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Vol 1 - A Redenção de Um Anjo (Versão Final)
Vol 1 - A Redenção de Um Anjo (Versão Final)
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A Redenção de
Um Anjo
May C. Linck
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Maiara Linck
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Para Maira Cardoso Aires, mais conhecida como a melhor mãe do mundo,
por sempre me incentivar e acreditar em mim e Wilfredo Martins, meu padrasto,
por ser a pessoa mais inteligente que eu conheço. Amo vocês mais do que
poderia escrever.
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AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a Vitor Maffioletti meu marido, que foi obrigado a conviver
com Cler como uma hospede e aceitou com paciência. Amo você amor, sempre.
Eu preciso muito agradecer aos meus amigos que tornaram possível a publicação
da Redenção, sem vocês eu não teria conseguido, como eu amo vocês!
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PRÓLOGO
-Vamos garotas!
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que ela se tornou uma viajante compulsiva depois de conhecê-lo ou não. Então
me criei esquentando minha própria comida no microondas.
Sempre soube que se eu esperasse por uma ordem da minha mãe para
fazer o dever, ir tomar banho, desligar a TV, ir deitar e todo esse tipo de coisa,
esperaria para sempre. Então decidi que seria adulta e responsável desde
pequena, e isso foi mais ou menos aos sete anos de idade.
Hoje minha vida está em branco e preto, minha amiga Nanda sempre diz
que vai passar com o tempo, e que a vida vai voltar ao normal logo, já a minha
amiga Stefany diz que o que realmente me faria sair da depressão em que me
encontro é ir até o bar mais fulero que eu achar e beber até cair, do tipo dormindo
com a privada. Mas eu sei que elas falam isso porque acham que tudo se trata de
apenas uma decepção amorosa, comum. Bem, é um pouco mais complicado que
isso.
Eu, entretanto não escolhi nem um nem o outro, decidi por mim mesma,
ficar na minha casa chorando até desidratar, não falar com ninguém, não ver
ninguém e nem sequer tomar banho. Essa também era uma tendência minha,
deixar as coisas um pouco mais dramáticas do que são. Eu realmente vivia os
sentimentos, e nesses últimos meses eu estava vivendo uma fossa, e estava bem
com isso. Hoje cedo, porém, acordei com essas duas gritando ao lado de fora da
minha porta, por um momento passou pela minha cabeça chamar a policia, mas
eu não chegaria tão longe.
Como podem ver, fui arrastada a força até esse bar para tomarmos café da
manhã, não sem antes me jogarem dentro do chuveiro, esfregar meu cabelo e me
vestirem. A única coisa que realmente não me fez sair correndo na primeira
oportunidade foi o café, bem, eu amo café, de todos os tipos, mas o meu favorito
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- Precisamos trazer mudanças para ela – Sté falava apontando para mim. –
Ela está horrível.
- Sim! Ótima idéia Nanda! Enquanto achamos um lugar ela pode ficar lá em
casa. – Stefany disse. Eu olhava entre elas, sem poder acreditar na mudança.
- Sim, sim, está na minha casa – ela disse satisfeita. Elas falavam como se
eu simplesmente não estivesse aqui sentada na sua frente. O que me deixou
irritada. Isso deveria ser uma boa coisa, porque nos últimos meses não fui capaz
de demonstrar nenhuma reação.
- Ei, parem de falar como se eu não estivesse aqui, mas que droga é essa?
– eu disse. – e que porcaria é essa de passagens? Espero que seja para vocês
porque eu não vou a lugar algum.
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- Mas querida, sua tristeza intermitente já dura oito meses. – Nanda disse
com seu vocabulário nerd, eu quase me arrependi de ter falado tudo que falei,
podia sentir a preocupação e a dor em sua voz.
- Eu não sei o que quer dizer intermitente, mas sei que você vai acabar
doente, carinho. – Stefany me disse.
- Cler amor, você precisa superar Peter, eu sei que o que aconteceu entre
vocês dois foi intenso, mas você não pode se acabar... – Stefany disse. Seu tom
era cuidadoso, falar em Peter para mim era como andar em um campo minado.
- Okey chega desse papo, não quero ser a pior amiga do mundo, mas não
estou preparada para ser a melhor, e não estou preparada para falar de Peter. –
eu disse, a ultima parte saindo como um murmúrio.
Não falamos muito mais disso, no fim prometi que ia retornar a tomar banho
e ia tentar melhorar minha vida. Depois disso elas continuaram conversando
sobre bobagens, e algumas vezes tentavam me colocar na conversa, mas eu não
consegui formar respostas mais animadas que...
- Hum.
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- pode ser.
- tudo bem. – eu sei que eu não deveria fazer isso comigo mesma, mas
deixe te contar uma coisa, sempre fui comum e nunca me senti realmente
importante. Então Peter malditamente entrou na minha vida e transformou tudo
em um capítulo mal feito da série Supernatural. A minha realidade inteira foi
modificada.
Eu fui para casa e na hora de deixar as meninas, dei nelas um forte abraço,
eu estava sendo tão merda de amiga que elas bem poderiam ter achado outra
garota para disputar a amizade. Eu não poderia perder a amizade delas também.
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Oito meses atrás
O campus era enorme, e quando digo enorme, quero dizer que deve
demorar uns vinte minutos caminhando até o final. Cheio de prédios, para os
diferentes cursos, e muitos alunos de todos os tipos, alunos em seus carros,
alunos entulhados naqueles ônibus incrivelmente cheios, todos conversando
sobre algo com seus colegas, amigos e namorados, todos tinham um grupo e
para variar eu estava sozinha.
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Nos fundos havias muitas mesas, tenho que dizer estar admirada, o lugar
parecia europeu. Espelhos inteiros cobriam todas as paredes, as mesas tinham
privacidade ao fundo, com luzes mais baixas, e na parede de trás muitas imagens
enormes da cidade amarela no que parecia uma década muito antiga, carros
muito antigos, pessoas com chapéus e cartolas, mulheres com-
Voltei meu olhar para o cara a minha frente, devia ser dono do bar, bem. –
como? –
- Sim, sim, sou caloura do curso de enfermagem, esse café é lindo!- ele me
deu um sorriso.
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- Meu nome é Cler, eu huh, vou querer um moca. Grande. – Voltei meu
olhar para cima ele estava olhando meus cabelos, os garotos sempre gostaram
dos meus cabelos. Ele então pareceu notar que eu o estava olhando de volta.
- Ok, saindo. Meu nome é Sam - ele limpou a mão no jaleco branco
manchado de café e esticou para mim, eu rapidamente apertei. Sam era bem alto,
sacudiu minha mão uma vez e a largou. Virou as costas e foi fazer meu café.
Ele voltou trazendo meu Mocca grande, minha boca já fazia saliva para
provar.
– São 4,00 reais. – eu revirei na minha bolsa peguei uma nota de cinco e
entreguei para ele.
-Que idade você tem, Cler? – Sam me perguntou enquanto fazia meu troco,
curioso, como eu. Acho que vamos nos dar bem.
- Vinte e dois. – Peguei meu troco e levantei, eu ainda tinha cinco minutos,
precisava achar minha sala, e toda a loucura do primeiro dia de aula.
- Você sempre pergunta isso pras clientes? Bem, acho que vou, não sei se
posso viver agora sem esse café, é realmente muito bom! – eu falei.
-Posso te fazer quantos quiser garota ruiva. – ele meio que sussurrou,
estava flertando comigo? Soou engraçado.
-Estou certa que sim. – eu falei baixo, talvez por aqui caloura seja o mesmo
que presa fácil.
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Seja pelo meu elogio ou por dizer que vou voltar, Sam me deu um amplo
sorriso, realmente bonito, dentes brancos e perfeitos. Agora eu precisava ir,
deuses esse dia havia começado bem.
Meu cabelo era de um tom laranja, apesar de meus pais serem loiros eu
nasci totalmente ruiva, eu não tinha um corpo curvilíneo, para falar a verdade eu
era muito magra, seios pequenos e pernas magras, para compensar a falta de um
belo porte físico vim a terra com grandes olhos amendoados cor de chocolate com
uma mescla âmbar ao fundo, para ficar mais claro, tinha os olhos castanhos com
um pequeno traço verde terra.
Levantei a mão, como gesto de despedida e fui saindo, antes que ele
resolvesse fazer mais perguntas e eu me atrasasse, ainda mais. Na rua estava
quente, eu usava shorts jeans rasgado, uma regata preta e botas cano curto,
simples. Atravessei a avenida, na calçada havia gente indo para todos os lados,
procurado suas salas, se abraçando, confraternizando, todos pareciam
apressados, o que era bom afinal, eu não era a única atrasada. Entrei no prédio
quase correndo, cuidando para não virar meu moca.
-Enfermagem. – eu falei tentando imitar a voz de tédio dele, o que fez com
que ele me olhasse melhor, entrecerrando os olhos.
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Ele falou a frase inteira sem contar vírgulas, como um texto decorado,
ficando claro que ele devia ter dito aquilo milhares de vezes essa manhã. Ele virou
para outro lado, mostrando o quando ele não gostaria de mais perguntas.
Disse um obrigado, e subi, tinha muitos jovens entrando e saindo das salas
de aula, eu achei meu número, era logo a segunda, 1167, chequei meu nome na
lista e entrei, era uma sala de aula enorme, nada parecido com aquelas do ensino
médio, classe de dois alunos, com tampo? Achei que nunca veria uma dessas.
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Acendi um cigarro e fui procurar a vaga do meu carro, estava quente, mas
havia um vento de março, fresquinho. Sai caminhando, sozinha, ainda não tinha
feito nenhum amigo para vir comigo até minha vaga.
Destravei meu docinho que eu costumo chamar de urso e entrei. Esse era
meu carro, um Chery QQ negro como a noite, bancos da frente de puro couro.
Quando vi essa belezura na revenda na saída da cidade foi amor à primeira vista,
eu soube naquele momento que não poderia fazer mais nada da minha vida se eu
não o comprasse, e bem, quando minha mãe se ofereceu para me pagar a
metade usei todo o dinheiro que eu havia juntado no banco desde criança para
completar. Não importa, valeu à pena cada centavo.
- Vamos lá ursinho, quero ir pra casa comer – Eu falei em voz alta para
urso, ou para mim mesma.
Arranquei, dei a volta e sai na avenida pela qual entrei, passei do arco de
saída do Campus e peguei a via principal, liguei do som, tocando Imagine
Dragons, uma banda maravilhosa que estourou esse ano, a qual eu era caidinha
pelo vocalista. Deixei minha mente vagar enquanto dirigia de volta pra casa.
Conheci Sam galã do café, um grupo de garotas metidas, o guarda chato e a
menina gótica que senta atrás de mim, e amanha a noite inicio meu estágio na
unidade psiquiátrica. Bom começo de uma longa estrada, garota.
Eu havia me mudado fazia pouco tempo para cá, minha mãe havia
comprado esse apartamento antes de começar com sua compulsão por viagens,
obviamente ela quis me arrastar junto para muitas delas, mas eu tinha planos
aqui, e eu pretendia ficar e completá-los, por isso sempre fiquei, sozinha. Não
trabalhava, e estava muito feliz por esse estágio do campus ser remunerado, eu
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iria poder comprar comida além do que a minha mãe manda, poder comprar
alguns livros e algumas roupas novas.
Meu apartamento era bem claro, havia muitas coisas jogadas, eu não fazia
o tipo organizada, tudo era limpo, porém nunca organizado, atei meu cabelo em
um rabo de cavalo, fui até a cozinha servir um copo com água e mandei uma
mensagem de texto pra Stefany.
- JÁ CHEGUEI, VEM. –
Stefany era minha amiga, das melhores. Louca e loira aproveitava a vida,
apenas um ano mais nova que eu e viveu muito mais, enquanto eu era do tipo que
temia que as coisas dessem erradas a Sté já havia ido e feito, eu conhecia ela
desde nova, e sabíamos tudo da vida uma da outra, ela tinha certa rivalidade com
a minha outra melhor amiga, a Nanda. Sempre disse que as duas estavam no
mesmo patamar, mas elas meio que me disputavam entre elas, às vezes era
divertido, às vezes era uma droga.
Mais tarde para compensar ia ligar antes de dormir para a Nanda, a Nanda
era dona de longos cabelos cor de chocolate, fazíamos o trio „‟para todos os
gostos‟‟, ela já era mais madura, e muito mais medrosa que eu de fazer algo
errado, apesar disso tinha o coração maior que o planeta inteiro, era sincera e
doce, nos conhecíamos desde nova e também sabíamos tudo uma da outra.
Duas batidas na porta e eu já sabia quem era, sempre duas batidas, dei um
pulo e fui abrir a porta, Stefany era minha vizinha, chegava sempre correndo aqui.
-Ai to com fome. – sempre com fome, ela apenas vinha na minha casa para
comer, sempre. Stefany foi indo para a cozinha, como de costume ia pegar
alguma bolacha ou ia fazer pipocas de microondas.
- Hoje foi meu primeiro dia no campus, fiquei deslocada, como sempre. - sai
tirando minhas botas e colocando ao lado do sofá onde me joguei deitada.
Quando ganhei esse sofá de presente do meu padrasto, fiz questão de comprar o
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mais macio, a beleza não importava, contando que eu sempre pudesse chegar em
casa tirar os sapatos e me jogar com tudo.
- ai carinho, não fala assim, tinha algum gato na sala? Como são todos? –
ela me perguntou.
- não, na sala não, mas conheci alguém, num bar chamado Caverna do
Café, bem na frente do meu prédio. O nome dele era Sam, eu acho. - Lembrando
do garoto, bonito, ele não havia me causado falta de ar, ou algo assim, nem
esperava que o fizesse também, mas confesso que fiquei curiosa sobre ele.
- E então? Ele era bonito? Como foi? Chamou-te pra sair? E porque esta
cara de funeral? Era pra estar feliz, um gatinho no primeiro dia de aula, é um bom
prognostico querida. – ela respirou. - E, por favor, Cler, você está com teias de
aranhas nessa sua boca linda, não comece antes de começar! -Eu adorava
aquela garota.
- Você! Dou cinco minutos antes de você começar a listar os motivos para
chutar a bunda do cara, antes mesmo dele te chamar para sair. Desculpe-me
carinho, mas estou começando a achar que seu lance é garotas! – Com a última
parte ela ganhou uma Cler afogada num gole de água, joguei uma almofada nela,
e levantei rindo.
- Não sou Lésbica, senhora não posso deixar nenhum pênis passar por
mim, e vá embora. Tenho que arrumar as coisas porque amanhã começa meu
estagio. Sua louca – Eu não queria que ela fosse embora, mas só deus sabe
como essa criatura podia me distrair, e eu ainda precisava lavar roupa, fazer
comida, entrar nas redes sociais, tomar um banho, coisas de garota é claro.
- Eu só vim dar uma olhadinha nessa sua cara, e sério Cler, deixa de ser
burra e da uma chance pro gatinho do café, talvez eu mesma vá até lá conhecê-
lo, ou talvez você possa pegar o numero dele para mim e - cortei ela empurrando-
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a, eu sabia como funcionava a cabeça dessa garota, ela já estava tecendo idéias
com Sam sem nem conhecê-lo.
No outro dia a aula passou, dei oi para minha colega gótica que senta atrás
de mim, e ela sorriu timidamente, sinto que essa garota deve ser legal. A aula
passou voando Saúde mental me prendeu, precisava saber cada detalhe útil para
o estágio dessa noite. Na saída olhei para o outro lado da avenida, para a
Caverna do Café, decidindo se ia até lá ou não. Decidi que devia ir, nem que
fosse para pegar o numero do celular do Sam para Stefany.
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- Oi, eu disse que não viveria mais um dia sem seu moca. E meu nome é
Cler! – Ele até poderia ser bonito, com esse sorriso estilo dentista, mas ainda não
havia mexido com meu mundo.
- Bom, então saindo um moca pra você. Grande! – Ele virou e gritou para
uma menina pra preparar uma Moca grande e se voltou novamente pra mim.
- Os veteranos ainda não vieram até nós. Ainda estou meio perdida por
aqui. – eu falei, quase que como um desabafo, sem esquecer o suspiro, logo
após, para dar ênfase.
- Bom, eles virão logo, até que horas vai sua aula? Talvez sua saída bata
com o fim do meu turno, e agente possa dar uma volta. - Podia jurar que ele bateu
os cílios, ok ele podia ser uma gracinha.
- Minha aula termina ao meio dia, mas duvido que eu vá sair com você, eu
não saio com estranhos, Sam. – Virei de lado e olhei a cafeteria, ainda havia
muita gente dentro, a conversa saia alta, e todos estavam em seus grupos felizes.
- eu não sou estranho, e você já sabe meu nome! Então me pergunte o que
você quer saber, garota ruiva, vou ser um livro aberto. – Que história é essa de
livro aberto? Não quero nenhum garoto sendo meu livro aberto. Garotos dão
trabalho.
- É Cler, Sam. E eu não posso sair hoje porque tenho que arrumar minhas
coisas para a noite, eu tenho estágio. – Eu não estava mentindo. A garota loira
vinha trazendo meu mocca, e eu derrepente fiquei mais feliz.
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- Ok, então fica combinado amanhã, depois da sua saída da aula. O mocca
é por conta da casa, garota ruiva. – Antes que eu pudesse responder, ele piscou
para mim, tirou debaixo do balcão um boné preto e colocou virado para trás, virou
e saiu em outra direção para atender outros clientes.
- EI GIRL, CONSEGUIU NUMER GATO SAM P MIM? AMO VC. - Essa era
a minha amiga de sempre, como eu disse já havia lançado o jogo e ela queria
ganhar.
Já estava bem tarde quando eu percebi, sai do meu livro favorito, romance
de garotinha aguado de Richelle Mead e entrei nas minhas roupas, voando tão
rápido o quanto pude. Preparei um café, muito mais rápido do que qualquer um
poderia, arrumei um pouco de maquiagem e penteei os cabelos, eles estavam se
comportando tão bem ultimamente que até mereciam um agrado. As chaves do
carro me tomaram longos dez minutos para encontrar, mas achei embaixo de uma
almofada no canto do sofá, pelos deuses eu precisava me organizar. Celular,
chaves, café, roupa, tudo pronto. Fechei a porta atrás de mim e fui obrigada a
descer de elevador, devido ao meu atraso.
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Estacionei o urso e fui direto pra dentro com as minhas coisas na bolsa.
Logo na entrada um guarda.
- Boa noite senhora, eu posso ajudar? - Era alto e forte, cabelo meio
grisalho, poderia dizer que ele devia estar entrando na casa dos quarenta anos de
idade, quem sabe, a única coisa em que eu conseguia pensar é que ainda bem
que ele era tão grande e forte, se algum paciente psiquiátrico resolvesse entrar
em surto psicótico, teria grandes homens para ajudar. Olhei para cima, um arrepio
desceu pela minha coluna, intimidador, porém eu devia pensar nele, apenas como
um hospital normal, pelo menos até encontrar algum supervisor, de modo que eu
não possa sair correndo como uma criança de colo com medo de fantasmas.
- Uh, desculpe. Sou aluna da Universidade, Inicio hoje meu estágio aqui,
meu nome é Clerian Gilvez. – eu disse, enquanto ele pegava um grosso caderno,
do estilo de atas escolares, e folheou, e então disse:
- A senhora pode dirigir-se até a recepção e dar o seu nome, eles vão
chamar seu supervisor, ok? – ok, vamos sair daqui garota. Eu virei às costas e
segui na direção que ele havia me mostrado, passei pelas grandes portas de
entrada, virei para trás e vi uma placa em neon vermelho escrito SAÍDA, bem, eu
já sabia para onde correr caso algo desse errado.
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- Querida, você segue esse corredor, no final ali naquela ala há o posto de
enfermagem, seu supervisor deve estar lá logo. Bom plantão. – No mesmo
instante que ela terminou a frase já havia virado de volta para o monitor do
computador, de forma que se mostrava totalmente ocupada para bate-papos.
Coloquei meus pés em movimento em um instante, seguindo na direção que ela
havia me indicado.
Mesmo não tendo olhado por muito tempo o grupo que me observava pude
ver que todos eram homens, e de várias idades, a maioria com pijamas, pude ver
um homem mais velho com um roupão roxo, um cara com uma camiseta preta, e
os outros de pijamas.
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O posto ficava bem ali na frente e um homem que eu pensei ser meu
supervisor me esperava na porta.
-Sim, Pode me chamar de Cler, senhor? - deixei como uma pergunta para
ele se apresentar, nunca o havia visto antes, não devia dar aula no campus, não
que eu conhecesse muitos dos professores que lecionavam lá, mas pelo menos
ainda não o tinha visto no meu prédio e nem na Caverna do Café.
- Você pode guardar suas coisas naquele armário, pegue a chave e guarde
com você, hoje você pode usar apenas seu avental e identificação, ok? – ele me
indicou uma parede de armários cinza, como aqueles usados nas universidades
americanas, quadradinhos, empilhados numerados. Escolhi o numero sete, é
claro, guardei minhas coisas e voltei, Tomaz me esperava com os óculos na ponta
do nariz, batendo o pé.
-Essa primeira ala, é a ala masculina, você vai passar duas semanas em
cada. Quero que depois de organizar seu material, saia para falar com os
pacientes, um por um, com calma, e controlando seu tempo. Quero que
demonstre segurança, mas no limite certo, sem afrontar e nem amedrontar
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nenhum paciente, alguns são muito vulneráveis. Os leitos ficam naquela direção.
– Ele apontou para um corredor a direita, com varias portas em ambos os lados.
- Sei que hoje sendo seu primeiro dia, deve estar um pouco intimidada,
além do mais, é muito nova, e bem diminuta. Mas isso não importa, deve saber
que toda nova noite de plantão deve me trazer o que aprendeu na noite anterior.
Preciso saber a sua evolução, a partir do seu ponto de vista. - Ele me olhou dos
pés a cabeça, e deu um suspiro, não pude identificar, se era de cansaço, ou
apenas entusiasmo.
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- Uh, oi, meu nome é Clerian, eu sou estagiária de enfermagem, vou cuidar
de vocês pela próxima semana, mas vocês podem me chamar de Cler. – Todos
ainda me observavam em silêncio, ninguém disse uma única palavra. Completo
silêncio, eu senti minhas bochechas ficando quente, droga, eu não queria ficar
ruborizada de vergonha.
- Ok, eu vi que antes havia mais dois com vocês quando eu cheguei vocês
sabem para onde eles foram? – que ótimo tagarelando com pacientes mudos.
Eles ficaram em silencio, ninguém me respondeu sequer uma pergunta. Eu olhei
para meus pés, sou uma droga de enfermeira, pensei. Eles olharam de volta para
a televisão, ignorando minha presença, Eu levantei meus olhos e vi que um
paciente ainda me olhava. Ele não vestia pijamas, e sim uma camiseta preta, e
calça jeans, como se estivesse aqui a passeio. Quando eu olhei para ele, ele me
olhava com uma expressão estranha, pelos deuses, eu vi humor por trás dos
olhos dele?
Ele se levantou do sofá e saiu andando, ele era alto, e pude ver pelo corpo
dele, que ele tinha um ótimo tipo físico, muito bonito. Não pude evitar esse último
pensamento. Ele entrou no corredor e sumiu em um dos quartos.
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- Me diz que eles não são sempre assim. – Sai para dentro do posto.
Tomaz veio junto.
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- Ok, seja segura, Cler. Eles não gostam de enxergar insegurança nos
olhos de quem cuida deles. Há câmeras em todos os corredores, você pode
conversar com eles da porta, da onde eu possa te ver pelos monitores, se algum
paciente for agressivo, ao lado de cada porta há um botão vermelho, é uma
campainha, um alarme, eu estarei ao seu lado, no mesmo instante. Não se
preocupe, Seja tranqüila e confiante. – Acenei e saí.
-Sr. Peter? – Quase pude ouvir um sorriso, era isso? Empurrei levemente a
porta, para me dar mais visão do quarto. Cama de solteiro, sofá bem na frente,
mesinha de cabeceira, mesa para alimentação, porta pro banheiro, alguns livros
empilhados na cabeceira, um copo com água, um abajur, edredom de leito, no
chão botas de couro, botas? Sim do tipo rock, curioso. Ele estava deitado me
observando com um sorriso fino, calça jeans surrada e camisa preta, cabelo
esparramado e bagunçado, tudo preto, como a noite.
- Pelo que vejo você já entrou. – Sua voz era grave e forte, mas não muito
grossa, um calafrio percorreu minha espinha.
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- Desculpe, você é Peter? – eu não sabia direito para onde olhar, o quarto
se encontrava escuro, eu podia ver ele deitado, mas as sombras cobriam o rosto
dele, que maravilha.
-Bem, sim, e se você ainda não me mandou sair, é porque posso ficar?
Certo- eu perguntei.
-Achei que você devia ficar ao alcance das câmeras. – Ameaçador, me fez
dar um passo para trás, como se tivesse lido meu pensamento. Segurança,
Tomaz disse segurança, passe segurança garota.
-Apenas se eu me sentir ameaçada. Uh, bem, posso ver que você não é
mudo. – Quase pude ver os lábios dele subindo, gostaria de saber sua idade.
Mais do que isso, eu gostaria de saber por que seu prontuário está todo
incompleto, será que ele é algum indigente? Bem não era o que parecia.
- Não. – Ponto final, ele era alguém de frases curtas, precisei me lembrar
de ser profissional, quase me deu vontade de ir lá e sacudir os seus, bem, não ia
acontecer, é claro. Precisava pensar em algo profissional para fazê-lo falar,
peguei minhas anotações do meu bolso e minha caneta, olhei para cima, ele não
estava mais deitado. Ele estava a um suspiro de mim, nossos pés quase se
tocavam. Tranquei a respiração e quase cai para trás, ele agarrou meu cotovelo,
me segurou no lugar e então me soltou.
- Vai fazer anotações sobre mim Cler? – Eu não conseguia respirar direito,
ele estava bem na minha frente e parecia bem alto. Fiquei olhando para ele, olhos
pretos, com uma espécie de humos por trás, ele devia notar o meu medo, a minha
insegurança.
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- Você devia perguntar pros seus colegas. Cedo demais pra você Cler. –
Garoto esquizofrênico pare de falar como se fosse intimo.
-Pra você vim para meu quarto, sozinha, no seu primeiro dia. Além do mais,
eu quase posso sentir seu medo. Está com medo de mim, Cler? – Eu pude jurar
que ele abaixou a cabeça para conseguir olhar nos meus olhos, eu dei um passo
para trás para colocar distancia entre nos dois.
-Você, Peter, é um paciente, medicado e sociável, não vai fazer mal para
mim, eu, só vim te ajudar. – Minha voz saiu estranha, em partes agudas, devido
ao nervosismo, mas as palavras saíram certa, como planejei, ele deu um passo
para trás e me olhou com um olhar quente, praticamente rindo com os olhos.
Temos aqui um debochado esquizofrênico, vou precisar de muitas horas
estudando sobre.
-Está nervosa, Cler, quer sair correndo chamar seu professor? Como quer
me ajudar se não sabe o que fazer? – ele quebrou a distância entre nós, me
fazendo trancar a respiração e dar um passo para trás deixando assim meu corpo
para fora do quarto, na linha da porta.
- Vim te buscar, vi pelo monitor que você entrou no leito, achei que
tínhamos combinado de você ficar na porta, aonde eu poderia vê-la. O que
aconteceu? – Eu já não estava mais com medo, estava com raiva, talvez tenha
escolhido a profissão errada.
- Nada, ele só não quis conversar, e bateu a porta na minha cara. – Girei
nos calcanhares retornando para o posto. Para minha alegria já estava a dez
minutos do fim do meu plantão. Céus como passou rápido. Fui organizando as
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minhas coisas, e me arrumando, queria sair desse lugar o quanto antes. Tomaz
entrou na sala.
- Pode deixar, até amanhã. – Peguei minha bolsa, minhas coisas e fui
saindo, antes que ele quisesse me dar alguma lição, mais. Passando pelo
corredor cheio de leitos, Peter estava no fim dele, em frente a sua porta, escorado
na parede com a perna, sorrindo. Sorrindo! Um arrepio desceu minha barriga.
Entrei no carro e fui para casa, tudo que eu mais ansiava era chegar,
acender um cigarro, abrir meu vinho e ir para a sacada curtir o vento norte, e
esquecer esse hospital, esquecer essa noite, e esquecer meu mais novo paciente,
estranho esquizofrênico Peter.
Entrei em casa e fiz exatamente o que pensava, meus pés doíam, fiquei na
sacada mais ou menos uma hora, havia uma maravilhosa e clara lua, de chorar de
tão linda. Tomei uma taça de vinho, fumei um cigarro, tomei um banho e cai na
cama sem nem notar. Fiquei com uma imensa preguiça de ir fechar as janelas da
sacada, mas eu sabia que ninguém iria entrar no 8º andar, além do mais, no
prédio havia cerca elétrica, câmeras, e o segurança. Então me deixei cair em um
sono profundo. Céus eu estava cansada. – E esse é apenas o primeiro dia,
docinho. – falei para mim mesma.
Meus sonhos foram uma loucura. Peter estava em todos eles, me olhando
com aquele sorriso ameaçador nos olhos, me observando. O pior é que eu estava
nos sonhos, exatamente como fui dormir, com um lingerie preto, calcinha e sutiã,
apenas. Seu olhar descia pelo meu pescoço, podia sentir o seu olhar quente
levantando o canto da boca, passando pelo meu ventre, parando na minha
cintura. Os pelos dos meus braços arrepiados, e pelos deuses não era frio. Seu
olhar desceu pela minha cintura, parando no meu quadril, me despindo com os
olhos, eu estava muda, esperando, e o mais interessante não estava intimidada,
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como? Seu olhar subiu encontrando-se com o meu. Olhos negros, cabelos
negros, roupas negras.
Peter, jovem e bonito, meu paciente esquizo, eu tinha que manter uma
conduta profissional. Para um paciente esquizofrênico cada palavra dita por
alguém pode desencadear transtornos e viagens completamente loucas, uma
frase mal pensada poderia desestabilizar totalmente um paciente esquizofrênico.
Para trabalhar com ele, eu precisaria me aproximar e criar um laço de confiança
entendê-lo e principalmente saber como agir.
“Como quer me ajudar, se não sabe o que fazer Cler? ‟‟ ele havia me dito,
na verdade havia jogado na minha cara, ele havia dito também que ele poderia
cheirar o meu medo. Ele estava certo, de que maneira ele poderia se sentir
seguro, com alguém que tinha medo dele.
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Urso me levou diretamente para o Campus, eu tinha muita sorte de ter meu
garoto lindo para dirigir até a faculdade, no caminho eu observava os ônibus
direcionados para o campus, abarrotados de gente, alunos, professores e
funcionários, pessoas de todos os tipos e todas as idades. Tanta gente, que eu
desconfiava ser proibida essa superpopulação em um único veículo.
Achei uma vaga bem em frente ao meu prédio, que sorte a minha. Percorri
o caminho até a Caverna do café, ainda não havia adquirido minha dose
necessária de cafeína para começar bem o dia. Já havia muita gente circulando,
conversando e tomando seus cafés no interior. Fui diretamente até o balcão. Sam
me olhou com uma cara divertida.
- Está bem garota ruiva, tenho uma surpresinha pra você hoje. Vamos nos
divertir. – ele me deu um daqueles sorrisos completos. Que tipo de diversão teria
em pleno meio-dia? Eu só conseguiria pensar em almoço, comida. Mas bem Sam
era divertido e bem-humorado, ótima companhia para se almoçar. E talvez, só
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talvez eu pudesse mandar um sorrateiro torpedo para Stefany, para ela nos
encontrar e então poderia deixar os dois a sós, e fugir. Não que eu ache que Sam
estaria disposto a concordar com isso.
- huh? – eu o olhei.
- Sim – eu sorri, envergonhada. – Isso que você não passa muito tempo
comigo, minhas amigas costumam me sacudir, às vezes funciona. - sorri
novamente, eu realmente gostava da companhia desse garoto, conversa leve,
flertes leves. Bons para administrar, nada que fizesse tremores descer pela minha
coluna, nem faltar ar aos meus pulmões, ou me deixar completamente sem fala.
-Lá vai você de novo, mas bem, eu não vou sacudir seus ombros, e nós
podemos fazer algo sobre passar mais tempo juntos. – Eu sabia que ele ia
comentar algo sobre isso no momento em que eu terminei a frase, garotos, são
sempre garotos.
- Sim, não me faça esperar muito, garota ruiva. – Ele piscou para mim, e se
virou para atender dois garotos que estavam esperando do outro lado do balcão,
com cara de poucos amigos. Essa era minha deixa para ir embora. Sai do caverna
saboreando meu mocca, e entrei no prédio a frente.
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que sentava atrás de mim nos outros dias, estava sentada na minha classe. Acho
que eu havia ganhado uma colega de classe, afinal.
- Não, não tudo bem, vamos sentar juntas, acho que vai ser legal. - eu
disse cortando-a, acho que apesar da aparência agressiva, ela era doce, e
insegura, e tenho certeza que devo ter feito pontos com ela quando resolvi me
sentar longe das patricinhas da janela.
Eu me sentei e tirei minha agenda e caneta para fora, meu mocca já estava
acabando.
- então, meu nome é Cler. - fiquei em dúvida se esticava minha mão para
ela, ou apenas deixava no ar para ela também dizer o seu. Escolhi a segunda
opção e dei o ultimo gole na mocca.
- legal, meu nome é Taci. – Fim de conversa, sou tão acostumada com as
minhas meninas conversadeiras, que não sei como dar continuidade em
conversas curtas.
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Eu iria averiguar tudo isso, claro, mas daí eu cheguei em casa e sonhei
com Peter enquanto estava praticamente nua, ele me olhava com real desejo, e
eu não fiquei com medo. Enquanto o professor ia falado sobre os ossos e
músculos do corpo humano, minha mente vagava e vagava...
- Ei garota ruiva, eu quase pensei que você estava fugindo de mim. - ele
me disse. Dei uma risadinha.
- Bem, você trouxe café? – eu perguntei. Era claro que ele não havia
trazido, ele estava com as mãos nos bolsos. Mas ele ficou surpreso, como em
“como não pensei nisso”.
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- Vamos para a praia, agente pode comer alguma coisa lá, o que você
acha? – Eu amava a praia, sempre gostei do mar, e do cheiro de sal, do barulho
das ondas quebrando na orla. Sim vamos.
- Sim, Vamos. Você tem um carro, ou você quer vir comigo? – eu perguntei.
Ele parecia do tipo que ia trabalhar de bicicleta para falar a verdade, mas nunca
se sabe.
- Não, vamos no seu carro, minha mãe está com o meu, tenho vindo de
bicicleta para o Caverna. – então bingo, acho que sei alguma coisa de analise
pessoal afinal.
Dirigi o urso pela cidade, até chegar a beira-mar, onde o cheiro da maresia
já nos alcançava, Sam veio o tempo inteiro falando do quanto acha interessantes
garotas independentes, que dirigem seus próprios carros, do quanto desprezava o
tipo que se aproximava dos garotos pelo dinheiro, do tipo interesseiras. Pontuou
as minhas chances de ter um câncer no pulmão pelo cigarro, que eu vou acabar
morrendo antes de todo mundo. Ele até trocava as músicas do som do carro,
como se fossemos amigos há anos. okey, ele era do tipo que se fazia intimo
rápido.
Tranquei urso e nos dirigimos para pedras da orla, a maré estava nos
dando uma boa visão. Os pássaros voavam enlouquecidos com as sardinhas que
a maré deixava para trás nas pedras. Eu sorri, o mar era incrível, já fazia tempo
que eu não vinha para cá, estava sempre ocupada em meu apartamento,
estudando, ou encabeçada nos meus romances.
Sam sentou ao meu lado, ele era bem mais alto que eu, e muito maior, eu
parecia uma criança sentada ao seu lado.
- E então Cler, você tem namorado? – Sam perguntou. Cedo demais para
essa pergunta.
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- Bem, uma aqui, uma lá, o que eu posso fazer? As garotas gostam do cara
do café! – ele disse dando seu melhor sorriso, aposto. Huh, presunçoso. Mas eu
tive que rir, a cara que ele fez foi mais pro tipo “estou encalhado há meses”.
- Tenho uma amiga, que adoraria o seu tipo então. – E adoraria mesmo,
Stefany ficaria muito feliz em degustar seu bom humor, e lhe ensinar umas
coisinhas.
- Mas preciso te dizer, não estou interessado na sua amiga, além do mais,
conheci uma garota ruiva, que prendeu meu interesse. – ele falou. sei, sei, sei.
-Você que sabe, hoje a noite vai ter uma festa de uns amigos meus, não
sei, talvez você gostasse de ir? eu até gostaria de ir, mas já faz tanto tempo
desde a última vez que eu fui a uma festa. E além do mais, conheci Sam há
poucos dias, ele poderia ser um assassino, marginal, estuprador.
- Não posso, tenho estágio no hospital. – Não era uma coisa com a qual eu
estava ansiosa, mas eu precisava descobrir sobre Peter, eu precisava da minha
nota com Tomaz. Eu precisava avançar.
-Hum, sei, está certo, vamos à próxima então. – Sam ficou mais cabisbaixo,
olhando o horizonte, eu percebi que o afastei, mas eu era a verdade, sempre. Eu
gostei de Sam desde o momento que o conheci, mas isso não queria dizer que eu
queria algo romântico com ele.
Olha vejam bem, fiz vinte e dois anos esse ano e eu nunca tive um
namorado, ainda mantenho minha virgindade, e pelos deuses o único beijo que
dei foi em um colega do laboratório de química no primeiro ano do ensino médio,
ele era do tipo nerd e nunca havia beijado também, então a coisa toda parecia de
enredo de desenho, ele era alto, magro e com uma acne muito mal tratada. Nós
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resolvemos nos ajudar mutuamente e nunca revelar isso para ninguém, e bem, o
beijo não durou cinco segundos e nem por um momento pensei em envolver a
minha língua naquele beijo experimental. Apesar de ter sido o único beijo da
minha vida, eu detestei.
-Então você sempre trás as garotas pra cá? – quis soar divertida, mas a
pergunta saiu meio sem jeito, precisava tomar umas aulas de flerte com a Sté,
apenas para não ficar para trás, é claro.
- Espera aqui, vou comprar uns cachorros-quentes pra nós. – ele disse.
antes que eu pudesse responder ele se levantou e saiu correndo até a barraca de
cachorro-quente. Eu levei um tempo meditando no silêncio sobre o fato dele ser
totalmente legal, e ao mesmo tempo não me despertar nenhuma vontade louca de
beijá-lo, nem arrepios, ou ansiedade concentrada no estomago.
-Ei garota ruiva, espero que goste de mostarda, porque pedi extra. – Ele me
arrancou de meus pensamentos me entregando um hot-dog, eu sorri, ia ser por
conta da casa novamente. Ele trouxe uma garrafa de água e me entregou.
-Eu trouxe água, não sei se viciados em cafeína bebem coca. - ele sentou
na pedra ao meu lado sorrindo, doce. Nos comemos em silêncio, eu sorria pra ele,
quando ele sorria pra mim, ele terminou muito antes de mim é claro, e ria
desesperadamente enquanto eu mantinha uma briga com meu hot-dog e a
salsicha.
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- se eu soubesse que você ia ficar tão linda e suja comendo hot-dog, teria
colocado no cardápio do Caverna a tempos. Eu teria feito você experimentar logo
no primeiro dia. – Eu me levantei, e o Sam quebrou a distancia entre nós com um
papel na mão.
- Vou te trazer pra comer hot-dog sempre. – Sam deu um suspiro se virou e
subiu as pedras, parou na ponta da mais alta e esticou a mão para que eu me
apoiasse e então me puxou e saímos os dois em direção a rua.
- Se você me trouxer sempre pelos hot-dogs vou ficar enjoada, e vou chutar
a sua bunda. - como se meditando sobre a possibilidade de vir comer aqui com
Sam sempre.
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Entrei em casa, e a primeira coisa que eu senti foi um cheiro de Vetiver. Pra
quem não sabe, Vetiver é um aroma amadeirado sensual, sempre gostei de
cheirar as amostras dos perfumes da minha mãe. Antigamente ela revendia uma
famosa marca de perfumes, tudo sob encomenda, aonde ia levava um enorme
estojo com centenas de frasquinhos de amostras. Minha mãe conseguia fazer
com que suas amigas experimentassem não importa onde estivessem, na feira,
no supermercado, no ponto de ônibus, ou até mesmo dentro dos ônibus. Ela era
uma grande vendedora e sempre conseguia grandes encomendas.
Aquele cheiro veio até mim, como um aroma no vento. Poderia ter sido do
corredor, talvez. Minha casa não tinha esse cheiro, e ainda tinha mais, algo como
pimenta? Minha mãe poderia ter vindo me visitar, chegado enquanto eu estava na
aula, feito alguma comida, e deixado um cheirinho no ar, então ela deve estar por
aqui.
Tirei minhas botas, larguei minha bolsa e puxei meu vestido branco até os
quadris para que eu pudesse me sentar em posição de lótus. Uma brisa gelada
passou por mim, okey, voltando, brisa gelada com a janela fechada. Levantei-me
em um pulo, e olhei ao redor, devo estar ficando louca de vez. Me deitei de
bruços na ponta da cama e cochilei, eu havia dormido tão mal a ultima noite, e me
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senti tão cansada ao acordar hoje de manha, uma cochilada depois do almoço
não iria me atrasar muito.
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Que droga de lugar era esse? Não a pergunta certa é que droga de sonho
era esse?
Peter estava a minha frente com um brilho louco nos olhos. Eu demorei um
tempo olhando pra ele, normalizando minha respiração. Ele estava vestindo preto,
o cabelo preto, olhos pretos, sua boca era vermelha e ele inclinou o canto para
cima percebendo a minha analise sobre ele.
- está gostando do que vê, Cler? – zombeteiro, ele colocou as duas mãos
no bolso, e me fitou.
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- só estou curiosa, porque estou sonhando com você e não com o Sam.
Quero dizer, eu não posso me ter sonhando com você, você é meu paciente, é
proibido e errado, você sabe profissional e paciente. – abaixei o olhar, não era
exatamente o que eu estava pensando em falar, mas saiu antes que eu pudesse
refrear.
- Como faço pra acordar do meu sonho? – Falei ignorando a sua pergunta
- Achei que você tinha perguntas para mim Cler. – Sua face ela totalmente
inexpressiva, ele deu um passo a frente, nos deixando um pouco mais próximo.
-Isso é tão importante? Está incompleto porque deve estar. – ele respondeu
secamente.
- Seu tempo acabou Cler. - Ainda com as mãos nos bolsos, ele se virou e
seguiu caminhando na direção em que veio. – Agente se vê, logo.
Como assim meu tempo acabou? Meu tempo para que? Eu ia ficar sozinha
sonhando no meio desse deserto árido? Fechei meus olhos e passei a mão pela
nuca. Não quero sonhar, quero dormir um sono profundo. Como uma ordem
mental inconsciente eu acordei. Eu estava deitada ainda na ponta da cama, com
os pés para fora, uma fina linha de suor descia pela minha testa, e diabos me
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sentia com muito sono. Sentei na cama e olhei para fora na janela, me perdi
lembrando o solo, a umidade, o papo estranho do Peter, e então notei que já
havia escurecido.
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Resolvi que ia começar por Peter, já que ele era o Leito sete e o último do
corredor, iria de lá para cá. Apesar de ter um sonho estranho, ou melhor dois
sonhos com esse paciente, precisava manter uma postura profissional frente a
ele, frente a todos.
- Boa noite? Sr. Peter? – Eu disse dando apenas uma batidinha, ninguém
respondeu, empurrei a porta apenas alguns centímetros e entrei um passo mais.
- Peter? - Falei com a voz um pouco mais séria e dura. Ouvi barulho de
chuveiro, e antes que eu pudesse me dar conta e sair do leito, Peter saiu pela
porta do banheiro enrolado em uma toalha, quem diria branca. Ele estava com
uma expressão indecifrável, parou e passou outra tolha pelo cabelo, que não era
muito comprido. Sem conseguir segurar o impulso, percorri seu corpo
rapidamente com o olhar. Que tipo de esquizofrênico era esse? Ele ia à academia
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por acaso? Eu podia afirmar com toda a certeza do mundo, que músculos assim
não se ganha fazendo abdominais na sua sala. Ele era completamente definido,
nada daqueles músculos enormes e inchado, os deles eram médios e rígidos, a
barriga era definida, pelos deuses, eu bem poderia lavar uma roupa naquele
abdômen. Bem poucos pelos circulavam a cicatriz umbilical e a toalha estava
enrolada bem abaixo daí, o que me fez percorrer as pernas e então voltar para lhe
olhar no rosto.
Peter estava sorrindo. Ele estava sempre sério e ameaçador, mas nesse
momento ele estava sorrindo, com os olhos cheios de humor, ele com certeza
deve ter percebido meu espanto de encontrá-lo apenas de toalha, e deve ter visto
o quanto casta eu sou. Eu fiquei completamente imóvel, não sabia se entrava e
começava a ver os sinais vitais dele, ou se saia do leito o deixando só.
- Eu não posso, quero dizer, não enquanto você estiver de toalha. – Olhei
para baixo, e eu sabia que ele estava caminhando para mim, então dei um passo
para trás, o que me arrependi na hora, eu estava cometendo na verdade uma
série de erros, primeiro eu deveria ter partido no momento em que ele saiu do
banheiro, segundo não posso recuar dele, tenho que ser segura, e terceiro não
posso sentir nenhuma atração pelo meu paciente, minha ética está em jogo.
- Então você quer que eu a tire? – ele arqueou uma sobrancelha negra, o
humor nos seus olhos demonstrava o quanto ele estava adorando a situação.
- Não Peter, Você não pode fazer isso na minha presença, então eu vim ver
teus sinais, e conversar um pouco, sobre você. – Poderia fazer isso agora, o ar
havia ficado gelado, derrepente senti uma náusea e minha boca se encheu de
saliva, senti uma necessidade de sair desse lugar.
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- Parece que você está sempre querendo saber sobre mim, está tão
interessada assim? – Ainda com humor, embora seu olhar tenha ficado mais
afiado. Ele caminhou e sentou na cama. Eu segui cada movimento.
- Será mesmo? Porque eu sei que eu fui o único paciente do qual você foi
atrás, desde que veio pra cá, e há muitos outros, você sabe. - Ele soava
intimidador, e ele estava certo, diabos, sete leitos e em dois dias, só vim para
este, e nem sequer estou fazendo o que deveria.
- Estou, huh, curiosa sobre você. Você foi diagnosticado com esquizofrenia.
Você não precisa ter medo de mim. – Eu tentei soar como uma profissional muito
competente que esta tentando ganhar a confiança de seu paciente.
- Então você pode confiar em mim Peter, vou te ajudar a passar por isso. É
por isso que estou aqui. – Ele então deu passo pra trás.
- Na verdade não, não e não. – Pisquei, eu não entendi o que ele quis
dizer, não queria que eu o ajudasse? Poxa, será que isso fazia parte da doença?
- Não o que? Porque você não quer ser ajudado? – Eu perguntei confusa.
- Não, não posso confiar em você, não, quem vai lhe ajudar sou eu, e por
fim não, não é por isso que você está aqui. – okey, agora ele estava agindo como
um esquizofrênico, seu olhar cortante fez com eu desse um passo em direção a
porta.
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- Clerian, se acalme, eu não vou machucar você. –Eu me virei e fiquei perto
dele, muito perto.
- Você ainda não está pronta, mas estou correndo contra o tempo. – Mais
conversa esquizofrênica. Minha respiração se acalmou só um pouco.
- Você está correndo contra tempo pelo que? Olhe eu sei que é difícil para
você, isso faz parte da doença, mas você precisa se abrir e me deixar entrar, para
eu poder ajudar você. – Eu tinha um ponto, se fosse qualquer outra aluna, já teria
desistido de Peter na primeira oscilação, não é só curiosidade, quero saber o que
estava acontecendo dentro da sua cabeça.
- Cler, você é só uma menina, mais uma menina! – Ele virou as costas, e
disse isso como se fosse uma coisa difícil de aceitar, quase com raiva? Eu não
entendia, não devíamos ter muita diferença de idade para ele me chamar de
menina. Mas eu tinha um dever, e meu tempo com Peter estava acabando, logo
Tomaz ia vim me verificar, e eu não havia conseguido nada.
- Olhe, eu não sei o que está acontecendo dentro de sua cabeça Peter,
mas agora preciso verificar seus sinais vitais, para poder te ajudar ok? – Dei dois
passos na sua direção, ele virou para mim indecifrável novamente, os seus olhos
negros me analisando. Nunca em um milhão de anos poderia tentar adivinhar
onde estariam os pensamentos dele.
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- Não eu estou bem, só não tenho dormido o suficiente. – soubesse ele que
eu estava fantasiando sonhos em desertos e seminua com ele.
- Nada que eu não possa suportar. Nós vemos depois Peter. – Eu virei às
costas, queria ir embora, me sentia estranhamente diferente quando estava com
ele, quero dizer, fora a atração e os calafrios no estômago que ele me causa na
maior parte me sinto mal e esquisita, acuada.
Saí pelo corredor, eu tinha outros pacientes para visitar. Fui ao posto de
enfermagem, Tomaz estava lendo, sem querer interromper peguei o prontuário do
leito quatro, Carlos.
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e cabisbaixo, caminha rapidamente para o leito, não fala com ninguém e fica lá,
sozinho.
-É uma historia bem triste, e uma pena que um artista tão talentoso tenha
que estar preso aqui dentro. – Meditei sobre isso, enquanto fazia algumas
anotações.
- você precisa de ajuda com alguma coisa Cler, alguma dúvida? – Tomaz
perguntou para mim por cima dos óculos que se mantinham sempre na ponta de
seu nariz, as pernas compridas e magras cruzadas como as mulheres costumam
cruzar.
- Na verdade não, por enquanto está tudo bem. Vou ir ver outro paciente. –
Fiz uma cara de competente e sai pela porta, eu iria ver Dimas então do leito Três.
Dimas tem Transtorno Obsessivo compulsivo, eu estava ansiosa para saber mais
sobre ele.
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comigo ele lançava olhares ansiosos para o copo, como se estivesse vazando por
baixo.
Eu me despedi dele e sai, ele foi agradável e disse que eu lembrava sua
irmã quando era nova.
- Nossa hoje a noite foi ótima, aprendi tanto com Dimas. – Eu não sei por
que, mas não conseguia falar sobre o paciente do leito sete com o Tomaz, eu
sentia uma sensação de „‟melhor não tocar no assunto‟‟, mesmo sem entender o
motivo.
- É isso aí pequena Cler, logo você vai se sentir em casa, e vai conseguir
trabalhar com as diferentes patologias. – Ele me disse orgulhoso, o que me fez
sentir uma ponta de saudade. Minha mãe e meu padrasto vivem viajando e
quando digo vivem, quero dizer exatamente isso, eles chegam de um lugar com
as passagens compradas para a próxima viajem, nunca tenho tempo de lhes
contar detalhes da minha vida, ou qualquer outra coisa, nunca tenho tempo de
matar a saudade.
- Tenha bons sonhos Cler. – Seu olhar era inexpressivo e quente, na maior
parte do tempo eu não conseguia ler as suas feições, mas às vezes eu conseguia
pegar algo como presunção, arrogância, desejo e humor. Na maioria humor. Eu o
olhei rapidamente, me sentindo estranha, eu precisava dar o fora logo antes que
eu decidisse ir até o quarto dele para conversar mais.
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algumas horas. Apesar de começar a pegar o jeito do hospital, estar ali dentro era
uma tensão onde eu ficava concentrada e atenta.
Elas vivem disputando o lugar de melhor amiga na minha vida, e bem, sou
totalmente inocente, pois sempre digo pra elas que as amo e as quero da mesma
maneira. Embora elas vivam me lançando perguntas do tipo „‟pra qual das duas
você deixaria o Urso se caso descobrisse um tumor?‟‟ ou „‟se você pudesse salvar
uma e as duas corressem perigo de vida, qual salvaria?‟‟ baixo nível.
- Achei que você não iria chegar nunca carinho. – Stefany sempre exigindo.
- Eu sabia que você viria já havia te sentindo bem antes. – Além de muito
mais madura que nós duas a Nanda era minha amiga sensitiva, sempre foi capaz
de saber quando eu não estava bem ou quando eu precisava de um colo amigo.
- O que nós vamos comer? – Uma vez que a Stefany estivesse dentro da
minha casa ela estava procurando comida.
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- Não me diga que é Sam docinho? Então minhas chances acabaram antes
de começar? – Sté disse fingindo uma expressão triste, mas eu sabia que ela
estava empolgada por eu ter um possível novo lance com Sam.
- É claro que eles não se beijaram! Você não conhece nossa pequena
ursinha aqui? Provavelmente só vá beijá-lo no pé do altar. – Stefany não aceitava
a minha falta de experiência, fazia discursos e mais discursos de todo o prazer
que eu estava perdendo em ser exigente e não sair beijando cada boca disponivel
por ai.
- Calma, eu disse pra ele que nos deveríamos ir com mais calma. Ele
aceitou numa boa. Parece que ele gosta de mim. – eu respondi, ignorando a
provocação de Sté.
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- O que você faz nos meus sonhos Peter? Acho que estou desenvolvendo
sua doença. – eu desisti e fitei o espaço a minha frente, parecia um deserto sem
fim lá em baixo.
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mais saudável e mais certo não sonhar com ele, ou mais certo ainda se estivesse
sonhando com Sam.
- Você quer minha camiseta? – Ele arqueou uma sobrancelha com o olhar
controlado, mas cheio de humor.
- Esta bem, parece que não há maneira de sonhar sem que um de nós
esteja quase pelado. Passa pra cá! – Tentei soar segura, mas minha voz saiu
aguda e fora de tom.
-Que foi? Fiquei horrorosa não é? – eu não achava que ele diria que fiquei
feia com a camiseta dele, mas afinal eu não sabia nada sobre ele.
- Acho que ainda não tinha te visto tão bonita. – ele me disse. Pude ver que
ele tentava controlar a sua expressão, virou para frente e ficou sério, ele era
intimidante e me deixava nervosa, mas aqui em meu sonho ele até parecia mais
fácil de levar.
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- Então, porque será que não paro de sonhar com esse lugar horrível?
Quero dizer, apesar de ser árido e sem vida, tem uma enorme umidade, acho que
é um deserto. – eu estava tentando procurar algo para falar, não sabia que
podíamos ficar sem assunto em um sonho.
- E como uma lembrança sua está no meu sonho? – A maior parte das
coisas que Peter falava eu não compreendia por completo, mas essa foi uma das
que mais me deixou confusa. Isso era loucura.
-Porque este não é seu sonho Cler, é meu. – Peter falou sorrindo como se
isso fosse à resposta para todos os mistérios do mundo. E como se alguém
tivesse jogado água em mim, eu acordei.
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Céus! Nunca imaginei que sonhar com Peter me deixaria tão cansada,
como alguém depois de dormir uma noite interrupta de sono profundo pode
acordar cansada? O sonho todo estava chamuscado, mas a última parte eu
recordava muito bem. Eu pensaria nisso, com certeza eu pensaria nisso, mas
antes eu tinha aula para ir e coisas pra fazer.
- Ei Sam, que tal uma mocca aqui? – No instante que ele me notou, deixou-
as e se virou para mim com um sorriso enorme de parar o coração de qualquer
garota. Pude ver o olhar da patricinha percorrendo meu corpo, e então o
reconhecimento. Raiva borbulhou em seu olhar.
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Sam pediu meu moca para a moça do bar e veio para mim.
- Eu te disse Sam, acho que não posso mais passar uma manhã sem seu
café. – Fiquei parada e o olhei.
- A hora que quiser você sabe. – Não sabia se ele se referia ao café, ou a
alguma outra coisa porque ele deixou a voz mais grave e intima, o que me fez
sentir estranha. Ele endireitou a coluna e espalmou as mãos no balcão com um
lindo sorriso nos lábios.
- Você que perde garota ruiva, mas eu ouvi você dizer encontro? – ele
arqueou uma sobrancelha, ele estava de bom humor pude definir confiança.
- Não você me ouviu dizer almoços. – mas já era tarde de mais, ele havia
me pegado. Eu sorri.
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- Okey! – Eu gritei para ele de volta, ainda podia sentir o olhar secante da
loira do outro lado do balcão, eu me sentia bem.
A aula foi o que parecia tempo interminável, sentei com Taci e passamos a
fazer os trabalhos juntas apesar de ela ser tímida e não gostar de muita conversa,
eu estava agradecida por não precisar ser a única a não ter um parceiro para os
trabalhos. Quando o sinal tocou, eu saí da sala quase correndo, hoje eu estava
quase animada para almoçar com Sam. Como no outro dia ele estava me
esperando do outro lado da rua.
- Você não estava fugindo dessa vez, ponto pro Sam! – Ele disse animado
se referindo a outra vez que eu me direcionava direto para o carro por ter
esquecido nosso almoço.
- Te conheci essa semana e já posso dizer que você é a pior mentirosa que
já vi. – Ele me disse sorrindo.
- Okey você ganhou, eu havia esquecido tudo bem? Mas hoje eu lembrei. –
eu reconheci.
- Vem, vamos comer alguma coisa. – Ele disse nos direcionando pro carro.
- Você é linda, sabe. Não posso acreditar que você não tem um namorado.
– Eu pisquei, agora não tinha tanta certeza se queria flertar com Sam.
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- Cler, preciso te perguntar uma coisa. – Ele ficou sério, pude sentir a
intensidade de sua voz.
- Eu preciso saber se tenho chances com você, quero dizer, não sou o tipo
de cara que gosta de ficar correndo atrás, mas eu sinto que você é diferente,
então preciso que me diga se pelo menos passou pela sua cabeça que você e eu
podemos ter alguma coisa? – Pelo motivo que não faço idéia a imagem de Peter
se formou na minha cabeça, proibido, antiético e mesmo assim irresistivelmente
atraente.
Eu nunca poderia estar com Peter, mas eu poderia estar com Sam e talvez
Stefany esteja certa, talvez seja à hora de começar a pensar em ter algo com
alguma pessoa antes de entrar na melhor idade.
-Sim. – eu não sabia como ir mais além, eu não tinha muita experiência
com homens, pra não dizer nenhuma.
O semblante de Sam ficou radiante, ele puxou minha mão e colocou a sua
por cima. Eu o observei, podia ver o desejo por trás de seus olhos.
- Eu sabia que você era diferente no momento em que você passou a porta
do Caverna. – Ele aproximou a boca do meu ouvido e sussurrou. – Cai por você
naquela hora.
Eu sabia que essa seria à hora, a hora do meu primeiro beijo de verdade,
sem acordos e segredos. Sam aproximou sua boca da minha e fechou o espaço
entre elas, carinhosamente roçando os lábios, eu senti a ponta de sua língua
tentando entrar na minha boca, eu enrijeci. Não sabia direito como fazer, então
apenas abri a boca para deixar as línguas se encontrarem. Ele mexia sua língua
como se estivesse procurando um caramelo perdido em minha boca, e eu tentei
imitar os movimentos. Bem, foi muito bom ter beijado pela primeira vez alguém
que eu realmente estivesse com vontade, os planetas não se alinharam o chão
não tremeu e eu não senti calafrios por todo o corpo, mas foi muito bom.
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Comemos e eu o levei para o mesmo lugar eu ele ficou no outro dia, ele
me beijou antes de sair do carro novamente. Eu percebi que beijar é como um
esporte, quanto mais pratica melhor fica, eu já me sentia mais confortável o
beijando pela segunda vez, meus movimentos foram mais suaves e menos
imprecisos.
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Tentei manter minha mente focada enquanto lia e relia o material da aula.
Eu tinha beijado Sam, o que era uma coisa muito importante, mas a única coisa
em que eu conseguia pensar era em meus sonhos com Peter. O tempo passou
voando e eu me arrumei para ir para o Hospital.
- Huh, Tomaz você sabe por que a pasta do leito sete está vazia? – eu
perguntei, o que pareceu uma eternidade depois ele respondeu.
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- A sim, o paciente do leito sete deu alta hoje de manhã. – Ele se sentou
em uma cadeira e pegou seu livro.
Peter havia dado alta, e agora eu não o veria mais, talvez nunca mais. A
noticia foi como um tapa na minha cara, fiquei alguns minutos olhando a prateleira
de prontuários, perdida. A noite passou lentamente parecendo que não teria fim
nunca. E quando terminou tudo que eu queria era ir para casa e dormir, infernos.
No exterior a chuva havia ficado mais forte, de modo que ensopou meus
cabelos e roupas apenas no caminho até o carro. Agora estava realmente difícil
de dirigir, a chuva nublava o caminho a percorrer, eu sentia uma angustia
inexplicável e sem motivo.
- Huh, oi, como você está? – Eu disse a ele, precisava ver o seu humor.
-Peter, eu não sei o que você veio fazer aqui, mas eu não posso, huh, falar
com você em particular. Eu não conheço você o suficiente pra isso. Além do mais
estou toda molhada – tentei soar calma, mas meu coração estava acelerado no
peito. Com a última parte consegui com que seu olhar descesse por todo eu
corpo.
Peter quebrou a distancia entre nós e sussurrou para mim. – Você não
queria conversar sobre mim? Essa é sua chance.
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- Eu só posso ser louca, mas okey, eu moro no oitavo andar, espero que
goste de escadas. – o fitei, precisava ver alguma ameaça no rosto dele, precisava
de algo pra me lembrar que ele era um paciente da unidade psiquiátrica e que eu
não deveria o levar para minha casa.
Acenei para a porta de entrada das escadas me virei e sai ele me seguiu
silencioso. Quando cheguei à porta de casa abri e mandei-o passar por mim, ele
entrou e sentou no sofá, no meu lugar.
- Bem, hã você quer beber algo? Quero dizer, te ofereceria uma cerveja,
mas sei que não pode por causa dos remédios, então tem café e água, você pode
escolher. – Larguei minha bolsa e entrei na cozinha, e de maneira pensada deixei
a porta da sala destrancada só no caso de precisar de uma saída de emergência.
- Okey. - Ele estava sentado no meu sofá com os cotovelos apoiado nos
joelhos com uma camiseta preta, calça cinza e botas de couro, como sempre. De
costas para mim eu podia ver seu cabelo negro da cozinha, meu coração
acelerado, talvez eu conseguisse um ataque cardíaco. Peguei um copo com água
e voltei para a sala e sentei no sofá do lado.
-Você é Peter, você sabe disso, o que eu gostaria de saber é o porquê você
está negando para mim. –Eu também o fitava com cuidado, qualquer oscilação da
parte dele, sairia pela porta e só voltaria com ajuda médica.
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- Uh, então, sobre o que você veio falar? – Eu não conseguia imaginar
nada que ele pudesse querer conversar em minha casa tão tarde da noite. – Eu
acho que está muito tarde Peter, talvez tenhamos que falar rápido. – uma
afirmação.
- Eu não ia lhe envolver nisso, mas estou sem tempo Cler. Preciso da sua
ajuda pra lhe ajudar. – Meus olhos se abriram, essa frase tinha completos sinais
de confusão mental.
-Você quer minha ajuda para me ajudar em que? – olhei com cuidado sua
expressão que era calma.
- Para começar você precisa saber que eu não sou esquizofrênico. – ele
esperou, eu não ia responder isso, já o havia feito. Minha estratégia seria o deixar
falar tudo o que tem pra falar e fazer com que saísse da minha casa, apesar dele
ser incrivelmente sexy e tentador, me fazia sentir em perigo. – Eu me internei para
que conseguisse um contato com você. – Eu ainda o olhava completamente séria.
- Não, você está confuso e quer me fazer ficar também, mas eu preciso que
vá embora Peter, está muito tarde.
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- O deserto é uma lembrança minha, porque foi ali que eu cai quando os
guardiões me expulsaram. Eu já não era imune a sede, nem a dor, nem ao frio,
então eu padeci, e sofri para conseguir sair dali, mas não importa quantos
milhares de anos se passem minha fonte e laço com os céus é ali naquele
assombroso deserto. – Ele me olhava profundo nos olhos, eu tremia por dentro,
isso é loucura, historias contada para adolescentes, agora entendi o porquê de ele
ser esquizofrênico, o cara acha que é um anjo, o cara acha que é um anjo caído
de verdade, pelos deuses. O que eu ia fazer?
- Eu estou com sede. Você pode me dar um pouco de água Cler? – ele me
pediu.
Uma forte luz imergiu do céu, tão forte que não pude manter meu olhar
sobre ela, durou segundos até cair e atingir o solo árido e quebradiço do deserto
como um meteorito formando um grande buraco, assim que a poeira se dissipou
pude ver três indivíduos enormes, um estava sobre os seus joelhos, caído e todo
ensangüentado, os outros dois estavam próximo a ele, falando alto e gritando
palavras que eu nunca havia escutado antes, e a sua voz, era calma e forte,
causava um aperto no peito como se eu estivesse a beira da morte. Um deles se
aproximou e fez um símbolo no ar com a mão e então o homem caído sobre os
joelhos gritou, gritou tão alto e dolorosamente que ficou difícil para eu suportar, e
as lágrimas rolaram pelo meu rosto, o aperto no meu peito ficou maior e me sentia
com vontade de gritar junto a ele. Seu grito continuou e continuou alto e sofrido,
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Virei para o lado e Peter estava parado olhando para frente com uma
expressão de dor no rosto.
- Vamos Peter, temos que ajudá-lo! – Ele segurou minha mão e disse. –
Espere, olhe.
- Isso aconteceu a milhares de anos Cler, você não pode me ajudar com
isso. – Ele deu algo que deveria ser um sorriso, mas saiu uma expressão
torturada.
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- Como estamos aqui então? Como chegamos aqui? Como podemos ver o
passado? – Eu ainda girava em círculos, eu sabia e sentia que ia pirar a qualquer
momento.
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Eu o olhei exasperada, senti meu sangue frio. Ele acabou de dizer que sou
um demônio?
- Você quer dizer que sou um demônio? – Pelos deuses eu nunca nem
sequer roubei algo.
- É claro que não, eu disse que o demônio está ligado a você e não que é
você. Se fosse você já a teria banido desde o início. – Ele me disse incrédulo,
como se fosse obvio.
-Deuses e o que eu fiz para ter um demônio ligado a mim? – mal acabei de
beijar pela primeira vez de verdade.
- Quem disse? E porque isso teria a ver? – eu perguntei. Meu rosto quente.
-Cler, você não pode saber tudo, mas bem preciso usar essa ligação com
você para pega-lo e bani-lo. – ele disse.
- Uso um tipo diferente de âncora e o levo para o outro lado, o lado que ele
não deveria ter saído e então lanço um feitiço de banimento e depois um
selamento.
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– Você ainda não tem idéia no que está metida Cler, mas você precisa se
lembrar, não pode falar disso com ninguém. – Seu rosto duro, penetrante.
-Porque não posso interferir no seu livre arbítrio, nem na sua linha da vida.
Se isso acontecer, os guardiões interferem, eu sofrerei você morre e o demônio
pode se deslocar. – ele pausou me dando tempo para reagir a tudo. – Tudo tem
que correr o mais natural possível, sem a interferência de nenhum lado. Você me
entendeu? – quando ele terminou, sua voz tinha um aviso perigoso e algo me
disse que eu não tinha escolha.
- O que é isso, eu estou fazendo algum tipo de pacto sem saber? O que eu
tenho que responder? Sim? O que vai acontecer comigo quando você matar o
demônio? – eu estava soando desesperada feito uma criancinha com medo.
- Não me lembrarei de nada? – é claro que eles não iam deixar uma
humana por ai sabendo dos segredos dos anjos caídos.
Ele agarrou minha mão e antes que eu pudesse pensar uma segunda vez
estávamos de pé em minha sala.
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- Isso não foi um sonho foi? – Eu não precisei olhá-lo para saber que ele
estava negando.
-Agora você sabe, mas tem que continuar com sua vida normalmente e
esquecer-se da minha presença, agora que formei um laço psíquico com você
poderei sentir quando o demônio se aproximar e tentar concluir seu objetivo. – Ele
ainda continuava perto o suficiente e quando levantei encontrei seu olhar
diretamente com o meu.
-Não sei se vai ser tão fácil assim esquecer sua presença. – eu disse antes
mesmo de puder evitar.
Ele olhou nos meus olhos e então olhou minha boca todo o meu rosto e
então voltou para meus olhos. Eu não podia me mover, eu não podia respirar, eu
não podia fazer nada que não fosse olhar para ele. Ele era realmente muito bonito
e eu não estava mais amedrontada.
-Você quer saber uma coisa Cler? Você me atraiu pros seus sonhos antes
de eu ter te tocado, isso me surpreendeu, porque eu ainda não havia estabelecido
o vinculo psíquico. – Ele arqueou uma sobrancelha.
Quase não parecia o homem que estava falando agora pouco, ele estava
despojado e relaxado novamente, meu coração acelerou no meu peito e no meu
estomago havia uma ansiedade sugestiva.
-Não faço idéia do que você quer dizer, você sabe, eu não estava tentando
sonhar com você ou algo assim. – Agora eu estava vermelha, ruborizada, que
diabos eu tinha o atraído?
-Na verdade isso quer dizer que você me atraiu porque você criou um laço
psíquico comigo antes, isso não teria funcionado com um mortal, mas como eu
sou um caído você me buscou e me trouxe para dentro da sua inconsciência. –
ele falou como se estivesse meditando sobre o meu feito. – talvez você seja mais
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forte do que eu supunha no início, e eu tenho que te agradecer por aquela noite,
você me deu uma bela visão.
Seu rosto vibrava humor enquanto ele desceu seu olhar para meu corpo,
me deixando quente.
Ele sorriu, aproximou a boca da minha orelha e disse: - Que bom que você
não tem mais medo de mim Cler. – ele olhou meus olhos e se virou indo para a
porta, abriu-a como se soubesse que eu a tivesse deixado aberta e antes de sair
me piscou.
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Fui para o Campus, e tudo parecia insignificante frente a minha nova visão
do mundo. Parei o urso no estacionamento ao lado do campus e quando sai Sam
estava sentado em um banco com uma sacola na mão.
Ele veio até mim, colocou as mãos na minha cintura e me puxou para um
beijo. Na verdade me surpreendi, por mais que tenhamos nos beijado outro dia,
não havíamos nos tocado muito e hoje simplesmente ele veio e me roubou para
um grande abraço. Primeiramente roçando seus lábios nos meus e a sensação foi
boa, eu até senti um formigamento em minha nuca, depois ele aprofundou o beijo
e me puxou mais junto deixando nossos corpos colados, o que era difícil pela
enorme altura de Sam. Sua língua procurava e procurava dentro da minha, ainda
não estava acostumada com isso de beijo de língua, então fui com calma,
coloquei a ponta da minha língua na boca dele, e então quando me percebi estava
trabalhando com a minha língua tão habilidosamente quanto ele.
Quando nos separamos ele colocou o nariz no meu pescoço e deu uma
enorme fungada, sim ele me cheirou pra valer, e quando olhou nos meus olhos
chamas queimavam puro desejo. Perguntei-me se eu estava tão bem assim para
deixar alguém como Sam tão caidinho.
-Você cheira tão bem, Cler. – ele disse com a voz rouca e íntima.
- Uh, bom dia pra você também. Eu disse enquanto ele retornava a sua
expressão de sempre me abrindo um grande sorriso.
- Bem, você não deveria estar atrás do balcão uma hora dessas, garoto do
café? – eu questionei, ele abriu um sorriso maior ainda, se é que isso é possível.
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- Mas eu não posso Sam, arrecem começaram as aulas e não posso ficar
para trás. – Ele diminuiu o sorriso e me puxou pelo braço para ele. Eu também
não estava acostumada a ficar aconchegada em nenhum cara.
- Cler, posso apostar a minha casa que você é do tipo nerd, não vai ficar
para trás, só hoje eu juro. Além do mais eu te trouxe dois presentes. – ele arqueou
uma sobrancelha e quase me fez rir.
- Sam é lindo! Deve ter custado uma fortuna, não precisava. – Eu girei o
pulso admirada, nunca havia ganhado nada de um homem, era linda e trabalhada.
-Olha, não quero que você pense que estou tentando te pressionar te
dando presentes ou algo assim, na verdade não é grande coisa, eu vi, me
lembrou seu cabelo na hora e eu precisei comprar apenas isso. – Ele disse
envergonhado.
Eu fiquei na ponta dos pés e o beijei levemente nos lábios. – Bem o que
você pensou em fazer?
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-Onde estamos indo? – Decididamente não era de volta para meu carro.
- Vamos pegar meu carro, e nada de perguntas pequena garota ruiva. – ele
me disse, sorrindo amplamente.
- ah Cler, você tem que parar com isso, antes que eu resolva mudar o
roteiro do nosso passeio e decida te levar para a minha casa. – ele sussurrou nos
meus lábios.
- Você tem um cheiro único, poucas mulheres cheiram como você. – ele me
disse com a voz rouca de desejo, era como se ele sentisse mais desejo me
cheirando do que me beijando. Eu sorri e disse – Meu perfume deve realmente
ser bom.
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Quando passamos por uma grande porteira ele estacionou logo à frente e fez
sinal para que eu saísse do carro.
- Acho que você vai adorar isso. – ele me disse com um sorriso enorme. Eu
ainda levava meu café e dava pequenos goles no caminho.
-É lindo Sam, eu amo lugares assim. E então? Não vai me dizer que você
também nunca trouxe nenhuma outra garota aqui? – Ele abaixou a cabeça como
se eu o tivesse pegado.
- Na verdade já trouxe uma garota aqui, mas você é diferente Cler, você é
única. –okey, eu o fitei, isso era algo muito profundo para se dizer pra alguém que
você tinha começado a sair a apenas alguns dias. Eu ainda não estava preparada
para ouvir esse tipo de coisa.
- Eu sei o que você deve estar pensando. – ele pausou e olhou para frente.
– que eu estou indo rápido demais. – ele se voltou novamente para mim. – quero
ter certeza que eu serei o primeiro da lista quando você decidir começar um
namoro.
- Duvido. Você deve ter um monte de caras atrás de você nesse exato
momento. – ele me disse me olhando cauteloso. Peter veio na minha cabeça, mas
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eu não podia pensar em Peter sem pensar nas coisas que Peter havia me
revelado, então eu não queria pensar em Peter.
- Na verdade não, não há outros caras Sam. – eu disse com calma, era
verdade. Sam podia não ser o primeiro na minha lista de pensamentos, mas eu
acho que eu gostaria que fosse.
- Eu gosto de você Cler, gostei desde a primeira vez que você entrou no
caverna, você meio que abriu caminho no meio daquele monte de mulheres
promiscuas, eu nunca poderia resistir. –Ele me disse com a voz baixa, eu não
sabia como responder a isso, eu também havia gostado dele, mas ele não havia
me atraído da mesma maneira. Então eu decidi beijá-lo ao invés de responder a
sua declaração.
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que eu saí, meu corpo tremia pela busca de ar e pelo medo. Na primeira cabana
havia muitas tábuas e madeiras cobrindo as janelas e portas, como se fosse
proibido entrar por elas, havia outras, o terreno ia declinando para baixo, e eu
pude avistar milhares delas, pareciam todas iguais saídas direto dos livros de
terror. O céu avermelhado e com nuvens pretas deixava a visão difícil, deixava o
ambiente escuro, como o anoitecer. Depois de passar mais três cabanas, avistei
uma com a porta aberta para trás, na frente da porta havia uma pilha do que
pareciam muitas roupas queimadas. Eu cheguei perto e passei por cima das
roupas quando cheguei ao balastro da porta e olhei para dentro, dezenas de
rostos humanos desfigurados e furiosos olharam diretamente para mim.
- Tudo bem, me desculpe de novo, eu não queria pegar pesado, mas é que
você me deixa louco, você sabe. – Ele ainda me olhava com desejo, eu poderia
apostar que se eu o deixasse poderia pular novamente em cima de mim em um
segundo.
- Ta tudo bem Sam, não se preocupe. Já estou bem, Então que tal você me
mostrar esse lugar? – Ele levantou e me puxou pela mão, caminhamos de mãos
dadas por todo o bosque conversando sobre tudo, desde futebol até a novela
atual das nove.
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-como assim zero? – ele me olhou com os olhos arregalados. – Não posso
acreditar, que bandos de idiotas, como deixaram passar uma mulher dessas! – ele
gritou derrepente o que me fez sorrir. - Na verdade fico feliz, sorte a minha! – ele
pontuou, derrepente ele me olhou com os olhos quentes e cautelosos.
Então eu olhei para meus pés e disse. – Bem na verdade, não tenho
experiência em nada relativo a caras. – eu admiti. Eu confiava em Sam, por mais
que o conhecesse há pouco tempo, ele havia me ganhado com seu jeito doce e
atencioso.
-Não sei, quero dizer, começando por beijos. – eu pausei e o olhei. – Antes
de você eu só havia beijado um garoto. – Pude sentir minhas bochechas
ganhando ainda mais cor.
- Sim, bem, na verdade, eu meio que não contava o primeiro como um beijo
de verdade. – eu disse. Ele ergueu as sobrancelhas e eu lhe expliquei o
combinado com meu antigo colega do laboratório de química.
- Então eu fui seu primeiro beijo de verdade, eu não posso acreditar. – Ele
me disse rindo alto, excitação estava estampada em seu olhar
- Então você, huh, bem você é virgem? – eu sabia que ele deduziria.
- Então realmente você foi um presente para mim, eu não posso acreditar!
– ele deu uma gargalhada. Eu sorri e lhe dei um soco no braço o que lhe fez sorrir
amplamente.
-Olha Cler, quero que sempre se sinta segura comigo, nunca vou te
pressionar sobre isso, te juro, então finja que nunca conversamos sobre isso,
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apesar de me sentir muito mais enfeitiçado agora. – ele terminou. Parece que uma
mulher virgem sempre significaria glória para um homem afinal.
Acendi um cigarro e fui para casa, meus pés estavam dormentes dentro
das minhas botas, eu não podia acreditar que eu tinha acabado de matar aula e
ido me agarrar com Sam em uma linda cachoeira. Estacionei o urso na esquina de
casa em frente a uma padaria, precisava comprar algumas coisa para um lanche
rápido. Peguei algumas coisas e voltei para casa.
- ela cheira a homem, sua amiga. – foi o que ele havia me dito,
conversaram e riram juntos, mas ele não tirava os olhos de mim. Eu estava
começando a me sentir acostumada a ter Sam por perto, quando eu menos o
esperava aparecia, um dia eu lhe mostrei meu prédio, e então ele apareceu
muitas vezes para me buscar e me levar para meu estagio obrigatório no Hospital
Psiquiátrico.
- Espero ansioso o dia que você vá me convidar para entrar. – Ele me disse
uma noite quando me largava em casa depois do hospital. Eu queria convidá-lo,
mas algo ainda me travava.
- Ate amanha, garoto do café – era meio que nossos apelidos carinhosos,
ele frequentemente me chamava de garota ruiva e eu o chamava de garoto do
café.
Eu subia para casa, e Sam ocupava a maior parte dos meus pensamentos
agora, era calmo e bom. Eu abri a porta do meu apartamento e me deparei com
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alguém saído diretamente dos meus sonhos. Peter sentado no meu sofá. Um
arrepio passou pela minha nuca.
-Como você entrou na minha casa Peter? – Ele havia sumido, por uma
semana inteira, várias vezes antes de dormir em me perguntei se não havia
sonhado tudo o que havia acontecido, se eu não havia imaginado.
- Bem o que você veio fazer aqui? Quero dizer, você sumiu, eu meio que
achei que você tinha que cuidar meus passos depois da nossa ultima conversa. –
Decidi que seria melhor manter nossa conversa longe dos ouvidos dos visinhos e
então fechei a porta e entrei.
-huh, legal, então, o que veio fazer na minha casa? – parei na frente dele,
afastada.
- Essa semana, bani oito demônios de volta pro outro lado. O que não é
uma coisa que eu considere normal. – pausou. – Todos nessa cidade.
- Eles estavam atrás de mim? – o olhei então eu não havia imaginado afinal
de contas.
- Não, eles não pareciam conhecer você, mas eles falaram de uma pura
que visitou o outro lado. – mais pausa. – Os humanos não podem visitar o outro
lado.
-Como assim visitar o outro lado? – minha voz saiu em um fôlego só, minha
voz saiu fraca e sem controle.
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-Quando alguém que não demônio visita o outro lado quer dizer o lado
deles, principalmente alguém puro, os demônios vem pra cá atrás dessa pessoa.
- Eu não tenho certeza, mas eu posso te dizer que eu sinto que essa
Ancora é você. – ele me disse.
-Como assim? Eu não posso ser. Olha Peter, sou apenas uma humana
normal com amigos normais, com um namorado normal. – Quando eu terminei
Peter me lançou um olhar afiado.
- Não sabia que você tinha um namorado. – Ele me olhou sério, quase
pude sentir o gosto amargo na voz dele.
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que demônios não vão te possuir a cada esquina e ficar passeando com o seu
corpo entre a terra e o Inferno. Tenho que me certificar que nenhum demônio vá
te estuprar e fazer com que gere uma âncora mestiça. Se você for uma âncora
vou precisar te proteger e manter um olho em você o tempo inteiro, até conseguir
um feitiço para selar seu corpo. – Ele ainda me olhava dentro dos olhos.
Eu estava sem fôlego, não sabia o que dizer, não saberia uma resposta
para dar. Minha vida sempre foi segura, e derrepente estou correndo o risco de
ser possuída por hordas de demônios, de ser estuprada, fora o demônio que já
estava atrás de mim para me matar.
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- Então Peter, o que eu vou fazer? O que você pretende fazer? – eu estava
completamente assustada, como milhares de seres humanos podem viver na
ignorância por tanto tempo? Sem saber das ações de outros seres para mantê-los
em segurança e o equilíbrio da ordem natural?
- Bem, se considere com sorte, porque você tem um novo hóspede. – ele
me olhou e humor estava em seus olhos negros.
- O que? Não! Você não está se mudando para minha casa! – eu disse só a
idéia de ter Peter andando pela minha sala, tomando banho no meu banheiro me
dava arrepios.
-Eu sabia que você ia dizer isso, mas você precisa entender Cler o perigo
que você corre, a sua força não é nada comparado com a de um demônio, por
mais que eles passem para o lado de cá mais fracos ainda é muito superior a de
um humano. Então, não haverá discussão. – Ele olhou para os dois lados. – Há
um quarto de hospedes, ou eu fico com o sofá? – ele sorriu.
Eu não tinha um quarto de visitas, então ele arrumou uma cama no sofá, eu
não conseguia acreditar no que estava acontecendo, apesar de tudo ser
aterrorizante eu quase sorri imaginando a cara da Stefany e da Nanda ao entrar e
se deparar com Peter dormindo na minha sala. Eu ruborizei só de pensar na
imagem dele saindo do banheiro do hospital na minha segunda noite. Deuses isso
ia ser intenso.
Apesar de ser bem tarde, o sono não vinha nunca, como eu faria para
dormir sabendo que Peter está ali atirado no meu sofá? Eu precisava falar com
ele sobre a minha visão, mas não queria ir encontrá-lo na sala. Fiquei feliz de
lembrar que não haveria aula no outro dia, finais de semanas são abençoados
ainda mais porque eu havia dito ao Sam que eu ia passar o Sábado com as
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minhas meninas de modo que nos dois passássemos o domingo juntos. Ele
concordou e até falou que haveria surpresa. Pobre Sam se ele soubesse o que
acontece e o perigo da minha vida, ia sair correndo pra nunca mais voltar.
Tomei meu caminho até o banheiro ainda grogue de sono, torci a maçaneta
e ao mesmo tempo alguém abriu a porta. Um Peter só de tolha estava em pé a
minha frente, com um enorme sorriso.
Antes que eu pudesse evitar meu olhar percorreu sua boca, era linda,
desenhada, a mandíbula feita em linhas grossas, era completamente convidativo,
meu estomago se remoeu em ansiedade, e meus pelos do braço se arrepiaram, o
tórax definido, com músculos enrijecidos e, pelos deuses, úmidos. Quase pude
sentir minha boca salivar, quando alcancei a toalha subi rapidamente o olhar para
seu rosto, ele estava escorado no batente da porta, a boca apertada em uma linha
fina de deboche.
Eu passei por ele e o empurrei para fora do banheiro batendo a porta atrás
de mim. Precisava de um banho, em uma temperatura bem baixa.
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PETER
O que me deixa louco é como essa pequena mulher nunca tenha tido um
homem em sua vida. Eu tenho observado essa raça a milhares de anos, há
alguns dignos de minha defesa de nobre honra, mas outros são mais miseráveis
que ratos de esgoto. Passam suas vidas a correr atrás de sexo e dinheiro. E essa
é a sua maior ruína, mesmo que não percebam, e quando percebem não se
arrependem. Mesmo as mulheres, mal seu corpo se apresenta maduro e já levam
amantes a sua cama, diversos amantes, cada vez mais novas. Cler não, apesar
de sua mudança corporal já estar completa, ainda se encontra maculada. Posso
sentir o cheiro de sua pureza do outro lado da cidade. Mas então a presença de
um poderoso demônio procriador me faz cruzar com essa pequena criatura. Uma
tentação não me aproximar.
essência distinta, nunca em milhares de anos alguém foi capaz de senti-la, Vetiver
e pimenta.
Ela passou por mim e empurrou-me para fora do banheiro, eu podia sentir a
atração dela por mim, mas ela sempre tentava esconder, camuflava suas feições
antes que algo lhe escapasse. Eu precisava me forçar a ir para longe dela,
precisava me vestir, eu podia sentir a presença do demônio, mas não forte o
suficiente para detectá-lo. No inicio da semana eu podia sentir a forte presença
ligada a Cler, mas nos últimos dias essa influência foi escondida por algo. Eu
precisaria trabalhar sobre isso também, mas agora eu precisava ir até o Jango.
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pessoas sentem uma irresistível atração para eles, outras não conseguem olhar.
Diferente dos demônios que causam uma forte atração a todos os humanos lhes
mostrando a face que você mais gosta, são extremamente sedutores,
conquistadores,e lhes alcançam a confiança facilmente.
- Então Peter, o que você tem para mim? – ele e eu compartilhávamos todo
o tipo de informação, ele que me avisou a quem o próximo demônio procriador se
ligaria, e aonde eu deveria ir para criar um contato com ela.
- Sinto que ela foi tocada pelo outro lado, sinto que é a Ancora. Mas ela não
falou nada sobre alguma experiência extracorpórea. Acho que ainda é cedo,
preciso de mais tempo. – Eu falei duramente.
- Você sabe o que acontece se te dou muito mais tempo não é Peter?- Ele
me disse e o aviso cortante na sua voz não me fez encolher. Eu deveria pegar e
banir o procriador antes que ele a tocasse, ela é uma pura se ele a tocasse e a
engravidasse ela iria gerar um mestiço filho de um demônio e logo após morreria,
se ela não engravidasse sua alma estaria para sempre condenada pelo toque do
outro mundo. No caso de uma gestação isso seria muito pior, ela geraria um
mestiço ancora porque teria também o sangue de Cler, seria um mestiço que
poderia andar livremente por todos os reinos, diabos, isso estava ficando cada vez
melhor.
- Há algo bloqueando ele, algum feitiço eu acho, não posso mais sentir sua
ligação com a pura. Você não pode ver o que é? – Eu precisaria de mais ajuda
externa que geralmente preciso. O que me deixa incomodado.
- Bem vai te custar algo. – É claro, nenhuma ajuda seria tão fácil, e a troca
não parecia pecado nos céus. Geralmente Jango me dava informações por
cigarros, mas dessa vez pelo seu olhar pude ver que ele queria algo maior.
- O que você quer? – Meu tom foi grave e perigoso, dando limite para sua
moeda de troca.
- Posso ver que seu vinculo com a Âncora foi forte, ainda é. Você está,
digamos, diferente, parece decidido a protegê-la, e se assim é, então tenho
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certeza que não vai se importar de fazer algo para mim, algo que não posso fazer
por mim mesmo. – Ele me disse.
- O que ele lhe roubou? – eu questionei. Para fazer com que um Arcanjo se
dê a trabalho de custodiar um demônio de base menor deve ser algo valioso.
- O farei logo que você tiver avanço com o demônio. – Ele disse e então se
levantou e virou deixando claro que a conversa havia chegado ao fim.
- E Peter? Não falhe. – Jango disse por fim com um aviso de perigo, se
virou e saiu calmamente pela porta do Detroni. Em cima da mesa ficou um
pequeno papel onde estava Jango, nele continha um endereço e um nome. –
LIAN – ROCHESTER 163 SUBSOLO – GULEVAR.
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Depois que caí desprezei a raça humana por eles fazerem o que fazem
com si mesmos, as criaturas dos Céus e as do Inferno passam a sua existência
invejando a neutralidade do plano terrestre, onde os humanos podem decidir as
atitudes que vão tomar, sem seguir ordens e mesmo assim limitam-se a destruir-
se e a machucar-se, e por terem um curto prazo de vida deixam as belezas mais
preciosas passarem despercebidas. Mas Cler é ousada e corajosa, está
estudando para salvar vidas, apesar de ser apenas uma menina.
- Olá garotas. – eu disse seriamente. Olhei para Cler ela estava preciosa
em um vestido xadrez, ela me encarava, por alguns segundos nos olhamos, e o
resto do mundo deixou de existir.
- Bem meninas, esse é Peter, e nós meio que, huh, estamos morando
juntos. – Ela disse, ainda me olhando nos olhos, então do silencioso cômodo
estourou uma avalanche de perguntas, mal dava para entendê-las, a humana loira
levantou-se e começou a dar pequenos pulos no lugar soando empolgada,
magoada por não ter sabido antes, curiosa, ouvi entre as perguntas –
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parada sentada no sofá ainda me observando, tive que lutar com um sorriso, eram
encantadoras, a preocupação por Cler, a lealdade, o amor entre elas.
A loira colocou toda a sua atenção em mim, veio caminhando até a minha
frente junto à morena parando ao seu lado.
- Você não é Sam, a descrição não bate e se não é Sam então não é
namorado de Cler, então se não é namorado de Cler está livre. – ela colocou a
mão no queixo e pontuou. – você é solteiro carinho?
- Okey, okey, deixem Peter em paz, ele é apenas um amigo que precisava
de um lugar para ficar por um tempo. – ela disse olhando para mim, então se virou
para a morena e disse – eu não estou grávida! - virou para a loira e disse. – ele
não está livre! – por fim virou-se para mim novamente enquanto eu segurava-me
para não rir, que situação mais deliciosamente humana.
Ela estava vermelha eu fui saindo por entre elas, alcancei Cler e sussurrei
no seu ouvido – preciso falar com você sozinha. – ela acenou e eu saí.
Entrei em seu quarto, onde tudo cheirava a Cler e esperei por ela, deitado
em sua cama. Cerca de alguns minutos depois ela entrou, sua face não estava
mais vermelha, porém no momento em que me viu deitado em sua cama, ficou
até mais ruborizada que antes, seus olhos se elevaram e sua respiração pareceu
ter aumentado.
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- O que você quer Peter? – ela estava calma, mas pude perceber a
pequeno tremor em sua voz, definitivamente ela se afetava com a minha presença
e quase não pude controlar a sensação estranha no meu estômago.
- Porque vamos viajar ou porque não tem uma escolha? – eu arqueei uma
sobrancelha, ela sabia que eu estava a provocando, seu rosto se fez ainda mais
vermelho.
- Bem tenho algo a fazer, mas não conseguirei sem ter certeza que estará
segura. Então vai comigo. – eu disse a ela. Ainda a olhava com força, me levantei
e caminhei até ela, próximo o bastante para que nossos pés se encontrassem.
Minha respiração ficou presa por alguns segundos, diabos, era apenas uma
humana.
- Preciso que me acompanhe Cler, preciso que esteja segura. – Pude sentir
seu coração acelerando, e sem conseguir evitar passei a mão pela sua bochecha.
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-Ninguém pode saber que ele está aqui. – Eu tentei explicar a mentira que
eu havia planejado contá-las quando fiz Peter sumir da sala.
- Ele está fugindo da policia então? – Nanda disse. – Posso sentir que é
perigoso.
- Não e não. Não é perigoso, não está fugindo da policia, e Stefany o deixe
em paz!- eu pausei. – Não quero que ninguém saiba por causa de Sam, ele não
iria gostar e não quero magoá-lo.
- Para mim parece que o quer só para você. Pequena garotinha safada e
egoísta. – Stefany disse, se alguém sabia algo sobre atração esse alguém era ela.
- Se você está com esse tal de Sam, não devia receber esse outro cara
aqui na sua casa. – Nanda disse.
- Eu sei, mas eu preciso ajudá-lo, ele não tem mais ninguém, e bem, eu
confio nele. - eu disse. – Bem agora eu preciso ir falar com ele, depois nos
falamos okey? – terminei, não queria mandá-las embora, mas realmente
precisava falar com Peter.
Oh se sabia, Sté era muito receptiva, por esse motivo não queria
apresentar Peter a ela, ela iria querer devorá-lo no instante que o visse, demônios,
Peter não.
Dirigi-me até o quarto onde ele estava, abri a porta e o encontrei estirado
em cima da minha cama, totalmente relaxado. Seu aroma de Vetiver e Pimenta
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por todo o lugar, meu coração acelerou um passo, e eu conseguia respirar com
dificuldade. Ele estava com uma camiseta pólo preto, uns Jeans surrados e botas
de couro, seu cabelo negro estava brilhante e o canto de sua boca brilhava
deboche.
Incrivelmente lindo.
- É claro que não. – a imagem de eu sozinha com Peter viajando por horas
me deixou ansiosa, poderíamos conversar, eu poderia arrancar muitas verdades
dele, talvez eu pudesse arrancá-lo um beijo. Okey eu não deveria pensar isso,
mas seja lá o que ele for, Anjo, Deus, demônio, Justin Bieber ou Papai Noel, ele
era incrivelmente sexy, encantadoramente sedutor e perigoso.
- Você não tem escolha. – ele disse como se fosse meu proprietário. Peter
não era meu dono. Sempre me cuidei sozinha, pelos deuses, que garota de vinte
e dois anos ainda é virgem? Sempre fui dona do meu nariz. Peter não era meu
dono.
- Bem tenho algo a fazer, mas não conseguirei sem ter certeza que estará
segura. Então vai comigo. – Ele arqueou uma sobrancelha, e por todos os céus,
mal pisquei e ele havia se levantado da cama e estava a centímetros do meu
rosto.
Eu não percebi que estava sem respirar até meu tórax doer, senti meu
coração pulando no peito e os pelos do meu braço arrepiaram, deuses. Eu jamais
poderia dizer não a ele.
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Eu estava tão próxima da boca dele, que quase podia sentir sua respiração,
senti vontade de prová-lo. Agora não podia olhar para outro lugar que não sua
boca, era linda, desenhada e úmida. Ele passou a mão da minha bochecha para
meu pescoço e então desceu para meus braços, seu toque era como eletricidade,
meu estomago se fez em pedaços. E por fim sua mão chegou a minha cintura,
lentamente, como se estivesse tocando uma mulher pela primeira vez,
descobrindo. Eu tremia por dentro, e minha respiração se fazia cada vez mais
difícil.
Ele deu um passo para trás e me avaliou. – Arrume suas malas. – Seu tom
era quase irônico. Peter era insano, por um momento quase achei que fosse me
beijar e então a maliciosidade que me deixa louca entrou novamente no jogo.
-Você não manda em mim Peter. – minha voz saiu estranha. – Só vou ir,
porque quero saber o que você vai fazer, e não porque você quer. – agora eu
estava quase balbuciando, eu sabia que devia estar parecendo uma criança
falando com os pais porque sua expressão era de completo divertimento, sua
boca se elevou nos cantos, mostrando que ele estava se esforçando para não rir.
-Vamos sair hoje à noite, se prepare. Venho te pegar logo, agora preciso
fazer algo. - ele foi em direção a porta, ainda que eu estivesse a bloqueando. Eu
não confiava em minhas pernas para sair da frente demorei a reagir.
- Até parece que você quer me manter em seu quarto. – ele estava com as
sobrancelhas erguidas. Eu dei um salto atrapalhado para o lado, e pude ver
enquanto saia que ele sorria.
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- Desculpe garota ruiva, eu estava meio ocupado, tive que fazer hora extra
no Caverna, e bem está cheio, você sabe como são esses estudantes. – Ele disse
sua voz totalmente recuperada ao tom normal. Algo estava acontecendo?
- Eu queria te avisar que vou precisar viajar por alguns dias Sam, meu pais,
hã, eles me ligaram, eu vou encontrá-los – pausa.
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- É claro garota ruiva, qualquer coisa por você. – ele pausou. – qualquer
coisa me ligue, nos vemos logo. – sua voz profunda em um tom que eu
desconhecia até o momento.
Agora que estava tudo resolvido com Sam precisava arrumar minha bolsa,
e esperar Peter. Coloquei duas blusas, calcinhas e escova de dente, e claro o
spray de pimenta que Nanda me deu. Nunca se sabe quando pode precisar. O
tempo parecia passar lentamente, fui da sala para a cozinha, tomei dois copos
enormes de café, eu estava ansiosa, o céu já estava escuro e Peter ainda não
havia chegado. Pelo tanto de cafeína que eu consumi, provavelmente não
dormirei por dias. Já estava cansada de esperar quando Peter entrou colocando
as mãos nos bolsos.
- Você disse que eu devia continuar com a minha vida o mais natural
possível, então tenho aula e estagio na segunda, você sabe, tenho que estar de
volta logo Peter. – Parecia que o tinha surpreendido.
- Você está certa, vamos. – Ele saiu e esperou eu trancar a porta. Ele me
direcionou caminhando para o outro quarteirão aonde havia estacionado o carro
dele. Nos entramos e meu coração deu uma guinada, céus era Vetiver e Pimenta
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Ele dirigiu por cerca de vinte minutos, ficamos em silencio. Já era noite e a
lua estava escondida por nuvens cinza, parecia que ia chover e esfriar, talvez
tenha pegado roupas erradas, afinal.
- então, uh, como são os anjos? – perguntei, não apenas para quebrar o
silencio, mas eu aproveitaria cada momento para saciar minhas dúvidas. Pude ver
que ele apertou a mandíbula e me deu um breve olhar voltando-se novamente
para a estrada.
- o que você fez para cair? – terreno perigoso pôde notar, sua expressão
era dura.
- Sim, e então tentei alterar o curso natural de sua vida. Um protetor deve
proteger um humano sem alterar o curso natural de sua vida, quando chega a
hora dele morrer o guardião deve aceitá-lo e então retornar aos Céus. – algo
parecido com frustração passou por seus olhos.
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- Você disse que achava que eu era diferente. Que meus filhos também
seriam diferentes pra sempre, como é isso? – eu perguntei.
- Sim, acho que você é a Âncora pura de quem o demônio falava. – falou
unicamente, o fato de falar que eu era pura fez com que meu rosto esquentasse,
fiquei feliz que Peter olhava para frente, provavelmente teria lançado alguma
provocação.
- Posso sentir que você é diferente Cler, mas preciso te perguntar, alguma
vez já sonhou com o Inferno, ou teve qualquer vislumbre, mesmo que tenha
achado que era sua imaginação? – ele disse sua voz dura. Ao falar isso meu
corpo inteiro ficou gelado, me lembrei do dia em que beijava Sam, a imagens da
cabana chamuscada, ferros retorcidos, os abutres sobrevoando, o desfiladeiro e
as centenas de cabanas iguais. Aquele céu carmim, e o que aterrorizava meus
sonhos desde aquele dia, as dezenas de demônios desfigurados olhando
diretamente para mim. Minha voz se perdeu, minha mente vagou, um tremor
passou pela minha coluna, não fui capaz de responder de imediato, precisei achar
meu controle.
- Eu, sim, bem, me lembrei de algo. – Minha voz saiu fraca e tremula. Como
poderia falar o que eu tinha visto como tinha visto? Mal podia com a lembrança, o
medo que eu senti, como nunca antes.
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- Um dia eu vi uma coisa, quero dizer, eu estava acordada, foi mais como
se minha mente tivesse vagado para fora do meu corpo, bem, eu estava em uma
cabana em algum horrível lugar, o céu Peter, era vermelho. – eu baixei minha voz
como se estivesse contando um segredo. – eu saí caminhando de dentro e o lugar
era horrível, senti muito medo, nunca senti tanto medo, e então havia centenas de
cabanas à frente, algumas delas estavam trancadas, mas eu entrei em uma que
não estava. – precisei pegar ar. – havia um monte, havia vários, eu não sei rostos
desfigurados, vários... –
- Então isso quer dizer que sou sua Âncora? – perguntei, meu corpo
derrepente estava tremendo.
- Sim, quer dizer exatamente isso. – ele disse e então ficamos em silencio
novamente.
- Não, já disse que sou mais do que você conhece. – Peguei minha bolsa e
sai na frente dele para a entrada do hotel. Pude ouvir seu sorriso nas minhas
costas.
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- Então, pronta para dormir, amor? – Ele me perguntou alto, de modo que
parecia querer que o casal ouvisse, eles sorriram e eu acenei. Ouvir ele me
chamar de amor causou um formigamento por todo o meu corpo. Eu tentei ignorar
e avançar pelo caminho que ele fazia.
- Já disse que não estou com medo. – Eu disse, mas minha voz mostrou ao
contrário, estava sem controle.
- Você tem que saber que não vou te machucar Clerian, você tem que
saber. – Ele disse sério e profundo, falou meu nome inteiro mostrando a
sinceridade de suas palavras, eu acreditei, eu já não tinha medo de Peter, tinha
medo do que ele me fazia sentir.
-Bem, vou ficar com o sofá, se deite, você precisa descansar. – ele me
disse, um olhar relaxado estava espreitando seus olhos negros. De matar, ou de
morrer, pensei, vendo o corpo dele sem camisa, forte e rígido, sai pelo lado tirei
minhas calças jeans e fiquei apenas de camiseta e então me deitei por baixo das
cobertas. Apesar de ter Peter e sua proximidade na minha cabeça, não consegui
lutar muito tempo com o sono quando minhas pálpebras começaram a pesar.
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Atrás de mim estava um homem, bem não bem homem, estava sem
cabelos, sua imagem parecia translúcida e por todos os deuses suas pupilas eram
iguais as de uma cobra, na vertical, ele não tinha nariz, apenas dois orifícios e
seus lábios eram roxos púrpuros, era moreno e estava completamente nu, e bem
no meio de suas pernas havia uma ereção pulsante. O choque e o horror tomaram
conta de meu corpo, eu estava tão apavorada que não conseguia fazer minhas
pernas se movimentarem, não consegui fazer minha voz formar um grito, o medo
se apossou de mim. Ele se agachou como se fosse dar um bote, e então
lentamente inalou o ar com prazer a sua frente.
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Então eu gritei. Chamei por Peter tão alto que senti como se minha
garganta estivesse se fazendo pedaços.
Demorou alguns minutos e então ele se virou, seus olhos haviam voltado
ao normal, uma gota de suor escorreu por sua testa. Ele tirou as mãos quentes do
meu peito, só um segundo depois percebi que ele havia rasgado minha camiseta
para entrar em contato com a pele.
-Você está bem? – Ele me perguntou, pude sentir na sua voz o cansaço,
estava ofegante.
Eu não sei o que ele havia feito, mas eu sabia que havia me salvado. Eu
não consegui achar minha voz, lágrimas silenciosas escorriam pelas minhas
bochechas sem que eu conseguisse evitar, e por mais assombroso que pareça
não eram por causa daquele demônio horrível, e sim pelo abandono e sensação
de perda que a falta do toque de Peter me fez sentir.
- Amor, você está bem? – Ele se virou para mim e perguntando novamente.
Chamando-me de amor. Uma sensação estranha passou pelo meu pescoço e
estomago, ele agarrou meu rosto com as duas mãos.
-Eu, eu, sim, estou, eu, ele quase me pegou Peter. – consegui dizer por fim.
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- Sim, o bani antes que ele a possuísse. – Ele disse com raiva, ódio
irradiava dele agora. O que por algum motivo fez com que mais lágrimas
escorressem por meu rosto.
- Calma amor, você vai ficar bem, eles não vão tocá-la. – Eu o olhei nos
olhos, estavam negros e cheios de sentimento. Eu estremeci, eu gosto de Peter,
não quis admitir antes, e quase não o quero fazer agora, mas a verdade é essa,
talvez estivesse apaixonada por Peter.
Ele pegou minhas mãos as mantendo em seu domínio, seus olhos ainda
estavam presos aos meus, confiança passaram por seu olhar, sedutor, os cantos
de sua boca subiram, quase não consegui respirar. Eu queria beijá-lo, gostaria de
beijá-lo agora. Eu sabia que tudo estava errado, Peter era um anjo caído, que
vinha levando a eternidade banindo demônios, era indiferente a tudo e nunca
demonstrou afeto por mim. Eu não podia estar apaixonada por Peter, eu não
podia fazer isso comigo mesma.
- Eu não posso mais fazer isso! Eu não fiz nada por isso! Quero minha
casa, quero minhas amigas, meus pais, quero voltar para o Campus, para o meu
namorado. – eu falei, como uma explosão de frustrações. Eu imaginei que essa
seria a hora que Peter daria a costumeira lição de moral.
Como um sopro, ele colocou uma mão em cada lado do meu rosto e me
beijou.
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- Sou louco. – ele disse um sorriso sem humor apareceu nos seus lábios,
lindos lábios úmidos.
Aos pés da cama estava minha camiseta que Peter rasgou para encostar-
se ao meu peito. Senti uma onda de ansiedade crescer no meu estômago.
Levantei pé por pé sem querer acordá-lo e peguei outra camiseta na minha bolsa.
No entanto, o sofá onde Peter estava dormindo estava vazio, vazio não,
havia um pedaço de papel. Caminhei e o peguei entre os dedos, estavam
rabiscadas algumas palavras.
Reli duas vezes a mensagem, passei o dedo sobre a palavra amor, e então
guardei o papel.
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A noite passada foi horrível, nunca na minha vida havia sentido tanto medo.
Aquele demônio era uma coisa saída diretamente de livros de terror, mal posso
acreditar que realmente aconteceu. Ele queria me possuir, queria me violar, me
escravizar, e sentia prazer só pensando nisso. Mas Peter havia me confortado,
havia me beijado, havia me salvado.
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PETER
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Eu havia beijado Cler. Ela estava a ponto de ser possuída e eu senti o seu
medo, seu desespero. E então ela gritou meu nome, tão alto que meus ouvidos
ficaram latejando. Em questão de segundos ela estaria morta ou possuída se eu
não tivesse agido rapidamente. Ela parecia desesperada e vulnerável e mesmo
assim pude sentir sua segurança em mim, eu não pensei uma segunda vez
quando senti a presença do demônio de fase menor se aproximar.
Fiquei surpreso ao perceber que o demônio não havia entrado por completo
nesse plano, ele só pode ter feito um grande sacrifício para atraí-la para o outro
lado. Devo admitir que talvez os demônios estejam se tornando menos idiotas, ao
saber que ela é uma âncora eles não precisam mais se sacrificar para vir até aqui,
eles podem simplesmente atraí-la até eles.
Tirei o papel amassado do bolso de trás dos meus jeans, quando cheguei
ao cruzamento da Rua Rochester – LIAN – ROCHESTER 163 SUBSOLO –
GULEVAR - estava escrito.
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o barulho de uma goteira em algum lugar enchia meus ouvidos. Caminhei até as
escadas, examinei o lugar e a saída com meus olhos, memorizando.
-Se eu disser que não, vai me deixar ir? – ela disse, ainda que
completamente machucada soava irônica.
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Caminhei até uma mesa próxima a parede onde havia vários instrumentos
de tortura, água santificada em grandes frascos, facas, adagas, lâminas, correntes
untadas e grandes pinos de ferro. Já fazia vários anos em que não precisei
torturar um demônio, lidar com a legião de Procriadores não exigia tortura, mas eu
sabia muito bem como fazer. Logo que comecei a trabalhar em prol da minha
maldição tive alguns companheiros de má escolha que mostraram o que eu
precisava fazer para conseguir informações. Muitos demônios não precisavam de
tanta tortura e mutilação, mas alguns anjos caídos o faziam mesmo assim, seja
porque gostavam, ou seja, para descontar sua raiva em alguém.
Ao meu aproximar pude ver o real estado de Lian e bem, o corpo da garota
que ela possuiu era realmente muito bonito, e estava em um estado grave de
concussões e mutilações.
- Então vou lhe contar como vou proceder Lian. – pausei e parei na sua
diagonal. – Você tem cinco segundos após minha pergunta, se você não abrir a
boca e começar a falar vou começar com um pouco de fluido santificado para
queimar a sua garganta e chegar a musculatura do seu pescoço. Após isso
marcarei seu lindo rosto com símbolos sagrados de cima a baixo, sem deixar um
único espaço. E eu espero não ter que chegar a utilizar a tesoura. Se por fim,
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você não me ajudar cortarei fora a sua língua e então te destruirei. – falei
sombriamente.
- Para quem você entregou o artefato de Jango? – Minha voz era cortante.
- Jango, Jango, Jango. Sempre mandando outros fazer seu trabalho sujo. –
Ela me disse.
- Nada do que faça irá me fazer falar, tudo que me fará estúpido caído, não
é nada comparado do que me farão se eu abrir a minha boca. – ela disse com um
brilho louco nos olhos.
-Na verdade Lian, você vai ver que eu posso ser bem criativo. – Eu disse
colocando um tom mortal como aviso.
- Pobre anjo caído. Acha que está fazendo o papel do bom carrasco? Se
soubesse da metade das coisas que está acontecendo a sua volta estaria
envergonhado do papel estúpido e ridículo que está fazendo. – Lian disse quase
cantarolando.
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Eu queria que ela continuasse falando mesmo que seja para me distrair.
Talvez eu conseguisse pegar algo, talvez ela deixasse realmente algo escapar.
Girei a adaga em minhas mãos a dando mais tempo.
-Porque ele também a quer seu idiota. – ela disse rindo. – todos a querem,
apenas não dividimos o mesmo motivo.
- Ele vai usá-la como moeda de troca, no momento certo. – ela ficou séria.
– Ele apenas precisa da ultima informação para continuar. Ele precisa saber com
quem está seu precioso bem para poder negociar. – ela disse. – E o mais
engraçado foi ele mandar logo você para arrancar a informação de mim.
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Eu não podia perder mais tempo, peguei a adaga e rasguei uma linha da
orelha direita até o canto externo da boca. Lian gritou e uivou de dor, fazendo com
que mais lágrimas sangrentas escorressem por seu rosto.
- Se eu falar onde está docinho, sua pura vai morrer. Tem certeza que é
isso que quer? – ela disse sem humor. – Jango não é quem você acha. Ele tem
um único interesse querido, e não se importa com sua pura. – terminou.
- Você quer saber sobre Jango? – ela disse. – Se fizermos um pacto, posso
te contar tudo, menos onde está o que ele quer. Depois que eu lhe contar o que
eu sei você não vai querer ajudá-lo.
- Na verdade eu penso sim, anda seu idiota, Jango vai usá-la como moeda
de troca. Vamos fazer um acordo, eu e você docinho, e te conto tudo sobre seu
herói Jango de merda. – ela disse
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-okey seu idiota, o que eu tenho a perder, não é mesmo? – pausa. – bem,
acho que você deveria começar sabendo que o que o Arcanjo quer de volta é uma
fêmea. – ela disse.
Eu olhei incrédulo. Uma fêmea? Como uma fêmea? Uma fêmea de que?
Muitas coisas passaram por minha cabeça.
- Céus, todos os anjos caídos são tão idiotas assim? – ela disse.
- Ela é uma humana. Uma humana como a sua, e prepare-se, ela também
é uma ancora. – ela disse quase com humor.
-Não acredito, porque Jango estaria disposto a negociar com o Inferno por
causa de uma humana? – perguntei.
- Pelo mesmo motivo que você quer proteger a sua, querido. Ele a ama. –
ela disse como se fosse a coisa mais obvia do mundo.
- Jango ama a uma humana? – eu disse. Isso não podia ser verdade.
Arcanjos também podiam cair, então, se Jango ama uma humana como ainda é
um Arcanjo?
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ferir. Se quebrar o pacto será banida e selada. Com muita dor. Você aceita os
termos Lian?
- Okey, okey, que seja, eu aceito seus termos Caído. – ela disse com
desdém. E então peguei seu pulso e fiz um corte profundo fazendo com que
nossos sangues se misturassem. Senti uma onda elétrica passar por meu corpo.
Eu sabia que o poder de um pacto com anjos caídos era inquebrável e que
ela não poderia fugir, então soltei as correntes e a libertei. Ela levantou
cambaleando, e mal conseguindo andar. E sabia que sua essência imortal a faria
se curar rápido. Então a ajudei a ficar de pé, ela era diminuta e não pesava muito.
Saímos pela porta de aço e subi a escada. Dirigi-me para a porta ao lado
pensando em uma maneira de chegar até o carro sem ninguém vê-la.
-Onde você está indo idiota? – ela me perguntou antes que eu saísse do
prédio.
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criado pelo pacto pude perceber que ela não planejava fugir. Escorei-me no lado
de fora do banheiro na parede.
- Como Jango não caiu, se ele ama a uma humana? – eu perguntei alto
para que Lian pudesse me ouvir.
- Parece que ele arrumou um jeito de burlar essa regra. Como um furo no
sistema. Não sei bem. – Ela me disse, eu podia ouvir o barulho do chuveiro.
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veio como um presente, porque ele decidiu que assim que soubesse aonde esta a
humana iria pegar a ancora pura e usaria como moeda de troca e o demônio
contratado, bem é claro que ele o destruiria.- pausa. – sinto te dizer docinho, mas
o plano de Jango era que você protegesse a pura até o demônio achar a sua
fêmea, depois que achasse ele iria sumir com você e com o outro demônio
deixando apenas ele com as humanas âncoras.
- Nem sonhando querido, isso não estava no pacto. – Ela me disse batendo
os cílios.
-Bem então teremos que agir rápido, antes que Jango descubra que te
libertei. O tempo agora está correndo. – eu disse.
- Que vamos fugir daqui. E você vai vir junto. Preciso pegar Cler. – eu disse
saindo pelo prédio em direção ao meu carro, pude sentir pelo pacto que Lian não
queria me seguir, mas se sentiu obrigada. Rumamos em direção ao hotel em que
Cler estava eu precisava ser rápido agora.
Sai correndo sem pensar em Lian, eu sabia que a ligação dela comigo a
obrigava a manter-se perto, então não fugiria, a única coisa que me importava era
Cler, eu podia sentir seu medo, posso sentir que algo está acontecendo a ela, que
algo está errado. Obriguei minhas pernas a se mexerem mais rápido, passei pela
recepção e sai em disparada para o quarto. A porta estava trancada.
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- Que doce. Mas sinto te dizer que ela não está ai Anjo, e nem precisei de
uma ligação para saber isso. – Lian derrepente disse atrás de mim.
Dei dois passos para trás e então avancei com o pé na porta. Precisava ver
que realmente ela não estava aqui. Não acredito que aquela mulher teimosa e
idiota saiu do hotel. Eu a avisei que aqui estaria segura, eu havia tomado uma
hora do meu tempo enfeitiçando o lugar. Mas ela tinha que sair. Ela realmente
tinha que sair, e fazer o oposto do que eu disse. O que diabo as mulheres tem na
cabeça?
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Eu não podia ficar sentada aqui esperando. Meus pés já estavam por abrir
valetas no piso de tantas voltas que eu havia dado de um lado do quarto ao outro.
Tudo isso por eu ser uma droga de uma virgem de vinte e dois anos, e o pior uma
que podia andar pelo o inferno.
-OI Cler. – ele disse apesar de normal sua voz parecia um pouco mais dura
que sempre.
- Estou à disposição. – pude ver que ele estava com um bom humor hoje,
sua voz demonstrava leveza.
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- Gulevar. – eu disse.
- Na verdade estou sozinha aqui, e bem preciso te ver, quero dizer, quero
te ver, muito. – tentei soar sexy, seja lá como isso seja.
- Hum tudo bem, mas porque você não vem até aqui de carro? – ele
perguntou.
- Não vim de carro, usei uma carona. Você vai vir ou não Sam? – perguntei
impaciente.
Sentei-me na cama. Eu sabia que Peter onde quer que ele esteja ia querer
me matar por ir embora sem ele, mas afinal, Peter não mandava em mim. Por um
momento senti medo, e se algum demônio voltasse a tentar me possuir enquanto
estivesse com Sam? O que Sam pensaria? Se ele soubesse de tudo que está
acontecendo comigo provavelmente iria romper nosso namoro. Provavelmente
não iria querer ter nada a ver comigo. E Peter? Ficaria bravo por deixar de ser
virgem?
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- Ei garota ruiva, você parece linda sentada ai. – Ele me disse abaixando o
vidro e me dando um grande sorriso.
- Vamos pra casa ou pra algum outro lugar? – ele me perguntou com a
expressão seria.
Demorou alguns segundos para que Sam respondesse, pude perceber nos
seus olhos, controle e confusão, e então divertimento.
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- Sempre soube que um dia você imploraria que eu te levasse para minha
casa. – ele disse me dando um sorriso amplo.
O que Peter estaria fazendo? Ele já teria descoberto que fugi? Pedi que
Sam me levasse para a casa dele porque sei que o primeiro lugar que Peter iria
me procurar seria em casa. E tenho certeza que ele não sabe aonde Sam mora.
Nesse momento também percebi, que os dois nunca se conheceram, melhor
assim.
- Você. Seu corpo está aqui, mas sua mente não. Você fica ai, olhando pro
nada, com o olhar vazio, lábios abertos. – ele disse. Derrepente ele pegou a
minha mão e virou, de modo que meu pulso ficasse para cima e o cheirou
profundamente.
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Sam me puxou por um grande portão, a casa era enorme vista de fora, azul
clara com branco, tinha dois pinheiros na frente e um jardim de cinema. Ele abriu
a grande porta de entrada me puxando contra ele.
Entramos na casa e deuses do Céu, era incrível, esse garoto só podia ser
de uma família muito rica por que o ambiente todo era luxuoso, móveis de
carvalho escuro, eu quase podia ver meu reflexo no piso, dois grandes lustres de
cristal estavam acima de nós, e pinturas suntuosas estavam espalhadas pelos
cômodos. Fiquei desconfortável.
- Não sabia se você era interesseira ou não. – ele disse me puxando pela
mão.
Sam ignorou minha pergunta e seguiu me puxando, creio que para seu
quarto, o que fez com que uma ansiedade crescesse em meu estomago, meu
coração acelerou. Talvez eu ainda não estivesse pronta, embora agora seja meio
tarde pra voltar atrás.
- Está assustada por estar no meu quarto garota ruiva. – ele me disse
docente enquanto me puxava para um beijo leve.
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- Porque quis vim para cá Cler? – ele me disse com a voz rouca.
- Sam, eu queria vim aqui porque você sabe bem eu acho que eu quero
deixar de se virgem. – Falei tudo em um fôlego só com medo que não
conseguisse falar nada, com medo de virar as costas e ir embora.
Sam parou com os olhos grandes e deu um passo para trás. Seus olhos se
encheram de desejo, fome. O que ficava estranho no olhar de Sam que
geralmente era tão doce.
- Acho que está na hora, mas se você não quiser Sam, posso ir embora,
numa boa. – eu falei tentando soar segura.
- Você tem certeza que quer isso? Porque eu venho sonhando com isso há
semanas. – ele me perguntou com a voz controlada. Não consegui fazer minha
voz formar a palavra então apenas acenei, foi o que bastou para Sam. Ele veio
para mim, meu coração acelerou.
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seio direito com uma mão. Levantei minha mão para enredar nos cabelos negros
de Peter e encontrei apenas pontinhas loiras espetando a palma da minha mão,
abri meus olhos e os cabelos negros da minha imaginação agora estavam loiros e
curtos. Afastei-me, eu nunca poderia fazer isso.
Dei um passe para trás e tomei distancia de Sam. Ele me olhou confuso e
com fome.
- Eu acho, hã, eu acho que ainda é cedo, Sam. – eu disse e baixei minha
cabeça. – Sinto muito, eu, eu não posso.
Sam me olhou com espanto e então um olhar afiado atravessou seu rosto,
ele entrecerrou os olhos e se aproximou lentamente. Pegou minhas mãos me
limitando a ele.
-Sam! Sam! Solte-me! Você. Tem. Que. Me. Soltar! – eu gritei. O que Sam
estava fazendo? Sam ia me tomar à força? Ele ia me bater?
-Você maldita Vadia! Acha que vou te soltar? Fui tão bom para você e é
com isso que me paga? – ele gritou rindo com um humor negro.
-Sam! Porque está fazendo isso? Você prometeu que nunca ia me forçar!
Você prometeu! – eu gritei.
- Você cheira tão bem Cler! Quase não posso me agüentar! – Ele me puxou
até a cama e me jogou, no momento em que eu fui rolar para o lado ele estava em
cima de mim. Pegou novamente meus pulsos e puxou para cima, ele era
incrivelmente pesado, tão pesado que ficou difícil conseguir respirar. Levantou
meus pulsos para cima e do canto da cama tirou um pedaço de pano preto
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comprido. Me fez perguntar, quem teria algo assim ao lado da cama? Com uma
habilidade sobrenatural ele atou meus pulsos juntos em cima da minha cabeça na
guarda da cama e então foi para meus pés. Ao invés dele prender meus pés
juntos, abriu as minhas pernas e prendeu cada uma de um lado da guarda inferior
da cama, me deixando completamente vulnerável. Um tremor me atravessou, eu
estava completamente com medo e apavorada. Porque Sam estava fazendo isso?
Eu gritei tão alto quanto podia, lágrimas escorriam pelos meus olhos. Eu
não podia acreditar no que estava acontecendo, não com Sam. Eu devia estar
tendo um pesadelo.
Sem nenhum aviso Sam veio até o meio das minhas pernas e rasgou a
minha calça com uma força que não poderia ser humana. Por todos os deuses,
não. Não podia ser.
- Cala essa sua boca. – ele disse friamente e sem nenhum aviso ele
cheirou, sim, ele cheirou o meio das minhas pernas, pude ver que seu corpo
estremeceu, e ele colocou a língua para fora, como se fosse me lamber. – Você é
tão pura que posso morrer de prazer só de te cheirar. Sua puta virgem.
A frase foi como um tapa na minha cara. O mundo derrepente parou como
se a cena tivesse congelado. Ele disse quase as mesmas palavras do demônio
antes de tentar me possuir. Eu gritei tão alto que minha garganta se fez em fogo.
- Eu juro Cler, se você gritar de novo, vou pegar a minha faca e vou te
rasgar toda. – ele disse. Eu não duvidei, Sam tinha um olhar assassino no rosto,
na verdade Sam tinha o rosto diferente, seus olhos não eram mais os mesmo,
agora eles estavam na vertical como o de uma cobra. Eu não conseguia evitar as
lágrimas que escorriam pelo meu rosto.
- Por favor, Sam não faça isso. Por favor, não faça. Você jurou. – eu
supliquei entre soluços.
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- Por favor, você acha que meu juramento a uma humana vale de alguma
coisa? Não seja ridícula. – Ele disse dando uma gargalhada. Derrepente
arrancando suas próprias calças deixando a mostra sua ereção.
- A ela não, mas a mim sim! – Uma voz estourou com uma forte luz no
quarto.
- Você tem um pacto comigo demônio. E não cumpriu a sua parte, então
não terá a pura. – o estranho disse novamente. Tinha asas, minha mente girava
rapidamente, era um anjo? Ele era um anjo? Sam se encolheu um pouco, e raiva
borbulhou em seu olhar.
- Maldito, você não pode fazer isso! A pura é minha, eu a achei! Pertence-
me! – Sam disse, mas Sam não era mais o Sam doce que eu conhecia, Sam tinha
se transformado em uma besta, salivando, dentes afiados, olhos predadores como
os de uma cobra. Sam era um demônio. Sam era um demônio o tempo inteiro.
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um livro, isso estava acontecendo, uma guerra entre o Céu e o Inferno bem em
minha frente enquanto eu estou presa em uma cama. Nua.
Sam saltou para o Anjo e como se batesse em um escudo foi lançado para
trás com força, nesse momento o anjo saltou e inclinou a espada caindo de cima
em Sam, ou melhor, na cabeça de Sam. Como uma grande explosão de luz, meus
olhos não enxergavam mais nada e eu podia sentir ondas de eletricidade
explodindo em cima de mim. Céus, eu iria precisar de terapia. Meus olhos doíam
e minha cabeça mais ainda, meu corpo inteiro tremia.
Conforme a luz diminuía senti minhas mãos leves, sim, estavam soltas e
depois meus pés. Como se tudo estivesse em câmera lenta. Demorei alguns
segundos para fazer meu corpo se mexer e então sentei e olhei a minha volta.
O anjo estava parado a minha frente me observando sério. Não havia sinal
de Sam. Era como se nada tivesse acontecido. Precisei piscar para afastar as
lágrimas.
- Você o matou? – eu perguntei, mal pude escutar minha voz, estava fraca
e tremula.
- Eu me chamo Jango. E você vai vir comigo. – Ele disse. Não precisei
responder, até porque não havia soado como uma pergunta.
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- Você vai ficar aqui, até que eu venha te buscar. Essa é minha casa, você
não conseguirá sair desse cômodo. Faça qualquer coisa que me desagrade e terá
o mesmo fim do Procriador. – ele disse cortante. – Você me entendeu?
– Porque você me manterá aqui, Jango? – pensei que utilizando seu nome
ao invés de anjo, Arcanjo ou sei lá o quê o amolecesse o coração, se é que tinha
um. Porque para mim parecia ser feito de gelo.
Senhor do céu o que havia se tornado minha vida? De uma garota qualquer
com amigas rivais me tornei uma caçada e prisioneira do Céu e do Inferno, tudo
ao mesmo tempo. Era como se eu fosse um produto de final de linha que todas as
lojas disputam.
Mas eu tenho que admitir embora eu esteja assustada de estar presa aqui
por um Arcanjo poderoso e louco, estou aliviada. Eu estava a apenas alguns
minutos de ser estuprada por um demônio nojento e só Deus sabe o que poderia
ter acontecido. Falando em Deus, gostaria de saber onde diabos ele se enfiou
numa hora dessas.
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PETER
- Que tal você ficar quieta um pouco? Não posso pensar com você
contando sua vida sexual sem parar. – eu disse duramente.
- Jango deve ter notado que te tirei do exílio, e deve ter pegado Cler. – eu
falei tentando achar uma solução e ignorando os flertes de Lian.
- Sim, ele deve mesmo. Ele é um Arcanjo de merda. – ela pausou - Ei Peter
sabe o que é pior que seres idiotas do Céu?
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- São seres idiotas do Céu apaixonados. – ela disse. – Eles querem foder
os humanos e ter uma vida serpentina e ao mesmo tempo querem continuar
bancando os Celestiais castos. – ela riu.
Pensar sobre isso quase me fez rir também, porque era exatamente assim
que acontecia mesmo apaixonados e sedentes por tocar suas amadas negam o
que sentem até o fim, até o momento de sua caída. Hipocrisia.
- O que você quer? – ela pausou – estou a um dia flertando com você e
você nunca sequer me olhou. E agora está me olhando como se tivesse achado a
solução de todos os problemas do mundo. – ela disse séria.
- Lian, o que você mais deseja na sua vida? – eu perguntei. Eu iria iniciar
por outro ponto. Venho a milhares de anos andando sobre a terra, algo aprendi
sobre persuasão.
- Se eu disser que é você, amor, você acreditaria? – ela disse, ela era um
demônio forte, e muito bonito. Apesar de ter os cabelos raspados como os de um
homem tinha um rosto lindo, um dos mais lindos que já vi, grandes olhos verdes e
uma boca incrivelmente sexy. Ela não me interessava, no entanto, e nunca
acreditei que ela me quisesse de verdade, então decidi não ir por esse caminho.
- Não Lian, estou falando sério, o que mais você quer? – eu disse a
agarrando pelos ombros, olhando-a nos olhos.
- Bem, Peter. Quero o que todo o demônio quer. Ser livre. – ela pausou. –
Você não sabe como é lá no outro lado. Quero viver para sempre aqui, onde os
humanos são livres para fazerem o que querem. - ela disse. Nesse momento ela
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pareceu uma criança sonhadora, seus olhos se perderam e eu pude ver que ela
estava sendo sincera. Esse era o caminho a percorrer.
- Obrigada docinho, sabia que você notaria alguma hora. – disse ela com
humor, voltando a ser a velha Lian.
- e se eu achasse uma maneira de você poder ficar aqui para sempre Lian?
– eu falei cauteloso, esse era o momento de pegá-la ou perdê-la. – e se eu fizesse
um selamento para você, trancando-a nesse mundo? Ninguém poderia obrigá-la a
voltar. E se eu fizesse isso? – eu falei chegando próximo a ela.
Pude ver seu olhar, algo passou através deles, primeiro humor, depois
raiva e por fim esperança. Ela ficou em silencio me olhando, me avaliando. Ela era
um demônio, ela conhecia as piores mentiras e disfarces. Eu não podia falhar.
- E você faria isso por quê? – ela disse erguendo uma sobrancelha.
Pude ver a dúvida em seu rosto e ao mesmo tempo esforço para manter a
sua expressão controlada. Ela era um demônio e nunca poderia mostrar
vulnerabilidade.
- Então está afirmando que seria capaz de fazer tal selamento? Ou teria
que pedir a alguém mais forte? – ela perguntou.
Eu pensei, minha mente estava girando muito rápido, essa era minha
chance de conseguir salvar Cler e não precisar banir Lian. Demorou um segundo
para que eu pensasse sobre minha força, minhas habilidades. Eu sabia que seria
capaz. Para banir e selar um demônio no outro lado nunca cheguei a utilizar
minha força total. Antes eu precisava saber se isso era uma coisa permitida.
Alguém de outro plano ser selado na Terra para sempre.
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- Sim, mas apenas direi onde está a fêmea, depois que estiver tudo certo
para o selamento, e tem mais. – ela pausou. – se não der certo, você terá que me
proteger e impedir que eu seja banida de volta pelo próximo século, docinho.
Preciso garantir meu futuro de um jeito ou de outro. –Lian disse derrepente
exasperada.
Eu sentia meu coração acelerado, não posso acreditar que encontrei uma
solução. Lian aceitou um selamento terrestre em troca da localização da fêmea de
Jango. Eu precisava agir rápido, eu precisava me mover, e arrumar o selamento
ainda hoje. Mas eu ainda não sabia a quem procurar, normalmente eu procuraria
Jango para me pôr a par das políticas de selamentos e banimentos, mas Jango
está no posto de inimigo temporário.
Eu teria que fazer por mim mesmo, teria que ariscar. Nenhum anjo iria
aceitar selar um demônio para sempre na terra, isso impediria até mesmo anjos e
caídos de bani-los de volta para o Inferno. Eu precisava agir sozinho. Eu me
certificaria de que Lian acreditasse que tudo está pronto para o selamento, e
então pegaria a localização da fêmea. No caso dar tudo errado eu precisaria
começar a procurar um apartamento maior, porque além de ter que proteger Cler
eu ia ter que proteger Lian, para sempre.
-Se prepare demônio. Pois hoje à noite você será amaldiçoada a viver para
sempre entre os humanos. – falei de maneira grave e pude ver a emoção passar
por seus olhos, mesmo que ela a tenha controlado um segundo depois.
- Bem é com isso que estou contando docinho. – ela disse com a
expressão controlada.
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- Lian, posso fazer o encantamento à hora que você quiser, mas antes
precisa me dizer aonde está a fêmea. – eu falei derrepente enquanto Lian falava e
falava sem parar.
- Como se eu fosse te falar antes de você fazer o meu grande negócio, não
sou uma amadora meu bem, e além do mais devemos pactuar logo. – Ela me
disse, mas pude notar que ela estava tão ansiosa quanto eu.
- Lian, demônios não tem sentimentos. Então me diga por que você quer
tanto viver aqui? Quer poder? Quer diversão? Sexo? – eu perguntei mortalmente
impondo meu poder de Anjo caído.
-Eu quero Amor, Peter. Eu quero amar. – ela disse e então abaixou a
cabeça olhando para os pés.
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- Porque Anjos caem por amor Peter? Você já se perguntou isso?- ela
pausou. – Você acha mesmo que encontraria a resposta para isso? Você acha
que o amor foi feito apenas para os humanos? Você acha que um Arcanjo ou um
demônio não podem amar? Verdadeiramente, você acha isso?
- Não eu não acho isso. Mas é pouco comum demônios quererem algo com
o amor. – eu disse. Eu realmente acreditava que o amor poderia mudar tudo,
sendo realista o amor poderia fazer um ser celestial desistir de seu lugar no Céu,
então porque não poderia fazer um demônio mudar?
- Bem eu não sou qualquer demônio. E sim quero viver aqui, quero amar e
ser amada. Quero viver sem ter que fugir, sem sofrimento e sem violência. Mas
claro que não vou me importar com um pouco de Poder, diversão e sexo, querido.
- Ela disse.
Ela não iria viver na terra distribuindo ódio e dor, então poderia ficar, eu
provavelmente me certificaria de sua conduta. Então já era hora de pactuarmos.
Ergui meu rosto aos céus e senti uma onda quente passar por mim.
- Lian, prometo usar meus poderes para selar seu corpo no plano terrestre
em troca da localização da fêmea do Arcanjo Jango, esta noite, se não conseguir
realizar o selamento prometo também te proteger de qualquer ser dos três
mundos os impedindo de machucá-la ou bani-la por toda a eternidade, criando
assim uma ligação entre nós dois para sempre. Você demônio Lian concorda com
os termos e aceita o pacto?
Ainda agarrava Lian pelos ombros e pude sentir uma linha fina elétrica
passando das minhas mãos para o corpo dela, e a podia sentir estremecendo por
baixo. Seu rosto estava iluminado, e a esperança era quase palpável.
Uma onda elétrica quente desceu pelo meu corpo e então senti passando
pelas minhas mãos até o corpo de Lian. O pacto estava selado, agora vinha à
parte principal.
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Eu precisava sair daqui, pelos deuses, eu sentia vontade de gritar alto, falar
todos os palavrões que não falei na minha vida. Queria chamar Deus, oxalá ou
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seja lá quem for o criador desses malditos Arcanjos para lhe contar tudo que seus
filhos de merda andam fazendo.
- Duvido. – eu disse, minha voz saiu rouca. Eu recuei para trás e pude ver
que ele estava perto da porta. Com as mãos nas costas, parecia um general, duro
e inexpressivo.
- Eu não sou o mau Cler. – sua voz era cortante, mas controlada. Eu podia
sentir o perigo e o aviso de morte no fundo, ecoando.
- Sabe Cler, nesses últimos dias, fui traído várias vezes. – ele disse e
arrastou seus pés ao redor da mesa.
- O que você sente pelo Peter? Você poderia me contar? – ele perguntou
soando como aqueles tenentes de quartéis nazistas, extremamente cortes mas
malditamente letal.
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- Por Peter? O que Peter tem a ver com isso?- eu pude sentir uma
agitação, isso tudo só poderia ter algo a ver com Peter, ele provavelmente quer
saber se temos algo romântico para me usar contra ele.
- Que encantador! Você o ama! – ele disse então parando de rir. – Está
tentando protegê-lo me fazendo acreditar que o odeia, para que eu não te use
contra ele. Não é mesmo? – Ele disse, como se tivesse lido exatamente o que
estava em minha mente, pude-me sentir ficando quente, provavelmente da cor
das uvas em cima da mesa.
-Na verdade querida, você não precisa responder, porque isso está
exalando de você, tanto quanto dele. – ele disse por fim.
- O que você sabe sobre Anjos, Cler? – ele me perguntou me olhando nos
olhos.
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- alguns acabam querendo essa vida, querem poder fazer tudo que os
humanos fazem, outros muitas vezes se apaixonam por algum humano, e este
humano acaba se tornando mais importante que suas obrigações com a colônia,
quando a provas que isso acontece ele é banido. – ele pausou. – Ele não é
apenas banido, suas fontes de maior poder lhes são arrancadas e então são
jogados na terra e amaldiçoados. – ele disse me fazendo lembrar tudo que Peter
havia me contado há alguns dias a mesma história.
- Âncoras são seres que podem transitar entre os planos livremente, como
se não houvesse nenhuma barreira. São seres especiais, podem atrair com
facilidade seres de outros mundos como anjos e demônios. E o principal são
poderosas moedas de troca para demônios. Há quase um mês atrás um demônio
chamado Lian a possuiu e a tirou de mim, escondeu-a. Mas você pode alcançá-la
Cler, você pode achá-la para mim. – ele disse e seus olhos brilhavam.
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- Eu não posso, eu não sei como fazer isso, sinto muito, eu não posso. – eu
disse. Derrepente entendendo o desespero de Jango.
- Você não tem escolha humana! Você vai detectá-la para mim, vou te dar
um objeto de seu pertence, você só precisa se concentrar e então achá-la. Será
muito mais fácil para você, pela sua pureza ainda estar intacta, posso ver o
quanto forte é. Uma das mais fortes que já encontrei você pode fazer isso. Você
vai fazer isso agora Cler. – ele disse alto e se inclinou para mim.
- tudo bem, mas eu não sei como fazer, não tenho idéia de como fazer. –
eu estava cm a voz tremula e nervosa, meu coração estava acelerado.
- Escute bem, vou-te dizer como fazer e quando começar enxergar outra
realidade você a narrará para mim. Eu não quero te machucar, mas você precisa
saber que se falhar Cler, te usarei como moeda de troca, negociarei com o
Inferno. Você por ela. – ele terminou em sua voz um aviso.
Ele caminhou pelo aposento ele era enorme, cabelos raspados e grandes
asas encolhidas em suas costas. Ele chegou até a parede e pegou de uma
estante velha uma grande bacia de alumínio, foi ate a mesa pegou a jarra de vidro
e despejou a água na bacia, a trazendo até a borda da cama e então a colocou no
chão.
- Estou arrumando uma Ancora. Água. Como você ainda é uma Ancora
nova, não sabe controlar aonde quer ir, usaremos água como ancora para que eu
a ajude controlar. Sua mente é fundamental. Você irá se sentar e colocar os pés
descalços na bacia com água. Você precisará se concentrar no cheiro e no que
quer encontrar. Você deve estar preparada porque ela deve estar no inferno. – ele
disse terminando de arrumar a água perto da cama, então se levantou e me
encarou. – pronta?
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Sentei e tentei acalmar meu coração, coloquei os dois pés na água, estava
gelada e fez subir um calafrio pelas minhas pernas. Pude sentir o olhar de Jango
em cima de mim, ele estava impaciente e ansioso.
O aroma me invadiu, seu olhar me invadiu, senti a água embaixo dos meus
pés borbulhar e então derrepente eu não estava mais no porão. Eu estava de pé
em um lugar semelhante a uma floresta, o chão estava coberto de folhas laranja
secas, daquelas que fazem barulho quando se pisa. E de costas pra mim estava
Peter, ele estava lindo como sempre tive vontade de sair correndo para seus
braços, mas percebi que não podia me mover. Ao seu lado estava uma mulher
pequena, mas musculosa, não tinha cabelos, sua cabeças era raspada como a de
Jango, olhos incrivelmente verdes e a boca obscenamente vermelha. Porque
Peter estava com essa mulher?
Eu sabia que esse não era o Inferno, decididamente não era, eu havia
estado no Inferno, e era horrível, esse lugar era quase agradável. Eles estavam
de costas para mim, virados de frente para uma cabana de madeira pequena.
- Ela está ferida? – pude ouvir Peter perguntar, ouvir sua voz fez meu corpo
inteiro estremecer, era igual à de sempre com um tom mais duro talvez.
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Senti meus pés formigarem e uma sensação que começou a me puxar para
trás. Em um instinto desesperado eu o chamei. – Peter! – um segundo depois
notei meu erro, provavelmente Jango podia ouvir tudo que eu dissesse, e não
deveria ser boa coisa ele saber que Peter estava com sua mulher.
Peter se virou para trás e seus olhos se arregalaram a me ver, ele se virou
e de passos largos em minha direção, mas não importa o quanto ele viesse até
mim não conseguia me alcançar.
- Cler! Como você está aqui? Calma amor vou te buscar, eu juro, vou te
buscar! – ele disse quase um sussurro, uma expressão de dor atravessou seu
rosto. E então me senti sendo puxada e puxada e puxada. Quando abri meus
olhos eu estava cara a cara com Jango.
- Então Peter está com ela? – o Arcanjo me disse com um olhar de raiva.
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- Uma floresta eu acho, eu não sei, não dava para ver, em uma casa, eu
acho. – eu disse incerta.
- Ela não esta no Inferno. Ela está na terra! – ele pausou. – Ainda posso
alcançá-la afinal. – ele disse virando de costas para mim, indo em direção a porta.
Ele virou as costas e saiu pela porta me deixando sozinha. Eu caí para
trás. Algo me dizia que ele iria matar a todos nós de qualquer maneira.
Eu não estava com sono, então comecei a caminhar como uma louca pelo
cômodo, não havia nada de útil, não havia facas nem talheres. Nada com que eu
pudesse atacar. Olhei para a bacia com água. Eu poderia tentar de novo. Poderia
tentar falar com Peter.
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Mergulhei meus pés na bacia com água, estava gelada novamente. Abri o
perfume e cheirei. Baunilha. Tentei guardar o Maximo da fragrância em minha
mente, e então peguei os fios e os cheirei também. Não tinha nenhum cheiro.
Tentei pensar na cabana de madeira que Peter e a mulher estavam olhando,
segurando as coisas de Melinda deixei minha mente vagar.
Senti a água em baixo dos meus pés esquentarem assim como minhas
mãos, minhas mãos pegavam fogo. Podia sentir minha mente sendo puxada, só
um pensamento me levava. Melinda. Eu queria Melinda, baunilha, pude sentir o
cheiro de baunilha. A água começou a borbulhar, eu estava quase lá. Melinda.
Precisava encontrá-la.
Abri meus olhos e na minha frente estava uma jovem mulher. Pequena com
cabelos dourados e ondulados caído pelos ombros, ela era linda, lábios que
pareciam um coração rosado. Olhos azuis com grandes cílios, estava vestindo
uma blusa enorme cinza e calça jeans.
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Pude ver que ela mexeu os cílios, como se tivesse dificuldade para abrir os
olhos. A mulher que estava com Peter havia dito que a mantinha drogada. Pobre
Melinda.
Ela se remexeu e então abriu levemente os olhos. Seus olhos tremiam com
dificuldade de fixar o olhar em mim.
- Meu nome é Cler, sou uma Ancora, assim como você. Vim te ajudar
Melinda, mas preciso que me escute esta bem? – eu disse falando as palavras
com calma, para que ela entendesse.
- Você está presa, assim como eu. Jango me prendeu e pretende me usar
para recuperar você. – pausei dando tempo a ela. – Mas no fim Jango vai
recuperá-la e vai matar-me. – falei calmamente.
- Não, Jango não fará, ele é bom, não machuca as pessoas. – ela me
respondeu, sua voz era doce, mas estava fraca, pude ver que eu tinha pouco
tempo com ela, era como se ela estivesse a ponto de desmaiar logo.
- Sim ele vai fazer, ele está furioso porque pegaram você. Olhe só me
escute está bem? – eu pausei – um homem vai ir buscá-la, ele se chama Peter,
você precisa dizer a ele onde me encontrar. Melinda, eu estou no porão da casa
de Jango. Ele precisa trazer você sã e salva ou todos morreremos, você pode
dizer isso a ele?- eu perguntei.
Melinda piscou algumas vezes, e depois do que pareceu muito tempo ela
respondeu. – Sim eu falarei, mas se esse homem tentar me fazer mal então
deixarei que Jango o mate. – ela disse fracamente. Ela ergueu a mão e passou
pela testa, tentou se sentar, mas seu movimento saiu errado.
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convencer de não nos fazer mal. Peter é um homem bom, não quer te machucar,
ele quer me salvar. – eu disse quase suplicando que entendesse.
- Você irá, mas não esqueça, você precisa nos ajudar Melinda. – eu disse –
Somos iguais, eu também só quero ir para casa, com Peter. Eu o amo. – Eu o
amava? Sim o amava, não percebi quando lágrimas também escorreram
silenciosas pelo meu rosto.
- Então não deixarei que Jango destrua teu Peter, pelo seu amor. – ela
disse e deu um fraco sorriso.
Nesse momento senti minha mente sendo puxada novamente para meu
corpo, com uma tontura pude perceber que já não estava mais com Melinda e sim
no porão de Jango, uma náusea me atravessou, com tempo para desviar e
vomitar novamente ao lado da bacia.
Por mais que eu pensasse, não achava mais nada de útil para fazer. Eu
deveria esperar até Peter aparecer com Melinda sã e salva e esperar que Melinda
impeça o banho de sangue que Jango pretende fazer.
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LIAN
Há muitos anos venho dando tudo de minhas forças para achar uma
maneira de nunca mais precisar voltar para a minha colônia. Lá não tenho amigos,
não se pode confiar em ninguém. Quando passei para esse plano a primeira vez,
demandou muita energia de mim e eu precisei fazer um pacto com um demônio
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mais forte que eu para que ele me ensinasse como atravessar, em troca disse-lhe
que ao voltar ele teria caminho livre por meu corpo por dez anos. Uma vez por dia.
Um inferno. O bastardo efetivou muito bem o pacto, por todos os dias em uma
década. Quando nosso pacto finalmente venceu arranquei-lhe as bolas e as
joguei no rio do esquecimento. Ele jurou arrancar a pele de todo o meu corpo e
fazer de cobertor para as noites frias, apesar de que na colônia nunca faz frio.
Dante exigiu poder ter meu corpo em todos os lugares que ele quisesse
como quisesse e quando quisesse. Que eu ofertaria meu sangue e meu corpo ao
mesmo tempo em troca de uma aula de travessia corporal. Assim que eu aceitei e
pactuamos ele me levou até o centro da colônia e me teve ali mesmo. Ele possuiu
meu corpo grotescamente, estocando com força e brutalmente na frente de
hordas de demônios, que riam e gritavam. Demônios adoram sexo e violência, e
os dois juntos ao público era um show, mas não era algo raro, na colônia o sexo é
aberto e todos fazem aonde querem, ninguém se importa com ninguém.
Enquanto ele tinha meu corpo de todas as maneiras possíveis, ele ainda
arrancava pedaços da minha pele com mordidas e arranhões, tirando sangue,
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muito sangue. Depois disso fez questão de ter o meu corpo nos bares, nas
reuniões de falange, aonde tivesse maior numero de demônios possíveis. Quando
terminava eu estava praticamente incapacitada tanto pelo sexo duro e grotesco
tanto pelas feridas abertas que Dante deixava por todo o meu corpo. Mas enfim,
ele me ensinou a atravessar com meu corpo. E eu atravessei, bem já venho
atravessando há muito tempo, mas sempre tendo que retornar. Demônios podem
ficar na terra por um determinado tempo e então começam a definhar. Fazem
mais anos do que posso realmente contar, que eu venho tentando achar uma
maneira de ficar na terra e nunca mais precisar voltar, para a colônia, para o ódio
e violência, para Dante, para o Inferno.
Deveria saber que um Arcanjo é mais esperto que estes humanos idiotas,
ele me pegou e me exilou. Estava um a um, e eu precisava achar uma maneira de
corrompê-lo. Mas então para sua derrota Jango enviou para me torturar Peter, o
anjo caído mais gostoso de todos os tempos. Vejam bem, anjos caídos são
intermediários, eram anjos ou arcanjos ou guardiões que decidiram que foder
alguma humana era melhor que continuar limpando as nuvens do céu. E caíram.
Eu sou louca por anjos caídos, eles são arrogantes e perigosos e irradiam uma
áurea negra, a maioria já matou tanto ou mais que até mesmo os demônios.
Não precisei de muito esforço para revelar a verdade de Jango para Peter,
e então Peter me soltou. Mas para a infelicidade do meu anjo caído salvador, o
arcanjo exilou a sua amada outra Ancora, quantas existem por ai afinal? E essa
ainda por cima é pura, sim pura de virgindade, a garota nunca fez um sexo
gostoso. Parece que todos os demônios do inferno a querem, Peter então
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Cheirei o ar, seu cheiro estava estranho não era um cheiro definido, estava
mais para etéreo. – Sim, com certeza é o cheiro de sua pura, amor. – eu disse. –
Jango a deve ter posto para rastrear.
Peter foi até ela com passos largos a examinou e olhou para mim – Vou
curá-la agora Lian, depois vou encontrar Jango e negociar com ele. Se ele não se
importar o suficiente, que eu acho que se importa. Vou ameaçá-lo lançá-la no
inferno. – ele disse me olhando.
- Faça como quiser, mas antes você precisa terminar sua parte do
selamento, você sabe. – eu disse. Eu sabia que Peter honraria seu compromisso
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comigo, ele era aqueles tipos anjos caídos mortalmente sinceros, como cavaleiro
caído da armadura dourada.
Peter largou Melinda e veio até mim quando estava a apenas meio metro
de distancia ergueu suas mãos e as colocou em meus ombros. Eu era um
demônio saído do inferno, mas ainda era uma fêmea, estremeci instantaneamente
ao toque do anjo. Diabos, ele podia me beijar e eu até permitiria que tivesse meu
corpo, para então depois me selar na terra. Mas é claro que ele não faria, Peter se
encontra apaixonado por uma humana patética e sem graça. Se eu quisesse um
beijo teria que roubar.
- está feito! Você agora é uma cidadã do mundo humano, como se sente? –
Peter perguntou dando alguns passos para trás. Ele estava completamente
saboroso, suado.
Eu ainda sentia a energia passando por mim, podia sentir o poder de anjo
caído me obrigando a ficar neste plano. Uma onda de alegria me invadiu, eu bem
podia gritar. Por toda a minha existência eu quis exatamente isso.
Saltei em direção a Peter, envolvi seu pescoço com meus braços e o beijei.
Ele imóvel, primeiramente resistindo. Precisei empurrar forte minha língua nos
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seus dentes para que ele abrisse a boca, pude sentir aos poucos seu corpo se
rendendo, mas nunca completamente. Não importa, esse anjo caído realizou meu
maior desejo, e eu o teria. Eu estive com muitos demônios, mas sempre em troca
de algo, também já estive com vários humanos, mas apenas por curiosidade e
prazer, mas não Peter, eu o queria porque o desejava e estava grata por ele não
ter me enganado e me banido para o inferno agora que tinha Melinda, mas mais
do que tudo por que ele era incrível. Força e perigo emanavam dele, eu gostaria
de vê-lo de joelhos me implorando para que o deixe me dar prazer. Sim eu
adoraria isso.
- Não sou tão fácil assim, demônio. – Peter disse levantando o canto da
boca de maneira sexy.
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PETER
Eu entrei e parei em sua frente, ela estava sentada na cama olhando para
mim. Tinha os cabelos dourados na altura dos ombros. Seu rosto era doce, sua
boca era semelhante a um coração rosado. Ela estava me observando.
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- Suponho que Jango falou de mim, você sabe meu nome. – eu disse.
- Jango nunca me falou sobre você. – ela me disse, eu percebi que ao tocar
no nome de Jango seu olhar foi para o chão, triste. Saudades talvez?
- Melinda, preciso te dizer por que está aqui. – eu disse calmamente. Já era
a hora.
- Ela me falou que Jango está furioso por vocês terem me capturado. Mas
que prometeu trocá-la por mim, mas ela acredita que Jango não cumprirá sua
palavra, que ao me recuperar ele matará todos vocês. – ela pausou. – Ela disse,
para te dizer que não me machuque, e que ajude a convencer Jango de mantê-los
vivos, por seu amor. Por que ela te ama.
Eu não respirei, e então calmamente fui soltando aos poucos o ar. Melinda
não falava de Lian, na verdade ela parecia estar se referindo a Cler, mas como?
Como ela pôde falar com Cler? De alguma maneira ela conseguiu falar com
Melinda e deu instruções de como devia agir, por isso ela estava tão calma e
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complacente. Ela quer que todos nós saíamos vivos, por seu amor, porque ela me
ama. Ela havia dito para Melinda que me ama.
-Quem te disse isso Melinda? Quem falou isso tudo pra você? – eu
perguntei, tentando manter o controle.
- Foi uma menina. Ela é como eu, uma ancora. Não lembro seu nome. Mas
ela conhecia você, foi ela quem me disse seu nome e porque eu estou aqui. Ela
disse que você é bom, Peter. – ela disse. – Eu e ela somos iguais, ela estava com
medo e triste. E você Peter, você a ama?
Eu não sabia como dizer, eu não havia pensado nisso nesse ponto de vista.
Eu queria proteger Cler, estar perto dela me deixava alterado, apesar de ser um
poderoso anjo caído, perto de Cler me sinto nervoso e vulnerável. Mas amor?
-Eu acho que sim, acho que a amo, Melinda. Eu só quero seu bem, só
quero a levar a salvo para casa. É por isso que estou te usando, quero te entregar
para Jango e pegar Cler. Mas sei que ele vai querer lutar, ele não pode ter
testemunhas do amor de vocês por ai a solto. – eu pausei. – Será muito provável
que haja uma luta entre eu e ele. Então tenho um pedido para te fazer.
- essa é uma grande prova de amor, porque você sabe que em uma
batalha um Arcanjo é muito mais forte que um Anjo caído não sabe? – ela me
perguntou docemente.
- Estou ainda contando com que não haja uma batalha. – eu disse me
levantando.
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segredo, um segredo que poderia o fazer cair. Para a nossa morte ele bem
poderia arrumar uma desculpa, mas para um amor não.
- Se vista Melinda, suas roupas devem estar sujas. Vou te levar para meu
apartamento. – eu disse me virando para sair e esperar até que ela se vestisse.
-Ah Peter, a menina me disse que ela está na casa de Jango, no porão da
casa. Se você quiser posso te levar até lá. – Melinda me disse.
- Está bem, prepare-se então, porque é para lá que estamos indo então. –
Eu terminei saindo pela porta.
E se Melinda estivesse mentindo? Ela não parecia mentir, mas ela poderia
estar me levando diretamente para uma emboscada de Jango, na verdade,
poderia muito bem ter sido Jango a falar com ela e não Cler. Eu precisava apostar
tudo em Melinda, sozinho eu nunca poderia recuperar Cler a salvo. Eu precisava
salva-la, demônios em que fui meter Cler, em que fui me meter.
- Estou pronta. Estou feliz de ir para casa finalmente. – ela me disse, ela
soava cansada e triste.
- Não vou te fazer mal, nunca quis isso, você sabe. – eu senti vontade de
dizer isso a ela, contando que ela repassasse a mensagem a Jango.
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- Eu sei, você fez por amor, assim como meu Jango. Não se preocupe. –
Melinda me disse, ela era realmente muito doce. O que me fez sentir culpado por
ela estar no meio de uma batalha desse tipo.
Estava quase saindo do bosque quando apareceu uma figura enorme bem
a minha frente, brilhava tanto que demorei a reconhecê-lo, apenas o fiz pelas
enormes asas que o envolviam cintilantes me obrigando a parar o carro. Desviei a
tempo para o lado, forçando uma parada brusca.
Jango estava parado a alguns metros, a feição furiosa transmitiu uma onda
de poder até mim. Saltei do carro puxando Melinda comigo. Quando seu olhar
caiu em Melinda, seus olhos letalmente se ampliaram, e então caíram sobre mim.
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Não precisei olhar duas vezes para reconhecer o carro de Peter. Jango se
elevou com tanta força que meu corpo inteiro estremeceu, um calafrio desceu pela
minha coluna. Algo realmente grande estava para acontecer. Quando conheci
Peter e ele contou-me toda historia de céu e Inferno pensei que meu maior inimigo
seria algum demônio tarado, nunca imaginei que o maior perigo seria um ser
vindo do Céu, um Arcanjo apaixonado. Agora vendo sua raiva ao ver Peter e
Melinda, eu sabia que estava certa. Jango não pretendia nos deixar sair, ele me
trouxe até aqui no momento em que sentiu a presença de Melinda, um lugar
afastado e sem testemunhas.
Peter saltou do carro com Melinda, ela estava usando meu vestido branco
de renda que eu havia ganhado da minha mãe no meu aniversário de quinze
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anos. E Peter estava lindo, vestia uma camiseta azul escuro calça preta e botas,
se olhar correu para todos os lados e então parou quando me encontrou. Nossos
olhares se encontraram e por mais louca que eu pareça pude sentir segurança,
ele me deu um olhar que queria me dizer muitas coisas. Tive que me controlar
para não sair correndo me atirar nos seus braços e soluçar como uma criança.
- Eu não o trai Jango. Você me traiu primeiro. – Peter disse de longe, sua
voz tão letal quanto à de Jango. Percebi que Melinda estava atrás de Peter e
lágrimas escorriam pelo seu rosto pobre Melinda.
- Você se aliou aquela maldita demônio para usarem Melinda contra mim. E
agora vocês irão pagar por seu erro. – Jango falou se aproximado.
- Errado Arcanjo, eu irei pagar pelo meu erro. Cler vai sair daqui com
Melinda. Você e eu iremos discutir sobre isso a sós. – Peter falou tentando
parecer relaxado, mas sua postura mostrava sua apreensão.
- Cler, vire e vá embora. Você não pode ficar aqui. Você precisa se salvar.
– Peter disse para mim, não tirando os olhos de Jango.
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- Que demonstração mais bela de amor, Anjo. Se você a amasse teria feito
o que mandei. Você pensa que deixarei uma humana estúpida sair por ai sabendo
de todos os segredos do céu e do Inferno, de todos os segredos sobre mim? Não
terei minha vida nas mãos dessa estúpida humana. – Jango falou friamente. Seu
aperto de ferro subiu e então suas mãos foram para meu pescoço.
Peter deu uma série de socos na cara de Jango, que sangrava. E com uma
força sobrenatural Jango deu um chute no peito de Peter o jogando longe,
fazendo-o cair de cabeça contra uma arvore. Jango se movimentava muito rápido,
enquanto Peter precisava se esforçar e disparar dezenas de golpes em Jango, o
Arcanjo com apenas um conseguia deixar Peter caído e atordoado. Peter bateu a
cabeça diversas vezes contra as arvores, seu cabelo estava molhado de sangue
como seus braços. Quando se levantava, suas pernas enfraqueciam e ele
cambaleava para os lados, não agüentaria muito mais tempo.
Não pude evitar as lágrimas que escorriam pelos meus olhos, Peter iria
morrer. Morrer para me salvar, eu havia sido idiota todo o tempo com ele,
tentando evitar demonstrar meus sentimentos, evitando admitir meu amor. Nada
disso importaria mais, meu mundo mudou nada do que eu acreditava iria
continuar o mesmo. Peter me mostrou outra realidade. Não poderia acabar assim.
Peter voou outra vez, enquanto Peter parecia acabado e cheio de sangue
por todos os lados, Jango parecia firme e forte, o lançando como um boneco para
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todos os lados. Peter tentou dar um soco no rosto de Jango errando, o Arcanjo
aproveitou-se e saltou alguns metros para cima, suas asas o mantendo elevado.
-Pare! Você vai matá-lo! Pare! Por favor! – Eu gritei, mas minha voz saiu
rasgada entre os soluços, meus olhos brilhavam com lágrimas dificultando minha
visão.
-Melinda você precisa impedir! Não Jango! Por favor! Você não pode! Pare!
– Eu gritava e gritava, mas parecia que eu não existia mais, que nada em volta da
batalha entre Anjo caído e Arcanjo existia, era como se eles estivessem em outro
lugar, sozinhos.
Derrepente no alto Jango criou em suas mãos como passe de mágica uma
espada feita de fogo, como a que ele havia matado Sam. Um frio me atravessou,
nesse momento o mundo parecia ter congelado na imagem de Peter deitado no
chão ensangüentado e Jango em cima dele com uma espada flamejante. Isso não
podia acontecer, não. Jango iria matar Peter, ele iria matar Peter agora, bem na
minha frente.
Um grito ecoou pela minha garganta tão forte que parecia rasgá-la. – Não!
Peter!
Como um raio Jango desceu do alto chocando sua arma flamejante contra
Peter. Uma luz tão forte apareceu impossibilitado minha visão, não pude fazer
nada a não ser tapar meus olhos que ardiam como fogo. Não. Jango havia
matado Peter. Peter me amava. E agora estava morto. Ele estava morto por
minha causa, desde o começo. A luz foi aos poucos diminuindo e meus joelhos já
não tinham força para me manter de pé.
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-Não! Não, não, não! Peter? Peter! – eu sai rastejando de joelhos, não
podia estar acontecendo.
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Quando passei por Melinda parei e ela me olhou olhos vermelhos cheios de
lágrimas, ela acenou dizendo para que eu fosse. Entrei no carro e deixei para trás
os gritos agonizantes de Jango.
Tudo girava em minha cabeça enquanto eu dirigia na faixa, deveria ser bem
tarde, havia poucos carros circulando. Tudo isso só podia ser um grande
pesadelo. Peter, era atraente e um babaca arrogante, fiquei curiosa sobre ele logo
na primeira vez que o vi. E agora ele estava morto. O que se faz quando morre
alguém por quem você é apaixonada? Manda rezar uma missa? Acende uma
vela? Compra uma garrafa de vodka? Eu não sabia, nunca havia me apaixonado
antes. A única coisa que passava em minha mente era chegar correndo em casa
me atirar na minha cama e nunca mais sair. Sou uma garota de vinte e dois anos
que nunca se apaixonou antes, até encontrar um anjo caído louco e então ele
morre. Fim da história. Não pode ser assim.
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Café e pediria um mocca grande para Sam que me cumprimentaria com aquele
sorriso enorme de sempre, depois iria para a aula e passaria todo o tempo
pensando sobre como minha vida é chata e sem movimento, e com me sinto
nervosa quando vejo Peter, ou como Peter é bonito? Não, não seria assim. Sam
estava morto, era um demônio mau. Peter estava morto. E pelo visto eu também
estava morta por dentro. Precisei piscar para afastar as lágrimas e enxergar a
entrada do meu prédio.
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EPÍLOGO
OITO MESES DEPOIS
Minha vida havia virado um turbilhão há oito meses atrás e eu nunca mais
seria a mesma, de saúde eu estava maravilhosamente bem. Ancoras são fortes e
raramente ficam doentes. Mas minha alma estava marcada com uma cicatriz que
se recusava a fechar. Meu apartamento havia virado uma montanha de roupas e
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coisas atiradas por todos os lados. Meus cabelos estavam compridos, não me
lembro a ultima vez que fui a um cabeleireiro cortar, mas permaneciam sempre
amarrados em um rabo de cavalo alto. Maquiagem eu nem cogitava. ÀS vezes eu
saia e ia ao supermercado, eu ainda sentia fome afinal de contas. A Nanda e a
Stefany eram boas amigas, já que ainda não haviam desistido de mim. Eu nunca
ligava para elas, e na maioria das vezes ignorava suas mensagens.
O lixo e as toalhas caíram das minhas mãos, não era qualquer mulher.
Essa em especial havia saído diretamente dos meus pesadelos. Tinha os cabelos
raspados, grandes argolas nas duas orelhas e um batom obscenamente vermelho
na boca, apesar de pequena era musculosa, e seus olhos eram duas bolotas
verdes com grandes cílios negros.
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- Como se você não soubesse quem eu sou. – Ela disse com uma voz
arrogante, queixo empinado.
- Bem querida, acho que não fomos devidamente apresentadas. Sou Lian.
– ela estendeu a mão para mim. Depois de alguns segundos ela abaixou sem
uma resposta minha.
- Estou sabendo tudo que aconteceu há oito meses e blá, blá, blá. – ela
parou. – Tenho que ser sincera, que se estivesse lá teria chutado completamente
a bunda daquele Arcanjo de merda. Mas isso sou eu, você é apenas uma
humana, não poderia ter feito nada. – ela continuou, caminhando em círculos em
frente ao sofá.
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FIM
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