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Psychologica

2004, 36, 195-217

Medos Sociais na Adolescência:


A Escala de Ansiedade e Evitamento 195
de SituaçõesSociais
para Adolescentes(EAESSA)
Marina Cunha., José Pinto Gouveia.., Maria do Céu Salvador.. &
Sara Alegre...

RESUMO
No presente trabalho é descrito o desenvolvimento e características psicométricas de um novo
instrumento de auto-avaliação dos medos sociais para adolescentes.
A EAESSA é composta por duas sub-escalasque avaliam o desconforto e evitamento provocado
por situações sociais típicas da vida dos adolescentes.Ambas as sub-escalasrevelam urna boa consis-
tência interna estabilidade temporal. Foram realizados estudos de validade com escalas de ansiedade
social (SAS-A), ansiedade geral (RCMAS) e sintornatologia depressiva (CDI).
Os resultados do estudo factorial indicam que ambas as sub-escalasda EAESSA são fonnadas
por seis factores relativos a diferentes dimensões das situações sociais.
São apresentadosos dados norrnativos e analisados os resultados em função do sexo e idade.
Estes resultados sugerem que a EAESSA é um instrumento de resposta fidedigno e válido para
a avaliação clínica e investigação da ansiedade social em adolescentes.

PALAVRAS-CHAVE:
Ansiedade social; Avaliação; Adolescência; Dados psicométricos.

Introdução

É largatDente reconhecida a importância de uma avaliação detalhada e compreen-


sível da ansiedade social, dadas as consequências nefastas que pode ter em termos do
bem-estar e desenvolvimento psicológico do indivíduo (Albano & Detweiler, 2001;

. Instituto Superior Miguel Torga. Coimbra. Largo Cruz de Celas, n° 1. 3000-132, Coimbra.
Telefone 239488030; Fax 239488803; E-mail- ismt@ismt."t.
Correspondência relativa a este trabalho: Marina Cunha (e-mail: marinacunha@interacesso.pt)
.. Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.
... Instituto Educativo Pedro Hispano. Soure

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Cunha,
M.,Gouveia,
J.P.,Salvador,
M. C.& Alegre,S.
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;
:~ Beidel,Thmer,& Monis, 2000;Essau& Barret,200.1).Ao longo dasduasúltimasdécadas
fi! tem-severificadoum grandeinvestimentocientífico nestedomínio da ansiedadee fobia
ii% social responsável,entreoutrosaspectos,pelo aparecimentoe refinamentode úteis ques-
~:!W tionários de auto-resposta
paraadultos.Contudo,umarevisãoda literaturana áreaclínica
:11; da infânciae adolescência
revelaumaescassez
deinformação
e deinstrumentos
de ava-
:(.t.. - liação da ansiedadee fobia social adequadosa esteperíodode desenvolvimento.
O pre-
c?,
;~ 196 senteestudoprocuracontribuirparaa expansão
destaáreaatravésdo desenvolvimento
il~!!' de um questionáriode auto-respostaque permita identificar as várias dimensõesde
it1R ansiedadesocial nos adolescentes.
~ilili Na investigaçãoe prática clínica os instrumentosde auto-repostasão de grande
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utilidade uma vez que permitem uma recolha rápida da informação segundo a perspectiva
;;ft~
",,;,
do próprio indivíduo. Quando aplicadosa criançasmuito novas levantamalgunspro-
t;írã blemas de fidelidadee validadedadaa sua :imaturidadepara uma auto-reflexãoe pos-
~~~ síveis dificuldades de c.ompreensãoda~ ~uestões esc~tas, sendo, por isso, im~rtante
~~~ recorrer a outros procedimentos de avaliaçao (observaçao comportamental, entreVIStas de
lj~ diagnóstico), bem como a outras fontes de informação (pais, professores). No entanto, a
i(i~ investigaçãotem mostradoque à medidaque os jovens vão sendomais velhos,nomea-
1j~~ damente,na adolescência,
estessãocapazes
de utilizar com fidelidadee validadeos
i;~ ~uestionáriosde auto-~esposta
(~ssau& Barret, 200I!. Por outro lado, os adolescentes
:},~ tem mostrado ser avaliadores maIS exactos, que os paIS ou professores, dos seus estados
~;~ internos (DiBartolo, Albano, Barlow, & Heimberg, 1998;Myers & Winters, 2002).
;;~ Até à data, apenasduas medidasdirigidas especificamente à avaliaçãoclínica da
i1:~ ansiedadesocial e fobia social, na adolescência,foram desenvolvidas:a Social Anxiety
G, Scalefor Adolescent,SAS-A (LaGreca& Lopez, 1998) e o Social Phobia and Anxiety
~i Invento'}'for Children; SPAI-C (Beidel, Thmer, & Morris, 1995).
I j A primeira, a SAS-A, resultade uma adaptação,para adolescentes dos 12 aos 18
anosde idade,da versãoSASC-R(SocialAnxiety Scalefor Children- Revised),e avalia
as experiênciasde ansiedadesocial e o medo de avaliaçãonegativados adolescentes no
; contexto das relaçõescom os pares(La Greca & Lopez, 1998).Este instrumentotem
\i revelado boas característicaspsicométricas(Inderbitzen-Nolan& Walters, 2000; La
; Greca& Lopez, 1998),emboraesteja,ainda,por investigara suavalidadediscriminante.
É importante esclarecereste aspectoda validade discriminanteda SAS-A já que as
escalasSAD (Social AvoidanceScale) e FNE (Social AvoidanceScale), desenvolvidas
por Watsone Friend (Watson& Friend, 1969) e que serviramde basepara construção
da SAS-A, têm mostrado,na investigaçãocom adultos,umabaixa validadediscriminante
quando utilizadas para diferenciar fóbicos sociais de outros distúrbios de ansiedade
(Thrner, McCanna,& Beidel, 1987). Outra limitação que poderá ser apontadaa esta
escalaé o facto dos 18 itens que a formam não garantiremuma adequadarepresentação
dos medos de escrutínioe de interacçãodos adolescentes com ansiedadesocial.
Relativamenteao SPAI-C (Social Phobia Anxiety Invento')'for Children; (Beidel,
Thrner, & Monis, 1995), tem o mérito de ter sido o primeiro questionáriode auto-
respostadesenvolvidoespecificamente para avaliar a fobia social na infância tendo em
conta os seus aspectossomáticos,cognitivos e comportamentais.Tem reveladoboas
características
psicométricas(Beidel,Thmer,& Fink, 1996)bem como uma boa validade
discriminante(Beidel et al., 1995;Beidel et al., 1996;Beidel, Thmer,Harnlin, & Monis,
2000), diferenciandoas diversasperturbaçõesde ansiedadeentre as crianças.Contudo
Medos Sociais na Adolescência:
A Escala de Ansiedade e Evitamento de Situações Sociais para Adolescentes (EAESSA)

esta escalafoi prioritariamentedesenvolvidapara ser aplicadaa criançasdos 9 aos 14


anosnão contemplando,assim,os adolescentes. Aliás, duasdas críticas mais frequente-
menteapontadasa esteinstrumentoreferem-seao seuformatode avaliaçãosegundouma
escalade respostade três pontos,podendonão ser suficientementediscriminativapara
detectarefeitos de tratamento,e a segundaprende-secom a escassezde dadosrelativa-
mente a adolescentes realçandoa necessidade de mais estudoscom estapopulação. -
Um dos aspectospouco estudadoem criançase adolescentes tem sido a investiga- 197
ção de diferentesdimensõesdos medos sociais e a sua possível relação com dados
desenvolvimentais. Quer a SAS-A, quer o SPAI-C,devido à naturezada suaconstrução,
não abrangemum númerode situaçõessociaissuficientemente vastoque permitamuma
avaliaçãoadequadadas diferentesdimensõesdos medossociais.Por outro lado, sabe-se
pouco acercada relaçãoentre algunsmedossociais e aspectosdesenvolvimentais, por
exemplo,em que medidaalgunsmedossociaissão mais frequentesno início da adoles-
cência, e outros na adolescênciatardia.
Facea estepanoramano campoda avaliaçãoda ansiedadesocial e fobia social na
adolescência,propusemo-nosconstruirum questionáriode auto-resposta que procurasse
ultrapassaralgumasdas limitaçõesapontadas.Como principais objectivosdesteinstru-
mento indicamos:(i) identificar possíveisdimensõesda ansiedadesocial num contexto
desenvo1vimental específico,definido nesteestudopor jovens da comunidadedos 12 aos
18 anosde idade; (ü) servir como instrumentode avaliaçãode adolescentes com ansie-
dadesocial elevadae em risco de desenvolverem fobia social; (ili) finalmente,ajudarna
avaliaçãoclínica dos adolescentes fóbicos sociaisao identificar a intensidadee frequên-
cia das respostasde ansiedadee de evitamentoàs situaçõessociaisreceadas,podendo,
consequentemente ser útil na delineaçãoe controlo da intervençãoterapêutica.
O presentetrabalhoapresentao desenvolvimentoe as características psicométricas
preliminaresda Escala de Ansiedadee Evitamentode SituaçõesSociais para Adoles-
centes(EAESSA) que avalia o grau de desconfortoe evitamentonuma larga gama de
situaçõessociaisrepresentativas dos medossociaismais frequentesnos adolescentes com
fobia social.

MÉTODO

Desenvolvimentoda EAESSA

Selecçãoinicial dos itens e construçãoda escala


Começámospor gerar uma lista de itens que procuravaabrangeruma larga gama
de situaçõessociais frequentesna vida dos adolescentes.Esta lista foi baseadanuma
revisãoda literaturaexistentenestedomínio,na experiênciaclínica, nos questionáriosde
avaliaçãoda ansiedadesocial disponíveispara criançase adolescentes e entrevistasclí-
nicas estruturadassegundocritérios de diagnósticodo DSM-IV (American Psychiatric
Association, 1994). Uma fonte de inspiraçãorelevantenesta eleição de itens foi, sem
dúvida, a EASDIS (Escalade avaliaçãode situaçõesde desempenho e interacçãosocial)
para adultos(Pinto-Gouveia,Cunha,& Salvador,2000), a qual permitiu uma adaptação
da formulaçãode algunsdos itens parajovens, a exclusãode outros e, simultaneamente

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!:J Cunha, M., Gouveia, J. P., Salvador, M. C. & Alegre, S.
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Jj

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:1 a inclusãode novos itens relacionadoscom aspectosdesenvolvimentais da populaçãoa
í1 que se destina.Este conjunto de procedimentosresultou numa lista formada, inicial-
c mente, por 76 itens. Seguiu-se uma análise detalhada destes itens com o objectivo de
verificar as várias dimensões de ansiedade social (situações de interacção, de desempe-
nho, situações sociais que impliquem pessoas ou tarefas desconhecidas, competências
- auto-afinnativas, contexto escolar, situações extra-escolares, situações com os pares, com
198 o sexo oposto, etc.), a formulação frásica dos itens e eventual repetição de situações
semelhantes. O primeiro rascunho acabou por ficar constituído por 51 itens. f
Esta versão,e~perimental foi p'assada,em ~~, a um conjunto.re~~to de alunos ~
de uma escola publica que voluntanamente se dispos a colaborar e, mdlVldualmente, a t:
jovens que solicitaram apoio psicológico no serviço de psicologia. A todos foi previa- 'ti

mente explicado o objectivo do preenchimento deste questionário, procurando identificar


eventuais dúvidas relativas ao significado ou interpretação dos itens, e, simultaneamente,
incentivar comentários ou sugestões ao questionário.
Após um exame da informação, assim, obtida, foram excluídos 7 itens e 4 sofreram
ligeiras modificações na sua formulação, ficando a primeira versão formada por 44 itens.
~ No fim do questionário são acrescentadas duas linhas em branco onde poderão ser apon-
"
!.t; tadasoutrassituações
que não tenhamsido previamente
contempladas.
Cadaitem é
~ avaliado numa escala de 5 pontos, primeiro em relação ao grau de ansiedade ou descon-
:~ forto que provoca (l=nenhum, 2=pouco, 3=moderado, 4=muito e 5=muitíssimo), seguida
:~ da avaliação da resposta de evitamento que desperta (l=nunca, 2=às vezes, 3=muitas
vezes, 4=grande parte das vezes e 5=quase sempre). A escala é, assim, constituída por
duas sub-escalas, a de desconforto/ansiedade e a de evitamento.

Selecção dos itens para a versão final


Estes 44 itens da primeira versão da EAESSA foram submetidos ao estudo da
correlação item-total e a um estudo factorial, tendo sido utilizados os seguintes critérios:
foram eliminados todos os itens que apresentavam correlações item-total <.30 na sub-
escala de Desconforto/ansiedade, assim como os itens que, na solução factorial, não
apresentavam cargas significativas <.35 em nenhum factor, ou apresentavamcargas signi-
ficativas semelhantes em mais do que um factor. Dado que as duas sub-escalas de des-
conforto/ansiedade e evitamento são constituídas pelos mesmos itens, diferindo estas
sub-escalas apenas na dimensão de ansiedade e evitamento que avaliam, os critérios
acima referidos foram essencialmente aplicados à sub-escala de desconforto/ansiedade.
A utilização destes critérios conduziu à eliminação de 10 itens, ficando a versão
final da escala constituída por 34 itensl, variando a pontuação de cada item entre 1 e 5.
A EAESSA é, assim, constituída por duas sub-escalas, a sub-escala de desconforto/
ansiedade e a sub-escala de evitamento, cujas pontuações totais podem variar entre 34
e 170. Uma pontuação total pode ser obtida somando o total das duas sub-escalas.
Quanto maior é o resultado, maior é a ansiedade social medida pelo grau de ansiedade
e evitamento manifestado nas situações sociais.

1 Os dois últimos itens (35 e 36, constituídos por duas linhas em branco) não são contabilizados
para a pontuação total. Contudo a sua análise pode ser importante, do ponto de vista clínico, já que
podem revelar medos sociais não contemplados nos outros itens desta escala.
Medos Sociais na Adolescência:
A Escala de Ansiedade e Evitamento de SiruaçóesSociais para Adolescentes (EAESSA)

Amostra
Foram seleccionadas quatro escolaspúblicase duasprivadas,urbanase sub-urba-
nas,do distrito de Coimbranasquais,depoisde obtidaa autorizaçãoda DREC (Direcção
Regional da Educaçãodo Centro), dos respectivosorgãosde gestãodas escolase con-
sentimentodos pais para a realizaçãodo referido estudo,foi recolhida a amostracons-
tituída por Utlla turma de cadaano do 3° ciclo do ensinobásicoe ensinosecundário(ou -
seja, do 7° ao 12°anode escolaridade).As turmas foram seleccionadassegundoUtll 199
processoaleatório.Foramcritérios de exclusãodos participantesnesteestudo(a) aqueles
apresentaram uma idade inferior a 12 e superiora 18; (b) preenchimentoincompletodas
escalase (c) evidênciaclara de dificuldadesde compreensão perturbadorasdo correcto
preenchimentodo questionário.
A amostrafinal ficou constituída,por 525 jovens, 223 do sexomasculino(42,5%)
e 302 do sexo feminino (57.5%) com idadescompreendidas entre os 12 e os 18 anosa
frequentar,no ano lectivo 2001/2002,o 3° ciclo do ensinobásicoe o ensinosecundário
de escolaslocalizadasno Distrito de Coimbra.A média de idadesdo total da amostraé
de 14.84(DP=1.89)não existindoUtlladiferençasignificativaentreasraparigase rapazes
(t=I.05; p=293), bem como não se verificam diferençassignificativasrelativamenteà
distribuição dos rapazese raparigas por anos de escolaridade(d de Pearson=I.98,
p=.851). No Quadro 1 está representada a amostratotal por sexo,idade e ano de esco-
laridade.

Quadro!- Amostrade adolescentes


da população
geral
Masculino Feminino Total
N % N % N %
Sexo 223 42.5 302 57.5 525 100
Idade
12 anos 25 11.2 44 14.6 69 13.1
13 35 15.7 46 15.2 81 15.4
14 39 17.5 53 17.5 92 17.5
15 39 17.5 52 17.2 91 17.3
16 28 12.6 35 11.6 63 12.0
17 29 13.0 46 15.2 75 14.3
18 28 12.6 26 8.6 54 10.3
Escolaridade
7°ano 44 19.7 65 21.5 109 20.8
8° 42 18.8 57 18.9 99 18.9
9° 42 18.8 53 17.5 95 18.1
100 37 16.6 39 12.9 76 14.5
11° 29 13.0 45 14.9 74 14.1
12° 29 13.0 43 14.2 7213.7

Instrumentosde medida
Todos os participantescompletaramuma bateriade medidasde avaliaçãoque in-
cluía questionáriosde auto-avaliaçãode ansiedadesocial,ansiedadee depressão.
Fizeram
parte desteestudoa Escalade Ansiedadee Evitamentode SituaçõesSociaispara Ado-

"
Cunha, M., Gouveia, J. P., Salvador, M. C. & Alegre, S.

lescentes (EAESSA; Cunha, Pinto-Gouveia & Salvador, 2001), a Escala de Ansiedade


Social para Adolescentes (Social Anxiety Scale for adolescents: SAS-A; La Greca e
Lopez, 1998), a Escala Revista de Ansiedade Manifesta para Crianças (Revised
Children's Manifest Anxiety Scale- RCMAS; Reynolds & Richmond, 1978), e o Inven-
tário de Depressão para Crianças (Children Depressive Inventory-CDI; Kovacs, 1992)..
- A Escala de Ansiedade Social para adolescentes (SAS-A), desenvolvida por
200 LaGreca e Lopez em 1998, avalia as experiências de ansiedade social dos adolescentes
no contexto das relações com os pares (La Greca & Lopez, 1998). É uma escala de auto-
resposta constituída por 22 itens dos quais 4 são itens neutros não contabilizados na
cotação total. Os itens são avaliados segundo uma escala de Likert de 5 pontos, em que
1 corresponde a "De forma nenhuma" e 5 a "Todas as vezes". Por conseguinte, a pon-
tuação total obtida pode oscilar entre o núnimo de 18 e o máximo de 90, em que quanto
maior é a pontuação maior é a ansiedade social assim medida. Para além da pontuação
Total, a escala permite obter outros três resultados baseadosnos factores ou sub-escalas
que a compõem, nomeadamente FNE (Fear of Negative Evaluation), SAD-New (Social
Avoidance and Distress of New Situations) e SAD-Genera1 (Generalized Social
Avoidance and Distress) (La Greca, 1999). Para esta investigação, a SAS-A foi, previa-
mente, traduzida e adaptada para a população portuguesa, revelando, para esta popula-
ção, uma boa consistência interna (coeficiente alfa de Cronbach= .88) e uma estabilidade
temporal moderada (r=74) para um intervalo de 5 semanas(Cunha, Pinto Gouveia, Ale-
gre & Salvador, em preparação).
A Escala Revista de Ansiedade Manifesta para Crianças (RCMAS - Revised
Children's Manifest Anxiety Scale; Reynolds & Richmond, 1978) é uma medida de
ansiedade crónica, formada por 37 itens destinados a determinar a presença (Sim) ou
ausência (Não) de uma grande variedade de sintomas em crianças e adolescentes desde
o 3° ao 12° ano. Destes 37 itens, 28 pertencem a uma escala de ansiedade e os restantes
9 formam uma escala de mentira. Os estudos realizados na população portuguesa têm
revelado que esta escala apresenta boas características psicométricas, designadamenteno
que se refere à consistência interna (coeficiente alfa de Cronbach tem variado entre .78
e .83) fidelidade teste-reteste (r(20)=.68) e validade (Dias & Gonçalves, 1999; Fonseca,
1992).
O Inventário de Depressão para Crianças (Children's Depression lnventory -
CDI, (Kovacs, 1985) é um questionário de auto-resposta constituído por 27 itens que
procuram avaliar os sintomas depressivos em crianças e adolescentes com idades com-
preendidas entre os 7 e os 18 anos de idade. É um dos instrumentos mais comuns e mais
citado na literatura da depressão na infância e adolescência. Para responder a cada item
do CDI, a criança tem de escolher uma de três frases, classificadas com um valor de
O, 1 e 2, significando os valores mais elevados maior severidade dos sintomas. A versão
portuguesa deste inventário tem revelado uma boa precisão apresentando valores eleva-
dos de consistência interna, com coeficientes alfa de Cronbach de .84 e .80, segundo os
estudos de Dias e Gonçalves (1999) e de Marujo (1994), respectivamente.

Procedimento
Para controlar possíveis contaminações das respostas dos adolescentes de uns ques-
tionários para os outros, a ordem de preenchimento dos questionários foi balanceada.
A estes inventários juntou-se uma folha de rosto onde se explicava de forma simples
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\1
Medos Sociais na Adolescência:
A Escala de Ansiedade e Evitamento de SituaçõesSociais para Adolescentes (EAESSA)

e sucinta os objectivos do estudo, seguidade uma recolha de dados demográficos.


A participaçãono estudofoi anónimae voluntária,tendo a recolha dos dadosdecorrido
de Fevereiroa Maio de 2002.
A bateriade questionáriosfoi aplicadapor psicólogasclínicas (autorasdo estudo),
em grupo, no contexto da sala de aula, demorandouma média de 40 minutos o seu
preenchimento(os mais novos, eventualmente,ultrapassandoum pouco este tempo). -
A apresentação da investigação(descritana folha de rosto) era lida em voz alta, se- 201
guindo-sea leitura, também,em voz alta dasinstruçõese do exemploilustrativoproposto
no primeiro inventárioa completar,no sentidode familiarizar o aluno com a tarefa.

RESULTADOS

Característicasda distribuição das pontuaçõesda EAESSA


As pontuaçõestotais das sub-escalasde desconforto/ansiedade e evitamentoda
EAESSA seguemuma distribuição normal (com uma ligeira assirnetria)apresentando
valores de assirnetriae curtose de, respectivamente,.39 e -.38 para a sub-escalade
desconforto/ansiedade, e de .49 e -18 para a sub-escalade evitamento.

Estudo dos itens da escala


As médias,desvios-padrão e correlaçõesitem-totalpara cadaitem da EAESSA,nas
sub-escalas
de desconforto/ansiedadee evitamento,sãoapresentadas nos Quadros2 e 3.

Na sub-escalade desconforto/ansiedade da EAESSA os 34 itens possuemcorre-


lações item-total iguais ou superiores.30. O mesmo acontecepara a sub-escalade
evitamento,à excepçãodos itens 1 ("comer em público: bar, cantina,restaurante,festas")
10 ("urinar numacasa-de-banho pública") e 34 (" respondera um colegaque estáa tentar
gozar contigo; ex: roupa, maneiracomo falas, penteado,etc,") que apresentamcorrela-
çõesitem-total de .29, 28 e .27, respectivamente. Emboraestesitens, na sub-escalade
evitamento,não atinjam o critério, previamenteestabelecido,de correlaçãoitem-total
>.30, foram mantidosuma vez que o primeiro critério de manutençãoou eliminaçãodo
item foi o seu compürtanlentopsicométricona sub-escalade ansiedade.Seguimoseste
critério quer no estudoda correlaçãoitem-total quer no estudoda análisefactorial. Por
outro lado, há ainda a acrescentarque a eliminaçãodestestrês itens não aumentavaa
consistênciainterna desta sub-escala.

ConsistênciaInterna
A consistênciainterna da EAESSA foi examinadaatravésdo cálculo de alia de
Cronbachrevelandovalores elevadospara ambasas sub-escalas.Para a sub-escalade
desconforto/ansiedadeo alia de Cronbachfoi igual a .91 e para a sub-escalade evita-
mento foi de .87.

Fidelidade teste-reteste
Parase determinara fidelidadeteste-reteste,
a EAESSA foi de novo administrada,
cinco semanasmais tarde, a 74 adolescentes (29 rapazese 45 raparigas)O coeficiente
teste-retestepara a sub-escalade desconforto/ansiedadefoi de r=.74, p<.01 e para a

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Estruturafactorial da escala
il . Os ~4 itens destaesc~aforam sub~etidosa ~a anális~de componentesprinci-
o, - paiS seguidade rotaçãoVanInax,tendo sido conduzldasanálisesseparadaspara cada
204 uma das sub-escalas, desconforto/ansiedade
e evitamentoda EAESSA. Para a medida
Kaiser-Meyer-OIkinforam encontradosvaloresde .91 para a sub-escalade desconforto,
e de .87 para a sub-escalade evitamento,revelandouma boa adequaçãoda amostragem,
bem como foi significativoo testede esferecidadede Bartlett para ambasas sub-escalas
(c2= 5442.19p <.001 para a sub-escalade desconfortoe c2=4203.87,p<.001 para a
",. sub-escalade evitamento).
I!S A solução inicial para a sub-escalade desconforto/ansiedadepermitiu extrair
!J~ 8 factores com eigenvaluessuperioresa 1 que explicavam 55.19 da variância total.
li A utilização do testedo scree-plotconduziuao estudode soluçõesfactoriais de 5, 6 e
'fi 7 factoresque foram submetidasa uma rotaçãovarimax. Comparadasas diversassolu-
..t~, ções,foi escolhidaa soluçãode 6 factorescomo a mais adequadae compreensível. Esta
~~ soluçãoexplica 49,10%da variânciatotal. O mesmoprocedimentopara a sub-escalade
~ evitamento permitiu também uma solução de seis factores, que explica 44.06% da
í~
to tal.
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:1"; VarlanCla
~~~; Os seis factoresencontrados,para ambasas sub-escalas fo~: (1) interacçãoem
~'~, situaçõesnovas (ex.: "falar com alguém que não conhecesbem; encontrares-tecom
';~ pessoas
novas/desconhecidas"),
(2) interacção
como sexooposto(ex.:"conversarcom
Jt colegas
do sexooposto";"fazerumelogioa umcolegado sexooposto"),(3) desempenho
t, em situaçõesformais (ex.: "tomar a iniciativa de respondera uma questão,ou pedir um
~ ;i esclarecimentonumaaula ou reunião"; "ser chamadopara ir ao quadro"),(4) interacção
~ ~ auto-afirmativa)(ex.: "chegaratrasadoou adiantadoa uma reuniãoou aula"; "pedir um
favor a outra pessoa"),(5) ser observadopelos outros (em situaçõessociaisde grupo,
como por exemplo:"participarnas festasda escola","fazer exercíciosfísicos na aula de
ginástica"),(6) comere beberempúblico (ex.: "comer em público: bar, cantina,restau-
rante", "beber à frente de outraspessoas").
No Quadro 4 estãoindicadosos factorese respectivassaturações,bem como as
comunalidadespara cada item da sub-escalade desconforto/ansiedade. O Quadro 5,
semelhanteao anterior,diz respeitoà sub-escalade evitamento.

Na determinação da composiçãodos factorestivemosem contaa sugestãode Floyd


& Widaman(Floyd & Widaman,1995),retendoos itens cuja saturaçãono factor fosse
superiorou igual a .35, bemcomoos itens que,emboracarregandosignificativamente em
dois factores,a diferençaentre as respectivassaturaçõesfosse superiora 1. Este último
critério permitia reter itens que tivessemuma saturaçãoalta num factor e que apresen-
tassemmarginalmenteuma saroraçãosignificativanum outro factor, tendo sido aplicado
apenasa um item da sub-escalade desconforto/ansiedade (item 15) da EAESSA.
Em relaçãoà sub-escalade evitamento,um item (12- "Olhar directamentenos
olhos de quem não conhecesbem") apresentoucargassignificativasem dois factores,e
dois itens (item 10- "Num comboioou autocarro,ficar sentadode frente para as outras
pessoas"e 18- "Pedir um favor a outra pessoa")não apresentaram valoresde saturação
Medos Sociais na Adolescência:
A Escala de Ansiedade e Evitamento de Situações Sociais para Adolescentes (EAESSA)
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Medos Sociais na Adolescência:
A Escala de Ansiedade e Evitamento de Situações Sociais para Adolescentes (EAESSA)

mínima,previamenteestabelecidos, em nenhumfactor,pelo que não foram incluídosem


nenhumfactor destasub-escala.
O estudodas correlaçõesentreos diversosfactores,quer na sub-escalade descon-
forto/ansiedade(Quadro6), quer na sub-escalade evitamento(Quadr07),mostraque as
dimensõesfactoriaisque as constituemestãosignificativamentecorrelacionadas(p<.01).

207
Quadro 6 - IntercOlTelações entre os Factores e o Total da sub-escala de ansiedade
da AEESSA (N=511)

Dimensões Total FI F2 F3 F4 F5
Total -
FI Interacçãoem situaçõessociaisnovas. 79** -
F2 Interacçãocom o sexooposto .72** .46** -
F3 Desempenho em situaçõessociaisformais.71**.48**.34**
F4 Interacção
Assertiva .78**.53**.42**.49** -
F5Observação pelosoutros .77**.45**.59**.45**.50** -
F6Comere beberempúblico .55**.31**.40**.33**.36**.43**
.. P<.Ol

Quadro 7 - Intercorrelações entre os Factores e o Total da sub-escala de evitamento


da AEESSA (N=Sll)

Dimensões Total FI F2 F3 F4 F5
Total -
FI Interacçãocom o sexooposto .62** -
F2 Desempenho em situaçõessociaisformais.73** .42** -
F3 Interacçãoem situaçõessociaisnovas. 74** .32** .34** -
F4 InteracçãoAssertiva .69** .35** .34** .42** -
c F5 Observaçãopelosoutros .69** .31** .44** .42** .34** -
F6 Comere beberem público .49**.25**.30**.28**.27**.33**
.. P<.Ol

Validadeconvergentee divergente
A validade convergentee divergentedesta escalafoi estudadaatravésdas suas
correlaçõescom a Escalade AnsiedadeSocialparaadolescentes (SAS-A), EscalaRevista
de Ansiedadepara crianças(RCMAS) e o Inventáriode depressãopara crianças(CDI).

A análisedas correlações(Quadro 8) mostraque estasvariaramentre .85 e .30,


todasestatisticamentesignificativas,revelandoa EAESSAcorrelaçõesmais elevadascom
a SAS-A (r=.53 para a sub-escalade desconforto/ansiedade e r=.52 para a sub-escalade
evitamento)e RCMAS (r=.40 paraambasas sub-escalas), que com o CDI (r=.30 e r=.33,
para as sub-escalasde desconforto/ansiedade e evitamento,respectivamente). Como seria
de esperar,as duas sub-escalasda EAESSA apresentama correlaçãomais elevada
(r=.85).

.
f Cunha,
M.,Gouveia,
J.P.,Salvador,
M. C.& Alegre,S. ~
'.~

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11 Quadro 8 -
Correlaçõesentre as escalasde medossociais(EAESSA), 1;;":
I ansiedadesocial (SAS.A), ansiedade(RCMAS e depressão(CDI) ",

, '", EAESSA SAS-A RCMAS


!~,: Ansiedade Evitamento (Total) (Total-Ans)
,i - EAESSA
\ ',208 Ansiedade -
,'li Evitamento .85**
i SAS-A
i Total .53** .52** -
, RCMAS
i; Total-Ansiedade .40** .40** .54** -
; CDI .30** .33** .40** .65**
! :r ..Comlação significativaao nível0.01
, !

:. ,c,
'
Médias
e desvios-padrão
obtidos
No Quadro9 estãoexpostos
nosinstrumentos
deavaliação utilizados
os valoresdasmédiase desvios-padrãoobtidosnos
j~:' questionáriosde avaliaçãode ansiedadesocial, ansiedadee depressãoutilizados neste
, ~. estudo, em função do sexo, grupo etário e grupo de escolaridade. Como se pode observar,
'i as raparigaspontuam significativamentemais alto que os rapazesnas sub-escalasde
j ansiedade[F(l, 509)=30.06;p<.OOl] e de evitamento [F(l, 509)=25.42; p<.OOl] da
;i EAESSA,assimcomo na SAS-A [F(l, 520)=10.35;p<.OOl],RCMAS [F(l, 523)=17.40;
j p<.OOl] e CDI [F(l, 511)=22.37; p<.OOl]. Já em relação à idade, quando comparados os
,] resultadosobtidos nos diversosquestionáriosem função dos dois gruposde idade esta-
,j belecidos,dos 12 aos 14 e dos 15 aos 18 anos de idade, não se verificam diferenças
:1 significativas.Tambémem relaçãoà escolaridade,as pontuaçõesobtidaspelos alunosdo
!c;i 3°ciclo do ensinobásico(7°, 8° e ~ anos)não diferem significativamentedasdos alunos
ensino secundário(100, 11° e 12° anos)quer no que respeitaà EAESSA [sub-escalade
ansiedade:F(l, 509)=1.93; p>.05; sub-escalade evitamento:F(l, 509)=.66; p>.05)],
como em relaçãoà SAS-A [F(l, 520)=.20;p>.05],RCMAS [F(l, 523)=.34;p>.05]e CDI
[F(l, 511)=.81; p>.05].

Dados normativosda EAESSA


Os Quadros10 e 11 permitemuma análisemais detalhadados resultadosobtidos
na EAESSA ondesãoapresentados as médiase devios-padrãoparacadaum dos factores
e total da sub-escalade ansiedade(Quadro 10) e da sub-escalade evitamento(Quadro
11), em função do sexo, idade e ano de escolaridade.Para estudara influência das
variáveissexo, idade e anosde escolaridadesobre os factorese totais das sub-escalas,
realizámosANOVAs de uma via para cadauma delas.
Relativamenteà sob-escala de ansiedade podemosconstatarque as raparigas
apresentam valoresmaiselevadosque os rapazesem todasas dimensõesda escala,sendo
estadiferençaestatisticamente significativa(p<.OOl)em todosos factoresà excepçãodo
F6- Comere beber empúblico [F(1,509)=.01;p>.05] ondenão se registauma diferença
significativa entre o sexo masculinoe feminino.
Em relaçãoà influência da variável idade, verifica-seum efeito significativo dos
grupos etários sobre os valoresdo F2- lnteracção com o sexooposto [F(6, 504)=4.11
MedosSociaisna Adolescência:
A Escalade Ansiedadee Evitamentode SituaçõesSociaisparaAdolescentes
(EAESSA)

-
Quadro 9 Resultadosobtidos nos instrumentosde medida,
em função do sexo,idade e anos de escolaridade
EAESSA (N=511) SAS.A (N=522) RCMAS (N=525) CDI (N=513)
Ansiedade Evitamento Total Total Ansiedade Total
M DP M DP M DP M DP M DP -
Sexo 209
Masculino 67.64 18.44 63.12 16.25 45.17 11.29 10.55 5.63 10.77 4.93
Feminino 76.80 18.93 70.41 16.49 48.31 10.89 12.60 5.50 12.97 5.42
F 30.06* 25.42* 10.35* 17.40* 22.37*
Idade
12-14anos 72.42 19.30 67.21 17.45 47.52 11.49 11.58 5.99 11.84 5.60
15-18 73.17 19.22 67.36 16.21 46.50 10.87 11.85 5.32 12.19 5.08
F .19 .01 1.09 .30 .56
Escolaridade
7°,8°,9° 71.8019.9566.77 17.56 47.16 11.63 11.60 6.02 11.85 5.48
10°,11°12° 74.19 18.22 67.99 15.68 46.71 10.51 11.90 5.08 12.28 5.10
F 1.93 .66 .20 .34 .81
Nota. Todos OStestesunivariadospara O sexo. gru!"'s de idade e gru!"'s de escolaridade.panocada uma das escalade avaliação
têm. respectivamente.(1. 509), (1, 520). (I, 523) e (1. 511) graus de liberdade. *p<.OOI.

p<.OO5] e do F4 - lnteracção assertiva [F(6, 504)=2.19 p<.05]. A realização de testes


post-hoc de Thkey pennitiu localizar as diferenças entre os grupos, verificando-se, no que
respeita ao factor 2 (lnteracção com o sexo oposto), valores mais elevados no grupo de
12 anos (M=10.31) diferindo este grupo significativamente do grupo de 14 anos
(M=7.84; p=.OO3), de 15 anos (M=7.63; p=.OOl) e de 17 anos (M=7.58; p=.OOl). Rela-
tivamente ao factor 4 (lnteracção assertiva), é na faixa etária dos 16 anos que se registam
valores mais elevados (M=17.32), existindo uma diferença estatisticamente significativa
deste grupo em relação ao grupo de 13 anos (M= 14.58, p=.017) onde se verificam os
valores mais baixos.
Por último, relativamente aos anos de escolaridade verifica-se, como seria de espe-
rar, um efeito significativo desta variável sobre os resultados obtidos no F2 -lnteracção
com o sexo oposto [F(5, 505)=5.02; p<.OO5]. Realizados os testes post-hoc de Thkey, é
apurado que os alunos do 7° ano obtêm valores mais elevados (M=9.97) distinguindo-se
significativamente do 8° ano (M=7.84; p=.OO2),do 9° ano (M=7.57; p=.OOO),do 10" ano
(M=7.72; p=.OO3) e do 12° ano (M=8.10; p=.025).
A mesma análise para a sob-escala de evitamento mostrou resultados semelhantes
aos obtidos na sub-escala de ansiedade em cima descritos. Resumidamente, ao compa-
rarmos os resultados obtidos no total da sub-escala de evitamento, em função do sexo,
idade e anos de escolaridade, regista-se apenas um efeito significativo do sexo [F(I,
509)=25.42; p<.OO5], não se mostrando estatisticamente significativas as diferenças en-
contradas em função da idade e anos de escolaridade. Uma análise mais detalhada revela
que, embora o sexo feminino mostre urna tendência para pontuar mais alto em quase
todos os factores desta sub-escala, esta diferença entre os sexos só atinge níveis signifi-
cativos para o F2 -Desempenho em situações sociais fonnais [F(I, 509)=28.72; p<.OO5],
F3- lnteracção em situações sociais novas [F(l, 509)=9.94; p<.OO5] e F5- Observação
pelos outros [F(I,509)=53.26; p<.OO5].

. .
"
Cunha, M., Gouveia, J. P., Salvador, M. C. & Alegre, S.

No que se refere à idade, os testes univariados indicam um efeito significativo


apenassobreo F2- Desempenho
em situaçõessociaisfonnais, [F(6, 504=3.26);P<.OO5],
verificando-se, através da realização dos testespost-hoc de Thkey, que o grupo de jovens
de 12 anos apresenta valores mais elevados nesta dimensão (M=15.15), diferindo signi-
ficativamente dos resultados obtidos pelos jovens de 14 anos (M=12.62; p=.OO2),de 15
- anos (M=12.67; p=.028), de 17 anos (M=11.88; p=.OOl) e de 18 anos (M=12.30;
210 p=.024).
Os testes univariados relativos aos anos de escolaridade indicam um efeito signi-
ficativo sobre o F2- Desempenho em situações sociais fonnais [F(5, 505)=3.44; P<.OO5]
e F3- Interacção em situações sociais novas [F(5, 509)=2.40, p<.OO5]. Comparadas as
médias através dos testes post hoc de Thkey, verifica-se, relativamente ao factor 2, que
são os alunos do 7° ano que registam valores mais elevados (M=14.66) diferenciando-se
significativamente dos grupos do 8°ano (M=12.39; p=.011), do goano (M=12.32; p=.OlO)
e do 100 ano (M=12.39; p=.025). Em relação ao factor 3, são os alunos do 100 ano que
apresentam valores de evitamento mais elevados (M=16.55) distinguindo-se significati-
vamente do grupo do 7° ano no qual se registam as médias mais baixas (M=14.15;
p=.041).
Em síntese, podemos afirmar, relativamente aos totais de cada sob-escala da
EAESSA, que as raparigas apresentam valores significativamente mais elevados que os
rapazes, não diferindo estes resultados em função da idade e anos de escolaridade.
Numa análise mais detalhada, tendo em conta os factores que compõem as sub-
escalas de ansiedade e evitamento, verifica-se que são as raparigas que apresentam maior
ansiedade de interacção em situações sociais novas, em situações com o sexo oposto e
em situações de auto-afirmação, bem como manifestam maior ansiedade de desempenho
em situações sociais formais e de observação pelos outros em contextos públicos. Rela-
tivamente ao evitamento, as raparigas diferenciam-se dos rapazes apresentando valores
significativamente mais elevados de evitamento em situações sociais novas, e em situa-
ções de interacção com o sexo posto e de observação do seu desempenho em situações
públicas.
Já em relação à influência da idade, na globalidade, esta não afecta de uma forma
significativa a ansiedade e evitamento podendo, contudo, ter um efeito significativo sobre
os valores das dimensões analisadas separadamente.Assim, por exemplo, os adolescentes
mais novos (com 12 anos) têm mais ansiedade de interacção com o sexo oposto enquanto
são os jovens de 16 anos que apresentam valores mais elevados de ansiedade de
interacção assertiva. No que respeita às respostas de evitamento existe um efeito da idade
sobre os valores do F2- Desempenho em situações sociais fonnais, revelando o grupo
dos 12 anos valores mais elevados de evitamento.
li ; MedosSociais
naAdolescência:
; A EscaladeAnsiedadee Evitamentode Situações
SociaisparaAdolescentes
(EAESSA)

i
:

li
,i, -
Quadro10 médiase desvios-padrão
dosseisfactores
Ji e total da sub-escalade desconforto/ansiedade
da EAESSA
~, - .. ,
I;: Escala de Ansiedade e Evitamento de Situações Sociais para Adolescentes (EAESSA)

r Sub-escala
deDesconforto/Ansiedade
~ Factor1 Factor2 Factor3 Factor4 Factor5 Factor6 Total
,Z -
t: M DP M DP M DP M DP M DP M DP M DP 211
{~ Sexo
Masculino 19.19 5.87 7.68 4.00 10.96 4.03 14.77 4.71 9.94 4.53 05.09 2.14 67.64 18.44
;c: Feminino 21.52 6.08 8.88 4.00 12.86 4.30 16.99 4.96 11.44 4.38 05.11 1.92 76.80 18.93
F(I.509) 18.87*. 11.26.. 25.88.. 26.38". 14.28.. .01 30.06..
Idade
12 20.86 5.82 10.31 5.39 11.22 4.42 16.69 5.50 11.06 4.73
.
5.28 2.34 75.42 20.46
13 19.50 6.42 8.36 3.50 11.35 4.30 14.58 4.97 10.79 4.93 5.13 1.94 69.70 19.18
14 21.11 6.13 7.84 3.59 12.00 4.14 15.90 4.93 10.63 4.15 5.19 1.88 72.67 18.41
15 20.75 6.45 7.63 3.34 12.47 4.65 15.92 4.96 11.02 4.80 5.18 2.16 72.98 19.78
16 20.67 6.44 9.02 4.55 12.75 4.06 17.32 5.25 11.24 4.49 5.16 1.99 76.14 21.14
17 20.59 5.33 7.58 3.43 12.23 4.25 15.85 4.20 9.88 3.58 4.64 1.68 70.77 17.07
18 19.87 5.95 8.32 4.12 12.34 3.97 16.49 4.60 11.09 4.88 5.17 2.15 73.28 18.78
F(6.504) 0.67 4.11.. 1.25 2.19. 0.74 0.81 1.00
Escolaridade
7° ano 20.00 6.25 9.97 5.05 11.40 4.59 15.82 5.28 11.25 5.00 5.25 2.18 73.70 20.26
8° 19.82 6.19 7.84 3.19 11.36 4.01 15.41 4.99 10.36 4.62 5.08 1.93 69.88 19.20
9° 20.71 6.80 7.57 3.39 11.90 4.28 15.65 5.25 10.63 4.41 5.22 2.16 71.68 20.37
100 20.50 5.60 7.72 3.84 12.77 4.26 16.04 4.88 10.97 4.51 5.32 2.19 73.32 17.63
11° 21.44 5.91 8.64 4.40 12.89 3.40 17.16 4.53 10.77 4.24 4.85 1.78 75.75 19.12
12" 20.94 5.47 8.10 3.41 12.43 4.34 16.46 4.48 10.75 4.07 4.81 1.74 73.49 18.05
F(5.505) 0.82 5.02.. 2.11 1.32 0.44 0.89 0.93
..~.OOI; .~.05

Quadro 11- Médias e desvios-padrão dos seis factores


e total da sub-escala de evitamento da EAFSSA
Escalade Ansiedade
e Evitarnento
de Situações
SociaisparaAdolescentes
(EAESSA)
Sob-escala de Evitamento
Factorl Factor2 Factor3 Factor4 Factor5 Factor6 Total
M DP M DP M DP M DP M DP M DP M DP
Sexo
Masculino 6.54 2.62 11.68 4.94 14.14 5.04 12.69 4.02 7.74 3.30 04.28 1.69 63.12 16.25
Feminino 6.96 2.70 13.96 4.64 15.65 5.65 13.21 3.97 9.92 3.40 04.23 1.54 70.49 16.49
F(I.509) 3.03 28.72... 9.94.. 2.08 53.26... 0.13 25.42...
Idade
12 7.22 2.52 15.15 5.86 13.88 5.83 12.31 3.58
9.66 3.46 4.23 1.53 68.89 18.14
13 6.86 2.98 12.98 5.19 13.95 5.44 12.65 4.11
9.04 4.09 4.23 1.34 65.88 17.82
14 6.87 2.61 12.62 4.46 14.92 5.36 13.33 4.15
8.84 3.79 4.44 1.67 67.18 16.69
15 6.52 2.49 12.67 4.25 16.09 6.02 13.66 4.64
8.86 3.98 4.55 2.04 68.87 18.03
16 6.75 2.86 13.485.48 16.225.07 13.544.24 9.19 3.32 4.10 1.3369.75 16.70
17 6.80 2.87 11.88 3.72 14.85 4.91 12.84 3.36 8.55 2.53 3.92 1.22 65.12 14.73
18 6.36 2.26 12.30 4.98 15.00 4.86 12.19 3.22 8.77 2.83 4.19 1.85 65.17 14.07
F(6.504) 0.68 3.26.. 2.11 1.50 0.69 1.36 0.90
Escolaridade
7" ano 6.83 2.64 14.66 5.89 14.15 5.85 12.35 3.77 9.57 3.59 4.35 1.74 68.21 18.14
8° 7.01 2.87 12.39 4.53 14.25 5.19 13.19 4.09 8.93 4.31 4.39 1.57 66.38 17.78
9" 6.63 2.71 12.32 4.48 14.82 5.20 12.74 3.98 8.44 3.17 4.31 1.72 65.54 16.71
100 6.89 2.65 12.39 4.09 16.55 6.15 13.47 4.69 8.96 3.75 4.58 1.92 69.05 16.22
11° 6.78 2.73 13.07 5.03 15.74 4.75 13.64 3.94 9.04 3.25 3.86 1.08 68.79 15.78
12" 6.44 2.40 12.63 4.50 15.07 5.08 12.78 3.38 8.81 2.55 3.93 1.28 66.07 15.06
F(5.505) 0.46 3.44.. 2.40. 1.31 1.05 2.33. 0.67
...p<.OOI; ..pS.OO5; "p<.05
Cunha,M., Gouveia,J. P.,Salvador,M. C. & Alegre,S.

DISCUSSÃO

Este artigo descreveo desenvolvimento e o estudodascaracterísticas psicométricas


de um novo instrumentode auto-resposta - EAESSAconstruidoparaavaliara ansiedade
e o evitamento provocado por situaçõessociais frequentesem jovens adolescentes.
- A existênciade um questionáriode avaliaçãodas situaçõessociaisreceadaspelos ado-
212 lescentespode ser particularmenteútil para uma compreensão mais detalhadadas várias
dimensõesdo fenómenode ansiedadesocial, bem como para a avaliaçãoclínica e dos
resultadosde tratamentona perturbaçãode ansiedadesocial.A investigaçãorecenteno
campo da avaliaçãopsicológicatem mostradoconsistentemenr-e que os instrumentosde
auto-respostapodem ser utilizadoscom precisãona populaçãode adolescentes ultrapas-
sando,assim,algumasdas críticas habitualmenteaplicadasa este métodode avaliação.
No domínio da ansiedadesocial, sãomuito escassos os instrumentosdisponíveisparaos
adolescentes.
A EAESSA, com o objectivo de colmatarestalacuna,foi desenvolvidacom base
na experiênciaclínica com fóbicos sociais,em entrevistasclínicas estruturadase instru-
mentosde avaliaçãoexistentesde forma a obter um universode situaçõesrepresentativo
das situaçõessociaisreceadashabitualmentepelosjovens ansiosossociaisde ambosos
sexos.Cadauma destassituaçõesé avaliadasegundoa repostade ansiedadee a resposta
de evitamentoque provocam.Como seria de esperar,as duas sub-escalas, de ansiedade
e evitamento,da EAESSA apresentam uma correlaçãoelevadaentre si (.85), sugerindo
uma grande sobreposiçãoentre o constructode ansiedadee o de evitamento.Contudo,
dadaa utilidade clínica da avaliaçãoindependenteda ansiedadee do evitamento,optou-
-se por manter as duas sub-escalas. Estesdadossão semelhantes aos resultadosencon-
trados na avaliaçãoda fobia social em adultos com as escalasLSAS-LiebowirzSocial
Anxiety Scale (Heimberget al., 1999) e SIPAAS- Sociallnteraction and Peifonnance
Anxiety and AvoidanceScale(Pinto-Gouveia, Cunha,& Salvador,2003), onde as corre-
laçõesentre as dimensõesde ansiedadee evitamentovariaramentre .82 e .91, respecti-
vamente.
A EAESSA mostrouum boa consistênciainternae uma boa estabilidadetemporal
para ambasas sub-escalasque a compõem.
Dos estudosfactoriaisrealizadosseparadamente para os itens de ansiedadee para
os itens de evitamento,a soluçãode seis factoresfoi a que se mostroumais adequadae
compreensívelpara estaamostrade adolescentes da comunidade.Os seisfactores,seme-
lhantespara cada sub-escala,foram: (1) lnteracção em situaçõessociais novas,consti-
tuído por situaçõesque implicam um envolvimentodo adolescentecom pessoasou
tarefas pouco conhecidasou realizadaspela primeira vez; (2) lnteracção com o sexo
oposto, respeitante,como o próprio nome sugere,a situaçõesespecíficasde relaciona-
i mento com o sexoposto; (3) Desempenhoem situaçõesfonnais, centradosobrea ava-
11 liação do desempenhoindividual em situaçõesdo contexto escolar; (4) lnteraccção
~ assertiva,formado por situaçõessociaisque implicam competênciasassertivase auto-
~ -afirmativas, comodizernão,pediralgo,criticar,expressar
desacordo
ou desagrado;
(5)
~
~
Ser observadopelos outros, diz respeitoa situaçõesque traduzemo medo de desempe-
f: nho em público, isto é, o medode serobservadopelosoutrosem situaçõesde grupo; (6)
~ Comer e beber em público, sendoesta dimensãocompostapor 3 itens em que os dois
~:;.. mais representativosse referem,exactamente,ao medo de comer e beber em público.

I'J;;;:,:::
Medos Sociais na Adolescência:
A Escala de Ansiedade e Evitamento de Situações Sociais para Adolescentes (EAESSA)

Estes dados sugerem que, na nossa amostra de adolescentes, parecem existir seis i
dimensões de medos sociais. A investigação da estrutura factorial dos medos sociais tem ,
originado resultados não inteiramente consistentes. :1

Em adultos, o estudo de análise factorial da LSAS não apoiou o modelo de dois ri

factores (interaccção social versus desempenho) subjacente à construção da escala


(Safren et al., 1999). Neste estudo, para ambas as sub-escalas relativas ao medo e -
evitarnento, as análises factoriais revelaram quatro factores semelhantes para cada: 1) 213
interaccção social; 2) falar em público; 3) ser observado pelos outros; e 4) comer e beber
l em público. Estes dados sugerem, assim, que existem quatro categorias globais de medo
I social avaliadas pela LSAS e que, enquanto a ansiedade e evitarnento s.uscitados por
~ situações de interacção social parece sermonofactorial, o medo e evitarnento de situações
li de desempenh%bservação pode ser multifactorial. Também o estudo de análise factorial
j do conjunto de itens das escalas SIAS (Sociallnteraction Anxiety) e SPS (Social Phobia
i~ Scale) de Mattick e Clarke, mostrou a existência de três factores: 1) ansiedadede
~ interacção;2) ansiedadede ser observadopelosoutros;e 3) medoque os sintomassejam
~ notados pelos outros. Nestes resultados, mais uma vez se observou o padrão
t monofactorial referente aos itens de interacção, e multifactorial no que respeita aos itens
~ de desempenh%bservação (Safren, Thrk, & Heimberg, 1998).
~ Em adolescentes,
o nossoestudosugereque as dimensõespoderãoser diferentes,
~ apontando múltiplas dimensões tanto para as situações habitualmente agrupadas como
:' exemplos de desempenho /observação (Desempenho em situações sociais fonnais, Ser
observado pelos outros, Comer e beber em público) como para as situações de interacção
social (lnteracção em situações sociais novas, lnteracção com o sexo oposto, Interacção
assertiva). Estas múltiplas dimensões podem, em parte ser explicadas, pelas inúmeras
tarefas desenvolvimentais e novos desafios próprios deste período específico de desenvol-
vimento. É de facto nesta fase etária que começam a surgir as preocupações e dificulda-
des de interacção com o sexo oposto e onde este tipo de relação começa a ter um novo
significado, é quando as avaliações no contexto escolar começam a ter uma importância
fulcral, é quando os jovens são confrontados com o desempenho de tarefas novas, assim
como é esperado que assumam determinadas responsabilidades e autonomia. Esta
heterogeneidade de situações sociais pode implicar diferentes competências cognitivas,
sociais e emocionais que se encontram em desenvolvimento o que pode conduzir a
dificuldades diferenciadas ao longo deste período. Por sua vez, estes dados apoiam a
informação recolhida na investigação clínica sobre a fobia social relativa a adultos, cri-
anças e adolescentes onde se tem destacado a heterogeneidade desta perturbação apon-
tando para a existência de várias dimensões (Albano, 2000; Beidel, Turner, & Morris,
1999; Stein, Torgrud, & Wa1ker, 2000; Verhulst, van der Ende, Ferdinand, & Kasius,
1997; Wittchen, Stein, & Kessler, 1999). Esta escala ao permitir distinções conceptuais
e desenvo1vimentais mais precisas a respeito da natureza da ansiedade e evitarnento
social dos adolescentes, pode ter um papel particularmente interessante na investigação
clínica dos jovens com perturbações de ansiedade.
O padrão esperado de correlações moderadas entre a EAESSA e outras escalas de
ansiedade social (SAS-A), ansiedade geral (RCMAS) e sintomas depressivos (CDI) for-
nece apoio preliminar para a validade do inventário. É de realçar que as correlações entre
as sub-escalas da EAESSA e a sintomatologia depressiva avaliada pelo CDI, são mais
fracas que as correlações entre esta e a ansiedade geral tal como é medida pelo RCMAS,

.
""
ri
~: Cunha,M" Gouveia,J. P.,Salvador,M. C. & Alegre,S.

i:J
l.
r
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]
J
fi fornecendo evidência para a validade divergente. Por outro lado, as correlações elevadas
f entre as sub-escalas da EAESSA e a ansiedade social avaliada pela SAS-A apoiam a
,í validade de constructo desta nova escala.
!' A diferença significativa entre rapazes e raparigas nas pontuações totais de ansie-
, dade e evitamento não são surpreendentes à luz de estudos recentes sobre a ansiedade
- social nos quais, frequentemente, as raparigas apresentam valores mais elevados de an-
214 siedade social e de prevalência de fobia social (La Greca & Stone, 1993; La Greca &
Lopez, 1998; Verhulst et al., 1997; Wittchen et al., 1999). Contudo, é de notar que exis-
tem estudos, também realizados com amostras de adolescentes, em que não se verificou
um padrão diferencial relativamente ao sexo, embora permaneça a tendência para as
raparigas apresentarem valores mais elevados (Beidel et al., 1995; Essau, Conradt, &
Petermann, 1999). No que respeita à idade, as pontuações totais nas sub-escalas de ansie-
dade e evitamento não foram significativamente diferentes entre os grupos de idade
estabelecidos, embora se tenha verificado um padrão diferenciado para a ansiedade de
lnteracção com o sexo oposto e de lnteracção assertiva. São os mais novos, com 12
anos, que mostram maior ansiedade nas situações de interacção com o sexo oposto
quando comparados com os de 14, 15 e 17 anos. Por sua vez, é no período médio da
adolescência (16 anos) que se verifica uma maior ansiedade relativamente às situações de
interacção auto-afimlativa. Estes dados poderão ser interpretados à luz de diferenças
desenvolvimentais. Assim, uma hipótese possível é que, devido ao aumento da auto-
consciência e sensibilidade às preocupações de auto-apresentação, típicas do início da
adolescência, as situações de interacção com o sexo oposto apareçam como mais ame-
açadoras, enquanto, mais tarde, devido às pressões sociais de competição, sejam as situ-
ações de auto-afinnação que se tomem mais ameaçadoras.
Apesar deste estudo fornecer bons resultados psicométricos e dados normativos
para a EAESSA, apresenta também algumas limitações. A primeira prende-se com a
representatividade da amostra, sendo os resultados aplicáveis apenas aos adolescentes
escolarizados de uma única localidade geográfica, nomeadamente do distrito de Coimbra.
Assim, seria importante futuras investigações recolherem dados normativos duma amos-
tra mais diversificada, de forma a uma maior compreensão do papel de variáveis
demográficas na ansiedade social.
Por outro lado, a análise factorial requer uma replicação com uma segunda amostra
e são necessários estudos de validade apropriados para responder à questão da validade
de constructo dos factores. Estes estudos estão a ser desenvolvidos e, até à sua conclusão,
recomenda-se que seja utilizada, para investigação, apenas as pontuações totais das sub-
escalas de ansiedade e evitamento.
É, também, importante lembrar que estes dados foram obtidos numa amostra da
comunidade e, como tal é imprescindível verificar, em estudos posteriores, se estes re-
sultados se confirnlam numa população clínica, bem como qual o seu significado clínico.
Apenas um estudo deste tipo permitira estudar a validade discriminante da EAESSA tão
i importante na investigação clínica.
Por último, uma outra limitação da presente investigação prende-se com a utiliza-
ção exclusiva de instrumentos de auto-resposta na investigação da validade de constructo
da EAESSA. São necessários mais estudos que apoiem a validade da escala utilizando
outras metodologias de avaliação (por exemplo, entrevistas de diagnóstico, observação

~
Medos Sociais na Adolescência:
A Escala de Ansiedade e Evitamento de Situações Sociais para Adolescentes (EAESSA)

comportamental),bem como recorrendoa amostrasclínicas. Só assim será possível


investigara utilidade da EAESSA para objectivosclínicos e de avaliaçãodos efeitosdo
tratamento.
Não obstanteas limitaçõesatrásapontadase os cuidadosa ter na utilização desta
escala, os resultados desta investigação inicial apoiam a fidelidade e validade da
EAESSA na avaliaçãoda ansiedadesocial em adolescentes. -
215
RESÚMÉ

Peurs sociales dans les adolescents: L'ÉcheUe de Anxiété et Évitement des Situations
Sociales pour adolescents
Dans ce travail, on décrit le développement et les caractéristiques psychométriques d'un nouvel
instrument d'auto évaluation des peurs sociales pour les adolescents, l'Échelle d' Anxiété et Évitement
; des Situations Sociales pour adolescents (EAESSA).
; L' EAESSA est composée par deux sous-échellesqui évaluent l'anxiété et l'évitement provoqués
f par des situations sociales typiques de Ia vie des adolescents. Les deux écheUesrévelent une bonDe
i consistance interne et de Ia stabilité temporelle. On a effectué des études de validité avec des échelles
; d'anxiété sociale (SAS-S), d'anxiété générale (RCMAS) et de symptomatologie dépressive (CDI).
~ Les résultatsde l'étude factorieUeindiquent que les deux sous-échelles
de l'EAESSA sont
~ forméespar six facteursconcernantles différentesdimensionsdes situationssociales.
t, On presenteles donnésnormatifset on analyseles résultatsen fonction du sexeet de l'âge.
~ Ces résultatssuggerentque l'EAESSA est un instrumentde réponsefiable et valide pour
~
é
l'évaluationclinique et l'investigationde l'anxiété socialedes adolescents.
,
~ M=-w: Aanxiétésociale;Évaluation;
Adolescence;
Données
psychométriques.
"
~

~
; ABSTRACT
;) Social Feares in adolescents:The Anxiety and Avoidanceof Social Situations Scale for
, Adolescents
~ This study describes the development and psychometric characteristics of a new self-report
l instrument of the social fears for adolescents,lhe Anxiety and Avoidance of Social Situations Scale for
'" Adolescents (AASSSA).
t The AASSSA is formed by two sub-scales which evaluate the discornfort and avoiding caused
~ by typical social situations on youngsters' lives.
~ Both sub-scales
revealgoodlevelsof internalconsistencyandtemporalstability.Validity studies
f have been conducted among social anxiety (SAS-A), general anxiety (RCMAS) and depressive
~'" symptomatology (CDI) scales.
[ The results of lhe factorial study show that both EAESSA sub-scalesare formed by six factors
~ relative to different dirnensions of lhe social situations.
~ Normative data are presented and the results analysed according to sex and age.
1 These results suggest Ihat AASSSA is a valid,and useful instrument for clinical evaluation and
;, for lhe research on social anxiety among adolescents.
i
c KEY-WORDs:
Social anxiety; Evaluation;Adolescence;Self-reportquestionnaire.
,
;
t
"
1

I
.
~';8
Cunha, M., Gouveia, J. P., Salvador,M. C. & Alegre, S. ""i1~

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