A Magia Dos Oceanos - Diana Sousa

Você também pode gostar

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 9

Editora Sunny

1° edição

Copyright © 2023 Diana Sousa


Todos os direitos reservados

Título: A Magia dos Ocenos


Preparação de texto: Nyck Fireball
Projeto gráfico: Nyck Fireball
Diagramação: Nyck Fireball
Capa: Nyck Fireball
As expedições em busca de descobertas de riquezas nos oceanos e além
deles foram inauguradas na época das grandes navegações, fazer tais
expedições era uma atitude ousada e tecnológica. As pessoas temiam os
oceanos, acreditavam que a terra era quadrada e havia um grande abismo
para o qual seriam tragadas e arremessadas no inferno se saíssem da
segurança do continente.
Alguns países europeus se aventuraram no mar e dentre eles, Portugal e
Espanha com sua tradição de pesca foram as nações que mais obtiveram
sucesso. Estes países ibéricos também possuíam tradições e crenças nada
amistosas sobre os oceanos.
Imaginem o esforço que tiveram que fazer para conseguir patrocínio para
as caravanas e a coragem dos que aceitaram o desafio de velejar por lugares
desconhecidos com fama de inóspitos e habitados por cruéis criaturas e
monstros marinhos.
​Na academia dos marinheiros, eles estudavam um bestiário, onde havia a
citação de diversas criaturas perigosas, krakens, leviatãs, umibozus e é claro,
sereias.
Essa convicção era antiga, vinha desde os gregos, vikings e demais povos.
Toda boa história de marinheiro do mundo antigo contava com a presença de
criaturas sobrenaturais que compunham o imaginário de quem se aventurava
pelos mares.
​Os oceanos como sempre lindos, convidativos, perigosos e desconhecidos
era necessária uma dose de coragem extra para enfrentá-lo. Naquele período
muitas embarcações terminavam seu destino naufragadas e/ou destruídas, as
famílias nunca mais viam seus entes queridos. Tripulações inteiras dormindo
eternamente abraçadas, afogadas pelo belo e perverso mar.
​Os mares sempre foram um universo único e à parte, continuam sendo, em
pleno século XXI o homem tem mais conhecimentos científicos catalogados
sobre a lua do que sobre o mar. John Dickens terminava naquele momento a
sua aula na Universidade de Montevidéu, como sempre provocando seus
alunos com suas conjecturas.
​ ma aluna de beleza exótica levantou a mão e dirigiu-se ao professor
U
dizendo: se o mar era um universo à parte, certamente, ele tinha segredos,
tesouros e vidas até então desconhecidas. O restante da turma riu,
debochando da colega, mas não o professor, ele sabia tanto quanto a garota
os perigos, delícias e mistérios que o mar escondia, mas nada respondeu!
​Bateu o sinal, todos saíram apressados da sala, o professor separava suas
coisas, enfim teria um final de semana de descanso, aproveitaria sua casa na
praia sem precisar se preocupar em corrigir provas e avaliações de alunos.
​Aquele ano estava apenas começando, carregado de expectativas e
mistérios. A promessa de descanso na praia o levou a memórias de sua
adolescência quinze anos atrás.
Aquilo teria mesmo acontecido? Será que foi tudo uma ilusão, não tinha
certeza e preferiu nunca falar sobre o ocorrido com ninguém. O fato é que,
àquela tarde mudou sua vida, até o desejo de se formar biólogo e se
especializar em biologia marinha partiu daquela experiência.
​Sentiu-se observado e levantou a cabeça para procurar quem o observava,
sobressaltou-se ao perceber a aluna de beleza exótica, parada em frente a ele,
bem próxima, o observando com olhar profundo. Havia um adesivo na
garota indicando que ela se chamava Sirena, um nome que certamente
combinava com ela.
Havia também uma tensão no ar, o professor Dickens era um homem de
princípios e tinha orgulho de nunca ter se envolvido com nenhuma aluna e
não seria agora que se deixaria seduzir por uma.
​A garota parecia poder ler os pensamentos do professor, então disse com
voz melodiosa, porém solene:
— Eu não vim para seduzi-lo, se eu quisesse já o teria feito desde o
primeiro instante que seu olhar cruzou com o meu.
— Pelo contrário, estou usando essa porcaria de colar que inibe todo meu
poder e me dá essa aparência medíocre, para passar despercebida entre os
humanóides e entregar uma mensagem a você.
​O professor ficou sério, ele não queria acreditar, mas sabia em seu íntimo
que a garota estava sendo sincera e ele entendia sobre o que ela discursava.
Teve esperanças de que a garota trouxesse um recado de alguém do passado,
um alguém com qual passou breves e deliciosos momentos, no entanto
afastou tais pensamentos e respondeu à aluna:
— O que eu, um reles professor universitário, poderia fazer por você ou
pelo seu poderoso povo Sirena.
​ garota deu uma gargalhada gostosa e disse:
A
— Que não estava em nome do seu povo, que vinha por vontade própria
para passar uma mensagem pessoal para o professor. Contudo ela também
estava ali para conhecer um pouco mais os humanos, tendo em vista que em
pouco tempo as sereias viriam para o continente, estava em uma missão de
reconhecimento e reparação.
​O professor ofereceu uma carona à garota para saírem da universidade e
poderem discutir melhor aquele singular assunto. Perguntou a ela onde ela
estava hospedada, ela respondeu que em lugar algum, que passara os últimos
dias dormindo na praia, refrescando-se no mar. Então o professor perguntou
como ela sabia dele? Qual era o recado? E porque diabos as sereias estavam
vindo para o continente?
​Em seus muitos anos como explorador do mar, o professor Dickens
vislumbrou sereias algumas vezes, apareciam como vultos, apenas com seus
relatos e registros ele não conseguiria provar a existência delas, caso o
quisesse. Contudo, graças a suas experiências pessoais somadas ao prazeroso
momento da adolescência ele sabia e era um, senão o único ser humano a
saber da existência das sereias.
​Ao chegarem a casa na praia, Sirena tirou o colar que reprimia seu poder e
se revelou a ele, que ficou extasiado, o olhar era o mesmo, o cheiro era o
mesmo, ele sentiu saudades.
​— Meu querido John, eu era uma jovem sereia quando você também
jovem me ajudou e juntos nos apaixonamos. Naquela época eu quebrei todas
as regras e não o matei como determinam as leis do meu povo.
​— O recado que trouxe para você não é bom e serei direta eu devo te
matar nas próximas horas, mas antes disso, gostaria de retribuir o favor do
passado e cuidar um pouco de você.
​— Quanto a sua segunda pergunta, as sereias estão vindo para o
continente caçar pois há tempos decresce o número de navegadores ou
piratas em alto-mar para que possamos saciar a nossa fome.
— Então da mesma forma que a sua gente infringe as regras da natureza
jogando lixo em nossa casa e poluindo os oceanos, nós arriscaremos
equalizar essa balança ao vir caçar no continente, tentaremos caçar humanos
poluidores e contribuir com a mãe natureza, Gaia.
​— Nossa missão não é nada pessoal, será apenas para aplacar uma
necessidade básica de sobrevivência. Nossa necessidade básica de alimento,
e a necessidade universal de proteção ambiental dos oceanos e suas espécies.
​ — Essa relíquia disse mostrando o colar, feita por uma feiticeira do mar,
nos dá o poder de ter o corpo humano por alguns dias e poder andar entre
vocês sem sermos percebidas, sem dúvida um grande avanço místico-
tecnológico.
​John se deliciava com cada palavra dita pela garota, não mais uma
adolescente colegial e sim uma bela mulher loira, olhos cor de mel, esguia,
empoderada e inteligente, uma mulher da qual ele se lembrava de ter
ajudado no passado. Ele nem ao menos se alarmou com as revelações que
ela lhe fez, naquele momento apenas queria matar a saudade que tinha de
estar com ela.
​Sua paixão era tamanha, uma atração incontrolável, ele nunca encontrou
uma mulher que admirasse tanto quanto Sirena, então percebeu que mesmo
sob disfarces, ela manteve o nome original. Ele sequer havia conseguido
ligar esses pontos, agora juntos e próximos ao mar ele seria presa fácil de
Sirena, mas o que ela faria a ele?
​John Dickens era solteiro, muito bonito com cabelos e olhos negros,
feições de homem maduro, corpo saudável e atlético, estava na casa dos
trinta e poucos anos morava sozinho em um belo lar na praia, sempre
manteve o mar bem próximo de si, o que na verdade não era tão difícil,
tendo em vista que ele morava no Uruguai.
​Sirena era uma criatura selvagem, ela tinha muitos conhecimentos, mas
não cabiam sentimentos humanos em seu coração de sereia, apesar disso ela
estava gostando de estar ao lado de Jhon. Beijou e foi beijada por ele.
​Haviam diversas tradições entre as sereias, elas eram mulheres livres e
independentes, caso fossem capturadas, deveriam morrer na captura, levando
o captor junto a si e protegendo o segredo de sua existência.
​Sirena foi acidentalmente capturada por uma rede de pesca e enquanto
tentava se soltar, machucou-se de maneira grave, teria morrido e tomado a
forma de alguma espécie marinha para que encontrassem o cadáver assim,
mas antes desmaiou e foi salva por um garoto.
O garoto a resgatou e cuidou dela escondido de seus pais até que ela
tivesse suas forças restabelecidas, quando ela fugiu para não o machucar.
​Naquela época ela se viu diante de um dilema, o garoto não tinha
capturado, então ela não precisaria matá-lo, contudo ele sabia do segredo,
haviam conversado sobre as sereias, e isso era arriscar a vida e existência de
sua espécie.
Não conseguiu dar fim a vida do garoto, como estava fraca seu corpo não
sugou as energias vitais do rapaz, por esse detalhe do destino, ela que era
uma criatura mística se sentiu livre para deixá-lo vivo.
A primeira oportunidade que teve colocou um encanto nele. Um encanto
que faria ele se esquecer e duvidar das experiências que teve com a sereia.
​Agora, anos depois, ela precisava reproduzir-se e não se interessava por
nenhum tritão ou criatura marinha, veio então em busca de seu par, essa era
outra tradição das sereias. Sereias viviam mais de trezentos anos e
reproduziam-se a cada trinta anos, somente três vezes ao longo da vida, essa
reprodução só era possível de acontecer no caso de haver um elo espiritual
entre a sereia e o parceiro escolhido.
​Passaram juntos o final de semana, no qual namoraram, nadaram, se
alimentaram e conversaram sobre o mar. Entretanto, apesar do fato de um
humano poder criar um elo espiritual e engravidar uma sereia, ele não
conseguiria sobreviver ao lado de uma mais do que alguns dias e mesmo que
pudesse certamente a sereia logo se cansaria.
​As sereias são mulheres feiticeiras, com sangue de semideusas ancestrais,
elas se alimentam da energia vital humana, mesmo quando não querem
matar elas não controlam e vão sugando toda a energia de vida dos parceiros
para si.
​Nos primeiros raios de sol da manhã de segunda-feira, um grupo de
pessoas que corria pela praia pareceu ter visto uma garota ser levada pelas
ondas em alto mar, foram ajudar e não viram mais a garota, ventou em sua
direção uma suave brisa do mar que os encobriu e após sentir a brisa eles
não tinham certeza se haviam visto alguém no oceano. Então perceberam
que pisavam em algo, ao olhar para baixo encontraram o corpo de um
homem nu, com um sorriso enigmático no rosto sem vida.

Você também pode gostar