A Angústia Existencial

Você também pode gostar

Você está na página 1de 3

→ A angústia existencial

- Consciência da imperfeição da condição humana


- Tristeza, pessimismo, desencanto, cansaço, frustração, decepção, desistência,
insatisfação
- Triunfo da Dor e do Mal = Morte ou esperança num refúgio redentor

Sentimento manifestado na poesia de Antero de Quental, em consequência da


insatisfação do sujeito poético perante a imperfeição do mundo real.
Na obra poética de Antero, é visível uma profunda angústia existencial. Com efeito, a
par de uma face luminosa do eu, temos uma face noturna, sendo esta dualidade
geradora de uma grande inquietação interior.
A poesia anteriana é dominada pela racionalidade de um pensador que exalta o papel
revolucionário do poeta e que aspira à justiça social e ao Bem. No entanto, na obra de
Antero expressa uma profunda insatisfação decorrente da imperfeição do real e do
homem, bem como da impossibilidade de viver o Ideal.

O autor procura de um sentido para a existência humana, levando a uma insatisfação


perante o real, devido, através de sua reflexão metafísica atormentada (atitude passiva
e contemplativa), à consciência dos limites da condição humana.
O reconhecimento da sua fragilidade enquanto ser humano leva o «eu» a sentir-se
desalentado, pessimista, desencantado e frustrado, além de insatisfeito face ao amor e
à vida, entregando-se a uma profunda inquietação filosófica/metafísica/espiritual, à
dor, à angústia, à morbidez e ao cansaço, enquanto manifestações do seu
desassossego interior.
Existe, assim, uma disforia da inconsciência da inutilidade da vida.
Consequentemente, entrega-se à Noite, como libertação, refúgio, ansiando pela noite
e pela morte.

A desilusão é vivida em estado de grande abatimento, de inquietação e de desespero,


em que as ideias de desistência e de morte estão presentes. Emerge, deste modo, a
faceta noturna, atormentada, de sentimentos negros. Ainda, dá-se uma busca
permanente da perfeição, que não se compadece com a dimensão transitória e
imperfeita da realidade.
Desse ponto de vista, todos os ideais estarão, à partida, condenados ao malogro, uma
vez que nunca poderão satisfazer totalmente a ânsia de Absoluto do eu. É por este
motivo que deparamos com a vertente mais negra da obra de Antero, marcada por um
profundo desalento provocado pelo desmoronar de todos os seus sonhos.

Há, desta forma, a expressão do drama interior de um eu atormentado e de um grande


desalento, que lhe mina a existência.
No intuito de se libertar deste sentimento doloroso de derrota, o eu busca
desesperadamente uma forma de evasão - quer através da aspiração a um estado de
indiferença próximo do «nirvana» budista (isto é, uma condição próxima do não-ser)
quer através do desejo de refúgio no sono no seio de uma figura protetora, que tanto
pode assumir traços maternais
(sendo, por vezes, identificada com Nossa Senhora) como traços paternais
(destacando-se a figura de Deus).

No entanto, este desejo de proteção nem sempre é investido de contornos positivos.


De facto, o sujeito poético manifesta, ao longo de toda a obra, dúvidas em relação à
existência de Deus. Deste modo, mais do que um gesto voluntário de entrega ao
divino, o comportamento do eu é, na verdade, uma atitude de desistência resultante
de um sentimento de profundo desencanto em relação a todas as esperanças.
Ainda, como forma de libertação do sofrimento causado pela realidade, o sujeito
poético encontra conforto na noite e na morte, chegando inclusivamente a dirigir-se-
lhes como destinatárias das suas palavras.

→ Configurações do Ideal
A obra poética de Antero é marcada pela busca de um ideal. O Ideal pode
corresponder a sentimentos ou valores (Verdade, Justiça. Amor, Razão, Beleza,
Solidariedade, Bem e
Fraternidade), equivaler ao potencial da Razão humana, estimulante da luta por uma
sociedade melhor, ou remeter para uma entidade indefinida e indescritível, marcada
pela perfeição, a que o sujeito poético se refere como «sonho», «imagem»,
«aparição», «miragem», «nuvem», quimera»...
Em alguns poemas, surge ligado à figura de Deus e ao universo religioso.

Este Ideal pode assumir diferentes configurações: no plano ético, individual e coletivo;
no Amor, que se sonha em contornos idealizados - amor espiritualizado (“visão”); na
construção de uma realidade social justa e humana.

Estas representações são criadas pelo sujeito poético nos sonetos de Antero de
Quental para dar forma àquilo que deseja alcançar e de que necessita para superar a
angústia e a tristeza provocadas pela realidade. Associa-se ao seu desejo de Absoluto,
à sua busca pela perfeição, que pode manifestar-se em diversas entidades e situações.

Em primeiro lugar, o Ideal, que o eu busca ora pela racionalidade ora pela
espiritualidade e pelo misticismo, pode associar-se às noções de Deus ou de Absoluto
(transcendência religiosa e ânsia de Absoluto). Existe, assim, a aceitação de uma
entidade que aparece, quase sempre, sob contornos vagos ou indefinidos e que pode
assumir o nome de Deus (Ex.: “Ignoto Deo”).

Seguidamente, o eu faz a apologia da necessidade de transformação da sociedade,


processo em que o poeta teria um papel fundamental. Crença na luta por uma
sociedade melhor.
Esta vertente da poesia anteriana é influenciada pelos ideais socialistas, que
inspiraram as iniciativas políticas do poeta em sua vida.
Ainda, o eu manifesta também a sua aspiração a um amor que surge, muitas vezes,
com contornos idealizados (e que é, por vezes, associado a uma figura feminina
também ela ideal).
Por fim, é de destacar a busca da perfeição a nível ético (pessoal e social), que está,
obviamente, também associada à aspiração à justiça social - o Poeta como «voz da
Revolução».
Este processo pauta-se por uma preocupação constante com a busca do Bem, da
Justiça, da Beleza, da Verdade e da própria santidade, além de procurar (racional ou
espiritualmente) um sentido para a existência.
Na sua vertente otimista, luminosa e racional, o eu sonha a realização plena desse
Ideal em si e no real que o rodeia, libertando-se da Noite e das Trevas.

(Busca filosófica ou metafísica. Reflexão metafísica entusiástica–anseio por um Ideal.


Dilema interior: razão abstrata vs sentimento (consciência, religião, realidade). Procura
de algo que dê um sentido ou uma finalidade à existência humana. Espírito religioso.
Importância do
Sonho e da Imaginação/Desejo de sonhar. Inquietação espiritual. Atitude ativa e
interventiva.
Racionalidade otimista. Insatisfação perante o real sentido como demasiado frustrante
ou limitado. Desejo do Absoluto. Busca da perfeição e da plenitude das realizações do
«eu», reais ou imaginárias)

→ Dualidade na personalidade do poeta, dominado pelo:


- espírito crítico do filósofo (lucidez do intelecto; espírito apostólico; autodomínio;
consciência plena; concentração da atividade pensante; exaltação do amor e da razão);
- temperamento mórbido do homem (canto da noite, do sonho, da submersão, da
morte, dissolução da personalidade; repouso da alma no Deus transcendente);
Pessimismo, desejo de morte, repouso com Deus como figura apaziguadora
Daí falar-se nos dois Antero

Você também pode gostar