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O Príncipe e o Servo

Rose Moraes
Direitos autorais © 2021 Rose Moraes

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Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com
pessoas reais, vivas ou falecidas, é coincidência e não é intencional por parte do autor.

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Design da capa por: Katy Branco


Revisor: Valéria Nascimento
Dedico este romance aos meus leitores queridos que me acompanham desde
sempre e que embarcaram fielmente em minhas histórias de fantasia.
Índice
Página do título
Direitos autorais
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Epílogo
Agradecimentos
Livros deste autor
Prólogo
Nikolai
Alexander com 9 anos e Nikolai com 6
anos.

— Você sabe que é arriscado vir até aqui, não sabe? Papai
não gosta.
— Você não gosta de ser meu amigo?
— Eu amo ser seu amigo, Nikolai. Você é meu melhor amigo. —
O sorriso no rosto de Alexander foi grande. — Mas temos que tomar
cuidado. O Ivan fica me vigiando e não deixa ninguém se aproximar.
— É porque você é o Príncipe, não é?
— Vou ser um dia, agora sou só o filho do Rei.
— É importante também, não é? — Alexander riu. — Por que
você está rindo de mim?
— Porque tudo você gosta de confirmar.
— Mas responde!
— Sim, é muito importante. Você veio por onde desta vez?
— Pelos calabouços. — Alexander arregalou os olhos.
Eu começava a conhecer todo o castelo. Desde cedinho, nunca
gostei de ficar parado vendo a mamãe cozinhar na grande cozinha
do Rei. Mamãe sempre fazia a comida e me contou que fazia isso
desde garotinha.
Disse também que fez isso comigo na barriga dela. Meu papai
era um servo do Rei, eu nem sabia o que era um servo, mas ele
ficou doente e morreu quando eu tinha dois aninhos, a mamãe me
contou.
Alexander se tornou meu amigo quando um dia eu estava
andando pelos corredores, achando muito bonitas as fotos presas
na parede e o tapete vermelho que era fofinho no meu pé. Nem
sabia que não podia estar ali. Mamãe não tinha visto que saí
debaixo da mesa da cozinha.
Ao virar um corredor, acabei batendo no peito de alguém e caí
de bunda no chão. Só que a pessoa também caiu e era um menino.
Ele ficou me olhando de cara feia e me deu vontade de chorar.
Quando fiz o bico de choro e meus olhos encheram de lágrimas,
ele falou comigo:
— Não chora, desculpa! Não te vi.
Fiquei olhando sentido pra ele.
— Você se machucou? Não me machuquei e nem “tô” bravo — o
menino falou e me ajudou a levantar. — Qual é o seu nome?
— Nikolai.
— Que nome bonito! O meu é Alexander. Quantos anos você
tem?
— Três! — levantei meus dedinhos junto.
— Tenho seis anos! — O menino falou feliz. — Você quer brincar
comigo?
— Quero!
Alexander me puxou pela mão e me levou a um quarto bonito e
muito grandão. Brincamos um tempão, até que escutamos vozes
pelo castelo e um moço de cara feia me pegou e me levou para a
cozinha.
Vi a mamãe chorar e o homem mau, brigar com ela. Minha
mamãe falou que eu não podia andar pelo castelo, que era proibido
e falei do menino. Ela se assustou mais e disse eu não podia ser
amiguinho do Alexander, era proibido.
Chorei nos seus braços, mas não ia desistir assim...

∞∞∞
— Você conhece cada canto!
— Tinha que conhecer, assim posso vir brincar com você.
Enganei a mamãe de novo, ela acha que eu tô nas escadarias
brincando com minha espada de madeira. — Alexander riu e eu
gostava do sorriso dele.
Alexander com 12 anos e Nikolai com 9
anos
— Corre, Nikolai!! — Alexander gritou, enquanto eu disparava
atrás dele.
Estávamos brincando e tínhamos ido no lago atrás do castelo,
mas vimos Ivan procurando o Alexander e saímos correndo.
Essa era nossa vida. Brincávamos escondido desde os meus
três anos e com o decorrer do tempo, passei a conhecer cada canto
desse castelo como a palma da minha mão para sempre encontrar
meu amigo. Nossa amizade era proibida, ninguém podia chegar
perto do herdeiro do Rei sem sua permissão, ainda mais eu, filho de
uma cozinheira do castelo.
Mamãe vivia brigando comigo, pois ela sabia das minhas
escapulidas, mas nunca era pego. Com o tempo, Alexander também
ficou bem esperto.
Conseguia passar por todos os guardas despercebido, parecia
um fantasma dentro daquele lugar, conhecia passagens secretas e
uma delas, a minha preferida, ficava no quarto de Alexander, e eu,
literalmente, surgia atrás de um quadro grande que tinha uma foto
sua.
Amava quando aparecia ali e ele sorria por me ver chegar. Ivan
parecia um cão de guarda, mas jamais me pegou novamente com
Alexander. Uma vez ele até entrou aqui no quarto a mando do Rei,
mas rapidamente me escondi e Alexander sabia mentir muito bem.
Menino esperto!
Como já estava com nove anos, tinha que ajudar a mamãe na
cozinha, senão não poderia ficar com ela e mamãe morria de medo
que eu ficasse vagando pelo vilarejo e alguém me raptasse para me
vender. Aprendi a descascar batatas, cenouras e abóboras. Ia no
poço buscar água, mas tinha que dar várias viagens, pois ainda era
criança.
Mamãe, no pouco tempo vago que tinha, me ensinou a ler e
escrever e usei isso também na minha amizade com o Alexander.
Sem a mamãe ver, escondia bilhetes na bandeja da refeição dele,
que sua serva vinha buscar na cozinha.
Combinava o horário que iria até ele ou se a gente ia se
encontrar fora do seu quarto. Neles, eu também dizia o quanto
gostava do meu amigo e um dia ele me mostrou que guardava todos
no fundo falso de uma caixinha marrom onde ficava seu bracelete
de príncipe.
— Essa foi por pouco, Nikolai. Temos que ter mais cuidado.
Tenho achado o Ivan mais perseguidor que o normal e ele tem me
olhado de forma estranha.
— Ele é um cão que não morde. Somos espertos demais! Vamos
voltar amanhã? Nem deu tempo de aproveitar.
— Tudo bem, vamos! — Alexander não sabia me dizer “não”. —
Gosto de vir aqui também, é meu lugar preferido, com a minha
pessoa preferida, você. — Sorri de orelha a orelha e ainda
recobrava meu fôlego pela nossa corrida!
Só não sabia que o dia seguinte seria o meu último dia ao lado
de Alexander e que minha vida seria um inferno depois.

∞∞∞
Novamente havia chegado ao quarto de Alexander pelo quadro
em sua parede e encontrei meu amigo sentado todo triste e
estranhei.
— Ei, o que foi?
— Meu pai esteve aqui agora pouco.
— O Rei? Ele mal vem no seu quarto.
— Ele é muito ocupado, Nikolai.
— Eu gosto da sua mãe, ela não me olha com cara de nojo
quando, poucas vezes, a vi na cozinha dando alguma ordem.
— Ela veio também, junto com ele.
— Mas o que ele disse? — Alexander me olhou e vi lágrimas em
seus olhos.
— Que está chegando a hora de me levarem para que eu seja
preparado para ser um homem e um príncipe.
— Como assim? O que isso quer dizer?
— Que irão me levar embora para um lugar que não sei onde
fica e me ensinar muitas coisas. Não sei quando vou voltar.
Arregalei meus olhos e meu peito subia e descia sem que eu
tivesse controle. Abracei Alexander e ele me abraçou de volta.
— Desculpa, Nikolai. Não queria te deixar aqui sozinho.
— Não precisa pedir desculpas. Olha, você deve voltar rapidinho
e vou estar aqui te esperando, está bem?
— Promete?
— Prometo! Agora vamos para o lago aproveitar. — Meu amigo
sorriu como eu gostava.

∞∞∞
Estávamos boiando no lago e o dia estava muito bonito.
Alexander boiou para perto de mim e segurou minha mão, acabei
sorrindo. Daí me afundei e ele riu afundando também.
A água era bem cristalina e nos enxergávamos muito bem. Nadei
em volta dele e ele rodava no lugar me seguindo com os olhos. Só
que parei e fiquei olhando pra ele e sem saber por que fiz aquilo,
juntei nossos lábios.
Alexander arregalou os olhos e eu também. Mas o ar acabou e
subimos. Ele riu pra mim e empurrou minha cabeça para baixo e
começamos uma guerra para ver quem afundava quem.
Alexander não tinha brigado comigo pelo beijo que dei nele, ele
sabia que era um carinho e nada fazia a gente brigar. Estávamos
tão distraídos brincando que não vimos Ivan se aproximar como um
caçador e me puxar pelo braço com toda força para fora da água.
Ele tinha até nadado para chegar na gente.
Gritei e me debati, mas aquele homem era bem forte e me deu
um tapa no rosto para que ficasse quieto.
— Não bate nele! — Alexander gritou.
— Alteza, vá vestir suas roupas agora, que voltaremos ao
castelo. Você precisa se arrumar para ir embora.
— O quê? — Alexander perguntou apavorado e comecei a
chorar.
— Sem choro, peste! O Rei irá saber o que anda fazendo e você
sofrerá as consequências.
— Não, Ivan, por favor, não fala pro papai! — Alexander
começou a chorar enquanto vestia rápido suas roupas de realeza.
Estávamos apenas de calção de banho. — Estou indo, viajo quieto,
mas não bate mais nele e nem fala pro papai.
— Ok! Vamos logo e você, criatura asquerosa, suma das minhas
vistas — Ivan falou me atirando no chão com cascalhos e aquilo
machucou meu braço.
— Nikolai!
— Não chegue perto dele, Alteza ou conto tudo ao seu pai. Onde
já se viu, ser amigo de um ser abaixo de você, ele é um plebeu!
Assim está sujando o nome de sua família! — Alexander se
encolheu e abaixou a cabeça, mas sabia que ele só queria me
defender.
— Por que vou viajar agora? Só seria daqui a três semanas.
— Por que convenci o seu pai disso, ou vocês pensam que eu já
não desconfiava dessa amizade? Sou um bom caçador, Alexander,
e a ordem que recebo é para cuidar de sua segurança ou tenho
minha cabeça cortada. Não mencionei o motivo que me levou a
insistir em sua viagem, mas o Rei me ouve muito e está feito!
Confesso que custei a descobrir, você é como um rato de esgoto! —
Ivan me pegou pelos cabelos. — Mas investiguei e aqui estamos! —
Ele me soltou naquele chão novamente e doeu mais ainda, mas
segurei meu choro.
Vi Alexander se afastar ao lado dele e enxergava borrões vendo
meu amigo ir embora e nem sabia quando o veria de novo,
esperava que não demorasse muito.

∞∞∞
Escondido em uma pedra que tinha ao lado de uma torre do
castelo, vi a carruagem levar Alexander e chorei ali sozinho. Voltei
desolado para a cozinha e mamãe ainda insistia para saber onde eu
havia machucado o meu braço, mas não contei.
Descasquei batatas quase o dia todo e ao cair da tarde, o Rei
entrou em pessoa na cozinha, assustando a todos. Meus olhos
quase saíram do lugar quando vi Ivan sair de trás dele.
— Aquele ali, Majestade! — Ele apontou pra mim e cheguei a
fazer um pouco de xixi na minha calça.
— O que tem meu filho, Majestade? — mamãe perguntou
nervosa.
— Seu filho cometeu um grande erro, Polina. Ele ousou achar
que poderia ser amigo do meu filho e vinha se escondendo pelo
castelo para chegar até Alexander. Ivan descobriu tudo! — O
maldito havia contado e ele tinha dito ao Alexander que não falaria.
Estava perdido!
Mamãe começou a chorar e as outras mulheres da cozinha só
estavam de cabeça baixa em respeito ao Rei. A faca havia caído da
minha mão, pois não conseguia parar de tremer.
— Perderei meu emprego, Vossa Majestade? — ela perguntou
se ajoelhando aos pés dele.
— A sua sorte é que a comida que é feita aqui, eu gosto muito.
Mas está na hora de seu filho conhecer o castigo de quem ousa
desobedecer uma lei criada por mim. Não sou piedoso, não faço
questão e ele já tem idade suficiente para compreender. Levem-no
ao pátio principal.
Mamãe desmaiou na hora e foi acudida pelas outras cozinheiras,
enquanto eu, terminei de me urinar todo, pois sabia o que acontecia
nesse pátio, já tinha visto e morria de medo.
Ivan veio me pegar e nem me debati, não tinha forças. Um outro
guarda nos seguia e fui arrastado pelos corredores. Antes de sair
para o pátio, encontramos a Rainha que me olhou e depois para o
Rei.
— Vladmir, ele é apenas uma criança.
— Uma criança muito esperta e de má índole. Mentiu e enganou
por muito tempo, talvez há anos, devido à intimidade com meu filho.
É ardiloso e vai aprender a obedecer agora. Sua inteligência ainda
pode me ser útil um dia, por isso vou ensiná-lo, afinal ele enganou
até o Ivan.
A Rainha me olhou com pesar e virou as costas indo para os
seus aposentos.
A primeira chibatada daquele chicote de couro, acertou minhas
costas lambendo o ar dos meus pulmões. Minhas mãos estavam
amarradas em volta de um ferro grosso no meio do pátio.
Soldados vaziam um círculo em volta de mim e presenciavam o
meu sofrimento e meus gritos de dor. Pensei em Alexander em cada
chicotada que levei e se ele me defenderia se estivesse aqui.
Mas no sétimo golpe, minhas pernas cederam e desmaiei.
Acordei horas depois dentro de uma das celas do calabouço,
deitado de bruços. Mal aguentava me mexer de tanta dor. Um
homem entrou na cela e me deu ordens:
— Até que enfim acordou! Você será levado até sua mãe e
amanhã começará seus serviços com os soldados.
Na hora nem entendi que serviços eram esses, mas chorei ao
ouvir que iria para perto da minha mãe. Ao me receber, mamãe
chorou muito e cuidou dos meus ferimentos. Desmaiei de novo, pois
a dor era insuportável. No fim do dia, o mesmo homem que havia
falado comigo na cela, veio à nossa casa informar à mamãe sobre
os “meus trabalhos”.
Iria cuidar dos lavabos dos soldados, limpar suas botas,
alimentar seus cavalos e ajudar a afiar as espadas. Minha vida seria
ali junto deles, sem direito a entrar no castelo novamente. Só
voltaria para casa bem tarde para dormir e ao nascer do sol deveria
estar em meu trabalho de novo. Não receberia nenhuma moeda por
isso. Era meu castigo por ser amigo do Príncipe.
O pior foi começar a fazer tudo isso um dia depois de ganhar
sete chicotadas, ainda estar com as feridas abertas em minhas
costas e ser apenas uma criança de nove anos...
Capítulo 1
Alexander
Olhava para fora da carruagem e estava ansioso para chegar
em Kitej. Foram 12 anos longe do lugar que eu amava, da minha
casa, longe dos meus pais e longe do meu melhor amigo.
Durante todo esse tempo falei com meus pais apenas por cartas
que chegavam até mim há cada dois meses. Jamais soube nada de
Nikolai, não podia perguntar, pois assim lhe traria problemas. Senti
saudade todos os dias e no primeiro ano longe dele, chorei várias
vezes querendo nossas brincadeiras de volta.
Jamais imaginei que ficaria tanto tempo longe e tudo que iria
passar. Fui levado a um lugar distante, que depois de muito tempo
soube, que se chamava Sochi. Os homens da realeza iniciavam sua
vida adulta aqui e estudavam para se tornar príncipes dignos do
trono. Era um lugar bem escondido, como se fosse uma vida
paralela.
O herdeiro que não aprendia tudo que lhe era ensinado, passava
ainda mais tempo ali e se ainda assim não conseguisse aprender,
era deserdado e solto em algum vilarejo à sorte.
Mas claro que ninguém nunca me falou isso, só soube um tempo
depois em minhas escapulidas. Aos 15 anos, estava em meus
aposentos e no iniciar da noite, um dos meus guardiões entrou com
uma mulher.
Assustei-me quando ela ficou completamente nua na minha
frente e olhei sem entender para o homem que era sempre sério e
que eu tinha um pouco de medo.
— Hoje você inicia sua vida de homem. Essa bela jovem vai lhe
servir e você pode fazer o que quiser com o corpo dela. Toque com
as mãos, com a boca, com suas partes íntimas e deixe sair de você
sua essência. Irei conferir se ela estará marcada pela manhã — ele
disse e foi embora.
Até tremia olhando para aquela mulher e confessei a minha
vergonha:
— Não sei o que fazer.
Ela me olhou complacente e veio até mim e tocou dentro do meu
calção. O toque foi bom, mas quando sua boca beijou meus lábios,
foi de Nikolai que me lembrei.
Com meus olhos fechados, não sei por que, pensei apenas nele
e meu órgão entre minhas pernas começou a crescer. Naquela
noite, aquela mulher colocou a boca nele e perdi minhas forças.
Depois ela me fez tocar em seus seios e quando se sentou em meu
colo, colocou meu órgão dentro dela. Fiquei chocado!
Meu corpo ganhou vida própria e os sons que ela fazia me
impulsionava a continuar. Depois de uns dez minutos dentro dela,
senti minha vista escurecer e um arrepio percorreu meu corpo.
Soltei um líquido dentro dela e perdi todo meu ar, apagando em
seguida.
Acordei no dia seguinte, nu e sozinho na cama. O Guardião
entrou em meu quarto com cara de satisfeito e pela primeira vez vi
aquele homem sorrir.
— Muito bem, Alteza. Seus estudos seguem muito bem e agora
é um homem de verdade. Sua lacaia estava marcada e sua
essência chegava a escorrer pelas pernas dela. Informarei ao seu
pai que Vossa Alteza um dia conceberá herdeiros.
Nem sabia do que aquele homem estava falando, só sei que
duas vezes na semana uma mulher vinha ao meu quarto. Nas vezes
seguintes, aprendi a fazer melhor o meu dever e os gritos delas
eram ouvidos pelos corredores, deixando os guardiões radiantes.
Diante disso, comecei a ter mais regalias, era como se me tornar
um homem completo, eles confiassem mais em mim. Com isso, eu
já podia andar fora do castelo que eu estava e descobri que ele
ficava entre morros e havia uma pequena vila ao seu redor.
Pude ir nesta vila, mas claro, escoltado. Só que quem ia comigo
quando dava meus passeios era um Guardião mais novo, acho que
só um pouco mais velho do que eu e acabamos criando uma
amizade, pois ele também gostava desses passeios.
Descobri que seu pai era um dos guardiões, o mesmo que levou
a primeira mulher ao meu quarto. Ele era o homem que eu tinha
mais medo e soube que ele jamais permitiu que seu filho fosse outra
coisa, o queria fazendo o mesmo que ele, tipo uma religião.
Foi durante um desses passeios, que à tarde, entrei em uma
taverna. Todos pararam de conversar, mas fui educado e logo
relaxaram. Um rapaz loiro de olhos bem verdes nos atendeu e
Andrei, o Guardião que me acompanhava, pediu um suco pra gente.
Senti que ele me olhava muito e não consegui desviar meus
olhos dele. Em uma ida ao lavabo, quando saí, dei de cara com ele
e seu sorriso pra mim, fez minhas partes íntimas crescerem nas
minhas calças como acontecia quando eu estava com as mulheres
que se deitavam comigo.
Ele percebeu e com um aceno de cabeça, me convidou a segui-
lo. Entramos em um lugar pequeno, que descobri depois ser uma
dispensa. Jamais em minha vida havia estado em um lugar tão sujo,
abafado e mal iluminado.
Mas também nunca tinha visto um homem se ajoelhar na minha
frente e passar o rosto em minhas partes íntimas por cima da roupa.
Aquilo foi estranho, mas não posso negar que foi mil vezes melhor
do que estar com as mulheres que iam até meu quarto.
Fiquei sem saber o que fazer, mas quando ele abriu minha roupa
e colocou minha intimidade para fora, dura e molhada, perdi o
controle sobre mim mesmo.
Sua boca me engoliu e gemi sem pudor. Aquilo levou alguns
minutos e minha essência foi derramada em sua boca fazendo-o
sorrir.
— Isso foi gostoso, Alteza.
— Sério?
— Sim, gostei que gozou em minha boca.
— Que fiz o quê? Que palavra é essa?
— Não conhece?
— Não — Fiquei tímido.
— Eu te ensino, mas antes quero outra coisa.
— O quê? — Estava confuso, com calor e percebi que aquele
garoto era bem mais esperto que eu. Isso poderia me ajudar.
Naquela tarde, pela primeira vez na minha vida, tive relações
com um homem. Dimitri, esse era seu nome, arriou suas calças e se
virou de costas para mim. Percebendo meu nervosismo, ele apenas
disse que eu deveria entrar nele como fazia com as mulheres, que
apenas o caminho era diferente.
Foi mágico, quente, enlouquecedor e Dimitri se pareceu com os
gatinhos que viviam no castelo que sempre se embolavam em mim
pedindo carinho, a diferença é que ele era uma pessoa.
Naquele dia, ele conversou comigo e prometeu me ensinar
muitas coisas e ele realmente ensinou...
Continuei meus estudos no castelo misterioso. Lutas com
espadas, aprendi a me defender, aulas intermináveis de etiquetas
que incluíam como andar, me portar, cumprimentar, comer e
obedecer. Mulheres continuavam sendo mandadas ao meu quarto e
sempre eram diferentes.
Mas também continuei meus passeios com Andrei e ele também
fez amizades, não tão íntimas como eu, mas via em seu rosto a
felicidade de apenas poder, por algumas horas, ser o garoto da
idade dele, sem tantas responsabilidades.
Conheci o vilarejo inteiro e outras tavernas, mas era a de Dimitri
que mais gostava. Ele sempre me servia sucos deliciosos, pois eu
ainda não tinha permissão de beber nada forte e se chegasse com
algum cheiro de bebida no castelo, seria severamente punido. Mas
após o atendimento inicial, ele sempre me servia outra coisa e era a
parte que eu mais gostava.
Andrei achava que Dimitri promovia encontros entre mim e
garotas do vilarejo e esperava contente, conversando com outras
pessoas, que eu voltasse.
Ele jamais soube que era com Dimitri que eu me encontrava, que
era ele que se colocava de quatro para mim e que gemia em meus
braços.
Mas meu amigo íntimo não me ensinou apenas isso, ele me
contou sobre a vida daquele lugar que era cuidado pelos guardiões
do castelo e que esses encontros entre dois homens sempre
existiram, mas era proibido falar. Era algo escondido e por muitos,
considerado pecaminoso.
Ele sabia que eu estudava para voltar ao meu Reino e me tornar
um Príncipe e se divertia quando tentava lhe ensinar os bons modos
que aprendia. Só que com ele aprendi muito mais que no castelo.
Dimitri me ensinou a ser mais forte, mais esperto e a criar minha
verdadeira personalidade e não a que tentavam moldar em mim. E a
combinação de tudo que aprendia através dos guardiões com o que
aprendia com ele, fez surgir um novo Alexander, ou talvez, o
verdadeiro, pois sempre vivi comandado, ensinado, mas jamais tive
minhas opiniões próprias, minhas vontades atendidas.
Sofria de saudade do meu pai, mas principalmente da minha
mãe, uma mulher extraordinária, mas que agora eu entendia que
vivia como eu, refém de uma tirania.
Dimitri me mostrou outros lugares do vilarejo, alguns escondidos,
quando eu já conseguia sair do castelo na calada da noite. Me
lembrava sempre de Nikolai neste momento, pois me tornei igual a
ele, um fantasma, para ter um pouco de liberdade. Me perguntava
sempre se ele continuava assim, se estaria bem, feliz e
principalmente, se sentia saudades de mim como eu sentia dele.
As mulheres que iam ao meu quarto já não me satisfaziam e
passou a ser uma tortura me deitar com elas, mas também como
passei a ser mais observador, vi que muitas estavam ali contra sua
vontade e com muitas combinei de fingirmos que fazíamos algo.
Elas gemiam alto e se descabelavam, enquanto eu só sabia rir.
Elas não eram mais conferidas, isso foi apenas com a primeira e
assim eu fui levando minha vida ali. Dimitri se tornou um grande
amigo também e com o tempo descobri que ele havia se
apaixonado por outro rapaz do vilarejo e o ajudei a conquistá-lo.
Não fiquei com ciúmes, meu coração não pertencia a ele.
Os anos foram passando e com eles comecei a conhecer mais
meu pai, mesmo estando longe dele, pois vi o quanto ele era frio,
mas em compensação, minha mãe sofria de saudade e eu sempre
chorava lendo suas cartas. Até que um dia tive coragem de
perguntá-la sobre o filho da cozinheira, que ela conhecia e sua
resposta foi uma facada.
“Nunca mais o vi”
Uma pequena frase, mas que me fez chorar como uma criança
durante toda a noite e eu já tinha 18 anos.
Passei a viver como se estivesse no automático e pela primeira
vez contei ao Dimitri sobre Nikolai. Meu amigo achou linda nossa
amizade e quando contei do beijo que ele me deu quando eu tinha
12 anos, Dimitri disse que poderia ser realmente o carinho pela
amizade ou algo a mais que o próprio Nikolai nem fazia ideia
também por ser tão novo.
Fiquei com aquilo na cabeça e a saudade só aumentou. Ele
estava sumido e eu distante de lá, sem notícias e não sabia quando
retornaria.
Segui com meu destino e encontros surgiram com outros
rapazes do vilarejo. Percebi que ali muitos gostavam de homens e
viviam isso disfarçadamente.
Até que na reta final do meu treinamento, quando já estava com
23 anos, fui informado que retornaria para casa ao completar 24
anos, a idade que um príncipe estava preparado para ser o
verdadeiro herdeiro de um trono, segundo as leis de Kitej.
Recebi aquela notícia com o coração disparado, com uma
cabeça bem diferente da qual cheguei aqui, mais maduro, esperto e
meio rebelde, já que não concordava com muita coisa imposta a
mim e pensava todos os dias em uma maneira de ter as rédeas da
minha vida. Hoje eu era um homem completo, seguro dos seus
pensamentos, vontades e desejos. Um amigo saudoso e que ainda
sonhava em rever alguém que havia ficado para trás há tantos anos.
Vivi tantas coisas e por não ter um único retrato pintando de
Nikolai, minha mente tinha borrões de sua fisionomia. Tinha nas
lembranças o menino de nove anos que foi tão importante para mim.
Hoje, Nikolai teria 21 anos, um homem, e não sei se seria capaz de
reconhecê-lo, mas ele reconheceria a mim, afinal eu era filho do Rei.

∞∞∞
— Falta muito? — perguntei a Andrei que agora era meu
Guardião oficial. Fiquei muito feliz quando fui informado que voltaria
na companhia dele. Nos tornamos amigos e detestava os outros que
eram ranzinzas e sérios.
— Um dia, Alteza e olha que pegamos um caminho mais fácil.
— Sem formalidades, Andrei.
— Alexander, não poderei deixar minha amizade por você
exposta ao Rei. Só se quisesse que minha cabeça fosse cortada.
— Mas estamos sozinhos, meu amigo. Os guardas estão em
seus cavalos nos seguindo e o cocheiro lá na frente.
— Mas preciso me acostumar. Agora você será um Príncipe de
verdade e precisa domar seus modos, ouviu?
— Não irei domar nada. Esse sou eu, Andrei.
— Já vi que sua amizade com aquele Dimitri contribuiu muito
para essa sua personalidade.
— Confesso que sim. — Sorri de lado e olhei pela janela.
Sentiria saudades de Dimitri, mas sempre nos falaríamos por cartas
e ele estava feliz com seu lenhador.
— Sentirá saudades das noites tórridas com ele também? —
Minha cabeça virou-se imediatamente para Andrei.
— Não sei do que está falando. — A cara que ele fez quase me
fez rir. — Está aprendendo aonde a ser debochado assim, Andrei?
Isso não combina com um Guardião.
— A convivência com você, onde mais poderia ser? Você acha
realmente que eu não saberia?
— Alguém te contou?
— Não, apenas observei você e o quanto voltava sorridente, com
as bochechas coradas e com sono sempre que estava com ele. Sei
muito bem que isso são sintomas de homens que acabaram de
fornicar.
— Essa palavra é ridícula! — Ri alto. — Fazíamos sexo, Andrei.
— Ele arregalou os olhos.
— E nem se deu ao trabalho de tentar me convencer do
contrário!
— Pra quê? Você já sabe mesmo. Forniquei muito, Andrei. E não
foi apenas com ele.
— Devasso. — Andrei olhou para fora com as bochechas
adquirindo tons diferentes de vermelho. Ele era uma graça e muito
bonito também. Achava uma maldade um jovem como ele,
inteligente, de boa aparência e um grande amigo, ser um Guardião.
Mas sabia que tudo tinha a ver com seu pai ser tão severo que
praticamente o forçou a isso. Sei também que nos demos tão bem,
pois ele via em mim tudo que queria ser e não admitia. Esperava
sinceramente que um dia ele se rebelasse e tomasse as rédeas de
sua vida.
— Gosto de homens, Andrei — falei e ele me olhou novamente e
agora sério.
— Alexander, isso não é visto com bons olhos, você sabe e para
você tudo implica por ser um príncipe. Seu pai te renegaria.
— Não me matando está bom, viveria minha vida.
— Só pode estar louco! Como ia se alimentar?
— Trabalhando como lenhador, ferreiro ou qualquer outra coisa.
Não tenho frescuras.
— É, o Dimitri te influenciou mesmo.
— Não, ele apenas me mostrou a vida e sinceramente? Espero
te mostrar também ou que você encontre alguém que te mostre e te
faça ter vontade de mudar.
— Não tenho a sua coragem.
— Muitas vezes, ela é moldada por algo que queremos muito.
— E o que você tanto quer para mudar dessa forma?
— Nikolai. Quero meu amigo de volta e ser capaz de lutar por
nossa amizade.
— De novo esse menino? Bom, hoje ele já será um homem se
estiver vivo.
— Claro que ele está vivo!
— Como tem certeza? Nunca mais o viu e sua mãe disse que
também não. — Havia contado sobre Nikolai à Andrei também.
— Ele está, tenho fé e poderei dar um abraço nele novamente.
— Não sei, sinceramente.
Ficamos em silêncio e até cochilei durante aquela viagem
interminável. Só queria chegar em minha casa de verdade.
Capítulo 2
Alexander
A medida que avançávamos meu coração ia ficando mais
acelerado. Já reconhecia pelos caminhos que já estávamos
próximos ao castelo. Via lugares que passei com meus pais e pelo
lago que Nikolai e eu amávamos mergulhar.
Foram tantas lembranças que meus olhos se encheram de
lágrimas e cheguei a ver Nikolai emergindo daquela água sorrindo.
Minhas mãos tocaram os vidros da carruagem e pedi para Andrei
ordenar ao cocheiro que parasse.
— Mas Alexander, parar aqui?
— Sim, por favor, um minuto.
Todos pararam e abri as portas da carruagem sem esperar que
algum guarda viesse fazer isso por mim. Eles ficaram alarmados e
Andrei os tranquilizou.
Andei até a beirada do lago e uma brisa suave batia em meu
rosto. Meus olhos se fecharam prendendo um choro que queria sair
de dentro de mim. Quando os abri novamente me lembrei de
quando Ivan nos flagrou e o quanto foi ignorante com meu amigo.
Sem sentir, já desabotoava minha roupa e tirava minhas botas
quando Andrei veio desesperado ao meu encontro.
— Alteza! O que está fazendo?
— Quero dar um mergulho — falei sorridente.
— Mas... mas... Alexander — ele cochichou. — Os guardas irão
ver você sem roupa e não pode.
— Você é meu Guardião, dê um jeito nisso — falei o provocando
e pisquei para ele que abriu e fechou a boca duas vezes sem saber
o que dizer.
Vi que ele pediu para que os guardas se afastassem e virassem
de costas e no minuto seguinte eu pulava naquela água que estava
fria, mas que revigorou tudo dentro de mim.
Nadei chorando de saudade e fui ao fundo de olhos abertos e
toquei tudo que via pelo caminho. Fiquei ali submerso,
reconectando-me com minha inocência da infância, com meus
sonhos, vontades e com a minha esperança de encontrar Nikolai.
Saí outro de dentro daquele lago e apenas Andrei me olhava. Vi
que estava sem graça e todo tímido, ri do meu amigo que,
contrariando alguns protocolos, revirou os olhos e ainda bateu o pé.
— Você revirou os olhos para mim? Seu Príncipe? — falei
totalmente sério e ele ficou pálido achando que eu estava brigando
realmente com ele.
Dei uma gargalhada alta que fez até o cocheiro se assustar.
— Isso não se faz, Alteza — ele falou, olhando-me emburrado.
— Já devia estar mais do que acostumado comigo já que está ao
meu lado desde os meus 15 anos. Quer nadar também?
— E ficar sem minhas roupas na frente de todos, inclusive de
você? Jamais! Tenho princípios.
— Também tenho, contudo, sou mais desinibido.
— Um devasso, você quer dizer.
— Estou começando a achar que você quer ser um devasso
também.
— Me respeite, hein?
— Sim, meu senhor.
— Não sou um senhor, tenho apenas 26 anos.
— Mas se comporta como um. Bom, agora vamos embora.
Voltei para a carruagem e seguimos viagem e logo via a parte de
trás do castelo. Estava como eu me lembrava, muito bem
conservado durante o tempo. Ele ficava no alto de um monte e
tínhamos uma bela visão de suas torres.
Quando desci da carruagem, meus cabelos ainda estavam
molhados, mas estava vestido corretamente e sorri vendo muitos
servos que eu conhecia desde pequeno e guardas também.
— Aqui é magnífico!
— Lindo, não é? Bem-vindo ao meu lar, Andrei.
— Obrigado.
Entramos no castelo e meu coração quase saía pela boca. Iria
rever meus pais e não via a hora disso. Andrei estava ao meu lado.
A função de um Guardião era me acompanhar sempre, me
aconselhar a tomar as melhores decisões, zelar pelo meu bom
comportamento e me vigiar totalmente. Ele tinha ordens expressas
para que se eu fizesse algo de muito errado, meu pai, o Rei, deveria
ser comunicado imediatamente.
Mas Andrei era meu amigo, sabia de muitas coisas e jamais
falou para ninguém. Tentava sem sucesso, segundo ele, colocar
juízo na minha cabeça e mal sabia que se nada desse certo por
aqui, eu iria fugir, ia embora em busca do meu destino e o levaria
junto comigo, pois se ele ficasse, seria condenado a morte na
guilhotina por não ter cumprido bem o papel a qual era designado.
Assim que entrei no Grande Salão, vi meu pai em seu trono e
minha mãe em pé ao seu lado. O sorriso dela trouxe lágrimas aos
meus olhos. Meu pai ficou em pé e deu um pequeno sorriso,
descendo os degraus e ela logo atrás.
Quando ele parou na minha frente, colocou a mão em meu
ombro.
—Seja bem-vindo, meu herdeiro, meu filho tão amado. Já era
hora.
— Que saudade, meu pai! — falei e lhe dei um abraço que o
pegou desprevenido e logo depois me atirei nos braços da minha
mãe que me abraçou de volta, cheia de amor.
— Mas, Alexander! O que é isso?
— O que foi, pai? — perguntei confuso.
— Não se pode abraçar um Rei e uma Rainha assim. Não
aprendeu os bons modos?
Olhei para o meu pai e não acreditava no que estava ouvindo.
Ele não me via há doze anos e estava me chamando atenção por
causa de um abraço?
— Aprendi todos os modos necessários para ser um príncipe,
mas neste momento não estou na frente de pessoas estranhas e
sim dos meus pais que não vejo há tanto tempo e estava com
saudade. Bons modos nada têm a ver com demonstração de afeto
— respondi e meu pai ficou chocado, eu acho, pois seus olhos se
arregalaram. Minha mãe sorriu orgulhosa, mas tentou amenizar.
— Vladmir, acalme-se. Alexander tem razão, ele não nos via há
muito tempo e tinha saudades assim como nós tínhamos dele.
Desculpe o pequeno deslize, meu querido. — Sua voz doce era a
mesma de sempre e eu era louco por essa mulher. Ainda me
lembrava do quanto ela chorou quando me levaram. Parecia que eu
estava sendo arrancado de seus braços à força.
— Este é Andrei, meu Guardião.
— Majestade — Andrei falou ajoelhado e aí que me lembrei que
também não fiz isso.
— Seu Guardião tem mais modos que você, meu filho. Enfim, irei
pedir aos servos que os levem aos seus aposentos. Seus cabelos
estão molhados por quê?
— Dei um mergulho no lago quando cheguei. — Mamãe tentou
esconder o riso sem muito sucesso e meu pai fechou o seu
semblante.
— Alexander, depois precisaremos ter algumas conversas bem
sérias. Agora quero que vá descansar. O quarto de Andrei é no
mesmo corredor que o seu e ele também terá um servo a sua
disposição.
— Meu Rei, me lembrei que gostaria de lhe falar sobre isso, mas
pela manhã não tivemos tempo — minha mãe falou e olhei para ela
assim como meu pai.
— Diga, minha Rainha.
— Não quero Irina como a serva de Alexander — minha mãe
falou e estranhei seu comportamento.
— Mas por que, meu amor? — papai lhe respondeu.
— Não gosto daquela menina, ela é desobediente e respondeu
ao nosso Comandante Real.
— Posso ficar sem por enquanto — respondi e pareceu que eu
havia dito uma blasfêmia.
— De maneira alguma. Pedirei a Viktor que encontre ainda hoje
uma serva.
— Pode ser um servo? — Andrei engasgou ao meu lado e pediu
inúmeras desculpas ao meu pai que apenas fez um balançar de
cabeça.
— Mas por que um servo?
— Às vezes as servas me irritam um pouco — falei qualquer
besteira que veio na cabeça. — Acho que você me entende, pai. —
Ele sorriu.
Joguei o verde e meu pai, como homem, entendeu o que eu
havia falado. Ele deve ter achado que as servas queriam me
satisfazer sexualmente e fossem insistentes. Devia achar que eu era
o máximo da espécie masculina. Bom, até que eu era, mas não para
as mulheres.
— Então pedirei a Viktor que encontre um servo. Terá que ser
alguém confiável, pois apenas seu servo terá acesso aos seus
aposentos e o quarto dele será ao lado do seu, pois há a passagem
entre ambos para que ele possa lhe servir a hora que for.
— Obrigado, meu pai. Mas quem é Viktor?
— É o Comandante da Guarda Real. Você não o conheceu.
— E Ivan? — Tive que perguntar por aquele homem horroroso.
— Ivan morreu degolado em uma batalha que enfrentamos há
quatro anos. Viktor assumiu depois disso.
— Sinto muito — falei, mas era mentira, não sentia nada. Só
esperava que esse Viktor não fosse outro cão de guarda como o
Ivan. De guarda ele era, mas o outro era perverso demais.
Meu pai chamou um servo e ele nos levou até nossos
aposentos. Meu quarto estava lindo, totalmente modificado para
minha fase adulta. Mas foi meu retrato na parede que me prendeu.
Ele não foi retirado, mas não era ele que fazia meu coração disparar
e sim a lembrança de quando Nikolai surgia de trás dele pela
passagem secreta.
— Seu quarto é lindo, Alteza.
— Quero conhecer o seu — falei para Andrei.
— Vamos lá.
O quarto dele era muito bonito também e o vi encantado com o
luxo.
— Nunca tive nada assim — ele falou virando-se para mim. — e
nem uma serva.
— Acostume-se. — Sorri para ele.
De volta ao meu quarto e aproveitando que estava sozinho, abri
a passagem por trás do meu quadro e mexi na parte da parede que
tinha um esconderijo que ninguém sabia, apenas eu e Nikolai. Nele,
guardei minha antiga caixinha do meu bracelete de príncipe e no
fundo dela estavam guardados todos os bilhetes que Nikolai me
escreveu. Eram dez ao todo e me sentei no chão emocionado por
ver sua letra naqueles pequenos pedaços de papeis.
Depois que me recompus, fechei a passagem com um suspiro e
guardei a caixinha com os bilhetes em minha gaveta. Olhei tudo em
volta e nem acreditava ainda que estava em meu lar.
Estava cansado pela viagem e precisava de um descanso.
Andrei estava bem e logo deveria descansar também. Ouvi batidas
em minha porta e autorizei a entrada. Era minha mãe.
— Gostou do seu quarto, meu filho?
— Muito, mãe. Você que cuidou de tudo?
— Sim, cada detalhe. Só não quis tirar sua pintura.
— Obrigado, gosto muito dela também.
— Descanse. Seu pai está em reunião com o Viktor para pedir
um servo para você.
— Vou conhecer esse Viktor quando?
— Assim que ele retornar com o servo, pois irá pessoalmente
resolver isso. Aí você será apresentado a todos.
— Tudo bem. Ele é um monstro como o Ivan?
— Monstro? Por que está falando assim, meu filho? Ivan algum
dia fez algo para você?
— Não, mas o achava grosso e estúpido. Só vivia mal-humorado
também. Eu não gostava dele, mãe.
— Oh, meu filho, por que nunca me disse?
— Pra que, mãe? Papai confiava cegamente nele e não iria nos
ouvir.
— Realmente, mas Viktor não é como ele. Mesmo sério, é
educado e muito competente em suas funções. Sabemos que
Vladmir gosta dos mais severos, então até estranhei como seu pai
gostou dele.
— Sim, eu sei.
Minha mãe me deu um beijo e me deixou sozinho. Estava em
casa e agora era lutar para viver meus sonhos, sem deixar de ser
quem eu era.

Nikolai
— Você precisa passar aquela mistura que te ensinei em suas
mãos. — Serguei me olhava arrancar as peles que estavam saindo
das minhas mãos por causa do pó que caía das espadas que eu
amolava.
— Passei ontem, mas estou tendo alergias. São muitos anos
fazendo isso, Serguei — falei para o senhor que estava sempre
comigo e eu o via como um pai.
Serguei era o mesmo homem que vi assim que acordei naquela
cela, aos nove anos, depois ter sido chicoteado no pátio. Mesmo de
sua maneira, meio sem jeito de cuidar, esteve ao meu lado todo
esse tempo.
Eu era uma criança, então me ajudava quando não aguentava
pegar algo pesado ou curava meus machucados em meus dias mais
difíceis.
Ser um servo do Rei, era uma escravidão. Significava trabalhar
todos os dias, debaixo de sol e chuva, doente ou com saúde e sem
reclamar. Geralmente viravam servos aqueles que não tinham
família, que estavam abandonados à própria sorte, ou os
castigados, como eu. Ganhávamos um teto para dormir, uma
comida gosmenta e trapos que eram chamados de roupas. Mas
nunca éramos pagos por nosso trabalho.
Ainda tive a gentileza de poder dormir em casa com a minha
mãe, mas eram pouquíssimas horas para matar a saudade e
descansar de verdade. Passava meus dias inteiros no reduto dos
soldados limpando suas armaduras, botas, afiando as espadas e
lavando seus lavabos. A parte mais nojenta.
No meio disso tudo cresci vendo coisas que uma criança jamais
deveria ver. Vi cadáveres e mulheres nuas fazendo sexo com os
soldados de todas as formas.
Fiquei doente e trabalhei assim mesmo. Nunca mais pude
estudar, aprender um pouco mais. Meus sonhos foram esquecidos.
Era difícil escolher uma profissão sendo um servo, pois você não
tinha direitos, não tinha tempo para você, não existia,
definitivamente. Jamais pude brincar de novo.
Serguei acabou sendo um anjo da guarda. Ele não deixava os
soldados maus me baterem, pois alguns gostavam disso e ainda me
ajudou a escapar de alguns que eram pervertidos. Ele conseguiu
com o tempo que eu pudesse dormir uma hora após o almoço para
ter forças para voltar aos trabalhos. Era pequeno e precisava de
cuidados, mas desde os meus 14 anos que não tinha mais esse
direito.
Minha mãe sempre chorava muito e ainda chora quando chego
em casa cortado por algum acidente com as espadas, por minhas
mãos estarem tão castigadas, meus cabelos desgrenhados e todo
sujo. Ela costuma dizer que meu brilho foi apagado dia após dia e
que apenas existo ao invés de viver, e concordo com ela.
Respirei um pouco mais após a morte de Ivan há quatro anos.
Aquele maldito sempre me cercava e me fazia chorar. Para ele não
bastava ter me entregado para o Rei e ver o meu destino, ele queria
me ver sofrer todos os dias.
Hoje o Comandante da Guarda Real era o Viktor, um homem
sério e que metia medo. Muito respeitado por todos, inclusive pelo
Rei, mas ele não era igual ao Ivan e eu conseguia ver além de toda
aquela armadura que escondia um bom coração.

∞∞∞
Estou distraído durante os dez minutos de pausa pra respirar
retirando peles das minhas mãos, quando Viktor chega na porta da
casa de Serguei. Tomo um susto e fico de pé na hora me
desculpando. Tenho muito respeito por ele.
— Desculpe, senhor. Só parei por dez minutos e já estou
retornando. — Seu olhar se torna suave, mas sem sorrisos.
— Fique calmo, Niko. Boa tarde, Serguei.
— Boa tarde, senhor. Hoje já foram entregues dez espadas
novas aos soldados e amanhã serão mais vinte! As celas já estão
limpas e os prisioneiros contrabandistas já entregaram seus
comparsas.
— Obrigado pelo retorno, mas vim aqui por outro motivo — ele
falou e olhou para mim. Meu corpo inteiro tremeu. Deus tivesse
misericórdia de mim.
— Não fiz nada, meu senhor. Tenho trabalhado todos os dias.
— Eu sei, rapaz. O que me traz aqui é que o Rei procura um
servo para o seu filho que acabou de retornar.
A casa inteira de Serguei rodou e quase caí no chão se não
fosse o Viktor me segurar. Serguei pegou um copo de água para
mim e bebi para ver se melhorava.
Nem o Viktor e nem o Serguei sabiam o motivo do Rei ter me
transformado em servo. Apenas Ivan, o Rei, a Rainha e as
empregadas na cozinha naquele dia, incluindo minha mãe, que
sabiam. Ninguém jamais falou, senão teria a cabeça decepada na
guilhotina. Era costume não ser divulgado o que ocasionou castigo a
alguém, pois a pessoa deveria viver com aquilo somente em sua
cabeça para que sua consciência lhe cobrasse dia após dia. Em
resumo, nem tínhamos a chance de nos redimir por qualquer erro ou
desabafar com alguém.
— Você está bem, Niko?
— Estou, acho que estou. Comi pouco no almoço. — Menti.
— Então, como estava dizendo, o Príncipe está de volta e sua
Majestade, a Rainha, não quer a serva Irina com seu filho e o
Príncipe, por sua vez, pediu que fosse um servo para estar junto
dele. Por isso estou aqui, vim te buscar, Niko.
Meus olhos se arregalaram tanto, mas tanto, que em minha face
devia estar expresso o pavor.
— Niko, é sua chance, meu jovem. Mude um pouco de vida, vá
viver no conforto. Os servos do castelo, quase nem parecem
escravos. São bem cuidados, bem vestidos, comem e dormem
muito bem. — Serguei chegava a gesticular.
— Senhor, o Rei me transformou em servo um dia e acredito que
ele não vá me querer em seu castelo novamente.
— Niko, ele próprio me pediu e confiou a mim a missão de achar
um servo que fosse de confiança para seu filho e todos sabem que
honro o meu trabalho. Não pensei em ninguém diferente que não
fosse você.
— Mas por que eu?
— Porque conheço sua história, pelo menos o que me é
permitido. Você é servo desde os nove anos e pagou muito pelo erro
que cometeu um dia, acredito eu. Chegou a hora de ter um pouco
mais de conforto como Serguei disse.
— Mas ele vai me reconhecer, ele...
— Quem poderia te reconhecer, não está mais vivo. O Rei
jamais colocou os olhos em você novamente e nem a Rainha. Eu
estava lá, Niko, vi você sendo surrado naquele pátio e hoje você se
tornou um homem. Está muito diferente, ainda mais castigado pelas
condições em que sempre viveu — Viktor falou e não deixei de
perceber o certo carinho que ele tinha por mim.
— Por que está fazendo isso por mim? — As lágrimas já
desciam por meu rosto, por medo, felicidade, esperança e por saber
que veria Alexander novamente depois de tanto tempo.
Talvez ele não me reconhecesse também, como Viktor falou,
estou bem diferente, meus cabelos estão maiores e estou um lixo
em pé.
— Porque em meus anos ao lado do meu pai e servindo ao Rei,
antes como um soldado e agora como Comandante Real, aprendi a
reconhecer as pessoas boas e as ruins. Você é uma boa pessoa,
Niko. Como eu disse, seja lá o que você tenha feito, você já pagou
por tudo. Venha comigo.
— Não poderei falar com minha mãe no castelo ou ele saberá
quem sou eu.
— Cuidarei disso.
— Mas eu não poderei mais ir para casa, não é?
Viktor se aproximou e me encolhi todo.
— Um dia, naquela tentativa de invasão que o castelo sofreu dos
nossos inimigos, quase fui morto quando ainda era um soldado se
não fosse você me salvar, atirando uma pedra certeira na cabeça do
inimigo que enfiaria a espada em mim. Eu estava no chão e
desarmado.
— Eu tinha escapulido naquele dia para ver o lago que há tanto
tempo não via — falo cheio de culpa e Viktor dá um pequeno
esboço de sorriso.
— E salvou minha vida. Você verá sua mãe, não todos os dias,
mas verá. Fique tranquilo.
— Não se sente traindo o Rei, Viktor? — Serguei perguntou.
— Não. Como eu disse, sei reconhecer uma boa pessoa e não
estou levando nenhum perigo para o meu Rei e minha Rainha.
Tremia demais vendo aqueles dois conversarem e queria agora
ver minha mãe e pedir ajuda a ela, mas não tinha tempo. Eu o veria.
Alexander sumiu completamente por doze anos, longos doze anos e
me deixou. Não sabia como ele estava e nem para onde havia ido.
Mas agora ele estava de volta...
Abracei Serguei e me despedi com o coração apertado. Fui ao
lado de Viktor em silêncio.
— Eu teria contado ao senhor o motivo do meu castigo caso me
perguntasse — confessei.
— Não me importa o que tenha feito no passado, apesar de te
achado bem chocante uma criança de nove anos ser punida
daquele jeito. Eu não te conhecia, mas hoje conheço e o principal, te
reconheço.
Achei tão bonito aquilo que ele falou que dei um pequeno
sorriso.
Viktor era um homem alto, forte, inteligente e bonito. Não tinha
família ainda e vivia no castelo.
— Por que o senhor nunca quis se casar? — perguntei curioso e
com medo de ganhar uma bronca. Viktor sorriu novamente e me
respondeu.
— Minha vida nunca me deu brecha para uma família. Estou
acostumado com a minha solidão. — Foi tudo que ele respondeu.
Ao subir novamente as escadarias do castelo depois de tanto
tempo, meus olhos ficaram cheios de lágrimas, mas as sequei bem
rápido. Estava tudo tão lindo e limpo como eu me lembrava.
Andei com Viktor por corredores que tinham os tapetes
vermelhos e fofinhos. Isso me fez olhar para o meu pé descalço e
sujo.
— Senhor, estou imundo. Como irei me apresentar assim?
— Você será banhado antes, fique tranquilo. Por aqui. — Viktor
gesticulou e me conduziu, abrindo uma porta.
Nem quando tinha minha liberdade havia tomado um banho tão
bom. Duas mulheres me banhavam e morri de vergonha. Lavaram
meus cabelos, verificaram se eu tinha piolhos e esfregaram minhas
costas e pés. Elas ficaram com pena das marcas que eu carregava,
mas hoje elas apenas me mostravam o quanto fui forte todo esse
tempo.
— Tenho um bom creme para suas mãos — uma moça
simpática falou e sorriu.
Pedi para mergulhar naquela banheira enorme e elas até riram.
Quando emergi me sentia novo e não deixei de reparar em seus
olhares para mim.
Jamais estive com uma mulher, não me atraía, mas havia me
deitado com alguns soldados algumas vezes. Eles nunca me
forçaram a nada, foram galanteadores e gentis. O primeiro me
admirou, enquanto eu limpava suas botas em um dia chuvoso e
beijou minha boca me deixando com as pernas bambas.
Ele beijava bem e neste dia lembrei da loucura que fiz com
Alexander quando era pequeno. Jamais esqueci. Mas aquele
soldado me beijou com luxúria e me entreguei a ele naquela noite
saciando desejos que já estavam deixando meu corpo febril há
algum tempo. Estava com dezoito anos e ele clamava por toques
íntimos.
Deite-me sobre ele e o cavalguei levando nós dois ao delírio.
Mas foi por debaixo dele que me teve em suas mãos me possuindo
totalmente.
Pena aquele soldado tão gentil e amoroso ter morrido em uma
batalha. Mas depois de um tempo conheci outros e tive algumas
aventuras. Apenas um me queria como sua propriedade e Serguei o
colocou em seu lugar como um pai.
Era normal acontecer relações entre servos e os soldados e, às
vezes, até entre eles próprios. Muitos não tinham tempo para
arranjar mulheres ou era porque gostavam de homens mesmo,
apesar de ser considerado pecado.
Mas tinha um bom tempo que ninguém me tocava intimamente e
até estava sentindo falta. Agora essas mulheres me olhavam com
desejo, mas nenhuma chama se acendia em mim.
Vesti uma calça branca de seda, uma blusa azul também do
mesmo pano e bem larguinha. Meus cabelos estavam
desembaraçados e cheirosos. Meu corpo inteiro estava limpo e
perfumado.
Quando Viktor veio me buscar arregalou os olhos e me olhou
inteiro.
— Niko, como você está diferente! Você estava escondido
debaixo de tanta sujeira e maus tratos.
— Você acha que... — falei, sussurrando.
— Não, não vai. Você está muito diferente. Agora você é um
homem, Niko. A propósito, sempre te chamarei de Niko.
— Você sabe meu nome de verdade?
— Sei, mas como sempre ouvi Niko...
— Prefiro, ainda mais agora.
— Tudo bem, não se preocupe. Vamos? Todos estão a nossa
espera, irei conhecer o Príncipe agora também. Faça tudo que eu
fizer com relação a comportamento.
Mal me aguentava nas minhas próprias pernas e entrei com
Viktor naquele Grande Salão de cabeça baixa e totalmente diferente
do que vinha sendo por tantos anos. Mas eram meus pés descalços
que me mostravam o meu lugar de verdade.
Quando Viktor parou, parei também e estava bem difícil respirar.
Meu coração estava disparado e tudo que eu queria era ver
Alexander novamente. Nem sabia se ele estava ali na minha frente.
— Majestade — Viktor falou, se ajoelhando e fiz o mesmo.
Quando ele foi se levantar, tocou de leve em meu joelho me
pedindo que ficasse na mesma posição.
— Vejo que trouxe o servo — o Rei falou e ouvir sua voz me
trouxe tristeza. Ele havia acabado com minha vida apenas por eu
sentir carinho por seu filho e ser seu melhor amigo.
— Sim. Vossa Majestade me pediu alguém de confiança e aqui
está o Niko. Ele será um ótimo servo para seu filho. Tem educação,
bons modos e está limpo.
— Pode levantar-se rapaz. Quero ver o seu rosto — o Rei
ordenou e me levantei.
Quando olhei em seus olhos, meu coração parecia que sairia do
meu peito de tanto medo. Alexander não estava em meu campo de
visão, apenas a Rainha estava ao lado do Rei e continuava linda
como eu me lembrava. Ele, por sua vez, estava bem mais velho,
mas não era um homem feio.
Ele examinava meu rosto e me mantive sério e firme. A Rainha
tinha um olhar doce e gentil.
— O que acha, minha Rainha?
— Ele é perfeito para estar com meu filho. — Meu coração deu
até uma desacelerada, mas foi o Rei mandar chamar Alexander
para querer me dar até uma vertigem.
Quando ele surgiu sendo acompanhado por um jovem quase da
sua altura e aparentemente da mesma idade, comecei a tremer e
não sabia como disfarçar meu nervosismo. Olhei de relance para
Viktor e ele franziu a testa me olhando, mas voltou seu olhar rápido
para Alexander.
Meu Deus, como ele estava lindo. Havia se tornado um homem
magnífico, alto e tão elegante. Minha vontade era de ir para os seus
braços, mas não podia e quando ele me olhou e simplesmente não
me reconheceu, mesmo eu sabendo que isso poderia acontecer,
algo se quebrou dentro de mim, como se eu já não fosse quebrado
o suficiente.
— Viktor, este é meu filho, Alexander Romanov e seu Guardião,
Andrei Rurik.
Observei Viktor ir até os dois e se ajoelhar fazendo a reverência.
— Vossa Alteza, é um prazer lhe conhecer.
— É um prazer, Viktor. Meu pai falou muito bem de você agora
pouco enquanto conversávamos. — A voz de Alexander entrou em
cada pedacinho da minha pele e me fez sentir calor. Tão educado...
— Guardião. — Viktor abaixou sua cabeça ao rapaz que, mesmo
sendo mais novo que ele, tinha o título de Guardião e acho que isso
era muito importante. Ele vestia uma túnica azul clarinha, que lhe
cobria até a cabeça e que combinava com seus olhos tão bonitos e
pele pálida. Ele era bem bonito e confesso que senti ciúmes.
Viktor se levantou e veio para perto de mim.
— Alteza, o Rei me pediu que achasse um bom servo e eu lhe
trouxe o Niko. Ele é muito educado, está limpo e inspecionado. Ele
lhe servirá como merece.
Alexander me olhou novamente e tinha um olhar avaliativo, mas
tranquilo. Ele se aproximou e parou na minha frente me fazendo
abaixar minha cabeça.
— Por favor, olhe para mim. — Olhei para cima um pouco, ele
era mais alto pelo menos uns dez centímetros. — Seja bem-vindo,
Niko — ele falou e me surpreendi com seu carinho.
— Alexander! — o Rei esbravejou e me encolhi. — Não se deve
falar com um servo assim! Ele conhece o lugar dele.
— E eu sou uma pessoa educada, pai. O senhor me mandou
para longe para que aprendesse e aprendi. Niko sabe seu lugar,
tenho certeza, mas nem por isso não serei educado com ele. Esse
sou eu.
Que orgulho senti de ver que ele se tornou um homem assim,
tive vontade de sorrir, mas me contive e continuei sério. Olhei de
relance para o tal Guardião e ele me olhava diretamente. Desviei de
seus olhos.
— Niko, fico feliz que Viktor tenha lhe trazido. Realmente eu não
gostava da outra serva e fiquei feliz com sua chegada — a Rainha
falou comigo e tive vontade de chorar. Alexander tinha muito dela.
Olhei para Viktor para saber se poderia responder e ele me fez
sinal que sim.
— Obrigado, Majestade e Vossa Alteza — falei fazendo
reverência. Minha voz saiu bastante rouca, acho que por tudo que
estava entalado dentro de mim.
Nesta hora, meu olhar cruzou com o de Alexander e ele me
olhava tão intensamente que senti minhas bochechas corarem. Que
situação!
— Andrei, mostre ao servo o quarto dele.— O Rei ordenou. —
Servo! — o Rei me chamou e olhei para ele. — Você será
responsável por servir a alimentação do meu filho. A receberá em
seu quarto e levará até ele. As roupas que forem cuidadas serão
entregues a você para que as coloque no lugar. Apenas você e o
Guardião do meu filho tem acesso ao quarto dele. Ninguém mais,
ouviu bem?
— Sim, Majestade.
— Você o auxiliará em tudo, até no banho se for do desejo dele.
E onde ele for, você irá junto. Tudo que tiver que chegar até ele,
passará por suas mãos primeiro e aviso que se algo acontecer ao
meu filho, qualquer mínima coisa, você será o culpado e terá sua
cabeça arrancada.
— Sim, Majestade. — Me tremia inteiro com a voz deste homem
cruel.
Olhei para Alexander e seu olhar para seu pai não foi dos
melhores e todos perceberam, menos o Rei que olhava para mim.
— Vamos, Niko. Me acompanhe, por favor. — Andrei se
aproximou de mim e para isso retirou uma parte da túnica que
cobria sua cabeça e lindos cabelos negros na altura de seu queixo
vieram a mostra, o tornando ainda mais belo.
Olhei para Viktor para me despedir apenas com um olhar e ele
olhava fixamente para o Guardião. Toquei de leve sua mão e ele me
olhou com susto e lhe fiz um aceno de cabeça.
Segui Andrei e não olhei mais para Alexander.
Capítulo 3
Nikolai
Andrei ia na frente e eu atrás de cabeça baixa. Estava
passando pelos corredores que conhecia como a palma da mão. A
nostalgia que aquilo me trazia me aquecia por dentro e isso me fez
ter saudade de tudo que perdi, de tudo que deixei de viver.
Pensei em minha mãe e queria ver sua reação quando soubesse
onde eu estava. Sabia que ela ficaria com medo, aliás, apavorada,
mas estava feito e eu havia retornado ao castelo.
Andrei abriu uma magnífica porta dourada quando chegamos a
um corredor lindíssimo e reconheci a porta do quarto de Alexander
ao lado. Quando entramos no meu, fiquei encantado com tamanha
beleza e olhava tudo ao meu redor de boca aberta.
— Gostou? — A voz de Andrei veio doce em meus ouvidos.
— Sim, é esplêndido.
O quarto era puro luxo e me lembro do quarto do Alexander ser
assim, mas com detalhes infantis. Bom, agora não devia ser mais e
logo eu iria conhecer.
— Você irá morar aqui, Niko. Ali, naquele armário já tem roupas
para você e calçados. Não andará mais descalço. Assim que você
tomou banho e viram seu tamanho, peças já foram separadas para
você. Fui informado de tudo, pois como Guardião de Alexander,
cuidarei de você também. Você precisa estar bem, forte e limpo para
estar sempre perto do Príncipe.
— Obrigado — respondi indo até a cama e olhei para Andrei
pedindo permissão.
— Pode se sentar.
Sentei-me e cheguei a fechar os olhos com a maciez.
— Jamais dormi em uma cama assim.
— Imagino, mas agora irá. Quando o Príncipe solicitar sua
presença, você ouvirá o barulho de um sino que ele tocará e que dá
perfeitamente para ouvir daqui. Ali naquela porta — Andrei apontou
e me olhou em seguida. —, é por onde você passará para chegar
até ele, jamais pelo corredor. Você não tem permissão de andar pelo
castelo, apenas se estiver com ele. E repetindo o que o Rei falou,
apenas eu e você temos acesso ao quarto do Príncipe, mas lembre-
se, somente se ele solicitar.
— Sim, entendi.
— Você receberá suas refeições e vai avisá-lo daqui com outro
sino que tem bem ali. Assim que ele lhe responder de volta você
pode levar a bandeja. Isso serve também para roupas limpas, tanto
dele, quanto de cama. A limpeza do seu quarto e do dele, será
acompanhada de perto por mim e será feita sem vocês dois no
local. Você a princípio, recebe as refeições dele aqui, pois ainda não
tem a permissão de andar pelo castelo, portanto não pode ir buscar
na cozinha. O Rei ainda não se acostumou com você e isso leva
tempo.
— Sim, senhor.
Andrei não me olhava com raiva e nem desprezo, pelo contrário,
ele tinha um olhar carinhoso, mas dava para perceber que era sério
e seguia totalmente as regras de tudo.
— Você já trabalhou em outra casa? Por que é sozinho no
mundo? Jamais conheceu seu pais?
— Nunca trabalhei em outra casa, trabalhava com os soldados.
Jamais conheci meus pais — Menti, mas Andrei precisava acreditar
que eu era um servo por não ter ninguém no mundo e não por ser
um castigado. Tinha medo que se ele soubesse, iriam descobrir
quem eu era de verdade.
— Sinto muito. Deve ter sido bem duro trabalhar no meio dos
soldados. Vejo por suas mãos.
Olhei para minhas mãos em meu colo e estavam bastante
castigadas. Levei um susto com Andrei se sentando ao meu lado e
tocando-as.
— Tenho alguns óleos que farão bem para as suas mãos. Não é
um resultado imediato, mas com o tempo, ficarão dignas para cuidar
do Príncipe. Ele pode te pedir para que o auxilie no banho — Meu
coração saltou no peito. —, ou que faça uma massagem nele e de
maneira alguma você pode tocá-lo com as mãos desse jeito.
— As suas são tão macias, parecem algodão — falei sem pensar
e morri de vergonha e medo. — Me perdoe, não devia ter falado.
— Não vou brigar com você, fique tranquilo. — Olhei nos olhos
de Andrei e não consegui segurar a minha boca de novo.
— O senhor parece um ser imaculado de tão bonito e o chamo
de senhor, mas vejo que é novo.
— Sim, você não se enganou, sou imaculado e sou novo.
— Por que então é um Guardião?
— Curioso você.
— Me perdoe. — Abaixei minha cabeça constrangido. Andrei
ficou um pouco em silêncio e podia sentir seus olhos em mim, até
que ele respondeu:
— Meu pai é um Guardião antigo e me fez seguir o mesmo
destino. Os filhos dos guardiões não podem se recusar.
— E o senhor queria realmente? Os guardiões então podem ter
uma família?
— Podem, não somos impedidos, mas alguns escolhem
seguirem imaculados e eu escolhi. E respondendo a primeira
pergunta, não queria, mas me conformei com meu destino e por isso
não quero uma família.
— Entendo, novamente peço perdão pelas minhas perguntas.
— Tudo bem. Entendeu tudo que lhe expliquei? Tem alguma
dúvida?
— Entendi tudo, mas tenho uma dúvida.
— Qual?
— O que um Guardião faz? — Andrei deu um pequeno sorriso
de lado.
— Somos conselheiros, estamos sempre por perto para não
deixar os Reis e Príncipes fazerem algo impensado. Zelamos por
sua integridade moral.
— Ah...
— Sua dúvida era apenas essa? Sobre mim? Tens algo a
perguntar sobre o Príncipe?
— Não. Eu jamais tinha visto um Guardião, me perdoe. E já
conheço muito o seu Príncipe... — Pensei.
— Tudo bem, está perdoado. Logo chegará sua refeição e ela
será colocada por aquela janelinha ali na parede. Assim que acabar,
coloque a louça vazia no mesmo lugar. Quando for algo para o
Príncipe, as louças serão bem diferentes da sua, mas o processo de
devolver é o mesmo. Você receberá seis refeições por dia: café da
manhã, colação, almoço, lanche da tarde, jantar e lanche da noite.
O Príncipe, às vezes, fará refeições com os pais, mas você o servirá
nessas horas também, contudo muitas serão em seus aposentos,
fique atento.
— Sim, senhor.
— Agora irei me reunir com Vossa Majestade e o Príncipe para
jantar e conversar. Enquanto isso, coma e descanse para caso o
Príncipe precise de algo quando retornar ao quarto. Lembre-se, só
pode dormir quando ele for também.
— Como saberei disso?
— Quando ver através do corredor que leva ao quarto dele que
as luzes estão apagadas.
— Tudo bem.
Andrei se levantou e o balançar de sua túnica me fez sentir um
cheiro de rosas delicioso.
— Obedeça, Niko, seja um bom servo e jamais terá uma vida de
sofrimento novamente.
— Sim, senhor.
Quando fiquei sozinho no quarto uma enxurrada de emoções me
atingiu e comecei a chorar. Estar ali e tão perto de Alexander me
deixava feliz e triste ao extremo.
Ele não me reconheceu e foi como se eu jamais tivesse existido
para ele. Talvez ele nem se lembre mais do seu amigo de infância,
enquanto eu jamais o esqueci.
Mas estava feliz em vê-lo, mesmo que com uma máscara
escondendo a verdade. Nem fazia ideia se ele chegou a saber de
tudo que me aconteceu, mas isso não importava mais. Vivi meu
calvário, mas continuava vivo e lutaria por isso.
Um tempo depois, vi minha refeição chegando e quando peguei,
fiquei maravilhado com a beleza da comida e seu cheiro. Me sentei
em uma mesa bonita que havia no quarto e comi quase revirando os
olhos. Era um peixe bem temperado, três tipos de saladas, purê e
outra coisa que eu não sabia o nome, mas imitava arroz. Tinha suco
e uma sobremesa que me fez lembrar da minha infância, pois já
havia comido na cozinha quando acompanhava minha mãe.
E foi justamente ela que me fez desabar em um choro sem fim
após minha refeição. Estava com meus nervos e emocional
destruídos e morria de medo da minha identidade verdadeira ser
descoberta.
Depois de colocar a louça na passagem da parede, deitei-me na
cama me entregando à minha dor. Fiquei encolhido e por instantes
voltei a ser o menino de nove anos que havia perdido a vida e sentia
falta de tantas coisas.
Fechei meus olhos e pensei em Alexander. Diversos momentos
nossos vieram em minhas lembranças, principalmente nossos
banhos no lago. Seus sorrisos e todas as vontades que ele me
fazia. Mas tudo de repente foi substituído pelas chicotadas no pátio
e até hoje ainda sentia fisgadas em minhas costas, tamanha dor que
passei.
Minha pele era marcada e meu coração também.
Batidas na porta me assustaram e me encolhi mais tentando
secar meu rosto e não conseguia até que ouvi a voz de Viktor.
— Niko? Está aí, sou eu, Viktor.
Levantei-me rápido e abri a porta para ele. Olhar em seus olhos
me fez chorar mais e ele ficou assustado com meu pranto e por ter
me atirado em seus braços.
— Ei, Niko! O que houve? Shhh... Calma! — Viktor me abraçou e
fazia um carinho em meus cabelos conforme nos conduzia para
dentro do quarto e fechou a porta.
— Me... me desculpe — falei soluçando de tanto chorar.
— Calma, pequeno. Aconteceu alguma coisa? Aquele Guardião
fez algo a você?
Balancei a cabeça ainda em seu peito, negando.
— Ele foi gentil. Irá até trazer um óleo para minhas mãos.
— Então por que está chorando tanto?
— Estou com medo e é tanto luxo aqui, não estou acostumado.
Viktor segurou em meu rosto me fazendo encarar seus olhos.
— Não quero te ver sofrendo. Lhe trouxe pra cá para que
pudesse viver bem, já sofreu o suficiente nesta vida. Você merece
um pouco de paz.
— Quero te contar por que fui castigado.
— Não, já disse que isso passou. Foram muitos anos, Niko. Você
já pagou pelo que tenha feito. Se acalme, por favor. Acho que logo o
Príncipe irá precisar de você.
— Por quê?
—Bom, pude vir aqui, pois me retirei da sala de jantar quando o
Rei pediu. Ele e o Príncipe se desentenderam. Nunca presenciei tal
cena, estou surpreso com esse Príncipe.
— Mas foi por quê?
— Não posso te contar, Niko.
— Me desculpe, fui um curioso.
— Apenas fique calmo. Irei agora na cozinha falar com sua
mãezinha. Fique calmo, tudo dará certo. Enxugue esse rosto e
esteja apresentável, pois ele pode te chamar.
— Tudo bem.
Viktor saiu e tentei me acalmar, mas agora estava preocupado
com o Alexander. Resolvi deitar um pouco na cama e deixei minha
cabeça descansar.
Alguns minutos depois, novamente houve batidas em minha
porta, mas foi Andrei que entrou e em suas mãos ele trazia um vidro
de óleo.
— São para suas mãos. — Sorri contido e fui até ele e coloquei
minhas palmas para cima, vendo-o derramar um pouco daquele
óleo.
— Esfregue-as devagar — ele pediu.
O cheiro era delicioso e dava uma sensação gostosa na pele.
— Logo suas mãos ficarão melhores. Fique com esse frasco,
tenho outros.
— Obrigado.
— Niko, Alexander logo voltará para o quarto e deve solicitar sua
presença. Ele não está muito bem. Seja gentil e atencioso. — Andrei
parecia preocupado.
— Sim, senhor.
— Vou para os meus aposentos. Lembre-se de tudo que lhe
expliquei.
— Sim.
Depois que Andrei saiu, não quis mais me deitar e de repente
escutei uma porta batendo com força no quarto de Alexander. Fiquei
com os olhos arregalados e tudo ficou em silêncio por muito tempo.
Eu estava pertinho da porta que me levava ao quarto dele. Entre
os dois cômodos havia um pequeno corredor e ousei espiar dentro
dele. As luzes do quarto dele estavam acesas, mas não ouvia mais
nenhum barulho.
Ficou assim por muito tempo até que ouvi o sino tocar e meu
coração pulou no peito. Havia chegado a hora, então me olhei no
espelho que tinha em meu quarto e verifiquei mais uma vez que
estava limpo, cheiroso e até bonito. Continuava descalço, mas fui
assim mesmo.
Capítulo 4
Alexander
Quando meu pai mandou me chamar para que conhecesse o
novo Comandante e o meu servo, não imaginei o que encontraria na
minha frente.
Ele era lindo, absurdamente, lindo.
Jamais tinha visto um servo assim. Tudo bem que eu sabia que
ele tinha sido banhado e ganhou as roupas que vestia, mas... algo
nele me atraiu, algo nele me fez sentir um aperto no peito, uma
coisa estranha que eu nem sabia nomear.
E tudo seguiu o roteiro normalmente. Ele, tímido demais, acuado
e assustado como um bichinho indefeso, enquanto meu pai só sabia
mostrar o quando sabia ser mal-educado.
Ele não gostou muito de eu ter sido educado com o servo, mas
não ia conseguir ser indelicado com aquela criatura linda na minha
frente. Ele era perfeito, dono de um nariz lindo que fazia conjunto
com lábios convidativos e sua pele... era perfeita, a tonalidade o
deixava ainda mais perfeito.
Mas da mesma forma que fiquei encantado com tanta beleza,
fiquei preocupado. Ainda não sabia como iria suprir meus gostos
estando de volta ao palácio e ia conviver com uma tentação bem ao
meu lado.
Não sabia como era a cabeça dos homens por aqui e poderia ser
bem diferente de onde eu estava. Precisava tomar cuidado, muito
cuidado. Por isso não deixei transparecer em nenhum momento,
nem para ele e nem para ninguém, o quanto mexeu comigo aquele
servo esculpido.
Passado o momento que tive meu autocontrole testado, não
sabia que estava indo para um muito pior, um que mexeria até com
a minha fúria.
Após o jantar, que estava muito gostoso por sinal, meu pai, o Rei
Vladmir, anunciou que em breve haveria uma festa para anunciar o
meu noivado com uma tal de Princesa Olga que estava prometida
para mim desde que nasceu.
Uma blasfêmia! Jamais me casaria com uma mulher, eu gostava
de homens!
Tudo bem, não sabia como resolveria isso, como seria um
príncipe tendo gostos peculiares, mas de uma coisa eu sabia: não
me casaria com uma mulher!
— Como você pode falar assim com seu pai? Eu sou o Rei!
— E eu sou seu filho e tenho sentimentos! Não vou me casar
com alguém que nunca vi. Isso é um absurdo! Que eu saiba, o seu
casamento com minha mãe não foi arranjado e por que o meu tem
que ser?
— Porque estou pensando no seu futuro e do nosso Reino! É um
acordo perfeito, que vai render muito dinheiro. Os dois maiores
Reinos se unificando!
— Não vou me casar com essa Olga! Tenho apenas 24 anos e
muito que viver ainda.
— Já sei! Está acostumado com as diversas mulheres que
frequentaram sua cama em seus estudos. O Guardião sempre me
mandava cartas eufórico porque suas mulheres gritavam
enlouquecidas quando se deitavam com você. Eu te entendo, meu
filho, também tive muitas e inclusive, depois de casado. Você pode
fazer isso, ter quantas quiser, até seu corpo não aguentar mais. O
casamento não te prende em nada.
— Pai! Já ouviu o absurdo que está dizendo?
— Absurdo é você! Meu filho, meu herdeiro, me questionando
desta maneira, dando boas-vindas a um ser repugnante que é um
servo. Sinceramente não estou te reconhecendo, Alexander!
— Sou seu filho! Eu cresci, aprendi tudo que quis que eu
aprendesse, mas tenho meus sentimentos e minha forma de pensar.
Não me casarei com princesa alguma — falei, já deixando a sala de
jantar ouvindo meu pai me ameaçar dizendo que “veremos”...
Estava transtornado andando pelos corredores e esbarrei com
minha mãe.
— Meu filho, se acalme! Nunca imaginei você e seu pai brigando
desta forma. O que foi isso, meu menino?
— Não irei me casar contra minha vontade, que ele me deserde
se quiser, mas não caso!
Fui grosso com minha mãe e no caminho já estava arrependido,
mas não voltei. Precisava relaxar a minha cabeça e respirar. Mal
havia voltado, não sabia onde encontrar o Nikolai, estava sem ter
relações e isso me deixava irritado ao extremo e ainda tinha que
ouvir tamanho absurdo.
Quando entrei no corredor do meu quarto, Andrei saía do seu
quarto e me olhou assustado.
— Alexander... — ele sussurrou, sempre fazia isso para
esconder nossa amizade. — O que foi aquilo com seu pai, está
doido?
— Não estou doido, Andrei. Lhe avisei que não abaixaria minha
cabeça para ninguém e isso inclui o Rei, que veio com o disparate
de querer me casar sem o meu consentimento.
— Mas a moça já está prometida.
— Não posso fazer nada por ela, sinto muito. Agora me deixe só
que preciso pensar.
Entrei em meu quarto batendo a porta com toda violência. Sabia
que isso não era o comportamento de um nobre, mas o nobre aqui
estava com raiva, acuado e sendo forçado a fazer algo contra sua
vontade.
Sentei-me em minha cama e apoiei minhas mãos na cabeça.
Fiquei bastante tempo assim e quando queria me acalmar, pensava
em Nikolai. As lembranças dele eram um bálsamo em minhas
angústias e agora que estava aqui, queria desesperadamente
encontrá-lo, e não saber como, estava acabando comigo. Só que
observando o Viktor durante o jantar, decidi que pediria ajuda a ele e
algo me dizia que nele poderia confiar.
Decidi tomar um banho e tirei toda minha roupa e vesti um
roupão. Quando cheguei no banheiro, fiquei perdido, pois tudo
mudou por aqui e não estava encontrando os produtos para minha
higiene.
Quando fui para o quarto de novo, meus olhos bateram no sino
que me possibilitava chamar o meu servo.
Fui até ele e o toquei. Não sabia ao certo como seria isso, mas
escutei um bater na porta e quando autorizei, ele surgiu da
passagem que ligava nossos quartos.
Era a segunda vez que o via hoje e senti o mesmo aperto no
peito. Não sabia dizer por que isso acontecia, mas agora ele estava
aqui e estava achando o chão bem bonito, pois não olhava para
mim.
— O senhor me chamou, Vossa Alteza?
— Sim, Niko. Por favor, olhe para mim. — Ele levantou a cabeça
e a droga do aperto só aumentou.
— Em que posso lhe servir?
— Nem ia te chamar — cocei a cabeça constrangido. —, mas
não encontro meus produtos de higiene no banheiro e pensei que
talvez você pudesse me ajudar.
— Sim, vamos ver se encontro — ele disse e me olhou como se
pedisse permissão.
— Pode ir ao banheiro.
Ele se virou e sua altura era charmosa, ele nem era grande
como eu, mas também nem muito baixo. Acho que uns dez
centímetros era a nossa diferença.
Ele olhava tudo e passava as mãos pela estrutura de madeira
que envolvia o banheiro e neste momento vi que ele achou uma
abertura que puxava a gaveta.
Ele me olhou sorrindo.
Esqueci até de como se puxava o ar.
— Nem tinha pensado nisso, essas coisas diferentes. Antes de ir
embora daqui tudo tinha puxadores.
— Acontece de mudar, Vossa Alteza, não tinha como saber. —
Juro que ele falando “Vossa Alteza” estava mexendo com algo
dentro de mim.
Observei Niko colocando os itens de higiene na beirada da
banheira. Ele me olhou como se esperasse um novo comando, mas
eu apenas olhava para ele.
— Vossa Alteza precisa de mais alguma coisa? Terei que lhe
auxiliar no banho?
Juro que senti um formigamento na minha barriga que desceu
para outro lugar, mas tratei de me frear.
— Não precisa, mas se eu te pedisse você me ajudaria?
— É uma de minhas funções, mas... neste momento minhas
mãos não estão dignas de tocar na pele do Príncipe.
— Como assim? O que houve com suas mãos?
— Elas estão muito castigadas pelo meu trabalho com os
soldados e o Guardião disse que não estão dignas de tocá-lo. Ele
me deu um óleo para cuidar delas.
Olhava para aquela coisinha linda falando e aquele aperto em
meu peito continuava. A verdade era que desde que ele entrou em
meu quarto até me esqueci da minha discussão com o Rei.
Cheguei perto dele e vi seus olhos se arregalarem conforme ele
olhava um pouco para cima. Pedi que me desse suas mãos e ele as
estendeu para mim.
Realmente estavam grossas e muito machucadas. Com calos e
cortes já cicatrizados. Passei o dedão pela palma e olhei para ele
que olhava fixamente para nossas mãos. Acho que ele estava
assustado pelo fato de um príncipe segurá-las.
— Este óleo que o Andrei lhe deu deve ajudar mesmo, ele
entende dessas coisas.
— Me perdoe, Vossa Alteza.
— Pelo que?
— Por não estar apresentável.
— Você está, Niko. Seu nome é este mesmo?
Ele me olhou assustado, balançando a cabeça bem rápido,
afirmando que me até arrancou um sorriso.
— Tudo bem, já entendi. Gosto de Niko. Sabe, agora pouco
quando você sorriu me lembrou tanto alguém.
— Alguém? — Sua voz saiu fraquinha. Ele parecia um bichinho
acuado.
— Sim, alguém que não vejo há muitos anos. Bom, preciso me
banhar.
— Irei me retirar para que Vossa Alteza fique à vontade.
— Obrigado pela ajuda.
— Estou aqui para o que Vossa Alteza precisar — ele disse de
cabeça baixa e levantei seu queixo para olhasse para mim.
— Sempre olhe nos meus olhos.
— Sim, Vossa Alteza.
— Pode ir.
Niko foi se retirando devagar e girei meu corpo o acompanhando
com os olhos. Vi quando parou no meio do quarto e ficou olhando
para minha foto grande e depois saiu.
Suspirei sem sentir. Sabia que se estivesse no local do meu
treinamento, faria de tudo para que Niko viesse para os meus
braços. Ele era lindo demais, mas aqui eu tinha que ter todo
cuidado.
Fiquei sem ação depois que ele saiu, com uma sensação
estranha de vazio, mas tirei meu roupão e tomei um banho
relaxante. Talvez o chamasse depois, só que não sabia para o que.
Mas confesso que gostei de olhar para ele.

Nikolai
No corredor mesmo entre um quarto e outro, precisei me
escorar. Minhas pernas estavam falhando de tanto que tremiam.
Fechei meus olhos escorregando pela parede e me sentando no
chão.
Olhei para minhas mãos. Ele havia tocado nelas e foi tão bom.
Suas mãos eram macias e bem maiores que as minhas. Abracei
meus joelhos e fiquei ali encolhido.
O quarto dele estava lindo, digno do homem que ele se tornou.
Mas ver aquela foto e saber que ela escondia a passagem que eu
sempre usava me trouxe lembranças que apertaram meu coração.
Não tive forças para sair daquele chão, era com isso que estava
acostumado, com o chão. Meu coração brigava com o medo e a
vontade de ir até ele e contar toda verdade, mas não podia.
Mesmo tendo ficado com vergonha, em meu interior, torci para
que ele quisesse que eu o auxiliasse no banho e nem sei de onde
veio isso. Ali não era um homem qualquer, não era um dos homens
que eu me deitava, era meu melhor amigo.
Minha cabeça ficou confusa e precisava tanto conversar com
alguém, mas Serguei não estava aqui. Agora eu não tinha mais
ninguém e precisava guardar tudo dentro de mim.
Nem sei por quanto tempo fiquei ali naquele pequeno corredor,
mas ouvi o seu sino novamente e fiquei de pé em um pulo. Mesmo
nervoso, me forcei a andar e novamente entrei em seu quarto.
Alexander estava apenas de roupão e com os cabelos molhados.
Naquele momento, meu coração bateu de uma forma diferente, mas
que eu conhecia muito bem, pois ele já havia batido assim há exatos
12 anos, quando o beijei dentro do lago.
Com apenas nove anos eu nem sabia o que aquilo significava,
mas agora, uma confusão de sentimentos me assolava e parecia
querer me dominar.
— Me chamou, Vossa Alteza? — Minha voz saiu rouca e ele se
aproximou de novo. Pude sentir seu cheiro limpo, suave e tão
gostoso.
— Na verdade, não sei bem por que te chamei, mas acho que
queria uma companhia.
— Eu posso lhe fazer companhia. — Alexander deu um sorriso
de lado tão sexy que fez meu coração parar por instantes e por
Deus, ele voltou a bater completamente descompassado. — Sente-
se, Niko. Vamos conversar. — Ele apontou para um sofá que tinha
em frente a sua cama e me sentei tentando disfarçar que minhas
mãos tremiam.
Alexander se aproximou e se sentou ao meu lado, mas virado
para mim.
— Você tem quantos anos, Niko?
— Tenho 21, Vossa Alteza.
— Você não tem ninguém neste mundo?
— Não.
— Já teve uma namorada? — Minhas bochechas coraram, mas
nisso fui sincero.
— Não.
— És virgem ainda? — Alexander, que perguntas eram
essas?
— Não. — Ele franziu as sobrancelhas e deu outro sorriso de
lado.
— Você deve estar achando estranha essa conversa, não?
— Não diria estranha, mas Vossa Alteza é um Príncipe.
— E o que tem? Minha mente é muito diferente do que querem
que ela seja. Somos dois jovens e jovens compartilham
experiências, não é? Só quero te conhecer melhor, vamos passar
muito tempo juntos.
—Bom, acho que sim.
— Nunca dividiu suas experiências com ninguém? Não tem um
amigo?
— Não, Vossa Alteza. — Ele me olhou piedoso e depois sorriu
novamente. Como era lindo o sorriso dele.
— Então agora você tem a mim.
— Mas não podemos ser amigos.
— Por que não?
— Sou seu servo, não tenho esse direito — falei triste me
recordando de tantas coisas que me machucavam como navalha e
de repente fiquei com uma vontade enorme de chorar, mas me
segurei.
— Pois a partir de hoje você é. — Arregalei meus olhos e pisquei
nervoso.
— Alteza, posso ser morto por isso.
— Ninguém toca em você, jamais permitiria. Agora como dois
amigos, quero que você compartilhe suas experiências comigo. Mas
lembre-se, nada que for dito aqui pode sair além dessas portas.
— Jamais falaria algo de sua intimidade.
— Fico feliz em saber. Então você começa.
Respirei fundo. Como eu contaria a ele que dormi com homens?
Ele teria nojo de mim e talvez nem quisesse mais tanto assim a
minha amizade. Só que resolvi contar, assim ele desistiria dessa
ideia louca e isso seria melhor para nós dois. Nosso tempo de
amizade havia passado.
— Não tive namoradas, jamais me deitei com uma mulher.
— Então como pode não ser mais virgem?
— Porque me deitei com homens. — Alexander nem se abalou,
pelo contrário, me olhou tão profundamente que tive vontade de sair
correndo daquele quarto. Não confiava em mim mesmo com ele me
olhando daquele jeito. — Não vai dizer nada? — Tive que perguntar.
— Foi bom?
— Oi?
— Perguntei se foi bom, se você gostou.
— Se eu gostei do que? — Alexander revirou os olhos e fiquei
em choque, pois não sabia que um príncipe podia fazer isso.
— Se você gostou de estar com um homem, Niko?
— Vossa Alteza revirou os olhos?
— Por quê? Não pode?
— Não sei, mas acho que não faz parte...
— Da etiqueta de um príncipe?
— Sim.
— Vou te contar um segredinho — ele falou e chegou muito
perto do meu pescoço para falar em meu ouvido. — Odeio
etiquetas.
Um arrepio subiu pelos meus braços e se concentrou perto de
onde estava sentindo o ar que saía de sua boca e pigarreei.
— Também não gosto, mas tenho que segui-las, infelizmente.
— Vamos combinar assim: quando estivermos só nós dois,
acabou as etiquetas.
— Mas...
— Sem “mas”. Está na minha vez de fazer perguntas, então não
seja afobado. — Alexander riu e foi aquele sorriso de menino que eu
conhecia muito bem. — Você não me respondeu ainda.
Não tinha para onde fugir. Minha ideia não deu certo e agora o
homem queria saber mais. Será que ele tinha curiosidade de saber
como era? Impossível.
— Gostei sim. Os homens me atraem — confessei e lá estava
aquele olhar sedutor novamente.
— Não fique com vergonha.
— E Vossa Alteza? Ainda é virgem? — perguntei.
— Está me chamando de Vossa Alteza.
— Não conseguirei chamar diferente, desculpe.
— Tudo bem, até que gosto de ouvir você falando assim. Mas
respondendo sua pergunta, não, não sou mais virgem. Em meu
treinamento era incluído iniciar a vida de homem e várias mulheres
eram oferecidas a mim.
— Quantos anos tinha na época? — Estava curioso.
— Tinha 15 anos quando tive a primeira mulher.
— Caramba! E... não ficou com nojo de mim por saber que me
deitei com homens? — Olhava dentro de seus olhos quando
perguntei e ele não desviava. Alexander falava tudo com muita
convicção e era bem transparente.
— Então se for assim, você também terá que ter nojo de mim,
pois também me deitei com alguns.
Meus olhos se arregalaram tanto, mas tanto, que Alexander
achou que eu estivesse passando mal. Neguei e tendo dificuldades
para respirar, procurei me acalmar. Só que fui bem sincero com
minhas palavras a seguir.
— Vossa Alteza me permite ser bem sincero?
— Por favor, amo sinceridades. — Ele sorriu e deu uma leve
piscadinha para mim, me desconsertando. Deus, era muita coisa
para o meu coração aguentar. Estava em frente ao meu melhor
amigo que não via há anos, mentindo para ele, agora era um servo
da realeza e se descobrissem minha verdadeira identidade, eu seria
um homem morto.
— Vossa Alteza fala e faz coisas que eu não sabia que um
príncipe poderia fazer. Seu jeito, a forma de se comportar. Me deu
boas-vindas na frente do Rei!
— Sou assim, não gosto de ser comandado. Não gosto que
enfiem coisas na minha cabeça do que se deve ou não fazer. Fui
mandado para um lugar que apenas depois de muito tempo
descobri o nome. Perdi minha infância, meu direito de ser livre e
queriam moldar meu jeito de agir e pensar. Muitas vezes tive que
fingir que aceitava ou era castigado mesmo sendo herdeiro do Rei e
se não aprendesse, seria deserdado e largado a própria sorte. Fui
afastado dos meus pais e do meu melhor amigo. Enfiaram uma
mulher em meu quarto como se eu soubesse o que fazer com ela
sem nem ao menos me perguntarem se eu queria aquilo. Não foi
fácil, Niko. Chorei todos os dias querendo minha vida de volta. Só
um bom tempo depois que conheci uma pessoa, o nome dele é
Dimitri. Ele se tornou um grande amigo, me ensinou muitas coisas,
principalmente como ser livre novamente. Tive minha primeira
relação com um homem nos braços dele e foi maravilhoso.
— Você então se apaixonou por ele? — Perguntei aquilo com um
fio de voz e sentindo uma dor absurda que eu desconhecia dentro
de mim, esmagando meu coração.
— Não — ele respondeu e respirei fundo. — Era algo carnal,
sabe? Nossa amizade se sobressaiu e ele se apaixonou por um
lenhador perdidamente. Quando vim embora, nem estávamos mais
tendo relações. Eu já tinha conhecido outros e... Sabe, Niko, eu amo
ser um príncipe, mas quero ser do meu jeito.
— Seu pai jamais irá permitir.
— Percebi isso hoje.
— Ouvi Vossa Alteza bater a porta de forma bruta quando entrou
aqui no quarto. Aconteceu algo?
Alexander me olhava e tinha um olhar carinhoso, mas ao mesmo
tempo triste.
— Ele me comunicou, isso mesmo, “comunicou” durante o jantar,
que em breve eu iria conhecer a minha futura esposa, uma tal de
Princesa Olga que é prometida para mim desde que nasceu.
— O quê?
— Pois é, meu pai quer decidir com quem vou me casar apenas
preocupado com o futuro do Reino.
— Nunca ouvi falar de casamentos arranjados.
— Já existiu algum tempo atrás que eu soube em meus estudos,
só que meu pai ainda quer impor isso e falei que não aceitava.
Discutimos e fiquei com raiva. — Alexander se virou de frente no
sofá e cruzou os braços com a fisionomia emburrada. Seu roupão
abriu um pouco e suas pernas apareceram. Eram lindas e desviei os
olhos.
— Sinto muito, Alteza.
— Não sinta, Niko. Não irei me casar contra minha vontade.
Gosto de homens e não há a mínima chance disso acontecer.
— Mas como viverá o que gosta sendo um príncipe? Isso
acontece, mas sabemos que não é bem visto. Vossa Alteza poderia
ser deserdado!
— Que seja, mas com uma mulher não me deito mais. Niko,
posso te fazer uma pergunta?
— Cla-claro.
— Você tem 21 anos. Então por acaso você conheceu ou já
ouviu falar de um rapaz chamado Nikolai?
Olhei com medo para Alexander e balancei freneticamente a
minha cabeça negando.
— Nunca conheci ninguém com esse nome. — Alexander
murchou e abaixou a cabeça apoiando seus braços nas pernas.
— Não é possível que eu não o encontre. Preciso achá-lo, Niko.
— Quem é essa pessoa? — Tinha que disfarçar. Meu coração
estava acelerado.
— A pessoa mais importante da minha vida. Meu melhor amigo.
Não sei nada dele há tanto tempo. Quando fui embora, fomos
flagrados brincando juntos e o Comandante Real na época, um
ordinário chamado Ivan, maltratou meu amigo, mas implorei que ele
não contasse ao meu pai e que o deixasse em paz que eu já estava
indo embora. Nossa amizade era proibida por ele ser um plebeu,
filho da cozinheira do castelo. — Alexandre de repente arregalou os
olhou e deu um pulo do sofá me fazendo levantar também. — É
isso! Como não pensei antes! Vou procurar a mãe dele amanhã
mesmo, tomara que ela ainda trabalhe aqui!
Tremi da cabeça aos pés, mas Viktor já ia falar com a minha mãe
e ela ia mentir por mim, caso Alexander lhe questionasse, tinha
certeza.
— Sim, sim. Quem sabe ela ainda esteja por aqui. Eu não a
conheço, então não posso lhe ajudar em nada.
— Você já me ajudou mais do que imagina — ele falou, se
aproximando de mim e fez um carinho em minha bochecha me
derretendo todo por dentro. — Você me ouviu, foi um bom amigo e
sei que posso confiar em você.
— Pode sim. Jamais irei falar para ninguém o que conversamos.
— Também não irei falar nada ao seu respeito, tudo bem?
Somos amigos. — Seu carinho continuou e precisei fugir da
intensidade de seus olhos. — Deixarei que descanse agora. Pode ir
dormir que também vou.
— Tenha um bom descanso, Vossa Alteza.
— Você também, Niko.
Fui andando até a porta e olhei novamente para ele. Minha
vontade era algo absurdo, algo que eu não esperava. Queria seus
braços, mas não mais como antigamente e pensar que ele queria
me encontrar e que ele jamais me esqueceu... Só que agora que ele
não podia mesmo, pois eu não era mais um amigo apenas, o queria
de forma diferente e nunca poderia ter. Realmente era bom que
Alexander jamais encontrasse o Nikolai de novo.
Capítulo 5
Alexander
Acordei todo esparramado em minha cama e cheio de desejos.
Meu corpo pegava fogo e foram os olhinhos assustados de Niko que
vieram em minha cabeça logo pela manhã.
Sorri lembrando da nossa conversa. Mesmo assustado com
tudo, ele foi um bom ouvinte e me surpreendeu em alguns aspectos.
E sem que eu esperasse, ouvi o toque de seu sino e sabia que
deveria ser meu café da manhã.
Toquei o meu de volta, o autorizando a vir e em alguns
segundos, ele entrou com minha bandeja. Estava lindo, com uma
túnica comprida, desta vez, amarela e que ficou perfeita com sua
pele morena.
— Bom dia, Vossa Alteza. Seu café da manhã — Niko falou e foi
colocar a bandeja na mesa.
Quando ele se virou para mim, tirei minhas cobertas e me
levantei apenas com a roupa de dormir, branca, um pouco
transparente e não usava nada por baixo. Sabia que meu corpo
estava acordado e o mais importante, era por causa dele em meus
pensamentos.
Niko ficou sem jeito e abaixou a cabeça. Gostava disso nele,
dessa timidez cativante.
— Vou tomar um banho primeiro, Niko. Você já se alimentou?
— Sim, bem cedinho.
— Dormiu bem?
— Muito.
— Que bom. Me espere aqui, não vá embora.
— Sim. Quer que o ajude com os produtos?
— Não precisa, agora sei onde ficam.
Só que havia um detalhe importante em meu banheiro: ele ficava
em outra parte, mas dele se via todo o quarto e vice-versa.
Quando fiquei em frente a banheira e consequentemente de
costas para o quarto, deixei que minha roupa caísse aos meus pés.
Senti um arrepio gostoso em minhas costas e sabia que estava
sendo observado. Cheguei a fechar meus olhos sentindo a tensão
sexual que estava naquele ambiente e tudo que desejei foi Niko de
quatro nesta banheira sendo meu, mas resolvi ir com mais calma,
afinal já tinha ficado nu na frente dele.
Tomei um banho delicioso, mas não conseguia me acalmar de
forma alguma e sabia que só teria um jeito de fazer isso. Olhei de
lado para Niko e pedi que fosse para o seu quarto que em alguns
minutos o chamaria de volta e assim ele fez.
Toquei meu corpo dentro daquela banheira e gozei em
abundância. Cada vez que pensava ou falava essa palavra, “gozei”
me lembrava de Dimitri e o quanto ele me ensinou a não ser um
idiota. Estava carente e desejando mãos sobre o meu corpo e neste
momento, essas mãos eram bem específicas.
Depois de mais calmo e já totalmente vestido, o chamei de volta
e ele tinha as bochechas coradas quando retornou. Estava ainda
mais gracioso.
— Irei à cozinha assim que acabar aqui e como servo, você
estará me acompanhando, certo?
— Sim, Alteza. Irei onde o senhor for. — Niko se sentou no sofá
atendendo um pedido meu.
Batidas em minha porta, fizeram Niko levantar-se assustado.
— Sente-se, Niko.
— Mas Alteza, não posso me sentar em seu sofá.
— Eu permiti — falei sério e ele engoliu em seco e se sentou
novamente.
Depois que autorizei, Andrei entrou em meu quarto e observou
Niko sentado, enquanto eu comia meu café da manhã. Meu servo
nem levantava a cabeça tamanha vergonha.
— Bom dia, Alteza. Bom dia, Niko.
— Bom dia — Niko respondeu tímido.
— Bom dia, Andrei. — Meu amigo me olhou franzindo a testa,
pois o tratei com intimidade na frente de outra pessoa. — Andrei,
você está em meu quarto e apenas o Niko está comigo. Ele é um
amigo também.
Andrei fechou e abriu a boca sem fala e eu sorri, pois adorava
deixá-lo assim.
— Seus pais já tomaram café da manhã e enquanto a Rainha foi
ver o seu jardim, o Rei foi ver os pareceres do dia com o
Comandante.
— Obrigado, Andrei. Eu irei à cozinha do castelo.
— Na cozinha? Tem algo que deseja? Posso providenciar.
— Não, quero encontrar uma cozinheira em específico e quero ir
pessoalmente.
— Tudo bem.
— O Niko irá comigo.
— Mas irei também. — Andrei foi taxativo, mas tudo bem.
Depois que terminei meu café da manhã, saímos os três em
direção à cozinha. Andrei ao meu lado e Niko atrás nos seguindo.
Quando cheguei, as cozinheiras se assustaram um pouco e fizeram
uma reverência silenciosa. Procurei com meus olhos a mãe de
Nikolai. Não lembrava do rosto dela, mas ela, com certeza, seria
uma das mais velhas ali.
Vi uma senhora sentada descascando algumas batatas e ela era
a única que não me olhava. Cheguei perto dela, pedindo que as
outras nos deixassem a sós um pouco e abaixei para encarar seu
rosto. Só quando ouviu minha voz foi que me olhou assustada.
— Desculpe, Vossa Alteza. Estava distraída e não lhe vi.
— Tudo bem. Estou procurando a mãe de Nikolai, é a senhora?
A mulher ficou um pouco pálida e olhou para as pessoas que me
acompanhavam. Olhei para Andrei e ele a encarava, Niko tinha sua
cabeça baixa como sempre. Tornei a olhar para ela e a vi
suspirando.
— Sou sim, por quê? — Sorri e lágrimas quiseram vir para os
meus olhos.
— Onde está seu filho? A senhora se lembra que ele era meu
amigo? A senhora sabia disso, não sabia? Escondemos no início,
mas sei que depois foi do seu conhecimento. Queria vê-lo, ter
notícias dele. Onde posso encontrá-lo?
— Você não poderá encontrá-lo. Meu filho não está mais aqui.
— Como assim seu filho não está mais aqui? Onde ele está?
— Meu filho foi embora há muito tempo e nunca mais o vi. —
Meu coração bateu tão rápido que me levantei em um pulo.
— Mas foi embora para onde? Por quê?
— Ele... ele não queria mais ficar aqui e sumiu no mundo
dizendo que ia viver e ser alguém. Mas jamais soube dele
novamente, Alteza.
— Não! — falei mais alto. — Ele não lhe abandonaria. Nikolai te
amava.
— Mas ele se foi. Até disse que um dia voltaria para me buscar,
mas jamais voltou. Não sei se ele continua vivo.
As lágrimas desceram sem controle e Andrei tentou me acalmar.
— Se acalme, Alteza. Não há nada que podemos fazer.
— Não aceito isso! NÃO ACEITO! — berrei. — Ele era meu
amigo, ele disse que estaria aqui quando eu voltasse, por que ele
não me esperou, Andrei? — Chorava como uma criança e abracei
meu Guardião, o pegando de surpresa. A senhora me trouxe um
copo de água e precisei me sentar. Minhas pernas estavam em
forças.
Olhei para Niko e vi que estava quieto demais e como ele sabia,
pois ontem havia desabafado com ele, sei que entendia minha dor.
O dia mal tinha amanhecido e para mim já havia terminado.
Abracei a senhora sem que ela esperasse e me despedi
voltando para o meu quarto desolado.
— Não quero ir a nenhum lugar hoje e nem atender ninguém —
falei para Andrei na porta do meu quarto e olhei para Niko. Seu
olhar estava triste também. — Niko, pode ficar no seu quarto, se
precisar de algo eu te chamo.
Entrei e só queria ficar quieto com a minha dor.

Nikolai
Desde que entrei em meu quarto estava sentado olhando para o
nada. Uma colação havia sido posta na janela das refeições e nem
quis comer. Mamãe fingiu muito bem, mas foi a dor e o desespero
de Alexander que estava me dilacerando por dentro.
Meu amigo realmente nunca me esqueceu, ele apenas não tinha
como voltar e precisava seguir o que lhe foi determinado. E por seu
desespero, vi o quanto ele queria me reencontrar, mas nosso tempo
havia acabado por diversos motivos.
Alexander nunca soube o que me aconteceu, isso ficou claro e
temo que se soubesse, isso poderia causar uma desgraça vendo o
quanto ele é determinado e dono de suas opiniões.
E hoje algo está diferente. Meus sentimentos com relação a ele
estão diferentes e me sinto perdido quanto a tudo. Ao mesmo tempo
que quero meu melhor amigo de volta, quero o homem o que ele se
tornou e isso é ainda mais proibido para mim.
Mesmo tudo isso sendo triste, no fim, é melhor mesmo que
Alexander pense que sumi nesse mundo e que jamais me verá
novamente.
Deitei em minha cama e fiquei ali me sentindo ainda mais
sozinho nesta vida.

Alexander
O dia havia passado. Minha mãe esteve em meu quarto achando
que eu estava doente e meu pai não ficou muito contente em não
me ver no almoço real. Niko trouxe minhas refeições aqui, mas mal
toquei na comida.
Mas a verdade é que eu estava desanimado e triste. Era como
se o meu brilho tivesse se apagado. A única coisa que mexia com
minha cabeça era saber que Niko estava no quarto ao lado.
Não sabia por que tinha ficado tão encantado com meu servo,
mas acho que sua beleza e seu jeito sedutor sem fazer esforço
eram responsáveis por isso. Sentia vontade de ficar o tempo todo
perto dele e agora, triste como eu estava, queria deitar a cabeça em
seu colo e receber seu carinho. Será que ele acharia muito estranho
isso?
Estava me sentindo triste, carente demais e alguma coisa tinha
que ser feita. Se eu passasse mais um dia neste quarto, o Rei, o
senhor meu pai, iria vir cheio de ordens e me arrastar para fora.
Pela janela, onde entrava uma brisa gostosa, eu via o final da
tarde. A visão era linda. O céu estava alaranjado e deixava meu
quarto com essa tonalidade. Cheguei na grande janela e daquela
altura, tinha uma visão espetacular do meu Reino.
— Onde você está, Nikolai? Por que foi embora? Por que não
me esperou? — falei em voz alta e entregue aos meus
pensamentos.
Uma súbita vontade de ter Niko perto de mim me fez chamá-lo
com o sino e quando ele entrou em meu quarto, sendo iluminado
pela luz do entardecer, eu quis beijá-lo.
Ele havia se banhado e estava todo de branco desta vez.
Novamente sua túnica era longa e ele não usava calças. Seus pés
agora tinham sandálias e aquele olhos me puxavam para ele como
um imã. O que estava acontecendo comigo? Sabia que gostava de
homens, que estava há um bom tempo sem relações com ninguém
e que ele era lindo demais, mas mesmo assim...
Não conseguia entender o que ele tinha que me atraía tanto.
Somente a presença dele já me hipnotizava e foi assim desde o
primeiro momento, desde que meus olhos bateram nele.
— Venha até aqui, Niko. Quero te mostrar algo. — Estiquei
minha mão para ele e quando Niko se aproximou, colocou sua mão,
timidamente, em cima da minha que estava estendida.
Meu coração saltou no peito e mesmo sentindo a aspereza que
elas possuíam, foram elas que eu quis tocando meu corpo naquele
momento.
Ele chegou pertinho da janela e me coloquei atrás dele. Mostrei
a vista e ele ficou encantado com a beleza de tudo. Os raios de sol
batendo em sua pele, a deixando ainda mais dourada, o deixava
deslumbrante.
Mas foi ele me olhar sorrindo, mostrando um gavião que voava
ali perto, para que eu não enxergasse mais nada, a não ser ele ali
tão pertinho de mim. Toquei seus ombros e o senti estremecer, mas
não parei. Mostrei outra ave exótica, mas desta vez meu rosto
tocava a lateral de sua bochecha.
O cheiro dele era suave e marcante. Deviam ser os sais de
banho. Uma delícia. Imaginei o corpo dele inteiro perfumado assim e
minhas mãos que antes estavam em seus ombros agora seguravam
em sua cintura.
Niko me olhou de lado e sua boca entreaberta me mostrava que
ele sentia o que estava acontecendo ali, então ele fugiu do meu
toque se desvencilhando de mim. Ele não me queria, acabei
concluindo.
Ficamos nos olhando e senti a necessidade de me desculpar
com ele.
— Me desculpe. Não tive a intenção de lhe constranger.
— Tudo bem, Vossa Alteza. Eu só...
— Eu entendi, não precisa se explicar. Ficou bem claro para mim
— falei e me afastei dele indo para o banheiro. — Vou tomar um
banho e esperar meu jantar. Obrigado por ter vindo até aqui, Niko.
Estava precisando ficar perto de você.
Tirei toda minha roupa e entrei na banheira que já havia
preparado. Deitei minha cabeça em sua lateral e fechei meus olhos
para relaxar um pouco. Mas ouvi um barulho atrás de mim e vi que
Niko ainda permanecia em meu quarto.
— Você quer alguma coisa, Niko? — perguntei, olhando para ele
e mesmo tímido, se aproximou. Ele tirou suas sandálias e levantou
sua túnica até o início de seus joelhos, entrando na banheira e se
sentando na beirada.
— Me deixe lhe fazer uma massagem. Esfregar suas costas para
que se sinta melhor. Minhas mãos só não estão...
— Não tem problema. Ainda serão suas mãos — respondi
eufórico por ele estar ali e não ter ido embora. Estava me sentindo
sozinho demais.
Virei de costas para ele e fiquei entre suas pernas. Suas mãos
ásperas me tocaram nos ombros e me arrepiei inteirinho. Foi
delicioso o seu toque, a gentileza dele era revigorante e fechei meus
olhos sentindo tudo que suas mãos me causavam.
Estava todo mole e já me encostava em suas pernas, que
reparei estarem com sua túnica molhada colando em suas coxas.
Ele deu um aperto mais forte em meus ombros e me fez gemer.
Dentro da água, o meu pau se encontrava duro e necessitado, mas
estava submerso.
— Está gostando?
— Muito, não para.
— Não vou parar, só quando Vossa Alteza quiser.
— Não vou querer nunca — respondi e ouvi o som de seu riso e
ele vibrou dentro das minhas veias, fazendo tudo em mim pulsar, até
o que não deveria naquele momento.
Segurei as mãos de Niko e as fiz descer pelo meu peito
ensaboado. Quando a palma áspera os tocou, gemi sem pudor
algum e não foi de satisfação, foi de puro desejo.
E tudo só piorou quando me ajeitei na banheira e
consequentemente fui mais para trás e senti a intimidade dele tão
dura quanto a minha. Estava quase perdendo o meu controle e fiz
um pedido bem íntimo a ele, iria arriscar.
— Niko?
— Oi. — Sua voz estava muito rouca.
— Lave o meu corpo inteiro, por favor.
Suas mãos pararam e ouvi seu suspiro. Ele ficou parado um
tempo e quase podia ouvir seus pensamentos, pois ele devia estar
fazendo muito isso. Mas quando ele saiu de trás de mim e se sentou
na banheira de roupa e tudo, sabia que meu pedido iria ser
atendido.
Algumas vezes, quando mais novo, na hora do meu banho,
servas me auxiliavam e me lavavam inteiro. Até em meu pau elas
tocavam. Algumas ficavam tímidas quando ele crescia e outras
aproveitavam para me alisar. Nesta época, eu só havia me deitado
com mulheres e depois quando vi do que realmente gostava, jamais
deixei que me dessem banho novamente.
Mas agora, Niko passava a esponja cheia de sabão por todo
meu corpo e em algumas partes, eram suas mãos ensaboadas que
me tocavam. Estava vidrado nele, acompanhando cada movimento
seu e vendo sua túnica cada vez mais molhada.
Depois que todo o meu tronco estava limpo e meus braços
também, Niko foi para minhas pernas e para isso, abri meus braços
no contorno da banheira e me estiquei mais quase boiando. Com
esse movimento, Niko viu pau apontando e olhou em meus olhos.
— Não consegui evitar, suas mãos são deliciosas.
— Estão castigadas. O óleo ainda não fez efeito.
— Não importa, gosto do seu toque, gosto que seja você me
tocando. Quero que me lave inteiro, Niko.
Ele abriu e fechou a boca, mas vi algo nele que me incendiou
ainda mais. Ele não estava fazendo nada contra vontade, ele me
tocava absorvendo cada pedaço de mim, me mostrava que queria
aquilo tanto quanto eu. Niko apenas tinha medo, acredito eu, por
nossos títulos. Ele um servo e eu, um príncipe.
Mas nada mais fazia sentido para mim no momento em que suas
mãos vieram entre minhas coxas e subiram pela minha intimidade.
Gemi entregue e o olhar dele tinha mudado completamente. Sabia
que havia despertado todo desejo adormecido dentro dele.
Sentei-me ereto e com isso fiquei com o rosto pertinho dele. Seu
peito subia e descia rápido e não escondi mais o que tanto queria.
— Quero você, Niko. Quero me deitar com você. Sentir seu
corpo debaixo do meu e beber todos os seus gemidos. — Ele
gemeu sem controle e com a mão em sua nuca, eu trouxe sua boca
para a minha.
Quando seus lábios tocaram os meus, novamente me lembrei de
Nikolai e isso sempre acontecia, não importava a boca que
estivesse me beijando. Mas quando nossas línguas se
entrelaçaram, o que eu senti, jamais tinha sentido nos braços de
outro homem.
O beijo que havia começado tímido, se tornou forte e exigente.
Fiz Niko se sentar em meu colo dentro daquela água e passei a
sentir seu pau duro em minha barriga.
Meus dedos se enroscaram nos cachos de seus cabelos e a
minha mão livre foi para o meio de suas pernas, fazendo ele gemer
em minha boca. Niko usava apenas a sua túnica, era muito comum
isso acontecer.
— Alteza, não podemos, eu... Isso é proibido, eu... — Ele tentava
lutar contra e falar algo, mas não soltava minha boca e me beijava
esfomeado.
— Esquece tudo, Niko. Neste momento, somos apenas dois
homens que se desejam e quero entrar em você.
Parecia que ele havia se desligado de tudo ao nosso redor e
seus braços contornando o meu pescoço, minhas mãos em sua
cintura, nossas intimidades duras se encostando e o beijo que
possuía uma fome absurda, estava enlouquecendo nós dois.
Que beijo maravilhoso ele tinha. Suas mãos eram ásperas, mas
suas coxas, a lateral de seu corpo, seus braços, tudo era macio e eu
apertava sem cerimônia.
Apertei sua bunda e ele soltou um gemido dentro da minha boca
que me fez quase gozar antes da hora, estava por um fio. Mas
quando minhas mãos subiram por suas costas e senti cicatrizes
bem fundas, Niko travou em meus braços e soltou meus lábios.
Olhei para ele confuso e o vi desviar da pergunta silenciosa que
eu lhe fazia. Percebi que Niko ficou extremamente desconfortável e
o clima antes tão sensual, agora estava mais frio.
— Me desculpe por isso.
— Pelo que você está me pedindo desculpas?
— Por não ter um corpo perfeito...
— Ei, Niko, pare com isso. Por favor, isso não é motivo para se
desculpar. Só não imaginava que tivesse marcas em seu corpo.
Quer me contar como elas aconteceram?
— Não, por favor. Isso já tem muito tempo.
— Tudo bem, viu? Não precisamos falar disso se você não
quiser. — Niko me olhou neste momento e vi que sua timidez havia
retornado.
— Isso não pode acontecer, Alteza. Eu não deveria estar em seu
colo, nem ter deixado meu corpo acordar desta forma, eu...
— Somos dois homens, Niko. Temos desejos e não adianta
tentar esconder seu desejo por mim, pois não irei acreditar. Eu vi,
senti e lhe garanto que você é correspondido, afinal você também
viu e sentiu o meu desejo por você.
— Mas é errado.
— Por que insiste nisso? O que tem de errado no que estamos
fazendo?
— Somos de mundos diferentes. Você irá ser Rei um dia, já tem
uma princesa à sua espera e sou apenas um servo.
— Já disse que não me casarei.
— Tudo bem, isso pode acontecer. Vossa Alteza parece bem
corajoso, mas não muda meu destino e o fato de que não podemos
seguir adiante.
Olhei para Niko chateado com tudo que ele me dizia, apesar de
saber que ele tinha razão em alguns pontos. Só que ele não me
conhecia e eu não era homem de fugir do que sentia. Só não sabia
o que estava sentindo por ele, era tudo recente e confuso demais.
Já desejei outros homens que no mesmo dia que conheci me
deitei com eles, mas Niko tinha algo diferente. Quando olhava para
ele meu peito apertava. Quando estava em seu quarto, longe de
mim, eu sentia uma estranha sensação de vazio e de onde isso
vinha? Conheci ele ontem, o desejei de imediato sim, pois não tem
como ser imune a uma beleza como a dele, mas a sensação que
tenho é de que o conheço há tanto tempo e isso me deixa confuso.
— Não estou aqui nessa banheira com você te tratando como
mais um homem que tenho vontade de me deitar, mas parece que é
exatamente o que você pensa de mim. — Estava sentido, frustrado
e confuso.
— Não é que eu pense isso, mas é apenas isso que pode
acontecer entre nós. Vossa Alteza se deita comigo, satisfaz seus
desejos e os meus e cada um segue o seu destino. Mas...
— Mas?
— Sou tão quebrado por dentro que não sei como ficaria depois
de estar em seus braços e lhe ver partir. Partir para os braços de
outra pessoa.
Aquilo que ele acabara de falar mexeu tanto comigo que minha
reação foi beijá-lo novamente e desta vez o beijo teve outro
significado. Não era cheio de desejo e sim, de algo diferente, algo
que nunca tinha sentido naquela proporção.
A água já estava fria, mas Niko continuava em meu colo, sendo
abraço por mim e nos beijávamos como dois homens apaixonados.
A constatação disso me assustou por mais de um motivo: nunca
havia me apaixonado. Como ele disse, éramos de mundos
diferentes e mesmo não ligando para isso, eu me preocupava com
ele. O conhecia há pouquíssimo tempo para ter meus sentimentos
despertados assim e meu coração parecia reconhecê-lo e não o
conhecer pela primeira vez. Talvez isso explicasse todas as
questões anteriores, minha preocupação, os sentimentos, mas era
exatamente isso que me assustava.
Batidas em minha porta assustou a nós dois e Niko ficou com os
olhos arregalados.
— Calma — pedi.
— Alteza, sou eu, seu Guardião. Vossa Majestade solicita sua
presença.
— Já irei, Andrei. Me dê alguns minutos.
— Tudo bem.
Olhei para Niko e mais uma vez beijei seus lábios.
— Quero que tire essa túnica molhada e vista um de meus
roupões e vá para o seu quarto. Depois de ver o que meu pai quer,
voltarei.
Niko balançou a cabeça concordando e se levantou. Meu
coração quase saiu pela boca ao ver sua túnica grudada em seu
corpo marcando suas coxas e seu pau duro.
Fiquei de joelhos e o toquei fascinado. Naquele momento, era o
Príncipe que estava de joelhos e o servo o olhava de cima. Salivei
louco para tê-lo em minha boca e parecendo entender meu pedido
silencioso, Niko retirou sua túnica, ficando completamente nu na
minha frente.
Que homem lindo!! Ele era espetacular.
— Não me olhe assim, Alexander. — Ele disse meu nome e mais
derretido eu fiquei. Minha boca estava a centímetros de sua
intimidade e eu só precisava de sua permissão.
— Como estou te olhando?
— Como se me pedisse algo.
— Estou pedindo mesmo e só preciso que você deixe.
Ele respirou fundo e seu membro lindo balançou na minha frente,
tão duro quanto eu estava.
— Eu deixo... — Ele praticamente sussurrou.
Só precisei abrir minha boca e Niko estava dentro dela. Suas
mãos seguraram em meus ombros, pois suas pernas bambearam.
Ele era muito gostoso, grande do jeito que eu gostava e minha
língua percorreu por todos os lugares. Suas bolas estavam pesadas
e o apertos em meus cabelos me mostravam o quanto ele estava
por um fio.
Queria sentir seu gosto, queria que gozasse em minha boca
como fiz na boca dos homens que já estiveram comigo. Ninguém
nunca tinha gozado na minha, mas eu queria isso com o Niko.
Quase me esqueci de que estava sendo esperado. Chupava
meu servo lindo e ainda olhava em seus olhos. Como ele olhava
para baixo, seus cachinhos molhados caíram para frente e ele
estava deslumbrante, parecia uma pintura.
Quando ele já não aguentava mais e tentou se soltar de mim, o
segurei mais forte e ele se derramou em minha boca. Seu gosto era
bom, quentinho e adorei tomar tudo dele.
Niko ficou mole e me levantei amparando seu corpo. Em meu
rosto havia um sorriso de satisfação e nele, eram seus olhos que me
diziam isso. O ajudei a sair da banheira e peguei um roupão para
ele.
Niko se vestiu e pude sentir que estava vulnerável...
— Vá para o seu quarto e descanse. Logo irei até você. — Ele
balançou a cabeça e foi.
Ainda atordoado com tudo que tinha acabado de acontecer, vesti
parte da minha roupa e abri a porta para Andrei, pois sabia que ele
estava no corredor.
— Entra, já estou quase pronto.
— Achei que já estivesse. — Andrei entrou e fechou a porta.
Estava muito bonito com uma calça branca, uma camisa larga e de
tonalidade rosa, sem nada cobrindo seus cabelos desta vez. — Está
tudo bem? — ele me perguntou e o olhei.
— Muito bem. — Andrei me observou com os olhos
semicerrados.
— Você está diferente. O que andou aprontando, Alexander?
Nem saiu do quarto o dia todo depois daquele momento na cozinha.
O Niko está em seus aposentos, certo?
— Foi pra lá agorinha.
Andrei arregalou os olhos e se aproximou mais de mim.
— Vocês não... Alexander, você se deitou com ele?
— Ainda não.
— Ainda? Você está louco? Ele pode ser morto por isso e você
deserdado!
— Uma coisa ou outra só acontecerá se você falar algo. Estou
na intimidade do meu quarto e só estou contando a você que é uma
pessoa em quem eu confio.
— Não faça isso comigo, Alexander. Você sabe de minhas
responsabilidades e tudo bem, já encobri muitas coisas suas, mas
não estávamos aqui no seu Reino e tudo agora se torna mais sério.
Você está prometido e, goste você ou não, é algo muito sério, meu
amigo. Você realmente terá que decidir o que fará de sua vida.
— Já está decidido, eu não me caso. E quanto ao Niko, eu o
quero.
— Você o conheceu ontem! Nem sabe a índole deste servo.
— Mesmo que pareça louco o que vou lhe dizer, eu o conheço
apenas por olhar em seus olhos. E meu coração bateu por ele, mais
do que já bateu por qualquer outro. Aliás, meu coração nunca bateu
por ninguém! Niko faz com que eu me sinta vivo, assim como Nikolai
fazia.
— Talvez você esteja se enganando, Alexander. Você esperou
tanto para encontrar esse menino, e agora que não conseguiu, está
projetando ele em outra pessoa. Tudo bem, ele era seu amigo e
com esse você está envolvido de forma diferente, mas mesmo
assim você pode estar transferindo para o Niko um sentimento que
era para o Nikolai. Você precisa aceitar que não verá mais esse seu
amigo. Ele foi embora, é triste, mas é a realidade.
Meus olhos se encheram de lágrimas, não pela parte que se
referia ao Niko e sim pela que se referia ao Nikolai. Doía tanto
dentro de mim o fato de não o ver mais, de não saber notícias dele.
Não me conformava.
— Não estou projetando um no outro, mas confesso que quando
estou nos braços do Niko, ele faz a saudade acabar. Ele faz a dor
passar.
— Pense em tudo que te falei depois, agora temos que ir. Seu
pai nos espera.
Capítulo 6
Nikolai
Estava parado no meio do quarto desde que voltei, em pé e
ainda sentindo as mãos e a boca de Alexander em mim. Era fato
comprovado agora: eu o queria como meu homem, como meu amor
e me achava um sem vergonha por isso.
Pensava assim de mim porque sabia que Alexander buscava o
melhor amigo e eu, além de estar mentindo, estava sendo dele de
outra forma. Estava em um conflito enorme por isso.
Cansado, me deitei na cama ainda com seu roupão maravilhoso
de príncipe e relaxei meu corpo. Agora o cansaço mental tinha o
físico como companheiro, pois gozei muito e nem me lembrava de
sentir um prazer tão genuíno assim, tão cheio de vontade.
Acabei adormecendo todo largado na cama...

Alexander
Acompanhava Andrei indo até meu pai, mas com os
pensamentos todos em Niko. Ainda podia sentir sua pele em minhas
mãos e seu gosto em minha boca. Queria saber por que sua pele
era marcada daquela forma. Não vi as marcas, ele não virou de
costas para mim, mas só de senti-las podia imaginar o quão triste
aquilo foi e saber que alguém em algum momento o feriu me
dilacerava de uma forma que nem sabia explicar.
Assim que chegamos no Grande Salão, meu pai estava em seu
trono com uma expressão que não gostei logo de cara. Mamãe
estava com um semblante preocupado e eu ainda tinha que me
desculpar com ela por ter sido ignorante, mas estava em meu limite
com essa história de casamento arranjado.
— Demorou, meu filho.
— Desculpe — falei, fazendo reverência. — Estava me
banhando quando o meu Guardião foi me chamar.
— Por que seu servo não está atrás de você?
— Porque ordenei que ele ficasse em seu quarto. — Meu pai
bufou, mas, estranhamente, não falou mais nada.
— Sente-se aqui, meu filho. Receberemos uma visita muito
importante.
Olhei para Andrei e ele fez um leve sinal de cabeça de que não
sabia de nada. Vi o Comandante Viktor em pé, próximo de onde eu
me sentaria e lembrei que mesmo com tudo que a mãe de Nikolai
me falou, não desistiria de procurá-lo e ia pedir ajuda a ele.
Fiz um aceno para o Comandante que foi correspondido com
muita educação e seriedade. Mesmo assim, o olhar dele não era
como o de Ivan e isso realmente me agradava.
Sentei-me e Andrei ficou em pé ao meu lado.
Alguns segundos depois, um soldado anunciou a entrada do Rei
Bóris Pavlova e da Princesa Olga Pavlova. Meu coração parou na
boca vendo aqueles dois entrarem e meus ombros ficaram tensos.
Pela primeira vez senti Andrei tocar em mim, em outra parte do meu
corpo que não fosse meu braço. Ele apertou meu ombro em um
gesto sutil de que eu mantivesse a calma e não fizesse nenhuma
besteira.
A Princesa era lindíssima e seu pai tinha um ar soberbo que
detestei logo de cara. Todos nos levantamos e meu pai saudou o
seu visitante.
— Seja bem-vindo ao meu Reino, Rei Bóris. Princesa... — Meu
pai foi cordial.
— Majestade. — pai e filha falaram e fizeram reverência ao meu
pai.
— Quero que conheçam meu filho, o Príncipe Alexander
Romanov.
Foi a primeira vez que usei de toda educação a qual fui ensinado
e logo todos nós fomos conduzidos a sala de jantar.
Mal conseguia tocar na comida com todas as coisas que estava
sentindo e o olhar da minha mãe para mim me mostrava que ela
sabia do turbilhão de sentimentos que me assolavam. O Rei Bóris
não se cansava de falar de suas conquistas e de quantas posses
tinha. A Princesa só tinha a palavra quando era perguntada de algo
e percebi que foi ensinada assim, coitada, que vida. Ela não teria
voz nenhuma em seu casamento, minha mãe também não tinha,
mas meu pai a permitia falar alguma coisa. Isso me revoltava desde
sempre.
Quando o tal Rei me perguntou sobre meus planos para o futuro,
cheguei a empinar meu nariz e a resposta sairia atrevida, mas um
toque gentil em meu braço, por debaixo da mesa, feito por Andrei,
me fez ver um bilhete e quando o abri, ele tinha a letra do meu pai.
Uma única gracinha e te deserdo. Mas antes disso, mato seu
Guardião e aquele servo imundo.
Meu coração quase parou no peito. Meu pai era um monstro
ardiloso. Ele mataria duas pessoas próximas a mim para me punir
por não fazer o que ele queria. Ele tiraria a vida de duas pessoas
apenas por não ter suas vontades atendidas.
— Tenho muitos planos, Majestade. Penso em cuidar do meu
Reino, fazer jus ao nome que carrego, me casar com minha linda
Princesa e ter muitos herdeiros. — Minha voz saiu carregada de
tristeza, mas só quem tinha um coração saberia interpretá-la de
verdade.
Andrei me olhava quase de boca aberta, não acreditando que
falei tudo aquilo, afinal ele me conhecia bem demais. Mamãe tinha
um olhar quase choroso, que só uma mãe teria ao reconhecer o
sofrimento do seu filho, mas quem mais me surpreendeu foi Viktor
que franziu a testa depois da minha fala.
— Fico muito feliz e me orgulho de ouvir tais declarações. Minha
filha foi treinada para ser a esposa perfeita para você. Ela atenderá
suas vontades seja a hora que for e lhe dará muitos herdeiros, pode
ter certeza. Nenhum homem jamais a tocou e a união de nossos
Reinos trará muita prosperidade e rendimentos.
Nem sei como continuei comendo. Estava dilacerado e para
tentar amenizar minha dor com aquela situação, por instantes,
deixei Nikolai invadir minhas lembranças. Pensar nele me acalmava,
mas naquele momento algo me confundiu, pois tentava pensar nele,
mas Niko roubava as cenas em minha cabeça. O engraçado era que
eu trazia às minhas lembranças momentos que vivi com Nikolai,
mas na minha cabeça eles estavam sendo substituídos pela
presença de Niko, eram as mesmas situações que vivi, mas com
Niko no lugar de Nikolai. Tinha certeza que estava ficando maluco,
era muita pressão em minha cabeça e estava ficando desesperado.
— O casamento pode ser em duas semanas — meu pai disse
fazendo o garfo cair da minha mão.
— Majestade, peço que seja daqui a um mês. É o casamento de
minha única filha e quero a maior festa que a Rússia já presenciou.
O senhor será bem recompensado por isso, distribuirei ouro aos
convidados e ao senhor também.
O sorriso do meu pai foi nojento e minha comida quase voltou.
Contudo, de uma coisa eu gostei, teria um mês para acabar com
isso e se ele não mudasse de ideia, pegaria Niko e Andrei e fugiria
para bem longe.
A princesa Olga me olhava com devoção e eu retribuía com
pena. Jamais me casaria com ela e infelizmente ela teria que achar
outro noivo. Parecia ser uma boa pessoa, mas era tão escrava
quanto um servo, sem poder escolher, sem ter suas vontades
atendidas, pelo contrário, teria que satisfazer as vontades dos
outros pelo resto da vida e ser uma máquina de fazer filhos.
Após o jantar, meu pai se levantou indo dar uma voltar
conversando com o Rei Bóris e minha mãe ficou conversando com
Olga. Eu ainda estava sentado à mesa e olhei para Andrei.
— Alexander, por que você disse tudo aquilo? Achei que você
não seria louco, mas que, sei lá, fosse ser você mesmo. O que
havia no bilhete? Até me assustei com o Rei me dando aquilo para
te entregar.
— Se eu não falasse aquilo tudo, ele ia me deserdar e matar
você e o Niko.
— O quê? — Andrei arregalou os olhos e eles se encheram de
lágrimas.
— Tenho um mês para mudar tudo isso ou ir embora e se eu for,
você vai junto.
— Alexander, não posso ir. Tenho meu pai e minhas obrigações.
— Você não está entendendo, se ficar, será condenado à morte.
Me desculpe por te colocar nessa situação, mas não me casarei.
Preciso que confie em mim, Andrei. Jamais te deixarei à própria
sorte. Onde eu for, vou te levar junto.
Andrei abaixou sua cabeça e estava morrendo de pena dele.
— Tudo bem, é claro que te entendo. Mesmo lhe achando doido
às vezes, confio em você.
— Pode confiar.
Levantei-me, pois precisava de ar e minha mãe sendo a anfitriã
que só ela sabia ser, me chamou para ir com ela e a princesa dar
uma volta nos jardins. Liberei Andrei e pedi que ficasse onde estava,
meu amigo não estava bem. Graças a Deus neste passeio estava
com a minha mãe junto.

Andrei
Ainda não tinha conseguido me levantar. A situação não estava
nada boa e sinceramente não sabia o que seria de mim. Sempre me
senti sozinho, desde que minha amada mãe se foi, fui criado a ferro
e fogo pelo meu pai.
Desde novinho sabia que seguiria seu destino, seria um
Guardião e com isso privado de muitas coisas, coisas que jovens da
minha idade faziam.
Por isso, fiquei desestimulado com a vida e decidi jamais
entregar meu coração a alguém e nem formar uma família. Mas
quando conheci Alexander, mesmo com seu jeito torto, ele me
devolveu à vida.
Seus atos, por vezes, errados, diante do que ele representava e
do que eu fui ensinado, trouxe sorrisos ao meu rosto, leveza aos
meus dias e o que não devia: algo quentinho ao meu coração.
Jamais confidenciei a ele e nem a ninguém que ver a vida que
ele levava em Sochi me despertava vontades também. Quando ele
pensava que me enganava e eu o via chegar ofegante e cheio de
vida perto de mim, por vezes desejei o mesmo sem nem ao menos
imaginar como seria.
— Guardião? — A voz do Comandante me faz levar um susto e
me ponho de pé como se tivesse sido pego no flagra pensando em
coisas que não devia. Só que era exatamente isso que fazia, mas
ele não tinha como saber. Apesar dele sempre me olhar como se
pudesse ver além da minha pele.
— Sim?
— Desculpe, não queria lhe assustar.
— Estava distraído apenas.
Era a primeira vez que o Comandante chegava tão perto e me
olhando diretamente nos olhos. Ele sempre estava fazendo
reverência quando se aproximava e realmente nunca tivemos
nenhum assunto para que ele se dirigisse diretamente a mim.
Isso me fez perceber o quanto ele era bonito e essa blasfêmia
não podia acontecer.
— O vi tão quieto que achei que pudesse estar passando mal. E
nem acompanhou o Príncipe.
— Ele me pediu que ficasse e realmente me perdi em
pensamentos. Agradeço a preocupação, com licença.
Saí o mais rápido que pude de perto dele e não estava
entendendo por que reparei em sua beleza. Tudo bem que não era
um cego, até mesmo Alexander era muito bonito, mas não estava
acostumado a achar ninguém bonito, nem homem e nem mulher.
Nada carnal estava em minhas intenções.
Alexander e o Rei acabaram retornando quase que ao mesmo
tempo e por mim meu amigo logo estaria liberado e assim eu
também poderia retornar aos meus aposentos. Não estava me
sentindo bem com tudo isso.

Alexander
Estava livre por enquanto. O tal Rei Bóris e sua filha haviam ido
embora e eu poderia respirar aliviado. Mas quando pensei em
retornar ao meu quarto, pois queria os braços de Niko mais do que
tudo, meu pai me chamou.
— Quero falar com você, Alexander. Minha Rainha e Guardião,
nos deixem a sós. — Vi minha mãe ser acompanhada por Andrei e
ambos foram para seus quartos.
Ali em pé, no meio do Grande Salão que era enfeitado com um
lustre central feito do mais puro diamante, um trono de ouro maciço,
quadros e tapetes confeccionados exclusivamente para o Rei,
vindos de diversas partes do mundo e aquela coroa de brilhantes
que enfeitava sua cabeça, conheci o seu lado podre e com isso a
minha maior decepção. Tanta riqueza e luxo para uma pessoa tão
pobre de alma e coração.
— Acho que meu bilhete foi bem claro para você, gostei de sua
resposta.
— O senhor foi desumano. Apenas para ter suas vontades
atendidas, estaria disposto a acabar com a vida de duas pessoas
que nada lhe fizeram?
— Nunca fiz questão de me importar com a vida de ninguém.
Para mim apenas importa aqueles que são meus. Você e sua mãe
me pertencem e de suas vidas quem cuida e decide sou eu. Se para
isso tenho que eliminar desta terra quem não me serve para nada
ou que serve para lhe convencer a fazer o que eu mando, mato sem
pensar duas vezes.
Esse homem não podia ser o meu pai. Olhei de relance para
Viktor que parecia assustado também com suas palavras, mas vi
que abaixou a cabeça. Olhei para o homem na minha frente
novamente e o enfrentei.
— Pois saiba que quem manda na minha vida sou eu. É tudo
que tenho para lhe dizer neste momento. — Seu semblante se
fechou ainda mais e ele me fez mais uma ameaça.
— Cuidado com suas palavras, Alexander. Lembre-se que
aquelas duas vidas para mim pouco importam. Dentro de um mês
você se casa. Até lá, pode fornicar com quem quiser, quantas vezes
quiser, ser o garoto de sua idade, como ousou dizer para mim, mas
dentro de um mês você se casará com a inocente Princesa Olga e
quero um neto por ano, macho ou fêmea, preciso que minha
linhagem siga em frente.
Virei minhas costas sem etiqueta nenhuma e fui para o meu
quarto, mas antes de sair ouvi sua última ordem e ela não era
direcionada a mim.
— Viktor, quero você o tempo inteiro com meu filho.
— Sim, Majestade.
Sorri de costas para o meu pai... Obrigado, papai. — Pensei.

∞∞∞
Quando coloquei a mão na maçaneta do meu quarto vi que
Viktor parou logo atrás de mim e ficaria ali até que eu entrasse,
então me virei para ele com coragem.
— Preciso conversar com você, Viktor.
— Sim, Vossa Alteza.
— Preciso de sua ajuda para dois assuntos.
— Se eu puder ajudar. Mas... tem algo a ver com o Rei?
— Um deles sim, mas quero resolver o outro primeiro e mesmo
não te conhecendo há mais tempo, sinto que posso confiar em você.
— Estou aqui para lhe servir e ao Rei, Vossa Alteza.
— O quanto você conhece do meu pai, Viktor? — Ele pareceu
confuso, mas logo me respondeu.
— Conheço tudo que meu pai me falava e o que já vi até hoje.
— Você já tinha o visto ameaçar inocentes como agora pouco?
— Viktor engoliu em seco. — Eu vi seu semblante, você estava
surpreso.
— Não, não havia visto. Só presenciei uma coisa que seu pai fez
há muito tempo, mas eu era mais jovem e não entendia muita coisa.
Só que também sempre soube dos castigos para quem não
obedecia às regras. Tenho minhas opiniões e pensamentos assim
como Vossa Alteza e sempre soube que servi a um bom Rei. Um
Rei que não deixa seu povo passar fome...
— Mas que será capaz de matar meu servo e meu Guardião se
eu não me casar com a Princesa Olga.
— O quê?
— Isso mesmo que você ouviu, os inocentes que ele ameaçou
foi o Niko e o Andrei. Estou decepcionado, Viktor, e uma coisa eu te
digo: não irei me casar.
Viktor me pareceu assustado.
— Niko não pode morrer assim. — Senti ciúmes da forma que
ele falou.
— De onde você o conhece, Viktor? Qual é a sua história com
ele?
— Apenas o conheço, pois ele sempre foi servo no meio dos
soldados.
— Nunca soube de nenhum parente dele?
— Não. Ele é sozinho no mundo.
— Meu pai não irá encostar nele, de forma alguma. Eu fujo daqui
e o levo comigo — falei e Viktor arregalou seus olhos, mas vi o
lampejo de algo diferente em sua expressão.
— Ele já sofreu muito nesta vida, é tudo que sei. Precisa
realmente de cuidados.
— Ele terá.
— Mas e o Guardião? Ele tem família?
— Tem um pai nojento e que condenou o filho a esse destino
sem felicidade que é ser um Guardião. Andrei é um ser puro e meu
amigo, meu pai não sabe disso, por favor, não comente.
— Não irei, Alteza.
— Preciso proteger os dois.
— Fique calmo, tudo irá se resolver. Não acredito que o Rei faça
alguma maldade com eles, apenas deve ter blefado para lhe
convencer do casamento. — Viktor confiava cegamente em meu
pai, isso poderia ser um problema entre nós dois.
— Viktor, você conhece ou conheceu um menino, quer dizer,
agora ele teria a mesma idade de Niko, chamado Nikolai?
Viktor ficou me olhando, mas para minha tristeza negou.
— Não, Alteza. Nunca conheci ninguém com este nome.
— Preciso achar um rapaz chamado Nikolai. Ele foi meu melhor
amigo. Quando fui enviado para meus estudos, tivemos que nos
separar. Soube que ele sumiu no mundo, mas preciso saber se ele
está vivo, Viktor. Por favor, me ajude.
— Se descobrir algo, informarei a Vossa Alteza, pode deixar.
— Obrigado. Você ficará agora sempre atrás de mim, não é?
— Sim. — Viktor fez uma cara engraçada, mas começava a
gostar dele.
— Tudo bem, confio em você. Sempre fique de olho em Niko e
Andrei, me ajude a protegê-los.
— Sim.
Entrei em meu quarto deixando Viktor do lado de fora. Fui direto
atrás de Niko passando pela passagem entre nossos quartos e o
encontrei dormindo ainda com meu roupão, que agora estava aberto
e seu corpo delicioso estava à mostra. Ele estava apagado e fiquei
pensando em como deveria ter sido sua vida no meio dos soldados.
Com certeza era com alguns deles que ele se deitava e nem posso
condená-lo.
Suas mãos castigadas, as marcas em suas costas, tudo só me
mostrava o quanto sua vida foi difícil e sofrida. E saber de tudo isso
só aumentava a vontade de cuidar dele.
Quando me dei conta, já estava com minha roupa toda aberta e
subia em sua cama indo direto com meu rosto entre suas pernas
para aspirar seu cheiro.
Ele levou um pequeno susto e quando sorri para ele, vi que
suspirou e deixou que eu me acomodasse mais entre aquelas coxas
deliciosas.
— Dormi tanto assim?
— Sim, seu jantar ainda está ali e você nem tocou.
— Não tive fome, apenas sono.
— Dormiu com meu roupão.
— Sim, me desculpe.
— Não precisa pedir desculpas. Não resisti e me atirei em cima
de você.
— Alexander... — Amava quando ele dizia meu nome. — Foi
uma loucura o que fizemos, não podemos... Oh... por Deus...
Minha boca já devorava aquela delícia na minha frente e Niko
não foi mais capaz de dizer uma palavra. Chupei com vontade,
venerando seu corpo e em segundos Niko gemia na cama entregue
aos meus carinhos que desta vez não se mantinham apenas em seu
pau, pois desci por suas bolas indo até sua entrada que lambi me
deliciando por ser com ele que eu estava.
— Alexander, assim fica difícil te dizer “não”... Eu não consigo
resis...
— Não me diz “não”, você também me quer.
— Quero muito, só eu sei o quanto eu quero — ele confessou e
eu fui direto para sua boca e nos beijamos apaixonadamente. Niko
se agarrou ao meu corpo e nos embolamos em sua cama entre
beijos que faziam barulho de tão gostosos que estavam.
Estar com Niko era esplêndido, assustador e estranho. Era
esplêndido por nunca ter me entregado tanto a alguém, por nunca
ter sido tomado desta forma por um desejo tão intenso e pelos
mesmos motivos era assustador, pois nunca senti nada parecido e
pior, já sentia que não era um simples desejo carnal, estava indo
além, muito além. Tê-lo em meus braços, entregue, submisso e tão
meu me fazia sentir o maior dos homens, uma muralha para
defendê-lo de qualquer maldade de quem quer que fosse.
Mas era também estranho, pois sempre que estava nos braços
dele esquecia totalmente de Nikolai, a dor da saudade ia embora e
parecia loucura, mas a sensação que eu tinha era que
simplesmente o havia encontrado. Isso me assustava demais.
Meu roupão que estava no corpo de Niko voou pelo quarto assim
como minhas roupas e agora estávamos os dois nus. Era impossível
dizer em qual parte eu começava e ele terminava. Niko fodia minha
boca com aquela língua deliciosa, enquanto meus dedos entravam
nele. Ele só me soltava para gemer de olhos fechados e eu o
achava uma pintura nessas horas.
Ele era deslumbrante. Sua pele morena, os cachos nos cabelos,
os lábios finos, mas muito bem desenhados, eram parte do homem
sensacional que que estava me enlouquecendo.
Tinha medo de admitir em voz alta tudo que estava sentindo,
mas meu coração sabia que era muita coisa. Estava completamente
apaixonado por ele e sentia que esperei tempo demais por isso e
era como se ele também sempre estivesse à minha espera também
e agora, finalmente, havíamos nos encontrado.
Fiquei de joelhos na cama para admirar o homem embaixo de
mim por inteiro e fui tomado totalmente pelo coração. A razão, nem
sabia mais o que significava.
— Eu quero você. — Foram suas palavras e elas foram
responsáveis por um vulcão em erupção que se apossou de mim.
Mergulhei, literalmente, em Niko indo direto para os seus lábios
deliciosos e enquanto minha língua invadia sua boca, eu também
invadia sua intimidade e ele gemeu rouco e sofrido.
Estava no céu, estava dentro dele sendo abraçado por seu
interior quentinho e apertado. Respirei fundo com nossas testas
unidas e de olhos fechados.
— Você é uma delícia — falei depois de algum tempo.
— Sou louco pelo cheiro que você tem — ele respondeu
passando seu nariz pelo meu pescoço arrepiando os pelos do meu
braço.
Depois dessa declaração, meu corpo passou a ondular por cima
do dele, entrando e saindo fazendo nós dois gemermos juntos e
sincronizados. Ele falava do meu cheiro, mas era o dele que me
enlouquecia enquanto eu lambia seu pescoço, chupava seu peito ou
simplesmente deixava meu rosto entre os cachos do seu cabelo.
Nos virávamos na cama completamente entorpecidos um pelo
outro e naquele momento não havia a tirania do pai, nenhum
casamento arranjado, minhas inseguranças ou medos. Havia eu e
Niko nos perdendo no corpo um do outro, gemendo juntos, suando
juntos e devorando nossas bocas.
Ele sentou em mim e deitado ali naquela cama, contemplei o
meu coração ser roubado, presenciei minhas mãos serem atadas e
me vi refém dele em todos os sentidos. Niko me tinha totalmente. Eu
era dele e sei que jamais me teria de volta.
A cada mexida que ele dava meus olhos reviravam, mas foi
quando ele sorriu que eu paralisei. Como podia duas pessoas
sorrirem tão iguais? Eu já tinha visto ele sorrir em outro momento e
fiquei prestando atenção, mas agora foi tão igual que fui arrebatado
por uma felicidade sem igual.
A verdade era que eu deveria sentir ainda mais saudade de
Nikolai, mas como disse, nos braços de Niko tudo isso passava.
Será que Andrei tinha razão? Eu estava projetando meu melhor
amigo nele? Mas... nunca pensei em Nikolai desta maneira, apesar
de que cada boca que beijei, era dele que eu me lembrava e isso
sempre me confundiu.
Depois do sorriso, Niko veio por cima de mim e me beijou. Eu
nem pensava em títulos, em quem eu era, em quem ele era, só
conseguia pensar no quanto desejava esse homem e me sentia feliz
em seus braços.
Nos virei na cama e investi nele com mais vontade. Ele parecia
um gatinho manhoso e sorri me deliciando com seu jeito de ser. Saí
de dentro dele e o virei de costas sem avisar, mas ao fazer isso todo
o ar em meus pulmões foi roubado ao ver suas cicatrizes de perto.
Por segundos fiquei sem ação, mas o medo de que ele pensasse
que fiquei chocado a ponto de ter nojo, fez com que eu seguisse
meu propósito bem rápido e entrei nele novamente, mas fiz isso
conforme ia distribuindo beijos por todas as marcas. E no fim, deitei
meu corpo por cima do dele e cobri seus braços com os meus.
— Você é perfeito — falei em seu ouvido.
— Não queria que você tivesse que ver, mas você me virou
rápido.
— Não se esconda de mim, não escondi nada de você. — Niko
enterrou sua cabeça entre seus braços e ouvi que chorava.
— Shhh... Está tudo bem. Ninguém jamais nesta vida fará outra
marca em você. — Nisso, Niko apoiou seu rosto de lado e mesmo
com o rosto molhado de lágrimas ele me disse a coisa mais linda
que já ouvi.
— Você me marcou.
— Eu?
— Sim, marcou o meu coração.
— Então você também é culpado.
— Sou?
— Sim, você é um ladrão de corações, porque o meu não me
pertence mais, está em seu poder. — Aquele sorriso lindo estava lá
e foi movido por ele que continuamos a nos deliciar e agora com ele
de quatro para mim, minhas investidas ficaram mais rápidas. Vendo
Niko gemer e chegar ao seu prazer, perdendo a força dos braços
que sustentavam o seu corpo, fez com que eu chegasse ao meu,
inundando seu interior e desabando em suas costas.
Estávamos suados, melados e nem me importava. Estava em
suas costas novamente o abraçando por completo.
— Você irá dormir comigo? — perguntou depois de um tempo.
— Quero dormir com você, seja aqui ou em minha cama. Só
preciso dormir com você em meus braços.
— Eu durmo.
Naquela noite cuidei de Niko e ao invés dele me dar um banho,
foi eu que o lavei inteiro, beijava, ensaboava e era contemplado com
o sorriso mais lindo do mundo.
De volta à cama, apagamos em segundos, embolados embaixo
das cobertas. Eu, o Príncipe, na cama do meu servo, que na
verdade, se tornava o meu amor.
Capítulo 7
Andrei
Estava em meu quarto e não conseguia descansar. Minha
mente estava fervendo e um medo estava se apossando do meu
corpo. O Rei pensou em me matar sem nem pestanejar e isso
estava me desestabilizando.
Sabia que Alexander não ia sucumbir as ordens do seu pai, ele
até falou aquilo tudo no jantar, mas ele não ia se casar, eu o
conhecia bem demais, tão bem, que sabia que ele não obedeceria e
que estava muito envolvido pelo servo.
Bastava olhar para ele quando falava de Niko e isso era ainda
mais loucura. O rapaz já tinha uma vida miserável e agora poderia
ser morto, assim como eu.
— Oh, Deus. Não sei o que faço. Não irei trair a amizade de
Alexander, simplesmente não consigo, mas realmente não sei o que
fazer — falo comigo mesmo em meio a minha solidão em meu
quarto.
Olho tudo em volta de mim e o luxo que este lugar tem, jamais
conheci. No castelo, onde sempre vivi, as coisas são mais rústicas,
vamos dizer assim. O luxo ficava para os quartos dos herdeiros que
recebíamos para o treinamento.
Cresci sendo ensinado que um Guardião não deve se render aos
bens materiais, aos prazeres da carne, aos amores que existem
apenas em livros. Se eu chegasse a casar-me deveria saber que
era apenas para procriar com minha esposa e expandir a linhagem.
Por isso nunca me interessei em tal coisa. Uma vez, uma única
vez, ousei ler um livro de romance que achei em um dos quartos de
um futuro Príncipe e aquilo era proibido, principalmente para
aqueles como eu. Por instantes, o que meu coração sentiu me fez
pensar que aquele livro tinha alguma bruxaria e nem sabia se isso
existia de fato, pois ele me envolveu e me fez desejar algo que
jamais poderia ter.
Jamais o li novamente e o queimei. Resolvi ser imaculado e
assim iria viver.
Resolvo ir à cozinha beber água. Poderia pedir à minha serva,
mas a dispensei para que dormisse e realmente estou precisando
andar e me distrair um pouco.
Quando abro a porta do meu quarto, vejo o Comandante Viktor
parado no corretor de frente a porta do Príncipe e estranho isso. A
princípio ele não me olha, parece distraído ao olhar para um ponto
qualquer na porta.
E mais uma vez me peguei o reparando. Sua armadura era
reluzente e não escondia que ele era um homem alto e bem forte,
mas não permitia ver alguma pele.
Seus cabelos negros e que chegavam quase ao seu ombro,
brilhavam e estavam sempre esvoaçantes quando ele andava ou se
abaixava para fazer reverências.
Até esqueci que ia beber água e estava encostado no batente da
porta quando ele virou a cabeça de lado e me pegou no flagra. Senti
que minha bochecha esquentou e com certeza atingiu alguns tons
diferentes de vermelho. Fiquei ereto na hora e não sabia o que
fazer.
Engolindo em seco, caminhei para passar por ele, mas não
conseguia encarar seus olhos. Apenas falei um “Comandante”,
baixinho, como se o cumprimentasse e ia passando com vontade de
correr.
Mas meu braço foi segurado e eu quase desfaleci. Por que ele
me segurava? Mas o principal era, por que o toque dele me fez
sentir calor no local em que ele apertava?
— Guardião, onde vai a essa hora? — Sua voz era calma, rouca
e gentil, mas ele ainda não tinha me soltado.
Olhei para sua mão em mim e depois para ele. Esse gesto fez
com que ele me soltasse rápido e pedisse inúmeras desculpas.
— Tudo bem, Comandante. Está perdoado.
— Não devia ter feito isso, me perdoe de verdade, mas é que
estou com algumas coisas na cabeça e levei um susto com você
indo para fora do seu quarto.
— Somos livres para andar pelo castelo, não?
— Sim, claro. Eu só... quer dizer... — Ele suspirou derrotado de
cabeça baixa. Fiquei comovido vendo-o daquela forma e por
instantes me perguntei o que se passava em sua cabeça para o
desestabilizar assim.
Mas bastou seu olhar se levantar e seus olhos focarem em mim
novamente para que agora eu sentisse calor por todo meu corpo.
Misericórdia!
— O Guardião é livre para ir onde quiser. Só evite ir aos jardins a
essa hora.
— Só ia beber água.
— Sua serva já se recolheu?
— Sim, eu a liberei.
— Posso pegar se desejar?
— Não, não precisa, eu mesmo pego, mas... ficou tudo bem com
o Alexander depois que eu vim para os meus aposentos?
— Não. — Viktor suspirou.
— Tudo bem, falarei com ele amanhã.
— Prometi a ele que protegeria você e o servo Niko.
— Ele então lhe contou da ameaça que recebemos?
— Sim.
— Você não irá dormir?
— Irei agora. Como disse, acabei me distraindo. Tenha uma boa
noite, Guardião.
— Obrigado, o senhor também, Comandante.
Observei o Comandante ir para o corredor oposto e por fim
respirei. Já não bastasse todas as minhas preocupações e agora
isso. Passei a reparar em um homem? Não posso cometer essa
blasfêmia, isso é imoral e eu mais do que ninguém não posso me
permitir a tal coisa.
Vou quase que correndo na cozinha, bebo água e volto depressa
para o meu quarto. Quando entro, retiro toda a minha túnica e vejo
que estou suando por debaixo dela.
Já havia me banhado e decido me deitar apenas coberto, sem
nenhuma roupa em minha pele. Em meu castelo não poderia fazer
tal coisa, mas aqui, ninguém saberia e eu me refrescaria de
imediato.
Só que eu era ingênuo demais...
Era plena madrugada, quando despertei assustado, com os
cabelos grudando no rosto, respirando rápido como se tivesse
corrido muito, estava estarrecido. Suava duas vezes mais do que
quando dormi, mas foi a vida entre minhas pernas que me chocou.
Havia tido um sonho imoral e nele o Comandante estava em
todos os momentos. Ele era o responsável por eu acordar neste
estado deplorável.
— Meu Deus! Eu pequei. Mesmo que tenha sido em sonho, mas
eu pequei.
Olhei novamente para o meio das minhas pernas e só havia
ficado assim, uma vez, uma única vez e fiz questão de apagar da
minha memória. Foi quando li aquele maldito livro que parecia
conter um feitiço.
Minhas mãos tremiam e em minha mente ainda havia resquícios
do sonho devasso que tinha acabado de ter. O quarto estava frio,
pois estávamos com uma mudança de tempo repentina e que
anunciava uma grande tempestade vindo, mas mesmo assim, fui até
o banheiro andando devagar, porque....
— Essa coisa não diminui! Misericórdia, isso é tão errado. Foi
com um homem que sonhei! Isso só pode ser influência de
Alexander que é o maior devasso que conheço, só pode — falava
comigo mesmo enquanto preparava meu banho com uma água
congelante.
Entrei na banheira assim mesmo e rezava para não ficar doente.
Tive vontade de gritar ao me sentar, mas deixei que aquela água
viesse até o meu peito e que limpasse as impurezas do meu ser.
Só dentro dela que o meu... que o meu... Ah! Que minha
intimidade voltou ao normal. Meu queixo batia e via as pontas dos
meus dedos roxas pela temperatura da água.
Quando voltei para o meu quarto já vestido com um roupão,
sentia meus pés dormentes de tanto frio e vesti uma roupa bem
quentinha para enfim deitar em minha cama novamente.
Só que não preguei mais os olhos.
Na manhã seguinte, levantei e me vesti de forma decente quase
tapando meu rosto se fosse possível e fui até o quarto do servo Niko
para ver se já havia despertado e saber como ele estava já que
Alexander não o levou ao fatídico jantar de ontem.
Bati na porta duas vezes e a abri para quase desfalecer.
Alexander e Niko dormiam embolados um no outro e parecendo
sentir a minha presença ali, Alexander levantou a cabeça, arregalou
os olhos e deu o sorriso mais devasso do mundo. Deus, esse não
tem limites e nem mais conserto!
O meu querido Príncipe me enxotou com a mão e ainda me
pediu silêncio para que Niko não acordasse. Bufei e saí devagar
daquele quarto. Tudo só piorava. Agora eles tinham consumado o
fato e meu pescoço já podia sentir o arranhar da guilhotina.
Fui andando e cheguei em uma linda sacada que tinha perto do
Grande Salão e fiquei ali um bom tempo pensando. A vista estava
escondida por uma neblina, mas ela não foi suficiente para esconder
o homem que chegava a cavalo com seus cabelos esvoaçantes.
Em meu sonho, o via perfeitamente como agora. O Comandante
desceu do cavalo elegantemente, ajeitou sua espada e falou com
soldados que estavam a postos estrategicamente em todo o redor
do castelo.
Mas parecendo sentir que alguém o observava, ele olhou para
cima e me flagrou ali. Virei tão rápido para fugir do meu flagrante
que esbarrei em alguém que me segurou, era Alexander.
Suspirei e ele percebeu o meu nervosismo.
— Bom dia, Andrei. Aconteceu algo?
— Bom dia. Fora você ter dormido com o seu servo? Não. —
disse sussurrando.
— Dormi com Niko, esqueça a palavra servo. Nunca o tratei
como um. Desculpe você ter nos visto daquela forma, mas estava
cansado demais para voltar ao meu quarto e ele também.
Queríamos dormir um nos braços do outro — Alexander falava e
podia ver em seu rosto o quanto estava feliz.
— Tudo só piora com isso.
— Não piora, só melhora. Estou apaixonado, Andrei.
Arregalei meus olhos, mas nada podia fazer.
— Eu só não quero morrer.
— Você não vai.
O Comandante chegou perto de nós e me estremeci todo.
Cheguei a ficar enjoado, mas era pelo nervoso que atingia meu
estômago.
— Bom dia, Comandante — Alexander falou simpático.
— Bom dia, Alteza. Guardião. — Viktor falou em uma reverência
diferente desta vez, pois ele me cumprimentou encarando meu
olhos e com certeza corei.
Depois de uma breve conversa, avisei que iria ver Niko e
Alexander disse que ele estava acordado.
— Seu pai ainda vai lhe chamar atenção por esse menino não
andar com você — falei até me esquecendo do Comandante e ele
nos olhava.
— Ele estava cansado, o deixei relaxar. — Arregalei meus olhos
e fui até o servo.

Nikolai
Estava devidamente vestido, de banho tomado e alimentado.
Alexander avisou que tomaria café com a Rainha e me pediu para
ficar no quarto. Tinha medo disso dar problema, mas o que eu
poderia fazer?
Ainda estava anestesiado pela noite que tivemos. Havia
acontecido, eu e Alexander fizemos amor e jamais senti tudo que
ele me mostrou enquanto estava em seus braços. Estava muito
apaixonado, meu melhor amigo havia se tornado meu amor e a
profundidade disso fazia a minha mentira pesar ainda mais e já
começava a pensar em uma maneira de contar a ele.
Batidas em minha porta me tiraram dos meus pensamentos e
anunciaram a entrada do Guardião. Logo fiz uma reverência a ele.
— Bom dia, Niko. Como estão suas mãos?
Estendi minhas mãos para ele e até que estavam melhorzinhas.
O óleo estava tirando as peles mortas sem eu ter que puxar.
— Estão até cicatrizando melhor.
— Sim, as peles saem sem que eu as puxe e isso não fere. Os
calos não têm como sumir, mas já os sinto mais suaves.
— Dormiu bem? — ele perguntou de repente e engoli em seco,
balançando a cabeça em confirmação.
O Guardião foi até a porta e a trancou, voltando para mim.
— Niko, sei o que aconteceu aqui ontem. — Quis morrer de
vergonha. — Minha obrigação era reportar isso ao Rei, mas não
farei isso, pois tenho Alexander como um grande amigo. — Respirei
fundo aliviado.
— Eu...
— Me deixe continuar, por favor. Ontem você não estava no
jantar e aconteceu uma coisa.
— O quê?
— É, o Alexander não te contou. Foi um jantar para que ele
conhecesse a princesa prometida a ele.
— O quê?
— Isso mesmo. Não estou aqui querendo criar desavenças entre
vocês, mas preciso te alertar. Alexander não irá se casar com ela,
mas é uma situação delicada e perigosa.
— Por que perigosa?
— O Rei ontem ameaçou de morte você e eu e a deserdar o
Alexander caso ele falasse alguma gracinha no jantar.
— Meu Deus.
— Ele não falou nada que causasse uma tragédia, mas ele
precisa dar um jeito, pois o casamento acontecerá daqui um mês.
— Isso tudo é loucura! Não sei o que fazer ou pensar. Estou com
medo.
— Também estou, mas Alexander jurou que não deixará nada
acontecer conosco e parece que o Comandante também está de
certa forma ajudando.
— Viktor?
— Sim. — Andrei suspirou. — Niko, apenas tome cuidado. Se
algo acontecer com você, não sei o que será do Alexander.
Observei Andrei falar e vi que ele era uma boa pessoa. Ele
estava passando por cima de seus princípios e obrigações por
Alexander.
— Obrigado por tudo que você está fazendo. Não sou um ser
digno, mas sou agradecido.
— E por que você não é digno?
— Sou um servo, não tenho direitos e cometi um grande pecado.
Me apaixonei pelo Príncipe e não tinha esse direito, por nossas
posições e por ele ser um homem.
— Não sou ninguém para julgar, isso somente Deus pode fazer.
Só não quero que nada aconteça ao meu melhor amigo, o único que
tive em toda minha vida solitária.
Ele também é meu melhor amigo, Andrei. Mas hoje, também
é o meu amor.
— Nada vai acontecer com ele. — O Guardião balançou a
cabeça e se retirou do quarto.
Fiquei pensativo durante um tempo, até que outra batida em
minha porta me assustou.
— Sou eu, Niko. Viktor.
Sorri por ser ele e abri a porta. Viktor entrou me olhando e deu
um pequeno sorriso.
— Está tudo bem?
— Mais ou menos. As coisas não andam boas, não é? — Viktor
suspirou.
— Estou me arrependendo de ter lhe trazido para o castelo. Não
quero que nada aconteça com você, mas realmente não esperava
conhecer um Príncipe tão diferente, tão cheio de determinações e
que fosse capaz de peitar o pai.
— Não sinta. O que estou vivendo, posso até morrer por isso.
— Não fale isso. Mas... aconteceu algo entre você e o Príncipe?
— Se o senhor quer saber se me deitei com ele a resposta é
sim.
— Meu Deus, mas ele...
— Ele é um homem que gosta de homens, assim como eu. —
Abaixei minha cabeça envergonhado.
— Não irei julgar você e nem ele, mas agora muita coisa começa
a fazer sentido, principalmente ele se recusar a casar com uma
princesa tão linda.
— Ela é bonita?
— Demais, mas não se preocupe, ele mal olhou para ela. —
Sem querer sorri com a fala de Viktor. — Preciso te perguntar algo,
pois prometi que o ajudaria em um assunto. Você conheceu outro
rapaz com o mesmo nome que o seu?
Engoli em seco.
— Não, por quê?
— O Príncipe busca por um rapaz mais ou menos da sua idade e
com o mesmo nome, Nikolai.
— Ele me perguntou também se eu conhecia alguém com esse
nome, mas respondi que não. — Odiava ter que mentir para o
Viktor.
— Eu nunca soube de outro a não ser você, por isso quando ele
me perguntou, levei um susto, mas disfarcei e queria vir confirmar.
Ele disse que o rapaz sumiu no mundo, deve ter sido por isso então
que nunca o conheci.
— Deve ser. Estou com saudade da minha mãe. O senhor pode
entregar um bilhete para ela?
— Claro, escreva que eu levo.
— Onde está o Príncipe?
— Com os pais no café da manhã.
— O Rei irá brigar que não estou lá.
— Fique calmo.
Fui até o quarto de Alexander bem rápido e peguei uma pena em
seu tinteiro. Escrevi meu bilhete e entreguei a Viktor. Ele sorriu e
logo foi embora levando a minha saudade escrita, pois sentia muita
falta da minha mãezinha.

Viktor
Estava indo até a cozinha levar o bilhete de Niko para sua mãe e
minha cabeça fervia. Nas últimas horas escutei e senti coisas que
definitivamente não estava acostumado.
Em primeiro lugar vinha a conduta do Rei. No tempo em que o
sirvo como o seu Comandante já o vi dar ordens extremas, ele
sempre foi impiedoso contra seus inimigos mas nunca presenciei
nada contra um inocente. A única imagem que jamais saiu da minha
memória era a do dia em que Niko foi chicoteado quando ainda era
uma criança, mas acredito que ele tenha feito algo muito grave para
tal coisa, embora isso não justifique.
Presencio sempre o Rei não deixar o seu povo passar fome e
cuidar bem dos servos que vivem no castelo. Mas uma frase do meu
pai dita a mim há tempos atrás sempre foi uma incógnita e não sei
por que ela veio em minha cabeça agora.
“Seja digno, principalmente com você mesmo e seus
pensamentos. Acredite na sua verdade sempre. Você serve ao
Rei e tem suas obrigações, mas a principal delas começa com
você.”
Entendi que ele queria que eu fosse verdadeiro comigo, mas em
que ponto exato ele queria chegar me dizendo tal coisa? Ele me
disse essas palavras em seu leito de morte e na presença do Rei,
mas olhando diretamente para mim.
E em segundo lugar vinha o Guardião. Desde a primeira vez que
bati meus olhos nele, algo me chamou a atenção: sua beleza.
Jamais tinha reparado na beleza de outro homem, mas a dele
me desconcertou. O cheiro de rosas que sinto cada vez que ele está
por perto parece impregnado em meu nariz cada vez mais. E ontem
saber que ele e Niko foram ameaçados de morte me chocou
completamente.
Tenho em minhas certezas que o Rei jamais faria isso, são duas
pessoas inocentes que não devem pagar pelas escolhas do
Príncipe, outro que também me surpreendeu por sua conduta
destemida.
Mesmo sabendo que ele tem suas obrigações, admiro sua
coragem e agora sabendo que ele e Niko estão envolvidos, percebo
que ele não quer trair os seus sentimentos ao se casar contra sua
vontade e ver que ele não é esnobe a ponto de discriminar seu
servo por sua posição diante da sociedade, ele ganha ainda mais a
minha admiração. Alexander será um Rei com princípios para o seu
povo e com quem ele se deita não diz respeito a ninguém.
Entro na cozinha depressa, antes que o Rei me procure e avisto
Polina indo pegar algo na dispensa. Cumprimento as outras
cozinheiras e chego atrás dela lhe assustando.
— Oh, Comandante! Que susto!
— Me desculpe, Polina. Mas trago uma mensagem de seu filho,
ele está com saudades.
Polina recebe das minhas mãos o bilhete de Niko e as lágrimas
que escorrem de seus olhos me comovem.
— Estava mesmo querendo que você aparecesse.
— Aconteceu algo?
— O Príncipe me procurou.
— Alexander? Mas por quê?
— Ele está em busca de seu melhor amigo e eu menti dizendo
que Nikolai sumiu no mundo.
Aquilo me confunde momentaneamente.
— Espera, Polina. Do que você está falando? Você conhece
esse Nikolai que o Príncipe procura?
— Você também conhece — ela fala e o choque da verdade me
atinge como um soco.
— É o Niko? Ele também se chama Nikolai.
— Você sabe o nome verdadeiro dele?
— O nome eu sei, mas prometi apenas chamá-lo de Niko como
sempre vi. Agora, a história dele, de verdade, jamais soube.
Polina olhou em volta para ver se alguém estava perto de nós e
como viu que tudo estava tranquilo revelou a verdade.
— O amigo que o Príncipe procura é meu filho, Nikolai. Coitado,
ele nem faz ideia de que está ao lado dele. Nikolai tinha apenas
nove anos quando tudo aconteceu. Meu filho se tornou um servo
castigado por ter sido o melhor amigo do Príncipe um dia. Posso
morrer por estar lhe contando isso, mas preciso que o senhor saiba
para proteger meu filho. Por isso levei um susto tão grande quando
veio me contar que meu filho estava aqui e sendo servo do Príncipe.
Eu estava... quer dizer, eu nem sabia nomear a forma que eu
estava me sentindo.
— A senhora está me dizendo que eu vi uma criança de apenas
nove anos ser chicoteada, covardemente, apenas por ter sido amigo
de outra criança?
— Não era uma simples criança, era o Príncipe. E o senhor mais
do que ninguém conhece as regras de que ninguém deve chegar
perto do Alexander.
— Mas Nikolai era apenas uma criança! — falei mais alto e
Polina tocou minha armadura.
— Por favor, apenas proteja o meu menino, ele já sofreu muito.
— Nada vai acontecer a ele, tenha certeza disso.
Saí daquela cozinha com a mente quase destroçada. Niko queria
me contar e eu não deixei. Meu Deus, imagino tudo que esteja
passando em seu coração e na sua cabeça estando tão perto de
Alexander, tendo que mentir para ele e agora os dois estão
apaixonados!
— Meu Deus! Que destino é esse? — falo comigo mesmo ao
virar no corredor que leva ao Grande Salão, mas acabo esbarrando
com alguém que parece tão desestabilizado quanto eu.
Só tive tempo de segurar o Guardião antes que ele fosse ao
chão, mas mesmo assim, acabei caindo de joelhos, mas não deixei
que seu corpo se machucasse.
— Misericórdia! Eu não lhe vi — ele disse, ofegante.
— E eu também não, me perdoe. Estava vindo rápido.
Ele estava em meus braços e me olhava com aqueles lindos
olhos azuis que pareciam o céu.
— Me deixe lhe ajudar — falei o levantando e ele começou a
ajeitar sua roupa.
— Estava procurando o senhor mesmo.
— A mim?
— Sim, o Rei está possesso que o Príncipe está no café da
manhã e sem o seu servo. Os ânimos não estão muito bons e ele
exigiu que eu lhe chamasse para buscar o Niko.
— Tudo bem — respirei fundo. — Vou buscá-lo.
— Por favor — o Guardião falou e aquele cheiro de rosas estava
em volta de nós.
Balancei a cabeça concordando e fui até o quarto de Niko. Assim
que ele abriu a porta, percebeu que algo não estava bem.
— O que aconteceu?
— O Rei exige a sua presença no café da manhã servindo o
Príncipe.
— Oh, meu Deus! Me leve então.
— Preste atenção no que vou te dizer. Precisarei vestir uma
armadura na frente do Rei, quero que saiba disso.
— Como assim?
— Você verá. Vamos!
Niko foi ao meu lado até quase estarmos perto do Rei, mas
antes que todos nos vissem de fato, segurei forte o braço dele, que
me olhou assustado, mas entendeu o que eu iria fazer.
Assim que entramos, tanto o Guardião, quanto o Príncipe me
olharam assustados, no mínimo não entendendo a minha postura.
— Até que enfim você trouxe esse ser. — O Rei se levantou e
Alexander também, assustado.
— Pai...
— Sente- se e cale a boca, Alexander. Não estou falando com
você neste momento. — Engoli em seco e o desespero de
Alexander estava passando pra mim. — Onde meu filho estiver,
você tem que estar junto. Para isso que serve gente como você — o
Rei falou para Niko.
— Desculpe, Majestade.
— Pai, eu que ordenei que ele ficasse no quarto.
— O que você tem que saber aqui, os dois, na verdade, é que
quem tem o poder da ordem aqui sou eu. — O Rei pegou a nós
todos desprevenidos quando virou a mão no rosto de Niko o levando
ao chão.
Vi o sangue sair de sua boca e olhei para aquele homem na
minha frente desconhecendo que Rei era esse que eu servia com a
minha vida. Mas naquele momento não podia fazer nada, não se eu
tinha a intenção de ajudar a esses dois.
— NIKO! — Alexander gritou e seu pai virou com toda fúria para
ele.
— Encosta nele e ordeno que o matem agora mesmo! —
Alexander congelou no lugar. — E você, Guardião, acho bom que
aconselhe bem o meu filho, senão pela primeira vez o pátio irá
presenciar um ser imaculado ser degolado. — O Rei esbravejava e
a Rainha tinha os olhos assustados vindo de encontro ao seu filho e
o abraçando. — Viktor, leve esses dois que não estão me servindo
de nada para seus quartos e não saia de perto do meu filho. Onde
você estava?
— Tinha ido conferir a posição dos soldados, Majestade. Sabia
que seu filho estava com o senhor. — Menti e sem remorsos.
— Hum, pois bem. Leve essas coisas daqui, pois eles já estão
me irritando.
Peguei Niko pelo braço novamente e puxei o Guardião também
que tinha os olhos cheios de lágrimas e me olhava com pavor. Isso
doeu em mim.
Só quando estava no corredor dos quartos foi que soltei os dois
e imediatamente retirei o lenço que fazia parte do meu uniforme, do
pescoço e limpei a boca de Niko. Tudo sob o olhar assustado do
Guardião.
— Me perdoe, mas eu precisava fingir na frente dele. Meu Deus,
não imaginava que ele faria isso com você.
— Não se preocupe, estou bem. Só preciso parar de tremer. —
Trouxe Niko para os meus braços e o abracei com força. Fiquei
fazendo um carinho em seus cabelos até que olhei para o lado e o
Guardião nos olhava e tinha lágrimas escorrendo pelo rosto.
Soltei Niko devagar e fui até ele que se encolheu um pouco, mas
segurei seu rosto com minhas duas mãos. Senti que ele parou de
respirar nesse momento.
— Me desculpe por tudo, mas era preciso a encenação. Se
quero ajudar vocês, ela era muito necessária. Espero não ter
machucado o seu braço — falei, fazendo um carinho na bochecha
dele com a ponta dos meus dedos e ele me olhou de forma mais
suave.
— Não... não machucou. Só preciso me sentar. Meus joelhos
querem ceder.
— Vão os dois para o quarto. Irei ver Alexander agora.
O Guardião entrou no quarto de Niko com ele e quando fui atrás
do Príncipe, ele virou o corredor, mas já veio com um soco armado
para mim com toda sua fúria. Só tive tempo de desviar e prendê-lo
em meus braços, o imprensando na parede.
— Me solta, seu covarde.
— Por favor, Alexander, se acalme. Estou com você e o Niko.
Por favor, acredite em mim. Pode entrar no quarto dele e perguntar,
ele irá confirmar.
Soltei o Príncipe devagar e ele bufava de raiva.
— Não vou continuar aqui, vou pegar o Niko e o Andrei e ir
embora.
— Calma. Até mesmo para tomar essa atitude você precisa ter
calma. Precisamos acalmar os ânimos do Rei e fingir que
obedecemos a todas as suas ordens e enquanto isso, vamos pensar
em uma solução.
— Não sei se consigo mais, ele passou dos limites. Ele bateu em
Niko e eu só senti vontade de voar no pescoço dele!
— Você precisa tentar, Alexander. Por favor, pelo Niko, pense
nele. Precisamos ter um plano bem arquitetado para passarmos
pelos grandes portões sem sermos vistos. Nós teremos toda a
Guarda Real atrás de nós, não será tão fácil assim.
O Príncipe me olhou e concordou, mesmo bufando de raiva.
— Meu pai mandou te dizer que foi resolver alguns assuntos
acompanhado de Salazar.
— Salazar?
— Sim, por quê?
— Esse homem é cruel. Ele gosta de judiar dos presos e não
sabia que seu pai tinha intimidade a ponto de sair acompanhado
dele.
— Parece que ele tem e escondido de você.
— Tudo bem. Agora entre e cuide de Niko. Andrei está aí com
ele.
— Está bem.
Assim que Alexander entrou, fui para o meu quarto decidido a
mexer no baú de lembranças do meu pai a fim de achar algo que
me desse uma luz. Estava me sentindo na beira de um penhasco.
De repente, tudo em que eu acreditava, as minhas convicções,
estava desmoronando. De um lado, o Rei, a quem dei a minha
devoção e era capaz de dar minha vida para protegê-lo, se
mostrava um monstro que foi capaz de chicotear um ser humano
quando ele ainda era uma simples criança apenas por ele ter afeto
ao seu filho. Um monstro que bate em uma pessoa sem ela ter feito
absolutamente nada como agora e ainda quer comandar a vida do
próprio filho. De outro, esse Guardião, que me desestabilizou ainda
mais por me olhar com medo, sendo que tudo que eu queria era
defende-lo da tirania do Rei.
Estou confuso e me sentindo perdido como nunca me senti. Abro
o baú e vejo vários pertences do meu pai. Ele era um homem
honrado e me ensinou a ser assim. Não é possível que ele nunca
tenha visto esses comportamentos do Rei. Bom, eu também em
quatro anos não tinha visto e agora tudo veio como uma avalanche.
O baú está vazio e os pertences espalhados em minha cama,
mas não acho nada que possa me dar uma luz e na raiva, chuto o
baú com força e um fundo falso se levanta. Franzo a testa e começo
a levantar o pedaço de madeira que se soltou e então encontro um
diário e ele está todo escrito com a letra do meu pai.
Guardo tudo que espalhei, ficando apenas com o diário e
folheando, chego a uma parte que diz:
“Sirvo o Rei como um valente soldado e crio meu filho para
quem sabe, ser seu Comandante um dia. Talvez a honra que
Viktor carrega seja a luz na vida do Rei que parece andar sobre
as trevas o tempo inteiro. Na frente da Rainha e de seu povo,
Vossa Majestade sorri e parece ter compaixão, mas por trás, ele
é impiedoso, não perdoa, foi capaz de chicotear uma criança,
mata covardemente os presos que não o ajudam em nada, tem
casos com várias mulheres selecionadas por Salazar que
parece seu cão de guarda, mais do que Ivan. Que meu filho
honre o seu destino, nele coloco minha fé para que o Rei
melhore e mude com o tempo.”
— Meu Deus, pai. Por que você nunca me contou sobre a
verdadeira face do Rei? — falo sozinho e então acabo de descobrir
que a amizade com Salazar é antiga e desde que assumi o
comando, é escondida de mim. — Preciso tirar o Príncipe, o Niko e
o Andrei daqui. Sumir no mundo com eles.
Respiro fundo tentando pensar com clareza e me acalmar. E
ainda tem o fato de Niko ser o Nikolai, o menino chicoteado há 12
anos atrás e Alexander não saber disso.
Bom, acho melhor que não saiba agora mesmo, senão uma
tragédia maior pode acontecer e tudo a partir de agora tem que ser
ainda mais calculado para que possamos fugir.

Alexander
Estou de joelhos cuidando da boca de Niko que finalmente parou
de sangrar. Havia dado um copo de água para Andrei que também
finalmente parou de tremer.
— Me desculpem.
— Por que está pedindo desculpas, Alexander? — Andrei me
perguntou.
— Por ter um pai como ele — respondi me levantando e
trazendo Niko para os meus braços.
Andrei ficou nos olhando e deu um pequeno sorriso abaixando a
cabeça envergonhado. Toquei seu rosto e ele me olhou na hora.
— Vem cá.
Mesmo com vergonha, ele se levantou e me abraçou junto com
Niko.
— Viktor disse que precisamos fazer meu pai pensar que
estamos cumprindo as suas ordens veementemente. E enquanto
isso, vamos pensar em um meio de ir embora.
— Tenho tanto medo. — Andrei me apertou mais.
— Vai dar tudo certo, confie em mim.
— Vou para o meu quarto e deixar vocês a sós. Estou com muita
dor de cabeça.
Observei Andrei sair e olhei para o meu amor em meus braços.
Dei um beijo suave em seus lábios e ganhei um carinho no rosto.
Não aguentei mais esconder meus sentimentos.
— Estou apaixonado por você, Niko.
— Alexander, preciso te contar uma coisa, eu...
— Filho? — Ouvi a voz da minha mãe em meu quarto e tive que
deixar Niko.
— Preciso ir ver a minha mãe.
— Vai lá.
Entrei pela passagem e a encontrei em pé no meio do meu
quarto.
— Nossa. — ela tinha as mãos no coração. — Por instantes
achei que...
— Eu tinha fugido.
— Sim.
— Eu vou fazer isso, mãe. — Ela arregalou os olhos e veio me
abraçar.
— Não faça isso meu filho, por favor.
— Não posso viver aqui com ele, mãe. Não quero me casar com
aquela Princesa. Sei que serei uma decepção para a senhora,
mas... eu gosto de homens e estou apaixonado pelo Niko.
Mamãe levou as mãos a boca e chorou. Foi minha vez de
abraçá-la.
— Seu pai não vai te perdoar e não sei o que ele vai fazer. Ele
vai te deserdar, meu filho. O que será do seu destino?
— Posso virar um lenhador, mas ainda sim serei feliz se tiver o
Niko do meu lado.
— Eu não entendo muito disso, dessa preferência, mas eu amo
tanto você e sinto que mais uma vez irei te ter longe dos meus
braços. Não sei se sobrevivo.
— Vem comigo.
— Meu Deus, meu filho. Eu não posso, me casei com seu pai,
seria uma desonra para minha família e para mim.
— Não posso viver com ele, mãe.
— O que mais me dói é que eu sei disso.
Acalmei minha mãe e depois que minha mãe saiu, bati o sino e
Niko veio em meu quarto. Ele veio direto para os meus braços.
— Está tudo bem?
— Vai ficar — respondi.
Eu tinha que fazer tudo ficar bem...
Capítulo 8
Nikolai
Uma semana se passou desde aquele dia em que mais uma
vez senti a maldade do Rei em minha pele. Alexander se comportou
como filho e o Príncipe que o Rei desejava, eu como o servo que
conhecia bem o seu lugar, cuidando das roupas de Alexander, suas
refeições, o acompanhando onde estivesse. Andrei como o
Guardião para qual ele foi ensinado e Viktor como o Comandante de
sempre, leal ao Rei.
Nossa encenação estava perfeita, ninguém desconfiava, mas no
último dia da semana vi uma cena que me desestabilizou por
completo: Alexander experimentando sua roupa de casamento.
Não fiquei bem depois disso, a realidade voltou como um tapa na
minha cara ou pior, como sete chicotadas em minhas costas.
A coragem para contar a Alexander quem eu era de verdade
havia sumido. Passei a ficar com medo de que se ele soubesse, iria
ficar com raiva porque escondi e preferir se casar com a Princesa.
Talvez ele me chamasse de imundo, pois o melhor amigo havia se
entregado a ele.
Passei a ter raiva de todo aquele luxo, pois ele pertencia ao
homem que tirou minha vida, que roubou meus sonhos, meu melhor
amigo, que marcou meu corpo. A revolta que tudo isso me trouxe
fez com que eu me recolhesse em minha dor e até com Alexander
mudei.
Passei a me comportar como seu servo mesmo e ele não gostou
nada. Discutimos algumas vezes, mas ele sempre me roubava um
beijo e eu me perdia em seus braços, onde ele me possuía e eu o
amava ainda mais.
Mas hoje estava recluso em meu quarto. Alexander tinha saído
com o Rei e fui proibido de ir junto. Era noite e eu não fazia ideia
para onde Alexander tinha ido. Andrei também não foi, estava
cabisbaixo e eu vinha notando-o mais nervoso que o normal, mas
algo me dizia que tinha alguma coisa a mais do que a nossa
situação.
Uma vontade arrebatadora de ver a minha mãe veio em mim e
usando de tudo que eu conhecia, fui para o quarto de Alexander e
entrei na passagem atrás de seu quadro. Dentro dela havia
corredores que levavam aos jardins, a biblioteca, a sala de música e
a cozinha do castelo.
Para sair na cozinha, eu saia por uma portinha perto da dispensa
e para minha sorte, mamãe estava nela já guardando coisas para ir
para casa.
Assim que me viu, chegou a chorar de emoção e me abraçou
apertado.
— Meu filho, o que você está fazendo aqui?
— Me deu saudade de você, mamãe.
— Você está sendo bem tratado? Tem se alimentado? Eu
sempre pergunto ao Viktor, mas quero respostas olhando para você.
— Estou sim, fica tranquila. Mãe, preciso te contar uma coisa.
— Conte-me, meu filho.
— Estou apaixonado pelo Alexander. — Mamãe arregalou os
olhos. — Ele está apaixonado por mim também. — As mãos dela
foram parar na sua boca. — E não, ele ainda não sabe que sou o
Nikolai e... temos planos de fugir, mamãe.
Minha mãe me agarrou como se não fosse me soltar nunca mais
e por sua respiração pude sentir seu desespero.
— Meu filho, o que é isso tudo que você está me dizendo?
— É para que a senhora não seja pega desprevenida. Assim que
me instalar em algum lugar darei um jeito de entrar em contato e
nos encontramos. Você ficará segura, bem dizer, pois o Rei não
sabe que sou seu filho e não posso arriscar sua vida em uma fuga
de imediato. Viktor e o Guardião também irão.
— Minha nossa, estou com medo.
— Não fique, tudo dará certo — falei aquelas palavras tentando
convencer a mim mesmo daquela verdade.
Voltei pelo mesmo caminho e quando cheguei no quarto de
Alexander tudo continuava no mais perfeito silêncio. Fui para o meu
e estava pensativo com tudo que estava para acontecer.
Acabei pegando no sono e fui acordado pelas mãos frias do meu
amor que entravam pela minha calça e me apertava. Seu cheiro era
único e só quando ele ficou deitado e imóvel em cima de mim foi
que escutei seu choro baixinho. Aquilo me assustou, mas deixei que
ele falasse. Meu quarto estava escuro, mas foi sua voz cheia de dor
que me trouxe o medo.
— Meu pai me levou a um lugar cheio de mulheres para que eu
me divertisse já que ficava sempre trancado no castelo e em meu
quarto. Ele disse que não sabia como eu aguentava ficar sem
fornicar por tanto tempo. Minhas mãos foram colocadas, contra a
minha vontade, na primeira mulher que chegou nua na minha frente,
com os seios quase se esfregando em meu rosto e eu a empurrei
com educação e disse que não queria aquilo. Meu pai ficou com
muita raiva e me deu um tapa no rosto na frente de todos que
estavam presentes. Disse que eu não parecia filho dele, que como
eu podia dispensar uma mulher daquela e todos os outros homens
riram de mim. Nem sabia quem eram aquelas pessoas, mas pelas
roupas, eram de outros reinos que se reuniam ali para trair suas
esposas. Eu explodi e gritei a plenos pulmões que não gostava de
mulher, que amava me deitar com um homem e o silêncio foi
doloroso. Jamais vi meu pai me olhar com tamanho ódio.
— Meu Deus, Alexander. O que ele fez depois?
— Chegou perto do meu rosto e falou algo apenas para que eu
escutasse. Disse que eu não iria manchar o nome dele, que eu
engolisse a minha pouca vergonha e imundice. Que eu iria casar
com a Princesa e lhe dar netos. E que se eu ia viver infeliz e
amargurado, ele pouco se importava, porque a partir daquele
momento eu seria apenas um reprodutor para ele, alguém que ia
servir para pôr seus planos em prática, que o amor de pai eu jamais
teria dele novamente.
— Maldito. — Chorei como nunca tinha chorado na frente de
Alexander.
Meu amor me abraçou e ficamos assim até que nos acalmarmos,
mas depois me virei de barriga para cima e me entreguei aquele
homem que eu tanto amava. Fizemos amor comigo falando em seu
ouvido que amava sentir o corpo dele, que amava tê-lo entre minhas
pernas. Alexander gemia e me invadia com mais vontade.
Precisávamos ir embora logo desse tormento. O tempo estava
acabando.

Andrei
Olhava pela janela do meu quarto toda a imensidão do Reino.
Apesar de ser noite, a visão era espetacular. Alexander havia saído
e eu impedido de o acompanhar.
Uma brisa suave batia em meu rosto e por instantes desisti da
minha luta e fechei meus olhos, mergulhando em meus sentimentos.
Toda vez que fazia isso, o Comandante vinha em meus
pensamentos e eu me martirizava.
Isso era errado demais, não fui ensinado a amar desta maneira,
mal fui ensinado a amar, mas minha cabeça e meu coração estavam
confusos com a avalanche de coisas que eu sentia
desesperadamente.
Depois de longos minutos naquela janela olhando a noite, vi o
Rei acompanhado de outro homem, que não era o Comandante, e
Alexander, chegarem.
Meu amigo saiu batendo a porta da carruagem e um frio correu
pela minha espinha provocado pelo medo. Por que ele estava com
tanta raiva?
Fui até a porta e a abri bem devagar um tempo depois e apenas
espiei o corredor. Vi o momento em que Alexander entrou pela porta
de Niko. Suspirei e fiquei preocupado com ele.
Como fiquei ainda mais inquieto, não consegui dormir, então fui
andar pelo castelo. Durante a noite tudo ficava bastante silencioso.
Poucos empregados na cozinha para alguma eventualidade e não
se via nenhum servo pelos corredores. Apenas algumas vezes eu
passava por um guarda a postos, mas dentro do castelo realmente
tinham poucos.
O castelo era enorme e em muitos lugares eu não tinha ido,
aliás, acho que nem Alexander. Muitas alas eram proibidas e
apenas o Rei e a Rainha circulavam por elas.
— Acredito que o Comandante também passe por elas... — falei
sozinho e quase sussurrando.
E pronto, foi pensar nele para que meu singelo passeio
“calmante”, não fosse mais tão calmo assim.
Percebi então que acabei me distraindo com ele em meus
pensamentos e vi que estava em um corredor que não conhecia.
Aquilo me assustou, fiquei com medo de dar de cara com o Rei e os
ânimos que pareciam estar se acalmando, pelo visto não estavam
mais tanto assim, só pela cara de Alexander eu havia percebido.
Quando voltava rápido, até segurando minha túnica para que
não me atrapalhasse a andar, tive meu braço puxado com violência
e minhas costas bateram com toda força contra a parede.
Quando abri meus olhos que haviam se fechado com o impacto,
dei de cara com um homem horrível que eu nunca tinha visto. Por
instantes achei que poderia ser um invasor, mas o brasão do Rei em
sua roupa me mostrava que não.
— Está perdido, coisinha deliciosa?
— Me solte! Quem é você? Está me machucando, não se puxa
as pessoas desta maneira.
— Eu faço o que eu quero, ninguém manda em mim! — ele
esbravejou com o que eu disse e chegou muito perto de mim. Pude
sentir seu bafo de vinho e aquilo me enjoou.
— Pois me solte! Sou um Guardião e um ser intocado.
— Intocado é? Pois eu estou louco para tocar em você, sabia?
— Ele falou e baba voou em meu rosto me trazendo asco.
— Me respeite! Sou o Guardião do Príncipe! E não um qualquer.
— Eu sei quem você é. Já te vi antes, vi quando chegou com ele.
Ando mais dentro deste castelo do que você possa imaginar.
— Me solta!
— Não solto! Não antes de ter o que eu quero. Não pude me
satisfazer como eu queria hoje já que o Príncipe deu chilique e
tivemos que voltar. Até que vi você — O homem nojento deu uma
lambida em meu pescoço que fez meu estômago embrulhar e o
pânico nem me deixava gritar. Minha garganta havia fechado e me
tremia inteiro.
Tentei empurrá-lo, mas cada movimento meu de desespero
parecia inflar ainda mais aquele homem e só de pensar no que ele
queria fazer comigo, quase me fazia desmaiar.
Em uma luta desigual, onde ele era o dobro do meu tamanho,
com muito mais músculos, eu estava perdendo feio. Mas foi um tapa
forte em meu rosto que quase me fez cair e ao tentar me reerguer
com força, o homem cruel segurou em minha túnica e isso a rasgou
completamente.
— Fique quieto que eu quero foder e vai ser com você!
— Nãoooo! — Consegui gritar em desespero sentindo meu rosto
arder demais e as lágrimas já me faziam enxergar tudo borrado.
— Vou sim! Eu quero, então eu posso!
— Você está bêbado, me solte! — Eu chorava desesperado
enquanto suas mãos percorriam o meu corpo.
— Solta ele agora! — A voz do Comandante me fez chorar mais
e o homem que me segurava à força se enfureceu e em um
solavanco me atirou longe e acabei caindo sobre o meu ombro. A
dor que senti foi tão forte que desmaiei na hora.

Viktor
Andava perdido em meus pensamentos pelo castelo. Não
costumava fazer isso, se estava de prontidão, ficava bem
concentrado, mas hoje estava inquieto. Não fui na escolta do Rei e
essa saída que ele teve com o Salazar e o Alexander não estava me
cheirando bem. Fiquei pensando nisso o tempo todo.
Depois de conferir a formação dos soldados e ver que todos
estavam a postos corretamente, fiquei um pouco aliviado. O Rei já
estava de volta, vi quando chegou por uma das grandes janelas e
também não deixei de notar a cara de poucos amigos que
Alexander estava.
Desde que sei de tudo dele, do Nikolai, de seu plano de fuga e
da verdadeira face do Rei, não tive mais sossego. E se olhava para
aquele Guardião então, eu nem parecia um homem de 35 anos e
sim um garoto que ainda podia sonhar com algo.
Caminhei mais alguns minutos, mas o rumo que os meus
pensamentos tomaram me fizeram decidir ir para o meu quarto e
tentar dormir. Amanhã precisava conversar com Alexander e saber o
que tinha acontecido. Essa história de que o Rei ficava andando
com Salazar não era boa e a sensação que tenho é que tudo
sempre aconteceu bem debaixo do meu nariz.
Assim que viro em um corredor para ir para os meus aposentos,
escuto alguém gritando “não” de forma desesperadora e começo a
correr igual a um doido pelo castelo olhando em todos os corredores
e quando fico de frente ao que leva as alas que são proibidas, a
cena na minha frente me estarrece.
Andrei está nas mãos de Salazar, com suas roupas
completamente rasgadas, chorando desesperado. Corri até eles e
encostei minha espada na garganta daquele infeliz, mas não
esperava seu rompante, onde ele jogou Andrei a uma distância e o
vi cair todo torto e desmaiar.
Salazar me empurrou e puxou sua espada para mim, mas o ódio
que eu sentia me fez avançar nele e mesmo que ele duelasse bem,
em um golpe arranquei dois dedos de sua mão o fazendo gritar.
— Seu desgraçado! Comandante de meia tigela. Eu vou matar
você!
— Amanhã levarei ao Rei a sua sentença, infeliz! Quem será um
homem morto em pleno pátio será você! — falei e vi que seu sangue
se esvaía e chegava a estar branco de tanta dor. Observei outros
soldados chegarem no corredor em que estávamos e ordenei que o
levassem para os calabouços.
Olhei para Andrei e fui até ele o pegando com cuidado e
constatei que seu ombro estava deslocado.
— Meu Deus, ele caiu de mal jeito. Preciso tirá-lo daqui.
Soltei toda a minha armadura, pois com ela não seria bom de
carregá-lo e nisso outro soldado veio até mim.
— Comandante, o Salazar já foi levado a prisão. Devemos pedir
para cuidar do ferimento dele?
— Minha vontade era de deixá-lo sangrar até morrer, mas prefiro
o ver sendo morto no pátio por atentado contra um inocente.
Cuidem daquela mão dele.
— Esse é o Guardião do Príncipe? Meu Deus! Ele morreu?
— Não, caiu de mal jeito e deslocou o ombro. Deve ter
desmaiado de dor. O infeliz tentava violentá-lo.
— Santa mãe! Mas o que ele fazia aqui dentro do castelo?
— Ainda irei descobrir, Ivo. Agora me faça um favor, leve minha
armadura e espada para meus aposentos que levarei o Guardião.
O soldado Ivo pegou tudo comigo e foi na frente. Ajeitei Andrei
em meus braços e juntei os restos de sua túnica para que ele não
ficasse exposto. Neste momento ele acordou.
— Viktor... — Era a primeira vez que ele falava meu nome,
sempre fui o Comandante para ele e ninguém jamais falou meu
nome de forma tão linda, mesmo em uma situação delicada.
— Estou aqui, Andrei. Vou cuidar de você, o infeliz já foi preso.
Ele voltou a desmaiar e me levantei com ele em meus braços.
Era leve e seu cheiro de rosas era delicioso ainda mais assim de tão
pertinho e fui para o meu quarto com ele.
Ivo estava parado na porta de prontidão e lhe agradeci o
liberando para ir e que se certificasse de que Salazar ficasse bem
preso, pois amanhã eu contaria tudo ao Rei.
— O senhor precisa de algo para o Guardião? Vai colocar o
ombro dele no lugar? Isso irá doer. — Ivo sabia bem, pois já havia
colocado o dele em uma batalha.
— Sim, mas me faça outro favor antes de ir. Vá até a cozinha e
peça para fazerem aquele chá de ervas amargo para amenizar as
dores dele, por favor.
— Sim, senhor Comandante. Preciso chamar o Rei?
— Não, ele já se recolheu. Estou resolvendo isso e amanhã tudo
será reportado a ele.
Assim que entrei com Andrei, o coloquei na cama com todo
cuidado e sem travesseiros para que eu pudesse deixá-lo bem reto
para ajeitar seu ombro. Minha cabeça estava quente e o ódio ainda
corria por minhas veias sempre que eu me lembrava da cena que
presenciei.
O Rei havia saído com aquele desgraçado, mas daí a ele estar
nas alas proibidas? Nunca tinha presenciado este homem andando
livremente por aqui e Andrei? O que fazia ali também?
Não deixei de perceber, com sua túnica rasgada, a pele tão
branca, realmente imaculada e um corpo delicado, mesmo sendo de
um homem. Senti culpa por estar olhando e o cobri até a cintura,
deixando apenas o seu peito à mostra. Ainda bem que ele usava
roupas de baixo.
Levantei levemente seu tronco e tirei por cima o que restava de
sua roupa, assim tinha uma boa visão do que fazer. Depois de me
posicionar, meu movimento foi rápido e preciso. Isso fez Andrei
acordar chorando, mas agora seu ombro estava no lugar
novamente.
— Ei, shhh, não chora, calma. Coloquei seu ombro no lugar, por
isso essa dor forte.
Ele me olhou com os olhos banhados de lágrimas, enquanto eu
estava quase debruçado sobre ele.
— Viktor... — Novamente ele falava meu nome e eu lutava para
não me desmanchar na frente dele. Que vergonha, meu Deus.
— Gosto de você me chamando pelo meu nome. — Parecendo
se tocar pelo que tinha feito, acabou me pedindo desculpas.
— Desculpe-me, Comandante.
— Não, por favor, me chame de Viktor, Andrei — falei seu nome
e ele deu um sorriso pequeno.
— Todos os homens são assim? Quando querem, pegam a
força? Alexander não é assim. Não que eu saiba.
— Não, nem todos. Existem muitos como Salazar, mas um
homem digno e honrado jamais faria algo assim.
— Ele tentou me violentar — Andrei fala chorando e seu choro
me perfura mais do que qualquer golpe de espada que eu já tenha
levado em minha vida. É um choro triste, sentido e não me contendo
mais o trago para os meus braços.
Ficamos assim, eu sentado de lado na cama, ele meio sentado,
mas em meus braços e seus soluços de choro em meu peito,
enquanto faço carinhos em seus cabelos e de leve nas costas.
— Ele nunca mais chegará perto de você.
— Ninguém nunca me tocou tanto como ele e você agora.
— Desculpe, mas precisava cuidar de você.
— Nunca gostei tanto de um toque quanto o seu — ele falou e
meu coração disparou em meu peito. — E isso é errado, é errado eu
estar na cama de um homem como agora, quase nu — ele disse,
agora olhando em meus olhos.
— Você está na cama de um homem por ter passado por uma
situação delicada. Não fazendo o propósito que te faria pecar —
falei firme e tranquilo para ele.
— Mas... E por ter gostado do seu toque? Estou pecando, não
estou? — Sua pergunta me fez suspirar.
— Não entendo seus costumes ou crenças, mas sempre tive em
meus pensamentos e em meu coração que se uma pessoa faz o
que deseja e isso não mata ou machuca ninguém, não é pecado.
— Mas isso estaria indo contra as regras a qual fui ensinado.
Machucaria meu pai.
— Só porque ele impôs isso a você. Mas a realidade é que você
não o está ferindo em nada, é sua vida, Andrei.
— Não tenho direitos em minha vida.
— Isso é escravidão então, você recebe o título de Guardião,
mas vive como um servo.
— Faz sentido, eu acho. — Andrei faz cara de dor e olha para o
seu peito nu. — Estou com vergonha por estar assim na sua frente.
— Acho lindo a forma como ele admite as coisas.
— Vou até seu quarto e pegarei uma roupa para você. Mandei
fazer um chá que irá controlar sua dor e amanhã vai estar apenas
levemente dolorido.
— Obrigado.
— Deite-se — pedi e o acomodei na cama. — Vou até lá pegar,
tudo bem?
Andrei concordou com a cabeça e saí do meu quarto e fui ao
seu. Ao abrir seu guarda-roupas, vi diversas túnicas lindas, mas a
minha preferida que já o vi usando era uma cor de rosa que parecia
brilhar. Lembro que neste dia fiquei sem fala quando ele surgiu no
café da manhã acompanhando o Príncipe e meus olhos de gavião
sempre observando tudo, naquele momento, só observavam ele que
era a criatura mais linda que eu já tinha visto. Sorrindo a peguei e
retornei ao seu encontro.
No corredor, encontrei a serva e peguei de suas mãos a bandeja
com o chá e fui com tudo para o meu quarto. Assim que entrei, tive
que disfarçar o quanto a imagem dele em minha cama mexia
comigo e me mantive sério para não o constranger e ainda evitava o
olhar demais mesmo que meus olhos toda hora me traíssem.
O ajudei a se sentar escorado em travesseiros e mostrei a túnica
que havia pego.
— Consigo me vestir sozinho, Comandante — ele falou e fiquei
triste por ter voltado com as formalidades, mas não o corrigi desta
vez.
Andrei tentou ficar de pé para se vestir, mas suas pernas
cederam tamanha dor que ainda sentia. O amparei em meus braços
na hora.
— Misericórdia, não consigo com tanta dor.
— Me deixe cuidar de você, apenas por hoje.
— Não posso dormir em seu quarto. Eu seria mal visto.
— Tudo bem. Vamos fazer assim: você toma o chá, te ajudo a se
vestir e te levo em meus braços para os seus aposentos. Você não
irá se levantar mais e amanhã estará bem melhor por causa da
bebida.
— Tudo bem.
O ajudei com sua roupa e Andrei bebeu o chá fazendo as
caretas mais lindas que já presenciei e tive vontade de rir dele, mas
o respeitei. Já vestido e mais calmo, ele já começava a ficar mais
mole por causa da bebida e chegava a hora de levá-lo daqui.
— Vou te levar agora para sua cama.
— Obrigado por ter me salvado, Comandante. O que irá
acontecer com aquele homem? Quem ele é?
— Salazar trabalha nas prisões e hoje saiu com o Rei e o
Alexander. Eu não sabia que ele tinha tanta intimidade com o Rei
para o acompanhar, mas parece que é algo escondido de mim. Mas
não se preocupe, ele está preso e amanhã o Rei saberá de seu
crime. Mas se me permite lhe perguntar, o que você fazia naquele
corredor? Ele leva às alas proibidas.
— Não fui intencionalmente. Estava apenas passeando e me
distraí em meus pensamentos — Andrei corou neste momento e tive
que disfarçar a vontade de suspirar —, mas aí quando dei por mim
estava ali e me senti perdido. Quando voltava, nem sei de onde
aquele homem saiu e ele me puxou com violência.
— Ele terá o castigo que merece, eu lhe prometo.
Como Andrei já estava bastante sonolento, o peguei e fui para o
seu quarto com ele aninhado em meu peito. Confesso que andei
devagar absorvendo o último contato tão próximo que teria com ele.
Sabia que depois de hoje, ele me evitaria ao máximo,
principalmente depois dizer que gostou do meu toque. Ele era bem
convicto de seus ensinamentos e crenças.
E eu, bom, ainda me sentia perdido com tudo que estava dentro
de mim, pois nunca senti nada parecido, ainda mais por um homem.
Mas com ele aqui em meus braços, era como se finalmente a
solidão tivesse se cansado de mim.
Capítulo 9
Viktor
Assim que o sol nasceu, eu já estava de pé e devidamente
uniformizado com minha armadura. Como sabia que o Rei acordava
cedo, fui direto para o Grande Salão e sabia que o encontraria em
seu trono me esperando para começar nossos afazeres do dia.
Resistindo a enorme vontade de ver Andrei, fui em busca de
justiça pelo que ele sofreu ontem e ao chegar de frente para o Rei
levei um susto por quem estava ao lado dele.
Salazar.
— O que você faz perto do Rei, seu miserável! — Puxei minha
espada para ele que deu um sorriso de puro deboche. Mas foram as
palavras de Vossa Majestade que me paralisaram.
— Abaixe esta espada, Comandante. Como ousa decepar dois
dedos de Salazar e o prender?
— Ontem o flagrei tentando violentar o Guardião do Príncipe. Ele
ainda jogou o jovem longe, fazendo com que ele deslocasse...
— Pode parar com histórias tristes. Estou mais interessado em
saber por que esse Guardião estava nos corredores que levam as
alas proibidas.
— Majestade? O senhor ouviu o que acabei de dizer?
— Ouvi e daí? O enxerido do Guardião teve o que mereceu. —
Eu estava perplexo com o Rei e desconhecia aquele homem na
minha frente. Ele era um infeliz de um tirano. — Salazar está livre e
não quero mais saber de nenhuma ordem sua para ele. Pode ir,
Salazar.
O infeliz passou por mim rindo em deboche e minha vontade era
de enfiar minha espada em sua garganta. Olhei para o Rei
novamente e nem tinha mais palavras.
— Quero aquele Guardião aqui na minha frente, agora! — o Rei
ordenou e a Rainha se aproximou de nós.
— O que aconteceu, Vladmir?
— Nada demais, só quero falar com o Guardião de Alexander.
— Vi Salazar saindo daqui. Não gosto daquele homem, meu Rei.
— Ele é bom no que faz, apenas isso te interessa saber. Vá,
Viktor! Está parado aí por quê?
Saí do Grande Salão cuspindo ódio e com a minha certeza mais
formada do que nunca: iria embora com Alexander e os meninos.
Quando entrei no corredor que daria no quarto de Andrei e que
consequentemente, era o do Príncipe também, vi ele e Niko saindo
juntos e ambos levaram um susto com a minha fisionomia.
— Viktor, o que aconteceu? Que cara é essa?
Estava no meu limite. O pouco caso que o Rei fez ao que havia
acontecido ao Andrei, acabou comigo. Minha vontade naquele
momento era de torcer seu pescoço com minhas próprias mãos,
mas não podia.
Niko, percebendo meu estado, arrastou-me para dentro do
quarto dele e eu quebrei com um soco um vaso bonito que tinha em
um canto.
Alexander me segurou por trás e pediu que eu me acalmasse.
Tentei respirar, mas estava difícil.
Então me virei para ele e segurei em seu rosto.
— Vamos embora o mais rápido possível daqui.
— O que aconteceu? Você está transtornado.
— Ontem... — Tentei respirar — Ontem, eu flagrei o Salazar
tentando violentar o Andrei.
—O QUE? — Alexander chegou a dar um passo para trás.
— Meu Deus! — Niko se assustou.
— Ele não conseguiu. Arranquei dois dedos de sua mão e
mandei que o levassem para a prisão. Mas agora, quando fui
reportar tudo ao Rei, Salazar estava ao lado dele e o Rei pouco se
importou com Andrei, inclusive mandou que eu viesse buscá-lo. Me
proibiu de fazer qualquer coisa com o Salazar, inclusive.
— Cadê o Andrei! Cadê o meu amigo?
— Calma, ele está no quarto dele. Na luta ontem acabou
deslocando o seu ombro e eu cuidei dele.
— Vou agora falar com meu pai.
— Alexander, não! Não o enfrente, pode ser pior — Niko pediu.
— Meu amigo passou por uma coisa horrível e não deixarei isso
impune, Niko.
Alexander saiu e Niko chorou.
— Calma, vamos ver o Andrei. Preciso levá-lo até o Rei e vamos
estar perto de Alexander.
Fui com Niko ao quarto de Andrei e bati em sua porta. Ele
autorizou a entrada e ao me ver, fez uma expressão satisfeita, mas
que foi logo substituída por ver a aflição em Niko.
Seu rosto tinha um roxo do lado, onde ontem enxerguei uma
marca vermelha e por Deus, eu queria protegê-lo com a minha vida.
— Como você está, Andrei? Viktor acabou de nos contar.
— Bem, na medida do possível. Nunca pensei em passar pelo
que passei ontem. Acho que não tinha a verdadeira noção de onde
a maldade pode levar as pessoas.
Caminhei até ele e abaixei na sua frente.
— Andrei, o Rei quer lhe ver, mas as coisas não estão boas e
preciso que você mantenha a calma.
— Como assim? O que aconteceu?
— Quando fui reportar tudo que aconteceu, Salazar já estava
com ele e o Rei me proibiu de fazer qualquer coisa contra aquele
infeliz.
— Mas... ele sabe o que me aconteceu?
— Sim, eu falei e ele pouco se importou.
Andrei ficou assustado e se levantou sem saber o que fazer.
Olhar para ele e vê-lo tão vulnerável só aumentava meu ódio por
aquele que eu servia.
— Me leve até ele. Não é o que ele quer? Só, por favor, não
deixe que ele me faça algum mal — O final da frase saiu mais como
um sussurro e não aguentei e o trouxe para os meus braços. Não
houve resistência da parte dele e Niko arregalou levemente os olhos
vendo a cena, mas com um sorriso de lado, ele não disse mais
nada.
Fomos os três em silêncio para o Grande Salão e quando
chegamos a discussão estava acalorada entre o Rei e o Príncipe.
— Observe bem como você está falando comigo, Alexander. Sou
o Rei e você me deve respeito!
— Que Rei é esse que deixa um mau caráter impune diante do
que ele fez? Meu Guardião foi quase violentado!
— Calma, meu filho, por favor. Vocês dois tenham calma. Do que
vocês estão falando? — a Rainha perguntou.
— Estou aqui, Majestade. — Andrei se ajoelhou e a Rainha
tomou a palavra.
— Guardião, olhe para mim, por favor — a Rainha pediu e
Andrei ficou em pé na sua frente e a olhou. — Esse rapaz tem no
rosto uma marca roxa, meu Rei. — A Rainha olhou para o seu
marido e voltou sua atenção para Andrei. — Conte-me o que
aconteceu.
— O homem chamado Salazar me agarrou a força ontem e
queria... — Andrei abaixou a cabeça tímido. — Então como lutei
com ele, tive minha túnica rasgada, um tapa no rosto e meu ombro
deslocado quando ele me atirou no chão com violência.
— Misericórdia! Vladmir, isso é muito grave! Não gosto desse
homem e você tem que fazer algo a respeito disso! — A Rainha se
exaltou e jamais a tinha visto assim. — Eu me calei uma vez... eu...
— Ela parecia transtornada e todos presentes estavam assustados
até o Rei.
— Eu irei falar com ele. — o Rei mudou o seu discurso. — Mas
quero saber o que esse Guardião fazia no caminho das alas
proibidas.
— Perdoe-me, meu Rei. Acabei me distraindo com meus
pensamentos e não percebi a direção que peguei. Quando vi que
não reconhecia o caminho, tentei voltar rápido, mas fui agarrado
pelo homem Salazar.
O Rei não estava convencido, mas engolia seu ódio por causa
da reação inesperada da Rainha.
— Não quero mais o Guardião sozinho. Comandante, você ficará
responsável pela segurança dele e de meu filho — a Rainha
ordenou e eu estava de boca aberta.
— Kátia! Quem dá as ordens aqui sou eu, o Rei!
— Sou sua Rainha e apenas estou dando uma extensão a uma
ordem sua. Você não ordenou que o Viktor cuidasse de nosso filho?
Pois bem, quero ele cuidando do Guardião também. Não gosto
daquele homem, meu Rei e me sinto insegura com ele aqui dentro.
— O Rei se aproximou de sua Rainha e pela primeira vez eu via um
ponto fraco naquele homem.
— Obedeça as ordens de sua Rainha, Comandante, mas não
quero você arrancando os dedos de ninguém sem a minha
autorização. Me entenderei com Salazar depois. E quanto a você —
O Rei olhou para Alexander. —, não quero mais que dirija a palavra
a mim com seu jeito soberbo, não se esqueça de tudo que lhe falei
ontem. Nada mudou. — O Rei se retirou da nossa frente.

Kátia
Olhei para o meu filho e ele tinha um olhar de puro ódio para o
seu pai. Fui até ele e toquei seu rosto.
— O que aconteceu ontem, meu filho?
— Ele sabe agora, mãe. O Rei sabe que gosto de homens —
Alexander falou baixinho e fechei meus olhos com medo da
desgraça que isso poderia causar.
— Por favor, Comandante, leve o Niko e o Guardião aos seus
aposentos que quero ficar a sós com meu filho.
Observei os três saírem e voltei minha atenção a Alexander.
— Como ele descobriu?
— Não me peça para dizer, minha mãe. Não tenho coragem.
— Por favor, meu filho.
— Vai doer na senhora também.
— O que me importa é você.
Alexander se afastou um pouco e suspirou derrotado para só
então se virar para mim novamente.
— Ele me levou a um local onde várias mulheres nuas servem
aos nobres e o Rei parece bem íntimo daquele lugar.
Meus olhos se encheram de lágrimas e então descobria que era
verdade. Já tinha ouvido boatos entre as servas, mas não queria
acreditar. O homem para qual eu dedicava minha vida, tinha
encontros furtivos com plebeias e se esbaldava em orgias. Aquilo
doeu como uma faca entrando em meu coração, mas me mantive
forte pelo meu filho, precisava ajudá-lo.
— E o que aconteceu com você lá dentro? — perguntei e mesmo
me lançando um olhar triste, Alexander me respondeu.
— Uma mulher foi oferecida para mim e eu a rejeitei na frente de
todos. Meu pai ficou furioso e bateu em meu rosto. — Levei minhas
mãos à boca. — E ele ainda disse que eu não era mais seu filho
quando admiti em alto e bom som que gostava de me deitar com
homens e que a partir daquele momento eu era apenas um
reprodutor para ele, se referindo ao meu casamento com a Princesa
e que deveria continuar a linhagem.
Estava perplexa e decepcionada. Quem era meu marido? Quem
era esse Rei que tratava o filho desta forma? Naquele momento,
Vladmir me causou repulsa.
Há muito tempo fiz a mim mesma esta pergunta quando
presenciei uma maldade feita por ele, mas como jamais tinha visto
atos assim vindo do Rei, passei por cima. Mas nunca deixei de me
sentir culpada ao ver aquela criança ser levada e chicoteada no
pátio. Nunca mais soube nada de Nikolai, mas sua história acabou
um pouco comigo a cada dia. Nem conseguia olhar sua mãe nos
olhos.
— Filho, você ainda tem aquela ideia de ir embora?
— Agora mais do que nunca.
— Então não o enfrente. Tenho tanto medo por você. —
Alexander veio até mim e me abraçou.
— Preciso tirar o Niko e o Andrei daqui, mãe. Não quero me
casar à força e estou completamente apaixonado pelo Niko.
— Tenho até medo por esse rapaz. Enquanto estiver aqui, não
deixe seu pai suspeitar de seus sentimentos por ele.
— Não vou deixar. — Alexander fez um carinho em meu rosto.
— Mãe, você ficou transtornada quando viu Andrei machucado,
jamais tinha te visto daquela forma.
— Não me pergunte sobre isso, meu filho. —Suspirei e lembrei
de comentar algo com ele e o fiz para mudar de assunto. — Outro
dia ouvi uma serva comentar que você foi a cozinha. O que você
queria?
— Fui procurar a mãe do meu amigo, Nikolai.
Travei na frente do meu filho e a culpa me assolou naquele
momento novamente.
— Mas ela disse que o filho sumiu no mundo e eu não o
encontrarei mais — Alexander respondeu triste.
— Esse menino é tão importante para você assim?
— Muito, mãe. Ele é meu melhor amigo e desde que fui embora
não soube mais nada dele. Até te perguntei há anos atrás e sua
resposta me deixou triste demais. Como uma pessoa some assim?
Eu via nos olhos do meu filho a sua dor. Só que algo estava
estranho nessa história, Nikolai havia se tornado um servo
castigado, então não poderia ter sumido no mundo, a não ser que
tivesse fugido, ou mesmo... morto. Deus, meu coração se
despedaçou.
— Meu filho, foque em você e no Niko agora. Preciso me retirar,
depois vou ao seu quarto — falei e fui para os meus aposentos.
Ao entrar, dei graças a Deus por Vladmir não estar aqui. Estava
magoada com ele e de repente essa história de Nikolai veio à tona
novamente me causando remorso.
Fui uma fraca há anos quando não lutei para impedir aquilo, mas
tudo com Vladmir sempre foi muito difícil e ainda tinha o Ivan...
Mesmo que ele esteja morto, continuo odiando aquele sujeito que
sempre manipulou a mente do Rei.
Vou até minha janela e olho todo Reino. Não sei o que será do
futuro do meu único filho, mas sinto que irei me separar dele mais
uma vez e isso me dói. Então tomo uma decisão, talvez para aliviar
minha culpa, talvez para lhe dar um alento e me desculpar, mas
preciso lhe dar as respostas que tanto precisa, mesmo que isso
signifique perder o seu amor, pois sei que ele me odiará para
sempre.

Alexander
Quando volto para o meu quarto, encontro Niko dentro dele e
Viktor no corredor.
— Onde está o Andrei?
— Foi para o quarto, Alteza.
— Ok. Cuide dele, por favor.
— Pode deixar.
Assim que entro, meu amor vem para os meus braços e só
mesmo o perfume da pele dele para me acalmar. O abraço apertado
distribuindo beijos por sua bochecha. Ele se encolhe de cócegas e o
beijo de verdade.
Quando nosso beijo para, ficamos com nossas testas unidas e
sinto que ele é minha força para enfrentar tudo que tenho pela
frente.
— Não vai para o seu quarto. Fique no meu, na minha cama
comigo.
— Tudo bem.
Não vi mais o meu pai, nem no almoço real que tivemos com
minha mãe. Soube depois por Viktor que ele estava tratando da
remoção de presos e da escolha de novos servos entre eles, os
famosos, servos castigados.
Andrei ficou quietinho em seu quarto após o almoço e se não era
engano meu, percebi Viktor mais preocupado que o normal com ele.
O flagrei várias vezes no almoço observando Andrei.
— Niko, você por acaso já percebeu algum olhar diferente do
Viktor para o Andrei? — Niko que estava com a cabeça em meu
peito, todo lindo e relaxado em meus braços, olhou sorrindo para
mim.
— Já. Mais cedo quando você foi na frente falar com o Rei e eu
e o Viktor fomos chamar o Andrei, Viktor o abraçou dentro do quarto
quando Andrei lhe pediu que não deixasse o Rei fazer mal a ele.
Aquilo me pega de surpresa, mas não sei se fico feliz ou triste.
— Por que essa carinha? — Niko me pergunta.
— Porque não sei se isso é bom ou ruim. Viktor é um homem
bom e parece solitário.
— Ele é, nunca se casou.
— Mas Andrei é muito fechado em seus ensinamentos e
crenças. Mesmo que ele sinta o mesmo, lutará contra como sendo o
maior dos pecados. Ele vive me chamando de devasso — falo e
Niko ri de mim. Gosto desses momentos. Eles me fazem esquecer
nossa vida turbulenta e parecemos um casal comum tendo um
momento descontraído.
— Mas você é um devasso — ele fala mordendo minha boca e
monta em cima de mim. — Um devasso gostoso. — Sua língua
entra em minha boca e eu solto um gemido me entregando aos seus
carinhos.
Passamos a tarde fazendo amor. A entrega de Niko era
surpreendente e maravilhosa. A cada vez que fazíamos amor mais
eu recarregava minha força para tirá-lo daqui e ser feliz com ele.
Já tinha tudo na cabeça e iria compartilhar com ele, Andrei e
Viktor que até o fim da semana estaríamos fugindo e seria na
madrugada quando todos estivessem dormindo. Tracei um plano em
minha cabeça, lembrando de muita coisa que Nikolai me ensinou
um dia. Só precisava fingir mais um pouco para o meu pai, ir a mais
uma prova da minha roupa de casamento e quando ele pensasse
que eu seguia suas ordens, já estaria longe daqui.
Mas naquele momento, eu só queria saber de me perder no
corpo do homem que mudou a minha vida. Quando acabamos de
fazer amor, era quase o final da tarde e Niko estava desmaiado em
minha cama. Nem tive coragem para chamá-lo para tomar um
banho, a imagem dele ali, nu e amado por mim, era fascinante.
Apenas tapei aquela bunda linda com um lençol de seda que
fazia ainda mais a sua pele brilhar e fui tomar um banho para ficar
ainda perto dele venerando sua beleza. Eu só não suspeitava que
ainda hoje, o mundo ia desabar sobre a minha cabeça.

Andrei
Não estava mais conseguindo ficar quieto. Nem saí mais do
quarto após o almoço, pois tinha medo de dar de cara com o Rei.
Estava tomando horror a esse homem e a tudo que o cercava.
Da Rainha eu gostava, ela me defendeu na frente do Rei e foi
muito carinhosa comigo durante o almoço que, graças a Deus, o Rei
não estava presente. Até um creme para o meu rosto ela trouxe. Ela
me lembrava minha mãe e isso me deixava saudoso.
Pensei em Viktor e sabia que ele estava no corredor. Cheguei a
ir na porta duas vezes e não consegui abrir. Faltava-me coragem
para olhar em seus olhos, pois sabia que eles tinham o poder de me
fazer questionar tudo que sempre tive convicção.
Estava em uma árdua luta entre o coração e a razão e isso me
deixava perdido, não sabia o que fazer. Minha testa estava
encostada na porta e quando decidi ir me deitar um pouco, batidas
me assustaram.
— Quem é?
— Sou eu, o Comandante. — Paralisei e respirar ficou mais
difícil.
— O que deseja, Comandante?
— Ver você.
Dei um passo para trás me afastando da porta com o coração
aos pulos.
— Por favor, Comandante, vá embora, preciso descansar.
— Só me deixe ver como você está.
Minha mão tremia quando abri aquela porta e encontrei os olhos
dele. Fui arrebatado pela súbita vontade de me atirar em seus
braços e nem sabia se esse homem gostava de... homens. Mas a
forma que ele me olhava sempre me desconsertava e nem era
desrespeitosa, era apenas... linda.
—Pronto, estou aqui, Comandante.
— Por que não pode me chamar de Viktor? Gostei de ver meu
nome saindo de sua boca. — Meu coração até disparou com a fala
dele.
— Não posso ser visto tendo intimidades com o senhor.
— Mas estamos sozinhos aqui e gosto de lhe chamar de Andrei.
— Sorri sem sentir. Por isso não ficava muito próximo a ele, sempre
perdia a compostura.
— Tudo bem, mas apenas sozinhos.
— Pode deixar — ele respondeu, sorrindo e me fazendo sentir
calor. — Você ficou o tempo todo no quarto após o almoço.
— Alexander saiu alguma vez?
— Não, está lá dentro também, mas ele tem o Niko. — Corei
nesta hora imaginando tudo que aqueles dois estariam fazendo
sozinhos naquele quarto. —, enquanto você está sozinho.
— Estou acostumado com a minha solidão, Viktor.
— Eu estava com a minha.
— Não está mais? — Fiquei curioso de repente.
— Não, alguém tem me feito repensar muitas coisas e uma delas
é minha vontade de não ser mais sozinho.
Fiquei pensativo com sua resposta e fiquei meio abatido, pois
com certeza ele deveria estar apaixonado por uma bela moça. Isso
deveria me fazer sentir alívio, assim as loucuras que andavam
rondando meus pensamentos iriam parar, pois teriam um motivo,
contudo a tristeza me pegara desprevenido.
Sou despertado dos meus pensamentos e nem sabia que havia
me perdido neles, quando dedos gentis tocam o meu queixo e me
fazem olhar para cima, para Viktor, que está bem pertinho de mim,
quase dentro do quarto.
— Não sei se poderia lhe dizer isso, nem se poderia estar lhe
tocando como estou fazendo agora, mas preciso que você saiba
que esta pessoa é você.
Minha voz simplesmente sumiu. Isso deveria ser alguma
provação, mas o que eu realmente sabia é que estava praticamente
reprovado nela. E tive ainda mais certeza quando os mesmos dedos
que estavam em meu queixo, deslizaram pelos meus lábios e me vi
em busca de um ar que parecia ter faltado naquele ambiente.
Viktor olhava para minha boca seguindo os contornos que seu
dedo fazia e minha garganta estava seca. Só aí percebi o quão
perto dele eu estava, até sua respiração batia em meu rosto. Passei
a sentir meus olhos pesados e a vontade de fechá-los estava mais
forte do que eu.
Mas ouvimos um barulho e me afastei tão rápido de Viktor, que
acabei o empurrando e bati a porta fugindo da quase loucura que eu
ia cometendo. Difícil foi acalmar o calor em meu corpo depois.

Viktor
Meu coração estava disparado e passei a mão em meu rosto
tentando me acalmar. Olhei para trás e não tinha ninguém no
corredor. Eu só podia estar maluco tendo atitudes assim, logo eu,
que sempre fui tão centrado.
Mas a verdade era que Andrei povoava meus pensamentos cada
vez mais e sentia uma vontade absurda de tocar nele, de mexer em
seus cabelos e de beijá-lo.
Estava perdendo meu controle e não podia ser assim. Ele
parecia um bichinho acuado e tenho certeza de que agora piorou
mais. Onde eu estava com a cabeça para tocar nos lábios dele
daquela forma?
Suspiro e resolvo andar um pouco, pois se continuar aqui sou
capaz de bater naquela porta novamente e tomá-lo em meus braços
para matar todo desejo ardente que ele despertou em mim e sei que
não posso.
Capítulo 10
Kátia

— Majestade, a senhora tem certeza de que quer fazer isso?


— Tenho, Nana.
— Eu posso ir sozinha.
— Não, quero ver com meus olhos. E hoje é um bom dia, pois
pelo visto o Rei emendou compromissos reais e voltará bem tarde
— falei já pensando em que compromissos eram esses e meu
estomago embrulhou, pois suspeito que o último não era tão real
assim.
— A roupa ficou perfeita na senhora, parece realmente uma
plebeia. Coloque o capuz agora. — Coloquei o capuz e me olhei no
espelho. Era uma plebeia totalmente. — A senhora é capaz de
reconhecer esse rapaz?
— Não, mas quero ver com meus olhos se alguém apontá-lo.
Havia pedido a minha serva que arranjasse uma roupa de
plebeia para mim porque eu iria pessoalmente até o reduto dos
soldados e as prisões para ver se encontrava o Nikolai ou descobria
algo sobre ele. Era muito arriscado e perigoso, mas devia isso a ele
e ao meu filho.
Tinha decidido que o encontrando ou não, contaria ao meu filho
o destino que seu amigo teve há 12 anos e Deus que me ajudasse a
ter coragem.

∞∞∞
O castelo estava silencioso conforme andávamos rápido pelos
corredores. Eu estava de cabeça baixa, levemente descabelada e
sem nenhuma joia. Minhas roupas eram bem simples, quase
surradas.
Evitamos passar onde estivessem os soldados e Viktor que era
meu maior medo, mas, com certeza, estava no corredor do quarto
do meu filho e do Guardião.
Assim que saí na noite fria, por uma passagem que minha serva
mostrou ter em um corredor próximo à cozinha e cheguei em um
local que ninguém me veria, então levantei minha cabeça e respirei
fundo. Nunca estive à noite aqui fora e lamentei o céu não estar
estrelado.
— Temos que ir bem rápido, Majestade. A esta hora, os soldados
estão nas tavernas próximas jantando e se no alojamento tiver
algum, este está de folga e dormindo.
— Como sabe de tudo isso, Nana?
— Já tive um namorado soldado — minha serva falou tímida e
eu a adorava. — Olhamos tudo bem rápido, pois se Nikolai é um
servo castigado ele só pode trabalhar em dois lugares, ou com os
soldados ou nas prisões. Como Salazar está com o Rei, fica mais
tranquilo verificarmos essa última, então vamos nos soldados
primeiro para aproveitar o jantar deles.
— Tudo bem.
Coloquei meu capuz e andamos rápido. Achei estranhas as
sandálias que eu calçava e tropecei algumas vezes. Assim que
chegamos no local dos soldados, Nana observou bem e me fez sinal
de que estava tranquilo. Fomos andando e eu observava cada
entrada, cada alojamento.
Vi realmente alguns soldados dormindo, mas nem sinal de algum
servo. Fomos mais à frente e em um alojamento vi um rapaz muito
magro, comendo em uma tigela uma comida horrível. Aquilo me
entristeceu demais.
— Vai perguntar o nome deste? — Nana me perguntou.
— Sim.
Fui até o rapaz e ele se assustou e se encolheu ao me ver.
Abaixei perto dele e tirei meu capuz.
— Não irei lhe fazer mal, não tenha medo. Qual é o seu nome?
— Iuri.
— Iuri, você conhece um rapaz, servo como você, chamado
Nikolai?
— Não senhora, eu era das prisões. Não conheço ninguém
daqui.
— Obrigada.
Levantei e Iuri ficou me olhando conforme me afastei.
Continuamos olhando tudo e já estávamos nos aproximando de
onde os soldados estavam e ali era perigoso.
Quando viramos em um corredor, olhei por uma janela e vi um
homem de costas. Ele amolava facas, era bem alto, forte e tinha
cabelos começando a ficar grisalhos. Parecendo sentir que alguém
o observava, ele olhou para trás e nos viu.
Nana me puxou rápido para voltarmos e eu comecei a ficar
nervosa.
— Estão perdidas, moças? — Fechei meus olhos e Nana me
olhou apavorada. Nem sei o que me deu, mas me virei para o
homem cheia de coragem. Só pensava em Nikolai.
— Desculpe, senhor. Procuro uma pessoa.
Ele se aproximou e de perto era ainda mais alto. Dei graças a
Deus que Nana sujou um pouco meu rosto. Ele me olhava sério e
me mediu inteira. Fiquei constrangida, mas não deixei de notar o
quanto era bonito, apesar de estar sujo e maltratado.
— Aqui no meio dos soldados, sério? A essa hora? Vocês estão
atrás de problemas.
— O senhor conhece um rapaz chamado Nikolai?
O homem arregalou os olhos levemente e vi que ficou
desconfortável, ele sabia de algo, tinha que saber.
— Por que procura por ele?
— Nos tornamos amigos e estou sem notícias dele há um tempo.
— Onde se tornaram amigos?
— Moço, só responde, por favor — Nana pediu, aflita.
— O único Nikolai que conheci foi embora há muito tempo. —
Aquilo me entristeceu, mas ele parecia dizer a verdade.
— Mas não soube mais nada dele? — insisti.
— Não, nem sei se está vivo. Ele fugiu, moça, é tudo que sei.
Vimos o movimento de alguns soldados vindo e segurei na mão
de Nana.
— Obrigado por sua ajuda — agradeci e quando ia saindo, o
homem segurou meu braço.
— Qual o seu nome?
— Tânia — falei no impulso e ele continuou me olhando e não
me soltava. — Me solte, por favor.
— Me chamo, Serguei. Não ande mais por aqui à noite, moça. É
perigoso e alguns soldados desconhecem limites e podem te
arrastar para dentro de algum alojamento.
— Obrigada por seus conselhos. Disse mesmo a verdade sobre
Nikolai?
— Sim.
Quando fui me afastando, sua mão deslizou pelo meu braço e
passou por minha mão. Fui quase correndo ao lado de Nana.
— Meu Deus, havia me esquecido de Serguei, mas achei que
ele jantasse a essa hora.
— Você o conhece?
— Já o vi algumas vezes, bem poucas.
— Ele sempre trabalhou aqui?
— Acho que sim, não sei ao certo. Ainda vamos nas prisões?
— Vamos.
Ainda passei por aquele lugar horrível, mas apenas por fora.
Estava tudo trancado e um soldado estava em frente a um portão.
Não vi sinal de nenhum servo e talvez, Serguei tivesse dito a
verdade. Lamentava, mas não teria a notícia que meu filho tanto
queria.
Entramos quase correndo por trás do castelo e ainda verifiquei
se a carruagem de Vladmir estava de volta, mas não estava. Fui
com Nana para o meu quarto e assim que entrei, respirei aliviada.
Tinha feito a maior loucura da minha vida, mas meu filho merecia.
Rapidamente tirei aquela roupa e Nana levou tudo embora.
Tomei um banho e em alguns minutos estava com as roupas reais.
Pedi a Nana que me deixasse sozinha e fosse chamar Alexander
para mim. Chegava a hora dele saber a verdade.

Alexander
Ouvi batidas em minha porta e me levantei preguiçoso, pois já
cochilava ao lado de Niko. Este estava de bruços, ferrado no sono e
beijei suas costas antes de me levantar e fechar meu roupão.
Assim que abri, Viktor estava em minha porta acompanhado de
Nana, a serva da minha mãe.
— Alteza, sua mãe quer lhe falar. — Era engraçado ver Viktor
com tanta formalidade, pois já tínhamos intimidade.
— Vou me vestir e vou até ela.
— Ela lhe aguarda em seus aposentos, Alteza.
— Obrigado, Nana.
Voltei para dentro do quarto e me vesti adequadamente. Olhei
para Niko e ele nem se movia. Quando saí, Viktor me olhava
curioso.
— Não precisa ir comigo, fique e tome conta deles.
— Tudo bem.
Fui até o quarto da minha mãe e dei graças a Deus que meu pai
não estava presente. Assim que ouviu minhas batidas na porta,
minha mãe autorizou a minha entrada.
Sorri para ela, mas a percebi nervosa e seu sorriso não alcançou
seus olhos como sempre fazia quando me via.
— Está tudo bem, mãe?
— Precisamos conversar.
— É sobre minha fuga?
— Não, sobre Nikolai. — Na hora travei e meu coração disparou
no peito.
— Tudo bem, mãe, você tem toda a minha atenção. — Sentei-
me no sofá que havia de frente à sua cama.
— Não é fácil o que tenho para lhe dizer.
— Você soube algo dele? Ele está morto? — perguntei já aflito.
— Ele realmente foi embora, não está mais aqui.
— Como sabe?
— Fui disfarçada ao reduto dos soldados e até em frente as
prisões.
— Mãe! Isso é muito perigoso! Jamais poderia ter feito isso! O
que deu em você!? — falei aflito e já em pé andando de um lado
para o outro.
— Sente-se, meu filho.
Sentei-me a contragosto e olhei para ela com medo.
— Eu devia isso a você e a esse rapaz. Queria ajudar de alguma
forma.
— Mas a mãe dele já tinha dito que ele havia ido embora.
— Ela poderia estar mentindo.
— Mas por que ela faria tal coisa?
— Porque você não sabe da verdade. Não sabe o destino que
seu amigo teve e Polina sabe das complicações se falasse para
você ou para qualquer pessoa.
— Mas do que a senhora está falando?
— No passado, quando me perguntou se eu sabia dele, disse a
verdade. Realmente não sabia mais nada dele, mas escondi de
você o aconteceu com ele quando foi embora.
Meu coração batia tão desgovernado que estava ficando difícil
respirar e estava com um pressentimento de que ouviria algo muito
ruim.
— Ivan contou ao seu pai sobre o flagra que deu em vocês no
lago.
— Não! — fiquei petrificado.
— Seu pai... — Mamãe tomou fôlego antes de continuar. — Seu
pai deu um castigo a Nikolai.
— O quê? — Levantei-me e fiquei um pouco zonzo.
— Ele castigou aquela criança por ter descumprido uma ordem
dele e Nikolai foi chicoteado em pleno pátio aos nove anos de idade.
Foram sete, eu contei, foram sete chicotadas em suas costas até
que ele desmaiou. — minha mãe falou o final da frase aos prantos
que chegava a soluçar. Tive que me sentar de novo, pois minhas
pernas ficaram moles, fiquei em choque. — Eu não fiz nada, não
pude fazer nada. Aquele maldito do Ivan dominava a cabeça de seu
pai e eu vi, vi tudo que aconteceu e chorei demais. Jamais esqueci
aquela cena, aquela criança ganhando chicotadas em suas costas.
As lágrimas desciam pelo meu rosto e eu mal respirava.
— Nikolai se tornou um servo castigado. Seu pai roubou a vida
daquela criança. O que aconteceu depois, eu não sei. Mas como
servo castigado sabemos que ele ia trabalhar ou com soldados ou
nas prisões.
— Não, não, não — era só o que eu conseguia dizer. —
NÃOOOOOO — gritei e me desesperei.
Minha mãe tentou vir para perto de mim, mas ao mesmo tempo
recuava. Eu estava com medo e havia perdido o controle. Chorei
muito, gritei o máximo que minha garganta aguentou. Parecia que
ela havia puxado meu coração para fora tamanha dor.
— Por favor, meu filho, se acalme. Você pode passar mal.
— Passar mal? PASSAR MAL? — gritei novamente. — Eu
achava que tinha sofrido quando fui mandado para aquele lugar,
quando fui forçado a ficar sem ele, sem brincar, sem ter minha
liberdade ou quando me forçaram a deitar com uma mulher sem
nem ao menos saber o que fazer. Achava que tinha sofrido toda vez
que precisava sair escondido a noite para ver a vida, para ter
liberdade de estar com quem eu queria, mas eu tive foi uma vida de
Rei. Quem sofreu foi meu amigo, quem foi chicoteado foi meu
amigo, quem perdeu de fato a liberdade foi Nikolai!
Tirei a parte da cima da minha roupa que continha o brasão da
realeza. Estava com nojo daquilo e nem sabia medir o quanto.
Minha camisa de baixo ficou toda amassada e eu tinha aspecto de
bêbado. Estava descabelado e desarrumado.
Mas no fundo eu me sentia em pedaços. Meu coração estava
dilacerado. Meu amigo, meu melhor amigo conheceu o inferno por
minha culpa. Então passei a me sentir culpado por cada coisa que
vivi em Sochi. Cada saída, cada risada que compartilhei com Dimitri,
cada vez que fizemos sexo, tudo, exatamente tudo, eu sentia culpa.
Cada coisa que eu ia vivendo, Nikolai estava sofrendo.
— Meu Deus! Chicoteado ainda quando criança! MEU PAI É
UMA ABERRAÇÃO! Eu odeio esse homem. Eu que não quero mais
que ele tenha algum título para mim e eu só não o mato com minhas
próprias mãos, pois preciso salvar Niko e Andrei daqui. Jamais
permitirei que faça com eles o que fez com meu melhor amigo —
falei e chorei desesperado. Minha mãe chorava junto comigo e me
abaixei aos seus pés de joelhos e deitei minha cabeça em seu colo
me entregando ao desespero de vez.
Nem sei por quanto tempo permaneci ali chorando, mas ao fim,
nem tinha mais lágrimas, estava oco. Apenas espasmos do choro
saíam do meu peito e minha cabeça virada para a janela deixava
meus olhos contemplarem os raios de tempestade. O céu não
estava bonito.
Chovia, assim como em tudo dentro de mim. Meu amigo com
certeza acha que eu o abandonei, pois passei tempo demais fora,
enquanto ele sofria tudo que não merecia.
Estava sem forças, estagnado ali naquele chão e sentindo os
dedos delicados da minha mãe em meus cabelos. Também ouvia
seus espasmos de choro e não a culpava. Apenas aquele demônio
que tinha o título de Rei que tinha culpa e eu o odiava com todas as
minhas forças.
Quando fechei meus olhos, os senti arder pelo choro e não
conseguia me levantar. Tentei pensar em Nikolai e em nossos
momentos, buscando uma paz que eu sabia que jamais iria ter
novamente, mas tudo que vinha eram as palavras da minha mãe.
Ele castigou aquela criança por ter descumprido uma ordem
dele e Nikolai foi chicoteado em pleno pátio aos nove anos de
idade. Foram sete, eu contei, foram sete chicotadas em suas
costas até que ele desmaiou.

— Foram sete — repeti e eu estava em completo estado de


choque. — Foram sete chicotadas.
— Meu filho, se acalme. Levante-se do chão — minha mãe
pediu, mas não me levantei, estava em transe.
— Foram sete chicotadas nas costas, até que desmaiou. Foram
sete, foram sete, nas costas... nas costas — repeti e repeti.
— Alexander, estou ficando com medo, meu filho. Você está
bem?
— Foram sete... — Parei de falar e pisquei olhando para o nada
e depois levantei minha cabeça olhando para minha mãe. — Foram
sete chicotadas nas costas?
— Sim, meu filho, nas costas. Por mais que doa, não podemos
fazer mais nada, apenas rezar para que ele esteja vivo, meu
querido.
Levantei em um rompante e ela se assustou.
— Nas costas.
— Filho, você está me assustando. Que cara é essa, Alexander?
Fala comigo.
— Você viu bem, mãe? Foi nas costas mesmo?
— Foi, meu filho. Eu vi tudo — Mamãe fez cara de pena. — Eu
vi, presenciei aquele crime sem poder fazer nada. — Seus olhos
marejaram de novo.
E então eu pensei.
Pensei em Niko, lembrei do seu sorriso e nas duas vezes que ele
me lembrou tanto o sorriso de Nikolai. Lembrei das vezes em que
queria pensar em meu amigo, mas Niko roubava todas as cenas
como se fosse ele vivendo tudo comigo.
Pensei no aperto em meu peito que senti assim que pus meus
olhos nele e na sensação de paz que sempre senti em seus
braços...
— Nos braços dele a saudade sumia, a dor passava...
— Do que você está falando, meu filho? De quem?
— Do Niko...
— Do Niko? Mas o que tem esse rapaz?
— Eu falo do Niko — repeti seu nome andando feito um louco
pelo quarto. — Niko, Niko, Nikolai... — Meu coração quase parou
em meu peito e olhei para minha mãe assustado e ela estava aflita.
— Ele tem marcas, ele tem marcas nas costas, eu só preciso contar,
é horrível, mas preciso contar, mãe.
— Contar o que, filho?
— Meu Deus, não pode ser, quer dizer, era tudo que eu queria.
— Estava atônito pela minha desconfiança e andei cambaleante até
porta. — Antes de sair olhei mais uma vez para a minha mãe. — Eu
preciso contar...
Nem prestei a atenção direito em como cheguei até meu quarto.
Tinha medo, muito medo de estar projetando uma esperança em
vão e aí sim a dor seria ainda maior. Viktor assim que me viu, se
assustou e veio ao meu encontro.
— Alexander, o que aconteceu? Você está horrível, você
chorou? Seu rosto está vermelho. Fala comigo.
— Eu preciso contar.
— Contar o que?
— As marcas.
— Que marcas, Alexander?
— Foram sete, Viktor. Foram sete...
Soltei-me do Comandante e abri a porta do meu quarto.
Niko ainda dormia de bruços entre os meus lençóis e fui me
aproximando devagar depois de fechar a porta. Minhas mãos
tremiam e as lágrimas embaçavam a minha visão, mas enxuguei
com força os meus olhos.
Contornei a cama me apoiando no dossel e o olhava inteiro.
Seus cabelos estavam bagunçados da última vez que fizemos amor,
sua boca um pouco aberta pelo sono pesado de tanto prazer que
sentiu.
Abaixei-me no chão e fiquei na direção do seu rosto. Sentia as
lágrimas escorrerem por minhas bochechas. Meu coração batia
dolorido, mas eu precisava contar e então me levantei indo para o
outro lado e observei suas marcas tão profundas e fechei meus
olhos.
Imagens dele correndo comigo e se atirando no lago invadiram
minha mente. A vez que afundamos e ele me contornou para me
beijar. Abri os olhos e olhei para minha foto e o vi saindo dali e
sorrindo...
A primeira vez que eu vi seu sorriso...
O senhor me chamou, Vossa Alteza?

— Sim, Niko. Por favor, olhe para mim. — Ele levantou a cabeça e a
droga do aperto só aumentou.

— Em que posso lhe servir?

— Nem ia te chamar — cocei a cabeça constrangido —, mas não


encontro meus produtos de higiene no banheiro e pensei que talvez
você pudesse me ajudar.

— Sim, vamos ver se encontro — ele disse e me olhou como se


pedisse permissão.

— Pode ir ao banheiro.

Ele se virou e sua altura era charmosa, ele nem era grande como
eu, mas também nem muito baixo. Acho que uns dez centímetros
eram a nossa diferença.

Ele olhava tudo e passava as mãos pela estrutura de madeira que


envolvia o banheiro e neste momento vi que ele achou uma abertura
que puxava a gaveta.

E então ele me olhou sorrindo.

E eu esqueci até de como se puxava o ar.

Meu choro quis aumentar, mas então olhei para suas costas
novamente e respirando fundo comecei a contar:
— Uma, duas, três, quatro, cinco... seis... — As lágrimas não
tinham mais controle e minha mão tremia muito... Sete.
Levei as mãos na boca e me afastei da cama cambaleante. Era
ele, eu não tinha mais dúvidas, era Nikolai que estava comigo todo
esse tempo.
Meus olhos não foram capazes de reconhecê-lo, mas meu
coração foi e por isso o aperto, por isso tudo passava nos braços
dele.
O quarto de repente pareceu-me sufocante e saí dando de cara
com Viktor que mais assustado ficou.
— Alexander, me fala o que está acontecendo. Você está me
deixando apavorado.
Olhei para ele e me veio na cabeça que foi ele que trouxe Nikolai
até aqui.
— Você sabia, não sabia?
— Sabia de que?
— Que ele era o Nikolai que eu tanto procurava.
— Como você descobriu?
— Não importa, mas você sabia.
— Não desde o início. — Viktor suspirou e passou as mãos nos
cabelos. — Tudo que eu sabia era que ele era um servo castigado e
que o vi sofrendo muito desde seus nove anos de idade quando seu
pai o castigou em pleno pátio. Mas o motivo não. Isso não é
permitido. Só que mesmo achando que ele tinha feito algo muito
grave para merecer tal castigo, eu o vi todos esses anos e morria de
pena dele vivendo naquelas condições. Passei a ter o Niko como
um irmão mais novo. Eu sabia seu nome verdadeiro, por isso
quando você me perguntou de um Nikolai, eu perguntei a ele se
conhecia mais alguém com o mesmo nome que ele e Niko negou.
Ele já quis me contar por que fora castigado, mas eu que não quis
ouvir, não me interessava mais e sim salvá-lo do sofrimento.
— E como você descobriu quem era ele de verdade? E por que
não me contou?
— Descobri quando fui levar um bilhete para a mãe dele que
trabalha na cozinha, a Polina e ela me contou que você tinha ido
procurá-la. E foi aí que ela me contou o motivo por que ele foi
castigado. — Viktor colocou as mãos em meus ombros. — Não
contei para você por medo devido a nossa situação. Medo que você
perdesse a cabeça quando soubesse de tudo.
— Tenho vontade de matar o meu pai.
— Não fale assim, mesmo ele sendo um monstro, é o seu pai e
você não ia querer carregar esse remorso pelo resto da vida. Pense
em nossa fuga e nele. — Olhei para a porta do quarto. — O que
você está sentindo agora com toda a verdade exposta para você?
— Se eu já o amava, agora o amo duas vezes mais. — Viktor
sorriu. — O meu melhor amigo é o meu amor, Viktor. Eu o amo
desesperadamente.
— Não fique triste por ele não ter lhe dito. Nikolai passou por
muitas coisas, muitas mesmo. Ele agora merece apenas amor e
cuidados.
— E ele vai ter.
Entrei em meu quarto novamente mais calmo. Sentei-me no sofá
e o olhava dormir. Fiquei um tempão assim até que ele se mexeu e
se sentou na cama coçando os olhos. Estava lindo, com a carinha
inchada e descabelado, mas era o meu amor, o dono do meu
coração por toda a minha vida.
— Você me deixou dormir muito — ele disse e meus ouvidos
absorveram a sua voz, rouca pelo sono, e ela penetrou em tudo
dentro de mim.
— Você estava lindo dormindo. — Tive que me controlar muito,
pois minha voz queria embargar. Vem cá, vem. — Estendi minhas
mãos para ele.
Nikolai se levantou da cama completamente nu e lindo como só
ele sabia ser. Sua visão lambia meu corpo com calor e vi que ele
não estava tão sonolento assim, já que uma parte sua estava
começando a acordar assim como a minha.
Meu amor se sentou em meu colo de frente para mim e sem
mais aguentar o trouxe para minha boca. Eu beijava meu Nikolai
pela primeira vez, sabendo que era ele e aquele beijo apagou uma
dor que existia em mim há 12 anos.
Eu o beijei faminto, quase o devorando e quando ele sorriu entre
meus lábios tive vontade de chorar novamente, mas desta vez de
felicidade.
— Você está um devasso, Príncipe — ele disse rebolando em
meu colo e com uma mão o levantei levemente pela cintura e com a
outra abri minha roupa para logo depois entrar em seu corpo. Nós
dois gememos juntos.
Queria estar ligado a ele em todos os sentidos para o que eu
tinha a dizer:
— Eu te amo. — Sua testa estava na minha e ele tinha os olhos
fechados. Sua respiração ainda estava entrecortada, pois ele se
acostumava a todas as sensações. Meu corpo invadia o seu e
minhas palavras o seu coração.
Quando seus olhos se abriram, apenas vi meu amigo, o meu
amor, tudo em uma única pessoa. Como pude não perceber? Deus,
como o amava.
— Eu preciso te contar uma coisa — ele começou.
— A mim?
— Sim. Não sei se você irá me perdoar, mas antes de qualquer
coisa quero que você saiba que eu também te amo muito, muito,
muito, muito. — Meus olhos já estavam ardendo. — Alexander, eu...
— Eu amo você, Nikolai — falei e o vi ficar pálido na minha
frente, então toquei seu rosto e falei antes de beijá-lo. — Eu sei de
tudo e só consigo te amar ainda mais.
O beijei e sentia seu corpo tremer em cima do meu.
— Não tenha medo, ninguém mais toca em você. Somos um do
outro e te defenderei com a minha vida se for preciso.
Nikolai me beijou e em meus dedos que estavam em seu rosto,
eu sentia as lágrimas escorrerem de seus olhos. Levantei-me com
ele em meus braços e caímos em minha cama nos amando enfim
diante de toda verdade.
Eu tinha debaixo de mim o homem que meu coração escolheu
para amar, para venerar e nada neste mundo iria me separar dele.
Nem dormimos naquela noite, os beijos não deixavam, o desejo não
permitia, o amor era grande demais e nunca nada com ele era
suficiente, eu sempre queria mais.
Capítulo 11
Nikolai

Abri meus olhos devagar e a imagem de Alexander dormindo ao


meu lado fez o meu sorriso nascer em meu rosto. Ele sabia da
verdade e mesmo assim continuava me amando. Parecia um sonho
e sinceramente tinha medo de acordar, pois tudo que eu conhecia
desde sempre era o sofrimento.
Segurei sua mão que estava perto de mim e apertei meus olhos
para gravar todo calor que ela transmitia. Tinha tanto medo de
perdê-lo, não sabia o que seria de mim caso isso acontecesse.
— Do que você está com medo? — Sua voz penetrou os meus
ouvidos me fazendo abrir os olhos.
— De perder você. — Fui sincero.
— Por que você me perderia?
— Não sei, ainda não acredito que você sabe toda verdade.
Estávamos os dois de bruços e de mãos dadas, olhando dentro
dos olhos um do outro.
— Jamais ficarei sem você novamente, Nikolai.
— Me perdoa.
— Pelo que?
— Por ter escondido.
— Não há nada que você tenha que me pedir perdão. Eu que
tenho que pedir.
— Você? Mas por quê?
— Por ter aquele demônio como pai. Por ter ido embora, por ter
tentado viver, enquanto você apenas sofria.
— Não diga isso. Você não tem culpa de nada. Jamais tive raiva
de você, tudo que eu sempre soube sentir foi apenas saudade.
— Também senti tanta saudade... — Os olhos de Alexander
marejaram. — Não houve um único dia que não pensasse em você,
que não quisesse você ao meu lado. Quando voltei e não lhe
encontrei, sentia meu coração dilacerado no peito.
— Tive medo, muito medo, quando meus sentimentos por você
mudaram e que talvez você não os entendesse. Mas eu não resisti,
Alexander. Cada vez que você se aproximava, mais eu queria ser
seu, mas eu queria sentir suas mãos em mim. Cheguei a me achar
um imundo por isso.
Alexander se levantou me obrigando a virar de barriga para cima
para acolhe-lo entre minhas pernas, onde ele se encaixou
perfeitamente e deitou sua cabeça em meu peito.
— Eu amo você mais que tudo nesse mundo. E quando descobri
quem você era, esse amor simplesmente triplicou. — Chorei
fazendo carinho em seus cabelos.
— Como você descobriu? — Alexander me olhou.
— Minha mãe me contou tudo que aconteceu com meu melhor
amigo no passado. Entrei em choque e achei que morreria de tanta
tristeza. Mas depois você me veio na cabeça e fiquei pensando,
pensando e por fim tive que fazer uma coisa horrível.
— O quê? — Franzi a testa olhando para ele.
— Quando ela me contou que o Nikolai, no caso você, tinha
recebido sete chicotadas nas costas, no auge da minha
desconfiança, voltei aqui para o quarto e contei as marcas em suas
costas.
As lágrimas agora desciam em abundância pelo meu rosto.
— Que ironia.
— O quê?
— As marcas me levaram até você. Durante muito tempo elas
foram a minha tristeza. Depois se tornaram a minha força e agora
elas me deram o meu amor.
— Jamais alguém fará outra marca em você.
— Já disse que você marcou o meu coração.
— Essa pode — Alexander sorriu e eu me derreti de amor por
ele. — Bom, eu já tenho nosso plano de fuga na cabeça e iria usar
tudo que aprendi com você um dia, mas agora que estou ao lado do
próprio, tudo fica melhor.
— Usaremos as passagens?
— Sim e será de madrugada.
— A melhor é aquela do Grande Salão que descobri por acaso
um dia, mas...
— Foi nela mesma que pensei. Será de madrugada.
— Mas os guardas ficam ali.
— Nisso o Viktor pode nos ajudar.
— Tudo bem. Só quero ir embora.
— Nós iremos.
— Depois preciso tirar minha mãe daqui. Não quero arriscar
levá-la na fuga, é perigoso. Assim que nos instalarmos em algum
lugar, darei um jeito de avisá-la.
— Com certeza. Ela não corre riscos, pois ninguém sabe que
você é o Nikolai.
— Exatamente.
— Apenas queria contar a minha mãe sobre você.
— A Rainha? Tem certeza? E se ela...
— Não, ela não nos entregará. Minha mãe sabe que irei fugir,
Nikolai e ontem... ela se arriscou para ter alguma notícia sua para
dar a mim.
— Como assim?
Alexander me contou sobre o que a Rainha havia feito e fiquei
petrificado. Ela não tinha culpa de nada, era apenas mais uma
vítima das tiranias do Rei e o pior, coitada, tinha sua vida amarrada
a dele para sempre.
Decidimos começar a nossa encenação e para minha surpresa,
Alexander trouxe Viktor ao meu quarto para que ele revelasse que
também já sabia de mim.
— Mas...
— Sua mãe me contou. Estava aflita por Alexander ter ido atrás
dela por notícias sua.
— Por que não me disse que já sabia e nem contou a ele?
— Porque fiquei com o mesmo medo que você: que ele fosse
com fúria até o Rei, e como estamos com planos de fugir, isso não
pode acontecer. — Viktor se aproximou de mim e segurou em meu
rosto. — Jamais soube o porquê de seu castigo como você sabe,
mas ao descobrir, passei a odiar o Rei por isso. Ele foi desumano e
cruel e à uma pessoa assim, não faço questão de servir. Você é
muito mais importante para mim do que ele.
Abracei o meu amigo e me sentia protegido por ele. Viktor nunca
me maltratou. Ele e Serguei são como uma família para mim. Ele
como um irmão mais velho e Serguei como um pai.
— Sinto tanto de deixar o Serguei para trás. Eu o amo como se
fosse meu pai.
— Farei com que ele fique ciente disso.
Ouvimos barulho na porta e era Andrei que entrava. Ele olhou
assustado por ver todos nós ali e seu olhar se fixou nas mãos de
Viktor que seguravam as minhas. Olhei para Alexander e ele foi até
o amigo.
— Andrei, temos algo para te contar.
— Por Deus, o que aconteceu agora? Niko e o Comandante
estão emocionados. Alguém perdeu a vida?
— Não, fique tranquilo. Quero te apresentar uma pessoa —
Alexander falou e veio para perto de mim me abraçando.
Andrei franziu a testa e olhou perdido para todos nós.
— Andrei, quero que você conheça o Nikolai.
Na mesma hora o Guardião arregalou os olhos e levou as mãos
na boca. Seu susto foi tão grande que chegou a dar um passo para
trás.
— Nikolai? O seu amigo, Nikolai? O menino que você falou por
tantas vezes?
— Exatamente. Sempre esteve ao meu lado, mas tinha medo de
me dizer.
— Misericórdia! Por que você escondeu, Niko? Quer dizer,
Nikolai.
Contamos tudo a ele, inclusive como Alexander descobriu.
Andrei também concordou que a Rainha merecia saber e isso seria
revelado a ela durante a tarde no quarto de Alexander.
Andrei me abraçou e fiquei emocionado por essa atitude dele.
— Todo mundo já me abraça mesmo. Estou mais bolinado que
intocado. — Todos nós rimos dele.
Antes que fossemos fazer nossa encenação, Alexander falou de
seus planos e Viktor achou perfeito. Eu e Andrei, estávamos
morrendo de medo.

∞∞∞
À tarde, já havíamos passado pelo almoço real e ele foi,
digamos, péssimo. O Rei estava presente e não deixou de fazer
suas grosserias. Mas o pior foi quando Salazar simplesmente entrou
e ficou parado em um canto com os olhos em todos nós. A Rainha
não gostou nada.
— O que este homem faz perto de nós, meu Rei?
— Ele trabalha para mim, minha Rainha. E tenho assuntos a
resolver com ele sobre os servos castigados que escolhemos
ontem.
— Mas ele fez mal ao Guardião. — A Rainha falou e observei
que Andrei tremia desde que o homem entrou. Mal conseguia
segurar seus talheres.
— Já resolvi com ele esse assunto.
— Engraçado como dele o senhor não tem nojo, não é,
Majestade? Afinal ele tentou fornicar com um homem. — Alexander
falou, eu quase desmaiei e Viktor o olhou pálido.
— Ele não me disse que amava se deitar com um homem. Ele
apenas queria se satisfazer e ama se deitar com uma mulher. Esse
ser, quando olho para ele, nem sei o que é, se é homem ou mulher,
não é mesmo? Salazar estava bêbado, então...
Fiquei estarrecido com tais palavras e os talheres caíram das
mãos de Andrei. Vi claramente seu choro preso e ele aceitou calado
a humilhação que havia sofrido. Olhei para Viktor e ele tinha a mão
em torno do cabo de sua espada e seus dedos estavam brancos
pela força que a apertava.
Alexander se levantou em um rompante e seu pai o olhou com
ódio.
— Vamos, Andrei. Chega de almoço por hoje.
— Você sabe que não se levanta da mesa enquanto o Rei está
presente. — O Rei Vladmir estava possesso.
— Estou pouco me lixando para isso — Alexander pegou Andrei
pelo braço que o olhou muito assustado e saiu me puxando
também. Apenas vi quando a Rainha abaixou sua cabeça desolada.
— Você não podia fazer isso, Alexander! Nosso combinado não
foi só mais um pouco de encenação? — Andrei estava aflito.
— Ele te humilhou e eu não ia me calar e te deixar ali do jeito
que você estava.
— Será que não é melhor que eu volte para o meu pai? —
Alexander o olhou chocado e eu de olhos arregalados.
— Não, não irei permitir que volte para aquele lugar. Você
merece viver, meu amigo.
— Alexander, não levarei nunca uma vida como você. Sou um
Guardião.
— Vai deixar o Viktor? — Olhei para Alexander de olhos
arregalados. Ele não podia falar tal coisa.
— Não tenho nada a ver com o Comandante. Me respeite, não
sou um qualquer. — Andrei ficou sentido.
— Desculpe, mas não disse que você era um qualquer. Andrei,
pelo amor de Deus, não é possível que você não veja o quanto o
Viktor olha para você.
— Jamais serei o que ele precisa.
Nossa porta que estava encostada, foi aberta e Viktor estava do
outro lado. Seus olhos estavam tristes, mas ele, como se vestisse
uma máscara, assumiu sua postura.
— O Rei foi para a sala de seus documentos com o Salazar e
sua mãe quer lhe ver.
— Peça que ela venha até meu quarto, Viktor. Preciso contar a
verdade a ela. — Alexander me olhou e meu coração disparou.
— Vou para o meu quarto — Andrei falou e se retirou sem olhar
para nenhum de nós.
— Ele não está bem e o fato de pensar em voltar para o pai, é a
prova disso — falei.
— Alexander? — Viktor se aproximou de nós. — Eu ouvi um
pouco da conversa e queria lhe pedir, por favor, que não mencione
mais nada entre mim e o Guardião. Peço desculpas se dei a
entender algo, mas realmente não há nada entre nós. — Eu sabia
que ele estava mentindo, mas mentia por uma causa nobre. Queria
proteger Andrei.
— Tudo bem, me desculpe.
— Não há o que se desculpar, mas realmente não há nada entre
nós. Vou chamar a sua mãe.
Assim que Viktor saiu, abracei Alexander e vi o quanto estava
tenso.
— Calma, vai dar tudo certo. Andrei irá ficar bem e logo
estaremos longe daqui.
— Não queria magoá-lo.
— Ele vai te entender. Andrei gosta muito de você.
— E eu dele.
Fui para o quarto de Alexander com ele e em alguns minutos a
Rainha entrou. Olhar para ela sabendo o que havia feito, sabendo o
quanto se arriscou por mim e Alexander só fez meu carinho por ela
aumentar.
Fiquei em um canto, enquanto a Alexander a recebia.
— Meu filho — a Rainha disse e me olhou com carinho. — Niko.
— Majestade — Fiz reverência.

.
— Meu filho, você se arriscou muito falando daquela forma, mas
eu te entendo. Seu pai está começando a me dar nos nervos e
sinceramente, não sei como ficarei depois que vocês se forem.
— Venha comigo, mãe.
— Oh, meu filho é tudo tão complicado... — A Rainha suspirou.
— Nem tive tempo de falar com você sobre ontem. Fiquei tão
preocupada assim que saiu do meu quarto, mas não pude vir atrás
de você, pois seu pai chegou instantes depois e tive que disfarçar
meu nervosismo.
— Mãe, preciso te contar algo.
— O quê?
Alexander estendeu sua mão para mim e eu a segurei. Tremia,
na verdade, mas não tinha medo da Rainha.
— A minha procura acabou.
— Como assim? Do que você está falando?
Olhei para Alexander e surpreendendo a ele que não esperava
minha atitude, virei de costas para a Rainha e levantei a túnica que
usava.
— Meu Deus! — Ela levou as mãos a boca e as lágrimas
desceram pelo seu rosto. — Ele é o... é o...
— Sim, mãe. Niko na verdade é o Nikolai. Ele estava perto de
mim todo esse tempo, mas tinha medo de me dizer por causa dos
seus sentimentos que mudaram e por temer a minha reação com
relação ao Rei.
A Rainha andou até mim e suas mãos tremiam quando ela tocou
o meu rosto.
— Meu Deus, você! Me perdoe, por favor. Eu não pude te salvar,
eu...
— Eu só tenho que lhe agradecer.
— A mim? Pelo que?
— Por ter me dado o Alexander. Eu o amo muito.
A Rainha me tomou em seus braços e choramos juntos. Jamais
pensei que um dia iria abraçá-la.
— Tomem cuidado, por favor. Vladimir não pode sequer sonhar
que você é aquele menino, Niko.
— Ele não vai.
— Meu Deus e sua mãe? Ela vai fugir também?
— Não, ela irá depois e a outra pessoa que sabe além de vocês
jamais me entregará.
— Quem? — A Rainha ficou curiosa.
— Serguei, o senhor que cuidava de mim no meio dos soldados.
— Então ele lhe conhece mesmo? — Franzi a testa olhando para
a Rainha.
— Sim, ele é como um pai para mim.
— Ele é um bom homem?
— Serguei é. Mesmo com a vida que leva, afinal é um servo do
Rei também, pois não tem ninguém neste mundo. Ele não
endureceu o seu coração e me deu o amor de pai que até então
faltava em minha vida. Mas... a senhora o viu? — A Rainha se
assustou.
— Eu contei a ele o que a senhora fez, mãe.
— Não devia ter se arriscado tanto — falei e levei minhas mãos
até seu rosto, mas não tive coragem de tocá-la. Só que me
surpreendendo totalmente, a Rainha pegou em minha mão e
colocou em seu rosto.
— Me arriscaria quantas vezes fosse por meu filho, pela
felicidade dele e por você. Nikolai, você é a felicidade dele e a partir
de agora é como um filho para mim também.
Meus olhos se encheram de lágrimas e Alexander me abraçou
por trás e colocou a cabeça no meu ombro.
— Vocês ficam lindos juntos. — A Rainha nos olhava com amor.

Viktor
Os dias se passaram e os rapazes se preparavam para nossa
fuga. Alexander novamente experimentou sua roupa de casamento
e Niko foi o servo submisso que devia ser.
Andrei que me preocupava. Estava triste, andava cabisbaixo e
mesmo recebendo ainda algumas ignorâncias do Rei, ele parecia
não sentir mais nada. Nunca mais tive seus olhos nos meus e
parecia que voltamos ao momento em que nos conhecemos: ele
todo sério e eu cheio de cerimônias com ele.
Aquilo estava doendo, mas depois de ouvir suas palavras
naquele dia quando fui ao quarto de Alexander, vi que não podia dar
vazão aos meus sentimentos. Isso só traria mais sofrimento para
ele, que era tão certo de suas convicções. Decidi que esconderia
tudo que sentia e o deixaria em paz.
Um dia, aproveitando que o Rei havia saído para as prisões, eu,
Alexander, Niko e Andrei nos reunimos na sala de documentos.
Nesta sala, havia mapas que iriam nos auxiliar para que fôssemos
para bem longe. Precisávamos ser rápidos e eu já tinha até visto os
nossos cavalos. Em questão de horas teríamos a Guarda Real atrás
de nós e quanto mais rápido fossemos, estaríamos livres.
Roubei alguns mapas e dividimos entre mim, Alexander e Niko.
Combinamos que no máximo levaríamos uma sacola com uma ou
duas peças de roupa e mais nada. Tínhamos que estar leves para
correr.
O plano estava perfeito e bem traçado, mas nem imaginávamos
que estávamos sendo vigiados. O castelo tinha inúmeras passagens
e eu não sabia que Salazar as conhecia como a palma de suas
mãos.

Alexander
— Estou com medo — Nikolai falou pela milésima vez. Suas
mãos estavam geladas e eu o abracei para tentar acalmá-lo.
— Calma, amor. Todos estão dormindo e Viktor já cuidou para
que os soldados não fiquem no salão. Vai dar tudo certo. Pegou sua
sacola? — Nikolai levantou uma das mãos e vi que havia uma
trouxa de pano muito bem amarrada.
— E a sua? — ele me perguntou e a peguei em cima da cama.
— Só tem um par de calças e uma camisa. Tudo meu tem esse
brasão e não quero mais. Mas aqui também tem uma caixinha que
eu costumava guardar meu bracelete, se lembra?
— Sim e meus bilhetes também.
— Sim e eles ainda estão aqui. — Nikolai sorriu. — Mas coloquei
algumas moedas de ouro para ser o nosso início. Agora vamos,
Viktor logo nos chamará.
— O Andrei já não deveria estar aqui?
— Deve estar com medo também, vamos até ele.
Batidas na porta nos assustaram, mas deveria ser o Viktor.
Assim que abri, era o próprio, mas seu rosto estava pálido.
— O Andrei desapareceu.
— O quê?
— Fui até o seu quarto e ele não está e onde eu estava, ele não
passou. Não o encontro de forma alguma.
Saímos no corredor e fui até o quarto do meu amigo. Sua muda
de roupa estava caída ao lado da cama e uma cadeira estava
derrubada.
— Ele foi levado.
— Como assim? — Niko perguntou. — Iríamos escutar, não?
— Não se ele estivesse desmaiado — Viktor falou e saiu
correndo pelo corredor com Nikolai e eu atrás dele.
Não havia sinal do Andrei em lugar algum e o desespero
começava a bater.
— Vão, sigam em frente. Vou procurá-lo e alcanço vocês.
— Não irei sem ele, Viktor. Isso está estranho demais. O castelo
está o maior silêncio, estava no quarto do Nikolai e não ouvimos
barulho de nada...
— A não ser que ele tenha sido levado por alguma passagem —
Nikolai falou e eu me assustei.
— Vamos até o Grande Salão para ver se descobrimos alguma
coisa. — Viktor saiu correndo.
Quando chegamos, estava tudo no maior silêncio e escuro.
Geralmente não ficava assim. Até as velas estavam apagadas.
Aliás, a noite em si estava silenciosa demais e isso geralmente não
era bom.
— Viktor, esse silencio nunca é bom. Algo está para acontecer.
Nem as corujas fazem barulho — falei e abracei o Nikolai.
Um raio cortou o céu e o clarão me fez enxergar meu pai saindo
de trás do trono.
— Vai a algum lugar, Príncipe?
As velas do Grande Salão começaram a ser acesas uma por
uma e era Salazar que fazia isso, assobiando. Um frio subiu pela
minha espinha e apertei Nikolai em meus braços e a cara de fúria do
meu pai foi horrível.
Mas foi a vela do candelabro do canto ser acesa para vermos o
corpo de Andrei no chão de bruços.
— ANDREI! — gritei e Nikolai começou a chorar.
Viktor puxou a sua espada e entrou em nossa frente mostrando
ao meu pai que estava contra ele, mas não deixei de reparar seus
olhos vermelhos por um choro preso. Ele chorava por Andrei.
— Temos então um traidor, não é, Comandante? Uma lástima,
mas agora você é meu inimigo!
— Eu o odeio e quero enfiar a minha espada em seu coração.
Nesta hora, vários soldados entraram nos cercando e eles se
assustaram ao ver a cena e principalmente o Comandante no meio
dela.
— Comandante? — Ivo, o soldado, falou assustado.
— Este homem não é mais o Comandante. Ele é um traidor
assim como o Príncipe na frente de vocês e esse servo maldito que
eu devia ter matado há 12 anos atrás, não é, Nikolai?
Nikolai tremeu em meus braços e me surpreendeu quando
entrou na minha frente e olhou com ódio para o meu pai.
— Você não encosta um dedo nele, seu verme.
Salazar puxou a espada e andamos os três para trás e o Rei
sentenciou.
— Matem todos! Exceto o Príncipe. Ele ainda me serve.
Parecia que eu enxergava tudo em câmera lenta. Salazar veio
enfurecido e sua espada se chocou com a de Viktor e ambos
estavam duelando. Dos quinze guardas que entraram, apenas sete
vieram contra nós e o restante nos defendeu guiados por Ivo.
Espadas vieram parar em minhas mãos e na de Nikolai e eu não
tinha ideia se ele sabia usar aquilo.
Um temporal desabou lá fora quando restava seis soldados ao
nosso lado e dos setes que seguiram as ordens do Rei, apenas três
se mantinham de pé com Salazar que bufava de ódio.
— Vá buscá-la — meu pai ordenou e eu só pensava em minha
mãe.
— O que você vai fazer, seu maldito?
— Tolo você, Alexander, por pensar que pode contra mim. E
vocês? — Meu pai apontou para os soldados. — Todos serão
degolados na guilhotina! — ele falou, mas todos se colocaram ao
lado de Viktor que tinha sangue nos olhos tamanho seu ódio.
De repente, Viktor voou em cima dos três que restavam os
matando arrancando a cabeça do último e foi até Andrei.
O vi sacudindo o corpo do meu amigo e vi uma mancha
vermelha em sua roupa. Fiquei desesperado.
— Me solta, seu infeliz! Sou sua Rainha e não pode me tratar
desta maneira. Vladmir, o que está acontecendo? O que você está
fazendo? — Minha mãe se debatia nos braços daquele homem e
sua espada de repente ficou na garganta da minha mãe que
começou a chorar.
— MÃE!
— Entregue esse infeliz que está ao seu lado e desista dessa
fuga. Não mato o Andrei, que está apenas desmaiado, nem o Viktor
e nem a sua mãe.
— Você não teria coragem de matá-la! —Enfrentei o demônio na
minha frente, mas com uma olhada para o Salazar, o infeliz
autorizou alguma coisa e a espada daquele homem fez um corte
fundo no braço da minha mãe e ela gritou de dor.
— PARA!
— ME OBEDEÇA E ELA NÃO MORRE. EU QUERO ESSE
INFELIZ AO SEU LADO.
— NUNCA O TERÁ! — berrei e um trovão fez um barulho
estrondoso assustando a todos nós. Mas foi o barulho depois dele
que realmente foi alarmante. Ouvimos gritos desesperados e fogo
foi visto fora do castelo. Um soldado entrou desesperado.
— Estamos sendo atacados por saqueadores!
De repente vários mercenários quebraram as janelas do castelo
e entraram no Grande Salão e outros pela porta principal. Foi um
desespero e passamos a lutar contra eles naquele momento.
Nossos soldados entraram aos montes lutando e do lado de fora
a batalha era mais aterrorizante. Procurei Nikolai com meus olhos e
ele lutava contra um homem que era o dobro do seu tamanho, mas
Ivo o ajudou e então percebi que ele defendia minha mãe caída no
chão, sangrando.
Lutei com os outros e Viktor também. Vi um homem horrível se
aproximar do meu pai e ele lutar, mas ele tinha Salazar ao seu lado.
No meio daquela luta que se esvaía em sangue, consegui chegar
até Andrei e vi que ele estava acordado e chorava. Havia um
ferimento na lateral do seu corpo e o peguei em meus braços. Viktor
veio ao meu encontro e o pegou, correndo com ele para outro canto
na tentativa de protegê-lo.
Novamente olhei para Nikolai que estava perto da minha mãe e
Salazar estava indo até ele e eles começaram a lutar.
— Eu que vou matar esse imundo! — meu pai gritou ao enfiar a
espada na garganta do homem que o enfrentava.
De repente, os homens dentro do castelo começaram a diminuir,
mas lá fora as coisas continuavam feias. Outro homem se
aproximou das costas de Nikolai, enquanto ele lutava com Salazar e
meu amor foi ferido no braço e caiu. Viktor, voltou correndo do canto
onde deixou Andrei e neste momento, Salazar matou esse homem
que feriu Nikolai e em seguida foi em cima do Comandante,
deixando Nikolai para o meu pai que ia enfurecido em sua direção.
Ao tentar sair correndo até ele, fui surpreendido pelo meu pai que se
virou de repente e me acertou um soco que me fez cair e bater a
cabeça com força.
Mesmo tonto o vi seguir em frente e levantar a espada para
acertar Nikolai, quando minha mãe se jogou em cima do meu amor
o defendendo com sua vida.
— Saia daí, Kátia! Você não pode ficar do lado desse imundo e
imoral que virou a cabeça de Alexander. Vou matá-lo!
— Não vai! Você não encostará um dedo nele, seu covarde!
Tenho horror a você, Vladmir. — Meu pai chegou a dar um passo
para trás sentindo as palavras da minha mãe e um grito atrás de
mim me fez virar a cabeça.
Salazar havia desarmado Viktor e quando ia matá-lo, Ivo entrou
na frente e Salazar golpeou o coração do soldado.
—NÃOOOO — Viktor gritou e outro soldado jogou para ele a sua
espada e a cabeça de Salazar voou pelo Grande Salão.
— SALAZAR!!! — Foi a vez do meu pai gritar e ele se virou em
fúria para Nikolai que continuava no chão e minha mãe por cima
dele. — Você vai morrer infeliz e se para isso tenho que matar a
Rainha, que assim seja.
— VLADMIR!!!! — Minha mãe gritou e levou as mãos ao rosto.
Meu pai ia com todo ódio pra cima dela e Nikolai a segurou e tentou
puxá-la.
Só tive tempo de me levantar, cambaleante, pegar a espada de
um saqueador morto no caminho, chegar por trás do Rei e enfiar a
espada por suas costas.
Com os bandidos mortos e apenas os nossos poucos soldados
sobreviventes que presenciaram a maldade do meu pai, o silêncio
foi cruel conforme ele se virava para mim com a espada saindo do
seu peito e o sangue que escorria de sua boca.
— Você... vo...cê me... apunhalou pelas costas...
— Você mataria a minha mãe para concretizar o seu ódio. Pois
saiba, eu o odeio também — falei e o vi desabar morto na minha
frente.
Depois disso, passei a enxergar borrões, mas vi o vulto da minha
mãe segurando meu rosto e olhando a minha cabeça que sangrava
muito e meu rosto também pelo soco que o meu pai havia me dado.
Senti que ela me entregou aos braços de Nikolai e ele me arrastou
para um canto.
Viktor veio até ela, mas eu não escutava o que eles falavam.
Viktor pegou o corpo de um saqueador a mando da minha mãe e o
colocou debruçado sobre o Rei.
— Alexander, fala comigo, por favor. Amor, o que você está
sentindo?
Olhei para minha mãe de novo e mesmo ferida ela falava com os
poucos soldados presentes e todos se ajoelharam diante dela. Vi
Viktor pegar o Andrei nos braços e meu amigo agora não falava
nada, estava apagado.
— Filho, você está me ouvindo?
— Mãe...
— Filho, você está em choque, mas escute a mamãe. Quem
matou o Rei foi um saqueador.
— Mas...
— Foi um saqueador que matou o Rei. Nunca se esqueça disso.
— Depois de ouvir as palavras da minha mãe eu apaguei.

Nikolai
O mal estava derrotado. Os soldados também haviam acabado
com os saqueadores que estavam do lado de fora do castelo.
Soubemos por um deles que foi mantido vivo, que esse ataque
estava sendo planejado há tempos e aproveitando a tempestade
que eles sabiam que viria, atacaram.
Outros Reinos foram atacados também e soubemos que
infelizmente muitas pessoas morreram. Minha mãe ficou ferida, mas
graças a Deus estava bem. No momento do ataque ela estava em
casa, mas teve que fugir, pois eles atearam fogo.
Ela correu para o castelo e se refugiou na dispensa rezando por
mim. O Reino do Rei Bóris foi atacado também e infelizmente sua
única filha morreu. Assim que amanheceu, a Rainha se pronunciou
pelo ocorrido. Mesmo ferida no braço, que não parava de sangrar,
ela fez questão de estar à frente e comunicou aos súditos e aos
soldados que o Rei havia sido morto por um dos saqueadores.
Que o Príncipe defendera o pai como pode, mas que agora
estava ferido e em seus aposentos. Em seu comunicado, ela
anunciou que em dois dias seria a cerimônia do funeral do Rei e
ordenou junto com Viktor que os soldados recolhessem os corpos
dos saqueadores e ajudassem todos do Reino que precisassem de
ajuda. E que no fim do dia queria uma lista de todos que perderam
suas casas para que ela providenciasse a reconstrução.
Eu estava agora no quarto de Alexander que continuava
apagado. Estava preocupado com ele. Sabia que estava em choque
pelo que fizera, mas ou era isso ou a morte de sua mãe.
A Rainha entrou depois de um tempo e tive pena dela. Seus
rosto e vestido estava sujo de sangue, estava descabelada, rasgada
e com os lábios pálidos.
— Ele não acorda.
— Majestade, a senhora precisa de cuidados. Está ferida e
pálida. Alexander está em choque, precisamos dar um tempo a ele.
— Ele não será culpado pela morte do Rei, meu plano deu certo.
Para todos, foi o saqueador.
— Sim, deu tudo certo. Me deixe ajudá-la.
Acompanhei a Rainha até seu quarto, mas no caminho ela
desmaiou e eu a amparei em meus braços.
Um soldado me ajudou e a deitei em sua cama.
— Por favor, soldado. Chame o Comandante.
O soldado saiu apressado e em algum tempo Viktor entrou pela
porta desesperado.
— Viktor, ela está ferida, não parece tão grave, mas ela perdeu
sangue. Precisa levar pontos nesse braço.
— Preciso achar alguém agora para cuidar dela. Temos tantos
feridos e apenas três médicos restaram. Dois estão lá fora dando
conta de muita gente e o outro está com o Andrei.
— Chame o Serguei, ele sabe fazer essas coisas. Ele cuidou das
minhas costas. Preciso que ele esteja vivo por vários motivos —
falei com a voz embargada morrendo de medo de tê-lo perdido.
— Vou procurá-lo.
— Viktor, e o Andrei?
— O caso dele é muito grave.
— Meu Deus.
Senti pena do Viktor. Ele corria de um lado para o outro
ordenando tudo. Precisava comandar os soldados e todos os
afazeres que a Rainha pediu. O silêncio agora estava bem-vindo.
Dentro do castelo já não tinha mais ninguém que não deveria estar
ali e agora só rezava para Alexander acordar, Andrei sobreviver e a
Rainha ficar bem.
Dei de cara com o Serguei quando saía do quarto da Rainha. Ele
vinha assustado pelo corredor com Viktor e quando eu o vi, corri
para os seus braços e ele me recebeu cheio de carinho.
— Meu menino, como você está? Meu Deus, que tragédia foi
essa?
— Você está vivo, meu Deus!
— Estou, se acalme.
— Graças a Deus. Acabou agora, mas a Rainha precisa de suas
habilidades em dar pontos. Seu braço está ferido e ela perdeu muito
sangue.
— Você está ferido também?
— Não, fique tranquilo. Cuide dela.
Serguei beijou minha testa e fomos para o quarto da Rainha.
Assim que entramos, quando Serguei se aproximou dela, levou um
susto e deu um passo para trás.
— Tânia?
— Tânia? — Viktor e eu perguntamos.
— Eu a vi no reduto dos soldados e ela me disse que se
chamava Tânia.
— Você deve estar enganado, Serguei.
— Ele não está — falei e ambos olharam para mim. — A Rainha
foi disfarçada até lá me procurar para dar notícias a Alexander há
alguns dias atrás.
— Meu Deus! — Viktor levou as mãos na cabeça.
— Ela me perguntou de você, mas disse que você havia fugido
há algum tempo. Não lhe entreguei.
— Você foi um bom amigo... — A voz da Rainha chegou fraca
até nós.
Serguei se aproximou dela e se ajoelhou fazendo uma
reverência.
— Perdoe-me os modos. Eu toquei em Vossa Majestade.
— Você foi uma ótima pessoa, Serguei. Protegeu seu amigo e
ainda me protegeu também quando me aconselhou a não andar
naquele lugar à noite. Me chamo, Kátia.
— Eu sei, Majestade. Estou aqui para cuidar do seu ferimento.
— Graças Deus. Por favor, me ajude.
Serguei me falou tudo que iria precisar e fui até a cozinha do
castelo pegar. Quando entrei, as servas fizeram reverência a mim,
inclusive minha mãe.
— O que é isso? — perguntei assustado.
Mamãe se aproximou e tinha um vislumbre de um sorriso no
rosto.
— Foram as ordens da Rainha um pouco antes de ir até o
Príncipe. Ela avisou a todos que você deveria ser tratado como a
realeza.
Aquilo me assustou e fiquei momentaneamente sem saber o que
fazer até que me lembrei dos itens que iria precisar. Uma serva me
acompanhou levando tudo e soldados que passavam por mim
também fizeram reverência. Eu estava morto de vergonha.
Deixei Serguei trabalhando nos ferimentos da Rainha e fui ver
Andrei. Viktor saía com o médico do quarto dele e ambos estavam
sérios.
— O que aconteceu? — perguntei.
— Fiz o que pude em seu ferimento. Ele foi golpeado com uma
faca, velha e enferrujada e ela foi fundo, quebrando a ponta em seu
interior. Usei de tudo que sabia para tratar a ferida. Retirei os
estilhaços e lhe dei pontos. Ele perdeu bastante sangue. O mediquei
e agora é somente com ele. O Guardião precisa querer viver.
Viktor estava acabado, mas acompanhou o médico. Entrei e
fiquei com pena de ver Andrei tão debilitado. Ele já era tão
branquinho e seus lábios estavam ainda mais sem cor.
Dei um beijo em sua testa e o deixei descansar.

Alexander
Abri meus olhos devagar, mas eles estavam pesados. Senti algo
na minha cabeça e quando coloquei a mão, ela estava enfaixada.
Olhei em volta e eu estava em meu quarto.
Não vi Nikolai em canto algum e começou a me dar um
desespero. Forcei meus nervos a se acalmarem e as lembranças
começaram a voltar. Fechei meus olhos e vi o exato momento em
que atravessei as costas do meu pai com uma espada. Ele mataria
a minha mãe. Já estava com a espada posicionada para cravar em
seu peito.
Quando abri meus olhos novamente, as lágrimas desciam pelo
meu rosto, mas em meu coração não havia arrependimento. Eu era
um monstro por isso? Mas não podia permitir que sua maldade
fosse em frente, não podia perder minha mãe e nem o Nikolai. Eu
não sobreviveria.
Minha porta foi aberta e minha mãe entrou por ela. Linda, vestida
como uma Rainha, a Rainha maravilhosa que ela era. Só que
estava toda de preto. Apenas a Rainha devia vestir o luto.
— Você acordou, meu filho! — Sua voz chegou em meus
ouvidos quando eu já me perguntava se estava sonhando ou tendo
uma alucinação com sua presença.
— Mãe... O que eu fiz?
Ela veio imediatamente para os meus braços e beijando todo
meu rosto falou olhando em meus olhos.
— Você não fez nada que não tivesse que ser feito. Estávamos
nas mãos de um louco tirano. Ele me mataria e depois ao Nikolai.
Você foi um herói e salvou as nossas vidas, apenas isso. Para todos
foram os saqueadores e agora você é o novo Rei de Kitej.
Arregalei meus olhos.
— Não precisa mais fugir. Fique e viva ao lado de seu amor.
— Mas como ele será recebido? É um homem.
— E você será o Rei. Nada está acima de palavra. Então mostre
que todas as formas de amar são válidas. Dê ao Nikolai tudo que
lhe foi tirado. Você foi o Príncipe mais destemido que já vi e me
orgulho muito disso. Quero que saiba que já ordenei que Nikolai
seja tratado como a realeza, que ele não é mais um servo, mas
apenas o Rei pode assinar seus documentos.
— Com certeza farei isso. A senhora está bem? Estava ferida.
— Estou. Serguei, o amigo de Nikolai cuidou de mim. — Minha
mãe tinha um sorriso bonito em seu rosto quando me disse isso.
— E o Andrei? Ele sobreviveu?
— Sim, mas ainda se recupera. O médico disse que seria lento,
mas ele ficará bem. A cor já retornou aos seus lábios.
— Quanto tempo fiquei apagado.
— Dois dias.
— Meu Deus.
— Dentro de alguns minutos será a cerimônia de velório do seu
pai.
— Estarei presente.
— Não precisa. Digo que ainda está desacordado.
— Não, eu preciso disso. Quando me tornarei Rei?
— Em uma semana. Até lá será feito os preparativos para sua
cerimônia.
— E a senhora fica quanto tempo de preto?
— Pelas leis de Kitej, durante um mês.
— Preciso me arrumar.
— Chamarei o Nikolai. Ele estava com sua mãe, pois está difícil
convencer a Polina que ela não será mais uma cozinheira.
Sorri ouvindo minha mãe.
— Vou conversar com ela depois.
Quando Nikolai entrou correndo pelo quarto na ânsia de me ver
desperto, eu já estava totalmente vestido com minha roupa de
cerimônias.
Vê-lo depois de tudo foi como realmente sentir meu coração
voltando a vida de fato. Ele quase se atirou em meus braços e nos
beijamos esquecendo do mundo lá fora.
— Não via a hora de você acordar — ele disse e reparei que
estava lindo demais. Sua túnica era bordada com fios dourados e
suas calças branca na mais pura seda. Seus pés tinham sapatos
fechados. Isso tinha dedo da minha mãe.
— Sua mãe que me vestiu assim. Ela disse que tenho que estar
à altura do amor da minha vida que será um Rei.
— Eu amo você exatamente como você é, mas não fique
chateado com ela.
— Jamais. Ela está me tratando com muito amor. Você acredita
que enquanto eu experimentava essa roupa, ela penteou os meus
cachos? — Sorri com os olhos cheios de lágrimas.
— Ela te ama assim como eu.
— Está se sentindo bem? Tem certeza de que quer ir à
cerimônia?
— Tenho, preciso fazer isso e virar uma página de sofrimentos
em minha vida.
Antes de ir, passei no quarto de Andrei e meu amigo dormia
tranquilo. Sentei perto dele em sua cama e deixei um beijo em sua
bochecha.
— Você realmente não me respeita, não é? Seu devasso —
Andrei falou fraquinho e eu sorri feliz por vê-lo despertar.
— Já me conheceu assim.
— Mentira, ficou pior com o tempo. — Seus olhos focaram em
mim.
— Eu te amo — disse e ele ficou corado.
— Tem ciência que é o primeiro homem que me diz isso, não é?
— Que bom, ninguém passou a minha frente.
— Você está bem?
— Fiquei apagado por dois dias, mas agora é hora de subir ao
trono e mudar muita coisa por aqui.
— Você será o melhor Rei que Kitej já viu.
— Um bom Rei tem alguém de confiança ao seu lado e eu quero
você.
Andrei suspirou...
— Não me dê atribuições, ainda estou convalescendo.
— Não perde essas palavras de velho.
— Sou educado, é diferente.
Ouvimos batidas na porta e Viktor surgiu todo fardado
impecavelmente. Pensei ter ouvido um suspiro vindo de Andrei, mas
não comentei nada.
— Chegou a hora, Alteza.
— Cadê nossa intimidade?
— O senhor será o Rei agora.
— Então tá, todo mundo está me dizendo isso agora. Ordeno
que me chame apenas de Alexander se estivermos sozinhos. —
Viktor deu um sorriso de lado e olhou para Andrei que estava
olhando nós dois, bem sério. — Descanse, meu amigo. Volto
depois.
Levantei-me e fui com Viktor ao meu lado.
Estar diante do caixão do meu pai me trouxe dor. Não a dor do
arrependimento, mas a dor de ter tido um pai que foi tão mal com
todos. Nem a minha mãe ele amava de verdade, senão não a trairia
e nem tentaria matá-la.
Senti a dor de Nikolai que sofreu tanto desde criança e todas as
outras pessoas que com certeza meu pai maltratou. Seu fim havia
chegado e agora o Rei era eu e muita coisa iria mudar.
O funeral foi solene como deveria ser e eu e minha mãe, a
Rainha, representamos o nosso papel perfeitamente bem. Ao final, o
Comandante Viktor ordenou tiros para o alto em respeito ao Rei que
morreu defendendo o seu Reino. Quanta mentira.
Uma semana depois fui coroado em uma cerimônia belíssima
que minha mãe preparou. O Reino e o castelo entraram em festa
para me receber. Quando suas mãos colocaram a coroa em minha
cabeça eu chorei pedindo aos céus sabedoria para ser o Rei que
meu povo precisava. E pensar que a essa hora eu estaria longe
para viver ao lado do meu amor.
Nikolai estava lindo ao meu lado. Suas roupas desta vez
simplesmente tinham cristais bordados e fora um presente da minha
mãe. Sua mãezinha, Polina, estava linda também. Eu tinha
conversado com ela e como estava relutante em deixar a cozinha
com a qual sempre fora acostumada, a nomeei chefe dos servos do
castelo. Mas mesmo assim minha sogra seria muito mimada por
mim, ela não precisava saber, senão não ia concordar.
Ela cuidaria de tudo, mas sem precisar trabalhar como
cozinheira. E hoje eu assinaria as mudanças diante do povo.
Quando cheguei à grande mesa na entrada do castelo para
assinar as primeiras mudança, houve silêncio.
— A partir de hoje me torno Rei e com essa grande
responsabilidade, mudanças ocorrerão. O único servo que terá o
título de castigado será o que cometer assassinato ou atentar contra
a Coroa. Os servos que têm essa condição por não ter ninguém,
receberão por seus trabalhos e terão uma vida digna. Até mesmo os
que vivem no castelo.
Houve uma comoção geral e vi muitos rostos felizes.
— Não haverá mais castigos no pátio e ele será fechado. Quem
cometer crimes, será punido com a perda de sua liberdade e ficará
atrás das grades.
— A vida de todos irá mudar. Os soldados serão divididos em
turnos e poderão constituir suas famílias. — Todos eles me olharam
felizes. — E sendo o primeiro a dar esse exemplo, quero comunicar
na frente de todos que ao meu lado, reinando em Kitej, estará o
amor da minha vida e ele é um homem.
Todos se assustaram, mas me mantive firme e estiquei minha
mão para Nikolai e ele a segurou. A sua estava gelada.
— Nikolai Petrov a partir de hoje será conhecido como o amor do
Rei e em breve nossa união será selada e ele também levará uma
coroa em sua cabeça. Peço a todos, principalmente aos soldados
que me servem, que deem sua vida por ele, assim como dariam por
mim.
Na mesma hora, todos os soldados levantaram suas espadas e
se ajoelharam por todo o Reino. Aquilo me comoveu e também fiz
uma reverência em respeito a eles.
— Todas as pessoas serão livres para amar quem seu coração
desejar. Em meu Reino não haverá repulsa a isso. Aqui, apenas o
amor predominará sob qualquer circunstância.
Houve aplausos e todos se ajoelharam diante o castelo.
Assinei tudo que havia dito, pois todas as minhas vontades
viravam documentos e entre eles estava a nomeação de Polina que
assinei com gosto.
Depois ordenei que todos fossem festejar e que vinho e comida
seria distribuído a todos.
— Suas palavras foram lindas, meu filho. Meu peito se enche de
orgulho.
— Só fiz tudo que meu coração mandou e que eu acredito,
minha mãe.
Abracei Nikolai e começava a me sentir em paz.
Duas semanas depois aconteceu o meu casamento. Tudo estava
lindo e luxuoso como só minha mãe sabia organizar. Nikolai estava
lindo, tão elegante, todo de branco e sua coroa de brilhantes
deixava seus cachos ainda mais bonitos. Só estava presente nós do
castelo e meu povo, não queria estranhos naquele momento apenas
para fazer pompas. Quem eu amava estava presente e isso me
bastava.
Enquanto ouvíamos as palavras direcionadas a nós, nossas
mãos estavam unidas com a bandeira de Kitej e lágrimas desciam
pelo rosto do meu amor. Eu o olhava sorrindo e só pensava que
agora eu lhe devolveria sua vida que foi roubada. Nikolai viveria
cercado de amor, cuidado, amado e idolatrado.
Usaria joias, vestiria as melhores sedas, comeria as melhores
refeições e seu passado de dor ficaria para trás definitivamente.
Quando coloquei o grosso anel com uma pedra vermelha em sua
mão, enquanto o meu era azul, selávamos a nossa união. Jamais
em toda a história de Kitej um Rei se casou com um homem, mas
como eu disse no início da minha história, tenho minhas próprias
opiniões e estou convicto dos meus sentimentos e desejos e agora
como Rei, posso valer ainda mais a minha vontade.
E essa era fazer meu povo e minha família felizes. E assim
seria...
Como o Reino havia passado por coisas horríveis com o ataque
dos saqueadores mercenários, não poderia me afastar para
descansar com meu amor, mas nem queríamos.
O ambiente no castelo estava em paz, gostoso e exalava amor.
Via a satisfação no rosto dos soldados e dos meus servos que me
amavam e ao Nikolai que já era muito querido.
Queríamos só fazer uma coisinha, uma que era só nossa e isso
realizamos...
— Para com isso! — Eu ria enquanto afundava a cabeça de
Nikolai na água do lago.
Ele emergiu sorrindo e me afundou também. Quando subi, o
puxei e afundamos juntos nadando, completamente nus, dentro do
lugar que a gente mais amava. Desta vez, eu que rodeei seu corpo
debaixo da água e o beijei.
Quando emergimos, nosso beijo era uma delícia e sem pensar
muito, me esfreguei em seu corpo ali mesmo. Nikolai soltou minha
boca para arfar e sorriu me fazendo desmanchar de amor.
— Você é louco de fazer isso aqui.
— Eu te amo e sou louco por você.
— Não quero ver fornicação, hein? — Andrei falou um pouco
afastado. Estava sentado debaixo de uma árvore perto de nossa
carruagem. Eu e Nikolai rimos dele.
Como eu queria ficar à vontade com o meu amor, só confiei nele
para nos acompanhar. O cocheiro e os três soldados se afastaram,
mas faziam a segurança nos arredores.
Sorri olhando para o meu amigo. Graças a Deus ele estava se
recuperando. Usava uma muleta no momento, mas só porque ainda
não podia fazer esforço devido ao ferimento que foi grave.
Só que andava para todos os lados e eu tentava convencê-lo a
não ser mais um Guardião e sim, meu Conselheiro Real.
— Acha que ele vai aceitar ser seu Conselheiro? — Nikolai
beijava minha bochecha, enquanto me perguntava.
— Não sei. Continuarei insistindo. Quero ele livre para ser feliz.
— Viktor aparenta calma e seriedade, mas sei que está
destruído por dentro pelo fato de Andrei ter se distanciado tanto dele
e voltado com força com as formalidades.
— Isso não tenho como interferir. Eu te falei que ele seria muito
resistente aos sentimentos. Mas tenho fé que eles irão falar mais
alto um dia.
Beijei meu amor e ficamos namorando mais um pouco até dar a
hora de voltar ao castelo.
Enfim estávamos de volta ao lugar que um dia nosso amor se fez
presente, mesmo que não tenhamos percebido por nossas idades,
mas ele se manteve forte durante anos até chegar o dia de
finalmente voltarmos aos braços um do outro.
Meu esposo, que um dia já fora o meu melhor amigo e meu
servo, agora iria desfrutar de todo o meu amor e seria meu para
sempre!
Epílogo
Cinco meses depois...

Kátia
— Elas estão cada vez mais lindas. — Sorri ao falar.
— Estão bem tratadas. Estavam precisando de terra apropriada
e carinho. — Serguei me olha e me sinto como as rosas que ele
está cuidando. Precisando de carinho, mas disfarço.
Há três meses ele se tornou o jardineiro oficial do castelo.
Depois que cuidou do meu ferimento no fatídico dia, Serguei veio
outras vezes ver como eu estava e trocar o curativo. Participou da
nomeação de Alexander e de seu casamento.
Achei linda a relação dele com Nikolai e como o rapaz o via
como um pai. Mas não foi apenas nisso que reparei. Cada vez que o
via entrar pela porta do castelo, sendo anunciado, meu coração se
esquecia da forma correta de bater. E cada vez que ele sorria para
Nikolai, com ele não tinha tantas formalidades, eu esquecia de
respirar.
Um dia, observei os dois passeando e ele apontando os jardins
que não ficaram muito bonitos depois da invasão que sofremos e do
jardineiro que infelizmente foi morto.
Acabei escutando uma conversa de Nikolai com Alexander sobre
isso e fiquei feliz do Nikolai pensar nele para cuidar das flores. Fui
completamente a favor quando meu filho me consultou e há três
meses o vejo todos os dias trabalhando. Peço às servas que não o
deixem sem água e o avisem de seu almoço.
E sempre que posso venho até aqui como agora, olhar as flores
e ele, que está suado, cheio de terra e ainda assim é
formidavelmente lindo.
Estou tentando disfarçar e olhando para o nosso imenso jardim
quando uma rosa para na minha frente. Meu sorriso é genuíno e
encontro seus olhos azuis que me observam cheirar a rosa.
— Uma flor para Vossa Majestade.
— Obrigada. Eu amo as rosas.
— Elas combinam com o seu sorriso. — Meu coração quase veio
na boca.
— Seu trabalho está sendo realmente maravilhoso. Da minha
janela observo a vista linda que elas proporcionam.
— Gosto de cuidar delas. Muito melhor que ver aqueles soldados
todos os dias. — Serguei riu e o acompanhei. — Obrigado pela
oportunidade — ele disse me admirando e o momento só foi
quebrado por Nana que veio me dizer que o almoço ia ser servido.
— Já estou indo. Quer almoçar conosco, Serguei?
— Oh, não, Vossa Majestade. Não estou digno de sua mesa.
Estou sujo e ainda terminando por aqui. Hoje foi o dia de trocar a
terra delas.
— Tudo bem, mas permanece o convite para outro momento.
Você sempre será bem-vindo.
Fui para o castelo, mas sentia que era observada. Quando
entrava, vi Alexander e Niko descerem da carruagem que chegava,
molhados e felizes. Tinham ido tomar banho no lago que tanto
amavam. Mas foi Andrei descer também todo ensopado que me fez
rir.
— Parece que hoje eles te deram um banho também, não é,
Andrei?
— O Rei... — ele suspirou como se recobrasse o fôlego e eu
segurei o riso. —, ele simplesmente me pegou e me atirou na água.
E ainda empurrou minha cabeça e eu tive que puxar sua perna para
ele me soltar. Ele não me respeita e me faz de brinquedo.
A risada de Alexander foi linda e eu amava ver meu filho tão feliz
como ele vinha sendo. Até Andrei riu também, pois ele já conhecia o
amigo que tinha.
Olhei para trás e Serguei nos observava sorrindo também.
No dia seguinte, eu ainda despertava quando Nana bateu em
minha porta e entrou com um lindo buquê de rosas. As rosas eram
amarelas desta vez e me sentei na cama sorrindo de orelha a
orelha.
— São para a senhora, Majestade.
— Ah é? E quem as mandou?— Nana deu um sorriso contido
me olhando.
— O senhor Serguei.
As recebi em minhas mãos e elas estavam com um cheiro
delicioso.
— Ele gosta da senhora — Nana falou baixinho, quase
sussurrando e eu a olhei.
— Por que diz isso?
— Ele nem pisca quando a senhora passa perto dele. Seus
sorrisos mais bonitos são direcionados a senhora e agora, na hora
de me dar as flores, ele disse que as entregasse para a senhora
como um bom dia, para que seu dia fosse muito especial.
Suspirei ouvindo aquilo.

Andrei
Já tinha acordado, mas estava sem vontade de me levantar. O
vazio que estava sentindo dentro de mim tinha um motivo: o
Comandante havia viajado a pedido do Rei para prestar ajuda ao
Rei Bóris, que ficou devastado com a morte de sua filha e outras
pessoas do seu castelo.
Como ele ficou sem o seu Comandante Real, Alexander mandou
o Viktor até lá para o treinamento de outro e isso já durava dois
meses. Estava morrendo de saudade e custei a admitir isso, mas
agora, meu peito doía só em pensar que ele pudesse voltar de lá
com alguma mulher.
— Oh, Deus! O que estou pensando. Ele pode ter quem ele
quiser e merece isso. Não posso ser dele, não posso me entregar a
esses pensamentos avassaladores que invadem minha mente todos
os dias.
Sentei-me na cama e pelo menos hoje não havia acordado
com... com... minhas partes íntimas tendo vida própria,
desavergonhadamente. Isso tem acontecido com frequência e já
não aguento mais tomar banhos frios. Hoje apenas a tristeza e a
solidão acordaram comigo e nem sabia o que faria do meu dia.
Após um banho revigorante e colocar calças brancas e minha
túnica rosa que eu amava, penteei meus cabelos que estavam
quase em meus ombros e saí para tomar o café com o Rei.
Mas ao chegar onde ele era servido, a visão que tive me fez ter
que me apoiar em uma estátua que havia em sua entrada. Minhas
pernas enfraqueceram e meu coração, naquele momento, teve a
real noção do tamanho da saudade que sentia.
Viktor e Alexander conversavam tranquilos e pelas roupas, vi
que o Comandante acabara de chegar. Olhei para a mesa e Nikolai
e a Rainha me olhavam e senti minhas bochechas esquentando.
Com um pigarro, chamei a atenção deles e o Comandante olhou
para mim. Foi como se eu fosse absorvido pelo seu olhar, mas só
porque eu mesmo me sentia indo ao seu encontro, porque ele
apenas foi gentil e fez um balançar de cabeça como uma leve
reverência.
O Comandante se despediu de Alexander e só consegui ouvir
quando ele disse:
— Trarei a Mia daqui a pouco para conhecê-lo.
Senti meu coração afundar em meu peito, o vendo sair pela
porta sem olhar para mim. Foi inevitável sentir as lágrimas
embaçando a visão e apenas me virei e fui para o meu quarto
esquecendo qualquer etiqueta.
— Andrei, espere! — O Rei vinha correndo ao meu encontro e
tentei disfarçar como pude a tristeza em meus olhos quando me
virei para ele.
— Sim.
— O que houve, meu amigo? Você ficou pálido quando chegou
para o café. Está se sentindo mal?
— Não... eu... Não é nada, Alexander. Apenas decidi não tomar
café e queria ficar sozinho.
— Tudo bem. Depois virei te ver, preciso tomar café porque
ainda tenho que rever alguns documentos inacabados do meu pai e
aquilo parece não ter fim. E o Viktor que acabou de chegar, virá me
apresentar uma moça chamada Mia que ele conheceu no castelo de
Bóris e a moça parece que cozinha divinamente bem. Você sabe o
problema que estou enfrentando com Polina que não gosta da forma
que a moça nova cozinha e quer ficar cozinhando o dia todo. Não
quero mais minha sogra se matando de trabalhar. Como Viktor havia
me dito que lá no castelo de Bóris muitas cozinham bem e ele
queria ajudar a Mia, ele a trouxe pra cá. Claro que o Bóris permitiu
também.
— Ele queria ajudá-la?
— Sim, ela soube que aqui as pessoas eram livres para amar
quem desejasse. No Reino de Bóris isso ainda é visto com
desprezo. Inclusive, só mesmo essa desgraça que aconteceu a ele
que fez com que ele me permitisse ajudá-lo. Bóris e outros não
veem meu casamento com Nikolai com bons olhos. Como estou
pouco me lixando para isso...
— Mas ainda não entendi como ele a ajudaria.
— Ela não gosta de homens e vivia sendo assediada por lá.
Viktor disse que ela é muito bonita e vivia morrendo de medo.
Parecia que grandes pedras eram tiradas dos meus ombros e
cheguei a respirar aliviado. Alexander abaixou a cabeça sorrindo e
depois olhou para mim.
— Você achou que ele tinha conhecido alguém, não foi?
— Não, eu não pensei isso não.
— Está mentindo para o seu Rei, Guardião? Isso é pecado,
sabia? — Arregalei meus olhos e fiquei sem saber o que dizer
quando Alexander se aproximou de mim e tocou meu rosto. —
Você o ama e muito. Viva este amor. Não será Mia que irá tirá-lo de
você e sim, você mesmo. Viktor é um homem honrado e muito
bonito. Logo ele cansará de ser rejeitado e conhecerá alguém. Você
hoje teve uma pequena amostra do que sentirá se isso acontecer.
Pense nisso. Mandarei servirem seu café em seu quarto. Seu
coração está precisando se refazer do susto, não é mesmo?
Quando eu ia responder, ele levantou um dedo atrevido.
— Não responda o seu Rei, ele sempre tem razão. — O devasso
do meu Rei piscou para mim e foi saindo me deixando tonto naquele
corredor. — A propósito, nem foi apenas a Mia que veio com o
Comandante, parece que mais três servos também. Precisarei de
sua ajuda mais tarde. Descanse.
Assim que entrei em meu quarto, suspirei e sentei-me na cama.
Havia tantas questões em minha cabeça e não sabia o que fazer
com elas. Depois de algum tempo, ouvi batidas em minha porta e
imaginei ser o meu café.
Quando abri, o ar escapou de meus pulmões ao ver meu café da
manhã ser trazido pelas mãos do Comandante.
— Foi daqui que pediram um café da manhã? —Segurei um
sorriso e abaixei a cabeça sem graça, confirmando e abrindo
passagem para ele entrar.
Olhei suas costas conforme ele ia até à mesa depositar a
bandeja e me sentia fraco com a sua presença. O Comandante se
virou e se aproximou de mim que ainda segurava a porta aberta,
não para que ele fosse embora logo e sim porque a usava como
apoio para as minhas pernas que tremiam.
— Não deixe de comer. Está tudo bem com você? Senti
saudades de olhar para os seus olhos durante esses dois meses.
— Comandante... eu...
— Desculpe-me se fui muito invasivo, mas senti saudade todos
os dias e agora olhando para você, não admitir, seria até um
sacrilégio.
— Apenas... ia dizer que também senti — confessei e ao encarar
seus olhos, ele se aproximou e parei de respirar.
As pontas dos seus dedos tocaram as minhas bochechas e
fechei meus olhos me permitindo aquele toque tão suave em minha
pele. Suas mãos que estavam tão acostumadas com a brutalidade e
as espadas, tinham um toque suave e muito carinhoso.
Enquanto uma tocava a minha bochecha, a outra deslizou pelos
fios dos meus cabelos. Eu mal respirava e estava perdido em
sensações que nunca foram sentidas dentro de mim.
— Olhe para mim, Andrei. — Sua ordem chegou aos meus
ouvidos e obedeci. — Prometi a mim mesmo que jamais me
aproximaria de você e nem lhe dirigiria a palavra com intimidades,
mas não consigo esconder o quanto eu quero você. Nesses meses
fora, juro que tentei esquecer tudo que você me faz sentir e me
convencer de que jamais o teria.
Suspiro e estou tremendo demais.
— Mas tudo que consegui foi sentir saudade e desejar ter você
cada vez que uma mulher se ofereceu para mim nas tavernas que
eu ia no Reino de Bóris. Não toquei em nenhuma, não beijei
nenhuma. Tudo que eu queria era voltar e poder olhar para você.
Desculpe admitir tudo assim, mas meu peito doía e não aguentava
mais. Não sei quanto mais aguentarei ficar aqui sem poder ter quem
eu quero.
— Você está pensando em ir embora? — perguntei chocado.
— Sim. Se eu não aguentar mais, prefiro ir e deixar que viva em
paz, sem ter alguém o admirando com desejo e perturbando suas
convicções. Jamais me perdoaria por isso.
— Viktor... — falei e toquei sua armadura, dando um passo
incerto para frente. Não sabia o que ia falar propriamente, mas meu
gesto foi suficiente para que ele segurasse meu rosto e juntasse
nossos lábios.
Não sei descrever o que senti naquele momento. Não sei pôr em
palavras o calor que me atingiu e a forma como meu coração bateu.
Senti um vento entrar pela janela do quarto e fazer minha túnica
balançar. Meus cabelos se mexeram e o cheiro do Comandante,
assim, tão de perto, embriagou a minha mente me fazendo suspirar
em seus lábios.
Quando ele afastou nossas bocas, seu nariz passou suavemente
pelo meu e podia jurar que se ele me largasse eu iria ao chão. Não
sentia as minhas pernas.
— Amo o cheiro de rosas que você tem. — Aquelas palavras me
fizeram abrir os olhos e olhei confuso para ele.
— Cheiro de rosas? Mas não uso nada que tenha esse cheiro.
— Mas o sinto desde que lhe vi pela primeira vez e ele parece
impregnado em meu olfato dia e noite. Até mesmo longe de você,
parecia que o vento o trazia para mim. — Aquilo me confundiu um
pouco, mas havia outra coisa ainda mais assustadora acontecendo
naquele momento.
— Nunca havia sido beijado. Não sei o que dizer.
— Não precisa dizer nada. Só quero que você saiba que eu
desejo lhe beijar muitas outras vezes e não apenas em sua boca.
Senti que estava corando e o Comandante me soltou devagar,
como se adivinhasse que se fosse de forma brusca eu poderia cair.
— Não sei como ficará depois de hoje, mas sinto lhe informar
que não estou arrependido do que acabei de fazer.
Ele saiu e o olhei enquanto caminhava pelo corredor. Fechei a
porta desnorteado, mas fiquei ainda mais quando ao me virar, olhei
para as janelas. Ambas estavam fechadas e franzi a testa tentando
entender de onde veio o vento que senti.
Fiquei com medo e confuso, mas resolvi tomar meu café, mesmo
que ainda tivesse os dedos sobre os meus lábios, sentindo a
presença de Viktor sobre eles.
— Estou perdido, meu Deus. Não sei o que fazer mais. Juro que
pensei em ir embora e voltar para o castelo em que sempre vivi.
Fugiria como um criminoso para salvar o meu coração.
“Você não vai”
Balancei minha cabeça, como se tivesse escutado uma voz
dentro dela. Devia estar ficando louco de tanto pensar em Viktor e
toda essa situação. Sento-me e decido comer de uma vez, minha
barriga já roncava. Que Deus estivesse comigo e iluminasse os
meus pensamentos.

Alexander
Ter um grande poder realmente traz consigo uma enorme
responsabilidade. Mas estava satisfeito em como estava conduzindo
as coisas. Seis meses depois de tudo, meu Reino já estava
praticamente refeito, as pessoas recebendo por seus trabalhos,
minha sogra satisfeita com Mia, a nova cozinheira e meu amor mais
feliz do que nunca.
Dormir e acordar ao lado de Nikolai me dava forças para
enfrentar o que fosse. Não foi fácil assumi-lo perante todos, não por
eu ter algum tipo de medo ou dúvida, mas pelas represálias que eu
sabia que viriam.
Alguns Reinos, inclusive de outros países, repudiaram a mim e
ao meu marido. Só que também fiquei feliz em saber que muitos me
apoiaram. A grande revolta mesmo ficou por parte dos Guardiões de
onde fui treinado, pois eles receberam ordens de outros Reinos para
que essa pouca vergonha jamais fosse ensinada aos seus filhos e o
pai de Andrei, como chefe maior dos guardiões, ficou revoltado
quando o trabalho deles foi posto em dúvida, afinal fui ensinado por
eles.
Recebi uma carta que, apesar de educada, era agressiva. Milo,
assim se chamava o pai de Andrei, exigia que eu entregasse seu
filho de volta, pois ele era um Guardião e aqui ele poderia ser
contaminado. Ele usou exatamente essas palavras.
Respondi lhe informando que caso ele tenha se esquecido, eu
era o Rei e ninguém poderia ir contra minha vontade. Não gostei de
responder assim, isso se parecia com o meu pai, mas eu sabia onde
ele queria chegar e se tivesse que me valer da minha autoridade, eu
faria. Não perderia Andrei para ele e ainda não tinha contado ao
meu amigo sobre seu pai e não pretendia.
Andrei estava bem e eu vinha tentando convencê-lo a deixar de
ser um Guardião e virar o meu Conselheiro Real. Ele seria livre em
muitos aspectos, mas também percebi que não era apenas o seu
título que o prendia, ele era assim, o ser mais inocente e puro que
eu já havia conhecido. E por isso mesmo, ele mudando de função
ou não, eu o defenderia até o fim.
Nikolai estava mais belo a cada dia e o povo o amava. Ele ia aos
vilarejos, conversava com todos e ajudava a quem quer que fosse.
Ele era o meu alicerce, a minha coragem e o meu amor.
Os corredores deste castelo nunca presenciaram tanta alegria.
Amava vê-lo correr de mim, sorrindo e quando eu o pegava, era
para amá-lo como ele merecia. Volta e meia estávamos no lago, era
nosso refúgio particular.
Minha mãe estava linda e feliz. E cada vez mais eu a via
envolvida por Serguei. Fazia muito gosto nesse amor. Ele era um
homem de valor e nosso castelo era enfeitado de rosas por todos os
lugares por causa dele.
Ela ainda não havia me contado, mas hoje pela manhã eu acabei
vendo, sem querer, quando ela foi aos jardins e ao chegar, foi
recebida por rosas e ele, que tinha um lindo sorriso no rosto. E meu
coração se encheu mais de alegria quando fui testemunha do
primeiro beijo dos dois. Sabia que minha mãe estava feliz como
nunca e principalmente, que merecia aquela felicidade, aquele amor
verdadeiro.
Andrei e Viktor ainda fingiam que não eram loucos um pelo
outro, embora isso ocorresse mais pelo meu amigo do que pelo meu
Comandante. Mas eu sabia que era questão de tempo, Andrei seria
vencido pelo cansaço e em minha mente eu bolava um plano para
dar um pequeno empurrãozinho, algo parecido com o susto que ele
levou quando Mia veio para o castelo há um mês.
Estava agora no alto da torre onde ficava o meu quarto e olhava
tudo que me pertencia, mas foi ao olhar para trás que realmente
suspirei vendo o motivo que fazia meu coração bater todos os dias.
Nikolai dormia em nossa cama, coberto apenas pelos lençóis de
seda e tínhamos acabado de fazer amor. Por ele eu seria um
homem honrado, por ele eu conduziria o meu Reino, cuidaria do
meu povo e principalmente, viveria para fazê-lo feliz pelo resto da
minha vida.

Fim ♥
Agradecimentos

Agradeço a Deus primeiramente por me permitir criar. Aos meus


leitores tão amados e aos meus queridos amigos Gabby Santos e
Rennan Oliveira, meus parceiros no projeto SOS CONTOS que é de
onde este romance vem.
Amo fazer parte desta equipe e desafiar a mim mesma com histórias
que saiam da minha zona de conforto. Estamos na terceira edição e
esta minha história é a primeira da SOS CONTOS que trago para
Amazon.

Agradeço mais uma vez a minha querida amiga Valéria Nascimento


por ser incrível e me ajudar tanto!

Peço com carinho que deixem uma avaliação para a história e ajude
a este príncipe querido a chegar no coração de mais pessoas ♥

OBS: Devido ao grande sucesso que o Comandante Viktor e o


Guardião Andrei fizeram no Wattpad quando este romance estava
sendo publicado por lá, informo que o casal ganhará o conto deles e
em breve estará por aqui também!!
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Romances LGBTQIAP+ cheios de amor e representatividade!

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