundo. — Mas eu sou uma boa amiga do Duque, qual é o seu nome? — Woodward — ele disse, sem se impressionar. — Por favor, Woodward, diga à Sua graça que eu estou aqui. Ele não se recusará a me ver. Woodward hesitou, depois assentiu e saiu pelo corredor. Nicole expeliu a respiração. Ela percebeu que estava tremendo. O duque de Clayborough estava bêbado. Não obviamente bêbado, não fedendo bêbado, mas bêbado, no entanto. Hadrian não havia bebido desde que era um adolescente desordeiro de quatorze anos, mas naquele dia o fizera com determinação, não dormia há dias. Precisava dormir e beberia até que pudesse. Precisava dormir para poder escapar das emoções que ameaçavam dominá-lo, a tristeza e a culpa. A tristeza pesava seu coração como se ele carregasse uma pedra pesada dentro de seu peito. Sabia agora, tardiamente, que amara a noiva. Não de um jeito carnal, nunca de um jeito carnal, mas a amara e agora sentia falta dela. Sentia falta da doçura dela e do sorriso dela. Sentia falta de sua bondade infalível, sua generosidade, sua compaixão e sua graça. Memórias o assombraram. Elizabeth quando pequena, tropeçando de uma peça de mobília para a outra, enquanto ele, aos doze anos, assistia com pouca diversão. Elizabeth caiu do pônei aos seis e chorou em seus braços. Elizabeth aos treze anos, quase uma mulher, timidamente oferecendo-lhe biscoitos que ela mesma havia assado. Elizabeth aos dezoito anos, aturdida depois de beijá-la pela primeira vez. Era tarde demais agora, mas percebeu que Elizabeth era sua melhor amiga. Seu único amigo. Ele era um homem que guardava para si mesmo, um hábito aprendido precocemente na infância. Mas nunca com Elizabeth. Talvez o dever tivesse ditado seu comportamento em relação a ela, mas fora tão fácil estarem juntos. E enquanto ele tinha tomado seu relacionamento como garantido, ela tinha sido altruísta sido constantemente apoiadora dele, não importa a circunstância, sempre esteve lá para ele. Quando não estava lá para ela, tinha cem desculpas para fazer por ele. Se pudesse reviver seu relacionamento o faria. E tudo seria diferente. Hadrian estava inundado de emoções explosivas que não queria enfrentar. Pois também aprendera em sua infância a esconder cuidadosamente sua dor, sua angústia. Nunca revelar o que podia estar pensando ou sentindo. Não apenas da percepção dos outros, mas de si mesmo. E teve sucesso por muitos anos ao fazê-lo até recentemente. E agora, a morte de Elizabeth, foi a última faísca e uma conflagração do coração ameaçado. Não entendia por que ela havia morrido. Acreditava em Deus, embora ele não frequentasse a igreja com muita frequência e a morte dela não fazia sentido. Mas então, grande parte da vida, como havia testemunhado, não fazia sentido. A crueldade do pai com a mãe não fazia sentido. Nem a crueldade de seu pai para ele. Talvez não houvesse Deus depois de tudo, ou talvez não houvesse justiça ou misericórdia. Talvez ele pudesse ter lidado com a tristeza se isso fosse tudo o que havia. Mas havia mais, muito mais; havia a culpa. Bebeu outro uísque escocês, franzindo o cenho para o gosto. Ele estava em sua biblioteca não a deixava há dias. Andou até o fogo e cutucou, tentando não deixar seus pensamentos tomarem seu rumo inevitável. Mas eles não o obedeciam. Culpa purificada. A imagem de Nicole subiu, ainda o assombrando, com Elizabeth mal gelada em seu túmulo. Maldita seja, pensou ele, acertando o fogo violentamente. Maldita seja ela. Ou ele deveria se amaldiçoar? Nos últimos meses, enquanto Elizabeth estivera doente e morrendo, não lhe poupou um pensamento, muito menos sua atenção, estava muito ocupado desejando Nicole Shelton. Elizabeth não merecia isso dele, merecia muito mais. Eu sou um bastardo, um bastardo total, um bastardo carnal egoísta, não muito diferente do meu pai. Fechou os olhos, mas a imagem vívida em sua mente não iria embora. O rosto vibrante e exótico de Nicole, rindo, cintilante, ao lado da pálida e sem vida de Elizabeth. Tinha tudo de mais bonito na vida, era energia ardente, beleza exótica, orgulho indomável. Elizabeth nunca tinha sido impetuosa, exótica ou indomável, mas sim o exato oposto. O contraste era inquietante, horripilante. Tinha ido tão longe a uma jornada que era incapaz de parar, apesar do uísque escocês, uma jornada profunda em seu interior mais escuro e privado. E ele não queria dar outro passo. Havia um desejo nele, um anseio secreto, que não conseguia abalar e estava focado em Nicole. Uma batida na porta arrancou-o de seu devaneio. Hadrian dissera à equipe que não deveria ser incomodado, mas jamais tiraria seu temperamento explosivo em nenhum deles. Seu tom civilizado, disse — Sim? Woodward entrou parecendo tão apologético quanto era capaz de olhar, dada sua implacabilidade bem-educada. — Lady Nicole Shelton está aqui. Ela insistiu em vê-lo, sua graça. O coração de Hadrian bateu. O desejo, o anseio, sufocou-o. — Mande-a embora. — Ele rosnou. Woodward pareceu chocado, mas se recuperou instantaneamente. — Sim, sua graça. — Espere! — Hadrian chamou quando o mordomo estava na porta. — Eu mudei de ideia. Mande-a entrar. Woodward assentiu sem expressão e desapareceu. Hadrian passeava, seu sangue fervendo. Por que ela veio? Não poderia esperar um intervalo decente depois do funeral? Não tinha respeito pelos mortos? O que queria? Como ousava? Ele quisera dizer o que dissera outro dia, pouco antes de Elizabeth ter morrido, que iria para o país com a noiva e que se casariam imediatamente. Talvez soubesse que ela estava morrendo e suas intenções tinham sido uma forma de negação. Durante toda a semana em que assistiu Elizabeth em seu leito de morte, resolveu ser leal a ela, tanto em ações quanto em pensamento, o que significava que deveria acabar com sua obsessão por Nicole Shelton. Agora, à beira de um precipício que não tinha intenção de cair, Hadrian estava mais determinado do que nunca a tirá-la da mente e da vida. Woodward mostrou Nicole e Hadrian acenou para ele. Seu olhar a perfurou. Por que ela veio? Porque agora? Quando olhou para ela, viu que estava perturbada. Certamente não por causa de Elizabeth. Isso seria uma ironia absoluta. Seus pálidos olhos cinzentos pareciam estar cheios de compaixão e preocupação. Se perguntou se estava mais bêbado do que pensava, pois, essa empatia não poderia ser para ele. Poderia? Esta não era a megera selvagem que ele conhecia tão bem, não era essa a mulher que praticamente confessara que procurava seduzi-lo. — Hadrian? Você está bem? Recostou-se contra a lareira, ignorando o calor das chamas atrás dele, que estavam perigosamente perto de seu corpo. — Oh, eu estou bem — ele disse, seu tom zombando e entediando suas palavras. — Afinal, a morte de uma noiva é um evento cotidiano. Um imenso silêncio saudou suas palavras. Sua expressão dissolveu-se em ainda mais simpatia, enquanto estava chocado com o que ele tinha feito, havia se mostrado nu e revelado sua dor. Como se ele quisesse que ela reagisse, o que ela não fez. — Eu sinto muito — ela chorou, mas ele a interrompeu. — Eu não deveria ficar surpreso com esta visita, deveria? Você sempre desafiou as convenções. Mas confesso que estou. Ela não se moveu, de pé atrás do sofá, de frente para ele, suas mãos enluvadas segurando sua bolsa. — Eu não podia ficar longe — ela disse suavemente. — Eu tinha que ter certeza de que você estava bem. — Você veio aqui por preocupação comigo? — Perguntou incrédulo. Não acreditou nela ou acreditava? O olhar carinhoso em seus olhos o torturou. Testando-o. — Por que mais? — Eu posso pensar em outras razões — ele disse grosseiramente, seu olhar deslizando sobre ela. — Eu quis dizer o que eu disse no outro dia, acabou Nicole. O que quer que estivesse entre nós acabou. — Raiva tomou conta dele com intensidade assustadora. Raiva para ela, para si mesmo, para o mundo. — Compreendo. — Se você entendesse, não estaria aqui. — É porque entendo que estou aqui, Hadrian — ela disse suavemente. — Você não deveria estar sozinho. — Eu quero ficar sozinho. — Se isso é verdade, então por que você me permitiu entrar? Olhou para ela, incapaz de negar mais da verdade absoluta. Não queria ficar sozinho, ele queria estar com ela. — Saia. Agora. Antes que seja tarde demais. Ela não se mexeu. Seus olhos pareciam mais macios, mais carinhosos. Isso só poderia ser uma ilusão. Ele estava furioso agora. — Você não me ouviu? — ele rugiu. — Eu te disse para sair! Fora daqui, fora da minha vida! — Ele não sabia que ainda estava segurando o copo de uísque, mas a próxima coisa que sabia, tinha jogado o mais forte que podia, não para ela, mas na porta atrás dela. Passou pela cabeça dela e se espatifou explosivamente contra a madeira rica. Nicole se encolheu ligeiramente. Ele estava ofegante. Uma caverna se abrira dentro dele. Era preto, mas no fundo do abismo havia um caleidoscópio de cores vivas, seu sangue, suas entranhas. Tantos sentimentos. A todo custo para ser evitado, odiava isso, a odiava. — Você é uma tola. Eu quase te machuquei. — Mas você não fez — ela sussurrou. — E não vai fazer. Ele se virou abruptamente para longe dela, tremendo. — Eu sei que você está sofrendo — ela murmurou. — Sei que você está me atacando porque não há mais ninguém para atacar, não me importo. Também acho horrivelmente injusto. Como isso pode acontecer? Para alguém tão gentil, tão sincero? — Não — Ele estava de frente para a lareira e seu calor ardente estava se tornando doloroso em suas coxas e estômago. Ele fechou os olhos. Ela era tudo o que Elizabeth nunca fora e por estar aqui agora, tão viva e vital e vibrante, parecia-lhe doloroso. Tão doloroso. E a imagem de Elizabeth estava retrocedendo, devorada pelo desejo sufocante. Em seu lugar estava Nicole. — Vou pedir a Woodward para nos trazer chá — disse ela finalmente. Ele a ouviu saindo e sentiu um momento de pânico quando soube que deveria estar aliviado. Tentou chamar de volta o rosto de Elizabeth, mas só conseguiu ganhar uma imagem nebulosa e indistinta. Respirou fundo para controlar suas emoções. Devia lutar contra si mesmo... deveria. Nicole entrou. Seu batimento cardíaco tornou-se errático no momento em que ela o fez. — Você parece muito cansado, Hadrian. Por favor, venha e sente-se. Woodward estará aqui em breve com chá quente. Você comeu alguma coisa recentemente? Ele se virou devagar. Seu olhar encontrou o dela e segurou por um longo tempo. Não estava imaginando, a expressão em seus olhos. Foi genuíno. Foi por ele. Estava com medo de chegar perto dela. Pois, naquele momento, o desejo bateu violentamente sobre ele. — Hadrian? Sua resposta foi se afastar dela, apoiar-se no manto e olhar para as chamas na lareira. Não importa o quanto tentasse, não podia mais ver o rosto de Elizabeth claramente em sua mente. Woodward bateu e entrou com o chá. Ouviu quando o mordomo abaixou a bandeja e perguntou a Nicole se queria mais alguma coisa, mas não se virou. Estava com medo de se mover, com medo de si mesmo e do que poderia fazer. A porta se fechou. O silêncio que caiu na biblioteca foi quebrado apenas pelo tique-taque do relógio de seu avô em uma parede e pelo estalar das chamas. Ouviu Nicole se levantar e caminhar até ele, ficou tenso. Ela ficou atrás dele tão perto que ele sentiu seu calor. — Hadrian? Você não quer se sentar? — Não. — Você gostaria de subir as escadas para dormir? Assusta-me vê-lo assim. Isso o assustou. Não se mexeu, segurando o manto de pedra. Era sua intenção dizer a ela de novo para sair, ordenar que saísse. Em vez disso disse: — Eu não posso dormir Nicole. Se eu pudesse, acredite em mim, eu não estaria aqui assim. Ela fez um pequeno som de angústia. Hadrian quase saltou quando a sentiu tocar suavemente suas costas. Fechou os olhos, mal ouvindo o que estava dizendo, desejando desesperadamente que colocasse os braços ao redor dele e o segurasse como se fosse uma criança. Mas ela não fez. Ele não podia mais lutar. — Hadrian, talvez se você tentar agora, você será capaz de dormir. Eu posso ver como você está exausto. Deixe-me chamar Woodward. Sua palma tremia nas costas dele. Ele soltou um longo suspiro. Sem pensar agora, exceto pela única palavra que gritava para ele interiormente. Perigo! — Não chame Woodward — ele disse duramente. Nicole mordeu o lábio e depois, com as duas mãos, começou a massagear o pescoço dele. Hadrian ficou muito quieto, ficando ainda mais tenso. Quando suas mãos cavaram seus músculos, sentiu que estava começando a tremer, não aguentou. Ele havia perdido. — Nicole — ele gritou, virando-se abruptamente e envolvendo-a em seus braços. Ela congelou, mas não tentou afastá-lo. Seus olhos estavam arregalados, mas não assustados. Ele a abraçou e sentiu um tremor em seu corpo enterrou o rosto no pescoço dela. As cores vibrantes giravam sobre ele, rápido e muito difícil para identificar. — Está tudo bem — ela tremeu. Ela acariciou o cabelo dele, as costas dele. — Está tudo bem. Estava ciente de que ele estava esmagando-a, talvez a machucando. Mas como se estivesse em transe, não conseguiu aliviar o aperto, a segurou por um longo tempo. As ondas de cor continuaram caindo sobre ele. Alegria, desespero. Dor e dor, muita dor e uma estranha exultação. O pânico se foi. Em vez disso, havia desejo pulsante. E em seus braços, Nicole estava quente e maravilhosamente viva. Podia sentir a batida da vida nela, pulsando através dela, seu calor. Ela era força, era tristeza e compaixão, alegria e triunfo, a embalou e ela se agarrou a ele. Lágrimas feriram seus olhos fechados, ficou chocada com a forma como ele precisava dela. A necessidade era tão forte ou estava confundindo com desejo físico? Mas era tão forte e os sentimentos só se intensificaram. Suas mãos subiram para segurar seu rosto. — Sempre — ela sussurrou, afastando-se para poder olhar nos olhos dele. Ele viu lágrimas nos dela também. — Eu sempre estarei aqui para você. — Lentamente, quase castigada, ela cobriu a boca dele com a sua. Foi demais. Hadrian explodiu. A mão dele se ancorou na nuca dela, afrouxando abruptamente o cabelo não varrido de modo que se derramasse por suas costas. Ele inclinou o rosto para o beijo. Por um instante, seus olhos se encontraram, os dela arregalados de surpresa e antecipação, ardendo. Então sua boca cobriu a dela. Duro e quente. Molhado. Suas línguas se entrelaçaram de forma imprudente. Acasalado com abandono. Ruídos de miado escaparam da garganta de Nicole. Hadrian caiu de joelhos, levando-a com ele. Quando estava de costas, ele choveu beijos desesperados e famintos por todo o rosto; nas pálpebras, na testa, nas bochechas e na têmpora, na mandíbula, na boca e no pescoço. Nicole soluçou. — Nicole — sussurrou Hadrian, seu corpo grosso e duro caindo sobre o dela. Havia palavras que queriam explodir, mas ele estava tão sobrecarregado que não conseguiu encontrá-las, não se atreveu a expressá-las. Nicole apertou-o ferozmente, beijando-o de volta descontroladamente. Hadrian puxou as saias para cima, encontrou a fenda em suas calças e, agarrando o tecido com as duas mãos, ele o rasgou. Segundos depois, ele libertou seu falo maciçamente ingurgitado e estava empurrando impiedosamente dentro dela. Ela endureceu com o ataque dele, mas era tarde demais, ele tinha esquecido que ela era virgem, tinha esquecido tudo, tentou desacelerar suas investidas furiosas, tentou impedir a loucura que o possuía e fracassou. Um momento depois, acabou. Ele desmoronou, estremecendo, em cima dela. Ela o segurou, acariciando-o. Seus pulsos diminuíram e finalmente sua mente começou a funcionar. As cores ainda estavam lá. Brilhante e forte, vívido. Sua expressão estranhamente suave, relaxada, Hadrian sorriu. — Eu sinto muito. — Não se desculpe — disse Nicole veementemente, acariciando seu cabelo úmido. — Nunca se desculpe, não comigo. Ele estava grogue agora com uma fadiga induzida não apenas pela liberação física, mas pelo uísque com o qual não estava acostumado e pelos dias em que não dormira. As carícias tranquilizadoras de Nicole eram impossíveis de combater. Ele sentiu o pesado manto de sono descendo e não pôde resistir. Ele apertou ainda mais a mulher em seus braços. Seu último pensamento foi que não queria mais resistir, não a ela e não a ele mesmo, sonhava com um arco-íris brilhantemente colorido. Capítulo 19 Hadrian acordou na escuridão. Por um momento ficou completamente desorientado. Ele virou a cabeça, estremecendo com a pontada de dor por trás de suas têmporas e viu as brasas moribundas da lareira. As cortinas cor de vinho nas altas janelas da parede estavam abertas, revelando uma pesada escuridão lá fora. Era muito tarde da noite. O que aconteceu o atingiu. Ele estava no chão da biblioteca, onde adormecera. Depois de fazer amor com Nicole Shelton. Outro feroz esfaqueamento atravessou seu crânio ao pensar nisso. Tudo voltou para ele quando lentamente, timidamente, se levantou para sentar, empurrando o cobertor para seus quadris. Ela havia chegado com simpatia nos olhos e nos lábios, havia sido dominado por uma necessidade que nunca sentira antes por qualquer ser humano. Por um instante, ele ficou assustado com a lembrança. Com a mesma rapidez, recuperou o controle e o sentimento indisciplinado desapareceu. Ele se lembrou do calor dela quando a abraçou, apenas segurando-a, depois se lembrou de como furiosamente e grosseiramente a levara ao chão e a penetrara. Ele podia sentir um rubor sombrio e quente de vergonha cobrindo suas bochechas, vergonha que competia ferozmente com sua raiva. Não só tinha sido tão inexperiente quanto um estudante virgem, tinha sido também precipitado. Como isso foi acontecer? Muito amargo e muito abalado, Hadrian levantou-se, ajustando suas roupas. Há muito tempo, havia acrescentado iluminação elétrica a suas casas e ao encontrar um interruptor, inundou a biblioteca com luz. Se moveu atrás de sua mesa e sentou-se com força. O que diabos ele fez? Com a cabeça em suas mãos, foi varrido com sensações como se estivesse experimentando-as novamente. Muitas sensações, muitos sentimentos. Ele os sacudiu com um tremendo esforço. Era mais fácil, mais seguro, concentrar-se nos fatos. Não importava que ela tivesse vindo aqui e não deveria, ele deveria ter se recusado a vê-la. Em vez disso perdera uma batalha que vinha travando desde que pusera os olhos em Nicole Shelton, uma contra si mesmo e seus próprios desejos. Havia perdido, estava feito. Um fato consumado. Não havia sentido em se deter sobre o que não poderia ser mudado. E agora, claro, havia apenas um curso de ação aberto a ele. Ele se casaria com ela. Com Elizabeth mal gelada em seu túmulo. Com esse pensamento rude gemeu, a cabeça latejando agora. No entanto, a culpa purulenta sumiu. Ele não sabia por que e não se preocupou em especular sobre a resposta. Foi o suficiente para que aquela fonte específica de tormento tivesse se dissipado. Seu olhar se levantou e percebeu os dois travesseiros no chão com o cobertor. Se tivesse acordado, não teria continuado a dormir no chão, muito menos buscar esses itens para si mesmo. Woodward nunca ousaria. Tinha que ter sido Nicole. Ficou tenso ao imaginá-la cobrindo-o com o lençol e colocando travesseiros sob sua cabeça. Droga! Não queria sentir ternura com ela. No entanto, ela seria sua esposa. Não havia razão para evitá-la por mais tempo, nem motivo para estar tão zangado, a não ser talvez consigo mesmo. Não podia deixar de estar ciente de que não estava realmente descontente com a noção de Nicole se tornar sua noiva. De fato, sua boca se suavizou em um sorriso desnudo. Rapidamente Hadrian ficou de pé, andando de um lado para o outro. Não estava escolhendo-a como esposa, disse a si mesmo duramente. Isto não foi uma questão de escolha. Se tivesse sido uma questão de escolha, certamente não escolheria Nicole. Não podia imaginá-la sendo uma esposa adequada, muito menos uma duquesa. Não definitivamente não seria sua escolha. Este era um rolo de sua própria fabricação e ele cumpria seu dever. Isso foi tudo, não havia mais nada para isso. Precisava de uma esposa de qualquer maneira, mais cedo ou mais tarde e devido às circunstâncias, seria apenas um pouco mais cedo do que ele previra. Amanhã falaria com ela e resolveria o assunto definitivamente. E se houvesse uma vida após a morte, esperava fervorosamente que Elizabeth entendesse. Nicole passara metade da noite acordada, incapaz de pensar em outra coisa que não fosse Hadrian, o que acabara de acontecer e o que poderia acontecer agora. No começo estava em estado de êxtase, sonhando acordada com ele quando o relógio bateu à meia-noite. A intimidade que compartilhavam a emocionou e não se arrependeu por um momento. Nada poderia ser mais maravilhoso do que ter Hadrian em seus braços sem raiva e sem defesas, expondo sua alma a ela. Claro que odiava vê-lo tão angustiado, mas se virou para ela em busca de conforto, conforto que ela prontamente lhe daria de novo e de novo. Mas à medida que a noite se aprofundava, alguns dos prazeres de Nicole diminuíram. Ela se perguntou o que Hadrian pensaria sobre o que aconteceu, se perguntou o que pensaria sobre ela. Sabia que não deveria ficar esperançosa. Ele certamente não estaria deitado em sua cama com um sorriso no rosto, sonhando com ela. O conhecia bem o suficiente para pensar que não aceitaria isso. Com toda a probabilidade, estaria com raiva. E provavelmente ficaria bravo com ela. Nicole não estava mais sorrindo sonhadoramente. E quanto a Elizabeth? Nicole ficou sóbria. Quanto à moça morta, ficou com vergonha. Esperava fervorosamente que Elizabeth já estivesse no céu e não tivesse visto o que haviam feito. Mas... Nicole tinha a sensação de que, mesmo que tivesse, ela entenderia. Elizabeth nunca nutria rancor contra ninguém em sua curta vida e sempre procurava ver o melhor das pessoas. Certamente entenderia como a dor de Hadrian o havia desencaminhado e como Nicole o amava genuinamente e não podia mais lutar contra seu amor por ele. Pensamentos de Elizabeth eram mais do que preocupantes, eles quebraram o último de seu prazer abruptamente. Hadrian estava de luto. Como ela poderia esquecer? Estava de luto pela mulher que amava. E era terrivelmente óbvio, depois de vê-lo ontem, o quanto amara sua noiva. Não deveria ficar desanimada, pois Nicole já sabia de seus sentimentos, mas estava. Como poderia haver tanta tristeza onde momentos atrás havia tanta alegria? Era tarde demais para arrependimentos, mas Nicole desejou que pelo menos algumas semanas se passassem antes que ela fosse consolá-lo. Ou alguns meses. Recordou agora como Martha dissera que Hadrian precisava de tempo. Eventualmente, ele viveria plenamente no presente novamente. E estaria lá, esperando que ele fosse capaz de amá-la, só um pouco. Nicole abraçou um travesseiro no colo. Como ela poderia ter esquecido, mesmo por alguns minutos, que era apenas um objeto de sua paixão, não de suas afeições? Mas ela não tinha amor suficiente para os dois? Isso não poderia mudar? Não poderia, um dia, vir a cuidar dela? No entanto, como poderia competir com uma mulher morta, um paradigma do sexo feminino? Nicole não sabia como sobreviveria aos dias até ver novamente Hadrian para avaliar seu humor e seus sentimentos em relação a ela. Estava certa de que não deveria ser a pessoa a visitá-lo, que deveria esperar que ele viesse até ela. Mas estava com muito medo de que ele não a chamasse. De repente, Elizabeth apareceu entre eles com mais força do que quando estava viva. No final da tarde, quando estava trocando o hábito de montar em um vestido simples para o jantar, Regina voou para o quarto sem bater. Nicole fez uma pausa, olhando-a com curiosidade, enquanto Annie abotoava as costas do vestido de seda com dedos hábeis. Os olhos de Regina estavam quase saindo de sua cabeça. — O que é isso? — Nicole perguntou. — Você tem um visitante! Você não vai acreditar quem é. — Não estou com disposição para adivinhar jogos — disse Nicole. Durante todo o dia, seu humor tinha sido desagradável, sentiu como se quisesse arrancar o cabelo ou pular da própria pele. Ela não suportava o desconhecido, a espera. — É o duque de Clayborough. A boca de Nicole caiu. — Hadrian? Quero dizer, o duque? Mas... o que ele quer? — Eu não sei! É impressionante por que Elizabeth acabou de ser enterrada e tudo! Nossa mãe está com ele, pois o pai não está de volta de suas reuniões ainda. O que ele poderia querer? Nicole começou a tremer. Essa pergunta exata estava ecoando em sua mente. Não fazia absolutamente nenhum sentido que viesse para cá depois do que acontecera ontem, a menos que estivesse tão zangado que tivesse vindo para se enfurecer com ela. Somente a fúria bruta o traria aqui em total desrespeito à convenção e à propriedade. Se apenas um pouco mais de tempo tivesse decorrido para que pudesse se acalmar! Nicole se remexeu enquanto Annie e Regina prendiam os cabelos, depois agradeceu sem fôlego e correu escada abaixo. Ela derrapou até chegar à porta da sala de chá, prendeu a respiração e graciosamente entrou. O duque estava sentado ao lado de sua mãe em um sofá com uma xícara de chá na mão e bolinhos no prato. Sua cabeça girou em sua entrada e seu olhar fixou nela. Nicole esperava ver uma ira ardente, mas não viu nada em sua expressão. Ele levantou-se. Nicole corou, lembrando-se de tudo, fazendo uma reverência insegura. — Bom dia, sua graça. Ele lhe devolveu a saudação superficialmente. Jane serviu-lhe uma xícara de chá e Nicole sentou-se diante deles numa pequena cadeira de encosto reto. Suas mãos eram muito instáveis para segurar a xícara e o pires sem chocalhá-los, então os colocou na mesa. — Isso é muito inesperado — disse ela. Sua expressão era enigmática. Ele não parecia tão bem como de costume, mas não parecia como tinha sido ontem. Os círculos desapareceram de baixo dos olhos, embora ainda estivessem vermelhos. Seu rosto era sombrio, as linhas ao redor de sua boca estavam tensas, mas estava bem barbeado e impecavelmente vestido com um paletó marrom, uma gravata mais escura e calças marrons. — É? O rubor de Nicole se aprofundou. Sabia exatamente a que ele estava se referindo e quase queria morrer. Um silêncio constrangedor caiu quando ele não continuou. Jane, olhando de um para o outro, tentou aliviá-lo. — Agora que você saiu, você vai participar da baile de Fairfax neste fim de semana? — Eu não pretendo fazê-lo — disse Hadrian, voltando sua atenção para a condessa. — Eu não estou exatamente com vontade de dançar, comer e ser feliz. — Claro que não — Jane respondeu. — Eu não posso deixar de ficar surpresa, também, Vossa Graça, que você viria aqui. — Talvez se você me der alguns momentos a sós com sua filha, todos os assuntos logo farão sentido — ele retornou, sem sorrir. Jane assentiu dando a Nicole um olhar especulativo antes de se levantar. — Eu tenho algumas cartas que devo responder — disse ela. — Deve levar cerca de quinze minutos. — Ela saiu, deixando a porta aberta atrás dela. Abençoe a mãe, pensou Nicole, pois não podia imaginar nenhuma outra senhora deixando sua filha sem acompanhante com um cavalheiro, mesmo com o duque de Clayborough. Nicole se mexeu enquanto ele continuava a encará-la e a estava deixando-a extremamente desconfortável. Ela apertou as mãos, esperando que falasse, parecia contente em apenas sentar lá e olhar. Hoje era um homem diferente daquele que tinha sido ontem. Era como se fosse outra pessoa completamente diferente. Ou ontem tinha sido alguma invenção selvagem de sua imaginação? Não foi só porque ele estava sóbrio. Não havia dor para o público ver, sem desolação, sem desespero. Seu rosto era uma máscara. Mas sabia que ele ainda devia estar sentindo todas essas coisas, não poderia ter imaginado a profundidade de sua dor. — Você está bem? — Ela sussurrou instável, querendo alcançar a pequena mesa e tocar sua mão. Sabia instintivamente que ele iria rejeitar tal gesto de sua parte imediatamente. — Essa é uma pergunta que eu deveria estar perguntando a você. Ela corou. — Eu estou bem. Agora ele parecia desconfortável. — A minha visita é realmente uma surpresa? — Sim. — Você achou que depois de ontem eu não viria? Ela piscou, sentando-se em linha reta e muito quieta. Ele quis dizer o que ela achava que queria dizer? Que veio porque queria vê- la? Deu-lhe um sorriso incerto. — Eu vim para corrigir assuntos, Nicole. — Para corrigir questões? — Eu gostaria de falar com você em particular — disse o duque abruptamente, levantando-se. Ele atravessou a sala com passos firmes e fechou a porta profundamente. Ele se virou para ela, de braços cruzados. — A única coisa que eu sou é honrado. Eu vivo por minha honra, ou eu tento. Ontem eu falhei miseravelmente. As esperanças de Nicole mergulharam para baixo. — Você está com raiva de mim. Seu rosto se apertou. — Não há nenhum ponto na raiva. Você não tem culpa. Eu sou o culpado. Minhas ações falam por si mesmas. — Eu não te culpo — ela sussurrou, querendo chorar. Ele se arrependeu do que havia acontecido, se arrependeu do que eles fizeram, o que tinham compartilhado. — Se você me culpa ou não é irrelevante. A consequência de sua visita é o que é importante, nada mais. Nicole molhou os lábios. — A consequência? — Você não é mais virgem e pode estar com meu filho. — Eu não me importo com o primeiro e quanto ao segundo... — Ela parou. Nicole não tinha pensado nisso, propositalmente. — Só você responderia assim. — Ele parecia mais sombrio. — Eu vim para ter certeza de que você entende que eu não deixaria as coisas entre nós como elas são. Isso seria ainda mais intolerável do que o meu comportamento ontem. Nós nos casaremos. Sua boca caiu aberta. — Normalmente nós esperamos um ano — ele disse, seu olhar penetrante, seu tom de comando. — Mas como poderia haver uma criança, nós nos casaremos imediatamente. Eu falarei com seu pai quando ele retornar esta tarde. Nicole ficou chocada. Por um momento, a cabeça dela estava girando e ela não conseguia separar seus pensamentos. No entanto, mesmo que não pudesse, não havia júbilo, apenas a aurora da escuridão, do desespero. — Você não quer se casar comigo. Ele fez uma pausa. — O que eu desejo é irrelevante. Minhas ações ontem decidiram seu destino e o meu. — Entendo. — Você parece distraída — ele comentou, atravessando a sala e servindo-lhe um xerez. — Eu não queria ser tão direto. — Você não poderia ter sido mais direto — disse ela. Nicole sentiu as lágrimas transbordarem e furiosamente as afastou com os cílios. — Você deixou claro que você quer se casar por dever e honra. Ele entregou-lhe um xerez, ela recusou. — Você fala como se minhas intenções fossem as de um porco. É meu dever casar com você. — Assim como era seu dever se casar com Elizabeth — disse Nicole. — No entanto, ela amava você. Ele não respondeu. — Você realmente não quer se casar comigo, você quer Hadrian? Se você tivesse uma escolha. Viu a raiva dele pela primeira vez. — Não há escolha! O que eu quero é inconsequente. — Não para mim. O silêncio caiu. — O que isso significa? — Ele demandou. Nicole estava prestes a confessar tudo, mas parou. Tinha vindo aqui para fazer o seu dever — para corrigir os problemas — como se ela fosse um caso de negócios que precisava de ajustes. Quão nobre ele era. Quão nobre quando ontem esteve tão perto de lágrimas quanto um homem de seu calibre poderia estar, em detrimento de outra mulher, amava outra mulher. A única coisa que Nicole deixara era o orgulho dela. — Se você não sabe, então eu não direi a você. Ele se virou e olhou para ela. Orgulhosamente, a boca franziu com força, ela levantou a cabeça. — Eu não posso casar com você, sua graça. Ele ficou chocado. Finalmente pôde ler a expressão dele e quase a fez mudar de ideia. Parecia que havia lhe dado um golpe doloroso e inesperado no rosto. Nicole desviou o olhar, as mãos tremendo no colo. Queria se casar com Hadrian e ser sua esposa mais do que quase qualquer coisa, mas a única coisa que queria ainda mais era o amor dele. Ele amava e lamentava por uma mulher morta, não queria se casar com ela, só o faria porque havia tomado sua virgindade. Como poderia aceitar a oferta dele nesses termos? Como poderia dar-lhe o coração, enquanto tudo o que ele lhe dava era um anel de ouro frio? Ele já havia quebrado seu coração muitas vezes para contar e ser uma esposa mal-amada seria o pior de todos. — Eu ouvi você corretamente? — Eu não vou casar com você — ela disse, com mais firmeza. — Elizabeth não está nem fria em seu túmulo e... — Como eu disse — disse ele — nós nos casaremos imediatamente. Já pedi aos meus advogados que preparem os documentos e eles estão adquirindo uma licença especial. Nicole estava de pé, furiosa com suas ações presuntivas. A raiva foi um refúgio que ela acolheu. — Minha mente pode pensar por si mesma. Eu acho que você deveria sair. — Agora. Ele não se mexeu. — Você é a mulher mais rude que eu conheço. Eu sugiro que você pense muito claramente. — Não há nada para pensar. E se você não for, então eu tenho receio de ter que ser a única a sair. Um longo momento se estendeu entre eles enquanto ele a olhava e ela olhou para qualquer lugar, menos para ele. Finalmente disse — Eu não acredito nisso. Eu não acredito em você. Não há uma única mulher na Grã-Bretanha que me recuse. Ela olhou para ele com tristeza — Há uma. — Você não terá que sair — disse ele, atravessando a sala. Abriu a porta e passou por ela antes que ela pudesse piscar. — Bom dia, lady Shelton. Perdoe-me minha audácia. Sua raiva morreu instantaneamente. Ela abriu a boca para chamar de volta e fechou abruptamente. Nicole observou-o com angústia até que não pudesse mais vê-lo e escutou até que seus passos se desvaneceram. — Adeus, Hadrian — ela sufocou. Capítulo 20 Hadrian voltou diretamente para o Nº. 1 da Praça Cavendish. Abalado. Bravo. No entanto, havia muito mais por trás da raiva, muito mais. Ela o recusou. Ele mal podia acreditar. No entanto, reconheceu uma vontade de aço quando a viu e Nicole não foi tímida. Resolvido como estava para se casar com ela e corrigir a situação, estava igualmente determinada a não se casar com ele. Se trancou em sua biblioteca. O Borzoi estava dormindo debaixo de sua mesa e ao ver o duque, levantou-se ansiosamente para cumprimentá-lo. O duque estava tão preocupado que nem notou. A pergunta ecoou, gritando dentro de seu crânio. Por que ela não o queria? Era possível, depois de toda a paixão que tinham compartilhado, que realmente não o queria? Não queria se casar com ele no momento em que eles se conheceram? O que poderia ter acontecido para mudar sua mente? Algo aconteceu, isso foi muito claro. Por que mais ela o rejeitaria, o duque de Clayborough? Hadrian não era vaidoso, de modo algum, mas era astuto o bastante para saber que, com a morte de Elizabeth, era uma presa importante na sociedade. Então, por que agora essa rejeição? Esta rejeição que estava queimando. O duque não era bobo, estava bem ciente de que foi atendido por causa de sua posição, riqueza e poder. Estava bem ciente de que poderia fazer o que quisesse apenas porque era o Duque. Ele era ansiosamente procurado por seus pares apenas porque era o Duque de Clayborough. De fato, sua natureza reclusa e sua propensão para os negócios seriam fortemente desaprovadas, ele provavelmente seria considerado um tanto estranho. Mas Hadrian não se importou. Ele havia parado de se importar com o que os outros pensavam sobre ele há muito tempo. Com as mulheres não foi diferente. Muitas mulheres se apaixonaram por ele. As mulheres competiam ferozmente umas pelas outras por sua atenção. Elas competiam ferozmente pela honra de pular em sua cama. Muitas esperavam conquistá-lo de Elizabeth. Muitas quiseram se casar com ele. Mas não foi porque ele era bonito, viril, inteligente ou honrado que elas o queriam. Não era ele mesmo que elas queriam, era o duque de Clayborough. As mulheres até competiram para se tornar sua amante, embora tais esforços não tivessem qualquer influência sobre quem ele escolheu. E não foi por causa de sua destreza na cama, nem de quão excessivamente ele as inundou com os presentes que desejavam, ou como as mantinha abundantemente ricas. Sua amante atual era a deslumbrante Holland Dubois. Ela ganhou um status definitivo de ser amante do Duque de Clayborough. Quando ia ao teatro, aos restaurantes ou às casas de moda, onde quer que fosse publicamente, atendiam a todos os seus caprichos instantaneamente. Ganhou grande poder de sua ligação com ele, mais poder do que poderia ganhar de qualquer outro homem que não a realeza. Ela tinha um grau de poder que só poderia ser superado por sua esposa, se um dia ele tomasse uma. Ele havia proposto a Nicole Shelton. Ele pretendia se casar com ela, para fazê-la sua esposa, para torná-la a duquesa de Clayborough. Nunca mais a sociedade ousaria criticá-la. Seria irrevogavelmente aceita. Pois o poder, posição e riqueza que eram dele se tornariam dela. No entanto, ela recusara. E ela quis dizer isso. Ela não queria as armadilhas de sua posição que ele oferecia e não o queria. Algo tinha acontecido para fazê-la resistir a ele. Era óbvio o que era aquilo. Seu próprio comportamento. Seu comportamento ontem, na biblioteca, seu comportamento toda vez que seus caminhos se cruzaram. Ele não era diferente de Francis e ela reconheceu isso. Hadrian ofegou, virando-se para encarar seu rosto no espelho sobre o suporte da lareira. Ela sabia de seu pai, da criatura pervertida e dissipada que ele tinha sido? Ela havia aprendido sobre seus antecedentes? Teria ela vislumbrado esses mesmos traços nele? — Eu não sou como Francis — ele disse duramente. — Eu passei toda a minha maldita vida vivendo honrosamente, eu não sou como ele. Ele viu a dor em seus próprios olhos viu a dúvida. Por um momento ficou atordoado consigo mesmo. E então a expressão que cultivara com tanto cuidado, por tanto tempo, estava em seu lugar, perfeitamente agradável e perfeitamente impassível. Mas a verdade zombou dele. A verdade dói, o rejeitara. Doeu o jeito que ele havia sido machucado antes uma dor que há muito tempo ele pensava estar morta. Uma dor que ele estava determinado a enterrar agora. A verdade era história, uma história que escolhera cuidadosamente esquecer e de fato, havia sido bem-sucedido no empreendimento. Até agora. Até ela. Agora a verdade estava no presente, tão vívida como se fosse hoje, não anos do passado. A verdade era um menino muito pequeno, chorando e assustado, sozinho em sua cama, sozinho em seu quarto, em Clayborough, na escuridão de uma noite interminável. Ele pensou que era sua lembrança mais antiga. Achava que não tinha mais de quatro anos. Ele seria o próximo duque, então ele deveria ser homem, mas não era homem. Ele estava com medo. Ele tentou parar as lágrimas, mas seus soluços acordaram seus pais. — Querido, o que é isso? — Isabel murmurou, entrando rapidamente em seu quarto e abraçando-o. Tentando não chorar, tentando não ter medo, ele contou a ela sobre o monstro que o perseguia na escuridão. Ela o acalmou e ele se sentiu melhor, até ouvir a voz do pai na porta. Mesmo antes de entender as palavras, ele ficou tenso. — Você estraga-o. Deixe-o em paz. Que covarde ele é! — Francis riu. Ele entendeu e ficou chocado com a declaração cruel. Era realmente um covarde? Seu pai estava olhando para ele, sorrindo de uma maneira desagradável. — Garoto maricas — ele zombou. — Com medo do escuro! Duques nunca tem medo do escuro, mas você nunca será um duque de verdade, vai? Você nunca será um verdadeiro duque! — Isobel estava de pé, furiosa. Ele se aconchegou em si mesmo, já sabendo o que estava por vir, já com medo. Ele sabia que era sua culpa, o que estava acontecendo. — Pare! — Ela gritou, voando em Francis. — Como você ousa! Como você se atreve... — Eu ouso e eu me atrevo — Francis rosnou. Ele a pegou e empurrou violentamente para o corredor. — Deixe o maricas sozinho! Você me escutou? Deixe o seu maricas sozinho! — Eles lutaram. Ele assistiu eles lutarem, sabendo que sua mãe estava sendo machucada porque ela queria protegê-lo, um garoto maricas. Ele chorou não podia evitar. Não sabia quanto tempo ele assistiu antes, apesar de seu medo, ele se levantou e tentou ajudar sua mãe, mas era pequeno e não muito forte, seus dois pequenos punhos só enfureceram Francis e o fizeram voltar-se para ele. O pai ordenou que fosse deixado na escuridão e a porta dele estava trancada do lado de fora. Ele se arrastou para a cama, sofrendo, infeliz, ainda com medo. Não foi sua primeira percepção que seu pai ... aquele homem alto, loiro e bonito como um deus, o duque, não gostava dele. Não o amava. Não conseguia se lembrar de quanto tempo ele estava ciente disso. Para sempre talvez, se enrolou sob as cobertas. A verdade. Hadrian olhou para si no espelho e recuperou o controle de si mesmo. Deus, isso tinha sido há muito tempo e pensara que essa memória particular estava morta. Ele pensara que a dor estava morta. A dor da rejeição de seu pai de algum modo se enredou com a dor da rejeição de Nicole. Ele disse a si mesmo que estava sendo um tolo. Mas era tarde demais, já havia enfrentado emoções nuas e cruas e saído do precipício. Ainda havia tempo para voltar atrás. Poderia se debruçar sobre o ódio que nunca havia morrido. O ódio que sentia por Francis ainda lhe dava forças. E poder. Francis lhe dera sua força, embora quisesse transformá-lo em um fraco. Francis, afinal de contas, era o maricas e por ser um fraco, havia vitimado aqueles que eram mais fracos do que ele, especialmente sua esposa e filho. Era tão fácil entender agora, era impossível não entender. Ele não se preocuparia com Francis e não iria insistir na recusa de Nicole de sua petição. Francis estava morto, o passado estava morto. Estava orgulhoso de quem ele era. Se ela achava que ele era como o pai dele, então estava errada e provaria isso a ela. Alcançaria profundamente dentro de si mesmo para tirar ainda mais força. E a besta que havia sido revelada nunca mais emergiria. Mais calmo, agora poderia considerar Nicole sem emoção. Não importava o que pensava sobre ele, ou o que achava que queria. Era imprudente, impulsiva, pouco convencional e nesse caso, tola. Ele sabia melhor. Não queria se casar com ele, mas isso não o impediria de fazer o que ele sabia que era certo. E isso significava fazer dela sua esposa. Nem mesmo uma hora depois, o duque voltou para a casa de Shelton na Tavistock Square. Ele foi conduzido para dentro pelo mordomo, a quem deu seu casaco e luvas drapeados. Um inquérito assegurou-lhe que o conde estava na residência e Hadrian foi levado ao escritório do conde. Ele estava, claro, evitando a etiqueta. Especialmente em um caso como este, deveria ter enviado uma nota formal solicitando uma entrevista no momento mais curto e conveniente para Shelton. Mas Hadrian sentiu que deveria resolver o assunto o mais breve possível. Nicholas Bragg Shelton cumprimentou-o informalmente e Hadrian sabia que o perdoara por todas as ofensas que suspeitava ter tomado com a filha durante a caçada. O homem estava prestes a ficar chocado. Não havia como evitá-lo. Hadrian esperava que suas honradas intenções difundissem o que poderia ser uma situação terrivelmente desagradável. — Olá, Hadrian. O que te traz assim? — Nicholas — Os dois homens apertaram as mãos. — Devo me desculpar por chamar sem aviso prévio — ele começou, mas Shelton o interrompeu. — Você deveria me conhecer melhor do que isso. Eu não dou a mínima para convenções e eu nunca as tenho. Devo pedir o maldito chá que você preferir? Hadrian sacudiu a cabeça, imaginando se a atitude de Shelton explicava o desafio de Nicole às convenções. Ele afundou em uma exuberante poltrona verde-esmeralda em frente ao conde. — Vou direto ao assunto, Nicholas. Quero me casar com sua filha. Shelton balbuciou, recuperou-se e olhou fixamente. — Nicole? — Sim. — Eu tenho medo que você tenha me pegado completamente de surpresa. — De alguma forma eu pensei que iria — Hadrian murmurou. Shelton se inclinou para frente, sua atenção perfurando. — Elizabeth mal esfriou em seu túmulo. — Infelizmente isso é verdade. O olhar de Shelton endureceu. — Por que você está vindo para mim agora? Como você sabe muito bem, Nicole não é inundada com propostas de casamento. Haveria pouco a temer se você tivesse esperado outros seis meses antes de me pedir a mão dela. Hadrian fez uma careta. Havia a possibilidade de que esperar seis meses pudesse ser desastroso, mas ele não queria ressaltar isso, ainda não. Shelton se levantou abruptamente. — Existe um motivo para pressa? Hadrian também se levantou. — Infelizmente, existe. Shelton estava parado. — Meu comportamento foi indiscreto. Por um instante houve outro silêncio. — Quão indiscreto? — Pode haver uma criança. Shelton prendeu a respiração. Hadrian não disse nada, dando ao homem um momento para absorver essa informação. Shelton recuou a cadeira e caminhou até as janelas que iam do chão ao teto, observando os espetaculares jardins da mansão. — Eu vejo — ele finalmente disse as palavras cortadas. — Agora eu entendo sua oferta. — Ele se virou para encarar Hadrian, seu olhar cinzento tão afiado quanto aço, brilhando. Era um olhar que faria um homem menor se esconder. — Eu gostaria muito de levar meu punho ao seu rosto, Hadrian. O duque não disse nada. — Mas eu não sou idiota, mesmo que minha filha tenha se permitido ser usada como tal. Apesar desse fato infeliz, você e eu sabemos que essa é a melhor coisa que poderia acontecer a ela. Hadrian assentiu, aliviado de que o pior tivesse passado. — Vou enviar meus advogados na primeira hora amanhã de manhã, se for conveniente, para elaborar os contratos de casamento. — Você não deseja pechinchar os detalhes agora? — Se o dote da sua filha consistisse em um pene, eu me casaria com ela de qualquer maneira — Hadrian disse categoricamente. — Claro — Shelton retornou. — Honra em primeiro lugar. Mas talvez você devesse ter lembrado o lema de sua família antes de arruinar minha filha. — Touché — Hadrian disse com outra careta. — Eu só posso pedir desculpas. Estou verdadeiramente chocado com o meu próprio comportamento e assumo total responsabilidade por tudo o que aconteceu. Shelton olhou para ele completamente. — Talvez seja melhor direcionar suas desculpas para Nicole. — Ela se recusou a aceitá-las. Talvez você devesse saber, ela não está interessada na ideia de nosso casamento ou no pedido de desculpas. — Por quê? — Eu não sei. — Não se preocupe com Nicole — disse Shelton com firmeza. — Enquanto a mim, não agrada a ideia de forçá-la novamente para o altar, certamente você já ouviu falar que foi um desastre quando eu arranjei para ela se casar com Percy Hempstead. Ela vai fazer o que ela deve agora. — Eu achei que você se sentiria assim. — Você já pensou em um dia? — Sim. Eu já comecei o processo para obter uma licença especial para que pudéssemos nos casar imediatamente. O segundo domingo de hoje se encontra com a sua aprovação? — Esse tipo de pressa vai causar um escândalo. As pessoas vão adivinhar porque vocês dois estão se casando. — Eu vou cuidar das fofocas. Não haverá escândalo, não do tipo que você está pensando. Vou deixar bem claro que estou obcecado com Nicole, um homem tão apaixonado como eu não podia esperar mais um momento por causa de Elizabeth, eu serei condenado, não Nicole. Uma expressão que Hadrian não pôde ler cruzou o rosto de Shelton. — Tudo bem. Eu te agradeço por poupar minha filha de mais sofrimento. A mandíbula de Hadrian se apertou. Não achava que tivesse entendido mal a referência do conde e não podia deixar passar. — Eu sinto muito se machuquei sua filha, Nicholas — ele disse, suavemente. — E se vai facilitar a sua mente, quando nos conhecemos ela não sabia que eu estava noivo e queria se casar comigo. Tanto tem ocorrido desde então, mas com o tempo as coisas vão se endireitar entre nós, eu tenho certeza disso. — Mas a questão é como você vai se sentir com o tempo. Assustado, Hadrian teve um momento para responder e quando fez isso, foi honesto. — Eu não me oponho a tomar Nicole como minha esposa. Shelton olhou para ele, seu olhar procurando. Hadrian sentiu uma vergonha embaraçosa. Shelton de repente sorriu. — Sim — ele disse, com a mesma suavidade — Acho que você está certo. Acho que, com um pouco de tempo, as coisas vão funcionar muito bem.
— Você não está pronta ainda? — Regina perguntou.
Nicole se sentou em sua cama em sua roupa íntima. Ela olhou para sua irmã, que tinha uma visão dourada deslumbrante em chiffon amarelo e suspirou. — Eu gostaria de não ter prometido ir. — Nicole! Você prometeu e a menos que você diga que está doente, tio John ficará terrivelmente ferido se você não for. Nicole sabia que Regina estava certa. Embora John Lindley não fosse realmente seu tio, era o melhor amigo de seu pai e o conhecia desde a infância. Quando era criança, ele nunca deixava de chegar a Dragmore com presentes para ela e seus irmãos e irmã. Nicole não poderia tê-lo amado ainda mais se fosse seu tio. Mas não se recuperou daquela tarde. Da proposta miserável e tão honorável de Hadrian, nunca se recuperaria. Como ela poderia? Quando ela queria se casar com ele tanto que doía e quando se casar com ele a machucaria ainda mais? Regina se aproximou, suas saias sussurrando ao redor dela enquanto se movia. — Nicole, o que é isso? Eu não vi você tão para baixo desde que você veio para Londres. — Ela se sentou ao lado de sua irmã na cama, seus olhos âmbar registrando sua preocupação. Ela baixou a voz. — É ele, não é? Nicole assentiu, encontrando o olhar da irmã. Regina pegou a mão dela. — Ele gosta de você, Nicole, é tão óbvio. Uma vez que ele tenha cessado o luto por Elizabeth, você vai ver. Tenho certeza de que se apresentará para cortejá-la. E você deve encorajá-lo, vou lhe ensinar como. Nicole quase começou a chorar. Ela disse — Ele já propôs casamento para mim. Regina ofegou. — O que? Por que, isso é impressionante. Nicole sacudiu a cabeça. — Eu recusei. — Você o que? — Eu recusei. — Você está louca? Nicole segurou o braço dela. — Ele não me ama, ama Elizabeth, deu seu coração a uma mulher morta. Só se ofereceu para casar comigo porque ele me beijou... indevidamente. — Ela corou. Ela não se atreveu a dizer a sua irmã a verdade. — Intimamente. Regina olhou confusa. — O que você quer dizer com intimamente? Nicole fechou os olhos. — Lorde Hortense não beijou você? — Claro. A maneira como Regina respondeu disse a Nicole que ela não tinha ideia de como um beijo poderia ser íntimo e sem vergonha: boca aberta, quente, línguas se tocando. — O que ele fez, Nicole? Como assim, ele te beijou intimamente? Um beijo é íntimo. — Há beijos — disse Nicole suavemente — e há beijos. Regina ficou perplexa e mais do que curiosa. — Você não vai me contar? — Tudo bem! — Nicole quase gritou. Lágrimas a inundaram. — Ele me beijou com tanta força que minha boca está machucada! Nossas línguas se tocaram! Ele me tocou onde não deveria! Isso satisfaz sua curiosidade? Regina ficou chocada sem palavras. — Nunca deixe Lorde Hortense, ou qualquer homem tomar essas liberdades com você! — Nicole chorou. — Ou você vai se encontrar na minha posição. Ainda claramente atordoada, Regina conseguiu — Você deve se casar com ele. — Eu não vou. Eu não posso! Ele admitiu que estava pedindo minha mão por dever e nada mais. Os olhos de sua irmã se arregalaram novamente. Finalmente ela encontrou sua voz. — Tudo bem, então não é o ideal. Mas ele é o Duque de Clayborough. Você deve dizer sim. — Eu não posso! — Nicole disse novamente. — Ele me trata com ódio! Eu o amo e ele não tem nenhum fragmento de amor em seu coração por mim! Você não entende? Eu não suportaria ser sua esposa, amando-o, enquanto não sente nada por mim, enquanto corre para outras mulheres, para suas amantes. Você não entende isso? — Não — Regina disse sem rodeios. — Todos os homens têm amantes, Nicole. Estamos falando do Duque de Clayborough! Você é estúpida se não se casar com ele, especialmente quando o ama. — Eu não me importo que ele seja um duque. Eu me preocupo com o que sente por mim. E nem todos os homens têm amantes. O nosso pai não tem uma amante — Nicole respondeu. — Nem o Visconde Serle. — Eles são exceções — afirmou Regina. — E você está sendo excessivamente insensata. — Se você se casar com lorde Hortense, vai ficar tão contente quando souber que mantém uma mulher também? Regina coloriu ligeiramente. — Eu não ficarei surpresa. — Então você não o ama! — Nicole se pôs de pé para andar em uma rajada de anáguas de seda. — Eu estou — Regina chorou — Estou loucamente apaixonada por ele. — Se você o amasse, não seria capaz de aceitá-lo tão casualmente. — Talvez eu seja realista e você Nicole, seja romântica. Ambas as irmãs se entreolharam. A própria noção parecia absurda. Qualquer um que as conhecesse juraria que era o contrário, mas naquele momento parecia que Regina estava certa. Uma batida na porta salvou Nicole de responder. Jane enfiou a cabeça para dentro. — Nicole, quando você se vestir, você poderia se juntar a seu pai e a mim na biblioteca? Nicole ficou desconfortável. — Para o que, mãe? — Há algo que seu pai deseja discutir com você — disse Jane, sua expressão séria. O medo dominou Nicole. Foi sobre Hadrian. Ela estava certa disso. E se eles tivessem descoberto alguma coisa sobre ela visitar a Clayborough House ontem? — O que é isso? — Apenas se junte a nós na biblioteca, por favor. — Não foi um pedido. Jane sorriu e fechou a porta. Nicole percebeu como estava nervosa quando Regina tocou seu braço, fazendo-a pular. — Você tem um vestido melhor — disse ela. Sua expressão, geralmente alegre era sombria. — E é melhor você mudar de ideia rapidamente e dizer ao duque que aceitará a proposta dele.
— Por favor, feche a porta.
Nicole olhou do pai, em frente à mesa, para a mãe, sentada no sofá. Ela fechou as portas de mogno atrás dela. — Eu fiz algo que não sei? — Ela tentou sorrir. Nenhum dos pais dela sorriu de volta. Seu pai estava muito sombrio. A sensação de medo aumentou novamente, passando por cima dela. Especialmente quando sua mãe se levantou e se aproximou dela, parecendo tão terrivelmente ansiosa. — Oh, querida — Jane disse suavemente. — O que é isso? — Nicole perguntou. — O duque de Clayborough esteve aqui hoje — disse Nicholas. — Ele pediu sua mão e eu concordei. Por um instante, Nicole pensou que o pai dela estava se referindo à visita de Hadrian quando ele se propusera a ela na sala de visitas. Levou um momento para compreender o que ele dissera. O duque voltou para a Tavistock Square depois disso e foi diretamente para o pai com o pedido. — O que? — Nossos advogados estão se encontrando amanhã de manhã. — Não! — Ela chorou violentamente. — Eu não vou casar com ele. Jane apertou seu braço, mas antes que ela pudesse falar, Nicholas estava caminhando na direção dela. — Eu acredito que você não tem escolha. Nicole congelou, presa pelos olhos de seu pai. Ele sabia. Hadrian havia dito a ele. Ela gemeu. — É um pouco tarde para arrependimentos — disse ele, olhando para ela. — E por causa da possibilidade de você estar grávida, você deve se casar no segundo domingo a partir de hoje. — Vou matá-lo — gritou Nicole. — Não haverá choro, Nicole. Se você era contra o casamento com Hadrian, deveria ter pensado nisso antes de permitir que ele te levasse para a cama. Nicole se soltou da mãe e correu para a janela, tentando controlar sua histeria. Ela estava furiosa, furiosa com Hadrian por ir ao pai e contar tudo a ele, não apenas humilhá-la, mas também assegurar que Nicholas aceitasse sua ação e a aceitasse com determinação. Também estava cheia de pânico. — Querida — disse Jane, quebrando o terrível silêncio. — Não pode ser tão ruim. Hadrian é um bom homem. Ele será um bom marido. E eu sei que você tem sentimentos por ele. Mesmo que você pense que não o ama mais, com o tempo, tenho certeza de que seus sentimentos voltarão. Nicole girou. — Ele ama outra mulher! Ele ama a Elizabeth. Jane e seu pai ficaram olhando para as implicações de sua explosão emocional. Jane veio até ela. — Elizabeth está morta. — Isso faz com que seja pior. Você não pode ver? Eu não poderia competir com ela quando ela estava viva, mas agora, agora serei eternamente assombrada por sua memória. — Você o ama — Jane disse suavemente, tocando a bochecha de sua filha. Nicole se afastou. — Você fugiu do pai porque o amava! E é exatamente por isso que não posso me casar com Hadrian! Com certeza você, mãe, de todas as pessoas, é a única que pode me entender. — Eu fui uma idiota — disse Jane. — A melhor coisa que já aconteceu comigo foi o seu pai me encontrar e ter me obrigado a casar com ele. A mandíbula de Nicole se apertou em uma linha dura. — Eu não vou casar com ele. Eu não vou. Nicholas falou, lembrando a ambas que ele estava presente. — Aceitei a oferta de Hadrian e você não vai mudar de ideia. Ou esqueceu a possibilidade de estar grávida? Nicole estremeceu com a terminologia contundente. — Sim, Nicole, grávida — disse Nicholas grosseiramente. — Eu não vou permitir que você me traga um neto bastardo. Lágrimas encheram seus olhos. Ela nunca soube que seu pai poderia ser tão cruel. — Se nós esperarmos, talvez. — Não. Basta, já é o suficiente. Aparentemente você ama o homem mesmo assim. — Eu não o amo! — Ela gritou e nesse momento não o fez. — Eu o odeio. — Independentemente disso — disse Nicholas duramente. — Minha decisão permanece. — Querida, vai dar certo — Jane disse consoladora. Ela estava ofegante. Mais uma vez ela sacudiu o toque da mãe. — Haverá um escândalo. Pai não suporto outro escândalo. — Não haverá escândalo. O duque está preparado para assumir toda a culpa pelo seu casamento precipitado. Ele fará com que a sociedade pense que é um tolo apaixonado. Ninguém suspeitará das circunstâncias, ou se o fizerem, ficarão em dúvida. — Ele vai fingir que me ama? — Ela não podia suportar. — Ele está protegendo você do escândalo — disse Nicholas. — Você vai me forçar de novo? — Sim. — Você não lembra o que aconteceu da última vez? Suas palavras pairaram no ar. Nicole imediatamente se arrependeu delas. Nicholas olhou para ela. — Você está me ameaçando, Nicole? Pela primeira vez em sua vida, estava com medo de seu pai, mas se manteve firme. — Não faça isso comigo. — Eu não vou deixar você fugir — disse Nicholas ferozmente. — Não dessa vez. — Você terá que me amarrar e me levar ao altar. — Se você deseja criar o escândalo, que assim seja. Nicole respirou fundo. Jane gritou com o marido em protesto. Para Nicole era demais. Não havia como mudar de ideia. Com um pequeno soluço ela fugiu do quarto. Capítulo 21 Nicole estava em pânico. Seu pai e o duque de Clayborough eram os dois homens mais poderosos que ela conhecia. Se os dois tivessem decidido que ela iria se casar com Hadrian, então isso aconteceria. Ela pegou seu pai de surpresa pela última vez, fugindo no último momento. Na verdade, tinha vergonha do que fizera, mas não tivera escolha. Nunca se arrependeria de fugir de Percy Hempstead. No entanto, nunca havia lutado contra esse casamento do jeito que ela lutaria contra este. E desta vez seu pai foi prevenido. Nicole estremeceu. Ele quis dizer isso quando disse que não a deixaria fugir, insinuou que iria amarrá-la e carregá-la até o altar, se necessário! Ele estava tão preocupado em ela se casar com Hadrian que nada iria mudar sua opinião. Andava de um lado para o outro em um frenesi. Uma vez o pai dela tinha sido seu maior aliado, seu melhor amigo. Como ele poderia fazer algo assim? Como poderia forçá-la a casar contra sua vontade? Era como se fosse um bem. Como se fosse um escravo para ser vendido a outro ser humano por capricho. Embora outras mulheres não tivessem escolha no casamento, embora outras mulheres nem esperassem uma escolha, Nicole não tinha sido criada como outras mulheres. Sempre teve um grau de liberdade chocante. Nicholas não a criara para ser uma boneca de porcelana estúpida e delicada colocada sobre um pedestal. Não tinha sido criada para ser uma esposa ornamental e nada mais. Ele tinha aprovado seu conhecimento sobre agricultura e criação de animais e matemática, tinha aprovado sua educação não convencional, de fato, ele sempre se interessou pela opinião dela em assuntos que iam de Dragmore a política. E muito menos se importava com o modo como se vestia quando estava em Dragmore com a família. Ele pensara que as calças dela eram mais sensatas para andar. Certamente concordara que pintasse aquarelas, quando não tinha talento e cantar quando não tinha voz. Ele tinha orgulho de suas realizações incomuns e seu intelecto. Agora não se importava como ela se sentia, a estava casando apesar de seus protestos mais profundos, estava tomando uma decisão sobre ela e sua vida, a mudando completamente, contra sua vontade, não era mais seu maior amigo e aliado. Estava contra ela. Hadrian havia se metido entre eles... Hadrian tinha feito isso. Pensar no duque e no que fizera a enfureceu. O temperamento de Nicole explodiu. Como ousa interferir em sua vida! Como se atreve a arruinar seu relacionamento com o pai. Houve uma batida suave em sua porta. Nicole reconheceu a batida de sua mãe e endureceu, não pediu para ela entrar. Jane tinha ficado do lado do pai contra ela e Nicole não podia perdoar. Jane entrou mesmo assim. Nicole virou as costas para ela. — Não fique com raiva de mim ou de seu pai — ela disse gentilmente. — Nós amamos muito você. Nós só queremos o melhor para você. — Se você realmente me amasse, não me obrigaria a casar com ele. — Com o tempo você vai se sentir diferente e entender o que fizemos. — Eu duvido. Jane hesitou, ainda falando com as costas da filha. — Estamos indo para o John. Vou dizer a ele que você está doente. — Por quê? Eu não estou doente, apenas louca. — É melhor que você não vá — respondeu Jane calmamente — Nicholas me disse que o duque estava na lista de convidados de John. Eu duvido que ele estará lá, mas acho melhor vocês não se encontrarem até que seu temperamento tenha diminuído. Ele era a última pessoa que Nicole queria ver. — Eu sinceramente concordo — ela gritou. Sua mãe saiu do quarto. Alguns instantes depois, Nicole foi até a janela e viu a carruagem Dragmore descendo a estrada e indo para a rua. Ela ficou olhando.
A primeira coisa que Nicole viu quando entrou no salão vermelho
da casa de John Lindley foi o duque de Clayborough. A segunda coisa que viu foi Stacy Worthington. Ela decidira vir. Por que deveria ficar de mau humor em seu quarto? Talvez pensasse que ela o estava evitando. Era a última pessoa que estava evitando. Na verdade, tinha algumas coisas que adoraria contar a ele. Mas não contava com esse cenário. Pegou um xerez de uma bandeja passada por um criado e bebeu rapidamente. Seu coração batia irregularmente. Stacy Worthington estava flertando com Hadrian. Nicole não conseguiu tirar os olhos deles. Ela riu de tudo que ele disse, se aproximou do seu lado, olhando para o rosto dele com um olhar de êxtase, pareceu devorar suas poucas palavras, se agarrou a ele. Não que Nicole se importasse. Ela não se importou. Não se importava que ontem estivesse nos braços de Hadrian, que hoje eles estivessem supostamente noivos. Se ele quisesse fazer papel de bobo com outra mulher, uma mulher esbelta e bonita, isso era bom para ela. Na verdade, talvez decidisse fazer de Stacy sua esposa! Nada poderia lhe servir mais. Quem ela estava enganando? Nicole estava chateada, mais chateada do que estivera o dia todo. Percebeu que estava olhando para eles e terminando o xerez de uma maneira muito grosseira, ela se virou. A miséria se gravou em seu coração. Olhou ao redor do salão lotado, desejando não ter vindo, ignorou seus pais. Viu Regina rindo com Martha e seu marido, ficou feliz em ver que sua melhor amiga estava presente. Sorriu para eles do outro lado da sala. Então se deu conta de como estava sozinha no meio de todos os aglomerados de pessoas conversando. De repente, sentiu-se desconfortável e gostaria de se juntar a um dos grupos, mas não conhecia ninguém. Também estava ciente de que as duas senhoras estavam olhando para ela, embora estivessem tentando ser discretas. O estômago de Nicole se apertou e por um momento, esqueceu- se do duque e de Stacy. Estava fora do turbilhão social há anos e só chegara a Londres recentemente, então disse a si mesma que não era de surpreender que essas senhoras estivessem interessadas nela. Quem ela estava enganando? Ainda era considerada uma espécie esquisita e excêntrica, apesar de todos os anos que se passaram desde o escândalo. Isso nunca mudaria? Ela sempre seria uma estranha? Caminhou até os Serles e Regina, foi muito cuidadosa para não sequer olhar para o duque. Mas no momento em que a viu, ela ficou ciente, podia senti-lo olhando para ela. — Martha — disse Nicole, sem nenhum alívio. Martha abraçou-a enquanto o marido beijava sua bochecha. Ele se desculpou para deixá-las sozinhas para suas fofocas. — Nicole — Regina disse uma vez que ele se foi — se eu fosse você, eu iria e falaria com o Duque. Aquela bruxinha Stacy Worthington está de olho nele e se você não tomar cuidado, ela vai pegá-lo, também. Nicole olhou para a irmã friamente. Felizmente, Regina ainda não havia sabido sobre os arranjos feitos entre o duque e seu pai. — Eu não me importo. — Ele veio sozinho — disse Martha. — Mas Stacy definitivamente está atrás dele. — Bom. Ela pode tê-lo. — Nicole pegou outro copo de xerez de uma bandeja de passagem. Senhoras nunca tiveram mais de uma bebida, mas ela não era uma dama, não é? Lembrou-se de ter caído nos braços de Hadrian no chão da biblioteca ontem e sentiu o calor subir em suas bochechas. Sabia que ele a estava olhando. Talvez estivesse se lembrando também. Incapaz de controlar, se virou para olhá-lo. Seus olhares se encontraram. Stacy tentava falar com ele, mas não parecia estar ouvindo. Nicole pensou em como decidira imperiosamente o destino dela. Sobre como ele achava que ia se tornar seu marido. Ela deu-lhe um olhar muito zangado. Ele assentiu educadamente. Foi então que Stacy percebeu onde estava sua atenção e Nicole ficou satisfeita em vê-la ficar cor-de-rosa pálida. Nicole se virou. — Você pode mentir com os dentes o dia todo, Nicole, mas sei como você se sente — sussurrou Martha. Nicole viu que Regina estava prestes a falar, deu-lhe um olhar reprovador. Regina sorriu um pouco presunçosamente. Nesse momento, dois senhores pararam ao lado delas, saudando educadamente Martha. Apresentações foram feitas por toda parte e Nicole percebeu que Lorde Glaser estava interessado nela. — Como você está esta noite, Lady Shelton? — Glaser perguntou. Nicole respondeu educadamente depois de recuperar seus sentidos. Fazia muito tempo desde que um homem a procurara na sociedade. O que mudou? Ela não saíra desde o piquenique de caridade, excluindo o velório e o funeral de Elizabeth. De repente, foi considerada aceitável porque o duque havia estendido sua proteção para ela? Ninguém, é claro, sabia do envolvimento deles ainda. E ninguém nunca iria saber, pensou resolutamente. Ela pegou Glaser lançando um olhar para sua pessoa, o tipo de olhar que Hadrian tinha enviado cem vezes para ela. Ele rapidamente corrigiu o olhar, mas Nicole estava desconfortável. Não gostava de pensar nisso, mas o ávido interesse de Hadrian nunca a incomodara. — Devo dizer, estou feliz que você esteja aqui esta noite, lady Shelton. Você ilumina as coisas consideravelmente. Ela não teve escolha senão agradecer-lhe. — Você vai ficar em Londres pelo resto da temporada? — Eu duvido — disse Nicole sem jeito. Estava interessado nela e não sabia se ria ou chorava. — Você deve ficar — disse Glaser. — Eu ainda não decidi — disse Nicole. Viu que Hadrian estava olhando para eles. Nunca fora namoradeira e, na verdade, não sabia como ser uma. Mas de repente foi subjugada pela vontade de tentar, embora sempre tivesse desprezado as mulheres que se curvavam tão baixo a ponto de deixar seus namorados com ciúmes. Ela sorriu para Lorde Glaser e o olhou diretamente nos olhos. — Mas talvez você possa me convencer. — No momento em que as palavras saíram, sabia que elas eram sugestivas demais para serem tímidas. Martha ficou horrorizada. Glaser ficou brevemente surpreso. — Quero dizer — ela corou. — Quero dizer, estou me divertindo tanto e... oh, desculpe-me. Libertou-se do grupo, empurrando a multidão. Não quis ser sugestiva assim, não quis dizer nada, só queria flertar! Mas flertar era para idiotas como Stacy Worthington! E agora era a única que agira como um idiota. Fora do salão, o corredor estava vazio, mas não parou até chegar ao lavabo. Felizmente estava vazio e ela entrou apressadamente, trancando a porta atrás dela. Oh, que gafe! Virou-se para se olhar no espelho e viu que ainda estava vermelha de vergonha. Poderia ter cometido um erro pior? Nicole engoliu em seco e molhou uma toalha e umedeceu o rosto. Quando estava composta, deixou o banheiro, resolvendo evitar Lorde Glaser pelo resto da noite. Saiu e lá estava ele, esperando por ela. Ele era um homem bonito e estava sorrindo. Nicole estava congelada. — Você não deveria ter fugido — disse ele. — Meu senhor — ela disse — me perdoe meu deslize da língua. Eu não quis dizer isso do jeito que soou. — Claro que você não fez — ele sorriu novamente. Ela não sabia se ele acreditava nela ou não. Ele tocou seu pulso com luvas levemente. — Há um baile sexta à noite no Abbots, gostaria de me acompanhar? Ela ficou chocada com o convite. Mas não teve a chance de responder. — Ela não vai acompanhá-lo, Glaser — disse o duque de Clayborough. — E se você não tirar a mão do braço dela, eu mesmo removerei. Ele apareceu atrás deles silenciosamente. Nicole deu um pulo. Glaser ficou intrigado. — Eu imploro seu perdão, mas o ouvi corretamente? — Você me ouviu corretamente. Nicole olhou para Hadrian. Seu belo rosto parecia ter sido esculpido em pedra. No entanto, seus olhos estavam em chamas enquanto ele olhava para a palma de Glaser, descansando tão levemente em seu braço. O aperto de Glaser se intensificou. — Eu não tenho permissão para convidar a mulher mais bonita de Londres? Veja aqui, você pode ser um duque, pode me superar, mas isso não lhe dá direitos especiais. — Eu tenho todo o direito. Minha futura esposa não irá com você para o baile dos Abades. Glaser de repente baixou a mão. — Eu não tinha ideia, Sua Excelência — ele disse rapidamente. O sorriso do duque estava frio. — Claro que você não tem. O noivado só foi acertado hoje. O anúncio estará nos jornais de amanhã. — Desculpe-me novamente — disse Glaser, acenando para ambos. Ele saiu apressado. Nicole estava boquiaberta. — Como você pode? Ela tinha esperado contra todas as probabilidades de sair deste noivado antes de se tornar de conhecimento comum. Não tinha dúvidas de que Lorde Glaser estaria espalhando a notícia em segundos. Na manhã seguinte, toda Londres saberia do noivado, tornando impossível uma separação graciosa e privada. Mais uma vez, o duque irrevogavelmente colocou os acontecimentos em movimento, afetando sua vida e seu futuro, intencionalmente e sem seu consentimento. — Como eu poderia o quê? Resgatá-la de um admirador indesejado? — Quem disse que ele era indesejado? — Ela se atirou despreocupadamente. Ele agarrou o braço dela. — É melhor que ele tenha sido indesejado, Nicole. Ela tentou afastá-lo e não conseguiu. — Solte! Ele obedeceu quando lhe convinha. — Eu vejo que você está chateada. — Chateada? Ha! Isso é um eufemismo, sua graça! — Você está chateada porque eu afugentei um pretendente bonito, mas atualmente ilegítimo? — Você sabe muito bem porque eu estou chateada! — Ela esperava que sua maldição o chocasse. Isso não aconteceu. Isso só o irritou. — No momento em que alguém entrar nesse corredor, seremos um espetáculo. Nicole riu. — Nós vamos ser um espetáculo no minuto em que nosso noivado for anunciado! Vai ser é um escândalo. — Não permitirei que você seja o alvo de qualquer escândalo. Tomarei todo o peso de qualquer repercussão. — Fingindo me amar? Por um momento ele não respondeu. — Confie em mim. — Confiar em você? Ele corou. No entanto, colocou a boca em uma linha dura e sombria. — Não faz sentido bater em um cavalo morto — avisou. — Eu já disse que sou culpado pelo incidente de ontem. — Incidente de ontem? — Lágrimas abruptamente chegaram aos olhos de Nicole. Este homem de frente para ela estava tão frio quanto o gelo, não o apaixonado que a abraçara e a amara. Mas isso era apenas isso, não a amava, na verdade não. E agora ele fingiria amá- la. — Fico feliz que você se culpe. Vamos esquecer o passado. Mas não vou me casar com você. — Você é muito tola e além disso, neste momento, ninguém está perguntando a você. — Como você está certo. — Eu perguntei a você — ele lembrou-a severamente. — E eu disse “não”. — Você deixou seus sentimentos bem claros. Por que você insiste nesse argumento? — Minha vida inteira está sendo decidida sem o meu consentimento e você me pergunta por que eu discuto com você? — Nicole — disse ele, cansado — você pode argumentar até ficar de cara feia, mas o assunto já foi decidido. Vamos nos casar no segundo domingo de hoje. E isso é o final. Nicole levantou o queixo. Lágrimas encheram seus olhos. Estava de costas para a parede e não poderia fazer nada, a menos que fizesse algo terrivelmente drástico, mas nem sequer se atrevera a pensar tão à frente. — Hadrian! — Uma mulher chamou. — Aí está você, eu queria saber onde você tinha ido. Nicole ficou rígida e o duque soltou o braço dela. Afastou as lágrimas de impotência e fúria. Stacy Worthington sorriu docemente para o duque, ignorando Nicole. — Vamos voltar para dentro? — Ela perguntou. — Minha querida — disse o duque, segurando o braço de Nicole. Ele atirou-lhe um olhar de advertência que Stacy não pôde ver. Seu polegar acariciou seu pulso enluvado. — Devemos? — Ele perguntou, dando a ela um de seus raros sorrisos. Isso suavizou suas feições e por um momento, Nicole ficou hipnotizada. Stacy estava olhando também. Nicole poderia se afogar em seus olhos dourados. Com um esforço, percebeu que aquilo era um jogo, que tudo era fingimento. Seu coração se virou. Tentou se afastar, mas o aperto dele aumentou tão rapidamente que não conseguiu se mover nem um centímetro. Na verdade, estava pressionada contra o lado dele. Não queria estar pressionada contra o lado dele, nem queria estar perto dele, nem queria ser o destinatário de um olhar tão íntimo e terno. Mas não havia escolha. — Stacy — disse o duque de Clayborough. — Eu acredito que você já conheceu Lady Shelton? — Sim. — Lady Shelton fez-me a grande honra de concordar em se tornar minha esposa — continuou ele, dando-lhe outro olhar muito quente. Nicole disse a si mesma com veemência que não iria chorar, não iria. — Hadrian! — Stacy ofegou. — Mas... Elizabeth! O duque olhou para a prima. — Elizabeth está morta — disse ele. — E eu estarei casando com Nicole em menos de duas semanas. Nicole fechou os olhos, mas não antes de ver a ira da outra garota. Seu braço se moveu e deslizou ao redor de seu ombro em um abraço caloroso e íntimo. — Estou com medo de não poder esperar — disse o duque. Capítulo 22 Nicole saiu imediatamente de Lindley, implorando uma carona com os Serles, que também se preparavam para partir. Estava aflita de seu encontro com Hadrian e sabia o que isso mostrava. Martha, no entanto, nunca a questionaria na frente do marido e Nicole contava com isso. Praticamente pulou da carruagem deles quando eles pararam na Tavistock Square, murmurando seus agradecimentos e correndo para a casa. Uma vez dentro, não havia necessidade de fingimento. A expressão de Aldric estava abertamente preocupada enquanto ele a observava correndo pelo foyer. — Minha senhora — ele chamou atrás dela. — Você está bem? — Não, Aldric — gritou Nicole descontroladamente, já subindo as escadas. — Eu não estou bem. Seu quarto não era um santuário. Poucos minutos depois, ela ouviu seus pais e Regina no corredor do lado de fora, dizendo suas boas noites. Nicole rapidamente apagou as luzes do quarto, querendo manter sua privacidade. Ouviu seus pais descendo o corredor. Um momento depois, houve uma batida selvagem em sua porta. Ela gemeu. A essa altura, a própria cabeça também estava batendo. Regina não esperou a resposta de Nicole e entrou bruscamente. — Você parece como se alguém tivesse morrido! — Regina exclamou, seu próprio entusiasmo não diminuiu nem um pouco. — É verdade? É verdade que você vai se tornar sua esposa? Várias pessoas me perguntaram quando você estava deixando o tio John! Eles disseram que você estava noiva! Nicole! Você será a próxima Duquesa de Clayborough? — Por favor. — Sua dor de cabeça havia acabado de aumentar. — Oh, Deus, é verdade? — Regina chorou. — O que aconteceu? Eu pensei que você tivesse recusado ele? — Eu recusei! — Nicole disse com raiva. — O desgraçado foi para o pai. Pai aceitou sem o meu consentimento. Regina sorriu. — Isso é maravilhoso. — Eu não vou me casar com ele. O sorriso de Regina desapareceu. — Espero que você esteja brincando comigo. — Nicole deu-lhe um olhar sombrio. — Pai arranjou! Ele é o Duque de Clayborough! O que há de errado com você? Você me disse que é louca pelo homem. A essa altura, Nicole não fazia ideia de como se sentia em relação a Hadrian Braxton-Lowell, embora suspeitasse de verdade que seus sentimentos haviam mudado. — Não mais, eu não sou mais. — Você é uma tola se não se casar com ele. — Então eu acho que sou um tola. Regina bufou, os punhos cerrados. — Você vai lutar contra isso, não vai? Você vai lutar com o pai, não vai? — Eu estou. Por que você está chateada? — Por que eu estou chateada? — Regina parecia como se estivesse à beira das lágrimas. — Bem, Nicole, eu vou te dizer porquê. Porque você está sendo egoísta. Nicole nunca ouvira sua irmã xingar e ficou chocada. — Sou egoísta? — Eu nunca reclamei antes. Mas se não fosse por você eu já estaria casada! Caramba! Eu tenho quase dezenove anos e eles estão me fazendo esperar, esperando que um dia você receba uma oferta, então você poderia se casar primeiro. — Bem, agora você tem uma oferta e boa, mas você é burra demais para ser razoável. E eu estou doente e cansada de ser uma solteirona. Maldição. Regina estava tão perturbada que lágrimas se acumularam em seus olhos. Nicole ficou horrorizada, não tendo ideia de que sua irmã estava tão angustiada. — Por favor, tente e entenda. Não posso casar com ele, não posso. — Eu não entendo, nunca vou entender! Você está sendo egoísta e teimosa e simplesmente estúpida! — Regina saiu correndo do quarto, batendo a porta atrás dela. Nicole estava tremendo. Ela e sua irmã eram muito próximas. Embora tivessem muitas brigas, nunca brigaram assim. Há quanto tempo Regina se sentia assim? Quanto tempo culpou Nicole por ser forçada a esperar para se casar? De repente, Nicole sentiu que sua irmã estava certa e que a culpa era dela de que Regina ainda estava solteira. Sentiu como se tivesse ofendido Regina, amava sua irmãzinha, não a machucaria voluntariamente. Mas Nicole também sentiu como se sua irmã a tivesse abandonado. E isso a machucou. Agora, quando precisava desesperadamente da irmã como amiga e aliada, Regina a abandonara.
— Nicole, precisamos conversar! — Martha falou.
Era a hora do chá no dia seguinte ao de Lindley, em casa. Nicole ficou imensamente feliz em ver Martha. Durante todo o dia havia sido confrontada com os preparativos para o casamento, agora loucamente em andamento. Aparentemente, apesar da pressa, ou por causa disso, o duque estava determinado a ter o casamento da sociedade mais grandioso em anos e Jane estava imersa em um turbilhão de planejamento. Nicole não se importou com o que planejaram. Mas sua mãe garantiu que ela fosse mantida informada sobre os detalhes mais importantes. Jane também mandou chamar uma costureira de uma das principais casas de moda e Nicole foi obrigada a suportar as atenções daquela mulher por muitas horas, enquanto seu vestido de noiva e seu enxoval eram escolhidos, ajustados e reformados. Na verdade, seria uma semana de acessórios sem fim. Nicole ficou com mais e mais raiva. Era evidente, pelo tom perturbado de Martha, que soubera das núpcias iminentes. — Está em toda a cidade! Eu não acreditei! Mas quando entrei aqui e vi o Sr. Henry, o melhor chef da cidade e Madame Lavie, a designer mais criativa e cara da cidade, percebi que é verdade. Nicole estava em suas roupas de baixo em seu quarto, Madame Lavie tendo acabado de sair. Ela se afastou. — É verdade. — E você não me contou! — Martha exclamou, magoada. Nicole girou. — Tudo aconteceu ontem, Ohh! Aquele bastardo se certificou de que não haveria saída. — É melhor você me contar tudo — disse Martha, imediatamente preocupada. Nicole sentou-se e fez isso. Quando terminou, Martha pareceu chocada, pois Nicole não escondera o verdadeiro motivo do casamento. No entanto, ela pegou a mão de Nicole para segurá-la confortavelmente. — Eu sei que não é assim que uma mulher sonha em se casar, mas é o que você queria desde o início. E poderia haver uma criança, Nicole. É claro que você deve se casar com ele. Por que você está sendo tão teimosa e tola? Nicole ficou de pé. — Estou cansada de me ser dito a mesma coisa por todos que eu amo, por todos que deveriam estar do meu lado. — Tem que haver lados, Nicole? — Ele transformou isso em uma guerra — disse ela sombriamente. — Se tivesse esperado apenas... Martha olhou para ela com indiferença. Nicole fez uma careta e recusou-se a falar em voz alta seus pensamentos inacabados. Mas eles estavam lá. Se ele tivesse esperado, talvez, a tempo, tudo isso pudesse ter acontecido como deveria. Com ele me pedindo casamento por vontade própria, por me amar. — Minha pobre querida — disse Martha suavemente. — A última coisa que quero é sua pena. Como vou sair disso agora? — Você não pode! — Martha chorou, horrorizada. — Todo mundo sabe do noivado e esse evento por si só é inconveniente o suficiente. Gemendo Nicole sentou-se de frente para sua amiga. — Como é inconveniente? Eu também quero saber tudo. O que as fofocas estão dizendo agora? Martha hesitou. — Eles estão dizendo o pior — Nicole adivinhou, aflita, embora soubesse que aconteceria dessa maneira, outro escândalo com ela no centro. — É aquela cadela da Stacy Worthington — Martha declarou acaloradamente, sua linguagem vulgar chocando Nicole e fazendo a mulher mais velha corar. — Eu mesma a ouvi esta tarde na Sarah Lockheart. — O que ela está falando? Martha hesitou. — Que há apenas uma razão possível para o duque de Clayborough, um homem de honra, se casar com você logo após a morte de sua noiva. — E ela está certa — disse Nicole. — Tanto para a pretensão de Hadrian. — Que pretensão? Nicole contou-lhe como ele planejava bancar o tolo apaixonado para remover todas as suspeitas sobre o motivo por trás de seu casamento abrupto. — Há essa fofoca também — disse Martha ansiosamente. — Sarah é a única que disse que ouviu Clayborough ficar absolutamente louco por você e essa é a verdadeira razão para tal pressa. — Quem acreditaria nisso? — Nicole perguntou tristemente, seu coração dolorido novamente. Nicole se sacudiu. — Agora você está sendo tola. — O tempo vai dizer, não vai? A possibilidade de que, com o tempo, o duque passasse a amá- la, inundou-a com um anseio tão feroz que Nicole engasgou. — Ele é um homem frio — ela sussurrou, mas lembrou-se dele na biblioteca, abraçando-a como se fosse um fantasma que poderia desaparecer a qualquer instante. Abraçando-a como se precisasse dela desesperadamente. Como se a amasse. Fechou os olhos, não querendo lembrar, não querendo ter esperança. De repente, Martha sorriu. — Não será como da última vez, Nicole. O escândalo não pode machucá-la agora, não como a noiva do duque. Não como sua esposa. Nicole respirou, compondo-se. — Eu devo encarar isso, não devo? Vou me casar com ele e em uma semana e meia. Não há nada que eu possa fazer para evitar isso. Martha olhou para ela solenemente. — Você fugiu de Percy. Você sempre pode fugir novamente. Nicole olhou de volta para sua querida amiga. Como ela poderia explicar a Martha que ela nem sequer consideraria abandonar Hadrian de uma maneira tão horrível, quando ela não conseguia nem explicar para si mesma? Martha sorriu. — Mas você não vai, Nicole? E não é porque o duque não vai deixar você fazer isso. Sabiamente, Nicole não respondeu, pois não tinha uma resposta plausível a fazer.
Hadrian voltou à Clayborough House com um humor negro. Seus
advogados haviam passado o dia com Shelton pagando os contratos de casamento e várias horas atrás ele os assinara com um floreio. Então se vestiu com um cuidado incomum para fazer uma visita adequada para sua noiva. Não tinha ilusões... tinha certeza de que não estaria de bom humor, aquele temperamento como tinha estado na noite passada. Estava preparado para conter suas próprias respostas e resolveu não ser incitado por nada que ela dissesse ou fizesse. Ele não a tinha visto. Ao chegar à Tavistock Square, o mordomo lhe informou com expressivos olhos tristes que Nicole estava indisposta. Embora o rosto do homem fosse impassível, estava claro que estava mentindo a pedido de sua amante e estava aflito em negar ao duque. Pouco depois, a condessa apareceu. Ela se desculpou informando que Nicole estava doente e confinada em sua cama. Hadrian podia adivinhar exatamente o quanto estava doente e qual era a causa de sua doença. Fingiu aceitar as desculpas de Jane, perguntou educadamente depois da saúde de Nicole e informou à condessa que voltaria no dia seguinte e com sorte, Nicole estaria bem o suficiente para recebê- lo. No entanto, uma vez que ele estava na sua carruagem, a fachada civil que ele usava caiu. Entrou na Clayborough House, tão irritado e preocupado que nem viu Woodward, que esperava que lhe entregasse o casaco, bateu às portas da biblioteca com força. Não precisava dessa pretensão dela para saber que estava descontente com os arranjos, já havia deixado seus sentimentos muito claros quando rejeitou sua proposta. Este jogo terminaria em breve, pensou sombriamente. A condessa entendera sua advertência velada de que seria melhor que Nicole o recebesse no dia seguinte. Se insistisse em ser tão abertamente oposta à sua união, como ele iria salvá-la do escândalo? Estava tentando protegê-la, mas suas ações estavam indo para desfazer tudo o que procurava realizar. No entanto, deveria ter sabido que ela não aceitaria humildemente o matrimônio quando fosse arranjado sem o consentimento dela. Não havia nada recatado ou passivo sobre Nicole e nunca houve. Não a havia admirado secretamente mais de uma vez por seu ousado desrespeito às convenções? No entanto, agora não era hora de contrariar os códigos sociais. Aquele traço imprudente que tanto o atraía e ele supunha que esse era o atrativo que ela possuía, tornaria suas intenções de protegê-la muito mais difíceis de cumprir. Mas ele iria cumpri-los. Ela se tornaria sua esposa e, como tal, ganharia não apenas seu nome, seu título e sua riqueza, mas também o respeito que lhe era devido. Nunca tinha dado a mínima antes sobre o que seus colegas diziam sobre ele. Sempre soube que eles o admiravam, mas secretamente nutriam algum grau de dúvida sobre ele também. Mas agora não haveria mais dúvidas, não sobre ele e não sobre sua esposa. Ele se certificaria disso. Isobel chegou a Clayborough House naquela noite, vestida para o jantar com um magnífico vestido vermelho, a saia trabalhada elaboradamente ao longo da bainha. Embora a figura de Isobel ainda fosse suficientemente bonita para que ela pudesse se safar com a mais ousada moda atual, ela era realista o suficiente para saber que, com mais de cinquenta anos, não tinha a pele de uma mulher de vinte anos e seus vestidos eram mais modestos do que reveladores. Para combinar com seu vestido, carregava uma bolsa vermelha escura em forma de jacto e ela também mostrava rubis nas orelhas, na garganta e nos pulsos. A essa altura, ela ouvira as fofocas, não duvidou disso. Não depois da tensão que havia testemunhado entre eles. Ela pretendia perguntar diretamente ao filho se ele se casaria com Nicole Shelton em menos de duas semanas. Woodward cumprimentou-a com um sorriso reservado exclusivamente para ela. Isobel suspeitava que ele se apaixonara por ela quando se casara com Francis, mais sabiamente, sempre fingiu ignorar suas emoções. — Olá, Woodward. Como você está esta noite? — Ela sempre estivera familiarizada com a equipe, mesmo quando Francis a ridicularizava por isso. — Tudo bem, obrigado. Sua graça está no salão vermelho esperando por você. Isobel sorriu, entregou-lhe o casaco de marta e permitiu que ele a acompanhasse até o filho e anunciasse formalmente. Hadrian cumprimentou-a calorosamente, embora parecesse perturbado. Quando estavam sozinhos e sentados com bebidas, chá para ele e vinho branco para ela, Isobel olhou diretamente para ele. — Eu ouvi fofocas, Hadrian. Ele fez uma careta. — Que fofoca? — Tudo isso, eu suspeito. Você vai se casar com Nicole Shelton? — Sim, eu vou. Sinto muito que você teve que descobrir dessa maneira, antes que eu pudesse lhe dizer. — O resto da fofoca é verdade também? Ele permaneceu inquieto. — Se você quer dizer que eu estou loucamente apaixonado por ela, não. Isobel olhou para ele. — Eu pretendo contornar quaisquer rumores desagradáveis, parecendo absolutamente apaixonado — afirmou. — Entendo. — Ela teve que sorrir. — Eu não posso imaginar você agindo de forma estúpida. — Mais uma razão para que meu comportamento seja aceitável. — Hadrian, você se importa de eu perguntar? Por que você está se casando com Nicole Shelton tão logo após a morte de Elizabeth? Ele corou. — Porque ela poderia estar com meu filho. — Eu entendo. Então também há verdade no resto das fofocas. Seu rosto escureceu. — Então essa é a conversa, é? Eu vou cortar pela raiz rapidamente! Vou descobrir os autores dessa fofoca e tornar meu descontentamento inequivocamente conhecido. — Tenho certeza que você vai parar os rumores em pouco tempo — disse Isobel suavemente. Ela também se levantou e colocou a mão no braço do filho. — Como você está se sentindo? Ele ficou tenso e se afastou. — Eu sempre sentirei falta de Elizabeth, mas ela está morta. — Ele andou até a janela alta e olhou para fora dela. — Eu quero dizer sobre o seu casamento. Sobre a sua noiva. Ele se virou, seu sorriso educado. — Estou assumindo total responsabilidade pelo meu comportamento, mãe. O que mais você quer que eu diga? Que estou realmente apaixonado por lady Shelton? Garanto-lhe que não estou. Isobel sorriu. — Entendo. — Posso ter sua aprovação? — Ele perguntou. — Eu sei que ela não será a melhor duquesa, mas imagino que com o tempo conseguirá lidar bem. — Pelo contrário — disse Isobel, ainda sorrindo. — Eu acho que ela vai ser uma boa duquesa e uma esposa maravilhosa. Hadrian ficou olhando um pouco vermelho e tossiu, afrouxando a gravata. — Estou feliz que você pense assim. — Ela é uma boa mulher. Eu gosto dela. Admiro sua capacidade de recuperação e seu pensamento independente. Hadrian suspirou. — Mãe, ela está mortalmente contra esse casamento. Seu ”pensamento independente” já está me causando dor. Isobel riu. — Eu imagino que esteja. Hadrian, você é muito certo. Um pouco de impropriedade em sua vida lhe fará bem. — Um pouco de impropriedade na minha vida vai me fazer bem? — Ele ecoou. — Você não faz ideia , mãe. Obviamente eu não estou nem perto do suficiente. Isobel ficou séria. — Querido, todos nós cometemos erros. Você não é o único homem consciencioso a sucumbir à sua paixão por uma mulher. Acredite em mim quando digo que uma boa dose ou dois do pensamento independente de Nicole Shelton é exatamente o que você precisa. — Uma dose de Nicole Shelton equivale a cem doses de qualquer outra mulher! Nicole não faz nada pela metade, mãe. Quando ela é ousada, está em plena forma. Você está me acusando de ser muito apropriado? — Eu estou? — Você prefere que eu seja como o querido Francis? Isobel ficou instantaneamente sombria. — Claro que não. Você não é nada como ele, Hadrian, nada. — Mesmo? — Andando até a mesa do mordomo e servindo outra xícara de chá. — Talvez Lady Shelton pense diferente. Isobel começou. — O que isso significa? — Temo que ela ache meu comportamento um pouco repreensível. Na verdade, foi repreensível. Há mais Francis em mim do que eu suspeitava. Isobel estava branca de raiva. — Isso não é verdade. Ele ergueu o olhar para ela. Sua expressão estava zombando. — Todos nós temos um lado negro, mãe. Para alguns, é mais escuro que os outros. Isobel ficou sem palavras. — Eu não queria incomodar você — disse o duque rapidamente. — Este tópico é muito mórbido. Vamos discutir os planos de casamento? Eu decidi que toda Londres deveria comparecer, para ver que não temos nada a esconder. — Hadrian — Isobel veio até ele e tocou seu braço. — Você não é como Francis. Isso me incomoda quando você fala assim. Você não é como ele! — A culpa foi apresentada em seu peito por negar ao filho a verdade. — Eu nunca deveria ter mencionado isso. — Seu rosto estava fechado e sabia que ele não iria discutir um assunto desagradável e íntimo com ela novamente. Isobel se virou. Seu coração batia forte e as palmas das mãos estavam úmidas. Francis estava morto e enterrado há dois anos. Tinha pensado que ele estava fora de suas vidas. Mas outro rápido olhar para o rosto pensativo de Hadrian lhe disse que ele ainda assombrava não só ela, mas seu filho. Oh Deus! Deveria dizer a verdade! Resolveu que a faria. Não tinha percebido que Francis ainda afetava Hadrian, mesmo morto e enterrado, que seu filho estava se acusando de ser um monstro como Francis e que achava que Nicole concordava que era tão desonroso quanto. Hadrian era o homem mais honrado que ela conhecia e como tal, tinha todo o direito de saber a verdade. Isobel tremeu. O tempo nunca tinha estado mais certo. Afinal, estava prestes a se casar, logo teria seu próprio filho, contaria tudo a ele. Ela devia. — Mãe, você está bem? — Apenas um pouco fraca — Isobel conseguiu. — Vamos entrar para comer — disse Hadrian, rapidamente chegando e tomando seu braço. Seu olhar cor de xerez absorvia suas feições com grande preocupação. Isobel queria chorar. Pois o mesmo dilema que a confrontara havia anos ainda pairava diante dela. E se, ao contar tudo a ele, sacrificasse seu amor e sua confiança? Hadrian era a coisa mais importante em sua vida e não suportaria que se afastasse dela, ela não podia. De alguma forma, precisava se aprofundar em si mesma para encontrar a força e a coragem de que precisava para revelar o que devia ao filho. Capítulo 23 Isobel nasceu na primavera de 1844. Ela foi o primeiro filho do conde de Northumberland. Sua mãe, lady Beatrice, morreu ao dar à luz a ela. Foram quinze anos antes que Roger de Warenne se casasse novamente. No tempo seguinte, havia apenas os dois, pai e filha. Desde o início, ela era uma beleza loira, de olhos azuis. Seu pai a adorava e a amava, assim como toda a família e todas as suas tias e tios também. Em consequência, não podia deixar de ser um tanto mimada, mas, por natureza, Isobel não era manipuladora e seus modos precoces eram cativantes. O conde observou com orgulho que era inteligente demais para uma dama, mesmo que jovem. O conde estava determinado em arranjar o melhor casamento possível para sua filha. Os Warennes eram uma das mais importantes famílias do reino. Todos acreditavam que Rolfe de Warenne havia vindo para a Inglaterra com William, o conquistador e que era um dos seus melhores generais e intimo conselheiro. Ele se tornou o primeiro Conde de Northumberland em 1805 e todo mundo sabia que era o poder por trás do trono. Isso era uma tradição familiar. Roger não era uma exceção; era confidente do primeiro ministro e exercia o poder nos bastidores dos assuntos do País. Ele também era amigo íntimo do sétimo duque de Clayborough, Jonathan Braxton-Lowell, outro homem extremamente influente, embora naqueles dias ele estivesse com a oposição. Deixando de lado a política, os dois homens não só estavam bem familiarizados, como se gostavam genuinamente, admiravam e respeitavam um ao outro. Foi uma noite fatídica em seu exclusivo clube de James Street que decidiram casar seus filhos um com o outro. Naturalmente, para dois desses homens havia muito mais do que amizade envolvida na formação de tal aliança. Roger de Warenne não conhecia os detalhes, mas adivinhou os fatos no contrato de casamento que os dois homens concordaram. Isobel foi uma das maiores herdeiras da terra, mas Jonathan insistiu que ela trouxesse uma genuína quantidade para o ducado de Clayborough, bem como duas propriedades muito produtivas. Roger só podia supor que Clayborough era pobre em dinheiro. Isso não o incomodou, nem um pouco, porque Northumberland era muito rico. Francis era um dos solteiros mais cobiçados da Grã-Bretanha, por isso não era de surpreender que Roger o escolhesse para sua filha. Um dia ele esperava ter um filho legítimo para herdar seu título, sua riqueza e seu poder, mas Isobel foi seu primeiro filho e ele a amava muito. Já tinha riqueza por ser uma grande herdeira. Como sua filha, detinha o título de cortesia de Lady. Ela poderia ter qualquer homem que quisesse, mas não dependia dela escolher. Roger queria mais por ela, muito mais do que era obviamente atingível. Casando ela com o futuro Duque de Clayborough, ele conseguiu muito mais, pois um dia ela seria uma duquesa, sua posição superaria até a dele. Um dia seu filho seria o nono Duque de Clayborough. Roger exerceu grande poder, mas seu neto teria, inacreditavelmente, ainda mais. Roger era muito perspicaz para se arriscar em sua visão do futuro. Porque Jonathan estava tão desesperado pela esterlina, ele conseguiu manobrá-lo em um canto. Se Francis morresse antes de Isobel, sem nenhum problema de sua união, Isobel herdaria Clayborough. De Warennes viveu uma vida longa, por isso Roger não tinha a menor dúvida de que Isobel sobreviveria a Francis e se tivessem o azar de não ter um filho, Clayborough voltaria para os Warennes. E se eles tivessem um filho, seu sobrenome seria de Warenne Braxton-Lowell. De qualquer maneira, Roger ganhou para sua família o que ele queria. O contrato foi assinado, selado e entregue. Mas a amizade entre Roger e Jonathan nunca mais foi a mesma. O duque de Clayborough não podia perdoar o conde de Northumberland pelo que ele exigira. Isobel tinha dezesseis anos e pela primeira vez em sua vida, ela estava infeliz. Um ano antes de seu pai se casar com uma mulher não muito mais velha do que ela, o relacionamento deles mudou terrivelmente. Sua nova esposa, Claire, era uma viúva de vinte e poucos anos, uma beleza estonteante e sombria de quem seu pai parecia não poder estar separado. De repente, Isobel não era mais o foco de seu universo. De repente, mal percebeu que Isobel existia. Isobel ficou emocionada quando o conde anunciou seu noivado. Estava ansiosa para escapar de sua casa e de seu pai, ficou tão ansiosa que exigiu que seu casamento fosse transferido para uma data anterior, em vez de esperar até depois de sua primeira temporada e seu pai concordou. Sem sequer conhecer Francis, já estava apaixonada por ele. Sabia tudo sobre Francis Braxton-Lowell. Ele era 12 anos mais velho que ela e considerado o melhor pretendente em toda a Grã- Bretanha. Ele era loiro e arrojado e tinha todas as mulheres que o conheciam desmaiando. Quando Isobel o encontrou, ela não ficou desapontada. Era lindo e sua arrogância desdenhosa só o tornava mais atraente. Em maio de 1861, no décimo sétimo aniversário de Isobel, eles se casaram. E suas ilusões foram prontamente destruídas. Antes da noite de núpcias, Francis sempre fora o perfeito cavalheiro. Na verdade, nunca a beijou, nem mesmo lhe ofereceu nenhuma das lisonjas florais que Isobel estava tão acostumada a ouvir. Não que se importasse, era o príncipe de seus sonhos e não podia errar. Era sua sofisticação, assegurou a si mesma, o que o deixou indiferente e excitante. Sabia vagamente o que esperar em sua noite de núpcias. Sua avó havia explicado a ela com algum detalhe o que seu marido faria. Isobel ficou chocada, ainda assim excitada. Não podia imaginar um homem tendo um apêndice que crescesse grande e duro que ele colocaria dentro dela. Pensar nos beijos que a avó lhe assegurara constituía o importante acontecimento que a excitou ainda mais. Como estava ansiando pelos beijos de Francis! Francis chegou a ela com um brilho frio em seus olhos, sem sorrir, sem oferecer conforto, sem ternura e sem palavras de amor — Você está pronta para mim? — Ele perguntou, seu tom zombeteiro. Seu olhar varreu-a quando se inclinou contra a porta fechada do quarto dela. Isobel sentiu um momento de pânico. Estava vestida com uma camisola linda e bonita, o cabelo solto e caindo até a cintura. No entanto, ele parecia não estar impressionado, mesmo indiferente. — Sim — ela conseguiu manter a voz firme, ela conseguiu sorrir. — Uma moça tão corajosa — ele zombou de novo, aproximando-se dela. — Você ainda será corajosa em outro momento? Seus olhos se arregalaram, não pôde responder. Teve a nítida impressão de que não só ele não a amava, ele nem gostava dela! Mas tinha que estar errada. Ele jogou o roupão de lado e Isobel foi tratada com a primeira visão do corpo de um homem nu. Francis era esbelto, mas todo músculo magro, mas não conseguia se concentrar nisso. O que atraiu sua atenção foi o apêndice a que sua avó se referia e parecia enorme para seus olhos inocentes e de repente ela estava com muito medo. Ele riu, descendo em cima dela. — Não tão corajosa agora, não é? — Francis espere — ela chorou, o pânico a envolvendo. Ele a ignorou e a beijou. Isobel instantaneamente recuou. Sua respiração cheirava a cigarros e uísque. Seu beijo estava molhado e escorregadio, ela não gostou nada disso. — Cadela frágil, não é? — Ele murmurou. — Abra suas pernas. Isobel congelou em suas palavras. Antes que ela pudesse reagir, ele estava abrindo as coxas dela e então ele estava rasgando-a. Se soubesse que a dor seria tão grande, estaria preparada e não teria gritado. Mas ela não sabia, não estava preparada e gritou. Felizmente, Francis se gastou rapidamente e com a mesma rapidez ele a deixou. Mas não antes de uma cruel palavra de despedida. — Espero que sua atitude melhore. Depois disso, Isobel o odiou. Ela nunca havia sido abusada antes, não fisicamente e não verbalmente. E não era uma mulher que pudesse esconder seus sentimentos. Francis estava divertido. Rapidamente percebeu que ele estava feliz que o odiava e gostava de machucá-la na cama. Felizmente não veio para a cama dela com muita frequência. Embora Isobel desprezasse o marido, nascera na nobreza e se tornara uma futura duquesa com facilidade e desenvoltura. Eles se divertiam pelo menos uma vez por semana, era uma excelente anfitriã, logo considerada uma das principais anfitriãs do reino. Recebeu mais convites do que poderia aceitar e estava fora todas as noites da semana, sem Francis, que seguiu seu próprio caminho com seus próprios amigos. Isobel também ficou famosa com o duque e a duquesa, de quem gostava muito. A duquesa era uma mulher austera e indiferente, mas quando elogiou quis dizer isso e aprovou Isobel. O duque era quente, caloroso e gentil e ele a adorava. Isobel não conseguia entender como duas dessas pessoas poderiam ter tido um filho cruel como Francis. Ela logo ouviu os rumores. Ficou claro para ela que Francis passava todo o tempo com uma multidão selvagem de jovens, a maioria dos quais eram solteiros. Eles se dedicavam ao jogo, corrida, bebida e caça. Isobel também aprendeu com uma das mulheres de seu círculo social que Francis mantinha uma bela dançarina como amante. Ela estava furiosa. Ela sabia que os homens tinham amantes, mas nunca lhe ocorrera que o marido seria como os outros homens. Na verdade, nunca tinha sonhado que um casamento como o dela pudesse existir! Foi o maior insulto ao seu orgulho que Francis passou a maior parte de suas noites com outra mulher, embora ela não o quisesse em casa com ela. E a pior parte disso era que o mundo inteiro sabia de sua infidelidade. — Alguém me disse que você mantém uma amante, Francis — ela disse furiosamente. — E aparentemente é de conhecimento comum. É verdade? Não houve hesitação. O golpe veio antes que ela pudesse ver isso chegando. Ele a atingiu no rosto com tanta força que caiu no chão e viu estrelas. Quando começou a se concentrar vertiginosamente, o rosto latejando de dor, Francis estava debruçado sobre ela. — Nunca mais fale comigo dessa maneira, Isobel. O que eu faço não é da sua conta. Você tem um propósito em minha vida entendeu? E isso é, para me dar meu herdeiro. Sabiamente, Isobel não respondeu e não se moveu. Ele se afastou dela, deixando-a no chão. Então ela se sentou. Apesar da dor, que provocou lágrimas quentes, os olhos dela brilharam. Não havia mais ilusões a serem quebradas, não mais inocência a perder. Ainda não tinha dezoito anos. Isobel não podia conceber um filho. Francis chegou ao seu leito cada vez com menos frequência, o que não ajudou em nada. No entanto, quanto mais tempo passava sem que ela engravidasse, mais ele a acusava de ser estéril e sem valor e mais rápido ele era para encontrar uma desculpa para agredi-la. Quatro anos depois de se casarem, o duque de Clayborough morreu. Isobel ficou profundamente entristecida pela perda do homem que se tornara tão amigo dela, quase substituindo o pai e chorou no funeral dele. Francis não demonstrou remorso. Se qualquer coisa, ele assumiu o título de Duque ansiosamente o suficiente e permaneceu isolado de luto por menos uma semana inteira. Isobel ficou furiosa com ele. Teve o cuidado de ignorá-lo e não dizer nada, no entanto. Ela aprendera a não apenas evitar o marido, mas a se abster de criticá-lo. Além disso, todos sabiam que Francis era um vampiro viciado em álcool, ela sabia disso agora. Foi nessa época que seu pai veio vê-la sem Lady Claire. Ele veio para consolá-la. Nos últimos anos, ele havia começado uma nova família; Claire havia lhe dado dois filhos. Isobel raramente o via e não parecia mais amá-la e isso a machucara mais do que qualquer coisa. — Eu sei o quanto você gostava de Jonathan — ele disse pesadamente, sofrendo sua própria dor pela perda de seu amigo. — Eu também sinto falta dele. Ele sempre parecera imortal para Isobel, mas de repente o viu como um homem da sua idade. De repente, percebeu que ele não era muito mais jovem do que o duque de Clayborough e o duque estava morto por causas naturais. O medo a varreu. Não importava o que tivesse acontecido desde que se casara com aquela mulher, ele era o pai dela e ela o amava. — Pai, devemos passar mais tempo um com o outro — disse ela com firmeza. Ele pareceu surpreso e satisfeito. — Estou sempre disposto a arranjar tempo para você, querida — disse ele. — Mas você está sempre muito ocupada. — Eu! Você está sempre com Claire e os meninos. — Desde o seu casamento, eu a convidei várias vezes a se juntar a nós em Londres ou no país e você sempre recusou. Mas sei que você e Francis seguem caminhos separados. Presumi que você tem um horário social tão ocupado e importante que não tem tempo para o seu pai. Chocada, Isobel percebeu que ele estava ferido. Ela entrou em seus braços. — Eu pensei que você estava muito ocupado para mim — ela murmurou. — Parece que nos confundimos um com o outro. Depois disso, começou a aceitar seus convites e logo descobriu que adorava seus meios-irmãos. Claire não era tão ruim assim, na verdade, fazia de tudo para fazer amizade com Isobel. E seu pai sempre conseguia encontrar tempo para que os dois pudessem ficar sozinhos. Isobel percebeu que tinha sido uma jovem tola para se afastar dele todos aqueles anos atrás. Era óbvio que estava contente com Claire e que adorava seus meninos. Ela estava feliz por ele. Seis meses depois, o primeiro dos devedores de Francis veio bater à sua porta. Estava extremamente nervoso e apologético, mas tinha uma nota que estava quatro meses atrasada, por vinte mil libras. Isobel ficou chocada e quando ela disse a Francis, depois de ter colocado o homem para fora, disse a ela para cuidar de seu próprio negócio. No mês seguinte, vários outros devedores apareceram. Isobel não pagou a ninguém, dizendo-lhes que deviam falar com o marido, que era muito hábil em evitá-los. A quantidade impressionante que Francis parecia dever era cem mil libras. Ele finalmente disse que não tinha o dinheiro. Os devedores continuaram a persegui-la. Francis apenas riu, ignorando todo o caso. Finalmente, um dos devedores ameaçou levar Francis ao tribunal. Isobel odiava Francis, mas não podia permitir que isso acontecesse. Ela penhorou as joias de sua família. Irritada com o que havia acontecido, Isobel estava determinada a avaliar por si mesma a situação da família. Se encarregou de passar por sua mesa. Para sua surpresa, ela encontrou muitas contas não pagas, todas devidas pelas propriedades. Vários gerentes das diferentes propriedades de Clayborough tinham vindo pedir dinheiro a ela recentemente e também os dispensara. Agora Isobel procurou o gerente de seu lar ancestral e o questionou de perto. Ela aprendeu que, embora houvesse gerentes para as várias propriedades e propriedades de Clayborough, eles sempre tinham sido encarregados das operações do dia-a-dia, enquanto os cordões e a supervisão geral haviam sido deixados para o duque. Jonathan estava morto há nove meses, mas Francis não assumira suas responsabilidades. Isobel ficou chocada. Ela sabia o que queria fazer. Ela pensou que Francis poderia ficar descontente. No entanto, ela há muito que deixara de se importar com o que ele pensava. Viajou de uma propriedade para outra, inspecionando cada centímetro da propriedade de Clayborough, examinando os livros e fazendo reuniões com os gerentes. Quando teve uma firme compreensão da situação, foi até o banco deles e mandou fazer um empréstimo. Ela então apresentou a Francis. — Há muitas contas que não foram pagas, Francis — ela disse ao marido uma manhã, quando ele voltou para casa desalinhado e barbado da noite de folia anterior. — Eu examinei todas as contas completamente e preciso de acesso a oitenta mil libras para pagar nossas dívidas. Nosso banqueiro fez esse cheque. Você poderia assiná-lo? Ele pegou o rascunho. Ele viu que era pago a sua esposa. Ele rasgou. — Se tivéssemos oitenta mil libras no banco, você acha que eu deixaria você gastar? — Mas o Sr. Pierce ficou muito contente de fazer o cheque. — Insensata. Ele ficaria feliz em emprestar-nos a soma! Com interesse — Francis saiu em disparada. Isobel pensou por um longo tempo. Então se encontrou com os advogados de Clayborough. Ela voltou para o Sr. Pierce. O pai dela foi com ela. Um empréstimo foi organizado, apenas em seu nome. Todas as contas da propriedade foram pagas e elas começaram a funcionar sem problemas novamente, sob a supervisão de Isobel. Ela agora administrava as vastas propriedades ducais com todos os seus assuntos. Embora fosse novata, era inteligente e tinha os advogados e o pai para ajudá-la. Quando os primeiros pequenos lucros vieram de suas fazendas no Sul e das vendas de madeira no Norte, Isobel sentiu uma tremenda sensação de satisfação ao assinar um rascunho e enviá-lo ao Sr. Pierce. Demoraria muito tempo até que Clayborough voltasse a estar em pé de igualdade, mas com uma administração prudente, ela pretendia que isso acontecesse. E quanto mais bem-sucedida era, mais Francis zombava dela - mais a odiava. No outono de 1867, Isobel fez sua primeira viagem à América. Fazia três anos desde que Jonathan morreu, e as propriedades de Clayborough estavam se segurando, apesar dos maus momentos econômicos. Isobel havia feito alguns investimentos que esperava serem sábios, incluindo um em uma empresa de mineração. Ela alugou vastas extensões de terra e também uma parceria com eles. No futuro, esperava ver lucros consideráveis, estava apostando nisso quando não tinha condições de jogar. Com o fim da guerra entre os estados, ela, assim como muitos outros, viu as possibilidades de ganho que viriam com a reconstrução do sul. Isobel estava a caminho da Virgínia para investir em terras que agora estavam queimadas e baratas, mas que um dia valeriam uma fortuna. É claro que não tinha fundos para comprar, mas o sr. Pierce ficara apenas feliz em lhe dar o que agora era seu terceiro empréstimo. Não era segredo que ela administrava as propriedades de Clayborough e que havia empreendido vários empreendimentos comerciais. O pariato ficara chocado, até escandalizado. Que ela, uma mulher, uma duquesa, tivesse entrado em atividade, estava além de sua crença. A aristocracia desdenhava as coisas como é natural e não podia acreditar que uma dama - uma duquesa - tinha realmente e ativamente imergido em tal perseguição. Eles ainda desaprovaram. No entanto, como a duquesa de Clayborough, Isobel era poderosa demais para ser evitada; ninguém jamais recusaria um de seus convites altamente cobiçados, ninguém jamais a deixaria fora de sua lista de convidados. De fato, as anfitriãs rezaram para que ela participasse de seus assuntos. Ninguém se atreveu a olhar desconfiadamente para ela. Isobel sabia que ela era o auge da fofoca e achou divertido. Francis não chocou ninguém (exceto ela) com sua nova tendência para jovens, mas ela chocou a todos com sua óbvia inteligência e resolução. Francis não achou graça. Não pelas fofocas e não por ela. Nunca lhe agradecera por resgatar ele ou sua casa e ele nunca a perdoou. Também nunca deixou de zombar dela como uma cadela estéril e sem sexo de mulher. Isobel não se importou, desde que ele a deixasse sozinha. Ela supôs que ele estava certo, que era estéril, pois ainda não tinham filhos. No entanto, ele não vinha para a cama dela há mais de um ano, como se também tivesse desistido. Isobel sabia que estava muito envolvido com seu amante atual para encontrar tempo para ela. E enquanto Isobel estava aliviada, não pôde deixar de ficar triste. Ela era inteligente o suficiente para saber que querer uma criança era tolice, não com Francis como pai, mas queria. Não era, ela percebeu, o que aconteceria. Ela tinha apenas vinte e três anos, mas sentia-se como se tivesse cinquenta anos e bem além de seus anos férteis. Capítulo 24 O Sea Dragon era elegante e de mastro branco, um dos mais rápidos no mar. Ele normalmente não transportava passageiros, mas uma vez que Isobel decidiu fazer essa viagem de negócios, ela queria chegar à América o mais rápido possível. Conhecendo seu empregador, sua secretária providenciou seu transporte no Sea Dragon pagando uma taxa excepcional. Isobel o viu antes mesmo de embarcar. Estava no cais com sua empregada e um único baú, incapaz de se mover. Seu coração estava alojado em sua garganta. Ela não podia nem o ver claramente. O sol estava atrás dele, obscurecendo sua visão. Ela só viu uma figura de homem incrivelmente alta e poderosa, de botas e calças altas e uma camisa de linho descuidadamente usada. Ela o ouviu gritando ordens. Seu sangue correu. Seu corpo estremeceu. Era impossivelmente masculino. O que havia de errado com ela? Ele saiu do sol ofuscante e congelou, virando a cabeça lentamente para ela. Seu cabelo castanho, manchado de ouro, descuidadamente roçava seus ombros. Emoldurava um rosto forte, atraente e fascinante. Com olhos penetrantes, ele procurou no cais até encontrá-la. Isobel não conseguiu desviar o olhar. Olhou para ela pelo que parecia ser uma eternidade, uma eternidade que ela esperou por toda a sua vida e então ele sorriu. O sorriso era direto e íntimo. E como estava sozinha. Isobel corou. — Vá — ela pediu sua empregada, Bessie. — Vá encontrar alguém para carregar meu baú. — Houve alívio em concentrar sua atenção em outro lugar, mas sabia que ele ainda estava olhando. Assim como sabia, com cada fibra de seu ser, que não deveria embarcar neste navio - seu navio. Ela não precisava saber que era dele. Assim como também sabia que não poderia voltar atrás. — Quem é você? — Isobel. Era pôr do sol. Eles navegaram o dia todo. Foi a primeira palavra que ele falou com ela. Ele subiu atrás dela silenciosamente, mas não se assustou. Estava parada sozinha no trilho há algum tempo, esperando por ele. — Isobel. Ela se virou para encará-lo completamente. O impacto que teve nela foi tão poderoso quanto antes. Ele a deixou sem fôlego, sem sentidos. — Meu nome é Hadrian — ele disse suavemente, seu olhar varrendo seu rosto. Estudando, memorizando. — Hadrian Stone. — Eu sei. Eu perguntei. Eles se encararam. O coração de Isobel estava batendo descontroladamente, quase com medo. Mas não foi um susto. E sabia que deveria estar com medo. Pois foi desejo. Desejo que nunca tinha experimentado antes em sua vida, nem mesmo no menor grau. Desejo ardente quente e selvagem, desejo que se acumulou entre suas coxas. Ele não era muito bonito. Seu rosto estava duro, sua mandíbula muito forte, seu nariz um pouco grande demais. Seus olhos eram âmbar, uma chama de ouro. Tinha barba por fazer e seu cabelo era muito grande. Se elevou sobre ela por meio metro pelo menos. Era grande e poderoso. Ela pensou que se ele a tocasse, ela morreria. Ele inalou por muito tempo e devagar. — Deus, droga — ele disse. — Você é a mulher mais linda que eu já vi e o dia todo eu continuei dizendo a mim mesmo que você era um sonho que você não poderia ser real. Mas você é real não é? — Eu sou real — ela sussurrou, querendo desesperadamente tocá-lo. Ele levantou a mão. Isobel esperou, suspensa em agonia. Seus dedos roçaram a curva alta de sua bochecha. Ela fechou os olhos, rezando para que a levasse em seus braços. Ela não se importava com quem veria. De repente, se afastou dela, amaldiçoando. Seus olhos se abriram e viu que ele estava com raiva. Ela não podia adivinhar por quê. Ele girou os calcanhares e saiu sem outra palavra. Depois de um momento, Isobel o seguiu. — Pare — ele disse no corredor abaixo do convés. Um músculo em seu pescoço se arqueava. — Pare aí mesmo. Ela sabia, sem ser informada de que sua cabine estava atrás da porta que ele guardava de costas. Molhou os lábios, estava nervosa, como se tivesse dezesseis anos novamente. — Eu não posso — ela sussurrou. Seu rosto endureceu. — Você é uma dama — ele disse. — E de acordo com aquele anel, uma casada. — Sim, eu sou — ela disse tristemente. — Isso é tão fácil para você? Você faz isso o tempo todo? Ela estava horrorizada com o que ele pensava. — Não! Nunca, nunca fui infiel ao meu marido nos sete anos que nos casamos. Até agora. Ele agarrou seus braços, praticamente arrastando-a contra ele. — Você está me dizendo a verdade? A verdade estava em seus olhos. — Sim. Seu aperto aumentou. Isso machucava. Isobel não se importou. — Você não vê? — Ele estava quase gritando. — Eu não quero uma noite de você. Eu prefiro não ter você em tudo. Era demais, soluçou Isobel. Ela agarrou a camisa branca macia e encontrou os punhos pressionados contra o abdômen duro como pedra. — Hadrian! Eu também não quero uma noite. Ele esmagou seu corpo com o dele, no colchão duro de sua cama espartana. Isobel ainda chorou, com necessidade. Ele entendeu, varrendo suas saias e saiotes, rasgando suas calças, tocando sua carne quente e escorregadia. Ela gritou descontroladamente, atingindo seu primeiro clímax instantaneamente em ondas enormes e insuportáveis. Ele a segurou enquanto ela caía. — Deus, Isobel — ele suspirou, abrindo o corpete. As lágrimas de alegria brilhavam nos olhos dela. — Essa foi a primeira vez — ela sussurrou e então ela começou a chorar a sério. Ele não entendeu, mas sentiu a mudança nela. Ele a envolveu em seus braços e a abraçou com força enquanto chorava. Chorou por si mesma pela primeira vez em sua vida adulta. Chorou por toda a dor que sofrera nas mãos de Francis, por sua inocência perdida e por ilusões destruídas. Chorou por se encontrar com Hadrian quando já era tarde demais, pela primeira vez em muitos anos, estava a salvo, pois finalmente encontrara seu refúgio. — Você deve me achar louca — ela disse finalmente. Um longo tempo havia passado. Mais tarde, Hadrian diria que havia chorado sua dor por horas. Ele ainda a segurava, em suas roupas rasgadas, meio nua e apertada contra o seu lado. — Eu nunca vi uma mulher com esse coração partido — disse suavemente. Ele acariciou o cabelo dela, afrouxando-o. — Você quer me contar sobre isso? Isobel sorriu, tristeza e alegria entrelaçadas. — Não. Não agora. Talvez nunca. O coração partido se foi. Você o afugentou. Ele sorriu, beijando sua testa suavemente. — Estou feliz. Se ao menos Isobel tivesse percebido o quanto estava errada. O desgosto não foi embora. Estava apenas começando. Ela o observou se despir. Seus seios estavam arfando das muitas carícias que ela havia suportado. Estava deitada em meio a suas roupas rasgadas no único cobertor que ele dormia. Aquele calor agora familiar já estava queimando entre suas coxas. Ela olhou com desejo de dar água na boca para seu tórax enorme e nu. Ele olhou de volta, um desejo feroz em seus olhos. — Estou orgulhoso de você me olhar assim — disse ele. — Você é tão bonito — Isobel retornou. Ele riu, o som cru, trêmulo. Ele tirou as calças. Isobel gemeu ao ver suas pernas longas, duras e poderosas. Então ela viu seu enorme falo estressado. — Eu posso explodir apenas observando você — ela sussurrou. Ele fez um som inarticulado, instantaneamente caindo em cima dela. Estendeu a mão para ele descontroladamente. Suas bocas se fundiram. Ele já estava se acomodando entre as coxas abertas dela que já estava trancando as pernas ao redor de sua cintura. Ele empurrou nela. Ambos gritaram. — Querido Deus — ele disse. — Isobel, Isobel, é possível que eu já esteja apaixonado por você? Ela agarrou-o ferozmente enquanto ele a balançava com sua força, seu poder e seu amor. — Espero que sim. Como eu espero que sim. Ela nunca contou a ele sobre Francis. Ele perguntou, mas quando deixou claro que não era importante, não para eles, respeitou seus desejos e se retirou. Isobel sabia que a amava tanto quanto o amava. Não queria que Francis se intrometesse em sua felicidade. Ela também não queria pensar no futuro. Mas quando eles se aproximaram da costa da América, ele não deixou. — Quando você vai me dizer que você é a Duquesa de Clayborough? Isobel estava nua em seus braços em sua pequena cabana nua. Ela ofegou. — Você sabe! Você já sabia o tempo todo? — Sim, eu sei. Você realmente achou que eu não faria perguntas no momento em que te vi parada no cais? Isobel ficou zangada e aliviada. — Você poderia ter me dito que você sabia. — Você poderia ter me dito quem você é. Ela ficou em silêncio, sentando-se, ele ficou em silêncio. Eles se entreolharam. — Agora não — ela finalmente disse. Ela o tocou, acariciando seu peito. — Agora não, Hadrian. Ele sentou-se, segurando sua mão e impedindo-a de adiar a discussão. — Sim agora. Eu sei que você não o ama. Eu sei que você me ama. — Eu vou sempre amar você. Sorriu satisfeito. Ela não sorriu. Ficou inquieto. — Isobel, eu nunca quis casar antes. Até você. Eu quero você, não apenas aqui na minha cama. Eu quero você como minha esposa. Eu quero dar a você filhos, filhos pequenos e filhas. — Ele foi intenso. — Talvez você tenha me dado um, pelo menos. — Ela não podia sorrir também. Uma sensação de pânico a envolveu. — Você não vai voltar para ele. — Não foi bem uma afirmação, não foi bem uma pergunta. Isobel choramingou. — Como eu posso fugir? Ele ficou chocado. — Você me ama! Aquele bastardo... eu não sei o que ele fez com você, mas eu sei que ele quebrou seu coração! Você não pode voltar para ele. — Mas fugir? — Ela ficou chocada com a própria ideia, uma ideia que evitou a todo custo. — Isso era um jogo, então? — Ele gritou, furioso e em pé. — Não! Nunca foi um jogo! Eu te amo! Mas Hadrian, eu sou um de Warenne. — Você quer dizer que ser uma maldita duquesa significa mais para você do que eu, é isso? — Não! Significa que de Warennes cumpre o seu dever, por mais doloroso que seja. Um de Warenne não foge do marido e da sua vida. Ela não... — Oh meu Deus — disse ele, quando percebeu que acreditava no que estava dizendo com todo seu coração. — Você está falando sério? Você está falando sério? Isobel fechou os olhos. Ela era uma de Warenne. Ela sempre foi uma de Warenne. E agora ela fazia parte de Clayborough. Não era que ela amava Clayborough. Era que ela acreditava em lealdade, dever e honra. Se não o fizesse, então não era Isobel de Warenne Braxton-Lowell. Se não o fizesse, então ela não era ninguém. Ele saiu do quarto abruptamente, seu rosto branco com a percepção do que ele nunca entenderia. Do que eles nunca teriam. Isobel ficou na Virgínia por três meses com Hadrian Stone. Foi agridoce. Ambos tentaram não pensar na sua separação, tentaram desesperadamente viver apenas no presente. Nunca Isobel amara mais. E no dia em que teve que finalmente deixar a América, nada a tinha machucado mais. Até agora ele a conhecia como apenas um homem que ama verdadeiramente uma mulher. Não a pediu para deixar Francis novamente. Sabia o quanto ela se machucou e levou para o banco dos réus. Isobel estava decidida a não chorar, porque se começasse, sabia que não haveria como conter a tempestade de suas emoções. Se recusou a entreter suas dúvidas também. Seria tão fácil ficar com ele, dar as costas para quem e o que ela era, se ousasse pensar em fazê- lo. A todo custo, ela teve que fechar sua mente até a opção que não poderia existir. Suas mãos se fecharam sobre os ombros dela. Além deles, outro cortador, não o Sea Dragon, mas uma imitação insípida, balançava em suas amarras. Acima deles, o céu estava impecavelmente azul. A primavera estava no ar em todos os lugares, exceto em seus corações. — Eu te amo e eu te respeito — disse ele finalmente, olhando em seus olhos. — É por isso que estou deixando você tomar a decisão mais importante de sua vida. Se é isso que você sente que deve fazer, então eu apoio você. Ela não conseguia mais conter as lágrimas. Elas inundaram copiosamente. — Eu sempre amarei você — ele disse duramente. — E eu sempre estarei aqui. Se você mudar de ideia no ano que vem, no ano seguinte ou daqui a dez anos, estarei aqui. Nunca haverá mais ninguém, Isobel, nunca. — Eu não quero que você espere por mim — ela tentou dizer a ele, mas era uma mentira e ambos sabiam disso. — Nunca haverá mais ninguém — ele disse novamente. — Eu te amo, Isobel. Isobel embarcou no navio, cega por suas lágrimas. Ela estava de cama com sua dor, deixou a América e, com isso, seu coração. Pois isso pertencia a Hadrian Stone e sempre seria assim. Ela voltou para a Inglaterra, mas nunca mais voltou a ser o que era.
Ele tinha certeza de que não ouvira corretamente. — Perdão?
Isobel estava branca, mais branca do que qualquer fantasma poderia estar. — Hadrian... eu deveria ter te dito há muito tempo. Francis não é seu pai. O duque de Clayborough ficou olhando. Eles tinham acabado de jantar e se retiraram para um dos salões mais íntimos para que a duquesa viúva pudesse se entregar a um porto depois do jantar, apesar do fato de que as mulheres raramente bebiam algo mais forte do que xerez. Assim que as duas portas de teca pesadas e reluzentes se fecharam atrás delas, Isobel pediu ao filho que se sentasse. Curioso, ele concordou. E então ela afirmou que Francis não era seu pai. — Isso é algum tipo de piada de mau gosto? — Ele perguntou. Mas seu coração estava trovejando tão alto que ele mal podia ouvir suas próprias palavras. — Não é uma piada. Francis — e ela engoliu nervosamente — não é seu pai. Hadrian foi esculpido em pedra. O ritmo impossível de seu pulso aumentou. As palavras de sua mãe rugiram em sua cabeça. Francis não é seu pai. Era impossível, era inacreditável; foi um sonho que se tornou realidade para um homem que nunca sonhou. — Você está bem? — Isobel perguntou ansiosamente. — Aqui, beba isso. — Ela estava pairando sobre ele, oferecendo-lhe seu copo de vinho do porto. Suas mãos tremiam. Hadrian agarrou seu pulso com força impensada. — Ele não é meu pai? — Não. Ele estava de pé, ainda segurando o braço da mãe. — Então quem é? — Você está me machucando — Isobel engasgou. Hadrian viu a palidez de seu rosto e as lágrimas em seus olhos e instantaneamente a soltou. — Querido Deus, perdoa-me, mãe. Não percebi o que estava fazendo. — Não há nada para eu perdoar — disse ela tristemente — Quem é meu pai? — Hadrian exigiu novamente. Seus sentidos ainda estavam se recuperando. — O nome dele é Hadrian Stone. Um americano de Boston. Capitão de um navio. — O duque ficou olhando. Ele se afastou e caminhou até o manto, olhando para as chamas que saltavam dentro. Longos momentos se passaram antes que pudesse começar a assimilar essa informação. Francis não era seu pai, Graças a Deus. Seu pai era um americano chamado Hadrian Stone. Um capitão de mar. Era tão bizarro que se perguntou se, afinal de contas, estaria sonhando. — Você está bem? Ele se virou lentamente. — Eu gostaria de ouvir toda a história, mãe. Ela assentiu, torcendo as mãos. Hadrian ficou em frente à lareira, imóvel. E finalmente, finalmente, a verdade foi revelada. Foi incrível, ele pensou. Embora parecesse calmo quando Isobel terminou sua história, contando-lhe sua decisão de deixar Virginia e Hadrian Stone para retornar a Clayborough, ele estava longe disso. — Isso explica tudo — disse ele no pesado silêncio que se seguiu. O rosto de Isobel ainda era uma palidez sobrenatural. Ela sentou-se na beira do sofá de frente para o filho, as mãos preocupadas com as dobras do vestido no colo. Ela olhou para Hadrian ansiosa, procurando, mas ele mal a viu. — Não é de admirar que ele me odiasse e você. Isobel mordeu o lábio. — Ele me odiava antes de eu conhecer seu pai. Ele me odiava quando eu assumia a responsabilidade por essas propriedades que deveriam ter sido dele e seu ódio crescia toda vez que eu o salvava de dívidas. — Sim, isso eu sei. — Ele estava em pé, agora ele andava de um lado para o outro. — Jesus — ele finalmente disse e quando se voltou para sua mãe, seus olhos brilharam de raiva. — Você deveria ter me dito anos atrás. — Eu sei — ela sussurrou. — Você está com raiva. — Eu estou tentando não estar. Estou tentando entender como você gostaria de manter seu caso em segredo até mesmo de mim. Mas bom Deus! Eu não deveria saber antes que aquele bastardo não era meu pai natural? — Sim. — Deus, mãe, eu queria que você tivesse me dito! — Ele se afastou. Agitação apareceu em todos os seus longos e inquietos passos. De repente, ele se virou para encará-la. Ele era egoísta demais para perceber o quão perto sua mãe estava das lágrimas. — O que aconteceu depois que você saiu da Virgínia? Você já ouviu falar dele de novo? O coração de Isobel, já bombeando loucamente, começou uma batida errática e assustada. — O que você está pensando? — Eu preciso encontrá-lo, é claro. Se ele ainda estiver vivo. Ela ficou muito quieta. — Bem? — Ele exigiu bruscamente. Lágrimas finalmente encheram seus olhos. — Sim, eu ouvi dele por um tempo. Mas já faz vinte anos... sem nenhuma palavra. — Você pode explicar, por favor? — Ele estava impaciente. — Depois que voltei para Francis, ele me enviou uma nota. Uma nota curta, breve e impessoal. Foi uma investigação depois do meu bem-estar. Por vários anos continuou fazendo isso. Sempre ficou claro no carimbo onde ele estava.— No tempo, seu endereço era em Boston. Quando eu o conheci, era onde estava sua casa. — E depois o que aconteceu? O coração de Isobel se revirou. As lembranças eram muito dolorosas, assim como o interrogatório abrupto de seu filho. Ele não dissera nada, mas estava zangado, estava zangado com ela. E depois da raiva, então o que seguiria? Seu desdém? Muito suavemente, ela falou, tentando manter os tremores de sua voz. — Eu sei que, no começo, queria que eu soubesse onde estava. Era a maneira de me dizer que ainda estava lá, esperando por mim, se eu mudasse de ideia. Mas então as cartas pararam. — Sua voz se quebrou e lágrimas se derramaram. — Talvez esteja casado ou morto. Eu não sei. Hadrian olhou com olhos arregalados quando a compreensão o atingiu. — Você ainda o ama? Isobel encontrou um lenço e enxugou os olhos, recuperando rapidamente e desesperadamente uma aparência de controle. Suas lágrimas eram tanto pelo filho quanto pelo pai verdadeiro e por si mesma. De repente, Hadrian mudou-se para o lado de sua mãe e colocou uma mão desajeitadamente em seu ombro. — Eu sei que isso é difícil para você... mas mãe, isso é da maior importância para mim. Eu devo ter esse endereço em Boston. — Claro — ela conseguiu desamparadamente. Hadrian se afastou. Para o quarto em geral, ele disse, tentando controlar a onda de excitação que o inundava — Vou escrever uma carta para ele imediatamente. Vou contratar investigadores. Vou mandar um deles para Boston. Se ele estiver vivo, vou encontra-lo. Isobel engoliu em seco, preparando-se para entregar o golpe de misericórdia ao filho. — Hadrian, ele não sabe. — Hadrian girou. — Eu nunca disse a ele, não tem ideia de que ele tem um filho. A revelação foi chocante. Naquela noite, depois que sua mãe partiu, Hadrian se sentou sozinho na biblioteca com o Borzoi, fitando as chamas dançantes do fogo sem vê-las. Ele mal conseguia entender o que aprendera, que Francis não era seu pai, que sua mãe tivera um caso com um homem chamado Hadrian Stone e que ele era seu pai. Raiva o varreu. Estava zangado com a mãe, muito zangado, embora estivesse se esforçando para não estar. Estava tentando entender suas motivações, embora para a vida dele, não pudesse. Isobel não só não lhe contara a verdade anos antes, quando deveria tê-la, ela nem contara a verdade a Hadrian Stone. Quando exigiu saber como ela poderia ter omitido a verdade de seu pai, assim como ele, estava tão angustiada que não podia responder. Não conseguia parar de pensar no misterioso americano que era seu verdadeiro pai. Hadrian Stone. Isobel o nomeara depois de seu amante. Como era esse americano? Era um capitão de mar. Hadrian não podia imaginar sua mãe com um capitão de navio e, em sua mente, não conseguia passar pela imagem de um homem atarracado, barbudo e de cabelos grisalhos, de camisa listrada e calças azul- marinho. Embora a tivesse pressionado repetidamente, Isobel recusara-se a responder às suas perguntas. Embora soubesse que estava perturbando-a perguntando-lhe sobre o pai, mas não podia parar. Não tinha o direito de saber alguma coisa? Qualquer coisa? Ela finalmente dissera que Hadrian Stone era tudo que Francis não era e com isso, em lágrimas, fugira do quarto e de sua casa. Momentaneamente, Hadrian tinha ficado com remorso pelo que fizera, mas então sua mente se apoderou novamente do fato de que não conseguia superar o fato de sua paternidade. Riu alto agora ele podia amaldiçoar Francis à vontade do coração, sem remorso e mais importante, podia entender por que Francis o desprezara. Pois essa tinha sido a questão que o assombrou toda a sua vida, finalmente, foi colocada para descansar. Capítulo 25 Hadrian visitou sua noiva no dia seguinte. Apesar dele estar transbordante com a esperança de encontrar seu pai vivo e bem e estar correndo atrás desde a noite que sua mãe lhe disse toda a verdade, seu casamento estava se aproximando. Não tinha dormido na noite passada e estava finalmente conciliado com os fatos e com que o homem chamado Hadrian Stone era seu pai. Além de esperar pelos resultados da investigação que tinha iniciado, não havia mais nada para fazer. Mas, no que concernia sua futura esposa, tinha muito a fazer, como se assegurar de um futuro para eles. Hadrian pretendia continuar com seu plano de proteger Nicole do escândalo que estava tentando criar raízes sobre o casamento iminente. Para fazer isso, deviam se aventurar na sociedade para assumir seu papel de um louco apaixonado. Hadrian não perdera a determinação de eximir as fofoqueiras maliciosas de espalhar contos muito próximos da verdade para serem de consolo. Agora estava mais determinado do que nunca para proteger sua noiva e ganhar para ela a aceitação que merecia. A imensa carruagem preta de Clayborough, com seu trio de leões estampados acima em suas portas, parou em frente à residência dos Shelton, na Tavistock Square. O duque desceu. Seus passos eram sempre ágeis, mas hoje eram particularmente fáceis. De fato, quando Aldric respondeu a chamada na porta, não pôde deixar de ficar boquiaberto com o duque, que o cumprimentou com um sorriso não característico. Hadrian sabia que provavelmente sorria como um idiota, mas não conseguia atenuar seu bom humor, mesmo que quisesse. Mas enquanto esperava por Nicole no salão matinal, seu prazer começou a desvanecer-se. Ela não apareceu. Quinze minutos se tornaram meia hora. Meia hora se tornou três quartos de hora. O prazer de Hadrian se transformou em aborrecimento, que se transformou em raiva. Como poderia ter esquecido por um momento, apesar da incrível reviravolta nos acontecimentos, que sua noiva estava mais do que relutante? A última vez que a viu foi na casa de Lindley e ficou furiosa com ele. Ontem conseguira evitá-lo. Não recebera a advertência velada que dera à condessa? Realmente pensou em evitá-lo novamente? Ela poderia ser tão tola? Ele saiu da sala e encontrou um Aldric claramente ansioso no foyer. — Sua Graça! Posso lhe trazer mais refrescos? — Onde é o quarto dela? — O duque exigiu. Aldric congelou. — Sua graça... er, sua graça... — Posso presumir que é por essas escadas? — No segundo andar — o mordomo respirou, os olhos arregalados. O duque de Clayborough esperou. — Quinta porta à esquerda — sussurrou Aldric. O duque subiu as escadas sem nenhum esforço no momento. Ele bateu bruscamente na quinta porta duas vezes e sem esperar por um convite que duvidava que fosse divulgado assim que sua identidade fosse conhecida, ele entrou. Nicole estava em roupa de baixo. Havia pilhas e pilhas de sedas, chiffons, tafetás, veludos, tule, lã, cashmeres e até peles na cama, enquanto plumas, fitas, rendas e outros itens de acessórios estavam espalhados pela sala. Caixas de chapéus, todas abertas e luvas, estavam por toda parte. O chão mal era perceptível, pois o tecido envolvente estava espalhado ao acaso. Havia uma pilha de reticulados em todos os tamanhos, formas e cores imagináveis, no chão, junto ao sofá. A renomada costureira Madame Lavie estava de joelhos, medindo a bainha da anágua de seda dourada brilhante de Nicole. Duas outras jovens estavam sentadas na sala, costurando loucamente. Todo mundo congelou e ficou boquiaberto com o duque. Nicole foi a primeira a se recuperar. Ela protegeu os seios, estalando como estavam do espartilho coberto de renda, com os braços. — Saia. Levou Hadrian uma fração de segundo para perceber que não tinha intenção de descer para vê-lo. — Todos saiam. Agora. Em outro segundo, a sala estava vazia, exceto pelo duque e sua noiva. Com os braços ainda cruzados no peito, Nicole recuou, pisando nas montanhas de tecido frágil. — Você não pode estar aqui. Você está piorando o que já é um caso escandaloso. — Um caso escandaloso? — Ele zombou. — Eles vão dizer que é um amor escandaloso. — Oh! Como eu poderia esquecer o jogo que você está jogando? Hadrian sorriu, não agradavelmente. Embora ela cobrisse seu peito de sua vista, já tinha visto a carne madura se esforçando contra seu espartilho, já tinha vislumbrado mamilos vermelhos escuros cutucando o laço fino de ouro. — Quanto tempo você pretende que eu espere você lá embaixo, Nicole? — Para sempre. Ele sorriu novamente, a expressão implacável. — Não é um curso de ação muito sábio. — Seu olhar varreu-a novamente. Seu corpo pulsava com a consciência de como eles estavam sozinhos e onde eles estavam em seu quarto com sua cama, a um passo deles. — Você deve sair. Haverá mais conversas por causa de você entrar no meu quarto assim. — Sua voz ficou sem fôlego. — Bom — disse ele, dando um passo em sua direção. Um degrau apertado e duro, tão apertado e duro quanto seu corpo grande. — Eles vão dizer que eu sou tão louco por você que eu te persegui em seu quarto, perdendo todo o sentido de qualquer tipo de conduta cavalheiresca. Nicole se moveu rapidamente para o outro lado da cama. — Você é louco! — E você, minha querida, é uma covarde — ele disse suavemente, perseguindo-a. — Eu não sou uma covarde — ela gritou, agarrando uma das colunas da cama, grossa e intrincadamente esculpidas. Seus seios arfavam em fúria. — Você é o covarde para ir pelas minhas costas e pedir ao meu pai a minha mão, depois que eu já te recusei. Ele congelou, estava em cima dela, agarrando-a pelos braços e arrastando-a da cabeceira da cama. Ela gritou. Ele a sacudiu e assistiu com interesse irritado como seus seios se libertaram de seu espartilho. — Pelo contrário — ele disse em seu ouvido, com um tom tenso — qualquer tolo o suficiente para se casar com você é o mais corajoso dos homens. Nicole se soltou, alcançando descontroladamente um dos tecidos luxuosos espalhados pela cama e segurando um chiffon vermelho opaco no peito. — Então sinta-se livre para chorar! — Ela gritou. — Eu não vou me ofender. Ele disse a si mesmo, mesmo quando a abordou, que estava apenas agindo contra a necessidade de calá-la antes que arruinasse suas intenções de protegê-la e acrescentasse mais combustível às fofocas que procurava evitar. Mesmo enquanto pensava nisso, mesmo quando a arrastou contra seu corpo e a puxou contra o comprimento de sua masculinidade, sabia que era uma desculpa. O fato era que estava doente e cansado desses jogos, desses protestos. — Então sua sensibilidade é mais forte que a minha. Estou avisando, Nicole, eu não me ofendo rapidamente. — Com um sorriso duro que não era um sorriso, ele cobriu os lábios dela com os dele. Ela lutou descontroladamente, tentando atingi-lo e quase conseguindo, ele pegou seus pulsos e empurrou-a para o monte de material luxuoso que cobria a cama. — Eu posso ver a dor em seus olhos! Por que não admitir sua vulnerabilidade? Por que você me pressiona tanto? Como é que você me faz esquecer de mim mesmo? — É tudo minha culpa, claro! — Ela gritou, mas estava imóvel, deitada de costas na cama, seu corpo pesado a prendendo ali, as pernas entre as dela. Não respondeu verbalmente. Muito deliberadamente, puxou o chiffon vermelho que ela estava segurando entre eles. Seus olhos se arregalaram e resistiu, mas não soltou seus pulsos e manteve-a presa na cama. Por um longo momento, ela não se moveu, exceto por seus seios nus, que estavam subindo por baixo de sua camisa nitidamente. — Podemos parar com todo esse absurdo? — Ele demandou. Seu olhar se dirigiu para sua boca. Rapidamente voou de volta para os olhos dele. — Meu futuro está em jogo. Não acho que isso seja um absurdo. — Nosso futuro está em jogo — respondeu ele. — Nosso futuro. Ela empurrou contra ele novamente. — Como você ousa fazer isso comigo — ela sussurrou. Seu olhar cintilou para seus seios nus. Ele pensou na sua decisão de se casar com ela, apesar de seus protestos. — Desista, Nicole. Você já perdeu. Aceite o que vai ser. Aceite o fato de que daqui a alguns dias você será minha esposa. Ela se esforçou contra ele novamente. Sabia que devia estar machucando-a, pois não conseguia apertar seus pulsos de leve e sabia que estava tão dolorosamente consciente dele, sua maciça dureza enterrada como estava em sua virilha. — Eu nunca vou aceitar isso — ela engasgou. Ele não riu. Não havia nada divertido sobre continuar a resistir à sua vontade. Só ela poderia inflamar seu temperamento tão facilmente, como fizera desde o momento em que se encontraram. — Você nunca aprende — ele disse. Suor frisou sua testa enquanto lutava consigo mesmo e perdeu. Seu corpo começou a tremer. A enormidade de sua necessidade era aterrorizante. Seus olhares continuaram a estar unidos. Assim como sabia que deveria se render à paixão que estava nele, sentiu a resistência dela estalar. Com um pequeno grito, Nicole fechou os olhos, arqueando o corpo contra o dele. De qualquer maneira, ele não precisava de nenhum encorajamento. Ele ajoelhou entre suas coxas e tomou sua boca com a dele. Seus beijos foram explosivos. Nicole se ergueu contra ele ansiosamente, procurando sua língua com a dela. Impiedosamente ele bombeava seus lombos contra ela. Houve uma batida determinada na porta. Hadrian levantou-se imediatamente. Ele puxou o espartilho. Nicole olhou para ele com olhos vidrados e cheios de paixão. — Temos companhia — sussurrou com urgência, colocando-a de pé. Era como um manequim, um peso morto. Ele a sacudiu uma vez e ficou aliviado ao ver o foco retornando à sua expressão. Deixando-a, enfiou a camisa e endireitou a gravata enquanto ia até a porta. Ele a abriu assim como houve outra batida. Foi a condessa. Hadrian não tinha a menor dúvida de que ela não se deixara enganar por eles, embora seu sorriso fosse agradável. — Sua Graça, pensei que talvez devesse lhe trazer mais refrescos enquanto você visita minha filha. — Quão cuidadoso — murmurou, olhando para Nicole. Ela ficou de costas para eles, olhando para fora de uma das janelas altas, vestida agora com um roupão de impressão verde. Ficou aliviado com a interrupção, embora seu corpo não estivesse, não pretendia que as coisas ficassem tão fora de controle. Jane colocou uma bandeja sobre uma mesa de vidro. Por alguns momentos trocaram amabilidades. Quando partiu, deixou a porta aberta. Hadrian se virou para a noiva. A essa altura estava de cara feia para ele, claramente, os últimos minutos não haviam melhorado seu humor. — Eu espero que você esteja satisfeito — ela atirou descuidadamente. — Estou longe de estar satisfeito. Ela corou. Seus braços foram novamente defensivamente cruzados na frente de seu peito. — Por que você veio? Jogar sal em minhas feridas? — Que feridas? — Ele perguntou secamente, virando-se para ela. Agora que estavam sozinhos de novo, embora estivesse coberta pelo manto, a dor quente em seus lombos estava se formando de novo. Serviu as duas xícaras de chá, na esperança de distrair o corpo de sua intenção. — Você sabe que feridas — ela retrucou. — Por que você insiste nesse casamento ridículo? Eu sinceramente concordo com o que você disse, que você é um tolo em se casar comigo. — Eu não disse isso, Nicole. — Eu não sou do tipo que é uma duquesa, como você bem sabe — disse ela, como se não o tivesse ouvido. — Talvez você se venda barato. Seus olhos se arregalaram. Calmamente tomou um gole de chá, mas não tirou os olhos dela. Ela se recuperou. — Hadrian, por que você insiste que nos casemos? Se o que aconteceu entre nós não importa para mim, então por que diabos isso importa para você? Ele estremeceu, mas não em sua linguagem crua. Será que poderia querer dizer o que acabara de dizer, que o que aconteceu em sua biblioteca há vários dias não era importante para ela? — Você sabe por quê. Você pode estar com meu filho. — Se estou com uma criança, posso tê-lo sem me casar com você. Estou acostumada ao escândalo, que diferença fará um pouco mais? Ele estava triste agora. — Se você acha que pode mudar de ideia, pense novamente. Não vou mudar. — Então você terá uma duquesa muito relutante em suas mãos — ela disse friamente. — Você se atreve a me ameaçar? — Eu não ameaço. Eu aconselho. — E você mente — disse com uma calma que não sentia. Colocou sua xícara e pires para baixo. — Nós dois sabemos na realidade o quão relutante você é, a prova sendo óbvia há apenas cinco minutos atrás. Ela corou, mas com raiva, constrangimento ou ambos, não sabia dizer. — Talvez eu não esteja relutante quando se trata de assuntos da carne, mas estou relutante quando se trata de me casar com você. Sua farpa o atingiu com precisão infalível e não gostou da ferida que deixou. Ela não se abrandara nem um pouco na perspectiva de se casar com ele. Não podia saber que Francis não era seu pai, apesar de que isso não seria uma preocupação para ela, mas era orgulhoso demais para contar e mais importante, não confiava nela com tal segredo. Ainda não. Não podia arriscar a reputação de sua mãe. — Eu sou verdadeiramente tão odioso? Ficou muito quieta, o rosto pálido, um pouco da raiva deixando os olhos. Quando respondeu, foi com o máximo cuidado. — Se eu te acho odioso ou não, não é o problema. — Você me acha odioso? — Ele demandou. — Não. Agora estava parado. Era muito difícil impedir que um sorriso se formasse em seus lábios. — Então eu não sou um ogro — Seus olhos procuraram os dela. Sua boca tremia. — Não me force contra a minha vontade. — Nicole, é tarde demais. — Não é tarde demais. Você pode cancelar. As pessoas só vão dizer que você recuperou sua sanidade mental. Ele podia sentir o desespero dela e qualquer sorriso que pudesse ter entretido tinha desaparecido. Por qualquer motivo, ela estava em oposição a ele agora. — Eu sugiro que você mude sua vontade — ele disse friamente. — Eu não quero ser sacrificada à sua nobre ideia de dever. — Você se fez muito claro — ele disse. — Na verdade, estou muito cansado de ouvir esse refrão. A verdade é que não ligo para o que você quer. — Droga — ela sussurrou. — Você só se importa com você mesmo. Você é frio e sem coração, assim como todo mundo diz. Hadrian sorriu, não agradavelmente. Seus sentimentos foram feridos, estava com raiva que poderia estar vulnerável onde ela estava preocupada. — Eu pretendia convidá-la para me acompanhar esta noite, mas posso ver que não seria sensato. — Não seria sensato — Nicole concordou ferozmente. — Eu recusaria. Não tenho intenção de ir a qualquer lugar com você. Estava furioso e apenas controlava sua fúria com a maior das vontades. Não a obrigaria a acompanhá-lo à um baile. Só iria acabar com sua animosidade em relação a ele já tão evidente. Pois seria um milagre se ela se curvasse às aparências e se comportasse como uma noiva deveria. — Eu vou te ver na catedral. — Já estava indo para a porta, mas suas próximas palavras o impediram de andar. — Espere — Ela chorou. Ele se virou devagar. Não havia como esconder suas emoções agora. — Eu não sou Percy Hempstead — ele disse, muito devagar e muito distintamente. — Deixe-me esclarecer esse fato. Ela não se mexeu, nem pareceu respirar. — Eu não sou um menino de vinte e dois anos, não sou um idiota enlouquecido. Se você pensa em me abandonar, pense de novo. Porque eu não vou virar o rabo e correr para o outro lado como ele fez, oh não. Eu te encontrarei e te arrastarei para o altar em minhas costas, se necessário, não importa como você esteja gritando. Não importa quão escandaloso possa ser. Ela ainda não se mexeu. Sorriu perigosamente. — E ninguém me condenaria pelo meu comportamento. Porque eu sou o Duque de Clayborough e porque eu sou um homem. Enquanto você, você não é nada além de uma mulher. Uma a quem, eles dirão, precisa de uma mão masculina firme e talvez uma surra ou duas. Nicole ofegou. — Minhas ações serão aplaudidas — ele terminou implacavelmente. — a sua será condenada. — Eu te desprezo — Nicole conseguiu. Seu sorriso foi torcido. — Se você optar por criar esse tipo de escândalo, que assim seja. Vou lavar minhas mãos do caso e deixar você para cozinhar em seus próprios sucos. Minha generosidade em proteger não vai tão longe. — Saia. Ele não respondeu, estava com muita raiva e saiu do quarto. Capítulo 26 O duque de Clayborough estava nervoso. Era o dia do seu casamento. Não vira Nicole nos últimos dez dias, desde a última vez que a visitara com a intenção de convidá-la para o baile. Foi um curso deliberado de ação. Mais uma vez deixara seus sentimentos por ele perfeitamente claros, despertando suas próprias emoções, que eram explosivas demais em torno dela em qualquer caso. Era mais seguro, muito mais seguro manter distância até depois de se casarem. E não ousava pensar na batalha que aconteceria depois que ela fosse sua esposa. O duque permaneceu em Londres uma semana e meia. Naquele curto espaço de tempo, ele assistiu a três residências, dois bailes, uma regata e uma suntuosa festa. Surpreendeu-se ter aceitado mais convites em uma semana do que no ano anterior. E não só havia aparecido nessas várias funções como permanecido por várias horas, misturado com os outros convidados. Esse tipo de comportamento era tão pouco característico do lorde recluso e um tanto insociável que o duque se tornara o tópico mais popular de conversa entre os participantes. Mas a natureza de Hadrian não havia mudado, não estava mais interessado na vida social de seus colegas do que antes. Na verdade, estava ansioso para chegar a Clayborough, onde vários assuntos aguardavam sua atenção pessoal. Ficara em Londres apenas por causa de Nicole. Estava fazendo um novo começo para os dois, nunca fora impopular, é claro, era poderoso demais para não ser um convidado cobiçado, mas não era excessivamente popular por causa de sua indiferença gritante ao turbilhão social. No final dos dez dias, se tornara popular. E sua popularidade logo seria de sua esposa. Os rumores desagradáveis já não circulavam em Londres. Se qualquer fofoca sobre o mau momento do casamento dele e de Nicole persistisse, estava no meio de uma morte lenta. A nova fofoca era exatamente como havia se reinventado. Em todas as funções que Hadrian participou, o parabenizaram por seu noivado, estava apropriadamente entusiasmado. Qualquer demonstração aberta de emoção do duque era tão incomum que isso poderia ter sido suficiente para fazer o truque. No entanto, a notícia se espalhou como a pior tempestade de seu advento no quarto de Nicole no outro dia. E desta vez a fofoca era favorável. Em todos os lugares que Hadrian frequentava, as pessoas falavam sobre eles. Na noite anterior, no sarau de Avery, ele ouvira duas matronas e uma dama solteira, todas conhecidas dele. — Chocante — Lady Bradford declarou. — Ele realmente expulsou Madame Lavie para que eles pudessem ficar sozinhos. — Escandaloso — Lady Smythe-Regis respondeu fervorosamente. — Deve estar completamente louco por Lady Shelton para esquecer a noiva assim. — Você pode imaginar ser objeto de tal interesse da parte do Duque? — Lady Talbott disse sonhadora. — Isso deve ser amor. Hadrian se virou rapidamente antes que pudessem identificá-lo escutando. Estava mais do que satisfeito. Não ficou satisfeito, no entanto, na tarde em que decidiu aparecer em seu clube na James Street. Ao entrar no covil que ele ajudou, estava ciente de toda a conversa silenciosa parando. Normalmente era saudado educadamente e depois ignorado pelos outros membros, todos conheciam sua preferência pela solidão. Se perguntou o que causara essa mudança na reação de seus colegas. Seria muito esperançoso pensar que não tinha nada a ver com a sua noiva e ele próprio. Ele logo descobriu. O conde de Ravensford, a quem conhecia melhor que a maioria dos outros senhores, aproximou-se dele. — Você se importa se eu me juntar a você por um momento, Hadrian? — Jonathon Lindley perguntou. Surpreso, Hadrian concordou. Logo ficou óbvio que o conde tinha alguma coisa em mente. — O que é que você quer me dizer, Jonathon? — Você não ficará satisfeito — avisou Lindley, mantendo a voz baixa. Hadrian fez um gesto para que ele continuasse. — Nicole é como uma filha para mim, então devo lhe contar o que acabei de ouvir. Dois membros deste clube fizeram uma aposta. O duque se enrijeceu. — Que tipo de aposta? — O tipo de aposta que precisa ser corrigida. Lorde Hortense e lorde Kimberly apostam que sua noiva lhe dará um filho dentro de nove meses depois do seu casamento. Hadrian não se mexeu. Embora seu rosto estivesse tão imóvel quanto o granito esculpido, a fúria varreu-o em uma onda quente. Quando pode falar, era para agradecer a Ravensford pela informação. Um momento depois, se despediu. Encontrou Hortense naquela noite em sua casa enquanto se preparava para sair. A entrevista foi curta e direta. Um golpe bem colocado afrouxou vários dentes de Hortense. A ameaça que se seguiu foi levada a sério. Hortense foi muito apologético. Lorde Kimberly encontrou exatamente o mesmo destino. Mais fofocas, mais escândalo, mas tudo isso a favor do duque. Ele havia agido honradamente na defesa da reputação de Nicole, enquanto os outros dois cavalheiros nunca foram conhecidos por serem nada além de patifes. Além disso, as senhoras sussurravam, era tão romântico. A única coisa que não correu bem naquela semana foi uma entrevista com o marquês de Stafford, pai de Elizabeth. Hadrian tinha ido chamar seu próprio amigo, na esperança de explicar de alguma forma o que seria inexplicável para o homem desolado. Stafford ainda estava trancado em sua casa em um estado inconsolável de pesar. Por não ter visto ninguém desde o funeral, não sabia do noivado. E porque Hadrian era como um filho para ele, assim como o noivo de sua filha desde a infância, Stafford o recebeu quando não estava recebendo visitas. — Eu não vou perguntar como você está, George — Hadrian disse calmamente. — Não. — Stafford estava magro e de olhos vermelhos. — Eu não posso parar de lamentar. Como eu gostaria de poder. — Eu sei que é banal, mas com o tempo, você será capaz de se lembrar dela sem muita dor. — Não — disse Stafford. — Você está errado. Essa dor nunca vai morrer. Hadrian ficou em silêncio. Estava terrivelmente desconfortável, pois como poderia dizer a este homem que estava se casando com outra mulher nos calcanhares da morte de Elizabeth? No entanto, precisava informá-lo pessoalmente, antes que Stafford soubesse por outra pessoa. — George, eu também sinto falta de Elizabeth. Eu sempre a amarei. Stafford começou a chorar. Com um grande esforço, recuperou o controle. — Eu sei. Brevemente Hadrian fechou os olhos. Na verdade, por mais que se importasse com Elizabeth e tão triste quanto estava pela morte dela, era claramente difícil visualizá-la agora. — Ela está feliz, George, está em paz quando estava com tanta dor. Pois, se existe um paraíso, ela encontrou. Stafford começou a chorar novamente. Hadrian entregou-lhe o lenço, imaginando se deveria, afinal, partir e deixar que Stafford soubesse das núpcias depois do fato. — Sim — o marquês finalmente disse, tremendo — Elizabeth está no céu. Ninguém merecia mais o céu. Depois de alguns minutos se passaram e o marquês estava mais calmo, Hadrian falou. — George, lamento muito ter vindo pessoalmente informá-lo de algo e o momento é o mais inapropriado. Se houvesse outro jeito, acredite em mim, eu não iria me intrometer em sua dor agora. — Hadrian, meu querido, você é sempre bem-vindo aqui. Hadrian tremeu. Por um momento sentiu uma culpa que não sentia desde que consumara sua paixão com Nicole. E de repente viu Elizabeth com claridade cristalina, como se estivesse diante dele no quarto atrás do pai. Estava sorrindo e olhando para ele com amor. Não houve acusação de traição em seu rosto. Os olhos do duque se arregalaram e se endireitou, mas era uma invenção de sua imaginação - uma alucinação fantasmagórica - porque a imagem desaparecera. E também, milagrosamente, foi a culpa. Com dificuldade, Hadrian começou. Achava que devia ser honesto com ele e embora soubesse que ficaria chateado, confiava na honra do homem e estava certo de que a verdade estaria segura, apesar de tudo. — Em minha própria dor, eu me virei para outra mulher em um momento de paixão. Stafford olhou para ele. Então ele disse — Eu entendo. O que isso importa? Você é um homem jovem. Não se culpe. — Eu não acho que você entende, George. A outra mulher não era minha amante, nem era uma prostituta. Stafford ficou intrigado. — Ela era uma jovem solteira, com quem eu agora devo casar. Stafford olhou, incapaz de compreender imediatamente o que estava sendo dito. — Estou casando com Nicole Shelton em uma semana. Stafford ainda estava olhando. — Sinto muito — disse Hadrian. Stafford se levantou de um salto. — Você vai se casar com outra mulher na semana que vem. Hadrian também se levantou. — Sinto muito. — Como você pôde? Querido Deus, como você pôde fazer isso? — Stafford gritou. — Elizabeth mal está morta, nem mesmo fria em seu túmulo! Como você pode fazer isso, como? — É uma questão de honra — disse Hadrian, apenas exteriormente composto. — Elizabeth está morta e eu arruinei Nicole. E é claro que há necessidade de pressa. Stafford estava com o rosto vermelho. — Como você ousa vir aqui para me dizer que vai se casar com outra mulher semana que vem! Maldito seja seu coração, Hadrian! Maldito seja! Maldito seja você! Oh... você não amava minha filha, vejo isso agora! Você nunca a amou. Que bom que ela não está se casando com um bastardo frio e sem coração como você. — Sinto muito. — Saia! — Stafford gritou. — Saia! Saia, saia, saia. O duque de Clayborough chegou cedo à igreja. A cerimônia seria realizada em St. Martin-in-the-Fields, na Trafalgar Square. Uma pequena capela havia originalmente existido neste local nos tempos normandos e, no século XII, uma igreja ali tinha sua própria paróquia. Ela foi reconstruída várias vezes, mais recentemente no início do século XVIII. Era agora uma magnífica peça de arquitetura, um grande edifício retangular com um pórtico imponente escarpado por um alto campanário, com uma estátua arrojada de Charles I em primeiro plano. Hadrian entrou por uma entrada dos fundos, deixando sua mãe, o conde de Northumberland e Lady Claire, o conde e condessa de Dragmore para saudar os convidados, que somavam quase mil. Por causa das circunstâncias que cercavam seu casamento, decidiu fazer o casamento do ano, no mínimo. Estava determinado que ninguém de qualquer importância fosse deixado de fora da lista de convidados e que ninguém achasse que sua noiva tinha algo a esconder. Isobel concordara, assim como os Sheltons e seu avô, Roger de Warenne. Assim, a lista de convidados incluía não apenas a aristocracia mais importante da terra, mas também muitos políticos influentes, empresários e até a própria rainha Vitória. Hadrian preferiu ficar sozinho em uma pequena antecâmara. Ele estava extremamente nervoso e não conseguia entender por quê. Ele foi atingido com uma imagem desagradável, de si mesmo sozinho no altar, esperando por sua noiva, que nunca veio. Andava de um lado para o outro, cheio de tensão. Nicole Shelton não ousaria, a ideia era ridícula. Depois do que pareceram horas de espera, ouviu-se uma batida na porta e seu avô entrou. Roger de Warenne, o conde de Northumberland, olhou-o atentamente. — Você parece um pouco verde sobre as guelras, rapaz. — Eu me sinto verde — Hadrian retornou. — Ela está aqui? — Ela está aqui. Ela não correu de você. Hadrian fez uma careta, mas apesar de suas melhores intenções, sentiu alívio. Disse a si mesmo que nenhum homem poderia saborear a ideia de arrastar uma noiva furiosa sem querer para o altar em frente a mil convidados. O conde de Northumberland riu. — Nada como um desafio, não é? A mandíbula do duque se apertou. — Estou espantado por você aprová-la.— No momento em que decidira se casar com Nicole, ele foi ao seu avô para informá-lo de sua intenção. É claro que poderia fazer o que escolhesse nesse estágio de sua vida, mas era uma questão de respeito procurar a aprovação de Northumberland. Ele esperava alguma quantidade de oposição. Não houve nenhuma. — Eu não sei ainda se eu a aprovo — disse o conde de Northumberland sem rodeios. — Eu aprovo a família dela e aprovo um casamento oportuno. Não estou interessado em ter um neto bastardo. Hadrian não lhe contara o motivo do casamento e na época, o avô não perguntara. Ele ergueu uma sobrancelha, sabendo que não deveria se surpreender com o insight de Roger de Warenne. — Você pode enganar toda Londres, rapaz, mas não pode me enganar — disse Northumberland. — De fato. — Sua gravata precisa se endireitar, Hadrian. O duque começou a se atrapalhar e preocupado, não viu o sorriso satisfeito do conde de Northumberland. Nicole ficou muito quieta, mal respirando. Sua irmã estava com ela e infelizmente, Regina estava tão nervosa e assustada como se fosse seu próprio casamento. Martha sentou-se ao lado dela e segurou a mão dela. Ela era a única relativamente calma na sala e até a palma da mão estava úmida. — Relaxe. Você parece como se estivesse indo para o seu funeral. — Não estou? Regina gritou. — Você vai persistir em ser uma tola mesmo agora? Elas mal haviam falado a semana toda. Regina estava obviamente entusiasmada com a partida, deixando Nicole ainda mais irritada toda vez que seus caminhos se cruzavam. O relacionamento delas parecia ter se deteriorado completamente, da amizade à hostilidade. — Eu vou me sentir exatamente do jeito que eu quero sentir — Nicole retrucou. — Por que não deixar o mundo inteiro ver quão infeliz você é! — Regina atirou de volta. — Eu pretendo. — Pare com isso! — Martha exclamou de pé. — Meu Deus, agora não é hora de lutar. E Nicole, se eu fosse você, pensaria duas vezes antes de humilhar o duque na frente de todos os seus convidados. Nicole abriu a boca para responder a Martha, felizmente, mas parou abruptamente. As tensões da música que vinha enchendo a sala pela última meia hora haviam cessado. Seus pais cumprimentaram os convidados quando chegaram; agora todos os convidados deviam estar sentados. Todos congelaram, ouvindo o silêncio. Foi a decisão inflexível de Nicole de que não haveria procissão, apenas a marcha nupcial até o altar onde o noivo estaria esperando com seu avô. Regina tirou um lenço branco da luva e enxugou a testa. Nicole tremeu. Estava prestes a acontecer. Ela estava se casando com o duque de Clayborough. Oh Deus. — Aqui — Regina empurrou o lenço na mão. Nicole aceitou, sem ver a simpatia no rosto da irmã, pois seus olhos estavam subitamente cheios de lágrimas. Ela nem sabia por que estava chorando. Regina olhou para Nicole e Martha. — Onde está o pai? — O pânico encheu sua voz. Talvez algo tenha acontecido, pensou Nicole, desesperada. Talvez tenha ocorrido alguma crise e não haveria casamento. Seu pai entrou no quarto. — Você está pronta? — Ele perguntou a sua filha. Ele olhou para as outras duas garotas. — É melhor vocês irem e tomarem seus lugares. Martha agarrou a mão de Nicole e beijou sua bochecha. Regina hesitou, então rapidamente beijou sua irmã também. Quando eles estavam sozinhos, Nicole levantou-se instável. Seu relacionamento com o pai também fora destruído pelo advento do casamento dela, não conseguia olhar para ele sem se sentir traída e perdida. O olhar de Nicholas a varreu. — Você é tão bonita — disse ele, com a voz embargada. — Estou tão orgulhoso de ti. Foi a ruína de Nicole. O que ele deveria se orgulhar? Ela escandalizara a sociedade desde que saíra, só se casaria agora porque era obrigada, não falara com ele desde que havia arranjado esse casamento. Lágrimas brotaram. — Pai... — Eu te amo muito, Nicole. Acredite em mim, tenho insistido muito em saber se fiz a coisa certa ao aceitar o pedido de Hadrian. E estou convencido de que o fiz. Por favor, me perdoe por fazer o que acho melhor para você. Não poderia continuar esta luta com ele, não aqui, não agora, no dia de seu casamento. Veio para frente, querendo ser sua filha novamente, mas a dor que ele causou não iria embora. Ela o olhou, querendo dizer tanto, querendo perguntar como poderia fazer isso, querendo dizer que o perdoou e que o amava. Ela abriu a boca para falar, viu a esperança em seus olhos. Mas nenhuma palavra saiu. A marcha do casamento começou. Eles se olharam por um longo momento. Nicholas estendeu o braço sombriamente. Incapaz de falar agora, Nicole aceitou. Mil convidados estavam esperando. O duque de Clayborough estava esperando.
CAPITULO 27
O duque de Clayborough ficou furioso, mas não aparentou. No
entanto, era improvável que enganasse qualquer um de seus convidados. E se sua noiva continuasse a mostrar abertamente sua má vontade em relação a ele, ele pensou, poderia esquecer as aparições públicas e todo o bem que fizera na semana anterior e estrangulá-la abertamente. A recepção seria realizada em sua própria residência na Praça Cavendish, devido ao grande número de convidados. A catedral era um esplêndido trabalho de arquitetura e vasto o suficiente para acomodar seus mil convidados. E Nicole tinha sido uma noiva arrebatadora em seu vestido de prata, no entanto, ela também era uma pessoa zangada. Seu véu tinha sido transparente. Delicadamente fiado de tule prateado, não escondeu nada. Sua expressão, sua raiva, era óbvia para todo mundo ver. Não fez nenhuma tentativa de parecer uma noiva feliz, de fato, o inverso parecia ser verdade. No momento em que Hadrian a viu descendo pelo corredor, ficou atordoado sem sentido. As emoções mais ferozes que já experimentara haviam surgido nele e por um instante, sabia que, de alguma forma, estava apaixonado por ela. Esse instante passou imediatamente. Seu semblante ficou claro quando ela se aproximou, seu belo semblante escuro de olhos prateados. Não havia dúvidas sobre suas emoções. Ela se atreveu a humilhá-lo e a si mesma na frente de seus mil convidados. Ela evitou olhá-lo quando se aproximou. Na verdade, mantinha o queixo alto, a boca em uma linha sinistra e teimosa. Nem olharia para ele quando parasse a seu lado no altar. Quando chegou a hora de fazer seus votos, realmente ficou em silêncio. Hadrian tinha segurado a mão dela e a apertou muito, muito forte uma advertência de que a forçaria à sua vontade, mesmo que estupidamente fizesse mais um espetáculo de si mesma agora. Ela então, finalmente, para o seu alívio, falou. Mas era tarde demais para reprimir sua raiva. Agora eles eram marido e mulher. E não havia uma alma na Clayborough House que não compreendesse que a noiva estava relutante, para dizer o mínimo. O sorriso educado do duque havia muito caído à beira do caminho, uma máscara fria e inflexível deslizando em seu lugar. Ele tinha o suficiente, não se importava que eles estivessem em sua própria recepção por apenas uma hora. Quanto mais permanecia sentado ao lado de sua noiva de rosto pétreo, que se recusava a comer, beber ou até mesmo falar, mais perigosa ficava sua raiva. E estava ficando muito difícil controlá-lo. — Nós estamos indo — ele disse abruptamente. — Agora? — Agora. Neste minuto. — Ele se levantou e porque segurou a mão dela, puxou-a para cima. — Então me deixe mudar. — Interessada em convenções agora? É um pouco tarde, você não acha, Senhora Esposa? Ela endureceu. — Eles não vão cortar o bolo por horas. — Eu não dou a mínima. — Isso é evidente — disse ela, olhando para ele de forma significativa. — Seu duplo sentido me escapa. Por que você procura atrasar? — Porque ficar aqui é melhor do que sair com você. Ele riu friamente. — Ah, agora chegamos ao fundo das coisas. Você procura adiar o inevitável. Tem medo de ficar sozinha comigo e de se trair? — Eu não tenho medo — disse ela com firmeza. — Eu apenas desejo atrasar o que será extremamente desagradável, nosso futuro. — Se você continuar a me irritar dessa maneira será mais do que desagradável. Seus olhos se arregalaram. — Você me ameaça? — Pegue-o como desejar. — Agarrou o braço dela novamente e a impulsionou junto com ele. Começou a lutar e ele se voltou contra ela com fúria controlada. — Você não acha que já fez cena demais por hoje? Você quer fazer outra? — Você é quem está fazendo uma cena — ela sussurrou, mas parou de lutar com ele. Hadrian a ignorou. Pararam para se despedir de suas famílias. No processo de partida, no entanto, foram atacados de novo e de novo por simpatizantes, muitos dos quais não podiam disfarçar seu interesse sinistro pelo noivo legal e pela noiva hostil. O duque quase jogou sua esposa na carruagem de Clayborough quando estavam do lado de fora. Ela correu para o canto oposto e sentou-se lá. Hadrian subiu em frente a ela, ignorando-a o melhor que pôde, embora estivesse tão zangado que queria estrangulá-la. Fez sinal ao motorista para começar sua jornada. Nenhum dos dois falava, Hadrian estava furioso com ela por seu comportamento naquele dia, diante da nata da sociedade britânica. Tinha trabalhado duro para reprimir qualquer fofoca sobre eles, desperdiçando seu tempo precioso em festas estúpidas e bailes bobos, senhoras insípidas encantadoras e senhores aduladores, agindo como um idiota apaixonado. Sem dúvida todos agora pensavam que ele era o maior tipo de tolo obcecado por uma noiva que abertamente o desprezava. Em apenas algumas horas, Nicole havia desfeito tudo o que conseguira nos últimos dez dias tudo o que conseguira para ela. — Espero que você esteja satisfeita consigo mesma — disse ele. — Por que eu deveria estar satisfeita com qualquer coisa neste dia entre todos os dias? Estava sentada o mais longe dele possível, no canto do outro lado da carruagem. Por mais zangado que estivesse, não pôde deixar de notar como ela era espetacular em seu vestido de noiva de prata com o cabelo de ébano solto. Esticou suas longas pernas de maneira casual, o que desmentia a tensão que crescia nele. — Eu sugiro que você comece a mudar sua atitude. Agora você é minha esposa. Essa circunstância não vai mudar, não até que eu esteja morto. Ou você gosta de criar um escândalo? Ela olhou — Você sabe que não. — Pelo contrário, acho que você realmente gostou de fazer uma cena atrás da outra hoje. — E ele certamente sabia que ela gostava de humilhá-lo. Outra onda de raiva ondulou sobre ele que lutou para se conter. — Você me forçou ao altar. Você achou que eu viria humildemente? Com a cabeça baixa, em submissão? Se você pensava assim, então pensava errado. — Há apenas um lugar onde você se submete a mim, senhora. — Seu olhar a espetou. — Talvez esse seja o único lugar onde eu deveria mantê-la. Para o nosso bem. Nicole se ruborizou com sua referência à sua infeliz natureza apaixonada, agora ela engasgou com a sugestão dele. — Eu espero que você esteja brincando — ela murmurou severamente. — A ideia tem um grande apelo. Eles se encararam. Para Nicole, a carruagem era muito pequena. Hadrian estava perto demais para o conforto. Sua proximidade foi perturbadora desde o momento em que se aproximou dele no altar. Sua proximidade era sempre perturbadora. Não pôde deixar de pensar na noite iminente... sua noite de núpcias. Era impossível acreditar, mas agora era sua esposa. Uma vez queria isso com todo o seu coração, mas isso parecia ter sido uma vida atrás. Era sua esposa, ele cumprira seu dever. E agora esperava que ela aceitasse sua posição. Ela cerrou os punhos. Não podia forçá- la a casar e esperar que fosse dócil, não podia. E se realmente pensasse que esta noite o aceitaria de braços abertos, então ele era insano. Mas e todas as noites depois dessa? Mesmo se ela recusasse com sucesso esta noite, quanto tempo ela conseguiria rejeitá- lo? Nicole não precisou pensar muito tempo para saber que sua causa era sem esperança. Pois rejeitou de imediato a ideia de uma anulação e nem sequer examinou suas razões. Mas não poderia forçá-la a sua vontade, não desse jeito. No entanto, seu coração estava batendo muito rápido e estava muito consciente de seu desejo por ela. Era ousado e descarado suas intenções eram óbvias. Nicole desejou não poder lembrar como era estar em seus braços, como era ser a receptora de seus beijos. Infelizmente, sua memória era perfeita. Nicole se afastou para olhar pela janela. A noite de inverno se aproximava com pressa indevida, mas apesar do frio no ar e do fato de que o manto de raposa prateada estava aberto, não estava com frio. Longe disso. De repente, foi tomada por um pânico inexplicável, de repente se sentindo encurralada, encaixotada. Ela segurou a raposa mais perto, em busca de conforto. Hadrian quebrou o silêncio entre eles. — Eu não fiz nenhum plano para uma lua de mel. — Bom. Ele continuou calmo o suficiente. — Tenho assuntos urgentes para tratar em Clayborough e em várias outras propriedades. Terei eliminado esses assuntos dentro de três semanas. Podemos viajar então, se você quiser. Ela finalmente se virou para encará-lo, o pânico ainda ali, o parceiro desesperado. — Eu não desejo! Eu não quero ir a qualquer lugar com você! Eu não desejo ser sua esposa! — Sua voz falhou. — Eu não posso. — Mais uma vez, seus sentimentos não são revelação. Na verdade, estou cansado de ouvi-los. Por favor, mantenha sua aflição sobre o assunto de nosso casamento com você mesma. Nicole virou o olhar choroso de seu duro e brilhante. — Eu não tenho nenhum desejo de lua de mel com uma noiva rabugenta, de qualquer maneira — disse ele. Não deveria ter doído, porque não queria ir para o exterior com ele. Luas de mel eram para amantes, não antagonistas. Ela sabia, sem dúvida, que se tivesse se casado com Elizabeth, eles teriam aproveitado semanas e semanas sozinhos juntos no continente. Mas doeu. Se aconchegou profundamente na capa de raposa, lutando contra as lágrimas de exaustão, histeria e talvez derrota. Eles chegaram ao Clayborough Hall cinco horas depois. Estava escuro agora, uma noite sem estrelas e sombria, Nicole não podia realmente ver o palácio que, ela ouvira, rivalizava com a dos duques reais. Hadrian ajudou-a da carruagem. Nicole deixou-o, não tendo escolha, mas no momento em que seus pés tocaram o chão sólido, ela rapidamente retirou sua mão da dele. Ouviu sua respiração assobiar em desgosto. Havia tantos criados alinhados na imensa entrada para cumprimentá-la que Nicole ficou surpresa e um pouco assustada. Talvez uma centena de membros da equipe estivessem esperando para encontrar sua nova amante. Ela puxou sua capa de raposa de prata mais firmemente sobre seus ombros, seu único movimento. Ela percebeu que Hadrian estava se dirigindo a eles. — É tarde. Você pode encontrar a Duquesa amanhã ao meio-dia. Por favor, retorne às suas obrigações. Todos sumiram. Duquesa. Você pode encontrar a Duquesa amanhã. Não tinha realmente registrado. Nicole ainda não se mexeu. Ela era a duquesa de Clayborough. Foi incrível, foi aterrorizante. — Esta é a governanta, Sra. Veig. Esta noite ela vai mostrar seus aposentos. Nicole conseguiu acenar para a mulher de rosto severo e uniformizada que estava em silêncio ao lado da escada. Hadrian então perguntou se ela os deixaria por um momento. A Sra. Veig também desapareceu. Nicole percebeu que o quarto em que estavam - o foyer - era maior do que a maioria dos salões de baile. O teto tinha vários andares de altura. Os pisos sob os pés eram de mármore verde e dourado. Enormes colunas brancas subiram para tocar o teto. Anjos nus foram esculpidos em seus topos. Esta era a casa de Hadrian? Esta agora era sua casa? — Vou lhe mostrar a casa amanhã — disse ele. Ela se virou para olhá-lo. — Porque é tarde, vamos comer em nossos quartos, mais tarde. Nicole ficou olhando para ele, ainda tentando se adaptar à ideia de que era agora a duquesa de Clayborough, uma das principais mulheres do reino. — Eu vou estar pronto em meia hora — disse ele. — Eu espero que você também esteja pronta. É tempo suficiente? De repente o que estava dizendo a atingiu e seus olhos se arregalaram. Percebeu que a estava observando atentamente, tentando ler seus pensamentos. Antes que pudesse dizer para não se incomodar com ela nesta noite, chamou a governanta, que apareceu instantaneamente. Sem outra palavra, o duque se afastou abruptamente. — Você está pronta, sua graça? — A Sra. Veig perguntou. Sua voz não era tão severa quanto sua expressão. Nicole ficou abalada com as circunstâncias, incluindo o fato de que aquela era sua noite de núpcias e não ia se submeter a Hadrian novamente. Conseguiu se virar para a governanta. — Sim, por favor. O rosto da sra. Veig se suavizou. — Venha para cá, então. Suas malas já foram trazidas. Nicole seguiu a Sra. Veig, apreensão livremente a preenchendo agora. Como ela administraria uma casa assim? E esta foi apenas uma das muitas residências fantásticas que ele manteve! Como poderia supervisionar uma equipe tão grande? Ora, ela nem saberia por onde começar! De repente, lamentou que sua educação não tivesse sido mais convencional, que ela se recusara a se preocupar em aprender sobre o manejo doméstico, exceto em seus aspectos mais rudimentares. O olhar de Nicole a percorreu à frente, subindo os intermináveis lances de escadas em curva, a mão percorrendo o corrimão liso de teca. Um corredor vermelho enfeitado de ouro cobria as escadas. Enormes pinturas, algumas paisagens, alguns retratos, muitos feitos por mestres, olhavam para ela das paredes. Não pararam no segundo patamar. — Há mais apartamentos aqui, mas a suíte de Sua Graça e a sua estão no terceiro andar — explicou a sra. Veig. As palavras da governanta abalaram Nicole de volta ao presente e à crise prestes a confrontá-la. Em meia hora, Hadrian estaria à sua porta. Seu estômago revirou nervosamente, mas seu pulso também saltou. Se ao menos pudesse ter certeza de que poderia, de fato, controlar seu desejo por ele. Mas não tinha nenhuma confiança, por mais furiosa que estivesse com os eventos em torno deste dia e com Hadrian, nunca poderia negar que ele era o homem mais espetacular que já tinha visto. Mas morreria de vergonha se cedesse a seus caprichos esta noite. Nicole finalmente entrou em seu quarto através de uma grandiosa sala de estar feita em tecido de tule rosa e branco. Havia um escritório à esquerda, as paredes forradas de papel amassado e dois grandes closets e seu vestiário. Mais uma vez, o tema em todos os lugares era rosa e branco, até os pisos de mármore do banheiro eram um rosa pálido. Brilhava com tristeza através da mente de Nicole que o rosa era provavelmente a cor escolhida por Elizabeth. Ocorreu-lhe que toda vez que entrasse nesses apartamentos seria lembrada da menina morta e do amor de Hadrian por ela e sua tristeza. Hadrian, que agora era seu marido, mas não por escolha. Nicole repentinamente desprezou rosa. Cinco empregadas estavam loucamente no trabalho desembrulhando suas coisas, incluindo sua própria Annie de treze anos de idade. Apenas dois de seus cinco baús permaneceram fechados. O resto de seus pertences chegariam no final da semana. Mais do que apreensão estava enchendo Nicole agora. Ela tremeu, sentindo-se desesperadamente triste. — Obrigada — disse ela às empregadas domésticas e governanta. — Tudo bem. Eu posso fazer o resto mais tarde. — Ela queria ficar sozinha. Todos se viraram para ela, chocados com a exceção de Annie, cujos olhos eram tão grandes quanto uma coruja desde que entrara no palácio pela primeira vez. A governanta finalmente falou, seu tom gentil apesar da advertência. — Temos muitos funcionários para fazer isso, Sua Graça. Quando você quiser alguma coisa, basta puxar a campainha. Nicole assentiu. A Sra. Veig dispensou as criadas, exceto Annie. — Há mais alguma coisa que você esteja querendo? — Apenas um banho. — Está preparado — disse ela. — Boa noite então. Nicole se sentiu desorientada, aturdida. Se afundou na cama, um enorme estofado, com dossel e cortinas que parecia ter saído de vários séculos atrás. O cobertor era um veludo rosa pálido, suave ao seu toque. Então viu sua camisola branca de noiva colocada na cama. Em menos de meia hora, Hadrian viria aqui, pretendendo reivindicar seus direitos como marido. — Você está bem, senhora? — Annie perguntou, ainda de olhos arregalados. Então ela corou. — Quero dizer, sua graça? — Por favor, Annie, a formalidade não é necessária. — Nicole estava de pé. Foi até as pesadas cortinas brancas e as puxou de volta, mas não conseguiu ver nada. A noite estava escura e nebulosa. Apenas algumas luzes iluminavam o caminho de cascalho circular, que brilhava como conchas polidas em seu brilho. — Annie, eu quero ficar sozinha — disse Nicole. Ainda estava tremendo, mais agora do que antes tinha que pensar e rapidamente. Annie acenou com a cabeça e rapidamente se virou e se dirigiu para a porta mais próxima. Abriu-a apenas para se encontrar na sala de estar. Corando, ela encontrou a porta do corredor e a fechou silenciosamente atrás dela. Nicole se virou para olhar a cama rosa e branca. Olhou para a camisola fina ali, destinada a inflamar o apetite sexual do marido. Ela se lembrou de seus beijos, seu toque. O tremor de Nicole aumentou. De repente, percebeu que estava exausta a ponto de se sentir desmaiada. Sentou-se com dificuldade em uma cadeira vermelha, desejando ter mais tempo, desejando poder pensar com clareza. Mas não conseguia pensar em nada, seus pensamentos estavam confusos. Só sabia que depois de tudo o que tinha acontecido hoje, não deveria permitir que Hadrian a atropelasse e reivindicando seus direitos conjugais, não esta noite. E amanhã pensaria sobre o futuro e como lidaria com isso... com ele e ela mesma. Perguntou-se, se ousaria trancar Hadrian fora de seus aposentos. Nervosa, Nicole se aproximou de uma porta, ciente do barulho do relógio na parede à sua direita. Não achava que havia muito tempo antes que Hadrian batesse em sua porta. Não se sentia à vontade para outro confronto com ele, estava tão cansada, sabia que ficaria zangado se fechasse as portas, mas seria muito mais fácil trancá-lo e encará-lo de manhã do que deixá-lo entrar e lutar com ele esta noite. Rapidamente, Nicole virou a fechadura da porta da qual havia entrado no quarto, depois foi até a que se abria no corredor e a fechou também. Seu desconforto aumentou quando ela recuou para o meio da sala. Este não era o caminho para começar um casamento, percebeu. Foi provavelmente o pior caminho possível para começar um casamento. Antes que pudesse dar um passo para trás, para uma das portas trancadas, ele bateu. Nicole congelou. Ainda não! Ela rezou para que fosse uma empregada e não seu marido. — Sim? — Sua voz era instável. — Sou eu — disse Hadrian. Nicole hesitou, debatendo abrir a porta. Uma súbita covardia a assaltou. Se não o deixasse entrar... seria mais fácil mantê-lo do outro lado da porta, muito mais fácil. Ela tentou pensar em algo para dizer a ele e não conseguia pensar em nada que fosse reconfortante. — Nicole? — Ele perguntou. Havia impaciência em seu tom. — Posso supor que você está pronta? — Não — ela desabafou. — Eu não estou. Houve um curto silêncio. Se esforçou para ouvir o que ele estava fazendo, mas não ouviu nada. Então ele tentou a maçaneta, dizendo: — Você novamente procura atrasar? Isso não seria sábio. — Ele parou. Ela imaginou sua expressão, atordoada ao encontrar-se trancado fora de seu quarto. Ela torceu as mãos. — Hadrian — ela começou. — Estou muito cansada. Eu acho... — Eu começo a entender — ele disse suavemente. Em seu tom, Nicole congelou. — Abra a porta, senhora. Este foi um grande erro! — Hadrian — ela gritou, lamentando uma estratégia tão tola de tentar impedi-lo de entrar em seu quarto — Estou muito cansada, amanhã conversaremos. Não houve resposta. Segundos se passaram. Nicole ficou surpresa quando percebeu que ele estava indo embora! Seu truque havia funcionado. Tremendo descontroladamente, desabou sobre um pequeno sofá macio na frente do reluzente manto de granito rosa. Tinha o pressentimento de que acabara de escapar de um confronto muito angustiante talvez o pior de sua vida. Seu batimento cardíaco, ainda errático, finalmente começou a diminuir. Ela riu, o som um pouco trêmulo, bateu a mão sobre a boca, enquanto mais risadas, muitas delas histéricas, ameaçavam explodir. Deus, ela o despistou e foi tão fácil! De repente, um clique concentrou sua atenção na porta. Ela se abriu, revelando o poderoso e rígido corpo do duque, uma chave em uma de suas mãos cerradas. Pela primeira vez em sua vida, Nicole quase desmaiou. — Você nunca mais vai me trancar fora de novo — ele disse. Seu tom era muito calmo. Capítulo 27 Nicole ficou absolutamente imóvel. Seu coração batia num ritmo frenético e assustado. Hadrian encheu a porta e pôde sentir o calor de sua raiva emanando dele em ondas grossas e ondulantes. Estava vestido apenas com um roupão de lapela aveludada. Suas panturrilhas e pés estavam nus. Ficou claro para que ele estivesse nu sob o roupão e ela começou a recuar. Sua expressão estava ferozmente irritada. — Você me entendeu? — Ele saiu do chão. Uma veia pulsou em sua têmpora. Seus olhos eram negros. Nicole viu que seus punhos estavam cerrados ao lado do corpo. Observou-o enfiar a chave no bolso do roupão. — Você não tem o direito — disse ela em um sussurro, sua coragem quase falhando completamente. — Eu tenho todo o direito. E se você deseja começar nosso casamento nesta nota, então assim seja. — Seu olhar varreu-a com força. — Você é uma mulher muito imprudente, Madame. Uma dúzia de respostas e uma dúzia de pedidos passaram por sua mente. — Você foi avisado. É você quem é imprudente. Para me tomar como sua esposa quando eu claramente te recusei. Seus olhos se arregalaram. Um silêncio grave pairou entre eles. Nicole desejou ter respondido qualquer coisa, exceto a que escolhera. Hadrian não podia acreditar em seus ouvidos, estava tão furioso que não confiava em si mesmo para falar por um longo tempo. Olhou para a sua noiva assustada, mas selvagemente hostil. Se fosse menos homem a viraria sobre o joelho como se fosse uma criança desobediente e soltaria algumas pancadas dolorosas. Claro, nunca seria tão abusivo. Foi a humilhação que finalmente chegou a ele. Primeiro a humilhação na frente de toda a sociedade, podia imaginar as fofocas agora, sua alegria enquanto discutiam quão loucamente apaixonado o pobre duque estava com sua odiosa noiva. Mas o golpe final ainda estava por vir. Pois teve que ir até a sra. Veig para conseguir uma chave para a fechadura do quarto de sua noiva. A essa altura, tinha certeza de que todos os criados que empregavam especulavam sobre o motivo pelo qual a noiva impedira o noivo de entrar em seus aposentos na noite de núpcias. Um rubor tocou as altas maçãs do rosto do duque. Haveria fofoca sobre eles, mesmo na privacidade de sua própria casa, era hora de acabar com esse absurdo de uma vez por todas. — Você se fez bem clara na primeira vez, quando me propus diretamente a você. Você tem um desejo de morte, madame? Eu não pedi claramente a você para manter sua aflição para si mesma? — Você acha que isso vai me fazer ir embora? Ele realmente tinha o suficiente. Exercitando grande vontade, se virou com postura exterior e fechou a porta atrás de si, se virou para encarar sua noiva cautelosa e vigilante. — Você tem exatamente um minuto para tirar o seu vestido de casamento, Madame e se você não fizer isso, eu vou removê-lo para você. — Você iria me violentar? Ele sorriu friamente. — Eu não tenho intenção de te estuprar. Ou devo lembrá-lo novamente de um certo aspecto ávido de sua natureza? Eu sugiro que você comece com os botões. Você tem quarenta e cinco segundos sobrando. Ela se endireitou, seus seios voluptuosos se arfando. — Eu não vou, Hadrian. Eu não vou compartilhar uma cama com você hoje à noite. — Eu não estou dando a você uma escolha. — Que idiotice eu pensar que você faria! Sua Graça! Que idiotice minha não perceber que um senhor tão todo-poderoso como você mesmo não consideraria sequer dar a uma mulher - sua esposa - uma escolha! Você não me deu uma escolha tanto quanto casar com você, então por que você me daria uma escolha agora? — Seus olhos estalaram de raiva, mas também brilhavam com lágrimas. Ele poderia ceder a esse argumento ou não. Ele escolheu não. — Trinta segundos, senhora. Nicole parecia gritar incoerentemente com frustração. Abruptamente jogou o cabelo sobre um ombro, enfureceu-se em todos os seus movimentos. Abriu os botões na parte de trás do vestido, as pequenas pérolas se soltaram e se espalharam pelo chão. Nenhuma mulher poderia desabotoar seu vestido, em circunstâncias normais, mas sua esposa era tão louca que tinha poderes quase sobre-humanos. Ele a observou puxar violentamente o belo tecido, tirando todo o resto dos botões. Sabiamente, Hadrian não fez um comentário. Também não se mexeu durante o confronto, a luxúria foi a última coisa em sua mente. Só estava perseguindo isso por causa da luta pelo poder entre eles, estava determinado a tornar Nicole sua esposa em todos os sentidos da palavra e acabar com essa ridícula resistência dela de uma vez por todas. Agora seu corpo respondeu instantaneamente, agressivamente, à visão dela arrancando seu próprio vestido. Era uma visão que não esqueceria por muito tempo, se é que alguma vez o faria. Nicole puxou o vestido rasgado para baixo sobre os quadris e desceu pelas pernas longas e intermináveis, se afastou, chutando para ele. Ofegante, ela levantou o olhar selvagem para ele. Não se moveu, observando-a sem piscar. Mas ela já estava tirando muitas camadas de anáguas e chutando-as para longe com seus sapatos prateados de salto alto até que o quarto ao seu redor estivesse cheio de sedas e chiffons espumantes e sensuais. Com o mesmo tipo de esforço sobre-humano, tirou os cadarços superiores do espartilho e arrancou-o de seu corpo, jogou diretamente para ele. Reflexivamente, Hadrian capturou. Eles se enfrentaram. Nicole ainda estava em um frenesi e sua respiração ofegante encheu o quarto. — Você já terminou? — Hadrian perguntou em voz baixa. — Você está satisfeito? Mais uma vez, Hadrian achou mais sensato não responder. O silêncio se alongou. O frenesi de Nicole diminuiu. Hadrian observou a sanidade retornar. Ele a observou ofegante, lenta e suave, até que seus seios nus apenas tremeram, a observou se endireitar, viu a consciência entrar em seu olhar, viu o tom de rosa cobrir suas bochechas. Incapaz de se ajudar, cruzou os braços para cobrir o peito. Ele poderia ter feito um comentário, mas não fez, estendeu a mão. — Venha aqui — ele disse suavemente. Nicole levantou o olhar para ele. Ele viu mais lágrimas brilhando ali. Em vez de lhe dar a mão, em sinal de rendição, virou as costas para ele, apertando-se. Ela estremeceu. Ele se aproximou dela silenciosamente por trás. — Não tem que ser assim — disse ele gentilmente. — Não tem? Suas mãos se fecharam em seus ombros nus. Sua pele era lisa, sedosa e quente. — Não, não tem. — Ele se inclinou para frente quando a trouxe de volta contra ele. Ficou tensa com o contato com o corpo dele. Hadrian baixou a boca para a curva do pescoço dela. Estava imóvel, seus lábios brincavam delicadamente sobre sua pele, mas não havia nada de delicado no modo como seu falo se esticava contra suas nádegas. — Oh Deus, não — ela gemeu. Ele a ignorou passou por seus braços cruzados para segurar seus seios, pressionou totalmente nela e continuou a beijar seu pescoço por trás. Nicole engasgou, mas foi quase um soluço. Foi um momento de rendição e Hadrian sabia disso, virou-a rapidamente e levantou-a nos braços, levando-a para a cama. Pouco antes de ele descer em cima dela, seus olhos se encontraram. Ainda estavam molhados de lágrimas, mas também viu as faíscas do desejo. Beijou a umidade de suas pálpebras, ainda deliberadamente mantendo-se sob controle, o mais difícil ato de força de vontade que já havia experimentado em sua vida. A cabeça de Nicole escorregou de volta para o abundante luxo de seda e travesseiros de veludo e ela se arqueou em seu corpo. — Hadrian — ela sussurrou, suas mãos de repente entrelaçadas no cabelo dele. Era o momento que ele estava esperando por toda a sua vida. Sua paixão explodiu. Apertou-a em um abraço duro como pedra, sua boca na dela, devorando e exigindo. Nicole se abriu para ele completamente. Suas línguas se apressaram um no outro. Suas coxas se fecharam em torno de seus quadris. As mãos de Hadrian corriam por seu longo corpo curvado, procurando o calor e a umidade de sua feminilidade. Ela o cumprimentou com um rápido movimento de seus quadris. De repente, estava temporariamente insano. Ele levantou os quadris e enterrou o rosto em seu calor. Nunca em sua vida fez algo tão escandaloso. Ela engasgou e começou a adorá-la com a boca, beijando-a intimamente, descontroladamente e então sua língua estava acariciando cada frágil carne deliciosa que podia encontrar. Ela chegou ao clímax violentamente e sentiu cada arrepio no seu rosto. Ela chegou ao clímax pela segunda vez, ofegando seu nome, enquanto continuava a acariciá-la. Hadrian levantou-se sobre ela poderosamente. Os músculos dos ombros, tórax e braços estavam inchados e tensos. Segurou o rosto dela com ambas as mãos grandes. — Olhe para mim. Seus olhos se abriram. Eles estavam escuros e quentes de desejo e ainda úmidos de lágrimas. Suas almas se encontraram. Hadrian entrou nela. Seus corpos se eriçaram e investiram freneticamente sobre a colcha de veludo rosa. Almofadas de seda, cetim e brocado caíram no chão. As colunas da cama de três séculos de idade gemeram, o dossel rosa salmão balançou, o corte franzido saltou loucamente. E quase como um só, seus gritos, masculinos e femininos, dividiram a noite. Nicole tentou não chorar. Mas algumas lágrimas escorreram por suas bochechas. Não sabia se eram lágrimas de desespero ou lágrimas de alegria. Foi apenas exaustão emocional? Virou a cabeça para observar o marido. Marido dela. Seu pulso acelerou com a própria ideia. Estava deitada nua sobre o veludo rosa da cama; ele estava alimentando o fogo na lareira, também estava sem roupa. De costas para ela e sem vontade ainda hipnotizada, se inclinou sobre um cotovelo para encará-lo abertamente. Era magnífico, um suspiro que ela não pôde conter escapou dela. Os músculos dos ombros largos e os braços musculosos ondulavam quando acrescentou madeira às chamas. Suas costas eram compridas, esculpidas com uma força mais brilhante e esculpida. Suas nádegas eram altas e duras e poderosamente masculinas. Seu olhar escorregou curiosamente. Ele se endireitou e virou instantaneamente, seu olhar encontrando o dela. Sabia o que ela estava fazendo. Um rubor cruzou suas feições. A consciência quente engrossou em suas veias, correu para seus quadris. Ela se mexeu inquieta. — Eu encontro sua aprovação? — Ele perguntou baixinho. Nicole olhou nos olhos dele. O fogo saltou atrás de seu corpo nu e dourado. Foi uma ilusão, não foi, o calor que viu lá? Com uma cobiça própria, seu olhar deslizou sobre ele novamente, sobre seu peito largo e denso, sobre seus quadris em bom estado, sobre sua masculinidade pesada e grande, agora flácida e úmida. — Sim — se ouviu sussurrar. Mudou-se para ela que tentou manter os olhos longe dos dele, mas era impossível. Seus olhares estavam trancados juntos. Sentou- se na cama ao lado dela. Para sua surpresa, ele passou a mão pelo cabelo grosso e ondulado, acariciando-o. Pela segunda vez em sua vida, quase desmaiou, mas desta vez, com prazer inebriante. Ela tentou ler seus pensamentos, tentou penetrar e compreender o calor, pois certamente era o calor que viu em seus olhos. Estava com tanto medo que estava vendo o que queria ver, mas a esperança era impossível de se afastar. E então, quando inclinou a cabeça para a dela, deixou de importar. Não naquele momento. Esperou uma eternidade pela sensação de seus lábios. Quando chegou, ela suspirou... suspirou e se rendeu. Nicole acordou animada demais para estar cansada, apesar do fato de que mal dormira, devido a seu marido insaciável. Se esticou com satisfação e olhou para o lado dele da cama, apenas para descobrir que tinha ido embora. Sentou-se, ainda estava nua e sentia-se gloriosa, apesar do fato de que também estava terrivelmente dolorida por tanta paixão excessiva. Mas ela sorriu e sorriu e sorriu e sorriu. Oh que idiota tinha sido, sabia disso agora. Tinha sido totalmente estúpida em resistir a se casar com Hadrian. Para resistir a casar com o homem que amava tanto que doía. Era melhor estar com ele do que estar separada dele. Muito melhor. Lentamente, se levantou da cama. Viu que já passava da metade da manhã, dormira vergonhosamente tarde. Encontrou o roupão no chão e colocou-o, depois foi até as cortinas e as abriu. Um dia cinzento pesado a saudou. O inverno estava a caminho. Perguntou-se onde estava Hadrian, como agiria em relação a ela agora. Entrou para o banheiro de mármore e começou a correr a água. Pensativamente, se sentou ao lado da banheira. Não devia se iludir, sabia. Só porque eles compartilhavam uma paixão tão esplêndida pelos corpos um do outro não significava que a amava. Não podia esquecer que Elizabeth não estava morta há um mês. No entanto, com o tempo, sua dor diminuiria. E ela, Nicole, ainda estaria aqui, sua esposa. Se eles compartilhavam tanta paixão agora, não poderia um dia vir a amá-la? Tentou se lembrar de que havia se casado com ela por dever. Não parecia mais tão relevante. As mãos de Nicole tremeram. Nunca deveria ter resistido a esse casamento. Nunca deveria ter exibido abertamente sua raiva na frente de todos os seus convidados. Não deveria ter tentado trancá-lo na noite passada. Oh, como odiava seu orgulho hoje! Percebeu com tristeza que ela provavelmente não tinha escondido seus sentimentos. Ele tinha visto isso ontem à noite. E ela não se importou. Houve uma batida na porta dela. Nicole se levantou para atender e encontrou a sra. Veig com Annie. A empregada parecia ansiosa e segurava uma bandeja de café da manhã nas mãos. — Sua Graça, eu nunca presumo incomodá-la, mas não pude deixar de ouvir a água do banho. — E ela lançou a Annie um olhar de desaprovação. Nicole sorriu. — Estou prestes a tomar um banho. — Você tem pessoal para preparar o seu banho, Sua Graça — disse a Sra. Veig. Então sua consideração tornou-se sombria e acusadora enquanto olhava para a pequena Annie. — Entre você, menina! Vá e veja se o banho é exatamente como Sua Graça gosta. — Sim! — Annie fugiu. Nicole piscou, havia esquecido a extensão de suas novas circunstâncias, não era mais Lady Shelton, ela era a duquesa de Clayborough. E duquesas, presumiu, não se atreviam a preparar seus próprios banhos. — Sinto muito — disse ela. Mas a Sra. Veig não ouviu ou fingiu não ouvir, entrou na sala e colocou a bandeja na mesa de vidro delicadamente forjada em frente à lareira. Um fogo crepitou ali e a governanta se virou para atendê-lo, atiçando-o. Nicole se perguntou se Hadrian - seu marido - havia feito o fogo para ela antes de sair de sua cama ao amanhecer. — Alguém veio esta manhã para cuidar da lareira? — Não, sua graça. — A Sra. Veig ficou chocada. — Eu nunca permitiria que alguém te perturbasse, a menos que você desse ordens explícitas ao contrário. Você quer que sua empregada atinja o fogo à primeira luz? Ela pode fazer isso em voz baixa, sem acordá-la. Nicole se perguntou se Hadrian compartilharia sua cama novamente esta noite. — Não, não, tudo bem. Eu tenho sono leve, prefiro não ser incomodada. A Sra. Veig assentiu, indo em direção à cama. Nicole sentou-se um pouco estupidamente na espreguiçadeira, olhando sem ver a bandeja de bolinhos, geleia e chá. Hadrian havia atiçado o fogo por ela. Um gesto tão pequeno. E ela foi levada às lágrimas! — Annie — a Sra. Veig chamou bruscamente. — Assim que você terminar lá, leve estes lençóis para a lavadeira, e então você pode fazer a cama. Nicole olhou para a sra. Veig. A mulher se virou, movendo-se para as cortinas das outras janelas e abrindo-as automaticamente. O olhar de Nicole se alargou quando olhou para a cama. Havia uma mancha vermelha escura bem no meio dela e parecia sangue. Não podia acreditar em seus olhos. Nicole desceu as escadas devagar, insegura. Esta era sua casa agora, mas se sentia como uma estranha, não como sua amante e certamente não como uma duquesa. Não tinha ideia de para onde estava indo, ou o que deveria fazer ou estar fazendo. Era a esposa de Hadrian, a duquesa de Clayborough. Ainda era incrível. Mas sorriu, incapaz de esquecer de estar em seus braços na noite passada, ou o olhar de calor em seus olhos. E hoje, hoje, havia alimentado o fogo por ela. Foi um ato tão pequeno, ainda que para Nicole, isso fosse terrivelmente significativo. Era sua esposa. Não foi tão ruim, não foi nada mal. Talvez pudesse dar certo, com um pouco de esforço da parte dela. Faria o melhor possível para recuperar o começo desastroso. Faria mais do que aceitar ser sua esposa, ia tentar ser uma boa esposa, iria tentar agradá-lo. E conquistar seu amor. No caso dele estar na casa, queria aparecer como uma duquesa deveria, tinha que evitar sua própria propensão para cometer impropriedades, queria ser adequada. Havia exercido o maior cuidado ao fazer o toilette naquela manhã. Annie estivera lá para ajudá-la, mas a jovem criada sabia tanto quanto Nicole em relação ao traje adequado e Nicole não fazia a menor ideia de como uma duquesa deveria se vestir de manhã. Estava determinada a se vestir adequadamente. Felizmente, a Sra. Veig estava com elas, pairando sobre Annie, querendo se certificar de que todas as necessidades de Nicole fossem atendidas. A única necessidade de Nicole era saber o que vestir. Não queria parecer ignorante e perguntara casualmente à sra. Veig qual era sua preferência, se ela gostava desse vestido ou daquele. Lisonjeada, a empregada escolhera um lindo conjunto amarelo e verde, o paletó apertado e chamejado no quadril, a saia enrolada nas costas. Foi como Nicole suspeitou. Duquesas vestidas. Não estava muito feliz em ter que usar tal enfeite tão cedo no dia, mas faria isso. Ao atravessar o segundo andar, passou por um bando de empregadas ocupadas limpando no corredor, no patamar e no fantástico salão de baile ao lado do patamar. Suas portas estavam escancaradas, revelando brilhantes pisos de mármore preto e branco, colunas de gesso branco e um teto com afrescos. Todos rapidamente fizeram uma reverência para ela com o mesmo refrão — Bom dia, Sua Graça Nicole continuou lentamente sua descida. Ficou um pouco abalada com tal deferência, foi incrível. Ela ficou ainda mais abalada com a noção e esperança de que Hadrian estivesse em algum lugar deste palácio e que ela o veria. Seu coração já estava batendo de excitação. No térreo, fez uma pausa. O que uma duquesa faz com seu tempo? A sra. Veig lhe informara que o jantar era de uma só vez, se isso fosse aprovado e Nicole dissera que sim. Eram apenas onze e meia. Em algum momento teve que decidir o cardápio da ceia da noite, pois a sra. Veig perguntara o que gostaria de ter naquela noite. Nicole não se importava com o que o chef preparava, mas parecia importante para a sra. Veig que determinasse a passagem, então ela o faria. Mas primeiro precisa encontrar o marido. As esposas sempre não cumprimentavam seus maridos com um alegre — Bom dia — Até duquesas? Hesitou nervosamente no primeiro andar. Dois criados masculinos de libré estavam à frente dela no vestíbulo, mantendo vigilância sobre as enormes portas da frente. Nicole rapidamente se aproximou deles. Ambos a cumprimentaram como todos os outros funcionários tinham naquela manhã. — Por acaso você saberia onde está Hadrian? Quero dizer — ela corou — onde Sua Graça poderia estar? Os homens estavam impassíveis, não rompendo nem o menor sorriso com o seu erro. O ancião respondeu. — Ele ainda não saiu Sua Graça. Você pode tentar o seu escritório, ou a biblioteca verde. — E onde estão esses cômodos? — Seu escritório é no final do corredor, a décima porta à sua esquerda. Sua biblioteca está no andar de cima no terceiro andar, a porta antes de sua suíte. Há uma biblioteca em cada andar — ele explicou gentilmente, vendo sua expressão de questionamento. Nicole partiu para o seu escritório. As duas portas vermelhas estavam fechadas. Estava tremendo agora e uma fantasia a assaltou, uma na qual Hadrian se levantou de trás de sua mesa para abraçá-la ansiosamente quando entrou em seu domínio. Quão tola estava sendo. Ela bateu. Lá dentro, o duque vinha tentando atender ao assunto de vários relatos, sem muito sucesso, durante toda aquela manhã. Geralmente passava as manhãs em sua propriedade a cavalo. Esta manhã, depois de deixar sua nova noiva aconchegada sob as cobertas de veludo, escolheu fazer papelada em seu escritório e esperá-la. Era um madrugador e hoje, apesar da noite passada, não havia sido uma exceção. Na verdade, duvidava que tivesse dormido mais de uma hora ou duas. Mas não estava cansado. Pelo contrário, não havia como confundir a alegria que fluía em suas veias. E foi por causa de sua esposa. A esposa dele. Durante toda a manhã, testou essa frase, silenciosamente, sem nenhuma satisfação. Ficou surpreso com a intensidade da satisfação que sentia e a possessividade que a acompanhava. Nem conseguia parar de pensar nela. Sua obsessão aumentara cem vezes, não diminuíra. Mas o que isso importava? Por enquanto era dele, estava obcecado por ela. Ela teria se suavizado depois da incrível noite que eles compartilharam? Seu coração pulou com o pensamento. Ou ela, com a luz da manhã, seria sua velha, recalcitrante e orgulhosa? Teriam uma batalha ou estabeleceriam uma trégua? Ao bater leve em suas portas se levantou, derrubando uma pilha de papéis de sua mesa. Se curvou para recuperá-los apressadamente, sabendo que era Nicole que estava do lado de fora de sua porta e sabendo muito bem que era a causa de seu erro. Decidindo resolver a bagunça mais tarde, colocou a pilha ao acaso em sua mesa, que nunca tinha sido menos do que limpa e arrumada. Ele atravessou rapidamente o escritório e abriu as duas portas. Suas bochechas arderam quando seus olhares se encontraram. Por um instante, nenhum dos dois falou, ambos olhando um para o outro, talvez avaliando o humor um do outro. — Bom dia — disse Nicole. — Bom dia — ele respondeu educadamente. Era difícil manter a emoção fora de sua voz, emoções que ele não ousava analisar. Mas as cores estavam lá, em tons de arco-íris e elas nunca foram tão brilhantes. Quando percebeu que ela estava no corredor, ele rapidamente se afastou. — Por favor entre. — Obrigada. Fechou a porta atrás dela, pensando que era a criatura mais linda que já vira, e aquele amarelo vivo e brilhante era uma cor magnífica nela. Topázios, pensou. Compraria seus topázios. Entrou no centro da sala e a observou. Se virou, sorrindo deliberadamente, incerta. Ele conseguiu sorrir de volta. Nenhum deles usava o coração na manga, percebeu. Hoje estava tentando ser tão cautelosa e educada quanto ele. Isso em si declarou algum tipo de trégua existente. — Você dormiu bem? — Ele finalmente se aventurou no prolongado silêncio. Era impossível não pensar nela fisicamente, não estar ciente dela fisicamente. Estava quente, o quarto estava quente. Ele se perguntou qual seria a reação dela se a pegasse em seus braços e fizesse amor com ela no sofá. — Sim. Não. Não realmente. — Desta vez, uma pequena risada borbulhante escapou dela. Desta vez seu sorriso, em resposta, foi genuíno. Seus olhares se encontraram. Nervosa, Nicole se virou primeiro. — Eu só queria dizer olá. — Estou feliz. Sua cabeça girou ao redor, ela olhou fixamente. Sentiu-se corando, então agora também se virou. E deveria adivinhar a verdade? Queria ser mais condescendente com ele e queria ser mais do que acolhida? — Você gostaria de conhecer a equipe? — Oh, sim — ela disse ansiosamente. Gesticulou para ela que se moveu para ele. Abriu a porta para ela e permitiu que o precedesse. — Depois que as apresentações forem feitas — disse ele, novamente, muito consciente da tensão sexual entre eles — devo partir para cuidar de assuntos que negligenciei por tempo demais. — Oh!! Ela ficou desapontada? Esperava que ele não fosse um tolo em pensar assim. — A Sra. Veig serve um almoço em uma hora. Se você não se importa com o horário, troque-o como faria. — Está bem. Era muito difícil andar ao lado dela e não a abordar, o completo abandono da noite anterior tornou ainda pior. Sabia que estava sendo totalmente egoísta ao menos pensar em como poderia discretamente e com tanta clareza desistir de suas responsabilidades e levá-la de volta ao andar de cima. Ela provavelmente não estava em condições de entreter seu marido sensual esta manhã. Ainda assim, não conseguia tirar a noção de sua mente. As apresentações levaram uma hora. A equipe que mantinha a residência de Clayborough contava cento e dez. Além disso, havia o resto do pessoal a considerar, os jardineiros, os guarda-parques, o gerente do parque, os cavalariços, o treinador, o canil, os cocheiros, os lacaios e os batedores. Havia também dois maçons e quatro carpinteiros, pois, como o duque explicou, sempre havia consertos a serem feitos em uma casa tão antiga. Ele a levou de volta para a casa, se tal uma residência palaciana poderia ser chamada assim. Na porta da frente, ele a entregou para a sra. Veig e Woodward. — Aproveite seu almoço, senhora. Sinto muito por não poder acompanhá-la. — Seu tom era formal, mas seu arrependimento era sincero. — Eu entendo — disse Nicole, com os olhos nos pés de botas. — Que horas você vai voltar, meu senhor? Sua sobrancelha subiu e sorriu para a forma cuidadosa de nomeá-lo que escolheu. Mas tinha sido a forma adequada de endereço, assim como ela havia aparecido a imagem de propriedade durante toda a manhã. Se sua esposa tivesse decidido mais do que uma trégua, ela mudara de ideia? Seria sensato para ele estar tão satisfeito com essa perspectiva? — Pretendo voltar às seis e meia. Se você quiser, pode me encontrar no salão vermelho para um xerez antes do jantar, às sete e meia. A ceia é às oito. A menos, é claro, que não encontre com sua aprovação. — Não, tudo bem — Disse Nicole, corando um pouco. — Você pode mudar qualquer coisa que quiser Nicole — disse o Duque suavemente, de modo que só ela podia ouvir. Queria deixar perfeitamente claro que sua posição como esposa e duquesa lhe dava um poder, em seu domínio, compatível com o dele. E talvez, obliquamente, quisesse que ela soubesse que ele próprio estava tentando agradá-la. — Você só tem que me dizer, a Sra. Veig ou Woodward, o que você gostaria de ter feito. Nicole assentiu com a cabeça, os olhos arregalados no rosto dele. Ele hesitou. Havia tanto em seu olhar, tanto que tinha medo de considerar o que viu. Sua mandíbula apertou quando o absurdo pensamento de a beijar brotou em sua mente. Também não seria um beijo educado na bochecha. Seria uma exibição empolgante de paixão. Com grande dificuldade, se conteve. Mas se arrependeu o dia todo. Capítulo 28 Eles rapidamente se estabeleceram em uma rotina. Nicole acordava numa hora indecente, apenas para descobrir que Hadrian tinha ido embora. Nicole não o veria novamente até se encontrarem na biblioteca do primeiro andar antes do jantar. Aprendeu que montava em torno de suas propriedades logo após o nascer do sol. Embora tenha voltado à tarde, isolava-se em seu escritório e Nicole achou mais prudente não invadir seu santuário, embora teria amado muito. Assim, Nicole teve o dia para si mesma. Depois de um banho descontraído, não havendo necessidade de se apressar. Nicole se vestia com a orientação involuntária da sra. Veig, então descia de sua suíte para se encontrar com o chef para discutir os cardápios do dia. Isso parecia ser da maior importância para todos. Depois dessa tarefa, não parecia haver mais nada que exigisse sua atenção. A sra. Veig e Woodward dirigiam a equipe e a casa com a máxima eficiência. Se Nicole quisesse intervir ou supervisionar, não saberia por onde começar. Seu único outro dever parecia ser decidir que roupa vestir para a refeição da noite e informar Annie, para que pudesse informar a Sra. Veig. Suas circunstâncias eram novas demais para que o tédio se instalasse. A casa era tão vasta que Nicole continuou as explorações que começou em seu primeiro dia. Essas explorações foram demoradas. No espaço das várias horas que permaneceram até o jantar ser servido, Nicole não podia sequer cobrir um andar inteiro e a mansão tinha sete. Ocorreu-lhe que poderia ter que passar o resto da sua vida explorando. Também ocorreu a que seria legal se juntar a Hadrian enquanto fazia as rondas de seus arrendatários e operações agrícolas e pecuárias. Destruiu esses pensamentos de sua mente. Não teve que perguntar para saber que as duquesas não se entregavam à administração da propriedade, provavelmente não gastaram todo o seu tempo explorando suas próprias casas também. Mas Nicole não conseguia descobrir o que elas faziam. À uma da tarde, almoçou sozinha. Naquele primeiro dia, servira sua refeição na sala de jantar formal. A experiência foi um pouco desconcertante. O quarto era o comprimento de duas quadras de tênis e assim era a mesa de jantar. Sentou-se ao pé dela, sendo servida uma refeição de sete pratos por um bando de servos, com Woodward pairando sobre ela para cuidar de todos os seus desejos e caprichos. Infelizmente, Nicole não era uma grande comedora e não tinha fantasias extravagantes. Depois disso, pediu que servissem o almoço na sala de música, que era alegre e aconchegante, em comparação com o monstruoso refeitório. Afinal, Hadrian dissera que poderia fazer o que quisesse. Nas tardes cavalgava. O dono do estábulo era um irlandês baixinho e rude chamado William O'Henry. Ele primeiro insistiu que andasse com uma escolta de seis criados com libré. Nicole ficou desanimada com essa perspectiva. E porque o marido deixara bem claro que poderia mudar qualquer coisa que não satisfizesse sua aprovação, insistiu que cavalgasse sozinha. O Sr. O'Henry ficou espantado. Finalmente, eles se comprometeram, mas só porque insistiu que o duque teria sua cabeça (e o descartaria francamente) se a deixasse andar pela propriedade sem supervisão. O próprio O'Henry se juntou a ela. Nicole logo descobriu que não se importava. O homem mais velho era um verdadeiro deleite, não apenas sendo um mestre cavaleiro, mas também um sujeito bastante espirituoso. Ele a regalou com contos de cavalos, corridas, caçadas e tinha mais do que algumas histórias engraçadas para relatar sobre vários cavalos excepcionalmente apresentáveis que ele cuidara em sua longa vida. Nicole fez questão de voltar às cinco para ter tempo de sobra para se vestir para o jantar. Naquela primeira noite, Annie fez a espiã. A pequena criada discretamente discerniu que o duque não se vestia para o jantar. Para o alívio de Nicole, Annie informou-a de que o traje de Sua Graça estava relaxado à noite, consistindo em não mais do que uma jaqueta, calças e chinelos. Muito ansiosa para ver Hadrian novamente depois da noite em que passaram juntos, Nicole escolheu seu traje com cuidado. Vestiu um vestido casual de azul da meia-noite e cuidadosamente debateu se devia adornar-se com pérolas ou diamantes. Não querendo parecer formal demais, ela finalmente decidiu contra qualquer joia, exceto por um pequeno par de brincos e um camafeu em sua gola. Ela aplicou um leve aroma à garganta e aos pulsos e permitiu que duas empregadas por hora colocassem os cabelos em um estilo que parecia sem arte e sem nenhum tipo de complicação. O duque a estava esperando na biblioteca. Parecia inquieto e impaciente, mas certamente não podia ser, pois Nicole chegou exatamente às sete e meia, embora estivesse pronta meia hora antes. Para seu completo desânimo, encontrou o marido vestido formalmente com um terno preto e gravata trespassada. De alguma forma, havia entendido mal ou Annie fora mal informada. Nicole esperava que Hadrian não achasse que sua aparência fosse terrivelmente deficiente. Na noite seguinte, estava determinada a ser uma duquesa adequada até o último centímetro de seu corpo alto. Usava um vestido de noite ousadamente recortado e de silhueta reta que era a última moda e o auge da sofisticação, com todos os seus diamantes, com sapatos de cetim de salto alto e uma bolsa de noite combinando. Suas mãos estavam enluvadas e ela carregava um pequeno e requintado leque de seda. Seu cabelo levou duas horas para fazer e desta vez foi inventado, não cometeria o mesmo erro duas vezes. Para seu choque, Hadrian a cumprimentou em nada menos que sua jaqueta de fumar e chinelos! — Parece que estamos com objetivos opostos, madame — comentou secamente. Mas seus olhos estavam brilhando com admiração franca. — Ontem à noite você se vestiu — disse Nicole sem fôlego, incapaz de achar a situação divertida, não quando era a receptora de um olhar tão masculino, cheio de promessas. — Madame, ontem à noite você escolheu não se vestir. Ela piscou. De repente, os dois sorriram. Ele veio em sua direção. Mesmo em sua jaqueta de smoking, o duque era o epítome de um macho viril. Seus passos eram longos, inquietos. Uma energia sexual altamente carregada parecia ondular visivelmente sobre seu corpo. Entregou-lhe um xerez. — Talvez devêssemos discutir isso — disse ele. Seu tom não era casual. Foi baixo e sugestivo. Nicole molhou os lábios. Nunca mais ficaria imune a sua proximidade, seu calor, sua intenção. — O que você gostaria que eu fizesse? — Ahh, precisa perguntar agora? Ela corou, recordando as coisas que ele a guiara a fazer na noite passada, a segunda noite de êxtase coisas que nenhuma mulher decente deveria suspeitar que fossem possíveis entre amantes. Ele veio em seu socorro, um dedo indicador tocando sua bochecha. — Perdoe-me. Você me distrai, Senhora Esposa. Nicole estava fraca de prazer. — Você gostaria que eu subisse e me transformasse em roupas mais formais? — Ele perguntou, sério agora. Balançou a cabeça. — Eu prefiro muito mais você assim. Sorriram e tiveram seu primeiro entendimento. Jantavam todas as noites na sala de jantar formal. Foi um assunto sem conversas. A mesa era para oitenta. Nicole contara as cadeiras na primeira vez em que fizera uma refeição lá. Separada do marido por um espaço tão vasto, nem podia esperar continuar uma conversa com ele. O máximo que podia fazer era roubar olhares discretos e não tão discretos, que se tornavam cada vez mais aquecido à medida que a refeição progredia. No final da semana, Nicole decidiu que era hora de insistir em que fossem adiadas para uma sala menor para o jantar. Hadrian ficou surpreso com o pedido dela, mas também parecia contente com isso. Depois disso, eles jantaram em um dos salões menores no primeiro andar. E embora a conversa fosse agora mais do que possível, havia pouco disso. Havia muita tensão entre eles. Porque ambos sabiam o que os esperava depois do jantar. Uma noite de paixão ardente, de indulgência decadente. No final da primeira semana, Nicole ficou emocionada por ter a visita de sua mãe, Regina e Martha. Jane enviara uma nota perguntando a Nicole se tudo ia bem e Nicole logo lhe assegurou que uma visita não seria uma intrusão indesejável. A presença de Marta com sua irmã e mãe foi uma surpresa maravilhosa. Nicole se absteve de cumprimentá-los na porta da frente como gostaria de fazer. Estava muito consciente de sua mudança de status agora e preocupada demais em ser adequada. Woodward escoltou o trio para a sala de música arejada e momentos depois, Nicole fez sua entrada. Estava vestida com roupas casuais considerando seu status, mas o vestido de ouro era o moiré mais caro com um tema contemporâneo ricamente folheado e era na última moda, que era bem direta e completamente ousada. Também usava o presente que Hadrian lhe dera na noite anterior, um deslumbrante conjunto de topázios incrustados de diamantes e seu cabelo estava empilhado alto de uma forma muito elegante. Suas três convidadas ficaram boquiabertos, sem palavras. Nicole se aproximou radiante e em êxtase para ver todo mundo. — Mãe! Regina! E Marta! Que bom que você veio! Elas trocaram abraços. Martha se recuperou primeiro, seu olhar se movendo lentamente sobre Nicole e depois os móveis. — Meu Deus — ela disse, sorrindo. — Você se tornou uma duquesa. Nicole ficou ruborizada de prazer. — Eu suspeito que devo manter as aparências. — Ela apontou para o vestido. — Até agora, não houve ninguém para ver meus esforços, exceto a equipe. — E seu marido — disse Martha. — Ele se levanta com o sol e desaparece pouco depois. Volta em algum momento da tarde e se tranca em seu escritório até que ele mude para o jantar. — Mas não era uma reclamação, sorria enquanto falava. Jane de repente sorriu. — Você teve uma mudança de coração, Nicole? — Que tola eu fui! — Nicole exclamou apaixonadamente. — Como eu pude ser tão estúpida para resistir a esse casamento! — Você está feliz, então? — Nicole mordeu o lábio. — Não tenho mais orgulho. Admito a verdade. Estou mais do que feliz, estou em êxtase. Martha se levantou e correu para abraçá-la. — Eu estou tão feliz. — Querida, estou tão feliz por você — Jane chorou animadamente, também abraçando a filha. Regina esperou de olhos arregalados. Nicole ficou sombria. — Eu estou feliz por você também — disse Regina, lágrimas brotando em seus lindos olhos dourados. — Oh Re! — Nicole chorou. — Eu odiava lutar com você, eu juro. — Eu estava sendo egoísta não você — disse Regina, tremula. — Não foi sua culpa que o pai estava me fazendo esperar para casar. — Mas eu deveria saber como você se sentiu — protestou Nicole, apertando as mãos uma da outra com força. — Você está apaixonada? — Regina sussurrou. — Sim — Nicole sussurrou de volta. — Sim eu estou. Sorrisos envolveram os rostos das duas irmãs e se abraçaram entusiasticamente. Mais abraços foram trocados por toda parte. Quando todos se sentaram novamente, Nicole se virou para Jane. — Mãe, como está o pai? — Está bem. E ficará emocionado quando eu lhe disser como você está feliz. — Eu sinto muito por termos lutado. Estava certo, como geralmente está, em me fazer casar com Hadrian. É a melhor coisa que já aconteceu comigo. — Por que você não diz isso a ele? — Jane perguntou, satisfeita. — Ele sente sua falta, querida. E está tão preocupado de não ter feito a coisa certa. — Antes de sair, vou escrever uma carta para ele — decidiu Nicole. — Por favor, peça para vir me visitar em breve. As senhoras começaram a conversar animadamente sobre o casamento de Nicole e sobre os deveres de uma duquesa. Nicole finalmente disse — Eu acho que, com o tempo, ele pode vir realmente a cuidar de mim. E mesmo que não, eu acho que pelo menos seremos amigos, é gentil e respeitoso e atencioso. Na verdade, eu acho que está tentando o seu melhor para me agradar — Ela corou novamente com prazer. — Assim como você está tentando agradá-lo — apontou Martha, ainda incapaz de acreditar na aparência elegante e discreta de Nicole. — Sim, eu estou — disse Nicole. Desta vez, seu rubor foi trazido por memórias gráficas de como tentou agradá-lo na cama. Não havia dúvida de que havia sido bem-sucedida nesse esforço. Estava rapidamente se tornando tão habilidosa quanto uma cortesã, decidiu. Na noite anterior, finalmente teve a coragem de fazer o que queria desde a primeira noite, adorar o corpo dele com as mãos e a boca, enquanto ele adorava o dela. E depois Hadrian a segurou com muita força por um longo tempo. — Eu não posso esperar até que vocês dois comecem a sair — Regina disse com satisfação. — Eu não posso esperar até que a sociedade veja você agora! Se eu fosse você me exibiria bastante para todos que já te condenaram. — Não vai ser como da última vez? — Nicole disse com tristeza. Odiava até mesmo pensar sobre seu comportamento no dia do casamento e como havia humilhado Hadrian na frente de todos os seus convidados. Era incrível que não estivesse mais irritado com ela, era espantoso que tivessem se recuperado privadamente de sua indiferença descuidada por aparições públicas. — Eu deveria esperar que não! — Martha exclamou. — O pobre duque tem sido o alvo de algumas boas risadas, mas uma vez que as pessoas percebam que você está por perto, elas não vão mais fazer piadas. — Piadas? Que piadas? Martha piscou e rapidamente olhou para Jane, que era curiosa e aparentemente ignorante do ridículo e Regina, que não era. — Oh querida, é claro que você não sabe. Não é importante, Nicole, o importante é que vocês estão se dando bem. — Conte-me. — Seu queixo estava definido teimosamente, severamente. Marta estava relutante. Regina não. — Ela deveria saber! Se fosse eu, eu absolutamente gostaria de saber! Martha suspirou. — Na semana anterior ao seu casamento, ele era o mais encantador e amável dos homens! Todos não podiam deixar de notar a mudança nele, pois no passado não fazia segredo de sua indiferença, nem mesmo tédio, com o turbilhão social. Lembra como prometeu jogar o tolo apaixonado? Bem, fez o seu trabalho muito bem, como loucamente apaixonado o Duque era e como você deve ter sido responsável por uma mudança tão dramática em sua personalidade, a pressa de casar foi escandalosa, também foi o consenso de que devia ser amor. — Oh, não — disse Nicole quando Martha fez uma pausa. Martha suspirou novamente. — Infelizmente, sua raiva com o duque era óbvia demais em seu casamento. Depois, o consenso mudou. Eles disseram que era um amor verdadeiro da parte do Duque. Claramente você não retribuiu os sentimentos. Foi o auge da conversa. Nicole estava com raiva, zangada com as fofocas e ainda mais zangada consigo mesma por humilhar Hadrian de tal maneira. O casamento deles poderia ter sido o pior escândalo imaginável se os rumores desagradáveis não tivessem sido interrompidos. No entanto, ele havia feito mais do que os impedir, realmente tornara o casamento precipitado aceitável, mais do que aceitável, se o tom de Martha fosse qualquer indicação. Ele a protegera como prometera, enquanto ela desfizera tudo o que ele fizera de uma só vez, atacando- o brutalmente, se não intencionalmente. Silenciosamente prometeu corrigir as coisas imediatamente. Da próxima vez que saíssem, se asseguraria de que não havia dúvida de que a noiva do duque estava loucamente apaixonada pelo marido. — Eu não queria chatear você — disse Martha. Nicole não respondeu. Um novo pensamento a atingiu, hipnotizando-a. Havia se esquecido do sangue em seus lençóis na manhã seguinte à sua noite de núpcias. Não tinha sido capaz de pensar em qualquer razão plausível para a mancha de sangue, exceto que Hadrian deve ter se cortado de alguma forma. Agora, uma ideia impressionante lhe ocorreu. Estava tentando protegê-la novamente? Teria planejado a mancha de sangue em seus lençóis para que ninguém soubesse que ela não era virgem na noite de núpcias deles? Servos fofocavam terrivelmente lá embaixo. Se não houvesse nenhuma mancha, todos em Clayborough saberiam disso logo em seguida. Logo uma empregada contaria a outra criada que estava empregada em outro lugar. Nicole tinha certeza de que Hadrian havia manchado seus lençóis. Para protegê-la. Não havia como se cortar na cama com ela. Seu coração inchava impossivelmente com seu amor por ele. Os convidados de Nicole passaram a noite. Todos passaram uma noite maravilhosa com muita risada e bom humor, até mesmo o duque, que não pôde deixar de desfrutar da camaradagem compartilhada pelas senhoras. A condessa, Regina e Martha partiram cedo na manhã seguinte. Depois da partida, Nicole calçou as calças e as botas e saiu correndo da casa. A essa altura, ninguém sequer piscou para o traje dela. No primeiro dia em que foi cavalgar, no entanto, nem mesmo pensando em sua fantasia, todos pelos quais havia passado aparentemente ficaram atordoados. As criadas a consideravam com os olhos estalando, os porteiros ficaram boquiabertos, Woodward ficou branco e os cavalariços piscaram e rapidamente desviaram o olhar. Sim, estava desconfortável. Mas ela se recuperou e todos os outros também. Ela supôs, com pesar, que as duquesas deviam montar de lado em trajes de equitação da moda. No entanto, Hadrian havia dito que ela poderia fazer o que quisesse e montar seu garanhão vermelho sangue era fazer exatamente isso. Depois daquela primeira vez, não pensou mais sobre isso. O mestre dos estábulos estava esperando por ela. Nicole acenou quando se aproximou, sorrindo. Sorriu de volta. O'Henry também usava calções e botas, mas as dele estavam manchadas e bem gastas, enquanto seu casaco verde de caçador definitivamente tinha visto dias melhores. — Boa tarde para você, Sua Graça — disse ele, liderando suas montarias. — Eu pensei que você não poderia estar vindo neste dia feliz. — Esquecer minha equitação? Nunca! Montaram e partiram. Nicole estava de bom humor, pois seu mundo se tornara quase perfeito. Tudo o que precisava ser completo era o amor do marido e estava cada vez mais confiante de que essa era, de fato, uma possibilidade real. Uma hora depois, atravessaram um prado e entraram em uma estrada secundária. Ninguém estava por perto e o Sr. O'Henry virou- se para ela com um sorriso. — Ruffian aqui está querendo fugir. Acha que pode continuar, Sua Graça? Nicole riu. O Sr. O'Henry agora sabia que era uma cavaleira muito boa e não se preocupava mais com ela, pois tinha os primeiros minutos de sua primeira viagem juntos. — Você pode me acompanhar? — Nicole desafiou e, inclinando-se sobre o pescoço de sua baia, eles foram embora. Se nivelaram em um duro galope, os dois garanhões trovejando lado a lado, estendendo-se por tudo que valiam e saboreando- o. Correram pescoço e pescoço por uma milha ou duas, até que ambos os cavaleiros viram três homens descendo a estrada em direção a eles. De uma só vez, Nicole e O'Henry controlavam suas montarias, não querendo causar um acidente ou chutar a terra nos rostos dos pedestres. Chegaram mais perto e Nicole viu que os três homens eram jovens, malvestidos e carregando mochilas. — Trabalhadores rurais desempregados — ela adivinhou. Provavelmente estavam carregando tudo o que possuíam em suas costas, sentiu pena deles. Como ela não podia? Os tempos eram realmente difíceis para as classes mais baixas nos dias de hoje. — Fora daqui, se você me perguntar — O'Henry bufou. — Se um alguém quer trabalhar, ele sempre pode manipular alguma coisa. Você não deve dar a eles nenhuma ajuda, Sua Graça. Mas Nicole não tinha moedas consigo, embora tivesse prazer em dar aos homens alguns quilos se pudesse. De repente, um dos homens fez contato visual com ela. Nicole estava olhando curiosa, agora olhou rapidamente para longe. O olhar do ruivo era ousado e rude, muito interessado em sua aparência para o conforto dela. O trio de repente ficou em silêncio. Nicole não olhou para eles de novo, de repente tomada pelo desconforto, mas sabia que olhavam para ela e para o cavalariço. — Ande de um lado para o outro — O'Henry disse em voz baixa, movendo sua montaria em um trote. Nicole estava prestes a fazer o mesmo quando o homem ruivo agarrou o freio de seu garanhão. Seus olhos se arregalaram em choque. — Bom dia, moça. Um grande cavalo, você tem aqui. — Deixe-me ir, por favor — disse Nicole calmamente, não querendo fazer um incidente do que, esperançosamente, seria nada mais do que um pedido de esmola. — Tem uma ou duas libras? — Ele perguntou com um sorriso de dentes largos. — Deixe-a ir — disse O'Henry. Ele passou pelo grupo e agora virou a montaria e voltou para Nicole. Ele teve que conter abruptamente quando um homem entrou na frente dele para bloquear seu caminho. — Por favor — disse Nicole. — Eu não tenho moeda. Como você pode ver, eu não tenho minha bolsa comigo. — Ela não tem sua bolsa, rapazes — o ruivo riu. — Eu estou atrás para passar por cima de você, rapaz — O'Henry avisou o homem barrando seu caminho. — Deixe sua graça ir. — Sua graça? — O agressor de Nicole riu. — Se ela é sua graça, eu sou o duque! Bem, se ela não tem nenhuma moeda, com certeza tem um belo cavalo e um belo conjunto de pernas. Acho que eu tenho uso para ambos. Nicole ofegou. O'Henry seguiu em frente, prestes a cumprir sua ameaça de atropelar o homem em seu caminho. Ao mesmo tempo, Nicole insistiu com o garanhão. O homem ruivo que segurava o cavalo não se soltou, na verdade, com a outra mão, agarrou sua perna. O garanhão parou, confuso e cada vez mais perturbado. O ruivo não chegou mais longe. O'Henry cavalgou até ele por trás, forçando o único homem a pular de seu caminho e enviou seu chicote para as costas do ruivo. O homem soltou Nicole e o cavalo com um grito, agarrando o cavalariço com um grito. Ao mesmo tempo, seus dois amigos atacaram O'Henry e no instante seguinte, o cavalariço estava sendo arrastado de seu cavalo. Nicole gritou quando viu os três vagabundos começarem a socá- lo. Ela montou seu garanhão no corpo a corpo. Agarrando seu chicote, ela começou a cortar freneticamente para os homens. O ruivo desdentado virou-se com intenção vingativa brilhando em seus olhos. Nicole tentou atingi-lo em seu rosto feio, mas ele pegou o chicote e puxou-a de seu alcance, jogando-a para longe. Seu coração parou. Ele sorriu. Naquela fração de segundo, sabia que seu destino estava em suas mãos e que seria pior do que a morte poderia ser. Mas o garanhão, já frenético, agora sentindo o cheiro de sangue humano, gritou e recuou. Seus cascos se agitaram descontroladamente, atingindo o atacante de Nicole. O homem gritou, descendo sob as patas dianteiras do animal. Nicole puxou o garanhão para trás para evitar atropelar o homem. Ele ficou de joelhos. Nicole vislumbrou sangue no rosto e nas roupas rasgadas. Ele se levantou e de repente seus dois amigos estavam fugindo. Por um instante, Nicole ficou sentada olhando para eles, tentando manter seu garanhão sob controle, ofegando freneticamente. Então virou o olhar para O'Henry, que estava sentado e cambaleando. Seu rosto estava ensanguentado e ele cuspiu um dente. Com um grito, pulou da sela e correu para ele. — Oh meu Deus! Você está bem? Olhou para ela, seu rosto ostentando várias contusões sangrentas. — Eu estou bem, Sua Graça. Eles não te machucaram, não é? E antes que Nicole pudesse responder, seu sorriso desapareceu, seus olhos brilharam e caiu de volta à terra, inconsciente. Capítulo 29 O estômago de Isobel se revirou. Parou ao lado de Woodward quando o mordomo bateu duas vezes na porta do escritório de Hadrian. Sua visita não foi inesperada. Ontem enviou ao filho uma nota solicitando uma audiência com ele. A nota fora estranhamente formal e Isobel tentara reformulá-la duas vezes, mas não conseguira alcançar a intimidade casual que outrora existira tão naturalmente entre ela e o filho. No final, deixou como estava. Não tivera uma conversa significativa com o filho desde que lhe revelara a verdade sobre seu nascimento, quase um mês atrás. Em todo o tempo que se passou desde então, ela mal o tinha visto. De maneira nenhuma insignificante, Isobel evitava seu próprio filho. Ela se ofereceu para ajudar a condessa de Dragmore com os preparativos do casamento. Jane concordara com pouco alívio. Isobel conhecia Lady Shelton há alguns anos, mas não intimamente; agora se tornaram parceiras em ações e em espírito. Ficaram fabulosamente amigas. Isobel sempre gostou do que conhecia de Jane e depois daquelas últimas semanas, gostava dela ainda mais e admirava-a também. Pois, como Isobel, Jane era secretamente uma rebelde no coração. Era inteligente, independente, compassiva e sábia. E como Isobel, era uma mulher de experiência, não um modelo enclausurado de feminilidade. Isobel estava bem ciente de que uma vez a condessa tinha sido a popular atriz de teatro, Jane Barclay. Não achava que isso fosse um demérito de seu caráter, pelo contrário, a admiração de Isobel por ela só cresceu. Conhecendo a condessa agora, Isobel estava mais certa do que nunca de que sua filha era a companheira perfeita para seu filho. Planejar um casamento tão grandioso e elaborado tinha sido uma distração para Isobel do medo que a atormentava havia quase trinta anos e que continuava a assombrá-la agora. Diariamente tentou não confrontar esse medo, mas ele piorou. Agora já não tinha preparativos para o casamento para serem consumidos. Agora não podia mais evitar o que estava em seu coração. A última vez que realmente falou com Hadrian, o encontro terminou em raiva. Estava zangado com ela e com razão, por negar- lhe seu pai todos esses anos. Temia o desdém dele por seu comportamento, assim como temera que se zangasse por lhe esconder a verdade. Seus piores medos se realizaram. Estava furioso com ela? Ela não poderia continuar a tolerar o desconhecido. Enfrentar cada dia tornara-se uma tarefa cheia de angústia. Hadrian se levantou de trás de sua mesa quando Isobel entrou. Não podia sorrir, embora ele fizesse. — Como você está, mãe? Que pedido estranho. Você me pede uma audiência? Nada parecia ter mudado. Isobel ousou esperar. Lágrimas de repente encheram seus olhos, obscurecendo sua visão. — Eu não queria me intrometer. — Você não está se intrometendo — disse ele, um tanto bruscamente. Deu a volta na mesa. — O que é isso? Enxugou os olhos com o lenço e olhou para o filho. — Hadrian — perguntou suavemente. — Pelo seu comportamento, posso concluir que você não está mais com raiva de mim? — Talvez seja melhor você sentar — ele disse, guiando-a para uma cadeira. — Você ainda está com raiva? Ele olhou fixamente. — Mãe, foi errado você não me contar a verdade sobre Francis e Hadrian Stone assim que eu tivesse idade suficiente para entender. Mas eu tenho tentado entender você, mas eu teria entendido. E admiti há muito tempo que é significativo que um homem conheça a identidade de seu pai. Como você não pôde ver isso? — Eu sabia que estava errado — Isobel sussurrou. — Então por quê? — Hadrian exigiu. — Por que você não me contou mais cedo? Eu entendo porque você não contou a Hadrian Stone, afinal, ele não fazia mais parte da sua vida. Mas eu sou seu filho. Eu precisava saber. Foi o maior alívio saber que Francis não é meu verdadeiro pai. — Eu estava com medo. — De que? O segredo se tornando público? Isso nunca vai acontecer, mãe. Eu vou guardar sua reputação zelosamente. — Eu não estava preocupado com a minha reputação — disse Isobel, torcendo o lenço implacavelmente em suas mãos. — Então o que? Minha herança é segura mesmo que a verdade seja descoberta. Afinal, o avô Jonathan fez de você seu herdeiro depois de Francis. Você é a legítima herdeira de Clayborough e eu depois de você. Eu tenho muitos primos que gostariam de disputar minha propriedade, mas suas reivindicações seriam derrubadas no tribunal. — Eu temia que você nunca me perdoasse por minhas ações e por não ter contado a você. Hadrian piscou. Então ele sorriu suavemente. — Mãe, isso é ridículo. — Você me perdoa? — Ela perguntou incrédula. — Mãe, eu estava com raiva, mas isso está no passado. Nada mudou. Embora eu esteja um pouco insultado por você me achar capaz de condenar você por encontrar amor com outro homem que não Francis. Estou feliz, terrivelmente feliz, você teve uma pequena quantidade de felicidade em sua vida. Deus sabe que Francis fez o melhor que pôde para torná-la miserável. Isobel cobriu o rosto com as mãos. O alívio a inundou, tremia e queria chorar. Deveria saber que seu filho, seu lindo filho, nunca se afastaria dela. No entanto, como poderia saber? Hadrian era tão heterogêneo, às vezes até puritano, era tão honrado a pessoa mais honrada que conhecia. E o que fizera não passava de desonroso, mesmo que tivesse sido por amor. Hadrian deu um tapinha no ombro dela desajeitadamente. — Não chore, mãe. O passado é passado. Temos o futuro à nossa frente agora. Isobel conseguiu sorrir. — Eu coloquei investigadores em campo. Um deve ter chegado a Boston há duas semanas. Se meu pai está lá, se estiver vivo, deve ter recebido minha carta. Eu sei que é otimista demais, mas não posso deixar de ter esperança que mesmo agora uma resposta está voltando através do Atlântico. Isobel ficou muito quieta. Também deveria saber que Hadrian teria instigado a busca por seu pai imediatamente. — Quando eu ouvir alguma coisa, eu vou deixar você saber. — Não. — Isobel sacudiu a cabeça com veemência. — Não. Eu não quero saber. Não quero saber se ele está vivo ou morto. Ou casado. Não. Ele olhou para ela. O coração de Isobel estava batendo forte. Depois de todos esses anos, era impensável que estivesse vivo, solteiro e ainda apaixonado por ela. Impensável. A dor de vê-lo se fosse feliz ou indiferente a ela seria insuportável. Assim como seria se estivesse morto. — Tudo bem, mãe — Hadrian disse suavemente. Para mudar de assunto, ele perguntou se gostaria de ficar e jantar com ele e sua esposa. Isobel sorriu chorosamente. Estava prestes a recusar, sabia muito bem que os recém-casados mereciam mais tempo sozinhos para resolver o seu relacionamento, mesmo que estivesse ansiosa para saber o que estava acontecendo entre seu filho e sua esposa. Antes que pudesse responder, as portas do escritório se abriram. Isobel e Hadrian ficaram assustados quando Nicole entrou no quarto, ofegante e de olhos arregalados. — Hadrian. Com a visão de sua esposa, bastante despenteada e claramente angustiada, com calções e botas enlameadas, Hadrian saltou para frente. Mas Nicole parou imediatamente, seu olhar frenético percorrendo a duquesa viúva, que a observava calmamente. O semblante pálido de Nicole instantaneamente ficou com um tom de vermelho fosco. — Ah não! — Ela gemeu. Hadrian já a havia agarrado, virando-a abruptamente para encará-lo. — Qual é o problema? O que aconteceu? Você está bem? Nicole tentou recuperar o fôlego para poder responder. Olhou desesperadamente novamente para a duquesa viúva, mal ciente de que seu marido a estava sacudindo. Era apenas a sorte dela que a sogra tivesse que a ver pela primeira vez em seu novo papel de duquesa vestida como um cavalariço! Hadrian continuou a sacudi-la. — Nicole! O que aconteceu? Você está bem? — Ele repetiu ansiosamente. Sua atenção foi empurrada de volta para o marido. — Hadrian! Você deve vir rapidamente! Houve um acidente terrível! O cavalariço foi atacado por rufiões e eles o espancaram! Levou-me uma eternidade para levá-lo a meu cavalo e voltar para Clayborough, estava inconsciente, Woodward enviou alguém para buscar um médico, mas estou com tanto medo! — Essas últimas palavras se transformaram em soluços. Ainda segurava os dois braços dela. — Você está ferida? Ela conseguiu balançar a cabeça negativamente. Hadrian a soltou abruptamente e atravessou a sala. — Fique com ela, mãe — ordenou e então se foi. Nicole cobriu a boca com as mãos, que estavam tremendo. O'Henry ainda estava inconsciente quando finalmente voltou a Clayborough com ele deitado propenso e de frente para o garanhão, enquanto Nicole conduzia o cavalo a pé. Estava com medo de que ele estivesse morto. — Aqui, querida, tome um gole disso. Vai acalmar seus nervos. Nicole começou a perceber novamente que a duquesa viúva era uma testemunha de suas maneiras e vestimentas mais indecorosas, o que em si constituía um comportamento sórdido demais para ser aceitável. Queria irromper em lágrimas, em vez disso, aceitou o copo e tomou vários goles. A duquesa viúva deu um tapinha nas costas dela. Nicole olhou-a. A mulher estava sendo gentil, não condenando. — Quão mal foi o ferimento do Sr. O'Henry? — Ela perguntou. — Eu não sei! — Nicole gemeu. — E foi tudo culpa minha. — Tenho certeza de que você está exagerando, assim como tenho certeza de que tudo ficará bem. — Eu tenho medo que ele esteja morrendo... ou morto. A duquesa viúva deu um tapinha nela novamente. — Você quer falar sobre isso? Nicole sabia que não deveria. O incidente estava além do limite para qualquer dama, muito menos uma duquesa. Então Nicole olhou- a. Os olhos de Isobel eram quentes, gentis e preocupados. A resistência de Nicole desmoronou e antes que pudesse se conter, estava balbuciando toda a história. — Eu insisti que cavalgássemos sozinhos. Um dos homens me atacou! Tenho certeza que poderia ter ido embora, mas o sr. O'Henry imediatamente começou a bater nele com seu chicote! Havia dois outros e eles o arrastaram de sua sela e eu estava com medo de que fossem matá-lo então fui lá bati neles o melhor que pude com meu chicote e graças a Deus, meu garanhão ficou furioso. Ele feriu seu líder, quase o pisoteando e todos correram para longe. — Oh querida — disse a duquesa viúva. Nicole olhou para ela miseravelmente. Seu tom era tão gentil que convidava ainda mais a intimidade. — Eu fiz uma bagunça terrível das coisas, não fiz? Não sou uma duquesa muito boa e queria muito ser. Isobel esfregou as costas dela. — Bem — ela suspirou — seu marido provavelmente ficará furioso com você, mas graças ao Senhor você não foi ferida. — Sinto muito, você deve saber disso e me ver assim — Nicole sussurrou desanimada. Isobel sorriu de verdade. — Isso não muda minha opinião sobre você, se é isso que está te preocupando. Nicole gemeu. — Tenho certeza que só confirma isso. Isobel piscou. Então conduziu a distraída Nicole para o sofá e ambas se sentaram. — Minha querida, você acha que eu estou desanimada com você? — Você não está? — De modo nenhum. Nicole ficou chocada. Isobel sorriu. — Pelo contrário, eu aprovo este casamento. De fato, estou certa de que você é a melhor escolha possível de uma esposa para meu filho. Nicole teria sufocado se estivesse tomando o xerez. — Mas, por quê? — Você é uma mulher independente, minha querida, é por isso. Você é ousada e pouco convencional. De certa forma, você e meu filho têm muito em comum. Em outros, nada. E é esse equilíbrio preciso que estou contando. Nicole estava agora verdadeiramente aturdida. — Está? Isobel deu um tapinha na mão dela. — Vocês dois amam o campo e uma vida simples. Interesses comuns são importantes. No entanto, Hadrian é muito prudente e independente para o seu próprio bem. Você não é. Ele precisa ser colocado em seu lugar de vez em quando. Sim, vocês dois devem se sair bem. Nicole não acreditou no que estava ouvindo. — Eu tenho medo de ter mais do que colocado ele no lugar hoje. — Bem, foi um pouco imprudente participar da briga — disse Isobel alegremente. — Mas eu não vou contar a ninguém. Hadrian não achava que tivesse estado mais irritado em sua vida. Will O'Henry já não estava inconsciente e relatara todos os detalhes do que acontecera naquela tarde. Pisando mortalmente, o duque voltou para a biblioteca. Parou diante de Isobel e Nicole, elevando-se acima delas enquanto se sentavam juntas no sofá. — Mãe, esta noite não seria uma boa hora para você se juntar a nós para o jantar. Isobel ficou de pé. — Eu entendo. Seja gentil com ela, Hadrian. Ela sofreu muito hoje. — Isso não é nada em comparação ao que está prestes a sofrer. Nicole ficou rígida. — Seja corajosa — disse Isobel, inclinando-se para beijar a bochecha de Nicole. Novamente deu a seu filho um olhar de advertência antes de partir. O silêncio encheu a sala. O relógio de pêndulo em pé em uma parede passou os segundos em voz alta. — Você pode se explicar? — Hadrian finalmente perguntou. — Sinto muito — Nicole tentou. — Você está se desculpando?! — Hadrian estava incrédulo. — Madame você estava prestes a ser estuprada e você me diz que sente muito? Com medo, ela disse — Nós não vamos andar nas estradas públicas novamente. Hadrian explodiu. — Droga, se você vai andar em qualquer lugar novamente. Nicole ficou de pé. — Hadrian, seja razoável! — Seja razoável! Por que eu deveria ser razoável enquanto você não é nada além de irracional! — Eu não procurei essa aventura. — Aventura! — Ele berrou, agora muito além do controle. — Só você, minha esposa, se refere a um possível estupro como uma aventura. — Não foi isso que eu falei — ela gritou. Ele desejava puxar seus próprios cabelos. Seus punhos estavam cerrados. — Eu tenho feito tudo que eu poderia — desde o começo — para proteger você de si mesma. Basta eu virar minhas costas, você faz algum dano. Mas isso não vai mais acontecer! Seu bem-estar, sua vida você colocou seriamente em risco. — Eu sinto muito! — Nicole respondeu. O pranto estava preso em sua garganta. Hadrian estava além de parar. — Olhe para você! — ele se enfureceu. A sacudiu, ignorando suas tentativas de se libertar. — Você parece um cavalariço, exceto que claramente você não é menino! Bom Deus! Você também podia estar nua! Alguma vez você já pensou em como me sentiria, tendo minha esposa correndo de roupa tão apertada que todo homem pode facilmente imaginá-la nua? Raiva explodiu. — Agora você está exagerando. — Oh eu estou? William me contou tudo, senhora. Você atraiu as piores intenções dos homens. Se você estivesse vestida com um traje de equitação adequado, se você tivesse uma escolta adequada, eles nunca ousariam atacar você - a Duquesa de Clayborough! — Foi um rugido. — Ou preciso lembrar de quem você é? Nicole se soltou de seu aperto. — Não, você não precisa me lembrar de quem e o que eu sou agora! Eu sei muito bem que agora sou sua duquesa! Como eu poderia esquecer? — Ah, então se arrependeu? — Sim! Eu quero dizer não! — Claramente você não tem ideia do que quer dizer — gritou ele. — Assim como você claramente não tem ideia do tipo de destruição que seu comportamento imprudente continua a provocar. Como suas palavras doeram. — Agora suponho que você vai me dizer que eu nunca devo montar, devo, a todo custo, à custa do meu próprio prazer, manter aparências. — Sim, droga. Nicole ficou horrorizada. — Com certeza você está de brincadeira? — Acredite em mim, senhora, não há nada para brincar agora. — Então você mentiu! — Nicole chorou histericamente. — Você me disse que eu poderia fazer o que eu escolhi, disse muitas vezes, escolhi andar assim, eu sempre ando no Dragmore assim. — Isso não é Dragmore e caso você tenha esquecido, você é minha duquesa agora. Droga, Senhora, tenho certeza que corre por toda a cidade que você tem a tendência de se vestir como um menino. As fofocas devem ter um dia de campo. Você quer eternamente ser o foco de fofocas maliciosas? — Não — admitiu em lágrimas. — Mas... — Não há mas. — Hadrian a soltou e se afastou dela, respirando profundamente. Ainda estava abalado até o fim por quão perto ela tinha chegado de ser estuprada, ou até mesmo morta. Estava tremendo e no pior tipo de medo, um medo irresistível por sua esposa. Se algo tivesse acontecido com Nicole, nunca teria perdoado O'Henry ou a si mesmo, quando era a própria Nicole a culpar. Correu as mãos trêmulas pelo cabelo, procurando um controle que mal podia invocar. Estava com medo de fazer algo impensável, como colocá-la sobre o joelho e espancá-la até que se transformasse em um ser racional e uma dama de decoro. Passou muito tempo até que finalmente se virou para encará-la novamente. — O Sr. O'Henry vai ficar bem? — Ele ficará, sem dúvida, confinado à sua cama por uma semana ou duas, mas não está às portas da morte. Embora pudesse até ter morrido.— Ignorou sua crescente palidez. Não conseguia afastar a imagem em sua mente de Nicole indo direto para a briga e atacando os três agressores de O'Henry com o chicote dela. — Suba as escadas. Saia dessas roupas. Imediatamente. Nicole se abraçou. — O que você vai fazer? Ele fez uma careta. — Por um lado, eu quero essas calças queimadas. — Ele ignorou o protesto dela. — Em segundo lugar, você, Madame, deve ficar longe dos estábulos indefinidamente. Nicole ficou indignada. — Em terceiro lugar, pretendo prender esses bandidos e mandá- los jogar em Newgate. — Hadrian — gritou Nicole — você não está sendo justo. Ele girou. — Nunca se atreva a me acusar de ser injusto! Eu tenho os melhores interesses no coração! Claramente alguém tem que fazer isso quando você não faz! Eu sugiro que você me deixe imediatamente. — Quando você se acalmar — ela conseguiu — podemos continuar essa discussão. — Suba as escadas, Madame. Quero dizer agora. Quero dizer neste instante. Antes de você me fazer comportar de uma maneira que eu me arrependerei. Nicole não hesitou mais, ela fugiu. Capítulo 30 Demorou muito até que Nicole parasse de tremer. Foi uma combinação de todas as circunstâncias que a assediaram tanto. Havia sido abordada com intenção violenta e o bondoso mestre do estábulo quase morrera defendendo-a. Aquelas circunstâncias sozinhas teriam sido suficientes para manter os nervos dela tremendo incontrolavelmente, mas a reação do marido a tudo e a luta furiosa deles foi o golpe de misericórdia. Nicole correu para ele em busca de consolo mais do que qualquer outra coisa. Em vez disso, recebeu uma resposta escaldante. E talvez, o que tornou insuportável, foi que Hadrian estava certo e ela errada. Agiu mais do que imprudentemente, tinha sido tola. Se tivesse pelo menos estado nas estradas públicas com uma escolta adequada, os três vagabundos nunca ousariam se aproximar dela. Mas não só não tinha uma escolta, nem sequer estava vestida como a duquesa de Clayborough deveria estar. De qualquer forma, Nicole não podia negar que a culpa era dela. Por causa do seu comportamento imbecil, um homem quase foi morto. Sentou-se na suntuosa colcha de veludo rosa em suas roupas sujas e se abraçou. Teve que admitir tristemente que estava se tornando uma duquesa em plena forma, além de arruinar suas chances de um relacionamento feliz com o marido. Ouviu cavaleiros galopando para longe da frente da casa. Nicole correu para a janela. Podia distinguir o marido na liderança com seu caçador negro de ossos crus. Seu estômago se apertou. Estava indo atrás de seus agressores. Houve uma batida na porta dela. Nicole respondeu e ambas, a Sra. Veig e Annie, intervieram. Annie estava com o rosto pálido e ansiosa, Nicole silenciosamente abençoou sua pequena criada por sua lealdade. A Sra. Veig estava sombria. Nicole sabia que sua expressão incomumente impassível era uma tentativa de encobrir sua desaprovação, o primeiro exemplo que Nicole ainda tinha de discernir. — Arrume o banho dela, Annie — disse a sra. Veig. Annie se apressou em obedecer. A Sra. Veig colocou uma bandeja de bolos e chocolate quente na cama. — Eu pensei que você poderia gostar de algo doce para acalmar seus nervos. Nicole não tinha apetite, mas assentiu. A governanta ocupou-se no armário de Nicole, tirando um robe de lã quente e chinelos de brocado forrados de lã. Nicole atirou as botas, calções e camisa no chão. Annie disse que o banho estava pronto. Nicole estava prestes a tirar a calcinha quando viu a Sra. Veig pegar suas roupas espalhadas. A Sra. Veig nunca cuidou de suas roupas sujas e um alarme soou na mente de Nicole. — Sra. Veig — ela disse — o que você está fazendo? — Sinto muito, Sua Graça. Mas a Sua Graça ordenou que eu levasse essas roupas. Nicole ficou muito quieta. — E queimá-las? — Sim. Seu corpo inteiro ficou tenso. — Sinto muito, Sua Graça — a governanta disse novamente. Ela saiu com as roupas, felizmente deixando as botas personalizadas de Nicole para trás. Nicole fechou os olhos. Realmente sentia muito por seu papel no que tinha acontecido, mas isso estava indo longe demais. No entanto, em vez de raiva, havia apenas dor. Esta semana passada tinha sido o paraíso. Agora, onde foi? Nicole não deixou seus aposentos. Esperou que o marido voltasse a Clayborough sem muita ansiedade. Esperava que fosse mais calmo e mais razoável quando voltasse. Estava determinada a desfazer o dano que havia causado e determinada a retomar o relacionamento deles na pista em que estivera. Encontraria na biblioteca antes do jantar, como sempre e ela seria um exemplo de propriedade. Se não se curvasse, se decidisse não esquecer ou ignorar o que acontecera naquele dia, seria mais agressiva em seu plano de ataque. Iria roubar em sua cama e seduzi-lo. Uma noite de paixão certamente o distrairia de sua raiva com ela. Foi um plano simples. Rezou para que não tivesse que usá-lo, rezou para que, quando Hadrian voltasse, estivesse em um estado de espírito melhor e mais tolerante. Parecia que Nicole passara uma eternidade esperando que o marido voltasse, mas uma olhada no relógio lhe disse que não era nem uma hora. Esperou incerta em seu quarto, seu coração se alojou como uma pedra em seu peito. Viria vê-la? Ele não viria para lhe dizer se tivera sucesso em caçar os rufiões que haviam atacado ela e O'Henry? Então ela teria a chance de julgar o seu humor antes de ir encontrá-lo na biblioteca. Não suportava a incerteza, a espera. Mas ele não veio. Ela o ouviu entrar em seus aposentos, os quais se juntavam aos dela. Ela esperou, ouviu atentamente os sons vindos de seus aposentos, não conseguia decidir o que estava fazendo, mas parecia que estava trocando de roupa. Suas esperanças se levantaram por um breve instante, enquanto pensava que estava se preparando para encontrá-la na biblioteca, mas depois afundaram abruptamente. Pois o ouviu saindo de sua suíte e indo pelo corredor não em direção à porta, mas longe dela. E alguns momentos depois, ouviu uma carruagem e cavalos se aproximando da frente da casa. Nicole correu para a janela. Chocada, assistiu seu marido, vestido para viajar em um sobretudo de várias camadas, entrar na carruagem de Clayborough. Um momento depois, rolou no meio de sua cavalgada de batedores de libré. Três dias depois, Nicole começou a ficar bastante zangada. Hadrian saiu sem se incomodar em informá-la onde estava indo. E ainda não tinha mandado uma única palavra para ela, quando voltaria. Separada como estava, não conseguia avaliar o humor dele, mas achava difícil acreditar que ainda estivesse zangado com um incidente que estava se tornando rapidamente uma história antiga. Nicole tinha orgulho demais de perguntar à sra. Veig para onde o marido havia ido. Mas levara seu criado e mordomo com ele, o que não era um sinal encorajador. Mais uma vez, Annie foi encarregada de extrair informações. Ela logo contou a Nicole que ele tinha ido à Clayborough House em Londres, e que ninguém fazia ideia de quando voltaria. Poderia ser possível que ele ainda estivesse zangado com ela? Ou era simplesmente indiferente e completamente afoito? No terceiro dia, Nicole estava ficando completamente zangada. Essa era sua maneira de puni-la? Ela não se desculpou, até aprendeu a lição! No futuro, iria montar em público com uma escolta e em trajes adequados. Ninguém teria motivos para dizer uma palavra acusatória sobre a duquesa de Clayborough. Seu marido ficaria orgulhoso dela. Em particular, no entanto, continuaria fazendo o que quisesse. Achava isso o mais justo dos compromissos. Ainda tinha que exercitar este último passo, porém, querendo resolver seu relacionamento com o marido primeiro. Podia imaginar muito bem que, se descobrisse que andava de calções, mesmo que fosse na terra de Clayborough ao raiar do dia com alguns cavalariços, chegaria às conclusões erradas. Colocaria esse argumento desastroso por trás deles, não abanaria as chamas de outra briga de fogo. Nicole tinha acabado de decidir ir a Londres para se juntar ao marido quando a sra. Veig informou que tinha um visitante. Nicole levantou uma sobrancelha, surpresa, imaginando quem poderia ser. Ainda não recebera ninguém além de sua família e Nicole estava feliz por terem vindo quando ainda vivia em um estado de paraíso e não agora, quando se sentia como se estivesse prestes a atravessar os portões do inferno. A Sra. Veig disse que era Lady Stacy Worthington. Nicole sentiu muito mal. Ela resolveu ser gentil, seria um modelo de propriedade, a duquesa perfeita. Rapidamente, mandou a sra. Veig ajudá-la a vestir um vestido espetacularmente caro, adequado a uma tarde na cidade e não em casa no campo. Com ele vestiu seus diamantes, todos eles. Meia hora depois, ela desceu as escadas como uma rainha para cumprimentar Stacy no salão de rosas. Aquele quarto em particular era do tamanho do salão de baile de muitos cavalheiros. Claro, Stacy sem dúvida tinha ido a Clayborough muitas vezes, mas sendo uma convidada, não poderia ter feito mais do que vislumbrar um quarto da residência palaciana. Mesmo que estivesse nesta sala antes, ainda era imponente. Stacy levantou-se do sofá onde estava sentada. — Boa tarde, Sua graça. Quando Nicole chegou mais perto e levou algum tempo para atravessar a sala , ela viu o brilho nos olhos da outra mulher e seu senso de suspeita cresceu. — Olá, Stacy. Que surpresa. Sra. Veig, por favor, traga-nos mais sanduíches. E alguns doces. — Nicole sorriu para Stacy. Ela se dirigiu a sem seu título deferente propositalmente. Pois Stacy não seria realmente Lady Stacy até que ela se casasse com um nobre. Stacy sorriu de volta. Foi feroz. Nicole se sentou em uma bergère de frente para sua visitante, Stacy voltou a se sentar no sofá. As duas mulheres se entreolharam. O silêncio reinou. Normalmente, Nicole teria perguntado sem rodeios a Stacy o que queria. Mas estava decidida a ser a epítome de uma anfitriã. — As estradas estão ficando ruins, não estão? Espero que isso não tenha dificultado muito a viagem. — Elas não são tão ruins, ainda não. Então, quando Hadrian voltará? Nicole ficou desanimada com a possibilidade de que Stacy soubesse que Hadrian estava em Londres e não aqui com ela. — Com licença? — Da cidade. — Stacy ainda estava sorrindo. — Por que, assim que ele conclua seus negócios? — Quão urgente deve ser. Afinal, você não se casou há mais de uma semana. — Nicole manteve seu temperamento. — Foi da maior urgência. — Humm. Mas ele ainda teve tempo de ir ao número 12 da Crawford Street. Nicole piscou. O que quer que Stacy estivesse dirigindo, não tinha noção do que poderia ser. — Sim, bem, imagino que tenha negócios lá também. Stacy piscou. — Você não sabe, não é? Você não sabe o que é o número 12 da Crawford Street. Foi muito difícil manter o equilíbrio. — Não, eu não sei. — Mas de repente ela teve uma ideia, uma ideia desagradável. Stacy estava alegre. — Hadrian tem apartamentos lá. Ele tem apartamentos lá desde os dezoito anos. Nicole tentou muito não entender. — Entendo. — Você ainda não me compreende, mantém esses apartamentos para sua amante. A cor sumiu do rosto de Nicole. Quando falou, foi entorpecido. — Eu não acredito em você. — Ela não acreditava nela! Ela não iria acreditar nela! — Com certeza você não se casou com Hadrian ignorando sua reputação com as mulheres! Por que sua atual amante é considerada a mulher mais bonita de toda Londres. Ela é francesa, uma atriz. Seu nome é Holland Dubois. Não, Nicole pensou, não é verdade, não poderia ter ido para outra mulher, não depois do que eles compartilharam. Mas sabia que tinha uma amante, sabia de sua reputação. Não tinha sido essa a razão pela qual não queria se casar com ele em primeiro lugar? Sabia que um dia se cansaria dela e iria para outras mulheres? — Se você não acredita em mim, então por que você não vai ver por si mesma? — Stacy falou triunfante. Embora a dormência de Nicole estivesse rapidamente se transformando em uma dor lancinante, falou com a máxima calma. — Por que eu deveria fazer isso? Todos os homens têm amantes e sim, eu certamente conhecia a reputação do meu marido antes de nos casarmos. As notícias que você me traz não mudam nada. Afinal, eu sou a Duquesa de Clayborough. Você acha que eu me importo sobre seu namorico com uma atriz? Stacy foi pega de surpresa. Sua alegria se foi. — Bem — ela disse em um huff. — Eu estava apenas tentando ajudá-la. — Que gentil que você é. Stacy levantou-se. — Eu posso ver que você não quer minha amizade! Eu acho melhor sair. — Você certamente pode fazer o que quiser. — Educadamente, Nicole também se levantou, convocando a Sra. Veig. — Por favor, acompanhe Lady Worthington até a porta — disse ela. Ela sabia que era verdade. Não acreditaria, até que visse Holland Dubois na rua Crawford, número 12, com seus próprios olhos. Não acreditaria que Hadrian a tivesse deixado depois do que haviam compartilhado, depois da promessa que havia sido inerente ao começo florescente de seu relacionamento de ir para outra mulher. Não iria e não o fez. Mas é claro que era verdade. Era um mulherengo. Todo mundo sabia disso. Ela sabia disso, havia aprendido sobre sua reputação no início de seu relacionamento. Elizabeth provavelmente também sabia. Mas provavelmente não se importou. As damas não deveriam se preocupar com as amantes do marido. Se qualquer coisa, deveriam estar aliviadas que seus maridos se aliviassem em outro lugar. Nicole não ficou aliviada. Nicole estava doente. Como poderia ter esquecido por um momento por que não queria se casar com ele em primeiro lugar? Mas em uma semana curta tinha esquecido, por causa da felicidade carnal que compartilharam. Mas era só isso, felicidade carnal, mas tinha estupidamente, ingenuamente, pensado algo mais. Nicole espiou pela janela da carruagem. Seus punhos enluvados apertaram-se firmemente em seu colo. Assim que Stacy partiu, ela partiu imediatamente de Clayborough para Londres, levando apenas Annie consigo e nem mesmo informando a angustiada senhora Veig sobre aonde ia. Uma vez na cidade, mandou seu motorista para Covent Garden. (Um lugar para onde Hadrian nunca iria e assim nunca se depararia com sua própria carruagem.) Ela ordenou que seu motorista e Annie os esperassem ali. Ela tinha subido em um cabriolé e agora eles estavam puxando para cima na frente do nº.12 Crawford Street. Ocorreu-lhe que Hadrian poderia estar dentro daquela residência até agora. Se estivesse lá, ela morreria. Não se ele estivesse lá, ela seria forte, seria impassível, legal, perfeitamente composta. Ela não iria deixá-lo saber como a estava machucando. Nicole mal olhou para a casa com sua cerca de ferro forjado e sua fachada de tijolos pintados. Ela saiu da cabana pedindo ao motorista que esperasse. Estava entorpecida, como se estivesse sonhando ou atordoada. Lentamente atravessou o portão e subiu as escadas. Bateu uma aldrava de bronze antiquada. Um mordomo imediatamente atendeu a porta. A boca de Nicole estava tão seca que ela não pôde, por um momento, falar. — Eu gostaria de uma palavra com Miss Dubois. O mordomo a deixou entrar. — Quem devo dizer está chamando? Nicole hesitou. Ele não dissera que não havia Miss Dubois lá. Brevemente fechou os olhos, náusea subjugando-a. Até agora, Stacy não mentiu. Assim como Nicole sabia. Quando Nicole abriu os olhos, recuperou o controle. — Não importa. Diga a amante que eu estou aqui. — Nicole era imperiosa. Pelo menos aprendera a ser uma duquesa, quando era tarde demais para importar. Ela passou pelo mordomo, a cabeça erguida, passos graciosos e fluidos, seu vestido fabulosamente caro girando sobre seus sapatos de seda. Caminhou direto para a sala de estar. Não se sentou, assim como não tirara as luvas ou o casaco. Não deu ao mordomo outra opção a não ser fazer o que pedia. Enquanto esperava, Nicole absorveu todos os móveis finos os móveis delicados, os tapetes persas, as paredes cobertas de papel e as pinturas de paisagem. Miss Dubois vivia bem. Vivia bem além dos meios de uma atriz. Alguns minutos depois, uma mulher disse da porta — Você quer me ver? Nicole se virou. Se virou para ver uma pequena e delicada mulher em um vestido deslumbrante e caro, muito decotado para ser apropriado no meio da manhã em casa. A mulher era tão linda quanto qualquer mulher poderia ser, era tão perfeita quanto qualquer boneca de porcelana. Seu olhar azul estava intrigado, mas quando Nicole a encarou, a verdade a atingiu como uma marreta, a confusão deixou os adoráveis olhos de gato de Holland Dubois. — Oh querida — disse a amante de Hadrian. — É você! Oh querida! Por outro longo momento, Nicole não se mexeu. — Sua Graça — disse Holland sem fôlego — Eu não tenho certeza do que você quer, mas por favor, sente-se. Nicole tinha visto o suficiente. Rapidamente, antes que a outra mulher pudesse começar a ver a umidade se formando em seus olhos, passou por ela e entrou no corredor. — Espere! — Holland Dubois chamou. — Por que você veio? Espere. Mas Nicole não parou. Seus longos passos a levaram pelo corredor e saíram pela porta da frente em uma névoa embaçada. De alguma forma conseguiu entrar na carruagem. Entrou na carruagem antes que suas lágrimas caíssem e com isso, todos os seus sonhos, desmoronando na poeira do chão a seus pés. Capítulo 31 Hadrian se moveu para frente em seu assento. Espiou pela janela de sua carruagem e vislumbrou sua casa. A tensão passou por ele. Havia deixado Clayborough quatro dias atrás. Quatro dias agonizantemente longos atrás. Não tinha saído em um ataque de raiva, embora ainda estivesse indignado com Nicole por se colocar no perigo que passava sozinha com O'Henry nas vias públicas. Havia saído em um momento de medo. Ele estava, de fato, fugindo. Mas não funcionou. Não podia mais fugir de si mesmo, de seus sentimentos ou de sua esposa. O episódio com os rufiões todos os quais haviam sido capturados e despachados diretamente para o carcereiro local dentro de uma hora do retorno de Nicole a Clayborough - levara Hadrian a um violento confronto com seus sentimentos mais profundos e sinceros. O conhecimento que procurara evitar, provavelmente desde o início de seu relacionamento com Nicole, surgiu de maneira franca e inescapável em sua mente. O instante em que sabia, sem dúvida, que amava sua esposa, foi o momento mais aterrorizante de sua vida. Passou a vida inteira mantendo controle frio de si mesmo e de suas paixões, passou a vida toda mantendo suas emoções rigorosamente sob controle. Quando muito jovem, aprendera a esconder seus sentimentos, até mesmo de si mesmo. Pois sentir era estar vulnerável. Sentir era ser ferido. E agora não era mais invulnerável. Pelo contrário, nunca tinha sido mais vulnerável em sua vida. Amava Nicole tão apaixonadamente que beirava a obsessão. Aqueles vagabundos quase a machucaram, talvez a tivessem assassinado. O simples pensamento, mesmo agora, quatro dias depois, aterrorizou-o e consumiu-o. Depois de prender os três homens, deixou Clayborough imediatamente para Londres. Como se para fugir de suas emoções. Como se para ultrapassar o conhecimento que agora enfrentava. Pretendia recuperar o controle de si mesmo e do coração não importando o custo. Mesmo que isso significasse abandonar sua esposa indefinidamente em sua casa de campo e buscar refúgio nos braços de outras mulheres. Nenhuma rota de fuga foi bem-sucedida. Ele tinha ido para a Holland Dubois com a intenção de levá-la tão profundamente que nunca mais pensaria em Nicole, mas ao mesmo tempo se viu polidamente terminando seu relacionamento. Pretendia permanecer em Londres, imerso em seus negócios, mas em vez disso estava indo para casa ansiosamente. O conhecimento, tão novo, tão poderoso, ainda estava lá dentro dele e ainda era assustador. Houve momentos nos últimos dias em que acordara no meio da noite sentindo o tipo de pânico e solidão que sentira quando menino. Enquanto o sono fugia, a ansiedade aumentava, mas não antes de reconhecer a sua própria vulnerabilidade. Sua própria humanidade. Finalmente desistira e cedera a si próprio para ela. Era sua esposa e estava apaixonado. Ela o rejeitara muitas vezes no passado, mas havia sobrevivido, assim como havia sobrevivido às cruéis rejeições de Francis. Recentemente, porém, não o rejeitou mais. Recentemente houve uma trégua entre eles durante o dia, que, à noite, desapareceu completamente na forma mais atraente de intimidade. Houve esperança. Seu casamento poderia ter sucesso. A primeira semana de seu casamento prometia isso. No entanto, Hadrian sabia que nunca se contentaria com o que haviam compartilhado até agora. Agora queria muito mais, queria o seu amor, queria que fosse tão sincero e apaixonado e obsessivo quanto o dele. Quando a carruagem subiu a longa trilha de cascalho, começou a transpirar. A última vez que a viu, estavam no meio de um confronto furioso. Um que havia iniciado, devido ao seu próprio medo de cortar o coração por sua segurança. Provavelmente agravou as coisas, deixando nem sequer uma palavra sobre seus planos. Não tinha certeza de que tipo de recepção estava prestes a receber. Levou consigo uma oferta de paz. Uma caixa grande, embrulhada para presente, estava no assento em frente a ele. Quando visse o seu conteúdo, reconheceria a sinceridade dele em querer compensar a extensão de sua raiva enfurecida e por sua partida imprudente de Clayborough. A carruagem parou em frente às enormes portas da frente de Clayborough. Hadrian desceu da carruagem, a caixa embaixo de um braço. A Sra. Veig cumprimentou-o nos degraus. Perguntou por sua esposa e foi informado de que estava no andar de cima em seu quarto. Hadrian estava tão nervoso como um menino de escola sendo chamado ante seu diretor. Se moveu um pouco lentamente pelos dois lances de escada. No corredor, seu passo se alongou. Seu coração martelou ansiosamente agora. Sua porta estava aberta, entrou em sua sala de estar e ouviu sons de movimento vindo de seu quarto. Caminhou até a porta, uma alegria súbita e feroz o preenchendo, sempre sentiria uma onda de alegria ao vê-la, percebeu. E então, quando estava no limiar, sua alegria morreu. Nicole estava de costas para ele. Um grande baú estava no chão, aberto e quase cheio de roupas e nenhuma delas estava bem dobrada. Em sua cama havia pilhas e pilhas de vestidos, anáguas, roupas, calçados, luvas, cachecóis e retículas. Annie ficou ansiosa ao lado da cama. Quando Nicole pegou outra pilha de roupas, Annie o viu e congelou. Nicole largou a pilha no porta-malas e também o viu. Ele ficou muito quieto. — Madame — ele disse rigidamente. Seus olhos estalaram com fúria, mas seu tom era mais do que educado, era frio formal e ártico. — Sua graça. — Abruptamente ela virou as costas para ele e pegou outra pilha de roupas. O duque largou a caixa com muito cuidado contra a parede e cruzou os braços sobre o peito. — Posso perguntar o que você está fazendo? — Mas não precisava perguntar, pois era óbvio. As cortinas do entorpecimento começaram a se separar um pouco e a dor atravessou seu peito. — Você não pode ver?— Ela respondeu, jogando a roupa no baú. — Estou empacotando. — Isso é óbvio. Onde você está indo? Ela o olhou, seus olhos cinzentos tão brilhantes quanto diamantes e igualmente duros. — Eu o estou deixando. Não havia entorpecimento agora. No entanto, como o duque passara a vida inteira aprendendo a manter suas reações mascaradas, nada aparecia nos planos requintadamente esculpidos de seu rosto. — Deixando? — Eu estou deixando você. — Entendo. — Sua compostura ameaçou quebrar. Rapidamente, entrou na sala e foi a janela, olhando sem ver, de costas para ela. Ele a ouviu retomar sua bagagem. Empurrando as mãos nos bolsos, lutou para conseguir um aperto de ferro no pânico rodando nele. Ele virou. — Posso perguntar por que? Ela girou. — Você se atreve a me perguntar por quê! — Foi um grito. Quando as palavras explodiram, o alcançou em três passos ágeis e bateu a palma da mão aberta sobre o rosto dele o mais forte que pôde. Ele cambaleou de volta sob o impacto. Ela não se afastou, esperou, os olhos brilhando descontroladamente, ansiosa para fazer batalha violenta com ele. Mas nunca machucaria a mulher que amava. — Isso é, eu acredito, a quarta vez que você me bateu. — E a última. Nenhuma palavra poderia dar maior testemunho de suas intenções irrevogáveis. Sua resolução irrevogável. Para deixá-lo. O pânico estava lá, espreitando sob a superfície, uma névoa negra ameaçando sufocá-lo, arrastá-lo para baixo. Quando viu que ele não iria enfrentar o desafio, quase riu, com grande amargura. Com ódio. Deu-lhe as costas abruptamente e bateu a tampa do baú. — Annie. Consiga dois criados aqui para levar isto abaixo. Annie não pôde falar, fugiu do quarto. O duque nem sequer tinha percebido sua presença durante o intercâmbio. Alcançou profundamente dentro de si mesmo para mais força do que já tinha exigido de si mesmo para qualquer empreendimento e milagrosamente, ele encontrou. Com aparente casualidade, se moveu em direção a sua esposa. Ela não recuou e compreendeu desapaixonadamente que ainda queria um confronto com ele, não estava disposto a lhe dar um. Agora não. Não quando estava no controle total, pegou o queixo dela entre as pontas dos dedos. — Um aviso, madame — disse ele sem paixão. — Se você me deixar agora, você não será bem-vinda de volta. Nunca mais, fui claro? Ela riu, o som maníaco. — Eu nunca vou voltar! Para sempre. Ainda não sabia por que, mas ele não se importava mais. Pois as cores desapareceram agora e a escuridão o consumira. Mas era familiar, quase reconfortante. — Muito bem — ele a soltou. Seu sorriso estava frio. — Você foi prevenida. Desta vez, Madame, sua natureza imprudente vai levá-la aonde quiser e você não será salva por mim. — Bom. Ele virou-se e saiu do quarto, estava mais do que entorpecido agora, mas isso não importava. Havia deixado para trás os fragmentos de seu coração, por isso era incapaz de sentir e isso se adequava ao Duque de Clayborough, assim como qualquer coisa podia. A vida rapidamente voltou ao normal. O duque esqueceu que tinha tido uma esposa. Ele escorregou de volta para uma rotina a que havia aderido por muitos anos para contar, se levantou com o sol e cuidou das muitas operações que exigiam sua supervisão em suas vastas propriedades. Passava as tardes e noites trancado em seu escritório com seus papéis ou seus gerentes e dormia pesadamente, sem sonhos. Exceto que sempre acordou no meio da noite, se sentia como um menino de seis anos, não um homem perto dos trinta anos. Nas escuras horas da meia-noite, o pânico tomou conta dele e foi real. Foi só então que se lembrou dela e a odiou. Mais uma vez, o ódio era seu refúgio, sua força. Uma semana depois, o duque levantou-se de sua mesa para cumprimentar sua mãe. Sua visita foi inesperada, não gostou de vê-la, estava no meio de uma reunião com o gerente de suas fazendas madeireiras, que passara um dia inteiro viajando para o sul para essa consulta. O gerente foi avisado para esperar e o duque fechou a porta atrás da mãe. — Mãe, isso é uma surpresa. — Seu tom era educado, mas nada mais. — Hadrian, o que está acontecendo? Ouvi o boato mais impossível! Que sua esposa passou a morar com os Serles na Casa Cobley. — Minha esposa? — Ele era casual. — Ah, a duquesa. — Deu de ombros, claramente desinteressado no assunto da conversa. Mas um súbito latejar começou atrás de suas têmporas. — Vocês dois tiveram uma briga? Ou ela está realmente apenas visitando os Serles? Eu rezo para que esta seja a resposta, mas que noiva de algumas semanas foge para visitar uma amiga e deixa o marido? — Mãe, este é um assunto que eu não desejo discutir. No entanto, eu responderei sua pergunta desta vez, nós escolhemos viver separados. — Viver separados! — Isobel ficou horrorizada. Raiva repentina varreu-o. Era tão forte e desgastante que quase derrubou o duque. — Isso é feito o tempo todo — ele disse friamente. — De fato, devo agradecer a você por me lembrar. Devo ver uma residência adequada para fornecer a ela. — Uma residência adequada! Hadrian, o que aconteceu? Sua sobrancelha se levantou. — Nada. Absolutamente nada. — Mas uma parte de sua mente clicou, e um pensamento se materializou, seu vasto significado se condensou em uma palavra: tudo. Ele rapidamente fechou os olhos, não querendo estar consciente do que sua mente subconsciente já sabia. — Isso é ridículo — exclamou Isobel. — Vá buscá-la de volta. Vocês dois são feitos um para o outro! Se ela deixou você, esqueça o seu orgulho, ponha o pé no chão. Em vez de responder, o duque contornou a mãe e abriu a porta para ela. — Eu estou no meio de uma reunião — disse ele sem rodeios. — Eu acredito que esta discussão acabou.
Nicole se vestiu para o jantar. Ela fez isso com grande
concentração, fez todas as pequenas coisas com grande concentração. Até mesmo as tarefas mais simples a consumiam mentalmente, como escovar os cabelos ou tomar uma xícara de chá. Ela descobriu que, concentrando-se completamente no que quer que estivesse fazendo, poderia sobreviver a cada dia. Chegara à casa de campo dos Serles há uma semana inesperadamente. Martha olhara para o rosto dela, manchado de lágrimas, com os olhos inchados e apressou-se a subir para o quarto de hóspedes. Nicole, sem fachada para manter, chorou copiosamente nos braços de sua melhor amiga. Entre as lágrimas havia surtos de quase violência, onde havia dado um soco nos travesseiros com toda a força que tinha, desejando que fosse Hadrian, estava esmurrando em pedaços. E contara tudo a Martha. Ela existia, mas isso era tudo, tomava cada dia a cada momento, mantendo sua mente abençoadamente em branco ou completamente ocupada com as tarefas mundanas. Não ousava pensar nele, não se atrevia a sentir. O desgosto se escondia dentro dela, ameaçando entrar em erupção. Ousara esperar, ousara sonhar. Por um breve momento, parecia que seus sonhos se tornariam realidade. E isso tornava sua traição impossível de suportar. A tristeza que jazia enterrada profundamente e solidamente dentro dela era tão imensa que sabia que nunca deveria desabafar. E ele nem sequer tentou impedi-la, a soltou sem a menor hesitação, era tão sem importância que nem sequer lutou por ela. Nicole não se atreveu a permitir que tal conhecimento escorregasse para seus pensamentos conscientes. No final da semana, Regina apareceu. Nicole sabia que seria apenas uma questão de tempo até que sua família soubesse de seu paradeiro. Nicole ficou feliz em vê-la, mas também teve medo de vê- la. — O que é que você fez! — Regina chorou, nunca um para bater em torno do arbusto. — Nicole, é melhor você pensar sobre o que está fazendo. Nicole teve uma lembrança reluzente. Lembrou-se de como Regina a vira pela última vez quando a visitara em Clayborough com Jane e Martha. Nicole lembrava exatamente como estava vestida, até o último detalhe dos minúsculos brincos de pérola que usava nos ouvidos, exatamente como se lembrava exatamente do que estava sentindo. Estava em uma nuvem altíssima, em um estado impossível de êxtase, estava apaixonada. Fechou os olhos, abraçando-se, lutando pelo controle. — Por favor, Regina, nem sequer traga o assunto do meu casamento. Acabou. Eu nunca vou voltar. — Sua idiota! Sua idiota! O que poderia ter feito para fazer você se comportar tão estupidamente! Algumas semanas atrás você estava extasiada e apaixonada. Nicole conseguiu sorrir para a irmã. — Você vai voltar para Londres em breve? Você ainda está vendo lorde Hortense? Regina piscou. — Não mude de assunto. Nicole ficou instantaneamente com raiva. — Não me chateie! É a minha vida! Se ele se importasse, viria atrás de mim, maldito seja ele para o inferno. Regina ficou chocada. E Nicole quase se permitiu sentir a imensidão da dor que não queria sentir. Enterrou o rosto nas mãos. Regina de repente se mudou para ela e a abraçou. — Sinto muito — sua irmã sussurrou. — Você está certa, é a sua vida. É só que eu te amo tanto e quero que você seja feliz. — Ela a soltou. Nicole enxugou uma lágrima e conseguiu assentir. — O que eu faria sem você? E sem Martha? Por favor, por favor, seja minha aliada. Por favor, não fique do lado dele. Regina mordeu o lábio. Sua expressão muito séria e muito preocupada, finalmente assentiu em concordância. — Você quer me dizer o que aconteceu? — Não. — Nicole respirou fundo, depois deu um sorriso. — Lá, eu me sinto muito melhor. E assim que eu deixar este casamento completamente para trás, eu serei uma nova pessoa. Eu voltarei para Dragmore. Minha vida será exatamente como costumava ser e eu serei tão feliz como eu costumava ser. — Seu sorriso era muito brilhante. Regina olhou para ela com tristeza. — E como você vai colocá- lo atrás de você? Nicole não ousou responder à pergunta com honestidade, muito menos considerá-la. — Eu imagino que um homem tão poderoso quanto ele será capaz de obter um divórcio. — Um divórcio. Nicole assentiu. — Esse casamento foi um erro desde o começo. Mandei-lhe uma carta pedindo-lhe o divórcio. Capítulo 32 Ele releu a carta. Não pela segunda vez ou pela terceira ou quarta. Ele lera tantas vezes que sabia seu conteúdo de cor. Mais uma vez, as palavras ficaram borradas. As lágrimas eram de alegria e tristeza. Deus querido, ele teve um filho. “Prezado Senhor, Eu sou o filho de Isobel de Warenne Braxton-Lowell. Eu só posso esperar que, apesar da passagem de tantos anos, você se lembre da minha mãe e do que uma vez transpirou entre vocês. Recentemente ela confiou em mim. Fiquei tão chocado quanto tenho certeza de que você ficará, pois ela não só me revelou que o conhecia há tanto tempo, mas que você é meu pai natural. Espero encontrá-lo vivo e bem e conhecê-lo, a seu critério, é claro. Tal reunião pode ocorrer no solo de sua terra natal, ou na minha. Até então, sinceramente, Hadrian de Warenne Braxton-Lowell, o nono duque de Clayborough” Ele dobrou a carta com cuidado, pois já estava começando a rasgar e enfiou-a no bolso interno do paletó. Ele teve um filho. Embora já se passassem semanas desde que Hadrian Stone recebera pela primeira vez a notícia milagrosa de que ele tinha um filho, não conseguiu se recuperar da descoberta. Ainda estava impressionado com o conhecimento da existência de seu filho. Seu filho que esperava conhecê-lo. Hadrian Stone mal podia esperar pelo próprio dia. Como sempre, seus pensamentos estavam preocupados com aquele tópico, seu filho. A especulação de Stone era desenfreada. O tom da carta era tão formal e tão apropriado que ele não conseguia colocar um rosto nas palavras que continha ou emoções. O filho dele estava certo em se dirigir a como um estranho - o que de fato era - ou estava sendo cauteloso? Estava entusiasmado em conhecê-lo, ou apenas curioso, até mesmo desanimado? Talvez estivesse com raiva. Seu filho era o nono duque de Clayborough. Era aparente que, até recentemente, pensara que o oitavo duque era seu pai. Não estaria com raiva? Talvez até se sentisse ameaçado. Hadrian Stone conhecia apenas alguns senhores britânicos, mas sabia que eles davam grande importância ao sangue e aos títulos, e era óbvio que o título de seu filho poderia agora ser facilmente desafiado por irmãos, primos, tios ou qualquer outra instância, parentes masculinos. Mas por qualquer razão, seu filho pediu uma reunião, seja na América ou em Londres. Stone nem se incomodou com uma resposta. Pulara a bordo do primeiro navio que partiu para a Inglaterra no mesmo dia em que recebera a missiva em sua casa em Boston. Ficou olhando para o desordenado horizonte londrino à medida que surgia, o navio de ferro movendo-se com pouca graça pelo rio Tâmisa sob o vapor. Era um dia frio e cinzento e estava chuviscando, mas Hadrian Stone estava acostumado com as intempéries e mal tinha conhecimento do frio ou da umidade. Puxou a gravata, sentindo-se desconfortavelmente restringido por ela e pelo terno que estava usando. Provavelmente não usara um terno mais de uma dúzia de vezes em todos os seus sessenta anos. A alegria quase o sufocou, foi tomado por uma maré quente, abrupta e completa, como acontecia com frequência. Ele teve um filho. Seu filho era o duque de Clayborough. Foi um sonho que se tornou realidade. Não teve filhos, nunca se casou. Apenas uma vez em sua vida ele quis se casar, a tinha amado muito...o suficiente para se casar. Mas isso foi há muito tempo, no passado. Seus arrependimentos eram poucos, pois não era um homem introspectivo, sendo um homem de ação, mas sempre lamentara não ter filhos e recentemente, o anseio se tornara mais intenso. E agora tinha um filho, que como ele, acabou de saber de sua existência. Novamente, Stone se perguntou como ele seria. Era muito orgulhoso ou muito apropriado para revelar qualquer um dos seus sentimentos em uma carta para o estranho que era seu verdadeiro pai? Hadrian Stone também era um homem muito orgulhoso, mas sabia quando contê-lo e sempre o tinha feito. Por outro lado, não estava nem um pouco interessado em decoro. Stone não tinha um osso formal em seu corpo, mas pelo tom da carta, estava começando a suspeitar que seu filho tinha mais de um. Não podia imaginar que seu filho fosse adequado, ou pior, um britânico de sangue azul. No entanto, haveria muitas diferenças mais vastas entre eles. Stone era um homem que construiu um império de navegação a partir de pura determinação, com nada além de uma vontade de ferro e suas próprias mãos fortes e calejadas. Aqueles que o conheceram nunca imaginariam que era um magnata de negócios de sucesso. Quando estava em seus escritórios, trabalhava em mangas de camisa como qualquer funcionário comum, sua maneira aberta e familiar, embora fosse rápido para temperar, caso aqueles que trabalham para ele não fizessem o melhor que podiam. Sempre que podia, abandonava seus escritórios para comandar um de seus navios em um porto distante. Seu amor pelo mar havia começado quando era pequeno aos treze anos havia embarcado. Ele nunca tinha sido um homem para ser acorrentado por muito tempo a uma escrivaninha. Ele sempre foi um homem do ar livre, do mar. O mar era sua vida, seu amor. Stone tentou se preparar para o inevitável. Seu filho não era apenas aristocracia, mas um duque. Stone não precisava saber nada sobre ele para saber que provavelmente nunca havia levantado um dedo em sua vida em trabalho manual ou para atender a si mesmo. Foi muito difícil para Stone chegar a um acordo com isso. Não só alcançara o topo como o fizera vindo de baixo, por não ter medo de qualquer forma de trabalho duro. Devia honestamente enfrentar a nítida probabilidade de que seu filho nunca tenha tido um suor honesto em sua vida. Stone estava decidido a não o julgar por isso, mesmo que seu filho abertamente desprezasse a ética do trabalho. Mas seu filho o julgaria? Rezou para que fosse apenas uma formalidade educada que ele havia discernido na carta de seu filho, não uma indiferença fria ou um esnobismo arrogante. Mas a questão estava lá, uma que o assombrou desde o momento em que soube do título de seu filho. Seu filho seria capaz de aceitá-lo, um homem simples e trabalhador que se via como capitão do mar? Seu estômago revirou com o pensamento. Tinha medo de muito pouco em sua vida, mas tinha medo da rejeição do filho. Estava com medo que seu filho olhasse para baixo do nariz para ele. Conhecera homens nobres o suficiente, britânicos ou europeus, para saber que se viam como superiores ao homem comum, que eram esnobes. Por mais que aguardasse ansiosamente o encontro, também temia. E foi rápido em culpar Isobel pelas circunstâncias. Se soubesse que tinha um filho, teria reclamado e com razão. O menino não teria crescido nos salões das classes altas britânicas, teria crescido no convés dos navios marítimos. Teria aprendido o valor do trabalho duro e ficaria orgulhoso de si mesmo, não por causa de algum título maldito. Mas não era para ser. Por causa de Isobel, que havia lhe negado seu filho. Isobel, que o havia enganado por todos esses anos. Raiva o envolveu. Por todos esses anos, havia negado a ele seu filho. Isobel era a única mulher que amara. Não tinha entendido sua noção de dever e lealdade, não tinha entendido como ela realmente poderia amá-lo e deixá-lo para voltar para seu marido, embora, Deus sabia, havia tentado o seu melhor para compreendê-la. No entanto, seu amor por ela nunca havia oscilado. Não em quase trinta anos, apesar da angústia, apesar do desgosto. Até agora. Ela havia lhe negado seu filho. Não era a mulher que ele pensara que seria durante todos esses anos, era egoísta e desonesta, o havia enganado. Propositadamente, manteve escondido o fato da existência de seu filho, raiva queimou em seu coração onde antes havia amor, nunca esqueceria e nunca perdoaria.
No momento em que o duque leu a carta curta e bruta de sua
esposa no momento em que compreendeu seu pedido de divórcio, todo o seu controle cuidadosamente exercido desapareceu. Com um rugido rasgou a nota em pedaços e gritou por seu cavalo. Estava bem ciente da fúria que o consumia, bem ciente de que não era assim que deveria reagir, mas era tarde demais. Todo o controle que exercia desde que ela o deixara havia desaparecido. A raiva bombeava em suas veias até que não sentiu mais nada e ele a acolheu. Escolheu montar Ruffian, a montaria mais rápida em seus estábulos. Cavalgava com uma ambição ardente e isso era chegar à Casa Cobley antes do amanhecer seguinte. No entanto, após os primeiros momentos enlouquecidos ao galopar para longe de Clayborough, ele desacelerou, recuperando sua sanidade. Embora a adrenalina ainda corresse em suas veias, era astuto o suficiente para saber que matar sua montaria em um passeio louco não seria apenas uma ação da qual se arrependeria mais tarde, não o levaria a Sussex mais rápido. Para o inferno com seu orgulho, pensou selvagemente. Era sua esposa e nunca lhe daria o divórcio. Nem permitiria que continuasse esse jogo sem sentido. Se tivesse que arrastá-la de volta para Clayborough a contragosto, que assim seja. Se quisesse ficar de mau humor e recorrer a vapores femininos, que assim seja. Podia ficar de mau humor e fazer cara feia em Clayborough, que era onde ela pertencia. Porque não estava desistindo dela... tinha o suficiente. Quando Hadrian chegou a Cobley House, foi várias horas após a primeira luz. Tanto ele como seu garanhão estavam cobertos de lama e encharcados até o osso do suor e da chuva. Estava viajando sozinho, sem alarde e quando o mordomo abriu a porta da frente dos Serles, não foi reconhecido. O homem não o convidou para entrar, mas barrou seu caminho. Hadrian limpou o rosto novamente com um lenço enlameado. Ignorando o mordomo, deu a volta ao redor dele e entrou no vestíbulo, pingando lama e chuva sobre o brilhante piso de madeira. — Venha aqui, agora — protestou o mordomo. — Você não pode ir invadindo. — Onde está a minha esposa? — Hadrian perguntou. O mordomo congelou. A sanidade que lhe havia voltado no dia anterior, no decorrer da longa e cansativa viagem, desaparecera. Raiva fria e dura estava em seu lugar e com isso, uma determinação resplandecente. — Minha esposa — repetiu Hadrian. — A duquesa de Clayborough. O mordomo empalideceu. — Sua graça, me perdoe! Eu não sabia... quero dizer... — Ficou ainda mais branco sob o olhar implacável e cada vez mais hostil de Hadrian. — Ela está no quarto de hóspedes no segundo andar. A sua porta é a primeira à direita. Hadrian girou, seu sobretudo flutuando ao redor dele como uma grande criatura alada e subiu as escadas. Não parou antes da porta dela. Sem perder um passo, chutou para fora de suas dobradiças e entrou na sala. Nicole gritou, estava vestida apenas com uma camisola azul e um robe prateado e bebia chocolate quente na cama. O chocolate derramou-se sobre os lençóis brancos imaculados, o copo caindo no chão. Sentou-se em puro pavor, depois ficou muito branca quando a compreensão da presença real do marido a encheu. — Eu vim para te levar para casa. Nicole segurou as cobertas, ficou momentaneamente sem palavras. — Hadrian — sorriu, não muito bem. Ele abriu uma porta para o armário, revelando suas roupas perfeitamente penduradas. Ele rasgou um vestido de um cabide e jogou para ela, caiu em suas pernas. — Vista-se. Nicole voltou a si. — Como você se atreve! Saia! Saia agora. — Eu não vim aqui para discutir com você, Senhora Esposa — ele gritou. — Você não precisa se vestir. A escolha é sua. Nicole chutou o vestido para o chão, chutando para o lado as cobertas no processo. — Eu não vou com você. Saia agora. Você não pode me forçar. Hadrian riu. — Você me subestima, Madame. — Um instante depois, estava alcançando ela. Nicole gritou novamente quando a agarrou. Seus gritos ficaram ainda mais altos, o suficiente para acordar os mortos, quando percebeu o que ele estava fazendo. Se contorceu como um peixe quando Hadrian a pendurou de cabeça para baixo por cima do ombro, sem mais cuidados do que teria dado a um saco de ração. — Deixe-me ir! Deixe-me no chão! Neste instante! — Ela uivou furiosamente. — Eu já tive o suficiente — ele avisou e bateu com força em suas nádegas finamente vestidas. Nicole ficou em silêncio em choque. Hadrian entrou no corredor. Ficou cara a cara com os anfitriões de sua esposa. Martha estava branca, a mão cobrindo a boca, os olhos arregalados. No entanto, o visconde estava tentando não sorrir. — Olá, Serle. Perdoe-me por te incomodar — disse o duque. — Não pense em nada, Sua Excelência — Robert Serle respondeu educadamente. — Eu apreciaria muito o uso de uma de suas carruagens. — O prazer é meu — disse Serle, virando-se e chamando as escadas para o mordomo para pedir a carruagem. — Traidor! — Nicole chorou, voltando aos seus sentidos. — Me ajude, por favor! Martha. Hadrian bateu em suas nádegas novamente. Nicole ficou estupefata em silêncio. — E meu garanhão precisa de cuidados, por favor. — Não se preocupe, ele deve ser alimentado e preparado imediatamente. — Coloque-me no chão. — Por quê? — O duque perguntou calmamente. — Você escolhe se comportar mal como uma criança, então você deve ser tratada como uma criança. Esposas errantes recebem o que merecem. — Ele começou a descer as escadas. — Oooh! — Nicole ficou momentaneamente incoerente com raiva. — Teste minha paciência mais uma vez — disse também em tom de conversa enquanto começava a torcer freneticamente — e eu vou colocar você sobre meu joelho como se você tivesse seis anos. Ela parou de lutar. Pararam no foyer. O mordomo fingiu despreocupadamente não os ver. Martha desceu correndo as escadas. Nicole tentou chamar sua atenção desesperadamente, mas Martha teve o cuidado de não olhar para ela. — Você vai precisar disso — disse a Hadrian. Ela deu ao mordomo dois cobertores pesados e um casaco de pele comprido. — Você também! — Nicole chorou, quase soluçando agora. — A carruagem está aqui, Vossa Graça — disse o mordomo. Ele não conseguia manter o alívio de sua voz. — Obrigado, lady Serle. Mais uma vez, perdoe a intrusão — disse o duque, seguindo o mordomo para o lado de fora e para a carruagem. Felizmente, parou de chuviscar. Quando o criado abriu a porta, Hadrian atirou sem cerimônia Nicole para um dos assentos, passando por ela para trancar a porta oposta antes que ela pudesse se mover para pular daquele lado da carruagem e guardou a chave no bolso. — Espera! — Martha chorou, correndo da casa com uma garrafa na mão. — Você precisará disso também! — Empurrou uma garrafa de conhaque para ele. O mordomo fechou a porta. Hadrian acenou com gratidão e bateu no teto com força. O cocheiro partiu. Então esticou suas longas pernas e se virou para olhar para sua esposa. — Eu te odeio! — Ela chorou, lágrimas pesadas brilhando em seus cílios. — Tenha certeza que sei — disse calmamente. Jogou o casaco de pele para ela. — Afinal de contas, se você me amasse, não me pediria o divórcio, sim? As narinas de Nicole se abriram. Lágrimas escorregaram de seus cílios, rastreando suas bochechas. Ela olhou para ele como se fosse incapaz de responder. — Só para esclarecer as coisas — disse o duque, em tom de conversa — um divórcio está fora de questão. — Por quê? — Porque eu não desejo isso. — E meus desejos não te interessam nem um pouco? — Está correta. Nicole ficou rígida, depois cobriu o rosto com as mãos, não ia chorar. Não iria soltar toda a tristeza e angústia que tão cuidadosamente e profundamente enterrara... não iria. Mas podia sentir isso fervendo como um vulcão prestes a vomitar seu conteúdo quente e fundido. Lutou consigo mesma finalmente ganhou. Separou as mãos para ver o duque a frente dela, impassível. — Vou tornar a sua vida insuportável. — Já é — disse calmamente. Nicole piscou. Seu sorriso estava apertado, frio. — Eu sou amaldiçoado se eu fizer e amaldiçoado se eu não fizer — informou a ela. — Mas eu posso muito bem tirar algo desse casamento, como um herdeiro. Não entendia e não se importava, não quando ele estava afirmando suas intenções tão mal. — É isso que eu sou para você? Uma égua de ninhada? Maldito seja! Eu não vou te dar um filho. Ele se inclinou para ela abruptamente. Não havia mais nada casual em sua postura ou em sua expressão a fúria quente brilhava em seus olhos. — Você pode fazer a sua posição como a minha mulher tão elaborada, ou tão mundana, como você escolher. Mas você vai cumprir o seu dever e vai me dar um filho. — Não! — Nicole chorou, frenética. Passou por ele pela porta, estava trancado, como sabia que estava, mas ela agitou-se descontroladamente de qualquer maneira. Imediatamente a puxou para longe, por trás. Com um grito selvagem que era meio soluço torceu para arranhá-lo violentamente. Ele pegou e conteve suas mãos instantaneamente, forçando seu corpo em um abraço íntimo com o seu e empurrando-a para trás contra as almofadas do assento. Nicole se contorceu e se contorceu desesperadamente enquanto a segurava presa lá, ofegando e se debatendo, lágrimas de raiva, frustração e desespero riscando suas bochechas. Finalmente, ela não tinha forças e desabou contra os assentos na derrota. Ele não se mexeu, não fez nenhuma tentativa para libertá-la, embora ambos soubessem que estava exausta e que havia perdido. Quando a respiração de Nicole desacelerou, quando a raiva furiosa que a cegou diminuiu, ficou mais consciente da sensação do peito dele contra o dela, o quadril dele contra o dela. Seus braços estavam ao redor dela, suas mãos segurando seus pulsos, presos atrás das costas. Um dia de crescimento de barba foi áspero contra sua bochecha. Sua respiração constante estava quente contra sua pele. O pânico explodiu. Se acendeu no instante em que todos os seus sentidos começaram a ter consciência total de sua força, seu poder, seu calor, sua masculinidade. E sua intimidade. — Eu não vou tentar escapar — Nicole sussurrou, virando a cabeça ligeiramente. Para seu horror, seus lábios roçaram o queixo dele enquanto falava. — Permita-me levantar. — Sua voz tremeu. Ele não se moveu nem respondeu. O silêncio se alongou. Seu coração estava batendo loucamente agora. Embora ainda segurasse seus pulsos, agora estava frouxamente, e ela percebeu que estava realmente em seus braços, estava com medo de levantar o olhar, com medo de olhar em seus olhos. Sabia o que veria lá. Olhou para cima. Seus olhares se encontraram. Ele estava queimando, mas não com raiva. — Por favor, não — implorou. Ele se mexeu levemente e seu batimento cardíaco entrou em contato com o dela. Seus seios foram esmagados pelo seu peito. Seu casaco estava aberto, a camisa encharcada. Os mamilos de Nicole se apertaram instantaneamente em resposta à sensação de pele masculina quente coberta apenas pela camada mais fina de seda; seu próprio corpete de seda estava agora igualmente molhado e igualmente perturbador. Desanimada, sabia que ele podia sentir a resposta exuberante de seu corpo. — Por favor — ela implorou novamente, sua voz pegando sem fôlego. Ele se mexeu. Nicole pensou que estava se afastando dela e queria chorar de alívio. Mas ele só se moveu para soltar as mãos dela para que pudesse deslizar as palmas das mãos até os seios. — É aqui que nos adequamos — disse asperamente. — Ao contrário, é assim que nos adequamos. Você não vai me negar agora, Nicole, vai? Ela queria negá-lo. Mas ele esmagou seus seios suavemente em suas mãos, as pontas dos dedos roçando seus mamilos, seu olhar nunca deixando o dela. E em vez de protestar, Nicole ofegou de prazer. Ele trancou os braços sob as costas dela e levantou-a abruptamente em um arco à boca. Levou um mamilo vestido de seda à boca, sugando com força. Nicole segurou-lhe a cabeça, para não o afastar, mas para segurá-lo. Ele a soltou, agarrou seus joelhos e a puxou para o assento. Enquanto se erguia sobre ela, seus olhares se encontraram novamente. Sopros de vapor se formaram com cada respiração rápida e dura que ele tomou. Nicole olhou para seu rosto primorosamente bonito, tenso com uma paixão tão sombria e consumida quanto a dela, e seu coração deu um pulo. Seus olhos eram chamas douradas, queimando intensamente. Prometendo intensamente. Mas prometendo a ela o que? Um momento paradisíaco? Ela queria a eternidade. Percebeu o que ele estava fazendo. Suas mãos se atrapalharam com o fecho de suas calças. Observou-o revelar seu falo, ingurgitado e completamente ereto. Abruptamente, sacudiu as saias de seda de sua camisola por cima da cintura e tirou do caminho. Nicole fechou os olhos, imóvel, esperando. Desceu sobre ela e deslizou nela em um movimento rápido e fluido. Nicole imediatamente se levantou para abraçá-lo. Seus braços se enrolaram ao redor de seus ombros, suas pernas ao redor de seus quadris. Ele a encheu completamente, instantaneamente, calorosamente. Por um momento ele ficou parado dentro dela. Novamente seus olhares se trancaram. Mais uma vez vislumbrou a promessa que não entendia. Então tomou sua boca com a dele, tão completamente quanto tomou seu corpo com o dele. Ele se mudou, moveu rápido e profundo. Nicole sentiu dor, pois a introdução não foi gentil, nenhum prólogo brincalhão, apenas um empurrão duro e áspero. Nicole recostou-se nos bancos, empurrando os próprios quadris para encontrá-lo em uma série de violentas colisões mortais. Mais difíceis. Mais rápido. Seus corpos se encontraram com fúria, punindo um ao outro. Nicole agarrou-o ferozmente quando uma onda de intenso prazer mental se espalhou sobre ela, gritou com sua libertação. Ele riu enquanto a montava em um impulso final que era mais profundo, mais completo, mais duro. Suas poderosas nádegas ficaram tensas enquanto a empurrava contra o lado oposto da carruagem. Nicole segurou com força, as unhas penetrando em sua pele quando outra onda de espasmos selvagens a atacou enquanto ele inchava, inchava e finalmente explodia dentro dela. Eles ficaram moles, drenados. A carruagem os balançou para frente e para trás. Nicole se deu conta de todo o seu peso esmagando-a, de sua camisa molhada e calça aberta, os seios nus e as pernas nuas. Sua camisola estava emaranhada desesperadamente em torno de sua cintura. No entanto, ela não estava com frio. Seu corpo fumegou com o calor, aquecendo sua própria carne. A percepção do que acabaram de fazer e de sua própria participação ativa e ansiosa trouxe o desespero rapidamente para seu coração. Nicole virou o rosto para longe dele, fechando os olhos. No momento em que fez isso, tomou consciência de sua consideração por ela. Não iria encontrar seu olhar, pois se abrisse os olhos, choraria. Ele já era o vencedor e não merecia outra vitória. Ela ainda o amava. Apesar de tudo o que aconteceu, não tinha esquecido por que fugira, ou como a havia sequestrado na Casa Cobley. E agora, agora, se lembrava de quão desesperada era sua resistência a ele, de qualquer forma ou de qualquer jeito. — Nicole — ele disse. Ela se recusou a responder. — Eu sei que você não está dormindo. Fechou os olhos com força, desejou que ele se levantasse para que não precisasse ser lembrada de quão quente e duro seu corpo era, mas ele apenas se moveu para o lado. A angústia estava lá novamente. Ele a forçou a voltar para ele, não podia escapar, assim como não podia escapar de seu amor por ele. E seu único interesse era sexual, assim como seu interesse por Holland Dubois e só Deus sabia quantas outras mulheres. Foi sem esperança, tão sem esperança. Amar tal homem era sem esperança, não ia chorar, porque se o fizesse, nunca iria parar. Ele tocou o rosto dela. Nicole se recusou a responder. Mas seus dedos eram leves e gentis e apesar de sua aflição, seu toque parecia terno, o que sabia que era uma ilusão exagerada de sua parte. Seu polegar acariciou sua boca. — Por favor, não. — Então olhe para mim. Ela fez e lágrimas brotaram em seus olhos, não sabia o que esperava ver em seu olhar, mas não era a suavidade que estava lá. Foi sua ruína e sufocou um soluço. — Talvez, se você chorar, se sinta melhor. — Não. — Eu duvido que você se sinta pior. — Ele sorriu levemente. Ela não podia sorrir de volta. De repente, queria estar em seus braços, quando esse era o último lugar em que deveria pensar em procurar conforto. Rapidamente fechou os olhos e virou o rosto novamente, rezando em uma respiração que iria colocar alguma distância entre eles, e no próximo, que iria alcançá-la e segurá-la. — É realmente tão ruim assim? Seu tom era gentil. Ele ainda pairava sobre ela, estava perto demais. Nicole sabia que deveria dizer algo inflamatório. Em vez disso, ela abriu os olhos e novamente encontrou o seu olhar. A suavidade ainda estava lá. Sua expressão parecia carinhosa, mas sabia que ele não se importava, não com ela, não realmente, não mais do que com sua amante. Suas mãos encontraram o peito dele e tentou empurrá-lo para longe, o pânico sufocando-a. — Por favor! Ele se sentou e puxou-a em seus braços. — Deus não! — Ela chorou, agitando-se para ele cegamente e perdendo por uma larga margem. Ele embalou-a contra seu peito. — Chore. — Por favor, não faça isso — ela disse, mas já estava chorando. Ele não respondeu, mas passou uma mão grande para cima e para baixo nas costas repetidamente. — Droga — chorou Nicole. — Maldito — soluçou ela. Seus punhos fecharam e golpearam seu peito, os golpes lamentáveis, esmagados como ela estava pelas lágrimas. — Eu te odeio — ela soluçou, agitando-se para ele. — Eu te odeio. Ele ficou tenso, mas não a soltou e continuou a acariciá- la. Continuou a chorar, dando vazão a tal tempestade de lágrimas que ficou chocado com a profundidade de sua dor. Não conseguia entender por que chorava, mas podia se identificar com esse tipo de dor reprimida e profunda. Seus braços a apertaram mais. Ele a embalou como se fosse uma criança. E segurando-a se sentia triste. Estava triste por ela por qualquer coisa que lhe causasse tamanha angústia e imaginou que fosse ele. Também estava triste por si mesmo. Porque agora que havia reconhecido o seu amor por ela e o quanto precisava dela, não podia mais negar seus sentimentos e eles não estavam prestes a ir embora. Aparentemente, seu amor permaneceria não correspondido. Seu coração parecia sangrar. E quando ela chorou em seus braços como uma criança, de repente se sentiu como um menino de novo e também sentiu vontade de chorar. Lágrimas vieram aos seus olhos. Tentou se lembrar que não era um menino pequeno, que era um homem adulto, mas não funcionou. Ela soltou sua angústia por um longo tempo, mas eventualmente o pranto tornou-se soluço, eventualmente os pequenos golpes que apontou em seu peito diminuíram e desapareceram. Ele não a soltou e continuou a abraça-la. Seus punhos se abriram, apenas para se virar como garras, e estava agarrada a sua camisa. Embora ela não chorasse mais, um tremor varreu seu corpo. Passou a mão pelas costas dela, acalmando-a. Percebeu que ela estava caindo no sono em seus braços. — Você vai se sentir melhor amanhã — Hadrian prometeu a ela. — Amanhã não vai parecer tão ruim. Ela suspirou. — Eu não te odeio — ela sussurrou em sua camisa. — Na verdade não. Ele quase sorriu e outra lágrima cintilou em seus cílios. — Durma agora. Em poucas horas estaremos em casa. O aperto dela na camisa dele se apertou. — Eu te amo, Hadrian. Eu não te odeio, eu te amo. Ele ficou chocado. Seu aperto afrouxou e ela caiu em seus braços. Ainda atordoado, olhou-a e viu que ela estava em um sono profundo e exausto. Muito cuidadosamente, muito gentilmente, a deitou no assento. E ele olhou para o rosto devastado pelas lágrimas. Eu não te odeio, Hadrian, eu te amo.
Ela estava apenas delirando. Não estava?
Capítulo 33 Era tarde da noite quando o duque e a duquesa chegaram a Clayborough. O duque desceu da carruagem dos Serles primeiro, seus próprios porteiros ficaram boquiabertos quando o reconheceram antes de se recuperarem rapidamente. Mas Hadrian tinha mais surpresas reservadas para eles, além de sua aparência desgrenhada, pegou sua esposa adormecida. Ela não se moveu ou emitiu um som em horas. Nunca tinha visto um ser humano em um sono tão profundo. Agora não queria acordá-la e muito gentilmente, levantou-a em seus braços. Nicole se mexeu. Hadrian levou a esposa pelos degraus e entrou no vestíbulo. Woodward, a Sra. Veig e seu criado, Reynard, corriam para a sala quando ele entrou. Ninguém sequer piscou ao ver o duque carregando sua esposa errante, descalça e vestida com um casaco de pele e dormindo em seus braços. Sem parar, se dirigiu à Sra. Veig. — Quando Sua Graça acordar, ela vai, sem dúvida, querer um banho quente e uma refeição quente. Quando ele subiu as escadas, Nicole suspirou, segurando-o com as mãos. Observou o rosto dela enquanto entrava no seu quarto. Seus olhos se abriram. Gentilmente Hadrian a deitou na cama. — Estamos em casa. Volte a dormir. É tarde. Nicole sorriu para ele. Era um sorriso lindo, sem graça e sonolento e o coração de Hadrian dava cambalhotas. Seus olhos instantaneamente se fecharam novamente. Não pôde deixar de desejar que pudesse receber muito mais daqueles sorrisos e que seriam propositalmente dirigidos a ele. Havia tirado a camisola molhada horas atrás e estava nua sob o casaco de pele. Ele tirou rapidamente, puxando as muitas colchas pesadas sobre ela. Então ele foi até a lareira e acendeu o fogo. As últimas palavras que tinha falado com ele ainda tocavam em seus ouvidos. Tinha sido capaz de pensar em pouco mais durante o restante da viagem para Clayborough. Eu não te odeio, Hadrian, eu te amo. Sabia que ela não quis dizer isso, ou quis? Estava com medo de ter esperança. Se quisesse dizer o que dissera, seria o homem mais feliz da terra. O fogo começou a queimar, Hadrian saiu do quarto, mas não antes de dar um último e longo olhar à esposa. Hadrian entrou em seus próprios aposentos, onde Reynard o estava esperando. Entregou-lhe o sobretudo. — Eu também gostaria de um banho e algo para comer. — Eu já preparei seu banho, Sua Graça. E Woodward está trazendo sua refeição. Hadrian ficou repentinamente inquieto. Ele deu um tapinha no Borzoi, que se adiantou para cumprimentá-lo, mas o fez sem pensar, ainda pensando em Nicole. Woodward apareceu na porta com uma mesa. Ele a colocou no quarto e colocou o guardanapo do duque com um floreio eficiente. — Você vai tomar seu banho primeiro, sua graça? — Absolutamente — disse Hadrian. Ele duvidava que algum dia tivesse ficado mais imundo em sua vida. — Antes de você ir, Sua Graça, posso dizer-lhe que você tem um visitante? — Woodward perguntou. Hadrian estava desabotoando sua camisa. — Um visitante? — Chegou inesperadamente ontem, logo depois que você saiu. Não tinha cartão e eu o teria mandado para o Boarshead Inn, mas como veio da América, eu pensei melhor e o coloquei no quarto andar em um dos quartos. — É meu mensageiro retornando de Boston? — Ele exigiu nitidamente, esperança pulando em seu peito. — Não, Sua Graça. Seu nome é Stone, mas ele não disse o que queria. O Sr. Stone está presentemente tomando um conhaque na biblioteca do quarto andar. Posso dizer que o espere lá depois que você jantar, ou eu posso dizer a ele que você o verá amanhã? O sangue correu da cabeça de Hadrian e pela primeira vez em sua vida, ele se sentiu fraco. — Sua Graça? Você está doente? Ele se recuperou. Se recuperou para virar e caminhar em direção às escadas, dando dois passos de cada vez, deixando Woodward olhando para ele. Seu pai estava aqui. Não podia acreditar, ele não o faria, até que ele mesmo colocasse os olhos sobre o homem. Hadrian Stone inspecionou incansavelmente a coleção de volumes da biblioteca que era apenas uma das várias na residência do duque. Um sentimento terrível de desconforto o assaltou. Não deveria ter vindo, sabia disso agora. A ansiedade que gradualmente se intensificara durante os longos dias que passara atravessando o Atlântico ao se encontrar com seu filho tornou-se mais iminente, não era nada comparada à aflição que agora sentia. Sabia que seu filho era um duque, mas nada poderia tê- lo preparado para a propriedade de seu filho, nada poderia tê-lo preparado para Clayborough. Esperava luxo sim... esperava riqueza. O que não esperava era um lar digno da realeza como viviam há um século, lar de proporções palacianas e pretensão palaciana. Toda a sua dúvida veio correndo para o primeiro plano. Era um homem simples, seu pai tinha sido sapateiro, sua mãe uma costureira. Ele se via como o capitão de um navio, não como um magnata dos navios. Vestia roupas caras, mas sentia-se uma fraude e preferiria muito mais o suéter de lã e o saguão de chuva de um marinheiro. Mesmo essa pequena biblioteca o dominava, pois na verdade não havia nada de pequeno nisso. Que tipo de homem ele era? Hadrian Stone temia muito que fosse um arrogante e que ele estava prestes a ser julgado indigno por seu próprio filho. Um movimento pela porta aberta fez com que se afastasse de sua leitura das pilhas. Um homem alto e forte estava parado na porta, meio nas sombras. Hadrian Stone soube no momento em que o homem pisou na luz que era seu filho. Seu rosto era de Isobel. Mal capaz de respirar e incapaz de se mover, olhou para o homem... o homem adulto que era seu filho. E o duque de Clayborough olhou de volta. Stone viu que, embora seu filho tivesse ganhado a maioria de seus olhares impressionantes de sua mãe, sua mandíbula era forte e quadrada como a dele e isso o salvou de ser bonito demais. E seus olhos, seus olhos eram o mesmo âmbar dourado como o seu próprio. Mas a semelhança não terminou aí. O duque de Clayborough também possuía a mesma altura imensa, a mesma construção poderosa que seu pai. E então Stone notou suas roupas. Ele viu uma camisa de seda úmida e calças bronzeadas e sujas. As botas do duque brilhavam de chuva e estavam cobertas de lama. O olhar de Stone novamente varreu o rosto do filho. Não havia nada afetado sobre as roupas do homem, não havia nada afetado sobre o rosto dele, também. Seu filho era um homem, em todos os sentidos da palavra e aquele que, pela sua aparência, suportara um dia incrivelmente longo e difícil. O alívio encheu as veias do pai
O duque estava ocupado com sua própria inspeção. De olhos
arregalados, Hadrian não conseguia tirar os olhos do outro homem. Seu pai estava aqui. Longos momentos se passaram. Hadrian sacudiu- se do verdadeiro torpor que o segurava. — Eu não esperava uma resposta tão imediata à minha pergunta. — Stone hesitou. Os tons cultivados vindos do outro homem foi uma surpresa, lembrando-o novamente que não era apenas um país diferente, mas uma classe diferente os separava e sua ansiedade se renovou. — Como eu não poderia vir imediatamente? — Hadrian fechou a porta e entrou no quarto. — Eu devo me desculpar por não estar em casa quando você chegou. — Stone acenou para ele. — Obviamente eu não era esperado. — Os dois homens caíram em um silêncio constrangedor. Hadrian partiu cruzando o quarto. — Você gostaria de outro conhaque? — Talvez seja melhor — Stone murmurou. Hadrian serviu meticulosamente ao pai uma bebida. — Você viu Isobel? — A pergunta foi casual, sem intenção, enquanto procurava desesperadamente um tópico para quebrar o gelo entre eles. — Não. Sobressaltado, Hadrian olhou para cima, vendo a escuridão passando pelo rosto do pai. Sabia quando recuar, sabia que não devia continuar com o tema de sua mãe, embora a veemência de seu pai o intrigasse. Depois de tantos anos, teria esperado indiferença, não raiva. Ele se aproximou do outro homem pela primeira vez, entregando-lhe seu conhaque. Sem distância física separando-os, os dois ficaram em silêncio e imóveis, em pé, olho no olho e nariz a nariz, olhando um para o outro. — Droga — Hadrian finalmente respirou. — Isso é incrivelmente estranho. Como diabos alguém cumprimenta o pai perdido há muito tempo? Stone riu de repente. — Droga está certo! — Ele exclamou. — Graças a Deus você pode amaldiçoar. De repente, Hadrian sorriu, igualmente atormentado pela tensão nervosa. — Você quer que eu amaldiçoe? — Não é que eu queira que você xingue — disse Stone, seu sorriso desaparecendo — eu estava apenas imaginando se iríamos continuar a conversa tão formalmente. — Nós, ingleses, somos defensores da formalidade — disse Hadrian. — Sim, mas você é meio americano. Hadrian parou de sorrir. Finalmente sua boca se suavizou. — Eu estava ansioso para conhecê-lo — ele admitiu. — Obrigado por ter vindo. — Que pai poderia ficar longe em tal situação? — Stone perguntou francamente. — Muitos, devo imaginar. Stone ganhou um indício, então, na alma de seu filho. — Eu sempre ansiava por um filho. Eu não tenho filhos. Nenhum. Em vez disso — e ele sorriu — até agora. — Aquele sorriso contou tudo a Hadrian. Já havia aprendido com Isobel que esse homem era tudo que Francis não era. Mas temia, secretamente com medo, que a paternidade significaria pouco para o estranho que o havia criado. No entanto, isso não aconteceu. Seu pai ficou satisfeito ao descobrir que tinha um filho. Mais do que satisfeito, se a pressa com a qual chegara à Inglaterra era uma indicação. — E eu sempre quis um pai como todos os outros garotos — admitiu Hadrian. Stone olhou para ele. — Você teve um pai. O rosto de Hadrian virou pedra. — Eu não tive pai. Francis sabia que eu era um bastardo. Eu não sabia a verdade, no entanto, nunca pude entender por que ele me odiava. Descobrir a verdade foi o maior alívio da minha vida. O rosto de Stone estava sombrio. — Ela deveria ter dito muito antes disso... deveria ter me contado. Hadrian ouviu seu tom... a condenação e ficou olhando. — Ela tinha suas razões. Stone instantaneamente reconheceu a lealdade que seu filho tinha por sua mãe e recuou. Se fosse acusar Isobel de traição, alienaria seu próprio filho, a quem estava ansioso por fazer amizade. — Passado é passado. Eu sou grato que ainda estou vivo para ver este dia, para ver você, meu próprio filho, em carne e osso. Hadrian sorriu. — Eu esperei ansiosamente por este dia também. Isobel só falou de você uma vez, mas quando o fez, deixou claro que você era tudo que Francis não era. — Ele foi tão mal? — Stone perguntou baixinho, terrivelmente preocupado. — Ele era um bêbado e um sodomita que odiava não só eu, mas sua esposa. Ele era um covarde e um valentão. Abusou de nós dois, até que eu fiz quatorze anos e o derrubei com meus próprios punhos. Stone ficou horrorizado. De repente, teve uma imagem clara de Isobel como havia sido trinta anos atrás, esbelta, orgulhosa e requintadamente bela, sendo atingida por algum homem inexpressivo que era seu marido, um garotinho segurando suas saias. Sacudiu a simpatia que não queria sentir, não por ela e concentrou-se em seu filho. — Talvez algum dia você compartilhe sua história comigo. — Possivelmente. — Hadrian se virou. Stone sabia que havia avançado demais, rápido demais. Era um homem descomplicado; seu filho era terrivelmente complicado. No entanto, apesar do que deveria ter sido uma infância horrível, era claramente um homem forte e honrado. Ninguém conseguia falar com o duque de Clayborough por muito tempo sem reconhecer sua virtude e seu poder. Hadrian se virou novamente. — Você quer que eu mande chamá-la? — Não. Hadrian ficou novamente chocado com a veemência no tom do pai. Uma compreensão nebulosa, ainda sem forma, começou a enchê- lo. — Você disse que não tem filhos. Você já se casou? — Não. — A expressão de Stone foi feroz. — Como eu disse, o passado é o passado. — Ele suavizou seu tom. — Não tenho o desejo de retomá-lo e tenho certeza de que sua mãe também não. Naquele exato momento, Hadrian discordou e sentiu o poder das emoções muito particular e complexo para identificar, no entanto, o instinto astuto fez com que decidisse ignorar os desejos de seu pai. — Você provavelmente está certo — disse placidamente. — Quanto tempo você vai ficar? Stone sorriu, percebeu que não estava mais ansioso ou com medo, nem um pouco. Pelo contrário, seu coração estava maduro para explodir de amor por seu único filho. Seus sentimentos eram tão demorados que o deixaram sem fôlego. Nunca sonhara que alguém pudesse se sentir assim. — Enquanto eu for bem-vindo. — Você será sempre bem vindo aqui. O coração de Stone disparou, olhou para o filho e viu o leve rubor em sua bochecha e instintivamente, entendeu como era difícil para ele ser tão franco, tão cedo. — Obrigado. — Não há motivo para me agradecer. Você é meu pai. Você será sempre bem vindo aqui — Hadrian repetiu com firmeza. Um novo pensamento que Stone não tinha considerado realmente fez crescer sombrio. — Meu relacionamento com você não coloca em risco sua posição? Hadrian parecia divertido, levantou uma sobrancelha. — Ahh, entendi. Minha posição como o Duque? Não, não coloca. — Mas como isso é possível? — Isobel foi criada como herdeira legítima de Clayborough quando se casou com Francis. Seu pai, o conde de Northumberland, é um homem muito perspicaz. Eu tenho muitos primos que adorariam me ver destronado, por assim dizer, que adorariam desafiar a vontade de Jonathan Braxton-Lowell. Mas não chegará a isso. Não porque desejo poder ou posição, o que não faço questão. Não porque eu ame Clayborough e detestaria desistir... o que eu desistiria. Mas porque, não importa o quão importante seja para mim que você seja meu pai, é mais importante para mim que a reputação da minha mãe permaneça intacta. A verdade sobre o nosso relacionamento nunca pode ser revelada. Pois se fosse revelado, eu não poderia protegê-la. — Entendo. — Stone não ficou desapontado, embora uma parte dele adorasse reivindicar Hadrian Braxton-Lowell como seu filho. Em vez disso, estava orgulhoso quase ao ponto das lágrimas da lealdade feroz e inabalável de seu filho e senso de honra. No entanto, pensou que houvera um aviso no tom de Hadrian. — Admiro-te, Hadrian — disse ele em voz baixa. — E eu tenho orgulho do homem que você é. Eu não vim aqui para reivindicá-lo publicamente ou atrapalhar sua vida. Você não precisa se preocupar com isso. — Eu sei — disse Hadrian, igualmente sério. — Eu sei sem você ter que me dizer. Você não é vingativo, não é um caçador de fortunas, não é mesquinho. Eu não preciso te conhecer melhor para saber tudo isso. — E com humor raro, o duque de Clayborough sorriu. — Você pode ser americano, mas é um homem de honra. E Hadrian Stone riu. Capítulo 34 Isobel se perguntou o que poderia ser tão urgente. Já havia passado várias horas da hora do jantar na noite anterior em que recebera uma intimação urgente de seu filho, pedindo que se encontrasse com ele na manhã seguinte em Clayborough. Isobel estava preocupada, assumiu que a convocação tinha algo a ver com a esposa dele. O que mais poderia ser? O que mais poderia ser tão importante? Claro que nunca iria ignorar esse pedido, havia se levantado com o sol e partiu para Clayborough uma hora depois. Quando chegou à propriedade ducal, ainda era de manhã cedo, entrou rapidamente para a casa. — Sua graça ainda está tomando o desjejum — Woodward informou a ela. Isobel piscou. Hadrian nunca tomou um café da manhã tão tardio eram nove e meia e não conseguia imaginar por que estava fazendo isso agora. Sua preocupação aumentou. — A duquesa está com ele? — Estava quase com medo de perguntar, mas esperando além da esperança que estivesse. — Não, Sua Graça, a Duquesa ainda está na cama. Isobel quase desmaiou de alívio. — Então ela voltou? — Ela deu um sorriso. Por um raro momento, Woodward também sorriu. — De fato ela voltou. Estamos todos muito satisfeitos, Sua Graça. Embora não tenha retornado espontaneamente. Isobel conhecia Woodward por muito tempo para se surpreender por ele oferecer informações que não pedia, obviamente queria lhe dizer algo. — O que você quer dizer? — Sua graça a trouxe de volta. Da entonação pouco sugestiva de Woodward, Isobel supôs o pior. Hadrian, sem dúvida, havia buscado sua esposa de volta, podia imaginar a luta que eles deveriam ter tido. Suspirou e correu pelo corredor até a sala de jantar. — Ele não está lá, Sua Graça — Woodward correu atrás dela. — Está tomando o desjejum na sala de música, prefere assim. Isobel levantou uma sobrancelha, sabendo naquele momento que tudo ficaria bem. Nicole Shelton Braxton-Lowell estava domando seu filho, centímetro por centímetro. Já era hora de alguém amolecer seu coração. Deixou Woodward abrir as portas da sala de música e entrou com um sorriso alegre. Um segundo depois, congelou. Era Hadrian, seu Hadrian, Hadrian Stone. Estava sentado à mesa com o filho, os dois conversando em tom sério, tomando café da manhã como se fizessem isso todos os dias de suas vidas, pai e filho juntos. Seu mundo girou loucamente, tinha certeza de que desmaiaria. — Mãe! — Hadrian exclamou. Isobel tinha uma vontade de ferro, sempre teve, desejou que seu coração batesse e se obrigou a ficar parada, forte e alta. Mas não podia desejar o sangue para seu rosto, que estava mortalmente pálido. Nem podia afastar o olhar de Hadrian Stone. Ele também ficou olhando. Hadrian, o filho deles, estava de pé. Olhou de um para o outro, de sua mãe, congelada e fantasmagoricamente branca, para o pai, sentado em estado de choque na mesa. Foi Stone quem se recuperou primeiro. — Isso é uma piada? — Ele perguntou friamente. — Eu tenho negócios urgentes para atender — disse Hadrian e então se foi, batendo as portas atrás de si. Stone ficou de pé. — Isso é algum tipo de piada podre? Isobel piscou. Isso não foi um sonho. O homem que uma vez amou com todo seu coração e alma - o homem que ainda amava - estava diante de si em carne e osso. Era mais velho, seu cabelo não era mais um castanho brilhante, mas enredado de cinza e havia muitas rugas novas em seus olhos e boca, mas ainda era alto, ainda musculoso e ainda a fascinava instantaneamente com seu magnetismo masculino. Ainda era o homem mais bonito que já tinha visto e sempre seria. Seu corpo inteiro estremeceu em resposta a ele, assim como seu coração batia freneticamente e erraticamente. Ele chutou a cadeira para trás. — Eu não tinha intenção de colocar os olhos em você novamente — disse em tom duro. — Mas aparentemente nosso filho decidiu o contrário. Isobel estremeceu. De repente ficou claro e a atingiu como uma faca cortante de aço frio, ele a odiava. Seus olhos ardiam de ódio, ficou ali olhando para ela como se fosse o tipo mais baixo de verme. Dor rasgou através dela, quase derrubando-a de seus pés. Querido Deus, como poderia tal amor ter mudado para tal ódio? E como, oh como, como poderia encará-lo quando ele se sentia assim? Encontrou mais força do que sabia que tinha, endireitou os ombros, levantou o queixo. Quando falou, sua voz mal tremeu. — Pelo visto sim. Ela deslizou em direção à mesa, mas não olhou para ele, embora pudesse sentir seus olhos ardentes sobre si. Nunca tinha sido vaidosa, mas agora sentia cinquenta anos e se sentiu mal ao saber disso, enquanto olhara para ele e derretia com um desejo quente e turbulento, ele a olhava com nada além de ódio, vendo nada além de uma velha. Pegou o bule e começou a encher sua xícara antes de encher a própria. Ele agarrou o pulso dela do outro lado da mesa, gritou quando a puxou para frente, de modo que seus rostos quase se tocaram. — Bom Deus! — Ele gritou. — Depois de tudo que me fez ainda me serve um chá? Lágrimas encheram seus olhos enquanto olhava de volta para seu olhar furiosamente irritado. — Solte-me. Ele fez isso instantaneamente. — Está se comportando como um bruto. — Ficou impressionada com a calma de sua voz, quando por dentro sentiu que estava morrendo. — Se estou me comportando como um bruto é porque você me transformou em um. — Francis sempre me culpou por sua fraqueza também. Ele congelou. Seu rosto ficou branco. Então, com o maxilar tão apertado que as cavidades se formaram sob suas bochechas, disse — Sinto muito. Ele não era nada como Francis, nunca poderia ser como Francis e Isobel sabia disso. — Eu também — ela disse suavemente. Sua cabeça se levantou. Seus olhos brilhavam. — Sentir muito agora é um pouco tarde! Isobel deu um passo para trás. Ele se atirou ao redor da mesa e pensou que iria agarrá-la novamente. Mas não, ele apenas ficou ali diante dela, tremendo de raiva. — Do que diabos você sente muito, Isobel? As lágrimas vieram então, enchendo seus olhos. — Sinto muito por tudo. — Por tudo? — Ele era sarcástico. — Por mentir, por ser enganadora, por ser nada mais do que uma cadela autocentrada? Ela se afastou dele. — Oh Deus! Ele a agarrou. Havia imenso poder em suas mãos, mas não a machucou, a sacudiu uma vez. — Eu amava uma mulher que não existia! Que nunca existiu! Adorei uma mentira! Adorei uma mentira adorável! Ela chorou. — Por que você está fazendo isso? Por que você está me machucando assim? Por que você me odeia tanto? — Você me negou meu filho e se atreve a me perguntar por que eu te odeio? Ela tentou se concentrar nele através da enxurrada de lágrimas. — Eu fiz isso porque estava com medo. Eu estava com tanto medo. — Medo? — Ele ficou parado. — Com medo de quê? De Francis? — Não! Quero dizer, é claro que eu estava com medo de Francis. Ele me odiava por administrar as propriedades tão bem e então odiava Hadrian por não ser seu filho, por lembrá-lo de sua impotência. Precisava apenas da menor desculpa para me machucar. Hadrian era como você, apesar de ser um garotinho, era corajoso, tentou me proteger tantas vezes! — soluçou. — Eu teria protegido você! — Agora a sacudia com força. — Droga, eu teria protegido vocês dois! Eu teria levado vocês dois para longe daqui. — Isso era o que eu temia — ela chorou. — Eu sabia que você viria se te contasse sobre Hadrian. Sabia que você viria reivindicar seu filho. Assim como sabia que era errado negar-lhe a verdade. Mas, Hadrian! Deus querido, tente e entenda! Deixando você e voltar para Clayborough foi a coisa mais difícil que já fiz. Foi um milagre que eu fizesse isso. Um milagre tênue. De alguma forma eu sobrevivi a cada dia sem você. Quando soube que estava grávida de seu filho, isso me dava a vontade de viver e lutar de novo. Eu não lhe disse a verdade, porque se você viesse, você destruiria a existência que eu mal conseguira alcançar. Eu sabia que se eu colocasse os olhos em você de novo, eu deixaria de bom grado Clayborough e meu marido, eu voluntariamente violaria minha honra e minha própria integridade, fugiria com meu filho e você, se eu fizesse isso, eu me odiaria pelo resto da vida. Ele a soltou. Ele correu a mão trêmula pelo cabelo, olhando para ela com os olhos arregalados. — Jesus. Tanta maldita nobreza. Nobreza abnegada! — Se eu tivesse levado Hadrian e ido para você, não teria só me odiado. Com o tempo, teria odiado você também — sussurrou. Congelou e se afastou dela. Ela o observou, as lágrimas escorrendo livremente por seu rosto agora, seus ombros tremendo. Mas não fez nenhum som. Quando se virou para olhá-la, seus próprios olhos estavam molhados de lágrimas não derramadas. Mas a raiva se foi. — A vida nunca é preta ou branca, é? — Ele perguntou tristemente. — Tantos malditos tons de cinza. Por que você tem que ser a mulher que você é, Isobel? Mas então — sua risada era amarga — é por aquela mulher que eu me apaixonei. — Eu escolhi ficar longe de você, amando você, ao invés de estar com você, odiando você. Ele absorveu isso com grande gravidade. — Eu não teria sido capaz de suportar o seu ódio também. — Você entende, então? — Ela chorou. — Sim, eu entendo auto respeito — disse muito pesadamente. Ela desabou na cadeira mais próxima com um alívio esmagador. — E — ela sussurrou ousando olhar para ele — e você pode me perdoar? — Eu não sei. Ela foi esmagada. — Quão ruim foi para Hadrian? — Ele tinha que saber. — Você o sacrificou para a sua maldita nobreza também? — Não! — Ela chorou. — Francis nunca o amou, mas eu mais do que compensei. Francis bateu nele algumas vezes, mas eu logo o fiz parar com chantagem, a mesma chantagem que fez Francis aceitar ele como seu filho. Eu ameacei revelar ao mundo toda a verdade sobre Francis sua natureza, sua embriaguez, sua preferência por garotos e como teve que ser resgatado por sua esposa de suas dívidas. Essa foi a última que garantiu seu silêncio sobre Hadrian não ser seu filho. Francis não podia suportar para o mundo saber o quanto ele era inepto, Hadrian não tinha o amor de um pai, mas eu tentei compensar isso: você o conheceu, viu o bom homem em quem se transformou, veja como ele é forte. Você pode ter orgulho dele, Hadrian, você deveria se orgulhar dele. É como você em todos os sentidos. — Mas ele cresceu sofrendo. Resumidamente, Isobel fechou os olhos. — Ele sofreu uma grande dor que o assombra até hoje. A dor de não ser amado. A dor de ser desprezado por um dos pais. Eu o protegi o melhor que pude. Talvez eu fosse egoísta. Talvez você esteja certo. Sou egoísta, talvez tenha escolhido errado. Tenho me perguntado tantas vezes se fiz a escolha certa, você teria dado a ele amor, mas nosso relacionamento não teria sobrevivido se virasse minhas costas para o meu casamento e minha vida teria feito Hadrian uma criança mais feliz? Era impossível especular sobre a miríade de possibilidades, Hadrian percebeu. Ele observou Isobel chorar silenciosamente em um lenço. Foi um alívio não ficar mais com raiva. Em seu lugar, se sentiu curiosamente entorpecido. Observou o contorno de seus ombros pequenos e trêmulos e suas mãos delicadas enquanto segurava a roupa no rosto. Uma fabulosamente grande safira brilhava em seu quarto dedo. Notou que ela não usava mais os anéis de casamento. Ela levantou o rosto, erguendo o olhar para ele. Sua respiração ficou presa. Não havia entorpecimento agora. Isobel não era mais uma garota de vinte anos, mas envelhecera magnificamente. Seu rosto não havia mudado. Oh, havia linhas mais profundas ao redor de sua boca, e alguns pés de galinha sobre seus olhos, seu cabelo estava muito mais pálido agora do que tinha sido, quase platinado, mas suas feições eram tão refinadas como sempre. Ficou surpreso ao ver-se olhando para ela, preenchido com o tipo de desejo cru que não sentia por qualquer outra mulher em trinta anos, que só sentiu quando estava com ela. Seus olhos se arregalaram. Cerrou os punhos com força quando a onda de luxúria o varreu. Seus olhares se encontraram cautelosamente, viu que ela sabia e viu algo mais, a brilhante e selvagem esperança em seu olhar. — Você ainda é linda, Isobel — ele disse cuidadosamente. — Eu sou velha. — Você não parece velha. — Não faça isso. Ele se aproximou dela. — Não faça o que? — Não faça isso! — Ela tentou se esquivar das mãos dele, mas elas se fecharam rapidamente em seus braços e foi puxada contra ele. Ele estremeceu violentamente no contato. Cada pedaço dela era esbelta e macia, feminina e familiar. Olhou-o, presa em seus braços, seus olhos tão vívidos e adoráveis como se lembrava. — Não faça isso — ela disse novamente. — Por que não? Isso não mudou, não é? Nós ainda queremos um ao outro. Eu quero você. Lágrimas encheram seus olhos. — Mas eu te amo — ela sussurrou. Ele congelou e então parou de pensar. Seu abraço apertou, sua boca caiu sobre a dela. De repente, todos os anos que se passaram desapareceram; ontem e hoje se tornou um. Não tinha mais sessenta anos, mas trinta e a mulher que segurava nos braços era uma menina. Eles poderiam estar se abraçando no convés de seu navio clipper, o Sea Dragon, ou nas margens da Virgínia. O tempo deixara de existir. Tudo o que existia para ele era Isobel e a enormidade de seu amor por ela, que nunca havia morrido. Suas mãos deslizaram sobre ela, lembrando. Sua boca se moveu lentamente sobre a dela, parou quando percebeu que estava saboreando suas lágrimas salgadas. — Não chore — ele murmurou, segurando-a com força. — Não chore, Isobel. Ela chorou mais forte. — Eu amo você, Hadrian. Eu não posso fazer isso. Não com você me odiando. — Mas se agarrou com tanta força às lapelas de seu paletó fino que os fios se rasgaram. — Eu não te odeio — ele gritou. — Como eu poderia odiá-la? Passei toda a minha vida amando você. — E lembrando-se das palavras de seu filho, ele disse — Até um americano pode ser leal. Ela riu, chorando. — Você quer dizer isso? Você não me odeia? Você pode me perdoar? — Não há um ditado — ele perguntou suavemente, segurando seu esplêndido rosto em suas grandes mãos — que o amor cura todas as feridas? Agora ela realmente riu, apertando suas mãos com as suas enquanto segurava o rosto dela. — Esse é o tempo que cura todas as feridas. — Então, para nós é amor — disse simplesmente. Seu aperto aumentou quando um novo e assustador pensamento lhe ocorreu e se o passado pudesse se repetir? E se ainda sentisse algum sentimento miserável de lealdade a Clayborough ou ao duque morto? — Você vai se casar comigo desta vez, Isobel. — Sim — ela chorou descontroladamente. — Sim Sim Sim! — Não foi uma pergunta — disse ele, com lágrimas repentinas o cegando. — Eu sei! — E ela lançou seus braços ao redor dele. Capítulo 35 Nicole demorou apenas um momento para perceber onde estava... piscou, levantando-se em um braço e olhando para a coluna larga da cama de dossel muito drapeada. A lembrança se precipitou sobre ela. De repente, caiu de costas nos travesseiros. Ontem, Hadrian a arrastou com força da Casa Cobley. Ontem fizeram amor em sua carruagem, sem inclinação de resistir. Ontem sua raiva fugira na esteira de seu amor, que simplesmente não morreria. E ontem tinha quebrado em seus braços, finalmente dando vazão ao seu desgosto. Cautelosamente, Nicole se sentou. Estava nua, mas não se lembrava de se despir ou subir na cama. De fato, a última coisa de que se lembrava era soluçar descontroladamente nos braços de Hadrian na carruagem em direção a Clayborough. Seu abraço foi tão terno. Seu coração acelerou. Parecia lembrar-se de lhe dizer que o amava também. Esperou fervorosamente que não tivesse, que isso tivesse sido apenas um sonho. Querido Senhor, o que faria agora? Uma imagem da linda Holland Dubois surgiu em sua mente. Nicole levantou-se da cama e vestiu uma túnica. Lavou o rosto e escovou os dentes, tentando se concentrar na tarefa em mãos. Ela não pôde. As lembranças continuaram a atraí-la, maiores que a vida. Nicole ficou muito quieta no banheiro, segurando a penteadeira com tampo de mármore. Estava totalmente acordada agora e era impossível não estar ciente do que estava evitando na semana passada. Durante sua estada na Cobley House, ela era como um zumbi, irrefletida e insensível. Agora podia pensar... e podia sentir. Estava com medo de analisar suas emoções muito de perto. No entanto, elas estavam lá, inevitáveis, um pouco tenros e um pouco crus. Ainda doía pensar em Hadrian e na Holland. No entanto, não parecia se sentir muito mal. Seu coração estava milagrosamente intacto. O que iria fazer sobre a amante? O que poderia fazer? Hadrian realmente foi tão gentil e atencioso ontem? Ou isso também tinha sido um sonho? O aperto de Nicole na escova aumentou, queria ver o marido, se sentiu obrigada a vê-lo. Devia descobrir se imaginou toda a suavidade, compaixão e carinho que tinha visto em seus olhos. De repente, isso era o que era importante e não dava a mínima para qualquer outra coisa. Desejou que não tivesse sido um sonho. Queria tanto que tinha que ser a verdade. Nicole se moveu rapidamente pelo quarto. Sabia que não deveria sair de sua suíte em seu estado atual de vestimentas, mas agora era impelida para frente por uma força que não conseguia identificar. Entrou na sala de estar. Estava prestes a se mover para o corredor quando viu a caixa embrulhada de presente. Ela parou. Era uma grande caixa retangular encostada na parede. Parecia ter sido descuidadamente colocado ali e esquecida. Nicole sabia que era para ela. Assim como sabia que era de Hadrian. Como se atraída por um ímã, ela se aproximou do pacote. E então, uma vez em suas mãos, ela rasgou-o como um demônio possuído. A primeira coisa que viu sob o lenço de papel verde foi uma surpresa. Ela piscou, puxando um par de calções de montaria, pegou outro par e outro. Havia meia dúzia no total, cada uma com uma cor diferente, creme e bege, cinza e marrom e verde-caçador. Segurou o último par para cima, um calção preto. Não teve que experimentar um único par para saber que os calções se ajustariam perfeitamente a ela. Nicole foi levada às lágrimas, apertou as calças de ébano no rosto. O que isso significa? Oh, o que isso significa? Abruptamente, jogou as calças para o lado, vasculhando freneticamente as roupas e o tecido por um cartão. Ela encontrou um. Dizia apenas — Para minha querida esposa — Hadrian havia rabiscado seu nome ilegivelmente abaixo. Ela abraçou o pequeno cartão ao peito. Para minha querida esposa. Ele havia escrito — para minha querida esposa — Não tinha sido meramente educado, estava certa. Assim como estava certa de que tinha visto carinho e compaixão em seu olhar ontem. Ele se importava. Nicole ficou em pé. Nada iria impedi-la de encontrá-lo agora. Correu pelo corredor, ignorando as empregadas ocupadas por quem passava, que pararam em suas tarefas para piscar em seu traje antes de oferecer-lhe suas boas manhãs. Nicole desceu as escadas rapidamente, ficando sem fôlego. Seu coração estava trovejando. Antecipação a encheu, devia encontrar Hadrian imediatamente. No andar térreo, ignorou os porteiros, que nem mesmo via e correu em direção ao escritório. Vozes vindas da sala de música chamaram sua atenção. Vozes felizes, um homem e uma mulher. Nicole derrapou até parar. O tom que compartilhavam era conspiratório, íntimo. A voz do homem quase soava como a de Hadrian e por um segundo, Nicole pensou o pior, mesmo sabendo que sua suspeita não estaria correta. Ela abriu a porta. Por um instante, olhou para a duquesa viúva sendo intimamente abraçada por um homem. Isobel e seu amante se voltaram para olhá- la. A cor quente inundou o rosto de Nicole. — Com licença! — Ela exclamou, recuando. — Eu sinto muitíssimo! Fechou a porta e ficou do lado de fora, ofegante. O que quer que estivesse acontecendo, importava? Devia encontrar seu marido! Ele não estava em seu escritório. Agora correndo, Nicole se virou e subiu correndo as escadas. Quando Hadrian fechou as portas da sala de música de seus pais, estava se sentindo mais do que um pouco culpado e muito ansioso, não tinha mais certeza de ter feito a coisa certa. Estava claro que os dois ainda se amavam, mas não era romântico, sabia mais do que isso, mas estava agindo como se tentasse uni-los. Na realidade, tanta água havia passado sob a ponte, era duvidoso que seriam capazes de recuperar o que tinham conquistado uma vez. Enquanto caminhava pelo corredor, olhou para o relógio de bolso, não pela primeira vez. Logo seria dez. Seu coração se apertou. Nicole dormia há quase vinte e quatro horas e estava ficando muito alarmado. Ontem à noite a examinou três vezes, cada vez mais ansioso. Ela dormiu como um morto. Naquela manhã, às seis horas, ainda estava em coma. Às oito estava se mexendo. No entanto, ainda não estava acordada. Tomando as escadas traseiras porque era mais rápido, ele decidiu acordá-la. E quando se aproximou da suíte dela, começou a tremer. Sentiu como se o próximo encontro determinasse o curso de todo o seu casamento, sentiu em cada medula do seu ser, sabia que tal sentimento era ridículo. Mas não podia abalar sua certeza. E se ela realmente o amasse? A essa altura, estava se perguntando se sua imaginação ávida o estava pregando, se tivesse ouvido uma declaração apenas porque queria. Seus aposentos estavam vazios. Grande decepção reivindicou- o. E então ouviu um movimento na porta atrás dele e se virou para encontrá-la ali de pé. — Hadrian — ela sussurrou sem fôlego. Seu olhar deslizou sobre ela enquanto a maneira como dizia seu nome e o modo como seus olhos se iluminavam ao vê-lo, faziam seu coração ansiar perigosamente. Ele lutou pela compostura quando queria exigir imediatamente se de fato ouvira o que achava ter ouvido ontem na carruagem. — Bom dia, senhora. Eu estava começando a ficar alarmado, você dormiu um dia inteiro. — Eu dormi? — Ela perguntou, ainda sem fôlego. — E você estava preocupado? — Sim. De repente, ela sorriu e estendeu o punho. Viu que ela agarrava um pedaço de papel. Então abriu a mão e ele viu que não era um pedaço de papel enrolado que segurava, mas um pequeno cartão... o mesmo que havia inserido no presente que pretendia dar a ela uma semana atrás. Eles se encararam. — Hadrian — exclamou ela — o que isso significa? O que o seu presente significa? Ele hesitou. — Isso significa que eu me comportei como um idiota e sinto muito. Esperança explodiu. Alegria brotou. — Você sente muito pela Holland? — Ela sussurrou. Ele piscou. — Holland? — Simplesmente não lhe ocorreu que saberia o nome de sua ex-amante. — Holland quem? Nicole ficou rígida. A alegria começou a se dissipar. — Holland Dubois. Uma suspeita o inundou. Ele pegou sua mão. — Nicole, o que a Holland tem a ver com isso? E como, em nome de Deus, você aprendeu sobre ela? Nicole não fez nenhum movimento para se libertar. — Eu pensei que estava arrependido que você tinha ido para ela. Mas eu posso ver que eu estava errada. Errada de novo, sendo tola novamente. — Espera! — Ele não a libertou. — O que diabos você está falando? — Eu não posso compartilhar você, Hadrian — ela disse simplesmente. — Eu não farei. — De repente, se endireitou quando uma determinação feroz a encheu. — Oh, que estupidez eu fiz! Por que eu não pensei em lutar pelo que é meu antes? Hadrian só podia olhar para ela. Então, um sorriso puxou sua boca quando o início da compreensão chegou até ele. — E por quem é que você vai lutar? E com quem você vai lutar agora? — Eu vou lutar por você — afirmou, com os olhos ardendo. — E eu vou lutar contra a Holland. E é tarde demais para você mudar de ideia, pois eu inventei a minha. Eu não quero mais o divórcio. — Entendo — disse, imaginando se parecia tão absurdamente satisfeito quanto se sentia. — E o que eu quero? Ela olhou para ele. — Eu vou atirar suas próprias palavras de volta para você. O que você quer não é da minha conta. — De fato? — Ele riu. — Por que eu acho que você está mentindo? Ela piscou para ele. — Eu não entendo sua atitude, Hadrian, mas talvez eu deva me esclarecer. — Por favor — disse imensamente feliz. nunca tinha sido mais feliz. — Não quero o divórcio. Mas não vou dividir você. Sei que não posso impedi-lo fisicamente de visitar aquela mulher, mas posso impedi-la de entretê-lo. Ele riu. — Querida, você certamente pode me conter fisicamente e você já me tem, mas por favor o que você tem em mente para a pobre Holland? — Esqueça qualquer sentimento que você possa ter por ela, Hadrian — disse Nicole, carrancuda. — Não vai mais vê-la, não uma vez que eu a chame de novo. Ele gemeu. — Agora eu começo a entender! Deixe-me adivinhar! Você a viu enquanto eu estava em Londres! — Eu não fui a única — disse Nicole bruscamente. — Você está com ciúmes! Admita? — Você sabia que eu tenho uma gota de sangue índio americano correndo nas minhas veias? O duque sorriu e puxou-a em seus braços. — Eu não posso dizer que estou muito surpreso. — O que você está fazendo? — Nicole falou quando ele a acariciou de volta. — Estou segurando minha esposa. Minha querida esposa. Isso a chocou. Ela congelou, tremendo. — Você quis dizer isso? O que você escreveu no cartão? — Sim eu fiz. Nicole, por favor, não leve seu chicote para o pobre rosto de Holland como fez com o meu. Eu odeio te dizer isso, querida, mas você tem sido tristemente enganada. Ela agarrou a frente da camisa dele. — Eu tenho? — Você tem. Holland Dubois não é minha amante. — Ela, não é? — Não mais. Nosso relacionamento foi encerrado quando eu estive pela última vez em Londres. Nicole foi inundada de alívio, atordoada de alegria. Ela se agarrou ao marido. — Você quer dizer que você nem sequer teve uma separação doce? — Eu tenho toda a doçura que eu preciso aqui, querida. Ela se sentiu fraca, mas ele a segurou firmemente. — Oh querido — ela sussurrou. — E pensar que eu iria cortar seu lindo rosto com uma faca de cozinha. Hadrian gemeu. — Oh, como eu poderia ter agido tão precipitadamente e fugido?! — Nicole gemeu. — Não faço ideia — disse o duque, segurando o rosto nas mãos. — Mas algo me diz que não será a última coisa precipitada que você faz. — Ele silenciou o protesto de Nicole com um longo beijo íntimo e prolongado. — Mas eu estarei aqui para resgatá-la, querida, não tenha medo. — Querida? — Ela sussurrou, atordoada. — Por que você continua me chamando querida? Por que você agora me chama de querida? — Porque o seu ciúme me agrada — disse o duque com ternura. Seu olhar era mais suave do que no dia anterior na carruagem e Nicole se derreteu. — Oh Hadrian — ela suspirou. — Quando você olha para mim desse jeito... — Sim? — Ele cutucou. — Eu mal posso pensar — ela murmurou. — Na verdade, mal posso ficar de pé. — Você pode pensar o tempo suficiente para me dizer o que você me disse ontem? — O que eu te disse ontem? — Ela grunhiu nervosamente. — Eu não quero mais jogar Nicole — disse ele muito a sério. Então ele acrescentou — Querida. Ela gemeu. — Não foi um sonho, foi? Ontem, o jeito que você me segurou, como se você se importasse. — Eu me importo. Ela agarrou-o com força ou teria caído direto no chão. — E eu amo você, Hadrian. Mas você já sabia disso, não sabia? Porque eu te disse ontem. — Comecei a suspeitar que era verdade há apenas alguns minutos — disse ele, delirantemente feliz. — Quando você começou a ameaçar a pobre Holland. — Ela não é tão pobre! Ela é a mulher mais linda que já vi! — Ela não é a mulher mais linda que já vi — disse o duque. Nicole estava quase se recuperando de alegria. — Você pode me perdoar por fugir? Por envergonhar você de novo? Oh, eu nunca vou me perdoar por te humilhar mais uma vez! Eu prometo que nunca farei algo tão imprudente de novo. — Por favor, não prometa, eu sei agora esperar o inesperado de você. Contanto que você me ame, Nicole, nada mais importa. — Oh Hadrian — disse Nicole, agarrando seus ombros. — Isso é bom demais para ser verdade. Receio que, se eu me beliscar, descobrirei que estou sonhando. Ele riu novamente e beliscou sua bochecha. — Você está acordada, não está sonhando. Você é minha duquesa — sua voz baixou — e eu te amo. Nicole caiu nos braços dele ansiosamente. Esperou para sempre ouvir essas palavras. E ele estava certo. Seu marido, o duque, estava certo. Nada importava mais, não quando se amavam, e não quando tinham finalmente colocado mal-entendidos para descansar. Às vezes, percebeu feliz, sonhos realmente se tornam realidade.