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Michel Foucault

PROF. CAROLINE
CASTAGNETTI
1926 - 1984
FOUCAULT NO BRASIL - 1973
PRINCIPAIS
OBRAS
História da loucura (1961)
Vigiar e Punir (1975)
História da Sexualidade (1976)
Microfísica do Poder (1978)
HISTÓRIA DA
LOUCURA
(1961)
A História da Loucura (1945) nos
apresenta uma perspectiva para pensar a
loucura de modo que entendemos este
sujeito não como um alienado, mas como
integrante de uma sociedade que não o
integrou. As concepções de loucura vão ao
longo da narrativa demonstrando uma
mudança na sociedade e as percepções
dos indivíduos sobre a loucura.
Em História da loucura, Michel Foucault nos
conduz por uma viagem em torno do que ele
chama de “estrutura de exclusão” do
fenômeno da loucura. Essa exclusão começa
com o esvaziamento dos leprosários ao final
da Idade Média, tidos como “lugares
obscuros”, de segregação, cheios de “ritos
que não estavam destinados a suprimi-la [a
lepra], mas sim a mantê-la a uma distância
sacramentada” (Foucault, 2010, p. 6).
Foucault observa que a loucura, antes de ter sido “dominada” por
volta da metade do século XVII, estava “ligada, obstinadamente, a
todas as experiências maiores da Renascença” (Foucault, 2010, p.
8). Naquele período, a loucura circulava livremente pelas ruas e era
tema recorrente de diversas expressões artísticas, como peças de
teatro e romances. Os loucos “conhecidos” eram tolerados, mas os
loucos “estranhos”, com comportamentos desviantes e bizarros,
incluindo os bêbados e os devassos, eram confinados em navios
numa espécie de exílio ritualístico.
No livro, o que Foucault quer saber é: quando,
a partir de que momento, a loucura começa a
ser pensada como uma patologia e por que
antes não era assim?
Com o internamento nos antigos leprosários, os portadores de
doenças venéreas e os loucos passam a compartilhar um “espaço moral
de exclusão”, antecipando o fim do “grau zero” da história da loucura,
época em que “predominava uma indiferenciação entre loucura e razão”
(Freitas, 2004, p. 77). Em um dado momento, teria havido uma ruptura
entre a razão e a loucura, pela qual a razão, cerca de 150 anos antes do
surgimento da psiquiatria, “se separa da loucura, esvazia a verdade da
loucura para afirmar a si própria soberanamente” (Freitas, 2004, p. 78).
Essa separação dará origem à “estrutura de exclusão” mencionada por
Foucault, e teriam sido dois os seus estopins: a fundação do Hospital
Geral de Paris por decreto (1656), inaugurando a “grande internação dos
pobres”.
O Hospital Geral tinha como objetivo recolher e
“hospedar” os pobres de Paris, suprimindo a mendicância
e a ociosidade. Pessoas de qualquer sexo, de qualquer
idade, válidas ou inválidas, “doentes ou convalescentes,
curáveis ou incuráveis”, todos eram forçados a trabalhar
como forma de “purificação”. O hospital era uma
instituição sem caráter médico, apenas “uma espécie de
entidade administrativa” semijurídica, com poder de
julgar e executar, sem direito a apelações. Foucault
observa que essas casas de internamento se espalharam
por toda a Europa, especialmente na França, Alemanha e
Inglaterra, muitas delas estabelecidas dentro dos muros
dos antigos leprosários, e eram mantidas com dinheiro
público.
“Desaparecida a lepra, apagado (ou quase) o leproso da memória, essas estruturas
permanecerão. Frequentemente nos mesmos locais, os jogos da exclusão serão
retomados, estranhamente semelhantes aos primeiros, dois ou três séculos mais
tarde. Pobres, vagabundos, presidiários e “cabeças alienadas” assumirão o papel
abandonado pelo lazarento” (Foucault, 2010, p. 6).
Para Foucault, então, a grande internação é “o
momento em que a loucura é percebida no
horizonte social da pobreza, da incapacidade para o
trabalho, da impossibilidade de integrar-se no
grupo; o momento em que começa a inserir-se no
texto dos problemas da cidade” (Foucault, 2010, p.
114)
Até que, em fins do século XVIII e no século
XIX, surgem os asilos com valor
terapêutico, e a loucura passa a ser
definida como “alienação mental”, como
proposto por Philippe Pinel, sendo
integrada ao campo da Medicina.
Uma das principais razões para essa mudança foi o
surgimento da medicina psiquiátrica como uma disciplina
distinta. Com o desenvolvimento da psiquiatria, houve uma
tentativa de categorizar e diagnosticar as doenças mentais
de forma mais sistemática. Isso levou à classificação da
loucura como uma doença psiquiátrica específica, com
diferentes tipos e causas.
Além disso, o aumento do interesse na racionalidade e na
ordem social durante o Iluminismo contribuiu para uma visão
mais medicalizada da loucura. A loucura passou a ser vista
como uma forma de irracionalidade que precisava ser
controlada e tratada.
REFERÊNCIAS

FOUCAULT, M. HISTÓRIA DA LOUCURA. TRAD. JOSÉ TEIXEIRA COELHO


NETO. 9. ED.. SÃO PAULO: PERSPECTIVA, 2010.

BATISTA, M. BREVE HISTÓRIA DA LOUCURA, MOVIMENTOS DE


CONTESTAÇÃO E REFORMA PSIQUIÁTRICA NA ITÁLIA, NA FRANÇA E NO
BRASIL. REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS, N. 40, PP. 391-404. ABRIL DE 2014,

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