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Direitos Autorais

Título original: The Devil Wears Kilts

Scandalous Highlanders Series #1

Copyright © 2013, Suzanne Enoch

Copyright da tradução©2022 Leabhar Books Editora Ltda.

Editor: Tereza Rocca

Tradução: Regiane Moreira

Revisão: D. Marquezi

Diagramação e Capa: Labellaluna Web®

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Glossário

Laird = Lorde

Meu laird = milorde

Aye = sim

Nae = não

leannan = meu amor

piuthar = Irmã

braithar = irmão

amadan = idiota

Sassanach ou sassenach = estrangeiro (de forma pejorativa) Sròin = nariz

bairn = criança pequena

sporran = um tipo de bolsa que se usa na frente do kilt brèagha =


bonito/bonita
Prólogo

—P

isso, Urso? — Rowena MacLawry olhou para as pétalas de rosas brancas e


vermelhas, espalhadas por todo o chão da sala matinal.

Seu irmão Munro ergueu os olhos ao passar um pano na ponta de sua


espada de duas mãos. — De que outra forma eu poderia mostrar o quão
afiada é a lâmina, Winnie?

— Mas tirou os topos de todas as rosas! — Rowena sacudiu o vaso com


suas hastes nuas para seu irmão. — Uma não seria suficiente?

— Nae. Não é tão impressionante. E saíram todas com um só corte.

— Eram minhas flores de aniversário, Urso, seu idiota estúpido. Do tio


Myles. — olhou dele para seu irmão mais velho, que estava lendo um jornal
e fingindo não notar nada do caos acontecendo à sua frente. —

Ranulf, faça alguma coisa.

— As flores sumiram, moça. — comentou Ranulf MacLawry, o Marquês de


Glengask, erguendo os olhos do papel. — Devo mandar Munro colar as
pétalas de volta?

— Poderia tê-lo impedido de balançar uma espada na sala matinal.

Vieram de Londres. — disse, suspirando.

— Quem quer flores de aniversário, afinal? — perguntou o terceiro homem


na sala, Lachlan MacTier, Visconde Gray, pegando a claymore de Munro,
experimentalmente cortando o ar. — Agora isso é um presente.
Roderick que forjou, Urso?

— Aye. — respondeu Munro. — Custou-me um barril e quatro garrafas.

— Eu pagaria o dobro disso.

— Se está tentando dizer que comprou para mim uma claymore no meu
aniversário, Lach, — Rowena interrompeu, claramente descontente por ser
ignorada em favor de uma espada larga — pode se virar e levá-la de volta
para casa.

Lachlan olhou para ela, estreitando os olhos verdes claros. — Uma moça
não tem nada a ver com uma espada, Winnie.

— Por isso não quero uma. Então, o que comprou para mim?

Com um meio sorriso, Lachlan produziu um pedaço de papel embrulhado


atrás de uma cadeira. — Acho que fará mais uso disso do que de uma
espada larga. Feliz aniversário, Winnie.

De seu assento no peitoril da janela, Ranulf finalmente baixou o jornal que


estava lendo. A informação que carregava tinha uma semana, na melhor das
hipóteses, mas não gostou do que dizia. Na verdade, teria gostado de dar
alguns golpes na maldita coisa, com a espada de seu irmão.

Não conseguia lembrar de quando havia gostado de alguma notícia de


Londres, na verdade. Mais regras e regulamentos que não lhe faziam bem,
mas lhe custavam impostos cada vez maiores. Se os Sasannach não
conseguiram afastar os Highlanders ou matá-los todos, certamente
encontraram a maneira de derrotá-los de uma vez por todas, levando-os à
falência. Quando se mexeu, os dois cães de caça escoceses a seus pés se
desenrolaram e se sentaram, provavelmente já se perguntando por que ainda
não tinham saído para a corrida matinal.

O atraso foi inteiramente devido à jovem de pé, ao lado da cadeira da sala


de estar. Sempre que o aniversário de Rowena chegava, o clã se virava do
avesso para comemorar, mas este era especial. Assim, seu passeio e a
corrida dos cães poderiam esperar, até que sua irmã abrisse seus presentes.
Com um sorriso animado em seu rosto, Rowena rasgou o papel do presente
deformado que Lachlan entregou. Com a mesma rapidez, porém, sua
expressão caiu novamente. — Botas? — disse em voz alta, olhando para o
vizinho mais próximo. — Me comprou botas.

Lachlan assentiu, uma mecha de cabelo castanho caindo sobre um olho. —


Botas de montar. Porque arruinou as suas na lama no mês passado.

— seu próprio sorriso desapareceu em seu olhar. — O que? Eu sei que


servem. Pedi a Mitchell que me desse o tamanho do seu sapato.

—Sou uma dama agora, Lachlan. Poderia ter me trazido flores, ou um belo
chapéu. Ou, pelo menos, sapatos adequados para dançar.

Lachlan bufou. — Conheço-a desde que nasceu, Winnie. As botas servirão


melhor.

Ranulf deixou o jornal de lado inteiramente, gesticulando para os dois


gaiteiros que estavam no corredor, fora da vista dos ocupantes da sala
matinal, se retirarem. Sua irmã mais nova era uma moça bem-humorada,
mas ele tinha visto essa tempestade à espreita no horizonte por vários dias.

E gaitas de foles provavelmente não iriam melhorar o humor de ninguém.

— Mas eu não sou mais uma garota que anda loucamente pelo campo,
Lachlan. — disse Rowena, sua expressão, uma mistura de aborrecimento e
tristeza. — Não vê isso?

Lorde Gray riu. — Isso foi ontem, então? Hoje não pode mais cavalgar?
Não seja tola, Winnie.

Sem palavras, Rowena virou-se para encarar Ranulf. — É minha última


esperança então, irmão mais velho. — disse, com a voz um pouco vacilante
— Qual é o meu presente?

Por um momento, seu irmão mais velho a olhou, a sensação inquietante, de


tempestades se aproximando, esvoaçando novamente ao longo de sua pele.
— Disse-me que queria um vestido novo. — finalmente
retornou. — Um verde. Mitchell o colocou lá em cima, para que use no
jantar. Ao contrário das botas, é adequado para dançar.

Enquanto observava, uma grande lágrima se formou e escorreu por uma das
bochechas claras de Rowena. Maldito Saint Andrew. Ele errou, então.
Como, não sabia ao certo, mas claramente algo deu errado.

— Winnie, por que está chorando? — outra voz masculina perguntou da


porta da sala de estar, enquanto Arran MacLawry, o quarto irmão e o mais
próximo em idade a Ranulf, entrava na sala. — As botas de Lach ficaram
apertadas, então?

— Ela não começou a chorar até que Ran lhe disse sobre o vestido. —

Munro retornou. — Acho que queria um azul, afinal.

— Bem, isso deve animá-la. — Arran se aproximou e entregou à irmã um


pequeno pacote, embrulhado em pano.

— Deixe-me adivinhar. — comentou Rowena, enxugando a bochecha

— É uma bússola, então não vou me perder quando for montar na nova sela
de Urso, com as novas botas de Lachlan.

Arran franziu a testa. — Não. É um relógio pequenino, em um alfinete.


Muito inteligente. Mandei-o vir de Genebra, depois que vi um anúncio no
Repositório do Ackermann.

— Isso é muito bom. Obrigada, Arran.

Munro pegou sua claymore que estava com Lachlan e a espetou, não muito
gentilmente, no piso de madeira marcado. Não foi a primeira arma a
descansar lá, e, provavelmente, não seria a última. Os gaiteiros e meia dúzia
de seus servos estavam de volta ao corredor, e Ranulf lhes deu um olhar
severo e um aceno para que se fossem. Claramente, sua irmã não estava
com disposição para um maldito desfile, mesmo daqueles que lhe desejam o
bem.
— Então Arran recebe agradecimentos, e todos nós temos lágrimas e somos
chamados de idiotas? — Munro retrucou.

Em vez de responder, Rowena largou seu relógio de alfinete e caminhou


lentamente até Ranulf. Os cães empurraram suas cabeças contra suas
palmas, enquanto se aproximava, mas ignorou o óbvio pedido de carinho.
Isso não era um bom presságio. Ela não o chamou de idiota, mas parecia
estar implícito. E Ranulf não se importava muito com isso. Sua irmã tinha
pedido um vestido verde-esmeralda, e ele se certificou de comprar-lhe um.
Um muito bonito e muito caro. De Paris, maldito seja.

Quando ela o puxou para que ficasse em pé, ele não resistiu. Mas quando
Rowena manteve seus dedos pequenos e delicados segurando as duas mãos
dele, Ranulf franziu o cenho. — Queria outra coisa, então. —

resmungou, desejando, e não pela primeira vez, ter trazido outra mulher
para a casa. Então alguém, pelo menos, teria uma chance de entender a
MacLawry mais jovem. Tinha sido uma questão simples quando ela era
criança, mas, ultimamente, parecia cada vez mais uma criatura totalmente
estranha. — O que foi? Sabe, se estiver em meu poder, eu lhe darei isso,
Rowena.

— Sabe… sabe o que quero, Ranulf. Agora tenho dezoito anos. Quero
minha temporada. Em Londres. Isso é p…

— Nae. — interveio, carrancudo, tanto na forma como ela alterou seu


discurso, quanto com a própria noção. — Na sexta-feira, vamos comemorar
o seu aniversário. O clã inteiro está chegando. Todos os bons rapazes
estarão aqui, lutando para dançar contigo. Isso é melhor do que qualquer
soiree londrino.

Com um suspiro mal disfarçado, Rowena olhou por cima do ombro, para os
outros três homens na sala. — Lutaria por uma valsa comigo, Lachlan
MacTier?

— E ficar com os pés arrasados, por causa do meu esforço? — o visconde


riu novamente. — Vejo-a o tempo todo. Deixe os outros rapazes bonitos
lutarem por uma dança.
— Nenhum rapaz bonito irá brigar por uma dança comigo, porque todos
têm medo de meus irmãos — Rowena retrucou.

— Bem, eu também tenho.

— Não tem.

Ranulf se mexeu, não querendo ouvir porque um homem deveria ou não o


temer. Um homem deveria. E era assim. — Não vai sentir falta de um
parceiro, Rowena. Será uma grande festa.

Finalmente ela o encarou novamente. — Não quero uma festa estúpida,


com pessoas que conheço a vida toda e que acham que dançar é desculpa
para brigar. Quero minha temporada. Em Londres. Mamãe teve uma.

— Mamãe era inglesa. — retrucou, rosnando sobre a palavra. — Sabe quem


mora em Londres, Winnie. Almofadinhas, dândis e Sasannach de coração
fraco. Tem uma bela festa aqui à sua espera. E se um homem não pode
suportar a ideia de ficar cara a cara com o chefe de seu clã, não merece
dançar contigo.

Rowena colocou as mãos nos quadris e ergueu o queixo. — Quer que eu


prefira Glengask a qualquer outro lugar do mundo, Ran, mas não me deixa
ver em nenhum outro lugar. Não tenho nada para comparar, exceto minha
própria imaginação, e, em minha mente, Londres é realmente maravilhosa.

— Pela última vez, Londres está cheia de lambe-botas inúteis, que não
conseguem levantar suas próprias selas. Suba as escadas e experimente seu
vestido. Esta discussão está encerrada.

— Ranulf, m…

— Acabou. — repetiu, e cruzou seus braços sobre o peito. Rowena era uma
coisa pequena e delicada, muito mais parecida com sua mãe do que o
deixava confortável. Para seu crédito, não se afastou dele, mas, mesmo
assim, sabia, tão bem quanto Ranulf, que ele tinha vencido essa discussão.

Não iria para Londres. Nunca.


Com um último olhar úmido, Rowena se virou e fugiu pela porta. Um
momento depois, ele ouviu a porta do andar de cima se fechar. Os outros
três homens na sala olharam-no, mas ninguém disse uma palavra. Não
iriam, no entanto; seus irmãos, pelo menos, conheciam o resto do
argumento, que não se preocupou em explicar para Rowena, que Londres
também estava cheia de aristocratas que reivindicavam suas terras,
enquanto negavam o sangue e a ascendência escocesas, homens que viviam
tão longe das Highlands quanto podiam administrar, enquanto expulsavam
seus próprios arrendatários de suas casas, para entregar suas terras às
ovelhas. Que Londres também estava cheia de traidores. Traidores e
assassinos.

— Vou dar uma volta. Fergus, Una. — disse, e saiu da sala, sem olhar para
trás, os cachorros nos calcanhares.

Debny, o cavalariço-chefe, deve tê-lo visto chegando, porque quando


apareceu no pátio do estábulo, Stirling estava esperando por ele. Subindo na
sela, deu uma joelhada no baio grande e esguio e partiu pelo caminho que
serpenteava para o leste, atravessando uma parte da encosta, varrida pelo
vento e depois descendo em um desfiladeiro arborizado, os cães o
flanqueiam de ambos os lados. O rio Dee, rugia pelo centro do cânion,
descendo para o vale e depois para as terras baixas, muito além de uma
série de penhascos de granito, que pareciam as escadas de um gigante.

Toda vez que percorria essa trilha, sempre ficava impressionado por sua
beleza, mas, hoje, mal teve um momento para perceber, que uma das

velhas árvores havia caído na última tempestade. Rowena só pensava em ir


a Londres, e isso apenas porque começou a ler os diários de sua mãe e as
malditas páginas da Sociedade no jornal. Durante o último mês, ele fez
Cooper queimá-las, quando chegaram, mas, claramente, não fez a menor
diferença.

Desacelerando da cavalgada para o passo, contornou uma queda d'água, e


continuou rio acima. Lá embaixo, onde o rio deságua no vale, ficava a
aldeia de An Soadh, sua aldeia, cheia de seus arqueiros, pastores, oleiros e
lojistas. sua manhã não quis ouvir nenhum deles louvar suas graças ou
abençoar sua querida família ou agradecer-lhe pelo convite para o Glengask
Hall, para a festa de sexta-feira.

Uma leve névoa pairava nas copas das árvores esta manhã, a luz do sol caia
em feixes visíveis para as rochas musgosas, de arestas afiadas e arbustos
baixos e castigados pelo tempo, escondidos entre elas. Como, em nome de
Deus, alguém poderia preferir Londres, suja e mimada, a isto, não fazia
ideia. Um veado ousou sair de trás de um conjunto de rochedos e saltou
uma das estreitas ravinas, em direção aos pântanos cobertos de urze acima.
Os cães de caça rugiram e correram atrás dele, e Ranulf pegou seu rifle -
então percebeu, tardiamente, que não o tinha trazido consigo. Com uma
maldição, assobiou para Fergus e Una voltarem para o seu lado.

Esquecer seu rifle tinha sido tolice. Tão solitário quanto as Highlands, por
mais vazios que a maioria dos cantos e recantos estivessem se tornando,
sempre havia lugares onde um indivíduo, que não significava nada de bom,
podia se esconder. Por um momento pensou em dar meia volta e retornar a
Glengask, em busca de uma arma, mas, hoje, era mais provável que fosse
emboscado por sua irmã em casa do que por qualquer malvado que
estivesse na natureza.

Ou assim pensou. Ao som fraco e abafado de musgo de cascos atrás dele,


Ranulf empurrou Stirling para as árvores. Um ataque em plena luz do dia,
no meio de suas próprias terras, seria realmente ousado, mas foi ele quem se
esqueceu de se armar contra tal coisa. Curvando-se, puxou a lâmina longa e
estreita da bainha em sua bota. Os malditos vira-casacas descobririam que
não era indefeso. Se pretendiam derramar seu sangue, cuidaria para que
perdessem uma quantidade dos deles também. — Fergus, Una, guarda! —
murmurou, e os pelos dos grandes cães de caça se ergueram.

— Ran! Ranulf!

Ao som da voz de seu irmão, Ranulf abaixou os ombros. — Fergus, fora.


Una, fora. — apertou os joelhos em Stirling, voltou para a trilha estreita. —
Não sabe o significado da palavra 'sozinho'? — perguntou.

— Não disse nada sobre 'sozinho'. — não era apenas Munro, mas Arran e
Lachlan também, trotando ao longo do rio, em sua direção. Munro, o mais
novo deles, menos no caso de Rowena, jogou um rifle em sua direção. — E
sabe que não deve sair desarmado. — continuou, franzindo a testa.

Ranulf pegou a arma em sua mão livre, e, com a outra, girou a lâmina, que
ainda segurava em seus dedos, antes de empurrá-la de volta em sua bota. —
Eu não estava desarmado. E apostaria que Fergus ou Una poderiam
atropelar um cavalo, se quisessem.

— Eles não poderiam correr mais que uma bala de mosquete. —

Arran apontou para o cabo da faca. — E isso serve apenas quando está
próximo, mas os covardes raramente atacam de perto.

— São precisos três para entregar uma arma, agora? — Verdade ou não, não
deixaria nenhum deles castigá-lo. Era o mais velho, e por quatro anos.
Arran só faria trinta dali a três anos, ou não, se não se cuidasse.

— Estou aqui porque é mais seguro do que ficar em casa. — seu herdeiro,
aparentemente, respondeu com desinteresse. Deu tapinhas no saco
amarrado na parte de trás de sua sela. — E trouxe apetrechos de pesca.

— Vim porque não queria que uma sela fosse atirada na minha cabeça. —
Munro, Urso para sua família e amigos, disse com um sorriso.

— Ela se trancou em seu quarto, mas quem sabe quanto tempo isso vai
durar?

— E eu não ia ser deixado lá sozinho com Winnie. — Lachlan interveio.

— Não sei por que não. — Arran rebateu. — Disse que não dançaria com
ela, seu covarde.

— Ela é uma criancinha. Eu a conheço desde que seu cabelo era muito
curto para tranças. Não sei por que está agindo tão estranho ultimamente,
mas não quero fazer parte disso.

— Ela está agindo estranho porque está apaixonada, Lachlan. —

Arran rebateu. — Embora eu não saiba como Ranulf se sente sobre isso.
— Nem eu. — Ranulf disse, embora isso não fosse inteiramente verdade.

Lachlan o olhou. — Acho que devemos ir pescar. E ela só pensa que gosta
de mim porque eu sou o único homem, perto de sua idade, que tem
permissão de se aproximar dela.

Isso era provavelmente verdade, mas como Ranulf tinha decidido, há vários
anos, que Lachlan seria um bom partido para Rowena, não viu nenhuma
razão para exibi-la. Em vez de comentar sobre a declaração de Lachlan,
gesticulou em direção à cachoeira e seguiu em frente. — Até o lago, então,
enquanto ela esfria seu temperamento Um dia inteiro pegando trutas e
percas, e, especialmente ao ver Munro deslizar de costas dentro do Loch
Shinaig, certamente melhorou o

humor de Ranulf. Só podia esperar que um dia passado com Mitchell, a


compassiva criada de Rowena, também aliviasse o humor de sua irmã. Se
apenas parasse com seus devaneios por um momento, perceberia que tinha
recebido alguns belos presentes dos irmãos e amigos que a adoravam, e que
sexta-feira seria a maior festa que as Highlands tinham visto em décadas.

Era quase pôr-do-sol quando entregaram suas fileiras de peixes para


Cooper, enquanto o mordomo abria a porta da frente. — Lady Rowena? —

Ranulf perguntou, tirando seu sobretudo com capa e lançando lama de suas
botas.

— Nem um sinal de milady. — Cooper retornou, sinalizando para um


lacaio vir e recolher os ingredientes do jantar. — Stewart Terney veio visitá-
lo, meu laird, mas disse para não se preocupar, já que amanhã se
encontrarão no moinho, e poderia esperar até lá.

Ranulf assentiu. — Obrigado.

— Sim — disse Urso. — Se o tivesse mandado até o lago atrás de nós, a


cara séria daquele homem teria virado todos os peixes de barriga para cima.

— Chega disso, Munro. — Ranulf favoreceu seu irmão com uma breve
carranca. — Ficaria com cara de azedo também, tendo apenas Glengask lhe
enviando grãos. No tempo de seu avô, ele tinha negócios com os Campbell,
os Gerden e os Wallace, além de nós. Tomara que, pelo menos, seja capaz
de aumentar a quantidade de trigo que enviava ao moinho, dependendo do
acordo tarifário que pudesse fazer com Terney e do tempo no verão.

— Espere até que Winnie sinta o cheiro de truta assada. — Munro falou
lentamente, subindo as escadas. — Isso vai seduzi-la. — fez uma pausa,
olhando por cima do ombro. — Um jogo de dardos, Lach?

Uma vez que os outros dois homens se foram, Arran se virou e inclinou o
queixo para o mordomo. Com um rápido aceno de cabeça, Cooper e dois
lacaios que o acompanhavam desapareceram nas entranhas da grande casa.
Ranulf recostou-se contra a parede do vestíbulo e cruzou os braços sobre o
peito. — O que é?

— Apenas que todos nós fomos para a Inglaterra e voltamos ilesos.

— Não é a mesma coisa. — retrucou Ranulf. — Eu, no mínimo, não tinha


os olhos arregalados e esperava um conto de fadas. E, se bem me lembro,
teve uma espécie de encontro com a guerra.

— Eu servi, exatamente como deveria. Não fuja do ponto, Ran.

— Que ponto é esse?

— Winnie tem isso em mente, e negar-lhe isso não a impedirá de querer ir.

— Eu não vou aceitar isso, Arran. Se os Sasannach tivessem tido sucesso,


não haveria nada além de ovelhas, em todas as Highlands, e o nosso clã
seria lançado ao vento, como todo o resto. Tudo o que os ingleses querem é
dinheiro. E controle. Não vou entregar minha única irmã a eles. É

escocesa e vai ficar na Escócia. Tem um marido esperando por ela aqui,
uma vez que Lachlan perceba que não é mais uma criança.

— A menos que Lach tenha uma moça diferente em mente. Mas isso não
vem ao caso, agora. Rowena também é meio inglesa. — Arran disse
calmamente. — Assim como nós.
— Não a metade que importa. — retrucou, depois respirou fundo. —

Não vou ter essa discussão com ela, nem contigo, nem com mais ninguém.

Ela fica em Glengask. Está mais segura aqui.

Arran abriu a boca, então voltou a fechá-la. — Pode, pelo menos, explicar
seu raciocínio para ela, então.

Tinha feito isso, até ficar sem fôlego, voz e paciência. — Se ela não
entendeu o motivo até agora, simplesmente terá que aceitar minha decisão
pelo que é. Rowena fica e terá uma grande festa, na qual pode ficar de mau
humor se quiser.

— Ah. Isso soa grandioso.

Ranulf enviou a seu irmão um olhar de soslaio, que fez Arran dar meio
passo para trás. — Ela sabe que não deve me empurrar. — disse —

Não vou discutir isso novamente, e não vou perder mais fôlego discutindo
contigo.

— Sim, todos nós sabemos que não devemos brigar contigo. — Arran
virou-se para a porta. — Acho que vou me juntar ao Munro e jogar algumas
coisinhas pontudas na parede.

Por um momento Ranulf pensou em se juntar a seus irmãos e Lachlan, mas


as chances eram de que os três estivessem discutindo se uma temporada em
Londres seria tão ruim assim para Rowena. Estariam relembrando os
poucos anos que passaram em Oxford, e suas próprias viagens infrequentes
para a cidade. Arran, especialmente, refletiria que seus quatro anos
passados no Exército de Sua Majestade não o tornaram menos escocês.
Todos estavam certos e todos errados.

Rowena não queria férias em um lugar distante. Ela leu os diários de sua
mãe e se apaixonou por uma vida mansa, de festas e vestidos de renda, e
homens que passavam tanto tempo em seus trajes quanto qualquer mulher.

Ela achava que queria ser inglesa.


Superaria isso, é claro, perceberia que uma vida de distrações tediosas,
ociosas e esnobismo não era uma vida muito boa, mas, até então, ficaria
muito bem em Glengask. Sob seu olhar atento. Sob sua proteção.

Apreciasse seus esforços, ou não. Era uma equação simples, na verdade. Ele
era o Marquês de Glengask, o chefe do Clã MacLawry e todos os seus

dependentes, e quaisquer que fossem as regras que tentassem estabelecer na


Inglaterra, aqui sua palavra era lei.

Ainda devia descer a uma das aldeias, como fazia quase todos os dias, mas
tinha pouca vontade de fazê-lo. Em vez disso, mandou Cooper pedir à Sra.
Forrest, a cozinheira, uma panela extra de peixe assado para a manhã.

O padre Dyce faria bom uso da recompensa, para os mais pobres dos
camponeses abaixo. Tudo isso o deixou com uma das coisas mais raras e
inesperadas: o tempo. Tinha feito a maioria de suas tarefas ontem, para que
pudesse dedicar o dia à festa de Rowena. Carrancudo, Ranulf olhou na
direção das escadas. Talvez a tivesse mimado, mas o que um irmão mais
velho poderia fazer, além de ver que sua única irmã e caçula tivesse tudo o
que poderia desejar?

— Meu laird?

Ranulf se virou. — O que é, Cooper?

O velho escocês arrastou os pés. Isso em si era estranho; Cooper geralmente


tinha um orgulho feroz de sua posição, e era conhecido por dar socos nas
orelhas de lacaios pelo crime de se curvar. — Há... um pouco de confusão
sobre alguma coisa.

— Que confusão? — estreitando os olhos, Ranulf resistiu ao desejo de


ordenar ao mordomo que se apressasse. Isso só iria abalar o sujeito, e nunca
diria uma palavra sensata.

— A... ah, Debny mencionou à Sra. Forrest que haviam pedido emprestado
o phaeton, porém, como era cedo, ela não achou apropriado mencioná-lo
para mim, mas agora... bem, já passou do pôr-do-sol e não há...
quer dizer, o...

— Quem pegou o phaeton? — Ranulf interrompeu, percebendo que se não


dirigisse uma pergunta nunca chegariam ao fim da história.

— Mitchell, meu laird. Presumo ter sido com Lady Winnie. É claro que
sempre saem, mas como eu disse, está ficando tarde, e não levaram os cães
ou quaisquer cavaleiros com eles, e...

Ranulf perdeu a última parte do discurso do mordomo, pois já estava a meio


caminho das escadas, com o gelo perfurando seu peito. — Arran! —

berrou enquanto corria. — Munro!

O quarto de Rowena parecia ter soprado um vento forte do norte.

Roupas e roupas de cama estavam espalhadas por toda parte, pedaços de


papel queimado derramados da generosa lareira, e as janelas escancaradas
deixavam o frio da noite das Highlands fluir para o quarto. Mas ao mesmo
tempo...

— Ran! O que o diabo é…

— Cristo. Alguém a levou? — Arran tropeçou logo atrás de Munro,


Lachlan em seus calcanhares. — Malditos Gerden. Vão sangrar por isso!

— Espere, Arran. — Ranulf ordenou, agachando-se para passar a mão pelos


papéis queimados e empurrando os cachorros para longe, quando se
aglomeraram, latindo nervosamente. Tinha visto o caos verdadeiro antes, e
isso parecia um pouco ordenado demais. Roupas velhas espalhadas, mas
nada que realmente gostasse de usar. Cama desfeita, mas não estava nela há
horas e horas. Levantou uma das peças maiores. As palavras - apatos de bai

- eram apenas visíveis, com algo logo abaixo que parecia - escova de
cabelo.

— O que foi, Ran? — Munro perguntou, agachando-se ao seu lado.


A mandíbula de seu irmão estava apertada, seus punhos cerrados. Havia
uma razão para terem apelidado Munro de Urso, e não era porque gostava
de discussões lógicas. — Estamos perdendo tempo.

— É uma lista. — Ranulf retornou, endireitando-se. — Ou parte de uma.


Ninguém a levou a lugar nenhum. Levou a si mesma e Mitchell. Para

Londres.

— No phaeton? — Cooper interrompeu.

— Sem dúvida, vamos encontrá-lo na estalagem de coches de correio mais


próxima. É assim que viajarão. —

— Para Londres? Sozinha? — Arran deu um soco na cabeceira da cama. —


É louca.

— Seja ela o que for, — Ranulf retornou lentamente, desenterrando outro


pedaço de papel, com um endereço chamuscado — está em um grande
problema.

Lachlan se mexeu. — Façam as malas. Vou mandar Debny selar os cavalos.

— Não, Lachlan. Mande Debny preparar a carruagem de viagem. —

Olhou para cima, para ver Cooper espreitando na porta. — Cooper, peça
para Peter e Owen arrumarem suas coisas. E mande o Sr. Cameron para cá.

— A carruagem? — repetiu Arran, enquanto o mordomo descia as escadas


correndo. — Nunca alcançará um coche do correio naquela besta.

— Elas têm quase dez horas de vantagem, e um plano que, sem dúvida,
inclui uma identidade falsa. — Ranulf disse, a fúria cada vez mais profunda
em seu peito misturando-se com uma quantidade de preocupação.

— Melhor assim.

— Do que está falando, Ran?


— O que estou falando, Urso, é que ela deve saber que tem mais a evitar do
que apenas nós. E não serei visto pelos Gerden e seu bando, gritando como
um demônio, enquanto corro pelo campo. Eu a seguirei perto o suficiente
para ter certeza de que ninguém a detenha, e a alcançarei em Londres. —
olhou para o pedaço meio queimado novamente. — Na Hanover House,
evidentemente. E então eu arrasto a bunda dela de volta para casa.

— E nós? Espera que fiquemos de braços cruzados...

Ranulf olhou para Arran. — De fato, espero. Sabe que precisamos ter um
MacLawry aqui na Glengask. E dois pares de olhos serão mais úteis
também. Vai ficar claro que parti. Não quero que ninguém veja isso como
um convite para vir e criar problemas. Ou pensem que abandonei nosso
povo.

— Os Gerden e os Campbell, provavelmente, verão isso como uma chance


de encurralá-lo na estrada. — Munro rosnou. — Não pode ir com nada além
de dois lacaios para proteção, Ran.

— Eu vou. — disse Lachlan.

— Não, não vai. Não quero que Rowena faça algo ainda mais tolo, para
tentar deixá-lo com ciúmes ou algo assim.

— Mas ela é... é como minha irmã, Ran. Eu nunca...

Ranulf baixou a sobrancelha. — Ainda mais razão para que fique aqui. — o
que quer que fosse que Rowena pensasse estar fazendo, ele não ia
complicar mais as coisas. Nem mesmo o homem que ela havia escolhido.

— Vou levar os cachorros comigo. E esses dois lacaios, como os chama,


lutaram na Península com Wellington assim como fez, Arran. Eles vão me
acompanhar.

— Sim, mas…

— Sem mais argumentos. Qualquer um de vocês. Estou partindo para


Londres em uma hora. Fiquem aqui e certifiquem-se de que Rowena e eu
tenhamos uma casa para onde voltar. Nos verão dentro de quinze dias,
mesmo que eu tenha que amarrá-la e jogá-la sobre um cavalo Londres.
Maldição. Rowena teria sorte se a jogar em cima de um cavalo fosse o pior
que poderia acontecer com ela. Com ambos.

Capítulo 1

—N

se preocupar com isso; Jane aceita qualquer desculpa para fazer compras.
— com um sorriso, Lady Charlotte Hanover beijou a irmã no nariz e se
levantou.

— Não quero atrapalhar sua agenda. — Lady Rowena MacLawry retornou,


com seu sotaque suave e cadenciado. — É muito pobre da minha parte
chegar à sua porta sem nenhum aviso.

— Bobagem. — Lady Jane Hanover agarrou a mão de sua amiga. —

Estou convidando-a para uma visita há anos. Sua mãe e minha mãe eram
praticamente irmãs. Não eram, mamãe?

— Sim, éramos. — Elizabeth Hanover, a condessa de Hest, assentiu.

— E estou tão feliz que tenha começado a se corresponder com Jane. Se


parece tanto com Eleanor, sabe. — suspirou, oferecendo um sorriso suave

— É bem-vinda aqui, minha querida, pelo tempo que quiser ficar. É claro
que vou patrocinar sua temporada. É justo que debute junto com Jane.

Jane bateu palmas. — Viu só? Deveria ter vindo há séculos, Winnie.

— Ah, eu queria, acredite em mim. O problema é que Ran se preocupou


com isso. Ele acha que todo inglês é… — parou, limpando a garganta. —
Bem, ele é muito tacanho quando se trata de Londres.

Girou uma mão, rindo, mas, aos olhos de Charlotte, a jovem Lady Rowena
não parecia totalmente à vontade. Claro que tinha certeza de que ela
também não estaria, se tivesse viajado sozinha, com ninguém além de sua
criada, pela metade da Escócia e quase por toda a Inglaterra.

Claramente Winnie queria muito uma temporada em Londres.

Para um irmão superprotetor, este Ranulf MacLawry falhou de uma maneira


espetacular. Uma jovem, que nunca tinha saído de seu próprio condado, não
tinha nada que estar na Inglaterra, sozinha. Nem viajar numa carruagem do
correio. Charlotte estava quase resolvendo escrever para Lorde Glengask e
dizer-lhe exatamente isso. Certamente, ninguém poderia ser tão ignorante a
ponto de achar desnecessário enviar uma carta antes de sua irmã, para
garantir que alguém estaria em casa para recebê-la e levá-la para a
temporada. Era... era inconcebível, mesmo para alguém ignorante dos
costumes ingleses. Certamente ele poderia ler um jornal, afinal. E

deveria ter um mínimo de bom senso.

Ela trocou um olhar com o pai, que ergueu uma sobrancelha, antes de voltar
à conversa. Jonathan Hanover, o conde de Hest, não era fã de caos, ou
agitação de qualquer tipo, mas a adorava, e à Jane, em excesso. Claro que
Lady Rowena seria bem-vinda na casa, e nunca veria sequer um sinal dele,
ou de qualquer outra pessoa, de que preferiria que a família não tivesse
companhia para a temporada.

Longfellow, o mordomo e dois lacaios chegaram com sanduíches frios e


chá para eles; já passava muito do jantar, e, evidentemente, a Sra.

Broomly tinha saído da cozinha, para passar a noite, com sua filha grávida,
perto de Tottenham Court. Enquanto os servos colocavam os pratos, a
aldrava na porta da frente bateu.

— Cuidarei disso, Longfellow. — disse Charlotte, já que já estava de pé e


mais próxima da porta do corredor.
— Obrigado, milady.

No momento em que percorreu a curta distância, da sala de estar até o


vestíbulo, as batidas se transformaram em pancadas. — Pelo amor de Deus!

— murmurou, e abriu a porta. — O que é tão... — começou Charlotte,


então quase engoliu a língua.

Havia uma parede no pórtico frontal. Bem, talvez não fosse tão largo como
uma parede, embora seus ombros fossem certamente largos. Mas se
sobrepunha a ela por uns bons dez centímetros, e a maioria de seus amigos
a considerava alta. No entanto, com tudo aquilo passando sem sentido por
sua mente, o que realmente notou foram os olhos azuis que atualmente
brilhavam, com seu nariz reto e perfeitamente esculpido sobre ela.

— Estou aqui por Rowena MacLawry. — disse sem preâmbulos, o rico


sotaque escocês das Highlands em sua voz.

Charlotte piscou. Winnie, como Rowena havia pedido que a chamassem,


havia chegado há menos de uma hora; em um coche de aluguel da
estalagem. Até onde sabia, ninguém mais estava ciente da presença de sua
visitante em Londres. Ninguém além da família de Rowena, claro. Eles, no
entanto, permaneceram na Escócia - até onde ela sabia.

— Não vim até aqui para que fique boquiaberta. — declarou a montanha,
no curto silêncio. — Rowena MacLawry. Agora.

— Eu não estava boquiaberta por sua causa, sir. — Charlotte retrucou,


embora estivesse bem ciente de que não parecia ser capaz de desviar o olhar
daquele rosto feroz e impressionante. Era como se um deus da guerra de
cabelos pretos tivesse simplesmente... aparecido em sua porta. — A maioria
dos visitantes chega à porta com um cartão de visitas, ou, pelo menos, com
uma ou duas palavras de saudação educada e introdução, antes de
esperarem poder passar para o vestíbulo.

Seus olhos se estreitaram. Não era gelo que via naquele azul profundo,
Charlotte percebeu, mas algo muito mais quente e raivoso. —
Não sou um visitante. — disse, aço sob a cadência suave. — E se os
ingleses acham que uma menininha barrando a porta é o suficiente para me
impedir de chegar ao que é meu, estão mais loucos do que me lembro.

Dele? Isso estava se tornando muito estranho, de fato. E não havia a maldita
necessidade de insultar. — Eu não sou uma menininha…

Ele deu um passo à frente. Colocando suas grandes mãos ao redor de sua
cintura, levantou-a do chão, apenas para colocá-la atrás dele, no pórtico

- tudo antes que ela pudesse fazer algo mais do que respirar ofegante. E

então, avançou no interior de Hanover House.

— Rowena! — berrou, caminhando pelo corredor.

Charlotte ajeitou as saias e correu atrás dele. — Pare de gritar


imediatamente! — ordenou.

Por toda a atenção que lhe deu ao persegui-lo, ela poderia muito bem ser
um inseto. — Rowena! Vou ver sua bunda aqui diante de mim, ou
derrubarei esta casa ao redor de suas malditas orelhas!

Longfellow e um trio de lacaios saíram da sala de estar. O grande escocês


os empurrou para o lado, como se não fossem mais do que pinos de boliche.
Entrou na sala de onde saíram, Charlotte em seus calcanhares.

Dada a presença corporal... presença que irradiava, esperava ver Lady


Rowena acovardada, atrás de uma cadeira. No entanto, ao invés disso, a
pequena jovem estava no meio da sala, em pé, corada e com as mãos nos
quadris.

— Que diabos está fazendo aqui, Ranulf? — exigiu.

— A carruagem está lá fora. Tem um minuto para estar dentro dela.

— Ran, p…

— Cinquenta e cinco segundos.


Rowena pareceu esvaziar. Quando abaixou a cabeça, uma lágrima escorreu
por uma bochecha. — Minhas coisas? — estremeceu.

— O que... qual é o significado disso, e quem, diabos, é o senhor? —

Lorde Hest exigiu.

A cabeça de cabelos escuros girou, para prender o conde com um olhar. O


diabo, de fato. — Glengask. — voltou sua atenção para Rowena.

— Vá buscar Mitchell e suas coisas. Se tentar fugir nesse meio tempo,


voltaremos a Glengask por St. Mary's, onde a deixarei. Mais ou menos uma
década com freiras deve esfriar sua cabeça.

Outra lágrima se juntou à primeira. — É uma besta, Ranulf MacLawry —


sussurrou Winnie, e passou correndo por ele e Charlotte, saindo da sala.

— Glengask. Irmão de Lady Rowena? — sua irmã, Jane, disse com uma
voz rouca. — O marquês?

— Aye. — ele retornou, seu tom ainda cortante e zangado.

— Foi nosso entendimento que nos enviou Lady Rowena para sua
temporada. — declarou o pai de Charlotte. Pela sua expressão tensa, estava
furioso, e isso não a surpreendeu nem um pouco. As pessoas - muito menos
os escoceses de olhos azuis vibrantes - não invadiam casas apropriadas
como a deles, sem aviso prévio. Nunca.

— Porque o senhor não pensaria duas vezes em mandar uma moça jovem
para uma terra estrangeira, sem nenhuma palavra antecipada. Ou será que
acredita que só um escocês poderia fazer uma coisa tão louca?

— Ela nos disse que o senhor a mandou aqui. — Charlotte colocou.

O Marquês de Glengask se virou para encará-la. — Ela contou uma mentira


idiota e acreditaram. Agora saia do meu caminho, moça, e nós iremos
embora deste maldito lugar.
Rowena tinha chamado seu irmão de besta, e Charlotte não viu nada que
contradissesse essa avaliação. E não gostava de homens que pensavam com
seus punhos e grandes músculos. Não mais do que gostava de ser chamada
de moça e descartada - duas vezes agora - como algo não mais significativo
do que uma pulga. Endireitou os ombros. — Eu sou Lady

Charlotte Hanover, e irá se dirigir a mim corretamente, sir. Além disso, até
termos certeza de que sua irmã está segura em sua companhia, ela não irá a
lugar nenhum.

— Charlotte! — sua mãe sibilou.

Sim, sua família ficaria mais do que provavelmente aliviada por essa
perturbação ter desaparecido da casa. Mas não era assim que alguém,
remotamente civilizado, conduzia negócios, ou qualquer outra coisa.

Recusou-se a desviar seu olhar do dele, embora o marquês, claramente,


esperasse que o fizesse.

— Pois bem, Lady Charrlotte, — disse sucintamente, exagerando o r em


seu nome — suponho que os problemas da família MacLawry não lhes
digam respeito. Ordenei que minha irmã ficasse em casa, e não ficou.

Estou, portanto, aqui, para levá-la de volta para onde pertence. Como
claramente a ofendi, esperarei do lado de fora. Alegremente.

Deu um passo mais perto, levantando uma sobrancelha, artisticamente


curvada ao fazê-lo. Obviamente estava dando a ela a escolha entre dar um
passo para o lado ou ser retirada do caminho mais uma vez. Charlotte
ergueu o queixo, para manter o olhar fixo no dele. — Sua irmã viajou uma
distância muito grande, sozinha e contra a sua vontade, então, lorde
Glengask. Parece-me que ela quer muito estar em Londres ou ficar longe do
senhor. Não o tomo por alguém que é enganado facilmente.

Suas sobrancelhas mergulharam em uma carranca. — Parece-me que isso


continua não sendo da sua conta. — lançou um olhar para o pai dela, que
ainda estava na frente de sua cadeira e parecia que preferia estar na Câmara
dos Lordes, discutindo impostos. — Permite que suas mulheres falem em
seu lugar, então?

Lorde Hest pigarreou. — Minha filha está certa, Glengask. Invadiu,


claramente enfurecido, uma casa decente e continua a se comportar como

um demente e um demônio. Seria irresponsável da minha parte entregar


Lady Rowena aos seus cuidados, sem conhecer seus sentimentos e sem
alguma garantia de seu bem-estar.

— Seu bem-estar? — Glengask repetiu de forma sombria — Como reagiria,


então, se Lady Charlotte fugisse sem uma palavra e então, quando a
encontrasse, algum estranho desconhecido se recusasse a entregá-la ao
senhor?

— Em primeiro lugar, espero nunca ter dado à minha filha - a nenhuma das
minhas filhas - motivos para fugir de sua própria casa. E, em segundo lugar,
dificilmente somos desconhecidos aqui. Nem somos precisamente
estranhos, pois sua mãe e minha esposa eram as mais queridas das amigas.

— De alguma forma, o senhor sabia que deveria vir aqui, para encontrar
Winnie. — acrescentou Charlotte, antes que o marquês pudesse começar
uma discussão sobre o grau de conhecimento delas. Afinal, o homem
parecia ter argumentos para tudo. — Claramente não somos desconhecidos
para o senhor. Nem o senhor para nós.

— Terá que me manter trancada para todo o sempre. — a voz trêmula de


Rowena veio diretamente atrás de Charlotte. Um momento depois, dedos
trêmulos agarraram os dela. — Só quero ver Londres.

— E agora já viu. — Glengask olhou, de sua irmã para Charlotte, onde suas
mãos se apertavam. — Solte minha irmã. — disse, depois de um momento.

Charlotte aumentou seu aperto. — Não. O senhor já está em Londres.

Que mal poderia haver em permitir que ela ficasse por um tempo?
— O mal possível… — Ran parou. — Não vou ficar aqui discutindo com
uma mulher sobre o que é melhor para minha própria família. —

finalmente rosnou.

Ela se recusou a vacilar em seu tom, embora, ao seu lado, a irmã dele o fez.
— Então, como não vou ceder, suponho que o senhor pretende deixar
Winnie ficar aqui. — rebateu. Exatamente quando a causa desta jovem se
tornou dela, não tinha ideia. Mas esta montanha de homem não ia chamá-la
de menininha e desconsiderá-la. Nem mesmo se a levantasse, como se não
pesasse mais que uma pena, e nem mesmo se parecesse ser feito de tendões
sólidos como ferro.

Ranulf abriu a boca, então voltou a fechá-la. Charlotte se permitiu um


momento de satisfação. Então a gatinha inglesa cuspiu no grande urso
escocês, e ele não sabia como reagir. Bom. Muito bom para ela.

— Então é isso que aspira, piuthar? — perguntou à irmã, um momento


depois, embora seu olhar permanecesse desconcertantemente fixo em
Charlotte. — Cercar-se de Sasannach, que a mantém longe de sua própria
família? Para se esconder atrás de moças tagarelas, que decidem suas
batalhas e as lutam em seu lugar?

— O senhor é quem está fazendo disso uma batalha, Lorde Glengask.

— Charlotte retorquiu, endireitando os ombros. — E sou "tagarela", como


chama, apenas diante de um valentão autoritário.

— Oh, meu Deus. — Winnie sussurrou quase sem som, seus dedos
apertando.

Um músculo saltou em sua mandíbula magra e dura. — Um valentão, sou


eu?

— Essa é, certamente, a impressão que nos dá. Sua irmã está se escondendo
atrás de uma estranha, ao invés de se aproximar do senhor.
O intenso olhar azul mudou imediatamente para sua irmã. — Rowena, sabe
que eu... — parou, então disse uma única palavra em gaélico, que não soou
nada agradável e que fez sua irmã respirar fundo pelo nariz.

Finalmente, deu um leve aceno de cabeça, como se fosse para si mesmo. —

Não sou um valentão. — disse, finalmente. — Uma quinzena, Rowena.

Quer ver Londres, então veja. Vou alugar uma casa aqui, e terá sua maldita
estreia. — estendeu uma mão. — Vamos daqui, então.

— Não acredito nisso, Ranulf.

— Dou-lhe a minha palavra. Duas semanas.

Charlotte mordeu o interior de sua bochecha. Ele acabou de ceder muito


mais terreno do que esperava, e, provavelmente, já o empurrou muito além
de onde deveria. Além disso, seus pais não iriam agradecê-la pelo que diria
a seguir, mas Rowena provavelmente sim. E isso era por causa de sua nova
amiga e não por ela mesma. — Se realmente quer que sua irmã tenha uma
temporada adequada — ou quinze dias de uma — então ela deve
permanecer aqui. O senhor estará numa casa de solteiro, sem ninguém para
patrocinar Lady Rowena ou apresentá-la. A menos que tenha uma relação
feminina, que conheça a Sociedade de Londres, quero dizer.

— Não tenho parentes femininas. — disse Winnie, seus dedos apertando a


mão de Charlotte novamente. — E tudo o que fizer será para me mostrar
como aqui não é bom. Eu só quero ver com meus próprios olhos, Ran. Por
favor.

Ele soltou a respiração. — Com toda a certeza, eu deveria pegá-la no colo e


levá-la de volta à estrada para o norte, dentro de uma hora.

— Mas não vai.

— Mas não vou. — repetiu, depois de um momento, seu olhar encontrando


Charlotte. novamente. — Fique aqui, então, se a aceitarem.
Mas me informará onde vai estar o tempo todo, e eu a acompanharei
quando eu quiser.

Com um guincho, Rowena soltou a mão de Charlotte e se jogou em seu


irmão. Ele a envolveu em seus braços musculosos. — Concordo, Ran.

— disse ferozmente. — Obrigada. Obrigada.

Por um momento, ele fechou os olhos, algo próximo ao alívio - ou tristeza -


cruzando brevemente sua expressão. — Virei visitá-la pela manhã.

Às onze. — colocando-a no chão, inclinou-se para beijá-la em uma


bochecha. — Me deixou preocupado, piuthar — murmurou, depois se
endireitou novamente. — Há alguma cerimônia sem sentido, antes de sair,
ou posso ir embora? — perguntou, fixando Charlotte novamente com o
olhar.

Ela deu um passo para o lado. — Boa noite, lorde Glengask.

— Lady Charlotte.

Só quando Longfellow fechou a porta da frente com firmeza, atrás dele,


Charlotte soltou a respiração que estava segurando. Pela maneira como sua
família se apegou a ela e as batidas rápidas de seu próprio coração, qualquer
um pensaria que havia acabado de enfrentar o próprio diabo. Mas realmente
tinha.

E ele estaria de volta pela manhã.

—E

seja aceitável, Lorde Glengask.

Ignorando o homem magro que o perseguia, Ranulf continuou seu passeio,


pelos corredores e quartos, da pequena casa em Adams Row. A construção
era antiga, mas bem feita, com doze quartos e meia dúzia de janelas, que
davam para a tranquila avenida. Tinha três andares, que imaginou ser a
origem de seu nome - Tall House, ou Casa Alta. — Vai servir. — disse
finalmente, percebendo que o sujeito ossudo não pararia de importuná-lo,
até que desse uma resposta. — Embora eu preferisse que tivesse mais de
duas portas para a rua.

— Fico feliz que aprove, milorde. O senhor me deu pouco tempo -

apenas uma hora, se bem se lembra - mas acredito que Tall House é a

melhor propriedade atualmente disponível para alugar. Com o início da


Temporada, o senhor sabe, simplesmente todos se reúnem em Londres.

Todos, mais uma irmã mais nova, malditamente teimosa. — Terá seus
honorários até o final do dia. — Ranulf retornou, perguntando-se se era
permitido chamar Tall House por um nome diferente, enquanto ele
permanecesse lá. Talvez Frivolous House, ou Casa Frívola, com poucas
rotas de fuga.

— Oh, eu não pretendi pressionar - é claro que o senhor não é muito


conhecido por aqui, mas seu tio é, e não me importo se o senhor me fizer
esperar.

Ranulf inclinou o queixo, em direção à porta da frente. Imediatamente


Owen, que passou os vinte minutos anteriores seguindo o advogado, deu
um passo à frente. — Vamos embora, Sr. Black. — disse, bloqueando o
sujeito, quando ele ia seguir Ranulf até outro cômodo.

— Certamente, certamente. Como é novo em Londres, lorde Glengask, se


precisar dos serviços de um advogado, eu ficaria honrado em...

— O laird tem o seu pequeno cartão, Sr. Black, já que quase o enfiou no
bolso dele. A porta é por aqui.

O Sr. Black piscou. — Digo, isso é muito atrevido de sua parte. Lorde
Glengask, seus servos precisam de mais instrução em comportamento
adequado.
Respirando fundo, Ranulf encarou o advogado de bochechas vermelhas. —
Acho que é o senhor que precisa de instrução, se for preciso três tentativas
para um homem fazê-lo ir embora, quando não for mais necessário. Bom
dia, e se isso não estiver claro o suficiente para o senhor, adeus.

O advogado abriu a boca. Ranulf continuou a olhá-lo fixamente, e então


Una começou um grunhido baixo e retumbante, de onde ela estava, na
janela. Um batimento cardíaco depois, ainda sem palavras, o Sr. Black se
virou e saiu do corredor, Owen atrás dele, sorrindo.

— Tolo. — Ranulf murmurou, embora o Sr. Black parecesse mais um


bajulador do que um tolo. Ou, mais provavelmente, o tolo em tudo isso
fosse ele.

Afinal, aceitou deixar Rowena ficar em Londres, em uma casa inglesa, de


todas as malditas coisas, por uma quinzena. Onde não poderia ouvir os
disparates que lhe diziam. E pior, onde não poderia garantir sua segurança.

— Meu laird, o Sasannach partiu. — disse Owen, voltando para a porta. —


Duvido que volte a pôr os pés nestes corredores, pelo menos enquanto
estivermos na residência.

— Ótimo. Obrigado, Owen.

O lacaio assentiu. Mudando de posição, fez uma careta. — Preciso dizer


uma coisa para o senhor, Laird Glengask.

— Então diga.

— Peter e eu estamos satisfeitos e orgulhosos de estar aqui com o senhor.


Muito orgulhosos. E também Debny. Mas... Não somos suficientes.

Ficando em Londres, vai precisar de um cozinheiro e um valete, e mais


olhos em que possa confiar, para mantê-lo e a Lady Winnie em segurança.

Ranulf assentiu. Sua intenção era resgatar Rowena, passar a noite em uma
pousada e estar a caminho do norte, ao nascer do sol. Nada que sua irmã
dissesse teria mudado sua opinião ou seus planos. Não, essa mudança
poderia agradecer àquela mulher. Lady Charlotte Hanover. Ela mal tinha
levantado a voz, e, mesmo assim, agora havia alugado uma casa em
Mayfair e entregue sua irmã à família de um aristocrata inglês.

— Meu tio está na cidade. — disse lentamente, perguntando-se o que Myles


Wilkie teria a dizer sobre tudo isso - e não gostando da resposta que
encontrou. — Vou mandar Peter com um bilhete, perguntando se ele
conhece algum rapaz em quem possamos confiar.

— Mas Lorde Swansley é inglês — disse Owen, fazendo da palavra uma


maldição.

— Sim, mas também é da família. E passou dez anos em Glengask, criando


gente como meus irmãos e minha irmã. Saberá o que precisamos,
independente do que ele seja.

— Como desejar, meu laird.

Depois que rabiscou a nota e enviou Peter para entregá-la, Ranulf voltou
para o quarto que escolheu para si. Dava para a rua ao norte e o pátio do
estábulo a leste, e lhe oferecia uma excelente visão de uma boa parte da
estrada. Havia partido para Londres quase sem bagagem e sem guarda-
roupa adequado, para a chamada sociedade adequada. Pelo menos a cama
parecia mais confortável do que a da estalagem onde ele, os rapazes e os
cães tinham passado a noite.

Usava calças de camurça, botas de montaria e um casaco velho quando


visitou Hanover House. Supôs que poderia fazer o mesmo hoje, e então
encontrar uma alfaiataria, para vê-lo em algo mais adequado para Mayfair.
Enquanto não dava a mínima para o que os ingleses pensavam a seu
respeito ou de seu traje, Rowena daria. Envergonhá-la não seria a maneira
de convencê-la de que a Escócia e Glengask eram mais promissoras para
ela do que Londres. Um nariz úmido empurrou sua mão, e, distraidamente,
coçou Fergus atrás de suas orelhas ásperas e cinzentas. —

O que, em nome de Deus, estamos fazendo aqui, garoto? — murmurou,


respondido apenas por um abanar de rabo.
Owen bateu em sua porta e se inclinou. — Devo fazer o valete, meu laird?

— Posso calçar minhas próprias botas, mas obrigado, Owen. E valete não é
algo que se faz; é o que se é. Peça para Debny selar Stirling, sim?

— Claro.

Quando desceu, dez minutos depois, os cães em seus calcanhares, o silêncio


do lugar finalmente o atingiu. Lembrando do seu lar, a grande casa era
ocupada não apenas por seus irmãos e por ele mesmo, mas por uma miríade
de criados, amigos e, em inúmeras ocasiões, vários subchefes do clã e suas
famílias, além da dupla de flautistas, que soava todas as manhãs e noites, do
telhado. De qualquer modo, não era tranquilo ou solitário. Aqui era, e
enquanto no momento se sentia em paz, tinha certeza de que não duraria.
Os problemas tinham uma maneira de encontrar os MacLawry.

Tocando uma mão na pistola, no bolso esquerdo do casaco, ele mesmo abriu
a porta da frente, dando um passo para um lado da entrada larga enquanto o
fazia. Não há sentido em se tornar um alvo fácil. Três cavalos esperavam na
entrada, com Debny e Owen já montados. — Estão prontos para isso? —
perguntou, pegando as rédeas de Stirling do cavalariço-chefe e subindo na
sela do baio.

— Prefiro enfrentar todo o exército de Bonaparte, vestindo apenas um kilt,


— respondeu o lacaio — mas não pode sair em Londres sozinho.

— Um dia em Londres e já está arrogante. — Debny falou lentamente. —


Não se preocupe, meu laird. Iremos vê-lo e à Lady Rowena a salvo, ou
morreremos tentando.

Ranulf assentiu, apreciando o sentimento. — Vamos embora, então. E

mantenha esse bacamarte debaixo do casaco, Owen, ou vai deixar os


Sasannach em pânico.

Com os cães os seguindo, desceram a rua ruidosamente, em direção à


Hanover House. A casa alugada poderia ser tranquila, mas, comparada com
as
Highlands,

Londres

parecia

muito

apertada,

lotada

e,

surpreendentemente, barulhenta e caótica. Os moradores estavam


praticamente se acotovelando, todos falando em alto e bom som, para serem
ouvidos por seus companheiros. Não havia notado tanto na noite passada,
mas, então, só tinha uma preocupação - encontrar Rowena. Hoje a
cacofonia não só abalou seus nervos, como transformou sua curta paciência
em cascalho.

O que, diabos, estava pensando, para deixar Rowena seguir seu caminho e
permanecer aqui? Ela tinha fugido de casa sem deixar um bilhete, droga, e
não merecia nada mais do que uma surra em seu traseiro e uma longa
viagem para casa. Na verdade, isso era ridículo. Cuidaria para que voltasse
com ele, para a casa que havia alugado, para que pudesse ficar de olho nela,
e então iriam para o norte no dia seguinte. Poderia odiá-lo por um ano se
quisesse, mas, pelo menos, estaria segura e onde ela pertencia. E

isso não o tornava um valentão. E sim um irmão responsável e chefe de sua


família.

Em Hanover House, jogou as rédeas para Debny, antes que um dos


cavalariços do conde pudesse aparecer, disse aos cães para ficarem e então
caminhou para a porta da frente. Abriu-se antes que a alcançasse, privando-
o da satisfação de bater novamente no carvalho sólido.

— Bom dia, lorde Glengask. — entoou o mordomo gordo, fazendo uma


reverência. — O senhor é esperado. Vou mostrar-lhe a sala matinal.
Como a sala matinal estava a um metro e meio do vestíbulo, levá-lo para lá
parecia ridículo, mas toleraria o absurdo, até que tivesse Rowena de volta
na mão.

— Lady Charlotte, Lady Jane, Lady Rowena, Lorde Glengask. —

anunciou o mordomo, curvando-se, como se tivesse acabado de conhecer o


rei.

Como se não fossem todos conhecidos, desde a noite passada. As três


mulheres se levantaram, fazendo uma reverência. Já que Rowena nunca fez
uma reverência para ele - ou para ninguém - em sua vida, ela, claramente, já
havia se inspirado no modelo das outras duas. Isso não augurava nada de
bom.

Aquela mulher estava ali também, olhando-o como se não tivesse medo ou
preocupação no mundo, o que o aborreceu ainda mais. Era tudo o que ele
não gostava em uma mulher, alta, magra e loira, como uma delicada boneca
de porcelana, que provavelmente quebraria, se alguém tentasse um abraço.
Pior ainda, interferiu em assuntos que não eram da conta dela, e falou,
quando ele teria preferido um momento ou dois para pensar.

— Estou tão feliz que permitiu que Winnie permanecesse em Londres. —


ela estava dizendo agora, sua boca curvada em um sorriso bastante atraente,
que não tocava seus olhos. — E, certamente, poderíamos usar sua escolta
hoje.

— E para onde devo acompanhá-las, moças? — perguntou cautelosamente,


esperando outro truque ou armadilha, como a que agora o fazia residir em
Londres por quinze dias.

— Mamãe deseja apresentar Winnie no Almack, na quarta-feira. Vai


apresentar Janie também, e…

— Nae.

Lady Charlotte piscou seus lindos olhos castanhos, como se ninguém nunca
lhe tivesse negado nada antes. Provavelmente ninguém tinha, considerando
os ingleses de cabeça e coração fracos que a cercavam e aquela língua
afiada entre os dentes. — Perdão? — disse baixinho.

— Nae. Não — repetiu, exagerando o som para ter certeza de que entendeu.

— Se ela não for ao Almack e receber seu voucher para o Assembly


Rooms, tradicionalmente, não poderá dançar valsa em nenhum outro lugar.

Será considerada como " excluída", por famílias mais tradicionais.

— Eu não vou ter minha irmã desfilada diante de uma manada de fidalgos
sasannach mimados e gordos, como uma vaca premiada.

Rowena deu um passo à frente e pegou sua manga, como fazia desde os
dois anos de idade, quando queria sua atenção. — Não serei só eu, Ran.

— disse e baixinho. — Jane também estará lá. Toda jovem que quer ter sua
temporada vai ao Almack primeiro. E eu quero muito dançar.

Nunca foi capaz de recusar uma coisa que Rowena realmente desejasse.
Exceto por Londres, mas ela conseguiu isso sozinha. — Estará lá também?
— perguntou, virando-se para Jane, menor e de cabelos mais claros que sua
irmã tagarela. — Bem ali, ao lado dela? — perguntou, odiando tanto não
saber como era o maldito processo e ter que pedir a confirmação de uma
garota inglesa.

— Sim. E, mais ou menos, uma dúzia de outras moças também. —

disse a irmã Hanover mais nova, com a voz trêmula. Na verdade, olhou
para ele como se esperasse que saltasse sobre ela, garras e dentes à mostra.

Ao lado dela, a irmã mais velha parecia muito mais composta, enquanto
assentiu com a cabeça. Os cachos dourados, pendurados no coque, na parte
de trás de sua cabeça balançavam sedosamente de um lado para o outro. —
Esta é a primeira Assembleia da Temporada. Ela não vai ficar ali sozinha.

— E quem é que dá permissão para elas dançarem valsa? Quem são essas
patronesses, sobre as quais a maldita página da Sociedade está sempre
falando?
— Bem, é um grupo de mulheres muito influentes e aristocráticas.

Lady Jersey, por exemplo, e Lady Cowper, e Lady Est…

— Jersey. É a antiga amante do príncipe George.

As bochechas claras de Lady Charlotte escureceram. — Não, era a sogra


dela. — disse secamente. — Mas moças decentes não discutem essas
coisas, de qualquer maneira.

Ranulf inclinou a cabeça. — Têm uma ideia estranha sobre o que é


aceitável, então. Por que dar a qualquer uma delas a permissão para julgar
todas as moças que entram nas salas da Assembleia? Isso é idiota. — Pela
expressão de Charlotte, ela não gostou de ter que explicar seus pares a um
bárbaro como ele, mas seria condenado se deixasse Rowena entrar em algo
onde não conhecesse todos os fatos. Já seria ruim o suficiente se alguma
mulher idosa, de reputação imaculada, acenasse, mas princesas estrangeiras
e filhas de refugos reais? Ridículo.

— Não há pessoas em sua... vila ou cidade ou…

— Clã. — Rowena forneceu.

— Clã... — Charlotte assumiu, agradecendo — que tem que reconhecer


quando uma menina se torna uma dama, ou um menino se torna um
homem, ou quando duas pessoas podem se casar? Todas as minúcias sociais
que uma sociedade exige?

— Sim. — respondeu, não vendo nenhuma semelhança nas duas situações.


— Esse seria eu.

Seus olhos se arregalaram, castanhos escurecidos, quase até o marrom, pela


musselina amarela com raminhos que usava. — O senhor?

— Ran é o chefe do Clã MacLawry. — explicou Rowena, um toque de


orgulho entrando em seu tom. Bom; pelo menos ela não tinha vergonha de
ser uma MacLawry. Ainda não, de qualquer maneira. — É o maior clã ainda
com sua sede principal nas Highlands.
— Com sua única sede nas Highlands. — emendou, com uma leve
carranca.

— Não tenho certeza do que tudo isso significa, temo. — disse Lady
Charlotte, continuando a observá-lo. Não era o mesmo olhar apreensivo que
recebia de sua irmã, no entanto. Parecia principalmente curiosa.

— Não tenho tempo, nem vontade, de lhe explicar neste momento. —

ela não entenderia, e ele não gostava de ser cobiçado, como um cordeiro de
duas cabeças. Ranulf gesticulou para sua irmã. — Se ela deve ser
apresentada no Almack, o que é necessário?

Rowena o abraçou. — Muito obrigado, Ran! Isso significa o mundo para


mim!

Ele colocou um dedo sob o queixo dela, inclinando o rosto para olhá-lo,
admitindo para si mesmo que havia perdido mais uma discussão, antes
mesmo de começar. Pelo menos desta vez, poderia culpar a si mesmo, ao
invés da bruxa de cabelos loiros. — Eu sei que sim, minha querida. Apenas
tenha em mente que é o mundo para mim. Pretendo mantê-la a salvo,
Rowena.

—Sei que o fará, bràthair.

—Oh, é perfeitamente seguro em Bond Street. — Jane disse enfaticamente.


— Precisamos preparar um vestido para Winnie. Eu tenho o meu há
séculos.

Claramente estava perdendo alguma coisa de novo, mas, em vez de


começar outra conversa, sobre o que havia de errado com os vestidos que
trouxe com ela, os vestidos que comprou para ela, assentiu. — Vai ser ainda
mais seguro comigo. Vamos embora então, certo?

Ao saírem do vestíbulo, os dois jovens de dezoito anos deram os braços e


praticamente pularam os degraus da frente. Ranulf gesticulou para
seus dois homens, e ambos desmontaram, entregando as rédeas para os
cavalariços de Hanover, de aparência ofendida.

— Estamos indo para Bond Street. — disse em voz baixa, quando o


alcançaram. — Owen, fica à esquerda, e Debny fica à direita.

— A pé? — Debny voltou, carrancudo.

— Sim. A pé.

— Sou um cavalariço. Não um... homem que anda.

— Hoje é um homem que anda. — retrucou, escondendo um sorriso.

Virando-se, avistou as irmãs Hanover olhando para Fergus e Una, que


pareciam vê-las com igual interesse.

— O que são? — Jane perguntou, com um arrepio óbvio. — São grandes


como pôneis.

Ranulf deu um sorriso e assobiou, os cães foram para o seu lado. —

Estes são meus cães infernais. — falou lentamente.

— Oh, pare com isso, Ran. — Rowena se aproximou e se ajoelhou entre os


cães, que então quase se viraram do avesso, com lambidas e abanando o
rabo. — O maior é Fergus, e a pequenina é Una. São cães de caça
escoceses.

— ' Pequenina'? — Lady Charlotte repetiu, levantando uma sobrancelha. —


Meu Deus.

— Vão ficar de olho em nós. — disse Rowena, levantando-se. —

Vamos, Janie.

Isso deixou Ranulf olhando para Lady Charlotte. — Os cães a assustam,


milady? — perguntou.
— Não. São muito... Selvagens, no entanto.

— Sim. São um pouco eriçados. Mas correm mais que um galgo em terreno
irregular. — por um momento, continuou olhando-a, mas

começando a se sentir um tanto... estranho, gesticulou em direção às


debutantes, que desapareciam. — Damas primeiro, milady.

Com as outras duas rindo e sussurrando, ficou com Lady Charlotte, vários
metros atrás delas. Esta tarde, encontraria um mapa deste maldito lugar,
para saber para onde estava indo. No momento, sentia-se muito vulnerável,
seguindo duas crianças, treze anos mais novas que ele.

— Os guardas realmente não são necessários na Bond Street. —

comentou Lady Charlotte, olhando por cima do ombro para o severo Debny
e depois para os cães nos calcanhares de Ranulf.

— Pode ser seguro e civilizado para milady, — respondeu — mas sou um


estranho aqui, e vigiarei aqueles sob minha proteção.

Seus lábios se curvaram novamente em um sorriso. Para si mesmo, podia


admitir que ela tinha um sorriso bonito; se preferisse inglesas altas e
magras, que falavam quando não deviam, até diria que ela tinha uma pele
tão lisa quanto creme fino, e que, de perto, seu cabelo brilhava como um sol
sedoso.

— Janie e eu estamos sob sua proteção, então? — perguntou, diversão em


sua voz.

— Ria se quiser, mas sim. Acolheu um membro da minha família.

Isso a faz parte do clã para mim

— Mas não somos escocesas.

Ele inclinou a cabeça. — Ninguém é perfeito. — Ranulf moveu um fôlego


mais perto dela. Seus cabelos cheiram a rosas, notou, ignorando o puxão de
resposta em suas entranhas. — E eu agradeceria se tivesse em mente que o
que é seguro para as damas de Mayfair pode não ser para uma moça das
Highlands.

Desta vez ela o olhou, lanças verdes iluminadas pela luz do sol
profundamente em seus olhos. — Demonstra coisas boas, sendo tão

protetor com sua irmã, — disse, depois de um momento — mas já pensou


que ela poderia não ter tentado escapar, se seu controle não fosse tão forte?

Então, esta mulher magra e de cabelos loiros pensou tê-lo prendido em um


alfinete, dissecado e analisado — Não terei uma Sasannach me dizendo o
que estou fazendo de certo ou errado. — retrucou. — Não me conhece, nem
os meus, nem qualquer coisa que me impulsione. E não me aconselhará
como criar minha própria irmã.

Capítulo 2

Almack.

Harpias

Sasannach,

Porque não era permitido.

r's
Capítulo 3

—M

, tio Myles o está esperando na sala da frente.

Ranulf ergueu os olhos do jornal que estava lendo durante o café da manhã.
Era estranho ter notícias que não tinham uma semana. E inquietante ler que
o Marquês de Glengask se encontrava na cidade, residindo exatamente onde
estava. — Ele não é seu tio, Owen. Para você, ele é o Laird Swansley.

— Sim, meu laird. É só que ele esteve em Glengask por tanto tempo...

— Eu sei. Traga-o aqui. — aprendeu, há muito tempo, a vantagem de


reivindicar um espaço e um lugar, e não tinha intenção de permitir a Myles
Wilkie a oportunidade de fazê-lo. Londres podia ser o domínio de Myles,
mas os MacLawry reivindicavam Tall House para si. Mesmo que por quinze
dias.

Um momento depois, Myles Wilkie estava na porta da sala de café da


manhã, olhos castanhos gentis observando o cenário e, finalmente,
pousando em Ranulf, na extremidade da mesa. Ranulf observou-o em
retorno. Olhar solidário ou não, o homem tinha a inteligência de uma raposa
e a teimosia de um texugo. Não estava prestes a esquecer isso. Nem por um
instante. Nem mesmo quando Una avançou trotando, abanando o rabo
furiosamente, para cumprimentar o visconde. Fergus permaneceu debaixo
da mesa, aos pés de Ranulf, e bufou em desaprovação. Se precisasse de
mais alguma prova de que a maioria das moças não tinha juízo, aí estava.

— Enviou-me um pedido para encontrar alguns servos prováveis. —

disse o visconde finalmente, e tirou um papel dobrado de um bolso cinza.


— Tendo em mente seus... requisitos particulares, achei melhor trazê-lo
pessoalmente. Localizei meia dúzia de homens e três criadas, que devem ser
suficientes.

Ranulf assentiu, sacudindo um dedo para Peter. O lacaio foi buscar o papel
e abriu-o. — Eu não consigo ler esses arranhões de galinha, meu laird. —
proclamou, depois de um momento gasto olhando para a página.

Do lado oposto da sala, Owen bufou e passou por Myles para pegar o papel
dos dedos de Peter. — Não consegue ler nem um arranhão e não engana
nenhum de nós sobre isso. — depois de um momento, ergueu os olhos da
página, franzindo a testa. — Não são nomes escoceses, Laird Swansley.

— Não, são ingleses. Nascidos e criados. — Myles endireitou os ombros.


— Posso me sentar, Ranulf?

— Sim. Devolva-lhe o papel, Owen, e vá selar Stirling. Partiremos em vinte


minutos. Leve Peter contigo.

— Mas…

— Agora.

O grisalho, que outrora salpicava as têmporas de Myles Wilkie, havia


clareado e se espalhado, tornando seus cabelos castanhos quase loiros. Tudo
isso aconteceu em algum momento, nos últimos três anos. Suas pontas
pareciam todas um pouco desgastadas, Ranulf percebeu, embora estivesse
mais do que superficial. Tampouco julgou o fato de Myles ter levado a
cadeira diretamente para a sua esquerda, em vez da cadeira oposta, na
extremidade da mesa.

— Senti sua falta, rapaz. — disse finalmente o visconde. — Você e seus


irmãos. E Rowena, claro. São tudo o que resta da minha família. —

respirou fundo. — E Rowena, pelo amor de Deus — era apenas uma


criança, quando a vi pela última vez. E agora... É uma jovem adorável.
— Por que só ingleses na sua lista? — Ranulf interrompeu, tentando parar
as reminiscências. Não tinha sido o causador da separação entre eles, afinal.

— Então não passa de negócios?

Ranulf pegou sua fatia de pão torrado. Lenta e deliberadamente, espalhou


uma espessa camada de geleia de pêssego sobre ela. — Acho que lhe disse
que não somos mais família, então não temos nada a discutir, além de
negócios.

Myles se inclinou para frente, enfiando o dedo indicador no tampo polido


da mesa. — Se ainda não confia em mim, por que foi a mim que pediu
ajuda para encontrar criados?

— Melhor o diabo conhecido. Não é esse o ditado?

O visconde o olhou, então bateu o papel ao lado do cotovelo de Ranulf. —


Aqui em Londres, você é o diabo.

— Aye. Esse sou eu.

— Escolhi ingleses porque são menos propensos a saber quem realmente é,


e menos provável que sejam abordados por alguém que possa desejar
prejudicá-lo, especialmente agora que todos sabem que está em Londres. —
respirou fundo. — Nenhum é da minha casa, porque eu sabia que não
permitiria isso, mas me encontrei e falei com cada um deles pessoalmente.
E discretamente. Todos provêm de boas famílias e com altas
recomendações. Por esta razão, também lhe custarão um bom valor.

Com um assentimento, Ranulf continuou comendo. — Vou manter isso em


mente.

— Ah, pelo amor de Deus! — seu tio explodiu. — Já me desculpei cem


vezes. Eu estava tentando ajudar!

Ajuda. A palavra socou o peito de Ranulf, sombria e pesada. — Sua suposta


ajuda quase fez com que Munro - Urso - morresse.
— Está sozinho lá em cima, Ranulf! Precisa de aliados fora de seu próprio
clã, mesmo que não reconheça esse fato. Os Donnelly ofereceram aberturas.
Pareciam genuinamente interessados no sistema educacional que implantou
para seu povo.

— Sim, porque o que queriam, realmente, era queimar todas as minhas


escolas até o chão. Os Donnelly e os Gerden são iguais, Myles. São clãs
aliados há décadas. E lhes deu um maldito mapa.

— Para mostrar-lhes como separou sua terra em distritos, dividindo o


trabalho e a renda, permitindo que todos os jovens tivessem uma chance de
educação. Eu estava me gabando de tudo que conseguiu realizar, mesmo
com a Coroa fungando em seu pescoço.

Ranulf respirou fundo. — Quaisquer que sejam suas intenções, por sua
causa, perdi três escolas. E se Urso tivesse chegado dois minutos antes,
estaria bem no meio do terceiro incêndio. Levou uma bala para o ombro no
lugar.

— Acha que não sei disso? Isso ainda me mantém acordado à noite.

— Bom. — finalmente Ranulf se inclinou para frente. Por um tempo


pensou que uma distância de três anos poderia diminuir sua raiva e seu
medo sobre o que quase aconteceu, mas toda vez que Rowena, ou qualquer
outra pessoa, mencionava o nome de Myles, tudo voltava. — Pode ter
passado dez anos nas Highlands, Myles, mas não é escocês. Não entende o
quão profundas são as feridas antigas. Nunca entenderá. E eu jamais vou
voltar a confiar no senhor, porque ainda acha que estava certo em tentar
intervir.

— Eu ajudei a criá-lo.

— Nae. Eu tinha dezoito anos quando foi para o norte. Garanto que ajudou
a criar os outros. Admito que quando Eleanor engoliu veneno e deixou
Rowena e nós, rapazes, órfãos, o senhor foi para o norte. Eu sei que não foi
uma coisa fácil para o senhor.
Myles engoliu em seco. — Ela não deveria ter feito isso. Minha irmã, sua
mãe, todos nós sabíamos que não pertencia àquele lugar. Mas ela amava seu
pai.

— Ela adorava ser marquesa. Quando peguei o título, ela queria que todos
nós mudássemos para Londres. Desde o início, queria que fossemos criados
na Inglaterra. Seríamos aristocratas ingleses, com assento na Escócia.
Assim como todos os outros. Meu pai não teria feito, e nem eu. —

Tinha quinze anos quando perderam Seann Monadh - a Velha Montanha -

como os membros do clã se referiam a Robert MacLawry. E desde o


primeiro dia em que assumiu o título de seu pai, teve que lutar.

— Eu sei. Ela... não se saiu bem contigo. Mas se eu puder perguntar, por
que permitiu a Rowena uma temporada, agora?

— Essa é a história dela para contar, se ela assim o desejar.

O olhar triste e esperançoso retornou à expressão de Myles. — Então vai


me deixar vê-la?

— Ela não está aqui.

— Oh.

Maldição. — Está hospedada na Hanover House, então Lady Hest pode


patrociná-la. Vá vê-la, se quiser. Mas não vai levá-la para sair, a menos que
Debny, Owen ou Peter os estejam acompanhando.

— Entendido. — O visconde se levantou. — Obrigado por isso, Ranulf.

— Se ela for ferida em sua companhia, é melhor não me deixar encontrá-lo.


E eu vou procurá-lo. Juro.

Myles assentiu. — Se algo acontecer com ela, já estarei morto.

Isso quase soou escocês. — Pode visitá-la amanhã, então.


Por vários minutos, depois que Myles saiu da casa, Ranulf ficou sentado
onde estava, olhando sem ver os restos de seu café da manhã. A última vez
que se cruzaram, Myles estava com o nariz sangrando e as costelas
machucadas. Arran teve que tirar Ranulf de cima de seu tio, na verdade.
Qualquer escocês de seu clã saberia que não devia confiar nos Donnelly.
Essa traição tinha sido ruim o suficiente. Mas quando Urso tropeçou, ferido
e ensanguentado, pela porta da frente, isso tornou o erro de Myles
imperdoável. Desta vez, ao vê-lo, porém, Ranulf se sentiu mais...

constrangido do que há três anos.

E sabia exatamente por quê. Aquela moça alta e loira. Charlotte Hanover.
Ela não gostava de violência. O que não o teria influenciado nem um pouco,
porque uma mulher Sasannach não sabia nada sobre como sobreviver em
seu mundo, exceto que ele pegou aquele olhar em seu rosto quando
dançaram. Aquele olhar dizia coisas. Aquele olhar dizia que ela sabia do
que falava.

Isso o deixou curioso. E foi por isso que pensou nela, enquanto se levantava
para pegar Stirling e seu par de batedores, passando por jardins bem
cuidados e casas altas e brancas, virando na rua da Hanover House.

Curiosidade. Nada mais. Porque não poderia haver uma atração. Não
quando era inglesa. Não, por mais que seus rivais pudessem pensar que
fosse, não era tão louco, a ponto de levar voluntariamente uma inglesa para
as Highlands. Não depois de ter visto uma mulher com uma filha de cinco
anos e três filhos de menos de vinte anos, se envenenar para escapar.

Ranulf sacudiu-se, enquanto desmontava, na sombra da Hanover House. Os


lugares que sua mente ia, às vezes o surpreendiam. Sua ideologia o levou a
construir escolas e a ir contra a tendência de esvaziar suas terras,

com a finalidade de pastorear ovelhas. Pegaram algumas das ideias de seu


pai e as transformaram em realidade - com um grande custo, tanto para sua
bolsa, quanto para sua segurança.

E em tudo isso, em todos os seus anos de adulto, nunca pensou em trazer


uma inglesa para as Highlands. Então, só podia considerar o pensamento
espontâneo de mostrar as Highlands a Charlotte Hanover uma aberração.
Ou isso, ou a moça era uma bruxa, embora, se ela quisesse enredá-lo,
provavelmente teria passado menos tempo discutindo com ele a filosofia da
violência.

A porta da frente se abriu, quando ele chegou ao último degrau. —

Chegou bem na hora, — Lady Charlotte disse, com um sorriso caloroso. —

Decidimos mostrar os pontos turísticos a Winnie, começando pelo Hyde


Park.

Seu primeiro pensamento foi que, embora nunca tivesse visto o Hyde Park,
seria muito aberto, e muito lotado para qualquer coisa menos do que um
exército, para fornecer proteção adequada a Rowena. Ou melhor, esse foi
seu segundo pensamento. Seu primeiro pensamento foi mais primário, e
teve muito a ver com o traje de montaria pêssego, que Charlotte usava.

Mais precisamente, com as curvas esbeltas abaixo dele.

— Bom dia, Ran. — chamou Rowena, se erguendo para beijar sua


bochecha. — Olha, eu estou usando aquelas botas de montaria idiotas que
ganhei de Lach, afinal. — levantou a saia reta de seu traje de montaria
verde escuro, para mostrar seus tornozelos.

— Chega disso. — resmungou, afastando a mão dela, para que a saia caísse
de volta ao seu devido lugar. — Terá os Sasannach nos chamando de
selvagens e demônios.

— Ah, pish! — sua irmã retornou, então deu uma risadinha. — Essa é uma
grande palavra, não é? ' Pish.'

Ranulf estreitou os olhos. — Sabe o que mais é grandioso? Manter seu


próprio…

— Posso ter uma palavra particular contigo, antes de partirmos, Ranulf? —


Charlotte interrompeu.
Se ela não tivesse usado seu nome de batismo, dizendo-o daquele jeito
empertigado e musical que tinha, provavelmente a teria ignorado. Em vez
disso, apertando a mandíbula, virou-se e caminhou até onde ela estava, ao
lado de seu cavalo. — Aye?

— Eu queria que soubesse — disse em voz baixa, seu olhar direto, cor de
avelã, encontrando o dele novamente — que falei com meus pais ontem à
noite, sobre sua preocupação com a segurança de Winnie. Meu pai pediu a
Longfellow que designasse mais dois lacaios para patrulhar a casa durante
toda a noite, e os cavalariços começaram a vigiar o terreno 24 horas por dia.
— sorriu novamente. — Nada para fazê-la se sentir enjaulada, mas o
suficiente para todos nós estarmos cientes, antes que algo desagradável
possa acontecer.

Não era o suficiente, mas era mais do que esperava. E, considerando que
Rowena conseguiu escapar de Glengask, mesmo com todos os homens que
tinha lá, não estava precisamente em posição de reclamar.

— Aprecio isso. — disse, inclinando a cabeça. — Direi a Peter que pode


ficar na Tall House esta noite. Mas vou deixar Una aqui.

Ela franziu a testa. — Teve alguém vigiando a Hanover House?

— Do anoitecer ao amanhecer, aye.

Por um momento, ela olhou em volta, como se esperasse que o robusto


lacaio saltasse dos arbustos. — Eu não fazia ideia.

— E não deveria.

— E o cachorro? — continuou, olhando para a Una, de estrutura menor.

Enquanto os cães caminhavam, ela ainda tinha, pelo menos, uma cabeça
acima da maioria, e qualquer cão de caça tinha que ter três ou quatro
irmãos, se pensasse em ter meia chance contra ela. — Una é uma moça de
coração mole, mas vai dar sua vida para proteger Rowena. Não tem nada a
temer dela, milady. E não tem nada a temer de mim. — não tinha certeza do
que o levou a dizer essa última parte, mas parecia... necessário. Por causa
dos MacLawry, ela e sua família, provavelmente, se encontrariam em
circunstâncias com as quais nunca poderiam ter sonhado, afinal.

Estendendo a mão, endireitou uma dobra de sua gravata de nó simples. —


Bom, então. — disse Lady Charlotte, e, de repente, deu um tapinha no peito
dele e abaixou a mão novamente. Limpando a garganta, se virou. —
Benjamin, me dê a mão, sim? — perguntou, olhando para o cavalariço que
segurava seu cavalo.

— Farei isso. — Ranulf resmungou, avisando o criado com um olhar.

Instável por dentro e não inteiramente certo do porquê, Ranulf deslizou as


mãos ao redor de sua cintura e a levantou. Teve as mãos sobre ela antes,
quando a tirou do caminho e, novamente, na noite passada para a valsa, mas
isso parecia mais... íntimo.

Charlotte colocou as mãos em seus ombros. — A sela? — disse sem fôlego.

Cristo. Tentando não a jogar para trás, colocou-a na sela lateral. A maneira
como se sentiu abruptamente chamuscado - a maneira como suas entranhas
reagiam ao tocá-la - parecia quase como feitiçaria. Deu um passo para trás,
enxugando as mãos nas coxas. — Aí. Tudo em ordem agora, certo? —
resmungou, e virou as costas, para montar em Stirling. Ao lado dele,
Rowena sorria animadamente, montada na sela de uma bela égua cinzenta
e, sem dúvida, satisfeita por ter feito o que queria mais uma vez.

— E quem a colocou na sela? — perguntou.

— Eu, meu laird. — disse Debny, antes que pudesse responder. —

Um dos cavalariços de Hanover quase tentou, mas eu o empurrei longe.

— Oh, céus! — Charlotte murmurou, à esquerda de Ranulf, mas ele fingiu


não ouvir. Ninguém estava ensanguentado, então, no que lhe dizia respeito,
tudo havia sido tratado amigavelmente.

O passeio tranquilo em que se estabeleceram dificilmente parecia digno de


ser chamado de passeio. É certo que a multidão no meio da manhã de
vendedores, carrinhos, picaretas, compradores e outras pessoas vagando
sem rumo como estavam, tornava qualquer coisa acima de um trote quase
letal, mas isso, dificilmente, o tornava mais tolerável. Quando chegaram à
Park Lane e o grande parque apareceu à esquerda, até os cachorros estavam
com o rabo dobrado.

Outro sopro de inquietação o percorreu. Nunca conseguiriam mais do que


uma caminhada até lá, também. Apenas em sua visão limitada, através das
árvores, um mar interminável de carruagens, cavalos, sombrinhas e chapéus
se estendia diante deles. Em algum lugar atrás dele, ouviu a maldição
abafada de Owen, e concordou silenciosamente. Não só seria quase
impossível escapar, mas, provavelmente, nunca veriam nenhum problema
chegando, até que fosse tarde demais.

Inclinou a cabeça. Por mais que odiasse admitir, qualquer atacante teria
exatamente a mesma dificuldade. E uma centena de testemunhas em cima
disso. Os Campbell poderiam arriscar, de qualquer maneira, mas,
felizmente, eram mais propensos a chamá-lo na cara, do que apunhalar seus
parentes pelas costas. O clã Gerden o preocupava mais, mas principalmente
porque não tinha nada além de suspeitas e rumores de terceira mão, sobre o
que poderiam estar fazendo.

— Está razoavelmente bem ordenado quando se junta à multidão. —

comentou Charlotte, no final de seus pensamentos. Ele parecia ter

emparelhado a ela em algum momento durante o passeio ao parque, embora


não pudesse se lembrar conscientemente de fazê-lo.

— Não tem nada melhor para fazer?

Bem, isso parecia injusto, Charlotte pensou, embora tivesse que admitir que
Hyde Park estava muito cheio para o início do dia.

Excepcionalmente cheio. Geralmente, as visitas só começavam depois do


almoço. — Hoje não há Parlamento. — disse, lembrando-se do pai
arrumando seu equipamento de pesca esta manhã. — E acredito que haverá
corridas no Tâmisa esta tarde.
Passaram por Rotten Row, pois a manhã estava bem quente e nenhuma das
damas - ou pelo menos ela - queria se incomodar com o galope. Charlotte
apontou uma trilha para Glengask, pois ele parecia um homem que
precisava de exercícios. Na verdade, quando lançou outro olhar de soslaio
para o marquês, decidiu que ele estava em forma. Deve ter passado muito
tempo nas Highlands ao ar livre.

Quando se juntaram à fila de cavaleiros e carruagens, ao longo do caminho,


percebeu também que não era a única que notava Lorde Glengask.

Pelos cílios esvoaçantes e leques que rebatiam, metade da população


feminina estava flertando ou lutando contra uma horda de mosquitos.

Ranulf manteve o ritmo lento, ostensivamente mais interessado em procurar


esconderijos prováveis, cobertos de arbustos, do que em todos os olhos
bonitos lançados em sua direção. Foi por essa sua caça obstinada ao inimigo
que permaneceu solteiro? Pelos seus cálculos, ele estava em algum lugar,
em seus vinte e tantos ou trinta e poucos anos, tinha riqueza, terras e muito
poder - e, ainda assim não havia Lady Glengask. Não que se importasse
com isso, é claro; estava apenas curiosa.

Jane e Winnie, de alguma forma conseguiram colocar uma carruagem e um


phaeton entre eles. Ranulf deu um aceno sutil com seus dedos, e seus

dois batedores avançaram para se juntar a elas. Os cães, evidentemente,


também conheciam seu dever, porque acompanhavam o passo de cada lado
de seu grande baio, como se todos já tivessem feito isso uma centena de
vezes antes. Uma mulher idosa, Lady Gavenly, pensou, passou em uma
carruagem, um pequeno cachorro latindo, lutando em seus braços. O cão de
caça maior, Fergus, virou a cabeça para olhar a coisinha, depois voltou a
andar. Evidentemente, pequenos cães latindo não eram notados nas
Highlands. Ou isso, ou os cães já haviam comido sua refeição diária e não
estavam com fome.

— Falando teoricamente, — disse, perguntando-se se estava prestes a


começar outro desentendimento, — não é, como chefe de seu clã, aquele
que deveria ser o mais protegido? — o que queria perguntar era se tudo isso
era realmente necessário. Especialmente no meio de Mayfair, da manhã, e
da temporada.

— Eu sei sobre os problemas. — retornou em um tom pensativo. —

Rowena, na maioria das vezes, não. Em casa não importava muito, porque
sempre tinha um clã ao seu redor. Aqui, estou começando a desejar tê-la
encorajado a levar tudo um pouquinho mais a sério.

— Como sabe sobre problemas? Não estou questionando o que faz; apenas
sobre o que aconteceu, para torná-lo tão cauteloso.

Olhou-a de lado. — Isso está muito cuidadosamente redigido, moça.

Sou tão feroz?

Charlotte não pôde evitar sorrir, embora fosse uma descrição bastante
adequada. — Estou tentando ser diplomática.

— Ah. — para sua surpresa, ele riu. — Os membros do clã chamavam meu
pai de Seann Monadh — Velha Montanha. Aquele homem era duro como o
inverno e forte como um cavalo de tração. — com afeto

óbvio em sua voz, sorriu um pouco, então baixou a cabeça brevemente. —

Dizem que afundou.

Ela levou um momento para decifrar o que ele disse, em parte porque era
tão inesperado. — Ele se afogou? — repetiu, para ter certeza. — Sinto
muito.

— Aye. Afogou. — disse, desta vez exagerando os sons das vogais.

— Embora eu imagine que ter as mãos amarradas e a cabeça debaixo d'água


o torna mais próximo do assassinato.

— Céus. — Charlotte colocou a mão sobre o peito, embora não tivesse


certeza do porquê. Suas palavras, a dor e a raiva mal escondidas nelas, já
haviam cravado em seu coração. — Suponho que nem todos concordaram
com sua avaliação? — perguntou depois de um momento.

Olhos azuis encontraram os dela. — Nae, eles não o fizeram. Eu tinha


quinze anos quando isso aconteceu, mas, acho, que já era idade suficiente
para saber que cordas queimam ao redor dos pulsos de um homem, se
estavam amarrados ou não quando o encontramos, e para perceber o
significado de mangas rasgadas e braços arranhados. — respirou devagar —

Isso nada significa, suponho, exceto para lhe responder, quando pergunta
por que sou tão cauteloso.

Nem podia imaginar o que ele deve ter sentido, para saber que algo ainda
mais sujo havia sido feito, além do que já era uma tragédia. Apenas a
imagem em sua mente, de alguém amarrando e afogando seu próprio pai,
suave e jovial, fez com que lutasse contra as lágrimas. — Não tenho
palavras. — sussurrou.

Ranulf deu de ombros. — Foi há dezesseis anos.

— Sabe quem fez isso?

Desta vez seu sorriso sombrio gelou-a até os ossos. — Isso é história para
outra hora — quando nos conhecermos melhor.

— Quer dizer, quando decidir que pode confiar em mim.

A expressão em seu rosto aliviou um pouco. — Tem um jeito de ir direto ao


ponto, moça.

Isso a fez sorrir, embora não estivesse inteiramente certa de que fosse um
elogio. — Descobri que há menos mal-entendidos dessa forma.

À sua frente, Janie se virou na sela. — Char, os gêmeos Lester estão ali. —
disse, murmurando as palavras atrás de sua mão. — Por favor, não venha.

Com um suspiro, Charlotte assentiu e freou sua égua cinza, Sixpence.

Ranulf parou ao seu lado. — O que foi isso?


— Jane está apaixonada por Phillip ou Gregory Lester, e ela tem uma noção
tola de que eu os acho... ridículos.

— 'Um ou outro'? — repetiu, levantando uma sobrancelha. — Acho que


isso significa que ela não sabe qual?

— São totalmente intercambiáveis

Ele continuou a olhá-la, perplexidade em sua expressão. — Então, por que


seu pai não diz a Jane para manter distância deles? Ou dizer a eles para se
manterem bem longe dela?

Como ele, provavelmente, não iria gostar, Charlotte sufocou a risada.

— Isso só a convenceria de que era Julieta e um ou outro dos Lester era


Romeu. Ser um amante desafortunado, condenado à dor e à saudade, parece
terrivelmente romântico para uma jovem, sabe?

— Hm. A desgraça e a dor explicam alguns dos olhares que tenho recebido
de várias moças, de qualquer maneira. — retornou com outro olhar ao redor
delas. — Suponho que há algo... intrigante em querer alguém que não pode
- e não deveria - ter.

Seu olhar, quando voltou para ela, enviou-lhe algo inquieto e trêmulo.

Suas palavras eram uma mensagem destinada a ela? Ou estava apenas

falando hipoteticamente e tentando abalar seus sentimentos? Afinal de


contas, ele parecia bastante proficiente nisso. — De qualquer forma, —

retomou — quanto mais tempo Janie passa conversando com os Lester,


mais provável é que perceba, por conta própria, que ambos são idiotas
completos.

Com isso, virou Sixpence em direção à ponte que atravessava o Serpentine


e ia para a metade menos movimentada do parque. Foi preciso mais força
de vontade do que esperava, para não se virar e ver se o marquês a seguia.
Um momento depois, porém, ele e seu monstruoso baio atravessaram a
ponte e se juntaram a ela novamente. E, é claro, não lhe deu um momento
de satisfação, o fato de ele ter escolhido continuar seu passeio com ela, em
vez de fazer sombra a sua irmã. Só que ele tinha claramente decidido que
dois grandes escoceses eram proteção suficiente para Winnie -

pelo menos por enquanto.

— Um falso rio em um falso bosque. — comentou, olhando para o


Serpentine, como se procurasse um bujão e um ralo.

— O Serpentine é um rio de verdade. — retrucou, tentando não parecer


indignada com o insulto ao seu parque favorito de Londres. — E

Hyde Park era, originalmente, selvagem. Ambos foram meramente...

aprimorados, para que os cidadãos possam fazer o melhor uso deles.

— 'Aprimorados.'— repetiu. — Glengask tem vista para o rio Dee.

Corredeiras, cachoeiras, penhascos escarpados - uma coisa que é um Éden


para seus olhos, mas que vai tirar sua vida em um piscar de olhos, se não a
respeitar. Não é necessário 'aprimoramento'. Na verdade, um homem seria
tolo em tentar uma coisa dessas.

Um rio, o Bray, corria na beira da propriedade de sua família, no norte de


Devon. Como a maioria dos rios do sul da Inglaterra, era, em sua maior
parte, plácido e lento, como se há muito tempo tivesse desistido de lutar

para ser selvagem. Isso não tornava o Bray melhor ou pior do que o Dee;
afinal, um rio era simplesmente o que era.

Começando a conhecer seu acompanhante como estava, era provável que


ele esperasse que argumentasse seu ponto de vista, de qualquer forma.

Bem, ela nem sempre gostava de fazer o esperado. — Isso soa de tirar o
fôlego. — disse, enquanto ele guiava seu cavalo, para um olhar mais atento,
sobre a margem e os salgueiros suspensos, seus longos e tristes galhos
mergulhando na água, em movimento lento. — Glengask é floresta ou
pastagem?
— Ambos. Estamos no alto das montanhas, então, as árvores crescem
principalmente nos desfiladeiros e vales, onde há mais abrigo contra o
clima. E nossa ideia de pastagem e a sua são duas coisas diferentes, mas nós
nos contentamos.

— Pastoreia ovelhas, presumo? — pelo que sabia de outras famílias com


assentos nas Highlands, todas pastoreavam ovelhas Cheviot.

— Nae. — Sua voz era mais afiada do que esperava. — Criamos gado em
Glengask. Algumas ovelhas das Highlands, para nosso próprio uso, mas um
MacLawry não vai queimar seu próprio povo para criar mais pastagens para
aquelas malditas feras Cheviot. Nunca.

— As Highland Clearances. — disse, sem ter certeza de ter falado em voz


alta, até que ele assentiu.

Isso explicava sua cautela com a segurança de sua irmã, e muito mais.

A razão pela qual seu clã ainda era o maior nas Highlands, e, talvez, até a
razão pela qual ele suspeitava que seu pai havia sido assassinado. Os
MacLawry estavam, evidentemente, resistindo às liberações, apesar da
atração da renda das ovelhas Cheviot e da - insistência - da Coroa, para
enfraquecer os camponeses, para que possam obedecer. Não havia nada que

a Inglaterra temesse mais do que um grupo organizado de Highlanders


livres.

Enquanto considerava tudo isso, ele parou à sombra de um grupo de


salgueiros e desmontou. — As clearances tendem a marcar cada pedaço de
campo, ao norte de Hadrian's Wall. — disse, caminhando até ela e
levantando os braços.

— Como resistiu? — olhando para o seu rosto, a pergunta abruptamente


pareceu se aplicar tanto a ela quanto a ele. Desejando que seus dedos não
tremessem, porque estava longe de ser uma menina colegial, agarrou seus
ombros.
Mãos quentes deslizaram ao redor de sua cintura e, então, estava no ar
novamente, como se não pesasse mais que uma pena. Suas entranhas
pareciam tão agitadas - o que era totalmente ridículo. Talvez não fosse
imune a seus encantos físicos, mas, apenas por seu punhado de conversas,
ela sabia que seus temperamentos não poderiam ser mais diferentes. Suas
filosofias eram tão distantes quanto as duas extremidades da Terra.

Seus pés tocaram o chão, mas ele não a soltou. Em vez disso, a puxou para
mais perto, então ela teve que colocar as mãos em seu peito duro e largo,
para manter o equilíbrio. — Não deveria... — Ran murmurou, o azul de seu
olhar afundando nela, como um verão quente. E então inclinou-se e a
beijou.

Charlotte fechou os olhos. Não sabia como um homem poderia ter o gosto
das Highlands - ou mesmo o sabor das Highlands - mas Ranulf MacLawry
tinha. Penhascos varridos pelo vento, tempestades ferozes, o calor bem-
vindo de uma lareira em um dia frio. Esse era o gosto do Marquês de
Glengask. Totalmente inebriante.

— Charlotte! Não jogou Lorde Glengask no rio, jogou?

O som da voz de Jane a fez sobressaltar. Ofegante, desenrolou os dedos das


lapelas de Ranulf e o empurrou. Por um instante, a segurou onde estava, um
braço ao redor de seus quadris e o outro segurando sua nuca.

Então a soltou e deu um passo para trás, quase sem jeito.

Talvez se sentisse tão assustado quanto ela. Resistindo à vontade de olhá-lo


nos olhos e ver, precisamente, o que poderia estar pensando e sentindo,
Charlotte passou a mão pela boca e saiu correndo, de debaixo dos galhos de
salgueiro. — Ninguém caiu. — disse ela, um pouco alto demais, quase
tropeçando em um dos cães, na pressa de recuar. — Embora, se Lorde
Glengask continuar insistindo que o Serpentine não é um rio de verdade,
ficarei muito tentada a empurrá-lo para ver se ele se molha.

Winnie pareceu assustada. — Faria isso? Com Ran?


— Isso pode convencê-lo, não acha? Mas foi só uma brincadeira, minha
querida... — Charlotte retrucou, forçando um sorriso, quando o que
realmente queria fazer era levar a mão aos lábios e ver se estavam tão
quentes e inchados quanto pareciam.

A irmã do marquês se inclinou na sela, esticando o pescoço, para ver o


caramanchão. — Ran? Charlotte não te chutou nas partes do homem, não é?

O rosto de Charlotte se aqueceu. — Eu não fiz tal coisa!

Janie estava rindo atrás de uma mão. — Damas não falam sobre partes
masculinas, Winnie.

— Verdade? Meus irmãos quase não falam sobre qualquer outra coisa, ao
que parece.

Folhas farfalharam atrás de Charlotte. — É verdade! — Ranulf disse


secamente. — Odeio admitir, Rowena, mas, talvez, possa aprender um
pouco de refinamento londrino.

E com isso, os outros esqueceram completamente o que ela e Ranulf


poderiam estar fazendo sob os salgueiros. Quaisquer que fossem seus
defeitos, e pareciam numerosos, o homem era magistral em mudar uma
conversa - e em não responder às perguntas feitas a ele.

Winnie gritou, agitando os braços, até que um dos homens de Glengask a


ajudou a descer ao chão. Assim que teve seus pés debaixo dela, caminhou
até seu irmão, suas saias amontoadas em suas mãos. — Isso significa que
está me dando mais de quinze dias aqui?

Ele fez uma careta. — Significa que veremos.

Sua irmã o abraçou. — Ah, obrigada, Ran. Obrigada, obrigada. — os olhos


azuis encontraram os de Charlotte, sobre a cabeça de sua irmã. —

Ainda significa que veremos. Não faço promessas.

— Eu sei, eu sei. — Winnie retornou, soltando-o e fazendo piruetas, de


volta para Honey, a égua que o pai de Charlotte tinha dado para ela usar.
— Porque uma vez que der sua palavra, é tão bom quanto esculpida em
pedra.

— Aye. — observou, enquanto seu homem levantava Winnie, de volta em


sua sela, então ofereceu seu braço para Charlotte. — O que vamos fazer
agora? — falou lentamente.

Se não fosse pelas luvas de montaria e pela manga dele, pensou que tocá-lo
poderia tê-la feito explodir em chamas. — O... hum...

— Devemos pegar sorvetes. — Janie, agradecidamente, colocou. — E

eu quero mostrar a Winnie os jardins do Palácio de Kensington. São tão


adoráveis, e há um lago com peixes.

Charlotte pigarreou. — Acho que Janie planejou muito bem o resto de


nossa manhã. — conseguiu dizer, então perdeu a compostura novamente,
quando Ranulf colocou suas mãos grandes sobre sua cintura e a ergueu de
volta na sela. Céus, o que havia de errado com ela?

Ranulf montou em seu próprio bruto e o emparelhou com Sixpence.

— Foi seu primeiro beijo, doce moça? — murmurou, um sorriso suave e


satisfeito tocando aquela sua boca muito capaz.

Pelo amor de Deus. Desta vez, pelo menos, estava feliz por sua arrogância.
Isso a tirou de qualquer estupor bobo em que havia caído. —

Me surpreendeu, Ranulf. — retornou no mesmo tom, tentando manter a voz


firme. — Mas não, esse não foi meu primeiro beijo.

— Ela viu o sorriso dele caindo pouco, antes de virar Sixpence e assumir a
liderança. Incitando a égua a trotar, enquanto tinham um momento de
espaço para fazê-lo, os conduziu de volta pela ponte, na direção do carrinho
do vendedor de gelado mais próximo.

Não estava inteiramente certa do porque correu, ou porque se sentiu tão...


perturbada, tanto pelo beijo quanto pelo homem. Tinha flertado com ele?
Certamente havia gostado de algumas de suas discussões, mesmo que sua
apreciação pela violência não lhe caísse bem. E talvez tenha havido alguma
satisfação, na forma como as outras damas olharam para ele no Almack,
quando era ela dançando a valsa em seus braços, e novamente hoje no
parque, quando estava cavalgando ao seu lado. Mas isso não significava...

Pelo canto do olho, viu o nariz do baio se aproximando novamente.

Franzindo o cenho, cutucou Sixpence nas costelas, e a égua acelerou


suavemente, em um galope. Não era uma coisinha simplória para ser
beijada e deslumbrada por um rude escocês. Sabia algo além disso.

A cabeça reapareceu mesmo tendo acelerado. O baio ainda estava a trote,


maldição. Pegou as rédeas em suas mãos e agarrou. Em um instante
estavam galopando. Em algum lugar atrás dela Jane chamou seu nome,
mas, pela primeira vez ignorou sua irmã. E ignorou os olhares assustados e

aborrecidos dos pedestres e outros cavaleiros, que se apressavam para sair


de seu caminho.

Arriscou um olhar por cima do ombro direito, mas o nariz do baio - e o de


seu cavaleiro - não estavam à vista. Bom. Precisava de alguns momentos
para pensar.

Uma mão se estendeu de sua esquerda e agarrou a rédea de Sixpence.

— Ei, moça! — Ranulf disse em seu sotaque profundo, e freou seu grande
baio com uma mão, enquanto segurava sua égua com a outra. Diabos. Ele
provavelmente fez malabarismos com ursos para se distrair e se divertir
também.

Ele os puxou facilmente para um impasse. — Lorde Glengask, ela está


ilesa? — veio a voz um tanto aguda de Jane. — Charlotte?

— Ela está bem. — Ranulf disse, antes que ela pudesse responder. —

Largou a rédea, só isso.

— Eu não fiz isso...


— Quer explicar a essas moças por que estava debandando, então? —

interrompeu com voz concisa.

Tinha razão, droga. — Não! — murmurou de volta. — Estou bem. —

chamou em voz mais alta, virando-se para olhar para a irmã, antes de se
endireitar novamente.

— Se não gosta de me beijar, moça, apenas diga. — continuou com a


mesma voz tensa. — Não precisa fugir de mim.

— Não é... eu não estava...

— Ah! — interrompeu novamente, sua voz aquecendo. — Ótimo, então. —


ouviu-o respirar fundo. — O que estava pensando, galopando assim?

— Eu estava pensando em James Appleton, se quer saber. —

explodiu, afastando Sixpence dele e partindo novamente em um ritmo

muito mais calmo.

— E quem é James Appleton? — exigiu.

Charlotte manteve o olhar entre as orelhas de Sixpence. — Meu noivo.

Capítulo 4

Noiva.

para o perfil deliberado de Charlotte. Não fazia sentido.


Nem o sentimento de raiva doentia em suas entranhas, como se ele tivesse
acabado de perder o último barco, saindo de um navio naufragado, mas
preferiu analisar a declaração dela em si ao invés de como ... o surpreendeu.

Porque deve ter sido a surpresa que o atravessou. Nada mais fazia sentido.

— Então, onde está esse bonitão James Appleton? — se forçou a perguntar.

Seus olhos cor de avelã se moveram em sua direção, então se afastaram


novamente. — Desculpe? — perguntou baixinho, uma afronta inesperada
em seu tom.

Não tinha ideia do que a havia irritado; era a única que tinha um noivo
lançado nela. Não que isso afetasse nada além de sua curiosidade, é claro.
Mesmo que pudesse, por um momento, considerá-la atraente, mesmo que
pudesse, por um momento, tê-la imaginado nua em seus braços, continuava
sendo a única coisa que nunca poderia fazer parte de sua vida nas Highlands
- uma inglesa.

— Me ouviu. — pressionou de qualquer maneira. — Quem é esse belo


sujeito que não se deu ao trabalho de acompanhá-la no Almack, ou fazer
um passeio agradável em uma bela manhã no Hyde Park? — se conteve.
Afinal, ainda era apenas curiosidade. — Sabe o que eu acho? —

continuou quando ela não respondeu.

— Tenho certeza de que não tenho o menor interesse no que pensa, milorde.

De alguma forma, ele voltou a ser milorde, um sinal claro de que tropeçou
em algo que a deixou desconfortável. Um verdadeiro cavalheiro,
provavelmente, deixaria de perseguir o assunto, mas todos em Londres
sabiam que ele não era um verdadeiro cavalheiro. Em vez disso, aproximou
Stirling. — Bem, vou te dizer, de qualquer maneira. — empurrou,
mantendo seu tom baixo o suficiente para que a multidão ao seu redor não
pudesse ouvir. — Acho que não existe um homem chamado James
Appleton.
Dessa vez ela virou a cabeça, para encará-lo completamente. Suas
bochechas claras ficaram brancas. — O quê?

— É isso então, aye? — continuou, seu olhar baixando para sua boca
macia, quase contra sua vontade. — Não pode suportar um demônio como
eu lhe dando um beijo, então conjura um namorado imaginário, em vez de
me dizer, na minha cara, que não quer nada com um Highlander. É uma
mentirosa inglesa covarde, Lady Charlotte, e lamento admitir que pensei
melhor a seu respeito.

Por um longo momento o encarou, seu corpo inteiro tremendo. Se pretendia


desmaiar, ele teria que pegá-la, supôs, mas isso seria o fim de tudo. Não
mais tocá-la, não mais pensar nela. Era o maldito chefe do Clã MacLawry.
E tinha coisas melhores para fazer, do que perder um momento, sonhando
acordado com uma moça que não queria nada com ele. Pelo amor de Cristo
e de Sant Andrew, as mulheres brigaram entre si por uma noite na cama
dele. Isso era ridículo.

As mãos dela apertaram as rédeas e, por um ou dois segundos, pensou que


ela pretendia esbofeteá-lo. Ah! Isso colocaria um prego em seu caixão

de abominável confrontação física, embora isso, provavelmente, tivesse


sido uma mentira também, algo destinado a mantê-lo à distância.

Então ela estendeu a mão e com dedos trêmulos desabotoou o pequeno


medalhão oval de seu pescoço. Ela estendeu o braço, o medalhão pendurado
em seus dedos. — Pegue — mordeu.

Aproximando Stirling, o pegou de seus dedos. — Eu não lhe dei isso, moça.

— Eu sei disso. Abra. O pequeno fecho na lateral.

Controlando o baio, fez o que ordenou. A coisa era velha e absurdamente


delicada, mas, com um pouco de esforço, conseguiu abri-la sem quebrá-la.
Na parte interna da tampa, distinguiu a inscrição - Para sempre em meu
coração. - O lado oposto continha um retrato pequenino, um jovem de
cabelos claros e bochechas rosadas, uma gravata alta cobrindo o que parecia
ser um queixo suave, e olhos verdes, cheios de alma, que olhavam para o
nada.

— Esse, Lorde Glengask, é James Appleton. — Parou perto dele, percebeu,


sua voz calma e controlada. — A razão pela qual não se juntou a nós no
Almack, e a razão pela qual não está aqui andando conosco hoje, é porque
há três anos ele tropeçou em uma pista de dança e caiu em um vaso de
plantas. E então decidiu desafiar o primeiro homem que riu dele - e havia
vários - para um duelo. Foi morto na manhã seguinte. Por causa de um piso
encerado e um vaso de plantas, e porque estava envergonhado. — estendeu
a mão novamente, com a palma para cima. — Agora, devolva-o para mim,
por favor.

— O… — parando, devolveu o medalhão. Desta vez, errou feio. Não


admira que ela detestasse a violência orgulhosa. — Lass, eu…

— Não. Me beijou, e eu pensei em James. Isso me lembra de não cair nos


encantos dos arruaceiros de cabeça quente e casca fina nunca mais. Não

menti para o senhor e não sou covarde. O senhor, no entanto, é um


selvagem e um demônio. E eu já terminei de falar com o senhor. — com
isso, incitou seu cavalo, e a égua castanha trotou até onde sua irmã e
Rowena riam sobre uma coisa ou outra.

Um selvagem e um demônio. Bem, foi chamado de pior, e com menos


motivo, o que, provavelmente, era o motivo pelo qual as palavras de
Charlotte Hanover doeram. As merecia. Por mais idiota que seu noivo
pudesse ter sido, Ranulf tinha chegado a uma maldita conclusão - uma
errada - e ela o enfrentou. Quase ninguém nunca tinha feito isso antes. A
moça possuía um maldito oceano de coragem para enfrentá-lo, e isso era
malditamente certo. E aquelas coisas que ela estava dizendo, sobre como as
palavras podem morder tão profundamente quanto uma espada, pareciam
abruptamente dolorosas e verdadeiras. Cortou-o profundamente, sem
dúvida alguma.

Agora precisava se desculpar. Não era algo que fazia com frequência ou
bem, mas, por Deus, era homem o suficiente para admitir um erro, quando
cometia um. Virou Stirling - e Fergus deu um rosnado baixo à sua esquerda.
Ao mesmo tempo, o cabelo na nuca de Ranulf se arrepiou. Isso não era um
rosnado para se exibir. Com uma mão deslizando em direção à pistola em
seu bolso, moveu-se um pouco, para olhar na direção em que ambos os cães
estavam olhando agora, corpos baixos, caudas rígidas e paralelas ao chão -
esperando sua ordem para atacar.

Um trio de cavaleiros estava de um lado do caminho, todos os três olhando


para ele. Nenhum deles tinha armas apontadas para Rowena ou ele.

Bom. Então, talvez, não tivesse que matar nenhum deles hoje.

Com o canto do olho, notou Owen e Debny abrindo caminho entre os


visitantes irritados do parque, aproximando-se de onde Rowena e as duas

garotas Hanover estavam agora, saboreando um sorvete de limão.

Conheciam seu dever. Acima de tudo, elas - Rowena - precisavam ser


protegidas. Da mesma forma, uma moça com cabelo de sol, que perdeu seu
amor por seu próprio orgulho, não deveria ser colocada em perigo por causa
de outro homem. A força desse pensamento em particular o surpreendeu,
mas, com a mesma rapidez, o colocou de lado, para contemplação posterior.

Voltando sua atenção para o trio imóvel, a seis metros de distância, do outro
lado do caminho, deliberadamente levou um momento para avaliar cada um
deles. O homem à direita possuía tantos músculos excessivamente grandes
que provavelmente não tinha muito espaço para pensar. Seria o executor,
então. Em contraste, o homem sentado à esquerda era elegante como uma
lontra, vestido todo de preto e os olhos sombreados pelo chapéu de castor
preto na cabeça. O conselheiro, que tentaria uma facada nas costas, em vez
de um soco no rosto. De longe, o mais perigoso dos dois. O

que deixava o homem no meio.

— Bom dia, lorde Glengask. — disse aquele cavaleiro, inclinando a cabeça


e sorrindo demais. Olhos azuis pálidos passaram dele para as três moças e
de volta.
Ranulf se perguntou se o homem percebeu o quão precariamente sua vida
estava equilibrada, e quão rápido terminaria, se resolvesse se mover um
centímetro em direção a elas. — Berling.

— Que prazer vê-lo fora das Highlands — Donald Gerden, o conde de


Berling, continuou friamente. — Da última vez que nos falamos, creio que
disse algo sobre levar o diabo e uma dúzia de cavalos, para tirá-lo da
Escócia.

O discurso preciso, a maneira como Berling anulou cuidadosamente


qualquer vestígio de sotaque, em favor dos mais polidos e educados de
Oxford, teria sido lamentável na Escócia. Aqui, parecia quase criminoso.

Mas Ranulf estava bem ciente de que os residentes de Mayfair pensavam o


contrário. Aqui, ele era o rufião, e Berling, o civilizado cavalheiro inglês,
com um assento de campo nas Highlands. — Lembro-me dessa conversa.

— disse em voz alta. — Terminou com seu nariz quebrado e um aviso para
ficar longe da minha terra.

O homem musculoso pegou suas rédeas e se sentou para frente, tão ansioso
para atacar quanto os cães estavam, todos esperando apenas uma palavra de
seus respectivos mestres. Berling, porém, manteve o sorriso no rosto, como
se alguma moça lhe tivesse dito que parecia menos um burro quando sorria.
Estava errada, quem quer que fosse.

— Sim. — o conde retornou. — Lá estava eu, visitando minha pequena


propriedade, ao norte de Glengask, e oferecendo…

— Sholbray, — Ranulf interrompeu para esclarecimentos, já que estavam,


evidentemente, recitando sua história para qualquer espectador. —

Sua pequena propriedade se chama Sholbray. Cem anos atrás, era a sede da
família Gerden, até que esvaziou suas terras e a entregou a mil ovelhas.

— A sede da minha família é Berling Court, em Sussex. — Berling disse


rigidamente, seu sorriso tão frio quanto um gelado vento do norte. —
E quando lhe ofereci uma quantia muito razoável, por direitos de pastagem
em seu pasto mal usado, me puxou do meu cavalo e quebrou meu nariz.

— Eu estava tentando deter o seu queixo, para parar de bater. Vejo que
ainda tem o problema de falar quando não deveria. — inclinou a cabeça. —
Devo tentar outra vez, então?

— Conversa corajosa para um homem com três servos e dois cães do clã.
— olhos pálidos dispararam novamente na direção de Rowena, mas,
evidentemente, o conde sabia o que aconteceria se sequer a mencionasse.

— Suponho que vamos descobrir isso.

Berling riu alto. — Sim, suponho que descobriremos isso, Glengask.

Mas não hoje. Tem algumas vacas ou cabras que precisam ser jogadas fora?

— Com isso, virou seu cavalo preto, e os três homens desapareceram na


multidão, de volta pelo caminho que vieram.

— Cães, fora. — Só então Ranulf percebeu o quão grande o círculo de


espectadores havia se tornado. — Vamos embora. — rosnou, e guiou
Stirling de volta para onde as três moças, de rosto pálido, o esperavam. De
um lado, Debny estava de frente para o mar de vagabundos ingleses,
enquanto do outro, Owen tinha uma mão dentro do casaco, provavelmente
apoiada na coronha de sua pistola.

— Ranulf? — Rowena disse firmemente.

— Está tudo bem. — retrucou, empurrando de volta para seu peito, com
força, a raiva que tentava escapar. — Terminem seus sorvetes, e nós...

— Voltaremos para casa agora. — Charlotte interrompeu. — E o senhor


irá... para outro lugar, milorde. Sua irmã não precisa dessa briga ligada à
sua reputação.

— 'Essa briga'? — repetiu, girando seu baio para ficar de frente com ela.

— Estava a um centímetro de brigar com Lorde Berling, sir. —


declarou. — Não finja o contrário.

— Eu não estava fingindo nada. Eu estava apenas questionando por que


chamaria isso de briga. Não foi tão pouca coisa assim.

— E não tente seus coloquialismos pitorescos em mim. Não os acho


divertidos.

Ran estreitou um olho. — E pensar que eu estava procurando uma maneira


de me desculpar com a senhorita, por insultar seu Sr. Appleton.

— Pare com isso. Estou furiosa com o senhor. Nós não nos ameaçamos nas
ruas aqui. E, certamente, não por rivalidades de clãs ou algo

assim.

Por um momento, pensou que poderia sofrer uma apoplexia, bem ali no
meio do Hyde Park. — Algo assim. — repetiu. Não tinha acabado de dizer-
lhe que o clã era tudo para um Highlander? — Foi um aviso que dei a
Berling; não é uma ameaça.

— Semântica. — retrucou.

— Sim, talvez. — Ranulf concordou, admitindo para si mesmo que, por


mais... frustrado que estivesse com essa mulher no momento, ainda estava
permitindo que o repreendesse, de uma maneira que ninguém nunca tinha
conseguido antes. Nunca. — Há três anos, ele ou um de seus homens enfiou
uma bala de mosquete no ombro de meu irmão Munro. E então, no ano
passado, tentou comprar minhas terras para suas malditas Cheviotes.

Vou ameaçá-lo, toda vez que colocar os olhos nele. E se ele der outro passo
em direção a mim ou dos meus, estará acabado.

Ela olhou de lado para ele e depois, rapidamente, para longe, como se nem
se importasse em reconhecer que estava lá. E ele ainda queria voltar a beijá-
la, maldição. — Mande prendê-lo, então. — disse.

— Não tenho provas que seus tribunais de Sasannach ouviriam. E


como o covarde, provavelmente, não voltará às Highlands, não há nada que
eu possa fazer. Legalmente. — se quisesse ouvi-lo dizer que os tribunais
ingleses favoreciam homens que tinham títulos ingleses e moravam em
propriedades inglesas, o faria, mas ela, provavelmente, já sabia disso. Não
que concordasse com ele; isso não seria elegante, ou algo assim.

— Talvez devesse parar de tentar tanto não se encaixar, Ranulf.

No momento em que ela falou, Charlotte desejou não ter feito isso.

Sim, ele incomodava seus ouvidos e seus pensamentos sem fim, mas já
sabia que deixá-lo com raiva não era uma coisa sábia a se fazer. Os lábios
sensuais de Glengask se contraíram, seus profundos olhos azuis brilhando.

Então ele assobiou, um som curto e estridente, que a fez pular e trouxe os
cães e os dois criados instantaneamente para o seu lado.

— Una, guarda Rowena! — disse, seu tom cortante e preciso. —

Rapazes, levem-nas para casa em segurança, depois voltem para a Tall


House.

— E o senhor, meu laird? — perguntou o criado mais velho e grisalho.

— Terei Fergus comigo.

Sua irmã estendeu a mão para ele. — Ranulf, a festa de Evanstone é hoje à
noite. Vai…

— Eu estarei lá. — interrompeu, dando a Charlotte um olhar que tanto a


arrefeceu quanto começou uma fagulha de chama no fundo do seu peito.

Com isso, Ran, o grande baio e o grande cão de caça cinza se afastaram da
multidão, viajando, em um ritmo rápido demais para serem civilizados.
Mas, então, Ranulf MacLawry não era nada civilizado.

Por um momento, se preocupou por também ter ofendido Winnie, mas a


irmã do marquês emparelhou com ela de um lado, enquanto Janie veio do
outro. — Conhece lorde Berling? — Charlotte perguntou a hóspede.

— Nae - não. Quer dizer, eu o vi à distância uma ou duas vezes, mas


ninguém nunca nos apresentou. Eu não gostaria de ser apresentada a
pessoas como ele.

Fora da presença de seu irmão, Winnie estava tentando - melhorar -

sua fala, como ela chamava. Charlotte gostava do sotaque, especialmente


quando falado por um macho montanhoso de voz profunda, mas entendia o
raciocínio de Rowena. Se falasse como uma Highlander, ninguém jamais a
veria como uma inglesa de verdade, e isso - mais do que qualquer outra

coisa - parecia ser o que ela queria para sua curta temporada. Não ser
escocesa.

— É verdade que ele atirou em seu irmão Munro? — Jane perguntou, sua
cor ainda pálida. Demonstrações públicas de agressão masculina não era
algo com o qual nenhuma das irmãs Hanover tinha muita experiência,
graças a Deus.

Winnie assentiu. — Alguém começou a incendiar as escolas que Ran estava


construindo. Urso foi ver uma e a encontrou pegando fogo. Voltou com o
ombro coberto de sangue e disse que tentou entrar e se certificar de que
todos estavam seguros, e então, algum maldito covarde atirou nele por trás.

— Winnie! — Jane ofegou, colocando a mão sobre a própria boca. —

Damas não dizem essa palavra.

— Que palavra? 'Maldito'? —

— Winn, sim, essa palavra.

— Ah. Mas é a palavra favorita de Urso, e foi o que ele disse.

— Se atiraram nele por trás, como sabe que era lorde Berling? —
Charlotte pressionou, mais interessada nos fatos do que na linguagem usada
para apresentá-los.

— Porque Berling é aliado dos Campbell e dos Donnelly, e o tio Myles deu
o mapa aos Donnelly e contou a eles sobre as escolas.

Bem, isso explicava a tensão entre Ranulf e seu tio, mesmo que a lógica de
tudo fosse abismal. Charlotte se perguntou, brevemente, se o marquês havia
quebrado o nariz de lorde Swansley também. — Isso torna possível, então,
mas não prova.

Rowena lhe lançou um olhar confuso. — Foi o que o tio Myles disse.

E, então, Ranulf disse que um Highlander sabe em seu íntimo quando um

homem violou sua confiança, e que apenas alguém que deu as costas para
seu próprio povo, como Berling, temeria uma escola.

Isso pode ter passado por fatos na Escócia, mas Charlotte podia ver por que
Ranulf não se preocupou em levar suas queixas a um tribunal.

Suposição, superstição e ódio — era o que tinha sido. Não admira que os
escoceses não tivessem mais permissão para governar a si mesmos.

Foi só depois que voltou para casa e se acomodou na biblioteca, com o mais
recente Repositório de Ackermann, que o resto da conversa afundou nela.
Ranulf estava construindo escolas - várias delas, aparentemente - em suas
terras. Para seus camponeses.

Embora houvesse, certamente, uma linha de pensamento, de que educar os


camponeses só servia para esclarecê-los sobre o quão miseráveis eram suas
próprias condições e encorajá-los a se rebelar contra seus chamados
superiores, não concordava com isso. Dar a alguém uma oportunidade para
uma vida melhor tinha que ser uma coisa boa. E parte dela tinha que
admirar um homem que oferecia isso aos dependentes dele, especialmente
quando isso significava ir contra a vontade de seus próprios pares. Exigia
coragem e convicção, ambas as quais Ranulf MacLawry parecia possuir, em
grande quantidade.
Era bastante exasperador, realmente. Dava a aparência de ser exatamente o
oposto de iluminado. Até parecia gostar perversamente de ser visto como
um diabo Highlander e nada mais. Seu desprezo pelos ingleses -

ou Sasannach, como ele a chamava - não poderia ser mais óbvio. E, ainda
assim, a beijou, e isso parecia tudo menos desdenhoso. Fundido e selvagem,
talvez, mas não tinha queixas sobre isso. De forma alguma.

Agitando-se, Charlotte deixou de lado os Ackermann e se levantou.

Seu pai era um grande leitor e tinha uma coleção bastante extensa de
biografias, peças e romances. Vasculhou as prateleiras da biblioteca, até

encontrar a coleção de títulos que mais lhe interessava. Lentamente, puxou


o primeiro da prateleira. Waverley, escrito por um autor anônimo, que todos
agora sabiam ser Walter Scott, o poeta escocês.

Tinha lido o relato do jovem Edward Waverley e como foi seduzido pela
ardente Highlander, Flora MacIvor, com suas tendências jacobitas, mas essa
leitura tinha sido sobre o romance de tudo isso, e como esperava que
Edward voltasse à suave e firme Rose Bradwardine da Lowlander - que
conhecia. Desta vez, quando se sentou e abriu o livro, quis ler sobre as
Highlands. E os Highlanders.

Depois de, mais ou menos, uma hora, tentando mergulhar na história, no


entanto, Charlotte teve que deixar o livro de lado para ficar de pé e andar
pela grande sala. Por que Ranulf ficou tão zangado e cético quando
mencionou James? Tudo o que disse foi que quando Ran a beijou isso a fez
pensar em... Ah. Oh.

Mas não quis dizer isso dessa forma. Só quis dizer que ninguém a beijou,
desde que James o fez, na noite anterior a ele ter saído para levar um tiro no
coração. E então, naturalmente, quando Ran lhe deu aquele beijo
espetacular, pensou no beijo e no resto do absurdo e da dor que seu noivo
de cabeça quente havia causado. Certamente, não estava pensando em
James, quando Ranulf a beijou, porque sua mente parou de funcionar
completamente.
Bem, se ele interpretou mal o que disse, o que importava, afinal?

Explicou, talvez inadvertidamente, mas ele deve ter percebido o que queria
dizer. E parecia muito mais interessado em procurar uma desculpa para
derrotar Lorde Berling do que em defender seus próprios caminhos
sanguinários, de qualquer maneira.

Estranho, ela nem sabia que Donald Gerden era escocês. Dançou com o
conde, e em várias ocasiões. Conversaram sobre o tempo, e as últimas

peças que estavam sendo apresentadas no Teatro Drury Lane, e mesmo que
agora se lembrasse de que ele, várias vezes, fechava os a's, não tinha notado
na época. Ranulf tinha lhe dito que não entendia o que era ser escocesa, e,
evidentemente, estava certo. Nada desse ódio, conflito e sotaques ocultos
faziam qualquer sentido para ela.

Nem fazia sentido que um homem tão diferente dela em perspectiva e


temperamento pudesse ser tão... intrigante. Agora Charlotte, lentamente,
estendeu a mão e passou um dedo pelos lábios. O gosto dele se desvaneceu
com sorvetes, almoços e discussões, mas se lembrava. Aquele beijo,
positivamente, curvou seus dedos dos pés e enfraqueceu seus joelhos, e
enviou uma grande excitação sobre… alguma coisa, atravessando todo o
seu ser.

Não que isso importasse, também, já que suas palavras de despedida para
ele tinham sido uma sugestão para que parasse de tentar tanto ser escocês,
ou algo assim. Provavelmente, poderia ter conjurado um insulto pior, mas
levaria algum tempo e esforço. — Tola! — murmurou.

— Charlotte?

Ao som da voz de seu pai, parou de andar e saiu da biblioteca. —

Aqui em cima, papai. — chamou, inclinando-se sobre o corrimão e


agradecida pela distração, fosse qual fosse.

Ele ergueu os olhos do vestíbulo. — Encontre-me em meu escritório, sim,


querida?
— Certamente.

Chegou antes dele e foi até a janela que dava para o caminho de carruagens.
O céu ficou cinza com a tarde; teriam sorte se não começasse a chover antes
de chegarem ao baile de Evanstone. Não havia nada pior do que tentar
andar na lama e excrementos de cavalo, em chinelos de dança.

— Onde estão as meninas? — perguntou Lorde Hest, entrando no pequeno


escritório e fechando a porta atrás de si. Seu nariz e orelhas estavam
vermelhos por causa do vento; mesmo que não tivesse visto a fileira de
peixes na mão dele antes, saberia o que estava fazendo.

— Experimentando vestidos para esta noite. A excitação está,


positivamente, fazendo meus dentes doerem.

Ele riu. — Ah, também já foi insuportável. Eu me lembro bem.

— Talvez, mas há duas delas.

— Verdade, demais. — Sério, gesticulou para que ocupasse um dos dois


lugares em frente à sua mesa. — Ouvi falar de uma briga hoje, no Hyde
Park.

Oh, Deus. — Não foi uma briga, precisamente. Lorde Glengask e Lorde
Berling se viram e trocaram palavras. Não deu em nada.

— Isso é alguma coisa, de qualquer maneira. — retornou, parecendo


aliviado. — Pelo jeito que Kenney explicou, achei que estavam fazendo
isso com espadas largas.

— Não. Recomendo que nunca convidemos os dois para o mesmo jantar, no


entanto.

Seu pai olhou para ela por um momento. — O que aconteceu? Sabe?

— Bem, evidentemente, Lorde Glengask se recusou a pastorear ovelhas em


suas terras e, em vez disso, está construindo escolas. E Lorde Berling não
gostou disso. Segundo rumores, Berling ou um de seus homens atirou no
ombro de um dos irmãos de Winnie, e então, na última vez que se
encontraram na Escócia, Glengask quebrou o nariz de Berling. — franziu a
testa. Era tudo tão estúpido e tão sem sentido. Por que os homens não
podiam simplesmente sentar e discutir as coisas?

— Então Glengask não gosta de ingleses nem de seus compatriotas


escoceses, hein?

Ela suspirou. — Aparentemente não. Disse-lhe que precisava fazer uma


tentativa melhor de se comportar, mas ele não aceitou muito bem.

Os lábios do conde se contraíram. — Disse a ele o quê?

— Sim, foi estúpido, mas depois de duas horas de maldita Inglaterra isso e
maldito inglês aquilo, eu tive o suficiente. — porque ninguém nunca estava
autorizado a saber que Ranulf a beijou. Ou que ela o beijou de volta.

— Sim, já estou levando uma bronca de alguns dos companheiros do


Society Club, por ter um Highlander à espreita. Tenho que admitir que
ficarei um pouco aliviado, quando esta quinzena acabar.

Charlotte franziu o cenho. Ranulf não disse precisamente que permitiria que
Winnie ficasse mais tempo, mas deu a entender. Claro que isso foi antes
deles discutirem. — Não planeje um jantar de despedida ainda, papai. —
disse de qualquer maneira. Lorde Hest deveria saber o que estava
acontecendo em sua própria casa.

— O quê? — sua carranca, provavelmente, combinava com a dela. —

O que aconteceu?

Ela deu de ombros. — Ele adora a irmã, e ela quer ficar.

— Bem. — lentamente o conde soltou o ar. — Então, suponho que vamos


ter que nos contentar. Tenho que admitir, sua mãe não poderia estar mais
satisfeita. Ter duas jovens para apresentar é sua ideia de paraíso. Eu só
queria que ambas fossem inglesas.

Esse era, precisamente, o tipo de coisa que Ranulf, provavelmente, pensava


que as pessoas diziam pelas suas costas, em todas as oportunidades, então
se absteve de concordar, em vez disso, ofereceu a seu pai outro sorriso. —
Não se esqueça de guardar uma dança para mim esta noite, papai. — disse,
levantando-se e dando um giro.

— Ah, meu Deus. É a festa de Evanstone, não é? Glengask estará presente?

— Ele disse que estaria. Por quê?

— Só que o avô de Evanstone ajudou a acabar com a revolta jacobita em


Culloden.

— Ah. Isso deve dar certo. Informarei Lorde Glengask na primeira


oportunidade, para não mencionar Bonnie Prince Charlie. — fez uma careta
novamente, apenas meio gracejando. — Ou, talvez, eu simplesmente não
mencione nada.

— Isso pode ser melhor.

Capítulo 5

não gostava muito dele, Ranulf decidiu, mas então, dada a forma como o
homem continuava tentando adicionar acolchoamento em seus ombros, o
sentimento era mútuo.

— Mas está no auge da moda, lorde Glengask. — implorou o sujeito


magro, torcendo as mãos.

— Eu não me importo. — Ranulf retornou. Já estava bem acima da maioria


dos outros homens; acolchoar seus ombros seria absurdo.

— Sim, claro, dado... isso. — respondeu o Sr. Smythe, apontando para o


casaco semiacabado, que Ranulf havia encomendado.
— Apenas ajuste, Smythe. Sem estofamento. Mandarei meu homem às seis
horas.

— Sim, muito bem. Apenas, por favor, não conte a ninguém que veio até
mim.

— Ah, eu não vou. Não precisa se preocupar com isso. — ele e Fergus
saíram da alfaiataria, e, com um rápido olhar para cima e para baixo na rua,
Ranulf subiu em Stirling e seguiu trotando para Tall House.

Charlotte disse que deveria tentar se encaixar. A moça poderia ter mais
juízo do que a maioria, e se ela tivesse parado para pensar por um
momento, teria percebido que ele nunca se encaixaria. Não em Mayfair.

Então, podia muito bem ser o que era.

Uma vez que ela havia entrado novamente em seus pensamentos, recusou-
se a sair. Era como tê-la lá, pessoalmente, na verdade, teimosa, adorável e
comandando sua atenção, independentemente do que pudesse

preferir. Se tivesse mencionado, no início, que tinha um noivo, teria se


esforçado para nunca pensar nela como... bem, como uma mulher, como
uma moça bonita, que deve ser beijada, despida e deitada. Frequentemente.

Mas pensava nela dessa maneira - e era por isso que se sentia como se
alguém tivesse cortado suas bolas quando, de repente, passou a ter um
noivo. E agora não tinha mais.

Tudo isso significava que, provavelmente, Ran nunca teria outra noite
decente de sono. Porque seu cérebro, pequenino e teimoso, sabia que, tendo
outro homem ou não, Charlotte Hanover não era para ele. Sabia que quatro
dias de conhecimento não deveriam tê-lo deixado se sentindo assim.

Alguns lairds escoceses permaneciam espalhados pelas Highlands, e desses,


alguns tinham filhas solteiras. Ele se casaria com uma delas, porque era isso
que o Marquês de Glengask deveria fazer. Uma moça das Highlands, para
uma vida nas Highlands.
De fato, quando ele e Rowena voltassem a Glengask, faria do casamento
sua próxima tarefa. Respirando fundo, Ranulf subiu as escadas para o
quarto de sua casa alugada. Um único beijo, e sua mente se transformou em
guisado. Graças a Saint Andrew, as moças os interromperam quando o
fizeram. Especialmente agora, que tolamente concordou em deixar Rowena
prolongar sua estadia.

Fez isso por causa de sua irmã, é claro, porque ela parecia muito feliz.

Mas se estivesse pensando em si mesmo, em como poderia ter mais tempo


para conhecer Charlotte Hanover, por exemplo, bem, que tolo isso o teria
tornado.

Ranulf empurrou a porta de seu quarto com tanta força, que sacudiu as
janelas. Em resposta, uma figura ao lado de sua penteadeira guinchou e
girou como um camundongo assustado. Então agora Gerden estava
mandando vermes atrás dele.

Cristo. Serviu-lhe bem por estar distraído. — Quem, diabos, é? —

Ranulf cuspiu, puxando a faca de sua bota e avançando. Com um rosnado


feroz, Fergus se agachou, circulando pelo outro lado.

— Ginger! Ginger, milorde. — o homenzinho murmurou, pegando uma


escova de cabelo e segurando-a diante de si, como um escudo, enquanto
recuava para o canto.

— Que maldito nome é esse para um homem?

— O quê? Oh! Edward, milorde. Edward Ginger. Eu sou seu valete!

Não me mate, pelo amor de Deus!

Alguém trovejou no corredor atrás dele. Movendo-se rapidamente, Ranulf


colocou o guarda-roupa alto entre ele e a porta, enquanto Fergus mantinha o
tal Ginger afastado. A ponta de um bacamarte apareceu na sala, seguido por
um Peter Gilling sem fôlego. — Meu laird, onde está?

— Aqui, Peter. Não atire.


O lacaio, imediatamente, abaixou a arma arisca e removeu a pederneira. —
Deus, me parta em dois e me jogue no poço, antes que eu faça uma coisa
dessas, meu laird.

Essa era uma imagem colorida. Ranulf apontou a ponta de sua adaga para o
canto. — O deixou entrar?

— Aye, meu laird. Teria lhe contado, mas eu estava no banheiro quando
entrou.

Dadas as calças do lacaio e a camisa esvoaçante para fora delas, estava


dizendo a verdade - ou já estava em uma das novas criadas, que Ranulf
também havia aprovado para contratação. — Tudo bem então.

Fergus, fora. Vá guardar essa coisa, Peter. Ambas as coisas. E leve Ginger
contigo. Parece que precisa de um uísque.

— Milorde, — interveio o valete, com a voz ainda trêmula — prefiro ser


chamado...

Ranulf olhou para ele. O dedo indicador erguido do servo enrolou-se


lentamente na palma da mão novamente. — O que foi, Ginger?

— Nada, milorde.

— Ótimo. E da próxima vez que surpreender alguém nesta casa, não se


mexa, a não ser para mostrar suas mãos vazias, ou pode ser que, a princípio,
venha a ser espetado.

— Sim, milorde. Eu me lembrarei disso, tenho certeza.

— Certifique-se disso.

Uma vez que Ranulf trocou seu casaco de montaria e botas, desceu para seu
escritório. Agora tinha criados ingleses correndo por Tall House, mas havia
pouco que pudesse fazer sobre isso. A avaliação de Myles de sua situação
estava correta, e contratar pessoas que não sabiam nada sobre os problemas
das Highlands fazia sentido.
Afundou na cadeira frágil atrás da mesa de mogno muito ornamentada e
pegou caneta e papel para escrever uma carta para Arran. Seus irmãos
precisavam saber que a quinzena agora se tornou uma excursão sem fim, e
precisava que mais algumas de suas coisas fossem enviadas para Londres.

Por um momento, pensou em pedir para um ou ambos se juntarem a ele


aqui, mas com Donald Gerden fazendo sua presença conhecida,
provavelmente, estariam mais seguros onde estavam. Especialmente Urso;
se ele e algum Gerden acabassem no mesmo ambiente, apenas um deles
sairia. E não queria que Munro fosse colocado em uma prisão inglesa. Não
a troco de nada.

Sim, estava acostumado a uma casa barulhenta e cheia de familiares e


amigos, mas isso era em seu lar. Isso, o que quer que fosse, não era o lar.

Nunca seria. Recostou-se por um momento. O que mais poderia usar aqui
era alguém que conhecesse a situação da terra, alguém que soubesse quais
outros escoceses reformados estavam em Londres e em que número.

Isso fez com que seus pensamentos se dirigissem para seu tio. Sim, Myles
Wilkie teria sido perfeito, exceto que Ranulf não tinha certeza se podia
confiar no julgamento do visconde. O fato de Myles ter tentado ajudar e
causado um desastre tão próximo quase piorou as coisas.

Por outro lado, quando um homem tinha recursos limitados, não havia
opções perfeitas. Sempre poderia perguntar a Charlotte, supôs, exceto pelo
fato de que, primeiro, ela queria que ele fosse menos escocês; segundo, que
não tinha certeza de que estivessem falando; e terceiro, isso significaria
uma conversa tranquila e prolongada, onde poderia, muito provavelmente,
fazer algo idiota como beijá-la novamente.

Talvez Myles fosse a escolha mais sábia, afinal.

— Meu laird?

Ergueu os olhos da carta inacabada e viu Owen parado na porta. —

Todos estão seguros na Hanover House?


— Sim. E acho que Lady Winnie está feliz por ter Una com ela. Um toque
de casa, eu sei.

Ranulf assentiu. — Sinto-me um pouco melhor com Una lá também.

Mais alguma coisa? —

— Bem, não tenho certeza. Peter diz que lacaios e tal passaram a manhã
toda, dizendo 'com licença' ou 'com respeito', e entregando isso. — o ex-
soldado segurava uma bandeja empilhada com cartões e notas, e uma caixa
embrulhada com fitas.

Hum. — Vamos vê-los.

Frequentou Oxford, porque era a lei que o filho primogênito de todo laird
escocês recebesse educação inglesa. Então insistiu que seus irmãos fossem
também, porque queria que soubessem quem, e o que estavam enfrentando.
Por isso sabia o que estava em sua bandeja: a mais perigosa e insidiosa de
todas as coisas inglesas. O cartão de visita.

Dispensando Owen, passou por todos eles. Alguns eram de homens e


mulheres a quem havia sido apresentado no Almack por Charlotte. A
maioria era de pessoas das quais nunca tinha ouvido falar, convidando-o
para o café da manhã, almoço e saraus. Evidentemente, os Sasannach
estavam animados por terem um demônio no meio deles. Talvez pensassem
que dançaria um jig e tocaria gaita para eles.

Era tentador jogá-los todos no cesto de lixo, mas resistiu ao impulso.

Os Hanover e, portanto, sua irmã, poderiam muito bem estar participando


de alguns desses eventos, então, um convite para ele seria útil - como o que
recebeu, ontem, para a festa de Evanstone. Ainda assim, porém, era como
olhar para as peças de algum quebra-cabeça, com relevo prateado, quando
não sabia que imagem todos formavam.

Deixou a caixa por último. Nenhum bilhete ou cartão a acompanhava,


sacudiu-a um pouco, antes de desamarrar a fita. Parecia pesado para uma
coisa tão pequena, e a cautela o fez colocá-lo na horizontal e empurrar para
trás em sua cadeira, antes de abrir a tampa com um dedo. Nada se moveu lá
dentro, nenhum cheiro emergiu, e lentamente se levantou para olhar para
dentro. Uma pequena bola de lã tinha sido enfiada lá dentro, não deixando
nenhum espaço aberto. Lã para ele significava ovelhas Cheviot, o que
significava algum tipo de mensagem de outro laird, com assento nas
Highlands, que não gostava de seus chamados planos anárquicos, de manter
seu povo perto e garantir que fossem educados, alimentados e empregados.

A lã, porém, não era tão pesada. Franzindo o cenho, pegou a caixa e a
derrubou. A lã caiu com um baque surdo. Respirando fundo, separou a
coisa com os dedos. Um momento depois, uma sólida bala de mosquete de
chumbo caiu sobre a superfície polida da mesa. Agora isso era uma ameaça
melhor do que um punhado de lã suja.

— Bem, agora. — murmurou, não surpreso ao ver que alguém havia


riscado a palavra — MacLawry — na superfície da bala. Pegou-a,
deixando-a rolar na palma da mão. Depois do Almack, todos sabiam que
estava em Londres. Mas nem todos gostariam que soubesse que estava em
perigo. — Peter! — chamou, sentando-se novamente.

O lacaio reapareceu na porta. — Sim, meu laird? — Seu olhar caiu para a
mesa, e ele deu um passo à frente. — Isso estava naquela caixinha?

— Sim. Uma bala com o meu nome. Poético, não acha?

Peter a pegou, fechando-a em um punho, como se quisesse transformá-la


em pó. — O homem que trouxe a caixa não estava de libré.

— disse depois de um momento, seu rosto enrugado sombrio. — Rapaz


alto, cabelo claro, mas duvido que o reconheça se voltar a vê-lo. Maldição.

Balançando a cabeça, Ranulf estendeu a mão para a bala. — Não se


preocupe. Sabíamos que os problemas nos esperavam aqui. Meio que para
se dar a conhecer, na verdade. — levantou-se — Mande alguém passar na
alfaiataria do Sr. Smythe na próxima hora, sim? Ele está arrumando um
casaco para mim.

— Sim. E para onde vai, então?


— Um passeio. Sei que estaríamos melhor se eu conhecesse bem as ruas
por aqui.

O lacaio fez uma careta. — Não pode pensar em sair agora, meu laird!

— Por que não, por que alguém me quer morto? Desde quando alguém não
quer que eu seja enterrado? Acho mais útil, no momento, saber quem pode
estar em Londres durante a temporada e morando na minha porta.

— Bem, Owen e eu o acompanharemos.

— Não, não vão. Fergus vai. Vai ficar para vigiar a porta. Owen!

O segundo lacaio chegou, rápido o suficiente para que estivesse escutando


na porta. — Meu laird?

— Owen, vai mostrar a Ginger como vestir um kilt num homem.

— Ginger? Quem é Ginger?

o espelho de mão e virou-se para ver a parte de trás de seu cabelo, preso em
um coque alto e ornamentado, no grande espelho. —

É lindo, Simms. Eu nunca teria pensado em tecer um colar de pérolas no


meu cabelo.

Simms sorriu até formar uma covinha. — A criada de Lady Newsome me


mostrou o truque. Mas pensei que poderia usar os brincos combinando.

Pérolas brilhantes espreitando através de seus cachos loiros e, em seguida,


combinando com as orelhas - adicionadas à seda verde-escura e renda de
seu vestido e aos botões de pérolas nas luvas verde-escuras até o cotovelo, o
efeito era realmente bastante dramático. Mais do que geralmente gostava,
mas esta era uma noite especial. O primeiro grande baile para Jane e
Rowena.

Felizmente, se sentia preparada por fora, porque suas entranhas eram algo
completamente diferente. E sabia exatamente a quem culpar por isso.

Glengask tinha se afastado esta tarde, mas, ainda assim, deixou a questão de
como pretendia se comportar esta noite. Será que dançaria? Será que a
convidaria para dançar? Se o fizesse, o que lhe diria? Afinal de contas,
estava zangada com ele. Mais do que provável, que estivesse igualmente
zangado com ela.

Ah, era como um grande urso rosnando por Londres e perturbando o


equilíbrio das pessoas. Todo mundo se conhecia em Mayfair. Isso era
simplesmente um dado. Ter Lorde Glengask entrando no palco, com seu
cabelo preto rebelde e olhos azuis ferozes, portanto, virava tudo de cabeça

para baixo. Todos os outros homens que a acompanhavam no parque, por


exemplo, sabiam que havia perdido James, três anos atrás. Que dançava e
conversava, mas não flertava, que não estava procurando fazer outro
casamento no futuro próximo e que não beijava. Ranulf MacLawry,
claramente, não sabia nada dessas coisas, e ela não estava certa de que faria
diferença se soubesse.

A porta de seu quarto se abriu, e Jane entrou com Winnie, o cão de caça alto
atrás delas. — Ah, Char, está deslumbrante! — exclamou a irmã,
separando-se da amiga com um floreio. — Um cavalheiro finalmente voltou
a chamar sua atenção?

Charlotte sentiu suas bochechas aquecerem. — Por que, diabos, diria isso?
Eu geralmente pareço tão maltrapilha?

— Não! Claro que não. É só que... Bem, está excepcionalmente bonita.

— Isso, eu vou aceitar. E obrigada. — com um sorriso, Charlotte viu as


duas jovens excitadas. — Azul é definitivamente a sua cor, Winnie. —
disse depois de um momento. — Ilumina seus olhos. E estou com inveja de
todo esse cabelo que tem.

Winnie fez uma elaborada reverência. — Obrigada, Charlotte.

Mitchell quase teve que me amarrar na cadeira, eu estava tão nervosa com o
quão alto estava empilhando meu cabelo. — a irmã do marquês deu um
tapinha cuidadoso na massa negra e lustrosa. — Estamos praticando estilos
londrinos há semanas, mas, desta vez, não é só por diversão.

Janie saltou na ponta dos pés. — Diga algo lisonjeiro sobre meu vestido
também, Charlotte. — insistiu, rindo.

— É uma visão em violeta, Janie. — Charlotte ofereceu obedientemente. O


entusiasmo das garotas deve tê-la arrebatado também, porque, senão, não
poderia explicar o formigamento em seus dedos e em

toda a sua coluna. — Não me surpreenderia se algum cavalheiro pedisse sua


mão em casamento esta noite.

— Ele pode pedir, — sua irmã voltou com uma risada — mas ainda não
vou me casar com ninguém. Ainda há muitas festas por vir nesta
temporada.

Com um suspiro alto, Winnie se jogou no chão para arranhar Una. O

retrato do desânimo jovem quase fez Charlotte sorrir, mas se absteve de


fazê-lo. — O que há de errado, Winnie?

— É só falar de casamento. — disse Rowena, suspirando novamente.

— Mencionou algo sobre um namorado em Glengask. Sente falta dele?

— Sim. Lachlan MacTier. Sinto sua falta terrivelmente. Mas estou aqui há
quase cinco dias e fora de casa há quase o dobro disso, e ele ainda não me
enviou uma única carta.

— Escreveu-lhe? Talvez ele não saiba seu endereço aqui.


— Escrevi para ele todos os dias.

Charlotte escondeu o sorriso atrás da mão. Já tinha sido tão jovem? —

Talvez seja essa a dificuldade, então. — disse em voz alta, afundando no


tapete e juntando-se para coçar o cão de pelagem dura.

— O que quer dizer?

— Só que um homem não pode sentir sua falta, se está sempre por perto.

— Mas eu não estou por perto. Estou a centenas e centenas de quilômetros


de distância.

— Suas cartas não. Estão lá para cumprimentá-lo, todos os dias. E se não


está escrevendo em resposta, é porque já respondeu a todas as perguntas
dele.

Os olhos cinzas, muito menos ferozes que os azuis de seu irmão, a olharam
por um longo momento. — É absolutamente brilhante, Charlotte!

— Winnie gorjeou, abraçando-a. — Não vou lhe escrever outra carta. —

franziu a testa. — A menos que... Devo escrever para dizer que não estou
escrevendo para ele? Eu não quero que ele pense que estou brava - embora
eu esteja, um pouco.

— Não. — Janie entrou na conversa. — Deixe-o pensar. Talvez pense que


encontrou um namorado aqui em Londres. E pode mesmo, porque está
muito bonita esta noite.

Com a ajuda de Simms, Charlotte se levantou mais uma vez. — As duas só


vão encontrar namorados se realmente comparecermos à festa. —

dando uma última olhada em seu cabelo, para ter certeza de que ficaria no
lugar, as empurrou para fora de sua porta. Com alguma dificuldade,
fecharam Una no quarto de Winnie e desceram correndo as escadas.
Seus pais já estavam esperando no vestíbulo, e tiveram que tirar um
momento para admirar cada uma delas. Evidentemente, ela geralmente não
se vestia tão extravagantemente, porque ambos comentavam sobre seu traje
e seu cabelo também. Que estranho que todos pensassem que algum homem
devia ter chamado sua atenção; nos últimos dois anos, nenhum deles jamais
havia mencionado tal coisa, quando se vestia para uma festa.

Longfellow a ajudou com o xale, e então pegou o de Winnie, para ajudar a


irmã do marquês. — Posso fazer uma pergunta? — murmurou, sob o som
da tagarelice ao seu redor.

— Claro.

Charlotte respirou fundo. Era apenas curiosidade. Nada mais. — Não


conheço a tradição das Highlands ou do clã, mas seu irmão tem trinta e um,
certo? Existe alguma razão para ele ainda não ter se casado?

— Acho que ele tem estado muito ocupado. — Rowena respondeu, sua
expressão ficando mais pensativa. — E acho que se preocupou que eu me
sentisse deixada de lado, se trouxesse outra moça para dentro de casa.

Mas eu tenho dezoito anos agora, então isso provavelmente vai mudar. —

fez uma breve careta. — Só espero que não decida se casar com Bridget
Landry. A família dela é a que mora mais perto, e é bonita e tudo, mas
quando ri parece que corvos estão morrendo.

Charlotte bufou. — Ah, Winnie.

— Não, é verdade. E pega todas as melhores partes do jantar para si mesma.


Ran deixaria, porque quer que todos sejam felizes, mas, às vezes, fico mais
feliz em vê-lo com o último morango da temporada. Não sei se Bridget
pensaria nisso. — Winnie deu de ombros — Embora se preocupar com
quem ganha um pequenino morango seja uma tolice, não é?

— Acho que não. — respondeu Charlotte, tentando conciliar sua imagem


de Ranulf MacLawry com a de um homem que gostava de morangos e que
gostava de ver todos ao seu redor felizes. — Acho lindo.
— Vamos, ladies. — disse o pai, abruptamente, fazendo-a pular. — Se nos
atrasarmos, só vão ter a mim para dançar.

— Eu não me importaria com isso, papai. — disse Jane com firmeza.

Ele a beijou na bochecha. — Talvez não, mas eu o faria.

A festa de Evanstone era o primeiro grande baile da temporada. Como tal,


provavelmente veria convidados lotando quase até o teto, alto e abobadado,
de seus dois salões de baile adjacentes. Por sorte, a chuva parou, e tinham
apenas um vento frio para enfrentar, enquanto passavam pelo amontoado de
carruagens, até a entrada principal da casa grande.

Até Winnie havia parado de tagarelar, em vez disso contemplava a vista


com olhos arregalados e redondos. Charlotte não podia nem imaginar como
tudo isso deveria parecer para alguém, cuja ideia de cidade era uma

pequena vila no meio do nada. — Isso é muito diferente dos bailes em


Glengask? — sussurrou.

Winnie assentiu, mal piscando. — Fazemos duas grandes festas por ano,
uma em An Soadh e outra em Mahldoen, mas não são bailes, exatamente.
Mais como feiras, suponho. Todo o clã se reúne e montamos tendas. Há
todo tipo de comida e bebida, e cantos, danças e gaitas, arremessos de
caber, tiro, espadas. Não é tão grandioso quanto isso.

Tiro e espadas? Esperemos que em alvos e não um no outro. Charlotte


manteve isso para si mesma, no entanto. Esta noite era para Rowena e Jane.

Por um momento, tentou imaginar alguns dos convidados, cuidadosamente


penteados, ali jogando cabers, bebendo cerveja em canecas e dançando ao
som da gaita de foles. Se não fosse pela violência que a acompanha,
provavelmente seria... emocionante.

Assim que o mordomo anunciou Lorde Hest e o grupo, com uma voz
retumbante, se dirigiram para o mais próximo dos dois salões de baile
interligados. As paredes dobráveis entre eles foram abertas, criando um
espaço de tirar o fôlego, com cadeiras alinhadas nas paredes, enormes
lareiras em cada extremidade e uma dúzia de janelas até o chão, que davam
para uma varanda, com degraus para o jardim e o lago abaixo. O exterior
estava iluminado com tochas, o interior com oito candelabros, e tudo
brilhava.

— Oh, glória! — murmurou Winnie. Charlotte se virou para concordar com


ela, mas então percebeu que a debutante não estava olhando para as
decorações. Olhava para o irmão.

— Oh, glória! — repetiu Charlotte, seguindo seu olhar.

O Marquês de Glengask estava perto de uma parede, seu olhar se movendo


de homem para homem, como se procurasse inimigos. Mas, pela primeira
vez, não foram seus profundos olhos azuis que chamaram a

atenção de Charlotte. Todos os outros homens presentes usavam casacos,


coletes e calças ou calções adequados, com botas ou sapatos. Como eles,
Ranulf vestia um casaco - o seu, cinza escuro, com grandes botões pretos
debruados em prata, e um trio de botões idênticos brilhantes em cada
manga. Seu colete era preto com os mesmos botões pretos e prateados,
enquanto sua gravata branca de neve era perfurada por um alfinete de prata
e ônix.

Da cintura para baixo, no entanto, claramente, não era um inglês. Em vez de


calças, usava um kilt preto e cinza, com fios vermelhos cortando os
quadrados mais escuros, como sangue. Na frente de sua... virilidade, uma
bolsa prateada e preta pendia de uma corrente de prata, que parecia estar em
volta de sua cintura. Seus joelhos estavam nus, enquanto meias de lã preta
cobriam suas panturrilhas. Nos pés, ele usava sapatos pretos, que pareciam
couro, amarrados até a metade das panturrilhas com mais tiras de couro.

O efeito era... Charlotte engoliu em seco. Parecia selvagem, louco, perigoso


e, simplesmente, hipnotizante. De vez em quando, alguns dos estadistas
mais velhos usavam kilts para saraus, mas ninguém prestava muita atenção
em seus modos pitorescos. Isso era muito diferente. Ao seu redor, também
podia ouvir os sussurros, principalmente de mulheres. Olhos azuis
penetrantes encontraram os dela, e então ele estava andando, a multidão se
abrindo para dar-lhe espaço, enquanto se aproximava. Sentiu um calor
abrupto entre suas coxas.

— Rowena, está muito bonita. — disse em seu sotaque baixo, sorrindo para
a irmã.

Aquele sorriso também era perigoso, porque fez o coração de Charlotte


palpitar, e a fez lembrar de sua boca capaz e daquele beijo extraordinário.
Rowena, entretanto, não estava sorrindo de volta para ele.

— O que está fazendo? — sussurrou.

— Estou aqui. — respondeu friamente.

— Está vestindo as cores do clã. Está procurando uma briga?

— Nae. Sou escocês. Eu sou um Highlander. E é assim que um Highlander


se veste. Ou já se esqueceu?

Sua irmã olhou para ele de perto. — Sem problemas?

Ele balançou a cabeça. — Sem problemas. Não de mim.

Charlotte não sabia como poderia dizer isso, quando cada centímetro dele
praticamente irradiava problemas e muito calor masculino. Quando virou
seu olhar em sua direção, ela se recusou a desviar o seu, ou abaixar os
olhos, para ver seu traje. Tentou não corar, mas, dado o calor de suas
bochechas, não conseguiu essa façanha. — Vejo que ouviu meu conselho.

— disse finalmente.

Ranulf inclinou a cabeça. — Que conselho foi esse? Oh, a parte em que me
disse para eu me encaixar. — estendeu os braços para os lados. —

Decidi contra isso.

— Sim, posso ver isso.


Ran deu meio passo mais perto. — Vai me dar aquele seu cartãozinho de
dança, então, ou acha que sou escocês demais para o seu gosto?

Charlotte esperava que perguntasse se ela era covarde demais para dançar
com ele ou não, e tinha uma resposta para isso - preferia não fazer um
alvoroço público. Mas ele não tinha falado dessa forma, e agora não podia
recusar, sem parecer a inglesa aristocrática esnobe que ele, obviamente,
desdenhava. E não estava preparada para ser desprezada. Não por Ranulf.
E, além disso, parte dela queria dançar com ele.

Silenciosamente, puxou o pequeno cartão de dança e o lápis de sua bolsa e


o entregou. Seus dedos se tocaram, e mesmo através de suas luvas cor de
esmeralda, sentiu o calor dele. Com o canto do olho, notou que o resto de
sua família estava conversando com vários outros recém-chegados

e apresentando Winnie. Ou estavam fingindo, de qualquer maneira.

Maravilhoso. Achavam que um homem realmente havia chamado sua


atenção, e que Ranulf MacLawry era esse homem?

— Então o senhor está simplesmente sendo o que é, certo? —

arriscou em voz baixa — Não está fazendo uma declaração ou mostrando


seu desprezo pelos meus companheiros?

Seu sorriso se aprofundou. — São apenas roupas, moça. — deu um tapinha


no peito, seus botões prateados brilhando — Tudo adequado em cima, e
divertido embaixo.

— Oh, céus. — por causa disso, agora não podia deixar de recordar todas as
músicas e poemas obscenos que já ouviu sobre um escocês e o que usava
sob seu kilt. O que, se as histórias fossem verdadeiras, não era precisamente
nada. — Escreva seu nome e devolva meu cartão de dança.

— Me chame de Ranulf novamente.

Respirou fundo, fingindo aborrecimento. O que havia nele que agitava suas
entranhas? Toda a lógica dizia que não deveria querer nada com ele, ou seu
kilt, ou suas maneiras bestiais. — Escreva seu nome, Ranulf, e devolva meu
cartão. Melhor assim?

Ran ergueu os olhos, sombreados sob os cílios escuros. — A maioria das


pessoas não fala comigo do jeito que fala, Charlotte. — disse suavemente,
enquanto rabiscava algo no cartão e o devolvia.

Não sabia muito bem como aceitar isso. — Nossas irmãs se tornaram
amigas queridas. Deve haver uma certa honestidade entre nós, não acha?

— É assim que está chamando? — estudou o rosto dela, o exame minucioso


não a deixou desconfortável, mas inquieta. — Honestamente, Charlotte, não
sei o que fazer a seu respeito. Mas estou inclinado a ficar por perto até
desvendá-la.

— Eu não sou tão complicada.

— Eu discordo.

Por não querer mais encontrar seu olhar, e porque as pessoas estavam
começando a notá-la, tanto quanto a ele, Charlotte olhou para seu cartão de
dança. E franziu a testa. — Não pode reservar as duas valsas.

— Acabei de fazer.

— Não está feito, Glen… Ranulf.

— Bem, se algum outro homem quiser reivindicá-la, por uma ou outra


delas, pode vir e tentar pegá-la. — seu sorriso mergulhou em algo diabólico
e delicioso. — Embora isso provavelmente significaria uma briga.

Então agora ele pretendia usar sua própria antipatia pela violência para
fazê-la ceder a algo escandaloso. Veremos. Poderia ter a primeira valsa,
então, mas se queixaria de uma dor de cabeça antes da segunda. Isso
eliminaria tanto o escândalo de valsar com ele duas vezes quanto a
necessidade de alguém brigar para evitar isso. Não que alguém pudesse
lutar por ela; damas sem namorados raramente tinham heróis.

Especialmente quando atingiam a idade dela.


— Deveria ir pedir uma dança de Winnie, enquanto ela ainda tem uma. —
Charlotte sugeriu quando ele pareceu inclinado a ficar ali na sua frente.

Ran levantou a cabeça para olhar para onde sua irmã e Jane estavam
cercadas por rapazes. Por um instante, sua expressão ficou alarmada, depois
voltou para uma arrogância ligeiramente divertida. Ranulf deu um passo
além dela, então parou para se inclinar. — Acho que pode ser uma bruxa,
Charlotte Hanover — murmurou em seu ouvido — porque só enfeitiçado
esqueceria meus próprios deveres.

Antes que pudesse conjurar uma resposta a isso, ele se afastou para tirar o
cartão de sua irmã da mão do Lorde William Duberry. E Lorde

William, conhecido por sua falta de paciência ou de seu temperamento


equilibrado, simplesmente permitiu. Da mesma forma, agora que ao ter
deixado seu lado, outros homens vieram se aglomerando para reivindicar
suas danças. Recusou a maioria deles, é claro, com um sorriso e um toque
verbal em direção às outras damas mais jovens, mas foi... agradável ser
convidada.

— A senhorita brilha como esmeraldas esta noite, Lady Charlotte.

O tom frio e cuidadoso chamou sua atenção imediatamente.

Amaldiçoando internamente, Charlotte se virou para encarar o homem que


havia falado. — Lorde Berling. Que surpresa agradável.

Ele ergueu uma sobrancelha. — Surpresa de que eu participaria de um


evento, que todos os outros em Mayfair não perderiam? — o conde lançou
um olhar por cima do ombro. — Ah. Surpresa de que eu apareceria depois
de ser rosnado pelo bárbaro Highlander. Cá entre nós, milady, ele rosna para
todos. — balançou a cabeça, estalando a língua ao mesmo tempo. — Deve
ser cansativo ser tão desafiador em relação a tudo. Eu quase sinto pena dele.

Sinto pena de sua irmã, tentando ter um momento agradável, enquanto ele
caminha para afastar os homens dela.

— Cresceu nas Highlands, milorde?


— Céus, não. — Berling respondeu, sua sobrancelha caindo em uma
carranca. — Por que pergunta?

Charlotte deu de ombros, surpresa ao perceber de que lado estava - e que


não era o conde de voz razoável. — Parece conhecer muito bem Lorde
Glengask.

— O lado Gerden da família tem terras lá em cima. — explicou com um


sorriso. Não era nada feio, mesmo que houvesse algo que não gostasse em
seus olhos. — Passamos alguns outonos lá — continuou — e gosto de dar
uma olhada nas minhas posses de vez em quando. — ergueu o cartão de

dança da mão dela. — Eu não tinha percebido que sua família conhecia os
MacLawry.

Então agora era sua vez de tentar minimizar a conexão dos Hanover com os
MacLawry. Provavelmente seria sábio fazê-lo, se pelo menos metade do
que Ranulf lhe disse fosse verdade. Havia momentos, porém, em que se
orgulhava de ser verdadeira em vez de sábia. — Minha mãe era muito
amiga de Eleanor MacLawry — disse — e Janie e Rowena se
corresponderam ao longo dos anos. Ficamos encantados por ela poder vir a
Londres para sua temporada.

— Entendo. Lady Rowena é bastante civilizada, suponho. Mas seria sensato


manter distância dos irmãos.

Um calafrio percorreu a espinha de Charlotte. — E por que isso?

Lentamente devolveu-lhe o cartão. — Porque são francos e teimosos e se


recusam a acompanhar as mudanças do mundo. É uma combinação
perigosa, milady, e as pessoas ao seu redor tendem a se machucar.

Oh, Céus. Olhou para seu cartão, enquanto ele voltava a desaparecer na
multidão. Havia escrito seu nome na segunda quadrilha da noite - aquela
imediatamente após a primeira valsa. O que significava que Ranulf teria
que entregá-la a Berling.
Se quisesse manter a paz, evidentemente, teria que fazer um milagre para
consegui-lo. A solução mais fácil seria simplesmente sair -

imediatamente. Charlotte olhou para Ranulf, que estava escrevendo seu


nome no cartão de Jane. Metade das mulheres presentes no soiree parecia
ter encontrado assuntos urgentes também, daquele lado do salão.

Todas queriam dançar com ele, e dificilmente poderia censurá-las. Ele podia
dizer que o enfeitiçou ou algum desses disparates, mas parecia haver... algo
que os aproximava. Caso contrário, não poderia explicar por que já havia
decidido ficar e dançar, pelo menos, uma valsa com ele.

Capítulo 6

SR

tivesse a intenção de compartilhar a sua cama - ou a de outra pessoa -


depois da festa, teria sido uma coisa simples de administrar.

Enquanto caminhava até a mesa de refrescos, uma jovem até bloqueou seu
caminho, para lhe dar seu nome, seu endereço e para lhe dizer qual janela
do andar de cima deixaria aberta, mais tarde, naquela noite. Tudo foi feito
por trás da capa de seu leque de marfim, mas ela disse, mesmo assim.

Felizmente, para todas as moças inglesas, e, provavelmente, para si mesmo,


ele não tinha intenção de se enredar em suas lindas fitas e unhas bem
cuidadas. Tomou um gole do uísque que havia tirado da bandeja de um
lacaio, olhando a pista de dança por cima da borda de seu copo. Bem, talvez
houvesse uma moça inglesa que ele queria em sua cama, mas isso não
aconteceria esta noite.

Achava que nunca tinha visto nada tão requintado quanto Charlotte parecia
esta noite. O tom esmeralda de seu vestido seguia o marrom de seus olhos
cor de avelã, e as pérolas e correntes de ouro em seu cabelo dourado
brilhavam como a luz das estrelas. Despertou sua curiosidade e seu
interesse quase desde o primeiro momento em que colocou os olhos nela.

Mas, agora, esta noite, seus pensamentos eram mais físicos e mais difíceis
de ignorar.

Não podia ser o único a notá-la, mas, nas primeiras quatro danças da noite,
ela fez dupla com seu pai, aquele tal de Henning, um rapaz de ombros
dobrados, que se parecia tanto com sua mãe, que devia ser um parente, e
agora com um homem mais velho, cuja alegre esposa usava uma bengala e

estava sentada em uma cadeira contra a parede, aplaudindo cada vez que o
casal se aproximava do seu lado da sala.

Terminando o copo, o colocou em uma bandeja de passagem e sinalizou por


outro. A dança country já estava acontecendo há dez minutos.

Uma mulher de cabelos grisalhos desmaiou, e dois outros casais saíram da


pista, à procura de cadeiras. Ainda era mais tranquilo do que uma reunião
de clã, onde não era uma festa, até que alguém ficasse ensanguentado.

Quando seu tio passou pela terceira vez, desde que a dança começou,
Ranulf cedeu. O problema de passar tão pouco tempo fora das Highlands
era que não estava tão familiarizado com os membros novos dos clãs
daquelas famílias que se mudaram para o sul. E seu tio seria útil, por mais
questionável que fosse seu julgamento. — Myles. — disse, enquanto seu tio
atravessava o salão de baile mais uma vez.

O visconde parou. — Não estou aqui para me intrometer, Ranulf. Fui


convidado. Simplesmente não queria que minha presença o surpreendesse.

—Não estou pedindo que vá embora. — recuou para um lado da sala, e seu
tio o seguiu. — Sei que o idiota ruivo, o de casaco marrom, é o irmão mais
novo de Berling. — com o queixo indicou o sujeito corpulento do encontro
anterior no parque.
— Sim. Dermid Gerden. Não é o mais brilhante dos homens, e, ainda por
cima, tem um pavio curto. Não é uma combinação agradável.

— E o sujeito magro perto do fogo tem o queixo dos Campbell. — a lontra


do parque ainda usava preto, e continuava parecendo bem oleosa.

Seu tio se aproximou. — Tem um bom olho, rapaz. Esse é Charles Calder,
neto do velho William Campbell. Vi dois de seus primos na sala de jogos
mais cedo. — aceitou uma taça de vinho de um dos lacaios errantes e tomou
um gole generoso. — Em outras palavras, Ranulf, está em desvantagem
numérica aqui, esta noite.

— Prometi a Rowena que não criaria problemas.

— Ah. Tem uma maneira interessante de fazer isso, então. — Myles estalou
um dedo em um dos botões da manga de Ranulf. — Não que exatamente se
misture com a Sociedade londrina, de qualquer maneira.

Por que, diabos, todos continuavam vendo a necessidade de apontar isso?


— Este é um traje formal para qualquer festa chique das Highlands.

Sabe disso. E muitos aqui já devem ter visto, pelo menos, um flautista. Não
faço ideia do que é tão chocante. — pretendia ser o mais próximo dele,
mesmo que pudesse, mas, na verdade, esperava ser evitado, não cercado por
mulheres.

— Hum-hum. Já que está falando comigo, não vou argumentar que sabe
exatamente o que é tão chocante.

— Sim. Se o Bruce soubesse que o Sasannach poderia ser tão facilmente


derrotado por um escocês de bunda nua, poderíamos ter marchado nus por
York e salvado todo o derramamento de sangue.

Myles bufou, depois se recuperou o suficiente para franzir a testa


novamente. — Geralmente é mais cauteloso do que isso, Ranulf.

Myles se moveu contra a parede ao lado dele, então ambos estavam de


frente para o salão de baile lotado. E por mais que Ranulf odiasse admitir
que a Sociedade londrina o tinha em sua mente, era agradável ter outro par
de olhos para observar problemas.

— Então, por que usar as cores do clã, com inimigos ao redor? —

Ranulf terminou, então franziu o cenho. — Eu culpo a moça.

Myles franziu a testa também. — Que moça?

— A de esmeralda.

— A…— seu tio procurou na pista de dança. — Lady Charlotte Hanover?

— Aye. Ela disse que se eu não gostasse de ser olhado de lado, não deveria
me esforçar tanto em ser inglês. — terminou o segundo uísque. —

Agi, então, como um colegial mal-educado. — e o porquê de tudo isso


continuava a escapar dele. Deus do céu, ela o incitava.

Ao seu lado, o tio ficou muito quieto. Provavelmente se preocupava que


uma palavra cruzada o tirasse da família permanentemente. Que estranho
que Myles escolhesse as palavras com tanto cuidado, quando a moça com o
cabelo ensolarado não parecia sentir a necessidade de conter a língua. Claro
que nunca bateria em uma mulher, independentemente do insulto que lhe
fizesse, mas era mais do que isso. Algo sobre ela, em particular, que o fazia
perder o equilíbrio.

— Vai dançar esta noite? — perguntou Myles.

— Sim, com Rowena e as moças de Hanover.

— Ah.

Ranulf olhou para seu tio. — 'Ah,' o quê? — sim, era o chefe do clã
MacLawry e um marquês, mas seria... agradável, de vez em quando, não ter
que arrancar palavras das pessoas como se fossem dentes.

— É só que se selecionar poucas damas para dançar, poderá dar início a


entender que tem um… carinho especial por uma delas.
— Bem, eu tenho! Rowena é minha maldita irmã.

— Quero dizer, as outras duas. E também pode dar a impressão de que tem
um certo desdém por esta Sociedade.

— O que eu t…

— O que poderia afetar que outras jovens estejam dispostas a, ou tenham


permissão de fazer amizade com Winnie.

Essa bobagem de novo. Com uma breve maldição em gaélico, que teria
feito os pomposos de sangue azul ao seu redor corarem se tivessem
entendido, Ranulf deixou o refúgio junto à parede. Algumas moças

delicadas tentaram chamar sua atenção, mas sua ânsia o fez estremecer.

Finalmente avistou a garota redonda da loja de vestidos, parada perto de sua


mãe preocupada.

— Senhorita Florence? — entoou.

Ela ficou escarlate ao encará-lo. — Sim, milorde.

— Importa-se de terminar esta dança comigo, moça?

— Eu... Sim. Isso seria esplêndido.

Ranulf estendeu a mão, e ela colocou seus dedos nela. Eles tremeram um
pouco, mas esperava que ela fosse forte o suficiente para conseguir
sobreviver ao resto da agitada dança campestre. Moveu-os suavemente para
a fila aberta, soltou-a, fez uma reverência, virou-se, e pegou-a novamente.

— Isso é esplêndido da sua parte, lorde Glengask. — disse-lhe, enquanto


passavam pelo meio da dança e desciam novamente até o final.

— Por quê?

— Eu ... Eu não pareço ser uma parceira de dança apreciada, é isso.


— ela retrucou, abaixando a cabeça. — Mamãe diz que são minhas sardas.

Eu as esfrego com suco de limão todas as noites, mas não parece fazer a
menor diferença.

— Nas Highlands dizemos que uma moça com sardas é beijada pelo sol. É
uma bênção, e nada para se envergonhar. — olhos verdes claros o
observaram esperançosos. — Sério?

— Sim. — assentiu, esperando que, de alguma forma, não tivesse se


comprometido por ser gentil com ela. — Verdade.

— Isso é tão bom. Lorde Stephen Hammond disse que eu tinha a forma e a
pele de uma laranja.

Bem, isso era uma coisa covarde de se dizer a qualquer mulher. —

Aposto que esse Hammond tem o miolo de uma laranja. — retrucou, e ela
riu.

Felizmente, a dança terminou antes que ela pudesse começar a dizer-lhe que
gostaria de ver as Highlands e se ele lhe mostraria. Ranulf juntou-se aos
aplausos e a devolveu para sua mãe, então escapou tão rápido quanto pôde.

Charles Calder, o neto de Campbell, ainda estava perto do fogo, como se


não conseguisse pegar calor suficiente para aquecer sua estrutura óssea.

Berling estava dançando, mas, felizmente para o conde, estava na outra


linha de dançarinos. Se o homem tivesse tocado a mão de Rowena, perderia
a sua.

— Foi uma coisa muito boa que fez. — a voz de Charlotte veio, e colocou a
mão em volta da manga dele.

Ranulf a olhou, ignorando o tremor em seu peito. — Perdão?

— Dançar com Florence Breckett. Foi muito gentil da sua parte. —

ela inclinou o queixo para trás, para onde ele se separou da moça robusta.
Quando seguiu o olhar dela, meia dúzia de moças, incluindo duas de suas
primas tagarelas, a cercaram, todas conversando animadamente e lançando
olhares em sua direção.

— Que. Oh. Sim. Eu sou um bom homem.

Ela bufou, cobrindo o som com uma tosse educada. — Temos alguns
minutos antes da valsa, e estou desesperadamente precisando de um pouco
de ar fresco. Vai me acompanhar até a sacada?

— Não posso deixar Rowena sem ninguém para vigiá-la. —

respondeu, a pontada aguda de arrependimento que sentiu por ter que dizer
as palavras o assustando um pouco.

— Ela está conversando com seu tio. E sei que o homem que a reclamará
para a valsa é Robert Jenner, um jovem muito simpático, cujo tio está no
gabinete do primeiro-ministro.

— Então, já pensou em tudo. — Ranulf comentou, enviando um último


olhar na direção de Rowena antes de permitir que Charlotte o guiasse em
direção às altas janelas do outro lado da sala. Teria sido mais fácil ficar de
pé diretamente ao lado - ou na frente - de sua irmã e exigir as credenciais de
cada homem que se aproximasse dela, mas ela nunca o perdoaria. Dada a
familiaridade de Myles com seus pares, ela, provavelmente, estava melhor
na companhia de seu tio, de qualquer forma.

Ou isso, ou se agarrava às razões pelas quais podia andar a 30 metros de


distância com Charlotte Hanover. Teria qualquer uma das cabeças de seu
irmão, se eles fossem embora e deixassem Rowena, como estava fazendo,
mas continuou caminhando. A moça poderia conduzi-lo em direção a um
penhasco e, provavelmente, a seguiria. Dado o que ele era e o que ela era, a
queda parecia altamente provável, de qualquer forma. Ranulf baixou o olhar
para seus quadris balançando e permaneceu em seus calcanhares.

Um punhado de pessoas se destacava na ampla sacada, enquanto outra


dúzia vagava pelos jardins abaixo. O ar cheirava a chuva e merda de cavalo,
o que era ainda mais agradável do que o aroma, pesado e suspenso, de
dezenas de perfumes franceses misturados no interior.

— Não estou tentando enfeitiça-lo. — disse Charlotte no relativo silêncio.

Ran sorriu com o tom prático e aborrecido. — Eu sei disso. Se estivesse,


seria mais boazinha comigo.

Seus olhos de avelã, mais escuros agora na luz da chama, se estreitaram. —


Por que quando estou tentando ser agradável e útil discute comigo, e
quando lhe digo para não ser ridículo, se diverte?

— Sou um enigma.

Charlotte fez uma careta. — Ah, não importa, então.

Ranulf colocou a mão em seu ombro, antes que ela pudesse virar-lhe as
costas. — Também é um enigma para mim, sabe? — disse, mantendo a voz
baixa.

— Sou? — devolveu, seu sorriso um pouco forçado e quebradiço aos seus


olhos. — Não é intencional.

Ranulf se aproximou, tirando a mão de seu ombro, apenas para correr um


dedo pelo braço enluvado até o pulso. Sob seu toque, a sentiu estremecer, e
esperava que fosse por ele e não pela noite fria. — E por que isso? —
perguntou. — Por que dança apenas com velhos amigos da família e tolos?

Charlotte ficou muito quieta, seu olhar fixo no parapeito de pedra ao lado
de seu cotovelo. — Não sei do que está falando, ou o que está insinuando.
Não estou fazendo nada impróprio. E dancei contigo.

— Sim, eu sou a exceção, provavelmente porque a intimidei. —

admitiu. — E é claro que não fez nada impróprio. Não faria nunca, muito
provavelmente. Então, por que todos os jovens não a estão perseguindo,
com suas línguas penduradas?
— Bem, essa é uma bela imagem. — seus ombros baixaram uma fração. —
Eles não correm atrás de mim porque eu tenho vinte e cinco anos. Porque
tive uma temporada e encontrei um namorado, e então passei um ano de
luto.

— Está morta então, não é? — sobre sua cabeça, notou o último dos
convidados saindo da sacada, enquanto a orquestra lá dentro começava a
tocar algumas notas amargas em preparação para a valsa.

Charlotte o encarou de frente, o que poderia ter sido um sorriso triste


tocando brevemente seus lábios. Não sentia pena de si mesma; ele tinha que
lhe conceder isso. — Não, não estou morta, sir, mas estou firmemente na

prateleira. Esta é a temporada da minha irmã. Não vou competir com ela
pela atenção de algum jovem que quer ser atingido pela flecha do Cupi…

Ranulf a beijou. Firmemente na prateleira, minha bunda, pensou, o calor


dela afundando nele. Ele mordiscou seu lábio inferior, saboreando Madeira
e desejo. Quando os braços dela rodearam seus ombros, colocou as mãos
em volta da cintura dela e a levantou, sentando-a no largo parapeito de
pedra.

Uma vez que suas bocas se encontraram, sua mente parou de gritar para que
a deixasse em paz, para ir embora. Sabia o que poderia significar se enredar
com uma moça inglesa adequada, mas seu corpo se recusou a ir além de
saber que a queria. Seriamente.

Seu gemido suave o deixou duro; talvez vestir um kilt não tenha sido a
decisão mais sábia esta noite, embora não por qualquer motivo de moda.

Seu aperto em sua cintura se firmou, mas então sua boca se acalmou.

Abruptamente, empurrou contra seu peito. Cobrindo seu aborrecimento por


ser negado, Ranulf ergueu a cabeça um pouco, seus lábios se separando.

— Pare com isso. — ordenou, com a voz sem fôlego e instável.


— Já parei. — com lento arrependimento, moveu-se para colocar os pés
dela de volta no chão. — Parece que está errada. — falou lentamente,
querendo outro copo de uísque para lavar o gosto inebriante dela de sua
boca.

— No que estou errada? — Charlotte exigiu, passando a mão por sua saia,
embora seu interior parecesse muito mais desgrenhado do que seu exterior
devia parecer. Deus do céu.

— Não está morta, nem guardada em uma prateleira. Nem perto disso. —
pegou seu queixo entre os dedos, levantando o rosto dela, para que
encontrasse seu olhar. — Acho que me quer, moça. — continuou em um
murmúrio suave.

Charlotte franziu a testa, tentando um ar de desafio, quando o que realmente


queria era que a beijasse novamente. — Sim, acho que já mencionei que
tenho uma queda por demônios bárbaros atrevidos e sem modos. Não lhe
dei permissão para me beijar.

Seu sorriso quase derreteu suas entranhas. — Da próxima vez vai.

— Superestima seus encantos, Ranulf MacLawry.

Ran se inclinou para mais perto. — Eu? — rebateu em seu sotaque suave.
— Então por que ainda está me segurando, Charlotte Hanover?

Ela piscou, desenrolando os dedos de sua lapela. — Eu...

— Invoque sua mentira mais tarde. Começaram a valsa e quero minhas


mãos ao seu redor novamente. Com todo mundo assistindo.

Charlotte tentou recuperar o fôlego e o raciocínio disperso. Quando cutucou


seus ombros, a montanha esguia cedeu, deixando-a ultrapassá-lo, em
direção à porta do salão de baile. — É só uma dança, milorde.

— Toda a vida é uma dança, minha linda moça.

Isso parecia uma coisa muito poética para ele dizer, mas se parasse para
argumentar que estava fora do caráter, perderiam a valsa. E não importava o
quanto fingisse, também queria as mãos dele sobre ela.

Talvez estivesse com febre e delirando, porque nada do que sentia fazia o
menor sentido. Lorde Glengask era exatamente o tipo de homem de cabeça
quente, do qual tinha se enchido com James Appleton. Quando James a
cortejou, sentiu-se... satisfeita, que um homem tão sério a quisesse.

E então percebeu que seriedade tinha muito pouco a ver com bom humor, e
que falha isso tinha sido. Agora, porém, qualquer que fosse a lição que
pensava ter aprendido, um único beijo - ou melhor, dois beijos agora - de
Ranulf, a deixou girando, sem saber onde seus pés estavam ou se queria
encontrar o chão novamente.

Dentro do grande salão de baile, meia centena de casais começaram a valsa.


Em um movimento suave, Ranulf rodeou sua cintura, pegou sua mão na
dele e a levou para a dança. A ideia de que o escocês musculoso estava
quase nu da cintura para baixo, exceto por um pedaço de lã preta, cinza e
vermelha, na altura do joelho e um único alfinete para evitar que se abrisse,
parecia quase tão inebriante quanto a dança em si. E a forma como as outras
mulheres o olhavam com tanta... luxúria aberta, e como a olhavam, com
uma inveja apenas um pouco mais bem disfarçada, a desconcertou e excitou
ao mesmo tempo.

— Quais são suas intenções, Ranulf? — perguntou depois de um momento,


mantendo a voz baixa.

Ele ergueu uma sobrancelha. — 'Intenções'? — repetiu, um sorriso lento


mais uma vez em sua boca sensual.

— Sim. Beijou-me duas vezes agora e disse que me quer.

— Essas são minhas intenções. Beijá-la e tê-la.

Um rubor aqueceu suas bochechas. Já teve uma conversa semelhante com


James? Nesse caso, não conseguia se lembrar - e parecia o tipo de coisa que
um corpo se lembraria. — E depois disso? — prosseguiu. — Sabe que sou
filha de um conde, e uma mulher sem interesse em causar um escândalo.
— Foi o que me disse. — sua expressão divertida se desvaneceu quando,
sem dúvida, sentiu que outro argumento se aproximava.

— Sim, sim. — concordou, respirando fundo e tentando afastar a sensação


muito agradável de estar em seus braços. — E se disser que veio a Mayfair,
à procura de uma noiva, vou chamá-lo de mentiroso. Deixou seu...

desprezo pelo Sasansack muito claro, nos últimos dias.

— Sasannach. — a corrigiu, seu sotaque fazendo a palavra soar mais bonita


do que sabia que deveria ser. — Não, eu vi o que as Highlands fazem

com uma dama inglesa adequada e delicada. Não cometerei o mesmo erro
que meu próprio pai.

Seu primeiro pensamento foi informá-lo de que, embora tivesse sua


sensibilidade e sua crença no certo e no errado, não era particularmente
delicada. Mas no momento seguinte lhe ocorreu que, em comparação com
ele, talvez fosse delicada. Afinal, Ranulf falava de assassinatos e brigas,
como se tivessem sido cometidos durante o café da manhã. E isso era algo
que não iria - não poderia - tolerar. Sabia, em primeira mão, que dor e
sofrimento tais coisas causavam, e se colocar voluntariamente no meio de
uma disputa de bárbaros era simplesmente impensável.

Dado isso, imaginar qual tinha sido o erro de seu pai, no que dizia respeito a
sua mãe, imaginar o que havia matado a - delicada - filha de um barão,
parecia uma perda de tempo. Deixando de lado o raciocínio de Ranulf,
simplesmente não se adequariam.

— Não tem mais nada a dizer, então?

— O que devo dizer? Acabou de me falar que quer se deitar comigo, sem
ter intenção de se casar. Recuso sua... oferta, sir.

Os olhos azuis brilharam. — Agora?

— Não me ofereceu nada além de ruína e um exílio de uma vida que eu


acho bastante agradável. — retrucou, ofendida que ter recusado uma oferta
tão vil, embora, provavelmente, tivesse sido prazerosa e inesquecível, iria
ofendê-lo. E quanto a ela, pelo amor de Deus?

— Então gosta de ser a babá da sua irmã e sair para dançar apenas quando
um número par de casais é necessário?

— Desculpe-me, mas o que está fazendo aqui em Londres, além de servir


como babá de sua irmã?

Olhou-a por um longo momento, seu aperto tão firme, que não pensou que
seria capaz de se livrar dele, caso o desejasse. Mesmo assim, não tinha

medo dele. Talvez devesse ter tido, mas sabia, com certeza, que Ranulf
MacLawry nunca a feriria, exceto, talvez, com algumas escolhas de
palavras.

— Faic tùsan — finalmente murmurou.

— E o que isso significa? — exigiu.

— Significa que a acho enlouquecedora.

— Da mesma forma, Lorde Glengask. E como ouvi o que quer de mim e eu


recusei, vai parar de flertar comigo e tentar me beijar.

Um músculo em sua mandíbula saltou. — Em resposta a isso, digo que uma


moça não vai me mandar fazer nada. Também digo que não me convenceu
de que acha meu toque desagradável. Na verdade, acho que gosta de me ter
para discutir. Acho que estava entediada, antes de Rowena e eu chegarmos
à sua porta.

Para um homem tão envolvido em suas próprias rivalidades e problemas,


fez um bom trabalho, avaliando o último ano de sua vida.

Porque sentia que não se tornou a babá de Janie, mas sua acompanhante. E

sem planos para seu próprio futuro para ocupar seus pensamentos, sentiu-
se... entediada. Apática, acabada. Morta, como ele disse. E não tinha se
sentido assim nos últimos dias. Frustrada, aborrecida, excitada, divertida,
perturbada, mas não entediada.

— Qualquer que seja o estado em que eu possa estar, — retrucou —

não perdi minha sanidade.

Para sua surpresa, os lábios dele se curvaram para cima, lembrando-a mais
uma vez de seu esplêndido beijo. Beijos. — Não acho que vamos resolver
esse impasse aqui, moça. Requer mais... conversa particular.

— Não estou…

— Se me disser agora, honestamente e na minha cara, que não deseja trocar


mais uma única palavra minha, meu toque ou meu olhar, vou honrar

isso e me tornar ausente. Se não, a visitarei amanhã ao meio-dia, e poderá


tentar melhorar minha visão de Londres. Ou me dissuadir de querer passar
um tempo em sua companhia, com o propósito de ficar debaixo de suas
saias. O que escolher.

Charlotte respirou fundo. Não estava certa de que a honestidade jogasse


nisso, mas, logicamente, deveria abrir a boca, para dizer que desejava que
ele fosse embora de sua vida. Claro que, se fizesse isso, ele, provavelmente,
inventaria uma desculpa para voltar atrás em sua palavra para Rowena e a
levaria imediatamente para Glengask. E isso seria terrivelmente injusto com
Winnie, além do estado de suas próprias saias.

— Pronto. — murmurou depois de um momento. — Essa é a primeira vez


que fico feliz em não ouvir sua voz, Charlotte.

— Isso não significa nada além de que não desejo ver uma injustiça feita à
Winnie, pelo fato de ter recusado.

Ele assentiu, quase imperceptivelmente. — É assim que vamos denominar,


então.

Dificilmente parecia que reconhecia quando tinha ganho, mas Charlotte


ficou suficientemente aliviada, ao ter um momento para pensar em não
questionar os motivos dele. Ou os seus próprios, aliás Quando se
conheceram - céus, tinha sido apenas quatro dias atrás? -

achou-o grosseiro, arrogante e abrupto. O que não tinha percebido na época,


e que via agora, era sua esperteza, ou seu humor e uma quantidade
surpreendente de charme. Aquele sotaque profundo certamente também não
doía. Nada disso, porém, explicava por que, simplesmente, não o
esbofeteou e saiu da pista de dança, quando propôs arruiná-la, porque seria
prazeroso.

Exceto que tinha certeza de que sabia por que ainda balançava em seus
braços. Como disse, tinha vinte e cinco anos. Mesmo com a morte de

James, se realmente quisesse se casar, poderia - teria - feito isso antes.

Houve momentos, especialmente quando Jane começou a planejar seu


guarda-roupa, sua temporada e todas as suas conquistas românticas, que se
sentiu ignorada.

— Se continuar com esse olhar pensativo, é provável que eu a beije


novamente. — Ranulf murmurou.

— Na frente de todos? — respondeu, mais divertida do que


verdadeiramente alarmada.

— Sim. É assim que fazemos na Escócia. — voltou com um sorriso.

— Tire uma bela moça de seus pés e dê-lhe um beijo, para que todos
saibam que a reivindicou.

— 'Reivindicou'? — repetiu fracamente, quando três coisas aconteceram ao


mesmo tempo: lembrou-se de quem havia reivindicado a próxima dança; a
valsa terminou; e avistou Donald Gerden caminhando em direção a ela - a
eles - do outro lado da pista de dança. Maldição. — Ranulf, preciso d…

— Acredito que esta dança seja minha, Lady Charlotte. — disse o conde
suavemente, parando na frente deles.
Ranulf o olhou. Silenciosamente, firme, como um grande leão, medindo
friamente uma gazela. — Deu a ele uma dança, moça? —

perguntou, sem desviar o olhar um centímetro.

— É só uma quadrilha. — disse, sem saber, ao certo, porque sentiu a


necessidade de minimizar a coisa. Uma dança era uma dança, e não era
mais significativa do que o punhado de minutos que durava...

Um punho disparou, antes que pudesse terminar seu pensamento.

Atingindo Berling diretamente no queixo, fez o conde cambalear. Antes que


pudesse recuperar o equilíbrio, e de uma maneira estranha, que parecia tão

lenta que não podia ser real, Ranulf o golpeou novamente, com o outro
punho, do outro lado de seu rosto.

Charlotte sacudiu-se para fora de seu estupor. — Pare com isso! —

gritou, agarrando o antebraço de Ranulf. Parecia ferro sólido e inflexível


sob seu aperto. — Pare de socá-lo, imediatamente!

Lorde Evanstone e três de seus lacaios correram. No mesmo momento,


vários convidados do sexo masculino entraram, erguendo o trôpego Berling
e empurrando Glengask. A poucos metros de distância, a senhorita Florence
Breckett desmaiou nos braços de seu parceiro de dança, e ambos caíram no
chão polido.

Berling deu de ombros a seus ajudantes e, com um meio sorriso vermelho,


ajeitou o casaco, vacilante. — É um demônio, Glengask. — falou
lentamente.

— Sim. E é um maldito caçador furtivo.

— Ha. — abruptamente o conde se lançou para frente. Golpeando com seu


punho fechado, pegou Ranulf no olho esquerdo.

— Ah, agora é uma festa! — Glengask se livrou dos homens que


seguravam seus braços e deu um passo à frente novamente.
— Não! — com tanta raiva, que mal conseguiu forçar a palavra, Charlotte
se colocou entre os dois homens. — Não importa quais sejam suas brigas
particulares. — retrucou. — Este não é o momento nem o lugar para
resolvê-las. Nem é o meio pelo qual os cavalheiros conduzem seus
negócios. — era tudo sobre seu orgulho estúpido e inútil, e se recusava a
ver os homens brigando, para ver quem estava mais apaixonado por eles
mesmos.

— Ouça, ouça. — grunhiu Lorde Evanstone. — Estou pedindo para os dois


saírem da minha casa. Se eu tiver que pedir duas vezes, vou expulsá-los.

Por um momento, sem fôlego, Charlotte pensou que Ranulf ignoraria a


ameaça. Ou pior, que consideraria um desafio. Seu olhar ignorou todo o
resto na sala, em favor dela. Finalmente e sem palavras, sem se preocupar
em limpar o fio de sangue do rosto, onde o anel de Berling havia cortado
sua bochecha, inclinou a cabeça, girou nos calcanhares e saiu da sala. Os
outros convidados se separaram diante dele, como o Mar Vermelho diante
de Moisés.

Parecendo menos esplêndido e com a palma da mão no lábio


ensanguentado, Lorde Berling o seguiu, um momento depois, vários de seus
amigos saindo com ele. Isso a deixou sozinha, parada no meio da sala, com
todos olhando para ela. As bordas de sua visão começaram a escurecer, e
respirou irregularmente.

— Charlotte. — veio a voz de boas-vindas de seu pai, e sua mão forte


segurou seu cotovelo. — Vamos encontrar uma cadeira, minha brava garota.

Apoiou-se nele. — Não me sinto corajosa. Eu me sinto mal.

— Entrou no meio de uma briga e impediu dois homens de se esmurrarem.


— respondeu em uma voz mais alta do que parecia necessário,
considerando que estava perto o suficiente para envolver um braço em volta
do seu ombro.

Então ela percebeu o que estava fazendo, fazendo aquela briga ser por outra
coisa que não ela. — Quase brigaram esta manhã no Hyde Park. —
retrucou. — Sobre ovelhas ou pastagens ou algo assim.

Um momento depois, a música recomeçou para a quadrilha, e algumas


pessoas, felizmente, decidiram conversar, em vez de continuar olhando-a.
Sentou-se lentamente em uma das cadeiras perto da parede, seu pai de um
lado, e sua mãe abruptamente do outro.

— Está bem, Charlotte? — sua mãe perguntou, pegando suas duas mãos e
apertando-as. — Quer ir embora?

— Céus, não. — ela forçou a sair. — Embora eu ache que terminei com a
dança por hoje.

— Bastante compreensível. Aquele homem é um bruto.

Claro que a condessa se referia a Glengask; ele deu o primeiro golpe.

Mas tinha mais do que uma suspeita sorrateira de que Berling sabia que isso
aconteceria - queria que acontecesse, e foi exatamente por isso que a
convidou para dançar aquela quadrilha em particular.

Sim, talvez ela tenha pensado que os dois homens pudessem conversar. E
não conseguia acreditar que Lorde Berling tinha a intenção de ser
esmurrado. O mais provável era que tivesse antecipado uma discussão, que
imaginou vencer.

Quanto a Ranulf, quase parecia gostar dos socos. Certamente não conseguiu
impressioná-la, no entanto, e fez ainda pior em manter um olho em sua
irmã. Tardiamente, levantou a cabeça para procurar Winnie, apenas para
encontrá-la na pista de dança com seu tio. Rowena não parecia feliz, mas
estava dançando. E isso era bom; se continuasse a se apresentar como a

- civilizada - irmã MacLawry, poderia escapar da censura, pelas ações de


seu irmão.

Alguma alma bondosa trouxe uma taça de vinho para Charlotte, que bebeu
com gratidão. Homem estúpido. Quaisquer que fossem as coisas
desprezíveis que aconteceram nas Highlands, aqui era Londres. E não se
brigava nas casas apropriadas de Londres. Se não a tivesse beijado antes,
estava bastante certa de que o odiaria neste momento. Em vez disso, sentiu-
se principalmente com raiva. E um pouco triste, por motivos que se
recusava a considerar. Agora não.

Depois da quadrilha, Jane, junto com Winnie e Lorde Swansley, se juntaram


a eles, na lateral da sala. — Foi uma leoa, Char. — disse sua irmã.

— 'Parem com isso', e eles pararam.

Rowena pareceu ainda mais surpresa. — Ele recuou. — sussurrou, seu


sotaque mais forte do que tinha sido por mais de um dia. — Estendeu a
mão, Charlotte, e ele recuou. Eu nunca ousaria.

Myles Wilkie assentiu. — É um homem astuto, seu irmão. —

comentou.

— Astuto? — retrucou Charlotte. — Quão inteligente é começar uma


briga? Isso é exatamente o oposto de astuto, eu acho.

— É muito inteligente, está em desvantagem por seus inimigos e quer que


saibam que não está nem um pouco incomodado com esse fato. Quando
Berling partiu, levou seus aliados com ele. Como poderia planejar sua
vingança, de outra forma? Mas quando Ran foi embora, levou todos os seus
rivais com ele, deixando Rowena segura sob nossa proteção e sem nenhum
inimigo à vista.

Charlotte o olhou. Ranulf viu Berling escrever seu nome em seu cartão de
dança? Havia previsto que o conde tentaria forçar um confronto?

Se sim, por que não disse nada? Por que, simplesmente, permitiu que fosse
colocada no meio, como o aparente pomo de discórdia?

Mesmo se perguntando isso, porém, sabia a resposta. Não lhe disse nada
com antecedência, porque ela não teria tolerado isso. Nunca teria
concordado em dançar com nenhum deles, e, certamente - bem, mais do que
provavelmente - nunca teria saído para a varanda com ele e o beijado.
Mesmo que sair fosse ideia dela, e mesmo que estivesse procurando uma
desculpa para beijá-lo, com a chance de que ele não a beijasse primeiro. Ah,
mas ele beijou.

— Não me importa o que estava fazendo. — disse sua irmã, com lágrimas
nos olhos. — Foi terrível, e barulhento e oh... — Winnie bateu o pé. — Não
vou perdoá-lo. E não voltarei para a Escócia. Nunca. Ele pode muito bem
ter arruinado tudo, só porque tem que controlar tudo, menos o nascer do sol.

— Eu também estou brava com ele, Winnie. — Charlotte concordou,


embora - brava - não fosse uma palavra suficientemente descritiva. — E

tenho algumas palavras para dizer a ele, quando nos encontrarmos


novamente. — Se ele ainda se atrevesse a visitá-la amanhã, pretendia dizer-
lhe exatamente o que pensava dele e seu... método de resolver problemas às
suas custas.

E vê-lo amanhã seria apenas para que pudesse gritar com ele. Não tinha
nada a ver com aqueles olhos, quando ignorou o resto do mundo para olhar
apenas para ela. E tinha menos a ver com a forma como seus pés,
literalmente e figurativamente, deixaram o chão quando a beijou. Nada a
ver com isso, absolutamente.

Capítulo 7

—A

como está, Ginger.

— Mas milorde, eu tenho - existem maneiras de esconder manchas.

Ranulf puxou a gravata das mãos de seu valete e terminou de atá-la ele
mesmo. — Não é uma mancha; é um olho roxo. — viu o sujeito magro em
seu espelho de vestir. — Acha que há um corpo em Mayfair que não saiba
que tenho isso?

O valete abaixou a cabeça, corando. — Bem, eu…

— Então não adianta esconder, não é? Agora, traga-me aquele casaco novo
e veremos como estou malditamente inglês.

O casaco marrom escuro serviu muito bem e deu um descanso ao cinza. Na


verdade, com um colete verde-escuro, calças de camurça e terminando com
um par de botas hessianas, sentia-se muito bem vestido. E

isso era uma coisa boa, porque precisava de todas as vantagens que pudesse
obter hoje. Charlotte, provavelmente, arrancaria sua cabeça, depois da noite
passada, de qualquer maneira, e não se importaria com as razões dele para
nada disso.

O fato de que estava ansioso para ser castigado por uma delicada moça
inglesa era, em si, uma surpresa. Com exceção de seu irmão Arran,
discutindo se um novo plano, provavelmente, causaria mais problemas do
que valia a pena, as pessoas não o castigaram.

Ao sair de seu quarto, com Fergus ao seu lado, Owen o encontrou no topo
da escada — Tem cartas de Lorde Arran e Urso, ambos, meu laird —

disse, estendendo-as — Espero que esteja tudo bem em Glengask.

— Assim como eu. — Ranulf retornou, pegando as duas cartas. —

Como estão os cartões de visita hoje?

— Nenhum. — o lacaio estreitou os olhos, enquanto gesticulava para a


bochecha de Ranulf. — Estou pensando que sua repentina impopularidade
tem a ver com isso.

— Aye, acho que tem. Deixe-me cuidar da minha correspondência e mande


trazer o phaeton, antes do meio-dia. — parou no meio do caminho para seu
escritório alugado. — E se sentir o cheiro de algo interessante, me avise.
— Poderia definir 'interessante', meu laird?

— Homens invadindo a casa, com mosquetes e tochas, seria interessante.

— Ah, aye, vou ficar de olho nisso, então.

Com um meio sorriso, Ranulf se acomodou em sua cadeira e abriu a carta


de Urso primeiro. Nas palavras sempre diretas e bem-humoradas de Munro,
leu que metade do clã estava perambulando por Glengask, perguntando se
algo estava errado e todos se oferecendo para cavalgar - ou caminhar - até
Londres, para ajudá-lo a trazer Rowena de volta. E Lachlan se ofereceu
novamente para fazer a viagem, que poderia ou não ser significativa, mas,
pelo menos, interessante.

A carta de Arran era, como esperava, mais detalhada, com as últimas


informações sobre o clima e os rebanhos crescentes de gado das Highlands
que estavam criando, e um resumo das despesas do último mês das escolas,
comparadas com os lucros da nova fabricação de cerâmica. Até agora, seu
experimento, para provar que um clã trabalhando em conjunto poderia não
apenas se sustentar, mas lucrar, parecia estar se mostrando sólido. E o fato
de que as Colônias estavam cheias de Highlanders párias, que odiavam
ovelhas Cheviot e tudo o que representavam, mas ansiavam por um bom

gado Highland e tartans Highland e cachimbos e pratos e tigelas, só poderia


continuar a ajudá-los.

Ambos os irmãos também se ofereceram novamente para vir para o sul,


como fizeram com todas as cartas que enviaram. Colocou as duas de lado,
para responder mais tarde; não era tolo o suficiente para chegar tarde, para
visitar Charlotte. Disse meio-dia e, por Deus, estaria lá ao meio-dia.

— Nada de tochas ou mosquetes. — Owen relatou, de seu posto na porta da


frente, enquanto Ranulf entrava no saguão.

— Isso já é alguma coisa, então.

— E não se preocupe, meu laird. Eu chuto qualquer Gerden ou Campbell


que se atreva a mostrar seu rosto na sua porta.
Ranulf sorriu. — Não espero menos.

— Aye. E dê nosso amor a Lady Winnie, meu laird. — Owen suspirou. —


Sinto falta de ouvir sua risada bonita.

Ele também. Assentindo, Ranulf saiu para a entrada. Juntos, ele e Debny
colocaram Fergus no poleiro de trás do phaeton, onde o lacaio geralmente
deveria se sentar, subiu no assento alto e enviou o belo par de baios em um
trote. Com Debny e Peter cavalgando ao lado e seu grande cavalo de caça
empoleirado atrás dele, não era uma visão facilmente perdida.
Provavelmente era muito cedo para Berling voltar com qualquer coisa, mas
pretendia ficar de olho, independentemente disso. Seu pai seria o último
MacLawry a ser pego de surpresa.

Charlotte estava nos degraus rasos de granito da Hanover House, quando


ele dobrou o caminho curto e semicircular. Não sabia se o fato de estar lá
fora era um bom ou mau presságio, mas não podia negar a...

satisfação que sentiu no fundo do peito ao vê-la. Ela podia ser errada para
ele, mas seu coração acelerava à simples visão dela, independentemente do
que acontecesse. Não, não estava apta para as Highlands. Mas ele não

estava nas Highlands no momento, e era um maldito homem de sangue


vermelho, que gostava de mulheres. E ela era muito bonita.

— Eu não tinha certeza se me deixaria chegar perto da casa, — disse,


esperando que Debny tomasse conta dos cavalos antes de saltar do assento

— muito menos esperando por mim aqui fora.

— Foi uma decisão apertada. — retrucou. — E não vou trotar por Londres,
em sua companhia, em um phaeton, para que todos pensem que a noite
passada foi sobre mim, ou que o que fez é, de alguma forma, um
comportamento aceitável.

Agora isso estava mais perto da reação que esperava. — O que a faz pensar
que a briga de ontem à noite não foi a seu respeito? — enquanto falava,
fechou a distância entre eles, seu corpo lembrando-o que um beijo pararia
sua boca.

— Eu fiz, no começo. E então seu tio apontou a eficiência com que limpou
a sala de seus inimigos.

Tio Myles, ajudando novamente. Ranulf guardou esse pedaço de


informação para contemplação posterior. — Só porque os covardes se
unem. — parou no último degrau, para que ficassem cara a cara. — Devo
apontar algumas coisas, então? — Ela balançou a cabeça — Não. Agora é
minha vez de apontar algumas coisas, Ranulf.

Cruzando os braços sobre o peito, ele assentiu — Esclareça-me sobre meus


espúrios costumes escoceses, então.

— Aha! — Charlotte enfiou um dedo no peito dele. — Isso é problema seu.

Ran inclinou a cabeça. — O quê, eu ser escocês? A senhorita e seus amigos


Sasannach são os que nos chamam de demônios. Eu sou...

— Pare com isso. — interrompeu-o, o fato de que o havia interrompido o


surpreendeu em silêncio.

A conversa era uma coisa. Mas agora pensava em impedi-lo de falar?

— O que, então? —

— Pesquisei algumas coisas. A Batalha de Culloden foi há setenta e três


anos. Atrevo-me a dizer que a maioria - senão todos - os homens que
lutaram lá, ingleses ou escoceses, estão mortos há muito tempo.

Ela continuava batendo o dedo no seu peito enquanto falava, embora ele
não tivesse certeza se era porque estava apontando um argumento ou
porque queria tocá-lo. Preferiu a última explicação, e manteve-se em
silêncio por essa razão.

— Já sei o que vai dizer. — continuou — Que Culloden foi apenas o


começo dos problemas mais recentes, que os ingleses tentaram roubar-lhe o
direito de usar kilts, de tocar gaita de foles, até de se armar.
— Muito bem. — disse, a lista de erros começando a fazê-lo perder o senso
de humor — Digamos que eu mencionei tudo isso. Suponho que tem um
ponto a fazer sobre isso?

— Sim. Recuperou esses direitos. E sei que a maioria dos outros clãs
caíram, que, para muitos de seus colegas, trazer as ovelhas era a única
maneira de ganhar uma renda. E que escolheram as ovelhas e as terras de
pastagem e suas famílias imediatas sobre o bem-estar e sobrevivência de
seus próprios clãs.

— Essa é uma lição de história muito boa que me deu, moça, mas posso lhe
dizer que não era necessário. Lê sobre isso em seus livros. Eu vivi isso. Eu
ainda estou vivendo.

— Sei disso. — retrucou, então soltou o ar. — Eu queria que soubesse que
estou ciente da história recente das Highlands.

— Devo premiá-la, então?

— Oh, fique quieto. — carrancuda, ergueu o dedo dele — Eu preciso andar.


Venha para o jardim comigo.

— Claro. Que homem são recusaria a oferta de ser atacado, em particular,


com mais detalhes? — com uma careta, virou-se para assobiar para Fergus.
— Peter, vá descobrir o que Rowena está fazendo hoje, e fique de olho nela.

— Aye, meu laird.

Seguindo Charlotte, seu olhar atraído, mais uma vez, para seus quadris
balançando, sob uma suave musselina verde e amarela com raminhos,
Ranulf decidiu que o clima ameno inglês e a beleza inglesa não tão amena à
sua frente devem tê-lo levado à loucura. Simplesmente não conseguia
explicar, de outra forma.

Quando ela parou, ele quase a atingiu por trás. Não era típico dele ser tão
inconsciente de seu entorno, mas mesmo louco o suficiente para cuspir -
a menos que isso também fosse considerado como violência física - ela
continuava a distraí-lo. — Sente-se. — disse, apontando para o banco de
pedra sob um olmo imponente.

— Achei que estávamos andando.

— Eu estou andando. O senhor está ouvindo.

Isso estava chegando muito perto do intolerável, mas respirou devagar e


caiu no banco. — Continue, então.

Fiel à sua palavra, ela caminhou até a fileira de rosas e depois passou por
ele para uma cerca na altura do peito. — Muito bem. — finalmente o
encarou novamente. — O senhor é o problema, milorde. Desde que chegou
a Londres, já encontrou algum inglês - qualquer um - que não tenha sido
gentil e útil em relação ao senhor?

— Eu…

— Eu ainda não terminei. Nem todos em Mayfair são meus amigos.

Acho algumas dessas pessoas... desprezíveis e odiosas, mesquinhas e


pequenas. Meu ponto de vista é que são apenas pessoas. Então, quando

chega e começa a chamar todos de Sasannach… — e desta vez ela


pronunciou com muito cuidado e corretamente — …está fazendo a eles - e
a si mesmo - um desserviço.

— Então, se a estou ouvindo corretamente, — disse lentamente, usando


cada grama de autocontrole que possuía para se manter sentado —

onde deitamos nossas cabeças, não importa para a senhorita ou para


qualquer outra pessoa? Um homem é um santo ou um demônio,
dependendo de sua própria preferência, e eu me tornei um demônio?

— Não. Bem, sim e não. É claro que algumas pessoas odeiam outras por...
onde elas deitam suas cabeças, como disse. Mas se não deixar de ser tão
desconfiado e tão bravo com... todos, será a causa de sua própria ruína.
— Hm. Fascinante. — lentamente se levantou — Não se importará, eu
presumo, que enquanto considero sua sabedoria eu vá buscar minha irmã e
a remova desta casa Sasannach?

Ela apertou as mãos. — Enlouquecedor. — murmurou. — Sua irmã não


quer falar com o senhor. E ontem à noite ela declarou que pretende nunca
mais voltar para a Escócia.

Ranulf piscou. — O quê? — rosnou, gelo perfurando seu coração.

— Não vou mantê-lo longe dela, é claro, mas sugiro que lhe dê um ou dois
dias, para lembrar o quanto o ama e esquecer o espetáculo que criou ontem
à noite — fez uma reverência. — Bom dia, milorde.

Ranulf girou nos calcanhares e caminhou para o passeio de carruagem. Em


toda a sua vida, mesmo quando seu pai foi morto, mesmo quando Urso foi
baleado, não conseguia se lembrar de sentir uma frustração tão...
intolerável. Queria gritar para o céu, queria agarrar Charlotte e sacudi-la,
queria beijá-la sem sentido e enterrar-se profundamente dentro dela até que
ela gritasse de prazer.

Na beira do jardim ele parou e se virou. — Isso significa que terminou


comigo, moça?

Observou enquanto seus ombros subiam e desciam — Acho que isso é com
o senhor. — disse lentamente, e deu a volta nos fundos da casa.

Quando chegou à entrada, ele mesmo içou Fergus no assento principal do


phaeton. — Debny, fique aqui por um tempo e certifique-se de que Rowena
seja atendida. Peça a Peter que informe ao Lorde Hest que ficará aqui.
Duvido que Hest faça objeções.

O cavalariço pareceu intrigado. — Aconteceu alguma coisa, meu laird?

— Sim, aconteceu alguma coisa. Mas nada que se preocupe.

Concentrando-se em respirar e nada mais, Ranulf conseguiu voltar para a


Tall House sem explodir. Com Debny ainda fora, desarmou a parelha e foi
selar Stirling. Ficar parado e esperando teria sido intolerável, de qualquer
maneira. Evidentemente sentindo seu humor, Fergus ficou na porta do
estábulo e o observou em silêncio.

Em Glengask, por mais cheia que a casa geralmente estivesse, encontrar um


momento de solidão era tão simples quanto descer o caminho para o rio.
Aqui poderia estar sozinho em um escritório ou quarto, mas não era solidão.
Servos espreitavam, e logo além das paredes de madeira e gesso, uma
cidade fervilhava, toda ouvidos, línguas e rancor.

Ranulf subiu em Stirling, abaixou-se pelas portas do estábulo e partiu para o


norte, o mais rápido que pôde. Pareceu levar uma eternidade para as casas e
depois as fazendas ficarem escassas e as árvores e clareiras aparecerem. Só
então cortou a estrada, empurrando o cavalo castrado em um galope duro.

Seguiram em frente, até que nada havia ao redor deles por quilômetros, a
não ser árvores espalhadas, riachos e prados. Ele, o cavalo e

o cachorro pararam, sem fôlego. E só então começou a xingar, berrar,


reclamar para o céu vazio e nublado.

Desde o dia em que nasceu, carregava o título de Conde de Dombray.

Desde suas primeiras lembranças, sabia que um dia seria o Marquês de


Glengask - e mais significativamente, o chefe do Clã MacLawry. Não
esperava herdar tudo aos quinze anos, mas conseguiu. Liderou sua família e
seu clã, e trouxe emprego para seus camponeses e a segurança de saber que
poderiam permanecer na terra onde eles, seus pais e os pais de seus pais
tinham nascido.

Em todo esse tempo, em todos os seus trinta e um anos, em todas as


batalhas literais e figurativas que lutou para proteger seu povo, ninguém -

ninguém - nunca tinha falado com ele do jeito que Charlotte Hanover
acabou de falar. Colocou-o na mesa, quebrou seus ossos e o esfolou até
sangrar. E fez isso com um sorriso e um pedido de desculpas, como se fosse
para o bem dele.
A chuva que vinha ameaçando desde a noite passada finalmente se soltou.
Ranulf ergueu o rosto para o céu, desejando que o ar úmido esfriasse seu
temperamento furioso. Que maldita coragem ela teve, para dizer-lhe que era
irracional, para dizer que criava problemas onde não havia nenhum, para
insistir que ninguém vivo havia feito os danos que criticava e que isso
tornava sua raiva imprópria e perigosa para aqueles que amava.

E então, no final, quando o informou tão friamente que Rowena não queria
mais nada com ele ou com a Escócia... o perfurou no coração. Passou sua
maldita vida protegendo sua família e seu povo, em troca de quê?

Fracasso? Ser chamado de tolo?

Por um longo momento, fechou os olhos, deixando a chuva escorrer por seu
rosto e penetrar em sua pele. Quando seu temperamento melhorou, uma
coisa ficou clara; ou estava errado, ou Charlotte estava errada.

Na verdade, tinha passado muito pouco tempo na Inglaterra, e este era o


período mais longo que já tinha ficado em Londres. Não conhecia tanto a
aristocracia inglesa, quanto sabia deles. Sua mãe os havia lançado
constantemente como exemplos do que desejava que seus filhos fossem -

mais ou menos bons, suaves e, acima de tudo, ingleses. É claro que ele
odiava até mesmo a ideia dos nobres Sasannach.

Quando Eleanor se suicidou e seu irmão Myles veio cuidar de seus filhos
órfãos, Ranulf detestou o homem, pela maneira como falava, como se
vestia, como insistia para que Urso, Arran e Rowena aprendessem as
últimas danças inglesas, literatura inglesa e regras e leis inglesas.

Eventualmente, ele também se juntava, mas só porque queria conhecer seu


inimigo, o melhor que pudesse.

Seu inimigo. Sim, os ingleses tinham feito coisas terríveis com os


Highlanders, tirando pedaços e pedaços de cultura e orgulho, toda vez que
os escoceses empurravam os arreios. Seu próprio avô, Angus MacLawry,
havia sido morto em Culloden. Por que, então, seu pai achou por bem se
casar com a mais inglesa das inglesas? Teria sido para tentar convencê-la a
amar as Highlands, ou para que seus filhos tivessem uma noção do que era
ser inglês?

Finalmente, sacudiu a água dos olhos e virou Stirling para o sul novamente,
de volta para Londres. Maldita Charlotte Hanover, por fazê-lo questionar
cada ponto de sua vida, por fazê-lo se perguntar se virou à esquerda, quando
deveria virar à direita.

Precisava pensar e planejar. Poderia forçar sua irmã a voltar para Glengask,
mas não a fazer desejar estar lá. Ordenar a Charlotte que guardasse suas
opiniões sobre ele para si mesma, não faria com que as mudasse - se
pudesse ordenar que ela fizesse alguma coisa. Um pouco de

persuasão poderia estar em ordem, mas, primeiro, teria que se convencer a


si mesmo.

Evidentemente, precisava conhecer Londres e a haute ton, antes de poder


decidir se realmente valia a pena conhecê-los ou não. E precisava decidir se
estava disposto a arriscar-se a conhecer melhor Charlotte, já que, em cinco
dias, já havia conseguido mudar sua vida. Em quinze dias poderia matá-lo,
a menos que estivesse correta em tudo isso, e pretendesse salvá-lo de si
mesmo.

Quando voltou para a Tall House, Owen e Debny estavam parados no


pórtico da frente, ignorando a chuva e discutindo se precisavam sair para
procurá-lo ou não.

— Meu laird. — disse o lacaio, o alívio transparecendo em cada músculo de


seu corpo atarracado — Nos deixou quase morrendo de medo.

Debny nunca deveria tê-lo deixado ir embora sozinho.

—Eu não…

Ranulf silenciou os dois com um olhar — Debny fez o que eu pedi.

Fim da discussão.
— Tudo bem, tudo bem. Mas o senhor e Fergus estão mais úmidos do que o
oceano.

— Seque Fergus. — Ranulf retornou, dirigindo-se para as escadas, para


poder trocar de roupa. — E então vá procurar aquele advogado — qual era
o nome dele? — e traga-o aqui.

— Sr. Black? — Owen ofereceu rigidamente — O sujeito mole com as


mãos úmidas?

— Sim. E não o insulte quando o trouxer.

Não podia ver o olhar que os dois servos trocaram, mas podia senti-lo.

Poderiam considerá-lo louco se quisessem; por tudo que sabia, poderia ser.

— Por que estou indo buscá-lo, meu laird, se posso perguntar?

— Não pode.

ML

pegou a carta que Cooper, o mordomo, entregou-lhe e a abriu quando


chegou à sala de café da manhã. Ranulf, geralmente, escrevia cartas curtas e
pontiagudas, instruções sobre o que precisava ser feito e quando, sem
muitos outros floreios ou descrição.

Quando abriu esta missiva, porém, uma segunda página caiu no chão,
ambas as peças cheias até as bordas, com tinta na mão econômica de seu
irmão mais velho. Na primeira frase ele parou em suas linhas. — Munro! —

gritou. — Urso!
Um momento depois, seu irmão mais novo, meio vestido e cabelos escuros
saindo de um lado da cabeça, como uma erva enlouquecida, tropeçou na
sala de café da manhã. — O que diabos tem na cabeça? —

exigiu, deixando-se cair em uma cadeira, batendo a cabeça na mesa e


gesticulando para o café.

Arran limpou a garganta. — 'Arran' — leu em voz alta — 'Em


correspondência futura me encontrará na Gilden House, 12 Market Street, a
residência que comprei em Londres.'

A cabeça de Munro se ergueu da mesa. — O que? Isso é de Ranulf?

Ele comprou uma casa? Em Londres?

— Aye. É o que diz.

— Por que, em nome de Deus?

— Vai me deixar terminar? Continuando, "Rowena declarou que pretende


nunca mais voltar à Escócia. Portanto, posso demorar mais tempo do que
havíamos previsto, até que possa convencê-la do contrário".

— 'Convencer'? — Urso ecoou, carrancudo. — Colocar seu traseiro em


uma carruagem e trazê-la de volta para casa, parece melhor.

— Evidentemente, não.

— Eu me pergunto o que Lach terá a dizer sobre isso. Ontem reclamou que
Winnie não lhe enviou uma carta.

Isso era interessante, Arran decidiu. — Não estava reclamando que escrevia
para ele todos os dias?

— Aye. Ele disse que estava muito cheia de alegria feminina, e agora quer
saber o que está fazendo, que a impede de escrever.

— Ela está disposta a se recusar a voltar para casa. Diga-lhe isso, e veja o
que ele faz.
— Não tenho certeza se quero saber. — Urso resmungou. — Ran quer um
casamento por amor, mas o pobre Lach está preso entre seu chefe e uma
moça que o persegue desde que começou a andar. — balançou a cabeça
escura e desgrenhada. — Se Ranulf não está arrastando-a para casa, então o
que está fazendo?

Arran examinou o resto da carta, três lados de instruções bem escritas,


depois se sentou pesadamente ao lado de seu irmão — Ele enlouqueceu.

— O que mais diz?

— Que Berling está em Londres - junto com o neto do Campbell, que


devemos permanecer aqui, e que uma moça chamada Charlotte está cheia
de si e precisa de uma ou duas lições sobre porque não se deve repreender
um MacLawry.

A testa de Munro franziu. — Charlotte. Não é a outra moça Hanover?

A irmã de Jane ou algo assim?

— Não sei. Não prestei muita atenção a tudo isso. — agora Arran estava
começando a pensar que deveria ter se aprofundado um pouco mais no que
estava acontecendo em Londres. — Sabe do que se trata?

— Nae. Deixe-me ver.

Arran entregou a carta a Munro, observando enquanto seu irmão mais novo
lia com a mesma expressão de confusão que ele provavelmente tinha.

— Notou quantas vezes fala dessa Charlotte? — perguntou.

— Aye. — seu irmão retornou. — Mais do que menciona Rowena. —

Urso se levantou e devolveu a carta. — Bem, isso resolve.


— Resolve o quê?

— Vou para Londres.

Maldição. — Não vai. Ran diz que devemos ficar aqui.

— Alguma coisa está acontecendo lá embaixo, e metade dos bastardos que


estamos procurando aqui estão lá. Pode ficar para trás se quiser.

Arran respirou fundo. — Urso, precisa ficar aqui. Eu vou.

— E por que deveria ir e não eu?

— Ele diz que Rowena está envergonhada por nós. Quem é mais ' nós'

do que qualquer um de nós?

Urso franziu a testa. — Eu posso me comportar.

— Deu-lhe uma sela em seu aniversário de dezoito anos. E aposto que a


razão pela qual ainda estava na cama, quase ao meio-dia é que está
compartilhando um travesseiro com Flora Peterkin. Ou é Bethia Peterkin?

Se não pode manter seus próprios assuntos em ordem, não pode esperar ser
útil para outra pessoa. Especialmente Ranulf.

— Tudo bem, então. — Urso caiu de volta em sua cadeira. — É

melhor endireitar isto, Arran, ou me encontrará seguindo seus calcanhares.

Posso também, colocar um sussurro no ouvido do Lachlan e soltá-lo.

— Cuidarei disso. — também veria quem era essa Charlotte, e descobriria


por que Ranulf não conseguia parar de falar sobre ela, mesmo quando,
claramente, tinha mais problemas do que poderia desejar em suas mãos.

Charlotte para a sala matinal e apontou para o chão. —


Socorro. — disse com uma risada.

Ela e Winnie haviam apresentado todos os convites que haviam recebido,


para cafés da manhã, almoços, recitais, piqueniques, jantares, teatro, saraus
e até mesmo uma excursão proposta em barcos a remo pelo Tâmisa. Vendo-
os todos organizados por data e hora assim, o volume era impressionante.

— Em que precisa de ajuda? — perguntou, estendendo a mão para acariciar


Una enquanto o cão pousava em seu pé.

Winnie, do outro lado das estantes, apontou. — Para o dia dezessete temos
um convite para o café da manhã, dois para as excursões matinais, quatro
convites para o almoço, mais três para visitas à tarde ou compras, e uma
festa e uma noite no teatro. O que fazemos?

Charlotte olhou de uma para outra. Não era a primeira vez que se sentia
velha, ou pelo menos, exausta. Todos os anos vendo as mesmas pessoas,
algumas delas casando-se, mas outras - como ela - simplesmente
envelhecendo e sorrindo os mesmos sorrisos forçados e falando de como a
nova safra de debutantes parecia ser muito jovem e tola, sentia-se tão
pesada quanto chumbo naquele momento. E havia expulsado o único
homem que tinha mostrado algum interesse nela, mesmo que seu objetivo
tivesse sido a cama e não o altar.

— Char?

Ela se sacudiu — Em primeiro lugar, precisa perguntar a mamãe e papai se


há um evento noturno que eles querem, particularmente, participar

— ou evitar. E então veja se está participando de outros eventos no mesmo


dia ou semana com as mesmas pessoas, e escolha qual prefere. —

inclinando-se, pegou um convite para o almoço. — Este é um piquenique


com Lorde Harold Onless. — disse, sufocando sua carranca.

— Sim. É muito bonito. — disse a irmã, abanando o rosto com uma das
mãos.
— E seu primo em segundo grau é Donald Gerden.

— O que isso significa? — Winnie retornou, com as bochechas vermelhas.


— Há Parlamento naquele dia, então Berling não estará no piquenique.

— Rowena, seu irmão não iria gostar. — evidentemente ela se tornou babá
afinal, e para ambas as jovens.

— Não me importa o que meu irmão pensa. — disse Winnie, muito


estridente. — Não o vejo há uma semana.

Charlotte também não, mas estava ouvindo. E tinha escutado rumores que
não faziam muito sentido. — Disse que não queria vê-lo. Ele está honrando
seus desejos. Isso não significa que deva desconsiderar os dele, não é? Esta
é uma questão de sua segurança.

—Bem, ele não saberá, e ficarei bem, então isso não significa…

—Winnie.

Uma lágrima escorreu pelo rosto claro de Rowena. — Como vou ignorá-lo
e ficar brava com ele, se nem se mostra? — conseguiu dizer, afundando no
sofá. — Ninguém se importa que eu esteja aqui sozinha em Londres!

Oh, céus. Charlotte não tinha ideia de como responder a isso, especialmente
quando tinha sido a última da casa a conversar com Ranulf.

Ou melhor, a falar com ele.

— Não está sozinha em Londres, Winnie. — disse Jane rapidamente.

— E Lachlan MacTier não merece sua afeição, se não se dá ao trabalho de


lhe enviar um bilhete. Quanto a Lorde Glengask, sabe que ele te adora. É

como Charlotte diz; está apenas honrando seus desejos.

Na verdade, Charlotte tinha mais do que uma suspeita de que ela era a razão
pela qual Ranulf tinha se afastado. Mas a deixou tão zangada, até mesmo se
vangloriando da briga na festa de Evanstone - uma briga sobre a qual
continuavam fofocando, pelo amor de Deus. E o beijo, em seguida
sugerindo que simplesmente... se tornassem amantes, porque, é claro, eram
totalmente errados um para o outro de outra forma, - não lhe dar um pedaço
do que pensava teria sido errado da parte dela. Na verdade, havia dito mais
do que pretendia, mas uma vez que começou, não conseguiu parar. Oh, a
irritou.

Então ele desapareceu de vista por uma semana. Não completamente;


evidentemente tinha ido cavalgar no início da manhã e feito diversas
reuniões com várias pessoas, mas não participou de nenhuma festa. Claro
que não tinha certeza se havia sido convidado para alguma, depois do que
aconteceu na semana passada.

Mas quanto a este piquenique, se permitisse que algo acontecesse em sua


ausência, que colocasse em perigo sua irmã, então, toda sua conversa sobre
como ele era o causador de problemas e como Rowena estava segura entre a
aristocracia inglesa se tornaria uma mentira. E se isso o levasse a
desconsiderar suas palavras, então teria arruinado a mais interessante...

amizade que já teve, e sem uma boa razão. — Sim, ele te adora. Então,
pode ficar brava com ele e não arriscar sua segurança ao mesmo tempo, não
pode? — insistiu. — Tem outros dois convites sobrepostos para o mesmo
dia.

— Dois até agora. — Longfellow disse da porta. O mordomo tirou uma


bandeja de prata carregada de mais convites e correspondências.

Com toda a calmaria esquecida, as meninas mergulharam neles, rindo e


gritando, ao reconhecer um nome aqui ou um endereço ali. Charlotte supôs
que não podia invejar sua excitação; ela mesma teve uma esplêndida

temporada de estreia, culminando com seu noivado com o muito bonito


James Appleton.

— Essa é sua, Char. — Janie disse, entregando uma missiva dobrada.

Não reconheceu o endereço, mas quebrou o lacre de cera simples e


desdobrou o bilhete, de qualquer maneira. Enquanto lia o breve parágrafo,
seu coração parou e, em seguida, recomeçou a ler de forma instável.

Respirando fundo, leu novamente, para ter certeza de que não havia perdido
nada. Então limpou a garganta — Winnie, acho que deveria ler isso. —

disse, estendendo-o com dedos trêmulos.

Rowena o pegou e leu, então olhou para cima novamente — Ele... ele
comprou uma casa? — sussurrou, as lágrimas brilhando em seus olhos
novamente — Ele comprou uma casa? Em Londres?

— Só sei tanto quanto sabe, Winnie. Isso dá algum sentido a alguns


rumores estranhos que tenho ouvido.

— Bem, o que isso diz, pelo amor de Deus? — Janie perguntou.

Winnie não parecia capaz de responder, então Charlotte o fez —

Ranulf - Lorde Glengask - comprou Gilden House na Market Street.

Convidou nossa família para jantar lá amanhã à noite, se estivermos


disponíveis.

— Meu Deus! — exclamou sua irmã — Achei que odiasse Londres.

— Ele odeia. — Rowena finalmente falou, enxugando os olhos. —

Não entendo.

Charlotte pensou que talvez entendesse, mas não tinha intenção de dizer a
nenhuma das moças que havia repreendido o marquês por seus preconceitos
infundados. Nunca. — Quer que aceitemos o convite? —

perguntou, bastante surpresa com o quão desesperadamente queria que


Rowena dissesse sim. Seus argumentos tiveram algum efeito sobre ele?

Tinha ouvido o que ela disse? Parecia que sim, mas queria saber com
certeza. E o que isso significava.
— Suponho que deveríamos. — disse a irmã de Ranulf lentamente —

Seria grosseiro ignorar um convite direto, não é?

— Sim, acho que seria. E não queremos ser rudes. — não quando já havia
excedido sua cota daquele comportamento, principalmente com aquele
homem em particular.

Mal deveria ter notado que ele esteve ausente por uma semana, apenas sete
dias. A temporada estava a todo vapor, e ela participava de jantares, saraus
e recitais, quase todas as noites. Mas notou. E não queria que as últimas
palavras que disseram fossem as últimas que trocariam. Não, não parecia ter
terminado com o Marquês de Glengask ainda. Se isso era uma coisa boa ou
não, porém, não tinha ideia.

Capítulo 8

Sasannach

Aye

piuthar

Hogmanay

haggis

piuthar.
bràthair.

Capítulo 9

com o som de vozes masculinas elevadas e um cachorro latindo alto. Cada


músculo estava rígido, o que fez sentido, quando percebeu que tinha
adormecido sentado em sua mesa. Uma página do livro de direito inglês que
estava lendo havia grudado em sua bochecha, e coçou a barba desgrenhada,
enquanto levantava a cabeça. Gemendo, ficou de pé.

— Maldição! — um sotaque familiar veio da porta. — Está com cara de


quem cuspiu em uma lareira.

Alívio agudo o atingiu ao ver o homem alto e de cabelos negros parado ali.
— Eu lhe disse para ficar em Glengask, Arran. — disse, rodeando uma
cadeira e andando até seu irmão. Abruptamente não se sentia tão em
desvantagem - com os inimigos, os ingleses, ou as mulheres.

— Aye. Eu decidi contra isso.

Ranulf o puxou para um abraço forte. — Estou feliz em vê-lo.

— Certamente está. Precisa de alguém para ajudá-lo a limpar essa bagunça


do lado de fora. — Arran deu um tapinha em suas costas, então saiu do
abraço. — Owen disse que tirou os cavalos, e ninguém teve mais do que
chamuscados. Também tentou apostar dez libras comigo que foi Donald
Gerden quem fez isso.

— Não aceite essa aposta. Perderia.


Juntos, caminharam pelo corredor, até a sala de café da manhã, onde, no
aparador, havia sido colocado um café da manhã simples, de haggis
reaquecido, pão torrado e ovos cozidos. Fergus dançou ao redor deles,
alternando entre empurrar sua cabeça sob a mão de Arran e a de Ranulf.

— Una está com Winnie, eu presumo? — Arran perguntou, escolhendo um


enorme café da manhã e enganchando sua bota na perna de uma cadeira,
para puxar o assento.

— Sim. Peter e Debny também estão na Hanover House.

— Ótimo. Deixe-me colocar alguma coisa no meu estômago, e então


poderemos ir matar Berling.

Reunindo um café da manhã muito mais interessante para si mesmo, Ranulf


sentou-se em frente a seu irmão. Arran era o mais sensato dos irmãos
MacLawry, o mais bem educado e, sem dúvida, o mais inteligente.

Se o pouco que ouviu sobre o incêndio o convenceu de que Berling estava


envolvido, então era verdade.
— Bem? — Arran perguntou depois de um momento. — Tem mais alguma
coisa em mente?

Ranulf recostou-se, enquanto o super atencioso Owen lhe servia uma xícara
cheia de café quente. — Myles me lembrou, ontem à noite, que não estamos
nas Highlands. Não tenho dificuldade em separar a cabeça de Berling de
seus ombros, mas não acho que a Inglaterra aprecie a vingança como nós.

— Não mais, pelo menos. — concordou Arran. — Os Sasannach são quase


civilizados. — engoliu um bocado de haggis. — Tem uma ideia diferente,
então?

— Não neste momento. — tomou um gole de café, fechando os olhos,


enquanto o calor se espalhava até os dedos dos pés. — Agora que está aqui,
podemos ficar de olho nele, no entanto.

Arran observou-o, um olhar azul claro curioso, antes de voltar sua atenção
para o café da manhã. — Um olho. Isso é diferente.

— O que quer dizer?

— Quer dizer, diferente. Talvez eu tivesse apenas onze anos quando nosso
athair morreu, mas eu sabia qual era o significado quando foi "caçar"

com um mosquete e uma pá e voltou dois dias depois, coberto de sujeira, e


não trouxe nenhuma caça contigo.

Ranulf respirou fundo, afastando a memória abrupta do frio, do medo e da


raiva profunda e sem fim que o havia impulsionado, quando os homens de
seu clã haviam sido separados entre aconselhar cautela e chamar por uma
guerra total. Tinha sido há dezesseis anos, e ainda se lembrava da cratera de
folhas sob seus pés, enquanto se arrastava para a frente, na escuridão, em
direção a Sholbray Manor. Remexeu-se em sua cadeira. — E

seu ponto é?

— Eu sei que não perseguiu Berling antes porque nós tivemos que cuidar de
Urso. Mesmo se tivéssemos alguma dúvida na época, não sei o que o está
parando agora, as Highlands, Londres ou Boston, Massachusetts.

— baixou o olhar novamente. — A menos que seja uma moça chamada


Charlotte Hanover.

Maldição. Nem ele mesmo conhecia seus próprios pensamentos; explicá-los


para seu irmão astuto só faria com que parecesse um lunático.

— O que Lady Charlotte tem a ver com isso? — perguntou, decidindo por
uma tentativa de ignorância.

Arran tomou um gole de seu chá. — É o que eu gostaria de saber. —

disse sucintamente.

— Não há nada a dizer. — olhou, do irmão para o monte de comida em seu


prato, as sombras sob seus olhos. — Quando deixou Glengask?

— Quatro dias atrás. E, sim, eu sei que não deveria ter viajado sozinho, mas
duvido que alguém pudesse me acompanhar por muito tempo, mesmo que
estivesse tentando me seguir.

—Bem, então… — Ranulf respondeu, a suspeita rastejando através dele —


Como o incêndio foi ontem à noite, o que, exatamente, o levou a voar aqui,
como um maldito morcego?

— Se não tem nada a dizer sobre um determinado assunto, eu também não.

Geralmente Ranulf apreciava a esperteza de seu irmão do meio, mas esta


manhã teria preferido Munro e seus modos mais diretos. — Quer dizer que
correu para Londres porque mencionei uma moça em uma carta? Acha que
eu sou um monge, então?

— Nae. Mas eu acho que quando Ranulf MacLawry menciona uma moça
Sasannach cinco vezes em uma carta, junto com adjetivos como

'mandona' e 'teimosa' e 'incompreensível', então alguma coisa está


acontecendo. — Arran esfregou a testa — E como também disse que estava
em menor número, que Winnie não estava voltando para casa, e acabou
comprando uma casa, pensei que talvez pudesse usar outro MacLawry em
Londres. — inclinou a cabeça — Estou errado?

Ranulf balançou a cabeça. — Estou feliz por tê-lo aqui, como eu disse. Mas
guarde suas malditas opiniões para si mesmo.

—Eu posso fazer isso.

Depois que terminaram um rápido café da manhã, os dois foram para o


estábulo. Restava pouco além de parte de uma parede e uma pilha de
escombros quebrados e enegrecidos. Todos os cavalariços juraram que não
tinham feito nada para causar o incêndio, e que, na verdade, todos estavam
comendo na sala ao lado, quando o fogo começou na parte de trás do
estábulo.

Caminhando pelo perímetro traseiro, o pé de Ranulf esmagou em vidro


quebrado. Quando se agachou e cavou entre a grama queimada e as cinzas,
encontrou o aro meio derretido e o queimador de uma lanterna.

Depois que chamou Arran, encontraram mais alguns pedaços de vidro


quebrado. O que quer que isso tenha atingido, foi com alguma força.

— Poderia ter vindo de dentro da parede. — disse seu irmão


distraidamente, marcando um ponto a um metro e meio de onde a parede
estava — o lugar onde encontraram o pedaço de vidro mais distante. —

Mas é mais provável que tenha sido jogado contra a parede, pelo lado de
fora.

Ranulf já havia chegado a essa conclusão, ele mesmo. Quando Berling


incendiou as escolas ao redor de Glengask e An Soadh - e sabia que tinha
sido Berling e seus homens, com ou sem provas definitivas - jogou óleo e
depois lanternas nas paredes. Não idêntico ao modo como o fogo do
estábulo provavelmente começou, mas próximo.

— Arran, seu esboço é decente. Desenhe a parte de trás do quintal aqui e


marque onde encontramos os pedaços de lanterna. Vou buscar uma caixa
para todos os pedaços.
— Estamos reunindo provas, então? — perguntou o irmão com ceticismo.

— Sim, nós estamos. Cale a boca e encontre um papel e um lápis.

— Conforme ordena, meu laird.

Debny se aproximou, enquanto Ranulf estava colocando o último pedaço de


lanterna, em segurança, em uma caixa. Imediatamente se endireitou, para se
aproximar do cavalariço-chefe — Como estão Rowena e os Hanover? —
questionou, evitando perguntar especificamente sobre Charlotte.

— Tudo bem. Lady Charlotte disse que se sente como se tivesse balas de
canhão amarradas em seus braços, mas, de resto, está bem. — o criado
enfiou a mão no bolso e tirou um bilhete dobrado — Ela lhe mandou isso,
meu laird.

Ranulf limpou as mãos, sujas de fuligem, nas calças, para dar a si mesmo
um momento para estabilizar seus pensamentos acelerados, antes de pegar a
missiva e desdobrá-la.

— 'Ranulf'. — leu — 'Obrigada por uma noite inesquecível. Se precisar


cancelar nossa visita ao museu, entenderei perfeitamente, mas, por favor,
me avise. Afetuosamente, CH.

Ran sorriu. — Moça notável.

De acordo com seu relógio de bolso eram quase dez e meia, e precisava
muito de um banho e fazer a barba. Porque não só planejava visitar o museu
com Charlotte, mas pretendia parecer mais civilizado ao fazê-lo. Porque
isso, de repente, era mais urgente do que provar quem havia incendiado seu
estábulo, analisaria mais tarde.

Arran se inclinou na porta do quarto principal, enquanto Ginger lutava com


o nó da gravata de Ranulf. — Se importa se eu ficar no quarto do outro lado
do corredor?

— Tudo bem.

Seu irmão hesitou. — Está muito bonito.


— Cale a boca. Estou indo para a Hanover House. Posso deixá-lo lá, se
quiser ver Rowena.

Para seu crédito, quaisquer observações ou perguntas adicionais que Arran


tivesse, as guardou para si mesmo. Em vez disso, pegou sua bolsa e vagou
em direção aos fundos da casa. Chegou com ainda menos bagagem do que
Ranulf; se pretendesse ficar por um tempo, estariam fazendo outra visita ao
alfaiate emproado e obcecado por enchimentos.

A presença de Arran deu a Ranulf um corpo adicional para cuidar, mas não
podia fingir que não era um alívio ter um aliado. Mesmo um intrometido,
que notava coisas que ele não deveria. A pergunta mais

imediata era se Berling veria a chegada de outro MacLawry em Londres


como uma ameaça ou como um convite para criar mais problemas.

E descobrir isso teria que esperar, até que colocasse os olhos em Charlotte
novamente, o diabo levaria o resto.

—D

e um poema, Winnie, e isso é só hoje! — Jane disse, pegando o papel


perfumado da mão de Rowena e passando-o sobre o joelho. — Não sei se
"Nem sequer um centavo de cobre é tão brilhante como o sorriso de
Winnie" é terrivelmente romântico, mas rima.

Quando Charlotte olhou para a hóspede, Winnie parecia mais interessada


em estudar as nuvens que passavam fora da janela da sala de estar, do que
rindo da última tentativa de poesia de sua conquista —

Winnie, seu irmão mandaria um recado, se mais alguma coisa tivesse


acontecido. Sabe disso.

Com um suspiro, Rowena afundou de volta no sofá — Sim, eu sei. —


aproximou-se e pegou a mão de Charlotte, tomando cuidado para não
pressionar as bolhas. — Obrigada por me manter longe do piquenique. Às
vezes esqueço que há uma diferença entre ser independente e ser
irresponsável.

Charlotte assentiu, sorrindo. — Isso é uma coisa muito sábia de se dizer.

— Estive pensando nisso por um tempo, agora. Meus irmãos, e


especialmente Ran, passaram tanto tempo se certificando de que estou feliz
e bem protegida, que pararam de se considerar. Talvez seja minha vez de
cuidar deles, pelo menos uma vez.

— Mas dois dos três estão na Escócia. — acrescentou Jane. — E

Lorde Glengask parece extremamente capaz de cuidar de si mesmo.

Rowena olhou para o rosto de Charlotte — Acha que sim, não é?

Charlotte queria perguntar-lhe se estava se referindo a algo em particular,


mas, antes que pudesse fazê-lo, Jane voltou a olhar a correspondência
matinal. — O que eu quero saber é se cuidar de seu irmão significa que não
podemos procurar fitas de cabelo hoje?

— Ah, acho que podemos fazer as duas coisas, Jane.

— Isso é um alívio.

Quer o súbito senso de responsabilidade de Rowena fosse devido ao


incêndio de ontem à noite ou não, Charlotte ficou aliviada ao ouvi-lo, e
assim provavelmente estaria Ranulf, quando o informasse. Mesmo que,
eventualmente, tenha pensado que pudesse estar exagerando a qualidade e a
quantidade do perigo, que espreitava ao redor dos MacLawry, certamente
tornou-se uma crente na noite passada.

Um arrepio a percorreu. Esperava que devolvesse a mensagem, cancelando


o passeio de hoje - não porque seus braços doíam, o que faziam, ou porque
não queria vê-lo, o que queria - mas porque passaria a visita ao museu
zangado e conspirando vingança. Ela sentiria, e já sentia, a necessidade de
aconselhá-lo, sobre como pretendia retaliar, e então discutiriam novamente.
Também não era o tipo interessante de argumento.

Não conseguia colocar nada disso como orgulho, mas não ficaria surpresa
se, no final, se resumisse a isso.

A porta da sala se abriu, dois minutos depois do meio-dia, e ela e as outras


duas meninas se levantaram quando Longfellow chamou a atenção na porta
— Miladies, lorde Glengask e lorde Arran MacLawry. — entoou, e saiu do
caminho.

Winnie já estava a meio caminho da porta. — Arran! — exclamou,


jogando-se nos braços de um homem de cabelos escuros que parecia uma
versão mais magra e menos esculpida de seu irmão mais velho.

— Aí está, minha doce Winnie. — falou lentamente e beijou a irmã nas


duas bochechas.

— Como chegou aqui tão rápido? — exigiu.

— Eu tento antecipar os problemas.

Continuaram tagarelando excitadamente e introduziram uma corada Jane na


mistura, mas Charlotte parou de prestar atenção, quando Ranulf os
contornou e se aproximou dela. Algo tinha acontecido na noite passada; não
conseguia definir o que era, mas quando o Marquês de Glengask entrou na
sala, todo o resto pareceu desaparecer. Era ridículo que, depois de um par
de beijos, algumas valsas e um punhado de conversas fascinantes e
irritantes, se sentisse tão... atraída por um homem, que era tão errado para
ela, especialmente quando ele só significava mais problemas.

E, ainda assim, teve que se impedir de encontrá-lo no meio da sala, de jogar


os braços ao redor de seus ombros e beijá-lo. Engoliu em seco.

Claramente, ficou muito cansada na noite passada, e perdeu o rumo. Seja


lógica, ordenou a si mesma. Os fatos nunca poderiam levá-la ao erro.
Por mais impressionante que tenha sido em seu kilt, parecia tê-lo eliminado
completamente; hoje, se não achasse que ele consideraria isso um insulto,
diria que estava parecendo muito inglês, do casaco marrom, às calças de
camurça e às botas hessianas, altamente polidas.

— Como estão suas mãos, moça? — perguntou, pegando as duas nas suas
mãos maiores e mais largas e virando as palmas para cima.

Afinal, não tão inglês, uma vez que falou. Um tremor percorreu sua
espinha, estabelecendo-se em uma baixa excitação entre suas coxas. —

Ardem um pouco, — disse, com a voz mais equilibrada que conseguiu —

mas acho que com um par de luvas e um pouco de cautela, vou me virar
muito bem. Como está?

Olhos azuis profundos se ergueram para encontrar os dela — O fogo ficou


do lado externo e o pior ferimento parece ter sido um par de bolhas nas
palmas das mãos. Estou aliviado. E furioso.

A maneira como disse isso, com tanta naturalidade, fez as palavras, de


alguma forma, soarem ainda mais mortais. Podia entender sua raiva, mas
não era um homem que se contentaria em trocar palavras. — Não vou dar
uma volta contigo, se pretende pular e bater nas pessoas pelo caminho.

— Assim espero. Eu não vou bater ou pular enquanto estiver na sua


companhia.

Concordou tão facilmente, que ela não pôde deixar de suspeitar — O

incêndio foi um acidente, então?

— Nae, acho que foi deliberado.

Charlotte franziu o cenho. — Então por que...

— Por que pretendo ser um cavalheiro decente hoje? Por causa dessas
mãos. — disse baixinho, acariciando suavemente as palmas das mãos dela
com os polegares. — Por causa do que fez por mim, ontem à noite,
leannan.

— Não sou a única que ajudou. Pelo amor de Deus, tudo o que fiz foi girar
uma manivela.

Um sorriso lento curvou sua boca — Que tal deixarmos o museu, e eu


encontrarei um lugar sossegado só para nós? — murmurou, aproximando-se
dela. — Vou explicar-lhe a minha gratidão.

De alguma forma, a maneira como ele disse isso fez parecer ainda mais
travesso do que já era. E lá estava ela, vinte e cinco anos, com idade
avançada para fazer um bom casamento, olhando para um homem que não
poderia desejá-la como noiva. E um muito perigoso, para querer como
marido. Perfeito, em sua imperfeição.

— Se conseguir isso sem arruinar a vida que eu tenho, — sussurrou de volta


— posso muito bem ser receptiva.

Uma breve surpresa iluminou seu olhar. — O que mudou sua mente, moça?

Homens. Charlotte o favoreceu com um sorriso exasperado. —

Realmente quer que eu te explique?

— Nae. Não, se houver o risco de que decida contra isso novamente.

Vamos sair então, certo?

— Pode não ser tão simples assim, sabe.

Ele assentiu, seu leve sorriso enviando borboletas pelo peito dela. —

Deixe isso comigo, leannan. Onde estão suas luvas?

— Simms as tem. Simms?

Sua criada se apresentou, e juntas conseguiram colocar as luvas brancas, de


pelica macia, sobre suas bolhas, evitando que ela rangesse demais os
dentes. Tinha que lutar contra um estremecimento, toda vez que flexionava
a mão, mas algumas bolhas malditas não a manteriam em casa hoje. Não
importa o que aconteça.

Quando ergueu o olhar, o irmão de Ranulf, Arran, estava olhando para ela,
seus olhos azuis mais claros curiosos. Não admira; tinha esquecido
completamente que ele estava na sala — Então é Arran. — disse,
estendendo a mão — Winnie fala a seu respeito, e de Munro, o tempo todo.

Ele sorriu — Vou lhe fazer uma reverência, e espero que não tome minha
recusa em apertar sua mão como um insulto, Lady Charlotte.

Ela sorriu de volta para ele, sentindo nele um temperamento mais fácil do
que seu irmão mais velho possuía. Igualmente bonito, talvez, de uma
maneira diferente, mas não tão atraente. — Estou bastante aliviada, na
verdade. Obrigada.

Com cautela quase absurda, Ranulf pegou sua mão estendida e a envolveu
em sua manga. — Arran, deixo-os para fazer a vontade de Winnie. Não
causem muita agitação, nenhum dos dois.

Charlotte riu enquanto a conduzia pelo vestíbulo e saía pela porta da frente,
para sua carruagem. — Seu pobre irmão. Acabou de sentenciá-lo a ir
comprar fitas de cabelo.

Ranulf deu de ombros, enquanto a ajudava a entrar na carruagem aberta —


Arran está acostumado com isso. De acordo com Rowena, ele é o único
irmão com gostos diferentes além de comida.

— Eu não sei sobre isso. Parece muito bem esta tarde.

— Eu direi ao Smith, o alfaiate de coração negro, que disse isso. Ele me


acusou de envergonhar toda a sua profissão, porque eu não o deixaria
colocar almofadas em meus ombros.

Se havia um homem em Londres que não precisava do corte de seus ombros


realçados, era Ranulf MacLawry. — Estou feliz que não tenha cedido.
— Assim como eu. O… — começou a subir na carruagem, ao lado dela,
então parou, quando notou Simms parada diretamente atrás dele — E

o que quer?

— Eu vou junto, milorde. — disse a criada, colocando cada grama de


dignidade afrontada que possuía na frase.

— Que diabos está dizendo?

Charlotte sufocou uma risada — Ela é nossa acompanhante. Não posso


acompanhá-lo sem ela ou outra mulher apropriada presente.

Com uma respiração baixa, que soou como um urso rosnando, Ranulf
retrocedeu e colocou a criada da senhora na carruagem. Simms começou a
se sentar ao lado de Charlotte, mas Ran balançou a cabeça. — Nae. Pode
sentar-se aí. — disse, apontando para o banco virado para trás.

— Ranulf.

— Estarei sentado ao seu lado, Charlotte. De lá, ela pode ver melhor se eu
tentar violá-la, o que, claramente, não vou fazer agora.

Calor subiu pelas bochechas de Charlotte novamente. — Eu lhe disse que


não seria uma questão simples. — murmurou quando ele se inclinou para se
sentar ao lado dela, quente, sólido e convincente.

— Poderia ter me avisado dos detalhes. — retrucou, se acomodando, perto


o suficiente, para que suas coxas se tocassem. — Ela não veio conosco
antes.

— Porque Jane e Winnie estavam presentes. Todos nós guardamos o que


nós e a sociedade dizemos ser precioso.

— Malditos puritanos. — resmungou.

Bem, ela não era uma puritana, é claro, mas entendeu o que ele queria dizer.
Evidentemente, o Marquês de Glengask pretendia ser tão cavalheiro quanto
as circunstâncias exigissem que fosse. E como também desejava que Simms
estivesse em outro lugar, apenas assentiu.

— Seu outro irmão também está aqui? — perguntou, para se distrair dos
pensamentos de ser estuprada.

— Quer falar da minha família agora?

— Sim, acho que um tópico diferente pode ser útil.

Ele suspirou. — Nae. Urso ainda está na Escócia. Nos últimos quatrocentos
anos, sempre houve um MacLawry em Glengask. Está até no brasão da
família, i gcónaí MacLawry ag Glengask — ' sempre um MacLawry em
Glengask', literalmente. E, hoje em dia, bem, eu nunca permitiria que esse
juramento fosse quebrado.

Charlotte assentiu. — Para que seu clã saiba que não pretende abandoná-
los.

— Aye.

Isso, e o significado por trás disso, era possivelmente o lema de família


mais nobre que já tinha ouvido. E o fato de estar em gaélico, em vez de
latim parecia... corajoso e orgulhoso, em vez de pitoresco — Diga de novo,
sim? Em gaélico, quero dizer.

— Com prazer. I gcónaí MacLawry ag Glengask.

Pegou-se observando sua boca enquanto ele falava, saboreando as vogais


alongadas e o rufar musical de suas palavras. — Fala gaélico em casa? Em
Glengask?

— Aqui e ali. Falamos principalmente inglês. Todos nós tivemos que


aprender na escola, e, por um tempo, durante o tempo de meu pai, não
tínhamos permissão para falar gaélico. — hesitou. — Por mais satisfatório
que fosse não saber nada de inglês, não teria servido bem a nenhum de nós.

— E sua mãe era inglesa.


O olhar em seus olhos esfriou novamente. — Sim. Era.

Pelo que Winnie disse, Eleanor MacLawry, nascida Wilkie, havia tirado a
própria vida, três anos após a morte do marido. Mesmo que ele quisesse
discutir isso, o que, claramente, não queria, hoje não parecia o momento
apropriado. Em vez disso, ela assentiu, procurando alguma coisa para
desviar sua mente de quão perto ele estava sentado, e quão quente parecia,
mesmo através de dois conjuntos de roupas.

— Então me diga - havia algo em particular que queria ver no Museu


Britânico?

Silêncio.

Quando o olhou de lado, estava sentado com a mandíbula cerrada, com o


olhar fixo em Simms. E sua criada não parecia muito confortável com o
exame minucioso. Não, ele não esperava ou queria uma acompanhante, mas
isso dificilmente era culpa da criada.

— Ranulf.

— Sabe que eu não ia te levar ao maldito museu.

— Bem, estamos indo para lá agora, então o que gostaria de ver?

Seu olhar deslizou sobre ela, lento e demorado. — O que eu gostaria de ver,
Charlotte? — repetiu. — Devo começar por cima ou por baixo?

Céus. — Mesmo que não queira rever a história da Inglaterra, por causa da
luta com a Escócia, — disse apressadamente, aquecendo de dentro para fora
— há alguns belos itens gregos e egípcios em exposição. — a brisa soprou
uma mecha de seu longo cabelo preto encaracolado em um de seus olhos
cor de safira, e ela quase a afastou de seu rosto, antes de se conter e acalmar
a mão novamente.

— Aye. Tenho certeza que sim. — recostou-se por um momento, o toque


inquieto de seus dedos contra sua coxa era hipnótico. Então murmurou
várias palavras em gaélico, que ela tinha certeza de que, se traduzidas,
soariam muito pior em inglês. — Não posso. — murmurou ele.

— Não pode o quê?

— Fazer isso o dia todo sem te tocar. — abruptamente se inclinou para


frente, para prender a criada com seu olhar feroz. — Simms, certo?

— Sim, milorde — respondeu a criada, suas bochechas ficando vermelhas.

Charlotte ficou tensa. Se pretendia ordenar que Simms saísse da carruagem,


ela teria que intervir, tanto por causa da criada quanto por si mesma. O que
quer que ela quisesse era em particular, estavam na rua, no meio de
Londres. Alguma medida de decoro seria observada.

— Se soubesse que sua patroa estava se comportando mal, mas que nenhum
mal aconteceria, o que faria?

Simms olhou dele para Charlotte. — A reputação de minha senhora estará


sempre segura comigo. — disse depois de um momento, um orgulho feroz
em sua voz, que Charlotte não conseguia se lembrar de ter ouvido

antes — Eu nunca falaria sobre seus assuntos particulares, a menos que o


silêncio colocasse em risco sua segurança.

— Hm. — meditou, se acomodando novamente — Debny, leve-nos para


Gilden House. Quero mostrar a Lady Charlotte o dano do estábulo à luz do
dia.

— Sim, milorde.

— E esta é a sua ideia de discrição?

— É exatamente minha ideia de discrição. — retrucou naquele sussurro


retumbante e grave, que começou a esquentar entre suas coxas —

Se eu ficasse ao seu lado a tarde toda, olhando as malditas estátuas, todo


mundo saberia o quanto a quero, leannan. E isso não seria discreto.
— Mas dirigir diretamente para sua casa e entrar?

— Com Simms para acompanhá-la. — inclinou a cabeça. — Me deixa


louco, moça. Se não me quer, é melhor dizer agora. Eu não sou um homem
que se provoca, Charlotte Hanover.

Seu coração disparou. A ideia de se separar dele hoje sem... tocá-lo, a fez
doer. Ele deixou claro, desde o início, que sua busca era apenas satisfazer
um desejo físico, mas não era o único que queria algo — Se isso é um erro
ou não, não consigo pensar em um momento melhor para cometer um. —
finalmente disse.

Ranulf fez uma careta. — Já ouvi elogios melhores, mas serve.

Durante os quinze minutos seguintes, tentou não deixar que o balanço da


carruagem a pressionasse contra o lado dele. Tentou uma conversa um
pouco mais casual, algo em que geralmente se destacava, mas nada
funcionou. Londres nunca pareceu tão grande, nem as distâncias tão longas.

Quando viraram na Market Street e a carruagem parou, diante dos degraus


principais de Gilden House, sua mandíbula doía, por estar apertada

com tanta força. Antes que Owen pudesse sair da casa, Ranulf abriu a porta
da carruagem e segurou seu cotovelo para ajudá-la a descer.

— Meu laird, — disse o lacaio — não esperávamos que re...

— Leve Simms até a cozinha, para comer alguma coisa. —

interrompeu, mantendo Charlotte ao seu lado — Quero todo mundo no


térreo, até que eu diga o contrário.

— Aye, meu laird.

— Fergus incluído.

— Vou buscá-lo imediatamente, meu laird.


Charlotte atravessou a porta da frente, embora tivesse a sensação de que, se
hesitasse, ele a teria pegado e jogado no ombro, como um saco de batata.

— Por ali. — murmurou logo atrás dela, indicando a escada.

Lembrou-se de onde estava seu quarto principal. Tinha-lhe mostrado isso na


noite passada, afinal. — Não me apresse. — ordenou, empurrando um
ombro contra ele e parando no patamar — Não sou uma vaca sendo levada
para o abate.

— Milady?

Charlotte olhou para baixo, para ver Simms de pé ao pé da escada, Owen


olhando para ela e parecendo pronto para arrastá-la para a cozinha, à força
— O que é, Simms?

— Serei discreta — se é isso que deseja que eu seja.

Claramente Simms não aprovava nada disso, mas aqueceu o coração de


Charlotte que tivesse feito a pergunta, apesar de estar em menor número do
que os homens grandes das Highlands, e da maneira como a criada a havia
formulado.

Sentindo-se como se estivesse prestes a dar um passo no purgatório -

o que estava, de acordo com a maioria das damas - sorriu — Obrigada,

Simms. Aproveite para almoçar. Estou onde desejo estar.

No topo das escadas, virou à direita e entrou no generoso quarto principal


de Ranulf. Um momento depois, a porta se fechou atrás dela, e ouviu a
chave girar, para trancá-los.

— Que bom que a moça Simms cooperou. — Ranulf falou lentamente, sem
se mover da porta. — Eu poderia ter que soltá-la na selva e esperar que não
conseguisse encontrar o caminho de volta.

— Como um cachorro? — Charlotte se virou para olhá-lo. Realmente


esperava que começasse a maltratá-la, quando cruzassem a soleira. Mas lá
estava ele, um ombro contra o batente da porta e os braços cruzados sobre o
peito.

— Pode ter funcionado. Ainda pode acontecer, se necessário.

Enquanto ele falava, ela foi até a janela da frente, ficando fora da vista da
rua e fechou as cortinas. A outra janela dava para o espaço vazio, onde
ficava o estábulo, então, a deixou de lado. Isso parecia bastante clandestino,
sem extinguir toda a luz da sala.

— Vai ficar aí parado? — finalmente perguntou, olhando-o enquanto ele a


observava vagar pela sala.

— Me disse para não a apressar. Estou aqui onde quero estar, contigo, então
imaginei que poderia vir aqui e me beijar no seu próprio tempo.

Respirando fundo, tentando acalmar a vibração em seu peito, ela caminhou


até ele. — Quero ser clara sobre uma coisa. — disse, encostando o dedo
indicador enluvado no peito dele.

— Tem minha atenção.

— Isso é porque temos um... desejo mútuo. — disse lentamente, enrolando


o dedo na gravata dele. — Não sou uma senhorita tola, e não estou com um
cafajeste sem coração. É simplesmente uma questão de atração. — pronto.
Para seu próprio... orgulho, precisava deixar claro que

entendia as circunstâncias, e que não queria o que ele não estava


oferecendo.

— Uma questão simples. — repetiu, estendendo a mão para enrolar o cacho


loiro pendurado em sua têmpora em seu dedo. — Acho que deveria me
beijar agora, Charlotte.
Capítulo 10

, a centímetros de lhe dar o momento com o qual

Ran esteve sonhando por toda a semana. Teria sido uma questão tão
simples, inclinar-se um pouco para frente e tocar sua boca doce com a dele.

Mas Ranulf se manteve exatamente onde estava, cada músculo doía pela
tensão. Esta havia sido sua sugestão, em sua casa, e de acordo com seu
tempo. Estava acostumado a liderar, a ordenar que algo fosse feito e depois
a vê-lo realizado. Permitir que Charlotte decidisse os próximos momentos
era, ao mesmo tempo, enlouquecedor e supremamente excitante.

Dedos enluvados brincando com sua gravata, puxando suavemente, era,


possivelmente, a sensação mais erótica que já havia experimentado.

Sua respiração veio lenta e profunda, seu coração mantendo o tempo


enquanto esperava.

Finalmente ela deslizou suas palmas em seu peito, elevou-se na ponta dos
pés, e pressionou suavemente os lábios contra os dele. Graças a Deus.

Permitindo-se se mover novamente, Ranulf segurou seu rosto em suas


mãos, beijando-a de volta, até que seus lábios se suavizaram e ela se abriu
um pouco para seus dentes e língua. Quando gemeu, a pressão em sua
virilha triplicou, e ele se moveu para agarrar seus quadris, puxando-a para
mais perto.

Ela chamava isso de atração mútua. Ele de obsessão por uma mulher
teimosa e enlouquecedora que, com poucas palavras, o fez reconsiderar
décadas de ressentimento e preconceito. Continuava incerto do que teria

feito se ela tivesse decidido que não gostava de sua companhia, ou que suas
opiniões o tornavam inaceitável, mesmo como um amante temporário.

Ainda a beijando, ele tirou o casaco de alfaiataria inglesa. Em seguida,


desabotoou o colete e o jogou no chão também. — É sua vez, moça. —
murmurou, voltando sua atenção para o trio de botões que prendiam sua
linda peliça verde escura sobre seu vestido de musselina verde e amarelo.

Suas mãos roçaram seus seios enquanto trabalhava, e ela pulou um pouco.
— Eu me sinto muito perversa. — respirou vacilante, afastando-se de sua
boca para ver as mãos dele percorrerem sua frente.

Ran abriu a peliça e a empurrou pelos ombros. Teria sido mais satisfatório
rasgar cada uma de suas peças de roupa, mas prometeu discrição, e ela já o
achava um demônio violento. Devolvê-la em casa com todos os botões e
costuras rasgados não seria discreto nem sábio.

Abaixando o olhar de seu rosto, segurou seus seios através da fina


musselina. Eram apenas do tamanho para caber em suas mãos, como se
tivessem sido feitos com ele em mente. Firmou seu aperto e ela ofegou,
pressionando contra suas palmas. — Maldição! Está usando roupas demais.

— notou, tentando não pular, quando o quadril dela roçou seu pênis.

— Acho que gostaria de me sentar. — comentou baixinho, inclinando-se


para a boca dele novamente.

— Vou fazer melhor. — curvando-se, pegou-a em seus braços e a carregou


para sua cama grande e macia.

Quando a colocou no centro do colchão, ela enroscou os dedos em seus


cabelos, puxando-o para baixo, sobre ela. Ranulf se afundou ao lado dela,
mantendo seu corpo ágil envolto em seus braços. Lutou contra a sensação
de que não estava perto o suficiente dela, que tinha que estar dentro dela
imediatamente, para satisfazer sua própria necessidade,

reivindicá-la para si. E iria. Sim, mas, pelo bem de ambos, iria devagar. A
última coisa que queria era assustá-la ou machucá-la.

Mas então ela sorriu e puxou sua gravata. — Quem no mundo amarrou
isso? — perguntou com uma risada, empurrando o queixo dele para o lado,
enquanto soltava os nós com os dedos enluvados.
Ambas as ações serviram para lembrá-lo de que ela não era tão delicada
quanto pensava anteriormente. — Pobre Ginger. — retrucou. —

Meu valete. Ele disse que quase perdeu os dois braços por causa de sua
teimosia.

— Minha teimosia? — repetiu, finalmente soltando a gravata e jogando-a


para fora da cama.

— Sim. Disse que teria largado aquela manivela depois de vinte minutos, na
noite passada, mas não podia deixá-la derrotá-lo.

Ela riu. — Pobre homem.

Aproveitando a conversa momentânea, rolou de costas e sentou-se para


arrancar as botas inglesas e deixá-las cair no chão. — Sei o que meu valete
estava pensando, então, mas o que você estava pensando, leannan?

Me dê seus pés.

— Não me lembro de pensar muito, em nada. — meditou, levantando um


pé para colocar o tornozelo na mão dele.

Ran tirou seu sapato de salto baixo e o colocou ao lado de suas botas.

— Duvido que já tenha pensado em nada. Estava preocupada comigo,


moça?

Entregou o outro pé — Fazia uma semana que não o via. Achei que, depois
que se deu ao trabalho de comprar uma casa e dar um jantar e ser tão...

— Cavalheiro? — sugeriu, embora não se sentisse nada cavalheiro no


momento.

— Eu ia dizer receptivo. — rebateu, sentando-se para ajudá-lo a tirar a


cauda da camisa da calça. — Era errado que o mau comportamento de outra
pessoa pudesse convencê-lo a deixar Londres. Eu não queria que fosse
embora.
— Isso é muito bom de ouvir. — murmurou, e capturou seus dedos
enluvados nos dele — Quero sentir suas mãos em mim, Charlotte.

Ela assentiu. — Eu também.

— E suas bolhas?

— Dou um jeito.

Isso o fez sorrir — Eu certamente espero que sim. — curvando-se sobre a


mão dela, abriu os pequenos botões de pérola e, cuidadosamente, tirou a
luva. — Tudo bem? — perguntou, levantando o olhar para encontrá-la
estudando seu rosto.

— Bem. A outra, agora.

Ajudou-a a removê-la. No momento em que fez isso, ela afastou a frente de


sua camisa e roçou as palmas das mãos levemente em seu peito.

As carícias suaves o fizeram tremer. Quando ela correu os dedos curiosos


em seus mamilos, ele respirou fundo, pegou as pontas da camisa e puxou a
coisa sobre sua cabeça.

— Parece uma escultura grega. — meditou, seus dedos quentes e instáveis


contra a pele dele.

— Nae. Um escocês.

Charlotte riu, o som excitante quase fazendo arrebentar a costura de suas


calças. Doce Saint Andrew. Virando-se para encará-la novamente, puxou
sua manga de musselina pelo braço. Lentamente Ranulf se inclinou para
beijar seu ombro nu.

Ela tinha um leve gosto de limão. Sardas que tentava desvanecer?

Esperava que não conseguisse tal coisa; na verdade, gostaria de encontrar e

beijar cada sarda em sua pele clara. Quando ela curvou o pescoço, Ran
passou os lábios por sua orelha e a pulsação na base de sua mandíbula,
então desceu por seu ombro novamente, puxando para baixo a frente de seu
vestido, enquanto seguia. O topo de seu seio, a curva suave e perfeita, o
seixo duro de seu mamilo.

— Ranulf. — ofegou, envolvendo as mãos em seus antebraços.

Ainda brincando com seu seio, a olhou. — Quer que eu pare?

— Não. Definitivamente não. Mas não parece estar muito à vontade...

lá… embaixo.

— Ah, não mesmo. Estou mais para estrangulado.

— Então vamos fazer algo sobre isso. — sugeriu de forma irregular,


deslizando suas mãos pelas costelas dele até a cintura.

Ranulf sorriu, beijando seu seio exposto. — Eu seria um tolo em discutir.


Porém, não posso deixar que machuque mais suas mãos. Eu vou fazer isso.

Deslizando para fora da cama, rapidamente desabotoou os botões de sua


calça. Então, imaginando que agora era tão bom quanto mais tarde, tirou as
calças de pele de gamo pelos quadris e chutou para sair delas.

Observou o rosto de Charlotte, esperando por uma exclamação de donzela,


ou... algo do tipo. Embora, se já tivesse visto estátuas gregas teria alguma
ideia da anatomia masculina.

Seu olhar permaneceu baixo. Finalmente, os olhos castanhos se ergueram


para encontrar os dele. — Então é isso que tem sob seu kilt, Ranulf
MacLawry.

Ele riu — Agora quem está sendo malvada? — zombou, e voltou para a
cama. — Ajoelhe-se e se erga um pouco.

Quando o fez, ele pegou a barra do vestido e o puxou para cima dos joelhos,
subindo pelas coxas, acima do emaranhado de suaves cachos

dourados, o levantou sobre sua cabeça e o tirou.


— Bem? — instigou depois de um momento, afundando em seu traseiro
novamente. Não tentou se cobrir, ou baixou os olhos timidamente.

Moça notável. — Mais linda que o nascer do sol, assim é. — disse em voz
alta, ainda sorrindo. — Acho que irei até aí, desta vez. — moveu-se sobre
ela, puxando suas pernas até que a deitou de costas embaixo dele.

Desta vez seu beijo foi tão quente e de boca aberta quanto o dele.

Beijou-a até que ambos estivessem sem fôlego e ofegantes, então,


lentamente, desceu por seu comprimento esbelto, provocando primeiro um
seio e depois o outro, traçando seu esterno com seus lábios, serpenteando
até seu umbigo e depois baixando até que, com um dardo de sua língua,
provou-a.

— Deus do céu! — guinchou, quase batendo nele com um joelho. —

Oh, sinto muito.

Como resposta, Ranulf deslizou um dedo dentro dela, e ela gemeu.

Hum. Estava quente e molhada - para ele. — Doce Cristo. — murmurou,


movendo a língua novamente.

Desta vez ela estremeceu e pulsou, gozando com uma doce pressa, que a fez
gritar e seu pau pular convulsivamente. — Isso... Oh, que coisa.

— conseguiu dizer, rindo sem folego.

— Minha vez agora, eu acho. — resmungou, beijando seu corpo


novamente. Tinha sido mais paciente que um santo, pelo amor do diabo, e
queria muito se enterrar em suas profundezas apertadas.

No último momento, lembrou-se da camisinha francesa que colocara no


bolso do casaco, na esperança de que seus planos para o dia saíssem como
queria. Com uma maldição, rolou para fora da cama, encontrou seu casaco
perto da porta e desenterrou a coisa.
— Para que isso? — perguntou, erguendo-se sobre os cotovelos e já
parecendo deliciosamente desgrenhada.

— Para evitar que engravide. — respondeu, colocando-a e amarrando a fita.

— Então é assim que se faz. É muito bonito.

— Nae. — disse, voltando para a cama. — O pênis de um homem é

'grande', ou 'considerável', ou 'orgulhoso'. E não bonito.

Movendo-se sobre ela mais uma vez, Ranulf empurrou seus joelhos e se
acomodou entre suas coxas para voltar a beijar sua boca doce, provocando
seus seios com os dedos. Quando a fez gemer de prazer, mais uma vez,
lançou seus quadris para frente, entrando nela lentamente e com o máximo
de cuidado que conseguiu. O impulso de simplesmente tomá-la, imediata e
repetidamente, o pressionou novamente, mas ele se conteve.

— Pronta? — falou lentamente.

Ela assentiu silenciosamente, seus olhos arregalados e seus dedos


amassando em seus ombros. Ele lhe disse para respirar fundo e segurá-lo.

Quando fez isso, ele empurrou para frente, além da fina borda de
resistência, e a penetrou completamente.

Charlotte fechou os olhos com força, respirou fundo, estremeceu e o olhou


novamente. Por um longo momento, ele ficou onde estava, beijando-a, até
que ela relaxasse novamente e jurando a si mesmo que esta seria a última
vez que lhe causaria dor.

Finalmente, se afastou um pouco e empurrou novamente. — Melhor?

— Sim — respondeu. — Eu quero mais.

— Isso é bom.

Ranulf balançou dentro dela novamente, então começou um movimento


lento, impulsionando em seus quadris. A sentia... deliciosa e apertada ao
redor dele, seus gemidos suaves o conduzindo mais rápido e

mais profundo. A filosofia de ambos poderia tornar suas vidas


incompatíveis, mas não parecia assim. Pele com pele, suor se misturando,
línguas emaranhadas, se encaixavam extraordinariamente bem.

Ela gozou novamente, pulsando ao seu redor, e finalmente ele cedeu ao


desejo de tomá-la de verdade. Mais forte, mais profundo, mais rápido, até
que, com um gemido, se derramou nela.

Caindo de costas, a puxou sobre seu peito. Por um longo momento, ficaram
ali, membros emaranhados e a respiração quente em sua pele. Seu cabelo
cuidadosamente penteado estava uma bagunça, e ele puxou, um por um, os
grampos da massa dourada e macia, deixando-a cair sobre o peito como a
luz do sol. Sua palma, cheia de bolhas, estava sobre o coração dele, e se
perguntou se ela podia senti-lo batendo.

Nunca acreditou em contos de fadas, no fenômeno do amor à primeira vista.


Foi isso que levou seu pai a arrastar uma noiva inglesa para as Highlands.
Ela queria um título, e ele a queria, e o desastre se seguiu. Mas sabia, com
certeza, que Eleanor MacLawry nunca teria corrido para fora à noite para
ajudar a combater um incêndio na propriedade de sua própria família, muito
menos de qualquer outra pessoa. E nunca teria se mantido firme, ao ponto
de suas mãos ficarem cheias de bolhas.

Charlotte tinha feito mais do que isso. Ajudou a organizar o caos de


homens, baldes e água, e homens, que não sabiam quem ela era, ouviram e
obedeceram. Era adorável e gentil, mas mantinha-se firme e falava o que
pensava - mesmo para ele, quando ninguém ousava fazê-lo.

Mais revelador, foi ela ter ido para sua cama, depois que ele concordou em
não sair e atacar Berling. Quando vestiu seu traje adequado e civilizado,
jurou deixar a lógica e a razão levarem o dia. Era uma coisa tão difícil de
fazer? Foi criado em um lugar onde um homem detinha o poder,
com ambos os punhos e sua mente. Havia uma maneira diferente de
proceder?

Ranulf franziu o cenho, enquanto entrelaçava os dedos suavemente em seus


cabelos. Deitou-se com sua cota de moças escocesas. Eram bonitas,
entusiasmadas e esquecíveis. A mulher, presentemente em seus braços, era
tudo, menos esquecível. Afinal, os dois eram mesmo tão incompatíveis? Do
que ele teria que desistir, de socar um canalha merecedor ou dois?

Evidentemente, uma vez que ele tinha se dado ao trabalho de fazer esboços
e coletar provas, já tinha decidido que estava disposto a utilizar meios legais
para deter a Berling. Se ele eliminasse Donald Gerden ou a lei o fizesse, os
resultados seriam os mesmos - com uma diferença crucial. Charlotte
Hanover.

— Está dormindo? — ela sussurrou, fazendo agora um círculo preguiçoso


sobre o coração dele com o dedo indicador.

— Nae. Estou juntando forças para outra tentativa.

— Mm.

Apenas o jeito que ela disse foi já o deixou duro novamente. — Acho que
passaremos uma longa tarde no museu e ficaremos um bom tempo olhando
aquelas estátuas gregas nuas que tanto gosta.

Ela riu, o som reverberando em seu peito. — Acho que prefiro a versão
escocesa, na verdade.

Ele também esperava, porque não tinha intenção de se separar dessa moça
inglesa. O que começou como uma leve curiosidade, havia se alterado e se
aprofundado. Na verdade, pretendia segurá-la, até que pudesse colocar um
anel em seu dedo e dizer ao mundo todo que Charlotte Hanover lhe
pertencia. Para todo sempre.

C
a cabeça em um cotovelo, para assistir Ranulf, nu e magnífico, ir até a porta
do quarto. Abrindo-a, se inclinou para o corredor.

— Owen! — berrou. — Sanduíches!

— Muito majestoso. — comentou, enquanto ele voltava para sua cama


grande e se recostava na cabeceira.

— Estou com fome.

Isso não era surpresa, considerando seus esforços. Ela mesma estava
bastante faminta. — Vamos jantar no salão de chá do museu, então? —

perguntou, movendo-se um pouco para passar um dedo pelas suas costelas.

Tocar a pele de um homem - a pele dele - era indescritivelmente excitante.

— Sim. E suponho que estamos tomando chá em xícaras delicadas e


mordiscando pequenos sanduíches, com as cascas cortadas.

— Sim, estamos. E então, acho que vamos dar um passeio tranquilo, entre
os sarcófagos e as múmias, antes que me leve de volta para casa.

Ele deslizou pela cama até que seus rostos estivessem nivelados. —

Eu gosto do Museu Britânico. Que outro ponto turístico de Londres poderia


me mostrar, leannan?

— O que isso significa? Leannan?

Encolhendo um ombro, pegou sua mão direita e a levantou para examiná-la


cuidadosamente. — Sabe, Debny tem algum linimento de cavalo, que
provavelmente serviria para suas bolhas.

Ela fez uma careta. — Não quero cheirar a linimento de cavalo.

Um a um, ele beijou as pontas dos seus dedos. A sensação, o gesto, a fez
estremecer — Há anos que o aplicamos. Inchaços, arranhões, entorses -
cura tudo, de acordo com Debny.

— Prefiro sofrer, muito obrigada. — Charlotte flexionou a mão —

Não vai me dizer o que significa leannan, então? Posso perguntar a Winnie,
como sabe.

— É uma moça persistente, Charlotte. — puxou-a sobre o peito novamente,


envolvendo seus braços fortes ao redor dela — Suponho que a melhor
tradução seria 'querida amiga' — falou lentamente.

Isso soou muito bem. O que não soava era um termo que alguém usaria para
descrever um parceiro em um relacionamento único, resultante de simples
atração mútua. É claro que, neste momento, não havia nada de simples
sobre como se sentia. Ou como ele se sentia em relação a ela. Na verdade, o
único fato simples era que não queria que este fosse o único momento em
que compartilhava sua cama.

— Como se fala isso, então? — perguntou, batendo no nariz e tentando se


distrair de pensamentos inúteis.

Ele inclinou a cabeça, para olhar para o seu rosto — Tem vontade de
aprender escocês, então, não é?

— É uma língua bonita.

Antes que qualquer um deles pudesse questionar se ela tinha mais em sua
mente ou não - algo que ela certamente não poderia nem mesmo explicar
para sua própria satisfação- bateram na porta. — Meu laird, —

veio a voz de Owen — tenho seus sanduíches.

— Deixe-os no chão.

— Fergus já comeu um deles no caminho até aqui.

— Ah, pelo amor de Saint Andrew. — Ranulf murmurou, e levantou-se


novamente. Caminhando até a porta, puxou um cobertor do encosto de uma
cadeira e o amarrou em volta dos quadris. Destrancando-a, ficou na
abertura. — Está mantendo a criada ocupada? — perguntou, pegando a
bandeja de comida das mãos do lacaio.

— Ela tem sido tão severa como uma freira, meu laird, olhando para nós,
como se todos fedêssemos a podridão.

Charlotte se perguntou, abruptamente, se não estava pedindo muito de


Simms. A criada estava a seu serviço nos últimos sete anos, desde que
completou dezoito anos, e em todo esse tempo não lembrava de ter feito
uma única coisa para a qual precisasse recorrer à discrição de Simms.

— Espero que não a esteja assustando. — disse, juntando os lençóis


desarrumados ao seu redor e se levantando.

— Nae. — protestou o lacaio, esticando o pescoço, para vê-la ao redor dos


ombros de Ranulf. — Somos gentis como cordeiros, nós somos.

Ranulf se mexeu, bloqueando a visão de Owen novamente. — Isso serve.


Vá embora.

— Não posso ficar muito mais tempo. — interveio Charlotte.

Seus ombros largos subiam e desciam. — Mande a criada vir aqui em dez
minutos, — emendou — e a carruagem pronta em trinta.

— Aye, meu laird. Tem certeza que...

Fechando a porta, Ranulf a trancou novamente e a encarou, a bandeja de


sanduíches em uma mão. Por um momento, seu olhar a percorreu da cabeça
aos pés, parando em seus seios e seu rosto. — Venha para a mesa.

— disse, puxando uma segunda cadeira para sua pequena escrivaninha. —

Também pode comer alguma coisa antes de ir.

Sufocando o desejo de olhar arrependida para a cama, Charlotte ergueu os


lençóis e o seguiu. — Aceitamos um convite para a festa do duque e da
duquesa de Esmond, amanhã à noite. — disse, sentando-se —
Estará presente?

Quase imediatamente se arrependeu de ter perguntado, porque ele foi


removido à força do último grande baile que compareceu, e por um bom
motivo. As probabilidades eram de que não teria recebido um convite para
o próximo - ou para qualquer outro nesta temporada. Deveria estar
agradecida por ele não ter outra oportunidade fácil de brigar em público,

mas, neste momento, desejava principalmente ter outra chance de dançar


com ele.

Ran devorou um sanduíche e começou um segundo, enquanto ela


mordiscava o dela. Sim, sentia-se faminta, mas uma dama não enfiava
comida na boca, como se estivesse preocupada que alguém quisesse roubá-
la.

— Myles foi convidado. — disse, entre mordidas — Irei como convidado


dele.

— Ah. Isso é bom, então.

Ranulf a olhou — Não tem com o que se preocupar, Charlotte.

Contanto que não dê uma dança a Berling, enquanto eu estiver lá.

O calor varreu-a de novo. Estava com ciúmes? Certamente não parecia um


homem que tinha coçado um comichão, por assim dizer, e agora continuava
em frente alegremente. Por outro lado, lembrou-se bem do que havia
acontecido da última vez que ele e Berling se encontraram, por causa do seu
cartão de dança.

— Espero, Ranulf, que, ao se encontrar novamente com Lorde Berling,


decida não bater nele, simplesmente porque é um homem inteligente,
articulado, pensativo, que não tem necessidade de recorrer ao método mais
básico de... qualquer coisa.

Ranulf mastigou e engoliu — E repito, não dê uma dança a Berling, e não


terá nada com que se preocupar.
Se seu discurso em miniatura não tivesse apagado a diversão fácil de seu
rosto, talvez ela tivesse feito algum progresso com ele. Decidindo que valia
a pena arriscar sua ira, estendeu a mão direita. — Um acordo, então.

Não dançarei com ele, e não irá socá-lo.

Enxugando sua mão no cobertor que cingia sua cintura, Ranulf estendeu a
mão sobre a mesa e, com cuidado óbvio, agarrou seus dedos. —

Sim. Um acordo.

Charlotte sorriu para isso; ela não conseguiu se conter. Porque se ele
pudesse escolher alguma contenção, servindo sua mente e não seu orgulho,
então talvez não fossem tão inteiramente incompatíveis como ela pensava.

E talvez pudessem organizar para conhecer mais pontos turísticos em


Londres que nunca visitariam, antes de ele voltar à Escócia para casar-se
com uma dama que não fosse uma Sasannach.

Afastou esse pensamento. Ele não estava com alguma moça das Highlands
no momento, e ela nunca passou um dia tão agradável como este

— Ainda tem minha mão, sir. — apontou, seu sorriso se aprofundando.

— E agora? — sem aviso, a puxou por cima da mesa e a beijou. Os


sanduíches restantes e a bandeja caíram no chão.

Charlotte se acomodou em seu colo, contorcendo os quadris, enquanto o


sentia endurecer sob suas coxas. A anatomia masculina era realmente uma
coisa maravilhosa. Não é de admirar que as jovens damas permanecessem
ignorantes até o casamento; conhecer as delícias do sexo, em sua opinião,
alteraria a maneira como uma mulher olhava para cada namorado em
potencial. Ela, pelo menos, certamente insistiria em primeiro ver um futuro
marido nu.

Uma batida educada soou na porta. — Vou mandar sua Simms embora,
certo? — murmurou, deslizando a mão nas dobras dos lençóis que ela usava
e passando uma unha em seu mamilo.
Ela pulou, o desejo percorrendo-a novamente. Oh, queria mandar todos
embora, passar cada momento restante no êxtase de seu abraço. Mas sua
criada esperava do lado de fora, junto com sua reputação, sua família e a
sociedade. Com um último e demorado beijo, afastou-se e se levantou —

Deveria colocar suas roupas de volta, também, para que possa me levar em
casa.

Estreitando um olho, Ranulf ficou de pé — Como quiser, então, Charlotte.

Enquanto ela caminhava até a porta, Ran pegou suas botas e calças, junto
com sua camisa, casaco, gravata e colete. Quando parou na frente dela,
Charlotte olhou em seu profundo olhar azul.

— Sròin — ele murmurou.

— Perdão?

Com um leve sorriso, inclinou-se e beijou a ponta do nariz dela. —

Sròin. — repetiu, e abriu a porta com a mão livre. — Estarei no quarto, do


outro lado do corredor, se precisar de mim. — Ignorando uma Simms rígida
e de olhos arregalados, deixou seu quarto.

Charlotte respirou fundo. — Simms, venha me ajudar a me vestir.

— Sim, milady.

Largando os lençóis no chão, Charlotte foi buscar algumas coisas. —

Sròin. — disse experimentalmente, tocando o nariz.

Em algum lugar, na última quinzena sua vida, se tornou interessante,


inesperada e até excitante. Sabia exatamente a quem agradecer por isso, e
com todo o seu coração, esperava que continuasse. O que quer que ela e
Ranulf tivessem - uma atração mútua, uma sensação de incompatibilidade
que, pelo menos de sua parte, começou a enfraquecer - ansiava por
descobrir o que viria a seguir. E se perguntou se, e esperava que sim, Ranulf
se sentia da mesma forma.

—N

me perguntar sobre Lachlan? — Arran perguntou, enquanto ele, Rowena e


Jane estavam sentados no jardim da Hanover House.

Ela balançou a cabeça — Não. Dei-lhe a chance de sentir minha falta, ou de


vir atrás de mim. Se não fez nada, bem, também não quero mais nada

com ele. — parecia algo que deveria dizer, de qualquer maneira, e, ao lado
dela, Jane estava assentindo enfaticamente.

Seu irmão não parecia tão convencido — Há um mês me jurou que o amava
e pretendia se casar com ele. E assim vem dizendo, desde que pode falar.

Eu era uma bairn - um bebê - e estava errada.

— Estou feliz que seu coração pode se curar tão rápido então, Winnie,

— retrucou — deve saber que Lachlan se ofereceu, pelo menos duas vezes,
para cavalgar até Londres e ajudar Ran a levá-la de volta.

Rowena deu de ombros — Dois rapazes ingleses já me pediram em


casamento, sabe. Depois de três ou quatro danças. Lachlan teve dezoito
anos.

Com um assentimento, seu irmão estendeu a mão para puxar uma pétala de
uma rosa e rolar a delicada coisa branca em seus dedos. —

Se pode esquecê-lo tão facilmente, isso me faz pensar, em primeiro lugar,


quanto do seu coração ele realmente tinha.

Ela segurou seu olhar — Não mais do que eu tinha de seu coração.
Rowena tinha começado recentemente a perceber que deixar Lachlan
MacTier com ciúmes - quando estava a centenas de quilômetros de
distância, cercado por moças bonitas, bajuladoras, todas agitando seus
cílios, admirando sua propriedade e não lhe dizendo que ele era um idiota -

era uma proposta sem esperança. Cortou-a profundamente, que não tenha se
dado ao trabalho de enviar-lhe uma carta.

Depois da noite anterior, porém, começou a pensar que, talvez, algo mais
urgente estivesse acontecendo. Mal podia acreditar que seu irmão mais
velho, sempre tão preocupado com a segurança do resto da família e com o
bem-estar e felicidade de todo o clã, pudesse ter encontrado uma moça que
mantivesse sua atenção por mais de um dia. Mas algo o convenceu a

comprar uma casa em Londres. E algo o havia enviado para passear, por
mais inesperado que fosse. E tinha certeza de que não era nada que ela tinha
feito. E o fato de que a moça era, acima de tudo, uma dama inglesa
apropriada... Não tinha a menor ideia do que fazer com isso.

Mesmo assim, parecia importante que, pelo menos, descobrisse a verdade.


E que, depois de tudo o que fez por ela, desde sua primeira memória,
fizesse o que pudesse para determinar se o coração dele estava realmente
envolvido, e se a mulher que, talvez, tenha escolhido, era a certa para se
tornar parte do Clã MacLawry, para se tornar a Marquesa de Glengask, e
para fazer Ranulf, finalmente, e para sempre, feliz.

Poucos minutos depois, Rowena ouviu o ruído de uma carruagem na


entrada da frente parar. Levantou-se — Acho que Ran e Charlotte estão de
volta.

Os três entravam pelos fundos da casa, até que Arran pegou seu braço e
diminuiu a velocidade. — Ran está cortejando Lady Charlotte? —

perguntou, mantendo a voz baixa.

— Não tenho certeza. — respondeu com sinceridade. — Mas pretendo


descobrir.
Arran assentiu. — É por isso que estou aqui também. Ele me enviou uma
carta sobre comprar aquela casa. Eu não conseguia descobrir por que, em
nome de Deus, ele faria uma coisa dessas. O que eu vi foi o jeito que
continuava mencionando uma moça chamada Charlotte.

— Foi por isso que veio para Londres?

— Aye.

Oh, céus. Rowena respirou fundo. Ela amava todos os seus irmãos, e sabia
muito bem que seu segundo irmão mais velho era o mais lógico de todos
eles. Ranulf ouvia os conselhos de Arran, mais do que os de qualquer

outra pessoa. E ela não podia imaginar que Arran pudesse sugerir que
Ranulf levasse uma inglesa de volta para a Escócia.

Cutucou o peito dele com um dedo. — Apenas guarde suas opiniões para si
mesmo, Arran.

Ele ergueu uma sobrancelha. — Minhas opiniões sobre o quê?

— Sobre tudo isso. Não sabe o que está acontecendo aqui.

— E por acaso sabe, Rowena?

— Ainda não. Mas, pelo menos, pretendo descobrir, antes de entrar no meio
disso. Não se trata de quem são ou de onde vêm. É sobre como se sentem,
um em relação ao outro. Gosto dela, e não me importo que seja inglesa. E
não tem permissão para dar sua opinião a Ranulf, até trocar mais de meia
dúzia de palavras com ela.

Por um longo momento a olhou — Assim diz a moça que tenta cortejar seu
homem, deixando o país e jurando nunca mais voltar.

Ela se ergueu o mais alto que pôde, e ainda estava apenas no ombro de
Arran — Talvez eu tenha vindo porque quisesse saber o que... quem...

mais estava lá fora. E como se vê, Lachlan MacTier não é o único homem
no mundo. — cruzou os braços sobre o peito. — Então, o que acha disso?
— Acho que vou manter seu conselho em mente, Winnie, e manter minha
opinião no que diz respeito aos meus dois irmãos. Não prometo mais do que
isso.

Já era alguma coisa, de qualquer maneira — Bom. Porque as intenções de


Ran não nos dizem respeito.

— Tudo o que Ranulf faz nos diz respeito. A todos nós. Ao clã e à família.
E enquanto eu me importo com seu conselho, é melhor se lembrar do que
eu disse, também.

Poderia guardar suas opiniões para si mesmo por enquanto, mas não o faria
para sempre. O que significava que ela precisava descobrir o que

estava acontecendo entre Ranulf e Charlotte, antes que ele o fizesse. Porque
ele pesaria tudo o que Ran queria, contra como isso beneficiaria o clã - e
para os MacLawry, o clã vinha sempre em primeiro lugar.

Capítulo 1 1

outra pilha de madeira carbonizada na parte de trás da carroça. Ao fazê-lo,


passou uma carruagem cheia de moças - na segunda vez que o fizeram,
mesmo que tivesse preferido oferecer-lhes uma saudação com dois dedos,
esboçou um arco elegante. Estava cavalheiresco hoje.

— Eu me sinto como um maldito animal em um zoológico. — Owen


murmurou ao lado dele, enquanto o lacaio esvaziava uma pá no vagão da
carroça.

— Acha que aquelas moças estavam te cobiçando, não é? — Debny


interveio com uma bufada.
Juntando suas pesadas luvas de trabalho, Ranulf voltou às ruínas do
estábulo para outra carga. Sua camisa branca estava rasgada e suja, mas,
segundo Ginger, um aristocrata não aparecia de peito nu em público, em
Londres. Tinha aberto a coisa e decidiu que se caísse sozinha, chamaria isso
de providência divina e deixaria assim.

— Eles têm homens que podem ser contratados para transportar lixo como
este, sabe? — Owen apontou, ajudando a empilhar outro conjunto de tábuas
arruinadas e empenadas.

— Menos tagarelice, mais limpeza. — Ranulf grunhiu, colocando a massa


em seu ombro e voltando para a carroça.

Sim, poderia ter contratado homens para derrubar os restos de seu estábulo
e levá-lo embora. Na verdade, porém, desde que estava em Londres, o
maior exercício que conseguiu fazer, foi na cama, com Charlotte, ontem.
Em sua casa, em Glengask, sempre havia uma tarefa ou

outra que precisava ser feita, desde ajudar a limpar um novo campo, até
limpar valas de irrigação, ajudar um camponês a substituir um telhado ou
tosquiar a ovelha gorda das Highlands - o único tipo que tolerava em suas
terras.

Aqui, hoje, a dor e a flexão de seus músculos o faziam sentir como se


estivesse realizando alguma coisa, contratando outra pessoa para fazê-lo ou
não. Revirando os ombros, voltou para pegar uma pilha de telhas.

— Para onde foi Lorde Arran, se posso perguntar? — Owen disse,


arrastando um pano coberto de tachinhas chamuscadas e derretidas.

— Foi procurar alguns de seus amigos do exército. — Ranulf respondeu. —


Fergus vai ficar de olho nele.

Na verdade, não tinha acreditado muito em Arran, quando seu irmão


anunciou que pretendia passar a manhã fazendo visitas. Parecia uma
escolha estranha, depois de ter descido de Glengask, para realizar algum
tipo de resgate. Talvez seu irmão tivesse percebido que não era necessário
nenhum tipo de resgate.
Afinal, Rowena não tinha repetido seu juramento, de não voltar à Escócia -
não aos seus ouvidos, de qualquer forma. E possuir uma casa em Londres
fazia sentido, se isso lhe desse mais força para estar diante de seus infelizes
companheiros escoceses. Independentemente de admitirem ou não que eram
escoceses.

Junto a maioria do pessoal que trabalha nele, deverão ter o velho estábulo
limpo amanhã. Então, contrataria alguém para construir um novo.

O Duque de Greaves havia oferecido o uso de seu estábulo pelo tempo


necessário, mas Ranulf não gostava de dever favores a um homem ao qual
não conhecia.

Nada disso impediria Berling de passar por lá e incendiar o novo estábulo,


ou mesmo a casa, é claro. No entanto, pensou um pouco sobre

esse assunto. Charlotte lhe havia pedido para não lutar contra Donald
Gerden, no baile desta noite. Contudo, não tinha dito nada sobre depois. E

havia descoberto, em algumas ocasiões anteriores, que um confronto direto,


junto com uma explicação concisa e uma demonstração das consequências,
poderia esfriar a ira de muitos homens. Afinal, a maioria dos homens era
cruel, somente quando pensava que poderia se safar.

Charlotte. No momento em que a conjurou em seus pensamentos, o que


parecia estar fazendo quase constantemente hoje, se recusou a deixá-lo.

Deus sabia que o caminho teria sido mais fácil, se tivesse se colocado atrás
de uma bela moça escocesa, que entendia como os problemas eram tratados
nas Highlands, não tendo dificuldade com esse fato. Alguém que sabia
como se esperava que um laird liderasse um clã e nem sequer pensaria em
discordar de seus métodos.

Mas não foi uma moça escocesa que o pegou em suas saias e o deixou
louco por desejá-la. Foi Charlotte Hanover, e se não conseguisse se afastar,
ela torceria mais do que seu coração. Seria, certamente, mais simples,
deixar Londres imediatamente e voltar para casa, para se casar com a
primeira moça que encontrasse.
E se Charlotte não quisesse morar em Glengask? Depois do que
experimentou com sua própria mãe, ele, certamente, não iria - não poderia -

forçá-la a esse tipo de vida. Outros lairds de clãs viviam longe das
Highlands. Um ou dois nunca tinham pisado ali. Começaram a fazer a
chamada terra estéril que possuíam, o mais lucrativa possível, colocando
ovelhas para pastar e contratando capangas para expulsar os poucos
camponeses restantes em seu solo ancestral.

Aquele não era ele. Os MacLawry subiram ao poder por causa da força e
lealdade do clã. E, agora, o clã permaneceria seguro e próspero, por causa
da força dos MacLawry.

Então sabia onde estava, mas sempre soube. Não era essa a complicação.
Sim, Charlotte provou ser corajosa, e sim, sabia que era gentil e atenciosa.
E supôs que, se fosse seu pai, simplesmente se casaria com ela, a arrastaria
para a Escócia, deixando o futuro cair onde quisesse.

Mas, claramente, não era seu pai, porque não era suficiente que Charlotte
agradasse seu coração, o fizesse feliz, enchesse cada outro pensamento com
um desejo saudável de estar em sua companhia. Queria que ela fosse feliz
em troca. E era aí que estava a dificuldade.

— Meu laird?

Ranulf começou — Aye?

— Achei que tivesse se transformado em pedra, por um momento. —

Owen deu-lhe um olhar preocupado — Chamei-o três vezes.

— E resolvi responder na terceira. — retrucou Ranulf. — Agora estava me


chamando por diversão, ou tinha alguma razão?

— Eu tinha uma razão, — disse o velho soldado, endireitando os ombros —


Lady Winnie está chegando.

Ranulf se virou. Com certeza, uma carruagem fechada parou na frente da


casa, e Rowena, seguida de perto por Una, desceu para a entrada. Peter
Gilling, empoleirado na frente, ao lado do cocheiro de libré, também
desceu. Rowena disse algo ao condutor, e, com um assentimento, conduziu
a equipe de volta para a rua. Só então Ranulf percebeu que o veículo trazia
o brasão de Hanover nas portas.

— Doce Saint Andrew, parece ainda pior à luz do dia. — disse sua irmã,
levantando as saias para, cuidadosamente, abrir caminho entre os
escombros.

— Vou preparar um novo, antes que perceba. — Ranulf retrucou, tirando


uma luva para coçar Una atrás das orelhas.

Rowena assentiu, olhando para ele e depois para longe novamente.

Tanto quanto se lembrava, haviam se separado em bons termos, tanto


depois do jantar e do fogo, e então ontem, quando voltou para casa com
Charlotte. O que quer que a estivesse perturbando, não achava que fosse o
culpado.

Ran passou por cima de uma pilha de madeira, tirando a outra luva e
largando as duas em um barril. — Quer sentar-se no meu jardim? —

perguntou, oferecendo-lhe um braço.

— Não vou segurar seu braço — comentou, franzindo o nariz. — Está


imundo.

— Então, suponho que também não quer que eu beije sua bochecha.

— com um sorriso, acenou, para que o precedesse pelo caminho curto para
o jardim murado.

— É muito bonito. Já disse isso?

— Aye.

— Ah. Bem, é.

— Obrigado.
Rowena vagou por um minuto, então se sentou em uma das cadeiras de
ferro forjado, sob o grande olmo, no centro das plantas floridas. Ranulf
arrastou a outra cadeira para mais perto e se sentou de frente para ela.

— Agora que terminamos com as gentilezas, — falou lentamente — o que


há de errado?

— De errado? Nada está errado. Por que diz isso? — retornou, mexendo na
saia.

— Porque está aqui, por alguma razão. E porque não consegue me olhar nos
olhos. A última vez que fez isso, foi porque decidiu refrescar minha cama
com lavanda e despejou uma garrafa inteira de perfume, no meio do
colchão.

Rowena riu — Cheirava muito bem, depois de três dias com as janelas
abertas.

— E ainda não consigo tolerar lavanda. Então, o que te traz aqui, Rowena?
Eu pensei que estaria fazendo compras, ou tendo um aconchego com seus
novos amigos.

Ela cruzou as mãos no colo — É meu irmão. Preciso de uma desculpa para
te ver?

— Nae. Mas se tivesse uma, qual seria?

Abruptamente, Una parecia precisar de uma boa massagem na barriga,


porque Rowena afundou na grama para dar-lhe uma. Uma pontada de
inquietação percorreu a pele de Ranulf. Sua irmã era treze anos mais nova.
E, em toda a sua vida, nunca hesitou em falar com ele sobre qualquer coisa.
Fosse o que fosse, não poderia ser nada agradável.

— Os Hanover são muito bons, não são? — finalmente ofereceu, seu olhar
ainda no cão, se contorcendo alegremente.

Era isso? Ela desejava viver com eles permanentemente? Seu coração se
apertou, mas respirou fundo para encobri-lo — Aye, são.
— Fico feliz que Lady Hanover e Jane tenham mantido contato comigo por
todos esses anos. Não era nada que fossem obrigadas a fazer.

Sim, tinham sido tão amigáveis, que ela se sentiu confortável em fugir de
casa, para ficar com eles. Mas também eram a família de Charlotte, então
não iria falar mal deles — Por que não desejariam se corresponder contigo,
Rowena? É uma boa moça.

— Eu não sabia nada sobre o noivo de Charlotte ter sido morto em um


duelo estúpido. Eu nem sabia que ela esteve noiva. Isso foi muito triste, não
foi?

— Aye. — embora duvidasse que algum dia se veria derramando lágrimas


pela morte de James Appleton.

Ela o olhou, depois para baixo novamente — Gostou do museu, ontem?

— Eu gostei bastante.

— Não achei que Charlotte fosse falar contigo de novo, depois daquela
briga na festa de Evanstone. Mas já que foram passear juntos, suponho que
o perdoou.

Ranulf franziu a testa — Berling tentou me empurrar, e eu o empurrei com


mais força. Não há nada pelo qual eu precise ser perdoado.

— Mas são amigos, não são?

— O quê? — Ranulf não sabia o que, diabos, estava acontecendo, mas não
gostou. — Berling e eu nunca seremos amigos, Rowena. Ele quase matou
Urso, caso tenha esquecido, e eu aposto que ele ateou fogo aqui também.

— Não, não, não. Não quis dizer lorde Berling. Eu quis dizer Charlotte. É
amigo de Charlotte, não é?

Bem, isso fazia mais sentido — Acho que sim. — concordou, tentando não
colocar muita emoção nas palavras.
— Acho que ela gosta de conversar contigo. Várias vezes me disse que tem
um jeito único de ver as coisas.

Abruptamente, Ranulf percebeu o que sua irmã estava fazendo —

Está agindo como casamenteira, Rowena? — perguntou.

Finalmente ela abandonou Una e se aproximou para pegar as mãos dele nas
suas, esbeltas — Acho que já gosta dela. Caso contrário, nem se
incomodaria em falar com ela.

— Isso não me faria rude?

Ela inclinou a cabeça — Há a cortesia e há a simpatia, Ran. Está sendo


simpático com ela.

— Ela me chamou de demônio. — lembrou à irmã, perguntando-se se era


diversão ou terror que sentia. Se Rowena, tão preocupada com sua
temporada e com o fato de Lachlan MacTier cair em si, a ponto de mal
poder ver direito, tinha notado uma conexão entre ele e Charlotte, outros
também devem ter notado. Maldição. Este negócio com Charlotte já era
bastante complicado, sem ter todos os outros se intrometendo.

— Só porque estava dando socos à toa. Está acostumada com cavalheiros.


Disse-me que 'civilização' tem a palavra 'civil' por uma razão, e que todos
nós seríamos pessoas melhores por aprender que xingar alguém não merece
uma resposta agressiva, ou todos nós não somos melhores que animais.

Bem, isso não era interessante? — Então ela me chamou de animal?

Rowena corou. — Nae! Não, quero dizer. Tivemos essa conversa logo após
o baile, quando estávamos todos zangados contigo. — apertou-lhe as mãos.
— Ainda esta manhã ela me disse que parecia ser um cavalheiro muito bom
e honrado.

Isso respondia a tudo — Está agindo de casamenteira, Rowena MacLawry.


— torceu as mãos para que ele passasse a agarrar as palmas dela. — O que
a faz pensar que um homem que está disposto a dar socos, ou pior, para
proteger os seus, é, de alguma forma, compatível com uma moça que acha
que nenhum golpe é justificado?

Esperava que ela tivesse uma resposta. Se tivesse chegado lá com respostas
milagrosas para todas as suas preocupações, estaria disposto a acreditar
nela. Porque, até agora, não estava tendo muita sorte em procurá-las por
conta própria.

— É simples, Ran — retrucou. — Se a ama, precisa aprender a ser mais...

— Civilizado? — acrescentou.

— Inglês. — rebateu, então engoliu em seco. — Mas não…

— 'Inglês.' — repetiu lentamente, o gosto da palavra desconfortável em sua


língua, principalmente porque estava dizendo isso sem o habitual banho de
desprezo. — Como assim?

— Eu...

Ela parou, então recuperou as mãos e se levantou. Claramente estava tão


surpresa com sua resposta quanto ele. Mas se não conseguia descobrir
exatamente o que Charlotte queria, e, mais importante, como conseguir
isso, já tinha perdido.

— Em primeiro lugar, então, chega de kilts.

— Meus kilts não dão soco nas pessoas.

A boca de Rowena se contraiu. — Não, mas faz com que pareça mais
antagônico. É como se tivesse desafiado todo mundo e só estivesse
esperando para ver quem daria o primeiro passo.

Houve ocasiões em que teve que usar um kilt — quando estava em


casamentos, em reuniões formais de clãs, funerais, todos os diversos
deveres que o chefe do clã tinha para com seu nome. Mas nenhuma delas
aconteceu em Londres. — Em casa, não usar kilt, é antagônico. Mas, acho,
que não consigo usar nada além de calças em Londres.
Sua irmã assentiu, então franziu a testa — Achei que não iria concordar
nem com isso. — confessou, sua surpresa aparecendo no retorno de seu
sotaque das Highlands. Sentia falta de ouvi-lo nela, mas, agora, não parecia
ser o momento de comentar — Dê-me um minuto para pensar no resto. —
continuou.

— Por que não entra e almoça comigo? — sugeriu — Arran saiu para ver
amigos, e sinto falta de conversar contigo.

— Se não estivesse tão sujo, eu te abraçaria, Ran.

Ele sorriu, sentindo-se mais leve, desde que se separou de Charlotte, ontem.
Em toda sua imaginação, nunca teria considerado que a pessoa que melhor
poderia ajudá-lo a conquistar Charlotte Hanover seria sua irmãzinha

— Bem, vou trocar de camisa e vamos ver isso, então.

, com a cicatriz fina na ponta do nariz, lançou um olhar de soslaio para


Arran MacLawry. — Imagino que posso nos colocar no Boodles, tão perto
do almoço. — disse, contornando em seu castrado castanho, um homem
magro e esfarrapado, que se movia lentamente —

Mas o Whites não terá mesa por uma hora.

Londres estava mais cheia do que da última vez que veio, mas Arran notou
isso apenas perifericamente, enquanto segurava seu puro-sangue preto, de
passos rápidos, Duffy. Sua última visita não havia sido no meio da
temporada, é claro, o que poderia explicar a diferença, mas preferia lugares
onde pudesse ver melhor os arredores. — Sei que é uma inconveniência, —

disse — mas há alguém em quem preciso dar uma olhada, e tenho certeza
de que está no Whites.
Seu companheiro suspirou. — Acho que foi por isso que chamou de favor.

— Sim. E vou te dever um grande depois disso, Will.

— Posso perguntar quem está procurando? — William Crane, Visconde


Fordham, perguntou, mantendo seu olhar e, presumivelmente, sua atenção
na rua lotada.

Will, provavelmente, descobriria sozinho em breve, de qualquer maneira —


O Conde de Berling.

— Ah. Isso tem alguma coisa a ver com a surra que seu irmão lhe deu na
semana passada? — Fordham perguntou, não parecendo nem um pouco
surpreso.

— Não inteiramente. Mas se, coincidentemente, o encontrarmos no Whites,


e como eu não acho que ele saiba quem eu sou, se puder me chamar de John
Reynolds, por exemplo, eu agradeceria.

Will tossiu — Não era esse o nome do capitão com quem apostou cem
libras sobre se conseguiria tirar o chapéu da cabeça dele?

Arran fez uma careta fingida para o amigo — Eu tirei o chapéu da cabeça
dele.

— Junto com metade de sua orelha.

— Ele se mexeu.

Chegaram à porta da frente do clube, e um cavalariço correu para pegar


seus cavalos. Como Fordham havia avisado, o Whites estava lotado, e o
melhor que o lacaio-chefe pôde oferecer foi um par de assentos e uma
garrafa de conhaque, na biblioteca.

— Se eu precisar apresentá-lo, — o visconde perguntou baixinho —

tem certeza de que quer ser escocês?

— Nae. Diga que sou seu primo de York.


— Não parece ser de York.

— Parecerei. Leve-nos pela sala de jantar, por favor.

Balançando a cabeça novamente, o visconde sub-repticiamente entregou


cinco libras a um segundo lacaio, que, imediatamente, os deixou sozinhos.
— Não vejo seu amigo. — disse, depois de um momento, enquanto
atravessavam a sala de jantar, repleta de obstáculos.

— Continue olhando. Ouvi dizer que estava aqui. — custou-lhe vinte libras
para desenterrar a informação, na verdade, além do favor que agora devia a
William Crane — E me apresente ao menor número de pessoas possível.
Não quero que percebam que não sou quem digo.

— Não tem título, Ar… John. Ninguém se importa com quem é ou o que
está fazendo aqui, desde que não cause problemas.

Era assim que preferia. Conhecia Londres - e os ingleses - melhor do que


seus irmãos ou irmã, mas havia coisas - alianças, amizades, animosidades -
que precisava ver e decifrar por si mesmo. E, no topo da lista de coisas que
precisava ver com seus próprios olhos, estava Donald Gerden, Lorde
Berling.

— Lá está ele. — disse Will, no rabo de seu pensamento — Casaco azul,


comendo faisão, maxilar machucado. À esquerda.

— Eu o vejo.

Berling não parecia tão formidável, segurando seu garfo delicadamente e o


peso pendurado em seu rosto. Mas o perigo nem sempre vinha de frente, e
não era preciso força física para acender uma fogueira.

Arran manteve uma expressão vazia em seu rosto, enquanto caminhava


atrás de Will.

— Lorde Berling, não é? — disse Fordham, utilizando todo o seu


considerável charme — Fordham. Sei que não fomos apresentados
formalmente, mas, desde a semana passada, tenho vontade de apertar sua
mão.

O conde inclinou a cabeça, limpando os dedos e apertando as mãos do


visconde. — É bom conhecer outro homem de convicção. — disse, com um
sorriso breve, depois gesticulou para os dois homens sentados com ele —

Fordham, Charles Calder e Arnold Haws. Cavalheiros...

— Will Crane, Lorde Fordham. — Will forneceu um sorriso — Prazer em


conhecê-lo. — gesticulou para Arran. — Este é meu primo, Sr. John
Reynolds, vindo de York.

Ranulf o havia avisado que Berling parecia ter se aliado aos Campbell,
então não ficou surpreso ao vê-los sentados ali juntos.

Preparando-se, Arran também apertou a mão dos três homens. Se fosse o


tipo de sujeito que preferia uma faca, poderia ter acabado com Berling e

seus comparsas ali mesmo. Mas, por alguma razão, Ranulf estava
determinado a reunir provas, o que, evidentemente, significava que
tentariam algo legal. Ou isso, ou chantagem.

— Glengask teve sua cota de problemas, desde aquela luta. —

observou, sufocando seu sotaque — Seu estábulo pegou fogo há duas


noites.

— Foi? — os olhos de Berling se contraíram e ele pegou sua taça de vinho


— Que pena.

— Eu adoraria saber a quem agradecer por isso. — Will assumiu, rindo.

— Não necessariamente. — o conde retornou — Glengask não responde


bem a ameaças - muito menos violência direta. Não estou com vontade de
quebrar meu nariz de novo, porque um inglês ou outro não gosta de
Highlanders, e sou fácil de culpar.

Bem, isso foi uma surpresa. Ou uma declaração muito inteligente.


Arran tocou o ombro de Will — Acho que nossa mesa está pronta. —

comentou — Mais uma vez, prazer em conhecê-lo, Berling. Cavalheiros.

Uma vez que estavam fora do alcance da voz, Will desacelerou sua retirada
para a biblioteca — O que achou disso?

— Não tenho certeza. Mas eu pretendo descobrir.

Se Berling causou ou não aquele incêndio, ele, certamente, tinha causado


danos aos MacLawry antes, e até onde Arran estava preocupado, precisava
ser enfrentado. Se não era ele quem estava queimando edifícios ao lado do
local onde seu irmão e sua irmã estavam jantando, no entanto, outra pessoa
estava. E essa pessoa tinha que ser encontrada. O que significava que
Ranulf precisava saber o que Arran tinha feito hoje.

Isso não seria bom. A ideia de que qualquer outra pessoa se arriscasse no
lugar de Ranulf nunca havia se sentado bem com seu irmão. Na verdade,

a única coisa sobre a qual ele, provavelmente, estaria mais bravo, seria
quando Arran o aconselhasse a deixar a moça inglesa em paz, antes que
fosse forçado a um casamento indesejável. E pensar que, possivelmente,
teria ficado em Glengask. Maldição.

—C

pegar emprestado seus brincos de pérola? — Jane perguntou, correndo para


o quarto de sua irmã.

— Certamente. Estão na caixa de joias.

Sentada à penteadeira, Charlotte olhou para a irmã, no reflexo do espelho.


Enquanto Janie sempre pareceu jovem - e afinal, sete anos as separavam -
desde ontem, a diferença se tornou ainda mais acentuada. Janie sonhou
sobre namorados e corações partidos, mas não havia experimentado nada
realmente.

Quando James morreu, Charlotte sentiu que, de repente e sem razão, lhe foi
negado o sonho de uma vida feliz. Até ontem, não sabia o que um homem,
um casamento, significava. E o conhecimento era bem...

emocionante. Revigorante. Revelador.

— Ah, Char, está tão linda. — exclamou sua irmã, aproximando-se para
olhar mais de perto. — São ônix? — Jane tocou com um dedo a fita preta
enfiada em contas pretas e trançada em seu cabelo loiro.

— São. Foi ideia de Simms.

Jane segurou o braço da criada. — Diga que vai mostrar a Maggie como
fazer isso, Simms.

— Claro, Lady Jane.

Uma vez que sua irmã saiu do quarto novamente, Charlotte virou a cabeça,
para olhar para sua criada — Obrigada de novo. — disse baixinho.

— Sei que ontem não foi nada como o que pudesse desejar se envolver.

Simms fez uma reverência — Só espero que não aconteça nenhum mal com
isso, milady.

— Eu também. — e o fato de não ter pensado em quase nada, além de olhos


azuis profundos, braços fortes e quentes e a vitalidade daquele corpo forte e
duro dentro do seu, não poderia ser um bom presságio.

Sua atração mútua pode ter sido resolvida a contento dele, mas ela queria
mais. Queria mais sexo com ele, queria adormecer em seus braços e acordar
para vê-lo ao seu lado. Se ele não fosse como era, o chamaria de perfeito.

— Isso deve bastar. — disse Simms finalmente, dando um passo para trás,
para admirar o emaranhado de cabelos cravejados de contas pretas e
brilhantes.

— Superou-se. — Charlotte elogiou, levantando-se.

— Eu queria algo para complementar aquele vestido magnífico. —

com um breve sorriso nas bochechas, Simms se ocupou em arrumar a


penteadeira.

Nem para si mesma, Charlotte poderia fingir que não tinha se vestido, hoje
à noite, com Ranulf em mente. Não tinha ideia do porquê tinha mandado
fazer o vestido vermelho profundo, com a delicada renda preta sobre o
corpete e, pingando das mangas, as contas pretas costuradas na saia.

Mas agora, esta noite, parecia combinar perfeitamente com a maneira como
se sentia por dentro.

A família já estava reunida no vestíbulo quando saiu de seu quarto,


preparou-se para mais perguntas sobre quem poderia ter chamado sua
atenção, e sabia que corria o risco de envergonhar as debutantes. Bem, esta
noite se sentia como essa mulher. E era bom - muito bom - simplesmente
ser uma mulher perversa e devassa, por alguns minutos antes de ter que se
tornar Charlotte, a irmã mais velha, na prateleira mais uma vez.

— Charlotte, tem um momento? — disse seu pai, saindo de seu escritório,


assim que passou por ele.

— Claro, papai. — seguiu-o de volta para dentro, e ele, silenciosamente,


fechou a porta atrás deles — Jane voltou a escrever poesia ruim sobre
algum homem? — perguntou com um sorriso.

— Não, nada tão terrível quanto isso. — encarou-a — Lorde Glengask.

Por um breve momento de horror, pensou que Simms poderia ter contado.
Mas seu pai não estava praguejando, e sua mãe nem estava presente, muito
menos chorando pela ruína de sua filha mais velha, então Charlotte colocou
uma carranca em seu rosto. — O que tem ele?

— Saiu com ele de carruagem ontem.


Ela assentiu, sua mente correndo à frente da conversa, procurando por
respostas para perguntas que ainda não tinha feito, mas provavelmente faria

— Ele queria ver alguns dos pontos turísticos.

— Achei que detestava Londres.

— Eu lhe disse que estava errado em alegar ódio por algo que nunca se
preocupou em experimentar. — essa era a verdade, pelo menos. A ideia de
mentir para seu querido e paciente pai a fez sentir-se mal; havia algumas
coisas que não podia lhe dizer, mas, tanto quanto possível, pretendia ser
honesta.

— E a opinião dele mudou?

— Disse várias coisas elogiosas, mas acredito que ainda seja muito cedo
para saber.

— Entendo. — tamborilou os dedos nas costas de uma cadeira — Ele a está


cortejando?

Ela prendeu a respiração. — Realmente, papai. Eu sou inglesa. Sabe o que


pensa de nós. E eu lhe disse que brigar com as pessoas era o recurso

mais vil de mentes mesquinhas. — de repente, ocorreu-lhe que insultar


Ranulf para seu pai não era a maneira mais sábia de agradar um ao outro, se
tal coisa fosse necessária. Mas, saltar em sua defesa, deixaria seu pai
desconfiado, e com razão.

— Bom.

Isso fez com que franzisse a testa — O que há de bom?

Que não a esteja cortejando. — o conde respirou lentamente — Uma coisa


é ter a irmã dele hospedada aqui. É jovem e charmosa e não é política.

Ele, por outro lado, tem inimigos, cáusticos o suficiente, para incendiar seu
estábulo. E há rumores de que seu avô era jacobita. Há até rumores de que
ele é um jacobita, dada a forma como se mantém nas Highlands, com um
exército de guerreiros ao seu redor.

Ela não podia discordar de nada disso — Não sei sobre a política dele,

— disse lentamente, seu coração começando a doer, como se alguém o


tivesse apertado — mas acho que o senhor sabe como me sinto em relação a
alguém com propensão à violência irracional.

Avançando, seu pai a beijou na testa — Como eu faço. E embora lamente


que tenha uma boa razão para seu escrúpulo, neste momento, estou bastante
aliviado que se sinta assim. Porque se eu sei de uma coisa, é que estar na
companhia do Marquês de Glengask é perigoso.

Charlotte não diria que se sentia aliviada com nada, não importa quão
segura ou perigosa fosse sua situação. Provavelmente, era uma coisa boa
que seu pai a tivesse lembrado das partes negativas de um relacionamento
com Ranulf MacLawry, porque, sozinha, poderia ter decidido ignorar o que
pareciam ser algumas brigas. Mas era muito, muito pior do que isso. Ele
era, simplesmente, um homem em guerra. E caso se apaixonasse por ele, e
fosse ferido ou... morto, não achava que seria capaz de suportar. De novo
não. Não depois do que descobriu em seus braços.

Poderia ter sido diferente, se ele desejasse um tipo diferente de vida, mas
ela nunca tinha visto nenhuma evidência de que queria outra coisa, além do
que tinha. Bem, ela queria algo mais para ele. E queria que ele, pelo menos,
reconhecesse que existia outra maneira, pelo amor de Deus.

Felizmente para ela, porém, aprendeu, há muito tempo, que os desejos eram
tão abundantes quanto as nuvens, e tão impossíveis de entender.

Seguiu seu pai até o saguão, e Winnie agarrou seu braço, enquanto todos se
dirigiam para a carruagem que esperava — Está tão linda. — disse a garota
mais nova, com um sorriso.

— Também está. — Charlotte indicou o vestido de seda cor de esmeralda,


que a irmã de Ranulf usava. — Não adquiriu isso aqui, não é?
Não me lembro de tê-lo visto antes.

— Não, este é o vestido que Ranulf me comprou no meu aniversário.

É claro que ele pensou que eu o usaria na minha própria festa, e não em um
grande baile em Londres. — agitou a saia, sorrindo animadamente. —

Tenho certeza de que ter meus dois irmãos presentes esta noite os tornará
mais civilizados, já que não se sentirão tão em desvantagem. Embora,
praticamente, a única coisa que poderia fazer Ran lutar é uma ameaça para
seus entes queridos.

— Ele deu um soco em Lorde Berling, por reivindicar um lugar no cartão


de dança de Charlotte. — Jane apontou, enquanto se acomodava na
carruagem.

— Não, ele deu um soco no conde porque Berling atirou no meu irmão,
Urso. Munro. Então o canalha fugiu para Londres, para fingir ser civilizado.
Eu sei que fiquei furiosa com a briga, mas estive pensando sobre isso, e
acredito que Ran acabou de lembrar a Berling, que as ações têm
consequências.

— Continua sendo um horrível show de violência, minha querida. —

a mãe de Charlotte disse, do assento oposto da carruagem. — Eu sei que


ama seu irmão, mas, graças a Deus, se livrou dessa bagunça. E também
estou feliz que tenha dito a ele como suas ações foram pouco
cavalheirescas, Winnie. Não teria a mesma seriedade, vindo de outra
família.

— Meu irmão é um bom homem, milady. — disse Winnie com firmeza —


E aprende com seus erros. Verá.

Charlotte só queria que todos parassem de falar sobre Ranulf, tanto seus
defeitos quanto sua masculinidade, e lhe desse um ou dois minutos para
pensar. Castigou-o mais fortemente do que sua própria irmã. Sim, ele
desapareceu por uma semana, mas não porque quisesse se esconder.
Reapareceu com uma casa e um jantar civilizado e divertido. Isso tinha sido
encantador. Ele tinha sido encantador.

De acordo com seu pai, o incêndio que terminou a noite foi culpa de
Ranulf, por ter inimigos. Na época, estava mais preocupada com o desastre
do que com o que o havia causado, embora, agora, suponha que, se ele não
tivesse atingido Berling, o incêndio poderia não ter acontecido. Mas, o que
veio a seguir, também poderia não ter acontecido.

— E se seus dois irmãos resolverem usar kilt esta noite? — Jane perguntou
do outro lado de Charlotte.

Winnie deu de ombros — Eu não acho que usarão. Esta não é uma reunião
de clã, e eu acredito que Ranulf está tentando se encaixar.

— Eu, certamente, espero que sim. — Lady Hest disse baixinho.

Por um breve momento, apesar do que ela e Winnie lhe disseram, Charlotte
esperou que ele usasse seu kilt. Porque nunca tinha tido uma visão mais
magnífica em toda a sua vida, exceto, é claro, quando o viu nu.

Capítulo 1 2

—U

hesita em aceitar a responsabilidade por iniciar um incêndio e acha que isso


o torna inocente? — Ranulf deu um soco na parede da carruagem,
balançando o veículo inteiro.

— Eu só disse que não tinha a aparência de um homem satisfeito por ter


agido contra um inimigo. — Arran retrucou, puxando a manga de seu
casaco marrom escuro, como se esperasse que fosse cair no ombro.
— Claro que não, primeiro porque o confrontou sobre isso, e segundo
porque o homem é um covarde de barriga amarela.

— Eu não...

— Maldição, Arran, tenho mesmo que lembrá-lo de não ir a lugar algum


onde esteja em desvantagem numérica? Charles Calder é o neto do maldito
Campbell!

— Posso cuidar de mim mesmo, como bem sabe, Ran. E se achava que era
mais importante sonhar com a moça Sasannach adequada, alguém tinha que
dar uma olhada em Berling.

Ranulf olhou para seu irmão, do outro lado do banco da carruagem —

Não estou sonhando com ninguém. — declarou sem rodeios — E amanhã


vai voltar para Glengask.

— Nae.

— ' Nae'? — Ranulf repetiu, levantando uma sobrancelha — Eu não estava


perguntando.

— E não vou deixá-lo aqui para vigiar Rowena, enquanto os lobos os


circundam. Especialmente quando sua mente está em outra coisa.

Era a segunda vez que Arran o acusava de distração. O que seu irmão mais
novo achava que tinha visto? Quaisquer que fossem suas próprias intenções
em relação a Charlotte, ainda não estava disposto a discuti-las. E,
certamente, não com alguém que tinha chegado no dia anterior.

— Minha mente está exatamente onde precisa estar, Arran. Como sempre.
— cruzou os braços sobre o peito — Mas já considerou o que vai acontecer
esta noite, quando todos os convidados do duque o virem apresentado como
um MacLawry?

Arran deu um sorriso sombrio — Acho que podemos ter uma briga.
— Nae, isso não vai acontecer. Rowena quer uma temporada adequada. E
não quero que sejamos vistos como animais. Esta noite somos cavalheiros.

Rowena não era a única que queria uma festa sem brigas. O fato de poder
atribuir o pedido a ela, porém, certamente facilitava as coisas para ele. Sua
irmã lhe havia dado alguns conselhos, surpreendentemente bons na verdade,
e pretendia fazer bom uso deles. Simplesmente não queria explicar a Arran
porque estava agindo dessa forma.

— Cavalheiros. Até vir aqui, Rowena pensava que éramos cavalheiros. E


não teríamos que nos preocupar em sermos em menor número e esgotados,
se a levasse para casa, em Glengask, como disse que faria. Pretende ficar
em Londres toda a temporada, agora?

Ranulf enviou a seu irmão um olhar nivelado. Foi-se o tempo em que


ninguém teria falado com ele assim. Charlotte tinha feito isso, e tudo
mudou. Arran não sabia disso, no entanto. Ele havia mudado, então? Era
algo que os outros pudessem perceber? Nesse caso, precisava parar.

Imediatamente. A percepção de fraqueza pode muito bem ser uma sentença


de morte em seu mundo.

— Ficarei em Londres o tempo que julgar necessário. Se quiser ficar


também, então fique. Mas se acha que pretendo permitir que continue
criando problemas, porque não gosta do jeito que eu estou lidando com as
coisas, está completamente errado. Este é um mundo diferente, Arran, e
precisamos aprender a navegar nele. Não para Rowena, mas para o futuro
de Glengask. E não conseguiremos nada contrariando os movimentos uns
dos outros. Estamos claros?

Seu irmão assentiu — Aye. Isso é tudo que eu queria ouvir.

— E eu quero ouvir que não vai brigar esta noite. Por qualquer motivo.

— Então tem minha palavra. — Arran recostou-se, afastando a cortina da


carruagem, para olhar o crepúsculo cada vez mais profundo. —

Então não estamos discutindo a moça Sasannach?


— Nae, não estamos.

Ele não podia ordenar que Arran fechasse os olhos para o que via; afinal,
frequentemente, fazia bom uso das observações perspicazes de seu irmão.
Se Arran quisesse tirar suas próprias conclusões sobre Ranulf e Charlotte,
ninguém poderia detê-lo. O que Ranulf podia fazer, entretanto, era impedi-
lo de discutir isso. E oferecer uma opinião que Ranulf particularmente não
queria ouvir.

— E Berling? — Arran perguntou depois de um momento.

— Posso não concordar contigo, mas não sou um tolo. Se acha que há uma
chance de outra pessoa estar envolvida, vou prestar atenção. Mas, pelo
amor de Deus, da próxima vez, me diga, antes de sair para confrontar
alguém.

Finalmente o sorriso de Arran tocou seus olhos azuis claros — Eu posso


fazer isso.

Uma vez que pegaram Myles na Wilkie House, foram apenas mais cinco
minutos até chegarem ao final da multidão de carruagens que cercavam a
Mason House. Ao entrarem, o barulho da rua foi substituído pelo barulho
de centenas de vozes tentando ser inteligentes. Na verdade, a festa parecia
mais lotada do que o sarau de Evanstone. Talvez os convidados estivessem
esperando ver outra briga. Poderia muito bem ser isso, mas nem ele nem
Arran estariam envolvidos. Através de tudo isso, ouviu uma voz, uma nota
doce como mel de sanidade em todo o caos.

— Podemos dançar? — seu irmão murmurou.

Ranulf esperava que sim, já que a única razão pela qual se incomodou em
vestir suas melhores roupas foi para reivindicar uma valsa com Charlotte —
Aye. Mas não deve pisar no calo de ninguém. — retornou no mesmo tom —
Literalmente ou figurativamente.

— Berling está aqui. — seu tio notou baixinho.


— Apenas sorria, bràthair. — Ranulf instruiu seu irmão — Deixe-o tirar
suas próprias conclusões.

— Estou sorrindo. Nem um pouco sarcasticamente.

— É melhor não ser.

Sabia que Berling era perigoso. Não gostava do homem e de sua maneira
arrogante e egoísta, mesmo antes do incêndio das escolas e do ferimento de
Urso. Daquele momento em diante, a antipatia tornou-se ódio.

Dado tudo isso, esta noite o conde parecia, no máximo, um incômodo.

Uma distração. Ranulf manteve seu olhar em movimento, identificando


cada convidado que cruzava seu caminho, como alguém que conheceu ou
não. Depois disso, os dispensou de seus pensamentos. Nenhum deles era o
que estava procurando.

Então a avistou, e o tempo simplesmente... parou. Perto da fileira de janelas


dupla, Charlotte inclinou a cabeça, um sorriso tocando sua boca,

enquanto entregava seu cartão de dança para o sujeito redondo, Henning.

Parecia quase uma pintura de Thomas Lawrence, tão requintada que era.

Mas nenhum retrato poderia capturar seu cheiro, seu gosto, ou a forma
como simplesmente vê-la enviou um calor abrasador sob sua pele.

Usava vermelho e preto, rico, ousado e marcante contra sua pele clara e
cabelos dourados. Tentou não ler nada no fato de que ela também vestia
duas das três cores do tartan MacLawry, mas ao procurar cada fio que a
ligava a ele, não pôde evitar. Seus dedos se curvaram, querendo enroscar-se
nas dobras suaves de sua saia e puxá-la contra ele.

— Por aqui. — disse, sem se preocupar em ver se o irmão e o tio o seguiam


enquanto avançava.

Quando estava na metade da sala, ela se virou para olhá-lo. Poderia ser
bruxaria, ou não. Não se importava mais. Tudo o que sabia era que a queria.
Imediatamente.

Antes que pudesse alcançá-la, Rowena se moveu na frente dele, bloqueando


seu caminho — Boa noite, bràthair. — disse, fazendo uma reverência.

Com alguma dificuldade, Ranulf forçou sua atenção à sua irmã, sua razão
de estar em Londres em primeiro lugar. — Está usando seu vestido de
aniversário. — falou lentamente, pegando sua mão.

Em algum momento, quando perdeu sua irmã de vista, quando se distraiu


em rastreá-la e ficou chateado por ela ter saído de casa sem permissão,
Rowena deixou de ser uma duende de tranças, que sempre pedia vestidos
cobertos de rendas, babados e fitas. Ela cresceu, e ao olhá-la em vez de vê-
la, quase não percebeu.

— O que é? — perguntou, franzindo a testa.

— Se parece muito com nossa mãe. — murmurou.

Ela sorriu, lágrimas repentinas brilhando em seus olhos. — Eu?

Ran estudou seu rosto por um momento. — Aye. Só que mais bonita,
piuthar.

— Sim é. — Myles interveio, beijando-a na bochecha.

Lorde Hest veio e ofereceu sua mão. Mesmo sendo um conde, qualquer que
fosse seu caráter, neste momento, era simplesmente outro obstáculo entre
Ranulf e Charlotte — Acho que esta noite estou escoltando as quatro damas
mais adoráveis de Londres. — anunciou o homem mais velho.

— Tenho que concordar. — Ranulf disse, apertando a mão do conde.

Seu futuro sogro, quer Hest aprovasse a ideia ou não.

— Ah, Jonathan. — disse a condessa com um rubor, dando uma leve


palmada no ombro do marido.

Pronto. Isso tinha que ser o suficiente em termos de amabilidade.


Pausando seu fôlego, Ranulf esquivou-se ao redor de sua irmã, para
encontrar seu irmão conversando com Charlotte. Depois dos comentários de
Arran, sobre a moça de Sasannach, Ranulf não gostou do que viu. De modo
algum.

— Arran, — disse, avançando — vá escrever seu nome no cartão de


Rowena. — de que adiantava ser o patriarca de seu clã, se não podia
ordenar que outros deixassem sua coisa mais preciosa - sua obsessão - em
paz?

Seu irmão lhe lançou um olhar ilegível e saiu para se juntar a Rowena e
Jane. Uma vez que Arran foi embora, Ranulf deixou de prestar atenção nele
— Olá, Charlotte. — disse, estendendo a mão, para pegar a mão dela e
levá-la aos lábios. Não era o suficiente, e mal se impediu de puxá-la em
seus braços.

— Ranulf. — cumprimentou-o, seus olhos castanhos brilhando à luz do


candelabro.

— Acho que posso ter cometido um engano. — continuou, baixando a voz


e aproximando-se mais a pretexto de pegar o cartão de dança dela.

— Que tipo de engano? — olhou-o desconfiada, seu sorriso caindo.

— Minha atração não parece ter diminuído. E nesse vestido parece mais
deliciosa do que a maçã que tentou Adão.

Charlotte limpou a garganta — Acredito que seja uma dificuldade mútua,


então. Apesar do meu melhor julgamento.

— Aye, esse é o problema, não acha? Mas, esta noite, meu melhor
julgamento pode se enforcar. Eu te quero, Charlotte.

— Acho que deveria escrever seu nome ao lado dessa dança. — disse, um
pouco trêmula, indicando a segunda valsa da noite — E te quero também.
— continuou em um sussurro, seus olhos mutáveis encontrando os dele de
uma maneira que poucas pessoas jamais ousaram.
Naquele momento jurou a si mesmo que seria qualquer homem que ela
desejasse. Isso, provavelmente, lhe custaria, mas se Charlotte fosse o
prêmio, pagaria o preço. Empurrando contra a vontade ridícula de começar
a cantar ou algo igualmente pouco masculino, rabiscou seu nome onde ela
indicou — Leve-me para passear de novo, leannan.

Seus lábios se abriram em um sorriso suave, e ele se pegou inclinando-se


em sua direção. O decoro era um maldito incômodo. Mas era com o que ela
se sentia confortável, então seria paciente. Devolvendo o cartão, roçou os
dedos nas luvas vermelhas até o cotovelo.

— Como estão suas mãos? — perguntou, aborrecido por não ter perguntado
isso imediatamente. Em sua defesa, sua aparência o deslumbrou, mas ela
tinha aquelas bolhas em por sua causa.

— Muito melhor. em um ou dois dias, ouso dizer que ninguém jamais


saberá que eu tinha bolhas.

— Eu saberei.

— Ah, aí está a senhorita, querida Lady Charlotte. — uma voz seca veio de
trás dele.. — Diga-me que não deu todas as danças.

Felizmente, por causa de sua determinação, não era Berling. Mas isso não o
deixou se sentindo melhor. Um sujeito alto e loiro, mais ou menos da idade
de Urso, estava ali, com um sorriso fácil no rosto e o corpo vestido com um
casaco azul-escuro bem-feito, que podia ou não ter ombros acolchoados.

— Acho que tenho uma dança ou duas livres, lorde Stephen. —

Charlotte respondeu, então gesticulou para Ranulf.. — Lorde Glengask,


posso apresentar Lorde Stephen Hammond? Lorde Stephen, o Marquês de
Glengask.

— É o sujeito das Highlands — comentou Hammond.

— Aye. Sou.
Quando Hammond ofereceu sua mão, Ranulf apertou-a. Era o que os
cavalheiros faziam. Mas não gostou, assim como não gostou da maneira
como Charlotte sorriu ao recém-chegado. Os outros homens, com os quais,
geralmente, dançava, não eram muito rivais. Este era diferente. E agora que
pensava nisso, a Srta. Florence havia mencionado algo sobre um Lorde
Stephen Hammond, que havia dito que ela se parecia com uma laranja. Isso
não o deixava mais disposto a gostar do bonitão.

Se estivesse em casa, teria perguntado se este Hammond tinha feito o que se


dizia. E então acrescentaria algum caráter ao seu rosto. Continuava sendo
tentador; Ranulf poderia afirmar estar defendendo a honra da Srta.

Florence, enquanto poderia, ao mesmo tempo, remover Lorde Stephen de


onde, atualmente, se encontrava sorrindo, muito lindamente, para Charlotte.

Sua Charlotte - quer ele pudesse anunciar isso a todos ou não.

— Charlotte, aquela surra que me deu no croquet, ano passado, ainda dói,
sabe? — Lorde Stephen continuou com um sorriso, enquanto pegava o

cartão dela e anotava seu nome. — Quero uma revanche.

— Estou disposta a lhe agradar. — Charlotte retornou — se não temer mais


humilhações.

Hammond devolveu seu cartão de dança — A vida é um risco. E

acredito que quem hesita está perdido. — esboçou uma reverência — Devo
pedir uma dança para sua adorável irmã agora. A reclamarei mais tarde.

Ainda sorrindo, Charlotte observou Stephen fazer seu caminho até Jane.
Ela, é claro, já estava cercada por jovens ansiosos. Quando Charlotte voltou
sua atenção para Ranulf, entretanto, ele não parecia tão divertido.

— Quem é Lorde Stephen Hammond? — perguntou, olhando dela para o


cartão de dança.

— É o segundo filho do duque e da duquesa de Esmond. Este é o baile


deles. — fez a declaração com a maior naturalidade possível, esperando que
Ranulf não estivesse prestes a começar a socar as pessoas novamente. Sim,
gostava da ideia de que pudesse estar com ciúmes. Não, não queria que ele
agisse sobre isso.

Observou-o tomar fôlego — Então suponho que ele pode pedir uma dança
para a lass mais bonita da sala, — disse.

Oh, graças a Deus. Justo quando ela pensou que o tinha desvendado, voltou
a surpreendê-la — Exagera, mas obrigada por dizer isso.

— A única coisa que exagerei é o tamanho do peixe que quase peguei. É


uma Afrodite, leannan. Tira o meu fôlego.

Foi muito gentil da parte dele dizer. Na verdade, teria ficado bastante
satisfeita em ficar de pé e ouvir o som de sua voz, pelo resto da noite. Para
o resto de sua vida, realmente. Mas, então, notou seu pai olhando para os
dois, sua expressão menos do que satisfeita — Tem que ir falar com outra
pessoa. — sussurrou com pesar. — As pessoas vão começar a pensar que
está me cortejando.

— Ah. E se eu estiver? — retrucou.

Antes que pudesse decifrar a explosão de... tudo o que a sacudiu por dentro,
com suas palavras, ele deu um sorriso alegre e caminhou, para atrapalhar a
multidão ao redor de sua irmã. Ele quis dizer isso? Não poderia, com o que
ele claramente acreditava sobre a inadequação das damas inglesas para as
Highlands. Então estava apenas brincando com ela?

E se eram tão errados um para o outro, por que aquelas poucas palavras a
fizeram se sentir tão... animada?

— Suponho que não tenha uma jig para um pobre estranho, não é? —

disse o irmão de Ranulf, aparecendo do outro lado dela.

— Nada de jig, mas tenho uma dança country. — retrucou, olhando para os
olhos azuis pálidos dele, muito diferentes dos de Ranulf e de Winnie.

— Acho que vai servir, a menos que Ran me afaste de novo. —


escreveu seu nome ao lado da próxima dança, enquanto a orquestra tocava
as últimas notas de uma quadrilha. — Por que acha que ele faria uma coisa
dessas, milady?

Talvez Arran MacLawry não fosse tão bem-humorado e descontraído como


pensava. Ranulf tinha dito que o irmão do meio era o inteligente. —

Teria que perguntar a ele. — disse, então colocou um sorriso de volta no


rosto — Foi bom que tenha vindo para Londres. Acho que seu irmão se
sente mais confortável por estar aqui.

Arran inclinou a cabeça — Acho que meu irmão mantém seu próprio
conselho, mas é gentil da sua parte dizer isso, de qualquer maneira. — com
um olhar na direção de Ranulf, moveu-se em direção à mesa de refrescos.

Antes que ela pudesse refletir sobre o que isso significava, vários de seus
amigos chegaram para conversar sobre a atração ao redor e elogiar seu
vestido e seu cabelo. Elizabeth Martin tinha se apresentado no mesmo ano

que ela, e Margaret Cooper no ano seguinte. Ambas estavam casadas,


Elizabeth com três filhos, e Margaret com um menino e uma menina. Às
vezes as invejava, por escolherem maridos que não achavam que ser
ridicularizado era uma ofensa digna de crime, por encontrarem as vidas que
queriam e por conseguirem se agarrar onde ela não o tinha feito.

Agora, porém, enquanto olhava, de Sr. Martin com sua presunção arrogante
e Lorde Roger Cooper com sua cintura muito apertada, para o magnífico
Lorde Glengask, rindo de algo que sua irmã disse, perguntou-se, pela
primeira vez, se as coisas não aconteceram por uma razão. Sim, estaria
perfeitamente satisfeita com James Appleton e teria vivido uma vida feliz e
perfeitamente previsível.

Imediatamente a pergunta apareceu na frente de sua mente novamente. Por


que Ranulf brincou sobre cortejá-la? Ou se, por algum motivo, não estava
provocando, queria uma vida com ele, se isso implicasse perigo, violência e
ameaças, tanto de sua própria espécie quanto de seus companheiros
escoceses? Charlotte se sacudiu. Tudo o que sabia sobre ele, tanto através
de suas próprias observações, quanto em conversas com Winnie, dizia que
não estava falando sério. Portanto, não precisava decidir.

Não precisava escolher entre ele e o que estava rapidamente se tornando


uma vida monótona, previsível e, ainda assim, extremamente segura.

Quando Lorde Berling apareceu da sala de jogos e se dirigiu a ela, não ficou
surpresa, mas um emaranhado de inquietação percorreu sua espinha. Ele a
empurraria para tentar antagonizar Ranulf? Ou sua mera presença ao lado
dela seria suficiente para fazer o marquês quebrar sua palavra e atacar?

— Lady Charlotte. — disse o conde, inclinando a cabeça — Sra.

Martin, Lady Roger.

— Milorde. — voltou com uma reverência, enquanto seus amigos,


rapidamente, se desculparam e se afastaram. Sem dúvida, ouviram, pelo
menos, falar sobre o espetáculo, na festa de Evanstone, e não queriam
participar de uma reapresentação.

— Não tive a chance de dançar na última festa, — falou lentamente

— e me perguntei se poderíamos tentar outra vez.

Sua boca estava ficando cansada, com o número de sorrisos forçados que já
havia usado esta noite. Era muito mais simples ser agradável, quando não
conhecia nada melhor, percebeu — Receio que meu cartão de dança esteja
cheio esta noite, Lorde Berling. Muito obrigada pelo gentil pensamento, no
entanto.

Movendo-se tão rápido quanto uma cobra, o conde arrancou o cartão de


dança de seus dedos enluvados — Está enganada, Lady Charlotte. —

disse, olhando para a coisa. — Tem várias danças disponíveis.

Oh, céus. Fez uma barganha com Ranulf: nada de dançar com Berling, em
troca de ele não brigar com o conde. Se o canalha anotasse seu nome - ou se
Ranulf visse a troca agora - não queria saber o que poderia acontecer.
Respirando fundo, fez uma carranca genuína para Berling. — É
assim que um cavalheiro reage, diante de uma dama que não quer dançar
com ele? Eu estava tentando ser educada.

— Já dançou comigo antes, milady. Nós até valsamos uma ou duas vezes.

— Sim, verdade. E há outras festas em que não dançamos nada.

Acredito que esteja procurando problemas, e não quero fazer parte disso.

O conde deu um passo mais perto dela. — E ainda vejo aqui que Glengask
tem uma valsa com a senhorita. E o outro tem uma dança também, seja
quem for.

Charlotte se manteve firme, rezando para que Ranulf e seu irmão


estivessem ocupados — A irmã dele é a convidada da nossa família. Devo-
lhe alguma explicação adicional?

— Não. Mas uma dança ainda seria boa, para demonstrar que somos todos
amigos aqui.

— Não, milorde. Meu cartão, por favor. — ela não estendeu a mão; isso
tornaria muito óbvio, para todos que estavam olhando, que fez um pedido e
ele não correspondeu.

— Não desenvolveu uma tendência para o demônio escocês, não é?

Ele não é nada civilizado.

— Eu não acho que seja meu comportamento sendo questionado, Berling.


— o sotaque baixo de Ranulf veio, enquanto se movia de um lado.

— A dama pediu seu cartão de dança de volta.

O rosto de Berling ficou tão pálido quanto Charlotte. — E se eu recusar?

Ranulf tirou um cartão de dança em branco do bolso. — Então, pode


passear carregando aquele pedacinho de papel como um tolo, e ela vai usar
este. — respondeu friamente.
— Bah. Seu cachorro; pegue-o do chão. — com isso, Berling largou o
cartão de dança no chão e foi embora.

— Ainda bem que não sou tão durão quanto ele. — Ranulf meditou,
agachando-se e pegando o cartão. Embolsando o vazio, tirou o pó do dela e
o devolveu.

Charlotte olhou para cima, estudando seu rosto magro, com qualquer sinal
da raiva que esperava. O que viu foi uma expressão perfeitamente nivelada,
que deveria tê-la tranquilizado, mas não o fez. — Manteve sua palavra. —
murmurou.

Seu olhar baixou brevemente para sua boca — Não fui o único. —

Ranulf ofereceu seu braço. — Deixe-me levá-la ao seu parceiro de dança.

Arran se moveu na outra direção. — Não há necessidade. Eu sou o parceiro


dela.

Na verdade, ficou um pouco abalada que os dois homens estivessem tão


próximos e, no entanto, nenhum deles atacou. Se Berling se aproximasse
um pouco mais dela, ou se ela estivesse um pouco menos firme... Mas nada
aconteceu, e tudo estava bem.

Antes de Arran pegar seu braço, Ranulf se inclinou e sussurrou algo para
seu irmão. Então, com um assentimento para ela, foi buscar sua parceira
para o baile campestre. Arran ofereceu seu braço, e juntos tomaram seus
lugares na pista de dança. Assim que a música começou, ele se curvou e ela
fez uma reverência, e deram as mãos para fazer um amplo círculo ao redor
de seus companheiros.

— O que Ranulf lhe disse? — murmurou quando se separaram e então se


moveram para os lados opostos da linha.

— Se ele quisesse que ouvisse, não teria sussurrado. — disse, voltando para
o centro com ela novamente.
Escoceses teimosos. — Lorde Berling chamou-o de 'seja quem for o outro'.
— comentou, decidindo tentar novamente. — Nunca se conheceram?

Deram outro conjunto de passos e voltas, um de frente para o outro, antes


de juntarem as mãos novamente. — Eu o conheci hoje, no almoço, na
verdade.

— O quê? — sufocou seu comentário alto com uma tosse. — Então por
que…

— Eu posso ter lhe dado um nome diferente. — Arran retornou, com um


sorriso cínico.

Os homens MacLawry não pareciam ser tímidos sobre nada, Charlotte


decidiu, procurando por Ranulf e vendo-o subindo a segunda fila de
dançarinos, uma bela ruiva segurando sua mão. Graças a Deus, ele estava
fazendo um esforço para se encaixar, para se familiarizar com seus pares.

Que fossem ingleses ou escoceses, galeses ou irlandeses, os aristocratas


aqui eram seus pares.

Ao mesmo tempo, porém, ao vislumbrar o rosto da ruiva ao sorrir para ele -


céus, aquela era Madeline Davies? por um breve e egoísta momento,
desejou que outras damas não o olhassem da mesma maneira voraz, como
se todas quisessem levá-lo em passeios turísticos por Londres.

Talvez seu desejo não fosse realmente tão egoísta. Se as damas não o
vissem tão... lascivamente, então, talvez, seus maridos e namorados o
olhassem como um amigo ou aliado em potencial, e não como um rival
incivilizado.

— Não vai me perguntar por que eu dei a Berling o nome de outro homem,
então? — Arran disse, enquanto circulava ao redor dela — Achei que
ficaria mais curiosa, considerando que perguntava sobre todo o resto.

Charlotte se sacudiu — Estou extremamente curiosa. — respondeu —


Percebi, no entanto, que é ainda pior em responder perguntas do que seu
irmão.

Ele deu uma risada curta — Quero tomar isso como um elogio. E esta é,
provavelmente, uma conversa melhor em outro momento e em um ambiente
diferente, de qualquer maneira.

Por mais irritante que fosse, teve que concordar com a avaliação dele.

De certa forma, era estranho que estivesse tão interessada em todos os


subterfúgios e maquinações; algumas semanas atrás, não gostaria de ouvir
que um homem parecia estar atraindo outro para qualquer tipo de confronto.

Mas sabia das coisas, agora. Sabia que Lorde Berling tinha feito algumas
coisas pelas quais, provavelmente, deveria ter sido preso.

Não gostou que tenha andado até ela e tentado usá-la para começar uma
briga - duas vezes agora. A primeira vez tinha funcionado, embora ele não
pudesse ter ficado satisfeito com o resultado. Apenas a arrogância poderia
convencê-lo a tentar a mesma abordagem novamente e esperar um resultado
diferente - e, ainda assim, havia um resultado diferente. Ranulf não mordeu
a isca. Na verdade, tomou medidas para evitar brigas. E isso foi uma coisa
muito boa.

Quando a dança finalmente terminou, esperava que Ranulf aparecesse e


sugerisse que saíssem para a varanda para tomar um ar fresco. O desejo de
beijá-lo novamente, de ouvir sua voz baixa, dizendo coisas que eram apenas
para ela, a deixou trêmula e sentindo-se extremamente perversa.

Procurou por ele, mas antes que pudesse identificar sua figura alta e larga,
Jane apareceu — Olá, minha querida. O que...

— Por aqui... — sua irmã sibilou, e a arrastou por um corredor, dobrando


uma esquina e entrando na biblioteca escura e vazia.

— Janie, o que…
Jane colocou a mão sobre a boca. — Shh. Venha aqui. — murmurou, e
liderou o caminho até a janela.

Alarmada, Charlotte a seguiu. O quarto dava para a frente do jardim e,


enquanto as cortinas estavam abertas, a janela não. Jane fechou um olho
com força e, muito lentamente, empurrou o vidro meio centímetro.

— …me humilhou duas vezes. — veio a voz baixa e zangada de Berling.


— Quem diabos ele pensa que é, afinal?

— O Campbell diz que é perigoso.

— Nas Highlands, sim. Ele é o rei de seu próprio pequeno exército de


camponeses, tropeiros e pescadores. Mas não estamos nas Highlands,

estamos? Onde está o exército dele agora?

— Sim. — uma terceira voz concordou. — Chamou-o de cachorro, e ele


ficou ali parado. Pegou o cartão que jogou no chão também.

— Eu lhe digo, ele tem medo de nós. — insistiu Berling, a excitação


elevando o tom de sua voz — E não apenas nós. A menos que o incêndio
tenha sido acidental, Glengask tem mais inimigos do que a maioria das
pessoas tem amigos.

— Achei que tivesse ateado o fogo. — murmurou uma quarta voz.

— Só se puder provar, George.

— Aquele outro grande sujeito que ele trouxe aqui é seu irmão. Arran
MacLawry. Ouvi de Hest.

— Sabe que ele acolheu duas dúzias de camponeses Campbell, quando os


expulsamos de Glen Helen. Isso os faz pensar que não precisam pular
quando mandamos.

A quarta voz deu uma risada baixa — Seu pai era do mesmo jeito.

Não fez muito bem ao Seann Monadh, não é?


— Isso não é motivo de riso. — retrucou Berling — Ambos os meus tios
desapareceram depois disso.

— Acha que eu não sei disso, Donald?

— O Campbell disse que o velho MacLawry fez um pacto com o diabo e os


arrastou para se juntar a ele.

Isso provocou o som de cuspir, seguido de especulações sobre o que havia


acontecido com os dois Gerden. Charlotte trocou um olhar com Jane, com
os olhos arregalados contra a parede. Deveriam ir, antes que alguém notasse
a janela aberta, e viesse ver quem poderia estar ouvindo a conversa.

Tinha uma dança com Francis Henning começando a qualquer momento. E,


mesmo assim, estes homens estavam falando de Ranulf. E se descobrisse
algo que o pudesse ajudá-lo...

Mas também poderia mandá-lo atrás desses homens. E seria por sua culpa.
Quando tudo isso se tornou tão complicado? Aos dezoito anos, o amor tinha
sido simples e direto.

Charlotte respirou fundo, levando a mão ao coração. Amor? Foi o amor que
a revirou por dentro e a fez pensar que jogar um ou dois vasos pela janela,
na cabeça de alguém, seria uma boa ideia? Amor que a fez odiar os homens
abaixo, apenas por falarem o que pensam, porque falavam contra Ranulf?
Seu Ranulf?

Que mulher estúpida era. Ele queria uma amante para Londres; deixou isso
perfeitamente claro, e ela concordou. Uma atração física mútua.

Mas, oh, era muito mais do que isso. Para ela, de qualquer maneira. Claro,
nunca se adequariam, e nada resultaria dessa... sua paixão, mas, pelo amor
de Deus. Por sua própria culpa, boba ou não, o amava. E seu coração se
quebraria em cem milhões de pedaços, no dia em que se despedisse dela.

Estava tudo errado, errado, errado. E mesmo sabendo disso, se inclinou


mais perto da janela, para não perder uma palavra. Qualquer coisa que
pudesse prejudicar Ranulf precisava ser detida. De uma vez só.
— Não vou de igual para igual com ele. — dizia a segunda voz.

— Eu já fiz. Se eu o confrontar novamente esta noite, todos me verão como


o antagonista, e não ganharemos nada.

— Eu farei isso. — a quarta voz falou lentamente. — Já não tenho sangue


MacLawry em minhas mãos por uns bons três anos, agora. É uma coceira
que precisa ser coçada.

— Apenas tenha em mente que tem que fazê-lo parecer o agressor, ou será
em vão.

— Não precisa me lembrar disso, primo.

Começou a música para a quadrilha, abafando qualquer conversa restante.


Com muito cuidado, Charlotte fechou a janela e se apoiou nas

costas de uma cadeira. — Céus — sussurrou. — Como soube disso, Janie?

Sua irmã levou a mão ao peito e parecia pálida como o luar — Eu estava
saindo da pista de dança e ouvi alguém dizer que precisava de um lugar
tranquilo para conversar sobre Lorde Glengask, e Lorde Berling sugeriu o
jardim na parede da frente — Respirou fundo. — Meu Deus. Eles estavam
falando sobre machucar as pessoas. E pior ainda.

Charlotte se endireitou, avançando para abraçar sua irmã —Foi tão


corajosa. — disse com emoção.

— Mas o que vamos fazer?

— Precisamos contar a Ranulf.

Não tinha ideia do que aconteceria com isso, e com o jeito que seu coração
estava batendo, sentiu tanto a possibilidade de beijá-lo quanto de repreendê-
lo por… por ser quem era. Mas ele precisava saber.

Imediatamente.

— Vamos. — disse, agarrando a mão de Janie e correndo para a porta.


Cada ação tinha consequências, e estava prestes a colocar algumas ações
muito grandes em movimento.

E ainda assim...

E ainda assim, tudo o que podia pensar era em como se sentia segura,
contente e feliz, nos braços de Ranulf. Não podia perdê-lo. Não iria perdê-
lo. Não nos termos de outra pessoa. Não quando acabara de descobrir que o
amava.

Capítulo 13

Capítulo 14

parecia algo mais adequado para Tântalo ou Salomão, Ranulf decidiu,


enquanto acompanhava Charlotte, de volta para sua irmã.

Embora sempre considerasse Berling uma parte do tiroteio de seu irmão,


agora sabia quem, realmente, disparou o tiro. Um homem cujo pai ele havia
levado em retaliação, por perder o seu. Os Gerden atacaram primeiro, é
claro, mas o feito estava feito.

Independentemente do desaparecimento dos irmãos Gerden, o fato de


Gerden-Dailey ter atirado em Urso, que tinha oito anos quando isso
aconteceu, e agora virar seu olhar para Rowena, que só tinha dois anos na
época - Ranulf não estava inclinado a perdoá-lo. E agora, o fogo do
estábulo, que - se o que Arran tinha suposto ser verdade e Berling não o
tenha ateado - se parecia muito com o trabalho feito por George Gerden-
Dailey.

Se Ran se vingasse como queria, porém, estaria provando, tanto para


Charlotte quanto para si mesmo, que era um selvagem, um homem que
seria um tolo, por trazer qualquer tipo de esposa adequada para sua vida -

muito menos uma que não suportava a ideia de brigas, por palavras ou atos.

E a queria em sua vida, tanto para provar que podia liderar um clã, de
maneira inteligente e progressiva, quanto porque o confortava e o inspirava
com apenas um sorriso.

— Estávamos começando a nos preocupar. — disse Jane, quando passaram


pela porta da sala de estar. — Se foram por um bom tempo.

— Eu tinha muitas explicações a dar. — Ranulf disse, evitando o olhar do


tio.

— Vamos sair da festa, então? Já perdi duas danças, e preciso pedir


desculpas a, oh, a todos. — a jovem Jane fez uma careta.

— Vamos ficar. — decidiu — Está se sentindo muito melhor, tio.

— Estou me sentindo muito melhor, de repente. — repetiu Myles.

Ranulf pegou a mão direita de Charlotte e a esquerda de Jane. — Se


cruzarem com algum daqueles homens que ouviram, terão que fingir que
não sabem nada sobre a conversa deles. Podem fazer isso, moças?

— Sim. — Charlotte disse sem hesitar, apertando os dedos dele.

— Acho que sim. — Jane secundou, não parecendo tão certa — Estou feliz
que meu cartão esteja cheio, para que nenhum deles possa me convidar para
dançar. Isso seria aterrorizante.

— Bem, não vão, então, não precisa se preocupar. — Charlotte interveio,


soltando sua mão e colocando um braço ao redor de sua irmã. —
E nenhum deles, exceto Berling, sequer me deu um olhar, então, não tenho
nenhuma preocupação.

Juntos, os quatro voltaram para o salão de baile, e Ranulf teve que ver
Charlotte se desculpar com Henning, por ter perdido sua quadrilha e
oferecer ao homem redondo a próxima dança. Não queria compartilhá-la,
mesmo com seus amigos.

— A chamou de leannan. — murmurou seu tio, quando pararam em um


lado da sala.

— Eu sei como a chamei. Não foi um acidente. Ela tem meu coração.

— e sua mente e sua alma. Dizer isso em voz alta era mais fácil do que
esperava, embora imaginasse que fazer a mesma declaração para Arran
seria uma conversa muito mais complicada. Hora de parar de fingir, porém,
parecia que estava desonrando Charlotte ao fazê-lo.

— Pretende se casar com ela?

— Nae, a menos que eu possa ter certeza de que minha vida não lhe trará
dor e mágoa.

— Ranulf, isso...

— Eu sei. Parece uma impossibilidade. — forçou o que esperava ser um


sorriso alegre — Eu gosto de um desafio, sabe.

Rowena estava dançando uma quadrilha com Arran, o que, pelo menos,
serviu para manter seu irmão e irmã mais novos longe de problemas.
Quanto a Berling, seus amigos covardes e seu primo problemático, não
estavam em lugar algum. Talvez tenham decidido sair e planejar outra
tática, quando insultar sua família na cara não funcionou.

Só podia esperar que continuassem a atingi-lo, sozinho, enquanto decidia


uma maneira de lidar com eles, que satisfaria Charlotte, sua família, seu clã
e seu Deus. Fez uma pausa. Evidentemente, alterou a ordem de suas
lealdades sem sequer perceber. A nova ordem pode não ser inteiramente
escocesa, mas satisfazia seu coração.

— Que diabos aconteceu? — Arran exigiu quando a dança terminou e ele e


Rowena conseguiram atravessar pela multidão, até onde Ranulf e Myles
estavam. Evidentemente, seu tio decidiu servir como seu guarda-costas esta
noite. Embora, provavelmente, não alterasse nada, apreciou o gesto.

— Nada que eu queira discutir aqui. — disse em voz alta —

Mantenha seus olhos e sua inteligência atentos. E os MacLawry - nenhum


de nós - deve começar, estar no meio ou terminar em qualquer altercação
esta noite. Está claro?

— Achei que já tivéssemos tido essa conversa em particular. —

retrucou Arran.

— Nós tivemos. As coisas mudaram.

Arran o encarou — Que coisas?

Ranulf respirou fundo — George Gerden-Dailey está aqui esta noite.

Eu só queria que soubesse, então não ficaria surpreso se colocasse os olhos


nele.

— George... Maldição. Achei que ele se mantinha em Aberdeen.

—Evidentemente, não.

Ranulf reconheceu o olhar no rosto de seu irmão — Sua palavra. —

disse, forçando Arran a encontrar seu olhar. Se seu irmão fosse atrás de um
dos comparsas de Berling, Ranulf teria que apoiá-lo. E isso arruinaria tudo,
antes que mal tivesse começado.

— Sim. — Arran falou — Dou minha palavra. Sem problemas. Eu só


espero que saiba o que está fazendo, Ran.
Enviando uma olhada em Charlotte, que se pavoneava sobre a sala, com um
Henning de aspecto apaziguado, Ranulf assentiu — Sim. —

retrucou. Estava mantendo sua palavra, em troca de uma moça. Era isso que
estava fazendo. Tentar justificar de outra forma, era apenas uma
complicação inútil.

Rowena estava dançando, agora, com um rapaz de cabelos claros, muito


jovem e bonito, para a paz de espírito de Ranulf. Sua irmã não tinha
mencionado Lachlan MacTier em dias, muito longe de algumas semanas
atrás, quando mal conseguia falar uma frase, sem pronunciar seu nome. Se
não estivesse tão consumido com Charlotte, estaria preocupado. Afinal, se
ele se casasse com uma inglesa, eles iriam - poderiam - voltar para
Glengask. Se Rowena se casasse com um Sasannach, ele, provavelmente,
nunca a veria, a não ser no Natal e se viesse a Londres novamente para a
temporada. Isso era inaceitável.

— Não quero bisbilhotar, rapaz. — disse Myles depois de um momento. —


Mas…

— Aye, quer bisbilhotar, tio. — Ranulf interrompeu — Eu preciso que me


apresente a alguns prováveis… amigos. Os ingleses.

— Por quê?

Para que ele pudesse provar a uma moça teimosa que era civilizado

— Porque, claramente, não posso confiar em minha própria espécie aqui.

Qual a melhor forma de aprender a configuração da terra, do que


conhecendo seu povo?

— Isso parece muito razoável.

— Eu sou muito razoável. Ou estou tentando ser.

Seu tio, claramente, permaneceu cético, mas contanto que o visconde


fizesse o que pediu, Ranulf poderia tolerar as dúvidas de Myles. Deus sabia
que ele mesmo as tinha. A quadrilha parecia durar para sempre, mas quando
finalmente terminou, viu Henning devolver Charlotte aos pais dela, então
avançou, quando o rapaz bonito também entregou sua irmã.

— Por que não me apresenta, Rowena? — sugeriu suavemente.

Ela corou — Lorde Glengask, este é o Sr. Harold Myers, irmão do Visconde
Chaffing. Harold, meu irmão, o Marquês de Glengask.

Pela sua expressão, ela esperava que afugentasse o delicado sujeito, com
uma bota na bunda. Mas Charlotte e sua família estavam ali, então Ranulf
sorriu e ofereceu sua mão. — Fico feliz em ver minha irmã conhecendo
rapazes decentes. — disse.

— Obrigado, milorde.

Talvez fosse assim que os ingleses se comportassem; um sorriso e um


aperto de mão por fora, e um desdém entediado por dentro. Isso era tudo?

Precisava aprender a ser um mentiroso melhor? Parecia... errado, indigno,


mas Charlotte estava sorrindo. Não era uma mentirosa, mas também era
uma das poucas pessoas de bom coração que já conheceu. Eram os amargos

que mentiam, então. Os que estavam apodrecendo por dentro e tentando


manter sua decadência em segredo.

Bem, não achava que estava assim, mas também não era tão puro quanto
Charlotte. Tudo isso teve o efeito de tornar esse negócio, de não falar o que
pensava, de não tomar a ação que seu coração lhe dizia, muito mais difícil.
Mas faria isso. Aprenderia a fazer isso, por Charlotte.

— Foi muito gentil da sua parte, Ran. — disse sua irmã, olhando-o como se
tivessem lhe brotado asas da testa.

Ele inclinou a cabeça — Com quem está dançando a valsa? —

perguntou, mantendo o tom leve e despreocupado.

— Sir Robert Mason. — retornou, praticamente pulando na ponta dos pés


— É um herói de guerra.
— Foi ele mesmo que lhe disse isso, então, piuthar? — Arran interveio,
enquanto voltava a se juntar a eles.

— Não foi. A amiga de Jane, Susan, me contou. E ele manca.

Arran riu — Tom MacNamara manca, também, mas porque bebeu demais e
tentou ordenhar um touro.

Rowena deu um tapa no braço de Arran — Sir Robert não fez nada tão tolo.

— Bem, eu também não admitiria isso. É uma história que todo mundo
conta.

— Esqueça isso. — o que Ranulf queria dizer era que Sir Robert Mason,
provavelmente, nunca tentou ordenhar nada em toda sua vida suave, mas
isso, definitivamente, não ajudaria em nada.

— Acontece que conheço Sir Robert. — acrescentou Myles. — É um


sujeito muito agradável.

Isso soou um pouco como uma condenação com elogios fracos, mas,
novamente, guardou seus pensamentos para si mesmo. Manter seu próprio

conselho, pelo menos, era algo a que estava acostumado. Mesmo assim,
quando a orquestra começou a afinação para a valsa, estava mais do que
pronto para ter, por um momento, Charlotte em seus braços, mais uma vez.

Dando um passo à frente, ofereceu seu braço — Acredito que esta é a


minha dança, leannan. — falou lentamente, usando a palavra
intencionalmente e pegando o olhar atordoado que Arran lhe enviou. Até
Rowena pareceu surpresa, e havia tentado agir como uma casamenteira em
seu nome.

Charlotte colocou a mão em volta de sua manga, e Ran a acompanhou até a


pista de dança. Impressionante como era, um punhado de outros homens se
virou para vê-la passar. Deixe-os olhar; era o único que esteve dentro dela,
trinta minutos antes. Ela lhe pertencia, pudesse ele gritar para o céu ainda
ou não.
— Diga-me uma coisa. — disse, enquanto ele colocava a mão em sua
cintura e entrava na pista e rodopiava com ela.

— Aye?

— Você me chamou de leannan duas vezes esta noite, na frente de sua


família, e Arran, especialmente, quase teve uma apoplexia. O que isso
significa, realmente?

Ele sorriu. Claro que ela notaria a reação, a boca aberta de sua família

— Amor. — retribuiu. — Amada, querida — todas essas coisas.

— Poderia ter me dito isso antes.

— Eu não queria assustá-la, moça.

Charlotte sorriu de volta para ele — Palavras não me assustam.

Ela tinha esse direito — Que tal uma nevasca, tão forte, que a neve cai de
lado? — perguntou — Isso a assustaria?

— Depende. — respondeu — Estou dentro de casa, junto a uma lareira ou,


pelo menos, envolvida em um casaco quente, ou estou no meio

da neve, em nada além do meu chemise?

— Uma fogueira rugindo em uma lareira, com altura suficiente para um


homem ficar em pé. Uma manta e uma cerveja quente, além disso.

— Então não, isso não me assustaria.

— Eu posso ter me tornado um pouco poético ali, — admitiu. —

Essas tempestades podem durar dias, moça, com um frio que se entranha
nos seus ossos e não se solta. E as Highlands são uma terra vasta e vazia,
com mais veados vermelhos do que pessoas. Há apenas algumas grandes
casas, perto de Glengask, famílias de chefes de clã e afins.
Ela não parecia nem um pouco hesitante — Conte-me mais.

— A aldeia de An Soadh fica nas minhas terras, descendo a colina, no sopé


das cataratas, com Mahldoen mais acima nas colinas, na outra extremidade.
Alguns punhados de casas de camponeses estão espalhados aqui e ali, por
campos plantados ou mais acima, no lago para os pescadores, e os tropeiros
e pastores cuidam do gado. E é só isso. Não há desfiles de carruagens
passando, nem grandes teatros ou museus, até chegar em Perth ou Aberdeen
- o que só fazemos duas ou três vezes durante um ano.

Por mais que estudasse seu rosto doce, tudo o que conseguia perceber era
interesse, e um carinho, que fazia seu coração bater dentro do peito —

Ainda não estou assustada — disse.

— Então, a única coisa que te assusta na minha vida sou eu.

Charlotte balançou a cabeça — Não me assusta. Temo pelo que possa te


acontecer.

— Não tem que temer. Já lhe disse, sou um homem mudado.

— Sua irmã, certamente, parece pensar assim. — observou, sorrindo

— Acho que estava preparada para se apaixonar pelo Sr. Harold Myers, até
que o aprovasse. Imagino que agora ela, muito em breve, o achará
terrivelmente maçante - o que ele é.

— Só podemos esperar. — disse secamente. Mas ele teve que conceder seu
ponto; seu primeiro instinto foi sangrar o nariz do menino, mas isso era
muito mais eficaz, e sua irmã não podia culpar suas ações.

— O primeiro... — ela parou, seus olhos castanhos se arregalando quando


viu algo atrás dele. A cor deixou suas bochechas — Ranulf.

Uma mão bateu em seu ombro — Glengask, posso interromper?

Ele se virou para olhar, e a raiva bateu em sua espinha. Charles Calder, o
neto de Campbell, estava ali, sua expressão arrogante, mas seus olhos
falando de muito menos certeza — Nae. — disse, com a maior frieza que
conseguiu.

— Isso não é educado.

Não, não imaginava que fosse. E estava igualmente certo de que um


cavalheiro inglês cederia seus direitos a seu par de dança, quando lhe fosse
pedido. — Vá embora, Calder. Não tem direito aqui.

— E o seu lugar não é aqui, de modo algum.

— Está tudo bem, Ran. — murmurou Charlotte. — Não me importo.

Ele se importava. E muito. E se resistisse mais tempo, todos saberiam.

Charlotte saberia que ele não conseguiria nem mesmo administrar este
pequeno pedaço de civilidade. Apertando a mandíbula, soltou-a e deu um
passo atrás.

Com um sorriso, Calder se aproximou e tomou seu lugar, girando com


Charlotte em seus braços. Ao invés de assistir, Ranulf virou as costas e saiu
da pista de dança. Cada palavrão que podia pensar, e em várias línguas
diferentes, ficou preso em sua garganta, lutando para rugir livre. Não. Não
permitiria. Era um maldito cavalheiro.

Os pais de Charlotte, Lorde e Lady Hest, conversavam com um pequeno


grupo de amigos. Não sabia se estavam alheios ao parceiro de dança de sua
filha mais velha, ou se a mudança não fazia diferença para

eles. Mas, agora que estava longe o suficiente, para que ninguém mais o
notasse olhando, encontrou sua forma vestida de vermelho na pista de
dança e não tirou os olhos dela. E continuou repetindo para si mesmo que
não daria em nada, e que valeria a pena.

Charlotte manteve o olhar no homem de rosto fino, com uma mão


segurando a dela e a outra na cintura. Cabelo castanho claro, olhos
castanhos esquecíveis e um queixo largo e achatado, que lhe dava uma
expressão de teimosia permanente. Sabia que já o tinha visto antes, embora,
por pequena que fosse a aristocracia inglesa, não achava que tivessem
trocado uma única palavra.

E quando se viraram levemente, na pista de dança, começou a se perguntar


se algum dia teriam uma conversa. Ou talvez ele não tivesse planejado
nada, além de tentar tirar a dança de Ranulf. Talvez esperasse uma briga, e
agora estava completamente perdido. Gostou bastante dessa ideia. E o
silêncio era muito mais fácil, de qualquer maneira. Os céus sabiam que
tinha o bastante para pensar como estava.

Em primeiro lugar em seus pensamentos, é claro, como esteve quase desde


o momento em que se conheceram, estava Ranulf MacLawry. Mesmo sem
olhar, sabia que ele estava na orla da sala, observando. Provavelmente
procurando uma razão para intervir e começar a socar as pessoas. Bem, não
lhe daria a desculpa. Queria que provasse para ela, para seu pai, para si
mesmo, que poderia fazer sua vida, governar seu clã, sem recorrer a lutas,
rixas e derramamento de sangue e morte.

— Como conheceu Glengask? — Charles Calder perguntou, quase fazendo-


a pular.

— Eu nem o conheço, sir. — retornou, com um sorriso leve e frio.

Não estava disposta a lhe dar informações, sem ganhar nada em troca.

Afinal, podem não ter se conhecido, mas ela ouviu sua voz, claramente,
uma hora atrás.

— Bem então. Charles Calder, ao seu dispor. — deu um sorriso que, sem
dúvida, pretendia ser encantador.

— Sr. Calder.

— E eu sei que é Lady Charlotte Hanover. Agora que isso foi resolvido,
como conhece Lorde Glengask? — ele repetiu.

— A mãe dele e minha mãe eram amigas. — pronto. Verdadeiro e inocente,


tudo ao mesmo tempo.
— Sua família tem uma reputação imaculada, Lady Charlotte. —

respondeu suavemente, sua expressão, exceto por seus olhos, tornando-se


uma preocupação gentil. — E é por isso que acho que deveria saber que
cada um dos MacLawry é problema. Ele, acima de tudo.

Foi preciso todo seu esforço para manter a expressão levemente curiosa —
Meu Deus, isso soa terrível. — comentou — O que o faz dizer uma coisa
dessas, para uma completa estranha, Sr. Calder?

— Porque é importante. Os MacLawry podem reivindicar sangue azul, por


algum favor que um ancestral fez a um rei, trezentos ou quatrocentos anos
atrás, mas, hoje em dia, são pouco melhores que animais.

Não merecem sua terra ou seu título, e os malditos não pertencem à boa
gente de Mayfair.

Charlotte queria bater nele. O mero pensamento a atordoou, mas estava


bastante certa de que nenhum mero conjunto de palavras afiadas poderia
descrever adequadamente o quão zangada a estava deixando. Como ousava
insultar Ranulf? Por associação, a insultava também, mas isso não
importava. O profundo desrespeito a Ranulf, no entanto, sim. — Se tem
provas disso, por que me procurou? Por que não meu pai, ou os tribunais,

ou o Regente? — não era tão crédula ou ingênua, como ele, claramente,


parecia pensar.

— Porque é com a senhorita que o vejo por aí, milady. Está sempre no
braço dele, e é quem ele observa, do outro lado da sala. Portanto, parece ter
mais necessidade de um aviso do que qualquer outra pessoa. — fez uma
leve carranca. — Para seu próprio bem, deve ficar bem longe dele e de seus
parentes.

A esta altura esperava o aviso, mas Charlotte ainda estava um pouco


surpresa por ele ter tido a coragem de entregá-lo. — Bem, — retorquiu,
aprofundando seu sorriso cuidadoso — certamente terei em mente o que
disse. Considerando que conheço muito melhor a família MacLawry do que
o senhor, no entanto, terá que me perdoar se eu atribuir a maior parte do que
diz a algum tipo de ciúme ou a uma vingança pessoal.

Seu domínio sobre a mão dela se apertou, depois relaxou novamente

— Isso seria um erro. Não quer ser envolvida nisto. Sangue já foi
derramado sobre ele antes, e imagino que será novamente.

Ela estreitou os olhos — E agora faz ameaças. Para mim.

Sua expressão simpática vacilou — Milady, acho que se enganou …

— Acho que não me enganei em nada, Sr. Calder. Ou está tentando me


assustar, ou me convencer a contar a Lorde Glengask sobre essa conversa,
para incitá-lo a agir. Não vou chamá-lo de covarde, sir, mas pedirei que
guarde suas opiniões, de agora em diante, para si mesmo.

Os esquecíveis olhos castanhos olhavam através dela — Está prestes a pisar


em terreno perigoso, Lady Charlotte. — murmurou — Talvez devesse falar
com sua família, antes de continuar. Eles podem não concordar com suas
conclusões.

Não, provavelmente não concordariam. E também não queria vê-los em


perigo, simplesmente porque tinha um desejo irresistível de dizer a

Charles Calder que fosse para o diabo. Ergueu o queixo — Antes de


começar a declarar que famílias inglesas, com reputação imaculada, são
suas inimigas, pode considerar as ramificações de suas ações. Não
gostamos de ser ameaçados.

Colocou cada grama de afronta régia que possuía no comentário e teve a


satisfação de vê-lo piscar. Se Ranulf exigia provas, de que palavras podiam
ter mais peso que golpes, este era um excelente exemplo. Quando a valsa
terminou, soltou-se e recuou.

Antes que pudesse se virar e fugir, porém, Calder deu um passo à frente e
pegou sua mão novamente, curvando-se sobre ela — A senhorita, milady, é
uma cadela e uma megera. — murmurou — Secou, na prateleira, e está tão
desesperada por um homem, que se dispõe a ser a prostituta de um
Highlander. — ele se endireitou, soltando seus dedos. — E eu a desafio a
lhe contar que eu disse isso.

Por um momento, não conseguiu nem se mexer. Ninguém - ninguém -

jamais havia falado com ela assim. Sentiu-se quase como se tivesse sido
fisicamente esbofeteada, jogada no chão e pisada. Finalmente, antes que
alguém pudesse se perguntar por que estava sozinha no meio da pista de
dança, forçou-se a se virar e caminhar, de volta para seus pais.

Isso era um desafio para sua filosofia, ou os meios pelos quais Ranulf
falharia em viver de acordo com isso? Ele mataria Calder por lhe dizer isso.

No mínimo, a briga que se seguiria arruinaria completamente sua reputação


em Londres. E, no que dizia respeito, também a seu pai.

— Está pálida como uma banshee. — disse ele, aproximando-se e


oferecendo o braço.

Ela aceitou com gratidão. — Ele é um homem horrível.

— Sim. Isso ele é. — caminharam alguns metros em silêncio. — Não vai


me contar o que ele disse, então?

Charlotte balançou a cabeça. — Não. Foram apenas palavras.

Ranulf parou, trazendo-a para perto dele — O que foram apenas palavras?
— perguntou secamente.

Ela teria que lhe dizer alguma coisa, mesmo que apenas para sua própria
segurança. E se escondesse a verdade, isso não significava que Ranulf tinha
mantido sua palavra sobre ser civilizado. Isso só fazia dela uma mentirosa e
uma covarde. — Ele disse que sua família era problema e que eu seria
sensata em manter distância.

— Ah. E é por isso que parece pronta para desmaiar, leannan?


— Não estou a ponto de desmaiar. — retrucou — Ele me chamou de alguns
nomes. Acredito que vou sobreviver.

Ranulf a puxou para mais perto — Que nomes? — pronunciou com muita
clareza.

Encontrou seu olhar feroz e ardente. — Me deu sua palavra.

Ele continuou olhando para ela. — Sim, isso eu fiz. Então, me diga o que
ele te disse, Charlotte.

Se contasse a ele, sabia que iria direto para a garganta de Calder. E se não o
fizesse, ele poderia, muito bem, atacar de qualquer maneira. — Ele disse
que eu era uma cadela e uma megera, velha e tão desesperada por um
homem, que me tornei sua prostituta. — as palavras tinham um gosto
estranho e sujo em sua língua, e esperava nunca ter motivos para pronunciá-
las novamente.

Ranulf fechou os olhos, pelo espaço de meia dúzia de batimentos cardíacos.


Ela manteve o aperto em seu braço, mesmo sabendo que se decidisse ir para
Calder, nunca seria capaz de detê-lo. Pareceram minutos, mas só poderia ter
sido uma questão de segundos, antes que o azul vívido chamasse seu olhar
novamente.

— Apenas palavras. — murmurou, e voltou a avançar — Acho que está na


hora de irmos.

— Não podemos, Ran. — suplicou sua irmã, quando chegaram ao resto do


grupo. — Prometi todas as danças.

— Eu também. — acrescentou Jane. Ela dançou a valsa com Arran


MacLawry, Charlotte percebeu tardiamente.

— Há algo errado, Glengask? — Lorde Hest perguntou, sua expressão


cautelosa. Pelo que ele disse sobre Ranulf, sem dúvida, esperava problemas.

Um músculo da mandíbula magra de Ranulf se contraiu — Nae.

Apenas um pressentimento.
— Então está livre para ir, é claro. Acho que vamos ficar.

Por um longo momento, Ranulf ficou em silêncio — Venham então,


Rowena, Arran.

Pegou a mão de sua irmã, mas ela deu um passo para trás. — Eu não vou,
Ranulf.

— Então, quem espera que a vigie, Rowena? — retornou sem rodeios.

— Ninguém. Pelo amor de Deus, bràthair, este é um grande baile.

Nada vai acontecer comigo aqui. E eu tenho dezoito anos. Eu não sou uma
garotinha com tranças.

Ranulf hesitou. Era a primeira vez, desde que se conheceram que Charlotte
o via indeciso sobre qualquer coisa. O efeito foi estranhamente de partir o
coração. Finalmente ele assentiu. — Arran e eu iremos, então. A menos que
tenha outros planos, Arran.

— Nae. Eu te acompanho. – Arran respondeu, parecendo um tanto


atordoado por ser convidado.

— Ótimo. — lançou um olhar para o tio, que assentiu, evidentemente


cumprindo seu dever. Então olhou para ela, um sorriso rígido tocando sua

boca e fugindo novamente — Vou visitá-la amanhã.

Com isso, ele e seu irmão deixaram o salão de baile. Imediatamente a sala
pareceu menor, a luz mais fraca, a música barata e amadora. E por mais que
tentasse negar, seu coração parecia mais fraco também.

Claro que estava sendo boba; passou semanas tentando convencê-lo a ver
seu ponto de vista. Insistindo que era errado responder a palavras -

especialmente palavras que só insultavam o orgulho, de um homem ou de


uma mulher - com derramamento de sangue. Então, agora que a tinha
ouvido, não tinha o direito de se sentir como uma princesa das fadas, cujo
único amor verdadeiro tinha acabado de se afastar do campo de batalha, ao
invés de ficar para defender sua honra.

Afinal, sabia por que ele foi embora; tinha feito isso para que ninguém mais
tivesse qualquer motivo para ameaçá-la ou insultá-la, ou a Rowena e Janie.
Foi uma decisão sábia e madura. Tampouco tinha sido fraco em ceder à
exigência de sua irmã de ficar. Só estava tentando evitar causar uma cena,
como qualquer cavalheiro faria.

Por isso, não se sentiu, de forma alguma, desapontada.

Capítulo 15

Sasannach

Sasannach.

Aye

Sasannach

bairn
Capítulo 16

encarou. — O que quer dizer, quer se sentar com o Campbell? —

perguntou, seu rosto ficando assustadoramente pálido.

— Estamos brigando há mais de cem anos. — Ranulf retrucou. —

Acho que está na hora de conversarmos.

— Nunca chegará vivo ao castelo dele. E se o fizesse, maldição, não faria


novamente.

— Então prefere que continuemos como estamos? Eles pegam um dos


nossos de vez em quando, e nós atiramos em um deles em troca?

De pé, Arran andou pela sala de estar — Perdeu seu maldito juízo! —

finalmente explodiu — Sabe como sobrevivemos. Nós permanecemos


fortes, e nos deixam em paz, porque estão com medo do que poderíamos
fazer com eles, se ousassem nos atacar.

Ranulf tomou um gole de seu café, desejando que a dor em seu crânio
diminuísse. Embora admitisse estar cansado e com a cabeça dolorida, não
achava que tinha enlouquecido. Ainda não. — Provavelmente ganharemos
mais terreno com os Campbell do que com os Gerden. Para falar com eles,
teria que lidar com Berling.

— Não precisa falar com ninguém. — insistiu o irmão. — Se for até eles,
verão isso como fraqueza. Exceto pelos incêndios nas escolas e uma oferta
de compra de terras, todos nos deixaram em paz, por quinze anos. E

isso é por sua causa, Ran.

— Eles nos deixaram em paz, exceto por Munro ter sido baleado por
Gerden-Dailey, e a questão do incêndio do meu estábulo. — soltou a
respiração — Quero que minha família esteja segura. — disse finalmente

— Quero ser capaz de trazer uma esposa para Glengask e não ter que me
preocupar, toda vez que ela sair para colher flores silvestres.

— Bem, a única maneira de fazer as pazes com os Campbell é se


queimarmos as nossas casas de camponeses e aldeias e perdermos gente
suficiente, para que possam se considerar melhores do que nós. E,
provavelmente, teríamos que vender um terço da Glengask para pasto de
ovelhas, só para que acreditem no que diz.

— Tem que t…

— E sem fazer as pazes com os Gerden, estaríamos reduzidos à metade e


enfrentando menos um grupo de assassinos - a menos que o Campbell
decida nos ver de barriga para baixo sob seu calcanhar.

Arran, geralmente, fazia muito sentido, e Ranulf não conseguia encontrar


falha em qualquer um de seus raciocínios desta vez, também. —

Então o que sugere que eu faça?

— Eu sugiro que pare de deixar esses amadan o insultarem, para começar, e


que comece a pensar novamente com seu cérebro e não com seu pau.
Quanto mais forte for, maior a probabilidade de que nos deixem em paz. E é
isso que nos deixará seguros.

— E se eu não puder sair batendo nas pessoas, sem uma boa razão?

— Então pense em uma boa razão, Ranulf. Pelo amor de Deus. Nunca deu
um soco que não fosse por uma razão muito boa até agora, de qualquer
maneira. — seu irmão deu um soco no encosto de uma cadeira — Se ela te
castrou agora, estaremos todos mortos no inverno.

Ranulf ficou de pé — Chega!

— Por quê? Não pode me bater, ou sua moça vai franzir a testa. —

Arran apontou um dedo em sua direção — E no minuto em que os


Campbell ou os Gerden ou qualquer outra pessoa perceber isso, estaremos
todos acabados.

Sabia que Arran estava certo, e sabia que estava sendo tolo, ao deixar uma
moça ditar como conduziria seus assuntos. Afinal, ele viveu esta vida.

Ela não. — Eu a quero na minha vida, Arran. Eu quero que ela seja feliz, e
quero que esteja segura.

Arran o olhou — Não acho que possa ficar com os três, Ran. Dois deles,
talvez. Mas não todos os três.

—E eu acho que está errado.

A porta da sala de estar se abriu, e Rowena saltou para dentro.

Imediatamente, toda a casa parecia mais leve, mais parecida com um lar. A
visão inesperada de sua irmã o fez sorrir; Rowena nunca parecia ter os dois
pés no chão ao mesmo tempo. — O que está fazendo aqui, piuthar? —

perguntou, dando um beijo na bochecha dela.

— Uma irmã não pode visitar seus irmãos? — voltou com um sorriso

— Arran, me leve para passear.

— Eu te levo. — Ranulf disse, dirigindo-se para a porta.

— Não, não vai. Deixei-lhe um presente no seu escritório. Quando


voltarmos, pode me dizer se gostou. — agarrando a mão de Arran, arrastou-
o para o corredor.

Ignorando, por um momento, o fato de que ninguém deveria pôr os pés em


seu escritório sem sua permissão, Ranulf os observou descer as escadas até
o vestíbulo e sair pela porta da frente. Ele podia ouvir Una e Fergus na sala
matinal, perseguindo um ao outro e, provavelmente, quebrando coisas. —
Owen, — chamou seu lacaio e mordomo — acalme os cachorros, sim?
— Aye, meu laird. — com um juramento, o escocês robusto entrou na sala
da manhã, onde as chances eram que ele causasse mais danos do que os

dois cachorros juntos.

Se Urso estivesse aqui, seria quase perfeito. Atravessando o corredor,


empurrou a porta do escritório.

— Olá. — disse Charlotte, parada na frente de sua janela alta.

Seus cabelos brilhavam como ouro fiado. Seu coração gaguejou, então
acelerou para o dobro da velocidade normal. Agora, apenas a ausência de
Urso em Londres, impedia esse momento de absoluta perfeição.

Sem dizer nada, atravessou a sala, não parando até que a tivesse envolta em
seus braços. Inclinando-se, beijou sua boca doce e curvada.

— Olá. — murmurou de volta, beijando-a novamente. Estranhamente, toda


a raiva e frustração que o atormentavam simplesmente desapareceu, como
se não pudessem suportar a luz do sol de seu sorriso. Talvez tivesse um
pouco de bruxaria nela, afinal.

— Arran disse que não iria hoje. — Charlotte afastou o cabelo de seus
olhos. — Mas eu queria vê-lo.

— Não estou reclamando disso. — pegou sua mão, entrelaçando seus dedos
longos e elegantes com os largos e calejados — Venha comigo para a sala
de estar.

Ela se inclinou contra o ombro dele, a intimidade e confiança que


demonstrava surpreendendo-o mais uma vez. Para protegê-la, faria qualquer
coisa. Nenhum preço era grande demais para pagar. Daria um jeito, porque
ficar sem ela era simplesmente inaceitável. Inimaginável. Intolerável.

Uivos, latidos e estrondos ecoaram da sala matinal, enquanto cruzavam o


corredor — Está morto, Owen? — chamou.

— Quase, meu laird. Não exatamente.


— Você e seu fantasma fiquem longe da sala de estar.

— Aye, meu laird!

Charlotte cobriu a boca com a mão, rindo silenciosamente, enquanto ele


fechava a porta atrás deles. Ele sorriu. — Agora, o que te traz aqui,
leannan?

— Primeiro, me beije de novo.

— Não terá nenhuma recusa da minha parte. — segurando suas bochechas,


a beijou em uma pressa de língua emaranhada, que o deixou sem fôlego. —
Tem certeza de que tudo que quer é um beijo?

— Oh, eu quero mais do que isso. — suspirou, seus braços soltos ao redor
de seus ombros enquanto olhava para seu rosto — Diga-me como se diz
'bonito'.

— Brèaghe.

— É muito brèaghe, Ranulf MacLawry.

— E eu a acho àlainn — ele retornou, beijando-a suavemente — É

uma moça bonita e fina, Charlotte Hanover. E agora me diga, por que
precisava me ver.

Ela respirou fundo, puxando sua gravata. Se ela, de todas as pessoas, estava
hesitante em lhe dizer alguma coisa, não poderia ser bom. Um calafrio se
instalou em seu coração. Tinha decidido que ele não era o que queria? Que
seu modo de vida era muito perigoso para ela, mesmo que pretendesse
mudá-lo? A pior parte era que já sabia que era verdade -

nenhuma mulher sensata, menos que desesperada por um título, poderia


querer arriscar um casamento, com o chefe do Clã MacLawry.

— Apenas me diga, — sussurrou — pelo amor de Saint Andrew.


O mais breve dos sorrisos tocou sua boca — Tracei Glengask em um mapa.
— disse, com o olhar ainda fixo no peito dele. — É enorme.

Ele não esperava isso. — Aye? — este maldito assunto não era sobre
ganância, então onde ela queria chegar?

— Também tracei as terras dos seus vizinhos. Está cercado por clãs rivais.

Ah. Isso era sobre a falta de segurança que ele poderia prometer a ela,
então. Que assim seja. — O que acha de terminar sua história daqui a
pouco, Charlotte?

— Eu...

Ele capturou a boca dela com a dele. Com cada grama de seu ser, a queria
em sua vida, pelo resto de sua vida. Mas, com essa mesma convicção, sabia
que não importava o que fizesse, não poderia mantê-la tão segura, quanto
estaria em Londres, tão segura quanto estaria com alguém, como lorde
Stephen Hammond. Mas, por Deus, não iria deixá-la ir sem amá-la mais
uma vez.

— Ran, n…

Soltando as fitas na parte de trás de seu lindo vestido, marrom e amarelo, o


puxou pelos ombros dela e levou seu seio direito para dentro da boca,
chupando e lambendo o mamilo com a língua. Acariciou o outro com sua
mão livre, apertando e puxando, até que ofegou e arqueou as costas contra
ele.

Libertando seus braços da musselina, desceu seu vestido ao redor de seus


quadris e o deixou cair no chão. Então tomou sua boca novamente,
liberando as mãos para desabotoar a calça e tirar o casaco. O resto de suas
roupas podia esperar. A queria, precisava dela, agora. Nada mais importava.

Levantando-a em seus braços, a deitou no sofá estreito e subiu em cima


dela, emocionando, quando ela estendeu a mão para agarrar seus ombros e
puxá-lo para outro beijo. Antes que ela pudesse recuperar sua sanidade,
afastou seus joelhos e empurrou-se dentro dela, rápido e profundo. Minha,
pensou ferozmente. Por esses poucos momentos, ela pertencia a ele, tão
completamente quanto ele pertencia a ela.

Ela gozou imediatamente, estremecendo ao redor dele, tornando-o ainda


mais duro, puxando-o mais fundo. Mantendo o olhar fixo em seu rosto, a
penetrou de novo e de novo e de novo, até que não pôde mais se conter e se
derramou dentro dela.

Respirando com dificuldade, abaixou a cabeça contra seu ombro. Isso era
tudo que podia fazer. Não poderia trancá-la mais do que poderia trancar o
mundo. Tudo o que podia fazer era amá-la e deixá-la ir. Mesmo que isso o
matasse.

— Ran, — sussurrou, passando os dedos pelos cabelos dele — acho que me


enganei.

Ele manteve os olhos fechados, tentando acalmar a respiração. Ela veio para
dizer isso, e ele a deixaria fazê-lo. — Diga-me. — forçou a sair.

— Não faz parte de Londres. — disse baixinho, brincando preguiçosamente


com o cabelo dele, de um jeito que trouxe calafrios de prazer por sua
espinha.

— Aye. Estou ciente disso.

— O que faz, a maneira como conduz sua vida, é a maneira que funciona. É
como mantém todo mundo seguro.

— Mas eu não consigo manter todo mundo seguro. — rebateu, ordenando a


si mesmo que reunisse uma maldita coragem e se erguesse nos braços, para
encontrar seu requintado olhar cor de avelã.

— Ninguém pode manter todos seguros. Mas tem feito um... um trabalho
muito bom. — fez uma careta. — Três homens tentaram atraí-lo para uma
briga, ontem à noite. E acho que os dois segundos tentaram, só porque não
aceitou o primeiro.
Algo estranho parecia estar acontecendo. Ranulf, relutantemente, saiu dela
e ficou de pé, fechando suas calças e então oferecendo a ela uma mão, para
ajudá-la a se sentar. Pegou seu casaco cinza escuro do chão e deu a ela.

Era grande demais para ela, quase a engolindo, quando colocou os braços
pelas mangas, mas vê-la coberta ajudou seu cérebro a funcionar um pouco
melhor. Endireitando a camisa, sentou-se no sofá ao lado dela.

— Então. Está dizendo que eu...

— Estou dizendo que deveria ter batido no George Gerden-Dailey. Ou


Berling. Ou Calder. Ou, pelo menos, ter certeza de que todos soubessem
que poderia ter feito isso.

Por um longo momento, ficou sentado ao lado dela, apenas olhando.

Com as pernas curvadas, sob as nádegas nuas e as mãos apenas aparecendo,


sob as mangas arregaçadas, ela parecia terrivelmente recatada e
terrivelmente excitante, tudo ao mesmo tempo.

— Pensei que uma briga fosse o primeiro recurso, apenas de mentes


inferiores. — falou lentamente.

— Eu estava errada.

— Pode dizer isso de novo? Eu não consegui escutar.

— Homem horrível. — murmurou, deslizando sob o braço dele e se


aconchegando ao seu lado. — Aqui, dois ingleses brigando, por alguma
questão idiota de orgulho ou honra, é ridículo. No seu caso, quando dá um
soco no nariz de Lorde Berling, não está fazendo isso porque... bem, porque
é grande, forte e pode. Está fazendo isso para avisá-lo e aos dele para
manter distância, porque é uma alternativa ter que matar um deles.

— Quase me faz parecer razoável, Charlotte.

— É quase um homem razoável. — inclinando-se, beijou sua mandíbula.


— Mortes ainda acontecem, moça. — se obrigou a dizer — E quanto mais
querido alguém é para mim, mais provável é que se machuque. —

suspirou. —E não tenho certeza de que uma ou duas rixas mudariam isso.

— Estou disposta a…

— Meu laird! — Owen gritou, batendo freneticamente na porta fechada da


sala — Problemas!

Ranulf estava na porta em duas passadas. — Que problema? —

exigiu, abrindo-a.

— Um dos novos cavalariços estava exercitando Stirling e viu Laird Arran


e Lady Winnie cercados por um grupo de homens. Eu...

— Vista-se. — ordenou por cima do ombro, o medo congelando seu


coração, e desceu correndo as escadas. Fergus e Una estavam uivando na
porta da frente e, com uma maldição, a abriu. Não precisava perguntar onde
seu irmão e sua irmã estavam; os cães iriam encontrá-los. Isso era o que
acontecia quando relaxava, quando levava um momento para se apaixonar,
mesmo quando sabia que nada poderia resultar disso.

Charlotte mergulhou em seu vestido, levando apenas um momento para


fechar as fitas nas costas. Calçando os sapatos, correu para a porta, seu
coração batendo tão rápido, que pensou que poderia explodir de seu peito.

Se algo acontecesse com seus irmãos, Ranulf nunca se perdoaria. Mas se


algo acontecesse com ele, ela não sobreviveria.

Alcançou a porta da frente, quando Owen saiu correndo da sala dos criados,
uma arma enorme em suas mãos. — Onde estavam? — perguntou, saindo
com ele.

— Devia ficar dentro de casa, milady. — ofegou, virando a rua. O

cavalariço, Debny, estava vários metros à frente deles. Ranulf e os cães


tinham, evidentemente, superado todos eles.
Charlotte ignorou o aviso; isso não era sobre ela. E sua presença poderia
evitar o que quer que estivesse prestes a acontecer. Ou esperava que sim. Se
a situação exigisse, nesse momento se viu mais do que disposta a socar
alguém. Os MacLawry eram seu clã, afinal.

Os viu nas margens de um pequeno parque, escondido atrás de uma praça


de lindas casas antigas. Ninguém estava no chão e ninguém estava
sangrando, embora não tivesse ideia do porquê - ou se aquela boa sorte
continuaria. Sete homens estavam ao redor dos dois MacLawry, claramente
impedindo-os de avançar ou recuar.

Ranulf, na frente dela, diminuiu a velocidade para uma caminhada, os cães


mantendo o ritmo de cada lado dele. Seus pelos estavam eriçados, e podia
ouvir os rosnados e grunhidos baixos, mesmo a dez metros de distância. —
Queria alguma coisa, Berling? — gritou o marquês, com uma voz
retumbante, que continha mais perigo do que os rosnados dos cães.

O conde estava lá, notou, assim como George Gerden-Dailey e aquele


terrível Charles Calder. Oh não. Estavam armados? Ela sabia que Ranulf
não estava, porque estava seminu, há apenas alguns minutos.

— Achamos que poderíamos acertar algumas coisas. — Berling retornou,


olhando do marquês para os cachorros do tamanho de burros e de volta.

— Pelo menos três deles têm pistolas, Ran. — chamou o irmão. Arran tinha
um braço ao redor de Winnie, colocando-se entre ela e Gerden-Dailey.

A beldade de cabelos negros parecia realmente assustada, e dado o cuidado


com que seus três irmãos a protegeram por toda a sua vida, Charlotte não
ficou surpresa.

Parando a poucos metros do grupo, Ranulf estava com as mãos ao lado do


corpo, sua postura parecendo tão relaxada, como se estivesse conversando
em uma festa - ou até mais relaxada que isso. Conhecia-o bem o suficiente
para ver a tensão em seus ombros retos, mas duvidava que alguém, exceto
os dele, soubesse disso.

— O que quer resolver, então? — perguntou suavemente.


— Devo-lhe, pelo menos, um nariz quebrado. — retrucou Berling, com um
sorriso leve e desagradável no rosto. — É um começo.

— Estou bem aqui, Berling. Minha irmã e meu irmão não têm nada a ver
com sua cara feia.

— Espera que eu faça alguma coisa com aquelas feras paradas aí? Eu não
chamaria isso de uma luta justa, Glengask.

Ranulf realmente riu. O som arrepiou os cabelos da nuca de Charlotte.

— Então quer uma luta justa agora, não é? É um maldito cladhaire, Donald
Gerden.

O conde deslizou um olhar para o homem de pé ao lado dele. —

Primo?

— Ele te chamou de covarde. — Gerden-Dailey traduziu — E eu tenho que


concordar com isso.

— O quê?

— Quando traz seis homens contigo e vai atrás da irmã de alguém, isso faz
de um homem um covarde.

O rosto de Berling ficou vermelho. — Então por que está aqui, George? —
retrucou.

O primo do conde tirou uma pistola do bolso e apontou para Arran. —

Porque estou inclinado a fazer desaparecer um inocente. A menos que


Glengask queira me explicar algumas coisas e leve ele mesmo a bala.

Charlotte ofegou, levando a mão ao peito. Ranulf se encolheu, um segundo


depois, e ela percebeu que ele não sabia que estava atrás dele. Ao lado dela,
Owen ergueu o bacamarte. Coisas terríveis estavam prestes a acontecer.
Coisas terríveis e irreversíveis. Tomando uma respiração trêmula, estendeu
as mãos. — Rowena, venha aqui. — chamou em sua voz mais suave.
— Não. — soluçou Winnie, agarrando-se ao irmão.

— Rowena, faça o que Charlotte diz. — Ranulf ecoou. — Não vou ter um
desses amadan atirando em você por acidente.

Chorando, a garota fugiu da esquina do parque. Charlotte envolveu seus


braços ao redor de Winnie, inclinando-os para que pudesse ver o que
acontecia, mas Rowena não fosse capaz de fazê-lo.

— Agora, — disse Ranulf, dando um passo lento, para perto do Gerden-


Dailey armado. — o que quer que seja explicado, George?

O primo do conde manteve sua arma e o olhar apontado para Arran

— Suspeito que saiba o que aconteceu com meu pai, Glengask. E eu


gostaria de saber o que te deu, para tirá-lo de mim, dois dias depois que
perdeu o seu próprio.

— Eu não perdi meu pai. — Ranulf retrucou, emoção tocando sua voz pela
primeira vez — Seu athair e seu athair... — e apontou para Berling...

— e seu tio Wallace o assassinaram.

— Do jeito que eu ouvi, — Gerden-Dailey retornou — foram os Campbell.


Agora Charles Calder franziu a testa. — Nunca. Por mais teimosos que
sejam os MacLawry, os Campbell nunca concordariam em matar Seann
Monadh. Eles já foram amigos.

Ranulf deu outro passo à frente, os cães ainda o acompanhando —

Não foram os Campbell. Depois que encontramos meu pai, rastreei os


cavaleiros até a Mansão Sholbray.

— Isso não...

— E me escondi na chuva, sob a janela da sala de visitas, e ouvi seu pai e


Wallace se gabando, de como eles e Berling assassinaram meu pai. Eu os
ouvi dizer isso e vi seus rostos. — a raiva cortou sua voz. Charlotte podia
ouvir claramente, assim como podia ouvir a verdade em suas palavras. Ela
manteve sua atenção nele; se, não, quando ele se movesse, ela arrastaria

Rowena para um lugar seguro, porque era com isso que estaria preocupado.

Assim como estava aterrorizada por ele agora.

— Mas isso não é o fim da história, é? — Gerden-Dailey disse, virando a


cabeça para olhar Ranulf.

— Isso é tudo que quero dizer, na frente desses covardes. Se quiser mais,
vai deixar isso de lado e ficar onde possamos conversar, de homens para
homem.

— Se pensa em...

— Cala a boca, Donald. — interrompeu o primo e guardou a pistola no


bolso.

— Arran, chame os cães. — ordenou Ranulf.

Com o rosto branco e tenso, Arran fez o que ele disse. Lentamente,
claramente relutantes e seus rabos abaixados, os cães deixaram o lado de
Ranulf e se esgueiraram, para ficar ao lado de seu irmão. Enquanto
Charlotte prendeu a respiração, Ranulf e George Gerden-Dailey se
aproximaram, parando ao lado de um velho olmo inclinado.

— O que estão fazendo? — sussurrou Winnie, virando a cabeça para olhar.

— Estão conversando. — não tinha ideia se era o curso de ação mais sábio
ou não. — apesar do fato, ou por causa do fato, de que isso era,
precisamente, o que ela o havia exortado a fazer.

— Mas eles se odeiam.

Charlotte assentiu — Muito provavelmente. Mas eu acho que também têm


muito em comum.
— Quando eles nos cercaram, eu pensei... eu pensei que eles iriam matar
Arran. E então - não sei o que eles teriam feito comigo.

Abraçando a jovem, Charlotte manteve o olhar nos dois homens —

Tudo que precisa lembrar é que você, Arran e Ranulf estão bem. Com todos

nós aqui, nada vai acontecer agora.

— Mas e amanhã? E se forem ao baile de Lansfield amanhã? —

estremeceu. — E se um deles me convidar para dançar?

— Vai dizer que não. — retrucou, desejando muito poder ouvir o que os
dois homens estavam dizendo.

Ela entendia por que Gerden-Dailey queria saber, por uma vez e com
certeza, o que havia acontecido com seu pai, assim como Ranulf quis saber.

Mas se Ranulf confessasse dois assassinatos, especialmente ao filho de uma


de suas vítimas, poderia acabar na prisão. Mesmo enforcado, se os tribunais
ingleses pudessem ser influenciados para livrar as Highlands de seu
residente mais teimoso e problemático.

Depois do que pareceram horas, mas não podem ter sido mais de vinte
minutos, Gerden-Dailey deu um aceno rígido e se virou —

Terminamos aqui. — afirmou.

Berling fez uma careta — Mas…

O primo do conde avançou e o agarrou pela garganta — Nós dois


precisamos conversar, também, — rosnou — sobre porque seu pai mentiu
para mim. — empurrou-o, e Berling tropeçou para trás, quase caindo na
rua.

— Eu não...
— Glengask, é melhor estar lá, ou vou procurá-lo. — Gerden-Dailey
interrompeu o primo novamente.

— Eu estarei lá. Mas não porque virá me procurar.

Com um assentimento, George Gerden-Dailey abriu caminho para um


grupo de cavalos. Em menos de um minuto, viraram uma esquina e
desapareceram. Só então Charlotte começou a respirar novamente, seus
joelhos vacilantes.

— Cães, fora. Venha. — disse Ranulf, batendo em sua coxa.

Imediatamente os rabos dos cães se ergueram e eles correram até ele


novamente.

Arran seguiu, alguns passos atrás. — Onde deverá estar, exatamente?

— perguntou, então puxou seu irmão mais velho para um abraço forte — E

obrigado. Isso estava prestes a ficar desagradável.

Ranulf o abraçou de volta, então alcançou Rowena — Está tudo bem,


piuthar. Não se preocupe.

— Charlotte disse que tudo ficaria bem.

Olhando por cima da cabeça de sua irmã, Ranulf deu a ela um lento e
delicioso sorriso, que a aqueceu até os dedos dos pés. Então pegou a mão da
irmã, ofereceu-lhe o braço e voltou para a casa — Owen. Afaste esse
maldito bacamarte, sim?

— Que diabo aconteceu? — o lacaio exigiu, baixando a arma.

— Eu também gostaria de saber, Ranulf. — comentou Arran — Onde vai


encontrar esse homem? Se for um duelo, vou amarrá-lo a uma maldita
cadeira.

— Não é um duelo. — retrucou Ranulf, apertando o braço para trazer


Charlotte mais perto de seu lado — Eu disse a ele que mostraria onde seu
pai está enterrado.

— Ran. — sussurrou Charlotte.

Ele encolheu os ombros — Está na hora disso, leannan. Todo o mal que
George Gerden-Dailey nos fez é porque o velho Lorde Berling lhe disse que
foram os Campbell que mataram meu pai, e que os MacLawry foram atrás
dos Gerden, para puxá-los para o inferno. — olhos azuis profundos
encontraram os dela. — Paz, tudo feito com poucas palavras. Imagine isso.

Ela sorriu — E depois que eu lhe disse que o ataque era aceitável.

— Vou manter isso em mente, moça.

Capítulo 1 7

Ranulf de cima a baixo, enquanto descia as escadas para o vestíbulo —


Achei que tinha resolvido as coisas. Tem certeza de que quer agitá-los
novamente?

Ajustando seu sporran prateado, debruado em pele de coelho, Ranulf


ergueu uma sobrancelha — Ginger quase desmaiou. — comentou. — Mas
como, por acaso, sou escocês, pretendo me vestir como um.

— E não posso ter meu irmão me fazendo parecer um almofadinha


Sasannach. — Arran disse do patamar. Como Ranulf, ele vestia uma
jaqueta escura, embora a de Arran fosse cinza, ao invés da preta de seu
irmão. E os dois homens vestiam kilts com o xadrez MacLawry preto, cinza
e vermelho.

— Trazem lágrimas aos meus velhos olhos. — afirmou Owen. —


Estão certos, são como príncipes das Highlands.

— Não deixe os ingleses o ouvirem dizendo isso, ou é provável que


comecemos outra guerra. — observou Ranulf secamente.

Esta noite sentia-se... empolgado, como se um peso, que carregava há uma


década, tivesse sido retirado. E foi, em certo sentido; não eram amigáveis,
de forma alguma, mas, pelo menos, Gerden-Dailey havia concordado que
estavam equilibrados. Uma morte por uma morte. Horrível, talvez, mas era
com o que sua espécie estava acostumada. E, a menos que Berling
conseguisse, de alguma forma, convencer seu primo, de que, de fato, foram
os Campbell que assassinaram Seann Monadh, os Gerden manteriam
distância.

Com a influência dos Gerden, os Campbell também. Pelo menos o velho


Campbell estava, surpreendentemente, desinteressado em atiçar velhas
rivalidades. Como Charles Calder havia dito, porém, o Campbell e Robert
MacLawry foram amigos. Isso deixaria os Dailey, mas preferia a ideia de
enfrentar um problema em vez de três.

— Está sorrindo, sabe. — Arran apontou. enquanto subiam na carruagem


— Espero que esteja ciente de que nenhum de nós foi convidado para o
grande jantar nos Lansfield, esta noite.

— Aye, mas fomos convidados para o baile depois. Vou considerar isso um
progresso.

— Então, ainda estamos tentando ser civilizados e fazer os Sasannach


gostarem de nós? Nós somos os macacos de estimação?

Ranulf franziu a testa — Eu quebrei o nariz de Berling, no primeiro grande


baile da temporada. Quase sufoquei Gerden-Dailey no segundo.

Então, quando sou convidado para o terceiro, considero um progresso.

Seu irmão fez uma careta — Bem, quando coloca dessa forma...

— É assim que eu escolho colocar.


Quando Arran continuou olhando-o, Ranulf se acomodou, para olhar as
ruas escuras de Londres pela janela. Era perigoso que, pela primeira vez em
anos, se sentisse... otimista sobre o futuro? Que pensasse que poderia ser o
cavalheiro que prometeu a Charlotte que seria?

— Charlotte Hanover. — disse Arran no silêncio.

— Aye? O que tem ela?

— Vai se casar com ela?

— Penso que sim. — virou-se para encarar Arran novamente — Por quê?
Tem alguma objeção?

Seu irmão deu de ombros — Ela é uma inglesa apropriada, que há muito
pouco tempo pensava que era um selvagem e um demônio, se bem

me lembro. Não é mais aquele homem?

Ranulf se acomodou mais fundo no canto — Talvez ela não seja tão rígida
quanto pensa. — retrucou.

— Espero que esteja...

— Chega, Arran, — interrompeu — Estamos indo a uma festa apropriada,


vamos nos comportar, e eu vou descobrir o resto, se não se importar.

— Tudo bem.

— Ótimo.

Bem, não era tão esplêndido. A sensação de euforia que o enchia o dia todo
se desvaneceu. Ainda era um Highlander, o líder de seu clã, e ela ainda era
uma dama inglesa, acostumada a invernos suaves e verões quentes. E o que
quer que ela tenha dito, sobre entender seu uso de – briga,

– como ela chamava, não poderia se sentir confortável com isso.

— Ran, eu não quis dizer…


— Me ajudou bastante, Arran. Só espero que quando encontrar uma mulher
que ame, ela seja perfeita e que nunca tenha uma reclamação ou
preocupação com ela. E vice-versa.

— Isso parece um pouco monótono, na verdade.

— Aye. E não se esqueça disso.

Arran soltou a respiração — Eu não estava tentando falar contigo sobre


nada. Eu só... eu me preocupo que ela seja...

— Ela não é Eleanor. — Ranulf comentou, finalmente entendendo —

Não está atrás de um título, e dane-se as consequências. Eu quero que ela


seja feliz. Não apenas... ao meu lado.

Seu irmão olhou pela janela, por um longo momento, tanto quanto antes —
Então eu a acho bem bonita. E eu sinto que parecem felizes,

quando estão juntos. Apenas... Tenha certeza, Ran. Por favor. Pelo bem dos
dois.

Ranulf havia informado a Charlotte, com antecedência, que estaria em traje


Highlander completo, dando a ela a oportunidade de franzir o cenho ou
discutir, antes que ele aparecesse em público. Mas ela não o fez, o que, na
época, tomou como um bom sinal. Agora não podia deixar de se perguntar
se estava apenas... brincando com ele e se realmente a envergonhava. Como
poderia ter certeza, como Arran sugeriu? A resposta não estava em sua
mente, mas na dela. E ele não poderia saber, até que ela lhe dissesse. Se é
que o fará.

Esse era um pensamento sombrio. Quando a carruagem parou na rua, do


lado de fora de Lansfield House, quase mudou de ideia sobre entrar. Mas
havia feito sua cama, então, poderia usar um kilt nela. Ou algo assim.

— Lorde Glengask e Lorde Arran MacLawry — entoou o mordomo,


quando entraram no salão de baile. Podia ouvir o enxame de sussurros,
começando na frente da sala e subindo para os fundos. Qualquer que fosse a
maldita confusão, sobre um homem exibindo seus joelhos, ele poderia
muito bem se divertir - ou pelo menos se acostumar com isso.

Agora que considerava isso, havia outra solução possível; poderia


permanecer em Londres. A ideia de não ver Glengask, a não ser em férias
ocasionais, o fazia sentir-se mal do estômago, mas supôs que poderia fazê-
lo se, permanecendo na Inglaterra, pudesse ter Charlotte.

Assim que conjurou essa ideia, porém, a descartou novamente. O que quer
que o brasão da família MacLawry dissesse, não era algum MacLawry, cuja
presença em Glengask indicava ao seu povo que tudo estava bem e que
estavam seguros e protegidos; era o marquês, o chefe do clã, que precisava
estar lá. E isso, para o bem ou para o mal, era ele.

Um redemoinho de ouro chamou sua atenção, e olhou para cima, enquanto


Charlotte e sua família entravam no salão de baile. Ela escolheu usar uma
seda dourada, com uma sobreposição de renda preta e miçangas, que a
faziam parecer elegante e eminentemente desejável. Soltou um suspiro
lento, enquanto a observava da cabeça aos pés e de volta novamente.
Magnífica.

— Vamos ficar aqui a noite toda, ou...

Sem esperar que o irmão terminasse, partiu em direção à irmã e aos


Hanover. A tradição dizia que ele teria que pedir a mão de sua filha para
Lorde Hest, e ele, provavelmente, já deveria ter pedido. E sabia exatamente
por que não o fez. Em primeiro lugar, o conde o recusaria, e em segundo
lugar, ainda não tinha sido capaz de se convencer de que levá-la para a
Escócia não era totalmente egoísta.

Ela sorriu quando o viu, e ele teve que trabalhar para não acelerar seus
passos. Era gloriosa. Os homens que a olharam e passaram por ela, por
cortesia, porque queriam uma nova debutante ou porque só a viam como a
noiva de um homem morto, eram todos tolos.

— Boa noite. — disse, inclinando a cabeça ao chegar ao grupo.


— Glengask. — entoou seu pai, enviando a ele e Arran um olhar amargo.
— Por que insiste em fazer barulho?

— Não estou fazendo barulho. — retrucou, endireitando os ombros.

— Estou sendo o Marquês de Glengask.

Sua irmã se inclinou e o beijou na bochecha — Acho que parece brèagha,


Ran. — sussurrou — Ambos.

— Meus agradecimentos, piuthar.

Charlotte estendeu a mão, e ele abaixou a cabeça, para beijar seus dedos. —
Também acho que parece brèagha. — disse com um sorriso.

— Quase tem um sotaque adequado. — retornou — Diga-me que haverá


uma valsa esta noite.

— Serão duas. Qual gostaria? — tirou seu cartão de dança de sua bolsa.

— Ambas.

— Ranulf.

Ele estreitou os olhos — Já mencionei que os Sasannach são muito rígidos?

Com uma risada, lhe entregou o cartão de dança e um lápis — Sim, acredito
que sim. — Quando escolheu a segunda valsa da noite, ela deu um passo
para mais perto — Ouviu mais alguma coisa de Berling ou Gerden-Dailey?

— Nae. Na verdade, Debny tinha notícias de que George deixou Londres,


para Sholbray Manor. Vou encontrá-lo lá, no final do mês, mas ele pode ter
decidido sair procurando por conta própria. Eu lhe disse a localização
aproximada do túmulo.

— Foi uma coisa muito corajosa o que fez. — disse, seu olhar cor de avelã
cambiante encontrando o dele.
— Corajoso? Nae. Concordo que foi a coisa certa a fazer. E também direi
que Gerden-Dailey me surpreendeu um pouco. Na verdade, pensei que seria
mais provável que me respondesse com uma facada na moela.

Sua pele clara empalideceu. Maldição. Ela fez um elogio, e ele respondeu,
mais uma vez, como um bárbaro. Claro, era um bárbaro, de acordo com a
maioria das pessoas. Houve momentos em que gostou do título. Se ela
realmente desejaria ser conhecida como a esposa do demônio, porém, ele
não tinha ideia. Mas ia ter que perguntar a ela. Muito em breve.

Porque a única coisa pior do que tê-la recusando-o, seria especular sem
parar sobre como ela quebraria seu coração.

— Charlotte, — murmurou, agarrando-lhe os dedos — preciso lhe fazer


uma pergunta.

A respiração de Charlotte ficou presa em seu peito. Ele faria isso?

Iria, finalmente, perguntar-lhe? Sorriu para ele, desejando que ninguém


mais estivesse por perto, para que pudesse beijá-lo, até que nenhum deles
conseguisse respirar. — Estou ouvindo.

Uma mão deslizou ao redor de seu outro braço — Charlotte, as pessoas


estão começando a olhar. — disse sua mãe, favorecendo Ranulf com um
sorriso inquieto — E veja quem está aqui — Lorde Stephen Hammond.

Ranulf soltou a mão dela, como se não tivesse notado quanto tempo a
estava segurando. Ela gostava disso, que gostasse de tocá-la. Deus sabia
que desejava tocá-lo, mesmo que fosse apenas um roçar de dedos, ou sua
boca contra a dele — Ranulf. — murmurou.

— Encontrarei um ou dois momentos a sós para nós. — retornou no mesmo


tom.

— Ah, Lady Charlotte. — disse Lorde Stephen, aproximando-se e pegando


sua mão — Por favor, me diga que não deu as duas valsas, esta noite.

Ela fixou um sorriso, ao enfrentar o filho do duque, de cabelos claros.


No passado, tinha sido geralmente educado, se bem que de alguma forma...

condescendente. Mas no último ano, mais ou menos, seu tratamento com


ela havia mudado. Na verdade, até que ele aparecesse no sarau Esmond e
fosse tão agradável para ela, ele tinha a mesma probabilidade de fazer
piadas - aquelas que ela, sem dúvida, deveria ouvir - sobre a solteirona e os
tiros ruins.

— Eu…

Ele pegou o cartão de dança de sua mão, antes que ela pudesse terminar —
Ah, vejo que não. A primeira valsa deve ser minha, então.

Charlotte pigarreou, muito consciente de Ranulf parado, como uma


montanha de granito, bem atrás dela — Minhas desculpas, milorde, mas
prometi essa valsa ao Lorde Arran MacLawry. — não foi perfeito, mas
Arran estava por perto, e estava firmemente na categoria de aliado.

— Bobagem. — insistiu Stephen, e ela notou que seu bom amigo Simon
Beasley também havia aparecido — Simon, — continuou ele, escrevendo
seu nome a lápis e entregando o cartão dela ao Sr. Beasley — o que quer —
a primeira quadrilha, ou a última dança country?

— Lorde Stephen, não pretendo dançar muito esta noite. — tentou


novamente. — Por favor, me devolva.

Stephen riu — A senhorita não quer que todos pensem que se apaixonou
por um Highlander, quer? Uma vez que ele se for, e eu me assegurarei de
que irá embora em breve, provavelmente nunca mais voltará, a senhorita
não terá nenhuma esperança de ter um marido. Quem, em seu juízo perfeito,
pensará em se divertir, onde um escocês esteve?

Especialmente quando se sabe que já está, bem, na parte de trás da


prateleira.

Uma mão disparou de seu ombro, pegou seu cartão de dança e o entregou
suavemente a ela — Sinta-se livre para riscar isso. — Ranulf falou
lentamente — Será mais educado do que eu teria sido.
Seu súbito alarme se transformou em alívio. Ele, evidentemente, tinha
encontrado uma maneira de usar seu cérebro, em vez de seus músculos,
embora ambos fossem extremamente bons, e ainda mais queridos para ela

— Obrigada, milorde. — disse, fazendo exatamente como sugeriu.

— Está cometendo um erro, minha querida. — comentou Simon Beasley,


olhando-a de soslaio. Deus do céu, ele estava bêbado. E isso

significava que era mais do que provável, que Stephen também — Se


quiséssemos, poderíamos fazer com que nunca mais tivesse um parceiro
para uma dança.

— Isso parece pouco provável, cavalheiros. — interveio o pai dela, com a


mandíbula apertada, mas a expressão inquieta. Se alguém detestava uma
cena, mais do que ela, era o conde de Hest — Sugiro que encontrem algum
lugar para se recuperarem.

— E eu sugiro…

— Por que será, — interrompeu Ranulf, apenas o som de sua voz calando a
boca do filho do duque — que quando tem alguma dificuldade com um
homem, insulta as pessoas que estão perto dele, em vez de lhe dizer o que
realmente deseja? — moveu-se, para ficar ao lado de Charlotte.

Stephen bufou — Porque um tolo é um tolo, e não tem ideia de como se


mostra muito mal, mesmo que se tente fazer isso ardentemente óbvio para
ele. Aqueles que estão ao seu redor, no entanto, deveriam ter mais
conhecimento. — estreitou os olhos, focando em Charlotte novamente. —

Terá sorte se não tiver que pagar alguém para…

A mão de Ranulf disparou novamente. Desta vez, enrolada em um punho, e


atingiu Lorde Stephen Hammond no queixo. Stephen cambaleou para trás,
agitando os braços. No momento seguinte, Simon Beasley saltou para frente
e deu um soco na cabeça de Ranulf. Então, mais três homens vieram, todos
atacando o marquês.
Não estavam bêbados, percebeu num segundo momento de horror, depois
de decifrar o significado do que Hammond havia dito. Ele tinha mandado
incendiar o estábulo de Ranulf. Como isso não tinha parado o marquês,
fizeram isso agora. E tinham apenas esperado que Ranulf atacasse primeiro.
E então, sem dúvida, o espancariam até a morte e afirmariam que

estavam apenas tentando subjugar o demônio. — Parem com isso! —

gritou, batendo em Beasley com sua retícula.

Arran MacLawry apareceu e mergulhou no corpo a corpo, então, pelo


menos, Ranulf não estava sozinho. Todos os outros... todos poderiam ir para
o diabo. Ficaram bem fora do caminho, fingindo estar horrorizados e, ao
mesmo tempo, disputando um lugar, para ter uma visão melhor e fazendo
apostas no resultado.

De algum outro lugar, o visconde Swansley, de cabelos grisalhos, chegou,


praguejando, e arrastou alguém de cima de Ranulf. Seria realmente os
MacLawry contra o resto de Mayfair? Por quê? Pelo amor de Deus, Ranulf
tinha feito todo esforço para se encaixar. Eles não o deixariam. E se foi por
causa dela, porque algum aristocrata estúpido não gostou que um escocês
pudesse conquistar uma inglesa quando nenhum deles o fez...

— Cavalheiros! — gritou, batendo em outra pessoa, com sua pequena bolsa


de contas, desejando que fosse algo muito mais substancial — Parem com
isso de uma vez!

— Charlotte, afaste-se! — sua mãe gritou, correndo para puxar sua manga
— Pelo amor de Deus!

Lágrimas molharam suas bochechas, embora não soubesse quando começou


a chorar. Pegou um vislumbre de Ranulf, seu rosto ensanguentado.

— Parem! — gritou de novo, depois foi empurrada para trás, pelo cotovelo
de alguém.

Amaldiçoando, seu pai a puxou para seus pés, então entrou na luta.
Por um momento terrível, ela não teve certeza de quem estava ajudando, até
que Simon Beasley cambaleou por ela e então tropeçou no chão, com a
ajuda da bota de seu pai.

— Chega! — gritou o bem-educado lorde Hest. Finalmente, evidentemente


estimulado pela visão de seu respeitado pai tentando parar a

luta sozinho, lacaios e convidados e seu anfitrião, John Lansfield, o


Marquês de Ferth, se moveram, para começar a puxar os homens uns dos
outros.

Já podia ouvir os amigos de Lorde Stephen culpando o Marquês de


Glengask pela briga. - Bárbaro - e - diabo - e - maldito escocês - ecoaram ao
redor dela. Isso não podia ficar assim.

Agarrando a saia nas mãos, marchou até onde seu pai e lorde Swansley
seguravam Stephen Hammond pelo braço. — Não é um cavalheiro, sir —
disse bruscamente — e tenho vergonha de tê-lo chamado de amigo.

Ele zombou, com um lábio sangrento. — Fale com aquele grande demônio.
— retorquiu — Ele…

Charlotte lhe deu um tapa. Isso doeu em sua mão, mas não se importou —
Tudo o que Lorde Glengask fez, foi dar um passo à frente, quando se
comportou mal. Que vergonha!

Stephen Hammond olhou para ela, mas não disse mais nada.

Esperançosamente, percebeu que discutir com ela só o faria parecer mais o


valentão que era. Endireitando os ombros, ela virou-lhe as costas,
entregando o corte mais direto e mostrando todo desprezo que podia.

Janie a olhou, de olhos arregalados, então virou as costas para Lorde


Stephen também. Sua mãe seguiu o exemplo, um momento depois, então
Winnie e outra meia dúzia de mulheres - a maioria das quais estava perto de
sua idade, supostamente avançada, de solteirona ou não eram consideradas
as beldades da temporada e, sem dúvida, ouviram exatamente o mesmo de
Stephen - deram-lhe suas costas, rígidas e desaprovadoras. Ah. Esperava
que isso o machucasse.

O resto dos homens se levantou. Agora, finalmente, examinou bem Ranulf,


e não pôde evitar ofegar. Uma manga de casaco foi arrancada, a

outra rasgada, enquanto sua camisa estava meio rasgada e salpicada com
sangue vermelho vivo. Até um joelho estava cortado, embora seu kilt
parecesse intacto. Graças a Deus por isso.

Além da ruína de suas roupas, seu lábio estava cortado, o nariz sangrava e
um olho semicerrado. Enquanto o observava, ele pegou a cauda solta de sua
camisa e enxugou seu rosto. Seu irmão não parecia muito melhor, mas
Simon Beasley e seus amigos horríveis pareciam ter se saído ainda pior.

Ela avançou, levando a mão ao rosto dele e, no último minuto, lembrando-


se de si mesma e abaixando-a novamente. — Está ferido? —

perguntou, embora parecesse uma pergunta totalmente ridícula.

Ele balançou a cabeça, sua expressão sombria — Nae. Sinto muito, moça.
Eu não poderia... eu não poderia simplesmente ficar de pé e ouvir a
baboseira daquele amadan.

— Eu sei.

— Cavalheiros, — anunciou Lorde Ferth, enxugando as mãos, como se


tivesse tocado em algo desagradável, — não são mais bem-vindos aqui.

Não permitirei essa barbárie em minha casa. — olhou para Charlotte —

Não importa quem instigou isso. Não vou tolerar isso.

Resmungando algo, que soou muito desagradável, Arran pegou seu tio pelo
ombro e fez um gesto para seu irmão — Vamos sair desse maldito lugar,
Ran.

Ranulf assentiu, seu olhar ainda em Charlotte, como se estivesse tentando


memorizar suas feições. Como se esperasse nunca a ver novamente. Seu
coração parou em seu peito, deixando-a vazia e fria. Não.

Aquele homem estúpido e teimoso. Ele fechou os olhos por um momento,


então se virou para seguir seu irmão e tio para fora. É claro que faria a coisa
mais nobre e iria embora, porque achava que havia falhado

com ela. Porque pensou que tinha feito a única coisa que ela nunca
perdoaria - entrar em uma briga, por nenhum outro motivo, além de
orgulho.

Estava errado.

Charlotte respirou fundo e avançou. Sua mãe a agarrou, mas ela, facilmente,
evitou os dedos da condessa. Alcançando a montanha esguia e dura de um
homem, colocou a mão em seu ombro e puxou.

Ranulf parou e se virou — O que está fazendo, moça? — murmurou,


surpresa cruzando suas feições.

O que ela estava fazendo? O que poderia dizer aqui, na frente de todos, que
iria convencê-lo de que não o culpava pelo que tinha acabado de acontecer,
que ele se apresentou como um cavalheiro e depois agiu como um? Que não
era a mesma coisa que James Appleton tinha feito e que havia condenado
por tanto tempo?

A resposta, claramente, foi nada. Não havia nada que pudesse dizer, que ele
achasse que fosse algo além de ela sendo gentil.

Então Charlotte colocou as duas mãos na frente de sua camisa rasgada,


levantou-se na ponta dos pés e beijou-o na boca.

Ele ficou absolutamente imóvel, claramente surpreso. Então sua boca


moldou contra a dela, e seus braços fortes envolveram sua cintura,
esmagando-a contra ele. Não sabia se alguém ofegou ou desmaiou ou
qualquer outra coisa. Tudo o que sabia era que ele a beijou de volta.

Depois de um breve e eterno momento, ele ergueu um pouco a cabeça,


olhando-a. Seus olhos azuis brilharam escurecidos — Se arruinou.
— Eu sei.

Sua boca se curvou em um sorriso lento — Eu te amo, Charlotte. —

murmurou — É tão querida para mim, que não acho que poderia suportar
ficar sem você.

— E eu te amo, Ranulf. — sussurrou de volta — Leannan.

— Então, pelo amor de Deus, diga que vai se casar comigo, moça. —

retornou, sua voz carregada e instável nas bordas.

Ela assentiu, as lágrimas escorrendo pelo rosto mais uma vez. Mas desta
vez eram de alegria — Aye, me casarei com você. Eu quero me casar com
você. Quero morar em Glengask. E não tenho medo. Nunca tive.

Com um rugido, ele firmou seu aperto em sua cintura e a ergueu no ar,
circulando com ela em seus braços — Eu te amo, Charlotte! — ele gritou,
rindo.

Charlotte sorriu para ele. — Eu te amo! — Meu demônio escocês.

Meu Highlander. Meu Ranulf.

Vem por aí
O

ML

tinha um velho ditado que ao longo dos anos se tornou:

— Se quiser ver o rosto do diabo, olhe para um Campbell.

Havia outro ditado sobre Londres e os fracos Sasannach que viviam lá,
lembrou Arran MacLawry, mas como, atualmente, estava no centro de
Mayfair, em um salão de baile, guardaria isso para si mesmo. Várias moças,
todas usando máscaras de cisne, elegantemente arqueadas, passeavam em
bando. Sorriu para elas, interrompendo a formação e enviando-as, emitindo
sons femininos, em direção à mesa de refrescos.

— Pare com isso, seu demônio.

Arran olhou para seu irmão, sentado a poucos metros de distância e em uma
conversa profunda - ou assim pensou - com uma elegante coruja.

— Eu não fiz nada além de sorrir. Me disse para ser amigável, Ranulf.

Ranulf, o Marquês de Glengask, balançou a cabeça. Mesmo com o rosto


parcialmente obscurecido por uma meia-máscara de pantera negra,
provavelmente não havia um único convidado na festa de Garreton, esta
noite, que não soubesse exatamente quem era — Eu disse para ser educado.

Sem brigas, sem insultos e sem deixar as mocinhas Sasannach em frenesi.

— Então talvez eu devesse ter usado uma máscara de vaca ou pombo, em


vez de uma raposa. — Ou, talvez, não devesse ter comparecido esta noite,
mas então, quem vigiaria os Campbell e outros tipos desagradáveis?

A coruja ao lado de seu irmão riu — Acho que o disfarce não importaria,
Arran. — disse em seu culto sotaque inglês. — Ainda faria todas as jovens
se sentarem e prestarem atenção.

— Suponho que seja um elogio, Charlotte. — retornou, inclinando a cabeça


para a noiva Sasannach de seu irmão mais velho — então vou dizer,
obrigado. — nesse mesmo momento, avistou uma esplêndida máscara de
pavão, sobre um vestido violeta profundo, mas seu sorriso congelou,
quando o cisne verde e dourado apareceu ao lado dela. Maldição. As duas
jovens deram os braços e se viraram em sua direção, mas não achava que o
tinham visto ainda. — Sua linda irmã não seria um cisne esta noite, não é?

— perguntou a Charlotte, endireitando-se lentamente de seu encosto contra


a parede.

— Sim. — Charlotte retornou. — Pobrezinha. Acho que não percebeu que


tantas outras estariam usando máscaras de cisne também, hoje à noite.

— Bem, quando a vir e a Winnie, diga às moças que eu disse olá. —

falou, virando-se para a porta principal do salão de baile. — Vejo o tio


Myles, e sei que queria falar comigo.

— Mentiroso. — disse Ranulf.

Como Arran já estava na metade do caminho para o salão ao lado, fingiu


não ouvir. Não precisava estar usando uma máscara de raposa, para sentir
problemas, e Jane Hanover, de dezoito anos, não era nada além disso.

Amiga mais querida de sua irmã ou não, era uma debutante, uma
Sasannach e uma romântica. Arran estremeceu, olhando por cima do
ombro. O diabo o leve antes que se deixe levar por isso.

À sua esquerda, começou a música para a primeira valsa da noite.

Maldição. Jane Hanover iria rastreá-lo, informá-lo de que não tinha parceiro
para a dança, e ele teria que ser educado, porque estavam prestes a se tornar
parentes. Antes que a música terminasse, se encontraria noivo.

Um pavão e um cisne correram pela porta, atrás dele. O que quer que
Ranulf dissesse, ele não tinha intenção de ser educado, a ponto de acabar
com as pernas algemadas, por uma debutante de rosto fresco que o achava -

rudemente atraente. Ao passar por entre dois grupos de convidados, virou


novamente - e quase caminhou direto para uma meia-máscara vermelha e
dourada de raposa.

— Sir Fox. — disse, um sorriso curvando sua boca sob a máscara.

— Lá está ele, Jane! — ouviu sua irmã, Winnie, exclamar.

— Lady Vixen. — retornou. — Suponho que gostaria de dançar esta valsa


com um de sua espécie?

Olhos verdes o fitaram, por meia dúzia de batimentos cardíacos, enquanto


seu destino se movia atrás dele. — Ficaria encantada, Sir Fox. —

disse a raposa, salvando-o em cima da hora.

Estendeu a mão, e dedos enluvados em ouro agarraram os dele.

Movendo-se o mais rápido que podia, sem arrastá-la - ou dar a impressão de


que fugia de outra pessoa - a escoltou para a pista de dança, deslizou a mão
em torno de sua cintura e entrou com uma raposa na valsa.

Sua parceira era pequena, notou tardiamente, o topo de sua cabeça apenas
roçando seu queixo. E tinha um sorriso acolhedor. Fora isso, poderia ser a
rainha Caroline, pelo que sabia. Ou se importou. Não era Jane Hanover e,
no momento, isso era o mais importante.

— Vamos dançar em silêncio, então? — perguntou, o tom da aristocracia de


Londres em sua voz. — Duas raposas entre rebanhos de cisnes e ursos e
leões?

Arran sorriu — Quando olhei para a mesa de sobremesas, fiquei surpreso


por não ver cestas de milho para todos os pássaros.

— Ela assentiu, erguendo o rosto, para encontrar seu olhar — Pobres


queridas. Evidentemente, Lady Jersey usou uma máscara de cisne,
particularmente adorável, nesta mesma festa, no ano passado, e isso
provocou uma espécie de frenesi.

Enquanto ela olhava para o salão de baile lotado, ele a absorveu novamente.
Pequena, esbelta, olhos verdes claros e cabelos... Não tinha certeza de qual
cor denominar. Uma massa longa e encaracolada, que escapava de um
coque, parecia o que resultaria, se um pintor passasse sucessivamente um
pincel de pontas marrons por ouro e vermelho - uma mistura profunda e rica
de cores que, juntas, não tinham um nome.

Ele piscou. Embora fosse conhecido por se tornar poético, geralmente não
sobre o cabelo de uma moça — Por que Lady Vixen já não tinha um
parceiro para uma valsa? — perguntou.

— Acabei de chegar. — retrucou com sua voz sedosa — Por que Sir Fox
estava fugindo de um pavão?

Então ela percebeu isso. — Eu não estava fugindo do pavão. Esse pássaro é
minha irmã. É o cisne que me apavora.

O olhar verde segurou o dele, e se pegou desejando poder ver mais de sua
expressão. Como um Highlander e um MacLawry, a capacidade de avaliar a
ameaça de uma carranca ou um olho trêmulo com rapidez e precisão salvou
sua vida em várias ocasiões.

— Todos os cisnes, ou apenas aquele? Não têm cisnes nas Highlands?

Claro que ela sabia de onde ele era; mesmo que toda Mayfair não estivesse
comentando sobre os MacLawry, brigando pelas salas de estar, seu sotaque
teria tornado isso bastante óbvio. Ao contrário de sua irmã,

Rowena, ele não fez nenhuma tentativa de disfarçar ou abafar seu sotaque.

Ser um MacLawry era uma questão de orgulho, para ele — Sim, têm cisnes
lá, embora não muitos. É mais fácil evitá-los nas Highlands, onde um rapaz
conhece o terreno e há mais espaço para manobrar.

— Eu não tinha ideia de que cisnes fossem tão mortais.

— Sim. Eles vão te pegar quando não estiver olhando, e acasalam para a
vida toda.

Ela riu — Ao contrário das raposas?


As raposas acasalam para toda a vida? Neste momento, não conseguia nem
lembrar. Depois de uma quinzena passada, caçado por perigos mais
humanos, tanto masculino e feminino, uma discussão da vida selvagem -

mesmo uma alegórica - parecia... refrescante — Esse raposo não está


procurando nada além de um parceiro para a valsa. — retrucou, sorrindo de
volta para ela. — E a raposa?

— Eu estava procurando uma amiga minha. Um interlúdio com um raposo


é uma inesperada... distração. E se disser algo lisonjeiro, nem me ofenderei
por só me pedir para dançar, para evitar um pássaro.

Isso foi um corte? Ou uma brincadeira? O fato de não poder ter certeza
disso o intrigava. As moças Sassanach, em sua experiência e com
pouquíssimas exceções, sabiam tudo sobre o clima e podiam discuti-lo por
horas, mas ele não podia dar crédito a elas por muito mais — Algo
lisonjeiro. — meditou em voz alta, tentando decidir quanto esforço fazer. —

Dança graciosamente. — decidiu.

Ela riu de novo, embora não soasse tão convidativo, desta vez —

Certo. Acredite ou não, o senhor não é o primeiro escocês a dizer isso. É

muito semelhante à maioria deles.

Arran estava certo de que tinha acabado de ser insultado. Escondeu uma
carranca, não que ela pudesse ver por trás da máscara de raposa —

Conheço-a há dois minutos, moça. — comentou, puxando-a para mais perto

— Pensei dizer que tinha uma pele linda e orelhas pontudas, mas eu não
sabia se apreciaria isso.

— E por que uma raposa não gostaria de ouvir que um raposo admira sua
pele?

— Porque não é uma raposa, não mais do que eu sou um raposo.


Escolheu não usar uma máscara de cisne, o que, pelo menos, a diferencia de
uma dúzia de outras moças aqui, esta noite, mas estou usando um raposo,
porque minha irmã me deu. Acho que prefiro ser um lobo, na verdade. —

sim, a família geralmente o chamava de inteligente, e Rowena parecia


suficientemente satisfeita com a escolha que tinha feito, mas era um pedaço
de papel-mâché bem pintado - e nada mais.

— Eu queria ser uma raposa. — ela disse. depois de um momento. —

Meu pai queria que eu fosse um cisne.

Agora isso era interessante. — E, no entanto, aqui está, e não é um cisne. —


também era jovem - talvez três ou quatro anos mais velha que Rowena -
com uma boca atraente, lábios que pareciam naturalmente querer sorrir e os
olhos verdes sombreados, que imaginava enrugando nos cantos.

Se Arran não estivesse com as duas mãos ocupadas com a valsa, estaria
lutando contra a vontade de tirar a máscara dela, para poder ver todo seu
rosto, para saber se as partes eram iguais à soma.

Seus lábios se curvaram novamente. — E isso é um elogio, Sir Fox.

— inclinou a cabeça, as luzes douradas em seu cabelo refletindo a luz do


candelabro. — Ou quer que o chame de Sir Wolf?

Sobre a Autora

Nativa e atual residente do sul da Califórnia, S

E
adora cinema quase tanto quanto adora livros, com um lugar especial em
seu coração para qualquer obra de Guerra nas Estrelas. Ela escreveu trinta
romances de Regência e romances históricos, que podem ser encontrados
regularmente na lista de best-sellers do New York Times. Quando não está
ocupada trabalhando em seu próximo livro, Suzanne gosta de contemplar
fenômenos interessantes, como a forma como os 3 lebistes em seu aquário
se tornaram 161 lebistes em 5 meses.

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Folha Rosto
Direitos Autorais
Glossário
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
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