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By Beth Flynn
Para Jim, minha alma gêmea e para sempre melhor amigo. Ele
sempre acreditou, mesmo quando eu não o fiz.
Sinopse
Verão de 2000
Eu sabia tão bem quanto ele, que ele fez por merecer o que estava
recebendo. Era estranho. Eu acreditava que saber tornaria um pouco mais
fácil, mas isso não aconteceu. Eu pensei que iria passar por sua execução
ilesa emocionalmente. Mas eu só estava me enganando.
Ele.
Seu nome era Jason William Talbot. Tal nome soava normal. É
engraçado. Eu o conhecia há quase 25 anos e não foi até sua prisão, quinze
anos atrás que eu soube o seu verdadeiro nome e sobrenome. Ou seja, se
esse era o seu nome real. Eu ainda não tenho certeza.
Ele não tinha família. Apenas eu. E eu não era a sua família.
Imediatamente senti quando ele me viu. Eu olhei para cima das suas
mãos, em seus olhos verdes brilhantes hipnotizantes. Tentei avaliar se
aqueles olhos demonstravam qualquer emoção, mas eu não poderia
dizer. Fazia muito tempo. Ele sempre foi bom em esconder seus
sentimentos. Eu costumava ser capaz de lê-lo. Não hoje, no entanto.
Grizz não era um prisioneiro fácil, por isso os guardas que lhe foram
atribuídos eram grandes, assim como ele. Para a surpresa deles, neste dia
ele não ofereceu nenhuma resistência. Deitou e olhou para o teto, suas
algemas foram retiradas e ele foi amarrado firmemente à maca. Ele não
vacilou quando o médico inseriu as agulhas IV[2], uma em cada braço. Sua
camisa estava desabotoada e monitores cardíacos foram anexados ao seu
peito. Eu imaginava por que ele não lutou, imaginava se tinha sido
administrado algum tipo de sedativo. Mas eu não perguntaria.
A mulher sussurrou de volta para ela: — Isso é porque ele não estava.
Eu poderia ter pedido uma carona a Matthew, mas algo estava errado
com ele. Matthew estava no último ano e eu estava lhe dando aulas
particulares, e nós nos tornamos próximos. Não éramos um casal, mas eu
sabia que ele estava interessado. Eu também estava ficando mais próxima
da sua família. Na verdade, eu passava mais tempo com eles do que com a
minha. Menos de uma semana atrás, ele me deu um beijo de boa noite na
minha varanda. Mas agora ele estava me dizendo que não precisava da
minha ajuda com as aulas particulares e não tinha tempo para ser meu
amigo. Antes, ele oferecia-me carona até a escola. Não mais, eu acho. Mas
como eu disse, eu não tenho problema com o ônibus.
Ela era doce. Oferecia a cada vez que eu não tinha uma carona para
casa imediatamente.
E foi isso que eu fiz. Como tinha feito uma centena de vezes no
passado. Eu comprei um refrigerante e me sentei com as costas contra a
entrada. Eu bebi meu refrigerante e estava tão absorvida em um dos meus
livros que quase não notei quando uma moto barulhenta parou.
Essa resposta pareceu convencer, porque ele não disse mais nada
enquanto abria a porta e ia para dentro.
— Ah, não, está tudo bem. Eu não gostaria que ele aparecesse e não
me encontrasse aqui. Ele se preocuparia.
— Você pode ligar ou algo assim para que ele saiba que você vai
pegar uma carona? — antes que eu pudesse responder, ele disse: — Você já
andou em uma moto antes? Você vai gostar. Eu sou um motorista
seguro. Eu vou bem devagar e deixar você usar meu capacete.
— Bem, acho que está tudo bem. Eu vivo fora de Davie Boulevard, a
oeste da I-95. É fora do seu caminho?
— Sem problemas.
Ele jogou sua Coca-Cola em uma lata de lixo, virou para mim e
segurou minha mochila aberta enquanto eu guardava meu livro da
biblioteca. Ele fez alguns comentários sobre como minha mochila,
provavelmente, era mais pesada do que eu. Ele caminhou em direção à sua
moto e pegou seu capacete, que estava pendurado no guidão, e me
deu. Coloquei minha mochila nas costas, peguei o capacete dele e
coloquei. Ficou solto, então ele apertou a alça embaixo do meu queixo.
Não foi até que estávamos na State Road 84, em direção ao oeste e ele
perdeu a curva à direita para US 441 que senti minha primeira agitação de
medo. Foi então que eu percebi que nem sabia o nome dele, e que, com toda
a conversa fiada e perguntas que ele tinha feito para mim no 7-Eleven, ele
nunca sequer perguntou o meu. O que de repente me pareceu muito
estranho.
Eu inclinei para que minha boca ficasse perto da sua orelha e gritei:
— Ei, esse é realmente o caminho mais longo. Eu tenho que estar em casa
em breve, ou meus pais ficarão preocupados.
Era um crânio com um sorriso sinistro e que parecia ter algum tipo de
chifres. Uma mulher nua, de alguma maneira elegantemente coberta, estava
envolta sedutoramente por toda a parte superior do crânio. Ela tinha o
cabelo castanho escuro com franja e grandes olhos castanhos. Olhei mais de
perto e vi que ela estava usando uma gargantilha marrom com o símbolo de
paz. Eu levantei minha mão para o meu pescoço. Parecia com o meu. Antes
que eu pudesse considerar a estranha coincidência olhei mais para
baixo. Para meu horror, eu notei o nome gravado sob o desenho mórbido.
Satan’s Army[5].
Capítulo Dois
Eu tinha uma ideia do que seria o interior da unidade quatro, mas não
poderia estar mais errada. Era como entrar em um mundo diferente. Onde
deveria ter uma cama em ruínas e antiga, um tapete gasto, um mobiliário
antigo e o cheiro de podridão, encontrei, em vez disso, uma área de estar
totalmente moderna. Pareciam dois quartos separados por uma pequena
cozinha. Era limpo, fresco e decorado com bom gosto. Era algum tipo de
sonho?
Aparentemente, duas das unidades, talvez até três, tinham sido
reformadas para oferecer ao ocupante o mínimo de conforto. Eu não tinha
que adivinhar quem era esse ocupante.
Ela não respondeu, mas me deu um olhar que dizia: — Você está
brincando?
Ela era mais baixa do que eu, mas estávamos tão perto que fui capaz
de dar uma boa olhada em seu rosto. Ela tinha olhos bonitos, mesmo com
toda a maquiagem, e eu poderia dizer que ela tinha uma pele bonita. Eu não
tinha visto o seu sorriso, então não poderia comentar sobre os seus dentes.
Ela era muito legal para ser mãe, então eu cresci a chamando de
Delia. Delia Lemon era completamente um personagem. Eu gosto de
compará-la com a mãe da canção de Jeannie C. Riley, “Harper Valley
PTA[8]”. Você conhece a canção - PTA[9] envia um bilhete para a mãe de
uma menina dizendo que eram contra a forma como ela estava criando sua
filha. A mãe vai para a próxima reunião de PTA e, basicamente, acaba com
todos.
Eu acho que a maioria das vezes era ignorada. Eu não tenho nenhuma
memória de Delia ou Vince me ajudando nos trabalhos de casa. Eu não me
lembro deles assistirem e participarem de qualquer concurso escolar ou
voluntariado para captação de recursos. Lembro sempre de mim cuidando
de mim, desde pequena. Ainda me lembro que subia em uma cadeira na
cozinha para que eu pudesse alcançar o fogão e ferver água para fazer
macarrão com queijo. Essa era uma das minhas coisas
favoritas. Infelizmente, eu tive refeições demais do mesmo tipo, e até hoje
eu não suporto macarrão e queijo, sopa de tomate ou qualquer tipo de
bebida de misturar com sabor de cereja.
Eventualmente, Ginny foi encurtado para Gin. Sim, Gin, assim como
o álcool. Algumas coisas são simplesmente irônicas, não são?
Capítulo Cinco
Sem dizer uma palavra, Grizz caminhou até a pequena mesa de centro
e pegou a minha mochila. Ele a virou de cabeça para baixo e esvaziou-a no
sofá. Os livros da biblioteca pesados caíram em cima de todo o resto, então
ele jogou de lado e pegou minhas pílulas anticoncepcionais. Ele jogou de
lado também. Em seguida, passou a mão sobre o resto do conteúdo. Quando
seus dedos roçaram um dos dois absorventes eu disse em uma voz
estranhamente estridente: — Eu estou no meu período. E eu só estou
tomando pílula, porque tenho muitas cólicas. Elas não são para controle de
natalidade.
Aí está. Botei algumas coisas para fora, mas verdade seja dita, não
tinha certeza se iriam ajudar ou prejudicar a minha causa. Quem queria
estuprar uma menina que estava menstruada? Eu não tinha ideia do que
motivava um estuprador. Ou neste caso, o que poderia impedir um. E
segundo, tentei deixá-lo saber que eu estava tomando pílula por causa de
cólicas menstruais. Isso era verdade. Eu não era sexualmente ativa. Mas e
se ele quisesse uma virgem? Eu não tinha ideia de onde estava com ele.
Ele não comentou, mas pegou a minha carteira. Ele a abriu e viu a
minha autorização de motorista da Florida.
Ele não olhou para mim. — Você nunca vai passar por esse nome
novamente. Entendeu? Você não diz a ninguém o seu nome. Nunca. Está
claro?
Eu não respondi, ele deu uma rápida olhada para mim. Balancei a
cabeça concordando. Mas não iria deixar o momento passar. No fundo, eu
era desafiante até os ossos. Só porque estava jogando pelo seguro por estar
completamente assustada, não significava que estava bem com a minha
situação. Eu não queria que minha natureza desafiante se mostrasse, mas
acho que ela apareceu.
Ele estava tão perto de mim que tive que inclinar minha cabeça para
continuar olhando-o nos olhos. Foi quando notei a cor: um verde claro,
brilhante e ainda mais atraente à luz do quarto de motel do que ao redor da
fogueira. Ele ergueu a mão direita e acariciou minha bochecha
suavemente. Eu fiquei em choque. Mesmo que não tenha me mexido,
estava preparada para um golpe.
Em quase um sussurro, ele disse: — E para quem é que ela vai dizer,
hein? A última vez que ela falou demais, ela pagou por isso. — depois de
uma breve pausa, acrescentou: — Você não parece surpresa, menina. Você
já descobriu por que Moe não fala?
— Queime-os.
Capítulo Seis
Era assim que tinha sido os últimos dois dias. Eu estava sempre com
Grizz. Nunca ficava fora da sua vista, exceto para usar o banheiro. Willow
não suportava que eu estivesse sempre com ele e fazia o máximo para ter
oportunidades de ficar ao seu lado, também. Ela teria dormido no quarto
dele no chão, se ele a deixasse.
Grizz bateu-lhe com tanta força que ela teria voado para trás do banco
se Grunt, que estava do outro lado dela, não tivesse estendido o braço
esquerdo para pegá-la.
Grunt era o mais jovem do grupo. Ele não falava muito e eu não podia
avaliar sua idade, mas ele tinha que ser apenas um pouco mais velho do que
eu. Sempre senti que ele me olhava, mas quando eu olhava, ele não estava
mais olhando para mim.
A mão de Willow voou até sua boca. Quando ela a retirou da boca,
estava segurando seu dente esquerdo da frente. O sangue estava escorrendo
para fora do seu nariz e boca. Não foi uma bofetada casual. A mão de Grizz
foi fechada em um punho completo e o golpe tinha sido poderoso o
suficiente para arrancar esse dente e talvez até mesmo quebrar seu nariz. Se
eu achava que Willow me odiava antes, então isso só aumentaria seu nível
de hostilidade.
Dois caras riram. Moe apenas olhou inexpressiva, mas pensei ter
pegado uma dica de um sorriso antes dela abaixar a cabeça para seu prato.
Esta foi a segunda vez que eu tinha visto Grizz abusar de Willow. Eu
já sabia que ela estava dormindo com Grizz, ou tinha, até a minha
chegada. Mas eu não tinha dormido com ele ainda. Eu acho que ninguém
sabia disso. Ainda não conseguia chegar a uma explicação para ele não ter
me estuprado. Ele certamente parecia ser o tipo. Talvez estivesse esperando
eu sair do meu período. Eu não sabia. Ele era, obviamente, uma pessoa
cruel e incapaz de ter sentimentos, exceto raiva. Mas além da sua aparente
indiferença à minha situação, até o momento não tinha levantado a mão
para me machucar.
Foi por volta do pôr do sol, assumi que alguém havia acendido a
fogueira no poço, como eles fizeram nas noites anteriores. Essa era a área
onde eu os encontrei na minha primeira noite no motel e que eles
chamavam de: O poço.
Ele caminhou até a porta, abriu e gritou: — Grunt. Venha aqui. — ele
ficou lá com a porta aberta até Grunt aparecer. Grizz apontou para mim e
disse: — Leve-a para o poço. Eu estarei lá em poucos minutos.
Olhei para cima, surpresa. Isso era novo. Eu fechei meu livro e
coloquei minhas sandálias. Eu odiava andar descalça. O que era meio
engraçado, porque cresci com uma mãe que odiava usar sapatos.
Grunt foi até o cooler, pegou uma cerveja e sentou ao meu lado. Notei
que ele deu uma tapa em seu braço. Mosquitos.
— Você é aquela que pediu um casaco. Basta usá-lo. Ele não vai ficar
com raiva de mim. Ele vai ficar com raiva de você, porque você disse a ele
que estava com frio e ele organizou um modo para que você não sentisse
frio. Então, se ele vem aqui e você estiver com frio, provavelmente irá ficar
puto.
— Por que ele sequer teria a obrigação de se preocupar com algo tão
ridículo?
— Você não tem outra garota escondida em sua moto em algum lugar,
não é? — perguntou alguém. Houve uma rodada de risos.
Ele voltou até sua cadeira de jardim, e nós ainda não sabíamos o que
ele tinha. Ele se sentou com um cigarro pendurado na sua boca, levantando
seu prêmio.
Alguém, eu acho que foi Blue, disse: — Que diabos Grizz vai querer
fazer com isso?
— Eu pensei que ele poderia querer alimentar seus cães infernais. —
Monster riu. Ele ainda segurava o gatinho pela pele de seu pescoço e o
coitadinho apenas ficou pendurado lá sem fazer nenhum som.
— Eu vou te dizer agora, você está errado. Livre-se dele antes que ele
venha aqui. — Blue advertiu.
— Veja, caixa de grito! Inferno, ninguém quer saber se o seu olho vai
fazer um som de chiado, como quando você frita bacon ou algo assim? —
mais risos dele.
Até então, Grunt estava atrás de mim, com as duas mãos segurando
meus braços ao meu lado. Eu estava esperando o golpe de Grizz. Eu tinha o
visto ficar louco por coisas menores. Isso certamente garantiria, pelo
menos, um tapa na cara. Mas não veio. Ele olhou de mim e Grunt para o
poço e disse: — Leve-a daqui. Fique com ela.
Ele tirou meu folego, e eu me curvei, ofegando por ar. Ele dizia para
me acalmar enquanto me levava para o sofá. Então ele ligou a TV,
aumentou o volume e me encarou.
— Não é o que você pensa. — disse Grunt. — Vai ficar tudo
bem. Experimente e tome um fôlego.
Eu não pude responder. Pela primeira vez desde o meu rapto, quebrei
e comecei a chorar.
Ele se sentou ao meu lado e colocou o braço ao meu redor, mas saltou
assim que fez isso. Em vez disso, ele se sentou na pequena mesa de centro e
me encarou, apenas me observando enquanto eu chorava.
Olhei para cima, quando a porta se abriu e Grizz entrou. Ele olhou
para mim, depois para Grunt.
— Vá.
Eu estava atordoada. Olhei para ele, e ele deve ter lido a pergunta no
meu rosto.
— Não, eu não gritei com Monster, e não, ele não irá incomodá-lo
novamente.
Das três coisas que aconteceu naquela noite. Essa foi a noite que
recebi o meu novo nome. Kit. Essa foi a noite que vi um lado diferente de
Grizz. E essa foi a noite em que os outros ao redor da fogueira viriam a
discordar sobre o que eles testemunharam.
Mas todos eles concordaram em uma coisa. Era difícil dizer com
certeza que tipo de som se assemelhava mais aos gritos de dor de Monster.
Capítulo Sete
— Sim, é exatamente isso que eu quero. Sabe por quê? Porque eu sei
que você não tem. Eu fui apenas um presente de agradecimento estúpido
aleatório, que Monster esbarrou na loja de conveniência. Eu não estava nem
perto da minha casa.
Ele olhou para mim por alguns minutos sem responder. Finalmente,
ele disse: — Talvez você precise de uma lição para acreditar sem
provas. Talvez você precise saber exatamente com quem você está lidando.
Ela precisava de um nome. Isso eu poderia fazer por ela. Desde que o
dela havia sido dado a mim, dei-lhe de volta o único nome que eu poderia
pensar e também seria minha última conexão com meu lar. Não era um lar
feliz, mas era o único lar que eu conhecia.
Eu a nomeei Gwinny.
Capítulo Oito
Eu me preocupava que Grizz fosse tentar algo comigo, mas ele nunca
fez isso. Eu percebi depois que comecei a dormir durante a noite inteira,
que ele levantava enquanto eu dormia e ia para o quarto de outras
mulheres. Bom. Eu esperava que fosse isso que ele estava fazendo. Eu com
certeza não gostaria que ele aliviasse seus desejos reprimidos em mim.
No outro dia, cinco pares de roupas novas, uma escova de dente, uma
camiseta e um par de tênis apareceu - tudo exatamente do meu
tamanho. Até então, eu tinha lavado a mão a mesma calcinha e a deixava
secar durante a noite. Eu dormia com uma das camisetas de Grizz e minha
calça jeans, que ainda não tinha sido lavada, e eu normalmente começava os
meus dias vestindo roupa íntima úmida, mas limpa.
Eu sabia com certeza que Moe conseguia minhas pílulas. Moe tinha
uma amiga que trabalhava para um ginecologista, e essa amiga tinha um
vício grave com drogas. Desde que Grizz garantisse que todas as meninas
estivessem no controle de natalidade, Moe levaria à amiga qualquer droga
que escolhesse, e sua amiga forneceria ao grupo os comprimidos do estoque
de amostras grátis que recebiam regularmente no consultório médico.
Quando cheguei mais perto notei que fazia fronteira com uma
propriedade que parecia um pântano. Eu tinha esquecido que estava nos
Everglades. Espera. Não há jacarés no pântano? Antes que eu pudesse
refletir sobre essa pergunta, tinha chegado à beira do gramado e estava
levantando o balde para derramá-lo. De repente, ambos os cães estavam lá,
um atrás de mim e um à minha esquerda. Segurei o balde parado no meio
do ar, pois ambos estavam em posição de ataque e rosnavam. Eu congelei.
Oh, meu Deus. Eles pensaram que eu estava tentando fugir e eles
estavam me impedindo. Eu não podia acreditar. Como eles sabiam que
tinham que me impedir de chegar ali? Eu já tinha visto alguns dos caras
irem direto para a beira do gramado para fazer xixi, e os cães nunca foram
atrás deles.
Fiquei ali, paralisada de medo. Então ouvi Grizz assobiar para eles e
gritar um comando enquanto eles caminhavam em sua direção. Os cães
trotaram, felizes abanando os rabos grossos como se fossem pequenos
filhotes. Quando Grizz chegou a mim, ele pegou o balde e o derramou.
— Não para atacar. Apenas impedi-la. Mas veja, você foi esperta o
suficiente para parar. Basta se manter parada e não será um problema. —
seu tom apontava um fato.
Minha cabeça virou até encontrar seus olhos. Eu podia ver pela sua
expressão que ele não tinha a intenção de dizer isso.
Grizz cerrou o maxilar, sem olhar para mim. — Ele estava ficando
muito interessado em você. Você esteve com ele? Com aquele garoto. Você
fez alguma coisa com ele?
— Não que isso seja da sua conta, mas não. Nós nunca passamos de
um beijo na minha varanda.
— Eu não podia arriscar que você ficasse com outra pessoa. Você
parece muito mais velha do que quinze. Eu não podia arriscar.
— Não foi uma encenação. Eu não sabia nada sobre a parte 'Love'.
Então, aí estava: ele iria me estuprar. Por que ainda não tinha?
— Johnny Tillman?
— Eu não sei como ele está, mas posso dizer para você onde ele está.
— Sim, e você?
— Eu jogo com Grizz. Às vezes Fess. Mas leva muito tempo entre as
visitas de Fess para termos um jogo regular. Eu tenho um jogo em
andamento com Grizz. Você quer que eu te ensine?
Grunt me contou tudo sobre si, naquela noite, incluindo como chegou
a fazer parte da gangue. Ele me disse tudo o que eu queria saber, exceto
uma coisa. Seu nome real. Era o código da gangue: não havia nomes reais.
Grunt era o caçula de três filhos. Ele nasceu em Miami em 1959. Ele
só era um ano mais velho do que eu. Ele foi criado no que hoje chamamos
de uma família disfuncional. Seu pai morreu depois que ele nasceu. Em um
afogamento acidental. Até aquele momento, sua mãe era uma dona de casa,
e de acordo com Grunt ela era inútil e não servia para nada. Ela se
lamentava por ter ficado com três filhos para criar. Na verdade, duas
crianças, uma vez que Blue não estava realmente em casa tanto assim.
Ela deixou a criação do pequeno Grunt para o seu irmão e irmã mais
velhos. Não demorou muito tempo para Blue entrar em conflito com a lei,
principalmente por roubar. Sua irmã, Karen, não era muito melhor. Ele se
lembra dela prendê-lo em seu quarto enquanto estava sobre seus
namorados. Ela deveria estar cuidando dele, e ele tinha sorte, se ganhasse
um sanduiche com manteiga de amendoim e geleia a cada dois dias.
Se não fosse a merenda escolar, ele provavelmente teria morrido de
fome. Sua negligência não passou despercebida pelos vizinhos, e o
conselho tutelar foi chamado várias vezes ao longo dos anos. Às vezes, eles
o retiravam da casa e o colocavam com uma família adotiva.
Depois que ela percebeu isso, tentou forçá-lo a voltar para a mãe
dele. Mas por agora, sua mãe tinha fugido da cidade com um caminhoneiro
alcoólatra que ela conheceu no trabalho. Eles nunca ouviram falar dela
novamente.
Grunt não sabia naquela época que Blue estava em sua vida. Ele não
sabia que Blue vinha e fornecia dinheiro a Karen e seu marido para manter
Grunt. Blue sempre vinha à noite, quando Grunt estava dormindo. Blue
pensava que Karen e seu marido, Nate, estavam alimentando o seu irmão
mais novo, e Blue não queria interferir.
Foi apenas por acaso que uma noite, quando Blue estava lá com
algum dinheiro para sua irmã, que Grunt, então, com dez anos de idade,
acordou e foi até a cozinha beber água.
A primeira reação de Karen foi se defender. Ela disse que Nate era o
único que batia no garoto. Ela nunca bateu nele. Isso não importou para
Blue. O que importava era que ela nunca impediu Nate.
Ele olhou para seu irmão mais novo e disse para não ter medo. Ele ia
cuidar dele a partir de agora. Grunt disse que não estava com medo. Blue
sorriu e pegou a jaqueta. Ele enrolou o corpo maltratado de seu irmãozinho
e o levou para fora da porta de entrada.
Grunt tinha estado com a gangue no Glades Motel desde aquela noite.
— Então, você conseguiu o seu nome, Grunt, porque você era o mais
jovem e tinha que fazer todos os trabalhos de baixa qualidade, os trabalhos
que exigem grunhido[11]?
Grunt riu. — Não. O nome é uma versão mais curta do meu apelido
original, quando cheguei aqui. Eu era pequeno para a minha idade, de modo
que alguns da gangue começaram a me chamar de nanico[12]. Como o
nanico da ninhada. Conforme o tempo passava, o grupo começou a perceber
minha inteligência. Alguns disseram que eu era o nanico mais adulto que já
tinham conhecido. Eu acho que não estava na altura média para dez anos de
idade. Grown-up Runt[13] acabou sendo encurtado para Grunt.
— Um oxi o quê?
— Um oximoro. Aqui, procure. — disse ele enquanto me jogava um
dicionário.
Quando ele ordenou Grunt fazer isso me enojou, mas mais do que
isso, eu estava perplexa. Eu levaria algum tempo para descobrir o raciocínio
por trás do estranho pedido de Grizz. Mas quanto mais o tempo passou,
mais fez sentido.
Mais cedo naquele dia, ele chamou Grunt no número quatro. Eu não
sei onde eu estava. Provavelmente fora com Gwinny. Ele disse ao Grunt
para me levar ao seu quarto naquela noite e dar-me algum tipo de droga
para me fazer dormir e tirar a minha virgindade. Mas não com seu
corpo. Ele entregou uma espécie de cassetete e disse-lhe para cobri-lo com
um pouco de lubrificante ou algo assim e cuidar disso. Ele queria que
estivesse dormindo. Ele não queria que eu me lembrasse.
Olhando para trás agora, faz sentido que Grizz não pediu para uma
das garotas fazer. Ele não queria que elas soubessem que ele não estava
dormindo comigo. Quanto ao comentário de que nenhum homem jamais
iria me tocar, ele não estava pensando em Grunt como homem. Grunt tinha
estado lá desde que ele tinha dez anos. Grizz apenas não percebeu que ele
tinha crescido em um homem saudável, viril de 16 anos de idade. Ele não
viu Grunt como uma ameaça. Quanto ao porquê de Grizz não fazê-lo
sozinho, era simples. Ele não podia suportar a me machucar.
— Por quê? Eu não acho que Grizz gostaria que eu tirasse uma
soneca no seu quarto, Grunt.
— Kit, eu não vou te matar. Grizz não quer você morta. Eu quero que
você durma, porque eu não quero que você tenha uma memória
horrível. Por favor, não me pergunte mais, apenas durma. Confie em
mim. Você não vai morrer. — Grunt fechou suas mãos. — Porra! Eu
gostaria que ele lidasse com isso.
Ele suspirou e caminhou até sua cômoda. Ele puxou a gaveta e tirou o
que parecia ser uma espécie de vara. Ele me disse que era um velho
cassetete. Ele era pequeno e tinha uma alça em uma extremidade para que
pudesse ser segurada em um pulso.
— Não Kit. Grizz quer que você perca sua virgindade esta noite. Ele
não queria fazê-lo. Ele me disse para fazer. Com isto. — ele olhou para o
que ele estava segurando. Seu rosto estava corado.
— E você tem que fazer tudo o que ele diz? — minha voz se elevou.
— Ele nunca vai ouvir isso de mim. Eu juro. Por favor, eu não posso
suportar a ideia de você colocar isso em mim. É horrível. Por favor. Nós
nunca vamos falar sobre isso novamente depois de hoje à noite. Por favor,
Grunt.
Bem, isso foi certamente algo que eu nunca esperava. Aqui estava eu
pedindo para ser estuprada. Eu ainda não consigo superar a ironia de como
isso aconteceu, mas aconteceu.
— Por Favor. Por favor, me diga o seu nome. Eu nunca vou dizer. Eu
juro. — eu implorei.
— Eu não posso fazer isso. Você sabe disso. Você não deveria sequer
ter me dito o seu.
— Que porra é essa que você quer dizer que ela estava acordada? Ela
não devia saber de nada. Droga, Grunt!
— Ela não bebeu o suficiente e queria voltar para o seu quarto para ir
dormir.
Quando saio da cama e estendo a mão para o meu jeans, noto que
Grunt não fez contato visual comigo. Grizz não tem nenhum problema, no
entanto. Com uma expressão no rosto que eu não conseguia ler, ele disse:
— Você vai ficar bem. — e saiu do quarto.
Tanto quanto eu sei, esta foi a primeira vez que ele tinha me visto
nua. O que eu vi em seus olhos me matou de susto. Não era um olhar
violento como eu lembro de ter visto no rosto de Johnny Tillman. Era o
olhar de um homem que desejava uma mulher. Grizz não queria me
machucar como Johnny, mas era óbvio que ele me queria. Eu só olhava para
ele.
Isso pareceu satisfazê-lo porque ele não disse mais nada e saiu do
banheiro. Eu terminei de lavar e sequei. Eu fui para o quarto com uma
toalha enrolada em volta de mim e peguei algumas roupas do
armário. Comecei a caminhar de volta para o banheiro para me vestir
quando ele disse: — Você se veste diante de mim a partir de agora. Não há
necessidade de ficar escondendo alguma coisa.
Quando eu saí eu notei uma pequena mochila sobre a cama. O que era
isso? Eu podia ouvi-lo falar fora do quarto. Eu pensei ter ouvido a voz de
Blue. Só então, Grizz voltou para o quarto e pegou a mochila.
— O que eu fiz Grunt fazer, foi o melhor. Você nunca vai dizer a
ninguém o que ele fez com você. Está me ouvindo? E não se esqueça Kit,
você é minha. Só minha. E eu vou ter você quando eu voltar.
Com isso, ele me beijou de leve na testa, virou-se e saiu pela porta do
quarto. Ao se aproximar da porta da frente, ele gritou de volta para mim: —
Não se esqueça de alimentar meus cães. — e então ele se foi.
Capítulo Doze
Mas quanto mais pensava nisso, mais louca ficava. Ocorreu-me que
talvez a única razão de Grizz autorizar que eu ficasse com Grunt, foi porque
ele achava que eu não iria. Afinal de contas, eu disse a eles que os odiava
quando acordei. Era isso. Grizz tinha certeza que meu ódio não me deixaria
aceitar a oferta para sair. Bem, eu iria lhe mostrar o contrário.
— Sim, estou bem, eu acho. — antes que ele pudesse dizer qualquer
outra coisa, acrescentei: — Grizz disse que você poderia me levar para
sair. Fora da área do motel. Você sabia disso?
— Blue me disse.
Ele sorriu e disse, em seguida, para eu lhe dar dez minutos para tomar
um banho e se trocar. Ele me disse que eu poderia olhar seus discos e
colocar o que eu quisesse.
— Como você já pode ter terminado o ensino médio? O que você está
cursando, o primeiro ou segundo colegial, talvez?
— Como você pode ser tão inteligente? Você me disse que sua
infância foi difícil. Como você conseguiu viver assim e ainda se
desenvolver?
Antes de sairmos do
quarto de Grunt, ele me perguntou o que eu estava usando
no dia em que fui sequestrada. Depois que eu descrevi a
roupa e ele estava satisfeito que eu não estava usando nada
daquele dia, nem mesmo a minha gargantilha da paz, ele
pegou um boné de beisebol que estava em sua cômoda. Ele
enfiou minha franja sob a aba e colocou o meu cabelo em
um rabo de cavalo passando através da parte traseira. Ele,
então, pegou um par de óculos de sol e me disse: — Você
pode usar o meu até que tenha o seu.
Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, ele passou por mim
em direção ao quarto e encontrou minha mochila pendurada em um gancho
atrás da porta. Segui-o para o quarto, atirando perguntas sobre o que estava
acontecendo. Ele estava muito focado para responder. Ele ficou apenas
olhando ao redor do quarto.
— Onde estão suas coisas, Kit? Você tem alguma coisa pessoal
aqui? Se você estivesse indo passar a noite em algum lugar, o que você
precisaria?
— Eu não tenho tempo para explicar nada para você agora. O que
você tem que levar com você?
— Ela vai ficar bem. Moe irá cuidar dela e dos cães. Vamos!
Nós fomos para o sul de Flamingo até que chegamos a uma pequena
cidade chamada Pembroke Pines. Nós viramos à esquerda para a Rua Taft e
de repente estávamos em um conjunto habitacional belo e de bom gosto
paisagístico. Depois de mais algumas voltas, nós chegamos a uma casa
muito agradável. Alguém dentro deve ter ouvido a moto, porque a porta da
garagem abriu como se fosse um sinal. Blue parou a moto e desligou o
motor.
Isso também era algo que eu não sabia. Blue trabalhava para uma
empresa de telefonia?
— Depois que Grunt tirou seu pequeno truque da manga, não seria de
admirar uma visita da polícia. — Blue disse, balançando a cabeça.
— Não. — Blue soou casual. — Não há dúvidas de que o cara não irá
identificá-lo. Não há nada que o ligue à cena. Mesmo que seu carro fosse
identificado, não importa. Eles nunca pensariam que um garoto pudesse
fazer isso com um homem adulto. Eles só vão para o motel com um
mandado e olharão ao redor tentando desenterrar tudo o que puderem sobre
Grizz. Ele é o único que eles querem de qualquer maneira.
Eu não entendi. — Mas você não está com medo ou preocupado por
ele? Quer dizer, ele é seu irmão.
Jan me fez uma oferta. — Sabe, Kit, você está convidada a passar o
dia com a gente. Quer dizer, Blue tem que trabalhar, mas os meninos e eu
estamos em casa sozinhos. Nós poderíamos sair e descansar na piscina
enquanto Timmy e Kevin brincam. Ter algum tempo entre amigas, se você
quiser.
Olhei para Blue esperando sua aprovação. Antes que ele pudesse dizer
uma palavra, Timmy começou a saltar para cima e para baixo e gritar. —
Kit! Kit pode ficar com a gente. Kit pode nadar na piscina e ficar aqui e ser
amiga da mamãe!
Ele beijou Jan nos lábios, em seguida, abaixou e beijou cada criança
na cabeça. Ele bagunçou seus cabelos e saiu pela porta. Eu não ouvi o
barulho da moto, e fui até a janela da frente.
Ela acenou com a cabeça para alguma coisa fora da janela, e eu notei
Blue se afastar em uma pequena caminhonete dourada. Eu não tinha notado
isso quando chegamos ontem.
Por exemplo, eu não tinha prestado muita atenção nas idas e vindas da
gangue. Eu estava supondo que quase todos eles viviam no motel e seus
trabalhos eram, o que quer que fossem, relacionados às atividades da
gangue. Eu estava errada. Os únicos residentes em tempo integral do motel
eram Grizz, Grunt, Moe e Chowder.
Jan não poderia me dizer muita coisa sobre Moe. Eu tentei pescar
algumas informações sobre o motivo dela perder a língua. Eu não iria
perguntar abertamente, então tentei insinuações sutis sobre a minha
curiosidade. Ou ela não mordeu a isca, não sabia ou decidiu que não seria
ela quem deveria me dizer. Ela murmurou algo sobre Moe e foi direto para
o seu favorito da gangue: seu cunhado, Grunt.
Jan realmente gostava de Grunt. Ela me contou que ele sempre foi
bem-vindo em viver com ela e Blue, mas tinha decidido que não. Ele era
tão jovem quando Blue o levou para o motel. Blue morava lá naquela
ocasião. Grunt estava no motel apenas há um ano, quando Blue conheceu
Jan e saiu de lá.
— Ele não ficou preocupado em deixar o seu irmão mais novo com
Grizz?
— Não, nunca. — disse Jan, seus lindos olhos castanhos
pensativos. — Grizz sempre foi bom e justo com Grunt. Eu não acho que
Grizz tenha família, e assim como ele resgatou seu gatinho, ele vigiava
Grunt quando Blue não estava por perto. Sim, eu ouvi sobre o que
aconteceu com o gatinho. — disse ela, quando eu dei-lhe um olhar curioso.
Ela continuou: — Grunt sempre foi uma alma velha. Eu acho que ele
ficou desiludido com a vida doméstica por causa da sua experiência em
casa, em seguida, no orfanato. Eu realmente acredito que ele goste de ficar
sozinho. Mas ele sempre é bem-vindo aqui. Eu o amo muito desde o início.
Do pouco que eu sabia sobre Grunt, tive que concordar com ela. Uma
alma velha? Delia uma vez me disse que eu era uma alma velha. Eu nunca
tinha ouvido alguém falar nisso antes.
Eu virei e me olhei no espelho sobre sua cômoda. Podia ver o que ela
queria dizer. A parte inferior do biquíni encaixava perfeitamente. A parte de
cima; no entanto, estava pequena demais. Eu acho que eu tinha mais peito
do que ela e os meus seios pareciam que estavam lutando para sair do
tecido amarelo.
— Você fica melhor nisso do que eu. Você pode ficar com ele.
Mas Jan apenas ficou lá em seu traje de banho, com a toalha enrolada
firmemente em torno dela.
— Sabe, Jan... — disse com a voz tão doce que pude. — Se Blue
atrasar para o jantar, eu tenho certeza que é porque ele está recebendo um
daqueles boquetes fantásticos que Chicky é famosa por dar.
E com isso, peguei meu capacete em cima do banco e saí pela porta
da frente.
Capítulo Dezesseis
— Calma, Jan. Não, ela não disse nada para mim. O que você disse a
ela? Cale a boca e me diga o que você disse. — uma pausa. — Porque eu
não tenho nenhuma dúvida de que você abriu a porra da sua boca primeiro.
— outra pausa mais longa. — Não, Chicky não vai me chupar.
Depois de mais alguns gritos, Blue desligou. Senti que ele estava me
observando.
Blue suspirou e passou a mão pelo cabelo. — Bem, eu acho que você
sabe a verdadeira razão porque Grunt não mora com a gente.
Eu não respondi.
— Por que não? Parece-me que com todas as precauções que este
grupo tem para permanecer anônimo, sua esposa é a maior ameaça para
isso.
— Bem, você não estaria dizendo a ele algo que ele já não saiba.
Isso me surpreendeu.
Depois que Moe se foi, eu me virei para Blue. Eu não poderia dizer
onde eu estava com ele. E enquanto olhava para ele, eu decidi que,
francamente, não me importava.
Pedi licença para ir tomar um banho, e ouvi-o sair enquanto fui para o
quarto. A chuveirada foi longa e quente, e eu tentei deleitar-me com ela,
fazendo o meu melhor para apagar as lembranças dos últimos dias: a perda
da minha virgindade, o ataque de Grunt ao cara da cerca, a mulher psicótica
do Blue.
E parei de repente.
Grizz estava lá. Ele estava sentado na cama. Estava apoiado contra a
cabeceira, me olhando, e ele não estava usando uma camisa. Por uma
questão de fato, eu tinha certeza que ele não estava usando nada. O lençol
branco estava puxado para cima apenas o suficiente, e mal cobria seus
quadris.
Eu foquei em seu físico. Ele era tão grande e musculoso, e seu peito e
os braços estavam cobertos de tatuagens diferentes. Ele tinha um punhado
de pelo loiro claro sobre o peito. Sua pele era bronzeada. A luz da lâmpada
de cabeceira fazia o brinco de argola de ouro na orelha esquerda brilhar. Ele
tinha a mesma expressão desde a primeira vez que eu o conheci: ele não
sorriu. Ele não franziu a testa. Ele só olhou para mim com aqueles olhos
verdes.
Não foi muito tempo depois que eles se casaram que Blue notou a
mudança nela e imediatamente lamentou a decisão precipitada de se
casar. Ela era rápida em perder a paciência. Ela brigava com ele. Ela o
desafiava a encostar a mão nela. Constantemente o provocava até que ele
saísse. Quando chegava em casa, ela tinha acessos de choro histérico e
pedia perdão.
A notícia chegou até Grizz, e ele disse ao Blue para cuidar disso. Eu
não tinha certeza do que ele quis dizer com isso. Mas isso não
importava. Ela tirou um ás da sua manga na hora certa. Ela estava grávida.
— Então, ela surtou com você, hein? Gostaria de saber se ela está
grávida de novo e fora dos seus remédios? — Grizz parecia pensativo.
— Eu não sei. Ela não disse nada e ela não parecia grávida. — eu
disse a ele tudo o que ela disse para mim e o que eu disse a ela em troca.
Ele apenas riu. — Bem, se for como antes, ela vai ter um colapso e
começar a chorar e querer vê-la para implorar por seu perdão. — ele não
parece nem um pouco preocupado com o seu status de líder da gangue ou as
ameaças feitas a mim.
Mas ele também nunca mais dormiu em seu jeans. Eu sabia que ele
estava nu, e antes de mais cedo naquela noite, eu nunca tinha olhado. Eu
tinha feito um ponto em fingir que estava dormindo quando ele se levantava
antes de mim. Se eu me levantasse antes dele, eu só fazia com que eu não
estivesse no quarto quando ele acordasse.
Capítulo Dezoito
Voltei para o quarto e me vesti com a roupa mais leve que eu tinha:
um short jeans cortado, o top do biquíni amarelo de Jan e minhas
sandálias. Eu fiz uma torrada e sentei no sofá para comer. Eu tinha acabado
de comer e estava lavando o meu copo do suco de laranja quando Grizz
voltou.
— Onde?
Até agora.
A realização me surpreendeu.
— Você pode tirar os óculos agora, Kit. Eddie? Onde você está?
Nós o seguimos para uma sala nos fundos. Eddie tinha me encostado
contra uma parede vazia. Ele estava se preparando para tirar uma foto
minha quando Grizz o deteve.
— Sem a franja.
Eu tinha entendido.
Então ocorreu-me: — Ei, nós não dissemos a Eddie meu novo nome.
— Nós não precisamos. — Grizz me informou. — Eddie está nesse
negócio há anos. Ele é muito organizado e tem a sua própria lista de nomes
pré-aprovados.
Ele sorriu para mim. Meu estômago vibrou. Ele realmente tinha um
sorriso lindo.
— Sim, eu nunca pensei sobre isso, mas eu acho que é algo do tipo.
— Estou muito curiosa para saber o nome que ele vai me dar.
— Não se preocupe Kit. Nada poderia ser tão ruim quanto o seu nome
real.
Capítulo Dezenove
Ele me deu um olhar que dizia saber que eu estava mentindo, mas
sendo o cavalheiro que era, não insistiu.
— Você sabe, ele está esperando por você há algum tempo. Eu sou o
único que sabe disso. Eu acho que nem Blue sabe. Grizz é muito
orgulhoso. E ele é apenas humano e ela está sempre disposta. Além disso,
ele estava bebendo antes de você sair para o poço. Ele está provavelmente
bastante derrotado agora.
Eu estava deitada de costas e ele estava de lado com sua frente para
mim, e a cabeça apoiada em sua mão direita. Ele levantou uma sobrancelha.
— Não incomodou você, hein? Então eu acho que poderia ter ficado
com Willow esse tempo todo e não teria incomodado você?
Olhei diretamente para ele. — Como eu sei que você não tem feito
isso com ela esse tempo todo? O que isso é para mim? Não é da minha
conta. Tenho certeza de que você faz o que quer de qualquer maneira.
— Olha, ela me seguiu quando voltei para o quarto e pediu para usar
o telefone. Você sabe como Willow pode ser. Eu acho que ela tinha alguma
coisa a provar e eu estava excitado o suficiente para deixá-la fazer. Aquela
puta não significa nada para mim.
— Sim, eu tenho certeza, Grizz. Por que você ao menos acha que algo
como isso me incomodaria? — eu perguntei um pouco presunçosa.
Com isso, fechei meu livro com força e sentei de frente para ele. —
Puxa, Grizz, de todas as garotas, tinha que ser Willow? Quer dizer, mesmo
se fosse Chicky ou Moe teria sido mais fácil para eu lidar porque elas não
me odeiam. Tenho certeza de que ela se acha superior a mim agora. Não
que eu me importe. Eu não sei. Acho que é uma coisa de mulher. Eu não
espero que você entenda.
— Você quer que Willow suma? Se você quiser que ela vá, tudo que
você tem a fazer é dizer sim. Você nunca mais irá vê-la novamente.
— Isso não é da sua conta! — cuspi e deitei rolando para o meu lado.
Eu estava com minha mão levantada para bater na sua porta quando
ela abriu. Eu fiquei lá com a minha mão ainda no alto. Grunt estava saindo
do quarto e parou quando me viu.
— Ei, Kit. Você está aqui para pegar livros, álbuns ou ter aulas de
xadrez? — disse ele, rindo.
Enquanto ela falava, eu a analisei. Ela era pequena. Quer dizer, todas
as mulheres neste motel pareciam ser de estatura pequena, com exceção de
Chicky que tinha um lado voluptuoso, mas essa menina era
insignificante. Ela era uma miniatura. Ela deveria ter apenas 1,50 de
altura. Ela era atraente e bonitinha, parecia proporcional para alguém tão
pequena. Ela tinha o cabelo castanho dourado, olhos azuis, um belo
bronzeado e algumas sardas no nariz.
Ela riu e olhou para cima em seguida, para Grunt, com adoração. —
Kit pode ir com a gente para a praia? Não precisamos ir de moto. Podemos
pegar o seu carro.
— Sim, claro. Kit quer vir? Parece que você já está com seu traje de
praia.
— Ah, por favor, venha, Kit. Vai ser divertido. — Sarah Jo implorou.
Em seguida, ele se virou para Sarah Jo. — Vamos lá, Littlin. Está com
o seu capacete?
____________
Passei o resto do dia me mantendo ocupada, grata por não ter feito
papel de boba na frente de Grunt. Ele tinha uma namorada. Eu não sei por
que nunca me ocorreu que ele poderia ter uma.
$ 25.000 RECOMPENSA
Pessoa Desaparecida
Última vez vista em 12 de novembro de 1969
Miriam Parker
20 anos.
Era Moe.
____________
Eu não sei se mencionei que sabia cozinhar. Quando fiquei mais velha
em casa, tinha aprendido. Eu era muito boa. Acho que foi instinto de
sobrevivência. Vince e Delia geralmente comiam algo no Smitty’s ou trazia
para casa comida para viagem de um restaurante fast food. Eu tinha
crescido cansada de comer macarrão com queijo, sopa de tomate e comida
para viagem, então eu experimentei cozinhar. Eu sabia que era uma boa
cozinheira com base nos eventuais pedidos de Delia e Vince.
Esta foi a primeira vez que me encontrei querendo fazer algo de bom
para alguém no motel. Até este ponto eu tinha feito pequenas refeições para
mim mesma, algumas vezes, para Grizz. Ele nunca me pediu para cozinhar
para ele e ele vivia na maior parte de delivery de um dos muitos bares que
possuía. Eu dava a Moe uma lista de supermercado pequena e ela trazia o
básico a cada semana. Eu tinha vivido de cereal, queijo grelhado e
BLT’s[17]. Estava pronta para cozinhar novamente.
Grizz olhou para mim. — Você pediu para alguém levá-la até o self-
service? Espero que você tenha guardado um pouco para mim.
Chowder começou se levantar para deixar Grizz sentar, mas Grizz fez
sinal para trás indicado para mim e Moe darmos espaço. Abrimos um
espaço para ele no sofá. Nós quatro sentamos em um silêncio sociável e
apreciamos a refeição caseira.
— Kit, eu não sei quanto tempo mais posso esperar por você,
querida. Eu tentei ser paciente. Te dar espaço. Só para você saber, eu não
sou assim.
Eu ainda não consigo explicar a coisa com Grunt. Talvez não fosse
real. Talvez fosse tudo na minha cabeça por causa do sonho. Eu não
sabia. Não importava.
Eu não era uma beijadora com prática também, mas eu fui capaz de
assumir sua liderança e beijá-lo de volta do jeito que ele queria. Eu estava
inclinada nele agora, e se o que estava pressionado contra o meu estômago
era uma indicação dos seus sentimentos por mim, então eu devo ter feito
algo certo.
Estava na hora.
Capítulo Vinte e Dois
— O que você quer dizer? Eu não estou fazendo nada. O que você
está fazendo?
— Eh, pare com isso! Não diga isso. Eu odeio essa palavra. É tão
vulgar. Apenas não diga, por favor.
— É muito pessoal.
Ele olhou para mim estranhamente e começou a rastejar até me
enfrentar. — O que quer dizer com muito pessoal?
Eu tinha evitado sexo oral com ele desde aquela primeira noite, após
o jantar de espaguete. Isso nunca foi um problema. Ele foi fiel à sua palavra
sobre levar as coisas devagar comigo, e ele nunca me pressionou. Quando
eu pensava que ele poderia tentar algo assim, eu propositadamente o
distraía. Quando eu estava no meu período e pensava que ele poderia querer
sexo oral, eu o evitava. Eu acho que foi um milagre mantê-lo afastado tanto
tempo. Eu era muito boa em fornecer distrações. Eu nunca entendi
totalmente a razão até este momento. Eu fiz o meu melhor para explicar.
Ele olhou para longe de mim, então, e eu percebi o quanto lhe custou
dizer isso. Essa foi a primeira e última vez que ouvi Grizz expressar
arrependimento por algo.
Eu olhei para ele suplicante e ele não disse nada. Uma emoção
apareceu em seu rosto que eu não tinha visto ainda. Eu era incapaz de lê-
lo. Ele deixou sua testa cair para que descansasse na minha. Eu passei meus
braços em torno das suas costas e comecei a beijá-lo.
Eu pensei que o assunto tinha morrido, até dois dias depois. Ele me
disse que ia me levar a um lugar especial e para me vestir bem.
Eddie interrompeu. — Não é tão ruim assim, Kit. Que tal eu desenhá-
la primeiro e vamos ver se você gosta dela? Hein? Que tal isso? — ele
perguntou enquanto segurava uma caneta de tinta. — Seu dedo é tão
pequeno que não vai precisar de um monte de tinta.
Eu relutantemente me sentei. Grizz segurou minha mão direita e me
disse que não seria tão ruim.
Fiel à sua palavra, Eddie usou uma caneta de tinta com uma ponta
muito fina para começar a desenhar o nome de Grizz no meu dedo. Ele
estava falando comigo enquanto fazia isso, tentando aliviar a minha
ansiedade.
— Então nós vamos aqui e fazer a parte inferior deste 'z' como uma
videira, para coincidir com o dedo de Grizz e, em seguida nós vamos...
— Por que eu? É óbvio que você pode ter qualquer mulher que você
queira. Por que você me quer, Grizz? Sinceramente. Por quê?
Ele ficou muito quieto e colocou o pão, agora com manteiga, de volta
no prato. Eu não achei que ele fosse me responder. Eu não conseguia
entender a profundidade dos sentimentos dele por mim. Eu não tinha feito
nada para chamar a atenção para mim quando eu morava ao lado de
Guido. Simplesmente não fazia sentido.
Perguntei novamente: — Por que eu? Quer dizer, eu disse que estou
desconfortável fazendo sexo oral e você se casa comigo. Quem faz isso?
____________
____________
Eu bati na porta de Grunt e entrei quando ele gritou: — Está aberta.
— ele estava parado perto do som folheando os discos.
— Ei. — eu disse.
— Não, você não deve, Kit. — Grunt balançou a cabeça. — Você não
me deve nada.
— Talvez seja isso. Eu não sei. Foi uma surpresa, você sabe? Ele não
me disse onde estava me levando. Eu não sei por que isso me incomoda,
mas você está bem com isso?
— Sim e não.
— Eu não sei por que ele tinha que casar com você. Você é muito
jovem. Mas, não é só isso. Estou preocupado com a sua segurança.
Eu não sabia o que dizer. Ele não disse que ele estava chateado
porque eu me casei com Grizz, tornando-me, assim, indisponível para
ele. O que no mundo havia de errado comigo? Eu tinha estado na cama de
Grizz há meses. Eu disse a mim mesma que Grunt estava com Sarah Jo, e se
eu nutria qualquer tipo de sentimento por ele, eu precisava esmagá-
lo. Então, de onde isto estava vindo?
— Eu vou. Obrigada.
Nós dois nos movemos para um abraço. Pareceu que durou um pouco
mais do que deveria. Eu olhei para cima e ele estava olhando para
mim. Ficamos ali, por alguns segundos, mas pareceram horas. Ele se
afastou primeiro e voltou para o seu aparelho de som. Saí e voltei para o
número quatro.
Capítulo Vinte e Quatro
— Isso quer dizer que você não estará aqui? Por que não?
— Olha, ela importunando Blue por meses tentando fazer com que
você volte lá. Eu já disse como ela fica. Ela está tão cheia de remorso sobre
a forma como te tratou que provavelmente irá estender um tapete vermelho
e estar no seu melhor comportamento para voltar às boas com você. Você
realmente deveria ir. Moe e Chowder vão todos os anos.
— Eu não sabia que você era uma artista tão talentosa. Estes são
lindos. Posso pegar um para pendurar no quarto número quatro?
Seu sorriso aumentou e ela fez um gesto com a mão para eu escolher
um. Eu decidi por um com o cavalo marrom pastando debaixo de uma
árvore familiar.
— Não? O que quer dizer com não? Você tem que vir. Você não pode
me deixar enfrentar Jan sozinha.
— Eu não posso acreditar que você não vai. Você me deve um grande
momento por isso. — eu brinquei.
Ela sorriu para mim e me acompanhou até a porta. Eu disse que iria
lhe trazer um prato de comida e ela me fez um sinal de positivo.
Encontrei Grunt em seu carro. Expliquei que Moe não iria e eu não
sabia o porquê.
— Nada demais. — disse ele. — Você nunca sabe com ela. Parece
que é só você e eu. Pronta?
Nós fomos para Pembroke Pines e percebi que não estive sozinha
com Grunt desde o dia que e eu e Grizz nos casamos. Não foi estranho de
jeito nenhum, e caímos em uma conversa fácil. Ele me contou sobre seus
cursos universitários e eu disse como estava indo com o meu curso de
ensino médio por correspondência. Eu nunca perguntei sobre Sarah Jo, e ele
nunca me ofereceu qualquer informação sobre ela, também.
Fomos recebidos na porta por Timmy e Kevin pulando para cima e
para baixo e gritando: — Tio Grunt, tio Grunt, me pega, me pega! — eles se
lembraram de mim, e foram logo me agarrando para abraços e beijos.
— Está tudo bem, Jan. Não se preocupe com isso. — disse enquanto
raspava os restos de comida no lixo.
— Não. Não está tudo bem. Eu sei que você deve ter ouvido o porquê
que às vezes, faço as coisas que faço. Quando você esteve aqui, eu pensei
que poderia estar grávida, então tinha parado de tomar meus remédios. Você
teve o pior de tudo. Eu realmente sinto muito. Se houver alguma coisa que
possa fazer para me redimir com você, por favor, diga. Eu realmente
gostaria que fôssemos amigas.
Moe foi criada em Davie. Seu padrasto se casou com sua mãe,
quando Moe tinha cerca de 10 anos de idade, ele era rico e ansioso para
mimar sua nova enteada. Isso explicava o dinheiro exorbitante da
recompensa. A mãe de Moe trabalhava para alguma grande companhia
aérea na ocasião, e, embora ela tivesse uma boa vida, não foi capaz de parar
seu trabalho e ser uma dona de casa e mãe para Moe. Ela teve mais três
filhos com o padrasto de Moe. Todas meninas.
De acordo com Jan, Moe foi pega por um dos membros. Jan achava
que seu nome era Chip. Ele não estava mais por perto. Ela frequentava um
dos bares locais da gangue, realizando favores sexuais em troca de
drogas. Chip a trouxe para o motel e a compartilhou com os caras. Olhei
para Jan. Ela sabia o que eu estava pensando.
— Sim, eu tenho certeza que Grizz e Blue ficaram com ela. — disse.
Não pude conter minha curiosidade por mais tempo. — Por que Grizz
cortou a língua dela? — eu tinha que saber.
Mas o que Moe não contava era que Grizz sabia tudo o que estava
acontecendo. Foram apenas algumas semanas depois, que Moe começou a
implicar com Grunt que aconteceu.
Mais tarde Grizz mandou Blue chamar Moe em seu quarto para o
sexo. Ela estava sempre disposta a acomodar Grizz. Jan acha que ela estava
secretamente apaixonada por ele. Quando chegaram ao quarto, Grizz abriu
seu jeans e disse-lhe para se ajoelhar. Ela ficou ofendida por ele não querer
ter relação sexual com ela. Ele só queria um boquete. Ela fez um
comentário maldoso sobre “boquetes ser o trabalho do nanico”. Ela
provavelmente pensou que estava sendo atraente e engraçada, mas Grizz
estourou.
— Grunt. Ele cuidou dela, ajudando-a a curar sozinho. Ele era apenas
um garoto, e ele nunca deixou seu lado. Mesmo depois dela ter sido tão
cruel com ele.
Fiquei comovida.
Ele olhou para mim como se estivesse confuso e então percebeu que
eu estava falando sobre a noite em que ele me drogou em seu quarto. Ele
pegou minha mão e beijou.
Ele não disse nada de imediato, mas olhou para frente e começou a
dirigir.
Ele fez o que pedi e fez uma curva à direita, na Griffin Road. Não
havia nada além de laranjais lá fora nos anos setenta, e ele facilmente
estacionou em uma das fileiras.
— Kit, eu quis você desde a primeira noite que eu a vi. Você sentou lá
naquela noite no poço, tão valente e tão bonita naqueles jeans e camisa
florida. Eu ia cuidar de você. Eu não sabia o que Monster ia fazer com
você, mas eu teria ido contra ele por você. Isso foi antes de saber que ele a
trouxe para Grizz.
Eu não tive que dizer nada. O encanto foi quebrado quando ele ligou
o carro. O motor alto me trouxe de volta à realidade, e nós dois sem mais
nenhuma palavra dirigimos de volta para o motel.
Capítulo Vinte e Cinco
Havia uma coisa positiva que veio dessa conversa, embora - Sarah
Jo. Saber que ela não estava envolvida romanticamente com Grunt abriu um
caminho que eu quis explorar: a amizade. Eu estava começando amar Moe
cada vez mais, mas honestamente, a comunicação era difícil. Grizz e Grunt
eram homens. A coisa com Jan foi um desastre. Eu queria uma amiga.
Três meses depois que sua esposa morreu, ele foi abordado pelo pai
de um dos seus alunos. O estudante estava deixando a desejar em sua
classe, o que o teria impedido de se formar.
Fess não teve que ser subornado. Ele se sentiu como se tivesse
deixado seus alunos, por não estar lá para eles durante a doença e morte da
sua esposa. Ele disse ao pai para não se preocupasse; seu filho passaria.
Fess não estava apenas sentindo falta da sua esposa, tentando cuidar
dos três filhos pequenos e manter um emprego, mas ele estava muito
endividado. A doença da sua esposa durou muito tempo, e mesmo o seguro
que possuía através do seu trabalho, não foi suficiente para todo o cuidado
que ela necessitava. Ele precisava de dinheiro. Ele estava prestes a perder
sua casa.
Foi assim que tudo começou. Rede de informantes internos de
Grizz. Fess pediu esse favor e o pai ficou muito feliz em ajudar. Grizz
pagava bem. É isso que Fess fazia. Ele mantinha uma lista de informantes
para Grizz e outras pessoas que trabalhavam para ele em outras
funções. Fess mantinha registros de quem fez o que e quanto eles foram
pagos. Ele nunca passou dinheiro. Ele nunca fez contato. Ele nunca usou
seu nome real. Nunca houve nada para amarrá-lo ao Grizz.
Ela me contou tudo sobre seu namorado, Stephen. Ela estava com ele
há dois anos e atualmente estava dividida entre seu amor por ele e o
interesse que um novo garoto estava mostrando por ela.
Nossa amizade foi difícil para nós no começo por causa das minhas
limitações sobre onde eu poderia ir, e nós não tínhamos uma carteira de
motorista. Tínhamos que depender de Grunt, Moe, Grizz, Fess ou quem
quer que estivesse disponível a nos dar uma carona para um filme
ocasional, a praia ou um shopping afastado.
____________
— Deve haver alguma coisa, Kit. Tudo que você quiser. — disse ele,
uma toalha branca enrolada na cintura quando ele atravessou o quarto e
sentou-se na cama ao meu lado, seu corpo ainda úmido. — Qualquer
coisa. É seu. Eu não me importo quanto custa. Eu não me importo se é algo
que você acha que é difícil encontrar. Qualquer coisa, baby. Qualquer coisa.
— Eu quero ir à igreja.
Por mais difícil que seja acreditar, eu sentia falta da igreja mais do
que da minha casa. Eu contei com a minha fé para a sobrevivência com uma
idade muito jovem. Eu sentia falta do sentimento e sensação de paz que eu
tinha quando estava lá - o conhecimento que eu era amada
incondicionalmente, que eu não tinha que fazer nada para ganhar esse
amor. Eu não era obrigada a cozinhar ou pagar as contas. Eu era obrigada a
fazer apenas uma coisa: aceitar Jesus Cristo como meu Senhor e
Salvador. Eu fiz isso quando eu tinha nove anos de idade.
— Kit, eu não posso levá-la para sua igreja. Eu nem acho que seria
uma boa ideia levá-la a qualquer igreja nesta costa.
Anos mais tarde, descobri que as conexões de Grizz lhe tinham dito
que a minha igreja e uma freira, em particular, tinha pressionado os
investigadores a me procurar. Irmã Mary Katherine tinha tomado um
interesse especial em mim. Ela estava preocupada com a jovem que assistia
a missa todos os domingos sozinha. Ela se tornou minha amiga e minha
confidente. Eu sentia falta dela mais do que de Delia.
E ele fez. Por muitos anos depois dessa conversa, todas as manhãs de
domingo, Grizz me levava ou arrumava alguma outra pessoa para me levar
por toda a Alligator Alley, para a costa oeste da Flórida. Era cerca de uma
hora e meia de carro. Às vezes, ele me levava na sexta-feira ou sábado e
ficávamos em um hotel. Ele nunca ia à igreja comigo. Mas ele estava
sempre esperando por mim quando eu saía. Eu finalmente comecei a
frequentar na minha própria costa quando o desenvolvimento migrou para o
oeste. Mas ele manteve sua palavra naqueles primeiros anos.
Natal e Ano Novo logo passaram, e eu estava me aproximando do
meu verdadeiro décimo sexto aniversário. Eu não tinha certeza se Grizz
sabia quando era. Eu estava errada. Grizz sabia de tudo. Bem, quase tudo.
— Eu não posso.
Para alguém que sabia todos os detalhes sobre a minha vida, isso
parecia um passo importante que ele perder.
— Eu sei que você não tem uma licença real, mas tem como Ann
Marie O'Connell. — ele me disse; Eddie tinha feito uma nova licença
depois que nos casamos.
O olhar em seu rosto era cômico, e ele começou a rir muito. — Como
eu perdi isso?
Foi a nossa primeira discussão real, e eu briguei com ele com unhas e
dentes. Mas, claro, eu não ganhei. Eu fiquei brava com ele por alguns
dias. Eu o ignorei. Eu não cozinhei para ele. Eu definitivamente não dormi
com ele. Eu me tranquei em um dos quartos do motel não utilizados e fiz o
meu dever de casa e li meus livros, só saindo para comer e verificar
Gwinny. Ele me deixou em paz, o que só me fez ficar mais furiosa.
Então aconteceu algo que eu não esperava: eu percebi que sentia falta
dele.
Acho que foi porque eu tinha sido tirada de uma casa, onde eu tinha
sido praticamente ignorada. Aqui, Grizz me presenteava com atenção e
presentes. Neste ponto em nosso relacionamento, ele nunca me negou nada,
exceto a minha liberdade. Sem contar a minha primeira experiência sexual
com Grunt, ele nunca me machucou.
Eu fui para cima dele. — Desde quando você gosta Seals & Crofts?
Eu não sabia o que dizer. Mesmo após a explicação da razão por trás
da sua obsessão por mim no ano passado, eu nunca o tinha ouvido falar de
amor.
— Você vai ficar apenas sentado aí e olhar para mim ou você vai abri-
lo? — eu provoquei.
Sem dizer nada, ele se levantou e começou a pegá-lo com uma mão,
mas acho que o peso da caixa o surpreendeu.
— Como? Como você conseguiu isso para mim, Kit? Se os restos das
peças são tão complexas como esta, deve ter-lhe custado uma fortuna.
— Como é que você pagou por isso? — seus olhos estavam sérios.
____________
Ele acreditou em mim ou imaginou que uma criança não era muito
ameaçadora. Ele me deixou entrar. Eu estava esperando por Jimi Hendrix,
quando ele finalmente desceu do palco. Eu invadi até ele e ele parou no seu
caminho.
— Gwinny.
— Ei, seus pais vão ficar bravos se você levar a guitarra do seu pai lá
para fora de novo. — o cara na porta me disse.
— O que? Achei que você me disse que seus pais estavam na equipe.
Ele levantou-se e olhou para mim. Então ele pegou a minha mão, me
puxou e me pegou em um abraço de urso que quase me tirou o fôlego.
Ele olhou para mim duramente. — Não é assunto seu, Kit. Volte para
dentro.
Olhei ao redor por alguém que eu poderia reconhecer, mas não havia
ninguém. Onde estava Grunt, Chowder, Moe? Vi Monster, mas ele estava se
divertindo muito. Ele deve ter estuprado a menina antes de eu chegar lá
fora, porque ele estava fechando o zíper da calça jeans, ao mesmo tempo
chutando o cara jovem nas costelas. Fiquei indignada. Não é assunto
meu? Eu estava testemunhando um estupro, pelo amor de Deus!
— Grizz, por favor, pare com isso. Eu estou pedindo para você parar
com isso por mim.
Grizz acenou para o cara com quem ele estava falando. Reconheci-o
agora. Seu nome era Chico. Eu o observei no motel uma ou duas vezes
antes. Ele não usava uma jaqueta da gangue.
Sua maneira de acabar com isso era colocar uma bala em cada uma
das suas cabeças. Eu acabara de testemunhar as minhas primeiras
execuções.
____________
— Sério? Realmente Grizz? Que merda foi aquela? Você só estava ali
de pé, enquanto um cara estava sendo torturado e sua namorada sendo
estuprada? — eu lutava para controlar a minha voz se elevando. — Como
você pode deixar isso acontecer?
— Kit, eles não eram problema meu para lidar. — ele disse e ligou a
TV. — Você me pediu para acabar com isso. Não é problema meu como ele
escolheu fazê-lo. Você não gosta do que se passa lá fora, então fique dentro
de casa. Entendeu?
Eu não podia acreditar o quão ingênua eu era. Ele era todas essas
coisas, mas eu esquecia que ele não chegou a ser o líder desta gangue por
ser suave. Ele era duro. Ele era frio. Ele era implacável na perseguição do
que ele queria.
____________
Quebrei a cabeça por dias depois, tentando descobrir se eu poderia ter
feito algo diferente. É claro que eu poderia ter feito. Eu poderia ter entrado
naquele quarto de motel e chamado a polícia. Mas isso teria salvado essas
duas pessoas? Não.
Tentei envolver Grizz em uma conversa sobre isso, mas ele nunca me
entregou. — É melhor para você, se você não souber certas coisas. — foi
tudo o que ele disse.
Era uma tarde de sábado, uma semana depois. Nós estávamos nos
preparando para sair para a costa oeste, para a igreja. Eu estava arrumando
uma mala. O clima parecia que ficaria bom, e Grizz queria ir de moto. Ele
estava parado ao pé da cama e tinha acabado de me perguntar se eu preferia
dirigir meu carro. Eu disse a ele que não. Eu amava o meu carro, mas eu
amava ainda mais andar em sua garupa. Isso pareceu deixá-lo feliz, mas
muito sinceramente, era verdade.
Ele me disse para pegar meu carro. Corri para o número quatro e
peguei minhas chaves. Eu corri para o meu carro e entrei. Eu comecei a
dirigir e fui na direção dele. Ele estava carregando Damien. Ele me disse
para ficar no banco do passageiro. Eu coloquei o carro em ponto morto,
saltei sobre a coluna e esperei que ele colocasse Damien em meu colo. Só
então, Chowder saiu e perguntou o que era tudo aquilo.
Eu acho que ela já estava esperando por isso, mas eu poderia dizer
que ela estava ferida e preocupada com Damien. Fez mais sentido para mim
quando dirigimos até o veterinário em Davie. É claro que Moe não podia
vir. Se ela tivesse sido parte de uma comunidade rural e criado cavalos, era
provável que alguém da veterinária pudesse reconhecê-la.
Chowder deve ter falado com alguém, porque eles estavam esperando
por nós quando chegamos. Grizz estacionou e deu a volta para pegar
Damien do meu colo. Eles estavam esperando com uma maca, mas Grizz
ignorou. Depois de perceber que Grizz não ia colocar Damien na maca, eles
correram até os degraus da frente passando por ele e abriram a porta. Nós
seguimos os dois técnicos do veterinário e passamos pela sala de espera e
em uma das salas de tratamento, onde Grizz colocou Damien sobre uma
mesa. O veterinário estava lá e nos disse para esperar lá fora.
Nós não voltamos para a sala de espera, mas em vez disso sentamos
em duas cadeiras do lado de fora da porta. Eu não percebi se havia outros
pacientes à espera quando entrei correndo, mas isso não importava. Eu acho
que uma picada de cobra mortal teria precedência sobre os outros
compromissos.
Grizz estava segurando a porta aberta para eu sair quando ouvi uma
voz.
— Ginny? Ginny Lemon, é você?
Capítulo Vinte e Oito
Grizz sabia que não haveria volta para o que eu tinha testemunhado
naquele dia no poço. Ele tinha se preocupado com o fato de eu querer
deixá-lo, e agora ele foi confrontado com essa possibilidade. A ameaça de
ferir Delia e Vince não mais o conteriam. Eu não tentaria escapar, se alguém
me reconhecesse. Tudo o que eu tinha que fazer era me virar para aquela
pessoa e dizer: — Sim, sou eu. — e estaria acabado. Haveria uma
abundância de testemunhas naquela sala de espera.
Grizz teria duas opções: me agarrar e me arrastar para o carro, ou
decolar sozinho e fugir de lá. Uma escolha significava que ele corria o risco
de me perder e a outra significava que ele corria o risco de não poder voltar
para Damien.
Foi quando o tempo parou. Foi quando, não só toda a minha vida,
mas todo o ano passado, passou diante dos meus olhos. Eu encontrei o olhar
de Grizz e soube instintivamente o que eu faria.
Isso a surpreendeu.
— Não, amor, sou eu quem sente muito. Eu gostaria de ser essa sua
amiga. Eu espero que você a encontre algum dia.
Grizz me pegou pela mão e me levou até o carro. Ele não disse
nada. Nós voltamos para o motel e eu falei primeiro.
— Você acha que ela acreditou em mim? — minha voz era calma.
— Você sabe que eu não teria a deixado ir, não é? Eu teria levado
você para o carro e continuado a dirigir. Eu teria te levado para outro
lugar. Ninguém nos encontraria.
Eu sei que isso o deixou feliz. Eu fiz um jantar rápido, e ele saiu para
o poço por pouco tempo. Quando ele voltou, eu já estava na cama. Ele
subiu ao meu lado e me puxou para os seus braços.
— Estou agora.
Isso era novo, e eu ri. — Ah, você quer? E o que exatamente você
quer que eu diga para você?
— Você pode falar sujo para mim com aquele sotaque britânico?
____________
Ele virou-se, em seguida, e olhou para mim. Eu poderia dizer que ele
estava pesando suas opções. Ele estava frustrado o suficiente para me
deixar ajudar, mas ele também tinha sido muito cuidadoso para me manter
afastada de seu negócio.
— Tudo bem, Kit. — disse ele, por fim. — Todo seu. No entanto, sem
perguntas. Você apenas faz o balanço do livro caixa. Declarações antigas
estão aqui. — ele abriu uma gaveta.
Eu sorri e disse: — Oi, Sam. Como as coisas estão indo? Tudo bem,
eu espero. — ele olhou para cima, do que ele estava fazendo e me deu um
sorriso largo. Whoa. Eu não me lembrava dele ser tão bonito. Por outro
lado, não me lembrava de ter notado muitos outros homens durante esse
tempo na minha vida.
Fazia sentido agora. Neal deve ter conhecido Sam durante sua curta
estadia na prisão alguns meses atrás. Eu não conseguia descobrir a conexão
atual, no entanto. Eu pensei que Sam tinha limpado seu passado e estava
fazendo bem para si mesmo. Eu me perguntava como Neal se encaixava
nesse cenário.
Sam ouviu e vi uma expressão em seu rosto que não consegui ler. Foi
medo? Alívio? Jo fez um caminho mais curto até a porta da frente. Neal
estava sentado na moto de Fess fazendo sons de moto. Nesse intervalo ele
gritou com Jo, que caminhava para a porta da frente: — Ah, você vai
chamar o seu velho, o grande membro mau da gangue? Bem, vá em frente e
faça isso, menina. Eu aposto que serei capaz de fazê-lo me deixar levar esse
bebê para um passeio. Você sabe o que? Não vamos esperar você perguntar
a ele. Dê-me a chave.
Sarah Jo ignorou e foi para dentro da sua casa. Eu estava orando para
que Grizz ainda estivesse no Eddie. Por favor, deixe-o estar lá. Por favor,
deixe-o estar lá. Isso foi muito antes dos telefones celulares. Nesse meio
tempo eu estava mentalmente tentando elaborar um plano B no caso dele
não estar lá.
Eu estava segura que Grizz poderia lidar com Neal, mas estava
preocupada que talvez Neal tivesse uma arma e eu não tivesse notado. Ele
poderia ter uma arma e a qualquer momento atirar em Grizz.
Por outro lado, Grizz sempre tinha uma arma com ele. Eu
provavelmente não precisaria me preocupar.
O tempo que levou para Grizz andar da entrada até a casa de Jo, Neal
tinha saído da moto de Fess. Eu podia vê-lo agitado quando Grizz fez o seu
caminho para a garagem.
— Ah, porra, cara. Sinto muito, cara. Eu não sabia que era você, eu
juro. — disse Neal, com a voz trêmula. — Eu estava apenas dando às
crianças um momento difícil.
Ele sabia quem era Grizz. Interessante.
— Fique de joelhos.
— O que? O que vai fazer comigo, cara? Cara, por favor, não me
mate.
Soluçando alto, Neal caiu em seus joelhos. Ele estava tremendo mais
do que antes. Grizz estava de costas para mim. Ele caminhou lentamente
em direção ao Neal e eu o ouvi abrir seu zíper.
Neal fez o que lhe foi dito, mas Grizz não deu nenhum passo mais
perto dele. Antes que percebesse o que estava acontecendo, Neal começou a
engasgar. Então, eu entendi o que Grizz estava fazendo. Ele estava urinando
na boca de Neal.
— Sarah Jo, querida, seja amável e me pegue uma colher, tudo bem?
— Claro Grizz.
Jo voltou com uma colher e deu a volta por Neal e seu vômito para
entregá-la a Grizz. Ele entregou a colher e disse: — Coma. Tudo.
Outro revirar dos seus olhos. — Depois de todo esse tempo comigo e
você não consegue ao menos dizer ‘boquete’.
Ele simplesmente riu e pegou meu queixo nas mãos. — Ainda minha
pequena doce gatinha. Eu te amo, baby.
Olhei para ela, surpresa. — Somos! Por que você está dizendo isso?
— Porque, desde que somos amigas, você nunca mencionou que seu
marido tem um pau enorme.
Capítulo Trinta
Tempo continuou a
passar. Eu raramente via Grunt. Ele ainda estava na faculdade e trabalhando
em um mestrado. Ele estava interessado em arquitetura. Ele ainda ficava no
motel, mas tinha mudado a maioria dos seus pertences. Ele vivia com uma
garota, Cindy, em seu apartamento na praia.
Eu não tive que pensar nisso por muito tempo. Algo aconteceu que
levou a minha atenção para longe do meu descontentamento crescente. Algo
que ninguém viu chegando. Algo que Grunt tinha me avisado anos antes.
Era o verão de 1978. Era uma noite quente de terça, em julho. Grizz
tinha ido a uma das suas viagens de negócios. Ele só ia ficar fora por dois
dias, e tinha realmente me pedido para ir com ele. Eu não quis. Eu estava
entediada e deprimida e eu queria apenas chafurdar isso sozinha. E isso é
exatamente o que eu estava fazendo. Deitada na nossa cama olhando
brochuras universitárias. Eu queria tanto ir para a faculdade.
Eu ouvi a nossa porta abrir. Isso foi estranho. Era Moe? Será que ela
precisava de algo para um dos cães? Talvez Grizz voltou para casa mais
cedo. Eu pulei para fora da cama.
— Mulher de Grizz, hein? Vamos ver se ele vai querer você depois
que eu acabar com você.
Foi parecido com isso as duas horas que se passaram. Bem, pelo
menos eu só posso lembrar das duas horas do acontecimento. Ele continuou
a me bater e me levar para o ponto de perda da consciência, apenas
certificar que eu não perdesse. Eu estava tão enfraquecida pelo soco inicial
no rosto e da brutalidade que ele continuou a desencadear em mim, que eu
não tive a menor chance. Eu não conseguia pensar com clareza suficiente
para chegar a um plano para escapar dele.
Quem estava no motel? Bem, Moe estava, e ela tinha meus protetores
trancados no quarto com ela. Chowder tinha tomado uma licença rara do
motel para visitar uma irmã que estava morrendo. Com Grizz fora, o poço
estava vazio.
Eu estava sozinha.
Eu não era a única que foi atormentada. Pobre Moe. Ela recebeu o
peso da ira de Grizz.
— O que diabos meus cães faziam com você no seu quarto enquanto
Kit estava sendo atacada? Eu tenho esses cães para a proteção dela quando
não estou aqui, não a sua!
Pedi-lhe para não ser tão duro com ela. Era óbvio que ela se sentia
mal e um pouco responsável. Ele a repreendeu implacavelmente. Eu me
senti tão triste por ela, e quando finalmente fui capaz de ficar por perto, fiz
o que pude para intervir. Mas, como eu disse, ele estava obcecado. E porque
ele não sabia quem fez isso comigo, Moe recebia a sua ira. Eu
honestamente não sei se alguma vez ele a machucou fisicamente. Esperava
que não. A verdade era que não havia nada que ele pudesse fazer ou dizer
para ela se sentir pior do que já estava se sentindo.
Morta.
— O que você vai fazer com ela? — minha voz estava fria. Distante.
Ele me seguiu ao lado de fora. Eu andei até seu quarto. Grunt estava
sentado em uma cadeira de gramado na calçada do motel. Ele tinha a
cabeça entre as mãos. Quando ele olhou para mim, pude ver que ele estava
chorando. Fui direto para ele e me joguei em seus braços enquanto ele se
levantava. Eu não sei quanto tempo ficamos lá chorando nos braços um do
outro, mas Grizz nos deixou sozinhos.
Moe parecia mais bela e tranquila do que já vi antes. Ela não estava
usando sua maquiagem pesada. Estava deitada em cima da sua colcha
vestindo uma camiseta branca que era vários tamanhos maiores que ela. Foi
a única vez que vi Moe vestir algo além de preto. Eu me perguntei se ela
tinha planejado.
____________
Mas minha carteira? Ela desafiou uma ordem direta de Grizz. Por
quê?
Nós supomos que ela tinha guardado para mim. Sua vida e identidade
tinham sido tiradas dela. Talvez ela não tivesse coragem de destruir a minha
identidade como Grizz havia ordenado a ela para fazer naquela noite.
Quando fomos embora eu tive que olhar para trás. Ele estava lá, o
magnífico lindo cavalo marrom de Moe. Ele estava em pé ao lado do seu
túmulo.
Anos mais tarde, quando estava sendo interrogada pela polícia sobre o
meu conhecimento das pessoas que viviam no motel, eu nunca lhes
entreguei o lugar de descanso final de Moe. Fui capaz de lhes dizer
honestamente como ela morreu. Sua família pelo menos teria um
encerramento. Mas eu não poderia traí-la e contar que ela realmente estava
enterrada em sua propriedade. Eu não tinha certeza se eles cavariam e a
moveriam para um cemitério, dando-lhe um enterro apropriado. Mas sabia
no meu coração que esse seria o único enterro que Moe gostaria.
Gostava de dirigir até aquela árvore imensa muitas vezes ao longo dos
próximos anos, apenas para dizer “olá” para minha velha amiga Moe. A
área ainda era deserta e nunca havia ninguém por perto. Mas em algumas
ocasiões, eu vi flores secas mortas ao pé da árvore. Eu tinha certeza que
Fess tinha estado lá.
Eu posso dizer,
honestamente, que nunca deixei de amar Grizz, mas depois
do que ele fez para o homem que me atacou, eu fiquei com
medo dele como nunca tinha sentido. Não do que ele faria
comigo - eu sabia que no fundo Grizz nunca me
machucaria. Mas eu estava com muito medo do que Grizz
era capaz de fazer com os outros.
Em janeiro de 1980, eu
finalmente convenci Grizz a me deixar ir para a faculdade. Eu terminei o
ensino médio em 1978, com o resto dos meus colegas, e eu estava
realmente correndo risco de encontrar um ex-colega de classe. Mas eu
expliquei ao Grizz que eu iria negar como seu fiz no veterinário alguns anos
atrás, quando uma colega me reconheceu. Eu já estava quase dois anos
atrasada para ganhar um diploma universitário. Sarah Jo estava na Florida
State University, no norte da Flórida, desde o segundo grau. Matriculei-me
na Cole Southeastern University e comecei a trabalhar minha graduação em
Administração de Empresas concentrando em contabilidade. Reconheci
uma pessoa ou duas do ensino médio, mas elas nunca me reconheceram. Eu
mantive minha franja porque Grizz a amava, mas eu tinha adquirido o
hábito de tirá-la do meu rosto ao sair do motel. Eu também tinha adotado
um novo estilo de guarda-roupa. Gostava de usar roupas bonitas, trajes de
negócios, para a escola. Se alguém me reconheceu, certamente não deixou
transparecer. A garota que supostamente fugiu em 1975 tinha sido
esquecida há muito tempo.
Eu não tinha percebido até aquele momento como seria bom ter uma
conversa com outra pessoa. Alguém que sabia um pouco sobre a minha
experiência. Eu estava começando a perceber que os segredos poderiam ser
desgastantes. Todo esse tempo eu estava vivendo em meu próprio
mundinho e só tinha feito duas amigas fora Sarah Jo: Carter e Casey. Elas
tinham a minha idade e foram para a faculdade comigo, e mesmo que
estivéssemos em diferentes formações e cursos na faculdade, tivemos uma
conexão instantânea. É claro que eu não poderia levá-las para o motel, e
nossa amizade no início se limitava à faculdade. Mas neste momento, eu
não tinha compartilhado minha história real com meus novos amigos. Com
Grunt e Moe fora, era só eu, Grizz e Chowder vivendo agora no
motel. Chicky nem sequer passava por lá mais. Desde que Moe morreu,
Fess ia com menos frequência, também. Eu percebi que estava sozinha.
— Você sabe, eu sempre me senti mal porque eu não pude fazer nada
para ajudá-la e Jo naquele dia. Senti-me como um verdadeiro covarde,
Kit. Sinto muito.
— Então, hum, Kit, você ainda está com Grizz? Você ainda é como
sua namorada, ou algo assim?
Então eu lhe contei uma história. Isso se tornou uma fonte de irritação
no meu casamento. Grizz tinha me avisado mais de uma vez, mas eu não
consegui me conter.
— Porra, Kit. Eu não posso levar você em qualquer lugar. — ele disse
um dia em frustração.
Revirei os olhos. — Eu pedi para você não ser uma boca tão suja.
— Bem, eu lhe pedi para não ficar no meio de cada briga de Tom,
Dick e Harry[22] que você encontrar.
— Eu fiz aquilo porque quando eu pedi-lhe para ajudar, você
ajudou. Você não se importa! Então você não me deixa escolha a não ser me
envolver. Além disso, se não estivéssemos em uma parte ínfima da cidade
para começar, não graças às suas atividades, eu não teria visto metade das
coisas que eu tive que ver.
— Não seja ridículo. Trata-se de ajudar alguém, não sobre você ficar
em apuros.
— Sim, mas você percebe que eu sou capaz de matar quando você
está envolvida? Se eu matar alguém isso ficará em sua consciência.
Era um novo Mustang amarelo. O motorista deve ter pensado que ele
poderia dar a volta ao redor do prédio, mas, quando ele fez uma curva para
virar a esquina, eu ouvi seus freios guincharem. Eu tinha vindo a este prédio
antes. Eu sabia que ele era apoiado em uma parede de cimento. Não havia
estacionamento na parte de trás. Ele rapidamente colocou em marcha ré e
foi tentar voltar quando outro carro apareceu e o bloqueou.
Eu podia ver o cara falar, mas não podia ouvi-lo. Debrucei-me sobre o
banco do motorista e abaixei a janela de Grizz. Em inglês enrolado eles
estavam dizendo ao cara para sair do carro. Então ele saiu e entregaria as
chaves, nada de ruim iria acontecer. Isto era um furto de carro.
O velho começou a dizer algo para mim, mas Grizz levantou a mão e
o parou. — Tudo bem, vamos chamar. Espere por mim lá embaixo. Não
volte para o carro.
Eu não entrei em mais detalhes com Sam. Grizz não os matou. Disse
o suficiente.
Eu fui para casa naquele dia e disse a Grizz que eu estava arrependida
por envolvê-lo em problemas de outras pessoas. Jurei nesse dia não bancar
a socorrista novamente. Ótimo. Agora eu ia ter que descobrir outra maneira
de aliviar a minha consciência.
Eu continuei a encontrar
com Sam na faculdade e almoçamos juntos ocasionalmente. Debati se
deveria ou não contar para o Grizz. Eu sentia que não estava fazendo nada
de errado, mas ele era tão protetor que sentia que ele iria assustar Sam.
Descobri mais tarde que ele sabia sobre todas as vezes que almocei
com Sam. É claro que ele sabia. Ele sabia tudo. Eu nunca menti, no
entanto. Se ele me perguntava o que fiz depois da faculdade, eu dizia a ele:
fui almoçar com um amigo. Eu acho que depois da primeira vez que ele nos
viu, deve tê-lo convencido de que era um almoço estritamente
platônico. Talvez ele não se incomodou com Sam, porque ligou o primeiro
almoço com ele, com o mesmo dia em que cheguei em casa e me
desculpei. Talvez ele estivesse secretamente grato por Sam ter me
influenciado algum sentido.
Fui para o nosso quarto e procurei algo para colocar minhas coisas.
Eu me lembrei da minha velha mochila de pano. Encontrei-a enrolada em
um canto do nosso armário onde eu descuidadamente joguei há mais de um
ano. Enfiei minha roupa de banho, protetor solar, dois livros e minha escova
de cabelo nela. Não tinha necessidade de embalar algo mais. Eu não iria
passar a noite.
— Você vai realmente nos tirar da forca, Kit. Blue e eu tentamos nos
dividir durante o dia para cuidar dos meninos - eu faço as manhãs e ele as
tardes - mas estamos começando a receber reclamações no trabalho. Você
salvou nossas vidas.
— Fico feliz em ajudar. Eu amo seus meninos. Você sabe disso. Onde
eles estão? — perguntei, jogando minha mochila no banco ao lado da porta.
____________
— Eu não entendo por que não posso vê-lo. Não que eu te deva uma
explicação, mas eu estou limpa de todas as minhas ações. Eu tenho coisas
para resolver com ele.
Quem era esta mulher? Ela começou a chamar Grizz por um nome
que começava com J. Ela sabia o seu verdadeiro nome? Era óbvio que
Grizz não sabia que eu estava lá. Meu carro não estava parado lá fora, então
ele teria suposto que eu ainda estava com Sarah Jo. Eu estava pensando em
aparecer ou não. Quase pude ver os olhos dele revirando quando ele gritou
essa última afirmação para ela.
— Você e seus malditos códigos de gangues. Juro Grizz, você é tão
exagerado. Eu não atendo por Candy mais.
— Eu não dou a mínima pelo que você atende, você não irá vê-lo. Ele
não mora aqui de qualquer maneira. Ele está feliz e se estabeleceu. Não há
razão para você insinuar-se trazendo seu passado, porque você tem uma
consciência culpada.
Portanto, esta foi a mulher que conheceu Grizz quando ele ainda era
um adolescente. Eu acho que nunca cruzei com alguém que o conhecesse há
tanto tempo.
Grizz disse alguma coisa, mas eu não consegui ouvir suas palavras.
Mas não vi nada disso e não soube disso até que muitos anos se
passaram.
— Bem, você disse. Você nunca me disse seu nome, mas você a
mencionou logo depois da primeira vez que conheci Jan.
Ele veio atrás de mim e me abraçou. Ele apoiou o queixo no meu
ombro esquerdo. Ele deveria estar realmente debruçado sobre mim porque
eu era muito mais baixa do que ele.
— Eu acho que você está certo, Grizz. Não é adequado deixá-la ver
Blue. Pode levar Jan a ter um colapso. — antes que ele pudesse dizer
qualquer coisa, acrescentei: — Ela começou a chamá-lo pelo seu nome
real. Você vai me dizer algum dia?
Ele nunca me deixaria entrar? Era casada com ele e não sabia
praticamente nada sobre ele. Nem seu nome, nada sobre seu passado. Bem,
agora eu sabia que ele viveu atrás de um posto de gasolina quando tinha
quatorze anos.
Sua mãe cuidava da casa de uma família rica. Ele disse que ela
exercia o papel perfeito de governanta, mas sua própria casa era um
desastre. Ela o negligenciava. Ela nunca bateu ou abusou dele; ela
simplesmente o ignorou. Soava familiar. Ele fugiu quando estava com
quase quatorze anos. Ele tinha certeza que ela ficou aliviada e nunca o
procurou. Ele não estava vivendo atrás de um posto de gasolina quando
Candy o encontrou. Ele estava, na verdade, vendendo peças de automóvel
roubadas.
Perguntei-lhe por que ele quis fugir - ele foi negligenciado, não
abusado. Por que viver na rua? E como ele fez para chegar à área de Fort
Lauderdale, vindo de West Palm Beach?
— Por que temos de ter filhos antes de você me dizer o seu nome
verdadeiro? — eu perguntei quando acariciei seu pescoço, brincando com o
brinco na sua orelha esquerda. Era um dos meus hábitos favoritos.
Eu podia sentir seu corpo tremer. Ele estava rindo. Eu olhei para
ele. Com um grande sorriso, ele disse: — Eu não sei. Calculei que pode me
dar algum tempo. Imaginei que nós teríamos um bebê depois de mais
alguns anos.
Eu me virei para olhar para ele. — Eu acho que posso estar grávida.
Capítulo Trinta e Cinco
Olhei para Grizz, que estava sorrindo. Ele estava feliz com esta
gravidez. Se era para ser agora, em vez de daqui alguns anos, então que
assim seja.
Grizz me surpreendeu com outra coisa. Ele me disse que levaria cerca
de seis meses para resolver alguns negócios e ele pararia com a
gangue. Para sempre. Eu não poderia ter ficado mais feliz. Jan realizaria o
seu desejo depois de tudo: Grizz entregaria sua gangue ao Blue.
Fiquei aliviada que não houve sofrimento da parte deles e que eles
não foram a causa do acidente. Eu não odeio Delia e Vince. Eu não sinto
falta deles, também. Mas eu queria fazer o que era certo.
— Grizz, não há nenhuma outra família. O que eles vão fazer com
eles?
— Provavelmente, uma caixa e um cemitério estatal. Eu acho. Talvez
cremação. Eu honestamente não sei. — antes que eu pudesse dizer qualquer
coisa, ele acrescentou: — Você quer que eu cuide disso, Kit? Gostaria
disso? Dar-lhes um enterro apropriado?
E ele cuidou. Ele era tão bom em dar-me qualquer coisa que eu
quisesse. Nunca me ocorreu que esta foi mais uma oportunidade na minha
liberdade. É claro que tinha havido muitas vezes ao longo dos anos que eu
poderia ter ganhado a minha liberdade. Certamente, a morte dos meus pais
teria sido uma delas, mas isso não importava. Eu não deixaria Grizz. Pelo
menos, não de propósito.
É claro que o nosso estilo de vida era baseado em uma ilusão. Quando
você olha para ele com sinceridade, eu não era realmente casada com
Grizz. Ann Marie Morgan era, mas vamos encarar, eu não era Ann
Marie. Nosso rendimento, que cresceu de forma significativa com bons e
honestos investimentos, ainda era baseado em dinheiro obtido com a
atividade ilegal. Muito dele. Grizz tinha as mãos em tudo no sul da Flórida
na época: prostituição, drogas, roubo de carros, jogos de azar, chantagem,
agiotagem. Ele foi sincero sobre entregar a gangue para Blue quando eu
fiquei grávida, mas com o aborto espontâneo logo depois, ele não viu
nenhuma razão imediata para se aposentar. E assim o dinheiro rolou. Eu
nunca perguntei, mas você não pode ficar com alguém por todos esses anos
e não ter uma noção do que eles estavam fazendo. Eu pegava as coisas aqui
e ali. Eu não era ingênua, mas eu me permitia fingir que era.
Durante esse tempo, o que eu não sabia era que o casamento de Blue
e Jan estava desmoronando. Ele a pegou o traindo, mais de uma vez, com os
advogados que ela conheceu no trabalho. Jan era atraente e sempre à
procura do melhor para si. Ser casada com o segundo no comando de uma
gangue de motoqueiros não possuía tanto apelo quanto já possuiu. Ela
queria mais. Fiquei surpresa que ela tenha traído Blue. Eu achava que ela
tinha medo de contrariá-lo, mas ela não tinha.
Blue chegou em casa um dia e nos contou a história. Eu estava certa
de achar que ela devia ter ficado com medo. Lembrei-me de um incidente
de hit-and-run[23] cerca de quatro meses antes. Jan estava andando até o
carro no estacionamento de um supermercado. Ela dirigia um carro bom e
sempre estacionava longe da entrada da loja para evitar qualquer descuido
de alguém que poderia ter ao estacionar ao lado dela. Ela estava carregando
duas bolsas e se atrapalhou com as chaves, olhando para baixo enquanto ela
caminhava, quando um carro do nada bateu nela. O motorista fugiu, ela
ficou inconsciente e não se lembrava de nada. Foi um milagre que ela só se
machucou e que nada foi quebrado. Com base na velocidade que carro
estava indo, foi um milagre ela estar viva.
Blue continuou com sua história e disse que ele finalmente cansou e a
chutou para fora. Disse para ela que lutaria pela custódia dos
meninos. Grizz o incomodou sobre exatamente quanto Jan sabia sobre a
gangue. Blue disse que nunca lhe disse nada. Ela nem sabia sobre a noite
em que ele buscou Grunt.
Grizz assentiu. — Tudo bem, então que mal ela pode nos fazer, se for
o caso?
Grizz olhou na minha direção. Eu olhei para baixo. Ele sabia o que eu
estava pensando. Ele casou comigo com um nome falso. Pelo menos Jan
casou com Blue com o nome real dela.
Grizz não disse nada por um minuto. Eu poderia dizer que ele estava
pensando seriamente sobre isso. Ele, então, perguntou ao Blue: — Você
acha que ela falou com Willow, exceto quando Willow estava lá para
manter um olho sobre ela?
— Eu acho que é possível. Porra, eu sinceramente não sei. — Blue
me deu um olhar de soslaio. — Desculpe, Kit. Sei que você não gosta de
palavrão. É um hábito.
— Eu vou. Vou dizer a ela e ela vai entender. Eu vou lutar pelos meus
meninos de forma justa. A gangue fica de fora disso. Você tem a minha
palavra.
Foi assim que eu lidei com tudo isso. Como sempre. Fiquei longe
fisicamente e emocionalmente.
____________
Mas acho que Jan não aguentava mais. Ela finalmente puxou um ás
da sua manga, como ela fez tantos anos antes, quando Blue ia deixá-la e de
repente ela ficou grávida.
Desta vez foi diferente, no entanto. Desta vez, esse ás teve um efeito
cascata que não pôde ser medido. Destruiria pessoas. Muitas pessoas.
Jan decidiu que era hora de contar ao mundo sobre Guinevere Love
Lemon.
Capítulo Trinta e Sete
Este tinha sido seu primeiro passo para ficar com a custódia dos seus
filhos. Ela ia derrubar Blue acabando com a gangue. Colocando Grizz em
evidencia.
Eu tinha que admitir, ela era uma mulher corajosa. Ela estava
trabalhando junto com autoridades para entrar no Programa de Proteção a
Testemunhas. Blue estava errado. Jan sabia muito, muito mais do que ele
pensava.
Ele acrescentou: — Ela ficará bem. Ela não vai se machucar. Acalme-
se. Este é apenas o procedimento. Você sabe como isso acontece, Jason. —
ele se virou para mim e gentilmente me pegou pelo braço. — Sou o detetive
Banner, e ele vai ficar bem, Guinevere. Nós apenas precisamos lhe fazer
algumas perguntas. Tudo isso faz parte do procedimento. Seu marido está
exagerando.
Olhei para ele com tristeza. — Ele está apenas preocupado comigo
porque estou grávida.
____________
— Ligue para Mark. Ele vai me tirar esta noite. — Grizz me disse
conforme o levaram até nossa porta.
— Não desta vez, Talbot. — um policial mais jovem, disse. — Eu
acho que um juiz não irá lhe dar uma opção de fiança. Sequestro é um
crime federal. Você ficará preso até o julgamento.
Eu não disse a ninguém, nem mesmo a Sarah Jo, que eu tinha tido
entrado novamente em contato com o meu amigo de escola. Simplesmente
não pareceu necessário.
— Você não precisa tentar esconder o que o cara faz Gin. A gangue
dele é notória. Eu só queria ver como você estava.
— Você está certa disso, Gin? Eu vou guardar isso para mim, se você
está me dizendo a verdade.
Notei que os nós dos dedos da sua mão esquerda tinham ficado
brancos. Ele estava apertando o volante com força. As lágrimas saltaram
dos meus olhos. — Por favor, não o chame assim. — ele começou a me
interromper, mas levantei a minha mão. — Ele tem me tratado melhor do
que alguém já me tratou. Eu o amo, Matthew. Eu estou fazendo tudo que
posso para tirá-lo desse estilo de vida. Por favor, deixe-nos em paz. Ele
prometeu que irá sair quando o bebê nascer. Eu acredito nele.
Eu não tinha visto ou falado com Matthew desde esse dia, mas eu li
nos jornais e vi as notícias. Ele era jovem, mas abrindo caminho através do
sistema judicial, vencendo casos impossíveis. Não pense que a ironia
passou despercebida por mim do que ele me disse anos atrás, que ele iria
para a faculdade de direito para prender os caras maus, e agora ele era o
melhor no negócio em libertá-los.
Não é necessário
entrar em detalhes dos anos seguintes. Além disso, eu
achei os processos judiciais e jargões demais para reter. Eu
vou ficar com os fatos como me lembro deles.
E ele recebeu.
Capítulo Trinta e Nove
O ano após essa conversa foi o pior. Acho que chorei por Grizz ainda
mais. Havia tanta emoção. Havia tanta culpa. Por que eu tinha guardado
aquela carteira estúpida? Por que eu não me levantei e disse ao júri como
ele era bom para mim?
Eu liguei para ele anos mais tarde para dizer a ele que eu tinha outro
bebê. Pode surpreender que um prisioneiro no corredor da morte possa
receber um telefonema. Mas este era Grizz. Estar no corredor da morte
nunca mudou seu status como líder do Satan’s Army. Ele ainda tinha
uma grande influência sobre suas circunstâncias atuais.
Foi a primeira e última vez que ele me chamou pelo meu nome
real. Comecei a responder que eu ainda o amava também, mas ele já havia
desligado.
Era verdade. Eu ainda amava Grizz. Eu não estava apaixonada por ele
como se eu já estive um dia, mas me importava profundamente com
ele. Meu marido compreendia. Não havia ciúmes ou insegurança da parte
dele. Além disso, se não fosse por Grizz, eu não estaria casada com o
homem que eu era completamente e totalmente apaixonada hoje.
Capítulo Quarenta
— Ei, vocês dois. Faz tempo que não os vejo. — disse Eddie quando
ele nos abraçou.
Nós não tínhamos ido ver Eddie desde que ele tinha adicionado o
nome do nosso filho na tatuagem no braço esquerdo do meu marido. Ele me
surpreendeu em nosso terceiro aniversário de casamento. A tatuagem era
uma bela águia segurando um coração entre suas asas. Dentro do coração
estava o meu nome: Ginny. Agradeci-lhe por não usar Guinevere. Ele
brincou na época, que ele não achava que Eddie tinha tinta suficiente. Tinha
uma fita que envolvia o coração e pendia em um lado da tatuagem. Lia-se:
“Mimi”. Quando nosso filho nasceu, ele voltou e Eddie teve que adicionar
outra fita com o nome de “Jason’” Era uma bela obra de arte e um
testemunho da nossa família feliz.
____________
Ela não disse nada por um minuto. Em seguida, ela deixou escapar:
— Mas a história de amor. Isso é o que eu realmente quero enaltecer. O
amor entre o criminoso malvado e a garota doce e inocente. Isso é o que os
leitores querem, uma história de amor, e eu preciso de algo para fazer a
conclusão estourar. — ela limpou a garganta. — Aquele sinal que ele lhe
deu. Ele deve ter querido dizer algo. Você não pode me dar alguma coisa
aqui, Ginny?
Ela me cortou. — Ela não sabe, não é? Você não disse a ela ainda. Eu
sugiro que você faça antes que ela leia em meu artigo.
Com quem ela estava falando? Olhei para o meu marido. Ele não
respondeu ela. Ele apertou o botão de desligar no telefone.
— Bem, essa é uma maneira de acabar com uma entrevista. — eu
disse a ele.
— Tudo bem, eu estou ouvindo. Não pode ser tão ruim assim.
Mas foi.
Ela tinha ouvido falar da sua brutalidade, mas ela não era do tipo que
se deixava intimidar por ninguém. Ela entrevistou membros de gangues de
rua, traficantes, estupradores, assassinos. O pior que a sociedade tinha para
oferecer. Esse seria moleza.
Ela tinha certeza de que Ginny havia exagerado nos sentimentos dele
em relação a ela. Leslie queria descobrir o que ele realmente pensava. Ela
seria capaz de arrancar a verdade dele. Ela era uma repórter investigativa
top de linha. Ela poderia envolver o pior entrevistado em torno de seu dedo
mindinho. Ela tinha feito isso antes, e ela faria isso de novo.
Ela olhou para cima quando ouviu a porta abrir. Um guarda entrou,
seguido por um homem de tamanho incrível. Ela tinha visto fotos e sabia
que ele era grande. Mas ela não esperava que ele fosse tão grande.
Sem tirar os olhos dela, ele deslizou para o banco na frente dela
enquanto o guarda soltava as algemas em torno da sua cintura e as prendia a
uma barra de aço em cima da mesa.
Ela desviou o olhar, em seguida, e disse para o guarda: — Obrigada,
eu posso levar a partir daqui.
— Não importa. Você tem um problema com isso, você sai. Nós
vamos ficar aqui com você.
Ela olhou para Jason, então, e um arrepio percorreu sua espinha. Ela
nunca tinha sido o foco de um olhar tão penetrante. Seus olhos estavam
frios, e ela estava tentando não tremer.
— Tenho certeza que Kit lhe disse tudo. Eu não tenho nada a
acrescentar.
Ela estava começando a sentir algo que nunca havia sentido antes em
uma entrevista. Ela estava ficando um pouco tonta. Havia algo em seu
poder e intensidade que era extremamente atraente, e ela estava perdendo o
foco. Ela se sentiu boba que ele pudesse fazê-la sentir-se dessa maneira. Ele
exalava sexualidade crua como ninguém que ela já conheceu.
Ela tentou imaginar ter apenas quinze anos e ter que lidar com ele. É
um milagre Ginny sobreviver.
— Bem, por que você não me diz alguma coisa, então que Ginny não
saiba. Surpreenda-me.
— Jason, isso é tudo coisa bastante normal que eu já sei. Você não
pode me dar alguma coisa aqui? Algo para chocar os meus leitores?
Ele olhou para ela por um minuto. — Eu respondi a todas as
perguntas. O que exatamente você quer saber?
Ela engoliu sua irritação. — Por um lado, eu não posso acreditar que
em todo esse tempo que você passou com Ginny, não há um segredo que
você manteve para si. Algo que ela nunca soube. Não saiba, até hoje. Eu já
sei o segredo do nome verdadeiro. Isso, obviamente, escapou. — ela se
inclinou provocativa. — O que mais há?
Isto teve o efeito que ela estava esperando. Ele era muito
egocêntrico. Não havia nenhuma maneira que ele poderia imaginar que
Ginny manteve algo escondido dele.
Ele fez um gesto com as mãos, fez sinal para ela seguir adiante. Elas
estavam presas à mesa, mas ele ainda tinha alguma margem de manobra.
— Está bem. Que tal sobre Ginny perder a virgindade com Grunt?
Ela sabia que era errado dizer a ele. Mas, como ela rapidamente se
lembrou, ela tinha prometido à Ginny que isso não estaria no artigo. Ela
nunca tinha prometido à Ginny que não iria dizer a Jason.
Leslie sabia que o surpreendeu. Ela soube imediatamente que esta era
uma coisa que ele definitivamente nunca soube. Bem, dane-se ele. Idiota
estúpido. Deixe-o digerir por um minuto.
Com o olhar de alguém que tinha acabado de devorar sua vítima, ela
inclinou-se para ele e, em seu tom mais arrogante de voz, ronronou: —
Então, agora, você me deve...
Ela estava sangrando muito dos cortes na testa, nariz e boca. Foi
difícil para ela falar. Ela estava definitivamente machucada, mas ela não
tinha começado a chorar. Ela estava em choque.
Conforme ela estava saindo, ela ouviu Grizz dizer. — Quer saber de
uma coisa? Eu vou te dizer uma coisa. Volte e venha me ver.
Capítulo Quarenta e Dois
— Ah, Tommy. Ele sabia. Ele soube antes de morrer o que aconteceu
entre nós. — eu coloquei minha cabeça em minhas mãos. — Ele deve ter
ficado tão magoado. Sentindo-se tão traído por nós.
— Ele ficou, Gin. É por isso que ele deu a ela mais uma entrevista por
telefone antes de morrer. Ele disse-lhe alguma coisa. Algo que ela vai
colocar em seu artigo. Algo que você não sabe. Algo que vai doer.
Então, algo me ocorreu. — Ah não, não me diga que ele contou a ela
sobre Miriam ser filha dele. Por favor, não me diga que é isso.
— Não, é...
Não apenas o segredo que Grizz contou à Leslie por raiva, mas outro,
também. Ele estava certo. Doeu.
Blue olhou para ele sem responder. A expressão no rosto dele pegou
Grizz desprevenido. Era uma expressão que Grizz não reconheceu. Blue
parecia incerto, hesitante, talvez. Eles se encararam. Nenhum desviava o
olhar.
— A outra coisa?
— Eu a encontrei.
— Eu falei com ela. Eu a assustei pra caralho. Ela nunca pensou que
seria encontrada. Ela disse que iria me contar tudo e me deixar voltar para a
vida dos meninos se eu apenas a deixasse em paz. — em seguida, ele
zombou, principalmente para si mesmo: — Como se ela tivesse uma
escolha.
— Jan disse - ela disse que foi Grunt que planejou sua prisão, Grizz.
Foi quando ele a viu. Ela tinha acabado de chegar à esquina do lado
da loja. Não havia estacionamento porque era à direita, ao lado de uma
calçada paralela à estrada. Ele não viu um adulto. Ela deve ter andado até lá
sozinha. Ele pensou que ela parecia pequena para andar por aí sozinha, e ele
se perguntou se ela morava por perto. Ela era uma gracinha. Longos cabelos
castanhos presos em um rabo de cavalo desleixado. Franjas quase cobrindo
os grandes olhos castanhos. Ela usava uma camiseta rosa enrugada e short
jeans azul. Seus joelhos estavam ralados, mas não sangravam, e sua
brancura contrastava com suas pernas ossudas bronzeadas.
Ela estava com tênis branco com pompons roxos presos a eles.
Só então, um rapaz que parecia ser um pouco mais velho que ela veio
rodeando a loja. Bom. Ela não está sozinha. Ela tem um irmão mais velho.
Não, este não era seu irmão. Ele era um valentão. O motoqueiro se
perguntou se ele tinha deliberadamente a seguido.
Curtis Armstrong não soube o que dizer sobre isso, então ele apenas
acenou, virou-se e correu de volta ao redor do lado da loja. Ela entrou.
Ela enfiou a mão na bolsa marrom e tirou uma caixa de curativos. Ela
entregou a ele e disse: — Aqui, esxes[24] são para você. Sua mão
parexe[25] machucada demais.
— Sim, aquela era Gwinny. Ela anda aqui todos os dias sozinha para
comprar os cigarros da sua mãe. Ela é uma menina doce. Inteligente
também. Provavelmente foi Curtis, e eu tenho certeza que ela deu a ele uma
boa resposta. Ele está sempre mexendo com ela.
— Ela mora descendo a rua aqui. — disse ele apontando para o lado
da loja onde Gwinny tinha aparecido pela primeira vez. — Mas eu não
tenho certeza do quão longe. Você queria alguma coisa?
Ele tinha esquecido tudo sobre a dor na mão. Pegou sua moto e a
ligou. Ele contornou a loja ao lado, onde Gwinny foi. Ele olhou para a placa
da rua. SW 23 Avenue. Ele estava parado quando ele olhou para a rua e
notou que era um bom bloco com pequenas casas de cada lado. Ele podia
vê-la ao longe. Ela, obviamente, não tinha chegado a sua casa ainda ou
virou em quaisquer ruas laterais.
Quando ela se virou em uma ligeira curva e não mais em sua linha de
visão, ele dirigiu lentamente à distância para a curva. Cautelosamente
passou ao redor. Ele não queria assustá-la se ela ouvisse a moto e achasse
que estava sendo seguida, o que ela estava. Mas isso não importava. Ela não
estava mais lá. Ela deve ter ido para uma das casas.
Foi quando ele a viu. Ele pegou um flash de cor à sua direita. Ela
estava do lado de uma casa tentando levantar um regador enorme para
molhar algumas plantas penduradas. Ela estava lutando com o peso dele. Se
ela o notou, não demonstrou.
Ele descobriu que ele queria vê-la, mas não podia. Não ficaria bem e
poderia assustá-la, ou alertar alguém na vizinhança da sua presença.
Ele não ligou a moto até que dobrou a esquina e estivesse fora da
vista de qualquer um que pudesse tê-lo visto passar pela casa de
Gwinny. Ele não podia evitar, mas se perguntou se sua mãe hippie-
prostituta-maconheira cuidava dela. Ele não conseguia entender por que ele
se importava. Em seguida, ocorreu-lhe.
Ele soube então que o que estava sentindo era uma proteção de irmão
com ela.
Ele prometeu ali, manter um olho sobre a menina. Ele poderia passar
despercebido no fundo e apenas manter o controle sobre ela. Certificar-se
de que ela estava bem. E foi isso que ele fez. Pelos próximos nove anos.
Fim
[1] Urso pardo.
[2] Intravenosa.
[6] Monstro.
[7] Rã.
[8] Canção country escrita por Tom T. Hall, que foi um grande sucesso
internacional em 1968.
[10] Uma criança que fica em casa sem supervisão de um adulto por alguma
parte do dia, especialmente depois da escola até que seus pais voltem do
trabalho.
[16] Fusca.
[20] Modelo de carro da Ford. Ford Pinto foi um modelo desenvolvido para
o mercado da América do Norte, apresentado pela primeira vez, no dia 11
de setembro de 1970, sendo um dos modelos mais populares da Ford até
1980, quando sua produção foi interrompida.
[22] Tom, Dick and Harry - filme de comédia de 1941, onde a operadora de
telefonia Janie, tem de escolher entre três homens que vivem lutando pelo
seu amor.