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Sombrio e Inevitavel - LIVRO 1 - Liliane Reis
Sombrio e Inevitavel - LIVRO 1 - Liliane Reis
Este ebook ou
qualquer parte dele não pode ser reproduzido ou
usado de forma alguma sem autorização
expressa, por escrito, do autor, exceto pelo uso
de citações breves em uma resenha.
***
Desgraçado.
Desliguei a tela do celular sem me dar ao trabalho de
responder e afundei o rosto no travesseiro, esperando que eu
caísse logo no sono.
***
***
***
***
***
Eu estava no intervalo jogando conversa fora com Anne
quando fiquei sabendo, por mensagem, que Mateus tinha faltado na
aula hoje.
— Não vou ter carona hoje — comentei com Anne.
— Por quê?
— Mateus não veio.
Desde que eu havia fraturado a perna, Mateus se comoveu
para me dar uma carona quando as aulas acabavam.
— Eu te acompanho até o ponto de ônibus — Anne se
ofereceu. — Não se preocupe.
— Eu sou um pé no saco com essa perna.
— Cala a boca. Você não teve culpa. — Anne se endireitou na
cadeira e esboçou um sorriso. — Além disso, eu estou sempre
disposta para ajudar.
Eu sorri de volta.
— A minha sorte é ter uma amiga como você.
— Você sabe que eu te considero como uma irmã, Thay.
Quando precisar da minha ajuda, é só me chamar.
Eu assenti, me sentindo grata.
Assim que chegamos no final da aula, Toni me ofereceu uma
carona para casa. Quando nós dois chegamos no estacionamento,
eu avistei Mateus saindo de seu carro. Ele começou a caminhar na
nossa direção, seus olhos passando rapidamente por Toni ao meu
lado.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei.
— Eu vim te buscar.
— Eu achei que você não viesse. O Toni ia me dar uma carona.
Toni assentiu, confirmando a minha frase.
— Então, não vai precisar mais — Mateus se aproximou de
mim. — Vamos?
Eu olhei para Toni e falei:
— Obrigada pela gentileza.
— Por nada. — Ele sorriu, suas covinhas sempre presentes. —
É sempre um prazer te ajudar.
Mateus encarou Toni, a expressão desconfiada.
Eu estava prestes a dar um passo com a ajuda das minhas
muletas, quando vi Lia saindo do carro de Mateus.
— O que ela está fazendo aqui? — perguntei.
Mateus olhou na direção de Lia.
— A gente saiu para conversar — ele disse, como se os dois
fossem ótimos amigos. — Aí para eu não me atrasar, decidi trazer
ela comigo.
Eu estava incrédula com o que acabei de ouvir.
— Você disse que não ia conversar com ela — falei.
Ele estranhou minha frase.
— Eu não disse isso.
— Foi o que eu entendi. Por que você não me contou? Vocês
estão saindo em segredo?
— Thaissa, não é nada disso. Eu só queria que ela parasse de
me encher o saco, por isso decidi acabar logo com isso.
— E o que vocês fizeram? Reataram o namoro?
— Não! Não aconteceu nada.
— Se você decidiu esconder isso de mim, é porque algo
aconteceu.
— Eu não escondi nada de você.
— Escondeu, sim! — Olhei para Toni que estava ao meu lado,
presenciando o começo da discussão. — Você pode me levar para
casa, Toni?
— É claro — Toni disse prontamente.
— Você está de brincadeira — Mateus soou atrás de nós. —
Você acha que eu fiquei com a Lia só porque ela está no meu
carro?!
— A nossa conversa acabou, Mateus. — Comecei a caminhar
ao lado de Toni. — A Lia está te esperando.
Assim que deixei um Mateus chocado no estacionamento da
faculdade, entrei no carro cinza de Toni.
Eu estava tão indignada por Mateus não ter me dito que ia sair
com a Lia, que não falei um A durante todo o percurso até a minha
casa.
— Deixa que eu te ajudo a descer — Toni disse, saindo do lado
do motorista.
Ele abriu a porta para mim e ofereceu sua mão para eu firmar o
pé no chão. Me apoiei nas muletas e antes de eu me despedir de
Toni, vi o seu rosto vindo de encontro ao meu.
Antes que Toni encostasse a boca na minha, eu desviei o rosto,
surpresa.
— O que você está fazendo?
Ele parou, se dando conta do que estava prestes a fazer.
— Eu...
— Toni, eu sou comprometida.
— Eu só... — Ele me olhou, parecendo desconcertado. —
Desculpa.
Eu respirei fundo, tentando não pensar muito.
— É melhor eu entrar.
— Desculpa, Thaissa. Eu não queria fazer isso.
— Obrigada pela carona — falei, me esforçando ao máximo
para andar rápido com as muletas. Eu não queria olhar na cara de
Toni, pois a vergonha já estava tomando conta de mim.
Se eu tivesse acompanhado Mateus, isso não teria acontecido.
Com certeza, não teria. Eu só seria obrigada a dividir o carro com
Lia e enfrentar sua presença desagradável.
Capítulo 19
— Este telefone não está disponível para receber chamadas.
Encerrei a ligação antes mesmo que a voz eletrônica repetisse
a mesma frase.
Soltei um suspiro e joguei o celular na cama.
Era a terceira e última vez que eu ligava para Mateus. Ele não
me atendeu nenhuma vez e, sendo assim, eu deduzi que ele
estivesse com raiva de mim.
Era difícil fingir que eu não me importava, quando, na verdade,
eu estava morrendo de vontade de cair nos braços dele. Mas eu não
ia correr atrás de Mateus como uma trouxa. Foi ele que saiu com a
Lia e não eu.
Tentei me conformar com a situação. O jeito era esperar para
ver o que iria acontecer nas próximas horas.
A noite caiu e eu cheguei na faculdade totalmente angustiada.
Já estava passando das 19 horas e nada de eu obter respostas de
Mateus.
Para contribuir com o meu estado angustiante, encontrei Toni
parado no corredor. Pensei na hipótese de passar despercebida por
ele, mas isso não seria possível porque já estávamos a uns três
metros de distância.
— Thaissa. — Ele cortou a pequena distância entre nós,
claramente atordoado. — Me desculpa por ontem. Por favor...
Eu respirei fundo.
— Tudo bem, Toni. — Abri um sorriso forçado.
— Eu fui um idiota.
Eu estava prestes a assentir, mas percebi que isso ia confirmar
a sua frase.
— Eu só... quero deixar claro que te vejo como amigo. Só
como amigo.
Toni fez que sim, a expressão envergonhada.
— Isso não vai mais acontecer.
Ele enfiou as mãos nos bolsos, os olhos voltados para baixo.
Olhei, distraída para os ombros de Toni e vi Mateus passando
rapidamente atrás dele. Automaticamente, eu me esforcei nas
muletas para ir atrás do meu suposto namorado, deixando Toni para
trás. Assim que o alcancei, ele fingiu que eu não estava ao seu lado
e continuou caminhando. Nem olhou para mim.
— Não vai mais falar comigo? — perguntei.
— Não tenho nada para falar.
— Como não? — Puxei a manga de seu casaco, fazendo-o
parar. — Eu te liguei várias vezes e você não me atendeu.
— Deixei o celular no silencioso.
— Ah, Mateus, não vem com essa! Nós precisamos conversar
sobre ontem.
Mateus me olhou, sério.
— Foi bom o seu passeio com o Toni?
— Foi bom o seu passeio com a Lia?
Ele desviou os olhos do meu rosto, mas logo voltou a me fitar.
— Eu não vou repetir. Eu já falei que não aconteceu nada entre
a gente.
— Tudo bem — falei. — Eu acredito em você.
Mateus ergueu uma sobrancelha.
— Assim, tão rápido?
Eu assenti.
— Eu fiquei com ciúmes, essa é a verdade.
— Me diz algo que eu não saiba.
— É sério. Eu não quero ficar brigada com você.
Mateus demorou alguns segundos para expressar uma reação.
Em seguida, ele se aproximou e envolveu meus braços, beijando o
topo da minha cabeça.
— O seu amiguinho te deixou em casa?
— Sim. — respondi, inalando o seu cheiro de colônia
impregnado na roupa.
Se eu dissesse para Mateus que Toni tentou me beijar, teria
uma grande chance de brigarmos novamente, e eu iria fazer o
possível para fugir disso.
Assim que Mateus parou de me abraçar, seu celular tocou.
Ele tirou o celular e pela sua cara, deduzi que não era um
contato esperado.
— É a Lia.
— Estava demorando...
Mateus pareceu pensativo enquanto o celular tocava. Ele
demorou tanto para atender que a ligação caiu. Mas um minuto
depois, ele recebeu a notificação de uma mensagem.
— Me atende, por favor — Mateus começou a ler a mensagem
em voz alta. — Eu preciso de você.
Eu olhei para ele, intrigada.
— Ela deve estar achando que vocês voltaram.
— Azar o dela. — Ele desligou o celular e o guardou no bolso.
— Eu tenho uma namorada para dar atenção.
Capítulo 20
— Cuidado, mais devagar.
Eu estava descendo a rampa do hospital, sendo guiada por
Mateus, seus movimentos tentando controlar meus passos
apressados.
— Mateus, eu estou bem.
— Eu sei, mas você não pode fazer muito esforço, lembra?
Revirei os olhos. Eu tinha acabado de tirar o gesso da minha
perna e o médico me deu algumas recomendações, dizendo para eu
não me esforçar muito. Mesmo assim, fiquei aliviada sem aquele
treco pesado na perna.
Assim que chegamos perto do carro, eu abri a porta e entrei.
Porém, antes de Mateus dar partida no veículo, eu me inclinei em
sua direção e puxei seu rosto para perto do meu, o beijando.
— Obrigada por me acompanhar. Você merece um beijo —
falei.
Ele sorriu.
— Só um?
— Vários, mas depois a gente termina o que começamos.
Alguns longos minutos depois, estacionamos o carro em frente
ao parque de diversão de Hilionópoles.
— O que estamos fazendo aqui? — perguntei, olhando para o
parque fechado e solitário, sem o mesmo brilho que esbanjava nas
noites de fim de semana.
— Você vai ver — Mateus respondeu, saindo do carro.
— O que é? — perguntei, saindo do veículo. — O parque está
fechado. O que viemos fazer aqui?
— Você faz muitas perguntas — Mateus começou a me guiar
na direção do parque.
O portão de ferro estava destrancado. Mateus abriu uma fresta
o suficiente para passarmos.
Olhei para ele, confusa.
— Por que está aberto? E como você sabia? É errado a
gente entrar assim, sabia?
— Meu anjo, o que eu quero é só ficar um pouco aqui com
você. O que tem de mau nisso?
Mateus me guiou até o meio do parque, um espaço vazio
entre o carrossel e a roda-gigante. Avistei a montanha-russa há
poucos metros de nós. Ela parecia menos assustadora durante o
dia.
— Onde você está me levando? — perguntei.
— Você já vai saber. — Um meio sorriso surgiu em seu rosto.
Momentos depois, ele parou em frente à barraca de prêmios e
abriu a porta.
— O que você está fazendo?
— Eu conheço o dono. Fica tranquila — dito isso, ele me puxou
para dentro do local.
A barraca estava escura, como já era de se esperar. Mas
tateando as paredes frágeis, Mateus conseguiu achar algum
interruptor e ligou a luz. Uma sequência de ursinhos de pelúcia
coloridos em uma prateleira chamou a minha atenção.
— Gostou dos ursinhos carinhosos, meu anjo?
Olhei para Mateus.
— São uma graça. Mas eu não entendi porque a gente veio
aqui.
Ele deu de ombros e se sentou em um banco perto da
prateleira de ursinhos.
— Eu venho aqui às vezes. Me causa uma certa tranquilidade.
— É uma pena que não é tão divertido durante o dia. — Parei
na frente dele.
— É, mas eu gosto justamente disso. O silêncio é confortável.
Eu sentei em seu colo e peguei em seu rosto.
— Então, a gente deveria parar de falar e aproveitar o silêncio.
Bastou eu dizer isso e Mateus colou os lábios nos meus,
começando a me beijar, seu cheiro delicioso entrando nas minhas
narinas.
Pouco depois, suas mãos foram parar na minha bunda e eu
agarrei o tecido da sua camiseta, imaginando ele sem a peça. Não
sei quantos segundos se passaram, mas eu peguei na barra da sua
camiseta e a puxei para cima. Deixei a roupa cair no chão enquanto
eu observava de perto algumas tatuagens nos ombros de Mateus.
— Todas elas têm significado? — perguntei.
— Algumas. — Ele apontou para um pequeno relógio de areia
no seu pulso esquerdo. — Essa aqui, por exemplo, eu fiz para me
lembrar em como a vida pode acabar de repente. Uma hora
estamos aqui e depois não estamos mais.
Eu refleti sobre a sua frase forte e cheia de sentido. Em
seguida, Mateus afundou os dedos na minha nuca e continuou:
— É por isso que a gente tem que aproveitar cada momento.
Eu assenti e voltei a beijá-lo, mais fervorosa dessa vez.
Eu já estava decidida.
— Eu quero que a minha primeira vez seja com você — revelei.
Mateus não disse nada, apenas me fitou, seus olhos castanhos
atentos ao meu rosto. Em seguida, seus lábios vieram de encontro
aos meus, ávidos e necessitados.
Pouco depois, ele trocou de lugar comigo e sentou-me no
banco. Desejando-o a cada segundo que passava, eu me livrei do
short jeans e tirei a blusa, exibindo meu sutiã preto sem o menor
pudor. A luz dentro da barraca não era uma das melhores, mas
mesmo assim eu notei as pupilas dilatadas de Mateus.
Não demorou para ele fazer uma trilha de beijos na minha pele,
começando do meu pescoço até o colo. As pontas dos seus dedos
tocaram as minhas costas e ele abriu o fecho do sutiã, deixando-o
cair no chão. Mais uma vez a vergonha não se fez presente.
Sua língua experiente roçou os meus mamilos e depois desceu
por minha barriga, sua respiração quente arrepiando a minha pele.
Um de seus dedos foram parar dentro da minha calcinha e eu joguei
o rosto para trás com o toque.
Após me provocar com os dedos, Mateus tirou a minha
calcinha, e eu soltei uma espécie de gemido quando a sua língua
tocou o meu clitóris. Afundei os dedos em seu cabelo e quase puxei
os fios sedosos ao sentir o prazer assumindo o meu corpo e me
causando alguns tremores.
Assim que eu atingi o clímax, Mateus colocou uma mexa do
cabelo para trás da orelha e perguntou:
— Está pronta?
Eu o olhei, completamente excitada e ansiosa.
— Mais que pronta.
Eu deitei em cima das minhas roupas no chão quando Mateus
veio para cima de mim, depois de ter jogado a embalagem da
camisinha no chão. Contei três segundos até sentir seu pênis me
penetrando devagar. Em determinado momento, eu senti como se
algo estivesse se rasgando dentro de mim e afundei as unhas em
seus músculos, a dor se intensificando a cada segundo.
— Tudo bem? — Mateus perguntou, seus olhos cheio de
expectativa no meu rosto.
Eu assenti, minha respiração audível.
Ele esboçou um meio sorriso antes de acariciar meu cabelo
com as pontas dos dedos.
Depois que fomos até o fim, Mateus relaxou seu corpo em cima
do meu e roçou os lábios no meu queixo. Eu o abracei, erguendo
seu rosto e o beijando, satisfeita.
***
***
***
mensagem.
Suspirei. Ele poderia ter me avisado antes.
— E então? — Anne olhou para mim.
— Vamos. Ele não vem agora.
— Ah, ótimo! Ele deveria ter avisado.
— Foi o que eu pensei.
Segui Anne pelo caminho que levava à entrada da faculdade.
Antes de entrar, eu olhei para trás e vi Samuel na calçada, fumando
um cigarro.
Sem me dar conta do que estava fazendo, eu me virei,
andando na direção dele.
— Thay! — Anne chamou. — Onde você vai?
Eu olhei para ela.
— Vou ali. Pode ir para aula.
— Você não me fez esperar todo esse tempo para fazer isso!
— Foi mal. — Apressei meus passos. — Eu já volto.
Ao olhar na direção da calçada novamente, percebi que
Samuel havia desaparecido. Olhei ao redor ao redor do campus,
mas não o encontrei. Assim que cheguei na calçada, avistei, em
meio aos estudantes, dois caras caminhando juntos. Um deles
chamou muito a minha atenção, pois eu conhecia seus ângulos até
de longe.
Mateus e Samuel entraram no bar perto da faculdade.
Eu os segui até a calçada do estabelecimento, tomando
cuidado para não ser notada. Respirei fundo antes de entrar. Eles se
sentaram no balcão, ambos conversavam de uma forma discreta.
— E ele viu você? — Ouvi Samuel perguntar quando me
aproximei dos dois. Como havia muito movimento no bar, eles nem
perceberam a minha presença.
— Não, cara. Eu estava dentro da casa dela.
— Ele deve ter seguido você.
— Antes fosse. Eu sei que ele só está esperando a hora certa
para atacar.
— Meu irmão, eu sinto te informar, mas você tá lascado.
— Acha que eu não sei? — Mateus encarou Samuel. — Você
devia... — ele se interrompeu ao olhar para trás. Provavelmente
tinha me visto pelo canto do olho.
Eu não recuei. Estava na hora de saber o que Mateus escondia
de mim.
— O que você está fazendo aqui? — Mateus perguntou,
surpreso.
— O que você está escondendo de mim, Mat? — perguntei,
sem rodeios.
Ele me encarou.
— Por que você acha que estou escondendo alguma coisa de
você?
— Vai ficar me respondendo com perguntas agora? Eu ouvi a
sua conversa. — Cruzei os braços. — Quero que você me conte a
verdade.
Mateus ficou calado, prestando atenção em mim.
Suspirei e olhei para Samuel. Ele parecia estar bem entretido
com a nossa pequena discussão.
— O que ele está escondendo?
— Vai por mim, você não vai querer saber — Samuel
respondeu.
— Valeu, cara. Você me ajudou muito — Mateus ironizou.
— Vai ficar com seus joguinhos até quando, Mateus? —
perguntei, impaciente. — Me conta tudo.
Mateus olhou para Samuel, procurando apoio.
— Cara, acho melhor você contar pra ela — disse o amigo. —
Você sabe como que ela é, né? Seja homem. — Samuel desceu do
banco e andou até a saída do bar.
Mateus continuou me encarando e eu fiz o mesmo. Por fim, ele
disse:
— Você vai querer me matar.
Eu me aproximei.
— Depende. Se for uma coisa muito grave...
Mateus hesitou por um instante e só então, disse:
— O Palocci... está saindo com a sua mãe.
Levei um tempo para processar o que ele disse.
— Você está brincando — falei, pasma.
— Eu brincaria com uma coisa dessas?!
Indignada, eu olhei para ele. A raiva era tanta que a minha mão
voou certeira até o rosto de Mateus. O tapa estalou no ar e
rapidamente mais de meia dúzia de olhos foram parar na nossa
direção.
Minha mão ficou ardendo com a força do tapa e eu dei as
costas para Mateus, saindo rapidamente do bar.
Por que isso estava acontecendo comigo?
Passei por Samuel e logo depois, escutei sua voz atrás de
mim:
— Espera, Thaissa!
— Vai para o inferno! — rosnei, caminhando sem destino.
— Ele foi sincero com você. — Samuel começou a
acompanhar meus passos. — Não era isso que você queria?!
Parei e encarei Samuel.
— Ele sabia disso o tempo todo e tentou esconder de mim!
Nem tenta defendê-lo!
— Ele não sabia coisa nenhuma. Foi descobrir aquele dia na
sua casa. Será que dá para você aprender a ouvir?!
— Eu não acredito em você. Em nenhum dos dois.
— Ótimo, então não acredite. Faça besteira. Se ele soubesse,
já teria feito alguma coisa. Só que você é cabeça dura demais
para...
— Samuel, deixa ela em paz — a voz de Mateus surgiu atrás
de nós.
Ele olhou para mim com a expressão carrancuda.
Samuel desviou a atenção para cada um de nós dois e depois
saiu, nos deixando para trás.
— Você não vai mais se preocupar com isso. Sua mãe vai
estar segura.
— E o que você vai fazer? Acha que ele vai largar ela tão fácil?
— Acho. Ele só quer que eu dê as caras. Por isso se
aproximou de vocês.
Fiquei em silêncio.
— O que você vai fazer? — perguntei.
— O que ele quer que eu faça — dito isso, Mateus começou a
se afastar, me deixando para trás.
Decidi enviar uma mensagem de precaução para a minha mãe.
Ela teria que ficar em casa nas próximas semanas.
Capítulo 32
Abri a porta de casa e encontrei a minha mãe assistindo TV na
sala. Seus olhos pararam em mim e antes de eu me sentar junto a
ela, fui logo dizendo:
— Mãe, por favor, fica longe do Eduardo.
Sua expressão ficou confusa.
— Thay, não começa. Eu não vou casar com ele.
— Você não seria louca. Mas estou falando sério — Peguei
suas mãos. — Não sai mais com ele. Ele é perigoso.
Ela pareceu intrigada.
— Como é que é?
— Ele é um mafioso desgraçado.
Minha mãe riu.
— De onde você tirou isso, Thaissa? Você está assistindo
muita novela.
— Eu estou falando sério. Ele não é flor que se cheire, e você
tem que ficar longe dele.
— E como você sabe o que ele é? Você nem o conhece.
— Mas Mateus o conhece.
Minha mãe fechou a cara.
— Eu acho melhor você tomar cuidado com seu namorado.
Ele, sim, parece ser perigoso. — Ela ficou de pé. — E vocês dois
não têm o direito de cuidar da minha vida.
Ela se afastou na direção da escada, me deixando perplexa.
Por que ela não acreditou em mim?
Afundei no sofá, com o pensamento de que tudo estaria
perdido. Eu só esperava que não acontecesse uma tragédia.
Uma das primeiras ligações que eu fiz no dia seguinte foi para
Mateus. Esperei por um minuto até a ligação cair na caixa postal.
Talvez eu tivesse exagerado no dia anterior e, por isso, ele resolveu
me dar um gelo.
Mais tarde, enquanto eu tentava concluir um trabalho da
faculdade, meu celular tocou em cima da escrivaninha.
— Eu liguei para você mais cedo — falei assim que atendi
Mateus.
— Eu estava ocupado — a voz dele surgiu do outro lado da
linha — É algo urgente?
— Preciso falar com você sobre ontem.
— Estou ouvindo.
Fiz uma pausa.
— Desculpa por ter feito aquilo, mas você deveria ter me
contado.
— Como se você não fosse agir do mesmo jeito.
Soltei um longo suspiro.
— Eu fiquei preocupada. Quero esse cara longe da minha mãe.
— E ele vai ficar. Só relaxa e fica de olho nela.
— O que você está pensando em fazer?
— O que eu já deveria ter feito. Agora eu preciso desligar. Se
cuida.
E antes de eu falar um A, Mateus encerrou a ligação.
Capítulo 33
Conforme os dias foram passando, eu notei que minha mãe
passou a ficar mais em casa e fiquei até aliviada ao perceber essa
mudança.
Aproveitando que estávamos juntas arrumando a cozinha, eu
resolvi tirar algumas dúvidas:
— Mãe, você parou de sair com Eduardo?
— Eu sabia que alguma hora você ia me perguntar isso. Mas
antes que você venha com suas suspeitas sem sentido, saiba que o
Eduardo precisou fazer uma viagem de última hora. O irmão dele
não está bem.
— É mesmo?
— E eu perguntei para ele sobre aquele negócio de máfia. Ele
deu risada e acha o mesmo que eu: você está misturando a ficção
com a realidade.
— Isso é o que ele diz.
— Eduardo é um homem bom, filha. Você não devia falar isso
das pessoas.
Eu ignorei o que ela disse, mas fiquei aliviada em saber que ele
tinha se afastado dela, porém, não acreditei nem um pouco naquela
história de viagem para cuidar do irmão doente. Essa informação
me cheirava à mentira, e das feias.
Com isso martelando na minha cabeça, eu resolvi saber mais
sobre o ocorrido e só havia uma pessoa que poderia me dar
respostas.
Naquela mesma noite, eu apertei a campainha da casa de
Mateus e esperei para ser atendida. Segundos se passaram e a
porta permaneceu intacta. Toquei a campainha mais uma vez e
instantes depois, a porta se abriu revelando ninguém menos que
Samuel.
— Oi — Passei por ele e entrei na casa. — Cadê o Mateus?
— Saiu.
— Para onde ele foi?
Samuel olhou para mim com a porta ainda aberta.
— É melhor você ir.
— Então me diz onde ele está.
— Não sei. Por que você não liga para ele?
— Eu não quero conversar por telefone.
— Então volte mais tarde. — Samuel escancarou ainda mais a
porta. — Tchau.
Eu o encarei, sem sair do lugar.
— Samuel, eu sei que você sabe onde ele está. — Sentei no
sofá. — Não vou sair até você me contar.
Samuel fechou a porta com força e se voltou para mim, todo
carrancudo.
— Acontece que você é uma linguaruda. Tudo que eu conto,
você vai lá e dá com a língua nos dentes. Esquece, gata.
— Prometo que não vou contar. Por favor.
— Não. Vai embora, garota. Você não queria que o cara saísse
da sua cola? Conseguiu o que queria e agora quer o quê?! Ferrar
ele ainda mais?
— O que Mateus fez? — Comecei a ficar preocupada.
— O que você queria ele fizesse. Tudo o que ele faz é por
você, Thaissa.
— Então, eu mereço saber o que ele está fazendo.
— Você não vai conseguir tirar ele dessa roubada. O melhor
que você faz é ficar na sua.
Ao ouvir aquilo e fui até a porta, passando novamente por
Samuel.
Parei na soleira da porta e meus olhos vagarem pela
garagem. A moto de Mateus estava ali. Isso significava que ele não
poderia ter ido tão longe. Talvez ele voltasse para casa a pé ou de
ônibus.
Dentro de mais ou menos quarenta minutos, a voz familiar
surgiu na garagem:
— O que você está fazendo aqui?
Mateus se aproximou de mim e eu saí de perto da parede.
— Preciso conversar com você. — Toquei em seus braços. —
O que anda acontecendo?
— Como assim?
— Você se entregou ao Palocci, não foi?
Mateus soltou um longo suspiro.
— Prefiro não falar sobre isso. — Ele se afastou de mim.
— Só estou preocupada. — Fui atrás dele, barrando a sua
passagem.
— Você não tem nada com que se preocupar.
— E se acontecer alguma coisa?
— Não vai acontecer nada. — Ele pegou meu rosto com as
mãos. — Vai ficar tudo bem.
Eu assenti, relutante.
Mateus ficou olhando nos meus olhos por um momento. Um
bom tempo até meu celular nos interromper. Era mais uma maldita
mensagem anônima.
***
No fim de semana, Mateus e eu demos uma passada no
shopping e depois que assistimos um filme de terror, escolhemos
um lugar na praça de alimentação.
— Eu recebi mais uma mensagem misteriosa ontem — contei
para Mateus antes de comer meu lanche.
— Eu estava pensando e também pode ser alguém da
faculdade — ele concluiu. — A gente tem que ficar mais atento de
agora em diante.
Eu fiz que sim com a cabeça.
— Eu só não entendo porque isso... — Parei de falar, assim
que vi Lia passando pela praça de alimentação, carregando
algumas sacolas de compras. — De novo, não.
— O que foi? — Mateus perguntou.
— A Lia está aqui. — Ele olhou na mesma direção que eu e se
recostou na cadeira. — Parece que ela está em todos os lugares.
Estou começando a achar que ela é a autora dessa brincadeira
idiota.
— Será?
Tirei os olhos de Lia e observei Mateus.
— É claro — afirmei. — E ela tem motivos para me importunar.
Mateus pareceu considerar o que eu disse.
— Oi.
Olhei para o lado. Lia tinha acabado de se aproximar de nossa
mesa.
— Que coincidência encontrar os dois pombinhos por aqui —
ela continuou.
— O que você quer, Lia? — Mateus perguntou.
Um sorriso tomou forma no rosto dela.
— Eu só vim dar um oi. Diferente de algumas pessoas, eu sou
educada.
Eu estava prestes a perguntar para quem era aquela indireta
quando recebi uma nova mensagem.
***
No dia seguinte, eu acordei às dez da manhã e como vinha
acontecendo ultimamente, passei a maior parte do tempo trancada
no quarto. Fazia dois dias que eu não sabia exatamente o que era
fome, tentando me enganar apenas com água e biscoitos.
— Thaissa. — Minha mãe enfiou a cabeça pela porta do
quarto, me examinando com o olhar. — Você está presa na cama?
— Mãe, eu não...
— Não me venha com a mesma desculpa de ontem — ela me
interrompeu, entrando no quarto. — Você tem meia hora para sair
desse quarto e enfrentar o mundo lá fora. Já chega de ficar nessa
cama.
Suspirei, me dando por vencida.
Eu me levantei, peguei uma calça jeans e uma camiseta preta
e entrei no banheiro, pronta para tomar um banho. Ao terminar, me
olhei no espelho me achando acabada. Haviam olheiras profunda
embaixo dos meus olhos.
Desci as escadas, carregando a mochila em um ombro e parei
próxima a minha mãe.
— Pronto — falei. — Satisfeita?
— Muito — disse ela. — Não vai comer?
— Estou sem fome — murmurei.
Ela deu um beijo na minha testa e colocou uma nota de vinte
reais na minha mão.
— É para você comer, hein?
Eu assenti.
Encarei a noite agradável e comecei a caminhar pela rua, sem
a mínima vontade de ir para faculdade.
Logo, peguei meu celular e digitei o número de Samuel,
torcendo para que ele me atendesse. Sua voz surgiu no último
toque.
— Alô?
— Oi — falei, ficando até animada por ele ter atendido. — É a
Thaissa, tudo bem?
— Lá vem treta. O que foi agora?
— Eu queria saber se você tá livre hoje, tipo, para gente sair...
— Parei de caminhar, pensando bem no que eu estava dizendo. —
Como amigos — ressaltei.
— Tá bom, já entendi — ele me interrompeu. — Tô naquele bar
perto da cafeteria. Cola aqui. Ou será que eu tenho que ir te buscar?
— Não. Eu já estou indo. Me espere aí.
Dentro de aproximadamente trinta minutos, eu cheguei no bar
avistando Samuel logo à frente, acompanhado de uma garota. Me
aproximei e sentei ao lado dele, tirando a mochila das costas.
— Resolveu cabular? — Samuel perguntou, tirando sua
atenção da garota por um momento.
Eu assenti e Samuel chamou o barman.
— O que quer beber?
— Pode ser um refrigerante.
Quando o barman trouxe o meu refrigerante, Samuel começou
a beijar a garota, e eu tentei me entreter com a música que tocava
em uma jukebox.
— Você ainda não se resolveu com o Mateus, não é?
— Não.
Dei um gole no meu refrigerante e fiquei de costas para o
balcão, observando as pessoas dançando, bebendo e conversando.
Peguei meu celular dentro da mochila e no momento que
deslizei o dedo na tela, uma gritaria se iniciou, com vidro se
quebrando e cadeiras se arrastando. Olhei na direção do alvoroço e
dois caras com máscaras pretas no rosto estavam se aproximando
de nós.
Fiquei paralisada no lugar.
— Vamos, Thaissa! — Samuel gritou, puxando a minha mão,
deixando meu celular cair. — A gente tem que sair daqui!
— Meu celular. — Puxei o braço para pegar o aparelho.
Abaixei rapidamente e peguei o celular, mas ao me levantar,
dei de cara com um dos mascarados.
— Onde pensa que vai? — ele perguntou.
Assustada, tentei encontrar Samuel, mas não o vi em lugar
nenhum.
O cara mascarado me encurralou contra o balcão e eu comecei
a sentir os primeiros sinais de pânico.
— Acho que vou te levar para minha casa — disse o
mascarado.
Eu engoli em seco.
O mascarado número 2 que estava fazendo o barman de
refém, o ameaçando com uma faca, olhou rapidamente para nós.
— Cara, ela é a mina do Mateus.
Mateus?
— É mesmo? — O mascarado voltou sua atenção para mim. —
Hoje é seu dia de sorte, gata.
Ele abriu espaço para que eu pudesse ir embora. Olhei para
ele, assustada com os seus olhos em mim e os gritos de súplicas do
barman.
— Pode ir, princesa.
Rapidamente dei alguns passos para frente e peguei minha
mochila, saindo correndo do bar antes que os caras mudassem de
ideia. Naquele desespero todo, eu acabei esbarrando em alguém ao
chegar na calçada, e se essa pessoa não me segurasse a tempo,
eu teria caído no chão.
— Thaissa? — A voz de Mateus ecoou nos meus ouvidos.
Olhei para cima, o reconhecendo.
Mateus estava com um casaco preto e capuz na cabeça. Ele
estava tão surpreso quanto eu.
— O que você está fazendo aqui? — ele perguntou.
— Mas o que você faz aqui também?
Ele me puxou para o canto mais discreto da calçada e ajeitou o
capuz na cabeça.
— Você está bem? — ele perguntou, me analisando.
Afirmei com a cabeça.
— O que está acontecendo? Aqueles caras falaram de você e
um deles me deixou sair. Eu não estou entendendo nada.
— Eu sou informante do Palocci. Estou em parceria com esses
caras.
Não acreditei no que ouvi.
— Você precisa ir para casa — ele continuou.
— O Samuel estava comigo, eu...
— Só vai para casa. Eu não vou ter tempo de te explicar tudo
agora.
— Mas você vai ficar bem? O que vai fazer?
— Eu... — Mateus se interrompeu quando a sirene da polícia
surgiu ao longe. — Merda! — Ele olhou na direção do bar.
De repente, os dois mascarados surgiram correndo, puxando o
barman com eles.
— Sujou! Vamos! Vamos! — um dos mascarados gritou,
correndo em nossa direção.
Eles passaram voando por nós, e Mateus agarrou a minha
mão. Logo, começamos a correr atrás dos mascarados.
Havia um carro preto estacionado próximo à uma árvore na
esquina da rua, onde os mascarados abriram a porta, jogaram o
barman no banco de trás e entraram no carro como um raio. Mateus
abriu a porta do banco de trás e me puxou para que eu pudesse
entrar no carro, mas eu hesitei.
— Nós vamos com eles? — perguntei.
— Tem outra opção?! — Mateus me guiou para dentro do
veículo, e eu sentei ao lado do barman.
Assim que Mateus fechou a porta, se sentando ao meu lado,
um dos mascarados deu partida no veículo, arrancando os pneus à
toda velocidade enquanto a polícia parecia estar cada vez mais
próxima.
Capítulo 37
Segurei firme no banco estofado e minha outra mão foi parar
na coxa de Mateus enquanto o carro corria veloz pela estrada.
— Vai ficar tudo bem — Mateus disse, tentando me tranquilizar.
Olhei-o incrédula. Não parecia que ia ficar tudo bem. Era
possível ouvir a sirene da polícia gritando ao longe.
O mascarado que estava dirigindo tirou a máscara exibindo seu
rosto. Ele tinha a cabeça raspada e, de repente, olhou para trás,
verificando se estava sendo seguido. O outro mascarado no banco
de passageiro também tirou sua máscara. Esse tinha cabelos claros
e deu apenas para ver uma parte do seu rosto. Já o barman estava
com as mãos amarradas numa corda, tinha uma fita grudada em
sua boca e os olhos amedrontados.
Após alguns instantes, o som da sirene da polícia pareceu
diminuir.
Mateus colocou os fones de ouvido que estavam por dentro de
seu casaco e começou a falar com alguém:
— Já pegamos ele. — Houve uma pausa. — A polícia está na
nossa cola, cara. Não vai dar para chegar aí na hora que você quer
— e então, ele tirou os fones.
— E aí? — o cara da cabeça raspada perguntou. — Tudo
certo?
— Até agora sim — respondeu Mateus.
— Para onde estamos indo? — perguntei.
— Vamos encontrar com o chefe — o cara no banco do carona
respondeu.
Momentos depois, paramos no semáforo e após o sinal ter
ficado verde, viramos a encruzilhada quando a viatura da polícia
surgiu na outra rua, brecando na nossa frente.
Imediatamente o cara de cabeça raspada girou o volante,
tentando dar ré e acabamos batendo a traseira do carro em um
veículo que estava atrás de nós. Minha cabeça bateu no banco da
frente com o impacto.
— Tudo bem? — Mateus olhou para mim, pegando meu rosto
para analisá-lo.
— Não... — respondi, sentindo minha cabeça latejar.
— Sai daí — Mateus puxou o motorista para fora do volante.
— Você é um bunda-mole.
— Eu tô encurralado, cara! — o motorista gritou assim que
Mateus dominou o volante.
O som da sirene berrava atrás de nós, e eu praticamente me
via atrás das grades.
Mateus conseguiu entrar na outra mão, desviando
bruscamente dos carros. Porém, isso não serviu para despistar a
polícia. A viatura corria atrás de nós, abrindo caminho e junto com
toda aquela loucura, meu coração estava prestes a sair pela boca.
Por pouco não batemos em um carro, mas eu jurei ter visto
faíscas enquanto Mateus raspava o veículo no outro. Corríamos a
não sei quantos quilômetros por hora e eu temia em acontecer um
acidente capaz de nos matar.
Mateus virou à direita, onde havia uma faixa de pedestres com
um cara atravessando. Gritei, temendo o pior, e Mateus buzinou
com força, fazendo o homem correr rapidamente para fora da
estrada.
A sirene da polícia zumbia em meu ouvido e eu olhei para trás,
vendo alguns carros atrás de nós, mas não consegui visualizar o da
polícia.
— Thaissa — Mateus chamou. — É melhor você segurar firme.
Ele acelerou o carro ainda mais, e eu cravei minhas unhas no
banco, fechando os olhos.
Não ousei abrir os olhos enquanto o carro voava pela estrada.
Eu apenas ouvia os pneus gritando no asfalto e sentia meu corpo
sendo jogado para tudo que era lado.
— Acho que conseguimos — um dos caras disse depois do
que pareceu uma eternidade.
Permiti-me abrir os olhos e me vi em uma rua escura, sem
carros ou pessoas. Parecia deserta. Sem nenhum som.
— Tudo bem? — Mateus me perguntou.
Olhei ao redor, enfrentando os olhares de todos no meu rosto
e, só então, me endireitei no banco.
— Sim — respondi.
— Estamos chegando — Mateus anunciou.
Mais ou menos uns cinco minutos depois, Mateus parou o
carro em frente a um depósito que parecia ocupar toda a extensa
calçada. Logo, ele saiu do veículo e o cara de cabelos claros
desceu, abrindo a porta de trás e puxando o barman abruptamente
para fora. O outro também saiu e a porta ao meu lado se abriu de
repente.
Mateus estava parado ao lado da porta e eu saí do carro.
A rua em que estávamos era completamente deserta. Não se
via nenhuma alma ali, a não ser nós cinco. O lugar era escuro,
pouco iluminado pelos postes da frente.
— Você parece assustada — Mateus constatou, me
observando.
— E estou.
— O pior já passou.
A porta de ferro do depósito rangeu ao ser erguida por um dos
caras.
Mateus pegou na minha mão e entramos naquele lugar
estranho. O local era iluminado por algumas luzes amarelas e
haviam dois caras bombados lá dentro.
Quando os capangas levaram o barman para outro cômodo,
uma porta no canto se abriu. Eduardo saiu de lá. Ou Palocci para
ser mais específica. Ele se aproximou de nós, me olhando com
curiosidade.
— O que essa menina está fazendo aqui?
— Estou mostrando o seu mundinho a ela — Mateus
respondeu. — O trabalho está feito. Não tenho mais nada para fazer
aqui.
Mateus deu as costas para Palocci e agarrou minha mão.
Passamos pelo portão de ferro e ele soltou minha mão para abaixá-
lo com tanta força que o portão fez um estrondo ao tocar no chão.
Um segundo depois, um grito horripilante soou de dentro do
depósito.
Em seguida, ele começou a tirar o seu casaco. Após ter feito
isso, tirou minha mochila do ombro e colocou seu casaco em mim,
numa tentativa carinhosa de não me deixar passar frio.
— Vamos ter que andar um pouco até achar um ponto de
ônibus.
— Sem problemas. — Peguei em seu rosto e me aproximei
para beijá-lo.
No momento em que nossos lábios se tocaram, Mateus recuou
a boca da minha, como se estivesse fazendo algo errado. Olhei-o,
envergonhada.
— Precisamos conversar sobre isso — ele disse.
— Conversar?
— Você beijou o Toni — ele me lembrou.
— E você beijou a Lia.
— Não beijei a Lia.
— Eu vi a foto!
— Tem 100% de chances de ela ter te mostrado uma foto
antiga ou ter feito uma montagem.
Soltei um suspiro.
— Eu sei que eu errei. Me desculpa! Eu nem pensei no que
estava fazendo.
Mateus assentiu.
— Eu pensei muito sobre isso, e sei que você vai me odiar,
mas preciso de um tempo.
Um tempo?
— Você quer terminar?
— Não. Eu só preciso de um tempo, nada mais.
Senti vontade de chorar.
— Isso significa que você quer terminar.
— Eu só preciso pensar um pouco, Thaissa.
Eu assenti.
— Tudo bem. — Tentei segurar as lágrimas. — A gente não
estava se dando bem mesmo.
— Isso não é um término.
— Eu entendi, Mateus — Desviei os olhos deles. — Se você
precisa disso, vou te dar um tempo para pensar. Só seja sincero
comigo quando você não quiser mais nada. Vai ser uma sacanagem
se você aparecer com uma namorada nova.
— Isso não vai acontecer.
Eu neguei com a cabeça, tentando me conformar com a nossa
situação
Estava claro que era isso mesmo que iria acontecer.
Capítulo 38
Na noite seguinte, fui totalmente desmotivada para faculdade.
Eu não estava a fim de escutar os professores falando horas sobre
um mesmo assunto e acabei me refugiando na biblioteca.
Eu estava sentada numa mesa ao fundo, fingindo que estava
lendo um livro qualquer quando, na verdade, eu estava ouvindo
música. Eu sabia que estaria encrencada com todas as minhas
faltas, mas uma parte de mim não estava nem aí para isso.
Deslizei o dedo na tela do celular, trocando de música.
Segundos depois, a cadeira no outro lado da mesa se arrastou para
trás.
— Oi.
Ergui o rosto e uma garota de cabelos pretos e óculos tinha
acabado de sentar na minha frente.
— Você é a namorada do Mateus, certo?
Não exatamente, mas por precaução, era melhor fazê-la
pensar que sim.
— Isso — respondi e tirei os fones do ouvido.
Ela sorriu.
— Eu estou organizando uma festa no ginásio. Terá vários
tipos de brincadeiras. — Ela estendeu um pequeno cartão para mim.
— Você está convidada. Contamos com você.
— Ok, valeu — Dei uma olhada no convite.
A garota se levantou e saiu, sumindo entre as estantes de
livros.
A festa seria no próximo fim de semana e começaria às nove e
meia da noite. Parecia legal, mas eu não estava com vontade de ir.
O restante da minha semana se resumiu em uma única
palavra: tristeza. Estava sendo uma droga. Eu tentava ter coragem
para estudar, mas quase nada se fixava na minha cabeça, sem
contar que eu corria um grande risco de me ferrar nas matérias, pois
as provas finais estavam chegando.
Eram pouco mais de quatro horas da tarde de sábado quando
minha mãe adentrou no meu quarto e abriu a janela, deixando o sol
iluminar todo o cômodo. Tirei os olhos do livro de romance que eu
estava lendo e olhei para ela.
— Você não vai sair? — ela perguntou.
— Não — respondi, voltando a atenção para o livro.
— Festa no ginásio. — Olhei para minha mãe e ela segurava o
cartão da festa em que fui convidada. — Você não vai?
— Não vou, mãe.
— Chama a Anne para ir com você — minha mãe sugeriu.
— Por que você está fazendo isso? — Deixei o livro no colo.
— Porque eu vejo uma Thaissa louca para se aventurar lá fora.
— Ela me olhou com ternura. — A vida é sua, curta com juízo —
dito isso, ela me deu as costas, saindo do quarto.
***
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***
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FIM
Agradecimentos
Escrever Sombrio e Inevitável foi quase uma relação de amor e
ódio. Eu amei escrever a história desses personagens há seis anos
atrás, mas quase desisti da primeira versão. Ainda bem que tenho
pessoas maravilhosas ao meu lado que me ajudaram a perceber
que tomar uma decisão desse tipo seria um erro.
Agradeço à Rebeca, minha leitora beta, por ser tão paciente
comigo e por ter topado me ajudar nos 45 minutos do segundo
tempo. Eu estaria muito perdida se você não tivesse tirado um
tempo do seu dia para revisar os capítulos.
À Ana, Clarisse, Kimberly e Hanna por terem acreditado nesse
livro e me apoiado em um momento tão importante para mim. Vocês
são incríveis.
Agradeço aos meus leitores por terem me incentivado a
continuar com a história de Thaissa e Mateus, e por me
acompanharem nessa jornada. Vocês têm um lugar no meu
coração.
Onde encontrar a autora:
Instagram: @reisescritora
E-mail : lilianereisb@gmail.com