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Sinopse
Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Sinopse
Em uma missão para resgatar sua irmã fugitiva da atração por elogios
floridos e inúteis, de biltres vestidos de cetim e disfarçados por seus
pretensiosos títulos, Ranulf MacLawry, marquês de Glengask, irrompeu na
sociedade britânica como uma tempestade através das Highlands. Mas ele está
prestes a descobrir que o cetim tem seu apelo, especialmente quando abrange
as curvas de lady Charlotte Hanover, cuja língua é tão afiada quanto sua pele é
macia...
Lady Charlotte Hanover já tinha tido suficiente de homens esquentados,
tendo perdido seu noivo em um duelo absolutamente desnecessário. Os
músculos sempre vão triunfar sobre os cérebros? Mas há algo sólido e
atraente sobre o highlander impetuoso que é tão perigoso no salão de baile
como na batalha. Às vezes, o mais forte é realmente melhor...
Prólogo
- Por que você fez isto, Bear? - Rowena MacLawry olhou para as
pétalas de rosas brancas e vermelhas espalhadas por toda a sala.
Seu irmão Munro correu o olhar ao longo da extremidade de sua espada.
- De que forma mostraria como a lâmina está afiada, Winnie?
- Mas tirou o topo de todas as rosas! - Rowena agitou o vaso com seus
talos nus para seu irmão. – Não deveria ter feito, sim?
- Não foi tão impressionante. Caíram com um corte.
- Eram minhas flores de aniversário, Bear, seu estúpido desajeitado. Do
tio Myles. - Ela olhou para seu irmão mais velho, que estava lendo o jornal e
fingindo não notar qualquer caos acontecendo na sua frente. - Ranulf, faça
alguma coisa.
- As flores se foram, moça. - Ranulf MacLawry, o marquês de Glengask,
comentou, olhando por cima do jornal. - Deveria fazer Munro colar as pétalas
de volta?
- Você poderia impedi-lo de balançar uma espada de manhã na sala. As
flores percorreram um longo caminho, vieram de Londres - disse ela,
suspirando.
- Afinal, quem quer flores de aniversário? - O terceiro homem na sala,
Lachlan MacTier, visconde Gray, perguntou, pegando a claymore de Munro e
experimentando-a, cortando o ar. - Agora isto é um presente. Roderick forjou
isto para você, Bear?
- Sim, - respondeu Munro - custou-me um barril e quatro garrafas.
- Pagaria duas vezes mais.
- Se estão tentando me dizer que compraram uma claymore para meu
aniversário, Lach, - Rowena interrompeu, claramente irritada em ser ignorada
em favor de uma espada - podem voltar e levá-la de volta.
Lachlan olhou-a, estreitando seus verdes olhos. - Uma moça não tem
negócios com uma espada, Winnie.
- Por isso não quero uma. O que vou ganhar, então?
Com um meio sorriso, Lachlan tirou um embrulho detrás da cadeira. -
Acho que você vai fazer mais uso disto do que de uma espada. Feliz
aniversário, Winnie.
A partir de seu assento no fundo, Ranulf finalmente abaixou o jornal que
estava lendo. As informações que traziam eram de uma semana atrás, na
melhor das hipóteses, mas não gostou do que havia sido anunciado. De fato,
ele teria apreciado dar alguns golpes com a maldita espada do seu irmão.
Na verdade, ele realmente não podia lembrar quando tinha gostado de
quaisquer notícias de Londres. Mais regras e regulamentos que não faziam
nenhum bem, mas que resultavam em impostos mais altos. Se os sasannachs
não podiam manter os highlanders à distância ou matá-los, certamente
encontraram a maneira de derrotá-los de uma vez por todas – levando-os à
falência. Quando mudou de posição, seus dois cães de caça escoceses
estenderam-se a seus pés, provavelmente perguntando-se por que eles ainda
não haviam saído para a corrida matinal.
O atraso deu-se inteiramente pela moça do lado de sua cadeira na sala.
Quando chegava o aniversário de Rowena, todo o clã ficava envolvido para
celebrar, mas este aqui era especial. Então seu passeio e a corrida com os
cães, podiam esperar até que sua irmã abrisse os presentes.
Com um sorriso animado em seu rosto, Rowena rasgou o papel do
presente que Lachlan lhe deu. Com a mesma velocidade, entretanto, sua
expressão caiu.
- Botas - ela disse em voz alta, olhando para seu vizinho mais próximo. -
Você me comprou botas.
Lachlan assentiu, uma mecha de seu cabelo castanho caindo sobre um
olho.
- Botas para cavalgar. Porque arruinou as suas de lama no último mês. –
O brilho de seu sorriso desapareceu. - O quê? Sei que elas servem, Mitchell
me deu o número de seu sapato.
- Sou uma lady agora, Lachlan. Poderia ter me trazido flores ou um bom
gorro. Ou pelo menos sapatos para dançar.
Ele bufou.
- Conheço você desde que nasceu, Winnie. Botas são melhores.
Ranulf pôs o jornal de lado completamente, apontando para os dois
flautistas de pé no corredor, longe da vista dos ocupantes da sala, pedindo-
lhes para se retirar. Sua irmã mais nova era uma moça encantadora, bem-
humorada, mas tinha visto esta tempestade à espreita no horizonte há dias. E a
gaita de foles provavelmente não melhoraria o humor de ninguém.
- Mas não sou mais uma menina teimosa que cavalga pelos campos,
Lachlan. – Rowena disse, sua expressão uma mistura de irritação e tristeza. -
Você não viu?
Lorde Gray riu.
- Isso foi ontem, então? Hoje não monta mais? Não seja boba, Winnie.
Sem dizer nada, Rowena virou-se para Ranulf.
- É minha última esperança, nobre irmão - disse, sua voz um pouco
vacilante. - Qual é o meu presente?
Por um momento seu irmão mais velho a olhou, o sentimento inquieto de
trovoadas esvoaçando novamente ao longo de sua pele.
- Disse que queria um vestido novo - finalmente falou. - Um verde.
Mitchell o tem preparado para você no andar de cima, então, pode usá-lo no
jantar. Ao contrário das botas, é adequado para dançar.
Enquanto a observava, uma grande lágrima se formou e correu por uma
das bochechas de Rowena. Maldito Saint Andrew. Cometeu um erro, então.
Como, não estava totalmente certo, mas claramente algo saiu errado.
- Winnie, por que você está chorando? - Outra voz masculina perguntou
na entrada da sala de estar, Arran MacLawry, o quarto irmão e o mais próximo
em idade de Ranulf, entrou na sala. - Arranque as botas de Lach, então?
- Não começou a chorar até que Ran comentou sobre seu vestido -
Munro retornou. - Acho que queria um azul, depois de tudo.
- Bem, isto deve te alegrar. - Arran entrou e deu a sua irmã um pequeno
pacote embrulhado.
- Deixe-me adivinhar - Rowena comentou, enxugando sua bochecha. - É
uma bússola, então, se acontecer de me perder enquanto cavalgo na nova sela
de Bear, com as novas botas de Lachlan.
Arran franziu a testa.
- Não. É um relógio pequenino em um broche. É muito inteligente. Foi
transportado de navio desde Genebra, depois que vi um anúncio na loja
Ackermann.
- Isso é muito bom, então. Obrigada, Arran.
Munro pegou de volta sua claymore de Lachlan e espetou-a não muito
gentilmente no chão de madeira danificado. Não foi a primeira arma que
descansava lá e provavelmente não seria a última. Os flautistas e meia dúzia
de empregados estavam novamente de volta no corredor e Ranulf deu-lhes um
olhar mais duro, com um aceno de dispersar. Claramente sua irmã não estava a
fim de um maldito desfile, até mesmo um bem-intencionado.
- Somente Arran recebe agradecimentos e nós só temos lágrimas e
somos chamados de idiotas? - Munro replicou.
Em vez de responder, Rowena pousou seu relógio e caminhou
lentamente até Ranulf. Quando ela se aproximou, os cães empurraram suas
cabeças contra suas palmas, mas ignorou o pedido óbvio para afagá-los. Não
agourava nada de bom. Não o chamou de idiota, mas pareceu estar implícito.
E Ranulf não ligava muito para isso. Sua irmã pediu um vestido verde
esmeralda, afinal de contas, e providenciou um. Um muito bonito, e muito
caro. De Paris, e dane-se o resto.
Quando Rowena puxou-o, não resistiu. Mas quando lhe segurou ambas
as mãos com seus pequenos e delicados dedos, franziu a testa.
- Queria algo mais, então - retumbou, desejando, e não pela primeira
vez, que tivesse outra mulher na casa. Então alguém, pelo menos, teria uma
chance de entender a jovem MacLawry. Havia sido fácil quando era uma
criança, mas ultimamente parecia cada vez mais uma criatura inteiramente
estranha. - O que é? Sabe que se estiver em meu poder, pegarei para você,
Rowena.
- Bem, você sabe o que quero, Ranulf. Faço dezoito anos hoje. Quero
minha temporada. Em Londres. Isto é....
- Não. - cortou, de cara feia, tanto na forma alterada de seu discurso
como na própria ideia em si. - Combinamos que sexta-feira celebraríamos seu
aniversário. O clã inteiro está vindo. Todos os rapazes galanteadores estarão
aqui, lutando para dançar com você. É melhor que qualquer festa em Londres.
Com um suspiro mal escondido, ela olhou por cima do ombro em
direção aos outros três homens na sala.
- Você lutaria por uma valsa comigo, Lachlan MacTier?
- E ter meus pés pisados e doloridos? - O visconde riu novamente. -
Estou com você o tempo todo. Deixe outros rapazes galanteadores lutarem por
uma dança.
- Nenhum rapaz galante brigará por uma dança comigo, porque todos
estão com medo dos meus irmãos. - Rowena replicou.
- Bem, eu também estou.
- Você não.
Ranulf mexeu-se, pouco disposto a escutar por que um homem deveria
ou não temê-lo. Um homem deveria. E sabia disso.
- Você não deseja um parceiro, Rowena. Vai ser uma grande festa.
Finalmente, encarou-o de novo.
- Não quero uma festa estúpida com pessoas que conheci toda minha
vida e que todos pensam que uma dança é uma desculpa para uma luta. Quero
a minha temporada. Em Londres. A mamãe teve uma.
- Mamãe era inglesa - retrucou, rosnando sobre a palavra. - Sabe quem
vive em Londres, Winnie. Almofadinhas e dândis, ingleses covardes. Vai ter
uma festa bem aqui e esperar ansiosamente. E se um homem não pode respeitar
a noção de que está de igual para igual com o chefe de seu clã, não merece
dançar com você.
Colocando as mãos em seus quadris e erguendo seu queixo Rowena
disse.
- Você quer que eu prefira Glengask a todos os lugares no mundo, Ran,
mas não me deixa ver nenhum outro lugar. Não tenho nada para comparar,
exceto minha própria imaginação e na minha mente, Londres é muito
maravilhosa, na verdade.
- Pela última vez, maldição, Londres está cheia de bajuladores inúteis
que não podem erguer-se de suas próprias selas. Suba as escadas e
experimente seu vestido. Esta discussão acabou.
- Ranulf, v...
- Acabou - repetiu, e cruzou os braços sobre o peito. Rowena era uma
coisa delicada, pequenina, mas muito parecida com sua mãe, deixava-o
desconfortável. Para seu bem, não se afastaria dele, mas sabia tão bem quanto
ele quem havia ganhado o argumento. Rowena não iria a Londres. Nunca.
Com um último olhar úmido, virou e fugiu pela porta. Um momento
depois, ouviram a porta no andar de cima bater. Os outros três homens no
aposento o olharam, mas nenhum disse uma palavra. Não o fariam, embora;
seus irmãos, pelo menos, conheciam o restante do argumento por que não se
preocupou sobre o desejo de Rowena - que Londres também estava cheia de
aristocratas que reivindicariam a terra escocesa, enquanto negavam sangue
escocês e ascendência, homens que viviam tão longe das Highlands, como
poderiam administrar enquanto dirigiam seus arrendatários de sua terra natal
para transformar o solo para ovelhas. Que Londres também estava cheia de
traidores. Traidores e assassinos.
- Estou indo para um passeio. Fergus, Una, - disse, e saiu da sala sem
olhar para trás, os cães em seus calcanhares.
Debny, o cavalariço, devia tê-lo visto chegando, porque quando
alcançou o pátio do estábulo, Stirling estava esperando por ele.
Movimentando-se na sela, incitou com os joelhos o esguio baio e partiu pelo
caminho montanhoso que serpenteava para o leste, atravessando uma parte da
encosta varrida pelo vento e então dobrando e descendo em um desfiladeiro
arborizado, os cães flanqueando-o de ambos os lados. O rio Dee rugiu abaixo
no centro do desfiladeiro, descendo para o vale e, em seguida, as terras baixas
muito além de uma série de precipícios de granito que tinham a aparência
semelhante às escadas de um gigante.
Toda vez que passava por esta trilha, a beleza o atingia mais uma vez,
mas hoje mal levou um momento para perceber que uma das antigas árvores
tinha caído na última tempestade. Rowena só pensava em ir a Londres porque
havia lido os diários de sua mãe e as páginas da maldita sociedade nos
jornais. Pelo menos no último mês, Cooper os tinha queimado no momento em
que chegaram, mas, claramente não fez a menor diferença.
Desacelerando a caminhada para contornar uma queda mortal, continuou
rio acima. Lá em baixo, onde o rio se derramava no vale, ficava a aldeia de
An Soadh, sua aldeia, cheia de aldeões, pastores, fabricantes de cerâmicas e
lojistas. Esta manhã, não se importava de ouvir qualquer um deles elogiar suas
graças ou abençoar sua querida família ou agradecer-lhe o convite para a festa
em Glengask Hall na sexta-feira.
Uma leve névoa encobria o topo das árvores esta manhã, a pálida luz
solar caindo em fluxos visíveis nas rochas cobertas de musgo, rochas afiadas
e, arbustos castigados pelo tempo escondidos entre eles. Como, em nome de
Deus, alguém poderia preferir a chuvosa e deteriorada Londres por isto, não
tinha ideia. Um cervo correu por trás de um agrupamento de pedregulhos e
surgiu dentre as ravinas estreitas em direção à charneca coberta de urze acima.
Seus cães de caça rugiram e correram atrás dele e Ranulf estendeu a mão para
seu rifle, então percebeu tardiamente que não o trouxe. Com uma maldição,
assobiou para Fergus e Una voltarem para seu lado.
Esquecer seu rifle, foi tolice. Tão solitárias como as Highlands eram,
tão vazio de pessoas a maioria dos cantos e recantos foram se tornando, ali
sempre havia um lugar para um sujeito desprezível esconder-se. Por um
momento, considerou girar e voltar para Glengask para pegar uma arma, mas
hoje seria mais provável ser emboscado por sua irmã em casa, que por
qualquer mal-intencionado na vastidão.
Ou assim pensou. Ao som fraco, de cascos abafados de musgo atrás
dele, Ranulf desviou Stirling para as árvores. Um ataque, em plena luz do dia
no meio de suas próprias terras seria realmente corajoso, de fato, mas foi o
único que havia negligenciado a armar-se contra tal coisa. Curvando-se, puxou
a longa lâmina estreita da bainha de sua bota. Os malditos renegados achariam
que não era impotente. Se quisessem derramar seu sangue, veriam que
perderiam uma quantidade do deles, também. - Fergus, Una, em guarda, -
murmurou, e os pelos dos grandes cães de caça eriçaram-se.
- Ran! Ranulf!
Ao som da voz de seu irmão, Ranulf abaixou os ombros. - Fergus fora.
Una fora. - Incitou Stirling, voltando para a trilha estreita. - Não sabe o
significado da palavra 'sozinho'? - Perguntou.
- Você disse 'sozinho'? - Não era apenas Munro, mas Arran e Lachlan
também, trotavam ao lado do rio em sua direção. Munro, o mais jovem deles,
em relação à Rowena, lançou um rifle em sua direção. - E você sabe muito
bem que não pode sair desarmado - continuou, franzindo a testa.
Ranulf pegou a arma com sua mão livre, e com a outra girou a lâmina
que ainda segurava em seus dedos antes de enfiá-la de volta em sua bota. -
Não estou desarmado. E apostaria que Fergus ou Una poderiam parar um
cavalo, se desejassem isso.
- Eles não poderiam correr mais que uma bala de mosquete. - Arran
gesticulou para o cabo da faca. - E isso não os afastaria de você, mas
covardes raramente atacam de perto.
- É preciso três para entregar uma arma de fogo, agora? - Verdade ou
não, não iria deixar nenhum deles repreendê-lo. Era o maldito primogênito, e
por quatro anos. Arran não teria trinta por mais três anos – ou não, se não se
importasse consigo mesmo.
- Estou aqui porque é mais seguro do que ficar em casa - seu herdeiro
natural falou devagar atrás dele, despreocupadamente. Bateu levemente no
saco amarrado na parte de trás da sela. - E trouxe equipamento de pesca.
- Eu vim porque não queria uma sela lançada em minha cabeça, - Munro,
Bear para sua família e amigos, destacou com um sorriso. - Ela trancou-se em
seu quarto, mas quem sabe quanto tempo isso vai durar?
- E eu não queria ficar lá sozinho com Winnie, - Lachlan colocou.
- Não sei por que não - rebateu Arran. - Você que disse que não dançaria
com ela, seu covarde.
- Ela é uma criança. Conheço-a desde que seu cabelo era muito curto
para fazer tranças. Não sei por que está agindo de forma tão estranha
ultimamente, mas não quero participar.
- Está agindo de forma estranha porque gosta de você, Lachlan - Arran
rebateu. - Embora não saiba como Ranulf se sente sobre o assunto.
- Nem eu sei - disse Ranulf, embora não fosse inteiramente verdade.
Lachlan olhou-o.
- Sinto que deveríamos ir pescar. E ela só pensa que gosta de mim
porque sou o único homem próximo de sua idade que você permite perto dela.
O que provavelmente era verdade, mas como Ranulf tinha decidido há
vários anos que Lachlan seria um bom partido para Rowena, não via qualquer
razão para expressar-se sobre o assunto. E, em vez de comentar a declaração
de Lachlan, gesticulou em direção à cachoeira e subiu adiante. - Até o lago,
então, enquanto ela esfria a cabeça.
Um dia inteiro para trazer trutas e percas, e especialmente para assistir
Munro deslizar seu traseiro em Loch Shinaig, certamente melhoraria o humor
de Ranulf. Só podia esperar que o dia passado com Mitchell, a criada meiga
de Rowena, ajudasse a melhorar o humor dela também. Se deixasse apenas
seus fantasiosos devaneios por um momento, seria obrigada a perceber que
recebeu delicados presentes de irmãos e amigos que gostavam muito dela, e
aquela sexta-feira seria a maior festa que as Highlands tinham visto em
décadas.
Era quase pôr de sol no momento em que entregaram suas cordas de
peixe a Cooper, quando o mordomo abriu a porta da frente.
- Lady Rowena? - Ranulf perguntou, tirando seu sobretudo e lama de
suas botas.
- Nenhum sinal dela - Cooper respondeu, sinalizando para um lacaio vir
e pegar os ingredientes da ceia. - Stewart Terney veio solicitar falar com você,
milorde, mas disse que não importava, que vocês vão se encontrar amanhã no
moinho e que podia esperar até lá.
Ranulf assentiu com a cabeça.
- Obrigado.
- Sim - Bear disse. - Se o mandasse até o lago atrás de nós, o rosto
sisudo do homem iria deixar todos os peixes de barriga para cima.
- Chega disso, Munro. - Ranulf concedeu a seu irmão uma breve careta. -
Você ficaria irritado também com somente Glengask enviando seus grãos. No
tempo do seu avô, tinha negócios com os Campbells e os Gerdenses e os
Wallaces, além de nós. - Esperava que fosse capaz de aumentar a quantidade
de trigo enviada para o moinho, pelo menos, dependendo da taxa ajustada que
poderia fazer com Terney e o clima no verão.
- Espere até Winnie pegar o cheiro de truta assada - Munro falou
lentamente, olhando para cima. - Vai atraí-la. - Pausou, olhando acima de seu
ombro. - Um jogo de dardos, Lach?
Uma vez que os dois outros homens se foram, Arran virou-se e inclinou
o queixo para o mordomo. Com um aceno rápido, Cooper e os dois lacaios
que o acompanhavam, desapareceram no interior da casa grande. Ranulf
inclinou-se contra a parede do hall de entrada e cruzou os braços sobre o
peito. - O quê?
- Só que você, eu e Bear fomos para a Inglaterra e retornamos sem
danos.
- Não é o mesmo - Ranulf rebateu. - Eu, pelo menos, não fui de olhos
fechados, esperando um conto de fadas. E pelo que me lembro, você teve
encontro com uma guerra.
- Eu servi, tal como foi suposto. Não evite o ponto, Ran.
- Que ponto é esse?
- Winnie está com uma ideia fixa na cabeça e dizer-lhe não, não vai
impedi-la de querer ir.
- Não vou deixar, Arran. Se os Sasannach fizessem da sua maneira, não
haveria nada além de ovelhas em toda as Highlands e nosso clã inteiro se
lançaria ao vento com todo restante. Todos os ingleses querem dinheiro. E
controle. Não vou dar minha única irmã para eles. Ela é escocesa e vai ficar
na Escócia. Tem um marido esperando-a, uma vez que Lachlan perceba que
não é mais uma criança.
- A menos que Lach tenha uma moça diferente em mente. Mas isso não
vem ao caso, agora. Rowena também é metade inglesa, - Arran disse
calmamente. - Tal como você, eu e Munro.
- Não a metade que importa - replicou, então respirou. - Não vou ter
essa discussão com ela ou com você ou com qualquer outro. Vai ficar em
Glengask. Está segura aqui.
Arran abriu a boca, e depois fechou-a novamente.
- Você poderia pelo menos explicar-lhe seu raciocínio, então.
Tinha explicado até que ficou sem fôlego, voz e paciência.
- Se ela não sabe o motivo até agora, terá simplesmente que aceitar
minha decisão sobre o caso. Vai ficar e terá uma grande festa, mesmo que
fique emburrada.
- Ah, soa grande isso!
Ranulf enviou a seu irmão um olhar de soslaio que fez Arran dar um
passo para trás.
- Ela sabe que não deve me pressionar - disse. - Não vou discutir este
assunto com ela novamente e não vou desperdiçar meu fôlego para discutir
com você.
- Sim, todos nós sabemos que é melhor não lutar contra você. - Arran
virou-se para a porta. - Acho que vou juntar-me a Munro e jogar algumas
coisas pontiagudas na parede.
Por um momento, Ranulf considerou juntar-se a seus irmãos e Lachlan,
mas as probabilidades eram que os três estariam discutindo se uma temporada
em Londres seria tão ruim para Rowena. Estariam relembrando velhas
histórias que tiveram em Oxford e suas próprias viagens frequentes até a
cidade. Arran, especialmente, refletiria que seus quatro anos passados no
exército de Sua Majestade não o fez menos escocês. Estavam todos corretos e
estavam todos errados.
Rowena não queria férias em um lugar distante. Tinha lido os diários de
sua mãe e ficou cativada que uma vida afável de festas e vestidos de renda e
de homens que gastavam tanto tempo se vestindo como qualquer mulher.
Achava que queria ser inglesa.
É claro que ela cresceria fora disso, uma vida de distrações maçantes,
ociosas e esnobes não eram uma vida mesmo, mas até então, ficaria muito bem
em Glengask. Sob seu olhar atento. Sob sua proteção. Quer apreciasse seus
esforços, ou não. Era uma equação simples, realmente. Ele era o marquês de
Glengask, o chefe do clã MacLawry e de todos os seus dependentes, e
quaisquer que fossem as regras que pudessem tentar fazer na Inglaterra, aqui a
sua palavra era lei.
Ainda devia descer para uma das aldeias, como fazia quase todos os
dias, mas tinha pouca vontade de fazê-lo. Em vez disso, mandou Cooper ir a
Sra. Forrest, a cozinheira, ordenando que fizesse uma panela extra de peixe
assado para amanhã de manhã. O padre Dyce faria bom uso de sua
generosidade para os aldeões mais pobres. Aquilo deixou-o com um pouco -
mas inesperado e raro de acontecer - tempo. Tinha feito a maior parte de suas
tarefas ontem, de forma que podia dedicar o dia para a celebração de Rowena.
Carrancudo, Ranulf olhou na direção das escadas. Talvez a tivesse mimado,
mas o que um irmão mais velho deveria fazer do que providenciar para que
sua única e mais nova irmã tivesse tudo o que desejasse?
- Milorde?
Ranulf se virou.
- O que foi, Cooper?
O velho escocês atrapalhou-se em seus pés. Era estranho, Cooper
geralmente tinha um orgulho feroz sobre sua posição e era conhecido por
puxar as orelhas de criados para o delito da postura. - Existe... uma pequena
confusão sobre uma coisa.
- Que confusão? - Estreitando seus olhos, Ranulf resistiu à vontade de
pedir ao mordomo para se apressar. Queria apenas chacoalhar o sujeito, caso
contrário, nunca diria uma palavra sensata.
- O... ah, Debny mencionou que a senhora Forrest pegou emprestada a
carruagem, mas como era cedo, não julgou conveniente mencionar o fato para
mim, mas agora... bem, já passou o pôr do sol e não há ... isto é, o....
- Quem pediu emprestada a carruagem? - Ranulf interrompeu,
percebendo que se não fizesse uma pergunta direta, nunca chegaria ao fim do
conto.
- Mitchell, milorde. Presumo que foi para lady Winnie. Na direção que
foram, mas como eu disse, está ficando tarde, e não levaram os cães ou
quaisquer cavalariços com elas, e.…
Ranulf perdeu a última parte do discurso do mordomo, já estava a meio
caminho das escadas, gelo penetrou em seu peito.
- Arran! - Berrou enquanto corria. - Munro!
Parecia que um vento forte do norte tinha passado pelos aposentos de
Rowena. As roupas e lençóis estavam espalhados por toda parte, pedaços de
papel queimados caindo da ampla lareira, e as janelas escancaradas deixando
a noite fria das Highlands entrar no quarto. Mas, ao mesmo tempo...
- Ran! Que diabo é.…
- Cristo. Alguém a levou? - Arran tropeçou atrás de Munro, Lachlan em
seus calcanhares. - Malditos Gerdenses. Vão sangrar por isso!
- Espere, Arran - Ranulf ordenou, agachando-se para passar a mão
através dos papéis queimados e empurrando para longe os cães quando se
reuniram e ficaram latindo nervosamente. Tinha visto o verdadeiro caos antes,
e parecia uma bagunça muito ordenada. Roupas velhas jogadas ao redor, mas
nada do que realmente gostava de usar. Cama desfeita, mas não tinha estado
nela por horas e horas. Ergueu uma das partes maiores. As palavras "sapatos
Lue" estavam visíveis, com algo diretamente abaixo que parecia 'escova de
cabelo'.
- Ran, o que você tem? - Munro perguntou, agachando-se ao seu lado. A
mandíbula do seu irmão estava apertada, seus punhos cerrados. Havia uma
razão pela qual tinham apelidado Munro de Bear, e não foi porque apreciasse
uma discussão lógica. - Estamos perdendo tempo.
- É uma lista - Ranulf retorquiu, endireitando-se. - Ou parte de uma.
Ninguém a levou para qualquer lugar. Ela levou-se, ela e Mitchell. Para
Londres.
- Na carruagem? - Cooper interrompeu.
- Sem dúvida, nós vamos encontrá-la na estalagem mais próxima. É
assim que vão viajar.
- Para Lon... Por si mesma? - Arran bateu o punho na cabeceira da cama.
- Ela é idiota.
- O que ela é. - Ranulf voltou lentamente, cavando outro pedaço de
papel um pouco chamuscado com o endereço. – Agora está com muitos
problemas.
Lachlan se agitou.
- Vocês três façam as malas. Terei Debny selando os cavalos.
- Não, Lachlan. Tenha Debny com a carruagem preparada e carregada. -
Olhou para cima e viu Cooper à espreita na porta. - Cooper, tenha Peter e
Owen arrumando suas coisas. E envie o senhor Cameron aqui em cima.
- O cocheiro? - Arran repetiu, quando o mordomo correu escada abaixo.
- Você nunca alcançará a carruagem do correio naquele animal.
- Elas têm quase dez horas de vantagem e um plano que, sem dúvida
inclui uma identidade falsa - disse Ranulf, a fúria se aprofundando em seu
peito e se misturando com uma quantidade razoável de preocupação. - No
mínimo, tem uma vantagem.
- Sobre o que você está falando, Ran?
- Bear, estou falando que ela sabe que não tem que evitar apenas a nós.
E não vou ser visto por Gerdenses em seu território gritando como um
espírito, enquanto corro através do campo. Vou seguir perto o suficiente para
ter certeza que ninguém vai pará-la e vou apanhá-la em Londres. - Olhou
abaixo do fragmento meio queimado novamente. - Em Hanover House,
evidentemente. E então vou arrastar sua bunda de volta para casa.
- E nós? Você espera que deixemos tudo em suas mãos?
Ranulf olhou para Arran.
- Sim, certamente. Sabe que nós precisamos ter um MacLawry aqui em
Glengask. E dois pares de olhos é muito melhor. A informação que vai correr é
que parti. Não sei se quero que vejam isso como um convite para vir e causar
problemas. Ou que abandonei nosso povo.
- Os Gerdenses e os Campbells provavelmente verão isso como uma
oportunidade de atacá-lo na estrada - Munro rosnou. - Você não pode ir com
nada a não ser dois criados para protegê-lo, Ran.
- Eu irei - propôs Lachlan.
- Não, você não vai. Não vou ter Rowena fazendo algo ainda mais
estúpido, tentando fazer ciúmes ou qualquer outra coisa.
- Mas ela é... ela é como minha irmã, Ranulf. Nunca iria…
Ranulf abaixou sua sobrancelha.
- Mais uma razão para você ficar aqui. - O que quer que Rowena
pensava que estivesse fazendo, não estava disposto a estragar com mais
ansiedade. Nem mesmo com o homem que ela queria se unir. - Terei os cães
comigo. E ambos os lacaios que chamou para lutar na Península com
Wellington, exatamente como você fez, Arran. Eles farão por mim.
- Sim, mas...
- Sem mais argumentos. De qualquer um de vocês. Vou para Londres em
uma hora. Fiquem aqui e certifiquem-se que Rowena e eu tenhamos uma casa
para voltar. Nós nos veremos dentro de quinze dias, mesmo que tenha que
amarrá-la e jogá-la sobre um cavalo.
Londres. Danação. Rowena teria sorte se lançá-la acima de um cavalo
fosse a pior coisa que aconteceria com ela. Para ambos.
Capítulo Um
- Não há necessidade de se preocupar com essa despesa, Jane acolhe
com prazer qualquer desculpa para fazer compras. - Com um sorriso, lady
Charlotte Hanover beijou sua irmã no nariz, depois se levantou.
- Não tenho nenhuma vontade de mudar a sua programação. - Lady
Rowena MacLawry retornou para seu sotaque suave, melodioso. - Chegar à
sua porta com apenas uma nota já foi ruim o suficiente.
- Bobagem. - Lady Jane Hanover agarrou a mão da amiga. - Tenho
tentado convidá-la a nos visitar pelo que me parecem ser anos. Sua mãe e a
minha mãe foram praticamente irmãs. Não é, mamãe?
- Sim. - Elizabeth Hanover, a condessa de Hest, acenou com a cabeça. -
E estou tão contente que você começou a se corresponder com Jane. Você é tão
parecida com Eleanor, sabe. - Ela suspirou, oferecendo um sorriso suave. - É
bem-vinda aqui, minha querida, por tanto tempo quanto queira ficar. E é claro
que patrocinarei sua temporada. É só apropriado que você e Jane estreiem
juntas.
Jane bateu palmas.
- Você vê? Deveria ter vindo há muito tempo, Winnie.
- Oh, eu quis, acredite-me. É só que Ran bateu o pé sobre o assunto. Ele
pensa que todo inglês é.… - Ela parou, limpando a garganta. - Bem, ele é
muito conservador quando se trata de Londres.
Ela sacudiu uma mão, rindo, mas quando olhou para Charlotte, a jovem
lady Rowena não parecia totalmente à vontade. Claro que ela estava bastante
certa que não iria, também, se viajasse com nada menos que sua empregada
pela metade da Escócia e toda a extensão da Inglaterra. Claramente que
Winnie queria muito uma temporada em Londres.
Para um irmão superprotetor, este Ranulf MacLawry tinha falhado de
forma bastante espetacular. Uma jovem que nunca tinha deixado seu próprio
condado, não tinha que atravessar sozinha a Inglaterra. Ou viajar em uma
carruagem do correio. Charlotte tinha intenção de escrever para o lorde de
Glengask e dizer-lhe exatamente isso. Certamente, ninguém poderia ser tão
ignorante a ponto de pensar que não seria necessário enviar uma carta para
preceder sua irmã, para garantir que alguém estaria em casa para
cumprimentá-la e acompanhá-la na temporada. Era... era inconcebível, até
para alguém ignorante do costume inglês. Certamente ele sabia ler um jornal,
afinal de contas. E deveria ter um mínimo de bom senso.
Ela trocou um olhar com seu pai, que levantou uma sobrancelha antes de
retornar a conversa. Jonathan Hanover, o conde de Hest, não era um
apreciador de caos ou perturbação de qualquer tipo, mas zelava em excesso
por Jane e ela. Claro, que Lady Rowena seria bem-vinda na casa, e nunca
veria também uma insinuação dele ou de qualquer outra pessoa que preferiria
que a família não tivesse companhia para a temporada.
Longfellow, o mordomo, e dois criados chegaram com sanduíches frios
e chá para eles; passava longe do jantar, e, evidentemente, a senhora Broomly,
a cozinheira, tinha ido passar a noite com sua filha grávida próximo de
Tottenham Court. Enquanto os empregados colocavam os pratos, bateram na
aldrava da porta da frente.
- Vou ver, Longfellow - Charlotte disse, uma vez que já estava de pé e
mais próxima da porta, no corredor.
- Obrigado, milady.
Enquanto fazia o curto caminho da sala de estar para o hall de entrada, a
batida continuou. - Pelo amor de Deus, - murmurou, e abriu a porta. - O que é
tão ur… - Charlotte começou, então quase engoliu a língua.
Uma parede estava no pórtico dianteiro. Bem, talvez não fosse tão largo
quanto uma parede, embora seus ombros fossem certamente largos. Mas se
elevava sobre ela por uns bons vinte e cinco centímetros e a maioria de seus
companheiros consideravam-na alta. Ainda que tudo havia ficado sem sentido
em seu cérebro, entretanto, o que mais percebeu foi o azul. Olhos azuis, que
atualmente brilhavam friamente para baixo em linha reta, perfeitamente
esculpidos nela.
- Estou aqui por Rowena MacLawry - disse, sem preâmbulos, um rico
escocês da Highland em sua voz.
Charlotte piscou. Winnie, como Rowena lhes pedira para chamá-la,
havia chegado menos de uma hora atrás, tirando um momento na estalagem.
Até onde sabia, ninguém mais estava ciente da presença de sua visitante em
Londres. Ninguém, exceto a família de Rowena. Eles, porém, permaneceram
na Escócia... tanto quanto sabia.
- Não vim todo esse caminho para ser observado - a montanha declarou
no breve silêncio. - Rowena MacLawry. Agora.
- Estou suprendida com você, senhor - Charlotte replicou, embora
estivesse muito consciente de que não parecia ser capaz de poder olhar longe
do seu feroz rosto deslumbrante. Foi como se um Deus guerreiro de cabelos
pretos tivesse simplesmente... aparecido em sua porta. - A maioria dos
visitantes vem à porta com um convite ou, pelo menos, com uma palavra ou
duas de saudação e apresentação, antes de esperarem ter permissão para
passar o hall de entrada.
Seus olhos se estreitaram. Não foi gelo que ela viu naquele fundo azul,
Charlotte percebeu, mas algo mais aquecido e furioso.
- Não sou um visitante - disse, aço abaixo da suave melodia. - E se os
ingleses pensam que uma delicada moça segurando a porta é suficiente para
me afastar do que é meu, estão mais loucos do que me recordo.
Dele? Isto estava se tornando muito estranho, na verdade. E não havia
necessidade de ser malditamente insultuoso.
- Não sou uma delicada moça…
Ele deu um passo para frente. Colocando suas grandes mãos em torno de
sua cintura, levantou-a do chão só para colocá-la atrás dele no pórtico, antes
que pudesse fazer qualquer coisa mais do que tomar uma respiração ofegante.
Nessa altura, estava dentro de Hanover House.
- Rowena! - Ele berrou, caminhando pelo corredor.
Charlotte se firmou em suas saias e foi atrás dele.
- Pare de gritar de uma vez! - Ordenou.
Apesar de toda atenção que lhe deu, observando atrás dele, ela poderia
muito bem ter sido um inseto.
- Rowena! Quero ver seu traseiro aqui diante de mim ou vou colocar
esta casa abaixo de tanto gritar em seus ouvidos!
Longfellow e um trio de criados entraram da sala de estar. O grande
escocês empurrou-os de lado, como se fossem não mais do que tacos de
críquete. Entrou na sala que haviam saído, Charlotte em seus calcanhares.
Dada à presença física que ele irradiava, esperava ver lady Rowena agachada
atrás de uma cadeira. Em vez disso, no entanto, a jovem e delicada dama
permanecia no meio da sala, a face ruborizada e as mãos nos quadris.
- O que o diabo está fazendo aqui, Ranulf? - Exigiu.
- A carruagem está do lado de fora. Você tem um minuto para estar
dentro dela.
- Ran, v....
- Cinquenta e cinco segundos.
Rowena pareceu esvaziar. Quando abaixou sua cabeça, uma lágrima
correu por sua bochecha.
- Minhas coisas? - Ela tremia.
- O que... qual é o significado disto? E quem diabos é você, senhor? -
Lorde Hest exigiu.
A cabeça de cabelos escuros girou para fixar o conde com um olhar
penetrante. O diabo, de fato.
- Glengask. - Voltou sua atenção para Rowena. - Vá pegar Mitchell e
suas coisas. Se você correr, entretanto, retornaremos para Glengask por meio
de St. Mary, onde vou deixar você livre. Uma década ou um tanto assim com
freiras devem acalmá-la.
Outra lágrima juntou-se a primeira.
- Você é uma besta, Ranulf MacLawry - Winnie sussurrou, e fugiu
passando por ele e Charlotte para fora da sala.
- Glengask. Irmão de Lady Rowena? - Sua irmã, Jane, disse em uma voz
fraca. - O marquês?
- Sim - respondeu, seu tom ainda sufocado e irritado.
- Foi de nosso entendimento que nos enviou lady Rowena para sua
temporada - o pai de Charlotte declarou.
Pela sua expressão cerrada estava furioso, o que não foi surpresa para
todos. Pessoas berrando - muito menos diabos escoceses de olhos azuis - não
invadem casas respeitáveis, tais como a deles sem ser anunciado. Jamais.
- Por que você não pensou duas vezes antes de enviar uma jovem moça
em uma terra estrangeira sem nenhuma palavra de antecedência. Ou é apenas
um escocês que pensa que pode fazer uma coisa tão louca?
- Ela nos disse que você a mandou aqui - Charlotte falou.
O marquês de Glengask virou-se para encará-la.
- Ela contou uma mentira idiota e vocês acreditaram. Agora saia do meu
caminho, moça, que vamos embora deste maldito lugar.
Rowena tinha chamado seu irmão de besta e Charlotte não via nada para
contradizer aquela avaliação. E não gostava de homens que pensavam com
seus punhos e músculos enormes. Não mais do que gostava de ser chamada de
moça e afugentada - duas vezes agora - como algo não mais significativo do
que uma pulga. Endireitou os ombros.
- Sou lady Charlotte Hanover e vai tratar-me corretamente, senhor. Além
disso, até que tenhamos certeza que sua irmã está segura em sua companhia,
ela não vai a lugar nenhum.
- Charlotte! - Sua mãe sibilou.
Sim, sua família estaria mais do que simplesmente aliviada em ter esta
perturbação fora de casa. Mas esta não era à maneira de alguém remotamente
civilizado realizar negócios ou qualquer outra coisa. Recusava-se a olhar
longe do seu olhar, mas ele claramente esperava que fizesse.
- Bem, então, lady Charlotte - disse sucintamente, exagerando no r em
seu nome, - suponho que os assuntos da família MacLawry não sejam da conta
de vocês. Ordenei que minha irmã permanecesse em casa e não o fez. Por este
motivo estou aqui para levá-la de volta ao lugar que pertence. Como
claramente ofendi vocês, esperarei lá fora. Felizmente.
Ranulf deu um passo mais perto, mantendo erguida maliciosamente a
sobrancelha quando fez isso. Obviamente, estava lhe dando a escolha entre
afastar-se ou ser erguida fora do caminho mais uma vez. Charlotte elevou seu
queixo para manter o olhar diretamente no seu.
- Sua irmã percorreu uma distância muito grande por conta própria e
contra a sua vontade, então, lorde Glengask, parece-me que ela quer muito
intensamente estar em Londres ou ficar longe de você. E não viajar junto com
alguém que está um tanto zangado.
As sobrancelhas se viraram em uma carranca.
- Parece-me que não é da conta de vocês. - Enviou um olhar para seu
pai, que ainda estava na frente de sua cadeira e parecia que preferia estar na
Câmara dos Lordes discutindo impostos. - Permite que suas mulheres falem
por você, então?
Lorde Hest limpou a garganta.
- Minha filha está correta, Glengask. Você invadiu, claramente
enfurecido, uma casa de família e continua a se comportar como um louco e
um diabo. Seria irresponsabilidade minha liberar lady Rowena aos seus
cuidados, sem conhecer seus sentimentos e sem alguma garantia de seu bem-
estar.
- Seu bem-estar? - Glengask repetiu sombriamente. - Como responderia,
então, se lady Charlotte aqui fugisse sem dizer uma palavra e, em seguida,
quando a encontrasse com um estrangeiro desconhecido e ele se recusasse a
devolvê-la?
- Primeiramente, espero nunca dar à minha filha, qualquer uma de
minhas filhas, motivos para fugir de sua própria casa. E em segundo lugar,
dificilmente somos estrangeiros aqui. Também não somos precisamente
estranhos, já que sua mãe e minha esposa foram muito amigas.
- De alguma forma soube vir aqui para encontrar Winnie - acrescentou
Charlotte, antes que o marquês pudesse começar uma discussão sobre o grau
de seu conhecimento. O homem parecia ter um argumento para tudo, afinal. -
Claramente não somos desconhecidos para você. Nem você para nós.
- Você terá que me manter trancada para sempre e sempre. - A voz
trêmula de Rowena veio diretamente atrás de Charlotte. Um momento depois,
dedos trêmulos agarraram os dela. - Eu só quero ver Londres.
- Então agora já viu. - Glengask olhou de sua irmã até Charlotte para
onde suas mãos estavam apertadas e juntas. - Deixe minha irmã ir - disse
depois de um momento.
Charlotte apertou sua mão.
- Não. Você já está em Londres. Que mal pode haver em permitir que ela
permaneça por um tempo?
- Que possível… - Ele parou. - Não vou ficar aqui e discutir com uma
mulher sobre o que é melhor para a minha família - rosnou finalmente.
Charlotte recusou-se a vacilar em seu tom, embora ao seu lado, sua irmã
tenha feito.
- Então, como não estou cedendo, assumo que você quer dizer que vai
deixar Winnie permanecer aqui - retrucou. Precisamente, quando a causa da
jovem lady se tornou sua, não tinha ideia. Mas essa montanha de homem não ia
chamá-la de moça pequenina e diminuí-la. Nem mesmo se a erguesse como se
não pesasse mais do que uma pena, nem mesmo se parecesse ser feito de
nervos e aço.
Ele abriu a boca e, em seguida, fechou-a novamente. Charlotte se
permitiu um momento de satisfação. Então o gatinho inglês cuspiu no grande
urso escocês e ele não sabia como reagir. Bom. Bom para ela.
- É isso a que você aspira, piuthar? - Perguntou a sua irmã um instante
depois, apesar de seu olhar desconcertantemente firme permanecer em
Charlotte. - Cercar-se de sasannach que a afastam de ver sua própria família?
Para se esconder atrás de moças tagarelas que decidem suas batalhas e as
combatem por você?
- Você é quem está fazendo disto uma batalha, Lord Glengask, -
Charlotte replicou, endireitando seus ombros. - E se sou tagarela como chama,
é em face a um tirano arrogante.
- Oh, meu Deus! - Winnie sussurrou quase silenciosamente, seus dedos
se apertando.
Um músculo rígido saltou em sua mandíbula esguia.
- Eu sou um valentão?
- Certamente é a impressão que dá. Sua irmã está se escondendo atrás de
um estranho em vez de se aproximar de você.
O intenso olhar azul deslocou-se imediatamente para sua irmã.
- Rowena, você sabe, eu… - Ele parou e, em seguida, disse uma única
palavra em gaélico, que não soou nada agradável e isso fez sua irmã prender o
folêgo. Finalmente, deu um leve aceno de cabeça, como se para si mesmo. - Eu
não sou um valentão, - finalmente disse. - Uma quinzena, Rowena. Você quer
ver Londres, então vai vê-la. Alugarei uma casa aqui, e você terá seu maldito
debute. - Ele estendeu uma mão. - Vamos embora daqui, então.
- Não acredito em você, Ranulf.
- Dou minha palavra. Duas semanas.
Charlotte mordeu o interior de sua bochecha. Ele tinha dado muito mais
espaço do que esperava, e provavelmente o tinha empurrado mais longe do
que deveria ter, neste instante. Além disso, seus pais não iriam agradecê-la
pelo que diria em seguida; mas Rowena provavelmente faria. E isto foi por
causa da sua nova amiga em vez de si mesma.
- Se você realmente quer que sua irmã tenha uma temporada apropriada
ou uma quinzena, então ela deve permanecer aqui. Você estaria numa casa de
solteiro, sem ninguém para patrocinar lady Rowena ou proporcionar as
apresentações. A menos que você tenha uma conexão feminina aqui, que está
familiarizada com a sociedade de Londres.
- Não temos nenhuma conexão, - Winnie disse, seus dedos apertando a
mão de Charlotte novamente. - E tudo que fizer é para me mostrar como não é
bom aqui. Só quero ver com meus próprios olhos, Ran. Por favor.
Ele soltou a respiração.
- Devido a minha autoridade, deveria levá-la por cima do meu joelho e
tê-la voltando na estrada ao norte dentro de uma hora.
- Mas você não vai.
- Mas não vou, - repetiu depois de um momento, seu olhar encontrando
Charlotte novamente. - Fique aqui, então, se hospedarem você. Mas me
informará aonde vai em todos os momentos e irei com você quando preferir.
Com um gritinho Rowena soltou a mão de Charlotte e atirou-se em seu
irmão. Ele a envolveu em seus braços musculosos.
- Concordo, Ran - disse ferozmente. - Obrigada. Obrigada!
Por um momento o marquês fechou os olhos, algo perto de alívio ou
tristeza, brevemente cruzando sua expressão.
- Vou chamá-la aqui de manhã. Às onze. - Abaixando-a, inclinou-se e a
beijou em uma bochecha. - Deixou-me preocupado, piuthar - murmurou,
endireitando-se novamente. - Existe algum ritual absurdo para sair ou posso ir
embora? - Perguntou, alfinetando Charlotte novamente com o seu olhar.
Ela afastou-se.
- Boa noite, lorde Glengask.
- Lady Charlotte.
Só quando Longfellow fechou firmemente a porta da frente atrás dele,
que Charlotte deixou escapar a respiração que estava segurando. Da forma que
ouvia o ritmo rápido de seu próprio coração, qualquer um pensaria que acabou
de enfrentar o próprio diabo. Mas enfrentara realmente.
E ele voltaria pela manhã.
***
- Espero que seja aceitável, lorde Glengask.
Ignorando o homem magro seguindo-o insistentemente em seus
calcanhares, Ranulf continuou sua turnê pelos corredores e quartos da pequena
casa em Adams Row. O edifício era antigo, mas bem feito, com doze quartos e
meia dúzia de janelas com vista para a tranquila avenida. Estava erguida em
três andares, que imaginou fosse à origem do seu nome, Tall House.
- Será, - finalmente disse, percebendo que o companheiro esquelético
não pararia de resmungar até que desse uma resposta. - Embora, gostaria que
tivesse mais duas portas para o exterior.
- Estou feliz que aprove, meu lorde. Deu-me tão pouco tempo; apenas
uma hora, se o senhor se lembra; mas acredito que Tall House é atualmente o
melhor estabelecimento disponível para alugar. Com a temporada começando,
sabe, simplesmente toda a gente vem para Londres.
Todo mundo, mais uma irmã mais jovem malditamente teimosa.
- Você terá seu pagamento no final do dia - Ranulf anunciou,
perguntando-se se seria possível chamar Tall House por um nome diferente
enquanto estivesse lá. Casa ridícula, não havia eventualmente rotas de fuga o
suficiente.
- Oh, não queria pressionar, claro que o senhor não é bem conhecido
aqui, mas seu tio é, e não tive nenhuma preocupação de que você me manteria
esperando.
Ranulf angulou seu queixo em direção à porta da frente. Imediatamente
Owen, que passou os vinte minutos anteriores seguindo o representante, se
adiantou.
- Vou acompanhá-lo na direção certa, senhor Black, - disse, bloqueando
o sujeito, quando este ia seguir Ranulf para outra sala.
- Certamente, certamente. Sendo você novo em Londres, lorde Glengask,
se precisar dos serviços de um advogado eu ficaria honrado em...
- O lorde tem seu cartão, senhor Black, da maneira que quase empurrou
em seu bolso. A porta é por aqui.
Sr. Black piscou.
- Digo, é muito precipitado. Lorde Glengask, seus criados precisam de
mais instrução em comportamento apropriado.
Retraindo uma respiração, Ranulf enfrentou o representante de
bochechas vermelhas.
- Acho que é você que precisa de instrução, se é preciso que um homem
tente três vezes conseguir que saia quando não for mais necessário. Bom dia e
se não fui claro o suficiente, adeus.
O representante abriu a boca. Ranulf continuou a olhá-lo fixamente, e,
em seguida, Una começou um baixo e ressonante rosnado de onde estava na
janela. Um segundo depois, ainda sem palavras, o senhor Black virou e deixou
o corredor, Owen sorrindo atrás dele.
- Tolo - murmurou Ranulf, embora o senhor Black parecesse mais um
bajulador do que um tolo. Ou, mais provavelmente, ele fosse um tolo no meio
disso tudo.
Afinal, combinou e permitiu que Rowena permanecesse em Londres,
com uma família inglesa, de todas as malditas coisas, por duas semanas. Onde
não podia ouvir o absurdo que estavam lhe dizendo. E pior, onde não podia ter
certeza de sua segurança.
- Milorde, o sasannach foi embora - Owen disse, retornando da entrada.
- Duvido que aparecerá por estes corredores novamente, pelo menos, enquanto
estivermos na residência.
- Bom. Obrigado, Owen.
O lacaio assentiu com a cabeça. Deslocando-se, fez uma careta.
- Preciso dizer-lhe algumas coisas, lorde Glengask.
- Então diga.
- Peter e eu estamos satisfeitos e orgulhosos de estar aqui com o senhor.
Muito satisfeitos. E assim está Debny. Mas... não somos suficientes. Com o
senhor ficando em Londres, terá necessidade de um cozinheiro e um valete, e
mais olhos para confiar e manter o senhor e lady Winnie em segurança.
Ranulf assentiu. Tinha intenção de recuperar Rowena, passar a noite em
uma pousada e estar no caminho para o norte no nascer do sol. Nada que sua
irmã dissesse teria mudado sua mente ou seus planos. Não, visto que deveria
agradecer àquela mulher. Lady Charlotte Hanover. Ela nem deveria ter
levantado sua voz, e agora tinha alugado uma casa em Mayfair e entregue sua
irmã para uma família da aristocracia inglesa.
- Meu tio está na cidade - disse lentamente, imaginando o que Myles
Wilkie teria a dizer sobre tudo isso e não gostando quando viesse à resposta. -
Vou mandar Peter com uma nota, perguntando se conhece quaisquer prováveis
rapazes que possamos confiar.
- Mas lorde Swansley é inglês - Owen disse, tornando a palavra uma
maldição.
- Sim, mas também é da família. E passou dez anos em Glengask,
conhecendo os gostos dos meus irmãos e irmã. Saberá o que precisamos, seja
o que for.
- Como queira, milorde.
Depois que rabiscou a nota e enviou Peter para entregá-la, Ranulf
caminhou para o quarto que tinha escolhido para si mesmo. Olhou a rua para o
norte, o sólido jardim no leste e deu uma boa olhada sobre uma parte razoável
do caminho. Partiu para Londres quase sem bagagem e nenhum guarda-roupa
apropriado para a sociedade. Pelo menos a cama parecia mais confortável do
que a da pousada onde ele e os rapazes e os cães de caça tinham passado a
noite.
Vestia calça de camurça, botas de montar e um casaco velho quando
chamou em Hanover House. Supôs que poderia usar o mesmo hoje, e, em
seguida, encontrar a loja de um alfaiate para encomendar roupas mais
adequadas para Mayfair. Enquanto não se importava com o que os ingleses
pensavam dele ou de seu traje, Rowena iria. Envergonhá-la não seria o
caminho para convencê-la que a Escócia e Glengask manteriam a palavra dada
mais do que Londres faria. Um focinho úmido empurrou a sua mão, e
distraidamente coçou Fergus atrás de suas ásperas orelhas cinzas.
- O que em nome de Deus estamos fazendo aqui, garoto? - Murmurou,
unicamente a resposta foi um abano de cauda.
Owen bateu à sua porta e inclinou-se.
- Serei seu criado de quarto então, milorde?
- Posso colocar minhas próprias botas, mas obrigado, Owen. E criado
não é qualquer coisa que você faz, é o que é. Veja que Debny sele Stirling,
pode ser?
- Certamente.
Quando chegou ao térreo dez minutos depois, os cães em seus
calcanhares, o silêncio do lugar, finalmente o atingiu. Pensando em seu lar, a
casa principal estaria não só ocupada por seus irmãos e ele mesmo, mas por
inumeráveis servos, amigos, e em inúmeras ocasiões, vários subchefes de clãs
e suas famílias, além do par de gaiteiros que soavam sempre de manhã e à
noite a partir do telhado. Se fosse alguma coisa, não era tranquilo ou solitário.
Esta casa sim, e embora neste momento se sentisse calmo, tinha certeza de que
não duraria. Problemas tinham uma maneira de encontrar os MacLawrys.
Tocando uma mão na pistola no bolso esquerdo do casaco, abriu a porta
da frente, dando um passo para o lado da entrada. Não fazia sentido se tornar
um alvo fácil. Três cavalos esperavam no passeio, com Debny e Owen já
montados.
- Estão prontos? - Perguntou, tomando as rédeas de Stirling do
cavalariço e equilibrou-se na sela do baio.
- Preferiria enfrentar todos do exército de Bonaparte sem nada a não ser
um kilt - o criado respondeu - mas não pode ficar sozinho em Londres.
- Um dia em Londres e já está arrogante - Debny falou lentamente. - Não
se preocupe, meu lorde. Teremos você e lady Rowena seguros ou vamos
morrer tentando.
Ranulf assentiu com a cabeça, apreciando o sentimento.
- Vamos embora, então. E mantenha esse bacamarte sob o casaco, Owen,
ou você vai apavorar os ingleses.
Os cães atrás deles, moveram-se rua abaixo em direção a Hanover
House. Sua casa alugada poderia estar tranquila, mas em comparação com as
Highlands, Londres parecia muito estreita, cheia demais e incrivelmente,
caoticamente barulhenta. Os moradores estavam praticamente ombro a ombro,
todos falando alto para serem ouvidos sobre seus companheiros. Não tinha
notado tanto na noite passada, mas, apenas porque tinha uma preocupação:
encontrar Rowena. Hoje não, a cacofonia chacoalhava tanto seus nervos
conforme aterrava sua curta paciência em confusão.
Que diabo ele estava pensando, deixar Rowena ter seu espaço e
permanecer aqui? Fugiu de casa sem deixar uma nota, dane-se tudo, e não
merecia nada tanto quanto uma surra sobre seu traseiro e uma longa viagem de
volta ao lar. Na verdade, foi ridículo. Faria com que voltasse com ele para a
casa que tinha alugado e ficaria de olho nela, e então eles iriam para o norte
no dia seguinte. Poderia odiá-lo por um ano, se quisesse, mas, pelo menos,
estaria segura e ao lugar que pertencia. E tal fato não fazia dele um valentão,
fazia com que fosse um irmão responsável e chefe de sua família.
Em Hanover House, jogou as rédeas para Debny antes que um dos
cavalariços do conde pudesse aparecer, disse aos cães para ficar, e então
caminhou para a porta da frente. Foi aberta antes que a alcançasse, privando-o
da satisfação de bater no carvalho sólido novamente.
- Bom dia, lorde Glengask, - o gordo mordomo entoou, curvando-se. -
Está sendo esperado. Mostrarei o aposento matutino.
Visto que a sala ficava a quatro pés do hall de entrada, a escolta até lá
parecia ridícula, mas aturaria a tolice até que tivesse Rowena de volta em suas
mãos.
- Lady Charlotte, lady Jane, lady Rowena, lorde Glengask - o mordomo
anunciou, curvando-se como se tivesse acabado de conhecer o rei.
Como se não estivessem todos familiarizados desde a última noite. As
três mulheres levantaram-se, fazendo uma reverência. Desde que Rowena
nunca fez uma reverência para ele ou para qualquer um em sua vida,
claramente era levada a ajustar-se depois que as outras duas fizeram. Isso não
pressagiava nada de bom.
Aquela mulher estava lá, também, olhando-o como se não tivesse medo
ou preocupação no mundo, o que o irritava ainda mais. Ela era tudo o que não
gostava em uma mulher, alta, magra e loira, uma boneca de porcelana delicada
propensa a quebrar se alguém tentasse lhe dar um abraço. Pior ainda, interferia
em assuntos que não tinham nada a ver com ela, e falava, quando teria
preferido um momento ou dois para pensar.
- Estou tão feliz por você ter permitido que Winnie permanecesse em
Londres - estava dizendo neste instante, sua boca curvada em um sorriso
bastante atraente que não chegava a seus olhos. - E certamente poderíamos
usar sua companhia hoje.
- E para onde devo acompanhá-las, moças? - Cautelosamente perguntou,
prestando atenção para qualquer outro truque ou armadilha semelhante a que
agora o tinha residindo em Londres por duas semanas.
- Mamãe deseja apresentar Winnie no Almack’s na quarta-feira. Ela vai
apresentar Janie, bem como, e....
- Não.
Lady Charlotte piscou seus bonitos olhos castanhos, como se nunca
ninguém tivesse negado algo antes. Provavelmente não, considerando os
débeis e covardes ingleses que a cercavam e aquela língua afiada entre seus
dentes.
- Perdão? - Disse debilmente.
- De jeito nenhum. Não. - Repetiu, exagerando o som para ter certeza
que ela entenderia.
- Se não sair no Almack’s e receber seu convite para a reunião,
tradicionalmente não será capaz de entrar em qualquer lugar. Será considerada
como 'forasteira' pelas casas mais tradicionais.
- Não vou ter minha irmã desfilando diante de um bando de estúpidos
fidalgos ingleses como uma vaca premiada.
Rowena adiantou-se e pegou na sua manga, como fazia quando queria
sua atenção desde que tinha dois anos.
- Não serei apenas eu, Ran - disse suavemente. - Jane estará lá, também.
Toda jovem que quer ter sua temporada vai primeiramente ao Almack’s. E
quero muito dançar.
Danação. Nunca tinha sido capaz de recusar-lhe uma coisa que
realmente desejasse. Com exceção de Londres, entretanto, tinha conseguido
por conta própria.
- Estará lá também? - Perguntou, voltando-se para olhar Jane, menor e
com cabelos mais claros que sua linguaruda irmã. - Bem ali, ao seu lado? -
Perguntou, odiando tanto não saber como o maldito processo funcionava e que
tivesse que pedir confirmação a uma fedelha inglesa.
- Sim. E uma dúzia de outras jovens, também - a Hanover mais jovem
disse, sua voz trêmula. Na verdade, olhava-o como se esperasse que saltasse
sobre ela, com garras e dentes à mostra.
Ao seu lado, a mais velha parecia bastante serena, quando assentiu com
a cabeça. Os cachos dourados pendurados no laço na parte de trás de sua
cabeça balançavam suavemente nas laterais.
- Esta é a primeira reunião da temporada. Ela não estará lá sozinha.
- E quem é que lhes dá permissão para valsar? Quem são essas
prestigiadas patronesses da aristocracia que estão sempre moldando esses
eventos?
- Bem, é um grupo de mulheres muito influentes, aristocráticas. Lady
Jersey, por um lado e lady Cowper e lady Est...
- Jersey. É a velha amante do príncipe George?
As bochechas de lady Charlotte enrubesceram-se.
- Não, era a sua sogra - disse decisivamente. - Mas jovens damas não
discutem tais coisas, apesar de tudo.
Ranulf levantou a cabeça.
- Vocês têm uma ideia estranha sobre o que é aceitável, então. Por que
dar a qualquer outra pessoa licença para julgar cada moça que caminha pelos
salões da sociedade? É um disparate.
Pela expressão de Charlotte, não gostava de explicar seus iguais para
um bárbaro como ele, mas seria amaldiçoado se deixasse Rowena entrar em
algo onde não conhecesse todos os fatos. Seria ruim o suficiente se alguma
mulher idosa de reputação íntegra fosse dar seu consentimento, mas princesas
estrangeiras e filhas ilegítimas reais? Ridículo.
- Não existem pessoas na sua... aldeia ou cidade ou...
- Clã - Rowena forneceu.
- Clã - Charlotte assumiu, acenando-lhe um agradecimento, - que tem
que reconhecer quando uma garota se torna uma dama ou um rapaz se torna um
homem ou quando duas pessoas podem se casar? Todas as minúcias sociais
que uma sociedade requer?
- Sim - respondeu, não vendo semelhança nas duas situações. - Neste
caso, sou eu.
Olhos castanhos se arregalaram, quase para marrom pelo amarelo da
musselina que ela vestia.
- Você?
- Ran é o chefe do clã MacLawry - explicou Rowena, um toque de
orgulho insinuando-se em sua voz. Bom, pelo menos não estava com vergonha
de ser uma MacLawry. Ainda não, pelo menos. - É o maior clã que há nas
Highlands.
- Com seu único assento nas Highlands - emendou com uma ligeira
carranca.
- Não estou completamente certa do que tudo isso significa, estou com
receio - Lady Charlotte disse, continuando a olhá-lo. Não era o típico olhar
apreensivo que tinha sua irmã, no entanto. Parecia bastante curiosa.
- Não tenho tempo nem inclinação para explicar a você agora. - Ela não
entenderia e não gostaria de ser cobiçado como um cordeiro de duas cabeças.
Ranulf apontou para sua irmã. - Se for apresentada no Almack’s, o que será
necessário?
Rowena lançou os braços ao seu redor.
- Muito obrigada, Ran! Significa o mundo para mim!
Ranulf colocou um dedo sob seu queixo, inclinando o rosto para olhá-la,
admitindo para si mesmo que tinha perdido mais um argumento antes que
tivesse começado. Pelo menos desta vez podia culpar a si mesmo, em vez da
bruxa de cabelos loiros. - Eu sei, minha querida. Só tenha em mente que você
é tudo para mim. Quero mantê-la segura, Rowena.
- Sei que vai, bràthair .
- Oh, é perfeitamente seguro na Bond Street - disse Jane enfaticamente. -
Precisamos comprar um vestido adequado para Winnie. Tenho o meu há muito
tempo.
Claramente estava faltando alguma coisa, mas em vez de começar outra
conversa sobre o que havia de errado com os vestidos que havia trazido ou
com os vestidos que tinha comprado para ela, ele assentiu.
- Vai ser mais seguro comigo, de qualquer maneira. Devemos sair então,
vamos?
Quando saíram do hall de entrada, as duas jovens de dezoito anos
ficaram de braços dados e praticamente saltaram os degraus da frente. Ranulf
fez um gesto para seus dois homens e ambos desmontaram, entregando as
rédeas aos cavalariços de Hanover, que estavam observando.
- Vamos para a Bond Street - disse em uma voz baixa, quando eles os
alcançaram. - Owen, você fica à esquerda e você à direita, Debny.
- A pé? - Debny voltou, carrancudo.
- Sim. A pé.
- Sou um cavalariço. Não um... homem que caminha.
- Hoje você é um homem que caminha - retrucou, escondendo um
sorriso. Virando, avistou as irmãs Hanover olhando Fergus e Una, que
pareciam estar olhando-as com igual interesse.
- O que eles são? - Jane perguntou com um tremor óbvio. - São grandes
como pôneis.
Ranulf deu um sorriso e assobiou os cães para seu lado.
- Estes são meus cães infernais - falou lentamente.
- Oh, pare com isso, Ran. - Rowena se aproximou e ajoelhou-se entre os
cães, que, em seguida, quase a viraram do avesso com lambidas e as caudas
abanando. - O grandão é Fergus e a pequenina é Una. Eles são cães de caça
escoceses.
- Pequeninos? - Lady Charlotte repetiu, erguendo uma sobrancelha. -
Céus!
- Vão ficar de olho em nós - Rowena disse, novamente de pé. - Vamos
indo, Janie.
Isso deixou Ranulf olhando para lady Charlotte.
- Os cães assustam-na, milady? - Perguntou.
- Não. Eles são muito... entretanto têm aspectos selvagens.
- Sim. Eles são ariscos. Mas vão correr mais que um galgo em terreno
irregular. - Por um momento, continuou olhando-a, mas começou a se sentir um
pouco... estranho, fez um gesto em direção às debutantes em fuga. - Depois de
você, milady.
Com as outras duas rindo e cochichando, afastou-se com lady Charlotte
atrás delas. Esta tarde encontraria um mapa deste maldito lugar, para saber
onde estava indo. No momento sentia-se muito vulnerável, seguindo duas
crianças treze anos mais jovens que ele.
- Não são realmente necessários guardas em Bond Street - Lady
Charlotte comentou, olhando por cima do ombro do sisudo Debny e depois aos
cães nos calcanhares de Ranulf.
- Pode ser seguro e civilizado para você, minha senhora - retrucou - mas
sou um estranho aqui e vigiarei aqueles sob minha proteção.
Seus lábios se curvaram em um sorriso novamente. Para si mesmo,
podia admitir que ela tinha um sorriso bonito. Se favorecesse mulheres altas,
inglesas magras que falavam quando não deviam, diria que ainda tinha uma
pele que parecia tão suave quanto creme fino e de perto seu cabelo brilhava
como sedosos raios de sol.
- Janie e eu estamos sob sua proteção, então? - Perguntou, com diversão
em sua voz.
- Ria se quiser, mas sim. Está acompanhando um membro da minha
família e faz com que seja do clã para mim.
- Mas não somos escocesas.
Ranulf inclinou sua cabeça.
- Ninguém é perfeito. - Ranulf moveu uma respiração mais perto dela.
Seu cabelo cheirava a rosas, notou, ignorando a reação em seu intestino. - E
agradeço-lhe por ter em mente que o que é seguro para damas em Mayfair
pode não ser assim para uma moça das Highlands.
Desta vez, ela o olhou inteiramente, seus verdes olhos brilhando tão
profundamente.
- Sua irmã fala bem de você, que é tão protetor - disse depois de um
momento, - mas você considerou que ela poderia não ter tentado escapar se
seu controle não estivesse tão apertado?
Portanto, esta, mulher de cabelos louros e magra pensava que o tinha
dissecado e analisado e subjugado.
- Não vou ter uma mulher Sasannach me dizendo o que é certo ou errado
no que estou fazendo - ele replicou. - Você não me conhece ou sabe qualquer
coisa sobre mim. E não vai me aconselhar como criar minha própria irmã.
Capítulo Dois
Charlotte olhou para o marquês de Glengask. Céus. Tinha visto a sua
falta de modos ontem à noite na demora em ver sua irmã, mas tinha a súbita
percepção de que não gostaria de estar lá quando estivesse realmente furioso.
Seus olhos azuis praticamente explodiam quando encontrou seu olhar,
desafiando-a a discutir mais com ele.
Tomando fôlego, ela inclinou sua cabeça.
- Está absolutamente correto, milorde. Não o conheço e não tenho o
direito de criticar ou aconselhá-lo. O que sei foi o que senti quando tinha a
idade de Winnie. Ela não é mais a garota que esteve criando. É uma jovem
com seus próprios objetivos e sonhos.
- E você ainda discute - ele murmurou.
- Não quer me dizer que as mulheres escocesas são mudas, não é? Você
já teve conversas com mulheres antes, com certeza.
Por um momento, caminhou ao seu lado em silêncio, seus enormes e
selvagens cães cinza acompanhando seus passos. Cães do inferno, de fato.
Sem dúvida que tinha sido chamado de diabo, antes. E esse demônio era um
espécime impressionante, de fato.
- Sim - disse depois de um momento. - Tive conversas com mulheres
antes. Ninguém que quisesse arriscar uma briga, no entanto. Moças que
conheciam seu lugar - finalmente disse, algo mais quente tocando sua voz.
Como se ela já tivesse tentado brigar com alguém.
- Seu lugar deve ser totalmente de acordo com tudo o que você proferir,
suponho? E para sua informação, um argumento não equivale à vontade de
brigar - disse secamente, pegando o ritmo.
- De onde eu venho, faz. Se você questionar o julgamento de um homem
em vez de cuidar do seu próprio, vai conhecer seu punho. Isto é, se você é um
homem, para começar. Eu não bato em mulheres.
- Que alívio! - Disse sarcasticamente. - Uma luta é o recurso daqueles
que não podem sensatamente e logicamente defender sua posição com as
palavras. É para fanfarrões orgulhosos e provocadores que pensam apenas em
si mesmos.
- Palavras não vencem batalhas, moça.
Evidentemente ele gostava de um argumento, bem como, se admitisse ou
não, desde que persistia na luta contra tudo o que ela dizia. Bondade, ele não
tinha nenhum modo mesmo.
- Não, lorde Glengask. Palavras evitam batalhas ou rixas ou duelos,
antes de começar em primeiro lugar.
- Hum.
Charlotte olhou-o novamente. Podia discordar dela, é claro, mesmo que
sua filosofia de batalha para um acordo estivesse claramente errada. Mas
dispensar seu argumento como insignificante, não era aceitável.
- Essa é sua resposta? - Falou em voz alta.
- Minha resposta é que não posso discutir as razões pelas quais estou
disposto a lutar. Não para alguém que nunca conheceu uma causa para lutar,
moça. Você é inglesa, não espero que compreenda.
A sua resposta a fez querer gritar e bater seus pés, mas, infelizmente,
chegaram à loja de roupas, antes que pudesse conjurar uma réplica apropriada.
Não admira que os escoceses tivessem uma reputação de selvagens e
bárbaros. Os homens, pelo menos, eram claramente lunáticos.
Winnie foi diretamente para os novelos ricos, tecidos com joias
coloridas, que nunca seria aceito no Almacks.
- Uma debutante deve vestir branco - Charlotte disse, virando suas
costas para a montanha de sangue quente e músculos quando a costureira
apareceu na parte de trás da loja. - Senhora Arven, queremos um vestido para
o Almack’s para lady Rowena aqui. Poderia mostrar-lhe algum tecido
apropriado?
- Oh, certamente, minha senhora. Por aqui, lady Rowena, lady Jane – a
senhora Arven replicou, de alguma maneira conseguindo bater palmas, uma
reverência e caminhar ao mesmo tempo.
Os enormes cães estavam no canto, onde o marquês ordenou que
ficassem, seus focinhos enrugados como se não pudessem decifrar o cheiro de
perfume e tecido recém-lavado. Os dois guardas ou cavalariços ou o que
fossem, pareciam quase tão fora de lugar na pequena loja feminina, e até mais,
quando um quarteto tagarela de senhoritas e sua mãe carrancuda lotaram o
interior, também. O marquês de Glengask, malvestido para uma sociedade
educada, não estava muito mais adequado, e estava ainda mais difícil de
ignorar.
- Lady Charlotte Hanover, não é? - Disse a mãe, empurrando sua ninhada
mais perto e oferecendo-lhe sua mão.
Charlotte olhou-a mais de perto, não tão fácil de ignorar, considerando o
enorme chapéu verde da mulher.
- Lady Breckett - ela voltou, colocando um sorriso no rosto. - E esta
deve ser a senhorita Florence.
A morena roliça com o nariz sardento observou Glengask e deu uma
risadinha.
- Sou. E estas são minhas primas, Elizabeth, Victoria, e Lucille
Hunsacker.
- Ladies.
- Lady Jane está escolhendo um vestido para o Almack’s? - Lady
Breckett perguntou, juntando-se a sua filha e olhando para Charlotte e para a
difícil montanha, sombreada no canto. Provavelmente deveria apresentá-lo,
mas de repente, não quis.
Disse a si mesma que sua relutância era perfeitamente lógica. Tudo o
que precisava era o início de fofocas dizendo que andava na companhia de
escoceses brutos e demônios. Que os céus impedissem se ele começasse uma
briga com a fraca lady Breckett. Ou até mesmo um argumento.
- Jane já tem o dela - Charlotte disse em voz alta. - Minha mãe também
está patrocinando uma querida amiga da família. Estará comparecendo na
reunião desta quarta-feira, senhorita Florence?
- Oh, sim. - Florence saltou na ponta dos pés. - Tenho praticado todas as
danças e mais especialmente a valsa. Vai ser muito emocionante.
O trio de meninas Hunsacker agora estava olhando abertamente para
Glengask atrás dela, murmurando e rindo e batendo os cílios por trás de suas
mãos. Supôs que se não dissesse alguma coisa agora, causaria mais um
mexerico do que se simplesmente o apresentasse. Danação. Com um sorriso
tenso, esperando que ele não fosse discutir seriamente na frente de quatro
mulheres jovens e impressionáveis, fez um gesto para ele.
- Minhas desculpas. Lady Breckett, senhorita Florence, senhorita
Elizabeth, senhorita Victoria, senhorita Lucille, posso apresentar lorde
Glengask? É a sua irmã, lady Rowena, fazendo seu debut.
Fazendo um aceno imperfeito às cumprimentou.
- Não me lembro de vê-lo em Londres antes, meu senhor. – A
Viscondessa Breckett comentou.
- Não tenho vindo aqui - ele respondeu em seu baixo e retumbante
sotaque.
- Oh, você é escocês! - Uma das Hunsacker exclamou, no mesmo tom
que ela poderia ter notado que ele tinha descido proveniente da lua.
- Sim. Eu sou.
- Estivemos em Edinburgh - a menina Hunsacker continuou, enquanto as
outras duas coravam e acenavam com a cabeça. - Com nosso pai e mãe. Papai
é um baronete lá. Ele é lorde Terrill. Ele diz que seu lado da família começou
escocês, mas vi… - Ela parou de falar, seu rosto empalidecendo.
Charlotte não podia ver a expressão de Glengask desde que o ombro
dele encobria, mas quase podia senti-lo. Oh, Deus. Sob o manto de sua bolsa,
deu-lhe uma cotovelada nas costelas. Poderia muito bem ter empurrado
Gibraltar, mas, em seguida, ele se mexeu.
- É somente a senhorita Florence aqui sendo apresentada no Almack’s? -
Perguntou em um tom surpreendentemente suave.
- Oh, sim. Estreei ano passado, Lucille tem quase vinte anos e Elizabeth
não poderá frequentar até o próximo ano - a mais nova do trio, Victoria, pelo
processo de eliminação, explicou. - Lucille e eu estaremos lá para dançar, no
entanto. - Abaixou sua cabeça, olhando para o marquês através de seus cílios.
Glengask assentiu, então sua atenção voltou para as estátuas duras perto
da porta.
- Fiquem de olho em Rowena - ordenou, em seguida, ofereceu o braço
para Charlotte. - Será que pode me mostrar onde fica aquela loja de botas
agora, lady Charlotte? - Falou pausadamente.
Meio por reflexo, ela colocou a mão em sua manga. O braço por baixo
do feltro como ferro.
- Certamente - ouviu-se dizer.
- Senhoras - continuou com um ligeiro aceno e passou por elas para
abrir a porta da loja.
- Fergus, Una, venham.
Lá fora, começou a caminhar com passos longos, comendo terra
enquanto os cães de caça trotavam. Charlotte manteve-se por um quarteirão, ou
mais, em seguida, apertou sua manga e puxou. Por um instante, pensou que
poderia simplesmente arrastá-la, mas, depois deu uma parada abrupta.
- Para aonde estamos indo? - Perguntou, segurando-a para que não
pudesse ir embora e deixá-lo ali, embasbacado. Encarou-a, 1,93m de
highlander irritado. - Então nesta sociedade educada de vocês - murmurou, sua
voz um grunhido baixo - o civilizado, a moça educada, é permitido insultar,
não só eu, mas toda a Escócia e sou o único que pediu para fingir que tudo está
certo com o mundo?
- Ela não o insultou. Bem, quase fez, mas depois se conteve. E a razão
pela qual você tem que ser educado sobre o assunto é porque sua irmã não
conhece ninguém em Londres a não ser Jane, minha mãe e eu. Se você começar
a atacar as pessoas, verbalmente ou de outra forma, vai apenas tornar as
coisas difíceis para ela.
Seu olhar tornou-se mais especulativo.
- Vai ser minha consciência, não é?
Charlotte ofereceu-lhe um sorriso, embora estivesse bastante certa de
que não seria capaz de assumir essa tremenda responsabilidade.
- Uma guia, talvez. Quando quiser uma.
- Ou quando sente que preciso de uma. Você estava certa, estava pronto
para explodir sobre a moça ou não teria me batido nas costelas.
Outros clientes estavam começando a olhá-los, ou melhor, a ele;
curiosamente, mas ninguém reclamou sobre ter que se mover em torno deles
quando bloquearam o caminho. Charlotte não podia imaginar, porém, que a
maioria se atreveria a desafiar um homem tão formidável. Não diretamente, de
qualquer forma.
- Acho que você sabe o que é educado e aceitável, se optar por se
comportar dessa maneira ou não; que foi o que fez, quando deixou a loja. - Fez
uma careta. - As meninas Hunsacker compreendem também, assuntos bobos. O
que não sabia era se você levaria a situação de sua irmã em conta.
Charlotte meio que esperava desencadear outro argumento, mas quando
seu olhar encontrou o dela novamente viu um pouco de diversão neles. A visão
a fez esquecer por um momento o que eles estavam discutindo. Charlotte viu
pinturas de alguns dos lagos escoceses e os olhos dele eram justamente a cor
que imaginou numa dessas profundezas, ainda que estivessem sob um sol de
verão escocês.
Depois de um momento, fez um gesto na rua com sua mão livre e
partiram em um ritmo muito mais tranquilo.
- Tenho uma pergunta - ele pediu em tom de conversa.
- Estou ouvindo.
- Você tem o quê, vinte e três?
- Vinte e cinco. Fiz aniversário nesta primavera. - E sabia o que estava
por vir. Por que ainda estava solteira? Que coisa tola tinha feito para continuar
solteira? Tinha ouvido de tudo até agora, afinal. A questão era como desejava
responder. E como se sentiria tendo este grande e volátil escocês perguntando
uma coisa tão íntima.
- Você estava em Londres, então, no ano que Donald Campbell desceu e
fez toda aquela confusão?
- O… - Charlotte reprimiu uma carranca. Levou um momento para
lembrar-se do que ele estava falando, tão distante da conversa que achava que
estavam prestes a ter. - Foi realmente no ano antes do meu debut - disse
lentamente, lembrando-se - mas estávamos em Londres para a temporada. O
senhor Campbell estava perseguindo uma mulher, pelo que me lembro. Não a
deixava em paz e seu irmão atirou nele.
- Então, é essa a história.
Agora tinham chegado ao fim da Bond Street, e ele dirigiu-se ao longo
da Picadilly e depois para o sul em Queen’s Walk, afastando-se de Mayfair.
Green Park estava a sua direita, uma vez que já haviam passado por isso, ela
sabia que o marquês não tinha ideia de onde estavam. É claro que estava
provavelmente perdido. Mas a conversa estava bastante interessante.
- Essa não é a história verdadeira?
- Não. Campbell desceu depois de Jenny Baxter. Os Campbells e os
MacMillans, que são do clã Baxter, entretanto, tiveram uma briga que durou
por cem anos ou mais. Seu irmão Thomas se envolveu no namoro e enfrentou e
disparou em Donald. Então, arrastou sua irmã de volta para a Escócia e casou-
a com um condutor de gado antes do fim do mês. Um ano mais tarde alguém
atirou em Thomas Baxter na cabeça enquanto estava pescando. Consta que era
tio de Donald Campbell.
- É terrível! - Exclamou.
- São as Highlands. A ordem de fé lá é clã, país e Deus.
Charlotte olhou para ele novamente.
- Você é o chefe do seu clã.
- Sim.
- De modo que há um grande número de pessoas no clã MacLawry,
então?
Ranulf encolheu os ombros.
- Há os MacLawrys, os Laurences, MacTiers, Lenoxes, Tyrells, e todas
as famílias sob eles. Nos dias de hoje é mais sobre terra e moeda, mas quando
medimos por força de resistência, próximo de três mil homens de combate.
- Isso é... é um exército.
- Sim. - O sorriso em sua boca sensual foi cruel e cínico. - Não é de
qualquer maneira que outros clãs podem ser conduzidos por mais tempo, com
os lairds promovendo a limpeza em suas terras para o pastoreio de ovelhas. E
a Coroa não gosta de qualquer outra forma, como nós fazemos ao renunirmos.
Pararam debaixo de uma árvore de carvalho na extremidade de Green
Park e os cães se jogaram no chão, as línguas pendendo. O quão longe
percorreram da loja de roupas de Mrs. Arven?
- Por que está me contando?
- Porque deixei Rowena em sua casa - respondeu discretamente, seu
olhar estudando-a. Havia mais que arrogância e força bruta, ela abruptamente
percebeu, perguntando-se por que não tinha notado antes. Atrás de seu sotaque
e suas palavras corajosas, vislumbrou um grau de inteligência aguçada, uma
reflexão que nunca teria esperado no primeiro ou no segundo encontro.
- Sim? - Perguntou, até mais curiosa agora sobre o ponto que ele
obviamente estava tentando fazer.
- Quero que entenda por que tenho guardas cuidando dela, e por que
você e sua família precisam manter um olhar atento nela. Está acostumada a
sentir-se segura e não considera que está a salvo porque tem três irmãos e uma
grande parte de seu clã, mantendo-a assim.
- É realmente perigoso para ela estar aqui? - E para ele estar aqui,
importava, mas não perguntou isto em voz alta. Com cada gota de seu ser, quis
olhar ao redor da margem tranquila do parque para o perigo, embora não
soubesse o que procurar.
- Poderia ser. Sei que você não esperava esse problema. Se não quiser
mais a responsabilidade de tê-la em sua casa, vou buscá-la hoje. Duvido que
uma família inglesa queira estar tão perto dos problemas do clã. E por sua
aversão por socos, especialmente você.
Foi um insulto, é claro, mas pensava que entendia seu motivo. Este
homem de pé diante dela, olhando-a fixamente, perto o suficiente para tocá-la,
seria o mais próximo a um rei que poderia ser encontrado na Escócia, nos dias
de hoje. Tinha inimigos. Escoceses – Highland - inimigos que atirariam um no
outro, nos degraus da frente de suas próprias casas. Violência estúpida,
evitável, orgulhosa, provavelmente sobre acontecimentos que ninguém
lembrava mais.
- Devemos discutir o assunto com meu pai - disse calmamente - mas
imagino que vai dizer o que estou prestes a dizê-lo.
- E o que seria?
- Nada dessa... bagunça parece ser obra de Winnie. Ela só quer apreciar
uma quinzena em Mayfair. Acredito que podemos dar um jeito para ela.
Depois de um momento, assentiu.
- Bom. Entretanto, ainda estarei de olho em você.
Charlotte ergueu uma sobrancelha, tentando ignorar a forma como seu
batimento cardíaco acelerou com suas palavras.
- Em mim ou em Winnie?
Glengask inclinou-se, seu olhar sobre ela, atento e ilegível.
- Sim.
Seu coração acelerou novamente, um arrepio vibrou debaixo de sua pele
quente e inesperado. Por que, não tinha ideia. Não poderia se apaixonar por
seus encantos porque não tinha nenhum. Ou nenhum que se importasse de
recordar. E não era o tipo de homem que ela se interessava em primeiro lugar.
Antes que pudesse dizer a si mesma que esperava que não fosse beijá-
la... ou algo assim, Ranulf endireitou-se novamente. Um brilho de humor
aqueceu o azul de seus olhos quando estendeu o braço.
- Acho que seria melhor voltarmos para a loja de roupas, antes que
qualquer coisa incivilizada aconteça.
Com um suspiro, que não conseguiu esconder, Charlotte pegou em seu
braço novamente. Ainda parecia determinado a antagonizá-la, mas em algum
lugar esta manhã, parou de achá-lo tão irritante quanto no início da conversa.
Claro, o conhecia a menos de um dia. Pelo menos podia ter certeza de que não
havia mudado para ser diferente do que era. Duvidava que pudesse dissimular
se quisesse, e isto, pelo menos, era... refrescante.
- Por que você está sorrindo? - Perguntou, seu olhar afastando-se, antes
que mudasse sua atenção de volta para os arredores.
- Honestidade - respondeu.
***
Almack’s.
Ranulf tinha lido sobre a respeitável e excepcional reunião, claro,
principalmente na descrença de que alguém iria realmente tolerar frequentar
um lugar assim. Meio que achava que as histórias deveriam ser um exagero,
contos que cresceram de forma espetacular a cada repetição.
Quando se levantou, estava rigidamente vestido com uma nova jaqueta
preta e calças cinza, com um colete, de tartan preto e cinza simples, sem a
segmentação vermelha da bandeira MacLawry, mas o único pedaço da
Escócia permitido no rígido código de vestuário. Podia ver com seus próprios
olhos que as histórias eram todas verdadeiras. Malditamente,
assustadoramente verdadeiras.
- O que acha? - Lady Charlotte perguntou do lado dele.
Ranulf engoliu uma grosseria. Se dissesse o que verdadeiramente
pensava, seria convidado a sair. Enquanto que essa noção realmente o
animasse um pouco, um olhar sobre as faces rosadas de sua irmã, com seu
vestido branco drapeado, segurando a mão de sua nova amiga Jane, foi tudo o
que precisava dizer a si mesmo para conter sua língua.
- É uma mistura estranha - finalmente comentou. – Velhos vestidos à
moda antiga e moças de aspecto atrevido.
Charlotte assentiu com a cabeça, seu ondulado cabelo dourado puxado
em um nó apertado, que não se atreveria a escapar.
- Os mais velhos gostam da popularidade e porque é tão... conservador.
Os jovens só estão aqui porque, bem, todo mundo deve vir pelo menos uma
vez.
- E é divertido assistir quando não existem quaisquer outras festas
acontecendo - Jane colocou. - Ou assim me disseram. - Ela apontou para um
pequeno grupo de mulheres experientes, sentadas a um lado da sala. - Aquelas
devem ser as patronesses - pronunciou.
- Sim, são elas. - Lady Charlotte moveu-se entre as moças mais jovens e
os objetos de seu interesse. - Não olhem.
- Oh, não parecem tão ferozes - Rowena comentou. - Esperava enfrentar
um bando de bruxas e harpias enverrugadas.
- Não se deixe enganar - Charlotte disse em voz baixa. - Elas são os
árbitros da moda. Se você deseja ser capaz de valsar, precisa da aprovação
que podem lhe dar.
- Então, seria melhor acenar - Ranulf murmurou, estudando a meia dúzia
de mulheres. - Harpias - provavelmente era uma descrição apropriada.
- E ser banido do Almack’s significa ser banido de muitas das mais
velhas casas, as mais conservadoras... e seus saraus.
Ranulf virou sua cabeça, pegando seu olhar e ouvindo a nota de
advertência em sua voz suave.
- Significa, então, que podem me julgar também, não é?
- Você entrou pela sua porta da frente, meu lorde. Então, sim, sentem que
têm o direito de julgá-lo.
Por um momento, desejou que houvesse permitido que Arran e Bear
tivessem viajado com ele para Londres. Juntos, os três dariam àquelas altivas
simplórias inflexíveis motivo sobre o qual desaprová-lo. Porém, apenas
deixaria Rowena com o coração partido e mais uma vez culpando-o por uma
vida sem graça.
- Ficarei aqui - disse em voz alta. - Sorrirei quando olharem para mim.
Mas se derem a Rowena qualquer coisa que não seja um maldito aceno de
cabeça, mostrarei exatamente o que penso de seus empertigados modos.
Lady Charlotte limpou a garganta, a sugestão de um sorriso em sua
expressão quando olhou para longe. Esta noite, usava um vestido de gola alta
simples, de seda de um prado verde brilhante. Se tivesse sido o tipo de homem
que preferia damas inglesas, como seu pai tinha, teria sido duramente
pressionado para manter suas mãos longe dela. Como não era, a ideia de que a
desejava só serviu para irritá-lo. Um grande negócio.
- Ran, obrigado novamente por permitir isto - Rowena sussurrou
enquanto caminhava até ele, tagarelando. - Eu sei que não gosta daqui. Apesar
de tudo, você parece muito bem.
Estendeu a mão para segurar seu ombro.
- Não tão bem quanto você, meu coração. Não se preocupe com nada. -
Pegou-se quase lhe dizendo o quanto se parecia com sua mãe, mas era a última
coisa que queria em sua cabeça. Mesmo que fosse verdade. Ela era escocesa e
isto era como umas férias. Rowena iria divertir-se tanto quanto fosse possível
organizar, e, em seguida, voltariam para casa.
Uma dúzia de moças usava branco esta noite, cada uma mais pura e
virginal do que a outra. Com lady Charlotte sussurrando em seu ouvido e
dizendo-lhe o que estava acontecendo, uma por uma foram apresentadas às
senhoras que agora estava dispondo-as ao longo da parede do fundo, como
gárgulas brilhantes com pérolas.
- Ranulf.
Só por causa de uma longa prática, evitou saltar com o sussurro de seu
nome, vindo por trás dele.
- Tio Myles – pronunciou em um tom inalterado, não se movendo do seu
ponto de observação.
- Como está nossa Winnie?
- Não sei ainda. - Tardiamente, observou que sua mão direita havia se
enrolado em um punho, e, lentamente, endireitou os dedos. Não aqui. Não
agora. - Sei por que está aqui, Myles, mas não acho que nos obriga a ter uma
conversa.
Pela maneira como os ombros de lady Charlotte enrijeceram, não
aprovava sua réplica rude. O que ela não sabia era que deveria estar grata e
que a única razão pela qual não havia ninguém com o nariz de imediato
sangrando era porque estava aparentemente sendo julgado junto com Rowena.
A linha de debutantes avançou lentamente, até que lady Hest ficou com
Jane à sua esquerda e Rowena à sua direita. As duas moças nada parecidas:
uma era alta de cabelos loiros, a outra pequena com cabelos pretos como breu.
Ainda mais revelador: uma era pura aristocracia inglesa e a outra, uma moça
bem nascida das Highlands. Poderiam aprovar uma e negar a outra?
Atreveriam-se?
- Está indo bem - lady Charlotte murmurou abaixo do som de sua mãe
recitando a linhagem das duas jovens ladies como se fossem cavalos no leilão.
- O que pode me dizer?
- Estão olhando as meninas em vez de sussurrar umas com as outras.
- Será que ter duas debutantes não diminui a chance de ambas serem
aceitas ou as aumenta?
Charlotte olhou de soslaio para ele.
- Elas não se importam se Winnie é escocesa. É tudo sobre seu porte e
sua criação.
Foi tão transparente? Depois de quinze anos como o marquês de
Glengask, estava bem ciente de como a maioria dos proprietários de terras
ingleses considerava um de seus companheiros que escolhesse permanecer nas
Highlands. Sabia como os ingleses, em geral, viam os escoceses: agressivos,
bêbados e, finalmente, perdedores, com centenas de anos de guerra e disputas
finalmente resolvidas a favor dos inglêses. Porém, não terminamos,
declarando a sua autoridade.
- Preocupo-me que Rowena é escocesa - disse em voz baixa.
Seja por acidente ou não, seus dedos roçaram os dele. O gesto fez seu
intestino formigar como se um raio o tivesse atingido. Até o momento tinha
resolvido que deveria ter sido o almoço que se esqueceu de comer, deixando-
o tonto. Uma das patronesses levantou-se e acenou com a cabeça.
- Bem-vindas ao Almack’s, ladies. E a Londres, lady Rowena.
Ao lado de Ranulf, e apesar de sua afirmação de que tudo estava indo
bem, Charlotte parecia aliviada. Talvez fosse uma coisa boa que permanecesse
ignorante das maquinações no mínimo envolvidas ou poderia ter sido tentado a
interceder, afinal de contas. Quando Rowena veio saltando até ele, sorriu.
- Agora você pode ter suas valsas, meu coração.
- Sim. Então dance a primeira v.… - Seus olhos se arregalaram quando
ela olhou além de seu ombro. - Tio Myles!
Soltou-se de seu irmão para dar ao tio um forte abraço.
Surpreendentemente, ela era calorosa, gentil, ingênua, e, estava começando a
perceber que em grande parte a culpa era sua. Sentiu um vento muito frio
soprando onde o irmão da sua mãe estava sentado, mas hoje à noite seria para
sua irmã. E assim, apertou sua mandíbula e se manteve mudo.
- Você cresceu em três anos - Myles Wilkie, visconde Swansley, disse,
tomando-lhe as mãos. - Você parece tanto com Eleanor, que quase me leva às
lágrimas.
- Eu pareço com minha mãe? - Perguntou, balançando a saia quase
timidamente. - Meus irmãos nunca me disseram.
Porque não foi permitido. Myles teve a boa graça de limpar a garganta.
- Você se parece muito com ela, Winnie. Quer dançar sua primeira valsa
com um velho que a adora?
Agora estava interferindo onde não era necessário. Ranulf deu um passo
adiante e sentiu dedos delgados envolverem em torno de seu braço, leves,
suaves e ardentes através do tecido pesado de sua manga, decididos.
- Certamente isto salva seu irmão de um dilema - lady Charlotte disse
com seu sorriso caloroso. - Não acho que percebeu que não haveria dança até
depois das apresentações porque me convidou para dançar a primeira valsa
com ele.
- Oh, esplêndido! - Rowena riu e puxou seu tio em direção à pista de
dança, quando a orquestra na sacada começou a tocar a primeira valsa
tradicional. - Você é minha segunda dança, Ran. Não se afaste.
- Não vou.
Em um momento, encontrava-se de pé em um lado da pista de dança,
enquanto sua irmã dava seus primeiros passos oficiais na sociedade inglesa.
Se tivesse sido capaz de superar seu instinto para manter um olhar atento nela,
teria desviado a vista. Como diabos tinha permitido isso acontecer?
Certamente não gostava dele, mesmo Rowena poderia atestar isso.
- Vamos, lorde Glengask? - Olhos castanhos esverdeados, debaixo de
longos cílios curvados, olharam para seu rosto. - Não me faça uma mentirosa,
por favor.
Ele olhou-a e depois para sua irmã.
- É uma mentirosa, lady Charlotte.
Ela assentiu com a cabeça.
- Então, eu sou. Entretanto, ninguém mais precisa saber disso, não é? -
Quando ainda não se mexeu, puxou sua manga. - Não está preocupado que vai
fazer uma exibição pobre e envergonhar a Escócia ante os tiranos ingleses, não
é?
Ah, apenas o incentivo que precisava. Mantendo sua expressão
impassível, ainda que preferisse ir trabalhar com uma pá e tirar merda em um
estábulo, que inclinado ante os tiranos ingleses, como ela chamou-os no salão
de baile, Ranulf tomou seus dedos nos seus, deslizou sua outra mão em torno
de sua cintura esguia e entrou com ela para dançar.
Se não tivesse uma irmã mais nova, provavelmente não teria se
preocupado em aprender a valsa, mas, de repente, estava grato que Rowena o
houvesse incomodado para aprender. Na verdade, quase em sua totalidade,
homens e mulheres nascidos no seu clã sabiam dançar a valsa por causa de
Rowena.
- Você dança muito bem, milorde - lady Charlotte comentou sorridente.
Suas bochechas pálidas ganharam um brilho rosado na sala quente. Achou isso
bastante atraente, embora fosse negá-lo, se perguntado. Nem poderia explicar
por que gostava de olhá-la. Em primeiro lugar, era inglesa e em segundo lugar,
ela achava conveniente discutir com quase toda declaração que ele fazia.
- Você também pode me chamar de Ranulf - retorquiu - como já me
despojou de todo pedaço de dignidade e autoridade que possuo.
Charlote deu-lhe um sorriso inesperado.
- Duvido que tal fato seja possível.
- Bem - ele murmurou, decidindo que se sentia um pouco apaziguado. -
Tomarei como um elogio, então.
Charlotte limpou a garganta.
- Estou somente vendo que hoje à noite está indo tudo bem para sua
irmã. E para a minha. - Olhos castanhos estudaram os seus, de forma direta,
coisa que a maioria das pessoas não ousava. - Nós temos o mesmo objetivo,
acho.
- Preferiria que ela voltasse atrás e retornasse para Glengask
determinada a nunca mais sair de lá novamente. - Ranulf forçou um sorriso ao
ver o olhar chocado de sua companheira, como se não conseguisse entender
por que alguém não gostaria de ser a queridinha da sociedade. - Não poderia
suportar vê-la menosprezada ou envergonhada, embora, suponho que devo
tolerar as travessuras.
- Por duas semanas.
- Sim. Por duas semanas. - E nem por um maldito momento a mais.
Todas as jovens de branco ao redor da pista rodopiavam em êxtase; afinal,
agora faziam parte da elite de Londres. Eram mulheres e tinham acabado de
iniciar sua única tarefa na vida: a de encontrar maridos ricos, com títulos.
Maridos ingleses com propriedades inglesas, os mesmos homens que
desejavam o desaparecimento das Highlands, assim podiam continuar a tarefa
de transformar a Escócia em nada além de pastos para engordar suas ovelhas.
A ironia era que não o desejavam na Inglaterra, também. Não até que
tenha perdido seu sotaque e repudiado seu tartan, exceto para feriados
excêntricos, quando todo mundo podia fingir ser um bárbaro escocês a fim de
ridicularizar sua cultura. Quando não estavam conversando atrás de suas mãos
para acusar todo highlander de ser um maldito jacobita.
- Você está segurando minha mão com bastante força, milorde.
Estremeceu, imediatamente soltando seu aperto.
- Peço desculpas, disse rigidamente. - Minha mente estava em outro
lugar.
- Então, claramente não estou colaborando com a minha parte, como sua
parceira de dança.
Isso o fez sorrir. A delicada moça não estava desanimada, isso estava
malditamente certo. A mudança de seu corpo debaixo de sua mão, seus passos
rápidos e tendo a certeza de que combinavam com os seus; agora, ela o tinha
feito pensar na última vez que esteve na cama com uma mulher. E pensamentos
como esse não fariam nenhum bem.
- Estava pensando em Glengask, milady, - improvisou a guisa de
explicação. De qualquer maneira, era em parte verdade.
- Realmente gosta de lá, não é?
Não soou cínica ou cética, então Ranulf assentiu com a cabeça.
- Glengask é uma terra selvagem, adorável, tanto ameaçadora como
estimulante.
- Penso que deve achar que a sociedade de Londres é a mesma coisa.
- Você sabe - disse devagar, sentindo seus músculos tensos sob suas
mãos, quando a puxou para uma respiração mais íntima, - para uma moça
disposta a mentir para evitar que dois homens cheguem às vias de fato, você
não se abstém de um argumento, não é?
Apenas quando Charlotte tinha decidido que sabia como lorde Glengask
reagiria a um determinado comentário, ele a surpreendia. Da mesma forma
manteve-a surpreendendo, afiando a conversa para o que sabia ser um
território perigoso. Mas em sua defesa, foi tudo bastante confuso. Estava
bastante confusa. Glengask tinha lhe dito para abster-se de dar conselhos onde
não era desejado, então lhe dera permissão para usar seu nome de batismo. E
tanto quanto parecia... ansioso para afastar as pessoas, dançava muito bem.
- Aprecio um bom debate - disse em voz alta. Abrasivo e defensivo ou
não, ele parecia apreciar a honestidade. No que lhe dizia respeito, falava a seu
favor. Assim como foi o modo que protegeu, favoreceu e claramente adorava
sua irmã. - Detesto quando os homens decidem que um argumento precisa ser
decidido com os punhos ou com armas, especialmente quando é sobre algo tão
idiota e totalmente inútil tal como seu próprio orgulho.
Num piscar de olhos, puxou-a ainda mais perto de seu corpo grande e
duro.
- E você acha que um homem pode se envolver em um bom debate sem
arriscar um confronto físico?
- Sim.
Afirmando para ele que podia ser excesso de confiança dela. Até três
dias atrás ela não sabia de sua existência. E uma das poucas coisas que sabia
sobre si era que parecia considerar a violência física com a mesma
indiferença que concedia a seus pares uma saudação.
Se sua família não concordasse em patrocinar lady Rowena, Charlotte
teria se esforçado para ficar bem longe dele, embora não tivesse certeza de
que teria sido capaz de abster-se de olhar. Havia tido mais do que suficiente
experiência com homens que se julgavam imortais, apenas para serem vítimas
da própria estupidez. Mais do que suficiente para durar uma vida inteira.
- Parece muito triste, moça - lorde Glengask murmurou. - Se lhe causo
angústia, peço desculpas novamente. Você não tem sido nada além de gentil
com Rowena.
Charlotte engoliu, encontrando seu olhar direto, mais uma vez.
- Não é nada que fez, lorde Glen...
- Ranulf, - interrompeu, seus dedos deslocando-se através de sua cintura
e fazendo-a ciente novamente da intimidade de seu contato.
- Ranulf, - repetiu, gostando do sabor do seu nome em seus lábios.
Queria dizer mais uma vez, para saboreá-lo. Só não aqui e não agora.
- Melhor - falou lentamente com seu profundo sotaque. - Se não fui eu
quem a magoou, diga-me quem foi.
- Assim poderia ser hostil com o culpado? - replicou, embora fosse
tarde demais para uma coisa dessas, ainda que estivesse propensa. - Como
acredito que declarei o quão pouca consideração tenho por violência, espero
que perceba que nunca iria querer uma coisa dessas.
- Sim, mas eu poderia.
Ele tinha uma boca muito sensual, decidiu, e não apenas por causa do
suave r rolando de seu sotaque. A boca gravemente voltada para baixo, a leve
curva para cima quando olhava para ver sua irmã rodopiando sobre o chão.
Era diabolicamente atraente, realmente.
– Suponho que acha galante - disse quando percebeu que esperava uma
resposta, - mas como apenas desaprovo homens que lutam por algo tão
estúpido quanto seu próprio orgulho, não estou prestes a aprovar um homem
brigando em nome de outra pessoa. Declino a sua oferta.
Lorde Glengask, Ranulf, parecia que queria discordar, mas antes que
pudesse dizer algo mais, a música parou. Charlotte, dividida entre gratidão
e.... uma decepção inesperada com a interrupção, liderou o caminho até a
beira da pista de dança, onde seus pais esperaram. Winnie já estava lá com o
visconde de Swansley, ambos sem fôlego e rindo.
- Viu-me, Ran? - Perguntou, capturando ambas as mangas em seus dedos.
- Sou uma debutante agora.
- Vi - seu irmão voltou com um espontâneo sorriso caloroso. -
Praticamente estava brilhando. Deixou as outras moças envergonhadas.
Uma mão tocou o ombro de Charlotte, e estava tão concentrada na
conversa na sua frente que pulou.
- Sim?
Virou-se rapidamente para ver o topo de uma cabeça careca, curvando-
se para ela. A cabeça endireitou-se para revelar o rosto redondo e amável,
olhos esperançosos do senhor Francis Henning, relaxou, tanto quanto poderia
no Almacks, enfim.
- Senhor Henning. Muito ilustre vê-lo.
- Lady Charlotte. Queria saber se você me daria à honra da próxima
dança. - Suas sobrancelhas mergulharam em uma breve careta. - É uma
quadrilha, acho. Embora possa ser uma dança de campo.
Sentiu mais que viu o marquês de Glengask mover-se atrás dela, grande
e formidável como uma montanha. Se pensava que precisaria de proteção de
Francis Henning, de todas as pessoas, deveria considerá-la totalmente
indefesa. Charlotte sorriu e acenou com a cabeça.
- Qualquer que seja a próxima dança é sua, senhor Henning.
- É perfeito. Apenas vou... - Olhou além dela, as bochechas rosadas
empalidecendo um pouco. - Pegarei uma taça de ponche - finalizou, - para
minha avó.
- Muito bom.
Antes que tivesse acabado de falar, porém, ele recuou. Oh, isso foi
inaceitável.
- O que fez? - Exigiu, enfrentando Glengask. Estava mais perto do que
esperava e teve que erguer seu queixo bastante alto para olhar em seu rosto. -
Fez cara feia para ele?
- Quem era? - inquiriu, em vez de responder sua pergunta.
- Um velho amigo. Francis Henning. Deveria tê-lo apresentado?
Glengask inclinou a cabeça, fazendo-o parecer uma atraente mistura de
cativante e letal.
- Não sei. Deveria?
- Certamente que não, se só queria olhar furiosamente para ele.
Encontrou calmamente seu olhar
- Está sob minha proteção, moça.
Da forma como disse, a declaração estava claramente destinada a
explicar tudo. E provavelmente deveria ter deixado de lado porque ele era o
chefe de um clã, acostumado com as suas palavras sendo aceitas como lei e
obedecidas sem questionar. Mas não estavam na Escócia e simplesmente não
podia tiranizar e intimidar pessoas.
- Então, com quem Jane dançou? - Perguntou. - E com quem está preste a
dançar a quadrilha?
O marquês balançou a cabeça para olhar a irmã dela. Pela sua rápida
expressão de confusão, tinha esquecido completamente de Jane. Por que
parecia ser sobre ela em particular que sentia ser necessária sua proteção. A
ideia devia tê-la irritado ao extremo. Fez-se claro, embora o aborrecimento
não chegasse a descrever a emoção de calor que corria sob sua pele.
- Encontrarei...
Deu dois passos longos, antes de Charlotte apanhá-lo e bloquear seu
caminho.
- Sei quem são eles, pelo amor de Deus.
- Por que me perguntou, então, mulher? - Atirou de volta. Os convidados
mais próximos deles se viraram para olhar, de repente, interessados em sua
conversa. Claro, algumas das jovens ladies o tinham olhado a partir do
momento que entrou nos salões do baile.
Mas ele não foi o único a se sentir desconcertado.
- Estava falando comigo mesmo. - A orquestra soou uma nota e, em
seguida, começou a tocar uma quadrilha. - Agora vá dançar com sua irmã,
como prometeu.
Por um longo momento Ranulf olhou-a. Depois, sem dizer uma palavra
foi buscar Winnie. Só naquele momento Charlotte foi encontrar o senhor
Henning. Amanhã precisaria pesquisar a fundo sobre o marquês de Glengask.
Felizmente para ela, a melhor pessoa para perguntar passou a residir três
camas longe da sua.
Capítulo Três
- Milorde, tio Myles está aguardando com prazer na sala da frente.
Ranulf levantou os olhos do jornal que estava lendo sobre o seu café da
manhã. Parecia estranho ter posse de notícias que não estivessem com uma
semana de atraso. E inquietante ao ler que o marquês de Glengask estava na
cidade e residindo justamente onde ele estava.
- Ele não é seu tio, Owen. Para você, é lorde Swansley.
- Sim, milorde. Só que ele esteve em Glengask por tanto tempo…
- Eu sei. Faça-o entrar. - Tinha aprendido há muito tempo a vantagem de
requerer um quarto e um assento, e não tinha intenção de permitir que Myles
Wilkie tivesse a oportunidade de fazê-lo. Londres poderia ser o domínio de
Myles, mas os MacLawrys reivindicaram Tall House para si. Em todo caso,
por duas semanas.
Um momento depois, Myles Wilkie apareceu na soleira da porta da sala
do café da manhã, simpáticos olhos castanhos passearam pela sala e
finalmente repousando em Ranulf na outra extremidade da mesa. Ranulf em
troca observou-o. Olhar simpático ou não, o homem tinha a esperteza de uma
raposa e a teimosia de um texugo. Não estava a ponto de esquecer isso. Nem
por um instante. Nem mesmo quando Una trotou adiante, cauda abanando
furiosamente, para cumprimentar o visconde. Fergus permaneceu debaixo da
mesa, aos pés de Ranulf e bufou sua desaprovação. Se precisasse de qualquer
prova de que a maioria das fêmeas não tinha nenhum sentido, o acontecido
forneceu-o.
- Enviou-me um pedido para encontrar alguns prováveis serventes - o
visconde finalmente disse, e retirou um papel dobrado do bolso cinza. - Tendo
em mente as suas... necessidades particulares, pensei que seria melhor trazê-
los pessoalmente. Encontrei meia dúzia de homens e três empregadas que
devem ser suficientes.
Ranulf acenou com a cabeça, sacudindo o dedo para Peter. O criado foi
recuperar o papel e o desdobrou.
- Não posso ler estes garranchos, milorde - proclamou, depois de um
momento gasto olhando de soslaio para a página.
Do lado oposto da sala, Owen soltou o fôlego e passou por Myles para
arrebatar o papel dos dedos de Peter.
- Você não pode ler quaisquer garranchos, e não está enganando nenhum
de nós sobre o assunto. - Depois de um momento, olhou para cima a partir da
página, franzindo a testa. - Estes não são nomes escoceses, lorde Swansley.
- Não, são ingleses. Nascidos e criados. - Myles inclinou seus ombros. -
Posso me sentar, Ranulf?
- Sim. Dê-me o papel, Owen, e vá selar Stirling. Estaremos fora em
vinte minutos. Leve Peter com você.
- Mas...
- Agora.
O cinza que uma vez tinha matizado a têmpora de Myles Wilkie tinha
clareado e se espalhado, transformando seu cabelo castanho em quase loiro.
Este fato tinha ocorrido em algum momento dos últimos três anos. Sua
aparência parecia um pouco cansada, Ranulf percebeu, embora se perguntasse
se era mais do que superficial. Nem faria qualquer julgamento com base no
fato de que Myles pegou a cadeira diretamente à sua esquerda em vez de uma
em frente à extremidade oposta da mesa.
- Falhei com você, rapaz - o visconde finalmente disse. - Você e seus
irmãos. E Rowena, claro. Vocês são tudo o que restou da minha família. -
Tomou fôlego. - E Rowena, pelo amor de Deus, era apenas uma criança
quando a vi pela última vez. E agora... É uma jovem adorável.
- Por que só ingleses em sua lista? - Ranulf interrompeu, tentando pôr
um fim nas lembranças. Afinal de contas, não tinha causado a separação entre
eles.
- Nesse caso são somente negócios, mais nada, não é?
Ranulf pegou sua fatia de pão torrado. Lenta e deliberadamente espalhou
uma grossa camada de geleia de pêssego nela.
- Acredito que lhe disse que já não somos mais família, por este motivo
não temos nada mais para discutir, além de negócios.
Myles sentou-se em frente, batendo o dedo indicador na mesa polida.
- Se não confia em mim, por que me que pediu ajuda para encontrar
criados?
- Melhor o diabo que você conhece. Não é o ditado?
O visconde olhou-o, em seguida, bateu o papel para baixo ao lado do
cotovelo de Ranulf.
- Aqui em Londres, você é o diabo.
- Sim. Aqui eu sou.
- Escolhi ingleses porque eles são menos propensos a saber quem você
é, e menos provável que sejam abordados por qualquer um que possa desejar-
lhe mal, especialmente agora, que todo mundo sabe que está em Londres. -
Tomou fôlego. - Nenhum deles é de minha casa porque sabia que não
permitiria, mas conheci e falei com cada um deles pessoalmente.
Discretamente. Eles vêm de boas famílias e com altas recomendações. Por
essa razão, também irão custar uma justa importância em dinheiro.
Com um aceno, Ranulf continuou comendo.
- Manterei em mente o que disse.
- Oh, pelo amor de Deus! - Seu tio explodiu. - Pedi desculpas cem
vezes. Estava tentando ajudar!
Ajudar. A palavra deu um soco no peito de Ranulf, escuro e pesado.
- Sua chamada ajuda quase conseguiu com que Bear fosse morto.
- Está sozinho lá em cima, Ranulf! Precisa de aliados fora de seu
próprio clã, ainda que não reconheça esse fato. Os Donnellys fizeram
propostas. Pareceram genuinamente interessados no sistema de ensino que
você colocou no lugar para seus aldeões.
- Sim, porque realmente queriam queimar cada uma de minhas escolas
sobre a terra. Os Donnellys e o Gerdenses são da mesma laia, Myles. Aliaram
seus clãs há décadas. E deu-lhes um maldito mapa.
- Para mostrar-lhes como dividiu sua terra em distritos, partilhando o
trabalho e a renda, permitindo a todos os jovens uma oportunidade de
educação. Estava vangloriando-me sobre tudo que conseguiu realizar, mesmo
com a Coroa respirando no seu pescoço.
Ranulf respirou fundo.
- Quaisquer que tenham sido suas intenções, por sua causa perdi três
escolas. E se Bear estivesse dois minutos adiantado, teria ficado bem no meio
do terceiro tiro. Tomou um tiro no ombro, como aconteceu.
- Você acha que não sei disso? Ainda me mantém as noites acordado.
- Bom. - Finalmente Ranulf se inclinou para frente. Por um tempo tinha
pensado que a distância de três anos poderia enfraquecer sua raiva e seu medo
sobre o que quase tinha acontecido, mas toda vez que Rowena ou qualquer
outro mencionava o nome de Myles tudo voltava.
- Pode ter passado dez anos nas Highlands, Myles, mas não é escocês.
Não entende quão profundas velhas feridas podem ficar. Nunca saberá. E
nunca confiarei novamente em você porque ainda acha que estava certo em
tentar intervir.
- Ajudei a levantá-lo.
- Não. Tinha dezoito anos quando veio para o norte. Percebo que ajudou
a levantar os outros. E, entenda que quando Eleanor ingeriu veneno e deixou
Rowena e nós rapazes órfãos, veio para o norte. Sei que não foi uma coisa
fácil para você.
Myles engoliu.
- Ela não deveria ter feito isto. Minha irmã, sua mãe, todos nós sabíamos
que não pertencia ao lugar. Mas amava seu pai.
- Amava ser uma marquesa. Quando herdei o título, queria que nos
mudássemos para Londres. Desde o início quis que fôssemos criados como
ingleses. Seríamos aristocratas ingleses, com um assento na Escócia. Assim
como todos os outros. O pai não queria isso nem eu. Ele tinha quinze anos
completos quando perderam Seann Monadh, a Montanha Velha, como as
pessoas do clã se referiam a Robert MacLawry. E desde o primeiro dia que
tomou o título do seu pai, teve que lutar.
- Eu sei. Ela... não fez bem para você. Mas se posso perguntar, por que
você permitiu a Rowena uma temporada, agora?
- Essa é a história dela para contar, se assim o desejar.
Um triste e esperançoso olhar voltou à expressão de Myles.
- Vai me deixar vê-la?
- Rowena não está aqui.
- Oh.
Danação.
- Vai ficar em Hanover House, assim lady Hest pode patrociná-la. Vá
vê-la lá, se quiser. Mas não vai levá-la da casa a menos que Debny ou Owen
ou Peter esteja com você.
- Entendido. - O visconde ficou em pé. - Obrigado por isso, Ranulf.
- Se for machucada em sua companhia, melhor não me deixar encontrá-
lo. E vou procurá-lo. Eu juro.
Myles assentiu.
- Se algo acontecer a ela, já estarei morto.
Quase soou escocês.
- Pode visitá-la amanhã, então.
Por vários minutos depois que Myles deixou a casa, Ranulf ficou
sentado onde estivera olhando sem ver os restos de seu café da manhã. A
última vez que tinham se cruzado, Myles encontrou-se com um nariz sangrando
e costelas machucadas. Arran teve que puxar Ranulf longe de seu tio, na
verdade. Qualquer escocês de seu clã saberia melhor que não se podia confiar
nos Donnellys. Aquela traição tinha sido ruim o suficiente. Mas quando Bear
aparecera, ferido e sangrando, pela porta da frente, fez o erro de Myles
imperdoável. Desta vez, vendo-o, porém, Ranulf se sentiu mais... constrangido
do que estivera há três anos.
E sabia exatamente o porquê. Aquela moça alta e loira. Charlotte
Hanover. Não gostava de violência. Ainda que não o influenciaria nenhum
pouco, porque uma mulher inglesa não saberia nada sobre como sobreviver em
seu mundo; exceto que havia visto aquele olhar em seu rosto quando estavam
dançado. Aquele olhar dizia coisas. Aquele olhar dissera que ela sabia do que
falava.
Deixou-o curioso. E foi por isso que pensava nela quando se levantou
para recolher Stirling e seu par de batedores, enquanto passava trotando por
jardins finamente cuidados e viçosos, brancas casas e quando se virou
conduzindo para Hanover House. Curiosidade. Nada mais. Porque não poderia
existir uma atração. Não, quando ela era inglesa. Não, os seus rivais poderiam
pensar que enlouquecera, mas não estava tão louco que levaria
voluntariamente uma inglesa para as Highlands. Não depois do que tinha visto
uma mulher com uma filha de cinco anos de idade e três filhos menores de
vinte envenenar-se para escapar.
Ranulf estremeceu enquanto desmontava à sombra de Hanover House.
Às vezes os lugares que sua mente o levava, surpreendia-o. Suas ideias
levaram-no a construir escolas e ir contra a tendência de limpar a sua terra de
aldeões, para o pasto de ovelhas. Tinha tomado algumas das ideias de seu pai
e as fez realidade, com grande custo tanto para seu bolso como para sua
segurança.
E em tudo isso, em todos os seus anos de adulto, nunca nem sequer
pensou em trazer uma inglesa para as Highlands. Assim, só poderia considerar
a pretensão de mostrar as Highlands para Charlotte Hanover uma aberração.
Ou isso, ou a moça era uma bruxa. Embora se quisesse enredá-lo,
provavelmente gastaria menos tempo discutindo a filosofia da violência com
ele.
A porta da frente abriu-se quando chegou ao degrau.
- Você chegou bem na hora. - Lady Charlotte disse com um sorriso
caloroso. - Decidimos mostrar a Winnie os pontos turísticos, começando com
Hyde Park.
Seu primeiro pensamento foi que, embora nunca tivesse visto Hyde Park
seria muito aberto e estaria cheio e teria que conseguir, pelo menos, um
exército para fornecer a proteção adequada à Rowena. Ou melhor, foi seu
segundo pensamento. Seu primeiro pensamento foi mais primitivo e teve muito
a ver com o traje de montar pêssego que Charlotte usava. Mais precisamente,
com as esbeltas curvas abaixo.
- Bom dia, Ran - Rowena chamou, curvando-se para beijar sua
bochecha. - Olha, estou usando aquelas idiotas botas de montaria que ganhei
de Lach, afinal. - Levantou a comprida saia de seu traje de montaria verde
escuro para mostrar seus tornozelos.
- É o suficiente - resmungou, golpeando sua mão de modo que a saia
caiu de volta ao seu devido lugar. - Terá os ingleses nos chamando de
selvagens e demônios.
- Oh, nojo! - Sua irmã retrucou, então deu uma risadinha. - Essa é uma
grande palavra, não é? “Nojo”.
Ranulf estreitou os olhos.
- Você sabe o que é grande? Manter sua própria...
- Posso ter uma palavrinha discreta com você antes de sairmos, Ranulf?
- Interrompeu Charlotte.
Se não tivesse usado seu nome, dizendo nessa tão afetada maneira
musical que tinha, provavelmente a teria ignorado. Em vez disso, apertando
sua mandíbula, virou-se e caminhou até onde ela estava ao lado de seu cavalo.
- Sim?
- Queria que soubesse - disse em voz baixa, dirigindo seus olhos
castanhos para encontrar com os seus mais uma vez, - falei com os meus pais
na noite passada sobre a sua preocupação com a segurança de Winnie. Meu
pai pediu a Longfellow para atribuir dois criados adicionais para patrulhar a
casa durante toda a noite e os cavalariços começaram uma vigilância de vinte
e quatro horas na área. - Sorriu novamente. - Nada para fazê-la se sentir
enjaulada, mas suficiente para estarmos cientes antes que qualquer coisa
desagradável possa acontecer.
Não era o suficiente, mas era mais do que esperava. E considerando que
Rowena tinha conseguido escapar de Glengask mesmo com todos os homens
que tinha lá, não estava exatamente em posição para reclamar.
- Eu aprecio o fato - disse ele, inclinando a cabeça. - Direi a Peter que
pode ficar em Tall House hoje à noite. Mas deixarei Una aqui.
Sua testa franziu.
- Teve alguém vigiando Hanover House?
- Sim, do anoitecer até amanhecer.
Por um momento, ela lançou seu olhar como se esperasse que o robusto
lacaio pulasse para fora dos arbustos.
- Não fazia ideia.
- Não devia ter contado.
- E o cão? - Prosseguiu, olhando para baixo, na forma pequena de Una.
Era pelo menos uma cabeça acima da maioria dos cães e qualquer
foxhound de três ou quatro das melhores espécies que existiam, tomaria
cuidado para ter alguma chance contra ela.
- Ela é uma moça meiga de coração, mas vai dar sua vida para proteger
Rowena. Não tem nada a temer, minha senhora. E não tem nada a temer de
mim. - Não estava certo do que o levou a dizer aquela última parte, mas
pareceu... necessário. Afinal de contas por causa dos MacLawrys, ela e sua
família estavam propensos a encontrar-se em circunstâncias que poderiam
nunca ter sonhado.
Charlotte estendeu a mão, ajeitando uma dobra de seu cachecol
simplesmente amarrado.
- Bem, então - Lady Charlotte disse, abruptamente acariciou seu peito e
abaixou sua mão novamente. Limpando a garganta, virou-se. - Benjamin,
ajude-me, está bem? - Perguntou, olhando para o cavalariço que segurava seu
cavalo.
- Eu a ajudarei, - resmungou Ranulf, advertindo o criado à distância com
um olhar.
Particularmente hesitante e não inteiramente certo do motivo, Ranulf
deslizou as mãos em volta de sua cintura e levantou-a. Teve suas mãos sobre
ela antes, quando a tirou de seu caminho e novamente ontem à noite para a
valsa, mas isto pareceu mais... íntimo.
Charlotte colocou as mãos em seus ombros.
- A sela? - Disse sem fôlego.
Cristo. Com a tentativa de não deixá-la cair para trás, colocou-a na sela
lateral. O modo como se sentiu abruptamente chamuscado, a maneira que seu
intestino reagiu ao tocá-la, sentiu-se quase enfeitiçado. Deu um passo para
trás, limpando as mãos nas coxas.
- Enfim. Tudo em ordem agora, espero? - Resmungou, e virou as costas
para erguer-se sobre Stirling. Ao seu lado, Rowena estava sorrindo
animadamente na sela de uma encantadora égua cinzenta e, sem dúvida,
satisfeita para ter seu caminho mais uma vez. - E quem a colocou na sela? -
Perguntou.
- Eu fiz, milorde - Debny disse, antes que ela pudesse responder. - Um
desses cavalariços dos Hanover chegou a tentar isto, mas bati neles de volta.
- Oh, céus! - Charlotte murmurou à esquerda de Ranulf, que fingiu não
ouvir. Ninguém estava sangrando, assim, não estava preocupado já que tudo
foi tratado de forma amigável.
A caminhada calma que se estabeleceu dificilmente parecia digna de ser
chamada de passeio. É certo que a multidão no meio da manhã, de
fornecedores, carroças, vigaristas, compradores e outras pessoas que
perambulavam sem rumo, garantiam nada além que um trote próximo do letal,
mas que dificilmente tornou mais tolerável. No momento em que chegaram a
Park Lane e o grandioso parque exibiu-se no lado esquerdo, até mesmo os
cães tinham escondido suas caudas.
Outra respiração de desconforto correu através dele. Nunca iria outra
vez liderar um passeio até aquele lugar. Precisamente por sua visão limitada
através das árvores, um infinito mar de carruagens, cavalos, guarda-sóis e
chapéus que se espalhavam diante deles. Em algum lugar atrás dele, pegou a
maldição abafada de Owen e silenciosamente concordou. Não só seria quase
impossível fazer uma fuga, mas, provavelmente, nunca veriam qualquer
problema aparecer até que fosse tarde demais.
Inclinou a cabeça. Tanto quanto odiava admiti-lo, qualquer atacante teria
exatamente a mesma dificuldade. E cem testemunhas em cima dele. Os
Campbells poderiam arriscar de qualquer maneira, mas felizmente, estavam
mais propensos a chamá-lo cara a cara do que esfaquear sua família pelas
costas. O clã dos Gerdens preocupava-o mais, principalmente porque não
tinha nada além de suspeitas e rumores transmitidos por terceiros sobre o que
andavam fazendo.
- É razoavelmente bem ordenado, uma vez que se junte à multidão. -
Charlotte comentou no fio final de seus pensamentos. Parecia que tinha ficado
com ela em algum momento durante o passeio ao parque, embora não
lembrasse conscientemente de fazê-lo.
- Será que qualquer um de vocês não tem nada melhor a fazer?
Bem, pareceu injusto, Charlotte pensou, mas tinha que admitir que Hyde
Park estava bastante cheio para este início de dia. Assim, bem incomum.
Geralmente, as visitações não começavam a sério até depois de almoço.
- Não há reunião do Parlamento hoje - disse, se lembrando de seu pai
arrumando seu equipamento de pesca esta manhã. - Acredito que haverá
corridas no Tâmisa esta tarde.
Contornaram Rotten Row, uma vez que a manhã estava bastante quente e
nenhuma das ladies ou, pelo menos, ela, queria incomodar-se em galopar.
Charlotte apontou a pista de equitação para Glengask, uma vez que parecia um
homem que gostava de se exercitar. De fato, enviou outro olhar de soslaio para
o marquês, decidindo que estava em forma. Devia passar grande parte do seu
tempo nas Highlands ao ar livre.
Quando se juntaram a linha de cavaleiros e carruagens ao longo do
caminho, percebeu também que não era à única notando lorde Glengask. A
partir de cílios tremulando e leques batendo, metade da população feminina
estava flertando ou lutando contra uma horda de mosquitos.
Ranulf manteve o ritmo lento, aparentemente mais interessado em buscar
prováveis esconderijos nos arbustos que em todos os lindos olhares explícitos
em sua direção. Era esse inimigo obstinado caçando que o fez permanecer
solteiro? Pelos seus cálculos, estava em algum lugar em seus finais de vinte
anos ou início dos trinta. Tinha riqueza, terras e uma grande quantidade de
energia, e ainda não existia nenhuma lady Glengask. Não que se importasse
com o fato, é claro, apenas estava, apenas...
Jane e Winnie de alguma maneira conseguiram colocar uma carruagem e
um faetonte entre eles. Ranulf deu um aceno sutil com seus dedos, e seus dois
criados se apertaram para juntar-se a eles. Os cães sabiam, evidentemente, o
seu dever também, porque mantiveram o ritmo de cada lado de seu grande
cavalo baio, como se tivessem feito isso centenas de vezes Uma senhora
idosa, lady Gavenly, ela pensou, passou em uma carruagem com um pequeno
cão latindo em seus braços. O cão de caça, Fergus, girou a cabeça para olhar
para a pequena coisa, e, em seguida, voltou para a sua caminhada.
Evidentemente pequenos cães latindo eram considerados inferiores nas
Highlands. Ou isso, ou os cães já tinham comido sua refeição diária e não
estavam com fome.
- Falando teoricamente - disse, se perguntando se estava prestes a
começar outro desentendimento, - não é você, como chefe de seu clã, que
devia ser mais protegido? - O que queria perguntar era se tudo aquilo era
realmente necessário. Especialmente no meio de Mayfair, no meio da manhã,
no meio da temporada.
- Sei acerca das dificuldades - respondeu em tom pensativo. - Rowena,
na sua maior parte, não o faz. Não tem tanta importância em casa porque
sempre teve o clã ao redor dela. Aqui, estou começando a desejar que a
tivesse encorajado a levar tudo um pouco mais a sério.
- Como você sabe sobre as dificuldades? Não estou questionando o que
você faz, apenas sobre o que aconteceu para torná-lo tão cauteloso.
Olhou-a de soslaio.
- Esta pergunta foi muito cuidadosamente formulada, moça. Sou tão
feroz?
Charlotte não podia deixar de sorrir, embora fosse uma descrição
bastante apropriada.
- Estou tentando ser diplomática.
- Ah! - Para sua surpresa, ele riu. - Os membros do clã chamavam meu
pai de Seann Monadh, a Montanha Velha. Aquele homem era inflexível como o
inverno e forte como um cavalo. - A afeição óbvia mostrou-se em sua voz,
sorriu um pouco e, então, brevemente abaixou a cabeça. - Dizem que se
afogou.
Levou um momento para decifrar o que tinha dito, em parte porque foi
tão inesperado.
- Seu pai se afogou? - Repetiu para ter certeza. - Sinto muito.
- Sim. Afogou-se. - Disse, desta vez exagerando os sons das vogais. -
Embora imagine que ter as mãos amarradas e sua cabeça mantida sob a água
faz com que esteja mais perto de assassinato.
Deus do céu! Charlotte colocou a mão sobre o peito, embora não
estivesse certa do por quê. Suas palavras, a dor e a raiva mal escondida nelas
tinham cavado em seu coração.
- Presumo que nem todos concordaram com a sua avaliação? - Perguntou
depois de um momento.
Olhos azuis encontraram os dela.
- Não, não fizeram. Eu tinha quinze anos quando isso aconteceu, mas
acho que era velho o suficiente para reconhecer as marcas de corda em torno
dos pulsos que prendiam ou não um homem e para perceber o que mangas
rasgadas e braços arranhados significavam, quando o encontramos. - O
marquês respirou lentamente. - Nada disso importa, suponho, exceto para
responder-lhe quando me perguntar por que sou tão cauteloso.
Não podia sequer imaginar o que ele devia ter sentido, ainda mais ao
saber uma coisa tão sórdida que tinha sido feita em cima do que já era uma
tragédia. Apenas a imagem em sua mente de alguém próximo seu, seu jovial
pai, afogando-se, fez com que lutasse contra as lágrimas.
- Não tenho palavras - sussurrou.
Ranulf encolheu os ombros.
- Foi há dezesseis anos.
- Sabe quem fez?
Desta vez, seu sorriso triste a gelou até os ossos.
- Essa é uma história para outro momento, quando você e eu nos
conhecermos melhor.
- Ou seja, quando você decidir que pode confiar em mim.
A expressão em seu rosto aliviou um pouco.
- Você tem uma maneira de chegar ao fundo da questão, moça.
O comentário à fez sorrir, embora não estivesse totalmente certa que foi
um elogio.
- Constatei que há menos mal-entendidos assim.
À frente dela, Janie virou na sela.
- Char, os gêmeos Lester estão ali - disse, balbuciando as palavras por
trás de sua mão. - Por favor, não venha.
Com um suspiro, Charlotte balançou a cabeça e freou sua égua cinza,
Sixpence. Ranulf parou ao seu lado.
- O que foi?
- Jane está apaixonada por Phillip ou Gregory Lester e tinha alguma
noção boba de que iria encontrá-los... ridículo.
- Ou? - Repetiu, levantando uma sobrancelha. - Percebo com isso que
ela não sabe qual?
- São totalmente substituíveis.
Continuou olhando-a, perplexidade em sua expressão.
- Por que seu pai não diz a Jane para manter-se longe deles? Ou diz as
eles que se mantenham bem longe dela?
Como provavelmente não apreciaria isto, Charlotte sufocou seu riso.
- Iria apenas convencê-la de que ela era Julieta e um ou outro dos
Lesters seria Romeu. Sendo uma amante sacrificada, condenada à dor e à
saudade. Sabe que parece terrivelmente romântico para uma jovem lady.
- Hum. De qualquer modo, desgraça e dor podem explicar alguns dos
olhares que tenho recebido de várias moças, - voltou um outro olhar ao redor.
- Acho que há algo... intrigante sobre alguém que você não pode querer e não
deveria ter.
O olhar que ele retornou ao seu transmitia algo pertubador e sentiu
arrepios em todo seu corpo. Suas palavras foram uma mensagem para ela? Ou
falava apenas hipoteticamente ou tentando irritá-la? Parecia bastante versado
nisso, afinal.
- De qualquer maneira - disse - quanto mais tempo Janie gasta
conversando com os Lesters, o mais provável é que perceba sozinha que
ambos são idiotas completos.
Com isso, Charlotte virou Sixpence em direção à ponte que conduzia
através do Serpentine e para a parte menos lotada do parque. Levou mais força
de vontade que esperava não virar e ver se o marquês a seguiu. Um momento
depois, entretanto, através da ponte ele e seu cavalo ruidosamente monstruoso
juntaram-se a ela novamente. E é claro que não sentiu nenhum momento de
satisfação que tivesse escolhido continuar o passeio com ela em vez de ser à
sombra da irmã dele. Era apenas que, por óbvio, tinha decidido que os dois
grandes escoceses eram proteção suficiente para Winnie; pelo menos para o
momento.
- Um rio falso em um deserto falso - comentou, olhando para o
Serpentine como que procurando uma tampa e um canal.
- O Serpentine é um rio real - voltou, tentando não parecer indignada
com o insulto a seu parque favorito de Londres. - E Hyde Park era
originalmente deserto. Tem apenas sido... aprimorado para que os cidadãos
possam fazer mais uso dele.
- Realçado - repetiu. - Glengask tem vista para o rio Dee. Corredeiras,
cachoeiras, penhascos íngremes. Parece que é um Éden para os olhos, mas
pode arrebatar sua vida num piscar de olhos, se não sabe respeitá-lo. Não
necessita de realce. Na verdade, um homem seria idiota para tentar uma coisa
dessas.
Um rio, o Bray, ficava na beira da propriedade de sua família no norte
de Devon. Como a maioria dos rios do sul da Inglaterra era na maior parte
sereno e lento como se tivesse desistido da luta para ser selvagem há muito
tempo. Que não fazia o Bray, melhor ou pior do que o Dee, um rio era
simplesmente o que era, afinal de contas.
Conhecendo como estava o espírito de sua companheira, provavelmente
esperava que discutisse seu ponto, de qualquer forma. Bem, ela nem sempre
gostava de fazer o esperado.
- Isso soa de tirar o fôlego - disse, seguindo agora quando ele guiou seu
cavalo para um olhar mais atento à margem e aos salgueiros sobressaindo seus
longos e tristes ramos mergulhando na água amena. - Glengask é arborizado,
ou só para pastorear?
- Ambos. Estamos no alto das montanhas, por isso as árvores crescem
principalmente nos vales e desfiladeiros onde há mais abrigo contra o tempo.
E a nossa ideia de pasto e a de vocês são duas coisas diferentes, mas fazemos.
- E você tem pasto de ovelhas, presumo? - Pelo que sabia de outras
famílias com assentos nas Highlands, todos eles criavam ovelhas Cheviot.
- Não. - Sua voz saiu mais nítida do que esperava. - Nós criamos gado
em Glengask. Alguns Highlands criam ovelhas para seu próprio uso, mas um
MacLawry não vai queimar ou tirar as pessoas para mais pastoreio dessas
bestas selvagens Cheviot. Nunca.
- Os Highlands Clearances - disse, não certa se tinha falado em voz alta
até que ele assentiu.
Tal fato explicava seu cuidado sobre a segurança de sua irmã e muito
mais. A razão pela qual seu clã era o maior ainda nas Highlands, e talvez até
mesmo a razão pela qual suspeitava que seu pai havia sido assassinado. Os
MacLawrys foram evidentemente resistindo às mudanças, apesar da atração de
rendimentos das ovelhas Cheviot e a “insistência” da Coroa para derrubar os
aldeões e fazê-los obedecer. Não havia nada que a Inglaterra temia mais,
sabia, do que um bando organizado de highlanders livres.
Enquanto considerava tudo, Ranulf parou na sombra de um bosque de
salgueiros e desmontou.
- Os Clearances cuidam de uma parte desta atividade ao norte de
Hadrian’s Wall - disse, caminhando até ela e erguendo seus braços.
- Como tem resistido? - Olhando para seu rosto erguido, a questão
abruptamente parecia aplicar-se tanto para ela quanto para ele. Querendo que
seus dedos não tremessem, porque estava longe de ser uma colegial, agarrando
seus ombros.
Mãos aquecidas deslizaram ao redor de sua cintura e então estava no ar
novamente, como se não pesasse mais do que uma pena. Em seu íntimo sentia-
se tão excitada, que foi absolutamente ridículo. Talvez não fosse imune aos
seus encantos físicos, mas a partir da quantidade de conversas que tiveram,
sabia que seus temperamentos não poderiam ser mais diferentes. Suas
filosofias eram tão distantes quanto às duas extremidades da Terra.
Seus pés tocaram o chão, mas não liberou seu domínio sobre ela. Em
vez disso, puxou-a para mais perto e ela teve que colocar suas mãos em seu
extenso e rígido tórax, para manter o equilíbrio.
- Não devia - murmurou, o azul de seu olhar afundando-se nela como um
verão ardente. E eis que ele inclinou-se e beijou-a.
Charlotte fechou os olhos. Não sabia como um homem podia ter o sabor
das Highlands ou mesmo o gosto que as Highlands teriam, mas Ranulf
MacLawry tinha. Penhascos varridos pelo vento, tempestades ferozes, o calor
de boas-vindas de um fogo na lareira em um dia frio. Era o gosto do marquês
de Glengask. Absolutamente inebriante.
- Charlotte! Você não lançou lorde Glengask no rio, não é?
O som da voz de Jane veio da frente. Ofegante, desenrolou seus dedos
da lapela de Ranulf e empurrou-o. Por um instante Ranulf a segurou onde
estava, um braço ao redor de seus quadris e o outro cobrindo sua nuca. Em
seguida, deixou-a ir e recuou quase sem jeito.
Talvez se sentisse tão assustado quanto ela estava. Resistiu ao impulso
de olhá-lo nos olhos e ver exatamente o que poderia estar pensando e sentindo.
Charlotte colocou a mão sobre a boca e correu para fora dos galhos de
salgueiro.
- Ninguém está caído - disse um pouco alto demais, quase tropeçando
sobre um dos cães em sua pressa para se afastar. - Embora se lorde Glengask
continuar insistindo que o Serpentine não é um rio de verdade, ficarei tentada
a empurrá-lo e vê-lo se molhar.
Winnie pareceu surpreendida.
- Você tinha que falar isso? Ran?
- Poderia convencê-lo, não acha? Mas foi só uma brincadeira, minha
querida - Charlotte retrucou, forçando um sorriso, quando o que realmente
queria fazer era colocar as mãos nos lábios e verificar se estavam tão quentes
e inchados como os sentia.
A irmã do marquês debruçou-se na sela, esticando o pescoço para ver o
pavilhão.
- Ran? Charlotte não vai chutá-lo em suas partes de homem, não é?
O rosto de Charlotte corou.
- Não faço tal coisa!
Janie estava rindo por trás de uma mão.
- Damas não conversam sobre as partes de um homem, Winnie.
- Realmente? Meus irmãos parecem que quase não falam sobre qualquer
outra coisa.
Folhas farfalharam atrás de Charlotte.
- É verdade - Ranulf disse secamente. - Odeio admitir, Rowena, mas
talvez você pudesse aprender um pouco do refinamento de Londres.
E com isto, as outras duas esqueceram totalmente sobre o que ela e
Ranulf poderiam estar fazendo debaixo dos salgueiros. Quaisquer que fossem
seus defeitos, e pareciam numerosos, o homem era perfeito em mudar uma
conversa e a respeito de não responder perguntas feitas a ele.
Winnie gritou, sacudindo os braços até que um dos homens de Glengask
ajudou-a a descer até o chão. Assim que teve seus pés abaixo, andou a passos
largos até seu irmão, suas saias amontoadas em suas mãos.
- Significa que você está me dando mais de duas semanas aqui?
Ele fez careta.
- Significa que vamos ver.
Sua irmã lançou-se em seus braços.
- Oh, obrigada, Ran! Obrigada! Obrigada!
Olhos azuis encontraram os de Charlotte acima da cabeça de sua irmã.
- Ainda significa que veremos. Não faço nenhuma promessa.
- Eu sei, eu sei - Winnie replicou, soltando-o e fazendo piruetas atrás
para Honey, a égua que o pai de Charlotte deu para seu uso. - Porque quando
você dá sua palavra é como se estivesse esculpida em pedra.
- Sim. - Observou enquanto seu homem erguia Winnie de volta na sela,
então ofereceu seu braço para Charlotte. - O que vamos fazer agora? - Falou
pausadamente.
Se não fosse por suas luvas de equitação e sua manga, pensou que tocá-
lo seria motivo para explodir em chamas.
- O... um...
- Devíamos conseguir uns gelados - Janie felizmente disse. - E quero
mostrar a Winnie os jardins do Palácio de Kensington. São tão adoráveis, e há
um lago com peixes.
Charlotte limpou sua garganta.
- Acredito que Janie planejou o resto da nossa manhã muito bem - ela
conseguiu, e, em seguida, perdeu a compostura novamente quando Ranulf
colocou suas grandes mãos nela e ergueu-a de volta na sela. Céus, o que havia
de errado com ela?
Girou sobre seu próprio animal e cutucou-o ao lado de Sixpence.
- Foi seu primeiro beijo, doce moça? - Murmurou, um sorriso satisfeito
e suave tocando aquela sua boca muito capaz.
Pelo amor de Deus. Desta vez, pelo menos, estava feliz por sua
arrogância. Deixou-a completamente vazia de qualquer estupor tolo que
tivesse caído.
- Surpreendeu-me, Ranulf - voltou no mesmo tom, desejando que sua voz
estivesse firme. - Mas não, não foi meu primeiro beijo.
Viu seu sorriso morrer um pouco antes de virar Sixpence e assumir a
liderança. Persuadindo a égua em um trote, enquanto tinham espaço e momento
para fazer, dirigiu-os de volta pela ponte na direção do carrinho de gelados
mais próximo.
Não estava completamente certa por que se apressou ou por que se
sentia tão... inquieta, tanto pelo beijo ou pelo homem. Teria flertado com ele?
Certamente apreciava um pouco de suas discussões, mesmo que a sua
apreciação da violência não se coadunasse com a dela. E talvez tivesse havido
alguma satisfação na forma como as outras senhoras tinham olhado para ele no
Almack's, quando havia dançado a valsa em seus braços, e novamente hoje no
parque, quando estava cavalgando ao seu lado. Mas não queria dizer...
Com o canto do olho, viu por um momento a sombra do focinho do
cavalo ao seu lado novamente. Franzindo a testa, cutucou Sixpence nas ancas e
a égua suavemente acelerou em um galope. Não era uma coisinha simplória
para ser beijada e deslumbrada por um rude escocês. Era melhor que isso.
Direcionou e incitou com seu joelho novamente. O cavalo ainda estava
em um trote, danação. Reuniu as rédeas em suas mãos e estalou. Em um
instante estavam galopando. Em algum lugar atrás dela, Jane chamou seu nome,
mas pela primeira vez ignorou sua irmã. E ignorou os olhares assustados e
irritados das pessoas que passeavam e de outros cavaleiros que se apressaram
para fora de seu caminho.
Arriscou um olhar sobre seu ombro direito, mas o focinho do cavalo e
seu cavaleiro não estavam à vista. Bom. Precisava de dois malditos momentos
para pensar.
Uma mão estendeu-se à sua esquerda e agarrou as rédeas de Sixpence.
- Ei, moça - Ranulf disse em seu sotaque profundo, e freou seu grande
baio com uma mão enquanto segurava sua égua com a outra. Danação.
Provavelmente fez malabarismos e suportou gozação e sarcasmo, também.
Ranulf puxou-os facilmente, parando-os.
- Lorde Glengask, ela está ferida? - A voz bastante estridente de Jane
irrompeu. - Charlotte?
- Ela está bem – disse o marquês, antes que pudesse responder. - Soltou
uma rédea, é tudo.
- Não fiz tal...
- Você quer explicar para estas pessoas porque estava fugindo
precipitadamente, então? - Interrompeu com voz lacônica.
Fez um bom ponto, dane-se tudo.
- Não. - Murmurou de volta. - Estou bem. - Falou em voz mais alta,
curvando-se para olhar para trás a sua irmã antes de endireitar-se novamente.
- Se você não sabe como beijar, moça, é só dizer - ele continuou com a
mesma voz firme. - Não precisa fugir de mim.
- Não é que, eu não...
- Ah, - interrompeu novamente, sua voz entusiasmada. - Bom, então. -
Ouviu-o respirar. - O que estava pensando, galopando daquele jeito?
- Estava pensando sobre James Appleton, se quer saber - explodiu,
virando Sixpence longe dele e partindo novamente em um passo muito mais
lento.
- E quem é James Appleton? - Exigiu.
Ela manteve seu olhar entre as orelhas de Sixpence.
- Meu noivo.
Capítulo Quatro
Noivo.
Ranulf olhou para o perfil circunspecto de Charlotte. Não fazia sentido.
Nem o sentimento de raiva, doente em seu estômago, como se tivesse acabado
de perder o último barco e tivesse deixado um navio afundando, mas preferiu
considerar sua própria declaração em lugar do quão... surpreso sentia-se.
Porque surpresa foi o que sentiu. Nada mais fazia sentido.
- Onde está este formoso James Appleton, então? - Forçou-se a
perguntar.
Seus olhos cor de avelã se jogaram em sua direção, e, em seguida,
afastaram-se novamente.
- Perdão? - Perguntou fracamente, uma afronta inesperada em seu tom.
Não tinha ideia do que tinha levantado sua cólera, só o fato de que tinha
acabado de ter um noivo lançado nele. Não o afetou em nada, a não ser a sua
curiosidade, é claro. Ainda que por um momento pudesse considerá-la
atraente, mesmo que pudesse por um momento imaginá-la nua em seus braços,
permanecia como a única coisa que nunca poderia ser parte de sua vida nas
Highlands, uma inglesa.
- Ouviu-me - pressionou de qualquer maneira. - Quem é esse homem
encantador que não pode ser incomodado para acompanhá-la ao Almack’s ou
para um agradável passeio em uma clara manhã no Hyde Park? - Mexeu-se na
sela, queria agarrar seu braço para fazê-la olhá-lo, mas se conteve. Era apenas
curiosidade, afinal. - Sabe o que acho? - Continuou, quando ela não
respondeu.
- Estou certa que não tenho o menor interesse no que pensa, milorde.
De alguma forma tinha voltado a ser "milorde" novamente, um sinal
claro de que tinha tropeçado em algo que a incomodava. Um verdadeiro
cavalheiro provavelmente iria parar de atormentá-la com o assunto, mas todos
em Londres sabiam que não era um verdadeiro cavalheiro. Em vez disso,
direcionou Stirling para mais perto.
- Bem, vou dizer-lhe, de qualquer maneira, - falou, mantendo seu tom
baixo o suficiente para que a multidão ao redor deles não pudesse ouvir. -
Acho que não há o tal homem, James Appleton.
Desta vez, ela virou a cabeça para encará-lo totalmente. Suas bochechas
ficaram brancas.
- O quê?
- É isso, sim? - Continuou, abaixando o olhar para sua boca suave quase
a despeito de si mesmo. - Não consegue suportar um diabo como eu dando-lhe
um beijo, então, conjura um namorado imaginário para si em vez de dizer na
minha cara que não quer nada com um highlander. É uma inglesa falsa e
covarde, lady Charlotte, e lamento admitir que pensava melhor de você.
Por um longo momento, olhou-o, todo seu corpo tremendo. Se fosse
desmaiar teria que pegá-la, supôs, mas isso seria o fim de tudo. Não iria mais
tocá-la, não pensaria mais nela. Era o maldito chefe do clã MacLawry. E tinha
coisas melhores a fazer do que desperdiçar um momento sonhando com uma
moça que não queria nada com ele. Pelo amor de Cristo e de Saint Andrew, as
mulheres lutavam entre si por uma noite em sua cama. Essa situação era
ridícula.
As mãos de Charlotte apertaram as rédeas e por um segundo ou dois,
pensou que fosse lhe dar um tapa. Há. Se acontecesse, colocaria um prego em
seu caixão de abominar confronto físico, embora, tudo provavelmente tenha
sido uma mentira, bem como, algo destinado a mantê-lo à distância.
Ela estendeu a mão e com os dedos trêmulos desamarrou o pequeno
medalhão oval em seu pescoço. Segurou seu braço, o medalhão pendurado em
seus dedos.
- Tome - ela grunhiu.
Curvando Stirling mais perto, pegou de seus dedos.
- Eu não dei para você, moça.
- Eu sei. Abra-o. - Ficou brevemente de lado.
Controlando o cavalo, fez como ela pediu. O medalhão era velho e
absurdamente delicado, mas com um pouco de esforço conseguiu abri-lo sem
quebrá-lo. No interior da tampa, estava escrito 'para sempre em meu coração'.
No lado oposto, um pequeno retrato guardado, um jovem com cabelo claro e
bochechas rosadas, usando uma gravata alta, cobrindo o que parecia ser um
queixo macio e profundos olhos verdes que olhavam para o nada.
- Este, lorde Glengask, é James Appleton. - Tinha parado perto dele,
percebeu, sua voz calma e controlada. - A razão dele não se juntar a nós no
Almack’s e a razão dele não estar aqui montando conosco hoje é porque há
três anos tropeçou em uma pista de dança e caiu em um vaso de plantas. E
então decidiu desafiar o primeiro homem que risse dele, e havia vários, para
um duelo. Foi morto na manhã seguinte. Por causa de um chão encerado e um
vaso de plantas, e porque estava envergonhado. - Estendeu a mão para ele de
novo, a palma para cima. - Agora, devolva-o para mim, por favor.
- A… - Hesitou, mas entregou o medalhão de volta para ela. Desta vez,
havia tropeçado em seus próprios pés. Não é de admirar que detestasse
violência e a menosprezasse. - Moça, eu...
- Não. Beijou-me e eu pensei em James. Fez-me lembrar para não me
apaixonar por lutadores de cabeça quente e melindrosos novamente. Não menti
para você, senhor, e não sou uma covarde. Você, no entanto, é um selvagem e
um diabo. E terminei de falar com você. - Com isso, estalou seu cavalo e a
égua castanha trotou até onde sua irmã e Rowena riam sobre uma coisa ou
outra.
Um selvagem e um diabo. Bem, já foi chamado de coisa pior, que foi
provavelmente por isso que as palavras de Charlotte Hannover doeram tanto.
Merecia-as. Por mais idiota que seu noivo poderia ter sido, Ranulf tinha
saltado para uma maldita conclusão, uma errada, e ela reclamou. Quase
ninguém tinha reclamado antes. A moça possuía um oceano sangrento de
coragem para enfrentá-lo, e estava malditamente certa. O que havia dito sobre
como as palavras podiam machucar tão profundamente quanto uma espada,
sentia que era dolorosa e abruptamente verdadeira. Sem nenhuma dúvida
havia-o cortado profundamente.
Agora precisava pedir desculpas. Não era algo que fazia frequentemente
ou bem, mas por Deus, seria homem suficiente para reconhecer um engano
quando cometia um. Virou Stirling e Fergus deu um grunhido baixo à sua
esquerda.
Ao mesmo tempo, o cabelo atrás da nuca de Ranulf picou. Não foi um
grunhido para exibir-se. Uma mão deslizou em direção à pistola em seu bolso,
mudou um pouco a direção de seu olhar para ambos os cães e o que estavam
olhando fixamente agora, corpos baixos e caudas rígidas paralelas ao chão,
aguardando sua ordem para atacar.
Um trio de cavaleiros ficou ao lado do caminho, todos os três olhando-o
fixamente. Nenhum deles tinha armas destinadas a ele ou à Rowena. Bom.
Poderia não ter de matar qualquer um deles hoje.
Pelo canto do olho, observou Owen e Debny cortando um caminho
através dos visitantes irritados do parque, aproximando-se de onde Rowena e
as duas moças Hanover estavam agora apreciando um gelado de limão.
Conheciam o seu dever. Eles, acima de tudo, sabiam que Rowena precisava
ser protegida. Do mesmo modo, uma moça com cabelo dos raios de sol, que
tinha perdido seu amor para o orgulho, não seria posta em perigo por causa de
outro homem. A força desse pensamento particular surpreendeu-o, mas com a
mesma rapidez, colocou de lado para uma contemplação posterior.
Voltando sua atenção para o trio imóvel a poucos passos de distância do
outro lado do caminho, deliberadamente levou um momento para avaliar cada
um deles. O homem à direita possuía músculos excessivamente grandes, que
provavelmente não deixava muito espaço para pensar. Seria o executor, então.
Por outro lado, o homem situado à esquerda estava elegante como uma lontra,
vestido todo de preto e os olhos sombreados pelo chapéu de castor preto na
cabeça. O conselheiro, que tentaria uma facada na parte de trás, em vez de um
soco no rosto. Sem dúvida, o mais perigoso dos dois. O que deixava o nobre
no meio.
- Bom dia, lorde Glengask - o cavaleiro disse, inclinando a cabeça e
sorrindo muito amplamente. Os olhos azuis pálidos moveram dele para as três
moças e vice-versa.
Ranulf se perguntou se o homem percebia o quão precariamente sua vida
estava equilibrada e como rapidamente acabaria se mudasse uma polegada em
sua direção.
- Berling.
- Como é agradável vê-lo fora das Highlands - Donald Gerdens, o conde
de Berling, continuou friamente. - A última vez que nos falamos, acredito que
você disse algo encantador sobre o tema, que seria necessário o diabo e uma
dúzia de cavalos para tirá-lo da Escócia.
A fala precisa, o modo como Berling cuidadosamente suprimiu qualquer
vestígio de sotaque, em favor do mais polido e educado acento de Oxford,
pareceria lamentável na Escócia. Aqui, parecia quase criminoso. Mas Ranulf
estava bem ciente de que os moradores de Mayfair pensavam o contrário.
Aqui, ele era o bandido e Berling o cavalheiro inglês civilizado com um
assento nas Highlands.
- Lembro-me dessa conversa - disse em voz alta. - Você acabou com o
nariz quebrado e um aviso para ficar bem longe das minhas terras.
O musculoso homem curvou-se em suas rédeas e sentou-se, tão ansioso
para investir na batalha como os cães de caça estavam. Todos só esperando
por uma palavra de seus respectivos donos. Berling, entretanto, manteve o
sorriso em seu rosto, como se uma moça tivesse lhe dito que pareceria menos
burro quando sorria. Tinha estado errada, fosse ela quem fosse.
- Sim - o conde retornou. - Lá estava eu, visitando minha pequena
propriedade ao norte de Glengask, e oferecendo...
- Sholbray – o marquês interrompeu os esclarecimentos, desde que
estava evidentemente recitando sua história para todos os espectadores. - Sua
pequena propriedade é chamada Sholbray. Há cem anos foi à sede da família
Gerdens até que queimou seus arrendamentos e entregou-os para mais de mil
ovelhas.
- A sede da minha família é Berling Court em Sussex - disse Berling
rigidamente, seu sorriso tão frio como um vento norte gelado. - E quando lhe
ofereci uma quantia razoável pelos direitos de pastoreio no seu local de
pastagem mal utilizado, arrancou-me do meu cavalo e quebrou meu nariz.
- Estava tentando acertar sua mandíbula a fim de parar sua conversação.
Vejo que ainda tem o problema de falar quando não devia. - Inclinou a cabeça.
- Devo dar-lhe outro, então?
- Discussão corajosa para um homem com três empregados e dois cães
do clã. - Olhos pálidos lançaram-se de novo na direção de Rowena, mas
evidentemente o conde sabia o que aconteceria quando a observou.
- Suponho que podemos encontrar uma saída.
Berling ruidosamente riu.
- Sim, suponho que acharíamos uma 'saída', Glengask. Mas não hoje.
Não tem algumas vacas ou troncos que precisam ser lançados? - Com estas
palavras, virou seu cavalo preto e os três homens desapareceram no meio da
multidão da mesma maneira que tinham vindo.
- Cães, andando. - Só então Ranulf notou quão grande o círculo de
espectadores tinha se tornado. - Podem ir - rosnou e guiou Stirling de volta
para onde as três pálidas moças esperavam. De um lado Debny enfrentava um
mar de ingleses desocupados, enquanto no outro Owen tinha uma mão dentro
de seu casaco, provavelmente descansando na coronha de sua pistola.
- Ranulf? - Rowena disse firmemente.
- Tudo está bem - retornou, forçando a raiva que tinha sido empurrada
para escapar de volta em seu peito. - Terminem seus gelados e vamos...
- Vamos voltar para casa agora - Charlotte interrompeu. - E você vai... a
outro lugar, milorde. Sua irmã não necessita desse desentendimento ligado à
sua reputação.
- Esse desentendimento? - Repetiu, girando seu cavalo em sua direção.
- Estava a um passo de brigar com lorde Berling, milorde - afirmou. -
Não finja o contrário.
- Não estou fingindo nada. Meramente questionava porque você o
chamou de desentendimento. Não foi tão pequenino assim.
- E não tente seus coloquialismos curiosos em mim. Não os acho
divertidos.
Ranulf estreitou um olho.
- E pensar que estava procurando uma maneira de me desculpar por
insultar seu senhor Appleton.
- Pare com isso. Estou furiosa com você. Não ameaçamos uns aos outros
nas ruas aqui. E certamente não por rivalidades de clã ou alguma coisa
semelhante.
Por um momento pensou que poderia sofrer uma apoplexia, bem ali no
meio do Hyde Park.
- Alguma coisa semelhante - ele repetiu. Não tinha lhe dito que o clã era
tudo para um highlander? - Foi um aviso que dei a Berling, não uma ameaça.
- Semântica - retrucou.
- Sim, talvez - Ranulf concedeu, admitindo para si mesmo que, como...
como estava frustrado com essa mulher no momento e ainda permitia que o
levasse a conduzir incumbências de uma forma que nunca tinha permitido a
ninguém antes. Jamais. - Há três anos ele ou um de seus homens colocou uma
bala de mosquete no ombro do meu irmão Munro. E, então, no ano passado
tentou comprar minha terra para suas malditas ovelhas. Vou ameaçá-lo cada
vez que colocar os olhos nele. E se alguma vez der mais um passo na minha
direção ou em um dos meus está morto.
Olhou de soslaio para ele, então rapidamente para longe, como se não se
importasse de reconhecer que ele estava lá. E ainda queria beijá-lo
novamente, dane-se tudo.
- Mande prendê-lo, então - disse ela.
- Não tenho nenhuma prova que seus tribunais ingleses escutariam. E,
como o covarde provavelmente não vai pôr os pés de volta nas Highlands, não
há nada que eu possa fazer. Legalmente. – Se Charlotte queria ouvi-lo dizer
que os tribunais ingleses favoreciam homens que tinham títulos ingleses e
viviam em propriedades inglesas, fariam-o, mas provavelmente ela já sabia.
Não que tivesse que concordar com ele ou algo assim, não seria próprio de
uma dama.
- Talvez devesse parar de tentar tão intensamente não se encaixar, então,
Ranulf.
No momento em que falou, Charlotte desejou que não tivesse. Sim,
perturbava suas orelhas e seus pensamentos sem fim, mas já sabia que
enfurecê-lo não era uma coisa sábia a fazer. Os lábios sensuais de Glengask se
achataram, seus profundos olhos azuis relampejaram. Então ele assobiou, um
som estridente, curto que a fez saltar e trouxe os cães e o par de criados
instantaneamente para seu lado.
- Una, guarde Rowena - disse, seu tom cortante e preciso. - Rapazes,
levem-nas em segurança para casa, depois voltem para Tall House.
- E você, milorde? - O criado mais velho e grisalho perguntou.
- Tenho Fergus comigo.
Sua irmã estendeu uma mão em sua direção.
- Ranulf, o sarau Evanstone é hoje à noite. Você...
- Estarei lá - interrompeu, poupando Charlotte de um olhar que tanto a
gelou como começou uma faísca no fundo do seu peito.
Depois, o marquês acompanhado do magnífico cavalo e o avantajado
cão de caça cinza afastaram-se por entre a multidão percorrendo num ritmo
demasiado rápido para ser civilizado. Mas Ranulf MacLawry não era nada
civilizado.
Por um momento, temia que também tivesse ofendido Winnie, mas a irmã
do marquês a chamou de lado, enquanto Janie veio do outro.
- Conhece lorde Berling? - Charlotte perguntou à sua hóspede.
- Não. Não, quero dizer, eu o vi de longe algumas vezes, mas ninguém
nunca nos apresentou. Não gostaria de ser apresentada a alguém como ele.
Longe da presença de seu irmão, Winnie estava tentado 'melhorar' seu
discurso, como chamava. Charlotte gostava do sotaque, especialmente quando
falado por um homem de voz profunda, montanhosa, mas compreendia o
raciocínio de Rowena. Se falasse como um highlander ninguém jamais iria vê-
la como uma inglesa adequada e parecia que mais que qualquer outra coisa o
que queria para sua curta temporada era não ser escocesa.
- É verdade que Berling atirou em seu irmão Munro? - Jane perguntou,
sua cor ainda pálida. Demonstrações públicas de agressão masculina não eram
algo que qualquer uma das irmãs Hanover tinha muita experiência, graças a
Deus.
Winnie assentiu.
- Alguém começou a incendiar as escolas que Ran tinha construído. Bear
passou para visitar uma e montou quando viu que estava queimando. Voltou
com o ombro coberto em sangue e disse que tentou entrar e certificar-se que
todo mundo estava seguro, e, então, algum maldito covarde atirou nele pelas
costas.
- Winnie - Jane ofegou, colocando a mão sobre sua própria boca. - As
senhoras não dizem essa palavra.
- Qual palavra? Maldito?
- Winn, sim, essa palavra.
- Oh. É a palavra favorita de Bear, no entanto, é a história que ele conta.
- Se foi baleado pelas costas, como sabe que foi lorde Berling? -
Charlotte pressionou, mais interessada nos fatos do que na linguagem usada
para apresentá-lo.
- Porque Berling é aliado dos Campbells e dos Donnellys e tio Myles
deu aos Donnellys o mapa e disse-lhes sobre as escolas.
Bem, isso explicava a tensão entre Ranulf e seu tio, ainda que a lógica
de tudo fosse péssima. Charlotte perguntou-se brevemente se o marquês tinha
quebrado o nariz de lorde Swansley, também.
- Torna possível, mas não prova nada.
Rowena enviou-lhe um olhar confuso.
- Foi o que tio Myles disse. E Ranulf disse que um highlander sabe em
suas entranhas quando um homem viola sua confiança e que só alguém que
virou as costas para seu próprio povo como Berling fez, iria temer uma escola.
Poderia não ter passado por acontecimentos na Escócia, mas Charlotte
entendia por que Ranulf não se preocupou em levar suas queixas perante um
tribunal de direito. Suposição, superstição e ódio, eram o que tinha sido. Não
era de admirar que os escoceses não estavam autorizados a governar a si
mesmos.
Foi só depois que voltou para casa e se instalou na biblioteca com o
mais recente arquivo da Loja Ackermann que o resto da conversa penetrou em
sua mente. Ranulf tinha construído escolas, várias delas, aparentemente, em
sua terra. Para seus aldeões.
Enquanto certamente houvesse uma linha de pensamento que educar
camponeses só serviria para esclarecê-los sobre quão miserável eram suas
próprias condições e para incentivá-los a se levantar contra seus chamados
'superiores', não concordava. Dar a alguém uma oportunidade para melhorar
de vida, tinha que ser uma boa coisa. E parte dela admirou-o, um homem que
oferecia para aqueles que dependiam dele, especialmente quando significava
ir contra os desejos de seus próprios iguais. Era preciso coragem e convicção,
ambos que Ranulf MacLawry parecia possuir em grande quantidade.
Era bastante contraditório realmente. Ele parecia ser exatamente o
oposto de culto e parecia desfrutar perversamente de ser visto como um
demônio highlander e nada mais. Seu desprezo para com os ingleses, ou
sasannach, como chamava o tipo, não poderia ser mais óbvio. Mesmo assim a
tinha beijado, e não havia sentido qualquer coisa, exceto arrogância. Devasso
e selvagem, talvez, mas não tinha reclamações sobre isso. Absolutamente.
Balançando-se, Charlotte deixou de lado a Ackermann's e levantou-se.
Seu pai era um grande leitor e tinha uma extensa coleção de biografias, peças
de teatro e romances. Percorreu as prateleiras da biblioteca até encontrar a
coleção de títulos que mais a interessava. Lentamente, puxou o primeiro da
prateleira. Waverley, escrito por um autor anônimo que todos agora sabiam ser
Walter Scott, o poeta escocês.
Tinha lido o relato do jovem Edward Waverley e como foi seduzido
pela highlander Flora MacIvor com suas inclinações jacobitas, mas a leitura
tinha sido sobre o romance totalmente e como esperava Edward voltou para a
suave, estável, não escocesa Rose Bradwardine; que ele deixara. Desta vez,
quando se sentou e abriu o livro, queria ler sobre as Highlands. E os
highlanders.
Depois de uma hora ou mais tentando afundar na história, no entanto,
Charlotte teve que colocar o livro de lado, ficar de pé e caminhar sobre a
grande sala. Por que Ranulf ficou tão zangado e desconfiado quando mencionei
James? Tudo que tinha dito foi que, quando Ran a beijou, a fez pensar sobre...
Oh. Oh.
Mas não quis dizer daquela forma, absolutamente. Só quis dizer que
ninguém a tinha beijado desde que James tinha feito, na noite anterior, antes de
sair para levar um tiro no coração. E então, naturalmente, quando Ran tinha lhe
dado aquele beijo espetacular voltou a pensar tanto no beijo quanto no resto
do absurdo e a dor de cabeça que seu noivo tinha causado. Certamente não
estava pensando em James no momento que Ranulf a beijou porque sua mente
tinha parado de funcionar completamente.
Bem, se tinha interpretado mal o que tinha dito, o que importava, afinal?
Ela tinha explicado, talvez inadvertidamente, mas ele tinha que ter percebido o
que ela quis dizer. E parecia mais interessado em procurar uma desculpa para
bater em lorde Berling do que em defender os seus modos violentos, enfim.
Que estranho, nem sabia que Donald Gardens era escocês. Tinha
dançado com o conde em várias ocasiões. Tinham conversado sobre o tempo e
as últimas performances realizadas no Drury Lane Theater, e mesmo agora se
lembrava que a tinha enfadado várias vezes, embora não tivesse percebido até
agora. Ranulf disse-lhe que não entendia o que era ser escocês e
evidentemente estava correto. Nada desse ódio e conflito e intensidade
dissimulada faziam qualquer sentido para ela.
Nem fazia qualquer sentido que um homem tão diferente dela em
perspectiva e temperamento podia ser tão... intrigante. Agora Charlotte
lentamente estendeu a mão e passou um dedo em seus lábios. O gosto dele
tinha desvanecido com o gelado, o almoço e conversas, mas se lembrava.
Aquele beijo positivamente tinha enrolado seus dedos e enfraquecido seus
joelhos, enviou uma forte excitação... atravessando todo o seu ser.
Não que importasse, também, uma vez que suas palavras de despedida
para ele tinham sido uma sugestão para que parasse tão arduamente de ser
escocês ou alguma coisa semelhante. Provavelmente poderia ter conjurado um
insulto pior, mas levaria algum tempo e esforço. 'Frivolidades', ela murmurou.
- Charlotte?
Ao som da voz de seu pai, parou de andar e saiu da biblioteca.
- Aqui acima aqui, papai - gritou, inclinando-se sobre o corrimão e
agradecida pela distração, qualquer que fosse.
Seu pai olhou para cima do hall de entrada.
- Encontre-me no meu escritório, você pode, querida?
- Certamente.
Ela chegou antes dele e perambulou até a janela com vista para a
carruagem. O céu ficou cinza com a tarde. Teriam muita sorte se não
começasse a chover antes que chegassem ao baile Evanstone. Não havia nada
pior do que tentar caminhar através da lama e excrementos de cavalo em
sapatos de dança.
- Onde estão as meninas? - Perguntou lorde Hest, entrando no pequeno
escritório e fechando a porta atrás de si. Seu nariz e orelhas estavam
vermelhos de estarem fora, ao vento; mesmo que não tivesse visto a linha de
peixe em sua mão mais cedo, saberia o que tinha andado a fazer.
- Experimentando vestidos para esta noite. A excitação está nitidamente
me deixando aflita
Seu pai riu.
- Ah, você já foi insuportável, também. Lembro muito bem.
- Talvez, mas lá existem duas delas.
- É verdade. - Calmo, fez um gesto para que pegasse um par de cadeiras
voltadas para sua escrivaninha. - Ouvi sobre uma contenda hoje no Hyde Park.
Oh, céus.
- Não foi uma contenda, precisamente. Lorde Glengask e lorde Berling
se avistaram por um momento e trocaram palavras. Não deu em nada.
- Em todo caso, ocorreu - voltou, parecendo aliviado. - Da maneira que
Kenney falou - explicou - pensei que tinham usado as espadas.
- Não. No entanto, recomendo que nós nunca convidemos os dois para o
mesmo jantar.
Seu pai olhou-a por um momento.
- Sobre o que foi? Você sabe?
- Bem, evidentemente lorde Glengask recusou-se a pastorear ovelhas em
suas terras e em vez disso estava construindo escolas. Lorde Berling não
gostou. De acordo com o boato, Berling ou um de seus homens atirou em um
dos irmãos de Winnie no ombro, em seguida, a última vez que eles se
encontraram foi na Escócia, Glengask quebrou o nariz de Berling. - Ela franziu
a testa. Foi tudo tão estúpido e tão sem sentido. Por que os homens não podem
simplesmente sentar e discutir as coisas?
- Então Glengask não gosta de ingleses ou de seus companheiros
escoceses, hein?
Charlotte suspirou.
- Aparentemente não. Disse-lhe que precisava fazer uma melhor
tentativa para se comportar, mas não reagiu bem.
Os lábios do conde se contorceram.
- Você disse o quê?
- Sim, foi estúpido, mas depois de duas horas de críticas e maldições à
Inglaterra e aos ingleses, estava farta. - E isso foi o máximo da história que
iria dizer-lhe. Porque ninguém nunca poderia saber que Ranulf a tinha beijado.
Ou que ela o beijou de volta.
- Sim, já estou suportando gozação de alguns dos companheiros na
sociedade do clube por ter um highlander à espreita. Tenho que admitir, ficarei
aliviado quando esta quinzena acabar.
Charlotte franziu a testa. Ranulf não tinha dito precisamente que iria
permitir Winnie há permanecer mais tempo, apesar de ter insinuado isso.
Claro que tinha sido antes deles terem discutido.
- Não planeje um jantar de despedida ainda, papai - disse de qualquer
maneira. Lorde Hest deveria saber o que estava acontecendo em sua própria
casa.
- O quê? - Sua carranca provavelmente correspondia à dela. - O que
aconteceu?
Deu de ombros.
- Ele adora a irmã e ela quer ficar.
- Bem. - Lentamente o conde soltou a respiração. - Suponho que vamos
nos arranjar e nos preparar. Tenho de admitir, sua mãe não podia estar mais
satisfeita tendo duas jovens para introduzir na sociedade, é a sua ideia de
paraíso. Só desejava que ambas fossem inglesas.
Era precisamente o tipo de coisa que Ranulf provavelmente pensava das
pessoas atrás de suas costas em toda oportunidade, por isso absteve-se de
concordar, em vez disso, ofereceu a seu pai outro sorriso.
- Não se esqueça de guardar uma dança para mim hoje à noite, papai -
disse, de pé e dando uma voltinha.
- Oh, bom Deus. O Evanstone é hoje, não é? Glengask vai comparecer?
- Disse que ia. Por quê?
- Só que o avô de Evanstone ajudou derrubar a insurreição jacobita em
Culloden.
- Oh. Devo agir cuidadosamente. Vou informar a lorde Glengask na
primeira oportunidade para não mencionar Bonnie, príncipe Charlie. - Fez
uma careta novamente, meio brincando. - Ou talvez simplesmente não
mencione isto.
- Isso pode ser melhor.
Capítulo Cinco
O alfaiate não gostava muito dele, Ranulf decidiu, mas, em seguida,
dada a forma como o homem continuava tentando adicionar preenchimento
para seus ombros, o sentimento foi mútuo.
- Mas é o auge da moda, lorde Glengask - o sujeito magro suplicou,
torcendo as mãos.
- Não me importo - Ranulf retornou. Já ficava uma boa cabeça acima da
maioria dos outros homens, se colocasse ombreiras, pareceria absurdo.
- Sim, claramente, dado que... - Sr. Smythe, rebateu, apontando para o
casaco semiacabado que Ranulf tinha encomendado.
- Só ajuste isto, Smythe. Sem enchimento. Vou enviar meu homem por
volta das seis horas.
- Sim, muito bem. Só, por favor, não conte a ninguém que você veio até
mim.
- Ah, eu não vou. Não precisa se preocupar.
Ele e Fergus deixaram a loja do alfaiate, e com um olhar rápido acima e
abaixo da rua, Ranulf virou-se em Stirling e se dirigiu a trote para Tall House.
Charlotte disse-lhe que deveria tentar se encaixar. A moça parecia ter mais,
bom senso do que a maioria, e se tivesse tomado um momento, teria percebido
que nunca se encaixaria. Não em Mayfair. E assim poderia muito bem ser o
que era.
Uma vez que Charlotte entrou novamente em seus pensamentos, recusou-
se a sair. Parecia realmente tê-la lá em pessoa, na verdade, teimosa e adorável
e comandando a sua atenção para tudo o que preferisse. Se tivesse dito no
início que tinha tido um noivo, teria se esforçado para nunca mais pensar nela
como... bem, como uma mulher, como uma moça bonita para ser desnudada e
beijada completamente à vontade na cama. E muitas vezes. Mas pensando
dessa maneira, foi por isso que sentiu como se alguém tivesse cortado suas
bolas quando de repente ela tinha um noivo. E agora não tem novamente.
O que significava que provavelmente nunca teria outra noite de sono
decente. Porque seu pequenino e teimoso cérebro entendia que, tomada por
outro homem ou não, Charlotte Hanover não era para ele. Sabia que quatro
dias de convivência não deveria tê-lo deixado se sentir assim.
Alguns lordes escoceses permaneciam espalhados pelas Highlands, e
desses, um bom número tinha filhas solteiras. Se casaria com uma delas,
porque era o que o marquês de Glengask devia fazer. Uma moça das Highlands
para uma vida de Highland.
Na verdade, quando ele e Rowena retornassem a Glengask, faria do
casamento sua próxima tarefa. Respirando, Ranulf subiu as escadas até seu
quarto alugado. Sua mente se excitava por um único beijo. Graças a Saint
Andrew, quando as moças mais jovens os tinham interrompido. Especialmente
agora, que tinha tolamente concordado em deixar Rowena estender sua
estadia.
Fez isto por amor à sua irmã, claro, porque ela parecia muito feliz. Mas
se tivesse pensado em si mesmo, de como poderia conseguir mais tempo para
familiarizar-se com Charlotte Hanover, por exemplo, bem, que tolo teria sido.
Ranulf empurrou a porta do quarto de dormir tão forte, que sacudiu as
janelas. Em resposta, uma figura em sua penteadeira guinchou e se virou como
um rato assustado. Então, agora Gerdens estava enviando vermes atrás dele.
Cristo. O que serviu direto para distrair-lhe.
- Quem diabos é você? - Cuspiu Ranulf, puxando a faca de sua bota e
caminhando para frente. Com um rugido feroz Fergus agachou, circulando do
outro lado.
- Ginger! Ginger, milorde - o pequenino homem murmurou, pegando uma
escova de cabelo e segurando-a diante de si como um escudo quando recuou
para o canto.
- Que maldito tipo de nome é esse para um homem?
- O quê? Oh! Edward, meu senhor. Edward Ginger. Sou seu criado! Não
me mate, pelo amor de Deus!
Alguém estourou no corredor atrás dele. Movendo-se rapidamente,
Ranulf colocou o guarda-roupa entre si e a porta, enquanto Fergus manteve o
camarada Ginger no vão. A ponta de um bacamarte acelerou para o quarto,
seguido de um Peter Gilling sem fôlego.
- Milorde, onde está?
- Aqui, Peter. Não atire em mim.
O criado imediatamente abaixou a arma e removeu a pederneira.
- Deus me separe em dois e me jogue na cova antes que eu faça uma
coisa dessas, milorde.
Essa foi uma imagem colorida. Ranulf jogou seu punhal para o canto.
- Você o deixou entrar aqui?
- Sim, milorde. Teria lhe dito, mas estava no banheiro quando entrou.
Dadas às calças e a camisa do criado estarem esvoaçando, estava
dizendo a verdade ou já estava com uma das novas empregadas que Ranulf
também tinha aprovado para contratar.
- Certo, então. Fergus, fora. Vá colocar suas roupas, Peter. Ambas. E
leve Ginger com você. Parece que ele precisa de um pouco de uísque.
- Milorde - o criado falou, sua voz ainda trêmula, - prefiro ser
chamado...
Ranulf o olhou. O dedo indicador do criado levantou e enrolou
lentamente de volta em sua palma da mão novamente.
- O que foi, Ginger?
- Nada, milorde.
- Bom. E da próxima vez que você surpreender uma pessoa nesta casa,
não se mova, exceto para mostrar suas mãos vazias ou pode acabar espetado.
- Sim, milorde. Vou me lembrar, estou certo.
- Vejo que vai fazer.
Uma vez que Ranulf mudou seu casaco de equitação e botas, retornou ao
seu escritório no andar de baixo. Agora tinha criados ingleses se
movimentando por Tall House, mas havia pouco que pudesse fazer sobre isso.
A avaliação de Myles da sua situação estava correta e contratar pessoas que
não sabiam nada dos problemas nas Highlands fazia sentido.
Afundou na frágil cadeira por trás da mesa de mogno muito ornamentada
e tirou papel e caneta para escrever uma carta para Arran. Seus irmãos
precisavam saber que a quinzena tinha se tornado uma excursão aberta e
precisava de mais algumas de suas coisas enviadas até Londres.
Por um momento, considerou perguntar para um ou ambos se poderiam
juntar-se a ele aqui, mas com Donald Gerdens fazendo sua presença
conhecida, provavelmente estavam mais seguros onde estavam. Especialmente
Bear, se ele e quaisquer Gerdens acabassem no mesmo aposento, apenas um
deles iria ficar em pé. E não queria colocar Munro em uma prisão inglesa. Por
nada.
Sim, estava acostumado a uma casa barulhenta, cheia de família e
amigos, mas se estivesse em sua casa. Isto, o que quer que fosse não era em
casa. Nunca seria. Sentou-se por um momento. O que mais precisava aqui era
alguém que conhecesse a região, alguém que soubesse se outros 'reformados'
escoceses estavam em Londres e em que número.
Seus pensamentos fizeram com que se voltassem para seu tio. Sim,
Myles Wilkie teria sido perfeito, exceto que Ranulf permanecia inseguro se
poderia confiar no julgamento do visconde. O fato de que Myles tinha tentado
ajudar e causado um desastre, quase o fez piorar.
Por outro lado, quando um homem tinha recursos limitados, não havia
nenhuma opção perfeita. Poderia sempre pedir a Charlotte. Deveria, exceto
pelo fato de que, em primeiro lugar, queria que ele fosse menos escocês; em
segundo lugar, não tinha certeza do que eles estavam falando; e em terceiro
lugar, isso significaria uma conversa tranquila, prolongada, onde
provavelmente poderia fazer algo idiota como beijá-la novamente.
Talvez Myles fosse à escolha mais sábia, afinal.
- Milorde?
Olhou para cima a partir da carta semiacabada para ver Owen em pé na
porta.
- Todo mundo está seguro em Hanover House?
- Sim. E acho que lady Winnie está satisfeita por ter Una lá com ela. Um
toque de casa, acredito.
Ranulf assentiu.
- Sinto-me muito melhor com Una lá também. Mais alguma coisa?
- Bem, não estou inteiramente certo. Peter disse que lacaios vieram por
toda a manhã, dizendo: 'com a sua licença' ou 'com respeito,' e entregando
estes. - O ex-soldado levantou uma bandeja grande com cartões, notas e uma
caixa embrulhada com fita.
Hum.
- Vamos vê-los.
Ranulf tinha frequentado Oxford, porque era a lei que o filho
primogênito de todo lorde escocês recebesse uma educação inglesa. Então
insistiu que seus irmãos fossem também, porque queria que soubessem do que
e de quem eram opositores. E assim, soube o que estava assentado sobre sua
bandeja: a mais perigosa e insidiosa de todas as coisas inglesas: convites.
Despachando Owen, passou por todos eles. Alguns eram de homens e
mulheres para quem foi apresentado no Almack's por Charlotte. A maioria era
de pessoas que nunca tinha ouvido falar, convidando-o para o café da manhã,
almoço, e saraus. Evidentemente, os ingleses estavam excitados em ter um
diabo no meio deles. Talvez pensassem que ia dançar e tocar gaita para eles.
Estava tentado a lançar todos no lixo, mas resistiu ao impulso. Os
Hanovers, e, assim, sua irmã, poderiam muito bem estarem frequentando
alguns desses eventos, por isso, um convite para ele viria a calhar, como o que
tinha recebido ontem para o sarau Evanstone. Ainda assim, parecia olhar para
peças de um quebra-cabeça em relevo prateado, não sabendo qual desenho
formaria.
Guardou a caixa para o final. Nenhuma nota ou cartão acompanhava, e
sacudiu um pouco antes de desatar a fita. Parecia pesada para uma coisa tão
pequena e a cautela o fez deixá-la plana e empurrou para trás em sua cadeira
antes de afastar a tampa com um dedo. Nada se movia dentro, nenhum cheiro
surgiu. Lentamente levantou para olhar debaixo. Uma pequena bola de lã tinha
sido colocada dentro, não deixando nenhum espaço aberto. A lã para ele
significava ovelhas Cheviot, o que significava algum tipo de mensagem de
outro lorde com assento nas Highlands, que não gostava de seus chamados
planos anárquicos para manter seu povo fechado e ver que eram educados e
alimentados e empregados.
Lã, porém, não era tão pesada. Franzindo a testa, pegou a caixa e
derrubou-a. A lã caiu com um baque surdo. Respirando devagar, puxou a coisa
à parte com os dedos. Um momento depois, uma sólida bala de mosquete caiu
sobre a superfície polida da mesa. Assim, isso era uma ameaça melhor do que
um punhado de lã suja.
- Ora - murmurou, não surpreso ao ver que alguém escreveu a palavra
'MacLawry' sobre a superfície da bala. Pegou-a, deixando rolar sobre sua
palma. Depois do Almack's, todos sabiam que estava em Londres. Mas nem
todos gostariam que soubesse que estava em perigo.
- Peter! - Chamou, sentando-se novamente.
O criado reapareceu na porta.
- Sim, milorde? - Seu olhar caiu para a mesa de trabalho e deu um passo
adiante. - Isso estava naquela pequena caixa?
- Sim. Uma bala com meu nome. Poético, você não acha?
Peter pegou-a, apertando-a em um punho como se quisesse transformá-lo
em pó.
- O homem que trouxe a caixa não estava de uniforme - disse depois de
um momento, seu rosto enrugado e sombrio. - Rapaz alto, cabelo claro, mas
duvido que possa reconhecê-lo novamente. Danação!
Balançando a cabeça, Ranulf estendeu a mão para a bala.
- Não se preocupe. Sabíamos que teríamos dificuldades aqui. O tipo
quis se tornar conhecido, realmente. – Levantou-se. - Irá alguém até a
alfaiataria do senhor Smythe na próxima hora ou então, você vai? Ele está
arrumando um casaco para mim.
- Sim. E aonde vai, então?
- Um passeio. Acho melhor conhecermos as ruas ao redor daqui.
O criado fez uma careta.
- Não pode pensar em sair agora, milorde!
- Por que não? Só porque alguém me quer morto? Desde quando alguém
não me quis sob o solo? Acho mais útil no momento saber quem está em
Londres para a temporada e vivendo perto da minha porta.
- Bem, Owen e eu vamos com o senhor.
- Não, não vai. Fergus vai. Você vai vigiar a porta. Owen!
O outro criado chegou rápido o suficiente e deve ter ouvido da porta.
- Milorde?
- Owen, vá mostrar a Ginger como preparar um homem em um kilt.
- Ginger? Quem é Ginger?
***