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Religiao e Linguagem Rubem Alves e A Her
Religiao e Linguagem Rubem Alves e A Her
SOTER (Org.)
Comunicações
Grupos Temáticos (GTs) e Fóruns Temáticos (FTs)
SOTER
ISSN: 2317-0506
Belo Horizonte
2017
2
ANAIS DO CONGRESSO DA SOTER
ISSN: 2317-0506
Publicação eletrônica:
Belo Horizonte, 2015
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
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Religião é linguagem: Rubem Alves e a herme-
nêutica filosófica da religião
Danilo Mendes1
RESUMO
Rubem Alves afirma nas primeiras palavras de “O suspiro dos oprimidos” que
religião é uma linguagem. Esta noção parece ser central para o desenvolvimen-
to do pensamento deste autor - que não mais discutirá os limites desta afirma-
ção, mas a terá sempre como pressuposto. A presente comunicação visa apre-
sentar a tomada radical em Rubem Alves desta noção da relação entre religião e
linguagem, delineando suas implicações no debate que ele inicia com as herme-
nêuticas críticas da religião, especialmente Feuerbach, Marx e Freud. Por fim,
algumas contribuições que esta tese levantada por Alves traz aos estudos de
religião, especificamente no campo da hermenêutica, serão expostas. Para este
autor, o processo de tomar a religião como linguagem começa no alinhamento
à virada linguística de Wittgenstein e parece ter seu limite na indicação de que
a religião não é somente uma maneira de expressão humana, mas uma manei-
ra de organização da realidade. Deste modo, mais do que servir/veicular uma
alienação do humano, a religião exprime os desejos mais íntimos da criatura
oprimida bem como organiza seu mundo de modo a viver na esperança de um
futuro de libertação. Este se dá no horizonte histórico, e não numa transcen-
dência utópica. Assim, esta comunicação, mais do que ler Alves, preocupa-se
em perceber alguns limites e possíveis contribuições desta virada para a her-
menêutica filosófica da religião.
Palavras-chave: Rubem Alves; Hermenêutica; Linguagem; Filosofia da religião.
INTRODUÇÃO
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sua jornada como escritor: o corpo, a esperança, a linguagem etc. Assim, para
uma leitura justa de suas obras posteriores, deve-se entender os pressupostos
que já haviam sido discutidos anteriormente.
No início de O suspiro dos oprimidos Rubem Alves diz: “Sabia que a reli-
gião é uma linguagem?/ Um jeito de falar sobre o mundo.../” (ALVES, 1999, p.
5). Este é o fio que conduzirá toda esta obra - até mesmo ao tratar de uma so-
ciologia da religião. Mas o que significa aqui falar em linguagem? Esta “rede das
palavras” é, para ele, um aspecto fundamental do ser humano, algo que constrói
o homem enquanto é construída por ele. A linguagem, para ele, é um modo que
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o homem tem de organizar e construir o mundo: Por não ser biologicamente
determinado, como são os animais, o homem tem um futuro aberto à sua frente
e este precisa ser construído a partir de agora. Isto, para Alves, se dá por meio
da linguagem: “Os universos simbólicos, a religião, a história são expressões do
esforço humano no sentido de tornar a natureza, o tempo e o espaço em função
de si mesmo” (ALVES, 1999, p. 12).
Esta ideia que só parece ser de fato estudada nesta obra aparece já como
pressuposto em outras obras fundamentais do autor. Em O enigma da religião,
ao falar sobre o processo de “conversão”, isto é, a aderência de alguém a uma
religiosidade, Rubem Alves fala do “caráter ‘enfeitiçante’ da lógica do cotidiano”
(1975, p. 64) na qual a linguagem da nova forma religiosa determina a cosmo-
visão do homem que a aderiu. Também em seu ensaio autobiográfico sobre o
fundamentalismo, Do paraíso ao deserto, a noção da religião como linguagem
pensada com base numa filosofia da linguagem está pressuposta. Verifica-se,
por exemplo, quando ele diz que “O mais importante não é o que o fundamen-
talista diz mas como ele diz. [...] O que importa na caracterização do fundamen-
talismo não são as idéias que ele afirma, mas o espírito com que ele as afirma”
(ALVES, 1975, p. 117).
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religião não é um jeito de ver o mundo, mas um jeito de estar no mundo.
É neste ponto que se percebe que aquela ideia essencial está pressu-
posta neste debate: as abordagens críticas consideram sempre as linguagens
da religião, isto é, os modos como a manifestação religiosa se dá: como antro-
pologia, ópio do povo e ilusão. Rubem Alves, por outro lado, dá um passo atrás:
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não observa as linguagens da religião, mas a própria religião como linguagem.
Por isto, ela pode ser uma ilusão em um outro sentido: ela cria outros mundos
possíveis, uma vez que a realidade (como um mundo que o sistema impõe) é
demasiadamente hostil.
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sar de terem o mesmo objeto de estudo, o fenômeno religioso, a perspectiva que
baseia a realização da ciência comprometeria o estudo a ponto de serem sufi-
cientemente distintos em seus âmbitos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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NUNES, Antônio Vidal. Corpo, linguagem e educação dos sentidos no pensamento
de Rubem Alves. São Paulo: Paulus, 2008.
NUNES, Antônio Vidal. Etapas do itinerário reflexivo de Rubem Alves: a dança
dos símbolos. In: NUNES, A. V. (org.). O que eles pensam de Rubem Alves e de seu
humanismo na religião, na educação e na poesia. São Paulo: Paulus, 2007. p. 11-
52.
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